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Com a vinda dos padres jesuítas e a fundação das Missões, era necessário garantir a
alimentação dos índios convertidos. Então, no ano de 1634, o Padre Jesuíta Cristóvão de
Mendonça introduz o gado nas missões.
A partir daí o Rio Grande do Sul passou a ser visto com outros olhos pelo império,
pois o índio podia ser escravizado e o gado que foi trazido para alimentar os índios era farto e
se reproduzia solto no campo. Dessa forma, a Coroa Portuguesa começou a povoar o Rio
Grande do Sul.
Os missionários foram os primeiros incentivadores das atividades tropeiras no sul da
América, pois usavam esse método para comunicação e troca de mercadorias entre as diversas
Missões Jesuíticas.
Com o passar do tempo, o gado solto no campo começou a ser arrebanhado em currais
e invernadas e levado para venda na Feira de Sorocaba. Assim, surgiram as primeiras estradas
do RS: Estrada do Litoral (1703) e Estrada dos Campos de Cima da Serra (1727).
No final do século XVIII, com a baixa na produção mineral, o comércio de gado
diminuiu, porém o Rio Grande do Sul já tinha novos produtos econômicos: o charque e o
trigo que começou a ser cultivado com a chegada dos açorianos.
O jumento, desde o início das civilizações, vem sendo usado como animal de carga e
tração, sendo muito útil para trabalhos pesados no campo. Do cruzamento do jumento com a
égua originou-se a mula (fêmea) e o burro (macho), animal que se adaptou às trilhas da
Europa e América, muitas vezes sem pastagem e sem milho. Por ser um animal híbrido, a
mula (ou burro) não se reproduz.
Por ter um bom equilíbrio, a mula (ou burro) foi usada pelos tropeiros gaúchos para
atravessar regiões íngremes, como a serra gaúcha. A mula é mais devagar que o cavalo,
porém sua resistência a longos trajetos, com cargas pesadas no lombo e sem a necessidade de
farta alimentação, a credenciaram para as atividades tropeiras.
ESTRADAS PARA OS CAMPOS DE CIMA DA SERRA
O primeiro caminho das tropas, aberto por Cristóvão Pereira de Abreu (século XVII),
descia pelo vale do arroio Rolantinho da Areia, passando pelo passo do Registro em Santo
Antônio da Patrulha, de onde seguia para Viamão.
Porém, o presidente da província, Manuel Antonio Galvão, em 1847, prevê a
necessidade de estabelecer um novo caminho que integrasse as localidades da serra gaúcha
com as localidades dos atuais Vales do Sinos e Paranhana, surgindo assim, a segunda estrada
a ligar os Campos de Cima da Serra a Colônia do Mundo Novo.
Este segundo caminho, iniciava em São Leopoldo, seguindo em direção à Serra do
Mundo Novo (cordilheira que passa ao Sul de São Francisco de Paula). Cruzava o núcleo
habitacional de Taquara/RS (Rua Júlio de Castilhos), subia pela Rua Dr. Edmundo Saft e
percorria as localidades de Fortaleza, Lajeadinho, Rochedo, Figueira, Mata-Olho, Rodeio
Bonito, Mangueira de Pedra e Recosta. Seguia à esquerda pelo vale do arroio José Velho,
passando por Calha Velha e Ponte Velha. A partir daí, cruzava pela frente da Pensão Hampel,
alcançando o alto da serra, conforme item 3 (linha amarela) da figura 1.
Figura 1 – Crescimento Urbano de Taquara, mapa elaborado por Alex Juarez Müller.
Pelas coxilhas, adentrava São Francisco de Paula e, por ela descia a produção dos
Campos de Cima da Serra, sendo os principais produtos advindos da pecuária (bovinos,
equinos, ovinos, muares, suínos e aves), erva-mate, charque, queijo e madeira.
Conforme (MULLER, 2004), quem descia da serra, passando ao lado do Morro da
Cruz, chegava às casas comerciais de secos e molhados dos Trott, dos Müller ou dos Fleck.
Nesses espaços paravam todos os tipos de viajantes interessados em descansar e suprir-se de
mantimentos.
A construção da segunda estrada foi chefiada pelo engenheiro belga, Alfhonse
Mabilde, a qual foi reconstruída várias vezes, perdendo seu trajeto inicial. Boa parte dela hoje
é asfaltada (RS 020), sendo importante rota para o turismo e o comércio, tendo desde seus
primórdios, aproximadamente 170 anos.
Não só os tropeiros, mas também os carreteiros usavam a referida estrada (Rua Dr.
Edmundo Saft e atual RS 020). Hospedavam-se em propriedades de conhecidos, sendo alguns
desses locais armazéns, onde os viajantes já aproveitavam para fazer negócios. Como por
exemplo, o armazém de Albino Konrad no km 4 (RS 020) e os armazéns que existiram na
casa onde hoje é a Capela Santa Rita Cássia (Taquara/RS) e a casa que existia na frente de
estilo português que foi demolida alguns anos atrás. Essas últimas casas foram ocupadas pelos
parentes do autor deste artigo na década de 1980 quando se mudaram de Novo Barreiro/RS
para Taquara, quebrando o ciclo de casas comerciais.
10. LEI ri" 1688, de 13 de janeiro de 1888 - Orça a receita e fixa a despesa da
Província, no exercício de 1888 - e autoriza o Presidente da Província a mandar
proceder os necessários repares de que carece a estrada geral do Mundo Novo que
vai a Cima da Serra e Antas do Meio.
11. LEI nº 1858, de 15 de julho de 1889 – Manda proceder a estudos para estrada de
rodagem entre os municípios de Nossa Senhora dos Anjos de Gravataí e de Santa
Cristina do Pinhal, passando pelo lugar chamado Paredão.
12. ATO nº 131, de 13 de março de 1890 – Abre um crédito de 284.800$000 rs, para
pagamento de despesas com a construção da estrada de rodagem entre Taquara do
Mundo Novo e São Francisco de Paula de Cima da Serra.
13. ATO nº 173, de 10 de abril de 1890 – Abre um crédito de 4.544$061 rs, para a
execução de obras da estrada que de Taquara vai a São Francisco, passando pelo Rio
da Ilha, e no edifício da Superintendência da Fazenda do Estado.
14. ATO nº 241, de 8 de abril de 1891 – Abre o crédito da quantia de 142.800$00 rs,
para correr a despesa com a construção da estrada de rodagem entre as vilas de
Taquara do Mundo Novo e São Francisco de Paula de Cima da Serra.
18. ATO nº 97, de 27 de setembro de 1893 - Abre um crédito de 9.99$000 rs.., para
os reparos urgentes a fazer na estrada de Taquara do Mundo Novo, no quilometro
35, aproximadamente, onde, pelas chuvas, se deu um desmoronamento de terra
prejudicando a ponte de madeira existente inutilizando e solapando o leito de mesma
estrada.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BOM JESUS NA ROTA DO TROPEIRISMO. Organização de Lucilda Maria Sgarbi Santos e Vera Lucia
Maciel Barroso. Porto Alegre: EST, 2004.
DIAS, Juliana. Os meios de Transporte na Colônia do Mundo Novo. In: BARROSO, V. L. M.; SOBRINHO, P.
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FLORES, Moacyr. Tropeirismo no Brasil. 2.ed.rev.ampl. / Moacyr Flores. Porto Alegre: Martins Livreiro-
Editora, 2013.
HAIML, L. F.; HEIDRICH, R. de C.; PULZ, A. C. Caminhos da Estrada Velha do Mundo Novo. In:
BARROSO, V. L. M.; SOBRINHO, P. G. M. Raízes de Taquara: vol 1. Porto Alegre: EST, 2008. p.102-104.
KAUTZMANN, Maria Eunice Müller. Estradas do Mundo Novo. In: BARROSO, V. L. M.; SOBRINHO, P. G.
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MÜLLER, Alex Juarez. Delimitação da área de interesse histórico da cidade de Taquara. 2014. Disponível em:
<http://www.taquara.rs.gov.br/download_anexo/Delimita%C3%A7%C3%A3o%20da%20%C3%A1rea%20de%
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2019.
MÜLLER, Alex Juarez; SOBRINHO, Paulo Gilberto Mossmann. O trem chega ao Mundo Novo. In:
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REIMHEIMER, Dalva. Os caminhos do mundo novo passam pela navegação fluvial. In: BARROSO, V. L. M.;
SOBRINHO, P. G. M. Raízes de Taquara: vol 1. Porto Alegre: EST, 2008. p.94-99.