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Sobre o conflito no Oriente Médio

HENRIQUE RATTNER*

*
HENRIQUE RATTNER é professor da FEA (USP) e membro da Associação Brasileira para
o Desenvolvimento de Lideranças (ABDL).
Introdução posteriormente declarado como Estado
de Israel, e por beduínos nômades na
Face à escalada desenfreada de violência
parte oriental, transformada pelos
e ódio no conflito que opõe israelenses e
Ingleses no reino da Transjordânia, no
palestinos ao longo dos últimos dezoito
final da Primeira Guerra Mundial.
meses, impõe-se uma análise de origens e
da evolução do conflito, dos atores Na primeira metade do século vinte,
intervenientes e seus objetivos e valores cresceu a população judaica da Palestina,
subjacentes. em decorrência das ondas de perseguição
A ofensiva militar de Israel contra os e massacres, na Rússia Czarista e na
territórios e as principais cidades Europa Oriental, impulsionando o
palestinas, justificada perante a opinião movimento zionista, fundado na última
pública mundial como um esforço de década do século XIX, em Basiléia, na
destruir a “infraestrutura” do terrorismo Suíça. Em 1917, em plena guerra
certamente não prima por uma visão mundial, a Grã-Bretanha divulgou a
estratégica e política capaz de conduzir a “Declaração Balfour” em que declarava
um futuro consenso, com base em um ver com simpatia o estabelecimento de
diálogo mediado por representantes das um “lar nacional” para os judeus na
Nações Unidas e outras organizações Palestina. Mas, concomitantemente,
internacionais. Apesar da resolução aumentou também a população árabe, por
recente do Conselho de Segurança das crescimento vegetativo e por imigração
Nações Unidas, favorável à criação de um dos países vizinhos, mais pobres e
Estado palestino ao lado do Estado de economicamente mais atrasados. Ataques
Israel, a tragédia mortífera no Oriente às colônias estabelecidas pelos pioneiros
Médio prossegue aparentemente sem ocorreram esporadicamente, ganhando
solução à vista. O texto procura maior ímpeto e adesão em 1929, nas
esclarecer os fatos e estimular a discussão cercanias de Jerusalém e em 1935-36, as
do problema que se tornou mundial em vésperas da Segunda Guerra Mundial, o
suas implicações. que levou o governo britânico a editar o
“livro branco”, restringindo a imigração
Os antecedentes históricos
de judeus, apesar de números crescentes
Contrariamente ao senso comum, os de refugiados da Alemanha nazista e da
conflitos entre judeus-israelenses e Europa Central e Oriental.
árabes-palestinos não surgiram apenas
nos últimos anos, mas têm um histórico Durante a Segunda Guerra, houve
de mais de um século. movimentos militares anti-britânicos no
Egito e no Iraque favoráveis à Alemanha,
O início da colonização impulsionada
cujas tropas estavam avançando em
pelos ideais zionistas – o retorno à terra
direção ao Canal de Suez pelo Norte da
bíblica, a volta à terra, tendo a agricultura
África, chegando às portas de
como fonte principal de sustento e a
Alexandria, e pelas estepes da União
cooperação dos produtores como base de
Soviética, em direção aos poços de
uma sociedade mais justa – levou ondas
petróleo, no Cáucaso. Reprimidas as
sucessivas de “pioneiros” para a Terra
revoltas dos oficiais egípcios e
Santa, desde o final do século XIX.
iraquianos, os ingleses passaram a apoiar-
Naquela época, a região estava sob o se na população judia da Palestina, em
domínio do sultão, dos Turcos Otomanos, cujo território instalaram bases
esparsamente povoada por agricultores operacionais e amplas instalações de
palestinos no lado ocidental, que seria recondicionamento de tanques e
artilharia, destroçados pelos blindados a reação da França e Grã-Bretanha que se
alemães do General Rommel. Ademais, juntaram à guerra ao lado de Israel. Nesse
criaram uma Brigada Judaica, para impasse, Nasser foi salvo pela
serviços de suporte às tropas combatentes intervenção diplomática conjunta dos
no Norte da África. EUA e da União Soviética que forçaram
a retirada das tropas estrangeiras do
Terminada a guerra e reveladas as território egípcio.
dimensões apocalípticas do Holocausto, a
pressão da opinião pública mundial e Em 1967, eclodiu um novo conflito, em
sobretudo, da americana, levaram a que Israel enfrentou os exércitos do
Assembleia Geral da ONU a aprovar em Egito, Síria e Jordânia, conquistando as
1947 um plano de partilha da Palestina, colinas do Golan no Norte, a faixa de
em um Estado judeu e outro palestino. Gaza e o deserto do Sinai do Egito e a
Convém frisar que todo o território não Cisjordânia, incluindo a parte árabe de
passava de 27.000 km2, dos quais pelo Jerusalém, da Jordânia.
menos 1/3 se situava no deserto de Longe de aplacar os ressentimentos e
Neguev. Com o fim do mandato inglês e desejos de vingança, a vitória na “guerra
a retirada das tropas britânicas irrompeu dos seis dias” deu origem a um
a guerra da independência, em que o novo movimento de irredentismo e ações de
Estado de Israel enfrentou os exércitos do terrorismo por parte dos palestinos,
Egito, Síria, Transjordânia, Líbano, apoiados com armas e recursos
Iraque e os próprios palestinos, muitos financeiros pelos países árabes, mas que
dos quais foram induzidos a abandonar não se dispuseram a acolher e integrar os
seus lares, na expectativa de um próximo refugiados. Ao contrário, em setembro de
retorno com a vitória dos exércitos 1971 ocorreu um massacre de milhares de
árabes. palestinos nos campos de refugiados,
pelas tropas do rei Hussein, na Jordânia.
Assim, segundo Meron Benvenisti,
historiador israelense, “...dezenas de Novamente, em 1973, os exércitos árabes
vilarejos, centros urbanos e 400.000 do Egito e da Síria lançaram uma
hectares de terras cultiváveis foram ofensiva-surpresa, durante o feriado
abandonados por seus habitantes – cerca judaico de Yom Kippur. Embora
de 600.000 – que se transformaram em inicialmente bem-sucedido devido ao
refugiados, nos próprios países árabes”. É efeito surpresa, as tropas árabes foram
esta massa de refugiados, estimados em 3 derrotadas e milhares foram feitos
milhões espalhados nos campos do prisioneiros de guerra.
Líbano, da Jordânia e da faixa de Gaza,
Mas, em 1977, com a intervenção do
que constitui o problema mais espinhoso
presidente J. Carter, o governo israelense
nas negociações sobre o futuro da relação
(do conservador M. Begin) iniciou
entre Israel e o Estado palestino a ser
conversações com o Egito, com o
criado. No fim da guerra, com o
resultado de um acordo de paz e a
armistício imposto pelas Nações Unidas,
devolução do Sinai.
Israel ocupava, além de sua parte,
também áreas cedidas aos palestinos pelo Em 1982, sob o comando do atual
plano da partilha. Em 1956, numa guerra primeiro ministro, o então general Ariel
relâmpago contra o Egito de Gamal A. Sharon, as tropas israelenses invadiram o
Nasser, as tropas israelenses chegaram Líbano, chegando à capital Beiruth,
até o Canal de Suez, recentemente quando a milícia cristã massacrou
nacionalizado pelo Egito, o que provocou milhares de palestinos, sem que os
israelenses interviessem para deter a fúria negociação de paz? À complexidade dos
dos milicianos. A ocupação da parte problemas em jogo – assentamentos,
meridional do Líbano prolongou-se até devolução de territórios, Jerusalém,
2000, caracterizada por ataques às refugiados – vem acrescentar-se o peso
cidades e colônias israelenses pelas dos atores políticos, internos e externos,
milícias Hizbollah (os soldados de Deus) que complicam ainda mais o cenário
até a desocupação militar do território. político e estratégico. A visão e ação
norte-americanas expressas na doutrina
Entretanto, após gestões prolongadas de
de Bush, de “guerra contra o mal”
diplomatas escandinavos, israelenses e
embaralha o jogo, enquanto estimula e
palestinos iniciaram em 1993 um
legitima a escalada militar de Israel,
processo de paz que previa a retirada
supostamente alinhado ao combate
gradual de Israel dos territórios, em troca
universal contra o terrorismo.
de reconhecimento pelos palestinos do
Estado judeu. Mas enquanto Os atores sociais em confronto
prosseguiram as reuniões intermitentes,
Quando os ingleses abandonaram seu
mediadas pelo presidente Clinton, os
mandato e se retiraram da Palestina, as
israelenses (mesmo sob o governo
Nações Unidas recomendaram a divisão
trabalhista de I. Rabin) continuaram com
em dois Estados, um judeu e um árabe, de
a política de assentamentos na
acordo com a concentração demográfica
Cisjordânia e em Gaza, enquanto os
das respectivas populações. Os árabes
palestinos não pararam sua estratégia de
recusaram a partilha, lançando-se em
atentados. Em julho de 2000, o então
uma guerra em que prometiam “jogar os
primeiro ministro Ehud Barak avançou
judeus no mar”. No final do conflito e o
na oferta de devolução de até 95% dos
cessar-fogo de 1949, a Jordânia tinha
territórios e de divisão da soberania sobre
ocupado a Cisjordânia e a parte oriental
Jerusalém – um ato que quase certamente
de Jerusalém e o Egito, a faixa de Gaza.
teria sido vetado pelo Parlamento – que
foi rejeitado por Yasser Arafat. Em Durante os dezoito anos que se seguiram,
consequência, Barak perdeu a maioria no não houve nenhuma tentativa por parte
Parlamento, o que levou à ascensão de dos países árabes de integrar e assentar
Sharon e da ala dos grupos mais radicais, pelo menos parte dos refugiados
na condução da guerra e da política palestinos, enquanto Israel recebeu entre
israelense. 500-600.000 refugiados judeus, expulsos
dos países árabes, desde o Maghreb até o
Às vésperas da visita de Colin Powell ao
Iraque.
Oriente Médio, os palestinos
intensificaram os atentados suicidas a A vitória relâmpago de Israel na guerra
alvos civis e o exército de Israel ocupou dos 6 dias não melhorou o cenário. Ao
as principais cidades da Cisjordânia, na contrário, reunidos em Khartum-Sudão,
caça aos terroristas. os líderes árabes responderam às ofertas
de paz com os “três nãos”: não
Dos dois lados predominam os
reconhecimento, não negociar e não à paz
extremistas, o que afasta cada vez mais as
com Israel.
chances de paz. Arafat parece ter perdido
o controle dos grupos radicais, enquanto O breve interregno aberto após a guerra
Sharon não dá sinais de ter renunciado à de Yom Kippur em 1973, com as
manutenção dos assentamentos nos negociações e a conclusão da paz entre o
territórios ocupados. Quais são então as Egito de A. Sadat e M. Begin,
chances de um armistício que levaria à respectivamente presidente e primeiro-
ministro, pareciam inaugurar uma nova Mártires de Al Agsa) e os extremistas
fase nas explosivas relações entre árabes islâmicos (Hamas, Jihad) a superarem
e judeus. Entretanto, uma nova Intifada suas diferenças ideológicas, atuando
prolongou o impasse entre palestinos e como uma frente comum e deixando
israelenses, até o início das negociações temporariamente as disputas sobre as
de Oslo, em 1993. características do futuro Estado palestino.
Enquanto o Hamas preconiza a libertação
Militarmente derrotados, os palestinos da Palestina e a criação de um Estado
mantiveram a exigência de uma total Islâmico, do Mediterrâneo até o rio
retirada de territórios ocupados, contando Jordão, o Tanzim- braço armado do
com o apoio não só dos países árabes, Fatah, partido de Arafat - quer expulsar
mas também das organizações tropas e colonos israelenses dos
internacionais, da União Europeia e dos territórios ocupados em 1967, para criar,
próprios Estados Unidos. ao lado de Israel, um Estado laico, com
Por mais complexa e intratável que capital em Jerusalém Oriental.
pareça a situação, a solução mais Entretanto, o governo e as forças armadas
provável a ser negociada é a criação do israelenses equivocadamente consideram
Estado palestino, conforme a proposta do como terroristas tanto os grupos
príncipe Saudita Abdulla, em troca do nacionalistas identificados com a ANP
reconhecimento de Israel e da (Autoridade Nacional Palestina) e Arafat,
normalização de suas relações quanto os militantes do Hamas e Jihad
diplomáticas e comerciais com todos os Islâmico, atribuindo toda a
países árabes. responsabilidade pelos atentados suicidas
a Arafat. Diluindo-se as linhas
Entretanto, o quadro complicou-se no
distintivas, tornou-se difícil identificar
seio dos militantes palestinos, com o
interlocutores válidos para avançar em
surgimento, no início de 2002, das
direção a negociações de paz,
Brigadas dos Mártires, de Al Aqsa, uma
fortalecendo, ao mesmo tempo, os
organização secular, cujos ativistas de
radicais que apoiam Sharon na
base vêm de organizações locais, sem
caracterização de todos os palestinos,
coordenação do escalão político superior.
incluindo Arafat, como terroristas.
Embora reconheçam Arafat como líder
nacional, negam uma relação direta entre Após a invasão e destruição das cidades
ele e as Brigadas. Consideram a da Cisjordânia, Arafat e Sharon estão
resistência armada como forma de luta cada vez mais distantes de estabelecer um
para promover objetivos políticos, a cessar-fogo e de entabular negociações,
partir da premissa que esta não se para chegar a um acordo de paz. Arafat
resumirá com os acordos de Oslo. Não não cumpriu sua promessa feita no
compartilham com a linha dura de outros acordo de Oslo de evitar ataques de
grupos (Hamas e Jihad) que querem a terroristas a partir de territórios
destruição de Israel e aceitam a controlados pela ANP- Autoridade
participação de mulheres na luta. Nacional Palestina. Mas, também Sharon
falhou, não oferecendo aos palestinos
A repressão “linha dura” de Sharon levou
qualquer perspectiva confiável de
a uma aliança estratégica entre os grupos
realizarem seus objetivos por meios não-
armados opostos no cenário político
violentos.
palestino. A investida do exército de
Israel nos territórios impeliu os militantes A consequência mais direta da “guerra”
nacionalistas (Tanzin, Brigadas dos travada é o isolamento de Israel de países
amigos que o apoiaram e a deterioração também Sharon afirma procurar
de seu nome e prestígio perante a opinião estabelecer um processo político “sem
pública mundial. Arafat”, considerado chefe do terror. Na
espera de surgimento de uma liderança
Com todo o esforço de seu potencial
palestina “responsável”, as tropas
militar, Sharon não foi capaz de fazer
permanecem, apesar das promessas feitas
parar os ataques de guerrilhas suicidas,
a G.W. Bush, agravando o impasse.
enquanto se destruía a tênue esperança de
israelenses e de palestinos, na Os últimos remanejamentos na Knesset –
possibilidade de um acordo justo para o parlamento israelense – com a
atender as reivindicações e expectativas incorporação ao bloco governista do
dos dois povos. grupo ultranacionalista de E. Eitan, a
possível adesão do partido Gesher (D.
Sharon e seu grupo de apoio parecem não
Levy) e, posteriormente, da União
aceitar uma questão de princípio
Nacional – Pátria Israel dirigida por A.
fundamental para qualquer movimento
Lieberman, um imigrante russo,
em direção à paz. Israel deverá abandonar
claramente prenunciam o endurecimento
a maior parte dos territórios conquistados
do governo, com a possível saída dos
em 1967, para que possa surgir um
Trabalhistas (Shimon Peres – Relações
Estado palestino viável na faixa ocidental
Exteriores e Benjamin Ben Eliezer –
e em Gaza.
Defesa).
Pior ainda, os ultranacionalistas – do
partido Nacional Religioso – Aonde vamos?
incorporados ao governo opõem-se à Mesmo no caso hipotético de um cessar-
soberania palestina na faixa ocidental do fogo, as negociações sobre a desocupação
rio Jordan e propõem uma futura do território da margem ocidental, com o
emigração dos palestinos do país. Neste desmantelamento dos assentamentos, a
contexto, as propostas de Colin Powell de divisão de Jerusalém e, sobretudo, a
um avanço gradual, passo a passo em questão do retorno dos refugiados,
direção à paz parecem totalmente enfrentarão obstáculos praticamente
irrealistas: na verdade, um “salto” direto insuperáveis.
para sentar à mesa de negociações é ainda
Concomitantemente, cresce a onda de
menos provável, tendo em vista o fosso
protestos no mundo árabe, levando
que separa Sharon e Arafat. milhares às ruas marchando, gritando
Uma alternativa de superar o palavras de ordem contra Israel e os
gradualismo, por mais distante que possa EUA. Esses movimentos são dificilmente
parecer, seria a constituição de uma força controlados pelos respectivos governos,
de segurança internacional encarregada criticados por sua passividade, enquanto
da imposição da Resolução 242 de 1967 aumenta diariamente o número de
composta pela União Europeia, EUA, voluntários dos grupos radicais palestinos
Rússia e as Nações Unidas. e árabes em geral.
A visita de Colin Powell teve entre seus Não se pode ignorar que a revolta dos
objetivos oferecer a Arafat a “última palestinos mobilizou quase toda a
chance” de declarar um armistício e de população dos territórios,
deter as milícias e os ataques-suicidas. potencializando o exército de “mártires”
dispostos ao sacrifício de suas vidas.
Entretanto, ficou patente que mesmo
declarando tal armistício, Arafat não teria Também, não é possível esquecer que a
condições de implementá-lo. Assim, política de ocupação sistemática dos
territórios por assentamentos iniciou-se aos israelenses o sentimento de segurança
nos sucessivos governos trabalhistas nos tão almejado.
anos 60, recebendo forte impulso com a Por enquanto, as duas lideranças não
ascensão ao poder do Likud, em 1977. parecem inclinadas a aceitar tal proposta
Israel voltou a ser paria no cenário – os israelenses alegam que tal
internacional, perdendo não somente a movimento significaria uma vitória dos
simpatia de países amigos, mas “terroristas”, enquanto os palestinos
recebendo ameaças de sanções afirmam que seria uma derrota da luta
econômicas da União Europeia – seu pela independência.
maior parceiro comercial. Mas, independentemente da aceitação
Importa afirmar publicamente a por israelenses e palestinos, quem
necessidade de entregar os territórios, fornecerá as tropas para tal iniciativa?
evacuar os assentamentos e devolver a Uma análise lúcida do conflito é
parte oriental de Jerusalém. O ponto mais apresentada por Amos Óz, escritor
controvertido – a volta dos refugiados – israelense bastante conhecido no
deverá ficar para negociações Ocidente. (Ver “Travamos duas guerras”,
posteriores, com a participação dos países em Folha de S. Paulo, 07 de abril de
árabes, os EUA e organizações 2002). Óz faz a distinção entre a luta de
internacionais. palestinos para libertar-se da ocupação e
Se, apesar de todos os esforços, a posição construir um Estado, independente. A
dos palestinos permanecer irredutível, outra guerra – a do islã fanático da Jihad,
enquanto ocorra um endurecimento da do Hamas e outros grupos terroristas –
posição dos israelenses, cada vez mais na pretende destruir Israel e expulsar os
dependência de apoio dos ultrarradicais, judeus de sua terra. Segundo Óz, Arafat
a situação da região do Oriente Médio se está travando as duas guerras
tornará insustentável – um beco sem simultaneamente, como se fossem uma
saída, com profundas implicações para o só. Os seus guerreiros e “mártires” não
equilíbrio geopolítico e a estratégia da fazem nenhuma distinção entre as duas,
superpotência que pretende lançar-se, atacando indistintamente, militares e
após a guerra “vitoriosa” no Afeganistão, civis. Do lado de Israel, também
em nova aventura contra o Iraque. prevalece o argumento simplista que
permitiria a seus soldados reprimir todos
A situação é tão desesperadora que os
os palestinos, pelo fato da “Jihad”
líderes da oposição israelense chegaram a
islâmica total ser conduzida contra seus
propor algo inimaginável até há pouco
cidadãos. Óz também propõe a retirada
tempo atrás: a criação, à semelhança de
dos territórios para afastar-se do controle
que foi feito nos Bálcãs nos anos 90, de
de uma população hostil.
um protetorado internacional para os
territórios ocupados, para restaurar a Somente com o fim da Jihad seria
calma, até a definição final de seu status possível sentar-se à mesa das
e futuro. negociações da paz; caso contrário, Israel
Isto exigiria uma retirada das tropas não teria outra saída do que lutar por sua
israelenses para convencer os palestinos sobrevivência, até o fim, com todas as
da seriedade do processo, enquanto daria possíveis implicações para o precário
equilíbrio no Oriente Médio e no mundo
atual.

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