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FAÇA A ESCOLHA CERTA!

APRENDA A TOMAR DECISÕES SEGUNDO A


VONTADE DE DEUS

MIZAEL XAVIER

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS:

Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou


processo, especialmente por sistemas gráficos, sem a devida
autorização assinada pelo autor, Mizael de Souza Xavier. A violação
dos direitos é punível como crime (art. 184 e parágrafos do Código
Penal), com pena de prisão e multa, busca e apreensão e indenizações
diversas (art. 101 a 110 da Lei 9.610, de 19/02/1998, Lei dos Direitos
Autorais). Este livro também está publicado na Amazon em formato de
e-book (ASIN: B08PDS1PM5).

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA
VENDA PROIBIDA

5S EDITORA
PARNAMIRIM/RN – 2020
SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO
INTRODUÇÃO
Buscar a vontade de Deus é bom
Por que queremos saber a vontade de Deus?
O QUE É A VONTADE DE DEUS?
A vontade revelada de Deus
A liberdade da vontade de Deus
Jesus Cristo: o centro da vontade de Deus
CONHECIMENTO EFICAZ DA VONTADE DE DEUS
Inconformidade com este mundo
Renovação da mente
A VONTADE DE DEUS E O ESPÍRITO SANTO
A VONTADE DE DEUS E A ORAÇÃO
COMO SABER A VONTADE DE DEUS?
A TOMADA DE DECISÃO
Os agentes influenciadores
Exemplo bíblico de tomada de decisão
TOMANDO DECISÕES BÍBLICAS
O princípio da glória de Deus
O princípio do cristocentrismo
O princípio da soberania de Deus
O princípio da dependência de Deus
O princípio da edificação
O princípio do amor
O princípio da santidade
O princípio do bem
O princípio da solidariedade
O princípio da submissão
O princípio da paz
O princípio da alegria
O princípio do aprendizado
O princípio da prudência
O princípio da ação de graças
O princípio da provisão
APRESENTAÇÃO

“Confia no Senhor de todo o teu coração e não te


estribes no teu próprio entendimento. Reconhece-o
em todos os teus caminhos, e ele endireitará as tuas veredas.”

Provérbios 2:5,6

Certa vez, vi nas redes sociais uma postagem muito


engraçada, mas que revela todo o cuidado que
apresentarei neste livro a respeito da tomada de decisões
segundo a vontade de Deus. Um rapaz ia fazer uma
viagem de avião, e recorreu à Bíblia para buscar a
orientação de Deus para aquela viagem, uma palavra de
encorajamento e conforto. Então, ele abriu a sua Bíblia e
pousou os olhos sobre o primeiro versículo que encontrou,
que dizia; “Em verdade te digo que hoje estarás comigo no
paraíso”, que está em Lucas 23:43. Já outro estava cheio
de problemas e utilizou o mesmo método para identificar o
que Deus queria para Ele, qual era a direção a ser
seguida, que decisão deveria tomar, que escolha deveria
fazer. Então abriu a Bíblia a esmo e pousou o dedo sobre
Mateus 27:5, que diz: “Então, Judas, atirando para o
santuário as moedas de prata, retirou-se e foi enforcar-
se”. Por acreditar que Deus havia dito a coisa errada,
procurou mais uma vez. Então, pousou o dedo
aleatoriamente sobre outro versículo, logo em cima de
onde está escrito: “Vai e procede tu de igual modo”
(Mateus 10:37). O que será que ele fez? São anedotas que
revelam os perigos escondidos detrás da falta de
sabedoria e conhecimento da Palavra de Deus, que levam
os crentes a fazer escolhas erradas, a tomar decisões
precipitadas, a agir de forma totalmente incorreta. Ou a
esperar por aquilo que Deus não prometeu.
Por que, para o crente sincero, é tão difícil fazer
escolhas e tomar decisões? No momento de escolher a
matéria que cursará na faculdade, a profissão que
abraçará, a pessoa com quem se casará e passará o
restante da sua vida, o local onde pretende ir morar... Ou
talvez escolhas mais simples ligadas ao cotidiano, como
aceitar uma promoção na empresa, a educação dos filhos,
a maneira de lidar com o cônjuge, que resposta dar àquele
amigo que pediu ajuda, que roupa comprar, que livros ler,
se deve ou não fazer dieta e começar a caminhar, entre
tantas outras. Existem, ainda, as escolhas ligadas à igreja:
qual o seu dom espiritual, que ministério deve seguir, se
tal programação ou missão é da vontade de Deus, que
obreiros escolher, que mensagem levar para o culto de
domingo, qual a cor da farda das irmãs do coral, iniciar ou
não uma reforma no templo, aplicar ou não a disciplina,
fazer ou não obras sociais, o tema da campanha de
oração. Tantas questões nos chamam a fazer escolhas, a
tomar decisões. Afinal de contas, quando optamos por
uma coisa, automaticamente abrimos mão da outra. Então,
como saber se não abrimos mão daquilo que era de Deus e
que escolhemos a coisa errada? Como estar seguros de
que optamos por aquilo que agrada a Deus e lhe rende
glória? Como saber se o que escolhemos obedeceu a uma
direção do seu Santo Espírito? Existe algum padrão
seguro?
Sem entrar no mérito da discussão sobre o livre
arbítrio e a livre agência, a questão é que todos os dias
somos levados a fazer escolhas, desde as mais simples e
triviais até as mais complexas e que podem repercutir
profundamente na vida de uma ou mais pessoas. Quando o
nosso coração está voltado para Deus e deseja buscar o
seu Reino e a sua justiça em primeiro lugar, desejamos
ardentemente que as nossas decisões sejam baseadas em
escolhas que o agradem, que nos coloquem na posição de
servos e Ele, na posição que sempre ocupa e ocupará: de
Soberano Senhor da nossa vida. Então, descobrimos que
não é tão fácil quanto parece. Algumas pessoas dizem ter
ouvido a voz de Deus sussurrar em seus ouvidos a sua
vontade, outras se guiam por sonhos, alguns irmãos
empreendem uma verdadeira caçada aos profetas
modernos, no anseio que Deus fale por meio deles e revele
a sua vontade. E quando recebem tal suposta direção,
toda a sua vida convergirá para isso. Ouvi o relato de uma
irmã que há muitos anos está solteira, a espera do varão
prometido pelo profeta. Ela abriu mão de todas as
oportunidades de ser feliz ao lado de alguém, porque o
dito varão viria de longe, não de perto. Outros
testemunhos revelam pessoas revoltadas com Deus e com
a Igreja porque a direção dada pelo suposto profeta não se
concretizou, mas aconteceu justamente o inverso. Mas
será que é essa forma mesmo que a Bíblia nos ensina? Se
não, existe uma maneira bíblica de avaliarmos as nossas
escolhas para saber o que Deus espera que façamos e
tomar as melhores decisões?
Este livro que você tem em mãos é uma versão
condensada do livro “Como saber a vontade de Deus para
nós?”, totalmente direcionado para a questão das
escolhas. Ele também traz parte do conteúdo de um
estudo bem mais amplo sobre a natureza da vontade de
Deus, ainda em fase de pesquisa. Além das lições que
aprenderemos aqui, o livro original traz um estudo sobre a
vida de Maria, partindo do episódio da anunciação, tendo
esta parte como um adendo a tudo que fora ensinado.
Neste volume, esta parte é a principal. Algumas questões
do livro anterior serão aqui adaptadas como uma parte
introdutória, porque não podemos deixar de explicar o que
é a vontade de Deus antes de oferecer os meios bíblicos
para conhecê-la. Creio que a sua primeira escolha já foi
feita: adquirir e ler este livro. Parabéns! Você está no
caminho certo. Você é um crente que se preocupa com
aquilo que Deus pensa e se as suas escolhas estão
corretas e podem render glória ao Senhor.
Que Deus o abençoe ricamente com esta leitura e
você adquira a sabedoria bíblica necessária para tomar
decisões segundo a sua soberana vontade.

Mizael Xavier
INTRODUÇÃO

“Ora, o mundo passa, bem como a sua


concupiscência; aquele, porém, que faz a vontade
de Deus permanece eternamente.”

1 João 2:17

Você alguma vez já se perguntou sobre qual é a vontade


de Deus para a sua vida? Já se pegou num momento difícil,
em que se indagou: O que Deus quer me ensinar com isso?
Ou quem sabe já se perguntou: Quais são os planos de
Deus para mim na sua obra? Se tais questionamentos
fazem parte das suas preocupações, bem-vindo a um
grupo de crentes cada dia mais restrito, porque hoje em
dia poucos estão interessados com o que Deus quer e
pensa, apesar das suas orações fervorosas. Se você busca
pela verdade de Deus para as suas tomadas de decisões,
significa que Jesus está no centro da sua vida e você
deseja agradá-lo e servi-lo. Infelizmente, para muitos que
professam ser cristãos, Deus não passa do grande Pai
abençoador. Seu maravilhoso Nome é apenas uma fórmula
mágica para atrair prosperidade. Eles não estão
interessados no que Deus pensa ou quer. Quem enxerga
no Evangelho uma fonte de riquezas, não entende que a
riqueza verdadeira é o próprio Evangelho. Nós, pela graça
de Deus, buscamos a sua vontade. E isso é muito bom.
Esta é a fé que agrada a Deus: “em qualquer nação,
aquele que o teme e faz o que é justo lhe é aceitável” (At
10:35). Somente quem teme verdadeiramente a Deus
busca conhecer e fazer aquilo que o agrada.
Acredite, às vezes a grande questão não é descobrir
a vontade de Deus para nós, mas o que fazer depois que a
descobrimos! Seja em que área da nossa vida for
(ministerial, profissional, acadêmica, sentimental ou
qualquer outra), Deus está sempre a se revelar e a nos
orientar sobre o que fazer e o que não fazer. Às vezes a
sua direção é bem específica: ame, perdoe, tenha
paciência, seja humilde, sirva, cale-se, espere, ore, não se
vingue. Na verdade, como veremos neste livro, a Bíblia já
contém muitas indicações sobre o que Deus espera que
façamos nas situações mais diversas e adversas, basta
fazermos algo simples: lê-la. Quando certo jovem
perguntou a Jesus o que deveria fazer para herdar a vida,
o Senhor o questionou: “Que está escrito na lei? Como
interpretas?” (Lucas 10:26). Ou seja: já havia algo escrito
àquele respeito. Em outra ocasião, diante de uma
pergunta capciosa dos fariseus, o Senhor Jesus os
confrontou e disse-lhes: “Errais, não conhecendo as
Escrituras nem o poder de Deus” (Mateus 22:29).
Portanto, conhecer a Palavra de Deus é importante para
sabermos o que Ele pensa e quer. Isso leva a uma
pergunta: com que frequência você lê as Sagradas
Escrituras? Uma vez por semana? Duas? Três? Você é o
tipo de leitor da Bíblia que possui um livro “preferido”
(geralmente o livro dos Salmos) e não atenta para o
profundo oceano desta Palavra maravilhosa? Se a resposta
for sim, este livro irá lhe despertar também para isso.
Deus quer cumprir em nós a sua vontade soberana.
Fixe em sua mente esta expressão: “vontade soberana”.
Pode ser que isso nos assuste, pois envolve muitos fatores
que mexerão com todo o nosso estilo de vida. Foi isso que
aconteceu com inúmeros servos e servas do Senhor, que
tiveram a sua vida transformada, redirecionada,
redimensionada a partir do conhecimento da vontade de
Deus. Podemos citar Abraão. Aquele pagão da cidade de
Ur não fazia ideia do quanto a sua vida seria
transformada, até Deus se revelar a ele e mostrar-lhe a
sua vontade: Sai de onde você está e vai para onde te
mandarei. Simples assim. E o que dizer de Moisés: em um
momento um bebê dentro de uma cesta à deriva no rio
Nilo; em outro, príncipe do Egito; logo após, libertador do
povo que Faraó escravizara. Em toda a sua trajetória
estava o Senhor, que guiava a sua vida para o fim por Ele
planejado. Quando chamado pelo Deus de Abraão, Isaque
e Jacó, Moisés conheceu a sua vontade e a praticou.
Poderíamos falar de tantos outros que têm suas vidas
relatadas na Bíblia: Josué, José, Davi, Ruth, Isaías,
Neemias, João Batista, Pedro, Paulo. A lista é imensa.
Hebreus 11 nos dá um pequeno vislumbre. Todos foram
chamados de alguma forma por Deus para uma missão,
algumas totalmente impossíveis aos homens, mas jamais
impossíveis para Deus. A história de Maria por exemplo, é
incrível, tanto pelo humanamente impossível que foi
realizado nela, quanto pelo fato desse impossível ser o
nascimento do nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo.
O Senhor Jesus declarou: “Nem todo o que me diz:
Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele
que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus” (Mateus
7:21). Tenho certeza de que, assim como eu, você quer ir
para o céu. Então, precisamos fazer a vontade de Deus. E
para fazer essa vontade, precisamos conhecê-la. Como?
Através da Bíblia. Vamos ao conteúdo Santo das Sagradas
Escrituras para entendermos a dinâmica da revelação da
vontade de Deus para nós e o modo como devemos
corresponder a ela. Não tema! Se Deus tem um propósito
na sua vida, Ele o fará se cumprir. O que Deus colocou em
suas mãos não foi por acaso. Existe uma resposta que
você precisa dar, uma atitude a ser tomada, uma obra a
ser feita. Espero em Cristo que este livro o auxilie na sua
busca e na sua caminhada.
O QUE É A VONTADE DE DEUS?

“Pois esta é a vontade de Deus: a vossa santificação,


que vos abstenhais da prostituição.”

1 Tessalonicenses 4:3

O assunto principal do nosso estudo é tomar decisões e


fazer escolhas de acordo com “a vontade de Deus para
nós”. Mas o que exatamente vem a ser a vontade de Deus?
Essa é uma pergunta que devemos responder antes de dar
início ao nosso estudo. A grande maioria dos cristãos cita
de pronto Romanos 12:1,2, para dizer que a vontade de
Deus é boa, perfeita e agradável. Mas isto não é o que ela
é, mas como ela é. Na verdade, o ensino bíblico vai muito
mais além e é bem mais profundo. Pessoalmente, possuo
um estudo bastante extenso sobre o tema, como já afirmei.
Devido à delimitação do assunto proposto neste livro,
veremos apenas alguns pontos essenciais para nos
auxiliarem neste estudo a respeito da tomada de decisão.
Existem duas vontades que nem sempre estão em
uníssono, mas que, geralmente, se contrapõem: a vontade
de Deus e a nossa. Quem prevalecerá quando o assunto é
fazer escolhas? Às vezes avaliamos as nossas escolhas
segundo padrões que não são bíblicos e lhes damos uma
boa nota. Então, tomamos decisões com base nessas
escolhas, até que as consequências se encarregam de nos
mostrar que estávamos errados. Portanto, conhecer a
vontade de Deus é primordial para fazermos escolhas
realmente certas.
De imediato, devemos entender que a vontade de
Deus inclui: 1) a vontade no sentido restrito do termo, a
faculdade da autodeterminação (decretos, propósitos,
conselhos, mandamentos); 2) seu poder, ou seja, a
autoridade que Deus possui de realizar a sua
autodeterminação; e 3) todos os seus atributos morais.
Quando dizemos que a vontade de Deus é boa e agradável
(do adjetivo grego agathon), falamos de algo ligado ao seu
caráter, que traz o que é o bem, benefício, bom,
benevolente, proveitoso, útil (Romanos 8:28; 12:21; 13:4;
Gálatas 6:6; Efésios 4:28; 6:8; 1 Tessalonicenses 5:15;
Filemom 6:14). Quando afirmamos que ela é perfeita (gr.
teleion, teleios), nós nos referimos a algo completo (em
várias aplicações de trabalho, esforço, crescimento,
caráter mental e moral, etc.), fim ou propósito. A vontade
de Deus não somente perfeita em si, mas porque não pode
falhar. O termo “vontade” (gr. thelema) indica aquilo que
alguém deseja ou decide fazer, ou ter feito (Mateus 7:21;
12:50; 21:31; Marcos 3:35; João 5:30; 6:38; Atos 13:22;
Efésios 6:6; Hebreus 13:21). Em suma, a vontade revelada
de Deus está ligada à perfeição do seu caráter e visa um
fim benéfico e proveitoso que sempre se concretizará. Um
exemplo é a distribuição dos dons espirituais na Igreja (1
Coríntios 12:7). Logo, podemos estar seguros quanto à
integridade, à validade, à necessidade e o propósito da
vontade de Deus para nós e para o mundo inteiro. Sendo
tudo isso verdade, a Bíblia, que é a Palavra de Deus e
revela toda a sua vontade, é infalível. Portando, quando
tomamos decisões com base na Bíblia, tomamos as
decisões certas.
A questão mais importante sobre a vontade de Deus
é que ela é soberana. Vemos um exemplo disso no
nascimento de Jesus. Na anunciação do anjo, Deus não
pediu a permissão de Maria, mas revelou-lhe aquilo que já
havia determinado fazer (Gênesis 315; Isaías 7:14). Deus
não disse a Maria “Deixa eu te usar para salvar”, mas “Eu
vou te usar para dar à luz ao meu Filho”. Não podemos
resistir àquilo que Deus já determinou, a não ser que
desejemos entrar num espiral de sofrimento e revolta. É
isso que geralmente fazemos. O caminho a seguir para
tomar as decisões corretas e acertar nas nossas escolhas é
conhecer a vontade revelada de Deus e aplicá-la da forma
correta à nossa realidade hoje. Quando precisamos decidir
sobre o que fazer em determinadas situações, conhecer de
antemão o que Deus quer nos poupará bastante tempo e
esforços em desfazer os nossos erros. Como veremos
adiante, existem princípios bíblicos que nos orientam na
tomada de decisão e nos indicam o caminho da escolha
certa. Obedecer a estes princípios é fundamental para o
sucesso dos nossos empreendimentos, mas o contrário
também é verdade: feri-los pode até trazer um aparente
êxito, mas que se revelará com o tempo um tremendo
fracasso.

Buscar a vontade de Deus é bom

Ler um livro como este é um indicativo positivo de


que você é um servo ou uma serva de Deus e que está
obstinado em buscar a sua vontade para cumpri-la. Se
pensarmos no evangelicalismo de um modo geral,
perceberemos que a liturgia atual do culto e a vivência
cristã estão voltadas para a realização da vontade dos
crentes. Cultos, campanhas, promessas, louvores, objetos
ungidos e inovações das mais bizarras não pretendem
conhecer e prosseguir em conhecer o Senhor para amá-lo
e servi-lo cada dia mais e melhor. O alvo dessas práticas e
movimentos é atrair a atenção de Deus para o crente, que
está sedento não por sua presença, mas pela presença das
suas bênçãos. Há alguns anos, fiz um teste numa rede
social. Postei uma foto com um dizer mais ou menos que,
de acordo com o Salmo 151, Deus possuía a chave da
vitória para nos dar. Em vista dos comentários, procurei
orientar as pessoas que não existe o Salmo 151, muito
menos qualquer ensinamento bíblico sobre alguma “chave
da vitória”. A resposta de uma das internautas foi
inusitada, algo do tipo: “Não importa se não está na Bíblia,
eu quero a minha vitória”. Ou seja: não importa se é
mentira, falso ensino, falsa profecia ou heresia. Ela não
está preocupada com o que Deus diz em sua Palavra,
contanto que isso atraia a sua vitória.
Creio que a maioria das pessoas citadas acima não
está preocupada com o Reino dos céus, muito menos com
a vontade de Deus. Mas deveriam! Vamos repetir o que o
Senhor Jesus disse: “Nem todo o que me diz: Senhor,
Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a
vontade de meu Pai, que está nos céus” (Mt 7:21). Fazer a
vontade do Pai que está nos céus é uma das
características dos seus eleitos. Não importa a situação,
aquele que está em Cristo sempre buscará o que Deus
quer para a sua vida, o que significa conhecer a Bíblia
para extrair dela essa vontade. Logo, se estamos
interessados em conhecer qual a vontade de Deus para
nós, isso significa pelo menos três coisas:
Acreditamos em Deus

Acreditar em Deus é o primeiro passo, mas não é


suficiente, pois os próprios demônios também acreditam
(Tg 2:19). Logo, a nossa busca por Deus precisa ir além da
crença na sua existência e nos levar a uma submissão
total a Ele, o que tem início na conversão, quando somos
regenerados, justificados, santificados e adotados como
filhos de Deus. A maioria das pessoas que se declaram
cristãs não estão interessadas em saber o que Deus quer
para elas. Elas vão à igreja quando querem, para cumprir
seus rituais e buscar bênçãos. Fazem suas orações como
quem declama um poema vazio ao Universo. Acreditam
num Deus distante, uma pessoa divina da sua religião, não
o Pai que está nos céus, como o chama Jesus na oração
que nos ensinou. E se acreditamos em Deus, significa que
sabemos que Ele está em todas as partes, mesmo sem
caber em lugar algum; conhece todas as coisas e nada
escapa ao seu escrutínio; sabe das nossas necessidades e
nos abençoa conforme a sua vontade; observa o nosso
comportamento e pode nos corrigir a qualquer momento.
Deus sabe com quem iremos nos casar, que profissão
iremos escolher e que decisões tomaremos.

Estamos insatisfeitos

Se estamos em busca da vontade de Deus, cremos


que Deus tem uma direção específica para a nossa vida e
que não estamos satisfeitos com a forma como nos
encontramos hoje, e queremos mudar. Essa mudança pode
estar relacionada ao abandono de pecados e ao
crescimento pessoal. De qualquer forma, existe uma
insatisfação que revela que o nosso jeito não tem dado
certo, que precisamos de uma direção santa e segura para
os nossos pés – coisa que, a bem da verdade, deveríamos
ter pensado antes. Nada pode ser melhor do que buscar a
direção de Deus, do que nos interessar pelo que Ele quer
para nós. Algumas pessoas dizem que não devemos
murmurar nunca, mas estar satisfeitos com a situação em
que nos encontramos, sem cessar de dar glórias a Deus.
Todavia, não existe na Bíblia qualquer indicação de que
não devemos aspirar cargos melhores na empresa, o
crescimento do nosso negócio, mudanças importantes na
família e na Igreja. Estar insatisfeito não é reclamar de
tudo, mas ter novos planos, buscar melhorias na qualidade
de vida espiritual, financeira ou qualquer outra.

Queremos mais

Cremos que existe uma vontade maior e melhor que


a nossa e que essa vontade é a correta. Para ratificar o
ponto anterior, podemos afirmar que a nossa maior
insatisfação deve ser com a nossa vida espiritual, no
sentido de queremos sempre mais de Deus: mais
conhecimento dele, mais obediência a Ele, mais amor pela
sua obra, mais desejo de servi-lo, mais momentos de
intimidade. Estar satisfeito com um culto por semana no
domingo a noite é no mínimo estranho para quem se
declara servo de Jesus. A maior bênção de quem busca a
Deus é Ele próprio. O silêncio diante do Grande Eu-Sou é
infinitamente maior que o estrondar de grandes milagres.
Por que queremos saber a vontade de Deus?

Se antes de ler este livro você nunca havia parado


para pensar a respeito destas coisas, pode ser que agora
esteja curioso para saber a vontade de Deus para a sua
vida. E isso é excelente! Mas, primeiramente uma
pergunta precisa ser respondida: por que queremos
conhecer a vontade de Deus? Para quê? Essa é a primeira
pergunta que honestamente devemos nos fazer. A única
razão para buscarmos a vontade de Deus é para obedecê-
la, para nos submetermos a ela (Salmo 40:8; João 9:31).
Não adiante conhecer o que Deus quer para nós se não
nos dispomos a obedecê-lo e acabamos fazendo totalmente
o inverso. O que Deus quer deve absorver o que nós
queremos. Isto significa que teremos de abrir mão de algo,
fazer renúncias. Não é possível fazer a vontade de Deus e
a nossa ao mesmo tempo, a não ser que ambas estejam de
acordo. A vontade de Deus sempre deve prevalecer em
todas as nossas orações (Mateus 6:9,10; Lucas 22:41,42).
Para alguns crentes, buscar a vontade de Deus é como ir a
uma cartomante, para que ela pesquise na sua bola de
cristal o que será o seu futuro. Só que, neste caso, a
cartomante atende pelo nome de “profeta”; as suas
sessões são “cultos de revelação”; os seus trabalhos são
“jejuns e palavras proféticas”; e o seu preço: dízimos e
ofertas. E o que trazem as “revelações”, além de
promessas de bênçãos, milagres e vitórias? Não é esse
tipo de coisa que veremos aqui, acima de tudo por não ter
ligação alguma com a cruz de Cristo e o Evangelho da sua
graça.
Portanto, saber a vontade de Deus deve nos levar a
conhecê-lo, amá-lo, obedecê-lo e servi-lo. Precisamos
conhecer a Deus, a sua natureza e o seu caráter. Sabendo
quem Deus é, como Ele se revela na sua Palavra,
saberemos aquilo que o agrada ou não. Os seus atributos
revelados nas Sagradas Escrituras nos mostrarão quando
as nossas atitudes estão ou não na esfera da sua vontade.
Se essa não é a nossa motivação, se esse não é o nosso
objetivo, buscar a vontade de Deus não nos trará a alegria
que esperamos, porque poderemos nos defrontar com
aquilo que era justamente o oposto do que buscávamos.
Por isso é preciso, antes de tudo, que nos agrademos de
Deus, assim Ele satisfará os desejos do nosso coração,
porque o nosso coração desejará que Ele satisfaça a sua
própria vontade em nós (Salmo 37:4; 40:8). Quando
conhecermos essa vontade, descobriremos que ela atinge
todas as áreas da nossa vida, que quando um aspecto
muda, todos mudam com ele; ou que para um objetivo ser
alcançado, dependerá de fazer algumas mudanças
significativas. A vontade de Deus é como uma pedra
atirada no centro do lago, que cria ondas que repercutem
em todo o lago. Ele nunca mais será o mesmo, porque a
vontade de Deus está logo ali, no seu centro. Ainda que a
pedra lhe fosse tirada, ele não voltaria a ser o mesmo, mas
seguiria como o lago que um dia experimentou a vontade
de Deus. Que essa “pedra” jamais saia do centro da nossa
existência.
A vontade revelada de Deus

É impossível ao ser humano finito e limitado, e


ainda por cima pecador, conhecer a mente de um Deus
transcendente, onipotente, onipresente e onisciente
(Romanos 11:34; 1 Coríntios 2:16). Deus é insondável, não
há como adentrarmos em seus pensamentos, por isso Ele
se revelou graciosamente a nós para que pudéssemos
conhecê-lo, saber a sua vontade e nos relacionar com Ele.
O referencial sempre será a revelação de Deus acerca de
si mesmo. Logo, se estamos sinceramente buscando a sua
vontade, devemos ir até essa revelação. Mas o que é, onde
está essa revelação e qual a sua importância? Berckhof
(1992) argumenta que Deus é Incompreensível para o
homem, pois somente o Espírito de Deus pode
esquadrinhar as coisas de Deus (1 Coríntios 2:10,11). O
homem pode conhecer a Deus somente porque Ele quis se
revelar. Em outras palavras, escreve Berkhof, “Ele tem de
alguma maneira comunicado ao homem o conhecimento
de Si mesmo, abrindo-lhe o caminho para conhecê-lo,
adorá-lo e viver em comunhão com ele” (p. 27). Perceba
que não é o conhecimento pelo conhecimento, mas
objetivando a comunhão entre ambos, Deus e o homem, o
que redundará em frutos de justiça para nós.
Deus possui uma vontade secreta, que Ele não
deseja nos revelar e que diz respeito aos seus propósitos
insondáveis. Por que certas coisas não dão certo de jeito
nenhum na nossa vida? Por que as coisas se encaminham
de uma forma tal que não imaginávamos? Quem são os
escolhidos? O que Deus tem preparado para o nosso hoje
e o nosso amanhã? Quando será o grande Dia do Senhor?
O próprio Senhor Jesus nos diz: “Mas a respeito daquele
dia e hora ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o
filho, senão o Pai” (Mateus 24:36). Isso sem contar as
bênçãos que nos chegam e os livramentos que não são
dados, fatos que nem sempre paramos para perceber a
mão de Deus em ação. Deus sabe tudo o que tem
preparado para nós em todas as áreas da nossa vida, o
que inclui a pessoa com quem iremos nos casar. Ele já
planejou tudo e conduz a história para que todas as coisas
ocorram de acordo com o seu propósito eterno. Algumas
já estão reveladas nas Escrituras, outras estão apenas na
sua mente insondável.
Existem coisas que já nos foram mostradas. Como
está escrito: “Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram,
nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem
preparado para aqueles que o amam” (1 Coríntios 2:9). Se
pararmos por aqui, ficaremos a imaginar que coisas são
estas. Bênçãos? Vitórias? Milagres? Revelações que ainda
nos serão trazidas? Mas o apóstolo Paulo continua: “Mas
Deus no-lo revelou pelo Espírito; porque o Espírito a todas
as coisas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus”
(v; 10). Essas coisas dizem respeito à totalidade do
Evangelho. Ele prossegue e afirma que o homem só pode
saber sobre as coisas relativas ao homem e que somente o
Espírito de Deus conhece as coisas de Deus (v. 11). Nós,
crentes em Cristo Jesus, temos o Espírito Santo que nos
capacita a entender aquilo que é espiritual e que nos foi
revelado por Deus. Nós temos a mente de Cristo (vs. 11-
16)! É com esta mente que estudaremos as verdades
reveladas nas Sagradas Escrituras que nos conduzirão a
uma tomada de decisão de agrade o coração de Deus.
A vontade revelada de Deus diz respeito aos seus
preceitos e propósitos que Ele dá a conhecer às suas
criaturas. Deus se revelou primeiramente aos hebreus. Ele
chamou Abraão para constituir para si um povo, falou por
meio dos profetas e revelou os seus propósitos, as suas
promessas e todas as coisas concernentes a Jesus, o
Salvador (Hebreus 1:1). Deus também se revela nas coisas
criadas (Salmo 19:1; Romanos 1:20). Ele também se
revelou na pessoa de Cristo – o Verbo encarnado – e na
sua vida, ministério e palavras. Jesus é a expressão exata
de Deus e nos mostra quem Deus é e a sua vontade para a
humanidade (João 14:9; Efésios 1:9,10). A revelação de
Deus também se deu por meio dos escritores da Bíblia,
tanto do Antigo quanto do Novo Testamento (2 Timóteo
3:16). A vontade de Deus está primordialmente revelada
nas Escrituras. A Bíblia é Deus falando conosco (Atos
20:27). Não é preciso um sinal ou a palavra de um profeta
para sabermos a vontade de Deus para nós. Perdemos
muito tempo a espera de ouvir de forma sobrenatural
aquilo que já nos foi revelado na Bíblia. De acordo com o
Catecismo Maior de Westminster (2008, p. 12): “As
Escrituras revelam o que Deus é, quantas pessoas há na
Divindade, os seus decretos e como ele os executa”. De
nada mais precisamos.
A Revelação como Palavra divina inspirada e escrita
é de suma importância para a cristandade e todo ser
humano. O que seria de nós sem a Bíblia para nos guiar?
Como saberíamos sobre o caráter de Deus e seus planos
para a humanidade e os cristãos? Haveria, na verdade, um
grande risco, que é aquele das outras religiões:
construírem para si um deus e doutrinas segundo o seu
próprio entendimento. Nós, cristãos, caso desprezemos a
Bíblia como Revelação de Deus, podemos incorrer no
mesmo erro. Na anunciação do nascimento de Jesus, além
da aparição sobrenatural ao anjo, o que legitimava a sua
mensagem era os escritos antigos, as palavras dos
profetas, que, inspirados por Deus, disseram que o
Messias haveria de nascer de uma virgem. Veja o que
Charles Hodge (2001, p. 28) escreve sobre a “necessidade
de uma revelação supernatural”. Entre outras coisas, ele
assevera:

Mesmo onde se desfruta a luz da revelação,


descobre-se que os que rejeitam sua orientação são
levados não só às mais contraditórias conclusões,
mas à adoção de princípios, na maioria dos casos,
destrutivos da virtude doméstica, da ordem social e
da dignidade e felicidade individual. A razão do
homem tem levado a grande corporação dos que
não conhecem outro guia ao que se tem
corretamente chamado de “O Inferno do
Panteísmo”.

A Revelação é importante para que não vivamos


perdidos nos nossos próprios pensamentos a respeito de
Deus, que geralmente redundam em práticas contrárias
ao pensamento e à natureza divinos. Aqui se revela a
importância do aprendizado da Palavra de Deus, bem
como a necessidade de haver pastores e mestres que nos
guiem nesse aprendizado, segundo o apóstolo Paulo, “com
vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho
do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo, até
que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno
conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à
medida da estatura da plenitude de Cristo, para que não
mais sejamos como meninos, agitados de um lado para
outro e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela
artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao
erro” (Efésios 4:11-14).

A liberdade da vontade de Deus

Além de graça, outros dois elementos caracterizam


a Revelação de Deus: soberania e liberdade. Ele escolheu
se revelar a nós e essa revelação demonstra a sua
soberania e a sua liberdade com relação a tudo o que foi
revelado. Essa revelação é coerente com a sua natureza e
o seu caráter. Sobre isso, Fee e Stuart (1997, p. 273)
escrevem:

Ele só é restrito a Si mesmo, e portanto a Sua auto-


revelação (sic!) tenderá a ser coerente com o Seu
caráter. Este, por sua vez, determinará novamente
a Sua revelação. São dois fatores que se
complementam mutuamente. Isso significa que o
trabalho bíblico deverá levá-los em conta. Deus
resolveu revelar-se nas Escrituras, e estas, pela Sua
própria natureza, haverão de ser coerentes com o
Seu caráter, ou seja, íntegras.

Deus é livre no mais elevado sentido do termo para


agir ou não agir segundo o seu beneplácito. Sua vontade é
determinada pelo seu próprio senso do que é sábio, direito
ou desejável. Deus é livre para agir, criar e destruir,
manter ou não. Percebemos na Bíblia a vontade decretiva
e a vontade preceptiva de Deus. A vontade decretiva ou
decretada diz respeito aos seus propósitos. A preceptiva
se relaciona com a norma do dever para com as suas
criaturas racionais. Ele decreta tudo que pretende efetuar
ou permitir, dando mandamentos aos homens. Essas duas
vontades nunca entram em conflito. Deus não pode nos
levar a fazer aquilo que Ele mesmo proíbe. Ele não pode ir
contra a sua própria natureza santa, boa e justa. Algumas
pessoas oram a Deus para que outras pessoas sejam
prejudicadas, o tipo de oração que Ele jamais atenderá.
Este já é um indicativo que nos orienta na tomada de
decisão: o que estamos para decidir irá ou não render
glórias a Deus, estará ou não de acordo com o seu caráter
santo e justo, atenderá ou não aos princípios imutáveis da
sua Palavra. Ao resolver um problema, se optarmos pelo
“jeitinho brasileiro”, provavelmente isso não agradará a
Deus. Por outro lado, a filosofia mundana do
“politicamente correto” geralmente é “biblicamente
incorreta”, porque nos leva a aceitar tudo e a concordar
com tudo e com o direito das pessoas de ofenderem a
Deus da maneira que bem desejarem. As nossas escolhas
precisam levar isso em conta.
A vontade de Deus decretada não pode ser resistida
pelo homem, e acontecerá independente da nossa
vontade. Por exemplo: a criação do mundo, a morte
decorrente do comer do fruto da árvore do conhecimento
do bem e do mal, o nascimento do Messias, a libertação do
povo de Israel do Egito, a salvação da alma, a morte, o
julgamento final ou alguma vontade secreta que não
conhecemos. A vontade decretada de Deus é soberana e
irresistível. Ele não precisa persuadir ninguém ou
negociar para que ela seja feita. Os efeitos da vontade de
Deus são eficazes. Essa vontade não pode falhar
(Habacuque 2:3). Ela é soberana, imutável e irreversível.
Tudo o que Ele afirmou que faria, fará (Isaías 43:9-13). Já
a vontade ordenada pode ser resistida. Ela é composta
pelos mandamentos que Deus espera que obedeçamos,
mas que nem sempre o fazemos. Por exemplo: o Decálogo,
amá-lo e adorá-lo acima de todas as coisas e ao próximo
como a nós mesmos, honrar pai e mãe, perdoar, pregar o
Evangelho, não mentir, etc. Como cristãos sinceros, o
nosso grande desafio e missão é conhecer essa vontade e
praticá-la.
Que vontade divina operava quando o anjo Gabriel
foi até Maria para revelar-lhe que ela daria à luz ao Filho
do Altíssimo? Se voltarmos os nossos olhos especialmente
para o Evangelho de Mateus, quando o anjo do Senhor
apareceu a José para confortá-lo a respeito da gravidez da
sua noiva, vemos que o anjo anunciou que Maria estava
grávida pelo Espírito Santo para que “se cumprisse o que
fora dito pelo Senhor por intermédio do profeta” (Mateus
1:22). Portanto, ali operava a vontade decretiva de Deus,
que decretara que uma virgem conceberia e daria à luz a
um filho, que seria chamado de Emanuel, conforme Isaías
7:14. A partir do momento em que Deus envia o seu anjo
até Maria para afirmar que ela seria essa virgem, a sua
vontade já se cumpria e continuaria a se cumprir, vindo
Maria conceber Jesus em seu ventre. Deus ordenou, não
havia como negar ou negociar. A sua vontade era que
Maria desse à luz ao Salvador, e assim foi feito, porque
Deus jamais falha nem volta atrás nos seus decretos. Em
outras passagens veremos fatos realizados com propósito
semelhante: “para que se cumprisse” a vontade de Deus
revelada nas Escrituras (cf. Mateus 2:15,23; 8:17; 12:17-
21; 26:56; Lucas 22:37; João 19:28,36,37).
Jesus Cristo: o centro da vontade de Deus

Este livro trata sobre as “nossas” escolhas e as


“nossas” decisões. Mas quem está no centro de tudo isso?
Quem é o personagem principal dos temas que
estudaremos? Imagine que estivéssemos estudando a vida
de Abraão, de Moisés, de Davi ou de algum dos apóstolos.
O nosso foco seria o que estes homens de Deus fizeram e o
que Deus fez por meio deles, mas sempre com o objetivo
de apresentar Cristo. Tudo o que está escrito no Antigo
Testamento nos serve como exemplo (1 Coríntios 10:11).
Agora também podemos considerar o Novo Testamento,
todas as suas lições e os exemplos que observamos nele.
Em tudo isso o Senhor Jesus está em evidência, Ele é o
centro, o foco, a razão e o fim de todas as coisas. Estudar
sobre tomar decisões deve nos levar a encontrar Jesus, a
conhecê-lo melhor, adorá-lo e servi-lo como Deus que é.
Cristo está em toda a Bíblia, ela foi escrita por Ele e sobre
Ele. O Antigo Testamento possui inúmeros personagens,
fatos, festas e elementos que são “tipos” de Cristo (do
grego typos, significando parecença, semelhança,
similaridade). De acordo com Virkler (2007, p. 141), o tipo
é “uma relação representativa preordenada que certas
pessoas, eventos e instituições têm com pessoas, eventos
e instituições correspondentes, que ocorrem numa época
posterior da história da salvação”. Desse modo, os tipos
prefiguravam a vida e a missão do Salvador, além do
surgimento da sua Igreja, sendo absolutamente tudo
centrado na pessoa de Jesus Cristo.
Para ser reconhecido como um tipo, a personagem,
festa ou elemento não deve partir de uma interpretação
teológica polissêmica que obedece a nossa criatividade e
necessidades, como, por exemplo, as dobradiças da porta
do templo de Salomão representarem as duas naturezas
de Cristo. Ele também não pode ser “demitologizado” ou
partir de alguma analogia que não esteja clara nas
Escrituras – em textos específicos ou no seu ensino geral.
Por exemplo: por que é seguro dizer que a serpente
levantada por Moisés para curar o povo hebreu das
picaduras das serpentes era uma figura que apontava para
a crucificação de Jesus? Porque está explícito nas palavras
do próprio Senhor Jesus: “E do modo por que Moisés
levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho
do Homem seja levantado, para que todo o que nele crê
tenha a vida eterna” (João 3:14,15). A Bíblia não diz o que
queremos que ela diga, mas existe um sentido do texto
pretendido pelos autores sagrados que precisamos
encontrar, sem jamais pretender colocar algum novo e
moderno significado sobre ele. A respeito dos tipos é
necessário, segundo Zuck (1994, p. 207), haver certas
condições: (1) correspondência e semelhança entre tipo
(figura revelada) e antítipo (imagem concretizada), de
modo que represente os mesmos fatos, princípios e
relações entre o elemento veterotestamentário e o
neotestamentário; (2) o antítipo deve estar de acordo com
o contexto histórico do seu tipo; (3) o tipo deve ser uma
prefiguração ou prenunciação do seu antítipo, não uma
mera ilustração, sempre apontando para o futuro; (4) o
antítipo eleva ou cumpre o tipo, sendo-lhe ainda superior;
(5) deve ser possível perceber claramente o propósito
divino na relação tipo-antítipo; (6) o Novo Testamento
especifica de alguma forma o tipo e o antítipo.
Para ratificar o que afirmamos, vejamos alguns
exemplos (ZUCK, idem, p. 209 e 210):
 Personagens: O sacerdócio de Melquisedeque
prefigurava o sacerdócio eterno de Cristo (Hebreus
7:3,15-17). O ministério sacerdotal da Arão
prefigurava o ministério sacerdotal de Cristo
(Hebreus 5:4,5).

 Fatos: A festa da Páscoa prefigurava Cristo como


sacrifício pelos nossos pecados (1 Coríntios 5:7). A
festa de Pentecostes prefigurava a vinda do Espírito
Santo (Joel 2:28; Atos 2:1-47). O Sábado
prefigurava o descanso espiritual do cristão
(Colossenses 2:17; Hebreus 4:3,9,11).

 Elementos: o Tabernáculo e a cortina do


Tabernáculo prefiguravam Cristo, o acesso do
crente a Deus e a base da comunhão com Ele
(Hebreus 8:5; 9:23,24; 10:20). O holocausto no
Antigo Testamento apontava para o sacrifício
perfeito de Cristo (Levítico 1; Hebreus 10:5-7;
Efésios 5:2). A oferta de manjares representava o
sacrifício perfeito de Cristo no mais alto grau
(Levítico 2; Hebreus 10:8).

Qualquer pregação ou estudo bíblico deve carregar


uma perspectiva cristocêntrica, afinal de contas, toda a
Bíblia fala sobre Jesus e foi inspirada pelo seu Santo
Espírito. O apóstolo João escreve a respeito do conteúdo
do seu Evangelho: “Estes, porém, foram registrados para
que creias que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para
que, crendo, tenhais vida em seu nome” (João 20:31). E
esta é a vontade de Deus: que conheçamos o seu Filho e,
por meio dele, tenhamos a vida eterna. Em sua oração
sacerdotal, o Senhor orou ao Pai: “E a vida eterna é esta:
que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus
Cristo, a quem enviaste” (João 17:3). Tomar decisões
segundo a vontade de Deus, portanto, significa fazer
escolhas em que o Senhor Jesus esteja no centro das
nossas opções.
No último capítulo, onde aprenderemos sobre os
princípios que devem nortear o nosso conhecimento a
respeito da vontade de Deus para nós, veremos que um
deles é o “cristocentrismo”, ou seja: Cristo no centro.
Absolutamente tudo que existe desde o princípio dos
tempos ou mesmo quando o tempo ainda não existia, bem
como tudo o que ainda está por vir converge para Jesus.
Ora, além de ser o próprio Deus que se fez carne e
habitou entre nós (João 1:1-14), Jesus fora prometido
desde o início da vida humana na terra (Gênesis 3:15) e
prometido como Redentor pelos profetas (p. ex. Isaías
7:14; 53:12). Como vimos, diversos elementos tipificam
Cristo no Antigo Testamento e se cumprem no Novo
Testamento. Nos Evangelho, Ele é anunciado, nasce, vive,
morre, ressuscita. No livro de Atos dos Apóstolos, Ele
sobre ressurreto aos céus, envia o seu Santo Espírito,
salva os pecadores, guia os apóstolos, faz surgir a sua
Igreja e a conduz. Nas Epístolas, Ele figura como Senhor e
Cristo, Deus bendito e Salvador, Cabeça da sua Igreja,
esperança do crente, Rei do seu Reino, Juiz e Senhor
escatológico. No último livro da Bíblia, o Apocalipse, Jesus
aparece como o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim;
Aquele que é, que era e que há de vir, o Todo-poderoso
(Apocalipse 21:8), que breve virá para julgar a
humanidade e levar a sua Igreja para a sua gloriosa
presença nos céus.
Tudo converge para nosso Senhor Jesus Cristo,
porque esta é a vontade de Deus em Cristo: “de fazer
convergir nele, na dispensação da plenitude dos tempos,
todas as coisas, tanto as do céu como as da terra” (Efésios
1:10). Nada lhe escapa, “Porque dele, e por meio dele e
para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória
eternamente. Amém” (Romanos 11:36). Jesus é o Nome
que está acima de todo nome, diante dele todo joelho se
dobrará (Filipenses 2:9,10). Ele é a cabeça de todo homem
(1 Coríntios 11:3). Nele, todas as coisas são reconciliadas
(Colossenses 1:20). Tudo está sujeito a Cristo,
absolutamente nada lhe escapa, mesmo a morte e o
inferno (Eésios 1:22). Ele é o ápice da Revelação (Hebreus
1:2; 1 Pedro 1:20), nele se cumpre todo o propósito de
Deus que nos foi revelado (Gálatas 4:4; 1 Coríntios 10:11;
Hebreus 9:10). Se em tudo o que existiu, e existe e
existirá; se em todas as coisas o Senhor Jesus é o centro e
a sua finalidade, por que não seria das nossas escolhas?
Se qualquer decisão que queremos tomar pretender
retirar Cristo do seu trono, a resposta sobre ser ou não da
vontade de Deus já está bastante explícita.
CONHECIMENTO EFICAZ
DA VONTADE DE DEUS

“crescei na graça e no conhecimento”

2 Pedro 3:18

O conhecimento eficaz da vontade de Deus parte da ação


do Espírito Santo, que prepara a nossa mente para
compreender a Palavra de Deus, assimilar as suas
verdades espirituais e praticá-las. Esse processo não
envolve tão somente questões sobrenaturais, mas também
processos mentais onde, através da capacidade que Deus
nos deu de raciocinarmos, pensamos a respeito das suas
verdades e podemos ter acesso à sua verdade revelada. A
Revelação não entra na mente do crente por osmose, ela
precisa ser lida, compreendida, estudada. Algumas
correntes evangélicas desprezam o estudo teológico e
creem que basta o crente esperar que Deus iluminará a
sua mente de forma automática. Apóstolo Paulo afirma:
“Por esta razão, não vos torneis insensatos, mas procurai
compreender qual a vontade do Senhor” (Efésios 5:17).
Compreender envolve pensar; a insensatez, o não pensar.
O cristão deve buscar diligentemente, como escravo de
Cristo, fazer a sua vontade (Colossenses 3:23; Efésios
6:6). Entretanto, isso não será possível se ele não
conhecê-la, se não aprender sobre ela. A nossa
consciência é o lugar onde Deus trabalha a sua vontade,
onde Ele imprime a sua Lei e nos dá, pelo Espírito Santo,
a capacidade de cumpri-la (Romanos 2:14,15). Não há
indicação na Bíblia de que isso ocorre automaticamente,
sem a leitura e o Estudo das Escrituras Sagradas.
Como já temos demonstrado, a compreensão da
vontade de Deus não deve partir de uma busca pelo
sobrenatural nas palavras de profetas ou através da
interpretação pessoal equivocada das Sagradas
Escrituras. Ela envolve uma combinação da presença do
Espírito e da presença de espírito do crente em estudar
com afinco a Revelação escrita de Deus – a Bíblia.
Todavia, isso não pode ser feito com uma mentalidade
mundana e com os objetivos errados, mas através de uma
mente renovada, que não busca os prazeres mundanos,
mas a santificação que vem de Deus. A vontade de Deus é
algo desejável ao homem. Mesmo aquelas pessoas que não
possuem uma identidade com Ele por meio de Cristo, que
o buscam de formas equivocadas estão sempre a desejar o
conhecimento do que Ele pensa e quer. Alguns lhe
impõem regras quando oram regras e desejos humanos,
mas muitos querem sinceramente conhecer a sua vontade,
ainda que de maneira distorcida e com motivações nem
sempre corretas. A vontade de Deus, todavia, não é algo
que devamos apenas conhecer, mas que precisamos viver.
Este é o grande propósito de Deus para a nossa vida, algo
que Adão e Eva não souberam compreender e por isso
abriram mão de agradar a Deus em obediência para
satisfazer os seus próprios interesses. E que resultado eles
colheram? Aquele que também nós colhemos: a morte e o
pecado, a ira de Deus, o afastamento da sua maravilhosa
glória.
O conhecimento da vontade de Deus é vital para as
nossas escolhas e será decisivo para o sucesso na tomada
de decisão. Nesse conhecimento, a renovação da mente é
essencial. Os fariseus afirmavam ser o verdadeiro Israel
que tornava conhecida a vontade de Deus para o mundo,
mas tinham a sua mente cauterizada pelo pecado e pela
religiosidade hipócrita. A nossa consciência deve
submeter-se às regras da vontade de Deus. Sabemos que
temos uma boa consciência e que tomamos as melhores
decisões quando agimos de acordo com os propósitos de
Deus revelados na sua Palavra (Romanos 12:2; 1 Coríntios
4:4). Quando não conhecemos a Palavra de Deus, as
nossas atitudes nem sempre são coerentes e a nossa
consciência pode fraquejar (1 Coríntios 8:7-12), acima de
tudo se seguimos normas erradas. A Bíblia sempre será o
parâmetro último da nossa consciência. Vejamos, então,
como uma mente renovada pode não somente
compreender, mas estar apta para praticar a vontade de
Deus e fazer escolhas que agradem o seu coração.

Inconformidade com este mundo

Não é possível afirmarmos que desejamos conhecer


e praticar a vontade de Deus se o nosso coração não está
nele, mas no mundo. Um coração voltado para o mundo
significa, na verdade, um desejo pela satisfação pessoal e
egoísta, o que afetará as nossas escolhas e decisões. O
nosso tesouro, aquilo que realmente nos importa, o que
realmente valorizamos está onde o nosso coração estiver
(Mateus 6:21). Assim, não podemos anelar pelas
verdadeiras riquezas celestiais da Palavra de Deus se o
nosso pensamento está cativo às riquezas deste mundo.
Entendamos riquezas não apenas no sentido material,
financeiro, mas dos nossos interesses mais profundos, o
que pode envolver os nossos valores e uma gama de
pecados. Deus nos revela a sua vontade quando não nos
conformamos com este mundo, segundo o apóstolo Paulo
escreveu aos romanos: “Rogo-vos, pois, irmãos, pelas
misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por
sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso
culto racional. E não vos conformeis com este século, mas
transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que
experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita
vontade de Deus” (Romanos 12:1,2). A palavra
“conformar” (gr. suschematidzo, derivado de schema:
condição/forma externa, moda, maneira) significa moldar
de modo semelhante, estar em conformidade com o
mesmo padrão, moldar segundo. Ela está na voz média
passiva, o que significa que o indivíduo sofre a ação, ele é
moldado pelos padrões mundanos. Não podemos conhecer
a vontade de Deus se os nossos valores estiverem
compatíveis com os valores do mundo, se relativizamos a
verdade para adequá-la aos nossos interesses, como fazem
muitos falsos crentes e falsas igrejas. Se não aceitamos a
Palavra de Deus nem nos submetemos a ela, dificilmente
saberemos compreender o que Deus quer para nós.
Ao referir-se a este mundo (século), Paulo utiliza o
termo grego aiõn, para indicar um sistema de valores
corrompido pelo pecado (cf. 1 Coríntios 1:20; 2:6; 3:18; 2
Coríntios 4:4; Gálatas 1:4), e nos chama a viver sob
padrões diferentes. Para não haver conformidade com o
mundo é preciso que estejamos inconformados com o
nosso envolvimento incorreto com ele. Nós costumamos
nos moldar àquilo que amamos e valorizamos.
Inconformidade com o mundo envolve mudança de valores
e desistência de tudo aquilo que nos prende a ele. Esta é
uma obra do Espírito Santo. O nosso culto a Deus deve
nos fazer ansiar pela presença viva do seu Reino,
entendendo que somos os seus embaixadores na terra. A
não conformidade com este mundo só é possível através
da conformidade com os padrões de Deus estabelecidos na
sua Palavra, o que nos leva a uma transformação radical
na nossa maneira de pensar. Essa transformação é uma
verdadeira metamorfose: somos transformados em outras
pessoas. Passamos a pensar do ponto de vista de Deus,
dos seus valores e princípios da sua vontade revelada, o
que guiará a nossa consciência na tomada de decisão.
Deus ouve aquele que faz a sua vontade (João 9:31).
Portanto, não devemos nos aproximar de Deus apenas
para perguntar sobre a sua vontade para a nossa vida,
mas como filhos que já vivem de acordo com a sua
vontade expressa na Bíblia. Que escolhas fazer? As
escolhas que Jesus faria!
Essa inconformidade também é o desprezo pelo
século presente, isto é, a época atual em que ainda
vivemos. Ele é, ainda, o anseio pela vinda de Jesus. O
coração do crente deve ansiar pela volta do Senhor, o que
o leva a não conformar-se com as riquezas e os prazeres
deste mundo, nem mesmo se acomodar a ele, mas ansiar
pelo Reino de Deus vindouro, em estar com o Senhor.
Geralmente, quando nos perguntamos o que Deus quer
para nós, não estamos interessados em saber sobre ruas
de ouro numa nova Jerusalém que está num espaço no
tempo que não sabemos e num local que não temos
acesso. Ao utilizar de sinceridade, descobriremos que os
nossos anseios nos prendem com grilhões a este mundo e
ao que dele podemos aproveitar, por mais corretos e
necessários que sejam os nossos sonhos. Se não nos
moldamos aos padrões do mundo, apegamo-nos a ele por
meio dos nossos anseios e necessidades que precisam ser
supridas.

Renovação da mente

A inconformidade com este mundo na busca pela


vontade de Deus vem através da transformação operada
através da renovação da nossa mente, algo que tem início
e só é possível a partir da regeneração. Quanto mais a
nossa mente estiver inclinada para as coisas do Espírito,
menos ela estará voltada para as coisas do mundo. O
nosso tesouro está onde o nosso coração estiver. Sabemos
que o coração é apenas uma metáfora das nossas emoções
e que pensamento e sentimento, razão e desejo se formam
na mente. O nosso cérebro é quem processa tanto a razão
quanto a emoção. Tanto uma quanto outra estão
carregadas com nosso sistema de crenças e valores
adquirido ao longo de nossa vida, independente da
quantidade de tempo que tenhamos no mundo. Não se
pode deixar de levar em conta que esse sistema se
processa a partir de uma natureza humana e pecadora.
Nossas crenças e nosso conjunto de valores são
distorcidos pelo pecado, e isso afeta a nossa maneira de
entender e viver a nossa fé, a nossa cosmovisão. Embora
sejamos crentes em Cristo Jesus e templos do Espírito
Santo, a própria Palavra nos faz entender que a nossa
porção humana e pecadora ainda permanece em nós, de
modo que sempre haverá uma luta travada entre carne e
Espírito (Gálatas 5:17). Quem tem influenciado na nossa
tomada de decisão?
Devemos nos perguntar: por que a transformação
envolve a renovação da mente? É a mente que processa
todo o nosso conhecimento e direciona a nossa vontade.
Paulo fala a respeito de um culto “racional”, algo que se
pode apreender com o entendimento. Isso confirma aquilo
que já dissemos: a vontade de Deus não pode ser buscada
por meio de experiências místicas, mas do estudo da sua
Palavra, um estudo racional, guiado pelo Espírito Santo,
sem o qual a própria busca por essa vontade não é
possível. A palavra “transformai-vos” (gr.
metamorfousthe), está na voz passiva e indica que o
indivíduo é transformado, ou seja: sofre uma
transformação, não transforma a si mesmo. O termo grego
também significa mudar, transfigurar, transformar, usado
de modo figurado na transformação, tanto na mente como
no coração (2 Coríntios 3:18). Essa transformação se dá
pela renovação (gr. anakainósei), o que implica em
renovar, tornar qualitativamente novo, passagem de uma
situação carnal para uma vida segundo os preceitos
cristãos (2 Coríntios 4:16; Colossenses 3:10; Efésios 4:23).
Essa passagem se dá no entendimento (gr. noós, nous;
metanoia: transformação da mente), um substantivo que
conota intelecto, mente, entendimento (Lucas 24:45; 1
Coríntios 14:14,15,19; Filipenses 4:7; Apocalipse 13:18).
Diz respeito à sede das emoções e sentimentos, de modo
de pensar e sentir, disposição, inclinação moral,
equivalente ao coração (1 Coríntios 1:10; Efésios 4:17,23;
Colossenses 2:18; 1 Timóteo 6:5; 2 Timóteo 3:8; Tito
1:15); indica coração, razão, consciência, em oposição aos
apetites carnais (Romanos 7:23,25).
Uma mente impregnada pelos valores do mundo
não consegue assimilar os valores de Deus nem fazer
escolhas segundo a sua vontade. Ela está presa às coisas
terrenas e não busca aquilo que é do alto. É uma mente
carnal não reflete a mente de Cristo, não toma decisões
que Ele tomaria. A transformação acontece quando, pela
graça que nos foi dada por Deus e pela ação do Espírito
Santo, sacrificamos o nosso eu, quando prestamos a Deus
um culto racional, que tem consciência de si e da
necessidade de passar pelo processo da libertação, não
aquela dos “cultos de cura e libertação”, mas a
verdadeira, promovida por Cristo na mente do crente.
Precisamos proteger a nossa mente contra agentes
nocivos que possam perturbá-la e impedirem-na de se
desenvolver plenamente. É preciso equipá-la para
responder positivamente aos estímulos corretos e se
tornar capaz de dar respostas negativas aos estímulos
errados. Somente uma mente transformada pelo Espírito
Santo e voltada para o conhecimento de Deus em sua
Palavra é capaz de pensar corretamente e dar as
respostas certas a cada estímulo, tomando decisões que o
levarão a escolhas santas. Mentes saudáveis produzirão
uma adoração espiritual baseada nos valores do Reino de
Deus.
A transformação é uma mudança de um estado para
outro. Assim como a santificação – sendo parte integrante
dela –, a transformação ocorre de modo posicional e
instantâneo, isto é, ao aceitarmos a Cristo somos
transformados de pecadores, a santos e remidos; de filhos
do diabo, em filhos de Deus: “Mas a todos quantos o
receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de
Deus, a saber, aos que creem no seu nome” (João 1:12).
Essa transformação, que nos coloca em posição favorável
diante de Deus por sua graça, também é desenvolvida
através de um processo diário de desistência e abandono
de si e enchimento do Espírito Santo, num processo que
envolve a renovação da nossa mente. Podemos dizer que é
um processo de metamorfose, que visa nos levar à perfeita
varonilidade, à medida da estatura de Cristo (Efésios 4:12-
14; 2 Co 3:18). Uma característica dessa transformação é
que ela não opera tão somente no âmbito individual, mas é
um crescimento coletivo efetuado pelo Espírito Santo,
como vemos em Efésios 4:9-16:

Ora, que quer dizer subiu, senão que também havia


descido até as regiões inferiores da terra? Aquele
que desceu é o mesmo que subiu acima de todos os
céus, para encher todas as coisas. E ele mesmo
concedeu uns para apóstolos, outros para profetas,
outros para evangelistas e outros para pastores e
mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos
para o desempenho do seu serviço, para a
edificação do corpo de Cristo, até que todos
cheguem à unidade da fé e do pleno conhecimento
do Filho de Deus, á perfeita varonilidade, á medida
da estatura da plenitude de Cristo, para que não
mais sejais como meninos, agitados de um lado para
outro e levados ao redor por todo vento de doutrina,
pela artimanha dos homens, pela astúcia com que
induzem ao erro. Mas, seguindo a verdade em amor,
cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo,
de quem todo o corpo, bem ajustado e consolidado
pelo auxílio de toda junta, segundo a justa
cooperação de cada parte, efetua o seu próprio
aumento para a edificação de si mesmo em amor.
Toda transformação passa necessariamente por um
processo de mudança. As coisas antigas são dispensadas e
coisas novas surgem em seu lugar. Aquele que está em
Cristo é nova Criatura: as coisas velhas passam, as coisas
novas vêm (2 Coríntios 5:17; Gálatas 6:15; Efésios 4:22-
24). O apóstolo Pedro escreveu: “Vós, pois, amados,
prevenidos como estais de antemão, acautelai-vos; não
suceda que, arrastado pelo erro desses insubordinados,
decaiais da vossa própria firmeza; antes, crescei na graça
e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus
Cristo. A ele seja a glória, tanto agora como no dia eterno”
(2 Pedro 3:17,18). Essa mudança radical da mentalidade
do crente é necessária se ele quiser experimentar qual
seja a boa, perfeita e agradável vontade de Deus. A
vontade de Deus para se tornar real na nossa vida deve
impregnar a nossa mente e transformar todo o nosso ser.
Não se trata de uma compreensão intelectual infrutífera,
mas de um entendimento vivo, isto é, de viver esta
vontade na nossa vida diária. Isso traz um novo
discernimento, que sabe distinguir a vontade de Deus que
leva à justiça e à vida. O apóstolo Paulo vai muito além do
conhecimento de Deus e nos mostra que tal conhecimento
não deve ser apenas compreendido, mas, acima de tudo,
experimentado. Se não houver essa renovação da mente, a
vontade de Deus não nos parecerá boa, perfeita e
agradável. Quanto mais a nossa mente for carnal e tomada
pelas coisas do mundo, tanto mais não compreenderemos
nem aceitaremos as coisas de Deus. Quando submetemos
a nossa mente à renovação perpetrada por sua verdade,
somos impregnados por aquilo que é bom, perfeito e
agradável, somos revestidos dos valores eternos do seu
Reino. E é isso que nos levará a uma tomada de decisão
boa, perfeita e agradável.
O que é bom para a mente natural humana? O que é
perfeito para quem não tem a mente de Cristo? O que é
agradável para quem não teve a sua vida transformada
pelo Espírito Santo? Muitos querem conhecer a vontade
de Deus para si, mas não no sentido de compreender o
que Deus pensa e quer para obedecê-lo, mas para
encontrar respaldo para os seus planos, sonhos, desejos e
ambições. Todavia, conhecer a Deus e a sua vontade só é
possível através do autoesvaziamento do nosso ego e da
busca sincera pela obediência e pela santificação. Uma
mente embotada pelo pecado, escrava dos desejos da
carne jamais poderá entender os propósitos de Deus,
jamais se submeterá à sua vontade já expressa nas
Sagradas Escrituras. Se o nosso conhecer a vontade de
Deus não vier acompanhado do desejo de obedecê-la,
jamais a conheceremos; e se a encontrarmos, viraremos as
costas para ela.
A VONTADE DE DEUS
E O ESPÍRITO SANTO

“disse-lhe o Espírito”

Atos 10:19

A atuação do Espírito Santo é um elemento crucial na


busca do crente pela vontade de Deus. Ele não somente
direciona a vida do cristão, como também o capacita a
buscar e a fazer a vontade de Deus, com sua infusão de
poder (Atos 4:8,31; 6:10; 8:29; 10:44) e com sua
orientação (Atos 10:19,20; 11:12; 13:2-5; 16:6-10). Os
apóstolos agiam pelo poder do Espírito Santo (Romanos
15:18,19). O Espírito acompanhou a pregação missionária
na confirmação da verdade da mensagem no coração dos
ouvintes e no fortalecimento de Paulo e dos demais
apóstolos e missionários na tarefa da proclamação do
Evangelho de Cristo, inclusive por meio de sinais e
prodígios (2 Coríntios 12:2; Romanos 15:18,19). Além
disso, os fiéis tinham experiências com o Espírito (1
Tessalonicenses 1:4-6; Gálatas 3:1-3; 1 Coríntios 2:4-5), e
poder e sabedoria para testemunhar a respeito de Jesus (1
Tessalonicenses 2:2; 1:5,6). Paulo era apóstolo pela
vontade de Deus (2 Coríntios 1:1). Todo o seu ministério
foi vivido debaixo da direção do Espírito Santo, de modo a
atender ao chamado de Cristo e submeter-se em todas as
coisas à vontade de Deus. Ele deixa bastante claro que o
seu objetivo não era pregar a si mesmo nem cumprir a sua
vontade, mas realizar aquilo para o que fora designado. A
sua vida inteira estava totalmente entregue nas mãos de
Deus, de modo que ele não vivia mais, mas Cristo vivia
nele (Gálatas 2:20). A sua vida só possuía importância à
medida que ele pudesse cumprir o que Deus lhe
determinara (Atos 20:24). A mesma condição de fé e de
vida que Paulo empregava em si mesmo, desejava àqueles
a quem pregava o Evangelho, então orava para que
conhecessem a vontade de Deus e poder, desse modo,
levar uma vida digna do Senhor (Colossenses 1:9,10). Os
planos de viagem de Paulo estavam sujeitos à vontade de
Deus (1 Coríntios 4:19; 16:7; Romanos 1:10; 15:32). No
livro de Atos, o Espírito Santo de diversas maneiras guiou
Paulo em suas viagens missionárias, e até mesmo iniciou
novas fases da missão (Atos 11:27-30; 13:1-3; 16:6-10;
18:9,10).
É a presença do Espírito Santo em nós que nos
liberta do jugo da lei e nos capacita a conhecer e a fazer a
vontade de Deus. Em 2 Coríntios 3:6, a letra (gr. gramma)
declara a vontade de Deus e julga quem não a cumpre,
mas não fortalece a pessoa para cumpri-la, para se afastar
do mal e praticar o bem. Somente a partir do
derramamento do Espírito Santo, em resultado da obra de
Cristo, a justiça de Deus é cumprida (2 Coríntios 3:6-9;
HAFEMANN, p. 277). Apenas o Espírito Santo possibilita
um estilo de vida agradável a Deus. Deus revela a sua
vontade na Lei (Romanos 10:6-8; Deuteronômio 30:12-14).
Ele estabelece a sua vontade santa e justa como um
contraponto à vontade humana. Deus não criou preceitos
fora da nossa realidade pecadora, mas baseado na nossa
condição distante da sua glória. Os mandamentos de Deus
não dizem respeito a proibições que nos levam a pecar
porque elas existem, mas a mandamentos que denunciam
a transgressão que já vive em nós. Se tomarmos decisões
e fazermos escolhas sem levarmos em conta a nossa
situação pecaminosa e a santidade da Palavra de Deus, a
sua Lei escrita nos nossos corações, todos os nossos
projetos serão equivocados, todos os nossos planos nos
conduzirão ao fracasso espiritual, por mais que
aparentemente deem certo. Se não formos orientados pelo
Espírito Santo, tatearemos como cegos sem jamais chegar
a lugar algum.
Um exemplo clássico disso está na entrega dos dez
mandamentos no Monte Sinai. No mesmo instante em que
Deus entregava a Lei a Moisés, o povo já transgredia o
primeiro mandamento de amar a Deus e não confiar em
outros deuses (Ex 32:7,8). Isto é, o mandamento existe por
causa do pecado que há no homem, e não o pecado que há
no homem existe por causa do mandamento. A Nova
Aliança inaugurada por Cristo na cruz, liberta-nos da
escravidão do pecado e nos torna aceitáveis diante de
Deus, munidos de poder para tomar decisões e fazer
escolhas que nos conduzam a realizar a sua vontade
(Gálatas 3:15-18). A Lei de Deus é santa, justa, boa e
espiritual (Romanos 7:12,14,22; 3:31). Ela mostra o
pecado e condena o transgressor. Ela expressa a vontade
de Deus, mas ainda é instrumento do pecado e da morte.
Quando a Lei traz à luz o pecado, ela torna a vontade de
Deus explícita, de modo que o pecador toma
conhecimento dessa vontade e pode lhe dar uma resposta,
entendendo que não a cumpriu (Romanos 3:20, 4:15; 5:13;
7:7,21-23). A Lei definia a vontade de Deus, mas não
atuava salvificamente. Como é impossível para o homem
pecador cumprir a lei, foi necessário que o nosso
reparador, o Senhor Jesus, cumprisse-a em nosso lugar, de
modo que já não estamos mais sujeitos à Lei, para a qual
morremos em Cristo (Romanos 6:14; 7:4; 8;2).
O cristão é chamado por Deus e capacitado por sua
graça a cumprir a sua vontade expressa na Lei, nas
palavras de Jesus registradas nos Evangelhos e no livro
dos Atos dos apóstolos, bem como nas epístolas e no livro
do Apocalipse. Só é possível cumprir a justiça exigida pela
lei estando em Cristo (Romanos 8:2) e vivendo sob o
domínio do Espírito Santo (Romanos 8:4; 13:8-10), o que
os incrédulos estão impossibilitados de fazer, uma vez que
permanecem mortos em seus delitos e pecados e não são
selados com o Espírito Santo (Romanos 8:7). Somos
libertos do pecado e da morte e feitos escravos de Cristo
para estarmos livres para fazer a vontade de Deus e viver
(Romanos 6:1,15-23). Só podemos fazer a vontade de Deus
uma vez que fomos libertos por Cristo do pecado que nos
aprisionava e nos tornava mortos. É a vida em Cristo que
nos liberta do que nos prende ao pecado e nos dá a graça
de fazer a sua vontade, e isso quem torna possível é o
Espírito Santo que habita em nós e que produz a
santificação conquistada por Cristo na cruz.
A santificação é uma oba operada na vida do crente
pelo Espírito Santo, tanto aquela posicional e instantânea
onde nos tornamos filhos de Deus, separados para Ele e
regenerados; quanto a progressiva, onde desenvolvemos a
nossa salvação através da santificação diária. Essa
santificação inclui uma sincera obediência à vontade de
Deus em Cristo, de modo que o Espírito Santo nos conduz
a uma entrega irrestrita a Deus e nos capacita e exorta a
vivermos em conformidade com a sua vontade e a
obedecê-lo (Romanos 12:1; 6:15-22; 1 Tessalonicenses 4:1-
8). A santificação também inclui um lado negativo
necessário, sem o qual é impossível que ela possa ser
desenvolvida: a morte para o pecado (Romanos 6:12-23), a
renúncia aos impulsos da nossa carne (Gálatas 5:16-24;
Romanos 8:2-14) e uma entrega total à soberana vontade
de Deus. Essa vivência constante sob o senhorio de Cristo,
onde abrimos mão daquilo que somos pela graça de Deus
e nos entregamos por essa mesma graça ao agir
sobrenatural do Espírito, leva-nos ao crescimento e à
maturidade (1 Coríntios 3:6,7; 2 Coríntios 10:15; Efésios
2:21; 4:13-16; Colossenses 2:19), até que sejamos
perfeitos como o nosso Pai é perfeito pelo Espírito de
Cristo que habita em nós (Romanos 12:2; 2 Coríntios 7:1;
13:9; 1 Tessalonicenses 3;13). Só é possível ser santo e
desenvolver esta santidade rumo à perfeição porque
estamos em Cristo (1 Coríntios 2:6-10). Em Cristo, as
nossas escolhas e decisões são santas, porque obedecem à
voz do Espírito Santo.
Estar em Cristo nos mune de discernimento
espiritual, tanto para discernir as coisas de Deus quanto
para praticá-las (1 Coríntios 2:12-14). Este é o desígnio de
Deus para o seu povo: a santidade, que cada um seja
apresentado diante dele sendo perfeito em Cristo
(Colossenses 1:28). Logo, devemos viver conforme a
vontade de Deus, na busca do que é perfeito (Romanos
12:2) e por viver de acordo com a verdade que
professamos, para que estejamos no centro da vontade do
Pai (Colossenses 4:12). A salvação produz a reconciliação
entre o pecador e Deus, de modo que já é suficiente para
produzir uma santificação instantânea, um
reposicionamento positivo diante de Deus. Ainda assim, a
nova vida em Cristo precisa ser desenvolvida num
processo de perfeição individual e coletivo (Efésios 3:19;
2:15; 4:16; Colossenses 3:14), onde reconhecemos que
nesta vida tal perfeição não se dará totalmente, mas
apenas na glória celestial. Enquanto o cristão não alcança
o estado em que não poderá mais pecar, o Espírito Santo o
capacita, nesta vida, a viver em santidade, a não buscar
apenas aquilo que se inclina para a realização dos desejos
da carne, mas para o que edifica e o leva à maturidade
espiritual em conformidade com a vontade de Deus (1
Coríntios 13:10; Filipenses 3:12-14; Gálatas 5:16-26;
Romanos 6:2:6,11-14,18,22).
A VONTADE DE DEUS
E A ORAÇÃO

“não sabemos orar como convém”

Romanos 8:26

A todo instante devemos estar sedentos pela presença do


Senhor, viver com Ele a todo instante no pensamento e no
coração. Deus se revelou a nós e nos salvou não para nos
dar coisas, mas para nos dar a sua presença. É isso que
importa. Tendo em vista essa necessidade primária,
existem três momentos em que nos voltamos para a
necessidade de conhecer a vontade de Deus: quando
lemos a Bíblia em busca de conhecê-lo, quando
enfrentamos alguma dificuldade e quando precisamos
tomar uma decisão, fazer uma escolha. Destes três
motivos, o primeiro é o que legitima os demais, porque o
que Deus espera que façamos nos momentos difíceis e a
direção que devemos tomar na nossa vida estão descritos
na sua Palavra. Muitos crentes, porém, rejeitam o
primeiro momento, investindo tão somente na oração, na
busca pelo sobrenatural de Deus, em sonhos, visões e
palavras proféticas, sem atentar para a direção que Deus
já lhes deu nas Escrituras. O ponto positivo nessa questão
é que a vontade de Deus está sendo buscada. Ainda assim,
precisamos nos questionar se estamos de fato a procura
de saber o que Deus quer para nós ou se Ele corrobora
com aquilo que já determinamos que acontecerá, como
alguns que buscam na Bíblia de maneira distorcida
fundamentos para suas práticas heréticas e pecaminosas.
A oração surge como uma ferramenta para que o
crente busque conhecer o que Deus quer. Diante de tudo o
que já aprendemos, como a oração funciona? Ela pode
direcionar a vontade de Deus para nos dar aquilo que
pedimos ou até mesmo mudá-la? A resposta é com certeza
um enfático “não”. Orar não significa mudar a vontade de
Deus, mas conformar-se a ela. Muitas teologias
disseminadas em hinos evangélicos falam sobre mover ou
mudar o coração de Deus e a sua vontade, como se em
algum momento Deus fosse se conformar àquilo que
pretendemos ou abrir mão da sua vontade para satisfazer
os nossos interesses. Deus não muda a sua vontade, Ele
não volta atrás nos seus decretos nem desiste dos seus
planos. Quando a Bíblia fala que Deus se “arrependeu” do
que dissera que faria, esse “arrependimento” de Deus já
fazia parte da sua vontade. Deus não se curva diante do
nosso querer. Ele não se vê obrigado a fazer o que lhe
pedimos somente porque queremos. A oração deve nos
levar a uma conformidade com a vontade e os valores
eternos de Deus, numa busca por sua força e direção para
enfrentar a vida e os poderes malignos que residem neste
mundo e nas trevas que o cercam.
A oração é um reconhecimento que há um conflito
de ideologias e vontades entre o crente e Deus. Quando
nos colocamos diante de Deus em oração, carregamos
nossos sonhos e projetos, nossos problemas e
necessidades, nossas petições e súplicas. Temos bem
certo dentro de nós o que desejamos, as soluções que
imaginamos para cada fato que lhe apresentamos.
Podemos, então, ter duas atitudes: a primeira é cair na
tentação de exigir que Deus cumpra conforme o que por
nós foi estabelecido, exigindo uma resposta à altura das
nossas expectativas. Essa atitude é muito empregada
pelos adeptos da Confissão Positiva e o resultado é
desastroso: além de uma demonstração de total rebeldia
contra Deus, a falta de atendimento em nossos pedidos. A
segunda atitude nos coloca diante de Deus numa posição
submissa, onde levamos a Ele todas as nossas
necessidades, mas entendemos que a vontade dele não é a
nossa e que devemos em tudo pedir que a sua vontade
seja feita. Mesmo que saibamos que decisão tomar,
pedimos a Deus que tome a direção, que abençoe ou que
nos mude a direção se estivermos trilhando por um
caminho errado. Afinal de contas, “Há caminho que ao
homem parece direito, mas ao cabo dá em caminhos de
morte” (Provérbios 14:12).
A oração de Paulo sempre demonstrou a busca pela
vontade de Deus para si e para o desempenho do seu
ministério. Ele não estava interessado em cumprir seus
projetos pessoais, mas em completar a carreira que o
Senhor lhe propôs. A sua oração não era arrogante, mas
firmava-se no Nome de Jesus (Efésios 5:20), o que também
exortava os crentes a fazerem (1 Timóteo 2:8). As
respostas às nossas orações estarão sempre sujeitas à
vontade de Deus. Ele jamais fará aquilo que não estiver
dentro do seu querer (Romanos 1:10; 15:32). O apóstolo
Paulo tinha em mente lugares e pessoas que desejava
visitar, mas submetia todos os seus planos a Deus. Paulo
relata uma experiência sobrenatural pessoal na qual fora
arrebatado até o terceiro céu e, para que não se tornasse
soberbo por conta das visões que teve, Deus lhe colocou
um espinho na carne, um “mensageiro de Satanás”
enviado para lhe esbofetear. Diante desta situação
indesejável, o apóstolo rogou por três vezes a Deus para
que o espinho lhe fosse retirado, e em todas elas o Senhor
se negou a fazê-lo. Após a sua insistência, Paulo apenas se
dobrou diante da vontade de Deus e se resignou na
confiança de que aquilo, por pior que lhe parecesse, era a
vontade de Deus para ele (2 Coríntios 12:7-10). A sua
decisão foi a mais certa: tornar-se totalmente dependente
da graça do Senhor.
Nem sempre enxergamos a vontade de Deus na dor,
na privação, no sofrimento, na angústia, na inquietação,
nas investidas do inimigo. Por experiência própria, Paulo
sabia que a vontade de Deus podia envolver todas essas
coisas e visa sempre um fim proveitoso para o crescimento
do crente e da Igreja. São oportunidades que Deus utiliza
para nos envolver num processo de maturação da nossa
fé, para nos tornar maduros e perfeitos, o que demonstra
tanto o seu poder quanto a nossa fraqueza. O sofrer
cristão não produz senão perseverança e esperança,
enquanto aprimora o seu caráter e traz experiência
(Romanos 5:3-5). A experiência de hoje nos ajudará na
tomada de decisão de amanhã. Ao olharmos para o
sofrimento, não devemos desanimar nem questionar a
vontade de Deus, mas avaliar-nos até que ponto erramos
ou somos vítimas dos atropelos do mundo e das investidas
do diabo. Seja como for, uma vez conscientes do trabalhar
de Deus e da nossa responsabilidade em manter firme a
nossa fé e tomar algumas medidas necessárias (como
arrependimento e mudança de atitude), caminharemos
para o desenvolvimento da nossa santidade, para o
aprimoramento da nossa fé. Além disso, sofrer do ponto de
vista de Deus redunda em glória e nos faz lembrar de que
coisas extraordinárias estão guardadas para nós na
eternidade (2 Coríntios 4:17; Romanos 8:18).
O objetivo da tribulação também carrega um
sentido solidário. Em primeiro lugar, a Igreja do Senhor é
composta de vários membros, que são contados como
partes de um único corpo, de modo que o sofrimento de
um também representa sofrimento aos demais; bem como
a alegria de um significa alegria para os outros membros
(1 Coríntios 12:26). Paulo escreveu aos romanos que se
alegrassem com os que se alegram e chorassem com os
que choram (Romanos 12:15). Cumprir a Lei de Cristo
também envolve a solidariedade: levar as cargas uns dos
outros (Gálatas 6:1,2). Tiago também nos chama à
responsabilidade da mutualidade na dor (Tiago 5:13-15).
O resultado da atitude positiva diante do sofrimento, da
submissão à vontade de Deus, da mútua cooperação na
alegria ou na dor, redunda em consolo da parte do Senhor
para que possamos consolar os que sofrem com as
mesmas consolações que Deus nos dá (2 Coríntios 1:3,4).
Sendo assim, orar para que Deus nos afaste da dor pode
significar abrir mão de todas essas bênçãos. A vontade de
Deus, ao contrário do que pregam os triunfalistas, não se
manifesta apenas nos pastos verdejantes, na abundância
de riquezas ou na ausência de problemas (como se isso
fosse possível). A vontade de Deus – e isso precisa ser
levado em conta nas nossas orações e tomadas de
decisões – pode envolver nos conformarmos ao escárnio e
até mesmo ao martírio; pode significar sofrer a injustiça,
abrir mão de alguns direitos, ceder o nosso espaço para
outra pessoa e algumas outras perdas necessárias. Talvez
não saibamos o motivo, mas Deus em sua vontade secreta,
sabe.
Como vemos nas orações das diversas religiões do
mundo inteiro, incluindo muitos seguimentos do
cristianismo (catolicismo, neopentecostalismo,
espiritismo, etc.), a oração nem sempre é feita de acordo
com a vontade de Deus. Os católicos recorrem à
intercessão de Maria e dos “santos” mortos; os
neopentecostais decretam bênçãos e exigem de Deus que
sejam prontamente atendidos. Somente o crente
verdadeiro é capaz de orar segundo a vontade de Deus, o
que não significa que ele o fará todas as vezes que orar.
Todavia, essa fraqueza em não saber orar é suprida pelo
poder do Espírito Santo que nos socorre nas nossas
fraquezas e intercede por nós com gemidos inexprimíveis
(Romanos 8:26,27). Esses “gemidos inexprimíveis” são
considerados de forma equivocada pelos pentecostais e
neopentecostais como o falar em línguas estranhas
durante as orações. Mas não é isso que o texto declara. De
acordo com Hunter (1997, p. 900), esta é “uma atividade
de oração do Espírito, que discerne as necessidades mais
profundas do fiel e as comunica de maneira singular
diretamente a Deus”. Se “não sabemos orar como
convém”, o Espírito nos dá a certeza de que as nossas
orações estão de acordo com a vontade de Deus.
O cerne da questão é justamente este: a vontade
soberana de Deus é que se cumprirá, independente
daquilo que pedimos ou pensamos. Pedir conforme a
vontade de Deus é a única certeza que temos de sermos
atendidos (1 João 5:14,15). Podemos buscar conhecer a
vontade de Deus por meio da sua Palavra e ter a certeza
de que aquilo que lhe pedimos está de acordo com essa
vontade, mas ainda assim a vontade secreta de Deus para
nós é quem decidirá se receberemos ou não aquilo que lhe
pedimos. Nem sempre o que Deus tem para nós será
agradável se não tivermos consciência de que a sua
vontade é boa, perfeita e agradável. O apóstolo Paulo nos
convoca a render graças a Deus por meio de Cristo (1
Tessalonicenses 5:18-18), o que significa muito mais que
agradecer pelas bênçãos diariamente alcançadas. Essa
ação de graça é que caracteriza o nosso rendimento ao
Senhor Jesus (Efésios 5:20), como aquele que nos redimiu
dos nossos pecados e nos salvou. Ao reconhecer a Cristo,
reconhecemos o perdão dos nossos pecados, a redenção e
a justificação pela graça de Deus por meio da fé (Efésios
2:8,9). Esse reconhecimento produz ação de graças
(Romanos 7:25). Quando nos reconhecemos esses
pecadores alcançados de maneira graciosa por Deus, todo
o nosso orgulho é quebrado, reconhecemos que tudo vem
dele e é para Ele e que dele dependemos em todas as
circunstâncias. Se cremos em Cristo e nos enxergamos
totalmente desprovidos de justiça própria (Romanos 3:10),
submetemos a nossa vontade à vontade soberana daquele
que pode todas as coisas, que é justo, santo e verdadeiro.
COMO SABER A
VONTADE DE DEUS?

“Ensina-me a fazer a tua vontade”

Salmo 143:10

Na tomada de decisão, o cristão deve ter sempre em


mente que existe uma vontade revelada nas Escrituras a
respeito de tudo aquilo que Deus espera que sejamos e
façamos, bem como ao nosso destino final nos céus (ou no
inferno para aqueles que não creem em Jesus como seu
Senhor e Salvador). Sobre a nossa santificação, a Palavra
nos direciona: “Pois esta é a vontade de Deus” (1
Tessalonicenses 4:3). Também sobre a ação de graças ela
é muito específica ao afirmar: “porque esta é a vontade de
Deus em Cristo Jesus para convosco” (1 Tessalonicenses
5:18). Entretanto, Deus não diz na sua Palavra que nos
dará direção para cada situação específica e particular da
nossa vida. Muitos afirmam sentir no seu coração que
Deus lhes direciona para este ou aquele projeto, para esta
ou aquela direção, orientando-os em suas escolhas e
decisões. Tal sentimento, muitas vezes, traz o sentido de
“revelação”, onde o indivíduo parece manter um canal
místico com Deus, e Este o conduz sobrenaturalmente.
Embora Deus possa nos falar de alguma forma
sobrenatural, não é isso que a sua Palavra ensina e nem é
esse o modo como o vemos agir no Novo Testamento,
salvo alguns casos bem específicos nos Atos dos apóstolos.
A mente de Cristo nos mantém atentos à voz do Espírito
Santo, que nos guia. Mas, Ele sempre nos guiará na
Palavra de Deus, jamais fora dela.
Para discernirmos a vontade de Deus, segundo Stott
(2001, p. 42), devemos fazer a distinção entre a sua
vontade “geral” e a “particular”. A vontade geral de Deus
encontramos nas páginas da Bíblia, em tudo o que Deus
tem decretado para a humanidade, para a Igreja e para
cada cristão convertido em particular. A Bíblia traz a
revelação do caráter de Deus, do seu plano e da sua
vontade em geral. Então, como saber a vontade de Deus
para todas essas questões do nosso cotidiano? Como saber
com quem iremos nos casar, se devemos ou não fazer tal
viagem, qual curso universitário devemos escolher, como
podemos investir o nosso dinheiro? Tudo isso faz parte da
vontade particular de Deus e é um dos grandes mistérios
para a maioria dos cristãos ávidos por uma direção para a
sua vida e, em muitos casos, por fazerem somente aquilo
que for da vontade de Deus. Entretanto, não vemos esse
tipo de direção nas Escrituras, a não ser nas narrativas
que estavam dentro do propósito soberano de Deus para a
redenção. Em muitas narrativas do livro dos Atos dos
Apóstolos, vemos como o Espírito Santo orientou
diretamente os apóstolos no trabalho missionário; muitas
vezes, o próprio Senhor Jesus aparece para direcionar a
sua obra e animar seus servos. Abaixo, no livro de Atos,
veremos alguns exemplos da influência divina sobre os
apóstolos em suas tomadas de decisões na obra
missionária. Eles eram influenciados e se tornavam
influenciadores.
 A escolha de Matias – 1:15-26. Os discípulos
dependeram da influência do Espírito Santo na
escolha do novo apóstolo para tomar o lugar de
Judas Iscariotes.

 Pedro – 2:14-36; 3:11-26; 4:5-22. Influenciado


pelo Espírito Santo, Pedro agora demonstra um
caráter transformado, muito diferente daquele
que negara a Cristo pro três vezes. Antes tímido,
mas agora intrépido e ousado na pregação do
Evangelho. Mesmo tendo pregado para tão
grande diversidade de pessoas, Pedro depois
demonstra a influência negativa do preconceito
sobre a sua vida (10:9-16). Porém, influenciado
pelo Espírito Santo, ele reconhece que Deus não
faz acepção de pessoas (v. 34).

 A comunhão cristã – 4:32-35. Jesus continuava a


influenciar os apóstolos a testemunhar e a
manter uma vida cristã de comunhão e
solidariedade.

 Os diáconos – 6:3. Os diáconos seriam


escolhidos entre os homens influenciados pelo
Espírito Santo.

 Os samaritanos – 8:4-8. Influenciado pelo


Espírito Santo, Filipe prega em Samaria e os
samaritanos abraçam o Evangelho. Depois, eles
recebem o Espírito Santo (8:14-17).
 A conversão de Saulo – 9:1-9. Pela primeira vez
vemos a influência direta e pessoal de Jesus na
Igreja após a sua subida aos céus. Saulo agora
se deixa influenciar positivamente.

 Os crentes dispersos – 11:19-26. Sob influência


do Espírito Santo e de Jesus (v. 21), os crentes
dispersos saíram a pregar o Evangelho.

 Paulo influenciado pela dinâmica do Espírito –


16:6-10. Aqui vemos claramente que era o
Espírito Santo quem influenciava as escolhas de
Paulo com relação ao seu ministério e sua
missão. Paulo era sensível à voz do Espírito.

 A visão de Paulo – 18:9-11. Novamente Paulo


mostra estar em perfeita harmonia com Jesus,
pois permite que Ele influencie o seu ministério
e suas decisões.

 Jesus – 23:11. O Senhor aparece a Paulo e o


anima; influencia-o com a visão do futuro: ele
iria pregar em Roma.

 Paulo na viagem de navio – 27:9-11. Aqui vemos


duas influências sobre a tripulação e os
passageiros do navio: Paulo, admoestando-os
sobre as dificuldades da viagem, e o centurião,
que dava mais crédito ao que o mestre do navio
dizia. As consequências de seguir uma influência
errada podem ser desastrosas (v. 12-44). A
influência de Paulo era fruto de revelação divina
(21:26). Mesmo diante da fúria da tempestade,
ele ainda influenciava o ânimo de todos
positivamente (33-36). As consequências de se
seguir a influência divina são sempre positivas
(v. 44). É ela que deve nos orientar na tomada
de decisão.

A Palavra de Deus nos fornece meios de


discernirmos a sua vontade particular. Para conhecer a
vontade de Deus para cada situação, devemos submetê-las
aos valores da sua Palavra. Não é preciso profecia, sonho,
revelação ou a voz de um anjo, basta submetermos as
nossas escolhas e decisões aos princípios já revelados na
Bíblia Sagrada. Deus nos dá parâmetros sobre os quais
devemos nos basear e nos deixa livres para escolher (1
Coríntios 7:39). O cristão deve se munir de inteligência,
discernimento, bom senso, conselhos de pessoas idôneas e
das Sagradas Escrituras, sempre influenciado pelo
Espírito Santo. Quando andamos segundo a vontade de
Deus, somos abençoados. Não precisamos pedir a Deus
por essa vontade, basta que a conheçamos na Bíblia e,
pela sua graça, andemos nela (2 Crônicas 27:6). O segredo
está justamente no conhecimento. É ele quem direcionará
os nossos passos e nos dirá se estamos ou não agindo de
acordo com aquilo que agrada a Deus. Deus não nos dirá
se devemos casar com esta ou aquela pessoa, mas nos
dará princípios que nortearão a nossa escolha e nos
levarão a manter uma relação sadia e santa, dentro dos
seus mandamentos. Está registrado que Deus escolheu
Maria para ser a mãe de Jesus, mas não registra que Ele
escolheu José para ser o seu esposo. Essa foi uma escolha
deles, abençoada por Deus, claro. Neste caso – e em
muitos casos na nossa vida – podemos enxergar a vontade
secreta de Deus, que já havia preparado Maria para José,
mas não há indicação de que José tenha ouvido uma voz a
lhe dizer: “José, filho de Davi, casarás com Maria, da
cidade de Nazaré”.
É necessário, todavia, um bom discernimento das
Escrituras, baseados numa exegese correta e sob a
direção do Espírito Santo, além de nos isentarmos
totalmente de qualquer influência emocional que possa
comprometer a nossa compreensão da verdade de Deus e,
por conseguinte, as nossas decisões. Há alguns anos,
ocorreu um fato inusitado no Brasil. Uma irmã de certa
congregação teve um sonho em que o Senhor ordenava
que ela tivesse relações sexuais com o seu pastor, sendo
ambos casados. Após convencer o marido de que o ato
deveria ser praticado, a mulher levou o caso ao pastor,
que consultou as Escrituras para encontrar algo que
corroborasse com aquela decisão. O texto escolhido foi
Oseias 3:1, onde se lê: “Disse-me o Senhor: Vai outra vez,
ama uma mulher, amada de seu amigo e adúltera, como o
Senhor ama os filhos de Israel, embora eles olhem para
outros deuses e amem bolos de passas”. Na compreensão
do pastor, como justificativa para cometer o adultério
conforme “revelação” de Deus em sonho, a palavra
“adúltera” no texto não era um substantivo, mas ele a
compreendeu como um verbo: “adultera”. Então ele
entendeu que Deus lhe estava dizendo: “Vai outra vez,
ama uma mulher, amada de seu amigo e adultera”. Assim,
sentiu-se de consciência limpa para tomar a mulher do
irmão. Ele, com certeza, além de uma leitura equivocada
do texto, por ignorância ou má fé, não levou em conta o
ensino geral das Escrituras que proíbe o adultério (p. ex.:
Êxodo 20:14; Provérbios 6:32; Mateus 5:27,28; Gálatas
5:19-21, etc.). Não era necessário haver consultado a
Bíblia para tal caso, porque sabe-se que ela é enfática ao
proibir o adultério. O mesmo pode-se dizer com relação a
mentira, a homossexualidade, a avareza, ao homicídio e
tantas outras ações que claramente somos ensinados pelas
Escrituras. Deus não se contradiz, não afirma uma coisa
em Deuteronômio e outra totalmente diferente no livro do
profeta Isaías. Ele não proíbe um pecado em Ezequiel e o
incentiva nos Evangelhos.
A TOMADA DE DECISÃO

“Josué disse ao povo: Sois testemunhas contra vós


mesmos de que escolhestes o Senhor para o servir.
E disseram: Nós o somos.”

Josué 24:22

Em todos os momentos da nossa vida somos chamados a


nos posicionar a respeito de algo, desde as coisas mais
simples – como o nome que daremos aos nossos filhos ou a
cor da roupa que usaremos numa festa de casamento – até
as mais complexas, que envolvem questões mais
profundas e que, possivelmente, mexerão não apenas com
a nossa realidade, mas com a de uma ou mais pessoas.
Como seres humanos que somos – principalmente se você,
amado leitor, é brasileiro – acostumamos a procrastinar
escolhas e decisões, a não dar muita importância a elas e
a temer as mudanças. Empurramos com a barriga para
que o senhor tempo se encarregue de colocar cada coisa
em seus devidos lugares ou damos aquele “jeitinho
brasileiro”. A dificuldade vem quando vemos problemas
acumulados sobre problemas, uma bola de neve quase
irreversível que o tempo se encarregou de criar para nós.
O tempo sempre passa, mas os problemas, para passar,
precisam de conhecimento e atitude, o que envolve a
tomada de decisão. Quando tomamos decisões e fazemos
escolhas, nem sempre paramos para pensar sobre os seus
efeitos sobre a nossa vida e as questões que enfrentamos.
Falta-nos sabedoria e apelar para a orientação de Deus.
Geralmente, depois que tudo sai errado, lembramos de
Deus, e clamamos: “Senhor, socorra-me!”. Lembro certa
vez em que comprei um aparelho de fax e liguei-o na
tomada assim que o retirei da caixa. Depois que ele
queimou foi que consultei o manual, e descobri que
deveria apertar tal botão para que ele funcionasse na
voltagem correta (era 110v e liguei em 220v). Assim é a
nossa relação com Deus e a sua Palavra.
Tomar decisões rápidas e eficazes pode decidir o
sucesso de um casamento, uma vaga de emprego, uma
transação comercial, um investimento, um conselho, um
socorro, uma viagem, um líder, uma nação. Líderes
servidores e eficazes compreendem a tomada de decisão
como um fator indispensável na sua vida ministerial. Uma
ação atrasada mal pensada pode colocar tudo a perder ou
pode dificultar o avanço da obra do Senhor. E o que dirá
da nossa vida sentimental? Nem sempre paramos para
analisar a pessoa com quem desejamos nos casar, muito
menos as circunstâncias que cercam a relação. Entramos
em qualquer relacionamento, entregamos logo o nosso
coração, sem nos preocupar com o que Deus pensa. Às
vezes Ele usa até mesmo a nossa própria família para nos
fazer repensar nossa escolha, mas não damos ouvidos. Os
resultados logo aparecem. O mesmo acontece em todas as
áreas da nossa vida e em todas as situações. Agir por
impulso ou tomados se sentimentos errados sempre nos
conduzirá às piores decisões. O apóstolo Paulo ordenou
aos crentes de Filipos que não fizessem nada por
partidarismo ou vanglória, mas por humildade e
considerassem cada um os outros superiores a si mesmos
(Filipenses 2:3). Como seriam das decisões e as escolhas
daqueles irmãos se as tomassem com sentimentos de
partidarismo e vanglória? Com certeza seriam
imensamente opostas àquelas tomadas por sentimentos de
humildade. Dentre elas, quais se adequariam à vontade de
Deus?
O que são decisões, afinal? No universo da
administração empresarial, segundo Maximiano (2004, p.
30), decisões são escolhas feitas como resultado do
julgamento de alternativas originadas da análise de
situações que oferecem problemas e oportunidades. Ele
lista quatro pontos para este processo de decisão, que
envolvem: (1) reconhecimento das situações que exigem
decisões; (2) diagnóstico do problema, (3) sua causa e
efeitos; (4) pensamento criativo para buscar alternativas e
pensamento crítico para avaliar essas alternativas (idem,
pg. 30). Trazendo para a nossa realidade cotidiana,
percebemos que todos esses pontos se encaixam em
qualquer situações, sejam elas decisões comuns do dia a
dia ou grandes tomadas de decisões em momentos de
crise. Estamos constantemente envolvidos em situações e
problemas que requerem de nós um posicionamento para
a tomada de decisão. Cada decisão tomada com relação a
essas coisas deve ser feita baseada nas alternativas
propostas, sob a direção do Espírito Santo, analisando
todos os seus problemas e oportunidades.

Os agentes influenciadores

Percebemos, na descrição de Maximiano, que é


preciso buscar alternativas e avaliá-las para a tomada de
decisão. Com base em que essas alternativas serão
buscadas? Isso, claro, dependerá de cada situação, de
toda a problemática que cada uma envolve. As
alternativas para empreender ou não uma viagem não
serão as mesmas para uma atitude a ser tomada num
momento de crise no casamento. A escolha de uma
gravata que combine com o terno não é o mesmo que
escolher um obreiro para ocupar um cargo importante na
igreja. Existe, porém, algo que permeia todas as situações
e influencia na tomada de decisão: as nossas crenças e
valores. Eles nos darão o norte a ser seguido. São como
bússolas morais a nos guiar. E qual deve ser a estrutura
da nossa bússola? Se desejamos fazer escolhas e tomar
decisões de acordo com a vontade de Deus, além da
regeneração que nos dá a mente de Cristo, devemos nos
basear inteiramente na Bíblia. Se os nossos agentes
influenciadores forem errados, todas as nossas ações
serão igualmente erradas.
Vimos anteriormente sobre a necessidade de
transformação para compreendermos a vontade do
Senhor. Além do tema da transformação em si, existe um
elemento nesse texto importantíssimo para a tomada de
decisão, como vemos em Efésios 4:9-16:

Ora, que quer dizer subiu, senão que também havia


descido até as regiões inferiores da terra? Aquele
que desceu é o mesmo que subiu acima de todos os
céus, para encher todas as coisas. E ele mesmo
concedeu uns para apóstolos, outros para profetas,
outros para evangelistas e outros para pastores e
mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos
para o desempenho do seu serviço, para a
edificação do corpo de Cristo, até que todos
cheguem à unidade da fé e do pleno conhecimento
do Filho de Deus, á perfeita varonilidade, á medida
da estatura da plenitude de Cristo, para que não
mais sejais como meninos, agitados de um lado para
outro e levados ao redor por todo vento de doutrina,
pela artimanha dos homens, pela astúcia com que
induzem ao erro. Mas, seguindo a verdade em amor,
cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo,
de quem todo o corpo, bem ajustado e consolidado
pelo auxílio de toda junta, segundo a justa
cooperação de cada parte, efetua o seu próprio
aumento para a edificação de si mesmo em amor.

Deus nos provê os meios essenciais para a


transformação que precisamos, de modo que não andemos
agitados de um lado para outro e levados por todo vento
de doutrina. Em que baseamos a nossa fé em Deus? Em
qual mensagem buscamos orientação para as nossas
decisões? Que tipo de doutrina tem influenciado as nossas
escolhas? Se somos instáveis, se não cremos no Evangelho
da graça de Deus, mas seguimos os modismos teológicos
do mundo evangélico ou qualquer outro, as nossas
decisões serão como aquela casa que foi edificada sobre a
areia, que não suportou os ventos e as fortes chuvas, e
veio a desabar. Ou seja: o resultado sempre será
desastroso. Aqui está o problema de muitos crentes: eles
estão agitados, buscam profetas ou doutrinas que digam o
que eles desejam escutar, porque a Palavra de Deus lhes
dá respostas contrárias aos seus anseios. Eles desejam
fazer o que ela proíbe, querem tomar decisões e fazer
escolhas que não cabem no Evangelho da cruz. O apóstolo
Paulo insiste que Timóteo pregue a Palavra em todo tempo
e oportunidade (1 Timóteo 4:1,2). Um dos motivos é que
“haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo
contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas
próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos;
e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às
fábulas” (vs. 3,4). A sã doutrina já não lhes satisfaz, já não
oferece respostas que agradem ao seu coração, que
satisfaça a sua cobiça. Eles não buscam a vontade de
Deus, mas qualquer doutrina que se enquadre na sua
própria vontade, não importa se forem fábulas, mentiras,
artimanhas diabólicas. Se funciona, está tudo certo!
Outro texto que nos ensina sobre os tipos de
influências na tomada de decisão é 2 Pedro 3:17,18, onde
o apóstolo escreve: “Vós, pois, amados, prevenidos como
estais de antemão, acautelai-vos; não suceda que,
arrastado pelo erro desses insubordinados, decaiais da
vossa própria firmeza; antes, crescei na graça e no
conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A
ele seja a glória, tanto agora como no dia eterno”. Existia
naquela igreja o perigo de os irmãos serem arrastados
pelo erro de insubordinados, indivíduos que deturpavam
as Sagradas Escrituras para a sua própria destruição. Se
os crentes considerassem os seus ensinamentos para
tomar decisões com relação à sua fé e a sua vida
espiritual, caminhariam igualmente para a destruição.
Para não incorrer nesse erro, eles deveriam crescer na
graça e no conhecimento de Cristo. O que Deus nos ensina
nesses dois textos é que as nossas decisões e escolhas
devem seguir o amor e a verdade. Não a nossa verdade,
mas a verdade da revelação de Deus na Bíblia. Não
segundo os nossos próprios interesses, mas de acordo com
os interesses de Deus e do amor. Ou seja; quando
tomamos decisões e fazemos escolhas, jamais devemos
perder de vista a fraternidade e a solidariedade, nem
deixar de perceber como tudo afetará as outras pessoas,
acima de tudo aquelas que dependem diretamente de nós.
Exemplo bíblico de tomada de decisão

Para exemplificarmos os elementos da tomada de


decisão, daremos aqui um exemplo bíblico. Veremos como
estes elementos podem ser aplicados à nossa vida
cotidiana, espiritual, ministerial, profissional ou qualquer
outra, desde as situações mais simples até as mais
complexas. O primeiro concílio da Igreja, em Jerusalém,
nos oferece um exemplo de como a tomada de decisão já
fazia parte da Igreja primitiva e de como as soluções
foram apresentadas com base no problema e nas
alternativas existentes. Vamos analisar o capitulo 15 do
livro de Atos. Tomaremos como base os quatro pontos
cruciais para a tomada de decisão.

Reconhecer as situações que exigem decisões

A situação é logo expressa no versículo um: havia


um grande problema gerado por alguns fariseus que
haviam crido em Jesus, que ensinavam que era necessário
ao cristão gentio se circuncidar para ser salvo, isto é,
tornar-se, antes de tudo, um judeu, pois eles criam que a
salvação tinha vindo somente para eles, povo escolhido de
Deus. Diante daquela situação, Paulo e Barnabé viram a
necessidade de uma tomada de decisão. O que deveria ser
feito? Que soluções apresentar para a questão? Sua
primeira medida foi subir a Jerusalém para ter com os
apóstolos e presbíteros para juntos encontrarem uma
solução eficaz para a questão (v. 2). O mesmo acontece
conosco o tempo todo: somos surpreendidos por situações
que requerem de nós decisões, às vezes decisões que, se
não tomadas há tempo, poderão piorar a situação.
Pensemos isso em termos de casamento, por exemplo.
Quando alguma crise se instaura na relação, é o momento
do casal respirar fundo e dialogar, para identificar os
pontos de vulnerabilidade e a responsabilidade de cada
um, tanto na criação quanto na solução da crise. As coisas
simples também exigem decisões, como a compra de uma
casa ou um carro, uma viagem, detalhes sobre a educação
dos filhos, o ambiente de trabalho, o ministério da Igreja,
entre tantos outros. A falha está em não reconhecer as
situações que pedem a nossa atenção, em não querer
enfrentar o problema nem aceitar mudanças necessárias.
Se não houver esse reconhecimento, os próximos passos
jamais serão possíveis.

Diagnosticar o problema, achando relações de causa e


efeito

O problema foi apresentado aos líderes da igreja em


Jerusalém e estes o examinaram, havendo um grande
debate (vs. 6 e 7). Este debate certamente foi
democrático, onde as partes interessadas tiveram a
oportunidade de expor os seus diferentes pontos de vista.
As causas foram avaliadas (os fariseus e seu ensinamento)
e também os seus efeitos (a contenda). Após a discussão,
Pedro fez uma análise dentro dos seguintes pontos: a)
Deus concedera também aos gentios o Espírito Santo (v.
8; cf. Atos 10:44); b) Deus não estabelecera distinção
alguma entre judeus e gentios (v. 9; cf. Atos 20:21;
Gálatas 5:6); c) os fariseus convertidos não deveriam jogar
sobre seus irmãos gentios um jugo que nem mesmo os
pais deles puderam suportar (v. 10); d) a salvação é pela
graça em Cristo (v. 11). Ao tomarmos outra vez o
casamento como exemplo, o momento de “discutir a
relação” deve ser usado para avaliar os fatores que
influenciam negativa e positivamente a relação. Como o
momento é de crise, os fatores negativos vêm mais
facilmente à tona. É preciso sair do superficial para
compreender a raiz do problema. Uma visão superficial
trará soluções igualmente superficiais. Uma questão
importante no diagnóstico do problema não é apenas
entender o problema, mas se realmente ele existe. Muitas
pessoas vivem ansiosas por problemas que elas mesmas
criaram em suas mentes, mas que não existem de fato.
Outra questão é: um diagnóstico errado poderá gerar
soluções igualmente erradas. Ainda outro ponto
importante é aplicar a solução de acordo com a realidade
do problema atual. Talvez a solução do outro não sirva
para nós; talvez a solução que encontramos para um
problema do passado não resolverá o novo problema.

Pensar criativamente para gerar alternativas

A situação foi exposta, o problema foi diagnosticado


e agora o apóstolo Tiago já estava apto para dar o seu
parecer e buscar alternativas para solucionar a questão,
de modo que a Igreja seguisse a vontade de Deus, não a
de grupos específicos. No seu parecer, Tiago afirmou que
os cristãos judeus não deveriam perturbar os gentios que
se convertiam a Deus (v. 19). A alternativa encontrada foi:
escreveram aos gentios que se abstivessem das
contaminações dos ídolos, bem como das relações sexuais
ilícitas, de carne de animais sufocados e do sangue.
Conforme o comentário do Dr. Shedd da Bíblia Vida Nova,
estas eram as quatro condições para manter comunhão
(de mesa) entre cristãos judeus e gentios (cf. Levítico
18:6-18; 17:10-13). Com relação aos nossos problemas e
sonhos, obedecemos o mesmo princípio. Que situação
vivenciamos que requer de nós uma tomada de decisão
para ser solucionada ou melhorada? Quais são os nossos
planos e sonhos? Se a situação já foi reconhecida e
diagnosticada, resta-nos buscar as melhores alternativas.
Se queremos viver segundo a vontade de Deus, se
desejamos que as nossas escolhas estejam de acordo com
essa vontade e que as nossas decisões mantenham-na no
centro da nossa vida, as nossas alternativas, sejam elas
quais forem, jamais devem se desviar das Sagradas
Escrituras, mas buscar nelas o seu fundamento e
orientação. É ela que prevalece.
O crente sincero deve orar sem cessar, pedir
sabedoria a Deus, como escreveu Tiago (Tiago 1:5,6), ser
sensível à voz do Espírito e consultar as Escrituras para
obter delas a resposta. Além disso, claro, existem as
alternativas naturais para a resolução de qualquer
problema. Um exemplo é o endividamento financeiro.
Muito mais que culto da prosperidade, precisamos de
aulas sobre administração financeira para aprendermos a
gerir bem os recursos que o Senhor nos dá. Indiferença no
casamento se resolve com amor, atenção e diálogo. A cor
da farda das irmãs do coral pede uma votação. Que
profissão escolher, pede uma autoavaliação das próprias
aspirações, habilidades e competências. Em tantas
tomadas de decisões seremos levados a consultar
estatutos, regimentos internos, atas e até mesmo as leis
que regem a nação. Se o empresário crente precisa
decidir se demite ou não certo funcionário, ele pedirá a
Deus sabedoria e orientação, mas ao mesmo tempo
tomará decisões de acordo com os princípios e normas da
empresa, o desempenho do funcionário, questões
econômicas ou algum problema envolvido na demissão,
como justa causa, por exemplo. A Palavra de Deus não
traz orientações específicas sobre diversos temas, mas
para todos eles ela traz princípios éticos, morais e
espirituais que Deus quer que apliquemos à nossa vida
prática. Sobre isso veremos no próximo capítulo.

Pensar de forma crítica, para avaliar e selecionar


alternativas

O concílio contou com o pensamento crítico dos


presbíteros e apóstolos. Eles tinham em mãos duas
alternativas: aquela apresentada pelos judeus, que estava
gerando o problema em questão, e aquela apresentada
por Tiago como solução para a contenda. E a solução final
levou em conta vários fatores: a) A queixa dos judeus
cristãos (v. 1 e 5); b) O testemunho das Escrituras (vs. 16-
18); c) O testemunho dos apóstolos (vs. 3 e 12); d) A
análise de Pedro (vs. 7-11); e) O parecer de Tiago (vs. 12-
21). Diante de tudo isto, a alternativa foi encontrada e o
problema solucionado da seguinte maneira: a) A confecção
de uma carta com as recomendações já mencionadas (v.
20); b) A eleição de representantes (v. 22); c) O envio
dessa carta às igrejas com as resoluções do concílio (vs.
23-29). Desse modo, a questão foi solucionada. O
pensamento crítico do cristão na solução de problemas e
na tomada de decisão envolve uma fé racional,
conhecimento bíblico, conhecimento da situação
envolvida, discernimento e submissão a Deus. Como
vimos, manuais, regimentos, estatutos, atas e leis podem e
devem ser consultados em diversas situações, mas sempre
tendo como base os princípios eternos das Sagradas
Escrituras. E após todo este processo, claro, vem a
implementação, quando colocaremos em prática aquelas
decisões que avaliamos serem as mais acertadas e que
rendem glória total a Deus.
Não podemos deixar de destacar aqui, também, a
necessidade de nos munirmos dos conselhos de pessoas
idôneas quanto às decisões que precisamos tomar.
Salomão diz em seus provérbios: “Quando não há conselho
fracassam os projetos, mas com os muitos conselheiros há
bom êxito” (Provérbios 15:22; cf. 13:10). Salomão não fala
de qualquer pessoa, mas de um conjunto de pessoas
especializadas em aconselhar. Diz o ditado popular que
cada mente, uma sentença. Como saber qual a sentença
certa? Basta avaliar todas de acordo com os padrões
bíblicos. O princípio do aconselhamento está descrito em
Colossenses 3:16, onde o apóstolo Paulo diz: “Habite
ricamente, em vós, a palavra de Cristo; instrui-vos e
aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria,
louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos
espirituais, com gratidão, em vosso coração” (Colossenses
3:16). Aquilo que fundamenta a instrução e o
aconselhamento – essenciais para a tomada de decisão – é
a Palavra de Deus, que deve habitar ricamente em nós.
Qualquer instrução ou conselho que não leve isso em
conta deve ser descartado, por mais que apresente
“excelentes” resultados, porque no final se revelarão uma
grande fraude. Somente a Palavra de Deus é fonte de
revelação divina para o ensino, a repreensão, a correção e
a instrução na justiça (2 Timóteo 3:16,17). Ou seja: tudo o
que é necessário para decisões e escolhas segundo a
vontade de Deus. Salomão também escreveu: “Ouve o
conselho e recebe a instrução, para que sejas sábio nos
teus dias por vir. Muitos propósitos há no coração do
homem, mas o desígnio do Senhor permanecerá”
(Provérbios 19:20,21). Nos nossos projetos, decisões e
escolhas, a vontade do Senhor sempre prevalecerá;
TOMANDO DECISÕES BÍBLICAS

“Se alguém quiser fazer a vontade dele, conhecerá a respeito da


doutrina, se ela é de Deus ou se eu falo de mim mesmo.”

João 7:17

O que aprendemos até aqui é que Deus tem uma vontade


para nós e que essa vontade é soberana. Embora não
saibamos a sua vontade secreta, temos pleno acesso à sua
vontade revelada: a Bíblia Sagrada. É essa vontade que
deve ser a bússola a nos guiar na tomada de decisão.
Conforme já tem determinado fazer, o Senhor guiará a
nossa história até o alcance da sua vontade secreta, por
meio das circunstâncias que geralmente nem entendemos,
mas que, assim como aconteceu com José no Egito, levam-
nos a um fim proveitoso. Aprendemos, também, que cada
problema ou plano deve ser avaliado por meio da
observação, da oração e da Palavra de Deus. Ela nos
oferece diversos princípios para pautarmos as nossas
escolhas e decisões para termos certeza de que estamos
agindo de acordo com a vontade revelada de Deus. Por
exemplo: um crente em Cristo Jesus é gerente em uma
filial de uma grande empreiteira, tendo o seu trabalho
reconhecido e valorizado. Então, ele recebe o convite para
se tornar um dos sócios. Todavia, descobre que a empresa
mantém negócios escusos, como contratos ilícitos com a
prefeitura por meio de licitações fraudulentas e obras
superfaturadas. Para assumir o cargo, ele sabe que deverá
entrar no mesmo esquema, ou seja, participar dos
negócios ilícitos da construtora. A promoção lhe oferece
grandes oportunidades para melhorar o seu padrão de
vida, pagar a faculdade dos filhos, aumentar o valor dos
dízimos e das ofertas, colaborar ainda mais na obra do
Senhor, com missões e obras de caridade. Se olharmos do
ponto de vista dessas “vantagens”, ele deve orar a Deus e
perguntar se é de sua vontade que ele aceite a promoção?
Ele deve jejuar e fazer votos para que Deus revele o que
deve ser feito, qual a sua direção específica? O que você
faria caso se encontrasse diante de uma situação como
essa?
Os princípios que a seguir nos ajudarão a responder
claramente essas e muitas outras questões. Em se
tratando de decisões cristãs, pensar criativamente para
gerar alternativas, além de todas as informações técnicas
necessárias, envolve buscar na Palavra de Deus a
orientação espiritual para as nossas decisões e escolhas.
Ninguém precisa recorrer ao estudo das Sagradas
Escrituras para saber se faz ou não dieta, se manteiga é
melhor do que margarina, se pode ou não tomar sorvete
em dia de chuva, se deve ou não levantar-se da cama pela
manhã (embora se cada uma dessas ações forem
realizadas com motivações malignas, já se configura
pecado). Entretanto, algumas escolhas e decisões
requerem princípios e valores que todo cristão deve
atentar para ter a certeza de fazer a coisa certa. Deus não
revela com quem iremos nos casar, que curso da
faculdade devemos escolher, se devemos fazer tal viagem,
se tal aplicação na bolsa de valores vai render um bom
dinheiro, se é hora de comprar um carro novo, se tal casa
que vimos na Internet é a casa dos sonhos dele para nós,
se devemos ou não terminar o namoro, se podemos faltar
no dia da prova na escola... Para tudo isso não há
resposta, há princípios, que é o que veremos a partir de
agora.

O princípio da glória de Deus

O rei Davi escreveu em um dos seus belíssimos


salmos: “Agrada-me em fazer a tua vontade, ó Deus meu;
dentro do meu coração, está a tua lei” (Salmo 40:8). O
alvo de Davi não era a sua própria vontade nem a sua
própria glória, mas a de Deus. Assim deve ser conosco
quando analisamos se os nossos objetivos são ou não da
vontade de Deus. Ou seja: tudo o que pensarmos,
planejarmos e executarmos precisa ter em vista a
glorificação do Nome de Deus. Então devemos nos
perguntar: Deus será glorificado através disto? Paulo
escreveu: “Portanto, quer comais quer bebais ou façais
qualquer outra coisa, fazei tudo para glória de Deus” (1
Coríntios 10:31). Perceba que Paulo fala de questões
praticamente automáticas na vida do ser humano: suas
necessidades fisiológicas. Comer e beber é tão trivial para
nós – ou pelo menos para a maioria de nós – que nem
sempre nos preocupamos em clamar a Deus por essas
coisas nem agradecer-lhe por elas. Mas mesmo comer e
beber podem ser realizados sem qualquer intenção de
glorificar a Deus. Por exemplo: quando fazemos disso uma
atitude mesquinha, sem nos preocuparmos com o irmão
que não tem comida nem bebida em sua mesa; ou quando
somos glutões e beberrões. Dessa forma, Deus não é
glorificado. Se isso é importante par as coisas pequenas,
imaginemos para as grandes questões da nossa vida, as
tomadas de decisões que mexerão com a nossa estrutura
pessoal, familiar, espiritual, ministerial, profissional ou
qualquer outra.
Nas nossas decisões e escolhas deve estar sempre a
pergunta: de que modo esta escolha glorificará o Nome de
Deus? Ou: será que Deus será glorificado através dessa
decisão? A nossa própria salvação não é para o nosso
deleite, mas para o louvor da glória do Senhor (Efésios
1:4-6). Se percebermos alguma característica que fuja a
essa regra, significa que não é da vontade de Deus. Não é
tão difícil: se fere este ou alguns dos princípios que
veremos a seguir, não glorifica a Deus, portanto, não é da
sua vontade. É melhor desistir. Entre uma opção e outra,
fiquemos com aquela que agrade o coração de Deus. Se
ambas agradarem, cabe a nós decidirmos por meio de
critérios técnicos qual será o melhor caminho. Se nos
vemos diante de dois empregos muito bons para escolher
e ambos atendem a todos estes princípios, podemos orar a
Deus que abençoe a escolha que faremos e decidir por um
deles. O que a Bíblia não nos ensina é que devemos
esperar que uma revelação do céu nos oriente sobre qual
dos dois devemos ficar. Se o irmão João tem duas irmãs da
igreja para decidir com qual se relacionar e casar – as
duas são grandes servas do Senhor e ambas disseram que
iriam orar por ele –, o que João deve fazer? Consultar o
profeta mais próximo e aguardar uma revelação? Com
certeza Deus direcionará o seu coração para uma das duas
e o de somente uma delas verdadeiramente para ele. Ou
nenhuma das opções! Mas João deve investir, conhecer e
ver quem poderá glorificar a Deus com ele através de uma
relação santa.
O princípio do cristocentrismo

A nossa vontade não deve ser aquilo que satisfará


ao nosso ego, mesmo que realizá-la nos abençoe de
alguma forma. Não podemos exigir de Deus algo ou impor
o nosso desejo. Em tudo o que fazemos o centro deve ser o
Senhor Jesus. Se não levarmos em conta seu senhorio e os
seus mandamentos para nós, jamais estaremos no centro
da vontade de Deus (Efésios 1:9-10). Qualquer unção, dom
ou pregação só vem de Deus se Jesus for exaltado, se
diante dele se dobrar todo joelho (Filipenses 2:9,10). Nele
e por meio dele foram criadas todas as coisas
(Colossenses 1:16), e todas as coisas são dele, por Ele e
para Ele (Romanos 11:35,36). Portanto, tudo deve
convergir para a glória de Cristo, de modo que em tudo
Ele seja exaltado (1 Coríntios 11:6; Gálatas 1:5; Efésios
3:21; 4:6;1 Timóteo 1:17; 2 Timóteo 4:18; Hebreus 2:10;
13:21). O apóstolo Pedro escreveu: “Se alguém fala, fale
de acordo com os oráculos de Deus; se alguém serve, faça-
o na força que Deus supre, para que, em todas as coisas,
seja Deus glorificado, por meio de Jesus Cristo, a quem
pertence a glória e o domínio pelos séculos dos séculos.
Amém” (1 Pedro 4:11). Se Jesus não está no centro dos
nossos planos, eles não são da vontade de Deus.
Absolutamente tudo deve ter em vista este princípio. Ter o
Senhor Jesus como centro significa ter o seu caráter, o seu
exemplo, o seu Evangelho, a sua vinda, o seu Reino e a
sua vontade como cernes das nossas escolhas e decisões.
Para saber como o Senhor Jesus estará no centro
das nossas decisões, além da oração e da sensibilidade à
voz do Espírito, ler e estudar a sua Palavra é o caminho
certo. Algo muito importante deve ser levado em conta:
talvez tomar decisões cristocêntricas pode envolver fazer
escolhas totalmente diferentes das que planejamos,
porque não é a nossa vontade que impera, mas a de Deus.
O próprio Senhor é exemplo de resignação total aos
desígnios de Deus. Ele afirmou: “Porque eu desci do céu,
não para fazer a minha própria vontade, e sim a vontade
daquele que me enviou” (João 6:38; cf. Mateus 26:39).
Qual é a vontade daquele que nos chamou? Se Jesus fez a
vontade do Pai, somos chamados a fazer também a
vontade de Deus (Mateus 7:21). Quando fazemos isso,
demonstramos que Cristo é Senhor da nossa vida, assim
podemos estar certos de que as nossas escolhas e
decisões revelam a vontade de Deus para nós.

O princípio da soberania de Deus

Como vimos, o princípio áureo de todas as nossas


escolhas e decisões é a soberania de Deus. Qualquer
escolha que façamos diferente daquilo que o Senhor
determinou, dará errado. O período em que
aparentemente tudo vai bem quando decidimos deixar a
vontade de Deus de lado, é apenas o prelúdio de
problemas sérios que virão. Como se diz: o tempo se
encarrega de revelar que estávamos errados. Quantas
vezes tomamos decisões com aquele peso terrível no
coração, por saber que aquilo é errado, que sairemos
prejudicados ou que outras pessoas serão prejudicadas
por causa da nossa decisão. Mas ainda assim seguimos em
frente, esquecemos a Palavra de Deus, damos ouvidos ao
conselho dos ímpios e não atentamos para o que está na
Lei do Senhor (cf. Salmo 1). Por isso, este princípio é o
nosso norte. Só pode observá-lo aquele que tem Cristo
como centro da sua vida. O problema para aqueles que
insistem em pensar o contrário é que é Deus quem sempre
dará a palavra final, quer aceitemos isso ou não. As nossas
escolhas devem levar em conta a soberania de Deus e o
fato de que é Ele quem comanda a nossa vida, não nós
(Filipenses 2:13). Nas questões conjugais e familiares, nas
decisões profissionais e acadêmicas, na solução de
problemas e crises, nas escolhas relacionadas ao
ministério cristão e todas as demais instâncias da nossa
vida, a primazia é da vontade de Deus. A última palavra
não é do marido nem da esposa, do advogado, do médico
nem do juiz: é da Palavra infalível de Deus.
A Bíblia nos ensina que não podemos saber nada
sobre o amanhã e que todas as coisas estão sujeitas ao
mover de Deus. Logo, estamos livres para fazer escolhas e
tomar decisões baseados em tudo o que temos visto aqui.
Todavia, não podemos jamais expressar uma certeza
quanto a tudo que pretendemos fazer, mas dizer que “se
Deus quiser” faremos isto ou aquilo (Tiago 4:14-16).
Determinar algo para Deus é ir contra a sua soberana
vontade. Fazer algo que deixa de lado o fato de que Ele é
Senhor Todo-poderoso já indica que não é da sua vontade
para nós. Quando o Senhor Jesus orou para que Deus
passasse dele o cálice do sacrifício, submeteu o seu desejo
à vontade do Pai: “Todavia, não seja como eu quero, e sim
como tu queres” (Mateus 26:39). Ao nos ensinar a orar, o
Senhor disse que orássemos: “faça-se a tua vontade, assim
na terra como no céu” (Mateus 6:10b). Portanto, devemos
fazer escolhas e tomar decisões, mas sempre erguendo o
nosso clamor, para que Deus faça a sua vontade soberana
e que nos afaste daquilo que não for do seu agrado, mas
que não conseguimos discernir. De uma coisa podemos
estar certos, Deus abençoará as nossas escolhas quando
nos preocupamos em analisar todas as alternativas
através do crivo da sua Palavra, quando, ao tomarmos
uma decisão, pedimos-lhe que nos desvie dela, caso não
seja a mais correta. Se Deus está no controle da História,
Ele guiará de forma bastante visível aqueles que a Ele se
submetem gentilmente.

O princípio da dependência de Deus

Outro princípio que indica se estamos na direção


certa é a dependência de Deus. Mas é preciso determinar
de qual dependência falamos, porque muitos só dependem
de Deus para realizar seus desejos ou quando passam por
problemas. Estes não o amam nem o servem, apenas usam
seu Nome para fins socorristas ou lucrativos. Nisso já
identificamos uma fé completamente mesquinha, mundana
e demoníaca. Deus nos disse através do profeta Jeremias:
“Buscar-me-eis e me achareis quando me buscardes de
todo o vosso coração” (Jeremias 29:13). Essa busca
envolve reconhecimento de pecados e arrependimento. Se
não reconhecermos a nossa dependência de Deus e não
nos sujeitarmos gentil e servilmente a Ele, dificilmente
estaremos no centro da sua vontade. Logo, qualquer coisa
ou pessoa que nos tire da dependência de Deus, não faz
parte da sua vontade para nós. Algumas pessoas logo
abandonam a Deus quando passam a ganhar muito
dinheiro, porque agora podem comprar o que bem
desejarem, ter um bom plano de saúde, pagar uma boa
escola e faculdade, colocar equipamentos de segurança
em suas residências, manter a dispensa cheia. Existem
aqui dois pensamentos: ou elas não estão lidando da forma
correta com as bênçãos que Deus lhes deu ou não foi Deus
quem lhes deu essas bênçãos, mas a sua ambição carnal
ou até mesmo Satanás, para desviá-las dos caminhos do
Senhor. De todas as formas, deixaram de depender dele.
Logo, estão fora do centro da sua vontade.
Ser dependente de Deus nas nossas escolhas e
decisões não significa não depender das pessoas, das
situações, de elementos técnicos ou mesmo financeiros.
Todos estes Deus nos deu para usufruirmos e sabedoria
para aplicá-los. No reino gospel existe uma insistente ideia
que não devemos contar os nossos sonhos para ninguém,
que não devemos chorar para ninguém, que não devemos
envolver ninguém nos nossos projetos, só Deus. A ideia
por trás disso é: o mundo inteiro está contra você, e
quanto mais pessoas souberem dos seus sonhos, maiores
os riscos de tudo dar errado. Essa falácia supersticiosa
esquece que para realizarmos qualquer coisa,
dependeremos de pessoas. Ela prega uma teoria da
conspiração que nos impede de compartilhar nossos
sonhos e planos com as pessoas que nos amam e podem
nos ajudar. Parece que o ser humano caminha para um
total isolamento. O mundo tem nos ensinado que nos
bastamos a nós mesmos, que somos inimigos um do outro
em potencial. É óbvio que não precisamos publicar nas
primeiras páginas dos jornais o que desejamos realizar.
Mas compartilhar com as pessoas certas e estratégicas irá
nos ajudar bastante. Poderemos pedir e receber orações,
dicas e conselhos, e até mesmo boas críticas. Aqueles que
são casados, devem compartilhar com seus cônjuges os
seus projetos e sonhos, com os filhos, e os filhos com os
pais. Tudo, claro, com sabedoria e cautela, porque,
dependendo da pessoa para quem expomos os nossos
projetos, poderemos encontrar um rival em vez de um
parceiro. E um rival, claro, apesar de ser algo negativo,
pode nos ajudar a crescer, mesmo que indiretamente.

O princípio da edificação

Na nossa tomada de decisão, a análise do contexto


e das possíveis soluções poderá revelar claramente aquilo
que servirá como um bem e aquilo que nos trará grandes
problemas. É preciso conhecimento bíblico e
discernimento para compreender que nem tudo que
parece bom vai nos edificar. Nem tudo o que reluz é ouro.
Devemos priorizar aquilo que servirá para o nosso
crescimento espiritual e para nos manter no centro da
vontade de Deus, não nos afastar dela (1 Coríntios 6:12-
19). Tudo aquilo que provém de Deus é para um fim
proveitoso, que está sempre ligado à edificação da Igreja,
mesmo que atinja apenas um membro – quando um
membro do corpo se alegra, com ele todos se regozijam (1
Coríntios 12:26). As manifestações do Espírito Santo estão
descritas na Bíblia e nos dão a segurança de discernirmos
corretamente quais são (1 Coríntios 12:4-7; Efésios
4:11,12). As nossas ações individuais também precisam
obedecer ao princípio da edificação para sabermos se
contribuem para o nosso crescimento, o crescimento da
nossa família, dos nossos colegas de trabalho, dos nossos
funcionários, dos nosso amigos, da Igreja ou se influencia
negativamente a vida das pessoas. Quando um empresário
cristão precisa tomar uma decisão relacionada à sua
empresa, deve pensar como isso afetará o seu capital
humano, afinal de contas, uma empresa não é feita apenas
de estruturas físicas, processos e capital financeiro. O
mesmo se pode dizer da família, da Igreja, de um partido
político, de um time de futebol ou qualquer outra
estrutura social: todas envolvem seres humanos e todos
estão nas mãos de Deus.
Dois textos devem nos chamar a atenção, ambos na
primeira carta de Paulo aos crentes de Corinto. Ele afirma
em 1 Coríntios 6:12: “Todas as coisas me são lícitas, mas
nem todas convêm. Todas as coisas me são lícitas, mas eu
não me deixarei dominar por nenhuma delas”. Mais
adiante, ele escreve: “Todas as coisas são lícitas, mas nem
todas convêm; todas são lícitas, mas nem todas edificam.
Ninguém busque o seu próprio interesse, e sim o de
outrem” (10:23,24). Como diferenciar o que é lícito e
edificante daquilo que é ilícito e não traz edificação?
Através da Bíblia. O apóstolo nos dá uma boa indicação:
aquilo que é lícito não cumpre somente o que é do nosso
interesse, mas visa igualmente o dos outros. O comentário
da Bíblia Shedd sobre o v. 23 traz uma lição importante
para o nosso estudo: “As práticas moralmente indiferentes
têm de ser testadas por seus efeitos em nós (10.2; 6.12),
nos outros (10.28-33) e na glória de Deus (10.31)”. Mesmo
que não haja um direcionamento bíblico específico para
tal decisão ou escolha, elas seguem princípios. Logo, a
tomada de decisão edificante – seja ela qual for – é tomada
com base nos efeitos morais que as soluções encontradas
trarão sobre nós (a maneira como afetará a nossa relação
com Deus e a sua Palavra, o nosso comportamento e os
nossos relacionamentos interpessoais), sobre os outros
(como cada pessoa será atingida e influenciada pela
escolha ou escolhas que fizermos, se isso revelará o amor
ou manifestará o egoísmo) e na glória de Deus (ou seja:
tudo o que já vimos no primeiro princípio estudado).
Escrevo este livro tendo em mente cristãos sinceramente
preocupados com a glorificação do Senhor na sua vida e
através dela.

O princípio do amor

As nossas escolhas e decisões, para estarem de


acordo com a vontade de Deus, precisam estar alicerçadas
sobre o amor. Em primeiro lugar, amor a Deus, com o
desejo de agradá-lo e obedecê-lo. Por meio desse amor,
amor ao próximo. Quando o marido ama a sua esposa, por
exemplo, entenderá que uma decisão que o afaste das
suas responsabilidades como marido não vem de Deus. Se
a esposa cristã ama seu esposo, não levará em conta
movimentos feministas mundanos, mas saberá se sujeitar
a ele conforme os padrões bíblicos (não os padrões
machistas igualmente mundanos). Se os filhos amam os
seus pais, com certeza terão o desejo de honrá-los com
suas escolhas e vontades, sabendo abrir mão de algo que
tanto querem, mas que os levarão a desobedecê-los. Se
alguém deseja fazer algo e isso prejudicará o seu vizinho,
amigo, irmão em Cristo, colega de trabalho, etc., está
claro que não provém do amor. Em 1 Coríntios, após falar
sobre a unidade orgânica da Igreja e a presença dos dons
espirituais (cap. 12), o apóstolo Paulo indica aos coríntios
o que ele chama de “um caminho sobremodo excelente”
(12:31): o amor (cap. 13). Ele afirma: “Agora, pois,
permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três; porém
o maior destes é o amor” (v. 13). Qual a melhor decisão?
Aquela que trilha o caminho do amor.
O fundamento da própria fé cristã não é a fé em si,
mas o amor. Quando indagado a respeito do maior de
todos os mandamentos, o Senhor resumiu toda Lei e os
profetas em dois grandes mandamentos: “Amarás o
Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua
alma e de todo o teu entendimento. Este é o grande e
primeiro mandamento. O segundo, semelhante a este, é:
Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mateus 22:37-
39). Qualquer elemento da fé cristã deve ser
fundamentado no amor de Deus, gerá-lo e reproduzi-lo. O
que nos identifica com Cristo não é a fé que opera
milagres e atrai bênçãos, mas o amor que temos de uns
para com os outros (João 13:35; 1 João 3:10-14; 4:20). Se
temos esse amor, saberemos quando algo é ou não da
vontade de Deus. Então o patrão deve amar os seus
funcionários? O candidato deve amar os seus
correligionários? O chefe de polícia deve amar a sua
guarnição? O presidente do time de futebol deve amar os
jogadores? Quando falamos em amor, sempre o ligamos a
questões amorosas e afetivas, mas o amor vai muito além
disso. Quando amamos a Deus acima de tudo,
demonstramos esse amor pelo cuidado que temos em não
magoar as pessoas, em fazer-lhes sempre o bem, em nos
relacionar com elas em verdade e em justiça, em jamais
tirar proveito egoísta delas ou prejudicá-las de alguma
forma. Quando o patrão toma decisões que beneficiem
também os seus funcionários, isso é amor. Quando um
professor se empenha por horas para oferecer aos seus
alunos o melhor ensino, isso é amor. Quando o político
abre mão de uma propina que prejudicaria a distribuição
de medicamentos para uma comunidade, isso também é
amor. Todas essas ações, claro, podem ter um fundo de
vantagem própria, mas o ensinamento aqui é que todas
sejam praticadas tendo como base o amor a Deus. Quem
ama a Deus, escolhe e decide amar.

O princípio da santidade

A tomada de decisão cristã deve ser santa. O


apóstolo Pedro escreveu: “Como filhos da obediência, não
vos amoldeis às paixões que tínheis anteriormente na
vossa ignorância; pelo contrário, segundo é santo aquele
que vos chamou, tornai-vos santos também vós mesmos
em todo o vosso procedimento, porque está escrito: Sede
santos, porque eu sou santo” (1 Pedro 1:14,15). Façamos
uma comparação: como são as escolhas dos filhos da
desobediência e dos filhos da obediência? Na nora da
tomada de decisão, como será a avaliação e a escolha de
quem segue as suas paixões carnais (egoísmo, avareza,
ambição, desprezo pelas coisas de Deus) e daquele que
deixou para trás essa vida ignorante ao ser chamado por
Deus? Aqueles que estão em Cristo Jesus já foram
separados por Deus e para Ele, agora devem viver em
santidade. Nossas escolhas e decisões devem levar em
conta a santidade de Deus e da sua Palavra. A nossa
mente e o nosso coração precisam estar impregnados dos
seus valores éticos e morais eternos e imutáveis
(Filipenses 4:8). A vontade de Deus está explicitamente
revelada em 1 Tessalonicenses 4:3: a nossa santificação.
Assim, todas as nossas escolhas devem preservar a
santidade que o Senhor nos deu. Se estivermos em dúvida
se tal coisa, pessoa ou decisão é da vontade de Deus para
nós, basta analisarmos se produzirá mais santificação ou
se nos levará a pecar. Qualquer tipo de pecado:
prostituição, avareza, mentira, inveja, orgulho, amargura,
enfim, todos não promovem a santificação.
O apóstolo Pedro também escreveu que, pelo seu
divino poder, Deus tem nos doado todas as coisas. E que
coisas são essas? São aquelas que conduzem à vida e à
piedade (1 Pedro 1:3). Essas não são alcançadas senão
pelo “conhecimento completo daquele que nos chamou
para a sua própria glória e virtude”. Através dessa glória e
dessa virtude, as grandes e preciosas promessas de Deus
nos têm sido doadas, para que nos tornemos
“coparticipantes da natureza divina”, livrando-nos da
corrupção e das paixões que há no mundo (v. 4). Então
fica bastante fácil analisar se o envolvimento com tal
pessoa ou situação é ou não da vontade de Deus para nós.
Se nos conduz à corrupção ou é fruto dela e se revela um
amor pecaminoso pelo mundo e suas paixões, não é de
Deus. Existem coisas, situações, objetos e pessoas que não
são pecaminosos em si próprios, mas que se tornam em
pecado quando usados da maneira incorreta e com a
motivação errada. Possuir a casa própria, por exemplo, é
correto, não é pecado, por isso não ofende a Deus. Mas as
motivações para ter essa casa, os meios como a
conseguiremos e o uso que fizermos dela podem revelar
que não faz parte do plano de Deus para nós. Podemos
mudar o plano da compra da casa ou as disposições
pecaminosas envolvidas nessa compra. Ou mudamos os
nossos planos ou mudamos as nossas intenções. Não
podemos prever com absoluta certeza se dentro dos
planos secretos e eternos de Deus aquela casa está
destinada a ser nossa, mas podemos comprá-la da forma
correta e com a motivação correta, sempre com o pedido:
“Senhor, se for da tua vontade este negócio da compra
desta casa, que tudo dê certo. Mas se não for, afasta de
mim esta compra”.

O princípio do bem

As nossas escolhas e decisões devem produzir o


bem, jamais o mal. Nada do que pretendemos fazer pode
prejudicar alguém de alguma forma ou a nós mesmos (1
Pedro 2:15; Tiago 4:17). Precisamos avaliar as nossas
motivações naquilo que colocamos diante de Deus,
perceber se existe algum sentimento egoísta, mesquinho,
ganancioso ou vingativo que possa prejudicar alguém.
Nem sempre aquilo que é bom para nós será também para
os outros. Pode ser que aquilo que tanto imploramos a
Deus não trará benefício algum ao nosso casamento,
muito pelo contrário. Esta é, então, uma indicação de que
não é da vontade de Deus. Num relacionamento, o que é
bom apenas para um, não é bom para os dois; logo, não é
bom. Não podemos buscar para nós aquilo que representa
maldição para outros (Habacuque 2:9,10; 1 Pedro 2:15;
Tiago 4:17). Vejamos o exemplo do apóstolo Pedro.
Quando o Senhor anunciou a sua Paixão, ao afirmar que
deveria ser entregue nas mãos das autoridades, ser morto
e ressuscitar ao terceiro dia (Mateus 16:21), Pedro
parecia motivado por uma boa intenção, quando disse:
“Tem compaixão de ti, Senhor; isso de modo algum
acontecerá” (v. 22). A resposta do Senhor revela quem
estava por detrás daquela intenção de remover Jesus da
missão que redundaria no maior bem para a Humanidade
caída: “Arreda, Satanás! Tu és para mim pedra de
tropeço, porque não cogitas das coisas de Deus, e sim da
dos homens” (v. 23). É preciso cuidado, muitas das nossas
escolhas e decisões podem conter uma interferência
diabólica, fruto da maldade que ainda habita na nossa
carne. O bem não parece bem, ele é bem.
As nossas decisões devem objetivar sempre o bem,
mas talvez o que é o bem para nós possa não ser para o
outro. Em que sentido? Temos o direito de buscar o que
beneficiará a nossa vida, mas nem todas as pessoas que
nos rodeiam ficarão satisfeitas com isso (nem sempre a
sogra aceitará a nora, nem sempre os empregados
abraçarão de imediato as mudanças, nem sempre o grupo
de louvor se adequará rapidamente às regras sobre a lei
ambiental). O próprio ambiente familiar é um local
propício para sentimentos de inveja, de amargura, de
rivalidade e até mesmo de vingança. O que dirá do
ambiente organizacional, desportivo e político, onde existe
uma forte disputa pelo crescimento pessoal e pelo poder!
Até mesmo a Igreja é um ambiente em que nem todos
ficarão satisfeitos com decisões e escolhas que são
tomadas e que visam o bem de um ou de todos. O que
fazer nestes casos? Abrir mão do bem porque alguns não
ficarão satisfeitos com ele? De forma alguma! Se a nossa
decisão e escolha objetivam o bem real – mesmo que para
nós somente – jamais poderemos desistir delas. Quem é do
bem e nos ama, será iluminado pela nossa felicidade e se
alegrará conosco. Ademais, certas decisões são
necessárias e precisam ser tomadas, independente de
agradar ou não às pessoas. Por exemplo: uma multa por
excesso de velocidade não agrada àquele que foi multado,
mas cumpre a lei, que é justa, e beneficia a sociedade. A
justa aplicação da lei sempre é um bem, quem dirá da Lei
de Deus!

O princípio da solidariedade

Longe das nossas orações intercessórias, os pedidos


que fazemos em oração, geralmente são voltados apenas
para aquilo que nos trará benefício próprio. Mesmo
quando incluímos algumas pessoas – a família, por
exemplo – o nosso objetivo sempre se demonstra egoísta.
Se pensarmos em termos das pregações e orações
triunfalistas de profetizar bênçãos e exigi-las de Deus,
essa verdade tende a piorar. Se queremos saber se as
nossas decisões, escolhas e projetos estão de acordo com
a vontade de Deus, precisamos submetê-los ao escrutínio
da solidariedade. Como parte, inclusive, da ética cristã,
nada deve beneficiar somente a nós, mas o maior número
de pessoas possível (Tiago 4:2-4; 1 Coríntios 10:24,33;
Romanos 15:2; Filipenses 2:21). Pedir mal, com interesses
mesquinhos, é um indicativo de estarmos agindo contra a
vontade de Deus e, por isso, não sermos atendidos. O
amar uns aos outros é tão importante na vida cristã, que o
apóstolo João chega a afirmar: “Porque a mensagem que
ouvistes desde o princípio é esta: que nos amenos uns aos
outros... Nós sabemos que já passamos da morte para a
vida, porque amamos aos irmãos; aquele que não ama
permanece na morte” (1 João 3:11,14). Ele prossegue e diz
que, assim como Cristo deu a sua vida por nós, devemos
dar a nossa vida pelos nossos irmãos, e que este amor não
pode ser apenas de palavra, mas de fato e de verdade; ou
seja: ele deve ser visto, não apenas ouvido (vs. 16,18).
Devemos nos amar porque o amor procede de Deus, e
Deus é amor (4:7). E se Deus de tal maneira nos amou,
devemos amar uns aos outros (v. 11). Se dissermos que
amamos a Deus e odiarmos ao nosso irmão, somos
mentirosos (v. 20).
O amor se demonstra através de atos, e a sua falta,
também. Quando tomamos decisões que não geram o bem
para outros, não fazemos isso baseados no amor. Portanto,
como poderemos viver, fazer escolhas e tomar decisões
que não envolvam o bem aos nossos, aos irmãos e ao
próximo ou que irão prejudicá-los de alguma forma? Às
vezes, o bem que fazemos ao coração do irmão é o bem
que fazemos a nós mesmos. Se realizamos ou compramos
algo que venha a nos prejudicar, isso trará tristeza e
preocupação àqueles que se preocupam conosco, logo,
não existe solidariedade nisso. um exemplo é aquele
adolescente que insiste num namoro prematuro que em
tudo se revela errado e finda por transtornar toda a sua
família que o ama. Aqui também vale aquele princípio:
nem todos estarão satisfeitos com o nosso bem. Ainda:
existem benefícios que fazemos a nós mesmos que não
interferem em nada na vida das pessoas. Ser solidário nas
nossas escolhas e decisões não significa que o seu
resultado deverá representar algum ganho para todos que
conhecemos e até aqueles que não conhecemos, mas que
os nossos atos repercutirão sempre de maneira edificante,
abençoadora, estimulante e santa. Todavia, no nosso
círculo íntimo (família, trabalho e igreja, principalmente)
deve ser levado sempre em conta, isso quando temos a
intenção se agir sempre segundo a vontade de Deus.
O princípio da submissão

Ao tomarmos por base a soberania de Deus, o fato


de não sabermos o que é melhor para nós, além de
buscarmos aquilo que glorifique o seu Santo Nome,
devemos submeter todas as nossas escolhas, planos e
decisões à sua soberana vontade. A começar pela nossa
própria vida, que precisa estar sempre submissa a Deus,
as nossas orações e as nossas decisões não podem excluir
a declaração “seja feita a tua vontade”, como o Senhor nos
ensina em Mateus 6:10 e como Ele mesmo orou ao Pai, em
Lucas 22:42. Deus nos ouve quando pedimos algo
conforme a sua vontade (1 João 5:14,1). Logo, sabemos
que aquilo que pretendemos realizar é da vontade de Deus
quando submetemos tudo ao escrutínio da sua Palavra, o
lugar onde a sua vontade se revela, bem como o caráter
de Cristo, a revelação suprema de Deus e da sua vontade.
Como vimos logo no início: o motivo de conhecermos a
vontade de Deus é para que nos submetamos de forma
obediente a ela. No momento da decisão, depois de haver
orado e consultado a Bíblia, tendo observado todos os
princípios apresentados aqui e de pleno conhecimento da
vontade de Deus, se fizermos justamente o contrário, de
que nos valerá? Se acrescentarmos ou tirarmos algo
daquilo que sabemos ser a vontade de Deus para nós para
torná-la mais parecida com aquilo que nós queremos,
findamos por desprezar a Deus. Então, por que o
buscamos?
Quando, pelo Espírito Santo, nós nos submetemos a
Deus, derrotamos a nossa carne com todas aquelas
vontades pecaminosas que nela habitam e que nos levam a
fazer o que Deus não se agrada. Então, já venceremos a
primeira etapa rumo ao conhecimento e à prática da sua
vontade. Existe uma luta constante dentro de nós para
fazermos apenas o que é do nosso agrado (Gálatas 5:19-
21). O que vence esta batalha é a sujeição da nossa carne
a Deus, para que andemos no Espírito e jamais
satisfaçamos as nossas concupiscências (v. 17), mas
frutifiquemos em amor (vs. 22,23), pois “os que são de
Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e
concupiscências” (v. 24). Está claro que se nos
sujeitarmos a um, excluiremos o outro. O mesmo podemos
dizer da nossa sujeição às demandas do mundo. Quando
nos submetemos ao mundo, automaticamente nos
afastamos do amor de Deus e da sua vontade, conforme
escreveu o apóstolo João: “Não ameis o mundo nem as
coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o
amor do Pai não está nele” (1 João 2:15,16). Somos
chamados a nos sujeitarmos a Deus: “Sujeitai-vos,
portanto, a Deus; mas resisti ao diabo, e ele fugirá de vós”
(Tiago 4:7). Tiago diz mais: “Chegai-vos a Deus, e ele se
chegará a vós outros. Purificai as mãos, pecadores; e vós
que sois de ânimo dobre, limpai o coração. Afligi-vos,
lamentai e chorai. Converta-se o vosso riso em pranto, e a
vossa alegria em tristeza. Humilhai-vos na presença do
Senhor, e ele vos exaltará” (vs. 8-10). Talvez aquilo que
tanto nos faz rir e tanto nos traz alegria não seja da
vontade de Deus, mas nos afaste dele. É preciso chorar e
se humilhar.
O princípio da paz

Tomar decisões e fazer escolhas que nos levem a


realizar a vontade de Deus traz paz ao nosso coração, não
nos deixa inquietos nem em dúvida. Tanto em 1 Coríntios
8 como em Romanos 14, o apóstolo Paulo aborda a
questão da comida sacrificada aos ídolos: podemos ou não
podemos comê-las? No ensino paulino, o ídolo em si não é
nada, então não há problema algum comer os alimentos
sacrificados a ele, uma vez que não participemos dos
rituais idólatras nem consideremos os ídolos como alguma
coisa de valor. O cuidado, porém, está em não praticar a
nossa liberdade quando esta servir de tropeço para aquele
irmão que é fraco na fé (Romanos 14:14-20; 1 Coríntios
8:9-13). Também a nossa consciência deve estar em paz,
ou seja, não podemos consumir esses alimentos se não
temos plena certeza de fé. Paulo escreve: “Mas aquele que
tem dúvidas é condenado se comer, porque o que faz não
provém de fé; e tudo que não provém de fé é pecado”
(Romanos 14:23). Ele também diz: “Assim, pois, seguimos
as coisas da paz e também as da edificação de uns para
com os outros” (v. 19). Ou seja, aqui neste princípio
podemos detectar outros: solidariedade, edificação, paz
com os irmãos e paz interior.
Ainda assim, precisamos avaliar se a paz que
sentimos quando fazemos ou queremos fazer algo é
porque estamos verdadeiramente em conformidade com a
vontade de Deus expressa na sua Palavra ou se é fruto do
nosso autoconvencimento de que fizemos a coisa certa,
porque é o que queremos e criamos a ilusão de que é o
que Deus também quer. Nem tudo que parece perfeito é
perfeito de verdade. É preciso avaliar todos os aspectos
possíveis com base nas Escrituras. Se estão de acordo
com o que elas revelam, estamos no caminho certo. A
nossa paz precisa vir da certeza de que agimos de acordo
com a Palavra de Deus, o que pode significar abandonar
alguns projetos pessoais, porque os nossos planos não são
os planos de Deus, dificilmente coincidirão, a não ser que
os nossos planos envolvam cumprir o que Deus
determinou na sua Palavra. O Senhor declarou aos cativos
da Babilônia por intermédio do profeta Jeremias: “Eu é
que sei que pensamentos tenho a vosso respeito, diz o
Senhor; pensamentos de paz e não de mal, para vos dar o
fim que desejais. Então, me invocareis, passareis a orar a
mim, e eu vos ouvirei” (Jeremias 29:11,12). Porque eles
estavam cativos na Babilônia? Precisamente porque
deixaram invocar a Deus e passaram a orar a outros
deuses. O que devemos fazer é ouvir a Palavra do Senhor
e andar de acordo com ela.
No mesmo capítulo do livro do profeta Jeremias
citado anteriormente, o Senhor alerta o seu povo a
respeito dos falsos profetas que se encontravam entre
eles: “Porque assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de
Israel: Não vos enganem os vossos profetas que estão no
meio de vós, nem os vossos adivinhos, nem deis ouvidos
aos vossos sonhadores, que sempre sonham segundo o
vosso desejo; porque falsamente vos profetizam eles em
meu nome; eu não os enviei, diz o Senhor” (vs. 8,9). Isso
se assemelha bastante à prática moderna de se buscar
revelações e bênçãos em pseudoprofetas que
supostamente falam em nome de Deus, mas que apenas
enganam os crentes, ao profetizarem aquilo que eles
esperam ouvir, como aquela cartomante que prediz
somente coisas boas aos seus clientes. Algumas pregações
triunfalistas, acima de tudo nas igrejas neopentecostais,
geram na vida do crente uma ansiedade sempre crescente
pela resposta de Deus, pelas bênçãos prometidas que
nunca vêm, pela realidade de que, por mais que seus
pastores (falsos profetas, adivinhos, sonhadores vãos)
insistam em afirmar o contrário, as lutas e as doenças
continuam a existir. Ao escrever aos crentes de Filipos, o
apóstolo Paulo os exorta a orarem a Deus para não serem
ansiosos (Filipenses 4:6,7), e afirma que “a paz que Deus,
que excede todo o entendimento, guardará o vosso
coração e a vossa mente em Cristo Jesus” (v. 7). Se os
nossos planos e ações, se as nossas decisões e escolhas
nos tiram a paz, se lá no fundo nos sentimos inquietos e
ansiosos, se existe alguma dúvida sobre agradarmos ou
não a Deus, é hora de parar e repensar tudo.

O princípio da alegria

Sabemos que algo é da vontade de Deus quando


está de acordo com a sua Palavra, algo que nos enche de
indizível alegria. O apóstolo Paulo ordena: “Alegrai-vos
sempre no Senhor; outra vez digo: alegrai-vos” (Filipenses
4:4). O mesmo cantava Davi: “Alegrai-vos no Senhor e
regozijai-vos, ó justos; exultai, vós todos que sois retos de
coração” (Salmo 32:11). Com certeza, uma boa decisão
nos deixa alegres, satisfeitos e realizados. E como
estaremos assim se tudo o que fizermos entristecer o
coração de Deus? Todavia, essa alegria não deve se limitar
a termos as nossas necessidades supridas ou os nossos
sonhos realizados, mas, acima de tudo, deve advir da
satisfação de obedecermos a Deus e cumprimos a sua
Palavra. Não deve ser uma alegria egoísta, não pode ser
motivo de tristeza para outros, mas deve ser uma alegria
plena, que não prejudique ninguém. Isso não quer dizer
que só devemos nos sentir alegres se todos ao nosso redor
também o estiverem. Muitas pessoas não querem ver a
nossa alegria, não estão preocupadas com a nossa
felicidade e bem-estar, muito pelo contrário. Nossos
inimigos, em especial o diabo, não se alegram com as
nossas vitórias, muito menos em nos ver fazendo a
vontade de Deus. Esse já pode ser um bom indicativo de
que tomamos a decisão correta. Quando erramos o tempo
todo, quando não buscamos agradar a Deus, o mundo e o
diabo se alegram. Se Deus é o motivo da nossa alegria, o
mundo se entristecerá. Assim, atrair o desgosto do diabo e
do mundo já revela que fazemos o que é certo.
Duas perguntas devem ser feitas para a tomada de
decisão: (1) Em quem ou o que está a nossa alegria? (2) A
alegria produzida significa tristeza para outras pessoas?
Paulo escreveu aos crentes de Filipos que devemos
sempre nos alegrar no Senhor (Filipenses 4:4). Essa
alegria, entretanto, não é sinônimo de uma vida isenta de
problemas e doenças. A Bíblia enxerga nas tribulações
motivos de alegria para o crente, porque ele reconhece
que elas conduzem sempre a um fim proveitoso
programado por Deus (Tiago 1:1-4; Romanos 5:3). Em
contraste com a fé atual que busca o pódio e a honra, os
apóstolos consideravam motivo de grande alegria o sofrer
por causa de Cristo (Atos 5:41; 1 Pedro 4:13-16). Além da
fé salvadora, os sofrimentos também nos identificam como
discípulos de Jesus (Romanos 8:17,18,35-37; Filipenses
1:29). Paulo não sentia prazer e alegria somente nos
momentos bons, mas também em todas as suas
dificuldades e tribulações (2 Coríntios 12:10). Entender
com o que podemos nos alegrar nos ajuda a entender se
estamos caminhando sobre passos de Jesus, se as nossas
escolhas e decisões alegram o seu coração ou entristecem
o Espírito Santo que habita em nós (Efésios 4:30). O que
pode entristecer o Espírito? O apóstolo Paulo responde:
“Longe de vós, toda amargura, e cólera, e ira, e gritaria, e
blasfêmias, e bem assim toda malícia” (v. 31). E o que
pode alegrá-lo? Aqui também temos a resposta: “Antes,
sede uns para com os outros benignos, compassivos,
perdoando-vos uns aos outros, como também Deus, em
Cristo, vos perdoou. Sede, pois, imitadores de Deus, como
filhos amados; e andai em amor, como também Cristo nos
amou e se entregou a si mesmo por nós, como oferta e
sacrifício a Deus, em aroma suave” (v. 31-5:1,2). Se todas
essas coisas estiverem presentes no nosso coração,
saberemos escolher o que é da vontade de Deus.
Outra característica deste princípio vai além da
alegria que uma decisão tomada segundo a vontade de
Deus gera, mas começa antes, quando a Lei do Senhor é a
fonte da nossa alegria. O que significa “alegrar-se no
Senhor”? Estar feliz e contente porque temos um Deus
maravilhoso, porque Ele nos salvou e todos os dias nos
enriquece com as suas graciosas bênçãos? Também. Mas
alegrar-se no Senhor significa ter a realização da sua
vontade como o nosso desejo e ambição, o que significa
não nos alegrar com decisões e escolhas que subvertam a
sua soberania sobre as nossas vidas. O Salmo primeiro nos
revela esta verdade. Ele fala de alguém que não se deixa
influenciar pelos estímulos negativos daqueles que
escarnecem de Deus, mas tem o seu prazer na Lei do
Senhor. Todo o Salmo 119 é um louvor à Lei do Senhor,
pela qual o salmista tem grande apreço e na qual ele
baseia toda a sua vida. Ele diz ao Senhor: “Escolhi o
caminho da felicidade e decidi-me pelos teus juízos” (v.
30). E também: “Terei prazer nos teus mandamentos, os
quais eu amo” (v. 47). E declara o que deve ser o cerne da
nossa tomada de decisão: “Considero os meus caminhos e
volto os meus passos para os teus testemunhos” (v. 59).
Como, então, tomar decisões e fazer escolhas felizes e
bem-sucedidas? Conformar todas elas aos testemunhos do
Senhor, ter alegria na sua Palavra, desejar que ela se
cumpra, submeter todos os nossos caminhos (vida, planos,
sonhos, relacionamentos, espiritualidade, etc.) a ela. Aí
está a nossa alegria.

O princípio do aprendizado

Na tomada de decisão, o princípio do aprendizado


fará uma imensa diferença. Diz o ditado popular que “é
errando que se aprende”. Entretanto, não é isso que a
Bíblia nos ensina. Errar faz parte da nossa natureza e nem
todo erro se configura pecado, como um erro de cálculo,
por exemplo. Mas o caminho ideal é “aprender para não
errar”. Por que o salmista guardava a Palavra de Deus em
seu coração? Para não pecar contra Ele (Salmo 119:11). A
vontade de Deus pode e deve ser aprendida. Ela não é
algo apenas que se procura saber, mas, acima de tudo,
que devemos viver. Como já dissemos, a vontade de Deus
já está revelada em sua Palavra, basta apenas que
tenhamos o trabalho de, iluminados pelo Espírito Santo,
descobri-la. Essa vontade pode e deve ser aprendida. O rei
Davi orava a Deus: “Ensina-me a fazer a tua vontade, pois
tu és o meu Deus; guia-me o teu bom Espírito por terreno
plano” (Salmo 143:10). Ao ler e estudar a Bíblia,
aprendemos o que Deus espera que sejamos e façamos em
todas as áreas e situações. O profeta Oseias escreveu:
“Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor”
(Oseias 6:3a). A falta do conhecimento de Deus e da sua
vontade nos conduz apenas ao erro, como Deus dissera
por meio do mesmo profeta: “O meu povo está sendo
destruído porque lhe falta conhecimento” (4:6a).
Muitas das nossas escolhas erradas, dos nossos
projetos que não deram certo, de relacionamentos que não
deveriam ter existido, de compras que não deveriam ter
sido realizadas, de viagens que não deveriam ter sido
feitas, de brigas e prejuízos que tivemos provêm do nosso
erro em não ter consultado antes a Deus, seja por meio da
oração ou através da sua Palavra. Na verdade, por meio
de ambos! Oramos que Deus abençoe os nossos projetos,
enquanto consultamos a sua Palavra para ver se eles não
ferem nenhum dos seus princípios. Escrevo este livro em
um notebook que possuo há uns dez anos, na esperança
de que, no final do ano, comprarei um novo. Meu anseio é
legítimo: escrever todos os meus livros que, segundo
creio, glorificam a Deus pelo seu conteúdo e pelo objetivo
de edificar a fé dos meus irmãos em Cristo, além de trazer
os perdidos ao conhecimento da verdade que pode salvá-
los. Mas Deus sabe o dia de amanhã, sabe se o notebook
que tanto desejo poderá significar alguma perda para mim
ou outras pessoas. Então, Ele pode não permitir que eu o
compre. É um exemplo simples, mas que revela algo
importante a respeito da vontade de Deus: somente Ele
sabe o que realmente é o melhor para nós.
O princípio do aprendizado também nos faz lembrar
tudo o que aprendemos até então de um modo geral e que
podemos utilizar na tomada de decisão. Os erros
cometidos no passado devem nos ensinar como e onde não
errar de novo. Os acertos nos ensinam a como não errar
nunca, ao menos não por nossa própria culta, porque,
para dar certo, muitas coisas ainda dependem de
terceiros. Outras fontes de aprendizado que nos auxiliarão
nas nossas escolhas e decisões são: a educação recebida
dos nossos pais, as lições aprendidas na escola, na
faculdade ou qualquer outro curto técnico e
profissionalizante, os conselhos de pessoas idôneas,
normas, leis, regimentos e atas. Além disso, cada situação
vai requerer um aprendizado diferente ou uma técnica
própria. Muitos são aprendidos no setor que atuamos. Se
o funcionário de uma empresa comete um erro por causa
de imperícia, tendo sido previamente treinado para aquilo,
significa que ele não atentou para o aprendizado, não o
colocou em prática. Um casamento obedece ao mesmo
princípio: o casal precisa se conhecer, saber as
características, limitações e gostos um do outro, bem
como tudo aquilo que se exige de uma relação desse tipo.
Não saber disso pode conduzir a muitos erros, gerar
desentendimentos e crises. Na Igreja, os ministros devem
aprender a ministrar, caso contrário, não poderão prestar
um serviço a Deus de excelência.

O princípio da prudência

Conhecer a vontade de Deus está muito além da


necessidade de sabermos o que Ele deseja para as nossas
preocupações cotidianas, mas envolve, como já vimos,
conhecê-la para nos submetermos a ela e praticá-la. O
mundo jaz no maligno e as obras das trevas estão ao nosso
redor, e não cessam de nos aliciar. Aquele que desconhece
a vontade de Deus para a sua vida, está fadado a deixar-se
levar pelas trevas e afastar-se da luz. Que tipo de decisões
serão tomadas se forem orientadas pelas trevas? A ética
do mundo é baseada no princípio da escuridão: uma moral
que não suporta a luz da verdade. O cristão é chamado a
ser prudente, a não ser cúmplice nas obras das trevas e a
aproveitar cada oportunidade nesses dias maus (Efésios
5:3-16). Por esta razão, o apóstolo Paulo nos convoca a
não nos tornarmos insensatos, mas buscarmos
compreender qual a vontade do Senhor (v. 17). Em todas
as nossas decisões e projetos, a ética da Palavra de Deus
deve estar presente, levando-nos a agir de maneira
contrária a do mundo. Para o cristão, não existe aquele
“jeitinho” ou optar por aquilo que é “politicamente
correto”. Existe uma verdade absoluta que é prudente
obedecê-la.
Existe hoje um ministério profético no meio da
cristandade. Ele é composto por indivíduos que têm a
função de trazer revelações sobre a vida das pessoas,
supostamente revestidas de autoridade para ousar
afirmar: “Eis que te digo...”, como se fossem mensagens
divinas e o próprio Deus falasse. É por atrás desses
pseudoprofetas que muitos crentes vão para saber o seu
futuro, o que devem fazer, para onde devem ir, como
poderão enriquecer. Eles não estão atrás de mandamentos
para cumprir, mas de bênçãos para tomar posse.
Precisamos ser prudentes e avaliar tudo o que vemos e
ouvimos antes de dizer o amém final. Um exemplo clássico
de prudência é o dos moradores da cidade de Bereia: eles
ouviram a palavra que lhes foi pregada, mas depois foram
consultar as Escrituras para atestar se o que diziam
estava correto (Atos 17:10-14). A falta de prudência pode
nos levar à ruína ou nos fazer desperdiçar um tempo
precioso da nossa vida, o que pode ser anos. Decisões
precipitadas, sem qualquer avaliação do problema e das
melhores alternativas também dão errado. Às vezes
deixamos de ouvir conselhos preciosos de pessoas que
poderiam nos orientar ou deixamos de lado o aprendizado
que já carregamos para “inovar” ou fazer tudo de
qualquer jeito, sempre à espera que dê certo.

O princípio da ação de graças

Independente do que temos planejado e da resposta


que de Deus recebemos, conhecer e fazer a sua vontade
envolve uma vida de constante agradecimento. Nem
sempre Ele nos atenderá conforme esperamos ou a sua
Palavra dará as respostas com o conteúdo que desejamos.
O que está em vista não é o que queremos e que nos
agrada, mas aquilo que Deus quer e que lhe rende glória.
Independente das circunstâncias, do que obteremos ou
não daquilo que ansiamos, em tudo devemos dar graças (1
Tessalonicenses 5:18; Efésios 5:20) e entender que, em
Cristo, já temos a maior direção e a mais importante
bênção de todas: a nossa salvação. Aqui recordamos a
vida de Jó, como ele perdeu tudo o que possuía, menos a
esposa e a própria vida. Disse aquele servo do Senhor:
“Nu saí do ventre de minha mãe e nu voltarei; o Senhor o
deu e o Senhor o tomou; bendito seja o nome do Senhor”
(Jó 1:21). Quando somos capazes de expressar gratidão
pelas nossas perdas, pelos projetos que não deram certo,
pelos planos frustrados e pelos sonhos que jamais se
realizarão, podemos estar certos de que vivemos segundo
a vontade de Deus.
Outro aspecto do princípio da ação de graças é:
devemos avaliar se as nossas escolhas e decisões levarão
as pessoas a renderem graças a Deus. Alguém que não
possui qualquer identificação com Cristo, que não foi
adotado como filho de Deus, que não é regenerado e que,
por isso, não possui o Espírito Santo, entende que o
mundo deve girar em torno dele e que tanto faz se as suas
decisões levarão ou não os outros a glorificarem e
agradecerem a Deus. Como vimos no primeiro princípio,
tudo o que fizermos deve ser para a glória de Deus, e isto
envolve fazer ou não deixar de fazer aquilo que leve as
pessoas a blasfemarem contra Ele. O Senhor Jesus
afirmou que somos sal da terra e luz do mundo e que,
portanto, devemos resplandecer diante dos homens por
meio das nossas boas obras, para que, ao observá-las, eles
glorifiquem ao nosso Pai que está nos céus (Mateus 5:13-
16). Logo, se estamos preocupados com a vontade de
Deus, uma pergunta importante para a tomada de decisão
é: que escolha redundará em boas obras e levarão os
homens a glorificarem ao nosso Pai que está nos céus?
Qual deve ser a nossa atitude para que todos sejam gratos
a Deus pela nossa vida e pelas escolhas que fazemos?
Repito: o mundo não está preocupado com isso, muito pelo
contrário! A sua lei é: seja feliz do seu jeito, não importa o
que os outros pensarão. Mas a Lei de Deus diz: “Não
tenha cada um em vista o que é propriamente seu, senão
também cada qual o que é dos outros” (Filipenses 2:4).
Difícil tarefa para um mundo egoísta em suas decisões,
mas não para o crente cheio do Espírito Santo.

O princípio da provisão

Quando Deus tem algo para realizar na nossa vida,


Ele nos dá as provisões necessárias para isso. Nem
sempre as circunstâncias estarão ao nosso favor, mas
Deus nos dá a sua graça que nos aperfeiçoa, as armas
espirituais para que enfrentemos as batalhas, a sua
Palavra que nos serve como manual e guia, o seu Espírito
que nos enche e dá frutos, os seus dons e os irmãos para
nos abençoar. Ele também nos dá provas para sermos
aprovados. Fazer a vontade de Deus, como vimos, não
significa não ter sofrimentos. Se estamos no centro da sua
vontade, podemos estar certos de que Ele está conosco e
não nos deixará abalar, protegerá a nossa vida, cumprirá
em nós todo o seu propósito. Nada pode nos afastar do
seu amor nem nos derrubar. Ele está conosco e nos
guarda e livra. O apóstolo Paulo foi separado pelo Senhor
para ser apóstolo aos gentios, para cumprir a mais
excelente de todas as tarefas: pregar o Evangelho. No
final do livro de Atos, podemos vê-lo em uma viagem rumo
a Roma, não uma viagem de férias ou mesmo missionária,
mas ele ia como prisioneiro para prestar depoimento
perante César. Quando da sua prisão, o Senhor apareceu-
lhe e disse: “Coagem! Pois do modo por que deste
testemunho a meu respeito em Jerusalém, assim também
importa que também o faças em Roma” (Atos 23:11). Mais
adiante, vêmo-lo embarcado em um navio prestes a
naufragar, o que veio de fato a acontecer (27:27-44). O
tempo todo o Senhor estava com ele, confortando-o e
garantindo que, independente das circunstâncias, os seus
planos se cumpririam. Aquilo que Deus tem para nós, virá
até nós, não importam os ventos contrários.
Quando tomamos decisões com base nos princípios
que estudamos aqui, na Palavra de Deus, a provisão para
que tudo ocorra bem já está implícita. Veja o que o Senhor
disse ao povo de Israel, em Deuteronômio 28:1-9:

Se atentamente ouvires a voz do Senhor, teu Deus,


tendo cuidado de guardar todos os seus
mandamentos que hoje te ordeno, o Senhor, teu
Deus, te exaltará sobre todas as nações da terra. Se
ouvires a voz do Senhor, teu Deus, virão sobre ti e
te alcançarão todas estas bênçãos: Bendito serás tu
na cidade e bendito serás no campo. Bendito o
fruto do teu ventre, e o fruto da tua terra, e o fruto
dos teus animais, e as crias das tuas vacas e das
tuas ovelhas. Bendito o teu cesto e a tua
amassadeira. Bendito serás ao entrares e bendito,
ao saíres. O Senhor fará que sejam derrotados na
tua presença os inimigos que se levantarem contra
ti; por um caminho, sairão contra ti, mas, por sete
caminhos, fugirão da tua presença. O Senhor
determinará que a bênção esteja nos teus celeiros e
em tudo o que colocares a mão; e te abençoará na
terra que te dá o Senhor, teu Deus. O Senhor te
constituirá para si em povo santo, como te tem
jurado, quando guardares os mandamentos do
Senhor, teu Deus, e andares nos seus caminhos.

O que a Palavra de Deus nos diz a respeito da


tomada de decisão é que, se ouvirmos a voz do Senhor e
guardarmos os seus mandamentos, todas as nossas
escolhas, todos os nossos projetos, todos os nossos
empreendimentos serão abençoados e alcançarão sucesso
– ou não, segundo a vontade de Deus. Não como uma
recompensa por termos obedecido, porque essa é a nossa
obrigação, mas como consequência de termos feito tudo
conforme Ele determinou. Seguir os princípios bíblicos
para as nossas escolhas indica que fazemos o que agrada
a Deus, que tudo o que fizermos será conforme o seu
caráter amoroso, misericordioso, verdadeiro, santo e
justo. Deus poderá trazer bênçãos para o nosso celeiro
quando tentamos enchê-lo de maneira fraudulenta? Deus
abençoará nosso casamento, carreira, viagens, compras e
decisões se elas não forem realizadas com base no amor,
na justiça e na verdade? Bendito seremos na Igreja se
vivermos em pecado, se formos ministros infiéis, se
fizermos a obra do Senhor relaxadamente? Aqui está uma
relação de causa e efeito. O Senhor já tem nos abençoado
e continuará a nos abençoar. O que precisamos é viver
essas bênçãos e ser bênçãos na vida das outras pessoas,
para a glória de Deus, em tudo o que decidirmos e
escolhermos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

“A sorte será lançada no regaço, mas do Senhor


procede toda decisão.”

Provérbios 16:33

Desde o momento em que nos reconhecemos como seres


humanos, somos literalmente obrigados a tomar decisões.
Um bebê recém nascido sabe que, para tomar o seu leite,
precisa emitir sinais para que a sua mãe ou responsável
saiba que ele está com fome. Desse modo, desde as coisas
mais simples e que dizem respeito às nossas necessidades
fisiológicas até as mais complexas, como decisões
organizacionais importantes, somos sempre conduzidos a
fazer escolhas. As decisões do cristão piedoso não seguem
o mesmo esquema daquele que está morto em seus delitos
e pecados. Aquele que está em Cristo Jesus, que pelo
Espírito crucificou a sua carne, preocupa-se com o que
Deus pensa a respeito dos seus projetos e busca uma
direção divina que o guie pelo caminho certo. Muitas
vezes, isso pode significar decisões contrárias àquelas que
foram planejadas, escolhas difíceis que demorarão a
serem assimiladas, mudanças significativas de
pensamento e comportamento. Isso tem um motivo: os
nossos pensamentos não são os pensamentos de Deus.
Quando entramos em conformidade com os pensamentos
de Deus, revisamos muitos dos valores e motivações
ocultos nas nossas decisões, e então escolhemos fazer o
que Deus ordena.
Termino este livro com um breve esquema de como
deve ser a nossa tomada de decisão segundo a vontade de
Deus:

 Conhecimento bíblico. Antes mesmo de


descobrirmos que temos decisões a ser tomadas, a
Palavra de Deus deve estar gravada no nosso
coração para nos guiarmos por Ela. Para isso, ler e
estudar a Bíblia é fundamental, porque assim
teremos um depósito de sabedoria divina que nos
guiará a todo instante e circunstância e nos
ensinará sobre o que fazer e o que não fazer. É
importante o estudo da Hermenêutica bíblica, para
aprendermos a aplicar a verdade bíblica da forma
correta à nossa própria realidade.

 Sensibilidade espiritual. Além do conhecimento, as


nossas decisões carecem de sensibilidade
espiritual. Em primeiro lugar, precisamos estar
sensíveis à voz do Espírito, percebendo a sua
direção em cada escolha. Em segundo lugar,
precisamos discernir os espíritos, o que é de Deus
ou não. Muitos sentimentos, informações, conselhos
e ofertas são carnais; alguns, diabólicos.

 Oração. As nossas decisões devem ser tomadas


sempre em espírito de oração. Mas orar por o quê?
Oramos para que Deus nos dê sabedoria e
discernimento espiritual para as escolhas que
precisamos fazer, para submeter todos os nossos
projetos à sua vontade soberana, para pedir que Ele
nos dê a direção necessária sobre o que fazer ou
não fazer, para pedir força e graça para fazer o que
for preciso.

 Processo de decisão. Após observar esses primeiros


pontos, passamos para os elementos que estudamos
no capítulo sobre o processo de decisão: 1)
reconhecimento das situações que exigem decisões;
(2) diagnóstico do problema, (3) sua causa e efeitos;
(4) pensamento criativo para buscar alternativas e
pensamento crítico para avaliar essas alternativas.

 Princípios bíblicos. Em todo o processo, os


princípios estudados no último capítulo deverão nos
orientar sobre como agir e que decisões tomar.
Uma única pergunta é capaz de decidir todo o
processo de decisão: “No meu lugar, o que Jesus
faria?”.

 Implementação. Tendo observado atentamente


todos esses processos e princípios, estamos livres
para tomar decisões e fazer escolhas. Podemos,
então, colocar em prática aquilo que cremos ser a
vontade de Deus para nós. Se dois jovens obedecem
a esses princípios, não precisam de uma palavra
profética para namorar ou não, mas podem se
envolver com a motivação direcionada a um
relacionamento sério e duradouro. Podemos
comprar aquele imóvel, fazer aquela viagem,
aceitar aquela promoção na empresa, fazer aquele
investimento, aplicar aquela disciplina, abraçar
aquele ministério, eleger aquela liderança, dar
aquele presente, escolher aquele curso
universitário, mudar para aquele país, comprar
aquela roupa ou qualquer outra decisão, sempre em
espírito de oração e submissão total a Deus.

Que Deus nos ajude, com sua infinita graça, a fazer


escolhas e tomar decisões que glorifiquem o seu Santo
Nome. Nem sempre será fácil, mas o resultado sempre
será feliz. Se em algum momento percebermos que
tomamos a direção errada, basta refazer os planos, traçar
novas metas, criar novas estratégicas, consultar melhor a
Bíblia e orar mais. Há algo que não podemos esquecer e
que está exemplificado numa partida de futebol: cada time
contará com as orações de cristãos que pedem a Deus que
o seu time vença a final do campeonato. Entretanto,
somente um time poderá sair vencedor. Então, que
orações o Senhor atenderá? Que time é da sua vontade
que vença já que os dois não podem erguer a taça de
campeão? Tecnicamente, o time que melhor se preparou,
não resta dúvida. E como tudo está sob o controle de
Deus, aquele que Ele decidiu na sua vontade secreta dar a
vitória. Com isso quero afirmar que mesmo os nossos
melhores planos poderão não dar certo, porque muitos
dos nossos sonhos Deus já preparou para outros. Aquele
apartamento perfeito pode já ter outro dono que orou por
ele. Enfim, cabe a nós obedecermos a Deus, tomar
decisões segundo os seus princípios e aceitar a sua
vontade. Essa é a verdadeira tomada de decisão cristã que
busca e anseia pela vontade de Deus. Uma coisa é certa:
aquilo que Deus determinou para nós, virá até nós.
BIBLIOGRAFIA

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Cultura Cristã, 2008.

FEE, Gordon D.; STUART, Douglas. Entendes o que lês? 2ª


edição. São Paulo: Vida Nova, 1997.

HAFEMANN, S. J. in Dicionário de Paulo e suas cartas.


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MAXIMIANO, Antônio César Amaru. Fundamentos da


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STOTT, John. Crer é também pensar. São Paulo: ABU,


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VIKLER, Henry. Hermenêutica avançada. São Paulo: Vida,


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ZUCK, Roy B. A interpretação da Bíblia. São Paulo: Vida


Nova, 1994.
MIZAEL DE SOUZA XAVIER

Olá! Sou o Mizael Xavier, poeta e escritor. Tenho 52 anos


de idade. Comecei a escrever poemas aos 12 anos, quando
eu e meu irmão sonhávamos montar uma banda de Rock;
os meus poemas seriam as letras das nossas músicas. Sou
natural da cidade de Petrópolis, RJ, e resido no Rio
Grande do Norte há 28 anos. Sou cristão reformado,
divorciado, conservador, pai de Thiago e Milena. Possuo
inúmeros artigos publicados em jornais de Natal. Realizei
vários trabalhos como ator, diretor e multiplicador de
Teatro do Oprimido. Além de escrever, sou ensaísta e
teólogo. Em 2013, formei-me em Gestão de Recursos
Humanos pela Universidade Potiguar. Sou autor dos livros
físicos “Eu te amo” (poesia), “Memórias do Silêncio”
(autobiografia/Bullying), “Até onde o amor pode alcançar”
(poesias) e “Minha poesia” (antologia poética) Participei
de duas antologias da editora Lírio Negro (Brasilidade em
Versos e Fragmentos de almas eternizadas), e da
antologia ¨Poemas do coração V: Em busca da Paz”, da
editora Antologias Brasil. Além disso, possuo mais de 100
e-books publicados na Amazon. Sou membro da Igreja
Batista.
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Mizael de Souza Xavier


Escritor

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