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02C Eleições na Rússia e a “objetividade” do Ocidente


Quanto mais se aproximam as eleições presidenciais de dois de março na
Rússia, tanto mais agressivo se torna o tom da imprensa e, inclusive, dos
observadores ocidentais, que vêm a Moscou. O nosso comentarista Igor
Kudrin prossegue no tema.
A objetividade tão alardeada dos políticos e jornalistas ocidentais esvai-se
logo quando se trata da Rússia. Um dos comentaristas principais duma
radioemissora de Madrid confessou-me certa vez que ele e os seus
colegas mesmo hoje como que sentem em si o antigo lema do
franquismo: quando se trata de informações relativas a Moscou – só o
mau ou nada. Pilar Bonet manda da nossa capital reportagens ao jornal
“País” desde a época de edificação do socialismo na União Soviética, que
tinha desaparecido nas trevas do passado. No tom das suas publicações
tanto há duas décadas atrás, como hoje em dia, transpiram claramente a
suspeita e a hostilidade mal camuflada. Isto diz respeito também à
cobertura de campanhas eleitorais, - passadas e presentes: todas elas são
apresentadas por esta jornalista em tons mais sombrios. Na quarta-feira
este jornal publicou mais um material desta senhora sob o titulo:”O
império de Gazprom faz avançar para o poder o herdeiro político de
Putin”. O artigo é dedicado a Dmitri Medvedev, um dos quatro candidatos
para a presidência da Rússia. Ele é vice – primeiro ministro adjunto do país
e, ao mesmo tempo, chefia o Conselho de diretores da maior companhia
de gás no mundo. A idéia que a autora do artigo procura impor é seguinte:
a provável vitória de Medvedev será um resultado não somente do apoio
por parte de Vladimir Putin, mas também do poderio financeiro desta
companhia. Sabe-se que na realidade o fator que atrai o nosso eleitorado
a Medvedev é a sua promessa de continuar a política do atual presidente
e, em particular, pôr em prática os projetos nacionais, que ele tinha
elaborado, nas esferas de saúde, educação, construção de habitações e
de estradas modernas.
Os jornalistas estrangeiros preferiram não perceber a recente visita de
Dmitri Medvedev a um país estrangeiro – a sua primeira visita na
qualidade de candidato à presidência. Ele esteve em Belgrado e não
somente apoiou politicamente a Servia, cujo território nacional os EUA e a
União Européia procuram diminuir arrancando-lhe o Kosovo, mas também
prometeu ajuda economica a este país balcânico. E a cooperação já
assumiu uma forma real na esfera de fornecimento e transformação do
gás. Esta cooperação inclui também um planto prospectivo para três
décadas futuras. Trata-se do segmento de 400 quilômetros do gasoduto,
que irá atravessar o território sérvio no quadro do projeto “Fluxo do Sul”.
A dona Pilar como que tinha esquecido que o seu próprio país se recusa,
por enquanto, a considerar Kosovo um Estado independente da Europa.
Para Madrid este reconhecimento seria o mesmo que o apoio por parte de
uma das capitais do mundo a exigência dos separatistas bascos de se
apartar da Espanha.
A “equipe” de observadores da Assembléia Parlamentar do Conselho da
Europa embarcou a Moscou também com um pacote de pretensões. O
dirigente da missão Andréas Gross manifestou dúvida de que a votação
de 2 de março será realmente justa e livre. Além disso, não gostou de que
Dmitri Medvedev não participa dos debates pré-eleitorais com os
concorrentes. Mas qualquer candidato pode resolver livremente se
participa ou não destes debates – é isso que reza a respectiva lei. No
Ocidente os candidatos a presidente e a primeiro ministro também
renunciam frequentemente a esta forma de participação da campanha,
preferindo encontros diretos com os eleitores. A mídia espanhola que
divulgou com prazer esta notícia ainda não sabia da perfídia de um outro
grupo de observadores que embarcam precisamente para a terra da
Espanha. Representam a Organização da Democracia Cristã da América,
de que fazem parte delegados de 35 países do continente americano. O
chefe da delegação, - o mexicano Manuel Espino, - revelou francamente
as simpatias políticas da sua equipe: quer que nas eleições de 9 de março
vençam não os socialistas, mas o Partido Popular direitista, ligado a estes
observadores por uma certa “afinidade ideológica”. É interessante, como
a imprensa espanhola - testemunha da intromissão nos assuntos internos
da Espanha por parte de certos Estados que, apesar de irmãos, não
deixam de ser estrangeiros, - vai reagir a esta declaração.

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