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COMPAGNON, Antoine. O demônio da teoria: literatura e senso comum.

Belo Horizonte: UFMG, 2014.

Introdução e capítulo 1
Nota biográfica
⚫ Antoine Compagnon (Bruxelas, 20/07/1950)
− Professor de Literatura Francesa no Collège de
France, Paris (2006–), e professor no Blanche
W. Knopf de Literatura Francesa e Comparada
na Universidade de Columbia, Nova York
(1985–).
− Especialista em Marcel Proust, trabalha como
professor, mas é também romancista e crítico
literário.
Nota biográfica
⚫ Obras publicadas no Brasil:

− O trabalho da citação (1996)

− O demônio da teoria: literatura e senso comum (1999)

⚫ Le Démon de la théorie (1998).

− Literatura para quê? (2009)

− Os cinco paradoxos da modernidade (2010)

− Os antimodernos: de Joseph de Maistre a Roland Barthes (2011)

− Uma temporada com Montaigne (2014)

− A era das cartas (2019)

− Uma questão de disciplina: entrevistas com Jean-Baptiste Amadieu (2020)


⚫ Discussão inicial:
Étienne de La Boétie
(1530-1563) e O
Discurso da Servidão
Voluntária (1563)
⚫ Por que as coisas são
como são?
O que restou de nossos amores?
⚫ Fraca tradição da teoria
literária na França.
⚫ Importantes mudanças nos
anos 1960-70.
− Contradiscurso à
“objetividade”, “gosto”,
“clareza”.
⚫ Fogo de palha. Não houve
sucessores. Estagnação.
O que restou de nossos amores?
⚫ A vanguarda
institucionalizou-se
− Tornou-se “receita de
bolo”.
⚫ “O objeto da teoria seria
não apenas o real, mas
também a totalidade do
virtual literário” (Gérard
Genette, 1972)
Teoria e senso comum
⚫ É importante porque combate ideias preconcebidas
⚫ Passa o tempo todo tentando questionar termos de
uso corrente:
− Literatura, autor, intenção, sentido, interpretação,
representação, conteúdo, fundo, valor, originalidade...
Teoria e senso comum
⚫ Premissa fundamental:

− Não são conceitos autoevidentes, e sim


construções históricas.
Teoria e prática da literatura
⚫ Quem diz “teoria” pressupõe uma
“prática”, diante da qual a teoria se
coloca.
− Ideias possuem consequências.

⚫ A teoria da literatura não ensina a


“escrever romances”.
− Seus interesses são: estudos, história,
crítica, pesquisa literárias.
Teoria e prática da literatura
⚫ A palavra é nova, mas a
coisa é relativamente
antiga.
− Platão (“A República”)
e Aristóteles
(“Poética”) se
interessam pela
literatura em geral, de
um ponto de vista que
almejava o universal
Teoria e prática da literatura
⚫ A teoria literária hoje é diferente:
não é normativa; é descritiva.
⚫ Supõe a existência de estudos
literários (século XIX)
− Objeto: discursos sobre a literatura,
a crítica e a história literárias
− A teoria contradiz. Põe em dúvida a
prática dos outros.
Em resumo:
⚫ A teoria contrasta com
a prática dos estudos
literários, e analisa-os.
É a crítica da crítica.
Uma verdadeira
dissecação.
Teoria, crítica e história
⚫ Crítica literária: “discurso ⚫ História literária: “um discurso que
insiste nos fatores exteriores à
sobre as obras que acentua a experiência da leitura (…), na
experiência da leitura, que concepção ou na transmissão das
descreve, interpreta, avalia o obras, ou em outros elementos que
não interessam ao não-especialista.
sentido e o efeito que as
Surge como disciplina acadêmica no
obras exercem sobre os século XIX (filologia).
(bons) leitores. A crítica
aprecia, julga (...)”
Teoria, crítica e história
⚫ A teoria faz perguntas a ⚫ No caso dos
ambas: historiadores, o
− Quais são seus paradoxo salta aos
pressupostos? olhos: você explica
− É o protesto contra o pelo contexto um
implícito. objeto que lhe interessa
precisamente porque
escapa a esse contexto
e sobrevive a ele.
Teoria ou teorias
⚫ É um perpétuo “que sei
eu?”
⚫ Tornar-se desconfiado
de todas as receitas
A literatura reduzida a seus
elementos
⚫ Elementos
indispensáveis: autor,
livro, leitor, língua,
referente. Além de
história e crítica.
⚫ Chegamos a 7 pontos:
− Literatura, autor,
mundo, leitor, estilo,
história, valor.
A literatura reduzida a seus
elementos
⚫ Múltiplas respostas
⚫ Ênfase em um ou outro
conforme as escolhas
do analista.
⚫ A verdade está sempre
em um entrelugar,
entre a teoria e o senso
comum.
Capítulo 1 – A literatura
⚫ O que é?
⚫ Está atrelado a:
− Intenção, realidade,
recepção, língua,
história e valor
literários.
⚫ Roland Barthes:
“literatura é o que se
ensina e ponto final!”
A literatura
⚫ Os estudos literários ⚫ Sendo impossível
sempre estão definir, vamos
imprensados entre duas descrever dos seguintes
abordagens: pontos de vista:
− Histórica (texto = − extensão/compreensão
documento) − função/forma
− Linguística (texto = fato − forma do
da língua) conteúdo/forma da
expressão
A extensão da literatura
⚫ No sentido amplo, é tudo o que a
biblioteca contém.
⚫ No sentido restrito, varia.
− Pós-séc. XIX, no Ocidente: romance,
teatro, poesia.
− Inseparável do romantismo e da
relatividade história/geográfica do
bom gosto.
A extensão da literatura
⚫ Em sentido ainda mais
restrito, são os
“grandes” escritores.
− Problema: o Cânone
não é estável. O século
XX o ampliou.
Compreensão da literatura
⚫ O que a literatura faz?
O que a distingue de
outras formas de
conhecimento?
− Produzir catarse, prazer
de aprender
(Aristóteles); instruir e
agradar (Horácio).
Compreensão da literatura
⚫ Que conhecimento a literatura
produz?
− “Dóxa”, geral, amplo, verossímil
(tradição clássica)
− Individual, singular (tradição
romântica)
⚫ De qualquer forma, há um
conhecimento do mundo só
proporcionado pela experiência
literária.
Compreensão da literatura
⚫ Romance europeu –
aprendizagem do
indivíduo burguês.
− “A subjetividade
moderna desenvolveu-
se com a experiência
literária”.
− O leitor é o modelo do
homem livre.
Compreensão da literatura
⚫ Visão ideológica:
− A literatura tem a
função de fornecer uma
moral social.
− Por outro lado, ela
também possui uma
função subversiva.
Compreensão da literatura: a
forma do conteúdo
⚫ Imitação/representação
(mímesis) da
Antiguidade ao século
XVIII (ficção)
Compreensão da literatura: a
forma da expressão
⚫ Pós-séc. XVIII:
literatura é “o uso
estético da linguagem
escrita”
− Linguagem cotidiana x
linguagem literária
Literariedade ou preconceito
⚫ As formas literárias não são diferentes das formas
linguísticas.
⚫ Apenas organizadas diferentemente.
⚫ Uma definição de literatura é sempre um
preconceito erigido em universal.
Literatura é literatura
⚫ É a sociedade quem vai dizer, inclusive fora dos
contextos originais.
⚫ Tudo o que se pode dizer de um texto literário não
pertence ao estudo literário.

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