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Dados geográficos do Vale do rio Zêzere

Distrito: Guarda
Município: Manteigas
Freguesia: São Pedro - Serra da Estrela
Coordenadas: Latitude: 40.379734179522536 / Longitude: -7.545933723449707

Classificação
O que é um Geoparque? - Um Geoparque (fig.1) é uma área
territorial com limites claramente definidos, que inclui um
notável património geológico, associado a uma estratégia de
desenvolvimento sustentável. Um Geoparque deve possuir
um determinado conjunto de sítios de importância
internacional, nacional e/ou regional, que permitam contar e
aprender a história geológica da região.

Categoria temática: Vestígios de glaciações pleistocénicas


(pertencente à época do Pleistoceno, do período Quaternário,
Era Cenozóica).

Classificação: Parque Natural da Serra da Estrela; Sítio


Classificado como Geomonumento; Rede Natura.

Regime de proteção ambiental: Incluído em área protegida


- Nacional. Figura 1 - Vale do rio Zêzere

Vulnerabilidade: Local vulnerável.

Medidas de proteção recomendadas: Não permitir


construções, estradas ou exploração de pedreiras que
prejudiquem a paisagem geomorfológica.

Interesse
Geossítio de interesse:

Didático; Sedimentológico;

Geomorfológico; Técnico-Estrutural.
Figura 2 - Vale do rio Zêzere coberto de neve
Paisagístico;
Espécies emblemáticas

Fauna: a cia; a sombria; o guarda-rios; a Lagartixa-da-montanha; a cobra-de-água-de-colar; Toupeira-de-água;


Gralha-preta; Truta; Truta arco-íris; a boga; entre outros. No fundo do Vale do Rio Zêzere, pastos verdejantes que
rebanhos de ovelhas e cabras pacificamente repartem harmonizam a paisagem.
Insetos: caloptérix azul (Calopteryx virgo) (fig. 3); Cantharis
fusca; Mylabris quadripunctata.

Borboletas: pandora (Argynnis pandora); esverdeada-dos-


nabais (Euchloe crameri); fritilária-escura (Melitaea
celadussa) (fig. 4); fritilária-variegada (Melitaea phoebe).

Figura 3 - Calopteryx Figura 4 - Melitaea É este maravilhoso Vale Glaciar do Zêzere, integrado no
virgo celadussa Parque Natural da Serra da Estrela e Rede Natura 2000,
que vale a pena proteger e apreciar!

Flora: cardo-palustre (Cirsium palustre); dactylorhiza


maculata (fig. 5); echium lusitanicum; freixo (Fraxinus
angustifolia); Hyacinthoides hispanica; botão-azul (Jasione
montana); Linaria elegans; assobios (Silene latifolia) (fig. 6).

Figura 6 - Assobios (Silene


Figura 5 - Dactylorhiza latifolia)
maculata

História geológica
A história geológica do Estrela Geopark remonta ao Pré-
Câmbrico (há cerca de 541 Milhões de anos), com o
complexo Xistograuváquico, uma sequência de
alternâncias entre xistos e grauvaques, que têm a sua
origem na deposição de sedimentos em ambiente
marinho. A orogenia Varisca deformou estes
metassedimentos que, posteriormente, sofreram
influência da intrusão de batólitos graníticos em fases
tardias da orogenia. No final do ciclo Varisco, o relevo foi
aplanado e mais tarde retocado durante o Paleogénico
Figura 7 - Representação das rochas e outras estruturas
(± 66-23 Milhões de anos). Já no Miocénico, há cerca de
geológicas presentes no Estrela Geopark
23 a 5 Milhões de anos, as falhas Variscas foram
reativadas, com a Serra da Estrela a soerguer-se com
uma estrutura em pop-up.
A resultante montanha em planalto (fig. 8), com
aproximadamente 2000 metros de altitude, foi
fundamental para o desenvolvimento de um notável
conjunto de formas e depósitos glaciários durante o
Pleistocénico, sendo estes os impulsionadores da
relevância geológica do Estrela Geopark.
Durante o último máximo de glaciação na Serra da
Estrela, o planalto ocidental encontrava-se coberto
por um grande campo de gelo. No Alto da Torre, há
30 mil anos, a espessura do gelo era de cerca de 90
metros, alimentando diversos glaciares de vale, do
qual o glaciar do Zêzere era o mais extenso. A
interação dos glaciares Pleistocénicos com a herança
deixada pela longa história geológica, juntamente
com a sua relação com o clima e a tectónica ativa é de
bastante relevância, significado e singularidade.
Figura 8 - Planalto da Torre
A resultante montanha em planalto, com aproximadamente 2000
metros de altitude, foi fundamental para o desenvolvimento de um
notável conjunto de formas e depósitos glaciários durante o
Pleistocénico, sendo estes os impulsionadores da relevância
geológica do Estrela Geopark.

Justificação do valor científico

O Vale do rio Zêzere (fig. 9) é um dos maiores da Europa, possuindo


cerca de 13 kms de extensão. É de salientar, a presença, neste Vale, de
inúmeros vestígios de uma vegetação natural com espécies endémicas
e outras de distribuição rara, vestígios que assinalam a presença do Figura 9 - Vale do rio Zêzere
Homem na região desde os tempos mais remotos, presença que se
reflete na forte humanização marcada na paisagem envolvente, e nas
atividades tradicionais do pastoreio e da agricultura de montanha.
Este Vale é a mais importante geoforma glaciária em Portugal, sendo
uma referência de nível internacional para exemplificar vales com
evidências de erosão glaciária, sendo, por isso, uma lição a céu aberto
sobre os vestígios da última época
3 de glaciação, há milhares de anos. O
Vale Glaciar do Zêzere, profunda garganta de direção NNE-SSW,
instalado numa importante falha, é um dos melhores exemplos de
como os glaciares modelaram a paisagem: a forma em «U», ostentando
inigualáveis belezas geológicas, como as austeras rochas graníticas (fig.
10). dos Cântaros, Magro, Gordo e Raso (a 1.928 metros de altitude) e Figura 10 - Rochas graníticas
reservas biogenéticas de elevado valor natural e paisagístico. características do Vale
O perfil em “U”, constitui uma das características mais
marcantes dos vales modelados pela ação glaciar do
Quaternário (Würm) que modelou as rochas graníticas do
Carbónico Superior, e, em toda a sua extensão, os covões
(Ametade, Albergaria), os vales suspensos (Covões,
Candieira) e os vários tipos de depósitos glaciários e
fluvioglaciários (o gelo cobria todo o vale com uma
espessura superior a 300 metros - as moreias existentes,
espaços onde os gelos depositaram enormes blocos de
rocha deslocadas do planalto glaciar, são disso fiável
testemunho: a Lagoa Seca, a Nave de Santo António (fig.
Figura 11 - Nave de Santo António
11) e a Candieira). A “língua” de gelo principal, que era
alimentada pelos afluentes da Nave de Santo António, do
Covão D’Ametade, da Candieira e dos Covões, a que deu
origem ao Vale Glaciar do Zêzere, estendia-se até
território onde se situa, hoje, a Vila de Manteigas. O gelo
era de tal modo indomável, que consigo carregava blocos
rochosos de proporções invulgares, como o Poio do
Judeu (fig. 12), cerca de 150 metros
3
de granito.

Os glaciares da Serra da Estrela criaram inúmeros


depósitos sedimentares, característicos da paisagem do
maciço e prova da existência da própria glaciação. Figura 12 - Poio do Judeu
Sendo um Vale Glaciar, e por isso muito aberto, as
encostas são muito íngremes, abruptas, sulcadas por
linhas de água (que caem em cascata e que, em tempos
passados, foram moldadas pelos gelos) e, cobertas de
bolas graníticas e caos de blocos rochosos.
No fundo do Vale Glaciar do Zêzere é possível observar os
pastos verdejantes, os rebanhos de ovelhas, as casas
típicas da serra – “cortes” e a Vila de Manteigas (fig. 13)
perfeitamente encaixada no vale. Na linha do horizonte,
ficam algumas das mais belas paisagens de toda a
Grande Rota do Zêzere - a garganta quartzítica, as Aldeias
do Xisto de Janeiro de Cima e Janeiro de Baixo, a serra do Figura 13 - Vila de Manteigas
Machialinho ou os icnofósseis Já na margem direita, a
mancha verde corresponde à floresta da Mata Nacional; Curiosidade
e, à esquerda, ressaltam os piornais, e "agarrados" aos
rochedos, os exemplares de carvalho negral, resquícios Finalista das 7 maravilhas naturais de Portugal, o Vale
da floresta primitiva. Glaciar do Zêzere faz-se percorrer pelo seu interior ao
longo da Rota do Glaciar, desbravando um caminho de
beleza singular.

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