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RELATÓRIO PERCURSO PEDESTRE

Curso: Técnico de Informação e Animação Turística


Módulo: Turismo de Desporto Aventura
Formador: Rui Pires
Formando: Jorge Santos nº13
Introdução

No módulo de Turismo de Desporto Aventura, surgiu a oportunidade de se realizar um


percurso pedestre em contexto de visita de estudo, com o acompanhamento de um
guia turístico à Serra de Montejunto, sendo esta, o miradouro natural mais alto da
Estremadura (considerada a Varanda da Estremadura), elevando-se a 666 metros
acima do nível médio do mar, situada a norte do distrito de Lisboa entre os concelhos
Cadaval e Alenquer, com o intuito de se verificar e analisar a paisagem natural e
reserva regional existente, e algumas das ruínas. Considerado assim, um local de
grande valor ecológico, geológico, histórico e paisagístico, fazendo parte do Maciço
Calcário Estremenho e apresentando uma estrutura geológica com várias dezenas de
grutas, algares e dolinas, bem como necrópoles e fósseis pré-históricos. Possuindo
também um microclima muito característico, marcado pela transição entre a influência
marítima e continental, o que lhe confere uma fauna e flora bastante distintas das
existentes nos ecossistemas envolventes.
Desenvolvimento

No dia 30 de Outubro, por volta das 9h45 da manhã, partimos de Caldas da


Rainha num Transfer1 em direcção à Serra de Montejunto, situada a 50km norte de
Lisboa, entre os concelhos Cadaval e Alenquer. Chegamos ao destino por volta das
10h40.

Fig.1 - Transfer

Após a chegada, tivemos o privilégio de o senhor Narciso Moreira (Técnico responsável


do Centro de Interpretação Ambiental) fazer-nos uma breve descrição detalhada da
constituição da serra, informando-nos que esta é o miradouro natural mais alto da
Estremadura, com cerca de 666m de altitude, indicando também que este era
considerado um local de grande valor ecológico e paisagístico, fazendo parte do
Maciço Calcário Estremenho e apresentando uma estrutura geológica com várias
dezenas de grutas e algares, bem como necrópoles e fósseis pré-históricos, possuindo
também um microclima muito característico, marcado pela transição entre a influência
marítima e continental, o que lhe confere uma fauna e flora bastante distintas das
existentes nos ecossistemas envolventes.
Fig.2 – Maqueta da Serra
de Montejunto

Fig.3 – Legenda da Maqueta da Serra de Montejunto

Antes de passarmos à “acção”, o senhor Narciso Moreira, fez questão de nos


mostrar na maqueta da serra, o ponto onde nos encontrávamos (Fig.4) , e qual a zona
onde se iria decorrer o passeio pedestre com sensivelmente 5 Km de distância,
considerada esta uma pequena rota (percurso pedestre que não excede os 30km de
distância, equivalente a uma jornada).
Fig.4 – Bandeira representa o Centro de Interpretação Ambiental – maqueta.

Após todas as explicações fornecidas pelo técnico, iniciamos o nosso percurso,


começando por visitar a Real Fábrica de Gelo da Serra de Montejunto. O hábito de
saborear gelados e matar a sede com bebidas frescas nos dias quentes de Verão terá
vindo de Espanha sendo introduzida em Portugal pela corte de Filipe II. Não existindo
ainda as modernas tecnologias de refrigeração, o recurso à neve e ao gelo constituía a
única alternativa possível. Por isso, a procura deste escasso e valioso bem, foi
crescente, bem como a sua comercialização.
Localizada a cerca de 40 Km de Lisboa e próximo do rio Tejo, então via
privilegiada de acesso à capital. A Serra de Montejunto apresentava grandes vantagens
sobre o principal (e único) centro abastecedor de neve, a Serra do Coentral, situada na
extremidade sul da Serra da Estrela. Este complexo industrial foi considerado por
diversos especialistas internacionais "como um caso único pela originalidade das suas
estruturas e pelo razoável estado de conservação".

Fig.5/1 - Alguns dos 44 tanques adjacentes Fig.5/2 - Outros dos 44 tanques adjacentes
Fig.5/3 Tanque
principal junto à nora.

A figura acima Fig.5/3, representa o tanque principal junto à nora, com a


capacidade de 151 mil litros, onde a partir deste se procedia ao abastecimento dos
adjacentes (Fig.5/1 e Fig.5/2).
Nestes tanques mais pequenos, eram colocados cerca de 10 a 15 centímetros
de água (consoante a temperatura do dia), as temperaturas negativas, e já habituais
naquela época do ano, faziam com que esta solidificasse durante a noite.
Logo pela madrugada, os cerca de 100 trabalhadores oriundos das aldeias
limítrofes, subiam até à serra para iniciarem um trabalho árduo, consistindo este em
partir aquela camada formada durante a noite, com um maço de ferro. Em seguida o
gelo era colocado, calcado nos cestos e transportado para os depósitos de cerâmica
Fig.6 e 7, estes com cerca de 350.000 m3 de capacidade. Logo de seguida, homens
entravam dentro desses tanques, e com maços de madeira, batiam-no de forma a que
ficasse o mais prensado possível, formando um único bloco com 7m de diâmetro,
sendo depois tapado com palha de forma a conservar as temperaturas negativas.

Fig.6 e 7 – Representam as câmaras de conservação do gelo.


Para que se iniciasse o transporte desta matéria, seria necessário que os
operários entrassem dentro destas câmaras e cortassem o gelo em forma de cubos.
Cubos estes, que eram içados e colocados dentro de cestos arriados a machos, mulas
ou até burros, que nestes faziam o transporte serra abaixo por entre carreiros e
carrascos até ao Cercal. Chegando ao Cercal, o gelo era retirado dos cestos e
empilhado, como se de uma construção se tratasse, em cima de carros de bois, estes
continuavam o percurso até à Vala do Carregado, sendo que nesta mesma vila à beira
rio Tejo plantado, aportava os chamados barcos da neve, onde mais uma vez esta
matéria-prima seria colocada, e Tejo abaixo seguia até ao seu destino final. Quando
finalmente chagava a Lisboa, o gelo era distribuído pela Casa Real e a outros
estabelecimentos como geladarias, hospitais, entre outras.
Nas traseiras da fábrica do gelo, existe também em cerâmica, aquele que em
tempos foi produtor de cal. Este forno Fig.8 e 9, conhecido por forno de combustão,
produzia cal líquida que era utilizada para, em pequenas quantidades, desinfectar a
água e quando misturada com areia, esta servia para reparar fendas nas câmaras de
frio.

Fig.8 e 9 – Forno de combustão para realização de cal.

Seguido desta visita matinal e chegada a hora do almoço, a turma juntou


alimentos e bebidas e fizemos um pic-nic no parque de merendas mesmo ali ao lado.
Uma hora depois, tal como combinado, Sr. Narciso Moreira chegou, dando
assim indicação que iríamos iniciar o percurso pedestre de 5 km. O monitor e os 20
caminheiros prosseguiram a caminhada podendo observar assim alguns dos 500 tipos
de plantas existentes, entre as quais se destaca a orquídea silvestre por ser uma das
mais ameaçadas e estando mesmo em vias de extinção. Por entre carreiros e
pinheiros, podemos observar pinheiros mansos, sobreiros e castanheiros, constatamos
e desfrutamos de uma paisagem natural ao nível da sua fauna e flora rica e impar. Aqui
nidificam mais de 75 espécies, sendo que 10 são consideradas ameaçadas pelo livro
vermelho dos vertebrados de Portugal, destacando-se a Águia Perdigueira, o Bufo Real
e o Andorinhão Real, são mesmo considerados raros a nível nacional.
A flora com transição mediterrânica-atlântica, é composta também por
manchas de Carvalhos Cerquinhos, para além de outras culturas sazonais, que juntas
formam um manto colorido em tons de verde, digno de ser contemplado por quem
por ali passa.

Uma vez que era pertinente a realização deste percurso, para uma interpretação da
paisagem natural, na aula anterior o nosso formador Rui Pires explicou-nos os
significados dos diversos tipos de símbolos que poderíamos encontrar pelo caminho
pedestre. As figuras que se seguem foram captadas neste mesmo dia, sendo todas elas
de minha autoria, para exemplificar as marcas que iam delineando o caminho correcto.
Os 2 traços pintados na pedra, significam
que estamos no caminho correcto e as cores (vermelho e amarelo) identificam uma
pequena rota. Esta imagem, para além de representar o símbolo, também mostra obra
de mão humana na construção e empilhamento destes blocos de pedra.

Estas imagens são


símbolos representativos que
fomos encontrando ao longo
do percurso, que para além de
nos indicarem o nosso
caminho, também nos davam
indicação de outros destinos.
Felizmente, ao longo destes 5
km, também tivemos a
indicação dos caminhos a não
seguir. Como exemplo
ilustrativo, apresento a Fig.10.
Fig.10 – Caminho errado ou caminho a não seguir.

Seguido do percurso que realizamos, fez-se questão de visitar a Ermida de


Nossa Senhora das Neves do século XIII e o que resta do possível primeiro Convento
Dominicano do País construído no século XII, situadas no topo da Serra de Montejunto.
Estas estruturas são de grande interesse Patrimonial.
O convento encontra-se hoje em dia em Ruínas, mas possibilita uma boa
observação sobre o modo de vida dos Frades Dominicanos na vida conventual
medieval, tendo a Capela sido por ele construída em devoção a Nossa Senhora das
Neves. A Capela, construída no século XIII, foi muito alterada a partir do século XVI,
apresentando no interior interessantes altares com azulejaria do século XVII.
O convento Dominicano, dado a sua localização inóspita, foi entretanto
abandonado, instalando-se os frades num outro Convento, em Santarém.
Anualmente em Agosto, celebra-se a Romaria de Nossa Senhora das Neves,
atraindo muitos fiéis e visitantes.
Conclusão

Após ter realizado esta visita, concluo assim que para além de termos
apreciado uma paisagem natural (quase virgem) e de termos desfrutado de um
ambiente puro, também reforcei a matéria dada na sala de aula, relativamente aos
conceitos e sinaléticas de percursos, desta feita em contexto prático.
Foi bastante gratificante ter tomado conhecimento da produção e fabrico do
gelo, ao visitar a Fábrica Real situada na quinta da serra. Tendo sido um processo
artesanal utilizado entre o séc. XVII e séc. XIX, ao qual hoje, não é tão valorizado
devido às novas tecnologias terem vindo facilitar esta produção.
Por fim, uma das partes que me sensibilizou foi quando cheguei perto da
entrada do Convento Dominicano e olhando à minha volta, verifiquei o esplendor de
uma vasta extensão envolvente à serra, ou não estivesse eu na “Varanda da
Estremadura”.
Agradeço ao formador Rui Pires pelo facto de me ter proporcionado esta
prática, ao Sr. Narciso Moreira pela esplêndida recepção e aula de interpretação
cultural e paisagística, assim como ao Centro de Interpretação Ambiental desta serra.

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