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Espeleoturismo e microclima

Estudos Geológicos da gruta de Ubajara, CE


v. 15: 242-251

ESPELEOTURISMO E MICROCLIMA DA GRUTA DE


UBAJARA, CE
César Ulisses V. Veríssimo1
Jonhnath M. Ricardo2
Ana Carolina Barcelos2
José de Araújo Nogueira Neto1
Wellington F. da Silva Filho1
José Valdecides do Nascimento Júnior3
Aramis de O. Paiva3

1
DEGEO/UFC – Cxp: 6021 – Fortaleza, CE – CEP: 60445-760 – verissim@ufc.br
2
Curso de Mestrado em Geologia da Universidade Federal do Ceará
3
Curso de Graduação em Geologia da Universidade Federal do Ceará

RESUMO: O Parque Nacional de Ubajara – PNU, localizado na borda leste da serra de


Ibiapaba, próximo ao limite entre os Estados do Ceará e Piauí, possui um dos mais belos
exemplos de relevo cárstico do Brasil. Esta área de preservação permanente, criada em abril
de 1959, abriga o mais importante patrimônio espeleológico do Ceará. A Gruta de Ubajara,
com 1120 m de extensão, é a maior e mais ornamentada caverna da área e a principal atração
turística do parque. Aproximadamente vinte e oito mil turistas visitam a caverna por ano.
Esta elevada taxa de visitação coloca a Gruta de Ubajara entre as mais visitadas do Brasil.
O monitoramento dos parâmetros temperatura (T) e umidade (U) durante cerca de um ano,
possibilitou analisar os efeitos das flutuações climáticas externas na caverna, bem como,
estabelecer o limite físico desta influência em relação a sua entrada principal. Nos meses
chuvosos a Gruta de Ubajara registra um aumento significativo de umidade em certos
locais, promovendo uma modificação substancial no microclima. A formação de uma área
de alta umidade impede o avanço da frente de calor proveniente do leste, limitando a
imfluência das flutuações climáticas externas para o interior da gruta. Não foi observada
mudança significativa nos parâmetros ambientais (T e U) relacionada ao aumento do fluxo
de turistas na caverna, entretanto, a influência dos equipamentos de iluminação ficou
evidenciada na dilatação do gradiente termal das galerias e salões de dimensões reduzidas.

Palavras chave: gruta de Ubajara, parâmetros ambientais, flutuação climática, capacidade


de carga, turismo.

ABSTRACT: The National Park of Ubajara, located in the east border of the Ibiapaba
mountain and close to the boundary between Ceará and Piauí States, possesses one of the
most beautiful examples of Brazilian karst landforms. This area of permanent preservation,
made in April of 1959, shelters the most important speleological patrimony of the Ceará
State. The Ubajara cave, having 1120 m of extension, is the largest and more ornamented
cave of the area and the main tourist attraction of the park. Approximately twenty-eight

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thousand tourists visit the cave by year. This elevated visitation rate puts the Ubajara cave
among of the one more visited tourist caves of the Country. The continuous study of the
temperature (T) and humidity (U) parameters, during about one year, allowed to analyze the
effects of the external climatic flotation in the cave, as well as, to establish the physical limit
of its influence in relation to main cave entrance. In the rainy months the cave of Ubajara
registers a significant increase of humidity in certain places, promoting a substantial modi-
fication of the microclimate. The formation of an area of high humidity impedes the pro-
gress of a heat front coming from the east, and limits the influence of the external climatic
flotation for the interior of the cave. No significant changes were observed in the analyzed
environmental parameters (T and U) related with the tourists’ flow increment in the cave,
however, the influence of the spotlights was evidenced in the dilation of the thermal gradi-
ent of the galleries and small cave’s rooms.

Keywords:Ubajara cave, environmental parameters, climatic flotation, carryng capacity,


tourism.

INTRODUÇÃO as. Em pesquisa realizada por Marra (2001) a


O Estado do Ceará, caracterizado pela Gruta de Ubajara é apontada como uma das
sua imensa diversidade paisagística (litoral, cavernas turísticas mais visitadas do Brasil,
sertão, serras e chapadas) participa a cada ficando atrás unicamente da Gruta de Ma-
dia mais intensamente do fenômeno do cres- quiné em Minas Gerais. No Primeiro Plano de
cimento da atividade turística mundial. En- Manejo do Parque publicado em 1981 foi
tre as diversas alternativas que contrastam sugerido um número limite de quinze turistas
com o turismo de massa praticado no litoral por guia, entretanto, em função da ausência
cearense, o espeleoturismo ou turismo em de estudos específicos voltados a determi-
cavernas representa uma modalidade dife- nação da capacidade de carga da gruta, nos
renciada de turismo que pode ser classifica- dias de pico de visitação este número ultra-
da ao mesmo tempo como turismo ecológi- passa este limite.
co, científico e de aventura. Este estudo realizado por professores
Poucos têm conhecimento de que um e alunos do Departamento de Geologia da
dos mais belos exemplares de relevo cárstico UFC com apoio do IBAMA-PNU apresenta
do Brasil encontra-se na borda leste da Serra os resultados do estudo geoambiental de
de Ibiapaba, dentro do Parque Nacional de monitoramento diário dos valores de tem-
Ubajara - PNU, a cerca de 350 km da capital peratura e umidade da Gruta de Ubajara, re-
do Estado. Esta área de preservação perma- alizado entre os meses de outubro/2002 e
nente, criada em abril de 1959 em função de junho/2003; que teve por objetivo principal
seu valor paisagístico, abriga o mais impor- a análise preliminar da capacidade de su-
tante patrimônio espeleológico do Ceará. A porte da Gruta voltada a atividade turística.
Gruta de Ubajara, a maior delas, representa o
principal atrativo turístico do parque, che- SÍNTESE SOBRE A GEOLOGIA E
gando a receber em média vinte e oito mil GEOMORFOLOGIA DA ÁREA E
turistas por ano. Durante os feriados prolon- GÊNESE DAS CAVERNAS
gados de Carnaval e Semana Santa, visitam a A Serra de Ibiapaba pode ser descrita
caverna, em um único dia, mais de 400 pesso- como um exemplo de relevo monoclinal em

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forma de cuesta, com o flanco leste íngreme filtração da água ao longo dos principais sis-
denominado de front, e o flanco oeste com temas de fraturas e do acamamento sedimen-
declives bem suaves em direção ao Piauí tar, juntamente com a movimentação do len-
constituindo o reverso da cuesta (Foto 1 – çol freático promoveram a lenta dissolução
Prancha I). A evolução geomorfológica da das rochas calcárias gerando a abertura de
área remonta provavelmente ao final do Pa- pequenos condutos, galerias e salões (fase
leozóico com o encerramentos das trans- freática). O desenvolvimento e ampliação das
gressões e regressões marinhas periódicas, cavernas prosseguiu com o rebaixamento do
e início do soerguimento de toda região freático. A exposição dos salões e galerias
noroeste do Ceará durante o Cenozóico, acima do nível d’água acumulada em seu in-
gerando o basculamento da bacia e a incli- terior ocasionou a queda de blocos e o desa-
nação suave dos estratos sedimentares para bamento dos tetos (fase vadosa).
oeste. O arqueamento regional foi acompa- Especialmente próximo à entrada prin-
nhado por processos de entalhe e erosão cipal da Gruta de Ubajara os espaços vazios
localmente condicionados por falhamentos, deixados pela dissolução e erosão fluvial,
que propiciaram o recuo das vertentes e a bem como as condições de instabilidade do
expansão da depressão periférica, configu- teto, provavelmente durante a transição da
rando por fim um relevo de cuesta. fase freática para vadosa, levaram a forma-
As rochas que afloram na cornija e front ção de salões de grandes dimensões, como
da cuesta de Ibiapaba pertencem a unidade os do Retrato e do Mocosal.
geológica conhecida como Grupo Serra Gran- Atualmente a Gruta de Ubajara encon-
de e consistem, principalmente, de arenitos tra-se estabilizada, predominando a forma-
arcoseanos grossos a conglomeráticos, com ção de depósitos de cavernas. Estes depó-
algumas camadas conglomeráticas interca- sitos, também conhecidos por espeleotemas,
ladas, com aspecto maciço ou com estratifi- formaram-se principalmente pela reprecipi-
cações cruzadas (Formação Ipú), os quais tação do carbonato de cálcio na forma do
gradam em direção ao topo da escarpa para mineral calcita (CaCO3).
arenitos finos com níveis pelíticos intercala-
dos (Formação Tianguá). A erosão e o recuo DESCRIÇÃO MORFOLÓGICA
da serra da Ibiapaba iniciados, provavelmen- A Gruta de Ubajara, com 1120 m de
te, a 65 milhões de anos acabaram por expor extensão é a maior e mais ornamentada das
os metacalcários pré-cambrianos da Forma- cavernas da região, possuindo grandes e
ção Frecheirinha (Grupo Ubajara) a ação da belos salões interligados por galerias e con-
chuva e do sol, formando no local um relevo dutos que abrigam um importante patrimô-
cárstico. No interior de uma das morrarias nio espeleológico. Entre os principais e mais
que compõem este relevo localiza-se a Gruta bonitos espeleotemas encontrados estão
de Ubajara, principal atrativo turístico do estalactites, estalagmites, colunas, cortinas,
Parque Nacional de Ubajara. e travertinos. Os escorrimentos de carbo-
A água da chuva ao cair reagiu com o nato de cálcio (CaCO3) através dos tetos e
gás carbônico contido na atmosfera e no solo paredes da caverna levaram centenas a mi-
gerando um ácido fraco, mas capaz de dis- lhares de anos para criaram formas que lem-
solver com facilidade o calcário. Este proces- bram flores, animais pré-históricos e casca-
so de dissolução química foi o responsável tas de pedra, que hoje são apreciados por
pela formação das grutas e de uma série de turistas provenientes das mais diversas re-
outras feições superficiais que hoje consti- giões do Brasil e do Mundo (Fotos 3 e 4 –
tuem os principais atrativos do parque. A in- Prancha I).

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Na Gruta de Ubajara é possível dife- O setor sudoeste, diferentemente do


renciar dois setores, os quais retratam está- setor anterior, apresenta uma forma tubular,
gios distintos de evolução da caverna: o raramente ultrapassando 3 metros de altura,
setor nordeste, limitado à leste pelo pare- com seções transversais elípticas a arredon-
dão externo onde situam-se a entrada prin- dadas típicas de galerias desenvolvidas em
cipal e a sala do Sino e, à oeste, pela sala do condições freáticas (Foto 5 – Prancha I).
Mocosal; e o setor sudoeste, representado Os salões dos Retratos e do Mocosal
pela galeria do riacho Mucuripe (Figura 2). correspondem aos dois melhores registros da
O setor nordeste inclui todos os segunda fase de evolução da Gruta de Ubaja-
atuais corredores e áreas liberadas a visi- ra (fase vadosa), quando o antigo rio subter-
tação turística. Neste encontram-se as râneo abandonou as porções superiores em
principais belezas cênicas e os maiores direção às zonas mais baixas da caverna, oca-
salões e galerias da caverna. Estas áreas sionando o abatimento de blocos e conse-
de fácil acesso possuem alturas que vari- qüente abertura e ampliação dos espaços in-
am entre 10 e 20 m e pouco guardam dos ternos. Ainda é possível observar nestes sa-
registros da fase inicial de formação da lões os planos de abatimento e o formato em
caverna (fase freática). abóbada dos blocos e tetos preservados.

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ZONEAMENTO DAGRUTADE UBAJARA guintes atividades: (1) registro do número de


Dos 1120 metros de desenvolvimento pessoas, horário de entrada e o tempo de per-
da Gruta de Ubajara, apenas 420m possuem manência no interior da caverna; (2) observa-
pontos de iluminação artificial e estrutura ção de aspectos relacionados ao comporta-
turística (zona de uso intensivo), os 700 m mento da fauna cavernícola; (3) observação
restantes não são iluminados e o acesso só é de aspectos relacionados a infiltração e per-
permitido mediante autorização do IBAMA. colação de água no interior das cavernas du-
O zoneamento atualmente existente na rante os períodos seco e chuvoso; e, (4) de-
gruta foi estabelecido no Plano de Manejo terminação a zona de influência da iluminação
de 1981 realizado pelo IBDF e a Fundação artificial no fluxo energético dos salões e gale-
Brasileira para Conservação da Natureza rias situados na zona de uso intensivo.
(IBDF-FBCN, 1981) visando organizar o uso As maiores oscilações de temperatura e
turístico e a preservação do ambiente ca- umidade verificadas na Gruta de Ubajara es-
vernícola, decorrentes de sua exploração tão associadas às estações 1 e 3, localizadas
turística. O Manejo da caverna consistiu na próximo às principais entradas e comunica-
individualização de três zonas (Figura 1) com ções da caverna com o meio externo. Os valo-
características de funcionamento e uso dis- res médios de temperatura oscilam entre 270C
tintas, descritas a seguir: 1) a Zona de Uso pela manhã e 27,80C pela tarde, diminuindo
Intensivo a qual inclui os corredores princi- gradativamente para o interior da caverna (Fi-
pais de circulação de visitantes e os salões gura 2). A umidade relativa do ar mostra um
e galerias de fácil acesso, onde estão as prin- comportamento inverso ao da temperatura,
cipais ornamentações e atrativos turísticos aumentando progressivamente do exterior (50-
da caverna; 2) a Zona de Uso Extensivo 60%) para o interior (93-95%) (Figura 3).
compreendendo as áreas intermediárias en- Os efeitos das flutuações climáticas ex-
tre as de Uso Intensivo e a Intangível; e, 3) ternas são mais pronunciados no período seco,
a Zona Intangível ou zona de proteção to- quando as temperaturas na Serra de Ibiapaba
tal, onde se encontram preservadas as ca- são mais elevadas e os valores de umidade
racterísticas físicas originais da caverna. relativa do ar mais baixos. Durante o período
chuvoso a magnitude das flutuações é menor.
PARÂMETROS TEMPERATURA (T) E Isto é claramente percebido quando se avalia
UMIDADE (UR) o setor dos gráficos entre as estações 1 e 5 no
Com o objetivo de determinar a capa- caso da temperatura, e entre 1 e 8 no caso da
cidade de suporte da Gruta de Ubajara fo- umidade (Figuras 2 e 3).
ram instalados, em áreas pré-selecionadas A análise preliminar destes dados in-
dentro da caverna, abrangendo o atual cir- dica que os efeitos das flutuações externas
cuito de visitação, quatorze termo-higrôme- de temperatura propagam-se para o interior
tros das marcas Alla Franci e Incoterm, cuja da caverna, tendo como limite de influência
localização pode ser visualizada na Figura a estação 6 (Sala da Rosa). As flutuações
1. Os termo-higrômetros possuem calibra- externas de umidade possuem uma zona de
ção digital, escalas em graus variando en- abrangência maior, influenciando as condi-
tre: -50 +70 0C e -58 +158 0F, taxas de umida- ções locais de umidade da Sala dos Retra-
de entre: 20-99%, memórias de máxima e mí- tos, onde se encontra a estação 8.
nima, precisão de +/- 0.50C e 1%; e resolu- Os maiores valores de umidade foram
ção do display: 0.10. registrados, respectivamente, nas estações
Além do monitoramento diário de tem- 12 e 13 localizadas nos salões mais próxi-
peratura e umidade, foram executadas as se- mos à galeria do riacho Mucuripe.

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No período seco (julho a dezembro) a A principal zona de infiltração situa-


água presente no setor nordeste ocorre em se no corredor de retorno do Presépio em
quantidade muito pequena infiltrando-se ao direção à entrada principal da caverna, ao
longo de fraturas e descontinuidades exis- lado da bifurcação que dá acesso a Rede
tentes no teto. Entretanto, no período chu- Minotauro Superior (Figura 1).
voso (janeiro a junho) ocorre um aumento A estação 14 localizada na galeria de
significativo de água proveniente da super- acesso a referida rede, registrou nos meses
fície elevando o número de zonas de goteja- chuvosos, um aumento significativo de
mento no interior da caverna. umidade (cerca de 10%) em relação ao perí-

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odo seco. Este aumento promove uma mo- No setor sudeste, durante o período seco
dificação substancial do microclima da ca- a maior parte da galeria principal do rio perma-
verna que pode ser visualizada nos mapas nece seca. As águas do riacho do Mucuripe
de isógradas e isotermas (Figura 4). A for- que fluem a partir do fundo da gruta são captu-
mação desta zona de alta umidade no perío- radas por sumidouro localizado a cerca de 75 m
do chuvoso impede o avanço da frente de antes do início da Sala do Mocosal.
calor proveniente do leste, e limita a influ- No período chuvoso o sumidouro não
ência das flutuações climáticas externas nas dá vazão a quantidade de água do riacho, o
estações 13 e 14. qual invade o leito anteriormente seco, che-

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gando até a Sala do Mocosal. A água acumu- te. Os valores de temperatura e umidade re-
lada neste período escoa para fora da caver- gistrados a 50cm dos holofotes de 500W
na, por outro sumidouro, situado entre os mostram, respectivamente, aumentos de 6 à
Salões do Mocosal e do Índio. O nível d’água 100C e 20 à 45% em relação aos valores pa-
do riacho Mucuripe eleva-se mais de um drões da gruta, entretanto, o sistema de ilu-
metro e meio acima de seu nível de base ori- minação fixo é utilizado de forma seqüencial,
ginal, atingindo o teto da galeria (Foto 5 – sendo acionado pelos condutores apenas
Prancha I). O registro desta elevação perió- nos trechos a serem visitados e desligados a
dica, ocorrida após dias seguidos de chuva, seguir. Este procedimento reduz a influência
pode ser visto também nos meses secos, pelas do aumento do calor no ecossistema, mini-
marcas d’água deixadas na porção superior mizando os impactos e efeitos nocivos geral-
da galeria e pela presença de pequenas con- mente observados na grande maioria das
chas de gastrópodes aprisionadas em fratu- cavernas turísticas do Brasil e do mundo.
ras e nos planos de acamamento da rocha. O monitoramento dos parâmetros tem-
peratura e umidade durante a entrada de
EQUIPAMENTOS DE ILUMINAÇÃO E grupos de turistas em número superior a trin-
FLUXO DE TURISTAS NA GRUTA ta indicou pequena elevação de temperatu-
Os equipamentos de iluminação atual- ra (inferior a 10C) e diminuição de umidade
mente instalados na Gruta de Ubajara con- (superior a 5%) nos salões de dimensões
sistem de holofotes retangulares com lâmpa- reduzidas, como por exemplo as Salas do
das de halogênio de 500 W e de holofotes Templo, o Corredor das Maravilhas e a Sala
redondos com soquete e lâmpada dicróica das Cortinas. Nos salões de maiores dimen-
de 150W. A distribuição dos principais pon- sões como os dos Retratos, do Índio, da
tos de luz encontra-se ilustrada na Figura 1. Rosa e do Presépio não foram registradas
A influência dos holofotes na dilata- modificações significativas dos parâmetros
ção do gradiente termal dos salões é eviden- ambientais analisados.

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CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES período chuvoso. A Sala do Sino e o corredor


Os resultados do estudo realizado na que liga a Sala do Templo a dos Retratos exer-
Gruta de Ubajara permitiram concluir que o cem um papel importante na circulação de ven-
setor nordeste da caverna apresenta um mi- to e condução de calor do exterior para o inte-
croclima fortemente influenciado pelas flutua- rior da caverna e, são provavelmente, respon-
ções externas no período seco, e pela existên- sáveis pelos maiores valores de temperatura
cia de zonas de infiltração e gotejamento no observados na Sala dos Retratos. Em linhas

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gerais pode-se considerar que o atual Manejo Agradecimentos


Espeleológico da Gruta de Ubajara é adequa- Os autores agradecem o apoio e a
do, necessitando de pequenos ajustes no sis- infra-estrutura disponibilizada por An-
tema de iluminação e na capacidade de carga tônio Emanuel Barreto Alves de Sousa
dos locais de dimensões reduzidas abertos à (Chefe do Parque Nacional de Ubajara
visitação turística, entretanto, existem evidên- no período) e pelos funcionários Hum-
cias de que os equipamentos de iluminação berto de S. Bezerra (vice-chefe), Sônia
contribuem para a elevação da temperatura da M. Jorge, Amarildo Martins e Edite Be-
caverna nos salões menores. Portanto, deve- serra do IBAMA-PNU. Agradecem, ain-
se, nestes locais, limitar a capacidade de carga da, ao presidente Luciano Lima e aos
para grupos menores que vinte pessoas, bem guias da COPTUR Francisco Wélio
como reduzir ao mínimo o tempo de visitação Evangelista, José Iran da Silva e Dani-
e o tempo em que os pontos de iluminação el da Silva pelo suporte técnico duran-
permanecem ligados. Outra alternativa é a uti- te a pesquisa.
lização de lâmpadas frias (fluorescentes). Su-
gere-se, ainda, que durante o período chuvo- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
so as Salas das Cortinas e, principalmente a MARRA, R.J.C. 2001. Espeleo Turismo: Pla-
do Índio sejam evitadas, não apenas em fun- nejamento e Manejo de Cavernas. Ed.
ção do aumento do risco de acidentes mas, WD Ambiental. Brasília, 224p.
também, com objetivo de preservar a fauna IBDF-FBCN 1981. Plano de Manejo do Par-
cavernícola que eventualmente desloca-se que Nacional de Ubajara. Convênio
para estes locais durante a elevação do nível IBDF/FBPCN, 125p.
d’água do riacho Mucuripe.

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