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Limites e Continuidade
2.1 Limites
2.1.1 Definição de Limite
Definição: Seja I um intervalo aberto contendo a ∈ R, e seja f (x) uma função definida
em I \ {a}.
Dizemos que o limite de f (x) quando x tende para a é L, escrevendo lim f (x) = L,
x→a
se o valor de f (x) se aproxima de L quando x se aproxima de a. Formalmente,
a) lim (3x − 1) = 2
x→1
Temos de mostrar que para todo o δ > 0, existe um > 0, tal que
|(3x − 1) − 2| < δ sempre que |x − 1| < .
As seguintes desigualdades são equivalentes:
δ
|3x − 1 − 2| < δ ⇔ |3 (x − 1)| < δ ⇔ 3 |(x − 1)| < δ ⇔ |(x − 1)| < 3
Fazendo = 3δ , vem que: |(3x − 1) − 2| < δ sempre que |x − 1| < ,
Logo, pela definição: lim (3x − 1) = 2.
x→1
b) lim x2 = 16
x→4
Queremos mostrar que para todo o δ > 0, existe um > 0, tal que x2 − 16 < δ
sempre que 0 < |x − 4| < .
28
Primeiro, podemos ver que
Como queremos que |x2 − 16| < δ, basta escolher = 9δ (ou 1 no caso de 9δ ≥ 1).
Assim, basta escolher = min( 9δ , 1). Então, para todo o δ > 0, fazemos =
min( 9δ , 1) e temos
Unicidade do Limite
Se limx→a f (x) = L1 e se limx→a f (x) = L2 , então L1 = L2 .
1. lim c = c.
x→a
2. lim x = a.
x→a
2. lim [f (x) − g(x)] = lim f (x) − lim g(x) se limx→a f (x) = L2 , então L1 = L2 .
x→a x→a x→a
29
h in
6. lim [f (x)]n = lim f (x) , com n ∈ N.
x→a x→a
p q
n
7. lim f (x) = n lim f (x), desde que lim f (x) ≥ 0 se n for par, com n ∈ N .
x→a x→a x→a
8. lim ln (f (x)) = ln lim f (x) , com lim f (x) > 0.
x→a x→a x→a
Teorema do Enquadramento
Sejam f , g e h funções que satisfazem f (x) ≤ h(x) ≤ g(x) para todo o x num intervalo
aberto contendo a (com a possı́vel excepção de a). Se os limites de f e g em a são
iguais,
lim h(x) = L .
x→a
lim f (x) = L1
x→a+
Definição
Limite à esquerda Seja f uma função definida num intervalo aberto ]d, a[. Diz-se
que f tem um limite à esquerda em a quando podemos calcular o limite de f em a
com a restrição x < a. Escrevemos então,
lim f (x) = L2
x→a−
Exemplo 2.2
√
a) Dada a função f (x) = (1 + x − 3), determinar limx→3+ f (x) e limx→3− f (x),
caso existam.
A função dada só é definida para x ≥ 3 logo não existe limx→3− f (x).
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√ √
lim f (x) = lim (1 + x − 3) = lim 1 + lim x − 3
x→3+ x→3+ x→3+ x→3+
q
= lim 1 + lim (x − 3) = 1 + 0 = 1
x→3+ x→3+
|x|
b) Calcule os limites laterais quando x → 0 de f (x) = x .
O domı́nio de f é Df = R \ {0}. A função é dada por,
x
f (x) = x = 1, se x > 0
−x = −1, se x < 0
x
Por outro lado, dizemos que o limite quando x tende para a+ ( ou quando x tende
para a− ) de f(x) é menos infinito quando os valores de f (x) diminuiem de forma
ilimitada quando x se aproxima de a pela direita (ou pela esquerda), escrevendo
lim f (x) = −∞ ou lim f (x) = −∞ , respectivamente.
x→a+ x→a−
Quando os dois limites laterais são iguais podemos concluir que o limite quando
x → a é +∞ ou −∞.
31
Exemplo 2.3 Seja n um número inteiro positivo. Temos,
1
lim = +∞
x→0+ xn
1
+∞, se n é par
lim n =
x→0− x −∞, se n é ı́mpar
lim f (x) = L
x→+∞
e dizemos que o limite quando x tende para menos infinito de f (x) é L se os valores
de f (x) se aproximarem arbitrariamente de um número L quando x diminui de forma
ilimitada, escrevendo
lim f (x) = L
x→−∞
Se o limx→+∞ f (x) = L (ou limx→−∞ f (x) = L), dizemos que o gráfico de f tem
um assı́mptota horizontal em +∞ (ou −∞). A assı́mptota horizontal é a recta
y = L.
1
lim =0 (2.1)
x→+∞ xn
1
lim =0 (2.2)
x→−∞ xn
Nota: As propriedades dos limites que demos até agora mantê-se válidas quando
substituı́mos x → a por x → ±∞.
32
Limites infinitos no infinito
Finalmente, se uma função aumentar de forma ilimitada quando x → +∞, escrevemos
lim f (x) = +∞.
x→+∞
E de forma semelhante podemos ter,
lim f (x) = −∞
x→+∞
lim f (x) = +∞
x→−∞
lim f (x) = −∞
x→−∞
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f (x)
g(x)
h i
f (x)
lim f (x) lim g(x) lim g(x)
k
k ∞ ∞ =0
∞
∞ ∞ ∞ Indeterminado
k
k>0 0+ 0+
= +∞
±∞
±∞ 0+ 0+
= ±∞
k>0 0− k
0−
= −∞
±∞
±∞ 0− 0−
= ∓∞
0
0 0 0 Indeterminado
Nota: (0− ) indica que o limite é zero e a função se aproxima de zero com
0+
valores positivos (negativos), respectivamente.
Limites de polinómios
Se p(x) = an xn + an−1 xn−1 + · · · a1 x + a0 é um polinómio, e c ∈ R, o limite
1 1
lim 5x3 − 2x2 + 3 = lim x3 (5 − 2 + 3 3 ) = +∞ · (5 − 2 × 0 + 3 × 0) = +∞
x→+∞ x→+∞ x x
Em geral, se p(x) = an xn + an−1 xn−1 + · · · a1 x + a0 é um polinómio, temos que
Exemplo 2.6
34
b) q(a) = 0 e p(a) 6= 0, o limite vai ser infinito. É preciso estudar o sinal da função à
esquerda e à direita de a para saber onde é +∞ e −∞ (podem ser os dois limites
laterais +∞, os dois −∞ ou um de cada).
5 × 23 + 4 44
lim f (x) = f (2) = = = −44
x→2 2−3 −1
porque q(2) = 2 − 3 = −1 6= 0.
Quando x → 3 temos q(3) = 3 − 3 = 0, mas p(3) = 5 × 33 + 4 = 139. O limite será
infinito. Como p(3) = 139, numa vizinhança pequena de x = 3 temos p(x) > 0. Por
outro lado, se x > 3 (à direita) q(x) = x − 3 > 0. Enquanto que se x < 3 (à esquerda)
q(x) = x − 3 < 0. Temos assim,
5x3 + 4 139
lim = + = +∞
x→3 + x − 3 0
3
5x + 4 139
e lim = − = −∞
x→3 − x−3 0
Os limites laterais existem, mas são diferentes, logo o limite limx→3 f (x) não existe.
2.2.1 Indeterminações
Quando aplicamos as regras de cálculo de limites, podem aparecer as seguintes ex-
pressões indeterminadas,
0 ∞
, , ∞ − ∞ , 0 × ∞ , 00 , ∞0 e 1∞
0 ∞
Nada se pode definir à priori sobre o limite das expressões indeterminadas. O limite
pode assumir qualquer valor real, ir para infinito ou não existir.
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uma indeterminação. Mas também,
f (x) x4
lim = lim 2 = lim x2 = 0
x→0 g(x) x→0 x x→0
g(x) x2 1
lim = lim 4 = lim 2 = +∞
x→0 f (x) x→0 x x→0 x
0
Alguns exemplos para a indeterminação 0
Exemplo 2.9
x3 − 3x + 2 0
lim 2
=
x→−2 x −4 0
x3 x2 x x0
1 0 −3 2
-2 −2 4 2
1 −2 1 0
x2 x x0 resto
x3 − 3x + 2 (x + 2)(x2 − 2x + 1) x2 − 2x + 1 9
lim = lim = lim =−
x→−2 x2 − 4 x→−2 (x − 2)(x + 2) x→−2 x−2 4
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b) Funções com radicais Limites com quocientes de radicais que dêm uma inde-
terminação 00 podem ser levantados multiplicando pelo conjugado.
√ √ √ √ √ √
x+2− 2 ( x + 2 − 2)( x + 2 + 2) (x + 2) − 2
lim = lim √ √ = lim √ √
x→0 x x→0 x( x + 2 + 2) x→0 x( x + 2 + 2)
1 1
= lim √ √ = √
x→0 x+2+ 2 2 2
(x+h)2 −x2
c) limh→0 h = 00 . Para obter o limite temos que expandir o numerador,
∞
Alguns exemplos para a indeterminação ∞
Funções racionais
No infinito, podemos calcular o limite de funções racionais considerando apenas os
termos de maior grau do numerador e denominador. Ou seja, se f (x) = p(x) q(x) com
n m
p(x) = an x + · · · + a1 x + a0 e q(x) = bm x + · · · + b1 x + b0 , temos
an xn + · · · + a1 x + a0 an xn
lim f (x) = lim = lim
x±∞ x±∞ bm xm + · · · + b1 x + b0 x±∞ bm xm
Exemplo 2.10
3x + 5 3x 3 1
a) lim = lim = lim =
x→+∞ 6x − 8 x→+∞ 6x x→+∞ 6 2
4x2 − x 4x2 4 4
b) lim 3
= lim 3
= lim = =0
x→−∞ 2x − 5 x→−∞ 2x x→−∞ 2x −∞
Exemplo 2.11
37
a) Determinar limx→+∞ √2x+5 .
2x2 +5
Vamos dividir o numerador e o denominador por x. Como estamos a calcular
√
o limite quando x → +∞, podemos assumir x > 0 e portanto x = |x| = x2 .
Assim,
1
2x + 5 (2x + 5) 2 + x5 2 + x5
lim √ = lim 1x√ = lim √ = lim
√1
q
x→+∞ 2
2x + 5 x→+∞ 2 x→+∞ 2x2 + 5 x→+∞ 2x2 +5
x 2x + 5 2x x2
2 + x5 2+0 √
= lim q =√ = 2
x→+∞
2 + x52 2+0
Já vimos na secção anterior que para polinómios os limites em infinito se obtêm
com o limite do termo de maior grau,
38
Isto acontece porque se pode por em evidência esse termo,
1 1
lim (3x5 − 4x3 + 1) = lim x5 (3 − 4 2
+ 5 ) = +∞ × (3 − 0 + 0) = +∞
x→+∞ x→+∞ x x
√ 1
b) Determinar o limite limx→+∞ x3 − x+ x2
= +∞ − ∞ + 0.
De forma semelhante aos polinómios, nestes casos devemos pôr o termo de maior
grau em evidência.
√ 1 1 x1/2 1
lim x3 − x+ = lim x3
− x1/2
+ = lim x3
(1 − + 5)
x→+∞ x2 x→+∞ x2 x→+∞ x3 x
1 1
= lim x3 (1 − 5/2 + 5 ) = +∞(1 − 0 + 0) = +∞
x→+∞ x x
1 x
1. lim (1 + ) = e, onde e é o número de Neper.
x→±∞ x
Em geral podemos dizer para uma função f onde limx→a f (x) = ±∞, que
f (x)
1
lim 1+ =e
x→a f (x)
ex − 1
2. lim =1
x→0 x
Em geral podemos dizer para uma função f onde limx→a f (x) = 0, que
ef (x) − 1
lim =1
x→a f (x)
ln x
3. lim =1
x→1x−1
Em geral podemos dizer para uma função f onde limx→a f (x) = 1, que
ln(f (x))
lim =1
x→a f (x) − 1
Exemplo 2.14
39
ax −bx
a) Calcular limx→0 x .
x
!
ax − bx bx ( abx − 1) ( ab )x − 1 x ln(a/b) − 1
e
lim = lim = lim bx = lim bx
x→0 x x→0 x x→0 x x→0 x
! !
x (ex ln(a/b) − 1) ln(a/b) x ex ln(a/b) − 1
= lim b = lim ln(a/b)b
x→0 x ln(a/b) x→0 x ln(a/b)
a
= ln(a/b) × 1 × 1 = ln( )
b
usámos f (x) = x ln(a/b) −→ 0 com o caso notável 2.
x→0
ex−1 −ax−1
b) Calcular limx→1 x2 −1
.
ex−1 − 1 ex−1 − 1
lim = lim =1
x→1 x − 1 x−1→0 x − 1
e ainda
(e(x−1) ln a − 1) ln a e(x−1) ln a − 1
lim = ln(a) × lim = ln a
x→1 (x − 1) ln a (x−1) ln a→0 (x − 1) ln a
E assim,
!
ex−1 − ax−1 1 ex−1 − 1 (e(x−1) ln a − 1) ln a
lim = lim −
x→1 x2 − 1 x→1 x + 1 x−1 (x − 1) ln a
1 1 − ln a
= × (1 − ln a) =
2 2
2.3 Continuidade
2.3.1 Definição
Quando calculamos o limx→a f (x), analisamos o comportamento da função f (x) para
valores de x próximos de a, mas o valor da função em a é ignorado. O limite de
40
f (x) quando x → a pode existir, mesmo que f não esteja definida para x = a. Por
outro lado pode dar-se o caso de f estar definida em a, mas os dois valores, f (a) e
limx→a f (x), serem diferentes. Quando os dois resultados coincidem, dizemos que a
função é contı́nua.
Definição: Uma função f é contı́nua no ponto a dadas as seguintes condições:
x2 − 1 (x − 1)(x + 1)
lim g(x) = lim = lim = lim (x + 1) = 2
x→1 x→1 x − 1 x→1 x−1 x→1
e como os dois limites são iguais, temos limx→−1 h(x) = 2. Assim, temos h(−1) =
limx→−1 h(x) = 2 e h é uma função contı́nua em x = −1.
2.3.2 Propriedades
1. Sejam f e g duas funções contı́nuas em x = a. Então,
(a) f + g é contı́nua em a.
41
(b) f − g é contı́nua em a.
(c) f · g é contı́nua em a.
f
(d) g é contı́nua em a, desde que g(a) 6= 0.
7. Seja y = f (x) uma função definida e contı́nua num intervalo I. Seja J o conjunto
imagem de f . Se f admite uma função inversa g = f −1 : J −→ I, então g é
contı́nua em todos os pontos de J.
42