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Criação de Israel: Saiba como foi fundação e origem das tensões

Compreender a questão geopolítica do Oriente Médio exige uma visão ampla da história da região e passa
necessariamente pelo conhecimento da fundação do Estado de Israel.

Se a existência de Israel atual é recente - a independência data de 1948 -, sua história é muito mais longa e se
confunde com a do povo judeu e de seus antepassados, os hebreus, da Antiguidade. Pode-se aceitar que ela tenha
começado com os patriarcas bíblicos, como Abraão, seu filho Isaac e seu neto Jacó, a quem, segundo o Gênesis
(primeiro livro da Bíblia), Deus chamou de Israel.

O nome de Israel se estendeu a uma estreita faixa de terra onde viviam os descendentes de Jacó, entre o mar
Mediterrâneo, a península Arábica e a Síria cerca de 2 mil anos antes de Cristo. Por se tratar de um local que constitui
uma ponte natural entre a Ásia, a África e a Europa, a região foi sempre disputada e - da Antiguidade até meados do
século 20 - os grandes impérios ali se impuseram: egípcios, assírios, babilônios, persas, gregos, romanos, bizantinos,
árabes, turcos e ingleses.

Dispersão de um povo
Todas essas invasões resultaram na dispersão dos judeus pelo mundo, em especial a partir de 70 d.C., quando este
povo promoveu uma grande rebelião contra o domínio romano. As legiões de Roma reprimiram duramente a revolta
e incendiaram o templo de Jerusalém, um símbolo da unidade política e religiosa hebraica. Somente uma parte do
muro exterior continua de pé até hoje, constituindo um grande monumento religioso do judaísmo.

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De qualquer modo, mesmo dispersos, sem um território que os abrigasse, os judeus conseguiram se manter como
um povo ou uma nação, devido ao imenso apego a suas tradições religiosas e culturais, além de uma esperança -
ainda que remota - de um dia retornar a Israel, a "Terra (a eles) prometida (por Deus)", de acordo com a tradição
bíblica.

Em 2 mil anos de exílio, os judeus sempre constituíram minorias em outros países, sendo constantemente
discriminados e perseguidos. O cristianismo, após tornar-se a religião oficial do Império romano, contribuiu bastante
para isso, retirando a culpa da crucificação de Jesus que pesava sobre Roma e atribuindo-a aos judeus, que passaram
a ser vistos como os "assassinos de Cristo". Não é difícil imaginar o que lhes aconteceu durante a Idade Média ou a
Contrarreforma, quando a Igreja católica imperava.

O sionismo
Em meados do século 19, a maior parte dos judeus se encontrava nos países da Europa oriental, como a Polônia, a
Lituânia, a Hungria e a Rússia. Nessa época, a antiga Israel era uma província do Império turco, denominada
Palestina. Ao mesmo tempo, uma onda de nacionalismo atingia a Europa com a unificação da Itália e da Alemanha.

Desenvolveu-se, então, também entre os judeus um movimento nacionalista que se orientava pela ideia de recriar
uma nação judaica no território de sua pátria ancestral. O movimento recebeu o nome de sionismo, que se origina de
Sion, a antiga designação de uma colina de Jerusalém que passou a denominar esta mesma cidade bem como a
própria Israel.

Na Basileia, Suíça, em 1897, teve lugar o 1º Congresso Sionista, presidido por Theodor Herzl, o fundador do
movimento. Seu objetivo era obter um documento reconhecido internacionalmente que legitimasse o
estabelecimento dos judeus na Palestina. As comunidades judaicas da Europa ocidental - ricas e bem integradas às
nações onde estavam - contribuíram para levar o projeto adiante.

Pântanos e desertos
Milionários judeus - como a célebre família Rothschild - doaram dinheiro para se comprarem terras dos proprietários
árabes da região. Embora se tratasse de uma área de pântanos e desertos, muitos jovens judeus da Europa oriental
se dispuseram a colonizá-la, para escapar às perseguições e à falta de perspectivas nos países onde viviam.

No começo, não houve oposição ao projeto por parte dos árabes, que vendiam os terrenos e conviviam
pacificamente com seus compradores. Assim, novas levas de imigrantes judeus foram chegando à Palestina entre
1904 e 1914. A eclosão da Primeira Guerra Mundial alterou o equilíbrio da região e comprometeu as relações entre
árabes e judeus, que já chegavam ao número de 60 mil.

Devido ao petróleo, que já se transformara em fonte essencial de energia para o mundo, o Oriente Médio tornou-se
foco de disputa entre as grandes potências envolvidas no conflito. O controle do petróleo poderia assegurar a vitória
de uma das partes em guerra. Para enfrentar seus inimigos alemães e turcos, a Inglaterra armou os árabes. Há um
filme clássico sobre o tema: "Lawrence da Arábia", de David Lean, que é imperdível.

Mandato britânico
Com o fim da Primeira Guerra, o Império britânico, vitorioso, impôs seu poder em todo o Oriente Médio. Seu
domínio foi marcado pelo desenvolvimento da economia e da infraestrutura da região (ferrovias, rodovias, sistemas
de abastecimento de água, etc.), atraindo novas levas de imigrantes judeus.

Em 1931, eles já eram cerca de 170 mil e suas colônias agrícolas progrediam assim como suas cidades, Jerusalém, Tel
Aviv e Haifa, onde se construíam fábricas, escolas e hospitais. Data desse momento a deterioração da relação entre
árabes e judeus. A elite árabe não via com bons olhos os ideais democráticos judaicos nem a modernização social
que eles promoviam.

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Líderes de comunidades árabes da Palestina passaram a incitar seu povo contra os "invasores ocidentais". Vieram as
primeiras agressões. Os ingleses, a princípio, mantiveram-se omissos. Depois, para preservar seus interesses
petrolíferos, procuraram agradar os árabes, limitando a imigração de judeus e a compra de terras na Palestina.

Por sua vez, para se defenderem, os judeus criaram um exército, a Haganah ("defesa", em hebraico), que se manteve
na clandestinidade desde sua fundação, em 1920, até a independência de Israel, 28 anos depois.

Segunda Guerra
A Segunda Guerra Mundial gerou nova reviravolta no Oriente Médio. Fascistas italianos e nazistas alemães apoiaram
os árabes com armas e dinheiro para combater ingleses e judeus. Estes, apesar da posição hostil da Inglaterra,
aliaram-se a ela em combate ao inimigo comum.

Entretanto, em 1942, quando circularam notícias dos campos de extermínio na Europa, grupos judeus passaram a
enfrentar tanto árabes quanto britânicos e a Haganah passou a trabalhar pelo fim do Mandato britânico na Palestina,
bem como criou um serviço de imigração ilegal para Israel.

Com o fim da Segunda Guerra, as organizações judaicas passaram a resgatar os que escaparam do holocausto nazista
e a embarcá-los clandestinamente para Israel. A Inglaterra tentou impedir o desembarque dos refugiados, num dos
episódios mais vergonhosos da sua história. Afinal, tratava-se dos sobreviventes de um dos mais cruéis massacres da
história.

A pressão internacional, os altos custos militares de ocupação da Palestina e ações guerrilheiras de grupos judeus
forçaram a Grã-Bretanha a levar a questão para a recém-fundada Organização das Nações Unidas.

Independência de Israel
Quando a ONU propusesse uma solução de consenso, a Inglaterra abriria mão de seu Mandato na Palestina. Em abril
de 1947, um Comitê Especial das Nações Unidas propôs a partilha da Palestina em um Estado judeu (já com cerca de
650 mil habitantes) e um Estado árabe-palestino (com o dobro dessa população).

A 14 de maio de 1948, seis horas antes do término oficial do Mandato britânico, David Ben Gurion, que seria o
primeiro governante israelense, leu a declaração de Independência de Israel. Os Estados Unidos e a União Soviética,
as potências do pós-guerra, reconheceram rapidamente o novo Estado.

Porém, já no dia seguinte à independência, os árabes se uniram para atacar Israel. Os judeus resistiram e venceram
seus adversários. Na guerra, conquistaram 78% do antigo território palestino (22% a mais do que previa o plano de
partilha da ONU para alojar a população árabe). Em 1949, firmou-se um primeiro acordo de paz entre os árabes e o
Estado de Israel, já reconhecido pela comunidade internacional, inclusive o Brasil.

Infelizmente, a paz e a convivência harmoniosa entre os povos da região não teve continuidade até hoje, assim como
o Estado Palestino ainda não conseguiu ser efetivamente criado. De meados do século 20 até o início do século 21, a
história de Israel e do Oriente Médio é marcada por tantos problemas e conflitos que constitui uma nova epopeia,
quase tão longa quanto a dos 5 mil anos anteriores.


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As fronteiras de Israel explicadas em mapas
Mais de 70 anos após a declaração de criação do Estado israelense, as fronteiras com países vizinhos
ainda não foram totalmente definidas.

Em 29 de novembro de 1947, a Organização das Nações Unidas (ONU) propôs a criação de dois Estados na Palestina:
um judeu e um árabe, além de um regime específico para a cidade de Jerusalém. Os dois Estados seriam instalados
na chamada Palestina histórica, então controlada pela Grã-Bretanha.

À época, a proposta foi aceita por líderes judeus, mas rejeitada pelo lado árabe. Um dia antes de o mandato
britânico na região expirar, em 14 de maio de 1948, a Agência Judaica para Israel, que representava os judeus
naquele período de controle pelo Reino Unido, declarou a independência do Estado de Israel.

Isso gerou revolta entre palestinos. Naquele mesmo ano, começou a guerra árabe-israelense. De lá para, vem
ocorrendo no local uma disputa recorrente por território, e vários acordos já tentaram estabelecer a paz na região,
mas nenhum deles teve sucesso.

A terra que era chamada de Palestina desde a época dos romanos é formada hoje por dois territórios palestinos
(Faixa de Gaza e Cisjordânia), bem como por Jerusalém Oriental e Israel.

Mudanças em Israel desde 1948


O infográfico abaixo mostra a evolução do domínio sobre a região:
A história da delimitação de fronteiras de Israel, Cisjordânia, Faixa de Gaza, Síria e Egito


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