É importante que as pessoas que apresentam epilepsia tenham um
acompanhamento neuropsicológico. A neuropsicologia é um campo da ciência que estuda as relações entre as funções psíquicas e comportamentais e o encéfalo, visando estabelecer correlações de base funcional e topográfica. O objetivo de uma bateria e testes neuropsicológicos em portadores de epilepsia é avaliar o desempenho cognitivo global e determinar disfunções específicas de atenção, memória, linguagem e funções executivas das habilidades intelectuais (Noffs, Magila, Santos & Marques, 2002). A avaliação neuropsicológica tem como objetivos: • Conhecer a base do funcionamento cognitivo. • Definir o nível intelectual (QI). • Avaliar linguagem, atenção, memória, percepção e funções executivas. De acordo com o protocolo de avaliação de pacientes com epilepsia há testes específicos para cada tipo de epilepsia de acordo com o diagnóstico médico. Deste protocolo básico, devem ser aplicados os seguintes testes: • Lateralidade: questionário de lateralidade. • Nível intelectual: vocabulário e cubos (WAIS-R ou WAIS-III). • Atenção e funções executivas: dígitos, tapping, trilhas A e B, teste de Stroop. • Praxia construtiva: figura complexa de Rey, desenho do relógio, cubos. • Linguagem: fluência verbal, teste de nomeação de Boston, leitura e escrita. • Memória: memória lógica I e II, reprodução visual I e II, figura complexa de Rey. • Aprendizagem: lista de palavras de Rey, aprendizagem de figuras de Rey. (Noffs et al., 20 Em relação à memória, a avaliação psicológica se justifica porque as dificuldades de memória são as queixas mais comuns e, frequentemente, estas funções estão alteradas quando as crises são recorrentes, principalmente nas epilepsias de lobo temporal. Segundo Hermann, Wyler, Richey e Rea (1995), os testes de memória utilizados basicamente avaliam memória declarativa, mais especificamente episódica e semântica. A memória episódica refere-se à recordação de eventos e experiências (histórias e listas) dentro do contexto temporo-espacial e está relacionada ao sistema mesial-temporal (Mader, 2001). É frequente a associação da epilepsia às disfunções cognitivas, em especial aos distúrbios de memória de curta e de longa dura- ção, identificáveis pela avaliação neuropsicológica. Além disso, crianças com epilepsia tem maiores riscos de desenvolver distúrbios de aprendizagem. Existem pesquisas em que crianças foram submetidas a testes padronizados para avaliar a linguagem oral, leitura, memória em curto prazo, atenção e ajuste comportamental, em concordância com a idade do início da síndrome epiléptica, da duração, desempenho de QI (Quociente de Inteligência). Notou-se que as crianças com epilepsia tem escores baixos para a velocidade e a compreensão da leitura, apesar de variáveis como a idade do início, duração e da atividade da doença, influenciar o desempenho acadêmico (Zanini, Izquierdo, Cammarota & Portuguez, 2008). Também são encontrados déficits, decorrentes de síndromes epilépticas, no âmbito fonológico, semântico e verbal da memória em pacientes com epilespia. Isso ocorre porque quanto mais cedo o início da epilepsia, pior o armazenamento da informação verbal; lesões mesiais correlacionam-se a prejuízos de memória no processo de armazenamento das informações, enquanto lesões neocorticais correlacionam-se a problemas na recuperação das informações. Outro déficit que pode resultar da epilepsia é um reconhecimento facial mais pobre. É necessário ressaltar ainda que a depressão é a comorbidade psicológica/psiquiátrica mais frequente em pacientes adultos com epilepsia. Em adultos com epilepsia, o suicídio é quatro a cinco vezes mais freqüente do que na população em geral (Zanini et al, 2008) BIBLIOGRAFIA
Neuropsicológica de Pessoas com Epilepsia. Visão Crítica dos Testes Empregados na População Brasileira. Rev. Neurociências 10(2):8393,2002.http://www.revistaneurociencias.com.br/edicoes/2002/RN %2010%2002/Pages%20from%20RN%2010%2002-5.pdf. Acessado em 08/10/2016
-MADER, Maria Joana. Avaliação neuropsicológica nas epilepsias: importância para
o conhecimento do cérebro. Psicol. cienc. prof., Brasília , v. 21, n. 1, p. 54-67, Mar. 2001Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414- 98932001000100007&lng=en&nrm=iso>. Acessado em 08/10/2016
-Zanini, R. S; Izquierdo, I; Cammarota, M &Portuguez, M. W. Aspectos
neuropsicológicos da Epilepsia do Lobo Temporal na Infância. Revista Neurociências. 2008. Disponível em: http://www.hsp.epm.br/dneuro/neurociencias/214_revisao.pdf Acessado em: 09/10/2016