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Índice

Aula 1
Revolução Cubana
Aula 2
Oriente Médio e a Questão da Palestina - Sionista
Aula 3
Terceiro Mundo e a Guerra do Vietnã
Aula 4
África, Angola e Moçambique
Aula 5
O Terceiro Mundo
Aula 6
Abaixo a Ditadura!
Aula 7
Abaixo a Ditadura! - O Caso Brasileiro
Aula 8
Abertura e Anistia no Brasil
Aula 9
África - Conflitos pós IndependênciaÁfrica - Conflitos pós Independência
Aula 10
O Neoliberalismo se fortalece - Governos Thatcher e Reagan
Revolução Cubana

Após conseguir sua independência, Cuba passou a sofrer forte influência


dos Estados Unidos, principalmente devido ao fato de muitos norte-
americanos possuírem latifúndio na ilha. Portanto, Cuba acabou se tornando
um país de soberania limitada. Em 1952, com o apoio dos Estados Unidos,
Fulgêncio Batista impõe uma ditadura ao país. Em 26 de julho de 1953,
Fidel Castro comanda um ataque ao quartel militar de Moncada com o
objetivo de derrubar Batista, mas o ataque fracassa e Fidel é preso. Dois
anos depois Fidel Castro é solto e vai para o México tentar organizar uma
revolta contra a ditadura de Batista.

Contando com a adesão popular, Fidel e seus homens formam quatro


colunas militares para a derrubada de Batista. Em 1° de Janeiro de 1959,
tropas revoltosas ocuparam a capital do país, Havana e no dia seguinte Fidel
discursou como líder da nação. Logo após tomar o poder, Fidel passou a
sofrer forte oposição dos Estados Unidos, que criticavam principalmente as
medidas sociais adotadas pelo novo regime, entre elas a reforma agrária. Já
na ilha a elite passou a se opor ao governo e muitos fugiram para a Flórida.
A Revolução que levou Fidel Castro ao poder era nacionalista, mas devido
às pressões exercidas pelos Estados Unidos, acabou tornando-se comunista.
Com o objetivo de desestabilizar o governo de Fidel, os norte-americanos
passaram a organizar atentados que levou a morte de centenas de cubanos.
Além de medidas militares, os EUA impuseram embargo econômico a
Cuba, restringindo o comércio do país a gêneros alimentícios e a remédios,
em represália Fidel Castro nacionalizou diversas empresas norte-
americanas.

Em 17 de Abril de 1961, 1500 homens desembarcaram na Baía dos Porcos


com o objetivo de derrubar Fidel. A maioria desses homens eram antigos
membros do exército de Fulgêncio Batista e haviam sido treinados pela CIA
na Flórida. A invasão acabou sendo fracassada devido à resistência do
exército revolucionário e 1200 foram presos o restante morreu em combate.
Receoso de novos ataques norte-americanos, Fidel Castro busca o apoio da
URSS, que no cenário de Guerra Fria aceita, com a intenção de usar Cuba
como base militar próxima aos EUA. O projeto soviético era o de montar
16 lançadores de mísseis balísticos de médio alcance com ogivas nucleares
na ilha.

Crise dos mísseis


Em 1962, aviões de espionagem norte-americanos fotografaram bases
militares e rampas de lançamentos de mísseis em Cuba. A vulnerabilidade
do sistema de defesa e possibilidade de ataque nuclear comando pela URSS
a parte sul dos EUA, levaram a sociedade americana ao pânico. O Planeta
ficou em estado de choque com a possibilidade de uma guerra nuclear
envolvendo as duas maiores potências da época. Para muitos era o “fim dos
tempos”. O clima apocalíptico tomou conta do mundo. Abrigos foram
construídos e a todo o momento eram ensaiados os procedimentos em caso
de ataque com armas de destruição em massa.

Contudo, o presidente norte-americano John Kennedy e o líder soviético


Nikita Kruschev passaram a negociar em segredo uma solução pacífica para
a situação. Segundo o acordo feito entre EUA e URSS, o governo
americano não invadiria Cuba, nem tão pouco apoiaria ações de grupos
contra o poder de Fidel Castro. Já a URSS deveria retirar os mísseis da ilha.
Mesmo abrindo mão da posição estratégica, os soviéticos continuaram a
apoiar o governo cubano e no plano econômico passaram a comprar
produtos agrícolas, em especial o açúcar, a preços acima do mercado. Nesse
cenário, Cuba manteve-se dependente da economia soviética com ênfase no
petróleo.
Ernesto Guevara - Che Guevara

Jovem médico com apenas 27 anos quando se juntou ao grupo liderado por
Fidel Castro para derrubar a ditadura de Fulgêncio Batista, foi peça
importante durante a Revolução Cubana e chegou a ocupar cargos de
destaque na formação do governo revolucionário, mas deixou Cuba em
1967 para pôr em prática a expansão do socialismo na América Latina. Para
Che, os fatos ocorridos em Sierra Maestra poderiam se repetir em outros
países. Um grupo pequeno de guerrilheiros na área agrícola contagiaria a
população rural levando-os a uma luta revolucionária contra o governo.
Contudo, sem o apoio da população das cidades, o modelo que deu certo na
ilha fracassou no continente. Em 8 de outubro de 1967, isolado na selva da
Bolívia, Che Guevara foi capturado e assassinado pelo exército boliviano.
A morte de Che representou o fim da tentativa de expandir o modelo
revolucionário cubano pelo continente, mas também levou a criação de um
símbolo do idealismo juvenil e sua imagem atravessa gerações como
modelo de luta contra opressão.
Oriente Médio e a Questão da Palestina - Sionista

A região que chamamos de Oriente Médio se estende do mar Mediterrâneo


até as fronteiras da Índia. Com cerca de 270 milhões de habitantes, os povos
do Oriente Médio são formados por diferentes etnias, onde é possível
encontrar três grandes religiões.

O islamismo é uma dessas religiões. São chamados muçulmanos os que


seguem a fé islâmica. Entre eles há maneiras diferentes de compreender o
poder das autoridades religiosas. Para os mulçumanos xiitas, 15% do total,
sua autoridade é moral, social e política. Já para os mulçumanos sunitas,
85% do total, sua autoridade deve ser apenas no campo da religião.

Até a Primeira Guerra o Império Turco Otomano controla a região do


Oriente Médio. Mas com a desestruturação do Império Turco, a região
passou a ser controlada pela Grã-Bretanha, que deveria reconhecer a
independência dos países da área.

Os povos que constituem o Oriente Médio possuem elementos que lhes dão
identidade comum. É o caso das sociedades que falam a língua e partilham
os valores da cultura árabe. Outro fator de unificação é a religião islâmica.
Além disso, os povos da região compartilham a experiência de submissão a
potências estrangeiras.
Não faltaram disputas políticas entre os povos do Oriente Médio, além da
tradicional rivalidade entre sunitas e xiitas, agravadas, no caso libanês, pela
presença de uma minoria cristã. Mas o grande inimigo dos países árabe no
Oriente Médio do pós-guerra foi, sem dúvida, o Estado de Israel.

Criação do Estado de Israel

No final do século XIX, foi criado o movimento sionista liderado pelo


judeu austríaco Theodor Herzl, que pretendia formar um Estado judeu na
Palestina. Ainda no século XIX o sionismo ganha força e judeus europeus
começaram a migrar para a Palestina. Na década de 1930, com a ascensão
do nazismo, houve aumento no número de judeus que chegavam à
Palestina. O crescente número de judeus na região passou a gerar
descontentamento aos palestinos, o que acabou levando a revoltas dos
árabes.
Como forma de tentar agradar as lideranças palestinas locais, os britânicos,
a partir de 1939, restringiram duramente a imigração judaica na região.
Contudo, logo após a Segunda Guerra, os desembarques clandestinos de
judeus sobreviventes do holocausto tornaram-se mais frequentes.

A desestruturação do Império colonial britânico acabou gerando o


fortalecimento dos movimentos de emancipação política na região. Em
1947, a ONU propôs a formação de dois Estados, um judeu e outro
palestino, sendo a cidade de Jerusalém considerada território internacional.
Os judeus aceitaram a proposta, enquanto os árabes a recusaram.

Em 1948, David Bem Gúrion, liderou a fundação do Estado de Israel, que


foi logo atacado pelos países árabes. Mas contando com um exército mais
bem preparado e o apoio norte-americano, os israelenses saíram
vencedores.

Guerra sem fim: Israel x Árabes


Com a formação do Estado de Israel, os países árabes formaram a Liga
Árabe. Além disso, os palestinos se organizaram e criaram a OLP
(organização pela Libertação da Palestina), e seu braço armado o Fatah, sob
a liderança de Yasser Arafat.

Em 1967, Israel organizou um ataque contra a Força Aérea do Egito, essa


medida tinha como objetivo neutralizar a frente árabe formada pelo Egito,
Síria e Jordânia. Com o conflito, que foi denominado de Guerra dos Seis
Dias, Israel passou a controlar a península do Sinai, as colinas de Golan e
anexou Jerusalém ao seu território.
A cada conflito a paz entre israelenses e palestino ficava mais difícil e
distante. Para os árabes, o Estado de Israel deveria ser destruído. Enquanto
os judeus não aceitavam a criação do Estado Palestino. Não havia, nesse
momento, qualquer possibilidade de diálogo. Grupos árabes radicais
passaram a recorrer ao terrorismo na luta contra Israel. Nas olimpíadas de
Munique, em 1972, atletas israelenses foram mortos.

Na década de 1970, a ONU tentou obrigar Israel a devolver os territórios


conquistados com a Guerra dos Seis Dias. Contudo, os Estados Unidos
vetaram a resolução das Nações Unidas. Com objetivo de tentar recuperar
os territórios perdidos para os judeus, Egito e Síria atacaram Israel no dia
do Yom Kippur (Dia do Perdão). Sofrendo inicialmente grandes baixas,
somente com a ajuda militar dos EUA os israelenses conseguiram vencer.
Em retaliação, os países árabes da OPEP (Organização dos Produtores e
Exportadores de Petróleo) aumentaram o preço do barril em 300% no fim
daquele ano, prejudicando os EUA e toda a economia ocidental. Depois de
perceber o poder de negociação dos árabes, os EUA passaram a adotar uma
postura de conciliação. Contudo, vários acordos costurados por diversos
países foram rejeitados pelos dois lados e a disputa continua até hoje.
Terceiro Mundo e a Guerra do Vietnã

O termo terceiro mundo foi uma definição usada durante o contexto de


Guerra Fria para classificar os países que não pertenciam ao bloco
capitalista, liderados pelos EUA, nem tão pouco faziam parte do grupo de
países comandados pela URSS. Usada pela primeira vez pelo demógrafo
francês Alfred Sauvy a expressão, hoje em desuso, foi extremamente
importante durante a Guerra Fria, pois, representava sob uma mesma
denominação todos os países que não se inseriam no contexto da disputa
“EUA x URSS”.

Em 1955, foi realizada a Conferência de Bandung, que tinha como objetivo


reunir os países que buscavam uma posição política independente em um
mundo bipolarizado entre duas superpotências mundiais: EUA e URSS.
Mesmo tendo origem com os países da África e da Ásia, logo os países da
América Latina foram agrupados nesse conjunto. A economia com base na
produção de agrícola e extrativista, enormes desigualdades, instabilidade
política e dependência econômica dos países centrais, marcavam as
características dos países africanos, asiáticos e latino-americanos nas
décadas de 1950 e 1960, levando-os a serem organizados no mesmo grupo.

Guerra do Vietnã
Até a Segunda Guerra mundial, a região entre a China e a Índia, conhecida
como Indochina estava sobre o domínio francês. Em 1941, o Japão –
inimigo francês na guerra – invadiu essa região,mas foi combatido pelos
vietnamitas, liderados por Ho Chi Minh, que comandava a Liga
Revolucionária para a Independência do Vietnã (ligada ao partido
comunista).

Com o fim da Segunda Guerra e a expulsão dos japoneses, Ho Chi Minh,


proclamou a independência, dando origem ao Vietnã. Contudo os franceses
resistiram e somente em 1954, na Conferência de Genebra, a França
reconheceu a independência da região, dando origem ao Camboja, Laos e
Vietnã – este último foi dividido em Vietnã do Norte: socialista e Vietnã do
Sul: capitalista.
Em 1956, um golpe de Estado, liderado por Ngo Dinh Diem, anulou as
eleições e institui um regime ditatorial na parte sul do Vietnã. O golpe foi
apoiado pelos EUA que, temiam a eleição de comunistas na parte sul do
país.
Os Estados Unidos enviaram armas, dinheiro e instrutores militares para o
país e, ainda, criaram a OTASE (Organização do Tratado do Sudeste
Asiático), com o objetivo de ajudar o Vietnã do Sul.
Em reação, os comunistas e os nacionalistas vietnamitas formaram, em
1960, a Frente de Libertação Nacional (FLN). Conhecida como vietcongue
promoveu uma guerra de guerrilhas contra o governo do sul.
Ngo Dinh Diem, percebendo que não seria capaz de derrotar o vietcongue,
aceitou a participação direta dos Estados Unidos no conflito. Em 1963,
contudo, tornou-se vítima de seu próprio golpe militar que resultou em sua
morte. A partir desse momento, o governo norte-americano investiu mais
pesadamente no conflito, enviando soldados e armamentos para a região.
O exército norte-americano executava bombardeios aéreos e utilizava armas
químicas extremamente potentes e prejudiciais à saúde. As bombas de
napalm, que em combustão podem chegar a 1.000 °C provocavam a
devastação pelo fogo, desregulando as funções hormonais, reprodutivas e
imunológicas do organismo. Ainda hoje, após mais de trinta anos do fim da
guerra, os efeitos ainda podem ser vistos no nascimento de pessoas
mutiladas ou cegas.

Na década de 1960, várias manifestações foram organizadas contra a guerra


e a participação dos Estados Unidos. O movimento hippie, por exemplo,
pregava uma nova maneira de se comportar na sociedade,de fazer política e
de se relacionar sexualmente. Os hippies também repudiavam a política
bélica dos Estados Unidos e influenciaram o mundo todo com o lema “Faça
amor, não faça guerra”.

A grande resistência dos vietcongues, assim como a pressão da opinião


pública e de setores organizadas da sociedade civil norte-americana,
contribuiu para a derrota dos Estados Unidos. Em 1973, o governo norte-
americano assinou o Acordo de Paris, comprometendo-se a retirar as suas
tropas do Vietnã. Finalmente, em 2 de julho de 1976, o Vietnã foi
reunificado sob o regime socialista. A maior potência do planeta saiu da
guerra humilhada.
África: angola e moçambique

Desde o século xvi, portugal consolidou sua presença no território africano.


Mas ao longo dos séculos com o desenvolvimento da política imperialista
europeia em relação a áfrica, outros países passaram a controlar territórios
nessa região. Nesse cenário, angola e moçambique passaram a ser as
principais áreas do império luso.
Entre o final da segunda guerra mundial e o final da década de 1960 grande
parte das colônias europeias na áfrica alcançaram sua independência. Os
conflitos mundiais, principalmente a segunda guerra, foram determinantes
para esse processo: ao enfraquecer os países europeus, abriam espaço para a
expansão e a consolidação dos movimentos por autonomia. Entre os países
europeus, portugal se esforçou por conservar as possessões coloniais
africanas. A ditadura salazarista recusava-se a qualquer negociação com os
movimentos de libertação dessa região. Mesmo com a reprovação da onu e
da comunidade internacional, salazar insistia em manter o controle dos
territórios além-mar. Portugal foi o último dos impérios coloniais do
mundo.

Angola
O processo de independência em angola foi iniciado em 1961, após uma
sublevação em luanda e outra no norte do país. Esses movimentos foram
deflagrados pela ação de dois grupos diferentes formados na década de
1950, no país, que tinham o intuito de libertar angola do imperialismo
português. O movimento popular de libertação de angola (mpla),
organizador do levante popular em luanda, capital de angola, foi criado em
1956 e a união das populações de angola (upa), responsabilizada pelo
episódio no norte, fora formada também na segunda metade da década de
1950 e contava com forte apoio popular na região norte do país,
principalmente rural.
A luta de guerrilha entre esses grupos e o exército português foi iniciada em
1962. Num primeiro momento, houve uma ascensão da upa, agora chamada
de frente nacional de libertação de angola (fnla), mas posteriormente o mpla
assumiu o maior volume de guerrilha e de locais libertados dentro do
território. Em 1966, após uma cisão da fnla, é criada a união nacional para
independência total de angola, a unita, que passou a figurar no embate entre
o imperialismo português e os vários projetos para uma angola
independente.
Em 1974, angola se tornaria finalmente independente, após a queda do
sucessor de salazar, marcelo caetano, na revolução dos cravos. Em 11 de
novembro de 1974, a independência é declarada pelo mpla, reconhecido
pelas autoridades portuguesas como representante oficial do povo angolano.
No entanto, os outros grupos, a fnla e a unita, não desistiram de implantar
seus próprios interesses políticos e o embate continuaria, mesmo com a
saída portuguesa. A guerra civil durou oficialmente até 1991, quando houve
uma eleição, na qual concorreram eduardo dos santos, representando o
mpla, e jonas savimbi, representando a unita, apoiada pelo fnla. A vitória
foi dada a eduardo dos santos, mas não foi reconhecida pela oposição, e a
guerra permaneceu até 2002, quando a unita perdeu forças após a morte de
savimbi.

Moçambique

A partir da década de 1960, diversas manifestações contra o domínio


colonial foram feitas no país através da literatura, arte e greves de
trabalhadores. Essas manifestações tomaram proporções maiores e mais
radicais com o desenvolvimento dos movimentos nacionalistas armados:
frelimo, frente de libertação de moçambique.Fundada no exílio, o frelimo
iniciou a luta armada pela libertação nacional de moçambique a partir de
1964. Sua estratégia era a criação das “zonas libertadas”, áreas do território
moçambicano fora do controle da administração portuguesa. Assim, os
revolucionários criavam seu próprio sistema de administração, como se
fosse um estado dentro de outro.

O combate propriamente dito foi lançado oficialmente em 25 de setembro


de 1964, com o ataque ao posto administrativo de chai, em cabo delgado. O
conflito contra as forças coloniais se expandiu para outras províncias como
niassa e tete e durou cerca de 10 anos. Assim que as forças revolucionárias
assumiam um território, elas estabeleciam as zonas libertadas, para garantir
bases seguras, abastecimento em víveres e vias de comunicação.

(Img7)

A guerra findou-se com a assinatura dos “acordos de lusaka”, em setembro


de 1974. Nesse período foi estabelecido um governo provisório composto
por representantes da frelimo e do governo português, até que no dia 25 de
junho de 1975, foi proclamada oficialmente a independência nacional de
moçambique.
Após a independência e com a saída “brusca” do aparato português, o país
começou a passar por sérias dificuldades para preencher os lugares
deixados pelos portugueses. Nessa época, moçambique tinha uma
população com uma porcentagem de 90% de analfabetos, além disso,
empresas e bancos portugueses procederam ao repatriamento do ativo e dos
saldos existentes, criando assim um rombo na economia de moçambique.

Vale a pena saber:

• O contexto no qual ocorreu o processo de fragmentação do imperialismo


europeu na áfrica foi marcado pela bipolarização do mundo, que estava
dividido entre eua e urss. Nesse cenário de guerra fria foi muito comum que
os guerrilheiros recebem-se apoio desses dois blocos. Isso também levou ao
intenso debate ideológico entre esses grupos que lutavam pela
independência e mais tarde ao enfrentamento armando dos mesmos.

• A revolução dos cravos foi decisiva na independência das regiões


controladas por portugal. Portanto vejamos o que foi a “revolução dos
cravos”.

Revolução dos cravos


No dia 25 de abril de 1974, oficiais de média patente conseguiram organizar
a derrubada de marcelo caetano, sucessor de antonio salazar.
A vitória dos oficias rebeldes foi comemorada por toda população
portuguesa que, em sinal de apoio, distribuiu cravos aos soldados
participantes da revolução. Por causa dessa manifestação, o fim da ditadura
portuguesa ficou conhecido como a revolução dos cravos. O novo
presidente antónio de spínola aboliu a polícia política de salazarista e
legalizou o sistema político pluripartidário. Nesse momento, as esquerdas
do país se organizaram para tomar o poder.

Políticos e militares de esquerda tomaram o poder por meio do chamado


movimento das forças armadas (mfa). O governo foi dividido entre os
oficiais costa gomes, otelo saraiva de carvalho e vasco gonçalves. Entre
outras ações, o novo governo empreendeu a estatização dos bancos e
indústrias. Em 1975, o partido socialista ganhou maioria na nova
assembleia constituinte. Um novo golpe militar, agora de extrema-esquerda,
tentou refrear a ascensão dos socialistas, mas não obteve sucesso.

Esse último episódio, que encerrou o processo revolucionário, foi seguido


pela aprovação da constituição de 1976. Nas eleições daquele ano, o general
antônio ramalho eanes, que conteve os revolucionários de esquerda, venceu
as eleições presidenciais. Aos poucos, medidas econômicas de caráter
liberal e instrumentos que garantiam as liberdades individuais foram sendo
instituídas pelos governos seguintes.
O Terceiro Mundo

Governos militares na américa latina


Após a segunda guerra mundial, a instalação da ordem bipolar e o sucesso
do processo revolucionário cubano inspiraram diversos movimentos de
transformação política no continente americano. Em contrapartida, os
estados unidos – nação que tomava a dianteira do bloco capitalista –
preocupava-se com a deflagração de novas agitações políticas que viessem
a abalar a hegemonia política, econômica e ideológica historicamente
reforçada nos combalidos estados latino-americanos.

Nesse contexto, ao longo das décadas de 1960 e 1970, os diversos


movimentos de transformação que surgiram em nações americanas foram
atacados pelo interesse das elites nacionais. Para tanto, buscavam o
respaldo norte-americano para que pudessem dar fim aos movimentos
revolucionários que ameaçavam os interesses da burguesia industrial
responsável por liderar essas ações golpistas. Com isso, a ingerência
política dos eua se tornou agente fundamental nesse terrível capítulo da
história americana.

Argentina
A ditadura na argentina começou com um golpe de estado dado por
militares que assumiram o poder do país. Durante sua vigência, foi um dos
governos mais autoritários da américa latina no século xx. A argentina
passou por situação semelhante a do brasil em relação à existência de um
governo militar ditatorial. A ditadura na argentina teve início com um golpe
militar no ano de 1966.
O presidente arturo illia, que exercia o cargo legalmente dentro da
constituição, foi deposto no dia 28 de junho daquele ano e a partir de então
se sucedeu uma série de governos de militares até 1973. Embora o tempo de
vigência da ditadura na argentina tenha sido de apenas sete anos, bem
menos do que os 21 anos de ditadura militar no brasil, foi tempo suficiente
para as várias atrocidades cometidas pelos governantes autoritários.

Os promovedores da ditadura na argentina, em semelhança ao brasil, a


determinavam como revolução argentina. Logo após a tomada de poder,
entrou em vigor no país o estatuto da revolução argentina que legalizou as
atividades dos militares. O intuito dos golpistas era de permanecerem no
poder por tempo indeterminado, enquanto fosse necessário para sanar todos
os problemas argentinos. A nova ‘constituição’ proibia a atividade dos
partidos políticos e cancelava quase todos os direitos civis, sociais e
políticos por conta de um quase constante estado de sítio. Era a derrocada
da cidadania.

Ao longo do período de governo militar, três indivíduos ocuparam o poder:

Juan carlos onganía governou de 1966 a 1970 e entregou o poder debilitado


por conta de protestos. Em seu lugar, a junta de comandantes em chefe das
forças armadas assumiram o governo do país e decidiram pela indicação do
general roberto marcelo levingston para a presidência. Levingston era um
desconhecido militar e governou a argentina até 1971 pela incapacidade de
controlar a situação política, econômica e social do país. Em seu lugar
entrou o homem forte da ditadura, o general alejandro augustín lanusse.
Este governou entre 1971 e 1973, sua gestão que foi empenhada em obras
de infra-estrutura nacional era vista com desgosto da população.

As crescentes manifestações populares causaram as eleições para novo


presidente na argentina em 1973. A população queria perón no governo do
país, mas o candidato do povo foi barrado pelo então presidente militar que
alterou as leis eleitorais da constituição de forma que barrasse sua
candidatura. Impossibilitado de ser eleito, perón e o povo passaram a
defender a candidatura de hector josé cámpora, que saiu vitorioso no pleito.
O período da ditadura militar na argentina foi cruel e sangrento, a
estimativa é de que aproximadamente 30 mil argentinos foram sequestrados
pelos militares. Os opositores que conseguiam se salvar fugiam do país, o
que representa aproximadamente 2,5 milhões de argentinos. Os militares
alegam que mataram “apenas” oito mil civis, sendo que métodos tenebrosos
de torturas e assassinatos foram utilizados pelos representantes do poder. O
governo autoritário deixou marcas na argentina mesmo após a ditadura,
com a democracia, poucos presidentes conseguiram concluir seus mandatos
por causa da grande instabilidade econômica e social.

Chile

Entre os anos de 1964 e 1970, o presidente eduardo frei iniciou um


conjunto de pequenas reformas que incluíam a distribuição de terras e a
nacionalização da indústria de exploração do cobre. Durante o processo
eleitoral de 1970, socialistas cristãos e demais setores de esquerda se
uniram em uma única chapa nomeada unidade popular. Salvador allende,
candidato por esta chapa, acabou vencendo as eleições e abriu portas para
uma nova postura política.

Ao assumir o cargo presidencial, allende tratou de nacionalizar todas as


empresas norte-americanas encontradas no país. Essa medida teve impacto
negativo aos olhos do “tio sam”, que logo se preocupou em averiguar
melhor as intenções deste novo governo no chile. Os grupos chilenos,
contrários ao governo allende, organizaram movimentos grevistas que
mobilizaram segmentos essenciais da economia chilena. Ao longo de três
anos o desgaste causado sobre a figura de allende impulsionou um
movimento para derrubar o presidente. Em setembro de 1973, um grupo de
militares realizou um golpe que culminou no assassinato do presidente
salvador allende. Sob a liderança do general augusto pinochet, o chile
passou a viver uma terrível ditadura preocupada em perseguir a oposição
das esquerdas nacionais e atender os interesses norte-americanos.
Augusto Pinochet

Em 1980, o governo pinochet promulgou uma nova constituição que


legitimava o regime ditatorial. Ao longo daquela década, os grupos
oposicionistas iniciaram uma nova articulação política para dar fim ao
regime totalitário. Um novo plebiscito, realizado em 1987, vetou o direito
de augusto pinochet a permanecer no governo em oito anos. Dois anos
depois, patricio aylwin foi eleito como novo presidente prometendo
restaurar as liberdades democráticas e punir os militares envolvidos com o
regime.

Militarismo no peru
No peru o militarismo teve características bastante peculiares: assumindo o
poder em 1968, o general juan velasco alvarado deu início a uma política
caracterizada por um discurso nacionalista e anti imperialista e colocou e
marcha a reforma agrária, garantindo a uma parcela dos camponeses o
acesso a terra, reivindicação secular da sociedade rural, reformou a
legislação social criando condições para a elevação do nível de consumo do
país, fato que interessou tanto a burguesia internacional como à incipiente
burguesia nacional.

O governo militar (1968-75) foi responsável por importantes mudanças,


eliminando o poder das oligarquias, transferiu a hegemonia econômica para
a burguesia; a sindicalização aumentou, assim como a participação do
estado na economia.
No entanto a repressão interna e a crise internacional determinaram o fim
do peruanismo e o regresso de uma política conservadora, pautada pelos
interesses internacionais ditados pelo fmi, fato que foi responsável por
violenta crise, caracterizada pelo desemprego e miséria. É nesse novo
quadro que surgiram os movimentos guerrilheiros do sendero luminoso
(1980) de tendência maoísta e o movimento revolucionário tupac amaru
(1984).
Abaixo a Ditadura!

Argentina
Resistência

Diante do domínio e da ação da ditadura militar, o medo tornou-se cada vez


mais generalizado na argentina. A exceção ficava por conta de um grupo de
mães cujos filhos desapareceram com a repressão. Com lenços cobrindo os
cabelos, elas passaram a se reunir em frente ao palácio presidencial,
localizado na plaza de mayo no centro de buenos aires, para exigir
informações sobre seus filhos.

Como os militares não podiam fazer essas mulheres desaparecerem, pois


eram mães em busca de seus filhos, a partir de 1981 se viram obrigados a
dar alguma satisfação ao grupo. Assim, elas foram as primeiras a romper
com o medo e tornaram-se símbolo da luta contra o regime militar.

Guerra das malvinas e o fim das ditaduras argentinas

Em 1982, para fortalecer o apoio da população à ditadura, o presidente


general leopoldo galtieri ordenou a invasão das ilhas falkland, próximas da
argentina, mas pertencentes à inglaterra. Essas ilhas eram objeto de uma
antiga disputa entre ingleses e argentinos. Milhares de argentinos foram às
ruas para apoiar a ocupação das ilhas, conhecidas por eles como malvinas,
mas o governo não recebeu o apoio internacional que esperava. A guerra
pela posse das ilhas durou de abril a junho de 1982. A argentina foi
derrotada pela inglaterra e perdeu cerca de oitocentos soldados.

Com a derrota na guerra das malvinas, o general galtieri foi forçado a


renunciar. Em seu lugar assumiu o general reynaldo bignone, que iniciou as
negociações para devolver o governo aos civis. Em dezembro de 1983,
venceu as eleições o civil raul alfonsin, da unión cívica radical (ucr).
Terminava assim, a era das ditaduras na argentina. Em 1984, os ex-
presidentes militares foram presos. No ano seguinte, cinco dos nove
membros das juntas militares que governaram o país foram condenados a
penas que variavam de quatro anos à prisão perpétua.
Finalmente, em 1986, os militares responsáveis pela guerra das malvinas
também foram condenados à prisão.

Chile

Em 1986, augusto pinochet sofreu um atentado promovido pela frente


patriótica manuel rodrigues. Cinco guarda-costas morreram e o próprio
ditador quase foi eliminado com seu neto. Desde então, a oposição ao estilo
de regime do ditador foi crescendo.Em 1989, ele foi pressionado pela
comunidade internacional a realizar um plebiscito e isso abriu espaço para
protestos populares contra seu regime. Depois das primeiras eleições nesse
período, o general augusto pinochet entregou o poder em 1970 ao
democrata-cristão patricio aylwin.Pinochet conseguiu se manter como o
responsável pelas forças armadas chilenas até 1998, quando então passou a
ocupar o cargo de senador vitalício do país (cargo criado por ele). Fora do
poder, o ex-presidente-ditador respondeu a diversos processos na justiça por
seus crimes durante a ditadura. Porém, os juízes tinham de obter o
levantamento do tamanho da imunidade que gozava o ditador, que
acumulava cargos de ex-presidente e senador vitalício e por isso necessitava
fórum especial. Além das torturas, pesava contra pinochet o desvio de verba
pública e contas em paraísos fiscais. Mais de us$ 20 milhões teriam sidos
roubados pelo comandante. Somente em barras de ouro, estima-se que o
ditador possuía 190 milhões de dólares em um banco de hong kong.
Augusto pinochet faleceu em três de dezembro de 2006, vítima de um
ataque cardíaco, aos 91 anos de idade.

Peru
O governo militar que teve início em 1968 realizou várias reformas, que
nacionalizaram diversas empresas. Outro aspecto importante foi à reforma
agrária promulgada em 1969, que previa a expropriação dos latifúndios e a
estatização de mais de metade das terras responsáveis pela produção do
açúcar, que seriam distribuídas aos trabalhadores organizados em
cooperativas. Contudo, a reforma agrária esbarrou em inúmeros obstáculos.
Os latifundiários resistiram em entregar suas propriedades, e indígenas e
mestiços não aprovaram o sistema de cooperativas. Na década de 1970, o
país sofreu com uma grave crise econômica. As facções militares mais
conservadoras passaram a se opor ao governo e contando com o apoio dos
empresários organizaram um golpe que destituiu o governo do general
alvarado. O novo governo aboliu as medidas estatizantes e nacionalistas,
abriu o país ao capital estrangeiro e estabeleceu acordos com o fundo
monetário internacional (fmi). Os resultados foram à redução do poder de
compra dos trabalhadores e a desvalorização da moeda peruana.

Operação condor

A operação condor consistiu na associação dos sistemas repressivos de


brasil, uruguai, paraguai, bolívia, argentina e chile. A primeira reunião
desse grupo ocorreu em 1975, convocada pelo general chileno manoel
contreas. Inicialmente ficou estabelecido que os diversos órgãos de
segurança formariam um banco de dados e um arquivo centralizados com
fichas das pessoas suspeitas. Desse modo, seriam trocadas informações
sobre opositores, exilados e grupos esquerdistas. A fase seguinte da
operação implicaria em sequestros, atentados e assassinatos. As forças de
segurança dos seis países poderiam executar qualquer opositor a um dos
regimes militares, independente da sua nacionalidade e do território
nacional onde estivesse exilado.

Assim entre outras situações, esquerdistas argentinos foram mortos ou


sequestrados por militares brasileiros; como vários brasileiros foram mortos
por militares chilenos. Documentos liberados pelos eua e a descoberta do
chamado “arquivo do terror” em assunção, paraguai, revelaram que o
serviço secreto chileno, montado em dezembro de 1973, foi estruturado
pelo serviço nacional de segurança (sni) brasileiro. Os encarregados pela
repressão política no brasil ofereceram aos chilenos cursos de
planejamento, organização e técnicas de interrogatório, entre elas o tipo de
tortura criado no brasil, conhecido como “pau de arara”.
Abaixo a Ditadura! - O Caso Brasileiro

Luta armada
Logo após o golpe de 1964, jovens universitários de esquerda acusaram a
direção do Partido Comunista Brasileiro (PCB) de não resistir ao golpe
militar e agir com moderação e cautela.Muitos julgavam que o momento
era de luta armada contra ditadura, eles acreditavam que os trabalhadores
apoiariam a luta e se engajariam em um movimento revolucionário liderado
por essas vanguardas.Várias organizações revolucionárias surgiram com o
objetivo de atacar a ditadura militar e implantar o socialismo no Brasil.

A maioria das organizações seguiu o modelo cubano de revolução: um


pequeno grupo de homens mobilizaria os camponeses no interior do país,
criando um “foco” guerrilheiro para a tomada do poder. O modelo chinês
também teve grande influência: formação de exércitos camponeses que
tomariam as cidades. Nos dois modelos, as esquerdas acreditavam que os
camponeses seriam a base da revolução.

Antes de 1694, existiam várias organizações de esquerda, como o Partido


Comunista Brasileiro (PCB), o Partido Comunista do Brasil (PC do B), a
Ação Popular (AP), a Organização Revolucionária Marxista – Política
Operária (POLOP), o Partido Operário Revolucionário (Trotskista).Os
nacional-revolucionários que, no PTB, seguiam a liderança de Leonel
Brizola, para citar os mais conhecidos. Depois do golpe, entretanto, elas se
multiplicaram:Partido Comunista Revolucionário (PCR), ala Vermelha do
PC do B, Partido Comunista Revolucionário Brasileiro (PCRB), Partido
Operário Comunista (POC), Ação Libertadora Nacional (ALN), Partido
Revolucionário dos Trabalhadores (PRT), Vanguarda Popular
Revolucionária (VPR) e muitas outras.

Muitas dessas organizações se formaram devido a divergências ideológicas,


táticas ou mesmo disputas pessoais entre as lideranças de organismo já
existentes. Todas se julgavam ser a vanguarda da classe operária na
condução da revolução socialista. Ao mesmo tempo acusava as demais de
erros, desvios e traições.

Ações de guerrilha

O projeto político dessas organizações era desencadear a revolução no


campo, mas para isso era preciso arranjar dinheiro nas cidades. As ações
guerrilheiras atuaram nos centros urbanos, com assaltos a bancos e carros-
fortes.
Eram as chamadas expropriações em nome da revolução. O dinheiro era
gasto no aluguel do apartamentos (os aparelhos de células revolucionárias),
no sustento dos militares e no financiamento de nova operações de
expropriação. Manter um guerrilheiro urbano na clandestinidade custava
muito dinheiro.Aos olhos de hoje, a luta armada não tinha a menor chance
de derrubar o regime militar. As organizações eram muito fragmentadas,
com divergências internas. Mas os guerrilheiros estavam convencidos de
que violência da ditadura militar era prova de que o capitalismo no Brasil
entraria em crise irreversível.

O maior problema dessas organizações revolucionarias consistia em que a


sociedade brasileira, no seu conjunto, simplesmente não desejava nenhuma
revolução solista, nem estava disposta a apoiar a luta armada. Os
trabalhadores entusiasmaram com as ações revolucionarias e a maioria dos
brasileiros não entendia o que estava acontecendo, tomando conhecimento
dos embates entre guerrilheiros e policias em silêncio.Alem disso, o
“milagre econômico” começava a deslanchar. Os guerrilheiros somente
encontravam algum apoio no que restava do movimento estudantil.

Para enfrentar a guerrilha, o governo unificou as ações das diversas forças


repressivas. Nas Forças Armadas foram criados os DOI-CODI
(Destacamento de Operações de informações e Centro de Operações de
Defesa Interna). A tortura dos guerrilheiros era praticada em suas
instalações. Participaram também do combate à guerrilha a Polícia Federal,
as políticas estaduais (Civis e Militares) e os Departamento de Ordem
política e Social (DOPS). Tão logo eram presos, sofreram bárbaras torturas
para entregar os companheiros à repressão. Alguns desses métodos foram
ensinados por agentes norte-americanos.

Muitos militantes presos não resistiram e morreram em função das torturas,


que incluíam o pau de arara, espancamentos variados e choques elétricos
em várias partes do corpo. Para libertar os companheiros, os militantes
realizaram várias ações, como o seqüestro do embaixador norte-americano,
exigindo a libertação de 15 prisioneiros e a leitura, em rede nacional de
televisão, de um manifesto revolucionário. Foram seqüestrados também os
embaixadores alemão e suíço, além do cônsul do Japão. Com os seqüestros,
a repressão política tornou-se ainda mais dura e cruel.

A luta era desigual: jovens de classe média armados com revólveres


enfrentando militares profissionais e agentes treinados. Os grupos
guerrilheiros estavam derrotados ao final de poucos anos. No entanto, o
fator decisivo para a derrota da luta armada foi, como vimos, o isolamento
dos guerrilheiros em relação à sociedade. Calcula-se que cerca de 800
pessoas se engajaram na luta armada, sendo que 386 foram mortas ou
desapareceram.No ano de 1973, uma nota assinada em conjunto por três
dessas organizações (VPR,VAR e APML) reconheceu que a luta armada
tinha fracassado. O PC do B ainda tentou implementar uma guerrilha na
região do Araguaia, mas tropas do Exército reprimiram duramente o
movimento. O governo Médici, em resumo, teve uma dupla face: a da
euforia do “milagre econômico” e a da brutal repressão política.

Os meios de comunicação sofriam severa censura. Alguns pequenos jornais,


conhecidos como “imprensa alternativa”, como Opinião, Movimento e
Pasquim, ousavam publicar matérias mais críticas. Trabalhadores,
camponeses e estudantes estavam impedidos de se organizar e se
manifestar.
Muitos empresários, satisfeitos com os lucros provenientes do milagre,
apoiaram e inclusive finamente a repressão ao movimento sindical.
Diversos políticos concordavam com o fim das eleições direitas. Nesse
período, conhecido como os “anos de chumbo”, restou uma única
instituindo fora do controle dos militares: a Igreja católica.

A tortura como política: relato de um guerrilheiro


preso

Sem nenhuma ideia de quedas do PCBR no Rio e em São Paulo, fui à casa
de um companheiro na noite de 20 de janeiro de 1970, conforme
combinado. Chovia muito e eu segurava o guarda chuva aberto, quando a
janela do apartamento térreo se escancarou e aparecem à minha frete uma
carabina, uma metralhadora e um revolver 38.(...)
No terceiro andar do DEOPS (...), empurraram-me até uma sala, onde
identifiquei certos implementos: duas mesas paralelas e separadas com uma
grossa trave de madeira apoiada em ambas, a maquininha com a manivela e
os fios, um funil, cordas, bastões etc. Tiraram-me a roupa e, desnudado,
encostaram-me à parede.(...) A função começou por uma dose de choques
elétricos. A intervalos, novas doses. (...) Depois de pontapés e telefones
(tapas atordoantes e simultâneos nos dois ouvidos) (...) chegou vez do pau
arara. (...) De pés e mãos atados por cordas, seguro à trave de face para
cima, eu ia recebendo choques elétricos em varias partes do corpo,
queimaduras nas plantas dos pés, telefones. A água derramada sobre o
corpo aumentava o efeito da eletricidade. Fizeram o afogamento:
introdução de água pelas narinas por meio de um funil. Com a cabeça
inclinada para baixo, a água entope o nariz, sai pela boca e provoca a
sensação de asfixia.(...) Creio que depois de seis hora de tortura , lá pelas
três da madrugada, suspenderam a função e mandaram que me vestisse. O
corpo muito dolorido, caminhei com dificuldades até largo recinto.
Indicaram confortável poltrona para me acomodar (...). O resto da noite ia
ser empregado na pressão psicológica. Perguntas sempre as mesmas,
deboche, insultos. Tudo vil e nojento.(...) Passados vários dias, resolveram
encerrar a tortura e fui(...) prestar depoimento tomado o termo por escrito.
Pelas suas perguntas, percebi que o descontrole, que tanto me inquietou,
havia sido ineficaz. Nada me tiraram de comprometedor para os
companheiros.(...) Afasto decididamente a pretensão de me apresentar
como herói ou como exemplo. Do meu relato não exclui os momentos de
temor e desespero.Só não renunciei à luta. Preste o depoimento da fase
policial em condições de aguda debilitação física e num ambiente de terror
onipresente.Duelava contra um inquisidor habilidoso.(...) Por deliberação
calculada, declarei apenas um ato incriminador contra mim mesmo: o de
participante da fundação do PCBR. No Brasil, a Constituição de 1988
garante que os acusados por determinados crimes possam recorrer à fiança
judicial. Mediante pagamento de valor estipulado pela autoridade judicial e
obedecendo a determinadas obrigações, o acusado pode aguardar a sentença
em liberdade. Exceção é a pratica da tortura,considerada crime inafiançável.
Abertura e Anistia no Brasil

Abertura Política

A abertura política brasileira foi um processo de desestabilização da


estrutura do Regime Militar à época predominante no País. Inicia-se em
1974, com o governo do General Ernesto Geisel e termina em 1985 com o
mandato de João Baptista Figueiredo, ano em que a ditadura militar é
extinta.

Ernesto Geisel
O General Ernesto Geisel assumiu a presidência em 1974 com o projeto de
“distensão lenta, segura e gradual”. Os ideais de Castelo Branco (primeiro
presidente da Ditadura militar) voltavam a ser citados, Castelo Branco
almejava institucionalizar a “revolução” que fora feita para salvar a
democracia além do mais, a imagem dos militares estava começando a ser
questionada após, as dezenas de torturas praticadas contra estudantes e
operários mortos e desaparecidos nos anos de chumbo. A ideia era abrandar
o regime e permitir algumas pequenas liberdades e posteriormente retirar os
militares do governo. O País passava por uma crise econômica que se
agravava a cada dia. O elevado preço do petróleo e as altas taxas de juros
internacionais desequilibravam o balanço brasileiro de pagamentos e
estimulava a inflação, no entanto, apesar de todos esses problemas
econômicos e também sociais, o governo não cessa o ciclo de expansão
econômica iniciado nos anos 70 aumentando o desemprego.
Para mostrar suas intenções, Geisel puniu os militares que estavam
envolvidos nos assassinatos do jornalista Wladimir Herzog e do operário
Manuel fiel Filho vítimas de torturas pelo DOPS, em 1977 suprimiu o
famigerado Ato Institucional numero 5. No entanto no ano de 78 usou o
mesmo ato que havia extinguido meses antes para fechar o Congresso
Nacional e aprovar o Pacote de Abril, em seguida a aprovação dos
“senadores biônicos”. Outro problema foi a mudança na política externa
norte-americana. A crise que culminou na renúncia do presidente Richard
Nixon e a derrota na Guerra do Vietnã lançaram os EUA em grande
descrédito. Para recuperar o prestígio internacional, o governo de Jimmy
Carter mudou a política norte-americana para a América Latina, criticando
as ditaduras em nome dos direitos humanos.Além do contexto externo,
Geisel enfrentava a oposição de três grupos políticos.

O primeiro foi o PCB, partido que atuava na clandestinidade e não


participara da luta armada. Muitos militares se abrigavam na legenda do
MDB, que assim tornou-se uma espécie de frente de oposições ao regime
militar. O segundo grupo era a oposição moderada do MDB que apostava
na via eleitoral para derrotar a ditadura. Seus maiores representantes eram
Ulysses Guimarães e Tancredo Neves. Em 1974, o MDC saiu-se vitorioso
nas eleições em vários estados, sobretudo nos grandes centros
populacionais. Por fim, o terceiro grupo era a própria “linha dura” do
Exército, a chamada “comunidade de informações”, homens que atuavam
no Serviço Nacional de Informações e nos DOI-CODIs contrários à
redemocratização do país.

Diante de todo esse contexto, diversos setores sociais ainda se organizaram


na campanha pela Anistia Ampla Geral e Irrestrita para todos os punidos
pela ditadura militar. Em fins de 1977, o regime dava mostras de
esgotamento, agravado pelo aumento da inflação, da dívida externa e do
empobrecimento da população. Em 1978, foi a vez dos operários entrarem
em cena. Em maio eclodiu a greve na região do ABC, despontando a
liderança sindical do torneiro mecânico Luis Inácio da Silva, o Lula. Agora
o regime tinha que enfrentar os trabalhadores, que estavam insatisfeitos
com o arrocho salarial. Em meio a grande tensão nas Forças Armadas,
Geisel indicou como seu sucessor um membro da “comunidade de
informação”, o general João Batista Figueiredo (ex-chefe do SNI), mas
comprometido com o projeto de redemocratização.
João Figueiredo

Em 1979 João Batista Figueiredo assumiu a presidência do Brasil, sua


administração promoveu uma frouxa transição para os civis. Em seu
discurso ao vencer as eleições prometeu “a mão estendida em conciliação
jurando fazer deste País uma democracia”. No plano político concedeu
anistia ampla geral e irrestrita aos políticos cassados pelos atos
institucionais, permitiu o retorno ao Brasil dos exilados pelo regime militar.
Também extinguiu o bipartidarismo. A reforma política é aprovada os
partidos, MBD e ARENA são abolidos passando a existir o
pluripartidarismo no País.

No campo econômico, o governo não conseguiu contornar a grave crise


econômica. A continuidade da crise do petróleo ao longo da década de 1970
prejudicou fortemente a economia do país. A inflação alcançando 110% em
1980 e 200% em 1983. Sem capacidade de exportação, sem fontes de
financiamento e incapaz de competir com outros países, a economia
brasileira, no início dos anos 1980, entrou em colapso. Diante desse
cenário, em 1983, o governo Figueiredo decretou a moratória,
reconhecendo a incapacidade de pagar os empréstimos externos.

A linha dura

Um grupo de militares radicais, contrários ao processo de abertura política,


passou a elaborar uma estratégia que visava amedrontar a sociedade.
Recorrendo a práticas terroristas, alguns setores da “linha dura” explodiram
bombas em diversos lugares, matando e ferindo pessoas inocentes; uma
carta-bomba matou a secretária da OAB e outra feriu gravemente um
funcionário da Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro; bancas de jornais
que vendessem imprensa de oposição eram incendiadas. O mais ousado
atentado foi planejado para a noite de 30 de abril de 1981, no Riocentro.
Enquanto milhares de jovens participavam de um show comemorativo do
Dia do Trabalho, o sargento Guilherme Pereira do Rosário e o capitão
Wilson Machado, ambos servindo no DOI-CODI do Rio de Janeiro,
armaram bombas dentro de um carro, no estacionamento do Riocentro.
Contudo o plano deu errado, a bomba acabou explodindo no colo do
sargento, matando-o e ferindo gravemente o capitão. Mesmo com a forte
pressão exercida pela opinião pública, o governo preferiu não punir os
responsáveis pelo crime. Um inquérito repleto de manipulação foi montado.
Ao final, um tenente-coronel , na televisão, tentou convencer a sociedade de
que um “terrorista de esquerda” tinha colocado a bomba dentro do carro. A
explicação foi tão absurda que indignou muitos militares. Completamente
desgastado, o general João Figueiredo perdeu o controle do processo
político.

Diretas já!

No segundo semestre de 1983, as oposições se uniram e promoveram


grandes comícios pela aprovação da Emenda Dante de Oliveira, que
restabelecia o voto direto para presidente da República. Em um desses
comícios, na cidade do Rio de Janeiro, um milhão de pessoas foram à
Candelária exigir o voto direto. No último comício, em 16 de Abril de
1984, na cidade de São Paulo, o número chegou a um milhão e meio de
manifestantes. A campanha foi o maior movimento cívico e popular da
história do país, havendo registro de quase 40 comícios, de norte a sul do
Brasil. Mas aprovar uma emenda constitucional não era tarefa fácil; não
bastava apenas a maioria simples no congresso, tinha a necessidade de obter
2/3 dos votos do plenário. A emenda conseguiu a maioria, mas acabou
derrotada, frustrando a sociedade brasileira. Mas não havia dúvida que o
regime tinha se tornado extremamente impopular e não teria como se
manter.
África - Conflitos pós Independência

A categoria genética “ raça”, ligado a característica biológicos, surgiu na


Europa em fins do século XVIII e foi difundida pela ciência do século XIX.
Seu sentido, no contexto europeu da época, era justificar o racismo e a
“superioridade” europeia sobre outros povos.
O pan-africanismo reinterpretou a categoria “raça”,tornando-se um
importante movimento político do século XX.
O objetivo foi propagar uma identidade própria, com base na noção de
“raça”. Desse modo, diversos povos africanos e seus descendentes nas
Américas poderiam encontrar uma origem e um destino comum,
despertando, ainda,a consciência de que deveriam lutar contra o
colonialismo. As origens intelectuais do movimento se relacionam com os
membros de elites negras que frequentavam universidades da Europa e dos
Estados Unidos. Sobretudo em países africanos de colonização inglesa na
America ocidental, jovens eram enviados para estudar nas metrópoles.
Outra características do movimento foi a produção de jornais e livros bem
como as associações e realização de congressos.

Até a Segunda Guerra Mundial o movimento pan-africanista ficou restrito


atividades de intelectuais negras na Europa e nos Estados Unidos e somente
após 1945 expandiu-se pela África. Seus princípios eram a defesa da
unidade, da justiça, da igualdade, da solidariedade e do direito à
autodeterminação dos povos do continente africano na luta contra o
colonialismo. A ênfase poderia ser na noção de “raça” ou em temas
políticos e culturais.

Ainda no século XIX, Alexander Crummel tinha a categoria “raça” como


questão central e defendia que a África tinha um único povo: Os Negros.
Em livro publicado em 1962, afirmou que os afro-americanos e afro-
caribenhos também deveriam ser incluídos no movimento pan-africanismo.

Por essa mesma época, Edward W. Blyden se esforçou para mostra que os
africanos tinham uma história e uma cultura próprias, refutando as teorias
racistas da época. Em fins do século XIX e início do XX, o sociólogo norte-
americano William Du Bois lutou pelos direitos civis dos negros, repudiou
o racismo e acreditou que o problema dos negros estava vinculado à
dominação colonialista na África. Na década de 1920, Marcus Garvey, de
origem jamaicana, lutou contra o racismo e defendeu a dignidade negra.
Nas décadas 1920 e 1930, jovens oriundos de colônias francesas que
estudavam em Paris deram impulso ao movimento de valorização da África.
O nome mais conhecido é o de Léopold Senghor. Para ele,o negro vivia
diversas opressões – como negro, colonizado e trabalhador. Em sua
concepção, o imperialismo era a origem da opressão dos negros. Nascido no
Senegal, estudou na França onde aderiu ao comunismo. Em Paris conheceu
Aimé Césaire, vindo de Martinica, que muito influenciou.
Senghor defendeu o conceito de negritude, entendo-a como o ideal
solidariedade racial. O movimento tenha o objetivo de levar os africanos a
redescobrir sua própria cultura como meio de valorizar sua identidade
política e social. O conceito de negritude propunha, portanto, a unidade
africana no plano cultural. Professor e poeta, Seghor tornou-se presidente
do Senegal em 1962. Seu governo implementou um programa socialista
modelado.
Sua obra literária foi conhecida internacionalmente. Os movimentos de
independência nos anos 1950 e 1960 colocaram o pan-africanismo na
ordem do dia e o redefiniram.

Na primeira geração de líderes africanos, destacou-se Patrice Lumumba.


Em 1958, ele liderou a independência do Congo. Lumumba pensava
diferente de Seghor. O líder congolês preferia o conceito de africanidade ao
de negritude. Para Lumumba, o que daria identidade aos povos do
continente não era o fato de serem negros, e sim o de serem africanos. Com
sua orientação socialista, Lumumba desagradou os interesses dos EUA.
Com o apoio norte-americano, Mobutu Sese Seko deu um golpe de Estado e
assassinou Lumumba. A seguir, implantou um regime ditatorial no país.

Outras lideranças africanas também se destacaram na defesa do projeto pan-


africanista. Foi o caso de Jomo Kennyata, no Quênia, e de Kwame
Nkrumah, na República de Gana. Ambos estudaram na Inglaterra. Kennyata
organizou em Manchester, em 1945, o V Congresso Pan-africanista e, junto
com Nkrumah, fundou a federação Pan-africanista.

O Congresso condenou a exploração capitalista na África e expressou ideias


marxistas. Nkrumah teve sucesso na luta pela independência de Gana,
tornou-se o primeiro chefe de Estados negro da história moderna da África,
em 1957. Mas em 1964, com apoio da URSS, implantou um regime
ditatorial no país. Dois anos depois foi derrubado por um golpe de Estado.
Também em 1964 Kennyata tornou-se presidente Quênia, governando de
maneira ditatorial.

Outras correntes pan-africanista foi a de governantes que fundaram a


Organização da Unidade Africana (OUA), em 1963. Embora as diretrizes
da organização defendesse o direito de cada país ser independente, em
conformidade com o direito de autodeterminação dos povos, ratificou os
limites territoriais herdados da colonização europeia – o que contrariava o
ideal pan-africanista. Na década de 1960, o pan-africanismo foi
influenciado pelas ideias marxistas. O prestígio da Revolução Cubana e o
apoio da URSS aos movimentos de independência na África atraíram
políticos e intelectuais do continente. Duas lideranças bastante
representativas da vertente marxista do pan- africanismo foram Amílcar
Cabral e Agostinho Neto. O primeiro fundou o Partido Africano para
Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) e liderou a luta armada
contra o domínio português.

O segundo esteve à frente do Movimento Popular de Libertação de Angola


(MPLA). Também seguia essa orientação ideológica Samora Machel, líder
da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo). Na década de 1970,os
líderes pan-africanistas, na maioria, estavam identificados com o socialismo
soviético, deixando pouco espaço para o projeto de negritude de Léopold
Senghor.

Colonização e descolonização

Para os povos que foram colonizados há muito tempo, essas palavras


chocam. Em vez de “colonização”, eles escolhem falar de “colonialismo”, a
que é um julgamento negativo da presença europeia nas colônias. Em vez
de “descolonização”, termo que pressupõe que a saída dos colonizadores se
deve às metrópoles, eles preferem a expressão “luta pela emancipação
nacional”, que os transforma em agentes de sua própria história. Além
disso, os povos colonizados acreditam que os acidentais vêem os aspectos
positivos de sua obra passada – estradas, barragens, modernização – sem
considerar que ela foi executada pelo próprio interesse deles, e não como
um benefício para os colonizados, à exceção das escolas e hospitais.
Entendem que os aspectos negativos da colonização – a ocupação das
terras, o racismo – são pouco evocados na memória, embora seja isso que
os tenha feito sofrer, daí seu revolto.
O Neoliberalismo se fortalece - Governos Thatcher e
Reagan

Ronald Reagan - Novo fôlego para a Guerra fria

Nos anos 1970, os movimentos de esquerda avançavam no mundo.


Revoluções socialista ou anti-imperialistas ocorriam em todos os
continentes. Na África, partidos marxistas tomaram o poder em Angola e
Moçambique. Na Etiópia, foi estabelecido um governo de esquerda. Na
Ásia, o Vietnã do Norte derrubou os EUA. Laos e Comboja passaram a ser
governados pelos comunista. Na América Latina,os sandinistas tomaram o
poder na Nicarágua e, em El Salvador, organizações de esquerda tentavam
fazer o mesmo. Em Portugal, um movimento militar liderado por capitães
de esquerda derrubou a ditadura inaugurada por Salazar.
Enquanto os movimentos de esquerdas avançavam no mundo, os EUA
passavam por grave crise política no início dos anos 1970. Durante a
campanha eleitoral para presidente da República, em 1972, a sede do
comitê Nacional do Partido Democrata, no conjunto de prédios Watergate,
foi invadida por pessoas que tentaram instalar aparelhos clandestinos de
escutar. Após longa investigação, dois repórteres do jornal Washington Post
comprovaram a vinculação do Partido Republicano ao episódio de
espionagem, com o conhecimento do presidente Richard Nixon. Diante do
escândalo, Nixon renunciou, provocando grave crise política. Logo a seguir,
veio a humilhante derrota no Vietnã.
O país ainda enfrentava a crise econômica, com sérias repercussões sociais,
como o acentuado aumento da criminalidade e do consumo de drogas. O
avanço dos movimentos revolucionários no Terceiro Mundo, com o apoio
da URSS, deixava em aberto ainda possibilidade de um conflito com bloco
socialista.
Nesse cenário, tomou corpo um reação conservadora, que começou com
ascensão de Margaret Thatcher como primeira-ministra britânica (1979) e a
eleição de Ronald Reagan para a presidência dos EUA (1980). A chamada
nova direita se fazia presente no mundo. O governo norte americano passou
a fustigar os movimentos revolucionários do Terceiro Mundo: financiou
mercenário para sabotar o regime sandinista nicaragüense, com grande
apoio à guerrilha afegã contra os soviéticos; ajudou a desestabilizar os
governos comunistas de Angola e Moçambique.

Em resumo, Reagan, com o apoio de Thatcher, deu início ao que muitos


autores definem como a Segunda Guerra Fria, com o objetivo de restaurar o
quadro de bipolaridade entre os EUA e a URSS. Com uma política externa
conservadora e belicosa, Reagan definiu a URSS como o Império do Mal.
Para surpresa do mundo e espanto dos soviéticos, Reagan anunciou a
intenção de militarizar o espaço com o projeto de defesa estratégica, o que
ficou conhecido como Guerra nas Estrelas. O objetivo era obrigar a URSS a
retomar a corrida armamentista para provocar o colapso de sua economia.
Afinal, os EUA tinham como investir nessa área, enquanto a URSS estava
com sua economia cada vez mais estagnada.

Mundo neoliberal:
O neoliberalismo foi elaborado pelo economista austríaco Friedrich Hayek
(1899-1992) e tinha como base a redução do papel do Estado na economia.
Para o neoliberalismo o objetivo principal de qualquer governo era
estabilizar a moeda, com o fim da inflação. Para isso, eram necessários o
equilíbrio do orçamento e a redução dos gastos públicos, cortando, por
exemplo, os benefícios sociais aos trabalhadores. Assim, os governos
deviam enfrentar sindicatos e reduzir os impostos sobre as empresas,
estimulando o investimento produtivo e o lucro empresarial.
Foi durante o governo de Margaret Thatcher que o programa neoliberal
passou a ser adotado. Esse modelo passou a ser adotado por vários países,
com a privatização das empresas estatais, em especial nos setores
siderúrgicos, elétrico, petrolífero e os serviços de água e gás. O objetivo era
desmontar o Estado de bem-estar social.
Nos EUA, Reagan também seguiu o programa neoliberal, porém,
determinado a provocar o colapso da URSS, manteve os gastos
armamentistas em prejuízo do equilíbrio orçamentário. Em 1982, foi a vez
do conservador Helmut Khol ganhar as eleições na Alemanha Ocidental.
Outros países conheceram a vitória de partidos de direita inspirados no
modelo neoliberal. O modelo baseou-se na lata de juros, na redução dos
impostos das empresas, na diminuição dos investimentos públicos, na
liberação da circulação de capitais, na intransigência com movimentos
grevistas e ações sindicais, no corte ou na redução de gastos sociais, em
especial os direitos trabalhistas e previdenciários dos trabalhadores.

A desindustrialização:
A maior parte do comércio global hoje é realizada por grandes empresas
transnacionais sediadas nos países capitalistas desenvolvidos. A partir dos
anos 1970, essas empresas começaram a transferir suas fábricas para países
em desenvolvimento a fim de cortar custos. Com incentivo de governos
locais e mão de obra mais barata, elas podiam lucrar muito mais. Assim, em
vez de importar força de trabalho de países pobres, as empresas passaram a
instalar suas fábricas em países como México, Malásia, China, entre outros.
Com mão de obra mais barata e poucos direitos trabalhistas garantidos por
leis, esses países se tornaram atrativos para os capitais internacionais.
A construção de fábricas nos países mais pobres ocasionou, nos países
desenvolvidos, um processo de desindustrialização.

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