Você está na página 1de 56

Aula 05 - Prof.

Vinícius
Silva.
Discursivas p/ PC-PR (Delegado) Com
Correção - Pós-Edital

Autores:
Fernando Bezerra, Ivo Martins,
Vinicius Silva
Aula 05 - Prof. Vinícius Silva.
13 de Maio de 2020
Fernando Bezerra, Ivo Martins, Vinicius Silva
Aula 05 - Prof. Vinícius Silva.

Sumário
1. Apresentação ................................................................................................................. 2
2. Aspectos teóricos acerca da interceptação telefônica .................................................... 3
2.1 Análise da Lei n° 9.296/96 ............................................................................................ 9
3. Representação por Interceptação das Comunicações Telefônicas ................................ 14
3.1 Legitimação................................................................................................................ 14
3.2 Fundamentos de fato ou Fatos ................................................................................... 15
3.3 Fundamentos jurídicos ............................................................................................... 16
3.4. Pedido ...................................................................................................................... 18
4. Modelo de representação por interceptação das comunicações telefônicas ................ 21
4.1 Endereçamento.......................................................................................................... 21
4.2 Preâmbulo ................................................................................................................. 22
4.3 Fatos .......................................................................................................................... 24
4.4 Fundamentos jurídicos ............................................................................................... 24
4.5 Do Pedido. ................................................................................................................. 25
5. Questões comentadas de prova. .................................................................................. 29

Discursivas p/ PC-PR (Delegado) Com Correção - Pós-Edital 1


www.estrategiaconcursos.com.br 55
Fernando Bezerra, Ivo Martins, Vinicius Silva
Aula 05 - Prof. Vinícius Silva.

1. APRESENTAÇÃO

Olá futuro Delegado de Polícia Civil do Paraná,

Estamos evoluindo nos nossos estudos e chegamos a aula 04, onde vamos estudar uma
medida cautelar probatória muito importante, que já foi objeto de prova no
último concurso da PCPE, prova realizada em junho de 2016, assim como na
prova da PCSC – 2014.
Note que as três primeiras aulas de peças (03, 04, 05 e 06) foram destinadas a
cautelares pessoais, a última aula foi a de busca domiciliar, inaugurando as medidas
cautelares probatórias e na aula de hoje vamos trabalhar com outra medida cautelar
muito comum da atividade policial, que é a interceptação das comunicações telefônicas.

Ela tem crescido em termos de incidência, tendo sido já cobrada pela Banca CESPE,
mas a verdade é que desde 2016 não temos a cobrança desse tipo de cautelar, o que
pode indicar uma probabilidade boa para essa segunda fase do PR.

Discursivas p/ PC-PR (Delegado) Com Correção - Pós-Edital 2


www.estrategiaconcursos.com.br 55
Fernando Bezerra, Ivo Martins, Vinicius Silva
Aula 05 - Prof. Vinícius Silva.

No dia a dia das delegacias de polícia, quando a investigação muitas vezes não tem
outra forma de prosseguir, é o momento lançar mão de uma interceptação.

Você como delegado de polícia deverá ficar muito atento, pois essa medida pode
aparecer sozinha numa prova, como foi o caso da prova de Delegado de Polícia de
Santa Catarina e Pernambuco, em 2014 e 2016, respectivamente.

Na aula vou expor alguns conceitos teóricos/doutrinários acerca do tema e depois


vamos comentar a Lei n° 9.296/96, naquilo que diz respeito à representação pela
medida.

Mais uma vez essa medida cautelar está imersa em meio a uma garantia
constitucional, a da inviolabilidade das comunicações, direito à privacidade de
suas comunicações, ou seja, a medida é utilizada para coibir o cometimento de crimes
acobertados pelo manto do direito individual à intimidade.

A ideia aqui é a mesma da busca domiciliar, ou seja, fazer um juízo de ponderação,


em homenagem ao princípio da concordância prática, pois não é admissível que, sob
a guarida de um direito, possam ser violados outros tão essenciais quanto a intimidade
e a inviolabilidade das comunicações telefônicas.

Esse aspecto deve ser levantado em sua representação, geralmente eu recomendo que
o candidato exponha essa fundamentação no segundo tópico da fundamentação.

2. ASPECTOS TEÓRICOS ACERCA DA INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA

A primeira coisa que deve ser esclarecida acerca da interceptação é que ela é regulada
por uma lei específica, diferentemente da busca e apreensão que está regulada no CPP
(art. 240), a interceptação telefônica está regulamentada em uma lei ordinária, trata-
se da Lei n°. 9.296/96. Assim, temos um arcabouço de dispositivos legais
especificamente destinados a essa medida.

A lei supramencionada é reflexo de um mandamento constitucional, ou seja, a própria


constituição previu que a regulamentação da interceptação é matéria de lei. Vejamos o
inciso XII, do art. 5° da CRFB/88.

Discursivas p/ PC-PR (Delegado) Com Correção - Pós-Edital 3


www.estrategiaconcursos.com.br 55
Fernando Bezerra, Ivo Martins, Vinicius Silva
Aula 05 - Prof. Vinícius Silva.

XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das


comunicações telegráficas, de dados e das comunicações
telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas
hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de
investigação criminal ou instrução processual penal;

Essa é a previsão do art. 5°, XII, da CF/88.

Assim, do dispositivo acima, podemos afirmar, ao fazer uma primeira leitura, que o
sigilo de correspondência, das comunicações telegráficas e de dados são absolutamente
invioláveis, sendo relativizada apenas as comunicações telefônicas.
A primeira coisa que deve ficar clara aqui é que você está se preparando para uma
prova discursiva e nesse sentido, deve se pautar por um aprofundamento em alguns
temas e esse é um dos que suscita mais discussão jurisprudencial e doutrinária.

Seguindo uma linha mais voltada para a atividade policial, não apenas as
comunicações telefônicas podem ser violadas, mas todos os tipos de
comunicação, uma vez que nenhum tipo de comunicação pode ser utilizado para
acobertar o cometimento de crimes.

Além do mais, não existe direito fundamental absoluto, portanto seria um absurdo
considerar que o dispositivo acima relativizou apenas as comunicações telefônicas.

Assim, diante de uma prova para delegado de polícia civil, fundamente a sua
resposta, afirmando que não há direito fundamental absoluto, sendo eles, portanto,
relativizados, principalmente quando utilizados no mundo do crime, como forma de se
acobertar a prática delituosa, isso não condiz com o estado democrático, tampouco ele
pode permitir que um direito sucumba perante outro, isso violaria o princípio da
concordância prática ou harmonização.

Assim, a ideia é que não apenas as comunicações telefônicas podem ser interceptadas,
mas também as comunicações de dados, e até as correspondências.

Para isso, basta lembrarmos da lei de execução penal, que prevê a interceptação das
cartas enviadas e recebidas por presos.

Discursivas p/ PC-PR (Delegado) Com Correção - Pós-Edital 4


www.estrategiaconcursos.com.br 55
Fernando Bezerra, Ivo Martins, Vinicius Silva
Aula 05 - Prof. Vinícius Silva.

Art. 41 - Constituem direitos do preso:

(...)

XV - contato com o mundo exterior por meio de


correspondência escrita, da leitura e de outros meios de
informação que não comprometam a moral e os bons
costumes.

(...)

Parágrafo único. Os direitos previstos nos incisos V, X e


XV poderão ser suspensos ou restringidos mediante ato
motivado do diretor do estabelecimento.

Ou seja, estamos diante de um direito que pode ser relativizado, diante da suspeita
fundada de cometimento de crimes.

É o que acontece com os criminosos que comandam o tráfico e as organizações


criminosas mesmo estando encarcerados.

O objetivo é cessar o comando da atividade criminosa.

Mas vamos voltar ao nosso assunto que é a interceptação das comunicações telefônicas.

O dispositivo constitucional prevê que a violabilidade das comunicações telefônicas é


cabível nas hipóteses que a lei prevê, com a finalidade de instruir procedimento de
investigação criminal ou processo penal.

Portanto, nos casos de inquérito policial ou qualquer outro instrumento de investigação,


é cabível a interceptação, no entanto, apenas nos casos em que a lei prevê a
possibilidade.

A constituição federal passou a bola para a lei definir em que situações teremos a
possibilidade de interceptação telefônica validada, ou seja, sem que haja violação do
direito à intimidade e vida privada das pessoas.

Discursivas p/ PC-PR (Delegado) Com Correção - Pós-Edital 5


www.estrategiaconcursos.com.br 55
Fernando Bezerra, Ivo Martins, Vinicius Silva
Aula 05 - Prof. Vinícius Silva.

Então a Lei n°. 9.296/96 veio para definir quais as possibilidades de cabimento e
também os requisitos cautelares para o deferimento da interceptação telefônica.

Professor, e as
interceptações que foram
efetuadas antes da edição
da lei, em 1996?

Aderbal, sem entrar em maiores detalhes,


prevalece o entendimento de que essas
interceptações estão eivadas de vício, uma
vez que a não existia lei, conforme a
previsão constitucional.

A lei então disciplinou a matéria e trouxe inclusive tipificação de crime em caso de


interceptação ilegal ou quebra de segredo de justiça.

Antes de adentrar na lei, vamos verificar ainda alguns conceitos importantes, que não
podem se confundir com o de interceptação telefônica.

a) interceptação telefônica em sentido estrito

Essa é a interceptação objeto da nossa aula, ela consiste em uma terceira pessoa
interceptar, ou seja, aparecer no meio do caminho da ligação, sem que os
interlocutores saibam da existência dessa pessoa e tampouco de que essa comunicação
está sendo ouvida e, geralmente, gravada por essa terceira pessoa.

Discursivas p/ PC-PR (Delegado) Com Correção - Pós-Edital 6


www.estrategiaconcursos.com.br 55
Fernando Bezerra, Ivo Martins, Vinicius Silva
Aula 05 - Prof. Vinícius Silva.

b) sigilo telefônico

Esse é o primeiro conceito que costumamos confundir com interceptação telefônica. Na


verdade, a quebra do sigilo telefônico é apenas a publicização para a autoridade pública
das ligações efetuadas pelo investigado, com o seu tempo de duração, dia e hora
em que foi feita, destinatário da comunicação, etc.

Assim, veja que não se confundem esses conceitos. Geralmente no pedido de


interceptação, o delegado acaba representando também pela quebra de sigilo de dados
telefônicos, de modo a dar mais robustez aos elementos de informação colhidos.

A interceptação por si só não é tão contundente e não possui algumas informações que
são específicas da quebra de sigilo de dados.

Vamos ver no modelo da peça como inserir isso dentro da representação, de forma bem
objetiva, no pedido que será feito à autoridade judiciária.

Na prova de Delegado de Pernambuco a peça cautelar foi a representação pela quebra


de sigilo e também pela interceptação das comunicações telefônicas. Vamos ver essa
questão nas resolvidas da aula de hoje. Vamos comentar a prova de Delta PE.

c) escuta telefônica

Nessa hipótese um terceiro capta a comunicação, assim como ocorre na interceptação,


no entanto, um dos interlocutores é sabedor da escuta. É muito comum esse tipo de
situação nas comunicações entre os familiares da vítima e os sequestradores dela.

d) gravação telefônica ou gravação clandestina

Ocorre quando um dos interlocutores grava a conversa sem o conhecimento do outro,


por isso ela também é chamada de gravação clandestina.

e) comunicação ambiental

A comunicação ambiental é aquela que ocorre no meio ambiente, sem a necessidade


de um meio tecnológico para que isso aconteça, ou seja, estamos falando de uma
conversa falada, sem telefones, ou qualquer outro tipo de intercomunicador.

Discursivas p/ PC-PR (Delegado) Com Correção - Pós-Edital 7


www.estrategiaconcursos.com.br 55
Fernando Bezerra, Ivo Martins, Vinicius Silva
Aula 05 - Prof. Vinícius Silva.

f) interceptação ambiental

Entendido do que se trata uma comunicação ambiental, podemos afirmar que a


interceptação ambiental ocorre quando um terceiro capta a comunicação de duas
pessoas que o desconhecem. Um exemplo que pode ser dado é quando dois traficantes
realizam uma comunicação na rua e policiais gravam a cena por meio de uma câmera
ou de um microfone.

g) escuta ambiental

A escuta ambiental ocorre quando um terceiro efetua a captação de uma conversa entre
duas pessoas e uma delas sabe da existência do terceiro e da captação da comunicação.

h) gravação ambiental

A gravação ambiental é a captação efetuada por um dos comunicadores, sem o


conhecimento do outro. Geralmente é levada a efeito com o uso de gravadores
minúsculos, que podem ser escondidos até na lapela do paletó.

A doutrina majoritária e moderna entende que a Lei n°. 9.296/96 aplica-se a


interceptação telefônica e à escuta telefônica, não sendo reguladas pela
referida lei as demais espécies acima mencionadas.

Outro ponto teórico importante é que a interceptação telefônica é matéria reservada a


atividade jurisdicional, ou seja, não pode ser determinada de ofício pelo delegado de
polícia, sendo necessária a representação pela medida ao juiz competente para o
processo penal.

Professor, e se a interceptação for deferida por um


juiz de 1° grau e durante as escutas das
comunicações a autoridade ficar sabendo do
envolvimento de um deputado federal no crime?

Discursivas p/ PC-PR (Delegado) Com Correção - Pós-Edital 8


www.estrategiaconcursos.com.br 55
Fernando Bezerra, Ivo Martins, Vinicius Silva
Aula 05 - Prof. Vinícius Silva.

Excelente pergunta, Aderbal! Nesse caso


não haverá problemas e nem vícios na
interceptação deferida, sendo plenamente
legítima.

Essa é a chamada teoria do juízo competente por aparência. Não há ilegalidade na


interceptação, desde que o Delegado responsável pela diligência proceda ao envio de
informações para o juízo competente para julgar aquele investigado que possua foro
por prerrogativa de função.

Essa teoria é plenamente aceita pela jurisprudência majoritária. Nesse sentido: HC


110496/RJ, da relatoria do Min. Gilmar Mendes

2.1 ANÁLISE DA LEI N° 9.296/96

Vamos a partir de agora verificar alguns dispositivos interessantes dessa lei que possam
nos ser úteis na produção da peça prática.

Essa representação é bem simples de se perceber, geralmente ela é cabível quando


existe o número da linha telefônica ou do terminal de acesso de algum
aparelho, como um smarthphone ou outro dispositivo intercomunicador em que se
quer efetuar a interceptação.

Portanto, identificar a peça não será uma matéria das mais difíceis, logo se a
identificação não é difícil, a feitura da peça será muito simples também.

Art. 1º A interceptação de comunicações telefônicas, de


qualquer natureza, para prova em investigação criminal
e em instrução processual penal, observará o disposto
nesta Lei e dependerá de ordem do juiz competente da
ação principal, sob segredo de justiça.

Discursivas p/ PC-PR (Delegado) Com Correção - Pós-Edital 9


www.estrategiaconcursos.com.br 55
Fernando Bezerra, Ivo Martins, Vinicius Silva
Aula 05 - Prof. Vinícius Silva.

Esse dispositivo é bem autoexplicativo, pois nele pode-se observar que a interceptação
é possível apenas para prova em investigação criminal e em instrução penal.

Fica apenas uma crítica à técnica legislativa, no que diz respeito à palavra “prova”, pois
na fase de inquérito ou investigatória, não se colhem provas, mas elementos de
informação, isso porque prova deve ser aquela que em sua produção é respeitado o
contraditório. No inquérito, em regra, não há essa necessidade, portanto, a melhor
expressão seria elementos de informação.

Além disso, esse artigo nos traz a reserva de jurisdição a que fica sujeita a medida
cautelar probatória em estudo, ou seja, apenas o juiz competente para a ação principal
poderá determinar a interceptação.

Parágrafo único. O disposto nesta Lei aplica-se à


interceptação do fluxo de comunicações em sistemas de
informática e telemática.

Durante muito tempo esse parágrafo foi alvo de ações de inconstitucionalidade, usando
como base o art. 5°, XII, da CF/88, onde se prevê, em uma interpretação mais literal,
que apenas as comunicações telefônicas estão sujeitas à interceptação, no entanto, o
STF já decidiu pela constitucionalidade do referido dispositivo da lei, ampliando o
sentido que o constituinte quis dar ao dispositivo.

Assim, não apenas as comunicações telefônicas, mas também as comunicações escritas


(e-mail, mensagens de texto, mensagens de whatsapp, facebook, etc.) podem
ser alvo de interceptações a serem deferidas pelo poder judiciário.

Hoje em dia inclusive, em algumas hipóteses, as comunicações escritas são até mais
comuns que as comunicações faladas. Por isso a lei teve de prever essa evolução
tecnológica para se fazer valer a pena.

Art. 2° Não será admitida a interceptação de


comunicações telefônicas quando ocorrer qualquer das
seguintes hipóteses:

I - não houver indícios razoáveis da autoria ou


participação em infração penal;

Discursivas p/ PC-PR (Delegado) Com Correção - Pós-Edital 10


www.estrategiaconcursos.com.br 55
Fernando Bezerra, Ivo Martins, Vinicius Silva
Aula 05 - Prof. Vinícius Silva.

II - a prova puder ser feita por outros meios disponíveis;

III - o fato investigado constituir infração penal punida,


no máximo, com pena de detenção.

Excelente dispositivo para a nossa aula, estamos diante das hipóteses de cabimento
e requisitos cautelares da medida, aquilo que você utiliza para a fundamentação
jurídica da sua peça.

Mais uma vez a lei não foi muito feliz na sua redação, pois prevê as hipóteses em que
não é cabível a interceptação, ou seja, vamos ter de fazer o raciocínio a contrario
sensu do dispositivo acima.

Ou seja, será cabível a interceptação das comunicações telefônicas quando:

I – Houver indícios razoáveis da autoria e participação em infração penal

II – A prova não puder ser feita por outros meios

III – O fato investigado constituir infração penal punida com reclusão.

Veja que nos casos acima teremos a hipótese de cabimento e os requisitos cautelares
para a concessão, lembrando que os requisitos acima devem ser cumulativos, ou seja,
devemos ter uma infração punível com reclusão, para início de conversa. Caso
não seja uma infração dessa natureza, não poderemos vislumbrar a hipótese de
interceptação.

Os requisitos cautelares são dois elementos, que são o fumus boni iuris e o
periculum in mora. Aqui voltamos às expressões do direito processual civil, uma vez
que se trata de uma cautelar probatória, assim, não faz sentido falar em periculum
libertatis

O requisito do fumus boni iuris se traduz nos indícios de autoria/participação em crime


punido com reclusão.

Ou seja, na sua fundamentação você deverá demonstrar que há fortes indícios da


participação ou da autoria do investigado/indiciado no crime sob análise, que deve ter
no mínimo, pena de reclusão prevista em seu preceito secundário.

Discursivas p/ PC-PR (Delegado) Com Correção - Pós-Edital 11


www.estrategiaconcursos.com.br 55
Fernando Bezerra, Ivo Martins, Vinicius Silva
Aula 05 - Prof. Vinícius Silva.

Por outro lado, o periculum in mora se demonstra quando da necessidade da medida,


ou seja, se não a adotarmos, a investigação não poderá concluir sua finalidade, que é
demonstrar a autoria ou participação e a materialidade do delito.

Quando no art. 2°, II, a lei menciona que a prova não poderá ser realizada por outro
meio, o sentido do dispositivo é dizer que a interceptação é a ultima ratio em se
tratando de meios investigatórios.

Parágrafo único. Em qualquer hipótese deve ser descrita


com clareza a situação objeto da investigação, inclusive
com a indicação e qualificação dos investigados, salvo
impossibilidade manifesta, devidamente justificada.

Nesse dispositivo estamos diante de um requisito que deve constar na sua peça, ou
seja, descrever com clareza quem está sob investigação, qual o objeto dela, salvo
impossibilidade de fazê-lo. Isso você deve valorizar na narrativa de fatos da sua peça

Art. 3° A interceptação das comunicações telefônicas


poderá ser determinada pelo juiz, de ofício ou a
requerimento:

I - da autoridade policial, na investigação criminal;

II - do representante do Ministério Público, na


investigação criminal e na instrução processual penal.

Aqui estamos diante da legitimação que a lei defere ao delegado de polícia para
representar pela medida.

Mais uma vez uma falha técnica da lei, quando ela menciona que a autoridade policial
poderá requerer ao juiz, quando na verdade a expressão correta é a representação
pela autoridade policial. Lembre-se de que esse ponto é fundamental para o seu
preâmbulo.
Art. 4° O pedido de interceptação de comunicação
telefônica conterá a demonstração de que a sua
realização é necessária à apuração de infração penal,
com indicação dos meios a serem empregados.

Discursivas p/ PC-PR (Delegado) Com Correção - Pós-Edital 12


www.estrategiaconcursos.com.br 55
Fernando Bezerra, Ivo Martins, Vinicius Silva
Aula 05 - Prof. Vinícius Silva.

§ 1° Excepcionalmente, o juiz poderá admitir que o


pedido seja formulado verbalmente, desde que estejam
presentes os pressupostos que autorizem a
interceptação, caso em que a concessão será
condicionada à sua redução a termo.

Aqui estamos diante do modus operandi da medida, ou seja, a autoridade policial


deverá demonstrar em sua peça que a medida é necessária e os meios pelos quais ela
se dará, quais instrumentos serão utilizados.

O § 1° prevê a possibilidade de pedido verbal. Não é a regra, mas pode ser feito
excepcionalmente.

§ 2° O juiz, no prazo máximo de vinte e quatro horas,


decidirá sobre o pedido.

O § 2° nos remete à urgência da medida, pois o juiz terá o prazo de apenas 24 horas
para decidir sobre o pedido. Lembrando que se trata de um prazo impróprio, no qual o
juiz poderá extrapolá-lo quando estiver com acumulo de serviço, o que acontece
comumente na prática.

Art. 6° Deferido o pedido, a autoridade policial conduzirá


os procedimentos de interceptação, dando ciência ao
Ministério Público, que poderá acompanhar a sua
realização.

Aqui fica claro que a autoridade policial é a responsável pela realização da medida, ou
seja, quem conduz a operação de interceptação é sempre a autoridade policial.

O Ministério Público, na qualidade de fiscal da lei e titular da ação penal, deverá ser
cientificado da execução da medida.

Veja nesse dispositivo como é importante a presença da autoridade policial, ela é que
vai conduzir a operação, efetuar as escutas e “degravações” e inclusive processos de
identificação de voz quando necessários.

Discursivas p/ PC-PR (Delegado) Com Correção - Pós-Edital 13


www.estrategiaconcursos.com.br 55
Fernando Bezerra, Ivo Martins, Vinicius Silva
Aula 05 - Prof. Vinícius Silva.

Art. 7° Para os procedimentos de interceptação de que


trata esta Lei, a autoridade policial poderá requisitar
serviços e técnicos especializados às concessionárias de
serviço público.

Esse dispositivo é destinado às operadoras de telefonia ou outro serviço público


envolvido na interceptação. Veja que a autoridade policial poderá oficiar essas
instituições no sentido de obter auxílio na execução dessa cautelar.

3. REPRESENTAÇÃO POR INTERCEPTAÇÃO DAS COMUNICAÇÕES


TELEFÔNICAS

3.1 LEGITIMAÇÃO

A legitimação para representar por essa medida está consubstanciada no art. 3°, I, da
lei 9.296/96. Vejamos:

Art. 3° A interceptação das comunicações telefônicas


poderá ser determinada pelo juiz, de ofício ou a
requerimento:

I - da autoridade policial, na investigação criminal;

Ou seja, a autoridade policial, na condução das investigações, quando cabível e


necessária, poderá representar pela concessão dessa cautelar.

Lembre-se de que essa previsão legal deverá constar de seu preâmbulo.

Discursivas p/ PC-PR (Delegado) Com Correção - Pós-Edital 14


www.estrategiaconcursos.com.br 55
Fernando Bezerra, Ivo Martins, Vinicius Silva
Aula 05 - Prof. Vinícius Silva.

3.2 FUNDAMENTOS DE FATO OU FATOS

Aqui é a mesma coisa das aulas anteriores e das seguintes aulas também, acostume-
se a resumir ou parafrasear um texto. Sugiro a você algumas técnicas de resumo de
textos, que você encontra em um bom livro de produção textual.

Você vai resumir com suas próprias palavras os fatos ocorridos, sempre destacando
aqueles que vão servir de base para a sua fundamentação jurídica.

Lembre-se de que para lhe dar um norte de como narrar os fatos sem ser repetitivo em
relação ao que já foi mencionado no enunciado, vale a pena utilizar a regrinha da
resposta às perguntas abaixo:

O que?

Quem?

Quando? ACONTECEU

Onde?

Por que?

Se você conseguir responder a essas perguntas com um texto bem objetivo, sua
narrativa dos fatos certamente ficará muito boa e a pontuação dessa parte estará
garantida.

Procure treinar essa parte quando estiver escrevendo um e-mail, ou até quando estiver
contando uma história a algum colega.

Discursivas p/ PC-PR (Delegado) Com Correção - Pós-Edital 15


www.estrategiaconcursos.com.br 55
Fernando Bezerra, Ivo Martins, Vinicius Silva
Aula 05 - Prof. Vinícius Silva.

3.3 FUNDAMENTOS JURÍDICOS

A fundamentação jurídica, como sempre, é a parte que vai lhe dar mais pontos, nela
você vai mostrar todo seu conhecimento jurídico sobre a medida cautelar pela qual
representa.

Nesse ponto você vai dividir sua fundamentação em 3 partes. A primeira será
relativa à prática delituosa, na qual você vai tipificar o crime e verificar que é punido
com reclusão, para que seja cabível. Como a natureza da pena do crime cometido é de
fundamental importância para o cabimento da medida você pode mesclar esses dois
pontos, mas caso queira fazer uma peça mais redonda, ou seja, sem floreios abra um
tópico para a tipificação e outro para o cabimento.

A medida será cabível quando o crime em questão for punido com reclusão, nos termos
do art. 2°, III:

Art. 2° Não será admitida a interceptação de


comunicações telefônicas quando ocorrer qualquer das
seguintes hipóteses:

(...)

III - o fato investigado constituir infração penal punida,


no máximo, com pena de detenção.

Lembrando que deve ser feita uma interpretação a contrário sensu, ou seja, se não
é admissível quando o crime for punido no máximo com detenção, então o crime deve
ser punido no mínimo com reclusão, para que seja cabível a medida cautelar em apreço.

Esse é o cabimento da medida, os outros dois incisos referem-se aos requisitos


cautelares.

Quanto aos requisitos cautelares vamos ter de demonstrar os dois primeiros incisos do
art. 2° da Lei.

Discursivas p/ PC-PR (Delegado) Com Correção - Pós-Edital 16


www.estrategiaconcursos.com.br 55
Fernando Bezerra, Ivo Martins, Vinicius Silva
Aula 05 - Prof. Vinícius Silva.

Art. 2° Não será admitida a interceptação de


comunicações telefônicas quando ocorrer qualquer das
seguintes hipóteses:

I - não houver indícios razoáveis da autoria ou


participação em infração penal;

II - a prova puder ser feita por outros meios disponíveis;

Lembrando que aqui o a ideia é raciocinar a contrario sensu, ou seja, deve haver
indícios razoáveis da autoria ou participação em infração penal cuja pena deve ser a de
reclusão.

O segundo requisito é o chamado ultima ratio, ou seja, o candidato aqui deverá


demonstrar que a interceptação é a única forma de prosseguir na investigação.

Essa informação você vai ter de ter faro de delegado para perceber na questão onde
está sendo mencionado que já foram tentados todos os tipos de diligência, e está
sendo praticamente impossível prosseguir nas investigações caso não seja deferida
a interceptação telefônica.
Mais uma vez aqui a ideia é ter faro de delta, sangue de polícia. Durante o enunciado
você perceberá que as informações do enunciado levarão você a essa conclusão.

Ademais, quando a peça for uma interceptação das comunicações telefônicas, saiba
que você estará diante de um número de telefone ou terminal de acesso a um
equipamento como um computador.

Isso já te dará 90% de certeza de que a peça é uma representação dessa natureza.

Entendeu então que se o enunciado


mencionar um número de telefone você
estará com muitas chances de já ter
identificado a peça. Você deverá verificar
os demais requisitos, mas esse já lhe
mostrará o caminho a ser seguido.

Discursivas p/ PC-PR (Delegado) Com Correção - Pós-Edital 17


www.estrategiaconcursos.com.br 55
Fernando Bezerra, Ivo Martins, Vinicius Silva
Aula 05 - Prof. Vinícius Silva.

Por fim, vale a pena mencionar que a regra é a inviolabilidade das comunicações
telefônicas, no entanto, caso estejamos diante de uma investigação criminal, é previsto
constitucionalmente a violabilidade como exceção. Isso foi pontuado no espelho de
correção do CESPE no último concurso de Delegado de Polícia de Pernambuco.

Essa previsão está no art. 5º., XII:

XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das


comunicações telegráficas, de dados e das comunicações
telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas
hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de
investigação criminal ou instrução processual penal;

Você pode mencionar esse ponto constitucional no início da fundamentação da peça,


para depois introduzir os aspectos relativos ao “fumus commissi delicti” e
“periculum in mora”

Em resumo a fundamentação jurídica é simples, basta você demonstrar esses pontos


que mencionei com aquela clareza e raciocínio jurídico comum ao futuro delegado de
polícia. Destaco o requisito de ultima ratio, esse costuma dar trabalho, mas basta
você pensar que sem a interceptação será impossível chegar a autoria do crime sob
investigação.

3.4. PEDIDO

Vamos agora falar um pouco sobre o pedido que deverá estar na sua peça, você que já
está chegando ao final da sua representação.

Assim como na representação pela busca domiciliar, aqui temos um detalhe importante,
que é o número do telefone a ser interceptado. Já falamos muito dele na parte de
identificação da peça e nos fundamentos jurídicos dela.

Você deverá dar um desfecho a sua peça mencionando objetivamente que representa
pela interceptação no número XXXX-XXXX, uma vez que a medida não pode ser
deferida para qualquer número ou para os números cadastrados em uma família ou
grupo de amigos, a medida deve ser certeira, portanto, você deve ter bons indícios
de que naquele número teremos conversas sobre o cometimento do delito.

Discursivas p/ PC-PR (Delegado) Com Correção - Pós-Edital 18


www.estrategiaconcursos.com.br 55
Fernando Bezerra, Ivo Martins, Vinicius Silva
Aula 05 - Prof. Vinícius Silva.

A ideia aqui é parecida com a do endereço na busca domiciliar. Você estará relativizando
um direito fundamental, ou seja, a inviolabilidade das comunicações telefônicas,
portanto, não poderá fazer isso às cegas.

Vale a pena mencionar a urgência da medida tanto no início quanto no final, pois a
própria lei carrega em seu texto que o juiz deverá decidir o pedido em 24 horas. Então
sugiro que você solicite andamento em caráter de urgência, tendo em vista o que a
própria lei prevê.

Art. 4° O pedido de interceptação de comunicação


telefônica conterá a demonstração de que a sua
realização é necessária à apuração de infração penal,
com indicação dos meios a serem empregados.

§ 2° O juiz, no prazo máximo de vinte e quatro horas,


decidirá sobre o pedido.

Assim, você demonstrará que conhece bem todas as particularidades da lei e sabe como
agir amparado por ela.

Por fim, você não pode esquecer que essa medida possui prazo certo para
terminar. Isso ocorre por conta do caráter invasivo da interceptação. A polícia não
pode ficar escutando e degravando as suas comunicações como se não houvesse fim
para tal medida.

O prazo está previsto na própria lei. Vejamos:

Art. 5° A decisão será fundamentada, sob pena de


nulidade, indicando também a forma de execução da
diligência, que não poderá exceder o prazo de quinze
dias, renovável por igual tempo uma vez comprovada a
indispensabilidade do meio de prova.

Discursivas p/ PC-PR (Delegado) Com Correção - Pós-Edital 19


www.estrategiaconcursos.com.br 55
Fernando Bezerra, Ivo Martins, Vinicius Silva
Aula 05 - Prof. Vinícius Silva.

Ah, entendi professor, então eu


menciono que represento pela
concessão da medida por 15
(quinze) dias com prorrogação
por mais 15 (quinze).

Cuidado Aderbal, você não deve mencionar qualquer


prorrogação nessa representação inicial. Eventuais
pedidos de prorrogação serão feitos em outras
representações, posteriores a essa, em que você
deverá demonstrar outros requisitos, parecidos,
mas com algumas peculiaridades.

A doutrina e a jurisprudência dos tribunais superiores e do supremo são uníssonas no


sentido de haver a possibilidade de prorrogações sucessivas, desde que
presentes os requisitos de cabimento e cautelaridade.

Cuidado apenas para não mencionar que você já requer prorrogação, caso faça isso,
além de mostrar que a sua investigação não é eficiente, pois antes de se iniciar você já
estará pedindo prorrogação de prazo, você ainda estará agindo sem embasamento legal
nesse primeiro pedido.

Portanto, no seu pedido é fundamental o número do telefone e o prazo da medida.

Outro ponto a ser relembrado acerca do seu pedido, são alguns aspectos técnicos
acerca da execução da medida. Devem ser ressaltados alguns detalhes que darão a sua
peça um teor mais específico e mostrarão que você sabe direcionar bem o seu pedido
de acordo com o dia a dia policial.

A interceptação, além do monitoramento das conversas realizadas pelo investigado,


engloba outras circunstâncias, tais como a antena utilizada em determinada ligação,

Discursivas p/ PC-PR (Delegado) Com Correção - Pós-Edital 20


www.estrategiaconcursos.com.br 55
Fernando Bezerra, Ivo Martins, Vinicius Silva
Aula 05 - Prof. Vinícius Silva.

denominada ERB (Estação Rádio Base), que nos permite restringir a localização do
investigado a partir da triangularização das coordenadas geográficas, denominada
azimute; dados cadastrais das linhas telefônicas que mantiveram contato com o
investigado; identificação do IMEI (International Mobile Equipament Identity)
identificação internacional de equipamento móvel.

A banca CESPE, por exemplo, pontuou essas menções na prova de Delta PE, ou seja,
valia a pena mencionar esses detalhes técnicos que a representação pela interceptação
possui.

4. MODELO DE REPRESENTAÇÃO POR INTERCEPTAÇÃO DAS COMUNICAÇÕES


TELEFÔNICAS

Vamos agora estruturar o nosso modelo, que você deve memorizar. Poucas coisas vão
mudar em relação à representação pela busca. O modelo será até mais simples

4.1 ENDEREÇAMENTO

O endereçamento continua sendo muito importante, no caso de interceptação


telefônica, geralmente ela é endereçada ao juízo de direito da comarca onde ocorreu o
delito. Lembre-se também que se o crime for de homicídio, teremos que representar
ao presidente do tribunal do júri.

Aqui é aquele básico de competência. Recomendo que se você tiver dúvida, volte para
a parte de processo penal, onde se estuda a competência no CPP, pois lá estarão bem
claras as principais regras para identificar o juízo competente.

Lembrando mais uma vez que você só deve colocar a cidade se for mencionado isso no
enunciado, na dúvida, deixe aquele velho espaço em branco, para não perder pontos e
nem ser prejudicado totalmente com uma possível identificação de prova.

Discursivas p/ PC-PR (Delegado) Com Correção - Pós-Edital 21


www.estrategiaconcursos.com.br 55
Fernando Bezerra, Ivo Martins, Vinicius Silva
Aula 05 - Prof. Vinícius Silva.

• EXCELENTÍSSIMO SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA ____ª VARA CRIMINAL


DA COMARCA DE __________ .

ou

• EXCELENTÍSSIMO SR. DR. JUIZ DA VARA DO JÚRI DA COMARCA DE


____________).

Ou

• EXCELENTÍSSIMO SR. DR. JUIZ PRESIDENTE DO JUIZADO ESPECIAL


CRIMINAL DA COMARCA DE ____________.

4.2 PREÂMBULO

Após o endereçamento você vai saltar algumas linhas, no máximo 2, e vai mencionar
que a medida é urgente, vale a pena mencionar esse detalhe na sua peça, uma vez que
mostra que conhece as previsões legais e ainda valoriza seu pedido, salientando ao juiz
que, nos termos da lei ele possui um prazo específico para decidir sobre a
representação.

Importante também mencionar o número do inquérito, caso esse seja mencionado no


enunciado ou apenas referir-se ao inquérito e deixar o velho espaço em branco.

O preâmbulo, cujo modelo segue abaixo, possui as mesmas características dos


preâmbulos já vistos nas aulas anteriores, com as modificações relativas às legislações
pertinentes.

“A Polícia Civil do estado do _________, por meio do seu Delegado de Polícia,


ao final assinado, no uso de suas atribuições, que lhe são conferidas, dentre
outros dispositivos, pelo art. 144, §4º, da CF-88, art. 3°, I (Lei 9.296/96); art.
2°, §1°, da Lei 12.830/2013, vem, mui respeitosamente, a presença de Vossa
Excelência, REPRESENTAR PELA INTERCEPTAÇÃO DAS COMUNICAÇÕES E
MONITORAMENTO TELEFÔNICO DAS LIGAÇÕES ORIGINADAS E RECEBIDAS DA
SEGUINTE LINHA MÓVEL, pelos fundamentos de fato e de direito que a seguir
passa a expor”.

Discursivas p/ PC-PR (Delegado) Com Correção - Pós-Edital 22


www.estrategiaconcursos.com.br 55
Fernando Bezerra, Ivo Martins, Vinicius Silva
Aula 05 - Prof. Vinícius Silva.

Nº DO TELEFONE INVESTIGADO/INDICIADO OPERADORA

Veja como é importante mencionar o número do terminal que você quer interceptar,
isso é na verdade um requisito para que você possa interceptar as comunicações.
Lembre-se de que esse tipo de pedido não pode ser genérico, deve ser certeiro, por
entrar na seara particular de um indivíduo.

Um bom preâmbulo já mostra conhecimento. Citar a lei 12.830/2013 comprova que


você tem sangue de delegado e que vai procurar valorizar as suas atribuições quando
no exercício delas.

Professor, o preâmbulo é sempre igual, mudando


apenas algumas coisas, nas suas aulas essa parte
parece ser até repetitiva, não tem outros modelos
de preâmbulo não?

Prezado Aderbal, sua pergunta é muito boa, e deve


ser a pergunta de muitos dos nossos alunos. A ideia
do nosso curso é condicionar você a memorizar um
modelo cada vez mais enxuto de peça. Aquilo que for
repetitivo é melhor ainda para você memorizar.
Preocupe-se apenas com as diferenças entre as peças.

Discursivas p/ PC-PR (Delegado) Com Correção - Pós-Edital 23


www.estrategiaconcursos.com.br 55
Fernando Bezerra, Ivo Martins, Vinicius Silva
Aula 05 - Prof. Vinícius Silva.

4.3 FATOS

Mais uma vez não temos muito a acrescentar ao que já foi dito acima, você vai ser
medido pelo poder de síntese que pode apresentar. Não negligencie esse ponto, pois
o examinador pode já não gostar muito da sua peça, caso os fatos não sejam
corretamente narrados.

Procure parafrasear o enunciado, tentando não ser tão repetitivo. Responder àquelas
perguntas que já mencionei anteriormente pode ser um bom norte a ser seguido.

Na peça de interceptação, mencione as diligências que já foram empreendidas


e não renderam frutos, ou que tiveram resultados não esperados. Ou seja, tente
mostrar ao juiz que a última coisa a ser feita é a representação pela interceptação.
Mencionar nos fatos essas diligências pode ressaltar o seu conhecimento da peça.

No entanto, você não pode inventar fatos, isso é terminantemente proibido, sob
pena de ter a peça “zerada” pela identificação da prova.

4.4 FUNDAMENTOS JURÍDICOS

Na parte dos fundamentos o ideal é você desdobrá-la em 3 pontos, quais sejam, do


crime sob investigação, do cabimento, dos requisitos cautelares.

No caso da peça que estamos estudando, vale a pena você mencionar, assim como na
busca domiciliar, que a inviolabilidade das comunicações telefônicas não pode servir de
salvaguarda para acobertar o cometimento de delitos e que em prol do princípio do “in
dubio, pro societate”, a medida se faz necessária à elucidação do crime e à cessação
da atividade delituosa.

Aqui, se você mencionar que a medida se subordina à reserva de jurisdição,


vai ficar melhor ainda, pois o juiz vai entender que você, na qualidade de delegado
de polícia reconhece os limites legais e constitucionais de sua atuação.

No cabimento você deve mencionar que o crime sob investigação possui pena
de reclusão, veja que não importa a quantidade de pena, mas a sua natureza.

Discursivas p/ PC-PR (Delegado) Com Correção - Pós-Edital 24


www.estrategiaconcursos.com.br 55
Fernando Bezerra, Ivo Martins, Vinicius Silva
Aula 05 - Prof. Vinícius Silva.

Veja ainda que isso está intrinsecamente ligado à tipificação do crime, que você já vai
ter mencionado.

4.5 DO PEDIDO.

No pedido já foi mencionado que você deve representar pela medida sempre de forma
objetiva, cuidado com o verbo, pois o delegado de polícia representa e não requer,
quem requer é o membro do MP.

Não se esqueça de mencionar o número do telefone ou do terminal de acesso que será


interceptado, sem essa informação a sua representação será indeferida, certamente e
sua peça terá uma nota reduzida.

Outro ponto importantíssimo é o prazo. Toda medida cautelar que tiver prazo definido
em lei deve ter ele em seu pedido, pois é relevante para o decorrer das investigações,
saber que o prazo se esvai em 15 (quinze) dias, no que concerne à interceptação
das comunicações telefônicas.

Ante do exposto, com base nos fundamentos de fato e de direito já expostos,


representa, essa autoridade policial, pela interceptação das comunicações
telefônicas e quebra de sigilo telefônico, que deverá ser conduzida da seguinte
forma:

1. Desvio do sinal de áudio em tempo real, inclusive em situação de roaming


(usuário utilizando seu celular em outro Estado, fora da área de
cobertura de sua operadora, utilizando operadora concorrente) para as
linhas telefônicas do Setor de Inteligência da Polícia Civil, número:
(número do telefone a ser interceptado);
2. Bidirecionamento do alvo para a linha _____;
3. Período de monitoramento de 15 (quinze) dias;
4. Encaminhamento eletrônico dos dados cadastrais do telefone alvo,
inclusive a identificação IMEI do aparelho, e daqueles com os quais
mantiver contato;
5. Encaminhamento eletrônico de extratos periódicos, com a identificação
dos respectivos terminais da operadora;

Discursivas p/ PC-PR (Delegado) Com Correção - Pós-Edital 25


www.estrategiaconcursos.com.br 55
Fernando Bezerra, Ivo Martins, Vinicius Silva
Aula 05 - Prof. Vinícius Silva.

6. Encaminhamento eletrônico, em tempo real, das mensagens de voz,


texto, e-mails, imagens, vídeos, recebidos ou enviados, no caso de
aparelhos celulares;
7. Identificação e localização das ERB’s utilizadas, em tempo real, do
telefone alvo e daqueles com os quais mantiver contato, via celular;
8. Identificação, em tempo real, dos números contatados nas chamadas
originadas/recebidas;
9. Autorização de interceptação e monitoramento dos terminais telefônicos
que venham a ser utilizados pelo mesmo número serial ou IMEI (GSM);
10. A operadora deverá fornecer extrato detalhado – BILHETAGEM –
das ligações recebidas/efetuadas, a partir da data descrita acima e
encaminhar documentos e informações obtidas para o endereço
eletrônico (endereço eletrônico seguro da delegacia.

Requer, por fim, a manifestação do órgão do Ministério Público, bem como o


deferimento sem a oitiva da parte contrária, com a urgência que a lei (art. 4º,
§2º.) determina (prazo de 24 – vinte e quatro - horas).

Nestes Termos. Pede Deferimento.

Local, data.

Delegado de Polícia
Matrícula.

Vamos agora colocar tudo isso em um modelo.

Discursivas p/ PC-PR (Delegado) Com Correção - Pós-Edital 26


www.estrategiaconcursos.com.br 55
Fernando Bezerra, Ivo Martins, Vinicius Silva
Aula 05 - Prof. Vinícius Silva.

EXCELENTÍSSIMO SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA ____ª VARA CRIMINAL DA COMARCA DE


__________ .

ou

EXCELENTÍSSIMO SR. DR. JUIZ DA VARA DO JÚRI DA COMARCA DE ____________).

ou

EXCELENTÍSSIMO SR. DR. JUIZ PRESIDENTE DO JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL DA


COMARCA DE ____________.

URGENTE – 24 (VINTE E QUATRO) HORAS (art. 4°, §2°, da Lei 9.296).

DISTRIBUIÇÃO SIGILOSA

Ref. Inquérito policial n°___

“A Polícia Civil do estado do _________, por meio do seu Delegado de Polícia, ao final
assinado, no uso de suas atribuições, que lhe são conferidas, dentre outros dispositivos,
pelo art. 144, §4º, da CF-88, art. 3°, I (Lei 9.296/96); art. 2°, §1°, da Lei 12.830/2013, vem,
mui respeitosamente, a presença de Vossa Excelência, REPRESENTAR PELA
INTERCEPTAÇÃO DAS COMUNICAÇÕES E MONITORAMENTO TELEFÔNICO DAS LIGAÇÕES
ORIGINADAS E RECEBIDAS DA LINHA MÓVEL (XXXX-XXXXX – número do telefone), pelos
fundamentos de fato e de direito que a seguir passa a expor”.

1. Dos fatos

Narrativa dos fatos, conforme instruções já mencionadas.

2. Dos fundamentos jurídicos

2.1 Da Prática delituosa

Vale a pena demonstrar a tipificação do crime cometido.

2.2 Da reserva de jurisdição

Aqui mencione que a medida se sujeita à reserva de jurisdição, invocando a proteção


constitucional à inviolabilidade das comunicações telefônicas, sempre ressaltando que a
constituição não pode servir de manto de acobertamento da prática delituosa.

Discursivas p/ PC-PR (Delegado) Com Correção - Pós-Edital 27


www.estrategiaconcursos.com.br 55
Fernando Bezerra, Ivo Martins, Vinicius Silva
Aula 05 - Prof. Vinícius Silva.

2.3 Do cabimento

Mencione que a medida é cabível, pois o crime sob investigação sujeita-se a pena de
reclusão, nos termos do art. 2°, III, da Lei n° 9.296/96.

2.4 Dos requisitos cautelares

Nesse ponto você vai demonstrar os outros dois incisos do art. 2° da referida lei.

• Inciso I: Prova da existência do crime e indícios suficientes de autoria ou participação.

• Inciso II: Necessidade da medida. Ultima ratio. Provar que essa é a única medida capaz
de prosseguir a investigação.

3. Do pedido

Ante do exposto, com base nos fundamentos de fato e de direito já expostos, representa,
essa autoridade policial, pela interceptação das comunicações telefônicas e quebra de
sigilo telefônico, que deverá ser conduzida da seguinte forma:

1. Desvio do sinal de áudio em tempo real, inclusive em situação de roaming


(usuário utilizando seu celular em outro Estado, fora da área de cobertura de sua
operadora, utilizando operadora concorrente) para as linhas telefônicas do Setor de
Inteligência da Polícia Civil, número: (número do telefone a ser interceptado);
2. Bidirecionamento do alvo para a linha _____;
3. Período de monitoramento de 15 (quinze) dias;
4. Encaminhamento eletrônico dos dados cadastrais do telefone alvo, inclusive a
identificação IMEI do aparelho, e daqueles com os quais mantiver contato;
5. Encaminhamento eletrônico de extratos periódicos, com a identificação dos
respectivos terminais da operadora;
6. Encaminhamento eletrônico, em tempo real, das mensagens de voz, texto, e-
mails, imagens, vídeos, recebidos ou enviados, no caso de aparelhos celulares;
7. Identificação e localização das ERB’s utilizadas, em tempo real, do telefone alvo
e daqueles com os quais mantiver contato, via celular;
8. Identificação, em tempo real, dos números contatados nas chamadas
originadas/recebidas;
9. Autorização de interceptação e monitoramento dos terminais telefônicos que
venham a ser utilizados pelo mesmo número serial ou IMEI (GSM);
10. A operadora deverá fornecer extrato detalhado – BILHETAGEM – das ligações
recebidas/efetuadas, a partir da data descrita acima e encaminhar documentos e
informações obtidas para o endereço eletrônico (endereço eletrônico seguro da
delegacia.

Discursivas p/ PC-PR (Delegado) Com Correção - Pós-Edital 28


www.estrategiaconcursos.com.br 55
Fernando Bezerra, Ivo Martins, Vinicius Silva
Aula 05 - Prof. Vinícius Silva.

Requer, por fim, a manifestação do órgão do Ministério Público, bem como o deferimento
sem a oitiva da parte contrária, com a urgência que a lei (art. 4º, §2º.) determina (prazo
de 24 – vinte e quatro - horas).

Nestes Termos. Pede Deferimento.

Local, data.

Delegado de Polícia
Matrícula.

Vejam que não é muito longa e requer muitos detalhes no pedido.

O pedido que aqui foi apresentado é o mais amplo possível.

Ademais, a sua identificação é muito simples.

Vamos agora ao exercício de prova.

Escolhi para a nossa aula uma questão recente, da prova de delegado de polícia de
Pernambuco, prova realizada em 2016, o concurso está em andamento, ainda.

5. QUESTÕES COMENTADAS DE PROVA.

Questão 1. (Adaptada pelo Prof. Vinícius Silva)

(CESPE - PCPE – Delegado de Polícia Civil – 2016)

Na data de 12/7/2014, entre 00 h 40 min e 01 h 00 min, em via pública do


Bairro de Prazeres, Recife – PE, João Félix da Silva, adolescente com dezessete
anos de idade, mediante ação intencional de dois indivíduos que estavam em
um veículo GM/Vectra de cor branca e placa não identificada, foi alvejado por
vários disparos de arma de fogo e faleceu no local em decorrência dos
ferimentos experimentados.

Discursivas p/ PC-PR (Delegado) Com Correção - Pós-Edital 29


www.estrategiaconcursos.com.br 55
Fernando Bezerra, Ivo Martins, Vinicius Silva
Aula 05 - Prof. Vinícius Silva.

Uma equipe da delegacia de homicídios se dirigiu ao local do crime e verificou


que junto ao corpo da vítima havia uma porção considerável de droga,
aparentando ser cocaína, bem como um telefone celular de sua propriedade e
uma bicicleta, que estava sendo utilizada pela vítima no momento em que
ocorreu o crime.

No decorrer do exame pericial de local, foram localizados e recolhidos vários


estojos e fragmentos de projéteis de calibres distintos, a saber: 9 mm e .40,
evidenciando que as armas utilizadas teriam sido, no mínimo, duas pistolas.
Quando do exame perinecroscópico, constatou-se que o cadáver apresentava
cerca de quinze lesões características de perfurações produzidas por projéteis
de arma de fogo, sendo que seis delas na região da face. Após a conclusão do
exame pericial, o corpo foi removido ao Instituto de Medicina Legal.

A equipe de investigação, ainda no local do crime, apurou, preliminarmente, a


partir de declarações informais de Joaquim Domênico Neto e Maria Josefina
Domênico, moradores do local, que dois indivíduos desconhecidos, cujas
características não foram possíveis evidenciar, conduzindo o veículo citado,
teriam sido os autores do crime. A genitora da vítima, Sr. ª Maria das Dores
Serafim, entrevistada pela equipe de investigação, afirmou que João Félix da
Silva estava sendo ameaçado de morte em razão de dívidas de drogas e, nos
dias anteriores ao crime, teria recebido inúmeras ligações telefônicas em seu
telefone celular.

Os autores do crime tomaram rumo ignorado após o delito, estando em local


incerto e não sabido. O veículo GM/Vectra de cor branca utilizado na prática
do homicídio foi abandonado em uma rodovia de acesso ao interior do estado
e, após exame pericial, não foi possível a coleta de fragmentos de digitais,
verificando-se, ainda, que se tratava de produto de roubo havido dias antes. A
genitora da vítima, dias após o homicídio, passou a receber ligações
telefônicas do número 081-6999.8888, ameaçando a ela e a seus familiares de
morte caso eles colaborassem com a investigação policial.

No telefone celular da vítima, apreendido no local do crime, foram registradas


várias ligações anteriores ao delito, originadas do mesmo número, ou seja,
081-6999.8888, sem a identificação de seu usuário. Todas as informações
mencionadas foram circunstanciadas em relatório de investigação preliminar
e submetidas ao crivo do delegado de polícia competente, o qual, de imediato,
instaurou o inquérito policial pertinente para a completa apuração dos fatos e
suas circunstâncias.

Discursivas p/ PC-PR (Delegado) Com Correção - Pós-Edital 30


www.estrategiaconcursos.com.br 55
Fernando Bezerra, Ivo Martins, Vinicius Silva
Aula 05 - Prof. Vinícius Silva.

Diante da situação hipotética apresentada e considerando que a investigação


encontra-se na etapa inicial, tendo sido instaurado o competente inquérito
policial sem êxito na individualização dos autores do crime, elabore, na
condição de delegado de polícia, uma peça de natureza cautelar que melhor se
adeque à situação, fundamentando-a de acordo com o que dispõe a legislação
de regência.

Comentário e modelo de peça proposto.

Essa foi a questão de peça prática do concurso de Delta PE, o último concurso de
delegado de polícia realizado no Brasil no qual eu tive a oportunidade de ter vários
candidatos que lograram êxito na prova.

A questão trazia um crime de homicídio qualificado, por motivo torpe, qual seja, dívidas
de drogas.

Vejamos alguns elementos que evidenciam isso:

“Quando do exame perinecroscópico, constatou-se que o cadáver apresentava


cerca de quinze lesões características de perfurações produzidas por projéteis
de arma de fogo, sendo que seis delas na região da face. Após a conclusão do
exame pericial, o corpo foi removido ao Instituto de Medicina Legal.”

Assim como:

“A genitora da vítima, Sr. ª Maria das Dores Serafim, entrevistada pela equipe
de investigação, afirmou que João Félix da Silva estava sendo ameaçado de
morte em razão de dívidas de drogas e, nos dias anteriores ao crime, teria
recebido inúmeras ligações telefônicas em seu telefone celular”

Assim, já temos o crime caracterizado.

Em relação à peça prática, temos que é cabível aqui a interceptação das comunicações
telefônicas cumulada com a quebra de sigilo telefônico, uma vez que o número do
telefone foi fornecido e há uma grande possibilidade de sabermos algumas informações
relativas ao crime, pois a vítima e a mãe dela recebeu reiteradas ligações com ameaças
oriundas desse número.
Em relação à ultima ratio, é possível perceber pelos seguintes elementos:

Discursivas p/ PC-PR (Delegado) Com Correção - Pós-Edital 31


www.estrategiaconcursos.com.br 55
Fernando Bezerra, Ivo Martins, Vinicius Silva
Aula 05 - Prof. Vinícius Silva.

“a partir de declarações informais de Joaquim Domênico Neto e Maria Josefina


Domênico, moradores do local, que dois indivíduos desconhecidos, cujas
características não foram possíveis evidenciar, conduzindo o veículo citado,
teriam sido os autores do crime.”

E ainda:

“O veículo GM/Vectra de cor branca utilizado na prática do homicídio foi


abandonado em uma rodovia de acesso ao interior do estado e, após exame
pericial, não foi possível a coleta de fragmentos de digitais”

O crime é punido com pena privativa de liberdade do tipo reclusão, ou seja, o requisito
de cabimento também está presente.

O endereçamento será feito ao juiz do tribunal do júri da comarca de Recife – PE, pois
foi o local em que o crime ocorreu.

Assim, decidida a peça que vamos representar, basta adaptar o caso ao nosso modelo
de peça.

Modelo de resposta:

EXCELENTÍSSIMO SR. DR. JUIZ DA VARA DO JÚRI DA COMARCA DE


____________).

URGENTE – 24 (VINTE E QUATRO) HORAS (art. 4°, §2°, da Lei 9.296).

DISTRIBUIÇÃO SIGILOSA

Ref. Inquérito policial n°___

“A Polícia Civil do estado de Pernambuco, por meio do seu Delegado de Polícia, ao final
assinado, no uso de suas atribuições, que lhe são conferidas, dentre outros dispositivos,
pelo art. 144, §4º, da CF-88, art. 3°, I (Lei 9.296/96); art. 2°, §1°, da Lei 12.830/2013,
vem, mui respeitosamente, a presença de Vossa Excelência, REPRESENTAR PELA
INTERCEPTAÇÃO DAS COMUNICAÇÕES E MONITORAMENTO TELEFÔNICO DAS

Discursivas p/ PC-PR (Delegado) Com Correção - Pós-Edital 32


www.estrategiaconcursos.com.br 55
Fernando Bezerra, Ivo Martins, Vinicius Silva
Aula 05 - Prof. Vinícius Silva.

LIGAÇÕES ORIGINADAS E RECEBIDAS DA SEGUINTE LINHA MÓVEL, pelos fundamentos


de fato e de direito que a seguir passa a expor”.

Nº DO TELEFONE INVESTIGADO/INDICIADO OPERADORA

081-6999.8888 Sem investigado Todas

1. Dos fatos

De acordo com a investigação em epígrafe, que visa apurar a autoria de um crime de


homicídio qualificado ocorrido em 12/7/2014, por volta de 00 h 40 min e 01 h 00 min,
em via pública do Bairro de Prazeres, Recife – PE,

Na ocasião, João Félix da Silva, 17 anos, foi atingido por vários disparos de arma de
fogo, que teriam sido fruto da ação de dois indivíduos, que empreenderam fuga em um
veículo já periciado, porém sem êxito no que diz respeito à busca de elementos que
levassem à identificação dos autores.

As investigações ainda apontam que a vítima recebeu reiteradas ligações telefônicas


oriundas do número retromencionado, dias antes de sua morte.

As ligações também foram recebidas por sua mãe, oportunidade em que foram feitas
muitas ameaças em caso de colaboração com a investigação.

Todas as diligências e termos de depoimento foram colacionados nos autos, restando o


inquérito concluso à autoridade policial, na busca de identificar ainda os autores, vez
que todas as diligências até então empreendidas não lograram êxito nesse intento.

2. Dos fundamentos jurídicos

2.1 Da Prática delituosa

Trata-se de crime de homicídio qualificado, nos termos do art. 121, §2º, I, do Código
Penal, uma vez que o motivo real da morte da vítima tratar-se de dívidas contraídas
junto à traficantes de drogas.

Discursivas p/ PC-PR (Delegado) Com Correção - Pós-Edital 33


www.estrategiaconcursos.com.br 55
Fernando Bezerra, Ivo Martins, Vinicius Silva
Aula 05 - Prof. Vinícius Silva.

2.2 Da reserva de jurisdição

A medida pela qual se representa sujeita-se à reserva de jurisdição, sendo de forma


excepcional admitida quando para fins de investigação criminal ou processual penal,
nos termos do art. 5º., XII, da CF88.

2.3 Do cabimento

O crime sob investigação comporta pena de reclusão, cumprindo, portanto, o requisito


de cabimento do art. 2º, III, da Lei 9.296/96.

2.4 Dos requisitos cautelares

Quanto ao fumus commissi delicti, resta comprovado, tendo em vista os laudos periciais
e de local de crime, que demonstram ter ocorrido crime de homicídio, uma vez que os
disparos foram efetuados com o claro intuito de ceifar a vida da vítima.

Quanto aos indícios suficientes de autoria, não temos como comprová-los e é


justamente por isso que se representa por tal medida cautelar probatória, tendo em
vista a necessidade de continuidade das investigações na busca da autoria delitiva.

Por outro lado, há indícios suficientes que os indivíduos que efetuaram as ligações
possuem um forte indício de que sejam os autores do delito de morte, haja vista que
ameaças foram feitas em face da mãe da vítima oriundas também do número alvo.

Assim, temos como satisfeito o requisito do art. 2º., I, da Lei 9.296/96.

Na mesma toada, podemos comprovar que todas as tentativas de diligências iniciais


foram feitas no sentido de encontrar a autoria, porém não foi possível lograr êxito com
as diligências até então realizadas, portanto, satisfeito o requisito do art. 2º, II, da Lei.

3. Do pedido

Ante do exposto, com base nos fundamentos de fato e de direito já expostos,


representa, essa autoridade policial, pela interceptação das comunicações telefônicas e
quebra de sigilo telefônico, que deverá ser conduzida da seguinte forma:

Discursivas p/ PC-PR (Delegado) Com Correção - Pós-Edital 34


www.estrategiaconcursos.com.br 55
Fernando Bezerra, Ivo Martins, Vinicius Silva
Aula 05 - Prof. Vinícius Silva.

1. Desvio do sinal de áudio em tempo real, inclusive em situação de roaming


(usuário utilizando seu celular em outro Estado, fora da área de cobertura de
sua operadora, utilizando operadora concorrente) para as linhas telefônicas do
Setor de Inteligência da Polícia Civil, número: 081-6999.8888;
2. Bidirecionamento do alvo para a linha _____;
3. Período de monitoramento de 15 (quinze) dias;
4. Encaminhamento eletrônico dos dados cadastrais do telefone alvo, inclusive a
identificação IMEI do aparelho, e daqueles com os quais mantiver contato;
5. Encaminhamento eletrônico de extratos periódicos, com a identificação dos
respectivos terminais da operadora;
6. Encaminhamento eletrônico, em tempo real, das mensagens de voz, texto, e-
mails, imagens, vídeos, recebidos ou enviados, no caso de aparelhos celulares;
7. Identificação e localização das ERB’s utilizadas, em tempo real, do telefone
alvo e daqueles com os quais mantiver contato, via celular;
8. Identificação, em tempo real, dos números contatados nas chamadas
originadas/recebidas;
9. Autorização de interceptação e monitoramento dos terminais telefônicos que
venham a ser utilizados pelo mesmo número serial ou IMEI (GSM);
10. As operadoras deverão fornecer extrato detalhado – BILHETAGEM – das
ligações recebidas/efetuadas, a partir da data descrita acima e encaminhar
documentos e informações obtidas para o endereço eletrônico (endereço
eletrônico seguro da delegacia).

Requer, por fim, a manifestação do órgão do Ministério Público, bem como o


deferimento sem a oitiva da parte contrária, com a urgência que a lei (art. 4º, §2º.)
determina (prazo de 24 – vinte e quatro - horas).

Nestes Termos. Pede Deferimento.

Recife - PE,_____ de ________ de 2014.

Delegado de Polícia
Matrícula.

Agora, antes de propor a você quatro exercícios de peças para você treinar, vou colar
o modelo de resposta esperada que o CESPE disponibilizou para esse certame:

Discursivas p/ PC-PR (Delegado) Com Correção - Pós-Edital 35


www.estrategiaconcursos.com.br 55
Fernando Bezerra, Ivo Martins, Vinicius Silva
Aula 05 - Prof. Vinícius Silva.

EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DO TRIBUNAL DO JÚRI


DA COMARCA DE RECIFE ‒ PE.

O delegado de polícia abaixo assinado, no uso de suas atribuições legais, com


fundamento na Lei n.º 9.296/1996, arts. 1.º; 2.º, incisos I, II e III; 3.º, inciso I; 5.º —
que regulamentou o inciso XII, parte final do art. 5.º da CF —, vem a Vossa Excelência
REPRESENTAR PELA INTERCEPTAÇÃO DAS COMUNICAÇÕES TELEFÔNICAS e PELA
QUEBRA DE SIGILO DE DADOS TELEFÔNICOS do prefixo 081-6999.8888 pelos fatos e
fundamentos a seguir expostos:

Na data de 12/7/2014, entre 00 h 40 min e 01 h 00 min, em via pública do Bairro de


Prazeres, Recife ‒ PE, JOÃO FÉLIX DA SILVA, adolescente com dezessete anos de idade,
mediante ação intencional de dois indivíduos que estavam em um veículo GM/Vectra
de cor branca e placa não indicada, foi alvejado por disparos de arma de fogo e faleceu
no local em decorrência dos ferimentos experimentados. Uma equipe da delegacia de
homicídios atendeu ao local do crime e verificou que junto ao corpo da vítima havia
considerável porção de droga, aparentando ser cocaína, bem como um telefone celular
de sua propriedade e uma bicicleta, que estava sendo utilizada pela vítima quando do
crime. A equipe de investigação, ainda no local do crime, apurou, preliminarmente, a
partir de declarações informais de JOAQUIM DOMÊNICO NETO e MARIA JOSEFINA
DOMÊNICO, moradores do local, que dois indivíduos desconhecidos, cujas
características não foi possível evidenciar, conduzindo o veículo citado, teriam sido os
autores do crime.

A genitora da vítima, Sra. MARIA DAS DORES SERAFIM, entrevistada pela equipe de
investigação, afirmou que JOÃO FÉLIX DA SILVA estava sendo ameaçado de morte em
razão de dívidas de drogas e, nos dias anteriores ao crime, teria recebido inúmeras
ligações telefônicas em seu telefone celular. Disse ainda a referida senhora que, dias
após o homicídio, passou a receber ligações telefônicas do número 081-6999.8888,
ameaçando de morte a ela e a seus familiares caso eles colaborassem com a
investigação policial.

No telefone celular da vítima, apreendido no local do crime, foram registradas várias


ligações anteriores ao delito originadas do mesmo número, ou seja, 081-6999.8888,
sem a identificação de seu usuário, havendo razoáveis indícios de que o seu usuário é
um dos autores do delito que resultou na morte do adolescente JOÃO FÉLIX DA SILVA.

Considerando, assim, que o art. 1.º da Lei nº. 9.296/1996 autoriza a interceptação de
comunicações telefônicas de qualquer natureza para prova em investigação criminal e
em instrução processual penal, e que, nos moldes do que preceitua o art. 2.º, incisos
I, II e III, da referida legislação, o fato ora investigado constitui crime de natureza
grave punido com reclusão, não havendo outros meios de prova disponíveis no sentido
de demonstrar a autoria dos delitos sob investigação, REPRESENTA-SE a Vossa

Discursivas p/ PC-PR (Delegado) Com Correção - Pós-Edital 36


www.estrategiaconcursos.com.br 55
Fernando Bezerra, Ivo Martins, Vinicius Silva
Aula 05 - Prof. Vinícius Silva.

Excelência pela expedição de ofício único, com força de Mandado Judicial, direcionado
às prestadoras de serviços de telefonia, determinando:

A INTERCEPTAÇÃO DAS COMUNICAÇÕES TELEFÔNICAS e a QUEBRA DE SIGILO DE


DADOS TELEFÔNICOS do prefixo 081-6999.8888, seu respectivo IMEI e outros que o
sucedam, pelo prazo de quinze dias, contados de sua implementação, devendo as
referidas empresas:

a. disponibilizar condições técnicas para monitoramento gravado de áudio, texto,


imagens e outras formas de comunicação porventura existentes relativos ao terminal
supracitado;

b. fornecer extratos do terminal mencionado, contendo datas, horários e durações de


chamadas/mensagens tentadas, originadas e recebidas durante o período de
interceptação, agenda de contatos e informações sobre as Estações Rádio Base (ERB)
transmissoras das ligações;
c. fornecer todos os dados cadastrais existentes em poder das respectivas empresas
referentes ao terminal interceptado e aos interlocutores que com eles
mantiverem/tentarem contato, cujo contexto seja de interesse da investigação.

Solicita-se, por fim, a remessa das informações descritas nesta representação à


autoridade policial requerente, nos moldes do que determina a legislação de regência.

Recife ‒ PE, ........... de ................................ de 2014.

Delegado de Polícia

Questão 2 (adaptada pelo Professor Vinícius Silva):

Delegado de Polícia - Concurso: PCDF - Ano: 2007 - Banca: NCE - Disciplina:


Direito Processual Penal - Assunto: Provas.

Cláudio, Delegado de Polícia do 5º Distrito Policial, instaurou inquérito policial para


apurar crime de extorsão mediante sequestro. Durante a investigação a autoridade
policial e seus agentes empreenderam diligências no sentido de encontrar a vítima e
depois de 3 dias conseguiram encontrar o cativeiro e diante da situação flagrancial
adentraram o local e a resgataram, no entanto nenhum dos sequestradores foi
encontrado no local.

Discursivas p/ PC-PR (Delegado) Com Correção - Pós-Edital 37


www.estrategiaconcursos.com.br 55
Fernando Bezerra, Ivo Martins, Vinicius Silva
Aula 05 - Prof. Vinícius Silva.

Levada ao IML para exame de corpo de delito, a vítima não apresentou nenhuma lesão.

Ademais, a casa foi totalmente periciada pela equipe da perícia forense, não tendo esta
encontrado nenhum fragmento de digitais no local.

Durante as investigações para a descoberta do local do cativeiro, foram feitas algumas


ligações para a família da vítima, sempre de um mesmo número, qual seja, 99-9999-
9999.

A descoberta do local do cativeiro foi feita após uma testemunha ter feito denúncia
anônima de que havia sequestradores mantendo pessoa sob sua custódia. A
testemunha morava vizinho ao local e observou várias vezes pessoas entrando e saindo
do local, inclusive no dia do crime a referida testemunha viu o carro de placas XYZ-
1234 entrando na garagem da casa em alta velocidade e conseguiu vislumbrar 2
elementos saindo do carro com uma pessoa encapazuda e com as mãos amarradas.

A testemunha disse não conhecer nenhum dos dois supostos sequestradores, tampouco
revelou ser sabedora de suas identidades. No entanto, conseguiu escutar diversas vezes
o telefone celular com toque sonoro característico soar e os sequestradores atenderem
o aparelho e conversarem sobre o crime.

No local do cativeiro não foi encontrado nenhum aparelho celular.

A vítima do sequestro informou ainda que escutou diversas vezes as conversas entre
os sequestradores e entre eles e sua família, negociando o resgate.

Tudo que foi apurado consta nos autos do inquérito, como os depoimentos da vítima e
da testemunha.

A polícia judiciária ainda não conseguiu identificar os autores do crime, embora tenha
empreendido todas as diligências acima citadas.

Na qualidade de delegado de polícia que preside o inquérito, represente pela medida


cabível nesse momento da investigação visando identificar os supostos autores do
crime.

Discursivas p/ PC-PR (Delegado) Com Correção - Pós-Edital 38


www.estrategiaconcursos.com.br 55
Fernando Bezerra, Ivo Martins, Vinicius Silva
Aula 05 - Prof. Vinícius Silva.

Comentário e sugestão de peça:

Na questão apresentada, adaptada de uma questão da PCDF, concurso de 2007,


podemos verificar que os criminosos ainda não foram identificados, tampouco presos.

A vítima já foi resgatada, motivo pelo qual não cabe a representação pela busca
domiciliar, pelo menos para o fim de resgatá-la.

A testemunha ouvida prestou informações valiosas, que nos levam a crer que houve
muitas ligações relativas ao crime perpetrado oriundas do número 99-9999-9999, ou
seja, a questão mencionou o número de telefone em que provavelmente os criminosos
efetuam ligações.

Pode-se verificar também que muitas diligências foram realizadas, mas nenhuma delas
foi capaz de identificar os criminosos, inclusive foi ouvida uma testemunha que
informou vários detalhes sobre a conduta delituosa, no entanto, a identificação dos
criminosos não foi possível, ainda.

Assim, podemos afirmar que estamos diante do clássico caso de interceptação das
comunicações telefônicas, que visa a identificar os agentes delituosos do crime de
extorsão mediante sequestro na sua forma qualificada, uma vez que a vítima
permaneceu com sua liberdade restrita durante mais de 24 horas, portanto, nos termos
do art. 159, §1°, houve extorsão mediante sequestro na sua modalidade qualificada.

Art. 159 - Sequestrar pessoa com o fim de obter, para


si ou para outrem, qualquer vantagem, como condição
ou preço do resgate: Vide Lei nº 8.072, de 25.7.90
(Vide Lei nº 10.446, de 2002)

(...)

§ 1o Se o sequestro dura mais de 24 (vinte e quatro)


horas, se o sequestrado é menor de 18 (dezoito) ou
maior de 60 (sessenta) anos, ou se o crime é cometido
por bando ou quadrilha. Vide Lei nº 8.072, de 25.7.90
(Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003)

Pena - reclusão, de doze a vinte anos.

Discursivas p/ PC-PR (Delegado) Com Correção - Pós-Edital 39


www.estrategiaconcursos.com.br 55
Fernando Bezerra, Ivo Martins, Vinicius Silva
Aula 05 - Prof. Vinícius Silva.

Assim, a tipificação está feita, assim como o cabimento da medida cautelar de


interceptação das comunicações telefônicas.

A necessidade da medida se faz por conta de ser a última diligência a ser adotada a
interceptação para a tentativa de identificação dos criminosos.

Diante do número de telefone fornecido, reforça-se a ideia de que a medida cautelar a


ser representada é a interceptação das comunicações telefônicas.

Vamos à peça:

EXCELENTÍSSIMO SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA ____ª VARA CRIMINAL DA


COMARCA DE __________.

URGENTE – 24 (VINTE E QUATRO) HORAS (art. 4°, §2°, da Lei 9.296).

DISTRIBUIÇÃO SIGILOSA

Ref. Inquérito policial n°___

“A Polícia Civil do estado de ___________, por meio do seu Delegado de Polícia, ao


final assinado, no uso de suas atribuições, que lhe são conferidas, dentre outros
dispositivos, pelo art. 144, §4º, da CF-88, art. 3°, I (Lei 9.296/96); art. 2°, §1°, da Lei
12.830/2013, vem, mui respeitosamente, a presença de Vossa Excelência,
REPRESENTAR PELA INTERCEPTAÇÃO DAS COMUNICAÇÕES E MONITORAMENTO
TELEFÔNICO DAS LIGAÇÕES ORIGINADAS E RECEBIDAS DA SEGUINTE LINHA MÓVEL:
99 - 9999 – 9999, todas as operadoras, pelos fundamentos de fato e de direito que a
seguir passa a expor”.

1. Dos fatos

Os autos do inquérito em epígrafe prestam-se a esclarecer e buscar elementos de


informação acerca do crime de extorsão mediante sequestro cometido em face da
vítima que manteve sua liberdade cerceada como meio de exigir preço pelo resgate.

Durante a investigação os familiares foram ouvidos e colaboraram com as diligências,


notadamente no que diz respeito aos contatos telefônicos efetuados pelos supostos
autores por meio do número de telefone 99-9999-9999.

Discursivas p/ PC-PR (Delegado) Com Correção - Pós-Edital 40


www.estrategiaconcursos.com.br 55
Fernando Bezerra, Ivo Martins, Vinicius Silva
Aula 05 - Prof. Vinícius Silva.

Em meio a investigação uma testemunha foi ouvida e ela afirmou que não conhece os
autores do sequestro, no entanto, afirmou que ouvia as conversas, pois sua casa era
vizinha ao cativeiro.

De posse do depoimento da testemunha, essa delegacia diligenciou no suposto


endereço no qual estaria sendo mantida em cárcere a vítima e conseguiu resgatá-la
após três dias de seu sequestro, com vida e sem lesões, conforme afirma o laudo de
exame de corpo de delito juntado aos autos.

No entanto, na empreitada de resgate da vítima não foi possível prender os criminosos,


uma vez que eles abandonaram o local quando a equipe policial adentrou o ambiente,
sendo possível apenas o resgate da vítima.

No momento todas as diligências possíveis foram tentadas, no entanto, nenhum


resultado foi obtido no sentido de prender ou identificar os prováveis autores do crime.

2. Dos fundamentos jurídicos

2.1 Da Prática delituosa

De acordo com os fatos narrados acima, pode-se afirmar que houve a consumação do
crime de extorsão mediante sequestro, pois foi cerceada a liberdade de locomoção da
vítima, com a finalidade de exigir o preço pelo resgate.

Nessa toada, podemos afirmar ainda que a vítima, ao ser resgatada já passava por
mais de 24 (vinte e quatro) horas de cerceamento de liberdade, o que configura a
modalidade qualificada do crime em apreço, nos termos do art. 159, §1°, do CP.

2.2 Da reserva de jurisdição

A medida cautelar adequada ao prosseguimento das investigações é sujeita à reserva


de jurisdição, uma vez que envolve um direito constitucionalmente protegido, que é a
inviolabilidade das comunicações telefônicas, apenas podendo ser decretada em último
caso, para fins de instrução processual penal ou investigação criminal, nos termos do
art. 5º, XII, da CF88.

Discursivas p/ PC-PR (Delegado) Com Correção - Pós-Edital 41


www.estrategiaconcursos.com.br 55
Fernando Bezerra, Ivo Martins, Vinicius Silva
Aula 05 - Prof. Vinícius Silva.

O juiz deve atuar na proteção da coletividade, não podendo admitir que uma conduta
delituosa seja levada a efeito e acobertada pelo manto da inviolabilidade de
comunicação telefônica, pois isso causaria um desequilíbrio institucional. O juiz deve
usar da ponderação para o deferimento da medida, mesmo que cause um prejuízo à
intimidade do investigado, prejuízo maior foi causado à vítima e à sociedade por conta
da prática delituosa.

2.3 Do cabimento

Conforme visto no item 2.1, o crime em apreço é punido com pena de reclusão de 12
a 20 anos, o que, por conta da natureza da pena privativa de liberdade autoriza a
decretação da medida, nos termos do inciso III, do art. 2°, da Lei n° 9.296/96.

2.4 Dos requisitos cautelares

Os requisitos cautelares para o deferimento também se encontram plenamente


satisfeitos, uma vez que no caso concreto há fortes indícios de que os investigados
praticam o crime de extorsão mediante sequestro, uma vez que cercearam a liberdade
da vítima e exigiram preço pelo resgate, conforme depoimentos dos familiares.

Assim, podemos afirmar que o requisito cautelar do inciso I, do art.2°, da Lei n°


9.296/96 foi cumprido.

Noutro giro, a necessidade da medida é manifesta, pois, a investigação chegou a um


impasse, não tendo elementos necessários para identificar os agentes delituosos, ou
seja, a investigação não cumpriu um de seus principais papéis que é a prova da autoria.

Constam ainda informações acerca do número de telefone por meio do qual eles
entravam em contato com a vítima, informação corroborada pelas alegações da
testemunha que contribuiu com o resgate da vítima em seu cativeiro.

Assim, de acordo com a fundamentação acima, mostra-se cabível e necessária a


interceptação das comunicações telefônicas do número constante no preâmbulo, na
busca da identificação dos autores da extorsão mediante sequestro.

Todas as diligências possíveis já foram intentadas no sentido de identificar os autores,


no entanto, nenhuma delas foi capaz de comprovar a autoria delituosa em apreço,
assim, mostra-se necessária a medida cautelar de interceptação das comunicações
telefônicas nos termos do art 2°, inciso II, da Lei 9.296/96.

Discursivas p/ PC-PR (Delegado) Com Correção - Pós-Edital 42


www.estrategiaconcursos.com.br 55
Fernando Bezerra, Ivo Martins, Vinicius Silva
Aula 05 - Prof. Vinícius Silva.

3. Do pedido

Ante do exposto, com base nos fundamentos de fato e de direito já expostos,


representa, essa autoridade policial, pela interceptação das comunicações telefônicas e
quebra de sigilo telefônico, que deverá ser conduzida da seguinte forma:

1. Desvio do sinal de áudio em tempo real, inclusive em situação de roaming


(usuário utilizando seu celular em outro Estado, fora da área de cobertura de
sua operadora, utilizando operadora concorrente) para as linhas telefônicas do
Setor de Inteligência da Polícia Civil, número: 99 - 9999.9999;
2. Bidirecionamento do alvo para a linha _____;
3. Período de monitoramento de 15 (quinze) dias;
4. Encaminhamento eletrônico dos dados cadastrais do telefone alvo, inclusive a
identificação IMEI do aparelho, e daqueles com os quais mantiver contato;
5. Encaminhamento eletrônico de extratos periódicos, com a identificação dos
respectivos terminais da operadora;
6. Encaminhamento eletrônico, em tempo real, das mensagens de voz, texto, e-
mails, imagens, vídeos, recebidos ou enviados, no caso de aparelhos celulares;
7. Identificação e localização das ERB’s utilizadas, em tempo real, do telefone
alvo e daqueles com os quais mantiver contato, via celular;
8. Identificação, em tempo real, dos números contatados nas chamadas
originadas/recebidas;
9. Autorização de interceptação e monitoramento dos terminais telefônicos que
venham a ser utilizados pelo mesmo número serial ou IMEI (GSM);
10. As operadoras deverão fornecer extrato detalhado – BILHETAGEM – das
ligações recebidas/efetuadas, a partir da data descrita acima e encaminhar
documentos e informações obtidas para o endereço eletrônico (endereço
eletrônico seguro da delegacia).

Requer, por fim, a manifestação do órgão do Ministério Público, bem como o


deferimento sem a oitiva da parte contrária, com a urgência que a lei (art. 4º, §2º.)
determina (prazo de 24 – vinte e quatro - horas).

Nestes Termos. Pede Deferimento.

Local,data.

Discursivas p/ PC-PR (Delegado) Com Correção - Pós-Edital 43


www.estrategiaconcursos.com.br 55
Fernando Bezerra, Ivo Martins, Vinicius Silva
Aula 05 - Prof. Vinícius Silva.

Delegado de Polícia
Matrícula.

Questão 03 (Vinícius Silva)

No dia 23 de abril de 2015, compareceu ao 5º distrito policial da cidade Fortaleza – CE,


o Sr. Roberto Freire dos Santos, dando conta de que ele e uma série de amigos foram
enganados por um esquema de venda de consórcios clandestinos, que prometiam
contemplações rápidas e entrega de bens com poucas parcelas pagas. No entanto o
bem nunca era entregue e as pessoas que vendiam os consórcios desapareciam e não
atendiam os contatos telefônicos dos clientes.

As parcelas eram pagas diretamente aos supostos cobradores da empresa que


passavam mensalmente nos endereços das vítimas a fim de receber os pagamentos.

Foi instaurado o inquérito policial de n° 723/2015.

A pessoa que vendia esses “consórcios” era Rubem Braga da Costa, o qual foi
qualificado posteriormente, por meio indireto, constando no inquérito policial a sua
qualificação completa e endereço fixo.

Ouvido, Rubem Braga, destacou em seu depoimento que não conhecia a prática
delituosa da empresa em que trabalhava, no entanto disse que havia um chefe imediato
de nome Raimundo Nonato da Silva, até então desaparecido, mas qualificado nos autos
do inquérito, por meio de informações de Rubem Braga.

Foi possível ainda verificar que há uma empresa do ramo de comércio de roupas e
serviços intitulada Trevo da Sorte, em que Rubem é registrado como empregado. O
CNPJ da empresa é 01234.5678/0001-99, e o respectivo endereço na rua Alto da
Balança, 44, Granja Lisboa, Fortaleza – CE.

Foram cumpridas algumas poucas diligências, e enviados ofícios aos órgãos reguladores
da atividade consórcio. Em resposta à autoridade policial os referidos órgãos afirmaram
que não consta nenhum registro da empresa acima como regularizada para exercer a
atividade de venda de consórcios. Cumprida diligência de busca domiciliar no endereço
acima, foram encontrados alguns aparelhos celulares, que, após periciados com
autorização judicial, revelaram que constam ligações reiteradas para o número 9999-
9999, todos os dias, originadas de diversos aparelhos celulares encontrados no local,
assim como ligações recebidas nos aparelhos, originadas do referido número.

Discursivas p/ PC-PR (Delegado) Com Correção - Pós-Edital 44


www.estrategiaconcursos.com.br 55
Fernando Bezerra, Ivo Martins, Vinicius Silva
Aula 05 - Prof. Vinícius Silva.

Nada mais foi encontrado na suposta sede da empresa.

Oficiada à RFB, não foi possível encontrar nenhuma informação que levasse à pessoa
diferente de Rubem Braga e Raimundo Nonato da Silva.

Além disso, não foram recuperados quaisquer valores relativos às operações financeiras
que lesaram os consumidores.

O inquérito policial encontra-se concluso ao Delegado de Polícia para dar seguimento


às investigações, na busca de possíveis co-autores e partícipes do esquema criminoso.

Diante do exposto, com base no que foi narrado, e atendo-se fielmente a eles,
represente pela(s) medida(s) cautelar(es) cabível(eis). Não crie fatos novos.

Comentário e modelo de resposta:

Essa questão leva-nos a muitas reflexões e a pensar com calma nas medidas que podem
ser representadas ao juiz pelo delegado de Polícia.

Primeiramente, podemos afirmar que ocorreu o crime de estelionato, pois, através de


um falso, ou seja, uma empresa entreposta de fachada, várias pessoas foram lesadas
em um esquema de venda de consórcios fraudulentos.

O crime de estelionato não permite a prisão temporária, logo essa medida cautelar está
descartada de cara, por ausência de requisito de cabimento.

Por outro lado, em relação à possibilidade de prisão preventiva, não antevejo qualquer
requisito de cautelaridade presente ao caso, motivo pelo qual não se pode representar
por tal medida.

A ideia aqui é representar por uma medida cautelar probatória, que venha a trazer
elementos de informação para o inquérito, ou seja, medidas cautelares que possam
levar à autoria ou à participação de pessoas que estejam envolvidas no esquema
criminoso narrado.

Discursivas p/ PC-PR (Delegado) Com Correção - Pós-Edital 45


www.estrategiaconcursos.com.br 55
Fernando Bezerra, Ivo Martins, Vinicius Silva
Aula 05 - Prof. Vinícius Silva.

A investigação já se utilizou de todos os recursos possíveis e imaginários para que


pudesse chegar à autoria e aos demais componentes da quadrilha, no entanto isso não
foi possível.

Assim, só resta-nos clamar ao Poder Judiciário pela interceptação das comunicações


telefônicas do número de telefone encontrado nas agendas dos aparelhos apreendidos
e periciados com autorização judicial.

Presentes estão os requisitos de cautelaridade, bem como o requisito de cabimento,


pois a pena cominada para o crime é de reclusão de 1 a 5 anos, bem como necessita-
se da medida, pois é a única que poderá levar à possível autoria.

Caberia ainda aqui a quebra de sigilo fiscal do CNPJ obtido durante a investigação, no
entanto, como essa medida ainda não foi estudada, vamos, nesse exercício, representar
apenas pela interceptação das comunicações telefônicas.

Vamos agora à peça, na qual vou repetir a maioria dos argumentos até aqui
mencionados.

EXCELENTÍSSIMO SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA ____ª VARA CRIMINAL DA


COMARCA DE FORTALEZA - CE.

URGENTE – 24 (VINTE E QUATRO) HORAS (art. 4°, §2°, da Lei 9.296).

DISTRIBUIÇÃO SIGILOSA

Ref. Inquérito policial n°723/2015

“A Polícia Civil do estado de ___________, por meio do seu Delegado de Polícia, ao


final assinado, no uso de suas atribuições, que lhe são conferidas, dentre outros

Discursivas p/ PC-PR (Delegado) Com Correção - Pós-Edital 46


www.estrategiaconcursos.com.br 55
Fernando Bezerra, Ivo Martins, Vinicius Silva
Aula 05 - Prof. Vinícius Silva.

dispositivos, pelo art. 144, §4º, da CF-88, art. 3°, I (Lei 9.296/96); art. 2°, §1°, da Lei
12.830/2013, vem, mui respeitosamente, a presença de Vossa Excelência,
REPRESENTAR PELA INTERCEPTAÇÃO DAS COMUNICAÇÕES E MONITORAMENTO
TELEFÔNICO DAS LIGAÇÕES ORIGINADAS E RECEBIDAS DA SEGUINTE LINHA MÓVEL:
9999 – 9999, todas as operadoras, pelos fundamentos de fato e de direito que a seguir
passa a expor”.

1. Dos fatos

A investigação policial acima procura encontrar a materialidade e a autoria de um


suposto crime de estelionato praticado por um grupo criminoso que se utilizava de uma
empresa de fachada para vender consórcios fraudulentos em prejuízo daqueles que
adquiriam as cotas e nunca recebiam seus bens.

Foram efetuadas várias diligências e elas mostraram que o grupo atua com pessoas
que efetuam o trabalho de execução das atividades que consubstanciam o esquema
criminoso.

No entanto, de acordo com o que foi até então apurado ainda não foi possível conseguir
identificar os demais componentes do grupo nem a dinâmica de atuação deles.

Em diligência de busca e apreensão foi possível apreender vários aparelhos celulares


que efetuavam e recebiam ligações do número contido no preâmbulo desta.

2. Dos fundamentos jurídicos

2.1 Da Prática delituosa

De acordo com os fatos narrados acima, pode-se afirmar que houve a consumação do
crime de estelionato na forma do caput do art. 171, do Código Penal - CP, pois,
mediante um falso, que foi a criação de uma empresa fantasma, várias pessoas foram
lesadas e prejudicadas financeiramente, em benefício econômico do grupo criminoso.

2.2 Da reserva de jurisdição

A medida cautelar adequada ao prosseguimento das investigações é sujeita à reserva


de jurisdição, uma vez que envolve um direito constitucionalmente protegido, que é a
inviolabilidade das comunicações telefônicas.

Discursivas p/ PC-PR (Delegado) Com Correção - Pós-Edital 47


www.estrategiaconcursos.com.br 55
Fernando Bezerra, Ivo Martins, Vinicius Silva
Aula 05 - Prof. Vinícius Silva.

O juiz deve atuar na proteção da coletividade, não podendo admitir que uma conduta
delituosa seja levada a efeito e acobertada pelo manto da inviolabilidade de
comunicação telefônica, pois isso causaria um desequilíbrio institucional. O juiz deve
usar da ponderação para o deferimento da medida, mesmo que cause um prejuízo à
intimidade do investigado, prejuízo maior foi causado às vítimas e à sociedade por conta
da prática delituosa.

2.3 Do cabimento

Conforme visto no item 2.1, o crime em apreço é punido com pena de reclusão de 1 a
5 anos, o que, por conta da natureza da pena privativa de liberdade autoriza a
decretação da medida, nos termos do inciso III, do art. 2°, da Lei n° 9.296/96.

2.4 Dos requisitos cautelares

Os requisitos cautelares para o deferimento também se encontram plenamente


satisfeitos, uma vez que no caso concreto há fortes indícios de que os investigados
praticam o crime em apreço, por conta de depoimentos das vítimas e até mesmo pelos
elementos colhidos nas diligências cumpridas pelo setor operacional desta unidade
policial.

Assim, podemos afirmar que o requisito cautelar do inciso I, do art.2°, da Lei n°


9.296/96 foi cumprido.

Noutro giro, a necessidade da medida é manifesta, pois a investigação chegou a um


impasse, não tendo elementos necessários para identificar os agentes delituosos, ou
seja, a investigação não cumpriu um de seus principais papéis que é a prova da autoria.

Constam ainda várias informações acerca da possibilidade de contatos telefônicos


efetuados através do número citado no preâmbulo, ou seja, há fortes indícios de que o
número seja utilizado pelo grupo criminoso para efetuar comunicações acerca dos
crimes cometidos.

Assim, de acordo com a fundamentação acima, mostra-se cabível e necessária a


interceptação das comunicações telefônicas do número constante no preâmbulo, na
busca da identificação dos autores do estelionato, bem como para que a autoridade
policial possa conhecer melhor a dinâmica de atuação dos criminosos.

Discursivas p/ PC-PR (Delegado) Com Correção - Pós-Edital 48


www.estrategiaconcursos.com.br 55
Fernando Bezerra, Ivo Martins, Vinicius Silva
Aula 05 - Prof. Vinícius Silva.

Todas as diligências possíveis já foram intentadas no sentido de identificar os autores,


no entanto, nenhuma delas foi capaz de comprovar a autoria delituosa em apreço,
assim, mostra-se necessária a medida cautelar de interceptação das comunicações
telefônicas nos termos do art 2°, inciso II, da Lei 9.296/96.

3. Do pedido

Ante do exposto, com base nos fundamentos de fato e de direito já expostos,


representa, essa autoridade policial, pela interceptação das comunicações telefônicas e
quebra de sigilo telefônico, que deverá ser conduzida da seguinte forma:

1. Desvio do sinal de áudio em tempo real, inclusive em situação de roaming


(usuário utilizando seu celular em outro Estado, fora da área de cobertura de
sua operadora, utilizando operadora concorrente) para as linhas telefônicas do
Setor de Inteligência da Polícia Civil, número: 9999 - 9999;
2. Bidirecionamento do alvo para a linha _____;
3. Período de monitoramento de 15 (quinze) dias;
4. Encaminhamento eletrônico dos dados cadastrais do telefone alvo, inclusive a
identificação IMEI do aparelho, e daqueles com os quais mantiver contato;
5. Encaminhamento eletrônico de extratos periódicos, com a identificação dos
respectivos terminais da operadora;
6. Encaminhamento eletrônico, em tempo real, das mensagens de voz, texto, e-
mails, imagens, vídeos, recebidos ou enviados, no caso de aparelhos celulares;
7. Identificação e localização das ERB’s utilizadas, em tempo real, do telefone
alvo e daqueles com os quais mantiver contato, via celular;
8. Identificação, em tempo real, dos números contatados nas chamadas
originadas/recebidas;
9. Autorização de interceptação e monitoramento dos terminais telefônicos que
venham a ser utilizados pelo mesmo número serial ou IMEI (GSM);
10. As operadoras deverão fornecer extrato detalhado – BILHETAGEM – das
ligações recebidas/efetuadas, a partir da data descrita acima e encaminhar
documentos e informações obtidas para o endereço eletrônico (endereço
eletrônico seguro da delegacia).

Requer, por fim, a manifestação do órgão do Ministério Público, bem como o


deferimento sem a oitiva da parte contrária, com a urgência que a lei (art. 4º, §2º.)
determina (prazo de 24 – vinte e quatro - horas).
Nestes Termos. Pede Deferimento.
Local, data.

Delegado de Polícia
Matrícula.

Discursivas p/ PC-PR (Delegado) Com Correção - Pós-Edital 49


www.estrategiaconcursos.com.br 55
Fernando Bezerra, Ivo Martins, Vinicius Silva
Aula 05 - Prof. Vinícius Silva.

Questão 4 (Adaptada pelo Prof. Vinícius Silva)

Delegado de Polícia - Concurso: PCSC - Ano: 2014 - Banca: ACAFE - Disciplina:


Direito Processual Penal - Assunto: Provas.

Denúncia anônima que chegou à Delegacia de Polícia dá conta de que Mario Mendes e
Ciro Fontes estariam inserindo elementos inexatos em operações de natureza fiscal
relativas ao ICMS, visando fraudar a fiscalização tributária, das empresas de laticínios
Indústria de Laticínios Companhia do Leite e Leite Bom Indústria Alimentícia Ltda.
Apesar dos indícios apontarem o envolvimento dos investigados em crime de sonegação
fiscal, a investigação chegou a um impasse, pois não foi possível elucidar, com os
levantamentos de campo e de informações, qual a participação de cada um dos
investigados, acrescido do fato de que o investigado Ciro Fontes faz constantes viagens
internacionais. Dados do Inquérito: N. 0124/2014; Primeira Delegacia de Polícia da
Comarca de Lages, Rua das Palmeiras, 357, Lages. Do que foi até agora apurado tem-
se: a) - Indústria de Laticínios Companhia do Leite, com sede na rua das Acácias, 123,
Lages - Sócios Mario Mendes e Ciro Fontes; b) - Leite Bom Indústria Alimentícia Ltda.,
com sede na rua das Laranjeiras, 456, Lages - Sócios Ciro Fontes e Mario Mendes; c) -
Mario Mendes – brasileiro, caso, empresário, residente à rua Pessegueiro, 687, Lages -
celular (Claro S/A) (49) – 9112 – 7070, CPF 400 401 402 – 88; d) – Ciro Fontes –
brasileiro, casado, empresário, residente à rua das Videiras, 581, Lages – celular (Claro
S/A) (49) – 9112 – 8080, CPF 500 501 502 – 99; e) - registro da caminhonete Mitsubishi
L200, placas XXX - 0123, utilizada por Ciro Fontes, em nome da Samira Mendes Lima,
CPF 800 801 802 -83; f) - registro, em nome da Samira Mendes Lima, do veículo Honda
Civic, ano 2013/2014, placas XXX - 0456, que até 21/1/2014 estava registrado em
nome da empresa Leite Bom Indústria Alimentícia Ltda; g) – registro de veículos
particulares, utilizados por Mario Mendes e seus familiares, em nome de terceiros: -
Citroen C4 Palas, placas XXX- 1111- registrado em nome de Murilo Garcia – CPF 100
101 102 – 76; - BMW, placas XXX – 2222, registrado em nomes de Cássio Meira, CPF
200 201 202 – 67; - Mitsubishi Pajero Full, placas XXX - 3333, registrado em nome de
Felipe Lima, CPF 300 301 302-57; h) - inexistência de patrimônio nas empresas
Indústria de Laticínios Companhia do Leite e Leite Bom Indústria Alimentícia Ltda. i) -
incompatibilidade entre volume de produção, o constante nos registros de estoque da
empresa e o constante nos registros fiscais de saída de produtos, decorrente das
vendas. Analise o anteriormente relatado e, como Delegado de Polícia, sem criar novos
dados, elabore pedido de interceptação telefônica.

Comentário e modelo de peça proposto.

Discursivas p/ PC-PR (Delegado) Com Correção - Pós-Edital 50


www.estrategiaconcursos.com.br 55
Fernando Bezerra, Ivo Martins, Vinicius Silva
Aula 05 - Prof. Vinícius Silva.

O crime a ser investigado trata-se de sonegação fiscal, uma vez que o enunciado nos
mostra que há uma série de indícios que demonstram essa prática delituosa por parte
dos sócios das empresas em questão.

Esse crime possui pena privativa de liberdade de reclusão de 2 a 5 anos sendo assim
cumprido o requisito de cabimento da medida a ser representada.

Por outro lado, a investigação encontra-se com um impasse, no qual a autoridade está
a definir a conduta de cada um dos investigados, para assim concluir o inquérito policial.

Ou seja, a questão deixa claro que a ideia é representar pela interceptação, uma vez
que é a única medida de que pode levar a autoridade policial à individualização das
condutas.

Assim, a medida cabível é a representação pela interceptação das comunicações


telefônicas. A questão já deu a dica dos números de telefone, então vamos representar
pela interceptação.

Modelo de peça:

EXCELENTÍSSIMO SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA ____ª VARA CRIMINAL DA


COMARCA DE LAGES-SC.

URGENTE – 24 (VINTE E QUATRO) HORAS (art. 4°, §2°, da Lei 9.296).

DISTRIBUIÇÃO SIGILOSA

Ref. Inquérito policial n°0124/2014

A Polícia Civil do estado de Santa Catarina, por meio do seu Delegado de Polícia, ao
final assinado, no uso de suas atribuições, que lhe são conferidas, dentre outros
dispositivos, pelo art. 144, §4º, da CF88, art. 3°, I, da lei 9.296/96; art. 2°, §1°, da
Lei 12.830/2013, vem, mui respeitosamente, a presença de Vossa Excelência,
representar REPRESENTAR PELA INTERCEPTAÇÃO DAS COMUNICAÇÕES E
MONITORAMENTO TELEFÔNICO DAS LIGAÇÕES ORIGINADAS E RECEBIDAS DAS
SEGUINTES LINHAS MÓVEIS: (49) – 9112 – 7070 e (49) – 9112 – 8080, pelos
fundamentos de fato e de direito que a seguir passa a expor:

Discursivas p/ PC-PR (Delegado) Com Correção - Pós-Edital 51


www.estrategiaconcursos.com.br 55
Fernando Bezerra, Ivo Martins, Vinicius Silva
Aula 05 - Prof. Vinícius Silva.

1. Dos fatos

Tratam os autos de investigação acerca da prática de crime de sonegação fiscal.

As diligências até agora perpetradas pela equipe operacional dessa delegacia dão conta
de que os investigados Mario Mendes – brasileiro, casado, empresário, residente à Rua
Pessegueiro, 687, Lages e Ciro Fontes – brasileiro, casado, empresário, residente à rua
das Videiras, 581, Lages, na qualidade de sócios das empresas Indústria de Laticínios
Companhia do Leite e Leite Bom Indústria Alimentícia Ltda, estariam inserindo dados
falsos nas operações comerciais das empresas, com o fito de fraudar a fiscalização
tributária e por conseguinte o recolhimento de ICMS.

As investigações apontam ainda um patrimônio elevado que os sócios ostentam por


meio de veículos importados e viagens internacionais.

Neste momento a investigação encontra-se parada, aguardando elementos que possam


definir as condutas de cada um dos investigados em meio à prática delituosa a ser
tipificada no próximo item.

2. Dos fundamentos jurídicos

2.1 Da Prática delituosa

No caso acima narrado, pode-se perceber que há fortes indícios de que os investigados
estão incursos nos crimes do art. 1°, I e II, da Lei n° 8.137/90.

Os investigados supostamente estão inserindo dados inexatos nos documentos fiscais


com a finalidade de fraudar a fiscalização tributária e o recolhimento de impostos,
notadamente o ICMS.

Assim, a conduta amolda-se perfeitamente no tipo penal previsto no diploma legal


referido.

2.2 Da reserva de jurisdição

Discursivas p/ PC-PR (Delegado) Com Correção - Pós-Edital 52


www.estrategiaconcursos.com.br 55
Fernando Bezerra, Ivo Martins, Vinicius Silva
Aula 05 - Prof. Vinícius Silva.

A medida cautelar adequada ao prosseguimento das investigações é sujeita à reserva


de jurisdição, uma vez que envolve um direito constitucionalmente protegido, que é a
inviolabilidade das comunicações telefônicas.

O juiz deve atuar na proteção da coletividade, não podendo admitir que uma conduta
delituosa seja levada a efeito e acobertada pelo manto da inviolabilidade de
comunicação telefônica, pois isso causaria um desequilíbrio institucional. O juiz deve
usar da ponderação para o deferimento da medida, mesmo que cause um prejuízo à
intimidade do investigado, prejuízo maior está sendo causado à coletividade por conta
da prática delituosa que frauda o recolhimento de tributos.

2.3 Do cabimento

Conforme a tipificação acima mostrada, o crime sob investigação dessa delegacia no


inquérito epigrafado possui pena privativa de liberdade de reclusão, portanto, mostra-
se cabível a interceptação telefônica, nos termos do inciso III, do art. 2°, da Lei n°
9.296/96.

2.4 Dos requisitos cautelares

Os requisitos cautelares para o deferimento também se encontram plenamente


satisfeitos, uma vez que no caso concreto há fortes indícios de que os investigados
praticam o crime de sonegação fiscal. Vejamos.

As investigações apontam a inexistência de patrimônio nas empresas Indústria de


Laticínios Companhia do Leite e Leite Bom Indústria Alimentícia Ltda., bem como a
incompatibilidade entre volume de produção, o constante nos registros de estoque da
empresa e o constante nos registros fiscais de saída de produtos, decorrente das
vendas.

Na mesma toada encontra-se a aquisição de veículos utilizados pelos investigados em


nome de terceiros que estariam participando da ação delituosa na qualidade de
partícipes. Constam nos autos vários elementos de informação que confirmam a
utilização de veículos de luxo pelos Srs. Ciro Fontes e Mario Mendes, e pelas respectivas
famílias.

Ou seja, isso demonstra mais ainda a ocorrência do delito, bem como a participação
dos investigados.

Discursivas p/ PC-PR (Delegado) Com Correção - Pós-Edital 53


www.estrategiaconcursos.com.br 55
Fernando Bezerra, Ivo Martins, Vinicius Silva
Aula 05 - Prof. Vinícius Silva.

Assim, podemos afirmar que o requisito cautelar do inciso I, do art.2°, da Lei n°


9.296/96 foi cumprido.

Noutro giro, a necessidade da medida é manifesta, pois a investigação chegou a um


impasse, não tendo elementos necessários a definir qual a conduta de cada um dos
investigados e qual a real participação de cada um deles no crime.

Constam ainda informações acerca dos números de telefone de cada um deles, ou seja,
a interceptação das comunicações telefônicas ajudará a elucidar a participação dos
investigados, pois de acordo com as conversas telefônicas poderemos definir qual o real
papel deles na conduta criminosa.

Em relação à aplicação da Súmula Vinculante n° 24, não se pode cogitar a sua aplicação
nesse caso concreto, pois, caso contrário, a investigação policial em crimes dessa
natureza estaria totalmente vinculada à ação da administração fazendária. Não se pode
admitir no estado de direito que uma Súmula, ainda que vinculante, torne ineficaz ou
condicionada a atividade policial.

A atividade policial não pode ser engessada pelo próprio sistema constitucional
brasileiro. Não existe nenhum direito absoluto, nem aqueles previstos na Constituição
Federal de 1988, quanto mais uma súmula pode restringir a investigação policial.

Assim, de acordo com a fundamentação acima, mostra-se cabível e necessária a


interceptação das comunicações telefônicas dos investigados.

3. Do pedido

Ante do exposto, com base nos fundamentos de fato e de direito já expostos,


representa, essa autoridade policial, pela interceptação das comunicações telefônicas e
quebra de sigilo telefônico, que deverá ser conduzida da seguinte forma:

1. Desvio do sinal de áudio em tempo real, inclusive em situação de roaming


(usuário utilizando seu celular em outro Estado, fora da área de cobertura de
sua operadora, utilizando operadora concorrente) para as linhas telefônicas do
Setor de Inteligência da Polícia Civil, número: : (49) – 9112 – 7070 e (49) –
9112 – 8080;
2. Bidirecionamento do alvo para a linha _____;
3. Período de monitoramento de 15 (quinze) dias;
4. Encaminhamento eletrônico dos dados cadastrais do telefone alvo, inclusive a
identificação IMEI do aparelho, e daqueles com os quais mantiver contato;

Discursivas p/ PC-PR (Delegado) Com Correção - Pós-Edital 54


www.estrategiaconcursos.com.br 55
Fernando Bezerra, Ivo Martins, Vinicius Silva
Aula 05 - Prof. Vinícius Silva.

5. Encaminhamento eletrônico de extratos periódicos, com a identificação dos


respectivos terminais da operadora;
6. Encaminhamento eletrônico, em tempo real, das mensagens de voz, texto, e-
mails, imagens, vídeos, recebidos ou enviados, no caso de aparelhos celulares;
7. Identificação e localização das ERB’s utilizadas, em tempo real, do telefone
alvo e daqueles com os quais mantiver contato, via celular;
8. Identificação, em tempo real, dos números contatados nas chamadas
originadas/recebidas;
9. Autorização de interceptação e monitoramento dos terminais telefônicos que
venham a ser utilizados pelo mesmo número serial ou IMEI (GSM);
10. As operadoras deverão fornecer extrato detalhado – BILHETAGEM – das
ligações recebidas/efetuadas, a partir da data descrita acima e encaminhar
documentos e informações obtidas para o endereço eletrônico (endereço
eletrônico seguro da delegacia).

Requer, por fim, a manifestação do órgão do Ministério Público, bem como o


deferimento sem a oitiva da parte contrária, com a urgência que a lei (art. 4º, §2º.)
determina (prazo de 24 – vinte e quatro - horas).

Nestes Termos. Pede Deferimento.

Lages - SC, data.

Delegado de Polícia Civil de Santa Catarina


Matrícula.

Abraços.

Bons Estudos.

Prof. Vinícius Silva.

Discursivas p/ PC-PR (Delegado) Com Correção - Pós-Edital 55


www.estrategiaconcursos.com.br 55

Você também pode gostar