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em perspectiva ORIENTADORA
TAIANA CAR VIDOTTO
Fábrica de Cultura:
Núcleo de Saberes e Trocas TFG_AU_2023.2
fábrica
de
cultura
núcleo de saberes e trocas
em perspectiva ORIENTADORA
TAIANA CAR VIDOTTO
Fábrica de Cultura:
Núcleo de Saberes e Trocas TFG_AU_2023.2
Monografia apresentada ao
Curso de Arquitetura e Urba-
nismo do Centro Universitário
FACENS,como requisito para a
obtenção ao título de Bacharel
em Arquitetura e Urbanismo.
Orientadora:Taiana Car Vidotto
S237v
210f.
À fonte que transformou todos os meus sonhos em realidade. À Gaby, Pâmela, Júlia «Lia» Ramos, Carol, Gustavo e ao À equipe do Arquivo Histórico Sorocabano, pela disponibilidade
DDCA, agradeço pela amizade e por todo o apoio ao longo desses para consulta ao acervo, bem como ao extraordinário historiador
À Denise e Mercedes, pelo amor incondicional e por me
anos e por tantas noites em claro. Zé Rubens.
mostrarem o caminho. Também ao Chimbinha, meu melhor amigo de
quatro patas, por virar noites em claro ao meu lado. À equipe do CIT Construção Digital, em especial ao Bruno, Ao Fábio e seu mascote “sexta-feira”, cujo prédio vermelho
que durante seu período como gestor foi também um grande onde vivem deu início a esta pesquisa, e pela disponibilidade
À minha orientadora, Taiana Vidotto, meu agradecimento es-
amigo e a quem devo muito sobre quem sou hoje, não só como em permitir os registros fotográficos e visitas ao local.
pecial pela paciência, incentivo, conselhos e pelo apoio du-
técnica na área do BIM, mas também como pessoa. Junto a ele,
rante o processo do trabalho final. Se um dia eu me tornar À Martina, neta do fundador da Fábrica de Sinos Samassa,
agradeço à Carol, minha atual gestora, pela constante troca de
professora, desejo impactar a vida dos alunos como você im- por fornecer registros fotográficos que ajudaram a montar o
ensinamentos, sinergia e momentos de risadas compartilhados,
pactou a minha. panorama histórico sobre o local de estudo.
que não só enriqueceram meu conhecimento profissional, mas
Ao corpo docente de Arquitetura e Urbanismo e de Engenharia também me ensinaram valiosas lições sobre a vida. Ao Fungeri, Aos ex-funcionários da Remonsa: Cesar e Nivaldo, por com-
Civil da FACENS, agradeço por oferecerem a base e inspiração pelo apoio durante o processo. Sou imensamente grata por partilharem suas experiências e registros do período que tra-
através dos ensinamentos dentro e fora de sala de aula. Em fazer parte dessa equipe extraordinária. balharam na retífica de motores.
especial, à coordenadora do curso de Arquitetura e Urbanismo,
À Larissa Losada, cuja orientação na busca por fontes À Letícia e à equipe da Yees! Construtora, pela prontidão
Giovanna Novellini, e aos professores João Bengla, Camilla
históricas foi fundamental para este trabalho e por ser uma ao compartilhar os levantamentos feitos na área do projeto.
Santino, Ana Carolina Bastos, Catherine Coelho, José Mili-
inspiração como pesquisadora.
to, Samira Bueno, Vanda Maria e Tiago Brito. A todos os familiares e amigos que fizeram parte desse
À Flávia Aguilera, que através de sua arte cataliza a processo, mesmo que não citados nominalmente ou esse caderno
À Bruna, por ser o Auto do meu CAD há mais de 8 anos e a
essência da história não contada de Sorocaba, por permitir teria incontáveis páginas, obrigada por tanto.
melhor amiga que o técnico em design poderia me presentear.
a utilização da suas obras ao longo desta pesquisa. Também à
Sua visão contribuiu tanto para a minha formação quanto o seu À Facens, como instituição que, por meio da bolsa de estudos
Kauani e Kethlin, que, como eu, cresceram na Vila Hortência,
companheirismo para nossa amizade. Assim como a Milena, cujos viabilizou a realização do meu sonho de me tornar Arquiteta
por autorizarem a utilização de suas artes como componentes
sonhos compartilhados se realizaram juntos do outro lado do Urbanista, meu sincero agradecimento. Sair dos limites da
visuais da pesquisa.
oceano. sala de aula me transformou como pessoa,e hoje posso dizer com
orgulho que sou, de fato, uma cidadã Facens.
“Se o sinhô não está lembrado,
dá licença de contá
que aqui onde agora está
esse adifício alto,
era uma casa velha
um palacete abandonado.”
O trabalho propõe documentar a história de urbaniza- The work proposes to document the history of urbaniza-
ção da Vila Hortência em Sorocaba, destacando a ameaça tion of Vila Hortência in Sorocaba, highlighting the threat of
de especulação imobiliária na região e as características fí- real estate speculation in the region and the physical, social
sicas, sociais e culturais do bairro. Visando a preservação do and cultural characteristics of the neighborhood. Aiming to
complexo formado por um edifício da década de 30, que no preserve the complex formed by a building from the 1930s,
passado abrigou um centro de estocagem de laranjas, bem which in the past housed an orange packing house, as well
como pela desativada Remonsa Retífica de Motores, o pro- as the deactivated Remonsa Retífica de Motores, the propo-
jeto arquitetônico proposto busca transformar essas edifi- sed architectural project seeks to transform these buildings
cações em espaços voltados para comércio e cultura local, into spaces dedicated to commerce and local culture , inclu-
incluindo exposições, feiras e oficinas de artesanato. A pes- ding exhibitions, fairs and craft workshops. The research hi-
quisa destaca a importância histórica do Além Ponte para o ghlights the historical importance of Além Ponte for urban
desenvolvimento urbano, bem como sua contribuição para development, as well as its contribution to the architecture
a arquitetura e para a paisagem de Sorocaba. Assim, o lo- and landscape of Sorocaba. Thus, the place of intervention
cal de intervenção surgiu da pesquisa sobre o bairro, e não o emerged from research on the neighborhood, and not the
oposto. O uso proposto também é uma resposta às questões other way around. The proposed use is also a response to is-
encontradas durante essa etapa inicial, e o projeto baseou- sues encountered during this initial stage, and the project
-se nos princípios de conservação, compatibilidade material, was based on the principles of conservation, material com-
reconhecibilidade do antigo e novo, retrabalhidade e inter- patibility, recognizability of old and new, rework and minimal
venção mínima. intervention.
Palavras-chave: Arquitetura Industrial, Memória, Patrimônio Keywords: Industrial Architecture, Memory, Cultural
Cultural, Vila Hortência, História de Sorocaba. Heritage, Vila Hortência, History of Sorocaba.
INTRODUÇÃO 21
3.5 Avaliação Arquitetônica 147
1. A CIDADE 26
1.1 Manchester Paulista: formação 4. REFERÊNCIAS PROJETUAIS 154
29
1.2 Sorocaba hoje 4 .1 Sesc Pompéia 157
47
4 .2 Manufatura Tabacchi 167
2. O BAIRRO
50
2 .1 Linha do tempo 52 5. O PROJETO 176
2.2 Fábrica Santa Maria 5.1 Problemática 179
65
2.3 Marcos da paisagem 5.2 Concepção arquitetônica 187
76
2.4 O Além Ponte sob um olhar caminhável
97
2.5 Aspectos urbanísticos e cenário atual
103
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 201
3. O EDIFÍCIO E SEU ENTORNO
108
3.1 Justificativa ANEXO: PRANCHAS TÉCNICAS
111
3.2 Analisando o raio de influência
117
3.3 Edifício TRICO 1931 123
3.4 Edifício REMONSA
133
Lista de Figuras
Figura 01 – Vista da Avenida Nogueira Padilha.........................................22 Figura 19 – Packing House de Laranjas........................................................ 60 Figura 37 – Casas de meados dos anos 40, 50 e 60............................. 82 Figura 55 – Valores limite para índices urbanísticos........................... 106
Figura 02 – Região Metropolitana de Sorocaba.......................................28 Figura 20 – Cine El Dorado, s/d........................................................................... 62 Figura 38 – Novos modos de morar................................................................ 82 Figura 56 – Resquícios das vilas operárias................................................. 107
Figura 03 – Gravura: Sorocaba em 1864.........................................................30 Figura 21 – Nogueira Padilha ontem e hoje: 1976.................................. 63 Figura 39 – Santa Casa de Misericórdia, século XX............................... 83 Figura 57 – Estrutura da Packing House de Laranjas........................ 110
Figura 04 – Pátio Ciane e Terminal Municipal Santo Antônio.........35 Figura 22 – Nogueira Padilha ontem e hoje: 2022................................ 63 Figura 40 – A Santa Casa hoje............................................................................ 84 Figura 58 – Cine Eldorado atualmente ...................................................... 112
Figura 05 – Pátio Ciane e Terminal Municipal Santo Antônio..........35 Figura 23 – Remanescentes da Fábrica Santa Maria,1993............... 65 Figura 41 – Escola Municipal Dr Achilles de Almeida......................... 85 Figura 59 – “TRICO 1931”......................................................................................... 114
Figura 06 – Fábrica Santa Rosália.......................................................................36 Figura 24 – Fábrica Santa Maria........................................................................ 66 Figura 42 – Escola Estadual Senador Vergueiro ................................... 86 Figura 60 – Edifício sede da “REMONSA”, 2021...................................... 115
Figura 07 – Fábrica Votorantim............................................................................36 Figura 25 – Vila Operária da Fábrica Santa Maria.................................. 68 Figura 43 – Vista aérea da Vila Hortência................................................... 87 Figura 61 – Rua Ataliba Borges.......................................................................... 117
Figura 08 – Fábrica Santa Maria...........................................................................37 Figura 26 – Vila Operária hoje.............................................................................. 68 Figura 44 – Projeto do Ginásio Municipal de Esportes..................... 88 Figura 62 – Tanque do Buava indica falta de manutenção.......... 118
Figura 09 – Fábrica São Paulo................................................................................37 Figura 27 – Escombros da Fábrica Santa Maria, 1997.......................... 70 Figura 45 – Estádio Humberto Reale visto de cima............................ 89 Figura 63 – Rua Ataliba Borges........................................................................ 118
Figura 10 – Vila operária de Santa Rosália, década 1950......................40 Figura 28 – Notícia veiculada sobre a demolição, 1994..................... 71 Figura 46 – Estádio Humberto Reale............................................................ 89 Figura 64 – Pátio interno do edifício............................................................ 122
Figura 11 – Greve Geral de 1917 em São Paulo..............................................41 Figura 29 – Terreno da Santa Maria atualmente.................................... 73 Figura 47 – Paróquia Bom Jesus...................................................................... 90 Figura 65 – Panfleto de divulgação da Sorodiesel ............................. 126
Figura 12 – Salvadora Lopez, por Flávia Aguilera......................................42 Figura 30 – Santa Maria vista da Rua Newton Prado: 2005............ 74 Figura 48 – Torre da Paróquia............................................................................ 91 Figura 66 – Laranjim Supremo, 1935............................................................. 127
Figura 13 – Sorocaba vista por drone................................................................47 Figura 31 – Santa Maria vista da Rua Newton Prado: 2023.............. 74 Figura 49 – Congregação Cristã do Brasil.................................................. 92 Figura 67 – Selo das laranjas brasileiras no exterior........................... 128
Figura 14 – Centro histórico visto a partir do Além Ponte..................49 Figura 32 – Chácara Amarela, 2022.................................................................. 78 Figura 50 – Casa de España................................................................................. 93 Figura 68 – Crise das laranjas em Sorocaba............................................ 128
Figura 15 – Avenida XV de Novembro nos anos 70.................................55 Figura 33 – Zoológico Municipal........................................................................ 79 Figura 51 – Casa Aluísio de Almeida............................................................... 93 Figura 69 – Colagem: intenções para o futuro do edifício............. 130
Figura 16 – Chácara do Quinzinho, s/d.............................................................58 Figura 34 – Museu Histórico Sorocabano.................................................... 79 Figura 52 – O encontro da tarde....................................................................... 97 Figura 70 – Desativada Remonsa................................................................... 132
Figura 17 – Mapa das vilas de Sorocaba..........................................................59 Figura 35 – Vista aérea da Fábrica São Paulo atualmente............... 80 Figura 53 – A vida pública no Além Ponte................................................. 99 Figura 71 – Samassa, 1941...................................................................................... 134
Figura 18 – Packing House de Laranjas...........................................................60 Figura 36 – Galpões fabris da Gerdau abandonados, 2019.............. 81 Figura 54 – Vila Hortência hoje......................................................................... 102 Figura 72 – Pátio da Samassa, s/d................................................................... 134
Figura 73 – Samassa, circa 1767........................................................................ 135 Figura 91 – Telhado do Sesc Pompéia......................................................... 164 Figura 109 – Ambiência: Acesso Rua Ruy Barbosa............................. 187 Mapa 01 – Bairros Operários: Contexto Urbano..................................... 34
Figura 74 – Operários da Remonsa, anos 70........................................... 136 Figura 92 – Interno do edifício.......................................................................... 164 Figura 110 – Diagrama 05: Acessos................................................................ 188 Mapa 02 – Além Ponte: Evolução Urbana................................................. 57
Figura 75 – Remonsa, 1964.................................................................................. 137 Figura 93 – Passarelas de concreto do bloco esportivo................... 165 Figura 111 – Ambiência: Reestruturação de níveis.............................. 189 Mapa 03 – Além Ponte: Marcos da Paisagem....................................... 76
Figura 76 – César e “Zézinho”, s/d................................................................... 137 Figura 94 – Novo e o antigo visto do Deck Solarium......................... 165 Figura 112 – Ambiência: Deck metálico elevado.................................. 189 Mapa 04 – Além Ponte: Análise Urbana..................................................... 104
Figura 77 – Equipe reunida no pátio, s/d................................................... 138 Figura 95 – Pátio B9 após intervenção........................................................ 167 Figura 113 – Ambiência: Pátio interno......................................................... 190 Mapa 05 – Vila Hortência: Configuração Administrativa............... 105
Figura 78 – Fim de experiente na Remonsa........................................... 139 Figura 96 – Manifattura Tabacchi................................................................... 168 Figura 114 – Ambiência: Cinema ao ar livre. 190................................... 190 Mapa 06 – Raio de Intervenção: Lotes Subutilizados........................ 113
Figura 79 – Novo empreendimento vertical da Yees!...................... 140 Figura 97 – Acesso principal da fábrica...................................................... 168 Figura 115 – Implantação...................................................................................... 191 Mapa 07 – Raio de Intervenção: Análise Viária...................................... 118
Figura 80 – Implantação do edifício ........................................................... 140 Figura 98 – Diagrama de programa da Manifattura......................... 170 Figura 116 – Planta Baixa: Térreo..................................................................... 192 Mapa 08 – Raio de Intervenção: Contexto Urbano............................. 119
Figura 81 – Pavimento tipo do edifício ...................................................... 140 Figura 99 – Diagrama de cronologia da Manifattura........................ 171 Figura 117 – Planta Baixa: Mezanino............................................................. 192 Mapa 09 – Raio de Intervenção: Síntese.................................................... 121
Figura 82 – O projeto inverte a lógica convencional......................... 141 Figura 100 – Bloco de arte “Not a Museum”............................................ 172 Figura 118 – Ambiência: Fábrica de cultura............................................. 194
Figura 83 – Etapas da construção do edifício........................................ 141 Figura 101 – Ambiência: o futuro da Manifattura.................................. 173 Figura 119 – Ambiência: Fábrica de cultura............................................. 194 Tabela 01 – Levantamento de Patologias da fachada...................... 147
Figura 84 – Materalidade do edifício TRICO........................................... 147 Figura 102 – Colagem: Manifattura Tabacchi.......................................... 174 Figura 120 – Corte: Acesso ao novo edifício............................................. 195 Tabela 02 – Levantamento de Patologias da fachada..................... 148
Figura 85 – Sesc Pompéia................................................................................... 157 Figura 103 – Visita ao local de intervenção............................................... 179 Figura 121 – Ambiência: fachada Rua Ataliba Borges....................... 196 Tabela 03 – Levantamento de Patologias da fachada..................... 149
Figura 86 – Maquete Presente no Sesc Pompeia............................... 158 Figura 104 – Diagrama 01: Conceito e Partido....................................... 180 Figura 122 – Ambiência: fachada Rua Ataliba Borges...................... 197 Tabela 04 – Quadro de áreas: Térreo........................................................... 193
Figura 87 – Deck Solarium.................................................................................. 159 Figura 105 – Fluxograma de programa...................................................... 182 Figura 123 – Diagrama 06: Materialidade................................................. 198 Tabela 05 – Quadro de áreas: Mezanino.................................................... 193
Figura 88 – Fotografia “Together” por Tapio Snellman.................. 160 Figura 106 – Diagrama 02: Eixos estruturadores................................. 183
Figura 89 – Sesc Pompéia: diagramas de leitura projetual......... 161 Figura 107 – Diagrama 03: Programa.......................................................... 184
Figura 90 – Logotipo do Sesc Pompeia..................................................... 162 Figura 108 – Diagrama 04: Relações de proximidade..................... 185
Introdução
O presente trabalho tem como objetivo documentar a sustentável à escala do bairro, através de um programa que
história de urbanização da região da Vila Hortência e refletir atenda às necessidades dos moradores e incentive a vida
sobre seu rumo na cidade de Sorocaba, através da proposta pública e trocas entre a comunidade.
de um projeto arquitetônico de conservação do complexo Conhecido como lar dos imigrantes espanhóis no início
subutilizado localizado entre as ruas Ruy Barbosa e Ataliba do século XX, em meio aos operários das tradicionais fábri-
Borges, formado pela Packing House de Laranjas “TRICO cas têxteis que transformaram a economia e a paisagem da
1931”¹ e pela Remonsa Retífica de Motores Nossa Senhora cidade, dando forma à Manchester Paulista, o Além Ponte
Aparecida LTDA, cujo novo programa, voltado ao comércio e hoje abriga moradores de diversas camadas da sociedade.
à cultura local, reúne espaços expositivos, estrutura para fei-
ras, bem como uma oficina voltada ao artesanato e prática
de vivências culturais.
A vontade do setor imobiliário de empreender nas loca- tar a urbanização inclusiva e sustentável, e as capacidades
lidades próximas aos eixos de conexão da cidade, aliada a para o planejamento e gestão de assentamentos humanos
um crescente número de edificações subutilizadas encon- participativos, integrados e sustentáveis, em todos os paí-
paisagem encontrada no Além Ponte, caso o planejamento Por se tratar de um projeto que leva em consideração pré
urbano e os empreendimentos arquitetônicos – com desta- existências, é essencial compreender a história dos edifícios
que para a verticalização que tem ocorrido na última década antes de propor seu novo uso. As premissas para a seguin-
– sejam realizados de maneira alheia à comunidade que ali o te intervenção no que diz respeito à restauração baseiam-se
habita, como ocorrido na década de 90, quando o complexo nos princípios de compatibilidade da materialidade, reco-
fabril Santa Maria – empreendimento percursor do desen- nhecibilidade do novo e antigo, retrabalhidade quando as-
volvimento têxtil proeminente em Sorocaba e peça chave sim se faz necessária, e mínima intervenção nas áreas justi-
Fig. 1 para o crescimento do bairro – datado de 1892, foi demolido ficadas para tal grau de conservação que serão abordadas a
Vista da Avenida Nogueira Padilha.
Ao fundo, a Paróquia Bom Jesus dos
de maneira ilegal. fundo nos próximos capítulos (Torsello, 2005).
Aflitos, construída na década de 40.
Fonte: acervo Renato Amorim
A CIDADE
“Tinha uma vila no meio do caminho, e seu nome era Sorocaba.” (ANDERY, 2018)
De Manchester Paulista a Moscou brasileira:
contexto de formação das vilas operárias em Sorocaba
A cidade de Sorocaba é uma das maiores e mais antigas do A área, atravessada pelo rio Sorocaba, foi inicialmente ha-
interior do Estado de São Paulo, fazendo parte de um contex- bitada pelos povos originários Tupiniquins e Guaranis. O ter-
to que engloba a Região Metropolitana, composta por outros ritório era parte do caminho conhecido como Peabiru – “Ca-
27 municípios (fig. 2). Com uma área abrangente de cerca minho do Peru”² –, que cruzava a América do Sul. Esse trajeto
de 450 km² e população estimada de aproximadamente 724 tornou-se fundamental para os Bandeirantes e Missionários
mil habitantes conforme o censo do IBGE de 2022. A cidade, que se dirigiam ao interior do continente. Desde a formação
fundada em 1654, tem uma história de desenvolvimento ur- do povoado, a localização da cidade foi um ponto usado a
bano intrinsecamente ligada à indústria têxtil. É nesse cená- favor do crescimento econômico. Nesse panorama inicial, é
rio que será explorada a trajetória que moldou a região, onde possível apontar os tropeiros – em especial Baltazar Fernan-
as fábricas desempenharam papel crucial. des – como agentes de transformação da cidade, os primei-
ros a realizar atividade econômica a nível estadual na região.
A localização estratégica sempre foi um fator-chave para
o desenvolvimento do município, situado a 103,6 km de São
Paulo, e essa posição geográfica privilegiada tem sido um
Fig. 2 elemento central desde os tempos do tropeirismo até os ² LOSADA (2016, p. 19) Aponta que, segundo Galdino (2005, p. 13) o Caminho do Peru, tam-
Região Metropolitana de Sorocaba.
Fonte: IGC (Instituro Geográfico e dias atuais, marcados pela presença de multinacionais e um bém chamado Caminho da Montanha do Sol, consistia em uma rota utilizada pelos povos
originários durante milênios, que compreendia as áreas hoje correspondentes às cidades de
Cartográfico)
mercado imobiliário aquecido. São Vicente, Sorocaba, Castro, Guiará, Assunção, Potosi e Cuzco.
1 2
• Massari (2011, p. 48) a classifica como “talvez o exemplar • Deu início às suas atividades somente em 1896, tendo
que mais simbolize a importância e a vanguarda das sido adquirida por John Kenworthy* em 1903. Desati-
iniciativas industriais da cidade, devido a seu porte, à vada em 1982, durante a década de 90 teve parte de
urbanização de seu bairro operário e aos inúmeros be- seu complexo demolido ilegalmente, restando dois re-
nefícios aos seus funcionários.” A vila operária contava, manescentes do edifício atualmente. Hoje, o terreno
em 1914, com 270 moradias, escola, consultório médico comporta o condomínio Residencial Villa de España.
e armazém. Desativada em 1994, a área da fábrica pas-
• 6. Fábrica São Paulo (1909):
sou a abrigar o Hipermercado Extra, de 2000 a 2022.
Fonte: Brasilbook
Atualmente faz parte do grupo Assaí Atacadista. • Também chamada Alvenaria, Tinturaria e Estamparia
Fonte: Pedro Neves dos Santos via Acervo do Museu Histórico Sorocabano São Paulo, tem sua história ligada à Santa Maria não só
• 4. Fábrica Votorantim(1890):
pela proximidade geográfica, mas também pelo fun-
• A fábrica Votorantim foi um projeto ambicioso, che- dador, Kenworthy. Inicialmente fazia parte da Compa-
gando a ser uma das maiores da América do Sul em nhia Nacional de Estamparia (CNE), a Fábrica São Pau-
1913. Após a falência de 1917, foi adquirida por Antonio lo se encontra desativada desde 2010 e é de posse do
Pereira Ignácio e Francisco Scarpa, tendo seu foco am- Grupo Splice.
pliado para além da tecelagem.“Nos vinte anos subse-
• 7. Metalúrgica Nossa Senhora Aparecida (1937):
quentes, a Fábrica Votorantim converteu-se de parte
da massa falida do banco para o posto de principal fir- • Renomeada Aços Villares S.A., composta pela Aços
Fonte: Brasilbook
ma têxtil paulista” (SILVA e COSTA, 2018). A vila operária Villares e pela Villares Metais. Em 1988 e adquirida pelo *John Kenworthy nasceu em Oldham, cidade da Grande Manchester, no Reino Unido. “Os
Kenworthy provinham do condado de Manchester (Oldham) onde eram industriais, sendo
de Votorantim foi o início da urbanização do que, mais grupo Gerdau em 2005, fechou suas portas em 2014,
esse Condado o maior núcleo industrial de tecelagem da Inglaterra” (CÂMARA MUNICIPAL
Fonte: Prefeitura Municipal de Votorantim via G1 Sorocaba tarde, se tornaria o município de Votorantim. estando sem uso desde então. DE SOROCABA, 2018).
A partir da década de 1960, a presença de variadas empre- Atualmente, organizações voltadas para o desenvolvimen-
sas contribuiu para a configuração atual da malha urbana e to empresarial e industrial, como o grupo Splice por exemplo,
dos seus aspectos econômicos. O crescimento populacional desempenham um papel fundamental na atividade econô-
resistiu à grave crise que impactou a indústria local nos anos mica e no progresso da cidade. Sorocaba se destaca por pos-
1980. Apesar de uma recuperação parcial nesse setor desde suir um amplo parque industrial, consolidando-se também
então, notavelmente marcada pela instalação da fábrica da como uma cidade universitária devido à presença significa-
Toyota na região, a principal força impulsionadora do cres- tiva de instituições de ensino técnico e superior na região.
cimento econômico local passou a ser o setor de serviços,
O centro histórico passou por uma transformação, evo-
sobretudo de engenharia. A transformação da fábrica de te-
luindo para se tornar hoje um polo comercial dinâmico, ao
cidos Nossa Senhora da Ponte é um símbolo dessa transição,
mesmo tempo em que surgem novos eixos de expansão,
sendo hoje o Shopping Cianê, uso que marca a passagem do
como a Zona Norte - a região mais populosa de Sorocaba,
monopólio industrial têxtil, quase como um ciclo de retorno
onde reside uma grande parte da população de baixa renda,
simbólico ao período das feiras às margens do rio Sorocaba
contrastando com a Zona Sul, onde se concentra parte da
que ocorriam no século XVIII (ANDERY, 2018).
população de classe alta, sedes de empresa e, consequente-
Fig. 13 mente, o m² mais valorizado de Sorocaba.
Sorocaba vista por drone.
Fonte: Designi, adaptado.
O BAIRRO
“Há um vilarejo ali
Onde areja um vento bom
Na varanda, quem descansa
Vê o horizonte deitar no chão
Pra acalmar o coração
Lá o mundo tem razão
Terra de heróis, lares de mães
Paraíso se mudou para lá
Por cima das casas, cal
Frutos em qualquer quintal
Peitos fartos, filhos fortes
Sonho semeando o mundo real”
Traçar o contexto de formação do Além Ponte é, inicial- “O comércio próspero dessa atividade era então refletido nas
mente, compreender as características geográficas do local. edificações dos detentores do poder tanto religioso quanto
Localizado às margens do Rio Sorocaba, no eixo de conexão econômico e privado, em especial na arquitetura residencial,
para a região Metropolitana de São Paulo, o comércio foi o que, com casarões espalhados por Sorocaba, foram respon-
fator inicial que levou ao primeiro assentamento urbano fora sáveis pelas novas urbanidades que surgiam fora do centro.”
da colina onde se localizava a área urbanizada, hoje reconhe- (SANTOS, 2021. Pg. 6)
cida como centro histórico. Remontando ao período de 1750 a
Segundo Baddini (2002), o início da urbanização no Além
1888, quando Sorocaba era conhecida como Vila Tropeira de
Ponte foi ocasionado pela implantação do Registro de Ani-
Nossa Senhora da Ponte e realizavam-se as Feiras de Muares,
mais, em 1750, na margem direita do Rio Sorocaba e levando
ocorreu um grande desenvolvimento econômico, principal-
à criação da Rua da Contagem, de nome modificado para
mente pela cidade estar localizada em um ponto de parada
Rua São Paulo em 1887 (fig. 16). Em 1880 a Chácara de Quin-
dos Tropeiros – responsáveis pelo comércio pecuarista.
zinho de Barros – antigo senhor de terras e um agente de
transformação da região - foi repartida em duas parcelas, ori-
Fig. 15
Além Ponte visto da Avenida XV de Novembro nos anos 70.
ginando o traçado da Rua Cel. Nogueira Padilha, inicialmen-
É possível observar a Avenida São Paulo e os principais marcos da paisagem: te Rua dos Morros. A Chácara do Quinzinho permaneceu no
O ginásio de esportes, Fábrica Santa Maria e Paróquia Santo Antônio.
Fonte: Acervo Douglas Gomes Norte, e a Chácara Amarela teve sua implantação ao Sul.
1892 1892
Mapa 2 1909 1909
Além Ponte: Evolução Urbana 1925 1925
A mudança do tecido da região a partir de 1850 é obser- cultura do café, logo substituída pela do algodão e a forte
Elaborado pela autora, 2023. 1939 1939
vada com a abertura do Largo do Coronel Manoel Lopes em propaganda de oferta de trabalho, atraiu famílias em busca 1962 1962
1871 e consequentemente a formação de novas ruas, crian- de oportunidades em um momento crítico.(MENESES, 2013) Malha Urbana Malha Urb
Linha férrea Linha férr
do uma conexão da rua dos Morros (atual Nogueira Padilha)
Em Sorocaba, reflexos da industrialização e da imigração Fábrica Sta. Maria Fábrica St
com a rua do Votorantim. O Largo do Coronel passou por um
europeia podem se observar no crescimento da região do
processo de embelezamento, fazendo parte das modifica-
Além Ponte, que se deu a partir da fábrica Santa Maria, na
ções urbanas que visavam a modernização de uma Soroca-
vila de mesmo nome, bem como nas Vilas Hortência e As-
ba que iniciava seu posicionamento no cenário de industria-
sis, expandindo-se para os bairros Barcelona, Parada do Alto,
lização no Brasil em meados do séc. XIX. Com a construção
Vila Haro e Caputera a partir da segunda metade do século
da Estrada de Ferro Sorocabana na região, a cidade rumava
XX, sendo os bairros Barcelona e a Parada do Alto regiões nas
para um novo capítulo que demandava uma paisagem mo-
quais a forte ligação espanhola se observa no nome das vias,
derna. Assim, a rua dos Morros foi pavimentada entre 1873 e
que homenageiam a herança cultural hispânica. Ainda nes-
1874 recebendo embelezamento devido à sua conexão com
se sentido, a imigração cumpriu um valor significativo para
a rua São Paulo, até então uma das principais vias de entrada
o município no passo que, atualmente, a bandeira do muni-
para a cidade. (BADDINI, 2002)
AlémdePonte:
cípio Evolução
Sorocaba Urbana
herda as cores e uma simbologia advinda
Entre o final do século XIX e início do século XX, junto com da bandeira da Espanha. Ribeiro (2006) descreve reflexos da Snazzy Maps, adaptado.
1892
o período de industrialização, o Além Ponte ficou conhecido herança hispânica observadas nas ruas da zona Leste de So-
1909
como uma colônia espanhola, devido à quantidade de imi- rocaba: 1925
O aumento da produção de plantações à leste levaram à Além das áreas destinadas à plantação de laranja, a ce-
fundação da cooperativa de citricultores em 1930 e na cons- bola também rapidamente se tornou um forte produto de
trução de duas packing houses destinadas à separação e exportação, tornando a região conhecida pela agricultura.
embalagem de caixas de laranja, localizadas nas ruas Ruy (CARVALHO, 2008, p. 254)
Barbosa e Epitácio Pessoa, na Vila Hortência e Árvore Gran-
A herança espanhola na região se deu além da agricultu-
de, respectivamente(fig. 18 e 19), sendo o primeiro dos dois
ra, indústria e do comércio. O tempo de descanso da comu-
edifícios o foco principal de desenvolvimento de projeto da
nidade era destinado desde momentos em família, vizinhos
presente pesquisa, e que será aprofundado mais adiante nos
e amigos onde se consumia comidas típicas como a miga e
capítulos seguintes.
o gazpacho, à ocupação das ruas com reuniões sociais, à prá-
Ambas as Packing Houses passaram por um longo perío- tica de esportes como futebol e bocha, sendo criado em 1929
do de subutilização, até que, em 2019, a construção da Rua o clube Hespanha, nas proximidades da Fábrica Santa Maria
Epitácio Pessoa, que se encontrava abandonada, passou por (SAKURAI, 2016). Hoje o clube já não existe mais, restando
Fig. 18 Fig. 19
Packing House de Laranjas. Packing House de Laranjas. um processo de projeto de reforma a fim de comportar a somente relatos de pesquisadores acerca do período.
Localizada na Rua Ruy Barbosa, o edifício é alvo do projeto de Localizada na Rua Epitácio Pessoa hoje abriga a Agência
intervenção desta pesquisa. Fonte: Zaqueu Proença, 2016. Ambiental de Sorocaba. Fonte: Divulgação CETESB. CETESB - Estação de Tratamento de Água, enquanto que a
localizada na Rua Ruy Barbosa seguiu e continua até hoje
tendo seu uso subutilizado, e a arquitetura que chama a
atenção principalmente pelo telhado, além das característi-
No campo das artes, o cine teatro Alhambra destinava-se Décadas mais tarde, durante os anos 50, entre os apitos da
à exibição de filmes e peças de teatro em espanhol, uma das fábrica Santa Maria, a construção da Rodovia Raposo Tavares
manifestações culturais que corroboraram com a preserva- contribuiu para o aumento da densidade de ocupação do
ção da herança hispânica na região. Hoje, o prédio também Além Ponte, sobretudo nos bairros dos morros, com o surgi-
não existe mais, restando somente registros nos jornais acer- mento dos bairros Barcelona e Parada do Alto, onde se ob-
ca das exibições que ocorriam durante seu funcionamento. serva força da herança espanhola através dos nomes das
ruas e dos costumes dos seus habitantes. (LOSADA, 2016)
Enquanto o Alhambra destinava-se especialmente a mos-
tras relacionadas com a cultura espanhola, o Cine Eldorado Fonte: Memória Jornal Cruzeiro do Sul Após o fechamento da fábrica Santa Maria, em 1982, a di-
(fig. 20), financiado também por famílias espanholas e cujo nâmica do bairro passou a se concentrar não mais em torno
nome do estabelecimento reflete essa herança local, foi inau- da atividade fabril, mas sim no setor terciário, que se dá atra-
gurado em 1939 e exibia grandes clássicos hollywoodianos vés do eixo comercial da Nogueira Padilha (fig. 21 e 22).
da era de ouro do cinema.
Hoje, a região é ocupada por comércios de pequeno e mé-
Fig. 20
Cine El Dorado, sem data.
dio porte, de caráter local e familiar, que fazem um contra-
Fonte: Brasilbook. ponto ao cenário de verticalização crescente, decorrente so-
bretudo, da posição privilegiada que o Além Ponte possui no
município e sua proximidade das vias que ligam a cidade de
Sorocaba à metrópole de São Paulo.
Colocando em panorama os edifícios que transformaram O início das atividades fabris no Além Ponte atraiu um
a região do Além Ponte, é imprescindível citar novamente grande contingente de imigrantes, como já exposto anterior-
as fábricas e seu uso atual. Localizada na Rua Santa Maria mente, e moldou todo o desenvolvimento urbano da região.
n 283, compreendendo uma área de mais de 61 mil metros “Ao mesmo tempo em que foi construída com a intenção de
quadrados, a fábrica Santa Maria (fig. 23 e 24), foi implantada abrigar os trabalhadores da Santa Maria, a vila operária da
em parte do terreno pertencente à Chácara Amarela, numa Vila Hortência teve um significado na construção da iden-
zona estratégica próxima à estrada de ferro sentido Fábrica tidade local e na história do bairro pela permanência de ca-
Votorantim. Inaugurada em 1892, a fábrica só iniciou de fato racterísticas de uma forma de habitar e coexistir demarca-
seus trabalhos em 1896. Atuando inicialmente com 200 ope- das pela vizinhança da Fábrica e pelos costumes tradicionais
rários (PDG, REALTY S/A, 2014) o empreendimento contribuiu mantidos pelos operários de ascendência espanhola.” (OLI-
fortemente para a urbanização do bairro da Vila Hortência e VEIRA, 2002 apud ALMEIDA, 2023, p. 18)
teve um final dramático, envolvendo demolições na calada
Em relação aos aspectos arquitetônicos da Fábrica Santa
da noite, pressão imobiliária e apagamento do patrimônio
Maria, destaca-se uma característica que a diferenciava das
cultural da zona Leste.
demais: a iluminação e ventilação trazida por aberturas ze-
Fig. 23
Remanescentes da Fábrica Santa Maria vistos da Rua Manoel Lopes, em 1993.
nitais. A cobertura de quatro águas possuía um rebaixo que
Fonte: Brasilbook permitia a entrada de luz através de sheds em caixilharia de
Fig. 24
ficações térreas e semelhantes entre si, frequentemente mento urbano, além da criação de condições favoráveis para
Fábrica Santa Maria.
Fonte: Brasilbook, Museu Histórico Sorocabano, CMDP,
desprovidas de recuo central, sem garagem, com testada de o desenvolvimento das atividades econômicas locais.
Ettore Marangoni via Centro de Memória Operária,
Compilado pela autora.
cerca de 4m e com portas e janelas voltadas para a rua.
levasse em consideração o valor histórico. Quanto aos pro- ta: “a demolição da fábrica foi vista como uma ação unila-
“O levantamento ainda estava sendo realizado pelo órgão
prietários da gleba, não houve sequer penalização sob o ato teral e desrespeitosa pela população, que se mobilizou para
quando foi apresentado na Prefeitura Municipal um projeto
de destruição do patrimônio histórico, e parte da história protestar e exigir a preservação do patrimônio. Houve mani-
de loteamento para a área da antiga fábrica. Informado que
da Santa Maria se juntou aos escombros de sua demolição. festações públicas, abaixo-assinados, petições e campanhas
a área estava em processo de tombamento, o proprietário
(MASSARI, 2011 in LOSADA, 2016, p. 89) nas redes sociais, além de reuniões e audiências públicas
do local na época, justificou que teria seu loteamento pre-
com representantes da sociedade civil e do poder público.”
judicado pela grande área ocupada pelos “prédios velhos””
7
Solange Maceil Soriano. Parecer - Exposição de motivos para a Preservação de Patrimônio (ALMEIDA, 2023, p. 54)
(MASSARI (2009) apud LOSADA (2016, p. 85) Cultural - Fábrica Santa Maria, Prefeitura Municipal de Sorocaba, dezembro 1993.
Fig. 28
Notícia veiculada sobre a demolição.
Fonte: Acervo Jornal Cruzeiro do Sul, 1994.
área remanescente do “Museu da Tecelagem”, e o gabarito cadas fora de contexto (...) a “arquitetura preservada” é uma
diminui a hierarquia da chaminé na paisagem: pequena parte da edificação da antiga fábrica, com chami-
né, e uma espécie de “galpão” construído em tijolos que si-
“A verticalidade do condomínio Villa de Espanha é um as-
mulam a arquitetura original” (Cavalheiros, 2023, p. 52)
pecto que chama a atenção, especialmente quando compa-
rado com as construções comerciais, religiosas e residenciais O caso da Santa Maria foi a motivação inicial para a esco-
presentes na Vila Hortência, cujo gabarito de altitude é mais lha do tema de intervenção aqui presente: como preservar
horizontalizado. Tal diferença reflete uma mudança signifi- aspectos de memória, permanência e de caminhabilidade
cativa na forma como o espaço urbano é concebido e utili- em uma região ameaçada pelos processos de mudança fru-
zado no bairro, evidenciando a influência do capitalismo na to da expansão leste e da pressão imobiliária que ruma à ver-
fonte: GoogleMaps transformação da paisagem urbana” (ALMEIDA, 2023, p.n 60) ticalização?
Muitos séculos se passaram desde a divisão territorial en- A residência de Manoel, chamada Chácara Amarela (fig.
tre Chácara Amarela e Chácara do Quinzinho, separadas 32), posteriormente abrigou a primeira fábrica de tecidos da
pela criação da Rua dos Morros. No entanto, ainda hoje, essa província no ano de 1852, embora tenha fechado pouco tem-
divisão histórica tem um impacto significativo na paisagem po depois.
local, especialmente ao longo da atual Rua Nogueira Padilha
A urbanização da área começou efetivamente por volta
(mapa 3). A topografia da área é caracterizada pela inclina-
de 1850, e um marco desse processo foi a abertura do Largo
ção do terreno, à medida que avançamos para os núcleos
do Coronel Manoel Lopes em 1871 (Baddini, 2002). Isso resul-
leste e oeste do bairro. Entre as construções, que represen-
tou na criação de novas vias, conectando a Rua dos Morros,
tam uma arquitetura típica de subúrbio, vale ressaltar locais
atualmente Nogueira Padilha, à Rua do Votorantim. O Largo
que compõem o cenário urbano, tanto visualmente quanto
do Coronel estava localizado em frente à Chácara Amarela, e
devido à sua importância para a cultura local.
décadas mais tarde, já no século XX, o Ginásio Municipal de
A família de Manoel Lopes de Oliveira desempenhou um Esportes seria construído no local.
papel significativo na urbanização da região leste de Soroca-
O Largo do Coronel representou, entre os anos 1870, um
ba. Inicialmente, a família estava envolvida na produção de
esforço de embelezamento urbano que estava alinhado com
algodão em sua chácara na Estrada dos Morros, que hoje é
a intenção de modernizar a cidade (Baddini, 2002).
conhecida como Nogueira Padilha.
-se o casarão do Capitão Chico, também conhecido como a família Prestes de Barros na área de Além Ponte, outros
Quinzinho. Esse edifício agora abriga o Museu Histórico So- marcos da transformação notável na paisagem urbana se
Fig. 32
rocabano (Figura 34) e é uma parada essencial nas visitas ao desenrolaram com a presença das fábricas, como mencio-
Chácara Amarela,
que hoje abriga o grupo de segurança patrimonial Berbel, se zoológico, frequentadas principalmente por alunos de esco- nado anteriormente. Assim, destaca-se a Fábrica São Paulo,
localiza no lote em frente ao Ginásio Municipal de Esportes.
las públicas e privadas de Sorocaba e região. situada no início da Avenida São Paulo, contando com uma
Fonte: da autora.
área superior a 55 mil metros quadrados - quase o dobro da
A influente família Prestes de Barros desempenhou um
O embelezamento incluía a abertura de novas áreas, ni- Fábrica Santa Maria - e em uma localização privilegiada, a
papel fundamental no início da urbanização da área conhe-
velamento de ruas e a substituição da técnica construtiva poucos metros do centro histórico, estando também no eixo
cida como Além Ponte, nomeando várias ruas e até bairros
de taipa, que eram iniciativas para melhorar a imagem da leste que conecta o Além Ponte à Rodovia Raposo Tavares.
inteiros, como a Vila Hortência, possivelmente em home-
cidade para os visitantes. Sorocaba, na época, possuía ruas
nagem a Hortência Prestes, esposa de Quinzinho, também
irregulares de terra batida e muitas construções em taipa. Fonte: Agenda Sorocabana, 2018.
Fig. 44
O esporte desempenhou um papel central no entreteni-
Projeto do Ginásio Municipal de Esportes. mento da população, e a região do Além Ponte abriga vários
Fonte: Gal Moreira Dini II via Grupo Recordações Sorocabanas.
clubes de futebol, incluindo o Barcelona FC e o icônico Es-
porte Clube São Bento. O estádio Humberto Reale (fig. 45 e
O edifício, concebido pelo renomado arquiteto Ícaro de
46), originalmente conhecido como “Campo Nogueira Padi- Fig. 45 Fig. 46
Castro Mello (fig. 44) - responsável pelo projeto do Ginásio do
lha” e “Campo do São Bento”, inaugurado em 1954, recebeu Estádio Humberto Reale visto de cima, meados do século XX. Dois marcos da paisagem do Além Ponte:
Ibirapuera em São Paulo - se destacou por anos na paisagem Ao fundo, é possível ver a Escola Senador Vergueiro, e à esquerda, a Paróquia Bom A Paróquia Bom Jesus e o Estádio Humberto Reale.
posteriormente o nome em homenagem ao ex-presidente Jesus dos Aflitos. É interessante notar o gabarito e implantação das edificações locali- Fonte: Jornal Cruzeiro do Sul)
urbana por sua altura e design inovador. Foi considerado o zadas ortogonalmente na Rua Nogueira Padilha. Fonte: Jornal Cruzeiro do Sul.
do clube após seu falecimento.
maior espaço coberto para a prática de basquete na Amé-
rica Latina e, além de sediar jogos de basquete e voleibol,
Notoriamente histórica, a Vila Hortência possui uma ca- Na Vila Hortência, o conceito de “olhos na rua” (JACOBS,
racterística singular dentre tantas outras: a sua paisagem, 1961) é observado de maneira clara: no final da tarde, é co-
apesar de modificada com o passar dos anos e com os con- mum ver os moradores – muitos destes que passaram a vida
sequentes avanços tecnológicos, permanece convidativa e é toda na Vila – se apropriando das calçadas para reuniões so-
possível observar as relações pessoais entre vizinhos e o sen- ciais, compostas muitas vezes por idosos, que realizam ativi-
so de comunidade presente no bairro (Fig. 52). E é esse senso dades como uma conversa cotidiana, ou ainda por crianças
a chave de um espaço seguro e caminhável: em uma brincadeira na rua, como nos tempos antigos de
seus pais e avós.
“Uma cidade que convida as pessoas a caminhar, deve ter
uma estrutura razoavelmente coesa que permita curtas dis- As casas, notoriamente antigas, de implantação voltada
tâncias a pé, espaços públicos atrativos e uma variedade para a calçada fazem com que o quintal de seus morado-
de funções urbanas. Há mais olhos nas ruas e um incentivo res seja a própria rua, e é comum observar cadeiras postas
maior para acompanhar os acontecimentos da cidade, a par- para fora de casa no final de tarde, onde o bate papo do dia-
tir das habitações e edifícios do entorno.” (GEHL, 2013, pg. 06) -a-dia acontece por horas a fio. Logo, já não é tão inseguro
caminhar pelas ruas predominantemente residenciais seja
Fig. 52 durante o dia, seja no início da noite.
O encontro da tarde é uma atividade típica observada
nos grupos de moradores da região. Fonte: da autora.
Vila Hortência em Perspectiva 100 101 O Bairro | O Além Ponte sob um olhar caminhável
Aspectos urbanísticos e cenário atual
Atualmente, apesar do crescimento exponencial da região ção. Apesar de não possuir o status oficial de Avenida, a No-
do Além Ponte, quando se trata da Vila Hortência, a Noguei- gueira Padilha é um elemento tão forte onipresente desde
ra Padilha continua sendo a via de maior hierarquia interna o início da formação do bairro, e delimitadora da paisagem,
do bairro (Mapa 4), conectando a Avenida São Paulo e o Cen- que é chamada assim por seus moradores. Esta via arterial
tro até a Rodovia Raposo Tavares. A localização estratégica age como espaço de transição para as vias locais, em que o
entre vias faz com que a locomoção até diferentes pontos da fluxo é baixíssimo nestas, e a implantação das residências e
cidade seja realizada de maneira rápida, e esse fator - dentre comércios familiares mistos de baixa-média renda ditam as
outros - vem contribuindo na especulação imobiliária e ver- relações sociais. Conforme afirma Ribeiro (2006) sobre a re-
ticalização da região. gião Leste de Sorocaba:
A Nogueira Padilha também é o ponto mais alto da topo- “Ruas que são avenidas e avenidas que não passam de ruas
grafia do bairro e onde estão implantados comércios de ga- largas. Para a população local, na sua convivência diária, cha-
barito baixo e de pequeno porte, muitos destes conhecidos mar o caminho público de rua ou avenida não faz a mínima
por sua tradição e história, e passados de geração em gera- diferença, ainda que para os que são de fora a denominação
das vias públicas não faça muito sentido.” (RIBEIRO, 2006, p.
Fig. 54 26)
Vila Hortência hoje: marcada pela arquitetura típica do subúrbio brasileiro.
Fonte: da autora
Vila Hortência em Perspectiva 104 105 O Bairro | Aspectos urbanísticos e cenário atual
“Art. 109 As edificações deverão ser implantadas obedecen- Apesar do predominante gabarito baixo existente na re-
do aos seguintes recuos mínimos (...): a) recuo mínimo de gião da Vila Hortência, o Plano Diretor não proíbe a constru-
frente de 5,00m, em todos os pavimentos; 1. nos lotes com ção de empreendimentos verticalizados, contanto que sigam
testada superior a 7,00m, o recuo mínimo de frente será de os valores citados. Nesse cenário, existem alguns exemplares
4,00m para construções unifamiliares, exceto condomínios, desse tipo de empreendimento, cuja data de construção é
desde que a garagem tenha tal recuo; ” (PLANO DIRETOR recente. A problemática de tais empreendimentos com mais
‘
DE SOROCABA, 2014) de 10 andares em conglomerados predominantemente resi-
denciais térreos incluem os impactos na vizinhança, advin-
É interessante observar como essa diretriz é rebatida na Fig. 55 Fig. 56
Valores limite para índices urbanísticos por zona Resquícios das vilas operárias: dos do aumento da densidade populacional acompanhado
morfologia urbana do bairro: identificar as tipologias datadas . Zona de estudo em destaque. Adaptado. Implantação característica das residências e
Fonte: Leis Municipais, 2022. comércios antigos no Além Ponte não contam do trânsito, além do fato de que, ao implantar residências
do século XX inclui, a um primeiro olhar, notar a falta de recuos
com recuos frontais. Fonte: da autora.
em níveis muito acima do nível da rua, as relações de ocupa-
frontais, e implantação rente ao terreno, proporcionando
ção do espaço público no caso específico da Vila Hortência,
portas que se abrem diretamente para as calçadas (fig. 56).
conforme será explanado nos próximos capítulos, se perde
Corte esquemátio: Ruas Santa Maria e Cel. José Tavares em grande parte.
da autora.
Vila Hortência em Perspectiva 106 107 O Bairro | Aspectos urbanísticos e cenário atual
Capítulo 03
O EDIFÍCIO
E SEU ENTORNO
“Algo acontece porque algo acontece porque algo acontece” (GEHL, 2010, p. 64)
Justificativa
O tipo de obra realizado no terreno da Santa Maria foi o Por isso, antes de escolher de fato um edifício para a in-
pontapé inicial para a problematização do tema de estudo: tervenção arquitetônica, se fez necessário um estudo dos as-
Como evitar destino similar ao de degradação encontrado pectos relativos à dinâmica urbana do bairro e, assim, decidir
nos exemplares da Fábrica São Paulo e Siderúrgica Gerdau? qual a escala de intervenção urbana desejada.
Restaurar é aplicar o conhecimento teórico de forma sensí-
A escolha do edifício foco e de seu raio foi precedida pelo
vel ao ambiente do entorno, em relação aos aspectos urba-
estudo de exemplares subutilizados presentes na região de
nos do local, bem como aos elementos imateriais, como re-
desenvolvimento mais antiga da região, localizada próxima
cordações, relações da vizinhança com o objeto de estudo,
ao início da Avenida São Paulo e da antiga Fábrica Santa Ma-
para que assim, o projeto vá além do edifício, reavivando a
ria, para que então, se chegasse ao lugar de intervenção: a
memória urbana e prolongando assim a vida útil do local.
antiga Packing House de Laranjas localizada na Rua Dr. Ruy
Barbosa (Mapa 6).
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de realocação da Rodoviária de Sorocaba e implantação de passam pela aprovação do conselho. (G1, 2018)
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um terminal intermodal. Uma vez que a intenção inicial do
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Rua Voluntário
A partir disso, foi levantada a seguinte problemática: ape-
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projeto envolve a valorização da Vila Hortência na escala de
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sar dos embates municipais, o tombamento de um edifício
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bairro, ambas as fábricas foram excluídas na escolha do ob-
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o coloca sob o olhar dos munícipes e serve como garantia de
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jeto de intervenção.
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prolongamento de sua existência. Atualmente, a Prefeitura
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gueira Padilha - em sua maioria residências de testada es- rio. Considerando os 367 anos de desenvolvimento urbano e
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treita e cuja implantação inviabiliza a proposta de interven- um território de 450,382 km² (IBGE), a quantidade de bens
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ção arquitetônica, se limitando ao interior da edificação -, um
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prédio se destaca devido à sua arquitetura: o Cine Eldorado, sária atenção àqueles que não passaram ainda pelo proces-
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datado de 1939 (fig. 58). O prédio apresenta características so completo de tombamento, fator que aumenta as chances
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marcantes em sua composição geométrica, de platibanda de demolição e consequente desaparecimento de edifica-
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recortada e sacada maciça, além de elementos decorativos ções de alto valor histórico na cidade, vide exemplo o caso
típicos do estilo Art Deco. Fig. 58
Raio de Intervenção: Ocupação do Solo da Fábrica Santa Maria, demolida durante seu processo de
Cine Eldorado atualmente se encontra
desocupado e à venda. Fonte: da autora. tombamento, como expresso anteriormente.
O edifício apresenta maior grau de exequibilidade via ini- Lotes em uso
ciativa privada, uma vez que está à venda, ao mesmo passo Lotes abandonados
Lotes subutilizados
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aulo 250 500 750 1000 m
que apresenta menor possibilidade de demolição devido ao
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Vila Hortência em Perspectiva 112 113 O Bairro | Justificativa
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Sorocaba reflete um cenário observado em outras cidades sendo também um eixo pelo qual passava o antigo bondi-
do país: de um lado, uma dúzia de imóveis tombados e pro- nho, caráter que permanece atualmente, sendo a rua um
tegidos de intervenções pela gestão patrimonial do municí- corredor de transporte, conexão entre o bairro e a Avenida
pio, têm no seu grau de restrição o principal fator de desin- São Paulo.
teresse de aquisição do imóvel por parte da iniciativa privada
As características do prédio (fig. 59) chamam atenção pela
e isso leva a um longo período de ociosidade do prédio, con-
alvenaria de tijolos, remetendo a uma era anterior que de-
tribuindo com o degrado, e gerando assim um ciclo vicioso.
finiu a paisagem da cidade por meio das fábricas têxteis. A
Por mais encantador que seja sua arquitetura e história, localização, próxima à Avenida São Paulo, torna o edifício um
um edifício de nada contribui na dinâmica urbana se não potencial elemento de transição entre escalas urbanas.
for apropriado pelas pessoas que ali habitam, trabalham,
Fig. 59 Fig. 60
Sua arquitetura, que rapidamente se destaca, abre a pos-
estudam e desempenham tantos outros papéis na cidade. Edifício de arquitetura anônima, Edifício sede da “REMONSA”, 2021. sibilidade de uma nova documentaçãode edifício não tom-
Do outro lado, edifícios de valor histórico que não possuem apelidado de “TRICO 1931”. Fonte: Edvaldo Oliveira.
Fonte: da autora. bado de interesse em um inventário patrimonial da cidade
tombamento tem uma situação ainda mais delicada pois
“Renovação urbana só é aceitável se feita em ritmo paulati- Investigações acerca do Cine Eldorado e de seu signifi- de Sorocaba, que atualmente carece de novas pesquisas.
possuem o risco de demolição iminente.
no. Se respeitar o timing da simbiose espaço/população/ati- cado como um dos únicos exemplares tombados no Além Em um estudo inicial do entorno do edifício, a partir de
Em “Preservar não é tombar, renovar não é por tudo abaixo”, vidades compatíveis. O mesmo poderia dizer a respeito de Ponte em meio a uma região repleta de edificações históri- análises via satélites e do levantamento de imóveis subutili-
Santos (1986) expõe o ponto de vista de que a retomada do preservação. Para falar a verdade, com o respeito devido às cas subutilizadas, levou a um olhar mais atento aos edifícios zados, foi verificado situação semelhante no lote que faz divi-
significado que determinado local possui é a chave para sua nossas Ouros Pretos e Paratis, prefiro ver as cidades fora do presentes na parcela mais antiga do bairro, equivalentes à da pelos fundos da Packing House: Se trata da antiga Retífi-
apropriação, e é nessa percepção que o pertencimento do boião de formol, correndo os riscos que, mais cedo ou mais expansão urbana entre as décadas de 1909 e 1939. ca de Motores Nossa Senhora Aparecida, ou ‘REMONSA’ (fig.
local dita muito a prolongação de sua vida útil tanto quanto tarde, teremos de entender como nossos riscos.” (SANTOS,
Um prédio chama a atenção na Rua Ruy Barbosa, conhe- 58), cujo prédio se encontrava abandonado há anos quando
a preservação homologada. Ainda segundo o autor: 1986. Pg. 62)
cida como Rua da Boa Morte no início do século passado, a pesquisa foi iniciada.
Para compreender plenamente o uso e vocação do local Diretor de Sorocaba, 2014). O acesso (Mapa 7) até o lote se dá
escolhido, foi necessário realizar uma investigação do entor- tanto pela via coletora Dr. Ruy Barbosa, no caso do edifício
no imediato, juntamente do estudo acerca do histórico dos “TRICO”, quanto através da via local Ataliba Borges quanto se
prédios adjacentes. Essas investigações iniciais foram cru- trata da “REMONSA”. Apesar de conectados pela divisa dos
ciais para a tomada de decisão de eleger os espaços como fundos, os edifícios não possuem uma conexão fixa que vá
objetos centrais do estudo e intervenção propostos. além do miolo de quadra, o que é um fator em potencial se
considerando a intenção de trabalhar com ambos os prédios.
Os dois edifícios se encontram em um contexto urbano
de transição de uma região predominantemente residencial O contexto das vias foi determinante para além dos estu-
dentro do bairro, para as movimentadas Avenidas São Pau- dos de viabilidade de acessos. Isso porque ambas são vias
lo e Nogueira Padilha, ambas estruturadoras do bairro em históricas, tendo a Ruy Barbosa se chamado Rua da Boa
diferentes escalas, e igualmente locais fonte de ruído, sen- Morte anteriormente, e a Ataliba Borges, a Rua do Tanque
do a Avenida São Paulo estruturante do eixo leste/oeste, já a durante. O Tanque do Buava, como era chamado, permane-
Nogueira Padilha é considerada via arterial padrão I (Plano ce no local (Fig. 62). Segundo relatos de moradores da região,
no final do século XIX não existia água encanada nas casas
Fig. 61 do entorno, habitadas por imigrantes italianos e espanhóis.
Rua Ataliba Borges, caracterizada por residencias
térreas típicas da Vila Hortência.
Fonte: Da autora.
Fig. 62
recente ao local, foi constatado grande contingente de en-
Tanque do Buava indica falta tulho ao redor do marco, que se encontra também tomado
de manutenção. Fonte: da autora, 2022.
por vegetação. Vale notar ainda a placa colocada ali pelos
próprios moradores, que diz “Vamos preservar nosso marco:
não jogue lixo!” (Fig. 63)
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Fig. 63
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Vila Hortência em Perspectiva 118 119 O edifício e seu entorno | Analisando o raio de influência
No entanto, surge uma preocupação com a movimenta- Como mencionado anteriormente, o bairro dispõe de am-
Mapa 9
ção atual: a implantação de um edifício de mais de 20 anda- pla infraestrutura como escolas, postos de saúde que, alia-
Raio de Intervenção: Síntese
res no exato local de intervenção do projeto. dos à grande oferta de comércios e serviços e da proximida- Elaborado pela autora, 2022.
Vila Hortência em Perspectiva 120 121 O edifício e seu entorno | Analisando o raio de influência
“TRICO 1931” e o ciclo da laranja
De implantação sem recuos, assim como as residências O histórico do edifício remonta a dois irmãos italianos, Ta-
características do período, um edifício de dois pavimentos mari e Ruggeri. Fábio conta que seu avô - imigrante espa-
se destaca na paisagem por possuir, a primeiro momento, nhol - adquiriu o galpão dos dois italianos nos anos 40. O avô
sua fachada preservada. Em visita ao local, foi possível ter co- de Fábio, utilizou a área como galpão de estoque de laranjas
nhecimento que a sigla da fachada8 significa Tamari Ruggeri cultivadas em seu sítio, longe da cidade. Ele distribuía laran-
Irmãos & Companhia. Quem relata este fato é Fábio, neto de jas e demais frutas vendendo de porta em porta pelo bairro,
um dos proprietários do galpão e que reside no local há mais em um caminhão durante as décadas de 50 e 60, sendo um
de 25 anos. Hoje, o grande pátio é alugado como garagem dos primeiros veículos desse porte a circularem no bairro. O
para moradores e trabalhadores do entorno. avô de Fábio faleceu na década de 70, e o neto, hoje mais
velho, nunca o conheceu. Nos anos que se seguiram, o edifí-
Fig. 64
Pátio interno do edifício.
cio já foi garagem de ônibus da viação Cometa, e galpão de
Fonte: da autora, 2022. montagem da SORODIESEL, agindo em conjunto com a RE-
MONSA durante as décadas de 80 e 90, que será abordada
8
O mistério em torno do significado de “TRICO” foi o ponto de partida para a escolha desse
projeto de intervenção, muito antes mesmo do início da pesquisa ou sequer da vontade em mais adiante (fig. 65) .
cursar arquitetura ser sequer pensada. Residir no raio de intervenção desde a infância plan-
tou sementes do que viria a se tornar o presente projeto. Assim, deparar-se com esse edifício
durante a busca por edificações subutilizadas foi uma surpresa que gerou grande interesse
em revitalizar o prédio.
Vila Hortência em Perspectiva 124 125 O edifício e seu entorno | “TRICO 1931” e o ciclo da laranja
O antigo uso do edifício TRICO como sendo uma Packing Segundo o Jornal Cruzeiro do Sul, entre a década de 20 e
House de laranjas fez com que se fizesse necessária uma 30 , Sorocaba exportava por ano em média 250 mil caixas de
investigação acerca da citricultura na cidade de Sorocaba. laranja para a Europa, todas exibindo o selo de Sorocaba (fig.
A cultura da laranja teve como um de seus precursores no 67), tendo chegado na marca de 400 mil caixas no ano de
plantio Quinzinho de Barros, que foi um dos agentes da evo- 1939 e se tornando o maior exportador de laranjas do Estado
lução urbana do Além Ponte conforme mencionado no capí- de São Paulo:
tulo ‘Linha do Tempo’.
“O primeiro Ciclo da Laranja em Sorocaba foi uma época de
Segundo matéria transcrita por Rogich Vieira no Jornal muito dinheiro para os produtores e exportadores das frutas
Cruzeiro do Sul (1935), Quinzinho de Barros foi um dos fun- cítricas, em Sorocaba. Durou da década de 20 até o fim da
dadores da rede de Cooperativas de Citricultura. A função década de 30, só terminando com a eclosão da 2ª Grande
das Packing Houses, segundo o Jornal Cruzeiro do Sul (1931), Guerra. Plantavamos e exportavamos todos os tipos de fru-
era de embalar o produto que chegava ao galpão vindo de tas cítricas, principalmente a laranja baiana, que teve gran-
diversos os agricultores e cooperativas, a fim de preparar pa- de aceitação na Europa. Para o amparo dos produtores de
cotes de laranjas que seriam exportadas segundo padrões laranja, fundaram-se duas cooperativas, em época na qual
internacionais. A fruta era exportada principalmente para a nem se ouvia falar em sindicatos. Uma delas, a cooperativa
Europa, e o champagne de laranja, era chamado de “Laran- dos Citricultores de Sorocaba, auxiliada pela Escola Profissio-
jim Supremo” (fig. 66). nal, fez muitas experiências e conseguiu produzir deliciosos Fig. 66
vinhos de laranja (...)” (Ofício do presidente da Cooperativa Panfleto de divulgação do Laranjim Supremo no Almanaque
Sorocabano de 1935. Fonte: Biblioteca Municipal Infantil.
dos Citricultores de Sorocaba, transcrito em 3 de março de
Fig. 65
Panfleto de divulgação da Sorodiesel do final do século XX
1934 no Jornal Cruzeiro do Sul)
mostra o edifício alvo de estudo. Fonte: Trico Lemes.
Vila Hortência em Perspectiva 126 127 O edifício e seu entorno | “TRICO 1931” e o ciclo da laranja
Com o início da Segunda Guerra Mundial, os valores caí- Fig. 68 Ainda em seus dias dourados, durante o crescimento da de tratamento. No entanto, a estrutura do telhado na parte
Auge da crise das laranjas em Sorocaba é
ram drasticamente, e o negócio veio à falência. O auge da anunciado no Jornal. Fonte: Acervo online cultura da Laranja, uma notícia de 1929 no Jornal Cruzeiro traseira está em estado crítico, com comprometimento visí-
Jornal Cruzeiro do Sul.
“crise das laranjas” em Sorocaba se deu na década de 40, se destaca, pois aponta a construção do edifício TRICO, que vel na estrutura de madeira. No passado, houve um processo
quando, na tentativa de aproveitar as laranjas que não foram seria construído três anos após sua nota, que dizia: inicial de tentativa de tombamento da Packing House, mas,
exportadas devido a crise mundial, as cascas começaram por razões ainda desconhecidas, esse processo não avançou,
“A notícia de que o governo vai instalar ali uma estação ex-
então a ser aproveitadas para produção de álcool, extração e a documentação correspondente não foi localizada pela
perimental e um Packing House (...) Com aquelas instalações
de óleos e essências, e os frutos descascados eram jogados autora, apesar de inúmeros esforços e tentativas contínuas
em funcionamento, os citricultores terão a orientação neces-
em massa no Rio Sorocaba. Em manchete de 1942, o Jornal da equipe do Arquivo Histórico Sorocabano.
sária desde o início da cultura da laranjeira, até a fase final
Cruzeiro do Sul anuncia “Proibido Jogar Laranjas no Rio!”
para a exportação do produto.” (Jornal Cruzeiro do Sul, 1929) Fato é que o prédio esteve sempre ligado ao trabalho, seja
(Fig. 68).
ele empacotando laranjas ou montando motores, ao mesmo
Sobre os anos que se passaram após a queda do desenvol-
passo que agia em um ponto em comum: a comida, através
vimento econômico em torno da Laranja sabe-se, em conta-
do refeitório, os das laranjas cortadas em gomos. Esta memó-
to com antigos trabalhadores da Sorodiesel/Remonsa, que
ria antes esquecida, levou a determinação de uso e vocação
o antigo pátio da Packing House servia como refeitório dos
do edifício TRICO 1931: um novo espaço para exposição de
funcionários que trabalhavam montando motores na déca-
produtos itinerantes. Sejam eles frutas, verduras, legumes,
da de 70. A conexão entre ruas que se fazia possível ao se
ou ainda comidas típicas em época de festa junina, natal, ou
juntar o “TRICO” e a “REMONSA” acarretou em uma abertura
quaisquer eventos que sejam de interesse da comunidade.
na parede dos fundos, que hoje se encontra concreta.
A intenção em ocupar novamente o espaço é preenchê-lo
Conforme mencionado anteriormente, a família atual- novamente de pessoas. (fig. 69)
Fig. 67 mente utiliza o galpão como área de estacionamento, e o
Selo das laranjas
brasileiras no exterior. prédio apresenta condições parcialmente favoráveis: a fa-
Fonte: Biblioteca Municipal Infantil.
chada exibe algumas patologias significativas, mas passíveis
Vila Hortência em Perspectiva 128 129 O edifício e seu entorno | “TRICO 1931” e o ciclo da laranja
Fig. 69
Colagem: intenções para o futuro do edifício. Fotos da Feira Santa Maria
sob fotos da Packing House de Laranjas. Elaborado pela autora, 2022.
Vila Hortência em Perspectiva 130 131 O edifício e seu entorno | “TRICO 1931” e o ciclo da laranja
Entre SAMASSA e REMONSA
Assim como a edificação vizinha que já foi uma Packing no CA D’ORE, Provincia di Belluno, como tendo sindo fundi-
House, os galpões da hoje desativada Remonsa também dores de sinos, em 1334. Em 1727, iniciou Giuseppe Samas-
possuem um passado extenso. Antes de ser sede da retífica sa as suas atividades em LJUBLJANA (Laibach) pouco ao
de motores, o prédio abrigou a Fábrica de Sinos SAMASSA norte de Trieste. (...) Antônio, meu bisavô, ampliou a firma,
LTDA, comércio familiar centenário e que foi responsável por montando a indústria metalurgica. Meu avô Alberto espe-
fabricar o Sino da Nova Igreja da Matriz na década de 40 (Fig. cializou-a para objetos litúrgicos e bombas. O imperador
71 e 72). A família, de imigrantes italianos e austro-hungaros Francisco José I da Áustria autorizou-o de usar o sino e o
vem de uma longa linhagem de fabricantes de sinos, confor- cano de canhão nas armas da família. Meu pai Maximiliano
me relata Martina, neta de Alberto Samassa, que atuou no atingiu o ponto máximo do sucesso e teve também o des-
ramo em Sorocaba durante o século XX (Fig. 73). Conforme gosto de assistir à decadência na crise geral européia. (...) A
relata carta de 1944: crise forçou-me a liquidar tudo silenciosamente em 1936.
Emigrei em Março de 1937 para o Brasil. Em 1942, vigorosa-
“A família DI SAMASSA aparece mencionada pela primeira
mente apoiado por Dom José Gaspar de Afonseca e Silva,
vez, nas crônicas da pequena localidade de FORNI AVOLTRI
Arcebispo de São Paulo e Frei Pedro Sinzig, consegui rees-
Fig. 70 tabelecer-me em colaboração com Bráulio Guedes da Silva.”
Desativada Remosa, 2021
(Alberto Samassa Neto, 1944)
Fonte: Acevo Yees! Construtora. Adaptado
Vila Hortência em Perspectiva 134 135 O edifício e seu entorno | Entre “REMONSA” e “SAMASSA”
Em contato com antigos trabalhadores da Remonsa, o se-
nhor Nivaldo, que trabalhou na retífica por mais de 15 anos,
conta de um episódio no qual, durante uma vez na monta-
gem de motores ocorreu um acidente que afundou o piso,
tendo sido descoberto um túnel, que pertenceu, no passado,
à área de fundição de sinos da Samassa.
Vila Hortência em Perspectiva 136 137 O edifício e seu entorno | Entre “REMONSA” e “SAMASSA”
(fig. 76, 77 e 78). Os sócios totalizavam oito e seus filhos tam-
bém trabalharam na retífica por anos.
Vila Hortência em Perspectiva 138 139 O edifício e seu entorno | Entre “REMONSA” e “SAMASSA”
A área de galpões que uma época diferente abrigou uma
fábrica de sinos e em outro momento a retífica de motores
foi demolida durante a produção desta pesquisa, e o pré-
dio, que se encontrava em más condições de conservação,
hoje dá lugar ao condomínio vertical JJR Hortência, da Yees!
Construtora, que tem data de finalização prevista para o final
de 2024. (fig. 79 a 83)
Fig. 80 Fig. 82
Implantação do edifício mantém a lógica de O projeto inverte a lógica convencional, inserindo a
acessos da Remonsa. Fonte: divulgação Yees! área de lazer na cobertura, a fim de aproveitar a área
da implantação, no térreo, com estacionamentos.
Fonte: divulgação Yees!
Fig. 79
Fig. 81 Fig. 83
Novo empreendimento vertical da Yees! será implantado
Pavimento tipo do edifício conta com seis dis- Etapas da construção do edifício, entre novembro de
no terreno onde estava localizada a antiga retífica Remonsa.
posições de apartamentos entre 51 e 71m². 2022 e julho de 2023. Fonte: divulgação Yees!
Fonte: divulgação Yees!
Fonte: divulgação Yees!
Vila Hortência em Perspectiva 140 141 O edifício e seu entorno | Entre “REMONSA” e “SAMASSA”
Esquema: Remonsa: Levantamento Fotográfico. O edifício TRICO 1931 não possui tombamento, e sua im- Conforme explicado anteriormente, a problemática de
A planta baixa do edifício não foi encontrada, porém, as delimitações do edifício demolido disponibi-
lizadas pela construtora juntamente de vistas via satélite presentes no Google Maps permitiram um plantação vizinha da desativada REMONSA, hoje demolida condomínios verticais em áreas que não o são envolve a per-
levantamento básico dos galpões antes da demolição. Fonte: Yees! Construtora.
em função da construção do empreendimento JJR Hortên- da das relações entre vizinhos, o impacto negativo no entor-
cia, aponta sinais de que a Packing House pode ter o mesmo no - uma vez que, ao implantar um edifício de 24 andares
final, em um futuro não muito distante devido ao entorno em uma quadra predominantemente térrea toma-se pra si a
que passa pelo processo da verticalização: privacidade dos quintais vizinhos, além de prejudicar a inso-
lação dos mesmos.
“A regra é que nos bairros cêntricos se promova a concentra-
ção de benesses urbanísticas para uso cada vez mais exclu- Vale reforçar que a ação aqui criticada não se encontra
sivo dos mais ricos e das atividades mais nobres.” (SANTOS, em construir condomínios verticais, pois eles fazem parte de
1986). uma cidade e são positivos quanto à capacidade de adensa-
mento e resolução de problemas espaciais, porém, a grande
O empreendimento de alvará número 1095/21 será com-
questão diz respeito ao contexto em que o mesmo se en-
posto por 24 andares e contará com um clube privativo e re-
contra, e o impacto que tal empreendimento possui. Uma
servado aos moradores do edifício, localizado na cobertura
opção viável seria a implantação do JJR Hortência no eixo de
do prédio, e seu programa contempla sauna e spa, clube es-
expansão da Avenida São Paulo, por exemplo, que é relativa-
portivo, espaço pet, coworking, entre outros espaços de la-
mente próximo do Centro e da Vila, é um local que já possui
zer. Com quatro tipologias a escolha do futuro comprador, os
tendência à verticalização e um entorno homogêneo, cuja
apartamentos custam em média 250 mil reais, podendo ser
construção de um empreendimento deste porte não seria
financiado através da Caixa Econômica Federal.
negativa como é o caso aqui.
Vila Hortência em Perspectiva 142 143 O edifício e seu entorno | Entre “REMONSA” e “SAMASSA”
Seguindo a motivação de uma Vila Hortência caminhável, complementar o uso efêmero que se dará na Packing House
em que relações pessoais continuam se dando no nível da vizinha, a área correspondente à Remonsa será destinada à
rua, a proposta presente neste trabalho visa fazer um contra- comunidade, buscando incentivar trocas entre moradores.
ponto ao cenário atual de demolição, em que novos Casos
Além disso, uma resposta à demolição se dá na proposta
Santa Maria não sejam incentivados.
de um edifício que mantenha o gabarito de dois pavimen-
Refletindo então em como um contraponto a este cenário tos, pensando no contexto da quadra, e visando manter a
poderia ocorrer, e ao realizar este panorama acerca dos usos memória da Samassa e da Remonsa, porém sem reproduzir
antigos do lote localizado na Ataliba Borges, em que, no pas- o intangível. Assim, o novo uso buscará integrar aquilo que
sado o mesmo esteve relacionado a espaços de trabalho e existiu, existe e existirá, na escala do pedestre, e visando a
troca entre pessoas, chegou-se à seguinte proposta: visando manutenção da vida pública.
Vila Hortência em Perspectiva 144 145 O edifício e seu entorno | Entre “REMONSA” e “SAMASSA”
Avaliação Arquitetônica
No campo de estudo de restauração, diferentes pensado- significado desta palavra e seus desdobramentos.
res ao longo dos séculos deram suas contribuições para que
A professora Stella Casiello foi a escolhida dentre os tex-
fossem estabelecidas motivações e ferramentas com a fina-
tos presentes no livro devido a sua abordagem de considerar
lidade de preservação do patrimônio cultural. O modo de se
aspectos externos como agregadores ao valor de uma obra,
pensar em restauro é diverso de acordo com seu contexto
isto é, a conexão entre o ambiente espacial construído e seu
histórico, mas um fator em comum entre estudiosos com-
entorno, e o poder que esses dois atributos possuem em se-
pletamente opostos em relação ao como, ou o quê se deve
rem testemunhos de uma outra época:
restaurar - como por exemplo Ruskin e Le-Duc como lados
opostos de uma moeda - é o porquê: a finalidade é a conser- “Com o termo restauro definimos o complexo de interven-
vação, afinal de contas. Fato é que, diferentes pontos de vista ções técnico-científicas que visam preservar os testemu-
geram projetos de restauro igualmente diferentes. nhos materiais do passado e garantir a sua continuidade
temporal, tendo reconhecido tais testemunhos como porta-
Pensando nisso, o autor Paolo Torsello, em seu estudo
dores de valores a serem transmitidos ao futuro” (CASIELLO
“Che cos’è il restauro?”9 apresenta ao leitor explorações de
in TORSELLO, 2005 p. 29; traduzido pela autora)
diferentes intelectuais do porquê restaurar, e o que seria o
Fig. 84 9
PAOLO TORSELLO, Che cos’è il restauro? Nove studiosi a confronto.
Materialidade do edifíco “TRICO 1931”.
Elaborado pela autora, 2023. Venezia: Marsílio, 2005, p. 159
TORSELLO, 2005, p. 31; traduzido pela autora) KÜHL, B. M. Notas sobre a Carta de Veneza . Anais Do Museu Paulista: História E Cultura
11
Vila Hortência em Perspectiva 148 149 O edifício e seu entorno | Avaliação Arquitetônica
Tabela 01 - Identificação de danos da fachada.
Eidotipo e identificação preliminar de danos Elaborador pela autora, 2023.
Elaborador pela autora, 2023.
Vila Hortência em Perspectiva 150 151 O edifício e seu entorno | Avaliação Arquitetônica
Tabela 02 - Identificação de danos da fachada. Tabela 03 - Identificação de danos da fachada.
Elaborador pela autora, 2023. Elaborador pela autora, 2023.
Vila Hortência em Perspectiva 152 153 O edifício e seu entorno | Avaliação Arquitetônica
Capítulo 04
REFERÊNCIAS
PROJETUAIS
“Portanto, se a gente acreditar que tudo o que é velho deve ser conser-
vado, a cidade vira um museu de cacarecos. Em um trabalho de restauração
arquitetônica é preciso criar e fazer uma seleção rigorosa do passado. O
resultado é o que chamamos de presente histórico” (LINA BO BARDI)
Sesc Pompéia
Local: Vila Pompéia, São Paulo, Brasil A unidade do SESC Pompéia, localizada na cidade de São
Paulo, surgiu da intervenção na antiga fábrica de tambores
Autor: Lina Bo Bardi, André Vainer e Marcelo Carvalho Ferraz
existente na Vila de mesmo nome. O projeto da arquiteta ita-
Área: 16.573m² lo-brasileira Lina Bo Bardi em colaboração com os arquitetos
Ano de construção: 1938 André Vainer e Marcelo Carvalho Ferraz levou em conside-
ração a memória existente no local, que já era ativamente
Ano de intervenção: 1977
usado pela vizinhança para atividades de lazer antes da re-
Uso original: Fábrica de tambores qualificação do espaço, conforme relata Lina:
Uso atual: Unidade do SESC, uso cultural e esportivo “Ninguém transformou nada. Encontramos uma fábrica
com uma estrutura belíssima, arquitetonicamente impor-
tante, original, ninguém mexeu... O desenho de arquitetura
do Centro de Lazer Fábrica da Pompéia partiu do desejo de
construir uma outra realidade. Nós colocamos apenas algu-
Fig. 85 mas coisinhas: um pouco de água, uma lareira.” (BO BARDI
Sesc Pompéia: fábrica de tambores no primeiro
plano, complexo esportivo ao fundo. apud FERRAZ, 2018, p. 220)
Fonte: da autora
Fig. 94
Novo e o antigo vistos do
Fig. 92
Deck Solarium. Fonte: acervo Nícolas Tomazella.
Telhas translúcidas aliadas ao espelho d’água in-
terno permitem que o externo e interno se diluam.
Fonte: da autora.
Manifattura Tabacchi
Fig. 95
Pátio B9 da intervenção.
KULESHOVA, Anastasiia. Student Housing: A New Perspective. 2018, p. 25.
13
Fonte: Divulgação Manifattura Tabacchi.
O projeto preza pela intervenção mínima, gestão susten- Fig. 100 Fig. 101 O mobiliário urbano é diversificado e conta com interven-
Paisagismo no bloco de arte contemporânea “Not a Mu- Ambiência: o futuro da Manifattura conta-
tável de recursos e conta com um projeto paisagístico que seum”: a vegetação durante o inverno não é tão proemi- rá com uma ligação do pátio interno ao siste- ções dos próprios alunos, o que dá uma característica única
nente. É possível, entretanto, observar o deck metálico e ma de transporte público sobre trilhos, o Tram.
foca na criação de áreas de sombreamento de drenagem do ao lugar. É inegável o fator de qualidade projetual presente
as mudas de árvores plantadas em espaços do mesmo. Fonte: divulgação Manifattura Tabacchi.
solo, instalação de um teto-jardim no centro de arte contem- Fonte: da autora. na Manifattura Tabacchi. (fig. 102)
O PROJETO
“tudo o que sucedera antes foi como o pintar e vestir das pessoas que
tinham de entrar em cena, o acender das luzes, o preparo das rabecas, a
sinfonia... Agora é que eu ia começar a minha ópera!” (MACHADO DE ASSIS
in DOM CASMURRO)
Problemática
O local de intervenção, constituído pela antiga Packing 2. Criação de novos espaços de percurso e permanência
House de laranjas da Rua Ruy Barbosa, construída nos anos para a comunidade da Vila Hortência, estimulando as rela-
1930, e o lote adjacente da Rua Ataliba Borges, onde se lo- ções pessoais entre vizinhos para futuras gerações através
calizava a agora desativada - e demolida - Retífica de Mo- de locais de ócio e lazer, bem como de encorajamento à ati-
tores Remonsa, configura um conjunto de pré-existências, vidades artísticas;
cuja determinação de novo uso e maneira de intervir deve
3. Comércio local como uma prioridade através da inserção
ser feito de modo sensível ao entorno e à memória do local.
de pequenos negócios e empreendedores da região no edi-
Assim, foram estabelecidos três pilares que influenciaram a
fício, visando resgatar e fortalecer a economia do bairro atra-
concepção projetual:
vés da geração de empregos;
1. Revitalização de espaços históricos, visando o respeito aos
Ao abordar um projeto em pré-existências, é essencial
princípios de um projeto de conservação e restauro: a rever-
identificar previamente os elementos que permanecerão,
sibilidade, compatibilidade, intervenção mínima e o reco-
bem como o que será demolido. Para atingir o conceito de
nhecimento das alterações propostas (ICOM-CC);
caminhabilidade e de transposição de espaços, o projeto visa
modificar a implantação atual (fig. 104), tendo como partido
Fig. 103
Visita ao local de intervenção. a criação de espaços de conexão direta dentro dos lotes.
Fonte: acervo Taiana Car Vidotto
Demolindo-se parte da parede que barra a visual e per- de em espaços abertos. A criação de pátios internos, além de
cepção a partir do percurso na Ruy Barbosa àqueles que por contribuir para o eixo de transposição da área do existente - a
ali caminham, visa-se expor o pátio existente, convidando o Packing House - para a do novo galpão anexo - a da “fábrica
pedestre a adentrar pelo eixo que levará aos fundos da edi- de arte” - também foi feita pensando na criação de espaços
ficação, onde o programa de cafés, restaurantes e ateliês de respiro entre edifícios.
abertos à população se dará.
A altura planejada para a nova construção, no local ante-
Aqui, vale ressaltar os aspectos relacionados à demolição riormente ocupado pela Remonsa, tem como objetivo pre-
da Remonsa, que foram realizados pela Yees! Construtora servar o gabarito de dois pavimentos dos galpões anterior-
entre Agosto de 2022 e Fevereiro de 2023, em paralelo ao mente demolidos. Isso visa manter a paisagem da rua Ataliba
desenvolvimento desse projeto. Por se tratar de uma ação Borges e minimizar o impacto sobre os vizinhos, evitando a
externa que ocorreu antes que se pudesse ter acesso ao in- construção de uma estrutura de grande interferência como
terior da retífica de motores para realizar os levantamentos é o caso do prédio que será implantado pela Construtora.
métricos necessários, o lote dos fundos da Packing House foi
Apesar da Remonsa Retífica de Motores não ter possuí-
considerado no cenário dos galpões demolidos pela Cons-
do uma arquitetura de características significativas quando
trutora, pensando em um projeto que se contraponha à ver-
o prédio ainda existia, o fator mais relevante e que guiou o
ticalização e ofereça uma alternativa contrária ao uso resi-
projeto como sendo de caráter de patrimônio é visto pelo
dencial de médio-alto padrão por conta das problemáticas
seu uso, desde quando se chamava Samassa. Aqui, o legado
previamente aqui expostas.
da oficina de reparo de motores e da fábrica de sinos se dará
A partir da demolição dos galpões dos fundos, a implan- através da continuidade do uso fabril.
tação dos novos blocos não se ocupa do espaço disponível
integralmente, uma vez que o projeto visa a caminhabilida-
No edifício existente, o acesso pela rua se dará na cota da O emprego de estruturas metálicas foi feito também na
rua Ruy Barbosa (fig. 109) , de maneira exclusiva a pedestres. grande maioria do projeto, como será abordado mais adian-
No edifício existente, inicialmente os dois lados do pátio co- te, escolha essa que foi feita desde o deck às colunas e vi-
berto se encontravam com um desnível de 1 m, distantes por gas, principalmente no edíficio novo do complexo. O sistema
uma grande área descoberta levemente inclinada. Visando construtivo utilizado foi pensado segundo os princípios de
reforçar o elemento de integração entre espaços e pensan- um projeto de restauro, com foco particular na distinção e
do em facilitar um programa multiuso, o acesso ao pátio co- singularidade do conjunto arquitetônico. Assim, a alvenaria
berto foi nivelado através da implantação de um piso eleva- de tijolos de barro aparentes são facilmente distinguíveis em
do. toda a porção do edifício existente, caracterizado pela estru-
tura do telhado em madeira de lei e o piso, ora cimentado,
Foi escolhido o uso de um deck metálico perfurado para
ora de paralelepípedos do pátio interno.
o piso elevado, que foi implantado exatamente na porção do
lote onde o pátio coberto acontece, em ambas extremida- O deck metálico perfurado do pátio interno da Packing
des, que se dão alinhadas nos muros vizinhos. House se encontra elevado 1.5 metros em relação ao nível da
rua, e o acesso do pedestre é feito por uma inclinação sua-
Fig. 109 ve, de 5,34% do pátio existente, não classificando assim uma
Ambiência: Acesso Rua Ruy Barbosa.
Elaborado pela autora, 2023. rampa.
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Assim, durante o dia ou nas noites em que não forem exi-
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pequeno teatro para apresentação dos grupos participantes
VARES
das oficinas. A ideia de um cinema ao livre busca utilizar de
um dos muros dos fundos como local de atividade, aprovei-
OSA
tando o espaço e evocando a memória dos cinemas, tão pre-
RUY BARB
sente no Além Ponte como mencionado anteriormente.
EXISTENTE
ACESSO
DOUTOR
PRINCIPAL
ACESSO
É
ACESSO CAF
RUA
Fig. 114 RUA ANDRÉ DE ZUNEGA Fig. 115
Ambiência: Cinema ao ar livre. Implantação Implantação.
Elaborado pela autora, 2023. ESC: 1 : 500
Elaborado pela autora, 2023.
Conclusão
ALMEIDA, Deise Fátima de. Produção do Espaço e Território rocaba no Império: comércio de animais e desenvolvimento
Usado: Um estudo sobre o caso da fábrica têxtil Santa Maria, urbano. São Paulo: Annablume: Fapesp, 2002.
Sorocaba - SP. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal
BARDI, Lina Bo. Sesc – Fábrica da Pompéia. In: ______ Insti-
de São Carlos, campus Sorocaba. Orientador (a): Rita de Cás-
tuto Bardi: Casa de Vidro. 4 ed. São Paulo: Romano Guerra
sia Lana. 2023, 71 p. Disponível em: <https://repositorio.ufscar.
Editora, 2018. P. 220-249.
br/bitstream/handle/ufscar/18552/organized.pdf?sequen-
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_02 Quadra após a demolição da Remonsa _04 Projeto e entorno: relações de proximidade
A escolha dos lociais de intervenção e seus respectivos novos Pouco conhecida, porém, é a Vila Hortência das laranjas e cebo- _01: A Remonsa, cujo edifício estava abandonado, foi demolida _03: O projeto teve como conceito a permeabilidade e transpo-
usos (cultural, comunitário e de lazer) partiu antes de um estudo las: A Packing House da R. Ruy Barbosa, que serviu como centro para dar lugar a um edifício de 24 andares. Visou-se a preserva- sição dos espaços ao unir o novo e antigo. Através do partido de
do bairro, e não o contrário, como tradicionalmente costuma ser. de estocagem durante o ciclo da citricultura, hoje se encontra ção da Packing House, levando em conta o lote dos funddos. criar dois pátios internos, trouxe-se a rua para dentro do projeto,
O Além Ponte é uma das regiões mais antigas da cidade de Soro- esquecida. Nos fundos, a antiga Retífica de Motores Remonsa, voltada exclusivamente ao pedestre.
caba, e sua história, marcada por operários e por espanhóis. Hoje, foi demolida durante esta pesquisa, para dar lugar a um edifício _02: Como evocar a memória do intangível? O gabarito da Re-
a região se caracteriza pela grande parcela da população idosa, residencial. Surge, então, o seguinte projeto, uma contra propos- monsa foi mantido, e na Packing House, as únicas intervenções _04: O projeto final conecta-se ao seu entorno através dos aces-
pelo abandono dos edifícios antigos e verticalização crescente. ta que visa a memória da região mais antiga do Além Ponte. buscam adequar o edifício aos novos acessos e necessidades. so. A materialidade do novo edifício, totalmente metálica, busca
a diferenciação entre novo e antigo.
Id Programa Área
01 Hall de Entrada 72,29 m²
02 Recepção 90,76 m²
03 Elevador 2,76 m²
04 W.C. 2,80 m²
04 W.C. 2,13 m²
05 W.C. P.C.D 2,85 m²
06 Almoxarifado Recepção 2,64 m²
07 Administração 39,68 m²
08 W.C. Adm 2,59 m²
09 Almoxarifado Adm 2,61 m²
10 Depósito/Carga Descarga 68,98 m²
12 Oficina de Dança 21,61 m²
13 Oficina de Teatro 38,39 m²
14 Camarim 4,49 m²
15 Sanitário Camarim 4,47 m²
16 Oficina de Costura 30,56 m²
17 Oficina de Artes Manuais 45,96 m²
18 Oficina de Pintura 41,74 m²
19 Oficina Multiuso 63,78 m²
20 Vestiário Masculino 20,70 m²
21 Vestiário Feminino 30,60 m²
22 Vestiário P.C.D 9,99 m²
23 Restaurante 59,41 m²
24 Cozinha 11,76 m²
25 Despensa 4,86 m²
26 W.C 3,28 m²
27 Circulação 809,32 m²
28 Bar 34,17 m²
29 Depósito 5,17 m²
29 Depósito 5,28 m²
29 Depósito 5,38 m²
29 Depósito 5,91 m²
29 Depósito 5,71 m²
29 Depósito 6,02 m²
29 Depósito 5,86 m²
30 Restaurante 47,87 m²
30 Restaurante 49,64 m²
30 Restaurante 52,05 m²
30 Restaurante 87,39 m²
31 Câmara Fria 5,62 m²
32 Cinema ao ar livre 60,63 m²
33 Pátio interno 676,11 m²
33 Pátio interno 529,49 m²
34 Sanitário Masculino 16,50 m²
35 Sanitário Feminino 16,01 m²
36 Feiras/Exposições 572,81 m²
37 Café 48,91 m²
37 Café 74,23 m²
38 Recepção café 38,96 m²
39 Cozinha 17,29 m²
40 Almoxarifado 20,78 m²
Total geral 3878,79 m²
Na fachada do novo edifício, o uso do policarbonato translúcido, a arquibancada do hall de entrada leva ao mezanino, onde en- No pátio interno do novo edifício, um cinema ao ar livre evoca a No pátio da Packing House, árvores de laranja passam pelo deck
visa, além da insolação, unir exterior e interior. contra-se o Centro de Memória Operária e espaços voltados ao memória dos cinemas que existiram na Vila, podendo ser usa- metálico, intervenção feita a fim de nivelar ambos os lados do
trabalhador como salas e boxes para venda de produtos, espaços da como arquibancada para apresentações de teatro. As árvores pavilhão, onde boxes de feira poderão abrigar eventos como Fes-
de descanso, encontro e de trocas de ideias. frutíferas e de sombreamento visam trazer o aspecto de “quin- tas Juninas, eventos beneficientes, Festa Espanhola ou Feiras de
tal” aos fundos do lote. Frutas de Verduras: o uso é para a comunidade.
Corte B-B
RUA
VOL
TÁRUN
IO A
RU
A
CO
LTIN
N
ST
O
AN
TI
N
O
SE
RUA GENE
GES
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ATAL SO
ACES Ô
RUA
R
BISTR
SO
ACES AL
CIP
PRIN
RAL JOSÉ
SO
ACES O
IÇ
SERV
TAVARES
OSA
RUY BARB
EXISTENTE
ACESSO
DOUTOR
L
ACESSO
PRINCIPA FÉ
ACESSO CA
RUA
Implantação
ESC: 1 : 500
Projeto
4,40 so
04 W.C. 2,13 m²
01 Aces nte
6,80 u ra
05 W.C. P.C.D 2,85 m² Det.
A Resta
06 Almoxarifado Recepção 2,64 m² 4,55 Deck
05
07 Administração 39,68 m² 6,95
so
Aces AB
08 W.C. Adm 2,59 m²
ipal
09 Almoxarifado Adm 2,61 m² Princ
10 Depósito/Carga Descarga 68,98 m²
12 Oficina de Dança 21,61 m²
R G ES 23
571,25
13 Oficina de Teatro 38,39 m²
B O 571,25
4,90
IB A viço
ATAL
14 Camarim 4,49 m²
s o Ser
15 Sanitário Camarim 4,47 m² Aces
RUA BB
16 Oficina de Costura 30,56 m² 24
01 26 25
17 Oficina de Artes Manuais 45,96 m²
18 Oficina de Pintura 41,74 m² 571,25
19 Oficina Multiuso 63,78 m² 04
proj. pass
20 Vestiário Masculino 20,70 m² 04
21 Vestiário Feminino 30,60 m²
6,00
22 Vestiário P.C.D 9,99 m²
arela
23 Restaurante 59,41 m²
24 Cozinha 11,76 m²
25 Despensa 4,86 m² CB
26 W.C 3,28 m²
02
27 Circulação 809,32 m²
28 Bar 34,17 m²
8,33%
BARBOSA
7,57%
29 Depósito 5,17 m²
6,00
29 Depósito 5,28 m²
D
29 Depósito 5,38 m² 18
34,90
05
29 Depósito 5,91 m² 05
29 Depósito 5,71 m² 03 06
29 Depósito 6,02 m² 571,70
16 571,25 DB
29 Depósito 5,86 m² o
ezanin
30 Restaurante 47,87 m² 12 proj. m
30 Restaurante 49,64 m²
571,25
4,75
30 Restaurante 52,05 m²
RUY
8,33%
32 Cinema ao ar livre 60,63 m²
33 Pátio interno 676,11 m² 17
7,57%
33 Pátio interno 529,49 m²
DOUTOR
proj. pass
7,25
37 Café 48,91 m²
37 Café 70,61 m² 572,40
572,40 572,40
38 Recepção café 38,96 m²
arela
39 Cozinha 17,29 m²
27
40 Almoxarifado
Total geral
20,78 m²
3875,17 m²
14 FB
15
RUA
C
06 19
Descarg
572,40
Carga e
10
6,00
4
a
5 12 13 15 016 017 018
7 9 10 22
572,40
32,00
3,18 4,08 3,90 21 GB
3,30 3,30
3,30 3,30
4,40 3,18
572,40
A 20
08 572,40
09
29
40 07
572,40
572,40
572,40
Acesso Café
37
arela
10
proj. pass
9
8
7
6
10,68
5
572,40
4
3
2
1
B 32
Existente
570,62
Acesso
5,84%
33
572,40 572,40
C
3
2
8,33% 1
572,40
36
Principal
Acesso
33
6,84
07 1
8,33%
30,18
8,33%
570,93 571,90
D AC
29 29 30 572,40 30 572,40 29 29 30 572,40 572,40 29 31
28 30
4,76
6,60
06
572,40
E
39 29
572,40 34 BC
572,40
Acesso Café
571,30 Det.
572,40 A
B Deck
05
7,90
06
7,16 9,81 9,67 9,69 11,50 4,43
37 35
38 572,40 52,27
19 20 21 22 23 24
F
6,01 5,99 6,00 3,89 4,13
6,88 3,70 4,16 5,99
46,76
Projeto
8 11 14 16 17 18
Vila Hortência em Perspectiva
1 2 3 6
C Instituição
06
Acesso
47 Coworking 31,08 m²
4,90
48 Box comercial 14,30 m²
48 Box comercial 14,53 m²
44
48 Box comercial 15,35 m² 575,70
48 Box comercial 13,66 m² BB
48 Box comercial 12,93 m²
48 Box comercial 13,72 m²
48 Box comercial 12,59 m²
48 Box comercial 6,99 m²
6,00
49 C.M.O Exposições 77,05 m²
50 C.M.O Sala Multiuso 38,66 m²
51 C.M.O Sala de Estudos 38,83 m²
52 Circulação restrita 27,12 m²
53 Lounge funcionários 21,98 m² CB
54 Descanso funcionários 18,69 m²
55 Copa funcionários 27,94 m²
49 575,70 Acesso
6,00
D
Acesso
34,90
05
ino
Mezan
45
575,70 DB
Acesso 47
or
Elevad
Acesso C
4,75
50
D 575,70
05
48
EB
.M.O
48
48
51
7,25
48
48
48
575,70
FB
C 48
06 55
1 54 48 46
6,00
4 5 12 13 15 016 017 018
7 9 10
32,00
Acesso
3,30 3,18 4,08 3,90 576,30 53 47 GB
3,30 3,30
3,18 3,30
4,40
A 575,70
Acesso
Acesso 52
575,70
10,68
proj. cobertura
C
6,84
07 1
30,18
D AC
4,76
proj. cobertura
43 B
6,86
06
575,00
E
574,70
BC
42 7,16 9,81 9,67 9,69 11,50 4,43
52,27 Det.
A
B 41 Deck
05
7,90
06
574,70
19 20 21 22 23 24
Acesso
Projeto
F
3,89 4,13
Vila Hortência em Perspectiva
5,99 6,01 5,99 6,00
6,87 3,70 4,16
46,75
Instituição
571,25
35%
35%
35%
35%
?
Telha termoacústica TR 40/980 - novo
32,5%
32,5%
?
Telha de fibrocimento - existente ?
Telha cerâmica francesa - existente 35%
35%
65,4%
61%
17,6% 65,4%
65,4%
61%
17,6%
OSA
57,7%
570,62
RUY BARB
572,40
65,4% 65,4%
DOUTOR
570,93 572,40
RUA
571,90
65,4%
Projeto
1,07
?
Painel de policarbonato alveolar 40mm
0,10
? em Steel Deck
Laje
0,46
?
Viga metálica perfil "H" 460x68cm
2 ?
Pilar metálico perfil "H" 250X149 cm
05
AB BB CB DB EB FB GB
D
05
Cobertura Fábrica
578,30
575,70
Mezanino Fábrica
575,60
573,18
D
05
CORTE A-A
ESC: 1 : 100
01 02 03 04 05 06 07
Det.
A
Deck
05
Fechamento em
policarbonato alveolar
cristal 40mm
Steel Deck
Cobertura Fábrica
578,30
2,62
575,70 575,70
Mezanino Fábrica
0,55
575,60
3,90
Térreo
571,86 572,30
571,25
Projeto
C
06
Cobertura Fábrica
578,30
Mezanino Fábrica
575,00 575,60
574,70
C
06
CORTE B-B
ESC: 1 : 150
B
06
B
06
CORTE C-C
ESC: 1 : 100
Projeto
Elevação Rua Ruy Barbosa - Ortofoto Elevação Rua Ruy Barbosa - Existente
Tirada em 12/08 Decalque realizado no AutoCAD
Horário: 11h e 13h
Ferramenta: Iphone 12
Projeto