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As Raízes do Conflito Israel-Palestina

Ana Rita Santos Rajado

Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra

https://orcid.org/0009-0008-3440-0746

uc2023249092@student.uc.pt

Resumo: O contínuo conflito entre Israel e Palestina é enraizado em narrativas históricas e aspirações
territoriais. Esta complexa disputa vem desde as antigas civilizações de Canaã, onde tanto os judeus
como os palestinianos habitaram durante longas datas. O conceito de 'Terra Prometida' e o movimento
sionista do século XIX intensificaram o conflito, o que levou à criação do Estado de Israel em 1948 e
confrontos subsequentes. Utilizando a revisão da literatura científica de autores portugueses presentes
em bases de dados, procurou-se compreender as origens e o desenvolvimento deste confronto
histórico. A análise focou-se nas tensões territoriais, violações de direitos humanos e nas intervenções
da ONU.

Palavras-chave: Conflito Israel-Palestina, Movimento Sionista, Declaração de Balfour, Criação de


Israel, Direitos Humanos.

Abstract: The ongoing conflict between Israel and Palestine is rooted in historical narratives and
territorial aspirations. This complex dispute dates back to the ancient civilizations of Canaan, where
both Jews and Palestinians lived for long periods. The concept of the 'Promised Land' and the 19th
century Zionist movement intensified the conflict, which led to the creation of the State of Israel in
1948 and subsequent clashes. Using a review of scientific literature by Portuguese authors present in
databases, was sought to understand the origins and development of this historical clash. The analysis
focused on territorial tensions, human rights violations and UN interventions.

Keywords: Israel-Palestine Conflict, Zionist Movement, Balfour Declaration, Creation of Israel,


Human Rights.
Introdução

A história do conflito entre Israel e Palestina é um complexo conjunto de narrativas, disputas


territoriais e eventos geopolíticos que remontam a séculos passados. Este trabalho pretende não apenas
desvendar as raízes antepassadas deste desacordo, mas também analisar os momentos decisivos que
deram origem ao Estado de Israel e às tensões contínuas com os palestinianos. Este trabalho tem como
objetivo geral investigar as origens e o desenvolvimento deste conflito duradouro e explorar as áreas
territoriais e nacionais que sustentam esta disputa. Além disso, procura analisar em profundidade os
eventos históricos, fatores geopolíticos e relações políticas que moldaram esta complexa questão.
Como objetivos específicos, este trabalho propõe analisar a formação do Estado de Israel, examinar os
fatores políticos que influenciaram as relações entre Israel e Palestina ao longo do tempo, descrever os
momentos cruciais do início e evolução do conflito, caracterizar os elementos determinantes nas
relações entre as comunidades israelitas e palestinianas, para além de oferecer uma visão da perspetiva
dos investigadores portugueses sobre este conflito.

Métodos

A temática da investigação deste trabalho consiste na origem histórica e nas ramificações do conflito
Israel-Palestina, desde as suas raízes ancestrais até aos eventos contemporâneos, incluindo a criação
do Estado de Israel, a Diáspora judaica, a influência do sionismo e as repercussões geopolíticas,
sociais e humanitárias na região. O método utilizado foi a revisão de literatura científica e para isso foi
elaborada uma biblioteca digital com o apoio do Zotero.
Para a Pesquisa, as bases de dados utilizadas para a elaboração do trabalho foram: o Google
Académico, a Biblioteca B-on, o Repositório Científico de Acesso Aberto em Portugal, o Repositório
Científico da UC e a Yale Law School LILLIAN GOLDMAN LAW LIBRARY. O tipo de fontes
utilizadas foram trabalhos académicos.
Nas bases de dados realizou-se uma pesquisa básica e avançada, na qual os termos e expressões
utilizados foram: “Conflito Israel-Palestina” e “Fatores Políticos”; “Causas do Conflito Israel-
Palestina”; “Sionismo” e “Israel”; “Declaração de Balfour”; “Criação do Estado de Israel”; “Israel” e
“Palestina”. É importante mencionar que foi feita uma pesquisa na Yale Law School LILLIAN
GOLDMAN LAW LIBRARY de modo a obter a Declaração de Balfour.
De forma a facilitar a investigação, foram aplicados vários filtros de pesquisa. A pesquisa foi
restringida para encontrar apenas elementos que se encontram em acesso aberto, para além disso o
idioma foi delimitado para pesquisar apenas em português, por se tratar de uma investigação focada na
perspetiva de investigadores portugueses, não foram aplicadas restrições relativamente à data.
Por fim, é relevante destacar que a escolha dos documentos ocorreu mediante a análise dos resumos e
das palavras-chave associadas, optando exclusivamente por aqueles cujo conteúdo mostrou ser
pertinente à pesquisa.

Resultados
O conflito persistente entre Israel e Palestina é profundamente enraizado nas suas histórias ancestrais e
lutas territoriais ao longo dos séculos. Tanto os judeus quanto os palestinos reivindicam a região da
Palestina com base nas suas narrativas históricas e conexões culturais. A origem desta disputa remonta
às antigas civilizações que habitavam a região de Canaã. Esta região, originalmente conhecida como
Canaã, abrangia o território atual de Israel, Palestina, Faixa de Gaza, Cisjordânia, partes da Jordânia,
Líbano e Síria, onde habitava o povo cananeu, dos quais descendem os palestinianos. Acontece que,
durante a idade do bronze, surgiu o conceito Eretz Yisrael, ou “Terra de Israel”, que é a região que,
segundo o Tanakh, a Bíblia judaica, foi prometida por Deus a Abraão, quando este saiu da sua terra
natal, Ur Casdim, para Canaã, onde recebeu a tal promessa divina sobre a terra para os judeus. Esta
promessa foi passando entre o povo judeu formando a ideia de terra prometida que antecedeu a
formação do próprio povo. Primeiro nasceu a terra prometida e depois o seu povo. Assim, os judeus
conquistaram e governaram uma parte da região de Canaã. Isto fez com que tanto os judeus como os
palestinianos acabassem por ser ambos descendentes dos cananitas e conseguiram viver em paz
durante um bom período de tempo.
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No entanto, império judaico que se havia formado na região de Canaã acabou por cair devido à
invasão romana e começou, assim, a Diáspora judaica. Contudo, nem mesmo durante o exílio o
conceito de terra prometida fora esquecido e foi criado desde então uma relação especial com o
território que lhes foi “destinado por Deus”. O conceito de pátria possui um significado distinto para o
povo judeu. Enquanto que para outras culturas a pátria está associada ao local de nascimento, para os
judeus, ela é moldada pela cultura e religião, transcendendo a mera questão de nascimento. Para o
judeu, a pátria está especificamente ligada à região da Palestina (Dias, 2015, pp. 15-16).
No século XIX, surgiu o sionismo, liderado por Theodor Herzl, como resposta ao crescente anti-
semitismo testemunhado por Herzl na Europa em 1894. O anti-semitismo representa um sentimento de
ódio religioso e racista direcionado aos judeus. Este movimento político, defende a autodeterminação
do povo judeu e reivindica o seu direito à soberania num Estado próprio e baseia-se na convicção de
que a Palestina deveria ser o território destinado para a concretização desse Estado.
Foi a partir da segunda metade do século XIX, no seio do Império Otomano, que o sionismo começou
a cumprir o seu principal objetivo: colonizar a Palestina com judeus, inicialmente provenientes da
Europa Oriental e depois de outras partes da Europa, para estabelecer, por um suposto direito divino, o
primeiro Estado Judaico: a tão mencionada "terra prometida de Israel". Este Estado foi idealizado para
oferecer aos judeus um espaço onde não enfrentariam a marginalização experimentada em outras
sociedades. Em vez disso, procurava-se criar um local onde teriam um papel proeminente e exerceriam
liderança como parte fundamental do Estado (Andrade, 2020, pp. 14).
Após a derrota da Alemanha e do Império Otomano na Primeira Guerra Mundial e a assinatura do
Tratado de Sèvres em 1920, a Grã-Bretanha assumiu o antigo Mandato Otomano da Palestina. A
entrada da Grã-Bretanha no território atual de Israel e Palestina ocorreu num período de considerável
confusão social, económica e política, que se instalou no final do mandato do Império Otomano, por
diversas razões:
Socialmente, a situação era tensa devido ao movimento de povoamento judaico, promovido pelo
sionismo. Essa “migração” causou conflitos violentos entre os árabes palestinos, residentes na região,
e os judeus “imigrantes” vindos de outras áreas. O controle desse movimento de colonização era uma
tarefa impossível para o Império Otomano e tornou-se inevitável. A região era economicamente
periférica, afastada dos centros de desenvolvimento global, o que resultou numa grande pobreza no
início do século XX. Politicamente, foi marcada por líderes divergentes, que deixaram a população
vulnerável sem oportunidade de expressar opinião, exceto por meio de revoluções e conflitos
violentos.
Em resumo, é evidente que tanto a população judaica quanto a palestina viveram sempre sob
diferentes formas de domínio. No entanto, a partir de 1948, israelitas e palestinos mergulharam num
conflito contínuo pela supremacia, poder, nacionalismo e controlo territorial, recusando-se a serem
subjugados por qualquer outro poder estrangeiro, Estado ou império.
Após a "Declaração de Balfour", as simpatias dos árabes palestinos em relação aos judeus
praticamente desapareceram. Emitida em 1917, a Declaração de Balfour foi um compromisso público
do Reino Unido , que prometia estabelecer um Estado Judaico na Palestina.
Segundo a Declaração Balfour,

O Governo de Sua Majestade vê com simpatia o estabelecimento na


Palestina de um lar nacional para o povo judeu e envidará os seus
melhores esforços para facilitar a conquista desse objectivo, ficando
claramente entendido que nada será feito que possa prejudicar os
direitos religiosos e civis das comunidades não judaicas existentes
na
Palestina ou os direitos e condições políticas usufruídas pelos judeus
em qualquer país (BALFOUR DECLARATION, 1917, texto digital)

À medida que o tempo avançou, aumentou a imigração judaica para a Palestina que, até 1939, foi
favorecida pela Grã-Bretanha. Inicialmente, o movimento sionista comprou terras aos árabes para
instalar os imigrantes judeus. No entanto, a imigração judaica para a Palestina intensificou-se com a
chegada de Adolf Hitler ao poder.
No final da Segunda Guerra Mundial, entre maio e junho de 1945, os líderes judeus solicitaram à Grã-
Bretanha a criação de um Estado judaico na Palestina, além da permissão para a entrada de 100.000

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imigrantes na região. Os esforços para encontrar um compromisso falharam, enquanto os ataques e
contra-ataques se intensificavam. A escalada do conflito trouxe fortes sentimentos de culpa devido ao
holocausto à comunidade internacional, que se sentiu pressionada, com uma dívida moral e ética ao
povo judeu o que levou a ONU, em 1947, a realizar a divisão da Palestina. A criação do Estado de
Israel em 1948 foi uma resposta da ONU ao desejo do povo judeu por um território soberano e
independente, onde não apenas desejam habitar, mas também procuram cumprir a promessa originada
do pacto entre Deus e Abraão. Ao mesmo tempo, a organização internacional procurou preservar os
interesses dos palestinos, resultando na orientação para a criação de dois Estados: um israelita e outro
palestiniano. Nesse contexto, Jerusalém, cidade sagrada para ambas as partes, seria dividida entre eles,
com a parte ocidental para os judeus e a parte oriental para os muçulmanos.
Após alcançar a independência, Israel confrontou-se com sua primeira guerra contra os árabes, que se
recusaram a aceitar a divisão da Palestina e declararam guerra a Israel. Para os israelenses, este
conflito foi denominado como a Guerra da Independência, enquanto para os palestinos ficou
conhecido como al-Nakba, que significa "a Catástrofe". E tal como disse Dias (2015), “A partir da
Guerra da Independência, os problemas começaram a agravar-se e, até ao momento, sem
solução”(p.55).
Após inúmeros conflitos e guerras, muitos palestinos foram forçados a abandonar as suas casas em
busca de refúgio diante dos ataques. Hoje em dia, muitos desses refugiados palestinos têm lutado pelo
direito de retornar à sua terra natal, mas Israel tem bloqueado todas as tentativas, argumentando que o
aumento da população árabe no seu território poderia ameaçar a sua identidade como um Estado de
maioria judaica. Além disso, alega-se que ao longo do tempo, muitos desses refugiados poderiam ter
se integrado aos países onde procuraram acolhimento, da mesma forma que aconteceu com os judeus
da Diáspora, que integraram os costumes e a cultura dos lugares onde estiveram exilados.
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Conclusão

Ao refletir sobre as complexas raízes históricas, culturais e políticas do conflito entre Israel e
Palestina, é evidente que as disputas territoriais e as aspirações nacionais profundamente estabelecidas
têm alimentado décadas de tensões e confrontos. As narrativas históricas e religiosas, entrelaçadas
com movimentos como o sionismo, moldaram a região de maneiras que transcendem fronteiras
geográficas.
A intervenção estrangeira, desde a Declaração de Balfour até a criação do Estado de Israel em 1948,
desencadeou uma série de eventos que amplificaram as hostilidades. A partilha da Palestina pela ONU
não conseguiu evitar conflitos subsequentes, como a Guerra da Independência, resultando numa
perspectiva divergente sobre eventos.
Os impactos humanitários desses conflitos são evidentes em várias comunidades populacionais e
refletem-se na luta contínua dos refugiados palestinianos pelo direito ao retorno. A procura por
identidade e soberania tem sido moldada como políticas de ambos os lados, criando um ciclo de
conflito difícil de resolver. Sendo que, os territórios ocupados por Israel tem aumentado gradualmente
com a criação de colonatos.
Em uniformidade com os investigadores portugueses, fica claro que a procura por soluções exige
apenas uma compreensão profunda das perspectivas locais. As raízes históricas e as experiências de
ambos os lados devem ser tomadas em consideração para construir uma paz sustentável na região.
Assim, o desafio atual reside em encontrar um caminho que concilie as narrativas e permita uma
coexistência, superando as memórias do passado e construindo um futuro comum.
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