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Vinícius
Silva.
Discursivas p/ PC-PR (Delegado) Com
Correção - Pós-Edital
Autores:
Fernando Bezerra, Ivo Martins,
Vinicius Silva
Aula 04 - Prof. Vinícius Silva.
4 de Maio de 2020
Fernando Bezerra, Ivo Martins, Vinicius Silva
Aula 04 - Prof. Vinícius Silva.
Sumário
1. Apresentação ................................................................................................................. 2
2. Aspectos teóricos acerca da busca domiciliar ................................................................. 3
3. Representação por busca domiciliar ............................................................................ 14
3.1 Legitimação................................................................................................................ 14
3.2 Fundamentos de fato ou Fatos ................................................................................... 15
3.3 Fundamentos jurídicos ............................................................................................... 16
3.4. Pedido ...................................................................................................................... 21
4. Modelo de representação por Busca Domiciliar ........................................................... 22
4.1 Endereçamento.......................................................................................................... 22
4.2 Preâmbulo ................................................................................................................. 22
4.3 Fatos .......................................................................................................................... 23
4.4 Fundamentos jurídicos ............................................................................................... 23
4.5 Do Pedido. ................................................................................................................. 24
5. Questões comentadas de prova. .................................................................................. 27
1. APRESENTAÇÃO
Espero que esteja gostando do nosso curso de Peças Práticas para Delegado de
Polícia Civil. Estou pesquisando muito, através de vários livros e doutrina
especializada em atividade de polícia judiciária, e jurisprudência atualizada, a fim de
poupar o seu trabalho, fazendo com que esse seja o seu material principal e que você
não precise recorrer a outras obras.
Estamos diante de mais uma medida cautelar típica do cotidiano da autoridade policial,
a foto acima mostra uma operação policial de busca e apreensão em que podemos notar
a mobilização de muitos agentes de polícia e de várias autoridades.
Pode haver busca sem apreensão e também pode haver apreensão sem que
haja busca.
Da mesma forma, em uma hipótese de uma busca domiciliar em que se procura uma
arma de fogo utilizada em um crime de homicídio, se na casa em que for dada a busca
não for encontrada a arma, estaremos diante de um caso clássico de busca sem
apreensão.
Portanto, tenha em mente uma coisa, o quadro abaixo resume bem essa história de
busca e apreensão serem institutos jurídicos distintos.
BUSCA Apreensão
Meio utilizado
Finalidade
Outro ponto teórico importante é que a busca domiciliar que estaremos aprendendo a
representar por ela é uma medida sujeita à reserva de jurisdição, ou seja, trata-se
de uma medida cautelar a ser determinada pelo juiz, inclusive por conta da salvaguarda
constitucional a que está sujeito o domicílio.
Esse tipo de aspecto vale muito a pena ser ressalvado, ou seja, que a medida é
excepcional, tendo em vista a regra da inviolabilidade. Inclusive, na prova da PCPE –
2016, esse foi um dos aspectos importantes a serem ressalvados, que valia 4,00 dos
30 pontos a serem distribuídos pela peça prática.
Aqui não estamos falando da busca pessoal, prevista no art. 240, §2°, do CPP, ocasião
em que não será necessária a determinação judicial.
Nesses casos o agente policial, seja ele civil ou militar, deve proceder à busca sempre
que esteja diante de uma circunstância de fundada suspeita de que o agente passivo
da busca porte consigo arma ou qualquer objeto ilícito ou proibido.
Então professor, na
busca pessoal faz a
busca sem precisar de
mandado?
Ou seja, pela própria urgência da medida devemos ter uma ação imediata do agente
policial, sob pena de ser ineficaz a diligência.
Por outro lado, a busca domiciliar, aquela cuja representação você vai aprender nessa
aula, podemos afirmar que apenas a autoridade judiciária, ou seja, o juiz competente
está apto a determiná-la.
O citado inciso do art. 5°, da CF/88 é aquele famoso inciso que carrega em si a proteção
ao direito fundamental da inviolabilidade domiciliar.
O dispositivo constitucional acima visa proteger uma liberdade individual que é o direito
à intimidade, à vida privada.
No entanto, já foi dito que esse direito, assim como qualquer outro não pode ser
absoluto, sendo relativizado em algumas hipóteses, quais sejam as seguintes:
2. Flagrante delito. Nesse caso, pode-se adentrar na casa, sem ter qualquer
possiblidade de violação ao direito fundamental exposto no referido inciso, pois
qualquer do povo está autorizado a fazer cessar a ação criminosa quando dela está
ciente de que ocorre, ainda que seja no interior de uma casa habitada.
Alguns pontos precisam ser esclarecidos, quais sejam: o que é considerado dia, para
o cumprimento do mandado? O que é considerado casa, para efeitos penais?
a) conceito de dia
Nesse ponto faço um comentário interessante acerca de uma decisão do STF em relação
ao cumprimento de mandado de busca domiciliar em escritório de advocacia, cumprido
no horário noturno, ocasião em que foram captados sinais ópticos (imagens) e
instalados sinais de captação de áudio.
A decisão consta no informativo 529, do STF, um pouco antigo, mas muito importante
para esse ponto da prova. Vejamos.
A fundamentação eu o STF deu para o caso foi a de que o mandado jamais teria
efetividade, caso fosse cumprido durante o dia, com publicidade da diligência, sob pena
de total ineficácia da medida.
Acertadamente o STF buscou dar efetividade à medida, pois caso contrário, o local
nunca poderia ser violado e estar-se-ia protegendo um local em que as práticas
delituosas poderiam ser reiteradamente realizadas.
“(...) Enfatizou-se que os interesses e valores jurídicos, que não têm caráter
absoluto, representados pela inviolabilidade do domicílio e pelo poder-dever
de punir do Estado, devem ser ponderados e conciliados à luz da
proporcionalidade quando em conflito prático segundo os princípios da
concordância.(...)”
Vejamos a ementa da decisão emblemática para esse tema de que estamos tratando:
b) conceito de “casa”:
Casa é um conceito bem amplo, e deve ser interpretado como qualquer compartimento
habitado.
1. Automóvel:
O automóvel, para fins de busca, pode ser considerado um caso de busca pessoal,
ocasião em que não seria necessária a expedição de mandado para proceder à busca.
No entanto, caso o automóvel seja utilizado como casa, por exemplo, no caso
das pessoas que moram em trailers ou em boleias de caminhões, como
caminhoneiros, a situação nessas hipóteses é diferente, sendo o automóvel
inserido no conceito de casa, gozando da proteção constitucional.
2. Hotel/Motel
Em suma, aquilo que estiver aberto ao público não goza da proteção. Como os
quartos desabitados e a parte comum está aberta ao público, não faz sentido mencionar
a proteção domiciliar nesses casos.
3. Escritórios/Consultórios
como casa. No entanto, lembre-se da decisão que foi mostrada no item anterior em
relação ao cumprimento de mandado de busca em escritório de advocacia em período
noturno sem o conhecimento do investigado.
Aqui cabe a ressalva mais uma vez de que as partes comuns dos locais, por
estarem abertas ao público não gozam da proteção, pois estão abertas ao público,
não sendo, portanto, locais em que se necessita de tutela à intimidade e vida
profissional.
devendo tudo ser registrado nos autos, a fim de que não seja alegada a nulidade
posterior.
Isso é mais que coerente, uma vez que não podemos frustrar a atividade policial por
conta da inércia das instituições (OAB). O dever de informar sendo cumprido, não há
impedimento nenhum ao prosseguimento da busca.
4. Repartições Públicas
Outro ponto importante é não violar as garantias acima, pois eventual desrespeito não
será enquadrado na hipótese do art. 150, do CP
Violação de domicílio
Quando é a autoridade pública que comete a conduta tipificada acima, temos um tipo
penal mais específico, que se adota quando a autoridade pública, ou seja, o Delegado
de Polícia viola o domicílio, esse crime está previsto na lei de abuso de autoridade,
ou seja, pela especialidade do crime previsto na Lei n° 4.898/65.
(...)
b) à inviolabilidade do domicílio;
Ou seja, a autoridade que violar o domicílio estará incursa no crime acima, e não no
Código Penal.
3.1 LEGITIMAÇÃO
Assim, vamos poder trabalhar nos exercícios com duas cautelares na mesma
representação. Isso é muito comum em alguns casos. Provas como a da Polícia
Federal geralmente abordam as peças práticas sob essa perspectiva.
Aqui funciona como uma prova em que se acumula o conteúdo, ou seja, numa eventual
questão de peça, poderá cair não só a representação por uma medida, apenas, mas
uma representação por várias medidas cumuladas.
Há doutrina que menciona que pode ser utilizado, por analogia, art. 242, do CPP, como
elemento de legitimação, o que eu acredito possível e até recomendo que você o faça
em sua peça, mencionando de forma expressa que se trata de uma analogia.
Você vai usar também a lei 12.830/13, art. 1°, §§ 1° e 2°, que preveem que ao
delegado de polícia cabe a condução da investigação e, por via de consequência,
utilizar-se dos mais diversos dispositivos legais que lhe possibilitem apreender objetos
ligados ao crime, e assim a convicção de que a materialidade existe e os fortes indícios
de autoria apontam para o investigado.
Portanto, caberá a você, futuro delta, representar pela busca na intenção de obter
provas que substanciem o oferecimento da denúncia pelo membro do MP.
É claro que o art. 144, §4º, da CF se fará presente em nosso preâmbulo, pois de forma
genérica ele pode trazer elementos que legitimam o delegado a representar pela
medida.
Aqui é a mesma coisa da aula anterior e das seguintes aulas também, acostume-se a
resumir ou parafrasear um texto. Sugiro a você algumas técnicas de resumo de textos,
que você encontra em um bom livro de produção textual.
Você vai resumir com suas próprias palavras os fatos ocorridos, sempre destacando
aqueles que vão servir de base para a sua fundamentação jurídica.
Lembre-se de que para lhe dar um norte de como narrar os fatos sem ser repetitivo em
relação ao que já foi mencionado no enunciado, vale a pena utilizar a regrinha da
resposta às perguntas abaixo:
O que?
Quem?
Quando? ACONTECEU
Onde?
Por que?
Se você conseguir responder a essas perguntas com um texto bem objetivo, sua
narrativa dos fatos certamente ficará muito boa e a pontuação dessa parte estará
garantida.
Procure treinar essa parte quando estiver escrevendo um e-mail, ou até quando estiver
contando uma história a algum colega.
Na busca domiciliar, vale muito ressaltar os fatos relativos às provas de que há grande
probabilidade de que o que você procura apreender encontra-se escondido no local
onde será realizada a busca. Procure ressaltar esses fatos e coloque esses elementos
em sua representação.
A fundamentação jurídica, como sempre, é a parte que vai lhe dar mais pontos, nela
você vai mostrar todo seu conhecimento jurídico sobre a medida cautelar pela qual
representa.
O importante aqui é destacar o objeto da busca, que está previsto no art. 240,
§1°, do CPP, onde se elencam todas as hipóteses do que pode ser encontrado
por meio da diligência.
a) prender criminosos;
Veja que se trata de um rol extenso, e que ainda possui algumas alíneas muito
“coringas”, que podem ser utilizadas pelo delegado na sua fundamentação de forma
muito livre, pois pelo próprio texto do código deixam um grau de interpretação muito
amplo a ser feito pela autoridade policial.
Estou falando dos incisos “e” e “h”, pois o seu teor é bem amplo, do ponto de vista da
adequação ao caso concreto.
Essa alínea é mais ampla ainda, ela te dá uma série de possibilidades em que pode ser
tomada essa medida.
O que você vai fazer é fundamentar a sua representação em alguma dessas alíneas.
Estou lhe dando a sugestão dessas duas, pois são muito amplas e podem se adequar a
muitos casos concretos.
Temos ainda que lembrar que doutrinadores como Nucci, entendem que esse rol do art.
240, §1° não é taxativo, de forma que, com base no poder geral de cautela do juiz, ele
pode deferir uma busca com fundamento diverso daquele trazido pelo dispositivo acima.
Como se trata de uma medida simples é por isso que ela, provavelmente, não virá
sozinha em uma prova de alto nível. Se você se prepara para grandes concursos da
área policial, tenha certeza que essa medida será cumulada com uma prisão.
O nosso curso será da mesma forma, a medida que formos crescendo no conteúdo
vamos representar por medidas mistas, cumulando alguns pedidos que sejam
importantes para a elucidação das infrações e para o prosseguimento das investigações.
Assim, tenha em mente que se for possível cumular a busca domiciliar, faça esse
pedido. Isso é muito “feelling” de delegado, que você deverá mostrar desde já.
A medida de busca domiciliar não pode ser decretada em uma favela inteira,
ou em um condomínio inteiro, isso violaria o direito a intimidade daqueles que não estão
envolvidos no delito.
Na busca domiciliar não se pode buscar qualquer objeto no local, não é uma
medida legal você buscar “alguma coisa” no morro da rocinha, o ideal é buscar a
coisa Y, no local X, ou seja, individualização do local e da coisa a ser apreendida
por meio da busca.
Entenda então que a medida que estamos estudando requer uma série de requisitos
que estarão espalhados pelo enunciado. Esses pontos devem ser mencionados na
fundamentação, pois são importantes para a elucidação do crime ou para a prova da
autoria ou fortalecimento dos indícios.
Armas utilizadas em crimes mediante violência própria são muito comuns em questões
dessa natureza, no entanto, é importante visualizar o local onde esse instrumento do
crime pode estar escondido.
Ao mandado de busca pode ainda ser cumulada a prisão, no entanto, os requisitos para
a temporária ou preventiva devem estar presentes.
Não podemos no meio do mandado de busca efetuar uma prisão, a menos que
seja uma prisão em flagrante.
Veja que realmente estamos falando de um crime em que pela sua própria natureza
tem sua consumação a cada instante de tempo, enquanto permanecer a ação ter em
depósito.
Portanto, o fundamento é bem livre, bastando que você mostre ao juiz que a medida
pela qual você representa é necessária ao andamento das investigações. Não se
esqueça da individualização do local e do objeto a ser buscado.
Bom, passada essa parte do fundamento, vamos ao pedido, no qual você deverá repetir
alguns pontos da fundamentação.
3.4. PEDIDO
Vamos agora falar um pouco sobre o pedido que deverá estar na sua peça, você já está
chegando ao final da sua representação.
O ideal é encontrar essa arma de fogo, e isso poderá ser feito por meio de busca
domiciliar na casa do investigado pelo crime. A coisa a ser buscada é a arma de fogo,
que você terá como identificar por meio das marcas que cada arma deixa nos projéteis
disparados por ela. Ou seja, você vai saber que foi um revólver, calibre 38, de cano
curto, que efetuou aquele disparo, portanto sabe que terá de buscar essa arma no
domicílio do investigado.
Lembrando que se a medida for cumulada com outra, você terá de representar por
todas as medidas, em pedido único, citando a prisão e a busca, por exemplo.
Vamos agora estruturar o nosso modelo, que você deve memorizar. Poucas coisas vão
mudar em relação aos outros (prisões), na verdade estaremos diante de um modelo
até mais enxuto.
4.1 ENDEREÇAMENTO
Lembrando mais uma vez que você só deve colocar a cidade se for mencionado isso no
enunciado, na dúvida, deixe aquele velho espaço em branco, para não perder pontos e
nem ser prejudicado totalmente com uma possível identificação de prova.
Fique ligado nos crimes de competência do juizado especial criminal (JECRIM), pois
há a possibilidade de se representar a ele pela busca domiciliar, desde que estejamos
diante de um crime de menor potencial ofensivo.
4.2 PREÂMBULO
Se estiver diante de um pedido cumulado, mais uma vez você deverá mencionar os
dispositivos legais que legitimam o delegado de polícia a representar pela prisão
também.
4.3 FATOS
Mais uma vez não temos muito a acrescentar ao que já foi dito acima, você vai ser
medido pelo poder de síntese que pode apresentar. Não negligencie esse ponto, pois
o examinador pode já não gostar muito da sua peça, caso os fatos não sejam
corretamente narrados.
Procure parafrasear o enunciado, tentando não ser tão repetitivo. Responder àquelas
perguntas que já mencionei anteriormente pode ser um bom norte a ser seguido.
No caso da peça que estamos estudando, vale a pena você mencionar que a
inviolabilidade domiciliar não pode servir de salvaguarda para acobertar o
cometimento de delitos e que em prol do princípio do “in dubio, pro societate”,
a medida se faz necessária à elucidação do crime e à cessação da atividade delituosa,
lembre-se do caso do tráfico de drogas, da Lei n° 11.343/06.
Aqui, se você mencionar que a medida se subordina à reserva de jurisdição, vai ficar
melhor ainda, pois o juiz vai entender que você, na qualidade de delegado de polícia,
reconhece os limites legais e constitucionais de sua atuação. E preza pelo
reconhecimento das medidas sujeitas à reserva de jurisdição.
4.5 DO PEDIDO.
No pedido já foi mencionado que você deve representar pela medida sempre de forma
objetiva, cuidado com o verbo, pois o delegado de polícia representa e não requer,
quem requer é o membro do MP.
Lembre-se de pedir a oitiva do MP, apesar de não constar na lei esse requisito, trata-
se de uma prática comum no dia a dia forense ouvir o titular da ação penal acerca da
decretação da medida.
Local, data.
Delegado de Polícia
Matrícula.”
“A Polícia Civil do estado do _________, por meio do seu Delegado de Polícia, ao final
assinado, no uso de suas atribuições, que lhe são conferidas, dentre outros dispositivos,
pelo art. 144, §4°, da CF88, pelo art. 242, e 240, § 1° (citar a alínea mais adequada, e,
na dúvida, citar as alíneas “e” e “h”), do CPP; art. 2°, §1°, da Lei 12.830/2013, vem, com
o devido respeito, a presença de Vossa Excelência, representar pela expedição de
mandado de busca domiciliar a ser efetuado no endereço citado no pedido desta, pelos
fundamentos de fato e de direito que a seguir passa a expor:”.
1. Dos fatos
Mencione que a medida é cabível, pois o art. 240, §1°, do CPP prevê a possibilidade de
busca domiciliar para buscar objetos do crime, etc. sempre fundamentando nas alíneas
do parágrafo. Não se esqueça de que as alíneas mestras são as de letra “e” e “h”.
3. Do pedido
Local, data.
Delegado de Polícia
Matrícula
Vejam que não é muito longa e não requer muitos detalhes a produção da
representação por expedição de mandado de busca.
Escolhi para a nossa aula uma questão um pouco longa, adaptada do problema
apresentado na prova de Delegado de Polícia de São Paulo, do ano de 2014, prova
essa elaborada pela fundação Vunesp-SP.
Bom, a questão é belíssima, pois retrata um caso muito comum em delegacias do nosso
Brasil, trata-se de um concurso de crimes cometidos pelos sequestradores.
Podemos citar como crimes cometidos por eles: roubo praticado em face da vítima
A, uma vez que foram subtraídos objetos eletrônicos e certa quantia em dinheiro. Sendo
que esse roubo é do tipo majorado por conta da utilização de arma de fogo, nos termos
do art. 157, §2°, II, do CP; extorsão mediante sequestro (art. 159, do CP) e
ainda resta configurado o crime de formação de organização criminosa, uma vez
que ficou configurada a organização criminosa, pelo preenchimento de seus requisitos
formadores.
Quanto à organização criminosa, sabemos que existem três requisitos para que seja
caracterizada a sua formação, quais sejam, o elemento pessoal, ou seja, ser
constituída por, pelo menos, 4 indivíduos; o elemento estrutural, ou seja, a
organização deve ser uma estrutura organizada e com divisão de tarefas e
atribuições; e, por fim, o elemento finalístico, que fica configurado, por exemplo,
quando o intuito da organização é o cometimento de crimes cujas penas
máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos.
No caso acima, alguns pontos deixam claro a formação de organização criminosa - O.C:
...ter agido juntamente com outros três indivíduos, “C”, com 20 anos, “D”, com
33 anos e “E”, com 16 anos de idade... (elemento pessoal),...
...dos quais apenas os endereços não foram identificados. Informou ainda que,
com os mesmos comparsas, havia praticado outros crimes de sequestros e
roubos... (elemento finalístico),...
Quanto aos demais crimes o enunciado é claro ao afirmar que houve a extorsão
mediante sequestro majorada pelo tempo do sequestro, que foi maior que 24 horas
A peça adequada para o decorrer das investigações não poderia ser uma prisão
preventiva, a meu ver, o ideal seria, nesse momento, utilizar a temporária, que é a
peça por excelência da polícia judiciária. Até por conta da continuidade das diligências.
Portanto, caberia a prisão temporária, pois os crimes cometidos estão listados no rol
do art. 1°, III, da Lei n° 7.960/89, pelo menos o roubo e a extorsão mediante
sequestro estão previstos.
(...)
Há uma grande celeuma doutrinária, pois a Lei de Prisão Temporária não teve seu texto
modificado diante do novo crime de O.C., tampouco houve modificação quanto ao delito
do art. 288, do CP, que passou a ser chamado de Associação Criminosa e não mais
Quadrilha ou Bando.
Assim, sem entrar nessa seara, podemos afirmar que houve o roubo e a extorsão,
mesmo que não tenha havido a solicitação do resgate, pois basta a privação da
liberdade com a intenção de exigir preço pelo resgate para que o crime esteja
consumado. Trata-se de delito formal. Assim, encontram-se consumados os dois crimes
e cabe a prisão temporária, a mais adequada nesse momento de investigação.
Quanto à possibilidade de mais medidas cautelares, não entendo ser cabível nessa
questão a interceptação das comunicações telefônicas, pois não se sabe o número do
telefone com que os sequestradores fizeram o contato inicial.
Por fim, caberá, com o intuito de resgatar a vítima com vida, a busca domiciliar no
endereço fornecido pelo comparsa que foi preso.
Veja que se trata de uma peça em que se mesclam duas cautelares. Na verdade, na
questão original, sem as modificações que eu promovi, caberia até a interceptação das
comunicações telefônicas, pois na versão original do enunciado, constava o número do
telefone celular.
(...)
Veja que o nosso caso concreto se adequa perfeitamente ao previsto no referido inciso.
Quanto à competência para julgar esse tipo de delito, houve crime contra o patrimônio
(roubo e extorsão), portanto, vamos dirigir a nossa representação ao Juiz de Direito da
Vara Criminal da Comarca de São Paulo-SP.
Quanto ao local, ficou claro que o crime ocorreu em São Paulo-SP, podendo ficar claro
que a consumação deu-se nessa cidade, e o juiz competente para decidir acerca da
representação é o juiz de direito de uma das varas criminais da comarca de São Paulo,
partindo do pressuposto que não hajam varas especializadas.
Caso haja vara especializada nesse tipo de delito, sugiro que você enderece a ela, mas
para isso você deverá estudar o código de organização judiciária do estado para o qual
você presta concurso.
Na maioria das provas isso não é previsto, de modo que você não será penalizado em
sua peça se não mencionar a vara especializada para a qual deve ser dirigida a sua
representação.
A Polícia Civil do Estado de São Paulo, por meio do seu Delegado de Polícia, ao
final assinado, no uso de suas atribuições, que lhe são conferidas, dentre
outros dispositivos, pelo art. 2°, caput, da Lei 7.960/89, bem como no art. 2°,
§1°, da Lei 12.830/2013 e art. 242 e 240, §1°, “g”, do CPP, vem, mui
respeitosamente, a presença de Vossa Excelência, representar pela decretação
da prisão temporária de “C”, “D” e “E”, pelos fundamentos de fato e de direito
que a seguir passa a expor
1. Dos fatos
Afirmou ainda que se trata de uma estrutura organizada, com divisão de atribuições, e
que já cometeram vários crimes de roubo e sequestro.
Ao final de sua oitiva, “B” informou o endereço em que a vítima encontrava-se cativa.
Da narrativa dos fatos acima, podemos confirmar que houve crime de roubo
consumado, circunstanciado pelo concurso de agentes e pelo uso da arma de fogo, uma
vez que a vítima teve seu patrimônio subtraído em meio a ação delituosa que ocorrera
no interior de sua loja.
Por fim, de acordo com as investigações, pode-se comprovar que os quatro investigados
agem em uma estrutura organizada, em que há divisão de tarefas e estrutura
criminosa, visando à prática de crimes cujas penas máximas são superiores a 4 (quatro)
anos, configurando o crime de formação de Organização Criminosa, da Lei n°
12.850/13.
Cumpre salientar ainda que os crimes de roubo e de extorsão mediante sequestro estão
previstos no rol do art. 1°, III, da Lei n° 7.960/89.
Conforme item 2.1, duas das condutas delituosas cometidas foram o crime de extorsão
mediante sequestro e roubo majorado pelo uso da arma de fogo, sendo previstos nas
alínea “c” e “e”, do referido inciso do art. 1°.
Vale dizer ainda sobre o cabimento da busca domiciliar, uma vez que a vítima do
sequestro encontra-se com sua liberdade cerceada por meio da ação criminosa.
Uma vez que são cabíveis, a busca domiciliar e a prisão temporária, devemos
demonstrar os requisitos de cautelaridade para que sejam deferidas as medidas.
Quanto aos indícios de autoria, podemos afirmar que eles também estão satisfeitos no
caso concreto, pois o depoimento do comparsa informa os nomes dos demais
Por outro lado, a investigação ainda necessita de uma busca domiciliar, por meio da
qual se visa resgatar a vítima incólume. Não há como vislumbrar a proteção domiciliar
constitucional diante de tamanha violação ao direito de liberdade da vítima.
3. Do pedido
Local, data.
Delegado de Polícia
3ª Delegacia de Polícia Contra o Crime Organizado
Matrícula
Trata-se de um caso clássico de busca domiciliar, por meio da qual a autoridade policial
prendeu em flagrante um dos membros de uma suposta associação para o tráfico.
O conduzido provavelmente estará incurso nos crimes de tráfico de drogas, porte ilegal
de arma de fogo de uso restrito, e há uma forte suspeita de ser integrante de uma
associação para o tráfico, tipificada nos termos da lei de drogas.
O fundamento seria o constante no art. 240, §1°, alíneas “d” e “e”, especificamente,
no entanto, você poderia utilizar a alínea coringa “h”.
A temporária de outros envolvidos também não é cabível, uma vez que não sabemos
nem quem são os demais envolvidos.
Ademais, há fortes indícios de que no local de onde se originam as ligações podem ser
encontradas drogas, armas e os supostos componentes da associação para o tráfico.
Vamos à peça.
“A Polícia Civil do estado do Rio Grande do Sul, por meio do seu Delegado de Polícia,
ao final assinado, no uso de suas atribuições, que lhe são conferidas, dentre outros
dispositivos, pelo art. 240, § 1°, alíneas “d” e “e”; art. 2°, §1°, da Lei 12.830/2013,
(citar a lei que regulamenta as atribuições da polícia civil do estado para o qual está
prestando concurso), vem, mui respeitosamente, a presença de Vossa Excelência,
representar pela expedição de mandado de busca domiciliar, a ser efetuada no
endereço citado no pedido desta e em face da pessoa especificada também no pedido,
pelos fundamentos de fato e de direito que a seguir passa a expor”.
1. Dos fatos
Narram os autos, que no dia 12 de junho de 2009, Pedro de Tal foi preso em flagrante
após operação policial oriunda de investigação desse distrito, que culminou na
apreensão de 2,5 kg (dois quilogramas e meio) de cocaína (conforme laudo anexo) e
uma metralhadora de uso restrito, marca UZI, com 25 cartuchos completos.
A prática delituosa não pode ser acobertada pelo manto dos direitos
constitucionalmente previstos como individuais e fundamentais. Ou seja, não se pode
invocar a inviolabilidade domiciliar para fins de salvaguarda da prática delituosa.
A busca domiciliar verifica-se cabível, pois há fortes indícios de que no endereço a ser
violado, em caso de deferimento, funciona a base local da associação criminosa de que
faz parte o indivíduo preso em flagrante, uma vez que as ligações telefônicas sempre
são originadas daquele local.
Assim, há fortes indícios de que se possam encontrar armas, drogas e até mesmo os
demais componentes da associação para o tráfico que se configura no caso dos autos.
Demonstra-se necessária a busca domiciliar uma vez que, no caso sob investigação, é
imperioso para o sucesso do inquérito a busca da maior quantidade de objetos
vinculados à prática delituosa, quais sejam armas e drogas, uma vez que se trata de
uma associação para o tráfico, em que um dos seus componentes já foi preso em
flagrante com uma quantidade considerável de cocaína e uma arma de uso restrito e
munições não deflagradas.
3. Do pedido
Local, data.
Delegado de Polícia
Matrícula
Questão 2:
Na noite do dia 22, por volta das 23:00, os três elementos adentraram a loja
arrombando os cadeados e demais dispositivos de segurança física do estabelecimento,
adentrando em seu recinto e subtraindo 12 aparelhos Smart TV de 42 polegadas, da
marca XX, que estavam embalados em caixas de papelão com as logomarcas
características da marca XX.
Diante dos fatos acima, na qualidade de delegado de polícia que preside o referido
inquérito, represente pela medida cabível ao prosseguimento das diligências
investigativas.
No entanto, para garantir o furto, os indivíduos dispararam com arma de fogo contra o
vigilante local, o que caracteriza o roubo previsto no art. 157, §1°, uma vez que foi
empregada violência contra a pessoa do vigilante para assegurar a detenção da coisa
para si, circunstanciado ainda pelo uso de arma de fogo.
Por fim, podemos ainda caracterizar a conduta deles como de formação de associação
criminosa, pois não é a primeira vez que os suspeitos B, C e D associam-se com o fim
de cometer crimes.
Note que no caso concreto acima, devemos ainda encontrar possíveis armas, objetos
frutos da atividade criminosa, drogas, etc. Portanto, a prisão dos investigados é
imprescindível para o andamento das investigações.
De acordo com a história narrada, vamos então poder representar pela prisão
temporária dos investigados, bem como pela busca domiciliar, requerendo a expedição
do mandado de busca cumulado com a prisão, na mesma ordem judicial, uma vez que
é provável encontrar além dos objetos, os investigados no local da busca.
Vamos à peça
1. Dos fatos
Narram os autos, que na noite do dia 22, por volta de 23:00, três indivíduos adentraram
a loja de eletrônicos VIP SHOP, com o intuito de subtrair 12 aparelhos de TV SMARTV,
da marca XX, de propriedade da referida loja, cuja proprietária é a Sr. A.
Consta ainda depoimento da vítima e do vigilante, por meio do qual foi possível obter
informação da identidade dos três suspeitos, bem como o possível endereço, onde o
produto do roubo pode estar sendo guardado.
A primeira conduta que se verifica é a de roubo, aquele previsto no art. 157, §3°, do
Código Penal, uma vez que eles tiveram de usar de violência (disparo de arma de fogo)
para assegurar o produto do furto, transformando-se assim a conduta em roubo
circunstanciado pelo uso de arma de fogo.
A prática delituosa não pode ser acobertada pelo manto dos direitos
constitucionalmente previstos como individuais e fundamentais. Ou seja, não se pode
invocar a inviolabilidade domiciliar, tampouco a liberdade ambulatorial para fins de
salvaguarda da prática delituosa.
2.3 Do cabimento
Quanto à busca domiciliar, verifica-se cabível, pois há fortes indícios de que no endereço
a ser violado, em caso de deferimento, estão sendo guardados os aparelhos de SMARTV
que foram objeto do roubo perpetrado.
Assim, há fortes indícios de que se possam encontrar as TV’s, armas, drogas e até
mesmo os demais componentes da associação criminosa.
Primeiramente, demonstra-se necessária a busca domiciliar uma vez que, no caso sob
investigação, é imperioso para o sucesso do inquérito policial a busca da maior
quantidade de objetos vinculados à prática delituosa, quais sejam armas e drogas, bem
como a recuperação do produto do roubo, uma vez que há fortes indícios de que os
objetos do roubo estejam sendo guardados no endereço constante do pedido.
3. Do pedido
Local, data.
Delegado de Polícia
Matrícula
A Polícia Civil instaurou inquérito policial sob o n° 415/2014 a fim de apurar as possíveis
infrações penais que estavam ocorrendo no mesmo local, sob as mesmas condições e
modus operandi.
Pelo que consta nos autos ele está foragido e não foi possível localizá-lo.
Os policiais não identificaram ainda o indiciado no local, no entanto, foi possível verificar
sempre nos mesmos horários as mesmas pessoas entrando e saindo da residência. A
mãe do suspeito, a esposa e os filhos são os que mais entram no local.
Assim, diante dos fatos até então apresentados, represente pela medida cautelar
cabível ao caso para a continuidade das diligências investigativas. Não crie fatos novos.
Resposta e comentário:
A questão acima retrata uma típica situação em que o delegado de polícia precisa
representar pela prisão do indiciado, que se encontra foragido, e sua prisão é
fundamental para o deslinde das investigações, uma vez que ele não possui endereço
fixo, tampouco trabalho fixo.
Assim, vamos representar pela temporária do indiciado, pois já temos fortes indícios de
que seja ele o autor dos reiterados delitos, inclusive já houve o formal indiciamento
dele.
O crime cometido foi o de latrocínio, pois ele tinha a intenção de roubar e depois mudou
seu animus para o necandi, haja vista a reação da vítima.
Logo, temos crime de latrocínio, portanto, vamos representar pela prisão temporária
do indiciado, assim como pela busca domiciliar no endereço apresentado, uma vez que
será possível encontrar objetos ligados ao crime, armas e demais elementos que
possibilitem uma melhor elucidação dos delitos pretéritos.
Quanto à busca, é possível concluir que ela se fará necessária para prender o criminoso,
assim como para recuperar objetos ligados ao crime e eventuais armas que foram
utilizadas nas empreitadas criminosas.
Assim, além da prisão, a busca será necessária também, pois vários são os elementos
que poderão ajudar a elucidar os delitos, que podem ser encontrados mediante a busca.
Vamos endereçar a peça ao juiz de direito, uma vez que o crime de latrocínio é um
crime contra o patrimônio, logo não é de competência do Tribunal do Júri.
Vamos à peça:
A Polícia Civil do estado do Ceará, por meio do seu Delegado de Polícia, ao final
assinado, no uso de suas atribuições, que lhe são conferidas, dentre outros dispositivos,
pelo art. 240, § 1°, alíneas “a”, “b” “d”, “e” e “h”; art. 2°, §1°, da Lei 12.830/2013,
bem assim pela Lei n°. 7.960/89, vem, mui respeitosamente, a presença de Vossa
Excelência, representar pela expedição de mandado de busca domiciliar e de prisão
temporária, a ser efetuado no endereço citado no pedido desta e em face de Gustavo
Barbosa de Lima, pelos fundamentos de fato e de direito que a seguir passa a expor.
1. Dos fatos
Narram os autos, que nas imediações da rua Padre Pio XII, sempre estão ocorrendo
crimes de latrocínio e de roubo. Nas ocasiões as vítimas são abordas a pé e seus bens
são subtraídos mediante violência, ocorrendo em algumas oportunidades a morte das
vítimas que, eventualmente, reagem à ação delituosa.
Foi ouvida testemunha ocular de um crime de Latrocínio, que vitimou o Sr. Francisco
da Silva, já qualificado nos autos, ocasião em que as declarações e depoimentos
juntados aos autos demonstram que reconhecem a pessoa do indiciado como o autor
dos delitos.
Diante disso, o representando foi indiciado e desde então procura-se ele para realização
de interrogatório em sede policial, bem como para que possam ser prestados os devidos
esclarecimentos.
O indiciado não possui residência, tampouco trabalho fixos, e não se sabe de seu
paradeiro.
O relatório da equipe operacional desta delegacia mostra que no endereço a ser citado
no pedido desta há uma intensa movimentação de pessoas próximas ao indiciado.
A prática delituosa não pode ser acobertada pelo manto dos direitos
constitucionalmente previstos como individuais e fundamentais. Ou seja, não se pode
invocar a inviolabilidade domiciliar, tampouco a liberdade ambulatorial para fins de
salvaguarda da prática delituosa.
Primeiramente, demonstra-se necessária a busca domiciliar uma vez que, no caso sob
investigação, é imperioso para o sucesso do inquérito policial a busca da maior
quantidade de objetos vinculados à prática delituosa, quais sejam armas utilizadas nos
crimes, bem como a recuperação dos produtos dos roubos e latrocínios, uma vez que
3. Do pedido
Local, data.
Delegado de Polícia
Matrícula
Por hoje é só, espero que tenham gostado da aula 03, onde você continua comprovando
que valeu a pena investir nesse curso, cujo material completo contempla
aproximadamente 35 (trinta e cinco) questões comentadas de peças práticas, focadas
no concurso de Delegado de Polícia do Espírito Santo.
Abraços.
Bons Estudos.