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O PODER DA ORAÇÃO

MIZAEL DE SOUZA XAVIER

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5S EDITORA
PARNAMIRIM/RN – 2023
À memória do meu pai, Luiz Gomes Xavier
(10 de dezembro de 1938 a 19 de setembro de 2018), à
minha amada mãe, Maria José, e aos meus amados
filhos, Thiago e Milena
Índice
Introdução
O que é oração?
Como devemos orar?
As relevâncias na oração
Vários aspectos da oração
O que há numa oração bem sucedida?
Fatores importantes na oração
Principais atitudes na oração
Quando nossas orações não são atendidas?
Os inimigos do cristão e da sua oração
Considerações finais
Introdução
“Ó tu que escutas a oração, a ti virão todos os homens.”
Salmo 65:2

O poder da oração... Este é um título bastante sugestivo


para um livro que trata sobre este tema tão importante.
Se você pesquisar na Internet ou for a alguma livraria
cristã, verá a grande variedade de livros que falam a
respeito da oração. Cada um parece trazer a chave
mágica para o verdadeiro poder de Deus. O que se busca
muitos desses livros sobre a oração? Respostas aos
anseios do coração humano, palavras mágicas que
movem o coração de Deus, fórmulas prontas e de fácil
aplicação para a conquista de bênçãos e milagres por
meio do ato de orar. Muitos autores prometem isso e
apresentam verdadeiros manuais de guerrilha espiritual,
que não levam em conta, por exemplo, o senhorio de
Cristo e a soberania de Deus. O leitor compra gato por
lebre. Ele é induzido ao engano ao achar que o estudo
sobre a oração é o mesmo que o do poder do
pensamento positivo, algo totalmente contrário à Palavra
de Deus. Autores e leitores desses livros perdem a
oportunidade de experimentar o verdadeiro poder da
oração que Deus escuta.
A oração é um dos assuntos mais complexos do
ensino cristão. Cada seguimento do cristianismo possui as
suas formas de buscar a Deus, de orar. No catolicismo
romano, por exemplo, pratica-se a oração pelos mortos e
utiliza-se o Rosário; além disso, conta-se com a mediação
e a intercessão de pessoas consideradas santas e que já
morreram, como Maria, mãe de Jesus. O cristianismo
protestante aboliu tais práticas por entender que não são
bíblicas. São muitas as teorias que explicam o que é a
oração e que demonstram como o cristão deve orar,
quais os seus benefícios e que tipo de oração surte maior
efeito diante de Deus (ou sobre Deus!). Existem orações
já prontas, rezadas de forma repetitiva; e existem
orações que são verdadeiros diálogos com Deus.
Algumas, porém, parecem monólogos, onde apenas o
crente fala e Deus só escuta. Existe oração de fogo,
oração de poder, oração ungida. Algumas orações
desejam atrair bênçãos, outras expulsar os demônios.
Alguns oram baixo, enquanto outros gritam a plenos
pulmões. Alguns usam palavras simples e diretas,
enquanto outros transformam a oração num tratado de
teologia, ao citar diversos versículos e explicar cada um
enquanto fala com Deus. Ao orar, alguns buscam
diretamente a Deus, por meio de Cristo, enquanto outros
suplicam pela intercessão dos “santos”, como já foi dito.
Vemos como este é um tema bastante complexo e
que dependerá do nosso cuidado em compreender o que
a Bíblia tem a nos ensinar, independente das doutrinas
humanas. Existem duas verdades das quais não podemos
abrir mão quando o assunto é orar: primeira, a oração
precisa estar fundamentada na Palavra de Deus, assim
como qualquer outra ação da vida cristã. Não podemos
basear a nossa fé naquilo que alguém experimentou e
aparentemente deu certo. Existem experiências que são
únicas na vida das pessoas e não podem servir de base
para todas as outras. Se numa bela madrugada o irmão
orou por uma causa de joelhos em seu quarto e foi
atendido por Deus, ele não poderá jamais ensinar que a
oração que Deus atende é somente aquela que se faz de
madrugada no quarto, de joelhos. Não importa o quanto
dê certo, se não tiver base bíblica, está errado. A nossa fé
deve estar fundamentada na imutável Palavra de Deus.
Todos podem errar, mas ela nunca erra. Todos podem
mudar, mas ela nunca muda. Se queremos ter segurança
quanto às nossas orações, precisamos saber acima de
tudo o que a Bíblia nos ensina sobre como devemos orar.
Segundo, a oração é algo de cunho pessoal,
particular, de modo que cada um tem a sua própria
maneira de se dirigir a Deus, o que não significa que uma
é melhor do que a outra, contanto que todas estejam
obedecendo aquilo que Deus nos revelou nas Escrituras
sobre a oração. Aquele que gosta de orar de joelhos, de
joelhos orará; aquele que gosta de orar com o levantar
das mãos, assim o fará; aquele que aprecia orar com a
invocação de outros intercessores que não seja o Senhor
Jesus, já comete um grave erro, pois não é isso que a
Bíblia ensina (cf. 1 Tm 2:5). No livro “Pai Nosso: uma
oração com a vida”, trago preciosas explicações sobre
como não devemos orar e como deve ser a nossa oração.
O Senhor nos ensinou a entrar no quarto, fechar a porta
e orar em secreto a Deus, que nos recompensará. Ele nos
ensinou a orar ao Pai que está nos céus, quando
santificamos o seu Nome, clamamos pelo seu Reino,
submetemo-nos à sua vontade, pedimos pelo pão
cotidiano, suplicamos o seu perdão e contamos com o
seu livramento. Tudo isso deve estar presente na nossa
oração pessoal.
A oração é, acima de tudo, um ato de gratidão.
Quando nos aproximamos de Deus, reconhecemos quem
Ele é, o que tem feito e o que ainda fará por nós. Mas
não é só isso: a verdadeira oração busca a Deus não para
obter respostas, mas simplesmente porque Ele é Deus e
merece o nosso louvor e a nossa adoração. Se pararmos
para pensar, já temos o suficiente para transformarmos a
nossa oração em um eterno momento de ação de graças,
a começar pela salvação que Ele nos deu gratuitamente
em Cristo. Quando acreditamos ter pouco a agradecer,
pouco iremos orar, a não ser que nosso costume seja
apenas buscar a Deus para lhe pedir bênçãos e vitórias,
proteção e livramento. Contudo, mesmo se todas essas
coisas não vierem – ao menos não da maneira e no
tempo que planejamos – Ele continua a ser Deus e digno
de toda honra e glória (Tg 5:16; Sl 66:18; Pv 28:9; Is
65:24; Mt 6:7,8; Rm 8:26,27). Oramos para a glória de
Deus, não para a nossa. Queremos o Deus das bênçãos,
não apenas as bênçãos de Deus.
Enfim, onde está o poder da oração prometido no
título deste livro? Está em orar da maneira correta, só
assim seremos abençoados. Mas podemos ir bem mais
além: orar da maneira correta significa não esperar ser
abençoado, mas desfrutar da benção que gozamos ao
orar: a doce presença do Pai. De nada adiantam fórmulas
mirabolantes para atrair a atenção de Deus. Tudo isso é
mentira. De nada vale prometer mundos e fundos em um
livro que lhe ensinará a fazer tudo da maneira errada.
Não existem atalhos, não existe algum poder oculto; o
que existe é a Palavra de Deus para nos orientar. Se você
deseja experimentar o verdadeiro poder da oração, pode
começar sabendo que ela é bem mais simples do que
parece. Os grandes gurus da Teologia da Prosperidade e
seu sistema de Confissão Positiva são charlatões que
desconhecem o verdadeiro significado da oração. Ouso
apresentar neste volume a versão oficial bíblica. Não
presumo, todavia, que este livro seja o tratado definitivo
sobre a oração. Longe de mim! Grandes homens de
Deus, como John Bunyan, Martinho Lutero e Arthur Pink
escreveram maravilhosos livros sobre a oração. É em
muitos dos seus escritos, inclusive, que me espelho para
este pequeno volume.
O que é a oração?
“também os levarei ao meu santo monte e os
alegrarei na minha Casa de Oração; os seus
holocaustos e os seus sacrifícios serão aceitos
no meu altar, porque a minha casa será chamada
Casa de Oração para todos os povos.”
Isaías 56:7

Cada cabeça uma sentença, diz o adágio popular. E é a


mais pura verdade! Duas pessoas podem olhar para um
mesmo objeto ou situação e ter ideias totalmente
distintas a respeito. É a metáfora do copo meio cheio ou
meio vazio: um objeto, dois pontos de vista. Mas será
que existe uma verdade que seja a correta nisso tudo?
Com relação à Palavra de Deus, sim. Não importa o nosso
ponto de vista ou a nossa sentença: A Bíblia apresenta
verdades eternas, absolutas e imutáveis, inclusive sobre a
oração. O que me proponho a ensinar não significará
nada se eu não puder confirmar através das Sagradas
Letras. Vou dar um exemplo: a prática de tomar um copo
com água após a oração não existe na Bíblia. Usar
objetos ungidos para atrair bênçãos ou expulsar
maldições também não é bíblico. Se desejamos aprender
sobre o poder da oração, portanto, não podemos
negligenciar o ensino teológico, a compreensão
biblicamente correta para todas as nossas assertivas.
Orar não é concessão, é uma ordem, embora não
devamos orar apenas por cumprir um mandamento, mas
pelo prazer de conversar com o nosso Pai que está nos
céus (Lc 18:1; I Sm 12:23). Tudo o que fazemos não é
como queremos, mas como Deus quer. O Senhor Jesus
ordena que preguemos o Evangelho, mas isso não pode
ser feito de qualquer maneira, com qualquer conteúdo.
Existem parâmetros a serem respeitados. Da mesma
forma acontece com a nossa oração. É preciso conhecer a
regra bíblica a respeito da oração para que as nossas
orações sejam feitas da maneira correta e com o
propósito correto. Tantos livros ensinam sobre o poder da
oração com garantias de que, se tal esquema for seguido,
o crente conseguirá aquilo que deseja. O que seus
autores podem fazer é distorcer ao máximo a Palavra de
Deus para vender o seu produto: orações poderosas para
atrair bênçãos de Deus que mais se assemelham à Lei da
Atração ensinada por pessoas que creem no poder do
Universo, não do Deus que o criou. Eu poderia lhe
ensinar mil passos para uma oração que obriga Deus a
dar aquilo que você quer, mas seria mentira. Só existe
uma oração verdadeiramente poderosa: aquela em que o
crente abre mão totalmente da sua vontade e submete-se
inteiramente à vontade soberana de Deus. Aí, então, ele
experimenta o verdadeiro poder quando a vontade de
Deus é feita.
A oração poderosa também é algo que flui de uma
alma que se alegra no Senhor. Quando oramos, estamos
gratos a Deus pela obediência à sua Palavra que nos
convida e nos incita a orar. Orar, porém, não pode ser
um ritual a ser cumprido, como se após fazer as nossas
orações estivéssemos livres de tal “obrigação” para seguir
com os nossos afazeres pessoais. A oração é algo que
deve brotar naturalmente da nossa sede pela presença de
Deus. Devemos orar como se não existisse nenhum
mandamento que nos ordene isto! Por isso, a oração não
pode ser algo de momento ou de horas marcadas, a não
ser que haja muita verdade nisso. No livro “Pai Nosso:
uma oração com a vida”, o tema central que apresento é
justamente este: oração é vida! Se não temos vida com
Deus, não temos vida de oração. Se tudo o que dizemos
a Deus não é real na nossa prática cotidiana, as nossas
orações são Lei da Atração, mas nem mesmo o Universo
as escutará.
A maior lição que devemos aprender sobre o poder
da oração é que Deus é soberano e não precisa da nossa
fé e das nossas súplicas para operar qualquer tipo de
obra no mundo. Isso pode ser frustrante para quem
gosta de se gabar das suas orações fervorosas que abrem
a mão de Deus. Tudo Ele faz desde o início sem o nosso
consentimento e independente da nossa vontade. A
oração é nossa resposta ao Deus que se revela a nós e o
reconhecimento da nossa dependência dele. Deus pode
realizar o impossível sem a nossa intercessão, mas espera
que o busquemos para que demonstremos que
precisamos do seu auxílio. Este assunto está bastante
desenvolvido no livro “Maria e a vontade de Deus para
nós”, onde, baseado na Anunciação e na pessoa de
Maria, apresento pontos importantes sobre a vontade de
Deus para os seus filhos. Quando Maria disse sim a Deus,
Deus já havia dito sim a ela: Ele a escolheu
graciosamente e lhe deu a fé necessária para crer e
aceitar a sua vontade já decretada. Quem pretende
mover a mão de Deus, deve ser mais poderoso do que
Ele. Esse alguém existe?
Outro aspecto que explica o que é a oração é o
diálogo. É o momento em que falamos com Deus
diretamente. Todavia, a oração é muito mais que uma
conversa, ela é um momento de comunhão com Deus
restabelecida por Cristo na cruz. Sem esta comunhão não
poderíamos nos aproximar dele (Is 59:2). Orar não é
rezar, não é repetir fórmulas preestabelecidas, mas
manter um diálogo aberto e sincero com Deus (Dt 5:24; I
Sm 3:10), onde Cristo é o canal que nos liga a Ele. Existe
uma diferença enorme entre dialogar com Deus e se
relacionar com Ele. Um vendedor de seguros pode
conversar conosco durante uma hora sem saber sequer
onde moramos. Podemos ligar para qualquer serviço de
atendimento ao consumidor para apresentar as nossas
queixas ou para um restaurante com delivery para fazer
um pedido, mas não nos relacionamentos intimamente
com nenhum deles. A atendente e o entregador não
estão interessados nos nossos problemas. Eles só querem
nos atender o mais rápido possível e passar para o
próximo cliente. Deus tem toda a eternidade para nós!
A oração do crente não é algo esporádico que ele
faz quando dá vontade ou quando necessita de algo, mas
deve se tornar uma prática constante (I Ts 5:17). É
preciso investir tempo de qualidade nessa comunhão
abençoada com o Pai. O que está em vista não é a
quantidade de horas que passamos em oração, mas a
quantidade de amor a Deus e fé presentes na nossa
oração. Isso nos revela algo muito importante que
também trato nos livros já mencionados: não oramos
porque precisamos de algo, mas porque precisamos de
Deus! O poder da oração está na intimidade com o Pai
que está nos céus, na contemplação da sua glória na
nossa vida, na Igreja e no mundo. Alguns crentes
parecem achar que a graça de Deus é um poder a ser
acessado quando sentem que dela precisam. Alguns
dizem: “Hoje eu estou só a graça de Deus”. E nos outros
dias? Se a graça de Deus nos fosse tirada por apenas um
segundo, sentiríamos as labaredas do inferno nos
queimar. O crente regenerado está em constante estado
de graça. Ela nunca se aparta dele.
Oração também é fortalecimento (Ef 3:14-21; Tg
5:13-16). Certa cantora evangélica diz em uma das suas
músicas que a oração é “alimento”. Infelizmente, a irmã
está equivocada, pois o alimento do crente é a Palavra de
Deus. Oramos, inclusive, quando vamos nos alimentar
dessa Palavra. Por ela somos guiados pelas perigosas
sendas deste mundo. A oração fortalece a nossa alma.
Aliado à leitura da Bíblia, o diálogo com Deus nos esvazia
de nós mesmos e nos enche de graça, dando-nos forças
para enfrentar os revezes diários. Este é um fator do qual
a nossa oração é carente: o autoesvaziamento.
Geralmente chegamos até Deus com um documento já
redigido com todas as nossas vontades e anseios, com os
planos que traçamos para nós mesmos e um manual de
como eles devem ser executados. Então, o que fazemos é
apenas pedir a Deus que coloque o seu carimbo e a sua
assinatura, endossando aquilo que por nós já foi decidido.
Se não nos esvaziarmos de nós mesmos para deixarmos
que Deus nos preencha com a sua vontade, dificilmente
teremos as nossas orações atendidas. Lembre-se: não
busque o poder de Deus, mas o Deus de poder.
Uma vida de oração também se transforma em
arma contra Satanás (Mt 17:21). Quando o crente ora
segundo a vontade de Deus, o diabo treme. O inimigo
nada pode contra a oração do crente, porque quando
oramos, oramos com a marca da vitória em nós,
revestidos com o sangue santo do Cordeiro. Não oramos
para vencer, mas porque em Cristo somos mais que
vencedores e esta vitória o inimigo jamais poderá nos
tirar. Oração é, também, um canal de bênçãos. Deus tem
prazer em nos abençoar, em derramar sobre nós coisas
boas, segundo a sua vontade e os seus planos soberanos
e eternos (1 Jo 5:14,15). Mas nada devemos exigir,
apenas pedir em Nome de Jesus e que seja feito segundo
a sua vontade. Orar precisa ser como o ar que respiramos
e o chão que pisamos (Tg 5:14; Jo 14:13; Mt 17:21;
21:22; Dn 9:21; Jn 2:7).

Ações de Poder!

1. Faça da oração uma prática constante na sua vida,


não como uma obrigação ou ritual, mas pelo
prazer e pela alegria de conversar com o Pai que
está nos céus.
2. Você não precisa parar para orar. Converse com
Deus enquanto realiza as coisas cotidianas.
Quando necessário, pare, dê um tempo e ore
sozinho com Ele.
3. Estude na Palavra de Deus o que ela tem a lhe
dizer a respeito da oração e procure orar de
acordo com o que ela ensina. Não importa se tal
coisa deu certo para alguém, importa o que a
Bíblia ensina. O certo às vezes pode ser uma
estratégia do inimigo para nos confundir.
Aprenderemos mais sobre isso adiante.
4. Ore com a sua mente e o seu coração. Seja
sincero diante de Deus e use as suas próprias
palavras, ainda que antes você recite o Pai Nosso.
Saiba o que está falando e por quê. Deus sabe do
que você precisa, mas quer que você o verbalize.
5. Faça da sua oração um momento de comunhão
com Deus. Você pode sorrir, chorar, louvar. Que
seja verdadeiro e renovador.
6. Busque na oração a força e a graça de Deus para
enfrentar os seus problemas, gratidão por todas as
bênçãos que Ele lhe dá e amor para ser sempre
solidário com aqueles que necessitam.
Como devemos orar?
“Portanto, vós orareis assim...”
Mateus 6:9a

Quando nos indagamos sobre a forma correta de oração,


podemos pensar na estética da oração ou na nossa
posição física ao orar: sentado, ajoelhado, de pé,
prostrado, etc. Todavia, o que mais importa na oração
não são as suas formas exteriores, mas o seu conteúdo
espiritual, parafraseando uma citação de Stanislavski.
Como devemos orar então?

Fé e confiança

Em primeiro lugar é preciso ter fé em Deus e


confiança na sua resposta (Hb 11:1,6). Impossível haver
oração verdadeira se não for acompanhada de fé. O autor
de Hebreus traz uma definição bastante clara do que é
fé: a certeza daquilo que se espera e a convicção de
coisas que ainda não podemos ver. Lendo o contexto,
perceberemos que ele está falando a respeito das
recompensas celestiais e da eternidade. A vida dos
homens e mulheres de Deus descrita no capítulo onze
mostrará como a sua fé lhes deu força para vencer nas
adversidades (não as adversidades), sofrer tribulações e
ainda assim manter firme e inabalável e sua confiança em
Deus. Eles não esperavam por aquilo que acreditavam ser
o melhor para eles, mas por aquilo que sabiam que era a
vontade de Deus, a concretização das promessas eternas
do Senhor. Isto é ter fé: é enxergar não somente além
das nossas possibilidades, mas muito além dessa
realidade terrena e passageira, desejar o céu, a
eternidade.
A maioria das pessoas quando pensa em fé
relacionada à oração, sempre pensa no contexto de que
“a fé remove montanhas”, o que nos remete ao texto do
Evangelho de Mateus 17:20. No contexto, os discípulos
haviam tentado expulsar os demônios de um rapaz sem
sucesso algum, mas eles foram incapazes. Até que o pai
do rapaz leva seu filho até Jesus, que se indigna contra
aquela situação (vs. 14-17). Após o Senhor expulsar os
demônios do pobre rapaz, os seus discípulos foram
questioná-lo: “Por que motivo não pudemos nós expulsá-
lo?” (v. 20). Então o Senhor lhes respondeu: “Por causa
da pequenez da vossa fé. Pois em verdade vos digo que,
se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este
monte: Passa daqui para acolá, e ele passará. Nada vos
será impossível” (v. 20). Então, este é o poder da fé: algo
capaz de remover os problemas, afastar as maldições e
atrair bênçãos, por maiores que elas sejam. Tudo é
possível àquele que crê (Mc 9:23)! Se pegarmos esses
textos de forma aleatória, poderemos criar um projeto
mirabolante de poder para a nossa oração. Quem sabe
até transportaríamos montes em vez de utilizar
retroescavadeiras! Pensaremos no milagre, na bênção ou
na vitória que tanto ansiamos, e citaremos Marcos 9:23:
“Se podes! Tudo é possível ao que crê”.
Milagres acontecem? Sim. Mas quando falamos em
fé ou qualquer outro assunto ligado à Palavra de Deus,
devemos sempre levar em conta o que os teólogos
chamam de “ensino geral das Escrituras”. O que isto
significa? Significa que devemos consultar outros textos
bíblicos que versam sobre o mesmo tema para ver se
uma ideia não contradiz a outra. Quando falo em ideia,
falo daquilo que pensamos a respeito do conteúdo da
Bíblia. Neste caso: a nossa concepção do que é a fé.
Portanto, não podemos construir uma doutrina com base
em apenas um versículo ou texto, mas em toda a Bíblia.
Assim, não basta pensar forte, com uma fé monumental
para que as montanhas saiam do lugar. Alguns outros
fatores estão presentes na fé e devem ser entendidos em
um único conjunto. É sobre isso que estudaremos aqui:
os vários aspectos da fé que a transformam numa fé
bíblica, capaz de fazer com que a nossa oração seja
ouvida e atendida por Deus. Portanto, a fé que remove
montanhas ainda depende de outros elementos, como
pedir em Nome de Jesus e segundo a vontade de Deus.
Se não estiver nos planos de Deus remover tal montanha,
fé alguma irá tirá-la do seu lugar. A nossa confiança em
Deus não é apenas de que Ele nos atenderá, mas de que
nos atenderá se lhe pedirmos “conforme a sua vontade”,
como escreveu o apóstolo João: “E esta é a confiança
que temos para com ele: que, se pedirmos alguma coisa
segundo a sua vontade, ele nos ouve” (1 Jo 5:14).
O Nome de Jesus

A orarmos, tudo o que nós apresentarmos diante


de Deus deve vir seguido da frase “em Nome de Jesus”
(Jo 14:13). Esta frase não é uma fórmula mágica
colocada no final da oração ou de uma chave poderosa
capaz de abrir as portas dos cofres celestiais para
derramar bênção sobre nós, como creem os teólogos da
Prosperidade. Orar em Nome de Jesus significa possuir
identidade com Ele, falar em seu Nome, ser o seu
representante. Isto nos traz uma grande responsabilidade
ao orarmos. Será que Jesus se identifica com a nossa
oração e é de fato representado por aquilo em que
colocamos o seu Nome? Pedir em Nome de Jesus
significa, também, que estamos submetendo a nossa
oração ao seu senhorio, à sua vontade. Como único
Mediador (1 Tm 2:5), Jesus é quem leva as nossas
orações ao trono da graça. Não sabemos quais os desejos
de Deus para nós diante daquilo que colocamos em suas
mãos, por isso pedimos em Nome de Jesus, porque o que
o Senhor decretar, será feito; e seremos atendidos ou
não.

A vontade de Deus

Isso nos leva a outro fator de suma importância na


oração: a vontade de Deus. Como vimos, o apóstolo João
escreveu que a nossa confiança em receber algo de Deus
está ligado ao pedir segundo a sua vontade (1 Jo 5:14).
Embora o cristianismo atual viva um egocentrismo sem
proporções e um individualismo sem precedentes, tudo
na vida cristã gira em torno daquele que é Soberano, não
daquele que é humano e miserável. Quando o Senhor
ensinou os seus discípulos a orar, incluiu a vontade e
Deus na oração (Mt 6:10). Quem vive os valores do Reino
dos céus, deseja que a vontade do seu Soberano seja
feita. Essa vontade era buscada pelo Senhor Jesus e não
diz respeito tão somente às respostas das nossas
orações, mas a nossa vida como um todo. Oramos para
que em tudo o que vivemos a vontade soberana de Deus
esteja presente e que Ele nos capacite para conhecê-la,
compreendê-la e executá-la (1 Jo 5:14 ; Jo 4:34 ; Fp 2:13
; 1 Pe 4:1,2; Rm 12:2; I Ts 4:3). Essa vontade envolve o
tempo de Deus e o seu modo de agir. Não podemos
impor nada a Deus, apenas nos submetermos servil e
gentilmente ao seu querer soberano, que não falha nem
muda.
Na oração do Pai Nosso, conforme explico no livro
“Pai Nosso: uma oração com a vida”, o Senhor Jesus nos
ensina a orar: “venha o teu reino; faça-se a tua vontade,
assim na terra como no céu” (Mt 6:10). No céu, a
vontade do Pai é feita de maneira plena, não com má
vontade. Todos os anjos estão diante dele para servi-lo.
Quando clamamos por essa vontade, dizemos a Deus que
queremos nos submeter gentil e alegremente aos seus
propósitos, abandonando aquilo que é do nosso querer
para viver o que é do seu agrado. Por mais que aquilo
que pedimos a Deus nos pareça bom e legítimo, somente
Ele entende o que é de fato bom, não somente para nós,
mas, acima de tudo, para a sua própria glória. Se
insistirmos na nossa própria vontade, sairemos sempre
frustrados, porque, ao contrário da vontade de Deus que
é boa, perfeita e agradável (Rm 12:1,2), a nossa é
imperfeita, limitada e egoísta. O que é mais sensato,
encostar Deus contra a parede e exigir, declarar e
determinar que Ele faça a nossa vontade miserável ou
suplicar que aquilo que está em seu coração puro, justo e
santo se realize na nossa vida?

Dependência de Deus

Ao orarmos, também reconhecemos a nossa


dependência de Deus. Davi sabia que, mesmo sendo rei
sobre Israel, com todos os poderes que a sua posição lhe
conferia, dependia totalmente de Deus: “O Senhor é o
meu pastor, nada me faltará” (Sl 23:1). A nossa oração é
uma atitude de humildade ao nos vermos falidos
espiritualmente e carentes da presença do Pai (Lc 18:9-
14). Essa carência não é apenas dos benefícios que essa
presença pode nos trazer, mas por entender que sem a
sombra do Onipotente nada somos (Sl 91). Reconhecer
isso nos despe de toda a nossa arrogância e nos faz ver
que somos nós que dependemos de Deus, não Ele de
nós. Isso quebra a nossa dura cerviz, coloca-nos no
nosso lugar de pecadores e servos e nos despe de toda a
mediocridade daqueles que encaram a oração como um
paredão de fuzilamento, onde Deus poderá ser executado
caso não atenda ao clamor dos seus filhos. Quem somos
nós diante do Eterno? É Ele quem deve estar no centro
da nossa oração e da nossa vida, não nós (Sl 25:1;
120:1; 121:1,2; 125:1; 124:1-18).
Aqui, precisamos parara e meditar: existe algum
momento da nossa vida em que não dependemos de
Deus? Alguns crentes sabem de cor os versículos que
afirmam que Deus é o Deus do impossível, como, por
exemplo, Mateus 19:26, onde o Senhor Jesus diz: “Isto é
impossível aos homens, mas para Deus tudo é possível”
(cf. Jr 32:17; Jó 42:2; Zc 8:6; Lc 1:34-38). Sim, todas as
cosias são possíveis para Deus. A única limitação para o
agir de Deus é Ele próprio: Deus jamais fará algo
contrário à sua própria natureza Santa e Justa nem que
contradiga a sua Palavra revelada: a Bíblia. Então não
adianta orar por nada que vá contra o caráter de Deus e
da sua Palavra. Os nossos impossíveis são possíveis para
Deus “segundo a sua vontade”, não a nossa. De repente
aquilo que achamos ser impossível, continuará sendo,
porque não é da vontade de Deus realizar. Mas o que
Deus intenta realizar, será feito de qualquer maneira,
independente da nossa vontade. Mas retomo a pergunta:
existe algum momento da nossa vida em que não
dependemos de Deus, em que não precisemos da sua
graça, do seu poder, do seu milagre? A resposta óbvia é
“não”.
Deus não é apenas o Deus do impossível, mas
também do possível, do trivial e cotidiano. A não ser que
tenhamos algum problema de saúde que comprometa a
nossa respiração, a coisa mais normal do ser humano é
respirar. Quem precisa orar a Deus para respirar? Se ora,
é porque já respira. Mas poderíamos respirar sem que
Deus nos desse a vida e a sustentasse? Poderíamos
levantar pela manhã, comer, trabalhar ou qualquer outra
ação sem a existência e a presença daquele que nos deu
a vida e que criou todas as coisas? Não dependemos de
Deus apenas para aquele milagre, aquela causa na
justiça, aquela tribulação, aquela viagem, aquela bênção,
aquela vitória. Não! Precisamos de Deus a cada segundo
das nossas vidas, mesmo que tudo esteja às mil
maravilhas. Eu precisei de Deus para escrever este livro e
você precisa dele para lê-lo. Um casamento, mesmo
impecável, precisa de Deus. Um emprego, mesmo já
tendo o conhecimento de que a vaga é nossa, precisa de
Deus. Se as coisas dão errado, podemos recorrer a Deus;
se elas dão certo, Deus já está presente na condução de
tudo. De todas as formas, com dificuldades ou
facilidades, é Deus quem opera, quem trabalha, quem
nos fortalece, quem nos abençoa, quem nos livra. É Ele o
tempo inteiro, no impossível e no possível. Quando o
casamento está bem ou quando precisa de restauração:
Ele está presente. Quando estamos cheios de saúde ou
adoecemos: Ele está presente também!

Pureza de coração

Outra forma de orar é com pureza de coração (Mt


5:8). Então devemos primeiro nos purificar para depois
entrar na presença de Deus? Para responder a esta
pergunta precisamos diferenciar entre a purificação
baseada na Lei de Moisés, que constava de rituais
externos, como lavar as mãos (cf. Nm 17:19; 2 Cr 30:19;
Ne 12:45,p.ex.), e a purificação efetuada pelo sangue de
Cristo na cruz. A purificação efetuada por Cristo foi total e
perfeita, de modo que nos santificamos dia após dia
nessa purificação, que começa e se desenvolve em Deus.
Podemos nos aproximar de Deus porque Cristo nos
justificou e nos tornou puros (At 15:9; Ef 5:26; 2 Tm 2:1;
Tt 2:14; Hb 1:3; 9:13-23; 10:22; Tg 4:8; 1 Pe 1:22; 1 Jo
1:7-9). Logo, essa purificação é obra de Deus e é por
meio dela que chegamos livremente à sua gloriosa
presença pelo Nome de Jesus. A nossa oração deve ser o
mover do Espírito em nós (Jd 20,21; Rm 8:26), o que
consequentemente produz arrependimento ao nos
depararmos com os nossos pecados (Mt 6:12). Se não
nos arrependermos e confessarmos os nossos pecados, a
nossa oração será vã. Precisamos ser sinceros e pedir
perdão a Deus (1 Jo 5:18).
Como é a oração feita por um coração purificado
por Cristo? Podemos listar aqui algumas características:

1. É uma oração feita por um coração regenerado,


novo, com uma nova inclinação para as coisas de
Deus (Ez 36:26). Embora ainda humano e com
propensão para o pecado, este coração busca viver
em santidade ao Senhor (At 15:9; Mt 5:8; 2 Co
7:1). Ele vive em conflito consigo mesmo, o que se
revela até mesmo nas suas orações quando clama
pela força que vem do Senhor: “Não nos deixes
cair em tentação; mas livra-nos do mal” (Mt 6:13;
cf. Gl 5:17; Rm 7:23).
2. É uma oração que parte de um coração
quebrantado e contrito, que reconhece a sua
pequenez e a Santidade de Deus, que se submete
gentilmente a Ele para amá-lo, adorá-lo, obedecê-
lo e servi-lo (Sl 51:17).
3. É uma oração que parte de um coração onde
Cristo habita, pela fé salvífica, através do seu
Santo Espírito como Deus e Senhor (Ef 3:17; Rm
10:10).
4. É uma oração que parte de uma mente renovada,
purificada por Cristo, capaz de entender as coisas
de Deus e se submeter a elas (Rm 12:1,2; Hb
10:22).
5. É uma oração que busca em primeiro lugar o Reino
de Deus e a sua justiça (Mt 6:33), que não impõe
sobre Deus as suas ambições, mas deseja
ardentemente conhecer e fazer a sua vontade
acima de tudo.
6. É uma oração que parte de um coração capaz de
perdoar as ofensas que lhe são feitas (cf. Mt 6:12).
7. É uma oração que não parte de um coração
dividido, mas firme no Senhor Jesus, sem
hipocrisia, que é honesto consigo mesmo quanto
às suas fraquezas, colocando-se sempre diante do
Pai para pedir-lhe perdão. O crente sincero não
mente para si mesmo.(Lc 8:15; 1 Cr 12:33; Hb
10:22; 1 Jo 1:8-100.

Confiança em Deus

Devemos orar, ainda, com confiança em Deus (Sl


37:5; Fp 4:6; Sl 55:22). O que significa esta confiança?
Se falamos sobre o “poder da oração”, muito embora já
tenhamos determinado que poder é este, corre-se o risco
de confundir essa confiança com a nossa capacidade de
acreditar que Deus atenderá todos os pedidos que lhe
fizermos. Para algumas pessoas, este é o significado de
fé: colocar algo nas mãos de Deus sem deixar qualquer
margem para a dúvida. E isto inclui jamais dizer que “se
Deus quiser, a minha oração será atendida”. Não, isso
demonstraria uma fé fraca. O crente deve dizer: “Pela fé
já posso contemplar o milagre, a bênção, a vitória”. Daí
surgem inúmeras expressões equivocadas, tais como:
tomar posse da bênção, profetizar bênção sobre a vida do
irmão e determinar a vitória. A confiança não está
propriamente em Deus, mas na suposta autoridade que o
Nome de Jesus confere ao crente de enviar ordens para
Deus e ter todas elas respondidas positivamente. Se você
quer experimentar o verdadeiro poder da oração,
aconselho esquecer tudo isso e jogar fora todos os livros
ou deixar de acessar os sites que ensinam essas coisas.
São heresias. Agarre-se à Palavra de Deus, como, por
exemplo, Tiago, ao falar sobre aqueles que batem o
martelo e dizem que tal dia farão tais coisas (Tg 4:3). Ele
afirma: “Vós não sabeis o que sucederá amanhã. Que é a
vossa vida? Sois, apenas, como neblina que aparece por
um instante e logo se dissipa. Em vez disso, devíeis dizer:
Se o Senhor quiser, não só viveremos, como também
faremos isto ou aquilo” (vs. 14,15).
A verdadeira confiança de Deus nas orações e em
qualquer outra situação da nossa vida pode ser expressa
em apenas um versículo: “Bem sei que tudo podes, e
nenhum dos teus planos pode ser frustrado” (Jó 42:2).
Por que podemos confiar em Deus quando oramos? Em
primeiro lugar porque Ele é Deus e tudo pode. Não
confiamos em deuses falsos, em santos mortos, nos
astros ou na boa vontade do Universo: confiamos naquele
que é Todo-Poderoso! Esta era a confiança do rei Davi,
que possuía todo um exército em suas mãos para
comandar nas batalhas: “Uns confiam em carros, outros,
em cavalos; nós, porém, nos gloriaremos em o nome do
Senhor nosso Deus” (Sl 20:7). Que resultados colhiam
aqueles que confiavam na força do seu próprio braço e
das suas armas comparados com o daqueles que
confiavam no Senhor? Davi responde: “Eles se encurvam
e caem; nós, porém, nos levantamos e nos mantemos de
pé. Ó, Senhor, dá vitória ao rei; responde-nos, quando
clamarmos” (vs. 8,9). Confiamos em Deus porque Ele é
Deus, porque não dorme, porque governa todas as
coisas, porque é Soberano sobre tudo e sobre todos.
Outro motivo para confiarmos em Deus está no
seu caráter imutável: nenhum dos seus planos pode ser
frustrado. O que Ele diz, faz; o que Ele promete, cumpre.
Veja o que aprendemos em Números 23:19: “Deus não é
homem para que minta; nem filho do homem, para que
se arrependa. Porventura, tendo ele prometido, não o
fará? Ou, tendo falado, não o cumprirá?”. Nele não há
nem pode haver mudança ou sombra de variação (Tg
1:17). O Senhor Jesus é o mesmo ontem, hoje e o será
para todo sempre (Hb 13:8). Ao falarmos no caráter
imutável de Deus, logo devemos lembrar que Ele jamais
poderá mudar para se adequar aos nossos esquemas.
Então, as nossas orações não podem vir carregadas de
pedidos que contrariem a sua Palavra, que escarneçam
da sua santidade. Não adianta, por exemplo, orar a Deus
para pedir aquele varão ou aquela varoa abençoada que
já está casado ou casada. Muito menos dizer: “Se Deus
tiver um plano para nós dois, nada poderá impedir”. Deus
impede! Se Ele uniu um casal, não irá separá-lo para dar
um marido ou uma esposa a outro. Quando oramos,
confiamos que o nosso Deus Santo, Justo e Soberano
fará o que refletirá a sua glória na nossa vida. E isso pode
significar responder de forma negativa às nossas orações.

As promessas de Deus

Essa confiança plena no Senhor nos leva a orar


com a apropriação das suas promessas (Sl 37; Rm 10:9;
Nm 23:19; Ef 3:20). Podemos confiar nas promessas de
Deus porque a sua Palavra não falha e porque Ele é bom
para conosco (Sl 145:13). A Palavra na qual cremos é
viva e eficaz (Hb 4:12), ela não muda, não retrocede,
mas cumpre todo o seu propósito, como o próprio Senhor
nos garante: “assim será a palavra que sair da minha
boca: não voltará para mim vazia, mas fará o que me
apraz e prosperará naquilo para que a designei” (Is
55:11). Existem dois detalhes nesse versículo que
precisam da nossa atenção antes de falarmos em
promessas. Primeiro, a palavra do Senhor fará o que lhe
apraz, ou seja, aquilo que é a sua vontade e que o
agrada. Nenhuma palavra lançada pelo homem, por mais
fé que ele tenha, tem o poder de determinar para Deus o
que Ele deverá fazer. Deus faz aquilo que lhe apraz.
Segundo, a sua palavra executa a sua designação. Ou
seja: existe um objetivo específico nessa palavra, que é
aquele pretendido por Deus, não o que nós
determinamos. É importante saber disso antes de “tomar
posse” das promessas de Deus, porque alguns crentes
têm o costume de distorcer o que a Palavra de Deus diz
para criar promessas que não existem ou tomar posse
daquelas que pertenceram a pessoas do passado, não a
nós. Não adianta citar dezenas de versículos ao orar para
profetizar bênçãos se todos estiverem totalmente fora de
contexto.
Aqui chegamos a uma pergunta decisiva: quando
falamos em “tomar posse das promessas de Deus”, a que
promessas nos referimos? Creio que a grande maioria dor
crentes que lotam as igrejas em busca de auxílio, consolo
e socorro de Deus esperam ouvir do pregador ou de
algum “profeta” que esteja presente alguma “palavra
profética”. Ou seja: declarações de promessas de
bênçãos para a sua vida, seguidas da ordem “Tome posse
irmão”. Os cultos neopentecostais giram em torno disso
praticamente: tomar posse das promessas do Senhor.
Mas quais promessas? Que garantias nós temos de que
aquele pregador ou aquele profeta falam
verdadeiramente em nome de Deus e que Deus os
revelou as bênçãos que iremos receber? Essa é uma
prática totalmente estranha à Bíblia. Não existe nível
algum de confiança nas profecias de casamento, vitórias,
milagres e curas que essas pessoas proferem
aleatoriamente. Quando Deus deseja operar, isso fica
bastante claro. Além disso, há sempre uma conexão com
a sua Palavra. As únicas promessas nas quais podemos
confiar plenamente são aquelas que estão descritas na
Bíblia, e isso depois da sua correta interpretação. Muitas
das promessas feitas no Antigo Testamento, por exemplo,
já se cumpriram. Algumas eram direcionadas a pessoas
específicas em momentos específicos e não estão
relacionadas conosco.
Eis um exemplo de promessas utilizadas
totalmente fora do seu contexto 1. O primeiro é
Deuteronômio 28:1-14, quando Deus pronuncia bênçãos
ao seu povo na terra prometida caso eles fossem
obedientes à sua Palavra. O que fica para nós é que
devemos obedecer a Deus, porque Ele é a nossa bênção.
Não devemos obedecê-lo para que as suas bênçãos nos
sigam, mas porque a nossa nova natureza pede isso. O
fato de sermos obedientes a Deus não nos torna “cabeça
e não calda”, muito pelo contrário: nós nos tornamos
seus servos e servos dos nossos irmãos (Mt 23:11; Mc
10:42-45; Rm 12:10; Gl 5:13; 1 Pe 4:10). A cabeça não é
outra que não o Senhor Jesus. Como crentes em Cristo
Jesus, nós somos o povo santo do Senhor, mas não
temos nenhuma terra para tomar posse dele. A nossa
pátria está nos céus (1 Pe 2:9; Fp 1:27; 3:20,21).. A terra
que os judeus tomariam posse, era uma porção
geográfica. Apreendemos desse texto que Deus está
conosco, que colheremos bons resultados ao
obedecermos e praticarmos a sua Palavra, mas não que
Ele nos dará a posse de um emprego, um casamento,
uma causa na justiça, um carro ou a casa própria ou até
mesmo um terreno para a construção de um novo
templo. Não é isso que o texto nos diz.

1 No livro “Manual de leitura e estudo da Bíblia para leitores


iniciantes”, trago um estudo mais abrangente sobre este tema, onde
mostro que promessas são para nós ainda hoje e quais não são,
ensinando como fazer a diferenciação entre ambas.
Então, em quais promessas nos fiaremos em
nossas orações? Como afirmei, é preciso ouvir a voz de
Deus nas Sagradas Escrituras (Dt 13:14; Ez 3:27; Jo
8:47; Tg 1:22). Lendo a Bíblia, descobriremos as
promessas aplicáveis para nós hoje. Eis algumas delas:

 Podemos confiar na promessa de que Deus nunca


falha e que a sua Palavra (aquilo que está revelado
nas páginas da Bíblia) jamais mudará, mas se
cumprirá por completo (Nm 23:19; Js 21:45; Sl
119:140).
 Podemos “tomar posse” da nossa vitória! Não
vitória financeira, porque Deus jamais prometeu
nos dar dinheiro, mas trabalho para adquiri-lo. É a
vitória de Cristo que nos leva a vencer o mundo
pela fé, não a nos apegar cada vez mais a ele (1
Jo 5:4). A nossa vitória também é sobre a morte e
o pecado (1 Co 15:55-57), é uma vitória “nas”
tribulações (Rm 8:37-39; Fp 4:13) e sobre as
forças do mal (Ef 6:13). Não são vitórias que ainda
alcançaremos, mas que, em Cristo, já obtivemos e
estão conosco a todo tempo.
 Podemos confiar na promessa de vida eterna para
todo aquele que crê em Jesus para a salvação (2
Co 1:19-20; Hb 10:23). O apóstolo João escreveu
sobre uma promessa bastante clara: “Esta é a
promessa que ele mesmo nos fez, a vida eterna”
(1 Jo 2:25 cf: 1:2; Jo 17:3; Sl 119:50).
 Podemos confiar que a vida que Deus nos dá em
Cristo é abundante, plena, porque envolve todas
as bênçãos espirituais que Ele nos dá quando
cremos (Ef 1:3) e uma vida que transborda para
além desta vida, seguindo pela eternidade, nos
céus (Jo 10:10).
 Podemos tomar posse da nova vida que o Senhor
nos dá, quando, por sua escolha e graça,
regenera-nos, tornando-nos novas criaturas (Ez
36:26; 2 Co 5:17; 1 Pe 1:4,23; Rm 6:4-7; Gl 2:20;
Cl 3:9-11).
 Podemos crer na promessa de que, ao crer no
Senhor Jesus, recebemos o Espírito Santo que Ele
nos prometeu (Lc 11:13; Jo 14:16-27) e a adoção
de filhos (Jo 1:12,13; 1 Jo 3:1,2; Gl 4:4,5).
 Quando pecamos e confessamos o nosso pecado,
podemos crer na promessa do perdão de Deus (1
Jo 1:9; Ef 1:7).
 Podemos estar certos de que Deus suprirá todas as
nossas necessidades, de acordo com a sua
vontade. Deus não promete nos dar o que
queremos, mas o que precisamos, algo que
somente Ele conhece de fato (Fp 4:19; 1 Rs 8:56).
 Podemos orar clamando sabedoria quando dela
necessitarmos, porque o Senhor prometeu que nos
daria (Tg 1:15).
 Quando alguém estiver enfermo, o Senhor nos
promete que a oração de fé irá curá-lo, o que, é
evidente, obedece a uma vontade soberana de
Deus (Tg 5:14-16).
 Deus nos promete suprir as nossas necessidades, o
que não o faz segundo as nossas ambições e
caprichos, mas de acordo com o seu querer
soberano (Fp 4:19; Mt 6:25-34; Fp 4:6,7).
 Não importa a situação em que nos encontrarmos
nesta vida, porque o Senhor promete que nele
teremos paz que sempre nos guardará, mesmo nas
aflições (Is 26:3; Fp 4:7; Jo 14:27; 16:33; Fp 1:2).
 Podemos crer na promessa de que todo joelho se
dobrará e toda língua confessará que Jesus Cristo
é o Senhor (Is 45:22,23).
 Nas provações e tribulações podemos crer na
promessa de Deus jamais falhará e alcançaremos a
sua vitória no céu (Tg 1:12).
 Podemos ter certeza na promessa bíblica de que
Deus atende as nossas orações (Is 65:24; Mt
6:7,8; 7:7-11; 21:22; Jo 14:13,14; Mc 11:24; Ef
3:20; 6:18; Fp 4:6; Hb 4:16; Tg 1:5-8).
 A maior promessa de todas, aquela que deve
chamar a nossa atenção, transformar a nossa vida
e nos dar uma viva esperança é a volta de Jesus.
Se essa promessa não nos diz nada, se não
ansiamos por sua concretização, se as nossas
orações tentam “atrasar” a vinda do Senhor para
gozarmos do “melhor desta terra”, talvez não
sejamos convertidos. Então, tomemos posse da
promessa da vinda gloriosa do Senhor Jesus e da
ressurreição dos seus santos (Jo 14:2,3; At 1:9-11;
1 Ts 4:16,17; 2 Ts 2:1-4; Hb 9:27,28; Mt 24:36-
39; Mc 13:24-27; Ap 19:11-16; 22:12,20; 2 Pe
3:8-13).

São essas, entre outras, as principais promessas


que devemos “tomar posse” em Nome do Senhor Jesus. E
tendo essas promessas, a certeza da esperança eterna,
precisamos ser diferentes. As promessas de Deus não
apenas anunciam as bênçãos que Ele tem nos dado e
para nos dar, mas promovem uma mudança no nosso
comportamento. Ao orarmos, não devemos apenas nos
apropriar das promessas de Deus, mas, pelo fato de
sermos participantes dessas promessas, precisamos viver
de maneira íntegra e piedosa. Não devemos apenas nos
interessar pelo que as promessas de Deus podem fazer
“por nós”, mas, principalmente, por aquilo que elas
operam “em nós”. O apóstolo Paulo escreveu: “Tendo,
pois, ó amados, tais promessas, purifiquemo-nos de toda
impureza, tanto da carne como do espírito, aperfeiçoando
a nossa santidade no temor de Deus” (2 Co 7:1). Dessa
forma, as promessas de Deus para nós devem nos tornar
cada dia mais santos, mais parecidos com Ele.
A oração deve sempre nos direcionar a Palavra.
Orar não é “sentir” Deus falar, mas conversar com Ele e
depois escutá-lo na sua Revelação específica: a Bíblia
Sagrada. Quando o nosso eu sair de cena, saberemos
ouvir a voz suave do Senhor. Quando a nossa mente e no
nosso coração estiverem sempre abertos para receber
Deus em nós, a nossa oração ultrapassará não somente o
teto da Igreja ou as nuvens, mas os limites da nossa
própria individualidade e nos direcionará com amor
altruísta na direção das necessidades dos outros (1 Pe
2:17). A oração não é somente vertical, mas igualmente
horizontal. Sobre isso aprenderemos mais adiante.
Ações de Poder!

1. Ore acreditando em Deus e confiando na sua


resposta. Lembre-se: esta fé vai muito além da
crença na sua existência, mas é fruto da
conversão, quando o Espírito Santo nos dá a fé
necessária para crer (Ef 2:8,9). Faça uso dessa fé
e não deixe de confiar no Senhor.
2. Ao exercer a sua fé, lembre-se de que a Bíblia
ensina tudo o que devemos saber. Pesquise, leia,
compre livros de teólogos respeitáveis que possam
orientá-lo. Antes de ler a Bíblia, ore e peça a
direção do Espírito Santo para compreendê-la.
3. Um dos maiores segredos do poder da oração é
não lutar contra Deus! Todas as vezes que
tentamos impor a nossa vontade, dizemos para
Deus que a vontade dele não nos interessa. Quem
somos nós para isso! Ore como o Senhor Jesus
orou. Diga: “Meu Pai, se possível, passe de mim
este cálice! Todavia, não seja como eu quero, e
sim como tu queres” (Mt 26:39).
4. Ao orar, lembre-se: Deus não é o “plano B” ou o
último a quem devemos recorrer quando os nossos
esforços já não são suficientes. Ele deve estar
presente do início ao fim. Sem Ele, nada somos.
Quem busca Deus só quando precisa, no fundo,
não precisa de Deus.
5. Aproprie-se das promessas do Senhor! Não
aquelas que pseudoprofetas declaram enquanto
passeiam no meio da congregação lançando
declarações de vitória genéricas. Aproprie-se das
promessas da Bíblia! Leia, estude, aprenda sobre
hermenêutica bíblica. Jamais abra mão da Palavra
que não pode falhar para seguir as palavras
falíveis e possivelmente mentirosas dos homens.
As relevâncias na
oração
“Examina-me, Senhor, e prova-me;
sonda-me o coração e os pensamentos.”
Salmo 26:2

Existem alguns fatores relevantes que precisamos saber


para orar da maneira correta e ter a certeza de que
oramos segundo a vontade de Deus. Em alguns meios
evangélicos, dá-se demasiada atenção aos fatores
externos como de suma importância para o momento da
oração: o lugar, a hora, o gestual, as vestes e o timbre da
voz. Alguns locais – como o monte, por exemplo – são
tidos como lugares onde Deus opera milagres, como se
outros ambientes fossem menos santos do que o monte.
Com relação às vestes, há que se recuse a orar nu, por
sentir que assim não respeita a Deus e a sua oração corre
o risco de não ser atendida. Orar em voz alta – muito alta
– nos meios pentecostais e neopentecostais demonstra
maior “unção” do crente; a sua oração de fogo tem mais
poder do que aquela oração quase silenciosa dos círculos
evangélicos mais tradicionais. Certos horários do dia,
como a meia-noite e às três horas da madrugada, parece
trazer um poder místico sobre a oração. Alguns chegam a
brincar – e creio que existe uma crença verdadeira nisso
– ao dizer que na madrugada “a fila é menor”. Talvez se
esqueçam que o Guarda de Israel jamais cochila nem
dorme (Sl 121:4). Para Ele, toda hora é hora.
Então, quais são as verdadeiras relevâncias numa
oração de poder, que alcança os ouvidos e o coração de
Deus, que pode trazer as bênçãos e as vitórias que
precisamos e que Ele, segundo a sua vontade, pode nos
dar? Ou mais que isso: que oração é feita por um coração
que anseia pela presença do Pai, mesmo que não haja
palavras nem pedidos, mas apenas a alegria por estar
conectado a Ele?

Certeza da aceitação de Deus

Em primeiro lugar, é preciso ter certeza da


aceitação de Deus (Is 6:5-7). Mesmo sendo pecadores
miseráveis, somos purificados pelo sangue de Jesus Cristo
e aceitos por Deus por sua maravilhosa graça. O Senhor
Jesus nos garante que aquele que o Pai levar até Ele, de
modo algum o rejeitará (Jo 6:37). Afinal, não somos
bastardos, mas filhos (Ef 1:5,6). Aquele que confessa a
Jesus, tem a sua salvação garantida (Rm 10:9,10) e se
relaciona de forma direta com Deus. O que precisamos
entender nestas verdades é que é Deus quem nos
aproxima dele, não por aquilo que somos ou fazemos,
mas por sua maravilhosa graça. Não são as nossas ações
que nos tornam aceitáveis para Deus, mas o sangue de
Cristo. Muitos tentam conquistar a atenção de Deus,
comprar os seus favores, barganhar as suas bênçãos,
mas tudo isso é abominável. O que tinha de ser feito,
Cristo já fez por nós. Alguns usam o jejum como meio de
conquista de bênçãos, como uma forma de, por meio do
seu autossacrifício, agradar a Deus e merecer algo dele.
Na época de Jesus, os fariseus eram os religiosos
mais piedosos de Israel. Quem olhasse para eles – para
as suas práticas religiosas – talvez desejasse ser como
eles. Entretanto, em várias ocasiões eles foram
confrontados pelo Senhor Jesus por causa da sua
religiosidade aparente e hipócrita, porque pregavam e
ensinavam uma coisa, mas faziam totalmente o seu
inverso. O Senhor alertava às multidões e aos seus
discípulos: “Na cadeira de Moisés, se assentaram os
escribas e os fariseus. Fazei e guardai, pois, tudo quanto
eles vos disserem, porém não os imiteis nas suas obras;
porque dizem e não fazem” (Mt 23:2,3). Fariseus e
escribas eram homens que se orgulhavam de estar na
presença de Deus, mas sem estar. Na parábola do fariseu
e do publicano (Lc 18:9-14), somos apresentados a dois
personagens: o fariseu, que orava de si para si, declarava
sua religiosidade e menosprezava o publicano (vs. 9-12);
e o publicano, desprezado pelos fariseus, que não ousava
sequer levantar seus olhos para os céus, mas clamava:
“Ó Deus, sê propício a mim, pecador!”. O Senhor afirmou
que o publicano, e não o fariseu, saiu dali justificado,
porque enquanto este se exaltava, aquele se humilhava
(v. 14). Vendo a lista das práticas religiosas citadas pelo
fariseu, podemos comparar com a nossa prática ainda
hoje: autojustiça, jejum e devolução dos dízimos, fora a
oração que ele fazia. Portanto, as práticas exteriores nada
são nem nada podem se não houver uma conexão
interna e íntima com Deus. E esta só é possível através
da justificação.
Transparência total do nosso ser

Entendendo isso e por saber que Deus sonda os


corações, precisamos de transparência total do nosso ser,
rasgar nosso coração diante dele e reconhecer quem
somos (Sl 139:1,2), como fez o publicano. Não adianta
tentar fingir nada quando nos colocamos diante do Pai,
ocultar os nossos pecados no subconsciente e acreditar
que, pelo fato deles estarem lá, Deus não os esteja
contemplando (Pv 15:3). O publicano poderia ter falado
da situação política e econômica da sua época, justificado
seu pecado como uma atitude de sobrevivência social e
financeira. Mas o que ele fez foi reconhecer o óbvio: que
era pecador. Esta era a verdadeira justificativa dos seus
atos, o pecado, algo que pertencia a ele, ao seu coração
inclinado para o mau, não ao sistema político totalitário
romano. Nós somos craques em encontrar justificativas
para os nossos pecados. Um episódio que exemplifica isso
é a Queda. Ao ser questionado por Deus sobre tê-lo
desobedecido e comido o fruto que Ele proibira, Adão se
justificou do seu pecado ao colocar a culpa em Eva, ou
mais ainda, no próprio Deus: “A mulher que me deste por
esposa, ela me deu da árvore, e eu comi” (Gn 3:13).
Portanto, de nada adianta criarmos estratégias e histórias
para nos justificarmos diante de Deus das nossas ações,
porque, por mais que seja grande a influência externa – o
mundo e o diabo – a responsabilidade pelo pecado será
sempre nossa, pois “cada um é tentado por sua própria
cobiça, quando esta o atrai e seduz” (Tg 1:14).
É certo que em Cristo temos o perdão dos nossos
pecados passados, presentes e futuros, e que nenhuma
condenação há para quem nele se encontra pela fé (Rm
8:1). É certo que quando Deus olha para o crente já não
vê mais aquele pecador miserável, mas enxerga o sangue
de Cristo que o purificou e o livrou da condenação eterna.
Todavia, somos chamados a uma vida de santidade, de
abandono de nós mesmos e de integridade no Espírito. O
Deus que sonda os nossos corações e que em Cristo já
nos redimiu, deseja nos purificar dos nossos pecados de
estimação, das nossas investidas diárias contra a sua
santidade. Então, não podemos nos aproximar de Deus
sem a consciência de quem somos, do que fazemos e de
que precisamos mudar (Sl 4:4; 77:6; 26:2). Ele sabe que
tipo de intenções – se puras ou impuras – povoam as
nossas orações. Podemos orar no monte às três horas da
madrugada, de paletó e gravata ou saia comprida até os
tornozelos, citar dezenas de versículos bíblicos de cor,
forjar uma linguajem angelical e gritar a plenos pulmões,
mas o conteúdo da intenção do nosso coração será
avaliado por Deus,, de modo que tudo isso não servirá de
nada.

Revelação das nossas necessidades

Essa transparência, todavia, vai bem mais além do


conhecimento do nosso pecado e se projeta sobre todo o
nosso ser. De modo que outro fator relevante é a
revelação de nossas necessidades (Fp 4:6; Sl 55:2; Tg
4:2). Certo autor evangélico escreveu que devemos
descrever em detalhes aquilo que precisamos para Deus.
Como se Deus fosse errar na entrega do pedido do carro
se eu não especificar a marca, o modelo, o ano e a cor.
Em momento algum a Bíblia ensina isso. Deus sabe do
que precisamos muito antes que o peçamos (Mt 6:8).
Quando pensamos em pedir, Deus já tem a resposta para
nos dar, mas deseja que peçamos, que nos submetamos
à sua vontade, numa atitude de reconhecimento da nossa
dependência dele e de confiança. Não falo apenas das
nossas necessidades materiais, mas também emocionais,
sentimentais, espirituais e mesmo físicas. Deus conhece a
angústia do nosso coração, as frustrações amorosas, a
ansiedade, o medo, o sentimento de solidão diante do
mundo, alguma amargura ou ira, bem como a inveja, a
indiferença e o amor. Nada disso escapa aos olhos do
Senhor. Ao nos aproximarmos de Deus, não deixamos
essas coisas escondidas, guardadas numa caixinha; elas
estão conosco, fazem parte de nós e Deus as conhece.
Deixemos que ele nos desnude a alma, dobremos os
nossos joelhos, derramemos as nossas lágrimas.
Diante da Bíblia, caem por terra aquelas orações
que não somente revelam as necessidades de quem ora,
como também exigem de Deus uma resposta positiva.
Como já vimos, espera-se apenas o carimbo e a
assinatura de Deus em um documento já redigido pelo
crente. Quando expomos a Deus as nossas necessidades,
reconhecemos que somente Ele pode nos suprir. Ao
contrário das pessoas que detalham para Deus o que
querem receber, o que devemos fazer é deixar em suas
mãos as nossas carências, sejam elas quais forem,
porque Ele tem cuidado de nós. Muitas pessoas oram
desesperadas, como se Deus estivesse ausente ou como
se não se importasse com elas. O que elas precisam, na
verdade, é de uma resposta compatível com os seus
anseios, por isso dizem que Deus está em silêncio. É
como se dissessem literalmente a Deus: “Ainda não ouvi
a resposta que eu quero ouvir”. Talvez Ele já a tenha
dado e elas não perceberam, porque foi um “não” ou algo
diferente do que elas esperavam. Na oração de poder
segundo a Bíblia, é de extrema importância um coração
aberto para Deus (Mc 12:30): aberto para dar e para
receber, para falar e para ouvir, para ser trabalhado e
transformado; aberto para o sim e para o não.

Ausência de sentimentos contrários à justiça

Ainda outro fator relevante é a ausência de


sentimentos contrários à justiça (1 Jo 4:20; 5:17; 1 Pe
5:2; Pv 14:30; Gl 5:19-21; Rm 1:18; Fp 4:8). Tais
sentimentos só produzem orações egoístas, impedem que
nos reconciliemos com alguém e nos levam a desejar a
vingança de Deus ao invés de clamar por sua
misericórdia. Como orar a Deus sem nos reconciliar com
alguém com quem estamos intrigados (Mt 5:23-25)?
Como clamar a Deus por justiça se na nossa prática de
vida não existe justiça, se somos incorretos com nossos
pais, filhos, empregados, patrões, irmãos, estudos? Não
há como orar e pretender ser atendidos por Deus,
também, quando o nosso coração está voltado para o
mundo e os seus deleites. Quem tem o seu prazer e os
seus sonhos em tudo aquilo que é do mundo e não busca
aquilo que é de Deus, como serão as suas orações? O
desinteresse pelo mundo também deve acompanhar a
nossa oração, o que nos leva a nos desprender do
materialismo para buscar as coisas do alto (1 Jo 2:15; Hb
12:1; Jo 17:14; Lc 16:13). Oração é isso, é busca por
Deus, pelos valores do seu Reino e pela sua justiça. É
ansiar pela volta do Senhor e pela subida triunfal da
Igreja. Se a nossa oração nos prende a um mundo do
qual não fazemos parte, será que Deus nos atenderá
naquilo que lhe pedimos?
Sobre isso, não podemos deixar de falar das coisas
que há no mundo e que não representa pecado algum
nos preocuparmos com elas, não ao ponto de andarmos
ansiosos ou desesperados, mas de lhes darmos a devida
importância na medida certa. O pão de cada dia que
pedimos no Pai Nosso, o emprego que tanto precisamos,
a casa que desejamos comprar, as roupas que nos
vestem, a segurança que necessitamos para nós e os
nossos entes queridos, uma causa na justiça, a cura de
uma doença, proteção em uma viagem, a recuperação da
saúde de alguém ou até mesmo dos nossos bichinhos de
estimação, as causas sociais, entre tantas outras
necessidades legítimas. Todas essas coisas fazem parte
da nossa vida no mundo, mas não é errado clamarmos
por elas. O poder que buscamos ao orar é o de nos
afastar da ambição desmedida, do desejo egoísta pelo
poder, do consumismo e da avareza. Temos as nossas
necessidades e Deus, segundo a sua vontade, deseja
supri-las. O Senhor nos alerta a não andarmos ansiosos
por coisa alguma, mas buscarmos o Reino de Deus e a
sua justiça em primeiro lugar, e as demais coisas nos
serão acrescentadas (Mt 6:25-34). Então não devemos
orar nem pedir nada a Deus, porque Ele sabe de tudo o
que precisamos? A resposta está no ensino geral das
Escrituras, quando lemos o que o apóstolo Paulo diz em
Filipenses 4:6: “Não andeis ansiosos de coisa alguma; em
tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as
vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de
graças”.

Coração fiel

Por fim, a oração verdadeira parte de um coração


fiel a Deus (Rm 3:3,4; Sl 89:1; 1 Co 1:9; Mt 25:21; Lc
19:17; Ap 2:10) Se formos infiéis, Ele permanece fiel a Si
próprio, não volta atrás nas suas promessas, nos seus
mandamentos nem nos seus planos; mas fomos salvos
para sermos fiéis a Ele, à sua Palavra e à sua vontade. A
nossa oração deve ser o reflexo de um coração fiel,
obediente e submisso a Deus e à sua obra. A pergunta
que devemos fazer ao orarmos é: A minha oração
demonstra a minha fidelidade a Deus e aos seus
propósitos para a minha vida ou denuncia a minha
fidelidade apenas aos meus projetos e sonhos? Muitas
pessoas não abrem mão dos seus sonhos e lutam por
eles em oração, mesmo quando Deus usa de todas as
formas para mostrar que elas estão erradas. Desistir de
um projeto pessoal não é um sinal de fracasso, mas a
marca de um coração sábio, temente a Deus e que está
conectado à sua soberana vontade. Essa fidelidade
envolve, também, obediência aos mandamentos do
Senhor. Desejar algo de Deus sem cumprir o que Ele
ordena deliberadamente demonstra que não há aí uma
identidade firmada entre quem ora e Deus. Ser obediente
é um dos princípios elementares da vida cristã, sem o
qual as nossas orações podem não ser ouvidas.

Ações de poder!

1. Quando entrar na presença de Deus em oração,


lembre-se: você nunca sai da presença dele! Então
não adianta esconder qualquer coisa do seu olhar,
porque tudo Ele sabe antes mesmo que pensemos
em fazer. Deus não pode jamais ser pego de
surpresa. Davi reconhecia esta realidade: não
existe lugar ou momento em que Deus não esteja.
Ele escreveu: “Senhor, tu me sondas e me
conheces. Sabes quando me assento e quanto me
levanto; de longe penetras nos meus
pensamentos” (Sl 139:1). Desnude-se diante de
Deus: pecados, anseios, preocupações e desejos.
2. Deus sabe do que precisamos mesmo antes de
nascermos. Além disso, Ele já providenciou tudo!
Mesmo assim, Ele deseja que peçamos, que
clamemos pelo seu auxílio, suprimento, livramento,
proteção e graça. Revele a Deus as suas
necessidades, mas faça isso com humildade,
pedindo-lhe que faça a sua vontade soberana.
3. Que sentimentos o seu coração abriga que são
contrários à justiça de Deus expressa nas páginas
da Bíblia? Que pensamentos o afastam da
santidade que o Senhor requer de nós? Antes de
orar, examine a sua vida; ao orar, examine a sua
oração. Leia sempre a Bíblia para conhecer o
caráter de Deus e a sua justiça, assim você saberá
quando aquilo que pensa, sente e faz está fora do
padrão que Ele determinou para seus filhos.
4. Conte sempre com a fidelidade de Deus à sua
própria Palavra e ao seu caráter santo e justo. Ele
é fiel em nos dar aquilo que Ele mesmo nos
prometeu. Mas seja fiel também! Procure se
afastar de tudo aquilo que te afasta de Deus e do
centro da sua vontade. Aja de modo digno do
Evangelho e ore como um servo de Jesus Cristo
deve orar. Uma pergunta cheia de poder para a
nossa oração: “No meu lugar, como Jesus oraria?”.
Vários aspectos da
oração
“Quanto a mim, longe de mim que eu peque contra
o Senhor, deixando de orar por vós; antes, vos ensinarei
o caminho bom e direito.”
1 Samuel 12:23

A oração é algo bastante pessoal, um diálogo íntimo com


Deus, mas, ainda assim, possui alguns aspectos gerais
que precisam ser observados. Estes aspectos estão
presentes nas orações descritas na Bíblia e demonstram a
forma como homens de Deus se dirigiam ao Pai. Moisés e
os profetas foram grandes homens de oração, que
constantemente buscavam a face de Deus, sua direção e
seu favor. Jesus também orava constantemente. Em
várias de suas epístolas, o apóstolo Paulo comenta sobre
a sua oração e ora pelos cristãos. Não podemos precisar
como era arrumado o ambiente para esses momentos de
oração, que tipo de vestes eles usavam, qual o seu
timbre de voz, quais eram os horários mais propícios para
uma conversa com Deus ou outras coisas do gênero.
Creio que até aqui já ficou bastante claro que o poder da
oração não está nas suas formas exteriores, mas no seu
conteúdo espiritual. Se houvesse uma forma mais correta
ou poderosa de orar, provavelmente todos os grandes
oradores da Bíblia teriam feito uso dela, e isso estaria
escrito para servir de exemplo para nós ainda hoje. Os
aspectos biblicamente corretos que envolvem a oração
bíblica estão a seguir.

Ações de graças

O primeiro aspecto a ser observado é a ação de


graças. O apóstolo Paulo ordenou: “Em tudo daí graças,
porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para
convosco” (1 Ts 5:18). Ao nos aproximarmos de Deus,
precisamos ter o coração agradecido por todas as suas
obras, não somente pelo que Ele tem feito, mas por tudo
aquilo que Ele é. Existem momentos na nossa vida em
que parece difícil sermos gratos, mas mesmo nas
situações negativas precisamos desenvolver um espírito
de gratidão (Fp 4:4-7), e entendê-las sempre como
positivas e proveitosas, como bênçãos de Deus para nós.
Essa gratidão está ligada à paz. Em “tudo” devemos dar
graças, ou seja: em todas as circunstâncias. Basta
olharmos todas as adversidades que os servos e servas
de Deus enfrentaram e que estão registrados em Hebreus
11 para percebermos que eles possuíam um coração
grato. Neles havia a certeza da providência de Deus e da
concretização das suas promessas de vida eterna (vs.
16,40). Também o apóstolo Paulo, como vemos no livro
de Atos e em suas epístolas, sofreu toda sorte de
provações, tribulações e sofrimentos. Diante de tudo o
que sofreu, ele escreve: “aprendi a viver contente em
toda e qualquer situação” (Fp 4:11).
Vivemos contentes e satisfeitos quando somos
gratos, o que significa que alcançamos um nível de
espiritualidade que nos permite sentir paz, mesmo em
meio às duras provas (Cl 3:15-17). Se não somos
agradecidos, significa que não confiamos na providência
de Deus nem percebemos a presença do Espírito de
consolação em nós. Gratidão é, acima de tudo, uma
renúncia dos nossos anseios pessoais em nome dos
projetos de Deus. Não devemos condicionar a nossa
gratidão àquilo que Deus faz ao atender às nossas
orações, mas a quem Ele é e à sua vontade soberana
sobre a nossa, mesmo se as nossas orações não sejam
atendidas conforme desejávamos. Sendo gratos dessa
forma, não seremos agradecidos apenas por aquilo que
gira em torno de nós, mas saberemos olhar para o
sucesso dos outros e nos alegrar com eles. O nosso maior
motivo de gratidão é a vida eterna. Isso já é o suficiente
para nos tornar gratos para sempre (1 Ts 1:2; 5:18; Rm
7:25; 1 Co 15:57). Devemos ser gratos a Deus por nossas
pequenas conquistas e vitórias, pelo prato de comida ou
pela ausência dele em algum momento, por saber que Ele
cuida de nós e não nos desampara. Devemos ser gratos
por acordar todos os dias, por respirar e mesmo por
nossas limitações físicas. Ainda que nada esteja conforme
desejamos, que sejamos gratos a Deus e vivamos na
esperança de que dias melhores virão.

Súplica

Quando oramos, podemos também fazer súplicas a


Deus. Como vimos, Deus sabe de tudo que precisamos,
antes mesmo de precisarmos! Davi entendia que todos os
seus dias pertenciam a Deus. Ele escreveu: “Os teus
olhos me viram a substância ainda disforme, e no teu
livro foram escritos todos os meus dias, cada um deles
escrito e determinado, quando nenhum deles havia
ainda!” (Sl 139:16). Perceba como Davi reconhecia que a
sua existência era devida totalmente a Deus, que o
conhecia como pessoa e também as suas necessidades.
Em todos os salmos de Davi, entretanto, vemos diversas
das suas súplicas ao Senhor em momentos diferentes da
sua vida, como no Salmo 140:1, onde ele clama: “Livra-
me, Senhor, do homem perverso, guarda-me do homem
violento”. Ou no Salmo 61:1, em que ele diz: “Ouve, ó
Deus, a minha súplica; atende à minha oração”. Ainda
que nossos dias estejam determinados por Deus – o que
significa que todos os livramentos e provisões também já
nos tenham sido providenciados – o nosso dever é
clamar, é suplicar, numa atitude de reconhecimento da
nossa total dependência dele, de confiança na sua
resposta e de esperança no seu socorro.
Existem muitos outros exemplos na Bíblia de
pessoas que suplicaram algo a Deus: Jacó pediu por
ajuda (Gn 32:26), Moisés pediu por intercessão (Êx
32:31,32), Salomão pediu sabedoria (1 Rs 3:7-9), Davi
clamou por purificação (Sl 51:1,2), o ladrão penitente
suplicou por sua alma (Lc 23:42), o carcereiro pediu pela
sua salvação (At 16:30), Paulo pediu livramento (2 Co
12:8,9). A súplica é um antídoto contra a ansiedade do
nosso coração (Fp 4:6,7), quando deixamos de nos
preocupar com aquilo que Deus já providenciou e
descansamos nele. A ansiedade, pelo contrário,
demonstra a nossa falta de fé e impede as nossas
orações e as nossas súplicas. Suplicar é um mandamento
bíblico (Ef 6:18). Em Lucas 18:1-8, o Senhor nos dá a
certeza de que as nossas súplicas serão ouvidas por
Deus. Muitas vezes, Ele não as escuta porque não as
fazemos, porque tentamos de todas as formas resolver as
coisas do nosso modo, ou porque não confiamos nele
para nos socorrer. Se não confiarmos no Deus da nossa
salvação, em quem confiaremos? Precisamos manter viva
a esperança, a fé, a confiança, fazendo da nossa oração
uma petição entregue àquele que já tem nos abençoado
com toda sorte de bênçãos espirituais nas regiões
celestes em Cristo (Ef 1:1-3; cf. Tg 4:2; Mt 7:7; 1 Sm
1:9-18; 2 Rs 20:1-11; Sl 27:4; 1 Jo 5:16; Mt 21:22; Ef
3:20; Fp 4:6).

Louvor

Outro aspecto da oração é o louvor (Tg 5:13).


Deus é digno de ser louvado porque Ele é Deus, também
por seu amor, sua misericórdia, sua graça, sua salvação.
Nós o louvamos porque reconhecemos o quão grande Ele
é (2 Sm 22:4; Ap 5:12). O nosso louvor é oferecido a
Cristo e agradável por meio dele (Jo 12:13; Hb 13:15). O
louvor é bom e apropriado (Sl 33:1; 147:1). O louvor não
deve ser entendido apenas como a entoação de cânticos,
mas como algo mais profundo e verdadeiro. Em Oseias
14:1,2 vemos o sacrifício perfeito de louvor que agrada
ao coração de Deus: uma vida contrita e quebrantada. Os
lábios não podem louvar se o coração for impenitente.
Deus não precisava dos sacrifícios de cordeiros, mas
desejava que o seu povo tivesse um coração inclinado a
lhe obedecer. Entretanto, eles acreditavam que cumprir
mecanicamente rituais religiosos já era o suficiente. Como
muitos crentes que acreditam que ir aos cultos nos
domingos já preenche a sua cota de responsabilidade
para com Deus. Assim como Cristo é nosso motivo eterno
de gratidão, também o é do nosso louvor (Hb 13:15,16).
Quando louvamos, expressamos o que o nosso coração
sente (Mc 7:6), mas isso pode ser feito de maneira
hipócrita, erguendo as mãos enquanto o nosso coração
está distante de Deus, repleto de amargura, de inveja, de
orgulho, de ingratidão. É preciso que sejamos enchidos
do Espírito para que Deus trabalhe em nós, e assim nosso
louvor saia perfeito.
Qual o louvor que faz sentido? Quando ainda não
possuíamos uma visão espiritual e bíblica de mundo e
vivíamos nas trevas, as músicas que ouvíamos eram bem
diferentes daquelas que hoje escutamos. Nem todas as
letras das músicas faziam sentido na nossa vida, diziam
respeito àquilo que éramos e vivíamos, mexiam com o
nosso interior. Raríssimas – se é que existiam – eram
aquelas que mudavam algo dentro de nós, que nos
levavam a um comportamento diferente. Mas podíamos
ouvir uma música romântica falando de fidelidade sendo
adúlteros, falando de verdade sendo mentirosos, ou vice-
versa. Com a música cristã de louvor e adoração ocorre
totalmente o inverso: cantamos aquilo que acreditamos e
vivemos. Se na música de entretenimento não existe
compromisso com a letra, no louvor é preciso haver.
Todavia, parece haver um distanciamento muito grande
entre o que se canta e o que se vive. Nem sempre o
nosso caráter reflete o conteúdo dos hinos que entoamos.
Quando cantamos “Eu quero ser santo porque Santo é o
Senhor”, será que de fato vivemos ou procuramos viver
em santidade? Quando cantamos “Ao Rei dos reis
consagro tudo o que sou”, será que temos a totalidade da
nossa vida consagrada realmente a Deus? Quando
cantamos “Preciso de Ti, preciso do teu perdão”, será que
de fato desejamos viver na dependência de Deus ou
reconhecemos os nossos pecados ao ponto de clamarmos
por seu perdão? A vida cristã pede coerência naquilo que
pregamos e cantamos. Quando o louvor que sai dos
nossos lábios não reflete um coração puro, transformado
por Deus, ele não passa de música, de entretenimento.
Deus merece ser adorado em espírito e em verdade.
Ainda outra questão relacionada ao louvor são as
letras dos hinos que cantamos. Muitas delas não louvam
a Deus, mas a nós mesmos: exaltam a nossa existência e
enfatizam os nossos interesses. Isso não é louvor a Deus.
Talvez tenhamos esquecido do que é o louvor. Louvor
não é entretenimento, mas adoração a Deus. Louvor não
foi feito para inchar nosso ego, mas para render glórias
ao Rei Jesus. E as letras precisam ser coerentes com as
Sagradas Escrituras. Por mais poética que seja, uma
letra, ela pode carregar ensinos de demônios, de falsos
mestres e falsos profetas. Louvor não é performance ou
entretenimento, é entrega total e adoração exclusiva a
Deus. Louvor não é show, é culto em espírito e em
verdade ao Senhor. Louvor não é uma música feita para
fazer sucesso na mídia, mas para exaltar o Nome do
Senhor. Louvor não é para declarar a vitória do crente
sobre os problemas desta vida, mas para proclamar a
vitória de Cristo na cruz que nos deu a vida eterna.
Louvor não foi feito para inchar nosso ego, mas para nos
esvaziar de nós mesmos e render glórias ao Rei Jesus.
Louvor não é apenas um momento da liturgia do culto,
com lágrimas e mãos levantadas, mas um estado
constante de intimidade com Deus, por meio da oração e
da leitura e prática da sua Palavra. Louvor não é só um
som produzido por instrumentos musicais e uma bela voz,
mas fruto dos lábios que confessam o Nome do Senhor,
de um caráter transformado e dirigido pelo Espírito Santo.
O louvor não serve para conquistar alguma bênção de
Deus, mas é a resposta de uma vida já conquistada por
Ele.
Louvor é gratidão, amor, santificação, obediência,
serviço, misericórdia, sabedoria, perdão. Louvor é
evangelismo, missões, justiça, paz, alegria, verdade, fé,
oferta e solidariedade. O louvor é sempre coerente com o
ensino da Palavra de Deus, jamais a contradiz. O louvor é
devido a Deus não somente por aquilo que Ele faz, mas,
acima de tudo, por quem Ele é. Louvor é a vida cristã em
total dependência de Deus para que em tudo Ele, e
somente Ele, seja glorificado. O apóstolo Paulo escreveu
aos colossenses: “Habite, ricamente, em vós a palavra de
Cristo; instrui-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda
a sabedoria, louvando a Deus, com salmos e hinos e
cânticos espirituais, com gratidão, em vosso coração. E
tudo o que fizerdes, seja em palavra, seja em ação, fazei-
o em nome do Senhor Jesus, dando por Ele graças a
Deus Pai.” (Colossenses 3:16,17).
Intercessão

A intercessão é outro aspecto da oração cristã,


pois é quando clamamos a Deus pela vida de outras
pessoas, como familiares, amigos, a igreja, os
missionários, o nosso país, os pobres, os políticos, etc.
Intercessão é sinônimo de amor e um sinal de que nos
importamos com os outros e os amamos (2 Ts 3:1-5). No
livro “Pai Nosso: uma oração com a vida”, um dos temas
explorados é a solidariedade na oração. O Pai é “nosso”,
o seu Reino é pedido a “nós”, o pão é “nosso”, o perdão
é para as “nossas” dívidas; de igual modo, o livramento
das tentações e do mal envolve o coletivo, a comunidade.
Deus nos lembra que não somos únicos nem devemos
nos importar apenas com os nossos próprios problemas.
Como membros da comunidade humana e como Corpo de
Cristo, demonstramos o nosso amor por Deus ao
interceder pelas pessoas no geral, pelos irmãos em Cristo
e até mesmo pelos nossos inimigos. O Senhor nos
ordenou: “amai os vossos inimigos e orai pelos que vos
perseguem” (Mt 6:44). Orar por alguém é interceder a
Deus por sua vida, seus problemas, sua felicidade, seu
bem-estar, sua conversão.
A Bíblia está repleta de grandes exemplos de
servos e servas de Deus que foram grandes
intercessores, desde os patriarcas, passando pelos
profetas, chegando até Jesus e os apóstolos. Interceder
significa apresentar diante de Deus a causa de alguém.
Podemos interceder pelos pecadores (Is 53:12), pelos
fracos na fé (Lc 22:32), pelos nossos inimigos (Lc 23:34;
Mt 5:44), pela Igreja (Jo 17:9; Sl 122:6; Is 62:6,7), pelas
autoridades (1 Tm 2:2), pelos ministros (1 Co 1:11; Fp
1:19), por todos os homens (1 Tm 2:11). O único limite
para a nossa intercessão é a Bíblia. Não podemos
interceder da maneira errada e por motivos errados. A
intercessão visa clamar pela vontade de Deus sobre a
vida de alguém ou alguma circunstância, tendo sempre
em mente os valores da Palavra de Deus. E quando
intercedermos, precisamos nos lembrar de que não
somos nós que movemos a mão de Deus, que não
adianta “profetizar bênçãos” ou “decretar a vitória” sobre
a vida de alguém, por supor que Deus responderá do céu
conforme o “poder da nossa palavra”. Essa intercessão
irresponsável e antibíblica tem feito muitas pessoas
naufragarem na fé, quando não recebem a promessa e a
vitória prometidas pelo pretenso profeta intercessor.

Ações de poder!

1. Lembre-se de manter o coração sempre grato a


Deus por quem Ele é e por tudo o que Ele faz. Um
coração que não é grato jamais será capaz de
reconhecer as bênçãos de Deus. Existe muito
poder na gratidão: poder de agradar o coração de
Deus e manter o nosso coração conectado ao dele,
por sua maravilhosa graça.
2. Não tenha receio de pedir nada a Deus. Ainda que
Ele já conheça as nossas necessidades e já tenha
providenciado tudo para nós, é o nosso dever e
alegria fazer-lhe súplicas. Não esqueça, porém,
que, por maiores e mais frequentes que sejam as
nossas súplicas, Deus nos atenderá conforme a
sua vontade soberana e no seu tempo.
3. Louve a Deus na alegria ou na tristeza, porque ela
também faz parte da vida. Mas louve-o com o
coração sincero e grato. Louve-o com os seus
lábios e com a sua vida. Louve-o ao praticar o
amor, ao obedecê-lo, ao viver em santidade, ao
ser misericordioso e caridoso. Examine os hinos
que são cantados na sua congregação para ver se
são louvores genuínos a Deus ou exaltações ao
homem.
4. Seja um intercessor. Não é necessário um dom ou
ministério específico na igreja para o crente ser um
intercessor. Basta ser convertido, ser um crente
piedoso e se importar com as pessoas. Faça da
intercessão um estilo de vida: clame a Deus por
seus familiares, parentes, amigos, colegas de
trabalho, irmãos da Igreja e pessoas do mundo
inteiro. Clame a Deus com fé por suas vidas e
seus problemas.
O que há numa
oração bem-
sucedida?
“Sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito quebrantado;
coração compungido e contrito, não o desprezarás, ó Deus.”
Salmo 51:17

Os conceitos de oração e do poder da oração variam de


acordo com a ideia que se tem de Deus e da sua Palavra.
Isso também definirá as regras para medir o sucesso de
uma oração. Nas igrejas neopentecostais, que pregam a
Teologia da Prosperidade, uma oração bem-sucedida é
aquela oração de fogo, onde o crente dizimista fiel
decreta as bênçãos que deseja e toma posse das
promessas de Deus, exigindo seus direitos às conquistas
de Jesus na cruz. A teologia ortodoxa e tradicional,
todavia, anda de acordo com a Palavra de Deus. Com
relação à oração e qualquer outro aspecto da vida cristã
(como a santidade, o serviço, os dons, p. ex.), não
importa aquilo que nós achamos, mas o que a Bíblia diz.
O nosso jeito de fazer as coisas não é o jeito correto
quando não está alicerçado sobre a Palavra de Deus.
Toda a verdade que precisamos conhecer em cada área
da nossa vida está nas Escrituras. Logo, oração só é
oração de Deus se podemos defini-la de acordo com os
seus princípios, não os nossos. Podemos destacar
algumas marcas de uma oração bem-sucedida, que chega
até o céu e toca o coração de Deus, o que não
necessariamente significa que seja atendida conforme
imaginamos.

Quebrantamento

A primeira marca é o quebrantamento total do


nosso ser, ao nos desnudarmos diante de Deus com
humildade, no reconhecimento da nossa incapacidade de
agradá-lo (2 Cr 7:14; Lc 18:9-14). O Senhor declarou nas
bem-aventuranças do Sermão do Monte: “Bem-
aventurados os humildes de espírito, porque deles é o
reino dos céus”. Nesse texto, humildes ou “pobres” de
espírito traduz aquela pessoa que se reconhece
miseravelmente perdida e incapaz de prover justiça e
salvação para si própria. Dela é o Reino dos Céus porque
quem a justifica é Deus. O apóstolo Paulo escreveu:
“Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É
Deus quem os justifica. Quem os condenará? É Cristo
Jesus quem morreu ou, antes, quem ressuscitou, o qual
está à direita de Deus e também intercede por nós” (Rm
8:33,34). O coração quebrantado pelo Espírito Santo
revela muito mais que o poder da oração, mas o poder da
ressurreição de Cristo em nos justificar e nos guardar
livres de qualquer condenação. Podemos ter esta certeza,
porque Ele intercede por nós. Não é algum “santo” ou
Maria, mas o próprio Filho de Deus quem nos dá essa
garantia de intercessão pela nossa alma para a salvação
eterna.
Um coração quebrantado, Deus não rejeita (Sl
34:18). Ele é um coração sincero, não se deixa levar pelo
orgulho nem se recusa a receber a correção (Jr 29;13).
Muitos crentes entendem erradamente que podem
agradar a Deus de alguma forma ou que precisam fazê-lo
para que as suas orações sejam atendidas, o que inclui
jejum e alguns sacrifícios (como se abster de alimentos,
da Internet, etc.) Mas como agradar a Deus se somos tão
miseráveis e minúsculos diante da sua magnanimidade?
Deus se agrada de nós porque nos tornou agradáveis a
Ele em Cristo e quando obedecemos a sua Palavra e
vivemos no seu amor, porque é para isso que fomos
chamados. Quanto a merecer as suas bênçãos, porém,
não há necessidade, porque tudo o que Ele nos dá é por
sua maravilhosa graça. Ao orarmos, devemos
simplesmente nos entregar em seus braços, na sua total
dependência, desnudando-nos diante dele, que sabe de
todas as coisas e nada lhe é oculto, de forma contrita e
quebrantada. De outra forma, com o coração endurecido,
impenitente e cheio de amargura, jamais poderemos
esperar que as nossas orações sejam atendidas. Em
primeiro lugar deve estar o zelo pela glória de Deus,
sendo-nos transformados e moldados pelo seu Santo
Espírito, uma obra que transforma o nosso coração de
pedra em um coração de carne, vivo, pulsante, maleável.
Exercício da fé2

Outra marca importante da oração de poder é o


exercício da fé. O Senhor Jesus declarou: “Por isso, vos
digo que tudo quanto em oração pedirdes, crede que
recebestes, e será assim convosco (Mc 11:24). Já vimos
anteriormente que a fé que remove montanhas não é
fruto do nosso poder, mas de um agir soberano de Deus.
O exercício da fé não é algo místico, mas a prática da
nossa fé naquele que tudo pode. A fé que opera em nós
envolve muito mais que crer e confiar, mas nos leva a
viver uma vida prática, coerente com a fé que
professamos. A fé da oração bem-sucedida não é aquela
que funciona como o pensamento positivo ou a lei da
atração, que traz para o crente todos os seus desejos e
lhe dá a vitória. A fé de sucesso, aquela que vem
diretamente do trono da graça, mantém o crente firme e
de pé, mesmo que a tão esperada bênção não chegue,
mesmo que a resposta da oração nunca venha, porque
ele não está firme apenas nas promessas de Jesus, mas
no Jesus das promessas. Abraão creu na promessa de
Deus de que viria a ser pai de uma grande nação (Gn
12:2; Rm 4:11; Hb 11:8-19). Mas terá ele visto essa
grande nação? Independente de não tê-la avistado, ele
permaneceu na fé, jamais se desviou dela, nem mesmo
quando Deus lhe pediu que sacrificasse o seu filho,
Isaque (Gn 22). Jó, quanto posto a prova, não perdeu a
sua fé, que era muito mais que a sua confiança inabalável

2 No livro “O poder da fé”, exploro a questão da fé na vida cristã,


suas características e como ela pode transformar totalmente a nossa
vida. À venda na Amazon.
em Deus, mas envolvia também a integridade do seu
caráter. Isto é exercitar a fé: ser íntegro.
Algo muito importante com relação à “fé e oração”
é que a fé não é apenas uma certeza no poder de Deus,
confiança no seu agir e esperança na sua provisão. O
princípio da nossa fé é a doutrina. Isto significa que a fé
envolve um conjunto de crenças bíblicas a respeito de
Deus e da sua salvação. Quando cremos em Deus,
cremos com a visão que temos dele, que é aquela que
aprendemos na sua Palavra. Por que tantas pessoas
decretam bênçãos e exigem de Deus o cumprimento das
suas promessas? Por que a fé de muitos significa tomar
posse de algo que Deus não prometeu, mas crer assim
mesmo até que aconteça? Por que a fé de tantos crentes
que lotam templos em busca de vitórias e milagres está
condicionada ao uso de objetos “ungidos” e à
participação nas campanhas mais bizarras? A razão é
uma só: a sua fé – que é pregada e ensinada pelos seus
tutores espirituais – não possui fundamentação bíblica.
Ela é supersticiosa e sincretista. O que vale para essas
pessoas é “se funciona, então está tudo certo”, mesmo
que vá contra tudo aquilo que a Palavra de Deus ensina.
Que fé é essa que pode existir distinta da Bíblia? Essa fé
não possui nenhum valor para Deus, não traz poder
algum para a oração do cristão. Existe outro ser
interessado em responder a determinadas orações
ungidas, mas o seu nome não é Jeová.
Obediência

A fé está presente na vida do crente desde o início


da sua conversão. Afinal de contas, ela é um dom do
Espírito Santo dado ao pecador para que creia em Cristo
para a salvação pela graça de Deus (Ef 2:8,9). É essa fé
salvífica, vivificada pelo Espírito de Deus que está
presente em tudo na vida cristã, inclusive na oração. Essa
fé nos leva à marca da obediência. Poucos associam a
resposta da oração e uma fé obediente. Até aqui vimos
que Deus nos dá aquilo que pedimos segundo a sua
vontade. A obediência aparece como outro elemento no
ensino geral das Escrituras como condição para a
resposta às nossas orações. O apóstolo João escreveu:
“Amados, se o coração não nos acusar, temos confiança
diante de Deus; e aquilo que pedimos dele recebemos,
porque guardamos os seus mandamentos e fazemos
diante dele o que lhe é agradável” (1 Jo 3:22). Perceba
como o poder da fé não está em gritar, determinar,
profetizar, exigir, tomar um copo com água, subir ao
monte, orar pela madrugada, estar vestido de paletó e
gravata ou outra coisa qualquer. O poder da oração está
na fé obediente, que se revela por meio de um
comportamento santo que agrada a Deus.
Um coração obstinado não é aceito por Deus.
Como oraremos se permanecemos nos mesmos erros
sem reconhecê-los? O crente precisa de uma vida reta
diante de Deus (Hb 10:22). Não podemos orar com as
mãos sujas, a não ser para reconhecer a nossa sujeira e
pedir perdão (Tg 5;16). Precisamos desenvolver a nossa
santidade em todas as situações da nossa vida. É claro
que jamais alcançaremos aqui o nível de perfeição que
existirá na glória, mas como perfeitos em Cristo que
somos, a nossa vontade deve ser viver de acordo com os
padrões de Deus, ansiar por eles, buscá-los. Deus
lamenta a respeito do povo de Israel: “Quem dera que
eles tivessem tal coração, que me temessem e
guardassem em todo tempo todos os meus
mandamentos, para que bem lhes fosse a eles e seus
filhos, para sempre” (Dt 5:29). Vemos como o sucesso da
nossa vida espiritual está ligado à obediência aos
mandamentos de Deus. Muito mais que uma vida cristã
ritualística ou uma oração mecânica, o que o Pai espera
de nós é que o obedeçamos (1 Sm 15:22). Não adianta
declararmos a Deus o nosso amor em longas orações se
de fato não guardamos a sua Palavra para praticá-la (Jo
14:15; Mt 15:19). Talvez muitas das nossas orações
sejam totalmente desnecessárias. Bastaríamos obedecer
a Deus para que as respostas surgissem.

Perdão

Ainda outra marca da oração é o perdão. O que se


espera geralmente de um livro ou um estudo que fala
sobre oração, é que ele traga declarações que consolem
os corações com palavras de prosperidade e vitória. Ou
quem sabe fórmulas prontas para uma oração poderosa,
ungida e eficaz, capaz de mover o coração de Deus e
atrair as suas bênçãos. Parece que o mínio esforço é o
mais apreciado, o imediatismo. A frustração ao ler um
livro como este, é saber que existe muito mais o que
devemos fazer além de cruzar os braços ou abrir as mãos
e esperar que o anjo traga a bênção. Perdoar é uma das
atitudes do crente que ora. Uma oração bem-sucedida
vem acompanhada do perdão. Sem perdão não há oração
(Mc 11:25,26). O que é uma oração não atendida? É
aquela que parte de um coração que resiste em perdoar.
Ao pensar de maneira inversa, teremos o segredo para
uma oração atendida por Deus: um coração aberto para
dar e receber perdão. Quando estudamos a oração do Pai
Nosso, percebemos que a única petição que merece um
comentário do Senhor é aquela relacionada ao perdão: “e
perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos
perdoado aos nossos devedores” (Mt 6:12). A própria
petição já declara que nós “temos perdoado” quem nos
ofende. Mas o Senhor acrescenta: “Porque, se perdoardes
aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celeste
vos perdoará; se, porém, não perdoardes aos homens [as
suas ofensas], tampouco vosso Pai vos perdoará as
vossas ofensas” (vs. 14,15).3
O sucesso da nossa oração está na nossa vida
santa diante de Deus e na submissão à sua vontade (Sl
147:3; Os 5:11; Cl 3:13; Dt 5:29; At 5:29; Hb 5:8,9), o
que envolve estar em dia com os nossos relacionamentos,
o que envolve ofertar e liberar perdão, ser humildes e
justos, acolher os pecadores como Cristo acolheu. Não
somos melhores do que ninguém. Ao contrário disso, o
3 No livro “Pai Nosso: uma oração com a vida”, comento a respeito
do perdão que já temos em Cristo dos nossos pecados, de modo que
já não existe mais nenhuma condenação que pese sobre nós. O
perdão que nos é dado na conversão não está condicionado ao
nosso perdão aos outros, mas é a regeneração que torna este
possível.
que se vê na maioria das igrejas são desavenças entre
irmãos, fofocas, uma vida de aparências que deixa
transparecer a falta de amor, de misericórdia e,
consequentemente, de perdão. Se não estamos dispostos
a perdoar, Deus não está disposto a nos ouvir. Se
resistimos em abrir mão do nosso orgulho para pedir
perdão a quem ofendemos, Deus resistirá em abrir as
mãos para atender as nossas orações. Não só as orações,
como também a aceitação das nossas ofertas – o que
pode simbolizar todo o serviço cristão e o culto a Deus –
só são legitimadas pelo perdão. O Senhor nos ensinou:
“Se, pois, ao trazeres ao altar a tua oferta, ali te
lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti,
deixa perante o altar a tua oferta, vai primeiro reconciliar-
te com teu irmão; e, então, voltando, faze a tua oferta”
(Mt 5:23,24). Nisso podemos perceber como o culto a
Deus está intimamente relacionado à nossa atitude uns
para com os outros.

Ações de poder!

1. O verdadeiro poder da oração está em Deus! A


parte que nos compete é submetermos toda a
nossa vida a Ele, através de um coração contrito e
quebrantado, desprovido de orgulho, despido de
arrogância. Quem não se quebranta, Deus
quebranta. Ore com o coração cheio de humildade,
reconheça os seus pecados, peça perdão.
2. Faça uso da sua fé na oração. Creia que Deus está
disposto a abençoá-lo segundo as suas reais
necessidades, algo que somente Ele conhece. Não
aplique à sua vida cristã uma fé mística, não faça
uso de objetos ungidos, não barganhe com Deus
as suas bênçãos, porque tudo que Ele nos dá ou
nos nega é por sua maravilhosa graça. Pratique a
fé fundada na doutrina correta, uma fé racional e
obediente, cheia de temor e amor a Deus.
3. Jamais esqueça que a obediência precede a
oração. Procure conhecer os mandamentos de
Deus por meio da leitura e do estudo da Bíblia,
assim você saberá o que E espera que você faça e
o que deseja que você não faça. A oração sem
obediência a Deus é totalmente vã.
4. Perdoe e peça perdão. Não porque precisa ser
atendido nas suas orações, não porque se não
perdoar Deus não o abençoará, mas porque o
amor é fruto do Espírito, e um coração cheio do
amor do Espírito, perdoa sempre. O perdão não
restaura apenas o poder das nossas orações, mas,
acima de tudo, o nosso relacionamento com Deus
e com as pessoas. Esse teve ser o nosso objetivo,
sempre.
Fatores importantes
na oração
“Pedro, pois, estava guardado no cárcere;
mas havia oração incessante a Deus por
parte da igreja a favor dele.”
Atos 12:5

Como já vimos e vale a pena salientar, existem fatores


que não possuem tanta importância quando oramos: o
local da oração, a roupa que se está vestindo, a
formalidade nas palavras, o nível da oratória, a posição
física, o tom da voz. Todos esses são fatores externos
que em nada influenciam na chegada da oração diante de
Deus, porque ela é algo que flui de dentro para fora. Não
podemos ser desrespeitosos contra Deus nem atrapalhar
a vida das pessoas quando oramos ou fazê-las tropeçar,
mas o que importa mesmo é que a nossa oração
contenha verdade. Percebemos em algumas orações a
total falta de objetividade, isto é, não existe um foco, um
motivo específico nem uma atitude coerente ao orar.
Também vemos que algumas orações começam a ser
feitas e logo são abandonadas. Vamos listar três fatores
importantes à nossa vida de oração.
Persistência

O primeiro fator importante é a persistência.


Devemos literalmente “incomodar” a Deus como ensina o
Senhor Jesus, em Lucas 18:1-8. Algumas pessoas
desistem de orar tão logo achem que a resposta está
demorando a chegar. Todavia, independente da resposta,
devemos persistir, até que Deus nos mande parar. Essa
persistência não significa cobrar nada de Deus, mas
permanecer em crer que dependemos dele. O que
acontece quando desanimamos e paramos de
“incomodar” Deus? Que mensagem transmitimos? A
primeira mensagem é o desânimo. Se paramos de
suplicar a Deus por algo, pode ser que tenhamos
desanimado por não acreditar que Ele nos ouvirá.
Algumas pessoas oram até que ouvem o silêncio de Deus
e se conformam, ao dizer: “Deus trabalha no silêncio”.
Mas, na verdade, elas estão incomodadas pela ausência
de resposta e talvez até acreditem que Deus não irá lhes
responder. Quando desanimamos nas nossas orações,
paramos de orar, desistimos de buscar a Deus para a
solução dos nossos problemas porque cremos que Ele
não quer ou não pode fazer coisa alguma. Ou
suspeitamos que os nossos pedidos não são legítimos,
então não vale a pena insistir. O desânimo pode trazer
revolta e até mesmo o abandono da fé.
A segunda mensagem é a autoconfiança. Quando
deixamos de persistir na oração, pode significar que
chegamos à conclusão de que podemos resolver as coisas
do nosso modo. Como Saul, que ofereceu o sacrifício a
Deus antes da chegada do profeta Samuel (1 Sm 13:8-
15), alguns crentes não conseguem esperar pela resposta
de Deus, mas preferem resolver tudo do seu modo
quando suspeitam que Deus está “demorando” ou
quando Ele os atende de maneira diferente daquela que
eles esperavam. Existem coisas na nossa vida que não
exigem uma resposta de Deus, mas, ainda assim,
carecem de oração, de reconhecimento da nossa
dependência dele: acordar, respirar, trabalhar, estudar,
brincar, louvar. Tudo isso fazemos quase que
mecanicamente, mas ainda assim não devemos jamais
parar de orar, de ter sempre a consciência de que Deus
está no controle de tudo e que sem ele, nada somos,
temos ou podemos. Quando precisamos de algo, de uma
solução, de uma resposta, de uma direção ou mesmo de
um milagre, precisamos orar até que a resposta apareça
e seguir sempre em oração depois que ela aparecer.
Algumas das respostas das nossas orações já estão na
Bíblia, basta apenas que a leiamos.
Oração é luta! Epafras, do qual Paulo faz menção
na sua epístola aos Colossenses, era um homem de
oração militante, que jamais deixava de interceder por
aqueles irmãos, para que permanecessem firmes e
seguros na vontade de Deus (4:12). Ele verdadeiramente
zelava por seus irmãos na fé (v. 13) e esse zelo o impelia
a manter firme a sua vida de oração e a insistir na sua
intercessão. Por que? Porque se a sua luta ao orar era
constante, muito maior era a luta dos irmãos em se
manterem firmes na fé. Isso é um processo constante,
uma guerra travada entre o crente e seus inimigos – o
mundo, a carne e o diabo, como veremos adiante.
Todavia, a persistência na oração deve estar ligada ao
clamor a Deus pela realização da nossa vontade. Nem
sempre os nossos planos estarão de acordo com aquilo
que Deus quer para nós. É preciso visão bíblica e coração
sensível para compreender essa verdade e saber o
momento certo de parar de orar por uma causa. Quando
oramos segundo a vontade de Deus, a nossa oração deve
persistir até obtermos uma resposta (At 12:5), que pode
ser sim ou não.

Objetividade

A objetividade é outro fator relevante para a nossa


oração. Embora Deus saiba do que precisamos e o que
pediremos, é interessante que sejamos bastante
específicos naquilo que queremos (Lc 11:9-13). Isto não
significa detalhar ou determinar o que, como, quando e
onde Deus irá nos abençoar, mas expor as nossas
necessidades de forma sincera Àquele que deseja nos dar
coisas boas. O apóstolo Tiago escreveu: “Nada tendes,
porque não pedis”. Então, vamos pedir, não importa o
que seja, porque Deus irá nos abençoar. Não! Ele
continua: “pedis, e não recebeis, porque pedis mal, para
esbanjardes em vossos prazeres” (Tg 4:2,3). E qual era o
prazer daqueles que pediam, mas nada recebiam de
Deus? O v. 4 revela: “Infiéis, não compreendeis que a
amizade do mundo é inimiga de Deus? Aquele, pois, que
quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus”.
Dessa forma, a Palavra de Deus nos revela que o nosso
objetivo ao orarmos não deve estar na satisfação dos
apetites pelas coisas do mundo, coisas que são por si só
inimigas de Deus. E o que vemos em muitas orações
cheias de “poder” e de “unção” é isto: clamor por bens
materiais, por sucesso pessoal, por prosperidade
financeira, por tudo que é material, perecível e mundano,
sem qualquer finalidade santa, altruísta e solidária.
Não basta pedir, é preciso saber o que pedir. Deus
está disposto a nos dar, segundo a sua vontade, aquilo
que lhe pedimos com fé (Mt 7:7-12). O objetivo dos
nossos pedidos serem atendidos é que o Pai seja
glorificado no Filho (Jo 14:13,14). Então, quando formos
objetivos quanto àquilo que pediremos, devemos nos
perguntar: isso redundará em glórias a Deus? Não é
preciso especificar o tamanho, a cor, a textura, o valor, o
local, a forma da bênção, mas ter como objetivo glorificar
o Pai no Filho. Então começamos a entender porque
muitas das nossas orações não são atendidas, porque
Deus fica em silêncio e porque parece que Ele se
ausentou de nós. O problema não está em Deus, mas na
qualidade das nossas orações. Somos tão objetivos
quanto à qualidade material das nossas petições que nos
esquecemos das suas implicações espirituais. Em todas as
nossas orações devemos buscar em primeiro lugar o
Reino de Deus e a sua justiça, assim, as demais coisas
nos serão acrescentadas (Mt 6:33).

Perseverança

O terceiro fator é a perseverança. O apóstolo Paulo


ordena: “Perseverai na oração, vigiando com ações de
graças” (Cl 4:2). Essa perseverança significa continuar e
esperar. Não oramos para ter respostas, mas para nos
relacionar com Deus, estar com Ele, revelar a nossa total
dependência da sua Santa presença. Não devemos
esmorecer nas nossas orações, esquecer ou desistir de
orar. Esse é um diálogo que precisa ser constante, diário,
ininterrupto. A perseverança demonstra a nossa
dependência de Deus. Mesmo diante das tribulações,
mesmo quando a resposta parece não vir, mesmo quando
ouvimos um “não” enfático de Deus, precisamos
perseverar. Não falamos de perseverar em pedir algo
quando já está claro que Deus nos negou, mas em orar
sempre. A oração deve ser um hábito, deve estar
arraigada à nossa vida como a necessidade de alimento.
Jesus orou até o último instante na cruz, clamando por
misericórdia para os seus algozes. A oração é uma
constante vigília (Lc 21:36), ela é incessante (1 Ts 5:17).
Muitas vezes nos sentimos desestimulados em nossa vida
de oração por causa de problemas que nos sobrevêm e
até mesmo de pessoas que nos desanimam. Todavia, a
despeito das multidões, assim como Bartimeu (Mc 10:46-
51) devemos continuar a clamar. Sempre que contamos
com a vontade de Deus para nós, a vitória é certa,
porque não é nossa, mas dele. E a nossa vitória é Ele!

Ações de poder!

1. Persista na oração não apenas pelos seus projetos,


mas por seus familiares, seus amigos, os
missionários, os dirigentes do país, os perdidos, as
causas sociais. Ore não apenas porque quer ver
uma resposta, mas por entender que este mundo
depende de Deus e precisa dele constantemente.
Não oramos porque precisamos de coisas, mas
porque precisamos de Deus!
2. Peça o que você precisa para viver neste mundo
de maneira santa, mas sem jamais tira os olhos do
alvo principal: o Reino de Deus. Como saber se os
nossos pedidos estão de acordo com a ética e os
valores do Reino de Deus? Como saber se os
nossos planos e sonhos lhe renderão glórias? A
resposta é uma só: basta ler e estudar a sua
Palavra.
3. Não desista de orar, não desanime! O inimigo da
nossa alma deseja que as nossas orações cessem,
que pensemos que não dependemos mais de
Deus, que abandonemos a nossa piedade. Insista,
mesmo que tudo lhe pareça difícil, mesmo que
pareça que Deus está em silêncio. Ele não está.
Siga em oração.
Principais atitudes
na oração
“Dois homens subiram ao templo com o propósito
de orar: um, fariseu, e o outro, publicano.”
Lucas 18:9-14

O Senhor Jesus contou uma parábola que envolve dois


personagens: o fariseu e o publicano (Lc 18:9-17).
Enquanto os fariseus eram considerados modelos de
religiosidade (ao menos aparente), os publicanos eram
desprezados porque trabalhavam para o Império Romano
e considerados corruptos. Estando a orar, o fariseu falava
de si para si, enquanto se gabava das suas boas ações. O
publicano, entretanto, sequer ousava erguer a cabeça,
mas apenas batia no peito e clamava pela misericórdia de
Deus. Duas atitudes – uma incorreta e outra abençoada –
que demonstram que muito mais importante que o ato de
orar é o conteúdo espiritual daquele que pratica o ato.
Muito mais importante que ofertar é a intenção de quem
oferta. Muito mais importante que adorar é a disposição
interior do adorador. As ofertas, a oração e a adoração
são cobradas de nós por Deus, mas podem ser rejeitadas
por Ele, caso não contenham o essencial: verdade. Isso
está bastante claro no capítulo primeiro do livro do
profeta Isaías, onde o Senhor repreende o seu povo por
coisas que Ele mesmo os tinha mandado praticar (vs. 10-
14). Por que eles se tornaram condenáveis, mesmo
enquanto faziam o que o Senhor lhes ordenara? A
resposta está no v. 15: “Pelo que, quando estendeis as
mãos, escondo de vós os olhos; sim, quando multiplicai
as vossas orações, não as ouço, porque as vossas mãos
estão cheias de sangue”.
O poder da oração se revela num movimento
vertical de cima para baixo – Deus nos alcança com a sua
graça maravilhosa – que é respondido de baixo para cima
– nós correspondemos a Ele com uma nova vida –, o que
só é possível através do movimento de dentro para fora.
Esse é um movimento cheio de verdade, que não ora por
orar nem oferta por ofertar. Que não esconde de Deus o
pecado, antes, busca-o para receber o perdão e a
transformação. Sem verdade não há vida nem oração.
Existem três atitudes que devem fazer parte da nossa
oração para que ela seja repleta dessa verdade.

Vida

A primeira atitude é a vida. Ter vida significa estar


em Cristo, a verdadeira vida. Mas também quer dizer
viver a nossa fé de maneira prática e não apenas
discursiva. Muitas pessoas parecem vivas, mas estão
mortas em sua fé, pois não possuem obras (Tg 2:17). A
nossa oração deve ser o reflexo de uma vida
transformada por Jesus e que se mostra na prática
verdadeiramente viva (1 Ts 2:12). Aquele que tem as
palavras de vida eterna (Jo 6:68) produz verdade em nós
coerente com essas palavras. Quando o Senhor envia
carta à igreja de Sardes (Ap 3:1-6), faz uma séria
declaração contra ela: “Conheço as tuas obras, que tens
nome de que vives e estás morto” (v. 1). Aquela igreja
parecia ter se apegado às suas primeiras obras, mas
tornara-se espiritualmente fria e insensível (SHEDD). O
Senhor alerta: “Sê vigilante e consolida o resto que está
para morrer, porque não tenho achado integras as tuas
obras na presença do meu Deus” (v. 2). Vemos
claramente que havia uma distorção e uma incoerência
entre a fé que eles professavam e as obras que
praticavam: não havia ali integridade. Não adianta uma
vida de oração para uma pessoa que não tem uma vida
de integridade e boas obras; que ora de todas as formas,
mas não encontra tempo nem oportunidade para amar,
perdoar e servir. Por isso, o subtítulo do meu livro sobre a
oração do Pai Nosso é “uma oração com a vida”.
O texto de Gênesis 4:1-8 mostra a oferta os irmãos
Caim e Abel apresentaram diante de Deus. A oferta de
Abel foi aceita, enquanto a de Caim, rejeitada. Isso
aconteceu porque Deus está mais preocupado com o
conteúdo do nosso caráter e não se deixa levar por
manifestações espiritualistas meramente externas. A vida
de Caim não estava condizente com a sua oferta. Se não
há verdade, não há vida; se não há vida, a oração é
morta; e se a oração é morta, Deus não a ouve. Tudo em
nós deve ser vivo e gerar vida, deve refletir a imagem de
Deus e a sua santidade. O que faz a distinção entre um
cristão e um não-cristão é a vida, o caráter. Só posso
dizer que sou salvo e pretender ter as minhas orações
atendidas se a minha vida inspira santidade. Quando,
porventura, cairmos, o caminho é o arrependimento e o
clamor a Deus pelo seu perdão. O apóstolo João
escreveu: “Filhinhos meus, essas coisas vos escrevo para
que não pequeis. Se, todavia, alguém pecar, temos um
Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo; ele é a
propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos
nossos próprios, mas ainda pelos do mundo inteiro” (1 Jo
2:1,2). Não existe justificativa para pecar, mas também
não há nenhuma razão para não buscarmos o perdão de
Deus e passar a fazer o que é certo.

Ação

A segunda atitude na oração é a ação. Orar não


significa esperar que tudo caia do céu, mas envolve
atitudes com relação àquilo que temos colocado diante de
Deus. Sentar-se debaixo do alpendre, contemplar o
campo e não plantar a semente nem regá-la, não trará a
colheita, por maior que seja a fé do agricultor. Oração e
ação precisam caminhar juntas. Alguns textos bíblicos são
interpretados de maneira equivocada quando o assunto é
“deixar nas mãos de Deus” os nossos problemas. Gostaria
de citar alguns. No Salmo 55:22, o rei Davi nos
aconselha: “Confia os teus cuidados ao Senhor, e ele te
susterá; jamais permitirá que o justo seja abalado”. No
Salmo 37:5, ele diz: “Entrega o teu caminho ao Senhor,
confia nele, e o mais ele fará”. O rei Salomão diz em seus
provérbios: “Confia no Senhor de todo o teu coração e
não te estribes no teu próprio entendimento” (Pv 3:5). No
Novo Testamento, alguns textos também nos chamam a
não confiar na nossa própria força, mas em Deus; a não
vivermos ansiosos, mas entregarmos a Ele toda a nossa
vida (Lc 12:22-30; Fp 4:6,7; 1 Pe 5:7). O que se tem
auferido erroneamente desses e de outros textos, é que
não precisamos fazer absolutamente nada, mas basta
confiar em Deus e esperar por sua provisão, o que não é
verdade. Alguns chegam a aconselhar que não façamos
absolutamente nada, mas esperemos o agir de Deus.
Então, qual é a verdade?
Em primeiro lugar, como já vimos, mesmo para
acordar, respirar ou praticar qualquer outro ato
geralmente mecânico precisamos da vida, da força e da
graça que vêm de Deus. Só existimos porque Ele assim o
quer e permite. Não precisamos passar por provas nem
necessitar de alguma bênção ou milagre para sabermos
que precisamos de Deus a todo instante. Em segundo
lugar, mesmo aquilo que sabemos que podemos e
devemos fazer, Deus sempre deve estar presente na
nossa mente, por entendermos que, se Ele não edificar a
casa, em vão trabalham os que ela edificam; se Ele não
guardar a cidade, em vão vigiam as sentinelas, conforme
escreveu Salomão (Sl 127:1). E ele – que tinha inúmeros
serviçais ao seu dispor – ainda diz: “Inútil vos será
levantar de madrugada, repousar tarde, comer o pão que
penosamente granjeastes; aos seus amados ele o dá
enquanto dormem” (v. 20). Então não precisamos
trabalhar, porque durante a noite Deus trabalha por nós?
Não precisamos enviar currículos porque pela manhã
Deus enviará um emprego à nossa porta? Não
precisamos estudar para a prova nem ir ao médico
quando estamos doentes? Não é isso que o texto diz.
Existem problemas que não estão ao nosso alcance
resolver, como milagres de cura, a conversão dos
perdidos, entre tantos outros. Mas aqueles que podemos,
devemos resolvê-los sob a direção de Deus, então
contaremos com a sua graça e o seu poder e buscaremos
na Bíblia a orientação que precisamos – inclusive para
evangelizar os perdidos e visitar os enfermos. Como já foi
dito, existem situações que não precisamos orar e
perguntar nada a Deus, apenas agir de acordo com aquilo
que Ele já determinou na sua Palavra, com oração e
súplica. E tudo quanto planejarmos, não devemos bater o
martelo: farei isso e aquilo, deste e daquele jeito em
determinado tempo. A orientação que Deus nos dá é a
que está em Tiago 4:13-17, onde em todos os nossos
projetos, não importam quantos e quais, incluímos: “Se o
Senhor quiser, não só viveremos, como também faremos
isto ou aquilo” (v. 15). Sabemos o que precisamos fazer
em diversas situações da nossa vida e, se Deus quiser, o
faremos. Trabalhamos graças a Deus, recebemos o nosso
pagamento graças a Ele e graças a Ele, também,
compraremos o que precisamos, se Ele quiser. A oração
acompanha a ação, a dependência total de Deus e o
reconhecimento da sua presença em cada átomo da vida.
As nossas ações, contudo, não devem ser apenas
com relação àquilo que colocamos diante de Deus, mas
toda a nossa vida deve ser operante em obras, afinal de
contas, elas são um dos objetivos da nossa salvação (Ef
2:8-10). A vida cristã é muito mais que contemplativa, ela
nos conduz a um envolvimento diário com a obra do
Senhor. A oração serve como apoio ao que fazemos
cotidianamente; ela nos fortalece na medida em que
mantemos comunhão com Deus e somos direcionados
por Ele. Ela deve, porém, nos colocar a caminho,
transformar-se em uma prática constante, não somente
do ato de orar, mas também de todas as ações que
compõem a nossa vida. Muitos cristãos são assíduos
frequentadores de círculos de oração, fazem longas
orações em casa, pregam e ensinam sobre oração, mas
não se envolvem nas demais estâncias da vida cristã,
como, por exemplo, o evangelismo, a diaconia, missões,
as obras socais da Igreja, o ensino, o discipulado, etc.
Sem contar a sua atuação como servo de Deus no lar, na
escola, na faculdade, no trabalho, enfim, em todos os
locais e situações.

Reflexão

A terceira atitude é a reflexão. A nossa vida de


oração deve ser o reflexo de uma vida comprometida com
Deus e com a sua Palavra (Tg 1:22). A nossa oração não
pode vir carregada de hipocrisia e de soberba. Se não
formos humildes, Deus não nos ouvirá. Jesus diz que o
publicano saiu com a resposta da sua oração, voltando
justificado para casa; enquanto o fariseu, não. A
religiosidade aparente do fariseu não deixava
transparecer o verdadeiro conteúdo do seu caráter. Quem
se exalta será humilhado e quem se humilha, será
exaltado (Mt 23:12). Quanto mais nos esvaziarmos de
nós mesmos para nos enchermos de Deus, mais iremos
agradá-lo e com mais fé oraremos. O que pedimos a
Deus nas nossas orações deve refletir nas nossas ações.
Não podemos pedir a Deus livramento do mal enquanto
nos colocamos em situações de risco. Não podemos pedir
a Deus que tome conta totalmente da nossa vida
enquanto agimos sem confiar nele. Não podemos pedir a
Deus que não nos deixe cair em tentação se estamos
sempre nos cercando de situações que nos tentam para
pecar. E se pedimos perdão pelos nossos pecados,
devemos estar sinceramente arrependidos e decididos a
não pecar mais, ainda que venhamos a cair mais tarde.
Mas o desejo do nosso coração deve refletir aquilo que
pedimos a Deus.
Num outro sentido, devemos refletir sobre a nossa
fé, as nossas atitudes e a essência daquilo que temos
colocado diante de Deus. O que tem impedido que as
nossas orações cheguem a Deus? Façamos o retorno à
estrada certa (1 Ts 2:12; João 6:68; At 5:20; 23:3 Jn
1:4,5; Tg 1:22; 2:21; Gn 22:1-14; 1 Jo 2:6; Mt 23:27). É
preciso que reflitamos sempre sobre nossas ações e
nossas intenções, sobre a nossa comunhão com Deus e a
sua Palavra. Essa reflexão nos levará a muitas verdades e
se refletirá no nosso comportamento, transformando-o.
Esse comportamento transformado deve servir de
testemunho ao mundo da obra que o Senhor realizou em
nós. A falta dessa reflexão era um dos motivos da queda
do povo de Israel. O Senhor disse por intermédio do
profeta Oseias: “O meu povo está sendo destruído,
porque lhe falta o conhecimento”, e acusa os sacerdotes
por este erro, porque eles mesmos não buscavam esse
conhecimento para instruir o povo (Os 4:6). Como saber
o que fazer sem ler e estudar a Palavra de Deus? Aqui se
revela, também, a responsabilidade dos pastores da
Igreja em instruir os fiéis, em ensiná-los na igreja e
incentivá-los a continuar a aprender em casa e refletir
sobre as Escrituras. Quando isso não acontece, qualquer
vento de doutrina pode desvirtuar não somente o poder
da oração, mas tudo o mais na vida cristã.

Ações de poder!

1. Coloque vida na sua oração! Ore com todo o seu


ser e seja coerente com a vida que Deus expressa
em você. Nem sempre é fácil nos identificarmos
com as nossas palavras e boas intenções, mas
sempre é necessário. Viva a Palavra, viva para
Deus, viva para servi-lo e adorá-lo com tudo que
você é e possui.
2. Tudo em nós deve gerar ação, atitude,
comportamento. A teologia (crença correta,
ortodoxia) só faz sentido quando posta em prática
(ortopraxia, prática correta), quando
compreendemos a verdade bíblica para praticá-la.
Nada na vida cristã é mera contemplação. O
apóstolo João escreveu sobre o amor: “Ora, aquele
que possuir recursos deste mundo, e vir a seu
irmão padecer necessidade, e fechar-lhe o seu
coração, como pode permanecer nele o amor de
Deus? Filhinhos, não amemos de palavra nem de
língua, mas de fato e de verdade” (1 Jo 3:17,18).
Conhecer sobre o amor, falar sobre ele e dizer que
ama não faz sentido algum se ele não for colocado
em prática.
3. Mais uma vez a oração nos chama a uma vida
coerente com o nosso chamado para sermos
santos como o Senhor é Santo (1 Pe 1:16). O
apóstolo Paulo ordenou a Timóteo: “Quero,
portanto, que os varões orem em todo lugar,
levantando mãos santas, sem ira e sem
animosidade” (1 Tm 2:8). As mãos santas
acompanham a oração, fazem parte dela; elas são
membros do corpo no qual habita uma alma
santificada por Deus, justificada por Cristo. Oramos
como santos porque o Senhor nos faz santos. E
como santos devemos proceder.
Quando nossas
orações não são
atendidas?
“Sabemos que Deus não atende a pecadores;
mas, pelo contrário, se alguém teme a Deus
e pratica a sua palavra, a este atende.”
João 9:31

O Senhor Jesus nos ensinou a pedir com fé em seu


Nome para sermos atendidos. Ele nos disse que quando
batermos, a porta nos será aberta; quando pedirmos,
receberemos; e quando buscarmos, encontraremos. Se
tomarmos este ensino ao pé da letra, sem levar em conta
o ensino geral das Escrituras, acreditaremos que basta
crer e pedir para recebermos. Neste caso, crer que
receberemos. Todavia, nem todas as nossas orações
recebem uma resposta positiva de Deus, o que deve ser
motivo de alegria e alívio para nós. Existem várias
situações e diversos tipos de pessoas que têm a sua
resposta de oração negada. Por exemplo: aos que pedem
com maus motivos (Tg 4:3), aqueles que contemplam
vaidade no seu coração (Sl 66:18), os que vivem em
pecado (Is 59:2; Jo 9:31), os que servem a Deus
indignamente (Ml 1:7-9), aqueles que abandonam a Deus
(Jr 14:10,12), os que rejeitam o chamado de Deus (Pv
1:24-28), os que são mudos ao clamor do pobre (Pv
21:13), os homicidas (Is 1:15; 59:3), os idólatras (Jr
11:11-14; Ez 8:15-18), os duvidosos (Tg 1:6,7), os
hipócritas (Jó 27:8,9), os orgulhosos (Jó 35:12,13),
aqueles que são justos aos seus próprios olhos (Lc 18:11-
14), aqueles que são inimigos dos santos e os oprimem
(Sl 18:40,41; Mq 3:2,4).
Temos alguns exemplos de orações não atendidas
na Bíblia; a de Saul (1 Sm 28:15), a dos anciãos de Israel
(Ez 20:3) e a dos fariseus (Mt 23:14). Isso mostra que
não é o poder da nossa fé quem determina se vamos ou
não ser positivamente atendidos por Deus, muito menos
a imposição do nosso querer ou a satisfação das nossas
necessidades. Quando não pedimos conforme a vontade
de Deus, a nossa oração é vã. De modo contrário, se
pedirmos alguma coisa conforme a sua vontade, e não a
nossa, Ele nos atende (1 Jo 5:14,15). A melhor maneira
de sabermos se estamos orando segundo a vontade de
Deus é conhecendo a sua Palavra e sempre colocarmos a
frase “seja feita a vossa vontade” no final de cada oração.
Assim, independente daquilo que pedimos, saberemos
que seremos atendidos, porque a vontade de Deus será
feita. E qual é esta vontade? Não podemos sondar a
mente de Deus para saber ao certo o que Ele deseja para
nós, o que Ele sabe que é realmente importante. A nossa
atitude ao orar é apenas crer e confiar que, independente
da resposta que receberemos, será o seu melhor para
nós.
A motivação ao orar influencia no tipo de resposta
que teremos de Deus (Tg 4:1-5). Ele conhece o nosso
coração, nossos desejos, nossos pecados e sabe se aquilo
que almejamos tem uma motivação santa ou egoísta. Se
não for para a glória do seu Nome, Deus com certeza não
nos atenderá naquilo que lhe pedimos. Então não adianta
enfeitar a nossa oração com termos teológicos
complicados, com citações bíblicas ou orar em “línguas
estranhas”, pois se a oração não vier carregada de
sinceridade, Deus não a atenderá (Sl 24:4,5). Deus não
ouve uma oração que não seja sincera, que diga algo
contra a verdade, que esteja carregada de hipocrisia (Ef
6:24). Não podemos orar por perdão se não estamos
arrependidos; por envolvimento na sua obra se não
estamos dispostos; por provações se de fato não as
desejamos. Aqueles que de fato amam o Senhor sabem
bem o que lhe pedir, conhecem a sua Palavra e estão
inteirados sobre os seus valores santos e imutáveis. Por
mais terrível que pareça, existem crentes que oram pela
derrota dos outros, pelo fracasso de planos traçados pelo
ministério da sua igreja, pela infelicidade do seu pastor.
Eles oram de si para si, porque provavelmente nem
possuam o Espírito Santo ou carecem de urgente
arrependimento.
A falta de fé no poder e na provisão de Deus
afasta de nós os seus ouvidos (Tg 1:5-8). Como
esperamos receber algo de Deus se não acreditamos que
Ele possa nos dar? Sem fé, as montanhas não se movem,
a resposta não chega, a provisão não aparece. É preciso
crer em Deus e desejar ardentemente a sua vontade.
Essa fé, porém, não é algo místico e irracional, mas está
alicerçada sobre as doutrinas bíblicas a respeito do que é
a fé e opera por meio da razão também, não daquilo que
se costuma chamar de “mistério”. Não existem mistérios
nas coisas de Deus, o que existe é o seu poder e a sua
soberana vontade sendo realizada (Hc 2:4; Ef 5:17; 2 Co
8:21; 1 Pe 2:12; Gn 17:1; Sl 40:8). A fé que Deus pede
de nós está mais ligada à obediência do que
simplesmente crer que Ele pode realizar o impossível. A
montanha se moverá e a bênção chegará não pela
medida da nossa fé, mas pela disposição soberana de
Deus em nos atender. A fé é um elemento importante,
mas não tem poder para mover a mão de Deus se Ele
assim não o desejar.
As nossas orações jamais ficarão sem uma
resposta. E essa resposta pode ser o silêncio de Deus.
Costuma-se dizer como certa cantora evangélica afirma
em sua música: “Quando Ele fica em silêncio é porque
está trabalhando”. O que seria este silêncio de Deus? A
falta de profecias e revelações trazidas por “profetas” na
igreja sobre o que Ele faz ou está prestes a fazer? Seria o
silêncio do crente que não “sente” nada da parte de
Deus, não tem o coração tocado e o corpo estremecido
por sua voz? Ou será porque todas as respostas que
apareceram não eram bem aquilo que foi solicitado em
oração? O “silêncio de Deus” pode indicar que Ele não vai
nos dar o que lhe pedimos, que os problemas não se
resolverão conforme imaginamos, que aquela bênção não
era para nós, que aquela vitória era para outro e que a
doença ainda permanecerá por mais algum tempo. Deus
não envia anjos nem há indicação alguma na Bíblia de
que Ele usa “profetas” para apresentar o relatoria mensal
das atividades divinas celestiais. A oração sempre é
escutada por Deus, que pode ou não atendê-la, que pode
ou não fazer conforme lhe pedimos. A nossa
responsabilidade é orar, confiar, esperar e fazer aquilo
que sabemos que é necessário. Como já foi
exemplificado: pedir uma farta colheita, mas plantar o
grão.

Ações de poder

1. Reveja o conteúdo das suas orações, se existe nela


algum elemento que contraria a Palavra de Deus.
Se você não tem obtido respostas, talvez tentar
obrigar Deus a agir contrariamente à sua própria
Palavra seja um dos motivos. Existem crentes que
pensam que Deus destruirá os seus inimigos, que
os aniquilará, que eles serão riscados da face da
terra, e oram por isso! Essa, claro, é uma
interpretação totalmente fora do contexto de
Isaías 41:11,12, que não leva em conta as
Palavras do Senhor Jesus: “amai vossos inimigos e
orai pelos que vos perseguem” (Mt 5:44).
2. Antes de começar a fazer as suas orações,
examine o seu próprio coração; faça uma
autoanálise para ver como andam seus
sentimentos, pensamentos, palavras e ações. Peça
ao Espírito Santo que traga à sua memória todos
os pecados cometidos e peça perdão. Siga a
sequência de petições da oração do Pai Nosso,
reconheça a Santidade e a Soberania de Deus
sobre a sua vida e submeta-se a Ele totalmente,
sem reservas.
3. Se você acha que Deus está em silêncio, abra a
Bíblia. Nela, o Senhor fala de maneira ininterrupta.
A sua Palavra jamais se cala, jamais nos falta,
jamais erra. Ela, com certeza, trará respostas
sobre este “silêncio” de Deus. Perceba se este
silêncio não é porque Deus fala algo que você
prefere não escutar. Ore para que Ele o torne
sensível e obediente à sua voz.
Os inimigos do
cristão e da sua
oração
“Olhar altivo e coração orgulhoso, a lâmpada
dos perversos, são pecado.”
Provérbios 21:4

Tudo na vida cristã apresenta obstáculos. Diz o mundo


que quando queremos muito algo, todo o Universo
conspira ao nosso favor. Se isso é uma grande ilusão com
relação às pessoas do mundo, muito maior será com
respeito à vida cristã. Quando o crente fiel em Cristo
Jesus deseja sinceramente fazer a vontade de Deus, tudo
conspira contra Ele. Isso inclui a sua vida de oração. A
oração é ferramenta, arma, escudo. Quando oramos
segundo a vontade de Deus, aquilo que Ele tem proposto
para acontecer, acontecerá e não existe nada que possa
impedir. Deus, mesmo sendo soberano e todo-poderoso,
conta com as nossas orações, a nossa intercessão: “Muito
pode, por sua eficácia, a súplica do justo” (Tg 5:16). A
oração é algo tão significativo que atrai inimigos. Vejamos
quais são.
A carne

O primeiro grande inimigo do cristão em sua vida


de oração é ele mesmo, a sua carne. Ainda
comentaremos outros dois, mas estes dependerão da
resposta que o crente lhes der, o que pode ser positiva
ou negativa, de acordo com aquilo que estiver em seu
coração. Embora tenhamos sido selados com o Espírito
Santo e sejamos os seus templos, ainda carregamos uma
natureza carnal, inclinada ao erro (Rm 7:18-25; 8:8-13;
Gl 5:17; 6:8; 1 Jo 2:16). É isso que influencia diretamente
nas nossas orações, o que compromete tanto o seu
conteúdo, quanto que elas aconteçam. A nossa mente
carnal nem sempre reproduz a mentalidade de Deus e
pode nos envolver em pensamentos maus e numa
imaginação nada santa (Rm 8:7; Ef 4:17; Cl 2:18; Pv
15:26; Ez 8:12). Se não dermos lugar ao Espírito, mas
permitirmos que a carne seja o leme da nossa vida, a
nossa oração também será comprometida pelo mundo e
pelo diabo. O que o Senhor nos ensina em sua Palavra é:
“andai no Espírito e jamais satisfareis à concupiscência da
carne” (Gl 5:16). É uma luta constante e diária (v. 17).
Todo embaraço e pecado deve ser deixado de lado (Hb
12:1; Cl 3:5), de modo que nos revistamos do Senhor
Jesus para que os desejos da carne não sejam satisfeitos
(Rm 13:13,14).
Por que nem sempre conseguimos manter uma
vida constante de oração e acabamos por passar dias
sem orar, sem conversar com Deus? A falta de tempo e
de oportunidade pode ser uma desculpa, as atividades
diárias, os problemas a resolver. Existem, todavia, alguns
motivos muito mais sérios e reais que nos afastam da
intimidade com Deus. Podemos aqui citar alguns:
ingratidão (Rm 1:21), ídolos (Ez 14:1-11), desobediência
à Palavra (Pv 28:9), orgulho (Jó 35:12,13), falta de
perdão (Mt 5:21-26), vontade própria (Rm 12:2);
indiferença (Pv 1:24-28), pecado secreto (Sl 66:18,19);
vida religiosa hipócrita (Is 1:10-17), dúvida da fidelidade
de Deus (1 Co 1:9), avareza (Lc 12:15) desinteresse (1
Ts 5:17), afastamento de Deus (Sl 73:27), egoísmo (Tg
4:3), falta de misericórdia (Pv 21:13) e teimosia (Zc 7:8-
13). Quando esses pecados não influenciam o conteúdo
das nossas orações, impedem-nos de orar, causam
preguiça, má vontade e até mesmo revolta contra Deus.
Todos esses obstáculos também se apresentam no
nosso envolvimento com o mundo e uma gama de ofertas
que nos fazem não ter tempo para Deus. Passamos mais
tempo na realidade virtual do que na verdade espiritual;
gastamos mais tempo aproveitando as inovações dos
jogos em rede do que criando uma rede de
relacionamentos e de oração. Se não mantivermos o
nosso foco no Reino dos céus, qualquer clamor da nossa
carne ou demanda do mundo irá desviar-nos do alvo, que
é o Senhor Jesus. Quanto mais cedo vencermos os
nossos obstáculos pessoais, mais tempo de qualidade
teremos com Deus. O que tem tirado o nosso tempo de
oração? Qualquer que seja o motivo, o resultado de uma
vida aos pés da cruz nos proporcionará momentos
verdadeiramente significativos e nos manterá
espiritualmente sadios e firmes. Deus deseja se relacionar
conosco e nos dá a chance de um diálogo. Pensemos
nisso: Deus quer conversar conosco e nos ouvir! Sejamos
fiéis, quebremos todos os nossos ídolos, deixemos de
lado a hipocrisia e a desobediência. Não existe lugar
melhor que a presença de Deus (1 Sm 12:23; 15:22,23;
Cl 4:12; 1 Jo 2:17; Tg 4:13-17; Mt 26:47-56; 2 Pe 2:1,2;
Nm 23:19; Fp 2:1-4).

O mundo

Outro inimigo do cristão e da sua oração é o


mundo. Quando não nos deixamos guiar pelo poder e
graça do Espírito Santo, as ondas do mundo invadem a
nossa vida e redirecionam a nossa atenção para aquilo
que é pecaminoso e passageiro. O sistema pecaminoso
do mundo também tenta impedir as nossas orações,
oferecendo-nos formas de desviar a nossa atenção para
coisas irrelevantes (1 Jo 2:15). Este sistema, também
chamado de secularismo, é desprovido dos valores
eternos da Palavra de Deus. Os seus valores seguem o
deus deste século (2 Co 4:3,4), que convence o homem
de que ele pode entrar pela porta mais larga, e ainda
assim chegar a Deus, sem necessidade de fé,
arrependimento e mudança de vida. Quanto mais nos
deixamos enredar pelo mundo, mais distantes ficamos do
prazer de orar. Quando a oração do crente é afetada por
esse sistema mundano, ele deixa de pensar com a mente
de Deus e esquece os valores do seu Reino. Esse Reino
deixa de ser buscado e cede seu lugar a desejos e sonhos
meramente terrenos, mundanos e carnais. O cristão não
pode perder de vista a cruz de Cristo, na qual ele está
crucificado para o mundo (Gl 6:14; 2:19,20). Olhando
para a cruz, entendemos que o mundo não faz mais
sentido nem tem mais valor – no tocante ao pecado – e
que a nossa vida e a nossa oração devem estar repletas
da vontade do Pai que está nos céus, glorificando-o em
todas as nossas palavras e atitudes.
Somos orientados pelo Senhor Jesus, como já
vimos, a buscar em primeiro lugar o Reino de Deus e a
sua justiça. Essa busca deve permear toda a nossa vida,
os nossos pensamentos com relação a Deus, o nosso
comportamento como seus servos, os nossos
relacionamentos, os nossos afazeres cotidianos e as
nossas orações. Em certos meios evangélicos, as orações
que são feitas parecem desejar que o céu desça até a
terra, não pelo prazer da glória de Deus, mas pelo desejo
de que as bênçãos celestiais possam ser desfrutadas aqui
e agora (traduza-se bênçãos celestiais por: “saúde total”,
“prosperidade financeira” e “ felicidade plena”, conforme
ensina a Teologia da Prosperidade). Cada intenção, cada
campanha, cada objeto ungido, cada oração de fogo,
cada profecia, cada palavra de ordem estão voltados para
este mundo: suas riquezas e deleites. Não existe
preocupação em clamar pela volta do Senhor Jesus, pela
conversão dos perdidos, pela santificação dos salvos, pelo
crescimento espiritual da Igreja e pela obra missionária.
O mundo penetrou de tal forma em certas igrejas e em
certos cristãos, que o céu definitivamente perdeu a sua
importância, que a volta de Jesus é algo capaz de
atrapalhar seus planos e sonhos. Como Deus recebe
essas orações? Como Ele as atende? Creio que a resposta
está implícita.
O diabo

Por fim, a figura do inimigo da nossa alma, o


diabo, também figura como um elemento a tentar impedir
as nossas orações, tanto no ato quanto no conteúdo.
Algumas igrejas enfatizam de maneira equivocada o
poder e a atuação de Satanás, como se ele tivesse poder
absoluto contra o crente4. Existem cultos de cura e
libertação, de quebra de maldições, sessões de
descarrego e uma infinidade de práticas sincréticas que
pretendem enfrentá-lo nessa batalha. Quando lemos o
episódio da tentação de Cristo (Lc 4:1-13), vemos que o
diabo usou o seu poder de convencimento, aludindo,
inclusive, à Palavra de Deus, para tentar a Jesus. Vemos,
também, que o Senhor o venceu pela própria Palavra.
Tudo o que o diabo prometeu a Jesus era bom (comida,
poder, segurança divina), mas havia um preço:
abandonar a Palavra de Deus, tentá-lo e servir ao
inimigo. Mas o Senhor não pecou (Hb 4:15). O que
percebemos logo no início dessa narrativa é que Jesus
fora levado ao deserto pelo próprio Espírito Santo para
ser tentado pelo diabo e que Ele estava cheio desse
mesmo Espírito (v. 1). O Senhor estava preparado para
enfrentar o inimigo! Jesus tinha compreensão de si
mesmo, sabia quem era e qual era a sua missão. Muitas
vezes, não sabemos quem somos, não nos entendemos
como filhos de Deus, como salvos e servos do Senhor,

4 Escrevi um importante livro sobre batalha espiritual, intitulado


“Batalha Espiritual: uma luta em defesa da verdade”. À venda na
Amazon.
então nos deixamos enredar pelas armadilhas malignas
de Satanás. Aceitamos facilmente as suas tentações –
tanto por parte da satisfação dos desejos da nossa carne
como da acolhida do sistema pecaminoso do mundo –
porque não ouvimos a voz do Espírito Santo. Também
cedemos às suas investidas por não lermos a Bíblia,
porque não nos acercamos dos seus mandamentos e
valores.
Além de orar, precisamos vigiar (Mt 26:41), estar
atentos às tentações e às investidas do diabo. O simples
fato de orar não nos isenta de certas situações, mas é
preciso viver no Espírito, em santidade. Oração e ação
são duas coisas que andam juntas. A vida nos impele a
orar e a oração nos impele a viver e transformar a vida,
com a graça de Deus. As investidas de Satanás e as
insinuações do mundo só podem causar dano à nossa
vida se permitirmos, se não caminharmos em constante
comunhão com Deus por meio da oração e da leitura da
Palavra. Viver na dependência total do Espírito Santo nos
faz compreender as coisas espirituais e nos dá a graça
suficiente para dar uma resposta bíblia e santa a esses
três inimigos. Não existe poder superior ao poder de
Deus, a não ser a nossa decisão em desprezar este
poder. Logo, quanto mais submetidos ao Senhor, mais
vitoriosos seremos nas nossas orações e oraremos com
poder do Espírito, porque saberemos ao certo o que o
Senhor espera de nós. Que a nossa oração seja sempre a
resposta de um coração quebrantado e desejoso da
presença viva de Deus, por meio da prática da sua
Palavra em cada instante da nossa vida, embraçando o
escudo da fé (Ef 6:16) e assim os dardos inflamados do
maligno não surtirão efeito. Sujeitemo-nos a Deus e o
diabo fugirá de nós (Tg 4:7). Se ele anda em derredor,
como um leão que ruge, procurando alguém para
devorar, o Espírito de Cristo está dentro de nós e nos
torna livres (1 Pe 5:7-9; Jo 8:36).

Ações de poder!

1. Só existe um poder capaz de sufocar o pecado da


nossa carne: o do Espírito Santo. Todos os
pecados da carne citados anteriormente podem ser
vencidos com uma sujeição total a Deus, quando
conhecemos a sua vontade a través das Escrituras
e não temos dúvidas sobre o que podemos e o que
não podemos fazer. Além da Palavra, a sua graça
opera em nós e nos anima a buscá-lo, a viver para
Ele e a dizermos não ao pecado. Procure
constantemente pela presença de Deus em oração,
submeta a Ele a sua vontade. Ore e peça força
para que você não entre em tentação. Lute contra
o pecado como quem luta contra um inimigo feroz,
que jamais dá trégua.
2. Como enfrentar o mundo e impedir a sua
influência sobre o conteúdo das nossas orações?
Como não permitir que os cuidados do mundo
anulem a nossa vontade de orar? Basta amar a
Deus acima do mundo! Deus sabe do que
precisamos neste mundo, o que vestir e comer,
onde morar, trabalho, educação, saúde, lazer,
segurança, amizades. Todas essas coisas são
legítimas. Mas mesmo elas não podem ser maiores
do que o nosso amor pelo Pai que está nos céus,
não podem tirá-lo do centro da nossa vida. Quem
dirá os pecados que há no mundo! Faça do Senhor
Jesus o centro do seu universo e as demais coisas
lhe serão acrescentadas.
3. Como vencer o diabo? Em primeiro lugar, sabendo
que ele já foi vencido por Cristo e não possui
domínio algum sobre nós. Como enfrentá-lo?
Resistindo-o pela fé em Cristo, pela obediência à
Palavra de Deus, pela santificação do Espírito.
Como eliminar a sua influência? Por meio das
armas espirituais do cristão (Ef 6:10-20), que
devem ser tomadas “com toda oração e súplica,
orando o tempo todo no Espírito e para isso
vigiando com toda perseverança e súplica por
todos os santos” (v. 18).
Considerações finais
“Buscar-me-eis e me achareis quando me
buscardes de todo o vosso coração.”
Jeremias 29:13

Concluo este breve estudo com o desejo de que tenha


ficado bastante claro qual o verdadeiro poder da oração.
Os meios pentecostais e neopentecostais apresentam
diversos poderes para mover os céus e atrair as bênçãos
de Deus: orações de fogo, jejum, objetos ungidos,
campanhas das mais mirabolantes, línguas estranhas
(estranhas mesmo!) e diversos outros artifícios. Nada
disso é ensinado ou estimulado pela Palavra de Deus. O
poder da oração está no Nome de Jesus! Não como um
“abrakadabra” evangélico que faz tudo acontecer, mas na
autoridade que esse nome carrega, na obra que Cristo
realizou por nós na cruz, no resultado dessa obra e no
seu objetivo. Se pensarmos bem, as nossas orações só
têm poder quando elas não têm poder algum, ou seja:
quando reconhecemos que o poder não está em nós, que
nada podemos fazer para agradar a Deus e que nem
precisamos! É bom explicar: precisamos, sim, agradar a
Deus, mas não para merecer ou atrair a sua atenção e as
suas graças, porque são de graça e por graça, segundo a
sua vontade soberana.
A súplica do justo muito pode por sua eficácia (Tg
5:16), ou como outras versões traduzem: “pode muito
em seus efeitos”. A eficácia – o poder – da oração do
crente está no fato de ser ele “justo”. Ele não é alguém
que possui justiça própria e que, por isso, pode se gabar.
Muito pelo contrário! A sua justiça está na justificação
que Cristo alcançou para Ele por seus próprios méritos e
que lhe foi imputada pela graça de Deus (At 13:39; Rm
3:24-28; 5:1; 1 Co 6:11; Gl 2:16; Tt 3:5; Ef 2:8,9). Como
é a oração de um coração justificado por Deus? Ela é
egoísta? Ela clama por tudo aquilo que é mundano? Ela
impõe a Deus a sua própria vontade? Ou ela pede “faça-
se a tua vontade, assim na terra como no céu”? A súplica
do justo está repleta do amor de Deus e dos seus
mandamentos, o que se revela num comportamento
santo, comprometido com o Evangelho e com as pessoas.
O justo ora com o coração agradecido, humilde,
misericordioso, fiel, piedoso, sedento da justiça de Deus.
A sua oração é eficaz, porque ele perdoa o seu irmão que
pecou contra ele. Não são os seus interesses que estão
em jogo na sua oração, mas a glorificação de Deus. O
justo não quer ver seus pedidos serem atendidos, mas
deseja ardentemente ver a vontade do seu Senhor se
cumprir na sua vida. Por isso a sua oração é eficaz, por
isso ela pode muito em seus efeitos. E é esta a oração de
poder, que Deus escuta e que move montanhas.
Mizael de
Souza Xavier
Olá! Sou o Mizael Xavier, poeta e escritor. Tenho
52 anos de idade. Comecei a escrever poemas aos
12 anos, quando eu e meu irmão sonhávamos
montar uma banda de Rock; os meus poemas
seriam as letras das nossas músicas. Sou natural
da cidade de Petrópolis, RJ, e resido no Rio
Grande do Norte há 28 anos. Sou cristão
reformado, divorciado, conservador, pai de Thiago
e Milena. Possuo inúmeros artigos publicados em
jornais de Natal. Realizei vários trabalhos como
ator, diretor e multiplicador de Teatro do
Oprimido. Além de escrever, sou ensaísta e
teólogo. Em 2013, formei-me em Gestão de
Recursos Humanos pela Universidade Potiguar.
Sou autor dos livros físicos “Eu te amo” (poesia),
“Memórias do Silêncio” (autobiografia/Bullying),
“Até onde o amor pode alcançar” (poesias) e
“Minha poesia” (antologia poética) Participei de
duas antologias da editora Lírio Negro
(Brasilidade em Versos e Fragmentos de almas
eternizadas), e da antologia ¨Poemas do coração
V: Em busca da Paz”, da editora Antologias Brasil.
Além disso, possuo mais de 100 e-Books
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Mizael de Souza Xavier


Escritor

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