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E sempr’eu punhei (jurei) de lhi mal fazer (fazer mal pra ele),
mais, pois ora (agora) vẽo por me veer (voltou pra me ver),
madre, per bõa fe (de verdade), leda and’eu.
Essa cantiga é classificada como uma cantiga de amigo e elas são conhecidas por serem
breves e escritas por homens mas na perspectiva da mulher apaixonada, já que as mulheres na
época medieval não tinham a possibilidade de escrever. E tinha nesse ponto de vista feminino
o erotismo, o querer pelo amado e a dor por conta ausência ou felicidade causada pela vinda
do “amigo”, na qual a palavra amigo é utilizada para se referir ao amante, pretendente ou até
mesmo esposo, e nesse poema a moça se dirige à mãe demonstrando alegria por seu possível
namorado estar de volta, e embora ela diga que sempre o quis mal, lhe fazer mal, e que
provavelmente tenha tido algum tipo de atrito entre os dois, agora está genuinamente feliz por
o ter de volta alegando que ele passou por muito sofrimento por conta dela, talvez tentando
alcançar a aprovação da mãe em relação ao seu amigo”. Fazendo referência à frase em que é
dito nas 3 estrofes “madre, per bõa fe, leda and’eu” é o refrão da cantiga, característica da
cantiga de amigo.
E pode se assemelhar nos dias atuais com a música “Entre tapas e beijos”, na voz da Banda
Calypso, na qual o eu-lírico feminino se refere de forma ressentida ao seu pretendente, ao
mesmo tempo em que busca demonstrar seu amor e saudade, à espera de sua volta, apesar da
relação conflituosa e duvidosa, igualmente exposta na cantiga, na qual a eu-lírico feminina
faz questão de dizer que já quis o mal de seu amado, mas apesar disso, está feliz que voltou
pois sabe que ele sofreu por sua causa. Tentei trazer outras canções que poderiam se
assemelhar mais às cantigas de amigo propriamente, como a saudade de um pretendente, o
sofrimento por sua ida, o tempo em que ficaria sem vê-lo, mas quis ser fiel ao conteúdo da
cantiga e tentar enquadrá-la em uma perspectiva atual, e não à classificação do gênero de
cantigas trovadorescas.
E pode se assemelhar nos dias atuais com a música “Dói sem tanto”, da dupla Anavitória, em
que é capaz perceber um possível rompimento e o sofrimento pela ausência da pessoa amada,
dizendo como a vida fica mais fácil quando se tem a sua pessoa para compartilhá-la, com
lembranças deixadas por ele e tentando enxergá-lo em detalhes da sua rotina, como uma
possível aproximação do que já se fora, admitindo que sente saudade do vínculo único que
compartilhavam. Na segunda parte da canção, o eu-lírico, apesar de toda saudade sentida por
seu pretendente e pelas lembranças deixadas, consegue ter a dimensão de que havia algumas
aflições em seu relacionamento e enxergar também a parte boa do distanciamento e de estar
sozinha, mas, na última parte da canção, ainda tem o reconhecimento da lealdade e o apelo da
saudade, do sentimento, da admiração e o querer do possível retorno.
Se não
Tem ausência e saudade
Tem lembrança de felicidade
Tem guarda-roupa vazio
Sem teus tona escutos