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Descolonização da África e da Ásia

Após a Segunda Guerra Mundial, movimentos que lutavam pela independência de seus países em relação às potências coloniais
ganharam força na África e na Ásia.
Além dessas lutas internas, cada vez mais ficava evidente no cenário internacional a contradição entre o discurso de liberdade
usado na guerra contra o nazifascismo na Europa e a manutenção de impérios coloniais.
Nesse contexto, a segunda metade do século XX assistiu a diversos povos dos continentes africano e asiático conquistarem
sua independência do domínio colonial e formarem novos países.
Contexto histórico
Ainda durante o século XIX, diversos países europeus utilizaram seu poder militar e força econômica para implantar um domínio
imperialista sobre outros países, em especial na África e na Ásia.
Essa política ficou conhecida como neocolonialismo, e perdurou ao longo da primeira metade do século XX, além de ter sido uma
das principais causas da Primeira Guerra Mundial.
Contudo, após o final da Segunda Guerra Mundial, os países que ainda possuíam colônias, em especial Inglaterra e França, além
de atravessarem graves dificuldades econômicas, passam a ser cada vez mais questionados pela manutenção de suas colônias.
Não apenas os movimentos internos de libertação nas áreas coloniais reclamavam sua independência, como a existência de
colônias era considerada incompatível com os princípios defendidos pelas mesmas potências coloniais na esfera internacional, como
na Declaração de Direitos Humanos, promulgada pela ONU em 1948, por exemplo.
Diante desse quadro geral, podemos elencar as causas principais que levaram aos processos de descolonização a partir da década
de 1940:
 Declínio das potências coloniais depois da Segunda Guerra Mundial, em especial Inglaterra e França;
 Apoio das duas superpotências, Estados Unidos e União Soviética, aos processos de descolonização, com o objetivo
de conquistar influência sobre os novos regimes que seriam formados;
 O crescimento de movimentos nacionalistas, que defendiam seu direito à autodeterminação e a ruptura com a antiga ordem
colonial.
Essas causas gerais, aliadas ao contexto interno de cada país e sua relação com a metrópole, moldaram os processos de
descolonização africano e asiático no século XX, como veremos a seguir.
A descolonização da Ásia
Ainda antes da Segunda Guerra Mundial, ex-colônias britânicas, como Egito e Iraque, conquistaram suas independências, em 1922
e 1932, respectivamente.
Na década de 1940, outros territórios como a Transjordânia, Palestina e Líbano também se libertaram da dominação colonial.
Com isso, percebemos que a luta pela independência do domínio colonial esteve presente na disputa política em diferentes
momentos do século XX.
Contudo, mesmo após a Segunda Guerra, o grande território colonial inglês, a Índia, permanecia sob condição de dominação. Nesse
país, os movimentos contra a colonização já atuavam desde o século XIX, mas ainda sem obter sucesso.
Índia x Paquistão
A partir da década de 1940, os líderes hindus Mahatma Gandhi e Jawaharial Nehru intensificaram os protestos pela independência
indiana. A marca de suas ações era a desobediência civil: ao contrário de outros movimentos de libertação nacional, Gandhi pregava
a resistência através do não pagamento de impostos e do boicote aos produtos ingleses, por exemplo.
Em resposta a ação desses grupos, para manter seu o domínio na Índia, a Inglaterra fez uso de expedientes como a exploração
dos conflitos entre os hindus e os muçulmanos, que também viviam no país e eram liderados por Muhammad Ali Jinnah.
Apesar dos esforços ingleses em prosseguir com a dominação colonial, a Índia conquistou sua independência em 1947, mas sem a
criação de um único Estado. Além da República da Índia, majoritariamente hindu, foi criada a República Muçulmana do Paquistão,
país de maioria muçulmana.
Mesmo com a conquista de seus estados nacionais, o conflito entre hindus e muçulmanos persistiu, o que culminou com
o assassinato de Gandhi em 1948 por um militante de um grupo hindu radical, que discordava da política pacifista do líder indiano.
As desavenças entre Índia e Paquistão persistiram após a morte de Gandhi, e resultaram em uma guerra em 1965. As constantes
ameaças entre os dois países fizeram com que ambos passassem a investir no desenvolvimento de armas nucleares, criando um
cenário de tensão permanente na região.

A Conferência de Bandung e a descolonização da África


Alguns anos depois dos acontecimentos na Índia, em 1955, 29 países, sendo 23 africanos e 6 asiáticos, se reuniram em Bandung,
na Indonésia, para discutir a posição dos novos Estados na ordem mundial bipolar, característica da Guerra Fria.
Além da política de não alinhamento automático a nenhuma das duas superpotências, os países presentes na Conferência
afirmaram seu direito a autodeterminação e o repúdio a todas as formas de colonialismo. Nesse sentido, o principal resultado da
Conferência de Bandung foi o impulso dado aos movimentos de independência no continente africano.
Os processos de descolonização na África se deram, principalmente, a partir da pressão de movimentos de dentro das colônias.
Contudo, esses movimentos não possuíam atuação uniforme, por isso fizeram uso de estratégias diferentes para conquistar a
independência de seus países.
Alguns desses movimentos desencadearam conflitos militares contra as metrópoles, como no caso das antigas colônias da Argélia,
Congo Belga e África Oriental, contra França, Bélgica e Inglaterra, respectivamente, que resultaram na criação de novos países.
Em outros prevaleceram as negociações diplomáticas, que inclusive preservaram interesses econômicos das metrópoles. Dentre os
diferentes casos, também cabe destacar as colônias portuguesas, como Angola, Moçambique e Guiné-Bissau, que conquistaram
sua independência entre 1973 e 1975, algumas das últimas do continente africano.
Nesse contexto, observamos que os conflitos internos existentes em Portugal, que culminaram na Revolução dos Cravos,
derrubando a ditadura portuguesa, contribuíram com a luta dos movimentos de libertação desses países africanos.

Conclusão
Apesar de terem conquistado a independência de seus países, os movimentos de libertação africanos foram marcados por diversos
conflitos internos, o que acabou por estimular guerras civis e processos de segregação.
As próprias fronteiras artificiais estabelecidas pelas potências coloniais no século XIX, que não respeitavam traços étnicos e
culturais, contribuíram com o surgimento desses conflitos.
O resultado é que, apesar de conquistarem sua independência administrativa, esses países africanos continuaram, em maior ou
menor grau, dependentes das antigas potências coloniais, bem como reféns de disputas internas que restringiram seu potencial
de desenvolvimento.

Socialismo: da revolução à crise

REVOLUÇÃO CUBANA
Nessa mesma conjuntura marcada pela lógica da Guerra Fria, chegou ao poder o primeiro governo socialista latino-americano,
justamente em um dos países até então mais vinculados ao capitalismo estadunidense. Sob a liderança de Fidel Castro, Che
Guevara e Camilo Cienfuegos, Cuba assistiu no ano de 1959 à queda do ditador Fulgêncio Batista e, tempos depois, a
implementação do comunismo na região.
A primeira grande reação contrarrevolucionária foi arquitetada pelos cubanos exilados, conjuntamente ao governo estadunidense,
interessado em combater a expansão socialista no continente americano. Intervenções militares foram, então, feitas na “ilha de
Fidel”, com grande destaque para o episódio conhecido como a “invasão à Baía dos Porcos”. Apesar de tais “esforços capitalistas”,
no entanto, Cuba continuaria a seguir sob a égide do comunismo.
No campo diplomático, os Estados Unidos lideraram ainda outras sanções ao país. Sua retirada da OEA (Organização dos Estados
Americanos) e a imposição do embargo econômico buscavam claramente asfixiar o governo castrista. As lideranças cubanas,
entretanto, resistiam a tais ingerências, notadamente com o apoio da também socialista União Soviética.
Foi justamente a partir dessa aliança entre Cuba e URSS que se desenvolveu um dos episódios mais obscuros da história, a Crise
dos Mísseis (1962). Através de imagens captadas por satélites norte-americanos, foi denunciada a presença de misseis soviéticos
em território cubano, aguçando a já tensa bipolaridade da Guerra Fria. Após treze dias de negociações, ficou acordado que os
armamentos seriam retirados da região, contendo, mas não extinguindo, a possibilidade de um apocalíptico confronto nuclear entre
Estados Unidos e União Soviética. Fidel Castro, o líder da Revolução Cubana, governou o país entre 1956 e 2008. De 1959 a 1976,
atuou como primeiro-ministro e, de 1976 até 2008, como presidente cubano. Foi sucedido por Raúl Castro, seu irmão, que governou
Cuba entre 2008 e 2018. Atualmente, Cuba permanece como um regime comunista, e o presidente atual do país chama-se Miguel
Díaz-Canel.
A Revolução Cubana e a Guerra Fria
- Como uma revolução de caráter nacionalista que não possuía discurso ou associação com o comunismo
tornou Cuba uma nação comunista?

A resposta para essa pergunta está no contexto em que ela aconteceu (o auge da Guerra Fria) e na reação americana que empurrou
o pequeno país caribenho para o colo dos soviéticos. A Guerra Fria foi um conflito que dividiu o mundo em dois blocos: um de
orientação capitalista, liderado pelos Estados Unidos, e outro de orientação socialista, liderado pela União Soviética.
Após a Revolução Cubana, um governo provisório sob a liderança de Manuel Urrutia foi instalado em Cuba. Fidel foi colocado na
função de primeiro-ministro, e mudanças começaram a acontecer no país, principalmente na economia, buscando cortar os laços
de dependência econômica que o país possuía com os Estados Unidos. Sendo assim, os revolucionários cubanos cumpriram aquilo
a que sempre estiveram dispostos: defender uma agenda econômica nacionalista que diminuísse a influência dos Estados Unidos
na economia cubana. O novo governo cubano procurou reduzir a dependência da economia em relação ao açúcar e promover a
industrialização da ilha, mas ambos os projetos fracassaram. Outra medida importante foi promover a reforma agrária e nacionalizar
empresas e a exploração de recursos no território cubano. O grande afetado foi os Estados Unidos, uma vez que as maiores
empresas instaladas em Cuba eram americanas. Essas ações do governo cubano desagradaram profundamente aos Estados
Unidos, que se opuseram abertamente ao projeto nacionalista cubano, rompeu relações com o país e procurou desenvolver formas
para sabotar o novo governo. O país norte-americano realizou embargos à economia cubana e tentou invadir a ilha em 1961, no que
ficou conhecido como Invasão da Baía dos Porcos. As tentativas americanas de sabotar política e economicamente o governo
cubano abriram o caminho para a aproximação dos cubanos com os soviéticos. Com os americanos abertamente contra Cuba,
sobrou ao país caribenho buscar o auxílio econômico com a União Soviética. Com isso, em 1961, Cuba aliou-se formalmente ao
bloco comunista. A relação entre Cuba, União Soviética e Estados Unidos, inclusive, foi a responsável por um dos momentos mais
tensos da história da humanidade após a Segunda Guerra Mundial. Em 1962, aconteceu a Crise dos Mísseis em Cuba. Durante
duas semanas, o mundo acompanhou atentamente a possibilidade de que uma guerra nuclear entre EUA e URSS estourasse.
Resumo
A Revolução Cubana foi um processo revolucionário conduzido por Fidel Castro que tinha caráter nacionalista e dois grandes
objetivos: derrubar a ditadura de Fulgêncio Batista e interromper a influência americana no país. Para isso, foi conduzida uma luta
armada contra o governo por meio de guerrilhas.
Com a vitória dos guerrilheiros cubanos, o ditador Fulgêncio Batista abandonou o país, e Fidel Castro assumiu o poder. As
transformações profundas encabeçadas por Fidel renderam a inimizade dos Estados Unidos e a aproximação com a União Soviética.

GUERRA DO VIETNÃ
O exército socialista formado por camponeses foi responsável pela maior derrota militar da história dos Estados Unidos
No auge da Guerra Fria, um grande conflito armado ocorreu na região do Vietnã, Laos e Camboja entre 1955 e 1975. De um lado,
União Soviética, China e outras nações comunistas apoiavam o exército do Vietnã do Norte. De outro, Estados Unidos, Coreia do
Sul, Austrália, Tailândia e outros países anti-comunistas apoiavam o Vietnã do Sul. Entenda o conflito:
Causas
As bases para o conflito foram lançadas uma década antes, quando o território que atualmente é o Vietnã declarou independência
da França, que não reconheceu o ato. Iniciou-se a uma guerra pelo fim do domínio colonial francês na região, na chamada Primeira
Guerra da Indochina. Em 1954, a Conferência de Genebra determinou a independência do Vietnã com dois governos distintos: o do
norte, governado por Ho Chi Minh, com capital em Hanói e aliado à União Soviética; e o do sul, governado por Ngo Diem Dinh, com
capital em Saigon e aliado aos Estados Unidos. Ambas as partes deveriam se unificar a partir do resultado das eleições a serem
realizadas em 1956.
Golpe militar
Quando as eleições se aproximaram e tudo indicava que o governo comunista venceria, o primeiro-ministro da região sul, Ngo Dinh
Diem, deu um golpe militar no país, apoiado pelos EUA. Começou uma guerra civil, ainda que sem uma declaração formal de início
de um conflito. Os norte-americanos participavam fornecendo armas e conselheiros militares aos exércitos sul-vietnamitas, e os
soviéticos faziam o mesmo com os norte-vietnamitas. Além do exército regular, o Vietnã no Norte também tinha grupos de
guerrilheiros chamados vietcongues.
Entrada dos EUA
No dia 2 de novembro de 1963, o primeiro-ministro Diem foi assassinado. Coincidentemente, 20 dias depois, o então presidente
norte-americano John F. Kennedy também foi morto. O presidente que assumiu
o mandato, Lyndon Johnson, decidiu intervir diretamente no conflito no Vietnã, enviando soldados e armamentos — o Congresso
dos EUA, que inicialmente hesitou em aprovar o envolvimento, foi pressionado após um incidente com um destróier norte-
americano no Golfo de Tonquim. Anos mais tarde, em 2005, documentos secretos revelaram que não houve ataque ao destróier e
tudo se tratou de uma manobra da presidência para obter apoio da população para a entrada na guerra.
Ofensiva do Tet
Em 1965, a chegada dos soldados dos EUA à região marcou o início do período sangrento e amplamente noticiado da guerra que,
aliás, é chamada de Guerra de Resistência contra a América pelos vietnamitas. Mas, embora tivesse armas poderosas e tecnologia
avançada, o exército norte-americano não conseguia vencer a estratégia e experiência do exército norte-vietnamita.
Em 1968, o comandante militar vietnamita Vo Nguyen Giap arquitetou a Ofensiva do Tet, ataques simultâneos que culminaram com
a tomada da embaixada dos EUA em Saigon. Ao mesmo tempo, a divulgação de que os norte-americanos usavam armas químicas,
napalm e estavam provocando massacres indiscriminados de civis, provocou protestos nos EUA e no mundo pelo encerramento do
conflito.
Fim da guerra
Em 1973, o governo dos EUA aceitou o Acordo de Paris, que previa o cessar-fogo. Dois anos depois, houve a retirada total das
tropas norte-americanas em em 1976, o Vietnã foi reunificado sob o regime comunista. O conflito deixou cerca de 2,5 milhões de
mortos, entre civis e militares de todos os países envolvidos, além de pessoas mutiladas.

REVOLUÇÃO CHINESA
Até meados do século XX, a China nem de longe se assemelhava ao gigante econômico que hoje representa. Abalizado em uma
economia essencialmente agrícola e arcaica, o país apresentava péssimos indicadores sociais, com uma profunda concentração de
riquezas nas mãos dos setores mais abastados. É precisamente contra esse estado de coisas que surgem grupos oposicionistas ao
governo, inclusive alguns defensores do ideário comunista.
Com o sucesso da resistência chinesa às investidas japonesas durante a Segunda Guerra, a popularidade de Mao Tsé Tung (um
dos mais importantes líderes dessa resistência) atingiu proporções nacionais. Em 1949, o jovem socialista liderou um golpe de
Estado, instaurando o comunismo no país. Estava criada a República Popular da China.
As primeiras medidas instituídas por Mao seguiram o modelo soviético de socialismo, sendo praticado um amplo programa de
reformas sociais, especialmente a agrária, e de nacionalização da economia. No entanto, tais ações não garantiram um recuo
relevante das desigualdades, tão pouco o aumento dos níveis produtivos, fazendo com que o governo revolucionário estabelecess e
um novo projeto de reformas, entitulado Grande Salto. A despeito do nome promissor, o Grande Salto mostrou-se um fracasso.
Distanciada da URSS de Kruschev, a China não contou com o suporte tecnológico normalmente ofertado por esta última a seus
aliados. Somava-se a isso a paralisante burocracia governamental, determinante para a frustração do projeto. Deste modo, seria
somente ao longo da década de 60 que a experiência socialista chinesa viria a adquirir maior solidez. Neste processo, assumiu papel
central a Revolução Cultural, um conjunto de medidas implementadas pela administração maoísta, que se por um lado modernizaram
a economia do país, por outro aprofundaram o autoritarismo oficial. Em tais ambiências, foram criados dois dos mais importantes
instrumentos de centralização político-ideológica estabelecidos por Mao, o Livro Vermelho e a Guarda Vermelha. Ambos cumpriam
um duplo propósito, o de fortalecer as estruturas governamentais e combater os opositores do regime. Torturas, exílios e prisões
passaram, então, a ser cada vez mais utilizados como instrumentos de repressão contra os “inimigos da Revolução”. Todavia, com
a morte de Mao Tsé Tung e a ascensão de Deng Xiaoping à liderança do governo chinês, o socialismo desenvolvido no país passou
a seguir outras diretrizes. Sob a justificativa de potencializar a produção nacional, foram incorporadas medidas econômicas de
caráter liberalizante, como a permissão da entrada de capital estrangeiro no país, a expansão da iniciativa privada e a criação das
chamadas Zonas Econômicas Especiais. Através das Quatro Modernizações, ganhava espaço o chamado socialismo de mercado
chinês.

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