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OA r n R

Arthur Versiani Machado


Professor de História da Arte e Hist6ria e Linguagem
do Cinema no CEFET - Ouro Preto. Especialista em
Hist6ria ContemporSnea.

EXODUS1: UMA INTRODUÇÃO


A QUESTÃO JUDAICO-
PALESTINA
I.list6l-iaajuda a eriterider a causa piilestiriri e a refletir sobre filmc
com pretensão uii iversaliçta

tualmente é muito comum holocausto nazista, acaba se envolven-


entre os professores de His- do nos tumultuados episódios que mar-
tória, Literatura e Filosofia o caram a construção do Estado de Isra-
uso pedagógico de filmes comerciais, el, na Palestina. Este é, sem dúvida, um
destes que são produzidos pelos gran- tema que hoje deve ocupar posição des-
des estúdios de cinema e distribuídos tacada nos programas de ensino de His-
e m todo o mundo. São exploradas as tória, face aos terríveis conflitos com
qualidades motivacionais e inforrnati- os quais nos defrontamos.
vas deste meio, assim como a abertura O presente artigo analisa o filme
que ele apresenta para a promoção do numa perspectiva pedagógica, enten-
debate e da análise critica. dendo que, em sala de aula, é preciso
Neste trabalho estará sendo dis- fazer uma contextualização histórica
cutido um filme relativamente antigo - prévia que permita uma compreensão
Exorius - uma superprodução dos anos integral do cenário sociocultural em que
60 que ganhou recentemente uma nova se desenrola o enredo. Além disso, é
edição em vídeo. O filme, uma narrati- preciso que o professor, antes de ela-
va ficcional, conta a história de uma borar sua estratégia de ensino, reconhe-
jovem viúva americana que, querendo ça os elementos subjetivos que incidem
adotar u m a criança sobrevivente ao sobre os discursos históricos, veiculados

I . Exodits - filme produzido nos EUA, em 1960. dirigido por Otto Prcmingcr. Duração de 2lQmin.
Exodus: uma introdução 6 questão judaico-palestina

pelo filme. Este artigo da um exemplo manos. No ano 70 da era cristã, estes
de reflexio histórica sobre um filme ultimos expulsaram de lá os judeus, que
ficcional, ajudando o professor de His- se dispersaram por t d o o Império Ro-
tória a encontrar formas de compreen- mano, na primeira grande diáspora (dis-
são dos filmes comerciais de ambien- persão) a que este povo foi submetido,
tação histórica para a construção d e A Palestina foi ocupada pelos árabes
métodos d e ensino que contribuam a partir do ano 636 da era cristã, resul-
para o desenvolvimento de uma atitude tado da grande expansão isllârnica
crítica dos estudantes diante das narra- provocada por Maomé (570 - 632 dC)
tivas filmicas. e seus seguidores. O poder islâmico
chegou a atingir todo o Norte da Áfri-
ca, o Oriente Médio e a PenínsuIa Ibé-
rica européia. Houve então um efetivo
A temática do filme Exodus situa-se e duradouro povoamento árabe na Pa-
entre os anos 1946 e 1948 quando, ter- lestina, inas o domínio político das l i -
iniriada a Segunda Gueil;? Mundial, veii- deranças árabes iiaquela rcgião deixa-
ficoli-se um aumento considerivel do flu- ria d e prevalecer depois d e um certo
xo migrntói.io de jiideus para a Palestina. tempo. Após as cruzadas, assistili-se a
Tal fato acirrou ainda mais a rivalidade um curto período d e dominação cristã
entre judeus e palestinos, ambos originá- sobre a PaIestina ( 1228-1244). Depois
rios daquela região do Oriente Médio, e chegaram os mamelucos (1291), vin-
que há muito debatem-se devido icres- dos do Egito, que impuseram um lon-
cente presença judaica na região. go domínio politico sobre a região.
Ainda q u e os principais fatores
determinantes da questão judaico-paIes-
tina estejam situados no próprio sécuIo Finalmente, os turcos
m, é necessário remceder bem mais na otornanos. que também
história a fim de se compreender todo o professavan-ia religião islnrnita.
prmesso que culminou na hostilidade que
aflige a humanidade até os dias atuais. passaralu a coritsolai. a
Os hebreus (ancestrais dos judeus) Palestina, de forma mais
oçupararn a Palestina no segundo mil& co~isistente.do século XV
nio antes de Cristo e construíram ali uma
civilização que seria imortalizada pelos até o final da Pilnieir-a
escritos sagrados de três das mais influ- Guerra Mundial.
entes religiões de todos os tempos: o cris-
tianismo, o islamismo e o judaísmo. Nessa guerra, a Turquia, que se alia-
Como toda grande civilizaqão, a hebraica ra h AIemanha e à Áustria, foi derrota-
conheceria, ap6s a apogeu, seu momento da e o seu vasto império no Oriente
d e decadência. A Terra de Israel dos Médio desmembrado. Surgiram então
hebreus foi ocupada seguidamente por OS Estados d a Transjordinia (atual
assírios, babilônios, persas, gregos e ro- Jordânia), Síria, Libano, Iraque, Egito,
Comunicação & Educaqào, Sáo Paulo, (25): 79 a 86, set.ldez. 2002

PErsia (atual Ira) e Palestina. Estes Es- disseminavam suas idéias e m jornais e
tados seriam divididos e tutelados pe- livros, outros implementavam ações
las potências européias vencedoras da políticas de convencimento das auto-
Primeira Guerra - França e Inglatena ridades europkias sobre a necessidade
- interessadas sobretudo nas reservas de se criar um Estado judeu. Foram pro-
de petróleo e no controle das rotas ço- movidas também campanhas de arreca-
merciais da região (leia-se: Canal de dação de fundos junto aos judeus de todo
Suez2). Em 1922, a Liga das Nações o mundo para comprar terras na Palesti-
estabeIeceu oficialmente que o controle na e financiar a ocupação daquela re-
político sobre a Palestina, região tão gião por colonos de origem judaica. O
inóspita quanto estratégica, caberia à acirramento do anti-semitismo na Euro-
poderosa Inglaterra. pa nas primeiras décadas do dculo XX,
Paralelamente a estes acontecimentos, além das ações efetivas da Organização
ocorrem fatos decisivos para o futuro da Sionista Mundial levaram a uma forte ten-
Palestina na distante Rússia e no L s t c dência migratória em direção h Palesti-
Europeu. A partir de ineados do século na, o que ocasionou a imediata reação
XIX, as perseguições aos judecis se in- da população árabe ali estabelecida.
tensificaiain nestas regiões, seja pela ação Em 1917, através da Declaração
do governo czarista nisso, que incentiva- Balfour, a Inglaterra se compromete com
va o racismo, seja pelo desenvolvimento o "estabelecimento de um lar naciona1
de uma mentalidade nacionalista no Les- para o povo judeu", ponderando que "não
te Europeu, que estigmatizava o povo se fará nada que possa acarretar prejuí-
judeu na disputa pelos postos de traba- zos aos direitos civis ou religiosos das
lho. Esta nova onda de anti-semitisrno vai comunidades não judias da Palestina".
fortalecer o sionismo (de Sion, nome de
uma colina situada em JerusaIém), movi-
mento internacional que visava h reden- Mais que uma postura
ção do povo judeu através da dificação conciliatória, a Decla~~ação
de um Estado judaico na Palestina. Balfour vai inaugurar uma
SIONISMO política britânica para a
Palestina, mârcada pela
O primeiro congresso sionista foi or-
hesitaqão e pela ambigüidade.
ganizado pelo jornalista húngaro
Theodor Herzl (1860 - 1904), em
1897, na Suiça. A partir de então, mui- As decisões das autoridades inglesas
tas ações se desenvolveram em diver- convergem ora para os interesses sio-
sas frentes. Enquanto alguns sionistas nistas, ora para os interesses dos árabes

2. Canal dc Sucz C a tígaçâo, a h v b s de um canal, entre os mares Mditemâneo e Vermelho. A sua consuuç.50 foi
iniciada em I859 e durou dez anos. O projeto de construção roi coordenado pelo engcnheini frands Ferdinand
de Lesseps e teve como acionistas França c Reine Unido. Para a sua inauguração, em 17/ 1111869. Giuseppe Verdi
compõe a 6pera Afda. O Canal de Suez foi durante longo periodo motivo de disputas e guerras. (N. Ed.)
Exudus.~uumaintrodução a questão judaico-palestina

palestinos, numa típica posição de quem


tenta, a todo custo, se equifibrar na dis- Com as restrições de imigração
córdia para eternizar-se no poder. impostas pela Inglaterra, o
Diante da reação árabe h crescente movimento sionista
chegada de judeus, os ingleses editam,
em 1922, o primeiro Livro Branco, ins- ramificou-se. Surgiram novos
trumento jurídico que deveria limitar a grupos paramilitares
imigração judaica. Todavia a lei tornou-
extremistas, como o 'Ergun e o
se letra morta e não conseguiu impedir
a entrada d e um número cada vez maior Stern que, no final da Segunda
d e judeus na Palestina. Guer-ra. realizaram atos de
Com a ascensão de Hitter ao poder na
Alemanha, em 1933, o fluxo migratório
sabotage111e teil'oiisrno contra
para n Palestina aumentou ainda mais de- a aclmii~istwaqãobritái~icae
vido i perseguic5o que os nazistas empre- con trn C ~ Spo\roarnentos riwbes.
ei~deiainsobre os jrideus alemães. Entre
1933 e 1938 duzentos mil novos colonos O mais irnpactante ataque terrorista
judeus chegaram i Palestina. A reaçno ira- destes gnipos foi em 2946, quando uma
k,desta feita, foi mais intensa. Em I936 bomba explodiu no King David Hotel,
organizaram greves de grande porte e pro- matando 91 pessoas, a maioria delas
moveram intensos combates armados. Al- funcionários da administração inglesa.
gumas lideranças árabes chegaram a bus- Com o fim da guerra, a opinião públi-
car apoio em HitIer, maior inimigo de seus ca mundial passa a apoiar irrestritamente
inimigos - os ingleses e os judeus. a causa judaica, sensibilizada com o so-
Pressionada pela reação irabe, a In- frimento dos judeus sob o regime nazis-
glaterra é levada a editar, em 1939, o ta. O mundo pretensamente civilizado da
segundo Livro Brnilco, mais rigoroso e Europa criou a barbárie e deveria expiar
efetivo contra o povoamento judeu da suas culpas compensando os judeus pe-
Palestina. Continua a imigração clan- los crimes contra eles cometidos. Por ou-
destina, mas o duro controle inglês faz tro lado, os governantes árabes dos pai-
com que os judeus se voltem contra as ses vizinhos à Palestina, temendo o avan-
autoridades britânicas da Palestina de ço dos interesses ocidentais s o h o Ori-
forma cada vez mais violenta. ente Médio, criaram, em 1945, a Liga
As mais antigas e importantes orga- Árabe e se posicionaram claramente con-
nizações judaicas estabelecidas na Pa- tra o sionismo.
lestina eram o Hagannah, instituição A Inglaterra, percebendo o acirra-
militar que fazia a proteção da comu- mento das posições e diante da impos-
nidade, e a Agência Judaica, Órgão exe- sibilidade de resolver o impasse, trans-
cutivo que organizava a administração fere a responsabilidade d o problema
das colônias em colaboração com as au- para a recém fundada Organização das
toridades britânicas. As duas instituições Nações Unidas. Em novembro de 1947,
eram aceitas pelas ingIeses. a ONU decide pela divisão da Palestina
Comunicação & Educação, São Paulo, (25): 79 a 86, set./dez. 2002

em dois Estados - um árabe e outro ju-


deu. Os árabes palestinos não concor-
daram com esta decisão por entende- A história de amor contada pelo fil-
rem que a terra Ihes pertencia e que a me parece ser apenas um pretexto usa-
ONU não tinha legitimidade para arbi- do pelos autores para abordar a ques-
trar esta questão. tão da criação do Estado de Israel. São
No dia 14 de maio de 1948, a Ingla- apresentados no filme muitos elemen-
terra abandona a Palestina e o Estado tos importantes para a compreensão
de IsraeI é proclamado. Imediatamente deste acontecimento tão decisivo para
os paises árabes vizinhos declaram a história contemporânea.
guerra ao novo país. Melhor armados e Na primeira parte da fita, quando a
treinados, os israelenses vencem o con- ação ainda se desenvolve na Ilha de
flito com relativa facilidade, aproveitan- Chipre, são apresentados os problemas
do-se para expandir ainda mais seus decorrentes da perseguição nazista, o
territórios e tomar 70% da irea que, pela périplo doloroso do povo sent terrcr, as
partilha da ONU, deveria pertencer h dificuldades colocadas pelas autoridades
Palestiiia lirabe. Os out1.0~30% - as re- inglesas para a entrada de judeus na Pa-
giões da Cis-iordânia e da faixa de Gaza lestina, as péssimas condições dos cam-
- seriam anexados, ao final do confli- pos de refugiados, a firmeza dos judeus
to, pela Jordânia e peIo Egito, respecti- exilados, dispostos a morrer por seu ide-
vamente. Resultado: a Palestina árabe al sionista. Nesta fase do filme há p d e
deixou d e existir antes mesmo d e ser verossimilhança entre os fatos ficcionais
proclamada. Ao povo Palestino, coube por ele apresentados e os fatos hist0riços.
uma dificil escolha. Continuar vivendo Outra informação interessante coloca-
e m Israel, como indivíduos de quinta da pelo filme diz respeito às formas de
categoria, ou mudar-se para os insalu- integração dos imigrantes recém-chega-
bres campos d e refugiados palestinos dos h Palestina. Boa parte deles era ime-
erigidos nos países vizinhos. diatamente levada às propriedades cole-
tivas, denominadas kil~utzinr.AI i, os re-
sultados da produção eram revertidos sem
Em 1948, resolve-se a Quest5o distinção para todos os membros da co-
Judaica e coloca-se a Questão munidade, as decisões eram tomadas em
Palestina. A fundação do Assembléia Geral, as tarefas sociais e
militares eram divididas igualmente e as-
Estado de Israel foi üpellas O sumidas com fervor patriótico. Esta es-
primeiro ato de uma peça
. <
trutura socioeconõmica ousada e inova-
dora deriva em boa medida das propos-
~naçabraque ainda viria a tas socialistas vigentes na Europa, já que
encenar inuitos outi-os os judeus representavam parte significa-
Exodwuma introdução 6 questão judaico-palestina

Apenas se pressupunha a igualdade Por seu turno, os personagens judeus


entre os iguais. Ou seja, não se conce- costumam encarnar a justiça, a razão, a
bia a participaçio de árabes nos kibutzim abnegação e o heroísmo. Há uma níti-
ou em qualquer outra forma de organi- da distinção entre o espaço do bem e o
zação social judaica. O mundo árabe espaço d o mal.
era um mundo h paste, absolutamente Os autores do filme Exodus tentam
desvinculado da utopia sionista. E o fil- romper e m alguma medida com este
me Exodus, que claramente assume o maniqueismo exagerado, apresentando
ponto de vista dos colonizadores judeus, personagens árabes muito diferentes das
reafirma tal postura de exclusão. caricaturas usuais e não omitindo de-
A ocupação da Palestina pelos ju- terminadas atitudes dos judeus que po-
deus, feita de forma excludente e sec- deriam ser, aos olhos d e espectador,
tária gerou, como era de se esperar, mui- extrernamen te questionáveis. Apesar
ta insatisfação entre os árabes. Uma insa- disso, 6 indisfarçável a parcialidade as-
tisfação crescente, na exata medida do sumida pela obra na defesa da causa
aumento do fluxo migratório. No entan- sionista.
to, o filme desconsidera totalmente s ques- Uma das qualidades do filme estã no
tão populacional, as limitações de territó- fato de que eIe assume atos terroristas
rio e de mercado de trabalho daquele país praticados por judeus contra os ingle-
de geografia tão desfavorável. A revolta ses. E mais, mostra a colaboração entre
dos nativos não é justificada pelo filme. as facções moderadas (Hagannah) e os
Pelo contrário, a convivência pacífica e o grupos radicais (Irgun). Isso atenta con-
respeito mútuo entre áraks e judeus são tra o discurso típico dos judeus, que
enfatizados ao longo de todo o filme e o sempre recusam o terrorismo como prá-
único personagem palestino apresentado tica política. De certa forma, o radica-
com simpatia é Taha, aquele que, tal lismo é condenado pelo filme, mas o
como seu pai, teria sido tolerante e ami- e n f q u e adotado é extremamente indul-
go dos judeus. gente com os terroristas judeus. O tio
de Ari Ben Canaan, personagem prin-
cipal do filme, chefe do Irgun, esta equi-
Normalillente, quando vocado por pregar a violência, mas é
Holywood se debruça sobre a perdoado porque possui o espírito no-
questiio judaica-palestina, o bre de bom combatente e faz parte da
melhor estirpe judia. O ímpeto agressi-
enfoque adotado é YO do garoto Dov é apresentado como
extrenlamen te inaniqueista. 0 s um destempero juvenil, plenamente jus-
tifichvel e m função das miskrias que
árabes são representados como
-. viveu. No final do Filme, o iovern terro-
pessoas brutas e tiias, rista ganha ares de herói.
terroristns sanu~ui~iários. M& se é indulgente com os radicais
judeus que mataram 91 pessoas no King
fanáticos, irracioilais. David Hotel, o filme é implacável com
Cornunicaçao & Educaçõu, São Paulo, (25): 79 a 86, set./dez. 2002

os árabes quando mostram a sua rea- cessariamente, compromisso com a


ção à decisão da ONU de dividir a Pa- verdade histórica e com o rigor cientí-
lestina em dois Estados. Árabes sem fico, além de não se preocuparem com
rosto enforcam cruelmente Taha, o ami- as questoes de caráter didático-peda-
go palestino de Ari Ben, ameaçam as gdgico, Concebidos, na sua maioria,
criancinhas das colônias judaicas e como mero entretenimento, os filmes his-
matam covardemente a jovem e inocen- tbricm comerciais costumam falsear a re-
te Karen, alidade, transmitir concep~õesestereoti-
Nas suas cenas finais, o filme deixa padas dos acontecimentos, reforçar uma
bastante claro que a luta contra os ingle- imagem heróica das personagens, apre-
ses e a batalha diplomática na ONU, que sentar erros históricos crassos, sucum-
resultaram na criação do estado de Isra- bir ao apelo das ideologias, entre outras
el, foi apenas o começo de uma longa deturpações históricas graves.
jornada. A abnegaçfio e combatividode O mais grave 6 que, entre os mui-
dos judeus ainda teria que se haver com tos rnaleficios provenientes do poder
a crirelhde e a irrncionnlidode dos ára- desmesurado dos meios d e comuni-
bes, num longo e extenuante conflito cação de massa, está o de criar o con-
entre civiliznçiio e barlxírie. senso e m torno das representações
mentais, nas mais variadas esferas da
vida humana.

O trabalho com filmes comerciais


de cunho histórico pode ser extrema- A modernidade fabrica e
mente Útil ao aprendizado de história, difunde seus mitos através
contribuindo para o desenvolvimento da da indústria cultural. O
capacidade d e anãlise, compreensão
e critica dos alunos. No entanto, para estereótipo do babe fanático
que o resultado seja satisfatdrio, é ne- e sanguinário e, por oposição,
cessário que o professor saiba reco- a imagem do judeu como
nhecer todos os elementos d o filme
que evocam situaçoes historicas im- vítiina indefesa são exeinplos
portantes, contextualizando-os com desta padronizaçiio das
precisão. Torna-se necessário tam-
bém o conhecimento de aIgumas das
representações mentais.
condições d e produção do filme, tais
como o ano e o pais de origem, as Além disso, como afirma Jacques
eventuais filiações políticas de pro- Aumont: "para tomar seu trabalho e sua
dutores e diretores e, em alguns ca- função naturais, o filme de ficção ten-
sos, as fontes financiadoras do filme. de, com frequência, a escoIher como
Os filmes históricos comerciais não tema as épocas históricas e os pontos
foram produzidos para serem utiliza- de atualidade a respeito dos quais j B
das em sala de aula. Eles não tem, ne- existe um 'discurso comum'. Assim, fin-
Exodwuma introdução a queçtao judaico-palestina

ge submeter-se à reaIidade, enquanto sagens. O filme histórico comercial


só tende a tomar sua ficção verossímel. pode se tornar um instrumento mais do
Aliás, é por ai que ele se transforma em que adequado para o exercício da csí-
veículo para a ideologia"" tica, desde que o professor o utilize de
Não hã dúvidas de que o cinema, niio tal modo que os alunos venham a con-
apenas o de ficção, corno também o fil- ceber o discurso ali difundido como
me histórico, mwitas vezes reforça esta uma das leituras possíveis da história,
estandardização ou padronização d o entre outras tantas. O aluno, através de
conhecimento propiciada pelos meios uma metodulogia bem articulada, pode
de comunicação de massas. Padrões de ser levado a identificar a interpretação
comportamento, valores, idéias, são do autor e a avalili-Ia, a partir de seus
apontados como verdades universais, critérios. Mais do que isso, na medida
princípios indiscutíveis. Sucumbir a tal em que reconhece e analisa uma opi-
poder representa a negação da crítica. nião, pode, com muita facilidade, ser
O desmascaramento da pretensLio incitado a adotar uma posição própria
uriiversalista da indústria cultural pas- sob1.e os feriômenos históricos aIi tra-
sa pelo trato pedagógico de suas men- bal hados.

Resumo: O artigo discute o tratamento dado (Exudus: an introduction to the Judeo-


pelo filme Exodus, de Otto Preminger, ao epi- Palestinian matter)
sódio da criação do Estado de Israel, aconte- AbstmctThe articlediçcusçesthe treatment giwn
cimento fundamental para o entendimento da by Otto Prerningehmwie Exdusto the episode
realidade atual. A contextualização histbrica of the creation of the State ot Israel,a happening
do filme, bem como a caracterização do pon- that was fundamental for one to understand
to de vista adotado pelos seus autores apre- the current reality. The movie's historical
sentam-se como etapas imprescindíveis para contextualiration, and the characterifationof Zhe
a análise critica de professores e alunos de poínt of view adopted by the authors are stages
História, diante de um meio de ensino cada of the utmost importante for Mitical analyses by
vez mais utilizado em sala de aula: o filme teachers and students of History, using ãn
histórico comercial. educatimal medium that is increasinglycommwi
in lhe classroom:the cornme~ialhisroncaimavie.
Palavras-chave: Questáo Palestina, Esta-
do de Israel, Exodus, História, filmes histó- Key words: Palestinian Matter, State of Israel,
ricos Exodus, History, historical movies

3. AUMONT, Jacqucs. A imagem. Campínas1Sáo Paulo: Papirus, 1995. p. 106.


Outras importantes fontes são.
BRENER. Jaimc. Ferida Aherta: o Oriente Mtdio e a nova ordem mundial SSo Paulo. Atual, 1993.
HOBSRAWN. Enc J. A cra dos irnpkios. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1992.
MACHADO, Arihur Vcrsiani. A seleqão dc meios de ensino: o casa dos filmes hist6ricos comerciais. Anais do
Y Encontro Nacional Perspectivas do Ensino de Ilisioria. Ouro Preto: UFOP. no prclo
SALBM. Hclcna. O quc c a Questão Palt~tina.Sio Paulo: Rriisiliense. 1990.

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