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A Realidade Dos Serviços de Educação Públicos e Privados
A Realidade Dos Serviços de Educação Públicos e Privados
Sugestão de Citação
Ordem dos Psicólogos Portugueses (2015). A Realidade dos Serviços de Psicologia
da Educação Públicos e Privados. Lisboa.
Prestação de Serviços de Psicologia – Menos Escolas e Menos Alunos por Psicólogo para
uma Intervenção Eficaz. No sector público é muito frequente um Psicólogo ter sobre a sua
área de influência e responsabilidade um conjunto de escolas dispersas geograficamente,
entre as quais tem de dividir o seu tempo de actuação, situação que raramente se encontra
no sector privado. De forma semelhante, é frequentemente observada uma sobreposição
dos níveis de ensino na actividade dos Psicólogos das escolas públicas, que implica o desafio
de ter de responder simultaneamente às necessidades de uma grande diversidade de anos
de escolaridade e faixas etárias, com problemáticas extremamente diversificadas. Esta
situação conduz ainda a uma menor diversificação dos serviços de Psicologia prestados,
existindo uma enfâse nas intervenções remediativas por oposição a intervenções de
prevenção e promoção da Saúde Psicológica e Escolar. Pelo contrário, nos serviços privados
de Psicologia da Educação existe, normalmente, mais do que um Psicólogo, o que permite
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uma melhor divisão dos profissionais por anos escolares, turmas e/ou áreas de
intervenção. Ainda que grande parte das intervenções psicológicas também possam ser
remediativas, parece existir uma mais diversificação dos serviços e um foco maior em
intervenções de prevenção e promoção da Saúde Psicológica e Escolar. Esta situação é
particularmente relevante no que ao abandono escolar diz respeito. De acordo com a
PORDATA a taxa de abandono precoce da educação (jovens entre os 18 e os 24 anos que não
completaram o ensino secundário) era, em 2014, de 17,4%. Este valor deixa Portugal entre
os países com valores mais elevados na Europa (4º lugar) e representa um empobrecimento
do país no que se refere não só ao grau de escolarização da população, mas também às
repercussões económicas e para o mercado de trabalho. Recentemente, o MEC premiou o
bom desempenho das escolas com créditos horários e a possibilidade de reforço das
actividades de promoção de sucesso escolar através do reforço da contratação de Psicólogos.
Da mesma forma, e porque a necessidade de intervenção é ainda maior, às escolas com
maiores taxas de abandono escolar deve ser dada a oportunidade de implementar soluções
adequadas que permitam prevenir e reduzir o impacto desta problemática – soluções nas
quais os Psicólogos desempenham um papel crucial.
Perante esta realidade impõe-se como urgente investir nos Serviços de Psicologia da Educação de
forma a capacitar as escolas públicas portuguesas. É fundamental posicionar a Saúde Psicológica das
crianças e jovens como uma área prioritária de intervenção política, não só na área da Saúde, mas
também da Educação pública.
Esta necessidade vê-se reforçada pela prevalência das perturbações mentais, dos problemas de
comportamento e dos problemas sociais que afectam as crianças e os adolescentes portugueses e
que tem vindo a aumentar nos últimos anos, estimando-se hoje que 1 em cada 5 crianças/
adolescentes manifestam perturbações no domínio da Saúde Psicológica. Sendo que, as escolas são,
reconhecidamente, contextos essenciais e mais eficazes, para a prevenção, identificação e
intervenção precoces nestas perturbações.
Para além de uma prevalência elevada, estes problemas apresentam ainda níveis elevados de
persistência e constituem um dos principais preditores dos problemas de Saúde Mental na idade
adulta, traduzindo-se também em consequências individuais, familiares e sociais significativas para
os sectores da saúde, educação e justiça, com um impacto económico incomensurável. Nalguns
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estudos, os custos atribuídos ao sistema educativo variam entre €758 e os €24 587, por ano e por
criança.
O contributo da Psicologia e dos Psicólogos a nível escolar passa por uma resposta custo-efectiva a
um amplo e diversificado conjunto de problemas (por exemplo, dificuldades de aprendizagem,
indisciplina ou problemas emocionais), mas também pela concepção e implementação de programas
de Saúde Escolar focados na prevenção e promoção da Saúde Psicológica, com resultados positivos,
estáveis e duradouros no desenvolvimento saudável e no bem-estar de crianças, jovens, famílias e
comunidades.
A intervenção dos Psicólogos nas escolas já demonstrou aumentar a satisfação com a escola e com a
vida; melhorar a regulação emocional e as estratégias de resolução de problemas; diminuir o bullying
e a violência; aumentar o compromisso e o envolvimento com a escola; melhorar o desempenho
escolar e diminuir o absentismo e o abandono escolar; reduzir os problemas de aprendizagem e os
problemas emocionais (como a depressão e a ansiedade), assim como os comportamentos de risco
para a Saúde (por exemplo, o tabagismo, a gravidez precoce ou o abuso de álcool e substâncias).
O custo da intervenção psicológica é geralmente baixo, mas origina retornos económicos elevados.
De acordo com vários estudos, o retorno do investimento pode variar entre €1,33 e €12,57 por cada
€0,75 gasto. Ou seja, os ganhos económicos com a intervenção psicológica podem ser 2 a 17 vezes
superiores aos valores investidos.
Face aos dados e argumentos apresentados, a Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) defende
uma visão integrada de futuro para os Psicólogos no Sistema Público de Educação e um conjunto de
prioridades que devem guiar o enquadramento político e estratégico da intervenção psicológica no
contexto escolar público português:
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acompanhamento de crianças e jovens com NEE e outras problemáticas de Saúde
Psicológica.
4. No que diz respeito às NEE, sempre que aplicável (ou seja, no caso das incapacidades ou
dificuldades de natureza cognitiva, psicológica, emocional, comportamental e de
personalidade) deve ser o Psicólogo o responsável único pela avaliação/certificação da
problemática em causa, prescrição das medidas de acompanhamento e intervenção. Para
além disso, aquando da concessão das tarefas de avaliação e intervenção nas NEE ou nos
apoios terapêuticos individualizados a organismos externos, deve ser necessária uma
certificação desses prestadores por parte da Ordem dos Psicólogos Portugueses.
A saúde e o bem-estar psicológico das crianças e adolescentes, a forma como estes se desenvolvem e
se tornam adultos, vão afectar a prosperidade e a estabilidade económica, política e social de
Portugal ao longo das próximas décadas. Investir na Educação é um investimento no presente e no
futuro, assim como investir na promoção da Saúde Psicológica de crianças e jovens através da
intervenção psicológica no sistema educativo é um investimento com benefícios que se
manifestarão em diferentes sectores políticos, nomeadamente da saúde, educação e justiça.
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