Análise de Fatores que Comprometem o
Desempenho em Redes LoraWan
Resumo—Com o crescimento e popularidade da IoT (Internet
of Things - Internet das Coisas) e novas oportunidades apresen-
tadas pela Industria 4.0, tecnologias LPWAN (Low Power Wide-
Area Networks - Redes de Alto Alcance e Baixa Potência) tem se
tornado cada vez mais tema de pesquisa, com o objetivo principal
de melhorar a comunicação entre dispositivos e equipamentos de
maneira a maximizar o alcance da comunicação e minimizar
o consumo de energia. Dentre estas tecnologias, o LoraWan
se destaca como uma das mais promissoras por possibilitar
excelente desempenho quanto aos critérios de alcance e consumo
de energia bem como por possibilitar a implantação de redes
privadas e independentes de provedores terceiros, como ocorre
nas tecnologias baseadas em redes de celular (LTE/NB-IoT)
e no Sigfox, por exemplo. Este artigo se propõe a analisar
alguns fatores que podem impactar negativamente o desempenho
das redes LoraWan. Esta análise será baseada em pesquisas
e estudos de implementação. Os resultados obtidos, através da
comparação de diferentes casos de uso analisados, trazem uma
noção mais prática de quais aplicações podem tirar mais proveito
da tecnologia LoraWan, quais são as suas limitações e quais os
principais pontos devem ser observados quando da implantação
de uma rede.
I. I NTRODUÇÃO
As tecnologias LPWAN oferecem longo alcance de comu-
nicação, o que possibilita a criação de novos tipos de serviços
relacionados à conectividade M2M (Machine To Machine).
Existem diversas soluções LPWAN e a LoraWan [3] tem
sido uma das mais adotadas. Ela promete alta cobertura em
ambientes extenos para aplicações IoT, enquanto mantém a
estrutura e o gerenciamento da rede simples. O Lora (Long
Range - Longo Alcance) é um padrão de modulação proposto
pela Semtech [3] que utiliza um esquema de modulação
demominado CSS (Chirp Spread Spectrum) adaptativo. Este
padrão possibilita alta sensibilidade de recepção e somado ao
mecanisco de adaptação de taxa de dados (ADR - Adaptative
Data Rate) permite um alcance elevado de transmissão e
um baixo consumo de energia [8]. O Lora é suportado pelo
consórcio Lora Alliance, responsável pela especificação do
protocolo de rede denominado LoraWan, que buscou padroni-
zar as camadas mais elevadas de protocolo, sobre a camada
física de rádio, visando garantir compatibilidade e segurança.
Em [4] observar-se que os autores realizaram extensa pes-
quisa sobre os trabalhos envolvendo Lora e LoraWan e que
após a seleção de 54 artigos propuseram a classificação a
seguir quanto às abordagens de pesquisa. Um mesmo artigo
pode ser classificado em mais de uma categoria diferente.
• Análise / Levantamento / Discussão factual – 7 artigos
• Desempenho / Avaliação Técnica – 29 artigos
• Implantação Real / Experimental / Protótipo / Implemen-
tação – 37 artigos
• Simulação / Modelagem / Camadas de Rede / Software
– 8 artigos
• Aplicações – 20 artigos
Com base nesta análise realizada em [4] nota-se que os
artigos de implemetanções e aplicações práticas são de forte
apelo na área com grande concentração entre os selecionados.
Quanto aos fatores específicos relacionados à rede, os mais
comumente analisados são o Alcance da Comunicação, a
Escalabilidade, em termos de quantidades de pontos, e a
Taxa de Trasmissão. O Consumo de Energia é outro fator de
interesse mas com menos ocorrências de análise, em partes
pelo carácter mais desafiador de medição e experimentação.
As regulações de potência e ocupação de espectro, o mé-
todo Aloha de acesso ao meio [5], nativo do LoraWan, e
as configurações de altos valores de espalhamento espectral
são apontados como sendo os principais desafios quanto à
perfomance e escalabilidade da tecnologia [2].
Diante deste cenário, este artigo teve por motivação realizar
uma análise de diferentes implementações do LoraWan, em
especial as apresentadas por [9], [10] e [13]. Algumas limita-
ções relacionadas ao desempenho são identificadas e possíveis
melhorias propostas visando orientar futuras experimentações
similares.
O artigo se encontra organizado conforme descrição a
seguir. A sessão II busca dar uma visão geral do tema
LoraWan, analisar as suas características técnicas e os fatores
relacionados a desempenho. A sessão III faz uma análise dos
principais pontos que causam impactos negativos. A sessão IV
propõe possíveis melhorias frente aos problemas identificados.
Por fim a sessão V apresenta discussões e conclusões.
II. L ORAWAN - V ISÃO G ERAL E C ARACTERÍSTICAS
T ÉCNICAS
O LoraWan é baseado na camada física LoRa, que utiliza
modulação CSS adaptativa e garante alta imunidade contra
interferencia e alta sensibilidade de recepção. A tecnologia
LoraWan afirma que pode funcionar, conforme as configura-
ções da rede, operando por bateriais por um período superior
a 10 anos de duração [3].
A tecnologia Lora provê um longo alcance de comunicação,
variando conforme o ambiente instalado, em decorrencia dos
obstáculos, que diminuem a propagação das ondas de rádio,
e também em decorrência da interferencia de outras fontes
de irradiação na mesma frequencia (banda ISM) que podem
ocasionar colisão. As distâncias obtidas em cada ambiente são
da ordem téoria [3] de:
• 5 a 6 km para áreas urbanas
• 15 km para áreas sub-urbanas
 • 45 km para áreas rurais
O fluxo de comunicação é biredirecional mas o envio
de mensagens (uplink) pelos Nós (equipamentos/dispositivos)
é bastante favorecido em razão de o principal objetivo da
tecnologia ser a coleta de dados de campo de uma grande
quantidade de pontos, com o menor consumo de energia
possível de cada. Pode atingir taxas de transmissão da ordem
teórica de:
• 22 bps (BW = 7.8 kHz and SF = 12)
• 27 kbps (BW = 500 kHz and SF = 7)
• 50 kbps (modulação FSK)

O LoraWan é composto por 03 componentes principais -

Nós, Gateways e Servidor Central - e é organizado em uma
topologia estrela em que os Gateways encaminham mensagens
entre os Nós e o Servidor Central. A camada de acesso ao
meio é baseada no método Aloha [5]. É possível configurar
os canais de comunicação e também o fator de espalhamento
espectral, denominado de SF (Spread Factor). A configuração
deste parâmetros, entre outros fatores tais como o tamanho
das mensagens, afetam diretamente o alcance e a taxa de
transmissão da rede. Por exemplo, quanto maior o valor de
SF, maior é o alcance mas menor é a taxa de transmissão. Em
contrapartida, quanto menor o valor de SF, menor é o alcance
mas maior é a taxa de transmissão obtida.
O comportamento dos Nós quanto à recepção de mensagens
(downlink) é dividido em 03 classes, conforme previsto na
especificação do LoraWan [3]. A classes se dividem em A, B
e C, conforme:
• Classe A: recepção (downlink) permitida somente depois
de cada envio (uplink).
• Classe B: recepção (downlink) pode ser agendada e
sincronizada. Também permitida depois de cada envio
(uplink).
• Classe C: recepção (downlink) permitida a qualquer mo-
mento.
A classe em que o Nó se encontra está diretamente relacionada
com o seu consumo de energia, visto que quanto mais tempo
ficar disponível para recepção de mensagens, nos casos das
classes B e C, sendo a C a mais crítica, mais tempo o Nó ficará
acordado fora do estado de baixo consumo. Portanto para
aplicações alimentadas por baterias recomenda-se a utilização
da Classe A, encaminhando poucas mensagens e passando a
maior parte do tempo em baixo consumo. O protocolo Lo-
raWan também prevê que todos os Nós devem ser compatíveis
com a Classe A, sendo as classes B e C opcionais. A figura
1 exemplifica o esquema de classes descrito acima.
A figura 2 demonstra as camadas da rede LoraWan. Nela
é possível observar que os Gateways possuem a função de
encaminhar pacotes entre as camadas de Rede e Aplicação do
Nó e do Servidor Central. A camada física LoRa é utilizada
na comunicação entre o Gateway e os Nós, no entanto a
comunicação entre o Gateway e o Servidor Central se baseia
em protocolo TCP/IP, podendo utilizar diversas opções de
comunicação tais como Ethernet, 3G/4G, WiFi, entre outras.
O esquema de segurança prevê dupla criptografia, sendo uma
Figura 1. Classes de Comunicação LoraWan [1]
chave de Rede e outra chave de Aplicação, sendo descrito
como seguro no geral mas com possíveis vulnerabilidades em
casos especificos, como analisado em [6] e [7].
Figura 2. Camadas da Rede LoraWan [1]
III. FATORES DE I MPACTO N EGATIVO NO D ESEMPENHO
DAS R EDES
A. Método de Acesso ao Meio
O LoraWan padronizou o Aloha puro como protocolo de
acesso ao meio. Neste protocolo, o dispositivo não realiza
qualquer detecção de portadora para detectar ouras possíveis
transmissões, mas sim transmite seu pacote quando necessário,
voltando a fazê-lo após um tempo aleatório caso ocorra uma
colisão. Diante do fato de não haver qualquer sincronização
entre as transmissões, o número de colisões é bastante alto,
especialmente em redes com grandes quantidades de disposi-
tivos. Estatisticamente o Aloha Puro possui uma taxa máxima
de transmissão de pacote da ordem de 17% [5]. Como citado
em [11] a implementação de um método simples como o S-
Aloha poderia elevar a taxa máxima de transmissão a 37%.
B. Limitação de Ocupação do Espectro
Mesmo com a perfomance sendo definida pelos parâmetros
do protocolo, tais como espalhamento espectral e quantidade
de canais, as regulações locais de utilização do espectro, como
a máxima taxa de ocupação (duty-cycle) e limite de potência
de transmissão, representam fator limitador para o desempenho
da rede.
 No Brasil a utilização do espectro de frequências é regula-
mentada pela Anatel, Agencia Nacional de Telecomunicações.
Para o LoraWan, a normas são descritas na portaria no 680 de
27 de Julho de 2017. São definidas as seguintes restrições:
• Frequências Permitidas para Operação do LoraWan:
– 902 - 907,5 MHz.
– 915 - 928 MHz.
• Máxima Potência de Transmissão:
– 1W para 35 ou mais canais de salto de frequência.
– 0.25W para menos de 35 canais de salto de frequên-
cia.
• Taxa de Ocupação da Banda:
– 400ms para cada 14s, para a largura de banda < 250
kHz. Duty-Cycle: 2.8%.
– 400ms para cada 7s, para a largura de banda >= 250
kHz. Duty-Cycle: 5.7%.
C. Configuração de Espalhamento Espectral vs Tempo no Ar
Quanto maior o valor do espalhamento espectral, configu-
rado pelo parâmetro SF (Spread Factor), maior é o alcance
de comunicação mas maior também é o tempo em que o
pacote passa no ar em transmissão. Quanto maior a ocupação
de canal, mais suscetível à colisões a rede estará devido ao
carácter aleatório de transmissão do Aloha. Nota-se que em
geral valores elevados de espalhamento espectral são utilizados
com o objetivo de maximizar o alcance [2]. Isto representa
um alto fator de risco para o desempenho das redes devido
ao compartilhamento da infra-estrutura (banda ISM) com
aumento dos indices de colisão como consequência.
A figura 3 representa a variação do tempo do pacote em
transmissão (tempo de ocupação) em razão do tamanho dos
pacotes e do espalhamento espectral. Quanto maior o valor de
SF maior o tempo do pacote no ar. Esta relação também é
direta com o tamanho do pacote (Payload).
Figura 3. Fator de Espalhamento (SF) vs Tempo do Pacote no Ar [10]
D. Quantidade de Dispositivos
A figura 4 demonstra um cenário com diferentes quantida-
des de dispositivos com a variação da quantidade de pacotes
enviados por hora. A limitação de ocupação de espectro é
descrita na imagem como Duty Cycle e representada pela linha
pontilhada.
Nota-se que para poucos pacotes na rede, a limitação é
consequência somente das colisões. No entanto com muitos
pacotes na rede, o fator limitador passa a ser o limite de
ocupação de espectro, conforme regulação. A perfomance
diminui muito conforme o número de dispositivos aumenta,
consequência direta das colisões e do Aloha como método de
acesso ao meio.
Figura 4. Pacotes Gerados vs Recebidos por Quantidade de Dispositivos [2]
E. Confiabilidade e Densificação Comprometem a Capaci-
dade da Rede
Na rede LoraWan a confiabilidade depende de mensagens
de acknowledgement (Ack) recebidas através de downlink. A
capacidade da rede é não somente reduzida pelas transmissões
destas mensagens de downlink, mas também pelo fato de que
o gateway deve atender às mesmas restrições e regulações de
ocupação de espectro. Assim sendo, várias mensagens de ack
podem sobre-carregar a capacidade de transmissão do gateway,
comprometendo toda a rede por consequência.
Outro problema diz respeito a alguns modelos de implan-
tação das redes LoraWan, que estão seguindo modelos de
telefonia celular [2], com redes capazes de oferecer conectivi-
dade como serviço, utilizando gateways como estações radio
case, cobrindo grandes áreas e compartilhando recursos. Este
modelo é preocupante por desconsiderar aspectos importantes
como os diferentes requisitos de cada tipo aplicação, tais como
confiabilidade, latencia, jitter, entre outros. O resultado pode
ser uma rede desbalanceada e que não atende ao seu propósito
original e comercial de prover o serviço.
IV. P OSSÍVEIS M ELHORIAS
O principal desafio em futuras implementações de redes
LoraWan será o uso da infraestrutura compartilhada (banda
ISM) em conjunto com o protocolo Aloha como acesso ao
meio [2]. A Lora Alliance padronizou o Aloha como camada
de enlace para que os dispositivos não precisassem escutar o
meio antes de cada transmissão, podendo assim passar mais
tempo em baixo consumo, e também porque o protocolo
não exige qualquer tipo de sincronia, visto que os slots
de transmissão são completamente aleatórios entre os nós,
barateando assim o custo de hardware.
A. S-Aloha sobre LoRaWAN
Em [11] é proposta uma topologia de rede com a utilização
de uma pilha a nível de aplicação rodando o protocolo Slotted
Aloha, servindo de interface entre o protocolo de aplicação
e o protocolo de rede LoraWan. Neste caso foi mantida a
compatibilidade com todas as especificações da rede LoraWan
nativa baseada em Aloha, ou seja, nada foi alterado nas
camadas de rede e física. O estudo mostra um mecanismo de
sincronia temporal entre os nós, requisito fundamental para um
protocolo sincrono como o Slotted Aloha. Por fim os autores
concluíram que a utilização desta pilha, mesmo gerando certo
overhead computacional e latência de processamento e trata-
mento de mensagens, ainda assim apresentou um resultado
bastante satisfatório com 2 vezes mais taxa de transmissão
e 3.4 vezes menos colisões em comparação ao Aloha Puro,
nativo do LoraWan.
B. TDMA (Time Division Multiple Access) sobre LoRaWAN
Pela natureza randômica do Aloha, o LoraWan não é re-
comendado para servir em casos de requisitos deterministicos
de entrega de mensagens, aplicações que informem alarmes,
eventos ou dados críticos, por exemplo. Uma solução possível
é implantar um sistema hibrido com TDMA sobre o LoraWan.
O agendamento do TDMA deve reservar alguns canais para
o Aloha e também para o trafego determinístico, fazendo
a gerência dos canais ao longo do tempo. Deve atender às
regulações locais e ainda assim ser compatível com o LoraWan
nativo. Uma pesquisa neste tema pode ser acompanhada em
[12].
C. Redução ou Não utilização de Mensagens de Ack
A confiabilidade depende das mensagens de Ack. No en-
tanto, as mensagens de Ack são responsáveis não somente
pela ocupação do espectro mas também pelo consumo da taxa
de ocupação de espectro por parte do gateway, podendo este
ultrapassar o limite possível de mensagens e comprometer toda
a rede. Diante disto uma possibilidade para reduzir as colisões
e aumentar a eficiência seria a não utilização de mensagens
de Ack.
V. D ISCUSSÕES E C ONCLUSÕES
Entre as soluções de conectividade M2M com o de objetivo
de atingir baixo consumo de energia e longo alcance, não há
uma que atenda à todos os requisitos e o LoRaWAN não é
uma exceção. Diante da análise de implementações práticas
e seus resultados, este artigo buscou dar destaque a fatores
limitantes comuns que podem comprometer o desempenho
de redes em relação ao Alcance, Escalabilidade e Taxa de
Transmissão. Recomenda-se a observação destes fatores em
futuras implantações.
As redes devem ser cuidadosamente planejadas e implan-
tadas para atender aos requisitos de cada caso de uso es-
pecífico, considerando a dimensão correta da quantidade de
dispositivos, a correta configuração de espalhamento espectral
e a quantidade de canais disponíveis para utilização. Como
o LoraWan provê a possibilidade de implantação de redes
privadas e independentes, o que é uma de suas maiores
vantagens representa também um dos seus maiores desafios,
evitar que com o crescimento da tecnologia e o aumento
de novas redes operando em infra-estruras compartilhadas o
funcionamento seja comprometido em decorrência dos fatores
citados neste texto.
Dentro deste cenário considera-se que o maior desafio do
LoraWan está na co-existência de redes operando em um meio
compartilhado, o que irá exigir a utilização de novos meios
de acesso, que não o Aloha, para minimzar os impactos de
colisão.
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