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CURSO MEGE

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Turma: TJ-SP - 1ª Fase (Reta Final)
Material: Rodada 1

MATERIAL DE APOIO 1
(Rodada 1)

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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SUMÁRIO

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO DA RODADA ........................................................... 3

DIREITO DO CONSUMIDOR................................................................................... 5
1. DOUTRINA (RESUMO) ....................................................................................... 6
2. LEGISLAÇÃO.................................................................................................... 75
3. QUESTÕES ...................................................................................................... 76
4. GABARITO COMENTADO ................................................................................. 83

DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE .......................................................... 93


1. DOUTRINA (RESUMO) ..................................................................................... 94
2. JURISPRUDÊNCIA .......................................................................................... 139
3. QUESTÕES .................................................................................................... 144
4. GABARITO COMENTADO ............................................................................... 147

DIREITO CIVIL ................................................................................................... 149


2
1. DOUTRINA (RESUMO) ................................................................................... 150
2. LEGISLAÇÃO.................................................................................................. 188
3. JURISPRUDÊNCIA .......................................................................................... 188
4. QUESTÕES .................................................................................................... 204
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5. GABARITO COMENTADO ............................................................................... 211

DIREITO PROCESSUAL CIVIL .............................................................................. 218


1. DOUTRINA (RESUMO).................................................................................... 219
2. LEGISLAÇÃO.................................................................................................. 315
3. JURISPRUDÊNCIA .......................................................................................... 315
4. QUESTÕES .................................................................................................... 329
5. GABARITO COMENTADO ............................................................................... 336

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CONTEÚDO PROGRAMÁTICO DA RODADA

(Conforme Edital do TJ-SP 188)

DIREITO DO CONSUMIDOR – Professora Beatriz Fonteles

Qualidade de produtos e serviços. Prevenção e reparação dos danos. Proteção à saúde


e à segurança. Responsabilidade pelo fato do produto e do serviço. Responsabilidade
por vício do produto e do serviço. (Referente ao ponto 2 do Edital)

Decadência e prescrição. Desconsideração da personalidade jurídica. (Referente ao


ponto 3 do Edital)

DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE – Professor Edison Burlamaqui

Consectários em matéria de criança e adolescente. a) Princípio da prioridade absoluta e


proteção integral. b) Princípio da dignidade da pessoa humana. c) Princípio da
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participação popular. d) Princípio da excepcionalidade. e) Princípio da brevidade. f)
Princípio da condição peculiar de pessoa em desenvolvimento. (Referente ao ponto 1
do Edital)

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Dos Direitos da criança e do adolescente. a) Do Direito à Vida e à Saúde. b) Do Direito à
Liberdade, ao Respeito e à Dignidade. c) Do Direito à Convivência Familiar e Comunitária.
(...) (Referente ao ponto 2 do Edital)

Perda e suspensão do poder familiar. (...) (Referente ao ponto 3 do Edital)

DIREITO CIVIL – Professor Kherson Maciel Gomes Soares

Fatos jurídicos. Negócios jurídicos. Forma do negócio jurídico. Condição, termo e


encargo. Representação; Defeitos do negócio jurídico: erro, dolo, coação, fraude contra
credores, lesão e estado de perigo; Invalidade do negócio jurídico. Nulidade. Simulação.
Efeitos da nulidade e da anulabilidade. (Referente aos pontos 4, 5 e 6 do Edital)

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL - Professora Natália Furtado

Das partes e dos procuradores. Do juiz e das funções essenciais à justiça. Breves
apontamentos sobre Ministério Público, Defensoria Pública e Advocacia Pública.
(Referente aos pontos 7 e 10 do Edital)

Do litisconsórcio. Da intervenção de terceiros. (Referente ao ponto 10 do Edital)

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DIREITO DO CONSUMIDOR (conteúdo atualizado em 11-06-2021)

APRESENTAÇÃO

Olá, caros alunos e alunas,

Acompanharei vocês com a disciplina de Direito do Consumidor e, nesta


primeira rodada, trago a primeira parte da matéria campeã de cobrança em provas de
magistratura do TJSP: responsabilidade civil de consumo. É um tema certo, seja
isoladamente, seja associado com prazos de decadência e prescrição.

Especificamente para o TJSP, o tema costuma vir cobrado em situações


hipotéticas e fica mais limitado ao conhecimento de lei, doutrina básica e súmulas. Não
há uma cobrança de julgados isolados ou muito recentes, razão pela qual trouxemos um
material mais enxuto em termos de jurisprudência, deixando só os julgados mais
significativos (e, ainda assim, não são poucos).
5
Peço atenção aos tópicos finais da desconsideração da personalidade jurídica e
responsabilidade societária, uma vez que, embora curtos, podem ser cobrados, inclusive
a literalidade do CDC.

Ótimos estudos!
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Beatriz Fonteles.

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1. DOUTRINA (RESUMO)

1.1 RESPONSABILIDADE CIVIL DE CONSUMO

1.1.1. FUNDAMENTOS E CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Um dos fundamentos para a responsabilidade civil nas relações de consumo,


decorrente do próprio microssistema, é a previsão da “efetiva prevenção e reparação
de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos” como direito básico
do consumidor (CDC, art. 6o, VI).

Com base na previsão legal (que fala em efetiva reparação e traz a lume os
danos de diversas espécies), a doutrina costuma destacar que o CDC consagrou o
princípio da reparação integral (restitutio in integrum).

ATENÇÃO! Apesar de não ser a sede própria, alerta-se desde já para uma exceção à
nulidade das cláusulas contratuais do art. 51, I, do CDC: 6
- É possível a limitação da indenização devida pelo fornecedor nos casos em que o
consumidor é PESSOA JURÍDICA e desde que haja situação justificável.

Por essa razão, diz-se que o princípio da reparação integral não é absoluto.
-

1.1.2. NATUREZA, EM GERAL, DA RESPONSABILIDADE CIVIL CONSUMERISTA

Via de regra, a responsabilidade, na sistemática de consumo, é objetiva,


dispensando a presença de culpa lato sensu (arts. 12 e 14 do CDC – “independentemente
da existência de culpa”).

ATENÇÃO! EXCEÇÃO: A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada


mediante a verificação de culpa (ou seja, responsabilidade subjetiva). O tema ainda será
estudado com mais detalhes.

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O fundamento para a responsabilidade objetiva nas relações de consumo é a


adoção da Teoria do Risco da Atividade ou do Empreendimento, segundo a qual o
fornecedor deve assumir os riscos decorrentes da inserção de determinado produto ou
atividade no mercado de consumo. Ora, é o fornecedor – e apenas ele -, quem pode
distribuir, mediante mecanismos de preços, os custos dos danos causados pela atividade
(é quem pode fazer a distribuição dos riscos).

Não vigora a responsabilidade objetiva com base na teoria do risco integral (ou
seja, existem excludentes de responsabilidade). Questões e assertivas que digam que o
CDC adotou a teoria do risco integral estão INCORRETAS.

Além de objetiva, a responsabilidade é, em regra, solidária, em conformidade


com a previsão dos arts. 7o, parágrafo único, e 25, § 1º, do CDC:

Art. 7o, parágrafo único. Tendo mais de um autor a ofensa, todos


responderão solidariamente pela reparação dos danos previstos 7
nas normas de consumo.

Art. 25, parágrafo 1o. Havendo mais de um responsável pela


causação do dano, todos responderão solidariamente pela
reparação
- prevista nesta e nas seções anteriores.

Exceção à responsabilidade solidária - a responsabilidade pelo fato (defeito)


do produto não é de todo atingida pela solidariedade, pois, segundo os arts. 12 e 13 do
CDC, neste caso é consagrada a responsabilidade imediata do fabricante, do produtor,
do construtor e do importador e a responsabilidade subsidiária do comerciante. Tal
tema será estudado com mais vagar ainda nesta rodada.

ATENÇÃO! Teoria Unitária da Responsabilidade!

Para o Direito do Consumidor, não importa a distinção entre responsabilidade


contratual e extracontratual (aquiliana).

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1.1.3. DIFERENÇA ENTRE VÍCIO E FATO

Existem duas grandes divisões de responsabilidade civil no CDC: a


responsabilidade pelo fato (arts. 12 a 17) e a responsabilidade pelo vício (arts. 18 a 20).

a) Vício do produto e do serviço – o vício baseia-se na qualidade-adequação


de produtos ou serviços. Há uma inadequação entre o produto ou o serviço oferecido e
as legítimas expectativas do consumidor. Configura-se quando torna o produto ou
serviço impróprio ou inadequado ao seu uso regular ou quando diminui o seu valor ou
quando há disparidade de informações.

b) Com relação aos efeitos, o vício atinge primeiramente o produto ou serviço


em si (é intrínseco), e não a pessoa do consumidor.

c) Fato do produto e do serviço – também denominado como defeito ou


acidente de consumo. Baseia-se na qualidade-segurança do consumidor ou de terceiros
(vítimas de consumo – consumidores equiparados bystander). Envolve, portanto,
8
problemas de segurança, a existência de riscos.

O fato atinge a incolumidade físico-psíquica do consumidor (é extrínseco); gera


danos além do produto/serviço. Geram, com mais frequência, danos materiais, morais,
estéticos etc. -
Segundo o STJ (REsp 967.623/RJ, DJe 29/06/2009): observada a classificação
utilizada pelo CDC, um produto ou serviço apresentará vício de adequação sempre que
não corresponder à legítima expectativa do consumidor quanto à sua utilização ou
fruição, ou seja, quando a desconformidade do produto ou do serviço comprometer a
sua prestabilidade; outrossim, um produto ou serviço apresentará defeito de segurança
quando, além de não corresponder à expectativa do consumidor, sua utilização ou
fruição for capaz de adicionar riscos à sua incolumidade ou de terceiros.

ATENÇÃO! Cuidado para alguns equívocos frequentes!

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A existência de vício pode ensejar, além das hipóteses do parágrafo 1o do art. 18,
também danos morais (posição do STJ).

Temos, assim, em resumo:

VÍCIO DO PRODUTO/SERVIÇO FATO DO PRODUTO/SERVIÇO

Qualidade-adequação. Qualidade-segurança.

Atinge o produto ou o serviço em si – Atinge em especial a incolumidade físico-


intrínseco. psíquica do consumidor ou de terceiros

 Pode vir a causar danos (as vítimas de consumo) – extrínseco.


materiais/morais.

Também denominado defeito ou


acidente de consumo. 9
Sujeita-se a prazo decadencial. Sujeita-se a prazo prescricional.

São pistas de que se está diante de prazo São pistas de que se está diante de prazo
decadencial as expressões: caduca, prescricional as expressões: prescreve,
-
caducar, reclamar. pretensão, reparação.

Art. 26. O direito de reclamar pelos vícios Art. 27. Prescreve em cinco anos a
aparentes ou de fácil constatação caduca pretensão à reparação pelos danos
em: causados por fato do produto ou do

(não se coloca os incisos, por ora, pois nos serviço prevista na Seção II deste
interessa analisar o teor do caput). Capítulo, iniciando-se a contagem do
prazo a partir do conhecimento do dano
e de sua autoria.

1.1.4. RESPONSABILIDADE PELO FATO

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Como já mencionado, é neste ponto que tem especial importância a figura dos
consumidores equiparados bystander, que são as vítimas do evento (ainda que não
envolvidos previamente em uma relação jurídica com o fornecedor), conforme previsão
do art. 17 do CDC (dispositivo integrante da Seção “Da responsabilidade pelo fato do
produto e do serviço”).

A responsabilidade pelo fato desdobra-se em duas situações diferentes, a


responsabilidade pelo fato do produto e pelo fato do serviço.

Antes de ingressarmos nas responsabilidades propriamente ditas, cumpre-nos


analisar a disciplina legal referente à proteção da saúde e segurança dos consumidores.

Em princípio, o artigo 8o estabelece que os produtos/serviços não poderão


acarretar riscos à saúde e segurança do consumidor. Entretanto, são tolerados os riscos
qualificados como “normais e previsíveis”, desde que acompanhados de informações
claras e precisas.

Trata-se da tolerância frente à periculosidade inerente ou latente: aquela que 10


é indissociável do produto/serviço e não surpreende o consumidor. Essa tolerância,
todavia, não exime o fornecedor do seu dever de informar. É possível, por exemplo, que
o fornecedor seja responsabilizado pelo fato do produto ou do serviço não pelo risco em
si (natural para aquela espécie), mas sim pela falta ou insuficiência de informações.
-
Ex.: STJ, REsp 1.599.405/SP – Em se tratando de produto de periculosidade
inerente (medicamento), cujos riscos são normais à sua natureza e previsíveis, eventual
dano por ele causado ao consumidor não enseja a responsabilização do fornecedor (Info
603/2017).

Podem ser citados como exemplos clássicos de produtos com riscos inerentes
e previsíveis: medicamentos, produtos de limpeza, faca de cozinha etc.

Ao lado dos produtos/serviços com riscos normais e previsíveis (art. 8o),


existem aqueles potencialmente nocivos à saúde e/ou segurança (art. 9o). Nestes, os
riscos não são normais ou previsíveis, ou seja, surpreendem o consumidor. Dessa forma,
só podem ser evitados se houver informação adequada e ostensiva sobre a
periculosidade ou nocividade (Ex.: venenos, agrotóxicos, fogos de artifício etc).

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Existem ainda os produtos/serviços com alto grau de nocividade ou


periculosidade (art. 10). Para estes, há vedação de colocação no mercado de consumo,
independentemente de haver informação clara, precisa e ostensiva a seu respeito. A lei,
inclusive, faz menção a que o fornecedor sabe ou deveria saber. Ou seja, a ignorância
do fornecedor não o exime da responsabilidade.

A periculosidade exagerada é aquela que nem mesmo informações ostensivas


e manifestas seriam capazes de mitigar seus riscos. Ressalte-se tratar de conceito
jurídico indeterminado, devendo o aplicador preencher seu conteúdo no caso concreto,
com auxílio técnico.

Em resumo e considerando a gradação dos riscos, temos o seguinte panorama


legal:

Produtos/serviços com Produtos/serviços Produtos/serviços com


riscos normais e potencialmente nocivos alto grau de nocividade
previsíveis - ou perigosos ou periculosidade - 11
periculosidade inerente periculosidade exagerada
ou latente

Art. 8º Art. 9º Art. 10


-
São permitidos. São permitidos. São vedados.

Exige do fornecedor Exige do fornecedor Exige do fornecedor


informações necessárias e informações ostensivas e mecanismos para
adequadas a seu respeito. adequadas. conter/evitar prejuízos
(recall).

No caso de conhecimento superveniente de periculosidade ou nocividade pelo


fornecedor, o legislador impõe-lhe a obrigação de comunicar imediatamente às
autoridades competentes e consumidores, mediante anúncios na imprensa, rádio e TV

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(art. 10, §§ 1o e 2o), às expensas do próprio fornecedor. É o chamado mecanismo do


recall.

ATENÇÃO: mesmo o consumidor não atendendo ao recall, o fornecedor


continua objetivamente responsável (responsabilidade pelo fato do produto).

1.1.4.1. Responsabilidade pelo fato do produto (art. 12)

Como visto, no fato do produto ou defeito estão presentes outras


consequências além do próprio produto, danos suportados pelo consumidor
(extrínsecos), a gerar a responsabilidade objetiva direta e imediata do fabricante (art.
12 do CDC).

Observe-se o teor do art. 12, caput, para, em sequência, serem feitos os


comentários pertinentes:

12
Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou
estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da
existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos
consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação,
-
construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação
ou acondicionamento de seus produtos, bem como por
informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e
riscos.

Fabricante, produtor, construtor e importador – aqui, o CDC especificou


espécies, e não o gênero “fornecedor”. Diferente de todas as hipóteses de vício. Isso
significa que a responsabilidade objetiva e solidária será apenas quanto a essas 04
(quatro) espécies. Tal previsão tem especial repercussão em relação ao comerciante
(ou seja, quem leva o produto diretamente ao consumidor), o que será visto em
subtópico em sequência.

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ATENÇÃO! NÃO CONFUNDIR:

- Responsabilidade pelo fato do produto  há previsão da responsabilidade de apenas


04 (quatro) espécies, quais sejam, fabricante, produtor, construtor e importador. Para
os demais, em princípio, não há solidariedade. Há regras especiais para o comerciante
(art. 13).

- Responsabilidade pelo vício (do produto e do serviço)  há previsão da


responsabilidade do “fornecedor” como gênero, o que implica na solidariedade de toda
a cadeia de fornecimento, inclusive do comerciante.

Caracterização do produto defeituoso (art. 12, § 1°) - O produto é defeituoso


quando não oferece a segurança que dele legitimamente se espera, levando-se em
consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais (rol exemplificativo):

13
- sua apresentação (inciso I);

- o uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam (inciso II);

- a época em que foi colocado em circulação (inciso III).

-
Além desses exemplos, o próprio caput do art. 12 traz a falha de informação
(“informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos”) como
exemplo de defeito.

Responsabilidade objetiva fundada na Teoria do Risco da Atividade – não se


indaga se o fabricante, produtor, construtor ou importador agiu com culpa, sendo
irrelevante se ele agiu com o maior cuidado possível. O dispositivo legal prevê que a
responsabilidade é “independentemente da existência de culpa”. Será suficiente que o
consumidor demonstre, para fins de responsabilização, o dano ocorrido (acidente de
consumo) e a relação de causalidade entre o dano e o produto adquirido.

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ATENÇÃO! NÃO CONFIGURA DEFEITO:

- O produto não é considerado defeituoso pelo fato de outro de melhor qualidade ter
sido colocado no mercado (art. 12, § 2°).

Trata-se de uma previsão muito cobrada em provas!

ATENÇÃO! A jurisprudência do STJ entende que houve inversão legal (ope legis) do ônus
da prova em relação ao defeito do produto. Ou seja:

- o consumidor tem o ônus de provar o dano que lhe foi causado e o nexo de causalidade
com o produto (relação causa e efeito);

- compete ao fornecedor (é ônus deste) provar que o produto não é defeituoso.

A questão já foi decidida em sede de controvérsia de recursos repetitivos:

A inversão do ônus da prova pode decorrer da lei ('ope legis'), como na


responsabilidade pelo fato do produto ou do serviço (arts. 12 e 14 do CDC), ou por
determinação judicial ('ope judicis'), como no caso dos autos, versando acerca da 14
responsabilidade por vício no produto (art. 18 do CDC). Inteligência das regras dos arts.
12, § 3º, II, e 14, § 3º, I, e 6º, VIII, do CDC.

(REsp 802.832/MG, S2, Rel. Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, DJe 21/09/2011).

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1.1.4.1.1. A situação do comerciante na responsabilidade pelo fato do produto (art.
13)

O comerciante não responde objetiva e solidariamente em toda e qualquer


situação. As hipóteses de responsabilidade estão elencadas no art. 13:

- quando o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador


não puderem ser identificados (inciso I);

É o caso dos “produtos anônimos”, sem que o consumidor consiga identificar


sua origem (o fabricante ou o produtor, por exemplo).

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- quando o produto for fornecido sem identificação clara do seu


fabricante, produtor, construtor ou importador (inciso II);

Aqui, tratam-se de produtos mal identificados.

- no caso de produtos perecíveis, o comerciante não os


conservar adequadamente (inciso III).

Para considerável parcela da doutrina e para bancas de concursos, a


responsabilidade do comerciante é objetiva e subsidiária.

A responsabilidade subsidiária do comerciante não afasta a responsabilidade


objetiva do fabricante, produtor, construtor (o art. 13, caput, dispõe que o
“comerciante é igualmente responsável”), inclusive no caso do inciso III. 15
O parágrafo único do art. 13 prevê que aquele que efetivar o pagamento ao
prejudicado poderá exercer o direito de regresso contra os demais responsáveis,
segundo sua participação no evento danoso. O direito de regresso pode ser exercido
tanto pelo comerciante como pelo fabricante/produtor/construtor/importador.
-

ATENÇÃO! Diante da previsão do direito de regresso, pode-se questionar: é cabível a


denunciação da lide (por exemplo: comerciante, acionado judicialmente pelo
consumidor, denuncia à lide o fabricante)?

NÃO!!!

O art. 88 do CDC prevê expressamente que: “na hipótese do art. 13, parágrafo único
deste código, a ação de regresso poderá ser ajuizada em processo autônomo, facultada
a possibilidade de prosseguir-se nos mesmos autos, vedada a denunciação da lide”.

** E quanto ao fato do serviço, é vedada igualmente a denunciação da lide (embora não


haja menção expressa no art. 88)?

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Após divergência inicial entre as 3a e 4a Turmas do STJ, entrou-se num consenso, em


que prevaleceu a posição extensiva de que a vedação se aplica também à
responsabilidade pelo fato do serviço. (REsp 1165279, T3, Rel. Ministro Paulo de Tarso
Sanseverino, DJe 28/05/2012).

1.1.4.1.2. As causas excludentes da responsabilidade objetiva

O CDC adotou a teoria do risco da atividade, e não do risco integral. A prova


disso é a previsão expressa de excludentes da responsabilidade do fornecedor (art. 12,
§ 3º - “o fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não será responsabilizado
quando provar”). Em todas as hipóteses de exoneração, o ônus da prova é do
fornecedor:

- que não colocou o produto no mercado (inciso I);


16
- que o defeito inexiste, embora tenha colocado o produto no
mercado (inciso II);

- a existência de culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro


(inciso III).
-

ATENÇÃO! E a culpa concorrente do consumidor?

NÃO afasta a responsabilidade objetiva do fornecedor, mas pode permitir, no caso


concreto, uma redução da condenação imposta ao fornecedor.

Trata-se de uma posição jurisprudencial, que não possui assento expresso no CDC.

IMPORTANTE: o comerciante não pode ser considerado terceiro para fins de exclusão
da responsabilidade. Essa é a posição do STJ.

- caso fortuito e força maior (externos).

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Não estão previstos expressamente no CDC. Interessa, para fins de prova, o


entendimento consolidado do STJ, que é no sentido de serem causas excludentes, uma
vez que rompem o nexo de causalidade (as excludentes de responsabilidade previstas
no art. 12, § 3º, seriam exemplificativas, e não taxativas).

Atualmente, o STJ faz distinção entre caso fortuito externo e interno, com
consequências práticas nos acidentes de consumo.

Fortuito Interno: fato inevitável e, normalmente, imprevisível, que se liga aos


riscos do empreendimento, portanto, não exonera o fornecedor (ex.: roubo ocorrido
nas dependências de agência bancária).

Fortuito Externo: fato inevitável e, normalmente, imprevisível, causador do


dano, totalmente estranho à atividade do fornecedor, que rompe o nexo de causalidade,
exonerando, portanto, o fornecedor (ex.: roubo ocorrido no interior de veículo de
transporte coletivo de passageiros). É fato estranho à atividade negocial.

1.1.4.1.3. E o risco do desenvolvimento? Configura excludente? 17

Risco do desenvolvimento é aquele que não pode ser cientificamente


conhecido no momento de lançamento do produto no mercado, vindo a ser descoberto
somente após certo tempo de- uso do produto/serviço.

Para a doutrina consumerista majoritária, o fornecedor deve responder pelos


riscos do desenvolvimento, não configurando, pois, excludente de responsabilidade.

Os argumentos normalmente invocados são normalmente ligados à não


previsão do risco do desenvolvimento no rol legal de excludentes, bem como à aplicação
dos princípios consumeristas da vulnerabilidade e da restituição integral dos danos. Para
alguns doutrinadores, ademais, tratar-se-ia de um defeito de concepção, razão pela qual
o fornecedor permanece responsável (ideia de socialização dos riscos).

Recentemente, no Informativo 671, o STJ decidiu sobre a existência de fato do


produto e enfrentou expressamente o argumento de existência de risco do
desenvolvimento em medicamento comercializado, para considerar que se tratava de

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

fortuito interno e, como tal, não apto a afastar a responsabilidade do fornecedor (REsp
1.774.372/RS – será analisado com mais vagar à frente).

1.1.4.1.4. Precedentes importantes envolvendo fato do produto (STJ)

O STJ, e mais raramente o STF, com frequência examina e reconhece situações


concretas em que se configura a responsabilidade pelo fato do produto. Passa-se a
comentar brevemente alguns julgados, seja pela novidade, seja pela importância.

Vamos aos principais julgados veiculados nos Informativos de 2020 e dos


últimos anos.

A) Informativo 656 STJ 2019 (REsp 1.828.026/SP): A simples comercialização


de alimento industrializado contendo corpo estranho é suficiente para configuração
do dano moral.

18
A simples comercialização de produto contendo corpo estranho
possui as mesmas consequências negativas à saúde e à
integridade física do consumidor que sua ingestão propriamente
dita. Não se faz necessária, portanto, a investigação do nexo
-
causal entre a ingestão e a ocorrência de contaminação
alimentar para caracterizar o dano ao consumidor. Verifica-se,
portanto, a caracterização de defeito do produto (art. 12, CDC),
em clara infringência ao dever legal de proteção à saúde e à
segurança dirigido ao fornecedor. Uma vez verificada a
ocorrência de defeito no produto, inafastável é o dever do
fornecedor de reparar o dano extrapatrimonial causado.

(REsp 1.828.026-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma,


por unanimidade, julgado em 10/09/2019, DJe 12/09/2019)

B) Informativo 616 STJ 2018 (REsp 1.644.405/RS): O simples ato “levar à boca”

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

do alimento industrializado com corpo estranho gera dano moral in re ipsa,


independentemente de sua ingestão.

Hipótese em que se caracteriza defeito do produto (art. 12,


CDC), o qual expõe o consumidor a risco concreto de dano à sua
saúde e segurança, em clara infringência ao dever legal dirigido
ao fornecedor, previsto no art. 8º do CDC.

Na hipótese dos autos, o simples "levar à boca" do corpo


estranho possui as mesmas consequências negativas à saúde e
à integridade física do consumidor que sua ingestão
propriamente dita.

Peculiaridade: O corpo estranho – um anel indevidamente


contido em uma bolacha recheada – esteve prestes a ser
engolido por criança de 8 anos, sendo cuspido no último
instante. 19
(REsp 1644405/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA
TURMA, julgado em 09/11/2017, DJe 17/11/2017).

-
ATENÇÃO! Essa questão da ingestão – ou não ingestão – de produtos alimentícios com
corpo estranho e a indenização por dano moral não está, como um todo, solidificada no
STJ. Pelo contrário.

Podemos divisar três situações básicas sobre o tema ora analisado:

i) o produto de gênero alimentício é consumido, ainda que parcialmente, em condições


impróprias  gera dano moral (jurisprudência consolidada do STJ);

ii) a aquisição de produto de gênero alimentício contendo em seu interior corpo


estranho, expondo o consumidor a risco concreto de lesão à sua saúde e segurança,
ainda que não ocorra a ingestão de seu conteúdo (lembrar do REsp 1.644.405/RS, Rel.
Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 09/11/2017, DJe 17/11/2017

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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– onde a situação era do “simples ato levar à boca”)  decisões recentes do STJ de que
gera dano moral (defeito do produto);

iii) a simples comercialização de produto contendo corpo estranho  a Terceira Turma,


como visto no julgado acima, entende haver dano moral indenizável; não se pode dizer,
porém, ser esse o entendimento da Quarta Turma.

C) Informativo 603 STJ 2017 (REsp 1.599.405/SP): Em se tratando de produto


de periculosidade inerente (medicamento), cujos riscos são normais à sua natureza e
previsíveis, eventual dano por ele causado ao consumidor não enseja a
responsabilização do fornecedor.

Peculiaridade: A Turma entendeu que NÃO havia fato do


produto no caso de consumidor que veio a morrer de
insuficiência renal aguda após ingerir o medicamento. Isso
porque a bula advertia, expressamente, como possíveis reações 20
adversas, a ocorrência de doenças graves renais. Portanto, em
se tratando de produto de periculosidade inerente, cujos riscos
são normais à sua natureza (medicamento com
contraindicações)
- e previsíveis (na medida em que o consumidor
é deles expressamente advertido), eventual dano por ele
causado não enseja a responsabilização do fornecedor.

(REsp 1.599.405, T3, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, DJe


17/4/2017).

D) Informativo 671 STJ 2020 (REsp 1.774.372/RS): O laboratório tem


responsabilidade objetiva na ausência de prévia informação qualificada quanto aos
possíveis efeitos colaterais da medicação, ainda que se trate do chamado risco do
desenvolvimento.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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Peculiaridade: A Turma entendeu que HAVIA fato do produto


no caso, pois não havia sido dado conhecimento acerca da
possibilidade de desenvolvimento do jogo patológico como
reação adversa ao uso do medicamento SIFROL, que subtraiu da
paciente a capacidade de relacionar, de imediato, o transtorno
mental e comportamental de controle do impulso ao tratamento
médico ao qual estava sendo submetida. Tratava-se de um efeito
absolutamente anormal e imprevisível para a consumidora leiga
e desinformada.

ATENÇÃO! Os dois julgados imediatamente acima corroboram uma mesma posição do


STJ – o entendimento aplicado em ambos é igual -, mas possuem resultados diferentes
ante a postura do fornecedor. Vamos entender melhor.

Premissa de ambos os julgados (elencados nas alíneas D e E acima):

Os medicamentos podem conter riscos permitidos (riscos inerentes). 21


“O fato de o uso de um medicamento causar efeitos colaterais ou reações adversas, por
si só, não configura defeito do produto”.

Dever do fornecedor no caso de riscos permitidos:


-
Informação qualificada ao consumidor (art. 9º, CDC). Este deve ser prévia e devidamente
informado e advertido sobre os riscos inerentes, de modo a poder decidir, de forma
livre, refletida e consciente, sobre o tratamento que lhe é prescrito, além de poder
mitigar eventuais danos que venham a ocorrer em função dele.

A diferença entre os julgados é justamente o descumprimento, pelo fornecedor, do


dever de informação necessária e adequada acerca dos riscos do medicamento no
segundo julgado (REsp 1.774.372/RS), o que implica em falha/defeito do produto
decorrente da violação do dever de informar qualificado, conforme previsão do art. 12,
par. 1º, II, do CDC.

No primeiro julgado (REsp 1.599.405/SP), fica claro pela ementa e pelo inteiro teor que
tal dever foi devidamente cumprido, razão pela qual se afastou a configuração de fato
do produto.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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1.1.4.1.5. Quadro resumo

Excluem a responsabilidade pelo fato do Não excluem a responsabilidade pelo


produto fato do produto

Não colocação do produto no mercado de Culpa concorrente do consumidor.


consumo (causa legal).

Inexistência de defeito (causa legal). Força maior e caso fortuito internos.

Culpa exclusiva do consumidor ou de Risco do desenvolvimento.


terceiro (causa legal).

Força maior e caso fortuito externos


(causa jurisprudencial, com controvérsia
na doutrina). 22

1.1.4.2. Responsabilidade pelo fato do serviço (art. 14)

-
Nas hipóteses envolvendo fato do serviço, tem-se, em regra, o mesmo
tratamento legal do fato do produto, pelo que serão abordadas apenas as suas
peculiaridades.

Observe-se o teor do art. 14, caput, para, em sequência, serem feitos os


comentários pertinentes:

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente


da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos
consumidores por defeitos relativos à prestação de serviços,
bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre
sua fruição e riscos.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

Fornecedor – aqui, o CDC utilizou o gênero, o que gera a responsabilidade


objetiva e solidária entre todos os envolvidos com a prestação, pela presença de outros
danos, além do próprio serviço como bem de consumo.

Aqui também a responsabilidade objetiva é fundada na teoria da atividade ou


do empreendimento, sendo suficiente que o consumidor demonstre o dano ocorrido
(acidente de consumo) e o nexo de causalidade entre o serviço prestado e o dano.

Deve ficar logo registrado que, no fato do serviço, a responsabilidade civil dos
profissionais liberais somente existe se houver culpa de sua parte, conforme o art. 14, §
4o (será objeto de subtópico adiante).

ATENÇÃO! Aqui, não há responsabilidade diferenciada para o comerciante. O disposto


no art. 13 aplica-se apenas para a responsabilidade pelo fato do produto, e não do
serviço.
23
O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele
pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais
(art. 14, § 1o):
-
- o modo do seu fornecimento (inciso I);

- os resultados e os riscos que razoavelmente dele se esperam


(inciso II);

- a época em que foi fornecido.

ATENÇÃO! NÃO CONFIGURA DEFEITO:

- O serviço não é considerado defeituoso pela adoção de novas técnicas (art. 14, § 2°).

Trata-se de uma previsão muito cobrada em provas!

1.1.4.2.1. A responsabilidade subjetiva dos profissionais liberais (art. 14, § 4º)

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

O CDC criou uma exceção à responsabilidade objetiva pelo fato do serviço,


dispondo que a responsabilização pessoal dos profissionais liberais depende da
verificação de culpa, sendo, portanto, uma responsabilidade subjetiva.

O legislador foi claro ao mencionar “responsabilidade pessoal” no referido


dispositivo. Se, por outro lado, tais atividades forem exploradas empresarialmente
(sociedade de advogados, hospital, consultoria financeira, etc), os defeitos serão
indenizados independentemente da verificação de culpa (aplicando-se a regra da
responsabilidade objetiva).

Obrigação de meio Obrigação de resultado

O profissional se obriga a empenhar O profissional garante a consecução de


todos os esforços possíveis para a um resultado final específico.
prestação do serviço contratado. Não há Ex.: cirurgias estéticas embelezadoras,
24
compromisso/obrigação com a obtenção tratamento ortodôntico.
de um resultado específico.

ATENÇÃO! As cirurgias estéticas


reparadoras (ex.: para recuperação de
-
queimaduras) são consideradas
obrigação de meio.

Por tempos, tem sido citado como exemplo de obrigação de resultado a cirurgia
plástica/estética embelezadora.

Tradicionalmente, o STJ aplicava a responsabilidade subjetiva dos profissionais


liberais apenas para os casos de serviços que configurassem obrigação de meio. Para as
obrigações de resultado, a culpa seria presumida.

A previsão legal do CDC, porém, não faz diferenciação entre obrigações meio e
de resultado, razão pela qual significativa parcela da doutrina discorda da tentativa de

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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se criar um regime diferenciado. A norma não autoriza a responsabilização objetiva do


profissional liberal com base na existência de obrigação de resultado.

Contornando essa questão, o STJ vem se posicionando pela responsabilidade


subjetiva pelas obrigações de resultado, mas com presunção de culpa (inversão do ônus
da prova): nas obrigações de resultado, a responsabilidade do profissional da medicina
permanece subjetiva. Cumpre ao médico, contudo, demonstrar que os eventos danosos
decorreram de fatores externos e alheios à sua atuação durante a cirurgia (REsp
1180815, T3, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, DJe 26/08/2010).

Os tratamentos ortodônticos também são considerados obrigação de


resultado, para fins de aplicação do entendimento acima (REsp 1.238.746, T4, Rel.
Ministro Luis Felipe Salomão, DJe 04/11/2011).

1.1.4.2.2. As causas excludentes da responsabilidade objetiva (art. 14, § 3º)

O CDC adotou a teoria do risco da atividade, e não do risco integral. A prova


25
disso é a previsão expressa de excludentes da responsabilidade do fornecedor (art. 14,
§ 3º). Em todas as hipóteses de exoneração, o ônus da prova é do fornecedor:

-
- que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste (inciso I);

- a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro (inciso II).

ATENÇÃO! E a culpa concorrente do consumidor?

Como visto, NÃO afasta a responsabilidade objetiva do fornecedor, mas pode permitir,
no caso concreto, uma redução da condenação imposta ao fornecedor (STJ).

IMPORTANTE: o comerciante não pode ser considerado terceiro para fins de exclusão
da responsabilidade (STJ).

- caso fortuito e força maior (externos).

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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Não estão previstos expressamente no CDC, mas são aceitos pelo STJ (maiores
explicações já foram despendidas).

Remete-se acima à diferenciação entre fortuito interno e fortuito externo,


recordando que apenas este é considerado causa de exclusão.

1.1.4.2.3. Precedentes importantes envolvendo fato do serviço (STJ)

Será feita uma divisão da análise por grandes temas, para facilitar o estudo:

A) Súmula 595 STJ: As instituições de ensino superior respondem


objetivamente pelos danos suportados pelo aluno/consumidor pela realização de curso
não reconhecido pelo Ministério da Educação, sobre o qual não lhe tenha sido dada
prévia e adequada informação.

26
OBSERVAÇÃO: A interpretação da Súmula precisa ser feita considerando a falta/falha
de informação. Se o não reconhecimento pelo MEC é devida e adequadamente
informado e, ainda assim, o aluno/consumidor assume o risco de realizar o curso, não
incide a responsabilidade da instituição de ensino superior.
-

B) Informativo 866 STF 2017: Extravio de bagagem. Dano material. Limitação.


Antinomia. Convenção de Varsóvia. Código de Defesa do Consumidor. É aplicável o
limite indenizatório estabelecido na Convenção de Varsóvia e demais acordos
internacionais subscritos pelo Brasil, em relação às condenações por dano material
decorrente de extravio de bagagem, em voos internacionais.

Repercussão geral. Tema 210. Fixação da tese: "Nos termos do


art. 178 da Constituição da República, as normas e os tratados
internacionais limitadores da responsabilidade das
transportadoras aéreas de passageiros, especialmente as

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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Convenções de Varsóvia e Montreal, têm prevalência em


relação ao Código de Defesa do Consumidor".

ATENÇÃO!

É preciso atentar para os balizadores dessa decisão, pois não é qualquer transporte nem
qualquer dano por ela abrangido.

- transporte aéreo internacional (NÃO se aplica ao transporte aéreo doméstico);

- danos materiais (os danos morais NÃO se sujeitam à indenização tarifada – vide info
673 do STJ adiante).

Como sabemos, a posição do STJ era distinta (entendia que se deveria afastar a
indenização tarifada e dar prevalência à restituição integral, ou seja, o CDC deveria
prevalecer sobre as Convenções). Com o julgado do STF acima, em sede de repercussão
geral, todavia, o STJ vem alinhando-se à Suprema Corte.

INFO 626:
27
Em adequação ao entendimento do Supremo Tribunal Federal, é possível a limitação,
por legislação internacional espacial, do direito do passageiro à indenização por danos
materiais decorrentes de extravio de bagagem (REsp 673.048-RS, Rel. Min. Marco
Aurélio Bellizze, por unanimidade, julgado em 08/05/2018, DJe 18/05/2018).
-
Novidade STJ – INFO 673:

As indenizações por danos morais decorrentes de extravio de bagagem e de atraso de


voo internacional não estão submetidas à tarifação prevista na Convenção de Montreal,
devendo-se observar a efetiva reparação do consumidor prevista no CDC (art. 6º, VI).

(REsp 1.842.066/RS, Terceira Turma).

C) A concessionária de transporte ferroviário pode responder por dano moral


sofrido por passageira, vítima de assédio sexual, praticado por outro usuário no
interior do trem? ATENÇÃO: controvérsia sanada pela 2ª SEÇÃO!

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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Num primeiro momento, o tema chegou à decisão da Terceira Turma do STJ,


que entendeu pela existência de fortuito interno e, portanto, de responsabilidade da
concessionária de serviço público (REsp 1.662.551/SP – Info 628).

Alguns meses depois, entretanto, a Quarta Turma entendeu que as empresas


de transporte coletivo não têm responsabilidade por ato libidinoso cometido por
terceiro contra passageira no interior do veículo, negando indenização em favor de
mulher molestada dentro de vagão da CPTM (REsp 1.748.295/SP – Info 642).

Ocorre que, em dezembro de 2020, a 2ª seção do STJ uniformizou


entendimento acerca da responsabilidade objetiva de empresas de transporte de
passageiro por assédio sexual cometido por terceiro.

Por maioria (5x4), prevaleceu a tese segundo a qual tais situações, por serem
causadas por terceiros, não podem ser imputadas às empresas (ou seja, incide a causa
excludente por fato de terceiro, como fortuito externo).

O entendimento foi fixado em julgamento de dois processos distintos, os REsp


1.833.722 e 1.853.361. Veja-se a síntese das ementas: 28

Assim, nos contratos onerosos de transporte de pessoas,


desempenhados no âmbito de uma relação de consumo, o
fornecedor
- de serviços não será responsabilizado por assédio
sexual ou ato libidinoso praticado por usuário do serviço de
transporte contra passageira, por caracterizar fortuito externo,
afastando o nexo de causalidade. (REsp 1833722/SP, Rel.
Ministro RAUL ARAÚJO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em
03/12/2020, DJe 15/03/2021)

Assim, segundo a orientação firmada no âmbito da Segunda


Seção do Superior Tribunal de Justiça, não há responsabilidade
da empresa de transporte coletivo na hipótese de ocorrência de
prática de ilícito alheio à atividade fim, pois o ato doloso de
terceiro afasta a responsabilidade civil da concessionária por
estar situado fora do desenvolvimento normal do contrato de

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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transporte (fortuito externo), não tendo com ele conexão.


(REsp 1853361/PB, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, Rel. p/
Acórdão Ministro MARCO BUZZI, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em
03/12/2020, DJe 05/04/2021)

D) Informativo 648 STJ 2019 – Segunda Seção (REsp 1.611.915/RS):


Companhia aérea é civilmente responsável por não promover condições dignas de
acessibilidade de pessoa cadeirante ao interior da aeronave.

Entretanto, o ato normativo em questão não é capaz de eximir


a companhia aérea da obrigação de garantir o embarque
seguro e com dignidade da pessoa com dificuldade de
locomoção. Afinal, por integrar a cadeia de fornecimento, recai
sobre a referida sociedade empresária a responsabilidade
solidária frente a caracterização do fato do serviço, quando não 29
executado a contento em prol do consumidor que adquire a
passagem. E, neste panorama, em se tratando de uma relação
consumerista, o fato do serviço (art. 14 do CDC) fica configurado
quando o defeito ultrapassa a esfera meramente econômica do
-
consumidor, atingindo-lhe a incolumidade física ou moral, como
é o caso dos autos, em que o autor foi carregado por prepostos
da companhia, sem as devidas cautelas, tendo sido submetido a
um tratamento vexatório e discriminatório perante os demais
passageiros daquele voo.

(...)

Deste modo, conclui-se, a partir da interpretação lógico-


sistemática da ordem jurídica, que é da sociedade empresária
atuante no ramo da aviação civil a obrigação de providenciar a
acessibilidade do cadeirante no processo de embarque, quando
indisponível ponte de conexão ao terminal aeroportuário

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

(finger).

E) Informativo 640 STJ 2019 (REsp 1.749.941/PR): Concessionária de rodovia


não responde por roubo e sequestro ocorridos nas dependências de estabelecimento
por ela mantido para a utilização de usuários.

No caso, é impossível afirmar que a ocorrência do dano sofrido


pelos usuários guarda conexidade com as atividades
desenvolvidas pela recorrente. A segurança que ele deve
fornecer aos usuários da rodovia diz respeito ao bom estado de
conservação e sinalização da rodovia, não com a presença
efetiva de segurança privada ao longo da estrada, mesmo que
seja em postos de pedágio ou de atendimento ao usuário.

F) Informativo 648 STJ 2019 – Segunda Seção (EREsp 1.431.606/SP): O roubo


30
à mão armada em estacionamento gratuito, externo e de livre acesso configura
fortuito externo, afastando a responsabilização do estabelecimento comercial.

Registre-se, inicialmente, que o Recurso Especial 1.431.606/SP foi julgado – no


-
mesmo sentido, diga-se de passagem – anteriormente, divulgado no Informativo 613
STJ.

Peculiaridade: No entanto, nos casos em que o estacionamento


representa mera comodidade, sendo área aberta, gratuita e de
livre acesso por todos, o estabelecimento comercial não pode
ser responsabilizado por roubo à mão armada, fato de terceiro
que exclui a responsabilidade, por se tratar de fortuito externo.

ATENÇÃO! Súmula 130 STJ: A empresa responde, perante o cliente, pela reparação de
dano ou furto de veículo ocorridos em seu estacionamento.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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A regra, estabelecida pelo enunciado acima, é que os estabelecimentos comerciais


apenas respondem perante seus clientes pelos casos de DANO e FURTO ocorridos em
seu estacionamento.

Tradicionalmente, para os casos em que há emprego de violência ou grave ameaça


(ROUBO), o STJ afasta a responsabilidade do fornecedor, por entender configurado
fortuito externo. Essa é a regra que, contudo, comporta exceções.

Regra:

- DANO ou FURTO  responsabilidade objetiva do fornecedor (fortuito interno);

- ROUBO  não há responsabilidade objetiva do fornecedor (fortuito externo).

EXCEÇÕES (responsabilização por roubo):

- agências bancárias (e estacionamentos da instituição financeira ou por ela oferecidos


a seus clientes);

- shoppings centers e seus estacionamentos;

- hipermercados e seus estacionamentos; 31


- estacionamentos privados.

ATENÇÃO! Na situação em que o consumidor foi vítima de crime ocorrido no drive-thru


- a lanchonete responde pela reparação de danos sofridos
do estabelecimento comercial,
por ele. (STJ. 4ª Turma. REsp 1.450.434-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salmão, julgado em
18/09/2018 – Info 637)

G) Informativo 673 STJ 2020 – Terceira Turma (REsp 1.786.722/SP): O ato de


vandalismo consistente no rompimento de cabos elétricos de vagão de trem não exclui
a responsabilidade da concessionária/transportadora, pois cabe a ela cumprir
protocolos de atuação para evitar tumulto, pânico e submissão a mais situações de
perigo.

Peculiaridade: O contrato de transporte, conforme art. 734 do

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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Código Civil, demanda a responsabilidade objetiva do


transportador, em razão da cláusula de incolumidade que lhe é
inerente.

No caso concreto, para além do ato de vandalismo, concorreram


outros fatores para o dano, consistente na não gestão adequada
da situação, ensejando a ocorrência de dano moral (a Turma
entendeu tratar-se de fortuito interno).

H) Serviços prestados por instituições financeiras:

- Súmula 479 STJ: as instituições financeiras respondem


objetivamente pelos danos gerados por fortuito interno
relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito
de operações bancárias.

- Recentemente, um caso foi julgado pela Terceira Turma do STJ


32
(Informativo 656) e houve o distinguishing entre a situação
levada a julgamento e aquela esboçada no enunciado 479:

Banco não é responsável por fraude em compra on-line paga via


boleto- quando não se verificar qualquer falha na prestação do
serviço bancário.

No caso, contudo, o comprador foi vítima de suposto


estelionato, pois adquiriu um bem de consumo que nunca
recebeu, nem iria receber se outro fosse o meio de pagamento
empregado, como cartão de crédito ou transferência bancária.

Assim, não pertencendo à cadeia de fornecimento, não há como


responsabilizar o banco pelos produtos não recebidos. Ademais,
não se pode considerar esse suposto estelionato como uma
falha no dever de segurança dos serviços bancários prestados.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

(REsp 1.786.157-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma,


por unanimidade, julgado em 03/09/2019, DJe 05/09/2019).

I) Responsabilidade de planos de saúde, hospitais e médicos:

- Súmula nova – 609 STJ: A recusa de cobertura securitária sob


alegação de doença pré-existente é ilícita se não houve a
exigência de exames prévios à contratação ou a demonstração
de má-fé do segurado.

ATENÇÃO! Nesse sentido, também, a Súmula 105 do TJSP: “Não prevalece a negativa de
cobertura às doenças e às lesões préexistentes se, à época da contratação de plano de
saúde, não se exigiu prévio exame médico admissional.”

33
- Informativo 660 STJ 2019 (REsp 1.700.827/PR): o laboratório
responde objetivamente pelos danos morais causados à
genitora por falso resultado negativo de exame de DNA,
realizado para fins de averiguação de paternidade.
-
Para a Terceira Turma, o erro de diagnóstico ou equívoco no
atestado configura falha do serviço, pois nesses casos a
obrigação é de resultado.

(...)

O simples fato do resultado negativo do exame de DNA agride,


ainda, de maneira grave, a honra e reputação da mãe, ante os
padrões culturais que, embora estereotipados, predominam
socialmente. Basta a ideia de que a mulher tenha tido
envolvimento sexual com mais de um homem, ou de que não
saiba quem é o pai do seu filho, para que seja questionada sua
honestidade e moralidade. (REsp 1.700.827-PR, Rel. Min. Nancy

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

Andrighi, Terceira Turma, por unanimidade, julgado em


05/11/2019, DJe 08/11/2019).

- Informativo 666 STJ 2020 (AgInt no AREsp 1.414.776/SP): a


operadora de plano de saúde tem responsabilidade solidária
por defeito na prestação de serviço médico, quando o presta
por meio de hospital próprio e médicos contratados ou por
meio de médicos e hospitais credenciados.

ATENÇÃO! É importante atentar à diferença estabelecida pelo STJ:

- Seguros saúde - há livre escolha pelo beneficiário/segurado de médicos e hospitais,


com reembolso das despesas no limite da apólice. Não se poderá falar em
responsabilidade da seguradora pela má prestação do serviço; a responsabilidade será
direta do médico e/ou hospital, se for o caso.

- Contratos de planos de saúde - é fundado na prestação de serviços médicos e


hospitalares próprios e/ou credenciados, no qual a operadora de plano de saúde 34
mantém hospitais e emprega médicos ou indica um rol de conveniados. Há
responsabilidade solidária e objetiva pela má prestação do serviço.

- sociedades empresárias hospitalares por dano causado


A responsabilidade das
ao paciente-consumidor pode ser assim sintetizada:

(i) as obrigações assumidas diretamente pelo complexo


hospitalar limitam-se ao fornecimento de recursos materiais e
humanos auxiliares adequados à prestação dos serviços médicos
e à supervisão do paciente, hipótese em que a responsabilidade
objetiva da instituição (por ato próprio) exsurge somente em
decorrência de defeito no serviço prestado (art. 14, caput, do
CDC);

(ii) os atos técnicos praticados pelos médicos sem vínculo de

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-

emprego ou subordinação com o hospital são imputados ao


profissional pessoalmente, eximindo-se a entidade hospitalar
de qualquer responsabilidade (art. 14, § 4º, do CDC), se não
concorreu para a ocorrência do dano;

(iii) quanto aos atos técnicos praticados de forma defeituosa


pelos profissionais da saúde vinculados de alguma forma ao
hospital, respondem solidariamente a instituição hospitalar e o
profissional responsável, apurada a sua culpa profissional.
Nesse caso, o hospital é responsabilizado indiretamente por ato
de terceiro, cuja culpa deve ser comprovada pela vítima de
modo a fazer emergir o dever de indenizar da instituição, de
natureza absoluta (arts. 932 e 933 do CC), sendo cabível ao juiz,
demonstrada a hipossuficiência do paciente, determinar a
inversão do ônus da prova (art. 6º, VIII, do CDC). (REsp
1.145.728, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, DJe 08/09/2011).
35
J) Responsabilidade de provedores de internet, blogs e sites de notícias:

- Informativo 628 STJ 2018 (REsp 1.660.168/RJ): É possível


-
determinar o rompimento do vínculo estabelecido por
provedores de aplicação de busca na internet entre o nome de
prejudicado, utilizado como critério exclusivo de busca, e a
notícia apontada nos resultados (DIREITO AO ESQUECIMENTO).

A jurisprudência da Corte Superior tem entendimento reiterado


no sentido de afastar a responsabilidade de buscadores da
internet pelos resultados de busca apresentados, reconhecendo
a impossibilidade de lhe atribuir a função de censor e impondo
ao prejudicado o direcionamento de sua pretensão contra os
provedores de conteúdo, responsáveis pela disponibilização do
conteúdo indevido na internet. Há, todavia, circunstâncias

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-

excepcionalíssimas em que é necessária a intervenção pontual


do Poder Judiciário para fazer cessar o vínculo criado, nos bancos
de dados dos provedores de busca, entre dados pessoais e
resultados da busca, que não guardam relevância para interesse
público à informação, seja pelo conteúdo eminentemente
privado, seja pelo decurso do tempo. Essa é a essência do direito
ao esquecimento: não se trata de efetivamente apagar o
passado, mas de permitir que a pessoa envolvida siga sua vida
com razoável anonimato, não sendo o fato desabonador
corriqueiramente rememorado e perenizado por sistemas
automatizados de busca.

Peculiaridade: pleiteava-se a desindexação do nome da


recorrente, em resultados nas aplicações de busca na internet,
de notícia sobre fraude em concurso público, no qual havia sido
reprovada. O fato referido já contava com mais de uma década,
e ainda hoje os resultados de busca apontavam como mais 36
relevantes as notícias a ela relacionadas, como se, ao longo de
uma década, não houvesse nenhum desdobramento da notícia
nem fatos novos relacionados ao nome da autora.

-
1.1.4.1.5. Quadro resumo

Excluem a responsabilidade pelo fato do Não excluem a responsabilidade pelo


serviço fato do serviço

Inexistência de defeito (causa legal).

Culpa exclusiva do consumidor ou de Culpa concorrente do consumidor.


terceiro (causa legal).

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-

Força maior e caso fortuito externos Força maior e caso fortuito internos.
(causa jurisprudencial, com controvérsia
na doutrina).

1.1.5. DA PRESCRIÇÃO (art. 27)

Inicialmente, vale destacar que a prescrição é tema intimamente ligado à


responsabilidade civil de consumo. É preciso esclarecer, porém, que toda e qualquer
pretensão a ser deduzida em Juízo atrai, via de regra, um prazo de prescrição (exceto
aquelas situações especiais de imprescritibilidade). Assim, na seara do Direito do
Consumidor, as situações de responsabilidade de consumo (seja por fato seja por vício),
de cláusulas contratuais abusivas, de práticas abusivas etc. podem ensejar uma
demanda judicial.

O CDC traz regra específica, todavia, somente a respeito da prescrição dos fatos
37
do produto e do serviço em seu art. 27.

Prescreve em cinco anos a pretensão à reparação (ação de reparação) pelos


danos causados por fato do produto ou serviço, iniciando-se a contagem do prazo a
partir do conhecimento do dano e de sua autoria.
-
Início da contagem do prazo prescricional – a parte final do art. 27 preceitua
que se inicia a contagem do prazo “a partir do conhecimento do dano e de sua autoria”.

Observe-se que a lei vale-se de uma conjunção de adição (“e”), e não de


alternância. Assim, o conhecimento do fato e do seu autor são pressupostos
cumulativos.

1.1.5.1. Prazos diferenciados de prescrição

É justamente pelo fato de o prazo especial de prescrição previsto no CDC (prazo


quinquenal do art. 27) ser específico para os casos de responsabilidade pelo fato do

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-

produto ou do serviço (e tão somente para esse recorte) que outras situações de cunho
consumerista que são objeto de pretensão judicial atraem prazos prescricionais
distintos do quinquenal (ou mesmo de 05 anos, mas com outra fundamentação
normativa), valendo-se da aplicação subsidiária do Código Civil brasileiro (prazos
previstos nos arts. 205 e 206).

Assim, verifica-se que o Superior Tribunal de Justiça já decidiu inúmeros casos


aplicando prazos de prescrição atraídos do CC/2002. Vejamos os casos mais
importantes.

a) Informativo 673 STJ 2020 (REsp 1.756.283/SP, Segunda Seção): Não incide
a prescrição ânua própria das relações securitárias nas demandas em que se discutem
direitos oriundos de planos de saúde ou de seguros saúde.

Em regra, a prescrição envolvendo contrato de seguro é de um ano – como


destacado no item “M” a seguir, nos termos da Súmula 101 do STJ.

Mas o STJ fez uma diferenciação importante entre duas situações distintas e
em ambas não se aplica a prescrição ânua, conforme destacado no quadro a seguir, para 38
melhor visualização (distinguishing):

Abusividade/nulidade de cláusula de Reembolso de despesas médico-


reajuste do plano/seguro- de saúde hospitalares supostamente cobertas
pelo contrato de plano de saúde

Aqui, trata-se de situação de restituição


de valores pagos indevidamente, ou seja,
repetição de indébito.

Prazo prescricional = 3 anos. Prazo prescricional = 10 anos.

O fundamento é a vedação ao Não há prazo prescricional específico


enriquecimento sem causa (art. 206, par. para essa situação, então se aplica o
3º, IV, do Código Civil). prazo subsidiário do CC/2002 (art. 205).

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-

Precedentes STJ (ambos recursos Precedentes STJ (repetitivo):


repetitivos): REsp 1.756.283/SP.
REsp 1.361.182/RS, REsp 1.360.969/RS.

b) Informativo 675 STJ 2020 (REsp 1.803.627/SP, T3): O prazo aplicável à


pretensão de restituição de contribuições descontadas indevidamente dos
beneficiários de contrato de previdência complementar é de 10 anos.

A Turma, na mesma esteira do entendimento adotado pela Corte Especial no


EREsp 1.523.744/RS (precedente na hipótese de restituição de cobrança indevida de
serviço de telefonia), considerou que a existência de causa jurídica, qual seja, a prévia
relação contratual entre as partes, afasta o prazo prescricional trienal com fundamento
no enriquecimento sem causa.

OBSERVAÇÃO: A Turma expressamente afastou entendimento anterior adotado pela 2ª 39


Seção.

c) Informativo 620 STJ 2018 (REsp 1.534.831/DF, T3): Aplica-se o prazo


- CC/02 às ações indenizatórias por danos materiais
prescricional do art. 205 do
decorrentes de vícios de qualidade e de quantidade do imóvel adquirido pelo
consumidor, e não o prazo decadencial estabelecido no art. 26 do CDC.

A pretensão de indenização, veiculada em ação condenatória, é sujeita ao prazo


prescricional disposto no art. 205 do CC/02 (dez anos), o qual, além de corresponder ao
prazo vintenário anteriormente disposto no art. 177 do CC/16, é o prazo que regula as
pretensões fundadas no inadimplemento contratual (vide, no mesmo sentido,
posicionamento do STJ no item “F” a seguir).

O prazo decadencial previsto no art. 26 do CDC se relaciona ao período de que


dispõe o consumidor para exigir em juízo alguma das alternativas que lhe são conferidas
pelos arts. 18, § 1º, e 20, caput do mesmo diploma legal, não se confundindo com o
prazo prescricional a que se sujeita o consumidor para pleitear indenização decorrente

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-

da má-execução do contrato. E, à falta de prazo específico no CDC que regule a


hipótese de inadimplemento contratual – o prazo quinquenal disposto no art. 27 é
exclusivo para as hipóteses de fato do produto ou do serviço – entende-se que deve
ser aplicado o prazo geral decenal do art. 205 do CC/02.

d) Informativo 616 STJ 2018 (REsp 1.369.579/PR): As pretensões


indenizatórias decorrentes do furto de joias, objeto de penhor em instituição
financeira, prescrevem em 05 anos, de acordo com o disposto no art. 27 do CDC.

Fundamento: o furto de joias, à vista de um contrato de penhor, foi considerado


como falha no serviço prestado pela instituição financeira (o referido contrato traz
embutido o de depósito do bem e, por conseguinte, o dever do credor pignoratício de
devolver esse bem após o pagamento do mútuo). Assim, por se estar diante de um fato
do serviço – e não somente de um inadimplemento contratual puro e simples -, a Corte
Cidadã considerou correta a incidência do prazo do art. 27 do CDC para o manejo de
ação visando à reparação por danos materiais e morais.

e) Informativo 866 STF 2017 (RE 636.331/RJ – Repercussão Geral):


40
Responsabilidade civil e transporte. O prazo prescricional da ação de responsabilidade
civil no caso de acidente aéreo em voo doméstico é de 5 anos, segundo entendimento
do STJ, aplicando-se o CDC. O prazo prescricional da ação de responsabilidade civil no
caso de acidente aéreo em voo internacional é de 2 anos, com base no art. 29 da
-
Convenção de Varsóvia. Nos termos do art. 178 da Constituição da República, as normas
e os tratados internacionais limitadores da responsabilidade das transportadoras aéreas
de passageiros, especialmente as Convenções de Varsóvia e Montreal, têm prevalência
em relação ao Código de Defesa do Consumidor (STF, Plenário, RE 636331/RJ, Rel. Min.
Gilmar Mendes e ARE 766618/SP, Rel. Min. Roberto Barroso, julgados em 25/05/2017,
repercussão geral - Informativo 866).

ATENÇÃO!

No que se refere ao prazo prescricional, a previsão convencional estabelece prazo


específico para “ação de responsabilidade” em geral, sem diferenciar se por danos

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-

materiais e/ou morais. Assim, o STF entendeu que se aplica o prazo prescricional
previsto no art. 29 abaixo, sem diferenciar os casos de dano material e moral.

“ARTIGO 29. (1) A ação de responsabilidade deverá intentar-se, sob pena de caducidade,
dentro do prazo de dois anos, a contar da data de chegada, ou do dia, em que a
aeronave, devia ter chegado a seu destino, ou do da interrupção do transporte”.

TEMOS A SEGUINTE DIFERENCIAÇÃO RELATIVA AO PRAZO PRESCRICIONAL:

- Danos decorrentes de acidente em voo internacional  2 anos (previsão na


Convenção Internacional – art. 29);

- Danos decorrentes de acidente em voo doméstico  5 anos (previsão do CDC).

É possível, porém, que a prescrição da ação de responsabilidade específica para danos


morais seja futuramente enfrentada pelos Tribunais Superiores, pois não houve
enfrentamento direto dessa questão.

f) Prazo de 10 anos para a ação de repetição de indébito de tarifas de água e


41
esgoto (Súmula 412 do STJ)

Ante a ausência de disposição específica acerca do prazo prescricional aplicável


à prática comercial indevida de cobrança excessiva, é de rigor a incidência das normas
gerais relativas à prescrição insculpidas no Código Civil na ação de repetição de indébito
-
de tarifas de água e esgoto. Assim, o prazo é vintenário, na forma estabelecida no art.
177 do Código Civil de 1916, ou decenal, de acordo com o previsto no art. 205 do Código
Civil de 2002. (REsp 1532514/SP, Rel. Ministro OG FERNANDES, PRIMEIRA SEÇÃO,
julgado em 10/05/2017, DJe 17/05/2017).

Prescreve em dez anos (art. 205 do Código Civil) a pretensão de repetição de


indébito relativa a valores indevidamente cobrados por serviço de telefonia. (EREsp
1515546/RS, Rel. Ministra LAURITA VAZ, CORTE ESPECIAL, julgado em 18/05/2016, DJe
15/06/2016).

g) Prazo de 10 anos para ações revisionais de contratos bancários.

Nas ações revisionais de contrato bancário, adota-se o prazo prescricional


vintenário na vigência do Código Civil de 1916 e o decenal na vigência do Código Civil de

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-

2002. (AgInt no AREsp 868.658/PR, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, TERCEIRA
TURMA, julgado em 23/06/2016, DJe 01/07/2016).

h) Prazo de 10 anos para ações envolvendo inadimplemento contratual.

Segundo a orientação jurisprudencial desta Corte Superior, "[...] a ação de


ressarcimento por despesas que só foram realizadas em razão de suposto
descumprimento de contrato de prestação de serviços de saúde, hipótese sem previsão
legal específica, atrai a incidência do prazo de prescrição geral de 10 (dez) anos, previsto
no art. 205 do Código Civil [...]" (AgRg no REsp 1416118/MG, Rel. Ministro PAULO DE
TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 23/06/2015, DJe 26/06/2015).

i) Prazo de 03 anos para ação declaratória de nulidade de reajuste de plano


ou seguro de assistência à saúde ainda vigente. Trata-se de entendimento solidificado
pelo STJ em sede de recurso repetitivo.

Cuidando-se de pretensão de nulidade de cláusula de reajuste prevista em


contrato de plano ou seguro de assistência à saúde ainda vigente, com a consequente
repetição do indébito, a ação ajuizada está fundada no enriquecimento sem causa e, 42
por isso, o prazo prescricional é o trienal de que trata o art. 206, § 3º, IV, do Código
Civil de 2002.

Na vigência dos contratos de plano ou de seguro de assistência à saúde, a


pretensão condenatória decorrente da declaração de nulidade de cláusula de reajuste
-
nele prevista prescreve em 20 anos (art. 177 do CC/1916) ou em 3 anos (art. 206, § 3º,
IV, do CC/2002), observada a regra de transição do art. 2.028 do CC/2002. (REsp
1360969/RS, Rel. Ministro MARCO BUZZI, Rel. p/ Acórdão Ministro MARCO AURÉLIO
BELLIZZE, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 10/08/2016, DJe 19/09/2016).

j) Prazo de 1 ano em se tratando de ações entre segurados e seguradoras


(Súmula 101 do STJ).

Para a pretensão de cobrança do seguro, é inaplicável o prazo prescricional de


5 (cinco) anos previsto no CDC, pois não se trata de vício ou defeito do serviço e sim de
inadimplemento contratual.

A prescrição da pretensão do segurado contra o segurador para discutir o


reajuste dos prêmios mensais é ânua, também não sendo o caso de aplicação do CDC.

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(REsp 1084474/MG, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em


04/10/2011, DJe 11/10/2011).

Aplica-se a prescrição ânua do art. 178, § 6º, II, do Código Civil de 1916
(correspondente ao art. 206, § 1º, II, do CC/2002), às ações do segurado contra a
seguradora buscando o pagamento de indenização de seguro de vida em grupo
(Súmula 101/STJ).

1.1.6. RESPONSABILIDADE PELO VÍCIO

A responsabilidade pelo vício desdobra-se em quatro situações diferentes, que,


desde já, se pontua para que o estudo se dê de forma sistematizada, de modo a evitar
confusões de conceitos e regras relativos a cada uma das espécies.

a) Vício de qualidade do produto;


43
b) Vício de quantidade do produto;

c) Vício de qualidade do serviço;

d) Vício de quantidade do serviço.

-
1.1.6.1. Vício de qualidade do produto (art. 18)

Há responsabilidade por vício do produto quando existe um problema aparente


ou oculto no bem de consumo, que o torna impróprio ou inadequado para uso ou
diminui o seu valor, tido como um vício por inadequação. Em casos tais, não há
repercussões fora dos produtos.

Outro vício de qualidade do produto é a falha de informação (disparidade com


as indicações constantes do recipiente, embalagem, rotulagem ou mensagem
publicitária).

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Observe-se o teor do art. 18 para, em sequência, serem feitos os comentários


pertinentes:

Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou


não duráveis respondem solidariamente pelos vícios de
qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou
inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o
valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade, com
as indicações constantes do recipiente, da embalagem,
rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas as variações
decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a
substituição das partes viciadas.

Em que pese o caput do art. 18 fazer menção a que os fornecedores respondem


pelos vícios de qualidade ou quantidade dos produtos, o dispositivo trata 44
especificamente dos vícios de qualidade. Os vícios de quantidade são tratados no art. 19
(e vistos no tópico subsequente).

Fornecedor – o fato de a previsão legal referir-se a “fornecedor”, como gênero,


significa que todos aqueles integrantes da cadeia de consumo (fabricante, produtor,
-
fornecedor, distribuidor, comerciante etc.) são responsáveis de forma solidária. Não há,
pois, responsabilidade diferenciada para o comerciante.

ATENÇÃO! NÃO CONFUNDIR: Há uma diferença importante neste ponto em relação à


responsabilidade pelo fato do produto (art. 12).

- Na responsabilidade pelo vício do produto, o comerciante é solidariamente


responsável.

- Na responsabilidade pelo fato do produto, o comerciante só é responsável nos casos


previstos no art. 13.

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A regra da responsabilidade solidária apresenta uma exceção importante (e


há outra relacionada ao vício de quantidade do produto, adiante exposta):

Produtos in natura (art. 18, § 5°) - No caso de fornecimento de produtos in


natura, será responsável perante o consumidor o fornecedor imediato, exceto quando
identificado claramente seu produtor.

O par. 6o do art. 18 traz um rol exemplificativo de vícios de qualidade do


produto:

- os produtos cujos prazos de validade estejam vencidos (inciso


I);

- os produtos deteriorados, alterados, adulterados, avariados,


falsificados, corrompidos, fraudados (inciso II, primeira parte);

- os produtos nocivos à vida ou à saúde, perigosos (inciso II,


segunda parte);
45
- os produtos em desacordo com as normas regulamentares de
fabricação, distribuição ou apresentação (inciso II, terceira
parte);

- os produtos que, por qualquer motivo, se revelem inadequados


-
ao fim a que se destinam (inciso III).

Prazo para solução do vício de qualidade - segundo o art. 18, § 1°, do CDC, o
fornecedor tem o prazo de 30 dias para sanar o vício de qualidade.

Este prazo tem natureza decadencial, caducando o direito ao final do


transcurso do tempo.

Dessa forma, segundo a doutrina, este prazo deve ser respeitado pelo
consumidor, sob pena de este perder o direito de fazer uso das medidas previstas nos
incisos do comando legal.

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-

ATENÇÃO! Detalhes sobre o prazo:

- Redução ou ampliação (cláusula de prazo) - art. 18, § 2° - Poderão as partes


convencionar a redução ou ampliação do prazo previsto no parágrafo anterior, não
podendo ser inferior a 7 (sete) nem superior a 180 (cento e oitenta) dias.

Mínimo – 7 dias;

Máximo – 180 dias.

Há diversas questões objetivas cobrando esses prazos mínimo e máximo, por vezes
trocando-os (ex: 5 e 90 dias).

Nos contratos de adesão, a cláusula de prazo deverá ser convencionada em separado,


por meio de manifestação expressa do consumidor.

- Causas de dispensa do prazo – art. 18, § 3°- Nesses casos, o consumidor não é obrigado
a aguardar o prazo de 30 dias para solução do vício de qualidade, podendo fazer uso
direto das opções previstas no § 1°:

a) Quando, em razão da extensão do vício, a substituição das partes viciadas puder


46
comprometer a qualidade ou características do produto;

b) Diante da extensão do vício, a substituição das partes viciadas puder gerar a


diminuição substancial do valor da coisa; e

c) Quando se tratar de produto essencial.


-

Opções do consumidor havendo vício de qualidade - art. 18, § 1° - Não sendo


o vício sanado no prazo máximo de 30 (trinta) dias, pode o consumidor exigir,
alternativamente e à sua escolha:

- a substituição do produto por outro da mesma espécie, em


perfeitas condições de uso (inciso I);

- a restituição imediata da quantia paga, monetariamente


atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos (inciso II);

- o abatimento proporcional do preço (inciso III).

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

ATENÇÃO! Se o vício não for sanado no prazo legal (§ 1°) ou convencional (§ 2°), as
opções alternativas acima ficarão sob a escolha do consumidor!

** Pegadinhas frequentes de provas: a assertiva (errada) considerar que a escolha


compete ao fornecedor ou citar apenas uma ou duas das opções (lembrem-se sempre
que são três alternativas, que não têm caráter cumulativo).

** Não esqueçam que a restituição imediata e atualizada da quantia paga (inciso II) não
afasta a possibilidade de responsabilidade por perdas e danos (também há algumas
questões que demandam esse conhecimento).

STJ 2017: É legal a conduta de fornecedor que concede apenas 03 (três) dias para troca
de produtos defeituosos, a contar da emissão da nota fiscal, e impõe ao consumidor,
após tal prazo, a procura de assistência técnica credenciada pelo fabricante para que
realize a análise quanto à existência do vício.

Não há no CDC norma cogente que confira ao consumidor um direito potestativo de ter
o produto trocado antes do prazo legal de 30 (trinta) dias. A troca imediata do produto 47
viciado, portanto, embora prática sempre recomendável, não é imposta ao fornecedor.
O prazo de 3 (três) dias para a troca da mercadoria é um plus oferecido pela empresa,
um benefício concedido ao consumidor diligente, que, porém, não é obrigatório.

- Ricardo Villas Bôas Cueva, DJe 20/02/2017).


(REsp 1.459.155, T3, Rel. Ministro

No caso de, não sanado o vício no prazo legal ou convencional, o consumidor


poderá escolher outro produto da mesma espécie (art. 18, § 1°, I), se o fornecedor não
possibilitar a substituição do produto, poderá haver a substituição por outro de espécie,
marca ou modelo diversos, mediante complementação ou restituição de eventual
diferença de preço (art. 18, § 4°).

Para finalizar, é importante destacar que a ignorância do fornecedor sobre os


vícios de qualidade por inadequação dos produtos e serviços não o exime da
responsabilidade (art. 23).

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

1.1.6.1.1. Dos entendimentos sobre prazo de validade e vida útil do produto (STJ)

Pode-se questionar se o fornecedor pode estabelecer prazo de validade para


os produtos, em especial aqueles de natureza perecível, e se há responsabilidade pelo
consumo após esgotado o prazo estipulado. O STJ já enfrentou esse tema para decidir
que atende às normas do CDC a fixação de prazo de validade e que passa a ser do
consumidor o risco do consumo do produto após esse prazo (REsp 1.252.307/PR, T3,
Rel. Ministro Massami Uyeda, DJe 02/08/2012).

Segundo entendimento do STJ, o fornecedor responde por vício oculto de


produto durável decorrente da própria fabricação e não do desgaste natural gerado pela
fruição ordinária, desde que haja reclamação dentro do prazo decadencial de noventa
dias após evidenciado o defeito, ainda que o vício se manifeste somente após o término
do prazo de garantia contratual, devendo ser observado como limite temporal para o
surgimento do defeito o critério de vida útil do bem.

O Código de Defesa do Consumidor, no § 3º do art. 26, no que concerne à 48


disciplina do vício oculto, adotou o critério da vida útil do bem, e não o critério da
garantia, podendo o fornecedor se responsabilizar pelo vício em um espaço largo de
tempo, mesmo depois de expirada a garantia contratual.

Com efeito, em se tratando de vício oculto não decorrente do desgaste natural


-
gerado pela fruição ordinária do produto, mas da própria fabricação, e relativo a projeto,
cálculo estrutural, resistência de materiais, entre outros, o prazo para reclamar pela
reparação se inicia no momento em que ficar evidenciado o defeito, não obstante tenha
isso ocorrido depois de expirado o prazo contratual de garantia, devendo ter-se sempre
em vista o critério da vida útil do bem.

Ademais, independentemente de prazo contratual de garantia, a venda de um


bem tido por durável com vida útil inferior àquela que legitimamente se esperava,
além de configurar um defeito de adequação (art. 18 do CDC), evidencia uma quebra
da boa-fé objetiva, que deve nortear as relações contratuais, sejam de consumo, sejam
de direito comum. Constitui, em outras palavras, descumprimento do dever de
informação e a não realização do próprio objeto do contrato, que era a compra de um

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

bem cujo ciclo vital se esperava, de forma legítima e razoável, fosse mais longo. (REsp
984.106, T4, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, DJe 20/11/2012).

1.1.6.1.2. Dos precedentes importantes envolvendo vício do produto (STJ)

Além dos inúmeros julgados já citados, são de importante conhecimento


também os seguintes, divididos abaixo por temas correlatos:

A) Sobre responsabilidade solidária dos fornecedores:

- Solidariedade entre fabricante e concessionária de veículo


vendido com defeito (veículo novo cujo ar-condicionado não
funcionava) – vício do produto (REsp 821.624, T4, Rel. Ministro
Aldir Passarinho Junior, DJ 04/11/2010). No mesmo sentido, 49
REsp 611.872, T4, Rel. Ministro Antonio Carlos Ferreira);

- Responsabilidade da montadora se a concessionária (onde o


consumidor comprou carro zero quilômetro) deixa de entregar
o veículo comprado e pago pelo consumidor (REsp 1.309.981,
-
T4, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, DJe 17/12/2013);

- Responde solidariamente por vício de qualidade do automóvel


adquirido o fabricante de veículos automotores que participa de
propaganda publicitária garantindo com sua marca a excelência
dos produtos ofertados por revendedor de veículos usados (REsp
1.365.609, T4, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, DJe
28/04/2015);

B) Diversos:

- Informativo 681 STJ 2020 (REsp 1.823.284/SP, 3ª Turma): É

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

obrigatória a devolução de veículo considerado inadequado ao


uso após a restituição do preço pelo fornecedor no
cumprimento de sentença prolatada em ação redibitória.

O fundamento é que o art. 18, par. 1º, do CDC, quando aplicado,


devolve as partes ao status quo ante. E, se houve devolução
integral do preço, o retorno do produto, ainda que viciado, ao
fornecedor é medida que se impõe, de modo a evitar o
enriquecimento sem causa (art. 18, par. 1º, CDC).

- Informativo 619 STJ 2018 (REsp 1.634.851/RJ, 3a Turma): Cabe


ao consumidor a escolha para exercer seu direito de ter sanado
o vício do produto em 30 dias – levar o produto ao comerciante,
à assistência técnica ou diretamente ao fabricante (ainda que a
assistência técnica esteja situada no mesmo município do
estabelecimento comercial).

Isso porque o dia a dia revela que o consumidor, não raramente,


50
trava verdadeira batalha para, após bastante tempo, atender a
sua legítima expectativa de obter o produto adequado ao uso,
em sua quantidade e qualidade. Aliás, há doutrina a defender,
nessas hipóteses, a responsabilidade civil pela perda injusta e
-
intolerável do tempo útil. Assim, não é razoável que, à
frustração do consumidor de adquirir o bem com vício, se
acrescente o desgaste para tentar resolver o problema ao qual
ele não deu causa, o que, por certo, pode ser evitado – ou, ao
menos, atenuado – se o próprio comerciante participar
ativamente do processo de reparo, intermediando a relação
entre consumidor e fabricante, inclusive porque, juntamente
com este, tem o dever legal de garantir a adequação do
produto oferecido ao consumo.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

ATENÇÃO! Mudança de entendimento: há um precedente anterior, igualmente da


Terceira Turma do STJ, que entendeu de modo diverso do recentíssimo julgado acima.

Com efeito, no REsp 1.411.136/RS, sob a relatoria do Min. Marco Aurélio Bellizze, a
Terceira Turma do STJ decidiu, em 24/02/2015 (precedente veiculado no Informativo
557 do STJ), que “o comerciante não tem o dever de receber e de encaminhar produto
viciado à assistência técnica, a não ser que esta não esteja localizada no mesmo
município do estabelecimento comercial”.

Neste novo julgado (de 12/09/2017, DJe 15/02/2018), a mesma Terceira Turma, por
maioria (o Min. Marco Aurélio Bellizze teve voto vencido), expressamente informou que
a posição esboçada naquele julgado antecedente deveria ser revisitada.

TEORIA DO DESVIO PRODUTIVO DO CONSUMIDOR

O STJ passou a adotar a Teoria do Desvio Produtivo do Consumidor, desenvolvida por


Marcos Dessaune.

Segundo essa teoria, todo tempo desperdiçado pelo consumidor para a solução de
problemas gerados por maus fornecedores constitui dano indenizável, ao perfilhar o 51
entendimento de que a missão subjacente dos fornecedores é - ou deveria ser - dar ao
consumidor, por intermédio de produtos e serviços de qualidade, condições para que
ele possa empregar seu tempo e suas competências nas atividades de sua preferência.

- diretamente, temos decisão monocrática proferida no


Acolhendo a referida teoria mais
AREsp 1.260.458/SP, Terceira Turma, proferida pelo Ministro Marco Aurélio Bellizze em
25/04/2018 e acórdão do REsp 1.737.412/SE, TERCEIRA TURMA, Relatora Ministra
Nancy Andrighi, j. em 05/02/2019.

NOVIDADE STJ – MAIS UM JULGADO DA TERCEIRA TURMA – INFORMATIVO 678:

Em harmonia com a mudança de entendimento consagrada no REsp 1.634.85, a Terceira


Turma do STJ vem consolidando o novo posicionamento, como no REsp 1.568.938/RS,
divulgado no Informativo 678 de 2020. Observe que, no julgamento ora comentado, a
Turma expressamente afastou a pretensão do lojista de que a troca dos produtos
comercializados se desse apenas no prazo de 72 (setenta e duas) horas da sua aquisição.

Ora, temos que divisar duas situações distintas:

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

1 – de fato, o prazo de 72 (setenta e duas) horas para a troca livre (leia-se: sem a
apresentação de vício do produto) de mercadorias é uma liberalidade do lojista;

2 – havendo, todavia, um vício de inadequação, não há como se fugir dos imperativos


do CDC, especialmente dos respectivos prazos de reclamação previstos no art. 26, que
são bem mais amplos do que as 72 horas mencionadas.

O seguinte trecho do inteiro teor traz com clareza o cerne do julgamento: “É simples: do
mesmo modo que a VIA VAREJO (lojista/comerciante) recebeu o produto do fabricante
para o comercializar no mercado, em sobrevindo defeito (leia-se: vício de inadequação)
nele, ela, VIA VAREJO, deve devolvê-lo ao respectivo produtor, para sanação do vício
oculto”.

2. Por estar incluído na cadeia de fornecimento do produto, quem o comercializa, ainda


que não seja seu fabricante, fica responsável, perante o consumidor, por receber o
item que apresentar defeito e o encaminha-lo à assistência técnica, independente do
prazo de 72 horas da compra, sempre observado o prazo decadencial do art. 26 do CDC.
Precedente recente da Terceira Turma desta Corte. (REsp 1568938/RS, Rel. Ministro 52
MOURA RIBEIRO, TERCEIRA TURMA, julgado em 25/08/2020, DJe 03/09/2020)

1.1.6.2. Vício de quantidade do produto (art. 19)

-
Os vícios de quantidade são aqueles em que o produto, respeitadas as variações
decorrentes de sua natureza, tem seu conteúdo líquido inferior às indicações constantes
do recipiente, da embalagem, rotulagem ou de mensagem publicitária.

Opções do consumidor havendo vício de quantidade (art. 19, caput) - havendo


vício de quantidade o consumidor pode exigir, alternativamente e à sua escolha:

- o abatimento proporcional do preço (inciso I);

- complementação do peso ou medida (inciso II);

- a substituição do produto por outro da mesma espécie, marca


ou modelo, sem os aludidos vícios (inciso III);

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

- a restituição imediata da quantia paga, monetariamente


atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos (inciso IV).

ATENÇÃO! As opções alternativas acima ficarão sob a escolha do consumidor!

** Aqui, há uma opção a mais em comparação ao vício de qualidade do produto (art. 18,
§ 1°), que é a complementação do peso ou medida.

** A restituição imediata e atualizada da quantia paga (inciso IV) não afasta a


possibilidade de responsabilidade por perdas e danos.

A regra da responsabilidade solidária também aqui apresenta uma exceção


importante:

Pesagem ou medição errada (art. 19, § 2°) - O fornecedor imediato será


responsável quando fizer a pesagem ou a medição e o instrumento utilizado não estiver
aferido segundo os padrões oficiais. A responsabilidade, então, vai ser exclusiva do
53
comerciante ou fornecedor imediato.

Por fim, caso o consumidor opte pela substituição do produto, e não seja
possível, poderá haver substituição por outro de espécie, marca ou modelo diversos,
mediante complementação ou restituição de eventual diferença de preço (o art. 19 § 1o
-
permite a aplicação do art. 18, § 4o).

1.1.6.3. Vício de qualidade do serviço (art. 20)

O vício aqui é a falha na prestação do serviço, que comprometa a finalidade


que dele razoavelmente espera o consumidor.

O prestador dos serviços responde pelos vícios de qualidade que os tornem


impróprios ao consumo ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes
da disparidade com as indicações constantes da oferta ou mensagem publicitária (neste

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

último caso, é possível haver também vício de quantidade). Observe-se o teor do art.
20:

Art. 20. O fornecedor de serviços responde pelos vícios de


qualidade que os tornem impróprios ao consumo ou lhes
diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da
disparidade com as indicações constantes da oferta ou
mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir,
alternativamente e à sua escolha:

Como nas demais hipóteses de vício, a responsabilidade é objetiva e solidária.

Fornecedor – o fato de a previsão legal referir-se a “fornecedor”, como gênero,


significa que há solidariedade entre todos aqueles integrantes da cadeia de consumo.
Aqui também não há responsabilidade diferenciada para o comerciante.

ATENÇÃO! Não se aplica a exceção quanto à responsabilidade dos profissionais


54
liberais na situação de vício do serviço. O art. 14, par. 4o, do CDC (que prevê a
responsabilidade subjetiva dos profissionais liberais) tem aplicação restrita aos casos de
responsabilidade pelo fato do serviço.
-

Aqui, a regra da responsabilidade solidária não apresenta exceção digna de


nota.

O par. 2o do art. 18 traz um rol exemplificativo de vícios de qualidade do


serviço:

- serviços que se mostram inadequados para os fins que


razoavelmente dele se esperam (primeira parte);

- serviços que não atendam as normas regulamentares de


prestabilidade (segunda parte).

Opções do consumidor havendo vício de qualidade do serviço - art. 20, caput:

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

- a reexecução dos serviços, sem custo adicional e quando


cabível (inciso I);

- a restituição imediata da quantia paga, monetariamente


atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos (inciso II);

- o abatimento proporcional do preço (inciso III).

A reexecução dos serviços pode ser confiada a terceiros por conta e risco do
fornecedor (art. 20, par. 1o).

ATENÇÃO! Aqui, o CDC não estipula prazo para o fornecedor sanar o serviço (ou seja,
prestado o serviço com vício, o consumidor pode fazer uso imediato das opções acima).
É uma diferença em relação ao regramento do vício do produto.

As opções alternativas acima ficarão sob a escolha do consumidor! 55


** Não esqueçam que a restituição imediata e atualizada da quantia paga (inciso II) não
afasta a possibilidade de responsabilidade por perdas e danos.

- e obrigação de uso de peças originais (art. 21) - No


Serviços de reparação
fornecimento de serviços que tenham por objetivo a reparação de qualquer produto,
considerar-se-á implícita a obrigação do fornecedor de empregar componentes de
reposição originais adequados e novos, ou que mantenham as especificações técnicas
do fabricante, salvo, quanto a estes últimos, autorização em contrário do consumidor.

Assim, a regra é a utilização de peças originais e novas no conserto, salvo


quando o consumidor consentir em sentido contrário.

ATENÇÃO! A desobediência ao exposto quanto à reparação e uso de peças originais


pode gerar crime de consumo.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

Art. 70. Empregar na reparação de produtos, peça ou componentes de reposição


usados, sem autorização do consumidor:

Pena: detenção de três meses a um ano e multa.

Ignorância do fornecedor quanto aos vícios de qualidade por inadequação dos


produtos e serviços (art. 23) - A ignorância do fornecedor sobre os vícios de qualidade
por inadequação dos produtos e serviços não o exime de responsabilidade.

Prazos para reclamar o vício do serviço (art. 26) - Tratam-se de prazos


decadenciais, que serão estudados ainda nesta Rodada.

1.1.6.4. Vício de quantidade do serviço (art. 20)

O CDC não traz dispositivo expresso para tratar dos vícios de quantidade do
serviço, mas apreende-se tal espécie da parte final do caput do art. 20 (“disparidade
56
com as indicações constantes da oferta ou mensagem publicitária”).

1.1.7. SERVIÇOS PÚBLICOS (art. 22)


-

Entendemos que “serviços públicos” é um tema mais afeto à grade de Direito


Administrativo do que de Direito do Consumidor, razão pela qual trataremos aqui com
brevidade do assunto, invocando, principalmente, os entendimentos jurisprudenciais
mais abordados em provas.

A primeira informação importante é que os serviços públicos estão sujeitos à


incidência do CDC. Mas isso se aplica para todo e qualquer serviço público?

ATENÇÃO! STJ: (em posicionamento já antigo)

- serviços públicos prestados por concessionárias, remunerados por tarifa ou preço


público, sendo alternativa sua utilização  aplica-se o CDC;

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

ex.: serviços de energia elétrica, água, telefonia, transportes públicos etc.

A relação entre concessionária de serviço público e o usuário final para o fornecimento


de serviços públicos essenciais é consumerista, sendo cabível a aplicação do CDC (REsp
1.595.018, AgRg no REsp 1.421.766, REsp 1.396.925, AgRg no AREsp 479.632, AgRg no
AREsp 546.265, AgRg no AREsp 372.327).

- serviços públicos próprios, remunerados por taxa (tributo)  não se aplica o CDC
(entende-se que não há um consumidor propriamente dito, mas um contribuinte).

Informativo 672 STJ (2020): Na hipótese de responsabilidade civil de médicos pela


morte de paciente em atendimento custeado pelo SUS incidirá o prazo do art. 1º-C da
Lei n. 9.494/97, segundo o qual prescreverá em 05 anos a pretensão de obter
indenização.

A participação complementar da iniciativa privada corresponde a serviço público


indivisível e universal (uti universi), o que afasta as regras do CDC.

O art. 22 (complementado pelo art. 6o, X) consagra o dever dos fornecedores


57
de prestar serviços públicos adequados, eficientes e seguros e, quanto aos essenciais,
contínuos.

No caso de descumprimento do previsto no art. 22, os fornecedores de serviço


-
público sujeitam-se aos dois regimes de responsabilidade previstos no CDC (pelo fato e
pelo vício).

1.1.7.1. Precedentes importantes envolvendo serviços públicos (STJ)

A) Interrupção do fornecimento:

REGRA  para o STJ, é possível o corte, a interrupção de serviços públicos:

- em caso de inadimplemento;

- desde que haja aviso prévio (ou aviso de advertência).

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

SITUAÇÕES EXCEPCIONAIS (reconhecidas pelo STJ):

- Somente as dívidas atuais podem justificar o corte do serviço (dívidas atuais = relativa
ao mês de consumo);

- Há possibilidade de interrupção do fornecimento em relação às pessoas jurídicas de


direito público, mas devem ser preservadas as unidades públicas provedoras de
necessidades inadiáveis da comunidade (ex.: hospitais, prontos-socorros, centros de
saúde, escolas e creches);

OBSERVAÇÃO: tratando-se de hospital particular inadimplente, o STJ já entendeu que a


suspensão do fornecimento de energia elétrica é possível (pois funciona como empresa,
com a finalidade de auferir lucros, embutindo nos preços cobrados o valor dos custos
com energia elétrica).

- Situações em que o corte possa acarretar lesão irreversível à integridade física do


usuário;

- Não cabe responsabilizar o atual usuário do serviço público por débito pretérito
relativo ao consumo de água/energia elétrica de usuário anterior. 58

ATENÇÃO! Novidade: Lei n. 14.015/2020 – versa sobre a interrupção e a religação ou o


restabelecimento de serviços públicos.
-
Alterou dispositivos tanto da Lei n. 13.460/2017 como da Lei n. 8.987/95.

Com relação à Lei 13.460/2017 (que dispõe sobre participação, proteção e defesa dos
direitos do usuário dos serviços públicos da administração pública), acresceu como
dever dos agentes públicos e prestadores de serviços públicos e incluiu entre os direitos
básicos do usuário:

Art. 5º. O usuário de serviço público tem direito à adequada prestação dos serviços,
devendo os agentes públicos e prestadores de serviços públicos observar as seguintes
diretrizes:

(...)

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

XVI – comunicação prévia ao consumidor de que o serviço será desligado em virtude


de inadimplemento, bem como do dia a partir do qual será realizado o desligamento,
necessariamente durante o horário comercial.

(...)

Parágrafo único. A taxa de religação de serviços não será devida se houver


descumprimento da exigência de notificação prévia ao consumidor prevista no inciso
XVI do caput deste artigo, o que ensejará a aplicação de multa à concessionária,
conforme regulamentação.

Comentários:

A comunicação prévia sobre a interrupção por inadimplemento já possuía assento


pacífico na jurisprudência dos Tribunais Superiores.

Tem-se como maiores novidades a necessidade de comunicação do dia em que será


feito o desligamento, e que tal deverá ocorrer durante o horário comercial.

Ademais, se tiver sido pago o débito (inadimplido) que deu origem ao desligamento, a
taxa de religação não será devida se o fornecedor não tiver cumprido o dever de
59
comunicação prévia, com as peculiaridades acima expostas. E, para além da
inexigibilidade da taxa de religação, a concessionária ainda estará sujeita ao pagamento
de multa, a ser imposta administrativamente.
- usuário:
Art. 6º. São direitos básicos do

(...)

VII – comunicação prévia da suspensão da prestação de serviço.

Parágrafo único. É vedada a suspensão da prestação de serviço em virtude de


inadimplemento por parte do usuário que se inicie na sexta-feira, no sábado ou no
domingo, bem como em feriado ou no dia anterior a feriado.

Quanto à Lei n. 8.987/95 (trata do regime de concessão e permissão da prestação de


serviços públicos), acresceu-se o par. 4º ao art. 6º:

Art. 6º, par. 4º. A interrupção do serviço prevista no inciso II do par. 3º deste artigo não
poderá iniciar-se na sexta-feira, no sábado ou no domingo, nem em feriado ou no dia
anterior a feriado.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

Ressalte-se que a referida lei já entrou em vigor desde sua publicação, no dia 15 de junho
de 2020.

B) Serviço público de telefonia:

- Súmula Vinculante 27: Compete à Justiça Estadual julgar


causas entre consumidor e concessionária de serviço público de
telefonia, quando a ANATEL não seja litisconsorte passiva
necessária, assistente ou opoente.

- Súmula 506 STJ: A ANATEL não é parte legítima nas demandas


entre a concessionária e o usuário de telefonia decorrentes de
relação contratual.

- Súmula 356 STJ: É legítima a cobrança de tarifa básica pelo uso


dos serviços de telefonia fixa.
60
C) Serviço público de água e esgoto:

- 412 STJ: a ação de repetição de indébito de tarifas de


- Súmula
água e esgoto sujeita-se ao prazo prescricional estabelecido no
Código Civil.

- Súmula 407 STJ: é legítima a cobrança da tarifa de água, fixada


de acordo com as categorias de usuários e as faixas de consumo.

Ou seja, é legal a cobrança de tarifa progressiva de água.

- É ilegal cobrar a tarifa de água por estimativa quando ausente


o hidrômetro ou quando este estiver com defeito. Neste caso, a
cobrança pelo fornecimento de água deve ser realizada pela
tarifa mínima (REsp 1.513.218, Rel. Ministro Humberto Martins,
DJe 13/03/2015).

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

- Não é lícita a cobrança de tarifa de água no valor do consumo


mínimo multiplicado pelo número de economias existentes no
imóvel (ex.: condomínio edilício), mesmo que haja um único
hidrômetro no local. Neste caso, a cobrança deve se dar pelo
consumo real aferido (REsp 1.166.561, repetitivo, S1, Rel.
Ministro Hamilton Carvalhido, DJe 05/10/2010).

- A jurisprudência desta Corte pacificou o entendimento de que


o inadimplemento é do usuário (natureza pessoal da obrigação),
ou seja, de quem efetivamente obteve a prestação do serviço,
razão porque não cabe responsabilizar o atual usuário por débito
pretérito relativo ao consumo de água/energia elétrica de
usuário anterior (AgRg no REsp 1.327.162, T1, Rel. Ministro
Napoleão Nunes Maia Filho, DJe 28/09/2012).

1.1.8. DA DECADÊNCIA (art. 26)


61
O consumidor que se encontra diante de um vício no produto ou serviço possui
dois prazos distintos para reclamar, perante o fornecedor, providências, notadamente
aquelas previstas nos art. 18, parte final (“podendo o consumidor exigir a substituição
-
das partes viciadas”), e par. 1o (alternativas à escolha do consumidor caso o vício não
seja sanado no prazo legal ou convencional), art. 19 (“podendo o consumidor exigir,
alternativamente e à sua escolha”), e art. 20 (“podendo o consumidor exigir,
alternativamente e à sua escolha”). A falta de reclamação nos prazos tem como
consequência a perda do direito de reclamar pelo vício.

a) De 30 dias  para produtos e serviços não duráveis;

b) De 90 dias  para produtos e serviços duráveis.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

E o que são ou podem ser definidos como produtos e serviços duráveis e não
duráveis? Tratam-se de conceitos abertos que não encontram definição no CDC. Assim,
essa função tem ficado a cargo da doutrina e da jurisprudência.

ATENÇÃO!

Produtos (não) duráveis:

De uma forma tranquila, entende-se que produtos não duráveis são aqueles que se
esgotam em um ou poucos usos, que têm uma vida útil naturalmente curta, rápida.
Pode-se citar como exemplos os gêneros alimentícios em geral, medicamentos,
produtos de limpeza.

De outro lado, produtos duráveis são aqueles com uma vida útil considerável, em que
pese inexistir um cálculo ou estimativa certa para tanto. Ex.: eletrodomésticos e
eletrônicos em geral, imóveis.

E como se definir qual seria a vida útil de um bem durável?


62
** Critério da vida útil do bem:

Por vida útil, deve-se entender aquele lapso temporal que é razoavelmente esperado do
produto para cumprir sua função, de acordo com as legítimas expectativas do
consumidor. Num caso hipotético, uma televisão que demonstra graves problemas de
-
funcionamento com dois anos de uso não atende à vida útil do bem, pois frustra a
legítima expectativa do consumidor de que um aparelho televisor perdure por vários
anos. É bem verdade que se trata de um critério fluído, a ser aferido na prática, de
acordo com parâmetros de razoabilidade.

O STJ já adotou o critério da vida útil de produtos duráveis:

Ademais, independentemente de prazo contratual de garantia, a venda de um bem tido


por durável com vida útil inferior àquela que legitimamente se esperava, além de
configurar um defeito de adequação (art. 18 do CDC), evidencia uma quebra da boa-
fé objetiva, que deve nortear as relações contratuais, sejam de consumo, sejam de
direito comum. Constitui, em outras palavras, descumprimento do dever de informação

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

e a não realização do próprio objeto do contrato, que era a compra de um bem cujo
ciclo vital se esperava, de forma legítima e razoável, fosse mais longo.

(REsp 984.106/SC, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em
04/10/2012, DJe 20/11/2012)

Serviços (não) duráveis:

Para se saber se o serviço é durável ou não, não importa o tempo de duração da


prestação pelo fornecedor, mas principalmente a duração dos efeitos para o
consumidor.

Assim, são duráveis os serviços que se protraem no tempo (ex.: planos de saúde,
fornecimento de água, de energia elétrica, serviço de telefonia etc.).

Já os serviços não duráveis são aqueles que possuem efeitos efêmeros, que geralmente
se exaurem logo após prestados. Ex.: serviços de lazer (teatro, cinema, jogos),
transportes, serviços de limpeza etc.

63
1.1.8.1. Vícios aparentes e vícios ocultos e o início do prazo decadencial

Cumpre fazer a importante diferenciação entre vícios aparentes ou de fácil


constatação e vícios ocultos, notadamente porque há influência direta na forma de
-
contagem do início do prazo decadencial.

- Vícios aparentes (ou de fácil constatação)  são identificáveis por um exame


superficial do produto ou serviço. Não demandam tempo ou conhecimento específicos
para o seu surgimento.

 O dies a quo (de início) do prazo decadencial é a efetiva entrega do produto


ou o término da execução dos serviços (art. 26, par. 1o, CDC).

- Vícios ocultos  não são identificáveis pelo mero exame superficial pelo
consumidor. Estão presentes quando da aquisição do produto ou serviço, mas só se
manifestam depois de algum tempo e podem demandar conhecimentos específicos.

 O dies a quo (de início) do prazo decadencial é o momento em que ficar


evidenciado o defeito (art. 26, par. 3o, CDC).

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

OBSERVAÇÃO: Os prazos de 30 e 90 dias são aplicáveis tanto para os vícios aparentes


quanto para os ocultos, sendo um diferente do outro pelo termo inicial da sua
contagem.

ATENÇÃO! Surge um questionamento: o fornecedor fica submetido a responder pelo


vício oculto que aparecer a qualquer momento, sem limite temporal?

Para evitar que o fornecedor fique responsabilizado ad eternum, tem especial relevo o
critério da vida útil do bem (já definido em outro quadro destaque) como limite
temporal para o surgimento do vício oculto.

STJ: Porém, conforme assevera a doutrina consumerista, o Código de Defesa do


Consumidor, no § 3º do art. 26, no que concerne à disciplina do vício oculto, adotou o
critério da vida útil do bem, e não o critério da garantia, podendo o fornecedor se
responsabilizar pelo vício em um espaço largo de tempo, mesmo depois de expirada a
garantia contratual.
64
Com efeito, em se tratando de vício oculto não decorrente do desgaste natural gerado
pela fruição ordinária do produto, mas da própria fabricação, e relativo a projeto, cálculo
estrutural, resistência de materiais, entre outros, o prazo para reclamar pela reparação
- ficar evidenciado o defeito, não obstante tenha isso
se inicia no momento em que
ocorrido depois de expirado o prazo contratual de garantia, devendo ter-se sempre
em vista o critério da vida útil do bem. (REsp 984.106/SC, Rel. Ministro LUIS FELIPE
SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 04/10/2012, DJe 20/11/2012)

1.1.8.2. Causas que obstam a decadência (art. 26, par. 2o)

As causas que obstam a decadência são:

a) Reclamação comprovadamente formulada pelo consumidor perante o


fornecedor até a resposta negativa correspondente, que deve ser transmitida de
forma inequívoca (inciso I);

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

A doutrina entende que essa reclamação pode ser feita informalmente, como
por serviços telefônicos de atendimento ao consumidor (geralmente fornecem número
de protocolo), por e-mail, por escrito etc.

ATENÇÃO! Julgado STJ de 2017 (Informativo 614): A reclamação obstativa da


decadência, prevista no art. 26, par. 2o, I, do CDC pode ser feita documentalmente ou
verbalmente (REsp 1.442.597/DF, T3, DJe 30/10/2017).

Pegadinha clássica: a reclamação feita pelo consumidor perante órgãos ou entidades


cujas atribuições incluam a defesa do consumidor (ex.: Procon`s, Decon`s) obsta a
decadência?

NÃO! Somente a reclamação feita perante o fornecedor. Essa é a posição do STJ.

b) A instauração de inquérito civil, até seu encerramento (inciso III);

65
ATENÇÃO! Não confundir inquérito civil com inquérito policial (algumas provas de
concurso fazem esse trocadilho).

-
1.1.8.3. Garantias legal e contratual

Todos os produtos lançados no mercado de consumo têm garantia legal de


adequação (art. 24), que independe de termo expresso e cuja exoneração é vedada ao
fornecedor.

Garantia legal - os prazos de garantia legal são aqueles previstos no art. 26 do


CDC, ou seja, 30 dias para os bens não duráveis e 90 dias para os duráveis. É inadmissível
substituir a garantia legal pela contratual, pois a primeira é obrigatória e inderrogável,
enquanto a última é meramente complementar.

Complementar significa que se soma o prazo de garantia contratual ao prazo


de garantia legal.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

Natureza jurídica da garantia contratual - Constitui modalidade de decadência


convencional sendo o prazo concedido geralmente pelo vendedor para ampliar o direito
potestativo dado pela lei ao comprador de determinado bem de consumo.

Ou seja, a lei permite ao fornecedor acrescer uma garantia contratual aos seus
produtos e serviços, que é um plus à garantia legal, e não a substitui nem a incorpora
(art. 50 – “a garantia contratual é complementar à legal e será conferida mediante
termo escrito”).

Para o STJ, os prazos da garantia legal somente começam a correr após o


término do prazo da garantia contratual.

Processo civil. Direito do consumidor. Aquisição de veículo


automotor. Alegação do consumidor de que comprou
determinado modelo, pensando ser o mais luxuoso, e de
posterior constatação de que se tratava do modelo
intermediário. Ação proposta um ano após a aquisição. 66
Decadência. Desnecessidade de se aguardar o término do prazo
de garantia. Alegado inadimplemento do dever de informação,
pelo vendedor, que se insere no âmbito do contrato de compra
e venda.
-
- O início da contagem do prazo de decadência para a
reclamação de vícios do produto (art. 26 do CDC) se dá após o
encerramento da garantia contratual. Precedentes.

(REsp 1021261/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA


TURMA, julgado em 20/04/2010, DJe 06/05/2010)

Embora o fornecedor não esteja obrigado a conferir a garantia contratual, caso


decida fazê-lo, deverá entregar ao consumidor o respectivo termo adequadamente
preenchido e com especificação clara do seu conteúdo, sob pena de incidir no tipo penal
do art. 74 do CDC (“Deixar de entregar ao consumidor o termo de garantia

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

adequadamente preenchido e com especificação clara de seu conteúdo” é crime, sujeito


a pena de detenção de um a seis meses ou multa).

Cobrança pela garantia estendida - Esta somente poderá ser cobrada se


efetivamente contratada e não pode ser presumida, sob pena de responsabilização civil
do fornecedor.

1.1.8.4. Precedentes importantes STJ

Cumpre, para encerrarmos o estudo da decadência, fazer referência a situações


importantes julgadas pelo STJ.

a) Súmula 477: A decadência do artigo 26 do CDC não é aplicável


à prestação de contas para obter esclarecimentos sobre
cobrança de taxas, tarifas e encargos bancários.
67
b) O vestuário representa produto durável por natureza,
porque não se exaure no primeiro uso ou em pouco tempo após
a aquisição, levando certo tempo para se desgastar, mormente
quando classificado como artigo de luxo, a exemplo do vestido
-
de noiva, que não tem uma razão efêmera. (REsp 1161941/DF,
Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA,
julgado em 05/11/2013, DJe 14/11/2013).

c) É de 90 (noventa) dias o prazo para a parte reclamar a


remoção de vícios aparentes ou de fácil constatação
decorrentes da construção civil (art. 26, II, do CDC).

O prazo de garantia de 5 (cinco) anos estabelecido no art. 1.245


do CC de 1916 (art. 618 do CC em vigor) somente se aplica aos
casos de efetiva ameaça à "solidez e segurança do imóvel",
conceito que abrange as condições de habitabilidade da
edificação. (REsp 1172331/RJ, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

NORONHA, TERCEIRA TURMA, julgado em 24/09/2013, DJe


01/10/2013).

1.1.9. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA

Visando coibir os abusos, surgiu no Direito Comparado a figura da teoria da


desconsideração da personalidade jurídica ou teoria da penetração. Com isso, alcançam-
se pessoas e bens que se escondem dentro de uma pessoa jurídica para fins ilícitos ou
abuso (responsabilidade ultra vires).

Embora se trate de tema melhor explicado no conteúdo programático de


Direito Civil, é importante alertar que a desconsideração não implica a extinção da
pessoa jurídica, mas apenas o afastamento momentâneo da sua autonomia patrimonial
no caso concreto (há inúmeras perguntas de concurso nesse sentido).

A desconsideração foi prevista legalmente, de forma inicial, no CDC, passando


por algumas leis extravagantes até vir prevista também no Código Civil de 2002. E o
68
CPC/2015 dedicou um capítulo inteiro para regulamentar o processamento do
“Incidente de Desconsideração da Personalidade Jurídica”.

Teorias de Desconsideração da Personalidade da Pessoa Jurídica - pode-se


- no ordenamento jurídico brasileiro, a que tem assento
dizer que há duas grandes Teorias
no CDC e aquela prevista no CC/2002, o que levou a uma classificação doutrinária muito
famosa e cobrada em provas.

As teorias são divididas levando em consideração a quantidade (maior ou


menor) de requisitos para que haja a desconsideração. São estas as teorias:

Teoria Maior Teoria Menor

Previsão no art. 50 do CC. Previsão no art. 28 do CDC.

Há mais requisitos. Há menos requisitos – o que significa mais


hipóteses de aplicação.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

Não é suficiente a prova da insolvência. É suficiente a prova da insolvência.

Exige o abuso da personalidade jurídica, Exige como único requisito o prejuízo do


que pode ser por: consumidor.

- confusão patrimonial. O caput do art. 28 cita alguns exemplos,

- desvio de finalidade. em rol não taxativo, como abuso de


direito, excesso de poder, infração da lei
etc.

Não pode ser decretada de ofício. Pode ser decretada de ofício.


Depende de requerimento da parte ou do
MP.

Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica no CC (tese americana


da Disregard Doctrine):
69
Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica,
caracterizado pelo desvio de finalidade ou pela confusão
patrimonial, pode o juiz, a requerimento da parte, ou do
-
Ministério Público quando lhe couber intervir no processo,
desconsiderá-la para que os efeitos de certas e determinadas
relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares
de administradores ou de sócios da pessoa jurídica beneficiados
direta ou indiretamente pelo abuso. (Redação dada pela Lei nº
13.874, de 2019)

Teoria da Desconsideração no CDC (art. 28 do CDC):

Art. 28. O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da


sociedade quando, em detrimento do consumidor, houver

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato


ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social. A
desconsideração também será efetivada quando houver
falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade
da pessoa jurídica provocados por má administração.

§ 5° Também poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica


sempre que sua personalidade for, de alguma forma, obstáculo
ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores.

Observe-se que, a despeito de o caput do art. 28 prever alguns exemplos de


situações que permitem a desconsideração no âmbito consumerista, o § 5° traz uma
verdadeira abertura, sempre que a personalidade jurídica implicar em obstáculo ao
ressarcimento do consumidor.

ATENÇÃO! É possível a desconsideração da personalidade jurídica com base no artigo 70


28, §5º, do CDC, na hipótese em que comprovada a insolvência da empresa, pois tal
providência dispensa a presença dos requisitos contidos no caput do artigo 28, isto é,
abuso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato
social, encerramento ou inatividade
- da pessoa jurídica, sendo aplicável a teoria menor
da desconsideração, subordinada apenas à prova de que a mera existência da pessoa
jurídica pode causar, de alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos
causados aos consumidores.

(trecho extraído do voto do Min. Massami Uyeda no AgRg no Ag 1.342.443/PR, T3, DJe
24/05/2012).

Ou seja, a incidência do § 5º é autônoma, não precisa combinar com uma das hipóteses
do caput. Subordina-se a prova da mera existência da pessoa jurídica, que está a causar
obstáculo ao ressarcimento dos consumidores.

A teoria da desconsideração não está condicionada ao ajuizamento de uma


ação autônoma, o juiz pode alcançar os bens da pessoa jurídica na própria ação contra

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

ela proposta. Na mesma linha de raciocínio o STJ entende que o juiz pode desconsiderar
a personalidade jurídica, incidentalmente, no processo de execução (singular ou
coletiva), de forma a impedir a concretização de fraude à lei ou contra terceiros, quando
verificados os pressupostos de sua incidência (ex.: RMS 16.274, T3, Rel. Ministra Nancy
Andrighi, DJ 02/08/2004).

Positivando a jurisprudência que já era consolidada, o CPC/2015 previu que “o


incidente de desconsideração é cabível em todas as fases do processo de conhecimento,
no cumprimento de sentença e na execução fundada em título executivo extrajudicial”
(art. 134, caput).

Manutenção dos parâmetros de desconsideração dos microssistemas (CDC,


CLT, Direito Ambiental) diante do CC/2002 - Enunciado 51 do CJF - A teoria da
desconsideração da personalidade jurídica – disregard doctrine – fica positivada no novo
Código Civil, mantidos os parâmetros existentes nos microssistemas legais e na
construção jurídica sobre o tema.

O que o enunciado acima quis dizer é que, não obstante a previsão do CC/2002
71
ser posterior à das normas que previam a figura da desconsideração (ex.: CDC, Lei do
CADE, Lei n. 9.605/98), estas normas/sistemas se mantém íntegros, não sendo alterados
pelo art. 50 do Código Civil.

Autorização judicial e decretação de ofício - A determinação da


-
desconsideração da personalidade jurídica depende de autorização judicial. Para a
desconsideração prevista no Código Civil, o juiz não pode agir de ofício, sendo necessário
o requerimento da parte ou do Ministério Público. Contudo, para a desconsideração do
Código de Defesa do Consumidor, o juiz pode agir, sim, de ofício, pois o CDC prescreve
normas de ordem pública e interesse social.

Desconsideração Inversa - Apesar de a lei não regular expressamente o assunto


(isso antes do CPC/2015), a doutrina e a jurisprudência já admitiam tranquilamente a
existência do instituto que se convencionou denominar de "desconsideração inversa da
personalidade jurídica".

Caracteriza-se pelo afastamento da autonomia patrimonial da sociedade, para,


contrariamente do que ocorre na desconsideração da personalidade propriamente dita,

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

atingir o ente coletivo e seu patrimônio social. A desconsideração inversa tem sido usada
com frequência pelo direito de família, quando um dos cônjuges, pretendendo se
separar do outro, transfere os bens pessoais para uma sociedade, com o objetivo de
livrá-los da partilha.

A conveniência do instituto surge, pois o devedor esvazia o seu patrimônio,


transferindo os seus bens para a titularidade da pessoa jurídica da qual é sócio. Confira-
se um julgado do STJ que explica com clareza o instituto:

PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO DE


TÍTULO JUDICIAL. ART. 50 DO CC/02. DESCONSIDERAÇÃO DA
PERSONALIDADE JURÍDICA INVERSA. POSSIBILIDADE.

A desconsideração inversa da personalidade jurídica caracteriza-


se pelo afastamento da autonomia patrimonial da sociedade,
para, contrariamente do que ocorre na desconsideração da
personalidade propriamente dita, atingir o ente coletivo e seu 72
patrimônio social, de modo a responsabilizar a pessoa jurídica
por obrigações do sócio controlador.

Considerando-se que a finalidade da disregard doctrine é


combater a utilização indevida do ente societário por seus
-
sócios, o que pode ocorrer também nos casos em que o sócio
controlador esvazia o seu patrimônio pessoal e o integraliza na
pessoa jurídica, conclui-se, de uma interpretação teleológica do
art. 50 do CC/02, ser possível a desconsideração inversa da
personalidade jurídica, de modo a atingir bens da sociedade em
razão de dívidas contraídas pelo sócio controlador, conquanto
preenchidos os requisitos previstos na norma. (REsp
948.117/MS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA,
julgado em 22/06/2010, DJe 03/08/2010)

Transcreve-se, ainda, dois enunciados das Jornadas de Direito Civil:

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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Enunciado 283 do CJF - É cabível a desconsideração da


personalidade jurídica denominada “inversa” para alcançar bens
de sócio que se valeu da pessoa jurídica para ocultar ou desviar
bens pessoais, com prejuízo a terceiros.

Enunciado 284 do CJF - As pessoas jurídicas de direito privado


sem fins lucrativos ou de fins não-econômicos estão abrangidas
no conceito de abuso da personalidade jurídica.

Corroborando de vez o exposto, o CPC/2015 previu que se aplica o disposto no


Capítulo referente ao incidente de desconsideração à hipótese de desconsideração
inversa da personalidade jurídica (art. 133, § 2°).

1.1.10. DA RESPONSABILIDADE SOCIETÁRIA


73
As responsabilidades instituídas nos parágrafos 2º, 3º e 4º do art. 28, a despeito
da posição topográfica, não se confundem nem estão inseridas no âmbito da teoria da
desconsideração da personalidade jurídica.
-
Responsabilidade subsidiária dos grupos societários e sociedades controladas
(§ 2º):

§ 2º As sociedades integrantes dos grupos societários e as


sociedades controladas, são subsidiariamente responsáveis
pelas obrigações decorrentes deste código.

Grupo societário: entende-se aquele constituído por sociedade controladora e


suas controladas, ou seja, por sociedade que detém o controle acionário, ditas
sociedades de comando e por suas filiadas.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

As sociedades controladas são aquelas em que a preponderância nas


deliberações sociais pertence à sociedade controladora, de modo permanente,
diretamente ou por meio de outras controladas. O consumidor poderá prosseguir na
cobrança contra os demais integrantes, em via subsidiária.

Responsabilidade solidária das sociedades consorciadas (§ 3º):

§ 3º As sociedades consorciadas são solidariamente


responsáveis pelas obrigações decorrentes deste código.

Consórcio não tem personalidade jurídica e, em princípio, as consorciadas só


respondem por suas obrigações sem presunção de solidariedade. O CDC excepciona na
medida em que estabelece nas relações de consumo um vínculo de solidariedade entre
as consorciadas (consumidor em face de uma ou de todas).

Responsabilidade subjetiva das sociedades coligadas (§ 4º):


74
As sociedades coligadas só responderão por culpa.

RESUMO DA RESPONSABILIDADE DAS SOCIEDADES

Integrantes dos grupos societários e


- Subsidiária
controladas

Consorciadas Solidária

Mnemônico: consolidária

Coligadas Só respondem por culpa

Mnemônico: coligoculpa

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

2. LEGISLAÇÃO

CDC:

- arts. 8º a 11

- arts. 12 a 17

- arts. 18 a 25

- arts. 26 a 28

75

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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3. QUESTÕES

1. (TJSP – Juiz Substituto – 2017 - Vunesp). Pedro compra um televisor novo em 1° de


março de 2015. O fornecedor oferece garantia, mediante termo escrito, de 1 (um) ano.
Em 15 de julho de 2016, em decorrência de um vício oculto (não originado de desgaste
natural), o sistema de áudio da TV para de funcionar. Em 20 de agosto de 2016, Pedro
entra em contato com o fabricante, informa o problema e solicita o conserto. O
fabricante se recusa a efetuar o conserto afirmando que decorreu o prazo de garantia
de 1 (um) ano. Pedro, então, propõe ação de obrigação de fazer, em 10 de setembro
de 2016, pleiteando a condenação do fabricante a efetuar o conserto da TV.

É correto afirmar que a ação é:

a) procedente, pois a garantia legal de adequação do produto independe de termo


expresso, não se sujeitando ao decurso de prazo decadencial, mas prescricional de 5
(cinco) anos.

b) procedente, pois a reclamação referente à garantia legal de adequação do produto


76
foi efetuada dentro do prazo decadencial de 90 dias, cuja contagem teve início a partir
do aparecimento do defeito.

c) improcedente, pois houve expiração do prazo da garantia oferecida pelo fabricante.


-
d) improcedente, pois decorreu o prazo decadencial (30 dias) para o exercício da
reclamação referente à garantia legal de adequação do produto.

2. (TJSP – Juiz Substituto – 2018 – Vunesp) “Fabiano percorreu as lojas, escolhendo o


pano, regateando um tostão em côvado, receoso de ser enganado. Andava irresoluto,
uma longa desconfiança dava-lhe gestos oblíquos. À tarde puxou o dinheiro, meio
tentado, e logo se arrependeu, certo de que todos os caixeiros furtavam no preço e na
medida: amarrou as notas na ponta do lenço, meteu-as na algibeira, dirigiu-se à
bodega de Seu Inácio, onde guardara os picuás. Aí certificou-se novamente de que o
querosene estava batizado e decidiu beber uma pinga, pois sentia calor. Seu Inácio
trouxe a garrafa de aguardente. Fabiano virou o copo de um trago, cuspiu, limpou os

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-

beiços à manga, contraiu o rosto. Ia jurar que a cachaça tinha água. Por que seria que
Seu Inácio botava água em tudo?” (Graciliano Ramos. Vidas Secas. 27ª edição. Livraria
Martins Editora: São Paulo, 1970. p. 62)

Furtar na medida e colocar água no querosene e na pinga, do que se queixa Fabiano,


configura:

a) defeito do produto.

b) defeito do produto no tocante ao furto na medida e vício do produto no que se refere


a colocar água no querosene e na pinga.

c) vício do produto.

d) vício do produto no tocante ao furto na medida e defeito do produto no que se refere


a colocar água no querosene e na pinga.

3. (TJSP – Juiz Substituto – 2018 - Vunesp) O comerciante é responsável por defeito do


produto, quando fornecido sem identificação:
77
a) de seu fabricante; mas se efetuar o pagamento ao consumidor prejudicado, poderá
exercer direito de regresso contra o fabricante, segundo sua participação na causação
do evento danoso, em processo autônomo, ou mediante denunciação da lide.

b) clara de seu fabricante; mas se efetuar o pagamento ao consumidor prejudicado,


-
poderá exercer direito de regresso contra o fabricante, segundo sua participação na
causação do evento danoso, em processo autônomo, facultada a possibilidade de
prosseguir nos mesmos autos, mas vedada a denunciação da lide.

c) clara de seu fabricante; mas se efetuar o pagamento ao consumidor prejudicado,


poderá exercer direito de regresso contra o fabricante, segundo sua participação na
causação do evento danoso, desde que mediante denunciação da lide.

d) clara de seu fabricante, ou quando ele não for identificado; mas se efetuar o
pagamento ao consumidor prejudicado, poderá exercer direito de regresso contra o
fabricante, mediante chamamento ao processo, por se tratar de devedores solidários,
sem o que não será possível prosseguir nos mesmos autos para obter regressivamente
o que pagou, mas poderá exigi-lo em ação autônoma.

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4. (TJRJ – Juiz Substituto – 2016 - Vunesp). Marisa de Lima adquiriu um aparelho de


telefone celular em uma loja de departamentos para dar como presente a um sobrinho
em seu aniversário. O bem foi adquirido em 10 de maio de 2015 e entregue ao
sobrinho na primeira semana de julho, quando Paulinho imediatamente passou a
utilizar o aparelho. No dia das crianças do mesmo ano, quando novamente encontrou
o sobrinho, este informou que o aparelho está apresentando problema de
aquecimento e desligamento espontâneo quando está brincando em um jogo e que
notou a existência do vício em meados de setembro.

A partir desses fatos, é correta a seguinte afirmação.

a) Já decorreu o prazo prescricional para apresentar reclamação perante o fornecedor,


pois o direito de reclamar pelos vícios apresentados iniciou-se a partir da retirada do
aparelho de telefone celular da loja.

b) O prazo para apresentar reclamação perante o fornecedor é de natureza decadencial,


mas não poderá ser exercido, pois decorrido mais de 90 dias desde a data do início da 78
efetiva utilização do aparelho celular.

c) A reclamação que venha a ser formulada pelo consumidor perante o fornecedor e a


instauração do inquérito civil interrompem o fluxo do prazo para o exercício do direito
de reclamar, que é de natureza prescricional, pois se fosse decadencial não suspenderia
-
nem interromperia.

d) Ainda não decorreu o prazo decadencial para apresentar reclamação perante o


fornecedor, pois como se trata de vício oculto, o prazo iniciou-se no momento em que
o aparelho começou a apresentar o problema.

e) Tratando-se de vício oculto, o consumidor poderá formular reclamação perante o


fornecedor por escrito, a qualquer tempo, mediante instrumento enviado pelo cartório
de títulos e documentos, carta registrada ou simples, encaminhada pelo serviço postal
ou entregue pelo consumidor, inclusive de forma verbal.

5. (TJAC – Juiz Substituto – 2019 - Vunesp) Carlota Joaquina fez um implante de


próteses mamárias e, decorridos dez anos da cirurgia, em razão de dores na região,

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-

realizou exames médicos que constataram a ruptura das próteses e presença de


silicone livre em seu corpo, que lhe causou deformidade permanente. Em razão desses
fatos, após um ano contado do conhecimento da causa das dores, ingressou com ação
judicial pleiteando indenização. Diante dessa situação hipotética, assinale a
alternativa correta.

a) Operou-se a prescrição da pretensão de cunho indenizatório, pois já decorridos mais


de cinco anos da realização da cirurgia para implante das próteses.

b) Operou-se a decadência do direito de reclamar pelos vícios apresentados na prótese,


já que decorrido o prazo legal para exercício desse direito.

c) Não ocorreu a prescrição da pretensão à reparação pelos danos causados, eis que a
ação foi proposta antes de decorrido o quinquênio contado da data de conhecimento
do fato do produto.

d) A pretensão não está prescrita, pois, referindo-se a pleito de reparação de danos, o


prazo prescricional para formular pretensão indenizatória é de três anos, contados do
conhecimento do vício do produto. 79

6. (TJRO – Juiz Substituto – 2019 – Vunesp) Com relação à decadência e prescrição no


âmbito do direito do consumidor, é correto afirmar que:

a) a decadência não pode ser obstada.


-

b) se inicia a contagem do prazo decadencial a partir da utilização efetiva do produto


por parte do consumidor.

c) o prazo prescricional para reclamar sobre o vício oculto inicia-se no momento em que
ficar evidenciado o defeito.

d) prescreve em 03 (três) anos a pretensão à reparação pelos danos causados por fato
do produto.

e) se inicia a contagem do prazo da pretensão à reparação pelos danos causados por


fato do serviço, a partir do conhecimento do dano e de sua autoria.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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7. (TJRJ – Juiz Substituto – 2019) De acordo com o tratamento atribuído pelo regime
consumerista aos institutos da decadência e da prescrição, assinale a alternativa
correta.

a) Tem início o prazo de prescrição nos casos de responsabilidade pelo fato dos produtos
ou serviços a partir da ciência do dano, bem como de sua autoria.

b) Em se tratando de vício oculto, o prazo de decadência tem início no momento em que


se formalizar a reclamação do consumidor perante o fornecedor de produtos.

c) A instauração de inquérito civil obsta a decadência, reiniciando a contagem do prazo


decadencial no dia seguinte à referida instauração.

d) Obsta o transcurso do prazo decadencial a reclamação formulada pelo consumidor


perante o fornecedor de produtos até a resposta negativa correspondente ou o
transcurso de prazo razoável sem a respectiva resposta.

e) Prescreve em sessenta dias o direito de reclamar pelos vícios de fácil constatação,


iniciando a contagem a partir da entrega efetiva do produto ou do término da execução
dos serviços. 80

8. (TJMT – Juiz Substituto – 2018 - Vunesp) Estipêndio da Silva queria galgar


rapidamente posições em sua profissão e para tal finalidade se inscreveu em uma
- próxima da sua residência, que oferecia curso por
instituição de ensino superior,
mensalidade módica. Contudo, concluídos os estudos, Estipêndio soube que o curso
ainda não era reconhecido pelo Ministério da Educação e, em razão disso, não poderia
obter o diploma. Sentindo-se ludibriado pela situação, pretende ser reparado pelos
gastos na realização do curso. Diante dessa situação, assinale a alternativa correta,
considerando também entendimento jurisprudencial sumulado sobre a questão.

a) A instituição de ensino responde objetivamente pelos danos suportados pelo


aluno/consumidor, ainda que comprove que deu prévia e adequada informação a
Estipêndio antes de ele efetivar a matrícula.

b) Se a instituição de ensino demonstrar que o não reconhecimento do curso no


Ministério da Educação foi decorrente da burocracia governamental, não responderá
pelos danos suportados por Estipêndio.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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c) A questão retrata a hipótese de culpa concorrente, eis que caberia à instituição de


ensino informar ao autor, assim como competia ao autor buscar informações sobre o
curso antes da realização da matrícula.

d) A instituição de ensino responde objetivamente pelos danos sofridos pelo


aluno/consumidor que realiza curso não reconhecido pelo Ministério da Educação, mas
exime-se da responsabilidade se provar que o aluno foi prévia e adequadamente
informado do fato.

e) A instituição de ensino deve reparar Estipêndio pelos danos suportados para a


realização do curso, se restar comprovado que houve dolo ou culpa da instituição, por
tratar-se de hipótese de responsabilidade subjetiva.

9. (TJMT – Juiz Substituto – 2018 - Vunesp) Alarmino Figueira adquiriu um secador de


cabelos para presentear sua sogra, Dona Afrodite Merluza. O secador era de uma
marca conhecida e continha folheto com instruções de uso e identificação de
fabricante. Contudo, quando sua sogra foi utilizar o secador de cabelos pela primeira 81
vez, conforme as instruções do manual do usuário, o objeto explodiu, causando-lhe
queimaduras no rosto e nas mãos. Diante desse fato hipotético, assinale a alternativa
correta.

a) Trata-se de responsabilidade pelo fato do produto, pois o secador de cabelos se


-
mostrou defeituoso, porque não ofereceu a segurança que dele legitimamente se
espera, devendo o fabricante ser responsabilizado pelo dano causado a Dona Afrodite.

b) Trata-se de vício do produto, porque não teve utilidade para o fim ao qual foi
adquirido.

c) Trata-se de acidente de consumo, ensejando responsabilidade pelo fato do produto,


e o consumidor deve acionar o comerciante que vendeu o produto.

d) Alarmino Figueira deve pleitear a substituição, o abatimento ou a devolução integral


do preço, bem como reparação pelos danos sofridos por Dona Afrodite, no prazo
decadencial de 90 dias.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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e) Tratando-se de hipótese de responsabilidade por vício do produto, a ignorância do


fornecedor sobre os vícios de qualidade por inadequação do produto não o exime de
responsabilidade.

82

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-

4. GABARITO COMENTADO

1. B

Para a resolução da presente questão, o candidato teria que utilizar os conhecimentos


relativos aos prazos de decadência, aos vícios ocultos e às normas sobre a garantia legal.

O enunciado da questão tenta confundir ao prever a existência de garantia contratual.


Todavia, o mais importante, é saber que houve o aparecimento de um vício oculto, o
que atrai a regra do par. 3o do art. 26 do CDC quanto ao início do prazo decadencial.

Ou seja, se o vício oculto surgiu em 15/07/2016, a partir desta data se conta o prazo
decadencial de 90 dias (pois se trata de um produto durável – televisor). Na data da
propositura da ação (10/09/2016), pois, ainda não havia esgotado o lapso de 90 dias

2. C

Trata-se de questão bastante objetiva, que demanda, basicamente, a análise casuística 83


de dispositivos do CDC e do tipo de responsabilidade envolvida, envolvendo
conhecimento básico sobre a diferenciação entre vício e fato do produto.

No tocante ao furto da medida, trata-se de vício de quantidade do produto, haja vista


que há disparidade entre a- quantidade líquida comercializada e a constante do
recipiente, da embalagem, da rotulagem etc. O art. 19 do CDC especifica esse tipo de
vício e, em seus incisos, traz as alternativas à disposição do consumidor que se depara
com o produto viciado, dentre as quais a complementação do peso ou medida.

Com relação à colocação de água no querosene e na pinga, observa-se que se trata de


um vício intrínseco ao produto, que não se exterioriza – pelo menos o enunciado da
questão não traz qualquer dado nesse sentido – na segurança (seja física seja moral) do
consumidor, razão pela qual não há configuração de defeito/fato do produto (ou
acidente de consumo).

Assim como na situação anterior, o vício corresponde à alteração do conteúdo líquido


real do produto (querosene e aguardente) – inferior ao veiculado, complementado com
água -, razão pela qual também é um vício de quantidade do produto.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

Art. 19. Os fornecedores respondem solidariamente pelos vícios de quantidade do


produto sempre que, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, seu
conteúdo líquido for inferior às indicações constantes do recipiente, da embalagem,
rotulagem ou de mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir,
alternativamente e à sua escolha:

I - o abatimento proporcional do preço;

II - complementação do peso ou medida;

III - a substituição do produto por outro da mesma espécie, marca ou modelo, sem os
aludidos vícios;

IV - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de


eventuais perdas e danos.

As alternativas sequer fizeram diferenciação entre vício de qualidade e de quantidade


do produto, o que a tornava mais simples. Alternativa correta, portanto, é a letra C, pois
estamos diante de dois casos de vício (de quantidade) do produto.
84
3. B

O CDC prevê uma limitação da responsabilidade do comerciante nos casos de fato do


produto. As hipóteses de responsabilidade estão elencadas no art. 13:
-
- quando o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador não puderem ser
identificados (inciso I);

É o caso dos “produtos anônimos”, sem que o consumidor consiga identificar sua origem
(o fabricante ou o produtor, por exemplo).

- quando o produto for fornecido sem identificação clara do seu fabricante, produtor,
construtor ou importador (inciso II);

Aqui, tratam-se de produtos mal identificados.

- no caso de produtos perecíveis, o comerciante não os conservar adequadamente


(inciso III).

Para considerável parcela da doutrina e para várias bancas de concursos, a


responsabilidade do comerciante é objetiva e subsidiária.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

Da análise da primeira parte de todas as assertivas da questão, observa-se que todos os


casos ensejam a responsabilização do comerciante, seja por se enquadrar no inciso I do
art. 13 (alternativa A), seja por se enquadrar no inciso II do mesmo dispositivo legal
(alternativas B, C e D).

Dessa forma, o que vai definir a resposta correta é o modo como o comerciante pode
exercitar seu direito de regresso perante o fabricante, o que vem regulamentado no
parágrafo único do art. 13 e no art. 88 do CDC.

Art. 13.

Parágrafo único. Aquele que efetivar o pagamento ao prejudicado poderá exercer o


direito de regresso contra os demais responsáveis, segundo sua participação na
causação do evento danoso.

Art. 88. Na hipótese do art. 13, parágrafo único deste código, a ação de regresso poderá
ser ajuizada em processo autônomo, facultada a possibilidade de prosseguir-se nos
mesmos autos, vedada a denunciação da lide.

A responsabilidade do comerciante pelo fato do produto será objetiva e subsidiária (e 85


não solidária) – assim, incorreta está a assertiva D.

A responsabilidade subsidiária do comerciante não afasta a responsabilidade objetiva


do fabricante, produtor, construtor (o art. 13, caput, dispõe que o “comerciante é
igualmente responsável”), inclusive
- no caso do inciso III.

O parágrafo único do art. 13 prevê que aquele que efetivar o pagamento ao prejudicado
poderá exercer o direito de regresso contra os demais responsáveis, segundo sua
participação no evento danoso.

Diante da previsão do direito de regresso, pode-se questionar: é cabível a denunciação


da lide (por exemplo: comerciante, acionado judicialmente pelo consumidor, denuncia
à lide o fabricante)?

NÃO!!! O art. 88 do CDC veda-a expressamente, pelo que estão incorretas as assertivas
A e C.

Correta, assim, apenas a alternativa B.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

4. D

Para a resolução da presente questão, o candidato também teria que utilizar os


conhecimentos relativos aos prazos de decadência e aos vícios ocultos.

A primeira observação é que o produto em tela é um aparelho celular, ou seja, durável,


o que já atrai o prazo de decadência de 90 (noventa) dias.

Outrossim, tratando-se de vício do produto e de reclamação perante o fornecedor,


estamos diante de decadência, como estudado nesta rodada.

O problema do aparelho celular (aquecimento e desligamento espontâneo) pode ser


enquadrado como vício oculto, pois não é perceptível a partir de um mero exame
superficial do produto. Assim, por ser vício oculto, o prazo decadencial tem início no
momento em que ficar evidenciado (art. 26, par. 3o) – meados de setembro.

5. C

Para entender a questão, em primeiro lugar, faz-se necessário esclarecer qual o tipo de
86
responsabilidade consumerista está em jogo na situação hipotética.

Perceba-se que houve um acidente de consumo, um fato/defeito na prestação do


serviço médico (cirurgia estética), pois é extrínseco e representa uma falha de
segurança, atingindo a incolumidade física da consumidora/paciente (deformidade
-
permanente ocasionada pela ruptura das próteses e liberação de silicone no corpo).

Um segundo ponto é entender quando surgiu o conhecimento do dano e de sua autoria


(termo a quo do prazo), o que é esclarecido pelo enunciado da questão: após 10 anos
da cirurgia (através da realização de exames médicos), mas 01 ano antes do ingresso
com a ação judicial pleiteando indenização.

Tratando-se de fato do serviço, é aplicável o prazo prescricional de 05 (cinco) anos


previsto no art. 27 do CDC, cuja contagem só se inicia “a partir do conhecimento do
dano e de sua autoria”.

Carlota Joaquina, assim, propôs ação indenizatória após apenas 01 ano da contagem do
prazo prescricional, sendo correta apenas a alternativa C.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

6. E

(A) Incorreta. Art. 26, par. 2º, do CDC.

Art. 26.

§ 2° Obstam a decadência:

I - a reclamação comprovadamente formulada pelo consumidor perante o fornecedor


de produtos e serviços até a resposta negativa correspondente, que deve ser
transmitida de forma inequívoca;

III - a instauração de inquérito civil, até seu encerramento.

(B) Incorreta. Art. 26, par. 1º, do CDC.

Art. 26. O direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil constatação caduca em:

§ 1° Inicia-se a contagem do prazo decadencial a partir da entrega efetiva do produto


ou do término da execução dos serviços.

(C) Incorreta. Art. 26, par. 3º, do CDC.

Art. 26. 87
§ 3° Tratando-se de vício oculto, o prazo decadencial inicia-se no momento em que ficar
evidenciado o defeito.

(D) Incorreta. Art. 27 do CDC.


-
Art. 27. Prescreve em cinco anos a pretensão à reparação pelos danos causados por fato
do produto ou do serviço prevista na Seção II deste Capítulo, iniciando-se a contagem
do prazo a partir do conhecimento do dano e de sua autoria.

(E) Correta. Art. 27 do CDC, parte final.

Art. 27. Prescreve em cinco anos a pretensão à reparação pelos danos causados por fato
do produto ou do serviço prevista na Seção II deste Capítulo, iniciando-se a contagem
do prazo a partir do conhecimento do dano e de sua autoria.

7. A

(A) Correta. Art. 27, CDC: Prescreve em cinco anos a pretensão à reparação pelos danos
causados por fato do produto ou do serviço prevista na Seção II deste Capítulo,

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

iniciando-se a contagem do prazo a partir do conhecimento do dano e de sua autoria.

(B) Incorreta. O prazo decadencial se inicia no momento em que o vício for conhecido e
não com a reclamação perante o fornecedor. -> Art. 26, §3º, CDC: § 3° Tratando-se de
vício oculto, o prazo decadencial inicia-se no momento em que ficar evidenciado o
defeito.

(C) Incorreta. Em caso de inquérito civil, o prazo recomeça a contar do encerramento do


inquérito civil e não da sua instauração. -> Art. 26, 2º, III, CDC: § 2° Obstam a decadência:
III - a instauração de inquérito civil, até seu encerramento.

(D) Incorreta. Não há previsão de prazo razoável na lei. Art. 26, § 2° Obstam a
decadência: I - a reclamação comprovadamente formulada pelo consumidor perante o
fornecedor de produtos e serviços até a resposta negativa correspondente, que deve
ser transmitida de forma inequívoca;

(E) Incorreta. A questão confunde os prazos decadenciais e prescricionais. No caso, em


caso de vício de fácil constatação, o prazo é DECADENCIAL. -> Art. 26, caput e §1º do
CDC: O direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil constatação caduca em: 88
(...) § 1° Inicia-se a contagem do prazo decadencial a partir da entrega efetiva do produto
ou do término da execução dos serviços.

8. D -
Para solucionar o caso concreto exposto, é preciso conhecer a Súmula 595 do STJ: “As
instituições de ensino superior respondem objetivamente pelos danos suportados pelo
aluno/consumidor pela realização de curso não reconhecido pelo Ministério da
Educação, sobre o qual não lhe tenha sido dada prévia e adequada informação.

No enunciado da questão, deixou-se claro que apenas quando “concluídos os estudos”


Estipêndio da Silva tomou conhecimento da ausência de reconhecimento pelo MEC,
razão pela qual não lhe foi dada prévia e adequada informação.

ALTERNATIVA A – INCORRETA

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

A parte final da assertiva a torna incorreta (“ainda que comprove que deu prévia e
adequada informação a Estipêndio antes de ele efetivar a matrícula”), pois viola a parte
final da Súmula 595.

ALTERNATIVAS B e C – INCORRETAS

A responsabilidade da instituição de ensino superior é OBJETIVA e, para além disso,


decorre de violação do seu dever de informar, verdadeira publicidade enganosa por
omissão, pois a situação de ainda se estar buscando administrativamente o
reconhecimento do MEC deve ser objeto de prévia e adequada informação ao
consumidor/aluno, para que este possa avaliar se deseja, ainda assim, assumir o risco e
efetuar o curso.

De acordo com os arts. 6o, IV, e 37 do CDC, é vedada a publicidade, inteira ou


parcialmente, enganosa. O par. 1o do art. 37 define a publicidade enganosa nos
seguintes termos:

§ 1° É enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter


publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo por 89
omissão, capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da natureza, características,
qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre
produtos e serviços.

O sistema protetivo do CDC, ademais, não impõe ao consumidor o dever de buscar as


-
informações que são do seu interesse. Esse dever básico de informar é apenas do
fornecedor, conforme arts. 6o, III, e 31 do CDC.

Art. 6o. São direitos básicos do consumidor:

(...)

III – a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com


especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade, tributos
incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem.

Art. 31. A oferta e a apresentação de produtos ou serviços devem assegurar


informações corretas, claras, precisas, ostensivas e em língua portuguesa sobre suas
características, qualidades, quantidade, composição, preço, garantia, prazos de

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

validade e origem, entre outros dados, bem como sobre os riscos que apresentam à
saúde e segurança dos consumidores.

ALTERNATIVA D – CORRETA

Como já explicitado acima.

ALTERNATIVA E – INCORRETA

Como visto, a teor do sistema geral de responsabilidade objetiva do CDC (exemplo arts.
14 e 20 do CDC, no que tange a serviços) e do próprio enunciado da Súmula 595, a
responsabilidade é objetiva.

9. A

ALTERNATIVAS A (CORRETA), B (INCORRETA) e E (INCORRETA)

De um lado, tem-se a responsabilidade pelo fato do produto ou do serviço, que


compreende os defeitos de segurança, e de outro, a responsabilidade por vício do
produto ou do serviço, que abrange os vícios por inadequação. A diferença pode ser 90
assim resumida:

a) haverá vício de adequação sempre que um produto ou serviço não corresponder à


legítima expectativa do consumidor quanto à sua utilização ou fruição
(comprometimento da prestabilidade);
-
b) haverá defeito de segurança quando, além de não corresponder à expectativa do
consumidor, sua utilização ou fruição for capaz de adicionar riscos à sua incolumidade
ou de terceiros.

VÍCIO DO PRODUTO/SERVIÇO FATO DO PRODUTO/SERVIÇO

Qualidade-adequação. Qualidade-segurança.

Atinge o produto ou o serviço em si – Atinge em especial a incolumidade físico-


intrínseco. psíquica do consumidor ou de terceiros
(as vítimas de consumo) – extrínseco.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

Também denominado defeito ou


acidente de consumo.

Sujeita-se a prazo decadencial. Sujeita-se a prazo prescricional.

Observe-se que a explosão do produto gerou danos à incolumidade física da


consumidora, razão pela qual estamos diante de fato/defeito do produto, previsto no
art. 12 do CDC.

Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador


respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos
causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação,
construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de
seus produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua
utilização e riscos.

ALTERNATIVA C - INCORRETA 91
Fabricante, produtor, construtor e importador – o CDC especificou espécies, e não o
gênero “fornecedor”, diferentemente de todas as hipóteses de vício. Isso significa que
a responsabilidade objetiva e solidária será apenas quanto a essas 04 (quatro) espécies.
Tal previsão tem especial repercussão em relação ao comerciante (ou seja, quem leva o
-
produto diretamente ao consumidor).

O comerciante não responde objetiva e solidariamente em toda e qualquer situação. As


hipóteses de responsabilidade estão elencadas no art. 13:

- quando o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador não puderem ser


identificados (inciso I);

- quando o produto for fornecido sem identificação clara do seu fabricante, produtor,
construtor ou importador (inciso II);

- no caso de produtos perecíveis, o comerciante não os conservar adequadamente


(inciso III).

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

Para considerável parcela da doutrina e para várias bancas de concursos, a


responsabilidade do comerciante é objetiva e subsidiária.

ALTERNATIVA D - INCORRETA

As alternativas previstas na assertiva são para os casos de vício do produto, e não de


fato/defeito do produto (vide diferenciação entre vício e fato explicitada acima).

92

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (conteúdo atualizado em 11-06-


2021)

APRESENTAÇÃO

Olá, queridos alunos,

Acompanharei vocês com a disciplina de Direito da Criança e do Adolescente e,


nesta primeira rodada, trago alguns dos principais temas cobrados em provas anteriores
da Magistratura do Tribunal de Justiça de São Paulo. Dessa forma, trataremos
inicialmente: a) dos consectários em matéria de criança e adolescente; b) do direito à
vida e à saúde; c) do direito à liberdade, ao respeito e à dignidade; d) do direito à
convivência familiar e comunitária; e) da perda e suspensão do poder familiar.

Os consectários, os princípios e as normas constitucionais que tratam da


proteção às crianças e adolescentes são de extrema importância, pois funcionam como
93
estrutura e fundamento para a legislação infraconstitucional, como é o caso do Estatuto
da Criança e do Adolescente. Adicionalmente, estabelecem os parâmetros e normas
gerais sobre o tema.

Já os direitos fundamentais da criança e do adolescente (trataremos da família


-
substituta em outra rodada) foram recorrentes nas provas utilizadas como parâmetro
para a análise estratégica de estudo do Direito da Criança e do Adolescente.

Ressalta-se que, considerando que as questões elaboradas pelas bancas têm


foco basicamente na legislação vigente (ainda que cobrada através de casos
hipotéticos), a análise doutrinária, em regra, foi feita juntamente com a apresentação
da legislação com a finalidade de facilitar a compreensão.

Ótimos estudos!

Edison Burlamaqui.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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1. DOUTRINA (RESUMO)

1.1. BREVE HISTÓRICO DO DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

O ordenamento jurídico brasileiro deixou, por um bom tempo, os direitos dos


menores fora do sistema protetivo, tendo basicamente uma visão punitiva, sendo tal
alteração realizada apenas recentemente. Dessa forma, faremos uma breve análise da
evolução do direito da criança e do adolescente no Brasil.

No ano de 1551 veio a ser fundada a primeira casa de recolhimento para


menores no Brasil. Tratava-se de uma casa de recolhimento “administrada” por jesuítas
e tinha como objetivo isolar (reeducar) as crianças indígenas dos costumes “bárbaros”
de seus pais. Dessa forma, pode-se dizer que esta foi a primeira política de recolhimento
(“internação”) de crianças no Brasil.

No Brasil Império (1822 a 1889) temos que, diante das Ordenações Filipinas, a
imputabilidade penal era alcançada aos sete anos de idade. Dessa forma, dos 7 aos 17
anos o tratamento dos menores era bem parecido com o dos adultos, sendo prevista
94
apenas uma atenuante na aplicação da pena.

Com o advento do Código Penal do Império (1830) temos o surgimento do


exame de capacidade de discernimento para aplicação da pena. Este diploma legal
determinou que os menores-de 14 anos eram considerados inimputáveis, porém, se
houvesse discernimento para os compreendidos na faixa dos 7 aos 14 anos, esses
poderiam ser encaminhados para as casas de correção, local onde poderiam vir a
permanecer até completar 17 anos de idade.

Em 1890 foi promulgado o Código Penal dos Estados Unidos do Brasil que, por
sua vez, manteve uma aproximação considerável em relação aos princípios e
entendimentos do antigo Código Penal do Império, continuando assim com a
verificação de discernimento dos menores infratores que possuíam entre 9 e 14 anos
de idade, sendo que, os que ainda não tivessem alcançado a idade mínima para o juízo
de discernimento eram considerados inimputáveis perante o novo código.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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Em 1926 foi publicado o Decreto 5.083, considerado o primeiro Código de


Menores do Brasil. Esse código tinha como foco os infantes expostos e os menores
abandonados.

Logo em seguida, no ano de 1927, foi promulgado o Código de Menores


(Decreto 17.923-A), documento voltado para os menores de 18 anos, e ficou
amplamente conhecido como o CÓDIGO MELLO MATTOS. Entretanto, este deixou claro
em seu artigo primeiro, que não era direcionado a todas as crianças, mas somente
aquelas que eram consideradas como estando em situação irregular (“abandonados ou
delinquentes”).

Este Código de Menores tinha como objetivo trazer as diretrizes para o trato
dos menores considerados excluídos, regulamentando questões como o trabalho do
menor, tutela e pátrio poder, delinquência e liberdade vigiada.

No campo infracional menores de 14 anos seriam submetidos a medidas com


o objetivo de serem educados. Já os jovens com idade entre 14 e 18 anos seriam
submetidos a procedimento especial, havendo a previsão de “punição”.
95
Com o regime militar estávamos diante de uma nova estrutura normativa e isso
refletiu nas normas infraconstitucionais e especificamente no Direito da Infância e da
Juventude. Especificamente dois documentos normativos se destacam:

-
a) Criação da Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor – Lei
4.513/64; e

b) Código de Menores de 1979 – Lei 6.697/79.

A FUNABEM tinha como objetivo se tornar uma instituição de assistência à


infância tendo como principal linha de atuação a internação, tanto para os menores
abandonados e carentes, quanto para os menores que viessem a cometer alguma
infração.

O Código de Menores de 1979 não implementou grandes modificações na


legislação menorista até então vigente, já que a sua estrutura principal continuava em

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conformidade com o Código de Menores de 1927. Assim, permanecia a visão do


assistencialismo e de repressão.

Ressalta-se que foi essa nova norma que trouxe a expressão do


“MENOR EM SITUAÇÃO IRREGULAR”. Dessa forma, a doutrina
da situação irregular foi oficializada pelo Código de Menores de
1979, porém já se encontrava implícita desde o Código de
Menores de 1927.

Destaca-se que, analisando o passado, foi possível verificar que a grande


maioria da população infanto-juvenil que foi recolhida e internada no sistema então
vigente era formada de crianças e adolescentes que não tinham praticado nenhum
fato definido como crime. Dessa forma, pode-se dizer que a doutrina da Situação
Irregular fez com que os menores passassem a ser objeto da norma jurídica por
apresentarem uma “patologia social”, por não se adequarem ao padrão social pré- 96
estabelecido.

Características da Doutrina da Situação Irregular:

a) Os - menores eram considerados incapazes, objetos de


proteção, da tutela do Estado e não sujeitos de direitos;

b) Distinção entre menores das classes ricas e os que se


encontram em situação considerada irregular (geralmente
pobres);

c) Surge a ideia de proteção dos menores, vistos como


incapazes, contudo, na maioria dos casos, tal proteção violava
direitos;

d) Por ser considerado incapaz, a opinião do menor, em regra,


era irrelevante;

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-

e) Não havia uma distinção clara entre infratores e necessitados


de proteção; e

f) Os menores podiam ser privados de sua liberdade, por tempo


indeterminado, sem as devidas garantias processuais.

Com a CF de 1988 rompemos com a doutrina da situação irregular existente


até então para adotarmos a DOUTRINA DA PROTEÇÃO INTEGRAL. Para poder
consolidar as novas diretrizes da CF foi promulgado o Estatuto da Criança e do
Adolescente em 13 de julho de 1990.

Ressalta-se que tal doutrina não era novidade internacionalmente (Declaração


dos Direitos da Criança – ONU 20 de novembro de 1959).

A nova doutrina determina que há necessidade de se respeitar os direitos das


crianças e dos adolescentes, lembrando que são pessoas em desenvolvimento,
SUJEITOS DE DIREITO, e que, portanto, também têm um conjunto de direitos
fundamentais. 97
Dessa forma, com a nova doutrina, as crianças e os adolescentes ganham um
novo "status", como sujeitos de direitos e não mais como menores objetos de repressão,
em situação irregular, abandonados ou delinquentes.

1.2. CONCEITO DE CRIANÇA E DE ADOLESCENTE

Art. 2º do ECA - Considera-se CRIANÇA, para os efeitos desta Lei,


a pessoa até doze anos de idade incompletos, e ADOLESCENTE
aquela entre doze e dezoito anos de idade.

IDADE DEFINIÇÃO

De 0 a 12 anos incompletos Criança

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-

De 12 anos completos a 18
Adolescente
anos incompletos

Após 18 anos completos Maior

1.3. APLICAÇÃO DO ECA A MAIORES DE 18 ANOS

Art. 2º, parágrafo único do ECA - Nos casos expressos em lei,


aplica-se excepcionalmente este Estatuto às pessoas entre
dezoito e vinte e um anos de idade.

Na apuração do ato infracional, ainda que o adolescente tenha alcançado a


maioridade, o processo judicial se desenvolve no âmbito da justiça da infância e da
juventude. Dessa forma, este ainda está sujeito às medidas previstas no ECA, somente
cessando a aplicação do ECA quando o sujeito completa 21 anos (art. 121, § 5º, do ECA).
98

SÚMULA 605 DO STJ - A SUPERVENIÊNCIA DA MAIORIDADE


PENAL NÃO INTERFERE NA APURAÇÃO DE ATO INFRACIONAL
-
NEM NA APLICABILIDADE DE MEDIDA SOCIOEDUCATIVA EM
CURSO, INCLUSIVE NA LIBERDADE ASSISTIDA, ENQUANTO NÃO
ATINGIDA A IDADE DE 21 ANOS.

Na seara cível, verifica-se a possibilidade de adoção pleiteada na justiça da


infância ainda que o adotando já tenha 18 anos, desde que se encontre sob guarda ou
tutela dos adotantes (art. 40 do ECA).

1.4. COMPETÊNCIA LEGISLATIVA

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

Em relação à proteção à infância e juventude, a competência legislativa é


CONCORRENTE, ou seja, da União, dos Estados e do Distrito Federal. Entretanto, cabe
aos municípios suplementar a legislação federal e estadual.

Previsão Legal - art. 24 da CF - Compete à União, aos Estados e


ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: (...)

XV - proteção à infância e à juventude;

Art. 30 da CF - Compete aos Municípios: (...)

II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber;

1.5. PRINCÍPIOS NORTEADORES DO DIREITO DA CRIANÇA E DO


ADOLESCENTE

1.5.1. DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA


99
O nobre doutrinador Ingo Sarlet, ao realizar brilhante análise, define o que vem
a ser o princípio da dignidade da pessoa humana. Vejamos:

-
“A qualidade intrínseca e distintiva reconhecida por cada ser
humano que o faz merecedor do mesmo respeito e
consideração por parte do Estado e da comunidade,
implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres
fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra todo e
qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham
a lhe garantir as condições existenciais mínimas para uma vida
saudável, além de propiciar e promover sua participação ativa e
corresponsável nos direitos da própria existência e da vida em
comunhão com os demais seres humanos, mediante o devido
respeito aos demais seres que integram a rede da vida”.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

Previsão no ECA - art. 15 do ECA - A criança e o adolescente têm


direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas
humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de
direitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas
leis.

Importante salientar que o dever de garantir a dignidade da criança não se


limita aos pais e aos responsáveis legais, estendendo-se a qualquer pessoa que tenha
conhecimento de algum abuso ou desrespeito à dignidade da criança, devendo
comunicá-lo, inclusive, ao Ministério Público, pois este tem a obrigação legal de propor
medidas judiciais e extrajudiciais necessárias para a defesa do menor.

1.5.2. PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO INTEGRAL


100
Sobre este princípio, Cury, Garrido & Marçura ensinam que “a proteção
integral tem como fundamento a concepção de que CRIANÇAS E ADOLESCENTES SÃO
SUJEITOS DE DIREITOS, frente à família, à sociedade e ao Estado”. Dessa forma, rompe-
se com a ideia de que sejam- simples objetos de intervenção/tutela no mundo adulto
(presente no antigo Código de Menores), colocando-os como titulares de direitos
comuns a toda e qualquer pessoa, bem como de direitos especiais decorrentes da
condição peculiar de pessoas em processo de desenvolvimento.

Código de Menores ECA

Tutela apenas os menores em Dá ampla proteção aos


situação irregular. menores.

Os menores eram vistos como Os menores são sujeitos de


objeto de tutela. direitos.

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Ante o exposto, o princípio da proteção integral, em síntese, determina que o


ordenamento jurídico seja interpretado de forma a garantir a proteção dos direitos da
criança e do adolescente.

Previsão Legal - art. 227 da CF - É dever da família, da sociedade


e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem,
COM ABSOLUTA PRIORIDADE, o direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à
cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência
familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma
de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e
opressão.

1.5.3. PRINCÍPIO DA PRIORIDADE ABSOLUTA 101

O princípio da prioridade absoluta determina que os DIREITOS DAS CRIANÇAS


E DOS ADOLESCENTES DEVEM SER PROTEGIDOS EM PRIMEIRO LUGAR, EM RELAÇÃO
A QUALQUER OUTRO GRUPO- SOCIAL.

Previsão Legal - art. 4º do ECA (e art. 227 da CF) - É dever da


família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder
público assegurar, COM ABSOLUTA PRIORIDADE, a efetivação
dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à
educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e
comunitária.

Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende:

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-

a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer


circunstâncias;

b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de


relevância pública;

c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais


públicas;

d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas


relacionadas com a proteção à infância e à juventude.

Prioridade da Criança Vs. Prioridade do Idoso - O Estatuto do Idoso (art. 3º)


prevê que os idosos terão prioridade absoluta. Dessa forma, muito se discute sobre
quem teria maior prioridade, os idosos ou as crianças e adolescentes. Atualmente,
prevalece o entendimento de que se deve analisar o caso concreto à luz dos princípios
da razoabilidade e da proporcionalidade, para que se possa definir a medida mais
adequada a ser tomada, sempre se buscando garantir que ambas as partes sejam 102
beneficiadas.

1.5.4. PRINCÍPIO DO MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA


-

Segundo Antônio Carlos Gomes Costa, o princípio do melhor interesse da


criança deve ser compreendido como o fundamento básico de todas as ações
direcionadas às crianças e aos adolescentes, sendo que QUALQUER ORIENTAÇÃO OU
DECISÃO ENVOLVENDO REFERIDO GRUPO DEVE LEVAR EM CONTA O QUE É MELHOR
E MAIS ADEQUADO PARA SATISFAZER SUAS NECESSIDADES E SEUS INTERESSES,
sobrepondo-se até mesmo aos interesses dos pais, visando, assim, à proteção integral
dos seus direitos.

Para o Ministro Fachin, esse princípio é um “critério significativo na decisão e


na aplicação da lei. Isso revela um modelo que, a partir do reconhecimento da
diversidade, tutela os filhos como seres prioritários nas relações paterno-filiais e não

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-

mais apenas a instituição familiar em si mesma.” Dessa forma, veremos ao longo do


estudo que diversos julgados são proferidos com fundamento neste princípio.

1.5.5. PRINCÍPIO DA BREVIDADE E EXCEPCIONALIDADE DA MEDIDA DE INTERNAÇÃO

O princípio da brevidade impõe que o período de internação ao qual o jovem


será submetido seja o mais breve possível. Já o princípio da excepcionalidade consiste
no fato de que a medida de internação só será aplicada subsidiariamente, isto é,
quando não houver cabimento de nenhuma outra medida socioeducativa.

Previsão Legal - art. 121 do ECA - A internação constitui medida


privativa da liberdade, sujeita aos princípios de brevidade,
excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em
desenvolvimento.
103
1.5.6. PRINCÍPIO DA CONDIÇÃO PECULIAR DE PESSOA EM DESENVOLVIMENTO

Este princípio estabelece


- que a criança e o adolescente estão em
desenvolvimento, devendo ter um tratamento diferenciado considerando sua
condição peculiar. Dessa forma, possuem todos os direitos de que são detentores os
adultos, desde que sejam aplicáveis à sua idade, ao grau de desenvolvimento físico ou
mental e à sua capacidade de autonomia e discernimento.

Previsão Legal - art. 6º do ECA - Na interpretação desta Lei levar-


se-ão em conta os fins sociais a que ela se dirige, as exigências
do bem comum, os direitos e deveres individuais e coletivos, e a
condição peculiar da criança e do adolescente como pessoas em
desenvolvimento.

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Exemplos - Um bebê não pode exercer o direito de ir e vir; uma criança não
pode e não deve trabalhar; e, ainda, uma criança não pode ser responsabilizada perante
a lei pela prática de um ato infracional da mesma forma que um adolescente ou um
adulto.

1.5.7. PRINCÍPIO DA SIGILOSIDADE

O princípio da sigilosidade aduz que é vedada a divulgação de atos judiciais,


policiais e administrativos que digam respeito a crianças e adolescentes a que se
atribua autoria de ato infracional.

Previsão Legal - art. 143 do ECA - É vedada a divulgação de atos


judiciais, policiais e administrativos que digam respeito a
crianças e adolescentes a que se atribua autoria de ato
infracional.
104

1.5.8. PRINCÍPIO DA GRATUIDADE

-
Previsão Legal - art. 141 do ECA - É garantido o acesso de toda
criança ou adolescente à Defensoria Pública, ao Ministério
Público e ao Poder Judiciário, por qualquer de seus órgãos.

§ 1º A assistência judiciária gratuita será prestada aos que dela


necessitarem, através de defensor público ou advogado
nomeado.

§ 2º AS AÇÕES JUDICIAIS DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DA


INFÂNCIA E DA JUVENTUDE SÃO ISENTAS DE CUSTAS E
EMOLUMENTOS, ressalvada a hipótese de litigância de má-fé.

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Importante ressaltar que o Superior Tribunal de Justiça reconheceu que a


referida isenção de custas NÃO SE ESTENDERÁ AOS DEMAIS SUJEITOS PROCESSUAIS
ENVOLVIDOS, posto que tal princípio visa a beneficiar apenas crianças e adolescentes
na qualidade de autor ou requerido (Resp 701.969/ES).

1.5.9. PRINCÍPIO DA CONVIVÊNCIA FAMILIAR

Segundo esse princípio, TODA CRIANÇA OU ADOLESCENTE TEM O DIREITO DE


SER CRIADO, COMO REGRA GERAL, PELA SUA PRÓPRIA FAMÍLIA E,
EXCEPCIONALMENTE, POR FAMÍLIA SUBSTITUTA. Ressalta-se que tal princípio é
reconhecido constitucionalmente e assegurado pelo ECA.

Previsão Legal - art. 19 do ECA - É direito da criança e do


adolescente ser criado e educado no seio de sua família e,
excepcionalmente, em família substituta, assegurada a
105
convivência familiar e comunitária, em ambiente que garanta
seu desenvolvimento integral.

-
1.6. DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE NA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL

Proteção Especial à Família - art. 226 da CF - A família, base da


sociedade, tem especial proteção do Estado.

§ 1º O casamento é civil e gratuita a celebração.

§ 2º O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei.

§ 3º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união


estável entre o homem e a mulher como entidade familiar,
devendo a lei facilitar sua conversão em casamento.

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(Ressalta-se que o STF deu interpretação conforme a


Constituição ao art. 1.723 do CC para dele excluir qualquer
significado que impeça o reconhecimento da união contínua,
pública e duradoura entre pessoas do mesmo sexo como
entidade familiar. Asseverou que esse reconhecimento deveria
ser feito segundo as mesmas regras e com idênticas
consequências da união estável heteroafetiva. Da mesma
forma, também já foi decidido que é permitido o casamento
entre pessoas do mesmo sexo.)

§ 4º Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade


formada por qualquer dos pais e seus descendentes.

§ 5º Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são


exercidos igualmente pelo homem e pela mulher.

§ 6º O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio.

§ 7º Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e 106


da paternidade responsável, o planejamento familiar é livre
decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos
educacionais e científicos para o exercício desse direito, vedada
qualquer forma coercitiva por parte de instituições oficiais ou
-
privadas.

§ 8º O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de


cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a
violência no âmbito de suas relações.

Proteção Integral e Absoluta à Criança e ao Adolescente - art.


227 da CF - É dever da família, da sociedade e do Estado
assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, COM ABSOLUTA
PRIORIDADE, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à
educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade,
ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência,


discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

Programas de Assistência à Saúde da Criança e do Adolescente


- § 1º O Estado promoverá programas de assistência integral à
saúde da criança, do adolescente e do jovem, ADMITIDA A
PARTICIPAÇÃO DE ENTIDADES NÃO GOVERNAMENTAIS,
mediante políticas específicas e obedecendo aos seguintes
preceitos:

I - aplicação de percentual dos recursos públicos destinados à


saúde na assistência materno-infantil;

II - criação de programas de prevenção e atendimento


especializado para as pessoas portadoras de deficiência física,
sensorial ou mental, bem como de integração social do
adolescente e do jovem portador de deficiência, mediante o
treinamento para o trabalho e a convivência, e a facilitação do
107
acesso aos bens e serviços coletivos, com a eliminação de
obstáculos arquitetônicos e de todas as formas de
discriminação.

Proteção Especial - § 3º O direito a proteção especial abrangerá


-
os seguintes aspectos:

I - idade mínima de quatorze anos para admissão ao trabalho,


observado o disposto no art. 7º, XXXIII;

II - garantia de direitos previdenciários e trabalhistas;

III - garantia de acesso do trabalhador adolescente e jovem à


escola;

IV - garantia de pleno e formal conhecimento da atribuição de


ato infracional, igualdade na relação processual e defesa técnica
por profissional habilitado, segundo dispuser a legislação tutelar
específica;

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-

V - obediência aos princípios de brevidade, excepcionalidade e


respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento,
quando da aplicação de qualquer medida privativa da liberdade;

VI - estímulo do Poder Público, através de assistência jurídica,


incentivos fiscais e subsídios, nos termos da lei, ao acolhimento,
sob a forma de guarda, de criança ou adolescente órfão ou
abandonado;

VII - programas de prevenção e atendimento especializado à


criança, ao adolescente e ao jovem dependente de
entorpecentes e drogas afins.

Sanções - § 4º A lei punirá severamente o abuso, a violência e a


exploração sexual da criança e do adolescente.

Adoção - § 5º A adoção será assistida pelo Poder Público, na


forma da lei, que estabelecerá casos e condições de sua
efetivação por parte de estrangeiros. 108
Igualdade entre os Filhos - § 6º Os filhos, havidos ou não da
relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos
e qualificações, PROIBIDAS QUAISQUER DESIGNAÇÕES
DISCRIMINATÓRIAS RELATIVAS À FILIAÇÃO.
-
§ 8º A lei estabelecerá:

I - o estatuto da juventude, destinado a regular os direitos dos


jovens;

II - o plano nacional de juventude, de duração decenal, visando


à articulação das várias esferas do poder público para a execução
de políticas públicas.

Inimputabilidade - art. 228 da CF - São penalmente inimputáveis


OS MENORES DE DEZOITO ANOS, sujeitos às normas da
legislação especial.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

Dever de Assistência entre Pais e Filhos - art. 229 da CF - Os pais


têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os
filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na
velhice, carência ou enfermidade.

Proteção aos Idosos - art. 230 da CF - A família, a sociedade e o


Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando
sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e
bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida.

§ 1º Os programas de amparo aos idosos serão executados


preferencialmente em seus lares.

§ 2º Aos maiores de sessenta e cinco anos é garantida a


gratuidade dos transportes coletivos urbanos.

1.7. DIREITOS FUNDAMENTAIS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE


109
O tema direitos fundamentais da criança e do adolescente, principalmente as
disposições referentes ao direito à vida, à saúde e à convivência familiar e comunitária,
sofreu grande modificação com a Lei 13.257/2016. Esta prezou pela proteção ao
gênero feminino e à saúde dos menores.
-

Da mesma forma, a Lei 13.509/2017 promoveu grandes alterações nas regras


referentes a família substituta e a adoção.

IMPORTANTE ressaltar que o ECA regulamenta determinados direitos


fundamentais específicos. ENTRETANTO, AINDA QUE NÃO REGULAMENTADOS NO
ECA, OS MENORES SÃO DETENTORES DE TODOS OS DEMAIS DIREITOS
FUNDAMENTAIS APLICÁVEIS PREVISTOS NA CF.

Direitos Fundamentais Regulamentados no ECA

Direito à Vida e à Saúde (arts. 7º a 14)

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade (arts. 15 a 18)

Direito à Convivência Familiar e Comunitária (arts. 19 a 52-D)*

Direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao Lazer (arts. 53 a 59)

Do Direito à Profissionalização e à Proteção no Trabalho (arts. 60 a 69)*

*O tema relacionado à Família Substituta será abordado em outra rodada. O direito à


educação e à profissionalização não serão abordados em razão do tempo disponível.

1.7.1. DIREITO À VIDA E À SAÚDE

O direito à vida é o direito de maior valor para a estrutura do nosso


ordenamento jurídico, posto que nenhum outro direito subsiste sem que haja proteção
à vida humana. Ressalta-se que, juntamente com o direito à vida, deve-se proteger o
direito à saúde, pois diretamente ligado ao primeiro. 110
Ressalta-se que, para garantir o direito à vida e à saúde das crianças e
adolescentes, necessário se faz proteger a gestante, pois esta é o veículo que garante
o nascimento. Dessa forma, através da Lei 13.257/2016, a gestante teve ampliados
seus direitos e sua proteção.-

Art. 7º do ECA - A criança e o adolescente têm direito a proteção


à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais
públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio
e harmonioso, em condições dignas de existência.

Art. 8º do ECA - É assegurado a todas as mulheres o acesso aos


programas e às políticas de saúde da mulher e de planejamento
reprodutivo e, às gestantes, nutrição adequada, atenção
humanizada à gravidez, ao parto e ao puerpério e atendimento
pré-natal, perinatal e pós-natal integral no âmbito do Sistema
Único de Saúde.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

§ 1º O atendimento pré-natal será realizado por profissionais da


atenção primária.

§ 2º Os profissionais de saúde de referência da gestante


garantirão sua vinculação, no último trimestre da gestação, ao
estabelecimento em que será realizado o parto, garantido o
direito de opção da mulher.

§ 3º Os serviços de saúde onde o parto for realizado assegurarão


às mulheres e aos seus filhos recém-nascidos alta hospitalar
responsável e contrarreferência na atenção primária, bem como
o acesso a outros serviços e a grupos de apoio à amamentação.

§ 4º Incumbe ao poder público proporcionar assistência


psicológica à gestante e à mãe, no período pré e pós-natal,
inclusive como forma de prevenir ou minorar as consequências
do estado puerperal.

§ 5º A assistência referida no § 4º deste artigo deverá ser 111


prestada também a gestantes e mães que manifestem interesse
em entregar seus filhos para adoção, bem como a gestantes e
mães que se encontrem em situação de privação de liberdade.

§ 6º A gestante e a parturiente têm direito a 1 (um)


-
acompanhante de sua preferência durante o período do pré-
natal, do trabalho de parto e do pós-parto imediato.

§ 7º A gestante deverá receber orientação sobre aleitamento


materno, alimentação complementar saudável e crescimento e
desenvolvimento infantil, bem como sobre formas de favorecer
a criação de vínculos afetivos e de estimular o desenvolvimento
integral da criança.

§ 8º A gestante tem direito a acompanhamento saudável


durante toda a gestação e a parto natural cuidadoso,
estabelecendo-se a aplicação de cesariana e outras intervenções
cirúrgicas por motivos médicos.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

§ 9º A atenção primária à saúde fará a busca ativa da gestante


que não iniciar ou que abandonar as consultas de pré-natal, bem
como da puérpera que não comparecer às consultas pós-parto.

§ 10. Incumbe ao poder público garantir, à gestante e à mulher


com filho na primeira infância que se encontrem sob custódia
em unidade de privação de liberdade, ambiência que atenda às
normas sanitárias e assistenciais do Sistema Único de Saúde para
o acolhimento do filho, em articulação com o sistema de ensino
competente, visando ao desenvolvimento integral da criança.

ATENÇÃO! Foi incluído pela Lei 13.798 de 2019 o art. 8-A para instituir a Semana
Nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência:

Art. 8º-A do ECA - Fica instituída a Semana Nacional de Prevenção da Gravidez na


Adolescência, a ser realizada anualmente na semana que incluir o dia 1º de fevereiro,
com o objetivo de disseminar informações sobre medidas preventivas e educativas 112
que contribuam para a redução da incidência da gravidez na adolescência.

Parágrafo único. As ações destinadas a efetivar o disposto no caput deste artigo


ficarão a cargo do poder público, em conjunto com organizações da sociedade civil, e
serão dirigidas prioritariamente
- ao público adolescente.

Art. 9º do ECA - O poder público, as instituições e os


empregadores propiciarão condições adequadas ao
aleitamento materno, inclusive aos filhos de mães submetidas
a medida privativa de liberdade.

§ 1º Os profissionais das unidades primárias de saúde


desenvolverão ações sistemáticas, individuais ou coletivas,
visando ao planejamento, à implementação e à avaliação de
ações de promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno e
à alimentação complementar saudável, de forma contínua.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

§ 2º Os serviços de unidades de terapia intensiva neonatal


deverão dispor de banco de leite humano ou unidade de coleta
de leite humano.

Art. 10. Os hospitais e demais estabelecimentos de atenção à


saúde de gestantes, públicos e particulares, são obrigados a:

I - manter registro das atividades desenvolvidas, através de


prontuários individuais, pelo prazo de dezoito anos;

II - identificar o recém-nascido mediante o registro de sua


impressão plantar e digital e da impressão digital da mãe, sem
prejuízo de outras formas normatizadas pela autoridade
administrativa competente;

III - proceder a exames visando ao diagnóstico e terapêutica de


anormalidades no metabolismo do recém-nascido, bem como
prestar orientação aos pais;

IV - fornecer declaração de nascimento onde constem 113


necessariamente as intercorrências do parto e do
desenvolvimento do neonato;

V - manter alojamento conjunto, possibilitando ao neonato a


permanência
- junto à mãe;

VI - acompanhar a prática do processo de amamentação,


prestando orientações quanto à técnica adequada, enquanto a
mãe permanecer na unidade hospitalar, utilizando o corpo
técnico já existente.

Art. 11. É assegurado acesso integral às linhas de cuidado


voltadas à saúde da criança e do adolescente, por intermédio do
Sistema Único de Saúde, observado o princípio da equidade no
acesso a ações e serviços para promoção, proteção e
recuperação da saúde.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

§ 1º A criança e o adolescente com deficiência serão atendidos,


sem discriminação ou segregação, em suas necessidades gerais
de saúde e específicas de habilitação e reabilitação.

§ 2º Incumbe ao poder público fornecer gratuitamente, àqueles


que necessitarem, medicamentos, órteses, próteses e outras
tecnologias assistivas relativas ao tratamento, habilitação ou
reabilitação para crianças e adolescentes, de acordo com as
linhas de cuidado voltadas às suas necessidades específicas.

§ 3º Os profissionais que atuam no cuidado diário ou frequente


de crianças na primeira infância receberão formação específica
e permanente para a detecção de sinais de risco para o
desenvolvimento psíquico, bem como para o acompanhamento
que se fizer necessário.

Art. 12. Os estabelecimentos de atendimento à saúde, inclusive


as unidades neonatais, de terapia intensiva e de cuidados
114
intermediários, deverão proporcionar condições para a
permanência em tempo integral de um dos pais ou responsável,
nos casos de internação de criança ou adolescente.

Art. 13. Os casos de suspeita ou confirmação de castigo físico,


-
de tratamento cruel ou degradante e de maus-tratos contra
criança ou adolescente serão obrigatoriamente comunicados
ao Conselho Tutelar da respectiva localidade, sem prejuízo de
outras providências legais.

§ 1º As gestantes ou mães que manifestem interesse em


entregar seus filhos para adoção serão obrigatoriamente
encaminhadas, sem constrangimento, à Justiça da Infância e da
Juventude.

§ 2º Os serviços de saúde em suas diferentes portas de entrada,


os serviços de assistência social em seu componente
especializado, o Centro de Referência Especializado de

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

Assistência Social (Creas) e os demais órgãos do Sistema de


Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente deverão
conferir máxima prioridade ao atendimento das crianças na faixa
etária da primeira infância com suspeita ou confirmação de
violência de qualquer natureza, formulando projeto terapêutico
singular que inclua intervenção em rede e, se necessário,
acompanhamento domiciliar.

Art. 14. O Sistema Único de Saúde promoverá programas de


assistência médica e odontológica para a prevenção das
enfermidades que ordinariamente afetam a população infantil,
e campanhas de educação sanitária para pais, educadores e
alunos.

§ 1º É obrigatória a vacinação das crianças nos casos


recomendados pelas autoridades sanitárias.

§ 2º O Sistema Único de Saúde promoverá a atenção à saúde


115
bucal das crianças e das gestantes, de forma transversal, integral
e intersetorial com as demais linhas de cuidado direcionadas à
mulher e à criança.

§ 3º A atenção odontológica à criança terá função educativa


-
protetiva e será prestada, inicialmente, antes de o bebê nascer,
por meio de aconselhamento pré-natal, e, posteriormente, no
sexto e no décimo segundo anos de vida, com orientações sobre
saúde bucal.

§ 4º A criança com necessidade de cuidados odontológicos


especiais será atendida pelo Sistema Único de Saúde.

§ 5º É obrigatória a aplicação a todas as crianças, NOS SEUS


PRIMEIROS DEZOITO MESES DE VIDA, de protocolo ou outro
instrumento construído com a finalidade de facilitar a
detecção, em consulta pediátrica de acompanhamento da
criança, de risco para o seu desenvolvimento psíquico.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

Ressalta-se que a Lei do SINASE reforçou a garantia de proteção aos filhos de


mães que cumprem medidas privativas de liberdade ao prever que devem ser
proporcionadas condições adequadas à mãe-adolescente para amamentar seu filho.

Art. 63, § 2º, da Lei 12.594/2012 - Serão asseguradas as


condições necessárias para que a adolescente submetida à
execução de medida socioeducativa de privação de liberdade
permaneça com o seu filho durante o período de amamentação.

1.7.2. DIREITO À LIBERDADE, AO RESPEITO E À DIGNIDADE

Definição de Liberdade - Liberdade significa o direito de agir segundo o seu


livre arbítrio, de acordo com a própria vontade, sem prejudicar ou atingir os direitos de
116
outra pessoa. Dessa forma, o direito à liberdade é a faculdade de agir como melhor lhe
aprouver, exceto pelas restrições ligadas aos direitos dos demais membros da
sociedade.

-
Art. 5º, II, da CF - Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de
fazer alguma coisa senão em virtude de lei;

Definição de Respeito - Consiste na inviolabilidade da integridade física,


psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da
identidade, da autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos espaços e objetos pessoais.

Definição de Dignidade - Qualidade intrínseca e distintiva reconhecida por cada


ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado
e da comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres
fundamentais (já abordado previamente).

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

De acordo com o STJ (Resp 509.968/SP), é vedada a veiculação de material


jornalístico com imagens que envolvam criança em situações vexatórias ou
constrangedoras, ainda que não se mostre o rosto da vítima. A exibição de imagens com
cenas de espancamento e de tortura praticados por adulto contra infante afronta a
dignidade da criança exposta na reportagem, como também de todas as crianças que
estão sujeitas a sua exibição.

Garantia - art. 15 do ECA - A criança e o adolescente têm direito


à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas
em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos
civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis.

Direito de Liberdade - art. 16 do ECA - O direito à liberdade


compreende os seguintes aspectos (rol exemplificativo):

I - ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários,


ressalvadas as restrições legais; 117
II - opinião e expressão;

III - crença e culto religioso;

IV - brincar, praticar esportes e divertir-se;


-
V - participar da vida familiar e comunitária, sem discriminação;

VI - participar da vida política, na forma da lei; e

VII - buscar refúgio, auxílio e orientação.

Naturalmente, o direito à liberdade não é absoluto, havendo dispositivos no


ECA que determinam a privação da liberdade (art. 106 do ECA). Ressalta-se que
constitui crime a apreensão do menor e a privação da sua liberdade fora das hipóteses
previstas (art. 230 do ECA).

Direito ao Respeito - art. 17 do ECA - O direito ao respeito


consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da


imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, ideias e
crenças, dos espaços e objetos pessoais.

É possível perceber que o direito ao respeito guarda íntima relação com os


direitos de personalidade. Trata-se de direitos de caráter subjetivo e personalíssimo que
impõem uma esfera de intangibilidade do menor.

Direito à Liberdade Direito ao Respeito

- Direito de ir, vir e estar nos logradouros


públicos e espaços comunitários,
ressalvadas as restrições legais; - Inviolabilidade da integridade física,

- Direito de opinião e expressão; psíquica e moral abrangendo:

- Direito de crença e culto religioso; - Preservação da imagem; 118


- Direito de brincar, praticar esportes e - Preservação da identidade;
divertir-se; - Preservação da autonomia;

- Direito de participar da vida familiar e - Preservação dos valores;


-
comunitária, sem discriminação; - Preservação das ideias e crenças;
- Direito de participar da vida política, na - Preservação dos espaços e objetos
forma da lei; pessoais.
- Direito de buscar refúgio, auxílio e
orientação.

Dignidade Humana - art. 18 do ECA - É dever de todos velar pela


dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de
qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante,
vexatório ou constrangedor.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

Preservação da Identidade (nome) - O STJ teve oportunidade de analisar


interessante hipótese em que o adolescente buscava alteração de seu registro de
nascimento para adequá-lo ao nome de sua mãe. Ao sopesar os princípios da lei de
registro e os do ECA, os Ministros entenderam por permitir a alteração. Assim,
determinaram que os interesses da criança estariam acima do rigorismo dos registros
públicos por força do Estatuto da Criança e do Adolescente.

Quanto a isso, é importante destacar que o STJ já admitiu a exclusão dos


sobrenomes paternos, em razão do abandono pelo genitor (Resp 1.304.718/SP). De
acordo com a aludida Corte, a jurisprudência tem adotado posicionamento mais flexível
acerca da imutabilidade ou definitividade do nome civil. Ademais, o princípio da
imutabilidade do nome não é absoluto no sistema jurídico brasileiro. Além disso, a
referida flexibilização se justifica pelo próprio papel que o nome desempenha na
formação e consolidação da personalidade de uma pessoa.

Proibição aos Castigos Físicos - art. 18-A do ECA - A criança e o


119
adolescente têm o direito de ser educados e cuidados sem o uso
de castigo físico ou de tratamento cruel ou degradante, como
formas de correção, disciplina, educação ou qualquer outro
pretexto, pelos pais, pelos integrantes da família ampliada, pelos
-
responsáveis, pelos agentes públicos executores de medidas
socioeducativas ou por qualquer pessoa encarregada de cuidar
deles, tratá-los, educá-los ou protegê-los.

Definições - Parágrafo único. Para os fins desta Lei, considera-se:

I - castigo físico: ação de natureza disciplinar ou punitiva aplicada


com o uso da força física sobre a criança ou o adolescente que
resulte em:

a) sofrimento físico; ou

b) lesão;

II - tratamento cruel ou degradante: conduta ou forma cruel de


tratamento em relação à criança ou ao adolescente que:

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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-

a) humilhe; ou

b) ameace gravemente; ou

c) ridicularize.

Medidas Aplicáveis - art. 18-B do ECA - Os pais, os integrantes


da família ampliada, os responsáveis, os agentes públicos
executores de medidas socioeducativas ou qualquer pessoa
encarregada de cuidar de crianças e de adolescentes, tratá-los,
educá-los ou protegê-los que utilizarem castigo físico ou
tratamento cruel ou degradante como formas de correção,
disciplina, educação ou qualquer outro pretexto estarão
sujeitos, sem prejuízo de outras sanções cabíveis, às seguintes
medidas, que serão aplicadas de acordo com a gravidade do
caso:

I - encaminhamento a programa oficial ou comunitário de


proteção à família; 120
II - encaminhamento a tratamento psicológico ou psiquiátrico;

III - encaminhamento a cursos ou programas de orientação;

IV - obrigação de encaminhar a criança a tratamento


-
especializado;

V - advertência.

Órgão Responsável por Aplicar as Medidas - Parágrafo único. As


medidas previstas neste artigo serão aplicadas pelo Conselho
Tutelar, sem prejuízo de outras providências legais.

Ressalta-se que, além das providências tomadas pelo Conselho tutelar, o


castigo físico e o tratamento cruel ou degradante podem dar ensejo à aplicação de
outras medidas ao agente responsável. Sendo pais ou responsáveis, a violência poderá
levar à perda do poder familiar ou caracterizar crime.

É proibida a reprodução deste material sem a devida autorização, sob pena da adoção das medidas cabíveis na esfera cível e penal.

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