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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA – UDESC

CENTRO DE CIÊNCIAS DA ADMINISTRAÇÃO E SOCIOECONÔMICAS – ESAG


DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

PAULO ARANALDE CARVALHO

CICLOTURISMO:
uma proposta para o Município de Governador Celso Ramos (SC)

Relatório de Estágio Curricular Supervisionado na Modalidade Consultoria

Florianópolis – SC
2022
PAULO ARANALDE CARVALHO

CICLOTURISMO:
uma proposta para o município de Governador Celso Ramos (SC)

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


ao Centro de Ciências da Administração e
Socioeconômicas da Universidade do Estado de
Santa Catarina como requisito parcial para
obtenção do título de bacharel em
Administração Pública. Modalidade:
Consultoria

Orientadora: Profa. Dra. Karin Vieira da Silva

Florianópolis – SC
2022
Dedico este trabalho a minha esposa Cristina, pelo
carinho e compreensão durante minha jornada
acadêmica. Aos meus filhos, como forma de
incentivá-los continuamente à formação
intelectual. Aos meus pais (in memoriam) por me
tornarem o que sou.
AGRADECIMENTOS

O desenvolvimento deste trabalho de conclusão de curso ocorreu com a ajuda de


diversas pessoas, dentre as quais agradeço:
Agradeço a UDESC/Esag e organizadores por possibilitar a execução deste trabalho
científico, na modalidade consultoria, como trabalho de conclusão de curso de Administração
Pública.
A minha orientadora, professora Dra. Karin Vieira da Silva, o apoio técnico-científico,
auxiliando de forma fundamental a elaboração desta consultoria.
A todos os professores, que ao longo do curso, proporcionaram os diversos saberes aqui
conjugados.
Ao prefeito do município de Governador Celso Ramos, Marcos Henrique da Silva
(PSD), ao acolhimento pela gestão municipal de nossa solicitação de projeto de consultoria.
Ao Presidente da Fundação do Meio Ambiente, Filipe Gabriel da Silva, promotor dos
primeiros contatos e que levantou a necessidade do tema desta consultoria.
Ao secretário de Turismo, Indústria e Comércio, Valmor Antônio Kair Filho, pelo seu
engajamento a esse projeto, cujo apoio da secretaria se mostrou de suma importância.
Ao Gestor da Agência Executiva de Turismo Estadual (Santur), Renato Tristão,
representante da Agência, que forneceu informações importantes anexadas a este trabalho.
A Gestora de Cultura, Esporte e Turismo do CIMVI Arlete Regilene Scoz, pela
disponibilidade no atendimento à nossa solicitação, e que de forma amigável respondeu todos
nossos questionamentos.
A todos os meus familiares, cujo apoio e paciência ao longo da elaboração deste projeto
de pesquisa foram essenciais nas longas horas de ausência impostas
“O que me preocupa não é o grito dos maus, mas

o silêncio dos bons”.

(MARTIN LUTHER KING)


RESUMO

O objetivo deste trabalho é propor estratégias para o fortalecimento do cicloturismo no


município de Governador Celso Ramos/SC. O trabalho foi estruturado numa pesquisa
qualitativa. Para a coleta de dados utilizou-se entrevistas, observação, pesquisa documental e
pesquisa bibliográfica. A análise dos dados permitiu evidenciar que o turismo se constitui em
importante fonte de arrecadação para os municípios. A diversificação da atividade turística,
para além dos meses de verão e férias, a ser obtida com o cicloturismo, pode se configurar como
um incentivo econômico ao comércio local, além de fonte de trabalho e renda para os
munícipes. O mapeamento de rotas, marcos, e trilhas surge como uma proposta ao município
para a criação de circuitos que possam vir a ser utilizados por cicloturistas aventureiros ou de
lazer. Para a consecução dessa política pública, propõe-se audiências públicas envolvendo entes
públicos e privados orientadas ao planejamento de políticas públicas no campo do cicloturismo
no município; o entrosamento com municípios vizinhos de forma consorciada, como um
elemento aglutinador de recursos; a elaboração de um projeto executivo, como possibilidade na
obtenção de recursos governamentais, propiciando mobilidade cicloviária; o envolvimento do
executivo municipal como incentivador ao desenvolvimento, divulgação, promoção e
fiscalização das atividades cicloturísticas. Por fim, ao revelar as potencialidades do projeto de
cicloturismo, a consultoria pretende ir ao encontro do desejo dos gestores municipais revelados
nas primeiras entrevistas e, dessa forma, apoiar a decisão de implantação no município de uma
política pública voltada ao cicloturismo.

Palavras-chave: Cicloturismo. Arrecadação. Mobilidade. Políticas Públicas.


ABSTRACT

The objective of this work is to propose strategies to strengthen cycle tourism in the
municipality of Governador Celso Ramos/SC. The work was structured in qualitative research.
For data collection, interviews, observation, documental research, and bibliographic research
were used. Data analysis showed that tourism is an important source of revenue for the
municipalities. The diversification of tourist activity, beyond the summer months and vacations,
to be obtained with cycle tourism, can be configured as an economic incentive for local
commerce, as well as a source of work and income for the citizens. The mapping of routes,
landmarks, and trails emerges as a proposal to the municipality for the creation of circuits that
can be used by adventurous or leisure cyclists. In order to achieve this public policy, public
hearings involving public and private entities are proposed, oriented towards the planning of
public policies in the field of cycle tourism in the municipality; the interaction with neighboring
municipalities in a consortium way, as an element that brings resources together; the elaboration
of an executive project, as a possibility to obtain government resources, providing cycling
mobility; the involvement of the municipal executive as an incentive to the development,
dissemination, promotion and inspection of cycle tourism activities. Finally, by revealing the
potential of the cycle tourism project, the consultancy intends to meet the wishes of municipal
managers revealed in the first interviews and, in this way, support the decision to implement a
public policy aimed at cycling tourism in the municipality.

Keywords: Cycling tourism. Tax Collection. Mobility. Public policy.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Imagens de ciclorrotas rurais, ciclorrotas urbanas e passeio compartilhado ......... 34


Figura 2 – Imagens de ciclovia em perímetro urbano, ciclofaixa urbana e ciclofaixa em cidade
turística do interior ................................................................................................. 34
Figura 3 – Mapa Geral das 13 Regiões Turísticas em Power Bi ............................................. 53
Figura 4 – Arrecadação do ICMS Turístico ............................................................................ 54
Figura 5 – Pomerode (SC) ....................................................................................................... 56
Figura 6 – Atrativos mais procurados em Pomerode (SC) – Visualização do tipo World Cloud
2.0.0 Power Bi ....................................................................................................... 56
Figura 7 – Atrativos mais procurados em Gov. Celso Ramos (SC) – Visualização do tipo World
Cloud 2.0.0 Power Bi ............................................................................................ 57
Figura 8 – Painel de dados das Regiões Turísticas SC ............................................................ 58
Figura 9 – Exemplo de seleção: Governador Celso Ramos (SC) ............................................ 58
Figura 10 – Gráfico arrecadação de ICMS Turístico Governador Celso Ramos ..................... 59
Figura 11 – Gráfico arrecadação de ICMS Turístico Florianópolis ......................................... 59
Figura 12 – Gráfico arrecadação de ICMS Turístico Pomerode .............................................. 59
Figura 13 – Painel Dados do Segmento do Turismo ................................................................ 60
Figura 14 – Painel Estudo de Demanda Turística .................................................................... 61
LISTA DE IMAGENS

Imagem 1 – Governador Celso Ramos ..................................................................................... 47


Imagem 2 – Cidade de Pomerode, integrante do circuito do Vale Europeu e um grupo de
cicloturistas.......................................................................................................... 54
Imagem 3 – Mirante de Calheiros/Secretaria de Turismo, Industria e Comércio .................... 66
Imagem 4 – Praia do Ilhéus ...................................................................................................... 67
Imagem 5 – Trilha da Praia do Ilhéus....................................................................................... 67
Imagem 6 – Caminho entre a praia do Ilhéus e Palmas ........................................................... 68
Imagem 7 – Imagem apontando a Trilha da Picada Comprida ................................................ 68
Imagem 8 – Entrada para a Trilha da Picada Comprida em Palmas ........................................ 69
Imagem 9 – Gov. Celso Ramos e vias de acesso com relevo - Inexistência de marcação de
ciclovias (urbanas ou rurais), 2021 ..................................................................... 70
Imagem 10 – Cicloturistas em fim de semana no Município de Governador Celso Ramos –
Avenida Nézio João Miranda (sentido sul) ......................................................... 70
Imagem 11 – Cicloturistas na avenida Papenborg (SC- 410)................................................... 71
Imagem 12 – Avenida Nézio João Miranda - Calçamento irregular (sentido Norte)............... 71
Imagem 13 – Avenida Nézio João Miranda (sentido Norte) com placa indicativa Sinalização
Vertical de Advertência – Trânsito de Ciclistas .................................................. 72
Imagem 14 – Paradouro Laticínios Holandês – SC-410 .......................................................... 72
Imagem 15 – Praia do Sissial ................................................................................................... 73
Imagem 16 – Praia Grande ....................................................................................................... 73
Imagem 17 – Igreja da Praia da Armação da Piedade .............................................................. 74
Imagem 18 – Praia da Armação da Piedade ............................................................................. 74
Imagem 19 – Praia de Ganchos ................................................................................................ 75
Imagem 20 – Praia da baia dos Golfinhos ................................................................................ 75
Imagem 21 – Praia de Palmas .................................................................................................. 76
Imagem 22 – Praia do Antenor ................................................................................................. 76
Imagem 23 – Pratos típicos oferecidos pelos restaurantes do município ................................. 77
LISTA DE MAPAS E QUADROS

Mapa 1 – Gov. Celso Ramos e vias de acesso sem relevo (SC- 410), 2021 ............................ 48
Mapa 2 – Circuito Mar e Montanha de Governador Celso Ramos .......................................... 80
Quadro 1 – Dados sobre população, ICMS Nominal, Salário Médio do trabalhador, PIB Per
Capita e Arrecadação de ICMS Turístico em 3 localidades de Santa Catarina
(Pomerode, Governador Celso Ramos e Florianópolis) ........................................ 55
Quadro 2 – Tabela da Ferramenta 5W2H ................................................................................. 84
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas


APA Área de Preservação Ambiental
CIMVI Consórcio Intermunicipal do Médio Vale do Itajaí
CRFB Constituição da República Federativa do Brasil
CTB Código de Trânsito Brasileiro
EMMA Escola Municipal do Meio Ambiente
ESAG Escola Superior de Administração e Gerência
FAMGOV Fundação do Meio Ambiente de Governador Celso Ramos
FUNCULTURAL Fundo Estadual de Incentivo à Cultura
FUNDESPORTE Fundo Estadual de Incentivo ao Esporte
FUNTURISMO Fundo Estadual de Incentivo ao Turismo
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
ICMS Imposto sobre Circulação de Mercadorias
MEC Ministério da Educação e Cultura
MTUr Ministério do Turismo Brasileiro
ODS Objetivos do Desenvolvimento Sustentável
OMT Organização Mundial do Turismo
ONU Organização das Nações Unidas
PNMU Política Nacional de Mobilidade Urbana
PSD Partido Social-Democrata
SANTUR Agência de Desenvolvimento do Turismo de Santa Catarina
SEITEC Sistema Estadual de Incentivo à Cultura, ao Turismo e ao Esporte
SOL Secretaria de Estado de Turismo, Cultura e Esporte
SWOT Matriz SWOT
UAB Universidade Aberta Brasileira
UDESC Universidade do Estado de Santa Catarina
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 13
1.1 IDENTIFICAÇÃO DA DEMANDA E DESCRIÇÃO DA SITUAÇÃO
PROBLEMA ............................................................................................................. 14
1.2 OBJETIVOS DO ESTÁGIO ..................................................................................... 15
1.2.1 Objetivo geral ............................................................................................................... 15
1.2.2 Objetivos específicos: ................................................................................................... 15
1.3 CONTRIBUIÇÃO DO TRABALHO........................................................................ 16
2 REVISÃO DE LITERATURA .................................................................................. 17
2.1 TURISMO ................................................................................................................... 17
2.1.1 Conceito de Turismo .................................................................................................... 17
2.1.2 Turista e Atividade Turística ........................................................................................ 18
2.1.3 História do Turismo ...................................................................................................... 20
2.1.3.1 O turismo no mundo ..................................................................................................... 20
2.1.3.2 O turismo no Brasil ...................................................................................................... 24
2.1.4 Benefícios ..................................................................................................................... 25
2.1.5 Políticas Públicas .......................................................................................................... 27
2.2 CICLOTURISMO ...................................................................................................... 29
2.2.1 Conceito de Cicloturismo ............................................................................................. 29
2.2.2 História da Bicicleta e Atividade Cicloturística ........................................................... 31
2.2.3 Benefícios do Cicloturismo .......................................................................................... 35
2.2.4 Políticas Públicas sobre Cicloturismo .......................................................................... 36
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ............................................................ 40
4 CARACTERIZAÇÃO, DIAGNÓSTICO E ANÁLISE DA REALIDADE
ESTUDADA .............................................................................................................. 46
4.1 CARACTERIZAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO/CONTEXTO ................................. 46
4.2 DESCRIÇÃO DA SITUAÇÃO PROBLEMA .......................................................... 49
4.3 ANÁLISE DA SITUAÇÃO PROBLEMA ................................................................ 51
4.3.1 Análise dos dados apresentados pela ferramenta Power Bi ......................................... 52
4.3.1.1 Mapa Geral .................................................................................................................. 52
4.3.1.2 Painel das 13 regiões Turísticas com foco na Grande Florianópolis e Vale Europeu 57
4.3.1.3 Dados do Segmento do Turismo ................................................................................... 60
4.3.2 Trilhas Mapeadas .......................................................................................................... 66
4.3.2.1 Trilhas da Praia dos Ilhéus .......................................................................................... 66
4.3.2.2 Trilha da Picada Comprida.......................................................................................... 68
5 PROPOSTA DE INTERVENÇÃO / RECOMENDAÇÕES .................................. 81
6 CONCLUSÕES........................................................................................................... 85
7 RELATO DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS NOS ESTÁGIOS I E II ...... 88
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 92
13

1 INTRODUÇÃO

O deslocamento está na gênese da civilização humana, e, desde aquele momento, vem


sofrendo ajustes às necessidades que ditam a mobilidade das pessoas. Nesse sentido, autores
estudados como Badaró (2013), Murdock (1989) e Leakey (1999) apontam que alguns desses
deslocamentos já vinham se delineando como atividades com finalidades turísticas, e que,
mesmo na antiguidade, promoveriam a economia das comunidades receptoras.
Na atualidade, diversos fatores levam o homem contemporâneo cada vez mais em busca
da natureza, fugindo do estresse das grandes cidades ou voltadas a prática de exercícios junto a
locais aprazíveis. Independente dos objetivos, é certo que o cicloturismo, uma submodalidade
do ecoturismo, é uma das que mais cresce nessa perspectiva. Segundo Flusche (2012), citado
por Saldanha, Fraga e Santos (2020, p. 298), “nos Estados Unidos da América: as atividades
relacionadas movimentaram cerca de USD 133 bilhões ao ano, promovendo a geração de cerca
de 1,1 milhões de empregos”.
O “Relatório Geral: O cicloturista brasileiro”, realizado em 2018, apresenta importantes
resultados da pesquisa nacional sobre o perfil do cicloturista brasileiro, contribuindo para o
desenvolvimento do cicloturismo no país por meio da comparação com os primeiros dados
coletados em 2008 e da conexão com estudos voltados à interface da bicicleta e do turismo que
dialoguem em algum aspecto com o assunto. (SALDANHA et al., 2019).
Ademais, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), em seus Objetivos do
Desenvolvimento Sustentável (ODS), destaca em seu Objetivo 11 aquilo que já vem se
configurando como uma tendência mundial, o incentivo ao uso de modos menos poluentes e
socialmente mais justos. (ODSBRASIL, 2021).
Segundo Oliveira e Anunciação (2000), a bicicleta como dispositivo de transporte
emerge de um passado sobrepujado pelo uso dos veículos automotores, porém chega ao século
XXI com um novo enfoque, tendo inicialmente um retorno tímido nas grandes cidades aos
poucos foi ganhando novos adeptos à sua utilização, voltando a se tornar muito popular e
atingindo novos segmentos sociais, de operários a empresários, suas características percebidas
fizeram da conjugação de fluidez no trânsito, exercícios para o bem-estar e meio econômico de
deslocamento, uma inflexão no uso dessa “senhora” centenária.
Segundo Cavallari (2012) e Carvalho (2014), o cicloturismo vem a se conjugar a esse
processo, pois a utilização renascida no meio urbano é estendida para os passeios turísticos e o
contato com a natureza. Assim, o turista ao se dirigir à visitação de locais onde a natureza se
mostra privilegiada, carrega consigo aquele que é um dos seus meios de deslocamento na
14

cidade, a bicicleta, conjugando o pedalar e a natureza como verdadeiros promotores de


atividades turísticas e de lazer.
A Administração Pública, nas suas diferentes esferas, é um importante ator nesse
cenário, pois estabelece as políticas públicas que nortearão as diretrizes de planejamento,
desenvolvimento, coordenação e controle nas diferentes políticas públicas que essas atividades
desencadeiam como legislações, mobilidade urbana, desenvolvimento socioeconômico,
turismo, sustentabilidade, educação e conservação da natureza.
Os municípios brasileiros têm assumido nos últimos anos grandes responsabilidades no
que diz respeito ao custeio de sua máquina administrativa e gastos previstos em constituição
como saúde e educação. Nesse sentido, os municípios que apresentarem um cenário natural
exuberante, seja na montanha ou no litoral, podem ter na atividade turística uma alternativa
econômica viável para estimular o desenvolvimento local, gerando receitas ao município.
Para Sartori (2021), o Estado de Santa Catarina apresenta-se já como um propulsor
nacional nessa modalidade, pois “além do Circuito de Cicloturismo do Vale Europeu, Santa
Catarina ainda possui mais cinco rotas para o cicloturismo organizadas, demonstrando a
visibilidade do ciclismo e cicloturismo no estado [...]”.
O município de Governador Celso Ramos, localizado no Estado de Santa Catarina,
ocupa uma península entrecortada pela montanha e mar, formando uma costa com mais de 40
praias, situando-se dentro de seu limite geográfico a Reserva Biológica Marinha do Arvoredo
e da Área de Preservação Ambiental (APA) do Anhatomirim, possuindo os atributos naturais a
prática do ecoturismo/cicloturismo. (GOVERNADOR CELSO RAMOS, 2021).
Portanto, a conjugação dos fatores apresentados direciona-se como um guia ao ente
público municipal, vindo a demonstrar, além da viabilidade legal, a promoção da cidadania ao
promover com políticas públicas o desenvolvimento do Cicloturismo em seu município.

1.1 IDENTIFICAÇÃO DA DEMANDA E DESCRIÇÃO DA SITUAÇÃO PROBLEMA

Este trabalho se inicia no contato com o presidente da Fundação de Meio Ambiente de


Governador Celso Ramos (FAMGOV), Filipe Gabriel da Silva. Das primeiras entrevistas
permitiu-se fazer um levantamento, cuja demanda orientava para o Ecoturismo, com ênfase no
uso de bicicletas. O gestor salientou que a administração municipal tem interesse em introduzir
o cicloturismo em seu calendário municipal, onde haverá a promoção da atividade turística
relacionada, assim como ocorre em outros municípios do estado de Santa Catarina.
15

Durante o desenvolvimento do projeto, foi também contactado o secretário de Turismo,


Indústria e Comércio, Valmor Kair Filho, pois o cicloturismo também se orienta em conjunto
com as atividades turísticas, cuja secretaria tem papel relevante e participativo, em conjunto
com a Fundação do Meio Ambiente, no interesse do desenvolvimento desse projeto.
Os dois gestores locais convergem suas opiniões, apontando a necessidade de adequar
o turismo local ao cicloturismo, pois como depreendeu-se, ele já vem ocorrendo de forma não
organizada, principalmente nos finais de semana, quando uma quantidade expressiva de
cicloturistas já transita pelo município. Entretanto, salientam a inexistência de uma política
pública municipal que venha a atender as demandas que norteiam a organização dessa
modalidade, delimitando rotas seguras para a circulação de cicloturistas, sinalizações e
preparação do comércio receptivo a essa modalidade. Por conseguinte, a sua inexistência se
mostra um entrave para que as atividades turísticas nessa modalidade de lazer se expandam no
município.
Dessa forma, esta consultoria vem ao encontro dessa demanda municipal, buscando
apresentar aos gestores os elementos que, conjugados, permitem a compreensão da evolução
do turismo, onde despontam novas vertentes como o ecoturismo e o cicloturismo, importantes
elementos que se imbricam à sociedade contemporânea que busca na natureza momentos de
ócio e lazer, associados a prática desportiva, melhorando níveis de saúde física e mental. Nesse
sentido, o desenvolvimento dessa atividade envolve municípios dotados de características
geográficas e de natureza peculiares que permitam a sua prática, cujo município em questão,
Governador Celso Ramos, as possui.

1.2 OBJETIVOS DO ESTÁGIO

1.2.1 Objetivo geral

Propor estratégias para o fortalecimento do cicloturismo no município de Governador


Celso Ramos.

1.2.2 Objetivos específicos:

• Levantar as potencialidades para a implantação do cicloturismo no município.


• Identificar marcos, rotas e pontos turísticos a serem utilizadas para a criação de um
circuito de cicloturismo no município.
16

1.3 CONTRIBUIÇÃO DO TRABALHO

Este trabalho contribui de forma expressiva com a sociedade, pois alinha diversos
elementos em busca de qualidade de vida as pessoas, e o desenvolvimento socioeconômico da
sociedade. A consultoria em Administração Pública é capaz de identificar lacunas
organizacionais nas mais diferentes esferas de entes públicos, e, dessa forma, ao auxiliar no seu
reconhecimento, permitir rever processos e adequá-los a atualidade. Para o estagiário, estar
envolvido num projeto com tal dimensão vem a ser a epítome do curso de Administração
Pública, pois permitirá materializar a conexão das diversas áreas estudadas ao longo do curso a
sua aplicabilidade de fato.
Os resultados obtidos permitirão ao gestor municipal identificar e compreender a
importância de adequar todos os elementos que se imbricam no fomento da atividades turísticas
ligadas ao cicloturismo e mobilidade, tais como as leis vigentes e asseguradas na constituição,
a importância do incentivo ao turismo em sua vertente de cicloturismo, à segurança nos
deslocamentos, ao desenvolvimento socioeconômico da comunidade, a preservação da natureza
e a arrecadação municipal, portanto, uma série de fatores intrínsecos a sua implantação e
desenvolvimento. Ademais, destacar os aspectos relacionados as características geográficas e
de natureza, que já são peculiares ao município, sua cultura histórica, seus pratos típicos vem a
se somar como elementos marcantes ao projeto.
17

2 REVISÃO DE LITERATURA

A revisão de leitura foi elaborada priorizando as definições, os conceitos, a história, os


benefícios, as informações acerca do turismo e ecoturismo, como também as relações
institucionais governamentais e políticas públicas aplicadas ao setor. É apresentado o
cicloturismo, como uma nova modalidade de turismo, que vem sistematicamente avançando
em diversos países do mundo, e ganhando cada vez mais adeptos no Brasil. Por fim, sua
conjugação com a Administração Pública, gestora dos arranjos institucionais que visam
fomentar a mobilidade urbana, os benefícios ligados à saúde da população, o turismo como
atividade econômica, a ênfase no turismo sustentável, todos relacionando-se ao modal de
transporte – bicicleta.

2.1 TURISMO

2.1.1 Conceito de Turismo

Definir o que é o turismo tem levantado impasses, tanto do ponto de vista técnico, como
conceitual, pela dificuldade de identificar os aspectos, as ambiguidades e as contradições das
definições existentes do turismo (CUNHA, 2010, p. 19).
Entretanto, para o autor, uma redução possível seria a de:

Turismo é o conjunto das atividades lícitas desenvolvidas por visitantes em razão dos
seus deslocamentos, as atrações e os meios que as originam, as facilidades criadas
para satisfazer as suas necessidades e os fenômenos e relações resultantes de umas e
de outras (CUNHA, 2010, p. 19).

Para a Organização Mundial do Turismo (OMT), uma definição de turismo, até hoje
muito difundida, vem nos seguintes termos: “O turismo compreende as atividades realizadas
pelas pessoas durante suas viagens a e estadias em lugares diferentes de seu entorno habitual,
por um período consecutivo inferior a um ano, tendo em vista lazer, negócios ou outros
motivos” (OMT, 2001, p. 38).
Contudo, para Guilibato (1983, p. 10) o fenômeno em questão só será entendível
“através de uma abordagem pluridisciplinar global que coloque o turismo no seu contexto
socioeconômico”.
Segundo Cunha (2010, p. 2), se vislumbra o nascimento do turismo moderno nos anos
cinquenta do século do século XX. Nesse sentido, surge a necessidade de sua definição, num
18

primeiro momento sob um ponto de vista técnico e estatístico, e depois, sob o ponto de vista
conceitual para delimitar o seu âmbito e compreender o seu funcionamento. Por isso, têm-se
que as definições estanques, que buscam achar um significado sintetizado para o turismo, vêm
sendo ampliadas num nível conceitual, para melhor compreender as muitas abordagens que o
turismo pode ter, ou seja, revelar um significado amplo que o explique melhor. As várias
interpretações da atividade turística podem ser evidenciadas de acordo com a área e formação
dos autores que estudam o turismo (BENI, 2016, p. 48).
Assim, a complexidade do emergente fenômeno turístico leva-nos a ter presente que
qualquer definição que dele se queira adiantar, ficará sempre aquém da sua inteira percepção
(HENRIQUES, 2003, p. 14).
Por conseguinte, em virtude das diferentes percepções que o tema levanta, a definição
de turismo num único aspecto pode se mostrar falível, em virtude da diversidade de aspectos a
ela ligados. Assim, os autores avançam na busca de um significado que melhor o represente,
ampliando sua abrangência conceitual, para dessa forma melhor compreendê-lo,
Nesse sentido, para Fratucci (2008, p. 25):

[...] turismo é, por natureza, um fenômeno socioespacial complexo que gera uma
experiência para o turista. Essa experiência (vivência) é fruto de uma prática humana,
onde o homem, por motivações as mais variadas, decide se deslocar do seu local de
residência habitual – seu habitat – e, temporariamente, percorrer e permanecer em
outros trechos do espaço para depois retornar ao seu ponto de origem. Nesses
deslocamentos, ele vivência e experimenta momentos únicos que vão ser incorporados
ao seu ser histórico.

O turismo é uma atividade de base cultural e que surge pelo interesse das pessoas em
conhecer lugares, costumes, religiões, arte, paisagem, arquitetura. Portanto, ao despertar uma
diversidade de aspectos de interesse dos indivíduos em pessoas ou regiões, presentes ou
passados, e, procurando entender como vivem ou viviam naquele determinado momento
poderia se dizer que temos ali o turismo a ser praticado (PIERI, 2014, p. 36).
Dessa forma, fica evidenciado que mesmo entre os autores existe uma dificuldade em
definir o que é turismo, pois de acordo com o tempo e a evolução da sociedade novas
perspectivas e abordagens ao turismo propriamente dito, vem a se somar e, portanto, extrapolam
além dos conceitos vigentes.

2.1.2 Turista e Atividade Turística

Para a Liga das Nações – turista internacional (1937/38), a definição de turista foi
representada como:
19

Toda pessoa que viaja, por um período de 24 horas ou mais, para um país diferente
daquele de sua residência habitual. [...] não abranger o turismo doméstico/interno (e
sim apenas o turismo internacional) e para a inserção das “24 horas” como limite
inferior, sem estipular limite máximo, e sem reconhecer os turistas do mesmo dia
(PAKMAN, 2014, p. 8).

Entretanto, na medida que a Comissão de Estatísticas da ONU vai recebendo maiores


detalhamentos no estudo de turistas, com estudantes em viagens, excursionistas internacionais
e viageiros em trânsito, o conceito de visitante internacional (OMT, 2001, p. 1) se modifica,
vindo ela definir em 1953 como: “Atividade desenvolvida por uma pessoa que visita um país
diferente daquele de sua residência habitual, com fins distintos do de exercer uma ocupação
remunerada, e por um período de pelo menos 24 horas”.
Propõe-se assim destacar alguns elementos centrais que caracterizam a atividade
turística nas sociedades modernas: o turismo é uma atividade de lazer que surge após a
regulamentação do trabalho, levando a uma correspondente racionalização do lazer; a grande
melhoria dos meios de transporte levando ao crescimento do turismo de massa; o deslocamento
dos viajantes através do espaço e tempo; a permanência em determinados lugares visitados, e,
que não são a residência ou trabalho, havendo sempre uma intenção de volta ao lar; os lugares
visitados associam-se a motivações desvinculadas das relações de trabalho, em que os viajantes
procuram “vivenciar” fantasias, cuja realidade intangível sublinhada em seus devaneios
conduzem a desilusão e anseio por sempre novas experiências. A dialética presente na novidade
e sua insaciabilidade é o cerne da atividade turística (URRY, 1996, p. 37).
O aumento do trânsito, do sedentarismo e da poluição promoveram a busca por
qualidade de vida e aproximação do homem com a natureza. É por isso que os profissionais de
turismo estão cada vez mais preocupados com o impacto ambiental que a atividade turística
pode trazer. É neste contexto que a bicicleta surge como uma solução eficiente, especialmente
para o turismo sustentável (URRY, 1996).
O aumento progressivo da população a frequentar os espaços rurais para o consumo e
desenvolvimento de atividades ligadas ao turismo e lazer, vem fundamentalmente ocorrendo
por populações urbanas. Entre as possibilidades do turismo, a busca por lugares isolados ou
mais próximos à natureza é recorrente, frente à agitação do dia a dia das grandes cidades, seja
no período de férias, em feriados prolongados ou nos finais de semanas. Essa tendência ocorre
em função das mudanças estruturais ocorridas nas sociedades contemporâneas, que resultam no
entendimento das áreas rurais como um lugar de descanso e lazer (SILVA, 2007, p. 143).
Entre as diversas modalidades do turismo, a que se encontra em maior expansão é o
ecoturismo, que é um dos segmentos da atividade turística que utiliza de maneira sustentável o
20

patrimônio natural e cultural. Além disso, incentiva sua conservação e busca a formação de uma
consciência ambiental, valorizando o espaço e consequentemente a comunidade local
(CARVALHO; RAMOS; SYDOW, 2013).
As mudanças nas subjetividades para enfrentamento das pressões crescentes do mercado
de trabalho e do cotidiano produzem essa busca por momentos de fuga, influenciados também
pelas mídias, pela busca de um corpo saudável, através de exercícios físicos, nos quais a
bicicleta é a possibilidade para além dos espaços fechados de academias (SARTORI, 2021, p.
27).
Portanto, fica claro que a atividade turística acompanha a evolução da sociedade e os
costumes, nesse sentido o homem contemporâneo, fugindo do caos da cidade, passa a eleger
novos destinos turísticos que se alinhem a paz e tranquilidade. Essa busca acha na natureza os
elementos necessários que venham a suprir aquilo que as metrópoles não mais oferecem – ar
puro e paz.

2.1.3 História do Turismo

2.1.3.1 O turismo no mundo

Desde os primórdios o ser humano procura se movimentar. Os primeiros grupamentos


humanos viviam no estilo nômade e dessa forma mudavam constantemente de lugar em busca
de alimento, caçando ou coletando, e assim, sem residência fixa, migravam em busca de
melhores locais para a sua sobrevivência. Para Fratucci (2008, p. 29) “[...] os deslocamentos
espaciais merecem ser destacados, pois o homem nunca deixou de viajar, de percorrer
territórios, conhecidos ou desconhecidos”.
Diferentes razões entre elas a caça, religião, comércio, conquistas, guerras, lazer,
curiosidade, busca pelo descanso, entre outros, permitiram os deslocamentos como parte da
história. Suas motivações construiriam a ideia dos deslocamentos como forma de realização de
objetivos centrados no desenvolvimento material, físico e espiritual da humanidade (TADINI;
MELQUÍADES, 2010, p. 8).
Dessa forma, percebe-se que os deslocamentos já traziam a ideia de migrações
constantes nos grupamentos, porém mais voltadas a satisfação de necessidades básicas como
alimento, moradias ou conquistas. Contudo, surge a pergunta: quando o homem passa a se
deslocar pelo simples prazer de desfrute ou ócio?
21

O turismo, em termos históricos, teve início quando o homem deixou de ser sedentário
e passou a viajar, principalmente motivado pela necessidade de comércio com outros povos.
(IGNARRA, 2013).
O nomadismo, característico nas primeiras civilizações, vem seguido de uma fase
sedentária, que, entretanto, não significou ausência de deslocamento, mas sim um movimento
regulado pelo meio ambiente, no qual as pessoas buscavam localidades para obter recursos que
garantiriam a sobrevivência da comunidade. Na idade média dá-se o contrário, se busca a
fixação do homem a terra, isso permitiria um maior controle e estabilidade da população local
– os homens errantes provocam medo (ASSUNÇÃO, 2012).
Para Badaró (2013) ele situa que a pré-história do turismo vem da antiga Grécia, entre
os fenícios, na antiga Roma ou até mesmo antes da idade escrita, há milhões de anos atrás.
Ainda que lazer e viagem possam ser considerados como “universais culturais” (grifo
do autor) e fundamentos para uma definição básica de turismo, as origens deste têm merecido
algumas investigações históricas. Se alguns autores procuram as origens do turismo na época
da expansão colonial, outros as buscam nas peregrinações características dos séculos XVIII e
XIX (MURDOCK, 1982).
Contudo, há autores que corroboram a tese de que se fosse realizados estudos em tempos
anteriores, tendo por base outras culturas e povos, além da greco-romana e da fenícia, seriam
encontrados antecedentes ainda mais remotos, permitindo um entendimento que o ser humano
sempre viajou, seja em definitivo, em processo migratório, ou temporariamente, em processo
de retorno (LEAKEY apud BADARÓ, 2013).
Na Idade Média ao contrário dos deslocamentos vistos no nomadismo, nas navegações
dos fenícios e romanos, se busca a fixação do homem a terra, permitindo um maior controle e
estabilidade locais – os homens errantes provocam medo (ASSUNÇÃO, 2012). Com o fim do
Império Romano e o surgimento da Idade Média as viagens tiverem decréscimo, os novos
grupamentos que se formam (feudos) são autossuficientes e, como as viagens eram perigosas
em virtude dos assaltos por grupo de bandidos, os deslocamentos eram quase inexistentes. As
exceções nessa época se davam quando da realização das Cruzadas, que eram grandes
expedições organizadas e com forte aparato militar que escoltavam os peregrinos até a Terra
Santa, podendo ser considerado um dos primórdios do turismo religioso (IGNARRA, 2013).
A viagens marítimas advindas com a expansão europeia, nos descobrimentos, se
posiciona como um marco, pois alimentando uma curiosidade intelectual, científica e comercial
conduziram a uma inevitável circulação cultural (ASSUNÇÃO, 2012).
22

No século XV, e início dos descobrimentos, alguns fatores como o advento do uso da
bússola, e o comercio marítimo passa a florescer, propiciaram às viagens, de cunho mercantil,
uma grande importância. Os espanhóis e portugueses desempenharam papel fundamental
nessas viagens transoceânicas de descoberta, e foram elas que apresentaram à Europa um novo
mundo, instigando o desejo de muitos em conhecer (BADARÓ, 2013).
Nos séculos seguintes ao florescimento do capitalismo o hábito de viajar expandiu-se
nas classes mais favorecidas. A era das ferrovias representou uma segunda etapa no
desenvolvimento do turismo, pois o rápido crescimento da população e da riqueza criou um
enorme mercado num curto espaço de tempo. Nasce aí o turismo de massa, os agentes e os
operadores turísticos. Eles passam a desenvolver novas formas de estratégias de marketing,
criando as viagens previamente organizadas, os pacotes turísticos, cartazes e folhetos. No
mesmo viés, o autor chama a atenção para o desenvolvimento na segunda metade do séc. XVIII
das viagens marítimas. Tendo como alavanca o barco a vapor, tornando as viagens mais
seguras, rápidas, e a possuir mais capacidade de carga e de passageiros. Por fim nos aponta que
a aviação deu o impulso definitivo para o desenvolvimento do turismo, tornando as viagens
mais baratas e rápidas, possibilitando assim um grande intercâmbio turístico (IGNARRA,
2013).
O século XIX foi marcado por um período de intensas transformações na economia,
política e sociedade em si, e representaram para o turismo um verdadeiro avanço. Nessa época,
surge o conceito formal de turista, deixando de ser apenas um neologismo (BADARÓ, 2013,
p. 9).
Reforçando essa tese “pode-se afirmar que o turismo em larga escala somente emergiu
no mundo ocidental no final do século XIX e início do XX” (PI-SUNYER, 1989, p. 191).
O turismo ganhou crescente participação no desenvolvimento econômico dos países, ao
longo do século XX e XXI, com as inovações nos transportes (principalmente com os
automóveis e o avião, para percursos em longas distâncias), além da oferta de novos produtos
e serviços nos destinos turísticos. As tecnologias da informação e comunicação contribuem para
o desenvolvimento em larga escala do turismo, na divulgação dos destinos e atrativos turísticos,
modificando a relação do consumidor e do marketing, em um processo ativo de avaliação do
que é ofertado (VERÍSSIMO e RODRIGUES; ALEXANDRE, 2020).
O marketing utilizado por empresas que agenciam turismo fica evidenciado no texto:
As empresas e os destinos turísticos são impactados pelos conteúdos gerados nas
mídias sociais, devido à formação de opinião por parte das pessoas que vivenciaram
as experiências turísticas, tanto nos aspectos positivos, como nas dificuldades
encontradas. Assim, essa opinião do usuário nas mídias sociais está exposta para
todos na rede, seus conteúdos gerados, [..] criam credibilidade e confiabilidade para
23

compras, podendo ser utilizados como estratégia de marketing digital pelos meios de
hospedagem (BARBOSA; ANDRADE-MATOS; PERINOTTO, 2020, p. 168).

A ampliação dos sites e aplicativos, que agora não somente fazem a divulgação, mas
também possibilitam organizar viagens sem a intermediação, é uma das novas ferramentas
nesse processo de virtualização da atividade turística, já que a produção de dados pode ser
utilizada para ressignificar os destinos e os sujeitos envolvidos diretamente no planejamento e
na organização dos atrativos (SARTORI, 2021, p. 27).
A utilização do automóvel como principal meio de transporte surge com força no sec.
XX, e dessa forma sua multiplicação passa a gerar crescentes congestionamentos nos centros
das cidades. Outras formas de transporte urbano, sejam coletivos ou individuais, se mostram
muitas vezes, aquém das necessidades dos usuários e de forma precária. A partir desse aspecto,
o incentivo a outras formas de deslocamento, como a bicicleta, ficara em segundo plano,
embora houvesse mudanças nessa perspectiva, principalmente na Europa. Dessa forma a visão
convencional, focada nos automóveis, instiga novas modalidades e que buscam a integração
dos sistemas de mobilidade urbana, garantindo a seus usuários, sejam moradores ou turistas a
utilizar a bicicleta como meio de deslocamento, seja em roteiros de curta ou longa distância
(SALDANHA; FRAGA; SANTOS, 2015).
A partir da segunda metade do século XX, a atividade turística expande com força pelo
mundo inteiro. Como consequência do aumento de companhias aéreas, pois a impossibilidade
de abrirem suas próprias filiais em todos os locais, abrem espaço para que as agências de viagem
se multipliquem, ampliando ainda mais o número de viajantes. O crescimento da crise
ambiental e o aumento da consciência ecológica das populações, tanto dos países desenvolvidos
como daqueles em desenvolvimento, impulsiona o turismo no final da década de 1980, pois
passa a observar uma mudança no perfil dos consumidores. Essa nova dinâmica de hábitos,
preconiza o surgimento de demanda por outros segmentos do turismo (ecológico, de aventura,
social), sobrepujando alternativas até então predominantes de “sol e praia”. No estágio atual, a
evolução do turismo vem sendo multiplicada pelo desenvolvimento tecnológico dos meios de
comunicação e transportes a índices cada vez mais elevados em quase todas as classes sociais,
entretanto, uma série de acontecimentos de natureza econômica, social, política e ambiental,
impactam em maior ou menor grau, positiva ou negativamente os resultados econômico-
financeiros do turismo em diversos países e destinos turísticos no planeta (TADINI;
MELQUIADES, 2010).
Para os autores é necessária uma reflexão dos governos, em virtude desses fatos:
24

Por essa razão, os governos têm investido cada vez mais em políticas de
desenvolvimento da atividade, promovendo ações em áreas estratégicas como
marketing externo, meio ambiente, segurança pública, comércio exterior,
empregabilidade, capacitação, entre outros. Além disso, busca-se ampliar o campo de
pesquisa sobre a atividade turística, tornando o turismo um campo de estudos
interdisciplinar, que possibilite uma maior compreensão do fenômeno turístico em
todas as suas facetas (TADINI, MELQUIADES, 2010, p. 26).

Diante dos argumentos expostos, percebe-se a evolução dos deslocamentos até os dias
atuais como parte da própria evolução do homem em sociedade. A atual atividade turística
cresce junto a melhor qualidade de vida que vem sendo experimentada pela sociedade
contemporânea e, dessa forma, ao seguir seus passos possui uma dinâmica que converge em
satisfazer a dado momento, suas necessidades sociais e econômicas.

2.1.3.2 O turismo no Brasil

Dentro desse enfoque, se faz necessário um recorte à história do turismo no Brasil que
começa com o próprio descobrimento e se desdobra com a criação das Capitanias Hereditárias
e do Governo Geral. Desse início, passa a ocorrer um turismo de negócios entre a metrópole e
a colônia. A classe dominante que vem a prosperar, por conta das riquezas desse comércio,
permite as viagens de intercâmbio cultural, com a ida de seus filhos para Portugal para estudar.
O ecoturismo surge, segundo Ignarra (2013), com a expedição de Von Humboldt, naturalista
alemão que empreendeu longa viagem por grande parte do território brasileiro pesquisando a
flora e fauna.
No início do século XIX, a corte portuguesa chega ao Brasil, fugindo das invasões
Napoleônicas da península ibérica. A acomodação da família imperial propicia um
desenvolvimento na cidade do Rio de Janeiro como nunca visto, remodelando em pouco tempo
os espaços públicos (CARVALHO, 2014).
A demanda por hospedagem na cidade aumentou em decorrência da visita de diplomatas
e comerciantes, iniciando-se assim a hotelaria brasileira. Nesse período, se desenvolve a cidade
de Petrópolis, no estado do Rio de Janeiro, como primeira estância climática brasileira. Por
intermédio da ação do Visconde de Mauá, na segunda metade do século XIX, desenvolvem-se
os meios de transportes movidos a vapor. No ano de 1852, funda-se a Companhia de Navegação
a Vapor do Amazonas, e, em 1858, inaugura-se o primeiro trecho ferroviário no Rio de Janeiro.
Em 1855 é inaugurado trem para o corcovado, existindo no local até hoje, em 1908 é inaugurado
o Hotel Avenida, com 220 quartos, o maior do Brasil à época, marcando o início da hotelaria
25

moderna no Brasil. As primeiras estâncias hidrominerais surgem no início do sec. XX, na


cidade de Caldas da Imperatriz, em Santa Catarina, em 1913. Em 1927, a empresa aérea
Lufthansa cria no Brasil a Condor Syndicat, que mais trade dará origem à Varig, que junto a
Panair darão impulso para o turismo interno e externo do Brasil (IGNARRA, 2013).
No transcorrer do séc. XX, a difusão dos novos hábitos de lazer permitiu a proliferação
de chácaras de lazer e a construção de segundas residências litorâneas. Surge em 1922, o
Copacabana Palace e em seguida, o Quitandinha, ambos no Rio de Janeiro. Nessa esteira,
surgem também diversos hotéis nos estados brasileiros impulsionando ainda mais o turismo.
Em 1923 surge a Sociedade Brasileira de Turismo, que mais tarde passará a ser o Touring Club
do Brasil. Data de 1943 a criação da primeira agência de turismo no país, a Agência Geral de
Turismo, em São Paulo. Por fim, já em 1962, o governo brasileiro cria os primeiros
instrumentos de regulamentação da atividade turística, com a criação da Divisão de Turismo e
Certames do Ministério da Indústria e do Comércio. Esse esforço leva em 1966 à formação do
Conselho Nacional do Turismo (CNTUR), para que, em 1971, surja o Fundo Geral de Turismo
(FUNGETUR) e o conhecido Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur) (IGNARRA, 2013).
Segundo outros autores, a questão do turismo no Brasil está em constante análise, pois
a globalização, acidentes ambientais, aquecimento global entre outros, submete todos a uma
continua releitura da atividade turística e os impactos da sociedade contemporânea sobre ela.

Embora vários acontecimentos no Brasil tenham influenciado as políticas econômicas


na década de 1990, o turismo continua em crescente expansão. A criação de novos
destinos mundiais tornou o mercado mais competitivo, exigindo discussões mais
profundas sobre o fenômeno, em especial com as questões relacionadas à capacitação
de recursos humanos, à política e ao desenvolvimento sustentável do turismo
(TADINI; MELQUÍADES, 2010, p. 77).

Por conseguinte, o turismo no Brasil não foge à regra mundial e se aperfeiçoa junto com
o amadurecimento socioeconômico da sociedade brasileira. A chegada da família Real traz
grandes oportunidades de comercio com diversos países e dessa forma, assim como visto em
outras capitais mundiais da época, acelera a chegada de estrangeiros e com isso o crescimento
de uma rede hoteleira insipida até aquele momento.
A revolução industrial é outro fator preponderante no nosso desenvolvimento turístico,
assim como a chegada de ferrovias e as primeiras companhias aéreas. Destaca-se que o Brasil
é um país com grande extensão territorial e possui a maior floresta tropical do mundo recebendo
turistas do mundo inteiro para a prática do Ecoturismo.

2.1.4 Benefícios
26

Ao falarmos dos benefícios que o turismo traz devemos pensar no que ele significa para
o ser humano, desde os primórdios com seus deslocamentos a fim de proporcionar seu sustento,
até os dias atuais como forma de entretenimento e lazer. Assim, sob os holofotes
contemporâneos vemos que ele emerge como um fenômeno socioeconômico, fruto do
desenvolvimento da sociedade, vivenciado nas últimas décadas, proporcionando recreação,
lazer e desenvolvimento pessoal como nunca havia se visto.
Entretanto, esses três aspectos devem ser reinterpretados, na prática, nos lugares onde
ele se realiza, pois a essa equação duas análises que orientarão os resultados devem ser
observadas: aquela em que o visitante deve receber os “benefícios” que seu poder aquisitivo
permite no desfrute dos atrativos, patrimônios e recursos, como também o coletivo humano da
sociedade que inclui os habitantes ou residentes. Outros fatores se apresentam dando igual
orientação e uniformidade, são as necessidades, anseios e desejos humanos, bem como as
motivações psicológicas que são fundamentais na definição do que é, e o que representa o
turismo (PANOSSO NETO; NECHAR, 2016).
Essa ressignificação dada ao turismo é percebida nesse destaque: para o país receptor, o
turismo é uma indústria cujos produtos são consumidos no local, formando exportações
invisíveis, sendo que os benefícios auferidos dessa atividade podem ser verificados na própria
comunidade onde foi produzida, com reflexos econômicos, políticos, culturais e psicológicos
nos atores sociais. Ao mesmo tempo é também uma atividade de prestação de serviços cujo
caráter multidisciplinar amplia seu papel como gerador de trabalho e de novas oportunidades
de emprego. Entretanto, essa atividade traz desdobramentos importantes ao setor primário uma
vez que interfere na proteção do meio ambiente e na adequada utilização dos recursos naturais;
e ao setor industrial uma vez que estimula a produção de diversos equipamentos e recursos
específicos às atividades econômicas (WAHAB, 1976 apud BENI, 2016).
Nesse sentido, autores atentam para que, ao se justificarem os benefícios econômicos e
socioculturais advindos dessa atividade, o turismo cultural deveria ter em consideração as
externalidades negativas, destrutivas que o uso massificado e descontrolado dos locais poderia
acarretar, e assim se multiplicar os esforços de proteção, conservação e manutenção dos locais
de lazer, independentemente das motivações e justificativas de benefícios (HENRIQUES,
2003).
Múltiplas designações se formam em diferenciar os tipos de turismo, em benefício do
público-alvo, direcionando as atividades a nichos específicos. Em muitos casos, se pode
observar que certas designações surgem para tirar proveito de benefícios que o turismo
27

proporciona como turismo residencial, turismo médico; outras para dar cobertura a atividades
repugnantes ou ilícitas como turismo sexual, ou drogas ou para criar uma certa imagem como
turismo de charme, turismo sensorial. Apesar disso, dão prosseguimento as políticas de
desenvolvimento turístico tais como o turismo cultural, o turismo de sol e praia, o turismo de
negócios ou o turismo de saúde e bem-estar, o que contribui para lhes atribuir idêntica dignidade
e papel da mesma natureza (CUNHA, 2010).
Entretanto, conforme descrito por Alexandre (2003), os benefícios que o turismo traz
precisa ser planejado e gerenciado de forma competente para que as necessidades e o potencial
das comunidades onde ele se exercerá, se desenvolvam em todas as suas potencialidades,
incluído aí, além da atividade junto a natureza a inclusão do patrimônio histórico e cultural em
seu circuito econômico, e desenvolvido de forma sustentável e não predatória.
Para outro autor, a atividade turística deve ser vista além da sua dimensão econômica
(negócio do ócio):
Ela deve agregar outras dimensões - sócio e ambiental, podendo transformar-se em
uma estratégia alternativa de um desenvolvimento mais sustentável, valorizando e
preservando tradições e relações sociais, racionalizando o uso dos recursos naturais e,
ainda, gerando renda e aproveitando as capacidades humanas locais (SAMPAIO,
2003).

Reforçando a tese de resistência local e impacto ambiental Fratucci (2008) apresenta


que, mesmo com a possibilidade de melhoria da qualidade de vida proporcionada pelo turismo
pelos investimentos e geração de renda nas localidades atendidas, poderá haver resistência de
locais à entrada de visitantes. Os impactos ambientais advindos da exploração da atividade e as
algumas influências negativas trazidas com os turistas são capazes de provocar, especialmente
entre os mais jovens, a incorporação de novos hábitos como também o uso de drogas.
Portanto, existem tanto aspectos positivos como negativos que norteiam a atividade
turística. Eles devem ser sempre observados por todos os atores envolvidos na atividade
turística, e que de forma reflexiva proponham arranjos onde não havendo a possibilidade de sua
eliminação sejam reduzidos em sua significância.

2.1.5 Políticas Públicas

Os benefícios do turismo também não têm escapado aos olhos dos governantes. Eles
têm demonstrado interesse especial aos benefícios do potencial de desenvolvimento econômico
e regional que o turismo pode trazer para uma região. Entretanto, ao se utilizarem da
28

verticalização das decisões e do planejamento, deixam as comunidades e locais fora das


discussões. Essa abrangência das deliberações é um importante meio de aprimoramento da
governança pública, pois contempla de forma horizontal a todos, governo e sociedade (PIERI,
2014, p. 62).
Corroborando esse pensamento, segundo Fratucci (2008, p. 89), o Estado tem se
preocupado demais com as questões relacionadas com a dimensão econômica do turismo e
relegado a um plano inferior àquelas relacionadas com os impactos e benefícios
socioambientais que o fenômeno contempla.
O mesmo autor, ao analisar as políticas do Ministério do Turismo Brasileiro (MTur), vê
a preocupação do Ministério com a questão da articulação dos diversos agentes sociais do
turismo na escala dos municípios, reforçando seu pensamento de que as ações voltadas para a
consolidação de regiões ou de roteiros turísticos regionais passam necessariamente pela escala
do município, nossa menor célula político administrativa (FRATUCCI, 2008, p. 178).
Para Beni (2016, p. 125), ao analisar o papel do Estado na gestão do turismo afirma que:

É ficção pensar que o governo não tem papel algum a desempenhar no Turismo. Pelo
contrário, ele é e continuará sendo a ‘mão oculta’ que dirige a política da área, ao
mesmo tempo em que assegura que os serviços turísticos que mais satisfazem os
visitantes estrangeiros sejam oferecidos pelos mais capacitados a fornecê-los.

As políticas públicas voltadas as atividades turísticas se mostram cada vez mais


interligadas as populações por elas abraçadas como descreve Fennel (2002, p. 131):

As políticas de turismo [...] englobam um amplo espectro de preocupações ligadas à


implementação de programas de turismo em todo o mundo, incluindo-se os
relacionamentos sociais, ecológicos e econômicos. [....] Além disso, muitas
discussões têm envolvido a ideia da regulamentação como um meio de se obter um
elemento mais forte de controle na formatação e na implementação dos produtos.

De forma geral, quando se fala em regulamentação logo se pensa nas ações


governamentais que elas desencadearão. Embora existam prioridades a serem trabalhadas, os
poderes legislativo e executivo são responsáveis pela ordenação legal e pelo estabelecimento
dos preceitos que regerão o turismo, pois sabe-se que a política governamental é uma das ações-
chave de apoio ao desenvolvimento do turismo (WEISSBACH, 2004).
Segundo Bramwell (2001), há quatro tipos de instrumentos políticos usados pelos
governos para promover o turismo e que ajudam na escolha dos tópicos que comporão a política
de turismo para determinada localidade, são elas: a) o encorajamento do governo através de
informações, de educação e persuasão geral; b) os incentivos financeiros do governo; c) os
gastos do governo em ações voltadas para o turismo e d) as regulamentações turísticas.
29

As políticas públicas devem promover uma gestão nas ações de planejamento da política
turística, evitando assim os revezes, como afirma esse autor:

Desta maneira, planos turísticos podem estabelecer as bases de uma política turística,
sobretudo se considerarmos que os objetivos de um plano são as atitudes desejáveis
frente a determinada situação. As políticas públicas para o turismo conduzem e
orientam para uma ação planejada de gestão e desenvolvimento, sem os revezes do
inesperado, do insólito ou do imprevisto (WEISSBACH, 2004, p. 4).

Portanto, nas políticas públicas voltadas para o turismo tem-se observado uma maior
discussão em torno do tema, estando a administração pública diretamente ligada ao
planejamento de ações que nortearão os incentivos ao turismo, extrapolando somente os
benefícios econômicos advindos dessa prática, mas também trazendo para a discussão os
impactos e benefícios socioambientais que eles poderão acarretar. Essa atitude reflete um
amadurecimento político da governança pública, em busca de alinhamento das ideias em torno
da sustentabilidade, outro tema importante na agenda governamental e da sociedade.

2.2 CICLOTURISMO

2.2.1 Conceito de Cicloturismo

De acordo com o Decreto Nº 7.381, de âmbito nacional, referente à Política Nacional


de Turismo, em seu art. 34, inciso VI entende o cicloturismo como uma ramificação do turismo
de aventura, como vemos:

§ 1° Para os fins deste Decreto, entende-se por turismo de aventura a movimentação


turística decorrente da prática de atividades de caráter recreativo e não competitivo,
tais como arvorismo, bóia cross, balonismo, bungee jump, cachoeirismo,
cicloturismo, caminhada de longo curso, canoagem, canionismo, cavalgada, escalada,
espeleoturismo, flutuação, mergulho, turismo fora de estrada, rafting, rapel, tirolesa,
vôo livre, wind surf e kite surf (BRASIL, 2010).

Da mesma maneira, para a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT, 2019),


o cicloturismo também se apresenta como uma subsegmentação do turismo de aventura, sendo
caracterizado pela “movimentação turística decorrente da prática de atividades de caráter
recreativo e não competitivo” (BRASIL, 2010).
Zovko (2013) apud Saldanha et al. (2020) traz o entendimento que o termo cicloturismo
possui um significado mais lato, procurando abranger tanto às atividades de lazer como as de
turismo realizadas por bicicleta. Assim, ao se propor a conceituar cicloturismo esses autores
30

elencam três categorias, dessa forma facilitando a compreensão de sua relação com os seus
usuários (ou cicloturistas): (1) excursões, quando o ciclista realiza passeios recreativos não mais
longo que um dia a lugares fora ou no seu local de residência – envolvendo moradores e
visitantes em um mesmo roteiro; (2) ciclismo em férias, quando o ciclismo integra um conjunto
maior de atividades em uma viagem; (3) viagens de bicicletas (ou cicloviagens), quando a
bicicleta é a principal motivação e modo de transporte de uma viagem.
Segundo Carvalho, Ramos e Sydow (2013), o desenvolvimento da sociedade trouxe
diversas externalidades como o aumento do trânsito, do sedentarismo e a degradação ambiental,
dessa forma a população passa a buscar pelo contato com a natureza e qualidade de vida. Ao
incentivar a conservação e a busca pela formação de uma consciência ambiental, o homem
passa a valorizar novos espaços e, consequentemente, comunidade locais cujo patrimônio
natural e cultural se destaquem, ou seja, um ecoturismo.
Dentro do turismo ecológico, o cicloturismo é uma modalidade que vem ampliando o
número de adeptos cada vez mais no país, apoiada no baixo impacto ambiental, já que é
realizado com bicicletas. Além disso, é uma atividade de lazer que contribui para uma melhor
qualidade de vida, pela prática de exercício físico e de forma mais sustentável, combinado com
o ambiente visitado e dessa forma proporcionado a viagem ou a visitação a destinos e atrativos
turísticos com maior mobilidade (CARVALHO; RAMOS; SYDOW, 2013).
Para Cavallari (2012, p. 133):

Hoje, o cicloturismo representa muito mais do que apenas uma forma eficiente e
econômica de viagem. Em meio à crise climática, aos questionamentos éticos e
econômicos sobre nosso atual estilo de vida, nossos métodos de produção e hábitos
de consumo, diante da busca constante e mais responsável por melhor qualidade de
vida, novamente a bicicleta, através do cicloturismo, apresenta seu discurso
revolucionário e libertário.

O significado trazido pelos autores para conceituar cicloturismo, divide opiniões,


aqueles que o veem apenas como uma subsegmentação do turismo de aventura, e dessa forma
o enquadrando como um esporte de aventura junto à natureza e outros que entendem ele ser
mais ampliado ao abraçar o uso da bicicleta em atividades turísticas e nessa amplitude, também
abarcar o uso em turismo de aventura. Como se observa, acredita-se que um entendimento mais
amplo vai ao encontro das propostas que hoje se estabelecem para o cicloturismo, não
necessariamente diminuindo seu espectro de utilização, salientado pela característica
democrática da sua prática de estar disponível a diversas faixas etárias e classe sociais, com um
mínimo de experiência na sua prática. Para praticar o cicloturismo basta apenas a bicicleta, um
31

usuário e um destino turístico. Contudo, apenas destaca-se em nosso estudo que o destino aqui
é a natureza, ou comunidades com cenários onde a natureza é a primazia.

2.2.2 História da Bicicleta e Atividade Cicloturística

A história da bicicleta se funde às das grandes invenções, pois desde os primórdios


existe a necessidade da humanidade em se deslocar. Assim, não foi diferente com as bicicletas,
sendo essa um dos meios de transporte mais usuais por ser prática, econômica e de baixo custo
(OLIVEIRA; ANUNCIAÇÃO, 2000).
A criação da bicicleta ocorreu no ano de 1790, pelo Conde Siserac, dando nome ao seu
aparato de Celerífero, feito de madeira e impulsionado pelos pés. Em 1813, o Barão Von Drais
construiu sua “Draisiana”, essa também impulsionada pelos pés, porém sua velocidade de
deslocamento permitia ao homem quadruplicar sua velocidade com o mesmo esforço
dispendido a pé. Em 1888, com o surgimento do pneu por John B. Dunlop o ciclismo se tornou
um culto e ganhou as Américas. De lá para cá a bicicleta foi se democratizando em todo o
mundo e permitiu a criação de três modalidades: as utilitárias ou de turismo, as sports e as de
corrida. Seus modelos os diferenciam com relação a prática e utilização: o modelo utilitário, é
o comum e usado no dia a dia; o modelo de corrida é utilizado nas modalidades de competição,
amadora e profissional; no modelo esportivo, o mais utilizado, destaca-se a elegância,
performance, robustez e superadora de obstáculos. O modelo Mountain-Bike nasce da
derivação e evolução da utilitária somada à esportiva, e é hoje o mais usado para a prática do
cicloturismo. Dessa forma, consagra-se, em definitivo, como meio de transporte de domínio
público, tendo seu uso estimulado por possibilitar realizações de grandes percursos sem um
maior custo econômico (OLIVEIRA; ANUNCIAÇÃO, 2000).
No que se refere a atividade cicloturística, Lamont (2009, p. 11) apresenta seis
parâmetros que caracterizam o turismo de bicicleta:

I. A experiência ciclística acontece fora da região de moradia do indivíduo; II. O


turismo de bicicleta ocorre de um ou mais dias durante a viagem; III. É de natureza
não competitiva; IV. O ciclismo deve ser o propósito da viagem; V. A participação do
ciclismo acontece em um contexto ativo; VI. O turismo de bicicleta é uma forma de
lazer ou recreação.

Saldanha et al. (2020, p. 296) reconhecem o cicloturismo como atividade turística:

O cicloturismo é reconhecido por ser uma atividade que envolve múltiplos segmentos
do turismo, assim como conecta ambientes urbanos e rurais. Quando a principal
32

motivação de uma viagem se encontra no percurso entre um destino e outro, permite-


se o desenvolvimento em escala local nas regiões abrangidas pela rota de trânsito.

Os ciclistas despontam no cenário contemporâneo ressignificando o uso desse meio de


transporte individual. Novos modelos e o incentivo para o esporte, passam a gerar uma busca
pelas viagens com a bicicleta e toda a linha de acessórios de segurança, vestimenta e
conectividade, atraindo a atenção e o interesse de homens e mulheres, de diferentes faixas
etárias (SARTORI, 2021, p. 30).
O mesmo autor destaca que a questão financeira é um importante limitador para o acesso
a bicicletas e equipamentos, devendo o ciclista levar em consideração no planejamento e na
organização do ciclismo e cicloturismo, porque atinge, dependendo do nível, diferentes perfis
de interessados. No mercado situam-se diversos tipos de bicicletas e que, se comparadas as
bicicletas “comuns”, poderá envolver valores elevados restringindo a atratividade. Lembra-nos
também da questão que o os cicloturistas criam padrões, e dessa forma, indiretamente geram a
necessidade de adequação dos usuários a eles, tanto nos aspectos da prática ciclística, como
pelo compartilhamento nas redes sociais (SARTORI, 2021, p. 30).
Por fim, o mesmo autor finaliza:

Compreender essas dinâmicas, perfis e formas de interação pode contribuir para novos
formatos de rotas e roteiros de cicloturismo, além de proporcionar o incentivo à prática
do ciclismo atenta às necessidades e às expectativas de diferentes segmentos
socioeconômicos, explorando essas diversidades como um elemento de
desenvolvimento sustentável e coerente com as condições dessa multiplicidade de
contextos (SARTORI, 2021, p. 30).

Para o atendimento da atividade ciclística, chama-se a atenção as normas que versam


sobre a circulação e conduta dos ciclistas e demais condutores. Elas estão previstas no Código
de Trânsito Brasileiro (CTB), Lei 9.503 de 23 de setembro de 1997, que diz:

Art. 21. Compete aos órgãos e entidades executivos rodoviários da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, no âmbito de sua circunscrição: [...] II
- planejar, projetar, regulamentar e operar o trânsito de veículos, de pedestres e de
animais, e promover o desenvolvimento da circulação e da segurança de ciclistas; [...].

Art. 24. Compete aos órgãos e entidades executivos de trânsito dos Municípios, no
âmbito de sua circunscrição: [...] II - planejar, projetar, regulamentar e operar o
trânsito de veículos, de pedestres e de animais e promover o desenvolvimento,
temporário ou definitivo, da circulação, da segurança e das áreas de proteção de
ciclistas; [...]. (BRASIL, 1997).

Por conseguinte, percebe-se o âmbito ampliado e que confere além da União, os Estados
e Municípios como órgãos executivos da legislação de trânsito, com ênfase aos municípios por
se tratar de modal inerente aos deslocamentos em centros urbanos. No que tange aos cuidados
33

a trafegabilidade dos ciclistas, e a fim de se evitarem acidentes, a orientação normativa para


eles é que devem trafegar nas vias urbanas e nas rurais de pista dupla, quando não houver
ciclovia, ciclofaixa, ou acostamento, ou quando não for possível a utilização destes, nos bordos
da pista de rolamento, no mesmo sentido de circulação regulamentado para a via, com
preferência sobre os veículos automotores (CZERWONKA, 2020).
Nesse sentido, temos as definições para os espaços sinalizados e que compõem as vias
de trânsito seguro para as bicicletas e que devem ser respeitados, segundo o Código de Trânsito
Brasileiro (CTB), são elas as ciclovias, as ciclofaixas, a ciclorrotas e o passeio compartilhado:

Ciclovia - Espaço totalmente segregado, de circulação exclusiva de ciclistas. É


separada fisicamente do tráfego dos demais veículos. Quanto ao sentido de tráfego, a
ciclovia pode ser unidirecional (quando apresenta sentido único de circulação) ou
bidirecional (sentido duplo de circulação).
Ciclofaixa - Espaço delimitado na própria pista (junto com os demais veículos),
calçada ou canteiro, exclusiva aos ciclistas. Pode ser implantada no mesmo nível da
pista de rolamento (ou da calçada ou do canteiro). Da mesma forma que a ciclovia, a
ciclofaixa pode ser uni ou bidirecional.
Ciclorrota - Espaço compartilhado: calçada, canteiro, ilha, passarela, passagem
subterrânea, via de pedestres, faixa ou pista, sinalizadas, em que a circulação de
bicicletas é compartilhada com pedestres ou veículos, criando condições favoráveis
para sua circulação. São vias sinalizadas que compõem o sistema ciclável da cidade
interligando pontos de interesse, ciclovias e ciclofaixas, de forma a indicar o
compartilhamento do espaço viário entre veículos motorizados e bicicletas,
melhorando as condições de segurança na circulação.
Passeio compartilhado - Espaço da via pública destinado prioritariamente aos
pedestres, onde os ciclistas dividem a mesma área. No compartilhamento com o
pedestre, este tem a prioridade (CZERWONKA, 2020).

A seguir, nas figuras 1 e 2 há ilustrações sobre os tipos de espaços sinalizados para o


trânsito seguro de bicicletas.
34

Figura 1 – Imagens de ciclorrotas rurais, ciclorrotas urbanas e passeio compartilhado

Fonte: Elaborado pelo autor (2021).

Figura 2 – Imagens de ciclovia em perímetro urbano, ciclofaixa urbana e ciclofaixa em cidade


turística do interior

Fonte: Elaborada pelo autor (2021).

Em vista disso, compreende-se que a atividade ciclística poderá atingir níveis elevados
de sofisticação, caso o usuário assim desejar, ao se inserir em grupos específicos na prática da
modalidade, contudo isso ainda não exclui a utilização básica pelos praticantes iniciantes ou
mesmo aqueles mais despojados. Notadamente, poderão ser utilizados variados tipos de
35

bicicletas para os deslocamentos, de acordo com a necessidade ou investimento do usuário,


sem, entretanto, ficar impossibilitada a prática de cicloturismo com uma bicicleta básica. A
preocupação aqui se refere à utilização de equipamentos de segurança mínimos como capacetes,
lanternas e indicativos luminosos na roupa, permitindo maior proteção ao ciclista e rapidez na
sua identificação quando em trânsito em rotas compartilhadas. Da mesma forma, o ente público
ao buscar identificar as vias de trânsito para o deslocamento dos ciclistas, vem a estimular a
educação no trânsito e o respeito ao ciclista, haja vista, as vias de deslocamentos compartilhadas
terem como outros usuários, carros e caminhões.

2.2.3 Benefícios do Cicloturismo

Sabe-se que a prática de exercícios físicos traz inúmeros benefícios para seus
praticantes, por conseguinte, não haveria de ser diferente com os benefícios que as pedaladas
poderão trazer para seus adeptos. Portanto, vem a ser recomendado como forte indutor de saúde
física e mental a seus usuários além de controlar a pressão, osteoporose, fortalecer músculos,
melhorar a memória, controle do sistema cardiovascular, diminuir riscos de diabetes, auxiliar
na perda de circunferência abdominal e eliminar o estresse. Ademais, pedalar é divertido e ajuda
a conhecer novas pessoas e lugares (OLIVEIRA; ANUNCIAÇÃO, 2000).
Outros autores consideram o ecoturismo uma alternativa para conciliar conservação,
educação ambiental e benefícios as comunidades receptivas, entretanto, como observam, são
raros os roteiros que se apoiam nesse tripé, predominando o “quanto mais, melhor”. Contudo,
o ecoturismo continua como um importante polo de desenvolvimento da educação ambiental
fundamentada na Política Nacional do Turismo, promovendo as regiões, as comunidades e os
turistas. Além disso, os benefícios sociais, físicos, econômicos e culturais tornam-se
importantes catalisadores na qualidade de vida tanto de locais quanto de turistas
(MENDONÇA; NEIMAN, 2005).
Lamont (2009) chama atenção para o estabelecimento de parâmetros técnicos que
permitam definir, avaliar e analisar os impactos e benefícios dos cicloturismo nas comunidades
que os receberão, e assim auxiliar os operadores e os responsáveis na gestão de atender às
necessidades e expectativas dos consumidores dessa modalidade de turismo, evidenciado nas
próprias submodalidades de competição ou cicloturismo, como também em pessoas que
participam ativamente da atividade ou pessoas que vão apenas para assistir os eventos. Essa
perspectiva que difere das abordagens tradicionais sobre a atividade dentro do turismo.
Na visão ampliada de outro autor temos um importante enfoque como vemos:
36

O cicloturismo se insere como uma prática esportiva, que envolve esporte, lazer e
turismo, com crescimento de adeptos e demanda de destinos turísticos adequados às
necessidades dos praticantes. Também favorece o contato com a gastronomia e as
populações locais, por ser um meio de locomoção de baixa velocidade e que requer
mais paradas que outros meios de transporte (SARTORI, 2021).

Portanto, há dois lados em paralelo, aqueles relacionados aos cicloturistas e seus


acompanhantes gerando inúmeros benefícios as comunidades visitadas e outro presente nas
comunidades receptoras que deverão promover uma infraestrutura que implique em ótima
experiencia em seus usuários. Todavia, o cicloturismo como uma modalidade do Ecoturismo,
não deve perder o foco no desenvolvimento de um turismo sustentável, em que, apesar de fonte
geradora de divisas poderá acarretar custos elevados para as populações receptoras em
restabelecer os locais degradados, pois o público nem sempre é suficientemente politizado e
consciente na relação com a natureza (SWARBROOK, 2000).
Corroborando esse pensamento do mesmo autor:

Em 1995 a União Europeia reconhece um conceito de turismo sustentável, e o publica


no Green Paper on Tourism. Ele diz que a expressão “turismo sustentável” “...encerra
uma abordagem do turismo que reconhece a importância da comunidade local, a
forma como as pessoas são tratadas e o desejo de maximizar os benefícios econômicos
do turismo para essa comunidade” (SWARBROOK, 2000, p. 13).

Os benefícios do cicloturismo ficam evidenciados quando se pensa na conjugação do


binômio, atividade física e lazer junto a natureza. Entende-se que essa prática está alinhada aos
preceitos do homem contemporâneo, que vê na educação para conservação da natureza um
passo em direção a sustentabilidade e desfrute das futuras gerações, porém outros fatores
requerem igual atenção, pois se somados a eles poderão produzir resultados negativos, como
aqueles vinculados a resultados econômicos imediatistas, esses não levam em conta prejuízos
ambientais oriundos de práticas de turismo depredatória, a falta de planejamento entre
demandas e infraestrutura para turistas, falta de ciclovias ou se existentes malconservadas, entre
outros. Aspectos esses que promoverão uma experiência negativa nos cicloturistas e declinando
a procura por esse destino.

2.2.4 Políticas Públicas sobre Cicloturismo

Inicialmente, trazemos a abordagem feita por Saldanha, Santos e Fraga (2015), que
promove um estudo sobre as diferentes políticas públicas que, norteadas por diversos países,
ocorrem na organização da atividade de cicloturismo. Do resultado deste estudo, os autores nos
apontam aquilo que relacionam como as três grandes fases do planejamento do cicloturismo:
37

(i) análise do desempenho atual da atividade; (ii) desenvolvimento da infraestrutura para o


cicloturismo; e (iii) promoção da área de destino.
Para eles, essas três fases são essenciais para o desenvolvimento da atividade e atuam
de forma interdependentes, retroalimentando-se para que o destino ou rota de cicloturismo
esteja sempre atendendo às expectativas dos moradores e visitantes. A somatória de esforços
de entidades governamentais e supraestatais, em prol do desenvolvimento sustentável do
planeta, como o Ministério do Turismo (MTur, 2018) e Nações Unidas, trouxe mais
comprometimento às ações visando o respeito os princípios da sustentabilidade turística - sobre
as dimensões ambiental, econômica, sociocultural e político-institucional.
Nesse sentido, segundo Febres-Cordero (2011, p. 177):

O governo local deve ser conscientizado para colocar em prática os critérios


estabelecidos para alcançar uma gestão urbana eficiente e eficaz, ordenando e
gerenciando o desenvolvimento urbano da cidade, bem como fortalecer habilidades
para alcançar um desenvolvimento econômico e social ambientalmente sustentável,
ou seja, um desenvolvimento que atenda às necessidades atuais sem comprometer a
capacidade das gerações futuras; alcançando dessa forma qualidade de vida e bem-
estar coletivo.

Apontamos os dispositivos legais no Brasil, e que dispõe sobre o tema de mobilidade


urbana. A Constituição da República Federativa do Brasil (BRASIL, 1988) em seu Cap. II trata
da mobilidade urbana:

Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público


municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno
desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus
habitantes (BRASIL, 1988).

A Lei N° 10.257, de 10 de julho de 2001, e que estabelece as diretrizes gerais da política


urbana e dá outras providências, trata em seu Art. 2, inciso VII de:

VII – integração e complementaridade entre as atividades urbanas e rurais, tendo em


vista o desenvolvimento socioeconômico do Município e do território sob sua área de
influência (BRASIL, 2001).

A Política Nacional de Mobilidade Urbana (PNMU), Lei No. 12.587 de 3 de janeiro de


2012, institui as diretrizes da Política Nacional de Mobilidade Urbana, trazendo importantes
marcos para a mobilidade em bicicletas:

Art. 3º O Sistema Nacional de Mobilidade Urbana é o conjunto organizado e


coordenado dos modos de transporte, de serviços e de infraestruturas que garante os
deslocamentos de pessoas e cargas no território do Município. [...] § 3º São
infraestruturas de mobilidade urbana: I - vias e demais logradouros públicos, inclusive
metroferrovias, hidrovias e ciclovias. [...].
38

Art. 23. Os entes federativos poderão utilizar, dentre outros instrumentos de gestão do
sistema de transporte e da mobilidade urbana, os seguintes: [...] III - as infraestruturas
do sistema de mobilidade urbana, incluindo as ciclovias e ciclofaixas. [...]

Art. 24. O Plano de Mobilidade Urbana é o instrumento de efetivação da Política


Nacional de Mobilidade Urbana e deverá contemplar os princípios, os objetivos e as
diretrizes desta Lei, bem como:
§ 1º Ficam obrigados a elaborar e a aprovar Plano de Mobilidade Urbana os
Municípios: I - com mais de 20.000 (vinte mil) habitantes; II - integrantes de regiões
metropolitanas, regiões integradas de desenvolvimento econômico e aglomerações
urbanas com população total superior a 1.000.000 (um milhão) de habitantes; III -
integrantes de áreas de interesse turístico, incluídas cidades litorâneas que têm sua
dinâmica de mobilidade normalmente alterada nos finais de semana, feriados e
períodos de férias, em função do aporte de turistas, conforme critérios a serem
estabelecidos pelo Poder Executivo.[...]

§ 2º Nos Municípios sem sistema de transporte público coletivo ou individual, o Plano


de Mobilidade Urbana deverá ter o foco no transporte não motorizado e no
planejamento da infraestrutura urbana destinada aos deslocamentos a pé e por
bicicleta, de acordo com a legislação vigente (BRASIL, 2012).

A Lei nº 13.683, de 19 de junho de 2018, que trata de alterar as Leis Nº 13.089, de 12


de janeiro de 2015 (Estatuto da Metrópole), e 12.587, de 3 de janeiro de 2012, que institui as
diretrizes da Política Nacional de Mobilidade Urbana:

Art. 24. § 4º Os Municípios que não tenham elaborado o Plano de Mobilidade Urbana
até a data de promulgação desta Lei terão o prazo máximo de 7 (sete) anos de sua
entrada em vigor para elaborá-lo, findo o qual ficarão impedidos de receber recursos
orçamentários federais destinados à mobilidade urbana até que atendam à exigência
desta Lei. (BRASIL, 2018)

O Estado de Santa Catarina, na função de promotor das atividades turísticas do Estado


sanciona o Decreto nº 1.309, de 13 de dezembro de 2012, que regulamenta a Lei nº 13.336, de
08 de março de 2005, e disciplina a celebração de instrumento legal pelo Estado que tenha como
objeto o financiamento de programas e projetos culturais, turísticos e esportivos, no âmbito do
Sistema Estadual de Incentivo à Cultura, ao Turismo e ao Esporte (SEITEC).

Art. 1º A execução descentralizada de programas de governo e ações da Secretaria de


Estado de Turismo, Cultura e Esporte (SOL), que envolva a transferência de recursos
com objetivo de financiar projetos pelo Fundo Estadual de Incentivo à Cultura
(FUNCULTURAL), Fundo Estadual de Incentivo ao Turismo (FUNTURISMO) e
Fundo Estadual de Incentivo ao Esporte (FUNDESPORTE), no âmbito do Sistema
Estadual de Incentivo à Cultura, ao Turismo e ao Esporte (SEITEC), será efetivada
por meio da celebração de instrumento legal denominado contrato de apoio financeiro,
nos termos deste Decreto, observada a legislação vigente. (SANTA CATARINA,
2012).

Salienta-se que as políticas públicas são executadas pelos agentes públicos para
alcançar o bem-estar da sociedade e o interesse público, e parte de suas ações, em favor delas,
39

surgem do pressuposto daquilo que acham pertinente entre demandas ou expectativas da


sociedade. Ou seja, o bem-estar da sociedade é sempre definido pelo governo e não pela
sociedade. Essa lacuna se dá pois, nem sempre a sociedade consegue se fazer ouvir pelos
agentes políticos, seja por falta de interesse ou falta de recursos, e dessa forma não obtém
resultados em ter suas necessidades atendidas em forma de leis. Por conseguinte, o interesse
público, aquele que reflete essas expectativas da sociedade, deve se alicerçar num conjunto de
indivíduos com mesmos objetivos comuns formando uma sociedade civil organizada. (LOPES;
AMARAL, 2008).
Diante do exposto, entende-se que existe uma convergência do ente público em direção
a perspectivas de atendimento as demandas da sociedade, dessa forma caberá a governança
pública compreender esse momento e a construir diretrizes de planejamento estratégico,
envolvendo tanto o ente público como a sociedade civil. Aos gestores públicos, seu braço
operacional, planejar a forma mais adequada de implementação, da execução e controle. A
sociedade civil, a quem essas políticas se destinam, se articular com a gestão pública para que
suas demandas sejam atendidas na elaboração dessas políticas. Dessa maneira, os diversos
instrumentos legais apresentados conferem aos gestores públicos competências executivas em
planejar, implantar e desenvolver programas turísticos que proporcionem o desenvolvimento
de uma região, urbana e/ou rural, cujo modal de mobilidade com bicicletas seja a referência.
Trata-se assim de adequar como ocorrerão os deslocamentos por essa modalidade dentro dessa
região, integrando-as a outras políticas públicas temáticas e que têm relação com essa
modalidade, como o desenvolvimento econômico, cultural, turístico e a preservação do meio
ambiente.
40

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Os procedimentos metodológicos desenvolvidos neste trabalho acadêmico se


sustentaram no preconizado por Jardim e Pereira (2009, p. 1) para a metodologia aplicada à
pesquisa:
Os trabalhos científicos/acadêmicos pressupõem a utilização da metodologia de
pesquisa que delimita e dá sentido à forma como o pesquisador lança mão para
investigar, conhecer, buscar os caminhos que o levarão a responder os seus objetivos.

Nesse sentido, as mesmas autoras apontam que dependendo da natureza da pesquisa ela
poderá ser de natureza qualitativa ou quantitativa, e que essa abordagem dependerá do foco do
pesquisador, pois de acordo com o que se pretende estudar, aquilo que se busca compreender
dentro de uma realidade social, pode ensejar a escolha do método mais apropriado (JARDIM;
PEREIRA, 2009, p. 1)
Portanto, buscou-se dentro do foco da pesquisa sobre o cicloturismo, trazer uma
perspectiva que pudesse traçar pontos positivos e negativos e, consequentemente, permitir aos
gestores locais dados que satisfizessem a demanda para a implantação dessa modalidade de
turismo em sua estratégia executiva de ampliação da exploração da atividade turística local. Por
conseguinte, a pesquisa qualitativa se mostrou a forma mais adequada para este estudo, pois,
ao precipitar-se num universo socialmente circunstancial e imprevisível, permitirá levantar
dados que ajudem a compreender as demandas que promovem escolhas, decisões e resultados
e que muitas vezes fogem a aspectos meramente quantitativos.
Segundo Mendonça (2014, p. 33):

O principal objetivo da pesquisa qualitativa é o de conhecer as percepções dos sujeitos


pesquisados acerca da situação-problema, objeto da investigação. A pesquisa
qualitativa requer do pesquisador uma atenção sobre as pessoas envolvidas na
pesquisa, em relação às suas ideias e concepções.

Diante disso, descrever e explicar os fenômenos sociais de modos diferentes, partirá de


análises de experiências individuais e/ou grupais, exame de interações e comunicações que
estejam se desenvolvendo, assim como da investigação de documentos (textos, imagens, filmes
ou músicas) ou traços semelhantes de experiências e integrações (FLICK, 2009).
Quanto à natureza da pesquisa, trata-se de uma pesquisa aplicada.

A pesquisa aplicada concentra-se em torno dos problemas presentes nas atividades


das instituições, organizações, grupos ou atores sociais. Está empenhada na
elaboração de diagnósticos, identificação de problemas e busca de soluções.
Respondem a uma demanda formulada por “clientes, atores sociais ou instituições”
(THIOLLENT, 2009, p. 36).
41

Reforçando essa premissa, Bruchêz et al. (2015) apud Godoy (1995) nos aponta que a
abordagem qualitativa, o estudo de caso, a etnografia e a pesquisa documental configuram-se
como aqueles instrumentos comumente utilizados, apesar de sua flexibilidade não excluírem
outras possibilidades de estratégias, e, consequentemente, proporcionar uma maior liberdade
ao pesquisador em explorar vários caminhos para sua pesquisa.
No estudo de caso, salienta-se que:

O Estudo de Caso – enquanto método de investigação qualitativa – tem sua aplicação


quando o pesquisador busca uma compreensão extensiva e com mais objetividade e
validade conceitual, do que propriamente estatística, acerca da visão de mundo de
setores populares. Interessa ainda as perspectivas que apontem para um projeto de
civilização identificado com a história desses grupos, mas também fruto de sonhos e
utopias (ROCHA, 2008).

Segundo Bruchêz et al. (2015, p. 1) apud Hartley (2004, p. 323), o estudo de caso
objetiva “fornecer uma análise do contexto e processos que iluminam as questões teóricas que
estão sendo estudadas” e, desse modo, trata-se de uma atividade heterogênea.
No que tange ao seu objetivo, a pesquisa a ser feita para o estudo de caso é considerada
qualitativa, pois segundo Lincoln e Guba (1985), a meta do estudo de caso é criar “descrições
substantivas” ou uma compreensão total, completa do caso para ajudar os outros a entender e
julgar seu valor e o contexto dentro do qual tem operado. O estudo de caso é usado
frequentemente para coletar informações sobre um programa. Abordagem utilizada para
apresentar informações em profundidade sobre a unidade, ou caso em pauta, e não de
generalizar para uma população maior (SANTOS; RAUPP, 2015).
Para a coleta de dados, o presente estudo utilizou-se de diversas ferramentas qualitativas
tais como entrevistas, observação, pesquisa documental e bibliográfica, buscando obter
referências sobre assuntos como turismo, cicloturismo, mobilidade urbana, legislações,
políticas públicas e, dessa forma, levantou dados que possam justificar a adoção do cicloturismo
no município de Governador Celso Ramos.
A entrevista foi uma das técnicas de coleta de dados da pesquisa qualitativa, ela foi
utilizada ao longo do trabalho com os entrevistados para a obtenção de elementos que
apontassem tanto o desejo do executivo local no desenvolvimento deste projeto, como depois
na absorção de experiências de outros agentes, e que envolvesse o cicloturismo. Essa técnica
foi utilizada no primeiro contato com os gestores locais, o presidente da fundação do meio
ambiente (Entrevistado 1) o secretário do turismo (Entrevistado 2). Ela foi aplicada de forma
semiestruturada, a partir de um pequeno roteiro, mas permitindo uma maior flexibilidade nas
respostas aos entrevistados e, dessa forma, expandir dentro do contexto sugerido.
42

As perguntas iniciais nortearam temas como a observação expressiva de ciclistas no


município a lazer ou turismo; se a municipalidade já havia observado? Qual o interesse em
desenvolver um projeto sobre Cicloturismo? Se já havia algum projeto em curso? Se positivo,
por que não havia sido desenvolvido? Se a preocupação com a degradação ambiental era fator
de resistência? Se o comércio e a população local tinham interesse? As respostas dos
entrevistados praticamente se alinharam numa mesma direção. Ambos apontavam que havia
interesse da secretaria e da fundação. Ambos afirmaram já terem percebido esse afluxo de
cicloturistas. Ambos relataram falta de recursos, e que, muitas das atividades já desenvolvidas
pelas respectivas pastas de forma corrente como fiscalização ambiental, fiscalização do
comércio, promoção de diversas atividades dentro do calendário municipal, tomavam tempo e,
consequentemente, não sobrava tempo para dedicarem-se a implantarem novos programas,
apesar do interesse demonstrado por ambos os entrevistados. Consequentemente, viram com
bons olhos a proposta levantada nesta consultoria. A falta de tempo diário para se dedicarem a
novas causas, seria suprida com a consultoria, pois ela poderia vir a sanar muitas dúvidas. Com
a aprovação, iniciou-se a construção desta consultoria.
Ao longo do trabalho foram realizadas outras entrevistas com agentes externos, cuja
experiência contribuiria e enriqueceria o trabalho com informações. Assim, foi entrevistado de
forma semiestruturada um gestor técnico da Santur (Entrevistado 3), objetivando a visão e o
posicionamento da agência governamental encarregada da execução das políticas públicas que
norteiam a atividade turística no Estado. Perguntas de como o Santur tem acompanhado o
desenvolvimento do cicloturismo no Estado? Como se dá esse apoio? Investimentos? Como os
municípios podem obter o apoio da agência de fomento ao turismo? Onde existem dados que
possam suprir as informações sobre as atividades turísticas no Estado? Existem esforços de
levar a outros municípios esse tipo de atividade cicloturística? Essas perguntas fizeram parte
do roteiro semiestruturado da entrevista, permitindo ao entrevistado extrapolar as respostas em
amplos comentários. Essa técnica de entrevista se demonstra muito assertiva em pesquisas
qualitativas, pois o domínio do assunto está muitas vezes nas mãos do entrevistado, e a forma
provocativa das perguntas permite ao entrevistador deixar ao entrevistado uma forma fluida
para ele discorrer sobre pontos que até então poderiam passar despercebidos, o que de fato
ocorreu, descobrindo-se novas matizes do enfoque.
Outra entrevista, entretanto, se deu de forma estruturada, sendo realizada com a gestora
do turismo do CIMVI (Entrevistado 4). Nessa entrevista por questões técnicas optou-se pelo
questionário estruturado. Partindo inicialmente de um contato telefônico para identificação da
proposta do estudo, o Entrevistado 4 se colocou à disposição e recebeu um e-mail com
43

perguntas elencadas de forma estruturada: Como surgiu a ideia do Circuito do Vale Europeu
voltado para o Cicloturismo? Quais foram os principais atores envolvidos na elaboração e
implementação do projeto? Quais foram as etapas da ideia até a implementação? Quais foram
as principais dificuldades? Se houve resistências ao projeto? Se positivo de que forma isso
aconteceu? Como a comunidade recebeu a ideia? Como as rotas foram definidas? Quais os
impactos percebidos (tanto positivos, quanto negativos)? Como é feita a gestão do
Cicloturismo? Quais são as perspectivas na área (oportunidades e desafios)? Essas perguntas
foram utilizadas para procurar compreender como se deram as fases de elaboração, implantação
e desenvolvimento do cicloturismo por essa organização, e por conseguinte, fornecer
informações dos erros e acertos observados nas diversas etapas servindo de importante subsídio
de bechmarking1 para elaboração de futuros projetos por interessados. Esse método também se
mostrou válido e permitiu novos conhecimentos e que enriqueceram o trabalho, destacando-se
as fases de implantação e desenvolvimento, os erros e acertos característicos de análise da
matriz SWOT2.
Evidenciar não apenas os acertos, mas também as falhas encontradas na busca por uma
solução se materializam como um dos objetivos a serem apresentados. Sua orientação servirá
de apoio à executiva municipal para um planejamento mais eficiente a fim de alcançar seus
objetivos (FIA, 2020).
A observação, outra técnica da pesquisa qualitativa das Ciências Sociais, foi aplicada
nesta pesquisa. A observação pode ser considerada como uma técnica onde são colhidas as
impressões e os registros acerca de um determinado fenômeno observado, através de um contato
direto com as pessoas observadas ou através de instrumentos que auxiliem o processo de
observação, visando assim, colher dados suficientes para a realização da pesquisa (MOURA;
FERREIRA; PAINE 1998 apud SILVA; SOUZA; FREIRE, 2018).
Foram utilizadas várias dimensões na observação. Segundo a classificação de dimensões
da pesquisa observacional de Flick (2009) apud Silva, Souza e Freire (2018), existe a dimensão
de observação secreta, quando a observação não é revelada ao observado; a observação
participante e não participante, cujo pesquisador participa ativamente do campo observado e
em outros momentos não; observação não sistemática, não havendo um esquema padronizado

1
Benchmarking é uma análise estratégica das melhores práticas usadas por empresas do mesmo setor que o seu.
Benchmarking vem de ‘benchmark’, que significa ‘referência’, e é uma ferramenta de gestão que objetiva
aprimorar processos, produtos e serviços, gerando mais lucro e produtividade (CASTRO, 2020).
2
Análise SWOT é uma ferramenta de gestão que serve para fazer o planejamento estratégico de empresas e novos
projetos. A sigla SWOT significa: Strengths (Forças), Weaknesses (Fraquezas), Opportunities (Oportunidades) e
Threats (Ameaças) e também é conhecida como Análise FOFA ou Matriz SWOT (CASAROTTO, 2019).
44

para a observação; observação em condições naturais, realizada diretamente no campo; e auto-


observação, quando a observação é realizada sobre o observador e observação de terceiros,
quando outras pessoas são observadas.
Nesse sentido, enfatiza-se que o pesquisador realizou diversas visitas ao município ao
longo do desenvolvimento do projeto, em posição de observador participante e não participante,
com o intuito de experimentar e vivenciar pessoalmente a modalidade do cicloturismo, e por
conseguinte ao perceber melhor o caso que se está a investigar, minimizar os vieses existentes
na pesquisa (SILVA; SILVA, 2013 apud SILVA; SOUZA; FREIRE, 2018).
A partir da observação, vários registros fotográficos foram colhidos objetivando
registrar os fatos levantados pela pesquisa. O registro fotográfico, outra técnica importante da
pesquisa qualitativa, proporciona gravações detalhadas de fatos, além de, ao produzirem uma
apresentação mais abrangente de estilos e condições de vida, permitirão uma imersão maior ao
que o texto apresenta (FLICK, 2009).
A pesquisa documental feita neste estudo buscou valorizar a riqueza de informações que
se possa extrair deles e, seu regate, justifica o seu uso em várias áreas das Ciências Humanas e
Sociais ao permitir ampliar o entendimento de objetos cuja compreensão necessita de
contextualização histórica e sociocultural (SÁ-SILVA; ALMEIDA; GUINDANI, 2009, p. 2).
Nesse sentido, vários documentos aqui analisados possibilitaram o constructo de uma
evolução histórica do turismo, como seu desdobramento na modalidade Cicloturismo, cuja
ênfase, apesar do homem contemporâneo experimentar nos últimos anos um máximo de
tecnologia, sugere um retorno a simplicidade, à natureza, utilizando-se da bicicleta como seu
instrumento de deslocamento. Ademais, dentre os vários documentos pesquisados, permitiu-se
observar características intrínsecas no município analisado, sua evolução histórica, seu povo,
sua hospitalidade, sua culinária, como também a convergência da vontade política em procurar
diversificar as atividades turísticas, as quais representam atualmente um forte incremento as
receitas municipais. Essa análise na pesquisa documental requer um cuidado maior pelo
pesquisador, visto que os documentos como relatórios, reportagens, fotografias, revistas, não
passaram antes por nenhum tratamento científico (OLIVEIRA, 2007 apud SÁ-SILVA;
ALMEIDA; GUINDANI, 2009, p. 6).
[...] o documento escrito constitui uma fonte extremamente preciosa para todo
pesquisador nas ciências sociais. Ele é, evidentemente, insubstituível em qualquer
reconstituição referente a um passado relativamente distante, pois não é raro que ele
represente a quase totalidade dos vestígios da atividade humana em determinadas
épocas. Além disso, muito frequentemente, ele permanece como o único testemunho
de atividades particulares ocorridas num passado recente (CELLARD, 2008, p. 295
apud SÁ-SILVA; ALMEIDA; GUINDANI, 2009, p. 2).
45

A pesquisa bibliográfica foi também realizada junto a este estudo. Assim como a
pesquisa documental, a bibliográfica tem o documento como objeto de investigação, entretanto,
cabe aqui uma distinção, a pesquisa bibliográfica é uma modalidade de estudo e análise de
documentos de domínio científico tais como livros, periódicos, enciclopédias, ensaios críticos,
dicionários e artigos científicos e seu estudo está embasado diretamente das fontes científicas
de que se alimenta, sem recorrer a fatos da realidade empírica. Trata assim de fontes
secundárias, já anteriormente analisadas por outros pesquisadores. Dessa forma, a perspectiva
acadêmica concede uma robustez que somente a ciência lhe outorga (OLIVEIRA, 2007 apud
SÁ-SILVA; ALMEIDA; GUINDANI, 2009, p. 5).
Portanto, buscou-se um aprofundamento acadêmico sobre o tema Cicloturismo, e,
procurando além daquilo que já vem sendo produzido em outros países, enfatizar também
autores nacionais, para que a regionalização do tema fosse ao encontro de uma redução
sociológica pertinente ao Cicloturismo. Visto que as diferenças socioculturais e econômicas
evidenciadas em trabalhos científicos originados em países desenvolvidos poderiam distorcer
sua implantação, cujas características do município em termos socioculturais, o identificam na
cultura própria enraizada nos costumes açorianos e atividades pesqueiras – sua comunidade é
pequena, evidenciado no número de habitantes do local, tendo o isolamento natural a criar
resistências sobre a chegada de turistas a região e a falta de capacitação técnica para o
atendimento ao turismo/turista. Nos aspectos econômicos, o salário-mínimo diferencia-se
daqueles vistos em países desenvolvidos, além da falta de investimentos e infraestrutura, tanto
privados como públicos, que se mostram como desafios dos países em desenvolvimento.
A análise dos dados iniciou-se na revisão histórica a partir da pesquisa bibliográfica
advinda de fontes de dados secundários. Essa etapa efetivou-se na recuperação da evolução do
turismo até onde se desdobra em cicloturismo, e os elementos que se conjugaram para o seu
desenvolvimento e regulamentação. Na caracterização da organização, descrição e análise da
situação, os dados primários coletados foram extraídos de pesquisa documental e entrevistas.
Deste levantamento de dados emergem perspectivas que, articuladas, proporão estratégias para
o fortalecimento do cicloturismo no município, com o atingimento do objetivo geral desta
consultoria. Outros dados analisados conjuntamente nessa fase, como mapas, espaços
geográficos, trilhas e planilhas de gestão, permitirão, a partir de sua análise, o conhecimento
das potencialidades dessa atividade turística auxiliando na identificação dos marcos, rotas e
pontos turísticos como fomento à criação de um circuito de cicloturismo municipal e, dessa
forma, indo ao encontro dos objetivos específicos de trabalho.
46

4 CARACTERIZAÇÃO, DIAGNÓSTICO E ANÁLISE DA REALIDADE ESTUDADA

4.1 CARACTERIZAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO/CONTEXTO

A modalidade deste estudo de caso trata-se de Estágio Supervisionado do tipo


Consultoria em Administração Pública, onde aluno tem vínculo formal de estágio com a
Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), porém atende à demanda de uma
organização externa, no caso a Prefeitura do Município de Governador Celso Ramos, junto a
Fundação do Meio Ambiente do município e a secretaria de Turismo, Indústria e Comércio.
O município de Governador Celso Ramos (Imagem 1), está situado na região da grande
Florianópolis. Essa região, junto com outras doze regiões no Estado, formam um conjunto 13
regiões turísticas com características geográficas distintas, proporcionando informações
turísticas importantes àqueles em relação aos destinos requeridos. Possui uma população 14.606
habitantes (IBGE, 2020), ocupa uma área de aproximadamente 127,556 km² (IBGE, 2020),
Latitude: 27°18’5 e Longitude: 48°33’3 a 40 m de altitude, fazendo divisa com os municípios
de Tijucas e Biguaçu. O acesso de carro se dá pela BR-101/SC-410 (Mapa 1). Dista de
Florianópolis, a capital do Estado, em torno de 50 km. Seu atual prefeito é Marcos Henrique da
Silva (PSD). Considerada uma das mais belas faixas litorâneas do Brasil, a região foi colonizada
na maior parte por açorianos, tendo a vila de pescadores ali fundada a sede do mais importante
núcleo baleeiro catarinense, a Armação da Piedade (GOVERNADOR CELSO RAMOS, 2021).
Hoje o local é disputado pelos turistas, contando com mais de 40 praias, desde aquelas
com ótima infraestrutura, como a Praia de Palmas, e outras completamente desertas, como
Ilhéus e Sissial. Sendo também ponto turístico para esportes de aventura e natureza, com trilhas
e recantos cobertos por mata atlântica, a região possui duas unidades de conservação, a Reserva
Biológica Marinha do Arvoredo, santuário de espécies raras da fauna e da flora e a Área de
Proteção Ambiental do Anhatomirim (APA de Anhatomirim), o que torna a região um dos
melhores locais para mergulho do país e moradia de uma centena de golfinhos. O município
encontra-se protegido por leis ambientais, preservando os redutos de vida silvestre e a natureza
(GOVERNADOR CELSO RAMOS, 2021).
A Prefeitura de Governador Celso Ramos, na Lei Complementar N° 1294 de 12 de
dezembro de 2018, traz em seu Art. 1º: “Fica criada a Fundação do Meio Ambiente de
Governador Celso Ramos - FAMGOV, entidade dotada de personalidade jurídica de direito
público, sem fins lucrativos, com sede no município de Governador Celso Ramos/SC.”
47

(GOVERNADOR CELSO RAMOS, 2018a). Está localizada na Avenida Augusto Prolik, 1221,
CEP 88.190-000, na praia de Palmas. Tem como presidente Filipe Gabriel da Silva.
Na caracterização dessa fundação, o Art.° 2 do referido diploma legal apresenta: “A
FAMGOV é um órgão da Administração direta, com autonomia própria e, respeitadas as
competências da União, do Estado, bem como suas legislações, no que couber, tem por
finalidade e atribuições [...]”. (GOVERNADOR CELSO RAMOS, 2018b). Sua finalidade e
atribuições dizem respeito a execução, planejamento, desenvolvimento, administração,
assessoria, colaboração técnica, fiscalização, monitoramento, controle, informação, proteção,
disciplinar e cadastrar, incentivar a pesquisa, preservação, promoção, operacionalização,
licenciamento, recomendações, proibições, de todas as atividades relacionadas ao meio
ambiente e o desenvolvimento sustentável. Sua estrutura organizacional é composta de Órgão
de Direção: representada respectivamente pelo Presidente, Diretor Administrativo Financeiro,
Diretor de Licenciamento e, por fim, Diretor de Fiscalização e Educação Ambiental, Unidades
de Conservação e Arborização. área de atuação ocorre em todo território municipal na gestão
de impactos locais; e Conselho Fiscal. Sua área de atuação ocorre em todo território municipal
na gestão de impactos locais (GOVERNADOR CELSO RAMOS, 2018c).

Imagem 1 – Governador Celso Ramos

Autor: Daniel Queiroz/ND+ (2013).


48

Mapa 1 – Gov. Celso Ramos e vias de acesso sem relevo (SC- 410), 2021

Fonte: Google Maps (2021).

A Secretaria de Turismo, Indústria e Comércio de Governador Celso Ramos faz parte


da administração direta, cuja competência é comandar as ações atribuídas aos departamentos
de turismo e departamento de Indústria e Comércio. Dentro das atribuições ligadas ao turismo,
são elas: divulgar, apoiar, identificar, articular, promover, planejar, administrar, elaborar todos
os aspectos relacionados que venham a ser aplicadas nas atividades turísticas sustentáveis e
promoção da geração e renda ligadas a elas. Seu atual secretário é Valmor Antônio Kair Filho.
Sua sede é no Mirante de Calheiros – Rodovia Municipal Francisco Wollinger, Km 12,
Calheiros, Governador Celso Ramos – CEP 88190-000 (GOVERNADOR CELSO RAMOS,
2016).
A Santur é a agência de promoção do turismo do governo de Santa Catarina. Foi criada
em 28 de junho de 1977, com a missão de promover a indústria do turismo com qualidade,
visando o desenvolvimento socioeconômico. Ao longo dos anos a entidade teve um
desenvolvimento significativo. Um dos avanços importantes foi implantação do programa de
segmentação turística em Santa Catarina, realizado em trabalho conjunto com a Secretaria de
Estado de Turismo, Cultura e Esporte (SOL). Atualmente, Santa Catarina conta com treze
regiões turísticas (SANTUR, 2021).
Em 2019, com a reforma administrativa do Governo do Estado e a necessidade de
resolver sobreposições de ações, a SOL e a Santur evoluíram para Agência de Desenvolvimento
do Turismo de Santa Catarina, permanecendo a sigla Santur. Com sede própria, enxugamento
49

da máquina pública e equipe estratégica, a nova Santur segue valores de transparência,


qualidade, integridade, eficiência, agilidade, simplicidade e inovação (SANTUR, 2021)
A Santur foca no turismo como pilar econômico de Santa Catarina. As atividades das
diretorias giram em torno do mapeamento e promoção de produtos turísticos; alcance
internacional da promoção de Santa Catarina como destino de qualidade; governança e
sustentabilidade dos atrativos; e inovação no turismo catarinense. Seu atual Presidente é Renê
Ernesto Meneses Nunes. O entrevistado nessa organização foi o Sr. Renato Tristão, Gerente de
Inteligência de Mercado. Sua sede administrativa situa-se na Rua Eduardo Gonçalves d'Ávila,
303 – Itacorubi, Florianópolis/SC, CEP 88034-496. (SANTUR, 2021).
O Consórcio Intermunicipal do Médio Vale do Itajaí (CIMVI) é um consórcio de Direito
Público, multifinalitário, onde 15 municípios são consorciados atualmente. Os principais
serviços prestados às cidades são a gestão do turismo da região do “Vale Europeu”, a
implementação do programa de Licenciamento Ambiental, otimizado entre os municípios e o
serviço de Educação Ambiental e a Valorização de Resíduos Sólidos, através do projeto
“Parque Girassol” e o programa “Vale Muito Cuidar”. De nosso interesse, ressalta-se o setor de
Cultura, Esporte Turismo do respectivo consórcio, que é responsável pela gestão do Vale
Europeu Catarinense, destino turístico que envolve as cidades de Apiúna, Ascurra, Benedito
Novo, Botuverá, Doutor Pedrinho, Guabiruba, Indaial, Luiz Alves, Pomerode, Rodeio, Rio dos
Cedros e Timbó (CIMVI, 2021).
O Vale Europeu é conhecido principalmente pelos seus roteiros de Cicloturismo e
Caminhante, instituídos há mais de 10 anos (foram os primeiros no Brasil). Timbó é onde os
ciclistas iniciam e finalizam o roteiro de cicloturismo do Vale Europeu, que dura 7 dias,
passando por 9 cidades. Timbó, também, foi a primeira cidade a receber o projeto “Vale Muito
- Maravilhas do Vale Europeu”, de conscientização turística nas escolas, que está sendo
aplicado em todas as 12 cidades do Vale Europeu em 2019. O entrevistado nessa organização
foi a Sra. Arlete Regilene Scoz, Gestora de Cultura, Esporte e Turismo (CIMVI, 2021).

4.2 DESCRIÇÃO DA SITUAÇÃO PROBLEMA

O município de Governador Celso Ramos apresenta características geográficas e


ambientais onde a natureza se apresenta de forma pujante, corroborada pela forte presença da
Mata Atlântica ao seu redor. Esse atrativo, conjuntamente com as belas praias, o espírito
acolhedor dos locais, a cultura açoriana e as características pitorescas das pequenas cidades,
torna o passeio dos turistas uma experiência marcante e inigualável. Dessa forma, esses
50

atributos vêm paulatinamente alavancando o turismo na região, fazendo com que, em feriados
ou nas férias escolares, a população local se multiplique pelo aporte de turistas nacionais e
estrangeiros.
Contudo, é importante destacar que essas qualidades observadas têm atraído um tipo de
turista para o município que procura por atividades em espaços exclusivamente naturais e que
permitam a integração entre o homem e a natureza. O cicloturismo, considerada uma
modalidade do ecoturismo, tem sido observado com frequência no município, principalmente
nos finais de semana, cujas vias de acesso ao município presenciam um forte trânsito de
bicicletas, principalmente as do tipo Mountain Bikes, usadas normalmente em vias e estradas
do tipo cidade-campo. O desfrute pelos turistas para esse tipo de turismo tem despertado a
atenção pelo incremento das atividades econômicas geradoras de emprego, renda e arrecadação
(SARTORI, 2021).
Nesse sentido, o aumento dessa atividade, ainda sem o respaldo da administração
municipal, induz os gestores locais a buscar soluções alinhadas às perspectivas da incorporação
dessa atividade àquelas geridas pelo município, como turismo e preservação ambiental, e dessa
forma, mitigar os efeitos que esse afluxo possa acarretar ao meio ambiente. A criação de rotas
seguras é outro destaque, pois ao orientar seus usuários para percorrem caminhos sinalizados,
evita a degradação do meio ambiente, proporciona segurança no pedalar, promove a inclusão
de paradouros turísticos, estimula o comércio local e as atividades turísticas, vindo dessa forma
a privilegiar a inserção do município nos circuitos cicloturísticos.
Entretanto, alguns fatores podem vir a se colocar como entraves a essa implantação,
como a falta de vias sinalizadas no município que indiquem rotas seguras; a falta de sinalização
de marcos turísticos importantes; hotéis, restaurantes e outros serviços orientados ao
cicloturista; o apoio da gestão municipal para estímulo a comunidade e o comércio local para
promoção e o acolhimento desse novo tipo de turista, sem descuidar do fomento à educação
ambiental e preservação da natureza.
Assim, o projeto de consultoria visa trazer aos entes municipais, FAMGOV e Secretaria
do Turismo, os elementos que permitirão construir uma agenda em comum, promovendo a
implantação do Cicloturismo no município, a preocupação com o impacto e a educação
ambiental dos novos turistas, a circulação nas vias municipais/mobilidade urbana, o incremento
na geração de trabalho e renda e a adequação do comércio a essa nova modalidade turística. Ou
seja, preparar a comunidade para o atendimento dessa nova forma de turismo construindo uma
infraestrutura adequada, já impulsionada pela beleza natural do município, mas associada a
segurança e tranquilidade para seus usuários, os cicloturistas.
51

4.3 ANÁLISE DA SITUAÇÃO PROBLEMA

A partir da descrição do problema, essa consultoria buscou, através da coleta de dados,


fazer o levantamento de informações e dados com gestores, mapeamento de pontos turísticos e
rotas que justificassem adoção de políticas públicas que envolvam o cicloturismo e, dessa
forma, venham a alicerçar os propósitos de adoção dessa nova modalidade no município de
Governador Celso Ramos.
Da entrevista realizada na Santur conversamos com Entrevistado 3, Gerente de
Inteligência de Mercado da Agência. Nessa entrevista semiestruturada, foram feitos
questionamentos ao gestor sobre turismo e cicloturismo em Santa Catarina, como também o
apoio dado por essa secretaria a essa nova modalidade. Em relação ao apoio financeiro, o
Entrevistado 3 argumentou que um dos maiores entraves na liberação de recursos é a falta de
projetos executivos pelas administrações municipais: o recurso existe para a aprovação, porém
é necessário um projeto executivo para análise, disse ele – destacou também que, a Santur não
realiza projetos, apenas analisa sua viabilidade com relação a alocação de recursos.
Também foram apresentados pelo Entrevistado 3 diversos dados que são tratados por
essa Agência e que podem servir de consulta aos interessados. Os dados disponibilizados
apontam em direção as potencialidades turísticas das diversas regiões do Estado de Santa
Catarina e, em específico, da região da Grande Florianópolis, onde se insere o município de
Governador Celso Ramos. Dessa forma, esses dados abertos propiciam o levantamento de
diversas informações que auxiliarão na compreensão das potencialidades turísticas da região,
como também realizar benchmarking de outras regiões do Estado. Elas possibilitam ao gestor
compreender os desempenhos turísticos verificados em outras localidades com perfil
semelhante e/ou aperfeiçoar seus próprios métodos. A compilação de dados fornecidas pela
Santur, através de seu site oficial é conjugada com a ferramenta analítica Power Bi.
Ademais, o Entrevistado 3 relatou que a Santur tem apoiado o Cicloturismo no Estado,
inclusive o Circuito do Vale Europeu, trazendo parcerias europeias ao Estado para compartilhar
expertise com os gestores do circuito. Afirmou ainda que muito tem a se fazer, entretanto, a
promessa é de um crescimento dessa atividade turística e que a Santur será uma parceira.
A seguir serão apresentadas as informações disponibilizadas pelo site da Santur, e que
foi compartilhada pelo Entrevistado 3.
52

4.3.1 Análise dos dados apresentados pela ferramenta Power Bi

Essa ferramenta tecnológica foi criada pela Microsoft, empresa que produz e
comercializa softwares para computadores. O nome Power Bi surge de um termo cuja origem
remonta os anos 80. Ele se refere a Business Intelligence (Bi). Segundo Pereira (2020), esse
termo advém:
Da organização que as empresas necessitam para conseguir informações necessárias
com maior velocidade. Esse processo, que ficou conhecido por BI, tem por objetivo
coletar, tratar e organizar todos os dados da empresa para que, dessa forma, os
resultados e as informações sejam entregues da maneira desejada. Tudo isso é
realizado em um único software.

O grande objetivo do Business Intelligence é ter uma fácil interpretação de grandes


volumes de dados. Por meio desse processo conseguimos entregar para a pessoa certa,
no momento certo, garantindo, assim, melhores resultados (PEREIRA, 2020).

O Power Bi tem se destacado no apoio as decisões, tanto em organizações privadas


como públicas. A Santur já é uma das organizações públicas que o utiliza, a partir de dados de
fontes diversas os compila, permitindo o cruzamento de diversas informações pertinentes ao
turismo relacionando-os aos municípios, regiões do Estado e Brasil. Assim, ao facilitar a análise
dos múltiplos dados sobre o turismo para seu público-alvo, órgãos públicos e privados, cumpre
importante papel de transparência e publicidade relacionados aos princípios da administração
pública.
Nesse sentido, o pesquisador realizou uma análise dos tópicos que se mostravam
pertinentes e que poderiam levantar informações necessárias para produzir conhecimento útil
na tomada de decisão acerca dos dados ali dispostos. O acesso ao Power Bi criado pela Santur
se dá por meio página na internet www.santur.sc.gov.br, na aba Almanach v. 20 – Dados sobre
o Turismo Catarinense. Ele se encontra dividido em três módulos: Mapa Geral – Mapa com
informações gerais ou regionalizadas; Painel das 13 regiões Turísticas – Dados detalhados das
regiões/municípios; Dados dos Segmentos do Turismo – Dados de fontes variadas (SANTUR,
2021).

4.3.1.1 Mapa Geral

O mapa geral representa as 13 regiões turísticas do Estado de Santa Catarina. Ele


aponta dados gerais do Estado de Santa Catarina para o turismo. Relacionou-se alguns mais
pertinentes ao estudo como: arrecadação de ICMS turístico até o período; estimativa de
empregos ativos; PIB per capita e população estimada (Figura 3).
53

Figura 3 – Mapa Geral das 13 Regiões Turísticas em Power Bi

Fonte: Santur (2022).

Ao clicar-se na janela – Arrecadação de ICMS turístico, situada no canto inferior


esquerdo, migra-se para uma nova tela (Figura 4), e obtêm-se dados sobre a arrecadação de
todos os municípios do Estado. Sendo essa uma importante fonte de renda, poderá vir as er
utilizada no financiamento de projetos culturais, turísticos e esportivos especialmente por parte
de contribuintes do Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e sobre
Prestação de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação – ICMS,
conforme a LEI Nº 13.336, de 08 de março de 2005 (SANTA CATARINA, 2005).
54

Figura 4 – Arrecadação do ICMS Turístico

Fonte: Santur (2022).

A exploração dessa aba permite comparar municípios como Pomerode, Governador


Celso Ramos e Florianópolis (Capital do Estado). O primeiro está situado na região denominada
Vale Europeu, onde atua o CIMVI e se realiza parte do Circuito Turístico do Vale Europeu.
Esse circuito já movimenta importante modalidade de cicloturismo nacional, atraindo turistas
a sua rede hoteleira, de bares e restaurantes (Imagem 2)

Imagem 2 – Cidade de Pomerode, integrante do circuito do Vale Europeu e um grupo de


cicloturistas

Fonte: Lobi Trilhas do Lobo (2021).


55

Procurou-se utilizar como padrão o ano de 2019, pois com a pandemia de COVID-19
a movimentação turística foi muita afetada, podendo trazer resultados abaixo do normalmente
verificado e prejudicando a análise.

Quadro 1 – Dados sobre população, ICMS Nominal, Salário Médio do trabalhador, PIB Per
Capita e Arrecadação de ICMS Turístico em 3 localidades de Santa Catarina (Pomerode,
Governador Celso Ramos e Florianópolis)
ICMS Salário Médio do PIB per capita Arrecadação
Município População
Nominal Trabalhador (2018) ICMS Turístico
Pomerode 35 mil/hab. 593 mil 1,91 mil 61,64 mil 1,09 mi
Gov. Celso
15 mil/hab. 478 mil 1,70 mil 22,08 mil 479 mil
Ramos
Florianópolis 517 mil/hab. 59 mi 1,78 mil 42,71 mil 213 mi
Fonte: Elaborado pelo autor com base em dados da Santur (2022).

Infere-se que a cidade de Pomerode apresentou um resultado de arrecadação de ICMS


turístico mais que o dobro do que o município de Gov. Celso Ramos, apesar de pouca diferença
entre o ICMS nominal e sua arrecadação. Entretanto, em nosso estudo interessa a força
econômica produzida pelo turismo em termos de arrecadação, muito se diferenciando os dois
municípios em questão. Pomerode, apesar de distante dos roteiros turísticos de praia, que
costumam atrair milhares de pessoas, consegue também uma expressiva arrecadação. Nessa
linha, a cidade de Florianópolis, distante há poucas dezenas de quilômetros de Governador
Celso Ramos e igualmente com praias, consegue expressiva arrecadação de ICMS turístico. A
exploração de atividades turísticas deve ampliar seu radar para um laço temporal além dos
meses considerados de verão e praia e, dessa forma, abranger outros momentos em que a baixa
temporada e arrecadação diminuem, buscando manter uma estabilidade ao longo do ano,
promovendo uma manutenção no nível econômico do município e, consequentemente, a
arrecadação tanto municipal como estadual.
Da mesma forma, ao ser realizado benchmarking com a ferramenta Power Bi,
selecionando o painel das 13 Regiões Turísticas, Vale Europeu, cidade de Pomerode (Figuras
5 e 6), onde se situa o Circuito Ciclo Turístico do Vale Europeu são demonstrados indicadores
que permitem a comparação entre municípios no que tange a atrativos mais procurados (canto
inferior direito).
56

Figura 5 – Pomerode (SC)

Fonte: Santur (2022).

Figura 6 – Atrativos mais procurados em Pomerode (SC) – Visualização do tipo World Cloud
2.0.0 Power Bi

Fonte: Santur (2022).

A interpretação do gráfico apresentado na Figura 6 se projeta no destaque aos elementos


turísticos, quanto mais ele é visitado, mais se destaca o seu nome. Clicando-se em cima,
automaticamente é apresentado o número de visitantes no período. Percebe-se também diversos
pontos turísticos, ampliando a aptidão turística e diferenciando os diversos tipos de turistas. Ao
57

atrair diversos tipos de turistas foge dos nichos que se equacionam a demandas específicas como
mar ou montanha, a pé ou de carro, entre outros. O que chama a atenção ao Portal Turístico,
recebendo destaque, pois é ponto de parada também dos cicloturistas (Imagem 2).
Em comparação com o município de Governador Celso Ramos, percebe-se uma menor
quantidade de pontos turísticos, a maioria relacionada a praias, dessa forma se relacionando a
turismo de temporada, ao invés do ano todo (Figura 7).

Figura 7 – Atrativos mais procurados em Gov. Celso Ramos (SC) – Visualização do tipo
World Cloud 2.0.0 Power Bi

Fonte: Santur (2022).

Na próxima análise veremos como se comportam os meses de arrecadação nos


municípios em questão.

4.3.1.2 Painel das 13 regiões Turísticas com foco na Grande Florianópolis e Vale Europeu

Na Figura 8 visualizamos os dados apresentados no site da Santur com foco nas 13


regiões turísticas do Estado, cujo nosso foco de análise serão as regiões da Grande Florianópolis
e Vale Europeu, com ênfase nas cidades de Governador Celso Ramos e Florianópolis,
respectivamente, e na segunda região a cidade de Pomerode. A análise é feita pela ferramenta
Power Bi.
58

Figura 8 – Painel de dados das Regiões Turísticas SC

Fonte: Santur (2022).

Ao escolher-se para início da análise a Grande Florianópolis, delimita-se a abrangência


aos municípios de Governador Celso Ramos (Figura 9). No dado a ser analisado verifica-se o
gráfico de linhas no canto superior esquerdo selecionando-o e ampliamos seu conteúdo,
podendo dessa forma verificar os meses em que a arrecadação de ICMS turístico se mostra em
queda ou elevação. A mesma seleção deverá ocorrer para os outros dois municípios de igual
forma, Florianópolis e Pomerode.

Figura 9 – Exemplo de seleção: Governador Celso Ramos (SC)

Fonte: Santur (2021).


59

Figura 10 – Gráfico arrecadação de ICMS Turístico Governador Celso Ramos

Fonte: Santur (2022).

Figura 11 – Gráfico arrecadação de ICMS Turístico Florianópolis

Fonte: Santur (2022).

Figura 12 – Gráfico arrecadação de ICMS Turístico Pomerode

Fonte: Santur (2022).


60

Nas Figuras 10, 11 e 12 percebe-se as linhas que acompanham mensalmente a


arrecadação de ICMS Turístico dos municípios em questão. Ressalta-se que, dentre os três
municípios, o de Governador Celso Ramos mostra acentuada queda de arrecadação nos meses
considerados de baixa temporada (abril a novembro), enquanto os outros dois mantem menor
oscilação, demonstrando possuir um movimento voltado ao incentivo a atrativos turísticos para
demais períodos do ano.
Por fim, outros parâmetros poderão ser analisados de igual forma, pois são de fácil
manipulação e entendimento por essa ferramenta dinâmica, permitindo conhecimentos de dados
e benchmarking de localidades que possam servir de apoio as tomadas de decisão.

4.3.1.3 Dados do Segmento do Turismo

Por fim, a ferramenta Power Bi apresenta o último painel. Esse painel multifacetado traz
várias informações compiladas pela Santur, utilizando-se do mesmo design das anteriores. Ao
escolher um tema, entre os vários apresentados ele apresenta diversas informações como Fluxo
Turístico; Economia Emprego e Educação; Covid -19; Gestão de Destinos; Sazonalidade;
Boletins e Pesquisas. Dessa forma, o gestor poderá obter dados significativos permitindo
novamente apoio na gestão e tomada de decisão (Figura 13)

Figura 13 – Painel Dados do Segmento do Turismo

Fonte: Santur (2022).

O gestor poderá analisar, entre outros dados, o quadro que aponta o Estudo de
Demanda Turística. Com ele, as estimativas apontam no crescimento dessa atividade, fazendo
61

ressalva ao período compreendido pelo advento da pandemia de COVID-19 durante o qual essa
atividade foi duramente atingida (Figura 14).

Figura 14 – Painel Estudo de Demanda Turística

Fonte: Santur (2022).

A partir das análises até aqui obtidas vimos que, de forma simplificada, os gestores
ligados ao desenvolvimento do turismo em suas regiões poderão obter informações importantes
que os auxiliem na tomada de decisão com o uso da ferramenta Power Bi. O turismo como
forma de impulsionar economias regionais se mostra em destaque, a diversificação das
modalidades e pontos turísticos se unem a favor dos municípios e a arrecadação de ICMS
turístico vem a corroborar esse incremento.
O segundo entrevistado externo, Entrevistado 4, nos traz importantes relatos a partir de
sua experiência com essa modalidade turística. Foram obtidas impressões da gestora do Circuito
do Vale Europeu, Entrevistado 4, Gestora de Cultura, Esporte e Turismo do Consórcio
Intermunicipal do Médio Vale do Itajaí (CIMVI), responsável pela administração do Circuito
de Cicloturismo do Vale Europeu Catarinense. Se buscou nessa entrevista, através de
questionário do tipo estruturado, informações que poderão se somar as diversas já apresentadas,
permitindo o conhecimento da implantação, desenvolvimento, monitoramento e avaliação do
projeto de Cicloturismo do Circuito do Vale Europeu, um dos pioneiros no Brasil e em Santa
Catarina.
Na análise de suas respostas, percebe-se o envolvimento em coprodução dos entes
públicos e privados, assim como de entidades do terceiro setor. A ideia de que a sociedade
62

participe na elaboração de projetos vai ao encontro da eficiência, eficácia e efetividade, pois


permite um amplo desenho de uma política pública inserindo os mais diversos segmentos que
os representam na sua consecução. Assim, a introdução do circuito se dá de forma mais
assertiva, haja vista buscar o entrosamento daqueles que dela participarão. Entende-se que
dificuldades sempre haverão de existir, ainda mais num projeto dessa magnitude, porém elas
poderão ser paulatinamente vencidas de acordo com o desenvolvimento e monitoração após a
sua implantação. As resistências são naturais, impostas por diversos fatores, mas o
esclarecimento, a divulgação e a persistência se mostraram fortes aliados na sua consecução.
Ademais, ao trazer o apoio da iniciativa privada, investindo no projeto, permitiu um interesse
maior para que o projeto evoluísse.
Na definição das rotas, a consulta aos comerciantes locais possibilitou a definição dos
percursos, haja vista o interesse econômico no retorno dos investimentos financeiros ao projeto.
Os impactos negativos dizem respeito a mobilidade urbana e rural do cicloturista, sinalizações
e informações, ou seja, a infraestrutura que permite um deslocamento seguro. No que tange aos
positivos, fica evidenciado o desenvolvimento de novos serviços na região, o aumento dos
serviços na rede de hotéis e restaurantes e o incentivo na profissionalização do turismo.
A gestão desse circuito, por se tratar em uma região ampla, abrangendo vários
municípios, fica a cargo do consórcio intermunicipal (CIMVI), que mantem divulgação e
manutenção das rotas. Por fim, o Entrevistado 4 nos apresenta que as perspectivas são de
crescimento da atividade cicloturística na região, pois com o sucesso alcançado, novos
municípios poderão se integrar ao circuito, trazendo referências a suas culturas e estimulando
o cicloturista a experimentar as novas rotas. Uma maior divulgação em redes sociais está no
escopo da expansão do projeto.
Ao analisarmos as informações obtidas com o Entrevistado 4, sob as lentes da matriz
SWOT, ela nos permitirá, segundo Casarotto (2019) “uma avaliação de cenários antes de tirar
um projeto do papel”. Nesse sentido, a experiência evidenciada pelo CIMVI desde a
implantação, o desenvolvimento e o aperfeiçoamento da atividade turística relacionada a
atividade cicloturística configurada no Cicloturismo do Circuito do Vale Europeu ficam
explícitos nas respostas obtidas. Assim, dentro das análises que essa matriz permite pode-se
identificar seus pontos relacionados ao ambiente interno, ditados por suas forças (Strenghts) e
suas fraquezas (Weaknesses), como também àqueles relacionados ao ambiente externo,
relacionados as oportunidades (Opportunities) e ameaças (Threats).
Como forças, elenca-se o próprio consórcio público entre os municípios (CIMVI), que
unindo os diversos municípios daquela região potencializa ações em conjunto ao permitir
63

dividir custos, ampliar as opções aos turistas entre os municípios participantes, a maior
capacidade operacional articulada, a gestão do Circuito, preparar os recursos humanos ao
atendimento das demandas, as estratégias de marketing e, dessa forma, não sobrecarregando
unicamente um pequeno município que notadamente sofre com falta de recursos ou dificuldade
de operacionalizar projetos de maior magnitude.
Segundo Prates, nos comentando sobre a importância dos Consórcios Públicos temos
(2015, p. 1):

Os Consórcios Públicos Intermunicipais como forma de prover localmente bens


públicos. A principal vantagem que o consorciamento pode oferecer aos entes
municipais reside na obtenção de escalas tanto no que tange a recursos financeiros
como de material, sem a qual cada município isoladamente não teria como atingir.

As fraquezas verificadas apontam na direção dos municípios e comunidade adotarem as


diretrizes operacionais levantadas pelo CIMVI, unificando o desenvolvimento das atividades,
para que o modelo se torne atraente e mais municípios venham a aderir ao projeto. Os custos
de manutenção das rotas, com sinalização danificadas ou depredadas e a manutenção da sua
infraestrutura, se mostraram uma preocupação.
No ambiente externo, vimos que as oportunidades apresentadas pelo Entrevistado 4
apontam na criação e no desenvolvimento de novos serviços na região, o aumento dos serviços
de sua rede hoteleira e restaurantes, como também incentivando a valorização profissional
advinda da profissionalização do turismo, que se apresentam como um reforço na economia
regional e incremento nos pisos salariais deles decorrentes.
Por fim, as ameaças se consubstanciam naquelas comuns ao desenvolvimento de
atividades cicloturísticas na mobilidade através do modal cicloviário. Muitos municípios ainda
não atendem a legislação que privilegia o deslocamento seguro. Ao se aproximar o modal
rodoviário com o cicloviário, fatores como a falta de segurança nos deslocamentos se impõe
como desafios a serem vencidos, e que, somente entre o público e a sociedade civil organizada
possam mutuamente agir para mitigar seus efeitos e conscientizar a população da sua
coexistência pacífica.
A Fundação do Meio Ambiente, como parte integrante da administração direta
municipal, tem se alinhado à questão ambiental. Nos vários contatos com o presidente da
FAMGOV, foram realizadas diversas visitas. Desses encontros foi possível realizar uma
entrevista semiestruturadas com o Entrevistado 1. As perguntas aplicadas foram se a
municipalidade já havia observado a movimentação de ciclistas no município a lazer ou
turismo? Se há o interesse em desenvolver um projeto sobre Cicloturismo? Se já havia algum
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projeto em curso? Se positivo, por que não havia sido desenvolvido? Se a preocupação com a
degradação ambiental era fator de resistência? Se o comércio e a população local tinham
interesse? Obtivemos como resposta que existe o interesse; que não há um projeto em curso
especificamente, mas já foi aventada essa possibilidade em troca de conversas com a secretaria
de turismo; que a agenda de preservação ambiental é parte integrante das ações da pasta, estando
dessa forma preocupada com o desenvolvimento do turismo de natureza, alicerçado na
educação e preservação do meio ambiente pelos seus usuários. Há interesse de que o
cicloturismo também seja tutelado pela pasta, pois sua implantação poderá provocar degradação
ambiental se não for bem conduzido.
Essa informação se confirma pela pesquisa realizada nesse projeto, cuja atual
governança municipal, lançou no mês de maio/2021 campanha com o tema “Direito de ter,
dever de cuidar”, envolvendo diversos entes municipais. Ela preconiza ações cuja importância
é a preservação da natureza. Segundo seu atual prefeito Marcos Henrique da Silva - PSD (2021):

Somos abençoados por ter um grande patrimônio ambiental, por isso temos o
compromisso de preservá-lo. Que esta semana seja dedicada à conscientização, e que
essa preocupação se prolongue para todo o ano, para que possamos cuidar do meio
ambiente para as gerações futuras (MUNICÍPIO DE GOVERNADOR CELSO
RAMOS, 2021).

Nesse sentido, outra agente pública presente ao evento, a bióloga e diretora da Escola
Municipal do Meio Ambiente (EMMA), Luciara Azevedo, enfatizou que o tema foi escolhido
para “fazer as pessoas repensarem suas atitudes e criarem novos hábitos em relação ao
patrimônio ambiental”. Prosseguindo, afirmou também “ter um ambiente saudável é direito de
cada cidadão e, para garantir isso, todos (poder público e sociedade) têm o dever de cuidar do
planeta, cuidar da herança que será deixada para as gerações futuras” (MUNICÍPIO DE
GOVERNADOR CELSO RAMOS, 2021)
A ferramenta de gestão Power Bi, disponível no site da SANTUR, foi apresentada ao
presidente da FAMGOV, já que ela apresenta diversas informações sobre atividades turísticas,
arrecadação de ICMS, pontos mais visitados, segurança, entre outros e que, somados servem
de informação atualizada ao gestor, ajudando-o a inferir diversos dados relacionados sobre o
turismo na região e em outras, para análise comparativa.
Na Secretaria de Turismo foi feito contato com seu atual secretário, e dela foi realizada
uma entrevista do tipo semiestruturada, visando poder apresentar a proposta da consultoria e
absorver informações gerais e levantamentos de dados que envolvam o tema do cicloturismo.
65

Da entrevista cujas perguntas iniciais estavam embasadas em temas como se a


municipalidade já havia observado a movimentação de ciclistas no município a lazer ou
turismo? Se há o interesse em desenvolver um projeto sobre Cicloturismo? Se já havia algum
projeto em curso? Se positivo, por que não havia sido desenvolvido? Se a preocupação com a
degradação ambiental era fator de resistência? Se o comércio e a população local tinham
interesse? Dessas perguntas, foi possível levantar as impressões pessoais do Entrevistado 2
sobre a questão da atividade turística, afirmando ele que essa atividade ainda está mais
vinculada a temporada de verão e a chegada de turistas que procuram as praias, entretanto,
aponta ser uma das apostas de sua pasta o turismo de natureza, com o foco no uso de trilhas e
do turismo de bicicletas com o uso das vias urbanas e rurais. Afirmou que já existem trilhas
rurais mapeadas, porém os recursos são escassos, impedindo um avanço rápido dessa agenda.
Informou que os cicloturistas, quando no município, dirigem-se espontaneamente ao mirante
do portal turístico (Imagem 3), como referência para informações turísticas de forma natural,
porém, não há nenhum material a ser ofertado e que envolva especificamente o cicloturismo.
Informou também que a pasta busca, junto ao empresariado local, participação solidária em
diversos projetos turísticos e que procurará dar ênfase a esse projeto, ficando animado com a
consultoria. Desse modo, afirma ser a consultoria um importante propulsor para essa política,
pois trará mais luz e discussão a sua implementação.
Também foi apresentado ao secretário, pelo entrevistador, a ferramenta de gestão Power
Bi disponível no site da SANTUR que, como mencionado anteriormente sobre seus benefícios,
atualiza o gestor com informações pertinentes que dialogam com o turismo, entre elas a
arrecadação de ICMS, PIB do município, população, meses de maior atendimento a demanda
turística, entre outros, auxiliando a montar estratégias locais para o atendimento ao turismo. Foi
comentado com o Entrevistado 2 as informações oportunizadas pelo Entrevistado 3 (Santur)
que apontam na obtenção de financiamentos para projetos que envolvam turismo, desde que o
município apresente projeto executivo para análise e avaliação.
66

Imagem 3 – Mirante de Calheiros/Secretaria de Turismo, Industria e Comércio

Fonte: Google Maps (2021).

4.3.2 Trilhas Mapeadas

As trilhas apresentadas pelo Entrevistado 2 são em número de duas, e já se encontram


mapeadas pela secretaria de Turismo, conforme demonstrado nas seções a seguir. Sua
adequação ainda carece de recursos.

4.3.2.1 Trilhas da Praia dos Ilhéus

Essa trilha está localizada entre a praia de Ilhéus (Imagem 4) e o camping das Gaivotas,
localizado na praia de Palmas (Imagem 6), com nível de dificuldade fácil. Seu percurso é em
torno de 1,67 km, com elevação máxima de 50 metros. Está dividida em caminho longo,
apontado em amarelo, e caminho curto, apontado em vermelho (Imagem 5) (GOVERNADOR
CELSO RAMOS, 2021).
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Imagem 4 – Praia do Ilhéus

Fonte: Próprio autor (2021).

Imagem 5 – Trilha da Praia do Ilhéus

Fonte: Google Maps, adaptado pelo autor (2021).


68

Imagem 6 – Caminho entre a praia do Ilhéus e Palmas

Fonte: Próprio autor (2021).

4.3.2.2 Trilha da Picada Comprida

Essa trilha está localizada entre a praia de Palmas até o bairro do Jordão. Seu percurso
é em torno de 8,67 km, com elevação máxima de 418 metros, e dificuldade do tipo moderada
(Imagem 7) (GOVERNADOR CELSO RAMOS, 2021).

Imagem 7 – Imagem apontando a Trilha da Picada Comprida

Fonte: Google Maps, adaptado pelo autor (2021).


69

Imagem 8 – Entrada para a Trilha da Picada Comprida em Palmas

Fonte: Google Maps (2021).

Dessa forma, fica evidenciado que já existe um projeto capitaneado pela Secretaria de
Turismo no sentido de abraçar o ecoturismo como uma modalidade de atividade turística no
município e, cuja modalidade cicloturística é parte integrante desse movimento, indo ao
encontro das preferências desse novo tipo de turista. As adaptações ao cicloturista se fazem
necessárias, mas já se colocam como um ponto de partida trazer para esse projeto o comércio e
a comunidade local, que poderão ser catalisadores para que, ao unirem forças, permita ao ente
público recursos necessários para sua implementação.
Com relação as vias de acesso o pesquisador observou, durante os meses de pesquisa, a
movimentação no município de diversos tipos de cicloturistas em deslocamento nas vias
municipais. Foi também observada a inexistência de sinalizações cicloturísticas vinculadas em
mapas disponíveis na Internet como o Google Maps, tampouco a presença de demarcações nas
vias assegurando o trânsito seguro nos deslocamentos. Ademais, ao cicloturista que deseje ir ao
município, inexiste qualquer informação acerca de rotas urbanas ou rurais para a prática do
cicloturismo que poderiam estar disponíveis em aplicativos de internet (Mapa 2).
Existem também poucas placas indicativas de trânsito de ciclistas. O calçamento urbano
se mostra inadequado e irregular. Nas imagens a seguir, observa-se o trânsito de cicloturistas
em vias do município, as placas de sinalização e as vias de deslocamento (Imagens 9, 10, 11,
12 e 13).
70

Imagem 9 – Gov. Celso Ramos e vias de acesso com relevo - Inexistência de marcação de
ciclovias (urbanas ou rurais), 2021

Fonte: Google Maps (2021).

Imagem 10 – Cicloturistas em fim de semana no Município de Governador Celso Ramos –


Avenida Nézio João Miranda (sentido sul)

Fonte: Próprio autor (2021).


71

Imagem 11 – Cicloturistas na avenida Papenborg (SC- 410)

Fonte: Próprio autor (2021).

Imagem 12 – Avenida Nézio João Miranda - Calçamento irregular (sentido Norte)

Fonte: Google Maps (2021).


72

Imagem 13 – Avenida Nézio João Miranda (sentido Norte) com placa indicativa Sinalização
Vertical de Advertência – Trânsito de Ciclistas

Fonte: Próprio autor (2021).

Foi observado paradouros, que de forma independente estão atendendo aos cicloturistas.
Nesse sentido, evidencia-se que a sua presença já tem atraído um olhar dos comerciantes à
potencialidade desse tipo de turista. Esse estabelecimento localiza-se na entrada do município
sul SC-410, Avenida Papenborg, 1604 (Imagem 14).

Imagem 14 – Paradouro Laticínios Holandês – SC-410

Fonte: Próprio autor (2021).


73

Alguns pontos turísticos também se destacam no município, como a praia do Sissial,


ainda pouco explorada e com acesso por trilha, a pé ou bicicleta. (Imagem 15).

Imagem 15 – Praia do Sissial

Fonte: Próprio autor (2021).

Imagem 16 – Praia Grande

Fonte: Próprio autor (2021).

No conjunto arquitetônico tem destaque a Armação da Piedade, primeiro núcleo


pesqueiro onde foi edificada a Igreja da Armação (Imagem 17), construída em 1745. Em estilo
colonial português, mantém as características das igrejas setecentistas, com frontão triangular.
Tombada pelo Estado, é tida como a primeira igreja edificada em Santa Catarina, no século
74

XVIII, ainda utilizando óleo de baleia na argamassa e localizada ao lado das ruínas da antiga
Armação da Piedade. Em 1839, a Armação da Piedade foi incorporada à Marinha. Atualmente,
é núcleo de pescadores que conservam principalmente aspectos tradicionais da pesca artesanal
(GOVERNADOR CELSO RAMOS, 2021).

Imagem 17 – Igreja da Praia da Armação da Piedade

Fonte: Governador Celso Ramos (2021).

Imagem 18 – Praia da Armação da Piedade

Fonte: Próprio autor (2021).

Uma localidade, com características comuns ao município é a Praia de Ganchos, reduto


pesqueiro, com diversos barcos de pesca tradicional e industrial (Imagem 19).
75

Imagem 19 – Praia de Ganchos

Fonte: portalgovernador.blogspot.com (2022).

Há outros pontos do litoral acessíveis a rotas de cicloturismo e que podem servir de


marcos aos cicloturistas, conforme mostram as Imagens 20, 21 e 22.

Imagem 20 – Praia da baia dos Golfinhos

Fonte: Próprio autor (2021).


76

Imagem 21 – Praia de Palmas

Fonte: Próprio autor (2021).

Imagem 22 – Praia do Antenor

Fonte: Célio Medeiros (2020).

A culinária é também outro ponto de destaque no município, com diversos restaurantes


oferecendo pratos típicos de frutos do mar, sendo um grande atrativo e que poderá potencializar
ainda mais a vinda do cicloturista (Imagem 23).
77

Imagem 23 – Pratos típicos oferecidos pelos restaurantes do município

Fonte: Próprio autor a partir de fotomontagem (2021).

Portanto, analisado sob vários ângulos edificamos uma perspectiva para a implantação
do cicloturismo no município e a criação de rotas turísticas ao gosto de cicloturistas
aventureiros, aqueles ligados a estradas não asfaltadas, como também de cicloturistas urbanos
em trechos mistos de asfalto, paralelepípedo e terra.
Os Mapas 1 e 2 demonstram como podem ser estruturadas as ciclovias no município,
entre ciclovias, ciclofaixas, ciclorrotas ou passeio compartilhado, cada uma delas ajustada ao
elemento geográfico onde se encontram inseridas. Como exemplo, podemos citar a
possibilidade de um passeio compartilhado na localidade de Armação da Piedade, com suas
ruas estreitas e casario tradicional, como também uma ciclovia ao longo da SC-410 a partir da
entrada do município, onde ainda existe espaço para o alargamento da rodovia, até seu interior
e comunidade pesqueira, como Ganchos (Imagem 19), onde sua largura novamente é
comprometida pelas construções mais antigas e que avançam sobre a pista, onde seria mais
viável uma Ciclorrota ou passeio compartilhado circundando o local.
Outro circuito provável de ser explorado pode ter início na entrada sul do município,
início da SC-410, tento como ponto de partida o estabelecimento laticínios do Holandês
(Imagem 14). Desse ponto, o cicloturista pode se dirigir em direção ao mar para atingimento
das praias (Imagem 11). Na bifurcação das vias, na localidade de Areias de baixo, existe a opção
do roteiro longo, indo em direção a estrada da Costeira da Armação, ou o mais curto através da
Avenida Nézio João Miranda (Imagem 13), distante do mar e transpondo a montanha. O
78

caminho mais longo circunda a faixa litorânea, atingindo diversas praias como a do Antenor
(Imagem 22), avançando para a praia da baia dos Golfinhos (Imagem 20) – aqui temos o
primeiro marco importante, a Área de Proteção Ambiental (APA) do Anhatomirim que é uma
unidade de conservação ambiental.
A APA do Anhatomirim, segundo o Instituto Socioambiental-ISA (2022) possui como
características:

Manguezais, a restinga, costões rochosos e encostas de Mata Atlântica. As


comunidades de Areias de Baixo, Caieira do Norte, Balneário Praia do Antenor,
Costeira da Armação, Fazenda da Armação, Gamboa e Armação da Piedade fazem
parte da APA. Seu objetivo é assegurar a proteção dos botos cinza da espécie Sotalia
fluviatilis, suas áreas de alimentação e reprodução, bem como remanescentes de Mata
Atlântica e fontes hídricas, importantíssimas para a sobrevivência das comunidades
de pescadores artesanais da região.

Notadamente, para o turismo de natureza, esse ponto turístico atrai diversas pessoas em
busca da observação do movimento marinho de golfinhos e baleias francas. Independente da
rota, eles se unirão na praia da Fazenda da Armação. Dali o ciclista converge a Praia Grande
(Imagem 16) indo até sua extremidade, localizada na pitoresca Armação da Piedade (imagens
17 e 18). Aqui há um segundo marco importante, pois nesse local surge o primeiro núcleo
baleeiro do Estado, o qual:

A vila de pescadores foi sede do maior e mais importante núcleo baleeiro catarinense,
a Armação da Piedade. O local - hoje disputado pelos turistas - era ponto de partida
de escravos e arpoadores que se arriscavam em precárias embarcações na incerta
missão de capturar as baleias Franca que atualmente procriam e amamentam seus
filhotes tranquilamente em águas catarinenses protegidas por leis ambientais
(GOVERNADOR CELSO RAMOS, 2022).

Ressalta-se um ponto turístico que chama a atenção nesse local, segundo Portal de
Turismo de Governador Celso Ramos (2022):

A Igreja Nossa Senhora da Piedade, construída em 1745. Em estilo colonial português,


mantém as características das igrejas setecentistas, com frontão triangular. Tombada
pelo Estado, é tida como a primeira igreja edificada em Santa Catarina, no século
XVIII, ainda utilizando óleo de baleia na argamassa.

Retorna pelo mesmo caminho e buscando um roteiro fora de estrada avança em direção
a Praia do Sissial (Imagem 15), com acesso único a pé ou de bicicleta. Dali e seguindo em
direção norte, sempre transpondo montanhas e que separam as diversas praias do município,
atinge outra praia denominada Praia de Palmas (Imagem 21).
Na Praia de Palmas apontamos o terceiro marco, nele se destacam os caminhos para as
Trilhas da Picada Comprida e Ilhéus, em fase de estruturação pela Secretaria de Turismo, e
79

ainda não liberadas ao público, como identificado pelo Entrevistado 4. No futuro, aqui poderão
se desdobrar as rotas aventureiras para o cicloturista desejoso do contato pleno com a natureza,
utilizando exclusivamente rotas não pavimentadas a exemplo da Figura 1 (Ciclorrotas Rurais).
Para esse Circuito, apesar das distâncias menores, o nível de dificuldade é mais acentuado
devendo estar explicitado ao seu usuário por meio de placas indicativas as dificuldades
encontradas a frente. O caminho, por não ter referências visuais, deverá ser sinalizado em toda
a sua extensão, orientando a direção a ser tomada.
A praia de Palmas é um dos pontos turísticos de verão mais procurado no município,
conforme visto pela ferramenta Power Bi (Figura 7), atrás apenas da Fortaleza de Santa Cruz
do Anhatomirim. Saindo da praia de Palmas e indo em direção norte, o ciclista poderá descobrir
a comunidade de Ganchos (Imagem 19). Entrecortada de costões, ruas, vielas e pontos de
encontro com o mar, essa localidade é reconhecida como uma comunidade de pescadores. Aqui
se encontra a sede administrativa do município e local de recebimento da pesca
artesanal/industrial para a indústria.
Seguindo em frente, distante poucos quilômetros, o cicloturista se depara com o quarto
marco – Mirante do Turista, sede atual da Secretaria do Turismo e onde o cicloturista poderá
levantar importantes informações acerca do turismo em Governador Celso Ramos. Nesse local
poderá se ter uma ampla visão da baia de Ganchos, despontando ao fundo diferentes tipos de
embarcações ali ancoradas.
Na continuidade do trajeto e já saindo da região litorânea, o cicloturista avançará em
direção a comunidade do Jordão, onde se encontra a rota final da Trilha da Picada Comprida,
para aqueles que se utilizarão da trilha rural para exploração, chegando ao final da SC-410 na
rodovia BR-101.
Ao todo esse circuito, que envolve os dois acessos do município, visualizados no Mapa
2, poderia vir a ser chamado de Circuito Mar e Montanha, sendo formado por um anel
rodoviário de 50 km circundando quase a totalidade do município.
80

Mapa 2 – Circuito Mar e Montanha de Governador Celso Ramos

Fonte: google Maps adaptado pelo autor (2022).

Ressalta-se que outros circuitos poderão vir a ser criados, pois além dos dois já
propostos pela Secretaria de Turismo e em fase implementação, outros poderão naturalmente
surgir a partir das audiências públicas e os interesses envolvidos.
Nas diversas praias e interior do município, uma infinidade de restaurantes dispõe, em
sua maioria, de culinária de frutos do mar, inegavelmente uma característica advinda da
personalidade pesqueira da comunidade.
Portanto, ainda há muito por fazer, entretanto, a soma de elementos, entre eles, vontade
política de implantação, o incremento a economia local com consequente aumento na
arrecadação de ICMS, os marcos, as rotas e vias que poderão ser utilizadas para a sua prática
(urbana e rurais), os demais atrativos como as praias, as montanhas, a arquitetura e a culinária
local, vem a se somar para perfilar um rol de atributos que justificam a sua implantação.
81

5 PROPOSTA DE INTERVENÇÃO / RECOMENDAÇÕES

Ao analisarmos o cicloturismo como uma nova modalidade de atividade turística,


evidencia-se seu potencial como elemento a vir impulsionar economias, cujo município de
Governador Celso Ramos já se sobressai como apresentado. Os vários elementos apresentados
e descritos ao longo desse trabalho se conjugam como pilares na implantação dessa modalidade.
Nesse sentido, apontamos aqui após os levantamentos realizados, as intervenções e
recomendações necessárias para que o projeto se estabeleça.
Dentre eles:
• Entende-se que o primeiro passo a ser dado em direção à implantação dessa
modalidade é a discussão pública, ou seja, o planejamento do que deverá ser feito. Ela se dará
a partir da adoção de uma política pública que envolva a comunidade desde a sua elaboração,
implementação e desenvolvimento, haja vista, como apontado pelo Entrevistado 4, a
desconfiança que prevalece na comunidade. Dessa forma, a Câmara Municipal poderá, na
figura de seus vereadores, trazer o pleito à discussão, realizando audiências públicas para que a
comunidade seja ouvida, colhendo subsídios e informações. Além disso, oferecer aos
interessados a oportunidade de se fazerem ouvir com suas solicitações, opiniões e sugestões
produzindo discussão e direcionamento à política pública a ser implementada. Ao trazer a
comunidade à discussão, foge-se de práticas nocivas da política como o clientelismo. Pois ao
dar visibilidade ao projeto, verifica-se posteriormente um desenvolvimento das atividades.
Sobre as audiências públicas, segundo autores é válido se dizer que:

Somente os órgãos públicos podem realizar audiências públicas, pois a eles cabe o
exercício da administração pública, aí incluindo a resolução dos problemas de
relevante interesse social que afetam a sociedade. Com a audiência pública,
possibilita-se a participação democrática dos atores sociais envolvidos na questão
(POLITIZE, 2016).

Ainda se ressalta que essa modalidade já vem sendo operacionalizada por outros
municípios como prática decisória, haja vista envolver gastos orçamentários e cuja comunidade,
a parte mais interessada, deve ser ouvida, fugindo-se de decisões de gabinete. Em Iturama,
município do Estado de Minas Gerais, foram realizadas audiências públicas para discutir a
implantação do Circuito Turístico em seu município (SOUZA, 2018). Assim como visto no
município de Iturama, Governador Celso Ramos poderá segmentar as audiências com empresas
do setor de alimentação, hotelaria e ciclistas e, por fim, com a comunidade geral. Para essa
intervenção, recomenda-se um tempo entre seis meses e um ano até a sua finalização. Os custos
82

para as audiências públicas recaem sobre a administração pública municipal, com a


disponibilização de espaço público para sua realização. Normalmente são cedidos auditórios,
salas ou salões, dependendo do público-alvo.
• O segundo passo se recomenda a elaboração de um projeto de lei com vistas a
legalização do acordado nas audiências públicas. Fazendo alusão a mesma temática cicloviária,
a Lei do Cicloturismo apresentada por Goura (2019) à Assembleia Legislativa do Estado do
Paraná, poderá servir de base, contendo diretrizes municipais no fomento a essa nova
modalidade turística, com seus artigos dispondo sobre a criação de uma Lei de Cicloturismo
para o município, enfatizando o incentivo ao uso da bicicleta, do turismo de natureza, da
sustentabilidade e da educação ambiental; a melhoria da saúde e do bem estar dos cidadãos, por
meio da promoção do lazer e da atividade física; a busca pela valorização da cultura, culinária
local e dos atrativos turísticos; da criação de um circuito cicloviário, urbano e rural promovendo
o turismo no município; do desenvolvimento dos arranjos produtivos locais favorecendo a
movimentação da economia; promoção da mobilidade cicloviária e acessibilidade. Para essa
intervenção, iniciada na apresentação em plenário da câmara municipal por vereador, estima-
se um tempo ao redor de 2 anos passando pela discussão do projeto, pareceres favoráveis com
aprovação pelas comissões, até a sua aprovação final.
• O terceiro passo se refere a elaboração de um projeto executivo, a cargo da
administração municipal, servindo de alavancagem à obtenção de recursos da Agência Estadual
de Fomento ao Turismo (Santur) para a promoção da implantação do projeto no município. Os
recursos de ordem financeira já foram apontados pelos gestores municipais como fatores
internos à administração municipal e que retardam a sua implementação. Nesse sentido, assim
que as audiências estiverem concluídas, o próprio executivo municipal poderá direcionar
recursos, aprovados em orçamento, para a realização de um projeto executivo que aponte todos
os elementos do município que serão incluídos nas atividades cicloturísticas. Ademais, o
projeto executivo deverá conter traçados de ciclovias que, em direção a SC-410, porta de
entrada/saída do município, proteja os cicloturistas que desejem chegar, sair ou por ele circular.
Objetiva-se assim, a adoção da legislação de trânsito do município em conformidade com à
CTB, promovendo o alinhamento cicloviário ao rodoviário com um novo desenho de vias e
rotas, alinhados a Política Nacional de Mobilidade Urbana, permitindo deslocamentos seguros
e mitigando os acidentes. Serão assinalados os percursos totais e deles se produzirá relatório
com os investimentos de infraestrutura e montante de recursos necessários à sua efetivação. A
obtenção de recursos para o desenvolvimento desse projeto se mostrará como importante fator
de alavancagem dessa atividade turística. Para essa modalidade, o prazo estimado é de 6 meses
83

para elaboração de um projeto executivo e mais 6 meses para a divulgação, discussão e


aprovação pelos solicitantes.
• O quarto passo é a apresentação dele à Santur, pela executiva municipal, para a
obtenção de recursos que se destinam a implantação e desenvolvimento do projeto de
cicloturismo para o município de Governador Celso Ramos. Recomenda-se que as lideranças
políticas locais se articulem para que os recursos sejam trazidos para o município, inaugurando
uma atividade turística ainda não exercida de forma capacitada como a que será efetivada. Sua
operação trará um destaque especial ao município. Estima-se um prazo de até um ano entre a
apresentação e a disponibilidade de recursos a serem liberados.
• O quinto passo é obter os recursos para a sua implantação. São licitadas as empresas
que realizarão as obras de infraestrutura de adaptação, readequação ou construção dos novos
traçados rodoviário/cicloviário. Nessa fase, a infraestrutura se modela à conveniência do projeto
adotado.
• Outras atividades a serem exercidas no decorrer da implantação e desenvolvimento
desse projeto se dá pelas pastas do Meio Ambiente e Turismo, e dizem respeito ao seu
protagonismo nesse segmento da administração municipal. Ao turismo cabe a promoção do
cicloturismo nas diversas mídias regionais e nacionais sobre o oferecimento dessa modalidade
turística no município; a criação de um circuito mais amplo semelhante ao Circuito do Vale
Europeu junto os demais municípios da região da Grande Florianópolis, como forma de
incentivar o cicloturismo nessa região, mediante o estabelecimento de parcerias; a promoção
de atividades cicloturísticas como festas, provas, eventos nos períodos de baixa da temporada
turística (outono e inverno), cujo decréscimo de arrecadação de ICMS se faz evidente e, dessa
forma, mantendo os rendimentos da população em épocas menos atrativas, trazendo outros tipos
de turistas; e a capacitação dos agentes turísticos para o recebimento desse tipo de turista. Ao
meio ambiente: a promoção da preservação da natureza, a educação ambiental, a
sustentabilidade alinhada as políticas ambientais municipais; a promoção da saúde física e os
benefícios que sua atividade traz para aqueles que as adotam; as rotas rurais como incentivo ao
turismo de natureza. Essas ações virão após a ocorrência das anteriores e servirão de apoio ao
seu desenvolvimento. Não possuem prazo, pois como visto, o desenvolvimento e
aperfeiçoamento das atividades são uma constante. A profissionalização do turismo faz dele
uma atividade mais responsável e com menos externalidades negativas.
• Por fim propomos a utilização da ferramenta 5W2H a fim de criar um mapa das
atividades aqui recomendadas. Os caracteres apresentados nessa ferramenta correspondem as
iniciais em inglês de sete diretrizes que são elas: 5 W: What (o que será feito?) – Why (por que
84

será feito?) – Where (onde será feito?) – When (quando será feito?) – Who (por quem será feito?)
2H: How (como será feito?) – How much (quanto vai custar?) A partir dessas sete perguntas os
gestores municipais poderão lançar mão de um mapa de atividades a fim de tornar a execução
desse projeto, além de mais clara, mais efetiva (ENDEAVOR, 2017, 2021).
Como proposta sugerimos respostas as nossas recomendações e que são apresentados
no quadro 2.

Quadro 2 – Tabela da Ferramenta 5W2H


PERGUNTAS RESPOSTAS
O que será feito? Adoção de uma política pública municipal para a implantação da atividade
turística: o Cicloturismo
Por que será feito? Para aumentar a receita de arrecadação do ICMS turístico, movimentar a
economia local nos períodos de baixa temporada e promover um turismo de
natureza sustentável
Onde será feito? No município de Governador Celso Ramos

Quando será feito? As audiências públicas serão realizadas num prazo de até um ano, a partir das
mobilizações e chamados públicos
Por quem será feito? Pelo executivo municipal, pelas lideranças políticas, comunidade e
comerciantes locais
Como será feito? Através de Audiências Públicas

Quanto vai custar? Para as audiências públicas cessão de espaço público e divulgação da chamada
pública através da secretaria de comunicação do município. O custo se
encontra dentro do orçamento municipal, sem ônus para os participantes
Fonte: Elaborado pelo autor (2022).
85

6 CONCLUSÕES

O projeto de consultoria realizado para a prefeitura municipal de Governador Celso


Ramos permitiu revelar um desejo latente, mas que, impedido de se materializar por razões
econômicas, temporais e estruturais, frustravam seus gestores em ampliar estratégias para suas
pastas.
Nesse sentido, oportunidade e conveniência se conciliaram para o desenvolvimento
desse projeto. Um pesquisador acadêmico e um cliente público com aspirações a solucionar um
problema. Assim surge o projeto denominado Cicloturismo: Uma proposta para o município de
Governador Celso Ramos.
A consultoria se propôs a debruçar-se sobre o tema, ouvir as partes interessadas,
entender o processo, levantar os dados sobre o assunto, ouvir quem já havia operacionalizado
processos semelhantes, com exemplos construtivos a serem compartilhados. Nesse sentido, os
resultados que se sobressaem apontam na viabilidade da obtenção de recursos junto a
financiamentos governamentais; a existência de outros municípios já praticando projeto
semelhante; a atividade cicloturística já se mostrando presente no município; os
estabelecimentos comerciais, de forma individualizada, já se lançando ao seu atendimento; o
movimento de arrecadação de ICMS promovendo a arrecadação municipal, principalmente a
ser desenvolvida nos meses de baixa temporada; a natureza e a geografia do município propícia
ao cicloturista desenvolver sua atividade turística; a geração de emprego e renda aos munícipes
como mantenedora da economia local. Nesse sentido, a consultoria aqui demonstra sua
importância, pois permite a seus clientes visualizarem, sob diferentes lentes, a materialização
de seu projeto, auxiliando a tomada de decisões.
Portanto, o levantamento de informações permite trazer um entendimento daquilo que
é possível para a implantação dessa política pública, pois como visto ao envolver toda a
comunidade e diversos setores, sua viabilidade se constrói no entrosamento desses entes
públicos e privados, sendo legitimadas suas ações nas audiências públicas. Ressalta-se a
importância dos Consórcios Públicos Intermunicipais, a exemplo do CIMVI, apresentado nesse
projeto de pesquisa. Eles se configuram como agentes catalisadores de gestão consorciada em
diversas atividades executivas municipais, normalmente despojadas de recursos financeiros,
infraestrutura e máquina administrativa no atendimento de necessidades comuns a pequenos
municípios.
Especificamente, pode-se perceber que o município possui diversas potencialidades
para vir a se tornar outro polo de desenvolvimento no Estado de Santa Catarina na modalidade
86

do cicloturismo. Salienta-se, que a própria demanda de cicloturistas já se faz presente sem


nenhuma atenção especial da gestão pública à modalidade, ou seja, a procura pelo município se
dá de forma natural. Acredita-se, que as belezas naturais são o ponto de destaque, com geografia
de mar e montanha bem ao gosto do turista aventureiro. Como visto, também existe um
progresso tímido no acolhimento desse tipo de turista, demonstrando que já existe a percepção
de sua chegada pelo comércio local, ensejando trazer à mesa de audiências esse grupo
importante para as discussões preliminares ao projeto. Por fim, a modalidade turística
característica do município, voltada a temporada de praia, poderá se adaptar a essa nova
modalidade bastando a capacitação dos grupos interessados no atendimento do público-alvo.
Sabe-se igualmente que as pastas do meio ambiente e turismo já identificaram esse novo
tipo de turista a circular no município, entretanto, lhes carece recursos a serem alocados para
essa modalidade, como também sinergia de esforços de um todo da executiva municipal na
consecução desse projeto. Entende-se que a força do turismo tradicional se impõe sobre as
demais, porém nos meses de baixa temporada é necessário movimentar a economia local,
atualmente muito ligada ao turismo de praia. Assim, o desenvolvimento dessa atividade poderá
permitir uma continuidade na atividade econômica municipal, além de divulgar ainda mais essa
região. Nesse sentido, os esforços das pastas têm procurado edificar o turismo de natureza, nas
trilhas já mapeadas, missão da pasta do turismo e na preservação e educação ambiental, missão
da pasta do meio ambiente. Essas trilhas e rotas podem ser utilizadas de forma aventureira ou
apenas no desfrute e lazer, cada qual ao gosto do tipo do ecoturista, e plenamente adaptável ao
cicloturista.
Por fim, ressalta-se que a produção aqui realizada se apoiou nas diversas lentes que cada
entrevistado tem sobre o tema, incluindo a do próprio pesquisador e, nesse sentido, a visão
qualitativa que dela se extrai não encerra o tema de forma definitiva, pois cada qual poderá
extrair deste estudo pontos convergentes ou divergentes para suas convicções. Entretanto, se
pode afirmar que o cicloturismo é uma modalidade que veio para ficar, impulsionada cada vez
mais por antigos e novos adeptos, que agora além da busca pela saúde, procuram conciliar a
“magrela” (apelido para bicicleta) por com a natureza, aventura e passeios.
Portanto, esse trabalho contribui para o avanço acadêmico sobre o tema cicloturismo ao
apresentar as melhorias dessa modalidade turística. Contribui no sentido prático, apontando que
muitas atividades de pequenos municípios podem ser realizadas de forma consorciada,
minimizando custos administrativos e econômicos. Contribui de forma social, apontando que
políticas públicas para se tornarem efetivas devem estar alicerçadas em audiências públicas.
Contribui de forma teórico-prática com todos os municípios que se encontrem em situação
87

semelhante ao município de Governador Celso Ramos, para que se espelhem no projeto aqui
apresentado, levando seus representantes públicos a refletir nas questões econômicas e sociais
a que elas se aplicam.
Recomenda-se, para pesquisas futuras, a abordagem de aspectos que venham a discutir
políticas públicas municipais voltadas a atividade cicloviária, seja ela de turismo, lazer ou
cotidiana, haja vista o incremento verificado nessa atividade e a pouca disponibilidade de malha
cicloviária para seu atendimento, trazendo insegurança e riscos a seus usuários.
88

7 RELATO DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS NOS ESTÁGIOS I E II

O trabalho de conclusão de curso, na modalidade consultoria, consiste em diagnosticar


problemas em determinadas áreas requeridas e buscar soluções no sentido de ajudar clientes a
atingirem seus objetivos. Dessa forma, o Estágio I nasce do contato realizado com o prefeito
municipal de Governador Celso Ramos, Marcos Henrique da Silva (PSD), em meados de maio
de 2021. Desse contato, foram levantados pontos de interesse do executivo municipal que,
segundo ele, careciam de suporte de consultoria. Diante disso, foi sugerido que se entrasse em
contato com o presidente da Fundação do Meio Ambiente de Governador Celso Ramos
(FAMGOV). Das conversas iniciais via telefone com o presidente, surgiu a possibilidade de
uma entrevista física que se tornou possível em meados de junho de 2021.
A orientadora desse trabalho de conclusão de curso, Profa. Dra. Karin, acordou com a
proposta e assim foram iniciados os próximos contatos para a evolução desse Estudo de Caso.
No contato com o Entrevistado 1, foi revelada a intenção de desenvolver um projeto de
cicloturismo no município, haja vista a percepção de muitos cicloturistas já serem vistos
circulando pelo município, levando preocupação a Fundação do Meio Ambiente pela possível
degradação ambiental de um ecoturismo descontrolado. Segundo o gestor, uma série de fatores
apontados por ele necessitavam abordagem aprofundada e qualificada, objetivando além do
levantamento de dados que justificasse a vinda de outros segmentos do município a aderirem
ao projeto, considerado de magnitude e carente de recursos, também um planejamento
detalhado que viabilizasse sua implantação. Essa foi a lógica que originou o estudo em questão.
O tema foi aceito pela orientadora que auxiliou na lapidação do projeto de pesquisa, sempre
orientando o acadêmico.
Partiu-se, dessa forma, à construção da metodologia que seria utilizada para descrever
a pesquisa e que propiciou a construção da introdução, a identificação da demanda, a descrição
da situação problema, objetivos do estágio, contribuição do trabalho e revisão de literatura. A
pesquisa documental, a bibliográfica, as entrevistas e a observação foram os meios utilizados
para o desenvolvimento desse projeto de pesquisa.
Nas fases seguintes foram feitas visitas ao município, em dias alternados, incluído finais
de semana, onde foi evidenciada a presença de diversos cicloturistas circulando pelas vias do
município. Essa observação já indicava uma presença natural desse tipo de turista, conforme
apontado pelo Entrevistado 1. Foram observadas escassas sinalizações compondo as vias de
trânsito seguro para as bicicletas dentro das normas que regem o Código de Trânsito Brasileiro
(CTB) e levantados na fundamentação teórica. Não foram detectados marcos turísticos que
89

apoiassem as atividades cicloturística, tampouco um turismo próprio para essa atividade. Foram
feitas fotos pelo autor, em diversos momentos, apoiando a observação dos levantamentos feitos,
e incorporadas ao projeto. Outras imagens também foram adicionadas, fruto de pesquisa digital,
e que vieram a se somar, projetando ainda mais robustez ao projeto.
É importante ressaltar que na fase I do Estágio foi pensada a proposição de um Projeto
de Lei como entrega ao município dentro do projeto de consultoria, entretanto, foi descartada
durante sua elaboração, em virtude de que sua dimensão não chegaria a termo como entrega
desta consultoria. Para isso, e com ajuda da orientadora Profa. Dra. Karin, os objetivos foram
revisados, tendo sua reorientação alinhada para objetivos práticos, com vistas a uma entrega
viável e consistente, a qual pudesse ser ao mesmo tempo palpável em termos de respostas aos
nossos clientes.
Nesse sentido, quando se inicia a segunda fase do Estágio, algumas etapas anteriormente
elaboradas foram refeitas e reorientadas. Nessa nova fase, visualizou-se a entrega de um projeto
que abarcasse uma dimensão mais qualitativa, vinculada a questões geográficas, culturais,
turísticas e econômicas do município. Assim, foi pensado nessa nova orientação do projeto
trazer também a pasta de Turismo Municipal para vir a compor o projeto, em parceria com a
Fundação do Meio Ambiente. Ao trazermos duas organizações governamentais para o projeto,
estaríamos proporcionando ao município uma dimensão mais abrangente e aplicada, que viesse
a consolidar as informações apresentadas na fundamentação teórica, tendo o apoio de seus pares
como uma estrutura basilar mais forte a se edificar o projeto.
No Estágio II, iniciado em setembro de 2021, numa nova visita ao município foi mantido
contato com o Entrevistado 1. Ele foi atualizado do desenvolvimento do projeto e instado a
apontar os marcos, as rotas e pontos turísticos que seriam apresentados pela administração
municipal e viriam a compor os dados pertinentes a análise do problema, conjuntamente com
outros levantados.
No mês de outubro de 2021 iniciaram-se os contatos com os gestores de duas
organizações governamentais de Santa Catarina, um da administração pública direta, a Agência
de Desenvolvimento do Turismo de Santa Catarina (Santur), denominado Entrevistado 3 e outro
ligado a administração pública indireta, o Consórcio Intermunicipal do Médio Vale do Itajaí
(CIMVI), denominado Entrevistado 4.
A entrevista do tipo semiestruturada, realizada com o Entrevistado 3, ocorreu no
endereço físico da Santur, no bairro Itacorubi, Florianópolis. Essa entrevista trouxe informações
relevantes sobre a dinâmica do turismo estadual, importante fonte de dados e recursos para
municípios que necessitam de fomento à sua atividade turística.
90

A segunda entrevista teve início em contato telefônico com o Entrevistado 4. A ele foi
enviado um questionário do tipo estruturado contendo dez perguntas. As informações advindas
desse contato permitiram respostas a questionamentos de interesse desse projeto. Sua análise
permitiu obter respostas as ações sentidas pelo CIMVI, e revelar os erros e acertos
experimentados por seus gestores quando do planejamento, implantação e desenvolvimento de
seu circuito de cicloturismo.
No mês de novembro de 2021 fizemos novas visitas ao município, entre elas tivemos
oportunidade de entrevistar o secretário de turismo, Entrevistado 2, cujo levantamento
possibilitou conhecer a simpatia desse gestor ao projeto, como também permitiu conhecer as
atividades já realizadas por essa pasta em relação ao turismo de natureza que estava a ser
planejado. Nesse escopo, foram apresentadas as trilhas mapeadas e que aguardam recursos para
sua finalização e entrega ao público, informações que foram imediatamente incorporadas ao
projeto pela sua relevância e importância. Nesse dia, fizemos nova visita a fundação e
mantivemos contato com seu presidente, informando dos avanços do projeto e dos
levantamentos realizados, ficando satisfeito da participação da pasta do turismo ao projeto.
Os meses de dezembro de 2021 e janeiro de 2022 foram utilizados para o
desenvolvimento escrito do projeto com a análise dos levantamentos feitos, as suas
proposituras, as recomendações e a finalização do trabalho de Estudo de Caso para subsequente
entrega a orientadora Profa. Dra. Karin e comissão de avaliação.
Chegando ao fim desse projeto, revelamos um caminho iniciado não no Estágio I, mas
sim bem antes, em 2018 quando adentramos a universidade. Desde aquele ano se foi
construindo uma trajetória acadêmica, repleta de conhecimento e proporcionada pelo excelente
corpo docente que integra a ESAG. A cada instante, durante a realização dos estágios I e II,
éramos remetidos a uma disciplina estudada em semestres anteriores. Aqui nesse ponto é
justificado relatar que senti falta dos conhecimentos aprendidos um pouco tardiamente na oitava
fase, pela disciplina de Metodologias de Avaliação do Serviço Público. O conteúdo dessa
disciplina, tão bem apresentada pelo prof. Guilherme, traz importantes noções de metodologia
científica e que, se tivesse sido ministrada no sexto semestre, ou mais tardar na sétima,
impulsionaria o projeto de TCC de forma mais assertiva, reduzindo as chances de erros tão
comuns nessa fase, provocados por acadêmicos ainda não tão muito familiarizados com a
pesquisa cientifica, suas normas técnicas, atrasando o desenvolvimento do trabalho, além de
sobrecarregar o orientador.
Por fim, ao encerrar esse ciclo acadêmico de quatro anos, iniciado de forma presencial
e atropelado por uma pandemia mundial e à distância, não se perdeu o foco, sempre
91

direcionando os estudos a temas que propunham uma sociedade mais justa e igualitária, e que,
seus administradores públicos, fossem os agentes a materializarem ações e serviços de
qualidade em prol do cidadão, das suas necessidades, acolhendo as demandas para a promoção
do bem-estar da sociedade.
92

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