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DIRETORIA DE PRODUÇÃO EDUCACIONAL

PRODUÇÃO DE MATERIAIS DIVERSOS

FICHA TÉCNICA DO MATERIAL


grancursosonline.com.br

CÓDIGO:
2382022213

TIPO DE MATERIAL:
E-book

NOME DO ÓRGÃO:
Tribunal Superior Eleitoral – TSE
Tribunal Regional Eleitoral – TRE

ÚLTIMA ATUALIZAÇÃO:
7/2023
Sumário

Apresentação.....................................................................................................................4

1. Direito Eleitoral............................................................................................................5

2. Direitos Políticos: Previsão Constitucional..................................................................12

3. Princípios Eleitorais.....................................................................................................43

4. Justiça Eleitoral...........................................................................................................54

5. Ministério Público Eleitoral..........................................................................................105

6. Alistamento Eleitoral....................................................................................................112

7. Inelegibilidades...........................................................................................................153

8. Partidos Políticos........................................................................................................216

9. Sistemas Eleitorais......................................................................................................247

10. Eleições.....................................................................................................................259

11. Coligações.................................................................................................................263

12. Escolha em Convenção Partidária............................................................................267

13. Registro de Candidatura...........................................................................................272

14. Propaganda Eleitoral.................................................................................................283


RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

Apresentação

Ainda ausente do currículo regular dos cursos de graduação em Direito como disci-
plina obrigatória, o Direito Eleitoral é de grande importância para se entender o complexo de
regras jurídicas que disciplinam o processo de votação e eleição daqueles que vão se cons-
tituir como representantes dos cidadãos em nosso país, mostrando-se, dessa maneira, como
instrumento essencial para o regular funcionamento do sistema democrático.
Este resumo, portanto, deve estar nos seus arquivos para o estudo do Direito Eleitoral e
tem a finalidade de lhe dar as ferramentas necessárias para ajudá-lo a enfrentar as questões
do concurso público unificado da Justiça Eleitoral.
O presente resumo, de leitura clara e fácil, desprovido de pretensões de profundidade
acadêmica, explica, uma a uma, as principais atividades eleitorais, a começar pela própria
conceituação do Direito Eleitoral; principais fontes; direitos políticos previstos em nossa Cons-
tituição; momento em que o cidadão procede o alistamento eleitoral, angariando a capacidade
eleitoral ativa e passiva, ou seja, de votar e ser votado; estrutura da Justiça Eleitoral; inelegi-
bilidades; funções democráticas das agremiações políticas; peculiaridades inerentes ao sis-
tema eleitoral brasileiro e todo o procedimento necessário à realização de eleições no país.
Além disso, quando necessário e com base em questões de concursos anteriores, tra-
taremos aqui das fases importantes para o processo eleitoral, destacando a teoria apenas
se relevante, além da sua vinculação com os julgados pela mais alta Corte competente para
essa seara especializada, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Inovações legislativas recentes, tais como a Lei n. 14.208/2021 e a Lei n. 14.211/2021,
de dezembro de 2013, que buscaram diminuir o custo das campanhas eleitorais também
estão contempladas nesta obra, que tem, na sua atualização e consonância com a mais
hodierna interpretação do TSE e do Supremo Tribunal Federal, um de seus diferenciais.
E aí? Quer se tornar um servidor da Justiça Eleitoral? Vamos juntos nessa jornada.
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Tenha uma boa leitura!

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

RESUMO DE DIREITO ELEITORAL


CONCURSO UNIFICADO TSE + TRES

WESLEI MACHADO

1. DIREITO ELEITORAL

Direito Eleitoral é o ramo do Direito que tem a finalidade de assegurar a identidade da


vontade soberana do povo e a formação da vontade política do Estado. Com efeito, o Direito
Eleitoral cuida do exercício da soberania popular, por meio da qual o povo exerce todo o
poder que lhe pertence, de forma direta ou indireta.
A título explicativo: a soberania popular é o poder dado ao povo (na verdade, todo
poder), o qual é exercido por meio do sufrágio universal, do voto direto, secreto e com valor
igual para todos, do plebiscito, do referendo, da iniciativa popular de leis, da ação popular e
por outros meios que viabilizem a manifestação da vontade do povo.
Logo, o Direito Eleitoral cuida do exercício do poder pelo povo e de todos os instrumen-
tos de manifestação de sua vontade. Atente-se: esse ramo do Direito não se limita a regular
as eleições, mas todos os meios de manifestação do poder popular.
O Direito Eleitoral pertence ao Direito Público. Isso porque trata da soberania popular,
fundamento da República Federativa do Brasil. Sua principal função, segundo Rodrigo López
Zilio (2009, p. 32),

é proporcionar e assegurar que a conquista do poder pelos grupos sociais seja


efetuada dentro de parâmetros legais preestabelecidos, sem o uso da força ou
de quaisquer subterfúgios que interfiram na soberana manifestação da vonta-
de popular.

Pode‑se dizer, por consequência, que o Direito Eleitoral tem por objeto o alistamento
eleitoral, a aquisição, a perda e a suspensão dos direitos políticos, sistemas eleitorais, propa-
ganda eleitoral, garantias eleitorais, crimes e ilícitos eleitorais, eleições etc.
Joel José Cândido (2006, p. 23) conceitua o Direito Eleitoral como sendo

o ramo do Direito Público que trata de institutos relacionados com os direitos polí-
ticos e das eleições, em todas as suas fases, como forma de escolha dos titulares
de mandatos eletivos e das instituições de Estado.

Ainda, somente para frisar, cita‑se o conceito elaborado por José Jairo Gomes
(2012, p. 19):

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

Direito Eleitoral é o ramo do Direito Público cujo objeto são os institutos, as normas
e os procedimentos regularizadores dos direitos políticos. Normatiza o exercício
do sufrágio com vistas à concretização da soberania popular.

Por fim, deve-se distinguir o Direito Eleitoral do Direito Partidário. Para tanto, recorre-se
à classificação constitucional dada aos Direitos Fundamentais. Esta é a referida classificação
dos Direitos Fundamentais adotadas pela CF/88:

• Direitos e Deveres Individuais e Coletivos – art. 5º da CF/88;


• Direitos Sociais – arts. 6º a 11 da CF/88;
• Nacionalidade – arts. 12 e 13 da CF/88;
• Direitos Políticos – arts. 14 a 16 da CF/88;
• Partidos Políticos – art. 17 da CF/88.

O Direito Eleitoral contém, unicamente, regras e princípios sobre os direitos políticos


(arts. 14 a 16 da CF/88), pois são esses direitos que viabilizam o exercício da soberania
popular. Não há, no âmbito do Direito Eleitoral, o tratamento normativo dos partidos políticos,
pois, entre estes e os direitos políticos, existe uma distinção conceitual. Com efeito, o ramo
do Direito que trata dos partidos políticos é o Direito Partidário.

Fontes do Direito Eleitoral

A designação fonte expressa a procedência ou a origem de algo. No Direito, o termo


fonte caracteriza a origem das normas de um determinado ramo da Ciência Jurídica.
As fontes do Direito Eleitoral indicam os caminhos e limites em que o operador do
Direito deve percorrer para construir o edifício do Direito Eleitoral.
Existem várias classificações para as fontes do Direito Eleitoral. Explanar‑se‑á acerca
da principal classificação, visando a facilitação do estudo.
As fontes do Direito Eleitoral podem ser classificadas como materiais e formais.

Fontes Materiais

Fontes materiais são os diversos fatores sociais, éticos, políticos, econômicos, reli-
giosos que condicionam a formação e o surgimento das normas jurídicas. Para José Jairo
Gomes (2008, p. 18), “a lei não decorre da atividade impessoal, harmônica e coerente de um
legislador justo e onipresente”.
Como exemplos de fontes materiais, pode‑se citar a atuação dos grupos organizados
da sociedade, a atividade exercida pelos lobbys, as manifestações da sociedade e a pressão
de segmentos sociais e de sindicatos.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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Fontes Formais

Por sua vez, as fontes formais são os meios pelos quais uma norma jurídica ingressa
na ordem jurídica e passa a regular os fatos. Segundo Miguel Reale (2001, p. 144), as fontes
formais são “os processos ou meios em virtude dos quais as regras jurídicas se positivam
com legítima força obrigatória, isto é, com vigência e eficácia no contexto de uma estrutura
normativa”.
São fontes formais do Direito Eleitoral:

• Constituição Federal – É a principal fonte. Os princípios básicos e as regras fun-


damentais do Direito Eleitoral estão inscritos na Constituição Federal. Todo o regra-
mento eleitoral deve estar de acordo com a Constituição. Caso haja incompatibilidade
entre uma norma eleitoral e a Constituição, afirma‑se que essa disposição normativa é
inconstitucional.

Encontram-se normas constitucionais relacionadas ao Direito Eleitoral nos seguintes


artigos da CF/1988:

1. Art. 1º, parágrafo único – consagração da soberania popular;


2. Arts. 14 a 16 – previsão dos direitos políticos.
3. Arts. 118 a 121 – organização da Justiça Eleitoral.

Esses dispositivos constitucionais tratam dos tipos de direitos políticos, do alistamento


eleitoral, da elegibilidade, das inelegibilidades, das hipóteses de perda e suspensão dos
direitos políticos, do princípio da anterioridade eleitoral e da estrutura e composição da Jus-
tiça Eleitoral.

• Código Eleitoral (Lei n. 4.737/1965) – Disciplina a competência da Justiça Eleitoral, o


exercício dos direitos políticos, fixa as regras de alistamento, dos sistemas eleitorais, de
registro de candidaturas, de atos preparatórios, da apuração, da diplomação dos elei-
tos, dos crimes eleitorais e do processo penal eleitoral.

Esse diploma legislativo foi editado antes da Constituição Federal de 1988. Desse
modo, algumas de suas disposições afrontam as novas normas constitucionais e, por essa
razão, foram revogadas. Exemplo dessa afirmativa é a vedação de exercício dos direitos
políticos aos analfabetos, inscrita no art. 5º do Código Eleitoral. Essa regra eleitoral viola o
texto constitucional que permite aos analfabetos, de forma facultativa, o exercício dos direitos
políticos ativos. Por essa razão, não foi recepcionada pela nova ordem constitucional instau-
rada pela CF/88.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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Pois bem, é preciso analisar o modo pelo qual o Código Eleitoral foi recepcionado pela
CF/88. Pode-se afirmar que parte do Código Eleitoral foi recepcionada com status de lei
complementar. Isso porque a Constituição Federal, em seu art. 121, exige a edição de lei
complementar para tratar sobre organização e competências da Justiça Eleitoral. Todos os
artigos do Código Eleitoral que se refiram à organização e às competências da Justiça Elei-
toral têm status de lei complementar. Essa parte está presente principalmente entre os arts.
12 a 41 do CE.
O restante do Código Eleitoral foi recepcionado com status de lei ordinária, pois, para
tratar de Direito Eleitoral, em regra, basta a edição de uma lei ordinária. A esse respeito:

O Código Eleitoral possui natureza jurídica de lei ordinária, sendo recepcionado


com força de lei complementar apenas na matéria que disciplina a competência.
Como o constituinte determinou que ‘lei complementar disporá sobre organização
e competências dos Tribunais, dos Juízes de Direito e das Juntas Eleitorais’ (art.
121) e em face da ausência de edição de lei definidora de normas sobre organi-
zação e competência na esfera especializada, o entendimento doutrinário e juris-
prudencial é que apenas na parte relativa à competência ocorreu a recepção do
Código Eleitoral como lei complementar. (ZILIO, 2012, p. 24).

• Lei dos Partidos Políticos (Lei n. 9.096/1995) – Dispõe sobre os partidos políticos e
regulamenta os arts. 17 e 14, § 3º, da Constituição Federal.

Embora não seja uma lei especificamente sobre o Direito Eleitoral, tem um estreito rela-
cionamento com essa matéria, especialmente no que diz respeito à regulamentação da filia-
ção partidária, uma das condições impostas ao exercício do direito à elegibilidade.

• Lei das Inelegibilidades (Lei Complementar n. 64/1990) – Estabelece, de acordo com


o art. 14, § 9º, da Constituição Federal, casos de inelegibilidade e prazos de cessação.
• Lei das Eleições (Lei n. 9.504/1997) – Estabelece normas para as eleições.
• Resoluções do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) – O TSE tem, nos termos do art. 23,
IX, do Código Eleitoral, poder regulamentar e, no exercício dessa competência, edita
resoluções.

Poder Regulamentar do Tribunal Superior Eleitoral

O Tribunal Superior Eleitoral pode editar resoluções para a regulamentação do Código


Eleitoral. Isso porque o parágrafo único do art. 1º do Código Eleitoral prescreve que o TSE
expedirá instruções com a finalidade de buscar a fiel execução da legislação eleitoral. No
mesmo sentido, o art. 105 da Lei n. 9.504/1997 dispõe que:

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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Art. 105. Até o dia 5 de março do ano da eleição, o Tribunal Superior Eleitoral,
atendendo ao caráter regulamentar e sem restringir direitos ou estabelecer san-
ções distintas das previstas nesta Lei, poderá expedir todas as instruções neces-
sárias para sua fiel execução, ouvidos, previamente, em audiência pública, os
delegados ou representantes dos partidos políticos.

Ressalta‑se que, no exercício de sua competência regulamentar, o TSE não pode con-
trariar as disposições legislativas. A resolução eleitoral deve ser secundum ou praeter legem.
Essas resoluções têm função precípua de regulamentar a aplicabilidade das leis eleitorais.
No mesmo sentido, veja a seguinte lição dada pelo Ministro Eros Grau, no julgamento da
Consulta n. 1.587, no Tribunal Superior Eleitoral:

O Tribunal Superior Eleitoral não está autorizado, nem pela Constituição, nem por
lei nenhuma, a inovar o ordenamento jurídico, obrigando quem quer que seja a
fazer ou a deixar de fazer alguma coisa.

Caso a resolução afronte disposições legislativas, ter‑se‑á uma ilegalidade, que poderá
ser combatida por meio de mandado de segurança ou recurso. Não se pode combater
essa ilegalidade por meio de ação direta de inconstitucionalidade perante o Supremo Tribu-
nal Federal.
Entretanto, se a Resolução do TSE inovar no ordenamento jurídico, dispondo sobre
matéria ainda não tratada pelo Poder Legislativo, será possível que essa afronta ao princípio
da separação dos poderes seja corrigida por meio da Ação Direta de Inconstitucionalidade.
Deve-se atentar, ainda, que, de forma excepcional e transitória, o Supremo Tribunal
Federal reconheceu que o Tribunal Superior Eleitoral pode editar resoluções que inovem no
ordenamento jurídico, desde que:

1. a matéria seja relevante e urgente;


2. haja omissão do Congresso Nacional no exercício de sua função legislativa.

As resoluções do TSE expedidas diante dessa situação excepcional e transitória


somente produzirão efeitos até que o Poder Legislativo, titular da função legiferante, supra a
omissão. Essa foi a conclusão do Supremo Tribunal Federal ao julgar a ADI n. 3.999, a qual
tece o seu pedido julgado improcedente e, por consequência, declarou-se a constitucionali-
dade da Resolução do TSE n. 22.610/2007 (Resolução da Fidelidade Partidária)1.

1
Esta é a ementa da decisão exarada pelo STF, no julgamento da ADI n. 3.999, a qual reconheceu a constitucionalidade da Resolução do TSE n. 22.610/2007:
“3. O Supremo Tribunal Federal, por ocasião do julgamento dos Mandados de Segurança 26.602, 26.603 e 26.604 reconheceu a existência do dever cons-
titucional de observância do princípio da fidelidade partidária. Ressalva do entendimento então manifestado pelo ministro-relator. 4. Não faria sentido a
Corte reconhecer a existência de um direito constitucional sem prever um instrumento para assegurá-lo. 5. As resoluções impugnadas surgem em contexto
excepcional e transitório, tão somente como mecanismos para salvaguardar a observância da fidelidade partidária enquanto o Poder Legislativo, órgão
legitimado para resolver as tensões típicas da matéria, não se pronunciar. 6. São constitucionais as Resoluções 22.610/2007 e 22.733/2008 do Tribunal
Superior Eleitoral. Ação direta de inconstitucionalidade conhecida, mas julgada improcedente.” (ADI n. 3.999, DJe, de 17/04/2009)

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Aliás, com a finalidade de deixar mais clara a limitação ao exercício da função regula-
mentar pela Justiça Eleitoral, no ano de 2021, previu-se a impossibilidade de sua utilização
para tratar da organização de partidos políticos. A esse respeito, veja o teor do art. 23-A do
Código Eleitoral:

Art. 23-A. A competência normativa regulamentar prevista no parágrafo único do


art. 1º e no inciso IX do caput do art. 23 deste Código restringe-se a matérias espe-
cificamente autorizadas em lei, sendo vedado ao Tribunal Superior Eleitoral tratar
de matéria relativa à organização dos partidos políticos.

Competência Legislativa

As normas eleitorais, como visto, surgem a partir da elaboração das fontes formais pelo
órgão competente. Mas, qual órgão possui competência para legislar sobre Direito Eleitoral?
Essa pergunta é respondida pelo art. 22, I, da CF/88, nos seguintes termos:

Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:


I – direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáu-
tico, espacial e do trabalho;

Essa competência da União é exercida pelo Congresso Nacional, pois a este órgão
cabe, com a sanção do Presidente da República, dispor sobre as matérias do art. 22 da
CF/88 (art. 48, caput, da CF/88).
Por sua vez, os demais entes federativos, Estados-membro, Distrito Federal e municí-
pios não podem tratar de normas sobre Direito Eleitoral. Isso porque a competência foi atri-
buída de forma privativa para a União.
Uma vez delimitada a competência legiferante em matéria eleitoral, deve-se analisar
qual o instrumento legislativo será utilizado pelo Poder Legislativo da União para tratar das
normas eleitorais.
Pois bem! Em regra, a criação de normas eleitorais ocorrerá por meio da produção
de lei ordinária. Basta uma lei ordinária para tratar dos diversos temas eleitorais, como, por
exemplo, alistamento, eleição, propaganda eleitoral, financiamento de campanha e condi-
ções de elegibilidade.
Entretanto, em algumas situações, é exigível, em determinados temas eleitorais, a
edição de lei complementar. Esses casos estão previstos no art. 14, § 9º, e no art. 121, caput,
ambos da CF/88, nos seguintes moldes:

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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Art. 14. Omissis


§ 9º Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos
de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para
exercício de mandato considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade
e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do
exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta. (Reda-
ção dada pela Emenda Constitucional de Revisão n. 4, de 1994)

Art. 121. Lei complementar disporá sobre a organização e competência dos tribu-
nais, dos juízes de direito e das juntas eleitorais.

Dessa forma, é exigível a edição de lei complementar para tratar:

1. das inelegibilidades infraconstitucionais;


2. da organização e das competências da Justiça Eleitoral.

Por exclusão, os demais assuntos do Direito Eleitoral poderão ser estabelecidos por lei
ordinária.

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2. DIREITOS POLÍTICOS: PREVISÃO CONSTITUCIONAL

A Constituição Federal, em seu art. 1º, parágrafo único, prescreve que todo poder
emana do povo, que o exerce diretamente ou por meio de representantes eleitos. Esse poder
é denominado de soberania popular. Na verdade, segundo o Texto Constitucional, “todo”
poder pertence ao povo, e, para exercê-lo, existem duas maneiras: diretamente, por meio
dos instrumentos de exercício direto de democracia (voto, plebiscito, referendo etc.); indireta-
mente, por meio dos cidadãos eleitos para o exercício de mandatos representativos no Poder
Legislativo e no Poder Executivo.
Com efeito, a soberania popular pode ser exercida de forma direta ou indireta. O povo
exerce seu poder diretamente quando, sem intermediação, interfere na formação da vontade
política do Estado. Por sua vez, exercerá seu poder indiretamente por meio da escolha de
representantes populares. Esses representantes serão responsáveis pela elaboração de leis
e atos normativos em nome do povo.

Mas como se dá o exercício da soberania popular? Em outras palavras: como o


povo exerce o seu poder ou a soberania popular?

Nos termos do art. 14, caput, da CF, a soberania popular será exercida por meio do
sufrágio universal e pelo voto direto e secreto e, nos termos da lei, mediante:

• plebiscito;
• referendo;
• iniciativa popular de leis;
• ação popular, entre outros instrumentos de exercício direto de poder pelo povo.

O conjunto de instrumentos de exercício da soberania popular é denominado de direitos


políticos. Isso quer dizer que os direitos políticos são os instrumentos de exercício do poder
pelo povo. Alexandre de Moraes conceitua os direitos políticos da seguinte forma:

É o conjunto de regras que disciplina as formas de atuação da soberania popular,


conforme preleciona o caput do art. 14 da Constituição Federal. São direitos públi-
cos subjetivos que investem o indivíduo no status activae civitatis, permitindo-lhe o
exercício concreto da liberdade de participação nos negócios políticos do Estado,
de maneira a conferir os atributos da cidadania.

Para José Jairo Gomes, esta é a definição de direitos políticos:

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Denominam-se direitos políticos ou cívicos as prerrogativas e os deveres ineren-


tes à cidadania. Englobam o direito de participar direta ou indiretamente do go-
verno, da organização e funcionamento do Estado. [...] É pelos direitos políticos
que as pessoas – individual ou coletivamente – intervêm e participam no governo.
Tais direitos não são conferidos indistintamente a todos os habitantes do território
estatal – isto é, a toda a população –, mas só aos nacionais que preencham deter-
minados requisitos expressos na Constituição – ou seja, ao povo.

De forma expressa, a Constituição Federal consagra os seguintes direitos políticos:

• sufrágio universal;
• voto direto e secreto;
• referendo;
• plebiscito;
• iniciativa popular de leis.

Ressalte-se, entretanto, que o rol de direitos políticos constantes no art. 14 da Consti-


tuição Federal não é taxativo, mas meramente exemplificativo. Isso quer dizer que existem
outros direitos políticos além daqueles expressamente consignados na Constituição Federal.
Assim, toda forma de manifestação que permita ao povo a intervenção na formação das polí-
ticas públicas, das leis, constituirá direito político. Exemplificando: as manifestações popu-
lares, a favor ou contra um determinado tema político-comunitário, constituem manifestação
de direito político; a atividade do lobista na defesa de direitos de uma determinada classe ou
setor social constitui exercício de direito político.

Direitos Políticos: Classificação

Os direitos políticos podem ser classificados em direitos políticos ativos ou direitos polí-
ticos passivos. Assim, os:

• direitos políticos ativos constituem o direito de votar. Trata-se da hipótese em que


o povo diretamente manifesta sua vontade. Somente pode exercer o direito ao voto o
cidadão previamente alistado perante a Justiça Eleitoral.

ATENÇÃO
Todo cidadão tem direito político ativo. Isso quer dizer que qualquer cidadão alistado peran-
te a Justiça Eleitoral será titular do direito de votar, independentemente de qualquer outra
circunstância.

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• direitos políticos passivos abrangem o direito de ser votado, ou seja, o direito de


concorrer a cargos públicos eletivos. Para o exercício dos direitos políticos passivos,
é necessário o preenchimento de um conjunto de requisitos fixados na Constituição
Federal ou em lei, que são denominados de condições de elegibilidade.

ATENÇÃO
Somente poderá exercer os direitos políticos passivos o cidadão que preencher todas as
condições de elegibilidade e não se encaixar em nenhuma situação de inelegibilidade.
Não são todos os cidadãos que podem exercer o direito de ser votado, diferentemente do
direito de votar.

A classificação anterior não é suficiente para encaixar uma série de direitos políticos.
Por essa razão, com a finalidade de classificar didaticamente todos os direitos políticos, a
doutrina construiu outra classificação, que divide os direitos políticos em positivos e negati-
vos. Desse modo, os:

• direitos políticos positivos constituem o conjunto de normas que conferem ao povo


a possibilidade de exercer a soberania popular. Toda norma que possibilitar ao povo
o direito de interferir na formação da vontade política do Estado será denominada de
direito político positivo.

Segundo Dirley da Cunha Júnior, “são prerrogativas que asseguram ao povo a facul-
dade de participar democraticamente do governo, quer por seus representantes, quer por si”.
A partir disso, podem ser classificados como direitos políticos positivos os seguintes
instrumentos de exercício da soberania popular:
– direito de votar;
– direito de ser votado;
– direito de participar em referendo;
– direito de participar em plebiscito;
– iniciativa popular de leis;
– ação popular.

• direitos políticos negativos constituem um conjunto de normas que restringem o exer-


cício dos direitos políticos. Essas limitações devem ser interpretadas restritivamente.
Isso porque normas que restringem os direitos políticos, na verdade, restringirão um
direito fundamental, pois, segundo regras de hermenêutica, restrição a direitos funda-
mentais deve ser interpretada de forma restritiva.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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Além disso, no que se refere à aplicação das restrições à cidadania, deve-se levar em
consideração o princípio da tipicidade eleitoral. A partir dessa norma, somente será admi-
tida a limitação de direitos políticos nas hipóteses expressamente previstas na Constituição
Federal ou em lei.
Aliás, a restrição de direitos políticos por meio dos institutos da perda e da suspensão
somente é admitida nos casos estabelecidos no art. 15 da Constituição Federal. Não se
admite a instituição de novas hipóteses de perda e suspensão de direitos políticos por meio
de legislação infraconstitucional.
Por sua vez, a restrição do direito político passivo por meio das inelegibilidades somente
cabe por meio de previsão contida em norma constitucional (art. 14, §§ 4º a 7º) ou disposição
de lei complementar. Isso porque o art. 14, § 9º, da Constituição Federal, prevê a possibili-
dade de criação de outras hipóteses de inelegibilidade, além daquelas estabelecidas no texto
constitucional, desde que haja a instituição de lei complementar.

Após essas considerações, podem ser classificadas como direitos políticos negativos:

• hipóteses de inelegibilidades;
• hipóteses de perda dos direitos políticos;
• hipóteses de suspensão dos direitos políticos.

Direito ao Sufrágio

Segundo Gilmar Mendes e Paulo Gustavo Gonet Branco, “os direitos políticos abran-
gem o direito ao sufrágio, que se materializa no direito de votar, de participar da organização
da vontade estatal e no direito de ser votado”.
Da mesma forma, Alexandre de Moraes reconhece que o direito ao sufrágio abrange o
direito de votar e de ser votado, sendo a essência dos direitos políticos. Desse modo, o direito
ao sufrágio abrange:

• a capacidade eleitoral ativa – direito de votar;


• a capacidade eleitoral passiva – direito de ser votado.

Contudo, não se pode confundir voto e sufrágio. Embora haja uma íntima ligação entre
esses dois institutos, eles não se confundem. De acordo com José Afonso da Silva:

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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As palavras sufrágio e voto são empregadas comumente como sinônimos. A Cons-


tituição, no entanto, dá-lhes sentidos diferentes, especialmente, no seu artigo 14,
por onde se vê que o sufrágio é universal e o voto é direto e secreto e tem valor
igual. A palavra voto é empregada em outros dispositivos, exprimindo a vontade
num processo decisório. Escrutínio é outro termo com que se confundem as pala-
vras sufrágio e voto. É que os três se inserem no processo de participação do povo
no governo, expressando: um, o direito (sufrágio), outro, o seu exercício (o voto),
e o outro, o modo de exercício (escrutínio).

ATENÇÃO
A Constituição Federal dispõe que o sufrágio é universal. Em um primeiro momento, pode-
-se pensar que todas as pessoas são titulares de direitos políticos, dada a característica da
universalidade. Não obstante, somente são titulares do direito ao sufrágio as pessoas que
preencherem os requisitos constitucionais para a aquisição dos direitos políticos. Essas
pessoas são denominadas de cidadãos.

Deve-se distinguir o cidadão da pessoa:

• cidadão – titular de direitos políticos. Para a Constituição, só poderá ser considerado


cidadão a pessoa que for brasileira e maior de dezesseis anos, desde que alistado
perante a Justiça Eleitoral.
• pessoa – titular de direitos. Para o Código Civil, todos os que nascerem com vida são
pessoas e titulares de direitos e obrigações na ordem civil.

A expressão sufrágio universal é utilizada em contraposição ao sufrágio restrito. De


forma simples, Vicente de Paulo e Marcelo Alexandrino fazem a seguinte distinção entre
sufrágio universal e restrito:

O sufrágio é universal quando assegurado o direito de votar a todos os nacionais,


independentemente da exigência de quaisquer requisitos, tais como condições
culturais ou econômicas etc.
O sufrágio será restrito quando o direito de votar for concedido tão somente àque-
les que cumprirem determinadas condições fixadas pelas leis do Estado. O sufrá-
gio restrito, por sua vez, poderá ser censitário ou capacitário.
O sufrágio censitário é aquele que somente outorga o direito de voto àqueles que
preencherem certas qualificações econômicas. Seria o caso, por exemplo, de não
se permitir o direito de voto àqueles que auferissem renda mensal inferior a um
salário-mínimo.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

O sufrágio capacitário é aquele que só outorga o direito de voto aos indivíduos


dotados de certas características especiais, notadamente de natureza intelectual.
Seria o caso, por exemplo, de se exigir para o direito ao voto a apresentação de
diploma de conclusão do curso fundamental, ou médio ou superior.

Direito ao Voto

Como visto, o direito ao voto é classificado como direito político ativo. Todo cidadão que
possuir a capacidade eleitoral ativa terá direito de exercitar o voto.
O direito ao voto pode ser conceituado, segundo José Jairo Gomes, como:

um dos mais importantes instrumentos democráticos, pois enseja o exercício da


soberania popular e do sufrágio. Cuida-se do ato pelo qual os cidadãos escolhem
os ocupantes de cargos político-eletivos. Por ele, concretiza-se o processo de
manifestação da vontade popular. Embora expresse um direito público subjetivo,
o voto é também um dever cívico e, por isso, obrigatório para os maiores de 18
anos e menores de 70 anos.

Quanto à sua natureza jurídica, Pinto Ferreira ensina que o voto:

é essencialmente um direito público subjetivo, é uma função da soberania popular


na democracia representativa e na democracia mista como um instrumento deste,
e tal função social justifica e legitima a sua imposição como um dever, posto que o
cidadão tem o dever de manifestar sua vontade na democracia.

Assim, vê-se que o voto é um direito público subjetivo de manifestação da vontade e


decorre da soberania popular. Para os maiores de 18 anos e menores de 70 anos, desde
que alfabetizados, o voto também é um dever cívico. Trata-se de um direito/dever em que os
cidadãos escolherão os ocupantes de cargos representativos.

Voto: Características

O direito ao voto possui algumas características como pessoalidade, obrigatoriedade,


liberdade, além de ser secreto, direto, periódico e igual. Essas características são correta-
mente definidas por Alexandre de Moraes, nos seguintes termos:

• pessoalidade – o voto só pode ser exercido pessoalmente. O eleitor não pode outorgar
procuração para que outrem exerça o voto em seu lugar. A pessoalidade é essencial
para a garantia da sinceridade e da autenticidade do voto.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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• obrigatoriedade de comparecimento – aos maiores de 18 anos e menores de 70


anos, desde que alfabetizados, é obrigatório o comparecimento às eleições. Aquele que
se encaixar nessa prescrição constitucional deverá necessariamente comparecer às
urnas sob pena de incidir em uma série de restrições legais e multa.
• liberdade – trata-se da possibilidade de o cidadão escolher com liberdade seus candi-
datos e partidos políticos. Além disso, a liberdade de voto inclui o direito de se votar em
branco ou em anular o voto. Portanto, “embora haja o dever de votar, todos são livres
para escolher ou não um candidato e até anular o voto”. (José Jairo Gomes)
• secreto – o voto é sigiloso e o seu conteúdo não pode ser revelado pelos órgãos da
Justiça Eleitoral. Essa característica tem a finalidade de garantir a lisura e a probidade
das eleições, evitando que o eleitor tenha sua vontade corrompida pelo abuso do poder
econômico ou político.
• direto – o eleitor, sem intermediários, escolhe seus governantes e representantes.
• periodicidade – os mandatos são temporários, e, de forma periódica, o eleitor é cha-
mado a escolher seus governantes e representantes por meio do voto. Aliás, a periodi-
cidade do voto é uma cláusula pétrea.
• igualdade – o voto de todos os cidadãos tem o mesmo valor para todos, indepen-
dentemente de qualquer circunstância. Nesse tema, aplica-se o princípio da igualdade
formal: one man, one vote.

Plebiscito e Referendo

Dentre as formas de exercício da soberania popular, tem-se o referendo e o plebiscito.


Esses dois instrumentos viabilizam o exercício da soberania popular de forma direta. O povo
é chamado, por meio de uma consulta popular, a se manifestar sobre um determinado tema
político-comunitário.
De acordo com Vicente de Paulo e Marcelo Alexandrino, pode-se conceituar plebiscito
e referendo da seguinte forma:

Plebiscito e referendo são consultas formuladas ao povo para que delibere sobre
matéria de acentuada relevância, de natureza constitucional, legislativa ou admi-
nistrativa.
O plebiscito é convocado com anterioridade a ato legislativo ou administrativo,
cabendo ao povo, pelo voto, aprovar ou denegar o que lhe tenha sido submetido.
O referendo é convocado com posterioridade a ato legislativo ou administrativo,
cumprindo ao povo a respectiva ratificação ou rejeição.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

A distinção entre os institutos é feita levando-se em conta o momento da manifes-


tação dos cidadãos: se a consulta à população é prévia, temos o plebiscito; se a
consulta à população sobre determinada matéria é posterior à edição de um ato
governamental, temos o referendo.

Dentre as formas de se viabilizar a participação popular, por meio de consultas, está a


possibilidade de, juntamente com as eleições municipais, serem submetidas à manifestação
do povo consultas sobre questões locais. Nessa situação, as consultas populares, aprovadas
pelas Câmaras Municipais, se encaminhadas à Justiça Eleitoral até noventa dias antes da
data das eleições, seriam submetidas ao escrutínio popular com o uso da urna eletrônica, no
mesmo dia da votação das eleições municipais.
Essa é a novidade inserida no art. 14, §§ 12 e 13 da Constituição Federal, pela Emenda
à Constituição n. 111/2021, nos seguintes termos:

§ 12 Serão realizadas concomitantemente às eleições municipais as consultas


populares sobre questões locais aprovadas pelas Câmaras Municipais e enca-
minhadas à Justiça Eleitoral até 90 (noventa) dias antes da data das eleições,
observados os limites operacionais relativos ao número de quesitos. (Incluído pela
Emenda Constitucional n. 111, de 2021)
§ 13 As manifestações favoráveis e contrárias às questões submetidas às consul-
tas populares nos termos do § 12 ocorrerão durante as campanhas eleitorais, sem
a utilização de propaganda gratuita no rádio e na televisão. (Incluído pela Emenda
Constitucional n. 111, de 2021)

Alistamento Eleitoral

O alistamento eleitoral é o ato pelo qual o eleitor se torna cidadão. Trata-se de proce-
dimento administrativo desenvolvido perante a Justiça Eleitoral e tem a finalidade de aferir o
preenchimento dos requisitos de alistabilidade. Segundo José Jairo Gomes:

Entende-se por alistamento o procedimento administrativo-eleitoral pelo qual se


qualificam e se inscrevem os eleitores. Nele se verifica o preenchimento dos re-
quisitos constitucionais e legais indispensáveis à inscrição do eleitor. Uma vez
deferido, o indivíduo é integrado ao corpo de eleitores, podendo exercer direitos
políticos, votar e ser votado, enfim, participar da vida política do país. Em outras
palavras, adquire-se cidadania. Note-se, porém, que, com o alistamento, adquire-
-se apenas a capacidade eleitoral ativa, o jus sufragii; a passiva ou a elegibilidade
depende de outros fatores.

Requisitos para o Alistamento

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A Constituição Federal, em seu art. 14, § 1º, enumera os requisitos necessários para o
alistamento eleitoral. Assim, são requisitos de alistabilidade:

• Nacionalidade brasileira – basta ter a nacionalidade brasileira para que a pessoa


possa alistar-se. No que se refere aos requisitos para a prática desse ato, não há distin-
ção entre brasileiro nato e naturalizado.

ATENÇÃO
Aos portugueses com residência permanente no País, se houver reciprocidade em favor
de brasileiros, nos termos do art. 12, § 1º, da Constituição Federal, serão atribuídos os di-
reitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos previstos nesta Constituição. Isso quer dizer
que os portugueses podem se alistar no Brasil, desde que haja o preenchimento desses
dois requisitos: residência permanente no Brasil e reciprocidade. O português é o único
estrangeiro que pode se tornar um cidadão brasileiro.

• Idade mínima de 16 anos – apesar de a idade mínima constitucionalmente estabele-


cida para o alistamento eleitoral ser dezesseis anos, a Resolução-TSE n. 23.659/2021
previu a possibilidade de a pessoa com quinze anos de idade requerer o alistamento
eleitoral. Nesse caso, independentemente de autorização ou representação dos repre-
sentantes legais, a pessoa poderá requerer o alistamento eleitoral, mas o título eleito-
ral emitido nessas condições somente produzirá efeitos após o implemento da idade
mínima de dezesseis anos.

Sobre essa possibilidade, veja o teor do art. 30 da Resolução-TSE n. 23.659/2021:

Art. 30. A partir da data em que a pessoa completar 15 anos, é facultado o seu
alistamento eleitoral.
§ 1º Nos anos em que se realizarem eleições ordinárias, o alistamento de que trata
o caput deste artigo deverá ser solicitado até o encerramento do prazo fixado para
requerimento de operações do cadastro.
§ 2º O alistamento será requerido diretamente pela pessoa menor de idade e inde-
pende de autorização ou assistência de seu/sua representante legal.
§ 3º O título eleitoral emitido nas condições deste artigo somente surtirá o efeito
previsto no art. 11 desta Resolução quando a pessoa completar 16 anos.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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Destaque-se, por fim, não ser exigível, para fins de alistamento eleitoral, a alfabetização
ou sequer a fluência em língua portuguesa. Assim, admite-se o alistamento eleitoral de um
brasileiro que não saiba se exprimir em língua nacional, conforme se infere do art. 13, § 3º,
da Resolução-TSE n. 23.659/2021:

Art. 13.
§ 3º Não se exigirá a fluência na língua portuguesa para fins de alistamento, as-
segurando-se a cidadãos e cidadãs indígenas, o uso de suas línguas maternas e
processos próprios de aprendizagem.

Espécies de Alistamento

De acordo com o art. 14, §§ 1º e 2º, da Constituição Federal, o alistamento eleitoral


pode ser classificado em: obrigatório, facultativo e vedado.

Alistamento obrigatório

O alistamento será obrigatório no seguinte caso:


– Brasileiro maior de 18 anos e menor de 70 anos; e
– Alfabetizado.

Atente-se para o fato de que a Constituição Federal, em seu art. 14, § 1º, I, prevê o alis-
tamento eleitoral obrigatório aos maiores de dezoito anos. Contudo, a partir de uma interpre-
tação sistemática, pode-se concluir que não basta esse requisito, sendo exigido, ainda, que
a pessoa tenha menos de setenta anos e seja alfabetizada.

Alistamento facultativo

O alistamento será facultativo nas seguintes situações:


– maior de 16 anos e menor de 18 anos;
– maior de 70 anos;
– analfabetos.

Qual a razão de o voto e o alistamento serem facultativos aos maiores de 70 anos?


Qual a circunstância que singulariza essa classe de pessoas para que recebessem
um tratamento normativo diferenciado?

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Para Gilmar Mendes e Paulo Gustavo Gonet Branco:

[...] o legislador constitucional, ao facultar o voto aos maiores de 70 anos, atentou,


certamente, para as prováveis limitações físicas decorrentes da sua idade, de
modo a não transformar o exercício do voto em transtorno ao seu bem-estar.

Você deve estar pensando: existe outra classe de pessoas que também possui limita-
ções físicas que podem tornar oneroso o exercício dos direitos políticos: pessoas com defi-
ciência (PcDs).

O alistamento eleitoral é facultativo ou obrigatório para PcDs?

Os próprios autores Gilmar Mendes e Paulo Gustavo Gonet Branco respondem a essa
pergunta, baseados em um julgamento do Tribunal Superior Eleitoral, nos seguintes moldes:

Argumentou-se que algumas pessoas apresentam deficiências que praticamente


tornam impossível o exercício de suas obrigações eleitorais, tais como os tetra-
plégicos e os deficientes visuais inabilitados para a leitura em braile. Todos eles
poderiam, assim, encontrar-se em situação até mais onerosa do que a dos ido-
sos. Ressalte-se que nem todas as salas de seções de votação têm acesso ade-
quado para deficientes. Cuidar-se-ia de ‘lacuna’ suscetível de ser superada com
base nos próprios princípios estruturantes do sistema constitucional, suficientes a
legitimar uma cláusula implícita que justificasse outras exceções ao alistamento
obrigatório, desde que compatível com o ‘projeto’ fixado pelo texto constitucional.
No caso, o próprio art. 5º, § 2º, da Constituição Federal autorizaria a interpretação
que legitimava a extensão do direito reconhecido aos idosos às portadoras de
deficiência grave.

E para o Tribunal Superior Eleitoral? Qual a posição adotada?

Não há a previsão de facultatividade do alistamento eleitoral, mas apenas a ausência


de sanções para aqueles que o exercício das obrigações eleitorais seja excessivamente one-
roso ou impossível, como, por exemplo, em caso de tetraplegia.
Nessa situação, ter-se-á a emissão de uma certidão de isenção para evitar que a pessoa
tenha a anotação de não estar quite com a justiça eleitoral. Sobre essa situação, veja o teor
do art. 15 da Resolução-TSE n. 23.659/2021:

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Art. 15. Não estará sujeita às sanções legais decorrentes da ausência de alista-
mento e do não exercício do voto a pessoa com deficiência para quem seja impos-
sível ou demasiadamente oneroso o cumprimento daquelas obrigações eleitorais.
§ 1º A pessoa nas condições do caput deste artigo poderá, pessoalmente ou por
meio de curador /curadora, apoiador/apoiadora ou procurador/procuradora devi-
damente constituído(a) por instrumento público ou particular, requerer:
a) a expedição da certidão prevista no inciso VII do art. 3º desta Resolução, com
prazo de validade indeterminado, se ainda não houver se alistado eleitora; ou
b) caso já possua inscrição eleitoral, o lançamento da informação no Cadastro
Eleitoral, mediante comando próprio que a isentará da sanção por ausência às
urnas ou aos trabalhos eleitorais.
§ 2º O requerimento a que se refere o parágrafo precedente deverá ser dirigido ao
juízo eleitoral, acompanhado de autodeclaração da deficiência ou documentação
comprobatória.
§ 3º Na avaliação da impossibilidade ou da onerosidade para o exercício das obri-
gações eleitorais, serão consideradas, também, a situação socioeconômica da
pessoa requerente e as barreiras de qualquer natureza que dificultam ou impedem
o seu alistamento ou direito ao voto.
§ 4º A providência a que se refere a alínea b do § 1º deste artigo inativará a situa-
ção de eventual registro por ausência às urnas ou aos trabalhos eleitorais, desde
que esta decorra da situação descrita no caput.
§ 5º O disposto neste artigo não constitui exceção ao alistamento eleitoral obriga-
tório e não exclui o gozo de direitos políticos que dele decorram, cabendo ao tribu-
nal regional eleitoral, sempre que possível, viabilizar o atendimento em domicílio
para fins de alistamento, nos termos do art. 46 desta Resolução.
§ 6º A Justiça Eleitoral empreenderá esforços para garantir a acessibilidade nos
cartórios eleitorais e postos de atendimento, ainda que por meio de acordo ou
convênio com o Município ou Estado.

Alistamento Vedado

A Constituição Federal proíbe o alistamento eleitoral para as seguintes pessoas:


– conscrito, durante o período do serviço militar obrigatório – conscrito é o nome
que se dá aos que prestam serviço militar obrigatório. Esse serviço constitui-se por
um conjunto de atividades específicas prestadas às Forças Armadas – Exército,
Marinha e Aeronáutica –, relacionadas à defesa nacional;
– estrangeiros – a nacionalidade brasileira é pressuposta para a cidadania brasileira.
O único estrangeiro que pode se alistar no Brasil é o português, por conta do esta-
tuto da igualdade.

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O conscrito e o estrangeiro são denominados inalistáveis.

Quanto ao alistamento vedado, o Código Eleitoral, em seu art. 5º, II, prescreve que o
alistamento é proibido àqueles que não saibam se exprimir em língua nacional. Esse inciso
está revogado. Veja o seguinte julgado do TSE:

JURISPRUDÊNCIA
Consoante o § 2º do artigo 14 da CF, a não alistabilidade como eleitores somente
é imputada aos estrangeiros e, durante o período do serviço militar obrigatório,
aos conscritos, observada, naturalmente, a vedação que se impõe em face da
incapacidade absoluta nos termos da lei civil.
Sendo o voto obrigatório para os brasileiros maiores de 18 anos, ressalvada a
facultatividade de que cuida o inciso II do § 1º do artigo 14 da CF, não há como en-
tender recepcionado preceito de lei, mesmo de índole complementar à Carta Mag-
na, que imponha restrição ao que a norma superior hierárquica não estabelece.
Vedado impor qualquer empecilho ao alistamento eleitoral que não esteja previsto
na Lei Maior, por caracterizar restrição indevida a direito político, há que afirmar a
inexigibilidade de fluência da língua pátria para que o indígena ainda sob tutela e
o brasileiro possam alistar-se eleitores.

Declarada a não recepção do art. 5º, inciso II, do Código Eleitoral pela Constituição
Federal de 1988. (TSE, PA n. 19.840/2010)

Elegibilidade

O direito à elegibilidade confere ao cidadão a possibilidade de concorrer a cargos públi-


cos eletivos. Pode ser classificada como direito político passivo e decorre da capacidade
eleitoral passiva.
Somente poderá exercer o direito à elegibilidade o cidadão que preencher as condições
de elegibilidade. Essas condições estão estabelecidas no art. 14, § 3º, da Constituição Fede-
ral, nos seguintes termos:

§ 3º – São condições de elegibilidade, na forma da lei:


I – a nacionalidade brasileira;
II – o pleno exercício dos direitos políticos;
III – o alistamento eleitoral;
IV – o domicílio eleitoral na circunscrição;
V – a filiação partidária; Regulamento
VI – a idade mínima de:
a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente da República e Senador;

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b) trinta anos para Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal;


c) vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ou Distrital, Prefei-
to, Vice-Prefeito e juiz de paz;
d) dezoito anos para Vereador.

Ressalte-se que essa norma constitucional pode ser classificada como norma de efi-
cácia contida. Isso quer dizer que, desde a promulgação da Constituição, todo cidadão que
quisesse concorrer a cargos públicos eletivos deveria preencher os requisitos constitucionais
inscritos no art. 14, § 3º, para exercer o direito à elegibilidade. Entretanto, é possível que o
legislador ordinário institua novos critérios para o exercício do direito político passivo.
Não se pode confundir as condições de elegibilidade com as inelegibilidades. São
institutos distintos e com finalidades distintas. Para deixar clara essa diferenciação, veja o
seguinte julgado do TSE:

JURISPRUDÊNCIA
Não há que confundir, em face de nosso sistema constitucional, pressupostos (ou
condições) de elegibilidade e inelegibilidades, embora a ausência de qualquer da-
queles ou a incidência de qualquer destas impeça alguém de poder candidatar-se
a eleições municipais, estaduais ou federais.
Pressupostos de elegibilidade são requisitos que se devem preencher para que se
possa concorrer a eleições. Assim, estar no gozo de direitos políticos, ser alistado
como eleitor, estar filiado a partido político, ter sido escolhido como candidato do
Partido a que se acha filiado, haver sido registro, pela Justiça Eleitoral, como can-
didato por esse partido.
Já as inelegibilidades são impedimentos que, se não afastados por quem preen-
cha os pressupostos de elegibilidade, lhe obstam concorrer a eleições, ou – se su-
pervenientes ao registro ou se de natureza constitucional – servem de fundamento
à impugnação de sua diplomação, se eleito. (Processo Administrativo 19.899, rel.
Min. Ari Pargendler, de 30.9.2008, Res.-TSE n. 22.948)

Com o objetivo de obtermos uma correta compreensão das condições de elegibilidade,


faremos um estudo pormenorizado de cada um desses requisitos constitucionais para o exer-
cício da capacidade eleitoral passiva.

Nacionalidade Brasileira

É a primeira das condições de elegibilidade enumerada pela CF/88 (art. 14, § 3º, I). A
Constituição Federal não permite que todos os residentes no Brasil possam ser candidatos.
Tutela, assim, os interesses nacionais, permitindo que somente os brasileiros participem do
processo eleitoral como candidatos.

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Dessa forma, exige-se a nacionalidade brasileira para que a pessoa possa concorrer a
cargos eletivos. Aos brasileiros natos, a elegibilidade é plena a todos os cargos, de modo que
o impedimento para os naturalizados ocorre nas seguintes hipóteses:

• caso trate de eleições para o cargo de presidente e vice-presidente da República (CF/88,


art. 12, § 3º, I);
• quando houver a perda da nacionalidade adquirida, seja por cancelamento via sen-
tença judicial, em que não se caiba mais recurso, seja por ter o cidadão adquirido outra
nacionalidade, excetuados os casos previstos na própria Carta Magna (CF/88, art. 12,
§ 4º, I e II).

Questão interessante é saber se o português pode concorrer a cargos públicos eletivos


no Brasil. Sobre o assunto, esse é o ensinamento de Dirley da Cunha Júnior:

Em razão de norma permissiva do § 1º do art. 12 da Constituição – que assegura


aos portugueses com residência permanente no País, se houver reciprocidade em
favor de brasileiros, os direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos previstos
na Constituição – os portugueses podem exercer a capacidade eleitoral passiva
e se candidatar a mandato eletivo (exceto para Presidente e Vice-Presidente da
República, em face do § 3º do art. 12), desde que cumpram as demais condições
de elegibilidade.

Alistamento Eleitoral

Somente o cidadão previamente inscrito no Cadastro Eleitoral poderá concorrer a cargos


eletivos. O alistamento eleitoral é uma das condições de elegibilidade. Em outras palavras,
só o cidadão, se preencher os demais requisitos, poderá participar de eleições.

Plenitude do Gozo dos Direitos Políticos

A plenitude de direitos políticos é condição sine qua non para a elegibilidade. Isso quer
dizer que, para o exercício do direito à elegibilidade, o cidadão não pode incidir em nenhuma
das hipóteses de perda ou de suspensão dos direitos políticos.

ATENÇÃO
As inelegibilidades não afetam a plenitude do exercício dos direitos políticos. Somente as
hipóteses de perda ou suspensão retiram o pleno gozo dos direitos políticos. As inelegibi-
lidades constituem restrição somente para o exercício do direito à elegibilidade. O cidadão
inelegível poderá exercer os demais direitos políticos.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

Pode-se afirmar que

há pleno exercício dos direitos políticos quando o cidadão pode exercer o conjun-
to dos direitos a ele conferidos, tais como exercício do voto (capacidade eleitoral
ativa), de concorrer a cargos eletivos (capacidade eleitoral passiva), de participar
de partidos políticos, de utilizar instrumentos constitucionais e legais, de ter efetiva
participação e influência nas atividades de governo.

Haverá restrições aos direitos políticos nos casos de perda e suspensão desses direi-
tos. Essas hipóteses que afastam a plenitude do exercício dos direitos políticos estão esta-
belecidas no art. 15 da Constituição Federal. Veja a seguir.

Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se


dará nos casos de:
I – cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado;
II – incapacidade civil absoluta;
III – condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos;
IV – recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos
termos do art. 5º, VIII;
V – improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º.

Domicílio Eleitoral

O cidadão somente pode concorrer a cargos eletivos da circunscrição de seu domicílio


eleitoral. O domicílio eleitoral demarca o local da candidatura e do exercício dos direitos polí-
ticos do cidadão.

Mas, o que é domicílio eleitoral?

O conceito legal de domicílio eleitoral está descrito no art. 42, parágrafo único, do
Código Eleitoral. Veja.

Art. 42. O alistamento se faz mediante a qualificação e inscrição do eleitor.


Parágrafo único. Para o efeito da inscrição, é domicílio eleitoral o lugar de resi-
dência ou moradia do requerente, e, verificado ter o alistando mais de uma, consi-
derar-se-á domicílio qualquer delas.

Entretanto, em razão da dinamicidade inerente ao Direito Eleitoral, além desse conceito


legal, o alcance do conceito de domicílio eleitoral foi alargado pela jurisprudência do TSE.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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JURISPRUDÊNCIA
Domicílio eleitoral. O domicílio eleitoral não se confunde, necessariamente, com
o domicílio civil.
A circunstância de o eleitor residir em determinado município não constitui obstá-
culo a que se candidate em outra localidade onde é inscrito e com a qual mantém
vínculos (negócios, propriedades, atividades políticas).
(Recurso Especial n. 18.124, rel. Min. Garcia Vieira, de 16.11.2000)

Pode-se, ainda, compreender o contorno do conceito de domicílio eleitoral no


seguinte julgado:

JURISPRUDÊNCIA
DIREITO ELEITORAL. CONTRADITÓRIO. DEVIDO PROCESSO LEGAL. INOB-
SERVÂNCIA. DOMICÍLIO ELEITORAL. CONCEITUAÇÃO E ENQUADRAMEN-
TO. MATÉRIA DE DIREITO. MÁ–FÉ NÃO CARACTERIZADA. RECURSO CO-
NHECIDO E PROVIDO.
I – O conceito de domicílio eleitoral não se confunde com o de domicílio do direito
comum, regido pelo Direito Civil. Mais flexível e elástico, identifica-se com a resi-
dência e o lugar onde o interessado tem vínculos políticos e sociais.
II – Não se pode negar tais vínculos políticos, sociais e afetivos do candidato com
o município no qual, nas eleições imediatamente anteriores, teve ele mais da me-
tade dos votos para o posto pelo qual disputava.

A Resolução-TSE n. 23.659/2021 também definiu o conceito de domicílio eleitoral, tendo


por base a existência de vínculos entre o cidadão e um lugar, nos seguintes termos:

Art. 23. Para fins de fixação do domicílio eleitoral no alistamento e na transferência,


deverá ser comprovada a existência de vínculo residencial, afetivo, familiar, pro-
fissional, comunitário ou de outra natureza que justifique a escolha do município.

Contudo, para que seja viável a participação das eleições, não basta a demonstra-
ção da existência de vínculos entre o cidadão e a circunscrição do cargo eleitoral ao qual o
cidadão pretende concorrer. Na verdade, precisa-se da existência do domicílio eleitoral pelo
prazo de seis meses antes da data das eleições, segundo o art. 9º da Lei n. 9.504/97.

Art. 9º. Para concorrer às eleições, o candidato deverá possuir domicílio eleitoral
na respectiva circunscrição pelo prazo de seis meses e estar com a filiação defe-
rida pelo partido no mesmo prazo.

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Filiação Partidária

Para concorrer a cargo eletivo, o eleitor deverá estar filiado a um partido político. Isso
porque o exercício do direito à elegibilidade depende dos partidos políticos. Para José
Jairo Gomes:

Por isso, essas entidades tornaram-se peças essenciais no funcionamento da de-


mocracia. Tanto assim que se fala, hoje, em democracia partidária. Não é possível
a representação política fora do partido, já que o artigo 14, § 3º, V, da Lei Maior
erigiu a filiação partidária como condição de elegibilidade. Na verdade, os partidos
detêm o monopólio das candidaturas, de sorte que, para ser votado, o cidadão
deve filiar-se.

Em razão dessa disposição constitucional, não existe candidatura avulsa. Em nenhuma


circunstância admite-se que um cidadão concorra a cargos eletivos sem estar previamente
filiado a um partido político.
Em regra, para concorrer a cargos eletivos, o cidadão deve estar filiado ao respectivo
partido político pelo prazo mínimo de seis meses antes da data das eleições, de acordo com
a prescrição contida no art. 9º da Lei n. 9.504/97. Aliás, em caso de fusão ou incorporação de
partidos políticos, o prazo de seis meses de filiação partidária tem como parâmetro a data da
filiação ao partido de origem.
Quanto aos prazos de filiação partidária, veja alguns casos específicos do acordo com
a jurisprudência do TSE.

JURISPRUDÊNCIA
Consulta. Militar da ativa. Concorrência. Cargo eletivo. Filiação partidária. Inexigi-
bilidade. Res.-TSE n. 21.608/2004, art. 14, § 1º. 1. A filiação partidária contida no
art. 14, § 3º, V, Constituição Federal não é exigível ao militar da ativa que preten-
da concorrer a cargo eletivo, bastando o pedido de registro de candidatura após
prévia escolha em convenção partidária (Res.-TSE n. 21.608/2004, art. 14, § 1º).
(Res. n. 21.787, de 1º.6.2004, rel. Min. Humberto Gomes de Barros.)
Consulta. Prazo. Filiação partidária. Magistrado. Comprovação. Afastamento.
Função. Magistrado que pretenda se aposentar para satisfazer a condição de ele-
gibilidade de filiação partidária, objetivando lançar-se candidato às eleições, so-
mente poderá filiar-se a partido político depois de publicado o ato que comprove
seu afastamento de forma definitiva e até seis meses antes do pleito que dese-
ja disputar.
(Res. n. 22.179, de 30.3.2006, rel. Min. Cesar Asfor Rocha.)

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

Idade Mínima

Por fim, a última condição de elegibilidade constitucional é a idade mínima. A idade


mínima constitucional está relacionada à “preocupação em se exigir maior grau de consciên-
cia, experiência e maturidade dos candidatos de acordo com a importância e a complexidade
das funções inerentes ao cargo”. (José Jairo Gomes).
São essas as idades mínimas estabelecidas pela Constituição:

a) trinta e cinco anos para presidente e vice-presidente da República e senador;

b) trinta anos para governador e vice-governador de Estado e do Distrito Federal;

c) vinte e um anos para deputado federal, deputado estadual ou distrital, prefeito,


vice-prefeito e juiz de paz;

d) dezoito anos para vereador.

Segundo o Ministro Carlos Velloso: “partiu o legislador constituinte do princípio de que


o passar dos anos assegura a seu detentor maturidade para enfrentar com maior sapiência
os problemas e angústias do cotidiano.”
Essa condição de elegibilidade, nos moldes do § 2º, do art. 11, da Lei n. 9.504/1997,
é verificada tendo por base a data da posse, não a data do registro de candidatura. A esse
respeito já decidiu o Tribunal Superior Eleitoral:

JURISPRUDÊNCIA
Indefere‑se pedido de registro de candidato que não possui, na data da posse, a
idade mínima para o cargo que pretende disputar, por ausência da condição de
elegibilidade prevista no art. 14, § 3º, VI, da Constituição Federal (AgRgRO n. 911,
Rel. Min. Marcelo Ribeiro).

Entretanto, para os cargos cuja idade mínima, constitucionalmente estabelecida, seja


18 anos de idade, a idade mínima deverá ser demonstrada, tendo por parâmetro a data limite
para o registro de candidatura. A esse respeito, veja o teor do art. 11, parágrafo segundo, da
Lei n. 9.504/97:

Art. 11. Omissis.


§ 2º A idade mínima constitucionalmente estabelecida como condição de elegibi-
lidade é verificada tendo por referência a data da posse, salvo quando fixada em
dezoito anos, hipótese em que será aferida na data-limite para o pedido de registro.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

Condições de Elegibilidade Infraconstitucionais

Além dos requisitos constitucionais para o exercício do direito à elegibilidade, existem


condições que foram impostas pelo legislador infraconstitucional, as quais podem receber as
seguintes denominações:
a) condições de elegibilidade infraconstitucionais; ou
b) condições de elegibilidade impróprias.

Indicação em Convenção Partidária

O cidadão que deseja candidatar‑se precisa ter seu nome escolhido pela convenção do
partido ao qual esteja filiado para concorrer a determinado cargo eletivo. Dessa forma, dispõe
o art. 8º da Lei n. 9.504/1997,

Art. 8º. A escolha dos candidatos pelos partidos e a deliberação sobre coligações
deverão ser feitas no período de 20 de julho a 5 de agosto do ano em que se
realizarem as eleições, lavrando-se a respectiva ata em livro aberto, rubricado
pela Justiça Eleitoral, publicada em vinte e quatro horas em qualquer meio de
comunicação.

Assim, o candidato, ainda que preencha todas as condições de elegibilidade constitu-


cionais, deverá ser indicado pelo partido político ao qual é filiado. Essa escolha em conven-
ção partidária deve ser feita dentro do período estabelecido pelo art. 8º da Lei n. 9.504/1997,
ou seja, entre os dias 20 de julho a 5 de agosto do ano da eleição.
Veja que, para concorrer a um cargo eletivo, não basta que o cidadão seja membro de
um partido político. Exige-se que, além da filiação partidária, o filiado seja escolhido por sua
agremiação partidária como candidato e que haja a indicação a qual cargo irá concorrer.
A realização da convenção partidária dá-se com a observância das regras estabeleci-
das no estatuto do partido político, mas, em caso de omissão, deve a agremiação partidária
estabelecê-las e publicá-las no Diário Oficial da União no prazo de até 180 dias antes da data
das eleições, segundo estabelece o art. 7º, parágrafo primeiro, da Lei n. 9.504/97:

Art. 7º. As normas para a escolha e substituição dos candidatos e para a formação
de coligações serão estabelecidas no estatuto do partido, observadas as disposi-
ções desta Lei
§ 1º Em caso de omissão do estatuto, caberá ao órgão de direção nacional do
partido estabelecer as normas a que se refere este artigo, publicando-as no Diário
Oficial da União até cento e oitenta dias antes das eleições.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

Além disso, o diretório nacional da agremiação partidária poderá estabelecer diretrizes


a serem observadas pelas esferas inferiores no processo de formação de coligações. Caso
a convenção partidária de nível inferior se oponha às diretrizes legitimamente estabelecidas
pelo diretório nacional, o órgão nacional poderá anular as deliberações e deve comunicar a
decisão no prazo de até 30 dias. Com essa prescrição:

Art. 7º. Omissis.


§ 2º Se a convenção partidária de nível inferior se opuser, na deliberação sobre
coligações, às diretrizes legitimamente estabelecidas pelo órgão de direção nacio-
nal, nos termos do respectivo estatuto, poderá esse órgão anular a deliberação e
os atos dela decorrentes.
§ 3º As anulações de deliberações dos atos decorrentes de convenção partidária,
na condição acima estabelecida, deverão ser comunicadas à Justiça Eleitoral no
prazo de 30 (trinta) dias após a data limite para o registro de candidatos.
§ 4º Se, da anulação, decorrer a necessidade de escolha de novos candidatos,
o pedido de registro deverá ser apresentado à Justiça Eleitoral nos 10 (dez) dias
seguintes à deliberação, observado o disposto no art. 13.

Por fim, destaque-se que a Lei das Eleições criou a candidatura nata, instituto por meio
da qual os deputados federais, deputados estaduais, deputados distritais e vereadores, e
quem tivesse exercido esses cargos nos últimos quatro anos, seriam, automaticamente, can-
didatos nas próximas eleições. Veja a seguir o teor do dispositivo mencionado.

Art. 8º. Omissis


§ 1º Aos detentores de mandato de Deputado Federal, Estadual ou Distrital, ou de
Vereador, e aos que tenham exercido esses cargos em qualquer período da legis-
latura que estiver em curso, é assegurado o registro de candidatura para o mesmo
cargo pelo partido a que estejam filiados.

Contudo, por violação da autonomia partidária, no julgamento da ADI n. 2530, o Supremo


Tribunal Federal declarou a inconstitucionalidade do dispositivo por violação do princípio da
autonomia partidária, nos seguintes termos:

JURISPRUDÊNCIA
1. Conquanto tenham sido feitas modificações no art. 17, § 1º, da Constituição Fe-
deral, por meio da Emenda Constitucional n. 97/2017, manteve-se a plena eficácia
da essência do parâmetro constitucional invocado (autonomia partidária).
2. A “candidatura nata”, prevista no art. 8º, § 1º, da Lei n. 9.504/1997, é incompatí-
vel com a Constituição Federal, tanto por violar a isonomia entre os postulantes a
cargos eletivos quanto por atingir o âmago da autonomia partidária.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

[...]
4. A imunização pura e simples do detentor de mandato eletivo contra a vontade
colegiada do partido representa privilégio injustificado, que contribui tão só para a
perpetuação de ocupantes de cargos eletivos, em detrimento de outros pré-candi-
datos, sem qualquer justificativa plausível para o funcionamento do sistema demo-
crático e sem que haja meios para que o partido possa fazer imperar os objetivos
fundamentais inscritos em seu estatuto.

Quitação Eleitoral

Para o TSE,

o conceito de quitação eleitoral abrange, além da plenitude do gozo dos direitos


políticos, a regularidade do exercício do voto, salvo quando facultativo, o atendi-
mento a eventuais convocações da Justiça Eleitoral, inexistência das multas apli-
cadas por esta Justiça Especializada e a apresentação das contas de campanha,
caso se trate de candidatos (Resolução TSE n. 21.823).

No que concerne às multas aplicadas pela Justiça Eleitoral, serão considerados quites
os candidatos que, até a formalização do pedido de registro de candidatura, tenham compro-
vado o parcelamento da dívida regularmente cumprido.2
O exercício da elegibilidade fica condicionado à quitação junto à Justiça Eleitoral em
razão da determinação do art. 11, inciso VI, da Lei das Eleições.
Quanto ao conceito de quitação eleitoral, atente-se para o novo conceito introduzido
pela Lei n. 12.034/2009, que alterou o art. 11, § 7º, da Lei n. 9.504/1997. Antes da referida
Lei n. 12.034/2009, somente estaria quite com a Justiça Eleitoral o candidato que tivesse as
suas contas aprovadas. Após a Lei n. 12.034/2009, basta o candidato apresentar as contas
de campanha. Observe a nova redação do dispositivo:

Lei n. 9.504/97
Art. 11. Omissis
§ 7º A certidão de quitação eleitoral abrangerá exclusivamente a plenitude do gozo
dos direitos políticos, o regular exercício do voto, o atendimento a convocações da
Justiça Eleitoral para auxiliar os trabalhos relativos ao pleito, a inexistência de mul-
tas aplicadas, em caráter definitivo, pela Justiça Eleitoral e não remitidas, e a apre-
sentação de contas de campanha eleitoral. (Incluído pela Lei n. 12.034, de 2009)
§ 8º Para fins de expedição da certidão de que trata o § 7º, considerar-se-ão quites
aqueles que: (Incluído pela Lei n. 12.034, de 2009)

2
Tribunal Regional Eleitoral do Acre/FCC – Fundação Carlos Chagas/Analista Judiciário/Área Judiciária/2010/Questão 40.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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I – condenados ao pagamento de multa, tenham, até a data da formalização do


seu pedido de registro de candidatura, comprovado o pagamento ou o parcela-
mento da dívida regularmente cumprido; (Incluído pela Lei n. 12.034, de 2009)
II – pagarem a multa que lhes couber individualmente, excluindo-se qualquer
modalidade de responsabilidade solidária, mesmo quando imposta concomitan-
temente com outros candidatos e em razão do mesmo fato. (Incluído pela Lei n.
12.034, de 2009)
III – o parcelamento das multas eleitorais é direito dos cidadãos e das pessoas
jurídicas e pode ser feito em até sessenta meses, salvo quando o valor da par-
cela ultrapassar 5% (cinco por cento) da renda mensal, no caso de cidadão, ou
2% (dois por cento) do faturamento, no caso de pessoa jurídica, hipótese em que
poderá estender-se por prazo superior, de modo que as parcelas não ultrapassem
os referidos limites; (Redação dada pela Lei n. 13.488, de 2017)
IV – o parcelamento de multas eleitorais e de outras multas e débitos de nature-
za não eleitoral imputados pelo poder público é garantido também aos partidos
políticos em até sessenta meses, salvo se o valor da parcela ultrapassar o limite
de 2% (dois por cento) do repasse mensal do Fundo Partidário, hipótese em que
poderá estender-se por prazo superior, de modo que as parcelas não ultrapassem
o referido limite. (Incluído pela Lei n. 13.488, de 2017)

Quanto a este último aspecto, cuidado! Para fins de quitação eleitoral, basta que o cida-
dão tenha apresentado as contas de campanha relacionadas às eleições passadas. Não é
exigível a aprovação dessas contas.
Desse modo, ainda que o candidato tenha tido as suas contas rejeitadas, estará quite
com a Justiça Eleitoral. De acordo com o TSE, em sessão realizada no dia 28/6/2012, a não
aprovação de contas de campanha não impede a emissão da certidão de quitação eleitoral e
o registro de candidaturas às eleições.

Momento de Comprovação das Condições de Elegibilidade

As condições de elegibilidade deverão ser demonstradas no momento do pedido de


registro de candidatura junto à Justiça Eleitoral.
São exceções a essa regra a necessidade de um ano de filiação partidária, de um ano
de domicílio eleitoral na circunscrição a qual pretenda concorrer e da idade mínima. Para o
domicílio eleitoral e a filiação partidária, o requisito tem como base a data das eleições. Por
sua vez, a idade mínima tem como parâmetro a data da posse.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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JURISPRUDÊNCIA
As inelegibilidades e as condições de elegibilidade são aferidas ao tempo do re-
gistro da candidatura. Precedentes do TSE. Diversa é a situação da condição de
idade mínima, que se verifica na data prevista da posse, por expressa previsão
legal (§ 2º do art. 11 da Lei n. 9.504/1997) (Ac. de 20/9/2004 no REspe n. 22.900,
Rel. Min. Luiz Carlos Madeira).

Quanto ao momento de aferição das condições de elegibilidade, essa é a prescrição


legal quanto ao requisito de filiação partidária e domicílio eleitoral:

Art. 9º. Para concorrer às eleições, o candidato deverá possuir domicílio eleitoral
na respectiva circunscrição pelo prazo de seis meses e estar com a filiação defe-
rida pelo partido no mesmo prazo.

Por sua vez, quanto à idade mínima, esta é a disposição normativa:

Art. 11. Omissis.


§ 2º A idade mínima constitucionalmente estabelecida como condição de elegibi-
lidade é verificada tendo por referência a data da posse, salvo quando fixada em
dezoito anos, hipótese em que será aferida na data-limite para o pedido de registro.

Portanto, podemos concluir que a aferição, quanto ao preenchimento das condições de


elegibilidade, é feita no dia da formalização do pedido de registro de candidaturas. Contudo,
a idade mínima constitucional deve ser comprovada tendo por parâmetro a data da posse
do cargo eletivo pretendido (salvo no caso dos cargos para os quais a idade mínima é de
dezoito anos), o domicílio eleitoral e a filiação partidária são verificados baseando-se na data
da eleição.
Além disso, podemos destacar que, apesar de as condições de elegibilidade e as hipó-
teses de inelegibilidade serem aferidas no momento da formalização do pedido de registro,
alterações fáticas ou jurídicas supervenientes (que ocorram depois do) ao registro de can-
didatura, que afastem (ou atraiam) a inelegibilidade, são levadas em consideração para o
deferimento do registro de candidatura.

Elegibilidade do Militar

O militar alistável é elegível. Isso quer dizer que a única espécie de militar que não pode
candidatar-se a cargos eletivos é o conscrito. Todos os demais militares, não importa a Força
ou a patente, são elegíveis.
Entretanto, a elegibilidade dos militares depende do atendimento dos seguintes requisi-
tos inscritos no art. 14, § 8º:

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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Art. 14. Omissis.


§ 8º O militar alistável é elegível, atendidas as seguintes condições:
I – se contar menos de dez anos de serviço, deverá afastar-se da atividade;
II – se contar mais de dez anos de serviço, será agregado pela autoridade superior
e, se eleito, passará automaticamente, no ato da diplomação, para a inatividade.

Há uma restrição constitucional para que o militar possa filiar-se a partidos políticos
estatuída no art. 142, § 3º, inc. V, e no art. 42, § 1º, ambos da Constituição Federal.

Surge uma dúvida: a filiação partidária é uma das condições de elegibilidade e não
existe candidatura avulsa. Como o militar poderá concorrer a cargos eletivos se não
pode filiar-se a partidos políticos?

Essa pergunta foi respondida pelo TSE nos seguintes termos:

JURISPRUDÊNCIA
Militar da ativa (subtenente), com mais de dez anos de serviço. Sendo alistável e
elegível, mas não filiável, basta-lhe, nessa condição excepcional, como suprimen-
to da prévia filiação partidária, o pedido do registro da candidatura, apresentado
pelo partido e autorizado pelo candidato. Só a partir do registro da candidatura e
ate a diplomação ou o regresso a Força Armada, manter-se-á o candidato na con-
dição de agregado (cf, art. 14, parágrafos 3º, V, e 8, II e art. 42, parag. 6º; CE, art.
5º, parágrafo único e Lei n. 6.880/80, art. 82, XIV e parag. 4º). (Acórdão n. 11.314)

Restrição dos Direitos Políticos

Os direitos políticos são espécie de direitos fundamentais. Essa constatação pode ser
confirmada a partir da análise de sua topografia na Constituição. O Título II da CF trata dos
Direitos e Garantias Fundamentais e é subdividido em 5 (cinco) capítulos. São eles:

• Capítulo I – Dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos;


• Capítulo II – Dos Direitos Sociais;
• Capítulo III – Da Nacionalidade;
• Capítulo IV – Dos Direitos Políticos;
• Capítulo V – Dos Partidos Políticos.

Os direitos políticos possuem natureza jurídica de direitos fundamentais. Isso quer


dizer que somente se admite restrição de direitos políticos nas hipóteses previstas na própria
Constituição ou nas espécies normativas permitidas no Texto Constitucional.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

Os direitos políticos podem ser restringidos por meio de 4 (quatro) tipos de institu-
tos. São eles:

• cassação de direitos políticos;


• perda dos direitos políticos;
• suspensão de direitos políticos;
• inelegibilidades.

As inelegibilidades serão estudadas separadamente. Remetemos você para lá a fim


de que faça um estudo pormenorizado desse importante instituto restritivo do exercício dos
direitos políticos passivos.
Quanto à cassação, esta forma de restrição foi proibida em nosso ordenamento jurídico.
Sobre a cassação de direitos políticos, veja o que diz Roberto Moreira Almeida:

É expressamente vedada a cassação de direitos políticos no Brasil (CF, art. 15,


caput). Ocorreu, por exemplo, quando da vigência da Constituição Federal de
1967, com a edição do Ato Institucional n. 5 (AI-5, art. 5º) pelo Governo Militar, que
cassou, por ato administrativo, os direitos políticos de inúmeros brasileiros.

O tema perda e suspensão dos direitos políticos é tratado no art. 15 da Constituição


Federal, nos seguintes termos:

Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se


dará nos casos de:
I – cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado;
II – incapacidade civil absoluta;
III – condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos;
IV – recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos
termos do art. 5º, VIII;
V – improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º.

Vamos, a partir de agora, estudar os institutos perda e suspensão dos direitos políticos.

Perda dos Direitos Políticos

A perda dos direitos políticos é uma hipótese de restrição definitiva desses direitos.
Segundo José Jairo Gomes,

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

perder é deixar de ter, possuir, deter ou gozar algo; é ficar privado. Como é óbvio,
só se perde o que se tem. A ideia de perda liga-se à definitividade; a perda é sem-
pre permanente, embora se possa recuperar o que se perdeu.

São hipóteses de perda de direitos políticos segundo a doutrina:

• cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado – essa é uma hipó-


tese lógica de perda dos direitos políticos. Isso porque a nacionalidade é pressuposta
da cidadania brasileira. Em razão da perda da nacionalidade brasileira, perde-se a con-
dição necessária para a manutenção da cidadania brasileira. Esse fato acarreta a perda
dos direitos políticos.
• perda da nacionalidade brasileira por aquisição de outra nacionalidade – essa hipótese
é descrita por Alexandre de Moraes, nos seguintes termos:

Tanto a perda quanto a suspensão dos direitos políticos, como já ressaltado, so-
mente poderão ocorrer nos casos taxativamente previstos na Constituição. Logica-
mente, não necessariamente nas previsões do art. 15, como é o caso da hipótese
prevista no art. 12, § 4º, II. Assim, determina essa norma legal que será declarada
a perda da nacionalidade brasileira administrativamente, quando a pessoa adquirir
outra nacionalidade por naturalização voluntária. Como consequência desta alte-
ração em sua condição jurídica, tornando-se estrangeiro, por óbvio não mais terá
direitos políticos no Brasil.

• recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do


art. 5º, VIII – a Constituição Federal, em seu art. 5º, inc. VII, confere o direito de escusa
de consciência, nos seguintes termos:

Art. 5º. Omissis


VIII – ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de con-
vicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal
a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;

Esse direito permite que a pessoa se recuse a cumprir a obrigação legal a todos imposta.
Entretanto, caso decida exercê-lo, estará obrigado a efetuar a prestação alternativa.
A partir de uma interpretação meramente gramatical do art. 15, inc. IV, da CF, poder-se-
-ia concluir que a mera recusa do cumprimento da obrigação legal a todos imposta geraria
a perda dos direitos políticos. Isso porque, de acordo com essa regra constitucional, gera
restrição dos direitos políticos a “recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação
alternativa”. A norma constitucional usa uma conjunção alternativa, ou seja, ou um fato ou o
outro atrairia a incidência da norma constitucional.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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Não obstante, não se pode interpretar a CF de forma simplesmente literal. Deve-se


fazer uma interpretação sistemática para se chegar às consequências jurídicas desejadas
pelo legislador constituinte.
Desse modo, o exercício de um direito (escusa de consciência) não pode gerar a restri-
ção de direitos políticos. Para a ocorrência dessa hipótese de restrição de direitos políticos,
é necessário o preenchimento de dois requisitos:

• recusa do cumprimento da obrigação legal a todos imposta;


• recusa à prestação alternativa fixada em lei.

Há um dissenso doutrinário sobre a classificação dessa hipótese de restrição dos direi-


tos políticos. Parte da doutrina classifica-a como hipótese de perda dos direitos políticos.
Essa é a posição dominante. Parte minoritária classifica essa hipótese como sendo de sus-
pensão dos direitos políticos. A respeito dessa controvérsia, veja:

Existe um dissenso doutrinário sobre se a escusa de consciência seria caso de


suspensão ou perda dos direitos políticos. Alexandre de Moraes, José Afonso da
Silva, Manoel Gonçalves Ferreira Filho e Celso Ribeiro Bastos entendem que é
caso de privação definitiva (perda) dos direitos políticos. Já Sylvio Motta, William
Douglas, Joel José Cândido, Marcos Ramayana, Francisco Dirceu de Barros, Tha-
les Tácito Cerqueira e Camila Albuquerque Cerqueira classificam a hipótese como
de suspensão dos direitos políticos. (Roberto Moreira de Almeida)

Atente-se para o fato de que, nas questões de Direito Eleitoral, deve-se adotar a posi-
ção de que a recusa ao cumprimento da obrigação legal a todos imposta e da prestação
alternativa configura hipótese de suspensão dos direitos políticos. Esse é o entendimento
adotado pelo Tribunal Superior Eleitoral, conforme se vê no art. 21, II, b da Resolução-TSE
n. 23.659/2021.

Suspensão dos Direitos Políticos

A suspensão dos direitos políticos é uma restrição temporária do exercício desses direi-
tos. Dirley da Cunha Júnior faz uma importante distinção entre cassação, perda e suspensão
dos direitos políticos:

Distinguem-se a perda e a suspensão dos direitos políticos. A perda é privação


definitiva e permanente, enquanto a suspensão é privação temporária. Não se
confundem perda e suspensão dos direitos políticos com cassação dos direitos
políticos. Perda e suspensão dos direitos políticos são privações da cidadania
autorizadas pela Constituição, que só podem ocorrer diante das hipóteses excep-

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cionalmente indicadas por ela. Cassação dos direitos políticos é privação abusiva,
ao desamparo abusiva, ao desamparo da Constituição, muito utilizada durante
o regime da ditadura militar que assolou o país, sobretudo no período de 1960 e
1970. Por isso mesmo, é expressamente vedada pela Constituição.

A doutrina aponta que ocorre a suspensão dos direitos políticos nas seguintes hipóteses:

• incapacidade civil absoluta – temporariamente, em razão da modificação do Código


Civil, a única hipótese de incapacidade civil absoluta é o caso do menor de dezesseis
anos, conforme conclui-se a partir da análise do art. 3º do Código Civil. Dada a impossi-
bilidade de aquisição de direitos políticos por menores de dezesseis anos, não há como
incidir, na atual quadra, essa hipótese de suspensão dos direitos políticos. Contudo,
para a prova, a incapacidade civil absoluta constitui causa de suspensão dos direitos
políticos.
• condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos – todos os
cidadãos que forem condenados pela prática de um crime, a partir do trânsito em jul-
gado da sentença, estarão com os direitos políticos suspensos, de forma automática.
Essa suspensão durará pelo prazo de cumprimento da pena até a extinção da puni-
bilidade. Sobre essa hipótese constitucional de restrição dos direitos políticos, ensina
Alexandre de Moraes:

O art. 15, inciso II, da Constituição é autoaplicável, sendo consequência direta e


imediata da decisão condenatória transitada em julgado, não havendo necessida-
de de manifestação expressa a respeito de sua incidência na decisão condena-
tória e prescindindo-se de quaisquer formalidades. Assim, a condenação criminal
transitada em julgado acarreta a suspensão dos direitos políticos pelo tempo, in-
dependentemente de estar em curso ação de revisão criminal.

Não importa a classificação do crime ensejador da sentença condenatória, se culposo


ou doloso, pois quaisquer deles, em caso de condenação, acarreta a suspensão dos direitos
políticos. Não importa a pena, se detenção, reclusão ou multa. A incidência dessa hipótese
de restrição de direitos políticos independe do tipo de crime ou do tipo de pena. Basta a con-
denação criminal transitada em julgado para a restrição temporária dos direitos políticos.
Gilmar Ferreira Mendes e Paulo Gustavo Gonet Branco apresentam uma controvérsia
sobre a aplicabilidade dessa disposição constitucional:

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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Lavrou-se controvérsia sobre a subsistência ou não dos direitos políticos durante


a vigência da suspensão condicional da pena (sursis). Diante da regra clara do
próprio Código Penal, que não estende os efeitos do sursis às penas restritivas de
direito, como é o caso da suspensão dos direitos políticos (CP, arts. 43, II, 47, I e
80), afigura-se inequívoco que a suspensão condicional da pena não interfere na
suspensão dos direitos políticos enquanto efeito da condenação.

Outra controvérsia interpretativa surgiu sobre a possibilidade de aplicabilidade dessa


restrição dos direitos políticos quando houver aplicação de medida de segurança. Nesse
caso, a dúvida é saber se a sentença absolutória imprópria atrai a incidência dessa hipótese
de suspensão dos direitos políticos. Sobre esse assunto, veja o seguinte julgado do TSE:

JURISPRUDÊNCIA
MEDIDA DE SEGURANÇA. SUSPENSÃO DE DIREITOS POLÍTICOS. NATURE-
ZA CONDENATÓRIA. POSSIBILIDADE.
Não obstante tratar-se de sentença absolutória imprópria, a decisão que impõe
medida de segurança ostenta natureza condenatória, atribuindo sanção penal,
razão por que enseja suspensão de direitos políticos nos termos do art. 15, III, da
Constituição Federal. (PA n. 19.297, DJ de 11.4.2006)

Também, instaurou-se controvérsia sobre a incidência dessa hipótese em caso de con-


denação pela prática de contravenção penal. Veja o seguinte julgado do TSE:

JURISPRUDÊNCIA
RECURSO ESPECIAL. CANDIDATO CONDENADO PELA PRÁTICA DE CON-
TRAVENÇÃO PENAL. CONSTITUIÇÃO FEDERAL, ART. 15, INCISO III.
A DISPOSIÇÃO CONSTITUCIONAL, PREVENDO A SUSPENSÃO DOS DIREI-
TOS POLÍTICOS, AO REFERIR–SE A CONDENAÇÃO CRIMINAL TRANSITADA
EM JULGADO, ABRANGE NÃO SÓ AQUELA DECORRENTE DA PRÁTICA DE
CRIME, MAS TAMBÉM A DE CONTRAVENÇÃO PENAL.
(Recurso Especial n. 13.293, rel. Min. Eduardo Ribeiro, de 7.11.1996)

• improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º – de acordo com o art. 37, § 4º,
da Constituição Federal, os atos de improbidade administrativa importarão a suspen-
são dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o
ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da sanção
penal cabível.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

Veja que, dentre outras consequências jurídicas, a condenação pela prática de improbi-
dade administrativa poderá acarretar a suspensão dos direitos políticos pelo prazo estabele-
cido em lei e fixado em sentença.
Diferentemente da suspensão dos direitos políticos decorrente da condenação criminal
transitada em julgado, nessa hipótese, a restrição dos direitos políticos não é automática e
depende de expresso estabelecimento em sentença com a devida fundamentação. A esse
respeito, veja a lição de Carlos Eduardo de Oliveira Lula:

Na forma do art. 20 da Lei n. 8.429/92, a suspensão dos direitos políticos só se


dará após o trânsito em julgado da decisão e, contrariamente ao que ocorre com
a sentença criminal transitada em julgado, não é efeito automático da condenação
por improbidade administrativa, devendo expressamente constar na decisão para
que ocorra.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

3. PRINCÍPIOS ELEITORAIS

Os princípios podem ser indicados como as normas que condicionam a aplicação das
regras eleitorais e a criação das normas jurídico-eleitorais. Possuem um conteúdo genérico e
abstrato. Afirma‑se que os princípios são o alicerce, a base, a estrutura básica de um sistema.
Os princípios eleitorais estão, em sua maioria, elencados na Constituição Federal. Bus-
ca‑se, por meio dessas normas estruturais, a correspondência entre a vontade do povo e a
formação das políticas governamentais. Ainda, tenta‑se afastar a influência do poder econô-
mico e do poder político.

Democracia

Essa é mais do que um princípio. Trata‑se de um fundamento e valor essencial dos


Estados Modernos. A partir da extensão em que uma democracia é aplicada em um determi-
nado país, sabe‑se a estrutura e a extensão das normas eleitorais.
No Brasil, a Constituição Federal tenta instaurar um autêntico regime democrático em
que o poder pertence ao povo, que o exerce diretamente ou por meio de representantes. O
poder do povo deve ser exercido pelo povo.
Na verdade, a democracia é um princípio fundamental que deve ser construído, lapi-
dado e desenvolvido diariamente. Para melhoramento do nível democrático de um Estado,
protege‑se a liberdade e a igualdade para a manifestação de ideias.
Qualquer conduta que possa diminuir ou afetar a liberdade e a igualdade democrática
deve ser combatida. Para tanto, existem diversos instrumentos que evitam que o abuso do
poder possa macular e viciar a manifestação de vontade do povo e trazer um retrocesso
democrático.

Princípio da Moralidade Eleitoral

A Constituição Federal, em seu art. 14, § 9º, prescreve que

Art. 14. Omissis


§ 9º Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos
de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para
exercício de mandato considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade
e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do
exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta.

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Assim, hipóteses de inelegibilidade serão instituídas com a finalidade de proteger a pro-


bidade administrativa e a moralidade para o exercício do mandato. Situações que demons-
trem nocividade à condução da coisa pública deverão ser coibidas e seus infratores devem
ser afastados da possibilidade de candidatar‑se a mandatos eletivos.
Contudo, para que se proteja a moralidade eleitoral, é indispensável a edição de lei com-
plementar. Somente essa espécie normativa pode criar as hipóteses de inelegibilidade aptas
a proteger a probidade administrativa e a moralidade para o exercício de mandato eletivo.
A proteção da probidade administrativa, por meio da instituição de inelegibilidades infra-
constitucionais, foi buscada pela Lei Complementar n. 64/90. Entre as diversas hipóteses de
inelegibilidade inscrita nessa lei, tem-se, por exemplo, a do art. 1º, inc. I, alínea ‘g’ (inelegi-
bilidade decorrente da rejeição de contas), a qual, em última análise, impede de concorrer
a cargos eletivos aqueles gestores que, na condução da coisa pública, tiverem suas contas
rejeitadas pelo órgão competente.
Por sua vez, na redação originária da Lei Complementar n. 64/90, não havia nenhuma
hipótese de inelegibilidade cuja finalidade era a proteção da moralidade para o exercício de
mandato eletivo. Segundo o Texto Constitucional, a verificação da moralidade para o exercí-
cio de mandato eletivo é aferida por meio de análise da vida pregressa do candidato.
Entretanto, apesar da inexistência de lei complementar com esse desiderato, tentou-se
impedir que candidatos que possuíssem “ficha suja” participassem das eleições de 2008.
Esse intento foi buscado pela propositura da Arguição de Descumprimento de Preceito Fun-
damental n. 144, STF. O pedido dessa ADPF n. 144 foi julgado improcedente, pois, para
impedir que um cidadão participasse das eleições por ter vida pregressa negativa, o art. 14,
§ 9º, da CF/88, como visto, exige a edição de lei complementar.
Por esse modo, rechaçou‑se a possibilidade de exigir‑se do cidadão interessado em
candidatar‑se nas eleições de 2008 a vida pregressa ilibada ante a falta de regramento com-
plementar. Essa foi a manifestação do Supremo Tribunal Federal sobre o tema ao julgar a
ADPF n. 144:

JURISPRUDÊNCIA
Asseverou‑se que estaria correto o entendimento do TSE no sentido de que a nor-
ma contida no § 9º do art. 14 da CF, na redação que lhe deu a ECR n. 4/1994, não
é autoaplicável (Enunciado n. 13 da Súmula do TSE), e que o Judiciário não pode,
sem ofensa ao princípio da divisão funcional do poder, substituir‑se ao legislador
para, na ausência da lei complementar exigida por esse preceito constitucional,
definir, por critérios próprios, os casos em que a vida pregressa do candidato impli-
cará inelegibilidade. Concluiu‑se, em suma, que o STF e os órgãos integrantes da
justiça eleitoral não podem agir abusivamente, nem fora dos limites previamente
delineados nas leis e na CF, e que, em consequência dessas limitações, o Judi-
ciário não dispõe de qualquer poder para aferir com a inelegibilidade quem inele-

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gível não é. Reconheceu‑se que, no Estado Democrático de Direito, os poderes


do Estado encontram‑se juridicamente limitados em face dos direitos e garantias
reconhecidos ao cidadão e que, em tal contexto, o Estado não pode, por meio de
resposta jurisdicional que usurpe poderes constitucionalmente reconhecidos ao
Legislativo, agir de maneira abusiva para, em transgressão inaceitável aos pos-
tulados da não culpabilidade, do devido processo, da divisão funcional do poder,
e da proporcionalidade, fixar normas ou impor critérios que culminem por estabe-
lecer restrições absolutamente incompatíveis com essas diretrizes fundamentais.
Afirmou‑se ser indiscutível a alta importância da vida pregressa dos candidatos,
tendo em conta que a probidade pessoal e a moralidade representam valores que
consagram a própria dimensão ética em que necessariamente se deve projetar a
atividade pública, bem como traduzem pautas interpretativas que devem reger o
processo de formação e composição dos órgãos do Estado, observando‑se, no
entanto, as cláusulas constitucionais, cuja eficácia subordinante conforma e con-
diciona o exercício dos poderes estatais. Aduziu‑se que a defesa desses valores
constitucionais da probidade administrativa e da moralidade para o exercício do
mandato eletivo consubstancia medida da mais elevada importância e significação
para a vida política do país, e que o respeito a tais valores, cuja integridade há
de ser preservada, encontra‑se presente na própria LC n. 64/1990, haja vista que
esse diploma legislativo, em prescrições harmônicas com a CF, e com tais precei-
tos fundamentais, afasta do processo eleitoral pessoas desprovidas de idoneidade
moral, condicionando, entretanto, o reconhecimento da inelegibilidade ao trânsito
em julgado das decisões, não podendo o valor constitucional da coisa julgada ser
desprezado por esta Corte. (Informativo n. 514, STF)

Com a edição da Lei Complementar n. 135/2010 (Lei da Ficha Limpa), essa lacuna
legislativa foi suprida. Atualmente, candidatos que possuem vida pregressa compromete-
dora, nos termos atualmente prescritos no art. 1º, inc. I, alínea ‘e’, da Lei Complementar n.
64/90, estarão inelegíveis e, por esse motivo, não poderão candidatar-se a cargos eletivos.

Princípio da Democracia Partidária

Na análise do princípio da democracia, viu‑se que o poder pertence ao povo, que o


exerce diretamente ou por meio de representantes.
Com a Constituição de 1988, os partidos políticos passaram a ter uma nova feição no
sistema democrático brasileiro. Passaram a ter a função de proteger os direitos fundamentais
e o regime democrático. O Estado não pôde mais imiscuir‑se nos assuntos partidários e nem
determinar a estrutura das agremiações partidárias, conforme prescrição contida no art. 17,
§ 1º, da CF (princípio da autonomia partidária).

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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Inclusive, de acordo com o inc. V, § 3º, art. 14, da CF/1988, somente é possível con-
correr a um cargo público eletivo por meio dos partidos políticos. De acordo com José Jairo
Gomes (2008: p. 29),

[...] o esquema partidário é assegurado pela Lei Maior que erigiu a filiação parti-
dária como condição de elegibilidade. Assim, os partidos políticos detêm o mo-
nopólio das candidaturas, de sorte que, para ser votado, o cidadão deve filiar‑se.
Inexistem no sistema brasileiro candidaturas avulsas.

Por isso, afirma‑se que, no Brasil, adotou‑se o princípio da democracia partidária em


que o partido político tem importante função para a consecução do valor democrático. Aliás,
é tamanha a importância do partido na democracia brasileira que o Supremo Tribunal Federal
afirmou que o mandato eletivo pertence à agremiação partidária (STF, MS n. 26;602). Caso
um detentor de um cargo público eletivo desfilie-se de seu partido sem que exista uma justa
causa, perderá seu mandato.

Princípio do Sufrágio Universal

A soberania popular é exercida por meio do sufrágio universal. Mas o que é sufrágio?

Sufrágio é o direito conferido ao cidadão para que possa validamente participar da for-
mação da vontade estatal. Traduz‑se no direito de votar e ser votado. Diz‑se que o sufrágio,
ou seja, os direitos políticos, são universais porque não podem ser criados critérios, obstácu-
los e óbices para que o sufrágio seja exercido.
A afirmação de que o sufrágio é universal não indica que toda e qualquer pessoa possui
direitos políticos no Brasil. Somente as pessoas que preencherem os requisitos constitucio-
nais poderão exercer o direito ao voto e o direito de ser votado. Na verdade, “sufrágio univer-
sal é aquele em que o direito de votar é atribuído ao maior número possível de nacionais. As
eventuais restrições só devem fundar‑se em circunstâncias que naturalmente impedem os
indivíduos de participar do processo político” (GOMES, 2008: p. 36).

Princípio da Liberdade de Organização Partidária

Partido Político é uma pessoa jurídica de direito privado, que se destina a assegurar, no
interesse do regime democrático, a autenticidade do sistema representativo e a defender os
direitos fundamentais definidos na Constituição.
Em razão de suas funções e atribuições na democracia brasileira, a Constituição Fede-
ral adotou o princípio da liberdade de organização partidária. Dessa forma, o partido tem
autonomia para definir sua estrutura interna, organização e funcionamento. Também é livre a
criação, fusão, incorporação e extinção de agremiações partidárias, desde que se respeite a
soberania nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo e os direitos fundamentais da
pessoa humana.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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Princípio da Fidelidade Partidária

De acordo com o art. 17, § 1º, da CF/1988, o estatuto do partido político deve estabele-
cer normas de fidelidade e disciplina partidárias.
A agremiação partidária tem importante papel, conforme visto no estudo do princípio da
democracia partidária, no processo eleitoral. Por esse motivo, o ocupante de cargo eletivo
deve pautar a sua atuação de acordo com os valores, ideais, orientação programática e prin-
cípios defendidos pelo partido pelo qual foi eleito.
Esse princípio tem uma faceta administrativa, implicando a possibilidade de aplicação
de sanções aos filiados que adotem condutas contrárias às orientações da direção parti-
dárias. Caso esteja prevista no Estatuto, é possível até mesmo a expulsão do parlamentar
indisciplinado.
Por outro lado, esse princípio tem um viés jurisdicional e, desde 27/3/2007 (TSE, CTA
n. 1398), possibilita que os filiados eleitos possam perder seu mandato eletivo caso se des-
filiem de seu partido de origem sem que exista uma justa causa. Para o Ministro César Asfor
Rocha, no julgamento da Consulta‑TSE n. 1.398,

[...] parece‑me equivocada e mesmo injurídica a suposição de que o mandato


político eletivo pertence ao indivíduo eleito, pois isso equivaleria a dizer que ele,
o candidato eleito, se teria tornado senhor e possuidor de uma parcela da sobe-
rania popular, não apenas transformando‑a em propriedade sua, porém mesmo
sobre ela podendo exercer, à moda do exercício de uma prerrogativa privatística,
todos os poderes inerentes ao seu domínio, inclusive o de dele dispor. (GOMES,
2008, p. 81)

Princípio da Lisura das Eleições

Busca‑se garantir a igualdade de todos os candidatos perante a lei eleitoral. Esse prin-
cípio decorre diretamente do princípio da moralidade. As eleições devem estar livres de cor-
rupção, fraude e abuso do poder econômico.
Os candidatos devem disputar o pleito eleitoral em paridade de condições. Pela
lisura das eleições, os meios empregados nas propagandas, nas campanhas, devem ser
éticos e justos.
Como exemplificação desse princípio, cita‑se o art. 23 da Lei Complementar n. 64/1990:

Art. 23. O Tribunal formará sua convicção pela livre apreciação dos fatos públicos
e notórios, dos indícios e presunções e prova produzida, atentando para circuns-
tâncias ou fatos, ainda que não indicados ou alegados pelas partes, mas que pre-
servem o interesse público de lisura eleitoral.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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Seguem algumas características acerca do princípio da lisura das eleições:

• corolário da moralidade;
• tutela a integridade e a ética nas eleições;
• busca assegurar a legitimidade política;
• coíbe o uso indevido dos meios de comunicação;
• garante que os candidatos terão tratamento isonômico e que concorrerão em igualdade
de condições.

Esse princípio eleitoral, que tem a função de garantir a igualdade de oportunidade de


acesso aos cargos públicos eletivos, pode ser violado pela prática das condutas ilícitas abaixo.
Abuso de poder econômico: esse ilícito caracteriza-se quando os candidatos utili-
zarem o poder financeiro com a finalidade de obter vantagem, mesmo que indireta, durante
as eleições.
Abuso de poder de autoridade: trata-se de atos praticados por exercentes de cargos,
empregos ou funções, que excedem os limites da legalidade ou da competência em benefício
de campanhas eleitorais.
A prática de qualquer dessas condutas quebra a normalidade e a legitimidade das elei-
ções, e, com a finalidade de coibir as práticas de tais ilícitos, o legislador poderá instituir,
dentre outras sanções, uma lei dispondo que aqueles que os praticarem ficarão inelegíveis
(art. 14, § 9º, in fine, da CF).

Princípio do Aproveitamento do Voto

Esse princípio direciona as atividades da Justiça Eleitoral. Isso porque o juiz deve preser-
var a soberania popular quando estiver analisando nulidades que possam viciar as eleições.
Assim, o Código Eleitoral adotou um sistema mitigado de nulidade de votos, e as
nulidades, mesmo que absolutas, podem ser convalidadas, desde que não arguidas no
momento oportuno.
Esta é a disposição do art. 149 do Código Eleitoral: “não será admitido recurso contra
a votação, se não tiver havido impugnação perante a mesa receptora, no ato da votação,
contra as nulidades arguidas”. Vê‑se, portanto, que se houver alguma nulidade no ato de
votar, e esta não for arguida imediatamente, o vício será desconsiderado.
Outra consequência desse princípio é a regra do art. 219 do Código Eleitoral:

Art. 219. Na aplicação da lei eleitoral o juiz atenderá sempre aos fins e resulta-
dos a que ela se dirige, abstendo‑se de pronunciar nulidades sem demonstração
de prejuízo.

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Veja, a seguir, as principais características do princípio do aproveitamento do voto:

• preservação da Soberania Popular em detrimento do formalismo das nulidades;


• In dubio pro voto (art. 219 do Código Eleitoral);
• admite‑se, até mesmo, a sanabilidade de nulidades absolutas, desde que não impugna-
das no momento oportuno (art. 149 do Código Eleitoral);
• serve ao julgador para evitar nulidades de votos contidos em urnas eletrônicas ou nas
cédulas, quando for possível separar os votos nulos dos válidos.

Princípio da Anterioridade Eleitoral

O Legislador Constituinte, com a finalidade de garantir segurança jurídica à realização


das eleições, previu o princípio da anterioridade eleitoral. Esse princípio tem a finalidade de
estabilizar, pelo período mínimo de 1 (um) ano, normas processuais-eleitorais. Sobre a tele-
ologia e o alcance desse princípio constitucional, esse foi o pronunciamento do STF:

JURISPRUDÊNCIA
(...) por força do art. 16 da Constituição, inovação salutar inspirada na preocupação
da qualificada estabilidade e lealdade do devido processo eleitoral: nele a preocu-
pação é especialmente de evitar que se mudem as regras do jogo que já começou,
como era frequente, com os sucessivos “casuísmos”, no regime autoritário.
A norma constitucional – malgrado dirigida ao legislador – contém princípio que
deve levar a Justiça Eleitoral a moderar eventuais impulsos de viradas de jurispru-
dências súbitas, o ano eleitoral, acerca de regras legais de densas implicações na
estratégia para o pleito das forças partidárias. (ADI n. 2.628, DJ de 5.3.2004)

A doutrina também nos traz importante lição sobre o princípio da anualidade eleitoral:

JURISPRUDÊNCIA
O princípio da Anualidade das leis eleitorais é uma proteção outorgada à socie-
dade contra os casuísmos existentes na esfera política. É, na verdade, uma con-
sequência do princípio da segurança jurídica, fundamental para o exercício dos
direitos políticos não se veja embaraçado em face de eventuais circunstâncias do
jogo do poder. Pretendeu o constituinte impedir que situações concretas, interes-
ses ocasionais, conduzissem a alterações da legislação eleitoral, maculando a
legitimidade das eleições.
Deve ser entendido, portanto, enquanto um importante mecanismo de defesa das
minorias, de modo a impedir a deformação do processo eleitoral mediante altera-
ções casuísticas das maiorias de plantão, rompendo a igualdade de oportunidades
entre partidos e candidatos. É, pois, um dos pilares do próprio regime democráti-
co, composto que é pelo binômio vontade da maioria/direito das minorias. (Carlos
Eduardo de Oliveira Lula)

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O princípio da anterioridade eleitoral está previsto no art. 16 da Constituição Federal,


com o seguinte teor:

Art. 16. A lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data de sua publi-
cação, não se aplicando à eleição que ocorra até um ano da data de sua vigência.
(Redação dada pela Emenda Constitucional n. 4, de 1993)

A partir da análise dessa norma constitucional, constata-se que a lei que alterar o pro-
cesso eleitoral tem vigência imediata. Não possui vacatio legis. Desse modo, não se aplica
às leis que alterarem o processo eleitoral o art. 1º da Lei de Introdução às Normas de Direito
Brasileiro (LINDB). Veja a redação do art. 1º da LINDB:

Art. 1º Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta
e cinco dias depois de oficialmente publicada.

Novamente, esse artigo não é aplicável somente às leis que alterem o processo eleito-
ral. Isso quer dizer que as leis que alterarem o processo eleitoral nunca terão vacatio legis, e
a sua vigência é sempre imediata. Não obstante, as leis que tiverem o condão de alterarem
o processo eleitoral só serão aplicadas às eleições que ocorrerem após 1 (um) ano da data
de sua publicação. Teremos uma lei vigente, eficaz e apta a produzir efeitos, mas que, por
prescrição constitucional, será aplicada 1 (um) ano após à publicação.
Veja o seguinte exemplo de publicação de uma lei alteradora do processo eleitoral (con-
sidere as eleições municipais de 2028).

EXEMPLO
a) Lei A publicada no dia 30 de setembro de 2027 – sabe-se que, em 2028, as elei-
ções ocorrerão em 1º de outubro (1º domingo de outubro). Nessa situação, como
a Lei A foi publicada 1 (um) ano antes da data da eleição, será aplicada a essas
eleições.
b) Lei A publicada no dia 2 de outubro de 2027 – embora a lei tenha vigência ime-
diata, não será aplicada às eleições de 2028. A lei que altere o processo eleitoral
somente será aplicável às eleições que ocorram até 1 (um) ano da data de sua
publicação, inclusive.
c) Lei A publicada no dia 6 de outubro de 2027 – embora a lei tenha vigência ime-
diata, não será aplicável às eleições de 2028. Somente será aplicável às eleições
que ocorrerem após o dia 7 de outubro.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

Deve-se descobrir o que pode ser entendido por processo eleitoral. Isso porque o prin-
cípio da anterioridade eleitoral não é aplicável a todas as leis eleitorais, mas somente àquelas
que alterarem o processo eleitoral.

ATENÇÃO
O princípio da anterioridade eleitoral é aplicável unicamente às leis que alterem o proces-
so eleitoral. Não confunda. Não são todas as leis eleitorais que sofrem a incidência dessa
disposição constitucional.

É indispensável, portanto, entendermos o conceito de processo eleitoral. Esse conceito


foi construído, de forma didática, pelo STF no seguinte julgado:

JURISPRUDÊNCIA
“PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA ANTERIORIDADE ELEITORAL: SIGNIFICA-
DO DA LOCUÇÃO “PROCESSO ELEITORAL” (CF, ART. 16). - A norma consubs-
tanciada no art. 16 da Constituição da República, que consagra o postulado da an-
terioridade eleitoral (cujo precípuo destinatário é o Poder Legislativo), vincula-se,
em seu sentido teleológico, à finalidade ético-jurídica de obstar a deformação do
processo eleitoral mediante modificações que, casuisticamente introduzidas pelo
Parlamento, culminem por romper a necessária igualdade de participação dos que
nele atuam como protagonistas relevantes (partidos políticos e candidatos), vul-
nerando-lhes, com inovações abruptamente estabelecidas, a garantia básica de
igual competitividade que deve sempre prevalecer nas disputas eleitorais. Prece-
dentes. - O processo eleitoral, que constitui sucessão ordenada de atos e estágios
causalmente vinculados entre si, supõe, em função dos objetivos que lhe são ine-
rentes, a sua integral submissão a uma disciplina jurídica que, ao discriminar os
momentos que o compõem, indica as fases em que ele se desenvolve:
(a) fase pré-eleitoral, que, iniciando-se com a realização das convenções partidá-
rias e a escolha de candidaturas, estende-se até a propaganda eleitoral respectiva;
(b) fase eleitoral propriamente dita, que compreende o início, a realização e o en-
cerramento da votação e
(c) fase pós-eleitoral, que principia com a apuração e contagem de votos e ter-
mina com a diplomação dos candidatos eleitos, bem assim dos seus respectivos
suplentes. (ADI n. 3345, DJ de 19.08.2010)

Além disso, essa alteração do processo eleitoral tem que ser capaz de provocar, con-
forme jurisprudência do STF consolidada no julgamento da ADI n. 3.741:

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• rompimento da igualdade de participação dos partidos políticos e dos respectivos can-


didatos no processo eleitoral;
• a criação de deformação que afete a normalidade das eleições;
• a introdução de fator de perturbação do pleito;
• promoção de alteração motivada por propósito casuístico.

Não se submetem à restrição da Anterioridade Eleitoral:

• alteração do número de cadeiras das Câmaras municipais e a emancipação de


municípios;
• crimes eleitorais;
• processo penal eleitoral subsidiário;
• resoluções do TSE que regulamentem o CE ou a Lei das Eleições;
• assuntos relativos à prestação de contas eleitorais.

Pode uma Emenda Constitucional excepcionar o Princípio da Anualidade?

A prescrição constitucional dispõe que “a lei que alterar o processo eleitoral”. O que
pode ser entendido pelo vocábulo lei. Lei é um ato normativo elaborado pelo Poder Legisla-
tivo de acordo com as disposições contidas nas regras do processo legislativo.

Esse princípio somente se aplica às leis? Essa disposição constitucional pode ser
aplicável a todas as espécies normativas?

Essa pergunta é corretamente respondida por Rodrigo López Zilio:

O princípio da anualidade do Direito Eleitoral é dirigido, indistintamente, a todo e


qualquer diploma, independentemente de seu status legal. Ou seja, dirige-se tanto
à norma infraconstitucional – dês que de caráter federal (art. 22, I, da CF) – como
à constitucional. Em outras palavras, toda e qualquer legislação editada deve obe-
diência ao princípio da anterioridade, emanada pela Carta Federal (art. 16 da CF).

Desse modo, o princípio da anterioridade eleitoral constitui restrição ao poder constituinte


derivado reformador. Na elaboração das emendas à Constituição, o Legislador de Reforma
deve obediência ao princípio constitucional ora em análise. Este é o entendimento do STF:

JURISPRUDÊNCIA
4. Enquanto o art. 150, III, b, da CF encerra garantia individual do contribuinte (ADI
939, rel. Min. Sydney Sanches, DJ 18.03.94), o art. 16 representa garantia indivi-
dual do cidadão-eleitor, detentor originário do poder exercido pelos representantes
eleitos e “a quem assiste o direito de receber, do Estado, o necessário grau de

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segurança e de certeza jurídicas contra alterações abruptas das regras inerentes


à disputa eleitoral” (ADI 3.345, rel. Min. Celso de Mello).
5. Além de o referido princípio conter, em si mesmo, elementos que o caracterizam
como uma garantia fundamental oponível até mesmo à atividade do legislador
constituinte derivado, nos termos dos arts. 5º, § 2º, e 60, § 4º, IV, a burla ao que
contido no art. 16 ainda afronta os direitos individuais da segurança jurídica (CF,
art. 5º, caput) e do devido processo legal (CF, art. 5º, LIV). (ADI n. 3.685)

De acordo com essa decisão do STF, além de ficar consignado que as emendas cons-
titucionais que alterem o processo eleitoral devem observar o princípio da anterioridade elei-
toral, conclui-se, ainda, que o princípio da anterioridade é uma cláusula pétrea.

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4. JUSTIÇA ELEITORAL

A Justiça Eleitoral é composta por órgãos que integram a estrutura do Poder Judiciário
da União. Não é uma estrutura que pode ser criada pelos Estados. Seu orçamento é apro-
vado pelo Congresso Nacional. Seus servidores são federais, e, se esses forem vítimas de
crime no exercício de suas atribuições, a Justiça Comum Federal será competente para pro-
cessar e julgar esse crime.
Apesar de ser um ramo Especializado da Justiça da União, a Justiça Eleitoral não possui
um quadro próprio de magistrados. Os juízes que a integram pertencem a outros tribunais,
como será visto oportunamente.
São órgãos que compõem a Justiça Eleitoral, nos termos do art. 118 da CF:

Art. 118. São órgãos da Justiça Eleitoral:


I – o Tribunal Superior Eleitoral;
II – os Tribunais Regionais Eleitorais;
III – os Juízes Eleitorais;
IV – as Juntas Eleitorais.

Em plena compatibilidade com a Constituição Federal, está o art. 12 do Código Eleitoral:

Art. 12. São órgãos da Justiça Eleitoral:


I – O Tribunal Superior Eleitoral, com sede na Capital da República e jurisdição em
todo o País;
II – um Tribunal Regional, na Capital de cada Estado, no Distrito Federal e, me-
diante proposta do Tribunal Superior, na Capital de Território;
III – juntas eleitorais;
IV – juízes eleitorais.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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Assim, temos a seguinte estrutura:

Estrutura da Justiça Eleitoral

Dos órgãos que compõem a Justiça Eleitoral, o Tribunal Superior Eleitoral, os tribunais
regionais eleitorais e as juntas eleitorais são órgãos colegiados, ou seja, compostos por
vários membros, enquanto os juízes eleitorais são órgãos monocráticos, aqueles nos quais a
decisão se dá de forma singular.

Esses órgãos são organizados em instâncias para o exercício da função jurisdicional.


O Tribunal Superior Eleitoral compõe a instância especial ou extraordinária; os Tribunais
Regionais Eleitorais compõem a 2ª instância; os Juízes e as Juntas Eleitorais compõem a 1ª
instância da Justiça Eleitoral.
Entretanto, embora os juízes e as juntas eleitorais componham o mesmo grau de juris-
dição, não existe vinculação jurisdicional entre eles no exercício de suas funções jurisdicio-
nais. Cada um deles possui atribuições próprias e que não se confundem, conforme será
visto em momento oportuno.

COMPOSIÇÃO DA JUSTIÇA ELEITORAL

ÓRGÃO INSTÂNCIA TIPO DE ÓRGÃO


TSE SUPERIOR OU ESPECIAL COLEGIADO
TRE 2ª INSTÂNCIA COLEGIADO
JUNTA ELEITORAL 1ª INSTÂNCIA COLEGIADO
JUÍZ ELEITORAL 1ª INSTÂNCIA MONOCRÁTICO

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

Esse ramo do Poder Judiciário, como visto, não possui um quadro próprio de membros.
Nos tribunais eleitorais, tem-se, nas suas composições, duas classes de membros: os efeti-
vos e os substitutos. Evita-se, assim, o não julgamento de feitos eleitorais, caso os membros
efetivos estejam impossibilitados de comparecer às sessões de julgamento.
Quanto à escolha, os substitutos dos membros efetivos dos Tribunais eleitorais são
escolhidos, na mesma ocasião e pelo mesmo processo, em número igual para cada catego-
ria (art. 15 do Código Eleitoral). Serão convocados se faltar quórum legal para a realização
das sessões jurisdicionais e administrativas do TSE.
Os membros dos Tribunais eleitorais podem servir por dois anos, no mínimo, à Jus-
tiça Eleitoral, sendo possível sua recondução para um único biênio subsequente. Portanto,
a Constituição Federal veda a permanência no exercício da jurisdição eleitoral por mais de
dois biênios consecutivos, mas não veda a possibilidade de um de seus membros servir à
Justiça Eleitoral por mais de dois biênios, desde que alternados.
O § 2º do art. 121 da CF/1988 é esclarecedor:

Art. 121. Omissis


§ 2º Os Juízes dos Tribunais Eleitorais, salvo motivo justificado, servirão por dois
anos, no mínimo, e nunca por mais de dois biênios consecutivos, sendo os subs-
titutos escolhidos na mesma ocasião e pelo mesmo processo, em número igual
para cada categoria.

A Justiça Eleitoral, portanto, é um ramo especializado que tem a função de realizar todos
os procedimentos administrativos referentes à realização das eleições, bem como resolver
as questões que advenham do processo eleitoral. Não se subordina ao Poder Executivo nem
ao Poder Legislativo, é órgão do Poder Judiciário, sendo seus membros dotados de garantias
constitucionais, as quais viabilizam sua efetiva e independente atuação no cumprimento de
suas competências.

Características da Justiça Eleitoral

Em razão de a Justiça Eleitoral ser um ramo especializado na análise e julgamento dos


feitos eleitorais, ela possui algumas características peculiares, que a diferencia dos demais
órgãos do Poder Judiciário. Além disso, a Justiça Eleitoral é o único ramo do Poder Judiciário
que possui, de forma típica, função administrativa.
Desse modo, veja abaixo as principais características da Justiça Eleitoral.
a) Adoção do sistema jurisdicional: os litígios eleitorais são julgados pela Justiça
Eleitoral com caráter de definitividade. Assim, a Justiça Eleitoral não tem as suas decisões
revistas por outro órgão do Poder Judiciário, pois detém poder jurisdicional.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

b) Justiça Especializada: a Justiça Eleitoral é especializada no julgamento de litígios


que se refiram ao Direito Eleitoral. Daí a importância da definição sobre quais matérias são
reguladas pelo Direito Eleitoral, pois a partir do conteúdo desse ramo do Direito, ter-se-á a
definição da competência da Justiça Eleitoral.
c) Inexistência de magistratura própria na Justiça Eleitoral: a Justiça Eleitoral não
possui um quadro próprio de membros. É formada por juízes de outros ramos do Poder
Judiciário. A título exemplificativo, o TSE é formado por ministros do Supremo Tribunal Fede-
ral, do Superior Tribunal de Justiça e por advogados. Por essa razão, não existe concurso
público para o cargo de juiz na Justiça Eleitoral.
d) Periodicidade da investidura dos juízes eleitorais, princípio da temporariedade:
os juízes que participam da composição da Justiça Eleitoral possuem um mandato. Exercem
as funções eleitorais por um período determinado estabelecido pela Constituição. Esta é a
disposição contida no art. 121, § 2º, da CF:

Art. 121. Omissis


[...]
§ 2º Os juízes dos tribunais eleitorais, salvo motivo justificado, servirão por dois
anos, no mínimo, e nunca por mais de dois biênios consecutivos, sendo os subs-
titutos escolhidos na mesma ocasião e pelo mesmo processo, em número igual
para cada categoria.

Vê-se, então, que o mandato dos integrantes da Justiça Eleitoral é de dois anos e, ao
final, poderão ser reconduzidos para um único biênio consecutivo.

ATENÇÃO
É possível que um determinado juiz integre um tribunal eleitoral por mais de três biênios,
desde que não sejam consecutivos.

Por fim, essa característica inerente à Justiça Eleitoral é decorrência do princípio da


temporariedade e foi instituída com a finalidade de evitar a influência do poder econômico ou
do poder político nas decisões dessa Justiça Especializada.
e) Funcionamento permanente da Justiça Eleitoral: no Brasil, faz-se eleições a cada
dois anos. Assim, temos alternadamente eleições municipais e, dois anos após, eleições
federais e estaduais. Independentemente de ser ou não ano eleitoral, a Justiça Eleitoral
possui funcionamento permanente. Isso porque há funções desse ramo do Poder Judiciário
que não estão vinculadas aos pleitos eleitorais.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

EXEMPLO
Gestão do fundo partidário; condução do alistamento eleitoral; administração do
exercício do direito de propaganda partidária etc.

f) Divisão territorial própria para fins eleitorais (circunscrições, zonas e seções): a


Justiça Eleitoral organiza-se da seguinte forma para o exercício de suas funções jurisdicionais:

• TSE – jurisdição em todo o território nacional. A circunscrição em que o TSE exerce


jurisdição é o País.
• TREs – exercem jurisdição nos limites territoriais de um Estado. A circunscrição eleitoral
de um TRE limita-se ao Estado da Federação em que possui sua sede.
• Juízes Eleitorais – as funções dos juízes são limitadas ao território da Zona. Assim,
um Estado é dividido em Zonas, e, nesta, os Juízes Eleitorais podem exercer seu papel
jurisdicional.

ATENÇÃO
As Seções Eleitorais não se referem a limites territoriais em que Juízes ou Tribunais exer-
cem suas funções. Uma seção eleitoral é uma divisão de eleitores para o exercício do voto.

Funções da Justiça Eleitoral

A Justiça Eleitoral é um ramo do Poder Judiciário com as características peculiares que


acabamos de apontar em razão de suas funções. Da mesma forma que os outros órgãos do
Poder Judiciário, a Justiça Eleitoral possui função jurisdicional. Contudo, possui, ainda, de
forma típica: função administrativa, função regulamentar e função consultiva. Passaremos a
analisar cada uma dessas funções.
Função jurisdicional: a Justiça Eleitoral julga os conflitos ou litígios que se refiram ao
Direito Eleitoral. De acordo com Zilio (p. 37),

a atividade julgadora da Justiça Eleitoral ocorre através da resolução de conflitos


na esfera especializada, precipuamente através do julgamento das ações eleito-
rais (lato sensu).

Assim, somente litígios referentes ao exercício da soberania popular e dos direitos polí-
ticos são julgados pela Justiça Eleitoral. Litígios que envolvam matérias relacionadas aos
partidos políticos não são da competência desse ramo do Poder Judiciário. Isso porque o
Direito Eleitoral trata dos direitos políticos unicamente. O tema partidos políticos é da esfera
do Direito Partidário.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

Excepcionalmente, a Justiça Eleitoral julga litígios que não estão relacionados direta-
mente ao Direito Eleitoral. Isso ocorre nas situações a seguir.

• Ações sobre perda de mandato por infidelidade partidária: ainda que o instituto infi-
delidade partidária não tenha nenhum liame com o Direito Eleitoral e refira-se ao vínculo
entre o candidato eleito e o seu partido político, no julgamento do MS n. 26.002/STF,
a Corte Suprema decidiu que essa lides instauradas entre os filiados eleitos e os seus
partidos políticos seriam decididos pela Justiça Eleitoral.
• Ações que envolvam litígios partidários: desde que estes impactem na realização
das eleições. A esse respeito:

JURISPRUDÊNCIA
É competência da Justiça Eleitoral analisar controvérsias sobre questões internas
das agremiações partidárias quando houver reflexo direto no processo eleitoral,
sem que esse controle jurisdicional interfira na autonomia das agremiações parti-
dárias, garantido pelo art. 17, § 1º, da CF. (Agravo Regimental no Recurso Espe-
cial n. 26.412, rel. Min. Cesar Rocha, de 20.9.2006)

Função administrativa: a Justiça Eleitoral é a responsável pela administração das elei-


ções e dos eleitores no Brasil. Essa é uma atribuição de função administrativa de forma típica.
Em razão dessa função, pode-se afirmar, corretamente, que a Justiça Eleitoral é o único
ramo do Poder Judiciário que exerce essa função administrativa de forma típica. Segundo
Zilio (p. 36),

a atividade administrativa da Justiça Eleitoral se revela pela organização e admi-


nistração do processo eleitoral (lato sensu). Assim, é atribuição da Justiça Eleitoral
a administração do cadastro de eleitores, procedendo aos atos de alistamento
e transferência, revisão do eleitorado, designação de locais de votação, criação
das seções eleitorais e Zonas Eleitorais, nomeação e convocação de mesários e
escrutinadores.

Função consultiva: com a finalidade de conferir segurança jurídica ao pleito, compete


ao TSE e aos TREs responderem às consultas que lhes forem feitas sobre matéria eleitoral.
Assim, existem alguns legitimados que poderão endereçar questionamentos à Justiça Elei-
toral sobre a interpretação das normas sobre Direito Eleitoral. Essa competência permite
que dúvidas sejam dirimidas, e que o posicionamento dos Tribunais Eleitorais seja explici-
tado de forma prévia à ocorrência dos litígios, e, a partir daí, candidatos, partidos políticos
e cidadãos terão ciência sobre a atuação da Justiça Eleitoral sobre aquele tema específico,
objeto da consulta. A competência consultiva da Justiça Eleitoral está regulada nos seguintes
dispositivos:

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

Código Eleitoral
Art. 23 - Compete, ainda, privativamente, ao Tribunal Superior,
XII – responder, sobre matéria eleitoral, às consultas que lhe forem feitas em tese
por autoridade com jurisdição, federal ou órgão nacional de partido político;
Art. 30. Compete, ainda, privativamente, aos Tribunais Regionais:
VIII – responder, sobre matéria eleitoral, às consultas que lhe forem feitas, em
tese, por autoridade pública ou partido político;

Função regulamentar: o TSE pode expedir instruções sobre a execução das leis elei-
torais. Essas instruções não podem inovar no ordenamento jurídico e devem respeitar o prin-
cípio da legalidade.

Tribunal Superior Eleitoral

O Tribunal Superior Eleitoral é o órgão máximo da Justiça Eleitoral. Sua sede é em Bra-
sília e, nas matérias de sua competência, exerce jurisdição em todo o território nacional. Será
composto, no mínimo, por sete membros (art. 119 da CF/1988).

• Jurisdição e sede

O TSE possui sede na capital da República. Trata-se de uma determinação do art. 12,
inc. I do Código Eleitoral. Isso significa que o local físico, o prédio no qual os ministros do
TSE se reúnem para decidir as questões eleitorais, está situado, atualmente, em Brasília.
Caso a capital da República fosse mudada, a sede do TSE também seria, pois o CE fala que
a sede deve ser na capital da República, e não necessariamente em Brasília. Lembre-se
que até 1960 a sede do TSE era no Rio de Janeiro, pois lá era a capital da República. Com
a mudança da capital para Brasília, mudou-se, por disposição regimental, também a sede
do Tribunal.
Apesar de ter sua sede na capital da República, o TSE exerce sua jurisdição em
todo o país.
Inicialmente, esclarecemos que jurisdição nada mais é do que o poder/dever de dizer
o direito.

Ora, então isso significa que o TSE pode apreciar originariamente qualquer maté-
ria eleitoral decorrente de fatos relacionados com o Direito Eleitoral ocorridos com
qualquer cidadão, em qualquer lugar do país?

É CLARO QUE NÃO! Explica-se isso melhor.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

Na verdade, o Código Eleitoral, em seu art. 12, inc. I, disse menos do que deveria. A
preocupação do dispositivo legal foi a de não limitar geograficamente a atuação do TSE NAS
MATÉRIAS DE SUA COMPETÊNCIA.

EXEMPLO
Um candidato a governador pelo Estado do Amazonas pratica captação ilícita de
sufrágio em um de seus municípios. A competência originária para apreciar esta
matéria não é do TSE, mas sim do TRE. Poderá o TSE até apreciá-la em grau de
recurso, mas isso não necessariamente deva ocorrer, pois pode a matéria não per-
mitir o enquadramento em nenhum recurso. Nesse caso, de forma alguma os preju-
dicados podem ir diretamente ao TSE e exigir a prestação jurisdicional pelo Tribunal.

EXEMPLO
Imagine outra hipótese. Um candidato a presidente da República, realiza, no mesmo
município do Estado do Amazonas em que o candidato a Governador esteve, abuso
de poder econômico. De quem é a competência? Do TRE ou do TSE?
Agora, você vai entender por que afirmamos que o dispositivo legal disse menos
do que deveria.
O TSE é competente para efetuar o registro de candidatos a presidente e vice-pre-
sidente (veremos isso com detalhes mais adiante). É também competente para
apreciar qualquer ato de tais candidatos que atentem contra a legislação eleitoral.
Desse modo, se um candidato a presidente da República realiza abuso de poder
econômico, não importa em que lugar do país, o TSE é o competente para apre-
ciar a matéria.
Então, podemos afirmar que realmente o TSE tem jurisdição em todo país, mas
desde que a matéria seja de sua competência.

• Composição

Segundo o art. 119 da Constituição Federal, o TSE compõe-se de, no mínimo, 7 (sete)
membros/ministros: sendo 3 (três) ministros do STF; 2 (dois) ministros do STJ; e dois advo-
gados. Esta é a prescrição contida no art. 119 da Constituição Federal:

Art. 119. O Tribunal Superior Eleitoral compor-se-á, no mínimo, de sete membros,


escolhidos:
I – mediante eleição, pelo voto secreto:
a) três juízes dentre os Ministros do Supremo Tribunal Federal;
b) dois juízes dentre os Ministros do Superior Tribunal de Justiça;

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Professor: Weslei Machado

II – por nomeação do Presidente da República, dois juízes dentre seis advoga-


dos de notável saber jurídico e idoneidade moral, indicados pelo Supremo Tribu-
nal Federal.

Pode-se representar esquematicamente essa composição da seguinte forma:

COMPOSIÇÃO DO TSE

– Composição: possibilidade de alteração

A expressão constitucional “no mínimo”, contida no art. 119 da CF, permite que se
aumente o número de membros do TSE. Não permite, de outro modo, a sua diminuição.

Mas como e qual instrumento legal deve ser utilizado para se proceder ao permitido
aumento na composição do TSE?

Não será necessária a edição de uma emenda à Constituição, pois se a própria CF diz
que a composição é mínima (art. 119), já há uma permissão para que o legislador infracons-
titucional faça a alteração.
Assim, vamos para a legislação infraconstitucional (aquela que é hierarquicamente
inferior à Constituição). Aqui temos basicamente duas possibilidades: lei ordinária ou lei
complementar.
Uma leitura do art. 96, inc. I, alínea “b”, combinado com o art. 121, ambos da Constitui-
ção Federal, revela-nos que essa alteração só pode ser feita por meio de lei complementar
de iniciativa privativa do TSE. Veja a redação dos dispositivos referidos:

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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Art. 96. Compete privativamente:


(...)
II – ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores e aos Tribunais de
Justiça propor ao Poder Legislativo respectivo, observado o disposto no art. 169:
(...)
b) a criação e a extinção de cargos e a remuneração dos seus serviços auxiliares
e dos juízos que lhes forem vinculados, bem como a fixação do subsídio de seus
membros e dos juízes, inclusive dos tribunais inferiores, onde houver; (Redação
dada pela Emenda Constitucional n. 41, 19.12.2003)
(...)
Art. 121. Lei complementar disporá sobre a organização e competência dos tribu-
nais, dos juízes de direito e das juntas eleitorais.

Realizadas essas considerações iniciais sobre a composição do TSE, vamos agora


estudá-la com mais detalhes.

• Escolha de ministros

O estudo do processo de escolha dos ministros do TSE pode ser didaticamente dividido
em duas partes: escolha dos ministros da classe do STF e STJ e escolha dos ministros da
classe dos advogados/juristas.

– Escolha dos ministros das classes do STF e STJ

Os ministros do TSE provenientes dos Tribunais — 3 (três) ministros do STF e 2 (dois)


ministros do STJ — são escolhidos em eleição, por voto secreto, nos seus respectivos tribu-
nais (art. 119, inc. I, da CF).

Art. 119. O Tribunal Superior Eleitoral compor-se-á, no mínimo, de sete membros,


escolhidos:
I – mediante eleição, pelo voto secreto:
a) três juízes dentre os Ministros do Supremo Tribunal Federal;
b) dois juízes dentre os Ministros do Superior Tribunal de Justiça;

Assim, qualquer um dos ministros do STF ou STJ, independentemente de ser o mais


“novo” ou mais “antigo” (não estamos falando de idade, mas sim de tempo de atuação no
Tribunal), pode ser eleito para compor o TSE.

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A despeito de haver, com o objetivo de evitar disputas internas, um acordo de cavalhei-


ros, tanto no STF ou STJ, para que a escolha obedeça a ordem de antiguidade do Tribunal.
Esse acordo, para fins de concurso público, não existe, o que importa para o concurso do
TSE é a letra da CF: eleição, pelo voto secreto.
Na mesma ocasião e pelo mesmo processo – eleição, pelo voto secreto – são esco-
lhidos os respectivos ministros substitutos, em número igual para cada categoria. A escolha
dos substitutos em igual número se faz necessário em razão da substituição dos membros
efetivos obedecerem à categoria ao qual estão vinculados. Assim, membros provenientes do
STF são substituídos por membros substitutos provenientes também do STF, sendo assim
para as demais categorias (art. 1º, parágrafo único, do RITSE).
No TSE, temos, portanto, a exemplo do número de ministros efetivos, 3 (três) ministros
substitutos da classe do STF e 2 (dois) ministros substitutos da classe do STJ.

– Escolha de ministros efetivos e substitutos do TSE

DA CLASSE DO STF

O mesmo esquema didático do STF pode ser utilizado para explicar a escolha de minis-
tros do TSE junto ao STJ, afinal o processo de escolha é idêntico nos dois tribunais.

Para finalizar esse assunto, observe que não há interferência do Presidente da Repú-
blica no processo de escolha dos ministros das classes do STF e do STJ.

– Escolha dos ministros da classe dos advogados

Compete ao presidente da República nomear 2 (dois) ministros do TSE da classe dos


advogados, escolhidos dentre seis advogados de notável saber jurídico e reputação ilibada,
indicados em lista tríplice pelo STF. Atentem-se ao seguinte fato: a CF/88 não se refere à lista
sêxtupla (infelizmente alguns autores ainda cometem esse erro grosseiro), a menção a seis
advogados se deve ao fato de haver duas vagas para essa classe.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

Dessa forma, para cada uma dessas vagas, o STF encaminha uma lista tríplice ao pre-
sidente da República, a fim de que esse proceda à nomeação.

Art. 119. O Tribunal Superior Eleitoral compor-se-á, no mínimo, de sete membros,


escolhidos:
(...)
II – por nomeação do Presidente da República, dois juízes dentre seis advoga-
dos de notável saber jurídico e idoneidade moral, indicados pelo Supremo Tribu-
nal Federal.

Apesar de o processo de escolha dos advogados que compõem o TSE ser bastante
simples, há algumas peculiaridades que o envolvem e sobre as quais vale a pena tecer
alguns comentários.
A primeira delas se refere aos requisitos exigidos para compor a lista tríplice: idonei-
dade moral e notável saber jurídico.
A idoneidade moral deve ser comprovada por meio de certidões, as quais juntadas aos autos
da lista tríplice comprovam objetivamente o requisito requerido. De outro modo, o notável saber
jurídico é um conceito indeterminado, sobre o qual recai uma análise subjetiva por parte do STF.

ATENÇÃO
Uma vez elaborada a lista tríplice pelo STF, o presidente da República não poderá recu-
sá-la, sendo que sua escolha deve recair, obrigatoriamente, entre um dos advogados nela
constante.

LISTA TRÍPLICE

COMPETENTE PARA SUA ELABORAÇÃO REQUISITOS NECESSÁRIOS RESPONSÁVEL PELA NOMEAÇÃO


Idoneidade moral
STF Presidente da República
Notável saber jurídico

Outra importante observação se relaciona com a ausência da OAB no processo de


escolha dos ministros do TSE da classe dos advogados. A lista tríplice levada ao presidente
da República, para que ele escolha um dos nomes ali elencados, é elaborada única e exclu-
sivamente pelo STF.
Quanto às incompatibilidades da magistratura, verifica-se que os ministros do TSE
da classe dos advogados podem continuar o exercício de atividades advocatícias, vedado
apenas o seu exercício nos tribunais eleitorais. Isso se dá em razão de tais membros, no
exercício da magistratura no TSE, receberem apenas uma gratificação de presença e repre-
sentação e mais nada.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

Considerando que a escolha de advogados para ser membro do TSE, normalmente,


incide sobre advogados de renome, os quais possuem uma longa lista de clientes, exigir
deles que, ao ser escolhido membro do TSE, venham a viver apenas do recebido pelo poder
público é, sem dúvida, desarrazoado.

JURISPRUDÊNCIA
Art. 20, inciso II – incompatibilidade da advocacia com membros de órgãos do
Poder Judiciário. Interpretação de conformidade a afastar da sua abrangência os
membros da Justiça Eleitoral e os juízes suplentes não remunerados. (ADI n. 1127
MC /DF. Min. Rel. Paulo Brossard. Tribunal Pleno. DJ 29.6.01)

Além de continuarem advogando durante o exercício da atividade judicante, o TSE


decidiu, em 8/6/2010, que seus membros, da classe dos advogados, não precisam cumprir,
ao término de sua atuação no Tribunal, a “quarentena” estabelecida no art. 95, parágrafo
único, inc. V, da CF.

Art. 95. Os juízes gozam das seguintes garantias:


(...)
Parágrafo único. Aos juízes é vedado:
(...)
V – exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, antes de decorri-
do três anos do afastamento do cargo por aposentadoria ou exoneração (incluído
pela Emenda Constitucional n.45, de 2004).

Portanto, esses ex-membros não precisam esperar 3 (três) anos para atuar no juízo ou
tribunal do qual se afastaram.
Para finalizar, cabe somente lembrar que, a exemplo dos ministros provenientes do STF
e STJ, aqui o processo de escolha dos ministros substitutos é idêntico ao dos ministros efe-
tivos, ou seja, nomeação do presidente da República a partir de lista tríplice elaborada pelo
STF (art. 1º, parágrafo único, do RITSE)

JURISPRUDÊNCIA
QUESTÃO DE ORDEM. MAGISTRADO ELEITORAL. CLASSE JURISTA. ART.
95, PARÁGRAFO ÚNICO, V, DA CONSTITUIÇÃO. INAPLICABILIDADE. A res-
trição prevista no art. 95, parágrafo único, V, da Constituição não se aplica aos
ex-membros de Tribunais Eleitorais, oriundos da classe dos juristas.
2. Questão de ordem resolvida. (PET 3020, TSE)

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– Vedações à escolha de ministros

Existem dois tipos de vedações à escolha de ministros do TSE expressas no Código


Eleitoral (art. 16, §§ 1º e 2º, do CE).
A primeira delas, constante no art. 16, § 2º, do CE, afirma que não podem fazer parte
do Tribunal pessoas que tenham entre si parentesco, ainda que por afinidade, até o 4º grau,
excluindo-se, nesse caso, a que tiver sido escolhida por último. Essa vedação se aplica
a todos os membros do TSE, não importando a classe do ministro, se jurista, STF ou STJ.
Para que não tenha dúvidas, veja a seguir as principais relações de parentesco, com o
respectivo grau, nas quais é vedada a ocorrência no TSE, e em qualquer tribunal eleitoral.

RELAÇÕES DE PARENTESCO POR CONSANGUINIDADE

RELAÇÃO DE PARENTESCO GRAU DE PARENTESCO


PAIS E FILHOS 1º GRAU
IRMÃOS 2º GRAU
NETOS E AVÔS 2º GRAU
BISNETOS E BISAVÔS 3º GRAU
TRINETOS E TRISAVÔS 4º GRAU
TIOS E SOBRINHOS 3º GRAU
PRIMOS 4º GRAU

RELAÇÕES DE PARENTESCO POR AFINIDADE

RELAÇÃO DE PARENTESCO GRAU DE PARENTESCO


GENROS E SOGROS(AS) 1º GRAU
NORAS E SOGROS(AS) 1º GRAU
FILHOS E PADRASTOS 1º GRAU
FILHOS E MADRASTAS 1º GRAU
CUNHADOS 2º GRAU

Para não termos dúvidas acerca da ocorrência desse impedimento, vamos a um


caso prático.

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Professor: Weslei Machado

EXEMPLO
O ministro A é nomeado para compor o TSE na classe do STJ. Após algum tempo,
seu filho B é nomeado ministro do STF e, por eleição, em escrutínio secreto naquela
Corte, é escolhido para compor o TSE. Isso é possível? Claro que não! Enquanto
o ministro A, da classe do STJ, estiver no TSE, seu filho B, ministro do STF, não
poderá compor o Tribunal.

A outra vedação, que se aplica somente aos membros da classe dos advogados
(art. 16, § 2º, do CE), afirma que a escolha desses membros não poderá recair em cidadão
que esteja nas situações listadas a seguir.
a) Ocupe cargo público de que seja demissível ad nutum (cargo em comissão).
b) Seja diretor, proprietário ou sócio de empresa beneficiada com subvenção, privilégio,
isenção ou favor em virtude de contrato com a administração pública.
c) Exerça mandato de caráter político, federal, estadual ou municipal.
Ambas as vedações são aplicáveis tanto aos membros efetivos quanto aos membros
substitutos do Tribunal.

• Presidente, vice-presidente e corregedor-geral eleitoral

Os ocupantes dos cargos de presidente e vice-presidente do TSE e Corregedor-Geral


Eleitoral estão definidos no art. 119, parágrafo único, da CF. Segundo esse dispositivo consti-
tucional, o TSE elegerá seu Presidente e o Vice-Presidente dentre os ministros da classe do
STF, enquanto o cargo de Corregedor-Geral Eleitoral deverá recair sobre um de seus mem-
bros provenientes do STJ

Veja a seguir um quadro resumo sobre a matéria.

CARGO MEMBRO DO TSE


PRESIDENTE MINISTRO DO STF
VICE-PRESIDENTE MINISTRO DO STF
CORREGEDOR-GERAL ELEITORAL MINISTRO DO STJ

Temporalidade dos ministros

Na Justiça Eleitoral, como visto, aplica-se o princípio da temporariedade do exercício


das funções eleitorais. Esse princípio está inscrito no art. 121, § 2º, nos seguintes termos:

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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Art. 121. Omissis


§ 2º - Os juízes dos tribunais eleitorais, salvo motivo justificado, servirão por dois
anos, no mínimo, e nunca por mais de dois biênios consecutivos, sendo os subs-
titutos escolhidos na mesma ocasião e pelo mesmo processo, em número igual
para cada categoria.

Os membros de tribunais eleitorais são escolhidos para exercerem as funções eleitorais


por um período de, no mínimo, 2 (dois) anos, somente podendo se afastar antes do término
do mandato em razão de um motivo justificado.
A despeito do mandato de 2 (dois) anos, é possível que haja a recondução de um
membro do TSE para um único período subsequente, também de 2 (dois) anos. Um terceiro
mandato em sequência é vedado.
Veja a seguir uma hipótese didática sobre o assunto.

EXEMPLO
Imagine, por hipótese, que, em janeiro de 2032, João da Silva, ministro do STF,
torne-se ministro efetivo do TSE. Passados dois anos (2032 – 2033), finda o seu
biênio obrigatório, também chamado 1º biênio. A partir daí, ele ainda poderá exer-
cer um 2º biênio (2034 – 2035) sem que haja qualquer impedimento, desde que o
STF o eleja por meio de um escrutínio secreto. Agora, findo os dois biênios, um 3º
biênio (2036 – 2037) está vedado.

Em casos de recondução, os membros do TSE devem submeter-se ao mesmo pro-


cesso de escolha originário: se membros provenientes de Tribunais (STF ou STJ), deverão
ser eleitos, por meio de voto secreto, nos seus respectivos tribunais; se membros provenien-
tes da advocacia, deverão ser nomeados pelo presidente da República a partir de lista tríplice
elaborada pelo STF.

Tribunal Regional Eleitoral

• Jurisdição e sede do TRE

O Tribunal Regional Eleitoral (TRE) é órgão colegiado de 2ª instância da Justiça Eleito-


ral. Em cada Estado da Federação e no Distrito Federal, há um TRE, com jurisdição em todo
o território do respectivo Estado/Distrito Federal, na matéria afeta a sua competência, nos
termos do art. 120, da CF.

Art. 120. Haverá um Tribunal Regional Eleitoral na capital de cada Estado e no


Distrito Federal.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

Veja abaixo um esquema didático para facilitar o seu estudo.

• Composição do TRE

O TRE é composto por 7 (sete) juízes, sendo sua composição denominada de mista
ou eclética (Ramayana, 2006, p. 25). Isso porque em sua estrutura há juízes tanto do Poder
Judiciário da União (Juiz Federal), quanto do Poder Judiciário Estadual (Desembargado-
res e Juízes de Direito) e da classe ou categoria dos advogados, nos termos do art. 120, §
1º, da CF.

Art. 120. Omissis


§ 1º - Os Tribunais Regionais Eleitorais compor-se-ão:
I – mediante eleição, pelo voto secreto:
a) de dois juízes dentre os desembargadores do Tribunal de Justiça;
b) de dois juízes, dentre juízes de direito, escolhidos pelo Tribunal de Justiça;
II – de um juiz do Tribunal Regional Federal com sede na Capital do Estado ou no
Distrito Federal, ou, não havendo, de juiz federal, escolhido, em qualquer caso,
pelo Tribunal Regional Federal respectivo;
III – por nomeação, pelo Presidente da República, de dois juízes dentre seis ad-
vogados de notável saber jurídico e idoneidade moral, indicados pelo Tribunal
de Justiça.

Esquematicamente, pode-se representar a composição do TRE da seguinte forma:

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

COMPOSIÇÃO DO TRE

Uma primeira e importante observação é a de que, diferentemente da composição do


TSE, a composição do TRE é taxativa. Não há aqui a expressão “no mínimo”, encontrada na
descrição da composição do TSE. Em razão disso, o TRE não pode ter a sua composição
modificada por lei infraconstitucional, nem para mais e nem para menos.

Analisando a composição dos TREs, pode-se afirmar, ainda, que todos eles terão 7
(sete) juízes. No entanto, não se pode afirmar que haverá identidade na sua composição sob
o aspecto qualitativo. Em alguns TREs teremos 2 (dois) desembargadores do TJ, 2 (dois)
juízes de direito, 2 (dois) advogados e 1 (um) juiz do TRF (2ª instância da Justiça Federal),
enquanto em outros, no lugar deste último membro – juiz do TRF – haverá um juiz federal (1ª
instância da Justiça Federal).

E por que isso acontece?

A resposta é muito simples. Sabe-se que existem apenas 5 (cinco) Tribunais Regionais
Federais no Brasil, cada um deles representando uma região.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

TRIBUNAIS REGIONAIS FEDERAIS – REGIÕES

REGIÃO SEDE
TRF 1ª REGIÃO BRASÍLIA
TRF 2ª REGIÃO RIO DE JANEIRO
TRF 3ª REGIÃO SÃO PAULO
TRF 4ª REGIÃO PORTO ALEGRE
TRF 5ª REGIÃO RECIFE
TRF 6ª REGIÃO MINAS GERAIS

Lembre-se agora que o art. 120, § 1º, inc. II, da CF, afirma que nos Estados onde houver
sede de TRF, um juiz deste tribunal será escolhido para compor o respectivo TRE. Logo, o
TRE-DF, TRE-RJ, TRE-SP, TRE-RS, TRE-MG e TRE-PE (sedes de TRF) possuem em suas
respectivas composições um juiz do TRF (órgão de 2ª instância da Justiça Federal). De modo
diverso, nos demais TREs, onde não há sede de TRF, no lugar do juiz de TRF temos, neces-
sariamente, um juiz federal (órgão de 1ª instância da Justiça Federal).
Passa-se à análise da forma de escolha de juízes dos TREs, tanto daqueles provenien-
tes de Tribunais, quanto daqueles oriundos da advocacia.

• Processo de escolha de membros do TRE

Da mesma forma que fizemos ao estudar a escolha de membros do TSE, vamos, dida-
ticamente, dividir o estudo da escolha de juízes do TRE.
a) Escolha de juízes dentre desembargadores e juízes de Direito da Justiça Estadual.
b) Escolha de juiz do TRF/Justiça Federal.
c) Escolha de juízes dentre advogados (ou juristas como alguns preferem).

• Escolha de membros do TRE das classes de desembargador/TJ e juiz de direito/JE

Os desembargadores do TJ (2 juízes) e juízes de Direito da Justiça Estadual (2 juízes)


são escolhidos para compor o TRE em eleição, realizada no TJ, na qual o voto é secreto
(art. 120, § 1º, inc. I, da CF).

Art. 120. Omissis


§ 1º - Os Tribunais Regionais Eleitorais compor-se-ão:
I – mediante eleição, pelo voto secreto:
a) de dois juízes dentre os desembargadores do Tribunal de Justiça;
b) de dois juízes, dentre juízes de direito, escolhidos pelo Tribunal de Justiça;

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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Considerando que a escolha desses membros se dá por eleição, qualquer um dos


desembargadores ou juízes de direito da Justiça Estadual, independente da escala de anti-
guidade, pode ser eleito para compor o TRE. Outra conclusão que se pode tirar da análise do
processo de escolha desses juízes é que nele não há qualquer participação do Presidente
da República.
Na mesma ocasião e pelo mesmo processo – eleição, pelo voto secreto – são escolhidos
os respectivos juízes substitutos, em número igual para cada uma das classes ou categorias.
A escolha dos substitutos em igual número se faz necessário em razão da substituição dos
juízes efetivos obedecerem à classe/categoria ao qual estão vinculados. Assim, membros
provenientes do TJ, na qualidade de desembargadores, são substituídos por juízes subs-
titutos escolhidos também entre os desembargadores do TJ, sendo assim para as demais
classes/categorias.

• Escolha de membros do TRE da classe do TRF/JF

Como já vimos, para a escolha do membro do TRE na classe do TRF/JF, há duas pos-
sibilidades:
a) nos Estados onde houver Sede de TRF, é escolhido um juiz do TRF;
b) nos Estados onde não houver sede de TRF, é escolhido um juiz federal.

Art. 120. Omissis


§ 1º - Os Tribunais Regionais Eleitorais compor-se-ão:
I – mediante eleição, pelo voto secreto:
a) de dois juízes dentre os desembargadores do Tribunal de Justiça;
b) de dois juízes, dentre juízes de direito, escolhidos pelo Tribunal de Justiça
II – de um juiz do Tribunal Regional Federal com sede na Capital do Estado ou no
Distrito Federal, ou, não havendo, de juiz federal, escolhido, em qualquer caso,
pelo Tribunal Regional Federal respectivo;

A escolha desse juiz do TRE na classe do TRF/JF não ocorre por meio de elei-
ção. A escolha é feita arbitrariamente pelo TRF sem qualquer tipo de eleição entre
seus membros.

Isso não é difícil de perceber após uma leitura cuidadosa do art. 120 da CF/88. Veja que
a menção à necessidade de eleição, pelo voto secreto, somente se aplica às alíneas “a” e
“b” do inc. I do referido artigo. Não se aplica, de maneira alguma, ao inc. II, o que desobriga
o TRF de realizar qualquer eleição para a escolha de membro de TRE.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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• Escolha de membros do TRE da classe dos advogados

Compete ao presidente da República nomear 2 (dois) juízes do TRE da classe dos


advogados, escolhidos dentre 6 (seis) advogados de notável saber jurídico e idoneidade
moral, indicados em lista tríplice pelo TJ (art. 120, § 1º, inc. III, da CF).

§ 1º Os TRE’s compor-se-ão:
(...)
III – por nomeação, pelo presidente da República, de dois Juízes dentre seis advo-
gados de notável saber jurídico e idoneidade moral, indicados pelo TJ.

Aqui oportuno se faz algumas observações importantes.


A primeira delas se refere ao fato de a CF exigir que a escolha, tanto para ministros
do TSE, quanto para juízes do TRE, na classe dos advogados, ocorra tão somente entre
advogados, substituindo a expressão “cidadãos”, contida no art. 25, inc. III, do CE, pela nova
expressão “advogados”, do art. 120, § 1º, inc. III, do seu texto.
Ainda sobre as modificações do art. 25, inc. III, do CE, introduzidas pelo texto do art.
120, § 1º, inc. III da CF, a nova redação substituiu a expressão “reputação ilibada” por “ido-
neidade moral”. Entretanto, essa alteração não modifica em nada o conteúdo do texto. Na
verdade, “considera-se detentor de reputação ilibada aquele desfruta, no âmbito da socie-
dade, de reconhecida idoneidade moral, que é a qualidade da pessoa íntegra, sem mancha,
incorrupta”. Foi essa a resposta da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) à
consulta formulada pelo então presidente do Senado, senador Antônio Carlos Magalhães,
no sentido de se aclarar o conceito constitucional de reputação ilibada. Ou seja, ambas as
expressões cuidam da mesma coisa.
Atente-se ainda para o seguinte fato. A CF/88 não se refere à lista sêxtupla (infelizmente
alguns autores ainda cometem esse erro), a menção a seis advogados se deve ao fato de
haver duas vagas para esta classe.
Dessa forma, para cada uma dessas vagas, o TJ encaminha uma lista tríplice ao presi-
dente da República, para que esse proceda à nomeação. No entanto, esse encaminhamento
não ocorre de forma direta do TJ para o presidente da República. A lista tríplice é elaborada
no TJ e encaminhada ao TSE para homologação dos nomes nela presentes (art. 25, § 1º,
do CE). Caso o TSE entenda que algum pretenso juiz não preenche as condições estabele-
cidas na CF (notável saber jurídico e idoneidade moral), poderá solicitar ao respectivo TRE
que faça a substituição do candidato. Caso a Corte Suprema Eleitoral entenda presentes em
todos os candidatos os requisitos constitucionais, procede ao encaminhamento da lista trí-
plice ao presidente da República.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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ATENÇÃO
Aqui cabe a mesma observação feita anteriormente quanto à lista tríplice para escolha dos
membros do TSE. Uma vez elaborada pelo TJ e homologada pelo TSE, o presidente da
República não poderá recusar a lista tríplice, sendo que sua escolha deve recair, obrigato-
riamente, entre um dos advogados nela constante.

LISTA TRÍPLICE

COMPETENTE
REQUISITOS RESPONSÁVEL
PARA SUA
NECESSÁRIOS PELA NOMEAÇÃO
ELABORAÇÃO
IDONEIDADE MORAL PRESIDENTE DA
TJ
NOTÁVEL SABER JURÍDICO REPÚBLICA

Outra importante observação se relaciona com a ausência da OAB no processo de


escolha dos juízes do TRE da classe dos advogados. A exemplo da lista tríplice para a esco-
lha de membros do TSE, a lista tríplice levada ao presidente da República para escolha de
juízes do TRE é elaborada única e exclusivamente pelo tribunal competente, nesse caso, o
TJ, sem qualquer participação da OAB.

JURISPRUDÊNCIA
Tribunal Regional Eleitoral. Juízes da classe de Advogados. Artigos 120, § 1º, inc.
III, e 94, parágrafo único, da Constituição. Compete exclusivamente ao Tribunal
de Justiça do Estado a indicação de advogados, para composição de Tribunal
Regional Eleitoral, nos termos do art. 120, § 1º, inc. III, da Constituição, sem a
participação, portanto, do órgão de representação da respectiva classe, a que se
refere o parágrafo único do art. 94, quando trata da composição do quinto nos
Tribunais Regionais Federais, dos Estados, do Distrito Federal e Territórios. (MS
21.060, DJ de 23.8.1991)

Cumpre-nos, ainda, fazer duas importantes observações.


A primeira é a de que a permissão dada aos ministros do TSE da classe dos advoga-
dos de continuarem exercendo a advocacia, vedado apenas o seu exercício nos tribunais
eleitorais, também é aplicável aos juízes de TRE, de idêntica classe. O motivo é também de
ordem financeira e se revela no fato de tais membros, no exercício da magistratura no TRE,
receberem apenas uma gratificação de presença e representação e mais nada.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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JURISPRUDÊNCIA
Art. 20, inciso II – incompatibilidade da advocacia com membros de órgãos do
Poder Judiciário. Interpretação de conformidade a afastar da sua abrangência os
membros da Justiça Eleitoral e os juízes suplentes não remunerados. (ADI n. 1127
MC /DF. Min. Rel. Paulo Brossard. Tribunal Pleno. DJ 29.6.01)

A segunda, a exemplo do que ocorre com os membros do TSE na classe dos advoga-
dos, revela-se na desnecessidade dos juízes do TRE, da classe dos advogados, cumprirem,
ao término de sua atuação no Tribunal, a “quarentena” estabelecida no art. 95, parágrafo
único, inc. V, da CF.,

Art. 95. Os juízes gozam das seguintes garantias:


(...)
Parágrafo único. Aos juízes é vedado:
(...)
V – exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, antes de decorri-
do três anos do afastamento do cargo por aposentadoria ou exoneração (incluído
pela Emenda Constitucional n.45, de 2004).

JURISPRUDÊNCIA
QUESTÃO DE ORDEM. MAGISTRADO ELEITORAL. CLASSE JURISTA. ART.
95, PARÁGRAFO ÚNICO, V, DA CONSTITUIÇÃO. INAPLICABILIDADE. A res-
trição prevista no art. 95, parágrafo único, V, da Constituição não se aplica aos
ex-membros de Tribunais Eleitorais, oriundos da classe dos juristas.
2. Questão de ordem resolvida. (PET 3020, TSE)

Por último, mas não menos importante, tem-se que o processo de escolha dos juízes
substitutos do TRE é idêntico ao dos juízes efetivos, ou seja, para os juízes substitutos oriun-
dos da advocacia, dá-se a nomeação do presidente da República a partir de lista tríplice ela-
borada pelo TJ.
Agora que já explicamos o processo de escolha de todas as classes de juízes do TRE,
vamos a um quadro resumo para facilitar seu estudo e encerrar este assunto.

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JUÍZES DO TRE

(Processo de escolha)

ESCOLHIDOS QUEM ESCOLHE FORMA DE ESCOLHA


ELEIÇÃO PELO VOTO
02 DESEMBARGADORES DO TJ TJ
SECRETO
ELEIÇÃO PELO VOTO
02 JUIZES DE DIREITO TJ
SECRETO
01 JUIZ DO TRF/JF TRF ESCOLHA ARBITRÁRIA
LISTA TRÍPLICE ELABORADA
02 ADVOGADOS PRESIDENTE DA REPÚBLICA
PELO TJ

• Vedações à escolha dos membros do TRE

As vedações à escolha dos juízes do TRE são as mesmas aplicadas à escolha dos
membros do TSE.
As vedações expressas no Código Eleitoral aplicáveis aos juízes do TRE estão elenca-
das no art. 25, §§ 6º e 7º, do CE.
A primeira delas, constante no art. 25, § 6º, do CE, afirma que não podem fazer parte
do TRE pessoas que tenham entre si parentesco, ainda que por afinidade, até o 4º grau,
excluindo-se, neste caso, a que tiver sido escolhida por último. Essa vedação se aplica
a todos os juízes do TRE, não importando a classe/categoria do ministro.
Caso você ainda não tenha gravado os graus de relação de parentesco, reveja as prin-
cipais relações de parentesco, explicitadas nos quadros “Relação de Parentesco por Con-
sanguinidade” e “Relação de Parentesco por Afinidade”.
Para não termos dúvidas acerca da ocorrência desse impedimento, vamos a um
caso prático.

EXEMPLO
O desembargador “A” é nomeado para juiz do TRE. Após algum tempo, seu cunhado
“B” é nomeado juiz do TRF e escolhido para compor o mesmo TRE. Isso é possí-
vel? Claro que não! Enquanto o juiz “A”, da classe dos desembargadores do TJ,
estiver no TRE, seu cunhado “B”, juiz do TRF, não poderá compor o TRE.

A outra vedação (art. 25, § 7º, do CE) afirma que a escolha desses membros não
poderá recair naqueles que estejam nas situações listadas abaixo.
a) Ocupe cargo público de que seja demissível ad nutum (cargo em comissão).
b) Seja diretor, proprietário ou sócio de empresa beneficiada com subvenção, privilégio,
isenção ou favor em virtude de contrato com a administração pública.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

c) Exerça mandato de caráter político, federal, estadual ou municipal.


Para finalizar, ambas as vedações são aplicáveis tanto aos membros efetivos quanto
aos membros substitutos do TRE.

• Presidente, vice-presidente e corregedor-regional eleitoral

Os ocupantes dos cargos de presidente e vice-presidente do TRE estão definidos no


art. 120, § 2º, da CF. Segundo esse dispositivo constitucional, o TRE elegerá seu presidente
e o vice-presidente dentre os desembargadores do TJ que dele fazem parte. Considerando
que temos 2 (dois) desembargadores na composição do TRE, um deles sempre será o pre-
sidente, cabendo ao outro a vice-presidência.
De modo diverso, não há uma regra única no âmbito dos TREs para definir dentre seus
juízes a quem caberá o cargo de Corregedor-Regional Eleitoral, sendo essa definição afeta
ao regimento interno de cada Corte Regional.

Veja a seguir um quadro resumo sobre a matéria.

CARGO MEMBRO DO TRE


PRESIDENTE DESEMBARGADOR DO TJ
VICE-PRESIDENTE DESEMBARGADOR DO TJ
CORREGEDOR-REGIONAL ELEITORAL REGIMENTO INTERNO DE CADA TRE

• Temporalidade no cargo de membro do TRE

Neste último tópico acerca do TRE, estudaremos sobre a temporalidade de seus mem-
bros no exercício das funções eleitorais.
Como vimos antes, na Justiça Eleitoral, em detrimento à garantia da vitaliciedade, apli-
ca-se o princípio da temporariedade do exercício das funções eleitorais, ou seja, todos os
seus membros — integrantes do TSE ou TRE, juiz eleitoral ou componente de junta elei-
toral — exercem a função eleitoral por um período determinado.
Para os juízes dos tribunais eleitorais — TSE e TRE — esse período de exercício das
funções eleitorais está expressamente determinado no art. 121, § 2º, nos seguintes termos:

Art. 121. Omissis


§ 2º - Os juízes dos tribunais eleitorais, salvo motivo justificado, servirão por dois
anos, no mínimo, e nunca por mais de dois biênios consecutivos, sendo os subs-
titutos escolhidos na mesma ocasião e pelo mesmo processo, em número igual
para cada categoria.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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Portanto, os juízes do TRE são escolhidos para exercerem as funções eleitorais por um
período de, no mínimo, 2 (dois) anos (um biênio), somente podendo se afastar antes do tér-
mino do mandato em razão de um motivo justificado.
Segundo o art. 14, § 1º, do CE, em regra, os biênios serão contados a partir da
posse, ininterruptamente, sem o desconto de qualquer afastamento nem mesmo o
decorrente de licença, férias, ou licença especial.

EXEMPLO
Imagine, por hipótese, que, em janeiro de 2032, Antônio se torne juiz efetivo de um
TER e, em janeiro de 2033, entre de licença médica e retorne ao Tribunal somente
em outubro do mesmo ano. Considerando que não há, durante o período de sua
licença médica, suspensão da contagem do seu biênio, passados dois meses do
seu retorno (novembro e dezembro de 2033), ocorrerá o término do seu 1º biênio
(2032 – 2033).

Existe, no entanto, uma exceção a essa regra. O art. 14, § 3º, do CE, afirma que da
homologação da respectiva convenção partidária até a apuração final da eleição, não pode-
rão servir como juízes nos Tribunais Eleitorais, ou como juiz eleitoral, o cônjuge, parente
consanguíneo legítimo ou ilegítimo, ou afim, até o segundo grau, de candidato a cargo eletivo
registrado na circunscrição (incluído pela Lei n. 4.961, de 4/5/1966). Nesse caso, segundo
o art. 14, § 1º c/c § 3º, do CE, esse período de afastamento dos juízes impedidos não é
computado para fins de contagem do biênio.
A regra de contagem ininterrupta de biênios, bem como a exceção do art. 14, § 3º c/c
§ 1º, do CE, é aplicável a todos os membros da Justiça Eleitoral, incluindo aí os minis-
tros do TSE.
Agora que você já sabe que os juízes do TRE (e os demais membros da Justiça Elei-
toral) exercem as funções eleitorais por, no mínimo, um biênio (2 anos) e que a contagem
desses biênios se faz de forma ininterrupta, com uma única exceção contida no art. 14, § 3º,
do CE, vamos estudar a possibilidade de, ao término do 1º biênio de mandato, haver recon-
dução ao cargo.
Sobre esse assunto temos que, a despeito do mandato de 2 anos (um biênio), é possível
haver a recondução de um membro do TRE para um único período subsequente, também de
2 anos (2º biênio). No entanto, um terceiro mandato em sequência (3º biênio) é vedado por lei.

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Veja a seguir uma hipótese didática sobre o assunto.

EXEMPLO
Imagine, por hipótese, que, em janeiro de 2032, Antônio, desembargador do TJ,
torne-se juiz efetivo do TRE. Passados dois anos (2032 – 2033), finda o seu biênio
obrigatório, também chamado 1º biênio. A partir daí, poderá ele ainda exercer um 2º
biênio (2034 – 2035) sem que haja qualquer impedimento, desde que o TJ o eleja
por meio de um escrutínio secreto. Agora, findo os dois biênios, um 3º biênio (2036
– 2037) está vedado.

Em casos de recondução, os membros do TRE devem submeter-se ao mesmo pro-


cesso de escolha originário: se membros provenientes do TJ, deverão ser eleitos, por meio
de voto secreto, nos seus respectivos tribunais; se membro oriundo do TRF/JF, designado
pelo próprio tribunal; se membros provenientes da advocacia, deverão ser nomeados pelo
presidente da República a partir de lista tríplice elaborada pelo TJ.

Juiz Eleitoral

Como visto, a Justiça Eleitoral não possui um corpo próprio de magistrados. Desse
modo, as funções eleitorais em qualquer instância da Justiça Eleitoral — instância superior
(TSE), 2ª instância (TRE) e 1ª instância (Juiz Eleitoral) — são exercidas por um corpo de
juízes “emprestado” de outros Tribunais e, também, da advocacia.
Especificamente na 1ª instância, a função eleitoral, na qualidade de juiz eleitoral, é
exercida monocraticamente por um juiz de direito componente da Justiça Estadual. Assim,
temos na Justiça Eleitoral:

Justiça eleitoral

(Órgãos e origem dos membros)

ÓRGÃO DA JUSTIÇA ELEITORAL ORIGEM DOS MEMBROS


TSE STF, STJ e ADVOCACIA
TRE Desemb. e Juízes da JUSTIÇA ESTADUAL, TRF/JF e ADVOCACIA
JUIZ ELEITORAL JUIZ DE DIREITO DA JUSTIÇA ESTADUAL

• Processo de escolha do juiz eleitoral

A designação do juiz de direito responsável pelas funções eleitorais é atribuição do


TRE. Essa escolha deverá recair obrigatoriamente em um juiz de direito da Justiça Estadual
que esteja em pleno exercício de suas atividades e obedecer ainda ao seguinte:

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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a) Se na comarca houver apenas um juiz, a escolha recairá sobre ele, passando a acu-
mular as funções eleitorais.
b) Caso haja na comarca mais de um juiz de direito, o TRE deverá designar o juiz elei-
toral observando o critério da antiguidade na comarca, atendendo ao sistema de rodízio, que,
por sua vez, pode ser afastado, pelo TRE, por maioria, em razão da conveniência do serviço
eleitoral.
Nesse processo de escolha junto à magistratura estadual, o TRE poderá escolher
magistrado vitalício, ou não, no cargo de juiz de direito. Desse modo, mesmo que o juiz
estadual esteja ainda em período de estágio probatório do seu cargo, isso não o impedirá de
assumir as funções eleitorais. Uma vez escolhido, o juiz eleitoral despachará todos os
dias na sede de sua zona eleitoral (art. 34 do CE).

• Jurisdição do juiz eleitoral

Antes de definirmos a jurisdição do juiz eleitoral, é necessário tecer algumas considera-


ções sobre a divisão geográfica da Justiça Eleitoral para facilitar o seu entendimento.
Na Justiça Eleitoral podemos distinguir a zona eleitoral e a seção eleitoral.
A zona eleitoral é a área de jurisdição do Juiz Eleitoral. Uma zona eleitoral pode abran-
ger mais de um município, assim como um município pode conter mais de uma zona eleitoral.
No município do Rio de Janeiro, por exemplo, temos várias zonas eleitorais e vários juízes
eleitorais, fato esse perfeitamente adequado ao grande número de eleitores existentes, haja
vista a impossibilidade fática da organização dessa massa de eleitores por apenas um juiz
eleitoral. Ao contrário, em municípios minúsculos, com uma quantidade muito pequena de
eleitores é comum a junção desses municípios em apenas uma zona eleitoral, vinculada a
um único juiz eleitoral.
Por sua vez, a seção eleitoral é uma subdivisão da zona. Trata-se da menor unidade na
divisão judiciária eleitoral. Na prática, é o local onde os eleitores votam.
A partir dessas informações acerca da divisão geográfica da Justiça Eleitoral pode-se
afirmar que cada juiz eleitoral é responsável por uma zona eleitoral.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

• Temporalidade no cargo de juiz eleitoral

Neste último tópico sobre Juiz Eleitoral, vamos estudar sobre a temporalidade do juiz de
direito no exercício das funções eleitorais.
Embora não se tenha uma regra expressa para se definir o período em que o juiz de
direito deva exercer as funções eleitorais, segue-se a mesma lógica definida para os juízes
dos Tribunais, constante no art. 121, § 2º, da CF:

Art. 121. Omissis


§ 2º - Os juízes dos tribunais eleitorais, salvo motivo justificado, servirão por dois
anos, no mínimo, e nunca por mais de dois biênios consecutivos, sendo os subs-
titutos escolhidos na mesma ocasião e pelo mesmo processo, em número igual
para cada categoria.

Assim, o juiz eleitoral designado pelo TRE deverá servir por 2 (dois) anos, havendo
rodízio, sempre que possível.
A regra de contagem dos biênios do juiz eleitoral segue a regra geral de contagem
de biênios da Justiça Eleitoral, contida no art. 14, § 1º, do CE. Nos termos desse disposi-
tivo, os biênios devem ser contados a partir da posse, ininterruptamente, sem o desconto de
qualquer afastamento nem mesmo o decorrente de licença, férias, ou licença especial.
O art. 14, § 1 c/c § 3º, do CE, traz a única exceção à regra ininterrupta de con-
tagem. Segundo esse dispositivo, o afastamento dos juízes eleitorais em decorrência do
registro de candidatura na sua circunscrição de seu cônjuge, parente consanguíneo legítimo
ou ilegítimo, ou afim, até o segundo grau, que se inicia na data da convenção partidária que
escolheu o candidato e termina na apuração final da eleição, não é computado para fins de
contagem de biênio.

Junta Eleitoral

A junta eleitoral, assim como o juiz eleitoral, é um órgão de 1ª instância da Justiça


Eleitoral.
No entanto, diferente do juiz eleitoral, que é um órgão monocrático, a junta eleitoral é
um órgão colegiado. Além disso, sua existência se limita ao período eleitoral, enquanto o juiz
eleitoral é um órgão permanente da Justiça Eleitoral.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

Quadro comparativo

(Juízes e Juntas Eleitorais)

JUIZ ELEITORAL JUNTA ELEITORAL


1ª INSTÂNCIA 1ª INSTÂNCIA
ÓRGÃO MONOCRÁTICO ÓRGÃO COLEGIADO
ÓRGÃO PERMANENTE ÓRGÃO TRANSITÓRIO

• Composição das juntas eleitorais

A junta eleitoral é composta por um juiz de direito, que atua como presidente, e 2
(dois) ou 4 (quatro) cidadãos de notória idoneidade (art. 36 do CE). Observe que o presidente
da junta eleitoral não precisa ser um juiz de direito no exercício das funções, ou seja, não
precisa ser um juiz eleitoral. Basta, para tanto, ser um juiz de direito da Justiça Estadual, que
goze das garantias da magistratura (art. 37 do CE).
Em face da expressão “dois ou quatro cidadãos” contida na definição de sua composi-
ção, podemos, em tese, encontrar juntas eleitorais com apenas 3 (três) integrantes, sendo
1 (um) juiz de direito, na qualidade de presidente e mais 2 (dois) cidadãos; ou com 5 (cinco)
integrantes: 1 (um) juiz de direito, como presidente, e mais 4 (quatro) cidadãos.
No exercício das funções eleitorais, os membros da junta eleitoral gozam de plenas
garantias da magistratura, no que for aplicável.

Composição de junta eleitoral

(Com 5 integrantes)

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

Composição de junta eleitoral

(Com 3 integrantes)

No que concerne ao número de juntas eleitorais, pode haver uma ou várias em uma
zona eleitoral. Na verdade, o limite do número de juntas eleitorais está relacionado apenas
com o número de juízes de direito que gozem das garantias asseguradas à magistratura, e
estejam, assim, aptos a presidi-las.

• Processo de escolha dos membros da junta eleitoral

Os integrantes da junta eleitoral serão nomeados 60 dias antes da eleição pelo Presi-
dente do TRE, após aprovação do Tribunal Regional Eleitoral.
Até 10 (dez) dias antes da nomeação pelo presidente do TRE, os nomes das pessoas
indicadas para compor as juntas serão publicados no órgão oficial do Estado, podendo qual-
quer partido, no prazo de 3 (três) dias, em petição fundamentada, impugnar as indicações
(art. 36, § 2º, do CE).

NOMEAÇÃO DE INTEGRANTES DA JUNTA ELEITORAL

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

• Vedações à escolha de membros da junta eleitoral

Assim como vimos nos demais órgãos da Justiça Eleitoral, existem algumas vedações
a serem observadas na escolha de membros de junta eleitoral. Nos termos do art. 36, § 3º,
do CE, não podem ser nomeados membros das juntas:
a) os candidatos e seus parentes, ainda que por afinidade, até o segundo grau, inclu-
sive, e bem assim o cônjuge. Dessa forma, não pode ser integrante de junta eleitoral:

CIDADÃOS QUE NÃO PODEM COMPOR JUNTA ELEITORAL

RELAÇÃO DE PARENTESCO COM CANDIDATO GRAU DE PARENTESCO


POR CONSANGUINIDADE
AVÔS 2º GRAU
PAIS 1º GRAU
FILHOS 1º GRAU
NETOS 2º GRAU
POR AFINIDADE
GENROS 1º GRAU
NORAS 1º GRAU
SOGRA 1º GRAU
SOGRO 1º GRAU
PADRASTO 1º GRAU
MADRASTA 1º GRAU
CUNHADOS 2º GRAU

b) os membros de diretorias de partidos políticos devidamente registrados e cujos


nomes tenham sido oficialmente publicados;
c) as autoridades e agentes policiais, bem como os funcionários no desempenho de
cargos de confiança do Executivo;
d) os que pertencerem ao serviço eleitoral.
Acrescente ainda a essas vedações a participação de parentes em qualquer grau ou
de servidores da mesma repartição pública ou empresa privada na mesma Junta Eleitoral
(art. 64, da Lei n. 9.504/97).

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

Para que não reste nenhuma dúvida, vamos a uma hipótese didática.

EXEMPLO
Imagine, por hipótese, que João, servidor do STF, seja pai de Antônio, funcionário de
um Shopping Center. Suponha ainda que não tenham eles nenhum tipo de paren-
tesco, seja por consanguinidade ou afinidade, com os candidatos aos cargos de
uma determinada eleição e não sejam membros de diretorias de partidos políticos.
Em razão de suas qualidades pessoais, João e Antônio são nomeados para compor
a mesma Junta Eleitoral. Isso é possível?
Claro que não! Apesar de não incidirem individualmente em nenhuma das veda-
ções para integrar uma junta eleitoral, os dois — pai e filho — não podem compor
a mesma junta eleitoral (art. 64 da Lei n. 9.504/97).

Competências da Justiça Eleitoral

Estudar a competência da Justiça Eleitoral é estudar as competências dos seus órgãos:


TSE, TREs, Juízes Eleitorais e Juntas Eleitorais. Partindo desse pressuposto, um tanto lógico,
é muito comum o estudo dessa matéria ser exaustivo e enfadonho, haja vista que, em geral,
os livros se limitam a transcrever as competências de cada órgão contidas no Código Elei-
toral, com um ou outro comentário que, infelizmente, não acrescentam muito ao texto legal.
Aqui, faremos diferente! Ao invés de estudarmos uma a uma as competências de cada
órgão, vamos, na 1ª parte desta explanação, estudá-las por assunto e comparativamente.
Com efeito, ao analisar, por exemplo, a competência para o registro de candidatura, vamos
fazê-la, de uma só vez, sob o enfoque do TSE, do TRE e do Juiz Eleitoral. Somente algumas
competências que não possam ser estudadas com ou uso dessa metodologia e que, obvia-
mente, mereçam destaque serão tratadas isoladamente na 2ª e última parte deste tópico.
É importante frisar que a Justiça Eleitoral é uma Justiça peculiar, que apresenta algu-
mas funções específicas e próprias, não encontradas nas demais. Por isso, vamos relembrar
rapidamente essas funções.
a) Função administrativa – trata-se da função de organização do eleitoral, administra-
ção e fiscalização das eleições.
b) Função consultiva – função de responder, sobre matéria eleitoral, as perguntas que
lhe forem feitas sobre a interpretação e aplicação das leis em tese.
c) Função jurisdicional – a Justiça Eleitoral resolve com caráter de definitividade lití-
gios eleitorais que surjam, aplicando o direito eleitoral ao caso concreto.
d) Função regulamentar – o TSE pode expedir normas regulamentares para dar apli-
cação ao Código Eleitoral. Para tanto, poderá expedir instruções. Esse poder foi atribuído
ao TSE pelo art. 1º, parágrafo único, e art. 23-A, ambos do CE e pelo art. 105 da Lei n.
9.504/1997.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

Além disso, cumpre informar que a CF, no seu art. 121, deixou a cargo de lei comple-
mentar a definição da competência dos órgãos da Justiça Eleitoral.

Art. 121. Lei complementar disporá sobre a organização e competência dos tribu-
nais, dos juízes de direito e das juntas eleitorais.

Na verdade, para a definição da competência dos órgãos da Justiça Eleitoral, não houve
a edição de nenhuma lei complementar, e sim a recepção da Lei Ordinária n. 4.737/65 —
Código Eleitoral — com status de lei complementar, especificamente na parte que trata da
definição de competência dos órgãos da Justiça Eleitoral.
Portanto, o estudo da competência dos órgãos da Justiça Eleitoral revela-se no estudo
do Código Eleitoral, mais precisamente dos quatro títulos da sua “Parte Segunda”.

• Estudo comparativo das competências da justiça eleitoral


– Datas das eleições

Segundo o art. 23, VI, do CE, compete privativamente ao TSE fixar as datas para as
eleições de presidente e vice-presidente da República, senadores e deputados federais,
quando não o tiverem sido por lei.
De modo similar, compete privativamente ao TRE, nos termos do art. 30, IV, do CE,
fixar a data das eleições de governador e vice-governador, deputados estaduais, prefeitos,
vice-prefeitos, vereadores e juízes de paz, quando não determinada por disposição constitu-
cional ou legal.
Da análise desses dispositivos legais, conclui-se, de imediato, que a competência dos
órgãos da Justiça Eleitoral — TSE e TRE — para fixar datas de eleições a cargos eletivos é
residual. Isso significa que se tais datas já houverem sido objeto de fixação em lei, ficam sem
aplicação os dispositivos legais que conferem aos órgãos da Justiça Eleitoral esta tarefa.
Atualmente, em face da existência dos arts. 28 e 29, II, da CF, e arts. 1º e 2º da Lei n.
9.504/97, que fixam as datas dos referidos cargos eletivos, não se faz necessária a atuação
dos órgãos da Justiça Eleitoral.
Note-se, entretanto, que os dispositivos do CE que conferem a competência em análise
aos órgãos da Justiça Eleitoral não estão revogados, mas apenas momentaneamente sem
aplicação. Caso os dispositivos legais que hoje regem a matéria sejam revogados, podem
sim os órgãos da Justiça Eleitoral atuar no vazio legislativo.
Para facilitar seu estudo, vamos a um quadro esquemático.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

FIXAÇÃO DE DATAS DE CARGOS ELETIVOS

(Competência residual)

CARGOS ELETIVOS ÓRGÃO COMPETENTE


Presidente e vice-presidente da República
Senadores TSE
Deputados federais
Governador e vice-governador
Deputados estaduais
Prefeitos e vice-prefeitos TRE
Vereadores
Juízes de paz

– Registro de candidatura

O registro de candidatura é uma competência da Justiça Eleitoral comum a três de seus


órgãos: TSE, TRE e Juiz Eleitoral.
A definição da competência de cada órgão da Justiça Eleitoral quanto ao registro de
candidatura é definida em função da circunscrição da eleição. Assim temos:

COMPETÊNCIA: REGISTRO DE CANDIDATO

CARGO CIRCUNSCRIÇÃO COMPETENTE BASE LEGAL


Presidente
País TSE Art. 22, I, a, CE
Vice-presidente
Governador
Vice-governador
Deputado federal Estado TER Art. 29, I, a, CE
Senador
Deputado estadual
Prefeito
Vice-prefeito Município Juiz Eleitoral Art. 35, XII, CE
Vereador

– Expedição de diplomas

Os candidatos eleitos, assim como os suplentes, recebem seus diplomas assinados


pelo órgão competente da Justiça Eleitoral.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

EXPEDIÇÃO DE DIPLOMAS

CARGOS ELETIVOS COMPETENTE


PRESIDENTE DA REPÚBLICA
TSE
VICE-PRESIDENTE DA REPÚBLICA
GOVERNADOR
VICE-GOVERNADOR
DEPUTADO FEDERAL TRE
SENADOR
DEPUTADO ESTADUAL
PREFEITO
JUNTA ELEITORAL
VEREADOR

É muito comum pensar que cabe aos juízes eleitorais a expedição de diplomas de vere-
adores, prefeitos e vice-prefeitos. No entanto, observe que compete às Juntas Eleitorais
e não aos juízes eleitorais a expedição dos diplomas dos eleitos para os cargos muni-
cipais. Assim, podemos afirmar que, dentre os órgãos componentes da Justiça Eleitoral, os
juízes eleitorais são os únicos que não possuem competência para expedição de diplomas.

– Registro e cancelamento de diretório de partido político

A competência para registro e cancelamento de diretório de partido político é restrita


aos tribunais eleitorais. Assim, seja qual for o diretório, seu cancelamento ou registro não
pode ser feito por juiz eleitoral, muito menos por junta eleitoral.
O TSE cuida do cancelamento e registro dos diretórios nacionais, enquanto o TRE, dos
diretórios regionais, estaduais e municipais.

COMPETÊNCIA: CANCELAMENTO E REGISTRO DE DIRETÓRIO DE PAR-


TIDO POLÍTICO

DIRETÓRIO ÓRGÃO COMPETENTE BASE LEGAL


NACIONAL TSE Art. 22, I, a, CE
REGIONAL
ESTADUAL TRE Art. 29, I, a, CE
MUNICIPAL

– Conflito de jurisdição

O conflito de jurisdição é matéria muito cobrada em concursos públicos, pedimos-lhe


especial atenção no seu estudo.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

Conflito de jurisdição ou de competência é o choque entre autoridades jurisdicionais


que se supõem competentes (conflito positivo) ou incompetentes (conflito negativo) para fun-
cionar num mesmo processo, em relação aos mesmos atos.
Veja a seguir um quadro resumo, no qual estão dispostos os possíveis conflitos de
jurisdição envolvendo órgãos da Justiça Eleitoral, bem assim o órgão competente para
solucioná-los.

COMPETÊNCIA: CONFLITOS DE JURISDIÇÃO


ENVOLVENDO TRIBUNAIS DA JUSTIÇA ELEITORAL

CONFLITO DE JURISDIÇÃO ÓRGÃO COMPETENTE


TRE A relação funcional entre o TSE e os TREs não
X – TSE admite o conflito de jurisdição
TRE DO ESTADO A TSE
X – TRE DO ESTADO B (art. 22, I, b, do CE)
TRE DO ESTADO A TSE
X – JUIZ ELEITORAL DO ESTADO B (art. 22, I, b, do CE)
TRE
STF
X – TRIBUNAL SUPERIOR
(art. 102, I, o, da CF)
(COM EXCEÇÃO DO TSE)
TRE
X – OUTRO TRIBUNAL QUE NÃO SEJA UM STJ
TRIBUNAL SUPERIOR (art. 105, I, d, da CF/88)
(EXEMPLO: TJ)

ENVOLVENDO JUÍZES ELEITORAIS

CONFLITO DE JURISDIÇÃO ÓRGÃO COMPETENTE


TRE DO ESTADO A Não há conflito de jurisdição. A relação do juiz
X – JUIZ ELEITORAL DO ESTADO A eleitoral é de subordinação funcional ao TRE
TRE DO ESTADO A TSE
X – JUIZ ELEITORAL DO ESTADO B (art. 22, I, b, do CE)
JUIZ ELEITORAL DO ESTADO A TSE
X – JUIZ ELEITORAL DO ESTADO B (art. 22, I, b, do CE)
JUIZ ELEITORAL DO ESTADO A TRE DO ESTADO A
X – JUIZ ELEITORAL DO ESTADO A (art. 29, I, b, do CE)
JUIZ ELEITORAL
STJ
X – JUIZ DE OUTRO TRIBUNAL NÃO ELEITORAL
(art. 105, I, d, da CF/88)
(EXEMPLO: JUIZ FEDERAL)

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

Suspeição ou Impedimento

Em síntese, as exceções instrumentais de suspeição e impedimento são formas esta-


belecidas em lei com o propósito de afastar aquele que não possui capacidade subjetiva ou
compatibilidade com a causa.
Na Justiça Eleitoral, a competência para julgar as exceções e impedimentos fica restrita
aos tribunais – TRE e TSE.

EXCEÇÃO DE SUSPEIÇÃO E IMPEDIMENTO


(COMPETÊNCIA DO TSE)

EXCEÇÃO DE SUSPEIÇÃO E IMPEDIMENTO


(COMPETÊNCIA DO TRE)

Afastamento de Exercício dos Cargos Efetivos de Juízes

Os membros que compõem os órgãos da Justiça Eleitoral, com exceção dos compo-
nentes das juntas eleitorais – servem, salvo motivo justificado, por dois anos, no mínimo, e
nunca por mais de dois biênios consecutivos.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

A regra geral então é o exercício por no mínimo dois anos. Entretanto, a expressão
“salvo motivo justificado” permite, como exceção à regra, que mesmo antes de completar
dois anos de efetiva prestação jurisdicional na seara eleitoral venham os membros da Justiça
Eleitoral a se afastar do cargo. Nesse processo de pedido de afastamento dos seus mem-
bros, a atuação dos tribunais eleitorais se dá da seguinte forma:

AFASTAMENTO DE MEMBROS DA JUSTIÇA ELEITORAL

BENEFICIADO QUEM CONCEDE QUEM APROVA


JUIZ ELEITORAL TRE TRE
JUIZ DO TRE TRE TSE
MINISTRO DO TSE TSE TSE

Aqui, gostaríamos que você notasse, em especial, que o pedido de afastamento dos
membros de TREs é concedido pelo próprio tribunal regional (art. 30, III, CE), mas somente
após aprovação do TSE.
Nos demais casos, é intuitivo o processo: o TRE concede e aprova o afastamento dos
juízes eleitorais a ele vinculados; e o TSE, como órgão de cúpula da Justiça Eleitoral, con-
cede, após deliberação própria, o afastamento de seus membros (art. 23, III, CE).

Crimes Cometidos por Membros da Justiça Eleitoral

Inicialmente, é importante esclarecer que, para fins de definição da competência do


STJ e STF (e somente para fins de competência), crime eleitoral é uma espécie do gênero
crime comum. Segundo o STF, a expressão crime comum abrange todo e qualquer delito,
entre outros os crimes eleitorais, sendo utilizada em contraposição aos impropriamente
denominados crimes de responsabilidade, cuja sanção se situa na esfera política (STF, CJ
n. 6.971/92).

JURISPRUDÊNCIA
A expressão crime comum, na linguagem constitucional, é usada em contrapo-
sição aos impropriamente chamados crimes de responsabilidade, cuja sanção é
política, e abrange, por conseguinte, todo e qualquer delito, entre outros, os crimes
eleitorais. Jurisprudência antiga e harmônica do STF [...]. (CJ n. 6.971, Rel. Min.
Paulo Brossard. DJ de 21.2.92).

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

Feito esse esclarecimento inicial, cumpre informar que o art. 22, I, d, CE, que afirma a
competência do TSE para julgar os crimes eleitorais e os comuns que lhes forem conexos
cometidos pelos seus próprios juízes e pelos juízes dos Tribunais Regionais Eleitorais, está
revogado pelos arts 102, I, “c”, e 105, I, “a”, ambos da CF/88.

No que se refere aos membros do TSE, a competência para julgá-los nos crimes
penais comuns, incluindo os crimes eleitorais, é do STF. A esse respeito:

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da


Constituição, cabendo-lhe:
I – processar e julgar, originariamente:
(...)
c) nas infrações penais comuns e nos crimes de responsabilidade, os Ministros de
Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, ressalvado
o disposto no art. 52, I, os membros dos Tribunais Superiores, os do Tribunal de
Contas da União e os chefes de missão diplomática de caráter permanente; (Re-
dação dada pela Emenda Constitucional n. 23, de 1999)

Quanto aos crimes comuns, incluindo também os eleitorais, cometidos pelos membros
do TREs, a competência é do STJ.

Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:


I – processar e julgar, originariamente:
a) nos crimes comuns, os Governadores dos Estados e do Distrito Federal, e, nes-
tes e nos de responsabilidade, os desembargadores dos Tribunais de Justiça dos
Estados e do Distrito Federal, os membros dos Tribunais de Contas dos Estados e
do Distrito Federal, os dos Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais Regionais
Eleitorais e do Trabalho, os membros dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos
Municípios e os do Ministério Público da União que oficiem perante tribunais;

No que se refere aos crimes cometidos pelos juízes eleitorais, mantém-se a distinção
entre crimes eleitorais e comuns, mesmo para fins de competência. Os Juízes Eleitorais, nos
crimes eleitorais e conexos, são julgados pelo respectivo Tribunal Regional Eleitoral, como
estabelece o art. 29, I, “d” do referido código, enquanto nos crimes comuns, a competência é
do Tribunal de Justiça – TJ.

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CRIMES COMETIDOS POR MEMBROS DA JUSTIÇA ELEITORAL

(Crimes comuns e eleitorais)

MEMBRO CRIME COMPETÊNCIA


MEMBRO DO TSE COMUM (INCLUINDO O ELEITORAL) STF
MEMBRO DO TRE COMUM (INCLUINDO O ELEITORAL) STJ
JUIZ ELEITORAL ELEITORAL TRE
JUIZ ELEITORAL COMUM TJ

Remédios Constitucionais: Mandado de Segurança e Habeas Corpus

Vamos estudar esse assunto usando uma metodologia um pouco diferente da que
vínhamos utilizando.
Primeiro, vamos tratá-lo no âmbito dos tribunais eleitorais — TSE e TRE — depois, ao
final, no Juiz Eleitoral.
Inicialmente, tenha em mente que: para que o mandado de segurança seja impetrado
na justiça eleitoral, deverá ele guardar afinidade com questões eleitorais, ou seja, deverá
atacar ato de autoridades eleitorais ou afetas a elas no âmbito do processo eleitoral.
Além disso, saiba que a competência para julgar o mandado de segurança é determi-
nada pela órbita a que pertence a autoridade coatora e pela sua localização territorial, a exce-
ção dos casos expressamente estabelecidos na Constituição e nas leis infraconstitucionais.

Nos Tribunais Eleitorais – TSE e TRE

Em sede de mandado de segurança, em matéria eleitoral, o TSE deixou de ser o


órgão competente para apreciá-lo quando impetrado contra atos do presidente da República
e de ministros de Estado. Assim, restou revogado o art. 22, I, e, do CE.
Para esses casos, as novas competências acerca do mandado de segurança em maté-
ria eleitoral, passaram a ser do STF, contra atos do presidente da República (art. 102, I,
d, da CF), e do STJ, contra atos de ministros de Estado (art. 105, I, b, da CF).

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da


Constituição, cabendo-lhe:
I – processar e julgar, originariamente:
(...)
d) o habeas-corpus, sendo paciente qualquer das pessoas referidas nas alíneas
anteriores; o mandado de segurança e o habeas-data contra atos do Presiden-
te da República, das Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal,

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

do Tribunal de Contas da União, do Procurador-Geral da República e do próprio


Supremo Tribunal Federal;
Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:
I – processar e julgar, originariamente:
(...)
b) os mandados de segurança e os habeas data contra ato de Ministro de Es-
tado, dos Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica ou do próprio
Tribunal; (Redação dada pela Emenda Constitucional n. 23, de 1999)

A competência para julgar mandado de segurança contra atos dos membros dos tri-
bunais regionais eleitorais é do respectivo TRE. Essa afirmação é válida tanto para atos de
natureza eleitoral, quanto para atos administrativos relacionados ao funcionamento do res-
pectivo tribunal. Nesse sentido a jurisprudência do TSE.

JURISPRUDÊNCIA
A jurisprudência desta Corte é firme no sentido de que compete ao TRE o julga-
mento de mandado de segurança contra atos de seus membros (Precedentes:
AgR-MS n. 4.139/PR, Rel. Min. Marcelo Ribeiro, DJE de 17.3.2009; AgR-MS n.
3.370/BA, Rel. Min. Eros Grau, DJ de 24.6.2008). (MS 4279, DJe 14.4.2010)

Quando o ato impugnado via mandado de segurança for do colegiado do TRE (e não
apenas de um de seus membros), há que se fazer uma distinção: para atos de natureza
administrativa — atos pertinentes ao funcionamento do próprio tribunal — o competente é o
próprio TRE; para atos de natureza eleitoral, a competência é do TSE.

JURISPRUDÊNCIA
A jurisprudência desta Corte é firme no sentido de que os TRE’s são competentes
para julgar mandado de segurança contra seus atos de natureza administrati-
va. (MS 3370, DJ 24.6.2008).

No que se refere aos mandados de segurança contra atos de juízes eleitorais, a com-
petência para julgá-los é do TRE ao qual está vinculado o juiz eleitoral cujo ato tenha sido
impugnado.

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QUADRO DE COMPETÊNCIAS
(Mandado de segurança)

ÓRGÃO/AUTORIDADE COATORA COMPETÊNCIA


ATO DE MINISTRO DE ESTADO STJ
ATO DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA STF
ATO DE MEMBRO DO TRE (ELEITORAL E ADM) TRE
ATO DE TRE (membro ou colegiado) (ADM) TRE
ATO DE TRE (membro) (ELEITORAL) TRE
ATO DE TRE (colegiado) (ELEITORAL) TSE
ATO DE JUIZ ELEITORAL TRE

No que concerne à ação de habeas corpus, em matéria eleitoral, houve também


substancial alteração no órgão competente para sua apreciação. A partir da Constituição de
1988, transferiu-se do TSE para o STF a competência em matéria eleitoral para processar e
julgar o habeas corpus, sendo paciente, dentre outros, o presidente da República e os minis-
tros de Estados (art. 102, I, d, CF). Lembre-se que para fins de competência no STF e STJ
o crime eleitoral é uma espécie de crime comum.

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da


Constituição, cabendo-lhe:
I – processar e julgar, originariamente:
(...)
b) nas infrações penais comuns, o Presidente da República, o Vice-Presidente, os
membros do Congresso Nacional, seus próprios Ministros e o Procurador-Geral
da República;
c) nas infrações penais comuns e nos crimes de responsabilidade, os Ministros de
Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, ressalvado
o disposto no art. 52, I, os membros dos Tribunais Superiores, os do Tribunal de
Contas da União e os chefes de missão diplomática de caráter permanente; (Re-
dação dada pela Emenda Constitucional n. 23, de 1999)
d) o habeas-corpus, sendo paciente qualquer das pessoas referidas nas alíneas
anteriores; o mandado de segurança e o habeas-data contra atos do Presidente
da República, das Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, do
Tribunal de Contas da União, do Procurador-Geral da República e do próprio Su-
premo Tribunal Federal;

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QUADRO DE COMPETÊNCIAS

(Habeas corpus em matéria eleitoral)

PACIENTE EM HABEAS CORPUS COMPETÊNCIA


PRESIDENTE DA REPÚBLICA STF
MINISTRO DE ESTADO STF

No Juiz Eleitoral

A competência do juiz eleitoral para decidir habeas corpus e mandado de segurança,


em matéria eleitoral, é residual, ou seja, cabe a ele julgar tais ações quando a competência
não estiver atribuída privativamente à instância superior.

EXEMPLO
Imagine, por hipótese, que o Secretário de Saúde de um município do Estado de
São Paulo emita, ex-ofício, dentro do período de três meses que antecedem a elei-
ção, um ato transferindo professores para uma unidade de ensino de difícil acesso,
em razão de tais professores não manifestarem apoio à candidatura de determi-
nado candidato. Esse ato ilegal pela sua correlação com o processo eleitoral é
passível de mandado de segurança pelos prejudicados perante a Justiça Eleitoral,
sendo competente para julgá-lo o juiz eleitoral da respectiva circunscrição. Essa
competência é definida, primeiro, em razão da órbita de atuação da autoridade coa-
tora ser municipal; e, segundo, pelo fato de não haver determinação legal dispondo
de forma taxativa a autoridade competente para apreciar a matéria.

Pedido de Desaforamento

Em síntese, o pedido de desaforamento é utilizado na Justiça Eleitoral para requerer


que o processo seja submetido a julgamento pelo um órgão diverso daquele inicialmente
competente, em razão da demora deste no seu julgamento. Especificamente na Justiça Elei-
toral, ultrapassado trinta dias da conclusão do feito ao relator/juiz é possível a realização do
pedido de desaforamento.
É óbvio que se trata de um instrumento processual pouco utilizado, pois é fato que o
excesso de demanda no Poder Judiciário tornou regra e não exceção à demora no julga-
mento de feitos judiciais.
Permanece, no entanto, válida as disposições legais que viabilizam a utilização do
pedido de desaforamento no âmbito da Justiça Eleitoral, sendo legitimados os partidos polí-
ticos, candidatos, Ministério Público ou parte legitimamente interessada.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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Feitos esses esclarecimentos iniciais, a competência para julgá-los pode ser assim
explicitada.

PEDIDOS DE DESAFORAMENTO

MATÉRIA COMPETENTE PARA JULGAMENTO


FEITOS NÃO DECIDIDOS PELOS TRIBUNAIS REGIONAIS
TSE
EM 30 DIAS DA CONCLUSÃO PARA JULGAMENTO
FEITOS NÃO DECIDIDOS PELOS JUÍZES ELEITORAIS EM
TRE
30 DIAS DA CONCLUSÃO PARA JULGAMENTO

Diferentemente dos processos de competência originária dos TREs e juízes eleitorais


em que, preenchidos os requisitos legais, é possível o pedido de desaforamento, o atraso
no julgamento de processos originários do TSE por mais de 30 dias da conclusão ao relator
é passível de reclamação, e não de desaforamento, sendo competente para julgamento a
própria Corte Suprema Eleitoral (art. 22, I, i, CE).

Divisão ou Criação de Zonas Eleitorais

O processo de divisão ou criação de zonas eleitorais nos Estados pode ser dividido em
duas etapas: na primeira, os TREs elaboram e encaminham a proposta de criação ou altera-
ção ao TSE (art. 30, IX, CE); na segunda, a Corte Suprema Eleitoral aprova a proposta das
cortes regionais (art. 23, VIII, CE).

Esquematicamente esse processo pode ser assim representado.

Uma vez criada a zona eleitoral, é possível ainda que essa seja objeto de divisão em
seções eleitorais. A competência para proceder a essa divisão é do juiz eleitoral, e não do
TRE a que ele esteja vinculado (art. 35, X, CE).

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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Por último, vale ressaltar ainda que, criadas as seções, cabe ainda ao juiz eleitoral
designar, até 60 dias antes das eleições, os locais onde elas serão efetivamente instaladas
para funcionar no dia das eleições (art. 35, XIII, CE).

Requisição de Força Federal

A requisição de força federal é ato dirigido ao Poder Executivo para garantir o cumpri-
mento da lei, de decisão judiciária ou para garantir a lisura do pleito eleitoral.
Trata-se de uma prerrogativa privativa do TSE no âmbito da Justiça Eleitoral. Assim,
mesmo quando um tribunal regional dela pretende fazer uso, essa requisição deve necessa-
riamente ser dirigida ao TSE para que este então encaminhe o pedido ao Poder Executivo.
Vamos a um esquema didático para facilitar o estudo.

Consultas Eleitorais

A função consultiva é uma das funções peculiares da Justiça Eleitoral. Tem como fina-
lidade esclarecer dúvidas sobre a matéria eleitoral a partir de questionamentos elaborados,
em tese, aos tribunais eleitorais.
O Código Eleitoral atribui somente aos tribunais eleitorais — TSE (art. 23, XIII) e TRE
(art. 30, VIII) — a competência para responder consultas. Assim, os juízes eleitorais e as
juntas eleitorais não podem, em hipótese alguma, se pronunciar por meio delas.

Professor, se o TSE e o TRE podem responder consultas, o que determina a com-


petência de um e de outro?

Nesse caso, a competência não é definida a partir do objeto da discussão, mas sim em
face da pessoa/órgão do consulente (aquele que faz a consulta).
Ao TSE, somente podem formular consultas autoridade pública com jurisdição federal
(presidente e vice-presidente da República, deputado federal, senador, ministro de Estado
etc.) ou partido político, por meio de seu órgão de direção nacional.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

De outro modo, ao TRE podem se dirigir quaisquer autoridades públicas, independen-


temente de o âmbito de sua jurisdição ser federal, estadual ou municipal (presidente da
República, deputado federal, deputado estadual, prefeito, vereador, secretário de governo
estadual ou municipal, promotor eleitoral etc.) e o órgão de direção estadual/regional de par-
tido político.
Veja o esquema didático esclarecedor.

CONSULTAS ELEITORAIS

LEGITIMADOS COMPETENTE PARA RESPONDER


ÓRGÃO DE DIREÇÃO NACIONAL DE PARTIDO POLÍTICO
TSE
AUTORIDADE PÚBLICA COM JURISDIÇÃO NACIONAL
ÓRGÃO DE DIREÇÃO ESTADUAL/REGIONAL DE PARTIDO
POLÍTICO TRE
AUTORIDADE PÚBLICA

Recursos na Justiça Eleitoral

A estrutura básica de recorribilidade de decisões na Justiça Eleitoral obedece à seguinte


sistemática:
a) os recursos dos atos e das decisões proferidas pelos juízes e juntas eleitorais são jul-
gados pelos tribunais regionais eleitorais. Aqui cabe um esclarecimento. Os recursos das
decisões das juntas eleitorais são dirigidos ao juiz eleitoral para que este faça o seu
processamento (art. 266, CE). Assim que instruído, o juiz eleitoral, então, o encaminha
ao TRE competente para que esse proceda ao seu julgamento;
b) os recursos interpostos das decisões dos Tribunais Regionais Eleitorais são julga-
dos pelo TSE.
Esquematicamente podemos representar esta estrutura da seguinte forma:

ESTRUTURA DE RECORRIBILIDADE NO ÂMBITO DA JUSTIÇA ELEITORAL

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

Quanto às decisões do TSE, temos quem em regra tais decisões são irrecorríveis. No
entanto, como exceção, é possível impugná-las quando contrariarem a Constituição e as
denegatórias de habeas corpus ou mandado de segurança, sendo o STF o órgão compe-
tente para julgamento dos recursos (art. 121, § 3º, CF).

É claro que essa matéria está intimamente relacionada com as espécies de recurso no
âmbito da Justiça Eleitoral, mas não vamos nos esquecer que a matéria a ser tratada aqui
é de competência, então vamos nos ater a este assunto e, no momento oportuno, ou seja,
num tópico específico de recursos, trataremos com mais detalhes de cada um dos possíveis
meios de impugnação previstos no âmbito da Justiça Eleitoral.
Existem outras competências que achamos melhor estudá-las de forma isolada. É o
que vamos fazer agora na 2ª parte deste subtítulo.

Estudo Isolado das Competências da Justiça Eleitoral

Nesta 2ª parte, que vamos iniciar agora, existem algumas delas que são próprias de
um ou outro órgão, tornando necessário seu estudo de forma isolada. Mas não se preocupe,
vamos sistematizar este estudo trazendo primeiro as principais competências do TSE, para
em seguida tratar das do TRE, juízes eleitorais e, finalmente as das juntas eleitorais.

Competências do TSE

A maior parte das competências do TSE, que estudaremos a seguir, se relaciona com
a sua organização administrativa. Essa relação facilita o estudo dessas competências, pois
torna quase intuitivo o seu aprendizado. Vamos às principais delas, fazendo, quando neces-
sário, algum esclarecimento.

• Elaborar seu regimento interno.


• Organizar sua Secretaria e a Corregedoria Geral.
• Organizar a criação ou extinção dos cargos administrativos e a fixação dos respectivos
vencimentos.
• Enviar ao presidente da República a lista tríplice organizada pelos TJs: a lista tríplice
aqui mencionada é a que serve de base para a escolha de membros dos TREs. Lem-
bre-se que a lista tríplice para a escolha de membros do TSE é elaborada e encami-
nhada ao Poder Executivo pelo STF, e não pelo TSE.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

LISTA TRÍPLICE

QUEM ELABORA TRIBUNAL BENEFICIADO QUEM ENVIA AO PODER EXECUTIVO


TJ TREs TSE
STF TSE STF

Fixar a diária do corregedor-geral, dos corregedores regionais e auxiliares em diligência


fora da sede: observe que a competência para fixação de diária por parte do TSE alcança até
mesmo as dos Corregedores Regionais.

• Processar e julgar o registro e a cassação de registro de partidos políticos: o processo


de registro de partido político possui duas fases. A primeira é realizada junto ao cartó-
rio competente do Registro Civil das Pessoas Jurídicas, da Capital Federal, enquanto
a segunda se consubstancia no pedido de registro do partido perante o TSE. Essa
segunda fase é de competência do TSE (art. 22, I, CE). Nenhum outro órgão da Justiça
Eleitoral está autorizado a registrar um novo partido. Do mesmo modo, o processo de
cassação de registro também é de competência do TSE, sendo que os demais órgãos
da Justiça Eleitoral não estão legalmente autorizados a apreciar pedidos de extinção de
partidos políticos.
• Expedir as instruções que julgar conveniente à execução do Código Eleitoral: já sabe-
mos que a Justiça Eleitoral apresenta funções múltiplas, não se restringindo a ativi-
dade-fim de prestar a jurisdição. Eis aqui uma dessas funções peculiares, a chamada
função normativa da Justiça Eleitoral.

Competências do TRE

Continuando nosso estudo, temos ainda algumas competências dos TREs, que mere-
cem uma especial atenção. Vamos a elas (faremos algum esclarecimento quando necessário).

• Elaborar seu regimento interno.


• Organizar sua Secretaria e a Corregedoria Regional.
• Propor ao Congresso Nacional, por intermédio do TSE, a criação ou supressão de
cargos e a fixação dos respectivos vencimentos: nota-se que o TRE não pode enviar
diretamente ao Congresso Nacional o projeto de lei de criação ou supressão de seus
cargos. O TRE interessado encaminha sua proposta ao TSE, que a remete, então, ao
Poder Legislativo.
• Constituir as juntas eleitorais e designar a respectiva sede e jurisdição: é sabido por
nós que as juntas eleitorais são órgãos colegiados de 1ª instância da Justiça Eleitoral,
cuja existência se restringe ao período eleitoral. É comum os concursandos acharem,

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

erroneamente, que compete ao juiz eleitoral a sua constituição, quando, na verdade, tal
competência é do TRE.
• Designar, onde houver mais de uma vara, aquela ou aquelas, a que incumbe o serviço
eleitoral.
• Aplicar as penas disciplinares de advertência e de suspensão até 30 (trinta) dias aos
juízes eleitorais.
• Indicar ao Tribunal Superior as zonas eleitorais ou seções em que a contagem dos
votos deva ser feita pela mesa receptora.

Competências do Juiz Eleitoral

Agora, veremos algumas competências do juiz eleitoral, as quais não devem ser
esquecidas.

• Processar e julgar os crimes eleitorais e os comuns que lhe forem conexos, ressalvada
a competência originária do Tribunal Superior e dos Tribunais Regionais.
• Indicar, para aprovação do Tribunal Regional, a serventia de justiça que deve ter o
anexo da escrivania eleitoral.
• Dirigir os processos eleitorais e determinar a inscrição e a exclusão de eleitores.
• Expedir títulos eleitorais e conceder transferência de eleitor.
• Mandar organizar em ordem alfabética, relação dos eleitores de cada seção, para
remessa a mesa receptora, juntamente com a folha individual de votação (art. 35, XI, CE).
• Nomear, 60 dias antes da eleição, em audiência pública anunciada com pelo menos 5
(cinco) dias de antecedência, os membros das mesas receptoras: em cada seção elei-
toral temos uma mesa receptora de votos composta por um presidente, um primeiro e
um segundo mesários, dois secretários e um suplente, sendo que todos são nomeados
pelo juiz eleitoral competente.
• Fornecer aos que não votaram por motivo justificado e aos não alistados, por dispensa-
dos do alistamento, um certificado que os isente das sanções legais.

Competências da Junta Eleitoral

Para finalizar esta exposição, vamos tratar aqui das competências das juntas eleitorais.
As juntas eleitorais possuem apenas, e tão somente, 4 (quatro) competências.
Vamos a elas.

• Expedir diploma aos eleitos para cargos municipais: nós já tratamos dessa competência
no início deste tópico, mas não custa nada reiterar que a expedição dos diplomas dos
eleitos para os cargos municipais – prefeito, vice-prefeito e vereador – são de compe-

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

tência da junta eleitoral. Não se esqueça! Não cabe ao juiz eleitoral a expedição de
diplomas, nem mesmo dos diplomas relativos aos cargos municipais.
• Apurar no prazo de 10 (dez) dias, as eleições realizadas nas zonas eleitorais sob a sua
jurisdição.
• Resolver as impugnações e demais incidentes verificados durante os trabalhos de con-
tagem e da apuração. É isso mesmo! Os incidentes verificados durante os trabalhos
de contagem e apuração dos votos são resolvidos pelas juntas eleitorais e não pelos
juízes eleitorais.
• Expedir os boletins de apuração.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

5. MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL

O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado.


Tem como finalidades:

• a defesa da ordem jurídica;


• defesa do regime democrático;
• defesa dos interesses sociais e individuais indisponíveis.

Trata-se de órgão dotado de autonomia e independência, não subordinado aos Pode-


res Executivo, Judiciário ou Legislativo. Essa autonomia e independência institucional dá ao
MP a necessária imparcialidade e liberdade para o exercício de suas importantes funções
constitucionais.
Acerca de sua topografia ou localização constitucional, viu-se que o MP não está vincu-
lado a nenhum dos Poderes da República e nem os integra. Deve-se avaliar qual o posicio-
namento constitucional desse órgão. Sobre esse tema, esse é o entendimento do STF:

A seção dedicada ao Ministério Público insere-se, na Constituição de 1988, ao


final do Título IV – Da Organização dos Poderes, no seu Capítulo III – Das Fun-
ções Essenciais à Justiça. A colocação tópica e o conteúdo normativo da Seção
revelam a renúncia, por parte do constituinte de definir explicitamente a posição do
Ministério Público entre os Poderes do Estado. (RTJ 147/127)

Com efeito, o MP é um órgão autônomo e independente e, no exercício de suas atribui-


ções constitucionais, vincula-se unicamente à Constituição e às leis da República. O Ministé-
rio Público compõe-se dos seguintes órgãos:

Art. 128. O Ministério Público abrange:


I – o Ministério Público da União, que compreende:
a) o Ministério Público Federal;
b) o Ministério Público do Trabalho;
c) o Ministério Público Militar;
d) o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios;
II – os Ministérios Públicos dos Estados.

O Ministério Público da União tem como chefe o procurador‑geral da República. O PGR


é nomeado pelo presidente da República dentre os integrantes da carreira, desde que maior
de 35, e após a aprovação de sua escolha pelo Senado Federal. Exerce um mandato de 2
(dois) anos.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

Os membros do Ministério Público gozam das mesmas garantias e sujeitam‑se às


mesmas vedações inerentes aos magistrados.
Pontua‑se, ainda, que não existe o Ministério Público Eleitoral. As funções eleitorais
foram entregues ao Ministério Público Federal. Essa é a conclusão a que se pode chegar
após a análise das prescrições contidas nos arts. 128 da CF e no art. 72 da Lei Complemen-
tar n. 75/1993:

Constituição Federal
Art. 128. O Ministério Público abrange:
I – o Ministério Público da União, que compreende:
a) o Ministério Público Federal;
b) o Ministério Público do Trabalho;
c) o Ministério Público Militar;
d) o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios;
II – os Ministérios Públicos dos Estados.

Lei Complementar n. 75/1993


Art. 72. Compete ao Ministério Público Federal exercer, no que couber, junto à
Justiça Eleitoral, as funções do Ministério Público, atuando em todas as fases e
instâncias do processo eleitoral.

Princípios Constitucionais do Ministério Público

São três os princípios institucionais inerentes ao Ministério Público: a unidade, a indivi-


sibilidade e a independência funcional.

• Unidade – por esse princípio, todos os membros do MPU integram um só órgão sob
direção do procurador-geral da República. Atente-se para o fato de que essa unidade
não indica que o Ministério Público dos Estados e o Ministério Público da União consti-
tuem um só órgão. Na verdade, o MPU é um único órgão e é integrado por seus diver-
sos membros.
• Indivisibilidade – indica que os membros do Ministério Público não se vinculam aos
processos em que atuam e podem ser substituídos por outros membros de acordo com
as normas previstas na lei de organização do MP. Trata-se de uma decorrência do prin-
cípio da unidade, pois a atuação de cada membro do MP é a atuação do próprio Minis-
tério Público. Assim, caso haja substituição de um membro do MP por outro, não haverá
nenhuma consequência jurídica, já que ambos representam o MP. Sobre a matéria:

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

indivisibilidade: corolário do princípio da unidade, em verdadeira relação de logici-


dade, é possível que um membro do Ministério Público substitua outro, dentro da
mesma função, sem que, com isso, exista qualquer implicação prática. Isso por-
que quem exerce os atos, em essência, é a instituição ‘Ministério Público’, e não a
pessoa do Promotor de Justiça ou Procurador.

• Independência funcional – os membros do MP somente são vinculados à Constituição


Federal e às leis. No exercício de suas atribuições, não se subordinam aos Poderes
Executivo, Legislativo e Judiciário e nem ao chefe do Ministério Público. Frisa-se que
existe uma hierarquia funcional no MP tão somente no âmbito administrativo. Na ordem
funcional, os membros do MP são independentes.

Procurador-Geral Eleitoral

O Ministério Público é o defensor do regime democrático, nos termos do art. 127 da


Constituição Federal. Assim, dados os interesses em jogo nos processos que tramitam
perante a Justiça Eleitoral, o Ministério Público deve atuar como parte ou como custos legis.
A respeito dessa atuação, Zilio (p. 42) defende que:

A jurisprudência tem assentado a ampla legitimidade do Ministério Público para


atuar em todas as fases do processo eleitoral, em vista de sua condição de fiscal
da lei e da Constituição Federal. Como exceção, contudo, não reconhecida legi-
timidade ao Ministério Público Eleitoral para execução das multas eleitorais; no
caso em tela, porque se trata da dívida ativa, a legitimidade é da Fazenda Pública.

Perante o TSE, exercerá as funções de Ministério Público o procurador-geral da Repú-


blica e, nas suas faltas e impedimentos, seu substituto legal (art. 18, CE). Seu mandato é
de dois anos, compatibilizando‑se com o que é exercido pelos juízes eleitorais. Contudo, o
procurador‑geral da República pode ser reconduzido várias vezes ao seu cargo, podendo
exercer as funções de procurador‑geral eleitoral por mais de dois biênios.
O procurador‑geral eleitoral designará, dentre os subprocuradores‑gerais da República,
o vice‑procurador‑geral eleitoral, que o substituirá em seus impedimentos e exercerá o cargo
em caso de vacância, até o provimento definitivo (parágrafo único do art. 73 da Lei Comple-
mentar n. 75/1993).
A Lei Complementar n. 75/1993 enumera as seguintes competências ao procurador‑ge-
ral eleitoral:

Art. 74. Compete ao Procurador‑Geral Eleitoral exercer as funções do Ministério


Público nas causas de competência do Tribunal Superior Eleitoral.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

Parágrafo único. Além do Vice‑Procurador‑Geral Eleitoral, o Procurador‑Geral


poderá designar, por necessidade de serviço, membros do Ministério Público Fe-
deral para oficiarem, com sua aprovação, perante o Tribunal Superior Eleitoral.
Art. 75. Incumbe ao Procurador‑Geral Eleitoral:
I – designar o Procurador Regional Eleitoral em cada Estado e no Distrito Federal;
II – acompanhar os procedimentos do Corregedor‑Geral Eleitoral;
III – dirimir conflitos de atribuições;
IV – requisitar servidores da União e de suas autarquias, quando o exigir a neces-
sidade do serviço, sem prejuízo dos direitos e vantagens inerentes ao exercício de
seus cargos ou empregos.

E, para o Código Eleitoral, essas são as atribuições:

Art. 24. Compete ao Procurador Geral, como Chefe do Ministério Público Eleitoral;
I – assistir às sessões do Tribunal Superior e tomar parte nas discussões;
II – exercer a ação pública e promovê‑la até final, em todos os feitos de competên-
cia originária do Tribunal;
III – oficiar em todos os recursos encaminhados ao Tribunal;
IV – manifestar‑se, por escrito ou oralmente, em todos os assuntos submetidos à
deliberação do Tribunal, quando solicitada sua audiência por qualquer dos juízes,
ou por iniciativa sua, se entender necessário;
V – defender a jurisdição do Tribunal;
VI – representar ao Tribunal sobre a fiel observância das leis eleitorais, especial-
mente quanto à sua aplicação uniforme em todo o País;
VII – requisitar diligências, certidões e esclarecimentos necessários ao desempe-
nho de suas atribuições;
VIII – expedir instruções aos órgãos do Ministério Público junto aos Tribunais
Regionais;
IX – acompanhar, quando solicitado, o Corregedor Geral, pessoalmente ou por
intermédio de Procurador que designe, nas diligências a serem realizadas.

E, por fim o procurador‑geral pode designar outros membros do Ministério Público da


União, com exercício no Distrito Federal, e sem prejuízo das respectivas funções, para auxi-
liá‑lo junto ao TSE, onde não poderão ter assento (parágrafo único, art. 18, CE).

Procuradores Regionais Eleitorais

Perante os Tribunais Regionais Eleitorais, a atuação institucional do Ministério Público


é feita pelos procuradores regionais eleitorais. O procurador regional eleitoral, juntamente
com o seu substituto, será designado pelo procurador‑geral eleitoral, dentre os procuradores

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

regionais da República no Estado e no Distrito Federal, ou, onde não houver, dentre os pro-
curadores da República vitalícios, para um mandato de dois anos. Somente pode ser recon-
duzido uma única vez.
Se houver prévia autorização do procurador‑geral da República, os Procuradores Regio-
nais Eleitorais poderão requisitar membros do Ministério Público dos Estados para auxiliá-
‑los no exercício de suas atribuições, não tendo esses, assento nas sessões do TRE (§ 4º,
art. 27, CE).
Pode ser destituído pelo procurador‑geral eleitoral, antes do término de seu mandato,
desde que haja manifestação favorável da maioria absoluta do Conselho Superior do Minis-
tério Público Federal.
No que se refere às competências do PRE, o Código Eleitoral prescreve que “compete
aos Procuradores Regionais exercer, perante os Tribunais junto aos quais servirem, as atri-
buições de Procurador‑Geral”.

Promotores Eleitorais

Na primeira instância da Justiça Eleitoral, compete aos promotores eleitorais oficiarem


perante os juízes e juntas eleitorais. Essa é a determinação do art. 78 da Lei Complementar
n. 75/1993:

Art. 78. As funções eleitorais do Ministério Público Federal perante os Juízes e


Juntas Eleitorais serão exercidas pelo Promotor Eleitoral.

Esse promotor eleitoral é um membro do Ministério Público do Estado que oficia perante
o Juiz de Direito incumbido da jurisdição eleitoral. São indicados pelo procurador-geral de
Justiça e nomeados pelo procurador regional eleitoral. A esse respeito, tem-se o art. 79 da
Lei Complementar n. 75/1993:

Art. 79. O Promotor Eleitoral será o membro do Ministério Público local que oficie
junto ao Juízo incumbido do serviço eleitoral de cada Zona.
Parágrafo único. Na inexistência de Promotor que oficie perante a Zona Eleitoral,
ou havendo impedimento ou recusa justificada, o Chefe do Ministério Público local
indicará ao Procurador Regional Eleitoral o substituto a ser designado.

Conflito de Atribuições entre Membros do Ministério Público

O conflito de atribuições entre os membros do Ministério Público dá-se quando


dois ou mais membros do MP declaram‑se competentes (conflito positivo de atri-
buições) ou incompetentes (conflito negativo de atribuições) em relação a determi-
nado feito.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

Segundo os ensinamentos de Marcos Ramayana (2009, p. 277), a solução desses


conflitos de atribuição no âmbito do Ministério Público obedece a diretriz a seguir.

• Direto da doutrina

Os conflitos positivos ou negativos de atribuições que possam surgir entre pro-


curadores regionais eleitorais devem ser dirimidos pelo procurador-geral eleitoral, na
forma da lei. Quanto aos conflitos entre promotores eleitorais, a solução fica com o
procurador regional eleitoral, e não pelo procurador-geral de Justiça.
Na hipótese de conflitos de atribuição entre promotores eleitorais de estados
diversos, a solução institucional correta é submeter o parecer final ao procurador-ge-
ral eleitoral, pois, não podemos esquecer que as funções eleitorais se submetem ao
princípio da unidade formal com abstração de caráter hierárquico.
O exercício das funções eleitorais na primeira instância da Justiça Eleitoral, como
visto, dá-se por um promotor de justiça, designado para o exercício de atribuições do
Ministério Público Federal pelo procurador regional eleitoral.
Caso surja um conflito entre um membro do Ministério Público estadual e um
membro do Ministério Público Federal, a competência para o seu julgamento será do
Conselho Nacional do Ministério Público, conforme a nova jurisprudência firmada pelo
Supremo Tribunal Federal, não havendo que se falar em conflito federativo.

A esse respeito:

JURISPRUDÊNCIA
1. Incompetência originária do SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL para conhecer
e dirimir conflito de atribuições entre membros de ramos diversos do Ministério
Público. Inaplicabilidade do art. 102, I, f, da CF, por ausência de risco ao equilíbrio
federativo. 2. Impossibilidade de encaminhamento do conflito de atribuição para
o Procurador-Geral da República, enquanto autoridade competente, pois é parte
interessada na solução da demanda administrativa, uma vez que acumula a Che-
fia do Ministério Público da União com a chefia de um de seus ramos, o Ministério
Público Federal, nos termos da LC 75/1993. 3. Os membros do Ministério Público
integram um só órgão sob a direção única de um só Procurador-Geral, ressalvan-
do-se, porém, que só existem unidade e indivisibilidade dentro de cada Ministério
Público, inexistindo qualquer relação de hierarquia entre o Ministério Público Fe-
deral e os dos Estados, entre o de um Estado e o de outro, ou entre os diversos ra-
mos do Ministério Público da União. 4. EC 45/2004 e interpretação sistemática da
Constituição Federal. A solução de conflitos de atribuições entre ramos diversos
dos Ministérios Públicos pelo CNMP, nos termos do artigo 130-A, § 2º, e incisos I

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

e II, da Constituição Federal e no exercício do controle da atuação administrativa


do Parquet, é a mais adequada, pois reforça o mandamento constitucional que lhe
atribuiu o controle da legalidade das ações administrativas dos membros e órgãos
dos diversos ramos ministeriais, sem ingressar ou ferir a independência funcional.
5. Não conhecimento da Ação e encaminhamento dos autos ao Conselho Nacio-
nal do Ministério Público para, nos termos do artigo 130-A, incisos I e II, da Cons-
tituição Federal, dirimir o conflito de atribuições.
(Pet 4891, Relator(a): MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão: ALEXANDRE DE
MORAES, Tribunal Pleno, julgado em 16/06/2020, PROCESSO ELETRÔNICO
DJe-196 DIVULG 05-08-2020 PUBLIC 06-08-2020)

A seu turno, se o conflito de atribuições for instaurado entre membros do Minis-


tério Público estadual, promotores de justiça, a sua solução dar-se-á por ato do Con-
selho Superior do Ministério Público.
Por sua vez, se o conflito se der entre promotores eleitorais de estados diferen-
tes, que são promotores de justiça, a competência para a sua solução será do procu-
rador-geral eleitoral.
Com a finalidade de tornar mais fácil a compreensão, segue um quadro resumo,
no qual estão dispostos os possíveis conflitos de atribuição entre membros do MP e o
órgão competente para solucioná-los.

CONFLITO DE ATRIBUIÇÕES ÓRGÃO COMPETENTE


Promotor Eleitoral Se forem do mesmo Estado, competirá ao procurador regio-
X – Promotor Eleitoral nal eleitoral
Promotor Eleitoral Se forem de Estados diferentes, competirá ao procurador-
X – Promotor Eleitoral -geral eleitoral
Procurador Regional Eleitoral
Procurador-Geral Eleitoral
X – Procurador Regional Eleitoral

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

6. ALISTAMENTO ELEITORAL

O alistamento eleitoral é o ato jurídico por meio do qual se admite um cidadão no corpo
eleitoral, organizado e mantido pela Justiça Eleitoral. Para a admissão de uma pessoa no
cadastro eleitoral, existem vários requisitos que devem ser observados. Segue os principais
conceitos de alistamento eleitoral apontados pela doutrina.
Para José Jairo Gomes (2012, p. 119),

Entende-se por alistamento o procedimento administrativo-eleitoral pelo qual se


qualificam e se inscrevem eleitores. Nele se verifica o preenchimento dos requisi-
tos constitucionais e legais indispensáveis à inscrição do eleitor. Uma vez, deferido
o indivíduo é integrado ao corpo de eleitores, podendo exercer direitos políticos,
votar e ser votado, enfim, participar da vida política do País. Em outras palavras:
adquire a cidadania. Note-se, porém, que, com o alistamento, adquire-se apenas
a capacidade eleitoral ativa, o jus suffragii; a passiva ou a elegibilidade depende
de outros fatores.

Ainda, Carlos Velloso (2009, p. 112) ensina que

o alistamento eleitoral se configura como um requisito imperioso para o exercício


do voto, sendo através desse procedimento que o cidadão, munido de documen-
tação básica, qualifica se perante a Justiça Eleitoral e insere se como membro do
eleitorado nacional.

Para finalizar, segue o elucidativo conceito de alistamento eleitoral trazido por Zilio (p. 96):

Consiste em ato voluntário de manifestação de vontade do indivíduo nacional (nato


ou naturalizado) que objetiva habilitá-lo ao exercício dos direitos políticos. Através
do processo de alistamento ocorre o ingresso do indivíduo no corpo eleitoral, reco-
nhecendo-se a condição de cidadão com todos os seus consectários legais.

De acordo com o Código Eleitoral, o alistamento eleitoral é composto por duas fases:
qualificação e inscrição do eleitor. Em primeiro lugar, o eleitor apresenta seus dados pessoais
para a comprovação do preenchimento dos requisitos de alistabilidade. Depois, o juiz eleito-
ral determina sua inscrição no cadastro eleitoral.
Os requisitos exigidos para que se possa alistar estão delineados na Constituição Fede-
ral, no Código Eleitoral e, ainda, na Resolução TSE n. 21.538/2003 do Tribunal Superior
Eleitoral.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

Obrigatoriedade, Facultatividade e Impedimento

Apesar de o alistamento eleitoral ser obrigatório para a maioria das pessoas, para algu-
mas se trata de um procedimento facultativo, enquanto outras se encontram impedidas de
se alistar.
Analisa-se então os casos em que a lei impõe, faculta e impede o alistamento eleitoral.

• Obrigatoriedade do alistamento

No Brasil o alistamento é obrigatório para os maiores de dezoito anos (art. 14, § 1º,
I, CF). Essa obrigatoriedade é válida tanto para o brasileiro nato quanto para o brasileiro
naturalizado.
O brasileiro nato que não se alistar até os 19 anos, ou o naturalizado que não se alistar
até um ano depois de adquirida a nacionalidade brasileira, ficará sujeita a multa imposta pelo
juiz eleitoral e cobrada no ato da inscrição (art. 8º, CE, e art. 33 da Res.-TSE 23.659/2021).
Todavia, não se aplica a referida multa àquele que requerer sua inscrição eleitoral até
o centésimo quinquagésimo primeiro dia (151 dias) anterior à eleição subsequente à
data em que completar 19 anos (art. 8º c/c art. 91, Lei 9.504/97 e art. 33, parágrafo primeiro
da Resolução-TSE n. 23.659/2021).
A esse respeito, veja o teor do dispositivo da Resolução-TSE n. 23.659/2021:

Art. 33. Incorrerá em multa a ser imposta pelo juízo eleitoral e cobrada no ato do
alistamento a pessoa brasileira:
I – nata, nascida em território nacional, que não se alistar até os 19 anos;
II – nata, nascida em território nacional ou nascida no exterior, filha de brasileiro
ou brasileira registrada em repartição diplomática brasileira, que não se alistar até
os 19 anos; e
III – naturalizada, maior de 18 anos, que não se alistar até um ano depois de ad-
quirida a nacionalidade brasileira.
§ 1º Não se aplicará a sanção prevista no caput deste artigo:
a) à pessoa brasileira nata que requerer sua inscrição eleitoral até o 151º dia an-
terior à eleição subsequente à data em que completar 19 anos, na hipótese do
inciso I deste artigo, ou à data em que se completar um ano de sua opção pela
nacionalidade brasileira, na hipótese do inciso II deste artigo;
b) à pessoa que se alfabetizar após a idade prevista no art. 32 desta Resolução; e
c) à pessoa que declarar, perante qualquer juízo eleitoral, sob as penas da lei, seu
estado de pobreza.

Vamos a uma hipótese didática, que trata da não aplicação da multa àqueles que se
inscrevem após completarem 19 anos.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

EXEMPLO
Imagine que Antônio, brasileiro nato, morador do Distrito Federal, completou 19 anos
em 01/02/2007, vindo a solicitar sua inscrição eleitoral somente em 01/02/2010.
Pela regra do art. 8º do CE, o brasileiro nato deve se alistar até os 19 anos, sob
pena de multa. Porém, nesse caso, a Antônio não foi cominada nenhuma multa,
visto que ele solicitou sua inscrição antes do centésimo quinquagésimo primeiro dia
anterior à eleição presidencial de 2010, que é a subsequente ao seu aniversário, já
que no DF não houve eleições em 2008 por se tratar de uma eleição para cargos
municipais.
Se Antônio morasse em qualquer outra unidade da Federação, ele poderia se alis-
tar, sem o pagamento de multa, somente até o centésimo quinquagésimo primeiro
dia anterior à eleição de 2008, pois diferente do DF, nesses lugares há eleições
municipais.

Conhecidas as hipóteses de obrigatoriedade, a penalidade pelo seu descumprimento e


possibilidade de postergação do prazo de inscrição eleitoral, vamos estudar aquelas em que
o alistamento é facultativo.

• Facultatividade do alistamento

É facultativo o alistamento para os analfabetos (art. 14, § 1º, II, a, CF). Se o anal-
fabeto deixar de sê-lo, deverá requerer sua inscrição eleitoral, não se sujeitando à multa
imposta pelo juiz eleitoral e cobrada no ato da inscrição (art. 8º, CE, e art. 15 da Res.-TSE
21.538/03).
Do mesmo modo, é facultativo o alistamento também para os maiores de dezesseis e
menores de dezoito anos (art. 14, § 1º, II, c, CF), bem assim para os maiores de 70 anos
(art. 14, § 1º, II, b, CF).
No que se refere à idade, o art. 30 da Res.-TSE 23.659/2021 traz uma hipótese em
que o alistamento eleitoral pode facultativamente ser realizado por quem ainda não comple-
tou 16 anos.
Segundo o referido artigo da resolução, é facultado o alistamento, do menor com 15
anos. No entanto, o título emitido nessas condições somente surtirá efeitos com o imple-
mento da idade de 16 anos. Com essa prescrição referida na Resolução-TSE n. 23.659/2021:

Art. 30. A partir da data em que a pessoa completar 15 anos, é facultado o seu
alistamento eleitoral.
§ 1º Nos anos em que se realizarem eleições ordinárias, o alistamento de que trata
o caput deste artigo deverá ser solicitado até o encerramento do prazo fixado para
requerimento de operações do cadastro.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

§ 2º O alistamento será requerido diretamente pela pessoa menor de idade e inde-


pende de autorização ou assistência de seu/sua representante legal.
§ 3º O título eleitoral emitido nas condições deste artigo somente surtirá o efeito
previsto no art. 11 desta Resolução quando a pessoa completar 16 anos.

Sobre a aplicabilidade das hipóteses de facultatividade do alistamento e voto, há uma


discussão constitucional sobre a classificação do alistamento eleitoral das Pessoas com
Necessidades Especiais. De forma explícita, o Tribunal Superior Eleitoral, sobre o exercício
dos direitos políticos nas situações em que há uma possibilidade ou excessiva onerosidade:

Resolucao-TSE n. 23.659/2021
Art. 15. Não estará sujeita às sanções legais decorrentes da ausência de alista-
mento e do não exercício do voto a pessoa com deficiência para quem seja impos-
sível ou demasiadamente oneroso o cumprimento daquelas obrigações eleitorais
§ 1º A pessoa nas condições do caput deste artigo poderá, pessoalmente ou por
meio de curador /curadora, apoiador/apoiadora ou procurador/procuradora devi-
damente constituído(a) por instrumento público ou particular, requerer:
a) a expedição da certidão prevista no inciso VII do art. 3º desta Resolução, com
prazo de validade indeterminado, se ainda não houver se alistado eleitora; ou
b) caso já possua inscrição eleitoral, o lançamento da informação no Cadastro
Eleitoral, mediante comando próprio que a isentará da sanção por ausência às
urnas ou aos trabalhos eleitorais.
§ 2º O requerimento a que se refere o parágrafo precedente deverá ser dirigido ao
juízo eleitoral, acompanhado de autodeclaração da deficiência ou documentação
comprobatória.
§ 3º Na avaliação da impossibilidade ou da onerosidade para o exercício das obri-
gações eleitorais, serão consideradas, também, a situação socioeconômica da
pessoa requerente e as barreiras de qualquer natureza que dificultam ou impedem
o seu alistamento ou direito ao voto.
§ 4º A providência a que se refere a alínea b do § 1º deste artigo inativará a situa-
ção de eventual registro por ausência às urnas ou aos trabalhos eleitorais, desde
que esta decorra da situação descrita no caput.
§ 5º O disposto neste artigo não constitui exceção ao alistamento eleitoral obriga-
tório e não exclui o gozo de direitos políticos que dele decorram, cabendo ao tribu-
nal regional eleitoral, sempre que possível, viabilizar o atendimento em domicílio
para fins de alistamento, nos termos do art. 46 desta Resolução.
§ 6º A Justiça Eleitoral empreenderá esforços para garantir a acessibilidade nos
cartórios eleitorais e postos de atendimento, ainda que por meio de acordo ou
convênio com o Município ou Estado

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

Veja que, de acordo com o TSE, o alistamento eleitoral dos PNEs é obrigatório. Con-
tudo, aplicando o princípio da isonomia e equiparando os PNEs, que tenham um excessivo
ônus ou impossibilidade fática de exercício das obrigações eleitorais, aos maiores de 70
anos, que também têm natural dificuldade de exercício das obrigações eleitorais, previu-se a
não imposição de sanções pelo não cumprimento das obrigações eleitorais.
Essa previsão da regulamentação expedida pelo Tribunal Superior Eleitoral sobre o tra-
tamento a ser conferido às Pessoas com Necessidades Especiais que tenham uma exces-
siva dificuldade para o exercício das obrigações eleitorais suscitou uma discussão sobre a
natureza jurídica do alistamento eleitoral nesse caso.
Acerca desse tema, existem duas correntes doutrinárias que analisam a espécie do
alistamento das Pessoas com Necessidades Especiais graves. Com efeito, há doutrinadores
que afirmam que o alistamento e o voto são obrigatórios a todos os portadores de necessida-
des especiais. Nesse sentido, de acordo com Cerqueira e Cerqueira (2010, p. 86):

O TSE manteve inicialmente a posição de que o voto do portador de necessidades


especiais era facultativo, equiparando o voto facultativo do idoso ao do portador de
necessidades especiais, o que levaria à não criação de seções especiais, o que
ao é obrigatório por lei. Após essa ‘confusão’ ocorrida no TSE, o voto do portador
de necessidades especiais foi definido como obrigatório.

Por outro lado, reconhece-se, também, em nível doutrinário, que se faculta o cumpri-
mento das obrigações eleitorais a essa classe de cidadãos.

JURISPRUDÊNCIA
Controvérsia interessante colocou-se perante a Justiça Eleitoral a propósito da
obrigatoriedade do voto dos portadores de deficiência grave, cuja situa­ção impos-
sibilite ou torne extremamente oneroso o exercício de suas obrigações eleitorais.
A questão ganha relevância tendo em vista que norma do Código Eleitoral, ante-
rior à Constituição de 1988, que desobrigava o alistamento do “inválido” (art. 6º,
I). O Tribunal Superior Eleitoral, respondendo uma consulta formulada pelo TRE/
ES, observou que a ausência de qualquer disciplina constitucional sobre matéria
tão relevante sugeria não um silêncio eloquente, mas uma clara “lacuna” suscetí-
vel de ser colmatada mediante interpretação que reconhecesse também o caráter
facultativo do alistamento e do voto aos maiores de 70 anos, atentou certamente,
para as prováveis limitações físicas decorrentes de sua idade, de modo a não
transformar o exercício do voto em transtorno ao seu bem-estar. [...] Cuidar-se-ia
de uma “lacuna” suscetível de ser superada com base nos próprios princípios es-
truturantes do sistema constitucional, suficientes a legitimar uma cláusula implícita
que justificasse outras exceções ao alistamento obrigatório, desde que compatível

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

com o “projeto” fixado pelo texto constitucional. [...] Por esses fundamentos, expe-
diu- se a Resolução n. 21.920, publicada no DJ de 1º/10/2004, que eximiu de san-
ção a pessoa portadora de deficiência que torne impossível ou demasiadamente
oneroso o cumprimento das obrigações eleitorais, relativas ao alistamento e ao
exercício do voto. (MENDES et al, 2009, p. 781-782)

Veja a seguir um quadro resumo da obrigatoriedade e facultatividade do alistamento


eleitoral.

ALISTAMENTO ELEITORAL

(Obrigatoriedade e facultatividade)

CONDIÇÃO DO ALISTAMENTO REQUISITO


OBRIGATÓRIO Maior de 18 anos.
No ano das eleições, o menor que completar 16 anos
até data das eleições, inclusive.
FACULTATIVO Maior de 16 e menor de 18 anos.
Maior de 70 anos.
Analfabeto.

• Impedimento do alistamento

Além de casos de alistamento obrigatório e facultativo, há também aqueles nos quais


incide um impedimento legal que inviabiliza o alistamento eleitoral.
O primeiro impedimento se aplica aos estrangeiros, os quais não podem se alistar como
eleitores (art. 14, § 2, CF).
No entanto, há uma exceção. Havendo reciprocidade em Portugal, aos portugueses
com residência habitual no Brasil há mais de três anos é permitido o alistamento eleitoral,
mesmo sem naturalização. Cabe aqui lembrar que o gozo de direitos políticos no Estado de
residência importa na suspensão do exercício dos mesmos direitos no Estado da nacionali-
dade. Assim, o português que se alistar no Brasil, não pode exercer, enquanto se beneficiar
da reciprocidade, o mesmo direito em Portugal. (art. 14, § 2, CF).
São também impedidos de se alistar como eleitores, durante o período militar obri-
gatório, os conscritos. Para fins de impedimento de alistamento eleitoral “conscritos” são:
a) brasileiro que, no ano que completa dezoito anos, é selecionado para prestar o ser-
viço militar obrigatório, seja ele no Exército, na Marinha ou na Aeronáutica;
b) os médicos, dentistas, farmacêuticos e veterinários que não prestaram o serviço mili-
tar obrigatório em virtude de adiamento de incorporação para a realização dos respectivos
cursos superiores e, uma vez concluídos os seus cursos de graduação, venham a prestar o
serviço militar obrigatório;

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

c) alunos dos órgãos de formação de reserva, tais como o Centro de Preparação de


Oficiais da Reserva (CPOR) e o Núcleo de Preparação de Oficiais da Reserva (NPOR).
O alcance da expressão “conscritos”, definido nas alíneas “b” e “c”, é jurisprudencial.
Nesse sentido:

JURISPRUDÊNCIA
A palavra “conscrito” constante deste dispositivo alcança também aqueles matricu-
lados nos órgãos de formação de reserva e os médicos, dentistas, farmacêuticos e
veterinários que prestam serviço militar inicial obrigatório (Res.-TSE n. 15.850/89).

De outro modo, são excluídos da abrangência da expressão “conscritos” e, portanto,


podem se alistar, os engajados no serviço militar, ou seja, aquele que uma vez cumprido o
período militar obrigatório, decidiram continuar no serviço militar, além dos oficiais, aspiran-
tes a oficiais, guardas-marinha, subtenentes ou suboficiais, sargentos ou alunos das escolas
militares de ensino superior para formação de oficiais.
Além desses dois casos de impedimento, a jurisprudência do TSE é pacífica ao afirmar
a vedação ao alistamento que se impõe em face da incapacidade absoluta nos termos da
lei civil.

JURISPRUDÊNCIA
Consoante o § 2º do artigo 14 da CF, a não alistabilidade como eleitores somente
é imputada aos estrangeiros e, durante o período do serviço militar obrigatório,
aos conscritos, observada, naturalmente, a vedação que se impõe em face da
incapacidade absoluta nos termos da lei civil. (TSE, PA n. 19.840/2010).

Cumpre ainda informar que, recentemente, o TSE decidiu que a vedação ao alista-
mento para os que não saibam exprimir-se na língua nacional, contida no art. 5º, II, CE, não
foi recepcionada pela Constituição Federal de 1988. Segundo o TSE:

JURISPRUDÊNCIA
Vedado impor qualquer empecilho ao alistamento eleitoral que não esteja previsto
na Lei Maior, por caracterizar restrição indevida a direito político, há que afirmar
a inexigibilidade de fluência da língua pátria para que o indígena ainda sob tu-
tela e o brasileiro possam alistar-se eleitores. Declarada a não recepção do art.
5º, inciso II, do Código Eleitoral pela Constituição Federal de 1988. (TSE, PA n.
19.840/2010).

Agora que já sabemos os casos de obrigatoriedade, facultatividade e impedimento, veja


uma situação interessante, apreciada pelo TSE, e que merece análise.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

EXEMPLO
Um jovem entre os 16 e 18 anos requereu com sucesso seu alistamento eleitoral.
Passados dois anos, o jovem completou 18 anos e foi selecionado para cumprir o
serviço militar obrigatório, ou seja, tornou-se um conscrito. Durante o período de
serviço militar, se sobrevier uma eleição, pode o conscrito, que já havia sido inscrito
no cadastro geral de eleitores, por meio do alistamento eleitoral, exercer o direito
de votar na eleição?
O TSE decidiu que não pode o conscrito, mesmo que já tenha inscrição eleitoral,
exercer o direito do voto (PA 16.337, DJ de 14.5.98).

Aqui encerra-se os casos de obrigatoriedade, facultatividade e impedimento. Vamos


estudar agora como os obrigados e os facultados, se esses assim desejarem, realizam efeti-
vamente seu alistamento eleitoral.

Qualificação e Inscrição

O alistamento se faz por meio da qualificação e inscrição do eleitor. Somente com


a realização dessas duas etapas ter-se-á sua consumação (art. 42, CE). A qualificação se
consubstancia na demonstração, perante a Justiça Eleitoral, dos dados que habilitam o elei-
tor a integrar o corpo eleitoral. A inscrição, por sua vez, é a introdução do nome do eleitor no
corpo de eleitores, por meio de decisão do juiz eleitoral após a verificação do preenchimento
dos requisitos.

Procedimento do Alistamento

Vamos entender como se concretiza na prática as duas etapas do alistamento eleitoral:


a qualificação e a inscrição.
Para realizar o alistamento basta o pretenso eleitor dirigir-se ao cartório eleitoral ou
posto de alistamento de seu domicílio eleitoral, no prazo de até 150 dias anteriores à data
da eleição (art. 91, Lei 9.504/97), com um dos seguintes documentos (art. 34 da Res.-
-TSE 23.659/2021):
I – carteira de identidade ou carteira emitida pelos órgãos criados por lei federal, contro-
ladores do exercício profissional;
II – certidão de nascimento ou de casamento expedida no Brasil ou registrada em repar-
tição diplomática brasileira e transladada para o registro civil, conforme a legislação própria.
III – documento público do qual se infira ter a pessoa requerente a idade mínima de 15
anos, e do qual constem os demais elementos necessários à sua qualificação;
IV – documento congênere ao registro civil, expedido pela Fundação Nacional do
Índio (FUNAI);

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

V – documento do qual se infira a nacionalidade brasileira, originária ou adquirida, da


pessoa requerente;
VI – publicação oficial da Portaria do ministro da Justiça e o documento de identidade
de que tratam os arts. 22 do Decreto n. 3.927, de 2001, e 5º da Lei n. 7.116, de 1983, para as
pessoas portuguesas que tenham obtido o gozo dos direitos políticos no Brasil.
A regra é que basta apenas um dos documentos listados acima. Entretanto, para os
maiores de 18 anos do sexo masculino, é obrigatória a apresentação do certificado de quita-
ção do serviço militar.
As informações pessoais trazidas pelo pretenso eleitor serão processadas eletronica-
mente por um sistema de alistamento desenvolvido pelo Tribunal Superior Eleitoral. Para
tanto, deve o servidor da Justiça Eleitoral, com base na autodeclaração do requerente e nos
documentos exigidos na Resolução-TSE n. 23.659/2021, nos seguintes termos:

Art. 42. Os campos do formulário RAE serão detalhados em ato da Corregedo-


ria-Geral Eleitoral e serão orientados à concretização do princípio da dignidade
da pessoa humana, do direito à autodeclaração e das finalidades de adequada
identificação da pessoa eleitora e de coleta de informações necessárias para o
aperfeiçoamento e a especialização dos serviços eleitorais, devendo ser previs-
tos, necessariamente:
I – nome civil;
II – nome social, para uso exclusivo por pessoa transgênera que não fez retifica-
ção do registro civil;
III – gênero, com as opções “masculino” e “feminino”;
IV – identidade de gênero, com as opções mínimas “cisgênero”, “transgênero” e
“prefere não informar”;
V – raça, em correspondência ao quesito cor ou raça utilizado pelo Instituto Brasi-
leiro de Geografia e Estatística (IBGE);
VI – possibilidade de identificação da pessoa como “indígena” e “quilombola ou
integrante de comunidade remanescente”, bem como de indicação da etnia ou
comunidade quilombola a que pertence e, ainda, a língua que pratica, de forma
exclusiva ou concomitante com o português;
VII – filiação, contendo quatro campos para identificação de genitores, sendo dois
identificados como “mãe” e dois como “pai”, de modo a que possam ser incluí-
das pessoas do mesmo gênero e acolhida a realidade das famílias mono ou plu-
riparentais;
VIII – data de nascimento, com possibilidade de indicação, pela pessoa requeren-
te, de que possui ou não irmã gêmea ou irmão gêmeo;

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

IX – possibilidade de identificar, com o detalhamento adequado, tratar-se de pes-


soa com deficiência ou outra condição que, por dificultar ou impedir o exercício do
voto, deva ser considerada nas políticas de governança eleitoral para promover a
ampliação do exercício da cidadania;
X – domicílio eleitoral, para identificação de município ou do Distrito Federal como
localidade onde a pessoa, comprovado um dos vínculos a que se refere o art. 23
desta Resolução, exercerá o direito ao voto;
XI – endereço de residência ou de contato, que não necessariamente correspon-
derá ao do domicílio eleitoral, podendo o preenchimento do campo ser dispensado
em caso de informação de tratar-se de pessoa em situação de rua ou sem mo-
radia fixa;
XII – Grau de instrução, que deve permitir identificar pessoa analfabeta, para a
qual são facultativos o alistamento eleitoral e o voto;
XIII – Documento de identificação e número de inscrição no Cadastro de Pessoas
Físicas (CPF);
XIV – Nacionalidade;
XV – Naturalidade;
XVI – Estado Civil;
XVII – Ocupação;
XVIII – Telefone;
XIX – E-mail; e
XX – Zona Eleitoral, local de votação e seção eleitoral.
§ 1º Serão preenchidos conforme a autodeclaração da pessoa requerente os cam-
pos previstos nos incisos III, IV, V, VI e IX.
§ 2º Serão prestadas pela pessoa requerente, sem necessidade de comprovação,
as informações relativas aos campos II, XII, XVII, XVIII e XIX e à existência de irmã
gêmea ou irmão gêmeo.
§ 3º Será exigida comprovação documental do vínculo informado para a finalidade
de fixação do domicílio eleitoral, ressalvadas as situações de:
a) pertencimento a comunidades indígenas ou quilombolas;
b) pessoa em situação de rua; ou
c) indicação do domicílio dentre endereços previamente cadastrados em decor-
rência de cruzamento de dados realizado nos termos do caput e do § 2º do art. 9º
desta Resolução.
§ 4º A Corregedoria-Geral Eleitoral poderá editar provimento para regulamentar,
de modo uniforme em todo país, a comprovação a que alude o § 3º deste artigo,
sem prejuízo da atuação das corregedorias regionais e dos juízos eleitorais para

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

sanar, no âmbito de sua competência, dúvidas decorrentes de situação não regu-


lamentadas.
§ 5º As regulamentações e atos expedidos conforme o § 4º deste artigo terão
como prioridade a facilitação do exercício dos direitos políticos por cidadãs e cida-
dãos, observadas as diretrizes do art. 1º desta Resolução.
§ 6º O endereço de que trata o inciso XI deste artigo terá a finalidade específica de
recebimento de comunicações da Justiça Eleitoral e será declarado pela pessoa
ou escolhido entre aqueles previamente cadastrados na forma do caput do art. 9º
desta Resolução, sem necessidade de comprovação.
§ 7º Presumem-se válidas as notificações e intimações relativas a serviços elei-
torais e a procedimentos administrativos e judiciais, à exceção daqueles para os
quais se exige declaração específica no registro de candidatura, que sejam dirigi-
das à pessoa no endereço expressamente indicado nos termos no § 6º deste artigo.
§ 8º A pessoa que, para os fins do § 6º deste artigo, indicar endereço em localida-
de diversa do seu domicílio eleitoral não se desobriga de atender às convocações
e comunicados feitos em caráter geral pela Justiça Eleitoral, tais como os relativos
à revisão de eleitorado e às eleições suplementares que abranjam o município em
que é eleitora.
§ 9º Antes de confirmado o preenchimento do campo previsto no inciso XII deste
artigo, a pessoa que se identificar como analfabeta que “lê e escreve” será infor-
mada sobre a facultatividade do alistamento e do voto para as pessoas analfabe-
tas e sobre a obrigatoriedade de ambos para as pessoas alfabetizadas.
§ 10 É obrigatória a exibição do documento de identificação do eleitor ou da eleito-
ra, devendo ser inserido no RAE o número e o órgão expedidor, e, quando dispo-
nível, o número de inscrição no Cadastro de Pessoa Física (CPF).
§ 11 O local de votação será definido conforme a preferência manifestada pela
pessoa, dentre os locais disponíveis na zona eleitoral, os quais constarão, com os
respectivos endereços, de listagem disponibilizada no momento do atendimento e,
também, nos sítios eletrônicos e aplicativos da Justiça Eleitoral.
§ 12 Na definição da seção eleitoral, será assegurada a acessibilidade a pessoas
com deficiência.

Após o preenchimento do RAE e juntada dos documentos, encaminha-se o requeri-


mento para apreciação do juiz eleitoral.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

Esquematicamente:

A partir daqui, há duas possibilidades. O juiz poderá deferir ou indeferir pedido. Vamos
estudar primeiro o caso de deferimento.

• Deferimento do requerimento de alistamento eleitoral

Ao apreciar o requerimento, o juiz poderá, se tiver dúvida quanto à identidade do reque-


rente ou sobre qualquer outro requisito para o alistamento, converter o requerimento em dili-
gência para que o solicitante esclareça ou complete a prova, fixando o prazo estabelecido
pela Corregedoria-Geral, nos seguintes termos:

Art. 52. Havendo dúvida quanto à identidade da pessoa, do vínculo invocado para
a fixação do domicílio ou de outro requisito indispensável para o deferimento do
pedido, o juízo poderá determinar a adoção de diligências ou notificar a(o) reque-
rente para que compareça ao cartório eleitoral.
§ 1º A notificação a que se refere o caput deste artigo poderá ser feita por meio do
serviço de que trata o inciso II do art. 44 desta Resolução e indicará com precisão
o documento faltante ou o esclarecimento a ser prestado, bem como o prazo no
qual a determinação deve ser atendida.
§ 2º Provimento da Corregedoria-Geral Eleitoral disporá sobre os prazos para
complementação de documentos e de atendimento a diligências.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

Cumprida a diligência, se houver, e deferido o requerimento de inscrição eleitoral, o juiz


eleitoral viabilizará a publicidade dessa decisão por meio de sistema específico quinzenal-
mente (dias 1º e 15º de cada mês), segundo se vê no seguinte dispositivo da Resolução-TSE
n. 23.659/2021:

Art. 54. Será disponibilizada aos partidos políticos, em sistema específico, e ao


Ministério Público Eleitoral, mediante ofício, nos dias 1º e 15 de cada mês ou no
primeiro dia útil que lhes seguir, listagem contendo as inscrições eleitorais paras as
quais houve requerimento de alistamento ou transferência deferido ou indeferido.
§ 1º A relação de inscrições de que trata o caput conterá apenas os seguintes dados:
a) nome;
b) Inscrição eleitoral identificada apenas pelos 4 primeiros dígitos;
c) operação;
d) município;
e) zona eleitoral;
f) data de digitação; e
g) lote do RAE.
§ 2º Findo o prazo recursal cuja contagem se iniciar da publicação da listagem
de que trata o caput deste artigo, será ela removida dos locais em que tiver sido
disponibilizada.

Da decisão de deferimento, poderá recorrer ao TRE qualquer partido político e o Minis-


tério Público Eleitoral no prazo de 10 (dez) dias, contados da disponibilização da listagem no
sistema específico. Por sua vez, indeferido, cabe recurso, no prazo de 5 (cinco) dias, a ser
interposto pelo eleitor ou pelo Ministério Público, da seguinte forma (art. 58 da Resolução-
-TSE n. 23.659/2021:

Art. 57. Qualquer partido político e o Ministério Público Eleitoral poderão interpor
recurso contra o deferimento do alistamento ou da transferência, no prazo de 10
dias, contados da disponibilização da listagem prevista no art. 54 desta Resolução.
Art. 58. Indeferido o alistamento ou a transferência, poderão interpor recurso, no
prazo de 5 dias:
a) o eleitor ou a eleitora, contando-se o prazo respectivo a partir da data em que for
realizada a notificação sob uma das formas previstas no art. 55 desta Resolução;
b) o Ministério Público Eleitoral, fluindo o prazo respectivo da disponibilização da
listagem prevista no art. 54 desta Resolução.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

Vamos a um esquema didático para visualizar todo o procedimento.

Esse é o procedimento a ser seguido pelo Tribunal Regional Eleitoral, conforme se vê o


art. 62 da Resolução-TSE n. 23.659/2021:

Art. 62. No tribunal, os autos serão encaminhados ao Ministério Público Eleitoral,


para oferecimento de parecer, em 3 dias, e, em seguida, serão conclusos à Rela-
tora ou ao Relator.
§ 1º Se constatar a existência de falha que possa ser sanada por simples juntada
de documento, a Relatora ou Relator intimará a eleitora ou o eleitor para que apre-
sente o documento faltante.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

§ 2º Julgado o feito, a intimação da decisão ou do acórdão dirigida ao eleitor ou


à eleitora sem representação nos autos conterá expressa advertência de que a
constituição de advogada ou advogado passará a ser indispensável em caso de
recurso dirigido ao Tribunal Superior Eleitoral.

Domicílio Eleitoral

O Código Eleitoral define domicílio eleitoral, para efeito de inscrição, o lugar de resi-
dência ou moradia do requerente e, verificado ter o alistando mais de uma, considerar-se-á
domicílio qualquer delas (art. 42, CE).
Esse conceito, um tanto restrito, foi, no entanto, elastecido pela jurisprudência dos Tri-
bunais, os quais passaram a admitir como prova de domicílio não só a moradia, mas também
outros vínculos, tais como negócios, propriedades, atividades políticas, atividades sociais,
vínculos de afetividade etc. Essa orientação jurisprudencial veio a confirmar a ideia de que
o domicílio eleitoral não se confunde com o domicílio civil. Veja a jurisprudência do TSE
nesse sentido:

JURISPRUDÊNCIA
O conceito de domicílio eleitoral não se confunde com o de domicílio do direito
comum, regido pelo Código Civil. Mais flexível e elástico, identifica-se com a resi-
dência e o lugar onde o interessado tem vínculos políticos e sociais (Ac. 16.937,
DJ de 29.8.2000).
O domicílio eleitoral não se confunde, necessariamente, com o domicílio civil. A
circunstância de o eleitor residir em determinado município não constitui obstáculo
a que se candidate em outra localidade onde é inscrito e com a qual mantém víncu-
los (negócios, propriedades, atividades políticas) (Ac. 18.124, DJ de 16.11.2000).

Sobre esse assunto, essa é a prescrição contida no art. 23 da Resolução-TSE n.


23.659/2021:

Art. 23. Para fins de fixação do domicílio eleitoral no alistamento e na transferência,


deverá ser comprovada a existência de vínculo residencial, afetivo, familiar, pro-
fissional, comunitário ou de outra natureza que justifique a escolha do município.
§ 1º A fixação do domicílio eleitoral, inclusive para fins de candidatura, retroagirá à
data em que requerida a operação de alistamento ou transferência que tenha sido
devidamente concluída, independentemente da data em que seja processado o
lote do RAE ou venham a ser consideradas satisfeitas eventuais diligências.
§ 2º Na revisão e na segunda via, a data de fixação do domicílio eleitoral não
será alterada.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

Ao requerer sua inscrição eleitoral, o alistando deve fazê-lo no seu domicílio eleitoral. E
isso é intuitivo, pois são as pessoas ali domiciliadas, as quais possuem interesse na melhoria
do local, que devem escolher os seus mandatários. Não é razoável que pessoas estranhas
ao local e que com ele não possua nenhum vínculo participe desse processo.
Desse modo, pode-se afirmar que o domicílio na circunscrição é condição imprescindí-
vel para o deferimento do pedido de inscrição eleitoral pelo juiz.
Na verdade, a comprovação do domicílio no local da inscrição é imprescindível não
somente no momento da primeira inscrição, mas também no procedimento de transferência
dessa inscrição para outra zona eleitoral. Aliás, esse é o nosso próximo assunto.

Transferência Eleitoral

A transferência consiste na mudança de domicílio eleitoral do eleitor. Na prática, ocorre


a transferência do seu nome para um colégio eleitoral diferente daquele do qual fazia parte.
A transferência pode ocorrer nas seguintes hipóteses:
a) de um local de votação para outro, em município diverso do seu, mesmo que dentro
da mesma zona eleitoral;
b) de um município para outro dentro do mesmo Estado;
c) de um estado para outro dentro do país;
d) do exterior para o Brasil;
e) do Brasil para o exterior (sob a responsabilidade da 1ª Zona do Distrito Federal);
f) de uma zona do exterior para outra também no exterior (sob a responsabilidade da
1ª Zona do Distrito Federal).

Requisitos

Para o deferimento do pedido de transferência deve-se observar os seguintes requisitos:

REQUISITOS DO PEDIDO DE TRANSFERÊNCIA ELEITORAL

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

O primeiro requisito é a entrada do pedido de transferência no prazo estabelecido pela


legislação vigente, que é de até 151º dia antes da data da eleição (art. 91, Lei 9.504/97),
estando revogado o prazo de até 100 dias, constante no art. 55, § 1º, I, CE.
Outro requisito exigido é a residência mínima de 3 meses do eleitor no novo domicílio.
Desse modo, não basta somente a fixação do domicílio eleitoral no novo local. Faz-se neces-
sário, ainda, que ela seja duradoura, no mínimo de 3 meses.
Esse requisito, no entanto, não se aplica à transferência de título eleitoral de servidor
público civil, militar, autárquico ou de membro de sua família, por motivo de remoção ou
transferência.

EXEMPLO
Imagine que Antônio, servidor público federal, seja removido no interesse da Admi-
nistração da cidade de Brasília para a cidade de Belo Horizonte. Em razão disso,
Antônio e sua esposa, Maria, providenciam sua mudança para a nova cidade. Logo
após se instalarem na cidade, mais precisamente 1 mês depois, Maria se dirige ao
cartório eleitoral e solicita a transferência do seu título eleitoral de Brasília para Belo
Horizonte. Mesmo Maria não sendo servidora pública, o juiz eleitoral deverá deferir
seu pedido, haja vista sua mudança de domicílio ter sido ocasionada pela remoção
de seu marido, servidor público.

Para o deferimento de transferência eleitoral, deve ainda ser observado o decurso de


prazo de pelo menos 1 ano do alistamento ou da última transferência do solicitante.
Assim como a exigência mínima de 3 meses no novo domicílio, o requisito da obser-
vância de pelo menos 1 ano da última transferência não se aplica ao servidor público civil,
militar, autárquico ou de membro de sua família, por motivo de remoção ou transfe-
rência, nem de indígenas, quilombolas, pessoas com deficiência, trabalhadores rurais
safristas e pessoas forçadas a mudar de residência em razão de tragédias ambientais.
O último requisito se revela na necessidade de comprovação da quitação eleitoral com
a Justiça Eleitoral. Ao requerer a transferência, o eleitor entregará ao servidor do cartó-
rio o título eleitoral e a prova de quitação com a Justiça Eleitoral.
A certidão de quitação eleitoral abrangerá exclusivamente a plenitude do gozo dos direi-
tos políticos, o regular exercício do voto, o atendimento a convocações da Justiça Eleitoral
para auxiliar os trabalhos relativos ao pleito, a inexistência de multas aplicadas, em caráter
definitivo, pela Justiça Eleitoral e não remitidas, e a apresentação de contas de campanha
eleitoral.
Dada a importância dessa parte do alistamento eleitoral, veja o teor da prescrição sobre
transferência eleitoral contidas na Resolução-TSE n. 23.659/2021:

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

Seção III
DA TRANSFERÊNCIA
Art. 37. A transferência será realizada quando a pessoa desejar alterar seu do-
micílio eleitoral, em conjunto ou não com eventual retificação de dados ou regu-
larização de inscrição cancelada, e for encontrado em seu nome, em município
diverso ou no exterior, número de inscrição regular, suspensa ou, se cancelada,
por motivo que permita sua reutilização.
Art. 38. A transferência só será admitida se satisfeitas as seguintes exigências:
I – apresentação do requerimento perante a unidade de atendimento da Justiça
Eleitoral do novo domicílio no prazo estabelecido pela legislação vigente;
II – transcurso de, pelo menos, um ano do alistamento ou da última transferência;
III – tempo mínimo de três meses de vínculo com o município, dentre aqueles ap-
tos a configurar o domicílio eleitoral, nos termos do art. 23 desta Resolução, pelo
tempo mínimo de três meses, declarado, sob as penas da lei, pela própria pessoa
( Lei n. 6.996/1982, art. 8º);
IV – regular cumprimento das obrigações de comparecimento às urnas e de aten-
dimento a convocações para auxiliar nos trabalhos eleitorais. § 1º Os prazos pre-
vistos nos incisos II e III deste artigo não se aplicam à transferência eleitoral de:
a) servidor público civil e militar ou de membro de sua família, por motivo de remo-
ção, transferência ou posse ( Lei n. 6.996/1982, art. 8º, parágrafo único); e
b) indígenas, quilombolas, pessoas com deficiência, trabalhadores rurais safristas
e pessoas que tenham sido forçadas, em razão de tragédia ambiental, a mudar
sua residência.
§ 2º Não comprovada de plano a regularidade das obrigações referidas no inciso
IV deste artigo, e não sendo o caso de isenção, será cobrada do eleitor multa no
valor arbitrado pelo juízo da zona eleitoral de sua inscrição.
§ 3º Se a multa devida por ausência às urnas ou por desatendimento a convoca-
ções para os trabalhos eleitorais ainda não tiver sido arbitrada pelo juízo eleitoral
competente, o eleitor ou a eleitora poderá optar, desde logo, por recolhê-la no
valor máximo, não decuplicado, previsto na legislação.
§ 4º Feito o pagamento da multa, será concluída a transferência e, se for o caso
do § 3º deste artigo, será feita a comunicação ao juízo competente, com vistas à
extinção de eventual procedimento administrativo em que se apure a situação de
mesário faltoso.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

Cancelamento e Exclusão Eleitoral

As inscrições eleitorais têm caráter de definitividade. Não obstante, existem algumas


situações que podem ensejar o cancelamento da inscrição do eleitor. Essas hipóteses estão
previstas no art. 71 do Código Eleitoral.

Hipóteses de cancelamento da inscrição eleitoral

A primeira hipótese de cancelamento da inscrição eleitoral, que se refere à infra-


ção dos artigos 5º e 42 do Código Eleitoral, alcança apenas o eleitor que infringir o dis-
posto no art. 5º, III, CE, ou seja, aquele que tenha insistido no alistamento mesmo privado
temporária ou definitivamente dos direitos políticos — conscritos e estrangeiros – bem assim
aquele que se alistou fora do seu domicílio (art. 42, CE).

A segunda hipótese de cancelamento de inscrição eleitoral se relaciona com os


casos de perda ou suspensão dos direitos políticos, elencadas no art. 15 da CF, tais
como a incapacidade civil absoluta (art. 15, II, CF), a condenação criminal transitada em jul-
gado (art. 15, III, CF), a recusa em cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alterna-

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

tiva (art. 15, IV, CF) e a condenação por ato de improbidade administrativa (art. 15, V, CF).
Em havendo perda ou suspensão de direitos políticos, têm-se como consequência jurídica o
cancelamento da inscrição (art. 71, CE).
Neste ponto, faz-se oportuno uma observação. A doutrina majoritária e até mesmo a
Res.-TSE 23.659/2021, no seu art. 51, entende que nos casos de suspensão de direitos
opera-se a suspensão da inscrição eleitoral e não o seu cancelamento. Todavia, as bancas
de concurso, como CESPE, FCC e outras, vêm cobrando a literalidade do art. 71 do Código
Eleitoral. Assim, nesses casos, para fins de concurso público, opera-se o cancelamento da
inscrição eleitoral.

De qualquer forma, reproduz-se o teor dos arts. 18 e ss. da Resolução n. 23.659/2021:

Seção II
DAS RESTRIÇÕES A DIREITOS POLÍTICOS E DE SUA REGULARIZAÇÃO
Art. 18. Tomando conhecimento de fato ensejador de suspensão de direitos polí-
ticos ou de impedimento ao exercício do voto, a zona eleitoral competente provi-
denciará o imediato registro da situação no Cadastro Eleitoral.
§ 1º Quando não for de sua competência realizar a anotação, o juízo eleitoral co-
municará o fato diretamente à zona eleitoral à qual pertencer a inscrição do eleitor
ou da eleitora.
§ 2º Tratando-se de pessoa que não possui inscrição eleitoral, o registro será feito
diretamente na base de perda e suspensão de direitos políticos, pela corregedoria
regional eleitoral que primeiro tomar conhecimento do fato.
§ 3º Constatada a ocorrência de hipótese ensejadora de perda de direitos polí-
ticos, a Corregedoria-Geral Eleitoral providenciará a imediata atualização da si-
tuação das inscrições no Cadastro Eleitoral e na base de perda e suspensão de
direitos políticos.
Art. 19. A regularização de situação eleitoral de pessoa com restrição de direi-
tos políticos somente será possível mediante a comprovação de haver cessado o
impedimento.
§ 1º A regularização de inscrição envolvida em coincidência com a de pessoa que
perdeu ou está com seus direitos políticos suspensos somente será feita mediante
a comprovação de tratar-se de eleitor diverso.
§ 2º Para os fins deste artigo, a pessoa interessada deverá preencher requerimen-
to e instruir o pedido com declaração de situação de direitos políticos e documen-
tação comprobatória de sua alegação.
§ 3º Comprovada a cessação do impedimento, será comandado o código ASE
próprio e/ou inativado(s), quando for o caso, o(s) registro(s) correspondente(s) na
base de perda e suspensão de direitos políticos.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

§ 4º Regularizada a inscrição eleitoral conforme o § 3º deste artigo, o juízo eleito-


ral, verificando que os dados biométricos ainda não constam de banco de dados
da Justiça Eleitoral, notificará a pessoa interessada para comparecimento ao car-
tório, visando à coleta de fotografia, impressão digital e assinatura digitalizada.
Art. 20. São considerados documentos comprobatórios de reaquisição ou resta-
belecimento de direitos políticos:
I – nos casos de perda:
a) decreto ou portaria;
b) comunicação do Ministério da Justiça;
II – nos casos de suspensão:
a) para condenados: sentença judicial, certidão do juízo competente ou outro do-
cumento que comprove o cumprimento ou a extinção da pena ou sanção imposta,
independentemente da reparação de danos;
b) para conscritos ou pessoas que se recusaram à prestação do serviço militar
obrigatório: Certificado de Reservista, Certificado de Isenção, Certificado de Dis-
pensa de Incorporação, Certificado do Cumprimento de Prestação Alternativa ao
Serviço Militar Obrigatório, Certificado de Conclusão do Curso de Formação de
Sargentos, Certificado de Conclusão de Curso em Órgão de Formação da Reser-
va ou similares.
Art. 21. As ocorrências de fatos e decisões que, nos termos da legislação eleitoral,
constituam, em tese, hipótese de incidência de inelegibilidade a ser examinada em
registro de candidatura serão registradas no Cadastro Eleitoral pelo juízo da zona
eleitoral à qual pertencer a inscrição do eleitor ou da eleitora.
§ 1º O registro de que trata o caput deste artigo será feito por comando próprio que
não ensejará óbice à expedição de certidão de quitação ou relativa a regularidade
das obrigações eleitorais.
§ 2º A mera inclusão da informação no Cadastro Eleitoral não equivale à declara-
ção de inelegibilidade.
§ 3º A inativação do registro será feita automaticamente no prazo definido na le-
gislação, salvo se houver anterior determinação judicial ou comunicação, pelo
órgão competente, que declare a modificação ou extinção do fato que ensejou
a anotação.

Outra hipótese de cancelamento da inscrição do eleitor ocorre quando se verifica


que esse possui mais de uma inscrição eleitoral.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

A verificação dessa irregularidade com o objetivo de expurgar possíveis duplicidades ou


pluralidades de inscrição se dá por meio do procedimento de batimento ou cruzamento das
informações cadastrais, realizado pelo TSE, conforme se vê nos arts. 77 e ss. da Resolução-
-TSE n. 23.659/2021:

CAPÍTULO VI
DO BATIMENTO DE DADOS BIOGRÁFICOS E DE DADOS BIOMÉTRICOS
Seção I
DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 77. O batimento consiste em procedimento que compara dados mantidos nos
cadastros do Tribunal Superior Eleitoral, com a finalidade de aferir se cada pessoa
mantém apenas uma única inscrição eleitoral.
Art. 78. O Tribunal Superior Eleitoral realizará batimentos de dados biográficos e
biométricos, em âmbito nacional, com o objetivo de:
I – identificar situações que exijam averiguação; e
II – expurgar inconformidades e outras irregularidades de inscrições eleitorais. Pa-
rágrafo único. As inconformidades a que se refere o inciso I do caput deste artigo
consistem em uma das seguintes situações, que demandarão tratamento:
a) duplicidade, quando houver indício de que uma única pessoa possui duas ins-
crições eleitorais, em decorrência de uma inscrição indevida, seja por equívoco no
atendimento ou pela tentativa maliciosa de obtenção de uma segunda inscrição
eleitoral;
b) pluralidade, quando houver indício que uma única pessoa possui três ou mais
inscrições eleitorais, em decorrência de inscrições indevidas, seja por equívoco
no atendimento ou pela tentativa maliciosa de obtenção de múltiplas inscrições
eleitorais; e
c) incoincidências, quando, na realização de transferência ou revisão eleitoral,
forem coletados dados biométricos que não coincidam com os já constantes do
cadastro para a inscrição eleitoral transferida ou revisada, indicando um possível
equívoco de atendimento ou a utilização indevida de dados da pessoa por outrem.
Art. 79. As operações de alistamento, transferência e revisão somente serão inclu-
ídas no cadastro ou efetivadas após submetidas a batimento de dados biográficos.
Parágrafo único. A inclusão ou efetivação da operação não impede a adoção
de medidas posteriores destinadas a identificar inconsistências, hipótese na qual
será observado o procedimento previsto nos arts. 63 a 67 desta Resolução.
Art. 80. Detectada a inconformidade, a inscrição ficará sujeita a apreciação e de-
cisão de autoridade judiciária.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

§ 1º Em um mesmo grupo de duplicidades ou pluralidades apuradas no batimento


biográfico, as inscrições mais recentes serão consideradas “não liberadas”, salvo
se se tratar de inscrições atribuídas a pessoas gêmeas, as quais serão todas iden-
tificadas em situação liberada.
§ 2º Em caso de o agrupamento a que se refere o § 1º deste artigo contar com
inscrição de pessoa gêmea e inscrição para a qual não foi indicada essa condição,
esta será considerada não liberada.
§ 3º Em um mesmo grupo de incoincidências apuradas no batimento biométrico,
todas as inscrições envolvidas serão consideradas não liberadas.

Seção II
DO PROCESSAMENTO DAS INCONFORMIDADES
Art. 81. Realizado o batimento, o Tribunal Superior Eleitoral expedirá:
I – Relação dos grupos de inscrições e/ou RAEs envolvidos em duplicidade, plu-
ralidade ou incoincidência, emitida por ordem de número de grupo, contendo os
dados necessários à individualização dos eleitores agrupados;
II – Comunicação eletrônica dirigida à autoridade judiciária incumbida da aprecia-
ção do caso, noticiando a existência de inscrição envolvida em duplicidade, plura-
lidade ou incoincidência, para devido processamento; e
III – Notificação, na forma do caput e do § 1º do art. 55 desta Resolução, dirigida
ao eleitor cuja inscrição estiver em situação “não liberada”, para que, no prazo de
20 dias a contar da data do batimento, requeira a regularização de sua situação
eleitoral.
Art. 82. Recebida a comunicação de que trata o inciso II do art. 81 desta Re-
solução, a autoridade judiciária deverá, de ofício e imediatamente, determinar a
autuação dos procedimentos no PJe e publicar, no sítio do tribunal regional, edital
informando as inscrições agrupadas.
Parágrafo único. O edital ficará disponível pelo prazo de 20 dias a contar do
batimento.
Art. 83. Sendo possível concluir, desde logo, que o grupo é formado por pessoas
distintas, o juiz determinará a regularização da situação da inscrição do eleitor que
não possuir outra liberada, regular ou suspensa.
Art. 84. Não sendo possível concluir de plano pela inexistência da irregularidade,
o juiz poderá determinar as diligências que entender necessárias para a apuração
da irregularidade, inclusive mediante expedição de ofício à Zona Eleitoral a que
pertencem as demais inscrições envolvidas na duplicidade ou na pluralidade.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

§ 1º Ainda que concluídas as diligências, a decisão de cancelamento somente


poderá ser proferida após o transcurso do prazo assinalado ao eleitor para regu-
larizar sua situação.
§ 2º Em situações excepcionais, nas quais seja possível ao juízo eleitoral aferir
de plano o equívoco na informação do endereço pelo eleitor e houver meios para
localizá-lo, o juiz eleitoral poderá, se entender necessário, renovar a notificação
prevista no inciso III do art. 81 desta Resolução, mantida a contagem do prazo já
iniciada desde o batimento.
Art. 85. No prazo para sua manifestação, o eleitor poderá, por petição simples di-
rigida ao juiz, prestar esclarecimentos, juntar documentos e, identificado erro nos
dados informados, requerer sua retificação. Parágrafo único. Não será exigida a
representação por advogado, podendo o eleitor apresentar a petição em via ma-
nuscrita, a ser digitalizada e inserida no PJe pelo servidor da Justiça Eleitoral, ou
se valer do sistema digital de peticionamento avulso no PJe.
Art. 86. Findo o prazo de manifestação do eleitor e concluídas as diligências, o juiz
eleitoral decidirá, assegurando a cada eleitor a manutenção de apenas uma inscri-
ção e determinando o cancelamento de outras que a ele pertençam, lançando-se
o código ASE respectivo.
§ 1º Comprovado que as inscrições agrupadas no batimento biográfico perten-
cem a pessoas gêmeas ou homônimas, deverá ser comandado o respectivo
código ASE.
§ 2º Para os fins do § 1º deste artigo, reputam-se:
a) gêmeas as pessoas comprovadamente distintas que sejam irmãs e tenham
filiação, data e local de nascimento idênticos; e
b) homônimas as pessoas comprovadamente distintas que, excetuadas as gême-
as, possuam dados iguais ou semelhantes, segundo critérios previamente defini-
dos pelo Tribunal Superior Eleitoral.
§ 3º Até que sobrevenha a decisão referida no caput, a inscrição agrupada em du-
plicidade ou pluralidade identificada no batimento biográfico não poderá ser objeto
de transferência, revisão ou segunda via.
Art. 87. Identificada situação em que a mesma pessoa possua duas ou mais ins-
crições eleitorais liberadas ou regulares, agrupadas ou não pelo batimento de da-
dos biográficos, o cancelamento recairá, preferencialmente, na seguinte ordem:
I – na inscrição mais recente, efetuada contrariamente às instruções em vigor;
II – na inscrição que não corresponda ao domicílio eleitoral do eleitor ou da eleitora;
III – na inscrição que não foi utilizada para o exercício do voto pela última vez;
IV – na mais antiga.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

Art. 88. Serão canceladas todas as inscrições, lançando-se o ASE respectivo, se


não for possível:
a) identificar a titularidade das inscrições; ou
b) afastar a incoincidência verificada no batimento de dados biométricos e deter-
minar com precisão qual inscrição deve ser mantida.
Parágrafo único. A ordem prevista neste artigo poderá deixar de ser observada,
com vistas a atender ao legítimo interesse da pessoa na conservação de uma
específica inscrição eleitoral.
Art. 89. Publicada a decisão e adotadas as providências de que trata o art. 86
desta Resolução, o juiz ou a juíza eleitoral determinará a intimação do eleitor ou
da eleitora cuja inscrição tenha sido cancelada, para, querendo interpor recurso
no prazo e na forma do art. 58 desta Resolução ou, desde logo, providenciar a
regularização de sua situação eleitoral por meio de RAE.
Parágrafo único. O processamento do recurso de que trata o caput deste artigo
observará, no que couber, o disposto nos arts. 59 a 62 desta Resolução.
Art. 90. Encerrado o prazo para processamento dos casos de duplicidade ou plu-
ralidade sem que haja decisão de autoridade judiciária competente em sentido
contrário, a inscrição liberada passará a figurar como regular e a não liberada,
caso exista no cadastro, como cancelada.

Uma vez detectada a duplicidade/pluralidade de inscrições em uma mesma zona elei-


toral, a competência para solucionar a pendência na esfera administrativa é do juiz eleitoral
da respectiva zona. Quando essa irregularidade administrativa se verificar em inscrições de
zonas eleitorais diversas de uma mesma circunscrição, a competência desloca-se para a
Corregedoria-Regional Eleitoral; e quando a pluralidade se verificar em zonas eleitorais de
circunscrições diversas, a competência é da Corregedoria-Geral Eleitoral.
No procedimento de regularização de duplicidades/pluralidades de inscrição eleitoral, a
autoridade competente realizará o cancelamento de uma ou mais delas, na seguinte ordem
de preferência, de acordo com o art. 87 da Resolução-TSE n. 23.659/2021:

Art. 87. Identificada situação em que a mesma pessoa possua duas ou mais ins-
crições eleitorais liberadas ou regulares, agrupadas ou não pelo batimento de da-
dos biográficos, o cancelamento recairá, preferencialmente, na seguinte ordem:
I – na inscrição mais recente, efetuada contrariamente às instruções em vigor;
II – na inscrição que não corresponda ao domicílio eleitoral do eleitor ou da eleitora;
III – na inscrição que não foi utilizada para o exercício do voto pela última vez;
IV – na mais antiga.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

Da decisão da autoridade competente acerca das duplicidades/pluralidades de inscri-


ção eleitoral caberá, no prazo de 3 dias, recurso para:

DECISÃO RECURSO
JUIZ ELEITORAL DE SUA CIRCUNSCRIÇÃO AO CORREGEDOR REGIONAL
CORREGEDOR REGIONAL ELEITORAL AO CORREGEDOR-GERAL

Resolvida a duplicidade ou pluralidade na esfera administrativa e verificando ter sido


atribuída duas ou mais inscrições a um mesmo eleitor, excetuados os casos de evidente falha
dos serviços eleitorais, autos deverão ser remetidos pela autoridade judiciária competente ao
Ministério Público Eleitoral, para averiguação de ilícito na esfera penal.
Não sendo cogitada a ocorrência de ilícito penal eleitoral a ser apurado, os autos deve-
rão ser arquivados na zona eleitoral onde o eleitor possui inscrição regular.
Manifestando-se o Ministério Público Eleitoral pela existência de indício de ilícito penal
eleitoral a ser apurado, o processo deverá ser remetido à Polícia Federal para instauração
de inquérito policial.
Concluído o inquérito policial, esse deverá ser encaminhado pela autoridade policial
que o presidir ao juiz eleitoral, conforme se vê no art. 90 e ss. da Resolução-TSE n.
23.659/2021:

Seção III
DA APURAÇÃO DE ILÍCITO PENAL
Art. 91. Confirmada a existência de duas ou mais inscrições em cada grupo rela-
tivas a uma mesma pessoa e afastada a hipótese de evidente falha dos serviços
eleitorais, o Ministério Público Eleitoral será comunicado para avaliar a existência
de indícios de ilícito penal eleitoral e, se for o caso, requisitar à Polícia Federal a
instauração de inquérito policial.
§ 1º O disposto no caput deste artigo não prejudica a requisição da instauração do
inquérito por iniciativa de autoridade judiciária.
§ 2º Quando no local da infração não existirem órgãos da Polícia Federal, a Polícia
do respectivo Estado terá atuação supletiva.
§ 3º Concluído o inquérito ou requerida a dilação de prazo para a sua conclusão,
a autoridade policial que o presidir encaminhará os autos ao juízo eleitoral ao qual
couber a decisão na esfera penal, que os remeterá ao Ministério Público Eleitoral
para, conforme o caso, manifestar-se sobre o pedido de dilação do prazo, oferecer
denúncia ou requerer o arquivamento do inquérito.
§ 4º Arquivado o inquérito ou julgada a ação penal, o juízo eleitoral, comunicará a
decisão à autoridade judiciária competente para adoção de medidas cabíveis na
esfera administrativa.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

Além da responsabilidade administrativa e penal por inscrição fraudulenta, outras puni-


ções poderão advir, alcançando o eleitor, o servidor da Justiça Eleitoral ou até mesmo tercei-
ros que tenham se beneficiado. Esse assunto foi objeto da última prova do TSE.
Ainda sobre as hipóteses de cancelamento da inscrição eleitoral, temos o falecimento
do eleitor, cuja ocorrência importa, por óbvio, no cancelamento da sua inscrição eleitoral.
Na prática, os oficiais de Registro Civil, sob pena de cometer o crime de perturbar ou
impedir de qualquer forma o alistamento, que tem pena de detenção de 15 dias a seis meses
ou pagamento de 30 a 60 dias-multa, enviarão, até o dia 15 de cada mês, ao juiz eleitoral
da zona em que oficiarem, comunicação dos óbitos de cidadãos alistáveis, ocorridos no mês
anterior, para cancelamento das inscrições.
A depuração do cadastro, com a finalidade de excluir inscrições atribuídas a pessoas
falecidas, deverá ser promovida em procedimentos específicos a partir das comunicações
mensais de óbitos a que estão obrigados os cartórios de registro civil ou deflagrada de ofício
pela Corregedoria-Geral, observados, em qualquer caso, o contraditório e a ampla defesa.
(TSE, Rp n. 649/2005).
Por fim, trazemos a hipótese de cancelamento deixar de votar em três eleições consecuti-
vas. No que se refere a essa causa de cancelamento, o TSE possui o seguinte entendimento:

Assegurado pela Constituição ao eleitor maior de 70 anos o exercício facultativo


do voto, não se pode impor, por resolução, ao eleitor com idade superior a 80 anos
obrigação visando preservar a regularidade de sua inscrição eleitoral.
(RP n. 649; Rel. Min. Francisco Peçanha Martins)

Sobre o cancelamento da inscrição eleitoral nas situações em que houver ausência a


três eleições consecutivas, segue o teor das disposições contidas no art. 130 da Resolução-
-TSE n. 23.659/2021:

Seção II
DO CANCELAMENTO DA INSCRIÇÃO ELEITORAL POR AUSÊNCIA A TRÊS
ELEIÇÕES CONSECUTIVAS
Art. 130. Será cancelada a inscrição do eleitor ou da eleitora que se abstiver de
votar em três eleições consecutivas, salvo se houver apresentado justificativa para
a falta ou efetuado o pagamento de multa.
§ 1º Para fins de contagem das três eleições consecutivas, considera-se como
uma eleição cada um dos turnos do pleito.
§ 2º Não se aplica o disposto no caput deste artigo às pessoas para as quais:
a) o exercício do voto seja facultativo;

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

b) em razão de deficiência que torne impossível ou demasiadamente oneroso o


exercício do voto, tenha sido lançado o comando a que se refere a alínea b do §
1º do art. 15 desta Resolução; ou
c) em razão da suspensão de direitos políticos, o exercício do voto esteja impedido.
Art. 131. A Secretaria de Tecnologia da Informação colocará à disposição do juízo
eleitoral relação das eleitoras e dos eleitores da respectiva zona cujas inscrições
são passíveis de cancelamento, devendo o edital ser divulgado no sítio do tribunal
regional eleitoral e afixado no cartório eleitoral.
§ 1º Será também expedida a notificação por meio do aplicativo da Justiça Eleito-
ral às eleitoras e eleitores, quando se tratar de usuárias e usuários cadastrados.
§ 2º A inscrição será automaticamente cancelada pelo sistema se, decorridos 60
dias da data do batimento que identificar as inscrições sujeitas a cancelamento,
não for efetivado no Cadastro Eleitoral:
a) comando de código ASE relativo à justificativa da ausência às urnas, pagamen-
to da multa respectiva ou isenção desta;
b) comando de código ASE relativo à isenção de sanções a pessoas com deficiên-
cia que torne impossível ou demasiadamente oneroso o cumprimento das obriga-
ções eleitorais relativas ao alistamento e ao exercício de voto; ou
c) processamento da operação de transferência.

Título Eleitoral

O título eleitoral é o documento oficial que comprova a cidadania brasileira. Todos os


cidadãos, após serem inscritos, por determinação do juiz eleitoral, receberão esse título
eleitoral.
Para a confecção desse documento, exige-se que seja emitido de acordo com o modelo
constante na Resolução TSE n. 23.659/2021, quando impresso, além da possibilidade de
sua emissão digital. Sobre essa possibilidade, veja as seguintes disposições:

Art. 68. A via impressa do título eleitoral será confeccionada com informações,
características, formas e especificações constantes do modelo Anexo I.
Parágrafo único. Nos títulos eleitorais expedidos em decorrência da utilização da
sistemática de coleta de dados biométricos constará a expressão “identificação
biométrica”.
Art. 69. A via digital do título eleitoral será expedida por meio de aplicativo da
Justiça Eleitoral (“e-título” ou outro que venha a substituí-lo) e deverá observar as
normas de acessibilidade, na forma da Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com
Deficiência e dos protocolos técnicos aplicáveis.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

Parágrafo único. O aplicativo de que trata o caput deste artigo deverá estar dis-
ponível nas lojas virtuais para dispositivos móveis.
Art. 70. Para a obtenção da via digital do documento, serão exigidos dados míni-
mos acerca da identidade da pessoa eleitora.
§ 1º É obrigatória a coincidência dos dados informados pelo eleitor ou pela eleitora
com os constantes do Cadastro Eleitoral.
§ 2º Na hipótese de inexistência de nome de pai ou mãe no documento de identi-
ficação, a pessoa deverá preencher a opção “Não Consta” no campo destinado a
essa informação.
Art. 71. A validação da via digital do título de eleitor poderá ser realizada nas pá-
ginas do Tribunal Superior Eleitoral e dos tribunais regionais eleitorais na internet,
ou pela leitura do QR Code disponível no próprio aplicativo.
Art. 72. O eleitor que tenha biometria registrada na Justiça Eleitoral poderá utilizar
a via digital do título de eleitor como identificação para fins de votação, devendo
respeitar a vedação legal ao porte de aparelho de telefonia celular dentro da cabi-
ne de votação.
Art. 73. Quando registrado no Cadastro Eleitoral, o nome social constará da via
impressa e digital do título eleitoral.
Art. 74. O eleitor que possua inscrição eleitoral regular ou suspensa poderá soli-
citar, a qualquer tempo:
I – a impressão do título eleitoral; e
II – a via digital do título eleitoral, por meio do aplicativo.
§ 1º Constará como data de emissão do título, seja a via impressa ou digital, a do
requerimento da última operação eleitoral efetivada.
§ 2º O título eleitoral impresso ou digital comprova o alistamento e a existência
de inscrição regular ou suspensa na data de sua emissão, mas não faz prova da
quitação eleitoral ou da regularidade de obrigações eleitorais específicas.
§ 3º A via impressa do título somente será entregue pela(o) atendente da Justiça
Eleitoral à pessoa eleitora, vedada a interferência ou intermediação de terceiros.

Cadastro Eleitoral

O cadastro eleitoral reúne os dados de todos os eleitores do Brasil. Em nosso país,


existe um cadastro nacional mantido pelo Tribunal Superior Eleitoral. Assim, as informações
referentes ao cidadão e ao exercício de sua cidadania estão disponíveis nesse Banco de
Dados da Justiça Eleitoral. Sobre esse cadastro, segue as disposições da Resolução-TSE n.
23.659/2021:

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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Art. 1º A gestão do Cadastro Eleitoral e a prestação de serviços eleitorais que lhe


são correlatos serão efetuadas, em todo o território nacional, em conformidade
com as disposições legais, com esta Resolução e com as normas do Tribunal Su-
perior que lhes sejam complementares, as quais serão editadas com observância
das seguintes diretrizes:
I – modernização e desburocratização da gestão do Cadastro Eleitoral e dos ser-
viços que lhe forem correlatos;
II – conformidade do tratamento dos dados aos princípios e regras previstos na Lei
Geral de Proteção dos Dados - LGPD (Lei n. 13.709/2018);
III – preservação e facilitação do exercício da cidadania por pessoas ainda não
alcançadas pela inclusão digital; e
IV – expansão e especialização dos serviços eleitorais com vistas ao adequa-
do atendimento a pessoas com deficiência e grupos socialmente vulneráveis e
minorizados.
Parágrafo único. Os tribunais regionais eleitorais utilizarão o sistema de gestão
do Cadastro Eleitoral, desenvolvido pelo Tribunal Superior Eleitoral, e orientarão
suas políticas de execução dos serviços eleitorais pelas diretrizes previstas no
caput deste artigo.

Em razão da natureza das informações constantes no Cadastro Eleitoral estarem rela-


cionadas à intimidade e vida privada, existem limites e restrições de acesso a esses dados.
Nesse caso, o acesso às informações do cadastro por instituições públicas e privadas dar-
-se-á com a observância da Lei Geral de Proteção de Dados e com resolução expedida pelo
Tribunal Superior Eleitoral.
Com a edição da Resolução-TSE n. 23.659/2021, esse é o tratamento regulamentar
dessa matéria:

Seção V
DO ACESSO ÀS INFORMAÇÕES CONSTANTES DO CADASTRO ELEITORAL
Art. 10. O acesso a informações constantes do Cadastro Eleitoral por instituições
públicas e privadas e por pessoas físicas se dará conforme a Lei Geral de Prote-
ção de Dados e a resolução do Tribunal Superior Eleitoral que tratar do acesso a
dados constantes dos sistemas informatizados da Justiça Eleitoral.
§ 1º A Corregedoria-Geral Eleitoral editará provimento estabelecendo níveis de
acesso aos dados do Cadastro Eleitoral por servidoras, servidores, colaboradoras
e colaboradores, em conformidade com a Política de Segurança da Informação
editada pelo Tribunal Superior Eleitoral.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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§ 2º O provimento de que trata o § 1º deste artigo definirá as funcionalidades que


estarão disponíveis em perfil específico de acesso ao sistema de gestão do Ca-
dastro Eleitoral a ser concedido a profissionais contratados como apoio adminis-
trativo na coleta de dados biométricos.
§ 3º Os tribunais eleitorais estabelecerão metodologia segura de acesso de da-
dos, com o objetivo de garantir que não ocorra de forma indevida.

Justificativa Eleitoral

Existem três tipos de alistamento: o obrigatório, o facultativo e o proibido.


Àqueles que a Constituição Federal determinar que o alistamento eleitoral e voto é obri-
gatório, ou seja, aos maiores de 18 e menores de 70 anos de idade, desde que alfabetizados,
o não exercício das obrigações eleitorais possui uma consequência jurídico-eleitoral.
Quem incidir nessa situação, ou seja, não cumprir com seus deveres eleitorais,
não poderá:
a) inscrever-se em concurso ou prova para cargo ou função pública, investir-se ou
empossar-se neles;
b) receber vencimentos, remuneração, salário ou proventos de função ou emprego
público, autárquico ou para estatal, bem como fundações governamentais, empresas, insti-
tutos e sociedades de qualquer natureza, mantidas ou subvencionadas pelo governo ou que
exerçam serviço público delegado;
c) participar de concorrência pública ou administrativa da União, dos Estados, dos Ter-
ritórios, do Distrito Federal ou dos Municípios, ou das respectivas autarquias;
d) obter empréstimos nas autarquias, sociedades de economia mista, caixas econô-
micas federais ou estaduais, nos institutos e caixas de previdência social, bem como em
qualquer estabelecimento de crédito mantido pelo governo, ou de cuja administração esse
participe, e com essas entidades celebrar contratos;
e) obter passaporte ou carteira de identidade;
f) renovar matrícula em estabelecimento de ensino oficial ou fiscalizado pelo governo;
g) praticar qualquer ato para o qual se exija quitação do serviço militar.
O afastamento dessas sanções eleitorais ocorrerá em caso de justificativa eleitoral. Se
o eleitor não votou, mas justificou sua ausência, estarão afastadas essas punições.

• Prazos para justificação

Existem dois prazos para que o eleitor possa justificar a sua ausência ao pleito eleito-
ral. São eles:

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a) se o eleitor estiver em território nacional, poderá justificar o não comparecimento às


eleições em até 60 dias após a realização da eleição. Nessa hipótese, o termo inicial para a
contagem do prazo de justificação é a data da eleição;
b) se o eleitor estiver no exterior, poderá justificar sua ausência ao pleito eleitoral em
até 30 dias a contar de seu retorno ao Brasil, salvo se o prazo de 60 dias, a contar da data da
eleição for mais benéfico. Nesse caso, o início da contagem do prazo de justificativa eleitoral
depende do ingresso do eleitor em território nacional.
Em qualquer caso, o pedido de justificação eleitoral ou o pagamento da multa devem
ser anotados no cadastro eleitoral.
Caso o eleitor não justifique sua ausência dentro do prazo estabelecido (60 ou 30 dias,
se o eleitor estiver no Brasil ou no exterior, respectivamente), será imposta, pelo juiz eleito-
ral uma multa. Se a multa for paga, será emitida a certidão de quitação. Isso quer dizer que,
mesmo se o eleitor não votar, não justificar, mas arcar com o valor da multa eleitoral, ele
ficará em dia com suas obrigações eleitorais.
Além disso, o pagamento da multa eleitoral afasta a aplicação de todas aquelas san-
ções que são impostas ao eleitor que violar seus deveres eleitorais.
Sobre esse ponto, seguem as disposições da Resolução-TSE n. 23.659/2021:

CAPÍTULO IX
DAS PROVIDÊNCIAS E PENALIDADES DECORRENTES DA AUSÊNCIA ÀS
URNAS OU DA NÃO APRESENTAÇÃO AOS TRABALHOS ELEITORAIS SEM
JUSTIFICATIVA

Seção I
DA MULTA
Art. 126. Incorrerá em multa a ser arbitrada pelo juiz ou pela juíza eleitoral e
cobrada na forma prevista na legislação eleitoral e nas normas do Tribunal Su-
perior Eleitoral que dispuserem sobre a matéria o eleitor ou a eleitora que deixar
de votar e:
I – não se justificar, nos seguintes prazos:
a) 60 dias, contados do dia da eleição; e
b) 30 dias, contados do seu retorno ao país, no caso de se encontrar no exterior
na data do pleito, salvo se lhe for mais benéfico o prazo da alínea a deste inciso.
II – tiver o processamento de seu pedido de justificativa rejeitado pelo sistema, em
razão do preenchimento com dados insuficientes ou inexatos, que impossibilitem
sua identificação no cadastro eleitoral, ou
III – tiver seu pedido de justificativa indeferido pelo juiz ou pela juíza da zona a que
pertence sua inscrição eleitoral.

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Parágrafo único. Nos prazos previstos no inciso I deste artigo, o eleitor ou a elei-
tora poderá formular o requerimento de justificativa por ferramenta eletrônica dis-
ponibilizada pela Justiça Eleitoral ou perante o juízo de qualquer zona eleitoral em
que se encontre, devendo o cartório providenciar a remessa ao juízo competente.
Art. 127. A fixação da multa observará a variação entre o mínimo de 3% e o máxi-
mo de 10% do valor utilizado como base de cálculo, podendo ser decuplicado em
razão da situação econômica do eleitor ou da eleitora.
§ 1º Para fins de fixação da multa, considera-se como uma eleição cada um dos
turnos do pleito, inclusive em caso de renovação das eleições, bem como o dia de
votação em plebiscito ou referendo.
§ 2º Antes de arbitrada a multa pelo juízo competente, o eleitor ou a eleitora que
pretender obter certidão de quitação ou requerer operação por meio do serviço dis-
ponibilizado no sítio do Tribunal Superior Eleitoral poderá quitá-la pelo pagamento
do valor máximo, correspondente a 10% do valor utilizado como base de cálculo.
§ 3º A pessoa que declarar, sob as penas da lei, perante qualquer juízo eleitoral,
seu estado de pobreza ficará isento do pagamento da multa por ausência às urnas.
Art. 128. O recolhimento da multa será feito nas formas previstas para a arre-
cadação de valores ao Tesouro Nacional, cabendo aos tribunais eleitorais dis-
ponibilizar, em seus sítios eletrônicos e aplicativos, ferramentas que facilitem o
adimplemento.
Parágrafo único. Identificado o pagamento da multa, a zona eleitoral em que
a pessoa for inscrita eleitora registrará a circunstância no histórico da inscrição
mediante comando de código de ASE específico, devendo ser extinto eventual
procedimento administrativo para apuração da falta.
Art. 129. A pessoa que deixar de se apresentar aos trabalhos eleitorais para os
quais foi convocada e não se justificar perante o juízo eleitoral nos 30 dias seguin-
tes ao pleito incorrerá em multa.
§ 1º A fixação da multa a que se refere o caput observará a variação entre o míni-
mo de 10% e o máximo de 50% do valor utilizado como base de cálculo, podendo
ser decuplicada em razão da situação econômica do eleitor ou eleitora, ficando o
valor final sujeito a duplicação em caso de:
a) a mesa receptora deixar de funcionar por sua culpa; ou
b) a pessoa abandonar os trabalhos no decurso da votação sem justa causa, hipó-
tese na qual o prazo aplicável para a apresentação de justificativa será de 3 dias
após a ocorrência.
§ 2º A aplicação da multa de que trata este artigo observará, no que couber, o
disposto nos §§ 1º a 3º do art. 127 desta Resolução. § 3º Recolhida a multa, será
observado o previsto no art. 128 desta Resolução.

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Revisão de Eleitorado

Esse instrumento permite à Justiça Eleitoral aferir se os eleitores inscritos em uma zona
ou município possuem efetivamente seus domicílios eleitorais nessas localidades.
Assim, esse instrumento tem a finalidade de permitir que se mantenha a regularidade e
atualidade das informações constantes do cadastro eleitoral.
Quando for determinada a realização de uma revisão de eleitorado, convoca-se todos
os eleitores para que possam se recadastrar e, para tanto, deverão comprovar seu domicílio
eleitoral por meio de apresentação de documentação ante a zona eleitoral ao qual são inscri-
tos. Constatadas irregularidades, cancela-se as inscrições eleitorais daqueles que, de forma
irregular, forem inscritos perante o cartório eleitoral.
Para facilitar nosso estudo, dividiremos as hipóteses de revisão de eleitorado em:
a) revisão de eleitorado de ofício;
b) revisão de eleitorado mediante provocação.
Em qualquer caso, não se admite a realização de revisão de eleitorado em ano eleitoral,
salvo em situações excepcionais, quando expressamente autorizada pelo Tribunal Superior
Eleitoral.
Quanto à condução dos trabalhos afetos à revisão do eleitoral, compete ao juiz eleitoral
presidi-la, dando início aos procedimentos no prazo máximo de 30 dias, a contar da data da
determinação do TRE ou TSE, conforme o caso. Nesse sentido:

Resolucao-TSE n. 23.659/2021
Art. 109. A revisão de eleitorado deverá ser sempre presidida pelo juiz ou juí-
za eleitoral da respectiva zona, cabendo ao tribunal regional eleitoral indicar, nos
municípios com mais de uma zona eleitoral, o juiz ou juíza que coordenará os
trabalhos.
§ 1º A fiscalização da revisão de eleitorado será desempenhada pela(o) represen-
tante do Ministério Público que oficiar perante o juízo eleitoral.
§ 2º O tribunal regional eleitoral, por intermédio da corregedoria regional, inspecio-
nará os serviços de revisão.

• Revisão de eleitorado de ofício

Essa hipótese de revisão de eleitorado somente pode ser determinada pelo TSE. Será
feita independentemente de provocação, já que o Tribunal Superior Eleitoral deverá agir
de ofício.
São as seguintes hipóteses que fazem com que seja determinada a realização de revi-
são de eleitorado pelo TSE, de ofício:

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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a) quando o total de transferência de eleitores ocorridas no ano seja de 10% superior


ao do ano anterior;
b) quando o eleitorado for superior ao dobro da população entre 10 e 15 anos, somada
à de idade superior a 70 anos do território do Município. Para aplicação dessa disposição,
deve-se pegar o número de pessoas que possuam entre 10 e 15 anos de idade e somar ao
número de pessoas que possuam mais de 70 anos de idade. Se o número de eleitores for
maior que o dobro dessa soma, faz-se revisão de eleitorado de ofício.
c) quando o eleitorado for superior a 65% da população projetada para aquele ano
pelo IBGE.
Apesar de o art. 92 da Lei n. 9.504/97 estabelecer a necessidade de se realizar revisão
de eleitorado de ofício quando o número de eleitores for maior que 65% da população pro-
jetada para aquele ano pelo IBGE, o art. 102 da Resolução-TSE n. 23.659/2021 prevê uma
complementação dos requisitos, conforme se vê a seguir:

Art. 105. O Tribunal Superior Eleitoral poderá, de ofício, determinar a revisão do


eleitorado do município, observada a conveniência e a disponibilidade de recur-
sos, quando:
I – o total de transferências ocorridas no ano em curso seja 10% superior ao do
ano anterior;
II – o eleitorado for superior ao dobro da população entre dez e quinze anos, so-
mada à de idade superior a setenta anos do território daquele município; e
III – o eleitorado for superior a 80% da população projetada para aquele ano
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A revisão de eleitorado de ofício somente pode ser determinada pelo Tribunal Superior
Eleitoral, especificamente pela Corregedoria-Geral Eleitora.

• Revisão de eleitorado mediante provocação

A segunda possibilidade de realização da revisão de eleitorado somente pode ocorrer


se houver provocação por meio de denúncia. Essa hipótese é de competência do Tribunal
Regional Eleitoral, propriamente pela Corregedoria Regional Eleitoral, após aprovação pelo
Tribunal Superior Eleitoral.
Pois bem, se houver uma denúncia fundamentada de fraude no alistamento eleitoral de
uma zona ou município, o TRE poderá determinar a realização de correição e, se a fraude for
comprometedora, ordenará, após comunicar o TSE, a revisão do eleitorado.
Temos muitas informações importantes. Para facilitar, veremos os passos necessários
para que o TRE possa determinar a realização da revisão de eleitorado.

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a) Denúncia fundamentada de fraude no alistamento eleitoral: não é qualquer denún-


cia que viabiliza a revisão do eleitorado, mas deve haver um mínimo de provas a embasar a
informação trazida ao TRE.
b) Essa denúncia deve ser apresentada ao TRE do Estado em que se constatou a fraude.
c) O TRE determina a realização de uma correição para aferir a gravidade da fraude.
d) Se a fraude for comprometedora, o TRE determina a realização da revisão de eleito-
ral, após comunicação endereçada ao TSE.
Com essas prescrições, segue o teor do art. 104 da Resolução-TSE n. 23.659/2021:

Art. 104. Se na correição do eleitorado for comprovada a fraude em proporção


que comprometa a higidez do Cadastro Eleitoral, o tribunal regional eleitoral, co-
municando a decisão ao Tribunal Superior Eleitoral, ordenará a revisão do eleito-
rado, obedecidas as instruções contidas nesta Resolução e as recomendações
que subsidiariamente baixar.
§ 1º A execução da revisão de eleitorado com fundamento no caput deste artigo
dependerá da existência de dotação orçamentária, a ser avaliada após já desta-
cados os recursos para as revisões de ofício.
§ 2º Compete ao tribunal regional eleitoral autorizar a alteração do período e/ou da
área abrangidos pela revisão a que se refere este artigo, comunicando a decisão
ao Tribunal Superior Eleitoral.

• Procedimento da revisão de eleitorado

De posse da listagem e do caderno de revisão, cabe ao juiz eleitoral publicar, com ante-
cedência mínima de 5 (cinco) dias do início do processo revisional, edital para dar conheci-
mento da revisão aos eleitores cadastrados no(s) município(s) ou zona(s), convocando-os a
se apresentarem, pessoalmente, no cartório ou nos postos criados, em datas previamente
especificadas, para que se proceda a revisão de suas inscrições eleitorais.
Esse edital que será publicado pelo juiz eleitoral precisa (art. 114 da Resolução-TSE n.
23.659/2021):
I – a convocação dos eleitores do(s) município(s) ou da(s) zona(s) para, ressalvadas as
hipóteses expressas no próprio edital, comparecer, pessoalmente, à revisão de eleitorado,
a fim de confirmarem seu domicílio, sob pena de cancelamento da sua inscrição eleitoral,
sem prejuízo da apuração de fraude no alistamento ou na transferência, se constatada irre-
gularidade;
II – a exigência de apresentação de:
a) documento de identidade;
b) comprovante de domicílio, conforme especificado no art. 118 desta Resolução; e
c) se possível, título eleitoral ou documento comprobatório da condição de eleitor;

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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III – as datas de início e término dos trabalhos revisionais, a área e o período abrangi-
dos e os dias e locais onde funcionarão postos de revisão; e
IV – as hipóteses de dispensa do comparecimento à revisão de eleitorado.
Da mesma forma que o alistamento eleitoral, o comparecimento à revisão somente
poderá ser feito pessoalmente pelo eleitor, exige-se o comparecimento do próprio eleitor na
revisão, o qual deverá apresentar documentos relativos à sua qualificação e de comprovação
do seu domicílio eleitoral.
A comprovação do domicílio eleitoral poderá ser feita mediante um ou mais documentos
dos quais se infira ser o eleitor residente ou ter vínculo profissional, patrimonial ou comunitá-
rio no município a abonar a residência exigida. Na hipótese de ser a prova de domicílio feita
mediante apresentação de contas de luz, água ou telefone, nota fiscal ou envelopes de cor-
respondência, esses deverão ter sido, respectivamente, emitidos ou expedidos nos 3 (três)
meses anteriores ao início do processo revisional.
Sobre a comprovação do domicílio eleitoral, importante destacar o teor das prescrições
contidas no art. 118 da Resolução-TSE n. 23.659/2021:

Art. 118. A comprovação do domicílio poderá ser feita por meio de um ou mais
documentos dos quais se infira a existência de vínculo residencial, afetivo, familiar,
profissional, comunitário ou de outra natureza que justifique a escolha da localida-
de pela pessoa para nela exercer seus direitos políticos.
§ 1º Para os fins de comprovação de vínculo residencial, serão aceitas contas de
luz, água ou telefone, bem como notas fiscais ou envelopes de correspondência,
desde que tenham sido emitidos ou expedidos nos 3 meses anteriores ao compa-
recimento à revisão.
§ 2º A comprovação de vínculos diversos do residencial poderá ser feita por meio
de documentos adequados à sua natureza, não se exigindo antecedência mínima
em hipóteses, tais como a de apresentação de cartão de usuário do Serviço Único
de Saúde - SUS ou de comprovante de matrícula em instituição de ensino, nas
quais a antiguidade não é essencial à constituição do vínculo.
§ 3º A declaração do eleitor ou da eleitora de que pertence a comunidade indígena
ou quilombola ou de que se trata de pessoa em situação de rua dispensará a com-
provação documental do vínculo de que trata do caput deste artigo.
§ 4º Em qualquer outra situação na qual subsista dúvida quanto à idoneidade da
documentação apresentada ou sendo tal documentação inexistente, a pessoa po-
derá declarar, sob as penas da lei, que tem domicílio no município.
Art. 119. Na análise das declarações do eleitor ou da eleitora e da documentação
comprobatória da identidade e do domicílio eleitoral, o juiz ou a juíza adotará a
interpretação mais benéfica ao cidadão, sendo-lhe facultado, todavia, determinar
realização de diligências, inclusive verificação in loco, antes de decidir.

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Parágrafo único. As diligências a que se refere o caput deste artigo poderão ser
realizadas por meio de convênios ou com apoio de outras instituições públicas.

Depois dos trabalhos de revisão, o juiz eleitoral deve ouvir o Ministério Público e, após,
determinará o cancelamento das inscrições eleitorais. Esse cancelamento dependerá de
homologação pelo Tribunal Regional Eleitoral do respectivo estado, por meio da ação da
Corregedoria Regional Eleitoral.
Neste ponto, a Resolução-TSE n. 23.659/2021 dispõe que:

Subseção VI
Da decisão de cancelamento da inscrição
Art. 122. Concluídos os trabalhos de revisão, o juiz ou a juíza juntará aos autos
relatório sintético das operações de RAE realizadas, extraído do Sistema Elo e,
ouvido o Ministério Público, determinará o cancelamento das inscrições relativas
a eleitoras e eleitores que não tenham comparecido.
§ 1º Não serão canceladas as inscrições que, embora pertinentes ao período de
abrangência das revisões de eleitorado:
I – sejam atribuídas a eleitoras e eleitores já identificados biometricamente, desde
que atendidos os requisitos de qualidade dos dados biométricos e que tenha ha-
vido expressa dispensa do comparecimento ao cartório eleitoral pela norma que
determinar o procedimento revisional;
II – tenham em seu histórico registro do comando alusivo a deficiência que impos-
sibilite ou torne extremamente oneroso o cumprimento das obrigações eleitorais; e
III – tenham em seu histórico registro ativo do comando alusivo à suspensão de
direitos políticos fundada em condenação criminal.
§ 2º O cancelamento das inscrições com fundamento neste artigo somente deverá
ser efetivado no sistema após a homologação da revisão pelo tribunal regional
eleitoral.
Art. 123. A sentença de cancelamento de inscrições deverá ser específica para
cada município abrangido pela revisão e prolatada no prazo máximo de 10 dias
contados da data do retorno dos autos do Ministério Público, podendo o tribunal
regional eleitoral fixar prazo inferior.
§ 1º A sentença de que trata o caput deste artigo deverá relacionar todas as inscri-
ções que serão canceladas no município.
§ 2º As eleitoras e os eleitores atingidas(os) pela sentença, presumindo-se do não
comparecimento à revisão que se encontram em lugar incerto e não sabido, serão
intimadas(os) por edital, sem prejuízo do envio de comunicação por meio de apli-
cativo da Justiça Eleitoral, quando se tratar de pessoa que dele for usuária.

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§ 3º O edital será publicado nos sítios dos tribunais regionais da internet ou em


sistema específico, com prazo mínimo de 15 dias, dele devendo constar que os
eleitores e as eleitoras cuja inscrição tenha sido cancelada ou cuja transferência
tenha sido revertida poderão recorrer da decisão, apresentando provas que justifi-
quem sua reforma, no prazo de 3 dias a contar da data final do edital.
§ 4º Aplica-se ao recurso contra a sentença de que trata este artigo o previsto nos
arts. 59 a 62 desta Resolução.

Seção III
DA HOMOLOGAÇÃO DA REVISÃO DE ELEITORADO
Art. 124. Transcorrido o prazo recursal, o juiz ou juíza eleitoral fará minucioso re-
latório dos trabalhos desenvolvidos, que encaminhará, com os autos do processo
de revisão, à corregedoria regional eleitoral.
Art. 125. Apreciado o relatório e ouvido o Ministério Público, a corregedora ou
corregedor regional eleitoral:
I – indicará providências a serem tomadas, se verificar a ocorrência de vícios com-
prometedores à validade ou à eficácia dos trabalhos;
II – submetê-lo-á ao tribunal regional, propondo:
a) a homologação da revisão, se entender pela regularidade dos trabalhos revi-
sionais; ou
b) a não homologação da revisão, se verificar o não comparecimento de quanti-
tativo que ultrapasse 20% do total de convocados para o procedimento ou a exis-
tência de circunstâncias peculiares que impeçam o adequado atendimento das
demandas de regularização das inscrições que vierem a ser canceladas.
Parágrafo único. Na hipótese da alínea b do inciso II do caput deste artigo, o tri-
bunal regional eleitoral determinará que, uma vez concluído o processamento dos
arquivos de urna e retomadas as operações do Cadastro Eleitoral, seja reaberto
o atendimento às eleitoras e aos eleitores submetidos à revisão, fixando o limite
para a conclusão dos trabalhos e eventual suspensão durante o recesso forense,
e comunicará esta decisão ao Tribunal Superior Eleitoral.

Hipótese do Ilícito Penal

Dentre as hipóteses de cancelamento da inscrição eleitoral, previstas no art. 71 do


Código Eleitoral, tem-se a duplicidade ou pluralidade de inscrição eleitoral. Isso porque cada
eleitor pode ter somente uma única inscrição eleitoral, caso seja constatada a existência de
mais de uma, deve-se cancelar as excedentes.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

Os critérios utilizados para a escolha da inscrição a ser cancelada estão estabeleci-


dos na Resolução do Alistamento Eleitoral e devem ser utilizados de forma preferencial, de
acordo com a ordem apresentada pela legislação.
Vamos mostrar para vocês critérios ordenados que devem ser utilizados pelo Juiz Elei-
toral, os quais determinam a inscrição a ser cancelada. Desse modo, tenta-se resolver a
duplicidade utilizando-se o 1º critério; não se obtendo êxito, passa-se ao segundo; e, assim
sucessivamente, até que o problema seja solucionado.

Assim, deve-se cancelar, preferencialmente:


I – na inscrição mais recente, efetuada contrariamente às instruções em vigor;
II – na inscrição que não corresponda ao domicílio eleitoral do eleitor ou da eleitora;
III – na inscrição que não foi utilizada para o exercício do voto pela última vez;
IV – na mais antiga.

A 1ª hipótese de cancelamento da inscrição eleitoral não determina o cancelamento da


inscrição mais recente. Determina-se o cancelamento da inscrição mais recente efetuada em
contrariedade às instruções em vigor.
Após a solução das duplicidades e pluralidades e tomadas as providências cabíveis
para a regularização da situação eleitoral, deve-se comunicar a irregularidade ao Ministério
Público para que este possa aferir a possível ocorrência de crime eleitoral. Isso porque, de
acordo com art. 289 do Código Eleitoral, inscrever-se de forma fraudulenta constitui crime
eleitoral.
Uma vez recebido os autos do processo da duplicidade ou pluralidade e havendo indí-
cios de ilícito penal eleitoral a ser apurado, o Ministério Público poderá requisitar a instaura-
ção de inquérito policial à Polícia Federal, não havendo a Polícia Civil do respectivo estado.
Esse inquérito policial tem a finalidade de reunir provas de materialidade e de indícios
de autoria para subsidiar o Ministério Público a oferecer a denúncia para a punição do crime
eleitoral. No âmbito do processo penal, não se admite o início da persecução penal sem um
mínimo de elementos que comprovem a existência do crime. É exatamente para isso que
o inquérito policial deve ser instaurado pela Polícia Federal: para permitir que o Ministério
Público possa dar início ao processo penal para a punição do eventual crime eleitoral.
Sobre esse tema, a Resolução-TSE n. 23.659/2021 prescreve que:

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

Seção III
DA APURAÇÃO DE ILÍCITO PENAL
Art. 91. Confirmada a existência de duas ou mais inscrições em cada grupo rela-
tivas a uma mesma pessoa e afastada a hipótese de evidente falha dos serviços
eleitorais, o Ministério Público Eleitoral será comunicado para avaliar a existência
de indícios de ilícito penal eleitoral e, se for o caso, requisitar à Polícia Federal a
instauração de inquérito policial.
§ 1º O disposto no caput deste artigo não prejudica a requisição da instauração do
inquérito por iniciativa de autoridade judiciária.
§ 2º Quando no local da infração não existirem órgãos da Polícia Federal, a Polícia
do respectivo Estado terá atuação supletiva.
§ 3º Concluído o inquérito ou requerida a dilação de prazo para a sua conclusão,
a autoridade policial que o presidir encaminhará os autos ao juízo eleitoral ao qual
couber a decisão na esfera penal, que os remeterá ao Ministério Público Eleitoral
para, conforme o caso, manifestar-se sobre o pedido de dilação do prazo, oferecer
denúncia ou requerer o arquivamento do inquérito.
§ 4º Arquivado o inquérito ou julgada a ação penal, o juízo eleitoral, comunicará a
decisão à autoridade judiciária competente para adoção de medidas cabíveis na
esfera administrativa.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

7. INELEGIBILIDADES

As inelegibilidades são impedimentos para que o nacional possa concorrer validamente


a um mandato eletivo, independentemente de advir de um fato jurídico lícito ou ilícito. A ilici-
tude não é da essência do conceito de inelegibilidade. Inelegibilidade é efeito jurídico, conse-
quência atribuída a algum fato ou complexo de fato descrito na facttispecie da norma eleito-
ral. Esse é o conceito de inelegibilidade dado por José Jairo Gomes:

Denomina-se inelegibilidade ou ilegibilidade o impedimento ao exercício da cida-


dania passiva, de maneira que o cidadão fica impossibilitado de ser escolhido para
ocupar cargo político-eletivo. Em outros termos, trata-se de fator negativo cuja
presença obstrui ou subtrai a capacidade eleitoral passiva do nacional, tornando-o
inapto para receber votos e, pois, exercer mandato representativo. Tal impedimen-
to é provocado pela ocorrência de determinados fatos previstos na Constituição ou
em lei complementar.

Esse é o conceito jurisprudencial das inelegibilidades dado pelo TSE:

JURISPRUDÊNCIA
[...] A inelegibilidade importa no impedimento temporário da capacidade eleitoral
passiva do cidadão, que consiste na restrição de ser votado, não atingindo, por-
tanto, os demais direitos políticos, como, por exemplo, votar e participar de parti-
dos políticos. [...] (Ac. de 3.6.2004 no AgRgAg n. 4.598, rel. Min. Fernando Neves)

As hipóteses de inelegibilidade são diversas e podem decorrer de sanção, de relação


de parentesco com ocupantes de cargo eletivo, ou até mesmo previstas em virtude do exer-
cício de funções, cargos ou empregos que coloquem em risco a normalidade e legitimidade
das eleições.
As inelegibilidades não importam em restrição a todos os direitos políticos, mas somente
o direito de ser votado. Esse é o entendimento do TSE:

JURISPRUDÊNCIA
[...] Inelegibilidade. Suspensão. Direitos políticos. Não configuração. [...]
3. A inelegibilidade atinge tão somente o jus honorum, não se impondo – à míngua
de incidência de qualquer das hipóteses do art. 15 da Constituição Federal – res-
trição ao direito de filiar-se a partido político e/ou exercer o direito de votar. [...]
(Ac. de 18.10.2004 no REspe no 22.014, rel. Min. Caputo Bastos.)

As inelegibilidades podem ser estabelecidas na própria Constituição Federal ou em lei


complementar, nos termos do art. 14, § 9º, da CF.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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Inelegibilidades: Classificação

As inelegibilidades podem ser absolutas ou relativas.

• Inelegibilidade absoluta – a inelegibilidade absoluta impede o cidadão de concorrer


para qualquer cargo público eletivo. Enquanto persistir a situação geradora da inelegibi-
lidade, o cidadão estará impedido de exercer seu direito à elegibilidade. São exemplos
de inelegibilidades absolutas: inalistabilidade e analfabetismo.
• Inelegibilidade relativa – essas hipóteses de inelegibilidade impedem o cidadão de
concorrer a alguns cargos eletivos. Isso quer dizer que a restrição advinda da inelegi-
bilidade relativa não impede, por completo, o exercício do direito à elegibilidade. São
exemplos de inelegibilidades relativas: a inelegibilidade para os mesmos cargos, num
terceiro mandato subsequente; a inelegibilidade decorrente da incompatibilidade; a ine-
legibilidade decorrente do parentesco.

Inelegibilidades Constitucionais

A Constituição Federal enumera as seguintes hipóteses de inelegibilidade:

• inalistabilidade;
• analfabetismo;
• inelegibilidade decorrente da reeleição para o terceiro mandato consecutivo;
• inelegibilidade decorrente da incompatibilidade;
• inelegibilidade decorrente do parentesco.

Essas inelegibilidades estão estabelecidas no art. 14, do § 4º ao §7º, da Constituição


Federal, serão estudadas neste tópico.

Inalistáveis

A inelegibilidade decorrente da inalistabilidade está prevista no art. 14, § 4º, da Consti-


tuição, nos seguintes moldes:

Art. 14. Omissis


§ 4º - São inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos.

Trata-se de inelegibilidade absoluta. Assim, enquanto perdurar o status de inalistável,


não poderá, o pleiteante, concorrer a qualquer cargo.

Você pode perguntar: quem são os inalistáveis?

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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Pelo art. 14, § 2º, da CF/88, são inalistáveis os estrangeiros e, durante o período do
serviço militar obrigatório, os conscritos.
Entretanto, a doutrina critica essa previsão constitucional. Isso porque o inalistável não
pode adquirir ou titularizar direitos políticos no Brasil. Isso quer dizer que ele não pode ficar
inelegível. A inelegibilidade é uma causa impeditiva ao direito de ser votado.

Ora, mas como o inalistável estará impedido de exercer um direito que ele não tem?

Trata-se de uma previsão constitucional atécnica. Esse é o ensinamento de José


Jairo Gomes:

Impende registrar a falta de técnica da Constituição ao erigir o transcrito § 4º, pelo


qual são “inelegíveis os inalistáveis”. Inalistáveis são os estrangeiros e, durante o
período de serviço militar obrigatório, os conscritos (CF, art. 14, § 2º). É assente
que alistamento eleitoral condiciona a própria cidadania. Enquanto o inalistável
não apresenta capacidade eleitoral ativa nem passiva, o inelegível encontra-se
privado da segunda. Assim, a tautológica dicção constitucional afirma ser inelegí-
vel aquele que, por ser inalistável, já não o seria de qualquer forma. Assevera, em
outros termos, ser inelegível o inelegível.

• Analfabetos

Essa é a previsão contida no art. 14, § 4º, in verbis:

Art. 14. Omissis


§ 4º - São inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos.

A partir dessa norma constitucional, vê-se que o analfabeto não pode ser candidato.
Entretanto, deixe-se claro que o analfabeto tem o direito de votar.

Mas o que é analfabetismo?

A controvérsia sobre o conceito do cidadão analfabeto é tema polêmico e que ainda


gera controvérsia na apreciação dos pedidos de registro de candidatura.
Para alguns, analfabeto é aquele que não sabe ler ou escrever, ou seja, que não domina
o idioma nacional, em face de uma exigência mínima de compreensão da escrita. É aquele,
segundo esse entendimento, que nem sequer sabe escrever o próprio nome. Para outros,
o conceito de analfabetismo é mais abrangente e envolve os analfabetos funcionais ou os
semialfabetizados, ou seja, aqueles que – mesmo sabendo escrever o nome e compreen-
dendo algumas palavras – não possuem a capacidade, por exemplo, de leitura, compreen-

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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são ou redação de um texto. Possuem séria dificuldade de leitura e, também, para expressar-
-se por escrito. José Jairo Gomes apresenta um conceito geral de analfabeto:

De modo geral, pode-se dizer que analfabeto é quem não domina um sistema
escrito de linguagem, carecendo dos conhecimentos necessários para ler e es-
crever um texto simples em seu próprio idioma. Assim, a noção de analfabetismo
prende-se ao domínio da escrita e da compreensão de textos, ainda que singelos.
Por outro lado, o domínio de tal sistema em algum grau justifica o status de alfa-
betizado – ou, pelo menos, de semialfabetizado.

A orientação da jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral é no sentido de que candi-


datos semialfabetizados — que, ao menos, leiam e escrevam seu nome ou algumas palavras
e disponham de um discernimento mínimo — podem ter o pedido de registro de candida-
tura deferido.
A seguir, demonstrar-se-á o entendimento do TSE sobre as formas que podem ou não
comprovar a condição de alfabetizado:

JURISPRUDÊNCIA
Carteira Nacional de Habilitação. Comprovação da Condição da Alfabetizado para
fins de deferimento do registro de candidatura
Súmula-TSE n. 55
A Carteira Nacional de Habilitação gera a presunção da escolaridade necessária
ao deferimento do registro de candidatura.
EXERCICIOS DE FIXACAO de Mandato anterior ao pedido de registro de candi-
datura. Causa não comprobatória da alfabetização
Súmula TSE n. 15: “O exercício de cargo eletivo não é circunstância suficiente
para em recurso especial. determinar-se a reforma da decisão mediante a qual o
candidato foi considerado analfabeto”.
Ausência de comprovante de escolaridade. Teste de alfabetização
ELEIÇÕES 2008. Agravo regimental. Recurso especial. Registro de candidatura.
Analfabetismo. Art. 29, IV, § 2º, da Res.-TSE n. 22.717. Declaração de próprio pu-
nho. Presença do juiz eleitoral ou de serventuário da Justiça Eleitoral. Exigência.
Teste. Rigor excessivo. Precedente. Outros meios de aferição. Observância do fim
constitucional. Agravo provido.
1. Na falta do comprovante de escolaridade, é imprescindível que o candidato
firme declaração de próprio punho em cartório, na presença do juiz ou de serven-
tuário da Justiça Eleitoral, a fim de que o magistrado possa formar sua convicção
acerca da condição de alfabetizado do candidato.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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2. “O rigor da aferição no que tange à alfabetização do candidato não pode con-


figurar um cerceio ao direito atinente à inelegibilidade” (Acórdão n. 30.071, de
14.10.2008, rel. min. Arnaldo Versiani).
3. A norma inscrita no art. 14, § 4º, da Constituição Federal impõe apenas que o
candidato saiba ler e escrever. Para este efeito, o teste de alfabetização deve con-
sistir em declaração, firmada no cartório eleitoral, na qual o candidato informa que
é alfabetizado, procedendo em seguida à leitura do documento.
(Agravo Regimental em Recurso Especial n. 30.682, rel. Min. Joaquim Barbosa,
de 27.10.2008)
Teste coletivo de alfabetização. Impossibilidade de realização
REGISTRO. Eleições de 2004. Analfabetismo. Teste. Declaração de próprio pu-
nho. Possibilidade. Recurso provido em parte.
A Constituição Federal não admite que o candidato a cargo eletivo seja exposto a
teste que lhe agrida a dignidade.
Submeter o suposto analfabeto a teste público e solene para apurar-lhe o trato
com as letras é agredir a dignidade humana (CF, art. 1º, III).
Em tendo dúvida sobre a alfabetização do candidato, o juiz poderá submetê-lo
a teste reservado. Não é licito, contudo, a montagem de espetáculo coletivo que
nada apura e só produz constrangimento.
(Recurso Especial n. 21.707, rel. Min. Humberto Gomes de Barros, de 17.8.2004)

• Reeleição

O art. 14, § 5º, da CF/88, prevê a possibilidade de os chefes do Poder Executivo pode-
rem concorrer à reeleição. Lembre-se que, originariamente, não era viável a reeleição do
chefe do Poder Executivo. Isso porque, como característica de regimes republicanos, tem-se
a temporariedade dos mandatos e a necessidade de alternância do titular da Chefia do Poder
Executivo.
Entretanto, para permitir a implantação e a conclusão de projetos e programas de
governo, alterou-se o texto constitucional para permitir-se que os integrantes de cargos ele-
tivos do Poder Executivo pudessem reeleger-se para um único período subsequente. Com
essa alteração constitucional, privilegiou-se a continuidade político-administrativa. Com a
possibilidade de um novo mandato para o presidente, o governador e o prefeito viabilizam
o término de obras ou a continuação de mudanças que tenham sido implantadas durante o
primeiro mandato.
Essa é a redação do dispositivo constitucional sob análise:

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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Art. 14. Omissis.


§ 5º O Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal,
os Prefeitos e quem os houver sucedido, ou substituído no curso dos mandatos
poderão ser reeleitos para um único período subsequente.

Essa previsão permite que os chefes do Poder Executivo possam exercer dois man-
datos consecutivos. No terceiro mandato sucessivo, os ocupantes de cargos da Chefia do
Executivo estarão inelegíveis para o mesmo cargo.
Ao defender a adoção da reeleição no Brasil, Michel Temer aduz:

A possibilidade da reeleição privilegia, assim, o princípio da participação popular


porque confere ao povo a possibilidade de um duplo julgamento: o do programa
partidário e do agente executor desse programa (chefe do Poder Executivo). Tal-
vez por essa razão o sistema o sistema jurídico norte-americano autorize a reelei-
ção. E ninguém pode dizer que ali não se pratica a democracia.

A aplicabilidade dessa prescrição constitucional impede que, ao final do segundo man-


dato consecutivo, o chefe do Executivo altere seu domicílio eleitoral e busque sua eleição
para o mesmo cargo em circunscrição diversa. Isso porque, em um regime republicano,
deve-se evitar a perpetuação de um mesmo cidadão no poder. A esse respeito, veja o enten-
dimento jurisprudencial do Supremo Tribunal Federal:

JURISPRUDÊNCIA
O instituto da reeleição tem fundamento não somente no postulado da continuida-
de administrativa, mas também no princípio republicano, que impede a perpetua-
ção de uma mesma pessoa ou grupo no poder. O princípio republicano condiciona
a interpretação e a aplicação do próprio comando da norma constitucional, de
modo que a reeleição é permitida por apenas uma única vez. Esse princípio impe-
de a terceira eleição não apenas no mesmo Município, mas em relação a qualquer
outro Município da federação. Entendimento contrário tornaria possível a figura do
denominado ‘prefeito itinerante’ ou do ‘prefeito profissional’, o que claramente é
incompatível com esse princípio, que também traduz um postulado de temporarie-
dade/alternância do exercício do poder. Portanto, ambos os princípios – continui-
dade administrativa e republicanismo – condicionam a interpretação e a aplicação
teleológicas do art. 14, § 5º, da Constituição. O cidadão que exerce dois mandatos
consecutivos como prefeito de determinado Município fica inelegível para o cargo
da mesma natureza em qualquer outro Município da federação. (RE 637.485, rel.
min. Gilmar Mendes, julgamento em 1º-8-2012, Plenário, DJE de 21-5-2013, com
repercussão geral.)

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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Para concorrer ao mesmo cargo, ou seja, para o exercício do direito à reeleição, não
é necessário o afastamento antecipado do cargo (desincompatibilização). Logo, o titular de
cargo de Chefia do Poder Executivo, caso queira reeleger-se, não necessita afastar-se de
seu cargo no prazo de 6 (seis) meses antes da data das eleições. Nesse sentido, veja o
seguinte julgado do STF:

JURISPRUDÊNCIA
Não se tratando, no § 5º do art. 14 da Constituição, na redação dada pela EC
16/1997, de caso de inelegibilidade, mas, sim, de hipótese em que se estipula ser
possível a elegibilidade dos chefes dos Poderes Executivos, federal, estadual,
distrital, municipal e dos que os hajam sucedido ou substituído no curso dos man-
datos, para o mesmo cargo, para um período subsequente, não cabe exigir-lhes
desincompatibilização para concorrer ao segundo mandato, assim constitucional-
mente autorizado. Somente a Constituição poderia, de expresso, estabelecer o
afastamento do cargo, no prazo por ela definido, como condição para concorrer à
reeleição prevista no § 5º do art. 14 da Lei Magna, na redação atual. Diversa é a
natureza da regra do § 6º do art. 14 da Constituição, que disciplina caso de ine-
legibilidade, prevendo-se, aí, prazo de desincompatibilização. A EC 16/1997 não
alterou a norma do § 6º do art. 14 da Constituição. Na aplicação do § 5º do art.
14 da Lei Maior, na redação atual, não cabe, entretanto, estender o disposto no §
6º do mesmo artigo, que cuida de hipótese distinta. A exegese conferida ao § 5º
do art. 14 da Constituição, na redação da EC 16/1997, ao não exigir desincompa-
tibilização do titular para concorrer à reeleição, não ofende o art. 60, § 4º, IV, da
Constituição, como pretende a inicial, com expressa referência ao art. 5º, § 2º, da
Lei Maior. Não são invocáveis, na espécie, os princípios da proporcionalidade e
razoabilidade, da isonomia ou do pluripartidarismo, para criar, por via exegética,
cláusula restritiva da elegibilidade prevista no § 5º do art. 14 da Constituição, na
redação da EC 16/1997, com a exigência de renúncia seis meses antes do pleito,
não adotada pelo constituinte derivado. (ADI 1.805-MC, Rel. Min. Néri da Silveira,
julgamento em 26-3-1998, Plenário, DJ de 14-11-2003.)

Por sua vez, se os chefes do Poder Executivo (presidente, governador e prefeito) quise-
rem concorrer a outros cargos devem renunciar aos respectivos mandatos até 6 (seis) meses
antes do pleito, nos termos do art. 14, § 6º, da CF:

Art. 14. Omissis


§ 6º - Para concorrerem a outros cargos, o Presidente da República, os Governa-
dores de Estado e do Distrito Federal e os Prefeitos devem renunciar aos respec-
tivos mandatos até seis meses antes do pleito.

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Diante dessa prescrição, para o exercício do direito à reeleição, não é exigível a desin-
compatibilização. Por outro lado, se o chefe do Poder Executivo quiser concorrer para qual-
quer outro cargo eletivo, deve renunciar ao seu cargo até a data definida na norma, sob pena
de ser considerado inelegível em razão de sua incompatibilidade.
A partir da permissão para a reeleição, o presidente, governador e prefeito, bem como
os respectivos vices, caso tenham sucedido ou substituído o titular no curso do mandato,
podem candidatar-se para o mesmo cargo para um único período subsequente. Para o ter-
ceiro mandato consecutivo, estarão inelegíveis.
Na verdade, no que se refere aos vices, o STF entendia que a aplicabilidade da ree-
leição para o terceiro mandato consecutivo somente os alcançaria, desde que tivessem se
tornado titular do cargo de chefe do Poder Executivo no curso do mandato. Com efeito,
entendia-se que a vedação à reeleição do presidente, governador e prefeito somente poderia
ser aplicada para quem fosse titular do cargo, pois reeleição é definida como uma eleição
para o mesmo cargo. Por esse modo, em razão do vice não ser o titular do cargo de chefe do
Executivo, não se poderia falar em reeleição para um cargo que ele não ocupa nos casos de
ocorrerem apenas a substituição.

EXEMPLO
Um cidadão foi eleito duas vezes para o cargo de vice-governador. Ao longo do
primeiro mandato, exerceu temporariamente, mediante substituição, o cargo de
governador em virtude de licenças do titular do cargo. No segundo mandato, em
razão da vacância do cargo de governador em decorrência da morte do titular, o
vice sucedeu-o e exerceu um mandato tampão.
Diante dessa circunstância, pergunta-se: esse cidadão poderá concorrer à reelei-
ção para o período imediatamente posterior?
A resposta a essas indagações foi dada pelo STF, no seguinte julgado:

Vice-governador eleito duas vezes para o cargo de vice-governador. No segundo


mandato de vice, sucedeu o titular. Certo que, no seu primeiro mandato de vice,
teria substituído o governador. Possibilidade de reeleger-se ao cargo de gover-
nador, porque o exercício da titularidade do cargo dá-se mediante eleição ou por
sucessão. Somente quando sucedeu o titular é que passou a exercer o seu pri-
meiro mandato como titular do cargo. Inteligência do disposto no § 5º do art. 14 da
CF. (RE 366.488, Rel. Min. Carlos Velloso, julgamento em 4-10-2005, Segunda
Turma, DJ de 28-10-2005.)

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Entretanto, ao final desse segundo mandato, esse cidadão não poderá concorrer a
uma nova eleição para o mesmo cargo, ainda que o primeiro tenha sido um man-
dato tampão, pois veda-se a reeleição para o terceiro mandato consecutivo.

Entretanto, em julgados recentes, o STF passou a aplicar a regra de impedimento para


a reeleição a um terceiro mandato consecutivo também aos vices que substituam o titular no
curso do mandato. Assim, a substituição ou a sucessão seriam suficientes a atrair a incidên-
cia da regra da reeleição. Sobre esse entendimento, veja a seguinte decisão:

JURISPRUDÊNCIA
(...) Vice-prefeito que ocupou o cargo de prefeito por força de decisão judicial que
determinou o afastamento do titular. Registro de candidatura a uma terceira assun-
ção na chefia do Poder Executivo municipal. (...) Nos termos do § 5º do art. 14 da
CF, os prefeitos e quem os houver sucedido ou substituído no curso dos mandatos
poderão ser reeleitos para um único período subsequente. (RE 464.277-AgR, Rel.
Min. Ayres Britto, julgamento em 9-10-2007, Primeira Turma, DJE de 4-4-2008.)

JURISPRUDÊNCIA
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONSTITUCIO-
NAL. ELEITORAL. VICEPREFEITO. SUBSTITUIÇÃO OU SUCESSÃO. DISCUS-
SÃO IMPROFÍCUA NO QUE RESPEITA À APLICAÇÃO DO ART. 14, § 5º, DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL. REELEIÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. AGRAVO REGI-
MENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
I – Os prefeitos e quem os houver sucedido ou substituído no curso do mandato
poderão ser reeleitos para um único período subsequente, nos termos do § 5º do
art. 14 da Constituição Federal.
II – No que respeita à aplicação do art. 14, § 5º, para o fim de permitir-se a reeleição,
é improfícua a discussão da ocorrência de substituição ou sucessão. Precedentes.
III – Agravo regimental a que se nega provimento. (AgR no RE n. 756.073, Rel.
Min. Ricardo Lewandwski, Segunda Turma, DJe de 13.2.2014)

Aliás, nesse último julgado, o Min. Ricardo Lewandoski, em seu voto, aduziu que a apli-
cação do art. 14, § 5º, da CF/88, não depende da análise da natureza do exercício do cargo
de chefe do Poder Executivo, pois “tanto a sucessão quanto a substituição do titular são atin-
gidas pelo limite constitucional da reeleição para um único período”.
A proibição de concorrer para três mandatos consecutivos somente se aplica aos chefes
do Poder Executivo. Essa norma constitucional não se aplica aos membros do Poder Legis-
lativo. Os deputados federais, estaduais e distritais, os senadores e vereadores podem se
reeleger por vários mandatos consecutivos.

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A partir da análise dessa disposição constitucional, pode-se chegar às conclusões abaixo.


a) O titular do Poder Executivo, bem como quem o substituir ou suceder, somente
poderá ser reeleito para um único mandato subsequente.
b) Cumprido o segundo mandato, o titular não poderá candidatar-se novamente nem ao
cargo de titular nem ao de vice.
c) Caso o titular queira candidatar-se a outro cargo, deve desincompatibilizar-se, renun-
ciando ao mandato até 6 (seis) meses antes do pleito.
d) Se o vice substituir ou suceder o titular, poderá concorrer ao cargo de titular, vedadas,
nesse caso, a reeleição e a possibilidade de concorrer novamente ao cargo de vice, pois isso
implicaria ocupar o mesmo cargo eletivo por 3 (três) vezes.
e) É impossível que o chefe do Poder Executivo, que esteja exercendo seu segundo
mandato sucessivo, vir a candidatar-se, no período imediatamente subsequente, à vice-chefia.
Por fim, deve-se frisar que a permissão para reeleição do titular do cargo eletivo no
Executivo estende-se à sua família. Isso quer dizer que, ao término do primeiro mandato,
poderá concorrer à reeleição o próprio mandatário, bem como qualquer integrante de seu
grupo familiar.
Não obstante, ao término do segundo mandato consecutivo, nem o mandatário, nem
qualquer integrante de seu núcleo familiar, poderão participar do pleito imediatamente subse-
quente. Com efeito, a CF/88 adota o princípio republicano e, consequentemente, impede-se
a perpetuação de grupos familiares no poder e a patrimonialização ou privatização de cargos
públicos eletivos. Nessa esteira, veja o seguinte julgado do STF:

JURISPRUDÊNCIA
Inelegibilidade. Art. 14, § 7º, da CB. O art. 14, § 7º, da CB, deve ser interpretado de
maneira a dar eficácia e efetividade aos postulados republicanos e democráticos
da Constituição, evitando-se a perpetuidade ou alongada presença de familiares
no poder. (RE 543.117-AgR, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 24-6-2008, Se-
gunda Turma, DJE de 22-8-2008.)

Inelegibilidade Reflexa

A inelegibilidade reflexa, também denominada de inelegibilidade decorrente do paren-


tesco ou por afinidade, está prevista no art. 14, § 7º, CF/88. Foi instituída com a finalidade de
garantir a isonomia entre postulantes a cargos eletivos e a normalidade e legitimidade das
eleições contra a influência do abuso de poder político. Com efeito, para evitar a utilização
da máquina pública, por meio da definição de políticas públicas ou da execução de medidas
executiva, em prol de candidatura, o grupo familiar do chefe do Poder Executivo é conside-
rado inelegível na circunscrição do cargo do parente paradigma. Essa é a prescrição contida
no art. 14, § 7º, da CF/88:

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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Art. 14. Omissis.


§ 7º - São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os parentes
consanguíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do Presidente da Re-
pública, de Governador de Estado ou Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou
de quem os haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se
já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição.

A partir da análise dessa prescrição constitucional, vê-se que, para a configuração da


inelegibilidade reflexa, alguns requisitos devem ser preenchidos. São eles:

• o titular paradigma deve ser ocupante de cargo eletivo no Poder Executivo (presidente,
governador ou prefeito). Isso porque o parentesco com membros do Poder Legislativo
não atrai a incidência de inelegibilidades;
• devem ser cônjuge ou parentes, consanguíneos ou afins, até o segundo grau ou
por adoção;
• desejam concorrer a qualquer cargo eletivo no âmbito territorial em que o titular exerça
o seu mandato.

EXEMPLO
Parentes do prefeito não podem concorrer a cargos eletivos no Município que o
titular exerce o mandato; parentes do governador não podem eleger-se no Estado
que o titular exerce o mandato; os parentes do presidente da República não podem
concorrer a nenhum cargo eletivo, em razão de o titular exercer seu mandato em
todo o país.

• aplica-se aos parentes dos que houverem substituído o chefe do Executivo nos seis
meses anteriores ao pleito (período de desincompatibilização).

Sobre a incidência da presente inelegibilidade constitucional, deve-se avaliar o conte-


údo da expressão “cônjuge”. A norma constitucional prescreve que são inelegíveis os cônju-
ges. A relação de parentesco cônjuge surge a partir do matrimônio. Entretanto, o TSE, assim
como o STF, por meio de suas jurisprudências, entende que essa inelegibilidade também
será aplicável nas seguintes situações:

• aplica-se aos companheiros na hipótese de união estável3;

3
A convivência marital, seja união estável ou concubinato, gera inelegibilidade reflexa em função de parentesco por afinidade (Precedentes: Recurso Ordi-
nário n. 1.101, Rel. Min. Carlos Ayres Britto, DJ de 2.5.2007; Recurso Especial Eleitoral n. 23.487, Rel. Min. Caputo Bastos, sessão de 21.10.2004; Recurso
Especial Eleitoral n. 24.417, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJ de 13.10.2004; Consulta n. 845, Rel. Min. Luiz Carlos Madeira, DJ de 8.5.2003).

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

• “Os sujeitos de uma relação homossexual, à semelhança do que ocorre com os de


relação estável, de concubinato e de casamento, submetem-se à regra de inele-
gibilidade prevista no art. 14, § 7º, da Constituição Federal” (REspe 24654, rel. Min.
Gilmar Mendes);
• “A união estável atrai a incidência da inelegibilidade por parentesco, com a ressalva de
que o mero namoro não se enquadra nessa hipótese” (Respe 24672);
• Súmula Vinculante 18, STF – A dissolução da sociedade ou do vínculo conjugal, no
curso do mandato, não afasta a inelegibilidade prevista no § 7º do artigo 14 da Consti-
tuição Federal;
• é inelegível para o cargo de prefeito de município resultante de desmembramento ter-
ritorial o irmão do atual chefe do Poder Executivo do município-mãe (RE n. 158314,
julgado em 15.12.1992);
• é importante analisar o entendimento sumular vinculante n. 18 do STF. Por essa juris-
prudência consolidada, impede-se que ex-cônjuges de chefes do Poder Executivo
possam participar do pleito imediatamente posterior quando a ruptura do vínculo paren-
tal se desfaça no curso do mandato. Esse entendimento jurisprudencial foi adotado
para evitar que eventuais simulações de extinção de vínculos matrimoniais ou decor-
rentes de uniões estáveis sejam levadas a efeito com a única finalidade de afastar a
aplicação da inelegibilidade reflexa.
• de outro modo, se a extinção da entidade familiar decorrer do evento morte, não pode
ser aplicado a súmula vinculante 18 do STF, pois não há possibilidade de se ter como
presente a finalidade de burlar a aplicação da inelegibilidade reflexa. Além disso, com
a morte, não há que se familiar em grupo familiar, elemento fático indispensável para a
inelegibilidade de parentes de chefe do Poder Executivo. Nesse sentido, veja o seguinte
entendimento do STF:

JURISPRUDÊNCIA
CONSTITUCIONAL E ELEITORAL. MORTE DE PREFEITO NO CURSO DO
MANDATO, MAIS DE UM ANO ANTES DO TÉRMINO. INELEGIBILIDADE DO
CÔNJUGE SUPÉRSTITE. CF, ART. 14, § 7º. INOCORRÊNCIA. 1. O que orientou
a edição da Súmula Vinculante 18 e os recentes precedentes do STF foi a preo-
cupação de inibir que a dissolução fraudulenta ou simulada de sociedade conjugal
seja utilizada como mecanismo de burla à norma da inelegibilidade reflexa prevista
no § 7º do art. 14 da Constituição. Portanto, não atrai a aplicação do entendimento
constante da referida súmula a extinção do vínculo conjugal pela morte de um dos
cônjuges. 2. Recurso extraordinário a que se dá provimento. (RE n. 758.461, Rel.
Teoria Zavascki, Tribunal Pleno, DJe de 30.10.2014)

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Por sua vez, não terá a configuração da inelegibilidade reflexa nas seguintes situações:

• o parentesco com o vice não gera inelegibilidade, a menos que ele tenha substituído ou
sucedido o titular dentro dos 6 (seis) meses anteriores ao pleito;
• não gera a inelegibilidade o parentesco com os auxiliares do titular;
• o cônjuge e os parentes, consanguíneos ou afins, até o segundo grau, são elegíveis
no território de jurisdição do titular, desde que este não esteja no exercício de mandato
fruto de reeleição. (Res. n. 21.786, de 1º.6.2004, rel. Min. Humberto Gomes de Barros).

A inelegibilidade reflexa, como visto, impede que os parentes consanguíneos ou afins,


até o segundo grau ou por adoção, de chefes do Poder Executivo possam concorrer a cargos
públicos eletivos no território em que o titular exerce o mandato. Entretanto, segundo a pró-
pria norma constitucional, há uma exceção à incidência dessa inelegibilidade. Para tanto,
basta que o parente do Titular do Poder Executivo seja ocupante de um cargo eletivo e can-
didate-se à reeleição. Para a incidência dessa exceção, é necessário que o parente do chefe
do Poder Executivo candidate-se à reeleição. Isso quer dizer que deve concorrer ao mesmo
cargo eletivo. Não poderá concorrer a cargo diverso.
Há também outra forma de se afastar a incidência dessa inelegibilidade. Para tanto,
basta que o titular paradigma, chefe do Poder Executivo, desincompatibilize-se até seis meses
antes da data da eleição. A esse respeito, veja o ensinamento de Alexandre de Moraes:

Dessa forma, se o chefe do Poder Executivo renunciar seis meses antes da elei-
ção, seu cônjuge e parente ou afins até segundo grau poderão candidatar-se a
todos os cargos eletivos, inclusive à Chefia da Executivo até então por ele ocu-
pada, desde que esse pudesse concorrer a sua própria reeleição, afastando-se
totalmente a inelegibilidade reflexa.
Caso, porém, o Chefe do Poder Executivo estiver exercendo o 2º mandato conse-
cutivo, a renúncia não terá nenhum efeito para a finalidade de afastar a inelegibi-
lidade reflexa quanto a disputa para a chefia do Executivo. Nessa hipótese, se ao
próprio chefe do Executivo está vedada a tentativa de perpetuação no cargo por
mais de dois mandatos, igualmente, não se permitirá essa continuidade via reflexa.

Após analisar a extensão, aplicação e interpretação da inelegibilidade reflexa, deve-se


avaliar a possibilidade de os parentes do chefe do Poder Executivo poderem concorrer ao
mesmo cargo ocupado pelo titular. Viu-se que será viável a candidatura dos parentes do ocu-
pante dos cargos de Presidente, Governador e Prefeito nas seguintes situações:

• caso seja titular de cargo eletivo e candidate-se à reeleição;


• caso o titular do cargo majoritário renuncie ao seu mandato até 6 (seis) meses antes da
data das eleições, desincompatibilizando-se.

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Nessa última situação, a desincompatibilização permitirá, inclusive, a candidatura do


parente do ocupante do cargo de presidente, governador e prefeito para o mesmo cargo titu-
larizado pelo paradigma, desde que esses estejam no exercício do primeiro mandato. Por
outra forma, se o parente paradigma já estiver no exercício do segundo mandato consecu-
tivo, não se admitirá a candidatura de nenhum cidadão que integre seu grupo familiar. Assim,
o art. 14, § 7º c/c e o art. 14, § 5º, ambos da CF/88, viabilizam a candidatura para um único
mandato consecutivo do mesmo grupo familiar. Sobre essa situação:

JURISPRUDÊNCIA
Elegibilidade: cônjuge e parentes do chefe do Poder Executivo: elegibilidade para
candidatar-se à sucessão dele, quando o titular, causador da inelegibilidade, pu-
desse, ele mesmo, candidatar-se à reeleição, mas se tenha afastado do cargo até
seis meses antes do pleito. 1. A evolução do Direito Eleitoral brasileiro, no campo
das inelegibilidades, girou durante décadas em torno do princípio basilar da ve-
dação de reeleição para o período imediato dos titulares do Poder Executivo: re-
gra introduzida, como única previsão constitucional de inelegibilidade, na primeira
Carta Política da República (Const. 1891, art. 47, § 4º), a proibição se manteve
incólume ao advento dos textos posteriores, incluídos os que regeram as fases de
mais acendrado autoritarismo (assim, na Carta de 1937, os arts. 75 a 84, embora
equívocos, não chegaram à admissão explícita da reeleição; e a de 1969 (art. 151,
§ 1º, a) manteve-lhe o veto absoluto). 2. As inspirações da irreelegibilidade dos
titulares serviram de explicação legitimadora da inelegibilidade de seus familiares
próximos, de modo a obviar que, por meio da eleição deles, se pudesse conduzir
ao continuísmo familiar. 3. Com essa tradição uniforme do constitucionalismo re-
publicano, rompeu, entretanto, a EC 16/97, que, com a norma permissiva do § 5º
do art. 14 CF, explicitou a viabilidade de uma reeleição imediata para os Chefes do
Executivo. 4. Subsistiu, no entanto, a letra do § 7º, atinente a inelegibilidade dos
cônjuges e parentes, consanguíneos ou afins, dos titulares tornados reelegíveis,
que, interpretado no absolutismo da sua literalidade, conduz a disparidade ilógica
de tratamento e gera perplexidades invencíveis. 5. Mas, é lugar comum que o or-
denamento jurídico e a Constituição, sobretudo, não são aglomerados caóticos de
normas; presumem-se um conjunto harmônico de regras e de princípios: por isso,
é impossível negar o impacto da Emenda Constitucional n. 16 sobre o § 7º do art.
14 da Constituição, sob pena de consagrar-se o paradoxo de impor-se ao cônjuge
ou parente do causante da inelegibilidade o que a este não se negou: permanecer
todo o tempo do mandato, se candidato à reeleição, ou afastar-se seis meses,
para concorrer a qualquer outro mandato eletivo. 6. Nesse sentido, a evolução
da jurisprudência do TSE, que o STF endossa, abandonando o seu entendimento
anterior. (RE n. 344882, Julgado em 07.04.2003)

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Distinção entre as Condições de Elegibilidade e as Causas de Inelegibilidade

A ausência de preenchimento das condições de elegibilidade e incidência em uma das


situações de inelegibilidade possuem o efeito jurídico semelhante, qual seja, o de impedir
que o cidadão possa exercer seus direitos políticos passivos, a capacidade de ser votado.
Contudo, as condições de elegibilidade constituem requisitos para a aquisição da capa-
cidade eleitoral passiva. As hipóteses de inelegibilidades são impedimentos à elegibilidade.
Segue o entendimento do Supremo Tribunal Federal acerca do tema:

JURISPRUDÊNCIA
O domicílio eleitoral na circunscrição e a filiação partidária, constituindo condições
de elegibilidade (CF, art. 14, § 3º), revelam‑se passíveis de válida disciplinação
mediante simples lei ordinária. Os requisitos de elegibilidade não se confundem,
no plano jurídico‑conceitual, com as hipóteses de inelegibilidade, cuja definição –
além das situações já previstas diretamente pelo próprio texto constitucional (CF,
art. 14, §§ 5º a 8º) – só pode derivar de norma inscrita em lei complementar (CF,
art. 14, § 9º) (STF. ADI n. 1.063. Rel. Min. Celso de Mello).

Diante desse julgado, pode-se afirmar que o não preenchimento de algumas das condi-
ções de elegibilidade será chamado de “não elegibilidade”. Por sua vez, o cidadão que incidir
em uma das hipóteses de inelegibilidade será chamado de “inelegível”.

Por que é importante essa distinção técnica?

Inegáveis as consequências práticas e jurídicas da distinção entres os pressupostos de


elegibilidade e as causas de inelegibilidade. Com efeito, a jurisprudência tem entendido pelo
cabimento de recurso ordinário nas eleições federais e estaduais e da ação rescisória elei-
toral apenas nas hipóteses de inelegibilidade, e não em relação à ausência de condição de
elegibilidade (ZILIO, 2012, p. 145).

Inelegibilidades Infraconstitucionais

A CF autoriza a instituição de novas hipóteses de inelegibilidade pelo legislador infra-


constitucional. Para tanto, o Congresso Nacional deverá editar uma lei complementar. Nessa
lei, proíbe-se a instituição de inelegibilidade com prazo de incidência ou de duração indeter-
minada, já que, nos termos do art. 14, § 9º, da CF, é dever da lei complementar estabelecer
os prazos de cessação das inelegibilidades por ela instituídas.
Atente-se para o fato de que para o legislador tratar sobre condições de elegibilidade
basta a edição de uma lei ordinária. Por sua vez, para a criação de novas hipóteses de ine-
legibilidades infraconstitucionais é necessária a edição de uma lei complementar.

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A criação das inelegibilidades ocorrerá para a proteção dos princípios constitucio-


nais a seguir.

• Princípio da probidade administrativa – esse é o princípio da moralidade adminis-


trativa expressamente previsto no art. 37, cabeça, da CF. Assim, admite-se a previsão
de que condutas que violem a moralidade administrativa acarretem a inelegibilidade.
Tem-se, por exemplo, a inelegibilidade inscrita no art. 1º, inc. I, alínea ‘g’, da Lei Com-
plementar n. 64/90, a qual prevê que a desaprovação das contas do gestor público pode
acarretar inelegibilidade.
• Princípio da moralidade para o exercício de mandato eletivo, considerada a vida
pregressa – por esse princípio, a CF permite a aferição da moralidade do candidato,
em sua vida privada, para que esse fator seja levado em consideração para impedi-lo
de participar de eleições e de concorrer a cargos públicos eletivos. Na verdade, a aná-
lise da moralidade para o exercício de mandato eletivo é analisada com base em sua
vida pregressa. Logo, se o candidato tiver “ficha limpa”, poderá participar do pleito; se,
por sua vez, o candidato for “ficha suja”, poderá ficar inelegível. Essa foi a base consti-
tucional para a Lei Complementar n. 135/2010 (Lei da Ficha Limpa). A partir dessa lei,
cidadãos que tenham sofrido condenações criminais, pelos crimes previstos no art. 1º,
inc. I, alínea ‘e’, da Lei Complementar n. 64/90, proferidas por órgãos colegiados, são
inelegíveis para qualquer cargo.
• Princípio da normalidade e legitimidade das eleições – as eleições devem refletir a
vontade popular, e os instrumentos que possam manipular o eleitor devem ser coibidos.
Como exemplo de forma de violação da normalidade e da legitimidade das eleições
tem-se: a) abuso de poder econômico; b) abuso no exercício de cargo, emprego ou
função pública, também denominado de abuso de poder político. A esse respeito, por
exemplo, previu-se, no art. 1º, inc. I, alínea ‘d’, da Lei Complementar n. 64/90, que a
condenação pela prática de abuso de poder econômico ou político atrai a incidência de
inelegibilidade para qualquer cargo.

Essa é a redação do dispositivo constitucional em estudo:

Art. 14. Omissis


§ 9º Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos
de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para
exercício de mandato considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade
e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do
exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta. (Reda-
ção dada pela Emenda Constitucional de Revisão n. 4, de 1994)

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Contudo, instituição de novas inelegibilidades depende da edição de lei complementar


e, enquanto não houver o exercício dessa competência legislativa pelo Congresso Nacio-
nal, não pode ser dada aplicabilidade direta e imediata ao art. 14, § 9º, da CF/88. Por causa
da exigência de atuação do legislador infraconstitucional, para que se impeça cidadãos de
participar de pleitos, classifica-se a presente prescrição, de acordo com a classificação das
normas constitucionais quanto a eficácia proposta por José Afonso da Silva, como sendo de
eficácia limitada. Sobre a aplicabilidade do art. 14, § 9º, da CF, esse é o entendimento do STF:

JURISPRUDÊNCIA
(1) a regra inscrita no § 9º do art. 14 da Constituição, na redação dada pela Emen-
da Constitucional de Revisão n. 4/94, não é auto-aplicável, pois a definição de
novos casos de inelegibilidade e a estipulação dos prazos de sua cessação, a fim
de proteger a probidade administrativa e a moralidade para o exercício do man-
dato, considerada a vida pregressa do candidato, dependem, exclusivamente, da
edição de lei complementar, cuja ausência não pode ser suprida mediante inter-
pretação judicial. (Rcl. n. 6534, julgado em 25.9.2008)

No exercício da presente competência legislativa, exige-se a edição de lei complemen-


tar. Em outras palavras: lei ordinária não pode ser o instrumento legislativo a ser utilizado
para tratar sobre inelegibilidades infraconstitucionais. Em caso de edição de lei sobre a maté-
ria inelegibilidades, deve-se perquirir sobre o momento em que a lei poderá ser aplicada.
O princípio da anterioridade eleitoral, inscrito no art. 16 da CF/88, determina que as leis
que alterarem o processo eleitoral entram em vigor na data de sua publicação, não se apli-
cando às eleições que ocorram até um ano da data de sua vigência.
Logo, para saber se o princípio da anterioridade eleitoral condiciona a aplicabilidade
das leis sobre inelegibilidade, deve-se avaliar se as inelegibilidades estão englobadas pelo
conceito de processo eleitoral. Essa resposta foi dada pelo STF, no julgamento do RE n.
633.703, nos seguintes termos:

JURISPRUDÊNCIA
O art. 16 da Constituição, ao submeter a alteração legal do processo eleitoral à
regra da anualidade, constitui uma garantia fundamental para o pleno exercício
de direitos políticos. Precedente: ADI n. 3.685, Rel. Min. Ellen Gracie, julg. em
22/3/2006. A LC n. 135/2010 interferiu numa fase específica do processo eleitoral,
qualificada na jurisprudência como a fase pré-eleitoral, que se inicia com a escolha
e a apresentação das candidaturas pelos partidos políticos e vai até o registro das
candidaturas na Justiça Eleitoral. Essa fase não pode ser delimitada temporal-
mente entre os dias 12 e 30 de junho, no qual ocorrem as convenções partidárias,
pois o processo político de escolha de candidaturas é muito mais complexo e tem

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início com a própria filiação partidária do candidato, em outubro do ano anterior.


A fase pré-eleitoral de que trata a jurisprudência desta Corte não coincide com as
datas de realização das convenções partidárias. Ela começa muito antes, com a
própria filiação partidária e a fixação de domicílio eleitoral dos candidatos, assim
como o registro dos partidos no Tribunal Superior Eleitoral. A competição eleitoral
inicia exatamente um ano antes da data das eleições e, nesse interregno, o art.
16 da Constituição exige que qualquer modificação nas regras do jogo não terá
eficácia imediata para o pleito em curso.

Da Pessoalidade das Inelegibilidades

A inelegibilidade é uma causa impeditiva ao exercício do direito à elegibilidade pessoal,


ou seja, só atinge o cidadão que incidir em uma das hipóteses de inelegibilidade (intrans-
cendência). Assim, se após o pedido de registro de candidaturas a cargos majoritários, for
constatado que um dos candidatos que compõe a chapa (titular ou vice) é inelegível, essa
restrição não atinge o outro integrante da mesma chapa. A inelegibilidade de um dos concor-
rentes não contamina a chapa.
Essa é a previsão legal contida no art. 18 da Lei Complementar n. 64/1990:

Art. 18. A declaração de inelegibilidade do candidato à Presidência da Repúbli-


ca, Governador de Estado e do Distrito Federal e Prefeito Municipal não atingirá
o candidato a Vice‑Presidente, Vice‑Governador ou Vice‑Prefeito, assim como a
destes não atingirá aqueles.

Sobre a aplicabilidade desse dispositivo, este é o entendimento do Tribunal Superior


Eleitoral:

JURISPRUDÊNCIA
Ac.-TSE, de 26/10/2006, no REspe n. 25.586: [...] o art. 18 da LC n. 64/1990 é apli-
cável aos casos em que o titular da chapa majoritária teve seu registro indeferido
antes das eleições. Assim, o partido tem a faculdade de substituir o titular, sem
qualquer prejuízo ao vice. Entretanto, a cassação do registro ou diploma do titular,
após o pleito, atinge o seu vice, perdendo este, também, o seu diploma, porquanto
maculado restou a chapa. Isso com fundamento no princípio da indivisibilidade da
chapa única majoritária [...]. Desse modo, [...] incabível a aplicação do art. 18 da
LC n. 64/1990, pois, no caso dos autos, a candidata a prefeita teve seu registro
indeferido posteriormente às eleições.

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Inelegibilidade dos Inalistáveis e Analfabetos

O art. 1º, inciso I, alínea a, da LC n. 64/1990 repete a disposição contida no art. 14, §
4º, da Constituição Federal. Esta é a disposição referida:

Art. 1º São inelegíveis:


I – para qualquer cargo:
a) os inalistáveis e os analfabetos;

Trata-se da inelegibilidade dos inalistáveis e analfabetos. Essa hipótese de inelegibili-


dade já foi analisada no tópico “Inelegibilidades Constitucionais”.

Inelegibilidade Decorrente da Perda de Mandato Legislativo

O art. 1º, inciso I, alínea b, da LC n. 64/1990 dispõe:

Art. 1º São inelegíveis:


I – para qualquer cargo:
[...]
b) os membros do Congresso Nacional, das Assembleias Legislativas, da Câmara
Legislativa e das Câmaras Municipais, que hajam perdido os respectivos manda-
tos por infringência do disposto nos incisos I e II do art. 55 da Constituição Federal,
dos dispositivos equivalentes sobre perda de mandato das Constituições Estadu-
ais e Leis Orgânicas dos Municípios e do Distrito Federal, para as eleições que se
realizarem durante o período remanescente do mandato para o qual foram eleitos
e nos oito anos subsequentes ao término da legislatura; (Redação dada pela LCP
n. 81/1994)

Essa hipótese de inelegibilidade é aplicável aos membros do Poder Legislativo que per-
derem seus mandatos parlamentares em virtude de exercício de cargo, emprego ou função
nas hipóteses vedadas pelo art. 544 da CF/88 ou de quebra de decoro parlamentar. Não se
aplica essa hipótese de inelegibilidade quando a perda do mandato parlamentar decorrer da
aplicação das demais situações prescritas no art. 55 da CF/88.
Os casos de perda de mandato parlamentar estão previstos no art. 55 da Constituição
Federal. São elas:

4
II – desde a posse:
a) ser proprietários, controladores ou diretores de empresa que goze de favor decorrente de contrato com pessoa jurídica de direito público, ou nela exercer
função remunerada;
b) ocupar cargo ou função de que sejam demissíveis "ad nutum", nas entidades referidas no inciso I, "a";
c) patrocinar causa em que seja interessada qualquer das entidades a que se refere o inciso I, "a";
d) ser titulares de mais de um cargo ou mandato público eletivo.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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Art. 55. Perderá o mandato o Deputado ou Senador:


I – que infringir qualquer das proibições estabelecidas no artigo anterior;
II – cujo procedimento for declarado incompatível com o decoro parlamentar;
III – que deixar de comparecer, em cada sessão legislativa, à terça parte das
sessões ordinárias da Casa a que pertencer, salvo licença ou missão por esta
autorizada;
IV – que perder ou tiver suspensos os direitos políticos;
V – quando o decretar a Justiça Eleitoral, nos casos previstos nesta Constituição;
VI – que sofrer condenação criminal em sentença transitada em julgado.

Por conseguinte, havendo cassação de mandato de membro do Poder Legislativo com


base nos incisos I e II do art. 55 da CF/88, o cidadão que perdeu o cargo estará inelegível
pelo período restante do mandato para o qual foi eleito, assim como para as eleições que se
realizarem nos oito anos subsequentes.

Perda de Mandato de Chefe do Poder Executivo

O art. 1º, inciso I, alínea c, da LC n. 64/1990 prescreve:

Art. 1º São inelegíveis:


I – para qualquer cargo:
[...]
c) o Governador e o Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal e o Prefeito
e o Vice-Prefeito que perderem seus cargos eletivos por infringência a dispositivo
da Constituição Estadual, da Lei Orgânica do Distrito Federal ou da Lei Orgânica
do Município, para as eleições que se realizarem durante o período remanescente
e nos 8 (oito) anos subsequentes ao término do mandato para o qual tenham sido
eleitos; (Redação dada pela Lei Complementar n. 135/2010)

A partir da análise dessa hipótese de inelegibilidade, vê-se que se o chefe do Poder


Executivo Estadual ou Municipal perder o seu mandato em razão de violação de dispositi-
vos da Constituição Estadual ou de Leis Orgânicas ficará inelegível para as eleições que se
realizarem durante o período remanescente do mandato e nos oito anos subsequentes ao
término do mandato.
Contudo, essa prescrição impeditiva somente alcança os chefes do Executivo Esta-
dual ou Municipal. Não ficará inelegível o presidente da República que perder o seu cargo
por infringência a disposições constitucionais. Em outras palavras: a responsabilização do
presidente da República pela prática de crime de responsabilidade após o desenvolvimento
do processo de impeachment não acarreta a sua inelegibilidade. Na verdade, diante dessa
circunstância, o presidente da República ficará inabilitado para o exercício de qualquer cargo,

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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emprego ou função pública. Trata-se de consequência jurídica mais intensa e extensa do que
a inelegibilidade.

Sobre essa situação de inelegibilidade, José Jairo Gomes (2012, p. 175) ensina que:

Cogita-se aí de perda de cargo eletivo em virtude de processo de impeachment


instaurado contra o chefe do Executivo estadual, distrital ou municipal, cuja finali-
dade é apurar crime de responsabilidade. O processo e o julgamento competem
às respectivas casas legislativas. [...] E quanto ao titular do Executivo federal? Se
condenado em processo de impeachment, o Presidente da República fica inabili-
tado pelo prazo de oito anos para o exercício de função pública. É o que prevê o
art. 52, parágrafo único, da Constituição Federal. Note-se que a sanção de inabili-
tação é mais abrangente que a de inelegibilidade, pois, por ela, fica inviabilizado o
exercício de quaisquer cargos públicos, e não apenas os eletivos. É assente que
a inelegibilidade obstrui tão só a capacidade eleitoral passiva.

Inelegibilidade Decorrente de Abuso de Poder Econômico e Político

O art. 1º, inciso I, alínea c, da LC n. 64/1990 prescreve:

Art. 1º São inelegíveis:


I – para qualquer cargo:
[...]
d) os que tenham contra sua pessoa representação julgada procedente pela Jus-
tiça Eleitoral, em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão colegiado,
em processo de apuração de abuso do poder econômico ou político, para a elei-
ção na qual concorrem ou tenham sido diplomados, bem como para as que se
realizarem nos 8 (oito) anos seguintes;(Redação dada pela Lei Complementar n.
135, de 2010)

Essa situação de inelegibilidade foi instituída por expressa exigência constitucional.


Isso porque, segundo o art. 14, § 9º, da CF/88, deveriam ser criadas hipóteses de inelegi-
bilidade com a finalidade de garantir a normalidade e a legitimidade das eleições contra a
influência do abuso do poder econômico ou do abuso do exercício de cargo, emprego ou
função pública.
Vê-se, dessa forma, que, para a compreensão da aplicabilidade dessa disposição legal,
é importante a definição do que deve ser entendido por abuso de poder econômico e abuso
de poder político. Abuso de poder econômico constitui-se na utilização indevida e excessiva
de recursos financeiros em campanhas eleitorais. A seu turno, abuso de poder político con-

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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figura-se no uso indevido de cargo, emprego ou função pública em favor de candidatos ou


com finalidade eleitoral.
Segundo o entendimento jurisprudencial do TSE, o abuso de poder econômico:

JURISPRUDÊNCIA
O abuso de poder econômico concretiza-se com o mau uso de recursos patrimo-
niais, exorbitando os limites legais, de modo a desequilibrar o pleito em favor dos
candidatos beneficiários. (RO n. 1.445, DJe de 6/8/2009)

Portanto, a utilização indevida de recursos financeiros em campanhas eleitorais bene-


ficiando candidaturas constitui abuso de poder econômico, e essa conduta, em razão de
quebrar a normalidade e legitimidade das eleições, acarreta a inelegibilidade da alínea em
análise. A quebra da normalidade e da legitimidade das eleições decorre do fato de que o
uso excessivo ou abusivo do poderio financeiro em uma eleição pode manipular a vontade
do eleitorado e quebrar a igualdade de oportunidade que deve ser garantida aos candidatos.
Por sua vez, de acordo com o TSE, constitui abuso de poder político:

JURISPRUDÊNCIA
O abuso de poder político, para fins eleitorais, configura-se no momento em que
a normalidade e a legitimidade das eleições são comprometidas por condutas de
agentes públicos que, valendo-se de sua condição funcional, beneficiam candida-
turas, em manifesto desvio de finalidade. (RCED n. 661, DJe de 21/9/2010)

A prática de abuso de poder econômico ou político, desde que reconhecida no julga-


mento do pedido da Ação de Investigação Judicial Eleitoral, acarreta a inelegibilidade. Na
verdade, apesar de constar, de forma expressa no texto legal, que atrairá a incidência dessa
inelegibilidade o julgamento de uma representação, esse termo legal refere-se à Ação de
Investigação Judicial Eleitoral, inscrita no art. 22 da Lei Complementar n. 64/90.
Dessa forma, a condenação pela prática de abuso de poder econômico ou de poder
político em outra espécie de ação eleitoral, como, por exemplo, na Ação de Impugnação de
Mandato Eletivo ou, quando era possível, no Recurso contra a Expedição de Diploma, ou em
decisões da Justiça Comum não atrai a incidência da inelegibilidade inscrita no art. 1º, inc. I,
alínea ‘d’, da LC n. 64/905.
Além disso, deve-se indagar se a presente situação de inelegibilidade deve incidir
somente quando o cidadão pratica o abuso de poder econômico ou político em benefício
de sua própria candidatura. Isso porque a previsão legal prescreve que os que praticarem o
abuso de poder ficarão inelegíveis para a eleição para a qual concorrem, assim como para as
5
“A hipótese da alínea d do inciso I do artigo 1º da Lei Complementar n. 64/90, modificada pela Lei Complementar n. 135/2010, refere-se exclusivamente à
representação de que trata o artigo 22 da Lei das Inelegibilidades”. [...] (RO 3128-94/MA, Rel. Min. Hamilton Carvalhido, PSESS em 30.9.2010) (sem des-
taque no original).
No mesmo sentido: “Segundo entendimento consolidado desta Corte, a condenação por abuso de poder deve ser reconhecida pela Justiça Eleitoral por meio
da representação de que trata o artigo 22 da LC n. 64/90, qual seja, ação de investigação judicial eleitoral, e não ação de impugnação de mandato eletivo”.
AgR-REspe n. 641-18/MG, Rel. Min. Luciana Lóssio, PSESS de 21.11.2012).

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes. Com isso, a depender da interpretação a ser
dada a essa disposição normativa, somente poderão ocorrer duas situações:

• sofrerá a incidência da presente inelegibilidade o candidato a cargo eletivo que praticar


abuso de poder em benefício de sua candidatura; ou
• sofrerá a incidência da presente inelegibilidade aquele que praticar abuso de poder em
benefício próprio, bem como aquele que praticar abuso de terceiro em favor de campa-
nha de terceiro.

Caso o entendimento seja de que a presente inelegibilidade incide também quando


o abuso é praticado por quem não concorreu a cargos eletivos, ou seja, quando o abuso
de poder é realizado em favor de terceiros, deve-se fixar qual a duração da inelegibilidade.
Deveras, a previsão legal descreve que ficarão inelegíveis para a eleição na qual concorrem,
mas o que pratica abuso de poder em prol de candidatura de outrem não participou do pleito
e, nesse caso, deve-se definir a incidência do período de inelegibilidade.
Resolvendo essa questão, o TSE, após intenso debate, no julgamento do REspe 151-05/
COARI/AM, definiu que a inelegibilidade da alínea ‘d’ do inciso I do art. 1º da Lei Complemen-
tar n. 64/90 deve ser aplicada aos candidatos que praticaram abuso de poder para viabilizar
suas eleições, como também aos terceiros que praticaram esses ilícitos eleitorais em favor
de campanhas eleitorais de terceiros.
Em ambas as situações, a inelegibilidade terá a sua incidência a partir da eleição para
a qual o ilícito foi praticado e perdurará pelos pleitos que se realizarem nos 8 (oito) anos
seguintes. A esse respeito, veja o seguinte julgado do TSE:

JURISPRUDÊNCIA
4. As causas de inelegibilidade dispostas nas alíneas d e h aplicam-se não somen-
te a quem praticou o abuso de poder na eleição para a qual concorreu (visando
beneficiar a própria candidatura), mas também a quem cometeu o ilícito na eleição
na qual não se lançou candidato, vindo a favorecer a candidatura de terceiro.
5. Ademais, as referidas alíneas, na parte em que dispõem “para a eleição na
qual concorrem ou tenham sido diplomados”, limitam-se a fixar o termo inicial de
incidência da inelegibilidade – qual seja, a eleição na qual concorreu o candidato
beneficiado pelo abuso, que pode ou não ser o autor do ilícito – e não a estabele-
cer as pessoas que estão sujeitas a ela. (REspe n. 151-05/COARI/AM, Red. para
o acórdão Min. João Otávio Noronha, DJe de 3/2015)

Para terminar a análise da inelegibilidade do abuso de poder, é importante definir qual o


dia em que se inicia a sua incidência e qual o dia em que o cidadão poderá voltar a exercer o
seu direito à elegibilidade. Em outras palavras, deve-se definir o termo final de contagem do
prazo de inelegibilidade. O entendimento dessa situação merece a exposição de uma situa-
ção concreta.

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EXEMPLO
Imagine um cidadão que tenha sido condenado pela prática de abuso de poder
econômico no julgamento do pedido de uma Ação de Investigação Judicial Eleito-
ral. Esse cidadão praticou o ilícito eleitoral para beneficiar a candidatura de terceiro
nas eleições de 2022.
Com base nessa situação, indaga-se:
a) a partir de quando e até quando estará inelegível?
b) o cidadão poderá concorrer às eleições de 2022?
Para viabilizar sua análise, informa-se:
a) as eleições de 2022 ocorreram no dia 2 de outubro de 2022;
b) as eleições de 2030 ocorreram no dia 5 de outubro de 2030.
A alínea “d” prescreve que a inelegibilidade do abuso de poder incide para a eleição
para a qual foi praticado o ilícito, bem como para as que se realizarem nos 8 (oito)
anos subsequentes. Assim, a partir da previsão legal em comento, o cidadão ficará
inelegível a partir da eleição de 2022. Logo, como a eleição de 2022 foi realizada
no dia 2 de outubro, o cidadão do presente caso concreto estará inelegível desde o
dia 2 de outubro de 2022 até o dia 2 de outubro de 2030.
Por essa razão, como a data de realização das eleições de 2030 foi dia 5 de outu-
bro, e a inelegibilidade do cidadão perdurou até o dia 2 de outubro, ele poderá par-
ticipar das eleições de 2030.

A conclusão aplicada na solução da hipótese didática retromencionada decorre do


entendimento jurisprudencial firmado pelo TSE. Segundo a Corte Superior Eleitoral, as inele-
gibilidades que tenham como prazo inicial de incidência a data de eleições e, por determina-
ção legal, incida para as eleições que se realizem nos oito anos seguintes, somente podem
durar até o dia igual ao de início. Aplica-se, para tanto, a forma de contagem de prazo, esta-
tuído pelo art. 132, § 3º, do Código Civil:

Art. 132. Salvo disposição legal ou convencional em contrário, computam-se os


prazos, excluído o dia do começo, e incluído o do vencimento.
§ 3º Os prazos de meses e anos expiram no dia de igual número do de início, ou
no imediato, se faltar exata correspondência.

Por essa disposição legal, os prazos contados em anos devem terminar em dia igual ao
de início do ano correspondente. Com isso, a Lei das Inelegibilidades determina que a ine-
legibilidade decorrente do abuso de poder tem início a partir da data da eleição para a qual
o ilícito foi cometido e dura para as eleições que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes,
terminando em igual dia ao da data da eleição.

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A esse respeito, veja o seguinte julgado que demonstra esse posicionamento do TSE:

JURISPRUDÊNCIA
CONSULTA. LEI COMPLEMENTAR N. 135/2010. APLICAÇÃO RETROATIVA.
ALÍNEA D. TSE. MANIFESTAÇÃO. EXISTÊNCIA. CONTAGEM DE PRAZO. TER-
MO INICIAL E FINAL. DATA DAS ELEIÇÕES. CONHECIMENTO PARCIAL.
1. Para ser conhecida a consulta pressupõe uma dúvida plausível quanto ao al-
cance do preceito legal.
2. O prazo de inelegibilidade de 8 (oito) anos previsto na alínea d do inciso I do
art. 1º da LC n. 64/90 deve ter início na data da eleição do ano da condenação
por abuso de poder, expirando no dia de igual número de início do oitavo ano
subsequente, como disciplina o art. 132, § 3º, do Código Civil, seguindo a mesma
regra estabelecida para a alínea j do mesmo dispositivo legal, nos moldes do que
decidido no julgamento do REspe n. 74-27 (Fênix/PR) e do REspe n. 93-08 (Ma-
nacapuru/AM). (CTA n. 433-44, Rel. Min. Luciana Lóssio, DJe de 1º.7.2014)

Inelegibilidade Decorrente da Vida Pregressa

O art. 1º, inciso I, alínea e, da LC n. 64/1990 dispõe:

Art. 1º São inelegíveis:


I – para qualquer cargo:
[...]
e) os que forem condenados, em decisão transitada em julgado ou proferida por
órgão judicial colegiado, desde a condenação até o transcurso do prazo de 8 (oito)
anos após o cumprimento da pena, pelos crimes:
1. contra a economia popular, a fé pública, a administração pública e o patrimô-
nio público;
2. contra o patrimônio privado, o sistema financeiro, o mercado de capitais e os
previstos na lei que regula a falência;
3. contra o meio ambiente e a saúde pública;
4. eleitorais, para os quais a lei comine pena privativa de liberdade;
5. de abuso de autoridade, nos casos em que houver condenação à perda do car-
go ou à inabilitação para o exercício de função pública;
6. de lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores;
7. de tráfico de entorpecentes e drogas afins, racismo, tortura, terrorismo e
hediondos;
8. de redução à condição análoga à de escravo;
9. contra a vida e a dignidade sexual; e
10. praticados por organização criminosa, quadrilha ou bando;

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A inelegibilidade decorrente da vida pregressa foi instituída com base na competência


legislativa estabelecida no art. 14, § 9º, da CF. Deveras, segundo essa permissão constitucio-
nal, as inelegibilidades infraconstitucionais podem ser criadas com o objetivo de proteger o
princípio da moralidade para o exercício de mandato eletivo. Por meio desse princípio cons-
titucional, exige-se que, para o exercício de cargos eletivos, o candidato tenha a necessária
moralidade em sua vida pessoal.
Para a aferição da moralidade ao exercício de cargos eletivos, deve-se avaliar a vida
pregressa do cidadão. Caso tenha “ficha suja”6, o cidadão não tem a necessária moralidade
para o exercício de cargo eletivo e, se houver previsão legal, será considerado inelegível. Por
consequência, se o cidadão tiver “ficha limpa”, será considerado elegível e poderá concorrer
a cargos eletivos.
Até a edição da Lei Complementar n. 135/2010, cidadãos que tivessem condenações
criminais, decorrentes de decisões judiciais não transitadas em julgado, eram considera-
dos elegíveis e poderiam concorrer a cargos públicos eletivos. Com a Lei Complementar n.
135/2010, regulamentou-se a inelegibilidade decorrente da vida pregressa e estabeleceu-se
os parâmetros fáticos para a incidência da presente inelegibilidade.
Inicialmente, deve-se estabelecer uma distinção técnica: a diferença entre a incidência
da hipótese de suspensão de direitos políticos, prescrita no art. 15, inc. III, da CF/88, da situ-
ação de inelegibilidade, inscrita no art. 1º, inc. I, alínea ‘e’, da Lei Complementar n. 64/90.
A suspensão dos direitos políticos é uma restrição temporária do exercício da cidada-
nia. O cidadão que incidir em uma das situações constitucionais de suspensão dos direitos
políticos não poderá votar, nem ser votado. Dentre outras hipóteses fáticas, haverá a sus-
pensão dos direitos políticos daqueles que sofrerem condenações criminais transitadas em
julgado, independentemente do crime ou da espécie da pena.
A seu turno, a incidência da inelegibilidade em comento depende da existência de con-
denações criminais proferidas ou confirmadas por órgão colegiado por um dos crimes esta-
belecidos no rol de crimes aptos a atraírem a incidência da presente restrição do exercício da
capacidade eleitoral passiva. A incidência dessa inelegibilidade inicia a partir da publicação
da decisão condenatória de órgãos colegiados até o transcurso do prazo de 8 (oito) anos
após o cumprimento da pena.
Para facilitar a compreensão da aplicação da aplicabilidade dessa hipótese de inele-
gibilidade, reproduz-se esquematicamente a incidência do art. 1º, inciso I, alínea e, da Lei
Complementar n. 64/1990, combinada com o art. 15, III, da CF:

6
O termo “ficha suja” refere-se a existência de condenações criminais e “ficha limpa”, por consectário lógico, refere-se à inexistência de condenações crimi-
nais.

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Consequências Jurídicas Advindas da Inelegibilidade Decorrente da Vida Pregressa

Fato Consequência Eleitoral


Após a instauração de inquérito policial pela
Apto a votar e ser votado.
prática de crime.
Após o recebimento da denúncia. Apto a votar e ser votado.
Após a condenação criminal imposta por um juiz
Apto a votar e ser votado.
monocrático.
Após a condenação criminal confirmada por
Inelegível (não pode ser votado, mas pode votar).
órgão colegiada.
Após o trânsito em julgado da sentença penal Suspensão dos direitos políticos
condenatória. (não pode votar e ser votado).
Após o cumprimento da pena, descontado o
Cessa a suspensão dos direitos políticos, mas está
período de inelegibilidade anterior à data do
inelegível (pode votar, mas não pode ser votado).
trânsito em julgado da sentença condenatória.
Depois de oito anos do cumprimento da pena. Cessa a inelegibilidade (pode votar e ser votado).

Atente-se para o fato de que a presente inelegibilidade somente terá aplicação para as
condenações decorrentes da prática de um dos tipos penais listados no art. 1º, inc. I, alínea
‘e’, da Lei Complementar n. 64/90. Não pode haver a incidência dessa restrição em caso de
condenações criminais por crimes não previstos na alínea ‘e’, já que o rol legal é taxativo e
não admite interpretação ampliativa.
Além disso, de forma explícita, a Lei das Inelegibilidades, afastou a incidência desse
impedimento da cidadania, ainda que, em tese, o tipo penal se amoldasse a um dos crimes
da alínea ‘e’, quando o crime for classificado como crime culposo7, crime de menor potencial
ofensivo8 e crimes sujeitos à ação penal privada.
Dentre as inovações introduzidas pela Lei da Ficha Limpa (Lei Complementar n.
135/2010), tem-se a possibilidade de incidência da inelegibilidade ainda que não haja deci-
são transitada em julgado. Isso porque a presente restrição do direito político aplica-se a
partir do momento em que houver uma manifestação judicial de órgãos colegiados, ainda que
haja a interposição de recursos pendentes de julgamento.
Discutiu-se sobre a compatibilidade da presente previsão legal restritiva de direitos,
ainda que não houvesse o trânsito em julgado de sentença condenatório. A indagação decor-
reu do princípio constitucional do princípio da presunção de não culpabilidade, que pres-

7
Código Penal
Art. 18 – Diz-se o crime:
Crime culposo
II – culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia.
8
Lei n. 9.099/95
Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena
máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa.

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creve que ninguém deve ser considerado culpado até o trânsito em julgado da sentença
condenatória9.
Ao analisar a constitucionalidade dessa alteração promovida pela Lei da Ficha Limpa,
o Supremo Tribunal Federal entendeu que o princípio da presunção de não culpabilidade
deve ter sua aplicabilidade restringida ao campo penal, interpretando-se restritivamente a
prescrição constitucional. Com isso, no âmbito eleitoral, em razão da exigência da que can-
didatos tenham moralidade para exercer cargos eletivos, pode-se impedi-los de participar de
eleições, ainda que não haja decisões condenatórias transitadas em julgado. A esse respeito,
veja o seguinte julgado:

JURISPRUDÊNCIA
2. A razoabilidade da expectativa de um indivíduo de concorrer a cargo público
eletivo, à luz da exigência constitucional de moralidade para o exercício do man-
dato (art. 14, § 9º), resta afastada em face da condenação prolatada em segunda
instância ou por um colegiado no exercício da competência de foro por prerroga-
tiva de função, da rejeição de contas públicas, da perda de cargo público ou do
impedimento do exercício de profissão por violação de dever ético-profissional.
3. A presunção de inocência consagrada no art. 5º, LVII, da Constituição Federal
deve ser reconhecida como uma regra e interpretada com o recurso da metodolo-
gia análoga a uma redução teleológica, que reaproxime o enunciado normativo da
sua própria literalidade, de modo a reconduzi-la aos efeitos próprios da condena-
ção criminal (que podem incluir a perda ou a suspensão de direitos políticos, mas
não a inelegibilidade), sob pena de frustrar o propósito moralizante do art. 14, §
9º, da Constituição Federal. 4. Não é violado pela Lei Complementar n. 135/10 o
princípio constitucional da vedação de retrocesso, posto não vislumbrado o pres-
suposto de sua aplicabilidade concernente na existência de consenso básico, que
tenha inserido na consciência jurídica geral a extensão da presunção de inocência
para o âmbito eleitoral. 5. O direito político passivo (ius honorum) é possível de
ser restringido pela lei, nas hipóteses que, in casu, não podem ser consideradas
arbitrárias, porquanto se adequam à exigência constitucional da razoabilidade,
revelando elevadíssima carga de reprovabilidade social, sob os enfoques da vio-
lação à moralidade ou denotativos de improbidade, de abuso de poder econômico
ou de poder político. 6. O princípio da proporcionalidade resta prestigiado pela Lei
Complementar n. 135/10, na medida em que: (i) atende aos fins moralizadores
a que se destina; (ii) estabelece requisitos qualificados de inelegibilidade e (iii)
impõe sacrifício à liberdade individual de candidatar-se a cargo público eletivo
que não supera os benefícios socialmente desejados em termos de moralidade e
9
Constituição Federal
Art. 5º. Omissis
LVII – ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória;

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probidade para o exercício de referido munus publico. 7. O exercício do ius hono-


rum (direito de concorrer a cargos eletivos), em um juízo de ponderação no caso
das inelegibilidades previstas na Lei Complementar n. 135/10, opõe-se à própria
democracia, que pressupõe a fidelidade política da atuação dos representantes
populares. 8. A Lei Complementar n. 135/10 também não fere o núcleo essencial
dos direitos políticos, na medida em que estabelece restrições temporárias aos
direitos políticos passivos, sem prejuízo das situações políticas ativas.
(ADC n. 29, Rel. Min. Luiz Fux, Tribunal Pleno, DJe de 29.6.2012)

Como visto, exige-se a existência de decisões colegiadas para a aplicação dessa alínea
e do inciso I do art. 1º da Lei Complementar n. 64/90. A existência de decisões colegiadas
privilegia o princípio da proporcionalidade, pois não seria razoável permitir que decisões pro-
feridas por órgãos monocráticos, sujeitas à falibilidade humana, pudessem provocar o impe-
dimento de exercício da cidadania. Por se tratar de restrição de direito político, espécie de
direito fundamental, deve-se exigir a existência de decisão qualificada por uma manifestação
plúrima de vontades.
Em regra, a colegialidade é própria das segundas instâncias ou das instâncias especiais
ou extraordinárias do Poder Judiciário. Não obstante, há órgãos colegiados que compõe o
primeiro grau de jurisdição: os tribunais do júri. As decisões do tribunal do júri, nos termos de
prescrição constitucional, são regidas pelo princípio da soberania dos vereditos. Essa carac-
terística indica a certeza da decisão desse órgão colegiado, somente podendo ser reformada
em hipóteses excepcionais.
Por essa razão, ainda que a decisão colegiada seja proferida pelo tribunal do júri, órgão
que integra o primeiro grau de jurisdição, haverá a incidência da inelegibilidade decorrente
da vida pregressa.

JURISPRUDÊNCIA
Incorre em inelegibilidade aquele que foi condenado por crime doloso contra a vida
julgado pelo Tribunal do Júri, que é órgão judicial colegiado, atraindo a incidência
do disposto no art. 1º, inciso I, alínea e, n. 9, da LC n. 64/90, com as modificações
introduzidas pela LC n. 135/10. (REspe n. 611-03, DJe de 21.5.2013)

Ao fim, deve-se avaliar a duração da presente inelegibilidade. A partir de uma interpre-


tação meramente gramatical, poder-se-ia imaginar que a presente inelegibilidade incidiria a
partir do momento em que houver a decisão condenatória proferida ou confirmada por órgão
colegiado até o prazo de 8 (oito) anos após o cumprimento da pena.
Entretanto, com a finalidade de evitar uma restrição demasiada e não razoável ao exer-
cício da cidadania, o Supremo Tribunal Federal, no julgamento da ADC n. 29, decidiu que

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a extensão da inelegibilidade por oito anos após o cumprimento da pena, admis-


sível à luz da disciplina legal anterior, viola a proporcionalidade numa sistemática
em que a interdição política se põe já antes do trânsito em julgado.

Com base nesse entendimento, o STF, por meio de interpretação conforme à Consti-
tuição, determinou que o período de inelegibilidade cumprido em período anterior à data do
trânsito em julgado da sentença condenatória deve ser deduzido do prazo de 8 (oito) anos
inscrito na alínea e do inciso I do art. 1º da Lei Complementar n. 64/90.

Inelegibilidade Decorrente da Indignidade do Oficialato

O art. 1º, inciso I, alínea f, da LC n. 64/1990 prescreve:

Art. 1º São inelegíveis:


I – para qualquer cargo:
[...]
f) os que forem declarados indignos do oficialato, ou com ele incompatíveis, pelo
prazo de 8 (oito) anos; (Redação dada pela Lei Complementar n. 135/2010)

Por essa disposição, o oficial (militar) que for declarado indigno ou incompatível com o
seu posto ou função ficará inelegível pelo prazo de 8 (oito) anos. Essa sanção será imposta
àqueles que por vários motivos descumpriram seu dever, traindo a confiança em si deposi-
tada pela Nação, pelos Estados ou pelo Distrito Federal. Essas penas estão previstas nos
arts. 100 e 101 do Código Penal Militar e uma vez aplicadas, de forma automática, fazem
com que o cidadão fique inelegível.
Frise-se que a presente inelegibilidade não é uma das sanções decorrentes da decla-
ração da indignidade ou incompatibilidade com o oficialato. Na verdade, uma vez aplicada
essas sanções militares, como decorrência legal, o cidadão será considerado inelegível. Tra-
ta-se de um efeito secundário da sentença condenatória à sanção militar.

Inelegibilidade Decorrente da Rejeição de Contas

O art. 1º, inciso I, alínea g, da LC n. 64/1990 determina:

Art. 1º São inelegíveis:


I – para qualquer cargo:
[...]
g) os que tiverem suas contas relativas ao exercício de cargos ou funções públi-
cas rejeitadas por irregularidade insanável que configure ato doloso de improbi-
dade administrativa, e por decisão irrecorrível do órgão competente, salvo se esta

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houver sido suspensa ou anulada pelo Poder Judiciário, para as eleições que se
realizarem nos 8 (oito) anos seguintes, contados a partir da data da decisão, apli-
cando-se o disposto no inciso II do art. 71 da Constituição Federal, a todos os or-
denadores de despesa, sem exclusão de mandatários que houverem agido nessa
condição; (Redação dada pela Lei Complementar n. 135/2010)

A inelegibilidade decorrente da rejeição de contas foi instituída pelo legislador comple-


mentar com a finalidade de proteger a probidade administrativa, nos termos do art. 14, § 9º,
da CF/88. Essa situação impeditiva busca evitar que aqueles cidadãos, gestores da coisa
pública e que exerceram com improbidade suas funções, possam concorrer a cargos eletivos
e tornar-se representantes do povo.
A partir da análise do presente dispositivo legal, vê-se que, para a incidência dessa ine-
legibilidade, é indispensável à presença dos seguintes requisitos:

• a decisão deve ter sido proferida pelo órgão competente;


• a decisão deve ser irrecorrível no âmbito administrativo (coisa julgada administrativa);
• a rejeição das contas deve ter sido proferida em razão da existência de irregularidade
insanável;
• a irregularidade insanável deve configurar ato doloso de improbidade administrativa;
• inexistência de provimento judicial suspendendo ou anulando a decisão de rejeição
das contas.

Contudo, para a incidência dessa inelegibilidade, a partir da edição da Lei Complemen-


tar n. 184/2021, além desses requisitos previstos na alínea g, exige-se, ainda, que a decisão
de desaprovação das contas impute débito. Em outras palavras, se a decisão de rejeição das
contas, proferida pela Corte de Contas, apenas tenha aplicado multa, mas não tenha impu-
tado débito, não atrai a incidência da inelegibilidade em análise.
A esse respeito, veja o teor do § 4º-A do art. 1º da Lei Complementar n. 64/90, com a
redação dada pela Lei Complementar n. 184/2021:

Art. 1º Omissis
§ 4º-A. A inelegibilidade prevista na alínea “g” do inciso I do caput deste artigo não
se aplica aos responsáveis que tenham tido suas contas julgadas irregulares sem
imputação de débito e sancionados exclusivamente com o pagamento de multa.
(Incluído pela Lei Complementar n. 184, de 2021)

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

Competência para Julgamento das Contas

Os gestores públicos têm o dever de prestar contas do uso dos recursos públicos que
estavam sob sua responsabilidade. Essa exigência decorre do princípio republicano, que
permite a punição e responsabilização daqueles que exercem cargos, empregos ou fun-
ções públicas.
Em regra, as contas devem ser prestadas perante os tribunais de contas, que exer-
cem, auxiliando o Poder Legislativo, a análise contábil, financeira, orçamentária, operacional
e patrimonial da Administração Pública Direta ou Indireta. Nessa fiscalização, são aferidas
a legalidade, a legitimidade, a economicidade dos gastos públicos, assim como a aplicação
das subvenções e renúncia de receitas. Trata-se de exercício de função fiscalizatória.
No exercício das atribuições de análise das prestações de contas, os Tribunais de
Contas exercem duas funções: emitem parecer prévio sobre as contas apresentadas ou
julgam as contas apresentadas. Veja que, a depender da situação, os Tribunais de Contas
não possuem a competência para aprovar ou rejeitar as contas, mas somente emitem um
parecer para viabilizar o julgamento delas pelo Poder Legislativo.
É de suma importância a definição do órgão competente para julgamento das contas,
pois essa inelegibilidade depende de que as contas sejam rejeitadas pelo órgão competente.
Isso quer dizer que a emissão de parecer prévio pelos tribunais de contas não pode atrair a
incidência da alínea g, já que, nessa situação, o órgão competente para julgar as contas é o
Poder Legislativo.
Em linhas gerais, pode-se definir que o chefe do Poder Executivo, quando estiver
gerindo recursos do seu próprio ente federativo, terá suas contas julgadas pelo Poder Legis-
lativo. Diante desses casos, o Tribunal de Contas somente emitirá um parecer prévio pela
aprovação ou pela rejeição das contas. Aliás, a regra de definição de competência para jul-
gamento das contas do chefe do Poder Executivo tem status constitucional, nos arts. 3110 e
7111 da CF/88.
Entretanto, há uma discussão jurisprudencial sobre a competência para julgamento das
contas do chefe do Poder Executivo. Segundo esse entendimento, em razão de o art. 1º, inc.
I, alínea ‘g’, da Lei Complementar n. 64/90 prescrever que, para os ordenadores de despe-
sas, deve-se aplicar o art. 71, inc. II, da CF/88, quando as contas forem apresentadas pelos
ordenadores de despesas, para a definição da competência de julgamento das contas do
chefe do Poder Executivo, deve-se fazer uma distinção:

10
Art. 31. A fiscalização do Município será exercida pelo Poder Legislativo Municipal, mediante controle externo, e pelos sistemas de controle interno do Poder
Executivo Municipal, na forma da lei.
§ 1º - O controle externo da Câmara Municipal será exercido com o auxílio dos Tribunais de Contas dos Estados ou do Município ou dos Conselhos ou Tribunais
de Contas dos Municípios, onde houver.
§ 2º - O parecer prévio, emitido pelo órgão competente sobre as contas que o Prefeito deve anualmente prestar, só deixará de prevalecer por decisão de dois
terços dos membros da Câmara Municipal.
11
Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, será exercido com o auxílio do Tribunal de Contas da União, ao qual compete:
I – apreciar as contas prestadas anualmente pelo Presidente da República, mediante parecer prévio que deverá ser elaborado em sessenta dias a contar de
seu recebimento;

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

• apresentação de contas como gestor;


• apresentação de contas como ordenador de despesas.

O TSE, em sua jurisprudência anterior, entendeu que, quando o chefe do Executivo


apresentar as contas de gestão, a competência para julgá-las será do Poder Legislativo,
mediante a emissão de parecer prévio pelo Tribunal de Contas. Por sua vez, quando o chefe
do Executivo apresentar as contas como ordenador de despesas, deve-se aplicar a parte
final do art. 1º, inc. I, alínea g, da Lei Complementar n. 64/90, e, por consequência, a compe-
tência de julgamento das contas será do Tribunal de Contas.
Para esta última situação, caso se trate de contas municipais, o TSE entende que a
decisão que rejeita as contas do chefe do Poder Executivo como ordenador de despesas
poderá deixar de prevalecer por meio de decisão proferida por dois terços dos membros da
Câmara de Vereadores, conforme prescrição contida no art. 31, § 2º, da CF/88.
Não obstante, essa interpretação jurisprudencial acerca da competência para julga-
mento das contas dos chefes do Poder Executivo não é compatível com a nossa ordem
constitucional.
A definição de competências para julgamento de contas do chefe do Poder Executivo
está estabelecida no Texto Constitucional. Segundo a CF/88, tanto no âmbito municipal, ins-
crito no art. 31, como no âmbito federal, previsto no art. 71, inc. I, a competência para julgar
as contas, independentemente de qual sejam elas (contas de gestão ou contas como orde-
nador de despesas), é do Tribunal de Contas.
É certo que, no âmbito municipal, há uma prescrição de que o parecer prévio emitido
pelo Tribunal de Contas somente deixará de prevalecer pelo voto de dois terços dos integran-
tes da Câmara Municipal. Entretanto, essa disposição normativa não transfere a competên-
cia para julgar as contas para o Tribunal de Contas. Na verdade, em razão do caráter técnico
do parecer prévio do Tribunal de Contas, caso não haja um quórum qualificado, o julgamento
do Poder Legislativo sufragará a manifestação da Corte de Contas.
Além disso, por meio de atividade hermenêutica, não se pode mudar a natureza jurí-
dica das coisas. O próprio dispositivo constitucional prescreve que a Corte de Contas emitirá
parecer prévio. Não podem os Tribunais, em entendimentos jurisprudenciais, dizerem que
essa manifestação preliminar equivale a um julgamento, pois parecer é uma opinião especia-
lizada sobre determinado tema e não uma decisão.
Por todas essas razões, o melhor entendimento para a incidência da inelegibilidade
decorrente da rejeição de contas no caso dos chefes do Poder Executivo é a de que o órgão
competente para julgar as suas contas é o Poder Legislativo. No mesmo sentido, essa foi a
posição externada no voto do Min. Gilmar Mendes, no julgamento do RO n. 1067-38:

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

JURISPRUDÊNCIA
Obviamente, lei de inelegibilidades cria causas de inelegibilidade, não define re-
gras de competência constitucional; quando muito, exige decisão do órgão com-
petente. A competência para o julgamento de contas é matéria constitucional (arts.
31 e 71 da CF/1988), sendo modelo de reprodução obrigatória pelos estados (art.
75 da CF/1988), conforme ressaltado anteriormente. [...]
Em síntese, a interpretação constitucional do tema - competência para o julga-
mento das contas de prefeito que atua como ordenador de despesas - leva à con-
clusão de que a Câmara de Vereadores é o órgão competente para julgar todas as
contas do chefe do Executivo municipal, atuando o TCE como órgão auxiliar, por
meio da emissão de parecer prévio. Esse entendimento não impede o Tribunal de
Contas de emitir parecer específico sobre as contas de gestão do prefeito e enca-
minhá-lo para julgamento do órgão competente: a Câmara de Vereadores. (RO n.
1067-38, voto do Min. Gilmar Mendes, PSESS de 16.9.2014)

Não obstante, quando o chefe do Poder Executivo estiver apresentando as contas


decorrentes de convênios para a execução de serviços públicos ou outras atividades de
interesse público e gaste recursos públicos de outros entes federativos, a competência para
julgamento das contas será do Tribunal de Contas do respectivo ente federativo.

JURISPRUDÊNCIA
A competência para o julgamento das contas de prefeito atinentes a convênios é
do Tribunal de Contas, hipótese em que lhe compete decidir e não somente opinar.
(AgR-REspe n. 482-80, Rel. Min. Laurita Vaz, PSESS 17.12.2012)

JURISPRUDÊNCIA
O órgão competente para julgamento da prestação de contas relativas a convê-
nios federais é o Tribunal de Contas da União, e não o do Estado. (AgR-REspe n.
10402, Rel. Min. Nacy Nadrighi, PSESS de 8.11.2012)

Por fim, os demais administradores e demais responsáveis por dinheiros, bens e valo-
res públicos da Administração Direta e Indireta, e daqueles que derem causa a perda, extra-
vio ou outra irregularidade de que resulte prejuízo ao erário público terão as suas contas
julgadas pelos Tribunais de Contas.
A incidência da inelegibilidade em estudo exige a avaliação, pela Justiça Eleitoral, da
competência para o julgamento das contas. Se a decisão que rejeitou as contas foi proferida
pelo órgão competente preencher-se-á um dos requisitos para impedir o cidadão de partici-
par do pleito.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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Decisão Irrecorrível

O art. 1º, inc. I, alínea g, da Lei Complementar n. 64/90, exige, para a incidência da ine-
legibilidade, que a decisão proferida pelo órgão competente seja irrecorrível.
Inicialmente, deve-se frisar que o julgamento das contas não constitui exercício de
função jurisdicional. Com efeito, o Poder Legislativo e os Tribunais de Contas exercem função
fiscalizatório-administrativa ao julgar as contas dos administradores públicos. Essa é a razão
pela qual, após a rejeição das contas, admite-se a desconstituição da decisão pelo Poder
Judiciário, pois essa decisão não é acobertada pelo fenômeno jurídico coisa julgada.
De qualquer forma, a decisão de rejeição de contas somente produzirá efeitos no âmbito
jurídico-eleitoral após se tornar irrecorrível. Isso quer dizer que, para o impedimento à elegi-
bilidade, exige-se a definitividade da decisão de rejeição de contas no âmbito administrativo.
Trata-se de uma forma de evitar a restrição do direito político passivo antes da existência
de um pronunciamento com certo grau de certeza pelo Tribunal de Contas ou pelo Poder
Legislativo.
Após a definitividade das decisões dos Tribunais de Contas, admite-se a interposição do
recurso de revisão. Esse meio de impugnação somente pode ser manejado pela parte preju-
dicada após a aquisição da característica da definitividade da decisão que rejeita às contas.
No âmbito federal, essa é a prescrição regimental que viabiliza a utilização do recurso
de revisão:

• Regimento Interno do TCU

Art. 288. De decisão definitiva em processo de prestação ou tomada de contas,


inclusive especial, cabe recurso de revisão ao Plenário, de natureza similar à da
ação rescisória, sem efeito suspensivo, interposto uma só vez e por escrito pelo
responsável, seus sucessores, ou pelo Ministério Público junto ao Tribunal, dentro
do prazo de cinco anos, contados na forma prevista no inciso IV do art. 183, e
fundar-se-á:
I – em erro de cálculo nas contas;
II – em falsidade ou insuficiência de documentos em que se tenha fundamentado
o acórdão recorrido;
III – na superveniência de documentos novos com eficácia sobre a prova produzida.

A partir dessa prescrição, vê-se que a natureza jurídica do recurso de revisão é aná-
loga a da ação rescisória. Isso porque o recurso de revisão e a ação rescisória são utilizados
com a finalidade de desconstituir decisões definitivas. A ação rescisória quer alterar decisões
judiciais; o recurso de revisão, por sua vez, viabiliza, decisões administrativas das Cortes
de Contas.

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Professor: Weslei Machado

Além disso, o recurso de revisão não é dotado de efeito suspensivo. Essa ausência de
efeito suspensivo faz com que a interposição de meio de impugnação não afaste a definiti-
vidade da decisão de rejeição e nem os efeitos eleitorais da decisão. Assim, ainda que haja
recurso de revisão, se preenchidos os demais requisitos, o cidadão estará inelegível. A esse
respeito, veja a seguinte decisão do TSE.

JURISPRUDÊNCIA
3. Irrecorribilidade da decisão de rejeição de contas. O recurso de revisão pressu-
põe justamente a irrecorribilidade dadecisão do Tribunal de Contas, à semelhança
da ação rescisória (art. 35 da Lei n. 8.443/1992 e art. 288 do Regimento Interno
do TCU). Precedentes.
4. O sobrestamento do recurso de revisão para aguardar o julgamento de caso
semelhante pelo Tribunal de Contas não retira o caráter definitivo da rejeição de
contas, competindo ao interessado buscar a concessão de efeito suspensivo ao-
recurso de revisão, demonstrando os requisitos necessários, ou pleitear a suspen-
são ou a anulação da rejeição de contas no Poder Judiciário competente.
5. O sobrestamento do recurso de revisão obviamente não se presta a alterar si-
tuação jurídica existente - rejeição de contas -, devendo o interessado utilizar-se
da via administrativa ou judicial própria. (RO n. 1187-97, Rel. Min. Gilmar Mendes,
PSESS de 2.10.2014)

Irregularidade Insanável que Configure Ato Doloso de Improbidade Administrativa

A alínea g do inc. I do art. 1º da Lei Complementar n. 64/90 exige, para a sua incidên-
cia, que a rejeição de contas decorra da existência de irregularidade insanável que configure
ato doloso de improbidade administrativa. Com essa previsão, conclui-se que nem todas as
rejeições de contas atraem essa inelegibilidade, mas somente aquelas proferidas em razão
da constatação da presença de um vício insanável enquadrável como improbidade adminis-
trativa na forma dolosa.
A configuração de ato doloso de improbidade administrativa requer a prática conduta
marcada pela má-fé, por desvios de valores, danos ao erário, reconhecimento de nota de
improbidade, grave violação a princípios da Administração Pública ou que atraia benefícios
ilícitos ao administrador público12.
A existência da irregularidade insanável que configure ato doloso de improbidade admi-
nistrativa deve ser aferida caso a caso. Não há como, de forma apriorística, estabelecer uma
regra geral para que, a partir dela, defina-se que há ato doloso de improbidade administra-
tiva. A título exemplificativo, mostrar-se-á algumas situações jurisprudenciais em que houve
o reconhecimento de ato doloso de improbidade administrativa:

12
(RO 1067-1 1/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, publicado em sessão em 30.9.2014)

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

• Descumprimento da Lei de Licitações

JURISPRUDÊNCIA
Consoante a jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral, com exceção de falhas
de natureza formal, o descumprimento da Lei de Licitações constitui irregularidade
insanável que configura ato doloso de improbidade administrativa. (AgR-RO n.
2094-93, Rel. Min. João Otávio

• Contratação de pessoal sem concurso público

JURISPRUDÊNCIA
O descumprimento da Lei de Licitações e a contratação de pessoal sem a realiza-
ção de concurso público constituiirregularidade insanável que configura ato doloso
de improbidade administrativa. Precedentes. (AgR-RO n. 759-44, Rel. Min. Maria
Thereza de Assis Moura, PSESS de 16.10.2014)

• Danos ao erário

JURISPRUDÊNCIA
Como o dano ao erário pode ocorrer de forma culposa ou dolosa, segundo a dou-
trina de Direito Administrativo, compete à Justiça Eleitoral verificar a presença,
na decisão de rejeição de contas, de elementos mínimos que demonstrem que a
conduta foi praticada dolosamente e que se enquadra em uma das figuras típicas
da Lei de Improbidade, não sendo suficiente, para fins de inelegibilidade da alínea
g, o dano ao erário decorrente de conduta culposa. Circunstância ausente no caso
concreto. (Ro n. 585-36, Rel. Min. Luciana Lóssio, PSESS de 3.10.2014)

• Não recolhimento de contribuições previdenciárias

JURISPRUDÊNCIA
Não recolhimento de contribuições previdenciárias constitui irregularidade insa-
nável que configura ato doloso de improbidade administrativa, apta a configurar
a causa de inelegibilidade prevista no art. 1º, I, g, da LC n. 64/90. Precedentes.
(AgR-RO n. 879-45, Rel. Min. Henrique Neves, PSESS de 19.9.2014)

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

Pagamento a maior de remuneração

JURISPRUDÊNCIA
Segundo a jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral, o pagamento a maior de
remuneração a agentes públicos (dentre eles o próprio agravante) configura ato
doloso de improbidade administrativa, configurando-se o dolo genérico na medi-
da em que o administrador deixa de observar os dispositivos constitucionais que
vinculam sua atuação. Incidência da inelegibilidade do art. 1º, I, g, da LC 64/90.
(AgR-REspe n. 958-90, Rel. Min. João Otávio Noronha, DJe de 24.6.2014)

• Omissão do dever de prestar contas e tomadas de contas especial

JURISPRUDÊNCIA
A omissão no dever de prestar contas relativas a recursos provenientes de con-
vênio, dando ensejo à tomada de contas especial, não configura ato doloso de
improbidade administrativa para incidência da inelegibilidade prevista no art. 1º, I,
g, da LC n. 64/90, quando demonstradas a regularidade na aplicação dos recursos
e a ausência de prejuízo ao erário. (AgR-REspe, Rel. Min. Luciana Lóssio, DJe
de 2.4.2014)

• Desvio de finalidade na aplicação de recursos provenientes de convênios

JURISPRUDÊNCIA
O pronunciamento do Tribunal de Contas da União assentando o desvio de finali-
dade na aplicação de recursos de convênio e imputando débito ao administrador
implica a situação jurídica geradora da inelegibilidade prevista no artigo 1º, inciso
I, alínea g, da Lei Complementar n. 64/1990. (REspe n. 493-45, Rel. Min. Marco
Aurélio, DJe de 3.10.2013)

• Não inclusão na proposta orçamentária de valores requisitados pelo Poder


Judiciário

JURISPRUDÊNCIA
Configura irregularidade insanável, reveladora de ato doloso de improbidade,
deixar de incluir, na proposta orçamentária, valores requisitados pelo Judiciário
para satisfação de precatórios. (REspe n. 527-54, Rel. Min. Marco Aurélio, DJe
d 2.9.2013)

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

• Extrapolação do limite de gastos com as despesas do Poder Legislativo

JURISPRUDÊNCIA
Está consolidado nesta Corte o entendimento de que a irregularidade decorrente
da extrapolação do limite máximo previsto no artigo 29-A, I, da Constituição Fe-
deral para as despesas do Poder Legislativo é insanável e constitui ato doloso de
improbidade administrativa. (AgR-REspe n. 396-59, Rel. Min. Luciana Lóssio, DJe
de 17.5.2013)

• Pagamento de verba indenizatória por sessões extraordinárias

JURISPRUDÊNCIA
O Tribunal Superior Eleitoral possui jurisprudência no sentido de que o pagamento
de verba indenizatória a vereadores, pela participação em sessão extraordinária,
constitui irregularidade insanável e ato doloso de improbidade administrativa, ap-
tos a atrair a inelegibilidade da alínea g do inciso I do art. 1º da LC n. 64/90. (AgR-
-REspe n. 338-10, Rel. Min. Luciana Lóssio, DJe de 15.5.2013)

Além disso, ainda que na decisão de rejeição de contas conste, de forma explícita, que
as contas estão sendo rejeitadas em razão da existência de irregularidade insanável que
configure ato doloso de improbidade administrativa, a competência para aferir a natureza da
decisão que rejeitou as contas é da Justiça Eleitoral. Em outras palavras: a avaliação do tipo
de irregularidade que ensejou a rejeição das contas deve ser feita pela Justiça Eleitoral.
Contudo, não cabe à Justiça Eleitoral avaliar o acerto ou o desacerto da decisão da Corte
de Contas. Na verdade, a Justiça Eleitoral analisa o vício apontado pelo Tribunal de Contas
como fundamento para rejeitar as contas. Caso esse fato ensejador da rejeição de contas
configure irregularidade insanável, a Justiça Eleitoral declarará que o cidadão é inelegível.

JURISPRUDÊNCIA
3. Uma vez rejeitadas as contas, a Justiça Eleitoral não só pode como deve pro-
ceder ao enquadramento jurídico das Irregularidades como sanáveis ou Insaná-
veis, para fins de incidência da Inelegibilidade do art. 1º, inciso I, alínea ‘g’, da Lei
Complementar n. 64/90. Entretanto, não lhe compete aferir o acerto ou desacerto
da decisão emanada pela Corte de Contas. (AgR-Respe n. 482-80/AC, Rei. Mm,
Laurita Vaz, PSESS de 17.12.2012)

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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• Anulação da Decisão que Rejeitou as Contas ou Suspensão de seus Efeitos pelo


Poder Judiciário

A parte final da disposição normativa dessa inelegibilidade prescreve que não haverá
sua incidência caso haja decisão judicial anulando ou suspendendo os efeitos da manifesta-
ção de rejeição das contas. Frise-se que a mera propositura da ação judicial para desconsti-
tuir ou sustar os efeitos da decisão de rejeição de contas não é circunstância suficiente para
afastar o reconhecimento da presente situação de inelegibilidade.
Com efeito, para o afastamento da inelegibilidade decorrente da rejeição, exige-se deci-
são judicial anulatória ou decisão judicial liminar que suspenda os efeitos da rejeição das
contas. A competência para julgamento da ação anulatória da decisão da Corte de Contas
é da Justiça Comum Estadual ou Federal. Deveras, a Justiça Eleitoral não tem competência
para anular ou suspender os efeitos da decisão que rejeita as contas dos administradores
públicos. Por consequência, a Justiça Eleitoral não pode avaliar o acerto ou desacerto da
decisão proferida pela Justiça Comum e, uma vez proferida a decisão anulatória ou liminar de
suspensão da rejeição das contas, independentemente de qualquer circunstância, afastada
estará a incidência da presente inelegibilidade. Nesse sentido:

JURISPRUDÊNCIA
RECURSO ESPECIAL. REGISTRO DE CANDIDATURA. ELEIÇÕES 2012. PRE-
FEITO. REJEIÇÃO DE CONTAS. DECISÃO LIMINAR. JUSTIÇA FEDERAL. SUS-
PENSÃO. INELEGIBILIDADE. DESPROVIMENTO.
1. Não compete à Justiça Eleitoral examinar a correção da decisão da Justiça Co-
mum que ensejou a suspensão da causa de inelegibilidade imputada ao candidato.
2. Havendo decisão judicial suspendendo os efeitos do acórdão que rejeitou as
contas do recorrido, não há como atrair-se a inelegibilidade de que cuida o art. 1º,
I, g, da LC n. 64/90. (REspe n. 151-43, Rel. Min. Luciana Lóssio, DJe de 25.6.2014)

Lista Encaminhada pelos Tribunais e Conselhos de Contas à Justiça Eleitoral

O art. 11, § 5º, da Lei n. 9.504/97, determina que, até o dia 5 de julho do ano da eleição,
os Tribunais e Conselhos de Contas devem disponibilizar para a Justiça Eleitoral a relação
dos que tiveram suas contas relativas ao exercício de cargos ou funções públicas rejeitadas
por irregularidade insanável e por decisão irrecorrível, salvo quando a decisão tiver sido anu-
lada ou com efeitos suspensos pelo Poder Judiciário.
Veja que, para operacionalizar a aplicação e o reconhecimento da inelegibilidade decor-
rente da rejeição de contas, a Lei das Eleições criou uma obrigação de encaminhamento de
relação com os nomes dos que tiveram suas contas rejeitadas. A partir dessa comunicação,

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

a Justiça Eleitoral poderá, de ofício, indeferir o registro de candidatura ou um dos legitimados


poderá ajuizar a Ação de Impugnação de Registro de Candidatura.
Entretanto, o mero fato de o nome do cidadão constar na lista encaminhada pelo Tri-
bunal ou Conselho de Contas não é motivo suficiente para que a inelegibilidade em análise
incida e o impeça de participar das eleições. Na verdade, apesar de ter seu nome incluído
nessa relação, para que esteja impedido de se eleger, os demais requisitos previstos na
alínea g do inc. I do art. 1º da Lei Complementar n. 64/90 devem ser aferidos pela Justiça
Eleitoral. Com esse entendimento:

JURISPRUDÊNCIA
A jurisprudência desta e. Corte Superior Eleitoral entende que o mero fato de o
nome do candidato constar na lista prevista no art. 11, § 5º, da Lei n. 9.504/97 - o
qual prevê hipótese de simples procedimento informativo - não gera, por si só, a
inelegibilidade contida no art. 1º, I, g, da Lei Complementar n. 64/90. (AgR-REspe
n. 32.984, Rel. Min. Felix Fischer, PSESS de 13.11.2008)

Prazo de Duração da Inelegibilidade Decorrente da Rejeição de Contas

Segundo o art. 1º, inc. I, alínea g, da Lei Complementar n. 64/90, a inelegibilidade


decorrente da rejeição de contas perdurará pelo prazo de 8 (oito) anos, a contar da data da
decisão. Nas eleições que se realizarem nesse período, o cidadão não poderá concorrer.
A contagem desse prazo se inicia a partir da data da decisão irrecorrível e termina em
dia de igual número ao de início, aplicando-se na matéria a prescrição no art. 132 do Código
Civil. Em outras palavras, o marco inicial para a contagem do prazo de oito anos é o dia do
trânsito em julgado da decisão que rejeitou as contas.

Inelegibilidade Decorrente do Abuso de Poder Econômico ou Político Praticado


por Detentores de Cargo na Administração Pública

Dispõe o art. 1º, inciso I, alínea h, da Lei Complementar n. 64/1990:

Art. 1º São inelegíveis:


I – para qualquer cargo:
[...]
h) os detentores de cargo na administração pública direta, indireta ou fundacional,
que beneficiarem a si ou a terceiros, pelo abuso do poder econômico ou político,
que forem condenados em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão
judicial colegiado, para a eleição na qual concorrem ou tenham sido diplomados,
bem como para as que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes;

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

Os ocupantes de cargos na Administração Direta ou Indireta que praticarem abuso de


poder econômico ou político em seu próprio benefício ou de terceiros ficarão inelegíveis.
Para a incidência dessa inelegibilidade, é necessária a existência de decisão colegiada ou
transitada em julgado proferida pela Justiça Eleitoral ou pela Justiça Comum que tenha reco-
nhecido a prática de abuso de poder por ocupantes de cargos na Administração Pública.
Vê-se, portanto, que a incidência da norma inscrita no art. 1º, inc. I, alínea h, da Lei
Complementar n. 64/90 depende da presença de dois fatores: o primeiro relacionado ao
sujeito destinatário da norma; o segundo relacionado ao órgão prolator da decisão que acar-
reta a inelegibilidade.
A alínea h somente é aplicável aos detentores de cargos na Administração Pública
Direta ou Indireta. Para a definição de quais cidadãos podem ser alcançados pelos efeitos
jurídicos da alínea h deve-se recorrer à previsão que fundamenta sua criação: art. 14, § 9º,
da CF/88. Essa disposição constitucional prescreve que poderão ser instituídas novas ine-
legibilidades infraconstitucionais com a finalidade de garantir a normalidade e a legitimidade
das eleições contra a influência do abuso do exercício de cargo, emprego ou função pública.
Desse modo, a presente inelegibilidade impedirá qualquer cidadão que tenha cargo
público, efetivo ou em comissão, emprego público ou que exerça função pública. Em outras
palavras, qualquer agente público que tenha praticado abuso de poder político ou econômico
em benefício próprio ou de terceiro estará inelegível, nos termos do art. 1º, inc. I, alínea h, da
Lei Complementar n. 64/90.
Por consequência, detentores de cargos eletivos, por exercerem funções públicas rele-
vantes e porque, por meio de sua atuação, podem influenciar negativamente o resultado das
eleições e violar o princípio da normalidade e legitimidade das eleições, são destinatários da
presente restrição do exercício da capacidade eleitoral passiva13.
No que se refere a quem pode emitir decisões aptas a atraírem a incidência do art.
1º, inc. I, alínea h, entende-se que a presente inelegibilidade incidirá nas hipóteses em que
houver declaração de abuso de poder político ou econômico pela Justiça Eleitoral ou pela
Justiça Comum. Deveras, decisões da Justiça Comum proferidas em face de detentores de
cargos eletivos pela prática de abuso de poder de autoridade no âmbito de ações civis públi-
cas, ações de improbidade administrativa ou ações populares acarretam essa inelegibilidade.
Entretanto, as decisões prolatadas pela Justiça Comum para gerarem inelegibilidade
devem demonstrar ou reconhecer a finalidade eleitoral da prática do abuso de poder. Isso
porque essa inelegibilidade tem por desiderato finalidade de proteger a normalidade e a legi-
timidade das eleições contra a influência do abuso de poder.
13
No julgamento do REspe n. 602-83, em seu voto vencedor, o Rel. Min. Aldir Passarinho reconheceu a incidência da inelegibilidade da alínea ‘h’ aos ocu-
pantes de cargos eletivos, nos seguintes termos:
“Dessa forma, a mencionada alínea deve ser interpretada à luz do art. 14, § 90, da Constituição Federal, para abranger o abuso do poder público (ou poder
político ou poder de autoridade) praticado por qualquer espécie de agente público, incluindo, portanto, os ocupantes de cargo eletivo.
A propósito, é inegável que os detentores de mandato eletivo, pela função administrativa e política que ocupam, são os agentes públicos que possuem maior
poder de influenciar a normalidade e a legitimidade das eleições.
Os ocupantes de mandato eletivo, em geral, possuem prerrogativas de escolha e tomada de decisões que atingem de forma direta a população e, por conse-
quência, detém maior capacidade, de fato, de influenciar o eleitorado com o uso indevido do poder.
Isso sem mencionar a enorme visibilidade que o cargo proporciona às ações empreendidas pelo agente público detentor de mandato eletivo.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

Da mesma forma, ter-se-á a configuração da presente inelegibilidade quando a con-


denação pela prática de abuso de poder político ou econômico for reconhecida pela Justiça
Eleitoral nos julgamentos dos pedidos de ações eleitorais, tais como, por exemplo, nos casos
da Ação de Impugnação de Mandato Eletivo, do Recurso contra a Expedição de Diploma ou
da Ação de Investigação Judicial Eleitoral.
Aliás, caso a condenação pela prática de abuso de poder tenha sido proferida no âmbito
da Ação de Investigação Judicial Eleitoral em face de detentor de cargo na Administração
Pública, tem-se a configuração das inelegibilidades previstas nas alíneas d e h do inciso I do
art. 1º da Lei Complementar n. 64/90. A esse respeito, veja o seguinte trecho do voto condu-
tor do Min. João Otávio Noronha, no julgamento do REspe n. 151-05/COARI-AM:

JURISPRUDÊNCIA
Assim, a existência de condenação14 por abuso de poder em sede de ação de
investigação judicial é suficiente para a incidência das inelegibilidades da alínea d
e h, independentemente de o condenado ter ou não disputado a eleição na qual
praticou o ilícito.
Ressalte-se que não se trata, na espécie, de conferir interpretação extensiva às
alíneas d e h, as quais, como quaisquer causas de inelegibilidade, são de legali-
dade estrita15.
Cuida-se, na verdade, de interpretar sistemática e teleologicamente os referidos
dispositivos, pois o objetivo maior da
Lei Complementar n. 64/90 – norma regulamentadora do art. 14, § 9º, da CF/8816
– é restringir a capacidade eleitoral passiva dos que tenham atentado contra a
normalidade e a legitimidade do pleito por meio da influência do poder econômico
e político e, ainda, daqueles que não possuam idoneidade moral para o exercício
de mandato eletivo.

14
Condenação em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão colegiado, conforme expressamente previsto no art. 1º, I, d e h, da LC n. 64/90.
15
Cito, dentre inúmeros precedentes: AgR-REspe 906-67/RN, Rel. Min. Dias Toffoli, PSESS em 8.11.2012;
AgR-REspe 109-07/SC, Rel. Min. Arnaldo Versiani, PSESS em 18.10.2012; RO 4425-92/SP, Rel. Min. Hamilton Carvalhido, PSESS em 25.11.2010.
16
Art. 14. [Omissis]
[...]
§ 9º Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade
para o exercício do mandato, considerada a vida pregressa do
candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na admi-
nistração direta ou indireta.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

Nessas situações, o cidadão ficará inelegível para a eleição em que houve a prática
do abuso de poder, bem como para as que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes. Assim
como na interpretação da contagem do prazo de duração da inelegibilidade da alínea d do
inciso I do art. 1º da Lei Complementar n. 64/90, o prazo de 8 (oito) anos é contado a partir
da data da eleição para a qual se praticou o ilícito eleitoral e termina no dia igual ao de início
do oitavo ano seguinte.

Inelegibilidade Daqueles que possuem Cargo ou Função em Instituições Finan-


ceiras Liquidandas

Este é o teor do art. 1º, inciso I, alínea i, da Lei Complementar n. 64/1990:

Art. 1º São inelegíveis:


I – para qualquer cargo:
[...]
i) os que, em estabelecimentos de crédito, financiamento ou seguro, que tenham
sido ou estejam sendo objeto de processo de liquidação judicial ou extrajudicial,
hajam exercido, nos 12 (doze) meses anteriores à respectiva decretação, cargo ou
função de direção, administração ou representação, enquanto não forem exonera-
dos de qualquer responsabilidade;

Essa inelegibilidade impede os que exercem ou tenham exercido nos últimos 12 meses
cargos ou funções de direção, administração ou representação em instituições financeiras
(estabelecimentos de crédito, financiamento ou seguro) que estejam sofrendo processo de
liquidação judicial ou extrajudicial. Essa inelegibilidade perdurará até que o cidadão que incida
nessa circunstância seja isento de qualquer responsabilidade em decorrência dos eventos
que culminaram com o processo de liquidação.
Vê-se que a alínea i não fixou um prazo específico de duração dessa inelegibilidade.
Na verdade, segundo o dispositivo legal, haverá impedimento à elegibilidade até que os que
exercem cargo ou função de direção, administração em estabelecimentos de crédito, finan-
ciamento ou seguro em processo de liquidação judicial ou extrajudicial, sejam exonerados de
qualquer responsabilidade.
Contudo, o art. 14, § 9º, da CF/88, ao permitir a instituição de inelegibilidades infracons-
titucionais, prescreve que a lei complementar deverá estabelecer as hipóteses de inelegibili-
dade, assim como estabelecer os prazos de sua cessação. Não se pode criar inelegibilidade
com duração indeterminada, sob pena de violação inconstitucional aos direitos políticos.
Além disso, a inelegibilidade inscrita no art. 1º, inc. I, alínea i, da Lei Complementar
64/90, afeta o exercício da capacidade eleitoral passiva daquele que exerce ou tenha exer-
cido cargo ou função de direção, administração ou representação em estabelecimento de

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crédito, financiamento ou seguro que esteja em processo de liquidação. Para a incidência do


presente dispositivo restritivo da cidadania não é exigível a demonstração da responsabili-
dade do agente. Na verdade, somente depois do processo de liquidação e se ficar demons-
trada a ausência de qualquer responsabilidade, afastada estará a incidência da alínea i do
inciso I do art. 1º da Lei Complementar n. 64/90.
É verdade que, no julgamento das ADC n. 29 e 30, o STF entendeu que decisões judi-
ciais que possam gerar inelegibilidade poderão produzir seus efeitos mesmo que não haja o
trânsito em julgado, mas, para tanto, exige-se que a manifestação do Poder Judiciário tenha
sido proferida por órgão colegiado. Trata-se da aplicação, de forma atenuada, do princípio da
presunção de não culpabilidade.
A inelegibilidade instituída pela alínea i do inciso I do art. 1º da Lei Complementar n.
64/90 possui duas incompatibilidades constitucionais.
Em primeiro lugar, a CF/88 exige que a norma instituidora de inelegibilidade tenha prazo
certo de duração. O dispositivo legal em análise não estabeleceu um período de incidência
da norma, mas prescreveu que a sua incidência está determinada pela existência de um fato:
exoneração de qualquer responsabilidade no processo de liquidação.
Assim, ainda que o processo de liquidação judicial ou extrajudicial perdure por vários
anos, enquanto não houver a exoneração de qualquer responsabilidade o detentor de cargo
ou função de direção, administração ou representação estará inelegível. Essa indetermina-
ção de produção de efeitos da presente norma restritiva de direitos políticos constitui violação
ao art. 14, § 9, da CF/88.
Em segundo lugar, a norma prevê que a existência de um processo de liquidação é
circunstância suficiente para afetar a elegibilidade dos que exercem ou exerceram cargo de
direção, administração ou representação no estabelecimento liquidando. Presume-se a cul-
pabilidade do agente pelo fato ensejador da liquidação independentemente da demonstração
de sua responsabilidade. Somente estará inelegível quando houver uma manifestação que
os exonere de qualquer responsabilidade.
Contudo, embora não se aplique de forma primária a aplicação do princípio da presun-
ção de não culpabilidade, de forma direta e imediata, para as inelegibilidades, não é possível
a admissão da responsabilização objetiva em nossa ordem jurídica, especialmente para a
restrição do exercício da cidadania.
Por essas duas razões, a inelegibilidade prescrita no art. 1º, inc. I, alínea i, da Lei Com-
plementar n. 64/90, deve ser declarada inconstitucional.
De qualquer forma, o TSE declarou a constitucionalidade dessa inelegibilidade e afir-
mou explicitamente, no julgamento do REspe n. 22.739, Rel. Min. Humberto Gomes, que “a
teor da jurisprudência, o art. 1º, I, i, da LC n. 64/90, não padece de inconstitucionalidade”.

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Inelegibilidade Decorrente da Condenação por Corrupção Eleitoral, por Captação


Ilícita de Sufrágio, por Doação, Captação ou Gastos Ilícitos de Recursos de Campanha,
ou por Conduta Vedada aos Agentes Públicos

Esta inelegibilidade está prevista no art. 1º, inciso I, alínea j, da Lei Complementar n.
64/1990, que tem o seguinte teor:

Art. 1º São inelegíveis:


I – para qualquer cargo:
[...]
j) os que forem condenados, em decisão transitada em julgado ou proferida por
órgão colegiado da Justiça Eleitoral, por corrupção eleitoral, por captação ilícita
de sufrágio, por doação, captação ou gastos ilícitos de recursos de campanha ou
por conduta vedada aos agentes públicos em campanhas eleitorais que impliquem
cassação do registro ou do diploma, pelo prazo de 8 (oito) anos a contar da elei-
ção; (Incluído pela Lei Complementar n. 135, de 2010)

Essa é uma das novas inelegibilidades acrescentadas pela Lei Complementar n.


135/2010 (Lei da Ficha Limpa). De acordo com essa inelegibilidade, aquele que for conde-
nado pela Justiça Eleitoral por um dos ilícitos eleitorais expressamente referidos ficará ine-
legível pelo prazo de 8 (oito) anos. O prazo dessa inelegibilidade é contado a partir da data
da eleição em que foi praticado o ilícito eleitoral e termina em dia de igual número do oitavo
ano subsequente.
Estes são os ilícitos eleitorais que, em caso de condenação transitada em julgado ou
confirmada ou proferida por órgão colegiado da Justiça Eleitoral, tornarão o cidadão inelegível:

• corrupção eleitoral – esse ilícito eleitoral é um dos fundamentos para a propositura da


Ação de Impugnação de Mandato Eletivo. Esse dispositivo não se refere à corrupção
eleitoral no sentido penal. Com efeito, não é a corrupção eleitoral definida como crime
no art. 299 do Código Eleitoral. Isso porque aquele que praticar o ilícito penal do art.
299 do Código Eleitoral não sofre como pena a cassação do registro ou do diploma,
mas apenas uma pena privativa de liberdade. Assim, correto é o conceito de corrupção
eleitoral dado pelo TSE:

para melhor cumprir os seus eminentes fins tutelares, a Constituição preferiu fa-
lar de corrupção naquele sentido coloquial [não tecnicamente penal] de “cons-
purcação”, “degeneração”, “putrefação”, “degradação”, “depravação” (RESPE n.
28.040, DJ de 1º/7/2008).

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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Assim, aquele que for condenado por ter praticado corrupção eleitoral ficará inelegível,
nos termos da disposição em análise;

• captação ilícita de sufrágio – ilícito eleitoral previsto no art. 41-A da Lei n. 9.504/1997,
que se configura com a prática dos atos de, a partir do registro de candidatura até a data
da eleição, “doar, oferecer, ou entregar, ao eleitor, com o fim de obter-lhe o voto, bem ou
vantagem pessoal de qualquer natureza, inclusive emprego ou função pública”;
• doação, captação ou gastos ilícitos de recursos em campanhas eleitorais, nos termos
do art. 30-A da Lei n. 9.504/1997;
• condutas vedadas aos agentes públicos em campanhas eleitorais, conforme lista
de atos proibidos inscrita nos arts. 73 e ss. da Lei n. 9.504/1997.

A aplicação dessa situação de inelegibilidade gera discussões sobre a incidência da


norma inscrita na alínea j do inciso I do art. 1º da Lei Complementar n. 64/90.
A partir da leitura do dispositivo, vê-se que, em sua parte final, há a seguinte redação:
“que impliquem cassação do registro ou do diploma”. Assim, como as normas instituidoras de
hipóteses de inelegibilidades devem ser interpretadas restritivamente, somente deve haver
a aplicação da alínea j se houver decisão que casse o registro ou o diploma, independen-
temente do ilícito eleitoral praticado. Não cabe ao intérprete-aplicador estender a hipótese
fática de incidência de norma restritiva do exercício dos direitos políticos.
Entretanto, em razão de a locução “que impliquem cassação do registro ou do diploma”
estar, topograficamente no dispositivo, ao lado do ilícito eleitoral “conduta vedada a agente
público”, há corrente doutrinária e jurisprudencial que defende que a alínea j somente exige a
cassação do registro ou do diploma caso a situação concreta refira-se aos condenados pela
prática de conduta vedada. Para os demais ilícitos, corrupção eleitoral, captação ilícita de
sufrágio, doação, captação ou gastos ilícitos de recursos em campanhas eleitorais, será sufi-
ciente para a aplicação da restrição do direito político passivo a existência de condenação,
ainda que apenas à sanção pecuniária.
De qualquer forma, a jurisprudência do TSE definiu que a condenação pela prática de
captação ilícita de sufrágio acarreta a inelegibilidade, mesmo que não tenha ocorrido a cas-
sação do registro ou do diploma. Isso porque, ao condenar um cidadão pela prática desse
ilícito eleitoral, caso se trate de candidato, o juiz é obrigar a cumular as sanções de multa e
de cassação do registro ou do diploma. O reconhecimento da captação ilícita de sufrágio não
pode gerar somente a imposição de multa, pois a norma do art. 41-A da Lei n. 9.504/97 exige
a aplicação cumulativa dessas sanções.
Por essa razão, se em relação a um candidato somente foi imposta a multa eleitoral
pela prática de captação ilícita, deve incidir a inelegibilidade da alínea j do inc. I do art. 1º
da Lei Complementar n. 64/90, pois, por exigência legal, deveria ter sido também aplicada a
sanção de cassação do registro ou do diploma. A esse respeito:

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JURISPRUDÊNCIA
3. A causa de inelegibilidade disposta no art. l, I, j, da Lei Complementar n. 64/90,
com redação conferida pela Lei Complementar n. 135/2010, incide com a mera
condenação por captação ilícita de sufrágio, independentemente de ter sido apli-
cada a sanção de cassação do registro ou do diploma cumulativamente com a de
multa. Precedente. Isto ocorre porquanto, uma vez praticada a conduta de capta-
ção ilícita de sufrágio, é inafastávei a aplicação da pena de cassação do registro
ou do diploma, não sendo sua imposição objeto de juízo de discricionariedade do
julgador. Precedentes. 4. Agravo regimental não provido. (AgR-RO n. 979-17/PA,
PSESS em 5.10.2010, rei. Min. Aldir Guimarães Passarinho Junior)

Além disso, os defensores de que essa hipótese de inelegibilidade pode ser reconhe-
cida quando somente há a imposição da pena pecuniária afirmam que também é possível a
condenação pela prática de captação ilícita de sufrágio de quem não participou das eleições
ou de quem não foi eleito. Nessa situação, a cassação do registro ou do diploma não poderá
ser aplicada, mas só a multa. Essa também é uma circunstância que, segundo a jurisprudên-
cia, faz com que se reconheça a possibilidade de declaração da inelegibilidade em discussão
para aquele que foi condenado por captação ilícita de sufrágio e sofreu a imposição somente
da pena de multa. Nesse sentido:

JURISPRUDÊNCIA
AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL ELEITORAL. FUNGIBILIDADE
RECURSAL RECEBIMENTO COMO RECURSO ORDINÁRIO. SATISFAÇÃO
DOS PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS. AUSÊNCIA DE ERRO GROSSEIRO E
MÁ-FÉ. ELEIÇÕES 2010. DEPUTADO ESTADUAL. CONDENAÇÃO POR CAP-
TAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO. IMPOSIÇÃO APENAS DA PENA DE MULTA, EM
RAZÃO DE O CANDIDATO NÃO TER SIDO ELEITO. INCIDÊNCIA DA CAUSA DE
INELEGIBILIDADE DO ART. 1º, I, J, DA LC N. 64190, COM REDAÇÃO DA LC N.
135/2010. NÃO PROVIMENTO.
1. (...) A Lei Complementar n. 135/2010 aplica-se às eleições de 2010, de modo que
condenação por captação ilícita de sufrágio anterior à edição da LC n. 135/2010
enseja a aplicação da causa de inelegibilidade prevista na LC n. 64/90 com reda-
ção dada pela LC n. 135/2010. Precedentes.

A causa de inelegibilidade disposta no art. 1º, I, j, da Lei Complementar n. 64/90, com


redação conferida pela Lei Complementar n. 135/2010, incide com a mera condenação por
captação ilícita de sufrágio, independentemente de ter sido aplicada a sanção de cassação
do registro ou do diploma cumulativamente com a de multa. Precedente. (...) (TSE, AgRg
no RO n. 979-17/PA, Relator: Ministro Aldir Passarinho Júnior, Publicado em Sessão em
05/10/2010)

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

Por outro lado, ainda, segundo a jurisprudência do TSE, nos demais ilícitos eleitorais,
somente haverá a aplicação da inelegibilidade se houver a aplicação da sanção de cassação
do registro ou do diploma.

JURISPRUDÊNCIA
1. A inelegibilidade referente à condenação por conduta vedada, por órgão cole-
giado ou com trânsito em julgado, prevista na alínea j do inciso I do art. 1º da LC
n. 64/90, somente se configura caso efetivamente ocorra a imposição da sanção
de cassação de registro ou de diploma no respectivo processo. 2. Evidencia-se
não configurada a hipótese de inelegibilidade da alínea j se o candidato foi conde-
nado pelas instâncias ordinárias apenas ao pagamento de multa pela prática de
conduta vedada. Agravo regimental não provido. (AgR-REspe n. 230-34, rei. Min.
Arnaldo Versiani, PSESS em 30.10.2012.)

Ressalte-se que, para a incidência da presente situação de inelegibilidade, deve-se


observar a aplicação da pessoalidade das inelegibilidades inscrito no art. 18 da Lei Comple-
mentar 64/90.
Sabe-se que, para os cargos majoritários, aplica-se o princípio da indivisibilidade da
chapa. Como consequência dessa prescrição, tem-se que a eleição do titular da chapa
importa a eleição do vice ou dos suplentes com ele registrado. Ademais, por causa da indi-
visibilidade, em caso de prática de ilícitos eleitorais, toda a chapa fica contaminada e ambos
os integrantes dela são cassados, mesmo que a conduta ilícita tenha sido praticada somente
por um dos candidatos.
Não obstante, em matéria de inelegibilidade, a declaração de inelegibilidade do can-
didato à presidência da República, governador de Estado e do Distrito Federal e prefeito
Municipal não atingirá o candidato a vice-presidente, vice-governador ou vice-prefeito, assim
como a destes não atingirá aqueles.
Por essa razão, a inelegibilidade da alínea j somente poderá afetar a situação jurídico-
-eleitoral do responsável pela prática do ilícito eleitoral que acarretou a cassação do registro
ou do diploma. Não se pode afirmar que a cassação do registro ou do diploma pela prática
de captação ilícita de sufrágio do prefeito e do vice-prefeito, por exemplo, atrairá a inelegibi-
lidade em foco para ambos os cidadãos.
Na verdade, para definir a aplicação de inelegibilidade, deve-se avaliar quem praticou
o ato ilícito, e somente esse estará impedido de participar das eleições e concorrer a cargos
públicos eletivos. Sobre essa questão:

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

JURISPRUDÊNCIA
Não incide a inelegibilidade da alínea j do inciso I do art. 1º da LC n. 64/90 se,
em virtude da procedência de ação de impugnação de mandato eletivo proposta
contra Prefeito e Vice-Prefeito, o candidato teve cassado o seu mandato de Vice-
-Prefeito apenas por força da indivisibilidade da chapa, conforme dispõem os arts.
91 do Código Eleitoral e 3º, § 1º, da Lei n. 9.504/97, havendo, ainda, o Tribunal
Regional Eleitoral reconhecido que ele não teve participação nos fatos apurados
naquele processo e que deram origem à condenação eleitoral. (REspe n. 2-06,
Rel. Min. Arnaldo Versiani, PSESS em 9.10.2012)

Inelegibilidade Decorrente da Renúncia ao Mandato

A cassação ao mandato parlamentar em razão de exercício de cargo ou função quando


proibido, conforme prescrição inscrita no art. 54 da CF/88, ou por quebra de decoro parla-
mentar e a cassação do mandato de chefe do Poder Executivo Estadual ou Municipal por
infringência ao disposto nas Constituições Estaduais e Leis Orgânicas, atraem a incidência
das inelegibilidades previstas nas alíneas b e c do inciso I do art. 1º da Lei Complementar n.
64/1990. As inelegibilidades das alíneas b e c exigem a decretação de perda do cargo. Para
evitar essas inelegibilidades, bastava que os ocupantes de cargos eletivos renunciassem aos
seus cargos antes de sofrerem a sanção de perda do cargo.
Por essa razão, com a finalidade de garantir a proteção à probidade administrativa e
exigir a moralidade para o exercício de cargo eletivo, a Lei Complementar n. 135/2010 criou
uma hipótese de inelegibilidade. Trata-se da disposição inscrita no art. 1º, inc. I, alínea k, da
Lei Complementar n. 64/90, com o seguinte teor:

Art. 1º São inelegíveis:


I – para qualquer cargo:
[...]
k) o Presidente da República, o Governador de Estado e do Distrito Federal, o
Prefeito, os membros do Congresso Nacional, das Assembleias Legislativas, da
Câmara Legislativa, das Câmaras Municipais, que renunciarem a seus mandatos
desde o oferecimento de representação ou petição capaz de autorizar a abertura
de processo por infringência a dispositivo da Constituição Federal, da Constituição
Estadual, da Lei Orgânica do Distrito Federal ou da Lei Orgânica do Município,
para as eleições que se realizarem durante o período remanescente do mandato
para o qual foram eleitos e nos 8 (oito) anos subsequentes ao término da legisla-
tura; (Incluído pela Lei Complementar n. 135/2010)

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

A partir dessa nova hipótese de inelegibilidade, ainda que o parlamentar (deputado


federal, distrital ou estadual e vereadores) ou o chefe do Poder Executivo (presidente da
República, governador e prefeito) renunciem os seus cargos após o oferecimento de repre-
sentação ou petição capaz de autorizar a abertura de processo por infringência a disposições
da Constituição Federal, Estadual ou das Leis Orgânicas, já haverá a incidência da inelegi-
bilidade da alínea k.
A análise do motivo que ensejou a renúncia pelo ocupante do cargo eletivo é irrelevante
para a aplicação da presente restrição de direito político passivo. Dessa forma, ainda que
haja uma razão lícita, tais como, doenças ou problemas pessoais, o renunciante estará ine-
legível, pois as circunstâncias fáticas motivadoras da renúncia não foram consideradas pelo
legislador na instituição da inelegibilidade.
No mesmo sentido, não cabe à Justiça Eleitoral avaliar o teor da representação ofere-
cida em face do ocupante de cargo eletivo. Com efeito, a inelegibilidade da alínea k, para
sua incidência, não exige a análise do motivo para a cassação do mandato e nem se eram
procedentes as razões ou se haviam provas para a decretação de perda do cargo. A única
averiguação fática que deve ser feita pela Justiça Eleitoral é: existência de renúncia ao cargo
eletivo após o oferecimento de representação apta a gerar a cassação do mandato. Com
esse entendimento:

JURISPRUDÊNCIA
não compete à Justiça Eleitoral examinar a tipicidade do fato que deu origem à
renúncia, para verificar se o Senador sofreria, ou não, a perda de seu mandato
por infração a dispositivo da Constituição Federal [... ]. Interessa à Justiça Eleitoral
apenas verificar se, nos termos da alínea k, houve renúncia ‘desde o oferecimento
da representação ou petição capaz de autorizar a abertura de processo por in-
fringência a dispositivo da Constituição Federal (Recurso Ordinário n. 645-80, rei.
Min. Arnaldo Versiani, PSESS em 11. 9.2010).

Aliás, mesmo que não tenha sido instaurado o processo para cassação do mandato, se
a petição ou representação que possa ter essa consequência tiver sido oferecida/protoco-
lizada, o ocupante do cargo eletivo que renunciar ficará inelegível pelo período restante do
mandato para o qual foi eleito, bem como nos 8 (oitos) anos subsequentes.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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Inelegibilidade Decorrente da Condenação pela Prática de Improbidade


Administrativa

Segundo o art. 1º, inciso I, alínea l, da Lei Complementar n. 64/1990:

Art. 1º São inelegíveis:


I – para qualquer cargo:
[...]
l) os que forem condenados à suspensão dos direitos políticos, em decisão transita-
da em julgado ou proferida por órgão judicial colegiado, por ato doloso de improbi-
dade administrativa que importe lesão ao patrimônio público e enriquecimento ilícito,
desde a condenação ou o trânsito em julgado até o transcurso do prazo de 8 (oito)
anos após o cumprimento da pena; (Incluído pela Lei Complementar n. 135/2010)

A Constituição Federal, em seu art. 37, caput, prescreve que o princípio da moralidade
administrativa é aplicável à Administração Pública de qualquer dos Poderes da União, do
DF, dos Estados e dos Municípios. A partir desse princípio constitucional, para a validade da
atuação de agentes públicos, exige-se a sua compatibilidade com a lei, bem como com a
moralidade.
Por esse motivo, em razão da incompatibilidade com a ética que deve pautar a edição
e prática de atos administrativos, a Lei de Improbidade Administrativa prescreve que devem
ser considerados atos de improbidade administrativa:

• qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legali-


dade e lealdade às instituições;
• qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que acarrete perda patrimonial, desvio,
apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres da Administra-
ção Pública;
• a conduta que importe em enriquecimento ilícito, nos casos em que o ocupante de
cargo, mandato, função, emprego auferir qualquer vantagem patrimonial indevida.

A prática dessas condutas constitui improbidade administrativa e enseja a aplicação,


dentre outras sanções, da sanção de suspensão dos direitos políticos, nos termos do art. 15,
inc. V17, c/c art. 37, § 4º, da CF/88. Além disso, nas hipóteses em que a improbidade adminis-
trativa decorra de ato doloso e que configure lesão ao patrimônio público e enriquecimento
ilícito, o agente, além da suspensão dos direitos políticos, também estará inelegível.

17
Constituição Federal
Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de:
V – improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º.
Art. 37. Omissis
§ 4º - Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressar-
cimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

Frise-se que, em razão da condenação por improbidade administrativa, o cidadão, caso


haja a aplicação expressa dessa pena em sentença, ficará com os seus direitos políticos sus-
pensos pelo prazo estabelecido na decisão judicial. Durante esse período, não será possível
o exercício da cidadania, ou seja, impede-se que o punido exerça, em absoluto, os direitos
políticos.
Após o cumprimento da sanção de suspensão dos direitos políticos, caso preenchidos
os demais requisitos fáticos descritos no art. 1º, inc. I, alínea l, da Lei Complementar n. 64/90,
o cidadão, pelo prazo legal, estará impedido de exercer a capacidade eleitoral passiva em
razão da inelegibilidade.
Deve-se atentar para o fato de que a prática culposa de improbidade administrativa ou
a improbidade decorrente da violação aos princípios da Administração Pública, apesar de ter
como consequência jurídica a suspensão dos direitos políticos, não atraem a incidência da
inelegibilidade em foco.
A alínea l do inciso I do art. 1º da Lei Complementar n. 64/90 exige, para impedir cida-
dãos de participar das eleições, que a condenação seja pela prática de ato doloso de improbi-
dade administrativa que configure, simultaneamente, danos ao erário e enriquecimento ilícito
do agente.
Com efeito, a condenação por improbidade que reconhecer a prática de ato doloso de
improbidade administrativa, mas que somente se enquadre na lesão ao poder público ou
somente enriquecimento ilícito, não afetará a capacidade eleitoral passiva. Essa conclusão
deve ser obtida a partir da utilização de interpretação restritiva do texto normativo.
O conectivo de ligação da alínea l, usado entre uma espécie de improbidade e a outra é
a expressão “e”, classificada como conjunção aditiva. Essa análise da classificação gramati-
cal da expressão auxilia na definição dos requisitos fáticos para a incidência da norma. Com
base nessa avaliação, em razão de não poder estender o âmbito de incidência das causas de
inelegibilidade, a decisão condenatória pela prática de improbidade administrativa para atrair
a incidência dessa inelegibilidade deve reconhecer a configuração do dano à Administração
Pública e o enriquecimento ilícito do agente.
Frise-se, ainda, que o ato doloso de improbidade administrativa que acarrete o enrique-
cimento ilícito, um dos elementos fáticos para a incidência norma, estará configurado tanto
nas hipóteses em que houver o enriquecimento do próprio agente público, bem como em
caso de locupletamento ilícito de terceiro. Deveras, não se exige que o enriquecimento seja
do próprio agente condenado pela prática da improbidade administrativa.
É certo que, uma vez reconhecida a prática de ato doloso de improbidade administrativa
que importe lesão ao erário e enriquecimento ilícito por decisão da Justiça Comum, ter-se-á
por configurado o suporte fático necessário à incidência da norma. Não cabe à Justiça Eleito-
ral avaliar o acerto ou o desacerto da decisão proferida pelo órgão competente, mas somente
os fatos motivadores da decisão condenatória. Nesse sentido:

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

JURISPRUDÊNCIA
AGRAVO REGIMENTAL. ELEIÇÕES 2012. CANDIDATO A VEREADOR. REGIS-
TRO DE CANDIDATURA INDEFERIDO PELO TRE. RECURSO ESPECIAL ELEI-
TORAL. SUPOSTA INCIDÊNCIA NA CAUSA DE INELEGIBILIDADE DO ART. 1º,
INCISO I, ALÍNEA L, DA LEI COMPLEMENTAR N. 64/1990. AUSÊNCIA DE RE-
QUISITO. REGISTRO DEFERIDO. DESPROVIMENTO DO RECURSO.
1. Com base no direito fundamental à elegibilidade, a interpretação do art. 1º, in-
ciso I, alínea L, da LC n. 64/1990 leva à conclusão de que nem toda condenação
por improbidade administrativa é suficiente para fazer incidir a causa de inelegibi-
lidade ali referida, mas somente as que preencham cumulativamente os seguintes
requisitos:
i) decisão transitada em julgado ou proferida por órgão colegiado do Poder
Judiciário;
ii) condenação por improbidade administrativa na modalidade dolosa;
iii) conduta ímproba que acarrete dano ao erário e enriquecimento ilícito;
iv) suspensão dos direitos políticos;
v) prazo de inelegibilidade não exaurido;
vi) condenação colegiada não suspensa ou anulada pelo Poder Judiciário.
2. A incidência da causa de inelegibilidade do art. 1º, inciso I, alínea L, da LC n.
64/1990 pressupõe análise vinculada da condenação colegiada imposta em ação
de improbidade administrativa, não competindo à Justiça Eleitoral, em processo
de registro de candidatura, promover novo julgamento da ação de improbidade,
para chegar à conclusão não reconhecida pela Justiça Comum competente: o
dano ao erário.
3. Ausência de condenação por dano ao erário ou referência expressa a prejuízo
aos cofres públicos. Com fundamento na compreensão da reserva legal proporcio-
nal, as causas de inelegibilidade devem ser interpretadas restritivamente, evitan-
do-se a criação de restrição de direitos políticos sobre bases frágeis e inseguras,
como a possibilidade de dispensar determinado requisito da causa de inelegibili-
dade, ofensiva à dogmática de proteção dos direitos fundamentais. Precedentes.
(AgR-REspe n. 8922/RS, DJe de 11.12.2014, Rel. Min. Gilmar Mendes);

A hipótese de inelegibilidade decorrente da condenação pela prática de improbidade


administrativa impede o cidadão de participar das eleições a partir do momento em que
houver a condenação ou a sua confirmação por órgão colegiado. Não é exigível o trânsito em
julgado para o impedimento da elegibilidade. Aliás, a partir do trânsito em julgado, o cidadão
estará com todos os direitos políticos suspensos, não podendo votar nem ser votado.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

Após o restabelecimento da plenitude do gozo dos direitos políticos, a elegibilidade


estará restringida pelo prazo de 8 (oito) anos, conforme art. 1º, inc. I, alínea l, da Lei Comple-
mentar n. 64/90.
Com isso, conclui-se que essa inelegibilidade incide desde a existência de uma decisão
colegiada que reconheça a prática da improbidade administrativa até o prazo de 8 (oito) anos
após o cumprimento da pena de suspensão dos direitos políticos18. Atente-se para o fato de
que, entre o trânsito em julgado até o período estabelecido em sentença, a restrição incidente
sobre a cidadania é a de suspensão dos direitos políticos.

Inelegibilidade Decorrente da Exclusão do Exercício Profissional

Essa inelegibilidade tem previsão no art. 1º, inc. I, alínea m, da Lei Complementar
n. 64/1990:

Art. 1º São inelegíveis:


I – para qualquer cargo:
[...]
m) os que forem excluídos do exercício da profissão, por decisão sancionatória do
órgão profissional competente, em decorrência de infração ético-profissional, pelo
prazo de 8 (oito) anos, salvo se o ato houver sido anulado ou suspenso pelo Poder
Judiciário; (Incluído pela Lei Complementar n. 135/2010)

Por essa prescrição legal, estará inelegível aqueles que sofrerem sanção imposta pelo
órgão profissional competente, por terem praticado infração ética no exercício da profissão.
Contudo, essa inelegibilidade somente incidirá se o cidadão for excluído do exercício da
profissão.
Desse modo, caso o cidadão pratique falta disciplinar por violação de prescrições éticas
no exercício de sua profissão, mas somente seja punido com advertência, multa, ou suspen-
são do exercício profissional, não haverá a incidência da inelegibilidade em comento.
Uma vez presentes os elementos fáticos para a incidência da norma, o cidadão ficará
inelegível pelo prazo de 8 (oito) anos a contar do momento em que se tornar irrecorrível
a decisão sancionatória proferida pelo órgão profissional. A esse respeito, veja o ensina-
mento de Zilio:
O prazo de inelegibilidade, segundo a dicção legal, é de oito anos, não sendo esclare-
cido o termo inicial da restrição. Porque as demais hipóteses normativas da nova normativas
da nova lei complementar trazem a decisão como termo inicial da inelegibilidade, possí-
vel o recurso à analogia, adotando idêntica solução, com a necessária adequação ao caso
concreto da alínea m. Com o fito de evitar a aplicação de sanção extremamente gravosa
18
Jurisprudência – “A causa de inelegibilidade prevista no art. l, 1, É, da Lei Complementar n. 64190 - decorrente de condenação à pena de suspensão dos
direitos políticos em sede de ação civil pública por ato doloso de improbidade administrativa - incide até o transcurso do prazo de oito anos contados do
cumprimento da pena”. (ED-REspe n. 365-37, Rel. Min. Arnaldo Versiani, PSESS em 11.9.2012)

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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por órgão exclusivamente administrativo e porque a maioria das causas previstas na LC n.


135/2010 preveem inelegibilidade — inclusive em situações mais severas (v.g., condenação
criminal ou improbidade administrativa) — quando do trânsito em julgado ou da decisão cole-
giada de órgão judicial, defensável o entendimento de que a restrição à capacidade eleitoral
passiva, também na hipótese em apreço, deve advir do trânsito em julgado da decisão admi-
nistrativa do órgão profissional competente ou de decisão colegiada do órgão judicial.
De qualquer forma, há possibilidade de afastar a inelegibilidade por meio de decisão
judicial. Para tanto, o cidadão deverá propor uma ação judicial anulatória da decisão do órgão
profissional e, assim, obter uma decisão antecipatória dos efeitos da tutela com a finalidade
de suspender a inelegibilidade ou a decisão desconstitutiva transitar em julgado.

Inelegibilidade Decorrente da Simulação de Desfazimento de Vínculo Conjugal

Dispõe o art. 1º, inciso I, alínea n, da Lei Complementar n. 64/1990 que:

Art. 1º São inelegíveis:


I – para qualquer cargo:
[...]
n) os que forem condenados, em decisão transitada em julgado ou proferida por
órgão judicial colegiado, em razão de terem desfeito ou simulado desfazer vínculo
conjugal ou de união estável para evitar caracterização de inelegibilidade, pelo
prazo de 8 (oito) anos após a decisão que reconhecer a fraude; (Incluído pela Lei
Complementar n. 135/2010)

Sabe-se que a Constituição Federal, em seu art. 14, § 7º, prescreve que são inelegí-
veis, na circunscrição do titular, o cônjuge, bem como os parentes consanguíneos ou afins
até o segundo grau ou por adoção dos chefes do Poder Executivo (presidente da República,
governador e prefeito) e de quem os houver substituído nos 6 (seis) meses anteriores da data
da eleição.
Para evitar a incidência dessa inelegibilidade constitucional, aqueles que seriam afeta-
dos por esse impedimento, reflexo da elegibilidade, simulavam a quebra do vínculo conjugal
ou de companheirismo. Levando em consideração essa realidade, o Supremo Tribunal Fede-
ral editou a Súmula Vinculante n. 18, com o seguinte teor:

JURISPRUDÊNCIA
Súmula Vinculante n. 18 – A dissolução da sociedade ou do vínculo conjugal,
no curso do mandato, não afasta a inelegibilidade prevista no § 7º do art. 14 da
Constituição Federal.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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A partir dessa nova inelegibilidade introduzida pela Lei Complementar n. 135/2010, caso
reste demonstrado que o vínculo conjugal ou de companheirismo foi desfeito com a finali-
dade de afastar a incidência da inelegibilidade reflexa, ambos os cônjuges ou companheiros
ficarão inelegíveis a partir do momento que a decisão judicial que reconhecer esse especial
fim de agir for proferida por órgão colegiado ou transitar em julgado. Essa inelegibilidade per-
dura pelo prazo de 8 (oito) anos.

Inelegibilidade Decorrente da Demissão do Serviço Público

Para o art. 1º, inciso I, alínea o, da Lei Complementar n. 64/1990:

Art. 1º São inelegíveis:


I – para qualquer cargo:
[...]
o) os que forem demitidos do serviço público em decorrência de processo admi-
nistrativo ou judicial, pelo prazo de 8 (oito) anos, contado da decisão, salvo se
o ato houver sido suspenso ou anulado pelo Poder Judiciário; (Incluído pela Lei
Complementar n. 135/2010)

O servidor público pode, caso pratique infração disciplinar de natureza grave, perder
o seu cargo em virtude de demissão. Deveras, essa sanção é uma penalidade disciplinar e
pode ser aplicada em virtude da prática de algumas situações ilícitas após o regular desen-
volvimento de um processo judicial ou administrativo.
Segundo a alínea o do inciso I do art. 1º da Lei Complementar n. 64/90, essa hipótese
de inelegibilidade será aplicável aos servidores públicos que forem demitidos após o regu-
lar desenvolvimento de um processo administrativo ou judicial, que ficarão inelegíveis pelo
prazo de 8 (oito) anos a contar da data da decisão.
Da mesma forma que outras hipóteses de inelegibilidade, é possível a suspensão dos
efeitos dessa inelegibilidade desde que por meio de decisão judicial. Para tanto, o servi-
dor público poderá ajuizar ação anulatória para desconstituir a decisão sancionatório e, se
houver determinação de suspensão liminar dos efeitos da sanção ou anulação da demissão,
afastada estará a incidência dessa situação de inelegibilidade.

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Inelegibilidade Decorrente da Doação Eleitoral Ilícita

Nos termos do art. 1º, inciso I, alínea p, da Lei Complementar n. 64/1990, são inelegíveis:

Art. 1º São inelegíveis:


I – para qualquer cargo:
[...]
p) a pessoa física e os dirigentes de pessoas jurídicas responsáveis por doações elei-
torais tidas por ilegais por decisão transitada em julgado ou proferida por órgão cole-
giado da Justiça Eleitoral, pelo prazo de 8 (oito) anos após a decisão, observando-se
o procedimento previsto no art. 22; (Incluído pela Lei Complementar n. 135/2010)

As campanhas eleitorais podem ser financiadas por meio de recursos financeiros


doados por terceiros, com recursos do próprio candidato, bem como com recursos oriundos
do Fundo Partidário.
Com a finalidade de evitar a prática de abuso de poder econômico, a Lei n. 9.504/97
detalhou a arrecadação e os gastos de recursos em campanhas eleitorais. A referida Lei n.
9.504/1997 dispõe sobre quem, quando e o quanto poderá ser doado para evitar que a nor-
malidade e a legitimidade das eleições sejam afetadas.
A violação dessas regras legais sobre a doação de recursos para campanhas eleitorais,
nos termos do art. 1º, inc. I, alínea p, da Lei Complementar n. 64/90, acarreta a inelegibilidade
da pessoa física doadora, assim como dos dirigentes das pessoas jurídicas.
É importante destacar que, em caso de doação ilegal feita por pessoa jurídica, apesar
de a pena de multa eleitoral aplicada em sede de representação ser endereçada a essa
pessoa e não aos seus dirigentes, a presente inelegibilidade afeta a capacidade eleitoral pas-
siva dos seus dirigentes. A pessoa jurídica condenada por doação ilegal não sofre a incidên-
cia dessa disposição legal, pois não tem capacidade para ser cidadão. Logo, a inelegibilidade
é incompatível com a natureza jurídica das pessoas jurídicas.
Aliás, para a incidência dessa inelegibilidade, não é exigível que os representantes da
pessoa jurídica condenada por doação ilegal integrem a relação processual decorrente da
propositura da ação judicial eleitoral. A esse respeito:

JURISPRUDÊNCIA
A alínea p do inciso I do art. 1º da LC n. 64/90 não exige, para a incidência da
inelegibilidade, que os dirigentes das pessoas jurídicas responsáveis por doações
eleitorais irregulares integrem a relação processual da representação respectiva,
mas tão somente que a doação irregular tenha sido reconhecida por meio de deci-
são transitada em julgado ou proferida por órgão colegiado. A inelegibilidade não
atinge a pessoa jurídica condenada na referida representação, mas, sim, seus
dirigentes. (REspe n. 406-69, Rel. Min. Henrique Neves, DJe de 4.6.2013)

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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Inelegibilidade Decorrente da Aposentadoria Compulsória ou Perda de Cargo por


Membros do Ministério Público ou Juízes

Essa inelegibilidade está prevista no art. 1º, inciso I, alínea q, da Lei Complementar n.
64/1990, da seguinte forma:

Art. 1º São inelegíveis:


I – para qualquer cargo:
[...]
q) os magistrados e os membros do Ministério Público que forem aposentados
compulsoriamente por decisão sancionatória, que tenham perdido o cargo por
sentença ou que tenham pedido exoneração ou aposentadoria voluntária na pen-
dência de processo administrativo disciplinar, pelo prazo de 8 (oito) anos; (Incluído
pela Lei Complementar n. 135/2010)

Essa inelegibilidade incidirá quando magistrados ou membros do Ministério Público


sofrerem dois tipos específicos de punições disciplinares: aposentadoria compulsória ou
perda do cargo por meio de decisão judicial. Também haverá a aplicação dessa inelegibili-
dade, mesmo que o membro do Ministério Público ou magistrado não tenham sido aposenta-
dos compulsoriamente ou perdido o cargo, desde que peçam exoneração ou aposentadoria
voluntária na pendência de processo administrativo disciplinar.
Quanto ao prazo, aqueles que incidirem nessa circunstância ficarão inelegíveis pelo
prazo de 8 (oito) anos a contar da data em que a decisão sancionatória se tornar irrecorrível.

Inelegibilidades Decorrentes da Incompatibilidade

A Lei Complementar n. 64/1990 trata dos prazos de desincompatibilização. Esses


prazos foram criados para que os ocupantes de certos cargos, empregos ou funções não os
utilizem para desequilibrar o pleito e, desse modo, quebrem a igualdade de oportunidades
que deve pautar o processo eleitoral.
Com efeito, o legislador infraconstitucional, para garantir a normalidade e a legitimidade
das eleições contra a influência do abuso do exercício de cargo, emprego ou função pública,
estabeleceu prazos mínimos de afastamento para a desincompatibilização de alguns agen-
tes públicos.
Caso o ocupante de um dos cargos enumerados na Lei das Inelegibilidades não se
desincompatibilize no prazo legal, estará inelegível e não poderá concorrer para os cargos
referidos, pois estará incompatível para as eleições. Acerca dessa inelegibilidade, Zilio (2012,
p. 222) ensina:

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

Trata-se de inelegibilidade relativa, já que basta o afastamento, no prazo fixado


por lei, para que seja plena a capacidade eleitoral passiva. Ou seja, a inelegibili-
dade pode ser afastada por ato voluntário do interessado, que se desliga do cargo
ou função exercida e remove a restrição à capacidade eleitoral passiva.

Seguem os vários prazos de desincompatibilização previstos na Lei das Inelegibilidades:

II – para as eleições de presidente e vice-presidente da República:


a) até 6 (seis) meses depois de afastados definitivamente de seus cargos e funções:
1. os ministros de Estado;
2. os chefes dos órgãos de assessoramento direto, civil e militar, da Presidência
da República;
3. o chefe do órgão de assessoramento de informações da Presidência da
República;
4. o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas;
5. o advogado-geral da União e o consultor-geral da República;
6. os chefes do Estado-Maior da Marinha, do Exército e da Aeronáutica;
7. os comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica;
8. os magistrados;
9. os presidentes, diretores e superintendentes de autarquias, empresas públi-
cas, sociedades de economia mista e fundações públicas e as mantidas pelo po-
der público;
10. os governadores de Estado, do Distrito Federal e de Territórios;
11. os interventores Federais;
12. os secretários de Estado;
13. os prefeitos Municipais;
14. os membros do Tribunal de Contas da União, dos Estados e do Distrito Federal;
15. o diretor-geral do Departamento de Polícia Federal;
16. os secretários-gerais, os secretários-executivos, os secretários nacionais, os
secretários federais dos Ministérios e as pessoas que ocupem cargos equivalentes;
b) os que tenham exercido, nos 6 (seis) meses anteriores à eleição, nos Estados,
no Distrito Federal, Territórios e em qualquer dos poderes da União, cargo ou fun-
ção, de nomeação pelo presidente da República, sujeito à aprovação prévia do
Senado Federal;
c) os que, até 6 (seis) meses antes da eleição, tiverem competência ou interesse,
direta, indireta ou eventual, no lançamento, arrecadação ou fiscalização de im-
postos, taxas e contribuições de caráter obrigatório, inclusive parafiscais, ou para
aplicar multas relacionadas com essas atividades;

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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d) os que, até 6 (seis) meses antes da eleição, tenham exercido cargo ou função
de direção, administração ou representação nas empresas de que tratam os arts.
3º e 5º da Lei n. 4.137, de 10 de setembro de 1962, quando, pelo âmbito e nature-
za de suas atividades, possam tais empresas influir na economia nacional;
e) os que, detendo o controle de empresas ou grupo de empresas que atuem no
Brasil, nas condições monopolísticas previstas no parágrafo único do art. 5º da lei
citada na alínea anterior, não apresentarem à Justiça Eleitoral, até 6 (seis) meses
antes do pleito, a prova de que fizeram cessar o abuso apurado, do poder econô-
mico, ou de que transferiram, por força regular, o controle de referidas empresas
ou grupo de empresas;
f) os que tenham, dentro dos 4 (quatro) meses anteriores ao pleito, ocupado cargo
ou função de direção, administração ou representação em entidades representa-
tivas de classe, mantidas, total ou parcialmente, por contribuições impostas pelo
poder Público ou com recursos arrecadados e repassados pela Previdência Social;
g) os que, até 6 (seis) meses depois de afastados das funções, tenham exercido
cargo de presidente, diretor ou superintendente de sociedades com objetivos ex-
clusivos de operações financeiras e façam publicamente apelo à poupança e ao
crédito, inclusive através de cooperativas e da empresa ou estabelecimentos que
gozem, sob qualquer forma, de vantagens asseguradas pelo poder público, salvo
se decorrentes de contratos que obedeçam a cláusulas uniformes;
h) os que, dentro de 6 (seis) meses anteriores ao pleito, hajam exercido cargo ou
função de direção, administração ou representação em pessoa jurídica ou em em-
presa que mantenha contrato de execução de obras, de prestação de serviços ou
de fornecimento de bens com órgão do Poder Público ou sob seu controle, salvo
no caso de contrato que obedeça a cláusulas uniformes;
i) os que, membros do Ministério Público, não se tenham afastado das suas fun-
ções até 6 (seis) meses anteriores ao pleito;
j) os que, servidores públicos, estatutários ou não, dos órgãos ou entidades da
Administração direta ou indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos
Municípios e dos Territórios, inclusive das fundações mantidas pelo Poder Públi-
co, não se afastarem até 3 (três) meses anteriores ao pleito, garantido o direito à
percepção dos seus vencimentos integrais;

III – para governador e vice-governador de Estado e do Distrito Federal;


a) os inelegíveis para os cargos de presidente e vice-presidente da República es-
pecificados na alínea a do inciso II deste artigo e, no tocante às demais alíneas,
quando se tratar de repartição pública, associação ou empresas que operem no
território do Estado ou do Distrito Federal, observados os mesmos prazos;

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b) até 6 (seis) meses depois de afastados definitivamente de seus cargos


ou funções:
1. Os chefes dos Gabinetes Civil e Militar do Governador do Estado ou do Distri-
to Federal;
2. Os comandantes do Distrito Naval, Região Militar e Zona Aérea;
3. Os diretores de órgãos estaduais ou sociedades de assistência aos Municípios;
4. Os secretários da administração municipal ou membros de órgãos congêneres;

IV – para Prefeito e Vice-Prefeito:


a) no que lhes for aplicável, por identidade de situações, os inelegíveis para os
cargos de Presidente e Vice‑Presidente da República, Governador e Vice‑Gover-
nador de Estado e do Distrito Federal, observado o prazo de 4 (quatro) meses
para a desincompatibilização;
b) os membros do Ministério Público e Defensoria Pública em exercício na Co-
marca, nos 4 (quatro) meses anteriores ao pleito, sem prejuízo dos vencimentos
integrais;
c) as autoridades policiais, civis ou militares, com exercício no Município, nos 4
(quatro) meses anteriores ao pleito;

V – para o Senado Federal:


a) os inelegíveis para os cargos de Presidente e Vice‑Presidente da República
especificados na alínea a do inciso II deste artigo e, no tocante às demais alíneas,
quando se tratar de repartição pública, associação ou empresa que opere no ter-
ritório do Estado, observados os mesmos prazos;
b) em cada Estado e no Distrito Federal, os inelegíveis para os cargos de Gover-
nador e Vice‑Governador, nas mesmas condições estabelecidas, observados os
mesmos prazos;

VI – para a Câmara dos Deputados, Assembleia Legislativa e Câmara Legis-


lativa, no que lhes for aplicável, por identidade de situações, os inelegíveis
para o Senado Federal, nas mesmas condições estabelecidas, observados
os mesmos prazos;

VII – para a Câmara Municipal:


a) no que lhes for aplicável, por identidade de situações, os inelegíveis para o
Senado Federal e para a Câmara dos Deputados, observado o prazo de 6 (seis)
meses para a desincompatibilização;
b) em cada Município, os inelegíveis para os cargos de Prefeito e Vice‑Prefeito,
observado o prazo de 6 (seis) meses para a desincompatibilização.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

Não é exigível a desincompatibilização do vice-presidente, do vice-governador e do


vice-prefeito caso queiram candidatar‑se a outros cargos. Na verdade, os titulares da vice-
-chefia do Poder Executivo podem concorrer a outros cargos preservando os seus mandatos
respectivos, desde que, nos últimos 6 (seis) meses anteriores ao pleito, não tenham sucedido
ou substituído o titular.
No que se refere a inelegibilidade decorrente da renúncia ao mandato após o ofereci-
mento de representação apta a gerar a cassação do mandato, não haverá a sua incidência
caso a razão da renúncia seja para atender ao prazo de desincompatibilização com vistas a
candidatura a cargo eletivo ou para assunção de mandato, salvo se a Justiça Eleitoral reco-
nhecer a finalidade fraudulenta do afastamento.

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8. PARTIDOS POLÍTICOS

Em primeiro lugar, faz-se uma distinção técnica: o Direito Eleitoral não trata da matéria
referente aos partidos políticos. O Direito Eleitoral está relacionado à soberania popular, aos
Direitos Políticos, às eleições.
O ramo do Direito que cuida da criação, organização e relações partidárias é o Direito
Partidário. Embora haja uma íntima relação entre eleições e partidos políticos, os tópicos
relacionados aos partidos políticos submetem-se a princípios específicos e, por isso, há esse
ramo Direito Partidário, distinto do Direito Eleitoral.
Em razão da influência de alguns institutos do Direito Partidário no processo eleitoral
e da importância dos partidos políticos no regime democrático brasileiro, tratar-se-á, nessa
obra, sobre os principais aspectos sobre a criação, organização e participação em partidos
políticos.
Os partidos políticos têm sua disciplina normativa inscrita no art. 17 da Constituição
Federal e na Lei n. 9.096/95.
Aliás, tem-se que fazer uma constatação que vai auxiliar a compreender e interpretar as
disposições constitucionais e legais relacionadas aos partidos políticos.
A Constituição Federal trata dos partidos políticos no art. 17. O artigo 17 está inscrito no
Título II da CF. O Título II é dividido em Capítulos, nos termos a seguir.

• Título II – Dos Direitos Fundamentais


• Capítulo I – Dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos
• Capítulo II – Dos Direitos Sociais
• Capítulo III – Da Nacionalidade
• Capítulo IV – Dos Direitos Políticos
• Capítulo V – Dos Partidos Políticos

Qual a importância dessa constatação? Por que tem que ser feita essa visualização
para compreender as normas sobre partidos políticos?

O direito de criar, organizar e participar de partidos políticos é um direito fundamental. A


CF tratou dessa matéria dentro do Título que trata dos direitos fundamentais. Isso tem algu-
mas consequências. Veja.
1º – As normas constitucionais relativas aos partidos políticos têm aplicabilidade ime-
diata (art. 5º, § 1º, da CF).
2º – Restrições ao exercício do direito de criar, organizar e participar de partidos polí-
ticos devem ser interpretadas restritivamente, em razão de que a interpretação das normas
instituidoras de limitações a direitos fundamentais sujeita-se a uma hermenêutica restrita.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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Após esse panorama inicial sobre o direito partidário na CF, passa-se a análise dos prin-
cipais temas sobre partidos políticos.
Com a finalidade de regulamentar as disposições constitucionais relativas aos partidos
políticos foi editada a Lei n. 9.096/95, também conhecida como Lei dos Partidos Políticos.
Essa lei foi organizada da seguinte forma:

• Título I – Disposições Preliminares – arts. 1º a 7º


• Título II – Da Organização e Funcionamento dos Partidos Políticos – arts. 8º a 29
• Título III – Das Finanças e Contabilidade dos Partidos – arts. 30 a 44
• Título IV – Do Acesso Gratuito ao Rádio e à Televisão – arts. 45 a 49
• Título V – Disposições Gerais – arts. 50 a 54
• Título VI – Disposições Finais e Transitórias – arts. 55 a 63

Para cumprir os objetivos da presente obra, decidimos não tratar sobre todos os aspec-
tos da Lei dos Partidos Políticos, mas somente sobre os tópicos com maior conexão com o
Direito Eleitoral.

Funções dos Partidos Políticos

Os partidos políticos são indispensáveis no nosso regime democrático. Isso porque


todo cidadão que queira concorrer a cargos públicos eletivos deve estar filiado a um partido
político (art. 14, § 3º, V, CF).
Para que possamos entender a importância e a relevância dos partidos políticos no
Brasil, veja as funções que foram atribuídas pelo art. 1º da Lei n. 9.096/95:
1ª – assegurar, no interesse do regime democrático, a autenticidade do sistema
representativo;
2ª – defender os direitos fundamentais definidos na Constituição Federal.
Trata-se de uma entidade que deve primar pela lisura das eleições, garantindo-se que
o resultado das urnas corresponda à vontade popular (autenticidade do sistema representa-
tivo). Essa é a razão pela qual os partidos políticos possuem legitimidade ativa para ajuizar
todas as ações eleitorais perante a Justiça Eleitoral.
Também se reconhece aos partidos políticos a finalidade de proteção dos direitos fun-
damentais. Para tanto, a Constituição atribuiu aos partidos políticos a possibilidade de ajuiza-
mento do mandado de segurança, das ações de controle de constitucionalidade, entre outras.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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Conceito e Natureza Jurídica

De acordo com Bulos, os “partidos políticos são associações de pessoas, unidas por
uma ideologia ou interesses comuns, que, organizadas estavelmente, influenciam a opinião
popular e a orientação política do país”.
Para fixar, Celso Ribeiro Bastos afirma que “trata-se de uma organização de pessoas
reunidas em torno de um mesmo programa político com a finalidade de assumir o poder e
de mantê-lo ou, ao menos, de influenciar na gestão da coisa pública através de críticas e
oposição”.
A partir desses dois conceitos, pode-se tirar alguns elementos importantes:
1º – trata-se de uma associação de pessoas;
2º – pessoas unidas em torno de um mesmo programa ou mesma ideologia política;
3º – querem, de forma legítima, acessar o poder e definir a gestão da coisa pública.

Por sua vez, esse é o conceito legal de partido político, inscrito no art. 1º da Lei
n. 9.096/95:

Art. 1º O partido político, pessoa jurídica de direito privado, destina-se a assegu-


rar, no interesse do regime democrático, a autenticidade do sistema representativo
e a defender os direitos fundamentais definidos na Constituição Federal.

Quanto à natureza jurídica, os partidos políticos são pessoas jurídicas de direito pri-
vado. Essa caracterização está contida no art. 44 do Código Civil:

Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado:


V – os partidos políticos.

Dessas disposições legais, pode-se concluir que o partido político não é uma pessoa
jurídica de direito público. Não integra o Estado. Ainda que o partido político possua funções
eminentemente ligadas ao interesse público, mesmo que as agremiações partidárias sejam
indispensáveis ao regime democrático, são pessoas jurídicas de direito privado.
Confirmando essa autonomia dos partidos políticos frente ao Estado, a Constituição
Federal, ao tratar da matéria partidária, garante às agremiações autonomia para organiza-
rem-se, funcionarem e definirem sua estrutura interna.
Em razão dessa natureza jurídica privatística, ou seja, como os partidos políticos são
pessoas jurídicas eminentemente privadas, os litígios que envolvam os órgãos partidários ou
os partidos políticos e os seus filiados são julgados pela Justiça Comum. Com efeito, com-
pete à Justiça Comum o julgamento dos processos instaurados entre órgãos partidários ou
entre esses e os seus filiados. Não é da Justiça Eleitoral essa competência.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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Contudo, a Justiça Eleitoral tem uma atribuição administrativa, no que tange à repartição
do fundo partidário e do programa partidário. Veja que a Justiça Eleitoral não julga processos
judiciais partidários, mas administra o exercício de alguns direitos dos partidos políticos.
De forma excepcional, no âmbito judicial, a Justiça Eleitoral somente terá competência para
julgar litígios partidários que tenham reflexos no processo eleitoral. Esta é a jurisprudência do TSE:

JURISPRUDÊNCIA
É competência da Justiça Eleitoral analisar controvérsias sobre questões internas
das agremiações partidárias quando houver reflexo direto no processo eleitoral,
sem que esse controle jurisdicional interfira na autonomia das agremiações parti-
dárias, garantido pelo art. 17, § 1º, da CF. (Agravo Regimental no Recurso Espe-
cial n. 26.412, rel. Min. Cesar Rocha, de 20.9.2006)

No mesmo sentido, exemplificando a atuação excepcional da Justiça Eleitoral no julga-


mento de litígios eleitorais, veja o seguinte julgado:

JURISPRUDÊNCIA
Eleitoral. Partido político. Mandado de Segurança. Sanção disciplinar consistente
na expulsão do partido. Cabimento da segurança. Recurso tempestivo: seu pro-
cessamento.
I – Atingindo a sanção disciplinar o status do filiado e, por isso, sua condição de
elegibilidade, a este deve ser assegurada a garantia constitucional do mandado de
segurança e a jurisdição da justiça eleitoral.
II – Recurso interposto tempestivamente perante a direção partidária e dirigido à
Convenção Nacional: deferimento parcial da segurança para que o citado recurso
seja processado e decidido pelo órgão competente, a Convenção Nacional.”
(Mandado de Segurança n. 1.534, Rel. Min. Diniz de Andrada, DJ de 1º.9.1993)

Disposições Preliminares

A Constituição inicia o tratamento da disciplina partidária com a consagração de um


importante princípio: princípio da liberdade de organização partidária. Diz a Constituição,
em seu art. 17, caput: “É livre a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos polí-
ticos [...]”
Há uma ampla liberdade para a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos
políticos. O Estado não pode impor limites ou criar barreiras à organização de novas agre-
miações partidárias.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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Para ter uma ideia, hoje temos 33 partidos políticos registrados no TSE. Existem, aproxi-
madamente, 18 partidos políticos em formação. Estima-se que poderemos ter quase 50 parti-
dos nas eleições de 2018. Imagine uma eleição com 50 partidos. Ainda assim, não é possível
o estabelecimento de uma barreira legal proibindo a criação de novos partidos políticos.

Esse princípio da liberdade de organização partidária envolve quatro operações


partidárias.

• Criação – organização de uma nova agremiação partidária.


• Fusão – união de dois ou mais partidos, com o consequente surgimento de uma ter-
ceira agremiação. Os partidos originários extinguem-se.
• Incorporação – união de dois ou mais partidos políticos. Ao final do processo de incor-
poração, o partido incorporador mantém sua personalidade jurídica e os partidos incor-
porados extinguem-se.
• Extinção – perda da personalidade jurídica de um partido político.

Para a prática de quaisquer dessas operações partidárias, não há necessidade de


aquiescência, homologação ou autorização da Justiça Eleitoral. Lembre-se: os partidos polí-
ticos são pessoas jurídicas de direito privado.

Quer dizer que o princípio da liberdade de organização partidária é absoluto? Não


há limites à criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos?

A própria Constituição, no mesmo art. 17, caput, responde essa nossa indagação:

É livre a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos, resguarda-


dos a soberania nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo, os direitos
fundamentais da pessoa humana...

A própria Constituição estabelece os limites para a aplicação do princípio da liberdade


de organização de partidos políticos. Veja.

• Soberania nacional – a soberania nacional é um dos fundamentos da República Fede-


rativa do Brasil. Por esse fundamento, o Brasil não se sujeita a países estrangeiros e
nem se submete à legislação alienígena. Esse é o motivo pelo qual os partidos políticos
não podem receber recursos de entidades ou governos estrangeiros ou subordinar-
-se a eles;

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• Regime democrático – no Brasil, vive-se em um regime democrático. O governo é do


povo e para o povo. Por esse motivo, a Constituição reconheceu a soberania popular,
ou seja, todo poder emana do povo, que o exerce diretamente ou por meio de represen-
tantes eleitos. O partido deve respeitar esse regime democrático.

Por essa razão, a Constituição proíbe aos partidos a utilização de organização parami-
litar. Essa proteção ao princípio do regime democrático, fez com que a Lei n. 9.096/95 pre-
visse que “é vedado ao partido político ministrar instrução militar ou paramilitar, utilizar-se de
organização da mesma natureza e adotar uniforme para seus membros”.
Veja que, de acordo com a Lei dos Partidos Políticos, existem três formas de o partido
político violar o regime democrático:

1º – ministrar instrução paramilitar;


2º – utilizar-se de organização paramilitar;
3º – adotar uniforme para seus membros.

• Pluripartidarismo – admite-se no Brasil a existência simultânea de várias agremiações


partidárias. Como a sociedade brasileira é complexa, tem diversos valores e ideais con-
flitantes, o legislador constituinte permitiu a organização de vários partidos para que os
diversos setores sociais sejam representados.
• Direitos fundamentais da pessoa humana – os partidos políticos devem resguardar
os direitos fundamentais. Aliás, se você se lembrar do início da nossa exposição, fala-
mos para você que a defesa dos direitos fundamentais é uma das funções dos partidos
políticos.

Além de o princípio da liberdade de organização partidária ser condicionado por essas


disposições que acabamos de analisar, há outros parâmetros impostos aos partidos políticos
e limitativos do princípio que estamos estudando. Esses limites também estão inscritos no
art. 17 da CF.

• Caráter nacional – todo partido político precisa ter caráter nacional. É impossível a cria-
ção de um partido político de âmbito estadual ou municipal. A forma de comprovação do
caráter nacional de um partido político é por meio do apoiamento mínimo de eleitores.

O apoiamento mínimo de eleitores é o instrumento utilizado para a comprovação do


caráter nacional do partido político.
Tem a finalidade de aferir se a nova agremiação partidária em formação representa
nacionalmente um determinado segmento social. Tal representatividade legitimará a continui-
dade do processo de formação da legenda, sendo um elemento essencial para o deferimento
do registro do seu estatuto no Tribunal Superior Eleitoral.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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Numa acepção histórica, José Jairo afirma que (2015, p. 97):

A exigência de expressão nacional visa afastar a estruturação de agremiações


com caráter meramente local ou regional. Historicamente, trata-se de reação às
oligarquias estaduais e ao regionalismo político imperantes na República Velha.
Nesta, sobressaíam partidos políticos estaduais, sendo os principais o Partido Re-
publicano Paulista (PRP) e o Partido Republicano Mineiro (PRM). Daí o predo-
mínio das oligarquias cafeeiras paulistas e mineiras, que controlavam o governo
federal, fato conhecido como “política do café com leite”, tal expressão alude ao
maior produtor e exportador de café (São Paulo), e ao tradicional produtor de leite
e derivados – Minas.

A constitucionalidade da necessidade de comprovação desse requisito já foi assentada


pelo Tribunal Superior Eleitoral. Confira:

JURISPRUDÊNCIA
O Tribunal Superior Eleitoral já assentou a constitucionalidade do apoiamento mí-
nimo de eleitores, previsto no art. 9º, § 1º, da Lei n. 9.096/1995, por ser um critério
para verificação do caráter nacional.
(RPP n. 613-60/DF, rel. Min. Luciana Lóssio, DJe de 22.5.2014)
Nos termos do art. 7º, § 1º, da Lei n. 9.096/1995, o apoiamento se consubstancia
na comprovação do apoio de eleitores não filiados a partido político, no período de
dois anos contados da aquisição do registro civil, correspondente a, pelo menos,
0,5% (cinco décimos por cento) dos votos dados na última eleição geral para a
Câmara dos Deputados, não computados os votos em branco e os nulos, distribu-
ídos por um terço, ou mais, dos Estados, com um mínimo de 0,1% (um décimo por
cento) do eleitorado que haja votado em cada um deles.
Essa adesão ao partido deve ser obtida no prazo de dois anos, contados a partir
do registro da agremiação partidária no cartório, ou seja, a partir do dia de aqui-
sição da personalidade jurídica no Cartório Civil, salvo em relação aos partidos
constituídos anteriormente à publicação da Lei n. 13.165/2015, por ser este o do-
cumento legal que inaugurou a necessidade de observância desse prazo. A esse
respeito, veja o seguinte julgado do Tribunal Superior Eleitoral:
CONSULTA. CRIAÇÃO. PARTIDO POLÍTICO. PRAZO. APOIAMENTO DE
ELEITORES.
1. A consulta preenche os requisitos de admissibilidade previstos no art. 23, inciso
XII, do Código Eleitoral.

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2. O prazo de dois anos para comprovação do apoiamento de eleitores não se


aplica aos pedidos de criação de partidos protocolados até a data de publicação
da Lei n. 13.165/2015.
3. O art. 25 da Res.-TSE n. 23.404/2014 proíbe a divulgação de propaganda elei-
toral por telemarketing, em respeito à proteção à intimidade e à inviolabilidade de
domicílio e objetivando evitar a perturbação do sossego público. Essa vedação
aplica-se a todo tipo de propaganda via telemarketing ativo.
4. O prazo de dois anos para a comprovação do apoiamento mínimo, requisito
indispensável no procedimento de criação de partido político, é contado a partir
do registro da agremiação partidária no cartório competente do registro civil das
pessoas jurídicas.
(CTA n. 385-80, rel. Min. Henrique Neves da Silva, relator para o acórdão Ministro
Gilmar Mendes, DJE de 2.8.2017).

O apoiamento mínimo se materializa pela livre expressão de apoio do eleitor à criação


do partido. Esse ato pode ser realizado por meio físico (ficha de apoiamento) ou por meio
eletrônico (assinatura eletrônica ou app do TSE), conforme decidido pelo TSE na CTA n.
0601966-13.
No ato de apoiamento, deverá constar o nome completo do eleitor, o número do título
eleitoral, a data da manifestação, a assinatura do eleitor, a informação de que a assinatura
não caracteriza ato de filiação partidária e, ainda, o nome e o número do título de eleitor de
quem coletou a assinatura e sua declaração de que pessoalmente a colheu, consoante exige
o art. 12, § 1º, da Res.-TSE n. 23.571/2018.
O eleitor analfabeto manifesta seu apoio mediante a aposição da impressão digital,
devendo constar, ainda, das listas ou das fichas individuais a identificação pelo nome, número
de inscrição, município, unidade da Federação e data de emissão do título eleitoral.
Destaca-se, dos dados da ficha de apoio, a informação de que a assinatura do eleitor
não caracteriza ato de filiação partidária, conforme preconiza o art. 12, § 3º, da Res.-TSE n.
23.571/2018. Isso se coaduna com o fato de o partido político somente poder ter filiados, com
o deferimento do seu estatuto no Tribunal Superior Eleitoral.
Antes da edição da Lei 13.107/2015, qualquer eleitor podia subscrever a ficha de apoia-
mento. A alteração legislativa restringiu essa possibilidade somente a eleitores não filiados a
partido político. A ideia é evitar que um eleitor já comprometido com os ideais de um partido
apoie artificialmente a criação de outro, ainda que os partidos em questão guardem proximi-
dade ideológica.
O apoio deverá corresponder a, no mínimo, 0,5% dos votos dados na última eleição
para a Câmara dos Deputados. Para o cálculo do número mínimo de eleitores apoiadores
deve-se desprezar do total de votos aqueles em branco e os nulos.

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Os apoiadores devem ter inscrição eleitoral em pelo menos um terço dos Estados, ou
seja, 9 (nove) Estados ou 8 (oito) Estados mais o Distrito Federal. Isso quer dizer que o par-
tido político não pode buscar as assinaturas de eleitores em um único Estado ou região do
país. Aliás, essa exigência se revela absolutamente coerente com o objetivo do apoiamento
de eleitores, que é a de demonstrar o caráter nacional do partido político em formação.
Em cada um dos Estados, a agremiação em formação deve obter o apoio de, pelo
menos, um décimo por cento de eleitorado que tenha votado em cada um deles.
Com o preenchimento desse requisito, o partido político em formação terá comprovado
a exigência constitucional do caráter nacional.

Com o preenchimento desses três requisitos, o partido político terá comprovado a exi-
gência constitucional do caráter nacional.

• Proibição de recebimento de recursos de entidade ou governo estrangeiro ou de


subordinação a estes – essa proibição está relacionada com o dever de o partido polí-
tico resguardar a soberania nacional. Aqui, precisamos da sua atenção: essa proibição
não é restrita somente ao recebimento de recursos oriundos de governos, mas também
de entidades estrangeiras.
• Prestação de contas à Justiça Eleitoral – o partido tem o dever de prestar contas à
Justiça Eleitoral. Isso porque recebe recursos públicos oriundos do fundo partidário.
Cuidado! Partido político não presta contas perante os tribunais de contas. As suas
contas são apresentadas aos órgãos da Justiça Eleitoral.
• Funcionamento parlamentar de acordo com a lei – os partidos políticos têm direito
de se organizarem para o exercício de suas atividades parlamentares. Esse direito de
formação de bancadas e de constituição de lideranças nas Casas Legislativas é cha-
mado de funcionamento parlamentar.

Não são todos os partidos que possuem direito ao funcionamento parlamentar, mas
somente aqueles que preencham os requisitos da lei.

Você lembra daquela discussão relacionada à cláusula de barreira?

Cláusula de barreira ou cláusula de desempenho é o requisito que o partido político pre-


cisa preencher para o exercício do direito ao funcionamento parlamentar. Quando a CF diz
“de acordo com a lei”, ela está se referindo a essa cláusula de barreira.
Há, ainda, um outro princípio constitucional inscrito no art. 17 da Constituição que
tem relação direta com as disposições preliminares — princípio da autonomia partidária.
Dispõe a Constituição:

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Art. 17. Omissis


§ 1º É assegurada aos partidos políticos autonomia para definir sua estrutura inter-
na e estabelecer regras sobre escolha, formação e duração de seus órgãos per-
manentes e provisórios e sobre sua organização e funcionamento e para adotar
os critérios de escolha e o regime de suas coligações nas eleições majoritárias,
vedada a sua celebração nas eleições proporcionais, sem obrigatoriedade de vin-
culação entre as candidaturas em âmbito nacional, estadual, distrital ou municipal,
devendo seus estatutos estabelecer normas de disciplina e fidelidade partidária.
(Redação dada pela Emenda Constitucional n. 97, de 2017)

Os partidos políticos são pessoas jurídicas de direito privado. A sua organização,


registro ou modificações estatutárias não dependem de autorização ou homologação de
órgão estatal.
Um exemplo ilustrativo relacionado ao princípio da autonomia partidária pode ser visto
na liberdade concedida a esses entes para adotar critérios de escolha e o regime de suas
coligações para o pleito majoritário.
Atualmente, os partidos políticos podem formar coligações com ampla liberdade, sem
a necessidade de submissão dessa deliberação à lei ou à vontade estatal. Com efeito, no
novo cenário normativo, posto pela Emenda à Constituição n. 52/2006, que acabou definitiva-
mente com a ideia de verticalização das coligações, inexiste impedimento para que partidos
formem uniões partidárias diversas nas esferas municipal, estadual/distrital e nacional.
A autonomia partidária também garante aos partidos políticos o direito de estabelecer o
cronograma de suas atividades para a realização das campanhas eleitorais. Na verdade, as
agremiações partidárias podem exercer esse direito, mas desde que respeitados os limites
temporais para a prática de atos eleitorais.
Assim, a fixação dos cronogramas de campanha somente poderá definir o período de
início das campanhas a partir do dia 15 de agosto do ano das eleições (limite legal previsto
no art. 36 a Lei n. 9.504/1997). Depois do dia 15 de agosto, o partido terá liberdade para a
fixação das datas e horários para a execução das campanhas eleitorais.
A esse respeito, veja o art. 3º, § 1º da Lei n. 9.096/1995:

Art. 3º É assegurada, ao partido político, autonomia para definir sua estrutura in-
terna, organização e funcionamento.
§ 1º. É assegurada aos candidatos, partidos políticos e coligações autonomia para
definir o cronograma das atividades eleitorais de campanha e executá-lo em qual-
quer dia e horário, observados os limites estabelecidos em lei. (grifo nosso)

Sobre a extensão e interpretação desse princípio constitucional, o Supremo Tribunal


Federal, no julgamento da ADI n. 1407, inicialmente entendeu que:

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JURISPRUDÊNCIA
RESERVA CONSTITUCIONAL DE DISCIPLINAÇÃO ESTATUTÁRIA (CF, ART. 17, § 1º). –
O postulado constitucional da autonomia partidária criou, em favor dos Partidos
Políticos – sempre que se tratar da definição de sua estrutura, de sua organização
ou de seu interno funcionamento – uma área de reserva estatutária absolutamen-
te indevassável pela ação normativa do Poder Público. Há, portanto, um domínio
constitucionalmente delimitado, que pré-exclui – por efeito de expressa cláusula
constitucional (CF, art. 17, § 1º) – qualquer possibilidade de intervenção legislativa
em tudo o que disser respeito à intimidade estrutural, organizacional e operacional
dos Partidos Políticos.
(ADI-MC 1407, Rel. Min. Celso de Mello, DJ de 24.11.2000)

Entretanto, segundo Nelson Nery Jr. (2017, p. 370), há limites ao exercício do direito de
autonomia pelas agremiações partidárias. Inadmite-se cláusulas estatutárias que afrontem
normas constitucionais. Veja a referida lição doutrinária.

JURISPRUDÊNCIA
De nossa parte, asseveramos que nos partidos políticos, apesar de possuírem au-
tonomia para organizar sua estrutura interna (CF, art. 17, § 1º), a referida organi-
zação não poderá ser destoante em relação aos demais preceitos constitucionais.
Assim, os partidos não poderão se estruturar de maneira não democrática, ou
seja, além da atuação, a estruturação do partido político deverá ser democrática,
o que repercute em diversos pontos gerenciais do partido, merecendo destaque a
impossibilidade de expulsar membros ou filiados sem a observância do due pro-
cess of law, ou então praticar perseguição ideológica.
É mister destacar que, da mesma maneira que é importante garantir autonomia
partidária para os partidos se organizarem, também é imprescindível assegurar
que o funcionamento do partido nunca ponha em risco o correto funcionamento
do Estado Democrático de Direito. Até porque não faria sentido, sob o pretexto de
garantir autonomia partidária dos partidos políticos, que eles pudessem agir e se
organizar de maneira contrária aos preceitos elementares da Constituição Fede-
ral, inclusive os insculpidos na CF.
No mesmo sentido caminhou a jurisprudência do TSE. Ao julgar o RPP 1417-96,
DJE de 15.3.2016, o Ministro Henrique Neves da Silva consignou que “não há
como se conceber que em uma democracia os principais atores da representa-
ção popular não sejam, igualmente, democráticos. Este, inclusive, é o comando
expresso no art. 17 da Constituição da República que, ao assegurar a autonomia
partidária, determina expressamente que sejam ‘resguardados a soberania na-
cional, o regime democrático, o pluripartidarismo e os direitos fundamentais da
pessoa humana’”.

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Nessa compreensão, o Tribunal Superior Eleitoral decidiu que, mesmo na vigência da


nova redação do § 1º, do art. 17 da Constituição Federal, dada pela Emenda à Constituição
n. 97/2017, pelo qual ficou assegurado a possibilidade de os partidos estabelecerem regras
sobre escolha, formação e duração de seus órgãos permanentes e provisórios, esses prazos
de vigência não poderiam ser indefinidos, tendo em vista que essa interpretação levaria
a flagrante violação ao princípio democrático, expressamente invocado no caput do pró-
prio art. 17.
Em outras palavras, a interpretação do § 1º do art. 17 da Constituição Federal sub-
mete-se aos ditames do seu caput, de modo que a autonomia partidária encontra limites no
próprio artigo constitucional que a criou, sem prejuízo, ainda, de que outros princípios cons-
titucionais conformem a abrangência de sua incidência.
Forte nessa premissa, relembre o julgado do TSE que bem ilustra esse entendimento.

JURISPRUDÊNCIA
Na linha da jurisprudência deste Tribunal, pode-se concluir que a autonomia parti-
dária, insculpida no art. 17, § 1º, da CF, não é absoluta. Ao revés, encontra limites
nas balizas estabelecidas no caput do art. 17 da Carta Magna, especialmente no
que se refere à necessidade de se observar o princípio democrático na organiza-
ção interna dos Partidos Políticos.
(RPP 1417-96/DF, rel. designado Min. Tarcísio Vieira de Carvalho Neto, DJe de
15.3.2018)

No ponto, acrescento que esse entendimento gerou uma reação legislativa do Con-
gresso Nacional, que, pela Lei n. 13.831/2019, alterou o art. 3º da Lei dos Partidos Políticos,
cujo texto passou a ser o seguinte:

Art. 3º. É assegurada, ao partido político, autonomia para definir sua estrutura
interna, organização e funcionamento.
(...)
§ 2º É assegurada aos partidos políticos autonomia para definir o prazo de du-
ração dos mandatos dos membros dos seus órgãos partidários permanentes ou
provisórios.
§ 3º O prazo de vigência dos órgãos provisórios dos partidos políticos poderá ser
de até 8 (oito) anos.
§ 4º Exaurido o prazo de vigência de um órgão partidário, ficam vedados a extin-
ção automática do órgão e o cancelamento de sua inscrição no Cadastro Nacional
da Pessoa Jurídica (CNPJ).

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Contudo, essa alteração legislativa passou a sofrer forte resistência no TSE, por alon-
gar sobremaneira a vigência de órgãos que, em tese, não poderiam se perpetuar por um
longo período.
O STF também não era simpático ao texto da lei, o que culminou com o julgamento da
ADI 6.230, em que aquele Tribunal decidiu por manter no ordenamento jurídico o § 2º do art.
3º, introduzido pela Lei n. 13.831/2019, mas deu-lhe interpretação conforme à Constituição
para assentar que os partidos políticos podem, no exercício de sua autonomia constitucional,
estabelecer a duração dos mandatos de seus dirigentes desde que compatível com o prin-
cípio republicano da alternância do poder concretizado por meio da realização de eleições
periódicas em prazo razoável.
Melhor sorte não teve a nova redação do § 3º do art. 3º da Lei n. 9.096/1995, que foi
declarada inconstitucional pelo STF, no julgamento da referida ADI, expurgando, de vez, a
possibilidade de os partidos constituírem comissões provisórias com prazo de vigência de 8
(oito) anos.
Os efeitos da decisão foram modulados para valer a partir de janeiro de 2023, ficando
ainda previsto a necessidade de participação dos partidos políticos, em conjunto com o TSE,
mediante audiência ou consulta pública, no estabelecimento democrático e republicano de
prazo razoável de duração das comissões provisórias, bem como de adequação dos estatu-
tos vigentes à decisão proferida pelo STF.
Mais recentemente, o Congresso Nacional, por meio da Lei n. 14.211\2021, introduziu o
art. 23-A no Código Eleitoral, para reafirmar a impossibilidade de o TSE, por meio de norma
regulamentar, tratar da organização dos partidos políticos.
Ao tratar do tema, o Supremo Tribunal Federal fixou a ideia do exercício da autonomia
partidária limitada a preceitos constitucionais. Confira:

JURISPRUDÊNCIA
O princípio da igualdade material é prestigiado por ações afirmativas. No entanto,
utilizar, para qualquer outro fim, a diferença estabelecida com o objetivo de supe-
rar a discriminação ofende o mesmo princípio da igualdade, que veda tratamento
discriminatório fundado em circunstâncias que estão fora do controle das pessoas,
como a raça, o sexo, a cor da pele ou qualquer outra diferenciação arbitrariamente
considerada. Precedente do CEDAW. 3. A autonomia partidária não consagra re-
gra que exima o partido do respeito incondicional aos direitos fundamentais, pois
é precisamente na artificiosa segmentação entre o público e o privado que reside
a principal forma de discriminação das mulheres.
(ADI 5617, rel. Min. Edson Fachin, DJe de 3.10.2018)

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

Para finalizar, vale lembrar a polêmica decisão do TSE, que novamente põe em discus-
são o princípio da autonomia partidária. Ao responder à Consulta n. 0603816-39/DF, aquele
Tribunal decidiu que a previsão de reserva de vagas para a disputa de candidaturas propor-
cionais, inscrita no § 3º do artigo 10 da Lei n. 9.504/1997, deve ser observada para a compo-
sição das comissões executivas e diretórios nacionais, estaduais e municipais dos partidos
políticos, de suas comissões provisórias e demais órgãos equivalentes. (CTA n. 0603816-39/
DF, rel. Min. Rosa Weber, julgado em 19/5/2020).

Organização e Funcionamento

Em primeiro lugar, estudaremos o processo de formação de uma nova agremiação


partidária. Para facilitar a compreensão e apreensão do conteúdo, dividiremos o processo
de criação em três fases. Essas fases podem ser identificadas nos arts. 7º a 9º da Lei dos
Partidos Políticos.

• 1ª fase – registro do partido político no cartório

O partido político adquire personalidade jurídica com o registro de seus atos constituti-
vos no Cartório de Registro Civil e de Pessoas Jurídicas, do local de sua sede.

ATENÇÃO
O partido político deve ser registrado no Cartório de Registro Civil e de Pessoas Jurídicas,
do local de sua sede. Não pode ser registrado em um Cartório de Registro Civil de Pessoas
Jurídicas de outra localidade.

Esse pedido de registro, que é dirigido ao Cartório de Registro Civil e de Pessoas Jurí-
dicas, do local de sua sede, deve ser subscrito pelos fundadores da agremiação partidária.
Ressalte-se que, em razão do caráter nacional exigível dos partidos, há uma determina-
ção de que esse requerimento de registro deva ser subscrito por, pelo menos, 101 fundado-
res, com domicílio eleitoral em, no mínimo 1/3 dos Estados. Como exigência formal, o pedido
de registro deve ser acompanhado de:
1º – cópia autêntica da ata da reunião de fundação do partido;
2º – exemplares do Diário Oficial que publicou, no seu inteiro teor, o programa e
o estatuto;
3º – relação de todos os fundadores com o nome completo, naturalidade, número do
título eleitoral com a Zona, Seção, Município e Estado, profissão e endereço da residência.
Caso sejam atendidas essas exigências legais, o partido político terá o deferimento do
seu pedido de registro e adquirirá personalidade jurídica. Após a obtenção da personalidade
jurídica, o partido político deverá obter o apoiamento mínimo de eleitores.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

• 2ª fase – busca do apoiamento mínimo

O apoiamento mínimo é o instrumento utilizado para a comprovação do caráter nacio-


nal do partido político. Como já estudamos, todos os partidos políticos precisam ter caráter
nacional, e esse requisito é preenchido por meio do apoiamento mínimo.
O apoiamento mínimo pode ser conceituado como o apoio de eleitores não filiados a
partidos políticos, no período de dois anos, correspondente a, pelo menos, meio por cento
dos votos dados na última eleição geral para a Câmara dos Deputados, não computados os
votos em branco e os nulos, distribuídos por um terço dos Estados, com um mínimo de um
décimo por cento do eleitorado que haja votado em cada um deles.
Assim, a obtenção do apoiamento mínimo exige o preenchimento de três requisitos.
Passa-se a analisá-los.

1º – Obtenção de apoio de eleitores.

Mas de quantos eleitores?

É o apoio de eleitores não filiados a partidos políticos que correspondam a, pelo menos,
meio por cento dos votos dados na última eleição para a Câmara dos Deputados, alcan-
çados no período de dois anos. Deve-se considerar, assim, o número de votos dados na
anterior eleição para Deputado Federal. Do total de votos, calcula-se meio por cento. Para
esse cálculo do número mínimo de eleitores que deve apoiar a criação de um novo partido
político, deve desconsiderar os votos em branco e nulos, ou seja, considerar somente os
votos válidos.
2º – Esse apoiamento deve ser buscado em, no mínimo, um terço dos Estados. Isso
quer dizer que o partido político não pode buscar as assinaturas de eleitores em um único
Estado da Federação. Aliás, esse instituto quer exigir que os partidos políticos tenham cará-
ter nacional. Portanto, deve-se demonstrar o apoio para a criação de um partido político em
diversos entes federativos.
3º – Como requisito final para a comprovação do apoiamento mínimo, exige-se que, em
cada um dos Estados em que o partido buscou o apoio, deve-se obter assinatura de, pelo
menos, um décimo por cento do eleitorado que haja votado nesse ente federativo.
Caso o partido obtenha o apoiamento mínimo, atendendo as exigências contidas no art.
7º, § 1º, da Lei n. 9.096/95, deverá registrar seu estatuto no TSE.

• 3ª fase – registro do estatuto do partido no TSE

Após a aquisição da personalidade jurídica e da obtenção do apoiamento mínimo, o


partido político deve registrar seu estatuto no TSE. Esse registro do Estatuto no TSE não tem
como efeito jurídico a aquisição da personalidade jurídica.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

Na verdade, o partido político adquire personalidade jurídica com o registro de seus


atos constitutivos no Cartório de Registro Civil e de Pessoas Jurídicas da Capital Federal.
O registro do Estatuto da agremiação partidária no Tribunal Superior Eleitoral condi-
ciona o exercício de alguns direitos dos partidos políticos. Existem alguns direitos que só
podem ser titularizados por partidos políticos que tenham cumprido essa fase. Assim, depen-
dem de registro no TSE:
1º - participação no processo eleitoral, ou seja, só pode lançar candidatos nas eleições
os partidos políticos registrados no TSE;
2º - recebimento de recursos do Fundo Partidário;
3º - acesso gratuito ao rádio e televisão;
4º - exclusividade da denominação, sigla e símbolos, proibindo-se a utilização, por
outros partidos políticos, de variações que venham a induzir a erro ou confusão.
Para o registro no TSE, os dirigentes nacionais devem fazer um requerimento acom-
panhado de:
1º - exemplar autenticado do inteiro teor do programa e do estatuto partidários, inscritos
no Registro Civil;
2º - certidão do registro civil da pessoa jurídica. Esse documento tem a finalidade de
comprovar a existência jurídica do partido político;
3º - certidões dos cartórios eleitorais que comprovem ter o partido obtido o apoiamento
mínimo de eleitores. Essas certidões demonstram o caráter nacional da agremiação.

Federações Partidárias

Os partidos políticos, dada a sua autonomia partidária, poderão se unir com outras agre-
miações partidárias, de forma temporária, com a finalidade de disputar as eleições. Nesse
caso, define-se como estratégia para disputar as eleições a união com outros partidos políticos.
Nesse caso, tem-se a formação das coligações, uma espécie de pessoa jurídica pro
tempore, cuja existência jurídica está limitada à disputa eleitoral e depende, para o seu surgi-
mento, de decisão a ser tomada exclusivamente pelos próprios partidos políticos.
A partir da edição da Emenda à Constituição n. 97/2017, limitou-se a formação de coli-
gações apenas às eleições majoritária, ou seja, para as disputas para os cargos de presi-
dente, governador, prefeito e senador. Por consequência, por se tratar de cargos regidos pelo
sistema eleitoral proporcional, não se admite a formação de coligações para as eleições para
os cargos de deputado federal, deputado estadual, deputado distrital e vereador.
Além dessa forma de união de partidos políticos, a Lei n. 14.211/2021 permitiu a união
partidária por meio da constituição de federações. Com efeito, nos termos do art. 11 da Lei n.
9.096/95, dois ou mais partidos políticos poderão reunir-se em federação, a qual, após sua
constituição e respectivo registro perante o Tribunal Superior Eleitoral, atuará como se fosse
uma única agremiação partidária.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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Formada a federação partidária, aplicar-se-á a essa nova agremiação partidária, cuja


existência é determinada no tempo e corresponde, a pelo menos quatro anos, às normas
relativas ao funcionamento parlamentar e à fidelidade partidária.
Por sua vez, apesar de partidos políticos se unirem, por decisão dos seus respectivos
diretórios nacionais, ainda que registrados no Tribunal Superior Eleitoral, cada grei mantém
a sua identidade e autonomia.
Na criação e funcionamento das federações partidárias, deve-se observar, ainda, con-
forme se vê no art. 11-A, parágrafo terceiro da Lei n. 9.096/95, as seguintes prescrições:

I – a federação somente poderá ser integrada por partidos com registro definitivo
no Tribunal Superior Eleitoral. Em outras palavras, partidos políticos em formação,
ainda que tenham personalidade jurídica decorrente do registro no cartório de re-
gistro civil de pessoas jurídicas, não poderão participar de federações;
II – os partidos reunidos em federação deverão permanecer a ela filiados por, no
mínimo, 4 (quatro) anos. Aliás, o descumprimento dessa permanência mínima de
quatro anos em uma federação tem como consequência a perda do direito de in-
gressar em nova federação e de celebrar coligações nas duas eleições seguintes
e, até que se complete o prazo mínimo de existência da federação, a impossibili-
dade de participar da distribuição dos recursos do fundo partidário;
III – a federação poderá ser constituída até seis meses antes da data das eleições;
IV – a federação terá abrangência nacional e seu registro será encaminhado ao
Tribunal Superior Eleitoral.

Além disso, é importante reproduzir os seguintes dispositivos sobre a matéria constan-


tes da Lei n. 9.096/95:

Art. 11-A
§ 6º O pedido de registro de federação de partidos encaminhado ao Tribunal Su-
perior Eleitoral será acompanhado dos seguintes documentos: (Incluído pela Lei
n. 14.208, de 2021)
I – cópia da resolução tomada pela maioria absoluta dos votos dos órgãos de
deliberação nacional de cada um dos partidos integrantes da federação; (Incluído
pela Lei n. 14.208, de 2021)
II – cópia do programa e do estatuto comuns da federação constituída; (Incluído
pela Lei n. 14.208, de 2021)
III – ata de eleição do órgão de direção nacional da federação. (Incluído pela Lei
n. 14.208, de 2021

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§ 7º O estatuto de que trata o inciso II do § 6º deste artigo definirá as regras para


a composição da lista da federação para as eleições proporcionais. (Incluído pela
Lei n. 14.208, de 2021)
§ 8º Aplicam-se à federação de partidos todas as normas que regem as atividades
dos partidos políticos no que diz respeito às eleições, inclusive no que se refere
à escolha e registro de candidatos para as eleições majoritárias e proporcionais,
à arrecadação e aplicação de recursos em campanhas eleitorais, à propaganda
eleitoral, à contagem de votos, à obtenção de cadeiras, à prestação de contas e à
convocação de suplentes. (Incluído pela Lei n. 14.208, de 2021)
§ 9º Perderá o mandato o detentor de cargo eletivo que se desfiliar, sem justa cau-
sa, de partido que integra federação. (Incluído pela Lei n. 14.208, de 2021)

Do Funcionamento Parlamentar

Os partidos políticos precisam se organizar para o desempenho de suas funções. Aliás,


sabe-se que os partidos possuem uma ideologia, um programa e um projeto. A forma institu-
ída para que o partido político possa influenciar na formação da vontade política do Estado
e na confecção das leis é por meio do instituto do funcionamento parlamentar. Esse instituto
permite que o partido funcione nas Casas Legislativas, formando uma bancada. Esta é a pre-
visão da Lei n. 9.096/95 sobre o funcionamento parlamentar:

Art. 12. O partido político funciona, nas Casas Legislativas, por intermédio de uma
bancada, que deve constituir suas lideranças de acordo com o estatuto do partido,
as disposições regimentais das respectivas Casas e as normas desta Lei.

No que se refere ao direito dos partidos políticos de constituir bancadas, indicar lide-
ranças, no exercício do direito ao funcionamento parlamentar, o art. 17 da Constituição
prescreve que:

Art. 17. É livre a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos,


resguardados a soberania nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo, os
direitos fundamentais da pessoa humana e observados os seguintes preceitos:
IV – funcionamento parlamentar de acordo com a lei.

A partir dessa previsão constitucional, vê-se que o direito ao funcionamento parlamen-


tar está consagrado em uma norma de eficácia limitada. Isso quer dizer que só tem direito ao
funcionamento parlamentar os partidos que atenderem aos requisitos previstos em lei.

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Esse requisito para o exercício do direito ao funcionamento parlamentar é chamado de


“cláusula de barreira” ou de “cláusula de desempenho”. Essa cláusula, que também condi-
ciona o exercício de outros direitos partidários, foi inicialmente prevista no art. 13 da Lei n.
9.096/95, com o seguinte teor:

Art. 13. Tem direito a funcionamento parlamentar, em todas as Casas Legislativas


para as quais tenha elegido representante, o partido que, em cada eleição para a
Câmara dos Deputados obtenha o apoio de, no mínimo, cinco por cento dos votos
apurados, não computados os brancos e os nulos, distribuídos em, pelo menos,
um terço dos Estados, com um mínimo de dois por cento do total de cada um de-
les. (Vide Adins n.s 1.351-3 e 1.354-8)

Todavia, inicialmente, a Lei n. 9.096/95 optou por instituir uma cláusula transitória, con-
tida nos seus arts. 56 e 57, que deveria valer até o art. 13 (cláusula de barreira definitiva)
começar a produzir efeitos.
Pois bem, em conformidade com o disposto nas cláusulas transitórias, essas produzi-
ram seus efeitos até o ano de 2006.
A partir de 2007, o art. 13 deveria, então, a começar a produzir seus efeitos. Essa pres-
crição legal trazia disciplina mais severa para a atribuição do direito ao funcionamento par-
lamentar e isso mitigaria o exercício desse direito, bem como dos direitos ao funcionamento
parlamentar, ao acesso gratuito ao rádio e televisão e ao recebimento do fundo partidário
da maioria dos partidos registrados no TSE. À época, dos 27 partidos registrados, apenas 7
continuariam a exercer de forma plena tais direitos.
Nesse contexto, o art. 13 da Lei n. 9.096/95 foi declarado inconstitucional pelo Supremo
Tribunal Federal por violar o pluripartidarismo e a proporcionalidade/razoabilidade. Veja o jul-
gado do STF que reconheceu a incompatibilidade desse dispositivo com a Constituição Federal.

JURISPRUDÊNCIA
PARTIDO POLÍTICO - FUNCIONAMENTO PARLAMENTAR - PROPAGANDA
PARTIDÁRIA GRATUITA - FUNDO PARTIDÁRIO. Surge conflitante com a Consti-
tuição Federal lei que, em face da gradação de votos obtidos por partido político,
afasta o funcionamento parlamentar e reduz, substancialmente, o tempo de pro-
paganda partidária gratuita e a participação no rateio do Fundo Partidário. (ADI n.
1.351, DJ de 30.3.2007)

Atente-se para o fato de que o STF não declarou a inconstitucionalidade da cláusula de


barreira. A cláusula de barreira é uma exigência constitucional. O STF declarou a inconstitu-
cionalidade apenas da cláusula instituída pelo art. 13 da Lei n. 9.096/95. Ainda existe uma
cláusula de barreira em vigor que condiciona o exercício de alguns direitos partidários, dentre
eles, o direito ao funcionamento parlamentar.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

E qual dispositivo legal a regulamenta?

Atualmente, a cláusula de barreira, condicionante para o exercício dos direitos de


acesso gratuito ao rádio e à televisão e de participação da distribuição dos recursos do
fundo partidário está estabelecida no art. 17, parágrafo terceiro da Constituição Federal, da
seguinte forma:

Art. 17. Omissis.


§ 3º Somente terão direito a recursos do fundo partidário e acesso gratuito ao
rádio e à televisão, na forma da lei, os partidos políticos que alternativamente:
(Redação dada pela Emenda Constitucional n. 97, de 2017)
I – obtiverem, nas eleições para a Câmara dos Deputados, no mínimo, 3% (três
por cento) dos votos válidos, distribuídos em pelo menos um terço das unidades
da Federação, com um mínimo de 2% (dois por cento) dos votos válidos em cada
uma delas; ou (Incluído pela Emenda Constitucional n. 97, de 2017)
II – tiverem elegido pelo menos quinze Deputados Federais distribuídos em pelo
menos um terço das unidades da Federação. (Incluído pela Emenda Constitucio-
nal n. 97, de 2017)

Do Programa e do Estatuto

Todo partido político possui dois documentos: o estatuto e o programa. Ambos são
indispensáveis, tendo cada qual uma finalidade própria. Temos que diferenciá-los e descobrir
os requisitos inerentes a cada um deles.
Estatuto partidário é o documento que cuida da organização, funcionamento e estru-
tura interna. Possui claramente um caráter organizatório. Por sua vez, o programa partidário
contém a ideologia e os objetivos políticos de um partido político. Por isso, esse documento
é chamado de programático.
O art. 15 da Lei n. 9.096/95 dispõe que o estatuto de um partido político deverá conter,
no mínimo, as seguintes disposições:

• nome, denominação abreviada e o estabelecimento da sede no território nacional —


não esqueçam que o partido só possui direito à exclusividade do nome e da sigla após
o registro do seu estatuto no TSE;
• filiação e desligamento de seus membros;
• direitos e deveres dos filiados;
• modo como se organiza e administra, com a definição de sua estrutura geral e identifica-
ção, composição e competências dos órgãos partidários nos níveis municipal, estadual
e nacional, duração dos mandatos e processo de eleição dos seus membros — temos
que lembrar que o partido político tem autonomia para disciplinar a sua organização e

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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funcionamento. Essa autonomia é exercida por meio do estabelecimento das regras


organizatórios e sobre administração no estatuto partidário;
• fidelidade e disciplina partidárias, processo para apuração das infrações e aplicação
das penalidades, assegurado amplo direito de defesa;
• condições e forma de escolha de seus candidatos a cargos e funções eletivas — essas
normas interferem em uma das condições de elegibilidade, a escolha em convenção
partidária;
• finanças e contabilidade, estabelecendo, inclusive, normas que os habilitem a apurar as
quantias que os seus candidatos possam despender com a própria eleição, que fixem
os limites das contribuições dos filiados e definam as diversas fontes de receita do par-
tido, além daquelas previstas nesta Lei;
• critérios de distribuição dos recursos do Fundo Partidário entre os órgãos de nível muni-
cipal, estadual e nacional que compõem o partido;
• procedimento de reforma do programa e do estatuto;
• prevenção, repressão e combate à violência política contra a mulher.

Embora não haja uma relação direta com o capítulo que trata do programa e do estatuto
partidário, o legislador, de forma um tanto atabalhoada, decidiu nele inserir o art. 15-A, que
trata da responsabilidade dos órgãos partidários, inclusive civil e trabalhista.
Por meio desse dispositivo, só poderá ser responsabilizado por um ilícito civil, traba-
lhista ou eleitoral, o órgão partidário que tiver cometido o ato punível. Veja o teor da referida
disposição:

Art. 15-A. A responsabilidade, inclusive civil e trabalhista, cabe exclusivamente ao


órgão partidário municipal, estadual ou nacional que tiver dado causa ao não cum-
primento da obrigação, à violação de direito, a dano a outrem ou a qualquer ato
ilícito, excluída a solidariedade de outros órgãos de direção partidária. (Redação
dada pela Lei n. 12.034, de 2009)

Fica então registrado o teor do novel artigo e a crítica ao seu posicionamento no


corpo da Lei.

Filiação Partidária

Esse assunto tem uma dupla feição: trata-se do vínculo jurídico existente entre um par-
tido político e um cidadão, sendo um dos requisitos para que se possa concorrer a cargos ele-
tivos. A regulamentação da filiação partidária está contida nos arts. 16 a 22 da Lei n. 9.096/95.
A filiação partidária é um vínculo jurídico existente entre uma agremiação partidária e
um cidadão. Aliás, esse vínculo é indispensável àqueles que queiram concorrer a cargos
públicos eletivos.

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De acordo com o art. 16 da Lei n. 9.096/95, só pode filiar-se a partidos políticos o cida-
dão que estiver no pleno gozo de seus direitos políticos. Assim, aquele que incidir em uma
das hipóteses de perda ou de suspensão dos direitos políticos não poderá filiar-se a um par-
tido político.
Precisamos que você preste atenção em alguns detalhes importantes sobre a filiação
partidária:

• a pessoa não pode filiar-se a partido político, mas somente o cidadão. Não se esqueça:
cidadão é o alistado perante a Justiça Eleitoral;
• aquele que incidir em qualquer uma das hipóteses de perda ou suspensão dos direitos
políticos não pode filiar-se a partidos políticos, já que, nessas circunstâncias, não estará
no pleno gozo de seus direitos políticos;
• o inelegível pode filiar-se a partidos políticos. O único tipo de direito que o inelegível não
pode exercer é o direito político passivo, ou seja, não pode ser eleito. Os demais direitos
do inelegível não sofrem restrições.

Pelo exposto, o cidadão que estiver no pleno gozo de seus direitos políticos poderá
requerer a qualquer partido político sua filiação partidária. Esse pedido será considerado
deferido, para todos os efeitos, desde que o cidadão atenda as regras estatutárias do partido.
Entretanto, para o exercício do direito político de concorrer a cargos eletivos, não basta
a filiação partidária, exige-se também um período mínimo de vinculação com o partido polí-
tico para que o cidadão esteja apto a concorrer a um cargo eletivo. Essa é a exigência feita
pelo art. 9º da Lei n. 9.504/97, da seguinte forma:

Art. 9º Para concorrer às eleições, o candidato deverá possuir domicílio eleitoral


na respectiva circunscrição pelo prazo de seis meses e estar com a filiação defe-
rida pelo partido no mesmo prazo.

A Constituição, em seu art. 14, § 3º, inc. V, diz que para concorrer a cargos eletivos
é exigível a filiação partidária, mas não exige um prazo mínimo de vinculação. Essa
previsão do art. 9º da Lei n. 9.504/97, que prevê a necessidade de, no mínimo, seis
meses de filiação partidária para concorrer a cargos eletivos, é constitucional?

O art. 14, § 3º, da CF é uma norma de eficácia contida e o legislador, desse modo, pode
dispor sobre outros requisitos para o exercício do direito à elegibilidade. Essa disposição que
exige um prazo mínimo de filiação partidária é constitucional. Isso porque exige dos pleite-
antes a cargos eletivos uma identificação ideológica e programática do filiado com o partido
pelo qual quer disputar as eleições.
Esse prazo de filiação partidária pode ser alterado por meio de uma previsão feita no
estatuto do partido político. Mas essas alterações devem respeitar as seguintes limitações:

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

1º - o prazo somente poderá ser aumentado, nunca diminuído;


2º - o prazo não poderá ser aumentado em ano eleitoral;
3º - o prazo deverá estar previsto no estatuto do partido político.

As filiações partidárias são anotadas no cadastro eleitoral. Essa anotação viabiliza a


verificação do cumprimento dos prazos de filiação partidária para fins de exercício do direito
à elegibilidade. Para tanto, deferido internamente o pedido de filiação, o partido político, por
seus órgãos de direção municipais, regionais ou nacional, deverá inserir os dados do filiado
no sistema eletrônico da Justiça Eleitoral, que automaticamente enviará aos juízes eleitorais,
para arquivamento, publicação e cumprimento dos prazos de filiação partidária para efeito de
candidatura a cargos eletivos, a relação dos nomes de todos os seus filiados, da qual cons-
tará a data de filiação, o número dos títulos eleitorais e das seções em que estão inscritos.
Naquela hipótese em que um filiado a uma agremiação tem o deferimento de sua filia-
ção a outra, a Justiça Eleitoral deverá intimar pessoalmente a agremiação partidária e dar-lhe
ciência da saída do seu filiado, a partir do que passarão a ser contados os prazos para ajui-
zamento das ações cabíveis.
Caso o partido político não encaminhe a lista de filiados, a relação anteriormente reme-
tida será considerada inalterada. Nesse caso, os prejudicados, em caso de desídia ou de
má-fé, poderão requerer à Justiça Eleitoral que determine ao partido a observância da exi-
gência de remessa da lista no prazo legal.
A Lei n. 12.034/2009, alterando a Lei n. 9.096/95, conferiu aos partidos políticos acesso
aos dados constantes do cadastro eleitoral de seus filiados. Essa é a disposição referida:

Art. 19. Omissis


§ 3º Os órgãos de direção nacional dos partidos políticos terão pleno acesso às
informações de seus filiados constantes do cadastro eleitoral. (Incluído pela Lei n.
12.034, de 2009)

Para tanto, deve a Justiça Eleitoral disponibilizar eletronicamente aos órgãos nacional
e estaduais dos partidos políticos, conforme sua circunscrição eleitoral, acesso a todas as
informações de seus filiados constantes do cadastro eleitoral, incluídas as relacionadas a
seu nome completo, sexo, número do título de eleitor e de inscrição no Cadastro de Pessoa
Física (CPF), endereço, telefones, entre outras.
Finalizando esse assunto — Filiação Partidária — avalia-se as formas de extinção da
filiação partidária.
Inicialmente, aquele que quer se desfiliar do partido ao qual é vinculado deverá comuni-
car, de forma escrita, ao Juiz Eleitoral da Zona em que for inscrito. Caso o filiado de um par-
tido político filie-se a uma nova agremiação e não faça a devida comunicação, prevalecerá a
inscrição mais recente, devendo a Justiça Eleitoral determinar o cancelamento das demais.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

Além de a filiação partidária poder ser extinta por meio de ato voluntário, existem outras
hipóteses de cancelamento da filiação partidária.

• Morte.
• Perda dos direitos políticos. Na sua prova, não esqueça: a suspensão dos direitos polí-
ticos não acarreta o cancelamento da filiação partidária.
• Expulsão do partido político.
• Outras formas previstas no estatuto, com comunicação obrigatória ao atingido no prazo
de 48 horas.

Fidelidade e Disciplina Partidária

Inicialmente, precisamos fazer uma distinção entre fidelidade e disciplina partidária.


A fidelidade partidária está relacionada ao dever que um filiado eleito por uma agremia-
ção partidária de não trocar de partido político após a eleição. Trata-se de um dever relacio-
nado à moralidade e de respeito ao eleitor e ao partido que viabilizou a candidatura.
Por sua vez, a disciplina partidária liga-se à obrigação do filiado de obedecer e de res-
peitar os deveres estabelecidos no estatuto da agremiação partidária. Nesse caso, a respon-
sabilidade por violação dos deveres partidários deve ser apurada e punida pelo competente
órgão, na conformidade do que disponha o estatuto de cada partido (art. 23, Lei n. 9.096/95).
No entanto, filiado algum pode sofrer medida disciplinar ou punição por conduta que
não esteja tipificada no estatuto do partido político. E, ao acusado é assegurado amplo direito
de defesa.
Como dever relacionado à disciplina partidária, na Casa Legislativa, o integrante da
bancada de partido deve subordinar sua ação parlamentar aos princípios doutrinários e pro-
gramáticos e às diretrizes estabelecidas pelos órgãos de direção partidários, na forma do
estatuto (art. 24, Lei n. 9.096/95).
Quanto à fidelidade partidária, pode-se encontrá-la prevista no art. 17, § 1º, da CF, nos
seguintes termos:

Art. 17. Omissis


§ 1º É assegurada aos partidos políticos autonomia para definir sua estrutura inter-
na e estabelecer regras sobre escolha, formação e duração de seus órgãos per-
manentes e provisórios e sobre sua organização e funcionamento e para adotar
os critérios de escolha e o regime de suas coligações nas eleições majoritárias,
vedada a sua celebração nas eleições proporcionais, sem obrigatoriedade de vin-
culação entre as candidaturas em âmbito nacional, estadual, distrital ou municipal,
devendo seus estatutos estabelecer normas de disciplina e fidelidade partidária.
(Redação dada pela Emenda Constitucional n. 97, de 2017)

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

Com base nessa previsão constitucional, o Democratas fez uma consulta ao Tribunal
Superior Eleitoral (Consulta n. 1.398) e formulou o seguinte questionamento:

Os partidos e coligações têm o direito de preservar a vaga obtida pelo sistema


eleitoral proporcional, quando houver pedido de cancelamento de filiação ou de
transferência do candidato eleito por um partido para outra legenda?

O Tribunal Superior Eleitoral respondeu positivamente a consulta, por intermédio da


Res.-TSE n. 22.526/2007, estabelecendo que o mandato adquirido por meio do sistema pro-
porcional pertence à legenda partidária e não ao eleito.
Posteriormente, ao responder à Consulta n. 1.407, rel. Min. Carlos Britto, esse entendi-
mento foi estendido aos cargos majoritários (Res.-TSE n. 22.600/2007).
Contudo, ainda segundo o entendimento do Supremo Tribunal Federal, a fidelidade
partidária, enquanto dever de lealda existente entre o partido político e o eleito para cargo
eletivo, somente é aplicável aos eleitos para cargos proporcionais.
Ou seja, os eleitos para cargos majoritários podem desfiliar-se do partido político pelo
qual foram eleitorais, sem que se possa falar em violação do princípio da fidelidade parti-
dária ou perda do mandato eletivo. A esse respeito, veja a seguinte decisão proferida pelo
Supremo Tribunal Federal:

JURISPRUDÊNCIA
DIREITO CONSTITUCIONAL E ELEITORAL. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITU-
CIONALIDADE. RESOLUÇÃO N. 22.610/2007 DO TSE. INAPLICABILIDADE DA
REGRA DE PERDA DO MANDATO POR INFIDELIDADE PARTIDÁRIA AO SIS-
TEMA ELEITORAL MAJORITÁRIO.
1. Cabimento da ação. Nas ADIs 3.999/DF e 4.086/DF, discutiu-se o alcance do
poder regulamentar da Justiça Eleitoral e sua competência para dispor acerca da
perda de mandatos eletivos. O ponto central discutido na presente ação é total-
mente diverso: saber se é legítima a extensão da regra da fidelidade partidária aos
candidatos eleitos pelo sistema majoritário.
2. As decisões nos Mandados de Segurança 26.602, 26.603 e 26.604 tiveram
como pano de fundo o sistema proporcional, que é adotado para a eleição de de-
putados federais, estaduais e vereadores. As características do sistema proporcio-
nal, com sua ênfase nos votos obtidos pelos partidos, tornam a fidelidade partidá-
ria importante para garantir que as opções políticas feitas pelo eleitor no momento
da eleição sejam minimamente preservadas. Daí a legitimidade de se decretar a
perda do mandato do candidato que abandona a legenda pela qual se elegeu.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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3. O sistema majoritário, adotado para a eleição de presidente, governador, pre-


feito e senador, tem lógica e dinâmica diversas da do sistema proporcional. As ca-
racterísticas do sistema majoritário, com sua ênfase na figura do candidato, fazem
com que a perda do mandato, no caso de mudança de partido, frustre a vontade
do eleitor e vulnere a soberania popular (CF, art. 1º, parágrafo único; e art. 14,
caput). 4. Procedência do pedido formulado em ação direta de inconstitucionalida-
de. (ADI 5081, STF)

No mesmo sentido, o TSE editou a súmula n. 67, com o seguinte teor:

JURISPRUDÊNCIA
Súmula 67 - A perda do mandato em razão da desfiliação partidária não se aplica
aos candidatos eleitos pelo sistema majoritário.

Conforme afirmamos, o Tribunal Superior Eleitoral editou a Res.-TSE n. 22.610/2007,


que prevê o rito processual da ação por perda de mandato parlamentar por infidelidade par-
tidária, e na qual ficaram, entre outras disposições, consignadas as hipóteses permissivas
de desfiliação partidária do parlamentar, também conhecidas como hipóteses de justa causa.
Esse texto regulamentar foi objeto de ações de inconstitucionalidade no Supremo Tribu-
nal Federal, que, no entanto, rejeitou todas elas.
A propósito, na ocasião do julgamento dos MS 26.602, 26.603 e 26.604, que reconhe-
ceram a existência do dever constitucional de observância do princípio da fidelidade partidá-
ria, o Supremo Tribunal Federal afirmou que não faria sentido a Corte reconhecer a existên-
cia de um direito constitucional sem prever um instrumento para assegurá-lo.
Asseverou, ainda, que as resoluções impugnadas — 22.610/2007 e 22.733/2008 —
surgiram em um contexto excepcional e transitório, tão somente como mecanismos para
salvaguardar a observância da fidelidade partidária enquanto o Poder Legislativo, órgão legi-
timado para resolver as tensões típicas da matéria, não se pronunciasse.
Como afirmado pelo Supremo Tribunal Federal, a edição da citada resolução veio para
suprir uma lacuna normativa que se abriu logo após os tribunais superiores conferirem nova
interpretação ao princípio da fidelidade partidária e admitir que o trânsfuga (parlamentar que
se desfiliou do partido sem apresentar justa causa) perdesse seu mandato para o partido no
caso de desfiliação sem justa causa.
As hipóteses de justa causa constantes da citada resolução vigoraram até a edição da
Lei n. 13.165/2015, que trouxe o novo rol de situações permissivas de troca de partido por
justa causa, as quais estão elencadas no art. 22-A, parágrafo único, da Lei n. 9.096/1995,
quais sejam:

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Art. 22-A. Perderá o mandato o detentor de cargo eletivo que se desfiliar, sem
justa causa, do partido pelo qual foi eleito.
Parágrafo único. Consideram-se justa causa para a desfiliação partidária somen-
te as seguintes hipóteses:
I – mudança substancial ou desvio reiterado do programa partidário;
II – grave discriminação política pessoal; e
III – mudança de partido efetuada durante o período de trinta dias que antecede o
prazo de filiação exigido em lei para concorrer à eleição, majoritária ou proporcio-
nal, ao término do mandato vigente.

No que se refere às hipóteses propriamente ditas, temos que a primeira delas, con-
substanciada na mudança substancial ou desvio reiterado do programa partidário, exige uma
alteração da diretriz nacional da agremiação ou da adoção de uma postura contrária a histo-
ricamente adotada por ela.
Quanto à hipótese de justa causa alusiva à grave discriminação pessoal, o Tribunal
Superior Eleitoral exige para sua ocorrência a demonstração de fatos certos e determina-
dos que tenham o condão de afastar o mandatário do convívio da agremiação ou revelem
situações claras de desprestígio ou perseguição (RESPE n. 0600462-25/PR, rel. Min. Edson
Fachin, DJe de 28/5/2020).
Desse modo, meras desavenças políticas entre órgãos partidários ou entre seus filia-
dos são inábeis à configuração de grave discriminação política pessoal. Tampouco se afigura
motivo suficiente para legitimar a desfiliação a insatisfação do trânsfuga em relação à opção
da agremiação em não o lançar como candidato no pleito, visto que essas circunstâncias não
desbordam os acontecimentos afetos à vida política partidária.
A última das hipóteses legais refere-se à mudança de partido político do parlamentar
efetuada durante o período de trinta dias que antecede o prazo de filiação exigido em lei para
concorrer à eleição, majoritária ou proporcional, ao término do mandato vigente.
O prazo de filiação, como sabemos, é de seis meses antes do pleito. Assim, nos trinta
dias anteriores a esse prazo, abre-se para os mandatários de cargo eletivo que desejem
concorrer a cargo majoritário ou proporcional a possibilidade de mudança de partido, sem
justa causa.
Observe, todavia, que essa regra se aplica apenas aos que estejam no último ano do
mandato, de modo que não estão abarcados por essa hipótese um vereador em exercício
que queira concorrer ao cargo de deputado estadual, porquanto no ano da eleição estadual,
o vereador ainda estará no seu segundo ano do mandato, e não no último, como exige a lei.
A reforma eleitoral de 2017 previu uma nova hipótese fática autorizativa para a troca de
partido político sem perda do mandato.

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Trata-se da modificação produzida pela Emenda à Constituição n. 97/2017, pela qual


os candidatos eleitos por partidos políticos que não alcançarem a cláusula de barreira para o
exercício do direito de acesso gratuita ao rádio e à televisão e para participar da distribuição
do fundo partidário poderão trocar de agremiação partidária sem perderem o mandato.

A esse respeito, veja a redação do art. 17, § 5º da Constituição Federal:

Art. 17. É livre a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos,


resguardados a soberania nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo, os
direitos fundamentais da pessoa humana e observados os seguintes preceitos:
[...]
§ 5º Ao eleito por partido que não preencher os requisitos previstos no § 3º deste
artigo [cláusula de barreira] é assegurada a filiação, sem perda do mandato, a
outro partido que os tenha atingido, não sendo essa filiação considerada para fins
de distribuição dos recursos do fundo partidário e de acesso gratuito ao tempo de
rádio e de televisão. (Incluído pela Emenda Constitucional n. 97, de 2017)

Nesse caso, destaca-se que essa mudança de partido do parlamentar não implica o
recálculo para fins de distribuição dos recursos do fundo partidário e de acesso gratuito ao
tempo de rádio e de televisão, ou seja, o partido que receber o parlamentar não terá, sob
esses aspectos, benefício algum.
Evidentemente que nos casos de expulsão do parlamentar do partido, não se abre a
possibilidade de ser ajuizada uma ação de perda de mandato contra sua pessoa, porquanto
a decisão de se filiar a outro partido não decorreu de sua vontade.

Confira decisão do Tribunal Superior Eleitoral:

JURISPRUDÊNCIA
A infidelidade partidária fica descaracterizada quando o desligamento de filiado
decorre de decisão de expulsão proferida pela agremiação política à qual estava
vinculado, sendo incabível, inclusive, a ação de perda de cargo eletivo.
(AI n. 0600545-41/PR, rel. Min. Edson Fachin, DJe de 5.3.2020)

Para finalizar este tópico, vale ressaltar as recentes alterações no texto constitucional e
na jurisprudência do TSE sobre a matéria.
A EC. n. 111 incluiu no texto constitucional o art. 17, § 6º, criando uma nova hipótese de
justa causa: a carta de anuência do partido.
A carta de anuência é simplesmente uma autorização do partido para o parlamentar se
desfiliar dos seus quadros sem ficar sujeito a uma ação por perda de mandato eletivo.

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Confira o novo texto constitucional:

Art. 17, § 6º - Os Deputados Federais, os Deputados Estaduais, os Deputados


Distritais e os Vereadores que se desligarem do partido pelo qual tenham sido
eleitos perderão o mandato, salvo nos casos de anuência do partido ou de outras
hipóteses de justa causa estabelecidas em lei, não computada, em qualquer caso,
a migração de partido para fins de distribuição de recursos do fundo partidário ou
de outros fundos públicos e de acesso gratuito ao rádio e à televisão. (NR)

Legitimidade para a propositura da ação por infidelidade partidária

A legitimidade para propor a ação de perda de mandato eletivo por infidelidade partidá-
ria foi conferida ao partido de origem do requerido, o qual deverá formular o pedido no prazo
decadencial de 30 dias a partir da desfiliação.
Caso o partido, no prazo decadencial, não proponha a ação de decretação de perda
do mandato eletivo por infidelidade, surge, de forma subsidiária, a legitimidade do Ministério
Público ou do suplente para a propositura da demanda nos 30 dias subsequentes. Esse é o
teor do art. 1º da Res.-TSE n. 22.610/2007:

Art. 1º O partido político interessado pode pedir, perante a Justiça Eleitoral, a de-
cretação da perda de cargo eletivo em decorrência de desfiliação partidária sem
justa causa.
§ 2º - Quando o partido político não formular o pedido dentro de 30 (trinta) dias da
desfiliação, pode fazê-lo, em nome próprio, nos 30 (trinta) subsequentes, quem
tenha interesse jurídico ou o Ministério Público eleitoral.

Competência para julgar as ações por infidelidade partidária

A competência para processar e julgar as ações de decretação de perda de mandato


por infidelidade partidária está prevista no art. 2º da Res.-TSE n. 22.610/2006:

Art. 2º O Tribunal Superior Eleitoral é competente para processar e julgar pedido


relativo a mandato federal; nos demais casos, é competente o tribunal eleitoral do
respectivo estado.

Desse modo, veja a seguinte representação da referida competência:


– presidente e vice-presidente, senador e deputado – Tribunal Superior Eleitoral;
– governador, vice-governador, deputado estadual, deputado distrital, prefeito e vice-
-prefeito e vereador – Tribunal Regional Eleitoral.

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Da Fusão, Incorporação e Extinção dos Partidos Políticos

Existem duas formas de extinção de um partido político: uma decorrente de fatos lícitos
e outra decorrente da prática de fatos ilícitos pela agremiação partidária.
Licitamente, o partido poderá ser extinto por meio da dissolução, incorporação ou fusão.
Nessas hipóteses, independentemente, de intervenção ou aquiescência da Justiça Eleitoral,
o partido terá o cancelamento de seu registro junto ao Cartório de Registro Civil e de Pessoas
Jurídicas.

Para ficar mais fácil, vamos entender essas operações partidárias.

• Dissolução – extinção do partido político por decisão de seus integrantes, de acordo


com as regras estabelecidas no estatuto partidário. Essa operação é livre.
• Fusão – união de dois ou mais partidos políticos e com o surgimento de uma nova agre-
miação partidária. Nessa hipótese, os partidos originários têm a extinção de sua perso-
nalidade jurídica por meio do cancelamento de registro no Cartório de Registro Civil e
de Pessoas Jurídicas. Representando didaticamente temos:

Partido A + Partido B + Partido C = Partido X

• Incorporação – união de dois ou mais partidos políticos. Nessa operação, os partidos


incorporados perdem a sua personalidade jurídica e o partido incorporador a mantém.
Essa é a representação didática da incorporação:

Partido a + Partido b + Partido C = Partido C

Em quaisquer dessas hipóteses, aplica-se o princípio da liberdade de organização par-


tidária, estudado no tópico anterior, que tem o seguinte teor: é livre a criação, fusão, incorpo-
ração e extinção dos partidos políticos.
Por sua vez, existem alguns fatos ilícitos que, se forem praticados pelos partidos polí-
ticos, acarretarão o cancelamento do registro do partido político. Essa causa de extinção de
agremiações partidária depende, necessariamente, de decisão transitada em julgado do Tri-
bunal Superior Eleitoral.
São hipóteses que acarretam o cancelamento do registro partidário junto ao Cartório de
Registro Civil e de Pessoas Jurídicas:
1º. ter recebido ou estar recebendo recursos financeiros de procedência estran-
geira – nesse caso, temos a violação ao princípio da soberania nacional, inscrito no art. 17
da Constituição Federal;
2º. estar subordinado a entidade ou governo estrangeiros – mais um caso de viola-
ção da exigência de respeito à soberania nacional;

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3º. não ter prestado, nos termos desta Lei, as devidas contas à Justiça Eleitoral
– obrigação inerente a todo partido político de prestar contas à Justiça Eleitoral em razão do
recebimento de recursos públicos oriundos do Fundo Partidário;
4º. que mantém organização paramilitar – violação do princípio do regime democrá-
tico, também previsto no art. 17 da Constituição Federal.

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9. SISTEMAS ELEITORAIS

O sistema eleitoral é um conjunto de disposições que tem a finalidade de organizar a


representação do eleitorado e os procedimentos de realização das eleições.
Compreende-se por sistema a estrutura complexa e dinamicamente ordenada. Nesse
prisma, sistema eleitoral é o complexo de procedimentos empregados na realização das elei-
ções, ensejando a representação do povo no poder estatal.

[...] Tem por função a organização das eleições e a conversão dos votos em man-
datos políticos. Em outros termos, visa proporcionar a captação eficiente, segura
e imparcial da vontade popular democraticamente manifestada, de sorte que os
mandatos eletivos sejam conferidos e exercidos com legitimidade. É também sua
função estabelecer meios para que os diversos grupos sociais sejam representa-
dos, bem como para que as relações entre representantes e representados se for-
taleçam. A realização desses objetivos dependem da implantação de um sistema
eleitoral confiável, dotado de técnicas seguras e eficazes, cujos resultados sejam
transparentes e inteligíveis. (GOMES, 2012, p.109)

Segundo a Constituição Federal, no Brasil, adota‑se dois tipos de sistemas eleitorais: o


majoritário e o proporcional.

Espécies de Sistemas Eleitorais

Temos duas espécies básicas de sistemas eleitorais.

• Representação proporcional (sistema proporcional) – a proporcionalidade permite


uma melhor distribuição dos votos e do resultado.
• First Past The Post – FPTP (sistema majoritário) – grupo ou candidato elegem-se por
obterem a maioria dos votos, qualquer que seja a diferença.

Sistema Majoritário – Aspectos Introdutórios

Pelo sistema majoritário reputa-se eleito o candidato que obtiver a maioria dos votos. O
objetivo desse sistema é garantir que o candidato mais votado seja eleito.

Há duas formas de sistema majoritário:

• maioria simples ou relativa – reputa-se eleito o candidato que obtiver o maior número
de votos válidos, independentemente do percentual de votação por ele alcançado
(turno único);

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• maioria absoluta – a eleição do candidato é condicionada à obtenção da maioria abso-


luta dos votos válidos.

Por maioria absoluta compreende-se a metade dos votos mais um voto. Todavia, se o
total de votantes encerrar um número de votantes ímpar, a metade será uma fração. Nesse
caso, deve-se compreender por maioria absoluta o primeiro número inteiro acima da fração.
Não sendo alcançado tal percentual de votação, realiza-se um 2º turno, considerando-se
eleito aquele que tiver a maioria simples dos votos válidos.
Entretanto, para o cômputo dos votos para a definição das eleições, a Constituição
Federal somente reconhece como válidos os votos efetivamente atribuídos a candidatos ou
a legenda partidária. Na contagem dos votos válidos das eleições majoritárias exclui-se os
votos nulos e os votos em branco (art. 77, § 2º, CF/1988).

Adota-se o sistema majoritário para as eleições aos cargos de:

• presidente;
• governador;
• prefeito;
• senador.

Sistema Proporcional – Aspectos Introdutórios

O sistema proporcional tem o objetivo de garantir uma melhor correspondência entre a


formação do Parlamento e as diferentes opiniões, valores e preferências existentes na socie-
dade. Esse sistema tenta aproximar a representação nas Casas Legislativas aos grupos
sociais e, ainda, permite que as minorias sejam representadas.
Por meio desse sistema, não se considera apenas a votação recebida pelos candida-
tos, mas, também, a votação recebida pelos partidos, e essa votação determina a distribui-
ção das cadeiras entre as legendas.
Com a adoção do sistema proporcional, teremos uma maior igualdade material e a
minoria, desde que atinja um percentual mínimo de aprovação popular, participará da con-
dução dos negócios públicos. Logo, esse sistema possui o pluralismo político como marca
fundamental. Nesse sentido, segundo Paulo Bonavides,

[...] sendo por natureza, sistema aberto e flexível, ele favorece e estimula, a funda-
ção de novos partidos, acentuando desse modo o pluralismo político de democra-
cia partidária. Torna a vida política mais dinâmica e abre à circunscrição das ideias
e das opiniões a novos condutores que impedem uma rápida e eventual esclerose
do sistema partidário.

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Adotar-se-á o sistema proporcional para as eleições aos cargos de:

• deputados federais;
• deputados estaduais;
• vereadores.

Sistema Majoritário

No ordenamento jurídico brasileiro, para os cargos regidos pelo sistema majoritário,


adota-se o princípio da indivisibilidade da chapa – “a eleição do Presidente importará a do
candidato a Vice-Presidente com ele registrado, o mesmo se aplicando à eleição de Gover-
nador”, conforme previsão do § 4º do art. 3º da Lei n. 9.504/1997.
Esse princípio também se aplica aos candidatos ao cargo de senador, uma vez que a
chapa somente pode ser registrada com dois suplentes que, em caso de vitória, serão pro-
clamados eleitos e diplomados juntamente com o titular.
Na esfera municipal, em relação aos cargos de prefeito e vice-prefeito, adotou-se o sis-
tema majoritário por:

• maioria simples (art. 29, inciso II, CF/1988) – Município com até 200 mil eleitores;
• maioria absoluta – municípios com mais de 200 mil eleitores.

Na esfera estadual, levando em consideração os cargos de governador, a legislação


eleitoral adotou o sistema majoritário por:

• maioria absoluta – art. 28, CF/1988.

Quanto aos cargos de senador da República, presidente e vice-presidente da Repú-


blica, cargos federais, adotou-se o sistema majoritário por:

• maioria simples (senador) – art. 46, CF/1988;


• maioria absoluta (presidente) – art. 77, CF/1988.

Quanto à aplicação do princípio da indivisibilidade da chapa, tem-se que, de acordo


com o art. 18 da Lei Complementar n. 64/1990:

Art. 18 A declaração de inelegibilidade do candidato à Presidência da Repúbli-


ca, Governador de Estado e do Distrito Federal e Prefeito Municipal não atingirá
o candidato a Vice-Presidente, Vice-Governador ou Vice-Prefeito, assim como a
destes não atingirá aqueles.

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Desse modo, embora a chapa seja indivisível, a inelegibilidade é sempre individual.


Somente será reconhecida a inelegibilidade daquele que efetivamente incidiu em uma das
hipóteses previstas em lei.
Quanto à substituição de candidatos, recentemente, a partir de uma alteração legislativa
promovida pela Lei n. 12.891/2013, definiu-se o candidato, escolhido em convenção partidá-
ria, para concorrer aos cargos de presidente e vice-presidente, governador e vice-governa-
dor, prefeito e vice-prefeito, pode ser substituído, desde que o novo pedido seja apresentado
até 20 dias antes da data das eleições, salvo se se tratar de falecimento de candidato. Nessa
última situação, será admitida a substituição de candidatos até a data das eleições.
Caso a eleição para o cargo seja regida pelo sistema majoritário de dois turnos e se,
após o primeiro turno e antes do segundo, ocorrer morte, desistência ou impedimento legal
de candidato, será convocado, dentre os remanescentes, o de maior votação.
Não pode ocorrer substituição de candidatos após a realização do primeiro turno de
votação. Convoca-se, portanto, o 3º colocado para disputar o segundo turno de votação.

Sistema Proporcional

No Brasil, o sistema proporcional determina os eleitos aos cargos de Deputados Fede-


rais, Deputados Estaduais, Deputados Distritais e Vereadores. Logo, pode-se afirmar que os
cargos eletivos do Poder Legislativo dos diversos entes federativos serão preenchidos com
a adoção do sistema proporcional, com a única exceção do cargo de Senador da República.
As vagas serão conquistadas pelos partidos políticos conforme a votação a eles atri-
buída. Quanto mais votos uma legenda partidária conquistar, mais candidatos esse par-
tido elegerá.
Pelas regras do sistema proporcional adotado no Brasil, para que um candidato seja
eleito, é indispensável que o seu partido atinja um número mínimo de votos. Essa barreira
mínima de votos que deve ser ultrapassada pelo partido político tem por parâmetro o quo-
ciente eleitoral.
Com efeito, segundo o art. 109, parágrafo segundo do Código Eleitoral, poderão con-
correr à distribuição dos lugares todos os partidos que participaram do pleito, desde que
tenham obtido pelo menos 80% (oitenta por cento) do quociente eleitoral, e os candidatos que
tenham obtido votos em número igual ou superior a 20% (vinte por cento) desse quociente.
Esse quociente eleitoral é determinado a partir de uma fórmula matemática prevista no
art. 106 do Código Eleitoral, nos seguintes termos:

Art. 106. Determina-se o quociente eleitoral dividindo-se o número de votos váli-


dos apurados pelo de lugares a preencher em cada circunscrição eleitoral, despre-
zada a fração se igual ou inferior a meio, equivalente a um, se superior.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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Eis a representação matemática dessa fórmula:

QE = votos válidos/número de lugares a preencher

Assim, o quociente eleitoral obtém-se com a divisão dos votos válidos, que é o somató-
rio dos votos dados a candidatos inscritos e às legendas partidárias, pelo número de cadei-
ras que estão em disputa no parlamento. Nesse cálculo, despreza-se a fração se for igual
ou inferior e meio, e, se superior, arredonda-se para o primeiro número inteiro subsequente.
Além disso, para o cálculo do quociente eleitoral, os votos em branco e os nulos devem
ser desconsiderados.
Faz-se uma ressalva: se nenhum Partido alcançar o quociente eleitoral, serão conside-
rados eleitos, até serem preenchidos todos os lugares, os candidatos mais votados. Trata-
-se da hipótese em que, em razão de uma impossibilidade material, será adotado o sistema
majoritário por maioria simples para a eleição dos cargos do Poder Legislativo.
Após a determinação do quociente eleitoral (número mínimo de votos que as legendas
partidárias devem atingir para elegerem candidatos), deve-se calcular o quociente partidá-
rio. Essa fórmula do quociente partidário está prevista no art. 107 do Código Eleitoral, nos
seguintes termos:

Art. 107. Determina-se para cada partido o quociente partidário dividindo-se pelo
quociente eleitoral o número de votos válidos dados sob a mesma legenda, des-
prezada a fração. (Redação dada pela Lei n.14.211, de 2021)

O quociente partidário definirá quantos candidatos foram eleitos por cada partido polí-
tico. Segue a fórmula utilizada para o cálculo do quociente partidário:

QP = votos alcançados pela legenda/quociente eleitoral

Nos termos do art. 107 do CE, a fração deve ser desprezada, independente se menor
ou maior a meio, diferentemente do que ocorrer no cálculo do quociente eleitoral.
Cada partido elegerá tantos candidatos quanto o seu quociente partidário indicar, na
ordem da votação nominal que cada um tenha recebido, desde que tenha candidatos com
votação nominal mínima. Deveras, para a evitação de escolha de candidatos por partidos
políticos apenas com a finalidade de conquistarem votos e elegerem consigo candidatos com
votação inexpressiva, o art. 108 do Código Eleitoral passou a exigir:

Art. 108. Estarão eleitos, entre os candidatos registrados por um partido que te-
nham obtido votos em número igual ou superior a 10% (dez por cento) do quo-
ciente eleitoral, tantos quantos o respectivo quociente partidário indicar, na or-
dem da votação nominal que cada um tenha recebido. (Redação dada pela Lei
n.14.211, de 2021)

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

Para a distribuição das vagas restantes, que não puderam ser atribuídas aos partidos
por meio do cálculo do quociente partidário, chamadas de sobras eleitorais, deve-se utilizar
a técnica da maior média.
Para o cálculo da maior média, deve-se dividir o número de votos válidos atribuídos a
cada partido pelo número de lugares por ele obtido, mais um, cabendo ao partido que apre-
sentar a maior média um dos lugares a preencher. Esse cálculo deverá ser repetido para a
distribuição de cada um dos lugares restantes. Essa fórmula é tratada pelo art. 109 do Código
Eleitoral:

Art. 109. Os lugares não preenchidos com a aplicação dos quocientes partidários
e em razão da exigência de votação nominal mínima a que se refere o art. 108
serão distribuídos de acordo com as seguintes regras: (Redação dada pela Lei n.
13.165, de 2015)
I – dividir-se-á o número de votos válidos atribuídos a cada partido pelo número
de lugares por ele obtido mais 1 (um), cabendo ao partido que apresentar a maior
média um dos lugares a preencher, desde que tenha candidato que atenda à exi-
gência de votação nominal mínima; (Redação dada pela Lei n.14.211, de 2021)
II – repetir-se-á a operação para cada um dos lugares a preencher; (Redação
dada pela Lei n. 13.165, de 2015)
III – quando não houver mais partidos com candidatos que atendam às duas exi-
gências do inciso I deste caput, as cadeiras serão distribuídas aos partidos que
apresentarem as maiores médias. (Redação dada pela Lei n.14.211, de 2021)
§ 1º O preenchimento dos lugares com que cada partido for contemplado far-se-á
segundo a ordem de votação recebida por seus candidatos. (Redação dada pela
Lei n.14.211, de 2021)
§ 2º Poderão concorrer à distribuição dos lugares todos os partidos que partici-
param do pleito, desde que tenham obtido pelo menos 80% (oitenta por cento)
do quociente eleitoral, e os candidatos que tenham obtido votos em número igual
ou superior a 20% (vinte por cento) desse quociente. (Redação dada pela Lei
n.14.211, de 2021)

Veja a representação matemática da fórmula da técnica da maior média:

TMM = número de votos do partido/número de cadeiras conquistadas + 1

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

EXEMPLO
Município A possui 9 cargos de Vereador na Câmara Municipal. Na eleição, apu-
rou-se 50.000 votos válidos. Nessa eleição, esses foram os votos recebidos
pelos partidos:
Partido A – 12.000 votos;
Partido B – 15.000 votos;
Partido C – 4.000 votos;
Partido D – 19.000 votos.
Inicialmente, deve-se calcular o quociente eleitoral:
50.000 (votos válidos)/9 (número de cadeiras) = 5.555,55.
Como a fração é superior a meio deve-se arredondar o resultado para o primeiro
número inteiro subsequente. Logo, o quociente eleitoral será de 5.556.
Neste exemplo, verifica-se que cada partido, para eleger um candidato deve conse-
guir, no mínimo, 5.556 votos.
Após, passa-se ao cálculo do quociente partidário de cada partido:
Partido A: 12.000/5.556 = 2,159 (quociente partidário desse partido é 2, desconsi-
dera-se a fração);
Partido B: 15.000/5.556 = 2,699 (quociente partidário desse partido é 2, desconsi-
dera-se a fração);
Partido C: não atingiu o quociente eleitoral e, por essa razão, não elegerá nenhum
candidato;
Partido D: 19.000/5.556 = 3,419 (quociente partidário desse partido é 3, desconsi-
dera-se a fração).
Verifica-se que, após o cálculo do quociente partidário, os partidos preencheram 7
vagas. Restam duas cadeiras. Deve-se utilizar a técnica da maior média. Para cada
uma das vagas, faz-se um cálculo da maior média.
Assim:
Partido A: 12.000 votos/2 + 1 = 4.000;
Partido B: 15.000 votos/2 + 1 = 5.000;
Partido D: 19.000 votos/3 + 1 = 4.750.
Tendo o Partido B obtido a maior média, ficará com a 8ª vaga. Resta uma vaga.
Faz-se novamente o cálculo da maior média.
Partido A: 12.000 votos/2 + 1 = 4.000.
Partido B: 15.000 votos/3 + 1 = 3.750 (lembrando que no cálculo anterior ele ganhou
mais uma vaga).
Partido D: 19.000 votos/3 + 1 = 4.750.
Tendo o Partido D obtido a maior média, ficará com a última vaga.
Por fim, estas foram as vagas conquistadas pelos partidos:
Partido A – 2 cadeiras;
Partido B – 3 cadeiras;
Partido D – 4 cadeiras.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

Com a determinação das vagas conquistadas pelos partidos, resta, ainda, saber quem
serão os candidatos que ocuparão as vagas. O Código Eleitoral adotou o sistema da lista
aberta. Esta é a determinação do art. 109, § 1º, do CE:

Art. 109. [...]


§ 1º O preenchimento dos lugares com que cada partido for contemplado far-se-á
segundo a ordem de votação recebida por seus candidatos. (Redação dada pela
Lei n.14.211, de 2021)

Os candidatos mais votados da legenda partidária serão considerados eleitos. Os


demais candidatos mais votados entre os “não eleitos” serão considerados suplentes. Em
caso de vacância ou impedimento do titular do cargo, o suplente assumirá o mandato.

Sistema Bicameral Federativo

Far-se-á pequenas observações quanto ao nosso sistema bicameral, dada a sua rele-
vância para a aplicabilidade das regras de sistemas eleitorais. No Brasil, o Poder Legislativo
da União é composto por duas Casas: o Senado Federal e a Câmara dos Deputados.
O Senado Federal é formado por 81 Senadores. Existem três senadores para cada
estado e três para o DF (representação igualitária). Quanto à Câmara dos Deputados, atu-
almente tem em sua composição 513 deputados federais, nos termos do art. 1º da Lei Com-
plementar n. 78/1993. Esta é a redação do dispositivo:

Art. 1º Proporcional à população dos Estados e do Distrito Federal, o número de


deputados federais não ultrapassará quinhentos e treze representantes, forneci-
da, pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, no ano anterior
às eleições, a atualização estatística demográfica das unidades da Federação.

Por disposição constitucional, nenhum estado poderá ter menos de oito e mais de 70
deputados federais.
De forma diversa do modelo federal, os estados possuem composição unicameral no
que se refere à organização do Poder Legislativo.
O número de deputados estaduais corresponde ao triplo do número de deputados fede-
rais. Esse cálculo somente será aplicado até que se atinja o número de trinta e seis deputa-
dos estaduais. Para os Estados que possuem mais de doze representantes na Câmara dos
Deputados, veja o que diz a Constituição Federal:

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

Art. 27. O número de Deputados à Assembleia Legislativa corresponderá ao triplo


da representação do Estado na Câmara dos Deputados e, atingido o número de
trinta e seis, será acrescido de tantos quantos forem os Deputados Federais aci-
ma de doze.

Logo, todas as vezes que um Estado atingir o limite de trinta e seis deputados, o cálculo
dos excedentes não será mais o correspondente ao triplo dos deputados federais, mas será
obtido por meio da soma dos deputados federais acima de doze.

EXEMPLO
Estado A – possui 8 deputados federais.
Estado B – possui 12 deputados federais.
Estado C – possui 13 deputados federais.
Estado D – possui 14 deputados federais.
Dessa forma, o número de deputados estaduais de cada um desses entes federa-
tivos será de:
Estado A: 8 x 3 (triplo) = 24 deputados estaduais;
Estado B: 12 x 3 (triplo) = 36 deputados federais;
Estado C: (12 x 3) + 1 = 37 deputados estaduais;
Estado D: (12 x 3) + 2 = 38 deputados estaduais.

Quanto à data para a realização das eleições, a CF estabeleceu as seguintes disposições:

• eleições para presidente da República e vice-presidente da República

Art. 77. A eleição do Presidente e do Vice-Presidente da República realizar-se-á,


simultaneamente, no primeiro domingo de outubro, em primeiro turno, e no último
domingo de outubro, em segundo turno, se houver, do ano anterior ao do término
do mandato presidencial vigente.

• eleições para governador e vice-governador

Art. 28. A eleição do Governador e do Vice-Governador de Estado, para mandato


de quatro anos, realizar-se-á no primeiro domingo de outubro, em primeiro turno,
e no último domingo de outubro, em segundo turno, se houver, do ano anterior ao
do término do mandato de seus antecessores, e a posse ocorrerá em primeiro de
janeiro do ano subsequente, observado, quanto ao mais, o disposto no art. 77.

• eleições de prefeito e vice-prefeito

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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Art. 29. [...]


II – eleição do Prefeito e do Vice-Prefeito realizada no primeiro domingo de outu-
bro do ano anterior ao término do mandato dos que devam suceder, aplicadas as
regras do art. 77, no caso de Municípios com mais de duzentos mil eleitores.

Pode-se perceber que a CF/88 não estabeleceu a data de realização das eleições para
os cargos do Poder Legislativo. Essa tarefa foi cumprida pela Lei das Eleições (Lei n. 9.504),
nos seguintes moldes:

Art. 1º As eleições para Presidente e Vice-Presidente da República, Governador


e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal, Prefeito e Vice-Prefeito, Sena-
dor, Deputado Federal, Deputado Estadual, Deputado Distrital e Vereador dar-se-
-ão, em todo o País, no primeiro domingo de outubro do ano respectivo.
Parágrafo único. Serão realizadas simultaneamente as eleições:
I – para Presidente e Vice-Presidente da República, Governador e Vice-Governa-
dor de Estado e do Distrito Federal, Senador, Deputado Federal, Deputado Esta-
dual e Deputado Distrital;
II – para Prefeito, Vice-Prefeito e Vereador.

Suplência

Suplente, também chamado de substituto, é o candidato mais votado de um partido


entre os não eleitos. Em caso de empate na votação, será considerado aquele de maior
idade (art. 112, incisos I e II do Código Eleitoral).
Ocorrendo vacância no cargo e não havendo suplente para preenchê-la, far-se-á elei-
ção, salvo se faltarem menos de 15 meses para findar o mandato (art. 56, § 2º, CF/1988).

Vacância para os Cargos de Presidente e Vice-Presidente da República

Vagando os cargos de presidente e vice-presidente da República, far‑se‑á eleição


noventa dias depois de aberta a última vaga. Ocorrendo a vacância nos últimos dois anos do
período presidencial, a eleição para ambos os cargos será feita trinta dias depois da última
vaga, pelo Congresso Nacional, na forma da lei. Em qualquer dos casos, os eleitos deverão
completar o período de seus antecessores, denominando-se essa situação jurídica de man-
dato tampão.
Em caso de vacância nos cargos de governador e vice-governador, a forma de eleição
para provimento dos cargos será feita nos termos definidos pela Constituição do Estado.
Nessa matéria, não estamos diante de uma norma de reprodução obrigatória e os entes
federativos possuem autonomia para tratar do tema. Essa é a jurisprudência do Supremo
Tribunal Federal:

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

JURISPRUDÊNCIA
O Estado‑membro dispõe de competência para disciplinar o processo de escolha,
por sua Assembleia Legislativa, do governador e do vice‑governador do Estado,
nas hipóteses em que se verificar a dupla vacância desses cargos nos últimos dois
anos do período governamental. Essa competência legislativa do Estado‑membro
decorre da capacidade de autogoverno que lhe outorgou a própria CR. As condi-
ções de elegibilidade (CF, art. 14, § 3º) e as hipóteses de inelegibilidade (CF, art.
14, § 4º a § 8º), inclusive aquelas decorrentes de legislação complementar (CF,
art. 14, § 9º), aplicam‑se de pleno direito, independentemente de sua expressa
previsão na lei local, à eleição indireta para governador e vice‑governador do Es-
tado, realizada pela Assembleia Legislativa em caso de dupla vacância desses
cargos executivos no último biênio do período de governo. (ADI 1.057‑MC, Rel.
Min. Celso de Mello, Julgamento em 20‑4‑1994, Plenário, DJ de 6/4/2001)

Também esse é o mesmo entendimento do Tribunal Superior Eleitoral:

JURISPRUDÊNCIA
MANDADO DE SEGURANÇA. CHEFIA DO PODER EXECUTIVO. DUPLA VA-
CÂNCIA. ELEIÇÕES SUPLEMENTARES. ART. 81, § 1º, CF/1988. OBSERVÂN-
CIA NÃO OBRIGATÓRIA. LEI ORGÂNICA MUNICIPAL. PARÂMETRO. VACÂN-
CIA. PRIMEIRO BIÊNIO. ELEIÇÕES DIRETAS. SEGURANÇA DENEGADA.
1. O art. 81, § 1º, da CF/1988, não é de reprodução obrigatória pelos entes mu-
nicipais. Precedente do STF. Assim, compete à Lei Orgânica Municipal dispor
acerca da modalidade de eleição no caso de dupla vacância no Poder Executivo
Municipal.
2. Na espécie, o art. 45, § 1º, da Lei Orgânica do Município de Kaloré/PR prescre-
ve que, ocorrendo dupla vacância nos últimos dois anos de mandato, a eleição de
ambos os cargos pela Câmara Municipal será feita trinta dias depois de aberta a
última vaga. No entanto, a vacância ocorreu no primeiro biênio, razão pela qual as
novas eleições devem ser realizadas de forma direta. Precedente”. (MS n. 77186,
DJe de 1º/8/2011)

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Esquema didático dos sistemas eleitorais

Relação entre os Cargos e os Sistemas Eleitorais


Cargos Espécie de sistema eleitoral
Presidente e vice-presidente Majoritário de dois turnos
Governador e vice-governador Majoritário de dois turnos
Prefeitos e vice-prefeitos
(município com mais de Majoritário de dois turnos
200 mil eleitores)
Prefeitos e vice-prefeitos
(município com menos de Majoritário simples
200 mil eleitores)
Senador da República Majoritário simples
Deputado federal Proporcional
Deputado estadual Proporcional
Deputado distrital Proporcional
Vereador Proporcional

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10. ELEIÇÕES

Para cada eleição realizada no Brasil, o legislador editava uma lei, a qual estabelecia as
regras a serem observadas naquele pleito. Essa sistemática padecia de um sério problema, qual
seja: o legislador era frequentemente influenciado pelo grupo político dominante a época da sua
edição, surgindo daí diplomas normativos casuísticos, os quais, ao invés de regular o processo
eleitoral, acabavam por legalizar situações esdrúxulas que comprometiam a lisura do pleito.
Com a finalidade de evitar a prática desses casuísmos e garantir maior isonomia e
segurança jurídica na realização das eleições, foi editada a Lei n. 9.504/97 — denominada de
Lei das Eleições. Na gênese da Lei das Eleições, o propósito era criar uma lei que a partir da
sua edição servisse ao disciplinamento de todas as eleições vindouras. A aplicação a todas
as eleições seguintes impunha ao legislador atuar de forma isonômica, pois o grupo político
dominante naquele momento poderia, no momento seguinte, estar afastado do poder.
Não obstante termos hoje uma lei que estabelece normas para as eleições — Lei das
Eleições — o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), com base nos art. 1º, parágrafo único, do
Código Eleitoral e art. 105 da Lei das Eleições, atendendo ao caráter regulamentar e sem
restringir direitos ou estabelecer sanções distintas das previstas em Lei, expede, até o
dia 5 de março do ano da eleição, instruções necessárias para a fiel execução dos dispositi-
vos da Lei das Eleições. No processo de edição dessas instruções, o TSE realiza audiências
públicas, nas quais delegados e representantes dos partidos políticos contribuem na forma-
ção e aperfeiçoamento dessas normas.
Logo, não se esqueça que, em complementação às disposições da Lei das Eleições,
tem-se as instruções do TSE, as quais não podem, como já visto, restringir direitos ou esta-
belecer sanções distintas das previstas em lei.

Disposições Gerais

As eleições para todos os cargos eletivos — de presidente a vereador — realizam-se


em todo o País, no primeiro domingo de outubro do ano respectivo. Não obstante, observa-se
que as eleições para vereador, prefeito e vice-prefeito são realizadas em anos distintos dos
demais cargos.
Realizadas as eleições, serão considerados eleitos para os cargos de presidente, gover-
nador e prefeito, de municípios com mais de 200 mil eleitores, juntamente com os respectivos
vices, os que obtiverem maioria absoluta de votos, não computados os em branco e os nulos.
Se nenhum candidato alcançar a maioria absoluta na primeira votação, ocorrida no pri-
meiro domingo de outubro, será feita nova eleição no último domingo do referido mês, con-
correndo os dois candidatos mais votados, considerando eleito o que obtiver a maioria dos
votos. Ou seja, no primeiro turno exige-se a maioria absoluta, enquanto no segundo, o que
obtiver mais votos, independentemente da quantidade, é o eleito.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

Aqui vale a pena lembrar que por maioria absoluta

entende-se o primeiro número inteiro acima da metade do eleitorado, sendo errô-


nea a sua conceituação como “metade mais um”. Isto por uma regra matemática.
Se o número de eleitores for ímpar, a regra da “metade mais um” nos leva a um
erro. Adotemos o número de 1.001 eleitores como exemplo. A maioria absoluta é
501, e não 501,5, resultado advindo da soma da metade (500,5) a uma unidade.
Vê-se, assim, que maioria absoluta não deve ser entendida como “metade mais
um.” (LULA, 2010, p. 187).

Vamos a uma hipótese fática para não restar nenhuma dúvida sobre esse assunto.

EXEMPLO
Paulo, Antônio e José participaram da eleição para governador de São Paulo. O
total de votos disputados no Estado somou 1.000.000 (um milhão de votos).
Paulo obteve 460.000 votos; Antônio conseguiu 300.000; José obteve 140.000 e os
demais 100.000 foram de votos brancos ou nulos.
Nesse caso, há necessidade de um 2º turno ou Paulo foi eleito já no 1º turno?
Em uma análise apressada, alguém poderia afirmar que há a necessidade de um
segundo turno, pois Paulo não conseguiu nem ao menos a metade de votos do
Estado, quanto mais a metade mais um (conceito de maioria absoluta).
Todavia, não se esqueça que para fins de cálculo da maioria absoluta deve-se
excluir do total de votos os brancos e nulos. Logo, o parâmetro para saber se Paulo
obteve a maioria absoluta é 900.000 (1.000.000 - 100.000), que nesse caso é da
ordem de 450.001 (900.000/2 + 1). Logo, Paulo, com 460.000 votos, foi eleito já
no 1º turno.

Vale salientar, entretanto, que a possibilidade de ocorrência de um segundo turno é pre-


vista, sem exceção, para os cargos de presidente e governador, enquanto, para o cargo de
Prefeito, ela somente pode ocorrer, desde que nenhum candidato obtenha a maioria absoluta
no 1º turno, nos municípios com mais de duzentos mil eleitores (a Lei das Eleições men-
ciona eleitores e não habitantes)

REALIZAÇÃO DE SEGUNDO TURNO – REQUISITOS

CARGOS REQUISITOS
Presidente e governador 1) Nenhum candidato alcançou maioria absoluta
1) Nenhum candidato alcançou maioria absoluta
Prefeito
2) Município com mais de 200 mil eleitores

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

É possível que entre a realização do 1º e 2º turnos, ocorra a morte, desistência ou impe-


dimento legal de um dos candidatos (titular da chapa) aptos a participar do 2º turno. Nesse
caso, para viabilizar a eleição, deve ser convocado o de maior votação entre os remanescen-
tes (art. 2º, § 1º, da LE) e, no caso de empate entre estes, o mais idoso (art. 2º, § 1º, da LE).
A aplicação dessa regra de substituição, com a consequente convocação do remanes-
cente mais votado, somente ocorre nos casos em que o titular da chapa é o candidato a ser
substituído (candidato a presidente, governador ou prefeito). Isso porque em se tratando de
morte, desistência ou impedimento do vice (candidato a vice-presidente, vice-governador ou
vice-prefeito) a substituição pode ocorrer sem prejuízo algum à chapa, nos termos do art. 13,
§ 2º, da LE.
Nesse sentido, a jurisprudência:

JURISPRUDÊNCIA
Consulta - Candidato a Vice-Governador de Estado - Substituição anterior ao se-
gundo turno por morte, desistência ou impedimento legal - Hipótese de aplica-
ção do art. 13, parágrafo 2º da lei 9.504/97. Consulta respondida afirmativamente
(TSE, CTA n. 418, 26/3/1998)

Vai-se aqui aproveitar para aprofundar o assunto. Veja algumas hipóteses nas eleições
para prefeito, governador ou presidente, começando com a que acabamos de estudar.
a) Morte, impedimento ou desistência do titular da chapa entre os 1º e 2º turnos: a
chapa inteira fica comprometida, convocando-se o remanescente com maior votação.
b) Morte, impedimento ou desistência do vice da chapa entre os 1º e 2º turnos: faz-se
a substituição do vice, observando as regras do art. 13, § 2º, da LE.
c) Morte, impedimento ou desistência do titular ou vice da chapa antes da realização
do 1º turno: substituição do candidato por outro, desde que o pedido seja feito no prazo de
até 20 dias antes da data das eleições, respeitado o prazo de 10 dias da ocorrência do fato
gerador da substituição ou da notificação ao partido da decisão judicial que deu origem à
substituição (art. 13, § 1º, da LE), salvo se se tratar de falecimento. Nesse caso, a substitui-
ção poderá ocorrer até a data da eleição.
d) Morte, impedimento ou desistência do titular da chapa após o resultado da eleição
e antes da diplomação: diplomação do vice como titular (lembre-se do caso Sarney, que foi
diplomado presidente da República, em face da morte de Tancredo Neves, à época candi-
dato eleito à Presidência da República).
e) Morte, impedimento ou desistência do vice da chapa após o resultado da eleição e
antes da diplomação: diplomação do titular sem vice.
Para finalizar, vale ressaltar, ainda, que a eleição do presidente, governador e prefeito
importará também a do vice (art. 2º, § 4º, da LE). É o chamado princípio da indivisibilidade
da chapa única majoritária.

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Esse princípio é de grande utilidade prática, tanto que o TSE por diversas vezes dele já
fez uso. Veja as jurisprudências a seguir.

JURISPRUDÊNCIA
O atual entendimento do TSE determina o litisconsórcio passivo necessário entre
o prefeito e seu vice nos processos que poderão acarretar a perda do mandato
eletivo, como é o caso do recurso contra expedição de diploma (TSE, AI 11.963,
DJE 11/5/2010)

JURISPRUDÊNCIA
Em razão do princípio da indivisibilidade da chapa única majoritária, o cancela-
mento do registro do titular, após o pleito, atinge o registro do vice, acarretando a
perda do diploma de ambos (TSE, Respe 25.586, DJ 6/12/2006)

ATENÇÃO
Evidentemente que aqui não estamos falando de morte, impedimento ou desistência do
titular, pois como já afirmamos, nesses casos o vice assume (caso Sarney/Tancredo). A ju-
risprudência em análise se refere a um cancelamento da chapa em razão da inobservância
das normas eleitorais, cuja consequência trouxe benefícios escusos para a chapa como
um todo, beneficiando titular e vice. É por isso que ambos devem ser penalizados e não
apenas aquele que efetivamente cometeu o ilícito eleitoral.

ATENÇÃO
Lembre-se, como já foi dito, que o cancelamento ou indeferimento do registro de candida-
tura do titular antes da eleição não inviabiliza a chapa, bastando que, observado os prazos
legais, seja feita a devida substituição.

Nesse sentido:

JURISPRUDÊNCIA
O indeferimento do pedido de registro de candidato a prefeito não prejudica o re-
gistro do vice-prefeito, nem o indeferimento do registro do vice-prefeito prejudica o
do prefeito, desde que o indeferimento do pedido de registro tenha ocorrido antes
das eleições e que haja a devida substituição no prazo legal (TSE, CTA 1533, DJ
6/8/2008).

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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11. COLIGAÇÕES

Inicialmente, em razão da complexidade do tema, deve-se estabelecer o conceito de


coligação, razão pela qual traz-se a seguinte definição elucidativa e didática: “A coligação
é uma união formal de partidos políticos, de caráter transitório, para o fim de participarem
juntos em uma eleição.” (Zílio, 2012, p. 67).
A coligação, portanto, é fruto de uma união formal decorrente da vontade de determi-
nados partidos. Essa vontade é formalizada em ata de convenção realizada entre os dias 20
de julho a 5 de agosto, cuja lavratura dar-se em livro aberto e rubricado pela Justiça Eleitoral,
publicada em vinte e quatro horas em qualquer meio de comunicação (art. 8 da LE).
Inobstante o momento da efetiva formação da coligação — se na convenção ou em
momento posterior — a coligação passa a existir a partir desse acordo de vontade dos par-
tidos políticos e não da sua homologação pela Justiça Eleitoral (TSE, Respe 25015, DJ
30/9/2005).
Para a Justiça Eleitoral, a coligação passa a ser tratada como um “partido político” com
todas as suas prerrogativas e obrigações a partir do momento em que houver a manifesta-
ção de vontade dos respectivos partidos políticos. Ao mesmo tempo, os partidos que dela
participam perdem sua autonomia no trato das questões relacionadas ao processo eleitoral
perante a Justiça Eleitoral. Prova disso é que os partidos coligados somente por meio dos
representantes próprios da coligação podem postular perante a Justiça Eleitoral.
Essas são as primeiras considerações sobre o tema. Agora, analisa-se como se dá a
formação de coligações.

Formação de Coligações

A legislação prevê a possibilidade de coligação somente para majoritária, não se admi-


tindo a sua formação para as eleições proporcionais. Ou seja, não é possível a um terceiro
partido estranho à coligação majoritária formar coligação para a eleição proporcional com os
demais partidos já coligados à majoritária (art. 6º, LE). A esse respeito, veja o teor do art. 6º
da Lei n. 9.504/97:

Art. 6º É facultado aos partidos políticos, dentro da mesma circunscrição, celebrar


coligações para eleição majoritária.

Por fim, para finalizar esse tópico, é importante avaliar a verticalização de coligações.
Em 10/8/01, o TSE, na consulta 715, entendeu que

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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os partidos políticos que ajustarem coligação para eleição de presidente da Repú-


blica não poderão formar coligações para eleição de governador de Estado ou do
Distrito Federal, senador com outros partidos políticos que tenham, isoladamente
ou em aliança diversa, lançado candidato à eleição presidencial.

Entendia o TSE à época que o âmbito de validade da restrição a que corresponde a


expressão “dentro da mesma circunscrição”, contida no art. 6º da LE, na ocorrência de elei-
ções gerais (nacional e estaduais), necessariamente, abrange e engloba as circunscrições
menores acarretando a necessidade de coerência entre as coligações formadas, de forma
que as coligações em nível nacional condicionam e orientam as que forem propostas para o
âmbito dos estados-membros.
Essa regra de formação de coligações baseada na verticalização a partir da coligação
para o pleito majoritário de presidente da República foi observada nas eleições de 2002 e
2006 (eleições em que havia coligações em nível nacional e estadual).
Ainda em 2006, a menos de 1 (um) ano das eleições gerais daquele ano, o Congresso
Nacional aprovou a Emenda Constitucional n. 52, que alterou o art. 17, § 1º, da CF, e deter-
minou o fim da regra da verticalização das coligações.

Art. 17. Omissis


§ 1º É assegurada aos partidos políticos autonomia para definir sua estrutura in-
terna, organização e funcionamento e para adotar os critérios de escolha e o re-
gime de suas coligações eleitorais, sem obrigatoriedade de vinculação entre as
candidaturas em âmbito nacional, estadual, distrital ou municipal, devendo seus
estatutos estabelecer normas de disciplina e fidelidade partidária. (Redação dada
pela Emenda Constitucional n. 52, de 2006)19

Esse dispositivo, no entanto, em atenção ao princípio da anterioridade eleitoral, previsto


no art. 16 da CF/88, não pôde ser aplicado às eleições daquele ano. Naquela ocasião, o STF
afirmou na ADI n. 3685-8 que

o art. 16 da CF/88 representa garantia individual do cidadão-eleitor, detentor origi-


nário do poder exercido pelos representantes eleitos e a quem assiste o direito de
receber, do Estado, o necessário grau de segurança e de certeza jurídicas contra
alterações abruptas das regras inerentes à disputa eleitoral.

19
Atualmente, essa é a redação do art. 17, parágrafo primeiro da Constituição Federal: Art. 17, § 1º É assegurada aos partidos políticos autonomia para definir
sua estrutura interna e estabelecer regras sobre escolha, formação e duração de seus órgãos permanentes e provisórios e sobre sua organização e funcio-
namento e para adotar os critérios de escolha e o regime de suas coligações nas eleições majoritárias, vedada a sua celebração nas eleições proporcionais,
sem obrigatoriedade de vinculação entre as candidaturas em âmbito nacional, estadual, distrital ou municipal, devendo seus estatutos estabelecer normas
de disciplina e fidelidade partidária. (Redação dada pela Emenda Constitucional n. 97, de 2017)

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

Destarte, os dispositivos da EC 52/2006 tiveram sua aplicação obstada por um ano


após a sua entrada em vigor (observe que a referida EC entrou em vigor na data de sua publi-
cação, apenas a sua aplicação é que, em razão da proximidade com o pleito, não o alcan-
çou normativamente). Considerando que a eleição de 2008 foi municipal, a primeira eleição
na qual se efetivamente aplicou os dispositivos da referida emenda constitucional somente
ocorreu em 2010. Nesse pleito os partidos puderam então formar coligações estaduais sem
a necessidade de vinculá-las às de nível nacional.

Denominação e Representação das Coligações

A coligação pode ter denominação própria que poderá ser a junção de todas as siglas
dos partidos coligados. No entanto, essa denominação não poderá coincidir, incluir ou fazer
referência a nome ou número de candidatos, nem conter pedido de voto para o partido (art.
6º, §§ 1º e 1-A, LE).
Desse modo, em uma eleição na cidade de São Paulo os partidos coligados PMDB,
PT e PSDB podem, por exemplo, denominar essa coligação de “Por amor a São Paulo” ou
simplesmente Coligação PMDB/PT/PSDB. De modo algum, a denominação pode ser, por
exemplo, “Pedro para melhorar São Paulo”, “13412 o melhor para São Paulo” ou “Vote em
Pedro, o melhor para São Paulo”.
Apesar de ter sido dada às coligações a opção de denominação própria ou a junção
de todas as siglas dos partidos coligados, na propaganda eleitoral as coligações devem se
apresentar ao eleitor, observando regras específicas, quais sejam:

Art. 6º Omissis.
§ 1º-A. A denominação da coligação não poderá coincidir, incluir ou fazer refe-
rência a nome ou número de candidato, nem conter pedido de voto para partido
político. (Incluído pela Lei n. 12.034, de 2009)
§ 2º Na propaganda para eleição majoritária, a coligação usará, obrigatoriamente,
sob sua denominação, as legendas de todos os partidos que a integram; na pro-
paganda para eleição proporcional, cada partido usará apenas sua legenda sob o
nome da coligação.

Para finalizar, lembre-se que as coligações se apresentam, em substituição aos parti-


dos coligados, como superpartidos perante a Justiça Eleitoral. Para viabilizar essa represen-
tação, os partidos coligados podem:
a) designar um representante, que terá atribuições equivalentes às de presidente de
partido político, no trato dos interesses e na representação da coligação, no que se refere ao
processo eleitoral;
b) nomear até três delegados perante o Juízo Eleitoral; quatro perante o TRE; e cinco
perante o TSE.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

Essa nomeação, no entanto, confere ao delegado apenas a legitimidade para, no inte-


resse do partido ou coligação, participar de alguns atos administrativos perante a Justiça
Eleitoral, como, por exemplo, participar de reuniões em nome do partido, subscrever pedido
de alteração estatutária devidamente aprovada apresentar a documentação de candidatos
etc. Não confere, de modo algum, capacidade postulatória, o que os impede de interpor qual-
quer tipo de recurso em processos judiciais.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

12. ESCOLHA EM CONVENÇÃO PARTIDÁRIA

Convenção partidária é a assembleia realizada pelo partido político, de acordo com as


normas fixadas no estatuto partidário (princípio da autonomia), para a escolha de candidatos
que concorrerão às eleições. Na convenção partidária, poderá ser discutida a eventual for-
mação de coligação.
Todos os candidatos que disputarão as vagas nas eleições têm de ser escolhidos em
convenção partidária. Isso porque, dentre as condições de elegibilidade de estatura consti-
tucional, tem-se a filiação partidária. Não existem candidaturas avulsas. Não obstante, não
basta ser filiado a partido político para o exercício do direito à elegibilidade. Exige-se também
que o filiado seja escolhido por sua agremiação partidária como candidato a cargo eletivo.

Essas convenções ocorrem nos três níveis da federação.

• Nacional: visa escolher os candidatos que concorrerão aos cargos de presidente e


vice-presidente e deliberar sobre a formação de coligação nacional.
• Estadual: visa escolher os candidatos que concorrerão aos cargos de governador e
vice-governador, deputado federal, deputado estadual e senador e deliberar sobre a
formação de coligação estadual.
• Municipal: visa escolher os candidatos que concorrerão aos cargos de prefeito, vice-
-prefeito e vereador e deliberar sobre a formação de coligação municipal.

Prazo de Realização

Até pelos objetivos a que servem, essas convenções devem ser realizadas no período
de 20 de julho a 5 de agosto do ano em que se realizarem as eleições, lavrando-se a respec-
tiva ata em livro aberto e rubricado pela Justiça Eleitoral (art. 8º da LE). Após a lavratura da
ata da convenção partidária, com a finalidade de dar publicidade às deliberações do órgão
partidário, deve-se publicá-la em 24 horas em qualquer meio de comunicação.
Logo, não se pode admitir que após esse prazo (5 de agosto) venham as coligações
uma vez formadas sofrerem alterações na sua composição, nem que haja, fora das exce-
ções legais, substituição dos candidatos nelas escolhidos.
Nesse sentido, a jurisprudência do TSE:

JURISPRUDÊNCIA
é vedada a inclusão de partido político estranho à formação inicial da coligação
deliberada em convenção no período de que trata o art. 8º da Lei n. 9.504/97
(TSE, Respe 24.076, j. 21/10/04)

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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Note-se, porém, que é possível que durante a convenção partidária não se concretize
a formação de coligações, sendo admissível que nela se decida apenas delegar à Comis-
são Executiva ou a outro órgão partidário a efetiva formação de coligação ou a escolha de
candidatos.
Nesse caso, segundo o TSE, o prazo final para deliberação passa a coincidir com o
prazo final para registro de candidatura, que é o dia 15 de agosto do ano da eleição (TSE,
Respe 26.763, j. 21/9.2006). Observe que aqui não há qualquer alteração na formação de
coligações ou de nomes de candidatos outrora firmados em convenção partidária, mas sim
uma postergação da efetiva formação de coligações e escolha de nomes de candidatos, dei-
xando a decisão a cargo de um órgão do partido, que o fará até a data do registro de candi-
datura, que é o dia 5 de julho do ano da eleição.
Nesse sentido, a jurisprudência do TSE:

JURISPRUDÊNCIA
Escolha de candidatos e deliberação sobre coligações. Delegação para órgão de
direção partidária. Deliberação após o prazo do art. 8º da lei n. 9.504/97, mas no
prazo do art. 11 da mesma lei. Possibilidade. (TSE, Respe 26.763, j. 26.763)

Procedimentos

Uma vez definido o dia da realização da convenção partidária, os procedimentos a


serem nela observados precisam se conformar com as normas estabelecidas no estatuto do
partido. Caso esse seja silente sobre a matéria, deve o órgão de direção nacional do partido
estabelecer tais normas, publicando-as no Diário Oficial da União até 180 (cento e oitenta)
dias antes das eleições.
Perceba, então, que o estatuto do partido ou, na sua ausência, o documento elabo-
rado pelo órgão de direção nacional definem o procedimento a ser observado, ou seja, qual
o quórum de abertura da convenção, quórum de aprovação de suas decisões, quem nela
poderá votar etc.
Nas convenções partidárias, por sua vez, define-se, com base nas normas do estatuto
ou do documento confeccionado pelo órgão de direção nacional, quem são os candidatos e
se há a formação de coligação. Aqui, não se esqueça que, excepcionalmente, pode a con-
venção decidir apenas pela delegação da decisão do assunto a um órgão do partido, que o
fará até o dia 15 de agosto, data final para o registro de candidatura.
Além do estatuto partidário e das convenções partidárias há ainda a figura das con-
venções nacionais sobre coligações, as quais traçam, com base no cenário político atual,
diretrizes a serem observadas nas convenções partidárias. Essa convenção, todavia, não é
obrigatória, haja vista que tais diretrizes podem ser definidas pelo órgão de direção nacional,
observando, sempre, as regras estabelecidas no estatuto.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

Com as normas procedimentais definidas no estatuto e as diretrizes sobre coligações


estabelecidas nas convenções nacionais, os partidos, então, encontram-se abalizados para
realizar suas convenções partidárias.
Vamos a um esquema didático.

Anulação de Convenção Partidária

Caros concursandos, o que ocorre se uma convenção partidária de nível inferior


(convenção partidária municipal) deliberar de forma contrária ao estabelecido na
convenção nacional sobre coligações ou definido pelo órgão de direção nacional?

Nos termos da nova redação do art. 7º, § 2º, dada pela Lei n. 12.034/09, o órgão de
direção nacional pode anular a deliberação do órgão inferior e os atos dela decorrentes.
Não é necessária a convocação de uma convenção nacional para tanto, como preconizava
a antiga legislação.
Segundo o art. 7º, § 3º, da LE, essa anulação deve ser comunicada à Justiça Eleitoral
no prazo de 30 dias após a data limite para o registro de candidatos. Evidentemente que essa
comunicação pode ocorrer antes do prazo legal.
Se da anulação decorrer a necessidade de escolha de novos candidatos, o pedido de
registro deverá ser apresentado à Justiça Eleitoral nos 10 dias seguintes ao fato. Observe,
portanto, que o registro desses novos candidatos pode ocorrer até mesmo depois do dia 5
de julho (prazo final para registro de candidatura), desde que observado o prazo de 10 dias
supracitado.

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Candidatura Nata

Traz-se, nesse tópico, uma das decisões legislativas mais esdrúxulas que já se teve
notícia neste País. Os congressistas, querendo a todo custo se perpetuarem no poder, resol-
veram legislar em causa própria e criaram a denominada candidatura nata.
Esse instituto, contido no art. 8º, § 1º, da LE, assegurava aos detentores de mandato
de deputado federal, estadual ou distrital, ou de vereador e aos que tivessem exercido esses
cargos em qualquer período da legislatura, o direito ao registro de candidatura para o mesmo
cargo pelo partido a que estivessem filiados.
Esse dispositivo foi declarado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, no julga-
mento da ADI 2.530, em razão da violação, em tese, do princípio da autonomia partidária e da
isonomia. Portanto, não há direito a candidatura nata a nenhum congressista neste País.

JURISPRUDÊNCIA
1. Conquanto tenham sido feitas modificações no art. 17, § 1º, da Constituição
Federal, por meio da Emenda Constitucional n. 97/2017, manteve-se a plena efi-
cácia da essência do parâmetro constitucional invocado (autonomia partidária). 2.
A “candidatura nata”, prevista no art. 8º, § 1º, da Lei n. 9.504/1997, é incompatível
com a Constituição Federal, tanto por violar a isonomia entre os postulantes a
cargos eletivos quanto por atingir o âmago da autonomia partidária. 3. A criação
desse instituto ocorreu nos anos 1970 e teve o nítido propósito de proteger os ti-
tulares de mandatos parlamentares contra rivalidades internas em seus partidos,
fomentadas por agentes externos, porquanto, à época, as agremiações estavam
sujeitas a fortes e súbitas intervenções estatais. Em contexto de ampla liberdade
de funcionamento dos partidos, como o instaurado a partir da Constituição de
1988, esse mecanismo deixou de ser compatível com a autonomia interna dos
partidos. 4. A imunização pura e simples do detentor de mandato eletivo contra a
vontade colegiada do partido representa privilégio injustificado, que contribui tão
só para a perpetuação de ocupantes de cargos eletivos, em detrimento de outros
pré-candidatos, sem qualquer justificativa plausível para o funcionamento do sis-
tema democrático e sem que haja meios para que o partido possa fazer imperar
os objetivos fundamentais inscritos em seu estatuto. 5. A ação foi julgada proce-
dente para declarar-se a inconstitucionalidade material do art. 8º, § 1º, da Lei n.
9.504/1997. 6. Os efeitos da declaração de inconstitucionalidade devem incidir
apenas a partir de 24 de abril de 2002 (quando suspensa a eficácia do dispositivo
impugnado pelo Supremo Tribunal Federal na medida cautelar deferida nestes
autos), preservados todos os atos anteriores a essa data, praticados com suporte
no dispositivo declarado inconstitucional.
(ADI 2530, DJe de 6.12.2021)

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Utilização de Prédios Públicos

Segundo o art. 8, § 2º, da LE, é possível a utilização gratuita de prédios públicos para
a realização de convenções partidárias. Essa possibilidade não se restringe ao uso de os
partidos políticos para realização de convenções partidárias, alcança também outros eventos
análogos, mas que guardem, obviamente, íntima relação com a atividade partidária, a citar
como exemplo a realização de prévias de um partido para a escolha de candidatos ao pleito
majoritário.
Nessa situação de utilização de prédios públicos por agremiações partidárias, eventual
dano ocorrido em razão do evento partidário impõe a esse a obrigação de repará-lo.

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13. REGISTRO DE CANDIDATURA

Natureza Jurídica

O pedido de registro de candidatura é um procedimento administrativo, no qual se


observa uma relação jurídica linear entre o requerente, aquele que pretende ser candidato, e
o órgão da Justiça Eleitoral responsável pela análise do pedido, que pode ser um juiz eleito-
ral, para os cargos de prefeito ou vereador; tribunal regional eleitoral, se os cargos forem de
deputado estadual, deputado federal, senador ou governador; e TSE, se a candidatura for a
presidente da República. Essa natureza administrativa do pedido de registro de candidatura,
após algumas discussões, foi assentada pelo STF, na Ação Originária n. 510 de 26/8/1998.
Ocorre, porém, que nem sempre o pedido de registro de candidatura mantém sua natu-
reza administrativa do início até o final. Isso ocorre pelo simples fato de se oportunizar aos
demais partícipes do processo eleitoral a possibilidade de impugnar tal pedido. Essa impug-
nação é realizada por meio de Ação de Impugnação ao registro de candidato, o que torna
a relação jurídica angular e, dessa feita, torna judicial a matéria. Tanto é assim que esta
ação e processada nos próprios autos do pedido de registro de candidatura, procedendo-se
uma reautuação do feito para constar na capa do processo os nomes do impugnante e do
impugnado.
Portanto, para concluir, o registro de candidatura inicia-se como administrativo, podendo,
durante sua tramitação, tornar-se judicial, a depender da existência de impugnação ao pedido.

Requisitos

O partido ou coligação fará o pedido de registro dos candidatos que foram escolhi-
dos nas convenções partidárias. O pedido de registro deve ser instruído com os seguintes
documentos:

• cópia da ata da convença partidária;


• autorização do candidato, por escrito;
• prova de filiação partidária;
• declaração de bens, assinada pelo candidato;
• cópia do título eleitoral ou certidão, fornecida pelo cartório eleitoral, de que o candidato
é eleitor na circunscrição ou requereu sua inscrição ou transferência de domicílio no
prazo legal;
• certidão de quitação eleitoral;
• certidões criminais fornecidas pelos órgãos de distribuição da Justiça Eleitoral, Federal
e Estadual;
• fotografia do candidato, nas dimensões estabelecidas em instrução da Justiça Eleitoral;

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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• propostas defendidas pelo candidato a prefeito, a governador de Estado e a presidente


da República.

Caso seja necessário, o juiz eleitoral abrirá prazo de setenta e duas horas para diligên-
cias (art. 11, § 3º, Lei n. 9.504/1997). Diante dessa situação, caso o juiz não abra prazo para
o candidato suprir a omissão, o candidato poderá juntar o documento na fase de recurso.
Sobre o assunto, esse é o entendimento jurisprudencial sumulado pelo TSE:

JURISPRUDÊNCIA
Súmula 3 – No processo de registro de candidatos, não tendo o juiz aberto prazo
para o suprimento de defeito da instrução do pedido, pode o documento, cuja falta
houver motivado o indeferimento, ser juntado com o recurso ordinário.

Prazo para Registro de Candidatura

Os partidos e coligações solicitarão à Justiça Eleitoral o registro de seus candidatos até


as dezenove horas do dia 15 de agosto do ano em que se realizarem as eleições (art. 11 da
Lei das Eleições).
Na hipótese de o partido ou coligação não requerer o registro de seus candidatos, esses
poderão fazê-lo perante a Justiça Eleitoral nas quarenta e oito horas seguintes a publicação
da lista dos candidatos que tiveram seus pedidos requeridos pelos partidos políticos (§ 4º do
art. 11 da Lei das Eleições).

Da Quantidade de Candidatos

Para a definição do número de candidatos, o art. 10 da Lei n. 9.504/97, cada partido


poderá registrar candidatos para a Câmara dos Deputados, a Câmara Legislativa, as Assem-
bleias Legislativas e as Câmaras Municipais no total de até 100% (cem por cento) do número
de lugares a preencher mais 1 (um).
Por último, cabe ressaltar que no caso de as convenções para a escolha de candida-
tos não indicarem o número máximo de candidatos previsto no caput do art. 10, da Lei das
Eleições, os órgãos de direção dos partidos respectivos poderão preencher as vagas rema-
nescentes até 60 (sessenta) dias antes do pleito. Evidentemente que nesse caso não haverá
qualquer convenção para legitimar a escolha, cabendo apenas ao órgão definir os nomes dos
candidatos.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

Do Percentual de Vagas de Cada Sexo

Com a finalidade de fomentar a participação da mulher na política, os partidos


políticos devem preencher, nas eleições proporcionais, as vagas de candidaturas
apresentadas com, no mínimo, 30% de cada sexo. Desse modo, do total de candidatos
que poderão ser apresentados por cada agremiação partidária, há a necessidade de
observância de um percentual mínimo de 30% e máximo de 70% para cada gênero (art.
10, § 3º, da LE).
O TSE, ao analisar esse dispositivo, decidiu que o parâmetro de cálculo dos
percentuais é o número de candidatos efetivamente apresentado pelo partido, ainda
que, em tese, o partido ou coligação tivesse direito a apresentar um número maior
de candidatos, nos termos definidos no art. 10 caput e § 1º da LE. Veja o seguinte jul-
gado do TSE:

JURISPRUDÊNCIA
Candidatos para as eleições proporcionais. Preenchimento de vagas de acordo
com os percentuais mínimo e máximo de cada sexo.
O § 3º do art. 10 da Lei n. 9.504/1997, na redação dada pela Lei n. 12.034/2009,
passou a dispor que, “do número de vagas resultante das regras previstas neste
artigo, cada partido ou coligação preencherá o mínimo de 30% (trinta por cento) e
o máximo de 70% (setenta por cento) para candidaturas de cada sexo”, substituin-
do, portanto, a locução anterior “deverá reservar” por “preencherá”, a demonstrar
o atual caráter imperativo do preceito quanto à observância obrigatória dos per-
centuais mínimo e máximo de cada sexo.
O cálculo dos percentuais deverá considerar o número de candidatos efetiva-
mente lançados pelo partido ou coligação, não se levando em conta os limites
estabelecidos no art. 10, caput e § 1º, da Lei n. 9.504/1997.
3. Não atendidos os respectivos percentuais, cumpre determinar o retorno dos
autos ao Tribunal Regional Eleitoral, a fim de que, após a devida intimação do
partido, se proceda ao ajuste e regularização na forma da lei.
Recurso especial provido. (TSE, Respe n. 78432, Publicado em Sessão:
12/08/2010).

Aliás, nesse cálculo dos números mínimo e máximo de candidaturas de cada


sexo, a fração sempre deve ser desconsiderada, ainda que seja superior a 0,5. Com
esse entendimento, veja o seguinte julgado:

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

JURISPRUDÊNCIA
CANDIDATURAS – GÊNERO – PROPORCIONALIDADE. Deixando o partido
polí- tico de esgotar as possibilidades de indicação de candidatos – artigo 10,
cabe- ça, da Lei n. 9.504/1997 –, irrelevante é o fato de, na proporcionalidade
entre homens e mulheres, surgir fração, ainda que superior a 0,5%, em relação a
qualquer dos gêneros.
(RESPE n. 64228, Rel. Min. Marco Aurélio Mendes De Farias Mello, PSESS em
09/09/2010)

Aliás, esse percentual de candidaturas de cada sexo não deve ser observado
apenas no momento inicial da formalização dos pedidos de registro de candidatura
pelos partidos políticos, mas também quando da apresentação dos candidatos às
vagas remanescentes e na substituição de candidatos. Nesse sentido, veja o seguinte
acórdão do TSE:

JURISPRUDÊNCIA
ELEIÇÕES 2014. AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL ELEITORAL.
CANDIDATO A DEPUTADO FEDERAL. SERVIDOR PÚBLICO. AUSÊNCIA DE
DO- CUMENTO INDISPENSÁVEL. COMPROVANTE DE DESINCOMPATIBILI-
ZAÇÃO. DESCUMPRIMENTO DE PERCENTUAIS PARA CANDIDATURA DE
CADA SEXO. SUBSTITUIÇÃO DE CANDIDATO POR OUTRO DO MESMO
GÊNERO. IMPOSSIBI- LIDADE NO CASO. REGISTRO DE CANDIDATURA
INDEFERIDO.
1. Conquanto se discuta nos autos a apresentação de documentação ne-
cessária para comprovar a desincompatibilização, há questão jurídica an-
tecedente suficiente ao deslinde da causa, razão pela qual se conhece do
recurso como especial.
2. O art. 19, § 7º, da Res.-TSE n. 23.405/2014 (art. 10, § 3º, da Lei n. 9.504/1997)
tem como finalidade garantir o pluralismo e, ao fazer reserva percentual para
cada sexo, busca assegurar maior equilíbrio na representatividade de gêne-
ros no cenário político.
3. A observância dos percentuais mínimo e máximo de candidaturas por sexo é in-
dispensável para garantir a efetividade da citada norma, não merecendo guarida a
alegação de que se trata de substituição de candidato por outro do mesmo gênero.
4. A conclusão regional está em harmonia com a jurisprudência deste Tribunal Su-
perior, segundo a qual, não ultrapassado o prazo para substituição, “os percentuais
de gênero previstos no art. 10, § 3º, da Lei n. 9.504/1997 de- vem ser observados
tanto no momento do registro da candidatura, quanto em eventual preenchimento

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

de vagas remanescentes ou na substituição de candidatos” (REspe n. 214-98/RS,


rel. Min. Henrique Neves da Silva, julgado em 23/05/2013).
5. Decisão agravada mantida pelos próprios fundamentos.
Negado provimento ao agravo regimental.
(RESPE n. 160892, Rel. Min. Gilmar Ferreira Mendes, PSESS em 11/11/2014)

Aliás, a definição de percentual de candidaturas de cada sexo, definido nessa dis-


posição legal, impacta, inclusive, na distribuição dos recursos do fundo partidário para
os candidatos. Assim, por exemplo, se um partido apresenta trinta por cento de candi-
daturas do sexo feminino, isso quer dizer que, do total dos recursos do fundo partidá-
rio que serão distribuídos aos candidatos, devem ser endereçados, pelo menos, trinta
por cento para as mulheres.
A esse respeito, veja o seguinte julgado proferido pelo Supremo Tribunal Federal,
no julgamento da ADI 5.617:

JURISPRUDÊNCIA
Ação direta julgada procedente para: (i) declarar a inconstitucionalidade da ex-
pressão “três” contida no art. 9º da Lei 13.165/2015; (ii) dar interpretação conforme
à Constituição ao art. 9º da Lei 13.165/2015 de modo a (a) equiparar o patamar
legal mínimo de candidaturas femininas (hoje o do art. 10, § 3º, da Lei 9.504/1997,
isto é, ao menos 30% de cidadãs), ao mínimo de recursos do Fundo Partidário a
lhes serem destinados, que deve ser interpretado como também de 30% do mon-
tante do fundo alocado a cada partido, para eleições majoritárias e proporcionais,
e (b) fixar que, havendo percentual mais elevado de candidaturas femininas, o
mínimo de recursos globais do partido destinados a campanhas lhes seja alocado
na mesma proporção; (iii) declarar a inconstitucionalidade, por arrastamento, do §
5º-A e do § 7º do art. 44 da Lei 9.096/95.

Identificação dos Candidatos

A identificação dos candidatos é feita nominalmente e numericamente.

• Identificação Nominal

O candidato às eleições proporcionais indicará, no pedido de registro, além de seu


nome completo, as variações nominais com que deseja ser registrado, até o máximo de três
opções, que poderão ser o prenome, sobrenome, cognome, nome abreviado, apelido ou
nome pelo qual é mais conhecido, desde que não se estabeleça dúvida quanto à sua iden-
tidade, não atente contra o pudor e não seja ridículo ou irreverente, mencionando em que
ordem de preferência deseja registrar‑se (art. 12 da Lei n. 9.504/1997).

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

A opção de nome será utilizada na urna eletrônica. Em caso de homonímia, a Justiça


Eleitoral:
– havendo dúvida, poderá exigir do candidato prova de que é conhecido por dada
opção de nome, indicada no pedido de registro;
– ao candidato que, na data máxima prevista para o registro, esteja exercendo man-
dato eletivo ou o tenha exercido nos últimos quatro anos, ou que nesse mesmo
prazo se tenha candidatado com um dos nomes que indicou, será deferido o seu
uso no registro, ficando outros candidatos impedidos de fazer propaganda com esse
mesmo nome;
– ao candidato que, pela sua vida política, social ou profissional, seja identificado por
um dado nome que tenha indicado, será deferido o registro com esse nome, ficando
outros candidatos impedidos de fazer propaganda com esse mesmo nome;
– se as regras anteriores não resolverem o problema, a Justiça Eleitoral deverá noti-
ficá‑los para que, em dois dias, cheguem a acordo sobre os respectivos nomes a
serem usados;
– não havendo acordo, a Justiça Eleitoral registrará cada candidato com o nome e
sobrenome constantes do pedido de registro, observada a ordem de preferência
ali definida.

A Justiça Eleitoral indeferirá todo pedido de variação de nome coincidente com nome de
candidato à eleição majoritária, salvo para candidato que esteja exercendo mandato eletivo
ou o tenha exercido nos últimos quatro anos, ou que, nesse mesmo prazo, tenha concorrido
em eleição com o nome coincidente.

• Identificação Numérica

A identificação numérica dos candidatos se dará mediante a observação dos seguintes


critérios (art. 15 da Lei das Eleições):
– os candidatos aos cargos majoritários concorrerão com o número identificador do
partido ao qual estiverem filiados;
– os candidatos à Câmara dos Deputados concorrerão com o número do partido ao
qual estiverem filiados, acrescido de dois algarismos à direita;
– os candidatos às Assembleias Legislativas e à Câmara Distrital concorrerão com o
número do partido ao qual estiverem filiados acrescido de três algarismos à direita;
– o Tribunal Superior Eleitoral baixará resolução sobre a numeração dos candidatos
concorrentes às eleições municipais;
– os candidatos de coligações, nas eleições majoritárias, serão registrados com
o número de legenda do respectivo partido e, nas eleições proporcionais, com o
número de legenda do respectivo partido acrescido do número que lhes couber.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

Aos partidos fica assegurado o direito de manter os números atribuídos à sua legenda
na eleição anterior, e aos candidatos, nesta hipótese, o direito de manter os números que
lhes foram atribuídos na eleição anterior para o mesmo cargo (§ 1º do art. 15 da Lei das
Eleições).
Quanto aos candidatos à reeleição, é assegurada prioridade na manutenção dos núme-
ros pelo qual concorreram na eleição anterior (§ 2º do art. 15 da Lei das Eleições).

Substituição de Candidatos

Após o encerramento do prazo para registro de candidatura, admite-se, diante de algu-


mas circunstâncias a substituição de candidatos, desde que o fato enseja desse pedido
ocorra até 20 dias antes da data das eleições. Essa alteração de candidatura é admitida nos
cargos que se sujeitam ao sistema eleitoral majoritário, assim como aos cargos regidos pelo
sistema proporcional.
Com efeito, poderá ocorrer a substituição de candidatos, nas seguintes hipóteses:

• indeferimento do pedido de registro por decisão prolatada no processo de registro de


candidato ou na ação de impugnação ao pedido de registro;
• cassação do registro em virtude de inelegibilidade apurada em representação por abuso
de poder econômico ou político;
• cancelamento do registro em razão de expulsão do partido;
• renúncia;
• falecimento.

Nesse último caso, falecimento, o pedido de substituição de candidatos será viável se


o fato ocorrer até a data da eleição. Isso porque, diante de fato excepcional, não se aplica a
exigência de que a substituição se faça até 20 dias antes do pleito.
Ocorrendo uma dessas situações, a agremiação partidária deve fazer a escolha do
substituto pela forma estabelecida no estatuto partidário e o pedido de registro deve ser apre-
sentado à Justiça Eleitoral até 10 dias, contados a partir da notificação do partido da decisão
que deu origem à substituição.
A partir da edição da Lei n. 12.891/2013, tanto nas eleições majoritárias como nas pro-
porcionais, a substituição só se efetivará se o novo pedido for apresentado até 20 dias antes
do pleito, exceto em caso de falecimento de candidato, quando a substituição poderá ser
efetivada após esse prazo, nos termos do art. 13, § 3º, da Lei n. 9.504/97.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

ATENÇÃO
Existem dois prazos que devem ser seguidos pelo partido para que o pedido de substitui-
ção de candidatos aos cargos proporcionais seja deferido:
1º prazo – até 10 dias a partir da ocorrência do fato;
2º prazo – até 20 dias antes das eleições.

A partir da reforma eleitoral de 2013, portanto, com a edição da Lei n. 12.891/2013, não
é mais possível a substituição de candidatos aos cargos majoritários até à véspera do pleito.
Com efeito, a substituição de qualquer candidato, independentemente se se tratar de candi-
dato a cargo majoritário ou proporcional, somente poderá ocorrer até 20 dias antes da data
das eleições.

• Substituição de Candidatos nas Eleições Majoritárias

Caso a renúncia ou impedimento do candidato somente ocorra após a realização do pri-


meiro turno, mas antes do segundo, não poderá ocorrer a substituição do candidato. Deve-se
convocar, dentre os remanescentes, o mais votado.
A esse respeito, o TSE respondeu uma consulta que lhe foi formulada nos seguin-
tes termos:

JURISPRUDÊNCIA
CONSULTA. CANDIDATOS A GOVERNADOR E VICE VINCULADOS A PARTI-
DOS POLÍTICOS DISTINTOS. COLIGAÇÃO. MORTE DO TITULAR. SUCES-
SÃO. HIPÓTESES POSSÍVEIS. RESPOSTAS CORRESPONDENTES.
a) Se o evento morte ocorrer após a convenção partidária e até o dia do primeiro
turno da eleição, a substituição dar-se-á por decisão da maioria absoluta dos ór-
gãos executivos de direção dos partidos políticos coligados, podendo o substituto
ser filiado a qualquer partido integrante da coligação, desde que o partido ao qual
pertencia o substituído renuncie ao direito de preferência. Nessa hipótese, a subs-
tituição poderá ser requerida até vinte dias antes da eleição, desde que observado
o prazo de dez dias, contados do fato (art. 51, caput e § 1º, c.c. o art. 52, caput,
ambos da Instrução n. 105) (Adaptado à nova disposição introduzida pela Lei n.
12.891/2013);
b) Se a sucessão ocorrer entre o primeiro e o segundo turnos da eleição, con-
vocar-se-á, dentre os remanescentes, o de maior votação; se, na hipótese dos
parágrafos anteriores, remanescer, em segundo lugar, mais de um candidato com
a mesma votação, qualificar-se-á o mais idoso (art. 28 c.c. o art. 77, §§ 4º e 5º, da
Constituição Federal);

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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c) Na hipótese de falecimento após a realização do segundo turno e antes da


diplomação dos eleitos, por aplicação da jurisprudência do TSE, será diplomado
como titular o vice-governador eleito, visto que “os efeitos da diplomação do can-
didato pela Justiça Eleitoral são meramente declaratórios, já que os constitutivos
evidenciam-se com o resultado favorável das urnas”;
d) Em ocorrendo o evento morte entre a diplomação e a posse dos eleitos, nenhu-
ma providência competirá à Justiça Eleitoral, pois incidirão, por aplicação do prin-
cípio da simetria, as regras constantes dos arts. 80 e 81 da Constituição Federal.
(Res. TSE n. 22236. Rel. Min. Cezar Peluso. DJ de 7/8/2006)

Cancelamento do Registro

Estão sujeitos ao cancelamento do registro os candidatos que, até a data da eleição,


forem expulsos do partido, em processo no qual seja assegurada ampla defesa e sejam
observadas as normas estatutárias. O cancelamento do registro do candidato será decretado
pela Justiça Eleitoral, após solicitação do partido (art. 14 da Lei das Eleições).

Ação de Impugnação ao Pedido de Registro de Candidatos (Airc)

Após a publicação do edital contendo a relação dos pleiteantes ao registro de candida-


tos, começa a fluir o prazo de 5 (cinco) dias para impugnação da candidatura por meio do
instrumento processual denominado de Ação de Impugnação de Registro de Candidatura.
Essa ação eleitoral possui a finalidade precípua de garantir o indeferimento do pedido
de registro de candidatura, impedindo o cidadão de concorrer às eleições. Para conseguir
esse intento, o impugnante demonstra que o pré-candidato não preenche os requisitos legais
indispensáveis para concorrer ao cargo eletivo.
Na verdade, o autor da AIRC quer provar que o impugnado não é elegível, pois lhe
faltam condições de elegibilidade ou incide em uma das hipóteses de inelegibilidade.
O pedido de registro de candidato e a ação de impugnação ao pedido de registro desen-
volvem-se no mesmo processo e deverão ser julgados simultaneamente, na mesma sentença.

• Legitimidade Ativa

São legitimados para propor a AIRC:


– Ministério Público – se não propor como autor, intervirá como custos legis;
– Partido Político – “no processo de registro de candidatos, o partido que não o
impugnou não tem legitimidade para recorrer da sentença que o deferiu, salvo se se
cuidar de matéria constitucional” (Súmula n. 11/TSE);

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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– Coligação Partidária – o partido político coligado não tem legitimidade para, isola-
damente, impugnar o registro de candidatura, e não é possível à coligação sanar o
defeito no recurso para a instância superior, pois isso encontra óbice na Súmula n.
11 do TSE (AgrRESPE n. 18.708);
– Candidatos – deverão ser representados por seu advogado.

Os eleitores não detêm legitimidade ativa para impugnar pedido de registro de candi-
datura. É certo que o art. 97, § 3º, do Código Eleitoral Brasileiro assegurava ao eleitor a legi-
timação para impugnar registro de candidatura com fundamento em alegação de inelegibili-
dade. Contudo, tal dispositivo acha-se revogado desde a Lei Complementar n. 5/1970, que
versava sobre inelegibilidades, e que reservou apenas aos candidatos, aos partidos, às coli-
gações e ao Ministério Público a legitimidade ativa para impugnar o registro de candidatura.

• Legitimidade Passiva

Poderão figurar no polo passivo da AIRC pré-candidatos, ou seja, cidadãos escolhidos


em convenções partidárias e que tenham requerido o deferimento do registro de candidaturas.
Os partidos políticos não devem figurar como litisconsortes passivos na AIRC.

Prazos

A AIRC pode ser proposta no prazo de cinco dias, contados a partir da publicação do
edital com a lista nominal dos pré-candidatos que requereram o registro de candidatura.
Se se tratar de inelegibilidade superveniente, a causa que afasta a elegibilidade não
poderá ser arguida por meio da AIRC, nem pode o juiz conhecer de ofício, pois o prazo
para propositura da AIRC já terá se escoado. Essa inelegibilidade deverá ser levantada no
Recurso contra a Expedição de Diploma.

Competência

A AIRC deve ser proposta perante a Justiça Eleitoral. Será competente para conhecer
da AIRC o juiz qualificado para deferir ou indeferir o pedido de registro de candidatura. Assim,
será competente para processar e julgar a AIRC:

• TSE – pré-candidato ao cargo de presidente e vice‑presidente da República;


• TRE – pré-candidato ao cargo de governador, vice-governador, senador, deputado esta-
dual, deputado federal, deputado distrital;
• Juiz Eleitoral – pré-candidato ao cargo de prefeito, vice‑prefeito e vereador.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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Causa de Pedir e Pedido

O fundamento jurídico da AIRC é a ausência de condições de elegibilidade, a incidência


em uma das hipóteses de inelegibilidade ou o descumprimento de algumas das formalidades
legais exigidas para o registro de candidato.
O pedido veiculado na AIRC é o de indeferimento do pedido de registro de candidatura.
Esquema de Processamento da AIRC

Com finalidades didáticas, passa-se a esquematizar o rito do Pedido de Registro de


Candidato:

• pedido de registro de candidatura (15 de agosto, até as 19h);


• publicação do edital com a relação nominal dos pré‑candidatos;
• impugnação ao pedido de registro de candidatos (5 dias a partir da publicação
do edital);
• diligências (72h);
• decisão judicial (prolatada em até 3 dias após o término das diligências).

Da mesma forma, esquematiza-se o rito procedimento da Ação de Impugnação ao


Pedido de Registro de Candidatura:

• publicação do edital com a relação nominal dos pré-candidatos;


• impugnação ao pedido de registro de candidatos (5 dias a partir da publicação do edital);
• contestação (7 dias da notificação);
• dilação probatória (4 dias);
• diligências (5 dias após a audiência);
• alegações finais e manifestação do Ministério Público (5 dias depois das diligências);
• encerrado o prazo para alegações, os autos serão conclusos ao Juiz ou ao Relator, no
dia imediato, para sentença ou julgamento pelo Tribunal.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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14. PROPAGANDA ELEITORAL

A propaganda eleitoral pode ser definida como aquela em que os partidos políticos e
os candidatos buscam a captação de votos do eleitorado para a escolha de representantes,
os quais ocuparão cargos eletivos. Por meio da propaganda eleitoral, demonstra-se ao elei-
torado que um determinado candidato é o mais apto a ocupar uma determinada cadeira em
disputa. De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral, entende-se por propaganda eleitoral:

Constitui ato de propaganda eleitoral aquele que leva ao conhecimento geral, ain-
da que de forma dissimulada, a candidatura, a ação política ou as razões que
induzam a concluir que o beneficiário seja o mais apto para a função pública. (AI
n. 9936, DJe de 5/8/2010)

A propaganda eleitoral distingue-se da propaganda partidária. Na propaganda parti-


dária, demonstra-se a história, a missão, os valores, o projeto, os programas e os ideais do
partido político. Na propaganda eleitoral, foca-se em candidatos, em projetos individuais para
o convencimento dos eleitores a darem seu voto em determinada pessoa.
Diferencia-se, também, da propaganda intrapartidária, pois nessa o cidadão busca atin-
gir os filiados do partido que têm direito a voto para escolhê-lo na convenção partidária e
somente pode ser realizada nos quinze dias que antecedem as convenções.
A propaganda eleitoral está disciplinada no Código Eleitoral (arts. 240 a 256) e na Lei
das Eleições (arts. 36 a 57, alterados pela Lei n. 11.300/2006 e pela Lei n. 12.034/2009). Com
base nessas disposições legais, pode-se concluir que há liberdade para realização de pro-
paganda eleitoral. Na verdade, a propaganda eleitoral é um direito dos partidos, coligações
e candidatos.
Por essa razão, a propaganda exercida nos termos da legislação eleitoral não poderá
ser objeto de multa nem cerceada sob alegação do exercício do poder de polícia. Somente
admite-se a restrição ou proibição de exercício do direito de propaganda eleitoral se houver
expressa previsão legal.

Propagandas Eleitorais Vedadas

O Código Eleitoral elenca uma série de conteúdos que não poderão ser veiculados por
meio da propaganda eleitoral. São elas:

• de guerra, de processos violentos para subverter o regime, a ordem política e social ou


de preconceitos de raça ou de classes;
• que provoquem animosidade entre as forças armadas ou contra elas, ou delas
contra as classes e instituições civis;
• de incitamento de atentado contra pessoa ou bens;

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

• de instigação à desobediência coletiva ao cumprimento da lei de ordem pública;


• que impliquem oferecimento, promessa ou solicitação de dinheiro, dádiva, rifa,
sorteio ou vantagem de qualquer natureza;
• que perturbem o sossego público, com algazarra ou abusos de instrumentos sonoros
ou sinais acústicos;
• por meio de impressos ou de objeto que pessoa inexperiente ou rústica possa
confundir com moeda;
• que prejudiquem a higiene e a estética urbana ou a outra qualquer restrição de direito;
• que caluniarem, difamarem ou injuriarem quaisquer pessoas, bem como órgãos ou
entidades que exerçam autoridade pública.

X – que deprecie a condição de mulher ou estimule sua discriminação em razão


do sexo feminino, ou em relação à sua cor, raça ou etnia. (Incluído pela Lei n.
14.192, de 2021)

Propaganda Eleitoral – Poder de Polícia

A propaganda eleitoral submete-se ao controle da Justiça Eleitoral, à qual fiscaliza e


aplica as sanções para punir as ilicitudes cometidas. Dessa forma, o poder de polícia refe-
rente ao exercício do direito à propaganda eleitoral é de competência da Justiça Eleitoral.
Sobre essa competência, essas são as prescrições contidas na Lei n. 9.504/1997:

Art. 41. A propaganda exercida nos termos da legislação eleitoral não poderá ser
objeto de multa nem cerceada sob alegação do exercício do poder de polícia ou de
violação de postura municipal, casos em que se deve proceder na forma prevista
no art. 40. (Redação dada pela Lei n. 12.034, de 2009)
§ 1º O poder de polícia sobre a propaganda eleitoral será exercido pelos juízes
eleitorais e pelos juízes designados pelos Tribunais Regionais Eleitorais. (Incluído
pela Lei n. 12.034, de 2009)
§ 2º O poder de polícia se restringe às providências necessárias para inibir práti-
cas ilegais, vedada a censura prévia sobre o teor dos programas a serem exibidos
na televisão, no rádio ou na internet. (Incluído pela Lei n. 12.034, de 2009)

No exercício do poder de polícia, não cabe ao Juiz Eleitoral aplicar multas eleitorais de
ofício. Caso constate a prática de propaganda eleitoral irregular, deve o juiz eleitoral provi-
denciar a cessação da imediata da conduta e, se for provocado pelos legitimados (Ministério
Público, partidos políticos, coligações e candidatos) aplicará as sanções cabíveis. A esse
respeito, este é o entendimento sumulado do TSE:

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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JURISPRUDÊNCIA
Súmula n. 18 do TSE – Conquanto investido de poder de polícia, não tem legiti-
midade o juiz eleitoral para, de ofício, instaurar procedimento com a finalidade de
impor multa pela veiculação de propaganda eleitoral em desacordo com a Lei n.
9.504/1997.

Período de Realização da Propaganda Eleitoral

A propaganda eleitoral somente é permitida após o dia 15 de agosto do ano da eleição


(art. 36 da Lei das Eleições). Ou seja, a propaganda eleitoral só é admitida a partir do dia 16
de agosto do ano da eleição.
Em regra, o direito à propaganda somente poderá ser exercido até 48h antes das elei-
ções e não poderá iniciar-se antes das 24h posteriores às eleições, no caso de haver segundo
turno (parágrafo único, art. 240, Código Eleitoral).

Identificação e Idioma

A propaganda, qualquer que seja a sua forma ou modalidade, mencionará sempre a


legenda partidária e só poderá ser feita em língua nacional, não devendo empregar meios
publicitários destinados a criar, artificialmente, na opinião pública, estados mentais, emocio-
nais ou passionais (art. 242 do Código Eleitoral).

Propaganda Extemporânea

Se o candidato promover propaganda eleitoral antes do dia 16 de agosto do ano das


eleições, a propaganda será extemporânea e sujeitará o responsável pela divulgação da
propaganda e o beneficiário ao pagamento de multa, sem prejuízo da aplicação da apuração
da existência de eventual abuso do poder econômico, gerador de inelegibilidade e possível
cassação do registro de candidato.
Deve-se, em primeiro lugar, para saber se houve propaganda extemporânea, saber o
que é propaganda eleitoral. Para o TSE:

JURISPRUDÊNCIA
[...]. Propaganda antecipada. Divulgação. Texto. Internet. Blog Conotação eleito-
ral. Presente. [...]. 1. Nos termos da jurisprudência da Corte, deve ser entendida
como propaganda eleitoral antecipada qualquer manifestação que, antes dos três
meses anteriores ao pleito, leve ao conhecimento geral, ainda que de forma dis-
simulada, a candidatura, mesmo que somente postulada, a ação política que se
pretende desenvolver ou as razões que levem a inferir que o beneficiário seja o
mais apto para a função pública. [...] 3. A garantia constitucional da livre manifes-

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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tação do pensamento não pode servir para albergar a prática de ilícitos eleitorais,
mormente quando está em jogo outro valor igualmente caro à própria Constitui-
ção, como o equilíbrio do pleito. 4. Divulgada, por meio de página na internet, a
candidatura e os motivos pelos quais a candidata seria a mais apta para o exercí-
cio do cargo público, é de se reconhecer a prática de propaganda antecipada; [...]
(Ac. de 17.3.2011 no R-Rp n. 203745, rel. Min. Marcelo Ribeiro.)

A utilização de página pessoal dos candidatos na internet não caracteriza propaganda


extemporânea, desde que não contenha pedido de votos ou indicação do cargo ao qual o
candidato pretenda concorrer (TSE- REspe n. 26.286). Da mesma forma, a divulgação das
atividades parlamentares do candidato na rede mundial de computadores não caracteriza, só
por isso, propaganda irregular (TSE- REspe n. 26.827).
Aliás, ainda que haja menção à pretensa candidatura ou a exaltação de qualidades pes-
soais no período anterior ao dia 16 de agosto, se não houver pedido explícito de votos, não
configura propaganda eleitoral antecipada.
Caso interessante acerca da possibilidade de propaganda eleitoral antecipada foi ana-
lisado pelos Tribunais Eleitorais. Trata-se da divulgação de mensagens com cunho eleitoral
durante o período vedado no Twitter. Sobre o tema, o TSE entendeu que:

JURISPRUDÊNCIA
RECURSO ESPECIAL. PROPAGANDA ELEITORAL ANTECIPADA. DIVULGA-
ÇÃO DE DISCURSOS PROFERIDOS EM EVENTO PARTIDÁRIO POR MEIO DO
TWITTER. TWITTER É CONVERSA ENTRE PESSOAS. RESTRIÇÃO ÀS LIBER-
DADES DE PENSAMENTO E EXPRESSÃO. NÃO CONFIGURAÇÃO DA PROPA-
GANDA EXTEMPORÂNEA.
1. O Twitter consiste em uma conversa entre pessoas e, geralmente, essa co-
municação está restrita aos seus vínculos de amizade e a pessoas autorizadas
pelo usuário.
2. Impedir a divulgação de um pensamento ou opinião, mesmo que de conteúdo
eleitoral, no período vedado pela legislação eleitoral, em uma rede social restrita
como o Twitter, é impedir que alguém converse com outrem. Essa proibição impli-
ca violação às liberdades de pensamento e de expressão.
3. Não há falar em propaganda eleitoral realizada por meio do Twitter, uma vez
que essa rede social não leva ao conhecimento geral as manifestações nela
divulgadas.
4. A divulgação no Twitter de manifestação de cunho eleitoral no âmbito de evento
partidário não tem o condão de caracterizar propaganda eleitoral extemporânea.
(Respe n. 7.464/RN, DJe de 15.10.2013)

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

Após reforma eleitoral, realizada pela Lei n. 12.981/2013, houve a enumeração de con-
dutas que não deverão ser consideradas propaganda extemporânea. Esta é a prescrição
normativa contida nos arts. 36-A e 36-B da Lei n. 9.504/97 sobre a matéria:

Art. 36-A. Não configuram propaganda eleitoral antecipada, desde que não en-
volvam pedido explícito de voto, a menção à pretensa candidatura, a exaltação
das qualidades pessoais dos pré-candidatos e os seguintes atos, que poderão ter
cobertura dos meios de comunicação social, inclusive via internet: (Redação dada
pela Lei n. 13.165, de 2015)
I – a participação de filiados a partidos políticos ou de pré-candidatos em entrevis-
tas, programas, encontros ou debates no rádio, na televisão e na internet, inclusive
com a exposição de plataformas e projetos políticos, observado pelas emissoras
de rádio e de televisão o dever de conferir tratamento isonômico; (Redação dada
pela Lei n. 12.891, de 2013)
II – a realização de encontros, seminários ou congressos, em ambiente fechado e
a expensas dos partidos políticos, para tratar da organização dos processos elei-
torais, discussão de políticas públicas, planos de governo ou alianças partidárias
visando às eleições, podendo tais atividades ser divulgadas pelos instrumentos de
comunicação intrapartidária; (Redação dada pela Lei n. 12.891, de 2013)
III – a realização de prévias partidárias e a respectiva distribuição de material
informativo, a divulgação dos nomes dos filiados que participarão da disputa
e a realização de debates entre os pré-candidatos; (Redação dada pela Lei n.
13.165, de 2015)
IV – a divulgação de atos de parlamentares e debates legislativos, desde que não
se faça pedido de votos; (Redação dada pela Lei n. 12.891, de 2013)
V – a divulgação de posicionamento pessoal sobre questões políticas, inclusive
nas redes sociais; (Redação dada pela Lei n. 13.165, de 2015)
VI – a realização, a expensas de partido político, de reuniões de iniciativa da socie-
dade civil, de veículo ou meio de comunicação ou do próprio partido, em qualquer
localidade, para divulgar ideias, objetivos e propostas partidárias. (Incluído pela
Lei n. 13.165, de 2015
VII – campanha de arrecadação prévia de recursos na modalidade prevista no
inciso IV do § 4º do art. 23 desta Lei. (Incluído dada pela Lei n. 13.488, de 2017)
§ 1º É vedada a transmissão ao vivo por emissoras de rádio e de televisão das
prévias partidárias, sem prejuízo da cobertura dos meios de comunicação social.
(Incluído pela Lei n. 13.165, de 2015)
§ 2ºNas hipóteses dos incisos I a VI do caput, são permitidos o pedido de apoio
político e a divulgação da pré-candidatura, das ações políticas desenvolvidas e
das que se pretende desenvolver. (Incluído pela Lei n. 13.165, de 2015)

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

§ 3º O disposto no § 2º não se aplica aos profissionais de comunicação social no


exercício da profissão. (Incluído pela Lei n. 13.165, de 2015)

Por outro lado, ter-se-á a propaganda eleitoral antecipada, nos seguintes casos:

Art. 36-B. Será considerada propaganda eleitoral antecipada a convocação, por


parte do Presidente da República, dos Presidentes da Câmara dos Deputados, do
Senado Federal e do Supremo Tribunal Federal, de redes de radiodifusão para di-
vulgação de atos que denotem propaganda política ou ataques a partidos políticos
e seus filiados ou instituições. (Incluído pela Lei n. 12.891, de 2013)
Parágrafo único. Nos casos permitidos de convocação das redes de radiodifu-
são, é vedada a utilização de símbolos ou imagens, exceto aqueles previstos no §
1º do art. 13 da Constituição Federal. (Incluído pela Lei n. 12.891, de 2013)

Propaganda Irregular

Propaganda irregular é aquela que se desenvolve mediante a violação das disposições


da legislação em vigor, mas sem configuração de crime.
Na propaganda irregular, não há proibição ou vedação, mas uma restrição ao direito
à propaganda eleitoral, em quaisquer de suas modalidades. O exercício de direitos sempre
se sujeita a limites. A transposição desses limites acarretará a configuração da propaganda
irregular.
Como exemplos de propaganda irregular, têm-se a propaganda extemporânea e a pro-
paganda eleitoral fora dos limites ou em contrariedade às disposições legais.

Propaganda em Bem Público e em Bem de Uso Comum

Segundo o art. 37 da Lei das Eleições, nos bens cujo uso dependa de cessão ou permis-
são do poder público, ou que a ele pertençam, e nos bens de uso comum, inclusive postes de
iluminação pública, sinalização de tráfego, viadutos, passarelas, pontes, paradas de ônibus e
outros equipamentos urbanos, é vedada a veiculação de propaganda de qualquer natureza,
inclusive pichação, inscrição a tinta e exposição de placas, estandartes, faixas, cavaletes,
bonecos e assemelhados.
A reforma eleitoral realizada pela Lei n. 12.034/2009 trouxe o conceito de bens de uso
comum para fins de fixação do limite dessas regras:

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

Art. 37. Omissis


§ 4º Bens de uso comum, para fins eleitorais, são os assim definidos pela Lei n.
10.406, de 10 de janeiro de 2002 – Código Civil e também aqueles a que a popu-
lação em geral tem acesso, tais como cinemas, clubes, lojas, centros comerciais,
templos, ginásios, estádios, ainda que de propriedade privada. (Incluído pela Lei
n. 12.034, de 2009)

Também não se permitirá a colocação de propaganda eleitoral em árvores e nos jardins


localizados em áreas públicas, bem como em muros, cercas e tapumes divisórios. Essa proi-
bição está inscrita no art. 37, § 5º, da Lei n. 9.504/1997:

Art. 37. Omissis.


§ 5º Nas árvores e nos jardins localizados em áreas públicas, bem como em mu-
ros, cercas e tapumes divisórios, não é permitida a colocação de propaganda
eleitoral de qualquer natureza, mesmo que não lhes cause dano. (Incluído pela
Lei n. 12.034, de 2009)

Por outro lado, admite-se a colocação de mesas para distribuição de material de cam-
panha e a utilização de bandeiras ao longo das vias públicas, desde que móveis e que não
dificultem o bom andamento do trânsito de pessoal e de veículos.

Art. 37. Omissis.


§ 6º É permitida a colocação de mesas para distribuição de material de campanha
e a utilização de bandeiras ao longo das vias públicas, desde que móveis e que
não dificultem o bom andamento do trânsito de pessoas e veículos. (Redação
dada pela Lei n. 12.891, de 2013)
§ 7º A mobilidade referida no § 6º estará caracterizada com a colocação e a retira-
da dos meios de propaganda entre as seis horas e as vinte e duas horas. (Incluído
pela Lei n. 12.034, de 2009)

A violação a essa proibição sujeita o responsável, após a notificação e comprovação, à


restauração do bem e, caso não cumprida no prazo, a multa. Contudo, para a aplicação da
multa eleitoral pela propaganda irregular realizada em bens públicos, bens de uso comum
do povo ou em bens cujo uso dependa de cessão ou permissão do Poder Público, deve-se
notificar o responsável pela propaganda e, se não a remover no prazo de 48 horas, poderá
sofrer a aplicação da sanção eleitoral. Essa é a prescrição contida no art. 37, § 1º, da Lei n.
9.504/1997:

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

Art. 37. Omissis.


§ 1º A veiculação de propaganda em desacordo com o disposto no caput deste
artigo sujeita o responsável, após a notificação e comprovação, à restauração do
bem e, caso não cumprida no prazo, a multa no valor de R$ 2.000,00 (dois mil
reais) a R$ 8.000,00 (oito mil reais). (Redação dada pela Lei n. 11.300, de 2006)

Propaganda em Bem Particular

A realização de propaganda eleitoral em bens de uso particular depende apenas do con-


sentimento do proprietário ou possuidor, sendo desnecessária autorização do poder público
(§ 2º do art. 37 da Lei das Eleições), se realizada nos seguintes termos:

Art. 37. Omissis.


§ 2º Não é permitida a veiculação de material de propaganda eleitoral em bens
públicos ou particulares, exceto de:
II – adesivo plástico em automóveis, caminhões, bicicletas, motocicletas e janelas
residenciais, desde que não exceda a 0,5 m² (meio metro quadrado)

Por fim, “em ônibus e táxis não pode ser afixada propaganda eleitoral, quer em sua
parte interna, quer na externa.” (Res. TSE n. 13.062)
A violação a essas proibições sujeita o responsável, após a notificação e comprovação,
à restauração do bem e, caso não cumprida no prazo, a multa.

Propaganda nas Dependências do Legislativo

Nas dependências do Poder Legislativo, a veiculação de propaganda eleitoral fica a


critério da Mesa Diretora, de acordo com a previsão do art. 37, § 3º, da Lei n. 9.504/1997:

Art. 37. Omissis.


§ 3º Nas dependências do Poder Legislativo, a veiculação de propaganda eleitoral
fica a critério da Mesa Diretora.

Embora a autorização para a realização de propaganda eleitoral no interior das Casas


Legislativas fique a critério da Mesa Diretora, não se retira do âmbito da competência da Jus-
tiça Eleitoral a verificação do cumprimento das regras aplicáveis à matéria e das possíveis
violações às vedações impostas pela lei eleitoral perpetradas pelos candidatos.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

Propaganda em Outdoors

É vedada a utilização de outdoors para fins de propaganda eleitoral, sob pena de impo-
sição de multa eleitoral e determinação de retirada da propaganda irregular, nos seguin-
tes termos:

Art. 39. Omissis


§ 8º É vedada a propaganda eleitoral mediante outdoors, inclusive eletrônicos,
sujeitando-se a empresa responsável, os partidos, as coligações e os candidatos
à imediata retirada da propaganda irregular e ao pagamento de multa no valor de
R$ 5.000,00 (cinco mil reais) a R$ 15.000,00 (quinze mil reais). (Redação dada
pela Lei n. 12.891, de 2013)

A violação a essa vedação sujeita a empresa responsável, os partidos, coligações e


candidatos à imediata retirada da propaganda irregular e ao pagamento de multa.

Propaganda na Imprensa Escrita

A propaganda eleitoral na imprensa escrita é permitida a partir de 6 de julho do ano em


que se realizará as eleições até a antevéspera das eleições.
Porém, de acordo com a Lei n. 12.034/2009, existem limitações que devem ser obser-
vadas para a veiculação dessa propaganda eleitoral.

Lei n. 9.504/1997

Art. 43. São permitidas, até a antevéspera das eleições, a divulgação paga, na
imprensa escrita, e a reprodução na internet do jornal impresso, de até 10 (dez)
anúncios de propaganda eleitoral, por veículo, em datas diversas, para cada can-
didato, no espaço máximo, por edição, de 1/8 (um oitavo) de página de jornal
padrão e de 1/4 (um quarto) de página de revista ou tabloide. (Redação dada pela
Lei n. 12.034, de 2009)

Ao final de cada inserção, deverá ser mostrado o valor pago pelo candidato ao jornal
para veicular sua propaganda.
A inobservância desses critérios sujeita os responsáveis pelos veículos de divulgação
e os partidos, coligações ou candidatos beneficiados a multa. Aliás, segundo entendimento
jurisprudencial do TSE, a sanção pecuniária poderá ser imposta aos candidatos beneficiados
com essa propaganda irregular, ainda que não sejam os responsáveis pela veiculação da
propaganda. A esse respeito, veja o seguinte julgado:

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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JURISPRUDÊNCIA
Propaganda eleitoral irregular. Publicação de anúncio. 1. O art. 43, § 2º, da Lei
n. 9.504/97 estabelece a possibilidade de imposição de multa tanto aos respon-
sáveis pelos veículos de divulgação como aos partidos, coligações e candidatos
beneficiados, o que não implica a necessidade de formação de litisconsórcio pas-
sivo. 2. A multa prevista no citado § 2º do art. 43 pode ser aplicada aos candidatos
beneficiados, não exigindo que eles tenham sido responsáveis pela veiculação da
propaganda paga, na imprensa escrita, que extrapolou o limite legal. [...]
(Ac. de 6.11.2012 no AgR-AI n. 27205, rel. Min. Arnaldo Versiani.)

Propaganda no Rádio e na Televisão

A propaganda eleitoral no rádio e televisão, no segundo semestre do ano eleitoral,


restringe-se ao horário eleitoral gratuito. É vedada a propaganda eleitoral paga no rádio e
televisão.

Para evitar a quebra da igualdade entre os candidatos e a influência indevida do poder


econômico, por meio do uso indevido dos meios de comunicação social no processo eleitoral,
a Lei das Eleições impõe certas restrições às emissoras de rádio e televisão. São elas:

• transmitir, ainda que sob a forma de entrevista jornalística, imagens de realização


de pesquisa ou qualquer outro tipo de consulta popular de natureza eleitoral em que
seja possível identificar o entrevistado ou em que haja manipulação de dados;
• usar trucagem, montagem ou outro recurso de áudio ou vídeo que, de qualquer
forma, degradem ou ridicularizem candidato, partido ou coligação, ou produzir ou
veicular programa com esse efeito;
• veicular propaganda política ou difundir opinião favorável ou contrária a candi-
dato, partido, coligação, a seus órgãos ou representantes;
• dar tratamento privilegiado a candidato, partido ou coligação;
• veicular ou divulgar filmes, novelas, minisséries ou qualquer outro programa com
alusão ou crítica a candidato ou partido político, mesmo que dissimuladamente,
exceto programas jornalísticos ou debates políticos;
• divulgar nome de programa que se refira a candidato escolhido em convenção,
ainda quando preexistente, inclusive se coincidente com o nome do candidato ou com
a variação nominal por ele adotada. Sendo o nome do programa o mesmo que o do
candidato, fica proibida a sua divulgação, sob pena de cancelamento do respec-
tivo registro.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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No que se refere a proibição de usar trucagem ou montagem pelas emissoras de rádio


e televisão, deve-se definir o conteúdo dessa expressão normativa. Entende-se por trucagem
todo e qualquer efeito realizado em áudio ou vídeo que degradar ou ridicularizar candidato,
partido político ou coligação, ou que desvirtuar a realidade e beneficiar ou prejudicar qualquer
candidato, partido político ou coligação.
Por sua vez, considera-se montagem toda e qualquer junção de registros de áudio ou
vídeo que degradar ou ridicularizar candidato, partido político ou coligação, ou que desvirtuar
a realidade e beneficiar ou prejudicar qualquer candidato, partido político ou coligação.
Recentemente, o Supremo Tribunal Federal, ao julgar a ADI n. 4.451, declarou a incons-
titucionalidade desse dispositivo legal que proíbe a utilização de trucagem ou montagem
sobre partidos políticos, candidatos ou autoridades por considerar que ele viola a liberdade
de expressão.

Estas foram as razões usadas pelo STF, nesse julgamento:

JURISPRUDÊNCIA
1. A Democracia não existirá e a livre participação política não florescerá onde a
liberdade de expressão for ceifada, pois esta constitui condição essencial ao plu-
ralismo de ideias, que por sua vez é um valor estruturante para o salutar funciona-
mento do sistema democrático.
2. A livre discussão, a ampla participação política e o princípio democrático estão
interligados com a liberdade de expressão, tendo por objeto não somente a prote-
ção de pensamentos e ideias, mas também opiniões, crenças, realização de juízo
de valor e críticas a agentes públicos, no sentido de garantir a real participação
dos cidadãos na vida coletiva.
3. São inconstitucionais os dispositivos legais que tenham a nítida finalidade de
controlar ou mesmo aniquilar a força do pensamento crítico, indispensável ao re-
gime democrático. Impossibilidade de restrição, subordinação ou forçosa adequa-
ção programática da liberdade de expressão a mandamentos normativos cercea-
dores durante o período eleitoral.
4. Tanto a liberdade de expressão quanto a participação política em uma Demo-
cracia representativa somente se fortalecem em um ambiente de total visibili-
dade e possibilidade de exposição crítica das mais variadas opiniões sobre os
governantes.
5. O direito fundamental à liberdade de expressão não se direciona somente a pro-
teger as opiniões supostamente verdadeiras, admiráveis ou convencionais, mas
também aquelas que são duvidosas, exageradas, condenáveis, satíricas, humo-
rísticas, bem como as não compartilhadas pelas maiorias. Ressalte-se que, mes-
mo as declarações errôneas, estão sob a guarda dessa garantia constitucional.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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6. Ação procedente para declarar a inconstitucionalidade dos incisos II e III (na


parte impugnada) do artigo 45 da Lei 9.504/1997, bem como, por arrastamento,
dos parágrafos 4º e 5º do referido artigo.

Além disso, a partir do resultado da convenção, é vedado às emissoras transmitir pro-


grama apresentado ou comentado por candidato escolhido em convenção (§ 1º, art. 45, Lei
das Eleições).
Com a finalidade de garantir o acesso da propaganda eleitoral às pessoas com deficiên-
cia, a propaganda eleitoral no rádio e televisão deverá ser disponibilizada, também, por meio
da Linguagem Brasileira de Sinais — Libras — ou por meio do recurso de legenda, que deverão
constar obrigatoriamente no material entregue às emissoras (§ 1º, art. 44, Lei das Eleições).
Entretanto, em razão da finalidade que define o conteúdo dessa espécie de propaganda
eleitoral, não se permitirá utilização comercial ou propaganda realizada com a intenção, ainda
que disfarçada ou subliminar, de promover marca ou produto (§ 1º, art. 44, Lei das Eleições).
De outra forma, permite-se às emissoras de rádio e televisão a transmissão de debates
sobre as eleições majoritária ou proporcional, sendo assegurada a participação de candida-
tos dos partidos com representação na Câmara dos Deputados, e facultada a dos demais.

Propaganda por Meio de Comício, Showmício e Eventos Assemelhados

O comício pode ser realizado até 48 horas antes das eleições. Para a sua realização, é
dispensável a licença da autoridade policial ou judicial. Deve-se comunicar a autoridade poli-
cial no mínimo vinte e quatro horas antes de sua realização, a fim de que essa lhe garanta,
segundo a prioridade do aviso, o direito contra quem tencione usar o local no mesmo dia e
horário (§ 1º do art. 39 da Lei das Eleições).
Na realização do evento, pode ser utilizada aparelhagem sonora fixa no horário com-
preendido entre 8 e 24 horas. Entretanto, no comício de encerramento da campanha, o prazo
para o seu encerramento poderá ser prorrogado por mais duas horas. Pode-se utilizar telão,
desde que para retransmitir imagens do próprio comício. Fica vedada a utilização de trios elé-
tricos em campanhas eleitorais, exceto para a sonorização (§ 10, art. 39, Lei n. 9.504/1997).
Entretanto, é permitida a circulação de carros de som e minitrios como meio de propa-
ganda eleitoral, desde que observado o limite de 80 (oitenta) decibéis de nível de pressão
sonora, medido a 7 (sete) metros de distância do veículo, e mantendo-se a distância mínima
de 200 metros dos seguintes locais:

• das sedes dos Poderes Executivo e Legislativo da União, dos Estados, do Distrito Fede-
ral e dos Municípios, das sedes dos Tribunais Judiciais, e dos quartéis e outros estabe-
lecimentos militares;
• dos hospitais e casas de saúde;
• das escolas, bibliotecas públicas, igrejas e teatros, quando em funcionamento.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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Quanto a utilização desses equipamentos, a Lei n. 12.891/2013 trouxe as seguintes


definições:

• carro de som – veículo automotor que usa equipamento de som com potência nominal
de amplificação de, no máximo, 10.000 (dez mil) watts;
• minitrio – veículo automotor que usa equipamento de som com potência nominal de
amplificação maior que 10.000 (dez mil) watts e até 20.000 (vinte mil) watts;
• trio elétrico – veículo automotor que usa equipamento de som com potência nominal
de amplificação maior que 20.000 (vinte mil) watts.

Por sua vez, a realização de showmício ou a apresentação de artistas com a finalidade


de animar o comício é vedada. Para a violação dessa regra, não há nenhuma sanção legal
prevista. Contudo, no exercício do poder de polícia, a Justiça Eleitoral poderá determinar a
cessação da conduta. Se a ordem for descumprida, o candidato incidirá nas penas do crime
de desobediência previsto no art. 347 do Código Eleitoral. Poderá, também, ser proposta
ação com a finalidade de demonstrar o gasto ilícito de recursos de campanha e a sua proce-
dência gerará a cassação do registro de candidato ou a negativa da expedição do diploma.
Contudo, a proibição de showmício não impede a realização de apresentação artística
para a arrecadação de recursos para o financiamento de campanhas eleitorais. A esse respeito,
veja o entendimento firmado pelo Supremo Tribunal Federal, no julgamento da ADI n. 5970:

JURISPRUDÊNCIA
1. Por sua natureza de propaganda eleitoral, o showmício é voltado ao público em
geral e presta-se para o convencimento do eleitorado mediante oferecimento de
entretenimento, ou, mais especificamente, de show artístico no contexto do comí-
cio ou de evento eleitoral realizado para a promoção de candidatura, nos quais o
artista e o candidato dividem o palco/palanque com o objetivo de obter votos.
2. O Supremo Tribunal Federal reconhece a instrumentalidade da liberdade de
expressão no contexto político-eleitoral, visto que se destina a estimular e ampliar
o debate público, permitindo que os eleitores tomem conhecimento dos diversos
projetos políticos em disputa. O destinatário último da troca de informações du-
rante o período eleitoral é o cidadão eleitor, titular do direito ao voto, que deve ser
exercido de forma livre e soberana. Não são admitidas, por contrárias à liberdade
de expressão, limitações que venham a desencorajar o fluxo de ideias e propostas
de cada candidato, ou a exercer uma censura prévia quanto a determinado conte-
údo, cabendo a responsabilização, a posteriori, por eventuais abusos praticados
no exercício desse direito. Precedentes: ADI n. 3.741/DF, Tribunal Pleno, Rel. Min.
Ricardo Lewandowski, DJe de 23/2/07; ADI n. 4.451/DF, Tribunal Pleno, Rel. Min.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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Alexandre de Moraes, DJe de 6/3/19; ADI n. 4.650/DF, Tribunal Pleno, Rel. Min.
Luiz Fux, DJe de 24/2/16.
3. É também assegurado a todo cidadão manifestar seu apreço ou sua antipatia
por qualquer candidato, garantia que, por óbvio, contempla os artistas que esco-
lherem expressar, por meio de seu trabalho, um posicionamento político antes,
durante ou depois do período eleitoral. A proibição dos showmícios e eventos as-
semelhados não vulnera a liberdade de expressão, já que a norma em questão
não se traduz em uma censura prévia ou em proibição do engajamento político
dos artistas, visto que dela não se extrai impedimento para que um artista mani-
feste seu posicionamento político em seus shows ou em suas apresentações. A
norma em tela está a regular a forma com que a propaganda eleitoral pode ser
feita, não se confundindo com a vedação de um conteúdo ou com o embaraço
da capacidade de manifestação de opiniões políticas por parte de qualquer cida-
dão. 4. A medida se justifica pelo intuito de evitar o abuso de poder econômico no
âmbito das eleições e de resguardar a paridade de armas entre os candidatos. O
caráter gratuito do showmício ou do evento assemelhado não é suficiente para
afastar o desequilíbrio por eles provocado entre os concorrentes a cargos eletivos,
havendo clara vantagem para aquele que tem apresentações artísticas associa-
das à promoção de sua campanha, ainda que sem pagamento de cachê. Também
se justifica no fato de que a promoção de uma candidatura por meio do patrocínio
de um show destinado ao público em geral poderia ser considerada como ofereci-
mento de uma vantagem ao eleitor, o qual acabaria por associar sua experiência
de entretenimento ao político homenageado.
5. Enquanto o showmício configura uma modalidade de propaganda eleitoral dire-
cionada ao público em geral para obtenção de votos, o evento destinado à arre-
cadação de recursos para a campanha eleitoral tem finalidade diversa, qual seja,
a de mobilizar os apoiadores da candidatura com o intuito de obter recursos para
a viabilização da campanha eleitoral. A realização de evento dessa natureza tem
respaldo constitucional, por se tratar de uma modalidade de doação que propor-
ciona ao eleitor, como pessoa física, participar do financiamento da democracia
representativa, o que reflete o espírito republicano da Carta de 1988, pois possibi-
lita que o cidadão viabilize ativamente o projeto político de sua escolha.
6. Ação direta de inconstitucionalidade julgada parcialmente procedente, reconhe-
cendo-se como parte do escopo do art. 23, § 4º, inciso V, da Lei n. 9.504/1997 a
possibilidade de realização de apresentações artísticas ou shows musicais em
eventos de arrecadação de recursos para campanhas eleitorais, não se aplicando
o princípio da anualidade eleitoral a esse entendimento.

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Propaganda Eleitoral Mediante a Distribuição de Bens ou Vantagens

É vedada na campanha eleitoral a confecção, utilização, distribuição por comitê, can-


didato, ou com a sua autorização, de camisetas, chaveiros, bonés, canetas, brindes, cestas
básicas ou quaisquer outros bens ou materiais que possam proporcionar vantagem ao eleitor.
Logo, a distribuição de objetos que não tragam vantagens ao eleitor não está incluída
na vedação legal. Pode-se, por exemplo, distribuir “santinhos” com a imagem de candidato.
Não se pode, por sua vez, impedir o cidadão de expressar-se e manifestar-se. Poderá,
dessa forma, desde que por conta própria e para seu uso, o eleitor confeccionar bandeiras,
broches, dísticos e adesivos (art. 39-A, Lei n. 9.504/1997).
Embora seja possível o eleitor portar os objetos retromencionados, é vedada, no dia do
pleito, até o término do horário de votação, a aglomeração de pessoas portando vestuário
padronizado, de modo a caracterizar manifestação coletiva, com ou sem utilização de veícu-
los (§1º, art. 39-A, Lei n. 9.504/1997).
A seu turno, no que tange aos servidores da Justiça Eleitoral, aos mesários e aos escru-
tinadores, é proibido o uso de vestuário ou objeto que contenha qualquer propaganda de par-
tido político, de coligação ou de candidato (§ 2º, art. 39-A, Lei n. 9.504/1997).
No que se refere aos fiscais dos partidos políticos que estiverem fiscalizando os traba-
lhos de votação, só é permitido que, em seus crachás, constem o nome e a sigla do partido
político ou coligação a que sirvam, vedada a padronização do vestuário.

Propaganda Mediante Panfletagem

Independe da obtenção de licença municipal e de autorização da Justiça Eleitoral a


veiculação de propaganda eleitoral pela distribuição de folhetos, adesivos, volantes e outros
impressos, os quais devem ser editados sob a responsabilidade do partido, coligação ou
candidato.
Todo material impresso de campanha eleitoral deverá conter o número de inscrição no
Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica — CNPJ — ou o número de inscrição no Cadastro de
Pessoas Físicas — CPF — do responsável pela confecção, bem como de quem a contratou,
e a respectiva tiragem (§ 1º, art. 38, Lei das Eleições).
É possível que panfletos, folhetos e volantes contenham propaganda eleitoral conjunta.
Quando o material impresso veicular propaganda conjunta de diversos candidatos, os gastos
relativos a cada um deles deverão constar na respectiva prestação de contas, ou apenas
naquela relativa ao que houver arcado com os custos (§ 2º, art. 38, Lei n. 9.504/1997).
A distribuição de propaganda eleitoral mediante panfletos é livre desde a data do início
da propaganda até a véspera da eleição.
No que se refere aos adesivos, eles poderão ter a dimensão máxima de 50 centímetros
por 40 centímetros.

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Propaganda na Internet

A propaganda eleitoral na Internet é permitida após o dia 5 de julho do ano da eleição.


Trata-se de inovação introduzida pela Lei n. 12.034/2009. Essas são as novas disposições
acerca da propaganda eleitoral na Internet:

Art. 57-A. É permitida a propaganda eleitoral na internet, nos termos desta Lei, após
o dia 15 de agosto do ano da eleição (Redação dada pela Lei n. 13.165, de 2015)
Art. 57-B. A propaganda eleitoral na internet poderá ser realizada nas seguintes
formas: (Incluído pela Lei n. 12.034, de 2009)
(Vide Lei n. 12.034, de 2009)
I – em sítio do candidato, com endereço eletrônico comunicado à Justiça Eleitoral
e hospedado, direta ou indiretamente, em provedor de serviço de internet estabe-
lecido no País; (Incluído pela Lei n. 12.034, de 2009)
II – em sítio do partido ou da coligação, com endereço eletrônico comunicado à
Justiça Eleitoral e hospedado, direta ou indiretamente, em provedor de serviço de
internet estabelecido no País; (Incluído pela Lei n. 12.034, de 2009)
III – por meio de mensagem eletrônica para endereços cadastrados gratuitamente
pelo candidato, partido ou coligação; (Incluído pela Lei n. 12.034, de 2009)
IV – por meio de blogs, redes sociais, sítios de mensagens instantâneas e aplica-
ções de internet assemelhadas cujo conteúdo seja gerado ou editado por: (Reda-
ção dada pela Lei n. 13.488, de 2017)
a) candidatos, partidos ou coligações; ou (Incluído pela Lei n. 13.488, de 2017)
b) qualquer pessoa natural, desde que não contrate impulsionamento de conteú-
dos. (Incluído pela Lei n. 13.488, de 2017)
§ 1º Os endereços eletrônicos das aplicações de que trata este artigo, salvo aque-
les de iniciativa de pessoa natural, deverão ser comunicados à Justiça Eleito-
ral, podendo ser mantidos durante todo o pleito eleitoral os mesmos endereços
eletrônicos em uso antes do início da propaganda eleitoral. (Incluído pela Lei n.
13.488, de 2017)
§ 2º Não é admitida a veiculação de conteúdos de cunho eleitoral mediante ca-
dastro de usuário de aplicação de internet com a intenção de falsear identidade.
(Incluído pela Lei n. 13.488, de 2017)
§ 3º É vedada a utilização de impulsionamento de conteúdos e ferramentas digi-
tais não disponibilizadas pelo provedor da aplicação de internet, ainda que gratui-
tas, para alterar o teor ou a repercussão de propaganda eleitoral, tanto próprios
quanto de terceiros. (Incluído pela Lei n. 13.488, de 2017)

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§ 4º O provedor de aplicação de internet que possibilite o impulsionamento pago


de conteúdos deverá contar com canal de comunicação com seus usuários e so-
mente poderá ser responsabilizado por danos decorrentes do conteúdo impul-
sionado se, após ordem judicial específica, não tomar as providências para, no
âmbito e nos limites técnicos do seu serviço e dentro do prazo assinalado, tornar
indisponível o conteúdo apontado como infringente pela Justiça Eleitoral. (Incluído
pela Lei n. 13.488, de 2017)
§ 5º A violação do disposto neste artigo sujeita o usuário responsável pelo conte-
údo e, quando comprovado seu prévio conhecimento, o beneficiário, à multa no
valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) a R$ 30.000,00 (trinta mil reais) ou em valor
equivalente ao dobro da quantia despendida, se esse cálculo superar o limite má-
ximo da multa. (Incluído pela Lei n. 13.488, de 2017)
§ 6º (VETADO). (Incluído pela Lei n. 13.488, de 2017)
Art. 57-C. É vedada a veiculação de qualquer tipo de propaganda eleitoral paga na
internet, excetuado o impulsionamento de conteúdos, desde que identificado de
forma inequívoca como tal e contratado exclusivamente por partidos, coligações
e candidatos e seus representantes. (Redação dada pela Lei n. 13.488, de 2017)
§ 1º É vedada, ainda que gratuitamente, a veiculação de propaganda eleitoral na
internet, em sítios: (Incluído pela Lei n. 12.034, de 2009)
I – de pessoas jurídicas, com ou sem fins lucrativos; (Incluído pela Lei n.
12.034, de 2009)
II – oficiais ou hospedados por órgãos ou entidades da administração pública dire-
ta ou indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. (Incluí-
do pela Lei n. 12.034, de 2009)
§ 2º A violação do disposto neste artigo sujeita o responsável pela divulgação da
propaganda ou pelo impulsionamento de conteúdos e, quando comprovado seu
prévio conhecimento, o beneficiário, à multa no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil
reais) a R$ 30.000,00 (trinta mil reais) ou em valor equivalente ao dobro da quan-
tia despendida, se esse cálculo superar o limite máximo da multa. (Redação dada
pela Lei n. 13.488, de 2017)
§ 3º O impulsionamento de que trata o caput deste artigo deverá ser contratado
diretamente com provedor da aplicação de internet com sede e foro no País, ou
de sua filial, sucursal, escritório, estabelecimento ou representante legalmente es-
tabelecido no País e apenas com o fim de promover ou beneficiar candidatos ou
suas agremiações. (Incluído pela Lei n. 13.488, de 2017)
Art. 57-D. É livre a manifestação do pensamento, vedado o anonimato durante a
campanha eleitoral, por meio da rede mundial de computadores - internet, asse-
gurado o direito de resposta, nos termos das alíneas a, b e c do inciso IV do § 3º

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do art. 58 e do 58-A, e por outros meios de comunicação interpessoal mediante


mensagem eletrônica. (Incluído pela Lei n. 12.034, de 2009)
§ 1º (VETADO)
(Incluído pela Lei n. 12.034, de 2009)
§ 2º A violação do disposto neste artigo sujeitará o responsável pela divulgação
da propaganda e, quando comprovado seu prévio conhecimento, o beneficiário à
multa no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) a R$ 30.000,00 (trinta mil reais).
(Incluído pela Lei n. 12.034, de 2009)
§ 3º Sem prejuízo das sanções civis e criminais aplicáveis ao responsável, a Jus-
tiça Eleitoral poderá determinar, por solicitação do ofendido, a retirada de publi-
cações que contenham agressões ou ataques a candidatos em sítios da internet,
inclusive redes sociais. (Incluído pela Lei n. 12.891, de 2013)
Art. 57-E. São vedadas às pessoas relacionadas no art. 24 a utilização, doação ou
cessão de cadastro eletrônico de seus clientes, em favor de candidatos, partidos
ou coligações. (Incluído pela Lei n. 12.034, de 2009)
§ 1º É proibida a venda de cadastro de endereços eletrônicos. (Incluído pela Lei
n. 12.034, de 2009)
§ 2º A violação do disposto neste artigo sujeita o responsável pela divulgação
da propaganda e, quando comprovado seu prévio conhecimento, o beneficiário à
multa no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) a R$ 30.000,00 (trinta mil reais).
(Incluído pela Lei n. 12.034, de 2009)
Art. 57-F. Aplicam-se ao provedor de conteúdo e de serviços multimídia que hos-
peda a divulgação da propaganda eleitoral de candidato, de partido ou de coli-
gação as penalidades previstas nesta Lei, se, no prazo determinado pela Justiça
Eleitoral, contado a partir da notificação de decisão sobre a existência de propa-
ganda irregular, não tomar providências para a cessação dessa divulgação. (Inclu-
ído pela Lei n. 12.034, de 2009)
Parágrafo único. O provedor de conteúdo ou de serviços multimídia só será
considerado responsável pela divulgação da propaganda se a publicação do
material for comprovadamente de seu prévio conhecimento. (Incluído pela Lei n.
12.034, de 2009)
Art. 57-G. As mensagens eletrônicas enviadas por candidato, partido ou coliga-
ção, por qualquer meio, deverão dispor de mecanismo que permita seu desca-
dastramento pelo destinatário, obrigado o remetente a providenciá-lo no prazo de
quarenta e oito horas. (Incluído pela Lei n. 12.034, de 2009)
Parágrafo único. Mensagens eletrônicas enviadas após o término do prazo pre-
visto no caput sujeitam os responsáveis ao pagamento de multa no valor de R$
100,00 (cem reais), por mensagem. (Incluído pela Lei n. 12.034, de 2009)

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

Art. 57-H. Sem prejuízo das demais sanções legais cabíveis, será punido, com mul-
ta de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) a R$ 30.000,00 (trinta mil reais), quem realizar
propaganda eleitoral na internet, atribuindo indevidamente sua autoria a terceiro,
inclusive a candidato, partido ou coligação. (Incluído pela Lei n. 12.034, de 2009)
§ 1º Constitui crime a contratação direta ou indireta de grupo de pessoas com a
finalidade específica de emitir mensagens ou comentários na internet para ofender
a honra ou denegrir a imagem de candidato, partido ou coligação, punível com
detenção de 2 (dois) a 4 (quatro) anos e multa de R$ 15.000,00 (quinze mil reais)
a R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais). (Incluído pela Lei n. 12.891, de 2013)
§ 2º Igualmente incorrem em crime, punível com detenção de 6 (seis) meses a 1
(um) ano, com alternativa de prestação de serviços à comunidade pelo mesmo
período, e multa de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) a R$ 30.000,00 (trinta mil reais),
as pessoas contratadas na forma do § 1º. (Incluído pela Lei n. 12.891, de 2013)
Art. 57-I. A requerimento de candidato, partido ou coligação, observado o rito pre-
visto no art. 96 desta Lei, a Justiça Eleitoral poderá determinar, no âmbito e nos
limites técnicos de cada aplicação de internet, a suspensão do acesso a todo
conteúdo veiculado que deixar de cumprir as disposições desta Lei, devendo o
número de horas de suspensão ser definida proporcionalmente à gravidade da in-
fração cometida em cada caso, observado o limite máximo de vinte e quatro horas.
(Redação dada pela Lei n. 13.488, de 2017)
§ 1º A cada reiteração de conduta, será duplicado o período de suspensão. (Inclu-
ído pela Lei n. 12.034, de 2009)
§ 2º No período de suspensão a que se refere este artigo, a empresa informará, a
todos os usuários que tentarem acessar seus serviços, que se encontra tempora-
riamente inoperante por desobediência à legislação eleitoral. (Incluído pela Lei n.
12.034, de 2009)
Art. 57-J. O Tribunal Superior Eleitoral regulamentará o disposto nos arts. 57-A a
57-I desta Lei de acordo com o cenário e as ferramentas tecnológicas existentes
em cada momento eleitoral e promoverá, para os veículos, partidos e demais enti-
dades interessadas, a formulação e a ampla divulgação de regras de boas práticas
relativas a campanhas eleitorais na internet. (Incluído pela Lei n. 13.488, de 2017)

Propaganda Mediante o Uso de Alto-Falantes ou Amplificadores de Som

Por meio das alterações promovidas pela Lei n. 11300/2006, limitou-se o horário de uti-
lização de alto-falantes ou amplificadores de som para a realização de propaganda eleitoral.
Somente será permitido no horário de 8 às 22 horas.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

Veda-se o uso desse meio de propaganda eleitoral a menos de 200 metros das sedes
do Poder Executivo, Legislativo, dos Tribunais do Judiciário, dos quartéis e outros estabele-
cimentos militares, dos hospitais e casas de saúde, das escolas, bibliotecas públicas, igrejas
e teatros.
Para o descumprimento dessas disposições, não há imposição de sanção legal. Cabí-
vel apenas a busca e apreensão do material e a determinação da paralisação da atividade
irregular. Em caso de não atendimento à ordem judicial, poder‑se‑á configurar o crime de
desobediência.

Debates Eleitorais

Independentemente da veiculação de propaganda eleitoral gratuita no horário definido


nesta Lei, é facultada a transmissão por emissora de rádio ou televisão de debates sobre as
eleições majoritária ou proporcional, assegurada a participação de candidatos dos partidos
com representação no Congresso Nacional, de, no mínimo, cinco parlamentares, e facultada
a dos demais, observado o seguinte:
I – nas eleições majoritárias, a apresentação dos debates poderá ser feita:
a) em conjunto, estando presentes todos os candidatos a um mesmo cargo eletivo;
b) em grupos, estando presentes, no mínimo, três candidatos;
II – nas eleições proporcionais, os debates deverão ser organizados de modo que asse-
gurem a presença de número equivalente de candidatos de todos os partidos a um mesmo
cargo eletivo e poderão desdobrar-se em mais de um dia, respeitada a proporção de homens
e mulheres estabelecida no § 3º do art. 10 desta Lei;
III – os debates deverão ser parte de programação previamente estabelecida e divul-
gada pela emissora, fazendo-se mediante sorteio a escolha do dia e da ordem de fala de
cada candidato, salvo se celebrado acordo em outro sentido entre os partidos e coligações
interessados.
Para os debates que se realizarem no primeiro turno das eleições, serão consideradas
aprovadas as regras, inclusive as que definirem o número de participantes, que obtiverem
a concordância de pelo menos 2/3 (dois terços) dos candidatos aptos, no caso de eleição
majoritária, e de pelo menos 2/3 (dois terços) dos partidos com candidatos aptos, no caso de
eleição proporcional. (§ 5º, art. 46, Lei das Eleições).
Será admitida a realização de debate sem a presença de candidato de algum partido,
desde que o veículo de comunicação responsável comprove havê‑lo convidado com a ante-
cedência mínima de setenta e duas horas da realização do debate (§ 1º, art. 46, Lei das
Eleições).

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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Propaganda eleitoral

Esquema didático

Espécies de Propaganda Eleitoral e Sanções em caso de Violação de Regras


Espécie de Propaganda Sanção

Propaganda extemporânea Multa; inelegibilidade por abuso do poder econômico

Propaganda em bem público Restauração do bem público; multa


Imediata retirada; multa; inelegibilidade por abuso
Propaganda em bem particular
do poder econômico
Propaganda nas dependências do Legislativo Imediata retirada; multa
Imediata retirada; multa; inelegibilidade por abuso
Propaganda em outdoors
do poder econômico
Propaganda na imprensa escrita Multa; direito de resposta
Multa; perda de horário; suspensão temporária do
Propaganda no rádio e televisão programa; suspensão, por 24 horas, da programa-
ção norma da emissora (art. 56 da Lei das Eleições)
Impedimento ou cessação do comício; inelegibilidade
Propaganda por meio de comício por abuso do poder econômico; cassação do registro
ou do diploma (art. 30-A da Lei das Eleições)
Propaganda mediante distribuição de bens ou
Multa; cassação do registro ou do diploma
vantagens
Propaganda mediante panfletagem Crime (se no dia do pleito)
Propaganda na internet Retirada do sítio da internet; multa
Propaganda mediante uso de alto-falantes e Apreensão dos equipamentos; determinação de
amplificadores paralisação da atividade irregular

• Sistema Eletrônico de Votação

Voto: dever eleitoral.

Antes de iniciar o estudo do sistema eletrônico de votação, é importante ser feita a


diferenciação do voto, escrutínio e do sufrágio. Para tanto, serão utilizados os ensinamen-
tos de LULA.

Sufrágio seria o direito público que possui o cidadão de eleger, ser eleito e partici-
par da organização da atividade política do Estado. Ou seja, é o direito que pos-
sibilita ao cidadão de participar do processo de formação da vontade do Estado,
podendo, portanto, ser deliberativo ou eletivo.... O sufrágio é um direito público
subjetivo que decorre diretamente da soberania popular, permitindo aos seus titu-
lares a participação na vida política do país, conduzindo os rumos da nação.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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Voto é o ato que consubstancia o direito ao sufrágio em sua parte ativa, é o seu
exercício. Ou seja, nem todo sufrágio é voto. O fundamental, portanto, é ressaltar
que o voto é distinto do sufrágio. enquanto esse é direito inerente às democracias
modernas, aquele é mera emanação, é mero exercício desse direito, sua manifes-
tação no plano prático. O eleitor, ao votar, deixa clara a manifestação de sua von-
tade política, o que só é possível porque possui ele o direito subjetivo de sufrágio.
Por fim, escrutínio é o modo de exercício do voto, sua concretização. É nada mais
que o processo que abrange as operações de votação — depósito e recolhimento
dos votos — e a apuração dos votos. Não se confunde, portanto, com o sufrágio
(direito), nem com o seu exercício, o voto.

No Brasil, embora o voto seja um direito público subjetivo, também se constitui em um


dever para aqueles que sejam maiores de 18 anos e menores de 70 anos, desde que alfa-
betizados. Diversamente, para os analfabetos de qualquer idade, os maiores de 16 anos e
menores de 18 anos, bem como aqueles que têm mais de 70 anos, têm o direito de votar de
forma facultativa.

O voto possui as seguintes características:

• direto – o eleitor escolhe diretamente, sem intermediação, o seu representante;


• secreto – o voto é sigiloso, não se podendo identificar a escolha do cidadão;
• pessoalidade – o voto somente pode ser exercido pelo próprio eleitor. Não é possível
a outorga de mandato para o exercício do voto;
• periodicidade – o voto para a escolha dos candidatos deve ser exercido com certa
periodicidade;
• livre manifestação de escolha – o eleitor não pode ser coagido a escolher determi-
nada candidatura;
• igualdade – o voto tem o mesmo valor para todos os cidadãos;
• obrigatoriedade do comparecimento no dia da votação – em regra, o voto é
obrigatório.

O não cumprimento desse dever cívico acarreta certas sanções àqueles que deixaram
de exercê-lo.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

Sanções ao Inadimplemento do Voto

Se o eleitor não exercer o seu direito ao voto e não se justificar perante o juiz eleitoral
no prazo de 60 (sessenta) dias após as eleições, incorrerá em multa eleitoral (art. 7º do CE).
Entretanto, não se impõe a multa eleitoral se o eleitor justificar a sua ausência às elei-
ções. Para tanto, confere-se o prazo de 60 dias para a justificativa eleitoral, a contar da data
do pleito, para os eleitores que estavam fora de seu domicílio eleitoral, mas em território
nacional. A seu turno, para os eleitores que se encontram no exterior no dia das eleições,
confere-se um prazo de 30 dias, a contar da data do retorno, para a justificativa eleitoral.
Ressalte-se que não incidirão nessa sanção aqueles que não têm o dever de votar,
ou seja, aos que o exercício do direito ao voto seja facultativo. Também não estará sujeito à
multa o portador de deficiência que torne impossível ou demasiadamente oneroso o cumpri-
mento das obrigações eleitorais (Res.-TSE n. 21.920).

O eleitor que deixar de votar e não regularizar sua situação perante a Justiça Eleitoral,
não poderá:

• inscrever-se em concurso ou prova para cargo ou função pública, investir-se ou empos-


sar-se neles;
• receber vencimentos, remuneração, salário ou proventos de função ou emprego público,
autárquico ou paraestatal, bem como fundações governamentais, empresas, institutos
e sociedades de qualquer natureza, mantidas ou subvencionadas pelo governo ou que
exerçam serviço público delegado, correspondentes ao segundo mês subsequente ao
da eleição;
• participar de concorrência pública ou administrativa da União, dos Estados, dos Territó-
rios, do Distrito Federal ou dos Municípios, ou das respectivas autarquias;
• obter empréstimos nas autarquias, sociedades de economia mista, caixas econômicas
federais ou estaduais, nos institutos e caixas de previdência social, bem como em qual-
quer estabelecimento de crédito mantido pelo governo, ou de cuja administração este
participe, e com essas entidades celebrar contratos;
• obter passaporte ou carteira de identidade;
• renovar matrícula em estabelecimento de ensino oficial ou fiscalizado pelo governo;
• praticar qualquer ato para o qual se exija quitação do serviço militar ou imposto de renda;
• obter Certidão de Quitação Eleitoral.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

Isenção

O Código Eleitoral isenta o exercício do direito ao voto àqueles estejam enfermos; aos
que se encontrem fora do seu domicílio; e aos funcionários civis e militares em serviço que
os impossibilite de votar (inciso II, art. 6º, Código Eleitoral).
Contudo, essa norma do Código Eleitoral não foi recepcionada pela nova ordem cons-
titucional instaurada pela Constituição de 1988.
Na verdade, haverá, de acordo com a CF/1988, isenção relativa quanto ao voto, em
razão da facultatividade do alistamento e do voto para aqueles que se enquadrarem em uma
das seguintes hipóteses fáticas:

• aos maiores de 16 anos e menores de dezoito;


• aos maiores de 70 anos;
• aos analfabetos de qualquer idade;
• ao portador de deficiência que torne impossível ou demasiadamente oneroso o cumpri-
mento das obrigações eleitorais.

Diz-se que essa isenção é relativa em razão da possibilidade do exercício do voto.


Será, por outro lado, absoluta a isenção daqueles que estão impedidos de votar. Nessa
situação, ante a impossibilidade de aquisição ou de exercício da cidadania brasileira, impe-
de-se, em absoluto, o exercício do sufrágio. Assim, haverá isenção absoluta do voto:

• dos conscritos;
• dos estrangeiros;
• dos que perderam os direitos políticos;
• dos que tiveram seus direitos políticos suspensos.

Sistema Eletrônico de Votação

A votação e a totalização dos votos serão feitas por sistema eletrônico, podendo o Tri-
bunal Superior Eleitoral autorizar, em caráter excepcional, a adoção do sistema manual de
colheita de votos, por meio da utilização de cédulas oficiais. Esse sistema eletrônico, desse
modo, deve ser obrigatoriamente utilizado em todas as seções eleitorais, salvo impossibili-
dade material.
Nessa votação por meio de sistema eletrônico, o voto poderá ser atribuído ao candidato
ou à legenda partidária, devendo o nome e fotografia do candidato e o nome do partido ou
a legenda partidária aparecer no painel da urna eletrônica, após a digitação dos respectivos
números pelo eleitor, com a expressão designadora do cargo disputado no masculino ou
feminino, conforme o caso.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
Professor: Weslei Machado

Na votação para as eleições proporcionais, serão computados para a legenda partidária


os votos em que não seja possível a identificação do candidato, desde que o número identi-
ficador do partido seja digitado de forma correta.
No que se refere à ordem de votação, a urna eletrônica exibirá para o eleitor, primeira-
mente, os painéis referentes às eleições proporcionais e, em seguida, os referentes às elei-
ções majoritárias.
O artigo 14 da Constituição Federal prescreve que o voto é secreto. Essa caracterís-
tica do voto produz consequências no sistema eletrônico de votação, que tem que garantir a
impossibilidade de violação dessa garantia constitucional.
Para cumprimento desse mandamento, a urna eletrônica disporá de recursos que,
mediante assinatura digital, permitam o registro digital de cada voto e a identificação da urna
em que foi registrado, resguardado o anonimato do eleitor. Para tanto, caberá à Justiça Elei-
toral definir a chave de segurança e a identificação da urna eletrônica.
Contudo, ao ser contabilizado e registrado digitalmente de cada voto, a urna eletrônica
deve assegurar o sigilo e inviolabilidade, permitindo-se a verificação da integridade do sis-
tema pelos partidos políticos, coligações e candidatos.
Ao final da eleição, a urna eletrônica procederá à assinatura digital do arquivo de votos,
com aplicação do registro de horário e do arquivo do boletim de urna, de maneira a impedir a
substituição de votos e a alteração dos registros dos termos de início e término da votação,
garantindo-se a legitimidade democrática e impossibilitando a ocorrência de fraudes que
possam alterar a manifestação popular depositada na urna.
Partidos e candidatos não podem criar urnas eletrônicas para o treinamento de elei-
tores. Com essa medida, tenta-se evitar que a legitimidade das eleições seja afetada por
meio do condicionamento de eleitores em urnas especialmente criadas por partidos políticos
e candidatos. Somente o TSE pode colocar à disposição dos cidadãos urnas destinadas a
treinamento.
Nesse sistema, será considerado voto de legenda quando o eleitor assinalar o número
do partido no momento de votar para determinado cargo e somente para este será computado.
Nas Seções em que for adotada a urna eletrônica, somente poderão votar eleitores
cujos nomes estiverem nas respectivas folhas de votação ou no cadastro de eleitores cons-
tante da urna.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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Do Voto em Trânsito

A partir da edição da Lei n. 12.034/2009, tornou-se possível o voto em trânsito para as


eleições presidenciais. Veja a disposição legal em comento:

Art. 233-A. Aos eleitores em trânsito no território nacional é assegurado o direito


de votar para Presidente da República, Governador, Senador, Deputado Federal,
Deputado Estadual e Deputado Distrital em urnas especialmente instaladas nas
capitais e nos Municípios com mais de cem mil eleitores.
§ 1º O exercício do direito previsto neste artigo sujeita-se à observância das regras
seguintes: (Incluído pela Lei n. 13.165, de 2015)
I – para votar em trânsito, o eleitor deverá habilitar-se perante a Justiça Eleitoral no
período de até quarenta e cinco dias da data marcada para a eleição, indicando o
local em que pretende votar; (Incluído pela Lei n. 13.165, de 2015)
II – aos eleitores que se encontrarem fora da unidade da Federação de seu domi-
cílio eleitoral somente é assegurado o direito à habilitação para votar em trânsito
nas eleições para Presidente da República; (Incluído pela Lei n. 13.165, de 2015)
III – os eleitores que se encontrarem em trânsito dentro da unidade da Federação
de seu domicílio eleitoral poderão votar nas eleições para Presidente da Repú-
blica, Governador, Senador, Deputado Federal, Deputado Estadual e Deputado
Distrital. (Incluído pela Lei n. 13.165, de 2015)
§ 2º Os membros das Forças Armadas, os integrantes dos órgãos de segurança
pública a que se refere o art. 144 da Constituição Federal, bem como os integran-
tes das guardas municipais mencionados no § 8º do mesmo art. 144, poderão
votar em trânsito se estiverem em serviço por ocasião das eleições. (Incluído pela
Lei n. 13.165, de 2015)
§ 3º As chefias ou comandos dos órgãos a que estiverem subordinados os elei-
tores mencionados no § 2º enviarão obrigatoriamente à Justiça Eleitoral, em até
quarenta e cinco dias da data das eleições, a listagem dos que estarão em serviço
no dia da eleição com indicação das seções eleitorais de origem e destino. (Inclu-
ído pela Lei n. 13.165, de 2015)
§ 4º Os eleitores mencionados no § 2º, uma vez habilitados na forma do § 3º, se-
rão cadastrados e votarão nas seções eleitorais indicadas nas listagens mencio-
nadas no § 3º independentemente do número de eleitores do Município. (Incluído
pela Lei n. 13.165, de 2015)

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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Ilícitos Eleitorais

Ao longo do processo eleitoral, reconhece-se aos partidos políticos, às coligações e


aos candidatos, o direito de captar o apoio de eleitores em prol de candidaturas. Esse direito
de captar votos pode ser exercido de forma livre, somente podendo ser restringido se puder
influenciar negativamente na normalidade e legitimidade das eleições.
Com efeito, nas campanhas eleitorais, os participantes do processo eleitoral poderão
fazer tudo o que a lei não proíbe e somente serão obrigados a fazer um determinado ato, sob
certa forma, se houver expressa previsão legal.
Não obstante, há uma série de condutas que poderão afetar a normalidade e a legiti-
midade das eleições, retirando a autenticidade do sistema representativo. Por essa razão,
essas condutas, caso seja comprovada a sua prática, acarretam a nulidade dos votos dados
aos beneficiados, bem como, em casos excepcionais, poderão gerar a necessidade de se
fazer novas eleições.
Neste capítulo, tratar-se-á das principais espécies de ilícitos eleitorais que devem ser
coibidos no regime democrático brasileiro:

• captação ilícita de sufrágio;


• condutas vedadas a agentes públicos;
• abuso de poder econômico;
• abuso de poder político.

A prática desses atos ilícitos poderá acarretar a aplicação das seguintes sanções, con-
forme previsão legal:

• inelegibilidade;
• cassação do registro de candidatura;
• cassação do diploma;
• cassação do mandato;
• multa eleitoral;
• suspensão imediata da conduta.

Captação Ilícita de Sufrágio

Será configurado a captação ilícita de sufrágio quando o candidato doar, oferecer, pro-
meter ou entregar ao eleitor, com o fim de obter‑lhe o voto, bem ou vantagem pessoal de
qualquer natureza, inclusive emprego ou função pública, desde o registro até o dia da eleição
(art. 41-A da Lei das Eleições).
Houve uma alteração feita na recente reforma eleitoral pela Lei n. 12.034/2009:

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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Art. 41-A. Omissis


§ 1º Para a caracterização da conduta ilícita, é desnecessário o pedido explícito de
votos, bastando a evidência do dolo, consistente no especial fim de agir.

E, igualmente, será assemelhada à captação ilícita de sufrágio a prática de atos de


violência ou grave ameaça a pessoa com o fim de obter‑lhe o voto (§ 2º, art. 41-A, Lei das
Eleições).
Vê-se que a configuração da captação ilícita de sufrágio, pode ocorrer por meio da prá-
tica de três ações expressadas nos verbos (definições do Dicionário Houaiss):

• doar – transmitir gratuitamente a posse de (alguma coisa) a; conceder;


• oferecer – propor (alguma coisa) em contrapartida de (outra coisa);
• prometer – fazer promessa de dar (algo); comprometer‑se a dar; anunciar com anteci-
pação, por indícios; prenunciar, pressagiar.

Desse modo, a ocorrência da captação ilícita de sufrágio exige que o candidato doe,
prometa ou ofereça bens ou vantagens ao eleitor, com a finalidade de conseguir o voto.
Ainda, exige-se que a conduta ocorra entre o dia do pedido de registro de candidatura e o
dia da eleição.
A previsão do art. 41-A da Lei n. 9.504/1997 não constitui uma norma instituidora de
uma situação de inelegibilidade. Se assim o fosse, a norma em análise seria inconstitucio-
nal, pois situações de inelegibilidades somente podem ser criadas e reguladas por lei com-
plementar (art. 14, § 9º, CF/1988). Esse foi o entendimento do Supremo Tribunal Federal ao
julgar a Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 3.592:

JURISPRUDÊNCIA
Ação direta de inconstitucionalidade. Art. 41-A da Lei n. 9.504/1997. Captação de
sufrágio. 2. As sanções de cassação do registro ou do diploma previstas pelo art.
41-A da Lei n. 9.504/1997 não constituem novas hipóteses de inelegibilidade. 3. A
captação ilícita de sufrágio é apurada por meio de representação processada de
acordo com o art. 22, incisos I a XIII, da Lei Complementar n. 64/1990, que não
se confunde com a ação de investigação judicial eleitoral, nem com a ação de
impugnação de mandato eletivo, pois não implica a declaração de inelegibilidade,
mas apenas a cassação do registro ou do diploma. 4. A representação para apurar
a conduta prevista no art. 41-A da Lei n. 9.504/1997 tem o objetivo de resguardar
um bem jurídico específico: a vontade do eleitor. 5. Ação direta de inconstituciona-
lidade julgada improcedente.

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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Lembre-se que, com a edição da Lei Complementar n. 135/2010, a captação ilícita de


sufrágio passou a constituir uma situação de inelegibilidade prevista na Lei Complementar n.
64/1990. A condenação pela prática de captação ilícita de sufrágio no âmbito de uma repre-
sentação terá como consequência a imposição das sanções de multa, cassação de registro
ou cassação de diploma. Como consequência secundária da condenação, nos termos da Lei
das Inelegibilidades, o candidato ficará inelegível.
Não configurarão captação ilícita de sufrágio, desde que devidamente registrados e
dentro dos parâmetros legais, os gastos com:

• confecção de material impresso de qualquer natureza e tamanho;


• propaganda e publicidade direta ou indireta, por qualquer meio de divulgação, desti-
nada a conquistar votos;
• aluguel de locais para a promoção de atos de campanha eleitoral;
• despesas com transporte ou deslocamento de candidato e de pessoal a serviço das
candidaturas;
• correspondência e despesas postais;
• despesas de instalação, organização e funcionamento de Comitês e serviços necessá-
rios às eleições;
• remuneração ou gratificação de qualquer espécie a pessoal que preste serviços às can-
didaturas ou aos comitês eleitorais;
• montagem e operação de carros de som, de propaganda e assemelhados;
• a realização de comícios ou eventos destinados à promoção de candidatura;
• produção de programas de rádio, televisão ou vídeo, inclusive os destinados à propa-
ganda gratuita;
• realização de pesquisas ou testes pré-eleitorais;
• aluguel de bens particulares para veiculação, por qualquer meio, de propaganda
eleitoral;
• custos com a criação e inclusão de sítios na Internet;
• produção de jingles, vinhetas e slogans para propaganda eleitoral.

Para a configuração desse ilícito eleitoral, é necessário provar a potencialidade do


ato para viciar ou macular o resultado do pleito?

Para José Jairo Gomes (2008, p. 420),

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RESUMO DE DIREITO ELEITORAL
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cumpre ressaltar que o bem jurídico que se visa salvaguardar é a liberdade do


eleitor de votar conforme os ditames de sua própria consciência. É a liberdade de
formar sua vontade de votar livremente, escolhendo quem bem entender. Logo,
não é necessário que o evento afete ou comprometa a normalidade ou a legitimi-
dade das eleições, porquanto uma só ocorrência já é bastante para configurar o
ilícito em exame, sendo desnecessária a presença da potencialidade lesiva.

Condutas Vedadas a Agentes Públicos

Com a finalidade de manter a lisura das eleições, garantir aos candidatos a igualdade
de condições e afastar a possibilidade de os postulantes aos cargos eletivos abusem do
poder político, a Lei das Eleições previu uma série de condutas vedadas aos agentes públi-
cos. Inclusive, a partir da possibilidade da reeleição aos detentores de cargos no Executivo,
tornou-se imprescindível o elenco de um rol de condutas que poderiam viciar o resultado
das eleições.
As condutas vedadas aos agentes públicos estão previstas nos arts. 73 a 78 da Lei
das Eleições.

Conceito de Agente Público

Considera-se agente público, para os efeitos da vedação da prática de certas condutas


durante o processo eleitoral, quem exerce, ainda que transitoriamente ou sem remunera-
ção, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura
ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nos órgãos ou entidades da administração
pública direta, indireta ou fundacional (§ 1º do art. 73 da Lei das Eleições).

Rol de Condutas Vedadas

É vedado aos agentes públicos, em campanha eleitoral:

• ceder ou usar, em benefício de candidato, partido político ou coligação, bens móveis


ou imóveis pertencentes à administração direta ou indireta da União, dos Estados, do
Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios, ressalvada a realização de conven-
ção partidária. Essa vedação não se aplica ao uso, em campanha, de transporte oficial
pelo presidente da República, devendo o partido político ressarcir o Poder Público dos
gastos com essa locomoção, nem ao uso, em campanha, pelos candidatos à reeleição
de presidente e vice‑presidente da República, governador e vice‑governador de Estado
e do Distrito Federal, prefeito e vice‑prefeito, de suas residências oficiais para realiza-
ção de contatos, encontros e reuniões pertinentes à própria campanha, desde que não
tenham caráter de ato público;

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• usar materiais ou serviços, custeados pelos Governos ou Casas Legislativas,


que excedam as prerrogativas consignadas nos regimentos e normas dos órgãos
que integram;
• ceder servidor público ou empregado da administração direta ou indireta federal,
estadual ou municipal do Poder Executivo, ou usar de seus serviços, para comi-
tês de campanha eleitoral de candidato, partido político ou coligação, durante o horário
de expediente normal, salvo se o servidor ou empregado estiver licenciado;
• fazer ou permitir uso promocional em favor de candidato, partido político ou coli-
gação, de distribuição gratuita de bens e serviços de caráter social custeados ou
subvencionados pelo Poder Público;
• nomear, contratar ou de qualquer forma admitir, demitir sem justa causa, suprimir
ou readaptar vantagens ou por outros meios dificultar ou impedir o exercício funcional
e, ainda, ex officio, remover, transferir ou exonerar servidor público, na circuns-
crição do pleito, nos três meses que o antecedem e até a posse dos eleitos, sob
pena de nulidade de pleno direito, ressalvados:

a) a nomeação ou exoneração de cargos em comissão e designação ou dispensa de


funções de confiança;
b) a nomeação para cargos do Poder Judiciário, do Ministério Público, dos Tribunais ou
Conselhos de Contas e dos órgãos da Presidência da República;
c) a nomeação dos aprovados em concursos públicos homologados até o início
daquele prazo;
d) a nomeação ou contratação necessária à instalação ou ao funcionamento inadiá-
vel de serviços públicos essenciais, com prévia e expressa autorização do chefe do Poder
Executivo;
e) a transferência ou remoção ex officio de militares, policiais civis e de agentes peni-
tenciários nos três meses que antecedem o pleito.

• realizar transferência voluntária de recursos da União aos Estados e Municípios,


e dos Estados aos Municípios, sob pena de nulidade de pleno direito, ressalvados
os recursos destinados a cumprir obrigação formal preexistente para execução de obra
ou serviço em andamento e com cronograma prefixado, e os destinados a atender situ-
ações de emergência e de calamidade pública;
• com exceção da propaganda de produtos e serviços que tenham concorrência
no mercado, autorizar publicidade institucional dos atos, programas, obras, ser-
viços e campanhas dos órgãos públicos federais, estaduais ou municipais, ou
das respectivas entidades da administração indireta, salvo em caso de grave e urgente
necessidade pública, assim reconhecida pela Justiça Eleitoral;

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• fazer pronunciamento em cadeia de rádio e televisão, fora do horário eleitoral


gratuito, salvo quando, a critério da Justiça Eleitoral, tratar-se de matéria urgente, rele-
vante e característica das funções de governo;
• empenhar, no primeiro semestre do ano de eleição, despesas com publicidade
dos órgãos públicos federais, estaduais ou municipais, ou das respectivas enti-
dades da administração indireta, que excedam a 6 (seis) vezes a média mensal
dos valores empenhados e não cancelados nos 3 (três) últimos anos que antece-
dem o pleito;
• fazer, na circunscrição do pleito, revisão geral da remuneração dos servidores
públicos que exceda a recomposição da perda de seu poder aquisitivo ao longo
do ano da eleição, a partir do início do prazo estabelecido no art. 7º desta Lei e até a
posse dos eleitos;
• a distribuição gratuita de bens, valores ou benefícios por parte da Administração Pública,
exceto nos casos de calamidade pública, de estado de emergência ou de programas
sociais autorizados em lei e já em execução orçamentária no exercício anterior, casos
em que o Ministério Público poderá promover o acompanhamento de sua execução
financeira e administrativa.
• no ano em que se realizar eleição, fica proibida a distribuição gratuita de bens, valo-
res ou benefícios por parte da Administração Pública, exceto nos casos de calamidade
pública, de estado de emergência ou de programas sociais autorizados em lei e já em
execução orçamentária no exercício anterior, casos em que o Ministério Público poderá
promover o acompanhamento de sua execução financeira e administrativa.

Sanções

Se o agente público em campanha eleitoral praticar uma das situações vedadas, o ato
deverá ser suspensão imediata da conduta, quando for o caso, sujeitando os responsáveis
à multa. Além disso, o candidato beneficiado, agente público ou não, ficará sujeito à pena de
cassação do registro ou do diploma (§ 5º, art. 73, Lei das Eleições).
Prevê ainda a Lei das Eleições que a prática das condutas vedadas se constitui em ato
de improbidade administrativa e sujeita o infrator à perda da função pública e a imposição da
pena de suspensão dos direitos políticos (§ 7º, art. 73, Lei das Eleições). Entretanto, a apli-
cação dessas sanções não pode ser feita pela Justiça Eleitoral e depende do ajuizamento de
ação específica perante o juiz competente.
Essas penalidades poderão ser aplicadas cumulativamente e, no caso da multa, se for
caso de reincidência, haverá a duplicação da mesma. Por sua vez, se o beneficiado for um
partido político, esse será excluído da distribuição das cotas do fundo partidário (§ 9º, art. 73,
Lei das Eleições).

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Abuso de Poder e Corrupção no Processo Eleitoral

Entre os vários princípios eleitorais estudados, tem-se o princípio da lisura das eleições,
pelo qual busca-se garantir aos candidatos isonomia na competição. Tenta-se afastar do
pleito eleitoral condutas que possam de qualquer forma afetar desarrazoadamente o resul-
tado das eleições.
A própria Constituição Federal, com a finalidade de garantir que a moralidade presidiria
a competição entre os candidatos e que a disputa seria pautada pela lisura, em seu art. 14,
§ 9º, prescreveu que:

Art. 14. Omissis


§ 9º Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos
de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para
exercício de mandato considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade
e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do
exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta.

Por essa forma, devem-se evitar atitudes que firam a legitimidade e a normalidade das
eleições. A própria Constituição elencou certos atos que podem macular a moralidade nas
eleições: o abuso do poder político e o abuso do poder econômico.
Dentre outras formas de combater a prática dessas condutas ilícitas, o legislador infra-
constitucional estava autorizado a editar uma lei complementar prevendo os casos de inele-
gibilidade decorrente de atividades econômicas ou políticas abusivas. Essa competência foi
exercida com a edição da Lei Complementar n. 64/1990.
Além do abuso do poder político e do abuso do poder econômico, há uma terceira
espécie de abuso, que é o uso arbitrário e descomedido dos meios de comunicação. Devem
ser amplamente combatidos, pois “é indubitável que o poder econômico, o poder político e o
uso intensivo dos meios de comunicação influenciam no resultado das eleições” (ALMEIDA,
2009, p. 305).

O que é abuso de poder?

Para José Jairo Gomes (2008, p. 156),

por abuso de poder compreende‑se a realização de ações exorbitantes da norma-


lidade, denotando um mau uso de recursos detidos e controlados pelo beneficiário
ou a ele disponibilizados, sempre com vistas a exercer influência em disputa elei-
toral futura ou já em curso. As eleições em que ele se instala resultam maculadas,
gerando representação política ilegítima, já que destoante da vontade popular.

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• Abuso do poder político

Abuso do poder político é o uso indevido de cargo ou função pública, com a finalidade
de obter votos para determinado candidato. É a atividade ímproba do administrador, com a
finalidade de influenciar no pleito eleitoral de modo ilícito, desequilibrando a disputa. Sem
improbidade, não há abuso de poder político (COSTA, 2008, p. 307).
Portanto, qualquer utilização indevida da máquina pública que tenha a potencialidade
de influenciar o resultado das eleições em favor de determinado cidadão constitui abuso
do poder político. Se o autor do abuso detentor de cargo na administração pública direta,
indireta ou fundacional e beneficiar a si ou a terceiros, pelo abuso do poder econômico ou
político apurado em processo, com sentença transitada em julgado ou por decisão proferida
por órgão colegiado, serão inelegíveis para as eleições na qual concorrem e para as que se
realizarem nos oito anos seguintes (d, I, 1º, LC n. 64/1990).
Veja alguns exemplos de abuso do poder político na casuística da jurisprudência do TSE:

JURISPRUDÊNCIA
No programa eleitoral é lícito que o candidato à reeleição apresente as realizações
de seu governo sem que isso configure abuso de poder. Publicidade cuja veicu-
lação, durante o período eleitoral, foi obstada por força de decisão liminar, não
havendo, portanto, efeito lesivo ao equilíbrio ou à lisura das eleições. (TSE. Rp n.
1.098, Rel. Min. Cesar Asfor Rocha.)

JURISPRUDÊNCIA
[...]
III – A concessão de benefícios a servidores públicos estaduais nas proximidades
das eleições municipais pode caracterizar abuso do poder político, desde que evi-
denciada, como na hipótese, a possibilidade de haver reflexos na circunscrição do
pleito municipal, diante da coincidência de eleitores.
[...]
V – Não é fator suficiente para desconfigurar o abuso do poder político de que
cuida o art. 22 da LC n. 64/1990, o fato de o candidato por ele beneficiado não ter
sido eleito, pois o que se leva em consideração na caracterização do abuso do
poder são suas características e as circunstâncias em que ocorrido. [...] (REspe n.
26.054, Rel. Min. Cesar Asfor Rocha.)

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JURISPRUDÊNCIA
Abuso de poder. [...] 2. Não caracteriza abuso de poder político a redução de im-
posto para um setor econômico se não se trata de ato episódico da administração,
mas se insere no contexto de planejamento governamental, fundado em estudos
técnicos que evidenciam a viabilidade da concessão de benefícios fiscais, sem
prejuízo ao Erário. [...] (RO n. 733, Rel. Min. Fernando Neves.)

• Abuso do poder econômico

Todos os candidatos, em um regime democrático, devem ter igualdade de oportunida-


des para ascender aos cargos públicos eletivos.
Porém, em uma sociedade em que o sistema financeiro exerce grande influência, o
poder econômico é um fator de fundamental importância para influenciar o voto dos eleitores.
A Constituição determina que o abuso do poder econômico deve ser combatido, sob pena
das eleições serem ilegítimas e maculadas.
Segundo entendimento doutrinário, o abuso do poder econômico não se confunde
necessariamente com a compra de votos, com a entrega de dinheiro ao eleitor para obter
seu apoio. Abuso do poder econômico é o gasto mau, perverso e excessivo em uma campa-
nha eleitoral, que influa negativamente, na vontade do cidadão. É o uso de recursos fora do
padrão e além dos limites estabelecidos pela Lei das Eleições em um pleito.

Seguem os exemplos retirados da jurisprudência do TSE de condutas que se caracte-


rizam abusivas:

JURISPRUDÊNCIA
1. Abuso do poder configurado, em face da construção de barragens e da con-
cessão de transporte gratuito à população, em ano eleitoral, com potencial dese-
quilíbrio no resultado do pleito. [...] (TSE. AgRgREspe n. 26.035, Rel. Min. Gerar-
do Grossi).

JURISPRUDÊNCIA
Em sede de ação de investigação judicial eleitoral, não é necessário atribuir ao
réu a prática de uma conduta ilegal, sendo suficiente, para a procedência da ação,
o mero benefício eleitoral angariado com o ato abusivo, assim como a demons-
tração da provável influência do ilícito no resultado do pleito. Precedentes. – Hi-
pótese em que as provas carreadas para os autos são irrefutáveis, no sentido
de que, efetivamente, houve abuso de poder econômico, em prol do recorrente,
capaz de influenciar no resultado do pleito. [...] (TSE. RO n. 1.350, Rel. Min. Cesar
Asfor Rocha.)

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JURISPRUDÊNCIA
Abuso do poder econômico. Potencialidade. [...] 1. Apontamento pelo Ministério
Público do fato de terem sido apreendidas quinze cestas básicas na residência de
um cabo eleitoral do candidato, que seriam distribuídas a eleitores. 2. Apreensão
ocorrida no Município de Rio Branco, onde o candidato obteve alta concentração
de votos (77,30%), de um total de 3.304 votos. 3. O abuso do poder econômico
foi reconhecido por decisão deste Tribunal (RO n. 741, Rel. Min. Gomes de Bar-
ros, julgado em 22/2/2005). 4. Verifica‑se a potencialidade da conduta e o conse-
quente comprometimento do processo eleitoral. [...] (TSE. RCEd n. 616, Rel. Min.
José Delgado.)

• Abuso de poder no uso dos meios de comunicação

Os meios de comunicação são um importante instrumento para viabilizar candidaturas.


Esses instrumentos de comunicação viabilizam o atingimento de forma ampla o eleitorado e
transmite a ideologia e os programas dos pleiteantes a um cargo eletivo.
No entanto, a Constituição brasileira dispõe que qualquer conduta que possa viciar a
legitimidade e a normalidade das eleições deve ser combatida. Tem-se, então, como possível
forma de quebrar a indispensável isonomia entre os participantes do pleito eleitoral, a utiliza-
ção indevida dos meios de comunicação.
Nesse sentido, qualquer utilização dos veículos de comunicação fora dos limites e parâ-
metros legais é indevida e apta a ensejar a pena da inelegibilidade.

• Instrumentos para combate do abuso de poder no processo eleitoral

Vários instrumentos foram colocados à disposição dos interessados para que se com-
batesse o abuso de poder nas eleições e fosse efetivado o comando constitucional que deter-
mina que as eleições devam ser legítimas e normais, que a soberania popular deverá ser
resguardada e que a liberdade do exercício do voto não poderá ser cerceada.
Dentre os instrumentos jurídicos aptos a combater o abuso do poder político, econô-
mico e no uso dos meios de comunicação, têm-se a ação de investigação judicial eleitoral,
representação por captação ilícita de sufrágio, ação de impugnação ao mandato eletivo,
recurso contra a expedição de diploma.

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Referências

ALMEIDA, Roberto Moreira. Direito Eleitoral. 2. ed. rev. atual. e ampl. Salvador: JusPo-
divm, 2009.
BARROS, Francisco Dirceu. Direito Eleitoral: teoria, jurisprudência e mais de 1000 ques-
tões comentadas. 7. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008.
BRANCO, Tatiana Coutinho Castelo, CARVALHEDO, Marcos, KALKAMANN, Tiago. Sú-
mulas do TSE Comentadas. Ed. Lura Editorial. São Paulo. 2017.
CÂNDIDO, Joel J. Direito Eleitoral Brasileiro. 12. ed. rev., atual. e ampl. Bauru: Edipro, 2006.
CERQUEIRA, Thales Tácito Pontes Luz de Pádua. CERQUEIRA, Camila Medeiros de Al-
buquerque Pontes Luz de Pádua. Tratado de Direito Eleitoral. São Paulo: Premier Má-
xima, 2008.
COÊLHO, Marcus Vinicius Furtado. Direito Eleitoral e Processo Eleitoral – Direito Penal
Eleitoral e Direito Político. Rio de Janeiro: Renovar, 2008.
COSTA, Adriano Soares da. Instituições de Direito Eleitoral. 7. ed. rev., atual. e ampl. Rio
de Janeiro: Lumen Juris, 2008.
DIDIER JR., Fredie. CUNHA, Leonardo José Carneiro da. Curso de Direito Pro- cessual
Civil: Meios de Impugnação às decisões judiciais e processo nos tribu- nais. 5. ed. rev.,
atual. e ampl. Salvador: JusPodivm, 2008.
GOMES, José Jairo. Direito Eleitoral. 3. ed. rev. e atual. Belo Horizonte: Del Rey, 2008.
RAMAYANA, Marcos. Direito Eleitoral. 8. ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Im-
petus, 2008.
VELLOSO, Carlos Mário da Silva. AGRA, Walber de Moura. Elementos de Direito Eleitoral.
São Paulo: Saraiva, 2009.
ZILIO, Rodrigo López. Direito Eleitoral: noções preliminares, elegibilidade e inelegibilidade,
processo eleitoral (da convenção à prestação de contas), ações eleitorais. Porto Alegre:
Verbo Jurídico, 2008.

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