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1º ano, 1º semestre
2022/2023
Introdução
Este ensaio foi elaborado no âmbito da cadeira de História das Relações
Internacionais e tem como objetivo aprofundar a compreensão da questão palestiniana,
mais propriamente, o fenômeno do colonialismo messiânico de Israel. Este texto, visando
o tema 23 do programa da disciplina de HRI, terá por base o artigo ‘’THE QUESTION
OF PALESTINIAN STATEHOOD’’, escrito por Luke van den Hoek e publicado em 2019.
A escolha deste tema e a sua relação com os assuntos abordados neste ensaio prendem-se
com o facto da questão da legitimidade do Estado da Palestina ser um ponto crucial na
discussão do conflito israelo-palestino.
O presente ensaio tem como objetivo examinar a origem e a evolução do conflito
entre Israel e Palestina, assim como explorar a forma como Israel, com o apoio dos
Estados Unidos, consegue evitar sanções internacionais, alegando agir em prol dos
valores ocidentais. Será dada especial atenção ao conceito de colonialismo messiânico,
que envolve a crença de um destino divino atribuído ao povo judeu para tomar posse da
Terra de Israel. O ensaio analisará como este fenómeno influenciou as políticas e as
ações do governo de Israel, passando pela forma como o conflito se disseca sob a
perspetiva da teoria realista. Será também realizada uma análise crítica da postura
internacional em relação ao governo israelense, considerando como a suposta partilha
dos valores ocidentais tem permitido que o país fique protegido por organizações
internacionais, como por exemplo a ONU, apesar das constantes violações dos direitos
humanos e do direito internacional.
Assim, espera-se fornecer uma visão mais abrangente e aprofundada face à
questão palestina, destacando a interseção entre o colonialismo messiânico, os valores
ocidentais e a política internacional, a fim de promover uma reflexão crítica sobre a
situação atual da Palestina.
A origem do Estado da Palestina
No que concerne as origens da Palestina enquanto Estado formal, estas remontam
para momentos históricos e processos políticos distintos, sendo importante salientar que
a história da Palestina se relaciona profundamente com a história de outros povos e
impérios que ocuparam a região ao longo dos séculos. A região da Palestina possui uma
longa história que se refere a milhares e milhares de anos, marcada por inúmeras invasões
e ocupações.
Durante a Antiguidade, o território palestino foi habitado por vários povos,
incluindo os cananeus1, filisteus2, hebreus3 e assírios4. No século VI a.C., a região foi
conquistada pelo Império Persa, sendo seguida pelo domínio de Alexandre, o Grande5, e
pela subsequente ocupação pelos Selêucitas6 e Ptolomeus7.
No século I d.C., a Palestina foi incorporada pelo Império Romano, que governou
a região por vários séculos. Durante este período, os judeus resistiram à dominação
romana, o que culminou na revolta judaica e na destruição do Segundo Templo em
Jerusalém no ano 70 d.C. Como resultado, deu-se a diáspora judaica, isto é, o
distanciamento forçado dos hebreus da sua terra natal e a consequente disseminação do
povo judeu por várias partes do mundo.
Após a queda do Império Romano, a região passou por diferentes governantes,
incluindo o Império Bizantino, os árabes muçulmanos e os europeus durante as Cruzadas.
No século XVI, a Palestina foi incorporada pelo Império Otomano e permaneceu sob o
domínio deste até o final da Primeira Guerra Mundial, em 1918. Finda a Primeira Guerra
Mundial, o Império Otomano foi desmantelado e a região da Palestina ficou sob o
controlo do Reino Unido, através do Mandato Britânico da Palestina, estabelecido pela
Liga das Nações em 1920.
A questão do estabelecimento de um Estado judeu na Palestina ganhou impulso
durante o movimento sionista do final do século XIX, que procurava na Palestina um
refúgio seguro e autónomo para o povo judeu. A Declaração de Balfour de 1917, emitida
pelo governo britânico, expressou o apoio ao estabelecimento de um "lar nacional
judaico" na Palestina, sendo esta declaração incorporada no Mandato Britânico da
Palestina. Em 1947, a Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou a Resolução 181,
que propunha a partilha da Palestina em dois Estados, um judeu e um árabe, com
Jerusalém sob administração internacional. No entanto, a resolução foi rejeitada pelos
países árabes e isso levou a um conflito armado entre a comunidade judaica e as nações
árabes após a declaração de independência do Estado de Israel em 1948.
No fim do século XX, em 1988, o Conselho Nacional Palestino proclamou a
independência da Palestina e estabeleceu a Autoridade Palestina enquanto governo
provisório. A Declaração de Independência da Palestina afirmou o direito do povo árabe
palestino à região da Palestina, embora esta proclamação tenha sido simbólica, já que
Jerusalém, designada como capital, estava sob controle ilegal de Israel. Desde então, a
Palestina tem procurado o reconhecimento internacional como Estado independente, com
reconhecimento parcial por muitos países e entidades internacionais.
A luta pelo reconhecimento da Palestina enquanto Estado independente continua
até os dias atuais, sendo objeto de vários debates a nível internacional. É essencial para a
abordagem à situação palestina ressaltar que a questão do status da Palestina como Estado
soberano é objeto de disputa e negociações complexas com Israel, envolvendo questões
como as fronteiras, o status de Jerusalém, os assentamentos e o direito de retorno dos
refugiados palestinos. Portanto, compreendemos que a origem do Estado da Palestina é
multifacetada, refletindo uma mistura de eventos históricos, aspirações políticas e
disputas contemporâneas.
____
1
Antigo grupo étnico e cultural conhecido por estabelecer cidades-estado independentes e se dedicar à
agricultura e comércio.
2
Povo do mar que se estabeleceu na região costeira da Palestina conhecidos pelas suas habilidades militares
e pelas suas cidades fortificadas, sendo um dos principais antagonistas dos hebreus.
3
Antigo grupo étnico e cultural associado à tradição judaica e considerados como ancestrais do povo judeu,
sendo a sua história narrada no Antigo Testamento da Bíblia.
4
Povo semítico que habitou a região da Mesopotâmia, formando um império poderoso que se expandiu por
várias terras, incluindo a Palestina, e sendo conhecidos pelas suas habilidades militares avançadas e pelo
domínio sobre vastos territórios.
5
Rei da Macedónia que conquistou um vasto império durante o séc. IV a.C., considerado um dos maiores
líderes militares da história.
6
Dinastia helenística que governou grande parte do Médio Oriente após a morte de Alexandre, o Grande.
7
Dinastia helenística que governou o Egito após a morte de Alexandre, o Grande. Embora não tenham
governado diretamente a Palestina, exerceram a sua influência na região durante o período helenístico.