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CATEGORIA AUTORIA AGOSTO ’15

Comentários Técnicos Gabinete de Estudos


e Contributos OPP Técnicos

A Realidade dos Serviços de


Psicologia da Educação
Públicos e Privados
Tomada de Posição OPP

Sugestão de Citação
Ordem dos Psicólogos Portugueses (2015). A Realidade dos Serviços de Psicologia
da Educação Públicos e Privados. Lisboa.

Para mais esclarecimentos contacte o Gabinete de Estudos Técnicos: recursos.ordemdospsicologos.pt


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COMENTÁRIOS TÉCNICOS
E CONTRIBUTOS OPP

A Realidade dos Serviços de Psicologia da


Educação Públicos e Privados
Tomada de Posição OPP

Na realidade portuguesa existe uma grande discrepância entre os Serviços de Psicologia da


Educação Públicos e Privados, nomeadamente no que diz respeito à:

 Colocação de Psicólogos – Faltam 500 Psicólogos no Sistema Público de Educação. Não


obstante a existência de inúmeras evidências científicas acerca dos benefícios da intervenção
dos Psicólogos nas escolas básicas e secundárias e das recomendações internacionais
apontarem para um rácio de 1 Psicólogo/1000 alunos, os números oficiais do Governo
português apontam para a existência de 778 Psicólogos no sistema educativo no início do
ano lectivo de 2014/2015, o que corresponde a um rácio de 1/1645 alunos. Para além de
manifestamente reduzido, este número é desigual face ao do sistema educativo privado em
Portugal, onde o rácio é de 1/795 alunos. Tendo em consideração o número de alunos
matriculados no Ensino Básico e Secundário do sistema público (cerca de 1 235 000), seriam
necessários mais 500 Psicólogos no sistema público de educação para se cumprirem as
recomendações internacionais e haver uma aproximação ao rácio do ensino privado. Sendo a
necessidade de Psicólogos nas escolas públicas uma necessidade permanente, esta realidade
é agravada pela ausência de contratação para os Serviços de Psicologia e Orientação (SPOs)
das escolas públicas desde 1999, determinando um fluxo anual que envolve mais de 330 (dos
778) Psicólogos colocados em vários regimes de contratação anual de escola. Este tipo de
contratação traduz-se em riscos gravosos para o bem-estar psicológico e físico dos alunos,
colocando em causa o seu desenvolvimento saudável e o seu percurso vocacional e
profissional. Esta situação representa ainda custos adicionais tanto para as escolas como
para os candidatos.

 Prestação de Serviços de Psicologia – Menos Escolas e Menos Alunos por Psicólogo para
uma Intervenção Eficaz. No sector público é muito frequente um Psicólogo ter sobre a sua
área de influência e responsabilidade um conjunto de escolas dispersas geograficamente,
entre as quais tem de dividir o seu tempo de actuação, situação que raramente se encontra
no sector privado. De forma semelhante, é frequentemente observada uma sobreposição
dos níveis de ensino na actividade dos Psicólogos das escolas públicas, que implica o desafio
de ter de responder simultaneamente às necessidades de uma grande diversidade de anos
de escolaridade e faixas etárias, com problemáticas extremamente diversificadas. Esta
situação conduz ainda a uma menor diversificação dos serviços de Psicologia prestados,
existindo uma enfâse nas intervenções remediativas por oposição a intervenções de
prevenção e promoção da Saúde Psicológica e Escolar. Pelo contrário, nos serviços privados
de Psicologia da Educação existe, normalmente, mais do que um Psicólogo, o que permite

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uma melhor divisão dos profissionais por anos escolares, turmas e/ou áreas de
intervenção. Ainda que grande parte das intervenções psicológicas também possam ser
remediativas, parece existir uma mais diversificação dos serviços e um foco maior em
intervenções de prevenção e promoção da Saúde Psicológica e Escolar. Esta situação é
particularmente relevante no que ao abandono escolar diz respeito. De acordo com a
PORDATA a taxa de abandono precoce da educação (jovens entre os 18 e os 24 anos que não
completaram o ensino secundário) era, em 2014, de 17,4%. Este valor deixa Portugal entre
os países com valores mais elevados na Europa (4º lugar) e representa um empobrecimento
do país no que se refere não só ao grau de escolarização da população, mas também às
repercussões económicas e para o mercado de trabalho. Recentemente, o MEC premiou o
bom desempenho das escolas com créditos horários e a possibilidade de reforço das
actividades de promoção de sucesso escolar através do reforço da contratação de Psicólogos.
Da mesma forma, e porque a necessidade de intervenção é ainda maior, às escolas com
maiores taxas de abandono escolar deve ser dada a oportunidade de implementar soluções
adequadas que permitam prevenir e reduzir o impacto desta problemática – soluções nas
quais os Psicólogos desempenham um papel crucial.

 Intervenção nas NEE – O investimento do Estado é fundamental para a inclusão,


autonomia e resposta adequadas às especificidades educativas de muitas crianças, jovens
e famílias. Em termos gerais, nos serviços de Psicologia da Educação do sector privado, a
intervenção nas Necessidades Educativas Especiais (NEE) é pouco referida. Contrariamente,
o número de alunos com NEE nas escolas públicas tem vindo a aumentar progressivamente
ao longo dos anos lectivos, tendo atingido os 56 886 no ano lectivo de 2013/2014. No
entanto, o número de docentes de Educação Especial desceu para 5362 e existiam apenas
787 Psicólogos a trabalhar com a Educação Especial em 2013/2014. Sendo que os Psicólogos
dedicam uma média de 23,5 horas semanais a esta área de intervenção. É consensual que o
número de alunos apoiados e os recursos disponibilizados para fazer face às necessidades
são limitados e desadequados.

Perante esta realidade impõe-se como urgente investir nos Serviços de Psicologia da Educação de
forma a capacitar as escolas públicas portuguesas. É fundamental posicionar a Saúde Psicológica das
crianças e jovens como uma área prioritária de intervenção política, não só na área da Saúde, mas
também da Educação pública.

Esta necessidade vê-se reforçada pela prevalência das perturbações mentais, dos problemas de
comportamento e dos problemas sociais que afectam as crianças e os adolescentes portugueses e
que tem vindo a aumentar nos últimos anos, estimando-se hoje que 1 em cada 5 crianças/
adolescentes manifestam perturbações no domínio da Saúde Psicológica. Sendo que, as escolas são,
reconhecidamente, contextos essenciais e mais eficazes, para a prevenção, identificação e
intervenção precoces nestas perturbações.

Para além de uma prevalência elevada, estes problemas apresentam ainda níveis elevados de
persistência e constituem um dos principais preditores dos problemas de Saúde Mental na idade
adulta, traduzindo-se também em consequências individuais, familiares e sociais significativas para
os sectores da saúde, educação e justiça, com um impacto económico incomensurável. Nalguns

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estudos, os custos atribuídos ao sistema educativo variam entre €758 e os €24 587, por ano e por
criança.

O contributo da Psicologia e dos Psicólogos a nível escolar passa por uma resposta custo-efectiva a
um amplo e diversificado conjunto de problemas (por exemplo, dificuldades de aprendizagem,
indisciplina ou problemas emocionais), mas também pela concepção e implementação de programas
de Saúde Escolar focados na prevenção e promoção da Saúde Psicológica, com resultados positivos,
estáveis e duradouros no desenvolvimento saudável e no bem-estar de crianças, jovens, famílias e
comunidades.

A intervenção dos Psicólogos nas escolas já demonstrou aumentar a satisfação com a escola e com a
vida; melhorar a regulação emocional e as estratégias de resolução de problemas; diminuir o bullying
e a violência; aumentar o compromisso e o envolvimento com a escola; melhorar o desempenho
escolar e diminuir o absentismo e o abandono escolar; reduzir os problemas de aprendizagem e os
problemas emocionais (como a depressão e a ansiedade), assim como os comportamentos de risco
para a Saúde (por exemplo, o tabagismo, a gravidez precoce ou o abuso de álcool e substâncias).

O custo da intervenção psicológica é geralmente baixo, mas origina retornos económicos elevados.
De acordo com vários estudos, o retorno do investimento pode variar entre €1,33 e €12,57 por cada
€0,75 gasto. Ou seja, os ganhos económicos com a intervenção psicológica podem ser 2 a 17 vezes
superiores aos valores investidos.

Face aos dados e argumentos apresentados, a Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) defende
uma visão integrada de futuro para os Psicólogos no Sistema Público de Educação e um conjunto de
prioridades que devem guiar o enquadramento político e estratégico da intervenção psicológica no
contexto escolar público português:

1. Aumentar o número de Psicólogos nas escolas públicas, procurando uma aproximação ao


rácio internacionalmente recomendado (1 Psicólogo/1000 alunos) e uma redução da
discrepância entre as oportunidades de intervenção psicológica que existem no ensino
público e privado em Portugal. É fundamental que todos tenham acesso à intervenção
psicológica e aos benefícios que dela decorrem e para que isso aconteça é preciso uma força
de trabalho qualificada, competente e estável no tempo.

2. Substituir o sistema de contratação anual dos Psicólogos, por um sistema de contratação


plurianual e pela abertura de lugares nos quadros das escolas, que permitam uma resposta
de continuidade, estabilidade, de presença mais efectiva (com contratações de tempo inteiro
para Agrupamentos de Escolas ao invés de meio tempo) e de qualidade da intervenção
psicológica. Apenas desta forma é possível implementar uma visão não-clínica da Psicologia
Educacional, que privilegie: a) acções de prevenção; b) promoção das competências sócio
emocionais dos alunos; c) promoção do empreendedorismo e proactividade e da relação
com as famílias e a comunidade; d) aumento dos factores de protecção/minimização dos
factores de risco para os problemas de aprendizagem e comportamento; e) promoção do
desenvolvimento saudável integrado. Isto para além das respostas tradicionais dos
Psicólogos ao nível dos processos de orientação escolar e profissional e da avaliação e

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acompanhamento de crianças e jovens com NEE e outras problemáticas de Saúde
Psicológica.

3. Repensar os processos de avaliação, selecção e contratação de Psicólogos, de modo a


poderem definir-se caminhos para a eficácia e a autonomia da sua intervenção.

4. No que diz respeito às NEE, sempre que aplicável (ou seja, no caso das incapacidades ou
dificuldades de natureza cognitiva, psicológica, emocional, comportamental e de
personalidade) deve ser o Psicólogo o responsável único pela avaliação/certificação da
problemática em causa, prescrição das medidas de acompanhamento e intervenção. Para
além disso, aquando da concessão das tarefas de avaliação e intervenção nas NEE ou nos
apoios terapêuticos individualizados a organismos externos, deve ser necessária uma
certificação desses prestadores por parte da Ordem dos Psicólogos Portugueses.

A saúde e o bem-estar psicológico das crianças e adolescentes, a forma como estes se desenvolvem e
se tornam adultos, vão afectar a prosperidade e a estabilidade económica, política e social de
Portugal ao longo das próximas décadas. Investir na Educação é um investimento no presente e no
futuro, assim como investir na promoção da Saúde Psicológica de crianças e jovens através da
intervenção psicológica no sistema educativo é um investimento com benefícios que se
manifestarão em diferentes sectores políticos, nomeadamente da saúde, educação e justiça.

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