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parque urbano do guaió

Estruturação de ecossistemas urbanos em área de manancial


Trabalho Final de Graduação

parque urbano do guaió


Estruturação de ecossistemas urbanos em área de manancial
CENTRO UNIVERSITÁRIO BELAS ARTES DE SÃO PAULO LUCAS GOMES DA SILVA (16200427)
Arquitetura e Urbanismo

LUCAS GOMES DA SILVA

PARQUE URBANO DO GUAIÓ PARQUE URBANO DO GUAIÓ


Estruturação de ecossistemas urbanos em área de manancial Estruturação de ecossistemas urbanos em área de manancial

Trabalho Final de Graduação para obten-


ção do título de Bacharel em Arquitetu-
ra e Urbanismo apresentado ao Centro
Universitário Belas Artes de São Paulo.
Orientadora Ms. Mirtes Birer Koch

SÃO PAULO SÃO PAULO


2021 2021
- Aos meus amigos Andreia Sousa, Claudia Gonçalves, Erick Davi,
Ezequiel Santos, Eduardo Sousa, Hélio e Jeane Hargesheimer, Lua-
na Jesus, Mirella Santos, Nayara Emily e Renato Moreira, inspirações
para os dias cansados e alívio para os dias mais sombrios, filhos ama-
dos e presente do Pai em minha vida;
- A Fernanda pelo apoio neste momento tão “animado” que é o TFG e
pela excelente ajuda com o inglês.
- Ao querido amigo Rafael Serradura, a quem tenho grande admiração
profissional.

A jornada seria completamente diferente sem vocês, amigos BA eterni-

os edificadores
zados em minha trajetória e meu coração
- Uma boa orientadora é amiga do seu orientando, e tenho certeza des-
sa realidade pela perseverança e confiança que este processo final me
envolveu, obrigado Mirtes por proporcionar essa experiência incrível,
és preciosa!
- Aquele que me inspira diariamente a prosseguir envolto a minha - Aos mestres e agora companheiros de profissão Vanderlei Rossi, Cris
morada, aquela que é eterna, que será para sempre! Ecker, Lauresto Esher, Alzira Monfre, Eduardo Vianna, Roberto Ma-
Que faz cumprir Êxodo 31:3 em meu viver, te sinto tão perto, meu rin, Ademir Santos, Flavio Moraes, Giovanni Campari, Ivanir Abreu,
amigo e eterno amor, Jesus Cristo. Liliane Amaral, Luiza Iwakami, Nadia Cahen, Paulo Ferrara, Rafael
Manzo, Roberto Monaco, Vasco de Mello, Marcos Virgílio e Willis
Uma bela história acontece quando o amor envolve, estes dispu- Miyasaka.
seram parte de si para me servir, me ver melhor, sei que nada - Especialmente aos Professores Sérgio Lessa, Lucia Pirró e Débora
que possa escrever irá ao menos expressar 1 milésimo dos 5 anos Sanches, incentivadores do meu processo de curiosidade pela pesquisa
agraciados, que privilégio é a jornada. e a Alessandra Ferreira (Iniciação Cientifica).
- Aos meus país (Luís e Luzia) que por tantas vezes se fazem - A jornada acadêmica não seria tão perfeita quanto o companheirismo
força da minha jornada e a confiança que preciso para persistir; de amigos tão preciosos quanto Eloisa Vieira, Erica Miranda, Filipe
- E meus irmãos (Larisse e Valmir)? Estes que suportam tantas Cavalcante, Gabriella Souza, Isabela Dinis e Lais Ferreira, moradores
vezes a “falação sobre arquitetura, planejamento urbano e viário”, eternos do meu coração.
os compromissos desmarcados e as ligações interrompidas; - Aos amigos de Belas Artes Ana Flores, Carolina Camardella, Beatriz
- As mulheres mais incríveis que tenho o privilégio de chamar de Leal, Yago Viana, Maysa Cabral, Juliana Pujol, Bruna Burin, Luiza
Avó Ester e Madrinha, carregarei em minha alma cada esforço em Gonçalves, Hellen Souza, Mariana Leite, Victoria Saraiva, Lindsey
prover o melhor e mais confortável jornada possível; Santana, Ellora Haonne e in memoriam a querida Bielle Monteiro.
- Ao meu tio Cicero, um segundo pai que me ensina diariamente
a simplicidade do homem sertanejo e a singeleza de um coração E aos grandes amigos do processo de estágio
inclinado ao Rei dos Reis; - Carla, Miraldo, Calfa e Ritinha (CET) eternamente levarei a gratidão
- Aos meus primos, primas, tios e tias, e especialmente a Jaque- da confiança depositada;
line e Camila Gomes que pacientemente compreenderam os inú- - Flávio Cury (Prefeitura de São Paulo), sem dúvidas um grande mes-
meros compromissos desmarcados tre do Urbanismo, a quem tenho o prazer de chamar amigo;
- A meu querido primo Luan Gomes, a quem compartilho a feli- - Aos amigos de Pacaembu, Beatriz Real, Giovana Laborne, Fabiny
cidade de tê-lo como segundo irmão; Peres, Gabrielly Alvim, Patricía Sueroz, Raisa Cracco, Daniela Fon-
- A minha irmã Lindaura que ganhei em Cristo, uma meia arqui- seca, Cristiane David, Karina Castelan, Julia Almeida, Maria Vanessa,
teta de tanto colaborar em meus trabalhos, toda sorte de bençãos Maria Leticia e especialmente Deise Barp, uma mentora e amiga, na
sobre ti; qual, tenho o privilégio de tê-la em minha banca examinadora.
- Aos meus pais espirituais, Darlan e Mariana Lemos, está é parte
física e tangível do resultado das intercessões de vocês; Toda gratidão seja estendida a todos na qual participaram deste proces-
- Aos meus queridos amigos Nildo e Ana Gonçalves, a quem devo so e que direta ou indiretamente contribuíram para que esse momento
o compartilhamento desta jornada e a força quando me faltava; chegasse, toda sorte de bençãos.
In memoriam a um dos melhores Planejadores Urbanos Brasileiros

A maior atração de uma cidade é a qualidade de vida de seus moradores.


Arq. Jaime Lerner
Resumo Abstract
O Trabalho Final de Graduação (TFG), para a obtenção do títu- The Final Graduation Work (TFG), to obtain the title of Bachelor
lo de bacharel em Arquite-tura e Urbanismo, visa a apresentação in Architecture and Urbanism, aims at presenting solutions for re-
de soluções de reordenamento da ocupação habita-cional dentro ordering the housing occupation within the perimeter of Manan-
perímetro do Manancial do Guaió em Ferraz de Vasconcelos, no cial do Guaió in Ferraz de Vasconcelos, in Alto do Tietê, with an
Alto do Tietê, com ênfase na sustentabilidade dos recursos natu- emphasis on the sustainability of natural resources and the promo-
rais e na promoção de infraestrutu-ras urbanas que reduzam as tion of urban infrastructures that reduce social illnesses, as well
mazelas sociais, bem como, o movimento pendular do mora-dor as the commuting movement of residents for work, education,
para trabalho, educação, acesso a saúde e cultura, em que pese a access to health and culture, despite the adoption of ecological
adoção de ferramen-tas da ecológicas e equipamentos livres de tools and equipment free of public use. The urban project aims
uso público. O projeto urbano tem como obje-tivo incorporar es- to incorporate sustainable strategies through the establishment
tratégias sustentáveis por meio do estabelecimento de zoneamen- of specific zonings linked to guidelines, reducing environmental
tos es-pecíficos atrelados a diretrizes, reduzindo os impactos am- impacts and therefore improving the quality of life of the local
bientais e por conseguinte, me-lhorando a qualidade de vida dos inhabitants and residents of the surrounding area. The methodolo-
habitantes locais e moradores do entorno. A metodologia adotada gy adopted is based on the thematic mapping of the area and the
é a partir do mapeamento temático da área e da contraposição de contraposition of desired optimal values and unwanted variables,
valores ótimos desejados e variáveis não desejadas, propor estra- proposing strategies to encourage the self-sufficient development
tégias para incentivar o desenvolvimento autossuficiente das co- of local communities and their nuclei, the creation of the urban
munidades locais e seus núcleos, a criação do parque urbano em park in its connections with the surrounding consolidated areas
suas conexões com áreas consolidadas do entorno permite que os allows residents to be served essential services for education, as
moradores sejam servi-dos de serviços essenciais para educação, well as management and monitoring of the preservation of the
bem como, o gerenciamento e monitoramento da preservação do source.
manancial.

Palavras-Chaves Keywords
Transformações Antropicas. Ecossistemas Urbanos. Sustentabilidade urbana. Taxonomia. Anthropic transformations. Urban ecosystems. Urban sustainability. Taxonomy.
abreviaturas e siglas
ONU Organização das Nações Unidas
NBR Norma Técnica Brasileira
ODS Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
RMSP Região Metropolitana de São Paulo
CONPRESP Conselho Municipal de Preservação do Pa-
trímónio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo
UNESCO Organização das Nacões Unidas para Edu-
cação, Ciência e Cultura.
UC Unidade de Conservação
PDPA Plano de Desenvolvimento e Proteção Am-
biental
CPTM Companhia Paulista de Trens Metropolita-
nos
CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente
MME Ministério do Meio Ambiente
BA Belas Artes
COBRAPE Companhia Brasileira de Projetos e Em-
preendimentos
METRÔ Companhia do Metropolitano de São Paulo
PETROBRÁS Petróleo Brasileiro S.A.

Fonte: Google Earth, editado pelo autor. 2021.


sumário
Introdução . . . . . . . ...... 16 Educação (Ensino Fundamental e Médio) . . . . ...... 76
Problemática . . . . . . ...... 18 Cultura . . . . . . . ...... 82
Justificativa . . . . . . . ...... 22 Expectativa de Vida . . . . . . ...... 86
Objetivo geral . . . . . . . ...... 28 Saúde . . . . . . . ...... 90
Objetivo especifíco . . . . . . . ...... 29 Segurança Alimentar . . . . . . ...... 94
Materiais e métodos . . . . . . . ...... 30 Saneamento . . . . . . . ...... 96
Ecossistemas e o Espaço Urbano . . . . . ...... 32 Declividade . . . . . . . .... 102
Oferta de recursos naturais e consumo humano . . . ...... 32 Habitação . . . . . . . .... 104
Ações Antropicas sobre os recursos hídricos . . . ...... 33 Incêndio . . . . . . . .... 114
Planejamento estratégico de Ecossistemas Urbanos . . ...... 34 Área Envoltória
Impactos Habitacionais em áreas fragilizadas . . . ...... 38 Perímetro do Parque Urbano . . . . . .... 118
Reflexos da política habitacional na geração de ocupaçoes irregulares ...... 38 Zona de Amortecimento . . . . . . .... 122
Ausência de infraestrutura urbana e degradação de ecossistemas ...... 41 Zoneamento Proposto
Estudos de casos . . . . ...... 42 Projeto Geral . . . . . . . .... 128
Plano Diretor Estratégico Ecologico para o Chile . . . ...... 44 ODS no parque . . . . . . . .... 132
Parque Estadual da Cantareira . . . . ...... 48 Habitação Sustentável (Consolidado com Infraestrutura) . . .... 138
Unidade Habitacional Sustentável . . . . ...... 52 Habitação Sustentável (Consolidado sem Infraestrutura) . . .... 146
Localização . . . . . . . ...... 57 Recreativo . . . . . . . .... 152
Linha do tempo (Ocupação Espacial) . . . . . ...... 60 Atividade Rural . . . . . . . .... 156
Entorno . . . . . . . ...... 62 Servidões . . . . . . . .... 158
Uso e Ocupação . . . . . . . ...... 64 Recuperação Sustentável . . . . . . .... 162
Os efeitos da ocupação de morros e morrotes . . . ...... 68 Núcleo Tiradentes . . . . . . . .... 166
Área de manancial do Guaió . . . . . ...... 70 Conclusão . . . . . . . .... 170
Levantamentos do estudo Referências Bibliográficas . . . . . . .... 172
Sistema Viário . . . . . . . ...... 72
Educação (Ensino Básico) . . . . . . ...... 74
introdução
As ocupações em morros e encostas fazem parte da história de
São Paulo a mais de 7 décadas, a ineficiên-cia de políticas habi-
tacionais associado ao pouco interesse de entidades públicas no
desenvolvimento de uma cidade igualitária reforçam o desastre
do planejamento urbano segregador e da transformação da ha-bi-
tação interesse social como item mercantil.
A falta de planejamento urbano tem levado dezenas de milhares
de famílias para morros e encostas, isto porque, a áreas centrais
são alocadas para habitações de médio e alto padrão, e torres cor-
porativas. A pro-ximidade de córregos, mananciais e matas pro-
move conflitos ambientais, por vezes, irreversíveis.
Em cidade marcada pela desigualdade social e pela ausência de
gerenciamento urbano, é admitido inva-sões, deslizamentos, con-
taminações por dejetos, mas o direito a cidade infelizmente não.
A temática foi escolhida pela importância de discutir estes espa-
ços profundamente debilitados pelas ações antrópicas ao longo
dos anos, a qual tal intensidade de mudanças interfere diretamen-
te em cadeia de even-tos climáticos locais, tendo efeitos globais,
ainda que a longo prazo, afetando fatores bióticos e compro-me-
tendo o equilíbrio ecológico.
Este trabalho versa pela proposição da reordenação de assenta-
mentos irregulares dentro do Manancial do Rio Guaió em Ferraz
de Vasconcelos, bem como, usa-se de estratégia a implantação de
Parque Urbano, conforme indicado pelo PDPA do Guaió para que
atenda às necessidades locais e auxilie no gerenciamento de mais
de 12km² em área de manancial.

16
Fonte: Google Earth, editado pelo autor. 2021.
problemática
As cidades dependem veemente do ciclo de regeneração que os
ecossistemas desempenham. A produção de água, purificação de
gases, produção alimentícia e inúmeros outros ciclos ecológicos
que ofertam a humanidade serviços da oxigenação humana ao tra-
tamento de dejetos.
A resiliência destes sistemas apresenta conformidade de absorção
as inúmeras transformações promovidas pelo homem, ao longo
de milhares de anos, mas o uso de inadequados ecossistemas de
podem desencadear a incapacidade de funcionamento pleno, a
interrupção da continuidade de renovação, podendo até colapsar
diversos sistemas naturais (HERZOG, 2013).
As áreas de mananciais possuem características singulares, es-
pecialmente o Manancial do Rio Guaio na Cidade de Ferraz de
Vasconcelos -encunhado entre a mancha de expansão urbana de-
sarranjada do eixo leste da Cidade de São Paulo e o Rodoanel
Mario Covas-. É berço de dezenas de ecossistemas, fonte e princí-
pio abundante de recursos hídricos, fundamental para subsistência
humana e para a conservação da fauna e flora, costumeiramente,
associado aos recursos florestais, está cadeia é interdependente,
sendo as florestas responsáveis pela manutenção das nascentes e a
proteção aos corpos hídricos, bem como, da quantidade, qualida-
de e regularidade das águas.
Ações antrópicas desordenadas e descomprometidas com a per-
petuidade do ciclo da biosfera, resultam na danificação parcial ou
completa do desempenho de ecossistemas, este por sua vez, pos-
sui relação de su-primento as demandas do ciclo da econosfera.
O descompasso entre oferta -Biosfera- e demanda -Econosfera-,
ainda que, por intermédio de intervenções subjacente a áreas de
mananciais afetam uma tra-ma de seres vivos que estão conecta-
dos direta ou indiretamente a dinâmica dos ecossistemas.

18
Fonte: Rede Brasil Atual, 2015. Editado pelo autor. 2021.
Fonte: Google Earth, editado pelo autor. 2021.
justificativa
Este estudo de conclusão de graduação versa sobre a sustentabi-
lidade urbana aplicado a área de fragilidade ambiental e utiliza
recorte espacial do Manancial Guaio, localizado na região do Alto
Tietê em São Paulo. A ênfase está na potencialização do desen-
volvimento ordenado de regiões ambientalmente sensíveis e em
processo de degradação dado aos efeitos da pressão da expansão
urbana, de ocupações irregulares, de aberturas de viários estrutu-
rais e de zoneamentos que tendenciam ao espraiamento da man-
cha urbana.
Os mananciais são responsáveis pela principal carga hídrica dispo-
nível para abastecimento e consumo humano, bem como, da ma-
nutenção de diversificados processos ecológicos que asseguram a
diversidade, a perpetuação de ecossistemas e subsistência da fau-
na e flora. O caderno da 8ª Convenção da Diversidade Biológica
do Brasil ressalta a importância dos mananciais quando afirma
que “A segurança alimentar e a agricultura, e inclusive a integri-
dade de várias espécies vivas, depende da diversidade genética e
da salubridade dos processos ecológicos”. (BRASIL, 2006, p.18).
A água está entre os benefícios prestados pelos serviços ambien-
tais de fundamental importância para a existência humana, está
percepção acerca da dependência dos recursos naturais para a
continuidade da disponibilidade de água, do equilíbrio climático
e da preservação dos processos ecológicos dependem da conser-
vação de outros ecossistemas que direta ou indiretamente contri-
buem para subsistência destas fontes d’águas.

22
Fonte: Pensamento Ecológico, 2015. Editado pelo autor, 2021.
Os planos de desenvolvimento estratégico tendem a ignorar os
impactos que as ações projetadas ao espaço urbanizado podem
desencadear a áreas de preservação ambiental, desconsiderar o ci-
clo de regeneração dos recursos naturais e a minimizar a atuação
do estado em fiscalizar e proteger as forças de crescimento e es-
praiamento da mancha urbana revela a gravidade e a urgência de
política multidisciplinares com o propositivo de preservação am-
biental e moradia, assegurados no artigo 6º e 225º da Constituição
Federal do Brasil e incentivadas pelas metas de Desenvolvimento
Sustentável da ONU.
A ocupação irregular em áreas de mananciais retrata o descom-
passe dos limites urbanos -ainda que imaginário- passível de
controle, do mesmo modo, são respingos das fragilidades que os
Fonte: COBRAPE, 2015. Editado pelo autor, 2021. programas e políticas habitacionais efetivamente fomentam e re-
presentam, e das mazelas socio territoriais enfrentadas no Brasil,
especialmente na Cidade de São Paulo que engendra aos mais
desvalidos de recursos financeiros os limites dos perímetros da
urbe, “[...] a consequência é que a população se instale em lo-
teamento irregulares, ocupações informais e favelas, justamente
nos ambientalmente mais frágeis, “protegidos por lei”, portanto
desconsiderados pelo mercado imobiliário formal.” (MARTINS,
2006, p. 41).
As áreas vegetadas em mananciais permitem a constância de carga dos recursos hídricos, a A cidade é um organismo vivo com todas as ações desencadeando
proteção do fluxo em rios e a qualidade da água, auxiliando na redução da erosão do solo e do reações, normalmente em efeito manada e com diversas facetas
transporte de sedimentos e poluentes. Estudos do Banco Mundial e da WWF indicam que: impactadas, produzindo respostas ao modificado.
Desde a abertura de uma escola de ensino primário ao lançamento
“A perda da cobertura florestal e a conversão do esgoto em córregos e rios, as transformações afetam sistemas

para outros usos da terra podem afetar adver- em cadeia e isto desafia a compreensão da macro escala urbana
e das peculiaridades que cada processo irá concernir, a colisão
samente abastecimento de água doce, amea- do planejamento urbano com a preservação de ecossistemas dá-
-se, inicialmente, pela ausência de mensuração de indicadores que
çando a sobrevivência de milhões de pessoas e apresentem o desempenho dos serviços urbanos e da qualidade de
vida, estabelecer políticas públicas eficientes perpassa pela har-
prejudicando o ambiente”. monia de diversas camadas envoltório a vida humana e urbana,
(DUDLEY N. & STOLTON, S., 2003, p. 11, tradução nossa)¹. bem como, a relação com os ecossistemas naturais.
A NBR 37120 propõe métodos para diligência de cidades e comu-
nidades por meio da geração de indicadores desses serviços, desta
forma, pode-se monitorar o desempenho das cidades em torna-
¹ The loss of forest cover and conversion to other land uses can adversely affect freshwater supplies, hreatening the survival rem-se sustentáveis,
of millions of people and damaging the environment.

24 25
e auxiliar no desenho de planos estratégicos e políticas públicas
que contribuem para o crescimento qualitativo, alinhando-se a
capacidade de sobrevivência e de prosperidade dos sistemas na-
turais e culturais sem comprometer as gerações futuras.
Os eixos propostos para mensuração vão de encontro aos 17
objetivos de desenvolvimento sustentável das Nações Unidas, a
qual, tem como interesse a reafirmação dos direitos fundamen-
tais do homem assegurando um planeta mais sustentável e jus-
to. A norma técnica citada acima, estrutura a metodologia em
recurso e a capacidade para aferir indicadores de desempenho,
outorgando suporte ao cumprimento da NBR 37122 sobre Ci-
dades Inteligentes e a NBR 37123 sobre Cidades Resilientes,
interligados aos objetivos das 169 metas da ODS.
O PDPA do Manancial do Rio Guaió prevê a conexão da Estrada
dos Fernandes ao Rodoanel Mario Cova por alça de acesso a ser
construída e no impacto de ocupação no entorno imediato ao vi-
ário, tendencial ao uso comercial e industrial, a provável remo-
delação do adensamento habitacional proveniente dos anseios
pela proximidade ao novo polo gerador de empregos, seja por
vetores de pressão especulativas do mercado imobiliário formal
ou informal.
Propõe-se, a criação de parque para preservação e conservação
dos ecossistemas do Manancial do Guaió, represando a expan-
são do perímetro urbano pela demarcação do espaço territorial,
de soluções ao assentamento irregular conduzindo a regularida-
de fundiária e infraestrutura de saneamento básico e transporte,
assim como, a realocação de moradias em área com riscos geo-
morfológicos e que impeçam o ciclo de regeneração dos ecos-
sistemas do manancial.
Ao exterior do parque, alvitra-se diretrizes de mitigação a ex-
pansão urbana e ao pertencimento do Guaió, por meio de áreas
projetadas para ser locais de encontro desvelando reconheci-
mento da importância da sobrevivência da biogeocenose, des-
ta forma, impulsionar a sociedade local sadia em seus valores
democráticos (GEHL, 2010), este projeto de natureza urbana
aplica o modelo de cidade regenerativa e objetivos chaves para
desempenho da função social da cidade, estes, vitalidade, segu-
rança, saúde e sustentabilidade urbana, associado a prioridade
ao espaço público destinado a reforçar o papel fundamental de
compartilhamento.

26
Fonte: Diário de Suzano, 2018

objetivo geral objetivos específicos


Mapear os principais conflitos que perduram sobre o Manancial 1. Mapear conflitos de uso do solo, pressões da expansão ur-
do Rio Guaió e as transformações previstas para região, confor- bana e ocupações irregulares e mensurar áreas em processo de
me diretrizes municipais. Partindo do perímetro do município de degradação aos ecossistemas locais;
Ferraz de Vasconcelos, da área pressuposta para conversão em 2. Levantar incompatibilidades antagônicas de zoneamentos
parque e da zona de amortecimento, buscará a proposição de dire- municipais ao PDPA da Sub-bacia do Guaió e zona de amorteci-
trizes habitacionais e de acesso a urbanidade legal, do uso e parce- mento e influência ao manancial;
lamento do solo em zona de influência, bem como, a preservação 3. Propor instrumentos de uso, ocupação e parcelamento da
da perpetuidade do ciclo ecossistêmico dos rios, lagos, nascentes zona de amortecimento e influência no entorno do manancial;
e vegetações. 4. Elaborar de diretrizes de respostas aos conflitos de degra-
Elaborar mapas com zoneamento do perímetro do parque, prio- dação ambiental, habitacional, rural e das atividades permitidas;
rizando a regeneração do próprio ecossistema e masterplan com 5. Projetar masterplan do Parque do Manancial do Guaió,
o objetivo de valorizar áreas de contato e contemplação com a tendo como norteador o conceito de microcidade regenerativa.
natureza, preservação a recomposição primitiva, de recreação e
pertencimento ambiental. Busca-se a capilaridade deste projeto,
induzindo a apropriação pela população local e a promoção de
cidade regenerativa.

28 29
matériais e métodos
O trabalho proposto será feito a partir de levantamentos, análises
e diagnóstico para compor diretrizes de projeto. A linha de pes-
quisa proposta é qualitativa e os estudos serão orientados a partir
de revisões bibliográficas de livros de autores com discussões em
planejamento urbano, ecologia urbana, infraestrutura verde, sus-
tentabilidade e moradia trata-se de especialistas consagrados em
suas áreas, através da produção científica amplamente difundida
na academia universitária e sociedade.
Análises para contextualização local, serão feitas a partir de le-
vantamentos e da composição de banco de dados com legislação
de todos os níveis, acervos fotográficos e de estudos de casos que
referenciem a soluções de compatibilidade ao uso habitacional e
ao parque, de organização espacial privilegiando o uso compar-
tilhado da cidade, bem como, de promoção a viabilidade econô-
mica, socialmente justa e ambientalmente equilibrada, conforme
concebido por John Elkington em seu triple botton line. O em-
basamento teórico deste estudo busca a reflexão de 3 eixos de
impacto direto a áreas de mananciais em regiões metropolitanas
adensadas, atendendo diretamente ao perfil do Parque do Manan-
cial do Guaio, estes são:
A Ecologia Urbana observado a partir do uso da biodiversidade e
dos serviços naturais em demandas extravagantes com contrapar-
tidas (oferta) menor ao utilizado;
O Planejamento Urbano como indutor e facilitador da preserva-
ção de áreas ambientais e eficiência no espaço ocupado;
A Habitação e Moradia sob a ótica histórica de proximidade dos
mananciais e da relação de irregularidade das ocupações.

30
A disponibilidade de serviços prestados pelos inúmeros ecossis-
temas (oferta) é vital para suprir a solicitações de uso da huma-
nidade (demanda), por sua vez, a manutenção destes serviços dá-
-se pela conjunção de ecossistemas que mantém relações entre
serviços atmosférico, hidrosférico, litosférico e climático com a
fauna e a flora, isto, denomina-se de Biosfera. A biosfera pode e
buscará regenerar-se, no entanto, ao danificar estes sistemas in-
terdependente afeta-se o desempenho e a dinâmica sincrética de
todas as vertentes de serviços, tornando-os fragilizados, podendo

ecossistemas e o até serem interrompidos.


O equilíbrio do consumo versus produção está descompassado.
O impacto da transformação humana sobre os recursos naturais

espaço urbano
tem acrescido projeções estratosféricas a pegada ecológica global
até 2050, podendo comprometer a biodiversidade e o suporte a
vida. Segundo a WWF Brasil (2021) a pegada ecológica global
é da ordem de um planeta e meio para suprir o consumo atual,
com projeção dois planetas de consumo até 2050, este consumo
Desde o princípio, o homem possui profunda relação com o meio desenfreado pode levar a crises socioambientais, econômicas e de
ambiente e seu ecossistema, a dependência dos produtos ofertados disponibilidade de recursos, afetando a econosfera. A pegada eco-
pelos ecossistemas reforçam quão vital a biodiversidade é para a lógica por pessoa é cerca de 2,7 hectares globais e a biocapacida-
existência da humanidade, e que a elisão dele pode aniquilar a de para cada ser humano é de 1,8 hectare, este déficit acumulado
vida. coloca a capacidade de regeneração da biosfera em risco.
A história de diversas civilizações remonta ocorrências de danos Ações antrópicas sobre os recursos hídricos
irreversíveis após a alteração de ecossistemas. A desertificação no Os recursos hídricos desempenham papel fundamental no desen-
entorno do mar mediterrâneo após a extração de matas por se- volvimento civilizatório, desde a antiguidade é expressão de po-
nhores feudais ou a extinção da Civilização Maia pela possível der e de fartura, está sempre relacionado a vida e ao progresso
mudança climática atribuídos pela degradação ambiental e a mo- mercantil, contudo, apenas 0,78% de toda água no planeta está
nocultura (SCIENTIFIC AMERICAN (BRASIL), 2021), tem em disponível para consumo, e parte deste recurso está poluído.
comum, o uso demasiado dos recursos naturais. “A água é também o recurso natural mais importante para o
“O oriente médio sofre repercussões até o presente. Essa região, crescimento econômico e social da população, de forma que ela
que já foi a terra do leite e do mel, tornou-se um deserto por é o mais importante vetor para a indução ao investimento em
causa da exploração exaustiva de recursos naturais, com uso determinadas regiões, sendo hoje um diferencial competitivo es-
intensivo do solo e práticas agrícolas insustentáveis, como a sencial a qualquer área”. (ALMEIDA E SOARES, 2009, p. 86)
eliminação das florestas para o plantio e pastoreio de animais”
(HERZOG, 2013, p. 32). A ação antrópica sobre recursos hídricos tem causado alterações
Oferta de recursos naturais e o consumo humano na capacidade de regeneração da biosfera, a interdependência de
Cecilia Herzog (2013) define que a conta para constatar a pegada outros ecossistemas que protegem, filtram e acomodam às águas
ecológica está na capacidade de produção e disponibilização dos são severamente impactadas ao serem consumidos de forma abis-
recursos naturais versus o que é solicitado pela atividade humana, sal, comprometendo os atributos produtivos da hidrosfera e con-
basicamente, os princípios da Lei de oferta e demanda elabora- duzindo a possibilidade de colapso.
da pelo Economista Britânico Adam Smith. Para Wackernagel e A redução do pH nas águas dos oceanos demonstram o efeito de
Rees (1996), -responsáveis pelos parâmetros que realiza a men- ações indiretas sobre outras cadeias, o desmatamento demasiado,
suração dos recursos naturais utilizados e a demanda solicitada-, a circulação de veículos movidos a combustíveis poluentes ou a
a economia está atrelado ao desempenho ambiental, dependente indústria da construção civil são exemplos de produção e acúmulo
dos ecossistemas naturais e não tendo meio e fim em si própria, de gás carbônico na atmosfera, objeto da acidificação oceânica,
reforça que o consumo desenfreado de recursos naturais promo- quando ao ser dissolvido na água altera o equilíbrio químico, pro-
ve o déficit ecológico, isto significa estar utilizando recursos das movendo o aquecimento e a desoxigenação no oceano. Em corpos
próximas gerações. hídricos de água doce Almeida e Soares (2009, p. 91) reitera que

32 33
o ambiente aquático é modificado por meio da poluição, ao passo
que é reduzido a quantidade de luz nos corpos hídricos, dado a
elevação da turbidez, isto modifica o habitat de peixes e aves, e
inviabiliza para uso da agricultura e consumo humano.

Planejamento Estratégico de Ecossistemas Urbanos


Adler e Tanner (1996, p. 80) define os serviços ecossistêmicos
em três grandes categorias: fornecimento de água e alimento, cul-
tura e regulação (clima e controle da poluição), estes são ativos
econômicos originado pelo meio ambiente natural. O ecossistema
urbano acontece envolto as ambiências da cidade “[...] como as
árvores das ruas, os gramados, os parques, as florestas urbanas,
os charcos, lagos e cursos d’água, [estes] oferecem ao menos seis
tipos de serviços do ecossistema” (ADLER E TANNER 1996, P.
80).
A Dra. Izes Oliveira (2018, p. 34) define as cidades como ecossis-
temas complexos, e incorre outros ecossistemas menores na qual
relacionam-se sociedade, desenvolvimento e ambiente, reforça
que ambiência da cidade contemporânea é problemática e possui
diversas resoluções interconectada de dimensões sociais, cultu-
rais, ecológicas, institucionais, territoriais e econômicas.
“Esse modelo de soluções pontuais com problemas interdepen-
dentes decorre da “metodologia fragmentada” que inicia com
a falta de integração entre gestão e planejamento urbano ou da
falta total do planejamento, com objetivos, muitas vezes, eleito-
reiros. Tal modelo ocasiona conflitos sérios, muitas vezes perce-
bidos ou admitidos pela população depois de decorrido tempo,
que resulta, também, em altos custos para recuperar.”
(OLIVEIRA, 2018, p.35).
A Dra. Izes (2018) e a Cecilia Herzog (2013, p. 106) comparti-
lham e embasam suas literaturas no livro Jardim de granito da
paisagista Anne Spirn, que atribui as cidades modernas e suas es-
truturas a definição de “máquinas infernais”, onde a fragmenta-
ção dos problemas e o imediatismo de projetos isolados resultam
apenas em soluções paliativas, elevando custos da saúde pública,
de infraestrutura urbana e posteriormente de reparação a ecossis-
temas hídricos e seus agregados.
Saboya (2011 apud DROR, 1973, p. 323) compartilha da defini-
ção que o “planejamento é o processo de preparar um conjunto de
decisões para ação futura, dirigida à consecução de objetivos atra-
vés de meios preferidos”, decorrendo o déficit ambiental desde
1970, devido ao uso da biocapacidade planetária para constância
do padrão de consumo econômico (HERZOG, 2013) é urgente
que o planejamento urbano se faça sustentável e promova a con-
servação de biomas, mananciais, tal qual, o estimulo ao preserva-
ção de comunidades bióticas e o equilíbrio dos fatores abióticos
na urbe.
A definição de Dror ao que seja planejamento, neste caso,

34
Fonte: 1. The City Fix Brasil, 2015 2. Wikipédia, 2021.
aplicado ao espaço urbano vai de encontro as ocupam a formação da população por meio e acrescenta Cecilia Herzog, deve-se buscar a
necessidades de reparação do déficit na bios- de atividades recreativas, de lazer e educa- preservação de ecossistemas e da regeneração
fera que está sendo deixado para as próximas ção primária, ações de pertencimento desen- de espaço monofuncionais através do planeja-
gerações como citado anteriormente. volvem a responsabilidade com o meio am- mento urbano, agregando máxima eficiência
Os skyline das cidades são reconhecidas pela biente, para isto, é necessário a atuação de ecológica e mínima solicitação de recursos na-
promoção de edifícios altos e estradas rápidas, agentes públicos, organizações ambientais, turais.
no ranking elaborado pelo Grupo Alemão Em- indústrias e comércios que através da cons- Almeida e Soares (2009, p. 86) citam a neces-
poris a imponência de pontes estaiadas e edi- ciência buscam emergir uma nova cultura sidade de medidas de preservação acompanha-
fícios altos empoderam a vertente de cidade pautada em transformações concretas. das de força das políticas públicas para promo-
prospera e admirável, no entanto, essa associa- Cecilia Herzog (2013), Flávio Almeida e ver, gerenciar e fiscalizar a perpetuidade dos
ção de progresso urbano retratado através dos Luiz Soares (2009) consideram que o orde- ecossistemas, e para isso é necessário que as
polos corporativos negligenciam a importância namento territorial deve partir do planeja- legislações, os planos de manejo, zoneamento,
dos ecossistemas, que zelam pela manutenção mento efetivo, desconectando do branding planos estratégicos municipais sejam respeita-
da biosfera e oferecem ganhos sociais, educa- sustentável, que tem como objeto a criação dos e compartilhados por outros instrumentos
tivos, psicológicos e econômicos. de um produto e a comercialização da ima- em busca de conscientizar por todos os meios
A pegada ecológica das 10 cidades classifica- gem de responsabilidade ambiental, quando a necessidade de conservação do ciclo da bios-
das em 2020 pelo Grupo Emporis está em dé- os empeço usuais são apenas pauta de dis- fera e indução de mecanismos para desenvol-
ficit de 2,4gha em reserva de biocapacidade. cussões e de poucas ações, vimento de ecossistemas urbanos.
A harmonia entre os ecossistemas urbanos
e as pessoas pode ser encontrada no projetar
com a natureza. Ao aproximar a ambiência da
biosfera ao cotidiano das pessoas reeduca-se
a valor da conservação e de preservação do
meio ambiente, desta forma, desenvolve-se o
pertencimento aos bens naturais, de soluções
e alternativas com excelente custo-benefício
ambiental social e econômico. Herzog (2013)
defende a reestruturação da paisagem através
da “renaturalização” do espaço urbano, culti-
vando a proximidade da natureza à população
e “desimpermeabilização” das superfícies
mineralizadas, reduzindo, desta forma, as
ilhas de calor e a velocidade de percolação das
águas.

36 37
impactos habitacionais
em áreas fragilizadas
A cidade como organismo vivo responde imediatamente a toda
ação e desencadeia reações. Henri Léfèbvre -Filósofo Frances-
a define como a obra materializada, localizada no espaço e no
tempo, que tem o urbano como a afirmação das formas sociais.
Exige-se do urbanismo o gerenciamento das interfaces que a ur-
banidade possui, projeta e deseja, visando, assegurar o direito a
cidade para todos e de moradia digna, no entanto, o que se tem
configurado no espaço socio urbano é a “[...] desintegração social,
agravamento das condições de transporte, a questão ambiental,
abastecimento de água, a eliminação dos esgotos e dos resíduos
sólidos, as emissões sonoras, as poluições várias (ar, água, solos,
visual), a degradação da qualidade de vida urbana e a degradação
das paisagens urbanas” (PINTO, 2010).

Reflexos da política habitacional na geração de ocupações ir-


regulares
“A água enquanto elemento essencial à vida no planeta inevita-
velmente direciona a tendência de ocupação do território” (AL-
MEIDA E SOUZA 2009, p. 89), quando a dinâmica do urbanismo
predatório se expõe na espacialização do território, “o processo de
urbanização se apresenta como uma máquina de produzir favelas
e agredir o meio ambiente [...]” (MARICATO, 2013, p. 39).
A política habitacional e urbana implantada durante o século XX
revela o descaso das esferas governamentais com a moradia e a
proteção de recursos ambientais, de acordo com a ilustríssima
Ermínia Maricato (2013, p. 17) o quadro de expulsão dos mais
pobres para zonas periféricas das cidades, em morros e franjas,
transforma-se no destino mais corriqueiro destas famílias das
grandes metrópoles do Brasil ainda no início do século, Raquel
Rolnik (2019, p.373) explica que o infortúnio habitacional dá-se

38
Fonte: G1, 2014. Editado pelo autor, 2021.
pelo poder político torna-se correligionário do poder econômico, a área de ocupada é maior que média populacional, a resultante é
servindo inteiramente aos desejos da aristocracia urbana, fazendo o espraiamento da moradia sem acesso de infraestruturas urbanas
da cidade, espaço de desejos e realizações da elite e esquecendo e a disseminação de conflitos ambientais, mantendo o padrão de
dos mais emergentes. 1930 até a década de 1970.
O adensamento da ocupação em áreas de fragilidade ambiental “Loteamento longínquos, dispersos e sem infraestrutura, uma
dá-se pela política habitacional e do acesso ao crédito de finan- cidade de baixíssima densidade comparada ao padrão anterior,
concentrando em torno dos trilhos: esse novo modelo colocava
ciamento imobiliário, bem como, ineficiência no cumprimento da em xeque toda a lógica de investimentos públicos e provisão de
função social da propriedade. A falta de acesso a instrumentos de serviços”. (ROLNIK, 2017, p. 35)
crédito para aquisição de moradia, associado forte migração nas A produção de cidades indiferentes as pessoas, especialmente aos
décadas anteriores e a resseção econômica da década de 1980, menos afortunados, indica a urbanização predatória resultante da
impulsiona a ocupação de morros, alagados, várzeas e planícies cidade sem previsibilidade urbana, esta move-se pela mesocracia,
pelos mais pobres, toda está modificação ambiental não demora a esquecendo ou fingindo esquecer dos mais desvalidos, condenan-
expor reações conflituosas. do-os a incerteza.
“As décadas perdidas não são às únicas a registrarem as origens Ermínia Maricato (2013, p. 34) lembra dos efeitos da falta de pla-
do que podemos chamar de tragédia urbana brasileira – enchen- nejamento ao indivíduo e a sociedade, o conflito de pertencimento
tes, desmoronamentos, poluição dos recursos hídricos, poluição
do ar, impermeabilização do solo, desmatamento, congestiona- e a propagação da autorregularão territorial parece conduzir a vio-
mento habitacional, reincidência de epidemias, violência etc. O lência e a ociosidade, a marginalidade sócio territorial, no que lhe
crescimento urbano sempre se deus com a exclusão social [...]” diz respeito, gerencia uma bomba socioecológica.
(MARICATO, 2013, p. 22.)
Ausência de infraestrutura urbana e a degradação de
Os reflexos habitacionais das cidades da RMSP indicam a condu- ecossistemas
ção e a importância dada às políticas de assentamentos destiladas A urbanização cumpre o direito de convívio e ordenação de espa-
durante o século XX na maior capital do país. Ao ignorar os focos ços habitáveis, nele, são assegurados a prática de transformação
de habitação espraiados em morros e várzeas, os gestores mu- do espaço urbano, bem como, à execução de políticas públicas.
nicipais demonstram indiferença a população mais baldo e aos Cidades construídas coletivamente tendem perpassar os equívo-
contribuintes que custearam obras de infraestrutura (MARICA- cos de planejamento e reajustar o modo de atuação na urbe, ex-
TO, 2013, p. 21), esta densidade dispersa, associado a falta de posto por Maricato (2013, p. 39) os espaços urbanos andam em
planejamento, gestão de crise e fiscalização projeta impactos am- direção à segregação e a espacialização urbana traz esta caricatura
bientais elevados e convida ao desencadeamento de aglomerações em seus inúmeros lítigios.
irregulares.
“O direito à invasão é até admitido, mas não o direito a cidade.
A ausência do controle urbanístico (fiscalização das construções
e do uso / ocupação do solo) ou a flexibilização radical da regu-
lação nas periferias convive com a relativa “flexibilidade”, dada
pela pequena corrupção, na cidade legal. Legislação urbana de-
talhista e abundante, aplicação discriminatória na lei, gigantesca
ilegalidade e predação ambiental constituem um círculo que se
fecha em si mesmo” (MARICATO, 2013, p. 39)

A tabela 2 resume e expõe os dados apresentados no livro Terri-


tórios em Conflitos da Dra. Raquel Rolnik na qual trata sobre a
lutas pela moradia digna e a inercia do governo municipal quanto
a temática, o comparativo apresenta dois momentos da ocupação
horizontalizada no município de São Paulo, a média populacional
dobra em cerca de 16 anos, contudo, a densidade reduz em 42%, o
controverso, está na área ocupada que avança cerca de 369% mas
não é acompanhado pela média populacional, isto significa que

40 41
estudos de caso
referências

plano diretor estratégico ecológico para o Chile


Organização espacial e metodológia

parque estadual da Cantareira


Zoneamento e Zona de Transição

habitação villa verde


Referência para Moradia Social

42
Fonte: 1. ArchDaily Brasil, 2020. 2. Jefferson Alves, 20118. 3 ArchDaily Brasil, 2014..
plano diretor
estratégico ecológico para o Chile
Localização: Huechuraba / Chile Ano: 2019
Arquiteto: Jan Gehl e equipe Área: 150 hectares
O masterplan desenvolvido para a Comuna de Huechuraba, ao
norte da cidade de Santiago apresenta metodologias de organi-
zação espacial que conduz os usuários a apropriação dos espa-
ços públicos por intermédio da diversificada escala institucio-
nal, da aproximação da paisagem e de recursos naturais como a
Cordilheira dos Andes, a vegetação nativa centenária e das áreas
alagadas. Os limites naturais e as características destes recursos
tornam-se norteadores ao desenvolvimento da ocupação e dos sis-
temas de lazer, bem como, a indução da conectividade entre os
bairros vizinhos com características distintas entre si, neste caso,
o projeto de Gehl propõe ser está conexão, utilizando elementos
estruturadores da natureza e a densidade como instrumento de vi-
talidade urbana.
O processo adotado iniciou-se pelo mapeamento das áreas vege-
tadas e a identificação das massas arbóreas a serem preservadas, o
objeto deste estudo revela aglomerados de arvores a qual servirão
posteriormente de composição do parque a borda da montanha e
de amortização das águas, também revela corredores de vegeta-
ções que irão compor as vias transversais de um longo boulevard
no sentido longitudinal da área.
A segunda etapa revela os fluxos hídricos e alagadiços da gleba
baseando-se nas direções das águas e na declividade do terreno,
em resposta aos parâmetros coletados é proposto praças de águas
permitindo a proximidade dos usuários aos leitos dos rios e ex-
pansão dos corpos hídricos durante as cheias das chuvas, reduzin-
do possíveis alagamentos.

44 Fonte: ArchDaily Brasil, 2020.


A metodologia de organização aplicado em Huechuraba é basea-
da no princípio da Taxonomia, a disciplina biológica que agrupa
organismos biológicos conforme similaridades, através deste mo-
delo é possível assegurar a preservação dos ecossistemas da área
e potencializar a proximidade de recursos naturais como atrativo
paisagístico, contemplativo e de uso para lazer.
O Masterplan para Huechuraba apresenta cenários aproximados
aos desafios do Manancial do Guaió partindo do pressuposto da
diversidade de ecossistemas, a relação do usuário com a natureza,
e a metodologia adotada que se permite nortear às diretrizes de
ocupação e de espaços públicos pelas características ambientais
que o terreno apresenta.
A taxonomia no desenho do espaço urbano implica em descobrir
as diversas composições ambientais, habitacionais e geomorfo-
lógicas, que compondo o processo de diferenciação do objeto no
estudo, compreende-se o esperado.
Farias (2018 apud FOUCAULT, 1999, p. 99) compartilha do pen-
samento que “a elaboração de uma taxonomia implica, para este,
numa potência de imaginação capaz de revelar o que está oculto,
trazendo à tona o continuum das coisas [...]”, e que a “taxonomia
é tanto um processo como um fim.” (FARIAS, 2018, p. 135).

Por fim, a equipe de Jan Gehl preocupa-se com tipologias e a diversidade de usos promovendo a vitalidade
e a fluidez almejada. A diversidade tipológica promove equilíbrio socioespacial, o modelo estabelecido de
área de vizinhança com os miolos de quadras ativos, estabelece a cultura do compartilhamento urbano, e
cada modulo foi estruturado para que seja dinâmico e possua parcelas do sistema de lazer e de áreas ins-
titucional no entorno imediato, bem como, a adequação à topografia, ao movimento do sol e dos ventos
predominantes, utilizando as condições naturais como partido ocupação.

47
Fonte: 1. ArchDaily, 2020. Editado pelo autor, 2021. 2. ArchDaily, 2021
parque estadual
cantareira
Localização: Caieiras, Guarulhos, Mairiporã e São Paulo/SP
Ano: 1968 Área: 7.912,52 hectares
O Parque Estadual da Cantareira tem cerca de 79km² de extensão
territorial e está localizado na Zona Norte da Cidade de São Pau-
lo, abrangendo os municípios de Caieiras, Guarulhos e Mairiporã. Cerca de 50.000 mil pessoas visitam anual-
A partir de 1968 o decreto estadual 10228/68 oficializou como mente o Parque da Cantareira e desfrutam de Ações recreativas tendem a gerar pertencimen-
parque estadual e possui 4 grandes núcleos de visitação com ati- atividades esportivas, recreativas e de con- to ambiental, esta pauta educativa indireta arti-
vidades educativas e recreativas abertas ao público, contudo, a templação, estas proposições de interação cula novos sentidos a natureza e constrói com-
regeneração da mata atlântica no trecho deu-se pelas obras do Sis- com a natureza são medidas educativas que portamento em sociedade e “[...] a partir daí
tema Cantareira, empreitada de esforços sanitaristas do final do busca promover a aproximação, conscienti- será experimentado pelos participantes a moti-
século XIX. zação e responsabilidade socioambiental com vação de se ligar-se emocional ou afetivamente
[...] a desapropriação inicial de terrenos da Serra da Cantareira e do ao lugar, que em Unidades de Conservação da
os recursos naturais, bem como, a preserva-
Morro de Sant’Anna, comunicada em 1880, foi seguida pela aqui- Natureza pode-se direcionar para uma maior
ção da memória do patrimônio histórico lo-
sição de inúmeras outras áreas, possibilitando o início das obras de afetividade sobre a diversidade biológica do lo-
cal, ressaltando a importância das águas.
implementação do sistema produtor de água. Uma vez nas mãos cal.” (SILVA, 2016, p.195).
O Núcleo do Engordador possui diversas tri-
do Estado, às áreas desmatadas foram gradualmente tomadas pela O entorno do Parque Estadual da Cantareira
lhas, a barragem d’água e a casa de bombas
vegetação nativa, conformando a mata de grande exuberância que possuí diversos vetores que exercem pressões
de 1906, patrimônio do sistema de abasteci-
subsiste nos dias atuais. (SILVA, 2004, p. 55). sob a Unidade de Conservação, as atividades
mento de água do Estado de São Paulo reco-
O primeiro acesso público ao Parque Estadual da Cantareira foi o nhecido pelo CONPRESP e a UNESCO, no econômicas de extração de minérios e ocupa-
Núcleo Pedra Grande em 1989 e o destaque deste núcleo está no núcleo Águas Claras existe diversas trilhas ções irregulares associados a expansão do sis-
afloramento rochoso de granito que serve de mirante para a capital que conectam a Pedra Grande e o Lago de tema viário concentram impactos ambientais
paulista a 1010 metros de altura, o Museu Pedra Grande possui a Carpas, já o Núcleo de Cabuçu possui a bar- que afetam diretamente a proteção e recupera-
maquete do parque de 1973, coleções de animais e de trabalhos ragem d’água. ção dos mananciais, remanescentes florestais e
arqueológicos e um insetário, bem como, as trilhas da Bica, do a integridade da biodiversidade e de corredores
Bugio e da Figueira que conecta ao núcleo das águas claras. ecológicos.

48 49 Fonte: 1. Wikipedia, 2019. 2 . Felippe Belmont, 2019 3. Dayane Anea, 2017. 4. Wagner Senpai, 2020
5. Leonardo Cavl, 2019.
O zoneamento adotado dentro da Unidade de Conservação presa A falta de fiscalização municipal e de instrumentos de preservação o manancial e o bioma da
compartilhamento do espaço natural e o estímulo de pertencimen- que definissem as zonas de amortecimento como ob- mata atlântica que responde ao equilíbrio
to pela vivência dos usuários com espaço da natureza. Preserva-se jeto de discussão das Unidades de Conservação fa- ambiental da área, bem como, a prolifera-
as características nativas da Mata Atlântica e os objetos que re- cilitou a ocupação desarranjada por uma população ção da fauna, sendo restritivo no modelo
montam a história local, por meio, da preservação de bens tom- majoritariamente conduzida a informalidade habita- de conservação do parque e das atividades
bados. cional dado a segregação espacial e o espraiamento educativas e recreativas desenvolvidas no
Assegurar a preservação de áreas de mananciais é fundamental de novos núcleos urbanos. espaço interno, zela-se pela perpetuação dos
para a continuidade dos serviços hídricos e climáticos que os O Parque Estadual da Cantareira apresenta desafios ecossistemas e pela manutenção da primiti-
ecossistemas direta e indiretamente proporcionam a vida. O Par- comuns ao manancial do Guaió, tendo como objeto vidade.
que Estadual da Cantareira promove a conservação da fauna e da
flora por intermédio do plano de manejo, do controle da expansão
urbana (ação regulada pelos municípios), da fiscalização de ati-
vidades no entorno da unidade de conservação e da promoção de
atividades cientificas, educativas e recreativas.
As diretrizes impostas pelo plano de manejo da Unidade de Con-
servação para o Parque Estadual da Cantareira apresentam restri-
ções de preservação ambiental proporcionando a recuperação na-
tural da fauna e flora da mata atlântica -bioma florestal com maior
diversidade de vida do planeta- ao limitar o acesso de veículos,
acampamentos e atividades comerciais pelo zoneamento tende-se
a conter ações de degradação ambiental, contudo, a programa de
necessidades resume-se a áreas de tombamento e a contemplação
de recursos naturais, tendo poucas ações de intervenção nos espa-
ços demarcados para incentivo do uso e do desenvolvimento do
estímulo de pertencimento.
O primeiro plano de manejo para o Parque da Cantareira elabora-
do em 1973 não considerou os impactos que o entorno imediato
e as pressões que expansão urbana poderia gerar a UC, a efer-
vescência pela discussão desta problemática torna-se expressiva
a partir da década de 1980, mas só resulta em ações concretas de
diretrizes de proteção e restrição no zoneamento municipal a par-
tir da década de 2000, por intermédio da Lei Federal 9.985/2000
que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da
Natureza e regulam as zonas de amortecimento.
“[...] a expansão da mancha urbana a partir da década de 1980 e, com
mais intensidade, ao longo da década de 1990, passou a se caracterizar
pelo avanço paulatino da ocupação precária e irregular sobre terrenos
de embasamento cristalino, extremamente sensíveis às intervenções
descuidadas do meio físico. Embora esteja região pertença à denomi-
nada pré-serra da Cantareira, com solos superficiais de sedimentação
terciária, pouco apropriados à ocupação urbana, deu suporte à prolife-
ração de loteamentos ilegais e de favelas, propiciando o desencadea-
mento de problemas ambientais urbanos que atingem não somente a
escala local, mas todo o conjunto da Bacia do Alto Tietê.” (SILVA,
2004, p. 15).

50 51
Fonte: Fundação Florestal do Est. de São Paulo, 2007.
habitação villa
verde
Localização: Constitucíon / Chile Ano: 2010
Arquiteto: Elemental Área: 5688m
A habitação de Interesse social é discussão de congressos, simpó-
sios e da formação acadêmica do Arquiteto e Urbanista, contudo,
as contribuições pouco refletem no desenvolvimento do produto
ofertado no mercado imobiliário e por vezes incompreendido pelo
usuário final.
O projeto de Constitucion releva a assertividade do projeto pre-
miado com Pritzker. A representação da moradia como espaço de
qualidade e de participação coletiva, contrário a política habita-
cional chilena praticada e furtivamente corrida pela baixa ade-
rência com múltiplas camadas como o espaço urbano, o habitante
e o próprio financiamento revelam o senso de urgência que este
assunto deve transpassar os grandes eventos e adentrar os cantei-
ros de obras.
A simplicidade do desenho revela a nobreza da oferta dos itens es-
senciais para a futura ampliação do espaço, a proposta da equipe
de Aravena prevê e através do projeto incentiva a continuidade da
moradia e a personalização conforme o desejado.

52
Fonte: ArchDaily, 2016.
Fonte: ArchDaily, 2016.
localização
O Manancial do Rio Guaió é reconhecido pela Lei Estadual
858/1975 está localizado na região centro-leste da Região Me-
tropolitana de Paulo (RMSP) e abrange parcelas territoriais dos
municípios de Ferraz de Vasconcelos, Mauá, Poá, Ribeirão Pires
e Suzano.
A Bacia Hidrográfica do Rio Guaió possui cerca de 84,41 km²
e tem como peculiaridade a proximidade da mancha urbana da
Cidade de São Paulo e dos diversos municípios do alto tietê, bem
como, dado a pressão da expansão urbana e a demanda habita-
cional, replica-se desordenadamente assentamentos e loteamentos
irregulares em encostas e morros do manancial.
A construção do Rodoanel Mário Covas tem promovido novos
impactos de adensamento populacional, além da, previsão de co-
nexão á Estrada dos Fernandes (Suzano) via alça de acesso a ser
construída nos próximos anos e de transformações urbanas para
oferta de infraestrutura ao desenvolvimento econômico da região,
aponta para a urgência de implantação das diretrizes gerais do
PDPA elaboradas pela Secretária Estadual de Recursos Hídricos,
juntamente ao COBRAPE e outras entidades estaduais e munici-
pais em 2017.
A área de estudo tem cerca de 12,43 km² e compreende a sobre
posição dos limites da Cidade de Ferraz de Vasconcelos á do Ma-
nancial do Guaió, desta forma, permite-se a leitura de indicadores,
óbices e a oferta de soluções específicas aos questionamentos do
perímetro destacado com mais precisão, além de, facilitar no di-
mensionamento de intervenções pontuais de cunho municipal na
área.

58
Fonte: Autoria Própria, 2021
linha do tempo
Ocupação espacial

Ocupação Espacial

Fonte: Autoria Própria, 2021


entorno
O Perímetro destacado para Parque Urbano do Guaió
tem seus limites a confrontante com a mancha urba-
na consolidada da Cidade Ferraz de Vasconcelos, de
Poá, de São Paulo e a Zona Rural de Suzano.

Distrito Sto. Antônio Pta. (Mun. de Ferraz de Vas.)


Localizado na região norte do manancial, a diversi-
dade de usos e de tipologia habita-cional, permite o
desenvolvimento controlado da região, contudo, a
verticalidade de edifícios atesta o avanço em direção
a áreas protegidas.
Distrito São José (Município de Poá)
A nordeste do perímetro em estudo, o Município de
Poá possui intervenções antrópicas desordenadas, de
modo que, a pulverização recorrente de loteamentos
irregulares pre-carizam o insólito saneamento básico.
Zona Rural (Município de Suzano)
A proximidade a eixos viários importantes como a
Rod. Índio Tibiriçá, Rodoanel Má-rio Covas e a Est.
Fernandes assegura o escoamento de produção para
toda grande São Paulo e baixada santista.
Com tendências a profundas transformações urbanas,
o planejamento municipal tende á incentivar ativida-
des industriais.
Distrito de Cid. Tiradentes (Município São Paulo)
A Oeste da área em discussão, com 15km² de área e
cerca de 211.000hab, ás áreas naturais en-voltos aos
limites do distrito são afetados pelo modelo de fazer
cidade periférica que São Paulo vivencia a mais de 1
século.

62
Fonte: Autoria Própria, 2021
uso e ocupação
A cidade de Ferraz de Vasconcelos possui certa he-
terogeneidade no uso do solo e aparente homoge-
neidade na ocupação. O desenvolvimento do tecido
urbano dá-se ao longo dos eixos leste, norte e oeste
da cidade, e tem sua origem envoltório a estrada de
ferro central do Brasil, concentrado as atividades in-
dustriais a noroeste do município.
O município teve seus primeiros moradores instala-
dos no vilarejo do Tanquinho, região oeste da cidade,
próximo a divisa de São Paulo, este bairro originou-se
por ter sido parada de descanso a tropeiros que via-
javam de São Paulo á Mogi das Cruzes, bandeiran-
tes e até para D. Pedro I. O espraiamento do vilarejo
deu-se envolto aos caminhos traçados pelas carroças
e cavalos dos viajantes, a linha férrea da Central do
Brasil (Variante São Paulo) e a instalação da fábrica
de colas e lixas Gotthard Kaesemodel, impulsionan-
do a configuração de ocupação do eixo Leste-Oeste.
No município de Ferraz de Vasconcelos existe cer-
ca de 220 nascentes de córregos d’água, aproxima-
damente 140 estão localizadas dentro do perímetro
urbano. O mapa de morfologia da cidade apresenta 3
tipos de compartimentos geomorfológicos que com-
põem a área urbana da cidade.

64
Fonte: Prefeitura de Ferraz de Vasconcelos, 2015. Editado pelo autor, 2021.
Os morrotes acidentados em transição do sedi-
mentar para o cristalino estão associados ao de-
senvolvimento das bacias hidrográficas do Ribeirão
Itaim – Poá, Córrego do Itaim, Córrego do Lajeado,
Ribeirão das Três Pontes e parte do Ribeirão de Ita-
quera. A declividade em pontos mais baixos é de 6%
a 60% em áreas próximos a nascentes, está morfo-
logia conduz inúmeros subafluentes e afluentes aos
principais leitos de rios da cidade.
A área sul da cidade é identificada morros altos aci-
dentados isolados em meio à morraria, tendo como
característica inclinações elevadas, topo de morros
definidos, originando diversas nascentes difusas, este
compartimento geomorfológico está vertendo para a
Bacia do Ribeirão do Itaim ou do Guaio, e sua decli-
vidade média é de 30%, contudo, varia de 6 á acima
de 60%. Cerca de 26 corpos hídricos estão canaliza-
dos ou inexistente, 12 dos 26 estão (estariam) na Área
de Proteção e Recuperação de Manancial (APRM) da
Sub-bacia do Rio Guaio.
As planícies cercam os córregos da Vila São Paulo/
Cambiri, Vila Cristina, Ribeirão do Itaim e Guaio e
são receptadores de dezenas de subafluentes, ou seja,
está morfologia tem como característica a baixa va-
riação de altitude no entorno do corpo hídrico, pro-
movendo espaços de várzea para contenção e dre-
nagem, o percentual de declividade nestas áreas é
menos de 6%.
Fora do perímetro urbano, a área de proteção e re-
cuperação de mananciais (APRM) e a zona rural do
município é caracterizada por morros acidentados
com escarpas de transição entre níveis topográficos,
característico pela própria volumetria apresentar to-
pos definidos e escarpas, com declividades acima de
60% serve a bacia hidrográfica do Ribeirão Guaio.

66
Fonte: Prefeitura de Ferraz de Vasconcelos, 2015. Editado pelo autor, 2021.
Os efeitos da ocupação de morros e morrotes
Às águas oriundas dos morrotes acidentados e dos
morros altos isolados que vertem para o Ribeirão do
Itaim podem causar alagamentos e enchentes devido
a inclinação, a impermeabilização do solo, a redução
de várzea e a característica de planície do ribeirão
que não comportam o volume de escoamento, a com-
pactação do solo, desmatamento e asfaltamento em
áreas que naturalmente exercem papel de várzea nos
córregos e ribeirões da cidade aceleram a velocidade
deslocada da água provocando enchentes.
O planejamento urbano de áreas com características
similares é essencial, contudo, a história mostra que
os primeiros assentamentos se deram ao longo das
margens do córrego e até mesmo dentro da área de
planície, além de, concentrar atividades comercial e
institucionais na proximidade. As estações da CPTM
Antônio Gianetti Neto e Ferraz de Vasconcelos man-
tem em seus trechos o córrego das pedrinhas e a o ri-
beirão do Itaim canalizados, em cheias, são forçados
a paralisarem ou reduzirem as operações de transpor-
te.
As águas que vertem dos morros altos e isolados
sentido o Ribeirão de Guaio produzem menores im-
pactos de escoamento devido a vegetação densa, con-
centrada e preservada na região, o volume de água
em direção ao ribeirão e amortizada com a infiltração
no solo, copos de árvores e vegetações rasteiras. Está
área enfrenta grandes desafios no controle da ocupa-
ção e na preservação de nascentes, a partir da década
de 1970 o tecido urbano da cidade avança sentido a
zona sul, excedendo os limites da APRM da sub-ba-
cia Guaio e revelando ineficiência na gestão e fiscali-
zação do planejamento urbano municipal, bem como,
da falta de políticas públicas de habitação para con-
ter a transformação do espaço desenfreado em áreas
ambientais e proporcionar adensamento em áreas de
aptidão para assentamentos humanos.

68
Fonte: Ferraz Realidades, 2014.
Área de Manancial do Guaió
O município de Ferraz de Vasconcelos, especifica-
mente a Zona Rural, é também, demarcada como
Área de Preservação e Recuperação do Manancial do
Guaió, dado a contribuição hídrica das sub-bacias ao
Ribeirão Guaió.
Com cerca de 72% da APRM coberta por mata pre-
servada e capoeira - espécie de vegetação secundária
que cresce após a derrubada da vegetação original
– esta cobertura concentrada e densa, e a formação
geomorfológica da área favorecem a manutenção e
disponibilidade da função hídrica, o que segundo o
PDPA (2017, p. 13) “[...] a bacia de drenagem, no
ponto de captação, apresenta uma vazão média de
longo termo (QMLT) igual a 0,645m³/s.”. Em 2015 a
SABESP passou a captar cerca de 1,0m³/s do Ribei-
rão Guaió e lançar no Ribeirão dos Moraes, tributário
da Represa Taiaçupeba (Sistema Produtor Alto Tie-
tê), está ação é resultado dos esforços da companhia
de água a crise hídrica de 2014.
A expansão urbana no eixo Leste-Oeste do manan-
cial dá-se pela pressão de ocupação irregular presente
em Cidade Tiradentes (São Paulo), está projeção de
informalidade gera diversificados problemas ambien-
tais, sociais e urbanos que afetam diretamente a po-
pulação local, a qualidade ambiental e geomorfologia
da região. “O desbordamento coloca sob risco a pre-
servação integral de uma porção relevante de mata do
Manancial Guaió.” PDPA (2017, p. 27).

70
Fonte: Prefeitura de Ferraz de Vasconcelos, 2015. Editado pelo autor, 2021.
sistema viário
As principais conexões da área estudam dá-se pela
Avenida do Paiol, que corrobora para a conexão com
entre as principais arteriais do Município de Ferraz
de Vasconcelos a Cidade Tiradentes e Guaianazes,
através de vias coletoras como Av. Inácio Monteiro
(Principal acesso aos núcleos habitacionais Jd. Pero-
la, Sitio Conceição, Juscelino, COHAB I).
A Rua dos Macucos é a continuação em direção leste
da Av. Paiol e o principal meio de transposição do Rio
Guaió, bem como, de acesso a Est. dos Fernandes,
ainda que, o perfil seja de viário local, o tráfego de
veículos pesados é intenso, é responsável pela redu-
ção de percurso á Rod. Índio Tibiriçá.
A Avenida Maria Caetano de Abreu está a nordeste
dá área de estudo e importante papel no escoamento
de mercadoria dos produtores rurais do Município de
Ferraz de Vasconcelos, a proximidade ao Rodoanel
Mário Covas, a Av. Marechal Tito e posteriormente
a Rod. Ayrton Senna, permite que os deslocamentos
sejam rápidos.
A Avenida Metalúrgicos é uma via coletora que co-
necta Guaianazes e Cidade Tiradentes aos limites do
Município de Ferraz de Vasconcelos (atualmente pro-
longada para atender as ocupações irregulares dentro
do manancial).
A dinamização do sistema viário impulsiona na cres-
cente demanda habitacional. As conexões com a re-
gião do ABCD (Município de Mauá), a Zona Indus-
trial do município de Suzano e a expansão da mancha
urbana da Cidade Tiradentes.
Via coletora Via aRTERIAL
72
Fonte: Autoria Própria, 2021
educação
O acesso à educação assegura o desenvolvimento
regional nas mais diversificadas camadas sociais.
Este impacta diretamente a qualidade de vida, a
renda média e a cultura local, bem como, garantem
a redução das mazelas sociais, como a violência.
A proximidade dos núcleos habitacionais consoli-
dados do distrito de Cidade Tiradentes permite que
crianças e adolescentes sejam assistidos pela rede de
ensino municipal e estadual em território paulistano.
O raio de abrangência das unidades de educação
atende mais de 90% dos moradores a sudoeste e
cerca de 30% das crianças e adolescentes a oes-
te, contudo, taxa de analfabetismo dos últimos 10
anos praticamente manteve-se, ao contrário do
ensino básico

acesso ao ensino superior completo que avançou


cerca de 5% (aproximadamente 10.600 pessoas).
Segundo a Subprefeitura de Cidade Tiradentes a atual
demanda educacional concentra-se em assistir a re-
gião por Centros de Educação Infantil (CEI) que im-
põe uma crescente média de 359 vagas por ano, este
número está relacionamento a necessidade de pais se
deslocarem para o trabalho e ao alto índice de gravidez
precoce tão presente na regional de Cidade Tiraden-
tes, cerca de 16% da taxa de natalidade é de mães com
menos de 19 anos de idade (Fundação Seade, 2017).
Os índices da Cidade Tiradentes comparados a outras
regiões do município paulistano apresentam a discre-
pância de formação acadêmica. Em 2007 apenas 2%
da população de Cidade Tiradentes possuía ensino

74
Fonte: Autoria Própria, 2021
ensino fundamental e médio

76
Fonte: (Da esquerda para a Direita) 1. Creche Jd. Temporim, Ferraz de Vasconcelos, 2018. 2. CEU Ferraz de Vasconcelos, Câmara Municipal de F.V., 2016. 3. Escolas Fundamental e Médio, Autoria Própria, 2021.
superior completo, antagônico a realidade dos resi-
dentes de Pinheiros que 52% dos habitantes são for-
mados.
A taxa de analfabetismo manteve-se ao longo da dé-
cada (2007-2017) o índice em 30% na Cidade Tira-
dentes contrastando a 8% no distrito de Pinheiros.
Dentro do perímetro do Manancial possui um Centro
de Educação Infantil (CEI) administrado pelo Prefei-
tura de Ferraz de Vasconcelos que oferece o ensino
fundamental I, a próxima escola para continuidade
do ensino fundamental II e médio está a 1,5km.
A educação é um dos principais componentes que re-
velam o retrato da desigualdade social que assola as
cidades Paulistas, como também, um dos principais
veículos de transformação social.
O planejamento urbano perpassa pela oferta de equi-
pamentos de formação educacional, e neles, o incen-
tivo à cultura e costumes que condicionam possibili-
dades de qualidade de vida.

78 79
Fonte: 1. Sec. da Educação de SP, editado pelo autor, 2017. 2. Google Earth, 2021. Editado pelo autor, 2021.
81
Fonte: (Da esquerda para a Direita) 1. Cidade Tiradentes, Luciano Cavalcante, 2009. 2. EMEIF José Sebastião, Prof. Rosinei Pereira, 2011. 3. Jd. Pérola, Ize Kampus, 2014.
cultura
O perímetro do Manancial do Guaió possui pouca
quantidade de equipamentos culturais e não ofere-
ce cobertura a todo o espaço ocupado por moradias.
Atualmente cerca de 9,7% dos habitantes do distrito
de Cidade Tiradentes moram a mais de 1km de dis-
tãncia.
Equipamentos de cultura são importantes para in-
clusão social e o desenvolvimento de um povo, de
formações complementares e de contato com outras
culturais, os espaços atuam como um gatilho posi-
tivo para a sociadade, quando constroi-se com a di-
versidade humana apresentando crenças, linguagens
e mesmo a aparesentação de comportamentos sociais.

82
Fonte: (Da esquerda para a Direita) 1. Centro Cultural, Corneta Leste, 2011. 2. Apresentação, Inst. Pombas Urbanas, 2015. 3. Atividade Recreativa, Inst. Pombas, 2015. 4. Grupo de adolescentes, Inst. Pombas Urbanas, 2018
expectativa de vida
O Mapa de Desigualdade da Rede Nossa São Paulo
aponta para os bairros do extremo leste da Cidade de
São Paulo índices em 57,3 anos, destaca-se Cidade
Tiradentes que está entre os distritos com a menor
taxa de expectativa de vida, em contraste ao bairro de
Moema que alça 80,6, a maior expectativa de vida do
município.
Segundo Marcelo Nery do Núcleo de Estudos da Vio-
lência (NEV) da USP a ausência ou pouca presen-
ça de infraestrutura urbanas como equipamentos de
saúde pública, ensino e de cultura, atrelado a outros
fatores como desemprego, características familiares
dos habitantes e violência contribuem para a índice
de expectativa de vida entre dois bairros a cerca de
27km possuam diferenças discrepantes de mais de 20
anos.
A instabilidade da segurança pública na região dado
a presença do crime organizado associado ao tráfico
de droga -marco da região desde 1990-. aceleram as
desigualdades sociais e aumentam os índices de vio-
lência local, além de, prospectar entre jovens e ado-
lescentes o aliciamento a práticas torpes.
O pouco tratamento de esgoto nas regiões periféricas
do distrito e a falta de saneamento em ocupações ir-
regulares intensificam a transmissão de doenças entre
crianças e adolescentes que tem contato com águas
contaminadas.

86
Fonte: Midia Ninja, 2020.
Segundo o Observatório da Primeira Infância a taxa de mortalidade infantil na região do extremo leste
de São Paulo são os piores índices do município, tendo Guaianazes, Itaquera e Cidade Tiradentes com
média de 4,29x em relação á Pinheiros, Vila Mariana e Lapa, com os menores índices de mortalidade
infantil.
Estes dados revelam fragilidades no atendimento as gestantes, acompanhamento médico às crianças,
desnutrição e deficiência na assistência hospitalar. O déficit os serviços de saneamento ambiental e
a carência de infraestrutura pública auxiliam proliferação de roedores, pestes e insetos, por sua vez,
intensificam o contágio de bactérias.

Fonte: Rede Nossa São Paulo, 2020.


saúde

unidade básica de saúde


O Hospital Estadual de Cidade Tiradentes é o princi-
pal equipamento de saúde da região e assisti a popu-
lação que reside a sudoeste do manancial com aten-
dimentos de pronto socorro, consultas agendadas e
exames, atualmente conta com 1,01 leito SUS para
1000 habitante, abaixo da média adequada (cerca de
1,5leito/1000hab).
A quantidade de Unidades Básicas de Saúde (UBS)
está acima do recomendado (1 UBS para cada 25.000
habitantes), contudo, a alta vulnerabilidade social, a
densidade populacional flutuante e os riscos de con-
taminação por contato com esgoto e dejetos não tra-
tados sobrecarregam os equipamentos públicos dis-
poníveis na região.
O Hospital Estadual de Guaianases e de Ferraz de
Vasconcelos são importantes para o atendimento mé-
dico aos moradores da região norte do perímetro em
estudo.
Atualmente o Município de Ferraz de Vasconcelos
possui cerca de 25 estabelecimentos de saúde tendo
uma média de 1 equipamento para 7800 habitantes,
a prefeitura mantém programas de especialidades
como a mais mulher, ambulatório para saúde mental,
Centro de Atenção Psicossocial e Odontológica.

90
Fonte: Autoria Própria, 2021.
Fonte: Borelli & Merigo, 2007.

Fonte: (Da esquerda para a Direita) 1. Hosp. Cid. Tiradentes, Borelli & Merigo, 2007. 2. Hosp. Ferraz de Vasconcelos, G1, 2019. 3. UBS, Google Street View, 2021. 4. Hosp. Cid. Tiradentes, Borelli & Merigo, 2007. Hosp. Guainazes, Google Street View, 2018.
segurança alimentar
Segurança alimentar é assegurar a redução de comor-
bidades de saúde e garantir qualidade de vida.
A Lei Federal 11.346 de 2006 sobre Segurança Ali-
mentar e Nutricional prevê que todos tenham acesso a
alimentação saudável de forma regular e permanente,
contudo, diariamente este direito é violado.
As regiões periféricas tendem a fazer refeições com
alimentos gordurosos e pouco nutritiva, este aspec-
to se agrava pela pouca disponibilidade de alimentos
saudáveis e de variedade em regiões afastadas dos
bairros de classe média alta.
A informação nutricional, utilização dos alimentos e
a prática de esportes associado aos fatores acima re-
forçam a carência de informação.
A pandemia de COVID-19 expos as crianças e ado-
lescentes a este problema potencializado, outrora,
estes desfrutavam diariamente de refeições saudá-
veis e regulares nas instituições escolares, a partir do
agravamento econômico, às famílias se veem com or-
çamentos menores e maiores despesas alimentícias.
Revela-se nesta conjuntura o quão políticas públicas
devem cercear diversos cenários e entregar soluções
em múltiplas esferas sociais.

94
Fonte: Câmara de Itapevi, 2019.
saneamento
O esgoto tratado no entorno do Manancial do Guaió
é atendido pelas Estações de Tratamento de São Mi-
guel Paulista e Suzano.
Esgotamento Sanitário
Os dados fornecidos pela SABESP indicam que ape-
nas 20% do esgoto sanitário é coletado na área do
perímetro estudado, tendo o menor índice de coleta
dos municípios integrantes do manancial, além de,
não exportar o esgoto coletado para fora do perímetro
- fundamental para preservação dos recursos hídricos
em áreas de manancial -, recorrendo o lançamento de
aguas escuras no próprio manancial sem nenhum tra-
tamento e interferindo diretamente na qualidade da
água e na preservação de nascentes (PDPA, 2017, p.
30).
Resíduos Sólidos
Segundo a CETESB (2014) e o SNS (2016) A gestão
de limpeza urbana das cidades em que o manancial se
localiza mantem o índice de coleta de resíduos sóli-
dos em 100% (PDPA, 2017, p. 31).
Próximo ao ponto de captação de água do Rio Guaió
em Ferraz de Vasconcelos existia um lixão até 1998,
não há estudos pela CETESB ou município sobre os
impactos ambientais e prováveis contaminações.
O planejamento de territórios em divisa de cidades
é marcado pela precariedade de infraestrutura, isto
associado a conflitos ambientais e de assentamentos
humanos tendem a desencadear ações antrópicas da-
nosas a importantes ecossistemas.

Fonte: Autoria Própria, 2021.


Fonte: JNS Engenharia, 2020.
Fonte: Manancial do Guaió, Ize Kampus, 2014. Editado pelo autor, 2021.
declividade
O manancial do Guaió possui declividades acentua-
das e com porções relativamente inapropriadas para
qualquer tipo de atividade habitacional imbuída de
parcelamento do solo.
A região nordeste da área de estudo tem a declividade
entre 20% a 30% (representada por tons de amarelo),
contudo, a proximidade da margem do córrego, a di-
versidade de nascentes e corpos hídricos reduzem a
eficiência de ocupação, isto dá-se por áreas alagadas
e o solo argiloso presente em mais de 70% da área em
estudo.
A maior parcela da gleba está em declividade en-
tre 30% e 35% (salmão), o que inviabiliza qualquer
atividade de assentamento humano, a Lei Federal
6766/79 sobre Parcelamento do Solo estabelece que a
declividade máxima para loteamento deve ser 30%. A
proximidade área urbanização do Município de São
Paulo e o natural processo de pressão e espraiamento
urbano que discorre desde a década de 1950 tem leva-
do mais de 15.000 habitantes alocarem-se nesta zona
de declividade elevada. (PDPA, 2015).
As manchas avermelhadas (35% á 40%) e roxas (aci-
ma de 40%) apresentam picos de morretes ou morros
e tem como característica a fragmentação da vegeta-
ção, mas sem ocupação para fins habitacionais.

102
Fonte: Autoria Própria, 2016.
habitação
O manancial do Guaió sofre constante expansão com
ocupação desordenada e da falta de infraestrutura
urbana que assegure saneamento público, lazer e de
equipamentos públicos para cultura, educação, espor-
te e saúde.
O censo IBGE 2010 e as adequadas adaptações de
projeções demográficas de população flutuante do
Guaió realizado pelo COBRAPE apontam para cerca
de 16.066 habitantes em 2015 e 47.251 habitantes até
2035. Assustadoramente este número revela um cres-
cimento médio de 5,5% ao ano, tendo maior Índice
de Vulnerabilidade Social (IPVS) do conglomerado
de municípios em que os mananciais e localiza, apro-
ximadamente 75,3%, apontando para uma população
altamente vulnerável.
Os principais fatores para a perpetuação de ocupa-
ções dentro da área preservada dão-se pela pressão
da mancha urbana consolidada do Distrito de Cida-
de Tiradentes (Município de São Paulo) e do Distrito
de Santo Antônio Paulista (Município de Ferraz de
Vasconcelos), os principais núcleos habitacionais que
intensificam a continuidade de ocupações irregulares
são o Jd. Perola II, Jd. Sta. Etelvina, Conj. Hab. Sítio
Conceição e Cidade Tiradentes - Pressão a oeste do
manancial -.
A expansão dentro do núcleo puja com os mais tipos
de adensamentos, tipos de habitação e traçados irre-
gulares, atenuando entre moradias com padrão supe-
rior e inferior, conforme o Uso e Ocupação do Solo
da Secretária de Recursos Hídricos.

104
Fonte: Autoria Própria, 2021.
Fonte: Ize Kampus, 2014
Distrito Sto. Antônio Paulista Distrito de Cidade Tiradentes consolidada e ofertando serviços públicos A regularização fundiária de porções constitu-
A norte da área estudada, o distrito de San- As mais diversas ocupações advindas da pres- como saneamento, iluminação e acesso a ídas sobre importantes porções ambientais são
to Antônio Paulista (Ferraz de Vasconcelos) são oeste da Cidade de São Paulo, estão asso- equipamentos públicos de saúde e educação. recursos de planejamento urbano adotados por
possui variedades de habitação e do Uso do ciadas a bairros e tem características particula- Está região tende a maiores adensamentos diversas politicas municipais para conter o es-
Solo, a oeste concentra-se residências de pa- res entre si. por m², ainda que a tipologia habitacional, praiamento da mancha urbana e assegurar o di-
drão inferior e com limitações de infraestru- Jardim Perola II em sua maioria, casa térrea de aproximada- reito à moradia, o saneamento básico e a saúde,
tura urbana, a centro da porção do território, Em processo de consolidação, as ocupações mente 40m², sem muitos artifícios de expan- a relevância e sensibilidade desta temática de-
encontra-se habitações de padrão superior, oriunda da continuidade da Rua Inácio Mon- são horizontal, a expansão da mancha urba- safia ao desenho de soluções que concilie a oti-
dado á proximidade da Vila Romanopólis - teiro e tem como característica o baixo aden- na dá-se pela extensão sistema viário local mização do uso do solo, preserve a identidade
bairro de médio e alto padrão de Ferraz de samento e ocupações espraiadas sobre morros de forma irregular, mas sem a acréscimo dos local e mantenha-os distante da informalidade,
Vasconcelos - caracteriza-se como expansão com declividade acentuada (acima de 30%), serviços públicos. além de, incentivar a preservação e direcionar
da malha urbana, nota-se a continuidade das assim como, a proximidade de nascentes e cor- As regiões apontadas como indutoras a con- ações que perpetue a consciência social da rela-
conexões viárias e do padrão habitacional. pos hídricos que alteram a oferta de água nas tinuidade da mancha urbana têm como ca- ção de ecossistemas, apontando para a biosfera
A leste e próximo ao Rio Guaió a atividade nascentes ou mesmo a qualidade da água, afora, racterísticas declividades superiores a 20%, e econosfera em convívio harmônico.
agrícola mantém a proximidade ao Rodoanel afetam a intensa relação da vegetação com as precariedade do serviço público de coleta de
e de importantes conexões com o restante da recargas dos recursos hídricos que ao ser des- esgoto e de acesso a equipamentos públicos
Região do Alto Tiete e Grande ABC, bem matado, reduz sua contribuição na manutenção como educação e saúde.
como, a Rod. Ayrton Senna e Pres. Dutra. dos processos da hidrosfera. A “cidade informal” prevalece de favelas
Estas porções de terra conservam a tradição Cidade Tiradentes que colocam em risco a preservação integral
da plantação da Uva Itália no município, bem Parte do território que está dentro do manancial do Manancial do Guaió e de seus ecossiste-
como, de hortas orgânicas comunitárias. encontra-se com recursos de infraestrutura mas.
Fonte de Imagem: Wikipédia, 2021.
108 109
Fonte: Ize Kampus, 2015.
As aglomerações no eixo Leste-Oeste da As subáreas estipuladas no PDPA têm função
APRM são constituídas por favelas e lotea- de regulamentar a ocupação, bem como, pro-
mentos irregulares carentes de infraestrutu- por diretrizes de conservação e recuperação de
ras de saneamento básico, energia elétrica, recursos hídricos, buscando intervir em caráter
além da precariedade habitacional e do po- corretivo. Essa proposição desencadeia a reor-
tencial desencadeamento de deslizamentos e ganização territorial, a disponibilidade de in-
erosão. fraestrutura urbana para as moradias instaladas
Para reduzir a pressão sobre os corpos hídricos e na área e a redução dos impactos aos recursos
garantir a sua qualidade, é essencial que se inten- naturais, contudo, ações de regularização fundi-
sifiquem os esforços para alcançar a universaliza- ária e de urbanização de favelas na região pode
ção da coleta e do tratamento de efluentes antes de ter efeito reverso, refletindo na continuidade do
seu lançamento nos rios e reservatórios, contro- adensamento urbano de forma irregular, afetan-
lando, desta forma, a maior fonte de deterioração do diretamente as áreas vegetadas e intensifi-
da qualidade das águas. PDPA (2017, p. 35) cando pressões aos corpos hídricos.
O PDPA do manancial Guaió determina pa-
râmetros urbanísticos para ocupação dentro
da área de intervenção, os índices estabele-
cidos para ocupação na área são norteados
pelo atual uso e pelo entorno.

112
Fonte: Autoria Própria, 2021.
incêndio
As inúmeras ocupações irregulares no distrito de Ci-
dade Tiradentes e de Poá sofrem constantemente com
incêndios domésticos. A fragilidade de habitações
feito com materiais nocivos ao fogo e as instalações
elétricas improvisadas colocam famílias em situações
de extrema vulnerabilidade, reforçando a baixa efi-
ciência das políticas públicas habitações nas esferas
municipal, estadual e federal.
Durante os anos de 2008 e 2012 a cidade de São Pau-
lo registrou os maiores picos de incêndio em favelas,
cerca de 530 ocorrências, este dado apresentado pela
Rede Brasil Atual durante a CPI dos Incêndios da Câ-
mara de Vereadores de São Paulo revela a “coinci-
dência” da proximidade entre comunidades carentes
incendiadas a operações urbanas existentes e plane-
jadas, bem como, aos arredores de trechos da linha
do metrô prevista. Raimundo Bonfim -Coordenador
Estadual da Central de Movimento Populares- refor-
ça que este cenário especula a possibilidade de atos
criminosos tendo como proposito a aceleração da
transformação de regiões pelo mercado, dado a isso,
a especulação imobiliária, procura “retirar” a favela
de áreas em apelo ao desenvolvimento imobiliário.
Treinamento de prevenção a de incêndios e a disponi-
bilidade de infraestrutura pública, bem como, progra-
mas de moradia, na qual promova habitações seguras
auxiliam na redução de possíveis focos de incêndio.

114
Fonte: Comunidade em Cidade Tiradentes, Acontece Agora 2020.
Fonte: Comunidade em Cidade Tiradentes, Acontece Agora 2020.
parque urbano
parque
O Perímetro destacado para Parque Urbano do Guaió
tem seus limites a confrontante com a mancha urba-
na consolidada da Cidade Ferraz de Vasconcelos, de
Poá, de São Paulo e a Zona Rural de Suzano.

Distrito Sto. Antônio Pta. (Mun. de Ferraz de Vas.)


Localizado na região norte do manancial, a diversi-
dade de usos e de tipologia habita-cional, permite o
desenvolvimento controlado da região, contudo, a
verticalidade de edifícios atesta o avanço em direção
a áreas protegidas.
Distrito São José (Município de Poá)
A nordeste do perímetro em estudo, o Município de
Poá possui intervenções antrópicas desordenadas, de
modo que, a pulverização recorrente de loteamentos
irregulares pre-carizam o insólito saneamento básico.
Zona Rural (Município de Suzano)
A proximidade a eixos viários importantes como a
Rod. Índio Tibiriçá, Rodoanel Má-rio Covas e a Est.
Fernandes assegura o escoamento de produção para
toda grande São Paulo e baixada santista.
Com tendências a profundas transformações urbanas,
o planejamento municipal tende á incentivar ativida-
des industriais.
Distrito de Cid. Tiradentes (Município São Paulo)
A Oeste da área em discussão, com 15km² de área e
cerca de 211.000hab, ás áreas naturais en-voltos aos
limites do distrito são afetados pelo modelo de fazer
cidade periférica que São Paulo vivencia a mais de 1
século.

120
Fonte: Autoria Própria, 2021
zona de
amortecimento
e transição
Fonte: Autoria Própria, 2021
entorno imediato
CARACTERÍSTICAS
A área de entorno do Manancial do Guaió tem sofrido
profundas transformações dadas a pressão da mancha
urbana do entorno e da necessidade emergente de ha-
bitação, permeando ações de ocupações irregulares.
A Zona de Amortecimento definida leva em conside-
ração as bacias hidrográficas, raio de cerca de 2km de
distância dos limites do Parque Urbano e limitações
físicas que auxiliem no controle da ocupação do en-
torno.
DIRETRIZES
- Políticas ambientais de preservação das matas,
nascentes e córregos, bem como, dos fragmentos de-
senvolvido de forma mútua pelas instituições muni-
cipais;
- Proposição de Sistemas de Lazer em áreas frag-
mentadas dentro da Zona de Amortecimento;
- Desenvolvimento de equipamentos públicos vincu-
lados a áreas vegetadas;
- Promoção de educação ambiental em todo o entor-
no com iniciativas especificas para todos os públicos;
- Diretrizes de ocupação com restrições, tendo a per-
meabilidade superior a 40% da área de terreno, bem
como, apenas o uso do aproveitamento básico;
- Levantamento de ocupações irregulares e proposi-
ção de moradias sustentáveis, de forma que, promova
a qualidade habitacional sem interferência ao meio
ambiente;
- Acompanhamento e fiscalização do adensamento,
da moradia irregular e de crimes ambientais.

126
Fonte: Wikipédia,2016. Editado pelo autor, 2021.
zoneamento
proposto
Fonte: Autoria Própria, 2021
ods no parque
Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável - ODS
tem plano principal os eixos problemáticos de desi-
gualdade e convivio humanitário, retrata metas para
á tolerância, seguridade alimentar, proteção ambien-
tal, desenvolvimento técnológico e industrial a partir
de 169 diretrizes sustentáveis que integram a Agenda
2030 da ONU.
O Brasil e mais 192 nações se comprometeram em
implementar soluções seguindo os princípios estabe-
lecidos pela agenda, bem como, adaptar as questões
internas.
O compromisso firmado com os ODS instigam ato
projetual e encoraja a aplicação desde o ato de pensar
a cidade e o espaço. O Parque Urbano do Guaió tende
a aprensentar multiplos cenários e com problemáticas
que perpassam pela educação acadêmica e ambien-
tal, a habitação sustentável, a seguridade alimentar e
a proteção dos recursos hídricos, está particularidade
reforça o compromisso do projeto.
Com o auxilio das NBR 37120/2021 sobre indi-
cadores para serviços urbanos e qualidade de vida
aplicado em cidades e comunidades sustentáveis, a
37101/2017 que trás requisitos com orientação para
uso de sistemas de gestão para desenvolvimento sus-
tentável e a 37.106/2020 que orienta o estabelecimen-
to de modelos operacionais de cidades inteligentes
para comunidade é possível aferir a o desempenho
das diretrizes propostas e o quão relacionadas estão
com os ODS, o modelo esquemático abaixo apresenta
os níveis de atendimento de cada ODS pela proposta.

132
desempenho dos ods no parque urbano
agenda 2030
Fonte: Diário de Suzano, 2020. Editado pelo autor, 2021
habitação sustentável
Consolidadas com Infraestrutura
CARACTERISTICA
Áreas em que mantém acesso a infraestrutura urba-
na (eletricidade, saneamento básico, pavimentação e
de equipamentos de cultura, educação, esporte e saú-
de), estas mantêm assentamentos consolidados e sua
maioria com regularidade fundiária perante as insti-
tuições municipais.

PROPOSIÇÕES
- Incentivo a negócios sustentáveis, da capacitação
profissional e dos negócios regionais empoderando
ações de empreendedorismo local;
- O adensamento habitacional via moradias coletivas
(preferencialmente verticalizadas);
- Adensamento arbóreo no passeio público, bem
como, em áreas livres de uso comunitário;
- Alocação de equipamentos culturais na região atre-
lado ao desenvolvimento artístico e educacional;
- Presença de parcerias público-privada para oferta
de ensino superior;
- Incentivo de práticas coletivas para desenvolvi-
mento da identidade e relações de pertencimento do
espaço habitado;
- Promoção de educação a resistência às drogas e a
violência entre jovens e adolescentes;

138
Fonte: Autoria Própria, 2021
Fonte: Google Earth, 2021. Editado pelo autor, 2021.
Fonte: Google Earth, 2021. Editado pelo autor, 2021.
Fonte: Google Earth, 2021. Editado pelo autor, 2021.
habitação sustentável
Consolidado sem Infraestrutura
CARACTERISTICA
Porções deste território são ocupados por assenta-
mentos irregulares e loteamento clandestinos, com
carência de infraestruturas básicas como coleta de es-
goto, lixo e de iluminação pública, bem como, ener-
gia elétrica. A proximidade de morros e nascentes
ressaltam alta periculosidade local.

PROPOSIÇÕES
- Reconfiguração dos espaços ocupados com traçado
viário acessível ao pedestre;
- Equipamentos públicos de cultura, educação, saú-
de, bem como, espaços de uso livre que componham
atividades de esporte e lazer;
- Habitações sustentáveis conectadas as redes de
infraestrutura básica e contemplando equipamentos
sustentáveis como placa fotovoltaica e boilers.
- Espaços comunitários entre lotes para atividades
recreativas e de permeabilidade;
- Incentivo de práticas coletivas para desenvolvi-
mento da identidade e relações de pertencimento do
espaço habitado;
- Uso de Biovaletas nas estruturas de circulação pú-
blica;
- Proximidade de ambientes promotores de ações
sustentáveis, comunitária e de educação ambiental.

146
Fonte: Autoria Própria, 2021
Fonte: Google Earth, 2021. Editado pelo autor, 2021.
Fonte: Google Earth, 2021. Editado pelo autor, 2021.
recreativo

PROPOSITO
Espaços de contemplação a natureza, de atividades
coletivas e de suporte as ações de suporte a mora-
dia sustentável local, bem como, de monitoramento
da preservação de nascentes e vegetações interno e
externo a área delimitada como Parque Urbano do
Guaió.

PROPOSIÇÕES
- Suporte a atividade rural, através da assistência a
técnicas de plantio, adubagem e proteção das colhei-
tas sem agressividade ao solo, o alimento e entorno;
- Espaços comunitários para desenvolvimento de ati-
vidades coletivas, de pesquisa e de inciativas forma-
tivas para público em geral;
- Atividades recreativas e de lazer associado a vulne-
rabilidades locais como a ociosidade da 3ª idade e a
juventude;
- Horta Comunitária em busca de atender o déficit lo-
cal de alimentação saudável, tão presente em regiões
periféricas;
- Incentivo e disposição de espaços de reciclagem
e de transformação de matéria orgânica em insumo
para horta via compostagem;
- Equipamentos de uso público para prática de ativi-
dades física.

152
Fonte: Autoria Própria, 2021
Fonte: (Da esquerda para a Direita) 1. Arte Urbana, iguai mix.com, 2020. 2. Google Earth, 2021. Editado pelo autor, 2021. 3. Parreira, Viveiro Freisleben, 2021. 4. Reciclagem Pão de Açucar, Exame, 2016. 5. Centro Comunitário Fitzgibbon, ArchDaily Brasil, 2014.
6. Compostagem, Ciclovivo, 2018. 7. Colmeias, Colabora, 2016.
atividade rural

CARACTERISTICA
Áreas localizadas próximas ao Rio Guaió e as cone-
xões com a Estrada dos Fernandes -importante via
que liga a região do ABC-, caracteristicamente indu-
toras da economia rural concentram em plantações de
frutas e vegetais.

PROPOSIÇÕES
- Assistência ao agricultor com técnicas e recursos
para eficiência em plantio, manutenção e colheita;
- Auxílio na implantação de políticas de recolhimento
de dejetos e de ações de reciclagem e compostagem;
- Ações coletivas de reconhecimento da importância
de preservação dos rios para atividade rural;
- Gestão de água e do solo utilizados no processo de
produção de recursos alimentares.

156
Fonte: Autoria Própria, 2021
servidões

CARACTERISTICA
Costumeiramente às áreas de domínio são desola-
das do espaço urbano e tende a serem “cicatrizes”
em meio as cidades. O Oleoduto que corta da região
sudoeste á sudeste do manancial são possuí assenta-
mentos humano, contudo, tem sido especulado pela
abertura de caminhos através da pressão por ocupa-
ções irregulares.

PROPOSIÇÕES
- Aplicação de parcerias público-privadas nas áreas
destacadas para exploração de atividades econômicas
de serviços deficitários na região;
- Proposta de fazenda de placas fotovoltaicas para
atendimento do consumo energético;
- Tratamento de águas negras dos assentamentos pro-
postos, bem como, do distrito da Cidade Tiradentes;
- Monitoramento da faixa de domínio e do entorno
do Oleoduto da concessionária Transpetro.

158
Fonte: Autoria Própria, 2021
Fonte: Portal Solar, 2021. Editado pelo autor, 2021.
recuperação sustentável

CARACTERISTICA
As pressões da mancha urbana de Cidade Tiraden-
tes influenciaram as intervenções antrópicas através
de loteamentos clandestinos e moradias irregulares.
A ocupação desordenada tem colocado em risco os
ecossistemas do manancial.

PROPOSIÇÕES
- Preservação da fauna e flora local remanescente de
Mata Atlântica e do Cerrado;
- Plano de revegetação com massas arbóreas compa-
tíveis com o bioma local;
- Execução e monitoramento de reflorestamento
conforme o plano citado anteriormente;
- Plano de Manejo para possíveis intervenções na
área de manancial e na zona de amortecimento;
- Mapeamento e corte de vegetações invasivas e in-
compatíveis com o bioma local;
- Monitoramento do desempenho das nascentes e dos
corpos hídricos, bem como, da água produzida;
- Acompanhamento e fiscalização pelo município e
entidades de proteção dos recursos ambientais;

162
Fonte: Autoria Própria, 2021
Fonte: Estadão 2015. Editado pelo autor, 2021.
núcleo
tiradentes
Fonte: Autoria Própria, 2021
conclusão
Este estudo versa por soluções que desenvolvam ecossistemas ur-
banos minimizando os impactos que a moradia em área de manan-
cial promove. A sobreposição de mapas de relevo, uso e ocupação,
declividade e nascentes apontam para ocupações desarranjadas de
qualquer infraestrutura planejada, sem observação de parâmetros
legais, reforçando a cidade informal que adentra importante se-
tores verdes. A pressão advinda do município de São Paulo e a
intensidade de toda esta transformação tem afetado diretamente
recursos naturais, o quão tem se mostrado essencialmente impor-
tante e colaborativo para o próprio consumo humano.
O Parque Urbano do Guaió tem grandes dois importantes eixos
que norteiam suas diretrizes, equilíbrio ambiental e vivenda sus-
tentável, e as diretrizes urbanísticas propostas revelam as mais
diversificadas esferas a serem atingidas.
É tratado a temática da ótica de suprimento das necessidades ime-
diatas e básicas do morador local, bem como, do planejamento a
longo prazo para recuperação sustentável dos recursos naturais. A
proposta busca articular o espaço livre de uso público aos serviços
de controle e gerenciamento de áreas preservadas e a serem recu-
peradas, bem como, a disposição de atividades práticas que tradu-
zam a comunidade em segurança alimentar e insumos recicláveis.
Reforça-se a articulação de políticas habitacionais direcionadas
por propostas sustentáveis e que levem em consideração o com-
promisso de manter o máximo possível de área permeável, de
políticas de proteção e conservação ambiental inibindo a conti-
nuidade da mancha urbana e da apropriação indevida de áreas de
mananciais e associado a estes fatores, o desenvolvimento econô-
mico com ações de capacitação técnica e de empreendedorismo,
bem como, contratação de moradores locais, reduzindo assim a
migração pendular.

170
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Tático: uma proposta para leitura, compreensão e articulação
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lucas.felismina@icloud.com

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