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R484 RIBEIRO, Gleidy Braga.


Direito aplicado à gestão pública: tecnologia de gestão pública (livro
eletrônico)/ Organizado por: Gleidy Braga Ribeiro – Palmas TO:
Unitins, 2023.
131 p.; color.
12,4 Mb; ePUB
ISBN 978-65-86285-44-4
1 Tecnologia. 2 Gestão pública. 3 Direito. I. Título.

CDD 351
_____________________________________________________________________
Ficha catalográfica elaborada pela Bibliotecária Ysabella Canindé Guerreiro
Macêdo CRB-2/ 1191
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO TOCANTINS


PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO

Reitor da Unitins
Augusto de Rezende Campos
Vice-Reitora da Unitins
Darlene Teixeira Castro
Pró-Reitora de Graduação
Alessandra Ruita Santos Czapski
Pró-Reitora de Pesquisa e Pós-Graduação
Ana Flavia Gouveia de Faria
Pró-Reitora de Extensão, Cultura e Assuntos Comunitários
Kyldes Batista Vicente
Pró-Reitor de Administração e Finanças
Ricardo de Oliveira Carvalho

Diretora de Ensino
Jeany Castro dos Santos
Diretora de Administração Acadêmica
Leomara Maurício Lustosa
Coordenadora Pedagógica Geral
Tais Bogo Monteiro da Silva
Diretora de Educação Tecnológica
Neila da Silva Oliveira
Coordenadora de Educação Tecnológica
Hillary Torres Ribeiro

Revisão
Kyldes Batista Vicente
Maria Tereza Ribas Sabará
Liliane Scarpin da Silva Storniolo
Rodrigo Vieira do Nascimento
Andreia Luiza Dias
Julienne da Silva Silveira

Diagramação
Joelma Feitosa Modesto
Leandro Dias de Oliveira
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DIREITO APLICADO À GESTÃO PÚBLICA

GLEIDY BRAGA RIBEIRO


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PLANO DE ENSINO

CURSO
Gestão Pública.

OBJETIVO
Desenvolver noções fundamentais de Direito aplicado à Gestão Pública.

EMENTA
Conceito de direito: sua divisão, suas fontes, seus princípios, interpretação, integração
e eficácia das normas jurídicas. Fundamentos de Direito Público e Privado. Instituições
de Direito Público e instituições do Direito Privado. Constituição. Estado. Governo.
Administração pública: fundamentos, princípios e funções. Estrutura e funcionamento.
Agentes públicos. A modernização do Estado. Concentração e desconcentração federal,
estadual e municipal.

BIBLIOGRAFIA BÁSICA
GRILLO, Marcelo Gomes F. Instituições de Direito Público e Privado. São
Paulo: Atlas, 2020. Disponível em: https://app.minhabiblioteca.com.br/reader/
books/9788597023527/epubcfi/6/10%5B%3Bvnd.vstidref%3Dhtml4%5D!/
4/46/1:20%5B351%2C-0%5D e https://app.minhabiblioteca.com.br/reader/
books/9786586074529/pageid/3. Acesso em: 7 mar. 2023.

NUCCI, Guilherme de S. Instituições de Direito Público e Privado. Rio de


Janeiro: Forense, 2019. Disponível em: https://app.minhabiblioteca.com.br/reader/
books/9788530984960/epubcfi/6/10%5B%3Bvnd.vst.idref%3Dhtml4%5D!/4/46/1:
20%5B495%2C-3%5D. Acesso em: 7 mar. 2023.

WEILER, Ana Luísa D. et al. Direito Público e Direito Privado: reflexões acadêmicas
sobre cidadania, democracia e direitos humanos. Ijuí: Unijuí, 2021. Disponível em: https://
app.minhabiblioteca.com.br/reader/books/9786586074529/pageid/3. Acesso em: 7
mar. 2023.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
BRANDÃO, Rodrigo et al. (org.). Direito Público. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2015.
Disponível em: https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/37857/pdf/0.
Acesso em: 7 mar. 2023.
BERGUE, Sandro T. Modelos de gestão em organizações públicas: teorias e
tecnologiaspara análise e transformação organizacional. Caxias do Sul: EDUCS, 2011.
Disponível em: https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/2951/pdf/0.
Acesso em: 7 mar. 2023.
MATIAS-PEREIRA, José. Finanças públicas. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2017. Disponível
em: https://app.minhabiblioteca.com.br/reader/books/9788597012972/
epubcfi/6/10%5B%3Bvnd.vst.idref%3Dhtml4%5D!/4/44/1:142%5Btul%2Co.%5D.
Acesso em: 7 mar. 2023.
MAXIMIANO, Antonio Cesar A.; NOHARA, Irene P. Gestão pública: abordagem
integrada da Administração e do Direito Administrativo. São Paulo: Atlas, 2021.
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Disponível em: https://app.minhabiblioteca.com.br/reader/books/9788597013825/


epubcfi/6/10%5B%3Bvnd.vst.idref%3Dcopyright.xhtml%5D!/4/30/1:28%5BAma%2
Cru%5D. Acesso em: 7 mar. 2023.
LOURENÇO, Nivaldo V. Administração pública: modelos, conceitos e reformas e
avanços para uma nova gestão. Curitiba: Intersaberes, 2016. Disponível em: https://
plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/37153/epub/0. Acesso em: 7 mar. 2023.
PIETRO, Maria Sylvia Zanella D. Direito Administrativo. 35. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2022. Disponível em: https://app.minhabiblioteca.com.br/reader/
books/9786559643042/epubcfi/6/10%5B%3Bvnd.vst.idref%3Dhtml5%5D!/4/50/2
/2/4/1:0%5B%2CCDU%5D. Acesso em: 7 mar. 2023.
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Apresentação
Este material didático tem como propósito oferecer aos alunos do Projeto de
interiorização universitária ToGraduado da Universidade Estadual do Tocantins (Unitins),
o Direito aplicado à gestão pública, com ênfase para administração pública.
Assim, faz parte do sumário a apresentação de 12 capítulos que serão disponíveis
ao aluno na plataforma Educa, disponibilizada no ambiente virtual da Universidade.
O primeiro capítulo, trata do conceito de Direito, sua finalidade e sua evolução numa
perspectiva histórica. O segundo capítulo, trata da classificação das fontes do Direito: sua
divisão, suas fontes e seus princípios. O terceiro capítulo, os modos de Integração e eficácia
das normas jurídicas. O quarto capítulo, dos métodos interpretativos do Direito, apresenta-
se tanto os tradicionais quanto os contemporâneos. O quinto capítulo, sobre as instituições
de Direito público e privado
O sexto capítulo, trata da teoria da Constituição, com ênfase na Constituição de 1988.
O sétimo capítulo, trata do Estado, Governo e da Administração Pública, apresentando seus
fundamentos e princípios. O capítulo oitavo, sobre as funções políticas e administrativas
do Estado. O nono capítulo, sobre a estrutura e funcionamento da administração pública.
O décimo capítulo, sobre os órgãos públicos. O decimo primeiro capítulo, sobre os
agentes públicos, e por fim, apresenta-se no décimo segundo capítulo os desafios para a
modernização do Estado na contemporaneidade.
É muito importante que você leia cada capítulo atentamente e ao final responda as
atividades.

Desejamos a todos uma boa leitura!


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Sobre o autor

Gleidy Braga Ribeiro, Jornalista, Advogada, Mestre em Desenvolvimento Regional


(UFT) e Doutora em Direito Constitucional (IDP). Foi Secretária Estadual de Cidadania e
Justiça do Tocantins (2015-2017) e vice-presidente do Conselho Nacional dos Secretários
da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos e Administração Penitenciária (2017). Foi
Presidente dos Conselhos Estaduais de Políticas sobre Drogas, dos Direitos da Mulher
e do Fundo de Defesa do Consumidor (2015-2017). Foi membro do Conselho Superior
do Sistema de Informações do Departamento Penitenciário Nacional (SISDEPEN), do
Ministério da Justiça, representando a região Norte. Foi Superintendente da Mulher,
Direitos Humanos e Equidade do município de Palmas (2013-2014). Também trabalhou
na Secretaria Nacional de Juventude órgão vinculado a Secretária Geral da Presidência da
República (2011-2012). Foi Conselheira Nacional dos Direitos da Mulher (2012).
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Sumário
Capítulo I - Conceito de Direito: Evolução histórica do direito......................10
Capítulo II - Classificação das fontes do direito...............................................21
Capítulo III - Integração e eficácia das normas jurídicas...............................30
Capítulo IV-HermenêuticaJurídica...............................................................38
Capítulo V - Direito objetivo e Subjetivo e as Instituições de Direito Público
e Privado.............................................................................................................46
Capítulo IV - Constituição: Teoria da Constituição.........................................59
Capítulo VII - Estado, Governo e Administração Pública: Fundamentos e
princípios............................................................................................................66
Capítulo VIII - Estado, Governo e Administração Pública: funções políticas
e administrativas................................................................................................74
Capítulo IX - Organização da Administração Pública: Administração Direta
e Indireta............................................................................................................82
Capítulo X - Organização da Administração Pública: Teoria dos Orgãos.....90
Capítulo XI - Organização da Administração Pública: Agentes públicos......98
Capítulo XII - Organização da Administração Pública: A modernização do
Estado...............................................................................................................106
Gabarito Comentado..................................................................................115
Referências....................................................................................................127
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CAPÍTULO I - CONCEITO DE DIREITO: EVOLUÇÃO HISTÓRICA


DO DIREITO

INTRODUÇÃO
Nesse primeiro capítulo vamos apresentar a ciência do Direito, seu objeto de estudo,
bem como a sua finalidade. Para tanto, além de outros teóricos, escolhemos apresentar
com maior detalhamento a teoria tridimensional do Direito desenvolvida por Miguel Real.
Em um segundo momento, a partir do processo evolutivo do movimento
constitucionalista apresentaremos o processo histórico de consolidação do Direito na
sociedade ocidental, considerando as principais correntes de pensamento, assim como
teorias, que buscam explicar a fundamentação jurídica e filosófica do Direito.

A CIÊNCIA DO DIREITO
Incialmente destacamos que é pacífico entre os estudiosos a compreensão de que
o Direito se constitui em um ramo científico autônomo, ou seja, é uma ciência autônoma.
Todavia, convém destacar que uma minoria de pesquisadores afirma que o Direito é,
na verdade, um subsistema da ciência política (REIS, 2015; FERRAZ JUNIOR, 2014;
VENOSA, 2022). Nós corroboramos com aqueles que compartilham do pensamento
majoritário de que a ciência do direito é autônoma, possui objeto e métodos de estudos,
fazendo parte das ciências sociais hermenêuticas, como foco na observação em fenômenos
sociais, e, consequentemente, concebendo a norma como forma de regulamentação de
comportamentos, que deverá ser aplicada e interpretada pelos operadores do direito.
Reis (2015) assegura que o Direito, como ciência, comporta dois diferentes momentos
interpretativos, quais sejam: o primeiro que é comum a todas as ciências e que se processa
por intermédio da tríade fato/valor/norma. Para ele, esse primeiro momento é um processo
tipicamente legislativo, uma vez que ocorre a criação da própria norma de forma abstrata.
Ou seja, o Legislador produz a norma que não está direcionada a uma pessoa em especial,
mas a toda sociedade. Já o segundo momento, que é próprio das ciências jurídicas, tem-
se o processo judicial de aplicação efetiva da norma abstrata por meio da interpretação.
Nesse momento, segundo o autor, ocorre um complexo hermenêutico de mecanismos de
interpretação da norma jurídica que pode ser aplicada ao caso concreto, efetivo. Em outras
palavras, se ocorrer um fato que se enquadre na norma abstrata, o Julgador terá de aplicá-
la. Nesse momento, será exigido um esforço interpretativo para verificar todos os fatos
que sejam relevantes para o enquadramento da conduta à norma imposta. Por exemplo,
quando alguém tira a vida de outrem, há uma violação da lei penal, tendo em vista que
matar alguém é crime de homicídio disposto pelo artigo 121 do Código Penal. Praticar tal
conduta autoriza que o Estado inicie a persecução penal, que, ao final, terá uma sentença ou
acórdão transitado em julgado. Para tanto, o Julgador terá de interpretar as normas que se
aplicam ao caso concreto. Em um contexto diferente, espera-se o mesmo do administrador
ao desenvolver uma agenda de políticas públicas.

CONCEITO DE DIREITO: A TEORIA TRIDIMENSIONAL E A


FINALIDADE DO DIREITO
Cabe destacar que não existe um único conceito do que seja Direito. A doutrina
apresenta características diversas do que seja Direito. Todavia, embora registremos
essa dificuldade, vamos apresentar uma importante definição, que se trata da Teoria
Tridimensional do Direito desenvolvida por Miguel Reale (2013), jurista brasileiro de
grande importância para o estudo do Direito no Brasil, e, porque não dizer no mundo. Ele
define Direito como sendo a junção do fato, valor e norma. A sua teoria é apresentada da
seguinte forma:
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a) onde quer que haja um fenômeno jurídico, há, sempre


e necessariamente, um fato subjacente (fato econômico,
geo- gráfico, demográfico, de ordem técnica etc.); um
valor, que confere determinada significação a esse
fato, inclinando ou determinando a ação dos homens
no sentido de atingir ou preservar certa finalidade
ou objetivo; e, finalmente, uma regra ou norma, que
representa a relação ou medida que integra um daqueles
elementos ao outro, o fato ao valor;
b) tais elementos ou fatores (fato, valor e norma) não
existem separados um dos outros, mas coexistem numa
unida- de concreta;
c) mais ainda, esses elementos ou fatores não só se exigem
reciprocamente, mas atuam como elos de um processo (já
vimos que o Direito é uma realidade histórico-cultural)
de tal modo que a vida do Direito resulta da interação
dinâmica e dialética dos três elementos que a integram
(REALE, 2013, p. 92)

Perceba que para Miguel Reale, o Direito é então a soma de três dimensões: do fato,
valor e norma, tudo ao mesmo tempo. Para ele, toda norma bebe na fonte da sociedade e só
então se constitui em um Direito. Em outras palavras, primeiro é preciso que haja um fato,
que será valorado pela sociedade, de tão forma que passa a ser digno de se constituir em um
direito, regulamentado por meio de uma norma.
Por exemplo, o Código Penal Brasileiro (CP) de 1940, prevê em seu artigo 121 o crime
de homicídio, que consiste em tirar a vida de alguém. Tal previsão legal existe porque o
Brasil, como quase todos os países, considera a vida um bem jurídico a ser protegido, sendo
reprovado a conduta de quem injustamente tira a vida de alguém. Desta forma, se alguém
incorrer neste tipo penal, poderá ser, devidamente, penalizado pelo Estado, nos termos da
lei.
Miguel Reale (2013, p. 1) sintetiza, desta forma, que a finalidade do Direito é
prover regras obrigatórias que garantem a nossa convivência harmoniosa em sociedade,
protegendo bens considerados fundamentais para todos, isto graças “ao estabelecimento
de limites à ação de cada um de seus membros. Assim sendo, quem age de conformidade
com essas regras comporta-se direito; quem não o faz, age torto”.
Podemos concluir então que o Direito é, portanto, uma ciência jurídica autônoma, do
campo das ciências sociais hermenêuticas, cujo objeto de estudo é a norma, que comporta
regras e princípios aplicados a todos com a finalidade de promover uma convivência
harmoniosa. Tente imaginar uma sociedade sem regras de comportamentos e as pessoas se
comportassem conforme dispõe Miguel Reale tortas, praticando condutadas que valoramos
como erradas, como furtar, roubar ou matar. Com certeza, seria como costumamos falar
popularmente, uma “terra sem lei”.

EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO: DIREITO NATURAL,


DIREITO POSITIVO E DIREITO PÓS-POSITIVISMO
Como vimos anteriormente, o Direito nasce da necessidade da espécie humana
estabelecer normas de convivência. Desde que o homem deixou de ser nômade e passou a
ser sedentário, se fixando em determinado lugar, desenvolvendo sobretudo a agricultura,
passou-se a ter a necessidade de esse estabelecer determinadas regras materializadas
por meio do Direito (MARION; BONA, 2016). De modo que, é fundamental conhecer o
processo evolutivo do Direito, que, naturalmente, se confunde com a própria historiografia
da humanidade. Escolhemos apresentar esse processo evolutivo a partir da apresentação
do constitucionalismo até os tempos atuais.
Para Barroso (2022), o termo constitucionalismo é recente, datado de pouco mais de
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200 anos, tendo como referência a Revoluções Americana (1776) e a Francesa (1789). Trata-
se de um movimento no qual se deseja limitar poderes do soberano, evitando que o mesmo
agisse por capricho ou arbitrariedade, e ao mesmo tempo, garantir direitos fundamentais
aos indivíduos a partir de um documento escrito.
O autor afirma que no período histórico conhecido como Antiguidade, no mundo
ocidental, embora não houvesse movimento constitucionalista, havia a produção de
experiências constitucionais. Destaca-se a Grécia Antiga, com especial atenção para a
cidade-estado da Atenas, bem como Roma Antiga. Ambas criaram institutos jurídicos que
até hoje, embora com novas roupagens, fazem parte de diversos ordenamentos jurídicos,
inclusive o brasileiro. A democracia, por exemplo, tão cara nos tempos atuais, é uma
concepção que nos remete à Grécia antiga e a existência da Assembleia do Povo. Todavia,
é importante pontuar que a democracia ateniense nasceu de forma excludente, pois não
alcançava a todos. Pessoas escravizadas, estrangeiras e mulheres não eram consideradas
cidadãs. As mulheres, por exemplo, conforme nos ensina Pinto (2020), eram consideradas
propriedade do homem e não sujeitos de direitos.
Porém, não se pode negar a contribuição dos gregos ao Direito no mundo ocidental.
Palmas (2022, p. 64) destaca a contribuição dos gregos, principalmente de Sócrates, Platão
e Aristóteles em relação as gerações vindouras como de grande referência intelectual. “No
campo da política, Atenas foi a responsável imediata por ter presenteado o mundo com o
germe da democracia”.
Ainda na Antiguidade, destacamos que as ideias de limitação do poder foram
também compartilhadas por Roma Antiga. Novelino (2014) ao citar Nelson Saldanha
observa que a experiência romana é uma espécie de retrospecto do que ocorreu na
Grécia, no entanto com uma sequencias diferente e diversas ampliações. A democracia
romana mesmo não idealizada como a experiência grega, “condicionou estruturas muito
características e forneceu verdadeiros modelos conceituais, tais como “principado” e “res
pública”’ (NOVELINO, 2014, p. 21).
No entanto, conforme nos ensina Barroso (2022), as experiências constitucionalistas
desenvolvidas na Antiguidade desapareceram por mais de mil anos durante o período da
Idade Média, conhecida como a Idade das Trevas. Ele registra que o fim dessas experiências
constitucionalistas foi compartilhado tanto pela Grécia quanto por Roma, tendo como
marco, em relação à Roma antiga, o fim da República e o início do Império Romano.
Segundo ele, nesse período ocorreu a derrocada dos ideários constitucionalistas, que
desapareceram do mundo ocidental até o fim desse período.

O ideal constitucionalista de limitação do poder foi


compartilhado por Roma nos períodos da República
e no Império. Mas quando a República ruiu e deu-
se a coroação do imperador, não foi o fim de Roma,
cujo domínio duraria ainda mais meio milênio. O que
terminou, na véspera do início da era cristã, foram a
experiência e o ideal constitucionalistas, que vinham
dos gregos e haviam sido retomados pelos romanos. A
partir dali o constitucionalismo desapareceria do mundo
ocidental por bem mais de mil anos, até o final da Idade
Média (BARROSO, 2022, p.13).

Embora tenham desaparecido as ideias constitucionalistas, momentos pontuais


marcam a Idade Média, merecendo destaque e sendo registrados pelos estudiosos do Direito.
Barroso (2022), assim como Novelino (2014), registram que na Inglaterra houve iniciativas
de conter o poder do soberano e garantir direitos fundamentais dos indivíduos. Pode-se
citar como exemplo a Magna Carta, de 1215, fruto do conflito existente entre Barões e o
Rei João Sem Terra. Comparato (2019) descreve esse momento como uma revolta armada
dos barões, na qual o rei foi obrigado a assinar para diminuir as animosidades. Assim,
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o monarca foi forçado a fazer concessões reais e não propriamente reconheceu direitos
individuais. Tanto que ele recorreu à Igreja Católica, que anulou o documento alegando que
o rei o assinou sob coação. No entanto, pode-se dizer que a Carta deu efetivamente início à
positivação dos direitos fundamentais. Segundo o autor, o documento trouxe a essência do
devido processo legal, habeas corpus, além de limitar os poderes do rei.
Já na Idade Moderna deu-se início a uma nova fase do movimento constitucionalista,
é nesse período que se passa a utilizar o termo constitucionalismo para identificar estados
que passaram a utilizar textos escritos, de uma maior envergadura em determinado
ordenamento jurídico, capazes de limitar os poderes do soberano, bem como para garantir
direitos considerados fundamentais ou ainda direitos humanos fundamentais.
Como explica Barroso (2022) o movimento constitucionalista surge juntamente
como o debate sobre os Direitos Humanos. Quando se começa a tentar delinear no alvorecer
da Idade Moderna, ao final do século XV e início do século XVI, quais direitos carregavam
a característica de serem essenciais para a existência do ser humano, sendo o marco desse
momento, o Renascimento, o surgimento do Estado moderno, as grandes descobertas, a
Reforma Protestante, a Revolução Científica, com impulso decisivo das ideias difundidas
pelo movimento iluministas, quando já avançado o século XVIII.
Nesse contexto histórico, desenhou-se, com maior força, um debate filosófico que
buscava explicar o fundamento da existência de certos direitos considerados fundamentais.
Teorias contratualistas pertencentes a corrente jusnaturalista, defendidas por Hobbes,
Locke e Rousseau, entre outros, como explica Barroso (2022), defendiam a existência de
direitos que existiam independentemente do próprio Estado. São direitos inerentes aos
seres humanos.

Assista o vídeo no canal filosofia – Eja mundo do Trabalho e saiba mais sobre
esses importantes momentos históricos da sociedade ocidental a partir de uma proposta
de diálogo entre Hobbes e Rousseau. Acesse o link https://www.youtube.com/
watch?v=t0hsNj_GzfQ

São documentos importantes desse momento histórico da sociedade ocidental na


luta pela constitucionalização de direitos humanos fundamentais e que merecem destaque,
a Declaração de Independência dos Estados Unidos (1776), fruto da Revolução Americana
e a Declaração dos Direitos do Homem (1789) fruto da Revolução Francesa. Esse processo
histórico evolutivo é sintetizado por Barroso (2022) da seguinte forma:

Subjacente à ideia de direitos humanos estava a de


jusnaturalismo, que teve em Thomas Hobbes um de seus
precursores, e a de direitos naturais, identificados por
John Locke como “a vida, a liberdade e a propriedade”282.
Das páginas dos filósofos políticos, a noção de direitos
naturais saltou para a Declaração de Independência
dos Estados Unidos (1776), onde foram referidos como
direitos inalienáveis283, e para a Declaração dos Direitos
do Homem e do Cidadão (1789), marco da Revolução
Francesa, que faz menção a direitos naturais, inalienáveis
e sagrados do homem284. Os direitos humanos iniciam,
portanto, sua “carreira triunfal” ao final do século XVIII
e, a partir daí, começaram a ingressar nas Constituições
de diversos países europeus (BARROSO, 2022, p. 199).
14

Assista ao vídeo disponível no canal Brasil Escola sobre a Revolução Americana:


https://www.youtube.com/watch?v=6o2mplNo7-I
Assista também o vídeo no canal Barão Pirapora sobre a Revolução Francesa:
https://www.youtube.com/watch?v=iAZ-VqLKu4I

Por outro lado, surge no século XIX, uma segunda corrente que se destaca no bojo
do movimento constitucionalista. Tratam-se de pensamentos jusfilosóficos1 que defendiam
a positivação de direitos fundamentais para lhe conferir existência. Ou seja, era preciso
efetivamente estarem organizados em documentos escritos, positivados e legitimados pelo
Estado, para merecer proteção. Em outras palavras, a defesa de direitos fundamentais
naturais inerentes aos seres humanos abriu espaço para a defesa de direitos positivados
em documentos escritos e legitimados pelo Estado, ainda que fossem considerados direitos
naturais. Tal fundamento é defendido pela corrente juspositivista. “Considerado metafísico
e anticientífico, o direito natural foi empurrado para a margem da história pela ascensão do
positivismo jurídico, no final do século XIX (BARROSO, 2022, p. 88).
Considerando tais momento históricos, Ramos (2022) destaca que os primeiros
documentos positivados são os direitos classificados pela doutrina como direitos de
primeira geração, como dispõe a teoria das gerações desenvolvida pelo professor Karel
Vasak, jurista francês de origem checa. Carvalho, explica que são direitos de liberdade,
que exigem prestação negativa, nas quais o Estado deve proteger a esfera de autonomia
do indivíduo. “São “direitos de defesa”, pois, protegem o indivíduo contra intervenções
indevidas do Estado, possuindo caráter de distribuição de competências (limitação) entre o
Estado e o ser humano” (RAMOS,2022, p. 33).
Nessa perspectiva, desejava-se que o Estado se abstivesse de intervir nas relações
individuais assegurando direitos civis, políticos e de liberdades. Imperioso registrar, que
ainda na idade moderna, assim como na antiguidade e na Idade Média, tais direitos não
eram acessíveis a todos. Mulheres, por exemplo, não eram consideradas sujeitos de direitos
e sim objetos de proteção, propriedade do homem.
Já em relação ao modelo de Estado, é fundamental destacar que tais debates ocorrem
com o surgimento do Estado Moderno, ou ainda com o chamado de Estado Nacional, que
nasce em um primeiro momento como Estado absolutista, mas que vai se enfraquecendo
paulatinamente, principalmente a partir do século XVIII, com as ideias contratualistas
liberais. De modo que, o liberalismo2 fez nascer o Estado liberal, que, diversamente do
Estado absolutista, “visava afirmar a separação dos poderes, a separação do Estado e da
Igreja, o reconhecimento dos direitos, as garantias individuais, entre outros” (MELO;
SCALABRIN, 2017, p. 113).
Mais tarde, já no final do século XIX e na primeira metade do século XX, o movimento
constitucionalista ganha novos contornos. Os problemas relacionados à Revolução
Industrial, como a exploração da mão-de-obra de trabalhadores e as péssimas condições
sociais impulsionaram o surgimento de constituições sociais no mundo ocidental, que
incluísse também os direitos sociais básicos. São exemplos desse tipo de texto legal, a

1 Os pensamentos jusfilosóficos reúnem debates teóricos sobre o direito e a filosofia do direito.


Conforme pode ser visto no capítulo, essas correntes de pensamento buscam explicar os fundamentos de
um determinado sistema jurídico.
2 De acordo com Filomeno (2019), o termo “liberalismo” abrange uma variedade de interpretações,
pois é usado para descrever não apenas um “regime liberal”, mas também uma “economia liberal” e
uma ideologia com orientação liberal, entre outras. No contexto político, o liberalismo se opõe ao
“autoritarismo” ou “absolutismo” e defende uma ampla liberdade de iniciativa. No entanto, essa liberdade
não pode comprometer a justiça social, que é um dos fundamentos do bem comum do Estado.
15

Constituição Mexicana de 1917 e a Constituição de Weimar de 1919. Novelino (2014) explica


esse momento histórico da seguinte forma,

A Constituição mexicana de 1917 foi a primeira a incluir


entre os direitos fundamentais, ao lado dos direitos
individuais e políticos, os direitos trabalhistas (CM/1917,
art. 5.°). O extenso rol de direitos conferidos aos
trabalhadores incluía a limitação da jornada de trabalho,
a previsão de salário-mínimo, idade mínima de admissão,
previdência social, além da proteção à maternidade e ao
salário (CM/1917, art. 123).
Na Europa, praticamente não existiam constituições
democráticas nos primeiros anos do século XX. A
mudança se opera a partir da segunda década, quando
se inicia uma fase de grande intensidade política
que conduz à fundação de várias repúblicas no velho
continente. Sem dúvida, o documento constitucional de
maior destaque foi o instituidor da Primeira República
Alemã, conhecido como Constituição de Weimar (1919)
por ter sido elaborado e votado naquela cidade.42
A democracia social, cujas diretrizes haviam sido
traçadas pela Constituição mexicana, teve sua estrutura
definitivamente consolidada com a Constituição alemã
que, com um texto equilibrado e inovador, exerceu forte
influência sobre a evolução das instituições políticas
ocidentais.43 Na parte referente aos “direitos e deveres
fundamentais dos alemães”, foram consagrados
direitos econômicos e sociais relacionados ao trabalho,
educação e seguridade social (CW/1919, arts. 145 a 165)
(NOVELINO, 2014, p. 32).

Nesse contexto, sai de cena o Estado Liberal e entra o Estado Social, e, por
consequência, os chamados de direitos de Segunda Geração, nos quais, de acordo com
professor André de Carvalho Ramos (2022), busca-se uma prestação positiva por parte do
Estado na entrega de serviços básicos aos indivíduos. Se nos direitos de primeira geração
deseja-se a abstenção do Estado, nos de segunda geração o que se quer é exatamente o
contrário. Busca-se uma postura ativa do poder público no sentido de garantir uma vida
com dignidade, garantindo o mínimo existencial. “São reconhecidos o direito à saúde,
educação, previdência social, habitação, entre outros, que demandam prestações positivas
do Estado para seu atendimento e são denominados direitos de igualdade” (RAMOS, 2022,
p. 33).
Importante destacar que não houve a substituição de direitos de liberdade pelos
direitos de igualdade, pelo contrário, não se fala em substituição de direitos, mas do
alargamento do cardápio dos direitos fundamentais. Alguns autores, conforme explica
Ramos (2022), fazem uma crítica a doutrina de gerações pois, erroneamente, traz a ideia
de substituição quando na verdade é de acumulação, razão pela qual utilizam o termo
dimensões para se referir a esse processo evolutivo histórico ao invés de gerações.
Sem dúvidas, a positivação de direitos continuou a ganhar uma maior força no
século XX, principalmente a partir das contribuições teóricas do austríaco Hans Kelsen,
autor da celebre obra “Teoria Pura do Direito”. Kelsen fortaleceu a ideia de que o Direito
é uma ciência autônoma, que deveria se ocupar apenas das normas positivadas em um
determinado ordenamento jurídico. O jurista conhecido como pai do positivismo jurídico
defendia, em síntese, a existência de uma norma fundamental que seria o fundamento de
validade de todo sistema jurídico de um determinado país. Tal documento legal estaria
localizado no topo da pirâmide do sistema jurídico e todas as demais normas deveriam
respeitá-lo (MENDES; BRANCO, 2019).
16

Nos países ocidentais, tem-se a Constituição como essa norma fundamental


defendida por Kelsen, fruto do poder originário. No Brasil, está vigente a Constituição de
1988, considerada a constituição cidadã, por possuir, como veremos nos próximos capítulos,
um extenso catálogo de direitos fundamentais. Sobre Hans Kelsen e suas contribuições
teóricas Barroso (2022) assim o define:

Em busca de um tratamento científico que conferisse


“objetividade e exatidão” ao Direito, Kelsen desenvolveu
sua teoria pura, na qual procurava depurar seu objeto
de elementos de outras ciências (como a sociologia, a
filosofia), bem como da política e, em certa medida, até da
própria realidade. Direito é norma; o mundo normativo
é o do dever-ser, e não o do ser. Nessa dissociação das
outras ciências, da política e do mundo dos fatos, Kelsen
concebeu a Constituição (e o próprio Direito) como uma
estrutura formal, cuja nota era o caráter normativo,
a prescrição de um dever-ser, independentemente da
legitimidade ou justiça de seu conteúdo e da realidade
política subjacente. A ordem jurídica é um sistema
escalonado de normas, em cujo topo está a Constituição,
fundamento de validade de todas as demais normas que
o integram (BARROSO, 2022, p. 33).

Todavia, caiu por terra, a ideia de que a positivação de direitos daria respostas a
todos os problemas da humanidade, principalmente, se o texto positivado não trouxesse
o elemento justiça. Barroso (2022) evidencia o fracasso da positivação ao afirmar que nos
séculos XIX e XX, a humanidade testemunhou horrores de violações de direitos em larga
escala, sendo exemplo o tráfico dos povos africanos para serem escravizados em outros
países, inclusive no Brasil; o holocausto de judeus, liderado pela Alemanha Nazista, durante
a segunda-guerra mundial, bem como as milhões de mortes sob os regimes de Stalin, na
antiga União Soviética. Tem-se ainda, na atualidade, violações dos direitos das mulheres,
pessoas pretas, indígenas, deficiente, entre outros.

[....] os séculos seguintes – XIX e XX – testemunharam


os horrores das violações de direitos humanos em
larga escala, sendo exemplos emblemáticos: africanos
escravizados, trabalhadores explorados até à morte
por exaustão, o holocausto judeu e milhões de mortos
sob Stalin. Para não mencionar as percepções que só
aflorariam mais adiante, relativamente aos direitos de
mulheres, negros, homossexuais, índios e deficientes
(BARROSO, 2022, p. 199)

Barroso (2022) continua a esclarecer que foi no século XX, principalmente na


segunda metade do século, que há um nascimento de uma nova corrente jurídica intitulada
de pós-positivismo. O positivismo, na busca da objetividade cientifica, transformou o
Direito como sinônimo de lei, afastando discussões sobre legitimidade e justiça, como
consequência, têm-se a ascensão de regimes totalitários como foi o nazismo na Alemanha
e o fascismo na Itália, durante a segunda-guerra mundial.
É nesse contexto histórico, que nascem os direitos de terceira geração. O
professor Ramos (2022) explica que são os direitos cuja titular é a comunidade, pois são
transindividuais. São também conhecidos como direitos difusos e coletivos. Tais como o
desenvolvimento, direito à paz, direito à autodeterminação e, em especial, o direito ao meio
ambiente equilibrado.
17

Cabe destacar, ainda, que do ponto de vista da formulação de documentos legais


merecem destaque a Carta da Nações Unidades (1945) que criou a Organização Mundial
das Nações Unidas e a Declaração Universal de Direitos Humanos (1948). Tais documentos
trazem direitos de primeira, segunda geração sistematizados e mencionam os direitos de
terceira geração, como forma de dar respostas aos horrores da guerra que ceifou a vida
de milhões de pessoas, principalmente levando em consideração a utilização da bomba
nuclear no Japão, armamento bélico utilizado pelos Estados Unidos, capaz de exterminar
com a existência do planeta, consequentemente, com a vida na terra.

Assista ao vídeo disponível no canal Brasil Escola sobre a Segunda Guerra Mundial
e saiba mais: https://www.youtube.com/watch?v=mrR2Qc53gQs

Assim, no campo do Direito, pós-segunda guerra, surge uma nova doutrina intitulada
de pós-positivista, bem como a defesa de um novo modelo de Estado, o Estado Democrático
de Direito. O elemento democracia passa a ser essencial para definição de um Estado que
respeite os direitos fundamentais e limitam os poderes do Estado. Nessa seara, Barroso
(2022) esclarece que o pós-positivismo se diferencia do positivismo, pois permite aos
operadores do direito uma busca além da legalidade estrita, sem desprezar o direito posto.
Porém, o intérprete do Direito está autorizado a realizar uma leitura moral da Constituição
e das leis, sem, contudo, recorrer às categorias metafísicas utilizadas no direito natural.
Para tanto, Barroso (2022) traz de volta os valores para a interpretação jurídica;
reconhece a diferença normativa entre princípios e regras; reabilita a razão prática e da
argumentação jurídica; a formação de uma nova hermenêutica; além de desenvolver uma
teoria dos direitos fundamentais edificada sobre a dignidade da pessoa humana. Cabe
destacar que tanto a democracia quanto o princípio da dignidade da pessoa humana são
princípios fundamentes da República Federativa Brasileira.
O autor continua a explicar que há uma reaproximação entre o Direito e a ética.
Nesse novo universo, surge o movimento chamado de neoconstitucionalismo ou novo
direito constitucional, no qual os valores morais compartilhados por toda a comunidade
materializam-se em princípios, que passam a estar abrigados na Constituição, de forma
explícita ou implicitamente. Princípios como a liberdade, a igualdade, a democracia,
a república, a separação de poderes, a dignidade da pessoa humana e a razoabilidade
são alguns que podem ser aplicados pelos intérpretes na aplicação do Direito. Pode-se,
inclusive, diante da análise de um caso concreto, afastar a aplicação da norma, se ela não
for capaz de promover justiça.
Na jurisprudência brasileira, tem-se, por exemplo, a possibilidade de aplicação do
princípio da insignificância no crime de furto, quando por exemplo estamos diante do crime
famélico. Em recente decisão do STF, por meio do ministro Edson Fachin, do Supremo
Tribunal Federal (STF), determinou o trancamento do inquérito policial aberto pela Polícia
Civil de Monteiro do estado da Paraíba contra uma mulher desempregada que furtou um
pedaço de queijo de uma padaria no valor de catorze reais. Vejamos trecho decisão do
magistrado,

Apesar da fase preambular em que o caso se encontra,


as circunstâncias fáticas do delito retratadas nas decisões
impugnadas nos permitem concluir, à luz do princípio
da insignificância, que a conduta imputada à paciente é
materialmente atípica. Com efeito, o crime foi cometido
sem violência ou grave ameaça contra pessoa, o bem
furtado é alimento de valor irrisório e não há registro de
18

reincidência recente.
[...] Assim, na linha da jurisprudência desta Suprema
Corte, a atipicidade material da conduta conduz ao
excepcional trancamento do inquérito em curso.
Precedentes: HC 132.170 AgR, Relator Teori Zavascki,
Segunda Turma, DJe 02.03.2016 e HC 138.507, Relator
Ricardo Lewandowski, Segunda Turma, DJe 04.08.2017.
(STF - HC: 197530 PB 0044138-31.2021.1.00.0000,
Relator: EDSON FACHIN, Data de Julgamento:
10/02/2021, Data de Publicação: 12/02/2021)

Perceba que, se ainda estivéssemos sob o império da lei nos termos do positivismo,
ao magistrado não caberia conceder habeas corpus para trancar o Inquérito Policial. Mas
no pós-positivismo, doutrina desenvolvida pelo movimento neoconstitucionalista, espera-
se que o Julgador busque não somente aplicar o direito, mas que ao aplicá-lo seja capaz
de assegurar o elemento justiça. Na visão do douto Julgador não seria justo aplicação do
Direito Penal - haja vista que este deve ser encarado como a último ratio- para punir alguém
que furtou um bem protegido de tão pequeno valor, considerando que a mulher não usou
de violência e nem possui reincidência.
Esse capítulo teve como propósito apresentar o Direito como ciência, suas
características e finalidade. Embora não exista um conceito único de Direito, optou-se por
apresentar o conceito de Direito de Miguel Reale, que considera o Direito como a junção de
fato, valor e norma. Segundo o teórico, os fatos, enquanto fenômenos sociais, são valorados
e passam a ser objeto do Direito, que, por conseguinte, produz a norma.
Em uma breve síntese, também foram apresentadas as três principais correntes do
direito: o direito natural, o direito positivo e o direito pós-positivismo. O Direito Natural
considera o direito como universal e independente da criação humana. Por outro lado,
o Direito Positivo defende que as normas jurídicas criadas por autoridades legítimas
representam o que é o Direito. Por fim, o Direito pós-positivismo, corrente mais atual,
considera os valores éticos, regras e princípios na interpretação das normas. Desta forma,
conclui-se que o Direito é, portanto, complexo e está em constante modificação.
Ao chegarmos ao final do nosso primeiro capítulo, esperamos que todo o conteúdo
colabore com seu estudo na compreensão da importância da ciência do Direito para o gestor
público, uma vez que esse também é um intérprete das normas jurídicas. E na sua aplicação
deve considerar todo esse processo evolutivo para efetivamente assegurar a finalidade do
Direito que é promover uma vida em coletividade de forma harmoniosa, respeitando os
direitos fundamentais dos indivíduos, agindo de acordo com a lei, buscando sempre o valor
justiça em suas decisões.

ATIVIDADES

1 - “Podemos, pois, dizer, sem maiores indagações, que o Direito corresponde à


exigência essencial e indeclinável de uma convivência ordenada, pois nenhuma sociedade
poderia subsistir sem um mínimo de ordem, de direção e solidariedade. É a razão pela
qual um grande jurista contemporâneo, Santi Romano, cansado de ver o Direito concebido
apenas como regra ou comando, concebeu-o antes como “realização de convivência
ordenada”.
REALE, Miguel. Lições Preliminares de Direito, 27ª edição, Editora Saraiva, 2013, p.29.

Com base no texto e, considerando a definição da teoria tridimensional do Jurista


Miguel Reale, avalie as assertivas a seguir.

I - Onde quer que haja um fenômeno jurídico, há, sempre e necessariamente, um fato
subjacente, um valor, que confere determinada significação a esse fato, inclinando ou
19

determinando a ação dos homens no sentido de atingir ou preservar certa finalidade


ou objetivo; e, finalmente, uma regra ou norma, que representa a relação ou medida
que integra um daqueles elementos ao outro, o fato ao valor.

II - Todavia, os elementos ou fatores (fato, valor e norma) existem separados um dos


outros, isso significa que eles não coexistem numa unidade concreta.

III - Não existe nenhuma interação dinâmica e dialética entre os três elementos que
integram o fenômeno jurídico.

É correto o que se afirma em

a) I, apenas.
b) III, apenas.
c) I e II apenas.
d) II e III, apenas.
e) I, II e III.

2 - “Karl LOEWENSTEIN observa que durante dois séculos existiu na Grécia um


“Estado político plenamente constitucional”, no qual foi adotada a mais avançada forma de
governo: a democracia constitucional. A Cidade-Estado de Atenas, com a Constituição de
Sólon, é um exemplo clássico daquilo que representou o início da racionalização do poder”.
NOVELINO, Marcelo. Manual de Direito Constitucional. 9a ed., Grupo GEN, 2014, p.15.

Com base no texto apresentado, considerando as experiências constitucionais


vivenciadas na Grécia antiga marque alternativa correta.

a) Na Grécia Antiga, assim como na democracia atual, todas as pessoas participavam


da Assembleia do Povo, inclusive mulheres.
b) A ideia de democracia surgiu em Roma Antiga, sendo adotada, posteriormente,
também na Grécia Antiga.
c) De fato, a Grécia Antiga é o berço da democracia, mas a ideia de democracia grega
exclui da participação política as mulheres, as pessoas escravizadas e os estrangeiros.
d) As cidades-estados gregas deram início ao movimento conhecido como
neoconstitucionalismo, que aproximou o direito de éticas e valores.
e) Foi na Roma Antiga que surgiu o movimento constitucionalista, momento em que
foi publicado o documento legal conhecido como Magna Carta.

3 - “O significado atual dos direitos humanos foi sedimentado após a 2ª Guerra


Mundial, tendo como pano de fundo as experiências traumáticas do nazismo e do fascismo.
Na reconstrução de um mundo moralmente devastado pelo totalitarismo e pelo genocídio,
um novo conceito, cujas raízes se encontravam na religião e na filosofia, ingressa com grande
impacto no discurso político e jurídico dos vencedores do conflito: a dignidade humana”.
BARROSO, Luís R. Curso de Direito Constitucional Contemporâneo - Os conceitos Fundamentais,
(10th edição). Editora Saraiva, 2022.

Com base no texto, marque assertiva correta sobre as gerações/dimensões de direitos


humanos

a) Os direitos de primeira geração são os direitos de liberdade e de igualdade. Busca-


se uma prestação positiva do Estado. Tais como os direitos civis e políticos.
20

b) Os direitos de segunda geração são os direitos difusos e coletivos. Ou seja, são os


direitos de toda coletividade, como o direito ao meio ambiente e a paz.

c) Os direitos de terceira geração sãos os direitos sociais básicos para a existência


digna do ser humano. Trata-se do mínimo existencial que o Estado deve prover ao
indivíduo.

d) Os direitos de primeira geração são direitos de liberdade, como por exemplo,


os direitos políticos. Esse período tem-se como referência histórica como marcos
iniciais da positivação dos direitos fundamentais, a revolução americana e a revolução
francesa.

e) Os direitos de segunda geração tratam dos direitos básicos sociais, tais como saúde
e educação. São marco histórico desse período a Constituição dos Estado Unidos e a
Declaração Universal do Direito do Homem e do Cidadão.
21

CAPÍTULO II - CLASSIFICAÇÃO DAS FONTES DO DIREITO

INTRODUÇÃO
Olá, vamos começar o nosso segundo capítulo e o tema em análise é a classificação
das fontes do direito. Você conhecerá incialmente o que são as fontes dos direitos, sua
classificação em fontes históricas, materiais e formais, além de conhecer as principais
de fontes que são fundamentais para os operadores do direito, principalmente para o
Legislador na sua função criativa de produzir o Direito e para o Julgador, na sua função de
aplicador de direito.
Vamos lá! Espero que esteja bem confortável para começarmos os nossos estudos.

O QUE SÃO FONTES DO DIREITO?


Para Venosa (2022) fonte significa nascedouro, nascente, origem, causa, aquilo que
motiva as várias manifestações do Direito. Em sentido semelhante, Bittar (2022) afirma que
na expressão corrente entre juristas “fontes do direito”, é utilizada em sentido metafórico
para identificar o início, a raiz, a origem, o surgimento, de onde nasce o Direito. Nader
(2021) também destaca que em latim, fontis significa nascente da água, sendo o seu uso no
âmbito do direito uma forma de identificar as fontes de uma regra jurídica. Por exemplo,
sabemos que todo rio possui sua nascente, de modo que é possível identificar sua nascente.
Ocorre da mesma forma, em relação ao Direito. É possível localizar as fontes do Direito é
saber qual a origem de determinada norma jurídica.
Nader (2021) destaca que não existe uniformidade sobre o estudo das fontes
do Direito no âmbito da doutrina, todavia, o autor afirma que é possível separá-las em
três espécies, quais sejam: histórica, materiais e formais. A seguir, vamos conhecer as
características de cada fonte.

Fontes Históricas
Nader (2021) explica que as fontes históricas indicam a gênese das modernas
instituições jurídicas. De acordo com autor, por meio das fontes históricas é possível
identificar a época, local, as razões que determinaram a sua formação. Nessa perspectiva
do autor, é possível identificar, por exemplo, a origem do habeas corpus que está previsto
no artigo 5º da Constituição brasileira de 1988, em seu inciso LVXII. Trata-se de um
remédio constitucional que visa proteger o direito fundamental à liberdade de locomoção
e está disposto no texto constitucional com a seguinte redação: “conceder-se-á ‘habeas
corpus’ sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em
sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder” (BRASIL, 1988). Em outras
palavras, é cabível habeas corpus como medida para combater a restrição de liberdade
praticada de forma ilegal ou com abuso de poder.
Considerando a fonte histórica, e utilizando como referência os estudos de Comparato
(2019) pode-se afirmar que a ideia de habeas corpus surgiu na Inglaterra, e foi pela primeira
vez previsto em um documento legal, quando o Rei João Sem Terra foi pressionado pelos
barões a assinar a Magna Carta, em 1215. Tal documento, em síntese, buscava restringir os
poderes do rei e assegurar direitos fundamentais aos súditos. Todavia, o instituto somente
teve sua eficácia em 1679, por meio de uma lei própria.

O habeas corpus já existia na Inglaterra, havia vários


séculos (mesmo antes da Magna Carta), como mandado
judicial (writ) em caso de prisão arbitrária. Mas a sua
eficácia como remédio jurídico era muito reduzida, em
razão da inexistência de adequadas regras processuais. A
Lei de 1679, cuja denominação oficial foi “ uma lei para
22

melhor garantir a liberdade do súdito e para prevenção


das prisões no ultramar” (COMPARATO, 2019, p.100).

Ramos (2022) ao tratar do habeas corpus também destaca suas origens inglesas,
tendo suas raízes na Magna Carta (1215) e no Habeas corpus act (1679), destacando que em
relação ao Brasil, tal remédio constitucional, foi, inicialmente, previsto em uma legislação
infraconstitucional, o Código Criminal do Império (1830) e, pela primeira vez em um texto
constitucional, na Constituição que inaugurou o regime republicano no país, em 1891.
A partir do exemplo apresentado, é possível perceber que o estudo da história nos
permite ir além do texto positivado, mas considerar aspectos importantes sobre qual era o
contexto social, econômico, cultural e político da época, o que sem dúvida, é relevante para
a interpretação da norma positivada.

Quer entender melhor o contexto histórico que criou o habeas corpus? Assista
a aula do “A Revolução Inglesa e a Origem dos habeas corpus” com professor José da
Costa. https://www.youtube.com/watch?v=oqXJSjx7vW4&t=22s.

Um outro exemplo que podemos dar é sobre a Declaração Universal dos Direitos
Humanos que, como vimos no capítulo anterior, reuniu no mesmo documento direitos
de primeira e segunda geração e ainda mencionou os direitos de terceira geral. É notório
no preâmbulo do documento e em seus artigos que a positivação de tais direitos veio
em resposta aos horrores da Segunda Guerra Mundial. A humanidade assustada com as
milhares de mortes, resolveu consagrar o princípio da dignidade humana como princípio
fundante de qualquer norma jurídica. Vejamos:

PREÂMBULO

Considerando que o reconhecimento da dignidade


inerente a todos os membros da família humana e de
seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da
liberdade, da justiça e da paz no mundo,
Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos
direitos humanos resultaram em atos bárbaros que
ultrajaram a consciência da Humanidade e que o advento
de um mundo em que todos gozem de liberdade de
palavra, de crença e da liberdade de viverem a salvo do
temor e da necessidade foi proclamado como a mais alta
aspiração do homem comum,
Considerando ser essencial que os direitos humanos
sejam protegidos pelo império da lei, para que o ser
humano não seja compelido, como último recurso, à
rebelião contra tirania e a opressão,
Considerando ser essencial promover o desenvolvimento
de relações amistosas entre as nações,
Considerando que os povos das Nações Unidas
reafirmaram, na Carta da ONU, sua fé nos direitos
humanos fundamentais, na dignidade e no valor do
ser humano e na igualdade de direitos entre homens e
23

mulheres, e que decidiram promover o progresso social


e melhores condições de vida em uma liberdade mais
ampla,
Considerando que os Estados-Membros se
comprometeram a promover, em cooperação com as
Nações Unidas, o respeito universal aos direitos humanos
e liberdades fundamentais e a observância desses direitos
e liberdades,
Considerando que uma compreensão comum desses
direitos e liberdades é da mais alta importância para o
pleno cumprimento desse compromisso,
Pelo presente,
A Assembleia Geral,
Proclama a presente Declaração Universal dos Direitos
Humanos como o ideal comum a ser atingido por todos
os povos e todas as nações, com o objetivo de que cada
indivíduo e cada órgão da sociedade, tendo sempre em
mente esta Declaração, se esforce, através do ensino e
da educação, por promover o respeito a esses direitos e
liberdades, e, pela adoção de medidas progressivas de
caráter nacional e internacional, por assegurar o seu
reconhecimento e a sua observância universal e efetiva,
tanto entre os povos dos próprios Estados-Membros,
quanto entre os povos dos territórios sob sua jurisdição.

Assim, não se pode ignorar os fatos históricos, pois é impossível pensar em estudar
a ciência do Direito sem apoio da História enquanto ciência. Para o estudo correto das
normas é essencial revistar nosso passado e conhecer a origem e finalidade dos documentos
e institutos jurídicos. Nader (2021) ao destacar a importância da história como fonte do
direito cita Sternberg que critica o jurista que deseja realizar o Direito sem o suporte da
história. Isto porque para ele não se pode chamar de jurista, nem sequer um utopista, aquele
que ignora a história, uma vez que esse não traria à vida nenhum espírito de ordenamento
social consciente, senão mera desordem e destruições.

Fontes Materiais
Bittar (2022, p.105) define as fontes materiais do direito como sendo o conjunto dos
fatores reais que determinam formação do Direito, que é “na sua produção influenciado
pela religião, cultura, história, política, violência e costumes sociais”. O autor reforça o
aspecto de que as fontes do direito não são mera expressão de arbítrio ou do capricho do
Legislador, mas que possuem raízes em outros fatores reais da sociedade.
Nader (2021) também identifica as fontes materiais do Direito com as razões sociais
que geram uma determinada norma jurídica. Ou seja, uma norma não nasce simplesmente
da vontade do Legislador, pelo contrário, ela nasce porque há fatores sociais que influenciam
na produção do Direito. Dessa forma, o Direito tem correspondência com os acontecimentos
que envolvem o homem, e, consequentemente, eles fornecem ao Legislador os elementos
necessários à formação dos estatutos jurídicos.
O autor utiliza uma classificação desenvolvida por Hübner Gallo para dividir as
fontes em materiais diretas e indiretas. As fontes materiais diretas são representadas pelos
órgãos elaboradores do Direito Positivo, como a sociedade, que cria o Direito baseado no
costume, o Poder Legislativo, que elabora as leis, e o Judiciário, que produz a jurisprudência.
As fontes materiais indiretas são identificadas com os fatores jurídicos, como a Moral, a
Economia, a Geografia, entre outros.
No Brasil, por exemplo, pode-se classificar como fontes materiais indiretas para a
24

inclusão do feminicídio no art. 121, § 2º, VI, do Código Penal, a constatação de que existem
indicadores de homicídios cometidos contra a mulher cuja motivação está intrinsicamente
relacionada com o fato da pessoa ser uma mulher. Nucci (2022, p.41) nos explica que “o
agente não mata a mulher somente porque ela é mulher, mas o faz por ódio, raiva, ciúme,
disputa familiar, prazer, sadismo, enfim, motivos variados, que podem ser torpes ou fúteis”.

Vamos conhecer a triste realidade de mulheres no Brasil no contexto da violência


de gênero. Assista o documentário Feminicídio – a realidade brasileira e saiba porque
a violência contra a mulher é uma fonte material indireta para produção do direito.
https://www.youtube.com/watch?v=UuLfMufHL0Y

Diante de tamanha crueldade e ciente de que o homicídio contra a mulher pode


ganhar contornos específicos, é necessário estabelecer uma tutela especial para as
mulheres por parte do Estado brasileiro em matéria penal. É nesse contexto, que surge a
figura do Legislador, principalmente, mas não somente, como resposta ao problema social
apresentado. Cabe dessa forma ao Poder Legislativo, como fonte material direta do Direito,
produzir na forma, na sua função típica de legislar. Foi por essa razão, que desde 2015, tem-
se no Código Penal, o crime de feminicídio. Há assim, um diálogo constante entre as fontes
materiais diretas e as fontes materiais indiretas.

Que a Lei 11.340/2006 é resultado da luta da cearense Maria da Penha.


De acordo com informações do Instituto Maria da Penha, em 1983, ela foi vítima
de dupla tentativa de feminicídio por parte de Marco Antonio Heredia Viveros, então
esposo. Como resultado das tentativas de feminicídio, Maria da Penha ficou paraplégica.
A vítima lutou por décadas para ver o seu agressor condenado. Todavia, o Estado
brasileiro foi omisso, razão pela qual Maria da Penha, por meio do Centro para a Justiça
e o Direito Internacional (CEJIL) e o Comitê Latino-americano e do Caribe para a Defesa
dos Direitos da Mulher (CLADEM) denunciou, o caso para a Comissão Interamericana
de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (CIDH/OEA). Então, em
2001, finalmente, o Estado Brasileiro foi responsabilizado por negligência, omissão e
tolerância em relação à violência doméstica praticada contra as mulheres brasileiras.
Mais tarde, em resposta a violência contra a mulher, o Estado cria a lei 11.340/206, que
carrega o nome da ativista Maria da Penha.
Acesse o link: https://www.institutomariadapenha.org.br/quem-e-maria-da-
penha.html

Fontes Formais
Venosa (2022, p.124) destaca que a fonte formal “leva em consideração os modos,
meios, instrumentos ou formas pelas quais o Direito se manifesta perante a sociedade,
tal como a lei e o costume”. É dessa forma que o Direito introduz no ordenamento novas
normas jurídicas. Nader (2021), também afirma que as fontes formais representam o direito
25

positivado e a forma como ele se apresenta aos seus destinatários, principalmente pela lei
e costume. O autor considera, embora advirta que não exige uniformidade na doutrina, as
fontes formais em direta e indireta do Direito. A fonte formal direta cria a norma jurídica,
enquanto, que a indireta não cria a norma, mas fornece ao jurista subsídios para o encontro
dela, exemplo, a doutrina jurídica e a jurisprudência em nosso país. Vejamos a diferença
de cada fonte.

Lei
Venosa (2022) nos explica que a importância da lei, como fonte criada pelo
Legislador, terá maior ou menor importância a depender da tradição jurídica adotada pelo
país. Os países de tradição Civil Law, de origem romano-germânico, vão ter como ponto de
partida a lei, ou seja, o Código Civil, o Código Penal, o Processual Civil, o Processual Penal,
entre outros. Isso porque tal tradição que preponderou após a Revolução Francesa, passou
a considerar a lei como a única expressão do direito. Já os países de tradição Common Law
dominante principalmente em países de língua ou influência inglesa (Inglaterra, Austrália,
Nova Zelândia, Índia, Quênia etc.), acreditam que a lei é apenas uma dentre as várias fontes
do direito, possui um direito jurisprudencial, baseado em casos. De modo que, o seu papel
não se sobrepõe às demais modalidades.

Ainda quando existam códigos, e muitos desses países


os têm, essas fontes são vistas como consolidações do
direito consuetudinário anteriores à codificação, sendo
interpretadas com base em precedentes jurisprudenciais.
Não há que se entender que esse sistema inglês
seja costumeiro, na acepção estrita da palavra, mas
jurisprudencial, baseado em cases. Há países que
adotam sistemas mistos, com mais ou menos influência
do sistema de direito civil, como, por exemplo, Escócia
e Israel, matéria que exige estudo mais aprofundado
(VENOSA, 2022, p.127).

Jurisprudência
Nesta perspectiva, caminhando lado a lado com a lei, tem-se a Jurisprudência, que
conforme nos explica Venosa (2022) são decisões dadas por juízes e tribunais superiores a
problemas que atormentam a nação.

A jurisprudência pode ser vista sob um sentido amplo,


como a coletânea de decisões proferidas por juízes e
tribunais sobre determinada matéria, fenômeno ou
instituto jurídico, podendo, dessa forma, agasalhar
decisões contraditórias. Em sentido estrito, costuma-
se referir à jurisprudência como o conjunto de decisões
uniformes, isto é, no mesmo sentido, acerca de
determinada questão. Na verdade, ambos os padrões
de exame da jurisprudência se tocam, pois cabe ao
operador do Direito estar ciente de todas as correntes
jurisprudenciais (VENOSA, 2022, p.136)

No Brasil por exemplo, o texto constitucional, o art. 37, I e II, estabelece que para
investidura em cargo público é preciso ser aprovado em concurso de provas ou de provas
e títulos. Assim, o Poder Público precisa realizar, como regra, concurso público para
formar o seu quadro de pessoal. E, para tanto, os órgãos contratam banca examinadoras
26

que, seguindo as regras do edital, devem realizar todas as etapas do certame. Ocorre, que
algumas bancas examinadoras davam caráter eliminatório à etapa de avaliação de títulos,
quando na verdade, pela interpretação do dispositivo constitucional, tal etapa é meramente
classificatória. Em razão da eliminação de candidatos nessa fase, diversos mandados de
segurança são impetrados no Judiciário. Visando dar um fim a esse conflito, o Supremo
Tribunal de Justiça (STJ) sumulou, em 2002, um entendimento jurisprudencial de nº266,
com a seguinte redação: “O diploma ou habilitação legal para o exercício do cargo deve ser
exigido na posse e não na inscrição para o concurso público”.
Assim, conferir caráter eliminatório a avaliação de títulos é inconstitucional e fere
entendimento dos tribunais brasileiros, em particular atenção a sumula nº266 do STJ.
Vejamos sua aplicação:

ADMINISTRATIVO. CONCURSO PÚBLICO.


CERTIFICADO DE CONCLUSÃO DE LICENCIATURA
PLENA. COMPROVAÇÃO NO ATO DE INSCRIÇÃO.
ILEGALIDADE. SÚMULA Nº 266/STJ. Consoante
entendimento desta Corte, a exigência de comprovação
da escolaridade (diploma ou habilitação legal) tem
pertinência com o desempenho da função, não com
a inscrição em concurso para o provimento do cargo,
sendo, pois, forçoso concluir que somente no ato da
posse a comprovação desse requisito se faz necessária
(Súmula nº 266/STJ). Precedentes. Recurso provido.
(STJ - REsp: 532497 SP 2003/0036728-0, Relator:
Ministro FELIX FISCHER, Data de Julgamento:
25/11/2003, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação:
--> DJ 19/12/2003 p. 604)

Costumes
Para Venosa (2022), para que pese a importância da lei, haverá situações em que o
costume pode ser adotado como fonte do direito, isso pode acontecer na ausência da lei ou
na presença da lei, mas seu caráter será sempre subsidiário. O autor continua esclarecendo
que o costume pode ser setorizado, de um determinado grupo.

[...] brota da consciência coletiva, de um grupo social


mais ou menos amplo. Exige-se que o costume tenha
amplitude, isto é, que seja geral, largamente disseminado
no meio social. Não é necessário, porém, que a sociedade
como um todo tenha dele consciência. O costume pode
ser setorizado. Seu maior campo de atuação é, sem
dúvida, o provecto direito comercial, com suas práticas,
todas elas de origem costumeira. Assim, por exemplo, no
setor atacadista de cereais em região central da cidade
de São Paulo, há costumes próprios dos negociantes
do local, só por eles conhecidos. Assim também ocorre
com setores da agricultura e da indústria. Geralmente, o
costume é setorizado em parcela da sociedade (VENOSA,
2022, p.130).

Bittar (2022), de forma semelhante, destaca que nem todo comportamento social
é considerado um costume, antes ele precisa cumprir determinados requisitos, quais
sejam: o costume deve ser de conhecimento geral, ou seja, é praticado por todos, de forma
disseminada; tem que possuir raízes na história e possuir legitimidade da sociedade; a
27

prática tem que ser passível de comprovação, em geral por testemunhas; e, por fim, não
pode ferir valores constitucionalmente prevalecentes.
No Brasil pode-se citar como exemplo o cheque pós-datado que surgiu do costume,
haja vista que a lei 7.357 de 1985 estabelece em seu art.32, que o cheque é uma ordem
de pagamento à vista. Assim, no caso de deposito antecipado, tem-se, por entendimento
jurisprudencial, em obediência ao costume, o dever de indenizar pelo descumprimento da
obrigação de não fazer, sem prejuízo da indenização por perdas e danos.
Registra-se ainda que no âmbito internacional o costume tem grande relevância para
dirimir conflitos entres os países, sendo considerado fonte primária do direito internacional
público. De acordo com o art. 38 do Estatuto da Corte Internacional de Justiça, entre outras
fontes, “o costume internacional, como prova de uma prática geral aceita como sendo o
direito”.

Doutrina Jurídica
A doutrina embora não seja, conforme nos ensina Venosa (2022), fonte direta do
Direito, auxilia os operadores do direito, em particular o Julgador e o Legislador, à medida
que opina, orienta, critica, interpreta, mostra caminhos, sugere modificações, constrói
e destrói mitos e dogmas. No mesmo sentido, Paulo Nader (2022, p.163) assevera que
a doutrina, ou Direito Científico, é o conjunto de “estudos e teorias, desenvolvidos pelos
juristas, com o objetivo de interpretar e sistematizar as normas vigentes e de conceber
novos institutos jurídicos, reclamados pelo momento histórico”.
Assim, existem diversas doutrinas jurídicas produzidas por juristas, mestres, doutores
sobre diferentes institutos jurídicos. Certamente, é uma excelente fonte complementar
do Direito e um importante meio auxiliar daqueles que tem como tarefa precípua a de
interpretar.
Neste capítulo, nosso objetivo central foi apresentar as principais fontes do Direito,
uma vez que é por meio delas que o Direito se expressa. Em seguida, apresentamos as
principais classificações das fontes do Direito: as fontes históricas, que são os fatos que
influenciam a criação das normas jurídicas; as fontes materiais, que são os elementos
da realidade social; e, por fim, as fontes formais, destacando a lei, a jurisprudência, os
costumes e a doutrina jurídica. O estudo é relevante, uma vez que ajuda a compreender,
por meio das fontes do Direito, o conjunto das normas e sua influência na organização da
vida em sociedade.
Chegamos ao fim da nossa aula, espero que você tenha gostado do conteúdo, agora
vamos reforçar o conhecimento adquirido respondendo as questões a seguir.

ATIVIDADES

1 - “A Dogmática Jurídica, que desenvolve o seu estudo em função do ordenamento


vigente, com o objetivo de revelar o conteúdo atual do Direito, proporcionando um
conhecimento pleno, deve buscar subsídios nas fontes históricas”.
Nader, Paulo. Introdução ao Estudo do Direito.44th edição, Grupo GEN, 2021, p.129

Com base no texto e considerando o conceito de fontes históricas do direito avalie as


assertivas a seguir.

I - As fontes históricas são importantes para a formação do direito, contudo ao


Julgador não é permitido utilizar como fonte de interpretação dos institutos jurídicos.
II - As fontes históricas ajudam a compreender o surgimento dos institutos jurídicos.
O habeas corpus, por exemplo, no Brasil, passou a ser um direito positivado a partir
da Constituição de 1988.
28

III - As fontes históricas são importantes para o Direito de uma determinada


sociedade, dado a influência que sofre dos fatores sociais, econômicos e culturais em
sua formação.
É correto o que se afirmar em
a) I, apenas.
b) III, apenas.
c) I e II apenas.
d) II e III, apenas.
e) I,II e III.

2 - “Lei é uma regra geral de direito, abstrata e permanente, dotada de sanção,


expressa pela vontade de uma autoridade competente, de cunho obrigatório e de forma
escrita”.
Venosa, Sílvio de S. Introdução ao Estudo do Direito.7th edição, Grupo GEN, 2022, p.103

Com base no texto marque alternativa correta sobre a lei como fonte do direito.

a) A lei é a fonte por excelência do Direito, com a capacidade de regular todos os fatos
sociais.
b) Os países de tradição civil law, a lei tem um papel secundário, embora existam
os códigos regulamentando determinados ramos, não tem grande relevância para o
Julgador, que decide conforme o caso.
c) Os países de tradição common law acredita que a lei é apenas uma dentre as várias
fontes do direito, possui um direito jurisprudencial, baseados em casos.
d) A lei é a principal fonte do Direito tanto nos países de tradição civil law quanto nos
de tradição common law.
e) A lei é incapaz de regular todos os fatos sociais, por isso cabe ao Julgador interpretar
o caso concreto conforme sua conveniência e interesses.

3 - “No Brasil, a atribuição dessa força de lei aos precedentes se consumou com o
Código de Processo Civil de 2015, cujo art. 927 prevê a obrigatoriedade da observância,
pelas demais instâncias: (i) das súmulas vinculantes; (ii) das decisões proferidas pelo STF
em sede de controle concentrado da constitucionalidade; (iii) dos acórdãos proferidos em
julgamento com repercussão geral ou em recurso extraordinário ou especial repetitivo; (iv)
dos julgados dos tribunais proferidos em incidente de resolução de demanda repetitiva;
(v) em incidente de assunção de competência; (vi) os enunciados da súmula simples da
jurisprudência do STF e do STJ; e (vii) as orientações firmadas pelo plenário ou pelos
órgãos especiais das cortes de segundo grau”.
BARROSO, Luís R. Curso de Direito Constitucional Contemporâneo - Os conceitos Fundamentais,
(10th edição). Editora Saraiva, 2022, p.223.

Com base no texto, marque assertiva correta sobre a fonte jurisprudência.

a) A jurisprudência pode ser vista sob um sentido amplo, como a coletânea de


decisões proferidas por juízes e tribunais sobre determinada matéria, no Brasil, o
STF tem importante jurisprudência em defesa dos direitos da população LGBT.
b) A jurisprudência pode ser vista como a pratica reiterada de determinado costume
em sociedade.
29

c) A jurisprudência embora seja a coletânea de decisões proferidas por juízes e


tribunais sobre determinada matéria, não pode ser usada como referência em nosso
país, pois cada caso é um caso.
d) A jurisprudência não é fonte do direito e não pode ser usada pelos julgadores,
serve apenas como fonte histórica do direito.
e) A jurisprudência é a consolidação de leis em um mesmo documento legal. No
Brasil, temos como exemplo a Consolidação das Leis Trabalhistas.
30

CAPÍTULO III - INTEGRAÇÃO E EFICÁCIA DAS NORMAS


JURÍDICAS

INTRODUÇÃO
Olá, vamos retornar nossos estudos sobre integração e eficácia das normas jurídicas.
A partir de agora aprofundaremos o assunto sobre lacunas normativas e a possibilidades que
o ordenamento jurídico brasileiro oferece para que o intérprete do direito, principalmente
o Julgador e o Legislador possam fazer a correta análise do caso concreto.
Em seguida apresentaremos os conceitos importante sobre vigência, eficácia,
efetividade e legitimidade da norma jurídica. Vamos lá! Vamos começar!

LACUNAS NORMATIVAS E INTEGRAÇÃO


Já pontuamos no capítulo anterior que ao Julgador não é dada a prerrogativa de
não decidir diante da análise do caso concreto. A obrigação de decidir decorre do princípio
da inafastabilidade da jurisdição. Isto significa, que o Poder Judiciário, no exercício da
sua função jurisdicional não pode eximir-se de decidir a questão sob seu apreço. Mendes
e Cavalcante Filho (2022) explicam que o princípio da inafastabilidade do controle
jurisdicional ou da proteção judiciária ou do acesso à justiça, está expresso no art. 5º, XXXV
da Constituição Federal. O comando constitucional determina que a lei não pode excluir da
apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça de lesão a qualquer direito. Desta maneira,
o Judiciário pode, no Brasil, analisar quaisquer questões de legalidade.
Todavia, pode acontecer, situações em que o Julgador se deparar com lacunas na lei
ou ausência da lei. Isto porque é próprio do ordenamento jurídico ser lacunoso, uma vez ser
impossível que o Legislador consiga prever todas as situações que acontecem na sociedade
e que merecem atenção do Estado. Venosa (2022) afirma que além dessa constatação, pode
ocorrer uma lacuna provocada pelo próprio Legislador que deixa o fato ou fenômeno social
em branco para que o Julgador realize o trabalho integrativo dos tribunais.
Entretanto, havendo lacuna, o artigo 4º da Lei de Introdução ao Estudo do Direito
(LINDB) dispõe que o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os
princípios gerais de direito. Vejamos cada um desses institutos jurídicos a seguir.

Analogia
Bitar (2022) explica que analogia socorre o Magistrado por similitude e aproximação,
na busca da solução de um caso concreto na ausência de lei. Aqui, não existe a norma, mas
é possível recorrer a uma outra que regule caso semelhante, já aplicada em caso anterior.
Isso ocorre com bem esclarece venosa (2022), pois o ordenamento jurídico é incapaz de
preencher todos os acontecimentos, todos os fatos sociais. Sabido é que isto é impossível.
Sempre existirão situações não descritas ou previstas pelo Legislador.
Para Nader (2021, p.174) “analogia é um recurso técnico que consiste em se aplicar,
a uma hipótese não prevista pelo Legislador, a solução por ele apresentada para uma outra
hipótese fundamentalmente semelhante à não prevista”. Tem-se que ao magistrado não
é dado a prerrogativa de não decidir. Esse deve decidir sempre e na ausência da lei, ele
deve recorrer a outras fontes do Direito, entre os quais temos a analogia. Contudo, é mister
destacar que o ordenamento jurídico brasileiro não admite analogia in malam parte, que é
aquela em que o uso da analogia pode prejudicar o réu. Dessa forma, só se aplica em nosso
país a analogia in bonam partem.
Podemos citar como exemplo, o entendimento dos nossos tribunais sobre o
artigo 1.839 do Código Civil (CC), que assegura que no caso de não ausência de cônjuge
sobrevivente, nas condições estabelecidas no art. 1.830, serão chamados a suceder
os colaterais até o quarto grau. Por analogia, embora não esteja expresso a situação do
companheiro, entende-se que é inconstitucional estabelecer diferenciação dos direitos de
31

cônjuges e companheiros para fins sucessórios. Portanto, o companheiro tem direito à


totalidade da herança na falta de filhos ou ascendentes.

Assista à sessão histórica do STF que afastou a diferença entre cônjuge e


companheiro para fim sucessório. Basta clicar no link abaixo e ir direto para o site do
STF.
https://www.youtube.com/watch?v=ZQDVuD9Rops

Princípios Gerais de Direito


A doutrina reconhece a dificuldade de conceituar o que sejam princípios gerais do
Direito. Para Nader (2021, p.178) os princípios gerais do Direito “são importantes em duas
fases principais: na elaboração das leis e na aplicação do Direito, pelo preenchimento das
lacunas da lei”. Para Venosa (2022, p.146) “princípios gerais de direito são, em última
instância, uma regra de convivência. Também são referidos simplesmente como princípios
fundamentais ou denominações similares”.
Partido do pressuposto de que seja uma regra de convivência é fundamental que
eles sejam considerados quando da elaboração das leis, bem como para aplicação do
Direito. Assim, tem-se que princípios estabelecem ao Legislador e ao Julgador limites no
desenvolvimento de suas atribuições. Imagina, por exemplo, se o Legislador legislasse
sobre um tema que fere o princípio da dignidade humana. Que ele resolvesse aprovar por
meio do Poder Legislativo, leis que autorizassem o trabalho escravo ou estabelecesse a
possibilidade de caso em que a tortura fosse aceita. Certamente, seria uma afronta ao texto
constitucional, principalmente o princípio da dignidade humana.
Da mesma forma, não está autorizado ao interprete do direito ignorar, na análise do
caso concreto, o princípio da dignidade humana. Foi o que ocorreu em 2011, no STF, quando
se equiparou as relações entre pessoas do mesmo sexo às uniões estáveis entre homens e
mulheres. Mais tarde, em 2013, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) regulamentou-se a
resolução 175/2013, obrigando os cartórios a realizarem casamento entre casais do mesmo
sexo.
Outro exemplo de promoção da igualdade dos direitos da população LGBT pelo
STF é a criminalização da homofobia. De acordo com Borrilo (2009), o termo significa
atitude de hostilidade para com os homossexuais. Essa aversão pode se manifestar de
forma “individual ou coletivo (a), psicológico e social, consciente ou inconsciente. Enfim,
a homofobia pode se referir a algo bastante subjetivo ou a algo extremamente socializado,
institucionalizado” (FELICISSIMO, 2014. p.74).
Para combater a homofobia, diante da omissão do Legislador, a Suprema Corte
equiparou o crime de homofobia ao crime de racismo. Os ministros reafirmam que
toda pessoa deve ser protegida contra qualquer ato que atente contra a sua dignidade,
independentemente de sua orientação sexual. E que ao criminalizar a homofobia não estaria
usurpando as competências do legislativo de legislar, está tão somente dando efetividade ao
texto constitucional, uma vez que o Legislador se mantém inerte em relação a essa matéria,
razão pela qual autoriza o Poder Judiciário, nos termos do próprio texto constitucional, a
caminhar na direção de dar concretude ao princípio constitucional da dignidade humana.
Barroso (2022, p.199) ao destacar em seu livro sobre direitos fundamentais da
população LGBTQIA+ destaca um debate travado com um juiz norte americano sobre o
assunto. Em defesa da efetividade dos direitos a essa população ele registrou que “viola
a dignidade humana impedir que duas pessoas maiores e capazes coloquem seu afeto e
sua sexualidade onde mora o seu desejo”. Disse ainda que “o Estado não tem o direito de
32

impedir que as pessoas façam livremente suas escolhas existenciais básicas”. Não restam
dúvidas, que as decisões judicias dos tribunais brasileiros levaram em consideração o
princípio da dignidade humana. Assim, o Estado não pode intervir nas relações individuais,
estabelecendo tratamento discriminatório.
Desta forma, os Princípios Gerais do Direito são relevantes, uma vez que orientam a
própria produção das normas jurídicas, bem como são utilizados para preencher lacunas.
Além disso, a existência dos princípios colabora para uma melhor aplicação da norma
diante de um caso concreto, como foi possível verificar nas recentes interpretações do STF
em relação às relações homoafetivas.

O fantástico produziu uma importante reportagem sobre a criminalização da


homofobia e o julgamento no STF. Acesse o link e saiba mais.
https://www.youtube.com/watch?v=viK1G34oTlI

Equidade
Bittar (2022, p.2022) explica equidade como sendo “o senso de justiça exercido
num caso concreto, para suprir ou corrigir, abrandar, adaptar, adequar conteúdo contido
em texto de lei”, com a finalidade de evitar “os males da generalidade, da abstração e da
distância histórica do momento de produção da legislação”. Para Venosa (2022, p.149)
“equidade é forma de manifestação de justiça que tem o condão de atenuar, amenizar,
dignificar a regra jurídica”. Nader (2021), por sua vez, explica em que circunstância ela
pode ser necessária ao aplicador do direito,

Algumas normas há que se ajustam inteiramente ao


caso prático, sem a necessidade de qualquer adaptação;
outras há, porém, que se revelam rigorosas para o caso
específico. Nesse momento, então, surge o papel da
equidade, que é adaptar a norma jurídica geral e abstrata
às condições do caso concreto. Equidade é a justiça do
caso particular.

Em síntese, equidade é o recurso que o intérprete do direito tem quando a norma


aplicada ao caso concreto é incapaz de promover justiça. Assim, o Direito permite ao
Julgador o afastamento da norma e julgar por equidade. Há no ordenamento jurídico
brasileiro a previsão do seu uso, na Consolidação das Leis do Trabalho, art.8º; no Código
Civil de 2002, no parágrafo único do art. 944 e art. 953, parág. Único, no Código de Processo
Civil de 2015, parágrafo único do art. 140 entre outros.
Venosa (2022) sobre o art. 140, parágrafo único (art. 127 do CPC/1973), afirma
que “o juiz só decidirá por equidade nos casos previstos em lei”. De acordo com autor,
embora essa norma visa impedir que o Julgador se transforme em Legislador, não se pode
negar que a equidade participa imperceptivelmente do raciocínio do Julgador. Assim, já se
decidiu que O autor cita julgado do STJ que dar a correta interpretação de tal dispositivo.

a proibição de que o juiz decida por equidade salvo


quando autorizado por lei, significa que não haverá de
substituir a aplicação do direito objetivo por seus critérios
pessoais de justiça. Não há de ser entendida, entretanto,
33

como vedando que se busque alcançar a justiça no caso


concreto, com atenção ao disposto no art. 5º da Lei de
Introdução. RSTJ 83/168 apud VENOSA, 2022, p. 150.

No Tocantins ocorreu uma decisão de um juiz que ganhou repercussão nacional.


Trata-se do processo nº124/03, da 3ª Vara Criminal da Comarca de Palmas/TO, que
mandou soltar dois homens acusados de furtar melancias.
DESPACHO JUDICIAL

DECISÃO PROFERIDA PELO JUIZ RAFAEL


GONÇALVES DE PAULA

NOS AUTOS DO PROC Nº. 124/03 – 3ª Vara Criminal


da Comarca de Palmas/TO:

DECISÃO

Trata-se de auto de prisão em flagrante de Saul Rodrigues


Rocha e Hagamenon Rodrigues Rocha, que foram detidos
em virtude do suposto furto de duas (2) melancias.
Instado a se manifestar, o Sr. Promotor de Justiça
opinou pela manutenção dos indiciados na prisão. Para
conceder a liberdade aos indiciados, eu poderia invocar
inúmeros fundamentos: os ensinamentos de Jesus
Cristo, Buda e Ghandi, o Direito Natural, o princípio da
insignificância ou bagatela, o princípio da intervenção
mínima, os princípios do chamado Direito alternativo,
o furto famélico, a injustiça da prisão de um lavrador
e de um auxiliar de serviços gerais em contraposição à
liberdade dos engravatados e dos políticos do mensalão
deste governo, que sonegam milhões dos cofres públicos,
o risco de se colocar os indiciados na Universidade do
Crime (o sistema penitenciário nacional)…

Poderia sustentar que duas melancias não enriquecem


nem empobrecem ninguém. Poderia aproveitar para
fazer um discurso contra a situação econômica brasileira,
que mantém 95% da população sobrevivendo com o
mínimo necessário apesar da promessa deste ou desta
presidente que muito fala, nada sabe e pouco faz.

Poderia brandir minha ira contra os neoliberais,


o consenso de Washington, a cartilha demagógica
da esquerda, a utopia do socialismo, a colonização
europeia…

Poderia dizer que os governantes das grandes potências


mundiais jogam bilhões de dólares em bombas na cabeça
dos iraquianos, enquanto bilhões de seres humanos
passam fome pela Terra – e aí, cadê a Justiça nesse
mundo?

Poderia mesmo admitir minha mediocridade por não


saber argumentar diante de tamanha obviedade.

Tantas são as possibilidades que ousarei agir em total


desprezo às normas técnicas: não vou apontar nenhum
desses fundamentos como razão de decidir.

Simplesmente mandarei soltar os indiciados. Quem


quiser que escolha o motivo.
34

Expeçam-se os alvarás.

Intimem-se.

Rafael Gonçalves de Paula

Juiz de Direito

É possível extrair da decisão que ele utilizou a equidade, ou ainda, o princípio da


insignificância. De acordo com a jurisprudência do STF, tal princípio afasta a tipicidade
material, e, por consequência, torna a conduta atípica, quando estamos diante da prática
de tipos penais cuja conduta é minimamente ofensiva, ausência da periculosidade
social da ação, reduzido grau de reprovabilidade do comportamento e lesão jurídica
é inexpressiva. Nucci (2022) ao analisar o princípio da insignificância afirma que ele
decorre da intervenção mínima do direito penal, mas alerta para uso indiscriminado do
princípio, pois o que pode não ter valor para uma pessoa pode ter para outra. Ele explica
que os tribunais, principalmente o Supremo Tribunal Federal tem admitido como causa de
atipicidade da conduta. A ideia central do princípio é de considerar o bem subtraído e se
esse for de pequeno valor, não deve “servir de incentivo para o cometimento de outros atos
similares, motivo pelo qual se tem vedado o benefício ao reincidente ou possuidor de maus
antecedentes” (NUCCI, 2022, p.334).
De todo modo, em relação a decisão do magistrado do Tocantins é importante
mencionar que pelo seu conteúdo educativo, foi incluída no banco de dados da Escola
Nacional de Magistratura, espaço de formação dos magistrados de todo país.

VIGÊNCIA, EFICÁCIA, EFETIVIDADE E LEGITIMIDADE DA


NORMA JURÍDICA
Nader (2021) explica que vigência é quando a norma jurídica ingressa no mundo
jurídico com capacidade de fazer efeitos. Para tanto, é essencial que a norma preencha
todos os requisitos técnico-formais, e, por consequência, se imponha a todos os seus
destinatários. Bittar (2022) nos ensina que vigência significa que a norma está pronta para
seu uso e aplicação.
Ferraz Jr (2019, p.158) destaca que o termo vigência busca demarca o tempo de
validade de uma norma. Uma norma Vigente é uma norma válida, isto é, pertence ao
ordenamento jurídico. “Vigência exprime, pois, a exigibilidade de um comportamento, a
qual ocorre a partir de um dado momento e até que a norma seja revogada”.
O art. 1º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, dispõe que uma
lei começa a ter vigência em todo o país quarenta e cinco dias depois de oficialmente
publicada, salvo disposição em contrário. A lei estabelece ainda que nos Estado
estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, inicia-se três meses
depois de oficialmente publicada. Ferraz Jr (2019) que o prazo estabelecido para que a lei
tenha vigência no Brasil é chamado de vacatio legis. Durante o período de quarenta e cinco
dias, a norma já é válida, mas não vigente, isto é, sua validade fica suspensa. “Assim, nesse
período, ela convive com normas que lhe são contrárias que continuam válidas e vigentes
até que ela própria comece a viger, quando, então, as outras estarão revogadas” (FERRAZ
JR, 2019, p.158).
Já sobre eficácia é analisado se a lei é eficaz ou ineficaz. Bittar (2022) analisa a eficácia
considerando a aceitação da norma pela sociedade. A eficácia tem a ver com a produção
de efeitos práticos pelas normas jurídicas, quando são absorvidas pela sociedade. Ocorre
quando há uma validade social. Para o autor toda norma jurídica deve induzir condutas
concretas em sociedade. Nader (2022) caminhando nessa mesma direção destaca que
as normas jurídicas não são geradas por acaso, mas buscam um fim social, logo deve-se
apresentar como uma formula capaz de resolver problemas de convivência e de organização
da sociedade.
35

O atributo eficácia significa que a norma jurídica produz,


realmente, os efeitos sociais planejados. Para que a
eficácia se manifeste, indispensável é que seja observada
socialmente. Eficácia pressupõe, destarte, efetividade.
A lei que institui um programa nacional de combate a
determinado mal e que, posta em execução, não resolve
o problema, mostrando-se impotente para o fim a que se
destinava, carece de eficácia. A rigor, tal lei não pode ser
considerada Direito, pois este é processo de adaptação
social; é instrumento que acolhe a pretensão social e a
provê de meios adequados (NADER, 2021, p.86).

O autor continua explicando que muitos autores não distinguem eficácia de


efetividade. Todavia, ele considera distinguir, sendo que efetividade está intrinsicamente
ligada a ideia de as normas são feitas para serem cumpridas, pois têm como finalidade
desenvolver o papel de meio para a consecução de fins que a sociedade almeja. Observando
a realidade fática, Nader (2021) registra que, embora seja objetivo geral as normas
alcançarem a máxima efetividade, isso não acontece na prática, razão pela qual seria melhor
falarmos em níveis de efetividade.
Ferraz Jr (2019) fala em efetividade ou eficácia social como uma forma de eficácia
e dar, por exemplo, a produção de uma norma que prescreve a obrigatoriedade do uso de
determinado aparelho para a proteção do trabalhador, todavia, esse aparelho não existe no
mercado nem há previsão para sua produção em quantidade adequada. Nesse contexto,
por certo, a norma será ineficaz, pois não alcançou a sua finalidade.
Por fim, é importante falar em legitimidade da norma jurídica3. Explica Nader
(2022) que para os juspositivistas seria o suficiente reconhecer os aspectos extrínsecos
da norma, traduzido pela sua vigência. Assim, o debate sobre legitimidade seria algo
estranho à instância jurídica. Todavia, para as correntes espiritualistas, a norma precisa,
além de atender os pressupostos técnico-formais, ser legitimas. O autor esclarece que o
ponto central do debate sobre legitimidade está no exame da fonte que emanou a norma.
Se a fonte é legitima, a norma também será. De modo que, a fonte legítima seria aquela
constituída pelos representantes escolhidos pelo povo, conforme dispõe as regras da
democracia representativa, ou ainda pelo próprio povo, por meio da democracia direta.
Todavia, o autor assevera que isso pode mudar a partir da tendência jurídica que se adotada
para medir a legitimidade.

Conforme a tendência do homo juridicus, outra fonte


poderá ser apontada como instância legitimadora. Se ele
for também um homo religiosus haverá de reconhecer
na vontade divina a fonte de legitimação das normas
jurídicas. Se adepto do pensamento jusnaturalista
apontará a natureza humana como a fonte criadora dos
princípios que configuram o Direito Natural e devem
fornecer a estrutura básica do Jus Positum (NADER,
2021,86).

Neste capítulo, abordamos a integração e eficácia das normas jurídicas, bem como
debatemos as lacunas normativas e a necessidade de supri-las para garantir a coerência do
sistema jurídico-legal. Exploramos ainda métodos de integração: a analogia e os princípios
gerais de direito, com ênfase no princípio da equidade. Por meio da analogia, é possível
utilizar disposições legais similares a casos em que não haja uma regulamentação expressa,

3 De acordo com Diniz (2023), as normas jurídicas são elementos indispensáveis para a estruturação
existencial do ser humano. São as normas jurídicas que regulam as ações humanas, obrigando-as,
permitindo-as ou proibindo-as.
36

preenchendo as lacunas e mantendo a coerência e segurança jurídica necessárias. Já em


relação aos Princípios Gerais de Direito, eles permitem a busca da melhor decisão em
situações também não previstas pelo legislador, ou que, quando previstas, são insuficientes
para promover justiça. Não resta dúvida de que tais meios são essenciais para garantir a
vigência, eficácia, efetividade e legitimidade das normas jurídicas.
Assim, terminamos o nosso estudo e esperamos que você tenha compreendido
a importância dos meios integrativos e as questões relacionadas a eficácia, efetividade e
legitimidade da lei vigente. Agora, seguem atividades para a fixação do conteúdo.

ATIVIDADES

1 - “[....] os princípios gerais de direito constituem reminiscência do direito natural


como fonte. Há autores que os identificam com este, outros que os fazem repousar na
equidade, enquanto sentimento do justo no caso concreto. Sua formulação é indefinida.
Há quem os reduza, em última análise, aos famosos preceitos romanos: honeste vivere,
alterum non laedere, suum cuique tribuere. De qualquer modo, ainda que se entenda que
possam ser aplicados diretamente na solução de conflitos, trata-se não de normas, mas de
princípios. Ou seja, não são elementos do repertório do sistema, mas fazem parte de suas
regras estruturais [...]”.
Jr., Tercio Sampaio F. Introdução ao Estudo do Direito. Grupo GEN, 2019, p.209.

Com base no texto e considerando os meios integrativos avalie as assertivas a seguir.


I - Em caso de lacuna, o artigo 4º da lei de introdução ao estudo do direito (LINDB)
dispõe que o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios
gerais de direito.
II - Em caso de lacuna, o juiz não deve julgar o caso, pois não está autorizado a utilizar
meios de integração do direito.
III - Em caso de lacuna, a legislação brasileira autoriza somente o uso de princípios
gerais do direito.

É correto o que se afirmar em

a) I, apenas.
b) III, apenas.
c) I e II apenas.
d) II e III, apenas.
e) I,II e III.

2 - Sobre a vigência da norma à luz do que foi estudado nesta aula, marque alternativa
correta.

a) Vigência não exige um comportamento da sociedade, tão somente, que na


medida do possível, obedeça ao comando da lei. Em geral, a vigência começa com a
publicação.
b) Vigência mede a eficácia da norma no meio social, uma norma só possui vigência
se for aceita pela sociedade
c) Uma norma entra em vigência, salvo disposição em contrário, em 90 dias no
37

Brasil, conforme dispõe a Lei de Introdução do Direito Brasileiro (LINDB)


d) A lei de Introdução do Direito Brasileiro estabelece ainda que nos Estado
estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia em dois
meses depois de oficialmente publicada.
e) Uma norma entra em vigência, salvo disposição em contrário, em 45 dias no
Brasil, conforme dispõe a Lei de Introdução do Direito Brasileiro (LINDB).

3 - “Uma norma válida pode já ser vigente e, no entanto, não ter eficácia. Vigência e
eficácia são qualidades distintas. A primeira refere-se ao tempo de validade. A segunda, à
produção de efeitos”.
Jr., Tercio Sampaio F. Introdução ao Estudo do Direito. Grupo GEN, 2019, p.159.

De acordo com o texto, eficácia

a) tem a ver com a produção de efeitos práticos pelas normas jurídicas, quando são
absorvidas pela sociedade. Ou seja, quando a sociedade obedece ao comando da lei.
b) ocorre quando a lei entra em vigência e tem sua legitimidade confirmada
independente de ser aceita ou não pela sociedade.
c) está intrinsicamente ligada a ideia de as normas serem feitas para serem cumpridas
a fim de alcançarem a sua finalidade.
d) é irrelevante, pois a eficácia das normas não é objeto de estudo do Direito.
e) é sinônimo de legitimidade, assim sendo, uma norma para ser eficaz basta ser
produzida por um órgão competente.
38

CAPÍTULO IV - HERMENÊUTICA JURÍDICA

INTRODUÇÃO
Olá, continuaremos nossos estudos sobre direito aplicado à gestão pública. Nesse
contexto, seria impossível continuarmos nossos estudos sem falar sobre a hermenêutica
jurídica com ciência da interpretação do Direito.
Neste capítulo apresentaremos os principais elementos interpretativos, que, a
depender da doutrina, pode aparecer como método, meio, ou ainda, procedimentos. Ao final
desse capítulo, vamos apresentar, ainda, a lógica do razoável que influenciou o surgimento
da técnica de ponderação e aplicação dos princípios da razoabilidade e proporcionalidade.

HERMENÊUTICA E INTERPRETAÇÃO JURÍDICA


Paulo Nader (2022) lembra que a origem da palavra hermenêutica vem do latim
Hermeneúein, que significa interpretar, e tem como fundamento a mitologia grega, pois
deriva de Hermes, filho de Zeus e de Maia. Hermes, vivia entre os humanos e sua missão era
interpretar a vontade divina para os homens. Assim, Hermes ocupa um papel de intérprete
da vontade divina de Zeus e são os humanos que necessitavam do auxílio para uma correta
compreensão.
De maneira semelhante, a hermenêutica jurídica é necessária para que o intérprete
do Direito consiga a partir de métodos interpretar a norma jurídica, que carrega consigo
a característica de ser geral e abstrata, isto é, não regula um caso em particular, mas as
diversas situações fáticas que se subsumem à sua descrição. Em outras palavras, significa
que a norma não é produzida pensando em um caso específico, mas as diversas situações
fáticas que estão abrangidas dentro do âmbito da sua descrição. Uma vez que ocorre o fato
e esse se enquadra no que dispõe a lei, será necessário a interpretação do hermeneuta para
que haja o melhor enquadramento legal.
Nader (2022) estabelece uma diferença entre hermenêutica e interpretação.
Hermenêutica é a teoria que estabelecia princípios, critérios, métodos, orientação geral e a
interpretação de cunho prático, aplicando tais diretrizes. No mesmo sentido, Venosa (2022),
embora advirta que, sem prejuízo, ambos os termos possam ser usados indiferentemente,
explica que hermenêutica é como se denomina a técnica de interpretar, já interpretar é fixar
o sentido e o alcance de uma norma. Hermenêutica, é a teoria científica da interpretação,
enquanto a interpretação seria a prática que aplica os princípios da hermenêutica.
Esses conceitos de hermenêutica e interpretação podem ser mais bem compreendidos
a partir do seguinte exemplo: suponhamos que uma determinada lei tributária estabelece
que as empresas devem pagar um imposto sobre o lucro. No entanto, a norma não é
clara em relação à forma de calcular esse imposto. Nesse caso, a hermenêutica, enquanto
ciência, entra em cena oferecendo métodos para auxiliar na interpretação da lei. Em outras
palavras, a hermenêutica fornece as ferramentas essenciais para uma correta interpretação
da norma, definindo da melhor forma possível o seu sentido e alcance.
Assim, com base nos estudos teóricos da hermenêutica jurídica vamos estudar
adiante alguns métodos interpretativos desenvolvidos e que estão à disposição do intérprete
do direito.

ELEMENTOS INTERPRETATIVOS E MÉTODOS


INTERPRETATIVOS
Nader (2022) separa elementos interpretativos de métodos interpretativos. Para ele
são elementos interpretativos, necessários a interpretação da norma, o gramatical, também
chamado de literal ou filológico, o lógico, o sistemático, o histórico e o teleológico. Venosa
(2022) fala em meios, elementos, procedimentos, ou ainda, sentido. Optamos em fazer
uma junção do pensamento dos dois autores para apresentar tais meios ou elementos.
39

Elemento Gramatical
Venosa (2022, p.197) destaca que o início do processo interpretativo começa com o
texto da lei, seu sentido gramatical ou literal. “O exame do texto, a maior ou menor clareza
dos vocábulos, os tempos verbais, os advérbios, é a primeira análise nessa interpretação
gramatical”. Em sentido semelhante, Nader (2021, p.246), destaca que o interprete tem
como missão analisar o aspecto semântico das palavras empregadas no texto, da sintaxe,
da pontuação etc. Todavia, adverte que ele não pode se apegar a literalidade do texto, em
prejuízo mens legis, isto é, do espirito da lei.
Assim, ao interprete o elemento ou meio gramatical é apenas o início do processo
hermenêutico. A seguir, um exemplo prático:
A Constituição Federal de 1988, dispõe em seu artigo 5º, XI, que “a casa é asilo
inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador,
salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por
determinação judicial “. Neste mesmo artigo, em seu § 3º estabelece a seguinte redação:
“os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados,
em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos
respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais. Perceba, que há
tanto no inciso quanto no parágrafo o uso da palavra “casa”. Todavia, o sentido semântico é
diferente. Casa no inciso XI, em regra, significa local habitado por alguém, já no parágrafo
terceiro, significa as casas legislativas do Congresso Nacional, que no âmbito federal, é a
Câmara Federal e o Senado Federal.
O Código Penal inclusive tipifica o crime de violação do domicílio em seu artigo 150,
e em seu parágrafo § 4º e § 5º há uma explicação da expressão casa. Vejamos:

Art. 150 - Entrar ou permanecer, clandestina ou


astuciosamente, ou contra a vontade expressa ou
tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas
dependências:
(...)
§ 4º - A expressão «casa» compreende:
I - qualquer compartimento habitado;
II - aposento ocupado de habitação coletiva;
III - compartimento não aberto ao público, onde alguém
exerce profissão ou atividade.
§ 5º - Não se compreendem na expressão «casa»:
I - hospedaria, estalagem ou qualquer outra habitação
coletiva, enquanto aberta, salvo a restrição do n.º II do
parágrafo anterior;
II - taverna, casa de jogo e outras do mesmo gênero.”

Ainda assim, tem-se uma jurisprudência farta do STF sobre o que é casa ou que não
é casa.

Elemento lógico
Venosa (2022) explica que o sentido lógico está ligado ao sentido gramatical ou
literal. Isso porque o intérprete deve realizar uma interpretação lógica e concluir pelo que
faz sentido ou o que não faz sentido na norma jurídica. Ele subdivide o elemento lógico em
lógica interna, na qual se estuda a lei no seu corpo, por inteiro, todo os seus artigos, e na
lógica externa que procura ver a lei no contexto dos fatos.
40

Nader (2021) também apresenta a diferenciação entre lógica interna e logica externa.
Lógica interna explora os elementos fornecidos pela lógica formal e se limita ao estudo do
texto. A lógica externa investiga as razões sociais que ditaram a formação dos comandos
jurídicos.
Assim, o que se busca com elemento lógico é a coerência lógica na construção
do próprio texto legislativo com a realidade social, uma vez que são os fatos sociais que
orientam a formação do fenômeno jurídico, que deve ter correspondência lógica com as
circunstâncias que foram determinantes para a produção da norma jurídica.
Pode-se utilizar como exemplo o tipo penal de perseguição, presente no Código
Penal, especificamente no artigo 147-A. Este dispositivo está na seção I do capítulo VI do
Título I do Código Penal, que prevê os crimes contra a liberdade pessoal. O dispositivo traz
a conduta proibida, a pena correspondente e ainda é determinado que a ação penal esteja
condicionada à representação da vítima. Para uma análise interpretativa do tipo penal, o
intérprete deve considerar todos esses elementos, observando assim a topografia, o texto
do artigo, os parágrafos e outros aspectos relevantes a fim de compreender a lógica interna
do comando legal.
Além disso, é necessário explorar a lógica externa no contexto social, buscando
identificar as razões pelas quais o Legislador decidiu tipificar essa conduta de perseguição
como um tipo penal. Vale ressaltar que, de acordo com a concepção doutrinária majoritária,
o direito penal é considerado a última medida a ser adotada na resolução de conflitos
sociais, sendo o último recurso a ser utilizado. Portanto, sempre que possível, deve-se
buscar soluções encontradas em outros ramos do direito (GRECO, 2022; SANCHES,
2022). Vejamos abaixo o tipo penal mencionado

Perseguição

Art. 147-A. Perseguir alguém, reiteradamente e por


qualquer meio, ameaçando-lhe a integridade física ou
psicológica, restringindo-lhe a capacidade de locomoção
ou, de qualquer forma, invadindo ou perturbando sua
esfera de liberdade ou privacidade. (Incluído pela Lei nº
14.132, de 2021)
Pena – reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e
multa. (Incluído pela Lei nº 14.132, de 2021)
§ 1º A pena é aumentada de metade se o crime é cometido:
(Incluído pela Lei nº 14.132, de 2021)
I – contra criança, adolescente ou idoso; (Incluído pela
Lei nº 14.132, de 2021)
II – contra mulher por razões da condição de sexo
feminino, nos termos do § 2º-A do art. 121 deste Código;
(Incluído pela Lei nº 14.132, de 2021)
III – mediante concurso de 2 (duas) ou mais pessoas ou
com o emprego de arma. (Incluído pela Lei nº 14.132, de
2021)
§ 2º As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das
correspondentes à violência. (Incluído pela Lei nº 14.132,
de 2021)
§ 3º Somente se procede mediante representação.
(Incluído pela Lei nº 14.132, de 2021)

Assim, o intérprete deve sempre na interpretação considerar a lógica interna e


externa. A lógica interna abrange aspectos do próprio dispositivo, enquanto a lógica externa
diz respeito às razões sociais que levaram o Legislador a tipificar essa conduta como crime.
41

Elemento Sistemático
O elemento sistemático visa assegurar a ideia de que o ordenamento jurídico é
uno. Assim, cabe ao intérprete do Direito, conforme nos ensina Nader (2021), decidir
considerar todo o sistema jurídico de forma harmônica, pois embora existam diversos
ramos distintos do Direito, tais como Código Civil, Código Penal, Código Processual Civil,
leis extravagantes, o próprio texto da Constituição de 1988, todos fazem parte de um todo
comum, o ordenamento jurídico, que carrega consigo a característica da unicidade. Assim,
não há um dispositivo que seja autônomo ou autoaplicável “quando um magistrado profere
uma sentença, não aplica regras isoladas; projeta toda uma ordem jurídica ao caso concreto
(NADER, 2021, p.248) ”.
Venosa (2022) explica o elemento sistemático reforçando que o ordenamento
possui unidade e coerência e que norma alguma pode ser interpretada de forma isolada.
De tal forma que existe uma relação de conexão, subordinação e analogia. Em relação
a subordinação, por exemplo, uma norma estadual não pode conflitar com uma norma
federal, que por sua vez não pode conflitar com texto da Constituição de 1988, dado ser essa
a norma fundamental do nosso país, devendo as demais normas compatibilizarem-se com
texto constitucional.
A supremacia do texto constitucional é tamanha que se uma norma desrespeitar o
texto constitucional, estão os juízes autorizados a fazer controle de constitucionalidade. No
Brasil comporta duas espécies: o controle difuso, que pode ser feito por qualquer juiz e
tribunais e o controle concentrado, realizado em âmbito federal somente pelo Supremo
Tribunal Federal e no âmbito estadual, pelos Tribunais de Justiça. O primeiro, tem a
Constituição Federal como parâmetro e o segundo tem a Constituição Estadual, podendo
utilizar a Constituição Federal quando as normas forem de reprodução obrigatória (LENZA,
2022).

Elemento histórico
Vimos no capítulo 02 que a história é fonte do Direito, e aqui neste capitulo reforçamos
que também é um elemento interpretativo. Tendo em vista que o Direito não é algo estático
e está em constante transformação. Não se pode ignorar os acontecimentos históricos para
uma correta interpretação do texto legal. “Como força viva que acompanha as mudanças
sociais, o Direito se renova, ora aperfeiçoando os institutos vigentes, ora criando outros,
para atender o desafio dos novos tempos” (NADER, 2021, p.249).
Nesse mesmo sentido, Venosa (2022, p.198) indica o caminho pelo qual o
hermeneuta pode considerar a história na sua interpretação, estando a sua disposição
os “trabalhos preparatórios da lei, os anteprojetos e projetos, as emendas, as discussões
parlamentares”, entre outros aspectos sociais, econômicos e políticos que devem ser
levados em consideração.

O elemento histórico deve examinar o momento, a época


em que a lei foi editada. As condições políticas e sociais que
fizeram a lei surgir. Assim, por exemplo, se o intérprete
deve julgar algo em torno do nosso extinto “Plano
Collor”, deve-se reportar à época em que esse plano e as
leis consequentes foram editados. Leis editadas em época
de escassez devem receber interpretação diversa das leis
surgidas em época de fartura. O deslocamento histórico
do julgamento leva a uma errônea interpretação e a uma
decisão desajustada (VENOSA, 2022, p.198).

O Supremo Tribunal Federal já foi instado a responder, em sede de Ação Direta de


Inconstitucionalidade (ADI 2.076) se o preâmbulo do texto da Constituição era norma
42

de reprodução obrigatória nas Constituição Estadual e se o texto poderia ser considerado


parâmetro para controle de constitucionalidade por possuir relevância jurídica. Todavia,
a Suprema Corte entendeu que não possui força vinculante o preâmbulo e nem é norma
de reprodução obrigatória, mas é fonte de interpretação, uma vez que retrata o momento
histórico da época em que o texto constitucional vigente foi promulgado.

Elemento teleológico
No elemento teleológico o intérprete deve se ocupar em extrair a finalidade da lei.
Em outras palavras investiga os fins que a lei visa a atingir. Explicar Nader (2022) que o
Legislador ao elaborar uma lei, parte da ideia do fim a ser alcançado. De modo que, ele
busca atingir os interesses sociais que pretende proteger. Entretanto, não é somente a
busca do fim a partir da vontade do Legislador, mas o fim implícito que há na mensagem
da lei. Significa que o intérprete deve revelar inclusive abarcando os novos fins que a lei
tem por missão. Todavia, o autor assevera que o intérprete não está autorizado a buscar
a finalidade de forma discriminatória. “De um lado tem as coordenadas da lei e, de outro,
o novo quadro social e o seu trabalho se desenvolve no sentido de harmonizar os velhos
princípios aos novos fatos” (NADER, 2021, p. 249).
Por sua vez, Venosa (2022) exemplifica como o interprete deve considerar o elemento
teleológico na sua interpretação da norma.

O elemento teleológico ou racional busca o sentido maior


da norma, o seu alcance, sua finalidade, seu objetivo
prático dentro do ordenamento e para a sociedade.
Constitui a razão de ser da lei, a ratio legis. Se uma lei, por
exemplo, foi editada com o sentido de diminuir ou evitar
a inflação monetária, para restringir o consumo, nesse
sentido deve ser interpretada. Busca-se o sentido social
para o qual a lei foi editada (VENOSA, 2022, p.199).

Elemento Sociológico
Por fim, destacamos o elemento sociológico, que por vezes é apresentado como o
subelemento do elemento lógico, como lógica externa. Maximiliano, Carlos, e Alysson
Marcaro (2021, p.114) afirmam que o sociológico é o sistema que obriga o magistrado “a
aplicar o texto de acordo com as necessidades da sociedade contemporânea, a olhar menos
para o passado do que para o futuro, a tornar-se um obreiro, inconsciente ou consciente,
do progresso”.
Nessa perspectiva, o juiz deve considerar o que dispõe a lei, mas considerar aspectos
do seu tempo, buscar nos indicadores, nos dados, informações que possam auxiliar a justa
aplicação do direito.

A LÓGICA DO RAZOÁVEL E A APLICAÇÃO DA PONDERAÇÃO


A lógica do Razoável foi desenvolvida por Recaséns Siches, em função da teoria e da
prática jurídica do sec. XIX, na qual se buscavam métodos da matemática, da físicas e outras
ciências da natureza ao campo do Direito. Ocorre que o Direito é uma ciência interpretativa
sobre problemas relacionados à conduta humana. Logo tal aproximação era incompatível,
razão pela qual o autor propõe o uso de critérios de valoração, de pautas axiológicas no
âmbito da hermenêutica jurídica. Nader (2021) assim sintetiza o seu pensamento,

Entende Recaséns Siches que o Direito, como toda obra


humana, é circunstancial, dependendo das condições,
das necessidades sentidas e dos efeitos que se trata de
43

produzir mediante uma lei. A interpretação do Direito


deve levar em consideração as finalidades das normas
jurídicas. A solução satisfatória, extraída da lei e da
realidade dos fatos, não pode ser contra legem. O autor
defende a fidelidade do intérprete à mens legis (NADER,
2021, p.249).

Nader (2022) destaca ainda, que a lógica do razoável influenciou a formação


do moderno princípio hermenêutico da razoabilidade e proporcionalidade. De uso
constante em nossos tribunais, principalmente quando estamos diante de colisões de
direitos fundamentais. Por exemplo, o STF decidiu que fetos que são diagnosticados com
anencefalia, confirmados por laudos médicos, a mãe pode, com certeza de irreversibilidade
da situação, interromper sua gravidez (ADPF nº54). Ocorre, que o Código Penal no artigo
128 somente autoriza o aborto legal em determinadas circunstâncias, quais sejam: se não
há outro meio de salvar a vida da gestante; se a gravidez resulta de estupro e o aborto é
precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.
Pois bem, se de um lado temos o debate sobre a não ´previsão dessa nova modalidade
penal, e, debates jurídicos sobre a proteção da vida do nascituro, do outro temos uma
mulher que está gestando um feto que não terá condições de sobrevivência, haja vista
que há irreversibilidade da situação diagnosticado por um laudo médico. Ou seja, o feto
não sobreviverá. Diante da análise das teses jurídicas, o STF incluiu, por meio de sua
jurisprudência, uma nova possibilidade legal de interrupção de gestação.
Para chegar a essa terceira possibilidade, a Corte precisou utilizar a técnica de
ponderação e aplicar os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade. Barroso (2022)
explica inicialmente que o intérprete deve ter como norte o princípio da razoabilidade,
como sendo a medida da justiça. Não podendo o juiz agir, na interpretação da norma,
com arbitrariedade e com capricho. Em seguida, ele explica a técnica de ponderação,
apresentando ao intérprete um método que pode ser utilizado na análise do caso concreto.
O método consiste em separar as normas que são aplicadas no caso concreto e que estão
em colisão, em seguida os fatos que são relevantes para a interpretação e, por fim, decidir
utilizando como parâmetro o princípio da proporcionalidade desenvolvido pelo Alemão
Robert Alexy. Tal princípio exige do intérprete considerar três subprincípios em relação a
sua decisão: adequação; necessidade e proporcionalidade no sentido estrito.
Aplicando ao caso dos fetos anencefálicos a técnica de ponderação e os princípios da
razoabilidade e da proporcionalidade, pode-se inferir que os Ministros da Suprema Corte
tiveram que responder e encontrar o elemento justiça na decisão tomada. Exemplificando,
eles consideram adequada a medida, não tendo outra forma de se promover justiça
em relação a mãe, que pode optar em continuar ou não continuar com a gestação, com
todos os perigos que ela possa representar, sem incorrer na conduta típica do crime de
aborto; necessária para não causar mais danos psicológicos e físicos às mães e, por fim, é
proporcional no sentido estrito de ser uma decisão justa.
É importante destacar que a interrupção da gravidez ainda continua sob o domínio
da mãe, mas se decidir pela interrupção não será considerada uma conduta típica.
Neste capítulo apresentamos os principais elementos e métodos interpretativos
fornecidos pela ciência hermenêutica jurídica, que cumpre um papel essencial na
interpretação do Direito. Analisamos o elemento gramatical, que considera o significado
das palavras; o elemento lógico, que busca a coerência interna e externa do sistema jurídico;
o elemento sistemático, que leva em conta a relação entre as normas; o elemento histórico,
que considera os acontecimentos histórico de criação da norma; o elemento teleológico,
que busca a finalidade da norma; e o elemento sociológico, que considera a realidade social.
Além disso, abordamos a lógica do razoável, a técnica de ponderação e a aplicação dos
princípios da razoabilidade e proporcionalidade, principalmente pelo STF. Sem dúvida, ao
compreender e aplicar esses elementos e métodos, é possível realizar uma interpretação
mais completa e adequada do Direito.
44

Assim, terminamos o nosso estudo e espero que você tenha compreendido a


importância da hermenêutica jurídica e seus elementos interpretativos. Agora, seguem
atividades para medir sua capacidade de assimilação do conteúdo exposto nesta aula.

ATIVIDADES

O filósofo Charles de Montesquieu costumava dizer: “Quando vou a um país, não


examino se há boas leis, mas se as que lá existem são executadas, pois boas leis hão por toda
a parte. “Como o escritor francês não se referiu especificamente ao Brasil, pode-se supor
que em muitos lugares, há mais de dois séculos, as leis nem sempre “pegam”.
Trecho de reportagem feito por Gil Castello Branco publicado no Globo e republicado na revista Veja,
31 de julho de 2022.

1. Considerando o importante papel da lei e o método/elemento gramatical avalie as


assertivas a seguir.
I - O elemento gramatical se ocupa tão somente com o texto da lei, seu sentido
gramatical ou literal.
II - O elemento gramatical tem como missão analisar o aspecto semântico das
palavras empregadas no texto, da sintaxe, da pontuação etc.
III - O elemento ou meio gramatical é apenas o início do processo hermenêutico,
devendo o intérprete do direito utilizar também outros métodos de forma conjunta

É correto o que se afirmar em

a) I, apenas.
b) III, apenas.
c) I e II apenas.
d) II e III, apenas.
e) I, II e III.

2. Sobre elemento sociológico, marque alternativa correta.

a) No elemento teleológico o intérprete deve se ocupar em extrair a finalidade da lei.


Em outras palavras investiga os fins que a lei visa a atingir.
b) No elemento teleológico o intérprete deve se ocupar com a lógica da lei, que se
divide em lógica interna e logica externa.
c) No elemento teleológico o intérprete deve se ocupar em extrair a origem das
normas, uma vez que os institutos jurídicos são frutos de momentos históricos.
d) No elemento teleológico o intérprete deve se ocupar em extrair todo o sistema do
ordenamento jurídico, compreendo que ele tem como característica a unicidade.
e) No elemento teleológico o intérprete deve se ocupar em extrair o aspecto
sociológico, uma vez que deve considerar os fatos sociais.

3. Barroso (2022), esclarece que princípio da razoabilidade serve de “um parâmetro


de avaliação dos atos do Poder Público para aferir se eles estão informados pelo valor
superior inerente a todo ordenamento jurídico: a justiça.”

Com base no texto, marque assertiva correta sobre a lógica do razoável

a) O princípio da proporcionalidade se divide em três subprincípios: adequação,


45

necessidade e proporcionalidade no sentido estrito


b) A lógica da razoável embora tenha sido aplicada em outros países, no Brasil não
é utilizada.
c) O princípio da razoabilidade divide-se em três subprincípios: adequação,
necessidade e proporcionalidade no sentido estrito
d) A lógica do razoável pode ser aplicada no Brasil, mas somente pelo STF, quando
faz controle de constitucionalidade pelo controle concentrado.
e) A lógica do razoável contrapõe-se aos outros elementos interpretativos, sendo
ideal ao intérprete do direito utilizar somente o elemento gramatical.
46

CAPÍTULO V - DIREITO OBJETIVO E SUBJETIVO E AS


INSTITUIÇÕES DE DIREITO PÚBLICO E PRIVADO

INTRODUÇÃO
Olá, retornaremos nossos estudos sobre a ciência do direito e neste capítulo, em
especial, vamos distinguir o que é Direito objetivo e Direito subjetivo. Muito importante
para entender a correlação entre a norma positivada e o Direito de ação assegurado ao
indivíduo que tem o seu direito violado.
Apresentaremos ainda as subdivisões do Direito em Direito público e Direito privado.
No final, apresentaremos a crítica de que atualmente tal divisão é utilizada meramente
como recurso didático, em função do fenômeno da publicização do direito privado.
Vamos começar!

DIREITO OBJETIVO E SUBJETIVO


Nader (2021) nos explica que o Direito vigente pode ser analisado sob dois ângulos
diferentes: objetivo ou subjetivo. Em sua definição, o Direito Objetivo é a norma de
organização social, que é chamado de Jus norma agendi. Venosa (2022, p.11) dispõe de
forma semelhante ao afirmar que o “direito objetivo é constituído por um conjunto de
regras destinadas a reger um grupo social, cujo respeito é garantido pelo Estado (norma
agendi) ”. Assim, pode-se afirmar que se trata das normas de uma determinada sociedade
que exercem poder de comando a todas as pessoas de forma indistinta. Ou seja, não é uma
prerrogativa do indivíduo obedecer ou não ao comando da lei, a norma existe e deve ser
obedecida por todos.
No nosso ordenamento jurídico, por exemplo, existe a previsão expressa de que a
vigência de uma norma está condicionada à sua devida publicação por um veículo oficial
para fins de divulgação. Isso ocorre porque, entre outras razões, a Lei de Introdução ao
Estudo do Direito Brasileiro, no art. 3º, estabelece que “ninguém pode se escusar de cumprir
a lei, alegando que não a conhece”. Portanto, ninguém pode alegar desconhecimento da lei
como justificativa para não cumpri-la. No entanto, é importante destacar o que nos ensina
Ferraz Jr (2022) sobre a publicação da norma e a possibilidade de certa ignorância em
relação à própria norma, mesmo que ela tenha sido publicada, devido à sua complexidade
e dificuldade técnica de compreensão. A publicação da norma significa que ela deve ser
levada em consideração e obriga a todos, independentemente de qualquer distinção, a
respeitar o seu conteúdo legal. No entanto, é reconhecido que pode haver certa falta de
conhecimento sobre a existência da norma ou até mesmo sobre o seu conteúdo.
Dessa forma, não está incorreta a afirmação de que o Direito Objetivo pode ser
entendido como o Direito Positivo, o qual possui eficácia contra todos. Por exemplo, no
Direito Penal Brasileiro, o princípio da legalidade é fundamental. Isso significa que uma
conduta só se torna crime em nosso país quando é definida por lei. Uma vez que a norma é
editada e publicada, todos, sem exceção, devem respeitar o comando da lei positivada, sob
pena de responsabilidade penal.
Em relação ao Direito Subjetivo, conforme destacado por Nader (2021), refere-se
à possibilidade ou aos poderes de agir que a ordem jurídica garante a alguém, conhecido
como Jus facultas agendi.

O direito subjetivo é um direito personalizado, em que


a norma, perdendo o seu caráter teórico, projeta-se na
relação jurídica concreta, para permitir uma conduta ou
estabelecer consequências jurídicas. Quando dizemos
que “fulano tem direito à indenização”, afirmamos que
ele possui direito subjetivo. É a partir do conhecimento
do Direito objetivo que deduzimos os direitos subjetivos
47

de cada parte dentro de uma relação jurídica (v. item


168). (NADER, 2021, p.74)

Venosa (2022) destaca que o Direito Subjetivo confere ao indivíduo a possibilidade de


agir para fazer valer seus “direitos”, tanto no âmbito judicial quanto extrajudicial. Portanto,
trata-se de uma facultas agendi, ou seja, uma faculdade de agir em busca de reparação ou
punição daquele que viola a norma.
No entanto, como Nader (2021) afirma, não há oposição entre o Direito Objetivo
e o Direito Subjetivo. Na verdade, eles são realidades interligadas. Isso ocorre porque a
faculdade de agir em um caso concreto é fundamentada no embasamento fornecido pelo
Direito Objetivo. Assim, por exemplo, um credor pode, de acordo com a lei civil, tomar
medidas legais contra um devedor que deixou de pagar. Essa faculdade de agir encontra
respaldo no Direito Objetivo.

AS SUBDIVISÕES CONCEITUAIS E DIDÁTICAS DO DIREITO


PÚBLICO E DIREITO PRIVADO
Paulo Nader (2021) faz um apanhado de autores que apresentam esse debate inicial
sobre a divisão conceitual do Direito entre os ramos do Direito Público e os de Direito
Privado. Para aqueles que negam a divisão, não há qualquer validade teórica e alcance
prático à distinção. Tal divisão foi criada pelos jurisconsultos romanos, estava ligada às
necessidades históricas, hoje inexistentes. Além disso, é falso o pressuposto de que o
Direito é obra do Estado, pois na realidade, o Estado tem como finalidade reconhecer o que
se origina nas relações subjetivas dos indivíduos.
Venosa (2022) também problematiza a existência na atualidade dessas divisões
conceituais entre Direito Público e Direito Privado. Ele nos ensina, que a divisão tem uma
utilidade didática, mas é importante destacar que hoje há uma completa interpenetração
de campos jurídicos, de forma mais ou menos profunda. Ele explica ainda que pode ocorrer
que entidades ou pessoas jurídicas de direito público ajam como particulares. Quando elas
atuam como particular, embora sejam pessoas jurídicas de pessoas públicas, as regras a
serem aplicadas são aquelas previstas nas normas de direito privada. Por exemplo, a Caixa
Econômica Federal desenvolve atividade bancária que é uma atividade privada, como age
como particular deve ser tratada pelas normas do Direito Privado, ainda assim, isso não
afasta a necessidade da empresa respeitar as regras e princípios aplicados às pessoas de
Direito Público.
O autor continua explicando que o Estado interfere com muita frequência, ao impor
sua vontade, impedido a iniciativa e autonomia do particular, por meio de normas que são
consideradas inderrogáveis pela vontade dos interessados.
Cabe destacar ainda, que a discussão sobre a existência da divisão entre Direito
Público e Direito Privado está no campo da disputa de hegemonia, travada entre as ideias
filosóficas e econômicas sobre o liberalismo e o socialismo. Assim explicada por Nader
(2002)

Para o liberalismo, o fundamental e mais importante é o


Direito Privado, enquanto o Direito Público é uma forma
de proteção ao Direito Privado, especialmente ao Direito
de propriedade. A radicalização do liberalismo constitui
o anarquismo, que pretende a privatização absoluta
do Direito. O socialismo, ao contrário, reivindica uma
progressiva publicização, admitindo a permanência de
uma reduzida parcela de relações sociais sob o domínio
do Direito Privado, passível ainda de interferência do
Estado, desde que reclamada pelos interesses sociais.
48

O interessante documentário disponível no canal Filosofia na Escola explica as


diferenças entre liberalismo e o socialismo de uma maneira bem prática, abordando
questões do nosso cotidiano. Acesse o link e compreenda melhor https://www.youtube.
com/watch?v=QOmFyRpTvFM.

A TEORIA MONISTA DE HANS KELSEN E AS TEORIAS


DUALISTAS
De acordo com Paulo Nader (2021), citando Hans Kelsen em sua obra Teoria Pura
do Direito, não existe essa dicotomia entre Direito Público e Direito Privado. Ele explica
que para Kelsen, o direito se baseia na vontade do Estado, o que faz com que ele seja público
tanto em sua origem quanto em sua validade. Dessa forma, o Direito Privado só é viável em
virtude do Direito Público. Nessa concepção, Kelsen, defensor da teoria monista do Direito,
afirma que não há uma bipartição do Direito Positivo em Público e Privado.
Todavia, existem as teorias dualistas que consideram essa repartição, segundo Paulo
Nader, podem ser classificadas em teorias em dois grupos: teorias substancialistas e teorias
formalistas. Ora sustentam sua argumentação jurídica no conteúdo, ora na forma das
normas jurídicas.
Diante do debate posto, nos posicionamos ao lado dos estudiosos do Direto que
consideram que hoje essa divisão é mais relevante para o uso didático do direito. Pois,
como vimos nos capítulos anteriores, o Direito tem como uma das características a
unicidade, portanto esse sempre precisa ser visto e estudado como um todo. Concordamos
com Venosa (2022), que destaca que o fenômeno jurídico exige conhecimento e exame
de regras de vários ramos. Ou seja, todos, ainda que especialistas em um determinado
ramo, devem conhecer os outros ramos do Direito. “O jurista, desse modo, deve encarar
cada fato social como uma peça da grande engrenagem que é o Direito. O especialista em
direito público deve valer-se com frequência de princípios de direito privado e vice-versa”
(VENOSA, 2022, p.20). Em outras palavras, mesmo alguém que é especialista em Direito
Civil, que se encontra no âmbito do Direito Privado, precisa também compreender de
Direito Constitucional, que é um ramo do Direito Público.
Apresenta-se a seguir, a divisão dos ramos do direito, organizados em tabela,
segundo o que nos ensina Marcelo Grillo (2019, p.20), em seu livro sobre Instituições de
Direito Público e Privado.
49

Tabela 1. Direito Público e Direito Privado: Finalidade, características e distinções.

Direito Publico Finalidade Direito Características e distinções


Privado
Direito Organiza a estrutura Direito Civil O direito civil é o grande
constitucional do Estado, define a ramo representativo do
função de seus órgãos e Direito Privado, o seu
estabelece os direitos e as mais extenso braço. No
garantias fundamentais passado, ainda no início
da pessoa humana. do Estado moderno, o
Direito Civil era o grande
tronco da árvore jurídica.
Dele saíram os demais
ramos do Direito, em
um movimento parecido
com o que houvera com
a filosofia em tempos
mais remotos, da qual
se derivaram diversos
conhecimentos humanos,
formando campos
autônomos do saber,
como a biologia, a física,
a matemática e a ciência
política.
Direito Conceitua a Direito Traz normas que cuidam
Administrativo administração pública Empresarial das relações jurídicas
e sua atividade. Trata atinentes às empresas.
também de disciplinar Cuida de disciplinar
os serviços públicos normativamente a
prestados pelo poder atividade empresarial.
público à sociedade, Nele estão contidos a
discorrendo acerca de forma de constituição
suas normas e princípios. das empresas, o
desenvolvimento de suas
atividades, a composição
dos sócios da empresa,
seus direitos e obrigações,
os procedimentos e
processos referentes à
recuperação e falência
das empresas, as relações
de créditos e débitos
vinculadas por títulos,
dentre outras questões
relativas à atividade
empresarial.
50

Direito Cuida das despesas e das


Financeiro receitas públicas. Cabe
ao direito financeiro
disciplinar o emprego
correto das verbas
públicas a fim de bem
atender ao interesse
coletivo.
Direito
Previdenciário
Direito Este ramo específico
Tributário do direito disciplina
e estuda as relações
entre o Estado (fisco)
e os contribuintes, na
imposição, fiscalização e
arrecadação de tributos,
ao prescrever, para
tanto, as competências
tributárias dos entes
federativos – União
Federal, Estados-
membros e Municípios –
e as obrigações e direitos
dos contribuintes.
Direito tem por finalidade
Ambiental garantir a manutenção
do meio ambiente
equilibrado e sadio.
Tratam-se de normas
de Direito Público
de resguardo do
meio ambiente e,
consequentemente, de
proteção à coletividade,
ao impor ao infrator
as penalidades
administrativas, civis ou
penais.
51

Direito o ramo do direito público


Internacional externo que disciplina as
Público relações entre os Estados
soberanos, os blocos
regionais (Mercosul,
União Europeia) ou
mesmo entre estes
e as organizações
internacionais (OMC,
FMI). Tem como
fontes normativas os
costumes, as convenções
internacionais e os
tratados internacionais.
Orienta-se também
pelos princípios gerais
do Direito reconhecidos
pelas nações civilizadas.
Direito compõe o conjunto de
Internacional normas e princípios
Privado jurídicos que objetiva
dizer qual ordenamento
jurídico deverá
ser aplicado a um
determinado caso,
quando houver dúvidas
sobre a competência
jurídica, ou seja,
incerteza sobre qual
direito estatal haverá de
prevalecer frente a um
caso concreto. Portanto,
a esse ramo do Direito
cabe indicar as leis de
qual nação soberana se
aplicam a dada situação
concreta.
Direito do Dispõe sobre as
Consumidor relações de consumo
na sociedade. Em
outras palavras, nesse
ramo do Direito
encontram-se regras
atinentes à produção e
distribuição de bens e ao
fornecimento de serviços
para os consumidores,
com a intenção de
conter práticas abusivas
dos produtores e
fornecedores.
52

Direito Eleitoral Cuida da normatização


do procedimento de
eleição, do processo
judicial eleitoral e das
normas referentes às
restrições impostas aos
candidatos nas eleições.
É um direito de controle
do processo eleitoral,
para que ele ocorra com
a lisura e a transparência
necessárias no
respeito aos valores
constitucionais da
democracia e da
cidadania.
Direito Penal É o ramo do Direito
Público que define
os crimes e prevê
abstratamente as
respectivas penas. No
plano legal, criam-se os
delitos e estabelecem-
se as penas. O Estado,
no intuito de manter o
controle social, incrimina
fatos reputados como
de grande ou relativa
gravidade social. Não
deverá incriminar fatos
de pouca gravidade
social.
Direito Tem por finalidade
Processual resguardar a
Penal coletividade, ao
estabelecer um caminho
ritualístico às decisões
judiciais que restrinjam
provisoriamente a
liberdade do acusado,
ou a restrinjam, ao
final, por uma sentença
condenatória ou, ainda,
constatem a não culpa do
acusado, absolvendo-o.
53

Direito do Fixa as normas


Trabalho jurídicas que dizem
respeito à prestação
do trabalho humano,
quando presentes as
condições jurídicas do
vínculo empregatício.
Visa resguardar
os trabalhadores,
com a prescrição de
diversos direitos a
estes e obrigações aos
empregadores.
Direito Essa seara do Direito
Processual Civil é responsável pelo
desenvolvimento do
processo judicial,
ao dispor sobre os
princípios processuais,
as partes no processo,
seus direitos e deveres,
o juiz, os auxiliares
da justiça e os
procedimentos judiciais
que desembocarão,
ao final, na precípua
prestação jurisdicional,
que é a sentença ou
acórdão, atos jurídicos
últimos capazes de
realizar os direitos
subjetivos tutelados.
Igualmente, ao Direito
Processual assistem a
regulamentação das
regras sobre os recursos
e as impugnações das
decisões judiciais.

Fonte: Tabela organizada pela autora, retirada do livro Marcelo Grillo (2019, p.20).

Apesar de apresentar a divisão dos ramos do direito público e privado, nos interessa
problematizar a posição contemporânea de que na verdade uma falsa dicotomia entre
Direito Público e Privado e o fenômeno da publicização do direito privado, como veremos
a seguir.

A FALSA DICOTOMIA ENTRE DIREITO PÚBLICO E DIREITO


PRIVADO: FENÔMENO DA PUBLICIZAÇÃO DO DIREITO
PRIVADO
Em função da interferência do Estado nas relações privadas, tem-se atualmente
um debate sobre a publicização do Direito Privado. Como característica desse fenômeno,
Venosa (2022) apresenta: a) A interferência do Estado ocorre no âmbito das liberdades
individuais, mesmo nos Estados considerados democráticos e, b) a existência de fórmulas
54

para proteger o Estado por meio do direcionamento de condutas impostas ao indivíduo.


Em relação a esse último, o autor explica que se trata de mecanismos de autodefesa
impostos pelo Estado em benefício, em princípio, do próprio ser humano e sua dignidade.
Assim, hoje encontram-se mitigadas as regras do Direito Privado, tais como aplicação do
princípio da autonomia da vontade no direito contratual, ou ainda a incorporação de regras
e princípios, como é o princípio da dignidade humana, em ramos como direito econômico
e o direito do consumidor.
No Brasil, por exemplo, em função do Código de Defesa do Consumidor (CDC),
há uma maior proteção àqueles que adquirem produto e/ou serviços do fornecedor. Isso
acontece, porque o consumidor é considerado hipossuficiente nas relações consumeristas,
cabendo ao Estado atuar para garantir uma igualdade material entre as partes. Imagine
por exemplo, alguém que compre um produto nessas grandes lojas de varejo no Brasil e o
produto possui defeito de fábrica. Certamente, se não houvesse o CDC para equilibrar as
relações de consumo, dificilmente a empresa seria responsabilizada.
Há assim no ordenamento jurídico brasileiro autorização para o Estado intervir em
função da aplicação da eficácia horizontal dos diretos fundamentais entre os particulares.
No passado, quando a divisão entre Direito Público e Direito Privado era mais acentuada,
prevalecia a ideia de eficácia vertical dos direitos fundamentais, como forma de proteger os
particulares em relação ao arbítrio do Estado. Buscava-se limitar os poderes do Estado. Mas
como a adoção de textos constitucionais escritos por vários países tem-se o fortalecimento
dos direitos fundamentais, principalmente após a Segunda Guerra Mundial, superando a
ideia de eficácia vertical e adotando a eficácia horizontal dos Direitos Fundamentais.
Voltamos para o nosso exemplo prático, a defesa do consumidor é, por uma exigência
prevista na Constituição de 1988, artigo 5º, que dispõe que “compete ao Estado promover
na forma da lei a defesa do consumidor”. De modo que, o CDC foi criado em sintonia com
a ideia de que os direitos fundamentais devem prevalecer nas regras de consumo, ainda
que sejam atividades privadas e não propriamente públicas. Teodoro (2021, p.12), explica
que houve uma “irradiação dos princípios e valores constitucionais a todo o ordenamento
jurídico tem por consequência a aplicação direta da Constituição às relações privadas,
conferindo eficácia horizontal aos direitos fundamentais”.
Mendes e Cavalcante Filho (2022) explicam as diferenças entre a eficácia vertical e
horizontal no âmbito dos Direitos Fundamentais da seguinte forma.

Antigamente se pensava que os direitos fundamentais


incidiam apenas na relação entre o cidadão e o Estado.
Trata-se da chamada “eficácia vertical”, ou seja, a eficácia
dos direitos fundamentais nas relações entre um poder
“superior” (o Estado) e um “inferior” (o cidadão).Em
meados do século XX, porém, surgiu na Alemanha a
teoria da eficácia horizontal dos direitos fundamentais,
que defendia a incidência destes também nas relações
privadas (particular-particular). É chamada eficácia
horizontal ou efeito externo dos direitos fundamentais
(horizontalwirkung), também conhecida como eficácia
dos direitos fundamentais contra terceiros (drittwirkung).
Em suma: pode-se que dizer que os direitos fundamentais
se aplicam não só nas relações entre o Estado e o cidadão
(eficácia vertical), mas também nas relações entre os
particulares-cidadãos (eficácia horizontal).
55

A TV cultura fez uma excelente reportagem sobre o Código do Consumidor quando


a norma completou 30 anos. Acesse o link e assista ao vídeo: https://www.youtube.
com/watch?v=4Nc8uvEdNV4

No âmbito dos estudos do Direito Constitucional, os constitucionalistas falam que


temos na atualidade a constitucionalização do Direito Civil. Barroso (2022), explica o
fenômeno da seguinte forma:

O direito privado, especialmente o direito civil,


atravessou os tempos sob o signo da livre-iniciativa e
da autonomia da vontade. As doutrinas individualista
e voluntarista, consagradas pelo Código Napoleônico
(1804) e incorporadas pelas codificações do século XIX,
repercutiram sobre o Código Civil brasileiro de 1916182.
A liberdade de contratar e o direito de propriedade
fundiam-se para formar o centro de gravidade do sistema
privado. Ao longo do século XX, todavia, esse quadro se
alterou. A progressiva superação do liberalismo puro pelo
intervencionismo estatal trouxe para o domínio do direito
privado diversos princípios limitadores da liberdade
individual e do primado da vontade, denominados
princípios de ordem pública. Em domínios como o direito
de família – em que, desde sempre, vigoraram limitações
decorrentes da religião e da moral –, de propriedade e do
trabalho ainda subsiste a influência decisiva da vontade
e do consenso na formação das relações jurídicas, mas
seus efeitos são comumente determinados pela lei, e
não pelas partes184. A proliferação de normas cogentes,
indisponíveis pelos contratantes, assinala a denominada
publicização do direito privado.Já mais próximo da
virada do século, esse processo se aprofunda, dando
lugar a um novo desenvolvimento dogmático, referido
pela doutrina como constitucionalização do direito civil
(BARROSO, 2022, p.27).

Schreiber (2013) apresenta um conceito do direito civil-constitucional. Para ele é


uma corrente metodológica que defende a necessidade de permanente releitura do Direito
Civil à luz da Constituição. Ele explica que o termo releitura não deve ser entendido de
modo restritivo. Isso significa, que não é apenas recorrer à Constituição para interpretar
as normas ordinárias de Direito Civil, o que seria compreendido no campo da aplicação
indireta da Constituição. É, na verdade, reconhecer que as normas constitucionais podem
e devem ser diretamente aplicadas às relações jurídicas estabelecidas entre particulares.
Ou seja, as normas constitucionais são de aplicação imediata. Todavia, destaca que a rigor,
para o Direito Civil Constitucional “não importa tanto se a Constituição é aplicada de modo
direto ou indireto (distinção nem sempre fácil). O que importa é obter a máxima realização
dos valores constitucionais no campo das relações privadas” (SCHEREIBER, 2013, p. 6).
Há inúmeras as decisões atualmente dos nossos tribunais, registrando que as relações
privadas estão no âmbito do Direito Civil constitucionalizado. Vejamos a interessante
ementa na qual o juiz destaca aplicação do que estamos debatendo.
56

DIREITO CIVIL. CONSUMIDOR. AGRAVO


DE INSTRUMENTO. CONTRATO DE MÚTUO
FINANCEIRO COM AMORTIZAÇÃO EM CONTA
BANCÁRIA. DESCONTO DA INTEGRALIDADE
DOS VALORES DEPOSITADOS A TÍTULO DE
REMUNERAÇÃO. LIMITAÇÃO EM TRINTA POR
CENTO. POSSIBILIDADE. DIGNIDADE DA PESSOA
HUMANA. CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO DIREITO
CIVIL. EFICÁCIA HORIZONTAL DOS DIREITOS
FUNDAMENTAIS. MÍNIMO EXISTENCIAL. FIXAÇÃO
DE MULTA DIÁRIA EM RAZÃO DE EVENTUAL
DESCUMPRIMENTO. DEVOLUÇÃO DE VALORES
JÁ DESCONTADOS. IMPOSSIBILIDADE EM SEDE
DE AGRAVO DE INSTRUMENTO. INSTABILIDADE.
RISCO À SEGURANÇA JURÍDICA. 1. O presente caso
vincula-se ao princípio da dignidade da pessoa humana,
com status de fundamento da República, cujos efeitos, na
linha da interpretação contemporânea, não se limitam
ao âmbito das relações entre cidadãos e Estado, mas
repercutem também na esfera das relações privadas. É
a chamada eficácia horizontal dos direitos fundamentais,
teoria abraçada pela jurisprudência pátria desde o
emblemático julgamento do Recurso Extraordinário nº
201.819/RJ pelo Supremo Tribunal Federal. 2. Ainda
que se suscite a eventual ausência de regramento próprio
disciplinando a limitação de percentual de desconto a
ser efetuado em contratos de empréstimo contraídos
diretamente sobre a conta bancária, não se afigura
razoável, num Estado Democrático de Direito, admitir
que um indivíduo seja reduzido à miséria com o fim
de satisfazer credores. 3. Com constitucionalização do
direito civil, o princípio da autonomia privada deixa de
ser tido como absoluto e passa a ser lido a partir da nova
tábua axiológica que condiciona todo o sistema jurídico
através da consagração de princípios como o da função
social do contrato, o da boa-fé objetiva, e, especialmente,
o da dignidade da pessoa humana. 4. Privilegiando a
interpretação que confere maior efetividade aos direitos
fundamentais da pessoa humana, deve-se reconhecer, em
face das peculiaridades do caso concreto, a possibilidade
de limitação dos descontos efetuados na conta bancária
do agravante a trinta por cento dos valores ali depositados
a título de remuneração. 4. Impossível deferir, em sede
de agravo de instrumento, a devolução dos valores que
já foram descontados anteriormente à decisão liminar,
o que poderia causar instabilidade e risco à segurança
jurídica a depender da sorte final da pretensão deduzida
na origem. 5. Recurso conhecido e parcialmente
provido. (TJ-DF 07077756320178070000 DF 0707775-
63.2017.8.07.0000, Relator: GISLENE PINHEIRO,
Data de Julgamento: 13/09/2017, 7ª Turma Cível, Data
de Publicação: Publicado no DJE : 19/09/2017 . Pág.:
Sem Página Cadastrada.)
57

Para complementar seu estudo, indicamos que assista ao vídeo produzido pelo
“Canal tudo mapeado” que traz de uma forma simplificada a existência do Direito e a
existência das normas jurídicas, em especial a Constituição. Tema do nosso próximo
capítulo Acesse: https://www.youtube.com/watch?v=EWDiT2Dh8P8&t=7s

Neste capítulo, exploramos as distinções entre o Direito Objetivo e o Direito Subjetivo,


examinando as subdivisões conceituais e didáticas do Direito Público e do Direito Privado.
Apresentamos a teoria monista de Hans Kelsen, bem como as teorias dualistas. Além disso,
discutimos a falsa dicotomia frequentemente estabelecida entre essas áreas do Direito,
ressaltando o fenômeno da publicização do Direito Privado.
Chegamos ao final e agora vamos seguir para algumas atividades.

ATIVIDADES
O Direito Objetivo é distinto do Direito Subjetivo, todavia, são institutos
complementares. Ou seja, não há oposição entre eles, e sim complementação.

1. Considerando o texto, avalie as assertivas a seguir.


I). O Direito Subjetivo assegura a faculdade do indivíduo agir judicialmente diante
de uma violação do seu direito objetivo.
II). Hans Kelsen é um dos principais autores que considerava relevante a dicotomia
existente entre Direito Subjetivo e Direito Objetivo
III). O Direito Objetivo pode ser traduzido a partir do Direito Positivado. Como por
exemplo, o direito penal brasileiro, que tem como referência, mas não somente, o
Código Penal de 1943.

É correto o que se afirmar em

a) I, apenas.
b) III, apenas.
c) I e II apenas.
d) II e III, apenas.
e) I e III, apenas.

2. Sobre Direito Público e Direito Privado assinale a alternativa correta.

a) Prevalece na atualidade uma rigorosa compreensão de que existem ramos do


Direito Público e Direito Privado.
b) Ainda que exista a divisão entre Direito Público e Direito Privado, tal divisão é
utilizada na atualidade, somente para fins didáticos. Fala-se atualmente na existência
de uma falsa dicotomia entre esses dois ramos.
c) O Direito do Trabalho, por tratar das relações trabalhistas entre empregador e
empregado, não admite interferência das normas de Direito Público, uma vez que é
um dos ramos do Direito Privado.
d) O Direito Financeiro é ramo do direito público privado e tem como finalidade
58

normatizar as relações empresariais


e) O Direito Civil é ramo do direito privado, e não admite na atualidade nenhuma
interferência das normas de direito público, sobretudo aquelas do Direito
Constitucional.

3. Há hoje o fenômeno conhecido como publicização do Direito Privado. Tal


fenômeno autoriza a interferência do Estado nas relações privadas quando estamos diante
de interesses sociais, sejam eles individuais ou coletivos. Segundo Venosa (2022), são
características desse fenômeno:

a) Está autorizado o Estado interferir na autonomia da vontade no Direito Contratual,


se tal interferência tenha como finalidade proteger a dignidade do próprio ser
humano.
b) Embora a dignidade humana seja um princípio importante no ordenamento
jurídico brasileiro, não pode o Estado interferir na autonomia da vontade no Direito
Contratual, regidos pelo Direito Civil, ramo do Direito Privado
c) Somente por meio judicial pode-se garantir a aplicação de regras e princípios,
como é o princípio da dignidade humana, em ramos como Direito Econômico e o
Direito do Consumidor.
d) Somente por meio do Poder Executivo, pela via administrativa, pode-se garantir a
aplicação de regras e princípios.
e) No passado, quando a divisão entre Direito Público e Direito Privado era mais
acentuada, prevalecia a ideia de eficácia horizontal dos Direitos Fundamentais, como
forma de proteger os particulares em relação ao arbítrio do Estado.
59

CAPÍTULO VI - TEORIA DA CONSTITUIÇÃO

INTRODUÇÃO
Neste novo capítulo, apresentaremos a Teoria da Constituição, com ênfase na
Constituição de 1988. Inicialmente, trataremos do constitucionalismo enquanto movimento,
com ênfase para os principais marcos históricos, bem como os debates filosóficos jurídicos
que aconteciam na época.
Além disso, vamos destacar o que é a Constituição e sua finalidade. Em relação à
Constituição de 1988, vamos apresentar sua organização e sua classificação.
Por fim, finalizaremos nosso estudo tratando da eficácia vertical, horizontal e
transversal/diagonal dos Direitos Fundamentais.

EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO CONSTITUCIONALISMO


O termo constitucionalismo é recente datado de pouco mais de duzentos anos
e guarda relação com os movimentos liberais burgueses do século XVIII. Tem como
referência constituições escritas como forma de limitar o poder do soberano e garantir
Direitos Fundamentais. Tais movimentos tem como referência a Revolução americana
e a Revolução francesa. A primeira, produziu o documento escrito a Declaração de
Independência dos Estados Unidos, conhecida como a primeira constituição escrita, e a
segunda, a Declaração Universal do Direito do Homem e do Cidadão (BARROSO, 2022).
Embora tenha surgido como movimento no século XVIII, durante a idade moderna,
existem na antiguidade e na idade média experiências constitucionalistas. É fundamental
apresenta-las. Destacamos, no entanto, que tal abordagem histórica já foi feita no primeiro
capítulo, mas aqui vamos dar ênfase à constituição.

EXPERIÊNCIAS CONSTITUCIONALISTAS NA ANTIGUIDADE


Estudiosos não consideram que havia um movimento organizado como fora a partir
do século XVIII, mas destacam que houve experiências constitucionais que buscavam
estabelecer limites ao poder do soberano. O povo hebreu seria a primeira experiência
conhecida de limitação do poder político. Novelino (2014) nos ensina que as constituições
redigidas pelo povo Hebreu eram baseadas em convicções da comunidade e por costumes
nacionais baseados em dogmas religiosos consagrados na Bíblia. Portanto, era um Estado
teocrático, uma vez que o Estado se confunde com a religião.
Ainda nesse tempo, podem-se citar as experiências das constitucionais dos povos
gregos e dos romanos. Os gregos desenvolveram, em Atenas na antiguidade, algumas
experiências constitucionais, entre as quais se destaca a democracia. Ficaram conhecidos
historicamente como o povo que criou a democracia. Ainda que não fosse uma democracia
inclusiva, pois excluía mulheres, estrangeiros e pessoas submetidas à condição de escravos,
pode-se dizer que Atenas foi o berço da ideia de que governantes e governados compartilham
do poder político (LENZA, 2022).
Na Roma antiga os autores evidenciam que tanto na república quanto no império,
adotaram e aprimoraram as experiências desenvolvidas na Grécia Antiga. Embora seja de
pouca menção, Roma também adotou a democracia, criou instituições como a Assembleia;
o Senado, os Cônsules, que eram os principais agentes executivos, além de outros altos
(BARROSO, 2022).

Experiências constitucionalistas na Idade Média


Barroso (2022) nos ensina que, com o início da era cristã, chegaram ao fim as
experiências e o ideário constitucionalistas, que vinham dos gregos e haviam sido retomados
pelos romanos. Ele afirma que o constitucionalismo desapareceria do mundo ocidental por
60

bem mais de mil anos, até o fim da Idade Média. Entretanto, é importante mencionar que
na Inglaterra houve alguns importantes anteriores ao início da Idade Moderna.
São citados como documentos ingleses importantes Magna Charta Libertatum (1215),
outorgada pelo Rei João Sem Terra, que foi forçado a assinar tal documento reduzindo seus
poderes de soberano; a Petition of Rights (1628), firmada entre o Parlamento e o Rei Carlos
I, além dos seguintes pactos: o Habeas Corpus Act (1679), o Bill of Rights (1689) e o Act of
Settlement (1701) (NOVELINO, 2014).

Surgimento do constitucionalismo na idade moderna


Na Idade Moderna o Constitucionalismo surge enquanto movimento e é marcado
pelas revoluções burguesas: a Revolução Norte Americana (1776) e a Revolução Francesa
(1789). Inspirados pelas ideias jusnaturalistas de Hobbes, Jhon Locke e Rousseau, a
Constituição Americana e a Constituição Francesas, escritas tinham como propósito
instituir documentos legais que fossem capazes de assegurar o princípio da separação dos
poderes; direitos e garantias fundamentais; e a supremacia do texto constitucional. Ou seja,
a Constituição seria a norma suprema, devendo as demais normas serem compatíveis a ela.
O constitucionalismo busca assim assegurar a supremacia da lei, que passaria a
limitar o soberano, que também devia ter respeito ao texto constitucional. A partir desse
momento, nasceram as constituições escritas que fixaram claramente limites e repartição
de poder estatal, com objetivo maior de proteger os direitos dos indivíduos frente à
arbitrariedade dos governantes. Passa-se a defender o juspositivismo como fundamento
jurídico, transformando a lei em algo supervalorizado com capacidade de resolver todos os
problemas da sociedade.
Os defensores dos direitos naturais, tais como do direito à vida, à liberdade e à
propriedade passam a reclamar a positivação desses direitos como forma de se efetivar tais
postulados de modo a impedir qualquer restrição a eles. Passa-se a defender um Estado
Liberal, e, por conseguinte, um constitucionalismo liberal, no qual se deseja uma prestação
negativa do Estado, de não intervenção.

Neopositivismo e Neoconstitucionalismo
Já no final do século XIX e início do século XX, no âmbito da sociedade ocidental
entre boa parte dos juristas houve a compreensão de que era impossível considerar a lei
como a única forma de combater o arbítrio e o capricho do poder estatal. Barroso (2022)
destaca que durante esse período, apesar do movimento constitucionalista que tinha
como premissa a defesa dos direitos humanos fundamentais, a humanidade foi capaz
de presenciar violações em grande escala: tráfico de pessoas humanas; trabalho escravo;
holocausto de judeus, durante o regime nazista de Hitler, na Alemanha, além das milhões
de mortes sob o regime de Stalin.
Foi nesse período que começou a surgir contornos diferentes no movimento
constitucionalista no sentido debater a necessidade de se ter constituições que assegurassem
direitos de liberdade, mas também direitos sociais e econômicos, tais como o direito a
trabalho remunerado e não precarizado. São exemplo, a Constituição Mexicana de 1917 e a
alemã, de 1919. Nesse contexto, o constitucionalismo social se fortalece, e, por conseguinte,
o Estado Constitucional Social.
Ainda assim, as violações não cessaram e acompanhamos durante todo o século
violações de Direitos Fundamentais. É inegável a importância do juspositivismo,
principalmente para limitar o poder político do Estado. Mas no século XX, em especial,
depois da Segunda Guerra Mundial com a crítica ao juspositivismo, o debate jurídico
se fortalece e se mostra urgente a superação do mito da lei como resposta para todos os
problemas.
É neste contexto, que surge o neopositivismo como uma crítica aos juspositivismo
que defendia que direito é somente aquele produzido pelo Estado. A nova corrente foi
se desenvolvendo ao longo do século XX e abarcou outras correntes de pensamento que
61

buscavam aproximar Direito e Moral, permitindo ao Julgador ir além da legalidade estrita,


ainda que não a desprezasse, para garantir justiça. Não se pode ignorar o fato de que
foi o Direito Positivado na Alemanha, que autorizou Hitler no exercício do poder estatal
ter provocado a morte de milhares de pessoas na Alemanha. Assim, o neopositivismo
defende que ao intérprete do Direito, a partir da hermenêutica jurídica, ou seja, a partir
da interpretação, cabe analisar o caso concreto a luz de regras e princípios, tais como o
princípio da dignidade humana, da democracia, entre outros, com vista a promover a
justiça social. Novelino (2014) destaca que houve com o pós-positivismo a ascensão dos
valores, a essencialidade dos direitos fundamentais e, principalmente, o reconhecimento
da normatividade dos princípios.
A Constituição nesse novo cenário já não é um mero papel positivado, mas de
fato a norma suprema de um determinado país, que possui força normativa imediata,
não necessita da ação do Legislador infraconstitucional para ter eficácia. Ao Julgador
está autorizado buscar garantir direitos fundamentais, como o direito a saúde a partir do
próprio texto constitucional.
Nessa perspectiva, temos na atualidade no âmbito do Constitucionalismo a ideia de
que o Estado deve abarcar direitos de liberdade, de igualdade e de solidariedade e ter a
democracia como norte fundamental. De tal maneira, que hoje não se defende um Estado
Liberal ou Social, somente, mas a instituição do Estado Democrático de Direito, abarcando
ideários liberais, sociais, mas efetivamente democrático. Essa premissa pode ser retirada
da Constituição de 1988 já no seu início, com destaque para o que diz o preâmbulo e o
seu art.1º, no qual se reafirma que a República Federativa do Brasil se constitui em um
Estado Democrático e de Direito e o princípio da dignidade humana como princípio
fundamentalmente da república federativa. Vejamos:

PREÂMBULO
Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em
Assembleia Nacional Constituinte para instituir um
Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício
dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança,
o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça
como valores supremos de uma sociedade fraterna,
pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia
social e comprometida, na ordem interna e internacional,
com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos,
sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA
REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.
TÍTULO I
DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela
união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito
Federal, constitui-se em Estado Democrático de
Direito e tem como fundamentos:
I - a soberania;
II - a cidadania;
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V - o pluralismo político.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o
exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente,
nos termos desta Constituição (Grifo nosso).
62

A seguir vamos conhecer um pouco mais sobre o texto a Constituição de 1988, em


especial atenção no que diz respeito aos direitos fundamentais.

A CONSTITUIÇÃO DE 1988: DIREITOS E GARANTIAS


FUNDAMENTAIS
A Constituição
A Constituição é objeto de estudo do Direito Constitucional e sua principal fonte. A
constituição por ser a norma suprema de um determinado país exige que as demais normas
tenham com ela compatibilidade, sob pena de serem retiradas do ordenamento jurídico,
pelo controle de constitucionalidade. Mendes e Branco (2022) define a Constituição como
sendo a norma de maior hierarquia em um ordenamento jurídico, que organiza o Estado e
os seus poderes, além de tratar dos direitos e garantias fundamentais.
Na história do Brasil já houve 8 constituições escritas, são elas: 1824, do Brasil
império; a de 1891, que iniciou a forma de governo republicana; a 1934; 1937; 1946 da Era
Vargas; 1967; 1969, do período da ditadura militar e a de 1988, a Constituição cidadã. Essa
última em vigência.
Antes de prosseguir compreenda o contexto no qual foi criada a Constituição de
1988.

Saiba mais: Assista ao documentário “Constituinte 1987-1988” (2012), de Cleonildo


Cruz. Acesso link: https://www.youtube.com/watch?v=5K2DewyvjHg&t=3s

A Constituição de 1988: sua organização e classificação


Em relação a organização da Constituição de 1988, é importante destacar que ela foi
promulgada com um preâmbulo cujo texto foi mencionado na seção anterior e 245 artigos,
distribuídos em nove títulos, e setenta disposições transitórias, estando assim organizada:

Tabela 1. Organização da Constituição Federal de 1988.


Título I Apresenta os Princípios Fundamentais, bem como os fundamentos, objetivos
e princípios que devem reger a República em suas relações internas e
internacionais.
Título II Apresenta os Direitos e Garantias Fundamentais, considerados de aplicação
imediata. Além disso, não se trata de rol taxativo, pois é possível a incorporação
de outros direitos oriundos dos tratados em que o Brasil é signatário. Por
força do texto constitucional, os tratados de direitos humanos aprovado em
dois turnos, em cada casa, por três quintos são equivalentes a Emenda à
Constituição.
Incialmente, temos o rol de direitos e deveres individuais e coletivos”; depois os
direitos sociais, os direitos de nacionalidade, os Direitos Políticos e, por fim, os
Partidos Políticos.
Título III, Traz a Organização dos Poderes, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário, bem
como as denominadas funções essenciais à justiça, que incluem o Ministério
Público, a advocacia privada e a defensoria pública.
Título V Trata da Defesa do Estado e das Instituições Democráticas, disciplinando
estado de defesa, o estado de sítio, as Forças Armadas e a segurança pública.
Título VI Trata da Tributação e Orçamento, disciplinando o sistema tributário nacional e
as finanças públicas.
63

Título VII A Ordem Econômica e Financeira, regulando o papel do Estado na Economia,


as políticas urbana e agrícola e o sistema financeiro nacional.
Título VIII Disciplinou a Ordem Social, tratando de temas que vão do direito à saúde à
proteção aos povos indígenas, passando por meio ambiente, educação, ciência e
família, entre outros.
Título IX Por fim, o último título trata das Disposições Constitucionais Gerais.
Fonte: Constituição Federal de 1988.

Mendes e Branco (2022), assim como a maioria dos autores classificam a Constituição
como uma constituição promulgada, porque foi produzida com a participação do povo, por
meio de representantes eleitos, durante uma Assembleia Constituinte; escrita e dogmática,
porque possui um único documento escrito dogmas jurídicos relacionados a organização
do Estado, além de conferir e direitos e garantias fundamentais ao indivíduo; rígida
quanto ao modo de modificação, uma vez que o texto constitucional tem estabilidade,
mudando somente por emenda à Constituição, que exige procedimento dificultoso com
quórum de aprovação qualificado. É ao mesmo tempo garantista, garante direitos liberais,
mas também reúne ideários socialistas, pois é programática, possui metas programas e
objetivos de cunho social e econômico.

Eficácia vertical, horizontal e transversal/diagonal dos direitos


fundamentais
Já tratamos do tema de forma geral no capítulo anterior, aqui a intensão é só reforçar o
que já foi disposto tendo como referência os direitos fundamentais. Inicialmente, destaque-
se que os direitos fundamentais como disposto no texto constitucional têm aplicação
imediata, possui força normativa e não somente simbólica. Logo eles são justiciáveis,
exigíveis, podendo ter sua aplicação forçada do Poder Judiciário. Em outras palavras,
aquele que tem um direito violado pode usar seu direito de ação junto ao Poder Judiciário
para ver o dano reparado (BARROSO, 2022, MARMELSTEIN, 2019).
Os direitos fundamentais, por estarem no ponto alto do ordenamento jurídico,
estão conforme explica Marmelstein (2019), no ápice da escala axiológica e jurídica do
ordenamento jurídico brasileiro e, por isso, merecem uma proteção jurídica especial. Desta
forma, cabe ao Estado o dever de respeitar, de proteger e de promove-los.
Nesse contexto, observa-se que em relação a eficácia houve uma grande mudança.
Nos direitos de primeira geração, o que se queria era restringir o poder do governante
para evitar a arbitrariedade em relação aos particulares. Por isso, nos falamos em eficácia
vertical dos direitos fundamentais como forma de garantir direitos em favor das pessoas
privadas em uma relação com o Estado. Com fenômeno da publicização do direito privado,
passou a considerar além da eficácia vertical, a eficácia horizontal na qual são aplicados
também os direitos fundamentais entre os particulares, isso é, em uma relação contratual
entre particulares deve-se respeitar também os direitos fundamentais. De modo que, um
contrato que desrespeita a dignidade humana não é valido e autoriza a sua judicialização
por parte de quem tem seu direto violado.
Por fim, soma-se a eficácia vertical e a horizontal, na atualidade a eficácia transversal
ou ainda diagonal dos direitos fundamentais, que tem como propósito assegurar a aplicação
dos direitos fundamentas entre os particulares nas hipóteses em que estejamos diante de
desigualdades fáticas. Por exemplo, nas relações trabalhistas.
O Professor André de Carvalho Ramos (2022) relaciona a eficácia dos direitos
fundamentais como direitos de defesa,

Os direitos de defesa, então, têm como consequência


inicial a transformação desses direitos em um escudo
contra o poder estatal, concretizando exigências de
64

abstenção, derrogação e até mesmo anulação de atos do


Estado, o que gera a chamada eficácia vertical dos direitos
humanos (indivíduo x Estado). Porém, já é um consenso
no Brasil que os direitos de defesa também podem ser
invocados contra outros particulares, consagrando
a eficácia horizontal dos direitos humanos (relação
particular x particular). Finalmente, a assimetria entre
os particulares consagrou, ainda, a eficácia diagonal dos
direitos humanos, que consiste na invocação de direitos
nas relações entre os particulares nas quais uma das
partes ostenta vulnerabilidade, fazendo nascer uma
prevalência de determinado direito de um particular
sobre o outro (RAMOS, 2022, p.35)

Em síntese os direitos fundamentais devem ser respeitados pelo Estado e


pela sociedade, protegidos e promovidos, caso haja violação, pelo princípio da não
inafastabilidade jurisdicional, pode o Poder Judiciário, uma vez provocado, atuar para
garanti-los.
Em conclusão deste capítulo, pode-se destacar que a teoria da constituição é um
campo vasto que abrange a evolução histórica do constitucionalismo, desde experiências
antigas até os dias atuais. Foi possível ainda apresentar com o neopositivismo e o
neoconstitucionalismo, que, sem dúvida, trouxeram um novo olhar para a interpretação
das constituições. Dentro desse contexto, destacamos a Constituição de 1988, que é um
importante instrumento de garantia de direitos fundamentais. Além disso, apresentamos a
eficácia vertical, horizontal e transversal/diagonal dos direitos fundamentais e sua aplicação
prática. De modo que, a compreensão da teoria da constituição e a análise da Constituição
de 1988 são importantes para melhor compreender o sistema jurídico brasileiro.
Assim, finalizamos, aqui, nossa discussão sobre a teoria da Constituição. É um estudo
introdutório, mas o suficiente para provocar seu interesse pelo assunto.

ATIVIDADES

O conceito de Direito pode partir das mais variadas concepções teóricas. Desde a
ideia que identifica o Direito como a ciência que descreve a produção das normas jurídicas
pelo Estado (juspositivismo), a que compreende o direito como inerente à natureza humana,
com valores e princípios universais e imutáveis, que independem da vontade racional
humana (jusnaturalismo), até aquela outra que pensa o direito conforme um dado cultural
(culturalismo jurídico), com muitas variações, sendo uma delas a teoria tridimensional do
direito, a qual proclama ser o direito, a um só tempo, fato, valor e norma.

Grillo, Marcelo Gomes F. Instituições de Direito Público e Privado. Ed. Grupo GEN, 2019, p.3

1. Considerando o texto, avalie as assertivas a seguir.


I. A corrente juspositivismo defendia um constitucionalismo liberal, na qual os
direitos naturais deveriam ser positivados.
II. A corrente jusnaturalista é anterior as constituições escritas, e defendia que
existiam direitos fundamentais eram anteriores ao próprio Estado.
III. O constitucionalismo surgiu enquanto movimento no século XVIII, com as
revoluções burguesas e em defesa dos direitos fundamentais.
65

É correto o que se afirmar em

a) I, apenas.
b) III, apenas.
c) I e II apenas.
d) II e III, apenas.
e) I, II e III estão corretas

2. Sobre a Constituição de 1988 assinale a questão correta

a) A constituição de 1988 confere aos direitos fundamentais aplicação imediata,


não dependo de complementação do Legislador infraconstitucional para produzir
efeitos.
b) A constituição de 1988 confere aos direitos fundamentais aplicação mediata,
dependendo de complementação do Legislador infraconstitucional para produzir
efeitos.
c) A constituição de 1988 apresenta um rol taxativo de direitos fundamentais
d) A constituição de 1988 defende que a República Federativa Brasileira, um Estado
de Direito, porém não necessariamente democrática
e) A constituição de 1988 tem como princípio fundamental da República Federativa
Brasileira o pluralismo político, mas não o princípio da dignidade humana

3. Sobre os Direitos Fundamentais assinale a resposta correta.

a) Os Direitos Fundamentais exigem do poder público o dever de respeito, de


proteção e de promoção. Autorizando aquele que tem seu direito violado acionar o
direito de ação junto ao Poder Judiciário.
b) Os Direitos Fundamentais não exigem do poder público o dever de respeito, de
proteção e de promoção. Mas autoriza aquele que tem seu direito violado acionar o
direito de ação junto ao Poder Judiciário.
c) Os Direitos Fundamentais exigem do poder público o dever de respeito, de
proteção, mas não de promoção.
d) Os Direitos Fundamentais exigem do poder público o dever de respeito, mas não
de proteção e de promoção.
e) Os Direitos Fundamentais exigem do poder público o dever de respeito, de
proteção e de promoção. Mas esses não são judiciáveis.
66

CAPÍTULO VII - ESTADO, GOVERNO E ADMINISTRAÇÃO


PÚBLICA: FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS

INTRODUÇÃO
Nesse novo capítulo trataremos da teoria geral conceitual do Estado e da
Administração Pública, com ênfase na Constituição de 1988. Inicialmente, apresentaremos
o conceito de Estado, formas e sistema de governo, bem com os poderes constituídos: Poder
Executivo, Legislativo e Judiciário.
Além disso, apresentaremos os princípios da administração pública previstos no texto
constitucional. São eles: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.
Vem comigo!

ESTADO: CONCEITOS, FORMAS E SISTEMA DE GOVERNO


Conceito de Estado
Em uma perspectiva doutrinária pode-se entender o Estado como “a sociedade
necessária em que se observa o exercício de um governo dotado de soberania a exercer
seu poder sobre uma população, num determinado território, onde cria, executa
e aplica seu ordenamento jurídico, visando ao bem comum” (PEDRO SALVETTI
NETTO APUD FILOMENO, 2019, p.75). Para Campos (2021), o Estado é um ente
soberano, organizado politicamente e detentor de personalidade jurídica própria de direito
público, ele mantem relações internas, ou seja no plano nacional, quanto externas, no plano
internacional.
Em uma perspectiva legal, pode-se utilizar o nosso Código Civil, lei 10.406/2022, que
traz uma definição do que é o Estado destacando os entes que fazem parte de sua composição.
De acordo com o artigo 41, o Estado é pessoa jurídica de Direito Público Interno, composto
pela União; os Estados, o Distrito Federal e os Territórios; os Municípios; as autarquias,
inclusive as associações públicas; e as demais entidades de caráter público criadas por lei.
Nesse sentido, pode-se inferir tanto da doutrina quanto da legislação, que o Estado
é pessoa jurídica de direito público, dotado de soberania sob o seu território, possuindo
três elementos: população, território e governo soberano. Filomeno (2019) explica que
população consiste no conjunto de todos os habitantes do seu território, independente de
possuir ou não vínculos políticos. Entende-se como território parte imprescindível para
a existência do próprio Estado: solo, subsolo, espaço aéreo, embaixadas, navios e aviões
militares em qualquer parte que se encontrem, navios e aviões de uso comercial ou civil em
sobrevoo ou navegação de território não pertencente a outros Estados e o mar territorial. E,
por fim, governo soberano é a forma suprema de poder, está relacionado com a forma que
o Estado dentro e fora exerce seu poder, visando o bem comum.

Formas de Estado
A doutrina apresenta duas formas de estado: o Estado Unitário e o Estado Federado.
Filomeno (2019) explica que o Estado Unitário se caracteriza pela unicidade de poder,
emanado de uma só fonte para todo o território, inexistindo descentralização política. Já o
estado Federado é a união permanente e indissolúvel de Estados autônomos, que não são
soberanos, sob a égide de uma Constituição, com certa repartição interna de atribuições
governamentais, sendo-lhe vedada, a secessão, que nada mais é que a separação. Uma vez
na federação, não se pode dê-la sair, sem que haja oposição do Estado federado.
Nessa perspectiva, o Brasil é um país federado, conforme previsto no artigo 1º da
Constituição Federal de 1988, possui pessoas políticas que compõem a federação, quais
sejam: a União, os Estados-membros, o Distrito Federal e os Municípios. Todas, pessoas
jurídicas de direito público interno, autônomos, com capacidades financeira,
67

administrativa, política, mas não soberanos. A soberania é exercita apenas pela


República Federativa Brasileira, formalmente representada pela União, que representa o
poder central, já os Estados-membros e o Distrito Federal, o poder regional e os municípios,
o poder local.
Destaca-se ainda, o Distrito Federal exerce o poder regional e o local, uma vez que
comporta atribuições tanto dos Estados-membros quanto dos Municípios. MOTTA, (2021)
explica o Distrito Federal da seguinte forma:

Brasília é a Capital Federal (art. 18, § 1o), estando


localizada no Distrito Federal. Conquanto não seja nem
um nem outro, na prática, o Distrito Federal é um ser
híbrido com características de Estado e de Município
(ver art. 32, § 1o). Apesar disso, parte de suas tarefas é
deferida à União (ex.: art. 21, XIII e XIV).
A criação do Distrito Federal responde à necessidade
da criação de um pouso geográfico para o governo
da União. Poderia permanecer assim, como área em
regime especial, neutra, mas aos poucos foi angariando
prerrogativas próprias, autonomia, vindo a ser parte da
peculiar federação brasileira.
Convém ressaltar que a Emenda Constitucional no
69/2012 alterou o art. 21, XIII, e o art. 22, XVII,
estabelecendo, doravante, a autonomia para que o Distrito
Federal trate de sua Defensoria Pública. No entanto, o
Poder Judiciário e o Ministério Público continuam sob a
tutela financeira e administrativa da União.
Aplicar-se-á à Defensoria Pública do Distrito Federal
os mesmos princípios e regras que, nos termos da
Constituição da República, servem para balizar as
Defensorias Públicas dos Estados.
Não obstante, a Súmula Vinculante no 39 assevera
que “compete privativamente à União legislar sobre
vencimentos dos membros das polícias civil e militar e do
corpo de bombeiros militar do Distrito Federal (MOTA,
2021, p.525).

Percebe-se que o Distrito Federal tem a natureza híbrida, comportando atribuições


de Estado e de municípios, mas é interessante observar que suas tarefas são deferidas pela
União.

Forma de Governo
A doutrina segue como parâmetro os estudos de Maquiavel que classificou as
formas de governo em: Monarquia e República. A República se caracteriza por renovar-
se mediante eleições periódicas, a Monarquia é hereditária e vitalícia (MALUF, 2019).
No Brasil a forma de governo é a República, conforme dispõe a Constituição Federal. Os
poderes dos governantes provêm da vontade popular expressa através do voto.

Sistemas de Governo
O sistema de governo diz respeito a forma como se relaciona o Poder Legislativo e
o Poder Executivo. Há dois tipos de sistemas de governo mais adotados entre os países.
São eles: parlamentarismo e presidencialismo. No presidencialismo, conforme explica
Filomeno (2019), a responsabilidade política e administrativa é concentrada nas mãos
do presidente. A ele incube a chefia de governo, além de Estado, sendo assessorado por
68

ministros e demais auxiliares. Já no parlamentarismo, há relações estreitas de dois poderes,


o Poder Executivo e Legislativo. Nesse tipo de governo o executivo está sob a confiança do
legislativo. Ou seja, o governante do Poder Executivo para continuar no cargo precisa da
confiança do Legislativo. Da mesma forma, pode ocorrer a dissolução do parlamento.
O Brasil, segue o modelo presidencialista, com eleições periódicas para renovação de
seus governantes.

OS PODERES CONSTITUÍDOS
O Brasil segue a classificação da tripartição de poderes apresentado por Montesquieu.
Tal tripartição tem o princípio da separação dos poderes como norte. De modo que temos
três poderes com funções diferentes, são eles: o Legislativo, que tem como função típica
elaborar as leis; o Executivo, que tem como finalidade Administração do Estado e, por fim,
o Judiciário, que deve aplicar as leis. Eles também exercem funções atípicas. Estudaremos
nos capítulos seguintes as funções de cada poder.
A partir da síntese apresentada, convém fazermos a leitura do artigo 1º e 2º da
Constituição Federal de 1988, para percebermos as escolhas políticas feitas pelo povo
brasileiro. Vejamos:
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela
união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito
Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e
tem como fundamentos:
Art. 2º São Poderes da União, independentes e
harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o
Judiciário.

Percebe-se que o povo brasileiro fez escolhas significativas em relação à organização


do Estado, estabelecendo a República Federativa do Brasil como um Estado Democrático
de Direito. E com base no princípio da separação dos poderes, reconhece-se a existência
dos três Poderes da União - Legislativo, Executivo e Judiciário.

Conceito de Administração pública


Campos (2021) conceitua a Administração pública como sendo a responsável pelo
desempenho da função administrativa. Esta busca a satisfação do interesse público. A
autora esclarece que essa é uma função típica do Poder Executivo, mas que ela pode ser
realizada de forma atípica pelo Legislativo e Judiciário.
Para Celso Spitzcovsky (2022, p.18), “em toda função administrativa desenvolvida
pelo Poder Público, o objetivo único é a preservação dos interesses da coletividade, também
rotulado como interesse público primário”. Em defesa dos interesses de seus representados
a Administração, possui direitos, vantagens, prerrogativas, deveres e obrigações que não se
estendem aos particulares.
São exemplos de direitos da administração pública: poder de polícia; atributos do
ato administrativo; cláusulas exorbitantes (contratos administrativos); e desapropriação,
confisco, requisição. Como exemplos de deveres podemos citar a contratação por concurso;
a abertura de licitação a motivação; e publicação dos seus atos.
Por fim, cabe mencionar que a administração pública segue o REGIME JURÍDICO
ADMINISTRATIVO, que nada mais é, que o conjunto de regras que disciplina as vantagens
e as obrigações a serem seguidas pela administração pública na defesa do interesse público.
Conforme explica Di Pietro (2022) a administração pública se submete ao regime jurídico
de direito privado ou a regime jurídico de direito público. A escolha por um regime ou outro
cabe à Constituição ou à lei.
69

Sentidos da administração pública


De acordo com Di Pietro (2022), a expressão Administração Pública comporta dois
sentidos: o sentido objetivo e sentido subjetivo. O sentido subjetivo é o conjunto de órgãos
e de pessoas jurídicas aos quais a lei atribui o exercício da função administrativa do Estado.
O sentido objetivo abrange as atividades exercidas pelas pessoas jurídicas, órgãos e agentes
incumbidos de atender concretamente da coletividade. Nesse sentido, abarcaria o fomento,
a polícia administrativa e o serviço público.
A autora traz norma que dispõe os órgãos da administração pública no âmbito
federal previstos no Decreto-lei nº 200, de 25-2-67, com a redação dada pela Lei nº 7.596,
de 10-4-87. São eles: a administração direta, que se constitui dos serviços integrados na
estrutura administrativa da Presidência da República e dos Ministérios; a administração
indireta, que compreende as seguintes categorias de entidades, dotadas de personalidade
jurídica própria: autarquias; empresas públicas; sociedades de economia mista; e, por fim,
fundações públicas”.
Campos (2021) seguindo a doutrina de Di Pietro (2022) explica os dois sentidos da
Administração como sendo,

Subjetivo, orgânico, formal: compreende o conjunto de


pessoas, órgãos e agentes responsáveis pelo desempenho
da função administrativa. Perceba que aqui o foco é
“quem” está compondo o aparelho administrativo. Nesse
caso, o termo “Administração Pública” deve ser grafado
com letras maiúsculas.
Objetivo, funcional, material: compreende a própria
função administrativa, ou seja, são as atividades, serviços
e funções desempenhadas pelo Poder Público. Perceba
que aqui o foco é “o que” está sendo feito. Nesse caso,
o termo “administração pública” deve ser grafado com
letras minúsculas (CAMPOS, 2021, p.6).

Sem dúvida, essa distinção colabora na análise tanto da estrutura e organização da


administração quanto as ações e responsabilidades desempenhadas no âmbito do setor
público.
A seguir vamos conhecer os princípios aplicados à administração pública previstos
no texto constitucional.

PRINCÍPIOS GERAIS DA ADMINISTRAÇÃO


PÚBLICA: LEGALIDADE, IMPESSOALIDADE, MORALIDADE,
PUBLICIDADE E EFICIÊNCIA
A Constituição de 1988 expressamente prevê os princípios da legalidade, da
impessoalidade, da moralidade administrativa, da publicidade e eficiência. Os quais
veremos as principais características a seguir.

Princípio da legalidade
Esclarece Di Pietro (2022) que na relação administrativa, a vontade da
Administração Pública decorre da lei. Assim, ao administrador só pode fazer o que dispõe
a lei, diferente dos particulares, no qual o princípio aplicável é o da autonomia da vontade.
Ou seja, podem fazer tudo o que a lei não proíbe. Campos (2021) assevera que o princípio
da legalidade comporta o princípio da reserva legal. Enquanto o princípio da legalidade
abarcaria o dever de respeitar todo o bloco de legalidade, o princípio da reserva legal está
associado a necessidade de tratar determinados assuntos por meio de lei em sentido estrito:
lei ordinária e lei complementar. Como por exemplo, a criação de tipos penais que exigem
70

a criação de lei, assim, não é possível que o presidente da república trate dessa matéria por
meio de Medida Provisória.
Em síntese, tal princípio dispõe que toda e qualquer atividade administrativa deve
ser autorizada por lei. Caso contrário, o administrador estará agindo de forma ilícita.

4.2 Princípio da impessoalidade


O princípio da impessoalidade assegura que a administração não pode atuar com
vistas a prejudicar ou beneficiar pessoas determinadas, uma vez que no exercício da
atividade administrativa deve sempre resguardar o interesse público (DI PIETRO, 2022).
Portanto, o princípio tem como propósito conferir igualdade de tratamento àqueles que
estão em situação de igualdade jurídica.
Para Campos (2021), o agente público deve ser neutro, imparcial, isso significa que
não deve beneficiar ou prejudicar pessoas por uma simples relação de amizade ou inimizade.
A autora cita como exemplo de prática que fere o princípio da impessoalidade, o nepotismo
que é caracterizado quando o administrador nomeia para cargo público parentes até o
terceiro grau. O assunto inclusive é objeto de Súmula Vinculante no Supremo Tribunal
Federal.

O nepotismo pode ser conceituado como a indicação de


parentes para os cargos em comissão. Daí surgem duas
perguntas: a) quem se enquadra no conceito de parente?
b) Qual a definição de um cargo em comissão? A resposta
à primeira pergunta é dada pelo próprio Supremo
Tribunal Federal, por meio de sua Súmula vinculante 13,
segundo a qual: “A nomeação de cônjuge, companheiro
ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o
terceiro grau (...) viola a Constituição Federal”.
Desse enunciado podemos subentender que são
considerados parentes o cônjuge/companheiro,
ascendentes (pais, avós, bisavós), descendentes (filhos,
netos e bisnetos) e colaterais (irmãos, tios e sobrinhos)
até o terceiro grau da autoridade nomeante. Além desses,
inclua nesse rol os parentes por afinidade, por exemplo,
sogro/sogra, cunhado/cunhada e os enteados (CAMPOS,
2021, p.33).

A autora ainda acrescenta que o agente público atua em nome do próprio Estado,
sendo ele é um mero instrumento da vontade estatal em defesa dos interesses da coletividade.
É por essa razão que ele não pode agir de forma que caracterize promoção pessoal.

Publicidade
O princípio da publicidade visa assegurar a ampla divulgação dos atos praticados
pela Administração Pública, salvo os casos nos quais a lei autoriza decretar sigilo. Campos
(2021) apresenta como finalidades da publicidade: externar a vontade administrativa; dar
transparência; dar eficácia aos atos; e dar início à contagem dos prazos e facilitar o controle.
Veja abaixo como autora explica cada finalidade.

a) externar a vontade administrativa: é por meio da


publicidade que o Poder Público demonstra à sociedade
as suas vontades e necessidades. Exemplo: divulgação no
Diário Oficial do edital de abertura de uma licitação para
a aquisição de novos computadores;
b) dar transparência: a atuação pública deve ser clara
71

para todos. Sendo assim, a publicidade garante que os


atos administrativos possam ser controlados tanto pela
sociedade quando pelos Poderes do Estado (Legislativo,
Executivo e Judiciário), até porque, quanto maior a
divulgação (transparência), mais facilitada e eficiente
será a fiscalização;
c) dar eficácia aos atos: antes mesmo de o ato se tornar
público, ele já pode existir e ser válido; entretanto, a
produção de efeitos fica condicionada à divulgação
dele. Por exemplo, se em um processo administrativo
foi determinada a interdição de um estabelecimento,
tal medida só poderá ser realizada depois da devida
divulgação da decisão;
d) dar início à contagem dos prazos: imagine que
determinado particular tenha estacionado o seu carro em
um local proibido. A Administração o notificará para que
possa apresentar a sua defesa. Entretanto, o prazo para a
interposição do recurso só começará a correr a partir da
devida cientificação do motorista;
e) facilitar o controle: o controle pode ser entendido
como uma fiscalização que deve existir em relação
aos atos estatais. Imagine, por exemplo, se todas as
práticas administrativas fossem sigilosas. Ficaria muito
difícil controlar a atuação do Estado. Sendo assim, a
publicidade é imprescindível para que possa existir o
controle, externo e interno, dos atos públicos (CAMPOS,
2021, p.38).

Assim, a regra da administração pública é o administrador tornar públicos todos os


atos do poder público. A exceção é a não publicidade, desde que prevista em lei.

Princípio da Moralidade
O Princípio da Moralidade está relacionado ao dever do administrador ser honesto,
íntegro e ético. Ele deve agir de boa-fé e não de forma corrupta. Para tanto, deve seguir
padrões éticos na condução da administração pública. Campos (2021) faz uma distinção
entre moral social e moral jurídica, sendo relevante para o Direito Administrativo a moral
jurídica. Assim, moral social é aquela que está pautada na noção do certo e errado para
a sociedade, enquanto a moral jurídica se relaciona com a boa ou má administração. De
modo que, nos interessa que os administradores sejam probos no viés jurídico, de obedecer
ao que dispõe o ordenamento jurídico brasileiro, sendo capaz de distinguir o que é honesto
do que é desonesto.

Princípio da Eficiência
O Princípio da Eficiência é fruto do poder derivado, incorporado a Constituição
Federal, por meio da Emenda Constitucional 19 do ano de 1998. Tal princípio quer assegurar
uma gestão que seja eficiente, que se traduz na busca por presteza, alto rendimento
funcional, qualidade, rapidez e redução de desperdícios (CAMPOS, 2021). A administração
deve oferecer serviços efetivos e de qualidades aos administrados.
Neste capítulo, apresentamos os fundamentos e princípios relacionados ao Estado,
Governo e Administração Pública. Além disso, destacamos os princípios gerais que
norteiam a Administração Pública, os quais estão positivados na Constituição Federal de
1988: legalidade, impessoalidade, moralidade administrativa, publicidade e eficiência. Sem
dúvida, esses princípios fornecem a base para um setor público de qualidade, assegurando
72

uma gestão responsável dos recursos públicos.


Chegamos ao fim de mais um capítulo, e agora vamos responder algumas questões
sobre o conteúdo apresentado.

ATIVIDADES

1. Considerando conteúdo estudado avalie as assertivas a seguir.


I. O Brasil tem como forma de Estado é Unitário, que se caracteriza pela unicidade
de poder, ou seja, todo o poder político emana de uma só fonte para todo o território
dele, inexistindo descentralização política.
II. O Brasil por expressa previsão na Constituição Federal de 1988, tem como
forma de Estado a Federação, que é a união permanente e indissolúvel de Estados
autônomos, mas não soberanos, sob a égide de uma Constituição, sendo certo que,
entre eles, já há uma repartição interna de atribuições governamentais, sendo-lhe
vedada, porém, a secessão.
III. O Brasil tem como forma de Estado a junção do Estado Unitário e a Federação.
É correto o que se afirmar em
a) I, apenas.
b) III, apenas.
c) II apenas.
d) I e II apenas.
e) I, II e III.

2. Sobre a Constituição de 1988 assinale a questão correta

a) A Constituição de 1988 prevê explicitamente princípios que são aplicados à


Administração Pública. São eles: legalidade, moralidade, publicidade e eficiência.
b) A Constituição de 1988 não prevê explicitamente princípios que são aplicados à
Administração Pública.
c) A constituição de 1988 prevê explicitamente princípios que são aplicados à
Administração Pública. Mas eles são aplicados somente à Administração Pública
Federal.
d) A Constituição de 1988 prevê explicitamente princípios que são aplicados à
Administração Pública. Mas exige que o Legislador infraconstitucional crie lei para
que eles possam ser aplicados pelo administrador público.
e) A Constituição de 1988 prevê explicitamente princípios que são aplicados à
Administração Pública. São eles: legalidade, reserva legal, moralidade, publicidade
e eficiência.

3. Sobre o princípio da publicidade marque alternativa correta

a) O princípio da publicidade visa assegurar ampla divulgação dos atos praticados


pela Administração Pública, portanto, não é possível, em nenhuma hipótese que a lei
autorize decretar sigilo.
b) O princípio da publicidade visa assegurar ampla divulgação dos atos praticados
pela Administração Pública, salvo os casos que o juiz determina o sigilo.
73

c) O princípio da publicidade visa assegurar ampla divulgação dos atos praticados


pela Administração Pública, mas o administrador pode decretar sigilo sobre os
gastos públicos.
d) O princípio da publicidade é a exceção na administração pública, a regra é o sigilo
dos gastos.
e) A regra na Administração Pública é o administrador tornar público todos os atos
do poder público, sendo que a exceção é a não publicidade, desde que previsto em lei.
74

CAPÍTULO VIII - ESTADO, GOVERNO E ADMINISTRAÇÃO


PÚBLICA: FUNÇÕES POLÍTICAS E ADMINISTRATIVAS

INTRODUÇÃO
Neste novo trataremos do Estado com ênfase nas funções legislativa, jurisdicional e
administrativa, bem como apresentar as principais características do Direito Administrativo,
ramo do Direito Público aplicado a Administração Pública.
Além disso, apresentaremos o controle da administração Pública, em especial atenção
para o importante papel do Tribunal de Contas, com ênfase nas alterações promovidas na
Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB) em matéria de controle de atos
administrativos.

Governo e Administração Pública


É muito importante distinguir o que é Governo e Administração Pública. O Governo
comporta dois sentidos: o subjetivo (formal), que é a cúpula diretiva do Estado, ou seja,
o conjunto de órgãos e poderes constitucionais; o objetivo (material), são as funções
estatais básicas. A Administração, conforme visto no capítulo anterior, é responsável pelo
desempenho da função administrativa. A ela cabe a prática dos atos concretos em busca da
satisfação do interesse público. Tipicamente, essa função pertence ao Poder Executivo, mas
como veremos a seguir, além das funções típicas, existem as atípicas. Assim, os Poderes
Legislativo e Judiciário também desempenharão atividades com perfil administrativo
(CAMPOS, 2021).

Saiba mais sobre as diferenças entre funções típicas e atípicas. Acesse o link
e assiste ao vídeo produzido pela Advocacia da União https://www.youtube.com/
watch?v=LenUumB-HVg

AS FUNÇÕES DO ESTADO
O Estado federado, como é o caso do Brasil, possui três poderes: o Legislativo, o
Judiciário e o Executivo. Cada um exerce uma função típica essencial para o exercício
do poder estatal. Assim, são funções típicas de cada poder, respectivamente, Legislativa,
Jurisdicional e a Executiva. Carvalho Filho (2022) no ensina, e é sempre importante
lembrar, que embora exerça a função típica, cada poder também exerce função atípica,
desde que a Constituição o autorize.
A seguir vamos conhecer as características de cada função.

A função legislativa
Cabe ao Poder Legislativo a função legislativa. Isso significa produzir o Direito,
estabelecendo normas, compostas por princípios e regras aplicadas aos indivíduos, com
vista à promoção de um convívio social harmonioso. São dispositivos legais que carregam a
características de generalidade e abstratividade aplicados ao caso concreto. Por exemplo, o
crime de homicídio previsto no artigo 121 do Código Penal, que descreve a conduta de forma
genérica, sendo cabível sua aplicação, somente se o fato efetivamente ocorrer. Existe ainda
a função de fiscalizar a prática dos atos administrativos.
Como função atípica, Carvalho Filho (2022) explica que o Legislativo também exerce
75

a função jurisdicional e cita como exemplo quando o Senado processa e julga o Presidente
da República nos crimes de responsabilidade ou ainda os Ministros do Supremo Tribunal
Federal pelos mesmos crimes. Já no exercício da função administrativa, o autor traz como
exemplo quando organiza seus serviços internos.

Conheça o importante papel do poder legislação e sua função típica de legislar.


Acesse o link e saiba mais https://www.youtube.com/watch?v=aBac-kbkdDc

A função Jurisdicional
A função jurisdicional é exercida pelo Poder Judiciário, por meio do Estado-Juiz,
que uma vez provocado deve resolver os conflitos de interesses por meio da aplicação da
lei. É importante mencionar, que atualmente o Direito brasileiro vem adotando práticas de
resoluções de conflito entre as partes, cita-se como exemplo, a conciliação e a mediação.
Em relação a sua função atípica, o judiciário também exerce a função normativa e a função
administrativa, quando por exemplo, elabora os seus regimentos internos ou ainda organiza
seus serviços internos (CARVALHO FILHO, 2022).

A Advocacia Geral da União explica a estrutura do Poder Judiciário. Assista


ao vídeo e saiba mais sobre o Poder que exerce a função jurisdicional. https://www.
youtube.com/watch?v=Rkk3ZqQPSt4

A função Administrativa
A função Executiva (ou administrativa) é executada pelo Poder Executivo e tem como
função típica a execução de atos administrativos para consecução dos objetivos do poder
estatal quanto à satisfação do bem comum. Essa função se concretiza com a execução de
políticas públicas, tais como a Política Pública de Saúde.
Em relação a função atípica, o Poder Executivo edita normas gerais e abstratas
através de seu poder regulamentar, edita medidas provisórias ou ainda leis delegadas
(CARVALHO FILHO, 2022).

Conheça o Poder Executivo responsável pela função administrativa com um


excelente vídeo do canal Direito Desenhado. Acesse https://www.youtube.com/
watch?v=jEQ23zWXKvg
76

Direito Administrativo: Conceito, objeto, fontes e interpretação


A conceituação do que é O Direito administrativo não é pacífico na doutrina. Campos
(2021) assevera o apresenta como o ramo do direito público que tem como finalidade a
busca pela satisfação do interesse público. Neste sentido, possui diversas regras e princípios
(típicos do direito público), que ora vão limitar a atuação administrativa e noutros
oferecem prerrogativas ao agente público. Carvalho Filho (2022, p.50) afirma que Direito
Administrativo é o “conjunto de normas e princípios que, visando sempre ao interesse
público, regem as relações jurídicas entre as pessoas e órgãos do Estado e entre este e as
coletividades a que devem servir”.
O autor ainda afirma que o direito administrativo é um ramo autônomo, mas que
tem relações com demais ramos do direito, principalmente com o direito constitucional.

A relação de maior intimidade do Direito Administrativo


é com o Direito Constitucional. E não poderia ser de
outra maneira. É o Direito Constitucional que alinhava
as bases e os parâmetros do Direito Administrativo; este
é, na verdade, o lado dinâmico daquele. Na Constituição
se encontram os princípios da Administração Pública
(art. 37), as normas sobre servidores públicos (arts. 39 a
41) e as competências do Poder Executivo (arts. 84 e 85).
São mencionados, ainda, na Lei Maior os institutos da
desapropriação (arts. 5º, XXIV, 182, § 4º, III, 184 e 243),
das concessões e permissões de serviços públicos (art.
175), dos contratos administrativos e licitações (arts. 37,
XXI, e 22, XXVII) e da responsabilidade extracontratual
do Estado (art. 37, § 6º), entre outros (CARVALHO
FILHO, 2022, p.51).

Como a Constituição apresenta a organização do Estado e sua função administrativa,


de fato não poderia ser diferente. Mas é importante mencionar que tem também relação
com Direito Penal, Tributário, Trabalho, Eleitoral, Civil, empresarial, entre outros.
Em relação as fontes do direito administrativo, campos (2021) apresenta com base
na doutrina cinco fontes: lei, doutrina, jurisprudência, estando incluso as sumulas normais
e vinculantes, costumes e princípios. Essas são subdivididas em: primárias e secundárias.
Aquelas reúnem a lei e a sumulas vinculantes do Supremo Tribunal Federal. Esta abarca a
doutrina, a jurisprudência, costumes e princípios.
Já a interpretação importante registrar conforme nos alerta Campos (2021) que
no âmbito do Direito Administrativo possui características próprias para análise de suas
normas, atos e contratos, sendo as disposições do setor privado, utilizado apenas de forma
subsidiária. A autora apresenta três pressupostos de interpretação, quais sejam:

a) desigualdade jurídica entre a Administração e os


administrados: como o Poder Público visa atingir o
bem-estar coletivo e este é preponderante em relação
ao interesse particular, existirá, naturalmente, uma
desigualdade entre as partes. Tudo isso decorre
diretamente do princípio da supremacia do interesse
público sobre o privado, tema este que será aprofundado
no próximo capítulo;
b) presunção de legitimidade dos atos da Administração:
seguindo o princípio da legalidade, só poderá o
administrador agir se e quando a lei permitir. Logo,
quando um agente público atua, goza da fé pública, ou
seja, presume-se que seus atos são válidos em decorrência
77

da presunção de estarem sendo praticados dentro dos


limites legais. Entretanto, essa presunção de validade é
meramente relativa, pois poderá o interessado contestar
o ato e eventualmente provar sua invalidade. Veremos
esse tópico de maneira mais aprofundada no capítulo
referente aos atos administrativos;
c) discricionariedade administrativa: quando existir
discricionariedade, poderá o administrador selecionar,
dentre as hipóteses legalmente válidas, qual a conduta
mais conveniente e oportuna a ser adotada em
determinado caso concreto. Esse poder de escolha é
necessário para que o agente público atue com certa
liberdade e, desta forma, atinja a satisfação do interesse
público (CAMPOS, 2021, p.13).

Com efeito, extrai-se do pensamento da autora que o interprete do direto direito


administrativo deve levar em conta o interesse público sobre o privado, que os atos
administrativos devem respeito ao princípio da legalidade, assim os administradores
públicos devem respeito ao que dispõe a lei, e, por fim, que existem atos que são
discricionários, podendo os administradores escolher as hipóteses legalmente validas.

SISTEMA DO CONTROLE DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA


A Administração Pública manifesta a vontade estatal em defesa do interesse público
por meio de atos administrativos que podem ser controlados quanto a sua legalidade.
Campos (2021, p.99) explica que o controle existe em virtude do sistema de freios e
contrapesos. Assim, “os atos praticados por um dos poderes do Estado estarão submetidos
ao controle exercido por outro poder para que, dessa forma, se evitem excessos na atuação
estatal”.
No âmbito da organização da administração há duas formas de controle: o controle
interno e controle externo. De acordo com Celso Spitzcoysky (2022), explica os dois
controles da seguinte forma:

O controle interno, vale dizer, aquele feito pela própria


Administração, que poderá atuar de ofício ou por
provocação de terceiros e que se estende tanto pelo campo
do mérito quanto pelo da legalidade. De outra parte, o
controle externo, realizado pelo Poder Legislativo, com
auxílio do Tribunal de Contas, e pelo Poder Judiciário,
limitando-se ao campo da legalidade em respeito ao
princípio constitucional da separação entre os Poderes
(SPITZCOYSKY, 2022, p.98).

No controle interno temo uma ação proativa da própria administração em corrigir


possíveis irregularidades nos atos que são praticados pelos administradores. Já o controle
externo é exercício pelo Poder Legislativo, com auxílio do Tribunal de Contas, e ainda pelo
Poder Judiciário na análise da legalidade do ato.
É importante ressaltar, o papel do Tribunal de Contas, órgão auxiliar do Congresso
Nacional no controle financeiro externo da Administração Pública, como previsto no artigo
71 da Constituição Federal de 1988. Carvalho Filho (2022) o descreve da seguinte forma

(...) Cuida-se de órgão de inegável relevância no regime


republicano e, sem embargo de críticas que tem sofrido
(algumas delas merecidas), tem uma relativa autonomia
78

no sistema, desfrutando, inclusive, de quadro próprio (art.


73, CF), Ministros (e Conselheiros) com as prerrogativas
da Magistratura (art. 73, § 3o) e lei própria de auto-
organização. A propósito, já se julgou inconstitucional lei
de iniciativa parlamentar que modificava dispositivos de
lei orgânica de Tribunal de Contas estadual, por violação
ao princípio da iniciativa privativa da Corte (CARVALHO
FILHO, 2022, p.899).

De fato, é inegável o papel do tribunal de contas no controle externo dos gastos


públicos, sendo importante agir de forma mais preventiva do que repressiva, tendo em
vista que se o dano ocorrer pode ser irreversível.

Conheça mais sobre o importante papel do Tribunal de Contas da União.


https://www.youtube.com/watch?v=AqTD146p_-I

Ainda sobre o aspecto de controle de legalidade, cabe destacar as importantes


alterações promovidas na Lei de Introdução do Direito Brasileiro, pela lei n. 13.655 de
2018, com vista a dar segurança jurídica e eficiência na criação e na aplicação do direito
público. Para o professor Celso Spitzcoysky (2022), as modificações vieram para consolidar
essa postura mais objetiva em relação ao controle dos atos administrativos, a decisão não
deve se limitar a aplicação automática de sanções negativas, buscando soluções que sejam
mais eficientes.
A lei traz como possibilidade resolver conflitos na esfera do controle da Administração
Pública, por exemplo, a assinatura de termos de ajustamento de conduta ou ainda a
convalidação dos atos administrativos, desde que haja a inexistência de prejuízos tanto para
a administração quanto para terceiros e a possibilidade de correção do vício apresentado.
Uma questão fundamental nas alterações da lei foi tratada no art.22 que é reconhecer
a complexidade da gestão de Políticas Públicas. Assim, todos os órgãos de controle devem
levar em consideração na interpretação de normas aplicáveis a administração pública os
obstáculos e as dificuldades enfrentadas pelos gestores, bem como as exigências das Políticas
Públicas de sua atribuição, mas sem que isso traga prejuízo dos direitos dos administrados.
De modo que, deve-se observar as circunstâncias concretas para o controle de determinado
ato administrativo. Carvalho Filho (2022) assevera que a norma trouxe para aplicação do
direito administrativo o Princípio da Realidade. Embora seja de fato uma obrigação de um
ente público entregar determinado serviço, ele pode enfrentar dificuldades para executar
por escassez de recursos orçamentários, financeiro e de pessoal. Não existindo nesse caso
má vontade, só a dificuldade real de cumprir com o que dispõe a legislação vigente.
A alteração na norma veio para proteger o gestor de boa-fé, isso fica claro quando
observamos o Parecer nº 22 de 2017 da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do
Senado Federal sobre o projeto de lei que deu origem à lei sancionada. Além disso, buscou-
se construir laços de comunicação e de diálogo, sem, contudo, invadir as competências
alheias.
Por outro lado, Carvalho Filho (2022) aponta as divergências existentes sobre os
novos dispositivos da norma, uma vez que é importante a compreensão da complexidade
em relação às políticas públicas, para que não beneficiem os maus gestores, porém não
pode haver excesso dos órgãos controladores.
79

[...] mas existe a preocupação de beneficiar maus


a críticas foram opostas ao dispositivo, de um lado
considerado desnecessário, porque a interpretação teria
mesmo que considerar os fatores apontados na lei, e de
outro perigoso, porquanto maus administradores podem
socorrer-se dessa brecha para o descumprimento de
obrigações administrativas. Em nosso entender, há
excesso de ambos os lados – órgãos controladores e
controlados –, de modo que o maior perigo repousa na
forma de aplicação da norma – algo que não oferece
perspectivas muito animadoras (CARVALHO FILHO,
2022, p.1022).

De fato, é preciso buscar o equilíbrio, de tal modo que uma decisão em controle
dos atos administrativos tenha eficiência. Sob pena de afastarmos os gestores de boa-
fé da administração pública e inibir a criatividade na resolução de problemas. Estuda-
se hoje o fenômeno do “apagão das canetas”, explicado por Pereira e Maia (2019), para
identificar gestores que perplexos e assombrados pelos órgãos de controle que os veem
como criminosos ou, no mínimo, inimigos, atuam de forma protocolar, ocasionando um
“vácuo decisório onde ninguém quer mais decidir nada por receio de ser responsabilizado,
limitando-se a uma atuação protocolar”.
Coutinho (2013), explica que o intérprete e aplicador da lei precisa ter um
conhecimento mais qualificado sobre processos que envolvam a execução de uma política
pública. Eles estariam preparados não somente para decidir uma determinada demanda,
mas também propor soluções mais efetiva. Além disso, tal conhecimento permitiria uma
atuação mais próximas dos problemas de Estado, o que não desestimularia os gestores
públicos a tomarem decisões que realmente sejam necessárias, pelo medo de responder
judicialmente ou aos outros órgãos de controle.
Além disso, o nosso direito está cada vez mais aberto às novas formas de resoluções
de conflitos, estando à disposição das autoridades estatais métodos como a conciliação, a
mediação, a arbitragem, justamente por compreender que a judicialização não é o único
caminho para resolvê-los.

Conheça mais sobre os métodos alternativos de resolução de conflitos. Acesse o


link e saiba mais. https://www.youtube.com/watch?v=ed7oK9wU5TE

Desta forma, conforme dispõe Campos (2021), a Administração

é a responsável pelo desempenho da função


administrativa, ou seja, deve praticar atos concretos em
busca da satisfação do interesse público. Tipicamente,
essa função pertence ao Poder Executivo, mas, como
sabemos, além das funções típicas, existem as atípicas,
logo, os Poderes Legislativo e Judiciário também
desempenharão atividades com perfil administrativo.

Desta forma, a Administração por meio dos três poderes deve desempenhar a
função administrativa visando uma gestão eficiente e efetiva para atender às demandas da
sociedade e promover o bem comum.
80

Neste capítulo explorarmos os temas relacionados ao Estado, Governo e


Administração Pública, para compreender a interação entre as funções políticas e
administrativas desempenhadas pelo Estado. Analisamos o papel do governo e da
Administração Pública na busca pelo interesse público, assim como as diferentes funções
do Estado, destacando a legislativa, jurisdicional e administrativa. Além disso, abordamos
o Direito Administrativo, compreendendo seu conceito, objeto, fontes e interpretação, e
discutimos o sistema de controle jurisdicional da Administração Pública. Compreender
essas questões é fundamental para promover uma Administração Pública efetiva e
responsável, capaz de atender às necessidades da sociedade e contribuir para o bem-estar
coletivo.
Agora vamos responder algumas questões sobre o conteúdo apresentado.

ATIVIDADES

1. Considerando conteúdo estudado, avalie as assertivas a seguir.


I. A função Executiva (ou administrativa) é executada pelo Poder Executivo e tem
como função típica a execução de atos administrativos para consecução dos objetivos
do poder estatal quanto a satisfação do bem comum. Essa função se concretiza com
a execução de políticas públicas, tais como a política pública de saúde.
II. A função jurisdicional é exercida pelo Poder Judiciário, por meio do Estado-Juiz,
que uma vez provocado deve resolver os conflitos de interesses por meio da aplicação
da lei.
III. A função legislativa cabe ao Poder Legislativo. Isso significa produzir o Direito,
estabelecendo normas, compostas por princípios e regras aplicadas aos indivíduos,
com vista a promoção de um convívio social harmonioso
É correto o que se afirmar em
I, apenas.
III, apenas.
II apenas.
I e II apenas.
I, II e III.

2. Sobre Sistema do Controle da Administração Pública assinale a questão correta.

a) A Constituição de 1988 prevê expressamente o Tribunal de Contas, como órgão


auxiliar do Congresso Nacional no controle financeiro externo da Administração
Pública
b) A Constituição de 1988 não prevê o Tribunal de Contas, como órgão auxiliar do
Congresso Nacional no controle financeiro externo da Administração Pública.
c) A Constituição de 1988 prevê o Tribunal de Contas, como órgão do Poder Judiciário.
d) A Constituição de 1988 prevê o Tribunal de Contas, como órgão do Poder Executivo
e) A Constituição de 1988 prevê o Tribunal de Contas, como órgão autônomo,
embora faça parte do Ministério Público.

3. Sobre as características do Estado federado assinale a questão correta.

a) O Estado federado, como é o caso do Brasil, possui três poderes: o Legislativo, o


Judiciário e o Executivo.
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b) No Estado federado, existem três poderes: o Legislativo, o Judiciário e o Executivo.


Cada um exerce somente uma função típica essencial para o exercício do poder
estatal, não podendo exercer função atípicas.
c) O Estado federado, os poderes Legislativo, Judiciário e Executivo, exercem,
respectivamente, a função de administrar, julgar e legislar.
d) O Brasil não adotou o Estado federado, portanto, não prevê na Constituição os
três poderes constituídos, quais sejam: Legislativo, Judiciário e Executivo.
e) No Estado federado, o poder Legislativo, tem mais importância que o Poder
Judiciário e o Poder Executivo
82

CAPÍTULO IX - ORGANIZAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO


PÚBLICA: ADMINISTRAÇÃO DIRETA E INDIRETA

INTRODUÇÃO
Neste novo capítulo trataremos da organização da Administração Pública em
administração direta e indireta, bem como as formas de organização: a centralização, a
descentralização e a desconcentração. Conheceremos as entidades da administração
direta: Autarquia, Empresa Pública, Sociedade de Economia Mista e Fundação Pública,
com destaque para suas principais características.
Por fim, trataremos também da responsabilidade objetiva do Estado e a
responsabilidade subjetiva do servidor público.

ORGANIZAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA


No estudo da organização administrativa conforme nos explica Carvalho Filho (2022,
p.404) estudam-se “as normas jurídicas que regem a competência, as relações hierárquicas,
a situação jurídica, as formas de atuação e controle dos órgãos e pessoas, no exercício da
função administrativa”. Campos (2021, p.107) destaca que “a organização administrativa
está diretamente ligada à análise estrutural do Estado. Essa estrutura pode ser subdividida
em: Administração Direta e Administração Indireta”. Já em relação as formas para prestação
das atividades administrativas podem ocorrer de forma a centralizada, descentralizada e
desconcentrada.
Veremos a seguir a diferença entre administração direta e indireta, bem como as
formas de organização: a centralização, a descentralização e a desconcentração.

Mas antes de seguir, assista ao vídeo produzido pela AGU explicando a diferença
entre administração direta e indireta. Acesse o link https://www.youtube.com/
watch?v=2bWA8fyXvQw

ADMINISTRAÇÃO DIRETA E INDIRETA


A base legal para estudo da Administração Direta e Indireta é o Decreto 200/1967,
recepcionado pela Constituição Federal de 1988, como lei ordinária, que regulamenta a
organização da Administração Pública Federal. Vejamos o que dispõe o art.4º do referido
decreto:

Art. 4.º A Administração Federal compreende:


I – A Administração Direta, que se constitui dos serviços
integrados na estrutura administrativa da Presidência da
República e dos Ministérios.
II – A Administração Indireta, que compreende
as seguintes categorias de entidades, dotadas de
personalidade jurídica própria: a) Autarquias; b)
Empresas Públicas; c) Sociedades de Economia Mista. d)
fundações públicas.
83

A partir do texto extrai-se que quando a função administrativa é desempenhada


pelos entes da federação, ou seja, pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios,
trata-se de Administração Direta. Mas, quando a função administrativa é desempenha por
outras pessoas jurídicas: Autarquias, Empresas Públicas; Sociedade de Economia Mista
e Fundações Públicas está se falando de administração indireta. Para Campos (2021), a
Administração Indireta se justifica quando se busca maior eficiência e especialidade na
realização da atividade administrativa.
Assim, quando citamos como exemplo o Ministério da Previdência Social no âmbito
federal, estamos falando de um órgão público que compõe a Administração Direta, no
âmbito federal. Já o Instituto Nacional de Seguro Social (INSS), é uma autarquia pública,
da Administração Indireta e que está vinculado, mas não subordinado, ao Ministério da
Previdência Social.

ENTIDADES DA ADMINISTRAÇÃO INDIRETA


Veremos a seguir, as principais características das entidades que compõem a
Administração Indireta: Autarquias, Empresas Públicas; Sociedade de Economia Mista e
Fundações Públicas.

Autarquia
De acordo com Di Pietro (2022, p.576), Autarquia “é pessoa jurídica de direito
público, criada por lei, com capacidade de autoadministração, para o desempenho de
serviço público descentralizado, mediante controle administrativo exercido nos limites
da lei”. Campos (2021, p.121) prioriza a finalidade da sua criação como sendo a busca da
eficiência, de modo que a autarquia “é fruto do procedimento de descentralização, pelo
qual a Administração centralizada repassa determinado serviço para fins de buscar maior
especialidade e eficiência em sua prestação”.
O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(Ibama), vinculado ao Ministério do Meio Ambiente é uma autarquia, que tem como
finalidade principal a proteção do meio ambiente.

Assista agora um pequeno vídeo sobre as principais características da entidade


administrativa Autarquia do canal Direito Desenhado. Acesse ao link https://www.
youtube.com/watch?v=22lP-QQzG-c

Empresas Públicas e Sociedade de Economia Mista


Di Pietro (2022) esclarece que, embora Empresa Pública e Sociedade de Economia
Mista (SEM) sejam entidades administrativas diversas, devem ser estudadas juntas, dada
as semelhanças entres ambas. A autora explica que ambas são dotadas de personalidade
jurídica de direito privado, na qual o Estado as utilizam para a execução de alguma atividade
de seu interesse com maior flexibilidade, em um processo menos burocrático indissociáveis
das pessoas de direito público. Trata-se do Estado-empresário, que alinha uma atividade
tipicamente econômica à prestação de um serviço de interesse coletivo.
Campos (2021) trata empresas públicas e SEM como empresas estatais, uma vez que
engloba as duas entidades, esclarecendo que ambas são sociedades civis ou comerciais que
possuem o Estado como detentor do controle acionário. As empresas públicas dessa forma,
seriam pessoas jurídicas de direito privado, criadas por meio de autorização legislativa,
84

com capital integralmente público, sendo sua forma organizacional livre. Elas podem
desempenhar tantos serviços públicos quanto atividades econômicas.
Já as sociedades de economia se diferenciam somente em relação ao capital que deve
ser majoritariamente público e sua organização deve ser sob a forma de sociedade anônima,
as quais podem desempenhar tantos serviços públicos, quanto atividades econômicas.
Como exemplo de empresa pública, temos a Caixa Econômica e de Sociedade de
Econômica Mista, o Banco do Brasil. Ambas atuam no setor bancário em nosso país.

Quer saber mais sobre o que são empresas públicas e sociedades de economia mista?
Assista ao vídeo da AGU pelo link https://www.youtube.com/watch?v=G2IZDQa1qV0

Fundações Públicas
Campos (2021) dispõe que as fundações podem ser analisadas tanto pelo Direito
Civil quanto pelo Direito Administrativo. Na ótica dos institutos civis analisam-se as
fundações criadas pelos particulares e nos institutos administrativos àquelas criadas pelo
poder público. Essa última tem relevância para o nosso estudo. Autora assevera ainda que
se houver divergência quanto a natureza jurídica das fundações, elas devem adotar o regime
de direito público ou de direto privado, prevalece o entendimento do STF de que a fundação
pode ser criada em qualquer um dos regimes a depender da vontade da lei instituidora.
Di Pietro (2022) esclarece que sua finalidade é social, devendo ter como objetivo
central produzir aos membros da coletividade. Em outras palavras, é a execução de serviço
público sem fins lucrativos, unicamente com a finalidade de alcançar objetivos sociais, e
não de caráter econômico ou empresarial.
Tem-se como exemplo a Fundação Nacional dos Povos Indígenas vinculada ao
Ministério dos Povos Indígenas, que tem como objetivo central proteger e promover os
direitos dos povos indígenas no Brasil.

Assista o pequeno vídeo do canal Tá tudo mapeado sobre as diferenças


entre autarquias e fundações. Acesse o link https://www.youtube.com/
watch?v=2801cVyulj8

FORMAS DE ORGANIZAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO


PÚBLICA: A CENTRALIZAÇÃO, A DESCENTRALIZAÇÃO E A
DESCONCENTRAÇÃO
A administração pública se organiza de três formas: a centralização, a descentralização
e a desconcentração. Campos (2021) explica que, quando os próprios entres da federação
(União, Estados, Distrito Federal e Municípios) desenvolvem as atividades, acontece uma
forma centralizada. Assim, estaremos diante de órgãos da administração direta que na
forma de executar adota-se a centralização. No mesmo sentido, Di Pietro (2022) explica a
centralização como a situação em que o Estado executa suas tarefas diretamente, ou seja,
diretamente pelos inúmeros órgãos e agentes administrativos que compõem sua estrutura
funcional. Os ministérios são exemplos de órgãos da administração direta, que agem de
85

forma centralizada. No âmbito estadual, as secretarias de estado e no âmbito municipal, as


secretarias municipais. Por exemplo, o Ministério de Desenvolvimento Social (MDS) tem
entre suas finalidades desenvolver a política pública de assistência social. Quando o órgão
age diretamente por meio de seus agentes públicos para execução dessa política pública os
fazem de forma centralizada.
Já a desconcentração é a forma a na qual o órgão se organiza em departamentos
para melhor executar determinado serviço público. Há nesse caso dentro do Ministério,
Secretaria Estadual ou Municipal, apenas uma distribuição interna de competências, dentro
da mesma pessoa jurídica. Por exemplo, o Ministério de Desenvolvimento Social (MDS)
tem diversas secretarias temáticas, como a Secretaria Nacional de Segurança alimentar e
nutricional (SESAN). Sua finalidade é, entre outras, a promoção da alimentação saudável
e adequada para a população. De modo que, essa secretaria terá dentro da repartição de
atribuições do MDS a responsabilidade de executar essa política pública.
Já na descentralização, Campos (2021, p.108) explica que há uma “repartição
externa de funções, ou seja, uma pessoa jurídica irá repassar, por lei, contrato ou ato
administrativo, a execução de determinado serviço para outra pessoa”. Di Pierto (2022,
p.404), por sua vez, explica que descentralização, o Estado “o faz indiretamente, isto é,
delega a atividade às outras entidades. As autarquias, empresas públicas e fundações
públicas são exemplos órgãos que atuam de forma descentralizada”. Por exemplo, o
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) que é uma autarquia federal,
cuja missão prioritária é executar a reforma agrária e realizar o ordenamento fundiário
nacional. Embora vinculado ao Ministério de Desenvolvimento Agrário e Familiar não é a
ele subordinado, tendo independência para executar suas atribuições.
Em síntese, pode-se dizer que o Brasil é um estado federado, organizados em três
poderes (o Legislativo, o Judiciário e o Executivo), cada um possui uma função típica
(legislar, jurisdicional e administrativa) e desempenha outras funções atípicas. No âmbito
da função administrativa tem-se sua estrutura organizada em administração direta e
indireta. Já em sua forma de execução das atividades administrativas podem ocorrer de
forma centralizada, descentralizada e desconcentrada.

Curta o vídeo didático sobre as formas de organização da administração pública


que consideramos relevante indicar. Assista pelo link https://www.youtube.com/
watch?v=wwVPH2KeME0

RESPONSABILIDADE CIVIL DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA


A Constituição Federal de 1988, no art. 37, § 6º, estabelece que as pessoas jurídicas
de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão
pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito
de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa4.
O referido dispositivo afirma que a responsabilidade do Estado é objetiva, isso
significa que independe da comprovação de culpa ou dolo, todavia fica assegurado o
direito de regresso contra o responsável que causou o dano. Assim, nos casos em que a
conduta é dolosa ou culposa cabe ao Estado o direito de regresso contra o responsável.

4. No âmbito administrativo, pose-se utilizar a definição de dolo do direito penal, conforme explicado
por Diniz (2022), como a intenção deliberada de praticar um ato ilícito, seja ele omissivo ou comissivo,
com a intenção de produzir o resultado ou assumindo o risco de produzi-lo. Do mesmo jeito pode definir
culpa quando a o agente age com imprudência, imperícia, negligência.
86

Age dolosamente aquele que tem a intenção de causar prejuízo a outrem. Por outro lado,
age culposamente aquele que embora não tenha a intenção de prejudicar, é negligente,
imprudente ou imperito. Em síntese, a pessoa prejudica a outra por falta de cuidado ou
atenção. Trata-se da responsabilidade do agente público que é subjetiva.
Já a responsabilidade objetiva, Campos (2021) explica como sendo aquela a pela
qual o particular lesado, para ter direito a receber uma indenização, terá de comprovar três
elementos somente: o ato praticado por agente público, o dano causado seja ele material ou
moral e nexo causal entre o ato e o dano, não precisando, nesse tipo de responsabilização,
demonstrar que a conduta foi dolosa ou culposa do agente ou do Poder Público.
Por fim, a expressão prestadoras de serviços públicos, abrange não só as entidades
integrantes da Administração indireta, como também as concessionárias, permissionárias ou
autorizatárias de serviços públicos ou qualquer entidade privada que preste serviço público
a qualquer título. Assim, se um ônibus de propriedade de uma empresa concessionaria do
serviço público causar algum acidente no município A, causando lesões físicas em terceiro,
o Estado responderá em face do dano causado de forma objetiva, assegurando ação de
regresso5 contra aquele que executou certo ato danoso.
O Estado também responde por conduta omissa, que ocorre quando um particular
pode sofrer prejuízos decorrentes de uma omissão do Poder Público. Nesse caso, a
responsabilidade não é objetiva, é subjetiva, uma vez que o particular que sofreu a lesão
deverá comprovar a culpa do Estado.
Em algumas situações o Poder Público terá sua responsabilidade excluída ou atenuada
quanto a obrigação de indenizar. Trata-se das excludentes de responsabilidade. Campos
(2021) afirma que são três: culpa exclusiva da vítima, caso fortuito/força maior e ato de
terceiro. Para explicar cada modalidade, a autora apresenta exemplos, que apresentamos
aqui de forma sucinta. No caso de culpa exclusiva, alguém por exemplo comete suicídio
em uma estrada de metrô de uma concessionária, já no de caso fortuito ou força maior
ocorre em função de fato imprevisível e inevitável não correlacionado à uma ação estatal.
Por exemplo, quando ocorre uma enchente repentina ocasionada por uma tempestade que
gera diversos prejuízos a terceiros. Por fim, ato de terceiro ocorre quando é exclusivo de
terceiro, podendo ocorrer quando uma pessoa, por exemplo, empurra outra para que ela
seja atropelada por um metrô.
Há ainda uma distinção importante que precisamos apresentar: a teoria do risco
administrativo e do risco integral. A teoria-base da responsabilidade civil do Estado é a
do risco administrativo. Ela obriga as pessoas jurídicas de direito público e as de direito
privado a responsabilizarem-se pelos danos que seus agentes (de maneira comissiva ou
omissiva) causarem aos particulares. Essa teoria comporta exclusão ou atenuação de sua
responsabilidade em algumas situações, alegando, por exemplo: culpa exclusiva (excludente)
ou concorrente (atenuante) da vítima, caso fortuito/força maior e ato de terceiro. Todavia,
existem situações em que afasta a teoria do risco e aplica-se a teoria do risco integral, que
independente de quaisquer circunstâncias o Estado terá o dever de indenizar. Campos
(2021) apresenta como possibilidades Dano nuclear, Atentado terrorista ou atos de guerra
em aeronave e dano ambiental. Segundo a doutrina majoritária, essa teoria só será adotada
em três situações:

•Dano nuclear
Art. 21, XXIII, CF/1988. Compete à União – explorar os
serviços e instalações nucleares de qualquer natureza e
exercer monopólio estatal sobre a pesquisa, a lavra, o
enriquecimento e reprocessamento, a industrialização
5. De acordo com Carvalho Filho (2022), o direito de regresso é garantido ao Estado na busca pela
reparação do dano junto ao agente responsável, desde que este tenha agido com culpa ou dolo. Um
exemplo desse direito de regresso ocorre quando um servidor público, agindo com dolo ou culpa, causa
prejuízo ao Estado ao provocar um acidente em via pública. Nesse caso, o Estado pode entrar com uma
ação judicial contra o servidor para recuperar os valores que foram despendidos na reparação do dano
causado pelo acidente.
87

e o comércio de minérios nucleares e seus derivados,


atendidos os seguintes princípios e condições: [...] d) a
responsabilidade civil por danos nucleares independe da
existência de culpa.
•Atentado terrorista ou atos de guerra em aeronave
Art. 1.º, Lei 10.309/2001. Fica a União autorizada a
assumir as responsabilidades civis perante terceiros no
caso de danos a bens e pessoas no solo, provocados por
atentados terroristas ou atos de guerra contra aeronaves
de empresas aéreas brasileiras no Brasil ou no exterior.
Art. 1.º, Lei 10.744/2003. Fica a União autorizada, na
forma e critérios estabelecidos pelo Poder Executivo,
a assumir despesas de responsabilidades civis perante
terceiros na hipótese da ocorrência de danos a bens e
pessoas, passageiros ou não, provocados por atentados
terroristas, atos de guerra ou eventos correlatos,
ocorridos no Brasil ou no exterior, contra aeronaves de
matrícula brasileira operadas por empresas brasileiras
de transporte aéreo público, excluídas as empresas de
táxi aéreo.
•Dano ambiental (CAMPOS, 2021, p.541)

Assim, de acordo com a teoria do risco integral, há certas situações em que o Estado
é obrigado a indenizar independentemente de qualquer circunstância. Nessas situações
específicas, o Estado tem o dever de indenizar, conforme estabelecido pela legislação.

Responsabilidade administrativa do servidor público


Di Pietro (2022, p. 803) explica que “o servidor responde administrativamente pelos
ilícitos administrativos definidos na legislação estatutária e que apresentam os mesmos
elementos básicos do ilícito civil: ação ou omissão contrária à lei, culpa ou dolo e dano”.
Para tanto, a administração pública deve instaurar procedimentos previstos nos estatutos
dos servidores.

Os meios de apuração previstos nas leis estatutárias


são os sumários, compreendendo a verdade sabida e
a sindicância, e o processo administrativo disciplinar,
impropriamente denominado inquérito administrativo.
(...)

Comprovada a infração, o servidor fica sujeito a penas


disciplinares (DI PIETRO, 2022, p. 803).

Assim, é possível responsabilizar o servidor público por ilícitos administrativos,


desde que previstos em legislação específica, e que seja assegurado ao servidor contradizer,
bem como se defender, da acusação a ele imputada. Isso porque o texto constitucional é
bastante claro ao consignar em seu artigo 5, LV, que aos “litigantes, em processo judicial
ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa,
com os meios e recursos a ela inerentes”.
Cabe destacar, no entanto, que o servidor pode fazer sua própria defesa não
necessitando ser assistido por um advogado, é o que dispõe a súmula vinculante do STF nº
5. Vejamos: “A falta de defesa técnica por advogado no processo administrativo disciplinar
não ofende a Constituição”.
88

Neste capítulo abordarmos a organização da Administração Pública, exploramos


tanto a Administração Direta quanto a Indireta, compreendendo suas características e
diferenças. Além disso, discutimos as diferentes formas de organização da Administração
Pública, incluindo a centralização, a descentralização e a desconcentração. E, por fim,
abordamos a responsabilidade civil da Administração Pública e a responsabilidade
administrativa dos servidores públicos. Certamente, o estudo dessas questões permite
uma compreensão mais aprofundada sobre o funcionamento e a atuação do setor público,
visando sempre ao interesse público e ao bem-estar da sociedade como um todo.
Agora vamos responder algumas questões sobre o conteúdo apresentado.

ATIVIDADES

1. Considerando conteúdo estudado avalie as assertivas a seguir.

I. Quando a função administrativa é despenhada pelos entes da federação, ou seja,


pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios, fala-se de Administração Direta.
II. Quando a função administrativa é despenhada pelos entes da federação, ou seja,
pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios, fala-se de Administração indireta.
III. Quando a função administrativa é despenhada pelos entes da federação, ou seja,
pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios fala-se de Administração Direta
e Indireta

É correto o que se afirmar em

a) I, apenas.
b) III, apenas.
c) II apenas.
d) I e II apenas.
e) I, II e III.

2. Sobre a forma de organização centralização, assinale alternativa correta.

a) A centralização como a situação em que o Estado executa suas tarefas diretamente,


ou seja, diretamente pelos inúmeros órgãos e agentes administrativos que compõem
sua estrutura funcional.
b) A centralização como a situação em que o Estado executa suas tarefas indiretamente,
ou seja, diretamente por uma das entidades administrativas criadas.
c) O Brasil não adota a forma de organização centralizada, somente a descentralizada.
d) A centralização e desconcentração são sinônimos no âmbito da Administração
Pública.
e) A centralização e descentralização são sinônimos no âmbito da Administração
Pública.

3. Sobre a responsabilidade administrativa, marque alternativa correta

a) De acordo com a Constituição de 1988, as pessoas jurídicas de direito público e


as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que
89

seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso


contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.
b) De acordo com a Constituição de 1988, somente as pessoas jurídicas de direito
público prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes,
nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o
responsável nos casos de dolo ou culpa.
c) De acordo com a Constituição de 1988, as pessoas jurídicas de direito público e
as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que
seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, mas não assegura o direito de
regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.
d) De acordo com a Constituição de 1988, as pessoas jurídicas de direito público e
as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que
seus agentes, de forma subjetiva.
e) De acordo com a Constituição de 1988, as pessoas jurídicas de direito público e
as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que
seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, de forma objetiva e subjetiva.
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CAPÍTULO X - ORGANIZAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA:


TEORIA DOS ÓRGÃOS PÚBLICOS

INTRODUÇÃO
Neste novo capítulo trataremos sobre os Órgãos Públicos no âmbito da administração
pública, destacando as principais teorias sobre assunto: a teoria do mandato, a da
representação, e a dos órgãos. Depois, abordaremos o conceito, e as principais as
características dos órgãos públicos.
Além disso, apresentaremos a classificação dos órgãos, bem como as possibilidades
previstas no texto da Constituição de 1988 para sua criação e extinção.

TEORIA DOS ÓRGÃOS PÚBLICOS


Há várias teorias elaboradas ao longo dos anos para tentar explicar o fato da atuação
do agente público ser imputada ao Estado. Mas três se destacam: teoria do mandato,
teoria da representação e teoria do órgão. Vejamos as características de cada teoria.

Teoria do Mandato
A teoria do mandato dispõe que o agente público e age em nome do Estado porque
recebe dele um contrato legal de representação. Assim, ele é um mandatário e só age em
nome do Estado. Di Pietro (2022) traz a crítica de que essa teoria não explica como o
Estado, sem vontade própria, pode outorgar o mandato ao agente público.

Teoria da Representação
Pela teoria da representação, considerava-se o agente público nos termos do Código
Civil um representante a semelhança de um curador. De acordo com Campos (2021),
a grande crítica está no fato de considerar o Estado incapaz, de modo que não seria
possível responsabilizá-lo, e por conta da sua incapacidade não teria como nomear seus
representantes.

Teoria dos Órgãos


Já a teoria dos órgãos estatais preceitua que quando os órgãos estatais atuam, como
eles são partes integrantes do todo, este agir será imputado à pessoa jurídica à qual pertencem
(CAMPOS, 2021). Assim, imputasse ao Estado os atos práticos pelos seus agentes públicos
desde que eles estejam investidos de poder jurídico devidamente reconhecidos pela lei.
Carvalho Filho (2022, p.54) também destaca que a característica fundamental da
teoria do órgão consiste no princípio da imputação volitiva. Isto significa que a vontade
do órgão público “é imputada à pessoa jurídica a cuja estrutura pertence. Há, pois, uma
relação jurídica externa, entre a pessoa jurídica e outras pessoas, e uma relação interna, que
vincula o órgão à pessoa jurídica a que pertence”.
Assim, de acordo com a teoria do órgão, se o delegado de polícia federal prende
alguém, está efetuando a prisão em nome do Estado, atuando em nome do órgão a que
pertence, assim quem responde se a prisão for arbitrária será a União, uma vez que o
delegado faz parte da polícia federal, órgão vinculado ao Ministério da Justiça, que compõe
a estrutura da União.
O autor ainda assevera que a teoria se aplica à chamada função de fato, ao afirmar
que pouco importa se a vontade foi praticada por um agente de fato, desde que a atividade
provenha de um órgão.
91

A teoria tem aplicação concreta na hipótese da chamada


função de fato. Desde que a atividade provenha de um
órgão, não tem relevância o fato de ter sido exercida por
um agente que não tenha investidura legítima. Bastam
a aparência da investidura e o exercício da atividade
pelo órgão: nesse caso, os efeitos da conduta vão ser
imputados à pessoa jurídica (CARVALHO FILHO, 2021,
p.54).

O Brasil adota a teoria dos órgãos também conhecida como a teoria volitiva. Assim,
se houver por parte de um agente público violação a um direito de um particular o Estado
ser responsabilizado e como vimos no capítulo anterior de forma objetiva com direito a
ação de regresso contra aquele que deu causa ao dano. Nesse caso, a responsabilidade será
subjetiva.

Assista ao vídeo do Professor Dalmo Azevedo e entenda mais sobre a teoria dos
órgãos: https://www.youtube.com/watch?v=8JZGQpBukwQ

A seguir, vamos conhecer o conceito, característica e classificação dos órgãos públicos.

ÓRGÃOS PÚBLICOS: CONCEITOS, CARACTERÍSTICAS E


CLASSIFICAÇÃO
Carvalho Filho (2022, p.56) define órgão como sendo “o compartimento na estrutura
estatal a que são cometidas funções determinadas, sendo integrado por agentes que, quando
as executam, manifestam a própria vontade do Estado”. Di Pietro (2022, p.709) por sua vez
o conceitua como a “unidade que congrega atribuições exercidas pelos agentes públicos
que o integram com o objetivo de expressar a vontade do Estado”. A autora acrescenta que
não deve se confundir órgão com a pessoa jurídica (sendo parte dela) e nem com o agente
público.
Conceito legal: órgão é “a unidade de atuação integrante da estrutura da Administração
direta e da estrutura da Administração indireta” (art. 1º, § 2º). Não possui personalidade
jurídica.
O Conceito legal de órgão pode ser encontrado na lei nº 9.784, art. 1o, § 2o da Lei de
Processo Administrativo federal. De acordo com a norma, órgão é a “unidade de atuação
integrante da estrutura da Administração direta e da estrutura da Administração indireta”.
O órgão em si é despersonalizado, ou seja, não tem personalidade jurídica e sua
capacidade processual é atribuída à pessoa física ou jurídica ao qual integra. Ele também
não possui patrimônio próprio, uma vez que o patrimônio utilizado pelos órgãos é de
propriedade da pessoa jurídica a que pertencem.
Todavia, em situações específicas pode ser dotado de capacidade processual. De
acordo com Di Pietro (2022) tal situação acontece, por exemplo, em relação às Câmaras
Municipais, Assembleias Legislativas e Tribunais de Contas.

Embora sem personalidade jurídica, o órgão pode ser


dotado de capacidade processual, em certas situações,
especialmente para defesa de seus direitos (como ocorre
com o mandado de segurança) e não para atuação
em nome da pessoa jurídica em que se integram. Ex.:
92

Câmaras Municipais, Assembleias Legislativas, Tribunal


de Contas (DI PIETRO, 2022, p.57).

Acrescenta-se que em relação a câmara municipal o tema é objeto da Súmula 525 do


Superior Tribunal de Justiça. Vejamos: “A Câmara de Vereadores não possui personalidade
jurídica, apenas personalidade judiciária, somente podendo demandar em juízo para
defender os seus direitos institucionais. (STJ, 1ª Seção, aprovada em 22-4-2015) ”.
Outro exemplo é o caso de interposição de mandado de segurança por órgão do Poder
Legislativo ou do Poder Judiciário quando não há o repasse dos recursos orçamentários
devido aos referidos órgãos. O STF sobre o assunto já decidiu:

DIREITO CONSTITUCIONAL, FINANCEIRO E


PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DE SEGURANÇA
IMPETRADO POR TRIBUNAL DE JUSTIÇA CONTRA
OMISSÃO DE GOVERNADOR DO ESTADO: DOTAÇÕES
ORÇAMENTÁRIAS (REPASSE DOS DUODÉCIMOS)
(ART. 168 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL).
COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DO S.T.F. (ART. 102, I,
N, DA C.F.). LEGITIMIDADE ATIVA. LEGITIMIDADE
PASSIVA. INTERESSE DE AGIR. 1. A competência
originária do S.T.F., para o processo e julgamento da
impetração, com base no art. 102, I, n, da C.F., ficou bem
demonstrada na petição inicial, com indicação, inclusive,
de precedentes do Plenário, em situações análogas. 2. O
Tribunal de Justiça tem legitimidade ativa para
pleitear, mediante Mandado de Segurança, o
repasse dos duodécimos, de que trata o art. 168
da C.F. 3. E o Governador do Estado legitimidade
passiva, pois é a autoridade responsável por essa
providência. 4. Embora o impetrante pudesse utilizar-
se da via ordinária, em processo de ação cominatória, nada
impedia que se valesse da via do Mandado de Segurança,
pelo qual também se pode, em tese, compelir a autoridade
pública à prática de algum ato, que haja deixado de
praticar, e a que esteja juridicamente vinculada. 5. O
repasse dos duodécimos vencidos antes da impetração,
relativos aos meses de setembro e outubro de 1995, já
ocorreu, em cumprimento à medida liminar deferida.
Assim, também, aquele relativo aos meses subsequentes,
ao menos até o de novembro de 1996. 6. Nesses pontos,
portanto, o Mandado de Segurança está prejudicado, pois
seu objetivo já foi alcançado. 7. No que concerne, porém,
aos meses posteriores, de dezembro de 1996, em diante,
o M.S. é deferido, em caráter definitivo, confirmando-
se a medida liminar e determinando-se à autoridade
coatora que providencie o repasse dos duodécimos, tanto
dos que se venceram no curso do processo, quanto dos
que se vencerem até o final de seu mandato, sempre até
o dia 20 de cada mês. 8. Preliminares rejeitadas. Pedido
parcialmente prejudicado. E, noutra parte, deferido, nos
termos do voto do Relator. 9. Decisão unânime. (STF
- MS: 22384 GO, Relator: Min. SYDNEY SANCHES,
Data de Julgamento: 14/08/1997, Tribunal Pleno, Data
de Publicação: DJ 26-09-1997 PP-47479 EMENT VOL-
01884-01 PP-00154).
93

Cabe ainda destacar, que o órgão é resultado da desconcentração, que como vimos
no capítulo anterior, é a forma de organização da administração pública na qual há a
distribuição interna de competências dentro da mesma pessoa jurídica.
Assim, pode-se sistematizar que o órgão público, em regra, não possui personalidade
jurídica, não pode exercer direitos, muito menos contrair obrigações em nome próprio.
Também não tem patrimônio que pertence à pessoa jurídica a que pertence, que também
responde juridicamente pelo órgão. Por exemplo, o Ministério da Previdência Social não
tem personalidade de estar em juízo, este é representado pela União Federal.

Os órgãos, integrantes de uma estrutura interna, não possuem personalidade


jurídica; patrimônio próprio; e, em regra, capacidade processual.

CRIAÇÃO E EXTINÇÃO DE ÓRGÃOS PÚBLICOS


A Constituição Federal estabelece que a criação e a extinção de órgãos da
Administração Pública dependem de lei de iniciativa privativa do Chefe do Executivo. Ou
seja, somente o presidente de forma privativa pode criar ou extinguir órgãos públicos desde
que seja por meio de lei, podendo, por Decreto, dispor sobre a organização e funcionamento
desses órgãos públicos, desde que não implique aumento de despesas. Vejamos o que
dispõe o texto constitucional

DAS ATRIBUIÇÕES DO CONGRESSO NACIONAL


Art. 48. Cabe ao Congresso Nacional, com a sanção
do Presidente da República, não exigida está para o
especificado nos arts. 49, 51 e 52, dispor sobre todas as
matérias de competência da União, especialmente sobre:
IX - Organização administrativa, judiciária, do
Ministério Público e da Defensoria Pública da União e
dos Territórios e organização judiciária e do Ministério
Público do Distrito Federal;

DAS LEIS
Art. 61. A iniciativa das leis complementares e ordinárias
cabe a qualquer membro ou Comissão da Câmara dos
Deputados, do Senado Federal ou do Congresso Nacional,
ao Presidente da República, ao Supremo Tribunal
Federal, aos Tribunais Superiores, ao Procurador-Geral
da República e aos cidadãos, na forma e nos casos
previstos nesta Constituição.
§ 1º São de iniciativa privativa do Presidente da República
as leis que:
e) criação e extinção de Ministérios e órgãos da
administração pública, observado o disposto no art. 84,
VI;         

DAS ATRIBUIÇÕES DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA


Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da
94

República:
VI - dispor, mediante decreto, sobre:         
a) organização e funcionamento da administração
federal, quando não implicar aumento de despesa nem
criação ou extinção de órgãos públicos;         
b) extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos;        

Carvalho Filho (2022) sintetiza o que dispõe a Constituição sobre órgãos públicos da
seguinte forma,

Representando compartimentos internos da pessoa


pública, os órgãos públicos não são livremente criados
e extintos pela só vontade da Administração. Tanto a
criação como a extinção de órgãos dependem de lei, e
nesse sentido dispõe a vigente Constituição quando inclui
a exigência na relação das denominadas “reservas legais”,
matérias cuja disciplina é reservada à lei (art. 48, XI).
Anteriormente era exigida lei para a criação, estruturação
e atribuições dos órgãos, mas com a nova redação dada
ao dispositivo pela EC nº 32, de 11.9.2001, a exigência
passou a alcançar apenas a criação e a extinção de órgãos.
Em consequência, a estruturação e as atribuições podem
ser processadas por decreto do Chefe do Executivo, como
consta, aliás, no art. 84, VI, “a”, da CF, também alterado
pela referida Emenda (CARVALHO FILHO, p. 55).

Assim, se o Presidente da República deseja criar um Ministério para desenvolver


determinada política pública, deverá encaminhar projeto de lei para o Congresso Nacional,
porém se o que ele deseja é apenas organizar a estrutura de um ministério já existente, sem
que haja aumento de despesa, ele pode fazer por meio de um Decreto Autônomo.
É importante mencionar que Decreto Autônomo é diferente de decreto regulamentar.
Ele está previsto no art. 84, IV e atribui ao Presidente da República a competência para
expedir decretos e regulamentos para a fiel execução das leis. Além disso, os decretos
regulamentares são atos secundários, sofre controle de legalidade. Já o Decreto
Autônomo, por inovar à ordem jurídica, é considerado ato primário e sofre controle de
constitucionalidade.

CLASSIFICAÇÃO DOS ÓRGÃOS


Existem várias formas de classificação dos órgãos, vamos apresentar a utilizada por
Campos (2021) como referência, uma vez que a autora utiliza o que é consenso na doutrina
majoritária. Vejamos:

1 - Quanto à hierarquia: podem ser independentes, autônomo, superiores e


subalternos.

Os independentes são aqueles órgãos de cúpula e que representam os três poderes


(Legislativo, Executivo e Judiciário). Campos (2021) esclarece que se trata de órgão que
estão no ápice da estrutura estatal, portanto, não se sujeitam a nenhuma subordinação, seja
ela hierárquica ou funcional. São eles: Presidência da República, Câmara dos Deputados e
Senado Federal e Supremo Tribunal Federal.
Por sua vez, os órgãos autônomos estão abaixo dos órgãos independentes e possuem
uma relação de subordinação, embora possuam autonomia administrativa, financeira e
95

técnica. Os Ministérios são exemplos de órgãos autônomos no âmbito federal, enquanto as


secretarias desempenham esse papel no âmbito estadual e municipal.
Já os órgãos superiores são aqueles que não possuem autonomia e muito menos
independência, estão subordinados a uma chefia superior, embora mantenha o poder de
decisão sobre as atividades que realiza. São exemplos: Departamento da Polícia Federal,
secretaria da receita federal, gabinetes, superintendências etc.
Por fim, têm-se os órgãos subalternos, que são órgãos de mera execução de serviços.
Não tem autonomia, independência e, muito menos, poder de decisão sobre as atribuições
desempenhadas, recebe comando. São exemplos: recepção, portaria etc.

2) Quanto à estrutura: simples e compostos

Os órgãos simples são aqueles chamados de unitários. Há nesses casos um único


centro de competência. Pode possuir vários agentes públicos, mas não existe outros órgãos
compondo a sua estrutura organizacional. Por exemplo, a Presidência da República. Já os
órgãos compostos possuem divisão de atividades entre órgãos diferentes. Por exemplo, o
Congresso Nacional que tem dois órgãos de direção, quais sejam: a Câmara dos Deputados
e o Senado Federal.

3) Quanto à atuação funcional: singulares e colegiados

Os órgãos singulares são aqueles nos quais as decisões são tomadas por uma única
pessoa, um único agente. São também chamados de unipessoais. É exemplo: Presidência
da República. Já os Colegiados são aqueles nos quais as decisões são tomadas por um
colegiado de agentes. São também chamados de pluripessoais. É exemplo, a Câmara dos
Deputados, o Senado Federal, ou ainda, os tribunais de contas.

4) Quanto ao âmbito de atuação: centrais e locais

Os órgãos centrais são aqueles que possuem atribuição em todo o território do


qual façam parte. São exemplos: Ministério da Saúde, que exerce atribuições em todo o
território nacional, a Secretaria Estadual de Saúde, que exerce atribuição em relação ao
território estadual e, por fim, a Secretária Municipal de Saúde, que exerce atribuições
no âmbito municipal. Os órgãos locais podem atuar, somente, em determinada parte do
território do qual fazem parte. Exemplo: delegacia de polícia em determinada localidade
de um município.

Acesse o excelente vídeo no canal Mundo da administração para saber mais


sobre o conceito e a classificação dos órgãos públicos. https://www.youtube.com/
watch?v=5u-ZXpA-xvU

Depois entre no site Tutorium e acesse os mapas mentais sobre


órgãos públicos. https://www.tutorium.com.br/post/mapas-mentais-sobre-
organiza%C3%A7%C3%A3o-administrativa-descentraliza%C3%A7%C3%A3o-
desconcentra%C3%A7%C3%A3o-e-%C3%B3rg%C3%A3os-p%C3%BAblicos

Neste capítulo, exploramos a teoria dos órgãos e sua relevância na compreensão da


estrutura e do funcionamento da Administração Pública. Ao compreender a organização
96

e classificação dos órgãos públicos, é possível garantir um Estado eficiente e atender às


demandas da sociedade de forma mais eficaz. O estudo desses aspectos é fundamental para
promover o bom funcionamento do Estado e alcançar os objetivos coletivos de maneira
satisfatória. Agora vamos responder algumas questões sobre o conteúdo apresentado.

ATIVIDADES

1. Considerando conteúdo estudado avalie as assertivas a seguir.

I. A teoria dos órgãos estatais imputasse ao Estado os atos práticos pelos seus
agentes públicos desde que eles estejam investidos de poder jurídico devidamente
reconhecidos pela lei.
II. Na Teoria da Representação, considera-se o agente público nos termos do Código
Civil um representante a semelhança de um curador. O Estado é considerado incapaz,
de modo que não seria possível responsabilizá-lo, e por conta da sua incapacidade
não teria como nomear seus representantes.
III. A teoria do mandato dispõe que o agente público age em nome do Estado porque
recebe dele um contrato legal de representação. Assim ele seria um mandatário e só
agiria em nome do Estado.

É correto o que se afirmar em

a) I, apenas.
b) III, apenas.
c) II apenas.
d) I e II apenas.
e) I, II e III.

2. Sobre a classificação dos órgãos públicos assinale alternativa incorreta.

a) Os órgãos superiores são aqueles que não possuem autonomia e muito menos
independência, estão subordinados a uma chefia superior, embora mantenha o
poder de decisão sobre as atividades que realiza. É exemplo, o departamento da
polícia federal.
b) Os órgãos singulares são aqueles que as decisões são tomadas por uma única
pessoa, um único agente. São também chamados de unipessoais. É exemplo, a
Presidência da República.
c) Os órgãos subalternos, são órgãos de mera execução de serviços. Não tem
autonomia, independência e muito menos poder de decisão sobre as atribuições
desempenhadas, recebe comando. É exemplo, a recepção.
d) Os órgãos simples são aqueles que são chamados de unitários. Há nesses casos um
único centro de competência. Pode possuir vários agentes públicos, mas não existe
outros órgãos compondo a sua estrutura organizacional. É exemplo, a recepção
e) Os independentes são aqueles órgãos de cúpula e que representa os três poderes
(Legislativo, Executivo e Judiciário) e o Ministério Público.
97

3. Sobre a personalidade jurídica dos órgãos marque alternativa correta de acordo


com a jurisprudência do STJ.

a) A Câmara de Vereadores não possui personalidade jurídica, apenas personalidade


judiciária, somente podendo demandar em juízo para defender os seus direitos
institucionais.
b) A Câmara de Vereadores possui personalidade jurídica, podendo demandar em
juízo para defender os seus direitos institucionais.
c) A Câmara de Vereadores não possui personalidade jurídica e nem personalidade
judiciária, não podendo demandar em juízo para defender os seus direitos
institucionais.
d) A Câmara de Vereadores possui personalidade jurídica e personalidade judiciaria,
mas pode demandar em juízo para defender os seus direitos institucionais.
e) A Câmara de Vereadores não possui personalidade jurídica portanto em hipótese
nenhuma pode demandar em juízo para defender os seus direitos institucionais.
98

CAPÍTULO XI - ORGANIZAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO


PÚBLICA: AGENTES PÚBLICOS

INTRODUÇÃO
Neste novo capítulo trataremos dos agentes públicos no âmbito da administração
pública, bem como seu relevante papel. Destacam-se conceitos e suas principais
características. Além disso, apresenta classificação doutrina de agentes públicos.
Apresenta-se ainda, o conceito de cargos, empregos e funções públicas, bem como a
possibilidade prevista na Constituição Federal de acumulação por parte do servidor público.

AGENTES PÚBLICOS: CONCEITO E FUNÇÃO


O termo Agente público é explicado legalmente pela Lei de Improbidade
Administrativa e o Código Penal.

Art. 2.º, Lei 8.429/1992. Reputa-se agente público,


para os efeitos desta lei, todo aquele que exerce, ainda
que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição,
nomeação, designação, contratação ou qualquer outra
forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo,
emprego ou função nas entidades mencionadas no artigo
anterior.

Art. 327, CP. Considera-se funcionário público, para os


efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem
remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública. §
1.º Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo,
emprego ou função em entidade paraestatal, e quem
trabalha para empresa prestadora de serviço contratada
ou conveniada para a execução de atividade típica da
Administração Pública.

Extrai-se dos dispositivos legais apresentados que o conceito jurídico de agente


público é bastante amplo, abarcando toda pessoa, remunerada ou não, que presta serviço
para a Administração Pública, com ou sem vínculo empregatício. Nesse sentido, os mesários
que só atuam durante as eleições, embora possuam um vínculo temporário e voluntário com
o Estado, são considerados agentes públicos. Assim, o “recebimento de contraprestação
financeira e uma relação duradoura com a Administração não são requisitos necessários
para que alguém se enquadre no conceito ora estudado (CAMPOS, 2021, p.419).
Carvalho Filho (2022, p.59) também destaca o quão são importantes os agentes
públicos “são o elemento físico da Administração Pública. Na verdade, não se poderia
conceber a Administração sem a sua presença”. Ele ainda acrescenta que os agentes
públicos compõem a trilogia fundamental que dá o perfil da Administração: órgãos, agentes
e funções.
Nessa perspectiva, os agentes públicos são importantes porque cabe a eles exercerem
as funções administrativas, por meio dos atos administrativos que são competentes.
É por isso, que em caso de dano causado a terceiro por um agente público, é o Estado
que é responsabilizado, sendo cabível ação de regresso. Ou seja, pode o Estado ingressar
com ação no Poder Judiciário para que o agente público que causou o dano arque com as
consequências do ato ou omissão.
99

CLASSIFICAÇÃO DOS AGENTES PÚBLICOS


Em que pese a existência de divergência doutrinária, utiliza-se como suporte teórico
a classificação apresentada por Carvalho Filho (2022).

Agentes políticos
Os agentes políticos atuam no exercício da função política do Estado. Tratam-se dos
mais altos postos no âmbito dos poderes, possibilitando que as vontades superiores do
Estado sejam externadas e executadas. Segundo Carvalho Filho (2022) eles se caracterizam
por terem funções de direção e orientação estabelecidas na Constituição e por serem
normalmente transitórios o exercício de tais funções.

Como regra, sua investidura se dá através de eleição,


que lhes confere o direito a um mandato, e os mandatos
eletivos caracterizam-se pela transitoriedade do exercício
das funções, como deflui dos postulados básicos das
teorias democrática e republicana. Por outro lado, não
se sujeitam às regras comuns aplicáveis aos servidores
públicos em geral; a eles são aplicáveis normalmente
as regras constantes da Constituição, sobretudo as que
dizem respeito às prerrogativas e à responsabilidade
política. (CARVALHO FILHO, 2023, p.533).

Tabela 1. São exemplos de Agentes políticos segundo Carvalho Filho.


Agentes políticos Chefes do Executivo (Presidente, Governadores e Prefeitos), seus
auxiliares (Ministros e Secretários Estaduais e Municipais)
e os membros do Poder Legislativo (Senadores, Deputados
Federais, Deputados Estaduais e Vereadores).

Fonte: (CARVALHO FILHO, 2023, p.533)

O autor não inclui como fazem outros autores, como Campos (2021), os Magistrados,
os membros do Ministério Público e os membros dos Tribunais de Contas como agentes
políticos. Sobre isso ele explica:

Com a devida vênia a tais estudiosos, parece-nos que


o que caracteriza o agente político não é o só fato de
serem mencionados na Constituição, mas sim o de
exercerem efetivamente (e não eventualmente) função
política, de governo e administração, de comando e,
sobretudo, de fixação das estratégias de ação, ou seja, aos
agentes políticos é que cabe realmente traçar os destinos
do país.

Ninguém discute a importância do papel que tais agentes


desempenham no cenário nacional, mas, ao contrário
do que ocorre com os legítimos agentes políticos, cuja
função é transitória e política, sua vinculação ao Estado
tem caráter profissional e de permanência e os cargos
que ocupam não resultam de processo eletivo, e sim,
como regra, de nomeação decorrente de aprovação em
concurso público.3 Não interferem diretamente nos
objetivos políticos, como o fazem os verdadeiros agentes
100

políticos. Assim, sua fisionomia jurídica se distancia


bastante da que caracteriza estes últimos. Não se nos
afigura adequada, com efeito, sua inclusão como agentes
políticos do Estado. Mais apropriado é inseri-los como
servidores especiais dentro da categoria genérica de
servidores públicos, como veremos adiante (CARVALHO
FILHO, 2022, p..533).

Perceba que o autor os classifica como servidores especiais, uma vez que não têm
função transitória e seu vínculo com o Estado se dá, em regra, por meio de concurso público.

Servidores Públicos
Os servidores públicos são todos os agentes que exercem em caráter permanente
uma função pública em decorrência de relação de trabalho, integram o quadro funcional
das pessoas federativas, das autarquias e das fundações públicas de natureza autárquica.
Carvalho Filho (2022), não considera os empregados das entidades privadas da
Administração Indireta, caso das empresas públicas, sociedades de economia mista e
fundações públicas de direito privado como servidores públicos, para ele, eles seriam
empregados normais regidos pela CLT.

Todos são sempre regidos pelo regime trabalhista,


integrando a categoria profissional a que estiver
vinculada a entidade, como a de bancários, economiários,
securitários etc. Além do mais, o art. 173, § 1o, da CF
estabelece que empresas públicas e sociedades de
economia mista devem sujeitar-se às regras de direito
privado quanto às obrigações trabalhistas. São, portanto,
empregados normais. Por fim, a própria tradição do
Direito brasileiro nunca enquadrou tais empregados
como servidores públicos, nem em sentido lato
(CARVALHO FILHO, 2022, p. 536).

São características dos servidores públicos: a relação jurídica de trabalho, pois de um


lado tem o servidor e de outro lado tem o empregador, que pode ser uma pessoa federativa,
uma autarquia e fundações; a profissionalidade, que tem como foco a formação e o
aperfeiçoamento profissional; a profissionalização da função pública, que busca assegurar
condições justas de trabalho e garantia de direitos e, por fim, a definitividade, uma vez que
a regra é desenvolver atividade profissional de forma permanente.
Os servidores públicos podem ser civis e militares. Para os servidores civis as
regras encontram-se entre os arts. 39 a 41 da CF e para os servidores militares no art. 42
e parágrafos e art. 142, § 3o, CF. Podemos classificá-los ainda como servidores públicos
comuns que são os que desenvolvem funções administrativas em geral e o desempenho
das atividades de apoio aos objetivos básicos do Estado e em servidores especiais, que são
aqueles que executam certas funções de especial relevância no contexto geral das funções
do Estado, como por exemplo, os Magistrados, os membros do Ministério Público, os
Defensores Públicos etc.
Considerando o vínculo jurídico que o liga ao Poder Público. Eles podem ser
estatutários, que são aqueles cuja relação jurídica de trabalho é disciplinada por estatutos;
os trabalhistas, na qual a relação de trabalho regidas pela Consolidação das Leis do Trabalho
(CLT), e, por fim, temporários, que são aqueles que são contratados por tempo determinado
para atender à necessidade temporária de excepcional interesse público.
101

CARGOS, EMPREGOS E FUNÇÕES PÚBLICAS


A Constituição Federal, em seu artigo 37, I e II, estabelece as regras para admissão
de servidores públicos:

Art.37 [...]
I – os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis
aos brasileiros que preencham os requisitos estabelecidos
em lei, assim como aos estrangeiros, na forma da lei;
II – a investidura em cargo ou emprego público depende
de aprovação prévia em concurso público de provas
ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a
complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista
em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão
declarado em lei de livre nomeação e exoneração;
III – o prazo de validade do concurso público será de até
dois anos, prorrogável uma vez, por igual período;
IV – durante o prazo improrrogável previsto no edital
de convocação, aquele aprovado em concurso público
de provas ou de provas e títulos será convocado com
prioridade sobre novos concursados para assumir cargo
ou emprego, na carreira;

Extrai-se dos incisos que os cargos podem ser ocupados por brasileiros, desde que
obedeçam aos requisitos estipulados em lei para o respectivo exercício. Em relação aos
estrangeiros, podem ocupar os cargos desde que na forma da lei. Em relação à investidura
no cargo público, temos a previsão constitucional da realização de concurso público
como critério de seleção, que pode ser de provas ou de provas e títulos. Em relação ao
prazo de validade de um concurso público será de, no máximo, 2 anos, prorrogável pelo
mesmo prazo. Se durante a validade do concurso, a administração realizar nova seleção, os
candidatos aprovados no primeiro processo deverão ser chamados com prioridade sobre
novos aprovados.
Em regra, não tem limite de idade como condição para a participação em concurso
público, salvo se decorre das necessidades das atribuições do cargo que será exercido. O
Supremo Tribunal Federal possui entendimento a respeito, considerando inconstitucional
a limitação da idade, uma vez que o artigo 7º, XXX, da Constituição Federal, proíbe a
diferença de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo de sexo,
idade, cor ou estado civil. Vejamos:

Tabela 2. Súmulas importantes sobre concurso público.


Não é admissível, por ato administrativo, restringir, em razão da
Súmula 14
idade, inscrição em concurso para cargo público.
O limite de idade para a inscrição em concurso público só se
legitima em face do art. 7º, XXX, da CF/88, quando possa
Súmula 683
ser justificado pela natureza das atribuições do cargo a ser
preenchido.
É inconstitucional o veto não motivado à participação de
Súmula 684
candidato a concurso público.
102

O estabelecimento de limite de idade para inscrição em concurso


público apenas é legítimo quando justificado pela natureza das
Teses de
atribuições do cargo a ser preenchido. [Tese definida no ARE
Repercussão Geral
678.112 RG, rel. min. Luiz Fux, P, j. 25-4-2013, DJE 93 de 17-5-
2013, Tema 646.]
1. O Tribunal, no ARE 678.112/MG, julgado sob a sistemática da
repercussão geral, reafirmou a jurisprudência segundo a qual
somente se afigura constitucional a fixação de idade mínima
em edital de concursos públicos quando respaldada por lei e
justificada pela natureza das atribuições do cargo. 2. Ausência de
Jurisprudência razoabilidade na fixação de limite etário de 24 (vinte e quatro)
anos para ingresso no cargo de policial militar do estado. 3. A
Suprema Corte já firmou a orientação de que o requisito etário
deve ser comprovado na data da inscrição no certame, e não em
momento posterior. Precedentes. [ARE 901.899 AgR, rel. min.
Dias Toffoli, 2ª T, j. 15-12-20’15, DJE 42 de 7-3-2016.]
Fonte: tabela elaborada pela autora com base na jurisprudência do STF.

PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DE CARGOS, EMPREGOS E


FUNÇÕES PÚBLICAS
Campos (2021) apresenta as principais características de um cargo público efetivo
destacando que é criado por lei, bem como sua extinção; ingresso por concurso público,
existe na Administração Direta, nas autarquias e fundações públicas. Além disso, o regime é
estatutário, possui vínculo com o Estado, legal e não contratual, exige-se estágio probatório
por parte do servidor, que adquire, após aprovação no estágio probatório, a estabilidade.
Havendo conflitos, competência é da justiça comum.
O cargo tem muitas semelhanças com o cargo público, porque também tem que
ser criado por lei, assim como sua extinção, o ingresso é por concurso público. Existe nas
empresas públicas, sociedades de economia mista, fundações governamentais (pessoas
jurídicas de direito privado), consórcios públicos (de direito público ou privado) e nas
pessoas de direito público que em seu regime jurídico único optarem pelo emprego público.
Seu regime, no entanto, não é estatutário e sim celetista (CLT) e seu vínculo é contratual.
Tem estágio probatório, mas não tem estabilidade, e a competência para solucionar litígio
é da Justiça do Trabalho.
Em relação à Função pública, nosso ordenamento jurídico apresenta duas: cargo
em comissão e função de confiança. Ambos relacionadas ao desempenho de atividade de
direção, chefia ou assessoramento. A diferença está em sua ocupação. Cargos em comissão
podem ser ocupados por qualquer pessoa, servidor público ou não, já as funções de
confiança somente por servidores públicos.

Acumulação de Cargos, Empregos e Funções


A regra é a impossibilidade de acumulação de cargos, empregos ou funções públicas.
Vejamos o que dispõe a Constituição

Artigo 37 [...]
XVI – é vedada a acumulação remunerada de cargos
públicos, exceto, quando houver compatibilidade de
horários, observado em qualquer caso o disposto no
inciso XI:
a) a de dois cargos de professor;
b) a de um cargo de professor com outro técnico ou
103

científico;
c) a de dois cargos ou empregos privativos de profissionais
de saúde, com profissões regulamentadas;
XVII – a proibição de acumular estende-se a empregos
e funções e abrange autarquias, fundações, empresas
públicas, sociedades de economia mista, suas subsidiárias,
e sociedades controladas, direta ou indiretamente, pelo
poder público

Há ainda no texto constitucional a possível acumulação de um cargo de magistrado


e de professor (art. 95, parágrafo único, I, CF), um cargo de membro do Ministério Público
e de professor (art. 128, § 5.º, II, d, CF) e um cargo efetivo e o mandato de vereador (art.
38, III, CF).
Cabe destacar que em todas as possibilidades deve ter compatibilidade de horários.
Atualmente, o STF e o STJ possuem entendimento no qual o servidor que ocupa dois cargos
públicos de forma lícita, apenas deve respeitar a compatibilidade de horários, não havendo
limite máximo de jornada.

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO


EM RECURSO ESPECIAL. ACUMULAÇÃO DE
CARGOS PÚBLICOS REMUNERADOS. ÁREA
DA SAÚDE. LIMITAÇÃO DA CARGA HORÁRIA.
IMPOSSIBILIDADE. COMPATIBILIDADE DE
HORÁRIOS. REQUISITO ÚNICO. AFERIÇÃO PELA
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. ADEQUAÇÃO DO
ENTENDIMENTO DESTA CORTE À ORIENTAÇÃO
DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (RE 1.094.802/
PE, RELATOR MIN. ALEXANDRE DE MORAES, DJE
24.5.2018). JUÍZO DE RETRATAÇÃO. AGRAVO EM
RECURSO ESPECIAL DA UNIÃO DESPROVIDO.
1. A Primeira Seção do STJ, no julgamento do REsp.
1.767.955/RJ, Rel. Min. OG FERNANDES, DJe 3.4.2019,
adequando-se à orientação do Supremo Tribunal Federal
( RE 1.094.802/PE, Relator Min. ALEXANDRE DE
MORAES, DJe 24.5.2018), firmou o entendimento de
que o único requisito estabelecido para a acumulação de
cargos na área da saúde é a compatibilidade de horários
no exercício das funções, cujo cumprimento deverá ser
aferido pela Administração Pública. 2. Ante o exposto, em
juízo de retratação, nos termos do art. 1.030, II do NCPC,
nega-se provimento ao Agravo em Recurso Especial da
UNIÃO. (STJ - AREsp: 1090850 RJ 2017/0093113-4,
Relator: Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO,
Data de Julgamento: 13/10/2020, T1 - PRIMEIRA
TURMA, Data de Publicação: DJe 21/10/2020).

Além disso, de acordo entendimento do STF, nas hipóteses de admissibilidade de


acumulação, deverá o teto remuneratório previsto no art. 37, XI, da Constituição Federal
ser analisado em cada um dos cargos. De modo que, a soma das remunerações poderá
ultrapassar o limite remuneratório.

TETO CONSTITUCIONAL – ACUMULAÇÃO DE


CARGOS – ALCANCE.
104

Nas situações jurídicas em que a Constituição Federal


autoriza a acumulação de cargos, o teto remuneratório
é considerado em relação à remuneração de cada um
deles, e não ao somatório do que recebido. (RE 612975,
Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno,
julgado em 27/04/2017, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-
203 DIVULG 06-09-2017 PUBLIC 08-09-2017)

Cabe destacar ainda a aprovação da Emenda Constitucional n. 77/2014, que permite


que o servidor militar das Forças Armadas com dedicação exclusiva acumule um cargo
nas fileiras militares com um cargo ou emprego público na área da saúde. Mais tarde, foi
editada nova Emenda Constitucional n. 101/2019, que possibilitou os militares dos estados
e do DF (PMs e bombeiros militares) acumularem o cargo que ocupam da mesma forma
que os servidores civis. Ou seja, de forma mais abrangente, agora os militares dos estados e
do Distrito Federal podem acumular cargos, nos termos do inciso XVI do artigo 37.
Neste capítulo, tratamos dos agentes públicos e destacamos o quanto eles são
essenciais para o correto funcionamento do Estado. Os agentes públicos, que podem ser
classificados em agentes políticos e servidores públicos, possuem atribuições específicas
e fundamentais para execução de políticas públicas. Além disso, abordamos as distinções
entre cargos, empregos e funções públicas. Ao compreender esses aspectos, é possível
promover uma Administração Pública mais eficiente, participativa e transparente.
Agora vamos responder algumas questões sobre o conteúdo apresentado.

ATIVIDADES

1. Considerando conteúdo estudado avalie as assertivas a seguir.

I. Os agentes políticos atuam no exercício da função administrativa do Estado.


II A regra é a impossibilidade de acumulação de cargos, empregos ou funções
públicas, mas a constituição prevê exceções, a exemplo de dois cargos de professor
III. Servidores especiais são aqueles que executam certas funções de especial
relevância no contexto geral das funções do Estado, como por exemplo, os
Magistrados, os membros do Ministério Público, os Defensores Públicos etc.

É correto o que se afirmar em

a) I, apenas.
b) III, apenas.
c) I e II apenas.
d) I e II apenas.
e) I, II e III.

2. Sobre a jurisprudência do STF sobre acesso ao cargo público assinale a assertiva


incorreta.

a) Para o STF é inconstitucional a limitação da idade, uma vez que o artigo 7º, XXX,
da Constituição Federal, proíbe a diferença de salários, de exercício de funções e de
critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil.
b) Para o STF, o limite de idade para a inscrição em concurso público só se legitima
105

em face do art. 7º, XXX, da CF/88, quando possa ser justificado pela natureza das
atribuições do cargo a ser preenchido.
c) Para o STF, é inconstitucional o veto não motivado à participação de candidato a
concurso público.
d) Para o STF, é constitucional o veto não motivado à participação de candidato a
concurso público.
e) Para o STF, se afigura constitucional a fixação de idade mínima em edital de
concursos públicos quando respaldada por lei e justificada.

3. Sobre o conceito de agente público, marque alternativa correta

a) O conceito jurídico de agente público é bastante restrito, abarcando toda pessoa,


remunerada ou não, que presta serviço para a Administração Pública, com ou sem
vínculo empregatício.
b) O conceito jurídico de agente público é bastante amplo, abarcando toda pessoa,
remunerada ou não, que presta serviço para a Administração Pública, com ou sem
vínculo empregatício. Neste sentido, os mesários que só atuam durante as eleições,
embora possuam um vínculo temporário e voluntário com o Estado.
c) O conceito jurídico de agente público é bastante amplo, abarcando toda pessoa,
remunerada ou não, que presta serviço para a Administração Pública, com ou sem
vínculo empregatício. Mas não inclui os mesários que só atuam durante as eleições,
por exemplo, por não possuir um vínculo permanente com o Estado.
d) O conceito jurídico de agente público abarca toda pessoa, remunerada que presta
serviço para a Administração Pública, com vínculo empregatício.
e) O conceito jurídico de agente público só inclui os ocupantes de cargos eletivos,
como o Presidente da República.
106

CAPÍTULO XII - ORGANIZAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO


PÚBLICA: A MODERNIZAÇÃO DO ESTADO

INTRODUÇÃO
O último capítulo é dedicado a refletir sobre a organização da administração pública
numa perspectiva de modernização do Estado. Assim, apresentamos um compilado de
legislações e iniciativas pós-constituição de 1988 que tem como propósito prestar um
serviço público mais eficiente aos usuários. São iniciativas importantes: plataforma de
cidadania digital, a solicitação de simplificação, a carta de serviço do usuário, o governo
aberto e digital.
As iniciativas têm como base a inovação por meio dos avanços tecnológicos e dos
meios de comunicação, para modificar a forma como os serviços públicos são entregues ao
cidadão, que mais do que um usuário, também é um agente participativo, que colabora com
o controle dos gastos públicos, uma vez que são do recolhimento dos seus tributos que a
administração pública alcança a finalidade de cuidar dos interesses da coletividade.

NOVAS TENDÊNCIAS NA MODERNIZAÇÃO DO ESTADO


Vimos durante todo o curso o instituto jurídico, o Estado e a sua organização
administrativa, com ênfase em suas funções, seus órgãos e seus servidores. Tal organização é
bastante burocrática, possui processos específicos para que determinado ato administrativo
seja praticado. Ao administrador só é permitido fazer o que consta na lei. Assim, é muito
importante entender que o Estado tem como objetivo a prestação de serviços públicos para
a população, que paga os seus tributos, na espera de receber em contrapartida um serviço
de qualidade.
Assim, está no centro do debate da modernização do Estado estabelecer processo de
constituição de cidadania e de otimização dos recursos públicos. Modernizar, é, portanto,
a busca da excelência no âmbito da administração pública no que tange a prestação de
serviço.
No Brasil, o ano 1995 é um marco importante na modernização do Estado, com a
publicação do Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado. O documento passa a
compreender a importância de se ter um Estado gerencial capaz de garantir qualidade na
prestação de serviço ao usuário, bem como ampliar os canais de participação e controle
social.
Mais tarde, o ano de 2005, quando o governo federal lançou o Programa Nacional
de Gestão Pública e Desburocratização – GESPÚBLICA, a partir da fusão dos programas
governamentais: Modelo de Excelência em Gestão Pública – MEGP e Prêmio Nacional de
Gestão Pública. Instituído pelo Decreto n. 5.378, de 23 de fevereiro de 2005, estabelecia
no seu art. 2º, que o programa contemplava a formulação e implementação de medidas
integradas em agenda de transformações da gestão, necessárias à promoção dos resultados
preconizados no plano plurianual, à consolidação da administração pública profissional
voltada ao interesse do cidadão e à aplicação de instrumentos e abordagens gerenciais. O
referido dispositivo ainda elencava os objetivos a serem alcançados:

I - eliminar o déficit institucional, visando ao integral


atendimento das competências constitucionais do Poder
Executivo Federal;
II - promover a governança, aumentando a capacidade
de formulação, implementação e avaliação das políticas
públicas;
III - promover a eficiência, por meio de melhor
aproveitamento dos recursos, relativamente aos
107

resultados da ação pública;


IV - assegurar a eficácia e efetividade da ação
governamental, promovendo a adequação entre meios,
ações, impactos e resultados; e
V - promover a gestão democrática, participativa,
transparente e ética.

É muito importante ler a integra do Decreto n. 5.378, de 23 de fevereiro de 2005,


por meio do link: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/
decreto/d5378.htm#:~:text=DECRETO%20N%C2%BA%205.378%20DE%20
23%20DE%20FEVEREIRO%20DE%202005.&text=Institui%20o%20
Programa%20Nacional%20de,que%20lhe%20confere%20o%20art

Extrai-se dos objetivos mencionados, que além de buscar a implementação de


processos de governança para aumentar a eficiência e otimizar recursos, havia também uma
preocupação em promover uma gestão que fosse democrática, participativa, transparente
e ética.
De acordo com o documento intitulado Cadernos Gestão Pública (2007), o
Programa Nacional da Gestão Pública e Desburocratização era um poderoso instrumento
da cidadania, pois conduzia os cidadãos e agentes públicos ao exercício prático de uma
administração pública ética, participativa, descentralizada, promotora do controle social e
orientada para resultados.

Saiba mais sobre Gespública acessando o link https://bibliotecadigital.


economia.gov.br/bitstream/777/607/1/caderno_01_documento_de_referencia_
vs_2007.pdf

Todavia, o programa não tinha o caráter obrigatório, e teve baixa adesão das
instituições públicas e foi revogado pelo Decreto 9.094/2017, que regulamenta a lei nº
13.460/2017. A atualização trouxe diretrizes que devem ser observadas nas relações entre
os órgãos e entidade do Poder Executivo Federal, bem como com os usuários dos serviços
públicos. Vejamos:

Art. 1º Os órgãos e as entidades do Poder Executivo


federal observarão as seguintes diretrizes nas relações
entre si e com os usuários dos serviços públicos:
I - presunção de boa-fé;
II - compartilhamento de informações, nos termos da lei;
III - atuação integrada e sistêmica na expedição de
atestados, certidões e documentos comprobatórios de
regularidade;
IV - racionalização de métodos e procedimentos de
108

controle;
V - eliminação de formalidades e exigências cujo custo
econômico ou social seja superior ao risco envolvido;
VI - aplicação de soluções tecnológicas que visem a
simplificar processos e procedimentos de atendimento
aos usuários dos serviços públicos e a propiciar melhores
condições para o compartilhamento das informações;
VII - utilização de linguagem clara, que evite o uso de
siglas, jargões e estrangeirismos; e
VIII - articulação com os Estados, o Distrito Federal,
os Municípios e os outros Poderes para a integração,
racionalização, disponibilização e simplificação de
serviços públicos.
Parágrafo único. Usuários dos serviços públicos são as
pessoas físicas e jurídicas, de direito público ou privado,
diretamente atendidas por serviço público.

O Parágrafo único ainda define quem são os usuários dos serviços públicos,
estabelecendo que são as pessoas físicas e jurídicas, de direito público ou privado,
diretamente atendidas por serviço público.
Em síntese, pode-se dizer que o novo Decreto, a partir do que dispõe a Lei 13.460/2017,
dispõe como diretriz o pressuposto de que as pessoas físicas e jurídicas, na condição de
usurários6, estabelecem com a administração pública uma relação baseada na presunção de
boa-fé. Incentiva o compartilhamento de informações e uma atuação integrada e sistêmica
na expedição de documentos. Além disso, busca maior eficiência, com a racionalização de
métodos e procedimentos, bem como a proposição de soluções tecnológicas e articuladas
com os demais entes da federação.
O art. 11 do mesmo Decreto prevê que os órgãos e as entidades do Poder Executivo
federal que prestam atendimento aos usuários dos serviços públicos, direta ou indiretamente,
deverão elaborar e divulgar Carta de Serviços ao Usuário no âmbito de sua esfera de
competência. Esse instrumento tem como objetivo informar aos usuários sobre os serviços
prestados pelo órgão ou pela entidade do Poder Executivo federal e as formas de acesso aos
serviços, compromissos e padrões de qualidade do atendimento ao público e os serviços
publicados no portal único gov.br, nos termos do disposto no Decreto n. 8.936/2016 que,
por sua vez, trata da Plataforma de Cidadania Digital que tem como finalidade:

Art. 1º Fica instituída a Plataforma gov.br, no âmbito


da administração pública federal direta, autárquica e
fundacional, com a finalidade de:
I - Facultar aos cidadãos, às pessoas jurídicas e a outros
entes públicos a solicitação e o acompanhamento dos
serviços públicos sem a necessidade de atendimento
presencial;
II - Implementar e difundir o uso dos serviços públicos
digitais aos cidadãos, às pessoas jurídicas e a outros entes
públicos, inclusive por meio de dispositivos móveis;
III - disponibilizar, em plataforma única e centralizada,
mediante o nível de autenticação requerido, o acesso às
informações e a prestação direta dos serviços públicos;

6. O usuário é todo aquele que utiliza serviços públicos, seja pessoa física ou jurídica. Este tem o direito
de receber um atendimento eficiente, bem como ser tratado com respeito, tendo acesso à informação e a
participação na tomada de decisões dos gestores públicos.
109

IV - Simplificar as solicitações, a prestação e o


acompanhamento dos serviços públicos, com foco na
experiência do usuário;
V - dar transparência à execução e permitir o
acompanhamento e o monitoramento dos serviços
públicos; e
VI - promover a atuação integrada e sistêmica entre
os órgãos e as entidades envolvidos na prestação dos
serviços públicos.

Cabe destacar ainda a solicitação de simplificação que dispõe no art.13, que “os
usuários dos serviços públicos poderão apresentar Solicitação de Simplificação aos órgãos
e às entidades do Poder Executivo federal, por meio de formulário próprio denominado
Simplifique!, sempre que vislumbrarem oportunidade de simplificação ou melhoria do
serviço público”.

Conheça a norma que é conhecida como a lei de defesa dos usuários de serviços
públicos. https://www.youtube.com/watch?v=hjJjLN_9-UQ

Agora, conheça os principiais serviços aos usuários do serviço público.

Sobre a Carta de Serviços do Usuário, acesse o link a seguir:


https://www.youtube.com/watch?v=Rajc0nk5pqM
https://www.youtube.com/watch?v=DguKcXfjKPE

Sobre a solicitação de simplificação, acesse o link a seguir.


https://www.youtube.com/watch?v=yhEq4C7nzYs

Em 2019, o Governo Federal publicou o Decreto n. 10.160/2019, que institui a


Política Nacional de Governo Aberto no âmbito do Governo Federal. De acordo com
o art. 2º são diretrizes da Política Nacional de Governo Aberto:

I - aumento da disponibilidade de informações sobre as


atividades governamentais, incluídos os dados sobre os
gastos e o desempenho das ações e dos programas do
Governo federal;
II - fomento à participação social nos processos
decisórios;
III - estímulo ao uso de novas tecnologias que fomentem
a inovação, o fortalecimento da governança pública e o
aumento da transparência e da participação social na
gestão e na prestação de serviços públicos; e
IV - aumento dos processos de transparência, de acesso a
informação e da utilização de tecnologias que subsidiem
esses processos.

Para alcance de tais objetivos propõe-se um conjunto de planos de ação, que se


sucedem ao longo do tempo, com iniciativas, ações, projetos, programas e políticas públicas,
110

com foco na transparência, no acesso à informação, na melhoria na prestação de serviços


públicos e no fortalecimento da integridade. Vejamos o que dispõe o art. 3º,

Art. 3º Os planos de ação nacionais sobre governo aberto


contemplarão iniciativas, ações, projetos, programas e
políticas públicas destinadas:
I - ao aumento da transparência;
II - ao aprimoramento da governança pública;
III - ao acesso às informações públicas;
IV - à prevenção e ao combate à corrupção;
V - à melhoria da prestação de serviços públicos;
VI - à eficiência administrativa; e
VII - ao fortalecimento da integridade pública.
Parágrafo único. Os planos de ação nacionais sobre
governo aberto contemplarão, prioritariamente,
a inclusão de iniciativas, de ações, de projetos, de
programas e de políticas públicas inovadoras e terão
duração de até dois anos.

Extrai-se dos artigos, que a proposta de governo aberto busca aumentar a


transparência, a participação social, bem como melhorar a governança pública. Princípios
que são essenciais para uma gestão democrática e transparente.

Saiba mais o que é Governo Aberto, conceito e princípios. Assistindo aos vídeos
pelos links https://www.youtube.com/watch?v=CaQz_6ijLmU e https://www.
youtube.com/watch?v=ouoMlFdjK5I

Em 2020, o governo federal publicou novo Decreto, de nº 10.332, que estabeleceu a


estratégia de governo digital para o período de 2020 a 2022. O documento legal acompanha
a revolução tecnológica e o dos meios de comunicação em curso, buscando implementar
melhorias no âmbito da gestão da administração pública. Em síntese, entre seus objetivos,
o Decreto define como características do Governo, aquele centrado no cidadão, integrado,
inteligente, confiável, transparente, aberto e eficiente. São premissas da estratégia:

Um Governo integrado, que resulta em uma experiência consistente de atendimento


para o cidadão e integra dados e serviços da União, dos Estados, do Distrito Federal
e Municípios, reduzindo custos, ampliando a oferta de serviços digitais e retira do
cidadão o ônus do deslocamento e apresentação de documentos.
Um Governo centrado no cidadão, que busca oferecer uma jornada mais agradável e
responde às suas expectativas por meio de serviços de alta qualidade.
Um Governo inteligente, que implementa políticas efetivas com base em dados e
evidências e antecipa e soluciona de forma proativa as necessidades do cidadão e das
organizações, além de promover um ambiente de negócios competitivo e atrativo a
investimentos.
Um Governo confiável, que respeita a liberdade e a privacidade dos cidadãos e
111

assegura a resposta adequada aos riscos, ameaças e desafios que surgem com o uso
das tecnologias digitais no Estado.
Um Governo transparente e aberto, que atua de forma proativa na disponibilização
de dados e informações e viabiliza o acompanhamento e a participação da sociedade
nas diversas etapas dos serviços e das políticas públicas.

Para o acompanhamento das ações, os órgãos e as entidades comporão um


Comitê de Governança Digital, tendo como instrumentos de Planejamento: o Plano de
Transformação Digital, que busca a transformação digital de serviços; a unificação de canais
digitais; a interoperabilidade de sistemas; o Plano Diretor de Tecnologia da Informação e
Comunicação e o Plano de Dados Abertos.
Em 2021, foi promulgada a lei 14.129 que institui princípios, regras e instrumentos
para o Governo Digital e para o aumento da eficiência pública. Entre os vários princípios
dispostos no documento legal, cita-se a desburocratização, a modernização, o fortalecimento
e a simplificação da relação do poder público com a sociedade, mediante serviços digitais,
acessíveis inclusive por dispositivos móveis; a possibilidade aos cidadãos, às pessoas
jurídicas e aos outros entes públicos de demandar e de acessar serviços públicos por meio
digital, sem necessidade de solicitação presencial; a transparência na execução dos serviços
públicos e o monitoramento da qualidade desses serviços; e o incentivo à participação
social no controle e na fiscalização da administração pública e o dever do gestor público de
prestar contas diretamente à população sobre a gestão dos recursos públicos.

Entenda mais sobre Governo Digital, conceito e princípios, acesse os links abaixo:
https://www.youtube.com/watch?v=Lm36YVGjz6g
https://www.youtube.com/watch?v=TA7wncJMEtw

De acordo com as normas apresentadas é possível perceber que o Governo Federal vem
incentivando a modernização da administração pública, por meio dos avanços tecnológicos
que possibilitam uma melhor comunicação entre o Estado e o usuário. Buscando garantir
nessa relação a participação social, a transparência, a e eficiência na prestação dos serviços
públicos. De modo que, que há na atualidade investimentos em inovação, que conforme,
nos esclarece BACICHETTO (2017), não significa necessariamente algo inédito e sim a
capacidade de dar um novo sentido ao que já é feito.

A inovação não significa algo inédito, mas significa dar


um novo sentido ao que já é feito. O seu impacto tem
que ultrapassar as paredes da sede administrativa. Caso
contrário, as consequências econômicas, por exemplo,
não serão atingidas e tampouco reconhecidas para
motivar a mudança do ambiente. As pessoas continuarão
sem esperança, os governos permanecerão pensando no
objetivo primário e a sociedade sofrerá e agonizará na
espera de mudanças reais e verdadeiramente melhores
(VARGAS, 2017, p.63).

De fato, o serviço público sempre foi a finalidade maior da administração pública.


112

Mas o que se quer com a INOVAÇÃO, é propiciar melhorias no atendimento.

OS DESAFIOS DE UMA GESTÃO PÚBLICA MODERNA


Como vimos durante o curso, com advento da Constituição de 1988, houve a
profissionalização da administração pública, com a entrada no serviço público por meio de
concurso. Ou seja, em regra, a ocupação de cargos públicas se dá pela aprovação de provas
e/ou títulos. De modo que, cabe aos agentes políticos e servidores públicos a execução dos
serviços públicos.
A mudança de cultura na administração pública é nesse sentido, um grande
desafio para a modernização da gestão pública. Faz-se necessário que os principais atores
entendam que há ganho quando estabelecemos como diretrizes no âmbito da gestão
pública, a participação, a transparência, a integridade, a eficiência, entre outros para que
efetivamente a gestão tenha qualidade na prestação dos serviços.
Nesse contexto, Vargas (2017) apresenta três linhas de raciocínios que devem ser
utilizadas, quais sejam:

A política é o fio que liga o Estado e o cidadão.


Nesse aspecto, a administração pública tem que se
voltar muito mais para o cidadão, enxergar o cidadão
como usuário do serviço público e, também, como
contribuinte que diariamente paga seus impostos para
manter uma estrutura que deveria trabalhar para o bem
social e para as demandas do povo. Além disso, ampliar
Política a participação do povo nas decisões e agilizar a tomada
de decisão governamental é de suma importância para
gerar credibilidade ao sistema. Ainda, deve melhorar o
sistema de informação e transparência, ampliar a rede
de serviços públicos, atentar para os mais necessitados
e dar oportunidade iguais a todo (VARGAS, 2017,
p.60).

A ética é o conjunto de valores universais que


a sociedade carrega consigo. Além disso, os valores
morais e sociais também são importantes neste aspecto.
Agora, muito mais do que isso, é reconhecer o número
de pessoas que passam necessidades e utilizar os
recursos de acordo com a proporção ou o levantamento,
Ética evitando a utilização indevida do recurso. No Chile, por
exemplo, é considerado um ato grave o esbanjamento
ou a utilização ineficaz de recursos, levando em
consideração que a cada um chileno existem dois
chilenos e meio que vivem na pobreza (VARGAS, 2017,
p.60).

A modernização tem que trazer ao cidadão


retorno no sistema econômico. A produtividade
no setor público pode ser considerada um fator
Econômica
competitivo. A competitividade gera riqueza e
desenvolvimento, além de dar um significado de sua
função estatal a todos.

Em síntese, a partir do pensamento do autor pode-se dizer que a política deve ser
entendida como aquela que reconhece o cidadão com usuário, o que inclui garantir que ele
tenha acesso a informação de forma transparente. A ética busca assegurar que os valores
morais e sociais sejam adotados na gestão pública, isso inclui não desperdiçar os recursos
públicos. E, por fim, a econômica, porque a modernização traz produtividade no setor
113

público, e, consequentemente ganhos econômicos para os cidadãos.


Neste capítulo, apresentamos as novas tendências na modernização do Estado,
com ênfase nas políticas em desenvolvimento no Brasil. Iniciativas como o Programa
Nacional de Gestão Pública e Desburocratização e, mais recentemente, a Política Nacional
de Governo Aberto, são poderosos instrumentos para promover a cidadania, envolvendo
os cidadãos e os agentes públicos no exercício prático de uma gestão pública participativa,
transparente, eficiente e orientada a entregar resultados para a coletividade.
Agora vamos responder algumas questões sobre o conteúdo apresentado.

ATIVIDADES

1. Considerando conteúdo estudado avalie as assertivas a seguir.


I. São iniciativas importantes no campo da inovação na gestão pública: a Plataforma
de cidadania digital, a Solicitação de Simplificação, a Carta de Serviço do Usuário, O
governo aberto e digital.
II. A estratégia de governo digital para o período de 2020 a 2022, tem como premissa
um Governo centrado na burocracia e não no cidadão.
III. Programa Nacional de Gestão Pública e Desburocratização – GESPÚBLICA,
não tinha o caráter obrigatória, e teve baixa adesão das instituições públicas e foi
revogado pelo Decreto 9.094/2017, que regulamenta a lei nº 13.460/2017.

É correto o que se afirmar em

a) I, apenas.
b) III, apenas.
c) II apenas.
d) I e II apenas.
e) I e III apenas.

2. Sobre as características da modernização no âmbito do Estado assinale a assertiva


correta

a) São diretrizes da modernização do Estado, a participação, a transparência, a


integridade, a eficiência, entre outros para que efetivamente a gestão tenha qualidade
na prestação dos serviços.
b) São diretrizes da modernização do Estado, a participação, a transparência, a
integridade, a eficiência, a burocratização, entre outros para que efetivamente a
gestão tenha qualidade na prestação dos serviços.
c) São diretrizes da modernização do Estado, a centralização, a transparência, a
integridade, a eficiência, entre outros para que efetivamente a gestão tenha qualidade
na prestação dos serviços.
d) São diretrizes da modernização do Estado, a participação, o sigilo, a integridade, a
eficiência, entre outros para que efetivamente a gestão tenha qualidade na prestação
dos serviços
e) São diretrizes da modernização do Estado, a centralização, a transparência, a
integridade, o uso indevido dos recursos públicos, entre outros para que efetivamente
a gestão tenha qualidade na prestação dos serviços .
114

3. Sobre o conceito de inovação, marque alternativa correta

a) O conceito de inovação significa criar algo na gestão pública


b) O conceito de inovação não significa necessariamente algo inédito e sim a
capacidade de dar um novo sentido ao que já é feito.
c) O conceito de inovação é sinônimo de avanços tecnológicos
d) O conceito de inovação significa adotar somente os meios tecnológicos para
garantir a participação do cidadão
e) O conceito de inovação significa adotar práticas que aumentem as despesas na
gestão pública, sem que haja efetividade para o cidadão.
115

Capítulo I

Gabarito comentado

Questão 01. Gabarito letra a)

Assertiva (a) está correta e corresponde a Teoria Tridimensional do Direito


desenvolvida pelo jurista Miguel Reale, uma vez o direito é a soma do fato, valor e
norma. Essas três dimensões coexistem numa unidade concreta e há uma interação
dinâmica e dialética dos três elementos.
A assertiva b) está incorreta pois a teoria Tridimensional do Direito destaca a
interação dinâmica e dialética dos três elementos que a integram, quais sejam: fato,
valor e norma.
A assertiva c) está incorreta, embora a primeira assertiva esteja certa, a segunda não
está porque na Teoria Tridimensional os elementos ou fatores (fato, valor e norma)
coexistem numa unidade concreta
A assertiva d) está incorreta, pelas razões já disposta anteriormente em relação os
itens II e III.
A assertiva e) está incorreta, embora o item I esteja correta, as demais estão erradas
como disposto nos itens anteriores.

Questão 02. Gabarito letra a)

A assertiva a) está correta incorreta, a democracia grega não tinha como premissa a
universalidade e a igualdade entre todos. Portanto, mulheres não participavam. Elas
eram consideradas objetos.
A assertiva b) está incorreta porque foi na Grécia Antiga que a ideia de democracia
surgiu, Roma Antiga replicou a experiência grega de democracia.
A assertiva c) está correta, a democracia grega não tinha como premissa a
universalidade e a igualdade entre todos.
A assertiva d) está incorreta, o movimento neoconstitucionalismo é recente, surgiu
na segunda metade do Século XX, como foco em aproximar direito e moral. Nas
cidades-estados gregas havia, no entanto, experiências constitucionalistas, mas não
movimentos organizados.
A assertiva e) está incorreta, pois enquanto movimento, o constitucionalismo
não surgiu na Roma Antiga, surgiu no século XVIII, com as revoluções burguesas
(Americana e Francesa).

Questão 03. Gabarito letra d)

Assertiva a) está incorreta, uma vez que os direitos de primeira geração são direitos
de liberdade, inclusos os direitos civis e políticos. E o que se deseja é a uma prestação
negativa do Estado, ou seja, a não intervenção do Estado.
Assertiva b) está incorreta, os direitos de segunda geração são direitos de
igualdade, inclusos os direitos sociais, econômicos, culturais, entre outros. E o que se
deseja é uma prestação positiva do Estado, ou seja, a intervenção do Estado.
Assertiva c) está incorreta, os direitos de terceira geração são direitos ligados
116

a fraternidade, direitos de toda a coletividade, tais como: meio ambiente, paz,


desenvolvimento, entre outros.
A assertiva d) está correta, pois os direitos políticos são direitos de primeira geração,
conhecidos também como direitos de liberdade. E de fato são marcos iniciais da
positivação dos direitos fundamentais, a revolução americana e a revolução francesa.
A assertiva e) está incorreta, a Constituição dos Estados Unidos e a Declaração
Universal do Direito do Homem e do Cidadão são marcos dos direitos de primeira
geração.

Capítulo II

Gabarito comentado

1. Assertiva correta letra b)

a) Assertiva I está incorreta porque as fontes históricas são importantes para a


formação do direito, devendo o Julgador utilizar como fonte de interpretação dos
institutos jurídicos.

b) Assertiva III está correta pois as fontes históricas são importantes para o Direito
de uma determinada sociedade, dado a influência que sofre dos fatores sociais,
econômicos e culturais em sua formação.

Assertiva I está incorreta porque as fontes históricas são importantes para a formação
do direito, devendo o Julgador utilizar como fonte de interpretação dos institutos
jurídicos. A Assertiva II está incorreta, as fontes históricas ajudam a compreender
o surgimento dos institutos jurídicos. Mas o habeas corpus no Brasil não passou a
ser um direito positivado a partir da Constituição de 1988. Este foi previsto em uma
legislação infraconstitucional, o Código Criminal do Império (1830) e, pela primeira
vez em um texto constitucional, na Constituição que inaugurou o regime republicano
no país, em 1891.

Assertiva II está incorreta conforme explicação acima. Já assertiva III está correta,
conforme disposto na letra b).
As assertivas I e II estão incorretas e a assertiva III está correta, conforme já disposto
anteriormente.

2. Assertiva correta letra c)

Assertiva a) está incorreta, pois embora a lei seja fonte por excelência do Direito, ela
é incapaz de prevê todos os fatos sociais que ocorrem em uma sociedade
Assertiva b) está incorreta pois nos países de tradição civil law, a lei tem um papel
primário e os códigos regulamentando determinados ramos tem grande relevância
para o Julgador.
Assertiva c) está correta, de fato os países de tradição Common law acredita que a lei
é apenas uma dentre as várias fontes do direito, possui um direito jurisprudencial,
baseados em casos.
Assertiva d) está incorreta, a lei é aceita como fonte principal nos países de tradição
civil law.
117

Assertiva e) está incorreta, pois de fato a lei não consegue regular todos os fatos
sociais, mas o Julgador não está autorizado a decidir o caso com base na sua
conveniência e interesses.

3. Assertiva correta letra a)

Assertiva a) está correta, pois a jurisprudência pode ser vista sob um sentido amplo,
como a coletânea de decisões proferidas por juízes e tribunais sobre determinada
matéria, no Brasil, o STF tem importante jurisprudência em defesa dos direitos da
população LGBT.

Assertiva b) está incorreta, pois jurisprudência trata-se de decisões proferidas


por juízes e tribunais sobre determinada matéria, já costume uma prática de
conhecimento geral, de forma disseminada e possui raízes na história, além de
possuir legitimidade da sociedade.

Assertiva c) está incorreta, pois no Brasil considera-se jurisprudência fonte do


Direito.

Assertiva d) está incorreta, pois no Brasil considera-se jurisprudência fonte do


Direito e não uma fonte histórica.

Assertiva e) está incorreta, pois no Brasil a jurisprudência conforme já disposto,


trata-se das decisões proferidas por tribunais e juízes sobre determinada matéria,
não se confundido com a consolidação de leis em um determinado documento legal,
como é a Consolidação das Leis Trabalhistas.

Capítulo III

Gabarito comentado

Assertiva correta letra a)

a) Assertiva I está correta, é o que dispõe o artigo 4º da lei de introdução ao estudo


do direito (LINDB), autorizando o juiz decidir o caso de acordo com a analogia, os
costumes e os princípios gerais de direito, em caso de omissão da lei.
b) Em caso de lacuna, a legislação brasileira autoriza o Julgador a utilizar princípios
gerais do direito, analogia e costumes.
c) Assertiva I está correta, pois em caso de lacuna, o juiz deve julgar o caso utilizando
os meios de integração do direito e a assertiva II, porque deve o juiz utilizar os
métodos integração em caso de lacuna.
d) Assertivas II e III já foram explicadas anteriormente. O juiz está autorizado a
utilizar os métodos de integração do direito e esses não se resumem aos princípios
gerais.
e) As assertivas II e III estão incorretas, apenas a alternativa I está correta, as demais
estão erradas conforme disposto anteriormente.
118

2. Assertiva correta, letra e)

Assertiva a) está incorreta, pois quando uma lei entra em vigência no país, ela se
impõe a todos os seus destinatários, vigência significa que a norma está pronta para
seu uso e aplicação e obriga a todos indistintamente.
Assertiva b) está incorreta, a vigência da lei, independe de sua aceitação pela
sociedade.
Assertiva c) está incorreta, pois de acordo com a LINDB, salvo disposição em
contrário, a norma entra em vigência no Brasil, em 45 dias.
Assertiva d) incorreta, pois de acordo com a LINDB nos Estados, estrangeiros, a
obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia em três meses depois de
oficialmente publicada e não em dois meses.
Assertiva e) correta, pois de acordo com a LINDB, salvo disposição em contrário, a
norma entra em vigência no Brasil, em 45 dias.

3. Assertiva correta, letra a)

Assertiva a) está correta, pois eficácia mede a absorção da norma pela sociedade.
Ocorre quando há uma validade social.
Assertiva b) está incorreta, pois conforme disposto na explicação da letra a) eficácia
mede a absorção da norma pela sociedade. Ocorre quando há uma validade social.
Assertiva c) está incorreta, pois a definição apresentada é de efetividade e não de
eficácia.
Assertiva d) está incorreta, pois eficácia das normas é sim objeto de estudo do direito.
Assertiva e) está incorreta pois eficácia não é sinônimo de legitimidade.

Capítulo IV

Gabarito comentado

1. Assertiva correta, letra e)

a) Embora esteja correta, pois de fato O elemento gramatical se ocupa tão somente
com o texto da lei, seu sentido gramatical ou literal, não é a única assertiva correta.
b) Embora esteja correta, pois o elemento ou meio Gramatical é apenas o início do
processo hermenêutico, devendo o intérprete do direito utilizar também outros
métodos de forma conjunta, não é a única assertiva correta.
c) Embora esteja correta, pois o elemento gramatical se ocupa dos aspectos
semânticos das palavras, não é a única assertiva correta.
d) Embora corretas conforme disposto anteriormente, não são as únicas corretas.
e) Assertiva é o gabarito, pois as três assertivas estão corretos.

2. Alternativa correta, letra a)

a) Está correta pois apresenta a definição do elemento teleológico, devendo o


intérprete se ocupar em extrair a finalidade da lei. Em outras palavras investiga os
119

fins que a lei visa a atingir.

b) Está incorreta, pois é o elemento lógico que se ocupa com a lógica da lei, que se
divide em lógica interna e logica externa.

c) Está incorreta, pois é o elemento histórico que se ocupa em extrair a origem das
normas, uma vez que os institutos jurídicos são frutos de momentos históricos.

d) Está incorreta, pois é o elemento sistemático que se ocupa em extrair todo o


sistema do ordenamento jurídico, compreendo que este tem como característica a
unicidade.

e) Está incorreta, pois é o elemento sociológico é ocupa em extrair o aspecto


sociológico, uma vez que deve considerar os fatos sociais.

3. Alternativa correta, letra a)

a) Está correta, pois o princípio da proporcionalidade se divide em três subprincípios:


adequação, necessidade e proporcionalidade no sentido estrito
b) Está incorreta pois o Brasil utiliza a lógica da razoável
c) Está incorreta, pois os subprincípios são partes do princípio da proporcionalidade
e não da razoabilidade. Esta busca impedir por parte do interprete o arbítrio e o
capricho em suas decisões judiciais.
d) Está incorreta, pois todo intérprete do direito pode utilizar a lógica da razoável no
Brasil, e não somente o STF.
e) Está incorreta, pois a lógica do razoável não contrapõem aos demais elementos
que devem ser utilizados de forma complementar

Capítulo V

Gabarito comentado

1. Gabarito letra (e)

a) Está correta, uma vez que o Direito Subjetivo assegura o direito de agir do indivíduo
diante de uma violação, mas não é a única.
b) Está correta, mas não é a única.
c) Está errada, embora a questão I esteja correta, a II não está, uma vez que para
Hans Kelsen não considerava a existência da diferença entre direito subjetivo e
direito objetivo. Para ele havia somente o direito objetivo.
d) Está incorreta, pelas razões mencionada na assertiva anterior em relação a questão
II, embora a questão III está correta, uma vez que o Direito Positivado é de fato a
norma posta, sendo exemplo o Código Penal de 1943.
e) Está correta, a assertiva I porque é o Direito Subjetivo que assegura o direito de
agir do indivíduo diante de uma violação, e a questão III está correta, uma vez que o
direito positivado é de fato a norma posta, sendo exemplo o Código Penal de 1943.
120

2. Assertiva correta, letra b)

A. Está incorreta, em função do fenômeno da publicização do Direito Privado, não


prevalece mais a compreensão rigorosa sobre a existência de ramos do Direito
Público e do Direito Privado.
B. Está correta, pois de fato, o uso da divisão entre Direito Público e Direito Privado
atualmente é mais para fins didáticos. Assim, há na atualidade uma falsa dicotomia
entre esses dois ramos.
C. Está incorreta, uma vez que o poder público pode intervir nas relações individuais
e trabalhistas para assegurar a eficácia dos Direitos Fundamentais. Trata-se da
eficácia diagonal.
D. Está incorreta pois o Direito Financeiro é ramo do direito público e tem como
finalidade disciplinar o emprego correto das verbas públicas a fim de bem atender
ao interesse coletivo
E. Está incorreta, pois o Direito Civil, embora seja ramo do Direito Privado, admite
na atualidade interferência das normas de Direito Público, sobretudo aquelas do
Direito Constitucional.

3. Assertiva correta, letra a)

a) Está correta, pois está autorizado o Estado interferir na autonomia da vontade no


Direito Contratual, se tal interferência tenha como finalidade proteger a dignidade
do próprio ser humano.
b) Está incorreta, pois em função do princípio da dignidade humana pode o Estado
interferir na autonomia da vontade no Direito Contratual, regidos pelo direito civil,
ramo do Direito Privado
c) Está incorreta, pois os Direitos Fundamentais têm aplicabilidade imediata e tem
eficácia em todos os ramos do direito, o que inclui os ramos do Direito Econômico e
do Direito do Consumidor.
d) Está incorreta, pois não é somente por meio do Poder Executivo, pela via
administrativa, que se assegura a aplicação de regras e princípios. Todos os demais
poderes, inclusive os indivíduos em suas relações privadas devem respeito às regras
e princípios.
e) Está incorreta, porque quando a divisão entre Direito Público e Direito Privado era
mais acentuada, prevalecia a ideia de eficácia vertical dos Direitos Fundamentais,
como forma de proteger os particulares em relação ao arbítrio do Estado.

Capítulo VI
Gabarito Comentado
1. Assertiva correta letra e)

A. Está correta, mas não é a única.


B. Está correta, mas não apenas
C. Está correta, mas não apenas.
D. Está correta, mas não apenas.
121

E. Está correta, pois as três questões apresentam corretamente as correntes


juspositivismo e jusnaturalista, além de apresentar as características do
constitucionalismo.

2. Assertiva correta letra a)

A. Está correta, pois a Constituição de 1988 confere aos Direitos Fundamentais


aplicação imediata, não dependo de complementação do Legislador
infraconstitucional para produzir efeitos.
B. Está incorreta, pois a Constituição de 1988 confere aos direitos fundamentais
aplicação imediata, não dependendo de complementação do Legislador
infraconstitucional para produzir efeitos.
C. Está incorreta, pois a Constituição de 1988 não apresenta um rol taxativo de
direitos fundamentais.
D. Está incorreta, pois a Constituição de 1988 defende que a República Federativa
Brasileira é um Estado Democrático de Direito.
E. Está incorreta, pois a Constituição de 1988 tem como princípio fundamental
da República Federativa Brasileira o pluralismo político, o princípio da dignidade
humana, entre outros.

3. Assertiva correta letra a)

a) Está correta, pois os Direitos Fundamentais exigem do poder público o dever de


respeito, de proteção e de promoção. Autorizando aquele que tem seu direito violado
acionar o direito de ação junto ao Poder Judiciário.
b) Está incorreta, pois os Direitos Fundamentais exigem do poder público o dever
de respeito, de proteção e de promoção e autoriza aquele que tem seu direito violado
acionar o direito de ação junto ao Poder Judiciário.
c) Está incorreta, pois os Direitos Fundamentais exigem do poder público o dever de
respeito, de proteção e de promoção.
d) Está incorreta, pois os Direitos Fundamentais exigem do poder público o dever de
respeito, de proteção e de promoção.
e) Está incorreta, pois os Direitos Fundamentais exigem do poder público o dever de
respeito, de proteção e de promoção e são judiciáveis. Ou seja, autoriza àquele que
tem seu direito violado acionar o direito de ação junto ao Poder Judiciário.

Capítulo VII
Gabarito comentado
1. Assertiva correta, letra c)

a) Está incorreta, pois o Brasil não adotou como forma de Estado, o Estado Unitário.
b) Está incorreta, pois o Brasil não adotou a junção do Estado Unitário e o Estado
Federado.
c) Está correta, pois o Brasil adotou como forma de Estado, a Federação.
d) Está incorreta, pois o Brasil, embora tenha adotado a federação, como forma de
122

Estado, não tem características de um Estado Unitário.


e) Está incorreta, pois conforme disposto anteriormente, somente a letra C está
correta.

2. Assertiva correta, letra a)

a) Está Correta, pois a Constituição de 1988 de fato prevê explicitamente os


princípios: legalidade, moralidade, publicidade e eficiência. Eles são aplicáveis a
toda a Administração Pública.
b) Está incorreta, pois a Constituição de 1988 prevê explicitamente princípios que
são aplicados a Administração Pública.
c) Está incorreta, pois os princípios previstos na Constituição de 1988 são aplicáveis
a toda Administração Pública e não somente à Administração Federal.
d) Está incorreta, pois os princípios previstos na Constituição de 1988 tem aplicação
imediata, não necessitando de lei específica para ser aplicado pela Administração
Pública.
e) Está incorreta, pois o princípio da reserva legal, é um desdobramento do princípio
da legalidade. Ele obriga o Legislador infraconstitucional a respeitar o comando da
Constituição em relação a algumas matérias que só podem ser disciplinadas por
meio de lei.

3. Assertiva correta, letra e)

a) Está incorreta, pois é possível a decretação de sigilo de alguns atos administrativos,


desde que a lei autorize, uma vez que a regra é a publicidade dos atos públicos.
Portanto, só a lei pode decretar as hipóteses de sigilo.
b) Está incorreta, pois o princípio da publicidade visa assegurar ampla divulgação
dos atos praticados pela Administração Pública, não pode o juiz decretar sigilo, se a
lei não autorizar.
c) Está incorreta, pois o princípio da publicidade visa assegurar ampla divulgação
dos atos praticados pela Administração Pública, não pode o administrador decretar
sigilo, se a lei não autorizar.
d) Está incorreta, pois o princípio da publicidade na Administração Pública é a regra
e não a exceção.
e) Está correta, pois de fato, a regra na Administração Pública é o administrador
tornar público todos os atos do poder público, sendo que a exceção é a não publicidade,
desde que previsto em lei.

Capítulo VIII
Gabarito comentado
1. Assertiva correta, letra e)
a) Está incorreta, de fato são as características da função executiva, mas não é a única
assertiva correta.
b) Está incorreta, de fato são as características da função legislativa, mas não é a
única assertiva correta.
c) Está incorreta, de fato são as características da função jurisdicional, mas não é a
123

única assertiva correta apenas.


d) Está incorreta, de fato são as características da função legislativa e jurisdicional,
mas não são as é a única assertiva correta.
e) Está correta, pois as três assertivas estão corretas e definem a função Administrativa,
Jurisdicional e legislativa.

2. Assertiva correta, letra a)

a) Está correta. É o que dispõe a Constituição de 1988 em seu artigo 71.


b) Está incorreta. Pois a Constituição de 1988 prevê o Tribunal de Contas, como órgão
auxiliar do Congresso Nacional no controle financeiro externo da administração
pública.
c) Está incorreta. A Constituição de 1988 prevê o Tribunal de Contas, como auxiliar
do Congresso Nacional no controle financeiro externo da administração pública.
d) Está incorreta. A Constituição de 1988 prevê o Tribunal de Contas, como auxiliar
do Congresso Nacional no controle financeiro externo da administração pública.
e) Está incorreta. O Tribunal de Contas não faz parte do Ministério Público.

3. Assertiva correta, letra A.

a) Está correta. O Brasil adota o Estado federado e possui três poderes: o Legislativo,
o Judiciário e o Executivo.
b) Está incorreta. No Estado federado, existem três poderes: o Legislativo, o
Judiciário e o Executivo, cada um exerce uma função típica essencial para o exercício
do poder estatal, mas também função atípicas.
c) Está incorreta. O Estado federado, os poderes Legislativo, Judiciário e Executivo,
exercem, respectivamente, a função típica de Legislar, Julgar e Administrar.
d) Está incorreta. O Brasil adotou o Estado federado, previsto na Constituição
Federal, com a existência de três poderes constituídos, quais sejam: Legislativo,
Judiciário e Executivo.
e) Está incorreta. No Estado Federado, os poderes são harmônicos e independentes,
mas não existe um poder mais importante que o outro.

Capítulo IX
Gabarito Comentado:
1. A letra a), está correta.

a) Está correta, é a definição de Administração Direta.


b) Está incorreta, pois essa é a definição de Administração Direta e não direta e
indireta.
c) Está incorreta, pois as características dispostas são da Administração Direta.
d) Está incorreta, pois as características dispostas em ambas as assertivas são da
Administração direta.
e) Está incorreta, pois somente a assertiva I está correta.
124

2. Letra a, está correta.

a) Está correta. São características da forma de organização da administração pública


centralização.
b) Está incorreta. Pois na centralização o Estado executa suas tarefas indiretamente,
e não por entidades administrativas.
c) Está incorreta. O Brasil adota, tendo como por exemplo, no âmbito federal, os
ministérios de políticas pública, como é o caso do Ministério da Saúde.
d) Está incorreta. A centralização e desconcentração não são sinônimos no âmbito da
Administração Pública. A centralização o Estado executa suas tarefas diretamente.
A desconcentração, embora seja uma atividade centralizada, tem uma definição
diferente e trata da organização interna dos órgãos em departamentos.
e) Está incorreta. A centralização o Estado executa suas tarefas diretamente, na
descentralização repassa, por lei, contrato ou ato administrativo, a execução de
determinado serviço para outra entidade administrativa.

3. Letra a), está correta.

a) Está correta. É o que dispõe o art.37, § 6º da CF/88, sendo a responsabilidade


do Estado objetiva.
b) Está incorreta. Pois a responsabilidade objetiva, nos termos do art.37,
§ 6º da CF/88, alcança a pessoa as pessoas jurídicas de direito público e as de
direito privado.
c) Está incorreta. Pois é assegurado o direito de regresso contra o responsável nos
casos de dolo ou culpa.
d) Está incorreta. Nos termos do art.37, § 6º da CF/88, a responsabilidade é
objetiva.
e) Está incorreta. Nos termos do art.37, § 6º da CF/88 a responsabilidade do
Estado é objetiva. Somente em relação aos seus agentes que a responsabilidade
é subjetiva.

Capítulo X
Gabarito Comentado:
1. A letra e), está correta.
a) Está incorreta. A assertiva I está correta a definição da teoria dos órgãos, mas não
é a única alternativa certa.
b) Está incorreta. A assertiva III está correta a definição da teoria do mandato, mas
não é a única alternativa certa.
c) Está incorreta. A assertiva II está correta a definição da teoria da Representação.
d) Está incorreta. I e II ambas as assertivas estão corretas, mas não são as únicas
certas.
e) Está correta. todas as assertivas estão corretas.
125

2. A letra e), é o gabarito.


a) Está correta. É a definição de órgãos superiores.
b) Está correta. É a definição de órgãos singulares
c) Está correta. É a definição de órgãos subalternos.
d) Está correta. É a definição de órgãos simples
e) Está errada. Os independentes são aqueles órgãos de cúpula e que representa os
três poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário), não incluindo o Ministério Público.

3. letra a, está correta.

a) Está correta. É o que dispõe a Sumula 525 do Superior Tribunal de Justiça.


b) Está incorreta. Não é o que dispõe a Sumula 525 do Superior Tribunal de Justiça.
c) Está incorreta. Não é o que dispõe a Sumula 525 do Superior Tribunal de Justiça.
d) Está incorreta. Não é o que dispõe a Sumula 525 do Superior Tribunal de Justiça.
e) Está incorreta. Não é o que dispõe a Sumula 525 do Superior Tribunal de Justiça.

Capítulo XI
Gabarito Comentado:
1. letra b), está correta.

a) Está incorreta, pois os agentes políticos atuam no exercício da função política e


não administrativa.
b) Está correta. São de fato exemplos de servidores especiais conforme classificação
de Carvalho Filho (2022)
c) Está incorreta. Embora assertiva II é o que dispõe a Constituição Federal em seu
Art.37, XVI, alínea “a”. A assertiva I está incorreta.
d) Está incorreta, pois somente o que consta na assertiva II está correta.
e) Está incorreta. Pois somente o que consta nas assertiva II e II estão corretas.

2. letra d), está correta.

a) Está correta. É o entendimento do STF


b) Está correta. É o entendimento do STF
c) Está correta. É o entendimento do STF.
d) Está Incorreta. Pois contraria o entendimento do STF, pois o veto deve ser
motivado à participação de candidato a concurso público.
e) Está correta. É o entendimento do STF

3. Correta: letra B.

a) Está incorreta. O conceito jurídico de agente público é amplo e não restrito.


b) Está correta. De fato, o conceito jurídico de agente público é bastante amplo,
abarcando toda pessoa, remunerada ou não, que presta serviço para a Administração
126

Pública, com ou sem vínculo empregatício. Neste sentido, os mesários que só atuam
durante as eleições, embora possuam um vínculo temporário e voluntário com o
Estado.
c) Está incorreta. O conceito jurídico de agente público é bastante amplo, abarcando
inclusive os mesários que só atuam durante as eleições.
d) Está incorreta. O conceito jurídico de agente público não abarca somente a
pessoa, remunerada que presta serviço para a Administração Pública, com vínculo
empregatício. Conforme disposto anteriormente é bastante amplo.
e) Está incorreta. O conceito jurídico de agente público não inclui somente os
ocupantes de cargos eletivos, como o Presidente da República

Capítulo XII
Gabarito Comentado:
1. Assertiva correta, letra e).
a) Está incorreta. A assertiva I está correta, mas não somente.
b) Está incorreta. A assertiva II está correta, mas não somente.
c) Está incorreta. Na estratégia de governo digital tenta vencer a burocracia e coloca
o cidadão no centro da agenda.
d) Está incorreta. A assertiva I está correta, mas a assertiva II, pelos motivos expostos
na letra c
e) Está correta. I e III. As assertivas I e III estão corretas e corresponde as iniciativas
no campo da inovação na gestão pública. Além disso, o Gespública de fato teve baixa
adesão e foi substituído.

2. Assertiva correta, letra a).


a) Está correta. Assertiva reúne as principais diretrizes da modernização do Estado.
b) Está incorreta. Assertiva traz a burocratização, que não é uma diretriz da
modernização do Estado.
c) Está incorreta. Assertiva traz a centralização, que não é uma diretriz da
modernização do Estado
d) Está incorreta. Assertiva traz o sigilo, que não é uma diretriz da modernização do
Estado
e) Está incorreta. Assertiva traz a centralização e o uso indevido dos recursos públicos,
que não são diretrizes da modernização do Estado

3. Assertiva correta, letra b).


Está incorreta. Nem sempre o conceito de inovação significa criar algo na gestão
pública.
Está correta. De fato, o conceito de inovação não significa necessariamente algo
inédito e sim a capacidade de dar um novo sentido ao que já é feito.
Está incorreta. Não são sinônimos o conceito de inovação e avanços tecnológicos.
Está incorreta. O conceito de inovação significa mais do que adotar somente os meios
tecnológicos para garantir a participação do cidadão.
Está incorreta. O conceito de inovação busca justamente otimizar os recursos
públicos e não aumentar os gastos públicos.
127

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