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CAPELANIA
IGREJA NOSSA SENHORA DO PERPÉTUO SOCORRO
CATEQUESE DE JOVENS E ADULTOS

INTRODUÇÃO Ã CÃTEQUESE:
A origem da Catequese é Nosso Senhor, o grande catequista, que por três anos, esteve
formando seus discípulos, e lhes ensinando o que precisariam para crer e cumprir com a Missão
de irem pelo mundo ensinando o Evangelho a todos (Mc 16,15).

São João Paulo II, ao referir-se aos catequistas em sua exortação apostólica Catechesi
Tradendae (CT) disse:

A preocupação constante de todo o catequista, seja qual for o nível das suas responsabilidades na
Igreja, deve ser a de fazer passar, através do seu ensino e do seu modo da comportar-se, a
doutrina e a vida de Jesus Cristo. Assim, há de procurar que a atenção e a adesão da inteligência e
do coração daqueles que catequiza não se detenha em si mesmo, nas suas opiniões e atitudes
pessoais; e sobretudo não há de procurar inculcar as suas ‘opiniões e opções pessoais’, como se
elas exprimissem a doutrina e as lições de vida de Jesus Cristo. Todos os catequistas deveriam
poder aplicar a si próprios a misteriosa palavra de Jesus: ‘A minha doutrina não é minha, mas
d’Aquele que me enviou’ (João 7,16). É isso que faz São Paulo, ao tratar de um assunto de grande
importância: ‘Eu aprendi do Senhor isto, que por minha vez vos transmiti’ (1 Cor 11,23). (CT6)

O Papa Bento XVI, disse em uma de suas audiências públicas que:

“o pior problema do povo católico é a ignorância religiosa. Muitos católicos não conhecem a bela
doutrina católica e por isso muitos são enganados pelas seitas e igrejas que não foram fundadas
por Jesus Cristo. Temos uma bela doutrina de dois mil anos, revelada por Cristo, amadurecida no
sangue dos mártires, nas orações dos santos, na sabedoria dos doutores, dos papas etc., mas
muitos não a conhecem”.

E recentemente, o Papa Francisco em uma homilia afirmou:

“O catequista caminha a partir de Cristo e com Ele, não é uma pessoa que parte de suas próprias
ideias e gostos, mas se deixa olhar por Ele, porque é este olhar que faz arder o coração”.

A catequese precisa, na ótica dos últimos três Pontífices da Igreja:

1. Não se ensina nada além do que é a Sã Doutrina da Salvação;


2. Somos herdeiros de mais de 2000 anos de história e Doutrina;
3. A catequese inicia no testemunho comportamental e não apenas nas palavras ditas;

São Francisco de Assis, certa vez, convidou seu irmão e amigo, Frei Leão, a saírem pela cidade
para pregar o Evangelho e anunciar a Salvação. Logo no início do caminho, eles encontraram um
leproso, e São Francisco, com amor, lhe cuidou as feridas e o envolveu com alguns panos que
tinham, depois, foi até algumas lojas e pediu um pão, trouxe para o doente, e lhe entregou.
Continuando o caminho, foram até a igreja, onde havia uma viúva pedindo esmolas, o santo, foi
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até as pessoas e pediu dinheiro para elas, ao receber, trouxe e entregou à senhora, levando-lhe
até em casa. Mais adiante, no caminho de volta, encontraram uma carroça de um rico senhor
atolada no barro, ambos ajudaram a retirar a roda da lama e seguiram seu caminho, ao final do
dia, conseguiram ficar de joelhos diante do santíssimo sacramento em adoração ao sacrário,
perderam a Santa Missa e foram embora. Quando chegaram na “toca de Assis” (Assim era
chamada a primeira caverna onde Francisco e seus primeiros companheiros moravam) o frei
Leão lhe indagou: “Pai Francisco, você me disse que sairíamos a pregar, mas não conseguimos
nem mesmo fazer parte da Santa Missa”. São Francisco então lhe disse: “Anunciemos o
Evangelho a todo tempo, se necessário, use palavras.”

Esta história, no contesto da catequese, ilustra bem, o sentido da catequese e do ser catequista.
Precisamos, em primeiro lugar viver o Evangelho, só então, estamos aptos a Anunciar o
Evangelho com Palavras.

Lição 1: O QUE E O EVÃNGELHO?


O termo Evangelho, nada mais é do que “Boa Notícia”, uma informação que é dada ou
transmitida, que causa alegria e entusiasmo. E qual é a Boa Notícia que Nosso Senhor nos deu?
É esta:

“Sic enim dilexit Deus mundum, ut Filium suum unigenitum daret, ut omnis, qui credit in eum, non pereat, sed habeat
vitam aeternam.”
(Evangelho de São João - Jo 3,16)

Por quê: A maior explicação; Analogia com a vinha


Deus: O maior de todos os seres;
Amou: O maior mandamento; SUMO NT
Tanto: A maior intensidade;
O mundo: O maior alvo;
Que lhe deu: A maior ato (doar); JO 3,16
Uva
Seu Filho único: A maior expressão de Deus;
Para que todo aquele: A maior abrangência;
Que Nele crer: A maior condição;
Não se perca: A maior desgraça; VINHO BÍBLIA
Mas tenha: A maior conquista;
A vida eterna: A maior Graça. Jo 3,16 = O CENTRO DO EVANGELHO

O centro da mensagem Cristã é este:

A Palavra que Deus quis Se comunicar, por meio de uma ótima, excelente e maravilhosa notícia,
que Ele nos ama e quer nos dar, mediante a fé, a vida eterna.

O que é a Palavra de Deus?


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Toda a sabedoria vem do Senhor Deus, ela sempre esteve com ele. Ela existe antes de todos os séculos. 2Quem
pode contar os grãos de areia do mar, as gotas de chuva, os dias do tempo? Quem pode medir a altura do céu,
a extensão da terra, a profundidade do abismo?3Quem pode penetrar a sabedoria divina, anterior a tudo?4A
sabedoria foi criada antes de todas as coisas, a inteligência prudente existe antes dos séculos!5O Verbo de Deus
nos céus é fonte de sabedoria, seus caminhos são os mandamentos eternos.6A quem foi revelada a raiz da
sabedoria? Quem pode discernir os seus artifícios? 7A quem foi mostrada e revelada a ciência da sabedoria?
Quem pode compreender a multiplicidade de seus caminhos? 8Somente o Altíssimo, criador onipotente, rei
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poderoso e infinitamente temível, Deus dominador, sentado no seu trono; 9foi ele quem a criou no Espírito
Santo, quem a viu, numerada e medida;10ele a aspergiu em todas as suas obras, sobre toda a carne, à medida
que a repartiu, e deu-a àqueles que a amavam.11O temor do Senhor é uma glória, um motivo de glória, uma
fonte de alegria, uma coroa de regozijo.12O temor do Senhor alegra o coração. Ele nos dá alegria, regozijo e
longa vida.13Quem teme o Senhor se sentirá bem no instante derradeiro, no dia da morte será abençoado. 14O
amor de Deus é uma sabedoria digna de ser honrada.15Aqueles a quem ela se mostra amam-na logo que a
veem, logo que reconhecem os prodígios que realiza.
(Eclesiastico - Eclo 1, 1-15)
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Vi ainda o céu aberto: eis que aparece um cavalo branco. Seu cavaleiro chama-se Fiel e Verdadeiro, e é com
justiça que ele julga e guerreia. 12Tem olhos flamejantes. Há em sua cabeça muitos diademas e traz escrito um
nome que ninguém conhece, senão ele. 13Está vestido com um manto tinto de sangue, e o seu nome é
Verbo de Deus.
(Apocalipse - Ap 19, 11-13)
1
No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus. 2Ele estava no princípio junto
de Deus.3Tudo foi feito por ele, e sem ele nada foi feito. 4Nele havia vida, e a vida era a luz dos homens. 5A luz
resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam. 6Houve um homem, enviado por Deus, que se
chamava João. 7Este veio como testemunha, para dar testemunho da luz, a fim de que todos cressem por meio
dele. 8Não era ele a luz, mas veio para dar testemunho da luz. 9[O Verbo] era a verdadeira luz que, vindo ao
mundo, ilumina todo homem. 10Estava no mundo e o mundo foi feito por ele, e o mundo não o
reconheceu. 11Veio para o que era seu, mas os seus não o receberam. 12Mas a todos aqueles que o receberam,
aos que creem no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus, 13os quais não nasceram do
sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas sim de Deus. 14E o Verbo se fez carne e
habitou entre nós, e vimos sua glória, a glória que o Filho único recebe do seu Pai, cheio de graça e de
verdade.
(Evangelho de São João - Jo 1, 1-14)

O que era desde o princípio, o que temos ouvido, o que temos visto com os nossos olhos, o que temos
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contemplado e as nossas mãos têm apalpado no tocante ao Verbo da vida – 2porque a vida se manifestou, e
nós a temos visto; damos testemunho e vos anunciamos a vida eterna, que estava no Pai e que se nos
manifestou –, 3o que vimos e ouvimos nós vos anunciamos, para que também vós tenhais comunhão conosco.
Ora, a nossa comunhão é com o Pai e com o seu Filho Jesus Cristo.
(Primeira Carta/Epístola de São João - 1 Jo 1, 1-3)
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Palavras de Agur, filho de Jaces, de Massa. Palavras desse homem: Eu me fatiguei por Deus, estou esgotado por
Deus, eis-me entregue.2Porque eu sou o mais insensato dos homens, não tenho a inteligência de um
homem.3Não aprendi a sabedoria e não conheci a ciência do Santo.4Quem subiu ao céu e desceu? Quem
reteve o vento em suas mãos? Quem envolveu as águas em seu manto? Quem determinou as extremidades da
terra? Qual é o seu nome, qual é o nome de seu filho, se é que o sabes? 5Toda a Palavra de Deus é provada,
é um escudo para quem se fia nele.6Não acrescentes nada às suas palavras, para que ele não te corrija e sejas
achado mentiroso.
(Provérbios - Pv 30, 1-5)
1
Estando Jesus um dia à margem do lago de Genesaré, o povo se comprimia em redor dele para ouvir a
Palavra de Deus.
(Evangelho de São Lucas - Lc 5,1)
35
Se a Lei chama deuses àqueles a quem a Palavra de Deus foi dirigida (ora, a Escritura não pode ser
desprezada)
(Evangelho de São João - Jo 10,35)

Notemos que em Lc 5,1 as pessoas se reúnem ao redor de Nosso Senhor Jesus Cristo para
“ouvir a Palavra de Deus”, se você verificar todas as citações do termo “Palavra de Deus” no
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Antigo Testamento (AT) não irá encontrar as pessoas se dirigindo aos profetas para ouvir “deles”
a Palavra de Deus. Os profetas eram os destinatários da Palavra de Deus ou Palavra do Senhor
(mais frequente sendo referida aos profetas):
1
A palavra do Senhor foi dirigida a Jeú, filho de Hanani, contra Baasa, nestes termos:
(Primeiro Livro dos Reis - Rs 16,1)

Como podemos constatar, as Sagradas Escrituras, fazem referência à Palavra de Deus, e até
enunciam a Palavra de Deus, porém, há um esforço contínuo em todos os livros citados, de trazer
para o texto, o que ficou conhecido como Palavra do Senhor, Oráculo do Senhor, Palavra de
Deus e recentemente no Novo Testamento (NT), Evangelho, que não aparece em nenhum
momento no AT, e ainda, os textos referem-se a Nosso Senhor Jesus Cristo, como sendo o
Verbo de Deus feito carne, ora, o Verbo é o mesmo que Palavra, a Palavra de Deus feito carne,
nos deu testemunho em Jesus Cristo Nosso Senhor, sendo assim a Palavra de Deus é em
primeiro lugar, e literalmente a Pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo. É o que nos ensina o
Documento do Concílio Vaticano II (CVII), Dei Verbum (DV):

Deus, criando e conservando todas as coisas pelo Verbo (cfr. Jo. 1,3), oferece aos homens um
testemunho perene de Si mesmo na criação (cfr. Rom. 1, 1-20) e, além disso, decidindo abrir o
caminho da salvação sobrenatural, manifestou-se a Si mesmo, desde o princípio, aos nossos
primeiros pais. Depois da sua queda, com a promessa de redenção, deu-lhes a esperança da
salvação (cfr. Gén. 3,15), e cuidou continuamente do gênero humano, para dar a vida eterna a
todos aqueles que, perseverando na prática das boas obras, procuram a salvação (cfr. Rom. 2, 6-7).
No devido tempo chamou Abraão, para fazer dele pai dum grande povo (cfr. Gén. 12,2), povo que,
depois dos patriarcas, ele instruiu, por meio de Moisés e dos profetas, para que o reconhecessem
como único Deus vivo e verdadeiro, pai providente e juiz justo, e para que esperassem o Salvador
prometido; assim preparou Deus através dos tempos o caminho ao Evangelho. (DV 3)

Em termos práticos, a Palavra de Deus e o Evangelho, não estão restritos às Sagradas


Escrituras, como nos ensina o Catecismo da Igreja Católica (CatIC) citando a mesma DV 9:

“A Sagrada Escritura é a Palavra de Deus enquanto foi escrita por inspiração do Espírito divino”
(CatIC 81)

Porém, o mesmo CatIC continua a explicar, que a fonte da Palavra de Deus, não é apenas as
Sagradas Escrituras:

“A sagrada Tradição, por sua vez, conserva a Palavra de Deus, confiada por Cristo Senhor e pelo
Espírito Santo aos Apóstolos, e transmite-a integralmente aos seus sucessores, para que eles, com a
luz do Espírito da verdade, fielmente a conservem, exponham e difundam na sua pregação” (DV9)

Porém, uma vez estabelecidas as fontes da revelação (Sagrada Escritura e Sagrada Tradição
Apostólica) convêm que haja uma unidade interpretativa delas, para que, apesar da canonicidade
dos textos e tradições, e da santidade do remetente e fundador, o Evangelho não seja mal
interpretado e/ou dissimulado, por isso, Nosso Senhor, deixou instituído não apenas a Igreja,
como o Magistério desta mesma Igreja:

Disse-lhes Jesus: “E vós quem dizeis que eu sou?”16Simão Pedro respondeu: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus
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vivo!”. 17Jesus, então, lhe disse: “Feliz és, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que te
revelou isto, mas meu Pai que está nos céus. 18E eu te declaro: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a
minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela. 19Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo
o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus”.
(Evangelho de São Mateus - Mt 16, 15-19)
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Mais adiante, Nosso Senhor, dirigindo-se agora não unicamente a São Pedro, mas aos demais
discípulos, que se tornariam apóstolos, diz:
15
“Se teu irmão tiver pecado contra ti, vai e repreende-o entre ti e ele somente; se te ouvir, terás ganho teu
irmão. 16Se não te escutar, toma contigo uma ou duas pessoas, a fim de que toda a questão se resolva pela
decisão de duas ou três testemunhas. 17Se recusa ouvi-los, dize-o à Igreja. E se recusar ouvir também a Igreja,
seja ele para ti como um pagão e um publicano. 18Em verdade vos digo: tudo o que ligardes sobre a terra
será ligado no céu, e tudo o que desligardes sobre a terra será também desligado no céu.”
(Evangelho de São Mateus - Mt 18,15-18).

Ora, Nosso Senhor deixa bem claro que, quem não dá ouvidos à Igreja, deve ser considerado por
nós, seus seguidores, discípulos e, portanto, Católicos, como pagão e publicano, ou seja, alguém
que ainda não recebeu o anúncio, mesmo que este acredite fazer parte da Igreja. Isto se dá, por
que a Igreja, nas palavras de São Paulo:
15
Todavia, se eu tardar, quero que saibas como deves portar-te na casa de Deus, que é a Igreja de Deus
vivo, coluna e sustentáculo da verdade.
(Primeira Carta de São Paulo a Timóteo - 1Tm 3,15)

Sendo assim, a Igreja torna-se a referência de autoridade, reconhecida pelas Sagradas


Escrituras, e ainda o confirmam as palavras do Senhor, referidas na mesma Escritura:
16
Quem vos ouve a mim ouve; e quem vos rejeita a mim rejeita; e quem me rejeita, rejeita aquele que me
enviou.”
(Evangelho de São Lucas - Lc 10,16)

As Escrituras, portanto, foram escritas por inúmeros autores, mas é a Igreja quem compilou os 74
livros e definiu que os mesmos, continham a Palavra de Deus escrita, sendo assim, também é a
mesma Igreja, que tem condições de estabelecer as normas, regras e as tradições que são
também Sagradas, mas que transmitidas de outra forma, seja oral ou por escrito, mas que não
fazem parte das Sagradas Escrituras, como o texto a seguir, muito bem demonstra:

Eu te deixei em Creta para acabares de organizar tudo e estabeleceres anciãos (sacerdotes) em cada cidade, de
acordo com as normas que te tracei.
(Carta de São Paulo a Tito - Tt 1,5)

Onde, nas Sagradas Escrituras, estão tais normas? Essa passagem mostra que os Apóstolos iam
definindo as “normas” da Igreja, que foram formando a sagrada Tradição Apostólica, tão
importante e legitima quanto a própria Escritura, e não apenas isso, mas estabelece assim o
Sagrado Magistério da Igreja. O CVII, na Constituição Dogmática Lumen Gentium (LG) ainda no
parágrafo terceiro nos ensina que:

Por isso, Cristo, a fim de cumprir a vontade do Pai, deu começo na terra ao Reino dos Céus e
revelou-nos o seu mistério, realizando, com a própria obediência, a redenção. A Igreja, ou seja, o
Reino de Cristo já presente em mistério, cresce visivelmente no mundo pelo poder de Deus. (LG3)

Por fim, recorrendo mais uma vez à Dei Verbum para deixarmos claro o que é a Palavra de Deus,
Sagrada Escritura, Sagrada Tradição e Sagrado Magistério (Sagrada Teologia) para podermos
enfim, estabelecermos um relacionamento com a Palavra de Deus, seja por qual meio for:

A sagrada Teologia apoia-se, como em seu fundamento perene, na palavra de Deus escrita e na
sagrada Tradição, e nela se consolida firmemente e sem cessar se rejuvenesce, investigando, à luz
da fé, toda a verdade contida no mistério de Cristo. As Sagradas Escrituras contêm a palavra de
Deus, e, pelo fato de serem inspiradas, são verdadeiramente a palavra de Deus; e por isso, o
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estudo destes sagrados livros deve ser como que a alma da sagrada teologia. Também o ministério
da palavra, isto é, a pregação pastoral, a catequese, e toda a espécie de instrução cristã, na qual a
homilia litúrgica deve ter um lugar principal, com proveito se alimenta e santamente se revigora
com a palavra da Escritura. (DV24)

A Revelação Divina, ou seja, o Evangelho, é tudo aquilo que Jesus ensinou aos Discípulos e tudo
aquilo que o Espírito Santo inspirou à Igreja. Nestes termos temos, a Sagrada Escritura, a
Tradição Apostólica e o Magistério da Igreja. Estes três, unidos, darão, ao final, o sentido e a
complexidade da Revelação Divina.

Lição 2: SÃGRÃDÃ ESCRITURÃ


Para entender melhor as citações bíblicas, segue algumas orientações importantes:

✓ A Vírgula (,) Separa o Capítulo do versículo.


✓ O Ponto (.) indica um salto entre os versículos.
✓ O Hífen (-) indica de que versículo inicia até onde termina.
✓ O Ponto e Vírgula (;) separa citações, dentro do mesmo livro.
✓ Um Esse (s) indica o próximo versículo e 2 Esses (ss), indica os 2 versículos seguintes.
✓ Quando não tem a indicação do versículo, é porque se trata do capítulo inteiro.
✓ O Travessão (_) é usado para citações que ultrapassam um capítulo e outro.

Exemplos:

a) 1 Cor 4,6-13 d) Is 40_55 h) Tb 5,5_12,22


b) Jr 32,17-22.27ss e) Jo 11 i) Rm 12,14.17.20s
c) Pr 9,10; Sl 110,10; f) Tb 5s ou Tb 5_6 j) Jo 10, 10a
Eclo 1,16 g) Sl 95ss ou Sl 95_97 k) Mt 12,3b-5

O Sinal (...) indica que houve um corte na passagem bíblica. Quando Letras (a,b ou c) indicam
uma parte do versículo.

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA (CATIC) – Citação literal:

III. O Espírito Santo, intérprete da Escritura

109. Na Sagrada Escritura, Deus fala ao homem à maneira dos homens. Portanto, para bem
interpretar a Escritura, é necessário prestar atenção ao que os autores humanos realmente
quiseram dizer, e àquilo que aprouve a Deus manifestar-nos pelas palavras deles (DV12).

110. Para descobrir a intenção dos autores sagrados, é preciso ter em conta as condições do seu
tempo e da sua cultura, os “géneros literários” em uso na respectiva época, os modos de sentir,
falar e narrar correntes naquele tempo. “Porque a verdade é proposta e expressa de modos
diversos, em textos históricos de vária índole, ou proféticos, ou poéticos ou de outros géneros de
expressão” (DV12).

111. Mas, uma vez que a Sagrada Escritura é inspirada, existe outro princípio de interpretação
reta, não menos importante que o anterior, e sem o qual a Escritura seria letra morta: “A Sagrada
Escritura deve ser lida e interpretada com o mesmo espírito com que foi escrita” (DV12). O II
Concílio do Vaticano indica três critérios para uma interpretação da Escritura conforme ao Espírito
que a inspirou (DV12):

112. 1. Prestar grande atenção “ao conteúdo e à unidade de toda a Escritura”. Com efeito, por
muito diferentes que sejam os livros que a compõem, a Escritura é una, em razão da unidade do
desígnio de Deus, de que Jesus Cristo é o centro e o coração, aberto desde a sua Páscoa (Lc 24.
25-27). “Por coração (Sl 22, 15) de Cristo entende-se a Sagrada Escritura que nos dá a conhecer
o coração de Cristo. Este coração estava fechado antes da Paixão, porque a Escritura estava
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cheia de obscuridades. Mas a Escritura ficou aberta depois da Paixão e assim, aqueles que desde
então a consideram com inteligência, discernem o modo como as profecias devem ser
interpretadas” (São Tomás de Aquino, Expositio in Psalmos, 21, 11: Opera omnia. v. 18. Paris
1876, p. 350.).

113. 2. Ler a Escritura na “tradição viva de toda a Igreja”. Segundo uma sentença dos Padres,
“Sacra Scriptura principalius est in corde Ecclesiae quam in materialibus instrumentis scripta” – “A
Sagrada Escritura está escrita no coração da Igreja, mais do que em instrumentos materiais”
(Santo Hilário de Poitiers, Liber ad Constantium Imperatorem 9: CSEL 65. 204 PL 10, 570; São
Jerónimo. Commentarius in epistulam ad Galatas I 1, 11-12: PL 26).

Com efeito, a Igreja conserva na sua Tradição a memória viva da Palavra de Deus, e é o Espírito
Santo que lhe dá a interpretação espiritual da Escritura (“... secundum spiritualem sensum quem
Spiritus donat Ecclesiae” “segundo o sentido espiritual que o Espírito Santo dá à Igreja”)
(Orígenes, Homiliae in Leviticum 5, 5: SC 286, 228).

114. 3. Estar atento “à analogia da fé” (Rm 12, 6). Por “analogia da fé” entendemos a coesão das
verdades da fé entre si e no projeto total da Revelação.

Os sentidos da escritura

115. Segundo uma antiga tradição, podemos distinguir dois sentidos da Escritura: o sentido literal
e o sentido espiritual, subdividindo-se este último em sentido alegórico, moral e anagógico. A
concordância profunda dos quatro sentidos assegura a sua riqueza à leitura viva da Escritura na
Igreja:

116. O sentido literal. É o expresso pelas palavras da Escritura e descoberto pela exegese
segundo as regras da recta interpretação. “Omnes sensus (sc. Sacrae Scripturae) fundentur super
litteralem” – “Todos os sentidos (da Sagrada Escritura) se fundamentam no literal” (São Tomás de
Aquino, Summa theologiae I, q. 1, a. 10, ad I: Ed. Leon. 4, 25).

117. O sentido espiritual. Graças à unidade do desígnio de Deus, não só o texto da Escritura,
mas também as realidades e acontecimentos de que fala, podem ser sinais.

1. O sentido alegórico. Podemos adquirir uma compreensão mais profunda dos acontecimentos,
reconhecendo o seu significado em Cristo: por exemplo, a travessia do Mar Vermelho é um sinal
da vitória de Cristo e, assim, do Baptismo (1 Cor 10, 2).

2. O sentido moral. Os acontecimentos referidos na Escritura podem conduzir-nos a um


comportamento justo. Foram escritos “para nossa instrução” (1 Cor 10, 11) (Hb 3 - 4,11).

3. O sentido anagógico. Podemos ver realidades e acontecimentos no seu significado eterno, o


qual nos conduz (em grego: “anagoge”) em direcção à nossa Pátria. Assim, a Igreja terrestre é
sinal da Jerusalém celeste (Ap 21,1 - 22, 5.).

118. Um dístico medieval resume a significação dos quatro sentidos: “Littera gesta docet, quid
credas allegoria. Moralis quid agas, quo tendas anagogia”. “A letra ensina-te os factos (passados),
a alegoria o que deves crer, a moral o que deves fazer, a anagogia para onde deves tender”
(Agostinho de Dácia, Rotulus pugillaris, I: ed. A. Waltz: Angelicum 6(1929) 256.).

119. “Cabe aos exegetas trabalhar, de harmonia com estas regras, por entender e expor mais
profundamente o sentido da Sagrada Escritura, para que, mercê deste estudo, de algum modo
preparatório, amadureça o juízo da Igreja. Com efeito, tudo quanto diz respeito à interpretação da
Escritura, está sujeito ao juízo último da Igreja, que tem o divino mandato e o ministério de guardar
e interpretar a Palavra de Deus” (DV12): “Ego vero Evangelio non crederem, nisi me catholicae
Ecclesiae commoveret auctoritas” – “Quanto a mim, não acreditaria no Evangelho se não me
movesse a isso a autoridade da Igreja católica” (Santo Agostinho, Contra Epistulam Manichaei
quam vocant fundamenti 5. 6: CSEL 25,197) (PL 42, 176).

IV. O Cânon das Escrituras

120. Foi a Tradição Apostólica que levou a Igreja a discernir quais os escritos que deviam ser
contados na lista dos livros sagrados (II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Dei Verbum, 8: AAS
58 (1966) 821.).
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Esta lista integral é chamada “Cânon” das Escrituras. Comporta, para o Antigo Testamento, 46
(45, se se contar Jeremias e as Lamentações como um só) escritos, e, para o Novo, 27 (Decretum
Damasi: DS 179-180: Concílio de Florença, Decretum pro Iacobitis: DS 1334-1336; Concílio de
Trento. Sess. 4ª. Decretum de Libris Sacris et de traditionibus recipiendis: DS 1501-1504.).

ESTILOS LITERÁRIOS

Faz-se necessário ainda, uma explicação aprofundada do que é o sentido literal, não apenas das
Escrituras, mas também, para uma compreensão melhor de qualquer outro texto que se pretenda
ler e interpretar.

Do latim “litterālis”, literal é algo que está em conformidade com a letra de um texto e o sentido
próprio e exato das palavras usadas no mesmo. Ou seja, não se tem em conta o sentido figurado
ou sugerido. Subintende-se também, que um texto literal, pertença a um estilo literário, no caso
das Escrituras, para a compreensão dos textos, faz-se extremamente necessário compreender
este estilo sob o risco de má interpretação e até distorções.

Mas o que é “gênero literário” ou “tipos de texto”?

Todo o mundo sabe que o mesmo fato é descrito de modo diferente no relato do jornalista, na
folha de ocorrência policial e na fofoca das comadres da rua. São três “gêneros literários”
diferentes, e quem entende das coisas percebe imediatamente qual a versão do jornalista, do
guarda de trânsito ou das comadres. Assim também na Bíblia.

Um texto pode ser concebido conforme padrões diversos, em função de seu ambiente de origem
e do uso que dele será feito: liturgia, ensino, crônica oficial etc. Os gêneros mais “genéricos” são
a prosa, a poesia, o drama ou teatro; ou, sob outro ângulo, a narrativa e o discurso. E daí em
diante podem-se subdistinguir centenas de variedades. Para uma compreensão dos gêneros
literários, é importante a contextualização, localização temporal, destinatário e autoria.

Observe o esquema a seguir, que transmite um resumo do modo como a Igreja interpreta as
Sagradas Escrituras:
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As Sagradas Escrituras são uma coleção de textos religiosos que incluem os livros do Antigo e do
Novo Testamento. Cada livro da Bíblia pode apresentar diferentes estilos literários que podem ser
identificados e analisados.

1. Narrativa: a narrativa é um estilo literário comum em muitos livros da Bíblia, incluindo


Gênesis, Êxodo e Atos dos Apóstolos. A narrativa geralmente apresenta uma história
contada em sequência, com personagens, cenários e diálogos. Por exemplo, a história de
Adão e Eva no Jardim do Éden;

Narrativo histórico: grande parte do Pentateuco é composto de narrativas


históricas que contam a história do povo de Israel desde a criação do mundo até a
morte de Moisés. Essas narrativas incluem histórias como a criação, o dilúvio, a
chamada de Abraão, a história de José no Egito e a libertação do povo de Israel da
escravidão no Egito, podem ser considerados também como Epopeias.

Narrativo didático: este estilo literário é usado para ensinar verdades religiosas por
meio de narrativas. Ele inclui parábolas, como as contadas por Jesus nos
evangelhos, que usam histórias simples e concretas para ilustrar verdades mais
profundas.

Poesia e Lírico: alguns trechos do Pentateuco contêm poesia e linguagem lírica, como o
cântico de Moisés em Êxodo 15 e o cântico de Débora em Juízes 5; a poesia é um estilo
literário que pode ser encontrado em muitos livros da Bíblia, incluindo Salmos, Provérbios e
Cântico dos Cânticos. A poesia usa linguagem figurativa, imagens e ritmo para expressar
ideias e emoções. Por exemplo, o Salmo 22 é uma poesia que fala sobre a confiança em
Deus como um pastor que guia e cuida das suas ovelhas;
1
Salmo de Davi.
Vosso bordão e vosso báculo são o meu amparo.
O Senhor é meu pastor, nada me faltará. 5
Preparais para mim a mesa à vista de meus
2
Em verdes prados ele me faz repousar. inimigos.
Conduz-me junto às águas refrescantes, Derramais o perfume sobre minha cabeça,
3
restaura as forças de minha alma. e transborda minha taça.

Pelos caminhos retos ele me leva, 6


A vossa bondade e misericórdia hão de seguir-me
por amor do seu nome. por todos os dias de minha vida.
4
Ainda que eu atravesse o vale escuro, E habitarei na casa do Senhor
nada temerei, pois estais comigo. por longos dias.
(Salmo 22, 1-6)

2. Profecia: a profecia é um estilo literário presente em muitos livros do Antigo Testamento,


incluindo Isaías, Jeremias e Ezequiel. A profecia envolve a comunicação de uma
mensagem divina para o povo, muitas vezes incluindo previsões de eventos futuros. Por
exemplo, o profeta Isaías fala sobre a vinda do Messias como um "servo sofredor" que
carregaria os pecados do povo. Algumas partes do Pentateuco contêm elementos
proféticos, como as bênçãos e maldições de Moisés em Deuteronômio 28 e as profecias
de Balaão em Números 23-24.

3. Epístola: a epístola é um estilo literário encontrado no Novo Testamento, incluindo as


cartas de Paulo aos Romanos, Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses,
Tessalonicenses, Timóteo, Tito e Filemom. As epístolas são cartas escritas para igrejas e
indivíduos específicos, geralmente contendo ensinamentos e exortações sobre questões
10

de fé e prática cristã. Por exemplo, a carta aos Romanos de Paulo contém uma explicação
detalhada da justificação pela fé em Jesus Cristo.

4. Lei e legislação: Os textos bíblicos contêm uma grande quantidade de leis e legislação
que Deus deu ao povo de Israel através de Moisés. Essas leis abrangem vários aspectos
da vida religiosa e social dos esperados, incluindo o culto, o satisfação, o casamento, a
justiça e a moralidade.

5. Sapiencial: este estilo literário é usado para ensinar sabedoria e virtude. Ele é encontrado
principalmente nos livros sapienciais do Antigo Testamento, como Provérbios, Eclesiastes
e Sabedoria. Esses livros oferecem conselhos práticos para viver bem e ser sábio, bem
como reflexão sobre a natureza da vida e do universo.

6. Genealogias e listas: Existem ainda várias genealogias e listas de nomes que registram a
descendência dos patriarcas e das tribos de Israel, bem como as ofertas e vantagens que
foram feitas no templo.

7. Mitologia: há histórias de criaturas como leviatã, behemoth e dragão, que são mitológicas.
Além disso, muitos dos relatos do Antigo Testamento, como a criação do mundo em
Gênesis, a história de Noé e o dilúvio, e a Torre de Babel, apresentam elementos que
podem ser interpretados como mitológicos.

O povo de Israel vivia cercado de outros povos, cujo preparo militar e histórias míticas
eram lendárias e serviam de propaganda contra os seus inimigos. Quanto mais histórias
míticas um povo tivesse, mais temido ele poderia ser. Assim, Israel lançava mão de
símbolos e mitos de outros povos, para construir suas epopeias e muitas das histórias
contadas no Antigo Testamento, constam como sendo anteriores em outras culturas.

Nos livros históricos, a influência mitológica é mais velada, porém, a árvore da vida citada
em Gênesis já se encontrava em um Poema de Gilgamesh (de origem Babilônica). O
poema conta que um herói perguntou a um seu antepassado que era deus, onde ficava a
árvore da vida. Ele a encontrou no fundo do mar, e levou um ramo para plantar. Tendo
sede, foi beber num poço e uma serpente levou o seu ramo.

O Dilúvio em outras culturas:

Babilônia: A Epopeia de Gilgamesh é um poema épico antigo da Mesopotâmia que conta a


história do rei Gilgamesh e suas aventuras. Na história do Dilúvio, o personagem Utnapishtim,
aconselhado pelos deuses, cria uma arca para salvar sua família, bem como animais e plantas,
de um dilúvio que varreu a Terra. Essa história é bastante semelhante à narrativa do Dilúvio na
Bíblia, em que Noé é instruído por Deus a construir uma arca para salvar sua família e animais de
um dilúvio que cobriu a Terra.

Mitologia grega: Deucalião e Pirra são os únicos sobreviventes de um dilúvio que Zeus invejou
para acabar com a raça humana corrupta. Eles construíram uma arca e depois de flutuarem por
nove dias e nove noites, eles pousaram em cima de uma montanha. A partir daí, eles repovoaram
a Terra jogando pedras para trás, que se transformaram em seres humanos.

Mitologia hindu: A história do dilúvio na mitologia hindu é contada no épico indiano


"Mahabharata" e no "Bhagavata Purana". A história conta sobre o rei Manu, que foi avisado pelo
deus Vishnu sobre o dilúvio que estava para vir. Manu desenvolveu uma grande arca e colocou
nela sementes de plantas e animais para salvar a vida na Terra. Após o dilúvio, Manu
desembarcou no topo de uma montanha e reconstruiu a humanidade.
11

Mitologia chinesa: A história do dilúvio na mitologia chinesa é contada no livro "Classic of


Mountains and Seas". A história conta sobre o rei Yao, que recebeu a tarefa de construir canais
de irrigação para lidar com as enchentes. Mas a inundação era grande demais e Yao pediu ajuda
ao deus do rio, que inveja um dragão para cortar as montanhas e abrir caminho para a água.
Depois disso, Yao foi considerado um herói.

Mitologia Maori (Nova Zelândia): Na mitologia Maori, a história do dilúvio é contada na lenda de
Tawhaki. A história conta que Tawhaki e sua esposa, Hema, sobreviveram a um dilúvio que
inundou a Terra, ao subirem no topo de uma árvore sagrada chamada Kahika. Depois do dilúvio,
eles tiveram que lutar contra um grande pássaro gigante, que sequestrou Hema. Tawhaki
finalmente conseguiu resgatar sua esposa e retornar à Terra.

Mitologia Guarani (América do Sul): Na mitologia Guarani, a história do dilúvio é contada na


lenda de Tau e Kerana. Tau e Kerana eram irmãos que foram os únicos sobreviventes de um
dilúvio que destruiu a Terra. Eles construíram uma arca e depois de flutuarem por muito tempo,
encontraram uma ilha. Eles tiveram filhos e assim repovoaram a Terra.

Mitologia Hopi (América do Norte): Na mitologia Hopi, a história do dilúvio é contada na lenda
de Sótuknang. Sótuknang é o deus criador dos Hopi, que criou a Terra, os seres humanos e os
animais. Quando os seres humanos se tornaram muito corruptos, Sótuknang invejou um grande
dilúvio para purificar a Terra. Apenas alguns seres humanos sobreviveram, incluindo um grupo de
Hopi que subiu ao topo de uma montanha.

É possível perceber que em todos os continentes, em épocas diferentes, com personagens


semelhantes, mas com o pano de fundo absolutamente igual, é contada a história de um dilúvio, o
que leva a concluir que realmente um dilúvio global deva ter acontecido e tornou-se ponto de
referência para inúmeras culturas.

Ao observar os mitos ao seu redor, o autor sagrado o insere na mitologia e na história de Israel,
retirando o que é apenas lendário e os elementos religiosos exóticos à cultura e religião hebraica,
mas lança mão dos mesmos símbolos, servindo-se da cultura popular, para transmitir um valor
específico. O que fica bem evidente nos relatos do Antigo Testamento é a profunda dependência
que o povo tem de Deus.

Israel de fato considera-se não apenas um povo entre os outros, mas admite ser o menor, de
cabeça dura, teimoso, de pouca cultura, mas orgulha-se de pertencer a Deus, de possuir uma lei
que considera perfeita, e seus símbolos nacionais, são sempre os reis e profetas que possuíam
um relacionamento íntimo com Deus ao longo de toda a história.

Personagens bíblicos existiram?

A maioria dos personagens bíblicos são considerados reais e históricos, embora haja alguns
instituídos e interpretados. Por exemplo, a existência de personagens como Adão e Eva, Noé,
Abraão, Moisés, Davi, entre outros, é geralmente aceita como histórica. No entanto, há algumas
figuras bíblicas que são mais símbolos do que históricas, como Adão e Eva antes do pecado
original, ou algumas das figuras patriarcais do Antigo Testamento que podem ter sido retratadas
como ideais simbólicos de fé e obedientes a Deus, em vez de indivíduos históricos reais.

Isso em nada depõe contra a fé, a Igreja entende os estilos literários e sabe distinguir o que é um
símbolo e o que é um fato histórico, quais são os personagens históricos dos que são fictícios.
Um exemplo disso é o livro de Jó.
12

O livro começa com uma introdução que apresenta o personagem principal, Jó, como um homem
justo e próspero. Então, Deus permite que Satanás teste a fidelidade de Jó, tirando-lhe tudo o que
ele tem. Jó permanece fiel a Deus, apesar de suas provações, e no final, Deus restaura sua
supervisão e lhe dá ainda mais do que ele tinha antes.

O livro de Jó é considerado um dos mais antigos da Bíblia, embora não se saiba ao certo a data
de sua composição e provavelmente foi escrito durante a época dos reis ou mesmo antes. Trata-
se de uma narrativa poética que conta a história deste homem justo e piedoso, que ao mesmo
tempo é profundamente sofrido, mas que apesar de seu sofrimento, não se revolta contra Deus e
suporta todos os sofrimentos, com nobreza e distinção, apesar de ter caído em algum momento e
duvidado, permanece fiel.

O livro de Jó é claramente uma ficção, mas o personagem Jó, é considerado como histórico, e é
reverenciado como santo, a Igreja venera os santos do Antigo Testamento, aos quais chama de
Santo: Santo Jó, Santo Adão, Santo Abraão, Santa Sara, Santo Moisés, Santo Davi e assim por
diante.

No entanto, mesmo que Jó tenha sido uma pessoa real, o livro de Jó é, acima de tudo, uma obra
literária e teológica que explora questões importantes sobre o sofrimento humano, a justiça divina
e a natureza de Deus.

Evolucionismo X Criacionismo

A Igreja Católica tem uma posição oficial sobre a Teoria da Evolução e o Criacionismo. Com
relação à Teoria da Evolução, a Igreja Católica aceita que a evolução biológica é uma teoria
científica bem estabelecida e que não é incompatível com a fé cristã. Em 1950, o Papa Pio XII
emitiu uma declaração afirmando que não há conflito entre a teoria da evolução e a doutrina
católica, desde que a evolução seja vista como um processo controlado por Deus.

A Igreja condena o Evolucionismo historicista, mas enaltece a Teoria da Evolução (Evolucionismo


científico):

“As falsas afirmações de semelhante evolucionismo pelas quais se rechaça tudo o que é absoluto,
firme e imutável, vieram abrir o caminho a uma moderna pseudo-filosofia que, em concorrência
contra o idealismo, o imanentismo e o pragmatismo, foi denominada existencialismo, porque nega
as essências imutáveis das coisas e não se preocupa mais senão com a "existência" de cada uma
delas.”
(HUMANI GENERIS, 6)

“O magistério da Igreja não proíbe que nas investigações e disputas entre homens doutos de ambos
os campos se trate da doutrina do evolucionismo, que busca a origem do corpo humano em
matéria viva preexistente...”
(HUMANI GENERIS, 36)

Em 1996, o Papa João Paulo II reiterou a posição da Igreja Católica de que a evolução é mais do
que uma hipótese e que, desde que sejam respeitadas as leis naturais e humanas, a teoria da
evolução é compatível com a fé cristã.

“Já na sua encíclica Humani generis (1950), o meu predecessor Pio XII tinha afirmado que não
havia oposição entre a evolução e a doutrina da fé sobre o homem e a sua vocação, desde que não
perdêssemos de vista alguns pontos firmes.”
(Mensagem à Pontifícia Academia das Ciências, JPII)
13

Nos dias atuais, o debate Evolucionismo X Criacionismo ganhou novos contornos, então,
podemos dizer que há a Teoria da Evolução que tem base científica e figura com o status de
hipótese científica que norteia como base para inúmeros avanços científicos e tecnológicos. Outra
coisa, é o evolucionismo, que figura como ideologia filosófica que mistura-se com a visão religiosa
de muitos e termina por sustentar posicionamentos céticos e ateístas.

Já com relação ao criacionismo, a posição oficial da Igreja Católica é de que não é uma teoria
científica, mas sim uma interpretação fundamentalista da Bíblia. A Igreja Católica afirma que a
criação do mundo é uma verdade de fé que não pode ser demonstrada pela ciência, mas que
deve ser compreendida dentro de um contexto teológico. A Igreja não apoia o ensino do
criacionismo como uma teoria científica nas escolas, mas sim acredita que a ciência e a religião
têm papéis diferentes e complementares na compreensão do mundo.

Na Bíblia não há erros: esses são parte de quem a interpreta. Muitas vezes o que para nós hoje
tem um sentido, para o autor sagrado quer dizer outra; às vezes ele está usando apenas um
artifício de linguagem e nós interpretamos “ao pé da letra.” Daí a dificuldade de se interpretar
certas partes da Escritura. Por isso Jesus deixou o Sagrado Magistério da Igreja (Papa e bispos)
para que a sua interpretação não tenha erro.

Por isso, faz-se necessário a compreensão profunda dos esquemas ao lado:


14

Lição 3: CONTÃTO COM ÃS ESCRITURÃS:


“Com efeito, ignorar as Escrituras é ignorar a Cristo!”
(São Jerônimo)

As Sagradas Escrituras foram escritas, por católicos, para católicos. A Fé católica, tendo como
base a Palavra de Deus, alicerçada na Encarnação do Verbo e sua consequente Revelação na
pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo, expressa-se por meio da Sagrada Tradição Apostólica, as
Sagradas Escrituras e o Sagrado Magistério da Igreja. Ignorar, não apenas as escrituras, mas a
Sã Doutrina da Salvação, que é a UNIDADE destes três alicerces, é ignorar a Cristo, São Paulo já
advertia o Bispo São Timóteo, bispo de Éfeso (+-66 a 80 dC.) sobre o perigo de negligenciar o
que o Apóstolo definiu como sendo a Sã Doutrina da Salvação:

1
Eu te conjuro em presença de Deus e de Jesus Cristo, que há de julgar os vivos e os mortos, por sua aparição e
por seu Reino: 2prega a palavra, insiste oportuna e inoportunamente, repreende, ameaça, exorta com toda
paciência e empenho de instruir. 3Porque virá tempo em que os homens já não suportarão a SÃ DOUTRINA DA
SALVAÇÃO. Levados pelas próprias paixões e pelo prurido de escutar novidades, ajustarão mestres para
si. 4Apartarão os ouvidos da verdade e se atirarão às fábulas. 5Tu, porém, sê prudente em tudo, paciente nos
sofrimentos, cumpre a missão de pregador do Evangelho, consagra-te ao teu ministério.
(Segunda Carta de São Paulo a Timóteo - 2Tm 4,1-5)

A São Doutrina da Salvação, inclui tudo o que nós precisamos saber e praticar, para alcançar a
Salvação. Por quase 2.000 anos os padres, teólogos, santos e santa de Deus juntamente com os
doutores da Igreja, debruçaram-se sobre estes três alicerces, e alcançaram e ainda alcançam, a
luminosidade desta doutrina, que hoje está compilada, resumida, compartimentada e expressa no
Catecismo da Igreja Católica (CatIC), e ele nos ensina o seguinte:
15

Por esta razão, a Igreja sempre venerou as divinas Escrituras tal como venera o Corpo do Senhor.
Nunca cessa de distribuir aos fiéis o Pão da vida, tornado à mesa quer da Palavra de Deus, quer do
Corpo de Cristo (CVII- DV12).

Tal é o grau que a Igreja venera as Escrituras, que o CatIC ensina que é com a mesma
veneração que temos pela Eucaristia. Porém, uma vez que temos o CatIC, que tem compilada a
Sã Doutrina da Salvação, faz-se mais importante conhecer o CatIC do que as Sagradas
Escrituras, pois é ele quem confirma a fé católica. Esta afirmação pode parecer escandalosa,
porém, basta uma rápida olhada em nossa cultura, temos uma cultura protestantizada, que
supervaloriza não as Sagradas Escrituras, que vulgarmente é chamada de bíblia, mas sim, a
interpretação, opinião, parecer e narrativa individual de cada pessoa dando ares de autoridade e
verdade a qualquer afirmação que se refira ao seu conteúdo.

Um terrível exemplo é o que aconteceu na cidade de Serra, Espírito Santo, onde um homem, que
se dizia pastor evangélico, manteve relações sexuais, com uma vizinha, tendo consentimento de
sua esposa, e do marido da vizinha. Estranho? Mais estranho é a justificativa do adultério.
Segundo o próprio pastor, a vizinha sonhou (o que para ela foi uma revelação) que teria filhos
com o pastor, e após “entrar em oração”, descobriu na sua bíblia, que de fato, ele deveria
“adulterar” com a vizinha. Quando confrontado pelo repórter do Fantástico, o “pastor” faz um
questionamento: “Onde está na bíblia a proibição do homem ter mais de uma mulher?”. A mulher
com quem o pastor cometeu o adultério, disse: “Deus me levou a fazer isso!” e o esposo disse:
“Se é esta a vontade de Deus, não tem para onde correr”. O “pastor” continuou: “Então nós
entramos em oração, pedindo a Deus misericórdia, porquê seria uma das coisas mais difíceis da
minha vida”, e o repórter pergunta, “o que?” ao que o homem responde: “Tomar esta decisão,
pegar uma mulher que tem marido”, e o homem ainda cita a bíblia, o texto a seguir é tirado de
uma tradução protestante:
1
E o SENHOR me disse: Vai outra vez, ama uma mulher, amada de seu amigo, contudo adúltera, como o
SENHOR ama os filhos de Israel, embora eles olhem para outros deuses, e amem os bolos de uvas.
(Livro de Oséias - Os 3:1)

Ao ler o texto acima, o “pastor” entendeu o seguinte:

“E o SENHOR me disse: Vai outra vez, ama uma mulher, amada de seu amigo contudo
adultera...”

Percebeu a diferença?

A palavra ADÚLTERA, com acento, foi lida e interpretada como “ADULTÉRA”, e assim, com base
na Bíblia, o homem cometeu um adultério... Há muitos vídeos no youtube contando este caso,
basta procurar por “pastor adultera”, e vários vídeos iguais serão mostrados.

Há ainda um filme, que aborda as mazelas, loucuras e até crimes cometidos, com base em fatos,
por pessoas “religiosas” de cultura protestante nos EUA chamado: “O diabo de cada dia”. É
estrelado por Tom Holland, o ator que tem estrelado o Homem Aranha, sugerimos que assista ao
vídeo e ao filme, dentro do contexto que estamos falando.

Por estas e outras, para nós católicos, é mais importante conhecer o CatIC e as Sagradas
Escrituras, mas se não há tempo hábil na sua rotina, então, dedique-se primeiro em conhecer o
Catecismo da Igreja Católica. Uma vez conhecendo o conteúdo da Sã Doutrina da Salvação,
você terá mais habilidade e segurança em ler, entender e interpretar as Sagradas Escrituras.
16

Por que priorizar a leitura do Catecismo, ao invés das Sagradas Escrituras?

Como já vimos, há uma série de riscos em ler a Sagrada Escritura e dar uma interpretação
particular, privada ou não conseguir compreender bem o texto e terminar tirando conclusões
desconectadas do contexto histórico e do estilo literário do texto.
Após o Concílio Vaticano II (CVII), os bispos reunidos, pediram ao Papa o seguinte:

"Muitíssimos expressaram o desejo de que seja composto um Catecismo ou compêndio de toda a


doutrina católica, tanto em matéria de fé como de moral, para que ele seja como um ponto de
referência para os catecismos ou compêndios que venham a ser preparados nas diversas regiões. A
apresentação da doutrina deve ser bíblica e litúrgica, oferecendo ao mesmo tempo uma doutrina
sã e adaptada à vida atual dos cristãos" (Fidei Depositum)

Ainda no mesmo documento, que é o texto introdutório do próprio CatIC, o papa São João Paulo
II, faz uma belíssima afirmação:

“O "Catecismo da Igreja Católica" é fruto de uma vastíssima colaboração: foi elaborado em seis
anos de intenso trabalho, conduzido num espírito de atenta abertura e com apaixonado ardor.”
(FD)

E nos dá uma garantia:

“Um catecismo deve apresentar, com fidelidade e de modo orgânico, o ensinamento da Sagrada
Escritura, da Tradição viva na Igreja e do Magistério autêntico, bem como a herança espiritual dos
Padres, dos Santos e das Santas da Igreja, para permitir conhecer melhor o mistério cristão e
reavivar a fé do povo de Deus. Deve ter em conta as explicitações da doutrina que, no decurso dos
tempos, o Espírito Santo sugeriu à Igreja.” (FD)

Existem no Brasil, dois grandes nomes do ensino ortodoxo da fé católica na atualidade, o primeiro
é o Padre Paulo Ricardo de Azevedo Júnior, que possui um site com inúmeros cursos de
aprimoramento doutrinário, teológico e filosófico. Tendo sido já reitor de seminário, hoje, dedica-
se à sua paróquia e ao site: https://padrepauloricardo.org. Se não conhece, sugerimos que
conheça. O pe. Paulo, como é conhecido, é um dos membros da comissão de revisão da versão
portuguesa do CatIC, e o utiliza em todas as suas formações, tendo ao menos dois cursos
específicos para aprofundamento detalhado do CatIC.

Outra referência brasileira de apologética e catequese, é o Professor Felipe Rinaldo Queiroz de


Aquino, ou apenas, Prof. Felipe Aquino, que é um prolífero escritor, fundador da Editora Católica,
Cléofas (https://cleofas.com.br/), escritor, com mais de 80 livros publicados, apresentador dos
programas "Escola da Fé" e "Pergunte e Responderemos", pela TV Canção Nova, e mesmo
sendo leigo, recebeu do Papa Bento XVI, o título de ‘Cavaleiro da Ordem de São Gregório
Magno’, que foi criado no dia 1º de setembro de 1831, pelo Papa Gregório XVI, como forma de
manifestar o reconhecimento da Igreja por aquelas pessoas que se entregaram a ela na defesa
da fé católica e da pregação do Evangelho.

Muitas vezes o Prof. Felipe foi questionado em sua insistência para que as pessoas conheçam e
se aprofundem cada vez mais no CatIC ao invés das Sagradas Escrituras, sendo ele mesmo
autor também de inúmeros cursos, tanto em rádio quanto em TV, de formação do CatIC, em um
de seus vídeos de formação, disse o seguinte:

“Conhecer o Catecismo é conhecer a Sagrada Escritura, pois nele há mais de 3.000 citações das
Sagradas Escrituras e nele está compilado toda a Doutrina da Igreja, o que os santos doutores
disseram e a Sagrada Tradição juntamente com o Magistério vivo da Igreja nos tem ensinado ao
17

longo de 2.000 anos.” (Prof. Felipe Aquino - Como entender e usar o catecismo da igreja,
15/07/2021 - https://www.youtube.com/watch?v=VGxnpGb8ics&t=1413s)

Eis aí o teu Catecismo da Igreja Católica:

O Bom
Pastor

Fidei Depositum

Após o índice, algumas das primeiras palavras que você encontrará é a Constituição Apostólica
(um pronunciamento solene de um Papa) Fidei Depositum, escrita apenas para você (sim, você)
por São João Paulo II. Nestas páginas, o então papa explica por que foi publicado o CatIC: para
que possamos perceber que:
“Cristo está sempre presente na sua Igreja, especialmente nos sacramentos; ele é a fonte da nossa
fé, o modelo de conduta cristã e o Mestre da nossa oração”. (FD, 2)

O prólogo

Depois do Fidei Depositum, o CatIC começa com um prólogo que explica como esses recursos
existem para ajudar todos a encontrar Cristo.

“Sempre e em toda parte, Ele está próximo do homem. Chama-o e ajuda-o a procurá-Lo, a
conhecê-Lo e a amá-Lo com todas as suas forças...”. (CatIC, 1)

O conteúdo do CatIC é todo direcionado para nos ajudar a responder a este chamado de Deus.

Os quatro pilares

O CatIC apresenta o Depósito da Fé em quatro partes ou “quatro pilares”: o Credo, os


sacramentos, os mandamentos e a oração. O Prof. Felipe Aquino explica que a ordem dessas
quatro partes acompanha perfeitamente nosso caminho de fé: primeiro, o credo, porque nós não
teríamos nada a dizer como cristãos se o Pai não tivesse falado por meio do Filho e no Espírito
Santo, chamando-nos à comunhão com Ele. A seguir, a explicação dos Sacramentos
começando pela Liturgia, realçando como podemos responder a este convite de comunhão com
Deus. Somente depois de receber o poder dos sacramentos somos instruídos na vida moral, na
vivência da fé: as bem-aventuranças e os dez mandamentos. Por fim, somos instruídos sobre o
significado e a importância da oração, que é o objetivo da vida cristã, que segue sempre o
caminho da Revelação, que se comunicou e nos deu a comunhão com o Pai, por meio de Cristo
no Espírito Santo.
18

Um monte de números

Olhe para qualquer página do Catecismo e você verá números. Muitos números. Essa foi a parte
que causa maior desconforto nos leitores, para entendê-los, vejamos o esquema a seguir:

Página

Parágrafo

Referência Cruzada

Citação

Além da página, que é óbvia, há os parágrafos, que no CatIC somam um total de 2.865, conforme
o texto disponibilizado pelo Site do Vaticano (https://www.vatican.va/) e disponível de forma
gratuita em PDF em vários idiomas no link: https://www.vatican.va/archive/ccc/index_po.htm

A “referência cruzada” é uma citação que o texto faz ao próprio texto, no exemplo, o parágrafo
837, está indicando que o parágrafo 771, está descrevendo algo semelhante ao que está sendo
dito no parágrafo que está sendo lido.

Mais um exemplo desta referência cruzada, tome o seu CatIC e vá para o parágrafo §1831 – que
lista os sete dons do Espírito Santo e como eles nos ajudam a viver nossa vida em Cristo. Se
você olhar à esquerda do número do parágrafo em negrito, verá mais dois números em itálico:
§1266 e §1299. Que são as referências cruzadas. Observe: a grandiosidade das referências
cruzadas. O que isto significa? Se você pular para §1266, ele explica (entre outras coisas) como o
Sacramento do Batismo concede os dons do Espírito Santo. O parágrafo §1299 descreve como
as orações do Sacramento da Confirmação dão os dons do Espírito Santo. Quase todos os
parágrafos são acompanhados por referências cruzadas que podemos consultar para ver como
um tópico (como os Dons do Espírito Santo) pode ser encontrado nos quatro pilares da nossa fé.

A citação, que no caso é 1.513, refere-se a uma citação direta do CVII, que aparecerá ao pé da
página e no índice de citações, como: “LG 14” e “II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Lumen
Gentium, 14: AAS (Acta Apostolicae Sedis) 57 (1965) 18-19”, respectivamente. Em PDF e no site
do vaticano, as citações mudam um pouco, porém, são mais fáceis de consultar do que no livro
físico.

Seções: RESUMINDO

O conteúdo do CatIC, por vezes parece intrincado e até subjetivo, pois é uma linguagem
filosófica, e o ideal para compreender profundamente os termos utilizados pelo CatIC, seria
entender o básico de Metafísica. Mas, nós leigos, mesmo não compreendendo de filosofia
metafísica, somos capazes de compreender, se nos debruçarmos em “parágrafo por parágrafo”,
pois todos os parágrafos, costumam ser auto-explicativos, e caso surjam dúvidas de
19

compreensão, basta verificar o parágrafo referenciado, que se compreende o sentido do texto que
se pretende compreender.

Há ainda, ao final de cada capítulo, uma reunião de pequenos parágrafos, que terão como título:
RESUMINDO; que trarão letras em itálico que explicação de forma mais resumida aquele
capítulo, como uma espécie de fixação de conteúdo.

Índices, Glossários e Abreviações

O final do CatIC, lista de siglas e abreviações de cada referência usada, em seguida o índice das
citações, que são literalmente milhares, como já vimos, só das Sagradas Escrituras são mais de
3.000, porém, há citações de todo o conteúdo da Patrística, dos Doutores da Igreja, dos Concílios
e Sìnodos, dos Papas, de outros documentos importantes como o Código de Direito Canônico
(CIC), outros catecismos antigos como o Catecismo Romano e o Catecismo de São Pio X.

Por fim, o CatIC trás um índice analítico em ordem alfabética, para se fazer busca rápida por
tema, onde cada palavra do índice, trás os parágrafos onde é tratado o termo de pesquisa do
índice e todas as suas referências dentro do Catecismo. Por exemplo:

ABANDONO

Abandono à providência; 305, 322, 2115;


Abandono à vontade de Deus; 2677;
Abandono de Maria em Deus; 506; Temas e Parágrafos
Abandono dos discípulos; 1851;
Deus nunca abandona seu povo; 2577

Como ler/estudar o Catecismo da Igreja Católica?

O ideal, é lê-lo de “capa a capa”, porém, como se faz isso, pode ser diferente de pessoa para
pessoa.

1. Método:

Se há uma certa necessidade de ler com rapidez, e a pessoa já tem algum conhecimento
metafísico, por ter feito um curso de filosofia, apologética ou mesmo assistido aulas on line sobre
o assunto, é possível que se leia e entenda o CatIC dentro de 1(um) ano.

Tomando os 2.865 parágrafos, e dividindo por 365 dias, teremos algo próximo de 7,5 parágrafos
por dia. Na prática, os finais de semana e feriado, provar-se-á que é difícil persevera no estudo
diário, então, um ano tem aproximadamente 250 dias, o que nos darão em torno de 11 a 12
parágrafos por dia.

2. Método:

Outra opção, um pouco mais demorada, porém, eficiente para os que não tem nenhum tipo de
iniciação em filosofia, é ler um capítulo por semana, ou seja, do início, parando nos RESUNINDO
e indo de “resumo em resumo”, anotando as dúvidas e fazendo um verdadeiro diário de estudos.

Este método é mais eficiente, porém, pode demorar em torno de um ano e meio a dois anos, mas
acreditamos que vale muito a pena.
20

3. Método:

O estudo pelo índice temático é extremamente indicado para quem deseja ser catequista, ou que
deseja apenas se aprofundar mais na própria fé. Consiste em tomar os termos de sua
preferência, e consultar item por item, na ordem que preferir, tomando o cuidado para não se
repetir e não deixar nenhum item de fora do estudo.

Aqui, é mais importante ainda ter um diário de estudos, pois como é um estudo dirigido por
temas, a organização textual em um caderno ou vários cadernos de suporte, podem fazer toda a
diferença na própria compreensão do conteúdo e fixação dele, uma vez que o caderno irá
funcionar como um mapa mental de busca dos estudos realizados.

ATENÇÃO: O ideal, é que o estudo da fé, tenha início, mas não tenha fim, sendo assim, inicie
pelo método 1, quando terminar, vá para o método 2 e por fim, continue os estudos pelo método
3. Desta forma, permanece-se atualizado no conteúdo e pode ter certeza, estes ensinamentos
do Catecismo, poderão ser aplicados em tudo e nossas vidas, desde escolha de vocação e de
parceiro de vida, como educação dos filhos, problemas afetivos e questões profissionais, não
importando a área de conhecimento por você escolhida. É um verdadeiro tesouro.

Mas e a Bíblia, vamos algum dia ler ela?

Uma vez que já se começou a ler o Catecismo e já o está assimilando. A Leitura das Sagradas
Escrituras serão de extrema valia em nosso relacionamento com Deus. Ora, o Catecismo contém
grande parte da Palavra de Deus, mas as Sagradas Escrituras, são a “Palavra de Deus” por
excelência, pois é o próprio Deus se expressando. Conhecer as Sagradas Escrituras e ter
intimidade com ela, é conhecer o próprio Deus e ter intimidade com Ele. Assim como o Catecismo
tem métodos para sua leitura e estudo, as Sagradas Escrituras também tem;

Regras de ouro para ler o Catecismo e/ou a Bíblia:

1. Leia todos os dias;


2. Tenha uma hora marcada para a leitura;
3. Marque a duração do tempo;
4. Escolha um bom lugar;
5. Leia com caneta ou lápis e papel na mão;
6. Faça tudo num ambiente de oração;

Mantenha o seu DIÁRIO espiritual em dia!

Método 1: LEITURA ORANTE - LECTIO DIVINA

A Lectio Divina (pronuncia-se Léssio) é um dos métodos de oração com as Sagradas Escrituras
mais tradicionais da Igreja. Grandes santos a praticavam diariamente, e ela tornou-te o primeiro
contato de muitas pessoas com a Palavra de Deus, entenda sempre, Palavra de Deus, como
sendo a Revelação Divina, e não unicamente a Sagrada Escritura, que neste caso, também se
refere a Sagrada Tradição e Magistério presentes no Catecismo, portanto é um método que
também pode e deve ser aplicado ao Catecismo.

Lectio Divina é um exercício de escuta pessoal da Palavra de Deus. Funciona como uma escada
de quatro degraus espirituais: Leitura, Meditação, Oração, Contemplação. Sendo que os
degraus são mais para a compreensão, pois o Senhor, na liberdade do seu Espírito, pode elevar à
oração e à contemplação no momento que lhe aprouver. É preciso, portanto, estar aberto à ação
do Espírito Santo: “Buscai na leitura e encontrareis na meditação; batei pela oração e encontrareis
pela contemplação” (Monge Guido II, Idade média).
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O primeiro passo, no entanto, é colocar-se em oração, pois, o autor das Sagradas Escrituras, da
Tradição e o grande Mestre do Magistério, é o Divino Espírito Santo, então, é preciso ler, no
mesmo Espírito que foi escrito. Por isso, faz-se necessário clamar pela presença do Espírito
Santo:

Oração Vinde Espírito Santo:

Vinde Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis e acendei neles o fogo do Vosso Amor.
Enviai o Vosso Espírito e tudo será criado e renovareis a face da terra.

Oremos: Ó Deus que instruíste os corações dos vossos fiéis, com a luz do Espírito Santo, fazei
que apreciemos retamente todas as coisas segundo o mesmo Espírito e gozemos da sua
consolação. Por Cristo Senhor Nosso. Amém

1. Leitura:

No caso do Catecismo:

No caso das Sagradas Escrituras: O que fala o texto? É necessário estar atento aos detalhes: o
ambiente, o desenrolar dos acontecimentos, os personagens do texto, quais são os diálogos, a
reação das pessoas; procurando perceber os seus sentimentos, as questões mais interessantes,
as palavras e trechos que chamam mais atenção. Esse passo é o que exige maior esforço da
nossa parte. Quando se lê os Evangelhos, é interessante também ficar atendo às perguntas que
Nosso Senhor faz, e, as respostas que Ele dá, quando é questionado.

2. Meditação

O que diz o texto de forma pessoal para mim? Este é o momento de se colocar diante da Palavra.
É hora de “ruminar”, saborear a Palavra de Deus. Na meditação vamos questionando,
confrontando a passagem com a nossa vida, por meio do Espírito Santo. É uma experiência mais
voltada ao sentido Moral do conteúdo do texto.

3. Oração

O que o texto me faz responder ao Senhor? A oração nasce como fruto da meditação. Os
sentimentos nos levam a dar uma resposta a Deus. Através do Espírito Santo, nos é suscitado o
louvor, a súplica, a oração penitencial, a oferta.

4. Contemplação

O que a Palavra faz em mim? É o próprio Deus que age em nossas vidas. É permitir a ação de
Deus que recebe a nossa oração e nos leva ao Seu coração. Na contemplação nós somos
impelidos a ser como Cristo. Contemplar, muitas vezes exige visualizar, imaginar, ver a obra de
Deus em nós. A contemplação não termina quando termina a Lectio Divina, ela continua ao longo
do dia. Precisamos perceber as mudanças, a ação de Deus em nossa vida.

Falaremos mais sobre Meditação e Contemplação quando formos falar sobre Vida de Oração.

Método 2: DIÁRIO ESPIRITUAL

O Diário Espiritual é um método proposto por Monsenhor Jonas Abbib aos consagrados da
comunidade Canção Nova, ele escreveu um livro com o mesmo nome, por isso, aqui,
apresentaremos um resumo deste livro.
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Como fazer:

✓ Use um caderno, caderneta, agenda ou fichário.


✓ Reserve uma folha nova para cada dia.
✓ No alto de cada página, coloque a data do trabalho: dia da semana, mês e ano.
✓ A seguir, desenvolva à sua maneira o seu diário, considerando os cinco(5) itens a seguir:

1. Promessas de Deus;
2. Ordens de Deus para obedecer;
3. Princípio Eterno;
4. Mensagem de Deus para mim hoje;
5. Como posso aplicar isso em minha vida?

1. Promessas de Deus: são coisas que Deus promete.

Nem sempre se encontram promessas divinas nos trechos que lemos. Se não encontrar, não tem
o que anotar. Mas se encontrar... ANOTE-AS no seu Diário Espiritual!

2. Ordens de Deus para obedecer: São prescrições claras para nortear a nossa vida como
mandamentos, proibições, ordens, regras, leis.

Dica: o verbo colocado no imperativo é um sinal de uma ordem: dai, fazei, buscai, recebei,
perdoai, sede... e anote-as!!

3. Princípio eterno: princípios imutáveis e permanentes que expressam o funcionamento do Reino


de Deus.

Ex: “Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis
perdoados.” ou “Todo aquele que se exaltar será humilhado, e quem se humilhar será exaltado.”

Não se esqueça de ANOTAR!!!

4. Mensagem de deus para mim hoje: Em tudo aquilo que você leu, em tudo o que você trabalhou
até agora no seu diário, qual é a mensagem de Deus para você hoje? É certo que Deus tem uma
mensagem para você.

Basta ficar atento, numa atitude de expectativa, para descobri-la. Anote a mensagem todos os
dias. Não deixe que ela se perca. Faça de maneira muito pessoal, com suas próprias palavras.
Seja simples. Nada de complicações.

5. Como posso aplicar isso em minha vida? O que Deus nos inspira para colocar em prática na
nossa vida o que lemos? Eis aí a REFLEXÃO: Esta reflexão, precisa NECESSARIAMENTE
mudar nosso modo de agir! Caso contrário, não estamos nos deixando mover pela Palavra de
Deus!

METANÓIA / CONVERSÃO / MUDANÇA DE VIDA – Estes são os focos da aplicação.

Método 3: ACOMPANHANDO A LITURGIA DIÁRIA

Após o Concílio Vaticano II, a Igreja aprimorou o calendário litúrgico criado pelo Concílio de
Trento, e o ampliou, desta forma, lendo a liturgia diária proposta pela Igreja para a liturgia
eucarística, tomando todas as leituras propostas (1ª. Leitura, 2ª. Leitura - quando houver, Salmo
Responsorial e Evangelho) é possível ler mais de 90% das Sagradas Escrituras.
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A vantagem é que os textos são correlacionados, criando um vínculo analógico diretos entre os
textos do Antigo Testamento com o Novo testamento. Há ainda uma outra vantagem, são
inúmeros os padres, religiosos e estudiosos que realizam explicações diárias nas mídias sociais
dos textos litúrgicos propostos.

Os de nossa preferência, são a Homilia Diária, que é um áudio de aproximadamente 5 minutos


ondo o Pe. Paulo Ricardo expõe de forma resumida e profunda o conteúdo e as chaves de leitura
dos textos propostos. Outra opção são as homilias diárias propostas pelo canal do Prof. Felipe e
da Canção Nova no You Tube.

Segue-se o mesmo modelo, ou da Lectio Divina ou do Diário Espiritual, a diferença é que há a


necessidade de se possuir um Missal Quotidiano ou um Lecionário, ou ainda ser assinante de
alguma editora que envie pelo correio os textos da Liturgia Diária. Mas sem dúvida o mais
cômodo e rápido é possuir um aplicativo de celular que tenha os textos diários em ordem, o que
nós indicamos sempre é o aplicativo I-Liturgia, que além da liturgia diária, possui a edição
completa e atualizada da “liturgia das horas”, bem como todo o Missal Romano e inúmeras
orações em Português e Latim para nos ajudar na vida de oração diária.

ANTENÇÃO: A leitura das Sagradas Escrituras, bem como a do Catecismo, precisa ser algo que
nos acompanhe pela vida toda, então, sugerimos que se leia no mínimo um e no máximo 4
capítulos das Escrituras por dia para se obter uma compreensão satisfatória, e obedecendo a
sequência a seguir:

SEQUÊNCIA PARA LEITURA/ESTUDO

Esta sequência também é a proposta por Monsenhor Jonas Abbib, ela não está em ordem
cronológica, o NT está em ordem de sensibilidade, onde estão os trechos mais amorosos para os
menos amorosos. Já o AT, está em ordem cronológica da Revelação de Deus a Seu povo Israel:

NOVO TESTAMENTO
1. 1ª. João 7. Colossenses 13. Filemon 19. 2ª. Coríntios 25. 3ª. João
2. Evangelho João 8. 1ª. Tessalonicenses 14. Evangelho Lucas 20. Hebreus 26. Judas
3. Evangelho Marcos 9. 2ª. Tessalonicenses 15. Atos 21. Tiago 27. Apocalipse
4. Gálatas 10. 1ª. Timóteo 16. Romanos 22. 1ª. Pedro
5. Efésios 11. 2ª. Timóteo 17. Evangelho Mateus 23. 2ª. Pedro
6. Filipenses 12. Tito 18. 1ª. Coríntios 24. 2ª. João
Alguns livros são importantes que sejam revisados: Evangelho e 1ª Carta de São João e Carta de São Paulo aos Coríntios.

ANTIGO TESTAMENTO
1 Gênesis 11 Oséias 12 Isaías (40_55) 29 Jonas 39 2a. Macabeus
2 Êxodo 12 Isaías (1_39) 21 1a. Crônicas 30 Rute 40 Baruc
3 Números 13 Miquéias 22 2a. Crônicas 31 Tobias 41 Daniel
4 Josué 14 Naum 23 Esdras 32 Judite 42 Sabedoria
5 Juízes 15 Sofonias 24 Neemias 33 Ester 43 Levítico
6 1a. Samuel 16 Habacuque 25 Ageu 34 Eclesiástico 44 Deuteronômio
7 2a. Samuel 17 Jeremias 26 Zacarias 35 Cântico dos Cânticos 45 Provérbios
8 1a. Reis 18 Lamentações 12 Isaías (56_66) 36 Jó 46 Salmos
9 2a. Reis 19 Ezequiel 27 Malaquias 37 Eclesiastes
10 Amós 20 Abdias 28 Joel 38 1a. Macabeus
A Profecia de Isaías (12) está dividida em três, por causa de uma particularidade do próprio livro.
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INTRODUÇÃO Ã VIDÃ DE ORÃÇÃO:


“O homem é criado para louvar, prestar reverência e servir a Deus nosso Senhor e, mediante isto,
salvar a sua alma.” (Santo Ignácio de Loyola)

Como olhar para este mundo, e ver que nele há a maldade, a desgraça, os sofrimentos, as
desigualdades sociais, a polarização política, as perseguições étnicas, o preconceito, a
desvalorização da vida pela cultura de morte, doenças e pandemias globais, o tráfico, abuso e
exploração sexual de homens, mulheres e crianças, a ideologia de gênero, o culto ao corpo, o
materialismo ateu, a hipervalorização e promiscuidade sexual, a pornografia digital, a
criminalidade que aumenta a cada dia, seguida da impunidade e insegurança jurídica, a
decadência das leis seguida da corrupção dos políticos, dos cidadãos e até mesmo de nossos
pastores, com a infiltração da Igreja por seus inimigos que são “lobos em pele de cordeiros” e
muitas vezes, são “diabolôs” travestidos de pastores, a omissão dos que acreditam ser bons e o
silêncio ensurdecedor do Céu, e mesmo assim, arriscar-se em uma vida de oração?

Como dedicar a vida a momentos de oração e de paz durante o dia, tendo tantas e tantas
preocupações do dia a dia, e como se não bastassem as mazelas do mundo, temos ainda nossos
medos, traumas, dificuldades interiores, transtornos e síndromes que muitas vezes nos impede
de ter uma vida que possa ser chamada de “normal”, e mesmo assim, arriscar ter uma vida de
oração, que muitas vezes me parece uma alienação, um vício e uma fuga, como já disseram
outros sábios anteriormente, a espiritualidade e religiosidade mais parece “o ópio do povo” o
esconderijo dos fracos, a caverna dos amedrontados?

E como me desviar da agitação, da urgência, das necessidades diárias, das intrigas familiares, do
trabalho sufocante, dos estudos facultativos que são na verdade obrigatórios, ENEM, Receita
Federal, barulhos, tumultos e tantas e tantas outras coisas que se interpõe entre mim e a vida de
oração? Não tenho nem mesmo muito tempo para mim, como terei um tempo para Deus?

"O céu é para quem sonha grande, pensa grande, ama grande, e tem a coragem de
viver pequeno". Padre Léo Tarcísio Gonçalves Pereira (Pe. Léo)

Santo Inácio de Loyola (1491-1556) autor da primeira frase desta nossa reflexão, era um soldado
que quando ferido, passou muitos dias em um hospital se recuperando, e como gostava de ler,
leu a vida dos santos, e converteu-se, abandonando a vida de soldado, passou a dedicar-se à
vida de oração, oferecendo seu trabalho na evangelização dos povos, fundando a Congregação
Jesuíta (Companhia de Jesus). Ele sofreu praticamente todas as mazelas que descrevemos
acima, e diante de tamanhas dificuldades, ele entregou-se a oração. Ele é o responsável direto
por eu e você hoje podermos ser chamados de católicos, pois ele pessoalmente enviou
missionários até o então “mundo novo” para a Evangelização do Brasil, até então, conhecida pelo
nome de Terra de Santa Cruz.

Alguns séculos mais tarde, um jovem dependente químico, chamado Tarcísio, que se preparava
para ter uma noite regada a muita droga e bagunça em um show que estava sendo preparado na
cidade de Itajubá, na década de 80, ao preparar um cigarro de maconha, tem uma visão, de si
mesmo celebrando a Santa Missa. Naquele mesmo instante, abandona o mundo das drogas, e
passa a dedicar-se a uma vida de oração, sendo ordenado padre e abandonando tudo mais uma
vez, dedica-se aos marginalizados perdidos no vício da droga, afundados na AIDS, travestidos e
prostituídos(as) funda a Comunidade Bethânia, e passa a morar com aqueles que ele resgatava
pelas ruas das cidades de Santa Catarina, convertendo milhares de pessoas com suas pregações
televisionadas pelo Brasil inteiro, até hoje disponíveis nas mídias sociais.
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Estas duas histórias têm em comum uma realidade, que tem tocado a vida de milhares de
pessoas ao longo da história, e nós nos debruçaremos a seguir, sobre a vida de outras pessoas
que também foram tocada do mesmo modo, levando cada uma delas a assumir um o propósito
da vida de oração. Santo Inácio de Loyola, já é santo e está na Glória de Deus, já o Pe. Léo, está
em processo de beatificação e canonização, mas com certeza já está na glória de Deus. Pois
ouviram e colocaram em prática o que Nosso Senhor nos ensinou:

“Referi-vos essas coisas para que tenhais a paz em mim. No mundo haveis de ter aflições. CORAGEM! Eu venci o
mundo.”
(Jo 16,33)

Lição 4: Vidã de orãção - O “toque”


A vida de oração começa, quando somos “tocados” pela Graça de Deus. Mesmo quando somos
batizados ainda crianças, e que nossos pais nos ensinam a rezar, esta, ainda não é a vida de
oração, que irá depender deste “toque especial” da Graça de Deus em nossas vidas, não apenas
em nossos corações (Sentimentos), mas também, em nossa alma (Inteligência, Vontade e
Memória/Imaginação).

Este “toque” pode ser entendido como “chamado” ou “epifania” em que a pessoa toma
conhecimento de que Deus está agindo em sua vida, alguns também podem conhecer como
“conversão”. Uma excelente passagem que poderá nos servir de base para nossa compreensão,
é o chamado de Samuel.

Samuel era filho de Elcana e Ana, que era estéril, mas que, após uma profunda oração e
lamentação diante de Deus, Ana, recebeu a graça de conceber, e ao dar a luz, consagrou a
criança a Deus, e assim que desmamou, foi levado para servir a Arca da Aliança, junto ao
sacerdote Heli. Notemos que Samuel, ainda não tinha uma vida de oração, apesar de servir e de
participar dos rituais religiosos de Israel, desde a mais tenra idade. Então, eis o “Toque”,
“Chamado”, “Epifania” ou “Conversão” de Samuel:

“O jovem Samuel servia ao Senhor sob os olhos de Heli. A palavra do Senhor era rara naqueles dias, e as visões
não eram frequentes. Ora, aconteceu certo dia que Heli estava deitado (seus olhos tinham-se enfraquecido, e
ele mal podia ver), e a lâmpada de Deus ainda não se apagara. Samuel repousava no templo do Senhor, onde se
encontrava a arca de Deus. O Senhor chamou Samuel, o qual respondeu: Eis-me aqui. Samuel correu para junto
de Heli e disse: Eis-me aqui: chamaste-me. Não te chamei, meu filho, torna a deitar-te. Ele foi e deitou-se. O
Senhor chamou de novo Samuel. Este levantou-se e veio dizer a Heli: Eis-me aqui, tu me chamaste. Eu não te
chamei, meu filho, torna a deitar-te. Samuel ainda não conhecia o Senhor; a palavra do Senhor não lhe tinha
sido ainda manifestada. Pela terceira vez o Senhor chamou Samuel, que se levantou e foi ter com Heli: Eis-me
aqui, tu me chamaste. Compreendeu então Heli que era o Senhor quem chamava o menino. Vai e torna a
deitar-te, disse-lhe ele, e se ouvires que te chamam de novo, responde: Falai, Senhor; vosso servo escuta! Voltou
Samuel e deitou-se. Veio o Senhor pôs-se junto dele e chamou-o como das outras vezes: Samuel! Samuel! Falai,
respondeu o menino; vosso servo escuta!”
(1 Sm 3, 1-10)

O texto nos apresenta uma realidade. Deus nos chama muitas vezes, e nós, muitas vezes não
compreendemos o chamado. Constantemente, Deus está nos chamando, está nos convidando à
conversão, está nos guiando pela mão, mas nós permanecemos insensíveis ao seu chamado e
ao seu convite.

Elias, é um dos maiores profetas do Antigo Testamento, foi brutalmente perseguido pelo próprio
Rei de Israel Acab e por sua esposa Jezabel, ela era adoradora de Baal, e por causa dela, Israel
pecou por idolatria. Elias, enfrentou os “profetas” de Baal, e numa luta, passou ao fio da espada
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todos os sacerdotes e profetas de Baal, então, teve que fugir. Na fuga, ele lamenta por seu ardor
e o anjo do Senhor lhe oferece um alimento que é prefigura da Eucaristia, logo em seguida
acontece o seguinte diálogo:

“O Senhor desse-lhe: Sai e conserva-te em cima do monte na presença do Senhor: ele vai passar. Nesse
momento passou diante do Senhor um vento impetuoso e violento, que fendia as montanhas e quebrava os
rochedos; mas o Senhor não estava naquele vento. Depois do vento, a terra tremeu; mas o Senhor não estava
no tremor de terra. Passado o tremor de terra, acendeu-se um fogo; mas o Senhor não estava no fogo. Depois
do fogo ouviu-se o murmúrio de uma brisa ligeira. Tendo Elias ouvido isso, cobriu o rosto com o manto, saiu e
pôs-se à entrada da caverna. Uma voz disse-lhe: Que fazes aqui, Elias? Ele respondeu: Consumo-me de zelo pelo
Senhor, Deus dos exércitos. Porque os israelitas abandonaram a vossa aliança, derrubaram os vossos altares e
passaram os vossos profetas ao fio da espada. Só eu fiquei, e agora querem tirar-me a vida.”
(1 Reis 19, 11-14)

Não adianta procurar Deus no barulho exterior do mundo, Elias estava dentro de uma caverna,
escondido, com medo, mas o Senhor, disse para ele ir para cima do monte, em outro momento,
no Novo Testamento, Jesus nos diz:

“Vós sois o sal da terra. Se o sal perde o sabor, com que lhe será restituído o sabor? Para nada mais serve senão
para ser lançado fora e calcado pelos homens. Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade
situada sobre uma montanha nem se acende uma luz para colocá-la debaixo do alqueire, mas sim para colocá-
la sobre o candeeiro, a fim de que brilhe a todos os que estão em casa. Assim, brilhe vossa luz diante dos
homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai que está nos céus.”
(Mt 5, 13-16)

Deus não se manifesta no “vento impetuoso”, que “quebrava tudo”, que representa nossa raiva,
nossa ira, nossa agitação e até o nosso “instinto” de autodestruição e depreciação. Deus não está
no tremor de terra, que é nossa ânsia revolucionária, nossas ideologias, nossa rebeldia com este
mundo e muito menos em nosso ativismo político que vê o mundo sempre com olhos pessimistas
e negativos. Depois apareceu o fogo, que é símbolo do poder, do sucesso, do dinheiro, do prazer,
do entretenimento, de tudo aquilo que nos distrai de nós mesmos, que nos coloca em uma atitude
otimista demais diante deste mundo. Por fim veio “o murmúrio de uma brisa ligeira” que é símbolo
de quietude, silêncio e sobriedade, e a atitude do profeta, deve ser a nossa, pois ele
imediatamente cobriu o rosto, e finalmente saiu de sua caverna.

Repare que o profeta, de rosto coberto saiu da caverna, um ato de fé, pois ele não via por onde
passava, ele não via para onde estava indo, mas ele seguia a “brisa suave” que havia lhe tocado,
Deus não está fora de nós, mas dentro de nós, como Santo Agostinho escreveu:

“Tarde te amei, ó beleza tão antiga e tão nova! Tarde demais eu te amei! Eis que habitavas dentro
de mim e eu te procurava do lado de fora! Eu, disforme, lançava-me sobre as belas formas das
tuas criaturas. Estavas comigo, mas eu não estava contigo. Retinham-me longe de ti as tuas
criaturas, que não existiriam se em ti não existissem. Tu me chamaste, e teu grito rompeu a minha
surdez. Fulguraste e brilhaste e tua luz afugentou a minha cegueira. Aspergiste tua fragrância e,
respirando-a, suspirei por ti. Eu te saboreei, e agora tenho fome e sede de ti. Tu me tocaste, e
agora estou ardendo no desejo de tua paz.” (Confissões, 38)

Se hoje você está aqui, procurando por algum sacramento, é por que em algum momento, Deus
TOCOU em você. Tente se lembrar que momento foi este! Procure trazer à memória aquele
momento em que você pôde sentir a Graça de Deus e sentiu-se impelido a procurar um
aprofundamento na sua própria religiosidade.

Você, assim como Samuel, Elias, Santo Agostinho, como os discípulos de Jesus e como todos os
santos da Igreja e com certeza, assim como todos os homens e mulheres deste mundo, sentiu o
toque da Graça de Deus, percebeu um leve chamado à conversão, e um movimento interior, para
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tornar-se melhor do que era antes, tornar-se maior do que você mesmo, tornar-se algo que você,
sabe que você não é, ainda, mas que, de algum modo, ao se aproximar de Deus, você poderá
ser.
Este entendimento, digo entendimento, pois é maior do que um simples sentimento, mas é um
movimento da alma, sendo assim, este entendimento, vem sempre a partir de uma experiência
que temos com Deus. Nada sobrenatural como a voz que Samuel ouviu durante a noite, mas
pode ter sido uma frase que você leu, ou um filme que assistiu, ou uma homilia que ouviu... Seja
lá o que for este breve momento, é o responsável pela sua mudança de vida e é o momento
decisivo e responsável pelo seu interesse em buscar as “coisas do alto” (Col 3,1).

A maioria de nós passou muitas vezes por esta situação. Raramente damos ouvidos a Deus no
primeiro toque, no primeiro chamado. Infelizmente, assim como Moisés, somos tocados, mas não
damos sequência na busca pelas coisas do alto, por que, mesmo tendo sentido o toque, não
trazemos este toque para o entendimento. Vejamos o que aconteceu com Moises.

Moises nasceu predestinado a ser o “salvador” dos hebreus do Egito. Foi criado como neto do
Faraó, poupado da matança das crianças hebreias, e quando adulto, viu a opressão que o seu
povo hebreu sofria. Um dia, quando passeava pelo Egito, viu um egípcio bater em um dos seus
irmãos hebreus, e para defender o hebreu, Moises terminou matando o egípcio e por isso, fugiu
do Egito. Podemos dizer, que, naquele momento, Moises foi convidado à conversão. Porém, ao
invés dele se converter, ele fugiu e foi viver no deserto.

No deserto, muito tempo depois, o Faraó que procurava prender Moisés já havia morrido, Moisés
é surpreendido pela visão da Sarça. Notemos que quando Moises recebeu o primeiro “toque” ele
tinha por volta de 40 anos, agora, ele já estava com 80 anos. E eis como Deus falou a Moisés:

“Moisés apascentava o rebanho de Jetro, seu sogro, sacerdote de Madiã. Um dia em que conduzira o rebanho
para além do deserto, chegou até a montanha de Deus, Horeb. O anjo do Senhor apareceu-lhe numa chama
(que saía) do meio a uma sarça. Moisés olhava: a sarça ardia, mas não se consumia. ‘Vou me aproximar, disse
ele consigo, para contemplar esse extraordinário espetáculo, e saber porque a sarça não se consome.’ Vendo o
Senhor que ele se aproximou para ver, chamou-o do meio da sarça: ‘Moisés, Moisés!’ ‘Eis-me aqui!’ respondeu
ele. E Deus: ‘Não te aproximes daqui. Tira as sandálias dos teus pés, porque o lugar em que te encontras é uma
terra santa.’”
(Ex 3, 1-5)

Moisés estava em meio de seus afazeres, despreocupado, e distante de sua terra natal. Já
estava com uma família, constituído um nome em Madiã. Mas, Deus vai atrás de Moisés, e não
apenas por causa de Moisés, mas por causa da necessidade do povo de Israel que é oprimido no
Egito, continuemos a leitura do texto bíblico:
“’Eu sou, ajuntou ele, o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó’. Moisés escondeu o
rosto, e não ousava olhar para Deus. O Senhor disse: ‘Eu vi, eu vi a aflição de meu povo que está no Egito, e ouvi
os seus clamores por causa de seus opressores. Sim, eu conheço seus sofrimentos. E desci para livrá-lo da mão
dos egípcios e para fazê-lo subir do Egito para uma terra fértil e espaçosa, uma terra que mana leite e mel, lá
onde habitam os cananeus, os hiteus, os amorreus, os ferezeus, os heveus e os jebuseus. Agora, eis que os
clamores dos israelitas chegaram até mim, e vi a opressão que lhes fazem os egípcios. Vai, eu te envio ao faraó
para tirar do Egito os israelitas, meu povo’.”
(Ex 3, 6-10)

Notemos que Moisés esconde o seu rosto, pois sente-se indigno de estar na presença de Deus e
de receber um chamado, pois já havia recebido o chamado anteriormente e não correspondeu.
Mas, uma coisa que precisamos entender, é que, o nosso chamado, nunca é apenas para nós...
Deus quer nossa conversão, mas não apenas isso, Ele quer o nosso serviço, pois há uma lei na
história da Salvação, que consiste em:
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Uma vez que Deus criou o mundo e os homens, Ele, nunca mais age no mundo diretamente, se
não, pelos próprios homens. (Pe. Léo)

Então, Deus, quis precisar dos homens, para agir na vida dos próprios homens. Moisés é tocado
pela Graça de Deus, e assim como Samuel, Moisés logo recebe uma missão. Que envolve
sempre a salvação e a vida de outras pessoas. Então pense em sua vida... Você hoje, recebe o
toque da Graça de Deus, o que você irá fazer, irá correr e se esconder, como Moisés, ou irá
responder de imediato, como fez Samuel?

Lição 5: Vidã de orãção - Ã “Respostã”


Uma vez que fomos tocados pela Graça de Deus, e convidados a conversão, o Senhor nos
impele imediatamente a uma missão muito simples: Salvar Almas! A começar pela nossa. Salvar
almas é a Missão confiada pelo Pai, ao próprio Filho que, pela ação do Espírito Santo, transforma
vidas e torna possível a salvação.

Para sermos salvos precisamos viver e estar em estado de Graça, rompendo com o pecado de
maneira profunda e verdadeira e é aí que entra a vida ascética. Santa Tereza D’Ávila, juntamente
com Santo Tomás de Aquino e outros santos, nos deixaram um patrimônio espiritual que é o
caminho que nos leva a vida mística com Deus.

Mas, não entenda mal o termo “místico”, pois não se trata de espetáculos ou algo fora da nossa
compreensão. Místico vem do termo mistério, e de fato, a vida de Deus é um mistério, e quem
caminha com Deus, caminha neste mistério. Mistério, é uma das traduções possíveis do termo
grego “μυστήριο” (Mithírió), que para o Latim é igual a Sacramentum (Mystérium). São Paulo,
muitas vezes utilizou o termo para expressar sua missão:

“Que os homens nos considerem, pois, como simples operários de Cristo e administradores dos mistérios de
Deus.”
(1 Co 4,1)

São Paulo, assim como todo sacerdote, não passa de um “administrador dos Sacramentos de
Deus”, e esta é a resposta que devemos dar ao chamado de Deus, nos aprofundar nos mistérios
de Cristo, sendo o principal e maior deles, a Eucaristia, que a Igreja, tão sabiamente, na liturgia
da Santa Missa, nos apresenta: “Eis o mistério da fé” (Mystérium Fídei). No rito extraordinário o
sacerdote diz “Mystérium Fídei” durante a consagração, e no rito ordinário, o mesmo é dito em
alta voz, logo após a consagração: “Eis o Mistério da Fé”.

A Igreja, é o único e universal sacramento deixado por Nosso Senhor Jesus Cristo à humanidade,
e por meio dos seus sacerdotes, a Igreja administra os santos Mistérios, que são os sete
Sacramentos, que podem ser divididos de dois modos:

Sacramentos da Iniciação Cristã (Batismo, Comunhão e Crisma), de cura (Confissão e Unção dos
Enfermos) e de vida (Matrimônio e Ordenação). Mas também são chamados de Sacramentos
com caráter (Batismo, Crisma e Ordem) e sem caráter (Confissão, Unção dos enfermos,
Comunhão e Matrimônio). O aprofundamento na teologia sacramental será assunto para outro
capítulo.

Mas aqui, é importante saber, que os Sacramentos, ou melhor, o recebimento dos sacramentos é
uma resposta que nós damos ao chamado de Deus. Para aqueles que já receberam de forma
inconsciente os Sacramentos, então, a conversão é um modo de se aprofundar na vivência
destes mesmos Sacramentos e dar sequência à ação da Graça em nossas vidas, pela confissão
e comunhão frequente.
29

Santa Teresa D’Ávila, ao tentar explicar sua experiência de oração, apresentou a metáfora do
Castelo interior, que podemos constatar a seguir:
“Estando eu hoje suplicando a Nosso Senhor que falasse por mim — já que eu não atinava com o
que dizer nem sabia como começar a cumprir a obediência —, deparei com o que agora direi para
começar com algum fundamento. Falo de considerar a nossa alma como um castelo todo de
diamante ou de cristal muito claro onde há muitos aposentos, tal como no Céu há muitas moradas.
A bem da verdade, irmãs, não é outra coisa a alma do justo senão um paraíso onde Ele disse ter
Suas delícias. Pois não achais que assim será o aposento onde um Rei tão poderoso, tão sábio,
tão puro, tão pleno de todos os bens se deleita? Não encontro outra coisa com que comparar a
grande formosura de uma alma e a sua grande capacidade. De fato, a nossa inteligência — por
aguda que seja — mal chega a compreendê-la, assim como não pode chegar a compreender a
Deus; pois Ele mesmo disse que nos criou à Sua imagem e semelhança. Se assim é — e não há
dúvida disso —, não há razão para nos cansar buscando compreender a formosura deste castelo.
Pois, ainda que entre ele e Deus exista a diferença que há entre Criador e criatura — já que esse
castelo é criatura —, basta que Sua Majestade diga que o fez à Sua imagem para que possamos
entender a grande dignidade e formosura da alma.” (Castelo Interior, Primeiras Moradas, Capítulo
1, Primeiro Parágrafo)

Então, nossa alma, é composta de muitas moradas, porém, cada morada é composta de vários
cômodos, e cada cômodo, um mais belo que o outro, porém, à medida que se avança na
graduação das moradas, sendo a primeira chamada de “Primeiras Moradas”, a beleza dos
cômodos se amplifica, até alcançar o máximo de beleza, que são as “Sétimas Moradas” que são
os aposentos do Próprio Deus em nós.

Santa Teresa dividiu também, a oração em nove tipos, que são:

Oração Vocal (ou Reza), Oração Mental (ou Meditação), Oração Afetiva, Oração de Simplicidade,
Oração de Quietude, Oração de Simples união Infusa, Oração de União Extatica, Oração
Desposória (Noivado Espiritual) e Oração Transformativa (Matrimônio Espiritual).

Voltando a Teologia Ascética, a Igreja divide o caminho de santidade em 3 vias: Via Purgativa,
Via Iluminativa e Via Unitiva.

Cada um destes termos será abordado nesta primeira fase da catequese, com o objetivo de
inculcar em cada um, não apenas a esperança de se alcançar a Salvação, mas também, a
santidade, que é a nossa principal vocação. Porém, iremos focar na Via Purgativa que são as
primeiras três moradas, pois é um caminho pessoal, não é uma “matemática” é preciso que cada
um abra o seu coração para Deus.

“O homem é criado para louvar, prestar reverência e servir a Deus nosso Senhor e, mediante isto,
salvar a sua alma.”
(Santo Ignácio de Loyola)

Certa vez me perguntaram o que responder à pergunta: “Quem sou eu”?

A resposta pode não agradar, e parecer até difícil: “Sou o que Deus sonhou para mim”!

Somos o SONHO que Deus sonhou para nós. Quem não alcança o que Deus sonhou, não será
nada. Parece impossível ser o que Deus sonhou, porém, Ele é em nós. Todo ato de amor,
gratidão, bondade, carinho, devoção, adoração e até a nossa oração, quando fazemos, é por que
Ele está fazendo em nós, a única coisa que nós fazemos é deixar Ele fazer.

Deus é amor, somos feitos pelo amor, para amar. A santidade é a sanidade da alma, que entende
que o que importa, não é a lei, mas o amor. Mas não um amor retórico e teórico, sentimental...,
mas é amor real, difícil, sacrificoso, e até oneroso. Amar é olhar o mundo inteiro, olhar para Hitler,
30

e ver Jesus. Olhar para um estuprador e ver Jesus nele. Olhar para um assassino e ver Jesus
nele. Nosso Senhor é o Deus das contradições, ele é perfeito, mas só anda com os imperfeitos. E
estes somos nós. Ele está em TODOS, mesmo que nem todos estejam Nele.

Como disse o padre Léo:


"Quem não ama alguém, não ama ninguém";

Deus é o sentido único da vida do ser humano, ignorar a Deus, é ignorar o sentido da vida,
portanto, a medida que o ser humano se aproxima da VIDA DE ORAÇÃO, a própria vida começa
a fazer sentido para o próprio ser humano.
A igreja é a esposa de Cristo!

A unidade entre Cristo e a Igreja, Cabeça e membros do Corpo, implica também a distinção dos
dois em uma relação pessoal. Este aspecto é muitas vezes expresso pela imagem do Esposo e da
Esposa. O tema de Cristo Esposo da Igreja foi preparado pelos Profetas e anunciado por João
Batista. O Senhor mesmo designou-se como "o Esposo" (Mc 2,19). O apóstolo apresenta a Igreja
e cada fiel, membro de seu Corpo, como uma Esposa "desposada" com Cristo Senhor, para ser
com Ele um só Espírito. Ela é a Esposa imaculada do Cordeiro imaculado, a qual Cristo "amou,
pela qual se entregou, a fim de santificá-la" (Ef 5,26), que associou a si por uma Aliança eterna e
da qual não cessa de cuidar como de seu próprio Corpo. (CatIC 796)

O Matrimônio espiritual, é o fim último da vida do ser humano, este matrimônio, irá acontecer
ainda neste mundo, pela vida de oração e a pessoa deixando-se ser conduzida pelo Espírito
Santo até alcançar a Sétima Morada na analogia de Santa Teresa D’Ávila ou no final da Via
Unitiva pregada por Santo Tomás de Aquino.

“O Reino dos céus é comparado a um rei que celebrava as bodas do seu filho.”
(Mt 22,2)

“Então o Reino dos céus será semelhante a dez virgens, que saíram com suas lâmpadas ao
encontro do esposo.”
(Mt 25,1)

O sonho de Deus para cada um de nós, é que nós sejamos a Esposa do Cordeiro, todos os
santos, independente de sexo, reconheceram-se como a “Esposa do Cordeiro” com quem
celebrou as Núpcias, que é o momento do encontro, o tão esperado encontro entre o nosso
Criador, Pai Nosso, conosco... chamamos isso de Morte, porém, é a maior alegria de nossas
vidas.

Lição 6: Vidã de Orãção - Nossã mãior vocãção


Vocação é em primeiro lugar, chamado. Cada um de nós tem, antes de tudo, vocação à vida.
Fomos chamados e feitos do nada, a partir da Vontade de Deus, e Dele recebemos o ser, e não
apenas o existir, mas também recebemos a alma. Somos, portanto, chamados à inteligência.
Com a inteligência veem as opções, então, somos chamados à liberdade, porém, dependendo de
nossas escolhas, podemos ou não, perder a nossa liberdade.

Deus, nos criou, tendo um plano para cada um de nós. Que plano é este? Sermos santos! Nosso
Senhor nos revelou isso, ao nos incentivar e nos dizer: “Sede santos, como Vosso Pai Celeste é
Santo.” (Mt 5,48)

O Concílio Vaticano II é odiado por teólogos da libertação e por sedevacantistas (Radicais


tradicionalistas) por algo muito simples, a única Constituição dogmática do Concílio, a Lumen
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Gentium (LG), sobre a Igreja, afirma e proclama que todos os seres humanos, são Chamados à
Santidade e que existe uma vocação universal à santidade.

Isso é uma verdade de fé da Igreja, ora, se havia alguma dúvida quanto a sua vocação, então, ela
caiu por terra, pois agora você sabe que sua vocação é ser santo. E não é uma metáfora, não é
um mito ou metonímia, não é uma alusão fabulesca, é uma ordem... aquele que não é santo, não
herdará o reino dos Céus! O Concílio mais ecumênico de todos, proclamou a doutrina mais
sectária de todos os tempos!

“Portanto, sede santos, assim como vosso Pai Celeste é santo”


(Mt 5, 48).

Para os Teólogos da libertação (Progressistas, Esquerdistas e Socialistas), é algo IMPOSSÍVEL,


e para os tradicionalistas (Sedevacantistas, Conservadores e Direitistas) é algo que deveria ser
RESTRITO A POUCOS, mas não é, nem impossível e tão pouco restrito.

As Tentações:

Quem não tem o firme propósito de ser santo, não irá para o Céu. Pode até não conseguir, por
"n" razões, mas, aquele que não se compromete com a santidade e morre neste estado, não
herdará o reino dos Céus. Já não há justificativa. Nada justifica viver em pecado... pior ainda se
for pecado mortal. Qual é a necessidade mais urgente:

Ser um intelectual famoso um político poderoso ou ser santo? (Libido Dominandi)


Possuir bens e muito dinheiro ou ser santo? (Libido Possidendi)
Ter um feliz casamento que me proporcione prazer e alegria ser santo? (Libido Amandi)

As tentações nos afetam em toda a plenitude do nosso ser. E como somos físicos, psicoafetivos e
espirituais as tentações agem em toda a dimensão de nosso ser, como vemos no ensinamento de
São João:

“Porque tudo o que há no mundo - a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida -
não procede do Pai, mas do mundo.”
(1 Jo 2,16)

São João distingue três espécies de cobiça ou concupiscência: a concupiscência da carne, a


concupiscência dos olhos e a soberba da vida. Conforme a tradição catequética católica, o nono
mandamento proíbe a concupiscência carnal; o décimo proíbe a concupiscência dos bens alheios.
(CatIC 2514)

Fomos criados por Deus para sermos santos, ser santo, consiste em amar, porém, há em nós a
concupiscência, que é uma tendência natural para o mal, para o pecado pois herdamos o pecado
original de nossos pais, porém, o Batismo nos liberta do pecado, e assim, podemos, pela ação da
Graça de Deus em nós, vencermos as nossas concupiscências e sermos finalmente santos.

“Estabelecido por Deus num estado de santidade, o homem, seduzido pelo maligno, logo no
começo da sua história abusou da própria liberdade, levantando-se contra Deus e desejando
alcançar o seu fim fora d'Ele. Tendo conhecido a Deus, não lhe prestou a glória a Ele devida, mas
o seu coração insensato obscureceu-se e ele serviu à criatura, preferindo-a ao Criador (3). E isto
que a revelação divina nos dá a conhecer, concorda com os dados da experiência. Quando o
homem olha para dentro do próprio coração, descobre-se inclinado também para o mal, e imerso
em muitos males, que não podem provir de seu Criador, que é bom. Muitas vezes, recusando
reconhecer Deus como seu princípio, perturbou também a devida orientação para o fim último e,
ao mesmo tempo, toda a sua ordenação quer para si mesmo, quer para os demais homens e para
toda a criação.”
32

“O homem encontra-se, pois, dividido em si mesmo. E assim, toda a vida humana, quer singular
quer colectiva, apresenta-se como uma luta dramática entre o bem e o mal, entre a luz e as trevas.
Mais: o homem descobre-se incapaz de repelir por si mesmo as arremetidas do inimigo: cada um
sente-se como que preso com cadeias. Mas o Senhor em pessoa veio para libertar e fortalecer o
homem, renovando-o interiormente e lançando fora o príncipe deste mundo (cfr. Jo. 12,31), que o
mantinha na servidão do pecado (4). Porque o pecado diminui o homem, impedindo-o de atingir a
sua plena realização.” (II Concílio do Vaticano, Const. past. Gaudium et spes, 13)

Esta Plena Realização, é um caminho, que vai, com o tempo, removendo esta divisão interior do
ser humano, tornando-o íntegro, mas para chegarmos lá, é preciso enfrentarmos e vencermos a
tentação, assim, analisemos dois textos bíblicos que trazem para nós, o “modus operandi” do
tentador:

A mulher, vendo que o fruto da árvore era bom para comer (Amandi), de agradável aspecto (Possidendi) e mui
apropriado para abrir a inteligência (Dominandi), tomou dele, comeu, e o apresentou também ao seu marido,
que comeu igualmente.”
(Gn 3,6)

Disse-lhe então o demônio: Se és o Filho de Deus, ordena a esta pedra que se torne pão (Amandi). Jesus
respondeu: Está escrito: Não só de pão vive o homem, mas de toda a palavra de Deus (Dt 8,3). O demônio
levou-o em seguida a um alto monte e mostrou-lhe num só momento todos os reinos da terra, e disse-lhe: Dar-
te-ei todo este poder e a glória desses reinos (Possidendi), porque me foram dados, e dou-os a quem quero.
Portanto, se te prostrares diante de mim, tudo será teu. Jesus disse-lhe: Está escrito: Adorarás o Senhor teu
Deus, e a ele só servirás (Dt 6,13). O demônio levou-o ainda a Jerusalém, ao ponto mais alto do templo, e disse-
lhe: Se és o Filho de Deus (Dominandi), lança-te daqui abaixo porque está escrito: Ordenou aos seus anjos a teu
respeito que te guardassem. E que te sustivessem em suas mãos, para não ferires o teu pé nalguma pedra (Sl
90,11s.). Jesus disse: Foi dito: Não tentarás o Senhor teu Deus (Dt 6,16). Depois de tê-lo assim tentado de todos
os modos, o demônio apartou-se dele até outra ocasião.
(Lc 4, 3-13)

a) O Libido Amandi é a luta que travamos contra nós mesmos, os desejos desordenados,
desorientações, é o que os Santos Padres chamam de – A CARNE! É ainda um apego
desordenado das pessoas por meio do prazer, seja sexual ou até mesmo a satisfação
temporária da gula (Luxuria e Gula).

b) Já o Libido Possidendi é a luta que travamos contra o mundo e suas seduções, o desejo
de possuir tudo e a todos, denominado pelos Santos Padres como – O MUNDO! Que
esconde um apego desordenado de nossa parte pelas coisas (Ganância, Preguiça, Raiva).
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c) Por fim o Libido Dominandi que é nossa inclinação natural desejo de ser “mais e maior” do
que realmente somos, é um enfrentamento direto do que os Santos Padres chamam de –
O DEMÔNIO! Esconde o apego de nós mesmos (Vaidade e Inveja).

Acima apresentamos imagens que representam para nós estes três inimigos, que muitas vezes
ficam escondidos em nossa própria mão, em nosso celular. Algo tão próximo e ao mesmo tempo
tão danoso. Por isso, precisamos lutar contra nossas concupiscências mesmo que seja preciso
passar um tempo sem o celular.

É preciso que entendamos que o APEGO, é um termo moderno, que no fundo é a IDOLATRIA.
Sendo estas três idolatrias: das pessoas, das coisas e de nós mesmos; aquilo que em suma
precisa ser vencido, para sermos santos como Deus é Santo.

As respostas que Nosso Senhor ao tentador no Evangelho de São Lucas, são reveladoras:

a) Não só de pão vive o homem, mas de toda a palavra de Deus (Dt 8,3):

Não só de pão (alimento) mas também, não apenas de dinheiro, de pessoa e de bens... somos
alimentados, antes de mais nada, pela Palavra de Deus. (Castidade)

b) Adorarás o Senhor teu Deus, e a ele só servirás (Dt 6,13):

Temos apenas um único Deus, que não é uma criatura, não são meus amigos, não é o meu
trabalho, não é a minha família, namorado(a) e não sou eu mesmo. (Pobreza)

c) Não tentarás o Senhor teu Deus (Dt 6,16):

É preciso admitir que a Vontade de Deus é soberana sobre toda e qualquer vontade,
principalmente a nossa. (Obediência)

“Os conselhos evangélicos, em sua multiplicidade, são propostos a todo discípulo de Cristo. A
perfeição da caridade à qual todos os fiéis são chamados comporta para os que assumem
livremente o chamado à vida consagrada a obrigação de praticar, a castidade no celibato pelo
Reino, a pobreza e a obediência. E a profissão desses conselhos em um estado de vida estável
reconhecido pela Igreja que caracteriza a "vida consagrada" a Deus.” (CatIC 915)

O Catecismo de São Pio X traz uma excelente catequese sobre os conselhos Evangélicos:

514) Que são os conselhos evangélicos?


“Os conselhos evangélicos são alguns meios sugeridos por Jesus Cristo no santo Evangelho, para
chegar à perfeição cristã.”

515) Quais são os conselhos evangélicos?


“Os conselhos evangélicos são: pobreza voluntária, castidade perpétua e obediência em tudo o
que não seja pecado.”

516) Para que servem os conselhos evangélicos?


“Os conselhos evangélicos servem para facilitar a observância dos Mandamentos e para
assegurar melhor a salvação eterna.”
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517) Por que os conselhos evangélicos facilitam a observância dos Mandamentos?


“Os conselhos evangélicos facilitam a observância dos Mandamentos, porque nos ajudam a
desapegar o coração do amor dos bens terrenos, prazeres e honras, e assim nos afastam do
pecado.”

Lição 7: Vidã de Orãção - Ou Sãntos ou nãdã


Você precisa ser santo no seu dia a dia, ser santo em família, ser santo no trabalho, ser santo na
escola, faculdade, no barzinho com amigos, no espetáculo ouvindo seu cantor preferido,
paquerando se for solteiro, se divertindo com a sua esposa, se for casado, passeando com os
amigos de seminário se for padre, organizando um evento para a festa de final de ano, sendo
freira ou religioso. Enquanto você se preocupar em ter filhos, ser padre, ser um profissional, ser
um atleta, ser um excelente marido, profissional, ou, seja lá o que for... mais do que em ser
Santo! Você já escolheu ir para o inferno... A única coisa, que deveria nos tirar o sono, é nossa
preocupação em sermos santos. Não é radicalismo, o Evangelho é exigente a este ponto, Nosso
Senhor disse:

"Conheço as tuas obras: não és nem frio nem quente. Oxalá fosses frio ou quente! Mas, como és morno, nem
frio nem quente, vou vomitar-te."
(Ap 3,15-16)

A mornidão é uma doença espiritual grave, está dentro da preguiça. Ela nos para e nos desanima
diante da tarefa de sermos santos. Os mornos se caracterizam pela frequência a Igreja e aos
sacramentos, porém, não se deixam ser tocados pelas homilias, pois nunca acham que é para
eles, isso quando prestam atenção. Frequentam a confissão, mas sempre confessam as mesmas
coisas, ou coisas que sabem que não são comprometedoras, apenas cumprindo uma formalidade
para comunga, isso quando se confessam.

Mas os mornos, são zumbis, mortos vivos, pessoas que estão mortas por dentro e não sabem,
acham que estão vivos, pois tentam conciliar sua vida mundana, aproveitando ao máximo do bom
e do melhor, e não se importam com a própria fé, com as pessoas ao seu redor. Acham que são
pessoas boas, politicamente corretos, bons cristãos e honestos cidadãos, mas não passam de
hipócritas, que serão vomitados pelo Senhor, conforme o texto de apocalipse nos alerta. Não
querem servir a Deus, mas querem apenas se servir Dele.

“Se alguém quiser vir comigo, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me. Porque aquele que quiser
salvar a sua vida, perdê-la-á; mas aquele que tiver sacrificado a sua vida por minha causa, recobrá-la-á.”
(Mt 16, 24-25)

Renunciar a si mesmo, é viver a Pobreza, a Castidade e a Obediência. Mas como ser pobre,
casto e obediente?

“Que, então, devem fazer os cristãos? Usar do mundo; não servir ao mundo. Como é isto?
Possuindo, como quem não possui. O Apóstolo diz: De resto, irmãos, o tempo é breve; que os que
têm esposa sejam como se não a tivessem; os que choram, como se não chorassem; os que se
alegram, como se não se alegrassem; os que compram, como se não possuíssem; e os que usam
do mundo, como se não usassem; pois passa a figura deste mundo. Eu vos quero sem
inquietações (1Cor 7,29-32). Quem não tem inquietações, aguarda com serenidade a vinda de seu
Senhor. Pois, que amor ao Cristo é esse que teme sua chegada? Irmãos, não nos
envergonhamos? Amamos e temos medo de sua vinda. Será que amamos? Ou amamos muito
mais nossos pecados? Odiemos, portanto, estes mesmos pecados e amemos aquele que virá
castigar os pecados. Ele virá, quer queiramos, quer não. Se ainda não veio, não quer dizer que
não virá. Virá em hora que não sabes; se te encontrar preparado, não haverá importância não
saberes.” (Dos comentários sobre os Salmos, Santo Agostinho)
35

Ser pobre é não se deixar possuir pelos bens materiais. Ser casto é amar o próximo, por ver nele
a pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo. E ser obediente, é conhecer os mandamentos de Deus
e da Igreja, e coloca-los em primeiro lugar em nossas vidas.

“É fácil dizer se tal ou qual ação é pecaminosa. Não o é tanto dizer se tal ou qual pessoa pecou.
Se alguém se esquece, por exemplo, de que hoje é festa de preceito e não vai à missa, o seu
pecado é apenas externo. Interiormente, não teve intenção de comportar-se mal. Neste caso,
dizemos que cometeu um pecado material, mas não um pecado formal. Existe aí uma obra má,
mas não má intenção. Seria supérfluo e inútil mencioná-lo na confissão.” (“A Fé Explicada”. Leo J.
Trese)

E quais são os pecados que preciso levar para a confissão?

Para que um pecado, seja mortal requerem-se três condições ao mesmo tempo: "É pecado mortal
todo pecado que tem como objeto uma matéria grave, e que é cometido com plena
consciência e deliberadamente". (CatIC 1857)

Matéria grave, precisa estar demonstrado nos 10 mandamentos e nos mandamentos da Igreja,
com plena consciência, significa que a pessoa conhece os mandamentos, sabe qual é o
mandamento que está sendo descumprido ou desobedecido e deliberadamente significa estar
fazendo por vontade própria, sem nenhuma circunstância o impelindo ao pecado cometido.

Mas também é verdade o contrário. Uma pessoa pode cometer interiormente um pecado sem
realizar um ato pecaminoso. Usando o mesmo exemplo, se alguém pensa que hoje é dia de
preceito e voluntariamente decide não ir à missa sem razão suficiente, é culpado do pecado da
omissão dessa missa, mesmo que esteja enganado e não seja dia de preceito. Ou, para dar outro
exemplo, se um homem rouba uma grande quantia e depois percebe que roubou o seu próprio
dinheiro, interiormente cometeu um pecado de roubo, ainda que realmente não tenha roubado. Em
ambos os casos dizemos que não houve pecado material, mas formal. E, naturalmente, esses dois
pecados têm que ser confessados. (“A Fé Explicada”. Leo J. Trese)

Como se pode ver, o pecado começa no interior, no “coração”. Quando eu sinto ou penso algo, e
CONSINTO no sentimento (gosto e alimento) ou no pensamento que estou tendo. Ninguém
consegue o tempo todo controlar os sentimentos e pensamentos, sendo assim, é preciso muita
sinceridade para admitir o que se sente ou pensa, e rejeitar, quando este for algo que toque nos
mandamentos de Deus.
O CatIC nos apresenta as fontes da moralidade, para sabermos como bem julgar os nossos atos.
Lembrando que ao julgar os atos dos outros, podemos cair no juízo temerário, que é um pecado
grave contra a caridade e, portanto, precisa ser evitado.

A moralidade dos atos humanos depende: - do objeto escolhido; - do fim visado ou da intenção; -
das circunstâncias da ação. (CatIC 1750)

Objeto é o ato em si, aquilo que foi feito, o fato isolado que está sendo analisado; A intenção, é o
objetivo com que o ato, fato ou omissão foi realizada; Já as circunstâncias, são as situações que
por vezes nos obrigam, nos induzem ou nos iludem (engano) para que cometamos aquele
determinado objeto, com aquela determinada intenção.

Com efeito, é a intenção o que determina a malícia; mas o novo Catecismo precisa: “É errado […]
julgar a moralidade dos atos humanos considerando apenas a intenção que os inspira […].
Existem atos que, por si mesmo e em si mesmos, independentemente das circunstâncias e
intenções, são sempre gravemente ilícitos em virtude do seu objetivo: por exemplo, a blasfêmia e
o perjúrio, o homicídio e o adultério. Não é permitido praticar um mal para que dele resulte um
bem” (n. 1756). (“A Fé Explicada”. Leo J. Trese)

Entendendo a natureza do pecado, podemos olhar para a nossa maior vocação e procurar
entendê-la ainda mais, observe o gráfico a seguir:
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Vida Como Deus nos sonhou!

Como estamos!

Morte Conversão
Metanoia
Na horizontal temos a morte, na vertical a vida. A reta paralela a morte, em azul, temos o projeto
de Deus para nós (Como Deus nos Sonhou) e a linha vermelha, com altos e baixos, é a nossa
vida (Como estamos) e há um ponto de virada, abaixo da morte, que a partir dele, nós iniciamos
uma linha ascendente até a paralela, que é a Conversão.

A vida de fato é cheia de altos e baixos. Há vários momentos de conversão, por isso é errado
dizer que “estou convertido”, pois conversão é um processo que tem início, mas não tem fim, por
isso, estamos em constante processo de conversão. Mas a Metanoia, o momento de virada, onde
a consciência nos interpela e nos convida a, mesmo caindo, perseverar no caminho de santidade,
que é a vida de oração e a vivência dos Conselhos Evangélicos.

Foi-lhe dado o livro do profeta Isaías. Desenrolando o livro, escolheu a passagem onde está escrito (61,1s.): O
Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu; e enviou-me para anunciar a boa nova aos pobres,
para sarar os contritos de coração, para anunciar aos cativos a redenção, aos cegos a restauração da vista,
para pôr em liberdade os cativos, para publicar o ANO DA GRAÇA DO SENHOR. E enrolando o livro, deu-o ao
ministro e sentou-se; todos quantos estavam na sinagoga tinham os olhos fixos nele. Ele começou a dizer-lhes:
Hoje se cumpriu este oráculo que vós acabais de ouvir.
(Lc 4, 17-21)

A conversão contínua, permanente e perseverante é este “ANO DA GRAÇA DO SENHOR”, o


tempo, que não é e não deve ser apenas um ano, mas a vida toda, até o último instante de vida,
em que optamos pela conversão interior, na luta contra o pecado e na conquista das virtudes,
sempre crendo que é a Graça de Deus que nos dá força para alcançarmos a santificação e
consequente salvação.

Voltando ao Gráfico, podemos nos perguntar: “Deus nos ama como somos ou como estamos?”

Nós conhecemos e cremos no amor que Deus tem para conosco. Deus é amor, e quem permanece no amor
permanece em Deus e Deus nele.
(1 Jo 4,16)

E a esperança não engana. Porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que
nos foi dado. Com efeito, quando éramos ainda fracos, Cristo a seu tempo morreu pelos ímpios. Em rigor, a
gente aceitaria morrer por um justo, por um homem de bem, quiçá se consentiria em morrer. Mas eis aqui uma
prova brilhante de amor de Deus por nós: quando éramos ainda pecadores, Cristo morreu por nós.
(Rm 5,5-8)
37

Deus, que sempre existiu e que sempre existirá, depois de criar todas as coisas contidas no céu e
na terra, criou o homem, a mais perfeita de todas as criaturas visíveis. Sendo assim, todo nosso
ser: olhos, boca, língua, ouvidos, mãos e pés são dons de Nosso Senhor.

O homem se distingue de todas as outras criaturas, principalmente por possuir uma alma, que
pensa, raciocina, deseja e reconhece a diferença entre o bem e o mal. Esta alma, por ser puro
espírito, não pode morrer com o corpo; quando este morrer, começará outra vida que jamais terá
fim. Caso tenha praticado o bem, será eternamente feliz com Deus no Paraíso. Mas se escolheu o
caminho do mal, será punido com o terrível castigo do Inferno, onde padecerá o tormento do fogo
para sempre.

Considere, contudo, meu filho, que todos nós fomos criados para o Paraíso; Deus, que é Pai
amoroso, condena ao Inferno somente aqueles que o merecem pelos próprios pecados. Nosso
Senhor nos ama e de seja muito que façamos boas obras, para assim nos tornarmos participantes
daquela grande felicidade, que nos tem reservada no Céu. (O Cristão bem formado – São João
Bosco)

É preciso que nós sejamos discípulos do Senhor, o Papa São João Paulo II nos exorta:

“A catequese foi sempre considerada pela Igreja como uma das suas tarefas primordiais, porque
Cristo ressuscitado, antes de voltar para o Pai, deu aos Apóstolos uma última ordem: fazer
discípulos de todas as nações e ensinar-lhes a observar tudo aquilo que lhes tinha mandado (Mt.
28,19 s.). Deste modo lhes confiava Cristo a missão e o poder de anunciar aos homens aquilo que
eles próprios tinham ouvido do Verbo da Vida, visto com os seus olhos, contemplado e tocado
com as suas mãos (1 Jo. 1,1). Ao mesmo tempo, confiava-lhes ainda a missão e o poder de
explicar com autoridade aquilo que Ele lhes tinha ensinado, as suas palavras e os seus atos, os
seus sinais e os seus mandamentos. e dava-lhes o espírito santo, para realizar tal missão.
(Exortação apostólica Catechesi Tradendae, Papa São João Paulo II)

Não há tempo para esperar, o “Ano da Graça” inicia agora, dentro da catequese, para que todos
sejamos discípulos do Senhor, limitando-lhe em tudo. Vivemos nos enganando:

“... Ah... eu peco mortalmente, mas tenho uma grande devoção à Nossa Senhora”; Ahhhh... eu
amo a Eucaristia, pena que não posso comungar, isso me doe tanto"; “Ahhhh... Deus é
misericordioso, no último instante eu ei de ter uma contrição perfeita e irei ser salvo.”

Como diria o saudoso Pe. Léo: “NÃO SUA ANTA!!!” Contrição perfeita é coisa para santos, se
você ainda vive em pecado mortal, você não é e nem nunca será santo. A contrição perfeita é
uma Graça dada por Deus em resposta ao aprimoramento da consciência mediante a vida de
oração!
Deixemos de nos enganar, arrependamos... Paguemos o preço de viver em estado de Graça,
para conseguirmos um dia, quem sabe, alcançar o purgatório, pela misericórdia de Deus, e não
abusemos da misericórdia achando que Deus é como você e eu... Ele mesmo diz isso:

"Eis o que você está fazendo, pensas que vou me calar diante disso? Acaso pensas que eu seja igual a ti? Não,
não sou, prepare-te, pois eis que lançarei teus pecados em teu rosto."
(Sl 49,21)

Não meu caro... Quem peca, e peca mortalmente, vive em estado de pecado mortal, não é amigo
de Deus, mas sim seu inimigo! Arrependamo-nos! E assumamos a nossa vocação! Sejamos
santos, como o Nosso Pai Celeste é santo! O Senhor nos chama a conversão e com a conversão
vem o serviço:

“Ide, pois, e ensinai a todas as nações; batizai-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ensinai-as a
observar tudo o que vos prescrevi. Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo”.
(Mt. 28,19s)
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Quem acredita ter uma vida de oração e conversão, mas não se coloca a serviço, não se coloca
em missão, ainda não alcançou o ponto da METANOIA! Ainda está nos altos e baixos que o
gráfico demonstra. Mais dia ou menos dia, a Carne, o Mundo e o Demônio irão vencer você em
definitivo, e não haverá mais “ano da Graça do Senhor”, pois o tempo da graça passou.

Santo Agostinho dizia: "Tenho medo que Jesus passe sem me dar conta". É importante
permanecer vigilantes, porque na vida é um erro perder-se em mil coisas e não se dar conta de
Deus. (Papa Francisco, Twitter)

Jesus é realmente SENHOR da minha vida?


O que consiste em ter Jesus Cristo como SENHOR?

“Todo aquele que vem a mim ouve as minhas palavras e as pratica, eu vos mostrarei a quem é semelhante. É
semelhante ao homem que, edificando uma casa, cavou bem fundo e pôs os alicerces sobre a rocha. As águas
transbordaram, precipitaram-se as torrentes contra aquela casa e não a puderam abalar, porque ela estava
bem construída. Mas aquele que as ouve e não as observa é semelhante ao homem que construiu a sua casa
sobre a terra movediça, sem alicerces. A torrente investiu contra ela, e ela logo ruiu; e grande foi a ruína
daquela casa.”
(Lc 6, 46-49)

Não adianta vir a catequese, frequentar a Santa Missa, participar do Grupo de Jovens, ir aos
santuários, Grupos de Oração e encontros, sem me colocar a serviço e disposição do Reino de
Deus, que é a Igreja.

Disse-lhes também esta comparação: “Um homem havia plantado uma figueira na sua vinha, e, indo buscar
fruto, não o achou. Disse ao viticultor: Eis que três anos há que venho procurando fruto nesta figueira e não o
acho. Corta-a; para que ainda ocupa inutilmente o terreno?”. Mas o viticultor respondeu: “Senhor, deixa-a
ainda este ano; eu lhe cavarei em redor e lhe deitarei adubo. Talvez depois disso dê frutos. Caso
contrário, mandarás cortá-la.”
(Lc 13, 6-9)

Este tempo na catequese, é este “ano” que o agricultor está a deitar adubo e dedicar um tempo
para que a videira, que é você, dê os frutos que o Senhor espera. Pode ser, que após o tempo da
catequese, após contrair os sacramentos que você está pretendendo receber, o Senhor ainda
não encontre frutos, e diga: “Corte-a”! Neste dia, será tarde demais!

Nisto consiste o amor: não em termos nós amado a Deus, mas em ter-nos Ele amado, e enviado o seu Filho
para expiar os nossos pecados. Caríssimos, se Deus assim nos amou, também nós nos devemos amar uns aos
outros. Ninguém jamais viu a Deus. Se nos amarmos mutuamente, Deus permanece em nós e o seu amor
em nós é perfeito. Nisto é que conhecemos que estamos nele e ele em nós, por ele nos ter dado o seu Espírito.
(1 Jo 4, 10-13)

O maior de todos os frutos é o amor. E...

Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida por seus amigos.
(Jo 15,13)

Doar a vida, é sair de si, comprometer-se com as necessidades do outro, com as necessidades
da Igreja, com as necessidades dos mais próximos e dos mais distantes, dos adoráveis e dos
detestáveis, dos amigos e dos inimigos... enfim, é DOAR-SE ao outro, por Jesus Cristo Nosso
Senhor.

Vida, é apenas uma palavra, que simboliza em última instância o TEMPO! Dizem que “tempo é
dinheiro”, assim, estão falando que vida é dinheiro. E de fato é. O tempo mais valioso, é o tempo
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perdido. Você sabe quando alguém te ama, quando ela “gasta” tempo com você. Os filhos sabem
que são amados, quando os pais “gastam” seu tempo com eles. E assim, nós também
demonstramos que amamos a Deus.

Quanto TEMPO/VIDA você tem gastado com Deus? (no próximo ou em oração)

O nosso tempo mais precioso, é o nosso tempo investido na oração, na oração pessoal, na lectio
Divina, no estudo do Catecismo ou da Bíblia. Amamos alguém, muito mais, quando trazemos esta
pessoa à nossa oração pessoal, quando intercedemos por ela, quando nos dedicamos em servi-
la por meio de uma das obras de misericórdia, em um coral, em uma pastoral, em uma
congregação... mas principalmente em nossas casas, servir aos nossos pais, irmãos, filhos,
parentes, familiares e amigos, pois...

Uma árvore boa não dá frutos maus, uma árvore má não dá bom fruto. Porquanto cada árvore se conhece pelo
seu fruto. Não se colhem figos dos espinheiros, nem se apanham uvas dos abrolhos. O homem bom tira coisas
boas do bom tesouro do seu coração, e o homem mau tira coisas más do seu mau tesouro, porque a boca fala
daquilo de que o coração está cheio. Por que me chamais: Senhor, Senhor... e não fazeis o que digo?
(Lc 6, 43-46)
Quais são os seus frutos?
“Vós, irmãos, fostes chamados à liberdade. Não abuseis, porém, da liberdade como pretexto para prazeres
carnais. Pelo contrário, fazei-vos servos uns dos outros pela caridade, porque toda a lei se encerra num só
preceito: Amarás o teu próximo como a ti mesmo (Lv 19,18). Mas, se vos mordeis e vos devorais, vede que não
acabeis por vos destruirdes uns aos outros. Digo, pois: deixai-vos conduzir pelo Espírito, e não satisfareis os
apetites da carne. Porque os desejos da carne se opõem aos do Espírito, e estes aos da carne; pois são
contrários uns aos outros. É por isso que não fazeis o que quereríeis. Se, porém, vos deixais guiar pelo Espírito,
não estais sob a lei. Ora, as obras da carne são estas: fornicação, impureza, libertinagem, idolatria, superstição,
inimizades, brigas, ciúmes, ódio, ambição, discórdias, partidos, invejas, bebedeiras, orgias e outras coisas
semelhantes. Dessas coisas vos previno, como já vos preveni: os que as praticarem não herdarão o Reino de
Deus! Ao contrário, o fruto do Espírito é caridade, alegria, paz, paciência, afabilidade, bondade, fidelidade,
brandura, temperança. Contra estas coisas não há lei. Pois os que são de Jesus Cristo crucificaram a carne, com
as paixões e concupiscências.25Se vivemos pelo Espírito, andemos também de acordo com o Espírito.”
(Gl 4, 13-25)

Mas não conseguiremos perseverar no serviço se não perseverarmos antes na oração. A oração,
a vida de oração é o motor inicial, o combustível do nosso morto, e a substância do que nos leva
a perseverar. Uma vez que conseguimos chegar a oração, então, vem a necessidade urgente de
servir a Deus, NO irmão. Eis algumas formas de serviço:
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ORAÇÃO DE SÃO FRANCISCO

Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz


Onde houver ódio, que eu leve o amor Ó Mestre, fazei que eu procure mais:
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão Consolar que ser consolado
Onde houver discórdia, que eu leve união Compreender que ser compreendido
Onde houver dúvida, que eu leve a fé Amar que ser amado
Pois é dando que se recebe
Onde houver erro, que eu leve a verdade É perdoando que se é perdoado
Onde houver desespero, que eu leve a esperança E é morrendo que se vive para a vida eterna!
Onde houver tristeza, que eu leve alegria
Onde houver trevas, que eu leve a luz

Lição 8: Vidã de Orãção - o diã ã diã: Dicãs prãticãs


“O que era desde o princípio, o que temos ouvido, o que temos visto com os nossos olhos, o que temos
contemplado e as nossas mãos têm apalpado no tocante ao Verbo da vida - porque a vida se manifestou, e
nós a temos visto; damos testemunho e vos anunciamos a vida eterna, que estava no Pai e que se nos
manifestou -, o que vimos e ouvimos nós vos anunciamos, para que também vós tenhais comunhão
conosco. Ora, a nossa comunhão é com o Pai e com o seu Filho Jesus Cristo.”
(1 Jo. 1,1-3)

O que temos visto? Você tem visto com os teus olhos o que Deus tem feito na história? O que Ele
tem feito ao teu redor? E principalmente o que Ele tem feito em sua vida? Você percebe no seu
dia a dia a presença maravilhosa de Deus? Os milagres e as maravilhas que têm acontecido pelo
mundo, mas principalmente em sua história? As suas mãos têm apalpado o Verbo da Vida?

No dia a dia, como viver a Vida de oração?

Primeiro, é importante entender que Vida de Oração, é conversão! Não uma conversão que ficou
lá atrás, no dia que decidi me dedicar mais à religião, ou ir à Missa o maior número de vezes, ou
pela Graça de Deus, parar de pecar. Não, vida de oração, é CONVERSÃO DIÁRIA!

Conselhos de Santa Teresa D’Ávila para uma vida de oração:

1. Dirige a Deus cada um dos teus atos; oferece-os e pede-Lhe que seja para Sua honra e glória.

2. Oferece-te a Deus cinquenta vezes por dia, e que seja com grande fervor e desejo de Deus.

3. Em todas as coisas, observa a providência de Deus e Sua sabedoria, em tudo, envia-Lhe o


teu louvor.

4. Em tempos de tristeza e de inquietação, não abandone nem as obras de oração, nem a


penitência a que está habituado. Antes, intensifica-as, e verá com que prontidão o Senhor te
sustentará.

5. Nunca fale mal de quem quer que seja, nem jamais escute. A não ser que se trate de ti
mesmo. E terá progredido muito, no dia em que se alegrar por isso.

6. Não diga nunca, de você mesmo, algo que mereça admiração, quer se trate do conhecimento,
da virtude, do nascimento, a não ser para prestar serviço. Mas então, que isso seja feito com
humildade, e considerando que esses dons vêm pelas mãos de Deus.

7. Não veja em você senão o servo de todos, e em todos contempla Cristo Nosso Senhor; assim
O respeitará e O venerará.
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8. A respeito de coisas que não lhe diz respeito, não se mostre curioso, nem de perto, nem de
longe, nem com comentários, nem com perguntas.

9. Mostrai sua devoção interior só em caso de necessidade urgente. Lembra do que diziam São
Francisco e São Bernardo: “Meu segredo pertence a mim”.

10. Cumpra todas as coisas como se Sua Majestade estivesse realmente visível; agindo assim,
muito ganhará a sua alma.

11. Que seu desejo seja ver Deus. Seu temor, perdê-Lo. A dor, não comprazer na Sua presença, a
satisfação, o que pode conduzi-lo a Ele. E viverá numa grande paz.
(Orações de todos os tempos da Igreja. Prof. Felipe Aquino)

Tome estas regras como regras para tua vida... pendure estas regras no seu espelho, em seu
armário, dentro do carro... para se lembrar todos os dias, não de quem você é, mas QUEM DEUS
SONHOU PARA VOCÊ!

Conselhos de Santo Tomás de Aquino para uma vida de oração:

1. A oração dominical (Pai-Nosso) é a mais perfeita das orações. Nela não só pedimos tudo
quanto podemos desejar corretamente, mas ainda segundo a ordem em que convém desejá-
lo. De modo que esta oração, não só nos ensina a pedir, mas ordena também todos os
nossos afetos.

2. A oração é necessária não para que Deus conheça as nossas necessidades, mas para que
nós fiquemos conhecendo a necessidade que temos de recorrer a Deus, para receber
oportunamente os socorros da salvação.

3. Pela oração de muitos, às vezes, se alcança o que pela oração de um só não se obteria.
4. A oração consiste na elevação da alma a Deus.

5. Depois do batismo, a oração contínua é necessária ao homem. Embora sejam perdoados os


pecados pelo batismo, sempre ainda ficam os estímulos ao pecado; que nos combate
interiormente, o mundo e os demônios que nos combatem exteriormente.

6. Todas as graças que o Senhor, desde toda a eternidade, determinou conceder-nos, não as
quer conceder a não ser por meio da oração.

7. Condições requeridas na oração: que o homem peça para si, coisas necessárias à salvação,
com devoção e com perseverança.

8. A força da oração para obtermos a graça, não vem dos nossos méritos, mas da misericórdia
de Deus que prometeu ouvir aquele que lhe pede.

9. Cada um é obrigado a rezar, porquanto deve procurar os bens espirituais, que só por Deus
são concedidos e que só podemos alcançá-los por meio da oração.

10. A oração contínua é necessária ao homem para entrar no céu.


(Orações de todos os tempos da Igreja. Prof. Felipe Aquino)

A seguir um roteiro simples de oração:

Manhã: Ao acordar: Sinal da Cruz, Vinde Espírito Santo, Pai-Nosso e 3 Ave-Maria e o Glória;
Com Sal Exorcizado e Água benta, prove um pouco do sal e trace a Cruz com água benta;
Recite orações escritas, como as orações dos santos, os salmos ou a Liturgia das Horas;
Faça uma breve leitura do Catecismo e/ou das Escrituras;
Agradeça com uma oração e benção sobre todas as refeições;

Tarde: Reze ao longo do dia o Santo Rosário ou um Terço;


Pelas 15hs, reze o terço da Misericórdia ou siga a sequência da Liturgia das Horas;
Se conseguir, ouça uma pregação, uma aula ou algum vídeo/áudio espiritual;
Ouça músicas de louvor, orações, gregoriano enquanto trabalha ou enquanto estuda;
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Noite: Reúna-se com a família e rezem juntos, ou reze, mesmo que on line, com amigos e/ou namorados;
Termina o Rosário/Santo Terço com a oração da Salve Rainha;
Finalize o dia com uma reflexão, ou reze a liturgia das horas;
Já na cama, imagine que seu travesseiro são as mãos de Deus ou o colo de Nossa Senhora;
Durma em Paz.

Uma forma prática para crescer na vida de oração:

1° Passo: Tenha um lugar para fazer sua oração pessoal. Faça um pequeno oratório em sua
casa. Tenha um crucifixo e um ambiente tranquilo e solitário;

2° Passo: Separe um horário, de preferência pela manhã, as primeiras coisas que irá fazer;
acorde mais cedo (durma no dia anterior mais cedo), tenha disciplina, nada lhe impeça de
reservar no mínimo 30 minutos para sua oração pessoal;

3° Passo: Tenha um texto em mãos! Liturgia das Horas ou uma oração de um santo ou um salmo,
não entre em oração sem um texto. Haverá dias que você não terá vontade de rezar, estará
entediado, distraído, preocupado, doente... o texto, garantirá sua constância. Haverá dias que o
texto não será preciso... mas tenha-o em mãos sempre;

4° Passo: Use sua memória... Lembre-se dos acontecimentos, das pessoas, das situações, dos
sentimentos. Mesmo que não tenha vontade de falar, não fale, mas use a memória. A memória é
uma parte da alma, então, lave sua alma na oração... se for para chorar, que chore, se for para
rir, que ria, mas não se esqueça de AGRADECER (Louvar) a Deus, pelo “bem ou pelo mal” que
está sentindo;

5° Passo: Peça perdão a Deus! Reconheça e admita seus pecados. Lembre-se das pessoas que
lhe fizeram mal, e decida-se perdoá-las. Perdão, assim como fé e amor, não são sentimentos.
São atos interiores, ou seja, DECISÃO! Você decide acreditar, você decide amar, você decide
perdoar;

6° Passo: Agora, clame a Deus, apresente suas necessidades. Seja sincero e realista. Porém,
que seus principais pedidos sejam a santidade, a salvação, a conversão (sua e de todos os
pecadores), o alívio das almas do purgatório e o principal, para que você aprenda a amar e
cumprir a Vontade de Deus. Não rezamos para que Deus faça o que queremos, mas para que
nós possamos aprender a querer o que Deus quer.

7° Passo: Entregue-se à Palavra de Deus, seja no Catecismo ou nas Sagradas Escrituras. Faça a
Lectio Divina ou medite um texto espiritual e finalize, deixando-se envolver pelo texto que é a
Palavra de Deus.

IMPORTANTE: Não sendo possível seguir os 7 passos, não tem problema, desde que você
nunca deixe de fazer até o 3º Passo, caso contrário não terá a virtude da perseverança, do fervor
e da disciplina e por conseguinte, vida de oração.

Jejuns, Abstinências e Penitências:

Preceito: São dias e abstinências que a Igreja nos pede para guardar, ou seja, ir à Missa e abster-
se de carne (exceto peixe).

Abstinência de Carne: No cânon 1251 do Código de Direito Canônico (CIC), lemos que é
obrigatório fazer “abstinência de carne ou de outro alimento […] em todas as sextas-feiras do ano,
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a não ser que coincidam com uma solenidade religiosa”. Com relação a este cânon, a CNBB
afirma que o fiel católico brasileiro pode substituir a abstinência de carne por uma obra de
caridade, um ato de piedade ou ainda trocar a carne por um outro alimento.

Abster-se de carne e jejuar na sexta-feira é uma prática tradicional da Igreja e tem argumentos
fortes a seu favor. O primeiro deles é que todos os cristãos precisam levar uma vida de ascese
(renúncia a algum prazer para alcançar a perfeição espiritual). Esta é uma regra básica da
espiritualidade cristã. O CIC recomenda que a abstinência de carne deve ser feita em todas as
sextas feiras do ano (e não apenas na Sexta-feira Santa) e que também deve ser acompanhada
pelo jejum.

Dois dias do ano, é obrigatório o Jejum, além da abstinência de carne. Na Quarta-Feira de Cinzas
e na Sexta-Feira Santa, onde é preciso que se faça o Jejum da Igreja e a abstinência de carne,
não sendo possível a substituição por outro alimento ou ato de caridade.

O Jejum da Igreja consiste em diminuir a quantidade de alimento em uma das refeições, ou


substituir o almoço ou o jantar (refeições maiores) por um lanche mais leve até a saciedade. O
Jejum mais rigoroso, como pão e água, não é recomendado, se não sob a orientação de um
diretor espiritual. Já o jejum completo e penitências mais severas, a Igreja não as recomenda,
pois, nos tempos modernos, há suficientes jejuns e abstinências que se podem ser realizadas
sem entrar em severidades acéticas que possam comprometer a integridade da saúde física da
pessoa.

Há ainda o jejum Eucarístico Obrigatório:

Quem vai receber a santíssima Eucaristia, abstenha-se, pelo espaço de ao menos uma hora antes
da sagrada comunhão, de qualquer comida ou bebida, exceto água ou remédios. (Cân. 919 - § 1)

Mas há a possibilidade de se fazer a abstinência de carne em outras ocasiões, não sendo


preceito, como é o tempo do Advento e da Quaresma. Há ainda, a devoção de abster-se de carne
às segundas feiras, pelo alívio das almas do purgatório, as quartas feiras como dia penitencial
preferencial, ou ainda as quintas feiras por ser o dia propício para a Adoração Eucarística.

Jejum, como vimos, é abster-se de uma refeição no dia. Abstinência é escolher uma refeição ou
algum hábito (mesmo que não seja ruim), e abster-se dele, como apresentamos nos sete
pecados capitais, alguns aplicativos ou até o uso do próprio celular, pode ser um destes hábitos.
Penitência é escolher uma oração, uma ação como esmola, um ato de caridade ou de
contrariedade, e fazer aquilo, como medida disciplinar.

A penitência interior do cristão pode ter expressões bem variadas. A escritura e os padres insistem
principalmente em três formas: o jejum, a oração e a esmola, que exprimem a conversão com
relação a si mesmo, a Deus e aos outros. Ao lado da purificação radical operada pelo batismo ou
pelo martírio, citam, como meio de obter o perdão dos pecados, os esforços empreendidos para
reconciliar-se com o próximo, as lágrimas de penitência, a preocupação com a salvação do
próximo, a intercessão dos santos e a prática da caridade, "que cobre uma multidão de pecados"
(1Pd 4,8). (CatIC 1434)

Dentro dos preceitos, temos a frequência da Missa Dominical. Ou seja, é um pecado mortal, faltar
a Santa Missa aos Domingos e dias de preceito. A missa de Sábado, após o meio-dia, é
considerada Missa de Domingo (em nossa diocese, a Igreja do Colégio do Rosário celebra a
Missa de Domingo ao meio-dia), porém, é importante dizer que não é prudente deixar de ir a
Missa aos Domingos para se cumprir o preceito indo aos Sábados. Esporadicamente, por
questões profissionais ou viagens importantes, a escolha do sábado se justifica, porém, que não
seja um hábito. Por outro lado, quem vai a Missa no Sábado, mesmo celebrando a liturgia de
Domingo, pode ir a Missa de Domingo tranquilamente.
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Dias de preceito no Brasil:

A Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus, em 1º de janeiro; (Que é feriado Nacional)


A Epifania do Senhor, em 5 de janeiro; (que é adiada para o Domingo seguinte ou
anterior);
São José, em 19 de março (Que é adiado para o Domingo mais próximo);
A Ascensão de Jesus ao Céu, na quinta-feira da 6ª semana da Páscoa (Que é adiada para
o Domingo seguinte);
Corpus Christi, na quinta-feira após a oitava de Pentecostes; (que sendo feriado, não é
adiada);
São Pedro e São Paulo, em 29 de junho (que é adiado para o próximo Domingo);
A Assunção de Nossa Senhora, em 15 de agosto (que é adiado para o próximo Domingo);
Todos os Santos, em 1º de novembro (Que é adiado para o próximo Domingo);
A Imaculada Conceição de Nossa Senhora, no dia 8 de dezembro (Que é adiado para o
próximo Domingo);
O Natal, em 25 de dezembro. (Que é feriado nacional);

Não é questão de preceito, mas de coerência:

O dia 12 de Outubro, não é preceito, assim como o dia 2 de Novembro (Dia de Finados), porém, é
questão de coerência, pois, se até o estado reconhece estes dias, que são datas importantes,
apesar de não serem preceitos católicos, seria uma imperfeição muito grande, não participar da
Santa Missa nestes dias. Seria o mesmo que dizer que o Estado brasileiro, tem mais devoção
católica do que eu. Sendo assim, nós vamos à Santa Missa como testemunho de fé.

Quando é errado fazer Jejum, Abstinência e Penitência?

Aos Domingos, é errado fazer jejum, abstinência e penitência... se não somente no ato penitencial
durante a Santa Missa, onde nos ajoelhamos, não em penitência, mas em adoração ao Senhor.
Do mesmo modo, nos dias de solenidade citados acima, mesmo que caiam nas sextas-feiras, não
se faz o Jejum.

Menores de 18 e maiores de 59 anos e doentes, não devem jejuar. Estes por sua vez, podem
oferecer sacrifícios de louvor, pela recitação de uma oração, um terço, uma novena etc...

Durante as outavas de Natal e de Páscoa, também não jejuamos e não nos abstemos de carne.

O Jejum, Abstinência e Penitência, precisam ser equilibrados. Nunca podem ser exagerados, pois
não é a intensidade do sofrimento que diminui nossas penas, mas sim, o amor e generosidade
com que nos obrigamos a tais atos. Deus não se alegra com nosso sofrimento, mas sim, com o
amor e generosidade que a Ele oferecemos estes mesmos sofrimentos.

IMPORTANTE: Nenhum jejum, abstinência ou penitência perdoa pecados, somente a Confissão


pode perdoar os pecados mortais, e a Unção dos Enfermos e a Santa Missa, que são capazes
de perdoar os pecados veniais, quando não se está em pecado mortal.

No dia 16 de outubro de 2022, o Papa Francisco, durante a oração do Angelus, na praça de São
Pedro, fez uma breve catequese sobre a Vida de oração, que trazemos em sua íntegra para
nossa reflexão:

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!


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O Evangelho da liturgia de hoje termina com uma pergunta preocupada de Jesus: «Mas, quando
o Filho do Homem voltar encontrará fé sobre a terra?» (Lc 18, 8). Como se dissesse: quando
eu voltar no final da história - mas, podemos pensar, também agora, neste momento da vida -
encontrarei alguma fé em vós, no vosso mundo? Trata-se de uma questão séria. Imaginemos que
o Senhor venha hoje à terra: ele veria, infelizmente, tantas guerras, tanta pobreza e tantas
desigualdades, e ao mesmo tempo grandes conquistas da tecnologia, meios modernos e pessoas
sempre a correr, sem nunca parar; mas será que ele encontraria aqueles que lhe dedicam
tempo e afeto, aqueles que o colocam em primeiro lugar? E sobretudo, perguntemo-nos: se o
Senhor viesse hoje, o que encontraria ele em mim, na minha vida, no meu coração? Que
prioridades na minha vida veria Ele?

Nós, muitas vezes, concentramo-nos em tantas coisas urgentes, mas desnecessárias, ocupamo-
nos e preocupamo-nos com muitas realidades secundárias; e talvez, sem nos darmos conta,
negligenciamos o que mais importa e permitimos que o nosso amor por Deus arrefeça, arrefeça
pouco a pouco. Hoje, Jesus oferece-nos o remédio para aquecer uma fé tíbia. E qual é o remédio?
Oração. A oração é o remédio da fé, a restauradora da alma. Deve, no entanto, ser uma oração
constante. Se tivermos de seguir uma cura para melhorar, é importante segui-la bem, tomar os
medicamentos de forma correta e no momento estabelecido, com constância e regularidade. Em
tudo na vida há uma necessidade disto. Pensemos numa planta que temos em casa: devemos
nutri-la com constância todos os dias, não a podemos encharcar e depois deixá-la sem água
durante semanas! Isto é válido para oração: não podemos viver apenas de momentos fortes ou de
encontros intensos de vez em quando e depois “entrar em hibernação”. A nossa fé secará.
Precisamos da água diária da oração, precisamos de tempo dedicado a Deus, para que Ele possa
entrar no nosso tempo, na nossa história; momentos constantes em que abrimos o nosso coração
a Ele, para que Ele possa derramar amor, paz, alegria, força, esperança em nós todos os dias; isto
é, alimentar a nossa fé.

Por isso Jesus fala hoje aos seus discípulos - a todos, não apenas a alguns! - «sobre a obrigação
de orar sempre, sem desfalecer» (v. 1). Mas pode-se objetar: “Mas como faço? Não vivo num
convento, não tenho muito tempo para rezar”. Talvez uma prática espiritual sábia possa vir em
auxílio desta dificuldade, que é verdadeira, que hoje está um pouco esquecida, que os nossos
idosos, especialmente as nossas avós, conhecem bem: a das chamadas orações jaculatórias. O
nome está um pouco desatualizado, mas a substância é boa. Do que se trata? Orações muito
curtas, fáceis de memorizar, que podemos repetir frequentemente durante o dia, no decorrer de
várias atividades, para ficarmos “sintonizados” com o Senhor. Tomemos alguns exemplos. Assim
que acordamos, podemos dizer: “Senhor, agradeço-te e ofereço-te este dia”: esta é uma breve
oração; depois, antes de uma atividade, podemos repetir: “Vem, Espírito Santo”; e entre uma coisa
e outra podemos rezar assim: “Jesus, confio em ti, Jesus, amo-te”. Pequenas orações, mas que
nos mantêm em contacto com o Senhor. Quantas vezes enviamos “pequenas mensagens” a
pessoas que amamos! Façamo-lo também com o Senhor, para que o coração permaneça ligado a
Ele. E não nos esqueçamos de ler as suas respostas. O Senhor responde, sempre. Onde as
encontramos? No Evangelho, que deve sempre estar à mão para ser aberto algumas vezes
durante o dia, para receber uma Palavra de vida dirigida a nós.

E voltemos àquele conselho que tantas vezes dei: tende convosco um pequeno Evangelho, no
bolso, na bolsa, e assim, quando tiverdes um minuto, abri-o e lede algo, e o Senhor responderá.

Que a Virgem Maria, fiel na escuta, nos ensine a arte de rezar sempre, sem nos cansar.

Lição 9: Vidã de Orãção - Ã nãturezã humãnã


Já demos uma breve pincelada na via purgativa (até a 3ª Morada do Castelo interior), agora,
iremos nos aprofundar um pouco para podermos enfim, assumir o desejo de chegar até lá, com o
auxílio da Graça e com nossos esforços, pois Santo Tomás de Aquino nos ensina:

“A Graça, pressupõe a Natureza”

Mas você sabe o que é Graça e o que é Natureza?


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Temos um “Organismo Espiritual” (Organismo Sobrenatural), composto do corpo material e da


alma racional. Por questões pedagógicas, iremos resumir as coisas, e dizer que a alma, possui
três faculdades, que são chamadas de potências. Não são três partes, a alma é um todo, com
três capacidades distintas, a saber:

1. Capacidade de conhecer: Inteligência;


2. Capacidade de querer: Vontade;
3. Capacidade de sentir: Sensibilidade;

Isso, faz parte de nossa natureza, mas, há algo em nós, que vai além de nossa natureza, ou
melhor, além de nossas potências/capacidades, este algo, é a GRAÇA de DEUS.

A graça de Deus, está dividida conforme o Catecismo nos ensina a seguir:

“A graça santificante é um dom habitual, uma disposição estável e sobrenatural para aperfeiçoar a
própria alma e torná-la capaz de viver com Deus, agir por seu amor. Deve-se distinguir a graça
habitual, disposição permanente para viver e agir conforme o chamado divino, e as graças
atuais, que designam as intervenções divinas, quer na origem da conversão, quer no decorrer da
obra da santificação.” (CatIC 2000)

Na prática, ambas são a mesma Graça, porém, quando nos aprofundamos na vida de oração,
percebemos a ação distinta da Graça em nós.

Graça Atual, também é chamada de Graça Suficiente ou ainda Graça Gratis Datae. É a graça que
está agindo agora, neste momento em todas as pessoas no mundo inteiro, independente do
batismo ou dos sacramentos. Ela se manifesta principalmente por meio de “graças especiais”
conhecidas como carismas ou milagres.

“Mas eis aqui uma prova brilhante de amor de Deus por nós: quando éramos ainda pecadores, Cristo morreu
por nós.”
(Rm 5,8)

Uma característica da Graça Atual é que ela é um dom dado por Deus, independente de nossa
santidade pessoal, independente de nosso estado moral ou arrependimento. Ela alcança os
maiores pecadores, sejam eles católicos, cristãos, muçulmanos, hindus, umbandistas, ateus... e
ela é dada em quantidade suficiente para que a pessoa alcance a conversão. Por isso é chamada
também de Graça Suficiente.

“quando estávamos mortos em consequência de nossos pecados, deu-nos a vida juntamente com Cristo – é
por graça que fostes salvos!”
(Ef 2,5)

“Manifestou-se, com efeito, a graça de Deus, fonte de salvação para todos os homens.”
(Tt 2,11)

“Esta salvação tem sido o objeto das investigações e das meditações dos profetas que proferiram oráculos
sobre a graça que vos era destinada.”
(1 Pd 1,10)

Como podemos ver, a Graça Atual, age em todos, e era ela que era destinada aos profetas do
Antigo Testamento, e ainda hoje, mesmo em meio ao pecado, independente de religião, a graça
que age na vida da maioria dos protestantes é a graça atual, pois mesmo batizados (e a Igreja
reconhece o batismo em meio aos protestantes) eles não se confessam, logo, perdem a Graça
Santificante.
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Então, a Graça Habitual, conhecida como Santificante ou Deificante, é a graça proveniente dos
Sacramentos, ela age em nós, e seu objetivo, não é mais a conversão, mas sim, nos tornar
unidos a Deus te tal forma, que sejamos capazes de dizer:

“Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim. A minha vida presente, na carne, eu a vivo na fé no Filho
de Deus, que me amou e se entregou por mim.”
(Gl 2,20)
São João da Cruz, escreveu um poema em que diz:

“O que Deus pretende é fazer-nos deuses por participação sendo-O Ele por natureza; Como fogo
que converte tudo em fogo, o que Deus pretende é fazer-nos deuses;

A Graça Santificante, literalmente, não de forma romanceada e de forma analógica, mas de forma
factual e real, torna o ser humano, o próprio Deus. Esta realidade é negada pelos protestantes e é
impensável para os não cristãos, como judeus e muçulmanos, e com certeza, é loucura para os
pagãos. Porém, é exatamente esta a realidade que nós, católicos, contemplamos ao vislumbrar a
vida de um santo.

“O Batismo não somente purifica de todos os pecados, mas também faz do neófito "uma criatura
nova", um filho adotivo de Deus que se tornou "participante da natureza divina", membro de
Cristo e co-herdeiro com ele, templo do Espírito Santo. A Santíssima Trindade dá ao batizado a
graça santificante, a graça da justificação, a qual - torna-o capaz de crer em Deus, de esperar nele
e de amá-lo por meio das virtudes teologais; - concede-lhe o poder de viver e agir sob a moção do
Espírito Santo por seus dons; - permite-lhe crescer no bem pelas virtudes morais. Assim, todo o
organismo da vida sobrenatural do cristão tem sua raiz no santo Batismo.” (CatIC 1265-1266)

Uma vez que estamos na Graça de Deus, e procuramos viver e nos manter neste estado de
Graça, Deus habita verdadeiramente em nossa alma. Permanecemos humanos, livres e dotados
de toda a liberdade, porém, assim como o ferro em brasa, continua sendo ferro, ele adquire ao ter
contato com o fogo, a sua luz e o seu calor, nós, ao nos mantermos em contato com Deus
(fervor), vamos nos assemelhando a Ele, mantendo-nos puramente humanos, porém, com
méritos infinitos. A vida em estado de graça, é viver uma ordem acima da natureza, é adquirir
uma vida sobrenatural (Instalada na parte espiritual da alma).

Porém, o organismo sobrenatural, está alicerçado no organismo natural, Deus só pode nos tornar
semelhantes a Ele, e participantes de Sua natureza, porque somos naturalmente racionais,
capazes de vontade e com a sensibilidade ordenada pela inteligência e pela vontade. Assim, a
frase de Santo Tomás, fica explicada assim: A vida sobrenatural, supõe a vida natural.

RESUMINDO: A Graça atual, nos convida a conversão, ela é suficiente para nos conduzir, se
permitirmos, à graça habitual, que uma vez agindo em nós, não impede a ação da graça atual, e
nossa própria natureza, elevando-a e transforma-a em algo muito maior, um organismo
sobrenatural semelhante ao próprio Deus.

2001. “A preparação do homem para acolher a graça (Habitual/Santificante) é já uma obra da


graça (Atual/suficiente). Esta (Habitual/Santificante) é necessária para suscitar e manter nossa
colaboração na justificação pela fé e na santificação pela caridade. Deus acaba em nós aquilo que
Ele mesmo começou, "pois começa, com sua intervenção (Atual/suficiente), fazendo com que
nós queiramos e acaba cooperando com as moções de nossa vontade já convertida":

Sem dúvida, operamos também nós (A Graça pressupõe a natureza), mas o fazemos
cooperando com Deus, que opera predispondo-nos (Graça Atual) com a sua misericórdia (Graça
Habitual). E o faz para nos curar, (Graça Atual) e nos acompanhará para que, quando já curados,
(Graça Habitual) sejamos vivificados; (Graça Atual) predispõe-nos para que sejamos chamados
(Graça Atual) e acompanha-nos para que sejamos glorificados; (Graça Habitual) predispõe-nos
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para que vivamos segundo a piedade (Graça Atual) e segue-nos para que, com Ele, vivamos para
todo o sempre, pois sem Ele nada podemos fazer. (Graça Habitual)”

2002. “A livre iniciativa de Deus (Graça Atual/Suficiente) pede a livre resposta do homem pois
Deus criou o homem à sua imagem, conferindo-lhe, com a liberdade, o poder de conhecê-Lo e
amá-Lo (Graça Habitual/Santificante). A alma só pode entrar livremente na comunhão do amor.
Deus toca imediatamente (Atual) e move diretamente (Habitual) o coração do homem. Ele
colocou no homem uma aspiração à verdade (Suficiente) e ao bem que somente Ele pode
satisfazer plenamente (Santificante).”

Para entendermos melhor, observemos bem o esquema a seguir:

Graça Graça
Suficiente
METANOIA
SACRAMENTOS Santificante Santidade
(conversão) e Salvação
(Atual) (Habitual)

DEUS DEUS DEUS E A DEUS DEUS


E NÓS IGREJA E NÓS

Por este esquema, vemos que a iniciativa é sempre de Deus, nós temos uma participação na
conversão, por meio da ação da nossa alma, que será explicado a seguir. Vemos ainda que
somos completamente dependentes da Igreja, e quando falamos de Igreja, neste esquema,
estamos nos referindo a toda Economia da Salvação (Encarnação, Paixão, Morte, Ressurreição,
Pentecostes + Igreja padecente, Igreja Militante e Igreja Triunfante = Cristo Total), pois é por meio
da Igreja que os Sacramentos vêm até nós, e por fim, temos nossa constante participação no
processo de santificação e consequente salvação.

As partes em Azul, é onde tudo depende de Deus apenas, em laranja, é onde dependemos de
Deus e da Igreja (homens de boa vontade), em rosa, fica evidenciado o nosso organismo natural,
e em verde, o organismo sobrenatural.

Para entendermos este nosso Organismo Natural, é preciso que compreendamos uma parte do
Credo: “Creio em Deus Pai, todo poderoso, Criador do Céu e da Terra”. Céu e Terra, são
palavras metafóricas, para designar as criaturas visíveis, que são puramente físicas, como o que
é animal, vegetal ou mineral; e as criaturas invisíveis, que são os anjos e demônios, que são
puramente espírito. Já o ser humano, que possui uma única natureza, possui em sua unidade,
uma parte física (corpo e a forma do corpo - alma) e visível e uma parte espiritual (alma espiritual)
invisível.

“O Senhor Deus formou, pois, o homem do barro da terra, e inspirou-lhe nas narinas o sopro da vida e o
homem se tornou um ser vivente.”
(Gn 2,7)

O barro é o símbolo do elemento físico, e o sopro da vida, é o símbolo do que é espiritual e


invisível no ser humano. Mas é importante ressaltar, que o que torna o ser humano, são as duas
partes visível e invisível unidas. Em nossa cultura, por influência do espiritismo, algumas pessoas
dizem que a alma “habita” o corpo, e que quando se morre, acontece a “desencarnação”, pois a
alma estava “aprisionada” ao corpo. Este pensamento é herético, pois não é esta a verdade. Na
verdade, ALMA (ESPÍRITO) E CORPO, são um só, assim como Deus é único, sendo três, nós
também somos únicos, não importando em quantas partes podemos segmentar nossa natureza
para explicá-la pedagogicamente.
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“Muitas vezes o termo alma designa na Sagrada Escritura a vida humana ou a pessoa humana
inteira. Mas designa também o que há de mais íntimo no homem e o que há nele de maior valor,
aquilo que mais particularmente o faz ser imagem de Deus: "alma" significa o princípio espiritual
no homem.” (CatIC 363)

Portanto, o ser humano é a união do corpo (barro da terra) com a alma (sopro de vida) e
naturalmente, o ser humano não foi feito para morrer, que é a separação da alma e do corpo que
se dá na morte. Porém, a morte não acontece apenas quando o corpo perde a vida, mas também,
quando a alma se perde, pois isso que Nosso Senhor se refere a duas mortes:

Quem tiver ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas: O vencedor não sofrerá dano algum da segunda morte.
(Ap 2,11)

A primeira morte, é a morte do corpo, mas mantém-se a alma viva em Deus, a segunda morte, é
quando a alma, não está em Deus, ou seja, no inferno. Infelizmente, é possível já estar na
segunda morte, não tendo passado pela primeira. Isto acontece sempre quando a pessoa faz do
pecado um projeto de vida. Claro que, enquanto há vida, há esperança, mas o pecado mortal
abala tanto a alma, que de fato, se a pessoa se obstina no pecado, já vive a morte eterna em
vida, pela ausência de amor, de sentido e consequentemente de vida.

Porém, há uma realidade pouco entendida entre os católicos, é que tanto o corpo, quanto a alma,
são realidades materiais. Basta entendermos que animais e plantas, também morrem, e se
morrem, é porque possuem alma. O Animal possui uma alma sensitiva e os vegetais, uma alma
vegetativa, já o ser humano, possui na alma material a realidade sensitiva e vegetativa, porém, há
no ser humano uma parte espiritual, enquanto a alma dos vegetais é puramente vegetativa e dos
animais, puramente sensitiva, a alma do ser humano é também uma alma espiritual.

“Unidade de corpo e de alma, o homem, por sua própria condição corporal, sintetiza em si os
elementos do mundo material, que nele assim atinge sua plenitude e apresenta livremente ao
Criador uma voz de louvor. Não é, portanto, lícito ao homem desprezar a vida corporal; ao
contrário, deve estimar e honrar seu corpo, porque criado por Deus e destinado à ressurreição no
último dia.” (CatIC 364)

Pela lógica, quando acontece a morte, onde há a separação da alma espiritual, da alma e do
corpo material, o ser humano permanece segmentado... pela metade. Esta é a condição dos
santos que estão no Céu e das almas no purgatório, e das almas que já foram condenadas ao
inferno. Todos os seres humanos mortos, aguardam o retorno do Senhor, para ocorrer a
ressurreição da carne, e assim, voltarem a serem íntegros e inteiros, pois o ser humano é Corpo
e Alma Espiritual.

“A unidade da alma e do corpo é tão profunda que se deve considerar a alma como a "forma" do
corpo; ou seja, é graças à alma espiritual que o corpo constituído de matéria é um corpo humano e
vivo; o espírito e a matéria no homem não são duas naturezas unidas, mas a união deles forma
uma única natureza.” (CatIC 365)

São Paulo nos faz uma sinalização para isso, quando diz:

“O Deus da paz vos conceda santidade perfeita. Que todo o vosso ser, espírito, alma e corpo, seja conservado
irrepreensível para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo!”
(1Ts 5, 23)
E aqui, o Catecismo, maravilhosamente, vem em auxílio à nossa inteligência e explica:

“Por vezes ocorre que a alma aparece distinta do espírito. Assim, São Paulo ora para que nosso
"ser inteiro, o espírito, a alma e o corpo", seja guardado irrepreensível na Vinda do Senhor (1 Ts
5,23). A Igreja ensina que esta distinção não introduz uma dualidade na alma. "Espírito" significa
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que o homem está ordenado desde a sua criação para seu fim sobrenatural, e que sua alma é
capaz de ser elevada gratuitamente à comunhão com Deus.” (CatIC 367)

Então, há em todo ser humano, a alma (material) e o corpo (material), neles age, no corpo e na
alma, a Graça Suficiente, que atua na dimensão física, material e visível do ser humano. Porém,
aqueles que foram batizados, e assim, receberam a Graça Santificantes, há um “lugar” (uma
analogia de espaço) na natureza humana, onde Deus habita, por isso, é designada, Graça
Habitual.

O ser humano, então, que é Pneumo (espírito), psico (mente) somático (corpo), quando batizado
adquire a capacidade de ser habitado por Deus, e este “doce Hóspede da alma” transforma a vida
do ser humano de dentro para fora. Ordenando as potências da alma e santificando o ser. A
seguir, temos dois esquemas, do ser humano, um ordenado e outro desordenado.

ORDENADO DESORDENADO

INTELIGÊNCIA SENSIBILIDADE

VONTADE VONTADE

SENSIBILIDADE INTELIGENCIA

A inteligência, é a parte mais nobre da alma, é ela que pode receber a “luz” (iluminação,
conhecimento, sabedoria) para tornar o ser humano, que já é algo, em alguém. Porém, este
alguém, irá depender do tipo de luz, que ele recebe. Temos a Luz Natural da Razão, a Luz
Sobrenatural da Graça e a Luz Natural dos Sentidos.

Por causa do pecado original, e dos nossos pecados pessoais, nascemos privados da Graça
Santificante, e assim, podemos pecar, e inverter a ordem natural do nosso organismo natural.
Podemos perceber isso facilmente em nós mesmos, pois quando nos deixamos levar pela Luz
natural dos sentidos, é nossa sensibilidade que domina a vontade, e a inteligência, subjugada
pela vontade, passa a criar razões, sofismas, ideologias, opiniões que justifiquem os sentimentos,
sejam eles quais forem.

A ideologia de gênero é um exemplo. As pessoas não são mais o que são, são o que sentem.
Sendo assim, se hoje, um homem, sente-se animal, ele diz que é, animal. O problema é que este
ser humano, só pode dizer que agora é animal, porque antes, ele tem a liberdade de ser humano,
para escolher dizer, o que agora quer ser. É um sofisma. Sofismas são razões, muitas vezes com
lógica formal, que procuram justificar a vontade, que está dominada pelos sentimentos, o filósofo
brasileiro Olavo de Carvalho, também chama de Paralaxe Cognitiva, que é quando a pessoa
toma como verdadeiras, duas notórias contradições, duas definições opostas, mas devido a
desordem, a pessoa adquire uma mentalidade revolucionária, uma cultura/espiritualidade, em que
abre mão da realidade em função das ideias, ideais e ideologias.

O modo ordenado do ser humano, é a Inteligência, pela Luz Natural da Razão, alcançar e Luz
Sobrenatural da Fé, uma vez tendo conhecido a verdade, que é Cristo Jesus, convida a vontade a
submeter-se à Vontade de Deus, e assim, analisar, alimentar (estimular) ou descartar, aquilo que
nos vem pela Luz Natural dos Sentidos. Na prática, é pensar, mover-se interiormente, e julgar se
estes e aqueles sentimentos são ou não ordenados.
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Você já deve ter ouvido falar que o “campo de batalha” é o coração do homem. Muitos acreditam
que o coração é a parte “sentimental”, porém, não é, o catecismo mais uma vez nos auxilia:

“A tradição espiritual da Igreja insiste também no coração, no sentido bíblico de "fundo do ser" (Jr
31,33), onde a pessoa se decide ou não por Deus”. (CatIC 368)

A decisão, entre ser ordenado ou desordenado, acontece no pleno exercício da vontade, por isso,
há duas vontades e o ser humano parece fragmentado, ao ponto de São Paulo dizer:

“Sabemos, de fato, que a Lei é espiritual, mas eu sou carnal, vendido ao pecado. Não entendo, absolutamente, o
que faço, pois não faço o que quero; faço o que aborreço. E, se faço o que não quero, reconheço que a Lei é
boa. Mas, então, não sou eu que o faço, mas o pecado que em mim habita. Eu sei que em mim, isto é, na minha
carne, não habita o bem, porque o querer o bem está em mim, mas não sou capaz de efetuá-lo. Não faço o bem
que quereria, mas o mal que não quero. Ora, se faço o que não quero, já não sou eu que faço, mas sim o
pecado que em mim habita. Encontro, pois, em mim esta Lei: quando quero fazer o bem, o que se me depara é
o mal. Deleito-me na Lei de Deus, no íntimo do meu ser. Sinto, porém, nos meus membros outra Lei, que luta
contra a Lei do meu espírito e me prende à Lei do pecado, que está nos meus membros. Homem infeliz que
sou! Quem me livrará deste corpo que me acarreta a morte?... Graças sejam dadas a Deus por Jesus Cristo,
nosso Senhor! Assim, pois, de um lado, pelo meu espírito, sou submisso à Lei de Deus; de outro lado, por minha
carne, sou escravo da Lei do pecado.”
(Rm 7,14-26)

Para nos dominarmos, nos mantermos ordenados, é preciso vivermos em estado de Graça,
termos uma vida de oração, e uma busca constante, pelo estudo, da fé, que é o contato com a
Revelação que o Senhor nos fez, logo, é a verdade:

“Vigiai e orai para que não entreis em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é fraca.”
(Mt 26,41)

A vigilância, é a nossa vida de estuda da fé. Orar, é a nossa constante vida de oração. Se, somos
o que comemos, então, nossa mente, cultura/espiritualidade e nossa visão de mundo, será aquilo
que estudamos, e se expressará na forma como vivemos a oração. Por isso, é importante, saber
como deve ser o nosso dia a dia em uma vida de oração ideal.

Lição 10: Vidã de Orãção – O Sãnto Sãcrifício


A expressão máxima da vida de oração, é a liturgia. Mas o que é liturgia? Liturgia é o culto
público do Filho ao Pai no Espírito. É sempre o Filho que realiza a liturgia. A obra máxima da
liturgia é a Santa Missa. E o que é a Santa Missa? A Missão de Nosso Senhor Jesus Cristo, é a
sua Paixão, Morte e Ressurreição, sendo assim, a Missa tem sua expressão máxima no Calvário,
onde Nosso Senhor, se sacrifica, por nós, ensinando-nos o que é o amor:

“Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida por seus amigos.”
(Jo 15,13)

A palavra central em tudo isso, é o termo “SACRIFÍCIO”. Hoje em dia, esta palavra tem uma
conotação negativa, porém, de sua total compreensão, dependerá o nosso relacionamento com
Deus.

O termo sacrifício, tem dois sentidos, o primeiro e mais conhecido, é o sacrifício oferecido a Deus
ou aos deuses, o segundo, é o de dedicação total, fiel e profunda de alguém para outrem.
Quando se dedica algo, não é uma mera homenagem, mas é um compromisso. A mãe dedicada,
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é aquela que abre mão de suas necessidades, para oferecer-se, em sacrifício pelo filho, ela
anula-se, esquece-se de si mesma, e tem toda sua atenção voltada ao bem-estar do filho, que,
nem sequer, é testemunha deste sacrifício, que aliás, é oferecido no altar do silêncio, e muitas
vezes, não é reconhecido por nós, os filhos.

Tomando a imagem da mãe dedicada, podemos olhar para o Deus “dedicado”. Ora, Deus é, e
sempre foi, e continuará sendo. Ele não precisa de nada, nunca precisou e continuará não
precisando. Porém, a partir do nada, criou tudo que vemos, e elegeu o ser humano, para ser sua
própria Imagem e semelhança:

“Então Deus disse: “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança. Que ele reine sobre os peixes do mar,
sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos e sobre toda a terra, e sobre todos os répteis que se
arrastam sobre a terra”. Deus criou o homem à sua imagem; criou-o à imagem de Deus, criou o homem e a
mulher.”
(Gn 1, 26-27)

Vemos neste texto, que Deus, em sua plenitude (façamos) aludindo às três pessoas da
Santíssima Trindade, criou-nos, à Sua imagem e semelhança, sendo o homem, desde sua
criação, semelhante a Deus, e como um representante da imagem de Deus. Esta profecia,
realiza-se completamente na concepção de Nosso Senhor Jesus Cristo no seio da Virgem Maria.
Ali, temos a perfeita, Imagem e Semelhança de Deus.

Ora, “antes” da criação, Deus era “maior”, a criação inaugura o primeiro sacrifício (Kenosis –
esvaziamento de si mesmo) deste Deus dedicado. Pois, não precisando do ser humano, quis
precisar. É importante compreendermos bem, que Deus, ao criar qualquer coisa, “diminui”, pois
antes Ele reinava absoluto, era o único “habitante”, mas ao criar o ser humano, Ele criou um
“lugar” onde Ele poderia não habitar, que é o coração e a consciência humana. Ele não invade
nossa vontade, não vasculha nossos segredos, não entra em nossa vida, se antes não for
convidado, de forma verbal e praticamente.

Mas Deus, já havia criado os anjos, e os submeteu a uma prova, onde alguns destes anjos, não
passaram, e desobedeceram a Deus, assim, surge o pecado, que é a ausência de amor,
ausência de Deus. O estado permanente em que a criatura, se isola do criador, e o criador, por
amor respeita, é chamado “inferno”. O inferno, é um sacrifício de amor, de Deus, por suas
criaturas, que escolheram viver, sem contato com Deus. Não é Deus, o criador do inferno, é a
própria criatura que o “cria” quando se decide por viver longe de Deus.

Para entendermos melhor, o que é a Kenosis, bastar olharmos para a conversa de uma mãe
dedicada com seu filho de 2 anos. A criança, não tem a mínima condição de elevar-se à estatura
da mãe para falar com ela, então, a mãe, abaixa-se, ficando na estatura da criança, para olhar-lhe
nos olhos. Este “abaixamento” é uma imagem propícia do esvaziamento de Deus, não apenas na
criação, mas acima de tudo, na encarnação do Verbo, quando Deus, torna-se um de nós.

A partir disso tudo, podemos concluir que Deus é sacrifício. Ele fez-se sacrifício. E ainda não
estamos falando do sacrifício do calvário, que é o maior sacrifício. Pois, se de um lado temos a
Kenosis Divina, na criação, na encarnação... do outro lado, temos a morte de Deus. No calvário,
Deus morre.

Logo no início da criação do ser humano, Deus mesmo, realiza o sacrifício de animais, para criar
roupas para os homens, onde vemos depois de todo o drama da queda do ser humano, após a
profecia de que haverá um dia uma descendência humana que pisará a cabeça da serpente:
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“O Senhor Deus fez para Adão e sua mulher umas vestes de peles, e os vestiu.”
(Gn 3, 21)

Assim, é inaugurada a aliança sacrifical, onde o ser humano, para aplacar a cólera Divina, e
reafirmar seu compromisso e sua aliança com Deus, irá realizar sacrifícios rituais, como símbolo
desta aliança com Deus.

O Sacrifício de Abel:

“Passado algum tempo, ofereceu Caim frutos da terra em oblação (sacrifício) ao Senhor. Abel, de seu lado,
ofereceu dos primogênitos do seu rebanho e das gorduras dele; e o Senhor olhou com agrado para Abel e para
sua oblação (Sacrificio)”
(Gn 4, 3)

Caim, oferece a Deus, não o que tinha de melhor, mas apenas alguns frutos. A tradição entende
que o sacrifício de Caim, não foi sacrifício algum, ele oferecia a Deus, o que lhe sobrava, o que
tinha estragado, o que não servia para o alimento ou para o plantio. Já Abel, oferece os
primogênitos de seu rebanho. Oferecer os primogênitos, é oferecer o que há de melhor, o que
falta, o que é mais importante. Temos aí, desde o início, uma prefigura do sacrifício judaico e do
sacrifício de Cristo, pois, Ele é o primogênito de Deus.

O Sacrifício de Noé:

“E Noé levantou um altar ao Senhor: tomou de todos os animais puros e de todas as aves puras, e ofereceu-os
em holocausto ao Senhor sobre o altar.”
(Gn 8,20)

Após o drama do dilúvio, onde Deus, “arrepende-se” de ter criado o ser humano, tamanhas eram
as ofensas dos homens a Deus, Noé, oferece o que há de melhor a Deus, e Deus vê, no sacrifício
de Noé, o sacrifício de Abel, que é prefigura do Sacrifício de Cristo, e temos, uma novidade, como
vemos a seguir:

“Vou fazer uma aliança convosco e com vossa posteridade, assim como com todos os seres vivos que estão
convosco: as aves, os animais domésticos, todos os animais selvagens que estão convosco, desde todos aqueles
que saíram da arca até todo animal da terra. Faço esta aliança convosco: nenhuma criatura será destruída
pelas águas do dilúvio, e não haverá mais dilúvio para devastar a terra”. Deus disse: “Eis o sinal da aliança que
eu faço convosco e com todos os seres vivos que vos cercam, por todas as gerações futuras. Ponho o meu arco
nas nuvens, para que ele seja o sinal da aliança entre mim e a terra. Quando eu tiver coberto o céu de nuvens
por cima da terra, o meu arco aparecerá nas nuvens, e me lembrarei da aliança que fiz convosco e com todo
ser vivo de toda a espécie, e as águas não causarão mais dilúvio que extermine toda criatura. Quando eu vir o
arco nas nuvens, eu me lembrarei da aliança eterna estabelecida entre Deus e todos os seres vivos de toda a
espécie que estão sobre a terra”. Dirigindo-se a Noé, Deus acrescentou: “Este é o sinal da aliança que faço entre
mim e todas as criaturas que estão na terra”.
(Gn 9, 9-17)

A novidade, é que, a partir do sacrifício de Noé, Deus estabelece uma ALIANÇA ETERNA entre
Ele e todas as criaturas da terra. Uma aliança de vida, pois garante que não mais castigará o
mundo com um dilúvio. Esta aliança com Noé, é já, prefigura da Aliança de Cristo com a Igreja,
do mesmo modo que o dilúvio é uma figura do Sacramento do Batismo, pois assim como o dilúvio
varreu o pecado da face da terra, o batismo, varre o pecado do coração do homem.
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O Sacrifício de Abraão:

O Senhor disse a Abrão: “Deixa tua terra, tua família e a casa de teu pai e vai para a terra que eu te mostrar...
Em seguida, partindo dali, foi para a montanha que está ao oriente de Betel, onde levantou a sua tenda, tendo
Betel ao ocidente e Hai ao oriente. Abrão edificou ali um altar ao Senhor, e invocou o seu nome.
(Gn 12, 1.8)

Invocar o nome do Senhor, é realizar o sacrifício no altar, oferecendo as primícias do trabalho a


Deus. Após Noé, o povo continuou pecando, se dividindo, elegendo outros deuses, e cultuando
as próprias criaturas, então, no meio de um mundo pagão, um homem ouve, finalmente o
chamado de Deus. O detalhe, é que Abrão, chamava Deus, de Senhor, mas não conheceu seu
nome, mesmo assim, ele é fiel. Ele deixa a sua casa, e vai para um lugar desconhecido, ele
abandona sua segurança, sua comodidade e Deus, reconhece nele, aquele que será o pai da fé e
muda-lhe o nome:

“Abrão tinha noventa e nove anos. O Senhor apareceu-lhe e disse-lhe: “Eu sou o Deus Todo-poderoso. Anda em
minha presença e sê íntegro; quero fazer aliança contigo e multiplicarei ao infinito a tua descendência”. Abrão
prostrou-se com o rosto por terra. Deus disse-lhe: “Este é o pacto que faço contigo: serás o pai de uma multidão
de povos. De agora em diante não te chamarás mais Abrão, e sim Abraão, porque farei de ti o pai de uma
multidão de povos. Tornarei a ti extremamente fecundo, farei nascer de ti nações e terás reis por
descendentes. Faço aliança contigo e com tua posteridade, uma aliança eterna, de geração em geração, para
que eu seja o teu Deus e o Deus de tua posteridade.”
(Gn 17, 1-7)

Mas antes de alterar o nome de Abrão, Deus submeteu-o a uma provação, ele teve seu sobrinho
Ló e todos os seus parentes sequestrados, então, Abrão após ter oferecido o sacrifício ao
Senhor, foi reaver tudo que havia sido roubado, e Deus permaneceu com ele, e ele saiu vitorioso.
Aqui, surge um personagem misterioso:

Voltando Abrão da derrota de Codorlaomor e seus reis aliados, o rei de Sodoma saiu-lhe ao encontro no vale de
Save, que é o vale do rei. Melquisedec, rei de Salém e sacerdote do Deus Altíssimo, mandou trazer pão e vinho,
e abençoou Abrão, dizendo: “Bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo, que criou o céu e a terra! Bendito seja o
Deus Altíssimo, que entregou os teus inimigos em tuas mãos!”. E Abrão deu-lhe o dízimo de tudo.
(Gn 14, 17-20)

Abrão reconhece Melquisedec, como Sacerdote do Deus altíssimo, e mesmo ele não sendo de
sua raça ou de sua parentela, oferece-lhe a décima parte de tudo que tinha, estabelecendo assim
o Dízimo, mas não apenas isso. Abraão, é da tradição, de oferecer em sacrifício animais a Deus,
porém, acata a ordem de Melquisedec e ao invés de oferecer um animal, oferece “Pão e Vinho”,
esta é a primeira prefiguração da Santa Eucaristia que celebramos na Santa Missa.

Com Abraão, o Senhor estabelece uma Nova Aliança, uma aliança mais profunda que a aliança
que fez com Noé. O Senhor pede a Abraão, integridade, em troca, daria a ele uma descendência
numerosa, e mesmo Sarai (que também tem o nome mudado para Sara) sua esposa sendo
estéril, Deus deu a Abraão, um filho, chamado Isaac, que significa, “o filho da promessa”.

Aqui, o sacrifício, assume contornos nunca vistos antes, pois Deus, pede algo novo à Abraão,
algo que não foi pedido a Abel, nem a Noé, Deus lhe pede, em sacrifício, o próprio filho, o filho
tão amado de Abraão:

Depois disso, Deus provou Abraão, e disse-lhe: “Abraão!”. “Eis-me aqui” – respondeu ele. Deus disse: “Toma teu
filho, teu único filho a quem tanto amas, Isaac; e vai à terra de Moriá, onde tu o oferecerás em holocausto
sobre um dos montes que eu te indicar”. No dia seguinte, pela manhã, Abraão selou o seu jumento. Tomou dois
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servos e Isaac, seu filho, e, tendo cortado a lenha para o holocausto, partiu para o lugar que Deus lhe tinha
indicado.
(Gn 22, 1-3)

O sacrifício de Abraão, é tão importante, que a oblação/sacrifício dos hebreus, passou a chamar-
se holocausto. Abraão não negou a Deus, seu filho, e mesmo já tendo recebido de Deus a
circuncisão, que é um sinal de consagração a Deus, efetivamente e literalmente, Abraão, oferece
a Deus seu filho, que no instante crucial, foi impedido pelo próprio Deus, na figura de um anjo:

Quando chegaram ao lugar indicado por Deus, Abraão edificou um altar; colocou nele a lenha, e amarrou Isaac,
seu filho, e o pôs sobre o altar em cima da lenha. Depois, estendendo a mão, tomou a faca para imolar o seu
filho. O anjo do Senhor, porém, gritou-lhe do céu: “Abraão! Abraão!”. “Eis-me aqui!” “Não estendas a tua mão
contra o menino, e não lhe faças nada. Agora sei que temes a Deus, pois não me recusaste teu próprio filho, teu
filho único.” Abraão, levantando os olhos, viu atrás dele um cordeiro preso pelos chifres entre os espinhos; e,
tomando-o, ofereceu-o em holocausto em lugar de seu filho.
(Gn 22, 9-13)

A partir deste momento, todos os descendentes de Abraão, que permaneceram fieis, sejam os
Hebreus ou Judeus, passaram a oferecer a Deus, um Cordeiro em Holocausto. O cordeiro tornou-
se símbolo da Eterna Aliança de Deus, com Abraão e seus descendentes.

O Sacrifício de Moisés e a Promessa a Davi:

Moisés é descendente direto de Abraão, Isaac e Jacó, e após o Senhor ter se dirigido à Moisés
no deserto, sobre a forma da “Sarça Ardente” e ter-lhe finalmente revelado o seu nome como
sendo “EU SOU” (YHWH - donde derivam - Yahweh, Javé ou Jeová), no dia da libertação do
povo da escravidão do Egito, Deus estabelece com Moisés e o povo, não uma nova aliança, mas
uma liturgia, um rito próprio para a realização do Holocausto:

“O Senhor disse a Moisés e a Aarão: “Este mês será para vós o princípio dos meses: vós o tereis como o primeiro
mês do ano. Dizei a toda a assembleia de Israel: no décimo dia deste mês cada um de vós tome um cordeiro
por família, um cordeiro por casa. Se a família for pequena demais para um cordeiro, então o tomará em
comum com seu vizinho mais próximo, segundo o número das pessoas, calculando-se o que cada um pode
comer. O animal será sem defeito, macho, de um ano; podereis tomar tanto um cordeiro como um cabrito. E
o guardareis até o décimo quarto dia deste mês; então toda a assembleia de Israel o imolará no crepúsculo.
Tomarão do seu sangue e o porão sobre as duas ombreiras e sobre a moldura da porta das casas em que
o comerem. Naquela noite comerão a carne assada no fogo com pães sem fermento e ervas amargas.”
(Ex 12, 1-8)

Deste ponto em diante, os Hebreus e depois os Judeus, irão realizar a Páscoa, que é a memória
da libertação do povo, que passaram da escravidão à liberdade, por intervenção Divina, e na
noite em que a décima praga, eliminou os primogênitos dos egípcios, o que salvou os filhos dos
hebreus da morte, quando o exterminador passou pela terra do Egito, foi o Sangue do Cordeiro.

Moisés conduz o povo à Terra prometida, e lá, Deus renova a aliança com os hebreus,
estabelecendo as 12 tribos de Israel (os 12 filhos de Jacó, netos de Isaac e Bisnetos de Abraão),
que por séculos fazem guerra entre si, até que prevaleceu a tribo de Judá, com o Rei Davi, com
quem Deus, não apenas renova a aliança, mas realiza uma promessa:

“Quando chegar o fim de teus dias e repousares com os teus pais, então suscitarei depois de ti a tua
posteridade, aquele que sairá de tuas entranhas e firmarei o seu reino. Ele me construirá um templo e
firmarei para sempre o seu trono real. Eu serei para ele um pai e ele será para mim um filho. ... Tua casa e
teu reino estão estabelecidos para sempre diante de mim e o teu trono está firme para sempre’.”
(2Sm 7, 12-14a.16)
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O Sacrifício de Cristo:

“Raiou o dia dos pães sem fermento, em que se devia imolar a Páscoa. Jesus enviou Pedro e João, dizendo:
“Ide e preparai-nos a ceia da Páscoa”... Chegada que foi a hora, Jesus pôs-se à mesa, e com ele os
apóstolos. Disse-lhes: “Tenho desejado ardentemente comer convosco esta Páscoa, antes de sofrer. Pois vos
digo: não tornarei a comê-la, até que ela se cumpra no Reino de Deus”. Pegando o cálice, deu graças e disse:
“Tomai este cálice e distribuí-o entre vós. Pois vos digo: já não tornarei a beber do fruto da videira, até que
venha o Reino de Deus”. Tomou em seguida o pão e depois de ter dado graças, partiu-o e deu-lho, dizendo: “Isto
é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim”. Do mesmo modo tomou também o cálice,
depois de cear, dizendo: “Este cálice é a Nova Aliança em meu sangue, que é derramado por vós...”
(Lc 22, 7-8.14-20)

Na última Ceia, temos todos os aspectos das prefigurações do Antigo Testamento, os pães sem
fermento, do qual é feito a hóstia Eucarística; a Imolação da Páscoa, que é o sacrifício de Cristo
no alto da Cruz, lembrando que São João Batista, aponta para Nosso Senhor Jesus Cristo e diz:

“No dia seguinte, João viu Jesus que vinha a ele e disse: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do
mundo.””
(Jo 1,29)

A mesa é o altar, que na realidade foi o Monte Calvário, onde Cristo é Imolado; Nosso Senhor diz
que não tornará a comer da Páscoa, até que se cumpra no Reino de Deus, que é a Igreja (já e
ainda não) e estabelece uma Nova e Eterna aliança, e institui os Apóstolos como o novo
sacerdócio, e são sacerdotes, segundo a ordem do Rei Melquisedec, como nos lembra a Carta
aos Hebreus:

“Este Melquisedec, rei de Salém, sacerdote do Deus Altíssimo, que saiu ao encontro de Abraão quando este
regressava da derrota dos reis e o abençoou, ao qual Abraão ofereceu o dízimo de todos os seus despojos, é,
conforme seu nome indica, primeiramente “rei de justiça” e, depois, rei de Salém, isto é, “rei de paz”. Sem pai,
sem mãe, sem genealogia, a sua vida não tem começo nem fim; comparável sob todos os pontos ao Filho de
Deus, permanece sacerdote para sempre. Considerai, pois, quão grande é aquele a quem até o patriarca
Abraão deu o dízimo dos seus mais ricos espólios. Os filhos de Levi, revestidos do sacerdócio, na qualidade de
filhos de Abraão, têm por missão receber o dízimo legal do povo, isto é, de seus irmãos. Naquele caso, porém,
foi um estrangeiro que recebeu os dízimos de Abraão e abençoou o detentor das promessas. Ora, é indiscutível:
é o inferior que recebe a bênção do que é superior. De mais, aqui, os levitas que recebem os dízimos são
homens mortais; lá, porém, se trata de alguém do qual é atestado que vive. Por fim, por assim dizer, também
Levi, que recebe os dízimos, pagou-os na pessoa de Abraão, pois ele já estava em germe no íntimo deste,
quando aconteceu o encontro com Melquisedec. Se a perfeição tivesse sido realizada pelo sacerdócio levítico
(porque é sobre este que se funda a legislação dada ao povo), que necessidade havia ainda de que surgisse
outro sacerdote segundo a ordem de Melquisedec, e não segundo a ordem de Aarão? Pois, transferido o
sacerdócio, forçoso é que se faça também a mudança da Lei. De fato, aquele ao qual se aplicam estas palavras é
de outra tribo, da qual ninguém foi encarregado do serviço do altar. E é notório que nosso Senhor nasceu da
tribo de Judá, tribo à qual Moisés de nada encarregou ao falar do sacerdócio. Isto se torna ainda mais evidente
se se tem em conta que este outro sacerdote, que surge à semelhança de Melquisedec, foi constituído não por
prescrição de uma Lei humana, mas pela sua imortalidade. Porque está escrito: Tu és sacerdote eternamente,
segundo a ordem de Melquisedec. Com isso, está abolida a antiga legislação, por causa de sua ineficácia e
inutilidade. Pois a Lei nada levou à perfeição. Apenas foi portadora de uma esperança melhor que nos leva a
Deus. E isso não foi feito sem juramento. Os outros sacerdotes foram instituídos sem juramento. Para ele, ao
contrário, interveio o juramento daquele que disse: Jurou o Senhor e não se arrependerá: tu és sacerdote
eternamente. E esta aliança da qual Jesus é o Senhor, é-lhe muito superior.”
(Hb 7, 1-22)

Assim, na última Ceia, Nosso Senhor, estabelece tanto o Sacramento da Eucaristia, como deixa
uma ordem (Sacramento da Ordem), que é a ordem do Rei Melquisedec, que é o oferecimento de
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Pão e Vinho em Holocausto, que, após a consagração, não são mais, o que parecem, assumem
a substância de Corpo e Sangue de Cristo, o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do Mundo.

Toda a liturgia da Igreja, gira hoje e sempre girou em torno da Eucaristia, chamada nas Escrituras
pelo termo, “fração do Pão”:

“Perseveravam eles na doutrina dos apóstolos, nas reuniões em comum, na fração do pão e nas orações.”
(At 2,42)

O Catecismo da Igreja católica, trás uma bela catequese sobre a Santa Missa, em um resumo de
tudo que apresentamos até aqui:

1333. Encontram-se no cerne da celebração da Eucaristia o pão e o vinho, os quais, pelas


palavras de Cristo e pela invocação do Espírito Santo, se tornam o Corpo e o Sangue de Cristo.
Fiel à ordem do Senhor, a Igreja continua fazendo, em sua memória, até a sua volta gloriosa, o
que ele fez na véspera de sua paixão: "Tomou o pão..." "Tomou o cálice cheio de vinho..." Ao se
tomarem misteriosamente o Corpo e o Sangue de Cristo, os sinais do pão e do vinho continuam a
significar também a bondade da criação. Assim, no ofertório damos graças ao Criador pelo pão e
pelo vinho, fruto "do trabalho do homem", mas antes "fruto da terra" e "da videira", dons do
Criador. A Igreja vê neste gesto de Melquisedec, rei e sacerdote, que "trouxe pão e vinho" (Gn
14,18), uma prefiguração de sua própria oferta.

1334. Na antiga aliança, o pão e o vinho são oferecidos em sacrifício entre as primícias da terra,
em sinal de reconhecimento ao Criador. Mas eles recebem também um novo significado no
contexto do êxodo: os pães ázimos que Israel come cada ano na Páscoa comemoram a pressa da
partida libertadora do Egito; a recordação do maná do deserto há de lembrar sempre a Israel que
ele vive do pão da Palavra de Deus. Finalmente, o pão de todos os dias é o fruto da Terra
Prometida, penhor da fidelidade de Deus às suas promessas. O "cálice de bênção" (1Cor 10,16),
no fim da refeição pascal dos judeus, acrescenta à alegria festiva do vinho uma dimensão
escatológica: da espera messiânica do restabelecimento de Jerusalém. Jesus instituiu sua
Eucaristia dando um sentido novo e definitivo à bênção do Pão e do Cálice.

1335. O milagre da multiplicação dos pães, quando o Senhor proferiu a bênção, partiu e distribuiu
os pães a seus discípulos para alimentar a multidão, prefigura a superabundância deste único pão
de sua Eucaristia. O sinal da água transformada em vinho em Caná já anuncia a hora da
glorificação de Jesus. Manifesta a realização da ceia das bodas no Reino do Pai, onde os fiéis
beberão o vinho novo, transformado no Sangue de Cristo.

1336. O primeiro anúncio da Eucaristia dividiu os discípulos, assim como o anúncio da paixão os
escandalizou: "Essa palavra é dura! Quem pode escutá-la?" (Jo 6,60). A Eucaristia e a cruz são
pedras de tropeço. É o mesmo mistério, e ele não cessa de ser ocasião de divisão. "Vós também
quereis ir embora?" (Jo 6,67). Esta pergunta do Senhor ressoa através dos séculos como convite
de seu amor a descobrir que só Ele tem "as palavras da vida eterna" (Jo 6,68) e que acolher na fé
o dom de sua Eucaristia é acolher a Ele mesmo.

E seguindo a Tradição, com “T” maiúsculo, a Igreja celebra, desde o século II, a Santa Missa,
com as mesmas principais características, até os nossos dias, seja na chamada “Missa
Tradicional” (Extraordinária), seja na Missa Nova (Ordinária):

A MISSA DE TODOS OS SÉCULOS

1345. Desde o século II temos o testemunho de S. Justino Mártir sobre as grandes linhas do
desenrolar da Celebração Eucarística, que permaneceram as mesmas até os nossos dias para
todas as grandes famílias litúrgicas. Assim escreve, pelo ano de 155, para explicar ao imperador
pagão Antonino Pio (138-161) o que os cristãos fazem:

O Domingo:

"No dia 'do Sol', como é chamado, reúnem-se num mesmo lugar os habitantes, quer das cidades,
quer dos campos
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As leituras:

Lêem-se, na medida em que o tempo o permite, ora os comentários dos Apóstolos, ora os escritos
dos Profetas.

A Homilia:

Depois, quando o leitor terminou, o que preside toma a palavra para aconselhar e exortar à
imitação de tão sublimes ensinamentos.

A seguir, pomo-nos todos de pé e elevamos nossas preces por nós mesmos (...) e por todos os
outros, onde quer que estejam, a fim de sermos de fato justos por nossa vida e por nossas ações,
e fiéis aos mandamentos, para assim obtermos a salvação eterna.

A Paz de Cristo (Mais evidente no rito ordinário):

Quando as orações terminaram, saudamo-nos uns aos outros com um ósculo.

Ofertório:

Em seguida, leva-se àquele que preside aos irmãos pão e um cálice de água e de vinho
misturados.

Oração Eucarística:

Ele os toma e faz subir louvor e glória ao Pai do universo, no nome do Filho e do Espírito Santo e
rende graças (em grego: eucharístia, que significa 'ação de graças') longamente pelo fato de
termos sido julgados dignos destes dons. Terminadas as orações e as ações de graças, todo o
povo presente prorrompe numa aclamação dizendo: Amém.

Comunhão e Ação de Graças:

Depois de o presidente ter feito a ação de graças e o povo ter respondido, os que entre nós se
chamam diáconos distribuem a todos os que estão presentes pão, vinho e água 'eucaristizados' e
levam (também) aos ausentes".

A Santa Missa, é a razão de toda nossa fé, ela nos toca em todos os nossos sentidos:

Os Sentidos:

Aos olhos a liturgia é um espetáculo, com os movimentos, as imagens sacras, a arquitetura das
Igrejas, e toda a demanda visual.

Aos ouvidos:

Desde sinete que movimenta o corpo do fiel e introjeta a solenidade do momento, seguido do
canto de entrada, as orações, a homilia e todos os demais cânticos.

Ao Tato:

Os gestos do sacerdote, induz os fiéis aos mesmos gestos de reverência, o toque das mãos
postas, as genuflexões e vênias de saudação e o abração da Paz uns nos outros.

O olfato:
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O cheiro das velas queimando, o cheiro do incenso advindo do turíbulo aceso, que simboliza a
purificação pelas nossas orações que sobe aos céus, e são entronizadas no interior do ser,
justamente pelas narinas.

O Paladar:

Por fim, o sabor da Eucaristia, o pão muitas vezes somente, mas também o vinho, quando
administrada a Eucaristia sob as duas espécies. Ela abrange todas as dimensões do ser humano:

Dimensão Física:

Além de tocar todos os sentidos, em separado, a Liturgia convida o corpo inteiro à oração.
Pequenos detalhes, movimentos mínimos e simples. O fiel que assume no próprio corpo, uma
certa rigidez e prontidão, terá muito mais proveito durante a celebração. Os pequenos gestos,
invisíveis e impossíveis de serem reparados pelos demais, é a expressão de comunhão com
Deus e com a comunidade que reza, não a comunidade militante presente apenas, mas toda a
comunidade padecente e triunfante, no purgatório e no Céu, respectivamente.

A credência, pequena mesa que recebe os objetos litúrgicos, e as ofertas do pão e do vinho,
antes da consagração. É o símbolo do esforço humano, a pequena parte do ser humano no
esforço divido de salvar o mundo e toda a humanidade.

Dimensão Psicoafetiva:

A unidade dos cristãos, a sensação de não estar só, de fazer parte de algo maior, maior do que a
si mesmo, ser membro de uma comunidade, pessoas unidas em um só espírito e um só coração,
tendo as emoções tocadas pelos gestos, as músicas, as respostas em coro, conduz e induz cada
fiel, por sua vontade a se introjetarem nos ritos e se projetarem com a comunidade, assumindo a
missão da comunidade em acolher e partilhar, e este é um dos sentidos da oferta financeira
(Espórtula) que é feita no ofertório.

O ambão, ou “mesa da Palavra”, é a voz da Igreja, ali, a Sagrada Escritura, ganha o atributo literal
de Palavra de Deus, é o único momento em que a Palavra de Deus, Nosso Senhor, é ouvido de
forma efetiva e afetiva, falando aos seus filhos.

Dimensão Espiritual:

A Santa Missa é a RAINHA e MÃE de todas as orações. Sem a Santa Missa, nenhuma outra
oração teria sentido, nenhum outro sacramento teria valor, nenhum sacramental serviria de ícone
simbólico à Deus. Os efeitos de cada celebração são INFINITOS, ela perdoa, cura, liberta,
protege, estimula, motiva, provoca, enfim, une Céu e Terra, é o Céu na Terra, o Reino de Deus
“já” presente, até o último movimento quando retornamos ao dia a dia do Reino de Deus, que
“ainda não” está mais em nosso meio, até a próxima Missa.

O Altar, é o sinal máximo e espiritual, ali, o sacrifício perpétuo de Nosso Senhor acontece,
tornando o tempo em eternidade, a perdição em salvação, e a morte em vida. A Missa, vai ao
fundo da alma, e movimenta todas as suas potências.

Inteligência:

A Missa exige da inteligência a devida atenção. Os símbolos, gestos, os detalhes, tudo deve dizer
algo, se não se tem um sentido racional de tudo o que acontece, a Missa se torna um simples
teatro. Para não cairmos nesta tentação, é preciso conhecer as indumentárias do sacerdote, os
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objetos litúrgicos e todo aparato, desde a porta da capela, até os gestos sublimes da oração
eucarística.

Vontade:

O Ato Penitencial, é o exercício da vontade que faz um exame de consciência e pede perdão. A
vontade, convidada pela razão e pelo sentido de todos os símbolos litúrgicos, converte-se na
vontade de Deus.

Sensibilidade:

Por meio dos sentidos, temos nossas emoções e sentimentos orientados ao centro da
Celebração, em um movimento de “sair de nós mesmos”, abandonando uma atitude egocêntrica,
para Cristocêntrica, reorganizando os sentimentos na direção do altar.

Não há no mundo, palavras que possam expressar a grandeza, a profundidade e a importância


da Santa Missa, não apenas para os católicos, mas para o mundo inteiro:

“Seria mais fácil o mundo sobreviver sem o Sol que sem a Santa Missa.”
(São Padre Pio de Pietrelcina)

Lição 11: Vidã de Orãção - o diã ã diã: Orãçoes (Viã purgãtivã


- 1ª ã 3ª Morãdãs)
A vida de oração é feita de etapas, fases em que o fiel, partindo do abandono do pecado e saindo
de si, pela conversão, entra em um processo de intimidade com Deus, numa busca por Deus em
seu dia a dia.

Importa dizer, que a conversão, é o movimento que ANTECEDE o primeiro passo para a vida de
oração. Quem se converte, não está inserido na vida espiritual, é um pequeno olhar, comparado
ao flerte que precede a conquista que chega ao namoro. Mas, uma vez que a conversão
acontece, o próximo passo, é a busca pelos sacramentos, o primeiro e principal é o Batismo, mas
para quem já tem o Batismo, mas está em pecado, é a Confissão Sacramental. Então, a partir da
confissão, e do combate ao pecado mortal, a pessoa entre na via purgativa:

Graus de Oração:
Via Purgativa 1ª, 2ª e 3ª Moradas Oração vocal, Oração Mental, Oração
Afetiva e Oração de Simplicidade.

Como já falamos, o caminho de santidade ou vida interior, é constituída de três vias ou sete
moradas, em um movimento interior que parte da Oração vocal, até a Oração de União
Transformativa, numa escala de nove tipos de oração, a seguir, a título de conhecimento, estão
as demais vias para futuro aprofundamento pessoal de cada um, e deixamos aqui como
referência para tal, o livro Santidade para todos: descobrindo as moradas interiores de autoria de
Flávio Crepaldi, editora Canção Nova, um verdadeiro TESOURO.
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Graus de Oração:
Via Iluminativa 4ª e 5ª Moradas Oração de Quietude, Oração de Simples
união Infusa e Oração de União Extatica.

Graus de Oração:
Via Unitiva 6ª e 7ª Moradas Oração Desposória (Noivado Espiritual)
e Oração Transformativa (Matrimônio
Espiritual).

Deixamos aqui, o conselho de São Paulo ao Bispo São Timóteo:

“Tu, portanto, meu filho, procura progredir na graça de Jesus Cristo.”


(2 Tm 2,1)
A via purgativa, inicia com o combate ao pecado mortal, por isso, é importantíssimo um profundo,
completo e demorado exame de consciência, a prática Diária da oração vocal, mental e afetiva,
para quem sabe um dia, alcançarmos a oração de simplicidade.

Não é possível ter uma vida espiritual, estando em pecado mortal. Não importa a situação em que
você esteja, ou o tamanho de sua intenção e força de vontade, a Graça de Deus depende do seu
arrependimento para crescer e se mudar em Graça Atual, que atinge e alcança a todos, para
Graça Santificante, que é o dom gratuito de DIVINIZAÇÃO do ser humano. Como vimos, Deus
quer transformar você Nele mesmo. Mas como?

Para isso, você terá de colocar em prática, as virtudes (Morais e Teologais) e os Dons do Espírito,
que na Crisma são derramados sobre os crismandos:

E por que essa diferença entre virtudes e dons? As virtudes são hábitos que predispõem o homem
para agir de acordo com a vontade de Deus, tendo Ele mesmo como meta. Consegue-se, assim,
ter força para se buscar o bem e evitar o mal. Os dons são mecanismos que permitem que Deus
haja em cada um, impulsionando rumo ao bem com clareza e movendo a inteligência e/ou a
vontade. É óbvio que este movimento é suave e não viola a liberdade humana, sendo necessário
que cada um o acolha e dê livre vazão para que possa acontecer. São as chamadas “inspirações”
de Deus. (CREPALDI; 2020)

Um hábito bom é uma virtude, um hábito mal é um vício. Mas o efeito não é o mesmo, se eu
tenho as virtudes, eu facilmente posso deixar de ser virtuoso, é um esforço permanecer virtuoso,
porém, o vício é algo que não exige esforço, e por isso podemos ver o que é mal e o que é bom.
Se o mal é uma ausência, o vício é a ausência de esforço, assim como o bem, é uma presença, a
virtude é a presença de esforço.

“As virtudes humanas são atitudes firmes, disposições estáveis, perfeições habituais da
inteligência e da vontade que regulam nossos atos, ordenando nossas paixões e guiando-nos
segundo a razão e a fé. Propiciam, assim, facilidade, domínio e alegria para levar uma vida
moralmente boa. Pessoa virtuosa é aquela que livremente pratica o bem. As virtudes morais são
adquiridas humanamente. São os frutos e os germes de atos moralmente bons; dispõem todas as
forças do ser humano para entrar em comunhão com o amor divino.” (CatIC 1804)

Então, sem o auxílio da Graça de Deus, não há virtude, portanto, o primeiro passo para a
conquista das virtudes, é a oração, e não apenas uma reza, mas a vida de oração, uma oração
diária, contínua, permanente, perseverante e constante, pois quando estamos em oração,
estamos abertos à ação da Graça de Deus em nós, porém, quando nos fechamos à oração, até
mesmo atitudes que parecem virtuosas, não são virtude (exemplo do assaltante que se prepara
para o assalto).
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VIRTUDES CARDEAIS:

“Quatro virtudes têm um papel de "dobradiça" (que, em latim, se diz "cardo, cardinis"). Por esta
razão são chamadas "cardeais": todas as outras se agrupam em torno delas. São a prudência, a
justiça, a fortaleza e a temperança. "Ama-se a retidão? As virtudes são seus frutos; ela ensina a
temperança e a prudência a justiça e a fortaleza" (Sb 8,7). Estas virtudes são louvadas em
numerosas passagens da Escritura sob outros nomes.” (CatIC 1805)

➢ TEMPERANÇA:

Temperança, vem de tempero, ou moderação, o que é um clima temperado? É um clima


agradável, não está nem tão frio nem tão quente. O destempero, é a queda aos extremos, por
exemplo a relação do homem com a comida, pois, se come demais, pode morrer por isso, e se
come de menos, também pode. O Sexo, a mesma coisa, logo, o excesso de sexo, pode levar à
morte e deixar de fazer sexo, toda a humanidade pode deixar de existir. O destemperado, perde
sua capacidade de desejar o que é bom no mundo, como um carro, que precisa ter o freio e o
acelerador, um carro só com freio, não sai do lugar, assim como um carro apenas com
acelerador, irá andar por pouco tempo e logo irá bater.

“A temperança é a virtude moral que modera a atração pelos prazeres e procura o equilíbrio no
uso dos bens criados. Assegura o domínio da vontade sobre os instintos e mantém os desejos
dentro dos limites da honestidade. A pessoa temperante orienta para o bem seus apetites
sensíveis, guarda uma santa discrição e "não se deixa levar a seguir as paixões do coração". A
temperança é muitas vezes louvada no Antigo Testamento: "Não te deixes levar por tuas paixões
e refreia os teus desejos" (Eclo 18,30). No Novo Testamento, é chamada de "moderação" ou
"sobriedade". Devemos "viver com moderação, justiça e piedade neste mundo" (Tt 2,12).” (CatIC
1809)

➢ PRUDÊNCIA:

Prudência é a virtude que nos ajuda a enxergar o mundo como ele é... Sem nos deixar levar pelas
ideologias, pelas histerias, pelas agitações, pelas distorções do relativismo e filosofias que
mascaram a mentira através de meias verdades. Muitos confundem com a “autopreservação” ou
“respeito humano” e até com prevaricação, mas a prudência não é uma inação, é na verdade,
saber responder uma simples pergunta: “Isso irá me levar ao fim que almejo?” E caso positivo,
fazer, caso negativo não fazer. Então, qual é o fim que você almeja? Se a resposta não for o Céu
e a Salvação, você é um imprudente.

“A prudência é a virtude que dispõe a razão prática a discernir, em qualquer circunstância, nosso
verdadeiro bem e a escolher os meios adequados para realizá-lo. "O homem sagaz discerne os
seus passos" (Pr 14,15). "Sede prudentes e sóbrios para entregardes às orações" (1 Pd 4,7). A
prudência é a "regra certa da ação", escreve Sto. Tomás citando Aristóteles. Não se confunde com
a timidez ou o medo, nem com a duplicidade ou dissimulação. E chamada "auriga virtutum"
("cocheiro", isto é "portadora das virtudes"), porque, conduz as outras virtudes, indicando-lhes a
regra e a medida. E a prudência que guia imediatamente o juízo da consciência. O homem
prudente decide e ordena sua conduta seguindo este juízo. Graças a esta virtude, aplicamos sem
erro os princípios morais aos casos particulares e superamos as dúvidas sobre o bem a praticar e
o mal a evitar.” (CatIC 1806)

➢ FORTALEZA/CORAGEM:

Fortaleza, é a virtude da coragem, é o bom uso da ira, da vontade irascível. A boa ira é como um
cão de guarda que “late” quando nota que a alma está para ser invadida pelo demônio. A paz,
não é ausência de guerra, por isso é a ira uma energia interior que nos faz buscar as coisas do
alto. O Reino do Céu, é dos violentos, por isso, a fortaleza, é o bom uso da ira. Quando se busca
por uma força interior, parece que se busca uma ira, uma raiva interior, um tônus que nos
impulsiona. A coragem é o embate do mal, o combate contra o que é mal e maligno, se não
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houvesse o mal no mundo, não haveria a virtude da fortaleza. A coragem suprema é dar a vida
pela vida eterna. O medo também é um dom de Deus, pois é preciso que haja o medo de perder
a salvação, de perder Deus, que é o Temor de Deus, o temor de Deus, é o medo do inferno. O
corajoso, não é aquele que não tem medo, mas é aquele que tem o “medo certo”, ele tem uma
ordem nos temores. Todos tememos morrer, mas há mais medo em ofender a Deus, do que de
perder a vida.

“A fortaleza é a virtude moral que dá segurança nas dificuldades, firmeza e constância na procura
do bem. Ela firma a resolução de resistir às tentações e superar os obstáculos na vida moral. A
virtude da fortaleza nos torna capazes de vencer o medo, inclusive da morte, de suportar a
provação e as perseguições. Dispõe a pessoa a aceitar até a renúncia e o sacrifício de sua vida
para defender uma causa justa. "Minha força e meu canto é o Senhor" (Sl 118,14). "No mundo
tereis tribulações, mas tende coragem: eu venci o mundo" (Jo 16,33).” (CatIC 1808)

➢ JUSTIÇA:

Justiça é a virtude que diz respeito ao relacionamento do indivíduo com os outros seres, é quando
a inteligência, vontade e sensibilidade (desejo), estão equilibrados pelas virtudes anteriores, e a
justiça é dar a cada um aquilo que lhe é devido. Ter a virtude da justiça, é quando a pessoa, sem
grandes esforços, dá a cada um o que lhe é devido. O exercício da justiça é diferente de ser justo.
Um ato de justiça não é a virtude da justiça, o hábito dos atos justos é a virtude da justiça. O
hábito, a virtude, é uma segunda natureza, é algo que se faz sem pensar. Um ato justo, não torna
ninguém justo, porém, a sucessão e constante opção por realizar o que é justo, aí temos uma
pessoa com a virtude da justiça.

“A justiça é a virtude moral que consiste na vontade constante e firme de dar a Deus e ao próximo
o que lhes é devido. A justiça para com Deus chama-se "virtude de religião". Para com os homens,
ela nos dispõe a respeitar os direitos de cada um e a estabelecer nas relações humanas a
harmonia que promove a equidade em prol das pessoas e do bem comum. O homem justo, muitas
vezes mencionado nas Escrituras, distingue-se pela correção habitual de seus pensamentos e
pela retidão de sua conduta para com o próximo. "Não favoreças o pobre, nem prestigies o
poderoso. Julga o próximo conforme a justiça" (Lv 19,15). "Senhores, dai aos vossos servos o
justo e equitativo, sabendo que vós tendes um Senhor no céu" (Cl 4,1).” (CatIC 1807)

Nós somos todos merecedores do inferno, nós não temos nenhum merecimento para um dia
irmos aos Céus. Não importam nossas devoções, nossas liturgias, nossas orações e muito
menos as virtudes, somos salvos, porque Deus nos ama, e por isso nós respondemos, e nossa
resposta são as três virtudes teologais.

“As virtudes humanas se fundam nas virtudes teologais que adaptam as faculdades do homem
para que possa participar da natureza divina. Pois as virtudes teologais se referem diretamente a
Deus. Dispõem os cristãos a viver em relação com a Santíssima Trindade e têm a Deus Uno e
Trino por origem, motivo e objeto.” (CatIC 1812)

Estas são as três virtudes teologais, nós cremos (Fé) que somos amados, esperamos
(Esperança) conseguir amar, e por fim, amamos (Caridade).

“As virtudes teologais fundamentam, animam e caracterizam o agir moral do cristão. Informam e
vivificam todas as virtudes morais. São infundidas por Deus na alma dos fiéis para torná-los
capazes de agir como seus filhos e merecer a vida eterna. São o penhor da presença e da ação
do Espírito Santo nas faculdades do ser humano. Há três virtudes teologais: a fé, a esperança e a
caridade.” (CatIC 1813)

➢ FÉ:

A primeira virtude teologal que Deus suscita com a graça, e o ser humano precisa acolhê-la e
desenvolvê-la, se chama Fé. Ela trabalha sobre a inteligência humana, fazendo com que
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possamos conhecer Deus e aceitar Sua revelação. Portanto, nossa obrigação é nutrir e fomentar
a nossa Fé ao máximo e pedir a Fé em oração. Esta é a oração que Deus nunca nega (2Cr 7,14).

Aumentar o conhecimento de Deus e das coisas de Deus. Se a Fé trabalha na inteligência,


quanto mais procurarmos conhecer sobre Deus, mais ela se desenvolverá. Assim, é necessário
estudar as verdades de Fé no Catecismo; entender os ritos e sacramentos dos quais se participa
ou usa, ou seja, aumentar a cultura religiosa; estudar a vida dos Santos, que são exemplos reais
e concretos de Fé que engrandecem e estimulam.

A virtude da fé, faz parte da natureza do homem, CRER, nós nascemos para crer. A falta de fé é
uma doença espiritual, pois a desconfiança, torna a vida doente, pois não é possível viver sem
crermos uns nos outros e em nós mesmos. A fé teologal, que é a fé em Deus, é tão vital quanto a
fé humana, pois sem ter fé, na bondade e no amor de Deus, é impossível haver um
relacionamento com Deus, e sem este relacionamento a salvação se torna impossível.

Se as pessoas que nos amam, nos conhecessem como nós nos conhecemos, talvez não nos
amariam, mas Deus, nos conhece e nos ama como somos, daí vem esta desconfiança, “será que
Deus me ama?” Crer no amor de Deus, não é sentir o amor de Deus. Não é pelos sentimentos
que sabemos que Deus nos ama, é com a inteligência que sabemos, que decidimos, ser e viver
sendo amados. Um ato de fé, não é a virtude da fé, apenas o exercício da fé, por meio de muitos
e muitos atos de fé, é a virtude da fé, é a firme certeza de ser amado e que este amor é o que nos
move.

“O discípulo de Cristo não deve apenas guardar a fé e nela viver, mas também professá-la,
testemunhá-la com firmeza e difundi-la: "Todos devem estar prontos a confessar Cristo perante os
homens e segui-lo no caminho da Cruz, entre perseguições que nunca faltam à Igreja. O serviço e
o testemunho da fé são requisitos da salvação: "Todo aquele que se declarar por mim diante dos
homens também eu me declararei por ele diante de meu Pai que está nos céus. Aquele, porém,
que me renegar diante dos homens também o renegarei diante de meu Pai que está nos céus" (Mt
10,32-33).” (CatIC 1816)

➢ ESPERANÇA:

Se nós chamamos a atenção de alguma pessoa, é porque esperamos que ela mude. Nós
precisamos crer que Deus nos ama, e nos amando, nós precisamos admitir que, por Ele, somos
capazes de amar, mas diante desta realidade, temos dois vícios/pecados comuns, o primeiro é o
desespero de quem não consegue esperar que um dia consiga amar, o segundo é a presunção
de quem acha que já ama por completo, é necessário que eu olhe para mim, admita minha
fraqueza e incapacidade, mas mesmo assim, acredite e espere, que, pela vontade de Deus, eu
consiga amar.

“A virtude da esperança responde à aspiração de felicidade colocada por Deus no coração de todo
homem; assume as esperanças que inspiram as atividades dos homens; purifica-as, para ordená-
las ao Reino dos Céus; protege contra o desânimo; dá alento em todo esmorecimento; dilata o
coração na expectativa da bem-aventurança eterna. O impulso da esperança preserva do egoísmo
e conduz à felicidade da caridade.” (CatIC 1818)

➢ CARIDADE:

A caridade é a CURA DEFINITIVA, é a única virtude eterna, pois no Céu, não haverá
necessidade de nenhuma virtude:

1. Não precisa de esperança, porque já retemos recebido o que esperamos;


2. Não precisa crer porque já veremos face a face o que acreditávamos;
3. Não precisa de justiça pois no céu a justiça já aconteceu para todos;
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4. Não precisa de fortaleza e coragem porque o mal não é mais um problema;


5. Não há necessidade de temperança, porque nossos desejos e sentimentos estarão
pacificados;
6. Não precisaremos da prudência pois já teremos conhecido a verdade como ela é.

O Amor, não passará, diz São Paulo, por outro lado, a caridade plena, só quem conheceu foi
Jesus e Nossa Senhora, nem os santos de sétima morada, conheceram a plenitude do amor, pois
é apenas no Céu que ela se realizará em plenitude.

E o que é caridade? Neste mundo, a prática da caridade tem um nome, é sacrifício, no Céu, a
prática da caridade tem outro nome, é glória. Quem se perder, irá ganhar, mas quem ganhar, irá
se perder. Morrer para si mesmo, a plenitude do amor é viver para o outro, na sua totalidade e
plenitude, e este outro é o próprio Deus, vivo o presente no próximo. Sem sair de si mesmo, sem
renunciar a si mesmo, sem morrer para si mesmo, ninguém conhecerá o amor.

“A caridade é a virtude teologal pela qual amamos a Deus sobre todas as coisas, por si mesmo, e
a nosso próximo como a nós mesmos, por amor de Deus.” (CatIC 1822)

Dissemos que o amor, a caridade, é a CURA DEFINITIVA. Quando o Pe. Léo, aos 45 anos teve o
diagnóstico de câncer metastático e terminal no início de 2006, todos nós que o amávamos, a
Comunidade Bethânia, a Comunidade Canção Nova e toda a Renovação Carismática Católica,
levantou um grande clamor aos Céus, pedindo pela cura daquele que foi o canal para a cura de
tantos e tantos corações.

No Hosana Brasil de 2006, Padre Léo, então com pouco mais de 40 quilos, pele enegrecida pela
quimioterapia e medicamentos paliativos, surdo de um dos ouvidos pelo efeito colateral dos
medicamentos, e tendo os seus fabulosos olhos azuis enegrecidos e empalidecidos, fazendo sua
última pregação pública no palco da Canção Nova, disse que estava completamente curado e
agora esperava o que Deus tinha para sua vida... No dia 4 de Janeiro de 2007, ele faleceu.

Em uma nota de consolo a todos os brasileiros e católicos pelo mundo que o amavam, seus
confrades do Sagrado Coração de Jesus, emitiram uma nota que dizia que o Pe. Léo Tarcísio
Gonçalves Pereira, havia recebido de Deus a CURA DEFINITIVA, que é o abração de Deus... a
morte! Você está preparado para a CURA DEFINITIVA?

A seguir, temos um quadro onde contém a Virtude, a tentação e a atitude virtuosa:

VIRTUDE TENTAÇÃO ATITUDE


Justificar-se com o próprio Contrariar o próprio temperamento e
Temperança temperamento, desequilíbrio nos usar de tudo com reverência e
prazeres da vida. moderação
Entregar-se às ideologias e preocupar- Fixar-se na realidade evitando a própria
Prudência se com a própria imagem e tendo opinião, fazendo tudo respondendo a
como objetivo finalidades materiais. questão: “Isso irá me levar para o Céu?”
Entregar-se à ira, reagir ante os Direcionar à ira contra o próprio pecado,
Fortaleza/
acontecimentos, ter medo e entregar- agir com inteligência e firmeza ante as
Coragem
se a ele. tentações.
Considera como justo todas as abjeções,
Vitimismo, não cumprir com os
humilhações e fatos negativos que nos
Justiça deveres de seu estado e qualquer
acometem. Cumprir o seu estado de vida
apego às pessoas.
e dar a cada um o que é devido.
Desinformação e Descuido na Estudo constante e permanente,

Catequese participação assídua da liturgia.
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Desespero (não é possível ser santo)


e Presunção (Todos serão salvos pois
não existe o inferno);
A vida de oração em si, é a única atitude
O desespero é proveniente da Acídia
capaz de fazer crescer a esperança de
(preguiça espiritual) e luxúria (amor a
um dia sermos capazes de amar.
Esperança tudo o que é material);
A Presunção é proveniente da soberba
Confiar que Deus pode tirar de todo mal
(dizer que sabe mais do que Deus) e a
um bem maior
vanglória (dizer que merece ter
sempre o bom e o melhor, não
importando como se aja).
Caridade O pecado Mortal (Qualquer um) O serviço ao próximo, por amor a Deus.

Mas atenção, o amor que nos salva, o amor salvífico, é o amor que nós recebemos de DEUS,
pois se a salvação consistisse em amarmos, isso seria impossível, apenas quem ACOLHE o
amor de Deus, é capaz de amar, e ser santo é amar a Deus, acima de todas as coisas, tratando o
próximo como a si mesmo. Na luta diária contra o pecado mortal, por meio da oração, penitência,
Confissão, Eucaristia e a Palavra de Deus, que são as 5 pedrinhas da vida espiritual.

Lição 12: Vidã de Orãção - o diã ã diã: Ãs Cinco Pedrinhãs


(Devoção Mãriãnã)
“O rei vestiu Davi com sua armadura, pôs-lhe na cabeça um capacete de bronze e
armou-o de uma couraça. Davi cingiu a espada de Saul por cima de sua
armadura e tentou andar com aquela equipagem inusitada. Mas disse
a Saul: “Não posso andar com isso, pois não estou habituado!”. E,
tirando a armadura, tomou seu cajado e escolheu no regato cinco
pedras lisas, pondo-as no alforje de pastor que lhe servia de bolsa.
Em seguida, com a sua funda na mão, avançou contra o filisteu. De
seu lado, o filisteu, precedido de seu escudeiro, aproximou-se de
Davi, mediu-o com os olhos e, vendo que era jovem, louro e de delicado
aspecto, desprezou-o. Disse-lhe: “Sou eu algum cão, para vires a mim com um
cajado?”. E amaldiçoou-o em nome de seus deuses. “Vem – continuou ele – e eu darei a tua carne às aves do céu
e aos animais da terra!” Davi respondeu: “Tu vens contra mim com espada, lança e escudo; eu, porém, vou
contra ti em nome do Senhor dos exércitos, do Deus das fileiras de Israel, que tu insultaste. Hoje mesmo, o
Senhor te entregará nas minhas mãos. Eu vou te matar, vou cortar tua cabeça. E darei os cadáveres do exército
dos filisteus às aves do céu e aos animais da terra. Toda a terra saberá que há um Deus em Israel; e toda essa
multidão saberá que não é com a espada nem com a lança que o Senhor triunfa, pois a batalha é do
Senhor e ele vos entregou em nossas mãos!”.
(1 Sm 17, 38-47)

Este texto, conta como Davi, pastor de ovelhas, franzino e jovem, venceu o experiente Golias,
treinado para batalhas desde a mais tenra infância, que já havia matado centenas de soldados
em campo de batalha e saído ileso, devido sua força, altura e técnica de batalha.
Davi, é a figura de Cristo, mais precisamente, do Menino Jesus no seio da Virgem Maria ou no
presépio em Belém. E Golias, é certamente a figura do demônio, do mundo e dos dominadores
do mundo. Davi vence, mas tinha tudo para perder, assim como Nosso Senhor, humanamente
falando, perde, mas venceu:
“Referi-vos essas coisas para que tenhais a paz em mim. No mundo haveis de ter aflições. Coragem! Eu venci o
mundo.”
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(Jo 16,33)
Bom, agora é a nossa vez... Davi, venceu o gigante Golias, e usou para isso, apenas sua
habilidade em arremessar pedras, Nosso Senhor, venceu o Mundo, e usou para isso, algo tão
simples quanto as pedrinhas... usou o amor.

“O Amor, é a única força capaz de transformar as pessoas”


(Pe. Léo)

“O Amor é a única força capaz de mudar o mundo”


(Papa Bento XVI)

“Aquele que não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor.”
(1 Jo 4,8)

Então, antes de entrarmos nas sugestões práticas a seguir, é um IMPERATIVO entendermos,


que TUDO, absolutamente TUDO que está proposto a seguir, deve ser precedido pelo amor, pois
como vimos, Deus é amor, e ser santo, consiste em amar. Nenhuma prática será capaz de nos
tornar santos, por outro lado, qualquer prática nos tornará santos, se for motivada pelo amor:
“Ama e faz o que quiseres. Se calares, calarás com amor; se gritares, gritarás com amor; se
corrigires, corrigirás com amor; se perdoares, perdoarás com amor. Se tiveres o amor enraizado
em ti, nenhuma coisa senão o amor serão os teus frutos.”
(Santo Agostinho)

“Mesmo que eu tivesse o dom da profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência; mesmo que tivesse
toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se não tiver AMOR, não sou nada. Ainda que distribuísse todos
os meus bens em sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tiver
AMOR, de nada valeria!”
(1 Cor 13, 2s)

Sem amor, de nada vale o estudo! Sem amor de nada valem as orações! Sem amor, de nada
vale a frequência à Santa Missa! Sem amor, de nada vale ABSOLUTAMENTE NADA.

O que são as 5 pedrinhas?

Na década de 1980, deram-se início a supostas aparições em Medjugorje no Sul da Bósnia e


Herzegovina, onde alegadamente estão ocorrendo aparições da Virgem Maria. Estas aparições
marianas tiveram início a 24 de junho de 1981, tendo tido, nos primeiros meses, uma frequência
diária, e posteriormente passado a aparições mensais ou anuais (dependendo dos videntes).
Entre os videntes, encontram-se seis pessoas nascidas nos arredores da localidade e a quem
Maria se terá apresentado como "Eu sou a Rainha da Paz". A Igreja ainda não tem um
posicionamento oficial sobre as aparições, existe muita polêmica sobre o assunto, porém, um
posicionamento oficial, só será dado, após o término das aparições.

Mas as 5 pedrinhas, é parte de uma das mensagens que os videntes deram, e como é um
conteúdo edificante, independente da origem (sendo ou não aparições verdadeiras e
reconhecidas), podemos então, colocá-los em prática, pois são a síntese de um excelente método
de vida de oração: Simples, Fácil e Eficaz.

1. Jejum: Todas as quartas e sextas feiras;


2. Oração do Rosário: Todos os dias;
3. Confissão: Ao menos uma vez no mês, de preferência no 1º. Sábado;
4. Eucaristia: Comunhão frequente em estado de Graça (tendo confessado) – Comunhão
Espiritual se não se pode comungar;
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5. Leitura da Sagrada Escritura: Todos os dias.

Estes cinco hábitos, simples, são o suficiente para vencermos o Golias em nosso dia a dia, e me
entendam bem, não estamos falando de coisas retóricas ou abstratas, mas estamos falando do
combate diário contra os três inimigos que temos (a carne, o mundo e o demônio).

O Jejum nas quartas e sextas, fazem memória à quarta-feira de cinzas, que precede a quaresma,
e a sexta-feira santa, que marca o início do Tríduo Pascal. A confissão, precisa ser bem feita,
precedida de um profundo exame de consciência, nunca devemos ficar guardando pecados
mortais, pois como vimos, o combate ao pecado mortal, é o primeiro movimento para entrar nas
primeiras moradas. A Comunhão em estado de graça e a participação consciente da Santa
Missa, em como a Lectio Divina das Sagradas Escrituras. Por fim, e não menos importante, a
meditação contemplativa do Santo Rosário.

O Santo Rosário:

Conforme a tradição, o Rosário está atrelado ao hábito monástico de fazer preces, contando uma
a uma, com as mãos, nos dedos, ou com pedrinhas, para não perder a quantidade de vezes que
se tenha recitado as preces. Os monges também, rezavam e cantavam os 150 Salmos, e o povo,
para imitar os monges, rezavam no lugar, 150 Pai Nossos ou Ave-Marias. Até o século XVI, o
Rosário consistia de um determinado número de rezas de Ave Marias e Pai Nossos, que variava
de região para região, mas sempre meditando trechos curtos do Evangelho, contando a vida de
Nosso Senhor, para fixação do povo em geral, e um meio de louvor à Santíssima Virgem.

São Domingos de Gusmão, popularizou o Rosário, divulgando-o, principalmente como meio de


decorar a vida de Nosso Senhor, uma vez que o alcance das Sagradas Escrituras, ficava restrito
às Igrejas e o acesso não era fácil. O povo logo aceitou e o rosário passou a ser composto de 150
Ave Marias, e 15 Pai Nossos intercalados.

A forma do rosário, foi definida pelo Papa São Pio V (1566-1577), que era Dominicano, herdeiro
espiritual de São Domingos de Gusmão. Um Credo, um Pai Nosso e três Ave Marias, depois
disso, meditavam-se os mistérios da Vida de Nosso Senhor, seguida de um Pai Nosso e 10 Ave
Marias, ao final, reza-se uma Salve Rainha.

Houve em 7 de Outubro de 1571, uma batalha, chamada “Batalha de Lepanto”, em que a armada
católica, mesmo em desvantagem numérica, venceu a investida Otomana e a tentativa de tomar o
mediterrâneo e impor à cristandade a religião muçulmana.

O Papa São Pio V, como vigário de Cristo e pastor de Suas ovelhas, percebeu o avanço marítimo
do Império Otomano, e movimentou reis opositores (A Itália estava ainda dividida) e países
inimigos (Espanha), a se unirem contra uma ameaça externa. Em meio a batalha, os navios
católicos estavam em tremenda desvantagem, mas eis que surge no Céu, a imagem da Virgem
Maria, o vento muda, e o enfileiramento dos barcos otomanos, representou uma oportunidade
para os experientes combatentes católicos.

O Papa São Pio V, durante uma reunião, se levanta e começa a Rezar o Santo Rosário, em uma
atitude de intercessão, ao término da oração, o santo disse que os católicos haviam vencido,
alguns dias depois, a notícia da vitória chegou. O papa instituiu a Festa de Nossa Senhora do
Rosário (7 de Outubro), e o título de Nossa Senhora Auxílio dos Cristãos, tornou-se conhecido no
mundo todo.

Desde então, muitas aparições de Nossa Senhora, foram vistas com ela trazendo o Santo
Rosário nas mãos, e exortando a todos a rezarem o Rosário. Dentre as mais famosas
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destacamos as aparições a Santa Bernadette, na gruta de Massabielle, em Lourde (França) e as


aparições aos três pastorinhos, Santa Jacinta, São Francisco e a Irmã Lúcia, na Cova da Iria, em
Fátima (Portugal). Estas duas aparições possuem sinais miraculosos, como o corpo incorrupto de
Santa Bernadette Soubirous, que até hoje pode ser visto desde 1879, e o milagre do Sol, em que
o Sol “dança” e foi testemunhado por mais de 70 mil pessoas, dentre autoridades, jornalistas,
cientistas e céticos.

O papa Leão XIII, declarou o mês de Outubro, como o mês do Rosário, e concedeu indulgências
para quem rezasse o Rosário em público, em comunidade e em família. Todos os Papas desde
então, sempre enalteceram o Santo Rosário, até que São João Paulo II, em 2020, alterou a sua
composição, adicionando os mistérios luminosos da Vida de Jesus. Fazendo a sugestão, de após
o nome de Jesus, em cada Ave-Maria, fosse proclamada a ação referente ao mistério
contemplado. Pediu ainda, que os fiéis, rezassem o Rosário, não apenas contemplando de forma
imaginativa, mas olhando para uma imagem, foto ou representação do mistério contemplado.

São João Paulo II, era um fervoroso devoto de Nossa Senhora, admitindo ter se consagrado
como “escravo de Jesus, pelas mãos de Maria” pelo método devocional de São Luiz Maria
Grigmon de Montfort, autor do livro: O tratado da verdadeira devoção a Santíssima Virgem”. Livro
que contém um aprofundado estudo da Mariologia (parte da teologia que estuda as verdades da
fé referentes a Maria de Nazaré).

O Santo Rosário, condensa o maior mandamento de Maria:

Disse, então, sua mãe aos serventes: “Fazei o que ele vos disser”.
(Jo 2,5)

No Rosário, contemplamos a vida de Cristo, desde seu nascimento, até o final dos tempos,
quando contemplamos a coroação de Maria, como Rainha do Céu e da Terra. Todos os mistérios
são trechos bíblicos tirados diretamente de passagens específicas da vida do Senhor. O então,
papa Bento XVI, em 2012 disse, referindo-se ao Santo Rosário:

“A oração mais querida pela Mãe de Deus e que conduz diretamente a Cristo... O Rosário é a
oração bíblica, totalmente tecida pela Sagrada Escritura. É uma oração do coração, em que a
repetição da ‘Ave Maria’ orienta o pensamento e o afeto para Cristo. É oração que ajuda a meditar
a Palavra de Deus e a assimilar a Comunhão eucarística, sob o modelo de Maria que guardava
em seu coração tudo aquilo que Jesus fazia e dizia, e sua própria presença”.

Em 7 de Outubro de 2020, durante a crise sanitária em que o mundo estava submerso, o Papa
Francisco exortou:

“O rosário é a oração mais bela que podemos oferecer a Nossa Senhora. Porque é uma
contemplação das etapas da vida de Jesus Salvador com a sua Mãe, Maria. Pela intercessão de
Nossa Senhora do Rosário, Nosso Senhor nos permita crescer no caminho da oração para
vivermos em intimidade com Ele. E faça que, nestes tempos de pandemia, a nossa vida seja um
serviço amoroso a todos os nossos irmãos e irmãs, em especial àqueles que se sentem
abandonados e desprotegidos. Nas suas aparições, Nossa Senhora exortava frequentemente a
rezar o terço, especialmente diante das ameaças iminentes sobre o mundo. E também hoje é
necessário mantermos o terço nas mãos, rezá-lo por nós, pelos nossos entes queridos e por todas
as pessoas. Peçamos, pela intercessão de Nossa Senhora do Rosário, a graça de ser homens e
mulheres íntegros e dignos de fé. Assim, na oração, o Senhor unirá cada um de nós à Sua vida e
nos dará paz e serenidade. Peguem o terço nas mãos todos os dias! E ergam o olhar para Nossa
Senhora! Porque ela é sinal de consolação e esperança certa. Que a Virgem Santa, então, ilumine
e proteja toda a peregrinação da vida de vocês até à Casa do Pai! Ao meditarmos os mistérios da
salvação, de fato, revela-se cada vez mais a nós o rosto de amor do próprio Deus, que estamos
chamados a contemplar na eternidade. Que Nossa Senhora seja nossa guia segura no caminho
para o Senhor. Redescubram, principalmente neste mês de outubro, a beleza da oração do
terço. Ao longo dos séculos, afinal, ele vem alimentando a fé do povo cristão”.
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MÉTODO PARA REZAR COM FRUTO O SANTO ROSÁRIO, SEGUNDO


SÃO LUÍS MARIA GRIGNION DE MONTFORT:
Pelo Sinal da Santa Cruz (+) e o Verbo se fez carne.
Livrai-nos Deus, Nosso Senhor (+) R: E habitou entre nós.
Dos nosso inimigos. (+) ...Ave Maria...
Em Nome do Pai, (+) do Filho e do Espírito Santo.
Amém. O Glória: Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
R: Como era, no princípio, agora e sempre.
Oferecimento do Terço: Ámen.

Uno-me a todos os santos que estão no Céu, a todos os Ó meu Jesus, perdoai-nos e livrai-nos do fogo do
justos que estão sobre a Terra, a todas as almas fiéis inferno, levai as almas todas para o Céu e socorrei
que estão neste lugar. Uno-me a Vós, meu Jesus, para principalmente às que mais precisarem;
louvar dignamente Vossa Santa Mãe, e louvar-Vos a
Vós, nela e por Ela. Renuncio a todas as distrações que ---------- MISTÉRIOS GOZOSOS ----------
me vierem durante este Rosário, que quero recitar com
modéstia, atenção e devoção, como se fosse o último 1º MISTÉRIO - Lucas 1, 26-38: A Kenosis de Deus, a
da minha vida. Encarnação do verbo – 1 Pessoa/2 Naturezas.

Nós Vos oferecemos, Trindade Santíssima, este Credo, Nós vos oferecemos, Senhor Jesus, esta primeira
para honrar os mistérios todos de nossa Fé; este Pai dezena, em honra a vossa Encarnação no seio de
Nosso e estas três Ave-Marias, para honrar a unidade Maria; e vos pedimos, por esse mistério, e por sua
de vossa essência e a trindade de vossas pessoas. intercessão uma profunda humildade. Assim seja.
Pedimo-Vos uma fé viva, uma esperança firme e uma
caridade ardente. Assim seja. Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco,
bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o
Rezar o Credo, fruto do vosso ventre, Jesus.
Cláusula: Que se fez Carne no Seio da Virgem Maria.
O Pai Nosso: (pode ser rezado em português)
R: Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós
Pater Noster, qui es in caelis, sanctificetur nomen pecadores, agora e na hora da nossa morte.
tuum. Adveniat regnum tuum. Fiat voluntas tua, sicut Amém
in caelo et in terra.
R: Panem nostrum quotidianum da nobis hodie, et Ao final: Graças ao mistério da Encarnação, descei
dimitte nobis debita nostra sicut et nos dimittimus em nossas almas. Assim seja.
debitoribus nostris. Et ne nos inducas in 2º MISTÉRIO - Lucas 1, 39-56: O primeiro Batizado
tentationem, sed libera nos a malo. Amen. e o Serviço da Rainha Mãe.

O Anjo do Senhor anunciou a Maria. Nos vos oferecemos, Senhor Jesus, esta segunda
R: e ela concebeu do Espírito Santo. dezena, em honra da visitação de vossa santa Mãe à
sua prima santa Isabel e da santificação de São João
A Ave Maria (pode ser rezada em português) Batista; e vos pedimos, por esse mistério e pela
intercessão de vossa Mãe Santíssima, a caridade
Ave Maria, gratia plena Dominus tecum Benedicta tu in para com o nosso próximo. Assim seja.
mulieribus Et benedictus fructus ventris tui, Iesus; Cláusula: Que visitou Santa Isabel e batizou o
R: Sancta Maria, Mater Dei, Ora pro nobis Batista.
peccatoribus Nunc et in hora mortis nostrae.
Amen. Ao final: Graças ao mistério da visitação, descei em
nossas almas. Assim seja.
Eis aqui a serva do Senhor.
R: Faça-se em mim segundo a vossa palavra. 3º MISTÉRIO - Lucas 2, 6-20: A pobreza e a riqueza
...Ave Maria... de Deus.
71

Nós vos oferecemos, Senhor Jesus, esta terceira 2º MISTÉRIO (7º NISTÉRIO DO ROSÁRIO) - João 2,
dezena, em honra ao vosso nascimento no estábulo 1-12: Transformação da água em vinho.
de Belém; e vos pedimos, por este mistério e pela Nos vos oferecemos, Senhor Jesus, esta segunda
intercessão de vossa Mãe Santíssima, o desapego dezena, em honra da Vossa manifestação nas bodas
dos bens terrenos e ao amor a pobreza. Assim seja. de Caná; e vos pedimos, por esse mistério e pela
Cláusula: Que nasceu em Belém. intercessão de vossa Mãe Santíssima, que nunca
falte Vossa graça em nossas famílias. Assim seja.
Ao final: Graças ao mistério do nascimento de Jesus,
descei em nossas almas. Assim seja. Cláusula: Que transformou a água em vinho e se
revelou aos homens.
4º MISTÉRIO - Lucas 2, 22-39: A prefigura da Cruz e
o derramamento do sangue do Menino Deus. Ao final: Graças ao mistério das bodas de Caná,
descei em nossas almas. Assim seja.
Nós vos oferecemos, Senhor Jesus, esta quarta
dezena, em honra a vossa apresentação ao templo, 3º MISTÉRIO (8º NISTÉRIO DO ROSÁRIO) - Marcos
e da purificação de Maria; e vos pedimos, por este 1, 14-15: Transmissão do Reino dos Céus.
mistério e por sua intercessão, uma grande pureza
de corpo de alma. Assim seja. Nós vos oferecemos, Senhor Jesus, esta terceira
Cláusula: Que foi apresentado no templo. dezena, em honra ao anúncio do Reino de Deus e o
convite à conversão; e vos pedimos, por este
Ao final: Graças ao mistério da purificação descei, mistério e pela intercessão de vossa Mãe
descei em nossas almas. Assim seja. Santíssima, a Graça de viver e anunciar o Evangelho.
Assim seja.
5º MISTÉRIO - Lucas 2, 41-51: A maios dor de Maria
Santíssima e preparação da vida pública. Cláusula: Que anunciou o Reino de Deus.

Nós vos oferecemos, Senhor Jesus, esta quinta Ao final: Graças ao mistério do anúncio do Reino de
dezena, em honra ao vosso reencontro por Maria; e Deus, descei em nossas almas. Assim seja.
vos pedimos, por este mistério; e por sua
intercessão, a verdadeira Sabedoria. Assim seja. 4º MISTÉRIO (9º NISTÉRIO DO ROSÁRIO) - Mateus
Cláusula: Que foi perdido e reencontrado entre os 17, 1-8: Transfiguração no monte.
doutores da lei
Nós vos oferecemos, Senhor Jesus, esta quarta
Ao final: Graças ao mistério do reencontro de Jesus, dezena, em honra a vossa transfiguração no monte
descei em nossas almas. Assim seja. Tabor; e vos pedimos, por este mistério e pela
intercessão de vossa Mãe Santíssima, a graça de
sermos configurados a vossa Divina humanidade.
---------- MISTÉRIOS LUMINOSOS ----------- Assim seja.
Cláusula: Que se transfigurou no Monte Tabor.
1º MISTÉRIO (6º NISTÉRIO DO ROSÁRIO) - Mateus
3, 11-17: Transignificação do Batismo em Ao final: Graças ao mistério da transfiguração,
Sacramento. descei, descei em nossas almas. Assim seja.
Nós vos oferecemos, Senhor Jesus, esta primeira
dezena, em honra a Vosso Batismo no rio Jordão; e 5º MISTÉRIO (10º NISTÉRIO DO ROSÁRIO) -
vos pedimos, por esse mistério, e pela intercessão Mateus 26, 26-28: Transubistanciação do Pão e do
de vossa Mãe Santíssima, a graça de ser cheio e Vinho em Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus
conduzido pelo vosso Espírito Santo. Assim seja. Cristo.

Cláusula: Que foi batizado no Rio Jordão. Nós vos oferecemos, Senhor Jesus, esta quinta
dezena, em honra a instituição da Eucaristia; e vos
Ao final: Graças ao mistério do batismo de Jesus, pedimos, por este mistério; e pela intercessão de
descei em nossas almas. Assim seja. vossa Mãe Santíssima, um coração adorador.
72

Cláusula: Que instituiu a Santíssima Eucaristia e o 4º MISTÉRIO (14º NISTÉRIO DO ROSÁRIO) - Lucas
Sacerdócio Católico. 23, 26-32: O Deus que suporta como Homem o
Homem que não suporta Deus.
Ao final: Graças ao mistério da instituição da
Eucaristia, descei em nossas almas. Assim seja. Nós vos oferecemos, Senhor Jesus, esta quarta
dezena, em honra do carregamento da Cruz; e vos
---------- MISTÉRIOS DOLOROSOS ----------- pedimos, por este mistério e pela intercessão de
vossa Mãe Santíssima, a paciência em todas as
1º MISTÉRIO (11º NISTÉRIO DO ROSÁRIO) - nossas cruzes. Assim seja.
Mateus 26, 36-46: O Deus que sofre. (Mistério da
Iniquidade) Cláusula: Que por amor a nós carregou a pesada
Cruz.
Nós vos oferecemos, Senhor Jesus, esta primeira
dezena, em honra a vossa agonia mortal no Jardim Ao final: Graças ao mistério do carregamento da
das Oliveiras; e vos pedimos, por este mistério e cruz, descei em nossas almas. Assim seja.
pela intercessão de vossa Mãe Santíssima, a
contrição de nossos pecados. Assim seja. 5º MISTÉRIO (15º NISTÉRIO DO ROSÁRIO) - Lucas
23, 33-46: O Deus que é capaz de morrer.
Cláusula: Que por amos a nós sofreu a agonia no
horto das oliveiras. Nós vos oferecemos, Senhor Jesus, esta quinta
dezena, em honra a vossa crucificação e morte
Ao final: Graças ao mistério da agonia de Jesus, ignominiosa sobre o calvário; e vos pedimos por
descei em nossas almas. Assim seja. este mistério e pela intercessão de vossa Mãe
Santíssima, a conversão dos pecadores, a
2º MISTÉRIO (12º NISTÉRIO DO ROSÁRIO) - perseverança dos justos e o alívio das almas do
Mateus 27, 26: O Deus feito escravo. purgatório. Assim seja.

Nós vos oferecemos, Senhor Jesus, esta segunda Cláusula: Que por amo a nós morreu na Cruz.
dezena, em honra a vossa sangrenta flagelação; e
vos pedimos, por este mistério e pela intercessão Ao final: Graças ao mistério da crucificação de Jesus
de vossa Mãe santíssima, a mortificação de nossos descei em nossas almas. Assim seja.
sentidos. Assim seja.
---------- MISTÉRIOS GLORIOSOS ----------
Cláusula: Que por amor a nós foi flagelado.
1º MISTÉRIO (16º NISTÉRIO DO ROSÁRIO) -
Ao final: Graças ao mistério da flagelação de Jesus, Mateus 28, 1-10: Prefigura de nosso Destino.
descei em nossas almas. Assim seja.
Nós vos oferecemos, Senhor Jesus, esta primeira
3º MISTÉRIO (13º NISTÉRIO DO ROSÁRIO) - dezena, em honra a vossa ressurreição gloriosa; e
Mateus 27, 29-30: O Deus humilhado. vos pedimos, por este mistério e pela intercessão
de vossa Mãe Santíssima, o amor a Deus e o fervor
Nós vos oferecemos, Senhor Jesus, esta terceira ao vosso serviço. Assim seja.
dezena, em honra de vossa coroação de espinhos; e Cláusula: Que ressuscitou dentre os mortos.
vos pedimos por este mistério e pela intercessão de
vossa Mãe Santíssima, o desprezo do mundo. Assim Ao final: Graças ao mistério da ressurreição, descei
seja. em nossas almas. Assim seja.

Cláusula: Que por amor a nós foi coroado de 2º MISTÉRIO (17º NISTÉRIO DO ROSÁRIO) - Marcos
espinhos. 16 19-20: O Homem que abre o Céu como Deus.

Ao final: Graças ao mistério da coroação de Nós vos oferecemos, Senhor Jesus, esta segunda
espinhos, descei em nossas almas. Assim seja. dezena, em honra a vossa triunfante ascensão; e
vos pedimos, por este mistério e pela intercessão
73

de vossa Mãe Santíssima, um ardente desejo do


céu, nossa cara pátria. Assim seja. Ao final: Graças aos mistérios da coroação gloriosa
de Maria, descei em nossas almas. Assim seja.
Cláusula: Que subiu aos Céus.
Ao final: Graças ao mistério da ascensão descei, em SAUDAÇÃO FINAL
nossas almas. Assim seja.
Eu vos saúdo, Maria, Filha bem-amada do eterno Pai,
3º MISTÉRIO (18º NISTÉRIO DO ROSÁRIO) - Atos 2, Mãe admirável do Filho, Esposa mui fiel do Espírito
1-41: O Espírito que habita em nosso peito. Santo, templo augusto da santíssima trindade; eu vos
saúdo soberana Princesa, a quem tudo está submisso
Nós vos oferecemos, Senhor Jesus, esta terceira no céu e na terra; eu vos saúdo, seguro refúgio dos
dezena, em honra do mistério de Pentecostes; e vos pecadores, nossa Senhora da Misericórdia, que jamais
pedimos, por este mistério e pela intercessão de repeliste pessoa alguma. Pecador que sou, me prostro
vossa Mãe Santíssima, a descida do Espírito Santo aos vossos pés, e vos peço de me obter de Jesus, vosso
em nossas almas. Assim seja. amado filho, a contrição e o perdão de todos os meus
pecados, e a divina sabedoria. Eu me consagro todo a
Cláusula: Que nos enviou o Espírito Santo. vós, com tudo o que possuo. Eu vos tomo, hoje, por
minha Mãe e Senhora. Tratai-me, pois, como o ultimo
Ao final: Graças ao mistério de Pentecostes, descei de vossos filhos e o mais obediente de vossos escravos.
em nossas almas. Assim seja. Atendei, minha Princesa, atendei aos suspiros de um
coração que seja amar-vos e servi-vos fielmente. Que
4º MISTÉRIO (19º NISTÉRIO DO ROSÁRIO) - ninguém diga que, entre todos que a vós recorreram,
Apocalipse 12, 1: Elevação da humanidade ao seja eu o primeiro desamparado. Ó minha esperança,
Céu. Ó minha vida, Ó minha fiel e imaculada Virgem Maria
defendei-me, nutri-me, escutai-me, instruí-me, salvai-
Nós vos oferecemos, Senhor Jesus, esta quarta me. Assim seja.
dezena, em honra da ressurreição e triunfal
assunção de vossa Mãe ao céu; e vos pedimos, por Infinitas graças vos damos, Soberana Rainha, pelos
este mistério e por sua intercessão, uma terna benefícios que todos os dias recebemos de vossas
devoção a tão boa mãe. Assim seja. mãos liberais. Dignai-vos agora e para sempre tomar-
nos debaixo de vosso poderoso amparo e para mais
Cláusula: Que elevou Maria Santíssima ao Céu de nos obrigar vos saudamos com uma Salve Rainha….
corpo e alma.
Salve Rainha, mãe de misericórdia, vida, doçura,
Ao final: Graças ao mistério da assunção descei em esperança nossa, salve! A vós bradamos, os
nossas almas. Assim seja. degredados filhos de Eva, a vós suspiramos gemendo e
chorando neste vale de lágrimas. Eia, pois, advogada
5º MISTÉRIO (20º NISTÉRIO DO ROSÁRIO) - nossa, esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei,
Apocalipse 12, 1: Coroação da Humanidade como e depois deste desterro, mostrai-nos Jesus, bendito
Esposa de Cristo. fruto do vosso ventre, ó clemente, ó piedosa, ó doce
Nós vos oferecemos, Senhor Jesus esta quinta sempre Virgem Maria. Rogai por nós santa mãe de
dezena, em honra da coroação gloriosa de vossa Deus, para que sejamos dignos das promessas de
Mãe Santíssima no céu; e vos pedimos, por este Cristo! Amém.
mistério e por sua intercessão, a perseverança na
graça e a coroa da glória. Assim seja. Em Nome do Pai, (+) do Filho e do Espírito Santo.
Amém.
Cláusula: Que coroou Maria Santíssima como
Rainha do Céu e da terra.
74

ÃPOLOGIÃ CÃTOLICÃ:
Iniciamos agora a parte apologética da nossa catequese. Apologética, tem como definição um
discurso ou texto em que se defende, justifica ou elogia (alguma doutrina, ação, obra etc.), seria a
defesa apaixonada de (alguém ou algo) um elogio ou enaltecimento. A Apologética Católica, tem
a pretensão de estar defendendo nada menos do que a Verdade.

São Justino Mártir, que faleceu no ano de 165 d.C., era um filósofo grego, que ao se converter em
cristão, não mudou um milímetro suas ideias e suas convicções, ele apenas identificou, como
sendo o Logos, o Verbo, ou seja, Nosso Senhor Jesus Cristo, e a partir de então, iniciou uma
pregação apaixonada (Apologética) de Jesus Cristo.

São Justino é um ícone, pois além de ser um modelo para nós, ele aproximou a filosofia grega da
Fé católica, e a marcou profundamente desde então, ao passo que São João Paulo II, ter dito:

“Invocai o vosso Santo Padroeiro, o filósofo Justino, que, como sabeis, sequioso de luz interior e
de verdade a respeito do sentido da vida, com a pesquisa metódica e rigorosa, se converteu do
paganismo ao cristianismo. E sentiu tanta alegria pela verdade alcançada, que se tornou o seu
defensor contra tantas acusações e calúnias que se difundiam então contra o Cristianismo,
escreveu as duas magníficas "Apologias" e não temeu morrer mártir em defesa da verdade! São
Justino vos ilumine! Que ele faça que vos torneis todos amantes e pesquisadores da verdade,
especialmente os jovens! Ao Prefeito Rústico que lhe perguntava, segundo quanto se lê nos
"Actos dos Mártires": "Supões de verdade que subirás ao céu para ali receber uma bela
recompensa?"; São Justino respondia com corajosa clareza: "Não o suponho, mas o sei com
certeza e disto estou plenamente persuadido!". Auguro a todos a certeza e a coragem do santo
Mártir, a fim de que a vossa Paróquia seja sempre mais unida, mais fraterna e mais fervorosa!”
(Papa João Paulo II, Visita Pastotal, Paróquia São Justino, 1982)

Nossa apologética, será como subir degraus. Cada degrau representará uma certeza. Nada até o
final desta apologética será solicitado de nossa fé. Partiremos de certezas filosóficas, históricas e
científicas, que alicerçam a fé. Neste ponto, exploraremos a Razão, que irá convidar nossa
vontade, pela inteligência, a mover nossa convicção no sentido de fortalecer a nossa fé.
75

1º. DEGRÃU: DEUS EXISTE


A questão da existência de Deus, tem sido uma fleuma no campo especulativo da filosofia
ideológica, a filosofia clássica e a escolástica não tiveram grandes problemas com esta questão,
somente no período da renascença é que esta questão veio a baila. Coincidentemente ou não,
este é o período mais decadente da filosofia. Filosofia esta capaz de provocar mazelas como a
revolução francesa e o massacre de milhares de cristãos na Europa, seguida de filosofias que
resultaram no nazismo, no fascismo, socialismo e comunismo. Mas qual é o ponto da questão?

O que explicaria a existência de tudo que existe? Temos três hipóteses:

1. Tudo surgiu do nada;


2. Os seres procedem uns dos outros numa série infinita;
3. Os seres procedem de um Ser Supremo e necessário, que deu a tudo a existência;

1ª Hipótese:

Tudo que existe resultou do nada, sendo o nada um agente causador de tudo. Aqui vale trazer a
teoria do “Nada Jocaxiano” que no final afirma que este “nada” é “algo”. Não passando de um
jogo de palavras, algo que pode ser dito, mas não pode ser pensado e nem imaginado.

No final do século XIV, o Médico, Patologista e Biólogo alemão Rudolf Virchow, uma das mentes
responsáveis pelas leis que até hoje regem a microbiologia e a divisão celular, autor da famosa
frase “Omnis cellula e cellula” - "Todas as células vêm das células", disse a respeito da “geração
espontânea”:

“Não se conhece um só fato que demonstre que a matéria inorgânica se tenha se tenha convertido
em orgânica (...) Se eu não quiser admitir o Criador, nada mais me resta se não apelar para a
geração espontânea, a razão é evidente, não há outra alternativa”. (cit. in LOBO, G., Ideología y fe
Cristiana, Ed. Magisterio Español, p. 87)

Em tempos em que a biologia molecular e as culturas de células são uma realidade, acreditar na
geração espontânea e unir isso à Teoria da Evolução de Darwin, é o que podemos chamar de
evolucionismo, uma crença não religiosa defendida por muitos “cientistas” especulativos e pouco
práticos.

2ª Hipótese:

Esta hipótese, tem um problema básico, o infinito pois efetivamente, a série infinita
necessariamente precisa ter em sua origem um primeiro ser, desta forma já não é infinita, ou não
tem na origem um primeiro ser, o que nos leva a perguntar: Donde vem os seres da série?

Quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha? Na verdade tanto faz, necessariamente tivemos um
primeiro ovo, ou uma primeira galinha.

3ª Hipótese:

Nos resta concluir o óbvio, a origem de todos os seres, o Ser Primordial, existe, e a Ele
chamamos de Deus.

Vamos adiante em alguns argumentos:


76

✓ Argumento Cosmológico

1. Tudo que teve um começo teve uma causa.


2. O universo teve um começo.
3. Logo, o Universo teve uma causa.

O método científico, pode ser resumido em observar e reproduzir. Qualquer um pode observar
que tudo que existe, tem uma causa. Podemos até pensar em algo que não tenha fim, olhando
para o futuro. Pois o que não tem fim, no futuro, é algo incerto. Porém, não podemos olhar para o
passado, e dizer que ele seja infinito, pois seria o mesmo que dizer que não houve um início, o
que é obviamente um erro, pois estamos aqui.

Conclusão: Se houve um começo, por lógica o que originou tudo, a primeira causa, deve ser
naturalmente incausada, pois o infinito das causas é naturalmente impossível.

✓ Segunda lei da termodinâmica

A Termodinâmica estuda, basicamente, Matéria e Energia, e a 2ª. Lei afirma: o Universo está
ficando sem energia utilizável, isso significa que a energia (Gasolina por exemplo) está acabando.
E assim como um carro, o universo que tem uma quantidade finita de energia (o que indica que
teve começo), terá um fim.

Segundo o cientista, digo, padre Georges Edouard Lemaître, o universo estava originalmente
muito quente e denso em algum tempo finito no passado por meio de uma “Grande Explosão”
(Big Bang) o universo tem se resfriado pela expansão ao estado diluído atual e continua em
expansão atualmente.

Pe. Georges E. Lemaitre (Astrônomo, cosmólogo e engenheiro e Teólogo autor da Teoria da


origem do Universo) disse:

“Nunca será possível reduzir o Ser Supremo a uma hipótese científica.”

Quando Albert Einstein ouviu a explicação do padre Lamaitre, exclamou, após aplaudi-lo de pé:

"Esta [Teoria do Big Bang] é a mais bela explicação da Criação que já ouvi"

Conclusão: Se houve um começo e terá um fim, isso implica uma programação, como um
despertador: Você já viu um despertador despertar sem ninguém ter colocado ele para despertar?

✓ O Universo está em expansão

A teoria da Relatividade (de Albert Einstein) afirma que o Universo está em expansão,
complementando a teoria do Big Bang.

Edwin Hubble viu e provou que o Universo expande-se a partir de um único ponto! O espaço está
em expansão.

Conclusão: A expansão do Universo, obedece às leis da física que, por lógica, existem antes da
Expansão e do Big Bang, a questão é “Como é possível haver leis, antes de existir algo?”, e a
única explicação possível, é a existência de um Legislador, pré-existente, pois, qual é a evidência
que temos de “leis” criando-se, sozinhas?
77

✓ Radiação do Big Bang

Em 1965, foi descoberta a Radiação do Big Bang, por Arno Penzias e Robert Wilson em Nova
Jersey (EUA), ganhadores do Nobel, que Identificaram uma radiação, um “Brilho avermelhado”
presente em todo o espaço, da explosão da bola de fogo do Big Bang (Radiação cósmica de
fundo), esta é a PROVA FÍSICA de que o Big Bang aconteceu!

Conclusão: Se o Big Bang é um fato, também é fato, que existiam leis antes do Big Bang, e não
existem leis, sem um legislador.

Sementes de Grande Galáxias

Se o Universo está em expansão e tem uma radiação cósmica que comprova isso, essa radiação,
precisaria ter, necessariamente, uma ondulação característica. Pois em 1992, a NASA com um
satélite chamado COBE, detectou as ondulações. O Cientista e responsável pelo projeto, disse:

“Se você é religioso, então é como estar olhando para Deus, este é o Santo Graal da Cosmologia”.
(Michael Turner, Astrofísico)

Conclusão: Se há radiação, com uma variação padrão de ondulações, há uma inteligência que
impede ou projeta, que tais variações sejam diferentes.

✓ A teoria da relatividade de Einstein

A teoria da relatividade, afirma que Tempo , Espaço e Matéria são INTERDEPENDENTES! Foi a
relatividade que predisse a expansão do universo, a radiação cósmica e as ondulações variáveis
da radiação.

Se existe uma interdependência em tudo o que chamamos de realidade, e sem esta


interdependência, não haveria possibilidade de existir as coisas COMO existem, então, temos o
princípio de ANTROPIA. Antropia é um conceito que parte do princípio que tudo que existe, as
leis, e as características da natureza existem em função do “Antropos”, ou seja, do ser Humano,
pois uma pequena variação nas leis, impediria a vida no universo, principalmente a vida humana.

Conclusão: Temos um princípio orientador para todas as leis, e não apenas as leis, há um
objetivo em tudo que existe, e este objetivo é o ser humano, isso não é apenas uma prova de que
há uma inteligência por trás de tudo, mas há também humanidade.

✓ As cinco vias de Santo Tomas de Aquino

1ª Via: Tudo muda e nada muda por si mesmo. O Big Bang, não poderia ter “se mudado” ele só
pode ter sido movido. Quem o moveu?

2ª. Via: Toda causa, tem uma causa. O Big Bang teve uma causa. Mas não havia tempo, espaço
ou matéria. Logo, a causa do Big Beng, só pode ser Sobrenatural.

3ª. Via: Tudo que existe, em algum momento, não existia. E como tudo vem de algo, deve haver
um algo (alguém) que existe por si mesmo.

4ª. Via: Existem perfeições transcendentes (a verdade, a bondade, o amor, a justiça…) em


diversos graus e são limitadas pelos sujeitos que as contêm. Elas supõem a existência de um ser
no qual tais perfeições existem sem limites.
78

5ª. No mundo existem leis, códigos, padrões e ordem... tudo isso, supõe a inteligência. O
Inteligível, supõe a inteligência. O que não é inteligente, não pode conferir inteligência. Deus é a
inteligência por trás de tudo que é inteligível.

Conclusão: Há um ser que move e não é movido. Há uma causa incausada. Há um ser em si
mesmo. Existe um ser que não tem limites físicos. Há um ser Inteligente que criou tudo com
inteligência: Este ser é Deus!

✓ Não tenho Fé suficiente para ser ateu

O prêmio Nobel, Gerald Wald disse:

“Optamos por acreditar no impossível, isto é, que a vida surgiu espontaneamente, por acaso...
Como é que, com tantas outras possibilidades aparentes, estamos em um universo que possui um
conjunto de propriedades peculiares que o torna capaz de gerar vida?”

E Anthony Flew, conclui:

“A conclusão a que cheguei é que a única explicação satisfatória para a origem da vida ‘dirigida
por um propósito e capaz de se reproduzir’ como a temos na Terra, é uma mente infinitamente
inteligente.”

Livros que podem ajudar:

- Não tenho fé suficiente para ser ateu: Norman Geisler & Frank Turek
- Um ateu garante: Deus existe; as provas incontestáveis de um filósofo que não acreditava em
nada: Antony Flew

✓ O ser humano tem uma alma e ela é imortal:

O Ser humano, tem consciência da imortalidade?

“Todo ser humano é dotado de um corpo físico, capaz de receber estímulos por meio de seus
sentidos. Estímulos estes transformados no cérebro em sentimentos, e até aqui, somos
semelhantes a todos os animais, porém, temos uma razão, capaz de julgar tais sentimentos e
expressá-los das mais variadas formas, o que nos assemelharia aos computadores modernos,
mas temos ainda uma fluidez física e mental, onde cada molécula do nosso corpo e cada
pensamento é, ou transformado ou substituído ao longo do tempo, sendo assim, temos uma
unidade interior, que garante que o mesmo indivíduo nascido, mesmo após anos de vida, tendo
passado por inúmeras alterações ao longo da vida, permanece o mesmo, a esta unidade costuma-
se chamar de alma, que é onde reside a expressão de personalidade e individualidade do ser e
onde se desenvolve, ou não, a qualidade de vida, ou a vida plena.” (compilado de Olavo de
Carvalho)

A Inteligência humana, não está ligada fisicamente ao corpo, é uma afirmação ousada, mas como
comprovamos isso?

Exemplo: Quando vou comer, tenho a potência nutritiva, esta potência assimila o alimento e o
destrói, e assim, aquele alimento agora, passar a fazer parte do meu corpo. Já as potências
sensitivas, ainda estão atreladas ao corpo, mas é perfeitamente possível, eu ver um alimento e
não destruí-lo, e mesmo assim, ele irá fazer parte de mim, na minha imaginação. Já é o início do
que podemos chamar de “espiritual”.
É possível a qualquer um que tenha visto um sorvete, imaginar, sentir o cheiro e até o gosto do
sorvete, isso, por meio da memória que se torna uma lembrança. Ainda estamos presos à forma,
ou seja, na imaginação, a “foto” do sorvete está impressa no cérebro. Eu posso até não me
alimentar do sorvete, mas posso me “deleitar” com a imagem que está na lembrança.
79

Agora, imaginemos que na escola, a professora dá três quadrados a uma criança, de cores e
tamanhos diferentes. As cores e tamanhos diferentes são pedagógicos, pois ensinam que as
cores, não estão atreladas ao quadrado. Em um segundo momento, a professora, desenha na
lousa um quadrado, e a criança assimila a forma, mesmo sem poder tocar, é uma abstração. E
por fim, a professora, pede para que a criança se lembre do quadrado, independente do tamanho,
da cor ou até da presença do quadrado, a criança é capaz de visualizar, contemplar o quadrado.

Agora, independente do tamanho, da cor, da profundidade, do calor, do frio, independente de


qualquer coisa, a criança foi capaz de compreender, inteligir a essência de um quadrado. É
possível imaginar um quadrado de qualquer tamanho, se as devidas proporções dos quatro lados
iguais forem mantidas, ainda temos um quadrado. Ora, hoje, quando se fala a palavra “quadrado”
não imagina um quadrado, apenas se sabe o que é um quadrado.

Este “quadrado” universal, é a essência do quadrado e de todos os quadrados, vistos ou não


vistos, e este quadrado é completamente e absolutamente imaterial, ele não é nem mesmo
imaginativo. Se temos como captar, um “objeto’ absolutamente incorpóreo, só pode ser porque
temos uma capacidade também incorpórea. Se a inteligência fosse unicamente material, seria
impossível, captar algo imaterial, mas captamos, logo, temos uma alma.

Precisamos entender que, a imaginação, é material, mas o conceito e a essência do quadrado, no


exemplo, são absolutamente imateriais. Quem entende a essência de um quadrado, compreende
a essência de todos os quadrados, mesmo não tendo visto ou contemplado, todos os quadrados
que existem, podemos afirmar sem erro, que o quadrado agora, faz parte de mim, pois mesmo
que eu perca a memória, eu ainda saberei o que é um quadrado, mesmo que, por falta da
memória, eu não consiga dar-lhe um nome. Nem mesmo o nome do objeto, é parte do objeto em
si.

O Espírito não é algo além da alma, é a função imaterial/incorpórea da alma. Se há algo em nós,
absolutamente imaterial, logo, este algo imaterial, que iremos continuar chamando de espírito,
não pode ser afetado pelo que é material. Então, mesmo que um triturador, triture o corpo, o
espírito, esta “parte” imaterial, permanece, o que nos dá então, o dever de admitir a consciência
da imortalidade. Ora, se existe uma capacidade incorpórea, então, existe um sujeito incorpóreo,
este sujeito é a essência da alma, o “eu essencial/existencial”.

Alguém poderia contra-argumentar: “Não é verdade que o ser humano capte objetos
incorpóreos.” Ora, e poderíamos, no mesmo instante perguntar: “E como você foi capaz de captar
este objeto incorpóreo e fazer uma afirmação tão universal como esta?”

É simplesmente contraditório e irracional, usar uma afirmação universal, para negar a


universalidade dos objetos. É o mesmo que dizer que: “A verdade não existe”; ora, se tal
afirmação é verdade, então, ela é mentirosa, pois a frase: “Não existe verdade”, arroga para si, o
status de verdade. Se “não existe verdade” é falso, logo, “A verdade existe e é absoluta” só pode
ser verdadeira.

Ou ainda quando Kant afirmou, que “Só pode ser conhecido, o que pode ser comprovado pela
ciência”, poderíamos perguntar: “Qual foi a ciência que comprovou este conhecimento?”
Simplesmente contraditório, e o contrário é verdade: “Qualquer coisa pode ser conhecida, mesmo
que não passe pela comprovação científica.” Parece óbvio, mas a filosofia de Kant está
completamente alicerçada nesta afirmação.

Agora, observe o gráfico abaixo:


80

Se você se analisar, neste momento, irá perceber que em você existem 4 discursos, e de 4
maneiras diferentes você utiliza a palavra “eu”. Estas 4 maneiras de expressar o “eu” indicam
bem mais de nós mesmos e de Deus, do que percebemos no dia a dia.

Eu presencial:

Trata-se da nossa memória, que é formada de pequenos fragmentos contínuos, como vemos na
linha pontilhada, Ex: Eu estou com fome; Eu estou com sede; Meu dedo doe.

O termo “eu” refere-se a um “eu” momentâneo e passageiro, digamos, acidental, pois o “estar
com fome” não faz parte do “eu”, mas quem está com fome, é o “eu” presente, o eu de agora.

Eu Social:

Está relacionado ao meu papel social, as máscaras que eu tenho, Ex: Eu sou professor, eu sou
catequista, eu sou pai. Podemos substituir o termo “eu” por estou, e veremos que, como a linha
pontilhada representa o tempo, nós “somos/estamos” “pai, professor ou catequista” por um
período maior, do que quando “eu estou com sede”. O “eu” mudou, apesar de permanecer o
mesmo sujeito.

Eu Biográfico:

A minha biografia, como ela é? Como foi a minha história? Quando refletimos sobre os
acontecimentos, este que reflete, obviamente “sou eu” mas não é um eu presencial, pois apesar
de estar no presente, estou avaliando o passado. Não é o “eu” social, pois é algo muito maior do
que as aparências e as exterioridades. Não é um “eu” momentâneo, é um “eu” mais duradouro,
representado pelas linhas pontilhadas mais grossas e maiores. Ex.: “Eu sou a vítima ou o
opressor, nesta ou naquela situação?” É um “Eu” maior, mas não é ainda o que posso chamar de
“eu” pois a história ainda não acabou.

Eu Essencial/Existencial:

Lembra da história do quadrado? Temos a essência do quadrado em nós, sendo assim, o “Eu
Essencial” é termos a essência de quem somos. É a unidade do ser, que não está incomodado
com as necessidades do “eu presencial”, dos anseios do “eu social” ou que relevância temos no
”eu biográfico”. É o eu que sofre, quando estamos bem fisicamente, quando estamos bem
socialmente e quando estamos bem com nossa consciência... mas mesmo assim, ainda sofre.
81

Quando digo: “Sou humano”, estou dizendo algo de minha essência, pois no presencial, sou
humano, no social, sou humano e no biográfico sou humano, a linha deste eu, é ininterrupta. O
problema é que, a grande maioria das pessoas, se aloja nos “eus” inferiores e nunca chega a
alcançar a instância do existencial, ou essencial. O “eu” essencial, é o espírito da alma.

É o que liga o recém-nascido ao moribundo no leito de morte, passam-se as células, as


moléculas, os pensamentos, os sonhos, os pecados, as formações, os cargos, os feitos, as
atitudes e até o tempo, e o que une tudo, ao ponto de reconhecermos em tudo, uma unidade, é a
alma espiritual

Infelizmente existem pessoas que não conseguem pensar se não por meio da imaginação, sem a
intelecção. Isso é a animalização do ser humano. Existem coisas que podem ser imaginadas,
mas não podem ser pensadas, um exemplo disso são as contradições de “viagem no tempo”, que
é tão reverberado na mídia. Nenhuma mídia explica como isso é feito, e para tapar este buraco,
são adicionadas imagens, recursos retóricos e narrativos, que estimulem a imaginação a “ver a
coisa” sem pensar na coisa.

Conclusão: A alma existe e possui um espírito imortal. Logo, Deus também existe.

2º. DEGRÃU: DEUS VEIO ÃTE NOS


Que tipo de Deus existe?

Se existem milhares de religiões, ou todas estão certas, ou todas estão erradas... mas pode ser
que uma delas esteja certa e todas as outras errada. Já sabemos que Deus existe, mas, se
existe, qual é o caminho que devemos tomar para chegar até Ele?

Origem: De onde viemos?


Identidade: Quem somos?
Propósito: Por que estamos aqui?
Moralidade: Como devemos viver?
Destino: Para onde vamos?

E como nos ensinou o Padre Léo:

Visão de mundo: De quem somos?

Todas as religiões, respondem à sua maneira, a todas estas perguntas, mas muitas delas,
respondem de forma contraditória. Então, o que é religião?

Depois de observar a inteligência e as provas da existência de Deus, ao longo das eras, o ser
humano, e isso é comum em todas as épocas, intuiu que deve haver um meio de alcançar a
Deus. Criaram então, doutrinas, liturgias, rituais, teorias e uma série quase infinita de bagagem
teórico/prática para ensinar o ser humano a alcançar Deus.

As religiões, fazem as seguintes promessas ou intenções:

1. Religar o homem a si mesmo;


2. Religar o homem com seu próximo;
3. Religar o homem com o meio em que vive;
4. Religar o homem a Deus;
82

Para religar o ser humano a si mesmo, o ser humano, necessariamente deveria saber “o que é o
ser humano”, ou melhor, seria necessário conhecer um ser humano em sua essência, sem
defeitos, sem mácula, sem fragmentos.

Sabemos que somos fragmentados, temos em nós muitas vontades, e muitas vezes os
sentimentos, a vontade e a inteligência não estão de acordo. Ora, existe um Deus, então, existe
um modelo de ser humano, para que o ser humano siga. Qual é o modelo de ser humano
apresentado pelas religiões? NENHUM! Nenhum que não seja imperfeito.

Para religar o ser humano ao seu próximo, o ser humano deveria viver uma vida abnegada e
resiliente, que não sem interesse próprio, se não apenas o outro, e deveria viver isso, não com
relação à sua família, seus concidadãos ou contemporâneos, mas deve viver isso, com relação a
todos os seres humanos, e não temos uma religião assim.

Para religar o ser humano com o seu meio, sem destruí-lo, mas com o intuito de preservá-lo, não
apenas por ser belo, mas por considerar que tudo que existe, é parte de um todo, que tudo que
existe é em função do ser humano, e por sua vez, o ser humano deve voltar-se como um
verdadeiro cuidador de tudo. E a criação deveria reconhecer o ser humano, como seu senhor e
seu cuidador. O ser humano deve, por sua vez, ser capaz de dispor da natureza, para o bem
comum, dominando sem destruir, apenas com o poder de sua palavra. E não existe uma religião
que apresente um ser humano assim.

Para religar o ser humano a Deus, o próprio ser humano, deveria ser Deus, pois como um
simples ser humano, limitado, desligado de si mesmo, do seu próximo e hostil ao meio em que
vive, poderia ser capaz de se religar a Deus?

Temos então as diversas Visões religiosas:

1. Animismo
2. Ancestralismo
3. Panteísmo (Panenteísmo)
4. Politeísmo (animismo reciclado)
5. Henoteísmo (Monoteísmo primitivo)
6. Monoteísmo

O ANIMISMO (do termo latino animus, "alma, vida") é a cosmovisão em que entidades não
humanas (animais, plantas, objetos inanimados ou fenômenos) possuem uma essência espiritual.
É o primeiro estágio da evolução religiosa da humanidade, no qual o homem primitivo crê que
todas as formas identificáveis da natureza possuem uma alma e agem intencionalmente. O termo
animismo usado para descrever um conjunto de crenças e religiões pré-históricas ou primitivas,
não é uma designação específica de uma cultura, pois tais povos, nem sequer tinham uma
palavra para designar seu conjunto de crenças. É um termo antropológico.

O ANCESTRALISMO ou ancestralidade, é um termo que designa a forma de buscar o próprio


autoconhecimento. Pensar em todas as pessoas que vieram antes de você dessa forma é
entender que há algo dentro de você muito maior, um caminho que já vinha sendo traçado de
várias formas, inclusive culturalmente. Todos os significados de ancestralidade passam por um
só: a influência da nossa família sobre quem nós somos. E ela vai muito além do que
conhecemos, porque engloba séculos de gerações e histórias cujas heranças ainda estão bem
vivas. Seria o culto aos ancestrais, é um traço da religiosidade, que une o animismo, às grandes
religiões milenares atuais.
83

No PANTEÍSMO Deus tem o mesmo tamanho do Universo, e no PANENTEÍSMO Deus teria este
mesmo tamanho, mas viveria fora dele também. Mas a característica principal, é que em ambos
tudo o que existe, seria apenas imanente, ou em última instância, parte de Deus. Não haveria
uma individualidade humana, e no fim, todas as coisas seriam apenas o próprio Deus. Seria como
um quadro, em que o autor do quadro, é o próprio quadro.

No POLITEÍSMO temos a existência de vários deuses, e há inúmeras religiões antigas que


possuem esta característica. O politeísmo foi extremamente criticado pelos filósofos gregos, que
inclusive eram tidos como ateus, assim como os cristãos, e por isso, os cristãos e os filósofos
foram perseguidos pelo politeísmo romano e grego. O politeísmo seria um “animismo reciclado”,
em que as características da natureza, recebem nomes próprios e ganham uma cosmologia
mitológica que se misturava com a própria história do povo em questão.

O HENOTEÍSMO é o que podemos chamar de Monoteísmo primitivo. Os Hebreus e os


Zoroastristas possuem esta característica em comum. Seria o mesmo que dizer: “acredito em um
único Deus, apesar de existirem outros”. A fé de Abraão e de Zoroastro são parecidas neste
ponto. Abraão só não deu nome ao Deus que conheceu, já Zoroastro, identificou um Deus bom e
um mal, e escolheu acreditar no bom.

O MONOTEÍSMO é a fé de que existe apenas um único Deus. Todos os demais deuses, até
existem, mas não passam de criaturas desde único Deus. Ele é soberano e está acima de todas
as criaturas. Ele criou o mundo perfeito e apesar disso, deu a liberdade a duas espécies de suas
criaturas, os anjos e os homens. Ele submeteu ambos à provas de amor e fidelidade, e os que
considerou justos, acolheu-os junto de si, e os que não quiseram unir-se a Ele, estes foram
condenados ao inferno.

Todas estas grandes modalidades religiosas, fracassam nas promessas e intenções de


“religação” do ser humano, mas então, por fim, eis que surge o CRISTIANISMO e traz com ele a
figura de Nosso Senhor Jesus Cristo e uma série de novidades:

1. Religa o homem a si mesmo: Pois Jesus Cristo é o homem perfeito, sem pecado, sem defeito,
sem nenhuma mágoa, com uma única vontade, conduzida por sua inteligência e com os
sentimentos perfeitamente ordenados. Ele morreu, mas ressuscitou, e não foi alguém que o
ressuscitou, mas o Seu Pai, pela força do Espírito Santo, que Ele diz, serem todos Ele mesmo em
uma única pessoa.

2. Religa o homem com seu próximo: Jesus religou-se com TODOS os seres humanos, não
apenas os de sua família e seus amigos, mas também com os inimigos e até com os
desconhecidos. Seus apóstolos o apresentaram ao mundo, e como está ressuscitado, tem
aparecido para muitas pessoas ao longo da história, como à Saulo de Tarso que se converteu em
Paulo, um dos maiores nomes do Cristianismo, junto aos seus 12 apóstolos.

3. Religa o homem com o meio em que vive: Jesus de Nazaré, ainda antes de morrer, caminhou
sobre as águas, converteu água em vinho, ressuscitou mortos, multiplicou pães alimentando
milhares, apenas com sua voz, deu ordens ao vento e ao mar, e estes lhe obedeceram, e por fim,
após a morte, voltou a vida no terceiro dia.

4. Religa o homem a Deus: Jesus disse que é Deus. Ele disse que antes que Abraão existisse,
Ele já existia. Identificou-se com o nome Hebreu “Eu Sou”, e se auto denominou Javé (YHWH), o
que causou escândalo nos judeus. Disse que todos deveriam literalmente comer sua carne, o que
lhe rendeu a incompreensão por parte de seus próprios discípulos, tendo um deles, por isso, lhe
entregue à morte. Foi condenado por heresia, por se fazer Deus. Mas ressuscitou, provando que
de fato é Deus.
84

Então, eis que surge uma acusação muito pertinente: “Se o Cristianismo parece corresponder
com todas as expectativas das religiões, mostrando-se como a mais completa e quiçá, mais
perfeita dentre todas, não seria o cristianismo uma invenção humana? Uma conclusão lógica
de pessoas que ao observar as falhas de todas as religiões, pôde criar uma série de mitos e
lendas que culminariam numa religião ideal?

Bom, para entender esta acusação, é necessário um resumi histórico, e como todo resumo, há
muita coisa faltante, integramos aqui, apenas o que pode colaborar com a nossa linha de
raciocínio. Bom, é um fato que existe um elo de continuidade entre o AT e a Filosofia Grega, há
também uma continuidade da Filosofia Grega com a Revelação Cristã, o NT.

A Filosofia Grega, já não suportava mais o Politeísmo Greco/Romano, pois a Filosofia encontrava
somente símbolos, ideal e mitológico, mas nada, da vida dos deles, era factual, os deuses eram
apenas imagens e concepções, então, veio a tragédia grega, o teatro (mídia) já não consegue
manipular a massa, pois Sócrates, por meio das perguntas (método Socrático) conseguiu
desbancar sozinho todo conjunto do panteão dos deuses, e por isso é assassinado, sacrificado,
mas deixa seus discípulos e uma escola de pensamento filosófico que culmina no ateísmo grego.

Com o advento do cristianismo, nós temos os filósofos gregos, vendo que Deus, ou seja, Jesus
Cristo, não é um mito, é um acontecimento, é um dado histórico, um evento temporal. Assim, a
paixão, morte e ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, explica retroativamente tudo o que
aconteceu com Sócrates e com a filosofia grega, pois toda lógica platônica e aristotélica, está na
prática da Sã Doutrina da Salvação pregada pelos apóstolos. Temos o encontro entre São Paulo
e os filósofos gregos narrado em Atos dos Apóstolos:

“16Enquanto Paulo os esperava em Atenas, à vista da cidade entregue à idolatria, o seu coração enchia-se de
amargura. 17Disputava na sinagoga com os judeus e prosélitos, e todos os dias, na praça, com os que ali se
encontravam. 18Alguns filósofos epicureus e estoicos conversaram com ele. Diziam uns: “Que quer dizer esse
tagarela?”. Outros: “Parece que é pregador de novos deuses”. Pois lhes anunciava Jesus e a
Ressurreição. 19Tomaram-no consigo e levaram-no ao Areópago, e lhe perguntaram: “Podemos saber que nova
doutrina é essa que pregas? 20Pois o que nos trazes aos ouvidos nos parece muito estranho. Queremos saber o
que vem a ser isso”. 21Ora (como se sabe), todos os atenienses e os forasteiros que ali se fixaram não se
ocupavam de outra coisa senão a de dizer ou de ouvir as últimas novidades.22Paulo, em pé no meio do Areó-
pago, disse: “Homens de Atenas, em tudo vos vejo muitíssimo religiosos. 23Percorrendo a cidade e considerando
os monumentos de vosso culto, encontrei também um altar com esta inscrição: A um Deus desconhecido. O
que adorais sem o conhecer, eu vo-lo anuncio! 24O Deus, que fez o mundo e tudo o que nele há, é o Senhor do
céu e da terra, e não habita em templos feitos por mãos humanas. 25Nem é servido por mãos de homens, como
se necessitasse de alguma coisa, porque é ele quem dá a todos a vida, a respiração e todas as coisas. 26Ele fez
nascer de um só homem todo o gênero humano, para que habitasse sobre toda a face da terra. Fixou aos povos
os tempos e os limites da sua habitação. 27Tudo isso para que procurem a Deus e se esforcem por encontrá-lo
como que às apalpadelas, pois na verdade ele não está longe de cada um de nós. 28Porque é nele que temos a
vida, o movimento e o ser, como até alguns dos vossos poetas disseram: ‘Nós somos também de sua
raça...’.29Se, pois, somos da raça de Deus, não devemos pensar que a divindade é semelhante ao ouro, à prata
ou à pedra lavrada por arte e gênio dos homens. 30Deus, porém, não levando em conta os tempos da
ignorância, convida agora a todos os homens de todos os lugares a se arrependerem. 31Porquanto fixou o dia
em que há de julgar o mundo com justiça, pelo ministério de um homem que para isso destinou. Para todos
deu como garantia disso o fato de tê-lo ressuscitado dentre os mortos”.32Quando o ouviram falar de
ressurreição dos mortos, uns zombavam e outros diziam: “A respeito disso te ouviremos outra vez”. 33Assim saiu
Paulo do meio deles. 34Todavia, alguns homens aderiram a ele e creram: entre eles, Dionísio, o areopagita, e
uma mulher chamada Dâmaris; e com eles ainda outros.”
(At 17, 16-34)

Repare na atitude dos filósofos. Se interessaram, pois na introdução, tudo o que São Paulo
estava pregando sobre Deus, era o que eles pensavam desde Sócrates, e já não queriam saber
85

de mitologias, e foi exatamente por achar que São Paulo falava de mais mitologias, ao mencionar
a ressurreição, que se afastam e caçoam dele. Mas o fato, é que alguns, como vemos, lhe deram
ouvidos, e é a partir daí, que temos os filósofos se convertendo ao cristianismo, sem mudarem o
que pensam, mas ao contrário, adequando toda sua filosofia, que era à busca da verdade, ao
encontro da verdade na fé da Igreja.

A vida de Cristo, estava presente, não apenas no AT, como prefiguração, mas também, na
filosofia grega. No AT Ele foi apresentado como o Servo Sofredor, e na Filosofia Grega, foi
apresentado o Justo Perfeito.

No Antigo Testamento:
13
Eis que meu Servo prosperará, crescerá, ele se elevará, será exaltado.14Assim como, à sua vista, muitos
ficaram embaraçados – tão desfigurado estava que havia perdido a aparência humana –,15assim o admirarão
muitos povos: os reis permanecerão mudos diante dele, porque verão o que nunca lhes tinha sido contado, e
observarão um prodígio inaudito. 1Quem poderia acreditar nisso que ouvimos? A quem foi revelado o braço do
Senhor? 2Cresceu diante dele como um pobre rebento enraizado numa terra árida; não tinha graça nem beleza
para atrair nossos olhares, e seu aspecto não podia seduzir-nos.3Era desprezado, era a escória da humanidade,
homem das dores, experimentado nos sofrimentos; como aqueles, diante dos quais se cobre o rosto, era
amaldiçoado e não fazíamos caso dele. 4Em verdade, ele tomou sobre si nossas enfermidades, e carregou os
nossos sofrimentos: e nós o reputávamos como um castigado, ferido por Deus e humilhado. 5Mas ele foi
castigado por nossos crimes, e esmagado por nossas iniquidades; o castigo que nos salva pesou sobre ele;
fomos curados graças às suas chagas. 6Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas, seguíamos cada qual
nosso caminho; o Senhor fazia recair sobre ele o castigo das faltas de todos nós. 7Foi maltratado e resignou-se;
não abriu a boca, como um cordeiro que se conduz ao matadouro, e uma ovelha muda nas mãos do
tosquiador. Ele não abriu a boca. 8Por um iníquo julgamento foi arrebatado. Quem pensou em defender sua
causa, quando foi suprimido da terra dos vivos, morto pelo pecado de meu povo? 9Foi-lhe dada sepultura ao
lado de facínoras e ao morrer achava-se entre malfeitores, se bem que não haja cometido injustiça alguma, e
em sua boca nunca tenha havido mentira. 10Mas aprouve ao Senhor esmagá-lo pelo sofrimento; se ele oferecer
sua vida em sacrifício expiatório, terá uma posteridade duradoura, prolongará seus dias, e a vontade do Senhor
será por ele realizada. 11Após suportar em sua pessoa os tormentos, ele se alegrará de conhecê-lo até o enlevo.
O Justo, meu Servo, justificará muitos homens, e tomará sobre si suas iniquidades.12Eis porque lhe darei
parte com os grandes, e ele dividirá a presa com os poderosos: porque ele próprio deu sua vida, e deixou-se
colocar entre os criminosos, tomando sobre si os pecados de muitos homens, e intercedendo pelos culpados.
(Isaias 52, 13-15. 53, 1-12)

Na Filosofia Grega:

“Portanto, digamo-lo; e, se esta linguagem for demasiado rude, lembra-te, Sócrates, que não sou
eu quem fala, mas aqueles que situam a injustiça acima da justiça. Eles dirão que o justo, tal como
o representei, será açoitado, torturado, acorrentado, terá os olhos queimados, e que, finalmente,
tendo sofrido todos os males, será crucificado e saberá que não se deve querer ser justo, mas
parecê-lo.” (Livro IV, A República, Platão: Diálogo de Sócrates e Glauco)

O então padre e professor universitário Joseph Ratzinger, muito bem lembrou deste texto de
Platão e escreveu:

“Este texto, escrito 400 anos antes de Cristo, sempre voltará a comover profundamente o cristão.
Na seriedade da reflexão filosófica prevê-se que o justo perfeito no mundo deve ser o justo
crucificado; pressentiu-se aí algo daquela revelação do homem que se realiza na cruz.

O justo perfeito, quando apareceu, tornou-se o crucificado, foi entregue à morte pela justiça; e isto
nos diz impiedosamente o que é o homem: És de tal modo, ó homem, que não podes suportar o
justo, és de tal modo que o simplesmente amante se torna louco, espancado, rejeitado. Tu, como
injusto, sempre precisas da injustiça do outro, para te sentires desculpado, não podendo, portanto,
tirar proveito do justo que parece roubar-te essa desculpa. Eis o que és. João resumiu tudo isto no
86

ecce homo! ("eis, isto é o homem!") de Pilatos, cujo sentido fundamental é: esta é a situação do
[246] homem. Este é o homem. A verdade do homem é sua ausência de verdade. O verso do
salmista "todo homem é um mentiroso" (Sl 116 [115], 11) e vive alhures contra a verdade, já trai o
que vem a ser o homem.

A verdade do homem consiste em continuamente chocar-se contra a verdade; o justo crucificado


torna-se assim o espelho onde o homem se vê sem retoque. Mas, a cruz não revela o homem
apenas, e sim também a Deus: eis quem é Deus, que se identifica com o homem até este abismo
e que julga salvando. No abismo do fracasso humano descobre-se o abismo ainda mais
inesgotável do divino amor. E assim a cruz realmente é o centro da revelação, de uma
revelação que não comunica qualquer espécie de proposições, até então desconhecidas,
mas que nos comunica e descobre a nós, revelando-nos perante Deus e revelando a Deus
em nosso meio.” (Introdução ao Cristianismo, 1968, Ratzinger)

Em nossos tempos modernos, o método crítico da própria teologia, costuma distinguir o


personagem histórico, Jesus de Nazaré, que não pode ser negado pelas evidências, como iremos
ver, do personagem mitológico, Jesus Cristo, que seria uma construção, nos moldes dos profetas
do AT com os heróis e deuses da mitologia greco/romana. Falando em Jesus Histórico e Cristo
Mitológico. O Jesus Histórico, foi um jovem rabino condenado a morte, do qual surgiu a ideia, em
seus seguidores, de transformá-lo em um Mito, no “Deus cristão”.

Mas Olavo de Carvalho argumenta que:

“Tal conclusão deveria ter sido um milagre muito maior do que a ressurreição de Nosso Senhor
Jesus Cristo. Pois Ele seria como qualquer um de nós, e como foi crucificado criaram um culto ao
redor dele, e por uma coincidência dos demônios, aconteceu tudo exatamente do jeito que estava
nos profetas e que ele disse que tinha que acontecer, mas é mais fácil ressuscitar do que fazer
isso acontecer... e aconteceu pior, aconteceu com o próprio sujeito que disse que ia acontecer.
Isso é um fato, não é um dado da fé. É mais difícil negar a vida de Cristo, do que aceitar. E qual é
a explicação que nega a ressurreição? Tem que ser uma explicação melhor, mas ela começa por
exigir que eu creia num tecido de coincidências absolutamente impossível. Está me exigindo mais
fé do que Nosso Senhor Jesus Cristo, pois Ele me pede para acreditar que Ele, sendo Deus, tenha
ressuscitado, e você está me pedindo para acreditar numa conjectura que é uma verdadeira loteria
esportiva... Para negar um único dado miraculoso, pedem que a gente aceite um universo de
dados e suposições miraculosas.” (Compilado de Olavo de Carvalho)

Então, se Deus não veio até nós, e se não existe um Jesus Histórico que tenha feito tudo o que
dizem que ele fez, então, todas as religiões estão completamente enganadas, estão erradas, pois
não cumprem os requisitos mínimos que uma religião deveria ter.

3º. DEGRÃU: JESUS CRISTO E UM PERSONÃGEM HISTORICO


As religiões são como a parábola da Torre de Babel. São esforços humanos para nos aproximar
de Deus, o que é completamente impossível, como já vimos. Então, a “religião” católica também
está errada? Se não, por que não? A resposta é o assunto central desta nossa reflexão. Pois, se
Jesus é mesmo quem Ele diz que é, é preciso primeiro termos provas de que Ele existiu. Jesus
Existiu?

Antes, disso, vamos trazer dois personagens históricos para verificar sua existência e veracidade
dos relatos histórcos: Alexandre, o Grande; Napoleão Bonaparte.

Alexandre, Existiu?

Alexandre III (o Grande), nasceu e morreu entre os anos de (356-323 a. C), no Egito, exigiu ser
chamado de “Filho de Deus”, temos detalhes de sua vida, e ele só viveu 32 anos, alcançou um
sucesso sem paralelo, conquistando grande parte do mundo conhecido de sua época, desde a
87

Grécia, indo ao leste da índia e o sul do Egito e morreu onde hoje é o Iraque em 13 de Junho de
323 a.C. Como sabemos disso?

Graças a Lúcio Méstrio Plutarco que viveu entre os anos de 46 e 120 a.C. teve 74 anos, foi
historiador, biógrafo, ensaísta e filósofo médio platônico grego, conhecido principalmente por suas
obras “Vidas Paralelas e Morália.”, ele escreveu:

Neste livro, escrevendo a vida de Alexandre, o rei, e a de César, que destruiu Pompeu, não
faremos outro preâmbulo, em virtude do grande número de fatos que o tema comporta, senão
pedir aos leitores que não nos considerem sicofantas se, em lugar de narrar pormenorizadamente
todas as ações célebres desses dois varões, abreviarmos o relato e colocarmos de parte muitas
delas. (Plutarco, Vida de Alexandre)

Para termos uma ideia do tipo de narrativa, trazemos dois trechos do escrito “histórico” de
Plutarco:

Antes da noite em que se fecharam no quarto nupcial, a jovem sonhou que trovejava e o raio caía
sobre seu ventre alumiando um grande fogo, qual, dividindo-se em chamas que se propagavam
para todos os lados, finalmente se extinguiu. Por sua vez, Filipe, algum tempo depois do
casamento, viu-se a si mesmo, em sonho, selando o ventre da esposa, e pareceu-lhe que o selo
trazia a marca de um leão. [...] Aristandro de Telmesso foi o único a declarar que a jovem estava
grávida, pois ninguém põe selos em recipientes vazios, e daria à luz um menino cheio de
coragem, da natureza do leão. (Plutarco, Vida de Alexandre, 2.3-5)

Seja como for, Alexandre nasceu no dia seis do mês de hecatombeu, que os macedônios chamam
loios, exatamente quando o templo de Ártemis em Éfeso era consumido pelas chamas. Hegésias
de Magnésia faz a esse propósito um comentário capaz de extinguir, com sua frieza, aquele
incêndio: “Não é de espantar”, diz ele, “que o templo tenha sido inteiramente devorado pelo fogo,
pois no momento estava ocupada em pôr Alexandre no mundo”. (Plutarco, Vida de Alexandre, 3.6)

Como pode-se perceber, os relatos “biográficos” parecem fantasiosos, comparados às biografias


atuais, mas era o estilo da época e da cultura de Plutarco, que estava imerso no politeísmo grego,
onde mito e realidade se misturam, assim, Alexandre o Grande, é quase um “deus” aos olhos do
autor. O espaço de tempo entre Alexandre e Plutarco é pouco mais de um século. Apesar disso,
Alexandre, o Grande, é um personagem histórico, porém, é conhecido pelos seus feitos militares
e políticos e não pelos relatos extraordinários narrados por Plutarco em sua Biografia.

Onde foi que Napoleão perdeu a Guerra?

Todos sabemos que Napoleão perdeu a guerra, quando perdeu a batalha de Waterloo, porém, é
importante que digamos, que tal batalha, não aconteceu em Waterloo. Arthur Wellesley, 1º.
Duque de Wellington, foi o relator da derrota de Napoleão. Este é o único relatório, escrito por
quem venceu a batalha, que ocorreu na localidade de Braine-I’Alleud et Plancenoit, 30
quilômetros de distância de Watterloo, onde Wellesley escreveu o seu relatório.

Então, a Batalha de Watterloo, não ocorreu em Watterloo? Não, mas apesar disso, dizemos que
Napoleão, perdeu seu império em Watterloo.
Este pequeno fato, e as imprecisões relatadas por Plutarco, sobre Alexandre o Grande, nos
demonstram que a precisão dos documentos históricos, muitas vezes pode até ser questionada,
mas a existência de Alexandre e que Napoleão perdeu de fato a guerra, não pode ser
questionada.
88

Jesus Cristo, Existiu?

Entre os anos de 110 e 120 d.C. existem três escritores latinos que nos deixaram o seu
testemunho sobre Jesus Cristo. O mais importante é o de Tácito, que, escrevendo por volta de
116, noticiava a propósito do Incêndio de Roma ocorrido em 64:

“Um boato acabrunhador atribuía a Nero a ordem de pôr fogo à cidade. Então, para cortar o mal
pela raiz, Nero imaginou culpados e entregou às torturas mais horríveis esses homens detestados
pelas suas façanhas, que o povo apelidava de cristãos. Este nome vem-lhes de Cristo, que, sob o
reinado de Tibério, foi condenado ao suplício pelo procurador Pôncio Pilatos. Esta seita perniciosa,
reprimida a princípio, expandiu-se de novo não somente na Judéia, onde tinha a sua origem, mas
na própria cidade de Roma”. (Anais XV 44).

Este relato de aproximadamente 70 anos após os eventos ocorridos narrados nos Evangelhos, já
seria o suficiente para comprovar a Existência de Jesus Cristo. Mas, estranhamente, ainda
restam dúvidas em alguns.

Suetônio, poucos anos mais tarde (em 120), referindo-se ao reinado de Cláudio (41-54), diz que
este:

“Expulsou de Roma os judeus, que, sob o impulso de Crestos, se haviam tornado causa frequente
de tumultos”(Vita Claudii XXV).

A informação coincide com a de Atos 18, 2; a expulsão deve te ocorrido por volta de 49/50. E
Chrestós é forma grega equivalente a Christós, que traduz o hebraico Messias. Suetônio, mal
informado, julgava que Cristo se achava em Roma, instigando as desordens. Mal informado em
termos, pois os Cristãos, tudo faziam (e deveriam ainda fazer) como se Jesus Cristo estivesse
vivo.

Por fim, temos o relato de Plínio o Jovem, Governador da Bitínia (Ásia Menor), que em 112
escrevia ao Imperador Trajano, dizendo que os cristãos se difundiam cada vez mais e

“Estavam habituados a se reunir em dia determinado, antes do nascer do sol, e cantar um cântico
a Cristo, que eles tinham como Deus.” (Epístolas, I. X 96)

Deste testemunho depreende-se que, desde os primeiros decênios do Cristianismo, o Senhor


Jesus era louvado como Deus. Os três depoimentos romanos datam de menos de cem anos após
a morte de Cristo; informam-nos com exatidão sobre o lugar e a época em que viveu. Consideram
Jesus como personagem histórico e não como mito.

Mas existem ainda, os documentos judaicos, que deixaram no Talmud, uma coletânea de leis e
fatos históricos referentes aos rabinos. O valor é evidente, pois os Judeus, eram inimigos naturais
dos cristãos, a quem julgavam como hereges, mesmo assim, temos o testemunho a seguir:

“Na véspera de Páscoa suspenderam a uma haste Jesus de Nazaré. Durante quarenta dias um
arauto, à frente dele, clamava: ‘Merece ser lapidado, porque exerceu a magia, seduziu Israel e o
levou à rebelião. Quem tiver algo para justificar, venha proferi-lo!’ Nada, porém, se encontrou que
o justificasse; então suspenderam-no à haste na véspera de Páscoa”. (Sanhedrin 43a do Talmud
da Babilônia)

Este texto parece envolver contradição: Jesus fora condenado ao apedrejamento, mas a pena
aplicada foi a de pender do lenho (crucifixão). A incoerência pode ser explicada pelo fato de que o
apedrejamento era o castigo judaico infligido aos magos e idólatras; dizendo, pois, que Jesus fora
condenada à lapidação, os judeus procuravam justificar a condenação. Contudo a crucifixão de
Jesus era fato demasiado arraigado na tradição judaica para que se pudesse dizer que morrera
apedrejado.
89

Notemos também a acusação da magia feita a Jesus: supõe que o Senhor tenha realizado
milagres (os milagres de que fala o Evangelho); interpreta-os, porém, em sentido pejorativo como
obras diabólicas de Cristo. Outro pormenor interessante: as narrativas evangélicas dão a
entender que o processo de Jesus se realizou às pressas. Ora o Talmud admite o inverossímil
intervalo de quarenta dias entre a condenação e a execução, intervalo oferecido às testemunhas
para se manifestarem — o que vem a ser uma tentativa de reabilitar os juízes de Jesus.

Em Aboda Zara 40d Jesus é dito Bem-Pandara ou Bem Panthera, que significa filho de Pantera.
Esta expressão aramaica parece ser a deformação do grego huiòs tes parthénou (filho da
Virgem), título com que os cristãos designavam Jesus; segundo a intenção polêmica dos
talmudistas, o substantivo comum parthénos foi transformado em nome próprio e passou a
designar o pai ilegítimo que os rabinos atribuíam a Jesus (Maria estaria oficialmente casada com
o homem cujo nome no Talmud é Pappos ou Stada). Teríamos nesta passagem rabínica uma
confirmação da antiguidade da fé no nascimento virginal de Jesus.

Fora da tradição rabínica existe o historiador judeu Flávio José (37-95), que nas suas
“Antigüidades Judaicas” se refere a Jesus, há uma controvérsia sobre o seu relato, pois, existem
dois relatos em traduções diferentes, a primeira, é tida como verdadeira, a segunda, dizem que foi
adulterada pelos cristãos:

Nessa época [a época de Pilatos], havia um homem sábio chamado Jesus. Sua conduta era boa e
[ele] era conhecido por ser virtuoso. Muitos judeus e de outras nações tornaram-se seus
discípulos. Pilatos condenou-o à crucificação e à morte. Mas aqueles que se tornaram seus
discípulos não abandonaram seu discipulado, antes relataram que Jesus havia reaparecido três
dias depois de sua crucificação e que estava vivo; por causa disso, ele talvez fosse o Messias,
sobre quem os profetas contaram maravilhas. (Tradução Árabe)

“Por essa época apareceu Jesus, homem sábio, se é que há lugar para o chamarmos homem.
Porque ele realizou coisas maravilhosas, foi o mestre daqueles que recebem com júbilo a verdade,
e arrastou muitos judeus e gregos. Ele era o Cristo. Por denúncia dos príncipes da nossa, Pilatos
condenou-o ao suplício da Cruz, mas os seus fiéis não renunciaram ao amor por ele, porque ao
terceiro dia ele lhes apareceu ressuscitado, como o anunciaram os divinos profetas juntamente
com mil outros prodígios a seu respeito. Ainda hoje subsiste o grupo que, por sua causa, recebeu
o nome de cristãos” (Tradução Latina)

Josefo inclusive faz outro relato sobre Jesus e os cristãos, citando inclusive Anás que foi quem
condenou Jesus:

“Festo está morto, e Albino está a caminho. Assim, ele [Ananus, o sumo sacerdote] reuniu o
Sinédrio dos juízes e trouxe diante deles o irmão de Jesus, que era chamado Cristo, cujo nome
era Tiago, e alguns outros [ou alguns de seus companheiros] e, quando havia formulado uma
acusação contra eles como transgressores da lei, ele os entregou para que fossem apedrejados.”

Talo e Flegon que eram historiadores do primeiro século. Registraram a ocorrência das trevas
sobrenaturais relatadas nos Evangelhos quando Jesus foi crucificado (Mateus 27:45). Como a
crucificação se deu na lua cheia, era impossível ocorrer um eclipse. Portanto, as trevas que
aconteceram quando Jesus foi crucificado não tinham explicação natural. Por isso, chamaram a
atenção dos historiadores de então.

Existem no total dez escritores não-cristãos conhecidos que mencionam Jesus num período de
até 150 anos depois de sua morte. Em contrapartida, temos nesses mesmos 150 anos, nove
fontes não-cristãs que mencionam Tibério César, o imperador romano dos tempos de Jesus. Ora,
se Tibério Cesar é um personagem histórico, logo, Jesus de Nazaré é também. As dez fontes
não-cristãs são:

1. Flávio Josefo;
2. Tácito, historiador romano;
90

3. Plínio, o Jovem, político romano;


4. Flegon, escravo liberto que escrevia histórias;
5. Talo, historiador do século I;
6. Suetônio, historiador romano;
7. Luciano, satirista grego;
8. Celso, filósofo romano;
9. Mara bar Serapion, cidadão reservado que escrevia para seu filho;
10. O Talmude.

É possível encontrar uma lista completa das menções a Cristo feitas por essas fontes em Norman
L. GEISLER, Enciclopédia de apologética. São Paulo: Vida, 2002, p. 447-52; v. tb. Gary
HABERMAS, The Historicaljesus. Joplin, Mo.: College Press, 1996, capo 9.

Conclusão: Temos então, 10 fatos históricos a cerca de Jesus, que estão narrados, não apenas
nos Evangelhos, mas em documentos históricos:

1. Jesus viveu durante o tempo de Tibério César.


2. Ele viveu uma vida virtuosa.
3. Realizou maravilhas.
4. Teve um irmão chamado Tiago.
5. Foi aclamado como Messias.
6. Foi crucificado a mando de Pôncio Pilatos.
7. Foi crucificado na véspera da Páscoa judaica.
8. Houve trevas inexplicáveis no momento da morte de Jesus.
9. Seus discípulos acreditavam que ele ressuscitara dos mortos.
10. Seus discípulos estavam dispostos a morrer por sua crença.
11. O cristianismo espalhou-se rapidamente, chegando até Roma.
12. Seus discípulos negavam os deuses romanos e adoravam Jesus como Deus.

Diante dos relatos históricos, e do conhecimento que temos até aqui, qual seria a possibilidade
dos discípulos de Jesus, entregarem-se ao martírio, negando os deuses, negando sua própria
religião, para viver uma fé, que teria sido inventada por alguém, sem nenhum tipo de prova, sem
nenhum dado histórico que não fossem os relatos dos que foram testemunhas de tudo o que
aconteceu com Jesus?

“Tem mais, a doutrina que Jesus pregava era de difícil vivência no meio da decadência romana; o
orador romano Tácito, se referia ao cristianismo como “desoladora superstição”, Minúcio Félix,
falava de “doutrina indigna dos gregos e romanos”. Os apóstolos não teriam condições de inventar
uma doutrina tão diferente para a época.

Será que poderia um mito ter vencido o Império Romano?

Será que um mito poderia sustentar os cristãos diante de 250 anos de martírios e perseguições?
O escritor cristão Tertuliano (†220), de Cartago, escreveu que “o sangue dos mártires era semente
de novos cristãos”.

Será que um mito poderia provocar tantas conversões, mesmo com sérios riscos de morte e
perseguições?

No século III já havia cerca de 1500 sedes episcopais (bispos) no mundo afora. Será que um mito
poderia gerar tudo isto? É claro que não. Será que um mito poderia sustentar uma Igreja, que
começou com doze homens simples, e que já tem 2000 anos; que já teve 264 Papas, e que tem
hoje mais de 4000 bispos e cerca de 410 mil sacerdotes em todo o mundo?

As provas são evidentes, Jesus Cristo existiu!” (AQUINO, F; “Por que sou Católico?”, Ed. Cleofas,
30ª. Edição, 2015)
91

4º. DEGRÃU: ÃS SÃGRÃDÃS ESCRITURÃS SÃO


DOCUMENTOS HISTORICOS CONFIÃVEIS
O ANTIGO TESTAMENTO:

Uma vez conhecidos os documentos históricos não cristãos, é hora de analisarmos os


documentos históricos cristãos e judaicos, que são os quatro Evangelhos e todo o Novo
Testamento e, o Antigo Testamento.

A Bíblia judaica contém 24 livros (ou 22, dependendo de como se combinam e contam os mesmos
livros), um conjunto geralmente denominado Bíblia hebraica (BH), Tanak e até Miqra. Na verdade,
Tanak é um acrônimo, formado a partir das três partes da Bíblia hebraica: a Lei, os Profetas e os
Escritos. Em hebraico, essas categorias se chamam Torah, Nebiim e Ketubim, daí TNK ou TaNaK
(Tanak). (MacDonald, L. M; A origem da Bíblia)

Então, a Tanakh tem a seguinte constituição:

Torá (Ensino): São 5 livros - Gênesis (Bereshit - No início), Êxodo (Shemot - Nomes), Levíticos
(Vayikra - E ele disse), Números (Bamidbar - No deserto) e Deuteronômio (Devarim - Palavras).

Nevi'im (Profetas): São 8 livros - Profetas Pioneiros: Josué, Juízes, Samuel e de Reis. Últimos
Profetas: Isaías, Jeremias e Ezequiel e dos 12 profetas menores contados como um único livro.
(Oseias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miqueias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e
Malaquias.

Ketuvim (Escritos): Consiste de 11 livros, Livros poéticos: Salmos, Provérbios e Jó. Cinco
pergaminhos: Cântico dos Cânticos, Rute, Lamentações, Eclesiastes e Ester são coletivamente
conhecidos como Hamesh Megillot (Os cinco rolos), são os mais recentes. Livros de Relatos:
Daniel, Esdras-Neemias e Crônicas.

Os textos escritos da Tanak, nem sempre eram suficientes para o ensino do povo judeu, então,
ao longo de milênios, os hebreus, judeus e samaritanos, desenvolveram o Talmude, que eram as
interpretações, morais, analógicas, aplicações práticas da Tanak, que era transmitido oralmente.
Um dado momento, com o exílio e a derrota dos judeus para os romanos, viu-se a necessidade
de compilar os ensinamentos orais, e assim o Talmude, é formados de duas partes: Mishná, o
primeiro compêndio escrito da Lei Oral judaica; e o Guemará, uma discussão da Mishná e
dos escritos tanaíticos que frequentemente abordam outros tópicos.

O Talmude, não faz parte das Sagradas Escrituras cristãs, e para a Igreja Católica, o Talmude é
Nosso Senhor Jesus Cristo e a Igreja por Ele instituída.

O Antigo Testamento, composto de 39 livros, são escritos na sua quase totalidade em hebraico,
exceto alguns pequenos trechos em aramaico. O aramaico é uma língua muito semelhante ao
hebraico, uma espécie de hebraico popular, e utiliza o mesmo alfabeto e era a língua falada por
Nosso Senhor Jesus Cristo, pois era a língua falada na Palestina. A cópia mais completa de que
dispomos do Antigo Testamento data do ano 900 d.C. O último livro do AT a ser escrito foi
completado por volta do ano 400 a.c. Ou seja, a cópia completa mais antiga disponível é de 1.300
anos depois, o que, aparentemente, o colocaria na mesma situação que os outros escritos da
antiguidade clássica. Porém outras evidências demonstram o elevado grau de preservação e
confiabilidade do Antigo Testamento.

É importante dizer, que esta divisão em 39 livros da Tanak, foi feita no Concílio de Jamina (em
torno do ano 100 d.C). Este concílio, procurou reunir em um “cânon” (Cana de medir, régua ou
92

Padrão) os escritos judaicos e distinguir o que era “contaminação cristã” e o que era
essencialmente judaico, foi em torno desta época que o Talmulde também foi redigido.

O objetivo era bem claro, eliminar da religião judaica, todo indício de cristianismo para não
confundir os judeus e assim, condenar a então “seita do Nazareno” como herege e digna de
exclusão das sinagogas, uma vez que o templo havia sido destruído no ano 70 d.C pelo
imperador Tito.

Isto significa que até o ano 100 d.C., os judeus não possuíam um Cânon bíblico bem definido, e
nunca se havia sido feita uma lista dos livros divinamente inspirados ou não, esta definição ficava
ao encargo dos rabinos das mais variadas vertentes do judaísmo de então, sejam Fariseus,
Saduceus, Zelotes, Essênios etc...

Por volta do ano 200 a.C. Ptolomeu II (287-247 a.C.) rei do Egito, encomendou uma tradução
Grega das Escrituras judaicas, para a Biblioteca de Alexandria. Para conseguir que os Judeus
consentissem emancipou 100 mil escravos judeus, e enviou Aristéias, à Jerusalém para solicitar a
Eliazar (Sumo Sacerdote dos Judeus) para pedir uma cópia das Escrituras judaicas, a pedido de
Demétrio de Fálaro, curador da Biblioteca de Alexandria.

Mas há uma lenda sobre esta tradução, ela teria sido realizada em 70 dias, por 70 sábios
resultando 70 cópias, que eram exatamente idênticas e após o término da tradução, o texto grego
foi lido na presença do Sumo Sacerdote Judeu, dos príncipes judeus, e do povo judeu, e foi
considerado em perfeita consonância com os originais hebraicos.

O fato por trás da lenda, é que houve um esmero muito grande na tradução, e que claro, já
haviam traduções de muitos dos livros para o Grego, que eram traduções apócrifas, o que o
Sumo Sacerdote fez, foi apenas reconhecer que a tradução estava de acordo com os originais, e
o fez a pedido de Ptolomeu II, e todo este processo está registrado em uma série de documentos
históricos.

O motivo da tradução também era atender aos Judeus Gregos e de outras nacionalidades, pois o
grego era como o Inglês hoje (ou mandarim) e haviam muitos judeus, já naquele tempo que não
dominavam o hebraico. Após a queda de Jerusalém, a Sptuaginta, que já era a tradução mais
comum dos Escritos Sagrados Judeus, tornou-se o principal texto em uso.

Os livros que compunham a Septuaginta, conforme a ordem original:

“Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio, Josué, Juízes, Rute, 1 Samuel (1 Reis), 2
Samuel (2 Reis), 1 Reis (3 Reis), 2 Reis (4 Reis), 1 Crônicas (1 Paralipômenos), 2 Crônicas (2
Paralipômenos), 1 Esdras, 2 Esdras (Esdras e Neemias), Ester, Judite, Tobias, 1 Macabeus, 2
Macabeus, 3 Macabeus, 4 Macabeus, Salmos, Odes, Provérbios, Eclesiastes, Cântico dos
Cânticos, Job, Sabedoria, Eclesiástico (Sirac), Salmos de Salomão, Oséias, Amós, Miquéias, Joel,
Obadias, Jonas, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias, Isaías, Jeremias,
Lamentações, Baruque, Epístola de Jeremias, Ezequiel, Suzana (fragmentos de Daniel) , Daniel,
Bel e o Dragão.” (SOCIEDADE BÍBLICA DO BRASIL, 2003, XII-XIII).

Aqui vale ressaltar que a tradução da Septuaginta, foi o texto escolhido pelos autores do Novo
Testamento para citar e fazer referência. Há citações da Bíblia hebraica também, mas é notório,
que a Igreja primitiva, sempre adotou o texto grego como referência, até pela facilidade para
referenciar em meio ao império Romano e cidades Gregas onde os apóstolos fundaram igrejas e
formaram comunidades.

Estas informações são importantes, por que existe uma acusação protestante, de que a Igreja
Católica, adicionou ao Cânon do AT livros que não eram considerados sagrados, que como
93

podemos ver é uma acusação falsa, pois a Sptuaginta, que era tida como Sagrada Escritura por
muitos judeus antes de Cristo, contém 14 livros a mais do que a Tanak contém hoje.

Os livros de Judite, Tobias, 1 Macabeus, 2 Macabeus, Sabedoria, Eclesiástico (Sirac), Baruque,


Suzana (fragmentos de Daniel), são tidos pelos católicos como parte da Sagrada Escritura, e
recebem o nome de Deuterocanônicos (Canonizados depois) por parte dos católicos, já os
protestantes quando se referem a estes livros, os chamam de apócrifos (Secretos).

Fato é que, a septuaginta não era um único conjunto de livros, havia várias versões antes de
Cristo e já no período da Igreja Primitiva, muitas versões existia. Muitas bíblias da Reforma
Protestante seguem o cânone judaico e excluem estes livros adicionais. Entretanto, católicos
romanos incluem alguns destes livros em seu cânon e as Igrejas ortodoxas usam todos os livros
conforme a Septuaginta. Anglicanos, assim como as Igrejas orientais, usam todos os livros exceto
o Salmo 151, e a bíblia do rei Jaime em sua versão autorizada inclui estes livros adicionais em
uma parte separada chamada de Apocrypha.

Há ainda objeções que afirmam que nem Jesus e os Apóstolos citaram os deuterocanônicos. Ora,
se este fosse um critério verdadeiro para determinar a canonicidade de um livro com a Fé Cristã,
estariam em não conformidade pelo menos os livros Juizes, Crônicas, Ester, Cântico dos
Cânticos, que também não são citados por eles. Entretanto, o NT faz várias referências ao textos
deuterocanônicos.

Um bom exemplo se encontra na Carta aos Hebreus:

Devolveram vivos às suas mães os filhos mortos. Alguns foram torturados, por recusarem ser libertados,
movidos pela esperança de uma ressurreição mais gloriosa.
(Hb 11,35)

Na Tanak encontramos muitos relatos de mulheres que receberam seus mortos, esperando a
ressurreição. Temos Elias que ressuscita o filho da viúva em Sarepta (1 Rs 17) ou Eliseu que
ressuscita o filho da mulher sunamita. Mas não iremos encontrar na Tanak, um exemplo de
alguém sendo torturado e se recusando ser liberto, por que esperava uma ressurreição gloriosa,
se não em 2 Macabeus:
1
Havia também sete irmãos que foram um dia presos com sua mãe, e que o rei, por meio de golpes de
azorrague e de nervos de boi, quis coagir a comerem a proibida carne de porco. 2Um dentre eles tomou a
palavra e falou assim em nome de todos: “Que nos pretendes perguntar e saber de nós? Estamos prontos a
morrer, antes de violar as leis de nossos pais”. 3O rei, fora de si, ordenou que aquecessem até a brasa
assadeiras e caldeirões. 4Logo que ficaram em brasa ordenou que cortassem a língua do que falara por todos e,
depois, que lhe arrancassem a pele da cabeça e lhe cortassem também as extremidades, tudo isso à vista de
seus irmãos e de sua mãe. 5Em seguida, mandou conduzi-lo ao fogo inerte e mal respirando, para assá-lo.
Enquanto o vapor da assadeira se espalhava em profusão, os outros, com sua mãe, exortavam-se mutuamente
a morrer com coragem. 6“O Senhor nos vê – diziam – e certamente terá compaixão de nós, como o diz
claramente Moisés no seu cântico de admoestações: Ele terá compaixão de seus servos.” 7Desse modo, morto o
primeiro, conduziram o segundo ao suplício. Arrancaram-lhe a pele da cabeça com os cabelos e perguntaram-
lhe: “Comerás carne de porco, ou preferes que teu corpo seja torturado membro por membro?”. 8Ele
respondeu: “Não” – no idioma de seu país. Por isso, padeceu os mesmos tormentos do primeiro. 9Estando
prestes a dar o último suspiro, disse: “Maldito, tu nos arrebatas a vida presente, mas o Rei do universo nos
ressuscitará para uma vida eterna, pois morremos por fidelidade às suas leis”.
(2 Mb 7, 1-9)

Outro exemplo primoroso, de referências do NT aos Deuterocanônicos, é encontrado em


Apocalipse, que cita o livro de Tobias a seguir:
94

Quando tu oravas com lágrimas e enterravas os mortos, quando deixavas a tua refeição e ias ocultar os
12

mortos em tua casa durante o dia, para sepultá-los quando viesse a noite, eu apresentava as tuas orações ao
Senhor. 13Mas porque eras agradável ao Senhor, foi preciso que a tentação te provasse. 14Agora o Senhor
enviou-me para curar-te e livrar do demônio Sara, mulher de teu filho. 15Eu sou o anjo Rafael, um dos sete que
assistimos na presença do Senhor”.
(Tb 12, 12-15)

Podemos vasculhar a Tanak, que é a opção feita pelos protestantes do AT, e não se encontrará
uma única referência aos 7 anjos que estão na presença do Senhor, mas Apocalipse, faz uma
referência direta a tais anjos:
2
Eu vi os sete Anjos que assistem diante de Deus. Foram-lhes dadas sete trombetas.3Adiantou-se outro anjo
e pôs-se junto ao altar, com um turíbulo de ouro na mão. Foram-lhe dados muitos perfumes, para que os ofere-
cesse com as orações de todos os santos no altar de ouro, que está adiante do trono. 4A fumaça dos perfumes
subiu da mão do anjo com as orações dos santos, diante de Deus. 5Depois disso, o anjo tomou o turíbulo,
encheu-o de brasas do altar e lançou-o por terra; e houve trovões, vozes, relâmpagos e terremotos. 6Então os
sete Anjos, que tinham as trombetas, prepararam-se para tocar.
(Ap 8, 2-6)

Um último exemplo faz-se necessário, para demonstrar o quão ligados ao NT estão os livros
Deuterocanônicos é justamente o termo “Pai” utilizado por Nosso Senhor, para se referir da Deus,
pois no NT ele faz isso 272 vezes, e o sentido da palavra, é num contexto de intimidade, porém,
Nosso Senhor afirmou que Ele é o Filho de Deus, tornando Deus, efetivamente Seu Pai.

As oito vezes que a Tanak se refere a Deus como Pai, o contexto é se referindo a Deus, como
Chefe do Povo, como Criador do mundo e por isso foi chamado de Pai, porém, é justamente em
dois dos livros Apócrifos, que o termo “Pai” é utilizado no mesmo contexto em que Jesus se
referia ao Pai, o primeiro está a seguir:

“Senhor, meu pai e soberano de minha vida, não me abandoneis ao conselho de meus lábios, e não permitais
que eles me façam sucumbir.”
(Eclo 23,1)

Esta prece, é uma alusão direta, uma profecia que se realizou na crucificação de Jesus, o outro
texto é ainda mais revelador, pois até a conotação do texto é a mesma que o NT usa, nas
palavras ditas por Jesus:
13
Ele se gaba de conhecer a Deus, e se chama a si mesmo filho do Senhor!14Sua existência é uma censura às
nossas ideias; basta sua vista para nos importunar.15Sua vida, com efeito, não se parece com as outras, e os
seus caminhos são muito diferentes.16Ele nos tem por uma moeda de mau quilate, e afasta-se de nossos
caminhos como de manchas. Julga feliz a morte do justo, e gloria-se de ter Deus por pai.17Vejamos, pois, se
suas palavras são verdadeiras, e experimentemos o que acontecerá quando da sua morte, 18porque, se o justo
é filho de Deus, Deus o defenderá, e o tirará das mãos dos seus adversários.19Provemo-lo por ultrajes e
torturas, a fim de conhecer a sua doçura e estarmos cientes de sua paciência. 20Condenemo-lo a uma morte
infame. Porque, conforme ele, Deus deve intervir”. 21Eis o que pensam, mas enganam-se, sua malícia os
cega:22eles desconhecem os segredos de Deus, não esperam que a santidade seja recompensada, e não
acreditam na glorificação das almas puras.23Ora, Deus criou o homem para a imortalidade, e o fez à imagem de
sua própria natureza. 24É por inveja do demônio que a morte entrou no mundo, e os que pertencem ao
demônio a provarão.
(Sb 2, 13-24)

Ora, o livro de Sabedoria está profetizando o relato de Nosso Senhor Jesus Cristo na Cruz, e
ainda cita que o Justo, chama a Deus por Pai, e se gloria disso, o que deixou os sacerdotes
95

“mordidos” de inveja, sinalizando que tal atitude é diabólica. As referências no NT deste trecho de
Sabedoria são dezenas:

“A multidão conservava-se lá e observava. Os príncipes dos sacerdotes escarneciam de Jesus, dizendo: Salvou a
outros, que se salve a si próprio, se é o Cristo, o escolhido de Deus! […] Se és o rei dos judeus, salva-te a ti
mesmo. […] Um dos malfeitores, ali crucificados, blasfemava contra ele: Se és o Cristo, salva-te a ti mesmo e
salva-nos a nós!”
(Lc 23,35.37.39).

“Mas Jesus se calava e nada respondia. O sumo sacerdote tornou a perguntar-lhe: És tu o Cristo, o Filho de Deus
bendito? […] Alguns começaram a cuspir nele, a tapar-lhe o rosto, a dar-lhe socos e a dizer-lhe: Adivinha! Os
servos igualmente davam-lhe bofetadas.”
(Mc 14,61.65)

“Querendo Pilatos satisfazer o povo, soltou-lhes Barrabás e entregou Jesus, depois de açoitado, para que fosse
crucificado. […] Davam-lhe na cabeça com uma vara, cuspiam nele e punham-se de joelhos como para
homenageá-lo. Depois de terem escarnecido dele, tiraram-lhe a púrpura, deram-lhe de novo as vestes e
conduziram-no fora para o crucificar.”
(Mc 15,15.19-20)

“salva-te a ti mesmo! Desce da cruz! Desta maneira, escarneciam dele também os sumos sacerdotes e os
escribas, dizendo uns para os outros: Salvou a outros e a si mesmo não pode salvar! Que o Cristo, rei de Israel,
desça agora da cruz, para que vejamos e creiamos! Também os que haviam sido crucificados com ele o
insultavam.”
(Mc 15,30-31)

Das 350 citações do Antigo Testamento que há no Novo, 300 são tiradas da Versão Septuaginta,
o que mostra o uso da Bíblia completa pelos apóstolos, mesmo assim, muitos protestantes, sem
conhecimento de causa, dizem que o conteúdo dos Deuterocanônicos são reprováveis ou até
heréticos, mas a Tanak está repleta de fatos reprováveis como as filhas de Lot engravidarem
dele, depois de o embebedar (Gn 19,30-36). O Rei Saul consultou uma espírita e falou com o
profeta já falecido (I Reis 28,8), Abraão teve um filho fora de seu casamento e depois o expulsou
unto com a sua mãe (Gn 16), e o Patriarca Jacó casou-se várias vezes e teve muitos filhos fora
do casamento (Gn 30,4-5.7.9-10.12). Davi planejou a morte de um de seus soldados para ficar
com sua esposa (2 Sm 11).

Será que por causa destes relatos poderíamos Gênesis, Reis ou Samuel do AT? Será por isso
que podemos afirmar que o livro de Gênesis então promove a poligamia? Ou que nos é lícito
sacrificar os filhos à Deus, como Abraão “quase” fez? Ora, se não é o juízo subjetivo e pessoal
que coloca ou retira livros no Cânon Bíblico, o que é? Qual foi o juízo adotado pelos primeiros
cristãos para receber ou não um livro como canônico?

O critério deles foi o mesmo dos cristãos que viveram na era apostólica quando aceitaram que a
Lei de Moisés não era necessária para alcançar a Justiça (At 15): o discernimento da Única e
Verdadeira Igreja de Cristo.

No ano de 367 d.C, a Igreja Católica se reuniu em um Concílio em Laodicea, e dentre as


definições como quais seriam os Salmos utilizados na liturgia, a Igreja definiu a lista de livros que
pertenceriam ao Antigo Testamento, e a lista é a seguinte:

Das Origens aos Reis (7 Livros): Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio, Josué e
Juízes.
96

Dos Reis de Israel e o Exílio (7 Livros): Rute, Samuel I, Samuel II, Reis I, Reis II, Crônicas I e
Crônicas II.

Fatos após o Exílio na Babilônia (7 Livros): — Esdras, Neemias, Tobias, Judite, Ester, Macabeus I
e Macabeus II.

Livros Sapienciais de Ensino e Oração (7 Livros): Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cânticos,
Eclesiástico (ou Sirac) e Sabedoria.

Profetas Maiores com Pregações (6 Livros): Isaías, Jeremias, Lamentações, Baruc, Ezequiel e
Daniel.

Profetas Menores (12 Livros): Oséias, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuc,
Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias.

Totalizando 46 livros, e este é o Cânone oficial da Igreja Católica até hoje.

O NOVO TESTAMENTO:

Por volta do ano 393, a Igreja Católica se reuniu no Concílio de Hipona e definiu os 27 livros do
NT e no ano de 397, em Cartago, a Igreja confirmou a seleção e a escolha dos livros. Ela deixou
de fora muitos livros, os quais denominou apócrifos, a lista do NT canonizada pela Igreja, desde
então, até o presente momento é a seguinte:

Evangelhos e Atos dos Apóstolos (5 Livros): Mateus, Marcos, Lucas, João e Atos dos Apóstolos.

Cartas de São Paulo (14 Livros): Carta aos Romanos, Coríntios I e II, Gálatas, Efésios,
Filipenses, Colossenses, Tessalonicenses I e II, Timóteo I e II, Tito, Filemon, Hebreus.

Cartas Católicas (8 Livros): Carta de Tiago, Pedro I e II, João I, II e III, Judas, Apocalipse.

O total de livros na Bíblia católica é de 73 (46 AT e 27 NT).

Uma “pequena” lista dos livros que eram considerados pelos cristãos como inspirados por Deus,
mas que a Igreja em Hipona deixou de lado pode ser vista a seguir:

Evangelhos: Protoevangelho de Tiago; Evangelho da Infância, de Tomé; Evangelho de Pedro;


Evangelho de Nicodemos; Evangelho dos Nazarenos; Evangelho dos Ebionitas; Evangelho dos
Hebreus; Evangelho dos Egípcios; Evangelho de Tomé; Evangelho de Filipe; Evangelho de
Maria. Atos: Atos de João; Atos de Pedro; Atos de Paulo; Atos de André; Atos de Tomé; Atos de
André e Matias; Atos de Filipe; Atos de Tadeu; Atos de Pedro e Paulo; Atos de Pedro e André;
Martírio de Mateus; Ato Eslavo de Pedro; Atos de Pedro e dos Doze Apóstolos. Epístolas: III
Coríntios; Epístola aos Laodicenos; Cartas de Paulo e Sêneca; Cartas de Jesus e Abgar; Carta
de Lêntulo; Epístola de Tito. Apocalipses: Apocalipse de Pedro; Apocalipse Copta de Paulo;
Primeiro Apocalipse de Tiago; Segundo Apocalipse de Tiago; Apócrifo de João; Sofia de Jesus
Cristo; Carta de Pedro a Filipe; Apocalipse de Maria.

“Nenhum desses livros cristãos foi inicialmente identificado como “apócrifo” ou “pseudepigráfico”, e
é muito provável que alguns cristãos primitivos os reconhecessem todos como Escritura cristã. A
identificação dessa literatura como apócrifa ou pseudepigráfica muitas vezes prejudica sua
investigação, mas esses termos identificam hoje de modo conveniente a literatura não bíblica da
Antiguidade.” (MacDonald, L. M; A origem da Bíblia)
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Deixaremos aqui, para que possamos compreender o conteúdo de um dos apócrifos mais
famosos, a Terceira Carta de São Paulo aos Coríntios, que se trata de um autor desconhecido,
fazendo-se passar por São Paulo, imitando o seu estilo e procurando refutar ideias gnósticas que
se infiltravam na Igreja nascente, e distorciam o ensinamento de São Paulo sobre a ressurreição
nas duas primeiras epístolas aos Coríntios.

Essa obra ganhou tamanha popularidade que, por algum tempo, foi tida como canônica pela
igreja Armênia e pela Igreja Siríaca (principalmente as próximas de Edessa). Os escritos de Santo
Afraates (270-345 d.C.) e Santo Efrém, o Sírio (306-373 d.C.) indicam que a Igreja Siríaca do
quarto século ainda considerava III Coríntios como canônico. Afraates cita 3Cor 2,10 na seção 12
de sua obra Demonstrações IV, atribuindo-a ao apóstolo São Paulo, enquanto Efrém dedicou um
capítulo inteiro a III Coríntios em seu comentário bíblico de quatro volumes. Em seu comentário,
Efrém critica os hereges bardesânios, por não incluírem III Coríntios em suas escrituras. Efrém
parece não estar ciente da sua rejeição no ocidente, assim como dos argumentos contra a autoria
paulina da carta, e cita III Coríntios com frases como “o bendito apóstolo ensina”. O fato de III
Coríntios não ser encontrada em comentários posteriores da Igreja Siríaca indica que ela perdeu
seu status canônico em algum ponto do século V.

Segue seu conteúdo:

¹Paulo, o prisioneiro de Jesus Cristo, aos irmãos em Corinto – Saudações! ²Estando em meio a tantas tribulações,
eu não me surpreendo que os ensinamentos do maligno tenham se espalhado tão rapidamente. ³Mas o Senhor
Jesus Cristo irá apressar sua vinda e reduzirá a nada (não mais aturando a insolência) [de] quem falsifica suas
palavras. ⁴Pois eu entreguei a vós primariamente o que recebi dos apóstolos [que vieram] antes de mim, os
quais estiveram sempre juntos a Jesus Cristo. ⁵A saber, [recebi] que Nosso Senhor Jesus Cristo nasceu de Maria,
da estirpe de Davi (segundo a carne), que o Espírito Santo foi enviado do Céu pelo Pai a ela (por meio do anjo
Gabriel), ⁶para que ele [Jesus] pudesse vir a este mundo e salvasse toda a carne por meio da sua própria carne.
Para então poder nos ressuscitar na carne como ele mesmo se apresentou a nós como exemplo. ⁷ E tendo o
homem sido criado pelo seu Pai, ⁸o homem foi por esta razão resgatado por ele quando estava perdido, para
ser vivificado pela adoção [filial]. ⁹Pois o Deus altíssimo, criador do céu e da terra, enviou os profetas primeiro
aos judeus, para liberta-los dos seus pecados. ¹⁰Pois ele desejava salvar a casa de Israel; portanto, ele tomou do
Espírito de Cristo e derramou sobre os profetas, os quais proclamaram o verdadeiro culto a Deus por um longo
período de tempo. ¹¹Mas o Príncipe da Iniquidade que desejava ele mesmo ser Deus, lançou a mão sobre eles e
os matou e sujeitou toda a carne as suas [perversas] paixões. ¹² Mas Deus Todo-poderoso, sendo justo, e não
desejando repudiar sua criação, teve misericórdia, ¹³e enviou seu Espírito à Maria da Galileia, ¹⁴para que o
Maligno fosse vencido pela mesma carne que ele havia dominado ¹⁵e então fosse convencido de que não
era [como] Deus.¹⁶Pois foi pelo seu corpo que Jesus Cristo salvou toda a carne, ¹⁷oferecendo em seu próprio
corpo um templo de justiça ¹⁸através do qual somos salvos. ¹⁹Aqueles que seguem [os que negam essa
doutrina] não são filhos da justiça, mas da ira, que desprezam a sabedoria de Deus ²⁰e em sua descrença
declaram que os céus e a terra e tudo o que neles há, não são obras de Deus. ²¹Eles portanto, professam a
maldita crença da serpente. ²²Afastai-vos deles e se mantenham distantes de sua doutrina. ²³E aqueles que
dizem não haver ressurreição da carne, certamente não terão ressurreição [para a vida, mas para a
condenação], ²⁴pois não creem naquele que de fato ressuscitou dos mortos. ²⁵Eles não sabem, ó Coríntios, sobre
o semear do trigo ou outros grãos que lançados nus no solo e perecendo, crescem novamente pela vontade de
Deus, em corpos vestidos ²⁶E ele não apenas levanta o mesmo corpo que semeou, mas um muito mais
abençoado. ²⁷E se alguém não compreender a parábola das sementes, ²⁸que ele olhe para Jonas, filho de Amitai,
o qual, relutante de pregar aos Ninivitas, foi engolido pela baleia. ²⁹E após três dias e três noites, Deus ouviu a
oração de Jonas desde as profundezas do Abismo, ³⁰ e nenhuma de suas partes foram corrompidas, nem
mesmo um fio de cabelo ou um cílio. ³¹Quanto mais não fará ao ressuscitar a vós que creram em Cristo Jesus, o
qual também foi ressuscitado. ³²Igualmente, quando um corpo foi atirado pelos filhos de Israel sobre os ossos
do profeta Eliseu, o corpo ressuscitou dos mortos. ³³Quanto mais vós não deverão naquele dia se levantar com
os corpos intactos, após terem sido atirados no corpo, ossos e espírito do Senhor. ³⁴Se, porém, vós receberem
outra doutrina. Não permita que qualquer outro homem me perturbe, ³⁵pois tenho esses grilhões em mim para
que eu ganhe a Cristo, e carrego também suas marcas, para que eu possa obter a ressurreição dos mortos. ³⁶E
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quem permanece na regra que recebemos pelos santos profetas e pelo santo Evangelho, receberá
galardão. ³⁷Mas para quem se desviar dessa regra que recebeu, haverá fogo, para ele e para todo aquele que
assim proceder, ³⁸pois são pessoas sem Deus, uma geração de víboras. ³⁹Resista a estes no poder do
Senhor. ⁴⁰Que a paz esteja convosco.
(Suposta Terceira carta de São Paulo aos Coríntios)

O Concílio de Laodiceia (363 d.C.)estabeleceu os livros do cânone do Antigo Testamento, e os


livros do NT ainda estavam em investigação, quando em 386 d.C. (sete anos antes de Hipona)
São Jerônimo se estabeleceu nas proximidades da Basílica da Natividade, para dedicar-se ao
estudo dos livros até então tidos como canônicos, tanto do AT quanto do NT. A ele se deve a
célebre versão latina (Vulgata), que mais tarde se tornou oficial na Igreja do Ocidente e de suma
importância para a transmissão das Escrituras.

Próximo à gruta da Natividade estão as grutas de São José, dos Santos Inocentes e a gruta de
São Jerônimo onde ele dedicou mais de 40 anos à tradução dos textos bíblicos originais, do
hebraico (Aramaicos) e do grego (Septuaginta), para o latim.

Dálmata de cultura enciclopédica, se retirou no deserto próximo a Antioquia, berço do


cristianismo, vivendo em penitência. Depois, tornando-se sacerdote, iniciou uma intensa atividade
literária. Em Roma foi colaborador do Papa Dâmaso. Após sua morte, Jerônimo retirou-se para
Belém.

A tradução do que ficou convencionado pelos Concílios, das Sagradas Escrituras, é de suma
importância, pois a mudança do Grego para o Latim, mais tarde, no ano de 1058, foi o que deu
início ao que ficou conhecido como Cisma do Ocidente. A separação da Igreja Católica Apostólica
Romana das Igrejas Católicas Apostólicas Ortodoxas, estas últimas que se fragmentaram ao
longo dos anos, em igrejas nacionalistas (Grega, Síria, Egipcia, Jerusalém etc...).

A divergência linguística dentro da Igreja, tem gerado uma série de problemas e divisões entre os
cristãos católicos, pois uns dizem que a língua sagrada é o grego (língua dos Evangelhos) outro
que é o Latim (Língua do Império Romano) e recentemente, após o CVII, alguns se ressentem
pela Igreja ter traduzido as Sagradas Escrituras para todos os idiomas conhecidos, incluindo
dialetos ameríndios, aborígenes e africanos, e não apenas as Escrituras, mas a própria liturgia
hoje goza de uma polifonia que para uns é ruim, para outros muito bem-vinda.

Porém, se fossemos considerar alguma língua como sagrada, a exemplo dos judeus que tem o
Hebraico, teríamos de canonizar o Aramaico, que é a língua falada por Nosso Senhor Jesus
Cristo, que foi inclusive a língua da primeira Santa Missa celebrada pelo próprio Cristo na última
Ceia. Como não há nenhuma canonização de língua alguma nos Evangelhos ou na Sagrada
Tradição, deixemos isso de lado.

Os 27 livros do NT são confiáveis?

Para estabelecer a confiabilidade de um documento antigo, algumas questões são necessárias, a


primeira delas é averiguar a datação dos documentos, e a partir do documento mais antigo,
verificar as similaridades entre eles e a distância que os eventos narrados estão dos fatos
ocorridos.

Vamos comparar o NT a outros documentos antigos, veja o Gráfico 1 e perceba o espaço de


tempo (em anos) entre o original e as primeiras cópias remanescentes, e apesar de tamanha
proximidade, há “estudiosos” que reconhecem os fatos narrados por Plínio, César, Tácito, Platão
(cujos escritos rememoram a histórica de Sócrates que é personagem histórico) entre outros, o
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que pode deixar claro que esta insistência em negar a historicidade do NT, não passa do
estabelecimento de um peso diferente ao NT do que às outras obras tidas como históricas:

Percebemos que os Evangelhos e todo o NT possuem mais probabilidade de serem verídicos do


que muitas obras tidas como históricas, como as que estão demonstradas acima, ou ainda a que
abordamos anteriormente, na obra de Plutino que faz a biografia de Alexandre, o Grande, onde o
autor az a biografia de um homem falecido há pelo menos 100 anos.

O espaço de tempo entre os eventos e o documento histórico é importante, pois obviamente, em


décadas, séculos ou até milênios como no caso de Demóstenes, alguns detalhes podem ser
perdidos em uma biografia ou em um relato histórico. Muitas vezes, para preencher as lacunas,
os historiadores se baseiam em textos literários da época, para dar ar de verossimilhança e não
prejudicar a narrativa dos fatos com dúvidas inconvenientes.

Então, quanto mais próximo dos eventos narrados estiver o texto que registra os fatos, mais
preciso e verossímil é o texto, logo, de todo acervo de documentos históricos que a antiguidade
possui, o NT é o mais preciso e mais verossímil, pois narram eventos ocorridos a apenas 25
anos, eventos estes que foram narrados oralmente, como os próprios textos demonstram e que
só foram escritos, para alcançar mais leitores e adeptos.

Mas para garantir que o texto não foi adulterado, é importante, como já dissemos, que as várias
cópias (se houver) do texto sejam comparadas umas às outras cópias para verificar a
semelhança ou a discrepância entre as cópias. Neste quesito, quanto mais cópias um documento
tiver, mais garantias existem de que o texto não foi adulterado, dando confiabilidade ao conteúdo
do que está descrito no texto. Comparemos novamente o NT com outros textos da antiguidade:
100

No Gráfico 2, temos o Número de Cópias Manuscritas e constatamos que não existe nada no
mundo antigo que sequer se aproxime disso (5686 manuscritos). A obra mais próxima é a llíada,
de Homero, com 643 manuscritos. A maioria das outras obras antigas sobrevive com pouco mais
de uma dúzia de manuscritos. Contudo, poucos historiadores questionam a historicidade dos
eventos que essas obras registram. Já o NT, que não é aceito por muitos, é o que deveria ser
aceito sem nenhum questionamento, pois além da quantidade de cópias as discrepâncias entre
elas são mínimas.

O mais antigo e incontestável manuscrito é um segmento de João 18.31-33,37,38, conhecido


como fragmento John Rylands (porque está na Biblioteca John Rylands, em Manchester,
Inglaterra). Datado entre 117 e 138 d.C, podendo ser ainda mais antigo, este fragmento foi
encontrado no Egito próximo ao mar Mediterrâneo, e seu provável local de composição foi a Ásia
Menor, demonstrando que o Evangelho de São João foi copiado e levado a lugares distantes logo
no início do século II.

Os Manuscritos do Mar Morto, contém os livros completos de Marcos, Atos, Romanos, 1


Timóteo, 2Pedro e Tiago e são datados de 50 a.C. a 50 d.C. José O'Callahan, um destacado
paleógrafo espanhol fez a datação o que levou o The New York Times a reconhecer as
implicações da teoria de O'Callahan ao admitir que, se os manuscritos fossem verdadeiros,
"então provariam que pelo menos um dos evangelhos — o de S. Marcos — foi escrito
apenas alguns anos depois da morte de Jesus".

Possuímos 3 manuscritos completos dos 27 livros do NT: Codex


Vaticanus (Séc. IV – Está no Vaticano); Codex Alexandrinus ( Sec.
V. – Museu Britânico de Londres); Codex Sinaiticus (Sec. IV – São
Petersburgo).

Pergunta: Se 100% dos milhares de milhões das cópias completas


dos 27 livros do NT, são datados de manuscritos do Século IV e V,
por que damos algum crédito histórico a tais manuscritos, sendo
ele tão distantes da época referida?

Resposta: PATRÍSCA! (Sagrada Tradição)

Mas o que é a Patrística?

São 53 manuscritos, que datam desde o ano 100 até o século IV


d.C. e mais tardiamente até o século VIII. Não são livros apócrifos, pois com exceção das cartas
de São Inácio de Antioquia e do Papa São Clemente, nunca fizeram parte do Cânone das
Sagradas Escrituras. São textos, em sua maioria apologéticos da Fé Cristã, do Cristianismo e da
Igreja Católica, para entendermos melhor, vejamos a divisão a seguir:

Era Apostólica (30 a 100 d.C.) → Era Sub-apostólica (90 a 180 d.C.) → Era dos Padres da
Igreja (150 a 750 d.C.);

• Inácio de Antioquia (35 – 108 d.C.) • Orígenes (185 – 254 d.C.)


• Papa Clemente I (35 - 101 d.C.) • Cipriano de Cartago (210 – 258 d.C.)
• Policarpo de Esmirna (69 – 155 d.C.) • Atanásio de Alexandria (296 – 373 d.C.)
• Justino (100 – 165 d.C.) • Basílio de Cesareia (330 – 379 d.C.)
• Ireneu de Lyon (120 – 202 d.C.) • Gregório de Nazianzo (329 – 389 d.C.)
• Clemente de Alexandria (150 – 215 d.C.) • Gregório de Níssa (330 – 395 d.C.)
• Tertuliano (160 – 225 d.C.) • Jerônimo (347 – 430 d.C.)
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• Agostinho de Hipona (354 – 430 d.C.) • Máximo, o Confessor (580 – 662 d.C.)
• Vicente de Lérins († 445 d.C.) • Isaque de Nínive (613 – 700 d.C.)
• Cirilo de Alexandria (375 ou 378 – 444 • João Damasceno (675 – 749 d.C.)
d.C.)

A resposta que demos foi a Patrística, por que se os textos do NT não fossem referenciados na
patrística (um total de 36.289 citações), nenhuma importância histórica teriam os manuscritos,
pois não se teria como comprovar sua autenticidade. É possível reconstituir todo o NT com os 53
volumes da patrística, que são datados desde a era apostólica (Século II) até meados dos tempos
patrísticos (Século IV).

A patrística faz a ligação entre os manuscritos originais e sua lógica interna, pois existem citações
literais dos Evangelhos e dos fatos narrados no NT dentro da Patrística. Santo Tomás de Aquino,
compilou todas estas citações em quatro volumes que compõe a coleção da Catena Áurea.

Provas arqueológicas:

Além destas comprovações, é importante verificarmos também se se o que é citado pelos textos
do NT, encontram paralelos arqueológicos, e para isso, iremos citar algumas referências
arqueológicas que elevada importância na verificação da confiabilidade histórica das Sagradas
Escrituras:

✓ As fundações do Monte do Templo judaico, construído por Herodes, o Grande, ainda estão
em Jerusalém.

✓ Os "Passos do Sul", por onde Nosso Senhor e os discípulos entraram no Templo, estão
preservados em um local ativo de escavação.

✓ A Igreja da Natividade em Belém é geralmente considerada um local credível para o lugar


do nascimento de Jesus.

✓ A enorme Igreja do Santo Sepulcro em Jerusalém também é considerada um local


histórico confiável que abrange os locais da crucificação e sepultamento de Cristo. Estes
locais foram cobertos (e, portanto, conservados) pelos romanos no século II dC.

No Mar da Galileia, cidades como Nazaré ainda estão ativas.

✓ Corazim e Cafarnaum, dois locais que Jesus visitou com frequência, têm sido escavados e
preservados.
✓ Locais de ensinamentos famosos como Kursi (o milagre suíno), Tabgha (pães e peixes), o
Monte das Bem-Aventuranças (Sermão da Montanha) e a Cesareia de Filipe (confissão de
Pedro) são todos preservados como confiáveis locais históricos.

✓ A sinagoga de Cafarnaum, onde Jesus curou um homem com um espírito imundo e


entregou o sermão sobre o pão da vida.

✓ A casa de Pedro em Cafarnaum, onde Jesus curou a sogra de Pedro e outros.

✓ O Poço de Jacó, onde Jesus falou à mulher samaritana.

✓ O tanque de Betesda em Jerusalém, onde Jesus curou um homem aleijado.

✓ A piscina de Siloé, em Jerusalém, onde Jesus curou um cego.


102

✓ O tribunal em Corinto, onde Paulo foi julgado.

✓ O teatro em Éfeso, onde a revolta dos ourives ocorreu.

✓ O palácio de Herodes em Cesareia, onde Paulo foi mantido sob guarda.

Todos estes locais, são sítios arqueológicos ou pontos turísticos preservados para que estudos
históricos, arqueológicos e verificações de museologia.

Um dos maiores arqueólogos de todos os tempos foi Sir William Ramsay, duvidava
profundamente da veracidade dos documentos de “supostos” fatos descritos pelos manuscritos
do NT.

Então, decidiu ir para a Ásia Menor especificamente para encontrar as provas físicas que
refutassem o registro bíblico de Lucas (Evangelho e Atos). Depois de anos de estudo de campo,
Ramsay reverteu completamente a sua visão de toda a Bíblia e da história do primeiro século. Ele
escreveu:

“Lucas é um historiador de primeira categoria, não apenas são as suas declarações de fato de
confiança, mas ele é possuidor do verdadeiro sentido histórico... em suma, esse autor deve ser
colocado junto com os maiores historiadores.”

A exatidão de Lucas é demonstrada pelo fato de que ele nomeia importantes figuras históricas na
sequência temporal correta. Ele também usa os corretos e, muitas vezes obscuros, títulos
governamentais em várias áreas geográficas, incluindo os politarcas de Tessalônica, os
guardiães do templo de Éfeso, o conselho de Chipre e o "primeiro homem da ilha" de Malta.
Vejamos alguns exemplos da escrita de São Lucas, que deixou os mais experientes historiadores
e arqueólogos boquiabertos:

“Muitos empreenderam compor uma história dos acontecimentos que se realizaram entre nós, como no-los
transmitiram aqueles que foram desde o princípio testemunhas oculares e que se tornaram ministros da
palavra. Também a mim me pareceu bem, depois de haver diligentemente investigado tudo desde o princípio,
escrevê-los para ti segundo a ordem, excelentíssimo Teófilo.
(Lc 1, 1-3)

Neste relato, podemos verificar que São Lucas, pretende comprovar o que está descrevendo,
com o testemunho de fontes primárias, e de fato, ao longo do texto, verificamos que o autor
esteve com os envolvidos, principalmente com a Mãe de Jesus, Maria de Nazaré, pois ele dá
detalhes do nascimento e do preâmbulo da gestação de Maria. No anúncio de Lucas do ministério
público de Nosso Senhor Jesus Cristo, ele menciona: "Lisânias tetrarca de Abilene".

Estudiosos questionaram a credibilidade de Lucas já que o único Lisânias conhecido por séculos
foi um líder que governou Cálcis entre 40-36 AC. No entanto, uma inscrição datada do tempo de
Tibério (14-37 DC) foi encontrada, e ela registra a dedicação do templo mencionando Lisânias
como o "tetrarca de Ábila" (Abilene perto de Damasco).

No livro de Atos, Paulo foi levado perante Gálio, o procônsul de Acaia. Novamente, a arqueologia
confirma essa narrativa. Em Delfos, uma inscrição do Imperador Cláudio foi descoberta, que diz:
"Lúcio Júnio Gálio, meu amigo, o procônsul da Acaia..." Os historiadores datam essa inscrição de
aproximadamente 52 DC, apoiando o tempo da visita de Paulo lá em 51 DC.

Mais tarde no livro de Atos, Erasto, um colega de Paulo, é nomeado tesoureiro de Corinto. Em
1928, arqueólogos escavaram um teatro coríntio e descobriram uma inscrição que diz: "Erasto,
103

em troca por sua posição de tesoureiro, construiu a calçada à sua própria custa." O pavimento foi
colocado em 50 DC.

Em uma outra passagem, Lucas dá a Plúbio, o homem principal da ilha de Malta, o título de
"primeiro homem da ilha". Estudiosos questionaram esse título estranho e o consideraram não-
histórico. Inscrições têm sido recentemente descobertas na ilha que na verdade dão a Plúbio o
título de "primeiro homem".

Em outra parte, Lucas usa o termo grego "politarca" ("governantes da cidade") para se referir aos
líderes de Tessalônica. Embora pareça irrelevante, esta era um outro grande argumento contra a
credibilidade de Lucas durante séculos, pois nenhuma outra literatura grega aparentava usar este
termo de liderança. No entanto, cerca de 20 inscrições já têm sido descobertas que usam o termo
"politarca", incluindo cinco descobertas que se referem especificamente à antiga liderança em
Tessalônica.

Lucas chama de Icônio uma cidade em Phyrigia. Este foi também um grande argumento contra a
credibilidade de Lucas durante séculos. Estudiosos, usando escritos de historiadores como
Cícero, sustentaram que Icônio era em Licaônia, não Phyrigia. Portanto, os estudiosos
declararam que o livro de Atos como um todo não era confiável. Sabe o quê? Em 1910, Ramsay
estava procurando por evidência que apoiasse esta antiga reivindicação contra o Lucas e acabou
descobrindo um monumento de pedra que declarava que Icônio era de fato uma cidade em
Phyrigia. Muitas descobertas arqueológicas desde 1910 têm confirmado isso - Lucas estava
certo!

Ao analisar a pesquisa e os escritos de São Lucas, o famoso historiador Adrian Nicholas Sherwin-
White declara:
“No fim das contas, Lucas cita os nomes de trinta e dois países, cinquenta e quatro cidades e nove
ilhas sem erros.”

E por fim concluiu:

“Para Atos a confirmação da historicidade é esmagadora... Qualquer tentativa de rejeitar a sua


historicidade básica deve agora parecer um absurdo.”

A abertura da história de Natal do Evangelho de São Lucas é familiar para muitos de nós ...

Naqueles tempos, apareceu um decreto de César Augusto, ordenando o recenseamento de toda a terra. Esse
recenseamento foi feito antes do governo de Quirino, na Síria.
(Lc 2, 1-2)

Este cabeçario de introdução do capítulo 2, São Lucas demonstra estar falando de um tempo
passado, mas não muito distante, referência importantes personagens históricos e contextualiza o
evento do recenciamento, que é importante, pois nada explicaria que a Sagrada Família se
deslocasse de Nazaré até Belém somente para dar a Luz o menino, que DEVERIA nasce em
Belém. Na verdade, o que parece é que os pais de Jesus, mesmo sendo zelosos, não sabiam das
condições e requisitos para que Jesus fosse chamado de Messias, tanto é que Ele ficou
conhecido como Jesus de Nazaré e não Jesus de Belém, o que até causou estranheza, tanto aos
seus discípulos quanto aos sacerdotes do templo.

Dados do texto: Houve um decreto de César Augusto; Todos deveriam ser tributados; Todos
deveriam retornar à sua cidade natal; Foi um decreto feito por Quirino (também conhecido como
Cyrenius) que era governador da Síria.

Por séculos tais informações foram tidas como não históricas e não verificáveis!
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Pois nunca houve um registro secular desse censo romano ou de que as pessoas tiveram que
retornar às suas cidades de origem. Além disso, o único registro de Quirino (Cyrenius) sendo
"governador" da Síria foi de 6-7 d.C. (Segundo Fávio Josefo), muito tarde para coincidir com o
registro bíblico.

Porém, descobertas recentes revelam que os romanos realmente tinham um registro regular dos
contribuintes e que realizavam um censo formal a cada 14 anos, começando com o reinado de
César Augusto. Além disso, uma inscrição e outras evidências arqueológicas revelam que Quirino
estava de fato "governando" a Síria em torno do ano 7 a.C. (embora não com o título oficial de
"governador", mas como o de líder militar do território). Finalmente, um papiro descoberto no
Egito discute de forma geral o sistema de tributação romano, declarando o seguinte:

"Por causa do censo que está se aproximando, é necessário que todos aqueles que residem por
algum motivo fora de sua cidade de origem devem imediatamente se preparar para regressar aos
seus próprios governos a fim de que possam concluir o cadastramento das famílias... "

A controvérsia de Pôncio Pilatos

Até o ano de 1960, Pôncio Pilatos, nome pertencente ao Credo Niceno-Constantinipolitano,


sempre foi tido pelos estudiosos como fictício e que deslegitimava toda a fé católica e cristã,
como sendo uma “religião histórica”.

Mas em 1961, os arqueólogos descobriram um fragmento de uma placa em Cesareia, uma


cidade romana no litoral mediterrâneo de Israel. A placa foi escrita em latim e encaixada em uma
seção das escadas que levavam ao Anfiteatro de Cesareia. A inscrição inclui o seguinte:

"Pôncio Pilatos, prefeito da Judeia, dedicou ao povo de Cesareia um templo em honra de Tibério."

O Imperador Tibério reinou entre 14-37 DC, encaixando-se perfeitamente com a narrativa do
Novo Testamento que registra Pôncio Pilatos como governador de 26 a 36 DC.

Nós, não “acreditamos” que Nosso Senhor padeceu sob Pôncio Pilatos, nós SABEMOS disso!
Este dado, não é um artigo de fé, é um DADO HISTÓRICO INQUESTIONÁVEL!

5º. DEGRÃU: O CONTEUDO DÃ SÃGRÃDÃ ESCRITURÃ E


REÃL E VERDÃDEIRO
Se 95% dos dados e informações apresentados pelo NT são historicamente verificáveis e
comprováveis, será que o conteúdo, que não contém paralelo na história, como o Verbo de Deus
fazer-se carne, a transformação da água em vinho, a ressurreição de Lázaro, a fundação da
Igreja sobre São Pedro, a paixão, morte e ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, são
verdadeiras?

Há coerência nos ditos, testemunhos históricos? Como saber? Quais os requisitos para se
averiguar tais informações? Estas e outras questões iremos tentar responder apresentando 6
requisitos ou exigências que certamente derrubariam qualquer argumento contrário, à
possibilidade do Conteúdo da Sagrada Escritura ser verdadeira:

1. Como vimos, quanto mais antigas são as fontes, mais precisos são considerados os
testemunho, por isso, precisamos perguntar: “Temos um testemunho antigo?”
105

2. Uma boa testemunha, precisa ter visto, ouvido, tocado, e assimilado o fato, por isso, as
testemunhas oculares são o melhor meio de estabelecer o que realmente aconteceu, por
isso perguntamos: “Temos testemunhas oculares?”

3. Quando um fato acontece, é importante coletarmos o maior número de testemunhas


possíveis, quanto mais testemunhas, melhor e mais confiável é o testemunho.
Testemunhas oculares múltiplas e independentes confirmam que os fatos realmente
aconteceram (eles não são ficção) e dão detalhes adicionais que uma única fonte poderia
perder (fontes verdadeiramente independentes normalmente contam a mesma história
básica, mas com detalhes diferentes. Os historiadores às vezes chamam isso de
"coerência com dissimilaridade"). Por isso perguntamos: “Temos o depoimento de
testemunhas oculares múltiplas e independentes?”

4. Em um julgamento, o caráter da testemunha precisa ser confirmado em um julgamento,


muitas testemunhas são desconsideradas por que seu caráter, sua índole e até suas
intenções são colocadas em risco, por isso, precisamos perguntar: “As testemunhas
oculares são dignas de confiança? Devemos acreditar nelas?”

5. Se temos em um julgamento, pessoas que se opõem às testemunhas, ou que


manifestamente não querem a testemunha bem, por algum motivo, mas que admitem que
o que as testemunhas oculares estão afirmando, é verdadeiro, mesmo que apenas alguns
aspectos, é bem provável que o que as testemunhas estejam afirmando, seja de fato real,
então, perguntamos: “Temos algum testemunho de algum oponente das testemunhas
ou dos fatos?”

6. Quem escreve um relato, um fato ou um acontecimento, demonstra fidelidade ao fato,


quando o conteúdo narrado, apesar de representar um constrangimento pessoal para
quem afirma, o que é afirmado provavelmente é verdadeiro, pois a maioria das pessoas
não gosta de registrar informação negativa sobre si mesmas, qualquer testemunho que
faça o autor parecer ruim é provavelmente verdadeiro, por isso, perguntamos: “O
testemunho contém fatos ou detalhes que são embaraçosos para os autores?”

TEMOS UM TESTEMUNHO ANTIGO?

Já fizemos menção a uma série de testemunhos antigos sobre os fatos narrados no NT quando
questionamos se Jesus era um personagem histórico, e concluímos, pelas provas que sim, Jesus
é um personagem histórico, e depois ainda vimos que dos eventos ocorridos, até o registro feito
pelos autores do NT, passaram-se apenas 25 anos, elevando o grau de confiabilidade dos
documentos históricos a um grau de alta confiabilidade. Então, passemos à segunda questão.

TEMOS TESTEMUNHAS OCULARES?

Eis as provas:

“A este Jesus, Deus o ressuscitou: do que todos nós somos testemunhas.”


(At 2, 32)

“Não podemos deixar de falar das coisas que temos visto e ouvido”.
(At 4, 20)

“Chegando, porém, a Jesus, como o vissem já morto, não lhe quebraram as pernas, mas um dos soldados abriu-
lhe o lado com uma lança e, imediatamente, saiu sangue e água. O que foi testemunha desse fato o atesta (e o
seu testemunho é digno de fé, e ele sabe que diz a verdade), a fim de que vós creiais.”
106

(Jo 19, 33-35)

“Muitos empreenderam compor uma história dos acontecimentos que se realizaram entre nós, como no-los
transmitiram aqueles que foram desde o princípio testemunhas oculares e que se tornaram ministros da
palavra.”
(Lc 1, 1-2)

“Eu vos transmiti primeiramente o que eu mesmo havia recebido: que Cristo morreu por nossos pecados,
segundo as Escrituras; foi sepultado, e ressurgiu ao terceiro dia, segundo as Escrituras; 5apareceu a Cefas e, em
seguida, aos Doze. Depois apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma vez, dos quais a maior parte ainda
vive (e alguns já são mortos); depois apareceu a Tiago, em seguida a todos os apóstolos. E, por último de todos,
apareceu também a mim, como a um abortivo.”
(1 Cor 15, 3-8)

Até mesmo diante dos tribunais, os autores do NT (São Paulo), deram o testemunho da vida de
Nosso Senhor Jesus Cristo, alegando que os que ali estavam, também sabiam que o que ele
estava testemunhando era verdade, e o peso do testemunho foi tão grande que Festo (opositor)
quase reconhece que o ele diz é verdade e se torna cristão.

“Dizendo ele essas coisas em sua defesa, Festo exclamou em alta voz: “Estás louco, Paulo! O teu muito saber
tira-te o juízo”. Paulo, então, respondeu: “Não estou louco, excelentíssimo Festo, mas digo palavras de verdade e
de prudência. Pois dessas coisas tem conhecimento o rei, em cuja presença falo com franqueza. Sei que nada
disso lhe é oculto, porque nenhuma dessas coisas se fez ali ocultamente”. “Crês, ó rei, nos profetas? Bem sei
que crês!” Disse, então, Agripa a Paulo: “Por pouco não me persuades a fazer-me cristão!”.”
(At 26, 24-28)

Sabendo que os documentos são históricos e que o conteúdo possui até mesmo comprovação
arqueológica, assim, podemos concluir que de fato, o que os autores dos textos estão afirmando,
é de fato conhecimento em primeira mão, são pessoas que disseram ter visto, tocado e ouvido a
respeito do que narram, sendo assim, são testemunhas oculares.

TEMOS O DEPOIMENTO DE TESTEMUNHAS OCULARES MÚLTIPLAS E INDEPENDENTES?

Em resumo, São Pedro, São Paulo e São João afirmam ser testemunhas oculares, e São Lucas e
o autor de Hebreus afirmam terem sido informados por testemunhas oculares. Além disso, os
autores do NT citam outros que viram a ressurreição de Jesus.

São Paulo lista especificamente 14 pessoas cujos nomes são conhecidos como testemunhas
oculares da ressurreição e afirma que havia mais de outras 500 pessoas, que estavam vivas
quando ele escreveu suas cartas. São Mateus e São Lucas confirmam as aparições aos
apóstolos. Todos os quatro evangelhos mencionam as mulheres como testemunhas, e São
Marcos as identifica como Santa Maria Madalena; Maria, mãe de Tiago, e Salomé. São Lucas
acrescenta Joana. Isso equivale a mais quatro.

O primeiro capítulo de Atos também revela que José, chamado Barsabás, também foi testemunha
ocular (At 1.23). Quase 530 testemunhas oculares da ressurreição que é o evento alegadamente
mais fantástico pelos críticos ao NT. Sendo assim, podemos concluir que temos múltiplas
testemunhas oculares independentes.

AS TESTEMUNHAS OCULARES SÃO DIGNAS DE CONFIANÇA? DEVEMOS ACREDITAR


NELAS?

Quem já leu “O apanhador no campo de centeio”, pôde perceber que o protagonista diz que gosta
de Jesus, mas não dos apóstolos e discípulos, pois eles eram extremamente desanimados e
107

covardes, deixavam Jesus na mão na maioria das vezes, ou seja, os autores do Novo
Testamento incluíram detalhes embaraçosos sobre si mesmos, vejamos alguns:

Eles eram tolos:

“E ensinava os seus discípulos: “O Filho do Homem será entregue nas mãos dos homens, e o matarão; e
ressuscitará três dias depois de sua morte”. Mas não entendiam essas palavras; e tinham medo de lho
perguntar.”
(Mt 18,1-10; Lc 9,46-50; Mc 9,32)

Eram apáticos, preguiçosos e insensíveis:

Foram em seguida para o lugar chamado Getsêmani, e Jesus disse a seus discípulos: “Sentai-vos aqui, enquanto
vou orar”. Levou consigo Pedro, Tiago e João; e começou a ter pavor e a angustiar-se. Disse-lhes: “A minha alma
está numa tristeza mortal; ficai aqui e vigiai”. Adiantando-se alguns passos, prostrou-se com a face por terra e
orava que, se fosse possível, passasse dele àquela hora. “Aba! (Pai!), suplicava ele. Tudo te é possível; afasta de
mim este cálice! Contudo, não se faça o que eu quero, senão o que tu queres.” Em seguida, foi ter com seus
discípulos e achou-os dormindo. Disse a Pedro: “Simão, dormes? Não pudeste vigiar uma hora! Vigiai e orai,
para que não entreis em tentação. Pois o espírito está pronto, mas a carne é fraca”. Afastou-se outra vez e orou,
dizendo as mesmas palavras. Voltando, achou-os de novo dormindo, porque seus olhos estavam pesados; e
não sabiam o que lhe responder. Voltando pela terceira vez, disse-lhes: “Dormi e descansai. Basta! Veio a
hora! O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos pecadores.
(Mc 14, 32-41)

Foram advertidos dom dureza por Jesus:

Mas, voltando-se ele, olhou para os seus discípulos e repreendeu a Pedro: “Afasta-te de mim, Satanás, porque
teus sentimentos não são os de Deus, mas os dos homens”.
(Mc 8,33; Mt 16, 23)

Os discípulos eram materialistas e brigam entre si para saber qual era o maior dentre eles:

“Gravai nos vossos corações estas palavras: O Filho do Homem há de ser entregue às mãos dos homens!”. Eles,
porém, não entendiam essa palavra e era-lhes obscura, de modo que não alcançaram o seu sentido; e tinham
medo de lhe perguntar a esse respeito. Levantou-se então uma discussão de qual deles seria o maior.
(Mt 18,1-6; Mc 9,33-39; Lc 9,44-46)

São João e São Tiago, por causa de uma má intenção, são apelidados de forma negativa:

Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, aos quais pôs o nome de Boanerges, que quer dizer Filhos do
Trovão.
(Mc 3,17)

“Vendo isso, Tiago e João disseram: “Senhor, queres que mandemos que desça fogo do céu e os
consuma?”. Jesus voltou-se e repreendeu-os severamente. Não sabeis de que espírito sois animados.”
(Lc 9,54s)

Eles eram covardes:

“Mas tudo isto aconteceu porque era necessário que se cumprissem os oráculos dos profetas”. Então, os
discípulos o abandonaram e fugiram.”
(Mt 26, 56)
108

São Pedro, que em Atos será chamado de “Céfas”, nega Jesus por três vezes:

“Prenderam-no então e conduziram-no à casa do príncipe dos sacerdotes. Pedro seguia-o de


longe. Acenderam um fogo no meio do pátio, e sentaram-se em redor. Pedro veio sentar-se com eles. Uma
criada percebeu-o sentado junto ao fogo, encarou-o de perto e disse: “Também este homem estava com
ele”. Mas ele negou-o: “Mulher, não o conheço”. Pouco depois, viu-o outro e disse-lhe: “Também tu és um
deles”. Pedro respondeu: “Não, eu não o sou”. Passada quase uma hora, afirmava um outro: “Certamente
também este homem estava com ele, pois também é galileu”. Mas Pedro disse: “Meu amigo, não sei o que
queres dizer.” E, no mesmo instante, quando ainda falava, cantou o galo. Voltando-se o Senhor, olhou para
Pedro. Então, Pedro se lembrou da palavra do Senhor: “Hoje, antes que o galo cante, tu me negarás três
vezes”. Saiu dali e chorou amargamente.”
(Lc 22,54-62; Mt 26,57-68; Mc 14,61-64; Jo 18,19-24)

Muitos dos discípulos duvidaram e se afastaram dele:

“Desde então, muitos dos seus discípulos se retiraram e já não andavam com ele.”
(Jo 6,66)

São Paulo repreende São Pedro por sua dissimulação:

“Quando, porém, Cefas veio a Antioquia, resisti-lhe francamente, porque era censurável. Pois, antes de
chegarem alguns homens da parte de Tiago, ele comia com os pagãos convertidos. Mas, quando aqueles
vieram, retraiu-se e separou-se destes, temendo os circuncidados.”
(Gl 2,11-12)

Alguns duvidam até mesmo depois de tê-lo visto já ressuscitado:

“Os onze discípulos foram para a Galileia, para a montanha que Jesus lhes tinha designado. Quando o viram,
adoraram-no; entretanto, alguns hesitavam ainda.”
(Mt 28, 16-17)
Todos estes exemplos demonstram o compromisso com a verdade dos autores do NT, pois
arriscam a uma exposição pessoal negativa, diante de todas as gerações de cristãos, arriscando
quem sabe, até a perfeição exigida por muitos da mensagem critã. Por estas questões, nós
podemos confiar no conteúdo, pois sua veracidade compromete a moral dos próprios autores, e
caso não fosse assim, aí sim, haveria motivos para desconfiar.

TEMOS ALGUM TESTEMUNHO DE ALGUM OPONENTE DAS TESTEMUNHAS OU DOS


FATOS?

Em meado a primeira década dos anos 2000, o Dr. Gary Habermas (Teólogo e historiador -
cristão) debateu com o então filósofo ateu, Dr. Antony Flew, interessante é que havia um júri,
formado de cinco filósofos de universidades de destaque que julgaram o debate, a conclusão foi
de quatro votos para Habermas, um empate e nenhum para Flew.

Os juízes entenderam que o filósofo ateu, retraiu-se em sofismas filosóficos, e se esquivou dos
fatos históricos apresentados pelo teólogo historiador. O Debate resultou em um livro: Did the
Resurrection Happen?: A Conversation with Gary Habermas and Antony Flew, infelizmente ainda
se tradução para o português. O conteúdo do livro é devastador, ao ponto de quem algum tempo
depois, o ateu Antony Flew, que por toda a sua vida teve a posição anti-cristã e atéia, mudou sua
opinião, admitindo a existência de Deus e a verdade do cristianismo, não se convertendo porém,
a nenhuma denominação cristã.

Dr. Habermas, realizou uma pesquisa profunda, indo às fontes primárias, arqueológicas em mais
de 1400 obras de eruditos críticos à ressurreição de Jesus, escritas entre 1975 e 2003, e publicou
109

uma obra memorável chamada: The Risen Jesus and Future Hope (O Jesus ressurreto e a
esperança do futuro). O texto expõe quase todos os estudiosos sobre o tema, desde
independentes, ideológicos, ultraliberais até conservadores, e encontrou 12 pontos comuns,
inegáveis sobre a ressurreição ser de fato histórica:

1. A morte de Jesus deu-se por meio da crucificação romana.

2. Ele foi sepultado, muito provavelmente, num túmulo particular.

3. Pouco tempo depois, os discípulos ficaram desanimados, desolados e desacorçoados,


tendo perdido a esperança.

4. O túmulo de Jesus foi encontrado vazio pouco tempo depois de seu sepultamento.

5. Os discípulos tiveram experiências que acreditaram ser aparições reais do Jesus


ressurreto.

6. Devido a essas experiências, a vida dos discípulos foi totalmente transformada. Depois
disso, até mesmo se dispuseram a morrer por sua crença.

7. A proclamação da ressurreição aconteceu logo de início, desde o começo da história da


igreja.

8. O testemunho público e a pregação dos discípulos sobre a ressurreição de Jesus


aconteceram na cidade de Jerusalém, onde Jesus fora crucificado e sepultado pouco
tempo antes.

9. A mensagem do evangelho concentrava-se na pregação da morte e da ressurreição de


Jesus.
10. O domingo passou a ser o principal dia de reunião e adoração.

11. Tiago, “irmão” de Jesus e cético antes desse evento, converteu-se quando acreditou que
também vira o Jesus ressurreto.

12. Poucos anos depois, Saulo de Tarso (Paulo) tornou-se cristão devido a uma experiência
que ele também acreditou ter sido uma aparição do Jesus ressurreto.

Temos então que 75% de todos os estudiosos do NT, conservadores ou não, aceitam
argumentos a favor da Ressureição, o PhD em exegese bíblica do NT Dr. Richard. A. Burridge
(padre), afirma que é consenso majoritário entre os acadêmicos bíblicos de que o gênero literário
dos Evangelhos e de Atos do Apóstolos, é uma forma de biografia antiga e não uma narrativa
mitológica e um acadêmico defensor da visão do Jesus Histórico e do Jesus da Fé, E.P.
Sanders argumenta que uma conspiração para fomentar a crença na ressurreição provavelmente
resultaria numa história mais consistente e melhor elaborada e que algumas das pessoas
envolvidas nos eventos deram suas vidas para defender essa crença, sendo este fato o único
inconveniente para afirmar que a ressurreição seria um mito.

Se todos estes dados, são tidos como fatos históricos independente de ideologia ou de
posicionamento filosófico por parte de mais de 1400 autores independentes que versaram sobre o
assunto, dentre elas, mais da metade não é cristã e possuem reconhecimento pelas obras. Então,
temos um volume realmente gigantesco de opositores que reconhecem as consequências da
ressurreição.
110

O TESTEMUNHO CONTÉM FATOS OU DETALHES QUE SÃO EMBARAÇOSOS PARA OS


AUTORES?

❖ Os autores do NT Incluíram detalhes embaraçosos e dizeres difíceis a respeito do próprio


Jesus, detalhes que poderia causar recusa por parte dos seus leitores:

Foi considerado "fora de si" por sua mãe e seus irmãos (sua própria família), que vieram buscá-lo
com o objetivo de levá-lo para casa:

“Quando os seus o souberam, saíram para o reter; pois diziam: “Ele está fora de si”.
(Mc 3, 21)

Foi desacreditado por seus próprios parentes (irmãos):

“Com efeito, nem mesmo os seus irmãos acreditavam nele.”


(Jo 7,5)

É visto como enganador:

E na multidão só se discutia a respeito dele. Uns diziam: “É homem de bem.” Outros, porém, diziam: “Não é; ele
seduz o povo”.
(Jo 7,12)

Se desfez dos "judeus que haviam crido nele", a ponto de estes quererem apedrejá-lo:

Tendo proferido essas palavras, muitos creram nele. E Jesus dizia aos judeus que nele creram: “Se
permanecerdes na minha palavra, sereis meus verdadeiros discípulos; conhecereis a verdade e a verdade vos
livrará”. Replicaram-lhe: “Somos descendentes de Abraão e jamais fomos escravos de alguém. Como dizes tu:
Sereis livres?”. Respondeu Jesus: “Em verdade, em verdade vos digo: todo homem que se entrega ao pecado é
seu escravo... A essas palavras, pegaram então em pedras para lhas atirar. Jesus, porém, se ocultou e saiu do
templo.
(Jo 8, 30-34.59)

Foi chamado de "beberrão":

“O Filho do Homem vem, come e bebe, e dizem: É um comilão e beberrão, amigo dos publicanos e dos
devassos. Mas a sabedoria foi justificada por seus filhos”.”
(Mt 11,19)

É chamado de endemoninhado (servo do demônio), samaritano (havia um preconceito com quem


era advindo da Samaria), e que é um delirante (Louco):

Também os escribas, que haviam descido de Jerusalém, diziam: “Ele está possuído de Beelzebul: é pelo
príncipe dos demônios que ele expele os demônios”.
(Mc 3,22)

Por que procurais tirar-me a vida?”. Respondeu o povo: “Tens um demônio! Quem procura tirar-te a vida?”.
(Jo 7,20)

Responderam então os judeus: “Não dizemos com razão que és samaritano, e que estás possesso de um
demônio?”
(Jo 8,48)

Muitos deles diziam: “Ele está possuído do demônio. Ele delira. Por que o escutais vós?”.
111

(Jo 10, 20)

Tem seus pés enxugados pelos cabelos de uma prostituta (fato que tinha o potencial de ser visto
como uma provocação sexual):

“Uma mulher pecadora da cidade, quando soube que estava à mesa em casa do fariseu, trouxe um vaso de
alabastro cheio de perfume; e, estando a seus pés, por detrás dele, começou a chorar. Pouco depois, suas
lágrimas banhavam os pés do Senhor e ela os enxugava com os cabelos, beijava-os e os ungia com o perfume.
Ao presenciar isso, o fariseu, que o tinha convidado, dizia consigo mesmo: “Se este homem fosse profeta, bem
saberia quem e qual é a mulher que o toca, pois é pecadora”.
(Lc 7,36-39)

A vila de Betânia, distava cerca de 6 quilômetros de Jerusalém e era uma colônia de leprosos,
pois os que ficavam doentes pela lepra, em Jerusalém, iam viver em Betânia, lá vivia uma família
muito citada pelos Evangelhos, eram os Irmãos, Marta, Maria e Lázaro. Simão, o leproso, alguns
estudiosos dizem que ele era esposo de Marta. Seu irmão Lázaro, vai para Betânia e morre lá, o
contato de Jesus com leprosos é extremamente reprovável, pois os leprosos eram tidos como
impuros, havia inclusive uma lei que determinava que um leproso não podia se aproximar dos
sadios, se não os sadios eram tidos como impuros:

“Jesus se achava em Betânia, em casa de Simão, o leproso. Quando ele se pôs à mesa, entrou uma mulher
trazendo um vaso de alabastro cheio de um perfume de nardo puro, de grande preço, e, quebrando o vaso,
derramou-lhe sobre a cabeça.”
(Mc 14, 3)

“Lázaro caiu doente em Betânia, onde estavam Maria e sua irmã Marta. Maria era quem ungira o Senhor com o
óleo perfumado e lhe enxugara os pés com os seus cabelos. E Lázaro, que estava enfermo, era seu irmão.”
(Jo 11, 1-2)
Mas no dia em que se perceber nele a carne viva, será impuro; o sacerdote, vendo a carne viva, o declarará
impuro; a carne viva é impura; é a lepra.
(Lv 13, 14-15)

Falar com as mulheres, já era tido como um ato reprovável, ainda mais pelos religiosos, mas se
esta mulher fosse prostituta ou casada muitas vezes, este agravante era muito grave, e também,
os judeus não falavam som os samaritanos, era proibido, mas mesmo assim, Jesus conversa
com uma samaritana casada muitas vezes:
“Ora, devia passar por Samaria. Chegou, pois, a uma localidade da Samaria, chamada Sicar, junto das terras
que Jacó dera a seu filho José. Ali havia o poço de Jacó. E Jesus, fatigado da viagem, sentou-se à beira do poço.
Era por volta do meio-dia. Veio uma mulher da Samaria tirar água. Pediu-lhe Jesus: “Dá-me de beber”. (Pois
os discípulos tinham ido à cidade comprar mantimentos.) Aquela samaritana lhe disse: “Sendo tu judeu, como
pedes de beber a mim, que sou samaritana!...”. (Pois os judeus não se comunicavam com os
samaritanos.) ... 16Disse-lhe Jesus: “Vai, chama teu marido e volta cá”. A mulher respondeu: “Não tenho marido.”
Disse Jesus: “Tens razão em dizer que não tens marido. Tiveste cinco maridos, e o que agora tens não é teu.
Nisso disseste a verdade”.
(Jo 4, 4-9. 17-18)

Por fim, Jesus é crucificado pelos judeus e pelos romanos, o que pela lei judaica, o qualificava
como um amaldiçoado por Deus:
“pois aquele que é pendurado é um objeto de maldição divina.”
(Dt 21,23b)
Cristo remiu-nos da maldição da Lei, fazendo-se por nós maldição, pois está escrito: Maldito todo aquele que é
suspenso no madeiro (Dt 21,23).
112

(GI 3,13)
❖ Os autores do NT incluíram as exigências de Jesus:

"Mas eu lhes digo: Qualquer que olhar para uma mulher para desejá-la, já cometeu adultério com ela no seu
coração."
(Mt 5,28)

"Mas eu lhes digo que todo aquele que se divorciar de sua mulher, exceto por imoralidade sexual, faz que ela se
torne adúltera, e quem se casar com a mulher divorciada estará cometendo adultério."
(Mt 5,32)

"Mas eu lhes digo: Não resistam ao perverso. Se alguém o ferir na face direita, ofereça-lhe também a outra. E se
alguém quiser processá-lo e tirar-lhe a túnica, deixe que leve também a capa. Se alguém o forçar a caminhar
com ele uma milha, vá com ele duas. Dê a quem lhe pede, e não volte as costas àquele que deseja pedir-lhe algo
emprestado."
(Mt 5, 39-42)

"Mas eu lhes digo: Amem os seus inimigos e orem por aqueles que os perseguem, para que vocês venham a ser
filhos de seu Pai que está nos céus."
(Mt 5, 44-45)

"Sejam perfeitos como perfeito é o Pai celestial de vocês."


(Mt 5,48)

"Não acumulem para vocês tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem destroem, e onde os ladrões
arrombam e furtam. Mas acumulem para vocês tesouros nos céus, onde a traça e a ferrugem não destroem, e
onde os ladrões não arrombam nem furtam. Pois onde estiver o seu tesouro, aí também estará o seu coração"
(Mt 6, 19-21)
"Não julguem, para que vocês não sejam julgados. Pois da mesma forma que julgarem, vocês serão julgados; e
a medida que usarem, também será usada para medir vocês."
(Mt 7,1-2)

❖ Os autores do NT fizeram uma clara distinção entre as palavras de Jesus e as deles e por
que tal distinção nos serve de evidência da fidedignidade do Novo Testamento?

Porque teria sido muito fácil para os autores do NT resolverem as disputas teológicas do século I
colocando palavras na boca de Jesus. Além do mais, se você estivesse inventando a "história do
cristianismo" e tentando fazê-lo passar por verdade, não simplesmente inventaria mais citações
de Jesus para convencer as pessoas teimosas a verem as coisas do seu modo? Pense em quão
conveniente teria sido para eles terminar todo debate ou controvérsia em torno de questões como
circuncisão, obediência à Lei Mosaica, falar em línguas, mulheres na igreja e assim por diante
simplesmente inventando citações de Jesus!

Sem falar que facilitaria muito a anexação, por parte do Concílio de Hipona, dos apócrifos, pois a
grande maioria deles faz exatamente isso, são histórias fictícias por que favorecem muito
determinados discursos e ideias teológicas divergentes na época.

❖ Os autores do NT incluíram fatos relacionados à ressurreição que eles não poderiam ter
inventado:

O sepultamento de Jesus: Os autores do NT registram que Jesus foi sepultado por José de
Arimatéia, um membro do Sinédrio, o conselho do governo judaico que sentenciou Jesus à morte
por blasfêmia. Esse não é um fato que poderiam ter inventado. Considerando a amargura que
certos cristãos guardavam no coração contra as autoridades judaicas, por que eles colocariam
113

um membro do Sinédrio de maneira tão positiva? E por que colocariam Jesus na sepultura de
uma autoridade judaica? Se José não sepultou Jesus, a história teria sido facilmente exposta
como fraudulenta pelos inimigos judaicos do cristianismo. Mas os judeus nunca negaram a
história, e jamais se encontrou uma história alternativa para o sepultamento de Jesus.

As primeiras testemunhas: Todos os quatro evangelhos dizem que as mulheres foram as


primeiras testemunhas do túmulo vazio e as primeiras a saberem da ressurreição. Uma dessas
mulheres era Maria Madalena, que Lucas admite ter sido uma mulher possuída por demônios:

“Os Doze estavam com ele, como também algumas mulheres que tinham sido livradas de espíritos malignos e
curadas de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual tinham saído sete demônios.”
(Lc 8,2)

Isso jamais teria sido inserido numa história inventada. Uma pessoa possessa por demônios já
seria uma testemunha questionável, mas as mulheres em geral não eram sequer consideradas
testemunhas confiáveis naquela cultura do século I.

A conversão dos sacerdotes: "Por que o Jesus ressurreto não apareceu aos fariseus?" é uma
pergunta popular feita pelos céticos. A resposta pode ser porque não teria sido necessário. Isso é
normalmente desprezado, mas muitos sacerdotes de Jerusalém tornaram-se cristãos. Lucas
escreve:

"Crescia rapidamente o número de discípulos em Jerusalém; também um grande número de sacerdotes


obedecia à fé”
(At 6,7)

Esses sacerdotes terminaram dando início a uma controvérsia que aconteceu posteriormente na
igreja de Jerusalém. Durante uma reunião do Concílio de Jerusalém São Pedro, São Paulo, São
Tiago e outros presbíteros:

"se levantaram alguns do partido religioso dos fariseus que haviam crido e disseram: 'É necessário circuncidá-
los [os gentios] e exigir deles que obedeçam à Lei de Moisés'”
(At 15,5)

Ademais, se de fato os sacerdotes judeus não tivessem sido incluídos nos textos, facilmente
poderiam ser ignorados nas divergências teológicas dos próximos séculos.

A explicação dos judeus: A explicação judaica para o túmulo vazio é registrada no último
capítulo de São Mateus:

“Enquanto elas voltavam, alguns homens da guarda já estavam na cidade para anunciar o acontecimento aos
príncipes dos sacerdotes. Reuniram-se estes em conselho com os anciãos. Deram aos soldados uma importante
soma de dinheiro, ordenando-lhes: “Vós direis que seus discípulos vieram retirá-lo à noite, enquanto
dormíeis. Se o governador vier a sabê-lo, nós o acalmaremos e vos tiraremos de dificuldades”. Os soldados
receberam o dinheiro e seguiram suas instruções. E essa versão é ainda hoje espalhada entre os judeus.”
(Mt 28, 11-15)

Note que São Mateus deixa bastante claro que seus leitores já sabiam sobre essa explicação dos
judeus para o túmulo vazio porque "esta versão se divulgou entre os judeus até o dia de hoje".

Isso significa que os leitores de São Mateus (e certamente os próprios judeus) saberiam se ele
estava ou não dizendo a verdade. Se São Mateus estava inventando a história do túmulo vazio,
por que daria a seus leitores uma maneira tão simples de expor suas mentiras? A única
114

explicação plausível é que o túmulo deve ter realmente ficado vazio, e os inimigos judeus do
cristianismo devem realmente ter espalhado essa explicação específica para o túmulo vazio (de
fato, São Justino Mártir e Tertuliano, escrevendo respectivamente nos anos 150 d.C. e 200 d.C.,
afirmam que as autoridades judaicas continuaram a propagar essa história do roubo durante todo
o século II.

❖ Os autores do NT incluíram em seus textos, pelo menos, 30 pessoas historicamente


confirmadas:

Os documentos do NT não podem ter sido inventados porque eles contêm muitas personagens
confirmadas historicamente. Os autores do NT teriam minado sua credibilidade diante dos
ouvintes e leitores contemporâneos ao envolverem pessoas reais numa ficção, especialmente
pessoas de grande notoriedade e poder.

Não há maneira de os autores do NT terem seguido adiante escrevendo mentiras descaradas


sobre Pilatos, Caifás, Festo, Félix e toda a linhagem de Herodes. Alguém os teria acusado por
terem envolvido falsamente essas pessoas em acontecimentos que nunca ocorreram. Os autores
do NT sabiam disso e não teriam incluído tantas pessoas reais de destaque numa ficção que
tinha o objetivo de enganar. Mais uma vez, a melhor explicação é que os autores do NT
registraram precisamente aquilo que viram.

❖ Os autores do NT incluíram detalhes divergentes:

Os críticos são rápidos em citar os relatos aparentemente contraditórios dos evangelhos como
uma evidência de que não são dignos de confiança em informação precisa.

São Mateus diz, por exemplo, que havia um anjo no túmulo de Jesus, enquanto São João
menciona a presença de dois anjos. Não seria isso uma contradição que derrubaria a
credibilidade desses relatos?

Não, mas exatamente o oposto é verdadeiro: detalhes divergentes, na verdade, fortalecem a


questão de que esses são relatos feitos por testemunhas oculares. Duas testemunhas oculares
independentes raramente veem todos os mesmos detalhes e descrevem um fato exatamente com
as mesmas palavras.

Elas vão registrar o mesmo fato principal (Jesus ressuscitou dos mortos), mas podem diferir nos
detalhes (quantos anjos havia no túmulo). De fato, quando um juiz ouve duas testemunhas que
dão testemunho idêntico, palavra por palavra, o que corretamente presume? CONLUIO — as
testemunhas encontraram-se antecipadamente para que suas versões do fato concordassem.

E existem dezenas de divergências deste tipo nos relatos dos Evangelhos e inclusive nas cartas
de São Paulo. Até algumas questões aparentemente contraditórias do ponto de vista teológico
como a divergência de fé e obras. Se os cristãos da Igreja primitiva tivessem inventado tudo, tais
divergências seriam impossíveis, e se existem, é por que estamos lidando com um relato real.

❖ Os autores do NT desafiam seus leitores a conferir os fatos verificáveis, até mesmo fatos
sobre milagres:

Destaca-se a declaração aberta de precisão feita por São Lucas a Teófilo:

“Muitos empreenderam compor uma história dos acontecimentos que se realizaram entre nós, como no-los
transmitiram aqueles que foram desde o princípio testemunhas oculares e que se tornaram ministros da
palavra. Também a mim me pareceu bem, depois de haver diligentemente investigado tudo desde o princípio,
escrevê-los para ti segundo a ordem, excelentíssimo Teófilo.”
115

(Lc 1.1-4)
A afirmação de Pedro de que não seguiram fábulas engenhosamente inventadas, mas que foram
testemunhas oculares da majestade de Cristo:

“Na realidade, não é baseando-nos em hábeis fábulas imaginadas que nós vos temos feito conhecer o poder e a
vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, mas por termos visto a sua majestade com nossos próprios olhos.”
(2Pe 1,16)

A ousada declaração de São Paulo a Festo e ao rei Agripa sobre Cristo ressuscitado:

“Paulo, então, respondeu: “Não estou louco, excelentíssimo Festo, mas digo palavras de verdade e de
prudência. Pois dessas coisas tem conhecimento o rei, em cuja presença falo com franqueza. Sei que nada disso
lhe é oculto, porque nenhuma dessas coisas se fez ali ocultamente”.”
(At 26,25-26)

“A reafirmação de São Paulo de um antigo credo que identificou mais de 500 testemunhas
oculares do Cristo ressurreto:

“Depois apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma vez, dos quais a maior parte ainda vive (e alguns já são
mortos).”
(1 Co 15,6)

São Paulo faz outra afirmação aos cristãos de Corinto que nunca teria feito a não ser que
estivesse dizendo a verdade. Ele declara que anteriormente realizara milagres entre eles.
Falando de suas qualificações como apóstolo, ele relembra aos cristãos de Corinto:

“Os sinais distintivos do verdadeiro apóstolo se realizaram em vosso meio com uma paciência a toda prova, de
sinais, prodígios e milagres.”
(2Cor 12,12).

Por que Paulo escreveria isso aos cristãos de Corinto a não ser que realmente tivesse realizado
os milagres entre eles? Ele teria destruído sua credibilidade completamente ao pedir que se
lembrassem de milagres que nunca realizara diante deles, ou teria prejudicado todos os cristãos
ao mencionar em uma carta algo que não tivesse acontecido.

❖ Os autores do NT descrevem milagres da mesma forma que descrevem outros fatos


históricos: por meio de um relato simples e sem retoques;

Detalhes embelezados e extravagantes são fortes sinais de que um relato histórico tem
elementos lendários, pois denuncia a existência de um narrador onisciente, um exemplo disso, é
a biografia de Alexandre, o Grande:

Antes da noite em que se fecharam no quarto nupcial, a jovem sonhou que trovejava e o raio
caía sobre seu ventre alumiando um grande fogo, qual, dividindo-se em chamas que se
propagavam para todos os lados, finalmente se extinguiu. Por sua vez, Filipe, algum tempo
depois do casamento, viu-se a si mesmo, em sonho, selando o ventre da esposa, e pareceu-lhe
que o selo trazia a marca de um leão. [...] Aristandro de Telmesso foi o único a declarar que a
jovem estava grávida, pois ninguém põe selos em recipientes vazios, e daria à luz um menino
cheio de coragem, da natureza do leão.
(Plutarco, Vida de Alexandre, 2.3-5)

No exemplo, podemos constatar que de fato Alexandre nasceu, mas o autor, notadamente quer
atribuir uma importância profética, espetacular e maravilhosa à concepção da figura política
nacional da Grécia e atribuir-lhe uma importância e status dignos de um mito.
116

Outro exemplo, agora, tirado dos apócrifos cristãos, leia com atenção esta narrativa da
Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo:

“E bem cedo, ao amanhecer o sábado, uma grande multidão veio de Jerusalém e das redondezas
para ver o sepulcro selado. Mas durante a noite que precedia o domingo, enquanto os soldados
estavam fazendo a guarda de dois a dois, uma grande voz produziu-se no céu. E viram os
céus abertos e dois homens que desciam, tendo à sua volta um grande resplendor, e
aproximaram-se do sepulcro. E aquela pedra que haviam colocado sobre a porta rolou com o
seu próprio impulso e pôs-se de lado, com o que o sepulcro ficou aberto, e ambos os jovens
entraram. Então, ao verem isto, aqueles soldados despertaram o centurião e os anciãos, já que
estes encontravam-se ali fazendo a guarda. E, estando eles explicando o que acabara de
acontecer, viram três homens que saíam do sepulcro, dois dos quais servindo de apoio a um
terceiro, e uma cruz que ia atrás deles. E a cabeça dos dois primeiros chegava até o céu,
enquanto a daquele que era conduzido por eles ultrapassava os céus. E ouviram uma voz
vinda dos céus que dizia: "Pregaste para os que dormem?". E da cruz fez-se ouvir uma
resposta: "Sim“” (Evangelho de São Pedro 2, 34-42 +/- 400 d.C.).

Repare que o texto é narrado, como se houvesse um observador, capaz de estar em vários
lugares ao mesmo tempo, capaz de medir a altura do Céu e de vislumbrar uma grandeza, que o
próprio texto passa como incomensurável, eis o narrador onisciente, que denuncia o texto ser
mitológico e fantasioso. Claro que está narrando um fato, porém, se não tivéssemos os
Evangelhos Canônicos e a garantia de sua historicidade, e este fosse o único testemunho da
ressurreição, descrito mais de 300 anos após o fato, ficaria claro que a ressurreição tratava-se de
uma mitologia. Este não é o caso.

❖ Os autores do novo testamento abandonaram suas crenças e práticas sagradas de longa


data, adotaram novas crenças e práticas e não negaram seu testemunho sob perseguição
ou ameaça de morte:

Os documentos do NT não dizem simplesmente que Jesus realizou milagres e ressuscitou dos
mortos, na verdade, eles apoiam esse testemunho com ação dramática. Em primeiro lugar,
praticamente da noite para o dia, abandonaram muitas de suas crenças e práticas sagradas há
muito tempo consideradas. Entre as diversas práticas instituídas num período de mais de 1.500
anos. E não são apenas os autores do NT que fazem isso, mas milhares de judeus de Jerusalém,
dentre eles sacerdotes fariseus, convertem-se ao cristianismo e juntam-se aos autores do NT ao
abandonarem essas práticas e crenças tão valorizadas.

Como você explica essas mudanças monumentais se os autores do NT estavam inventando uma
história? Como você as explica se a ressurreição de Jesus não aconteceu? Em segundo lugar,
não apenas esses novos cristãos abandonaram suas crenças e práticas há muito prezadas, mas
também adotaram algumas outras bastante radicais:

1. Domingo, um dia de trabalho, como o novo dia de adoração, abandonando completamente


o Sábado, o dia mais importante para o povo judeu;

2. O batismo como um novo sinal de que alguém era participante da nova aliança,
renunciando a circuncisão, sinal da aliança com Abraão;

3. Admissão das mulheres à dignidade dos homens, até hoje, os judeus masculinos
agradecem a Deus por terem nascido homens;

4. A comunhão (Eucaristia) é especialmente inexplicável a não ser que a ressurreição de


Jesus seja verdadeira. Por que os judeus inventariam uma prática na qual
SACRAMENTALMENTE comiam o corpo e bebiam o sangue de Jesus? Como sabemos
117

os discípulos ficavam constrangidos com esta parte da doutrina, mesmo assim, ela perdura
até hoje:

“Quem come a minha carne e bebe o meu sangue


permanece em mim e eu nele. Assim como o Pai que me
enviou vive, e eu vivo pelo Pai, assim também aquele que
comer a minha carne viverá por mim. Este é o pão que
desceu do céu. Não como o maná que vossos pais comeram
e morreram. Quem come deste pão viverá eternamente”.
Tal foi o ensinamento de Jesus na sinagoga de Cafarnaum.
Muitos dos seus discípulos, ouvindo-o, disseram: “Isto é
muito duro! Quem o pode admitir?”. Sabendo Jesus que os
discípulos murmuravam por isso, perguntou-lhes: “Isso vos
escandaliza? Que será, quando virdes subir o Filho do
Homem para onde ele estava antes?... O espírito é que
vivifica, a carne de nada serve. As palavras que vos tenho dito
são espírito e vida. Mas há alguns entre vós que não
creem...”. Pois desde o princípio Jesus sabia quais eram os
que não criam e quem o havia de trair. Ele prosseguiu: “Por
isso, vos disse: Ninguém pode vir a mim, se por meu Pai não
lho for concedido”. Desde então, muitos dos seus discípulos
se retiraram e já não andavam com ele.”
(Jo 6,66)

5. A crença na ressurreição já era comum entre os judeus, porém, sua pregação era
complicada, até São Paulo, em Atenas teve dificuldade no seu diálogo com os Estoicos e
Epicuristas. Os filósofos estavam dispostos a acreditar na doutrina cristã, porém, a
ressurreição era uma pedra de tropeço para eles, mas a resposta de São Paulo é taxativa:

“Se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé [...] E se Cristo não ressuscitou, é
inútil a vossa fé, e ainda estais em vossos pecados.”
(1Cor 15,14.17)

6. Os autores do NT (Mateus, Marcos, Lucas, João, Paulo, Pedro, Tiago e Judas Tadeu)
sofreram perseguição e morte quando poderiam salvar-se ao renunciar aquilo que
pregavam.

Se tivessem inventado a história da ressurreição de Jesus, certamente teriam dito isso quando
estavam prestes a ser crucificados (Pedro), apedrejados (Tiago) ou decapitados (Paulo).

Mas nenhum deles abjurou, 11 dos doze apóstolos foram martirizados por sua fé (o único
sobrevivente foi João, enviado para o exílio na ilha grega de Patmos) e São Paulo foi
decapitado. Por que morreriam por uma reconhecida mentira?

Então, aqui surge uma questão interessante, levantada nos tempos modernos: Então os
“Mártires” terroristas, então estão certos, pois estes são suas vidas pela fé islâmica?

De modo geral, a modernidade, acusa qualquer pessoa que dê sua vida por uma causa de
fanatismo e fundamentalismo, não precisa ser religioso, basta ser uma voz dissonante do
discurso politicamente correto da maioria (estratégia de manipulação de massas), como vimos
recentemente no “debate” sobre a eficácia das vacinas contra o COVID-19, então, não importa a
religião, sejam cristãos, muçulmanos, hindus, budistas ou alguém de qualquer outra crença,
receberá o rótulo de fanático ou “negacionista”.
118

Mas a diferença fundamental entre os cristãos e todas as demais religiões é que o Evangelho, é
para os cristãos, algo pelo qual se dá a vida e não algo pelo qual se tira a vida. A fé cristã
considera a vida sagrada, a qual não se tira por causa de fé ou doutrina, mas pela qual se morre
para provar que não há valor maior do que a Salvação da alma.

Cruzadas, inquisições, perseguições aos judeus, guerra entre católicos e protestantes, pena de
morte em países “cristãos”. Tudo isso teve início depois do século V, as cruzadas só no Século
XI. Os motivos de tais acontecimentos precisam ser muito bem contextualizados, para evitarmos
o anacronismo, por isso a ciência história e a investigação arqueológica faz-se importante, mas
nenhum destes eventos, hoje muito bem superados, coloca em questão a veracidade dos fatos
narrados no NT, apenas colocam em questão, a prática dos que se dizem cristãos, bem como a
sua fidelidade à mensagem cristã.

A Igreja Católica não nega os excessos e erros históricos cometidos por católicos, mas tais erros,
NUNCA foram incorporados à Doutrina da Igreja. Diferente de todas as demais religiões, inclusive
no protestantismo.

6º. DEGRÃU: Ã SÃ DOUTRINÃ DÃ SÃLVÃÇÃO E Ã UNICÃ


REVELÃÇÃO CONHECIDÃ
No tempo que passei em Moçambique, tive contato direto com a fé muçulmana, a fidelidade do
que se propõem a vive-la, fiz amigos muito queridos, os quais não trocaria por amigos cristãos ou
mesmo católicos, respeito a fé muçulmana, assim como a fé protestante, pois também tenho
amigos protestantes e queridos ao coração, os quais, convertendo-se ou não em católicos, rezo
ao Senhor, por intercessão de Nossa Senhora, que um dia nós estejamos juntos no Céu, como
irmãos e unidos pela graça de Deus.
Dito, isto, vamos nos localizar historicamente, desde o início do Islã, por volta do século VII,
muçulmanos e católicos se enfrentaram em épicas batalhas, onde ambos se diziam
representantes de Deus/Allah com o direito divino de instaurar neste mundo o Reino dos Céus.
Os católicos, com seus reinos teocráticos da cristandade e os muçulmanos com a Sharia, lei
muçulmana e a “guerra santa”.

Porém, já alguns séculos passados, deu-se início uma guerra cultural do Islã contra a Igreja.
Explorando suas fraquezas e seus “elos fracos” o islã conseguiu penetrar sua doutrina no seio da
Igreja e no final do século XVI, a onda anticatólica protestante, havia varrido a Europa e se
estendia pelo mundo todo com o Islamismo. 100% dos argumentos anticatólicos utilizados ainda
hoje contra a Igreja Católica, que se encontram nas palavras, vídeos e livros protestantes, são os
mesmos argumentos que no século VIII e IX, os muçulmanos usavam para converter católicos ao
islã.

Toda esta propaganda anticatólica, culminou no racionalismo dos séculos XVII em diante.
Inúmeros pensadores, políticos, intelectuais, escritores, cientistas e o ateísmo passou a ser
encarado como uma visão científica, e de um lado estava o “obscurantismo da fé” e a “luz da
racionalidade”.

Os pensadores desta época, fundamentaram as bases da revolução francesa, para se ter noção
do tamanho do problema, cabe trazer a memória o padre Jean Meslier. Sacerdote católico
francês, falecido em 1729, estudioso e inicialmente crítico ao clero burguês, não encontrando
nenhuma sustentação histórica, filosófica ou teológica no protestantismo, ou no islã, sem ser
ouvido pelos seus superiores, e até sendo obrigado a permanecer em reclusão num seminário.
119

Ele é um símbolo de apostasia, anticristã e de como o clero daquela época estava decadente. Ele
e não Voltaire, é o autor da frase:

"O homem só será livre quando o último rei for enforcado nas tripas do último padre"
(Pe. Jean Meslier)

A revolução francesa, aboliu a fé, matando quase todos os religiosos, profanaram o Sacrário da
Catedral de Notre Dame, defecaram no altar, removeram as imagens medievais, a Cruz, e
colocaram no centro da igreja, a “deusa da razão”. Munidos pelo forte sentimento de revolta
contra a nobreza e do clero que abusava das benéficos materialistas, tivemos a batalha dos
materialistas ateus, contra os materialistas da fé.

Pensadores racionalistas como:

Ernest Renan (1823 - 1892), que mesmo sendo inicialmente católico, tendo recebido bolsa de
estudos no seminário, aprendendo o hebraico e por fim, exegese bíblica, tornando-se um notável
conhecedor das escrituras, mas que por fim, abdica e apostata, assumindo ser um ateu devoto
das ciências naturais. Fez várias incursões arqueológicas para fundamentar suas teses e escreve
“A vida de Jesus” e “História das origens do Cristianismo” onde rejeita toda visão sobrenatural e
mística da vida de Nosso Senhor.

Adolf von Harnack (1851 - 1930, de origem luterana, tornou-se um proeminente teólogo e
historiador do cristianismo, um crítico das “ideias” do cristianismo primitivo e estava convencido
de que os dogmas seriam invenção da Igreja para a manipulação da população, rejeitou
completamente a possibilidade de existirem milagres os quais classificou de ilusão.

Jean-Jacques Rousseau (1712 - 1778), de origem calvinista, convertido a católico na juventude


e depois retornando ao protestantismo, mais tarde, assume a postura agnóstica e por fim deísta,
foi proeminente intelectual, um dos pais das ciências humanas, defendia que a religião é um
processo civilizatório, mas apenas mitológico, negou os milagres e recebeu várias condenações
por parte das autoridades eclesiásticas.

François-Marie Arouet, pseudônimo Voltaire (1694 - 1778), foi um filósofo, escritos, ensaísta,
historiador e proeminente pensador representante do iluminismo, declaradamente anticlerical e
avesso aos dogmas religiosos, foi um ferrenho crítico da religião, mas assumiu ser deísta.
Também um crítico contumaz do absolutismo e ficou famoso como polemista satírico avesso à
Igreja Católica, foi de longe o autor que mais influenciou a revolução francesa, a frase de Jean
Meslier, foi erroneamente atribuída a ele por alguns historiadores, porém, suas “acidas” e
satíricas críticas à religião, à Igreja e aos padres, eram frequentemente citadas por Maximilien
Robespierre (1758 - 1794 - Lider político da revolução francesa) enquanto executava na
guilhotina padres, freiras e fiéis católicos por toda a França.

Burnett Hillman Streeter (1874 -1937), foi um teólogo anglicano, estudioso e crítico do Novo
Testamento, exegeta e autor de vários livros sobre o tema.

Brooke Foss Westcott (1825-1901) Fenton John Anthony Hort (1828-1892): Ambos clérigos e
teólogos protestantes, passaram décadas (25 anos) estudando os textos dos originais gregos dos
Evangelhos. Chegaram a publicar o Novo Testamento completo em grego, um compilado dos
mais de 5000 textos existentes em um único volume. Dois grandes representantes da Teologia
crítica.

Na verdade, dezenas de pensadores, teólogos, estudiosos, cientistas, historiadores, filósofos,


escritores, políticos e jornalistas debruçaram-se sobre os textos do Novo Testamento com o fim
de erradicar o que para eles era a superstição e obscurantismo religioso, principalmente os
120

representantes da Análise Crítica dos textos bíblicos, do Racionalismo Francês e do Iluminismo


filosófico.

Eis as suas conclusões:

“Em suma, admito como autênticos os quatro Evangelhos canônicos” (...) “Jesus Cristo nunca será
superado” (...) “no mais alto cimo da grandeza humana” (...) “superior em tudo aos seus
discípulos” (...) “princípio inesgotável de conhecimento moral, a mais alta” (...) “Nele se condensa
tudo quanto existe de bom e elevado em nossa natureza” (...) "A Igreja, esta grande fundação, foi
certamente a obra pessoal de Jesus. Para ter-se feito adorar até esse ponto, é necessário que ele
tenha sido digno de adoração". (Ernest Renan)

“O caráter absolutamente único dos Evangelhos é, hoje em dia, universalmente reconhecido pela
crítica (...) "a grandeza e a força da pregação de Jesus estão em que ela é, ao mesmo tempo, tão
simples e tão rica; tão simples, que está encerrada em cada um dos pensamentos fundamentais
por ela expressados, tão rico que cada um dos seus pensamentos parece inesgotável, dando-nos
a impressão de que jamais chegamos ao fundo de suas sentenças e parábolas". (Adolf von
Harnack)

“Os Evangelhos são, pela análise crítica, os que detém a mais privilegiada posição que existe.”
(Burnett Hillman Streeter)

“As sete oitavas partes do conteúdo verbal do Novo Testamento não admitem dúvida alguma. A
última parte consiste, preliminarmente, em modificações na ordem das palavras ou em variantes
sem significação. De fato, as variantes que atingem a substância do texto são tão poucas, que
podem ser avaliadas em menos da milésima parte do texto” (...) “Trabalhamos 50 anos febrilmente
para extrair pedras da cantaria que sirvam de pedestal à Igreja Católica?” (Brooke Foss Westcott e
Fenton John Anthony Hort)

“Eu, abaixo-assinado, declaro que, estando há quatro dias atacado de vômitos de zangue, na
idade de oitenta e quatro anos, não me pude arrastar até a igreja. O Sr. Cura de S. Sulpicio, então,
aos seus méritos anteriores quis acrescentar o de me enviar o Pe. Gaultier; confessei-me a ele. Se
Deus dispuser de mim, morrerei na santa Religião Católica, em que nasci, cheio da esperança de
que a santa misericórdia de Deus se digne apagar todas as minhas faltas; e, dado que alguma vez
tenha escandalizado a Igreja, peço perdão a Deus e a Ela”. (François-Marie Arouet – Voltaire, aos
84 anos)

"Se a vida e a morte de Sócrates são as de um sábio, a vida e a morte de Jesus Cristo são as de
um Deus". (Jean-Jacques Rousseau)

Todas estas citações podem ser encontradas no livro “Jesus Cristo é Deus?” do Pe. José Antônio
de Laburu, (ed. Loyola) um texto excelente que compila todas as citações dos grandes
racionalistas, que foram obrigados a reconhecer, não apenas a historicidade dos textos, mas a
veracidade deles, assim, com base nos grandes pensadores do Iluminismo francês, podemos
concluir que as consequências do Evangelho são verdadeiras.

Que consequências?

“Em verdade, em verdade vos digo: antes que Abraão fosse, eu sou (YHWH – Yahweh).”
(Jo 8,58)

A expressão “Eu Sou”, quer dizer em hebraico Yahweh, é o tetragrama sagrado, foi como Deus
se apresentou a Moisés:

“Deus disse ainda a Moisés: “Assim falarás aos israelitas: É Yahweh (YHWH), o Deus de vossos pais, o Deus de
Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó, quem me envia para junto de vós. Esse é o meu nome para sempre,
e é assim que me chamarão de geração em geração”.
(Ex 3,15)
121

Abraão, vosso pai, exultou com o pensamento de ver o meu dia. Viu-o e ficou cheio de alegria”.
(Jo 8,56)

A resposta dos ouvintes é de um absoluto espanto:

“Os judeus lhe disseram: ‘Não tens ainda cinquenta anos e viste Abraão!...’”
(Jo 8,56)

De fato, como Nosso Senhor Jesus Cristo, tendo apenas 33 anos, conheceu Abraão? A resposta
é simples:

“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus.”
(Jo 1,1)

Jesus de Nazaré, a quem até os racionalistas da Revolução Francesa reconheceram a divindade,


diante dos fatos, foi condenado pelos Judeus, por dizer, de si mesmo, que Ele é Deus:

“Os judeus responderam-lhe: “Não é por causa de alguma boa obra que te queremos apedrejar, mas por uma
blasfêmia, porque, sendo homem, te fazes Deus.”
(Jo 10,33)

Detalhe, é que Jesus poderia ter desmentido ou esclarecido, caso fosse alguma confusão, mas
ele não desmentiu, em momento algum Ele negou:

“Por esta razão os judeus, com maior ardor, procuram tirar-lhe a vida, porque não somente violava o repouso
do sábado, mas afirmava ainda que Deus era seu Pai e se fazia igual a Deus.”
(Jo 5,18)

7º. DEGRÃU: JESUS CRISTO,


FUNDOU/EDIFICOU/INSTITUIU SUÃ IGREJÃ
A história da Salvação é muito simples: Deus Criador, fez-se homem e ensinou os seres humanos
o que é ser humano, instituiu seus apóstolos (representantes) e garantiu que estes, por meio da
Igreja, nunca conduziriam ninguém para um caminho diferente da Salvação. Deixou uma doutrina
santa, capaz de penetrar até a profundidade da imortal e transformar o ser humano, pela ação da
Graça de Deus, em Filhos de Deus.

Vejamos primeiro o que as Escrituras ensinam sobre a SÃ DOUTRINA DA SALVAÇÃO no Antigo


Testamento, depósito das promessas que se realizaram no Novo Testamento:

"Derrame-se como chuva a minha doutrina, espalhe-se como orvalho a minha palavra, como aguaceiro
sobre os campos verdejantes, como chuvarada sobre a relva.”
(Dt 32, 2)

"Aquele que teme o Senhor aceitará sua doutrina, aqueles que vigiam para procurá-lo serão por ele
abençoados.”
(Eclo 32, 18)

"Ensinará ele próprio o conhecimento de sua doutrina. Porá sua glória na Lei da aliança do Senhor.”
(Eclo 39, 11)
122

"Ouvi, filhos meus, a instrução de um pai; sede atentos, para adquirir a inteligência, porque é a SÃ
DOUTRINA que eu vos dou; não abandoneis o meu ensino. Fui um verdadeiro filho para meu pai, terno e
amado junto de minha mãe."
(Pv 4, 1-3)

Existem muitos textos no AT que prometem que Deus iria salvar o Seu povo, estes são alguns
deles. Por eles podemos concluir que, faz parte da intenção de Deus, além de resgatar o Povo de
Israel, resgatar todos os povos, pois, se Ele iria derramar sua Doutrina como chuva, significa que
sua salvação é para todos, pois as chuvas caem sobre todos, independente de religião ou cultura.

A comparação com o orvalho e o aguaceiro, remete a continuidade do derramamento das águas,


que no caso é a Doutrina de Deus, que será aceita por aqueles que vigiam na procura pelo
Senhor e que o temem. O temor, não é “ter medo de Deus” mas sim, saber que o Senhor é digno
de respeito e a Ele devemos tudo que temos e somos, por isso, tememos “perde-lo”, não por Ele
se afastar de nós, mas de nós nos afastarmos Dele.

O terceiro texto, deixa claro que o próprio Deus será o professor, o mestre o profeta e educador,
que Ele trataria a todos que acolhessem sua doutrina como filhos, pois filho é aquele que ouve o
que o Pai ensina.

E o que Nosso Senhor Jesus Cristo ensinou sobre a Sã Doutrina da Salvação no Novo
Testamento?

"Quando Jesus terminou o discurso, a multidão ficou impressionada com a sua doutrina.”
(Mt 7, 28)

"E ensinava-lhes muitas coisas em parábolas. Dizia-lhes na sua doutrina.”


(Mc 4, 2)

"Maravilharam-se da sua doutrina, porque ele ensinava com autoridade.”


(Lc 4, 32)

"Respondeu-lhes Jesus: “A minha doutrina não é minha, mas daquele que me enviou.”
(Jo 7, 16)

O discurso de Jesus era algo impressionante, pois além de ser uma novidade boa (=Evangelho,
Boa Nova), o modo como ensinava, era com autoridade. Existem dois modos de ensinar alguém,
pela autoridade e pelo poder. O poder é um pedagogo muito ineficiente, pois ele parte do medo
das pessoas, e o que está sendo aprendido, precisa ser assimilado caso contrário, quem não
aprender irá perder alguma coisa, o poder só pode ser exercido, obviamente por quem tem poder,
seja econômico, militar ou político sobre os outros. Um professor em uma escola, tem poder
político, ele está ali representando o estado ou a família do aluno, que não tem outra opção, ele
precisa estar ali.

Já a autoridade, é um poder moral sendo exercido. Jesus demonstra sua justiça, Ele não apela ao
medo, pois ele parte do princípio de que todos nós já estamos perdidos por causa dos nossos
pecados, então, Ele trás a esperança de sermos salvos, pelo perdão dos pecados e por meio do
aprendizado e a prática de Sua doutrina. Ele admite que a Sua doutrina, não é Dele, mas
“Daquele” que O enviou, e quem o enviou foi o Pai, Ele se colocando como Filho deste Pai.

"Perseveravam eles na doutrina dos apóstolos, nas reuniões em comum, na fração do pão e nas orações.”
(At 2, 42)
123

"À vista desse prodígio, o procônsul abraçou a fé, admirando vivamente a doutrina do Senhor.”
(At 13, 12)

"Eu persegui de morte essa doutrina, prendendo e metendo em cárceres homens e mulheres.”
(At 22, 4)

"Reconheço na tua presença que, segundo a doutrina que eles chamam de sectária, sirvo a Deus de nossos
pais, crendo em todas as coisas que estão escritas na Lei e nos profetas.”
(At 24, 14)"

O Livro de Atos dos Apóstolos, narra as ações da Igreja recém nascida em Pentecostes e como
iniciaram a viver a Sã Doutrina, os discípulos, agora apóstolos, na prática. Vemos que esta
Doutrina, que era chamada “do Senhor” agora, é chamada “dos Apóstolos”, por isso, a fé que
nasceu na Igreja Primitiva, é chamada “Fé Apostólica” ou melhor, a própria Igreja nascente, pode
ser chamada de Igreja Apostólica.

Repare ainda que os fiéis à Doutrina dos Apóstolos, perseveravam na reunião em comum e na
“Fração do pão”, este termos é interessante, pois remete à última ceia, onde Jesus fracionou o
pão, e distribuiu, ordenando que os discípulos fizessem isso, em memória Dele, e aqui,
constatamos que eles obedeceram. Fração do Pão, é o primeiro nome dado à Santa Missa.

“Essa doutrina” é “a doutrina” e “a doutrina do Senhor”, o conjunto de informações teórico-práticas


que Jesus ensinou e que os apóstolos reproduziram, inicialmente apenas oralmente e depois, por
meio de cartas.

Graças a Deus, porém, que, depois de terdes sido escravos do pecado, obedecestes de coração à regra da
doutrina na qual tendes sido instruídos.”
(Rm 6, 17)

"Repito aqui o que acabamos de dizer: se alguém pregar doutrina diferente da que recebestes, seja ele
excomungado!”
(Gl 1, 9)

"Recomenda esta doutrina aos irmãos, e serás bom ministro de Jesus Cristo, alimentado com as palavras da fé
e da sã doutrina que até agora seguiste com exatidão.”
(I Tm 4, 6)

"Porque virá tempo em que os homens já não suportarão a SÃ DOUTRINA DA SALVAÇÃO. Levados pelas
próprias paixões e pelo prurido de escutar novidades, ajustarão mestres para si.”
(II Tm 4, 3)

"Todo aquele que caminha sem rumo e não permanece na doutrina de Cristo não tem Deus. Quem
permanece na doutrina, este possui o Pai e o Filho.”
(II Jo 1, 9)

"Se alguém vier a vós sem trazer essa doutrina, não o recebais em vossa casa, nem o saudeis.”
(II Jo 1, 10)

“Por isso, deixemos agora as instruções elementares sobre Cristo e elevemo-nos ao ensinamento perfeito, sem
novamente pôr os alicerces: o arrependimento das obras mortas, a fé em Deus, a doutrina acerca dos
batismos, a imposição das mãos, a ressurreição dos mortos, o julgamento eterno. Eis o que faremos, se Deus o
permitir.”
(Hb 6, 1-2)
124

Nas cartas, vemos que a Doutrina é a regra de vida dos discípulos e apóstolos, à qual eles
obedecem “de coração”, ou seja, pelo livre exercício da vontade. Esta obediência é tamanha, que
a deturpação da doutrina, poderia render a “excomunhão” ou seja, a pessoa seria excluída da
comunidade, até que caísse em si e voltasse a compactuar, aceitar e se submeter à doutrina dos
apóstolos.

São Paulo e os demais apóstolos, ensinam a Doutrina, e chamam-na de “Alimento”, ou seja, são
apenas palavras e um discurso que alimentam de forma integral, alimentam o físico pela “fração
do pão”, alimentam o mental (psico-afetivo) pelo convivido dos irmãos nas reuniões, e alimentam
o espírito (intelecto/alma espiritual).

A segunda Carta de São Paulo à Timótio, ele alerta e faz uma profecia, dizendo que no futuro, a
Sã Doutrina da Salvação, seria rejeitada, e que os homens, já não a suportarão, pois serão
arrastados pelas “paixões”, ou seja, pelos sentimentos e São João em sua segunda carta,
complementa, dizendo que aquele que não caminha na “Doutrina de Cristo” está caminhando
sem rumo, e ainda sinaliza, que existem aqueles que ensinam outras doutrinas, mas que estes
não devem ser recebidos, é necessário ter fidelidade a esta doutrina.

Já na carta aos Hebreus, cujo autor é desconhecido, vemos que já naquele tempo, havia uma
Doutrina acerca do Batismo e da Imposição das mãos (Sacramento da Ordem), ou seja, um modo
específico, um ritual/liturgia própria para realizar estes sacramentos. O texto sinaliza ainda à
confissão, mencionando o arrependimento das “obras mortas” (que alude ao pecado mortal), faz
referência também a alguns tópicos do nosso Credo, como a ressurreição dos mortos e o
julgamento eterno.

Aqui, faz-se importante trazermos o texto fundante da Igreja, uma vez que vimos que o conteúdo
desta Igreja, é a Sã Doutrina da Salvação, quando foi que Nosso Senhor Jesus Cristo instituiu a
Igreja?

“Disse-lhes Jesus: “E vós quem dizeis que eu sou?” Simão Pedro respondeu: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus
vivo!”. Jesus, então, lhe disse: “Feliz és, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que te
revelou isto, mas meu Pai que está nos céus. E eu te declaro: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei A
MINHA IGREJA; as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus:
tudo o que (TU) ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que (TU) desligares na terra será desligado nos
céus”. Depois, ordenou aos seus discípulos que não dissessem a ninguém que ele era o Cristo. (ATENÇÃO)
Desde então, Jesus começou a manifestar a seus discípulos que precisava ir a Jerusalém e sofrer muito da parte
dos anciãos, dos príncipes dos sacerdotes e dos escribas; seria morto e ressuscitaria ao terceiro dia.”
(Mt 16, 15-20)

Jesus pergunta aos seus discípulos, quem Ele era, e Simão responde, professando uma fé que
até então, era desconhecida, muitos o chamavam de “o Messias”, que significa “Cristo”, ou
“Ungido/Escolhido”, porém, a associação de Ungido com Filho de Deus, é Simão que faz pela
primeira vez. Por isso, recebe do Senhor o elogio: “Não foi nem a carne e nem o sangue que te
revelou isto, mas meu Pai que está nos Céus”.

Deixa claro que esta Doutrina, a de que Jesus é Cristo e Filho de Deus, não vem de uma
conclusão de Simão, mas é uma revelação direta de Deus feita a ele. Então, Jesus após ver que
Simão o reconhece como Ele é, altera o nome de Simão, não com um outro nome, mas com um
nome que tem uma função, um cargo, que é “Pedro”.

Notemos que o texto escrito por São Mateus, está em grego, porém, Jesus falou em Aramaico,
pois se em grego e no português nós temos duas variações no texto “Pedro e Pedra”, o que pode
125

dar um sentido mais fraco, em Aramaico é apenas uma palavra: “Cefas”, que não tem a variante
feminina, significando rocha firme. Pedro, então, não é um nome, é um título e prova disso é que
São Paulo, ao se referir a Simão “Pedro”, ele traduz o termo Pedro para Cefas:

Três anos depois subi a Jerusalém para conhecer Cefas, e fiquei com ele quinze dias.
(Gl 1,18)

Ao contrário, viram que a evangelização dos incircuncisos me era confiada, como a dos circuncisos a
Pedro (porque aquele cuja ação fez de Pedro o apóstolo dos circuncisos fez também de mim o dos
pagãos). Tiago, Cefas e João, que são considerados as colunas, reconhecendo a graça que me foi dada, deram
as mãos a mim e a Barnabé em sinal de pleno acordo: iríamos aos pagãos, e eles aos circuncidados.
Recomendaram-nos apenas que nos lembrássemos dos pobres, o que era precisamente a minha intenção.
(Gl 2,9)

Se o termo Pedro/Cefas fosse apenas o “novo nome” de Simão, ele não traduziria o termo, pois
nomes não são traduzíveis. E se ele chamava assim a Simão, é porque Simão era conhecido
como sendo Cefas. A tradição chama Simão de São Pedro, exatamente porque é além de um
nome, um símbolo, um sacramental. Assim como o nome de Abrão é mudado para Abraão e de
Jacó para Israel, Simão tem seu nome não apenas “mudado” para Pedro, mas também tem sua
própria vida ressignificada, pois se pela carne, os descendentes de Abraão e Israel são o povo de
Deus, no AT, é pela fé de Pedro, que nós hoje somos Igreja.

“Se teu irmão tiver pecado contra ti, vai e repreende-o entre ti e ele somente; se te ouvir, terás ganho teu irmão.
Se não te escutar, toma contigo uma ou duas pessoas, a fim de que toda a questão se resolva pela decisão de
duas ou três testemunhas. Se recusa ouvi-los, dize-o À IGREJA. E se recusar ouvir também A IGREJA, seja ele
para ti como um pagão e um publicano. Em verdade vos digo: tudo o que ligardes sobre a terra será ligado no
céu, e tudo o que desligardes sobre a terra será também desligado no céu.”
(Mt 18, 15-18)

Num mundo pós cristão, relativista e secularizado, ver uma instituição com a Igreja,
excomungando seus membros dissidentes, pode parecer intolerância, porém, o que torna a
pessoa membro da Igreja, é justamente professar a fé de Pedro. Quem não professa, acredita ou
prega esta fé, não pode ser membro da Igreja. Mas o importante no texto é que deixa claro que
aquele que “se recusa ouvir também a Igreja” precisa ser excomungado, por caridade, para que
possa se arrepender e retornar. Pois é isso que um pagão e um publicano necessitam, de uma
evangelização para se tornarem Igreja.

Este texto demonstra que, já na Igreja primitiva, a Igreja era tida como uma instituição, não
apenas um agrupamento de pessoas, que precisa ter um determinado número de pessoas para
ter o seu valor, nada disso, a Igreja é uma instituição que possui uma Palavra e uma Fé e precisa
ser vista assim, caso contrário, com que autoridade São Mateus se referiria à Igreja, não sendo
esta uma instituição capaz de excomungar quem dela não faz parte?

“Todavia, se eu tardar, quero que saibas como deves portar-te na casa de Deus, que é A IGREJA DE DEUS vivo,
coluna e sustentáculo da verdade.”
(I Tm 3,15)

São Paulo, refere-se a Igreja, como sendo a “Coluna e Sustentáculo da Verdade”, é um título
extremamente importante, pois toda a Instituição, denominada Igreja, como a referência principal
da Verdade. Nosso Senhor Jesus Cristo, disse que Ele é a Verdade (Jo 14,6), e o mesmo São
Paulo diz que a Igreja e Jesus são um só, aludindo ao matrimônio:

“As mulheres sejam submissas a seus maridos, como ao Senhor, pois o marido é o chefe da mulher, como
Cristo é o chefe da Igreja, seu corpo, da qual ele é o Salvador. Ora, assim como a Igreja é submissa a Cristo,
126

assim também o sejam em tudo as mulheres a seus maridos. Maridos, amai as vossas mulheres, como Cristo
amou a Igreja e se entregou por ela, para santificá-la, purificando-a pela água do batismo com a palavra, para
apresentá-la a si mesmo toda gloriosa, sem mácula, sem ruga, sem qualquer outro defeito semelhante, mas
santa e irrepreensível. Assim os maridos devem amar as suas mulheres, como a seu próprio corpo. Quem ama
a sua mulher ama-se a si mesmo. Certamente, ninguém jamais aborreceu a sua própria carne; ao contrário,
cada qual a alimenta e a trata, como Cristo faz à sua Igreja – porque somos membros de seu corpo. Por isso, o
homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e os dois constituirão uma só carne (Gn 2,24). Esse mistério
é grande, quero dizer, com referência a Cristo e à Igreja.”
(Ef 5, 22-32)

“E sujeitou a seus pés todas as coisas, e o constituiu chefe supremo da Igreja”


(Ef 1, 23)

A Igreja é o corpo de Cristo, do mesmo modo que a Mulher é o corpo de seu Marido, e vice-versa.
O matrimônio espiritual de Jesus, é celebrado com cada indivíduo devidamente Batizado e em
estado de graça, porém, este mistério, se realiza na Igreja como um todo. Aquele que se
dispersa, que renuncia a fé, ou não concorda com a Igreja, não é membro de Cristo, é um
extraviado:

“Lembrai-vos de vossos dirigentes, que vos pregaram a palavra de Deus: considerando o fim de sua vida,
imitai-lhes a fé. Jesus Cristo é o mesmo, ontem, hoje e sempre. Não vos deixeis extraviar por qualquer
espécie de doutrina estranha.”
(Hb 13, 7-9a)

Já na Igreja primitiva, existiam doutrina estranhas ao Evangelho que acabavam por fazer desistir
da fé alguns, por isso o autor da Carta aos Hebreus, faz esta admoestação e o próprio São João,
na sua primeira carta define com uma nomenclatura única, que só existe nesta carta, quem, são
os que apostata, ou seja, sendo batizados renunciam a fé de Pedro:

“Filhinhos, esta é a última hora. Vós ouvistes dizer que o Anticristo vem. Eis que já há muitos anticristos, por
isso conhecemos que é a última hora. Eles saíram dentre nós, mas não eram dos nossos. Se tivessem sido dos
nossos, ficariam certamente conosco. Mas isso se dá para que se conheça que nem todos são dos nossos. Vós,
porém, tendes a unção do Santo e sabeis todas as coisas. Não vos escrevi como se ignorásseis a verdade, mas
porque a conheceis, e porque nenhuma mentira vem da verdade. Quem é mentiroso senão aquele que nega
que Jesus é o Cristo? Esse é o Anticristo, que nega o Pai e o Filho.”
(Ef 2, 18-22)

“Nisto se reconhece o Espírito de Deus: todo espírito que proclama que Jesus Cristo se encarnou é de
Deus; todo espírito que não proclama Jesus esse não é de Deus, mas é o espírito do Anticristo de cuja vinda
tendes ouvido, e já está agora no mundo.”
(Ef 4, 2-3)

Então, fica claro que a Igreja é uma instituição, na qual para se fazer parte, é imperativo que seja
professara, crida e propagada a fé desta mesma Igreja, a fé professada por São Pedro, que é
chamado pelo próprio Jesus, a confirmar os irmãos, naquela mesma fé por ele confessada:

“Simão, Simão, eis que Satanás vos reclamou para vos peneirar como o trigo; mas eu roguei por ti, para que a
tua fé não desfaleça; e tu, por tua vez, confirma os teus irmãos.” Pedro disse-lhe: “Senhor, estou pronto a ir
contigo tanto para a prisão como para a morte”. Jesus respondeu-lhe: “Digo-te, Pedro, não cantará hoje o galo,
até que três vezes hajas negado que me conheces”.
(Lc 22, 31-34)

E de fato, Simão nega o Senhor, quando este foi preso, porém, após a ressurreição, ao ver o
arrependimento de Simão, Jesus, renova o chamado de Simão:
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“Tendo eles comido, Jesus perguntou a Simão Pedro: “Simão, filho de João, amas-me mais do que estes?”.
Respondeu ele: “Sim, Senhor, tu sabes que te amo”. Disse-lhe Jesus: “Apascenta os meus
cordeiros”. Perguntou-lhe outra vez: “Simão, filho de João, amas-me?”. Respondeu-lhe: “Sim, Senhor, tu sabes
que te amo”. Disse-lhe Jesus: “Apascenta os meus cordeiros”. Perguntou-lhe pela terceira vez: “Simão, filho de
João, amas-me?”. Pedro entristeceu-se porque lhe perguntou pela terceira vez: “Amas-me?” –, e respondeu-lhe:
“Senhor, sabes tudo, tu sabes que te amo”. Disse-lhe Jesus: “Apascenta as minhas ovelhas. Em verdade, em
verdade te digo: quando eras mais moço, cingias-te e andavas aonde querias. Mas, quando fores velho,
estenderás as tuas mãos, e outro te cingirá e te levará para onde não queres”. Por essas palavras, ele indicava o
gênero de morte com que havia de glorificar a Deus. E depois de assim ter falado, acrescentou: “Segue-me!”.”
(Jo 21, 15-19)

Jesus, diz somente a Simão Pedro, que é “Cefas” em Aramaico, para apascentar os cordeiros ou
ovelhas de seu aprisco. Interessante também ver que São João, faz uma referência à morte de
São Pedro, mas não faz menção sobre a morte de nenhum dos outros discípulos que se
tornariam apóstolos, demonstrando que ainda na era apostólica, Simão Pedro, ou melhor, São
Pedro tem uma importância ímpar no colégio apostólico.

Outra coisa muito importante, é que algumas características específicas da Igreja, já podem ser
verificadas nos textos do NT, como vemos a seguir:

"Porque o bispo tem o dever de ser irrepreensível, casado uma só vez, sóbrio, prudente, regrado no seu
proceder, hospitaleiro, capaz de ensinar.”
(I Tm 3, 2)

"Porquanto é mister que o bispo seja irrepreensível, como administrador que é posto por Deus. Não arrogante,
nem colérico, nem intemperante, nem violento, nem cobiçoso.”
(Tt 1, 7)

"Não recebas acusação contra um presbítero, senão por duas ou três testemunhas.
(I Tm 5, 19)

"Paulo e Timóteo, servos de Jesus Cristo, a todos os santos em Jesus Cristo, que se acham em Filipos,
juntamente com os bispos e diáconos:
(Fp 1, 1)

"Do mesmo modo, os diáconos sejam honestos, não de duas atitudes nem propensos ao excesso da bebida e
ao espírito de lucro;
(I Timóteo 3, 8)

"Os diáconos não sejam casados senão uma vez, e saibam governar os filhos e a casa.
(I Timóteo 3, 12)

A Igreja já possuía uma hierarquia formada pelos Bispos (Supervisores), pelos Presbíteros (Idoso
digno de respeito) e pelos Diáconos (Ajudantes), exatamente como é a hierarquia da Igreja hoje
em dia.

"Naqueles dias, como crescesse o número dos discípulos, houve queixas dos gregos contra os hebreus, porque
as suas viúvas teriam sido negligenciadas na distribuição diária. Por isso, os Doze convocaram uma reunião dos
discípulos e disseram: “Não é razoável que abandonemos a PALAVRA DE DEUS, para administrar. Portanto,
irmãos, escolhei dentre vós sete homens de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, aos quais
encarregaremos deste ofício. Nós atenderemos sem cessar à oração e ao ministério da palavra”. Esse parecer
agradou a toda a reunião. Escolheram Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo; Filipe, Prócoro, Nicanor,
128

Timão, Pármenas e Nicolau, prosélito de Antioquia. Apresentaram-nos aos apóstolos, e estes, orando,
impuseram-lhes as mãos.”
(At 6, 1-6)

O detalhe deste texto, é que a Palavra de Deus é citada, porém, ainda não existia o Novo
Testamento nesta época, o que demonstra duas coisas, que a Palavra de Deus era transmitida,
de maneira oral, o que caracteriza a Tradição Oral (Sagrada Tradição Apostólica) dos Apóstolos
da Sã Doutrina da Salvação, e que a Igreja já tinha uma autoridade, antes mesmo de haver os
Evangelhos e o Novo Testamento, autoridade esta que lhe dá a legitimidade para instituir
hierarquias e que depois, lhe dará também a possibilidade de instituir o cânon bíblico. Ainda fica
evidente que o rito da Imposição das mãos (Ordenação Sacerdotal) é originário dos Apóstolos.

Conclusão: Jesus de Nazaré, é Deus, Ele fez-se carne e formou um colegiado de apóstolos,
nomeando São Pedro como o detentor das chaves do Reino dos Céus, instituindo sobre ele, o
título de Pedra (Cefas), Rocha firme de Sua própria Igreja. Esta Igreja é a Coluna e fundamento
da verdade e nunca será vencida pelo inferno. Jesus deixou Sua doutrina sob a tutela dos seus
apóstolos, os quais propagaram-na pelo mundo inteiro, instituindo uma hierarquia (Bispos,
Presbíteros e Diáconos), os quais, sucederam os apóstolos em uma linha sucessória que chegou
até os nossos dias. A Igreja deixada por Jesus, é a Igreja Católica, Apostólica e Romana, pois foi
onde São Pedro foi martirizado e é onde hoje, repousa seus restos mortais, ao lado dos restos
mortais de São Paulo, na Catedral de São Pedro.

Mas, o que prova que a Igreja de Cristo, é a Igreja Católica?

8º. DEGRÃU: Ã IGREJÃ DE CRISTO E Ã IGREJÃ CÃTOLICÃ


ÃPOSTOLICÃ ROMÃNÃ

Uma vez que temos conhecimento de que a Igreja precede as Sagradas Escrituras, e que os
Apóstolos ordenaram os Bispos pela imposição das mãos, dentre estes Bispos, um deles se
destaca, seu nome é Santo Inácio de Antioquia. Quem foi este Bispo de Antioquia?

Descendente de uma família pagã, não romana, Inácio converteu-se ao cristianismo em idade
avançada, graças à pregação de São João Evangelista. Santo Inácio foi o terceiro bispo de
Antioquia, na Síria, cidade que foi a terceira metrópole do mundo antigo, depois de Roma e
Alexandria, no Egito, e da qual o próprio São Pedro foi o primeiro bispo.

Santo Inácio de Antioquia era um Bispo forte, um pastor de zelo ardente, foi perseguido pelo
Imperador Trajano condenado a morte por não querer negar sua fé em Cristo. Por isso, foi preso
e transportado acorrentado para Roma. Assim, começou a sua longa viagem, rumo ao patíbulo,
durante a qual foi torturado pelos guardas, até chegar ao seu destino final.

Preso e condenado, Inácio foi conduzido acorrentado, de Antioquia à Roma, onde se


organizavam festas em homenagem ao imperador; e os cristãos serviam de espetáculo, no circo.
No Coliseu, seu corpo foi despedaçado pelas feras, durante as celebrações da vitória do
imperador na Dácia, no ano 107.

Durante sua viagem de Antioquia à Roma, Santo Inácio escreveu sete cartas. Nestas cartas, o
Bispo enviado à morte recomendava aos fiéis que fugissem do pecado; para se proteger contra
os erros dos gnósticos; sobretudo para manter a unidade da Igreja. As sete lindas cartas que
constituem um documento inimitável da vida da Igreja na época, ao chegar à Esmirna, escreveu
129

as quatro primeiras cartas, três das quais dirigidas às comunidades da Ásia Menor: aos Efésios,
Magnésios e Trálios. Nelas, ele expressa a sua gratidão pelas muitas demonstrações de carinho.

Na quarta carta, ao invés, foi dirigida à Igreja de Roma, na qual faz um apelo aos fiéis para não
impedirem seu martírio, do qual se sentia honrado, pela possibilidade de percorrer o caminho e a
Paixão de Jesus. De passagem por Trôade, Inácio escreveu outras três cartas: à Igreja da
Filadélfia, de Esmirna e ao seu Bispo, Policarpo. Em suas missivas, pedia a solidariedade
espiritual dos fiéis com a Igreja de Antioquia, que passava pelas provações do eminente destino
do seu pastor; ao Bispo Policarpo, ofereceu interessantes diretrizes de como cumprir a sua
função episcopal. Celebramos o seu dia em 17 de Outubro.

Iremos nos focar na Carta de Santo Inácio aos Esmirnenses, ela foi escrita por volta do ano 107
d.C. a proximidade das cartas de Santo Inácio com os escritos do NT, quase que serviram para
incluí-las no cânon do NT. Iremos trazer esta carta na íntegra para nosso aprofundamento na
comprovação de que a Igreja nascente, já no século I, era chamada de Igreja Católica:

CARTA DE SANTO INÁCIO AOS ESMIRNENSES (SÉC. I)

Saudação:

Inácio, também chamado Teóforo, À IGREJA DE DEUS Pai e de Jesus Cristo amado, Igreja que encontrou
misericórdia em todo dom da graça, repleta de fé e amor, sem que lhe falte dom algum, agradabilíssima a Deus
e portadora de santidade, situada em Esmirna, na Ásia cordiais saudações em espírito irrepreensível e na
palavra de Deus.

Salta os olhos que Santo Inácio, neste primeiro capítulo, proclama sua fé na autoridade da Igreja,
na sua perfeição e na sua riqueza de bens dados por Deus. É uma tradição na própria Igreja, que
as cartas apostólicas, sempre aludam a perfeição da Igreja, pois é a mesma perfeição derivada
de Nosso Senhor Jesus Cristo.

1º Parágrafo:

1 Glorifico a Jesus Cristo, Deus, que vos fêz tão sábios. Cheguei a saber efetivamente que estais aparelhados
com fé inabalável, como que pregados de corpo e alma na Cruz do Senhor Jesus Cristo, confirmados na
caridade no Sangue de Cristo, cheios de fé em Nosso Senhor, que é de fato da linhagem de Davi, segundo a
carne, Filho de Deus porém consoante a vontade e o poder de Deus, de fato nascido de uma Virgem e batizado
por João, a fim de que se cumpra n‘Ele toda a justiça. 2 Sob Pôncio Pilatos e o tetrarca Herodes foi também de
fato pregado (na Cruz), em carne, por nossa causa, fruto pelo qual temos a vida, pela Sua Paixão bendita em
Deus, a fim de que Ele por Sua ressurreição levantasse Seu sinal para os séculos, em benefício de Seus santos
fiéis, tanto judeus, como gentios, no ÚNICO CORPO DE SUA IGREJA.

No segundo parágrafo, ele reconhece a Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo, dando
sequência à fé da Igreja, que além do NT, já admitia a que Jesus é Deus. Então, caem por terra
as acusações de que a Igreja Católica, teria inventado a teoria de Jesus ser Deus, somente no
século IV. Um detalhe interessante, é que os cristãos, eram assim reconhecidos, independente da
nacionalidade (Judeus ou gentios) e que a Igreja era um único corpo, formado de pessoas, não
importando suas diferenças.

2º Parágrafo:

1 Tudo isso padeceu por nossa causa, para obtermos a salvação. Padeceu de fato, como também de fato
ressuscitou a Si próprio, não padecendo só aparentemente, como afirmam alguns infiéis. Eles é que só vivem
aparentemente, e, conforme pensam, também lhes sucederá: não terão corpo e se assemelharão aos
demônios.
130

A confirmação histórica da ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, pois como este texto é um
documento histórico, mesmo Santo Inácio não sendo uma testemunha ocular, ele conviveu com
os apóstolos e os viu dando suas vidas por esta verdade. De fato, Jesus morreu, mas de fato Ele
também ressuscitou.

3º Parágrafo:

1 Eu porém sei e dou fé que Ele, mesmo depois da ressurreição, permanece em Sua carne. 2 Quando se
apresentou também aos companheiros de Pedro, disse-lhes: Tocai em mim, apalpai-me e vede que não sou
espírito sem corpo. De pronto n‘Ele tocaram e creram, entrando em contato com Seu Corpo e com Seu espírito.
Por isso, desprezaram também a morte e a ela se sobrepuseram. 3 Após a ressurreição, comeu e bebeu com
eles, como alguém que tem corpo, ainda que estivesse unido espiritualmente ao Pai.

O autor reafirma que Jesus não era um “fantasma” quando ressuscitou, mas que Ele ressuscitou
na carne, podia ser tocado, apalpado, o diferenciando de um “espírito”, mas um Homem. Assim,
temos na Igreja sub-apostólica, a fé de que Jesus é Deus e Homem, ao mesmo tempo, sendo
portador das duas naturezas, a Divina e a Humana. É notável ainda a importância de São Pedro,
que mesmo sendo Inácio discípulo de São João Evangelista, que há poucos anos (+-7 anos) teria
falecido, mas ao se referis ao colégio apostólicos, chama-os pelo termo “companheiros de Pedro”.

4º Parágrafo:

1 Encareço tais verdades junto a vós, caríssimos, embora saiba que também vós assim pensais. Quero prevenir-
vos contra os animais ferozes em forma humana. Não só não deveis recebê-los, mas, quanto possível, não vos
encontreis com eles. Só haveis de rezar por eles, para que, quem sabe, se convertam, coisa por certo difícil.
Sobre eles no entanto tem poder Jesus Cristo, nossa verdadeira vida. 2 Pois, se nosso Senhor só realizou as
obras na aparência, então também eu estou preso só aparentemente. Por que então me entreguei a mim
mesmo, à morte, ao fogo, à espada, às feras? Mas estar perto da espada é estar perto de Deus; encontrar-se em
meio às feras é encontrar-se junto a Deus, unicamente porém quando em nome de Jesus Cristo. Para padecer
junto com Ele, tudo suporto, confortado por Ele, que se tornou perfeito homem.

Jesus Cristo é chamado de “verdadeira vida”, demonstrando um culto de adoração comum até os
dias de hoje, que deu origem a toda cristologia da teologia e da doutrina católica, pois Ele é o
“perfeito homem” que é adorado pelos homens.

5º Parágrafo:

1 Alguns O negam, por ignorância, ou melhor foram renegados por Ele, por serem antes advogados da morte
do que da verdade. A estes não conseguiram converter as profecias, nem a lei de Moisés, nem mesmo até hoje
o Evangelho e as torturas de cada um de nós. 2 Pois sobre nós professam eles a mesma opinião. De que me
vale um homem, ainda que me louve, se blasfema contra meu Senhor, não confessando que Ele assumiu carne?
Quem não o professa negou-O por completo e carrega consigo seu cadáver. 3 Os nomes deles, uma vez que são
infiéis, não me pareceu necessário escrevê-los; preferiria até nem lembrar-me deles, enquanto se não
converterem à Paixão, que é a nossa Ressurreição.

Nesta época os quatro Evangelhos já estavam escritos, porém, é difícil que Santo Inácio tivesse
tido contato com todos, mas é certo que ele não está fazendo referência a nenhum texto, mas
sim, à Sã Doutrina da Salvação, que é o que de fato o Evangelho é até hoje para nós, católicos.

6º Parágrafo:

1 Ninguém se iluda: mesmo os poderes celestes e a glória dos anjos, até os arcontes visíveis e invisíveis
hão de sentir o juízo, caso não crerem no sangue de Cristo. Compreenda-o quem for capaz de o
131

compreender. Ninguém se ufane de sua posição, pois o essencial é a fé e o amor, e nada se lhes
prefira. 2 Considerai bem como se opõem ao pensamento de Deus os que se prendem a doutrinas
heterodoxas a respeito da graça de Jesus Cristo, vinda a nós: Não lhes importa o dever de caridade, nem fazem
caso da viúva e do órfão, nem do oprimido, nem do prisioneiro ou do liberto, nem do que padece fome ou sede.

A importância de se crer no “Sangue de Cristo”, ou seja, seu martírio é ressaltada, pois muitos, já
naquela tempo, negavam; ou que Cristo tivesse morrido, ou que Ele tivesse ressuscitado,
negando sua Divindade ou sua humanidade. Como que, se Ele está vivo, é porque não morreu,
mas se morreu, então não ressuscitou; se é Deus, então não é Homem, mas se é Homem, então
não é Deus. E chama estes pensamentos de “Doutrinas Heterodoxas”.

7º Parágrafo:

1 Abstêm-se eles da Eucaristia e da oração, porque não reconhecem que a Eucaristia é a carne de nosso
Salvador Jesus Cristo, carne que padeceu por nossos pecados e que o Pai, em Sua bondade, ressuscitou. Os
que recusam o dom de Deus e morrem disputando. Ser-lhes-ia bem mais útil praticarem a caridade, para
também ressuscitarem. 2 Convém, pois, manter-se longe de tais pessoas, deixar de falar delas em particular e
em público, e passar toda a atenção aos Profetas, especialmente ao Evangelho, pelo qual se nos patenteou a
Paixão e se consumou a Ressurreição. Fugi das dissensões, fonte de misérias.

Neste parágrafo, temos a primeira menção à Eucaristia, isto significa que a Santa Missa,
chamada de “fração do Pão” em Atos, que a seguir será chamada de “Agape”, não era algo local,
mas já era difundida em toda parte do mundo conhecido, e note que a fé como é hoje, pois já se
tinha a fé de que a Eucaristia é a Carne e o Sangue de Jesus, não é um símbolo, é um
sacramento. O Evangelho, a Sã Doutrina, como já vimos que os apóstolos faziam, era extraída do
próprio Antigo Testamento, que eram as únicas escrituras assim reconhecidas naquele tempo.

8º Parágrafo:

1 Sigam todos ao bispo, como Jesus Cristo ao Pai; sigam ao presbitério como aos apóstolos. Acatem os
diáconos, como à lei de Deus. Ninguém faça sem o bispo coisa alguma que diga respeito à Igreja. Por legítima
seja tida tão somente a Eucaristia, feita sob a presidência do bispo ou por delegado seu. 2 Onde quer que se
apresente o bispo, ali também esteja a comunidade, assim como A PRESENÇA DE CRISTO JESUS TAMBÉM NOS
ASSEGURA A PRESENÇA DA IGREJA CATÓLICA. Sem o bispo, não é permitido nem batizar nem celebrar o
ágape. Tudo porém o que ele aprovar será também agradável a Deus, para que tudo quanto se fizer seja
seguro e legítimo.

Este parágrafo oitavo, nos leva a perguntar a todos os que se dizem cristãos pelo mundo: “Como
não ser católico e se dizer cristão?” É uma pergunta extremamente pertinente, pois temos aqui, o
testemunho de um discípulo dos Apóstolos de Nosso Senhor Jesus Cristo, que proclama que a
Igreja de Cristo, é Católica. Alguns dizem que o termo “católica” aqui, é no sentido apenas para
demonstrar a universalidade da Igreja de Cristo. Esta afirmação seria real e verdadeira, se
desconsiderássemos TODO o conteúdo da carta, onde vemos que o Bispo faz referências a uma
série de doutrinas, tradições, liturgias e hierarquias que até hoje, só existem na Igreja Católica.

9º Parágrafo:

1 No mais, é razoável voltarmos ao bom-senso, e convertermo-nos a Deus, enquanto ainda for tempo. Bom é
tomarmos conhecimento de Deus e do bispo. Quem honra o bispo será também honrado por Deus; quem
faz algo às ocultas do bispo presta culto ao diabo. 2 Que tudo redunde em graça a vosso favor, pois bem o
mereceis. Vós me confortastes de toda maneira e Jesus Cristo a vós. As provas de carinho me seguiram,
presente estivesse eu ou ausente. Que Deus seja a paga, por cujo amor tudo suportais, pelo que também haveis
de chegar a possuí-Lo.
132

Já naquele tempo, nenhuma atividade da Igreja era admitida como legitima se não tivesse a
presença e o aval do Bispo e que, afastar-se do Bispo, era considerado um “culto ao diabo”.

10º Parágrafo:

1 Fizestes bem em receber, como diáconos de Cristo Deus, a Fílon e Reos Agátopos, que pela causa de Deus me
seguiram. Agradecem eles ao Senhor por vós, porque os confortastes de toda a sorte. Nada disso se perderá
para vós. 2 Dou-vos como preço de resgate meu espírito e minhas algemas que vós não desprezastes e de que
também não vos envergonhastes. Jesus Cristo também de vós não se envergonhará, Ele que é a fé perfeita.

Temos aqui, mais uma confirmação da Divindade de Jesus, que é chamado de “Cristo Deus”.

11º Parágrafo:

1 Vossa oração aproveitou à Igreja de Antioquia na Síria, de onde vim preso com grilhões, tão do agrado de
Deus, e donde a todos saúdo, embora não seja digno de ser de lá, eu, o menor dentre eles. Mas, pela vontade
de Deus, fui tido por digno, não pelo julgamento de minha consciência, mas sim pela graça de Deus. Desejo
que ela me seja concedida em sua perfeição, a fim de que eu, por meio de vossa oração, encontre a Deus. 2 No
entanto, para que vossa obra seja perfeita, tanto na terra como no céu, cumpre que a Vossa Igreja, para honra
de Deus, escolha um seu legado que vá até a Síria, para se congratular com eles, porque gozam novamente de
paz, readquiriram sua grandeza e lhes foi restaurado o corpo. 3 É a meu ver de fato obra digna enviardes um
legado de vosso meio, com uma carta, a fim de celebrar com eles a paz que lhes foi concedida, consoante a
vontade de Deus, pois já chegaram ao porto, graças à vossa oração. Sendo perfeitos, pensai também no que é
perfeito, pois se tencionais agir bem, Deus está igualmente disposto a vô-lo conceder.
Este parágrafo, ressalta a fé na importância da ação da Graça de Deus em nossas vidas, para
nossa santificação, sem desprezar também a importância das obras, o que dá fim, à disputa entre
“fé e graça” tão explorada pelo protestantismo. A Igreja crê na ação da Graça que nos leva a
produzir frutos pela própria Graça, sem desprezar a liberdade humana.

12º Parágrafo:

1 Saúda-vos a caridade dos irmãos de Trôade, donde vos escrevo por intermédio de Burrus, a quem enviastes
juntamente com os efésios, vossos irmãos, para me fazer companhia. Animou-me em todo sentido. Todos
deveriam imitá-lo como exemplo no serviço de Deus. A graça o recompensará em todo sentido. 2 Saudações ao
bispo, digno de Deus, a vosso presbitério tão agradável a Deus, aos diáconos, meus companheiros de
serviço, a cada um em particular e a todos em geral, em nome de Jesus Cristo, na Sua carne e no Seu sangue, na
Paixão e na Ressurreição, em corpo e alma, na unidade de Deus e na vossa. Para vós a graça, a misericórdia, a
paz, e a paciência para todo sempre.

Por fim, o Bispo de Antioquia, confirma a hierarquia católica. É importante entender, que a
manutenção da hierarquia é um sinal da presença da Igreja de Cristo, a Igreja Católica, sem a
qual, não há salvação, por isso, as ditas “igrejas” protestantes não são portadoras de salvação,
mas apenas de divisão, desinformação e infelizmente, perdição.

Finalização:

1 Saudações às famílias de meus irmãos, com suas espôsas e filhos e com as virgens, chamadas viúvas.
Passar bem na força do Pai. Saudações da parte de Fílon que está comigo. 2 Meus cumprimentos à família de
Tavia, a quem desejo se robusteça na fé e na caridade, tanto corporal como espiritual. Saudações a Alceu, nome
tão querido, a Dafnos o incomparável e a Eutecno. Enfim, a todos nominalmente. Passar bem na graça de Deus.

Nas finalizações, o Bispo remete ainda a antiga tradição das mulheres que devotavam sua
virgindade ou sua viuvez no serviço a Deus, uma referência às consagradas celibatárias daquele
e de nosso tempo. Infelizmente o movimento protestante abandonou o estímulo do celibato, até
133

existem comunidades femininas entre os luteranos e anglicanos, mas nas demais vertentes do
protestantismo isso caiu em desuso.

Conclusão: A Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo, já era chamada ainda no século I de IGREJA
CATÓLICA. A Igreja nasceu Católica.

Uma vez que subimos os degraus das certezas históricas, filosóficas, científicas e, portanto, dos
fatos referentes a História da Salvação, podemos nos debruçar sobre os desdobramentos destes
fatos.

Apontamos algumas consequências diretas tiradas dos fatos narrados no Novo Testamento e
documentos históricos como os textos patrísticos, agora, entraremos no que concerne a Sã
Doutrina da Salvação, nas verdades de fé e nos dogmas proclamados pela Igreja Católica ao
longo destes quase 2000 anos de existência. Agora entraremos efetivamente no conteúdo
catequético da fé.

1º. PÃRTE: Ã historiã dã Sãlvãção


“No princípio, Deus criou o céu e a terra. A terra estava sem forma e vazia; as trevas cobriam o abismo e o
Espírito de Deus pairava sobre as águas. Deus disse: “Faça-se a luz!”. E a luz foi feita.”
(Gn 1, 1-3)

Desde o primeiro versículo das Sagradas Escrituras, temos na Torá / Pentateuco a expressão da
Santíssima Trindade. Vemos o Pai Criador, o Espírito de Deus e o Verbo (Faça-se = Fiat), e logo
em seguida, podemos ver o autor sagrado, referindo-se a Deus no plural:

“Então Deus disse: “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança.”


(Gn 1, 26a)

Então, Deus, é UNO e TRINO. Para comprovar isso, temos um argumento lógico, o argumento da
Caridade:

Deus é amor.
Só há sentido no amor, quando se ama outra pessoa.
Deus ama outra pessoa, na Santíssima Trindade.

Deus é perfeito em todas as suas atribuições, porém, quando afirmamos que Deus é Amor, ou
seja, que Ele é a Caridade, subintendemos que Ele, necessariamente ame, e ame de modo
perfeito e absoluto, para que isso aconteça, Ele precisa amar alguém, no mínimo mais uma
pessoa, assim, um deus, que não fosse Trino e Uno, não existiria logicamente.

“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio junto de
Deus. Tudo foi feito por ele, e sem ele nada foi feito.”
(Jo 1, 1-3)

Deus, sempre foi Pai, Filho e Espírito Santo. Nunca houve um tempo ou um momento na
eternidade que Deus não tenha sido exatamente como Ele é. O Pai, amando a Si mesmo, gera o
Filho que é a Imagem do Pai, e do relacionamento do Pai com o Filho, procede o Espírito Santo,
que nos três, pode ser chamado também de Amor.
134

Então, o Pai é Criador, o Filho é Redentor e o Espírito Santo é Santificador. Esta distinção, é
apenas pedagógica, pois quando o Pai cria, o Filho e o Espírito participam, quando o Filho
redime, o Pai e o Espírito participam e quando o Espírito santifica, o Pai e o Filho participam.

Uma só pessoa, em três pessoas distintas e absolutamente iguais, do Pai, procede o Filho e de
ambos procede o Espírito Santo, assim são os três consubstanciais uns aos outros. O Pai, não é
o Filho e não é o Espírito, mas é Deus. O Filho, não é o Pai e não é o Espírito, mas é Deus. O
Espírito não é o Pai e não é o Filho, mas é Deus. Observe o Ícone da Santissima Trindade de
Andrei Rublev, monge e iconógrafo russo.

O Senhor apareceu a Abraão nos carvalhos de Mambré, quando ele estava assentado à entrada de sua tenda,
no maior calor do dia. Abraão levantou os olhos e viu três homens de pé diante dele. Levantou-se no mesmo
instante da entrada de sua tenda, veio-lhes ao encontro e prostrou-se por terra. “Meu Senhor – disse ele – se
encontrei graça diante de vossos olhos, não passeis avante sem vos deterdes em casa de vosso servo. Vou
buscar um pouco de água para vos lavar os pés. Descansai um pouco sob esta árvore. Eu vos trarei um pouco
de pão, e assim restaurareis as vossas forças para prosseguirdes o vosso caminho; porque é para isso que
passastes perto de vosso servo.” Eles responderam: “Faze como disseste”. Abraão foi depressa à tenda de
Sara: “Depressa – disse ele – amassa três medidas de farinha e coze pães”. Correu em seguida ao rebanho,
escolheu um novilho tenro e bom, e deu-o a um criado que o preparou logo. Tomou manteiga e leite e serviu
135

aos peregrinos juntamente com o novilho preparado, conservando-se de pé junto deles, sob a árvore, enquanto
comiam.
(Gn 18, 1-8)

O texto diz claramente que “O Senhor apareceu a Abraão” sob a forma de “três homens”, o
patriarca os identifica, os três de uma só vez como “meu Senhor” e os três respondem juntos, de
uma só vez, como se uma só pessoa fossem. Abraão então, corre para lhes preparar um novilho,
“tenro e bom”. O faro do novilho ser tenro, é porque tem carne macia, porém, é um sinal de que é
mimoso e bom, de bondade moral. A bondade atribuída a um animal, remete ao ser humano, ora,
Jesus diz:

“Jesus disse-lhe: “Por que me chamas bom? Só Deus é bom.”


(Mc 10,18)

O novilho, é a prefiguração de Jesus, anunciado por São João Batista:

“Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.”


(Jo 1,29b)

O ícone de Rublev nos traz a imagem de gênesis, a “Eterna Assembleia dos Três” que fitam a
história da Salvação (Economia da Salvação), temos três homens/anjos, anjos são espirituais,
mas eles estão visíveis, transmitindo a ideia de que, Deus é perceptível, apesar de invisível,
detalhes:

▪ Movimento circular/Cálice: Olhando a imagem de frente, vê-se imediatamente que os


personagens, formam um círculo com a cabeça e o posicionamento dos pés, simbolicando
a hóstia magna. No meio do círculo temos o anjo central, que representa Nosso Senhor
Jesus Cristo, que está dentro de um cálice, formado pelas duas outras pessoas, o Pai e o
Espírito Santo;
▪ Bastões na mão: Significa que são peregrinos, que estão caminhando;

Há uma imagem diferente, para cada um deles, atrás de suas cabeças:

▪ Templo/Palácio: Remente à tenda de Abraão, mas como este anjo representa o Pai, Ele é
visto como o Rei, sentado no trono;
▪ A Árvore: Remete ao Carvalho de Manbré, mas é a árvore da vida, o madeiro da Cruz, que
é Jesus, ao centro;
▪ O monte: Remete o Moriá, onde Abraão irá oferecer Isaac, mas também é o Calvário, onde
Cristo foi oferecido;
▪ A Túnica Azul: Simboliza a divindade revelada, aquilo que de cada um foi revelado, está
em Azul, note-se que o Pai, tem apenas um pouco de sua Divindade revelada, já o Espírito
Santo, que possui mais referências e citações no NT, a túnica está mais a mostra e o Filho,
está revestido de Azul, e sua túnica na verdade é vermelha, demonstrando que Ele é
Homem, e Deus, e tem sua divindade e humanidade absolutamente a mostra;
▪ Manto Ocre do Pai: Simboliza a Fé, que esconde o que ainda não sabemos sobre o Pai;
▪ Manto Verde do Espírito: Simboliza a Esperança, que é o que devemos esperar, pelo que
sabemos, pois Ele é o Paráclito;
▪ Túnica Azul e Manto Vermelho do Filho: A túnica do Filho é vermelha, simbolizando a
Caridade, assim, as três virtudes cardeais, e a Túnica Azul, também simboliza a Graça
Santificante, que é a Divinização do ser Humano;
▪ As faces: O Filho sorri, o Espírito está triste e o Pai está sério. O Sorriso é pelas almas
salvas; A tristeza pelas almas perdidas; A seriedade que ambos tem para Deus; O Pai, fita
o Filho, o Filho Fita o Pai, e o Espírito, fita a ambos, Pai e Filho.
136

▪ A Tigela: Ela representa o Cosmo e no meio, está a cabeça de um novilho, que foi
oferecido em alimento por Abraão. O Novilho está no meio da Tigela, representando que
Jesus está no meio do Cosmo, pois foi na “plenitude dos tempos” que Jesus veio a este
mundo. O fato de o altar e a tigela representarem o cosmo é enfatizado pelas quatro
quinas do altar e pelo pequeno retângulo posto sobre ele, o que nos lembra os quatro
pontos cardeais.

As três Pessoas aparecem conversando, provavelmente sobre o seguinte versículo do Evangelho


de João: “Com efeito, de tal modo Deus amou o mundo, que lhe deu seu Filho único” (Jo 3, 16).
Deus é amor em si, em sua essência trinitária, e seu amor pelo mundo é o reflexo de seu amor
trinitário, a continuação ou extensão dele até os âmbitos mais distantes do ser. O dom de si
ofertado por Deus nunca surge ou resulta de uma perda ou falta; ao contrário, trata-se de um
derramamento da superabundância de seu amor. Esse dom de si é representado pela tigela, que
podemos interpretar como um poço que nunca seca. (Peter Kwasniewski – padrepauloricardo.org)

As três pessoas estão envolvidas na história da Salvação. É o Verbo que se encarna, pelo desejo
do Pai e pelo poder do Espírito Santo. Quando Cristo na Cruz, diz:

“E à hora nona, Jesus bradou em alta voz: ‘Elói, Elói, lammá sabactáni?’, que quer dizer: ‘Meu Deus, meu Deus,
por que me abandonaste?’”
(Mc 15,34)

Ele não está “reclamando” a ausência do Pai, mas está recitando o Salmo 21, que está na íntegra
a seguir:
1
Ao mestre de canto. Segundo a melodia “A corça da aurora”. Salmo de Davi. 2Meu Deus, meu Deus, por que me
abandonastes? E permaneceis longe de minhas súplicas e de meus gemidos? 3Meu Deus, clamo de dia e não me
respondeis; imploro de noite e não me atendeis. 4Entretanto, vós habitais em vosso santuário, vós que sois a
glória de Israel. 5Nossos pais puseram sua confiança em vós, esperaram em vós e os livrastes. 6A vós clamaram
e foram salvos; confiaram em vós e não foram confundidos.7Eu, porém, sou um verme, não sou homem, o
opróbrio de todos e a abjeção da plebe. 8Todos os que me vêem zombam de mim; dizem, meneando a
cabeça:9“Esperou no Senhor, pois que ele o livre, que o salve, se o ama”. 10Sim, fostes vós que me tirastes das
entranhas de minha mãe e, seguro, me fizestes repousar em seu seio. 11Eu vos fui entregue desde o meu nascer,
desde o ventre de minha mãe vós sois o meu Deus.12Não fiqueis longe de mim, pois estou atribulado; vinde
para perto de mim, porque não há quem me ajude.13Cercam-me touros numerosos, rodeiam-me touros de
Basã;14contra mim eles abrem suas fauces, como o leão que ruge e arrebata. 15Derramo-me como água, todos
os meus ossos se desconjuntam; meu coração tornou-se como cera e derrete-se nas minhas entranhas.16Minha
garganta está seca qual barro cozido, pega-se no paladar a minha língua: vós me reduzistes ao pó da
morte.17Sim, rodeia-me uma malta de cães, cerca-me um bando de malfeitores. Traspassaram minhas mãos e
meus pés:18poderia contar todos os meus ossos. Eles me olham e me observam com alegria, 19repartem entre si
as minhas vestes, e lançam sorte sobre a minha túnica. 20Porém, vós, Senhor, não vos afasteis de mim; ó meu
auxílio, bem depressa me ajudai.21Livrai da espada a minha alma, e das garras dos cães a minha vida. 22Salvai-
me a mim, mísero, das fauces do leão e dos chifres dos búfalos. 23Então, anunciarei vosso nome a meus
irmãos, e vos louvarei no meio da assembleia. 24“Vós que temeis o Senhor, louvai-o; vós todos, descendentes
de Jacó, aclamai-o; temei-o, todos vós, estirpe de Israel,25porque ele não rejeitou nem desprezou a miséria do
infeliz, nem dele desviou a sua face, mas o ouviu, quando lhe suplicava.” 26De vós procede o meu louvor na
grande assembleia, cumprirei meus votos na presença dos que vos temem. 27Os pobres comerão e serão
saciados; louvarão o Senhor aqueles que o procuram: “Vivam para sempre os nossos corações”. 28Hão de se
lembrar do Senhor e a ele se converter todos os povos da terra; e diante dele se prostrarão todas as famílias
das nações,29porque a realeza pertence ao Senhor e ele impera sobre as nações. 30Todos os que dormem no
seio da terra o adorarão; diante dele se prostrarão os que retornam ao pó.31Para ele viverá a minha alma, há
de servi-lo minha descendência. Ela falará do Senhor às gerações futuras e proclamará sua justiça ao povo que
vai nascer: “Eis o que fez o Senhor”.
137

A beleza desta texto e sua importância é gigantesca, segundo São Marcos, estas foram as
últimas palavras de Jesus na Cruz, logo em seguida, Ele expirou. Mas, o Salmo indica toda a
obra que Jesus irá desempenhar, e o que o Pai e o Espírito irão fazer. Ele irá anunciar o nome de
Deus no meio da “Assembleia” que é o mesmo que Igreja e ainda desce à “mansão dos mortos” e
resgata de lá, os justos do AT, inaugurando o Céu aos seres humanos, temos aqui, a Igreja
Triunfante, que junto com a Igreja Militante (os vivos) e a Padecentes (as almas do Purgatório)
formam a Igreja Universal, Atemporal e Eterna.

O que é Kenosis?

“Sendo ele de condição divina, não se prevaleceu de sua igualdade com Deus, mas aniquilou-se a si
mesmo, assumindo a condição de escravo e assemelhando-se aos homens. E, sendo exteriormente
reconhecido como homem, humilhou-se ainda mais, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz. Por
isso, Deus o exaltou soberanamente e lhe outorgou o nome que está acima de todos os nomes, para que ao
nome de Jesus se dobre todo joelho no céu, na terra e nos infernos. E toda língua confesse, para a glória de
Deus Pai, que Jesus Cristo é Senhor.”
(Fl 2, 6-11)

Aqui, nos temos a Kenosis do Verbo. Este termo, significa uma “queda”, mas se perda do que se
é, mas assumindo o que não se é. Uma imagem que simboliza bem esta palavra, é quando um
adulto, se abaixa para falar com uma criança, ele não deixa de ser adulto, mas está bem próximo
da criança.

A própria Trindade, está em processo de Kenosis, pois já na criação, ao criar tudo o que existe, o
Criador, não é mais o Único Ser, mas Ele confere o ser a todos os outros seres. Ele não diminui,
mas Ele passa a “coabitar” tudo o que existe, que “antes era” apenas Ele e “agora” temos todos
os seres criados.

O que é Mistério?

“Ele disse-lhes: “A vós é revelado o mistério do Reino de Deus, mas aos que são de fora tudo se lhes propõe em
parábolas.”
(Mc 4,11)

Mistério, geralmente é um termo genérico, porém, na Sã Doutrina da Salvação, ou seja, nas


Escrituras, na Tradição e no Magistério, “mistério” é algo bem específico, o maior mistério que
temos, é justamente o “Mistério do Reino de Deus”. Ao contemplarmos o Ícone de Riblev,
estamos contemplando este mistério de modo gráfico e quase que palpável.

Olhando aqueles três homens/anjos, vemos ali uma verdadeira assembleia, pois são três
pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo. A Igreja Católica, ao longo de séculos cunhou termos
específicos para conseguir falar sobre a Santíssima Trindade e o mistério de Deus.

O projeto divino da Revelação realiza-se ao mesmo tempo "por ações e por palavras, intimamente
ligadas entre si e que se iluminam mutuamente". Este projeto comporta uma "pedagogia divina"
peculiar: Deus comunica-se gradualmente com o homem, prepara-o por etapas a acolher a
Revelação sobrenatural que faz de si mesmo e que vai culminar na Pessoa e na missão do Verbo
encarnado, Jesus Cristo. (CatIC 53)

O Ser Humano, é criado a Imagem e Semelhança de Deus, por isso, e apenas por isso, nós
podemos nos considerar pessoa, pois temos uma personalidade, uma habilidade própria do ser
humano, de se tornar pessoa. Mesmo nascendo únicos, irrepetíveis, pois nada do que Deus faça
é igual, o ser humano pode ser massificado, aglutinado e por fim, desumanizado.
138

Para que o Ser Humano, continue realmente humano, e assim, Imagem e Semelhança de Deus,
o primeiro passo é cultivar em si mesmo, a sua personalidade e fugir da massificação, do
modernismo, que nada mais é do que o processo de tornar todos iguais, com os mesmos
uniformes, com a mesma cultura, com a mesma visão de mundo, com as mesmas músicas e
assim por diante.

Deus é Pessoa, e são três pessoas unidas de tal modo que são Uma só Pessoa, em Três
Pessoas distintas e absolutamente iguais. Ora, a definição de igreja é a “união de pessoas”,
sendo Deus a única e verdadeira união de pessoas, podemos afirmar que a Igreja é a Única
Igreja que existe.

Sendo a Trindade a Igreja, temos um pouco deste mistério sendo revelado:

A IGREJA É O PRÓPRIO DEUS:

“Ele é a Cabeça do corpo, da Igreja. Ele é o Princípio, o primogênito dentre os mortos e por isso tem o primeiro
lugar em todas as coisas.”
(Cl 1,18)

Quando Deus, faz-se Homem, a Igreja torna-se presente no mundo de modo literal, antes, na
assembleia de Israel, o povo de Deus, esta Igreja estava de modo implícito e velado, mas agora,
com Deus feito Homem, Deus que é igual em suas três pessoas, assumindo a natureza humana,
habitando o tempo e a história, em uma Kenosis inimaginável, a Igreja, torna-se uma realidade
histórica. A Igreja torna-se o Mistério de Deus. Para entendermos isso, podemos reescrever o
texto do Evangelho de São Marcos 4,11, da seguinte forma:

“Ele disse-lhes: “A vós é revelado o SACRAMENTO do Reino de Deus, mas aos que são de fora tudo se lhes
propõe em parábolas.”

Os termos Sacramento e Mistério, são equivalentes, por isso, sempre que lemos nas Sagradas
Escrituras, o termo mistério, precisamos questionar se o sentido aplicado, não é o de Sacramento
e não algo que está “escondido” e que precisa ser revelado.

"A Igreja é, em Cristo, como que o sacramento ou o sinal e instrumento da íntima união com
Deus e da unidade de todo o gênero humano." Ser o sacramento da união íntima dos homens com
Deus é o primeiro objetivo da Igreja. Visto que a comunhão entre os homens está enraizada na
união com Deus, a Igreja é também o sacramento da unidade do gênero humano. Nela, esta
unidade já começou, pois ela congrega homens "de toda nação, raça, povo e língua" (Ap 7,9); ao
mesmo tempo, a Igreja é "sinal e instrumento" da plena realização desta unidade que ainda deve
vir.

Como sacramento, a Igreja é instrumento de Cristo. “Nas mãos dele, ela é o instrumento da
Redenção de todos os homens” o sacramento universal da salvação” pelo qual Cristo “manifesta e
atualiza o amor de Deus pelos homens". Ela "é o projeto visível do amor de Deus pela
humanidade" que quer que o "gênero humano inteiro constitua o único povo de Deus, se
congregue no único Corpo de Cristo, seja construído no único templo do Espírito Santo".(CatIC
775 e 776)

A Igreja possui 7 mistérios dos quais Deus utiliza para nos transmitir a Sua graça Santificante:

1. Mistério do Batismo; 5. Mistério da Confissão;


2. Mistério da Crisma; 6. Mistério da Unção dos Enfermos;
3. Mistério da Ordem; 7. Mistério da Eucaristia;
4. Mistério do Matrimônio;
139

Os sacramentos são a manifestação, a revelação e a concretização do Mistério de Deus, ou seja,


da Igreja de Deus. Quando a reforma protestante, renunciou aos sacramentos, literalmente, ao
que se renunciou foi à manifestação do Mistério de Deus. Ora, como é possível conhecer a Deus,
senão por meio de sua própria Revelação? Assim, o protestantismo tornou todas as “igrejas”
protestantes simples religiões, e não mais a Igreja. E como vimos, as religiões são esforços
humanos para chegarmos a Deus, um esforço ao mesmo tempo válido e presunçoso, ainda mais,
sabendo-se que o próprio Deus, veio revelar-se, e agora, renuncia-se a esta revelação?

A IGREJA É O REINO DE DEUS:

Cabe ao Filho realizar, na plenitude dos tempos, o plano de salvação de seu Pai. Este é o motivo
de sua "missão". "O Senhor Jesus iniciou sua Igreja pregando a Boa Nova, isto é, o advento do
Reino de Deus prometido nas Escrituras havia séculos." Para cumprir a vontade do Pai, Cristo
inaugurou o Reino dos Céus na terra. A Igreja "é o Reino de Cristo já misteriosamente
presente"'.

"Este Reino manifesta-se lucidamente aos homens na palavra, nas obras e na presença de
Cristo." Acolher a palavra de Jesus é "acolher o próprio Reino". O germe e o começo do Reino são
o "pequeno rebanho" (Lc 12,32) dos que Jesus veio convocar em torno de si, dos quais ele
mesmo é o pastor". Eles constituem a verdadeira família de Jesus. Aos que assim reuniu em torno
dele, ensinou uma "maneira de agir" nova e também uma oração própria.

O Senhor Jesus dotou sua comunidade de uma estrutura que permanecerá até a plena
consumação do Reino. Há antes de tudo a escolha dos Doze, com Pedro como seu chefe.
Representando as doze tribos de Israel, eles são as pedras de fundação da nova Jerusalém. Os
Doze e os outros discípulos participam da missão de Cristo, de seu poder, mas também de sua
sorte (cf. Mt 10, 25; Jo 15, 20) . Por meio de todos os esses atos, Cristo prepara e constrói
sua Igreja. (CatIC 763-765)

A IGREJA É A PLENITUDE DA CRIAÇÃO:

A mim, o mais insignificante dentre todos os santos, coube-me a graça de anunciar entre os pagãos a
inexplorável riqueza de Cristo, e a todos manifestar o desígnio salvador de Deus, mistério oculto desde a
eternidade em Deus, que tudo criou. Assim, de ora em diante, as dominações e as potestades celestes podem
conhecer, pela Igreja, a infinita diversidade da sabedoria divina, de acordo com o desígnio eterno que Deus
realizou em Jesus Cristo, nosso Senhor.
(Ef 3, 8-11)

"O mundo foi criado em vista da Igreja", diziam os cristãos dos primeiros tempos. Deus criou o
mundo em vista da comunhão com sua vida divina, comunhão esta que se realiza pela
"convocação" dos homens em Cristo, e esta "convocação" é a Igreja. A Igreja é a finalidade de
todas as coisas, e as próprias vicissitudes dolorosas, como a queda dos anjos e o pecado do
homem, só foram permitidas por Deus como ocasião e meio para desdobrar toda a força de seu
braço, toda a medida de amor que Ele queria dar ao mundo: (Parágrafos relacionados 294,309)
Assim como a vontade de Deus é um ato e se chama mundo, assim também sua intenção é a
salvação dos homens e se chama Igreja. (CatIC 760)

Entendendo que a Igreja é em primeiro lugar o Próprio Deus, entendemos o sentido de afirmar
que o mundo ter sido criado em vista da Igreja, e também que ela é a finalidade de todas as
coisas.

“Assim como a vontade de Deus é um ato e se chama mundo (criado), assim também sua
intenção é a salvação dos homens, e se chama Igreja”
(São Clemente de Alexandria - †215)

“Não pode ter Deus por Pai no Céu, quem não tem a Igreja por mãe na Terra.”
(São Cipriano - †258)
140

A IGREJA É UMA INSTITUIÇÃO:

Ao falarmos da Igreja como um dado histórico anteriormente, demonstramos que a Igreja, é uma
instituição Divina:

“Se recusa ouvi-los, dize-o à Igreja. E se recusar ouvir também a Igreja, seja ele para ti como um pagão e um
publicano.”
(Mt 18,17)

Quem se recusa a ouvir a Igreja, ou seja, o que ensina a Sagrada Escritura, a Tradição Apostólica
e o Sagrado Magistério, em suma, está recusando-se a ouvir o próprio Deus, que se instituiu
como “Caminho, Verdade e Vida” (Jo 14,6) e transmitiu este caminho quando entrega as chaves
do Reino, ou seja, as chaves da Igreja, que por consequência são as chaves para adentrar no
coração da Santíssima Trindade à Simão, a quem designou como Pedro/Cefas.

A IGREJA SOMOS NÓS:

“Assim os maridos devem amar as suas mulheres, como a seu próprio corpo. Quem ama a sua mulher ama-se a
si mesmo. Certamente, ninguém jamais aborreceu a sua própria carne; ao contrário, cada qual a alimenta e a
trata, como Cristo faz à sua Igreja – porque somos membros de seu corpo. Por isso, o homem deixará pai e
mãe e se unirá à sua mulher, e os dois constituirão uma só carne (Gn 2,24). Esse mistério é grande, quero dizer,
com referência a Cristo e à Igreja.”
(Ef 5, 28-32)

"Em qualquer época e em qualquer povo é aceito por Deus todo aquele que o teme e pratica a
justiça. Aprouve, contudo, a Deus santificar e salvar os homens não singularmente, sem nenhuma
conexão uns com os outros, mas constituí-los num povo, que o conhecesse na verdade e
santamente o servisse. Escolheu, por isso Israel como seu povo. Estabeleceu com ele uma
aliança e instruiu-o passo a passo... Tudo isso, porém, aconteceu em preparação e figura para
aquela nova e perfeita aliança que se estabeleceria em Cristo... Esta é a Nova Aliança, isto é o
Novo Testamento em seu sangue, chamando de entre judeus e gentios um povo que junto
crescesse na unidade, não segundo a carne, mas no Espírito.

As Características do POVO DE DEUS

O Povo de Deus tem características que o distinguem nitidamente de todos os agrupamentos


religiosos, étnicos, políticos ou culturais da história:

- Ele é o Povo de Deus: Deus não pertence, como propriedade, a nenhum povo. Mas adquiriu para
si um povo dentre os que outrora não eram um povo: "Uma raça eleita, um sacerdócio régio, uma
nação santa" (1Pd 2,9).

- A pessoa torna-se membro deste povo não pelo nascimento físico, mas pelo "nascimento do
alto", "da água e do Espírito" (Jo 3,3-5), isto é, pela fé em Cristo e pelo Batismo.

- Este povo tem por Chefe (Cabeça) Jesus Cristo (Ungido, Messias); pelo fato de a mesma Unção,
o Espírito Santo, fluir da Cabeça para o Corpo, ele é "o Povo messiânico".

- A condição deste povo é a dignidade da liberdade dos filhos de Deus: nos corações deles, como
em um templo, reside o Espírito Santo.

- "Sua lei é o mandamento novo de amar como Cristo mesmo nos amou.". É a lei "nova" do
Espírito Santo.

- Sua missão é ser o sal da terra e a luz do mundo. "Ele constitui para todo o gênero humano o
mais forte germe de unidade, esperança e salvação."
141

- Finalmente, sua meta é "o Reino de Deus, iniciado na terra por Deus mesmo, Reino a ser
estendido mais e mais, até que, no fim dos tempos, seja consumado por Deus mesmo". (CatIC
781-782)

Como já vimos, a Igreja materialmente está dividida em três modos de vida. A Igreja Triunfante,
formada pelos Santos Homens e Santos Anjos de Deus, que já morreram, e fizeram a sua
“páscoa” (Páscoa) para o Reino nos Céus; A Igreja Padecente, que são aqueles Homens que
faleceram em estado de graça, porém, sem terem reparado as consequências dos seus próprios
pecados, e assim, purgam seus pecados no Purgatório; E a Igreja Militante, formada pelos
Homens que ainda não fizeram sua páscoa, mas já foram batizados.

O Sacramento do Batismo, é a porta de entrada para a Igreja, nenhum não batizado é membro da
Igreja militante, porém, por meio da ignorância invencível, é possível a um não batizado,
passando pelo purgatório, alcançar a graça de tornar-se Igreja padecente e depois, com o retorno
de Nosso Senhor no fim dos tempos, alcançar a Visão Beatífica, mas e como fica a afirmação da
Tradição de que “Fora da Igreja não há salvação”:

Esta afirmação não visa àqueles que, sem culpa, desconhecem Cristo e sua Igreja: "Aqueles,
portanto, que sem culpa ignoram o Evangelho de Cristo e sua Igreja, mas buscam a Deus com
coração sincero e tentam, sob o influxo da graça, cumprir por obras a sua vontade conhecida por
meio do ditame da consciência podem conseguir a salvação eterna".

"Deus pode, por caminhos dele conhecidos, levar à fé todos os homens que sem culpa própria
ignoram o Evangelho. Pois 'sem a fé é impossível agradar-lhe' Mesmo assim, cabe à Igreja o
dever e também o direito sagrado de evangelizar" todos os homens. (CatIC 847 – 848)

A ignorância de Cristo e de seu Evangelho, os maus exemplos de outros, o servilismo às paixões,


a pretensão de uma mal-entendida autonomia da consciência, a recusa da autoridade da Igreja e
de seus ensinamentos, a falta de conversão ou de caridade podem estar na origem dos desvios
do julgamento na conduta moral.

Se - ao contrário - a ignorância for invencível ou o julgamento errôneo não for da responsabilidade


do sujeito moral, o mal cometido pela pessoa não lhe poderá ser imputado. Mas nem por isso
deixa de ser um mal, uma privação, uma desordem. É preciso trabalhar, pois, para corrigir a
consciência moral de seus erros.(CatIC 1792-1793)

Sendo assim, aqueles que sem culpa, ignoram a Igreja, ou conhecem apenas uma “caricatura” da
mesma, e assim rejeitam esta caricatura, no fundo, rejeitando a mesma caricatura que nós os
batizados rejeitamos, podem tornar-se Igreja quando passarem pelo purgatório e assim,
alcançarem a Salvação. Porém, por estarmos impossibilitados de conhecer a consciência dos
homens, não nos é possível dizer quem é que se encontra em tal condição, sendo tarefa de todo
católico, conduzir a todos, pela catequese, à Igreja.

Não podemos estar unidos a Deus se não fizermos livremente a opção de amá-lo. Mas não
podemos amar a Deus se pecamos gravemente contra Ele, contra nosso próximo ou contra nós
mesmos: "Aquele que não ama permanece na morte. Todo aquele que odeia seu irmão é
homicida; e sabeis que nenhum homicida tem a vida eterna permanecendo nele" (1 Jo 3,14-15).
Nosso Senhor adverte-nos de que seremos separados dele se deixarmos de ir ao encontro das
necessidades graves dos pobres e dos pequenos que são seus irmãos morrer em pecado mortal
sem ter-se arrependido dele e sem acolher o amor misericordioso de Deus significa ficar
separado do Todo-Poderoso para sempre, por nossa própria opção livre. E é este estado de
auto-exclusão definitiva da comunhão com Deus e com os bem-aventurados que se designa com
a palavra "inferno". (CatIC 1033)

Infelizmente, experimentamos este estado infernal, todas as vezes que pecamos mortalmente.
Mesmo sendo batizado, quem peca mortalmente está privado da Graça Santificante, e assim,
está desligado da Igreja, este estado, pode ser chamado de “Cristão Formal”.
142

Muitos estão em tais condições, incluindo muitos católicos, que são formalmente batizados,
porém, não vivem em estado de graça, não buscam a santidade e assim, não são representantes
da Igreja. Por causa disso, aquele que peca, automaticamente exclui-se (auto-exclusão) da Igreja,
e o que faz, não é mais a Igreja que faz.

Por isso, ao longo das eras, a Igreja é acusada de uma série de atrocidades como assassinatos,
torturas, dominações, escândalos financeiros e sexuais (excessos nas Cruzadas, erros nas
Inquisição, Pedofilia, Simonia etc...), porém, nada disso pode ser imputado à Igreja, pois os
cristãos formais que praticaram tais crimes ou pecados, o fizeram a revelia do que a Igreja ensina
e sempre ensinou.

Há em cada um de nós, uma “linha imaginária” que nos divide ao meio. É a linha da graça. Neste
mundo, infelizmente sempre estaremos com esta linha ao meio e nunca totalmente incluídos na
Igreja, pois a qualquer momento, enquanto estivermos vivos, temos nossa salvação em risco,
pois é possível há qualquer hora, morrer fora do estado de graça. Quando em estado de graça,
estamos ligados pela linha que é a possibilidade de pecar, mas quando em pecado e fora da
graça, estamos ligados a linha que é a possibilidade de nos arrepender e nos confessar. Somos
Igreja, “Já e ainda não”!

2º. PÃRTE: No que consiste ã Sãlvãção


Deus, em sua infinita sabedoria, não criou e abandonou o homem à própria sorte. Ele
estabeleceu alianças com o homem. Sabemos que Deus fez uma aliança com Adão, o primeiro
ser humano, e temos prova, pelas ciências históricas (arqueologia, paleontologia, antropologia e
etc...) de que nenhuma sociedade pré-histórica do mundo, era alheia à religião.

Pré-história designa tudo o que se passou desde o aparecimento do primeiro ser com postura
ereta (Hominídeos - Gênero: Homo), até o tempo em que surgi a escrita. Supunha-se, que
mesmo sendo um período muito grande, por não haver escrita (que surgiu por volta de 4000 a.C.)
não haveria histórias a serem contadas.

O surgimento dos primeiros hominídeos, ocorreu em torno de 4 a 2 milhões de anos, este período
é chamado de Paleolítico, o planeta jazia mergulhado em uma era gelada, a partir de 350 a 250
mil anos a.C. surgem os primeiros Homo sapiens, que eram nômades e viviam da caça, da pesca
e da colheita dos vegetais disponíveis, não havia a agricultura ou a pecuária, por volta de 10.000
a.C., a era do gelo terminou e temos o início do Neolítico, e os seres humanos agora, já
praticavam a agricultura e iniciaram a formar as civilizações do mundo antigo.
Em um dado momento, por volta de 14 a 8 mil anos a.C. em todas as regiões do globo, iniciou-se
um processo curioso de enterrar os mortos. O mais curioso, é que, mesmo sendo necessário
enterrar os mortos, por que agora o ser Humano não era mais nômade, são evidenciados os
rituais fúnebres, indicando uma preocupação com a vida após a morte.

O primeiro Homem, a nascer, dotado de uma alma imortal, é chamado pela Igreja de Adão, e a
primeira mulher, com a mesma característica, é chamada de Eva. Ambos, nasceram com a Lei
Natural inscrita em suas consciências. Tanto é, que por todo o período que as ciências
conseguem catalogar, existem expressões de um senso moral, religioso e já se registram-se os
primeiros cultos de adoração, já no Neolítico.

Deus, sempre esteve falando ao ser Humano, a narrativa de gênesis, o encontro de Abrão com
Deus, um “Deus desconhecido”, é justamente a história de todos os seres humanos que já
passaram pelo mundo. Por meio da consciência, Deus sempre esteve dialogando e se revelando
ao ser Humano, estabelecendo alianças como a narrativa de Noé, e outros, antes de Adão.
143

Então, surgem as primeiras profecias, e o que vêm a ser Profecia?

Para congregar a humanidade dispersa, Deus elegeu Abrão, chamando-o "para fora de seu país,
de sua parentela e de sua casa" (Gn 12,1), para fazer dele "Abraão", isto é, "o pai de uma multidão
de nações" (Gn 17,5): "Em ti serão abençoadas todas as nações da terra" (Gn 12,3).

O povo originado de Abraão será o depositário da promessa feita aos patriarcas, o povo da
eleição, chamado a preparar o congraçamento, um dia, de todos os filhos de Deus na unidade da
Igreja; será a raiz sobre a qual serão enxertados os pagãos tornados crentes.

Os patriarcas e os profetas, bem como outras personalidades do Antigo Testamento, foram e


serão sempre venerados como santos em todas as tradições litúrgicas da Igreja. (CatIC 59-61)

As profecias religiosas, marcaram profundamente a história. Em todas as civilizações,


independente da região, os seres humanos “faziam” profecias sobre suas colheitas, sobre os
governantes, sobre a vinda de um tempo de paz, sobre as guerras. A inteligência humana,
sempre soube colher, pelos sinais dos tempos, a Voz de Deus que sempre esteve presente, no
que a Igreja chama hoje de “Sementes do Verbo”.

Então, o povo originado de Abraão, recebeu uma série de profecias, as quais estão registradas
nas Sagradas Escrituras:

A Lei Antiga é uma preparação para o Evangelho. "A lei é profecia e pedagogia das realidades
futuras." Profetiza e pressagia a obra da libertação do pecado, que se realizará com Cristo, e
fornece ao Novo Testamento as imagens, os "tipos", os símbolos, para exprimir a vida segundo o
Espírito. A Lei se completa, enfim, pelo ensinamento dos livros sapienciais e dos profetas que a
Orientam para a nova aliança e o Reino dos Céus.

Houve (...), sob o regime da Antiga Aliança, pessoas que possuíam a caridade e a graça do
Espírito Santo e aspiravam sobretudo às promessas espirituais e eternas, e deste modo se
ligavam à nova lei. Inversamente, existem também sob a nova aliança homens carnais, ainda
longe da perfeição da nova Lei. Para os estimular às obras virtuosas, foram necessários o temor
do castigo e diversas promessas temporais, até sob a Nova Aliança. Em todo caso, mesmo que a
Lei Antiga prescrevesse a caridade, ela não dava o Espírito Santo pelo qual "o amor de Deus
derramado em nossos corações" (Rm 5,5). (CatIC 1964)

As promessas e profecias no AT era o que animava o povo, lhes dava esperança e ainda
promovia o progresso civilizatório, pois é pensando em melhorar e aprimorar-se que o
desenvolvimento prático aconteceu ao longo da história, algo natural e orgânico que não se limita
ao povo da Antiga e da Nova Aliança. Na década dos anos 80, a Igreja no Brasil, passou por um
derramamento do Espírito Santo, e foi o que lançou as bases da RCC no Brasil. Certa vez, houve
um encontro no Morumbi, em São Paulo, com milhares de pessoas. O palco, ficava bem no meio,
para que os pregadores pudessem ser ouvidos e vistos por todos. Deus, é como este pregador,
que está no meio, onde todos podem percebê-Lo, e está falando o tempo todo. Porém, uns
prestam atenção e outros não prestam, uns estão mais próximos e outros mais distantes. Mas o
fato é que todos conseguem perceber as Sementes do Verbo:

O Espírito manifesta-se particularmente na Igreja e nos seus membros, mas a Sua presença e
ação são universais, sem limites de espaço nem de tempo. O Concílio Vaticano II lembra a obra
do Espírito no coração de cada homem, cuidando e fazendo germinar as « sementes do Verbo »,
presentes nas iniciativas religiosas e nos esforços humanos à procura da verdade, do bem, e de
Deus.

Cristo ressuscitado, « pela virtude do Seu Espírito, atua já nos corações dos homens, não só
despertando o desejo da vida futura, mas também alentando, purificando e robustecendo a família
humana para tornar mais humana a sua própria vida e submeter a terra inteira a este fim », É
ainda o Espírito que infunde as « sementes do Verbo », presentes nos ritos e nas culturas, e as
faz maturar em Cristo. (REDEMPTORIS MISSIO, S. João Paulo II, n.28)
144

A promessa da redenção, não se destinam apenas à Igreja, mas a todos os homens, que
inspirador pelo Espírito, devem se deixar conduzir à conversão e ao Batismo. Porém, há inúmeras
barreiras nas quais os homens terminam esbarrando, e somente Deus é capaz de julgar se são
ou não barreiras intransponíveis, a nós, cabe sermos representantes destas promessas, estando
dispostos a acolher e amar a todos os homens, pois como já disse o Pe. Léo:

“Quem não ama alguém, não ama ninguém”


(Pe. Léo)

Em gênesis, temos uma história reveladora, que demonstra que a humanidade, já foi um dia, uma
única nação e que Deus se manifestava a todos, porém, o pecado e a ânsia de alcançar a
divindade, por seus próprios meios, sem procurar o caminho da Revelação de Deus, terminou por
dividir os homens.

Toda a terra tinha uma só língua, e servia-se das mesmas palavras. Alguns homens, partindo para o oriente,
encontraram na terra de Senaar uma planície onde se estabeleceram. E disseram uns aos outros: “Vamos,
façamos tijolos e cozamo-los no fogo”. Serviram-se de tijolos em vez de pedras, e de betume em lugar de
argamassa. Depois disseram: “Vamos, façamos para nós uma cidade e uma torre cujo cimo atinja os céus.
Tornemos assim célebre o nosso nome, para que não sejamos dispersos pela face de toda a terra”. Mas o
Senhor desceu para ver a cidade e a torre que construíram os filhos dos homens. “Eis que são um só povo –
disse ele – e falam uma só língua: se começam assim, nada futuramente os impedirá de executarem todos os
seus empreendimentos. Vamos: desçamos para lhes confundir a linguagem, de sorte que já não se
compreendam um ao outro.” Foi dali que o Senhor os dispersou daquele lugar pela face de toda a terra, e
cessaram a construção da cidade. Por isso, deram-lhe o nome de Babel, porque ali o Senhor confundiu a
linguagem de todos os habitantes da terra, e dali os dispersou sobre a face de toda a terra.
(Gn 11, 1-9)

Podemos perceber que o que separou os homens foi o desejo de importância, de status, de
alcançar a divindade, sem a Graça Santificante, pelos próprios meios. Isso mostra o quando as
religiões tem sim, em si, as “Sementes do Verbo” porém, são inúteis para santificar e divinizar o
ser humano. Mas o Senhor, não nos abandonou, Ele continuou a falar, e como vemos no AT,
profetiza e promete a salvação a todos:

“Dias virão – oráculo do Senhor – em que firmarei nova aliança com as casas de Israel e de Judá. Será diferente
da que concluí com seus pais no dia em que pela mão os tomei para tirá-los do Egito, aliança que violaram
embora eu fosse o esposo deles. Eis a aliança que, então, farei com a casa de Israel – oráculo do Senhor: Eu lhe
incutirei a minha Lei; eu a gravarei em seu coração. Serei o seu Deus e Israel será o meu povo.”
(Jr 31, 31ss)

“Todas as nações que criastes virão adorar-vos, e glorificar o vosso nome, ó Senhor.”
(Sl 85,9)

“Farei com que, em sua terra, sobre as montanhas de Israel, não formem mais do que uma só nação, que não
possuam mais do que um rei. Não mais existirá a divisão em dois povos e em dois reinos.”
(Ez 37,22)

Então, o Senhor cumpre a promessa:

“Do mesmo modo tomou também o cálice, depois de cear, dizendo: “Este cálice é a Nova Aliança em meu
sangue, que é derramado por vós...”
(Lc 22,20)
145

A Nova aliança, é o cumprimento de todas as promessas e profecias feitas por Deus ao longo das
eras, seja ao povo hebreu, seja aos outros povos, e todas elas se realizam na Igreja, que nasce
com o objetivo de unir todos os povos, não em uma única língua ou bandeira, mas em uma única
linguagem, a linguagem do amor:

“Ouvindo aquele ruído, reuniu-se muita gente e maravilhava-se de que cada um os ouvia falar na sua própria
língua. Profundamente impressionados, manifestavam a sua admiração: “Não são, porventura, galileus todos
estes que falam? Como então todos nós os ouvimos falar, cada um em nossa própria língua materna? Partos,
medos, elamitas; os que habitam a Mesopotâmia, a Judeia, a Capadócia, o Ponto, a Ásia, a Frígia, a Panfília, o
Egito e as províncias da Líbia próximas a Cirene; peregrinos romanos, judeus ou prosélitos, cretenses e árabes;
ouvimo-los publicarem em nossas línguas as maravilhas de Deus!”. Estavam, pois, todos atônitos e, sem saber o
que pensar, perguntavam uns aos outros: “Que significam estas coisas?”.”
(At 2,6-12)

Em Pentecostes, temos o oposto do que aconteceu na história da Torre de Babel, pois temos a
realização das promessas, a união dos povos, e esta unidade acontece no Seio da Igreja:

Em todos os tempos e em todas as nações foi agradável a Deus aquele que O teme e obra
justamente (cfr. At. 10,35). Contudo, aprouve a Deus salvar e santificar os homens, não
individualmente, excluída qualquer ligação entre eles, mas constituindo-os em povo que O
conhecesse na verdade e O servisse santamente. Escolheu, por isso, a nação israelita para Seu
povo. Com ele estabeleceu uma aliança; a ele instruiu gradualmente, manifestando-Se a Si
mesmo e ao desígnio da própria vontade na sua história, e santificando-o para Si. Mas todas estas
coisas aconteceram como preparação e figura da nova e perfeita Aliança que em Cristo havia de
ser estabelecida e da revelação mais completa que seria transmitida pelo próprio Verbo de Deus
feito carne. Eis que virão dias, diz o Senhor, em que estabelecerei com a casa de Israel e a casa
de Judá uma nova aliança... Porei a minha lei nas suas entranhas e a escreverei nos seus
corações e serei o seu Deus e eles serão o meu povo... Todos me conhecerão desde o mais
pequeno ao maior, diz o Senhor (Jr. 31, 31-34). Esta nova aliança instituiu-a Cristo, o novo
testamento no Seu sangue (cfr. 1 Cor. 11,25), chamando o Seu povo de entre os judeus e os
gentios, para formar um todo, não segundo a carne mas no Espírito e tornar-se o Povo de
Deus. Com efeito, os que crêem em Cristo, regenerados não pela força de germe corruptível mas
incorruptível por meio da Palavra de Deus vivo (cfr. 1 Ped. 1,23), não pela virtude da carne, mas
pela água e pelo Espírito Santo (cfr. Jo. 3, 5-6), são finalmente constituídos em «raça escolhida,
sacerdócio real, nação santa, povo conquistado... que outrora não era povo, mas agora é povo de
Deus» (1 Ped. 2, 9-10). (LUMEN GENTIUM, CVII n.9)

Assim a Salvação consiste em fazer parte deste povo, que é a Igreja, o Reino de Deus, “já e
ainda não” neste mundo. Dissemos ainda, que Deus tem se revelado ao longo das eras, mas em
que consiste esta revelação?

“Àquele que é poderoso para vos confirmar, segundo o meu Evangelho, na pregação de Jesus Cristo – conforme
a revelação do mistério, guardado em segredo durante séculos, mas agora manifestado por ordem do eterno
Deus e, por meio das Escrituras proféticas, dado a conhecer a todas as nações, a fim de levá-las à obediência da
fé”
(Rm 16, 25-26)

O projeto divino da Revelação realiza-se ao mesmo tempo "por ações e por palavras, intimamente
ligadas entre si e que se iluminam mutuamente". Este projeto comporta uma "pedagogia divina"
peculiar: Deus comunica-se gradualmente com o homem, prepara-o por etapas a acolher a
Revelação sobrenatural que faz de si mesmo e que vai culminar na Pessoa e na missão do Verbo
encarnado, Jesus Cristo. (CatIC 53)

Assim, a Revelação é manifesta pelo próprio Deus, e a Igreja, mantém esta revelação por meio
das Tradições, Verdades de Fé e Dogmas, não para impedir a ação da liberdade humana, mas
ao contrário, para apresentar ao homem, quais são os limites da fé e por consequência de sua
própria liberdade, como as luzes da pista de pouso nos aeroportos, não limitam a possibilidade do
146

piloto aterrissar fora da pista, mas indica-lhe o caminho seguro para executar o procedimento e
não causar um acidente.

O que é Tradição? (Com “T” Maiúsculo)

“Assim, pois, irmãos, ficai firmes e conservai os ensinamentos que de nós aprendestes, seja por palavras, seja
por carta nossa.”
(II Ts 2,15)

Quanto à Sagrada Tradição, ela 'transmite integralmente aos sucessores dos apóstolos a Palavra
de Deus confiada por Cristo Senhor e pelo Espírito Santo aos apóstolos para que, sob a luz do
Espírito da verdade, eles, por sua pregação, fielmente a conservem, exponham e difundam'.
(CatIC 81)

E assim, a pregação apostólica, que se exprime de modo especial nos livros inspirados, devia
conservar-se, por uma sucessão contínua, até à consumação dos tempos. Por isso, os Apóstolos,
transmitindo o que eles mesmos receberam, advertem os fiéis a que observem as tradições que
tinham aprendido quer por palavras quer por escrito (cfr. 2 Tess. 2,15), e a que lutem pela fé
recebida dama vez para sempre (cfr. Jud. 3)(4). Ora, o que foi transmitido pelos Apóstolos,
abrange tudo quanto contribui para a vida santa do Povo de Deus e para o aumento da sua fé; e
assim a Igreja, na sua doutrina, vida e culto, perpetua e transmite a todas as gerações tudo aquilo
que ela é e tudo quanto acredita.

Esta tradição apostólica progride na Igreja sob a assistência do Espírito Santo (5). Com efeito,
progride a percepção tanto das coisas como das palavras transmitidas, quer mercê da
contemplação e estudo dos crentes, que as meditam no seu coração (cfr. Lc. 2, 19. 51), quer
mercê da íntima inteligência que experimentam das coisas espirituais, quer mercê da pregação
daqueles que, com a sucessão do episcopado, receberam o carisma da verdade. Isto é, a Igreja,
no decurso dos séculos, tende continuamente para a plenitude da verdade divina, até que nela se
realizem as palavras de Deus.

Afirmações dos santos Padres testemunham a presença vivificadora desta Tradição, cujas
riquezas entram na prática e na vida da Igreja crente e orante. Mediante a mesma Tradição,
conhece a Igreja o cânon inteiro dos livros sagrados, e a própria Sagrada Escritura entende-se
nela mais profundamente e torna-se incessantemente operante; e assim, Deus, que outrora falou,
dialoga sem interrupção com a esposa do seu amado Filho; e o Espírito Santo - por quem ressoa
a voz do Evangelho na Igreja e, pela Igreja, no mundo - introduz os crentes na verdade plena e faz
com que a palavra de Cristo neles habite em toda a sua riqueza (cfr. Col. 3,16). (DEI VERBUM,
CVII, n.8)

O que é tradição? (Com “t” minúsculo)

“E Jesus acrescentou: “Na realidade, invalidais o mandamento de Deus para estabelecer a vossa tradição.”
(Mc 7,9)

A Tradição da qual aqui falamos é a que vem dos apóstolos e transmite o que estes receberam do
ensinamento e do exemplo de Jesus e o que receberam por meio do Espírito Santo. Com efeito, a
primeira geração de cristãos ainda não dispunha de um Novo Testamento escrito, e o próprio
Novo Testamento atesta o processo da Tradição viva.

Dela é preciso distinguir as "tradições" teológicas, disciplinares, litúrgicas ou devocionais surgidas


ao longo do tempo nas Igrejas locais. Constituem elas formas particulares sob as quais a grande
Tradição recebe expressões adaptadas aos diversos lugares e às diversas épocas. É à luz da
grande Tradição que estas podem ser mantidas, modificadas ou mesmo abandonadas, sob a guia
do Magistério da Igreja. (CatIC 83)

Um exemplo da Sagrada Tradição, são as palavras ditas pelo sacerdote durante a consagração
Eucarística, que não pode ser mudada ao longo do tempo, caso contrário, não temos um
sacramento válido, já um exemplo de tradição disciplinar, ou seja, com “t” minúsculo é o celibato
dos padres, que pode ser mudado e revisto a qualquer momento para o bem pastoral da Igreja.
147

E o que é um DOGMA?

O Magistério da Igreja empenha plenamente a autoridade que recebeu de Cristo quando define
dogmas, isto é, quando, utilizando uma forma que obriga o povo cristão a uma adesão irrevogável
de fé, propõe verdades contidas na Revelação divina ou verdades que com estas têm uma
conexão necessária.

Há uma conexão orgânica entre nossa vida espiritual e os dogmas. Os dogmas são luzes no
caminho de nossa fé que o iluminam e tornam seguro. Na verdade, se nossa vida for reta, nossa
inteligência e nosso coração estarão abertos para acolher a luz dos dogmas da fé.

Os laços mútuos e a coerência dos dogmas podem ser encontrados no conjunto da Revelação do
Mistério de Cristo. "Existe uma ordem ou 'hierarquia' das verdades da doutrina católica, já que o
nexo delas com o fundamento da fé cristã é diferente." (CatIC 88-89)

Dogma é uma verdade revelada por Deus, proposta diretamente pela Igreja, não como é um
acréscimo ou adição à fé, mas é a constatação de que tal verdade, é necessária à salvação, sem
a qual, ninguém antes alcançou e ninguém depois, alcançará a salvação.

Pode ser proclamado pelo Magistério Ordinário ou Extraordinário. O Magistério ordinário, é a


união de todos os Bispos da Igreja, valida e licitamente ordenados, unidos ao sumo pontífice, e o
Magistério Extraordinário, se dá em um Concílio ou em um pronunciamento solene do Sumo
Pontífice em um pronunciamento “Ex Cathedra”.

Nem sempre os Dogmas são proclamados solenemente, por exemplo, os artigos do Credo, são
todos dogmas, mas nem todos possuem uma proclamação solene, que é feita, geralmente
quando uma verdade de fé, é questionada pelos membros da própria Igreja.

Não mais do que 14 vezes os Papas proclamaram solenemente um dogma, o último Dogma
proclamado até o momento, foi o Dogma da Assunção da Virgem Maria ao Céu, proclamado pelo
Papa Pio XII, em 1950.

Diante de um dogma, existe apenas uma atitude do fiel católico:

"Por este senso da fé, excitado e sustentado pelo Espírito da verdade, o Povo de Deus, sob a
direção do sagrado Magistério, (...) adere indefectivelmente à fé 'uma vez para sempre
transmitida aos santos'; e, com reto juízo, penetra-a mais profundamente e na sua vida a coloca
mais perfeitamente em obra." (CatIC 93)

E o que é uma Verdade de Fé?

O acontecimento único e totalmente singular da Encarnação do Filho de Deus não significa que
Jesus Cristo seja em parte Deus e em parte homem, nem que ele seja o resultado da mescla
confusa entre o divino e o humano. Ele se fez verdadeiramente homem permanecendo verdadeiro
Deus. Jesus Cristo é verdadeiro Deus e verdadeiro homem. A Igreja teve de defender e clarificar
esta verdade de fé no decurso dos primeiros séculos, diante das heresias que a falsificavam.
(CatIC 464)

Embora a obra da criação seja particularmente atribuída ao Pai, é igualmente verdade de fé que o
Pai, o Filho e o Espírito Santo são o único e indivisível princípio da criação. (CatIC 316)

Todos os dogmas, são verdades de fé, e como já foi dito, foram proclamados ou são partes dos
artigos de fé dispostos no Credo, mas há verdades que não estão explicitamente proclamadas,
mas são consequências de tais verdade.
148

No parágrafo 464 o Catecismo expõe o dogma sobre a pessoa de Jesus Cristo que está definido
que “Jesus possui duas naturezas que não se transformam nem se misturam”, porém, no
parágrafo 316, apresenta uma consequência direta do Dogma da Santíssima Trindade.

Outro exemplo é a Co-Redenção de Maria Santíssima, pois trata-se de uma verdade diretamente
ligada a Encarnação do Verbo, todas as gerações de cristãos no passado, crerão nesta Co-
Redenção, e todas as gerações futuras deverão continuar crendo. Mas por que a Igreja não
definiu ainda um dogma com este conteúdo? Simples, porque dentro da Igreja, esta verdade de fé
nunca foi questionada.

3º. PÃRTE: Os Sãcrãmentos


O que é Sacramento?

“Quando as coisas despertam saudades e fazem brotar, no coração, a memória do amor e o


desejo da volta, dizemos que são sacramentos. Sacramento é isto: sinal visível de uma ausência,
símbolo que nos faz pensar em retorno. Como aconteceu com Jesus que, logo antes da
partida, realizou um memorial de saudade e espera. Juntou seus amigos, seguidores, partiu o
pão e lhes deu de comer, tomou o vinho e com eles bebeu dizendo que, depois daquilo, viria a
separação e a saudade. Eles seriam como uma noiva de quem o noivo é roubado... Tempo de
lágrimas, de espera... E, por onde quer que fossem, encontrariam sinais de uma ausência
imensa... E o coração ficaria inquieto, sem descanso... E cada palavra sua se transformaria numa
oração, porque oração é a palavra balbuciada com desejo...” (Ruben Alves)

“Olhos fechados/ Pra te encontrar/ Não estou ao seu lado /Mas posso sonhar /Aonde quer que eu
vá/ Levo você no olhar/ Aonde quer que eu vá /Aonde quer que eu vá /Não sei bem certo /Se é só
ilusão/ Se é você já perto/ Se é intuição/ Aonde quer que eu vá/ Levo você no olhar/ Aonde quer
que eu vá/ Aonde quer que eu vá/ Longe daqui/ Longe de tudo/ Meus sonhos vão te buscar/ Volta
pra mim/ Vem pro meu mundo/ Eu sempre vou te esperar.” (Herbert Vianna - Paralamas do
Sucesso: “Aonde quer que eu vá”)

Acima de tudo e em primeiro lugar, é preciso entendermos que os sacramentos, assim como esta
música e o relato de Rubem Alves, é algo do Coração de Deus, que pretende se ligar de modo
definitivo ao coração humano. Os sacramentos, não devem gerar ou pretender sentimentalismos
histéricos, mas a vivência dos sacramentos, com o tempo e o amadurecimento, deve tocar a
emoção da pessoa, ela precisa crescer na orientação dos sentimentos, e entender com o mais
profundo de seu ser, que quando se está diante de um sacramento, se está diante da presença
do próprio Deus.

Os Sacramentos são sinais eficazes da graça, instituídos por Jesus Cristo e confiados à Igreja, por
meio dos quais nos é dispensada a vida divina. Os ritos visíveis sob os quais os Sacramentos são
celebrados significam e realizam as graças próprias de cada sacramento. Produzem fruto
naqueles que os recebem com as disposições exigidas. (CatIC 1131)

Os sacramentos independem da fé da pessoa, seja de quem ministra, seja de quem recebe o


sacramento. Se dois ateus, estiverem em um barco, e por um milagre, se converterem, mas não
tiver quem lhes administre o Batismo, e ao menos um souber a “fórmula” do batismo: “Eu te
batizo, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.” E tiver a mesma intenção da Igreja, ambos
podem batizar-se um ao outro, antes do barco afundar e eles sucumbirem.

Os Sacramentos destinam-se à santificação dos homens, à edificação do Corpo de Cristo e ainda


ao culto a ser prestado a Deus. Sendo sinais, destinam-se também à instrução. Não só supõem a
fé, mas por palavras e coisas também a alimentam, a fortalecem e a exprimem. Por esta razão
são chamados Sacramentos da fé (SC, 59). (CatIC 1123)
149

Para aqueles que já possuem uma fé insipiente ou já estão inseridos na fé católica, e que assim,
recebem os sacramentos com as disposições interiores, os frutos dos sacramentos é a adesão,
aprofundamento e crescimento na Graça Santificante. É por meio deles, que as pessoas vão,
lenta e gradualmente se santificando, adentrando nas Vias de Santificação (Purgativa, Iluminativa
e Unitiva) ou no que Santa Tereza chamou de “Moradas do Castelo Interior”.

Celebrados dignamente na fé, os sacramentos conferem a graça que significam. São eficazes
porque neles age o próprio Cristo; é ele quem batiza, é ele quem atua em seus sacramentos, a
fim de comunicar a graça significada pelo sacramento. O Pai sempre atende à oração da Igreja de
seu Filho, a qual, na epiclese de cada sacramento, exprime sua fé no poder do Espírito. Assim
como o fogo transforma nele mesmo tudo o que toca, o Espírito Santo transforma em vida divina o
que é submetido ao seu poder. (CatIC 1127)

Os sacramentos REZALIZAM O QUE SIGNIFICAM, são sinais, símbolos e pontos de ligação com
Deus, que vão além do simbolismo, além dos significados e simplesmente com o poder da
Palavra de Deus, tornam real, aquilo que por vezes permanece invisível, porém, transformador.
Os efeitos dos Sacramentos, não são notados no momento do ato sacramental, mas ao longo do
tempo, com a vivência, com a tomada de consciência, com a abertura do coração à Graça pela
oração, num processo de deificação, onde o resultado final é a vida dos santos.

Os sacramentos, são “ações” de Nosso Senhor Jesus Cristo que está vivo e ressuscitado em
nosso meio, atuando nos ministros “ex opere operato” (pelo próprio fato da ação ser realizada)
em virtude da obra de salvação de Cristo, a qual foi realizada uma vez por todas, do que conclui-
se que:

“O sacramento não é realizado pela justiça do homem que o confere ou o recebe, mas pelo poder
de Deus” (S. Tomas de Aquino, S.Th. III,68,8).

A partir do momento em que um sacramento é celebrado em conformidade com a intenção da


Igreja, o poder de Cristo e de seu Espírito agem nele e por ele, independentemente da santidade
pessoal do ministro. Contudo, os frutos dos sacramentos dependem também das disposições de
quem o recebe. (CatIC 1128)

Quem é batizado, é tornado de criatura em filho de Deus. Quem recebe a Eucaristia, recebe,
efetivamente e fisicamente a presença de Deus em seu corpo. Estas realidades não mudam com
a fé da pessoa, porém, elas terão maior efeito, quando maior for a fé da pessoa e suas
disposições em viver na sua vida prática, o significado do sacramento recebido. Assim, o
batizado, é um “batizando” até o final da vida; o sacerdote, é um “ordenando” até o fim da vida; o
penitente, precisa ter um coração penitente, uma vontade firme de não mais voltar a pecar.

Validade dos Sacramentos:

Para um sacramento ser válido, ele precisa ter 4 características: Matéria, Forma, Ministro e
Intenção. A matéria, é o sinal sensível (água, óleo, pão e vinho), a forma, é o rito em si, as
palavras a serem ditas; já o ministro, precisa ser o ordinário, para alguns, como a Eucaristia,
Confissão e Unção dos Enfermos, é necessário que o ministro seja ordenado, para ministrar a
Ordem e a Crisma, é preciso ser Bispo, já o Batismo e o Matrimônio, pode ser ministrado por
qualquer pessoa, no caso do matrimônio, o ministro é quem contrai o matrimônio, o sacerdote é
apenas uma testemunha qualificada.

Três coisas são necessárias para se ter um Sacramento:

a) "Um sinal sensível", representativo da natureza da graça produzida. Deve ser "sensível"
porque se não pudéssemos percebê-lo, deixaria de ser um sinal. Este sinal sensível consta
sempre de "matéria" e de "forma", isto é, da matéria empregada (algo) e das palavras
pronunciadas pelo ministro do sacramento;
150

b) Deve ser "instituído por Jesus Cristo", porque só Deus pode ligar um sinal visível a faculdade
de produzir a graça. A Igreja a partir disso, estabelece os ritos sem tocar a substância;

c) "Para produzir a graça". Isto é, distribuir-nos os efeitos e méritos da redenção que Jesus Cristo
mereceu por nós, na cruz... Os sacramentos comunicam esta graça, "por virtude própria",
independente das disposições (pecados, miséria ou fraqueza) daquele que os administra ou
recebe. Esta qualidade, chamada pela teologia “ex opere operato”, distingue os sacramentos da
"oração", das "boas obras" e dos "sacramentais", que tiram a sua eficácia “ex opere operantes”
das disposições do sujeito.

Nos Sacramentos de Cristo, a Igreja já recebe o penhor da herança dele, já participa da Vida
Eterna, embora ainda “aguarde a bendita esperança, a manifestação da glória de nosso grande
Deus e Salvador, Cristo Jesus (Tt 2,13)”. (CatIC 1128)

Os sacramentos são no mundo, os produtores da Graça de Deus, como uma gota que cai no
meio de uma vasilha de água e produz ondas que irradiam até a borda, os sacramentos são no
mundo, os responsáveis por produzir todos os bem que existem no mundo, pois são a própria
ação de Deus no mundo. Resultam da encarnação do Verbo e são o cumprimento das promessas
de Deus ao povo de Israel e aos gentios, sendo assim, ninguém será salvo, se não pelo
recebimento dos sacramentos:

O fruto da vida sacramental é ao mesmo tempo pessoal e eclesial. Por um lado, este fruto é para
cada fiel uma vida para Deus em Cristo Jesus; por outro, é para a Igreja crescimento na caridade
e em sua missão de testemunho. (CatIC 1134)

A Igreja afirma que para os crentes os sacramentos da nova aliança são necessários para a
salvação (Conc. Trento, DS 1604). A “graça sacramental” é a graça do Espírito Santo dada por
Cristo e peculiar a cada Sacramento. O Espírito cura e transforma os que o recebem,
conformando-os com o Filho de Deus. O fruto da vida sacramental é que o Espírito de adoção
deifica (2Pe 1,4) os fiéis unindo-os vitalmente ao Filho único, o Salvador. (CatIC 1129)

Desde a origem e fundação da Igreja, os sacramentos estavam presentes, porém, foi com o
tempo que a teologia sacramental foi se formando, e os sacramentos foram, lentamente fazendo
as pessoas crescerem na graça. A “forma e matéria” dos sacramentos nunca mudou, porém, a
frequência, o entendimento e a própria consciência das realidades realizadas pelos sacramentos
foram adquirindo ao longo do tempo, maior profundidade:

Assistida pelo Espírito Santo, em todos os tempos (cf. Jo 16,12-13), a Igreja foi entendendo aos
poucos toda a realidade dos Sacramentos. (CatIC 1131)

Graças ao Espírito Santo que a conduz à “verdade plena” (Jo 16,13), a Igreja recebeu pouco a
pouco este tesouro recebido de Jesus e precisou sua “dispensação”, tal como o fez com o Cânon
das Sagradas Escrituras e com a doutrina da fé, qual fiel dispensadora dos mistérios de Deus (cf.
Mt 13,52; 1Cor 4,1). Assim ao longo dos séculos, a Igreja foi discernindo que entre suas
celebrações litúrgicas existem sete que são, no sentido próprio da palavra, Sacramentos
instituídos pelo Senhor. (CatIC 1117)

Da Igreja e para a Igreja, esta é a origem e o fim dos Sacramentos. Os cristãos, são como “Sal da
Terra e Luz do Mundo” e de fato o são, mas pela ação e pela força dos sacramentos. Os não
cristãos, são algo da Graça atual de Deus no mundo, e esta, por sua vez, age conduzindo a
pessoa a receber os Sacramentos, que são a Graça Santificante.

Os Sacramentos são “da Igreja” no duplo sentido de que “existem por meio dela” e “para ela”. São
“por meio da Igreja”, pois esta é o Sacramento da ação de Cristo operando em seu seio graças a
ação do Espírito Santo. E são “para a Igreja”, pois são esses “Sacramentos que fazem a Igreja” (S.
Agostinho, De Civita Dei, 22,17; cf. S. Tomás de Aquino, S. Th. III, 64,2 ad3.), com efeito,
manifestam e comunicam aos homens, sobretudo na Eucaristia, o mistério da comunhão do Deus
amor, uno em três Pessoas. (CatIC 1118)
151

“Formando com Cristo-cabeça como que uma única pessoa mística” (Pio XII, Mystici Corporis), a
Igreja age nos Sacramentos como “comunidade sacerdotal”, “organicamente estruturada” (LG, 11).
(CatIC 1131)

Os meios de Salvação, que Deus utiliza para salvar as almas, são os sacramentos. Porém, como
os sacramentos são gestos e palavras humanas, que transmitem a Graça, nalgumas vezes, os
requisitos para se contrair os sacramentos, são a boa vontade e a consciência reta. Muitas são as
pessoas, que mesmo não sendo cristãos católicos, poderiam receber os sacramentos pois
possuem a disposição necessária, mas não se tornam católicos, por muitas questões.

A maioria das pessoas que não são católicas e que possuem esta disposição, dizem rejeitar a
Cristo e a Igreja, mas será mesmo que rejeitam a Cristo e Sua Igreja, ou rejeitam apenas a
caricatura de Cristo ou a desinformação sobre a Igreja? Será que se soubessem com um alto
grau de certeza, que Jesus é Deus, que instituiu a Igreja por amor e que nos deixou os
sacramentos para nossa santificação e consequente felicidade, será que rejeitariam? Fora da
Igreja, não há salvação, já afirmavam os Pais da Igreja:

Esta afirmação não visa àqueles que, sem culpa, desconhecem Cristo e sua Igreja: "Aqueles,
portanto, que sem culpa ignoram o Evangelho de Cristo e sua Igreja, mas buscam a Deus com
coração sincero e tentam, sob o influxo da graça, cumprir por obras a sua vontade conhecida por
meio do ditame da consciência podem conseguir a salvação eterna". "Deus pode, por caminhos
dele conhecidos, levar à fé todos os homens que sem culpa própria ignoram o Evangelho. Pois
'sem a fé é impossível agradar-lhe' Mesmo assim, cabe à Igreja o dever e também o direito
sagrado de evangelizar" todos os homens. (CatIC 847-848)

A desinformação, a calúnia, a mídia anticristã, as religiões e pessoas cristofóbicas e


principalmente o contra testemunho cristão, são os grandes responsáveis pela rejeição de Cristo
e a Igreja. Assim, aqueles que rejeitam a desinformação, a calúnia, as opiniões e o contra
testemunho cristão, rejeitam exatamente aquilo que a própria Igreja rejeita. Se dizem que Jesus é
um lunático ou um moralista exigente, ou ainda que a Igreja é um antro de ladrões e uma
instituição perversa, ora, quem rejeita isso, está literalmente rejeitando a mentira. Isto fica
evidente quando a Igreja ensina sobre o ateísmo:

Na medida em que rejeita ou recusa a existência de Deus, o ateísmo é um pecado contra a virtude
da religião. A imputabilidade desta falta pode ser seriamente diminuída em virtude das intenções e
das circunstâncias. Na gênese e difusão do ateísmo, "grande parcela de responsabilidade pode
caber aos crentes, na medida em que, negligenciando a educação da fé, ou por uma
exposição enganosa da doutrina, ou por deficiência em sua vida religiosa, moral e social,
se poderia dizer deles que mais escondem do que manifestam o rosto autêntico de Deus e
da religião." (CatIC 2125)

Um exemplo disso, são os grupos de ateus, que vivem apresentando as contradições bíblicas.
Eles não estão colocando em questão a historicidade dos textos, pois isso não há como negar,
mas a coerência dos mesmos. Tomam como base interpretativa, o “dogma protestante” da Sola
Scriptura, entendendo ao pé da letra o conteúdo, e assim, de fato, se este é o método de
interpretação das Escrituras, são inúmeras as contradições:

A terra vai durar para sempre:

“Uma geração passa, outra vem, mas a terra sempre subsiste.”


(Ecle 1:4)

A terra perecerá:
152

Entretanto, virá o dia do Senhor como ladrão. Naquele dia, os céus passarão com ruído, os elementos
abrasados se dissolverão, e será consumida a terra com todas as obras que ela contém.
(II Pd 3:10)

Outro exemplo terrível do contra testemunho dos cristãos, é a figura emblemática de Mahatma
Gandhi, que conseguiu o feito estupendo da liberdade e soberania indiana, diante dos ingleses,
sem nem mesmo dar um único tiro para isso, usando apenas o jejum, a oração e o exemplo de
vida, tanto para os ingleses quanto para os indianos. E de onde Gandhi tirou inspiração para fazer
o que fez?

“Se se perdessem todos os livros sagrados da humanidade, e só se salvasse o Sermão da


Montanha, nada estaria perdido.”
(Mahatma Gandhi – 1869-1948)

Em sua vida marcada pela luta pelos direitos civis, não apenas na Índia, mas na África do Sul e
em todo mundo, a exemplo de Cristo, advogado da humanidade, ele disse:

"eu aprendi a descobrir o lado bom da natureza humana e a entrar nos corações dos homens. Eu
percebi que a verdadeira função de um advogado era unir partes separadas".

Um homem com tal envergadura e frutos, não pode fazer o que fez, sem ter sido inspirado pelo
Espírito Santo, porém, apesar de ter como um de seus melhores amigos íntimos um padre da
Igreja Católica Anglicana (vertente anglicana que tem seus bispos e sacerdotes gradualmente se
convertendo em católicos) o Pe. Charles Freer Andrews, e “beber da água do Sermão da
Montanha”, disse:

“Eu seria cristão, sem dúvida, se os cristãos o fossem vinte e quatro horas por dia... não sou
cristão, por causa dos cristãos”.

Esta é uma realidade que toca cada um de nós, pessoas que teriam disposições e até o interesse
em receber os sacramentos, porém, não recebem, porque falta o verdadeiro e honesto
testemunho católico.

Todos os Sacramentos foram instituídos por Jesus e não por um Papa ou um Bispo:

“Fiéis à doutrina das Sagradas Escrituras, às tradições apostólicas (…) e ao sentimento unânime
dos Padres” (Conc. Trento, 7a. S), professamos que “os Sacramentos da nova lei foram todos
instituídos por Nosso Senhor Jesus Cristo”. (CatIC 1114)

“As palavras e as ações de Jesus durante sua vida oculta e durante seu ministério público já eram
salvíficas. Antecipavam o poder de seu mistério pascal; anunciavam e preparavam o que iria dar à
sua Igreja quando tudo fosse realizado. Os mistérios da vida de Cristo são os fundamentos daquilo
que agora, por meio dos ministros de sua Igreja, Cristo dispensa nos Sacramentos, pois aquilo
que era visível em nosso Salvador passou para seus mistérios” (S. Leão Magno, Serm. 74,2).
(CatIC 1115)

E é por meio dos sacramentos que Deus age diretamente no mundo, modificando a história e
conduzindo a Sua Igreja.

Os Sacramentos são “forças que saem” do corpo de Cristo (Lc 5, 17; 6,19; 8,46) sempre vivo e
vivificante; são as ações do Espírito Santo operante no corpo de Cristo, que é a Igreja; são “as
obras- primas de Deus” na Nova e Eterna Aliança. (CatIC 1116)

A pergunta feita pelo ministro do Batismo, no rito do Batismo é: “O que quer da Igreja?” e os
padrinhos ou até o catecúmeno respondem: “A fé”. A fé nos é dada pela Igreja, assim, oração,
supõe a fé, ora, todos os que oram no mundo, independente de religião, possuem alguma fé,
porém, apenas a fé católica, é a fé dada pelo Verbo Encarnado aos homens, especificamente aos
153

seus discípulos feitos apóstolos, e estes, por sua vez, transmitiram a fé dada por Cristo, aos seus
próprios discípulos, e assim, a lei é esta, a oração eficaz, necessariamente precisa de uma fé
eficaz:

A fé da Igreja é anterior à fé do fiel, que é convidado a aderir a ela. Quando a Igreja celebra os
Sacramentos, confessa a fé recebida dos Apóstolos. Daí o adágio antigo: lex orandi, lex credendi
(“a lei da oração é a lei da fé”).

É por isso que nenhum rito sacramental pode ser modificado ou manipulado ao arbítrio do ministro
ou da comunidade. Nem mesmo a Suprema autoridade da Igreja pode alterar a Liturgia a seu
arbítrio, mas somente na obediência da fé e no religioso respeito do Mistério da Liturgia. (CatIC
1124-1125)

Os 7 sacramentos:

Os Sacramentos da nova lei foram instituídos por Cristo e são sete, a saber: o Batismo, a
Confirmação, a Eucaristia, a Penitência, A Unção dos Enfermos, a Ordem e o Matrimônio. Os sete
sacramentos atingem todas as etapas e todos os momentos importantes da vida do cristão: dão à
vida de fé do cristão origem e crescimento, cura e missão. Nisto existe certa semelhança entre as
etapas da vida natural e as da vida espiritual. (CatIC 1210)

Por todos os séculos, deste as primeiras heresias, como os Nestorianos (sustentava a separação
entre as naturezas divina e humana de Jesus Cristo e não aceitava que a Virgem Maria fosse a
mãe de Deus), Monofisitas (doutrina que reconhece apenas a natureza divina de Jesus Cristo,
contrária a coexistência das naturezas humana e divina) e Arianos (negava a Santíssima
Trindade) mesmo estes reconheciam os Sacramentos em número de sete, somente a partir de
1517 com a revolução protestante que a existência e o número de sacramentos começou a ser
questionada.

Santo Tomás de Aquino, afirmava que os sacramentos são em número de sete, porque eles
permeiam toda a vida dos indivíduos, assim:

1o. O Batismo é o nascimento da graça: É necessário a escolha de um casal de padrinhos, não é


necessário que sejam casados entre si, porém, se forem casados entre si, ou com outras
pessoas, faz-se necessário que sejam casados na Igreja e que já tenham recebido a Crisma;

2o. A Crisma é o desenvolvimento da graça: É necessário um padrinho, para os homens e uma


madrinha para as mulheres;

3o. A Eucaristia é o alimento da alma: Antes da comunhão, é necessário o perdão dos pecados,
seja pelo Batismo (libertação do pecado original) ou pela confissão (libertação dos pecados
pessoais);

4o. A Penitência é a cura das fraquezas da alma: É necessário que a pessoa tenha se
arrependido, feito um exame de consciência e esteja disposta a não pecar mais;

5o. A Unção dos enfermos é o restabelecimento das forças espirituais: É necessário que a
pessoa esteja em idade avançada ou que estejam sob o risco de morte, seja por doença ou por
uma cirurgia arriscada;

6o. A Ordem gera a autoridade sacerdotal: Existem três graus, o Diaconato, Presbiterato,
Episcopado, é preciso que seja homem, sem defeito físico e com vocação.

Diácono Temporário: Ter mais de 24 anos, ser solteiro, precisa ter feito oito anos de seminário ou
cursado teologia e, na maioria das vezes, também filosofia. Será ordenado presbítero em breve;
154

Diácono Permanente:

Solteiro: É uma vocação ao celibato, geralmente o diácono permanente solteiro vive sua
vocação inserido em uma ordem ou congregação religiosa;

Casado: É preciso ter feito teologia, ter idade superior a 35 anos, ser casado no mínimo 10
anos, receber autorização da esposa, e quando viúvo, não se casa novamente;

Presbítero: Carinhosamente chamado de “padre” (que significa pai), precisa ter idade superior a
25 anos, ter cumprido os requisitos do diácono temporário, no rito latino, terá vida celibatária;

Episcopado: É a plenitude da vida cristã, precisa ter idade superior a 34 anos, ter sido ordenado
primeiramente Diácono e depois Presbítero, para sua ordenação ser lícita, é preciso uma escolha
e autorização direta da Santa Sé.

7o. O Matrimônio assegura a propagação dos católicos e das suas doutrinas: É preciso ter idade
mínima de 16 anos, com autorização dos pais, ser solteiro(a), de sexos opostos, é preciso ter ao
menos um padrinho(a). O casamento deve ser celebrado previamente ou concomitantemente no
civil. Caso viúvo(a), não pode ser o autor da morte do(a) falecido(a). Precisa cumprir os requisitos
de fidelidade, liberdade, fecundidade e verdade. É indissolúvel, porém, há casos em que o
matrimônio, mesmo celebrado, não teve o sacramento derramado, são os casos de Nulidade
Matrimonial. Não se trata de “anulação”, mas de constatação de que o casamento foi nulo.

Os Sacramentos na Bíblia:

1. Batismo: sua instituição e preceito estão positivamente marcados nos seguintes textos:

"Em verdade vos digo, disse Jesus a Nicodemos, quem não renascer da água e do Espírito Santo, não pode
entrar no reino de Deus"
(Jo 3, 5).

"Ide, ensinai todas as gentes, disse Jesus a seus discípulos, batizando-as, em nome do Pai, do Filho e do Espírito
Santo"
(Mt 28,19).

"O que crer e for batizado, será salvo"


(Mc 16, 61a).

"Recebe o batismo e lava os teus pecados", disse Ananias a Saulo”


(At 22, 16).

Os Apóstolos administravam o batismo a todos os que desejavam alistar-se na religião nova. Três
mil pessoas receberam o batismo das mãos de S. Pedro, no dia de Pentecostes.

“Pedro lhes respondeu: “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para
remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo, pois a promessa é para vós, para os vossos
filhos e para todos os que ouvirem de longe o apelo do Senhor, nosso Deus”. Ainda com muitas outras palavras
exortava-os, dizendo: “Salvai-vos do meio dessa geração perversa!”. Os que receberam a sua palavra foram
batizados. E naquele dia elevou-se a mais ou menos três mil o número de adeptos.”
(At 2, 38-41)

2. A Eucaristia (Comunhão):
155

Cristo afirma, repete, reafirma, e explica que o pão que ele vai dar é o "seu próprio corpo" - que
seu corpo é uma "comida" - que seu sangue é uma "bebida" - que é um pão celeste que dá a vida
eterna.

“Eu sou o pão da vida: aquele que vem a mim não terá fome, e aquele que crê em mim jamais terá sede.
(Jo 6,35)

Ao negar a presença eucarística, se nega as palavras de Cristo.

3. A Crisma:

Os atos dos apóstolos provam que o seu rito exterior consiste na imposição das mãos, diferente
do batismo que utiliza a água.

“Os apóstolos que estavam em Jerusalém souberam que a Samaria acolhera a palavra de Deus e enviaram para
lá Pedro e João. Chegando ali, oraram pelos habitantes da Samaria, para que recebessem o Espírito Santo. Pois
o Espírito ainda não viera sobre nenhum deles; só tinham recebido o batismo no nome do Senhor Jesus. Pedro
e João impuseram-lhes as mãos, e eles receberam o Espírito Santo.”
(At 8, 14-17)

Os apóstolos São Pedro e São João, enviados a Samaria, "punham as mãos sobre os que tinham
sido batizados", e recebiam estes o Espírito Santo (At 8, 12-17). Do mesmo modo, S. Paulo, vindo
a Éfeso, batizou, em nome de Jesus Cristo, discípulos de João e a "eles impôs as mãos, para que
o Espírito Santo baixasse sobre eles" (At 19, 1-6). Para que S. Paulo imporia as mãos sobre
quem já era batizado se a Crisma não fosse um sacramento que confirmasse o Batismo,
completando os dons do Espírito Santo?

Segundo estes textos, compreende-se claramente que São Pedro e São João de um lado, e São
Paulo de outro, deram o Espírito Santo, pela imposição das mãos. Ora, uma tal prática seria
ridícula, se eles o fizessem fora da vontade e das prescrições do Mestre. A Crisma é, pois, um
sacramento instituído por Nosso Senhor. Em vida, Nosso Senhor não poderia Crismar ninguém,
pois o Pentecostes só aconteceria após sua Ascenção aos Céus, como salienta o próprio São
João:

“Quem crê em mim, como diz a Escritura: Do seu interior manarão rios de água viva” Dizia isso, referindo-se ao
Espírito que haviam de receber os que cressem nele, pois ainda não fora dado o Espírito, visto que Jesus ainda
não tinha sido glorificado.”
(Jo 7,38s)

Com o Batismo e a Eucaristia, o sacramento da Confirmação constitui o conjunto dos


“sacramentos da iniciação crista”, cuja unidade deve ser salvaguardada. Por isso, e preciso
explicar aos fiéis que a recepção deste sacramento e necessária para a plenitude da graça
batismal. Com efeito, os batizados “pelo sacramento da Confirmação, são mais perfeitamente
vinculados a Igreja, enriquecidos com uma forca especial do Espírito Santo e deste modo
ficam mais estritamente obrigados a difundir e a defender a fé por palavras e obras, como
verdadeiras testemunhas de Cristo.” (CatIC 1285)

O sacramento da confirmação, que imprime caráter, e pelo qual os batizados, continuando o


caminho da iniciação cristã, são enriquecidos com o dom do Espírito Santo e vinculados mais
perfeitamente à Igreja, fortalece-os e mais estritamente os obriga a serem testemunhas de Cristo
pela palavra e ação e a difundirem e defenderem a fé. (CIC: Cân. 879)

Os fiéis têm a obrigação de receber tempestivamente esse sacramento; os pais, os pastores


de almas, principalmente os párocos, cuidem que os fiéis sejam devidamente instruídos para o
receberem e que se aproximem dele em tempo oportuno. (CIC: Cân. 890)
156

O Espírito Santo, é Aquele que Santifica, apenas a Graça de Deus, pela ação do Espírito, pode
santificar a pessoa, o Sacramento da Crisma, torna a pessoa apta à santificação:

“Acaso não sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o
templo de Deus, Deus o destruirá, pois o templo de Deus é santo, e esse templo sois vós. Vós sois de Cristo, e
Cristo é de Deus.”
(1Cor 3,16-17)

É por meio da Crisma, que se manifestam os dons de santificação:

Sabedoria, Ciência, Entendimento, Conselho, Fortaleza, Piedade e Temor de Deus

Um renovo sairá do tronco de Jessé, e um rebento brotará de suas raízes. Sobre ele repousará o Espírito do
Senhor, Espírito de sabedoria e de entendimento, Espírito de prudência e de coragem, Espírito de ciência e de
temor do Senhor. Sua alegria se encontrará no temor do Senhor. Ele não julgará pelas aparências, e não
decidirá pelo que ouvir dizer;
(Is 11, 1-3)

Sabedoria: O Espírito nos capacita a conhecer a Deus na intimidade e nos leva a conhecer e
querer viver conforme a Sua vontade. Fazer a vontade de Deus é a MAIOR SABEDORIA que um
ser humano pode fazer. Nos leva e mergulhar na pergunta: O que Deus quer?

Entendimento (inteligência): Nos leva a ver as pessoas e o mundo com os olhos de Deus.
Somos levados a penetrar os mistérios de Deus, sem curiosidade, mas por amor Àquele que
amamos. Nos leva a mergulharmos na pergunta: Quem é Deus?

Ciência: Nos leva a compreender e aceitar os planos de Deus revelados na Escritura e na Igreja.
Nos leva a nos aprofundar na pergunta: Quem sou eu aos olhos de Deus (de quem sou eu)?

Conselho: Nos faz sábios diante da vida e nos impulsiona a procurar Deus e a levar os outros a
Deus, tornando a todos conhecida qual é a Vontade de Deus. Nos leva a nos aprofundar na
pergunta: Como Deus quis que fosse o mundo que Ele criou?

Fortaleza: Nos prepara para lutar contra as tentações e o pecado. Nos faz corajosos na defesa
da Fé, da “Sã Doutrina” (1Tm 1,10) da Igreja. Nos dá força e paciência para carregar a cruz de
cada dia, nos aprofundando na pergunta: Quais são os inimigos de Deus? (O mundo, o Diabo e
Nós mesmos).

Piedade: Produz em nós o amor a Deus, afasta-nos de toda forma de idolatria (coisas, pessoas e
nós mesmos), aguça nossa oração humilde e permanente, nos faz curvar a cabeça e o coração
diante do SAGRADO. Move-nos a ADORAR a Deus, VENERAR os santos e anjos e nos dá uma
VENERAÇÂO ESPECIAL por Maria Santíssima. Somos convidados a nos aprofundar na
pergunta: O que é de Deus?

Temor de Deus: É o receio de ofender a Deus, não se trata de medo de ofendê-lo por medo do
castigo, mas receio de decepcioná-Lo com o nosso pecado (Desamor). É a pergunta feita à
Jesus: O que devo fazer para ser bom (perfeito)?

Receber o Sacramento da Crisma, é admitir sua pertença a Deus e sua escolha pela Igreja. Há
uma luta espiritual acontecendo neste momento, entre o Espírito e a Carne, e o campo de batalha
é no coração do ser humano, vencer, significa superar a si mesmo em um longo processo de
“morrer para si mesmo”:
157

“Em seguida, Jesus disse a seus discípulos: “Se alguém quiser vir comigo, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz
e siga-me.”
(Mt 16,24)

“Pois, se viverdes segundo a carne morrereis; mas se, pelo Espírito, matardes o procedimento carnal, então
vivereis. Todos aqueles que se deixam conduzir pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. De fato, vós não
recebestes espírito de escravos, para recairdes no medo, mas recebestes o Espírito que, por adoção, vos torna
filhos, e no qual clamamos: ‘Abbá, Pai!’”
(Rm 8, 13s)

“Andai segundo o Espírito e não satisfareis aos apetites da carne”


(Gl 5,17)

Obras da carne:

“São bem conhecidas as obras da carne: imoralidade sexual, impureza, devassidão, idolatria, feitiçaria,
inimizades, contenda, ciúmes, iras, intrigas, discórdias, facções, invejas, bebedeiras, orgias e outras coisas
semelhantes. Eu vos previno, como aliás já o fiz: os que praticam essas coisas não herdarão o reino de Deus.”
(Gl 5, 19-21)

Frutos do Espírito:

“O fruto do Espírito, porém, é: amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, lealdade, mansidão, domínio
próprio. Contra estas coisas não existe lei. Os que pertencem a Jesus Cristo crucificaram a carne com suas
paixões e seus desejos. Se vivemos pelo Espírito, procedamos também de acordo com o Espírito.”
(Gl 5, 22-25)

Receber um sacramento, é uma responsabilidade gigantesca, pois não há graça maior neste
mundo do que os sacramentos, o Sacramento da Crisma, é uma resposta, é assumir a
responsabilidade de tornar conhecido o Reino de Deus e o Evangelho, então, fiquemos atentos:

"Quem é, pois, o administrador fiel e sensato, a quem seu senhor encarrega dos seus servos, para lhes dar sua
porção de alimento no tempo devido? Feliz o servo a quem o seu senhor encontrar fazendo assim quando
voltar. Garanto-lhes que ele o encarregará de todos os seus bens. Mas suponham que esse servo diga a si
mesmo: ‘Meu senhor se demora a voltar’, e então comece a bater nos servos e nas servas, a comer, a beber e a
embriagar-se. O senhor daquele servo virá num dia em que ele não o espera e numa hora que não sabe, e o
punirá severamente e lhe dará um lugar com os infiéis. "Aquele servo que conhece a vontade de seu senhor e
não prepara o que ele deseja, nem o realiza, receberá muitos açoites. Mas aquele que não a conhece e prática
coisas merecedoras de castigo, receberá poucos açoites. A quem muito foi dado, muito será exigido; e a
quem muito foi confiado, muito mais será pedido". "Vim trazer fogo à terra, e como gostaria que já estivesse
aceso!”
(Lc 12:42-49)

O Ritual do Sacramento da Crisma

O Sinal: a unção com o Crisma.

A vela batismal é acesa no Círio Pascal e o Padre ou o Padrinho apresentam ao Bispo o


Crismando pelo nome, então o Bispo (ou padre designado) faz a Imposição das mãos e a Unção
com o Crisma. O Bispo costuma dar um “tapinha” no rosto do crismado, este gesto simboliza a
submissão do crismado à Igreja na figura e autoridade do Bispo.
158

Diálogo:

Bispo diz: Receba o Espírito Santo Dom de Deus.


Crismando: Amém
Bispo: A Paz esteja contigo
Crismando: E contigo também

4. A Confissão:

"Se confessarmos os nossos pecados, diz o Apóstolos, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e purificar-
nos de toda injustiça"
(1 Jo 1, 8).

A confissão não é nova, já existia no Antigo Testamento, mas foi elevada à dignidade de
Sacramento por Nosso Senhor, que conhecia a fraqueza humana e desejava salvar seus filhos.

"Aquele que esconde os seus crimes não será purificado; aquele, ao contrário, que se confessar e deixar seus
crimes, alcançará a misericórdia"
(Prov. 38, 13)

"Não vos demoreis no erro dos ímpios, mas confessai-vos antes de morrer"
(Ecl 17, 26)

No dia da ressurreição, como para significar (SACRAMENTAR) que a confissão é a ressurreição


espiritual do pecador, Jesus disse:

Disse-lhes outra vez: “A paz esteja convosco! Como o Pai me enviou, assim também eu vos envio a vós”. Depois
dessas palavras, soprou sobre eles dizendo-lhes: “Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os
pecados, lhes serão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, lhes serão retidos”.
(Jo 20, 21-23)

Note-se que este texto tem um contexto, ele é dito especificamente para os discípulos que foram
ordenados apóstolos na Santa Ceia, a exceção de Judas Iscariotes, ou seja, aos onze, assim,
trata-se de uma instituição.

5. A Unção dos Enfermos:

É o quinto sacramento instituído por Jesus Cristo, sem que saibamos em que época o instituiu. A
Sagrada Escritura, como para a Crisma, nos transmite apenas o rito exterior e o efeito produzido.

O Evangelho diz que:

"à ordem do Senhor... os apóstolos expeliam muitos demônios e ungiam com óleo a muitos enfermos, e os
curavam"
(Mc 6, 13).

Eis um fato, é a ordem do Senhor.

A instituição da extrema-unção decorre destas palavras de S. Tiago:

"Está entre vós alguém enfermo? Chame os sacerdotes da Igreja, e estes façam oração sobre ele, ungindo-o
com óleo, em nome do Senhor. E o Senhor o aliviará, e se estiver em algum pecado ser-lhe-á perdoado"
(Tg 5, 14-15).
159

Nunca o Apóstolo teria prometido tais efeitos a uma unção, na enfermidade, sem firmar-se na
autoridade Divina da instituição deste sacramento. A extrema-unção é, pois, verdadeiramente um
sacramento.

6. Ordem:

A Ordem é o sacramento que dá o poder de desempenhar as funções eclesiásticas, e a graça de


fazê-lo santamente. Em outros termos, é o sacramento que faz os sacerdotes, ou ministros de
Deus. Muitos textos da Sagrada Escritura provam a existência do sacerdócio e indicam o rito de
ordenação sacerdotal. Lemos de fato que Nosso Senhor fez uma seleção entre os discípulos:
"Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi", diz Ele (Jo 15, 16). Aos
discípulos eleitos, chamados apóstolos, o divino Mestre confia as quatro atribuições particulares
do sacerdócio:

Oferecer o santo sacrifício: "Fazei isto em memória de mim" (Lc 22, 19).
Perdoar os pecados: Os pecados serão perdoados aos que vós os perdoardes (Jo 20, 23).
Pregar o Evangelho: Ide no mundo inteiro, pregando o Evangelho a todas as criaturas (Mc 16,
15).
Governar a Igreja: O Espírito Santo constituiu os bispos para governarem a Igreja de Deus (At 20,
28).

Todas estas Palavras ditas pelo Senhor, foram ditas somente aos 12 discípulos que foram
ordenados na Santa Ceia, a seguir outras confirmações:

"Não desprezes a graça que há em ti e te foi dada por profecia pela imposição das mãos do presbitério"
(1 Tim 4, 14).

"Por este motivo, diz ele, te admoesto que reanimes a graça de Deus, que recebestes pela imposição de minhas
mãos"
(2 Tim 1, 6).

O exemplo dos apóstolos nos mostra a transmissão dos poderes sacerdotais pela ordenação. E por onde Paulo
e Barnabé passavam, "ordenavam sacerdotes para cada Igreja"
(At 14, 22).

Tudo isso prova, claramente, que os apóstolos tinham recebido de Jesus a divina investidura de
poderes, que iam assim distribuindo pela imposição das mãos; e esta investidura é o sacramento
da Ordem.

7. O Matrimônio:

É o último na série dos sacramentos. O casamento que era antes de Jesus Cristo mero contrato,
é um verdadeiro sacramento da nova lei. Não sabemos exatamente o tempo nem o lugar em que
Jesus Cristo instituiu este sacramento; pensam os teólogos que foi nas bodas de Caná. Outros
pensam que foi na ocasião em que o Salvador restaurou a unidade e a indissolubilidade
primitivas. Interrogado a respeito do divórcio, Cristo responde que não era lícito por nenhum
motivo, que nem o direito de separar-se tem o homem e a mulher, exceto o caso de adultério:

“Os fariseus vieram perguntar-lhe para pô-lo à prova: “É permitido a um homem rejeitar sua mulher por um
motivo qualquer?”. Respondeu-lhes Jesus: “Não lestes que o Criador, no começo, fez o homem e a mulher e
disse: Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher; e os dois formarão uma só carne?
Assim, já não são dois, mas uma só carne. Portanto, não separe o homem o que Deus uniu”. Disseram-lhe eles:
160

“Por que, então, Moisés ordenou dar um documento de divórcio à mulher, ao rejeitá-la?”. Jesus respondeu-lhes:
“É por causa da dureza de vosso coração que Moisés havia tolerado o repúdio das mulheres; mas no começo
não foi assim. Ora, eu vos declaro que todo aquele que rejeita sua mulher, exceto no caso de matrimônio falso,
e desposa uma outra, comete adultério. E aquele que desposa uma mulher rejeitada, comete também
adultério”.”
(Mt 19, 3-9)

Outros, ainda, pensam que foi instituído depois da ressurreição, e promulgado por S. Paulo, na
epístola aos efésios:

“Maridos, amai as vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela, para santificá-la,
purificando-a pela água do batismo com a palavra, para apresentá-la a si mesmo toda gloriosa, sem mácula,
sem ruga, sem qualquer outro defeito semelhante, mas santa e irrepreensível. Assim os maridos devem amar
as suas mulheres, como a seu próprio corpo. Quem ama a sua mulher ama-se a si mesmo. Certamente,
ninguém jamais aborreceu a sua própria carne; ao contrário, cada qual a alimenta e a trata, como Cristo faz à
sua Igreja – porque somos membros de seu corpo. Por isso, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua
mulher, e os dois constituirão uma só carne (Gn 2,24). Esse mistério é grande, quero dizer, com referência a
Cristo e à Igreja. Em resumo, o que importa é que cada um de vós ame a sua mulher como a si mesmo, e a
mulher respeite o seu marido.”
(Ef 5, 25-33).

Pouco importa o tempo e o lugar, o certo é que o matrimônio foi por Jesus elevado à dignidade de
sacramento, como está bem claro:

"Não separe o homem o que Deus uniu"


(Mt 19, 6).

Ou seja, Deus uniu os noivos, é uma ação direta de Deus.

Este mistério, ou sacramento, é grande em relação a Cristo e à Igreja, diz S. Paulo (Ef 5, 32). Isso
é grande, em relação a Cristo, porque é instituição divina; grande em relação à Igreja, que deve
mantê-lo na sua unidade e indissolubilidade.

O rito externo foi indicado por S. Paulo: é a mútua tradição e aceitação do direito sobre os corpos,
em ordem aos fins do casamento, formando uma união santa, como é "santa a união do Cristo
com a sua Igreja" (Ef 5, 25).
Divisão dos Sacramentos:

Podem ser divididos em Sacramentos de:

Iniciação Cura Serviço


Batismo
Reconciliação (Confissão) Matrimônio
Comunhão (Eucaristia)
Unção dos Enfermos Ordem (Sacerdócio)
Crisma

Ou então em Sacramentos com ou sem caráter:

Com Caráter (Marca) Sem Caráter (Não Marca)


Comunhão (Eucaristia)
Batismo
Reconciliação (Confissão)
Crisma
Unção dos Enfermos
Ordem
Matromônio
161

Eis alguns detalhes sobre a celebração dos sacramentos:

Sacramento Matéria Forma/Rito Ministro Efeito Graça


Sacerdotes
Perdão do Pecado
Eu te batizo ou em
Original, dos veniais e
Água e óleo em nome do caso de Torna-se Filho
mortais; Morre e nasce
Batismo dos Pai, do Filho e risco de de Deus (Selo
novamente; Membro da
catecúmenos do Espírito morte, do Batismo)
Igreja; Embaixador de
Santo... qualquer
Cristo.
pessoa.
Diácono: Legitimidade
Orações
do Envio; Presbítero:
Ordem Imposição próprias para
In Persona Legitimidade do
Diaconal, das mãos e cada rito e
Bispo Christi (Selo Pastoreio; Epíscopo:
Presbiteral e óleo do grau
Sacerdotal) Sucessão Apostólica e
Episcopal Crisma hierárquico da
Plenitude da Graça
Ordem
Santificante
Palavra do
Bispo:
“Recebe por
este sinal o
Espírito
Efusão do
Santo, Dom Crescimento Espiritual;
Unção com o Bispo ou Espírito Santo
de Deus” Recebimento dos Dons
Crisma óleo da Presbítero (Selo da
(Faz-se o do Espírito; Maturidade
Crisma designado Confirmação
sinal da cruz Cristã.
do Batismo)
na fronte), ao
que o
crismando
responde:
“Amém”.
Presença real, do
Eucaristia Gestos , Pão Orações Bispo ou Transubstan- Corpo, Sangue, Alma e
(Comunhão) e Vinho Eucarísticas Presbítero ciação Divindade de Jesus
Cristo.
Recobra a Graça
Penitência O perdão de Santificante; Reconcilia
Confessar os Fórmula da Bispo ou
ou todos os com a Igreja e
pecados absolvição Presbítero
Confissão pecados Remissão da Pena
Eterna.
União dos próprios
A unção com Fórmula da Restabelecime sofrimentos aos de
Unção dos Bispo ou
o óleo dos Unção dos nto e cura da Cristo; Perdão dos
Enfermos presbítero
enfermos enfermos alma. Pecados; Preparação
para a Morte.
Santificação dos
Os noivos e Votos de Ministros: esposos; Legitimidade
Matrimônio Uma só carne
a Aliança casamento Os noivos do ato sexual e
Fecundidade Eclesial.
162

Bem-vindo ao CAMPO DE BATALHA

O que fazer para vencer e ser CHEIO do Espírito Santo?

1º. Purificar-se: Deus não usa vasos sujos (Confissão).

2º. Intenção de Doar-se, Fazer-se “DOM” aos outros: Perdoar a todos.

3º. Esforçar-se para fazer a vontade de Deus: Antes de TUDO, procurar conhecer a vontade de
Deus.

4º. Pedir o Espírito Santo com Fé:

“Sereis batizados no Espírito Santo”


(At 1,5)

“Naquele dia, jorrará água corrente de Jerusalém, metade para o mar do nascente e metade para o mar do
poente; jorrará tanto no verão como no inverno.”
(Zc 14,8)

“O Senhor te guiará constantemente, ele te alimentará no árido deserto, renovará teu vigor. Serás como um
jardim bem irrigado, como uma fonte de águas inesgotáveis.”
(Is 58,11)

Quem crê em mim, como diz a Escritura: Do seu interior manarão rios de água viva” (Zc 14,8; Is 58,11). Dizia isso,
referindo-se ao Espírito que haviam de receber os que cressem nele, pois ainda não fora dado o Espírito, visto que
Jesus ainda não tinha sido glorificado.
(Jo 7, 37-39)

4º. PÃRTE: Ã Eucãristiã


Antes de iniciarmos um aprofundamento sobre este Sublime Sacramento, faz-se necessário que
você tenha lido o Catecismo da Igreja Católica (CIC): 1322 a 1419 (Resumindo: 1406 ao 1419)

Todos os Sacramentos são importantes, porém, a Eucaristia se destaca dentre eles, mesmo não
sendo considerado um Sacramento com caráter, é o centro de todos os Sacramentos e não
apenas dos sacramentos, é da Eucaristia que emana todas as Graças, bênçãos, sacramentais,
milagres, prodígios, carismas, virtudes e toda espécie de bem visível ou invisível, pois a
Eucaristia é o próprio Deus.

A Eucaristia é “fonte e cume de toda a vida cristã”. “Os restantes sacramentos, assim como todos
os ministérios eclesiásticos e obras de apostolado, estão vinculados com a sagrada Eucaristia e a
ela se ordenam. Com efeito, na santíssima Eucaristia está contido todo o tesouro espiritual da
Igreja, isto é, o próprio Cristo, nossa Páscoa”. (CatIC 1324)

PRÉ-FIGURAÇÕES DA EUCARISTIA NO ANTIGO TESTAMENTO:

“Melquisedec, rei de Salém e sacerdote do Deus Altíssimo, ORDENOU (Mandou) trazer pão e vinho.”
(Gn 14,18)

Melquisedeque já era sacerdote em Jerusalém, antes mesmo de Jerusalém existir, pois era terra
dos Jebuseus (Jebus + Salém = Jerusalém), ele é o Rei, Profeta e Sacerdote, e deu uma ordem
163

sacerdotal, uma ordem que iria servir de sinal e aliança, a vitória de Abrão é celebrada por um
sacerdote misterioso, que ao invés de oferecer em sacrifício, os animais, oferece o “Pão e o
Vinho”.

Salmo de Davi. Eis o oráculo do Senhor que se dirige a meu Senhor: “Assenta-te à minha direita, até que eu faça
1

de teus inimigos o escabelo de teus pés”. 2O Senhor estenderá desde Sião teu cetro poderoso: “Dominarás –
disse ele – até no meio de teus inimigos.3No dia de teu nascimento, já possuis a realeza no esplendor da
santidade; semelhante ao orvalho, eu te gerei antes da aurora”. 4O Senhor jurou e não se arrependerá: “Tu és
sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedec”. 5O Senhor está à tua direita: ele destruirá os reis no
dia de sua cólera.6Julgará os povos pagãos, empilhará cadáveres; por toda a terra esmagará cabeças.7Beberá da
torrente no caminho; por isso, erguerá a sua fronte.
(Salmo 109/110)

Eis a história da Salvação e no seu cume a menção a Melquisedec, figura de Nosso Senhor
Jesus Cristo, então, a fé de Abrão, antes de ser Abraão, já era uma fé EUCARISTICA, uma fé de
Ação de Graças, a fé da qual nós somos herdeiros, o texto a seguir, nos apresenta como eram os
sacerdotes da antiga aliança e a diferença de Jesus e do sacerdócio cristão, em relação aos
anteriores:
1
Em verdade, todo pontífice é escolhido entre os homens e constituído a favor dos homens como mediador nas
coisas que dizem respeito a Deus, para oferecer dons e sacrifícios pelos pecados. 2Sabe compadecer-se dos que
estão na ignorância e no erro, porque também ele está cercado de fraqueza. 3Por isso, ele deve oferecer
sacrifícios tanto pelos próprios pecados quanto pelos pecados do povo. 4Ninguém se apropria desta honra,
senão somente aquele que é chamado por Deus, como Aarão. 5Assim também Cristo não se atribuiu a si mesmo
a glória de ser pontífice. Esta lhe foi dada por aquele que lhe disse: Tu és meu Filho, eu hoje te gerei (Sl
2,7), 6como também diz em outra passagem: Tu és sacerdote eternamente, segundo a ordem de Mel-
quisedec (Sl 109,4). 7Nos dias de sua vida mortal, dirigiu preces e súplicas, entre clamores e lágrimas,
àquele que o podia salvar da morte, e foi atendido pela sua piedade.
(Hb 5, 1-7)

O Sacerdócio cristão, não é como os sacerdotes do AT, pois estes não possuíam méritos, já o
sacerdócio de Jesus, por Ele ser homem e não ter pecado algum, possui uma piedade perfeita, é
sempre atendido quando pede ao Pai no Espírito:
1
Este Melquisedec, rei de Salém, sacerdote do Deus Altíssimo, que saiu ao encontro de Abraão quando este
regressava da derrota dos reis e o abençoou, 2ao qual Abraão ofereceu o dízimo de todos os seus despojos, é,
conforme seu nome indica, primeiramente “rei de justiça” e, depois, rei de Salém, isto é, “rei de paz”. 3Sem pai,
sem mãe, sem genealogia, a sua vida não tem começo nem fim; comparável sob todos os pontos ao Filho
de Deus, permanece sacerdote para sempre. 4Considerai, pois, quão grande é aquele a quem até o patriarca
Abraão deu o dízimo dos seus mais ricos espólios. 5Os filhos de Levi, revestidos do sacerdócio, na qualidade de
filhos de Abraão, têm por missão receber o dízimo legal do povo, isto é, de seus irmãos. 6Naquele caso, porém,
foi um estrangeiro que recebeu os dízimos de Abraão e abençoou o detentor das promessas. 7Ora, é
indiscutível: é o inferior que recebe a bênção do que é superior. 8De mais, aqui, os levitas que recebem os
dízimos são homens mortais; lá, porém, se trata de alguém do qual é atestado que vive.* 9Por fim, por assim
dizer, também Levi, que recebe os dízimos, pagou-os na pessoa de Abraão, 10pois ele já estava em germe no
íntimo deste, quando aconteceu o encontro com Melquisedec. 11Se a perfeição tivesse sido realizada pelo
sacerdócio levítico (porque é sobre este que se funda a legislação dada ao povo), que necessidade havia ainda
de que surgisse outro sacerdote segundo a ordem de Melquisedec, e não segundo a ordem de Aarão? 12Pois,
transferido o sacerdócio, forçoso é que se faça também a mudança da Lei. 13De fato, aquele ao qual se aplicam
estas palavras é de outra tribo, da qual ninguém foi encarregado do serviço do altar. 14E é notório que nosso
Senhor nasceu da tribo de Judá, tribo à qual Moisés de nada encarregou ao falar do sacerdócio. 15Isto se torna
ainda mais evidente se se tem em conta que este outro sacerdote, que surge à semelhança de
Melquisedec, 16foi constituído não por prescrição de uma Lei humana, mas pela sua
imortalidade. 17Porque está escrito: Tu és sacerdote eternamente, segundo a ordem de Melquisedec. 18Com
164

isso, está abolida a antiga legislação, por causa de sua ineficácia e inutilidade. 19Pois a Lei nada levou à
perfeição. Apenas foi portadora de uma esperança melhor que nos leva a Deus. 20E isso não foi feito sem
juramento. Os outros sacerdotes foram instituídos sem juramento. 21Para ele, ao contrário, interveio o
juramento daquele que disse: Jurou o Senhor e não se arrependerá: tu és sacerdote eternamente. 22E esta
aliança da qual Jesus é o Senhor, é-lhe muito superior.23Além disso, os primeiros sacerdotes deviam suceder-se
em grande número, porquanto a morte não permitia que permanecessem sempre. 24Este, porque vive para
sempre, possui um sacerdócio eterno. 25É por isso que lhe é possível levar a termo a salvação daqueles que
por ele vão a Deus, porque vive sempre para interceder em seu favor.26Tal é, com efeito, o Pontífice que
nos convinha: santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores e elevado além dos céus, 27que não tem
necessidade, como os outros sumos sacerdotes, de oferecer todos os dias sacrifícios, primeiro pelos pecados
próprios, depois pelos do povo; pois isso o fez de uma só vez para sempre, oferecendo-se a si
mesmo. 28Enquanto a Lei elevava ao sacerdócio homens sujeitos às fraquezas, o juramento, que sucedeu à Lei,
constitui o Filho, que é eternamente perfeito.
(Hb 7, 1-28)

A Aliança firmada com Nosso Senhor, é superior a todas as demais alianças, é uma aliança
perfeita, pois Ele é o Sacerdote Eternamente perfeito, capaz de ser o Pontífice entre Deus e os
Homens, sendo Ele mesmo, Deus e Homem:
1
A fé é o fundamento da esperança, é uma certeza a respeito do que não se vê. 2Foi ela que fez a glória dos
nossos antepassados.3Pela fé reconhecemos que o mundo foi formado pela Palavra de Deus e que as coisas
visíveis se originaram do invisível... 8Foi pela fé que Abraão, obedecendo ao apelo divino, partiu para uma terra
que devia receber em herança. E partiu não sabendo para onde ia. 9Foi pela fé que ele habitou na terra
prometida, como em terra estrangeira, habitando aí em tendas com Isaac e Jacó, coerdeiros da mesma
promessa. 10Porque tinha a esperança fixa na cidade assentada sobre os fundamentos (eternos), cujo arquiteto
e construtor é Deus.
(Hb 11, 1-3. 8-10)

Herdamos a fé de Abraão, e mais que filhos carnais, somos filhos espirituais, pois temos fé, na
ordem de Mequisedec, que na verdade é a ordem de Nosso Senhor Jesus Cristo. Os filhos de
Abraão, segundo a carne, estão sujeitos à Lei, porém, os filhos de Abraão segundo o espírito,
estão sujeitos a Graça, que nos foi dada, no dia em que Abrão celebrou sua vitória contra os
Jebuseus, pois Melquisedec é o próprio Cristo, que de modo místico se encontra com Abrão, para
dar-lhe a fé e as premissas da Nova e Eterna aliança.
11
Eis a maneira como o comereis: tereis cingidos os vossos rins, vossas sandálias nos pés e vosso cajado na
mão. Vós comereis apressadamente: é a Páscoa do Senhor. 12Naquela noite, passarei através do Egito, e ferirei
os primogênitos no Egito, tanto os dos homens como os dos animais, e exercerei minha justiça contra todos os
deuses do Egito. Eu sou o Senhor. 13O sangue sobre as casas em que habitais vos servirá de sinal (de
proteção): vendo o sangue, passarei adiante, e não sereis atingidos pelo flagelo destruidor, quando eu
ferir o Egito. 14Conservareis a memória daquele dia, celebrando-o com uma festa em honra do Senhor:
fareis isso de geração em geração, pois é uma instituição perpétua.15Comereis pão sem fermento durante
sete dias. Logo ao primeiro dia tirareis de vossas casas o fermento, pois todo o que comer pão fermentado,
desde o primeiro dia até o sétimo, será cortado de Israel. 16No primeiro dia, assim como no sétimo, tereis uma
santa assembleia. Durante esses dias não se fará trabalho algum, exceto a preparação da comida para
todos. 17Guardareis (a festa) dos Ázimos, porque foi naquele dia que tirei do Egito vossos exércitos. Guardareis
aquele dia de geração em geração: é uma instituição perpétua. 18No primeiro mês, desde a tarde do décimo
quarto dia do mês até a tarde do vigésimo primeiro, comereis pães sem fermento. 19Durante sete dias não
haverá fermento em vossas casas: se alguém comer pão fermentado, será cortado da assembleia de Israel, quer
se trate de estrangeiro ou natural do país. 20Não comereis pão fermentado: em todas as vossas casas comereis
ázimos”.21Moisés convocou todos os anciãos de Israel e disse-lhes: “Ide e escolhei um cordeiro por família, e
imolai a Páscoa. 22Depois disso, tomareis um feixe de hissopo, o ensopareis no sangue que estiver na bacia e
aspergireis com esse sangue a moldura e as duas ombreiras da porta. Nenhum de vós transporá o limiar de sua
casa até pela manhã. 23Quando o Senhor passar para ferir o Egito, vendo o sangue sobre a moldura e sobre as
165

duas ombreiras da porta, passará adiante e não permitirá ao destruidor entrar em vossas casas para
ferir. 24Observareis esse costume como uma instituição perpétua para vós e vossos filhos. 25Quando tiverdes
penetrado na terra que o Senhor vos dará, como prometeu, observareis esse rito. 26E quando vossos filhos vos
disserem: ‘Que significa esse rito?’ – respondereis: 27‘É o sacrifício da Páscoa, em honra do Senhor que, ferindo
os egípcios, passou por cima das casas dos israelitas no Egito e preservou nossas casas’.” O povo inclinou-se e
prostrou-se. 28Em seguida, retiraram-se os israelitas para fazerem o que o Senhor tinha ordenado a Moisés e a
Aarão. Assim o fizeram.
(Ex 12, 11-28)

Inúmeros são os sinais que a Igreja se apropriou na celebração litúrgica, como o cajado (Báculo)
do Bispo, o Sangue do Cordeiro, o primeiro dia da semana (Domingo), os pães ázimos e a
passagem do destruidor, sem destruir Israel, fazer desaparecer o fermento (confissão dos
pecados - ato penitencial), não comer algo fermentado (Jejum Eucarístico).

O Senhor disse a Moisés: “Vou fazer chover pão do alto do céu. Sairá o povo e colherá diariamente a porção de
cada dia. Eu o porei desse modo à prova, para ver se andará ou não segundo minhas ordens... 13À tarde, com
efeito, subiram codornizes (do horizonte) e cobriram o acampamento; e, no dia seguinte pela manhã, havia uma
camada de orvalho em torno de todo o acampamento. 14E, tendo evaporado esse orvalho, eis que sobre a
superfície do deserto estava uma coisa miúda, granulosa, miúda como a geada sobre a terra! 15Vendo isso,
disseram os filhos de Israel uns aos outros: “Que é isso?”, pois não sabiam o que era. Moisés disse-lhes: “Este é o
pão que o Senhor vos manda para comer.
(Ex 16, 4. 13-15)

O pão do Céu, o alimento vindo da parte de Deus, é Deus quem alimenta e dá de comer, como
um pai aos seus filhos, um pastor às ovelhas, este sinal, que é um grande prodígio, realiza-se
plenamente em Jesus, que de fato, é o Verbo feito Carne e a Carne feito Pão que alimenta e
sustenta a Igreja ao longo dos séculos.

O Senhor dos exércitos preparou para todos os povos, nesse monte, um banquete de carnes gordas, um festim
6

de vinhos velhos, de carnes gordas e medulosas, de vinhos velhos purificados. 7Nesse monte tirará o véu que
vela todos os povos, a cortina que recobre todas as nações,8e fará desaparecer a morte para sempre. O Senhor
Deus enxugará as lágrimas de todas as faces e tirará de toda a terra o opróbrio que pesa sobre o seu povo,
porque o Senhor o disse.
(Is 25, 6-8)

O banquete que retirará o véu, esta é a figura da Encarnação do Verbo, a referência à última
Ceia, onde deus, literalmente sentou-se à mesa e comeu com seus discípulos, em todas as
Missas celebradas, este gesto se repete, é Deus que se senta à mesa e torna-se alimento para
todos nós.
“Assemelho-me ao pelicano do deserto, sou como a coruja nas
ruínas.”
(Sl 101,7)

O pelicano é conhecido por retirar partes do próprio corpo


para oferecer aos seus filhotes, Deus faz o mesmo, dá de
comer aos homens sua própria carne feito Pão e seu
Sangue feito vinho. Nesta imagem temos a espécie
Eucarística do Pão, cravado com o IHS (Ieshua) que é o
nome de Jesus em Hebraico, o pelicano de asas abertas,
simbolizando Cristo de braços abertos na Cruz, retirando
partes do seu lado aberto, para alimentar a Igreja. Vemos
ainda a Cruz com uma cobra enrolada na haste, que
Moisés fabricou para curar o povo no deserto que havia
166

sido picado por cobras, e por fim, temos o cordeiro imolado no lado, deixado sobre a bandeja.
São todos símbolos de Cristo e da Salvação.

Naquele dia, se escreverá até mesmo nos chocalhos dos cavalos, consagrado ao Senhor. Os caldeirões
20

ordinários do Templo do Senhor serão consagrados como as taças do altar. 21Todo caldeirão, tanto em
Jerusalém como em Judá, será consagrado ao Senhor dos exércitos; todo aquele que vier oferecer sacrifício
poderá servir-se deles para cozinhar; e não haverá mais traficantes naqueles dias na casa do Senhor dos
exércitos.
(Zc 14, 20s)

Todos “tomarão parte no Sacrifício”, pois que Jesus, é Deus e Homem, Nele, Deus se sacrifica
pelos homens, mas também os Homens fazem parte do Sacrifício, oferecendo-se Nele em
reparação pelos pecados do mundo inteiro.

Vá, antes, um de vós e feche as portas. Não acendereis mais inutilmente o fogo no meu altar. Não tenho
10

nenhuma complacência convosco – diz o Senhor dos exércitos – e nenhuma oferta de vossas mãos me é
agradável. 11Porque, do nascente ao poente, meu nome é grande entre as nações e em todo lugar se oferecem
ao meu nome o incenso, sacrifícios e oblações puras. Sim, grande é o meu nome entre as nações – diz o Senhor
dos exércitos. 12Vós, porém, o profanais quando dizeis: A mesa do Senhor está manchada; o que nela se oferece
é um alimento comum.
(Ml 1, 10-12)

O Sacrifício constante e a mesa do Senhor não contém um alimento comum, é um alimento que
mesmo não sendo capaz de fisicamente alimentar o corpo inteiro, é suficiente para sustentar a
alma na santidade.
23
Contudo, ele ordenou às nuvens do alto, e abriu as portas do céu:24fez chover o maná para saciá-los, deu-lhes
o trigo do céu. 25Pôde o homem comer o pão dos fortes, e lhes mandou víveres em abundância.
(Sl 77, 23-25)

O Senhor Deus fez chover pão no deserto, o “Pão dos Fortes”, ora, quem são os mais fortes
dentre nós, se não os santos, aqueles que fizeram da Eucaristia as suas vidas, que adentraram
nas moradas do castelo interior e nunca mais foram tocados pelo pecado?

A Eucaristia é o Pão dos Fortes. Ao longo da história da Igreja, vimos inúmeros exemplos do
poder da Eucaristia, um destes grandes momentos, é a vida de Marthe Robin, uma moça
francesa nascida em 1902, em plena Belle Éphoque atormentada desde a infância por uma
doença desconhecida, que lhe causava muitas dores, foi diagnosticada com encefalite, com o
tempo ela ficou tetraplégica perdendo todos os movimentos do corpo, incapaz de abrir a boca e
de engolir qualquer coisa. Falava muito pouco e com tremenda dificuldade, então, sem poder
digerir nenhum alimento, seu confessor por 50 anos, lhe deu o viático, que é a última refeição, a
Comunhão Eucarística, e por todo este tempo, este foi seu único alimento.

De fato, a Eucaristia é o Pão dos fortes. Marthe também perdeu a visão e permaneceu imóvel,
sem se alimentar, se não apenas da Eucaristia, porém, recebeu no corpo, as Chagas de Jesus,
que nas sextas-feiras vertiam sangue, além de que era duramente atormentada pelo demônio,
que fisicamente lhe batia, mesmo na frente dos padres e médicos, o único remédio era a
Eucaristia. Em 6 de fevereiro de 1981, após 50 anos de martírio, ela morre, assassinada pelo
próprio demônio. Ela mesma havia dito ao seu confessor: “desta vez Deus permitirá que o
demônio vá até o fim”
167

EUCARISTIA E O NOVO TESTAMENTO

O cálice de bênção, que benzemos, não é a comunhão do sangue de Cristo? E o pão, que partimos, não é a
comunhão do corpo de Cristo?
(1 Cr 10,16)

São Paulo escreveu este texto por volta do ano 55 d.C, e podemos concluir que apenas 25 anos
após a Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor, o cálice e o pão já era reconhecido como a real
comunhão do Corpo e Sangue do Senhor.

Eu recebi do Senhor o que vos transmiti: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão 24e,
23

depois de ter dado graças, partiu-o e disse: “Isto é o meu corpo, que é entregue por vós; fazei isto em memória
de mim”. 25Do mesmo modo, depois de haver ceado, tomou também o cálice, dizendo: “Este cálice é a Nova
Aliança no meu sangue; todas as vezes que o beberdes, fazei-o em memória de mim”. 26Assim, todas as vezes
que comeis desse pão e bebeis desse cálice lembrais a morte do Senhor, até que venha. 27Portanto, todo aquele
que comer o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente será culpável do corpo e do sangue do
Senhor. 28Que cada um se examine a si mesmo e, assim, coma desse pão e beba desse cálice. 29Aquele que o
come e o bebe sem distinguir o corpo do Senhor, come e bebe a sua própria condenação.
(1 Cr 11,23-29)

O texto da Santa Missa, já é referenciado por São Paulo: “Tomai e comei: isto é o meu Corpo” e
já alertava para o perigo de comer o pão e beber do cálice de forma indigna, pois torna o receptor
“réu do corpo de Jesus“ e “Quem come sem discernir o corpo, bebe para a própria condenação”.

Os Sinóticos e Atos:

Durante a refeição, Jesus tomou o pão e, depois de o benzer, partiu-o e deu-lho, dizendo: “Tomai, isto é o meu
22

corpo”. 23Em seguida, tomou o cálice, deu graças e apresentou-lho, e todos dele beberam. 24E disse-lhes: “Isto é
o meu sangue, o sangue da aliança, que é derramado por muitos.
(Mc 14,22-24) - (64 d.C)
26
Durante a refeição, Jesus tomou o pão, benzeu-o, partiu-o e o deu aos discípulos, dizendo: “Tomai e comei, isto
é meu corpo”. 27Tomou depois o cálice, rendeu graças e deu-lho, dizendo: “Bebei dele todos, 28porque isto é
meu sangue, o sangue da Nova Aliança, derramado por muitos homens em remissão dos pecados.
(Mt 26,26-28) - (70 d.C)
17
Pegando o cálice, deu graças e disse: “Tomai este cálice e distribuí-o entre vós. 18Pois vos digo: já não tornarei
a beber do fruto da videira, até que venha o Reino de Deus”. 19Tomou em seguida o pão e depois de ter dado
graças, partiu-o e deu-lho, dizendo: “Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de
mim”. 20Do mesmo modo tomou também o cálice, depois de cear, dizendo: “Este cálice é a Nova Aliança em
meu sangue, que é derramado por vós...
(Lc 22,17-20) - (80 d.C):

A Fórmula Eucarística é referenciada pelos Sinóticos, mas também, em Lucas, apenas após a
Santa Missa, é que os discípulos de Emaús reconhecem Jesus no meio deles:

Nesse mesmo dia, dois discípulos caminhavam para uma aldeia chamada Emaús, distante de Jerusalém
13

sessenta estádios... 28Aproximaram-se da aldeia para onde iam e ele fez como se quisesse passar adiante. 29Mas
eles forçaram-no a parar: “Fica conosco, já é tarde e já declina o dia”. Entrou então com eles. 30Aconteceu que,
estando sentado conjuntamente à mesa, ele tomou o pão, abençoou-o, partiu-o e serviu-lho.* 31Então, se lhes
abriram os olhos e o reconheceram... mas ele desapareceu.
(Lc 24,13. 28-31)
168

Em Atos, vemos a referência à Santa Missa, ao elencar das principais práticas dos cristãos da
Igreja primitiva:

“Perseveram eles na doutrina dos apóstolos, nas reuniões em comum, na fração do pão e nas orações”.
(At 2,42)

O Evangelho de S. João:
1
No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus. 2Ele estava no princípio junto de
Deus.3Tudo foi feito por ele, e sem ele nada foi feito. 4Nele havia vida, e a vida era a luz dos homens. 5A luz
resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam. 6Houve um homem, enviado por Deus, que se
chamava João. 7Este veio como testemunha, para dar testemunho da luz, a fim de que todos cressem por meio
dele. 8Não era ele a luz, mas veio para dar testemunho da luz. 9[O Verbo] era a verdadeira luz que, vindo ao
mundo, ilumina todo homem. 10Estava no mundo e o mundo foi feito por ele, e o mundo não o
reconheceu. 11Veio para o que era seu, mas os seus não o receberam. 12Mas a todos aqueles que o receberam,
aos que creem no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus, 13os quais não nasceram do
sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas sim de Deus. 14E o Verbo se fez carne e
habitou entre nós, e vimos sua glória, a glória que o Filho único recebe do seu Pai, cheio de graça e de verdade.
(Jo 1, 1-14) (95 d.C)

O “Último Evangelho” recitado ao final do Rito Extraordinário.

ENTENDENDO JOÃO 6

Jo 6: Não há a descrição do rito eucarístico, mas sim, as bases da revelação para o Sacramento
(Mistério) da Eucaristia.

Depois disso, atravessou Jesus o lago da Galileia (que é o de Tiberíades.) 2Seguia-o uma grande multidão,
1

porque via os milagres que fazia em benefício dos enfermos. 3Jesus subiu a um monte e ali se sentou com seus
discípulos. 4Aproximava-se a Páscoa, festa dos judeus.5Jesus levantou os olhos sobre aquela grande multidão
que vinha ter com ele e disse a Filipe: “Onde compraremos pão para que todos estes tenham o que
comer?”. 6Falava assim para o experimentar, pois bem sabia o que havia de fazer. 7Filipe respondeu-lhe:
“Duzentos denários de pão não lhes bastam, para que cada um receba um pedaço”. 8Um dos seus discípulos,
chamado André, irmão de Simão Pedro, disse-lhe: 9“Está aqui um menino que tem cinco pães de cevada e dois
peixes... mas que é isto para tanta gente?”. 10Disse Jesus: “Fazei-os assentar”. Ora, havia naquele lugar muita
relva. Sentaram-se aqueles homens em número de uns cinco mil. 11Jesus tomou os pães e rendeu graças. Em
seguida, distribuiu-os às pessoas que estavam sentadas, e igualmente dos peixes lhes deu quanto
queriam. 12Estando eles saciados, disse aos discípulos: “Recolhei os pedaços que sobraram, para que nada se
perca”. 13Eles os recolheram e, dos pedaços dos cinco pães de cevada que sobraram, encheram doze cestos. 14À
vista desse milagre de Jesus, aquela gente dizia: “Este é verdadeiramente o profeta que há de vir ao
mundo”. 15Jesus, percebendo que queriam arrebatá-lo e fazê-lo rei, tornou a retirar-se sozinho para o monte. (=
Mt 14,22-36 = Mc 6,47-53)

Jo 6, 1-15: Multiplicação dos “cinco pães e dois peixes” que culmina com o povo dizendo: “Este é
verdadeiramente o profeta que há de vir ao mundo.” Então: “Jesus, percebendo que queriam
arrebatá-lo e fazê-lo rei, tornou a retirar-se sozinho para o monte”.
16
Chegada a tarde, os seus discípulos desceram à margem do lago. 17Subindo a uma barca, atravessaram o lago
rumo a Cafarnaum. Era já escuro, e Jesus ainda não se tinha reunido a eles. 18O mar, entretanto, se agitava,
porque soprava um vento rijo. 19Tendo eles remado uns vinte e cinco ou trinta estádios, viram Jesus que se
aproximava da barca, andando sobre as águas, e ficaram atemorizados. 20Mas ele lhes disse: “Sou eu, não
temais”. 21Quiseram recebê-lo na barca, mas pouco depois a barca chegou ao seu destino.22No dia seguinte, a
multidão que tinha ficado do outro lado do mar percebeu que Jesus não tinha subido com seus discípulos na
única barca que lá estava, mas que eles tinham partido sozinhos. 23Nesse meio tempo, outras barcas chegaram
169

de Tiberíades, perto do lugar onde tinham comido o pão, depois de o Senhor ter dado graças. 24E, reparando a
multidão que nem Jesus nem os seus discípulos estavam ali, entrou nas barcas e foi até Cafarnaum à sua
procura.

Jo 6, 16-24: Os discípulos atravessam o lago, e Nosso Senhor, que estava sozinho, caminha
sobre as águas, e se encontra com os discípulos, e toda a multidão questiona: “Mestre, quando
chegaste aqui?”

Encontrando-o na outra margem do lago, perguntaram-lhe: “Mestre, quando chegaste aqui?”.26Respondeu-


25

lhes Jesus: “Em verdade, em verdade vos digo: buscais-me, não porque vistes os milagres, mas porque comestes
dos pães e ficastes fartos. 27Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela que dura até a vida eterna, que o
Filho do Homem vos dará. Pois nela Deus Pai imprimiu o seu sinal”.

Jo 6, 25-27: “Em verdade, em verdade vos digo: buscais-me, não porque vistes os milagres, mas
porque comestes dos pães e ficastes fartos. Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela
que dura até a vida eterna, que o Filho do Homem vos dará. Pois nele Deus Pai imprimiu o seu
sinal.”
28
Perguntaram-lhe: “Que faremos para praticar as obras de Deus?” 29Respondeu-lhes Jesus: “A obra de Deus é
esta: que creiais naquele que ele enviou”. 30Perguntaram eles: “Que milagre fazes tu, para que o vejamos e
creiamos em ti? Qual é a tua obra? 31Nossos pais comeram o maná no deserto, segundo o que está escrito: Deu-
lhes de comer o pão vindo do céu” (Sl 77,24). 32Jesus respondeu-lhes: “Em verdade, em verdade vos digo: Moisés
não vos deu o pão do céu, mas o meu Pai é quem vos dá o verdadeiro pão do céu; 33porque o pão de Deus é o
pão que desce do céu e dá vida ao mundo”. 34Disseram-lhe: “Senhor, dá-nos sempre deste pão!”.

Jo 6, 28-34: A contradição, pois perguntam: “Que milagre fazes tu, para que o vejamos e
creiamos em ti? Qual é a tua obra?” Mas eles já haviam professado que Ele é o verdadeiro
profeta que deveria vir, no dia anterior. E citam o Maná no Deserto, referência direta a Ex 16 e ao
Sl 77. Jesus então, diz que o Pão é Ele quem dá. O povo entende que é o pão multiplicado e
termina pedindo: “Dá-nos sempre deste pão”.
35
Jesus replicou: “Eu sou o pão da vida: aquele que vem a mim não terá fome, e aquele que crê em mim jamais
terá sede. 36Mas já vos disse: Vós me vedes e não credes... 37Todo aquele que o Pai me dá virá a mim, e o que
vem a mim não o lançarei fora. 38Pois desci do céu não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que
me enviou. 39Ora, esta é a vontade daquele que me enviou: que eu não deixe perecer nenhum daqueles que me
deu, mas que os ressuscite no último dia. 40Esta é a vontade de meu Pai: que todo aquele que vê o Filho e nele
crê tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia”.41Murmuravam então dele os judeus, porque dissera:
“Eu sou o pão que desceu do céu”. 42E perguntavam: “Porventura não é ele Jesus, o filho de José, cujo pai e mãe
conhecemos? Como, pois, diz ele: Desci do céu?”. 43Respondeu-lhes Jesus: “Não murmureis entre vós. 44Ninguém
pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o atrair; e eu hei de ressuscitá-lo no último dia. 45Está escrito nos
profetas: Todos serão ensinados por Deus (Is 54,13). Assim, todo aquele que ouviu o Pai e foi por ele instruído
vem a mim. 46Não que alguém tenha visto o Pai, pois só aquele que vem de Deus, esse é que viu o Pai. 47Em
verdade, em verdade vos digo: quem crê em mim tem a vida eterna. 48Eu sou o pão da vida. 49Vossos pais, no
deserto, comeram o maná e morreram. 50Este é o pão que desceu do céu, para que não morra todo aquele que
dele comer.

Jo 6, 35-50: Então Jesus afirma ser Ele mesmo o “Pão descido do Céu” e afirma ter vindo do
Céu. Nisso a multidão questiona: “Porventura não é ele Jesus, o filho de José, cujo pai e mãe
conhecemos? Como, pois, diz ele: Desci do céu?” então o Senhor afirma: “Eu sou o pão da vida.”
E diz que os hebreus, comeram o maná e morreram e Ele conclui: ”Este é o pão que desceu do
céu, para que não morra todo aquele que dele comer” falando de si mesmo.
170
51
Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão, que eu hei de dar,
é a minha carne para a salvação do mundo”.52A essas palavras, os judeus começaram a discutir, dizendo: “Como
pode este homem dar-nos de comer a sua carne?”.

Jo 6, 51-52: Vem a grande virada, pois Jesus diz categoricamente: “E o pão, que eu hei de dar, é
a minha carne para a salvação do mundo” a estas palavras, os judeus ficam escandalizados e
dizem: Como pode este homem dar-nos de comer a sua carne?

Então, Jesus lhes disse: “Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem, e
53

não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós mesmos. 54Quem come a minha carne e bebe o meu
sangue tem a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia.

Jo 6, 53-54: Este texto é perturbador, pois Jesus exige, literalmente que seus seguidores, seus
discípulos e qualquer pessoa no mundo, se quiser ter a vida eterna, terá de comer de sua carne e
beber de seu sangue, não é uma simples alusão à antropofagia, mas é uma afirmação categórica.
55
Pois a minha carne é verdadeiramente uma COMIDA e o meu sangue, verdadeiramente uma BEBIDA. 56Quem
COME a minha carne e BEBE o meu sangue permanece em mim e eu nele.

Jo 6,55-56: O sentido das palavras são literais, não trata-se de uma parábola ou de um analogia:

Comer: Roer, Mastigar, Triturar, Ingerir.


Beber: Tomar, Engolir, Ingerir

Não se trata de “degustar”, tocar, tomar parte, conhecer, saber (de saborear) ...NÃO SE TRATA
DE UM SÍMBOLO, É LITERALMENTE COMER E BEBER.
57
Assim como o Pai que me enviou vive, e eu vivo pelo Pai, assim também aquele que comer a minha carne
viverá por mim. 58Este é o pão que desceu do céu. Não como o maná que vossos pais comeram e morreram.
Quem come deste pão viverá eternamente”.59Tal foi o ensinamento de Jesus na sinagoga de Cafarnaum.

Jo 6, 57-59: Jesus conclui, reafirmando a necessidade de comer e beber de seu corpo e sangue
e “Quem come deste pão viverá eternamente”.
60
Muitos dos seus discípulos, ouvindo-o, disseram: “Isto é muito duro! Quem o pode admitir?”. 61Sabendo Jesus
que os discípulos murmuravam por isso, perguntou-lhes: “Isso vos escandaliza? 62Que será, quando virdes subir
o Filho do Homem para onde ele estava antes?... 63O espírito é que vivifica, a carne de nada serve. As palavras
que vos tenho dito são espírito e vida. 64Mas há alguns entre vós que não creem...”. Pois desde o princípio Jesus
sabia quais eram os que não criam e quem o havia de trair. 65Ele prosseguiu: “Por isso, vos disse: Ninguém pode
vir a mim, se por meu Pai não lho for concedido”. 66Desde então, muitos dos seus discípulos se retiraram e já
não andavam com ele.

Jo 6, 60-66: Os discípulos escandalizados diziam: “Isto é muito duro! Quem o pode admitir?” e
“Desde então, muitos dos seus discípulos se retiraram e já não andavam com ele.” Jesus não
“desfez” a “confusão”, pois não se trata de não compreender uma “parábola”, mas os judeus, de
fato entenderam EXATAMENTE o que Jesus havia dito.

NOTA: Jesus tem uma pedagogia com os discípulos e com a multidão. Para a multidão, ele conta
uma parábola, e para os discípulos, ou seja, para os que seriam os 12 apóstolos, ele explica o
significado e sentido das parábolas, mas o que se segue, é ESTARRECEDOR!
67
Então, Jesus perguntou aos Doze: “Quereis vós também retirar-vos?”.68Respondeu-lhe Simão Pedro: “Senhor, a
quem iríamos nós? Tu tens as palavras da vida eterna. 69E nós cremos e sabemos que tu és o Santo de
171

Deus!”. 70Jesus acrescentou: “Não vos escolhi eu todos os doze? Contudo, um de vós é um demônio!...”. 71Ele se
referia a Judas, filho de Simão Iscariotes, porque era quem o havia de entregar, não obstante ser um dos Doze.

Jo 6, 67-71: “Então Jesus perguntou aos Doze: Quereis vós também retirar-vos? Respondeu-lhe
Simão Pedro: Senhor, a quem iríamos nós? Tu tens as palavras da vida eterna. E nós cremos e
sabemos que tu és o Santo de Deus! Jesus acrescentou: Não vos escolhi eu todos os doze?
Contudo, um de vós é um demônio!... Ele se referia a Judas, filho de Simão Iscariotes, porque era
quem o havia de entregar não obstante ser um dos Doze”
20
Em verdade, em verdade vos digo: quem recebe aquele que eu enviei recebe a mim; e quem me recebe
recebe aquele que me enviou”.21Dito isso, Jesus ficou perturbado em seu espírito e declarou abertamente: “Em
verdade, em verdade vos digo: um de vós me há de trair!...”. 22Os discípulos olhavam uns para os outros, sem
saber de quem falava. 23Um dos discípulos, a quem Jesus amava, estava à mesa reclinado ao peito de
Jesus. 24Simão Pedro acenou-lhe para dizer-lhe: “Dize-nos, de quem é que ele fala”. 25Reclinando-se esse mesmo
discípulo sobre o peito de Jesus, interrogou-o: “Senhor, quem é?”. 26Jesus respondeu: “É aquele a quem eu der o
pão embebido”. Em seguida, molhou o pão e deu-o a Judas, filho de Simão Iscariotes. 27Logo que ele o engoliu,
Satanás entrou nele. Jesus disse-lhe, então: “O que queres fazer, faze-o depressa”. 28Mas ninguém dos que
estavam à mesa soube por que motivo lhe dissera. 29Pois, como Judas tinha a bolsa, pensavam alguns que Jesus
lhe falava: “Compra aquilo de que temos necessidade para a festa”. Ou: “Dá alguma coisa aos pobres”. 30Tendo
Judas recebido o bocado de pão, apressou-se em sair. E era noite...31Logo que Judas saiu, Jesus disse: “Agora é
glorificado o Filho do Homem, e Deus é glorificado nele. 32Se Deus foi glorificado nele, também Deus o
glorificará em si mesmo, e o glorificará em breve.

Jo 13, 20-32: Jesus afirma que quem o recebe, recebe o Pai e fica perturbado, e diz: “Em
verdade, em verdade vos digo: um de vós me há de trair!...” E todos queriam saber quem O
trairia, e “Jesus respondeu: É aquele a quem eu der o pão embebido. Em seguida, molhou o pão
e deu-o a Judas, filho de Simão Iscariotes.” Nosso Senhor, dá a Eucaristia a Judas, que poderia
ter sido sincero e recusado, porém, para não passar vergonha: “Logo que ele o engoliu, Satanás
entrou nele”.
26
Assim, todas as vezes que comeis desse pão e bebeis desse cálice lembrais a morte do Senhor, até que
venha. 27Portanto, todo aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente será culpável do
corpo e do sangue do Senhor. 28Que cada um se examine a si mesmo e, assim, coma desse pão e beba desse
cálice. 29Aquele que o come e o bebe sem distinguir o corpo do Senhor, come e bebe a sua própria
condenação.30Essa é a razão por que entre vós há muitos adoentados e fracos, e muitos mortos.

I Cor 11, 26-30: Comunhão indevida, sem o devido exame de consciência, nos torna culpáveis do
Sangue do Senhor, e assim, comungamos a nossa própria condenação.

O Evangelho de João 13 a 17, é narrada a última Santa Missa Celebrada por Nosso Senhor. São
CINCO capítulos, em que Nosso Senhor institui dois Sacramentos, que é o Sacerdócio Cristão
(Ordem) e a Eucaristia. E todos os sete sacramentos nascem desta sublime celebração, em que
o Senhor diz:

“Em verdade, em verdade vos digo: o que pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo dará. Até agora não pedistes
nada em meu nome. Pedi e recebereis, para que a vossa alegria seja perfeita.”
(Jo 16, 23b-24)

Que é a Santa Missa?

A Santa Missa é a renovação incruenta (Sem sofrimento físico) do Sacrifício do Calvário. É o


mesmo e único sacrifício infinito de Cristo na Cruz, que foi solenemente instituído na Última Ceia.
Nesta cerimônia ímpar, Cristo é ao mesmo tempo vítima e sacerdote, se oferecendo a Deus para
pagamento dos pecados, e aplicando a cada fiel seus méritos infinitos.
172

Na Missa, se realiza o que Nosso Senhor ordenou aos Discípulos... “Fazei isso em memória de Mim”
(1 Cor 11,24)

A EUCARISTIA E A SAGRADA TRADIÇÃO

Didaqué [instrução dos doze apóstolos] (80 ou 90 d.C):

“Celebrem a Eucaristia deste modo: Digam primeiro sobre o cálice: Nós te agradecemos Pai
nosso, por causa da santa vinha do teu servo Davi, que nos revelaste por meio do teu servo
Jesus. A ti a glória para sempre. Depois digam sobre o pão partido: Nós te agradecemos Pai
nosso, por causa da vida e do conhecimento que nos revelaste por meio do teu servo Jesus. A ti a
glória para sempre. Do mesmo modo como este pão partido tinha sido semeado sobre as colinas,
e depois recolhido para se tornar um, assim também a tua Igreja seja reunida desde os confins da
terra no teu reino, porque tua glória e o poder, por meio de Jesus Cristo, para sempre. Ninguém
coma nem beba da Eucaristia, se não tiver sido batizado em nome do Senhor, porque sobre isso o
Senhor disse: Não deem as coisas santas aos cães” (Didaqué 9,1-5).

Santo Inácio de Antioquia (107):

“Sobretudo se o Senhor me revelar que cada um e todos em conjunto, na graça que provém do
seu nome, vos reunireis na mesma fé em Jesus Cristo da descendência de Davi segundo a carne,
filho de homem e filho de Deus, para obedecer aos bispos e ao presbitério, em concórdia estável,
partindo o mesmo pão, que é remédio de imortalidade, antídoto para não morrer, mas para viver
em Jesus Cristo para sempre”. (Aos Efésios 20,1-2).

“Não sinto prazer pela comida corruptível, nem me atraem os prazeres dessa vida. Desejo o pão
de Deus, que é a carne de Jesus Cristo, da linhagem de Davi, e por bebida desejo o sangue dele,
que é o amor incorruptível”. (Aos Romanos 7,3).

“Eles se afastam da eucaristia e da oração, porque não professam que a eucaristia é a carne de
nosso Salvador Jesus Cristo, que sofreu por nossos pecados e que, na sua bondade, o Pai
ressuscitou. Desse modo, aqueles que recusam o dom de Deus, morrem nas suas disputas”. (Aos
Esmirniotas 7,1).

São Justino de Roma (100 a 160 d.C.)


“Deus, portanto, testemunha que lhe são agradáveis todos os sacrifícios que lhe são oferecidos
em nome de Jesus Cristo, os sacrifícios que este nos mandou oferecer, isto é, os da Eucaristia do
pão e do vinho, que os cristãos celebram em todo lugar da terra (…). São justamente apenas
esses que os cristãos aprenderam a oferecer na comemoração do pão e do vinho, na qual se
recorda a paixão que o Filho de Deus sofreu por eles”. (Diálogo com Trifão 117,1.3)

Santo Irineu de Lião (130 a 202 d.C)

“Quanto a nós, nossa maneira de pensar está de acordo com a Eucaristia e a Eucaristia confirma
nossa doutrina. Pois lhe oferecemos o que já é seu, proclamado, como é justo, a comunhão e a
unidade da carne e do Espírito. Assim como o pão que vem da terra, ao receber a invocação de
Deus, já não é pão comum, mas a Eucaristia, feita de dois elementos, o terreno e o celeste, do
mesmo modo os nossos corpos, por receberem a Eucaristia, já não são corruptíveis por terem a
esperança da ressurreição”. (Contra as Heresias [IV livro] 18,5)

Orígenes (184 a 253 d.C)


“Quanto a nós, se não abraçarmos de boa vontade as prodigiosas riquezas de Nosso Senhor, o
maravilhoso mobiliário de sua palavra, a abundância de seus ensinamentos, se não comermos o
pão da vida, se não nos nutrirmos da carne de Jesus e não bebermos o sangue de seu sacrifício,
se desprezarmos o banquete de Nosso Salvador, devemos saber que Deus pode ter -tanto
bondade quanto severidade”. (Homilia 38; capítulo 6)
173

Santo Agostinho (354 a 430 d.C)

“Portanto, o que se reza na celebração da Eucaristia: Corações ao alto! (prefácio) é dádiva do


Senhor. E os fiéis são convidados a agradecer ao nosso Deus, quando do sacerdote vem o
convite e respondem: É nosso dever e nossa salvação. Pois, como nosso coração não está em
nosso poder para subir a Deus, mas é ajudado pelo seu auxílio, cada um procure as coisas do
alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus (Cl 3,1).” (O Dom da Perseverança; 13,33).

A EUCARISTIA E OS SANTOS

“Seria mais fácil o mundo sobreviver sem o Sol, do que sem a Santa Missa”
(Santo Padre Pio)

“Deu-se todo não reservando nada para si”. “Não comungar seria o maior desprezo a Jesus que
se sente “doente de amor” (Ct 2,4-5)”.
(São João Crisóstomo)

“Duas espécies de pessoas devem comungar com frequência: os perfeitos para se conservarem
perfeitos, e os imperfeitos para chegarem à perfeição”.
(São Francisco de Sales)

“Quando Jesus está presente corporalmente em nós, ao redor de nós, montam guarda de amor os
anjos”.
(São Bernardo de Claraval; 1090-1153, doutor da Igreja)

“Ficai certos de que todos os instantes da vossa vida, o tempo que passardes diante do Divino
Sacramento será o que vos dará mais força durante a vida, mais consolação na hora da morte e
durante a eternidade”.
(Santo Afonso Maria de Ligório)

A Igreja vive da Eucaristia. Esta verdade não exprime apenas uma experiência diária de fé, mas
contém em síntese o próprio núcleo do mistério da Igreja.
(São João Paulo II, Papa)

REQUISITOS PARA SE RECEBER A COMUNHÃO:

1. Estado de Graça: Arrependimento dos pecados e se possível confissão Sacramental.

2. Jejum Eucarístico: Não se come nada uma hora antes da comunhão e nem 15 minutos após
a comunhão.

3. Perdoar os inimigos: A comunhão Eucarística, física ou espiritual, faz-se necessário perdoar


e pedir perdão, antes de se comunga.

4. Não estar em estado de EXCOMUNHÃO: Profanação das espécies sagradas; Violência física
contra o Papa; Absolvição por um sacerdote do cúmplice do pecado da carne; Consagração ilícita
de um bispo sem mandato pontifical; Violação direta do segredo da Confissão pelo confessor;
Apostasia; Heresia; Cisma; Aborto. (ferendae sententiae e latae sententiae)

Tipos de Comunhão: Física, Espiritual e Físico/Espiritual

Devoção Eucarística: Na comunhão, nos encontramos com TODOS os membros da Igreja! Deus
está fisicamente presente no corpo do comungante. Não é a Eucaristia “transformada” em corpo
humano, mas o ser humano, que é “transformado” no que comunga.
174

Transubstanciação: CIC 1376. O Concílio de Trento resume a fé católica declarando: “Porque


Cristo, nosso Redentor, disse que o que Ele oferecia sob a espécie do pão era verdadeiramente o
seu corpo, sempre na Igreja se teve esta convicção que o sagrado Concílio de novo declara: pela
consagração do pão e do vinho opera-se a conversão de toda a substância do pão na substância
do corpo de Cristo nosso Senhor, e de toda a substância do vinho na substância do seu sangue;
a esta mudança, a Igreja católica chama, de modo conveniente e apropriado, transubstanciação.”

“Quanto ao pão de trigo com que se realiza o sacramento, absolutamente não importa que tenha
sido feito no mesmo dia ou anteriormente; enquanto permanecer a substância do pão, não há
dúvida alguma de que, depois das mencionadas palavras da consagração, pronunciadas pelo
sacerdote com a intenção de realizar o sacramento, ele será logo transubstanciado no verdadeiro
corpo de Cristo.” (Papa Calisto III: Constituição “Regimini universalis”)

MILAGRES EUCARÍSTICOS

Lanciano – Itália – aprox. ano 700

Este milagre aconteceu no Mosteiro de S. Legoziano, dos monges de S. Basílio. Foi submetido à
análise científica dos Drs. Odoardo Linoli, Chefe de Serviço dos Hospitais Reunidos de Aresto e
livre docente de anatomia e histologia patológica e de química e microscopia clínica; Dr. Ruggero
Bertelli, prof. Emérito de anatomia humana normal na universidade de Sena. Resultados:
Relatório de 4 de março de 1971:

1 – A carne é verdadeira carne.


2 – O sangue é verdadeiro sangue.
3 – A carne é do tecido muscular do coração (miocárdio, endocárdio, nervo vago).
4 – A carne e o sangue são do mesmo tipo AB e pertencem à espécie humana. Obs: é o mesmo
tipo de sangue encontrado no Sudário de Turim.
5 – Trata-se de carne e sangue de uma pessoa viva, pois que esse sangue é o mesmo que
tivesse sido retirado, naquele mesmo dia de um ser vivo.
6 – No sangue foram encontrados, além das proteínas normais, os seguintes minerais: cloretos,
fósforos, magnésio, potássio, sódio e cálcio.
7 – A conservação da Carne e do Sangue, deixados em estado natural por 12 séculos e expostos
à ação de agentes atmosféricos e biológicos, permanece um fenômeno extraordinário.

Disseram os cientistas aos frades: “E o Verbo se fez Carne!”

Orvieto – Bolsena – Itália – 1263

Jesus tinha pedido à Beata Juliana de Cornillon (1258) a introdução da festa de “Corpus Domini”
no calendário litúrgico da Igreja. O Pe. Pedro de Praga, da Boêmia, celebra uma Missa na cripta
de Santa Cristina, em Bolsena, e então, ocorre o milagre: da hóstia consagrada caem gotas de
sangue sobre o corporal… O Papa Urbano IV (1262-1264), residia em Orvieto e ordena ao Bispo
Giacomo levar as relíquias de Bolsena a Orvieto. O Papa emitiu a Bula Transiturus de mundo, em
11/08/1264, onde prescreveu que na 5ª feira após a oitava de Pentecostes, seja celebrada a festa
em honra do Corpo do Senhor. Santo Tomás de Aquino foi encarregado pelo Papa para compor o
Ofício da celebração. Em 1290 foi construída a Catedral de Orvieto, chamada de “Lírio das
Catedrais”.

Um milagre Eucarístico, existe para ser apreciado, não para ser comungado! Só há Eucaristia
quando há TRANSUBSTANCIAÇÃO e não quando há transformação.
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5º. PÃRTE: Quem e Jesus?


“No dizer do povo, quem é o Filho do Homem?” (Mt 16,13); Quem dizem os homens que eu sou?
(Mc 8, 27) “Quem dizem que eu sou?” Lc 9,18)

“A idolatria provém da primazia dos interessas. As pessoas preocupadas com seus interesses
manipulam a religião e acabam forjando deuses que representem e justifiquem seus interesses.
Assim fizeram os próprios judeus. E assim podem fazer também os cristãos, através do
mecanismo de silenciar os aspectos fundamentais de Deus e deformar outros. Pode-se
transformar até mesmo Cristo em um ídolo, desta forma.” (J. Comblin – Padre, Teólogo da
Libertação).

“Disse-lhes Jesus: E vós quem dizeis que eu sou?” (Mt 16,15; Mc 8,29; Lc, 9,20)

Nós cremos e confessamos que Jesus de Nazaré, judeu nascido duma filha de Israel, em Belém,
no tempo do rei Herodes o Grande e do imperador César Augusto, carpinteiro de profissão, morto
crucificado em Jerusalém sob o procurador Pôncio Pilatos no reinado do imperador Tibério, é o
Filho eterno de Deus feito homem; que Ele «saiu de Deus» (Jo 13, 3), «desceu do céu» (Jo 3, 13;
6, 33) e «veio na carne» (5), porque «o Verbo fez-Se carne e habitou entre nós. Nós vimos a sua
glória, glória que Lhe vem do Pai como Filho Unigénito, cheio de graça e de verdade [...] Na
verdade, foi da sua plenitude que todos nós recebemos, graça sobre graça» (Jo 1, 14, 16). (CatIC
423)

«No coração da catequese, encontramos essencialmente uma Pessoa: Jesus de Nazaré, Filho
único do Pai [...], que sofreu e morreu por nós e que agora, ressuscitado, vive conosco para
sempre [...]. Catequizar [...] é revelar, na Pessoa de Cristo, todo o desígnio eterno de Deus [...]. É
procurar compreender o significado dos gestos e das palavras de Cristo e dos sinais por Ele
realizados» (7). O fim da catequese é «pôr em comunhão com Jesus Cristo: somente Ele pode
levar ao amor do Pai, no Espírito, e fazer-nos participar na vida da Santíssima Trindade». (CatIC
426)

«Na catequese, é Cristo, Verbo Encarnado e Filho de Deus, que é ensinado; tudo o mais é-o em
referência a Ele. E só Cristo ensina. Todo e qualquer outro o faz apenas na medida em que é seu
porta-voz, consentindo em que Cristo ensine pela sua boca [...]. Todo o catequista deveria poder
aplicar a si próprio a misteriosa palavra de Jesus: "A minha doutrina não é minha, mas d'Aquele
que Me enviou" (Jo 7, 16)». (CatIC 427)

Quem diz ser Jesus?

Jesus disse ser: “o pão da vida” (Jo 6, 35. 48), “a luz do mundo” (Jo 8,12 e 9,5), “lá de cima” (Jo
8,23), “Antes que Abraão existisse, eu sou” (Jo 8,58), “a porta” (Jo 10,9), “o bom pastor” (Jo
10,11. 14), “a ressurreição e a vida” (Jo 11,25) “a videira verdadeira” (Jo 15,1), “o caminho, a
verdade e a vida” (Jo 14,6) “Rei” (Jo 18,37) “manso e humilde de coração” (Mt 11,29) “o Filho de
Deus” (Lc 22,70), “Jesus de Nazaré” (At 22,8), “O sou o Alfa e o Ômega... aquele que é, que era
e que vem, o Dominador” (Ap 1,8), “aquele que sonda os rins e os corações” (Ap 2,23) “o Começo
e o Fim” (Ap 21,6), “a raiz e o descendente de Davi, a estrela radiosa da manhã” (Ap 22,16).

“Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,6)

Dogmas sobre Jesus Cristo:

1. Jesus Cristo é verdadeiro Deus e filho de Deus por essência;

Quando dizemos que Jesus é Deus, não estamos dizendo metaforicamente, ou em sentido
figurado, estamos afirmando literalmente que Jesus Cristo, Jesus de Nazaré, é realmente Deus
que fez-se homem. Ele é o autor de nossas vidas e o único ao qual devemos obedecer e por Ele
devemos viver e morrer.
176

2. Jesus possui duas naturezas que não se transformam nem se misturam;

Por outro lado, Jesus Cristo é realmente homem, não é um semi-deus e não se trata de um
teomorfismo em que um determinado deus assume uma forma humana para realizar algo e
depois desaparece, nas mitologias antigas isso tudo é muito comum, porém, Jesus é Deus e
decidiu nascer, viver, crescer, se alimentar, teve necessidades fisiológicas, teve sentimentos,
emoções, caiu, se machucou, foi contrariado, teve de aprender a falar, a andar, a ler, a trabalhar
para se sustentar, Ele é igual a nós em tudo, exceto no pecado, pois Ele não pecou.

3. Cada uma das duas naturezas em Cristo possui uma própria vontade física e uma
própria operação física;

A Natureza Divina, não elimina a Natureza humana, são duas naturezas, porém, em profunda
sintonia, o que a Natureza Divina de Jesus deseja, a Natureza humana de Jesus quer e realiza e
vice-versa, o que a Natureza Humana de Jesus deseja, a Natureza Divina de Jesus quer e
realiza.

4. Jesus Cristo, ainda que homem, é Filho natural de Deus;

Dizer que Jesus é “Filho Natural de Deus” significa afirmar que Ele não é mesmo Filho de Deus,
quando muitas vezes se ouve nas Escrituras, dizendo que este ou aquele é “filho de Deus”, trata-
se de uma analogia, porém, quando isto é dito de Jesus, então, tem-se um dado da realidade, é
literal, Jesus é Gerado pelo Pai no Espírito, sendo Ele filho legítimo de Deus, cuja natureza com o
Pai e o Espírito é a mesma.

5. Cristo imolou-se a si mesmo na cruz como verdadeiro e próprio sacrifício;

Jesus ofereceu-se em sacrifício, ele assumiu sobre si as nossas culpas e literalmente morreu.
Não foi um teatro em que Deus “fingiu” que morreu, Ele por ser Humano, perdeu a vida física, e
não apenas isso, sua alma imortal, desceu aos infernos e de lá, trouce os justos que lá estavam,
pois o Céu, estava fechado ao ser humano, mas não para Deus, por isso, sendo Ele Deus, é o
único capaz de abrir o Céu para o próprio ser humano, que é Ele mesmo.

6. Cristo nos resgatou e reconciliou com Deus por meio do sacrifício de sua morte na cruz;

Antes da Paixão e Morte do Senhor, o ser humano era inimigo de Deus, ele possuía um único
destino, independentemente de sua “justiça”, sendo assim, por mais santo que foi Abraão,
Moisés, Elias, Isaias, Daniel, Davi ou os mártires do AT, todos eles eram destinados ao Inferno,
ou, ao que o próprio Jesus chamou de Seio de Abraão.

Mas nós também, todos os seres humanos, de todas as épocas, línguas, países são dignos do
inferno, pois estão em pecado, portanto, toda a humanidade deveria padecer a inimizade com
Deus, mas com o Sacrifício de Jesus, e pela forma da Igreja e dos Sacramentos deixados por
Ele, nós podemos ter acesso a Salvação e assim, nos tornarmos amigos e filhos adotivos de
Deus, co-herdeiros de Cristo de sua herança eterna que é a visão beatífica de Deus.

7. Ao terceiro dia depois de sua morte, Cristo ressuscitou glorioso dentre os mortos;

Nosso Senhor Jesus Cristo, o Verbo encarnado, depois de sua vida pública, foi condenado a
morte por dizer-se Deus, foi torturado, crucificado e morto, uma vez morto foi sepultado e ao
terceiro dia, no primeiro dia da Semana, posteriormente chamado de Domingo, que significa “o
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dia do Senhor”, ressuscitou dos mortos, sem nenhuma intervenção humana, se não unicamente
pela força e deseje Divino.

8. Cristo subiu em corpo e alma aos céus e está sentado à direita de Deus Pai

Uma vez ressuscitado, tendo aparecido aos seus discípulos e confirmado o seu ministério e Igreja
nascente, tendo sido tocado e ouvido pelas mais de 500 testemunhas, subiu aos Céus em uma
ascensão gloriosa, em corpo e alma, e se encontra sentado a direita de Deus Pai.

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