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UNIVERSIDADE FEDERAL DO SUL E SUDESTE DO PARÁ

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS


FACULDADE DE HISTÓRIA

ADENILSON SILVA FERREIRA

ENCHENTE DE 1980: imaginário cultural, crescimento urbano e transformação do


espaço social em Marabá-PA.

Marabá
2021.
ADENILSON SILVA FERREIRA

ENCHENTE DE 1980: imaginário cultural, crescimento urbano e transformação do


espaço social em Marabá-PA.

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado à Faculdade de História da
Universidade Federal do Sul e Sudeste do
Pará (Unifesspa) como parte dos
requisitos exigidos para a obtenção do
título de Licenciatura Plena em História.

Orientador: Professor Dr. Reginaldo


Cerqueira Sousa.

Marabá
2021.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Biblioteca Setorial Campus do Tauarizinho da Unifesspa

Ferreira, Adenilson Silva


Enchente de 1980: imaginário cultural, crescimento urbano
e transformação do espaço social em Marabá-PA / Adenilson
Silva Ferreira ; orientador, Reginaldo Cerqueira Sousa. — Marabá
: [s. n.], 2021.

Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) -


Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará, Campus
Universitário de Marabá, Instituto de Ciências Humanas,
Faculdade de História, Curso de Licenciatura Plena em História,
Marabá, 2021.

1. Inundações - Marabá (PA). 2. Marabá (PA) - História.


3. Migração interna. 4. História - Estudo e ensino. I. Sousa,
Reginaldo Cerqueira, orient. II. Universidade Federal do Sul e
Sudeste do Pará. III. Título.

CDD: 22. ed.: 363.3493098115


Elaborada por Adriana Barbosa da Costa - CRB2/994
UNIVERSIDADE FEDERAL DO SUL E SUDESTE DO PARÁ
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS
FACULDADE DE HISTÓRIA

ATA DE DEFESA PÚBLICA DO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

Aos 20 dias do mês de mês de abril de 2021, às dezenove horas, em sessão pública de forma
remota, via Google Meet, reuniu-se a Banca Examinadora em sessão pública, para Defesa do
Trabalho de Conclusão de Curso de Licenciatura em História, do discente Adenilson Silva
Ferreira, matrícula nº 201640208078, intitulado ENCHENTE DE 1980: imaginário cultural,
crescimento urbano e transformação do espaço social em Marabá-PA, conforme Resolução
do Curso de Licenciatura em História de N.º 051/CONSEPE, de vinte e oito de maio de dois
mil e quinze, composta pelos professores, orientador Reginaldo Cerqueira Sousa
(ICH/Fahist/Unifesspa) e examinadores Geovanni Gomes Cabral (ICH/Fahist/Unifesspa),
Valéria Moreira Coelho de Melo (ICH/Fahist/Unifesspa). Após cumprida as formalidades, o
discente foi convidado (a) a discorrer sobre o conteúdo da Monografia. Concluída a
apresentação os examinadores fizeram as devidas arguições e atribuíram o conceito BOM da
referida Monografia. Nada mais havendo a tratar foi lavrada a presente ata que será assinada
pelos membros da banca e discente.

Orientador: Professor Dr. Reginaldo Cerqueira Sousa

Examinador(a): Professor Dr. Geovanni Gomes Cabral

Examinador (a): Professora Dra. Valéria Moreira Coelho de Melo

Graduando (a): Adenilson Silva Ferreira


Dedico esse trabalho à minha mãe, que em vida me ensinou a nunca desistir.
AGRADECIMENTOS

Primeiro quero agradecer a Deus, por ter me dado uma força que eu jamais
achei que teria para concluir essa etapa em minha vida, com tantas situações que
me faziam desistir, e não há como deixar de agradecer aquela que me criou com
todo o amor possível, que me ensinou a ser forte diante de todos os problemas, e
que mesmo não estando mais ao meu lado, continua sendo minha fonte de
inspiração, minha mãe.
Nessa jornada acadêmica fiz relações que pessoas que vão sempre estar em
minhas lembranças, por mais que algumas já estejam distantes, conforme os
caminhos da vida vão trilhando, em especial amigos da faculdade que não posso
deixar de citar Lucas Coutinho, que apesar do pouco tempo que estudamos juntos,
construímos uma relação de amizade com muitas histórias boas. Antônio José, que
com suas caronas no fim da aula, me ajudaram bastante a chegar a minha casa o
mais cedo possível para concluir trabalhos que estavam pendentes. Carolina
Ferreira, que fizemos laços estreitos de amizade, e compartilhamos muitos
momentos de nossas vidas, tristes e felizes. Iranilda Souza, que com sua alegria
sempre ajudou quando precisei, apesar de ser bem aleatória, é isso que faz a gente
amar ela. Yceliane Dias, que compartilhamos os últimos momentos da escrita de
nosso trabalho final, com choros e desesperos, mas na esperança que iria dar tudo
certo no final. Barbara Tereza, minha companheira de estágio, compartilhamos da
dificuldade de ter que trabalhar e estudar.
Não há como deixar de agradecer aos professores que foram fundamentais
para minha formação e, durante a jornada acadêmica se tornaram mais que
professores, foram motivadores, e que apesar de todas as dificuldades do curso, me
ajudaram e me incentivaram no momento que mais necessitei.
Em especial quero agradecer ao meu Professor Orientador Reginaldo
Cerqueira, que sem a sua paciência eu certamente não teria consigo concluir o
trabalho nesse período, e ele foi fundamental para minha formação, se colocando
em meu lugar, quando percebia que minha maior dificuldade era conciliar trabalho e
faculdade, o mesmo sempre foi paciente, mas nunca deixou de ser exigente em
suas avaliações, isso que o faz ser diferente, buscando sempre o nosso máximo. O
Professor Arilson, que apesar do pouco tempo em nosso curso, soube cativar a cada
aluno, fazendo-nos enxergar que sempre podemos ir além do que imaginamos, e
isso foi fundamental no início do curso.
Professora Maria Clara, que me deu oportunidades quando eu mais precisei,
me motivando a não desistir diante das dificuldades que surgiam. Professor
Geovanni Cabral, sempre me ouvindo quando eu precisava, e me ajudou muitos
com seus conselhos a respeito de meu trabalho de conclusão do curso. Professor
Darlan Sbrana, não há palavras para descrever o quanto ele me apoiou, me
incentivou e me fez acrescentou bastante com seus conhecimentos, em conversas
que tínhamos no momento do intervalo, e quero agradecer ao professor Carlo Monti,
que de certa forma me motivou a dar o meu máximo, nos relatórios de estágio, e
isso me acrescentou bastante.
Quero agradecer ao meu amigo Bruno Faustino, que sempre esteve presente
em minha vida, me motivando e sempre acreditando em meu potencial, ficou ao meu
lado nos piores e melhores momentos de minha vida. É uma das pessoas que eu
posso dizer que mais me conhece. Agradeço à minha amiga Gabrielle Almeida, que
me ouviu no momento em que eu mais precisei me expressar, e me ajudou a não
perder a calma em um momento bem difícil em minha vida.
E em especial agradecer ao meu cunhado Lourival Assunção, que foi uma
das pessoas depois de minha mãe, que mais me motivaram a estudar, que sempre
viu nos estudos a possibilidade de crescimento.
E por fim, não posso deixar de agradecer à minha madrinha Neide Silva, que
me acolheu como um filho, me dando amor e carinho que eu não sentia depois de
ter perdido minha mãe, ela foi mais que fundamental em minha vida, e as palavras
são poucas para expressar a gratidão que tenho por ela.
O Menestrel

“Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o bem que poderíamos conquistar se não
fosse o medo de tentar”. – William Shakespeare.
RESUMO

O presente trabalho tem como objeto de análise a enchente de 1980, em Marabá. O


estudo centrou-se nos impactos causados na cidade pela enchente tendo em vista o
grande fluxo migratório para a região sul e sudeste do Pará nesse período motivado
pelos projetos desenvolvimentista implementados na região e pela descoberta do
ouro na Serra Pelada, partimos da hipótese de que o aumento populacional em
Marabá e, somando-se a criação de núcleos urbanos na cidade, como a Nova
Marabá, fizeram a enchente de 1980 ficar fortemente presente na memória coletiva
da cidade. Nosso estudo buscou refletir o uso de fotografias, e aqui os registros
fotográficos da enchente e do cotidiano da população de Marabá, em sala de aula,
bem como a importância de se trabalhar a história local no Ensino de História. A
escola é um espaço de ensino e aprendizagem, e é dentro dela que se contribui
para estimular o pensamento crítico. Nesse sentido o ensino de História fornece a
capacidade de se compreender a construção do conhecimento histórico,
desenvolvendo competências e habilidades para o seu aprendizado.

Palavras-chave: Enchente. Migração. Ensino de História. História de Marabá.


ABSTRACT

This current work has the purpose of the analysis of the flood in Marabá in 1980. This
study focused on the impacts caused by the flooding in the city and the migratory
flow to the South and Southeast of Pará during this period, motivated by the
implemented developmental projects in the region and by the discovery of gold in
Serra Pelada. We started from the hypothesis of the population increase in Marabá
and, adding to the creation of new urban centers in the city, such the Nova Marabá,
turned the flood in 1980 strongly markable for the city people’s memory. Our study
pursued of reflecting the use of the flood photographic registers and the population of
Marabá routine in the classroom, as well as the working with local history in History
Teaching relevance. The school is a space for teaching and learning, and within it,
that it contributes to stimulate critical thinking, just as the teaching of history provides
the ability to understand the historical knowledge construction, developing skills and
abilities for its learning.

Keywords: Flood. Migration. History teaching. History of Marabá.


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Mapa Cidade de Marabá...........................................................................19


Figura 2 – Cine Marrocos...........................................................................................36
Figura 3 – Casas Submerssas...................................................................................40
Figura 4 – Sede da Associação Comercial e Industrial de Marabá (1980)................41
Figura 5 – Cine Marrocos, enchente de 1980............................................................50
Figura 6 – Cine Marrocos, enchente de 1980............................................................52
Figura 7 – Bairro Velha Marabá (1997)......................................................................53
Figura 8 – Sala de aula Escola Dr. José Cursino de Azevedo (2019).......................54
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – População de Marabá entre 1970-1985...................................................25


LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Você já conheceu a história de sua cidade através de livros ou


fotografias? Marque somente uma opção..................................................................49
Grafico 2 – Sobre as grandes enchentes em Marabá: marque o período que você
acha que ocorreu a maior enchente...........................................................................49
LISTA DE ABREVEATURAS E SIGLAS

CVRD Companhia Vale do Rio Doce


EBC Empresa Brasil de Comunicação
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
ICH Instituto de Ciências Humanas
INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
PCB Partido Comunista Brasileiro
PEUM Plano de Expansão Urbana de Marabá
PFC Projeto Ferro Carajás
PGC Programa Grande Carajás
RNA Rádio Nacional da Amazônia
SERFHAU Serviço Federal de Habitação e Urbanismo
UNIFESSPA Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...........................................................................................................15

CAPÍTULO I – A CIDADE DE MARABÁ E A TRANSFORMAÇÃO DO ESPAÇO


GEOGRÁFICO...........................................................................................................19

1.1 A cidade de Marabá .........................................................................................20

1.2 Migração urbana...................................................................................................26

1.3 Expansão territorial...............................................................................................30

CAPÍTULO II – ENCHENTE DE 1980........................................................................36

2.1 A enchente de 1980.............................................................................................36

2.2 Representações e fotografias..............................................................................39

2.3 População.............................................................................................................42

CAPÍTULO III – FOTOGRAFIA, ENSINO E HISTÓRIA LOCAL................................44

3.1 Fotografias na sala de aula..................................................................................44

3.2 A importância do ensino local na sala de aula.....................................................47

3.3 A fotografia na sala de aula: fragmentos da História Local.................................49

CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................55

REFERÊNCIAS..........................................................................................................57

APÊNDICES...............................................................................................................60
15

INTRODUÇÃO

A cidade de Marabá é conhecida pela sua relação direta e no modo de vida


com os rios Itacaiúnas e Tocantins, visto que a cidade fica praticamente entre os
dois rios, situação que gera alguns problemas no período das cheias.
As cheias são recorrentes na cidade, aja vista que a população de certo modo
já espera por esse fenômeno natural todos os anos. É uma relação direta, que
acabou transformando o modo de vida da população com as enchentes, fazendo
com que houvesse uma adaptação na vida de quem está em contato direto com as
inundações nos período chuvosos na cidade e região.
Apesar de que no município de Marabá ocorrer várias enchentes durante sua
história, há as que se destacaram permanecendo nos relatos de seus moradores e
dentre estas, a enchente que ocorreu no ano de 1980. Por sua dimensão e impacto
é a que mais permanece viva na memória local da cidade ocasionando um aumento
populacional, e em decorrência disso, cria-se a necessidade da construção de outra
cidade, para dar conta de todas essas mudanças, no âmbito social, econômico e
estrutural.
Nesse contexto torna-se importante analisar qual o impacto que a enchente
de 1980 causou na vida social e urbana de Marabá, e quais os motivos fizeram-na
ser tão presente na memória coletiva da cidade. Posto isso, é relevante analisar os
relatos de memória dessa enchente que marcaram a trajetória de vida de muitos
marabaenses, bem como sua relação com o espaço urbano.
É nesse cenário que se torna importante identificar o porquê da enchente de
1980 permanecer na memória coletiva dessas pessoas. Buscar compreender os
fatores que levaram a formação da Nova Marabá, buscando analisar os aspectos
desse crescimento urbano mediante os impactos advindos dessa inundação.
O que nos levou a desenvolver esse trabalho foi pelo fato de que a cidade de
Marabá, apesar de ter mais de 100 anos desde sua emancipação política, ainda
guarda muita história para ser contada, sob um olhar historiográfico. Principalmente
no que diz respeito a seu crescimento urbano a partir das enchentes que fazem
parte da história dessa cidade.
É notória a escassez de estudos científicos a respeito de sua história, como
formação da cidade e principalmente sobre as enchentes, que é objeto de estudo
16

dessa pesquisa. Muitas dessas fontes existentes que permitem ter indícios dessa
história são fotografias, textos de memorialistas ou relatos de memória, que
dispomos por meio de entrevistas, através outras pesquisas.
Na busca de trabalhos científicos a respeito das enchentes em Marabá,
encontro o trabalho do historiador José Jonas de Almeida, onde desenvolveu dois
artigos abordando em alguns aspectos a temática sobre as enchentes, intitulados ―A
cidade de Marabá sob o impacto dos projetos governamentais (2008)‖, e ―Os riscos
naturais e a história: o caso das enchentes em Marabá (2011)‖. O trabalho do autor
não é especificamente sobre as enchentes, mas o mesmo aborda de maneira
contundente esse fenômeno da natureza, que faz parte da lógica de vida local da
cidade.
Nas abordagens de José Jonas de Almeida, apesar de conter análises sobre
as duas maiores enchentes (1926 e 1980), ainda faltam estudos que possam trazer
mais informações sobre os impactos dessa enchente mencionada com tanto afinco
pelos seus moradores.
Há uma necessidade de novas abordagens historiográficas a respeito do
fenômeno que foi um dos fatores que impulsionaram para a constituição da Nova
Marabá, e que ainda é presente na relação de vida dessa população: as enchentes.
É uma relação que permanece até hoje no modo de vida dos moradores, e essa
memória não pode ser perdida ao longo do tempo, por isso a necessidade de se
desenvolver trabalhos voltados para história da cidade, assim como os meios em
que ela foi constituída.
A pesquisa traz uma abordagem a respeito de como a população de Marabá
ainda está ligada à memória da enchente de 1980, bem como o modo de vida que
se transformou em decorrência das influências que a enchente causou, de maneira
que foi necessária a intervenção do Governo Federal, sob a perspectiva dos projetos
governamentais na região.
Assim como o crescimento populacional de maneira avançada, que gerou a
necessidade da criação de outra cidade, por conta da escassez de espaço, e
também pelo perigo – na perspectiva do olhar político na época-, que as enchentes
poderiam oferecer, e em especificamente em consequência da maior cheia da
história de Marabá (1980), que preocupou os órgãos institucionais.
Ao desenvolver esse trabalho, buscamos como metodologia as fotografias,
assim também como teóricos importantes acerca das fotografias, como Boris Kossy
17

e Susan Sontag, afim de que as imagens resgatam uma memória ilustrativa de um


determinado acontecimento, pois as fotografias, aos olhos dos historiadores e
historiadoras, são fontes históricas, na medida em que elas desempenham um papel
na sociedade, no sentido de contextualizar alguma prática social.
No acervo da Fundação Casa da Cultura de Marabá, tinha disponíveis apenas
dezessete imagens da cheia de 1980, por conta de um problema no arquivo digital,
que resultou na perda as imagens. Com isso, a fundação estava em um processo de
digitalizar novamente as imagens da inundação da década de 1980, que possível
conseguir as dezessete fotografias, na qual foram utilizadas cinco, a partir do que foi
pensado para o desenvolvimento da pesquisa.
No primeiro capítulo ―A cidade de Marabá e a transformação do espaço
geográfico‖, apresenta aspectos da história de Marabá, como sua formação e
localização, para que assim possamos entender os motivos de acontecerem
grandes inundações no município, assim também como foi necessário fazer um
recorte entre as décadas de 1960-1980, para que pudéssemos entender algumas
transformações a respeito da década de 1980. Também discute as formas de
migração e relaciona os motivos em que a cidade de Marabá cresceu de forma
significativa em um curto prazo na década de 1980, forjando assim o seu
crescimento territorial, e como consequência, a constituição de outra cidade.
No segundo capítulo, intitulado Enchente de 1980, analisamos por meio das
fotografias e suas múltiplas leituras e as acerca da inundação de 1980, que
permanecem no imaginário da história local, por suas proporções e volume de água.
Essas fotografias aqui utilizadas como fontes documentais sinalizam indícios para
pensar em seus enquadramentos esses acontecimentos tão marcantes para a
cidade.
O terceiro capítulo, Fotografia, Ensino e História Local, apresenta uma
reflexão sobre o uso da fotografia como fonte histórica na sala de aula, enfatizando a
importância desse tipo de documento como uma forma de se abordar o ensino de
história local. O capítulo traz ainda dados de um questionário aplicado em sala de
aula durante o Estágio Supervisionado III na Faculdade de História na
Unifesspa/Marabá/ICH, a respeito da enchente de 1980, assim também como a
utilização de fotografias acerca da referida enchente.
18

Em consonância do que foi abordado, a pesquisa trabalha identificar as


relações da história local, apontando fatores que levaram a enchente de 1980, ser a
maior já registrada na cidade de Marabá.
19

CAPÍTULO I – A CIDADE DE MARABÁ E A TRANSFORMAÇÃO DO ESPAÇO


GEOGRÁFICO

O município de Marabá localizado no sudeste do estado do Pará, na


confluência de dois rios – Itacaiúnas e Tocantins - a 440,1 km da capital Belém,
possui uma área de 15.128,37 km² e uma população de 283,542 habitantes,
segundo o Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2020). A
emancipação política do município ocorreu em 05 de abril de 1913, mas registros da
ocupação desse território por não indígenas, datam do final do século XIX. O nome
―Marabá‖ é de origem indígena e significa ―filho do prisioneiro‖, ―filho do estrangeiro‖,
ou ―filho da índia com o branco‖.

Figura 1 - Mapa Cidade de Marabá

Fonte: Google Maps, 2021.

Por causa de sua baixa topografia e por situar-se entre rios, é comum
ocorrerem na cidade inundações provocadas pelo aumento do nível das águas dos
rios. As enchentes, como são conhecidas, acontecem geralmente no chamado
inverno amazônico, entre os meses de outubro a maio, que é o período de chuvas
na região. Durante esse tempo, por onde percorrem os rios, as regiões ribeirinhas e
áreas baixas da floresta ficam submersas. A população, ao ocupar esses espaços,
20

foi aprendendo a lidar e a criar estratégias de sobrevivência durante as chamadas


cheia dos rios.
É comum em Marabá, durante o inverno, a população que habita as áreas
ribeirinhas deixarem suas casas deslocando-se para os lugares mais altos da cidade
e ali ficarem até o nível dos rios baixarem para retornarem aos seus antigos lares.
Desde que a cidade foi criada, os seus habitantes presenciaram muitas
enchentes. Uma deles ocorreu em 1926. Considerada uma das maiores, só foi
superada pela enchente de 1980, conforme pesquisa em trabalhos desenvolvidos a
respeito das enchentes. Ligada à memória coletiva da cidade, a enchente de 80,
como é mais conhecida, provocou a mudança de uma parte da população da
Marabá Pioneira, também conhecida como velha Marabá -, região onde começou
Marabá -, para o núcleo Nova Marabá planejado para esse fim, conforme é
observado na pesquisa de José Jonas de Almeida (2008).

1.1 A cidade de Marabá

Os rios têm uma enorme importância na Amazônia. Foram e continuam sendo


meios de transporte e de escoamento de produtos. Os rios Tocantins e Araguaia, no
sul e sudeste do Pará, por exemplo, eram as principais vias de transporte e por onde
os produtos extrativistas eram escoados no final do século XIX até meados do
século XX. O primeiro deles foi a borracha e depois a castanha.
A castanha foi o símbolo econômico da região até a década de 1970. De
acordo com a geógrafa Maria Goretti da Costa Tavares (2008, p.68), ―[...] os
municípios de São João do Araguaia (1908), Conceição do Araguaia (1909),
Altamira (1911), e Marabá (1913) foram criados em decorrência do crescimento
dessas cidades, na época, em função da grande produção da borracha e da
castanha‖. Faz parte da história desses municípios o transporte fluvial. Era por meio
dele que as embarcações à época movidas a vapor, depois a diesel ou, a maioria, a
gasolina transportavam produtos para comercialização e consumo (PETIT, 2003).
Foram pelos rios que alguns dos primeiros habitantes da atual Marabá chegaram,
vindos do Estado do Maranhão, Goiás e outros municípios do Baixo Tocantins,
provindos da promessa de ganhar a vida na produção da borracha e posteriormente,
da castanha-do-pará. Jonas Almeida, diz que:
21

No entanto, era exatamente na época das cheias, entre os meses de


dezembro e abril, que a cidade fervilhava com a safra de castanha-do-pará.
O período do ―inverno‖ na Amazônia era a época do ano em que as
condições se tornavam adequadas para a navegação e para o transporte da
castanha pelo rio Tocantins até Belém, capital do Pará. (ALMEIDA, 2011,
p.212).

As cheias eram de suma importância para que as águas elevadas


minimizassem possíveis obstáculos que viessem a surgir em períodos em que o rio
estava abaixo do nível. Da mesma forma em que as enchentes beneficiavam o
transporte da produção, pois com a elevação das águas, a navegação pelos rios se
tornava de maneira mais rápida e menos perigosa, em certas ocasiões, elas
acabavam interferindo de outras formas na própria produção dos produtos da época,
pois;

Avaliação semelhante foi feita por Orlando Valverde e Catharina Vergolino


Dias, quando em 1967 publicaram um estudo a respeito dos impactos
econômicos da rodovia Belém-Brasília naquela região. Estes autores
destacaram as consequências "funestas" das enchentes que prejudicavam
até mesmo a coleta e o armazenamento da castanha. De acordo com os
mesmos ocorria uma paralisação das atividades, com prejuízos que se
refletiam na economia do próprio Estado. (ALMEIDA, 2011, p.212).

A castanha sendo uma das atividades de maior expressividade econômica da


região na época, em paralelo a ela, surgia a pecuária em menos escala, sendo esse
gado utilizado para consumo próprio, como menciona Velho (2009).

Por outro lado a tradição pecuarista nunca chegou a desaparecer de todo.


Mesmo porque havia necessidade de algumas centenas de jumentos para o
transporte, especialmente nos castanhais. Cria-se, nos próprios castanhais,
pequenos pastos artificiais para os jumentos, e aproveita-se para colocar
algumas cabeças de gado bovino, para o próprio consumo no castanhal.
Todavia, até meados da década de 50, ainda se importará gado bovino para
o consumo local. No entanto, é esse próprio consumo local que criará
algumas das premissas para o desenvolvimento da pecuária. (VELHO,
2009, p. 62).

A partir dessas prerrogativas, no que se refere a dinâmica nas atividades


econômicas, e no crescimento na população da cidade, Marabá teve uma mudança
22

brusca em relação à sua população, principalmente a partir da descoberta do


minério de ferro, com a abertura da rodovia Transamazônica, onde a partir de então,
começa-se a mudar seu planejamento urbanístico. Jonas Almeida (2011), diz que;

Em 1967 foram descobertas as jazidas de minério de ferro na serra dos


Carajás, área que então pertencia ao município de Marabá. A perspectiva
criada pela descoberta desse recurso e a abertura da rodovia
Transamazônica fizeram com que o Governo Federal passasse a interferir
diretamente no planejamento urbanístico da cidade e na administração da
mesma. (ALMEIDA, 2011, p.206-207).

Marabá ganhou certa notoriedade por conta do minério de ferro e da abertura


da Transamazônica, com isso, despertou olhares, principalmente por parte do
Governo Federal, pois no período do Regime Militar, em 1970 a cidade se
transformou em uma área de segurança nacional. O historiador Jonas Almeida
confirma que;

Em pleno Regime Militar, a cidade de Marabá foi transformada em Área de


Segurança Nacional no ano de 1970. Além do minério de ferro e da rodovia
Transamazônica, o município ganhou notoriedade nos anos seguintes em
função da presença de guerrilheiros do Partido Comunista do Brasil na
região que compreendia a divisa entre o Pará e o Estado de Goiás (hoje
Tocantins) que tentaram estabelecer um núcleo de luta armada contra a
ditadura e angariar apoio da população rural. O aumento dos efetivos
militares foi resultado do combate contra aquela que ficou conhecida como
a Guerrilha do Araguaia, entre 1972 e 1974. (ALMEIDA, 2011, p.207).

Nesse mesmo período de mudanças na cidade de Marabá, também acontecia


a Guerrilha do Araguaia (1972-1974), que foi um dos movimentos de luta resistência
que se originou a partir do Golpe Militar, em 1964, onde Petit (2003) complementa
que;

No dia 31 de março o General, Moura Filho, comandante da IV Região


Militar sediada em Belo Horizonte (Minas Gerais), contando com o apoio
dos governadores de Minas Gerais e de São Paulo, ordena às tropas sob
seu comando dirigir-se ao Rio de Janeiro para exigir a renúncia do
presidente João Goulart. Iniciava-se o vitorioso golpe de estado que
instauraria o Regime Militar que perduraria até março de 1985 [...] (PETIT,
2003, p.134).
23

Período anterior à intervenção do Governo Federal na cidade de Marabá


(1970), de acordo com as pesquisas de Petit (2003), no Pará, o Golpe Militar já
começa a ocasionar a detenção de mais de 300 pessoas, a partir de 1º de abril de
1964, e em sua maioria, estudantes universitários, líderes de sindicatos, militantes
da ação popular (AP) e, sobretudo do Partido Comunista Brasileiro (PCB).
A partir desse período, a cidade de Marabá recebe a influência do Governo
Federal, aja vista que por ser um palco de grandes mudanças, com a descoberta do
minério, a abertura da Transamazônica, a implementação de Projetos
Governamentais por conta da instalação de siderúrgicas e principalmente por conta
da maior mina de ouro a céu aberto do mundo, descoberta em 1980 em Serra
Pelada. Nesse mesmo ano, Marabá vive um cenário de preocupação, devido a uma
grande enchente atingir a cidade, sendo a maior de todos os tempos em sua
história.
A cidade se localizava em um pontal, formado entre os rios Itacaiúnas e
Tocantins. Constituída a partir dos bairros Santa Rosa e Cabelo Seco (Francisco
Coelho), com isso se tem a preocupação por ser uma área em que não há espaço
para se projetar, pensamento que surge por conta dos acontecimentos em relação
aos projetos governamentais, e a descoberta do ouro, que atrairia pessoas de outras
regiões.
Diante dessas prerrogativas, começa a elaboração do projeto de uma nova
cidade, que abarque com segurança essa vinda migratória, assim como a mudança
das sedes dos órgãos de poder, que se instalavam no núcleo pioneiro. Jonas
Almeida complementa que;

Nesse mesmo ano ocorreu a descoberta da mina de ouro em Serra Pelada,


área então pertencente ao município e que intensificou ainda mais o fluxo
migratório, sobretudo a partir do Maranhão e de outros estados do
Nordeste. Tal fato agravou a situação da cidade que não possuía uma
estrutura adequada para receber esse contingente populacional. Além da
Nova Marabá que estava sendo implantada, um outro núcleo surgia de
forma espontânea na cidade próximo ao bairro Amapá, do outro lado do rio
Itacaiúnas: Cidade Nova. Esse núcleo agregou grande parte da população
atraída a Marabá pelos projetos do Governo Federal. (ALMEIDA, 2011,
p.223).

As enchentes na cidade de Marabá, já faziam parte das práticas dos


moradores mais antigos, a presença das grandes cheias era costumeira em certos
24

períodos, no qual eles já ―previam‖ a vinda delas, fazendo com que se organizassem
de modo a se realocarem em lugares que não fossem atingidos de maneira violenta
por este fenômeno natural. No entanto, com a elaboração de projetos para a criação
de uma nova cidade - atual Nova Marabá.

Portanto, tratava-se de inserir a região em um novo patamar econômico,


tido como moderno, em detrimento das antigas atividades extrativistas,
vistas apenas como uma alternativa transitória na impossibilidade de se
promover de imediato a modernização. Nesse sentido, as antigas
populações que dependiam do extrativismo da castanha, não foram levados
em consideração, ou seja, castanheiros, tropeiros, caboclos e os marítimos
ligados à navegação fluvial, a final a construção da hidrelétrica de Tucuruí
finalmente eliminou essa última atividade do médio Tocantins. (ALMEIDA,
2008, p.22).

De início a preocupação era atender as expectativas do então Projeto Ferro


Carajás, com a futura estrutura que seria implantada na Serra dos Carajás para a
mineração, de modo que o espaço urbano teria que estar adequado a essa nova
necessidade, que não era de forma alguma, a mesma dos moradores naquele
momento, de modo que os mesmos já haviam passado por grandes enchentes,
como por exemplo, a enchente de 1926 – tida também como uma das maiores até o
ano de 1980 – e nunca houve interesse por parte dos moradores de Marabá, em
uma possível mudança do núcleo da cidade.

Devemos notar que o problema das enchentes já era conhecido antes do


surgimento de Marabá, e antigos viajantes descreveram as mesmas,
notando em outros aglomerados do Tocantins houve a preocupação de
situar o núcleo urbano em platôs mais elevados, embora próximos ao rio. A
situação de risco em relação às mesmas passou a existir a partir do
momento em que houve a ocupação do sítio que deu origem à cidade.
(ALMEIDA, 2008, p.24).

Entre a década de 1970 até o final da década de 1980 precisamente, o


número de habitantes na cidade de Marabá, aumentou de maneira considerável,
posto que esse número só tendesse a aumentar - no entanto o recorte tratado no
presente projeto passeia entre as datas já citadas, de forma mais intensa na década
de 80 -, mostrando uma relação baseada nos acontecimentos da região nesse
período, conforme tabela 1;
25

Tabela 1 - População de Marabá entre 1970-1985

Ano Área (km²) Total


1970 37.373 24.747
1980 37.373 59.915
1985 37.373 152.044

Fonte: IBGE, Censos Demográficos do Pará, 1970;


Nota: Dados 1980 e 1985, OASPUC, Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado
do Município de Marabá, Belém, 1988.

Com todas essas transformações nesse momento, Marabá ganha uma nova
modalidade de cidade, com a implantação do núcleo Nova Marabá, que até então, o
projeto era a desativação da antiga Marabá (Velha Marabá), existindo apenas os
núcleos da Nova Marabá, Cidade Nova e Amapá, projeto que acabou não dando
certo, por conta dos antigos moradores resistirem e permaneceram em seu local de
origem da cidade.
Quando aconteciam as enchentes, os moradores se alocavam na Nova
Marabá, mas com o baixar das águas, eles retornavam para suas casas de origem.
Mas, observa-se que, com o aumento da população, a Nova Marabá foi se
ajustando, e dando abrigo a essa nova leva de migrantes, vindo em busca do ouro e
dos projetos prometido pelo Governo Federal, como é o caso das Siderúrgicas. Até
então, a Velha Marabá, não suportaria uma expansão territorial para abranger esses
migrantes, que em comparação – tabela 1-, o número aumentou repentinamente em
pouco tempo, constituindo em vez de uma nova cidade, uma extensão de Marabá,
originando a Nova Marabá.

A origem de Marabá remonta ao final do século XIX com a descoberta do


caucho (borracha) na região do rio Itacaiúnas, afluente do Tocantins. A
exploração da borracha impôs a necessidade da ocupação do pontal entre
os dois rios pela facilidade de acesso à mata, para controlar os caucheiros
que extraiam o produto e também o tráfego fluvial por parte dos
comerciantes que negociavam o produto na capital, Belém. Nesse local
formou-se um núcleo a partir da casa comercial fundada por um
maranhense chamado Francisco Coelho, em 1898, cujo nome passou a
designar a futura cidade: Marabá. (ALMEIDA, 2011, p.213).
26

1.2 Migração urbana

A cidade de Marabá passou para o processo migratório, antes, por vias


fluviais (rios), e a partir da década de 1960 e 1970 por estradas, com a abertura da
Transamazônica e PA-70. Esse processo se intensificou por conta da campanha do
Governo Federal, em distribuir terras na Amazônia, pois de acordo com a
historiadora Idelma Santiago da Silva (2006);

A implantação de infra-estrutura rodoviária fez parte da estratégia do


governo federal de integrar a região ao resto do país. Além disso, o plano
de colonização agrícola oficial, a instalação de canteiros de obras,
especialmente a construção da barragem de Tucuruí e a implantação do
Projeto Carajás, a descoberta da mina de ouro de Serra Pelada, aceleraram
e dinamizaram as migrações para o sudeste do Pará nas décadas de 1970
e 1980. (SILVA, 2006, p.38).

Sob o slogan nacionalista ―integrar para não entregar‖, o governo vinha com o
discurso de que a Amazônia passava por um déficit demográfico, e precisava levar o
―desenvolvimento‖ para essa região, e lançou a campanha para ocupação da
Amazônia – de acordo com o governo na época-, no mesmo período, o nordeste
passava por uma grande seca, e um excedente de pessoas sem terras para
trabalhar.

Em 1969-70 o Nordeste experimentou mais uma grande seca. Como de


costume, novas medidas governamentais se seguiram. Todavia, se a seca
de 1958 havia dado origem a uma abordagem regional integrada e à criação
da SUDENE, a seca de 1970 (juntamente com a usual formação de ―frentes
de trabalho‖ de emergência para atenuar o desemprego de massa) produziu
as primeiras grandes medidas a transcenderem o Nordeste. Após uma visita
à região pelo Presidente da República, em março de 1970 foi anunciada a
construção da Rodovia Transamazônica. (VELHO, 2009, p.197-198).

Com a promessa do governo, na distribuição de terras, uma leva de


imigrantes do nordeste tomou partida rumo às terras da Amazônia, principalmente
para o sul e sudeste do Pará, pois no mesmo período deu-se a descoberta da mina
de ferro na Serra dos Carajás, e logo em seguida, a descoberta do ouro na Serra
Pelada.
Idelma Santiago (2006) vem complementar com sua pesquisa, acerca do
processo migratório para o Sudeste do Pará, onde discorre sobre a abertura das
27

estradas, desde a Belém-Brasília com sua abertura em 1960, e a PA-70 que serviu
para ligar a região de Marabá, o que foi o fator fundamental para a entrada de novos
migrantes. Como já foi mencionado nesse texto, o fluxo migratório antes (das
estradas) era em sentido às margens dos rios – cidades e aglomerados -, já nessa
nova fase, o fluxo também se dirigiu para as beiras das estradas, formando novos
aglomerados.
Assim também, com a abertura das estradas, a agropecuária toma avanço
nesse novo cenário econômico, acerca disso, Santiago (2006) afirma que;

Exemplo disso foi o avanço da frente agropecuária a partir das margens da


rodovia PA-70, onde hoje localizam-se cidades como Rondon do Pará, Bom
Jesus do Tocantins e Abel Figueiredo. Ainda quando apenas existia a
―picada‖ na mata para a abertura da estrada, suas margens foram ocupadas
por camponeses migrantes. Um jornal da época registrou que ―pela PA-70,
o povo chega às carradas. (SILVA, 2006, p. 37-38).

A pecuária se intensificou no cenário econômico, por conta da derrubada da


floresta para a abertura da estrada, e com isso obteve-se espaço para a criação de
gado em grande escala. Chama-se a atenção para um fator bastante relevante, que
foram as intensificações dos conflitos agrários, entre fazendeiros e posseiros, pela
luta na obtenção de terras.
De acordo com o historiador Jean Hébette (2004 apud Rodrigues, 2010), os
anos de 1970 marcam um período de muitas mudanças no espaço marabaense,
com declínio da produção da castanha, em razão da derruba de castanhais, para dar
lugar à pecuária de cunho empresarial que vinha instalando-se progressivamente na
região.
A partir dos anos de 1973, a estratégia para a ocupação da Amazônia,
segundo as perspectivas do governo federal, ocorre em uma mudança que foi
efetuada pelo planejamento do governo. Antes o que era para ser uma ocupação
baseada na colonização de pequenas propriedades, que ficariam ao longo das
estradas, projeto apoiado pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
(INCRA), passou a promover um modelo de ocupação, agora com base na grande
empresa agropecuária. Com incentivos fiscais, era uma forma de apoiar esse novo
modelo, e também a reserva de mão de obra das pequenas propriedades.
28

A partir de 1974, o governo passou a estimular amplamente o investimento


do grande capital na região, por meio do Programa de Pólos Agropecuários
e Agrominerais da Amazônia (POLAMAZÔNIA), sob o discurso de que tal
estratégia apresentava vantagens comparativas à ocupação produtiva.
(RODRIGUES, 2010, p.99).

Com a abertura das estradas, juntamente com a política de colonização na


Transamazônica, a efeito tendeu-se de uma política de ocupação baseada em
estímulos para grandes empresas ou a grandes proprietários de terra, posto que
com uma política de incentivos fiscais, a venda de grandes áreas do território
amazônico para empresários, principalmente do centro-sul do País.
Após a década de 1970, resultante do processo de estruturação do espaço
amazônico, fazendeiros, empresários e migrantes, começaram a se inserir na região
da Amazônia, pois já se tinha uma população constituída por ex-trabalhadores dos
castanhais, ex-coletores de castanhas ou outros produtos extrativistas, assim como
pequenos posseiros sem terras.
A partir de Airton Pereira e Rothman (2005), o posseiro é o trabalhador rural
que, de maneira ―espontânea‖, nos moldes das ocupações das terras devolutas,
ocupa terras do fazendeiro e de empresas rurais, pratica uma lavoura de
subsistência – arroz, feijão, milho, mandioca, etc. -, combinada com a caça, pesca e
coleta de frutos da floresta (bacaba, açaí, castanha, palmito, etc.) e tem a terra não
como negócio, mas como trabalho, liberdade e sobrevivência de sua família.

Somam-se a estes, grandes levas de migrantes sem terra e de colonos


atraídos pelos projetos de colonização às margens da Transamazônica.
Diante desse cenário, permeado por múltiplos atores sociais, com
interesses muitas vezes divergentes, evidencia-se o processo de ocupação,
que, desde seu início, manifestou-se na forma de conflitos espaciais e
territoriais. (RODRIGUES, 2010, p.101).

Somado aos acontecimentos da abertura das estradas a partir da década de


1970, com o fluxo migratório por conta do governo militar, que arrendou terras para
alguns grupos de trabalhadores rurais e um contingente grande de pessoas a
procura de melhoria de vida, a região amazônica, mais precisamente no sul e
sudeste do Pará, teve um inchaço populacional. No entanto, a partir da década de
1980, esse número aumenta consideravelmente, com a grande descoberta do ouro
na Serra Pelada.
29

―Foi em meio às enchentes do início dos anos 80, que arrasaram Marabá:
ocorreu a notícia do ouro em Serra Pelada, ouro como nunca antes se viu.
Caminhões de paus-de-arara chegavam à região vindos de todo canto, mas
principalmente do sudoeste do Maranhão, uma das regiões mais miseráveis
do país‖ (KOTSCHO, 1984, p.14).

Com base no trabalho do jornalista e Mestre em Ciências da Educação, Paulo


Roberto Ferreira (2019), a descoberta do ouro em Serra Pelada deu-se de início no
segundo semestre de 1979, onde os garimpeiros encontraram ouro em uma
localidade conhecida como Gleba Três Barras, cujo dono se chamava Genésio
Ferreira da Silva, e onde durante muitas décadas ali também existia uma compacta
área de castanheiras. O processo de garimpagem começou nas margens de um
pequeno rio, que se localizava próximo de um morro. O nome Serra Pelada foi
devido a uma serra que ficava ao lado, e não possuía vegetação.
Inicialmente Genésio passou a cobrar 30 por cento sobre a produção de ouro
que era encontrada pelos garimpeiros que ali trabalhavam, porém a notícia sobre o
ouro se espalhou rapidamente, ganhando notoriedade após a divulgação na Rádio
Nacional da Amazônia (RNA) – o estúdio da Rádio fica em Brasília e hoje a
emissora faz parte da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) -, que foi uma
emissora criada a partir das necessidades do governo militar com o intuito de
neutralizar o sinal das rádios estrangeiras na região. Assim como aponta Paulo
Roberto Ferreira (2019),

Muitos dos homens que viveram a experiência da extração de ouro em


Serra Pelada, na década de 1980, eram lavradores que viviam de lavoura
de subsistência e da caça de pequenos animais da floresta do Araguaia.
Outros chegaram de longe atraídos pelas noticias da descoberta de ouro no
sudeste do Pará. (FERREIRA, 2019, p.72).

A partir dos estudos do geógrafo Lena e da antropóloga Oliveira (1991), é


importante observar que os fluxos migratórios não são condicionais. É notório que os
pequenos produtores agrícolas possuem certas dificuldades no acesso e
manutenção da posse de suas terras em outras regiões do país. Por isso há uma
compreensão na opção pelo trabalho no garimpo.
30

Com base na tabela 1, os números mostram uma dimensão do quanto esse


processo migratório transformou o cenário amazônico nesse período, principalmente
entre a década de 1970 a 1985. Durante esses 15 anos de leva migratória para o
sudeste do Pará, o número quantitativo de migrantes é bastante elevado. Segundo
os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 1970) e do Plano
Diretor de Desenvolvimento Integrado do Município de Marabá (1988), na década
1985 são o total de 127.297 habitantes a mais, em comparação a década de 1970.
Foi um período em que um misto de acontecimentos levou a esse
crescimento populacional em Marabá, de forma exacerbada. Pois, a migração em
grandes números no contexto histórico da região no sudeste paraense, deu-se com
a produção em larga escala da castanha-do-pará, seguido da abertura das estradas
Transamazônica, Rodovia Belém-Brasília, PA-70.
O governo intensificou uma grande campanha para o ―desenvolvimento‖ da
Amazônia, prometendo terras, motivando com incentivos fiscais para as grandes
empresas, surgindo também a pecuária, por conta das derrubada, criando espaço
para a criação bovina.
Após esse processo, veio a descoberta do minério de ferro na Serra dos
Carajás, nesse momento há a criação dos projetos governamentais para Marabá,
com a instalação de siderúrgicas, assim, como a construção da ponte
rodoferroviária, para o escoamento do minério, e diante a tudo isso, em 1980 vem o
―boom‖ do ouro, com a descoberta da maior mina de ouro a céu aberto do mundo,
localizada em Serra Pelada, e a cidade de Marabá que acolhia os garimpeiros nesse
período.

1.3 Expansão territorial

A cidade de Marabá sofreu uma série de mudanças em seu espaço territorial


e social. Por conta de sua economia diversificada ao longo dos anos desde a sua
emancipação, e o período de 1980 é auge dessas transformações no século XX, e
por ser uma cidade que tem relação direta com os rios, as enchentes fazem parte
dessa logística econômica.
Portanto, a preocupação em relação às inundações partiu do interesse do
Governo Federal, por conta dos projetos que implantariam na cidade, no que
31

consideraram Marabá, como um local perigoso - por causa das cheias -, tanto para
manter a sede do governo municipal, quanto também, porque a cidade não tinha
espaço para se expandir, por conta da grande leva migratória que estava
acontecendo nesse período.
Jonas Almeida (2008) desenvolveu um estudo sobre a cidade de Marabá, sob
o impacto dos projetos governamentais, no qual discorre sobre as enchentes que
assolam a cidade, e nessa perspectiva aborda uma breve discussão sobre a
enchente de 1980, sua relação com a cidade e natureza.
Almeida busca fazer relações entre as enchentes que já aconteceram em
Marabá, e a construção da Nova Marabá, a partir de 1970. O autor faz abordagens
sobre grandes projetos que influenciaram na formação da nova cidade, em
detrimento das imposições do Governo Federal, sob a justificativa de a Sede de
Marabá não ser segura para abarcar um grande fluxo migratório que estava
acontecendo em consequência das instalações das Siderúrgicas, Mineradoras e a
descoberta do ouro na Serra Pelada, o autor afirma que;

―Nessa mesma época, surgiu em Serra Pelada um aglomerado que ficou


conhecido como Curionópolis, em referência ao interventor nomeado pelo
Governo Federal para administrar a área do garimpo, Sebastião Rodrigues
de Moura, conhecido como ―major Curió‖ e que havia participado do
combate à Guerrilha do Araguaia. Esse núcleo, situado fora do garimpo
propriamente dito, também fazia parte do município de Marabá, agravando
os problemas do poder público municipal em atender às demandas geradas
pela falta de infra-estrutura dos vários núcleos que passaram a existir no
município‖ (ALMEIDA, 2011, p.226).

O geógrafo, Jovenildo Cardoso Rodrigues (2010), em sua análise econômica


nos permite refletir acerca dos rumos que a cidade de Marabá tomou, a partir da
década de 1980, com o crescimento populacional, através dos projetos
governamentais, e também por conta da criação de uma nova cidade, no que
―incentivou‖, além dos projetos governamentais, a vinda de muitas pessoas, tanto de
cidades próximas, como de outros estados. O autor discorre que;

Assim, a estrutura econômica deste município, cujas bases estavam


fortemente atreladas ao capital mercantil, de origem exógena ao lugar,
associada aos interesses da estrutura política hegemônica local e regional,
passou a ditar os rumos das transformações evidenciadas na cidade de
Marabá (RODRIGUES, 2010, p.82).
32

Compreender as dinâmicas de transformação urbana de Marabá pressupõe


entender o avanço das frentes de expansão sob o território amazônico. A esse
respeito, Velho (1981), em estudo acerca do processo de penetração em uma área
da Transamazônica, fez a seguinte afirmação:

Interessante observar que as frentes de expansão constituem, em matéria


de migração, uma alternativa para a urbanização. Todavia, [...] os dois
fenômenos podem coexistir numa mesma área, e mesmo se completar [...].
Numa tipologia das frentes de expansão, a distinção entre a coexistência
próxima ou não dos dois fenômenos poderia constituir um procedimento
válido (VELHO, 1981, p.14).

De modo que o processo de crescimento e urbanização de Marabá deu-se a


partir dos processos migratórios, sob a necessidade de expansão territorial,
influenciada por alguns fatores, como: exploração da Castanha do Pará; descoberta
do ouro; instalações de siderúrgicas e fenômenos naturais, como as enchentes,
antes já mencionados no texto.
No contexto de sociedade, ―... o Brasil, portanto, fazia parte do conjunto de
sociedades complexas moderno-contemporâneas, apresentando as características
da presença do Estado, de território vasto ocupado por populações e grupos social e
culturalmente diferenciados‖ (VELHO 2011).
Podemos compreender que esse grupo social e culturalmente diferenciado, é
a consequência dessa leva migratória provinda de vários municípios e estados do
Brasil, no entanto o grande marco para esse fluxo migratório foi a descoberta do
ouro em 1980 na Serra Pelada, e Marabá servia como base de suas atividades.
Com a necessidade da criação de uma nova cidade, Jonas Almeida (2008)
discorre que:

A Nova Marabá representava a possibilidade de implantação de uma


política de planejamento urbano na Amazônia por parte do Governo
Federal. Contudo, a própria dinâmica do crescimento da cidade, verificada
no início da década de 1970, impôs a necessidade do Poder Municipal
adotar muitas medidas pontuais que não estavam em sintonia com aquilo
que os planejadores imaginavam para a cidade, sobretudo para atender as
demandas surgidas com o crescimento de sua área periférica. (ALMEIDA,
2008, p.79).
33

Pelos planos do governo, Marabá já era vista como a cidade que iria dar
suporte para os projetos governamentais, como por exemplo, o Projeto Ferro, onde
iria ser o centro de fornecimento de produtos, de serviços e mão-de-obra. Em 1970
começa também a construção da Hidrelétrica de Tucuruí, para fornecer energia aos
projetos do governo.
Contudo, houve um atraso na implantação da Nova Marabá, primeiramente
devido à extinção do Serviço Federal de Habitação e Urbanismo (SERFHAU) e da
elaboração de um projeto urbanístico a partir de 1975. Pois nesse momento a cidade
já sofria com os efeitos do crescimento populacional.
Ainda com uma justificativa de que o projeto urbanístico que foi elaborado no
âmbito do SERFHAU era inadequado, pois no projeto a previsão da população era
de 50 mil moradores, porém os planejadores consideravam a necessidade de uma
planta mais extensa, que conseguisse comportar um crescimento maior que a
cidade. Em decorrência disso, um novo projeto urbanístico foi elaborado.
―Com a aceleração do desenvolvimento trazido pela rodovia Transamazônica
e PA-150, houve um crescimento urbano que processou – e nesse momento
continua a se processar – de maneira desordenada e vertiginosa. Este crescimento
é o principal causador da extensa gama de outros problemas que vão asfixiando a
cidade até torna-la organismo doente. A circulação praticamente se encontra
estagnada, a poluição torna-se insuportável, os serviços públicos congestionam-se a
ponto de não suportarem uma expansão sem maiores ônus‖. Tal era a situação que
já se verificava na cidade, antes da implantação da Nova Marabá, como resultado do
aumento da migração, facilitada pelo acesso rodoviário. Os problemas que o Poder
Público Municipal estava enfrentando já eram graves e se ampliaram com o
processo de implantação do novo núcleo. PREFEITURA MUNICIPAL DE MARABÁ-
PA. Relatório de diagnóstico de Marabá. Marabá (1975, p.6).
Levando em consideração o crescimento populacional de Marabá, o projeto
urbanístico foi elaborado em escritórios de arquiteturas sediados no eixo Rio-São
Paulo, aja vista que os arquitetos não tinham vínculo e nem possuíam uma
familiaridade com as condições naturais da região, tampouco, com o modo de vida
dos moradores.
Havia certa divergência entre a Administração Pública Federal e a Municipal,
onde uma pensava em um projeto que fosse visar o crescimento urbano e a outra
levaria em consideração o modo de vida local. Pois o significado de habitação para
34

os moradores de Marabá, não era o mesmo para o das áreas em estágio mais
complexo de urbanização, como o caso do Centro-Sul.
O novo núcleo a ser criado, serviria para comportar os moradores da Marabá
Pioneira, no que dizia ser mais seguro a respeito das enchentes, pois estaria
distante dos rios. A SERFHAU emitiu um relatório preliminar ainda na década de
1970, referente ao desenvolvimento de Marabá, onde o mesmo destacava a
necessidade de ―desmembramento‖, por conta das enchentes e falta do espaço
urbano que era inadequado para o crescimento que já era esperado pela cidade.
Nesse mesmo relatório era mencionado um projeto de mineração que estava
em andamento na região, para a exploração do ouro, ferro, níquel, cromo, entre
outros.

No relatório preliminar já aparecia a denominação de ―Projeto Ferro


Carajás‖, bem como o convênio da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD)
com a mineradora norte-americana U. S. Steel para a exploração do
mesmo. Portanto a perspectiva apresentada para Marabá, logo no início de
1970, era de que a cidade poderia no futuro, ―desenvolver com grande
facilidade e com apreciável importância para a região Norte as atividades
dos setores secundário e terciário‖. (ALMEIDA, 2008, p.84).

Com o avanço populacional da cidade, houve a necessidade de criar um


Plano de Desenvolvimento de Marabá, no que se refere a um projeto que permitiria
a expansão da cidade, pois naquele momento já era preocupante o grande número
de migrantes que cegavam na região, por conta da abertura das estradas, da
iniciativa do INCRA em oferecer terras, e dos projetos que já eram previstos em
Marabá, Com isso a Marabá Pioneira não teria capacidade de comportar esse
número elevado de pessoas.
A priori, o plano previa essa expansão da cidade para o bairro Amapá, pois
era um local de certa altitude considerada seguro em relação às enchentes, porém,
foi perceptível que o mesmo não atendia as necessidades comparadas ao grande
número de pessoas que estavam chegando e se alocando nos espaços disponíveis.
Em 1973 já existia o projeto de instalação da Nova Marabá, mas sem infraestrutura
adequada para moradia, de modo que a partir de 1976, devidos as cheias, os bairros
Amapá e complexo Cidade Nova já estavam sendo apropriados, assim como a Nova
Marabá que teve lotes invadidos por pessoas que fugiam das enchentes e também
por migrantes. Assim o projeto de desenvolvimento da Nova Marabá acabou ficando
35

apenas no papel, levando em consideração a necessidade do momento, que foi a


busca por moradia provinda da grande massa populacional que chegara, assim
como aqueles que ―fugiam‖ das cheias periódicas, e buscavam moradias seguras
para se instalarem.
Dessa maneira a cidade de Marabá foi se expandido, em vias laterais e de
maneira que atendesse a necessidade daquele momento.
36

CAPÍTULO II – ENCHENTE DE 1980

A enchente de 1980 na cidade de Marabá e suas decorrências contribuíram


para a mudança na estrutura econômica e social da cidade, como é o exemplo da
constituição da Nova Marabá, bairro que surgiu em decorrência dessa grande cheia.
Outros fatores que condicionaram para essas transformações, foi a descoberta do
ouro e os Projetos Governamentais implantados na cidade, na mesma década, que
somou para a transformação do espaço social e urbano de Marabá.
A cheia de 1980 e seus impactos ficaram presentes na memória das pessoas
que conviveram com tal acontecimento, principalmente devido ao volume de água
cobrindo praticamente toda a Velha Marabá. Corroborando com tal ação, soma-se
os registro fotográficos que permitem fazer algumas leituras e entender esses
discursos de inundação. Mobilizar essas fotografias nessa pesquisa nos ajuda a
entender esses discursos dos moradores.

2.1 A enchente de 1980

A enchente de 1980 ficou na memória coletiva dos moradores de Marabá, e


na mídia local, como sendo a maior a atingir a cidade. O instrumento de medição,
instalado às margens do rio Tocantins, em 1976, para acompanhar o nível das
águas, registrou 17,42 metros de altura acima no nível normal do rio, como pode ser
observado na figura 1, que mostra o nível elevado das águas atingindo o prédio do
Cine Marrocos – primeiro cinema da cidade. Como na época havia poucos prédios,
por ser uma característica predominante na estrutura da cidade, os
estabelecimentos mais altos, ficaram em destaques nos registros fotográficos, como
forma de afirmar o elevado nível em que a água chegou.
Figura 2 - Cine Marrocos (1980).
37

Fonte: Arquivo da Fundação Casa da Cultura de Marabá

Prédios e casas quase cobertos pelas águas e ruas praticamente inundadas


são recorrentes nos registros fotográficos da época. Isso possibilitou que as
memórias sobre a enchente fossem fixadas como uma das maiores e fossem
repassadas através de imagens. Nesse sentido, não se pode perder de vista que as
imagens são a maneira pela quais determinados acontecimentos ficaram marcados
na história. A historiadora, Sandra Jatahy Pesavento (1995, p. 22), nos lembra que:

As imagens produzem trocas de informações, as imagens são históricas e


correspondem ao imaginário coletivo, a padrões estéticos de determinada
época, bem como veiculação de padrões de conduta e ideais de beleza. As
imagens têm o poder de despertar para ações, pois são mobilizadoras pelos
símbolos que estas representam. O símbolo se expressa por uma imagem,
que é seu componente espacial, e por um sentido, que se reporta a um
significado para além da representação explícita ou sensível.

As imagens são a representação de uma determinada realidade ou


acontecimento. Como afirmou Susan Sontag (1977, p. 86):

[...] imagens são de fato capazes de usurpar a realidade porque, antes de


tudo, uma foto não é apenas uma imagem (como uma pintura é uma
imagem), uma interpretação do real; é também um vestígio, algo
diretamente decalcado do real, como uma pegada ou uma máscara
mortuária.

Para Kossoy (2001) a fotografia, como fonte de pesquisa histórica, busca


trazer uma representação mais próxima do acontecimento. Ela é um olhar com base
no que a pessoa que a produziu buscou retratar. Para a historiadora, Ana Maria
Mauad (2012), existe uma pluralidade de sentidos que podem ser atribuídos às
fotografias. Revelam transformações no curso da experiência histórica
contemporânea e, por conta disso, são fontes que podem oferecer respostas, a
depender do interesse do pesquisador ou da pesquisadora, acerca de um
determinado momento histórico.
Em relação à enchente de 1980, um dado importante explica, em grande
medida, o fato de ser tornar uma das cheias mais lembradas pela população.
Marabá nesse período era o palco de um intenso fluxo migratório. O número de
habitantes em Marabá cresceu vertiginosamente por causa dos projetos
38

governamentais instalados na região amazônica. A historiografia sobre a época


aponta que:

Tal fato agravou a situação da cidade que não possuía uma estrutura
adequada para receber esse contingente populacional. Além da Nova
Marabá que estava sendo implantada, um outro núcleo surgia de forma
espontânea na cidade próximo ao bairro Amapá, do outro lado do rio
Itacaiúnas: Cidade Nova. Esse núcleo agregou grande parte da população
atraída a Marabá pelos projetos do Governo Federal. (ALMEIDA, 2011, p.
221)

A cheia de 1980 apesar de atingir a todas as classes sociais da época, ela foi
vista de maneira singular. A forma com que ela foi percebida dependia do tipo de
experiência em que cada um a vivenciou.

Muitos moradores atenuam o efeito das enchentes afirmando que os rios


promovem uma “faxina natural” nas áreas mais sujas da cidade. Também
preservam “a circulação do dinheiro que apenas muda de bolso” por
ocasião das mesmas, uma vez que cria oportunidades para aqueles que
trabalham com o transporte de pessoas, alugam embarcações e vendem
produtos utilizando a locomoção fluvial. (ALMEIDA, 2011, p.222)

A partir de 1976, com a intervenção do Governo Federal em Marabá, e com a


iniciativa de se criar um projeto de expansão e locomoção dos moradores da Velha
Marabá para uma área mais segura, a população local não viu com bons olhos esse
projeto, de modo que após enchente, eles continuavam a voltar para suas casas,
para sua rotina, que estava ligada ao extrativismo e modo de vida ribeirinha.
O projeto de uma nova cidade não levava em consideração a realidade local
da população, pois era um planejamento voltado para um ―desenvolvimento‖ em que
estava ligado diretamente ao Projeto Grande Carajás (PGC), em parceria com a
empresa Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) – atual Vale S.A -, que buscava
explorar as minas de ferro na Serra dos Carajás, e com essa exploração, a cidade
de Marabá se tornou um ponto estratégico, e aos olhos do governo, a Velha Marabá
era tida como insegura, tanto para os técnicos do projeto, quanto para a nova
população que estava chegando por conta dos projetos governamentais, assim
como os garimpeiros em busca do ouro, a partir de 1980, na Serra Pelada.

Marabá tornou-se passagem obrigatória para aqueles que eram atraídos


pelas possibilidades que a Amazônia oferecia. Sua posição estratégica, a
39

existência de riquezas minerais e a infraestrutura de que já dispunha (porto


fluvial, aeroporto), fez do município Área de Segurança Nacional em 1970.
A cidade passou a ter prefeitos nomeados com a aprovação do Conselho de
Segurança Nacional, tendo praticamente anulada a sua autonomia
municipal. (ALMEIDA, 2016, p.47).

De acordo com os discursos reproduzidos na cidade, conforme presenciei


diversas vezes, a cheia de 1980 foi tida com a mais abrangente. Na pesquisa de
Jonas Almeida (2011), mostra que ela atingiu a todas as classes sociais, no entanto
a diferença estava em quem possuía alternativas para enfrentar a enchente, como
por exemplo, mandar seus parentes para a capital Belém, ou para suas fazendas,
tendo o mesmo conforto existente em Marabá.
O nível da água foi tão elevado a ponto de cobrir o telhado das casas,
deixando praticamente toda a população da Velha Marabá desabrigada. A dimensão
das águas foi observada nas fotografias que foram tiradas nesse período,
confirmando assim o que os moradores relatam dessa grande enchente que até hoje
é narrada como um marco na história de Marabá.
Solidificou essa memória o número maior de registros fotográficos, diferente
da enchente de 1926 que, apesar de se ter registro que a considerem uma das
maiores no registro histórico da cidade, o contexto era diferente e a transformação
do espaço social ocorria de outra maneira.

2.2 Representações e fotografias

O mundo é visto de várias formas e perspectivas, com um olhar desnorteador


ou mais centralizado, e da mesma forma que é visto, pode ser capturado no nosso
imaginário, ou até mesmo em formas de imagens fotográficas. Procura mostrar as
múltiplas leituras do mundo, uma delas nesse caso é a fotografia, e a forma como
ganhou espaço, dimensão em torno do século XIX, do analógico passando pelo
digital.
As fotografias, aos olhos dos historiadores e historiadoras, são fontes
históricas, na medida em que elas desempenham um papel na sociedade, no
sentido de contextualizar alguma prática social.
40

A definição de fotografia como prática social nasce no momento em que o


historiador tem um conjunto de questões sobre o papel da fotografia na
produção de sentido social, em determinado tempo e lugar do mundo, e
quer identificar as práticas sociais de produção e consumo das imagens, os
sujeitos envolvidos, instituições financiadoras e público de recepção, enfim,
os campos discursivos nos quais as fotografias circulam (MAUAD, 2012.
p.278-279).

Nessa pesquisa, a fotografia é importante para pensar a cidade de Marabá


as suas inundações, especificamente , a de 1980, sob uma visão historiográfica,
revelando as nuances do acontecimento

A foto pode distorcer; mas sempre existe o pressuposto de que algo existe,
ou existiu, e era semelhante ao que está na imagem. Quaisquer que sejam
as limitações (por amadorismo) ou as pretensões (por talento artístico) do
fotógrafo individual, uma foto — qualquer foto — parece ter uma relação
mais inocente, e portanto mais acurada, com a realidade visível do que
outros objetos miméticos. (SONTAG, 1977, p.9).

A fotografia vem a ser como uma espécie de testemunho, quando algo que
nos é contado, com o surgimento da dúvida, a foto pode sinalizar algo da narrativa,
mas a mesma não é a comprovação da verdade.
As fotografias aqui utilizadas permitiram refletir e analisar acerca da enchente
da década de 1980 em Marabá.

Figura 3 - Casas Submersas

Fonte: Arquivo da Fundação Casa da Cultura de Marabá.


41

Na figura 3 a imagem pode representar a dimensão do que foi a cheia,


fazendo- nos refletir a quão essa enchente foi grande, a ponto de cobrir o telhado
das casas. É importante frisar que uma imagem não fala por si só, mas ela
representa um recorte de um acontecimento que foi capturado, de acordo com a
perspectiva do autor da fotografia.
Ainda na figura 3, por exemplo, podemos imaginar que a intenção do autor foi
ressaltar o quanto essa enchente foi de tamanha proporção, é uma possibilidade. E
para ter uma maior percepção o foco foi o alto das casas, ressaltando o nível em
que a água chegou até aquele momento.

O ato do registro, ou o processo que deu origem a uma representação


fotográfica, tem seu desenrolar em um momento histórico específico
(caracterizado por um determinado contexto econômico, social, político,
religioso, estético etc.); essa fotografia traz em si indicações acerca de sua
elaboração material (tecnologia empregada) e nos mostra um fragmento
selecionado do real (o assunto registrado) (KOSSOY, 2001, p.39-40)

Muitas vezes uma fotografia pode parecer algo simples, sem um olhar
pejorativo ou enaltecedor. No entanto, há uma intencionalidade por traz de cada
registro feito. A eleição de um aspecto selecionado do real, o cuidado com os
detalhes que compõe o objeto, são fator vezes eterminantes no resultado da atuação
do fotógrafo, em que sua atitude diante da realidade; suas emoções e ideologia
ficam identificadas na forma de registro das imagens, principalmente naquelas que
são capturas para si, demostrando sua expressão pessoal.

Figura 4- Sede da Associação Comercial e Industrial de Marabá (1980)

Fonte: Arquivo Fundação Casa da Cultura de Marabá


42

Na figura 4 é observado um enquadramento intencional assim como todos os


objetos capturados pela lente do fotógrafo. Também podemos observar como a
água se confunde com as ruas. Um dos fatores que foi necessário para a criação de
uma nova cidade, foi a transferência das sedes municipal por conta de que era
propício outras grandes inundações, e como isso não era viável permanecer na
Velha Marabá. Na figura 4, o objeto de registro é a Sede da Associação Comercial e
Industrial de Marabá, assim como de fundo, a extensão da cheia. Alguns moradores
em embarcações observando o entorno da Sede, e outros sobre os muros da Sede.
Nota-se que nesse recorte temporal o objetivo foi mostrar que as águas não
escolheram a quem ou ao que atingir. A enchente chegou a todos, atingiu casas
simples, assim como prédios de grande importância para o município.

A fotografia é um resíduo do passado. Um artefato que contém em si um


fragmento determinado a realidade registrado fotograficamente. Se, por um
lado, este artefato nos oferece indícios quanto aos elementos constitutivos
(assunto, fotógrafo, tecnologia) que lhe deram origem, por outro o registro
visual nele contido reúne inventário de informações acerca daquele preciso
fragmento de espaço/tempo retratado (KOSSOY, 2001, p.45-47).

2.3 População

Um fator ligado à essa grande cheia é a memória coletiva com a perspectiva


de que a enchente de 1980 foi a que mais impactou a sociedade até os dias de hoje.
A respeito disso,

Há apenas uma história e distintas memórias sobre um acontecimento, e se


não há parcerias entre ambas, é porque as memórias coletivas só podem
acionar o passado até certo limite, sendo o tempo um diferencial importante
que as impede de conhecer os fatos‖. (HALBWACHS, 1990, p. 80).

Além disso, muitas das memórias acabam sendo fixadas e repassadas


através de imagens, que denotam a maneira de como eventuais acontecimentos
ficaram marcados na história. A grande cheia da década de 1980 foi marcada por
vários aspectos sociais e econômicos. O despertar da solidariedade, no prestar
socorro a quem precisava, e também na oportunidade daqueles que estavam
43

dispostos a ganhar dinheiro, que transformava a solidariedade em prestação de


serviço.
As fotografias mobilizadas nessa pesquisa também retratam o cotidiano de
uma sociedade em meio a grande cheia na década de 1980. As fotografias buscam
representar um recorte temporal ou de um determinado acontecimento.

Fotos podem ser mais memoráveis do que imagens em movimento porque


são uma nítida fatia do tempo, e não um fluxo. A televisão é um fluxo de
imagens pouco selecionadas, em que cada imagem cancela a precedente.
Cada foto é um momento privilegiado, convertido em um objeto diminuto
que as pessoas podem guardar e olhar outras vezes. (SONTAG, 1977,
p.15).

A partir da pesquisa de Jonas de Almeida (2011), foi observado que o


imaginário coletivo da maior cheia de Marabá ficou atrelado à memória local, uma
enchente que contagiou a todos, em vários aspectos, e continua sendo um objeto de
roda de conversa nos bairros, um objeto de pesquisa atrelado a história de Marabá.
Evidenciando o fato de que de todas as enchentes que Marabá abraçou, nenhuma
delas foi tão estimada quanto a enchente de 1980. Muitos são os fatores que levou
ela ser conhecida com tamanha proporção. Primeiro por conta de se ter um elevado
número de pessoas nesse período em que ela ocorreu.
Assim também como o seu nível de água foi possível ser medido, com a
implantação de uma régua, às margens do rio Tocantins, com isso os marabaenses
puderem ter a noção em dados, do que foi a grande cheia.
44

CAPÍTULO III – FOTOGRAFIA, ENSINO E HISTÓRIA LOCAL

O processo de ensino e aprendizagem deve ser algo que estimule o


aluno a buscar cada vez mais o conhecimento e provocar prazer em continuar
aprendendo. Estar munidos de estratégias pedagógicas e recursos didáticos que
nos auxiliem nesse processo é fundamental. Também é importante que se leve em
consideração nesse processo o que o aluno traz para a sala de aula de acordo com
as experiências de vida e do mundo do qual ele faz parte.
A partir dessa perspectiva, neste capítulo apresenta uma reflexão sobre o
uso da fotografia como fonte histórica na sala de aula enfatizando a importância
desse tipo de documento como uma forma de se abordar o ensino de história local.
Isso pode somar para uma melhor aprendizagem e desenvolvimento do ensino,
posto que os conhecimentos prévios venham como uma base, para debates
fomentados em bibliografias, desenvolvendo assim, o conhecimento crítico do aluno.

3.1 Fotografias na sala de aula

Na perspectiva do ensino básico, quando se fala em ensino de História, ou


mais precisamente na disciplina de História, a primeira coisa que vem à mente,
geralmente, é a ideia de passado. No entanto o passado não é algo estagnado de
maneira que não possa ser interpretado. Por isso, o passado é complexo e sua
interpretação é ilimitada, razão pela qual não podemos abarcá-lo na totalidade.
Dessa maneira, destacamos a importância da história e da história enquanto
disciplina na educação básica como um modo de trabalhar nossa formação
enquanto sujeitos históricos. Sendo assim Carlos Henrique Farias de Barros aponta:

O ensino de História pode desempenhar um papel importante na


configuração da identidade ao incorporar a reflexão sobre o indivíduo nas
suas relações pessoais com o grupo de convívio, suas afetividades, sua
participação no coletivo e suas atitudes de compromisso com classes,
grupos sociais, culturais, valores e com gerações passadas e futuras.
(BARROS, 2013, p. 4).

Nesse contexto, buscando metodologias que possam contribuir para o


ensino, em consequência da experiência vivenciada no Estágio Supervisionado na
Escola Municipal de Ensino Estadual Dr. José Cursino de Azevedo, localizada no
45

bairro Nova Marabá, foi observado o quanto os alunos responderam de modo


positivo o uso de fotografias na sala de aula.
Buscando não somente atrair a atenção dos alunos, mas inserindo-os no
contexto local, fazendo com que eles se sentissem representados, tanto no contexto
familiar, - pelas experiências seus familiares, quanto nas vivências do cotidiano.
Foi importante usar fotografias da inundação na década de 1980, como
forma de representar acontecimentos mais próximos a eles.
O uso de imagens permite que os alunos observem, a partir de outro
parâmetro, a dinâmica da relação entre passado-presente. São inúmeras as
possibilidades de se trabalhar as imagens em sala de aula, pois as fotografias
apresentam-se como um recurso didático de grande eficiência ainda mais se
levarmos em consideração os recursos técnicos presentes atualmente que ampliam
o acesso às imagens como, por exemplo, smarthphones e outros aparelhos
eletrônicos. Pesquisadores da área do ensino afirma que:

O conhecimento histórico é um conhecimento textual, mas o texto pode


estar inscrito nas imagens, nos sons, na arquitetura, na literatura, permeado
de significações simbólicas construídas nas práticas culturais. Nesse
sentido, a literatura, a música, o cinema, a fotografia, são tomados como
objetos de análise para a nova historiografia. (BRUCE; FALCÃO; DIDIER,
2006, p. 6).

Muitos estudiosos apontam que usar a fotografia em sala de aula é um


recurso rico e indispensável. Para esses pesquisadores, a fotografia tem função
histórica porque ela viabiliza a compreensão de contextos sociais. Considera-se que
a fotografia é a representação de um momento que foi vivenciado viabilizando
leituras próprias de mundos que são carregados de intencionalidades.
Trabalhar o uso de fotografias como recurso didático e metodológico não é
somente ter como finalidade tornar a aula mais atrativa ou motivadora, é também
trabalhar as multiplicidades de perspectivas do conhecimento histórico. As imagens
são carregadas de sentidos. No entanto, elas representam apenas um momento
histórico específico, ou seja, uma parte da realidade é interpretada, sendo
constituídas de elementos sociais, econômicos e políticos. Para os pesquisadores
do tema:
46

A imagem fotográfica transcenderia a ela mesma, significaria mais do que


ela se propõe inicialmente e mais do que o senso comum pode perceber.
Seria o resultado de uma visão fragmentada e parcial do mundo, uma visão
particular que reflete como os indivíduos pensam, organizam e selecionam
suas experiências. Como criação do imaginário, as imagens fotográficas
conseguem revelar formas de classificar e aprender, entre outras coisas, as
relações sociais e as ideologias dos sujeitos que, de alguma forma,
contribuíram para a sua produção. (CAMPOS, 1992 p. 103).

Trazendo para a perspectiva do ensino de história, por décadas, a oferta de


escolas primárias1 começou a se expandir para outras camadas da população,
assim o ensino de história obteve relevância no currículo. Um dos seus propósitos
era ensinar história numa perspectiva do nacionalismo para constituir uma
identidade nacional. A respeito da escola primária, a historiadora Ednéia Regina
Rossi (2017, p.166) explica;

A institucionalização da escola primária e a produção do saber escolar


vincularam-se ao projeto de constituição de nossa nacionalidade. A unidade
da língua, dos costumes e das tradições seria um ponto fundamental para
unificação do povo brasileiro, naquele momento estilhaçado não apenas
pelo grande contingente de imigrantes, mas também pelo que envolve a
quebra da continuidade de uma tradição assentada no modo de vida
monárquico e a necessidade de conferir legitimidade à vida republicana.

Para Circe Bittencourt (2008, p. 69), do ponto de vista metodológico, o


ensino de história tinha uma perspectiva ainda tradicional. Portanto, afirma a autora:

Os métodos de ensino, baseados na memorização, correspondiam a um


entendimento de que saber história era dominar muitas informações, o que,
na prática, significava saber de cor a maior quantidade possível de
acontecimentos de uma história nacional.
Da mesma forma, do ponto de vista tradicional, as imagens eram
interpretadas como se tais acontecimentos por elas representados fossem a
realidade do que estavam sendo ali apresentados; sem dar margem para outras
interpretações ou considerar o contexto histórico. O ensino de história, nesse
sentido, tinha o objetivo de fortalecer o sentimento de nacionalismo.
Essa concepção de ensino de história passou por críticas e alguns
historiadores começaram a pensar outras ideias sobre história. Nesse sentido, o uso
1
Daniela Cristina Lopes de Abreu (2012, p. 164) ―No estado de São Paulo, durante a
Primeira República, o ensino primário era oferecido em diferentes modalidades de escolas: grupos
escolares, escolas isoladas, escolas reunidas e escolas noturnas‖.
47

de imagens foi importante para estimular nos estudantes a percepção das mudanças
no tempo histórico levando-se em consideração o lugar social de sua produção, sua
a realidade e contexto histórico-social.
O uso de imagens é uma possibilidade experienciada dessa mudança. É uma
ferramenta pedagógica para registros espaço-temporais, pode estimular a
compreensão e a concepção das pessoas sobre o que é captado, de modo que seja
possível contextualizá-lo em diferentes campos, o que pode ser realizado por meios
de trabalhos como os de percepção ambiental com análises históricas e/ou
socioeconômicas.

3.2 A importância do ensino local na sala de aula

A importância da história local2 se dá a partir do momento que há a


necessidade do aluno, enquanto protagonista de sua própria história, buscar
compreender e desmistificar os contextos que o rodeia. E esse embate se perpetua
por conta da cristalização no discurso de que alguns conteúdos são considerados
mais importantes que outros, a cerca da história.

[...] conteúdos relativos ao local e o regional, por considerá-los secundários,


desnecessários, superficiais e responsáveis pelo atraso do trabalho com o
que realmente cai nas provas, que são os conteúdos relativos ao Brasil, às
Américas e ao resto do mundo. (RIBEIRO, 2011, p.08).

Trazer para a sala de aula debates levando em consideração a importância


de se discutir conteúdos sobre a história local e regional se faz necessário para a
formação do aluno enquanto sujeito histórico. Pois a história local busca
compreender os acontecimentos cotidianos e suas dinâmicas.

[...] enquanto a História Nacional e mesmo a Regional oferece uma visão de


macros acontecimentos e de narrativas que abarcam períodos históricos
maiores, a História local tem-se preocupado com as circunstâncias
cotidianas, com o fragmento, o inusitado, o particular, o específico [...].
(CARVALHO, 2006, p. 62)

2
Ver Maria Auxiliadora Schmidt. ―O ensino de história local e os desafios da formação da consciência
histórica‖, (2007).
48

Assim, trabalhar de forma mais contundente esses acontecimentos mais


específicos, faz com que o aluno como ser protagonista de sua própria história,
compreenda seu espaço de atuação e dever, tanto na escola, quanto em sua
comunidade e município.
O ensino de História pode desenvolver um papel importante na configuração
da identidade ao incorporar a reflexão sobre o indivíduo na relação pessoal entre o
indivíduo e o grupo social, como suas emoções, sua participação no coletivo e seu
compromisso com a classe, a sociedade, os grupos culturais, e valores. E gerações
passadas e futuras.
Trabalhar o ensino de História com base na perspectiva da experiência de
vida do aluno é necessário uma abordagem teórico-metodológica que dialogue com
a vida das pessoas, como as lembranças e memórias dos sujeitos que abrangem
todos os segmentos sociais. Pois é necessário dar espaço de fala aos sujeitos que
sempre foram excluídos - e suas histórias - dos conteúdos ensinados.
A vida cotidiana pode ser utilizada como objeto de aprendizagem escolar
porque proporciona a possibilidade de visualizar as transformações realizadas pelo
cidadão comum, transcendendo a ideia de que o cotidiano é inundado e cheio de
alienações. Considerar o cotidiano como espaço privilegiado de mudança histórica
também pode possibilitar que o aluno se veja como sujeito da história.

A História Local requer um tipo de conhecimento diferente daquele


focalizado no alto nível de desenvolvimento nacional e dá ao pesquisador
uma idéia mais imediata do passado. Ela é encontrada dobrando a esquina
e descendo a rua. Ele pode ouvir os seus ecos no mercado, ler o seu grafite
nas paredes, seguir suas pegadas nos campos. (SAMUEL, 1990, p. 220)

O local ou regional precisa ser considerado como singular ou parte do geral.


Existem contradições no lugar onde vivemos, e para se compreender isso, não há
como ignorar que, atualmente, mais do que em qualquer outro período da história da
humanidade, o mundo é o lugar em que vivemos e atuamos. Não há como
compreender o nosso bairro, município ou estado se não entendermos quais
relações estes universos estabelecem com o restante do mundo.
49

3.3 A fotografia na sala de aula: fragmentos da História Local

Com base na experiência do Estágio Supervisionado e na regência aplicada


em sala de aula, foi observada a importância do uso de fotografias para se trabalhar
o ensino de História em sala de aula. A regência foi aplicada para a turma do 1º ano
do ensino médio, no período noturno.
Antes de aplicar a regência, foi elaborado um questionário com os alunos a
respeito do que eles tinham de informação em relação à história da cidade de
Marabá, assim como alguns acontecimentos que foram trabalhados na regência,
como é o caso da enchente de 1980, do contexto das narrativas que buscaram
compreender o crescimento urbano de maneira rápida, e as causas do surgimento
do atual bairro Nova Marabá, no qual a escola Dr. José Cursino de Azevedo - onde
foi trabalhado o estágio -, está inserida.
Abaixo segue o questionário aplicado na regência do Estágio
Supervisionado, produzido através de gráficos e a transcrição das respostas
discursivas dos alunos.

Gráfico 1 - Você já conheceu a história de sua cidade através de livros ou


fotografias? Marque somente uma opção.
0 LIVROS

7 FOTOGRAFIAS 1ª série do ensino médio


9 LIVROS E 10
FOTOGRAFIAS
0
LIVROS FOTOGRAFIAS LIVROS E FOTOGRAFIAS OUTROS
6 OUTROS
Série 1

Fonte: Elaborado pelo autor do trabalho, 2019

Gráfico 2 - Sobre as grandes enchentes em Marabá: marque o período que você


acha que ocorreu a maior enchente.

0 ENCHENTE DE 1921
3 ENCHENTE DE 1926 1ª série do ensino médio
12 ENCHENTE DE 1980
20
7 ENCHENTE DE 1990
0
ENCHENTE DE 1921 ENCHENTE DE 1926 ENCHENTE DE 1980 ENCHENTE DE 1990

Série 1

Fonte: Elaborado pelo autor do trabalho, 2019


50

Sobre a imagem abaixo, descreva o que você acha que ela representa, e
onde você acha que ela foi tirada.

Figura 5 - Cine Marrocos, enchente de 1980

Fonte: Arquivo da Fundação Casa da Cultura de Marabá

Respostas dos alunos:


R1: Esta é uma enchente, parece muito na horla de marabá.
R2: Não sei
R3: Não sei
R4: A imagem representa uma enchente em Belém.
R5: Essa imagem representa uma enchente na cidade de Marabá. E eu acho que foi
na velha Marabá.
R6: Uma enchente na orla de Marabá.
R7: Bom estou vendo-a em um lugar bem distante onde só tem água e tem pés de
arvores, bom eu vejo em um lugar bonito tipo onde fica os encontros com águas,
não sei onde é.
R8: Eu acho que é em Belém. Uma enchente que alagou a cidade. Isso que eu sei,
R9: Representa uma enchente em marabá.
R10: Disastre natural, eu acho que foi tirado na velha Marabá. Não encher qui nada.
R11: Não sei sobre a enchente, mas acho que pode ter sido uma aqui em Marabá.
R12: Essa imagem representa uma enchente na velha Marabá.
R13: Eu não sei aonde e essa enchente mais eu acho que e na velha Marabá.
R14: Acho que representa uma enchente e não tenho nem a noção onde foi tirado.
R15: Ela representa um enchente em Marabá.
51

R16: Essa imagem representa que o rio está sendo poluído.


R17: Acho que um rio com grandes enchentes. Não sei onde foi tirada.
R18: Parece uma enchente mais não sei a origem da foto.
R19: É uma enchente numa cidade que atingiu vários lugares, essa cidade é em
Marabá.
R20: Essa imagem representa uma enchente que ocorreu em Marabá, sobre esse
lugar se eu não me engano essa foto foi tirado na orla.
R21: A meu ver ela parece uma enchente, e eu acho que é na orla.
R22: Me parece com a orla de Marabá, representando o nível do rio.

De maneira a contribuir para a aula, é de suma importância questionar os


alunos sobre o conhecimento que eles já têm a respeito das enchentes que já
ocorreram na cidade de Marabá, assim como algumas transformações no espaço
geográfico da cidade, e principalmente sobre a enchente de 1980.
Como podemos observar no questionário com as respostas discursivas,
relacionando a figura 5, os alunos apesar de a maioria apontar que a enchente
representada na imagem, foi na cidade de Marabá, alguns ainda se sentiram
perdidos enquanto ao local que ocorreu a inundação, outros chegaram a apontar
que a mesma aconteceu na cidade de Belém, capital do Estado do Pará,
ressaltando a importância de se trabalhar a história local em sala de aula.
Na aula anterior à regência, foi sugerido aos alunos, que pesquisassem
imagens referentes ao período de 1980, usando o smartphone , que também é uma
ferramenta que podemos pensar para se trabalhar como estratégia metodológica em
sala de aula. A sugestão foi para que houvesse a participação dos alunos na aula da
regência.
No dia da regência, os alunos foram questionados sobre o que eles tinham
de conhecimento acerca da temática, sendo proveitosa a participação deles, para o
desenvolvimento da aula.
Para que a regência fosse aplicada de maneira eficaz, foi preciso um
planejamento na elaboração do plano de aula, que é fundamental para a construção
de uma aula pautada na relação teoria x prática.

No nosso meio escolar, o planejamento de todas as ações escolares tem se


pautado por situações de traços burocráticos acentuados, reduzindo-se, na
maioria das vezes, ao preenchimento de relatórios, papéis e planos de
52

ensino que não guardam relação alguma com a realidade na qual esse
ensino irá ocorrer. (INFORSATO; ROBSON, 2011, p.87).

A aula foi iniciada relembrando com os alunos de como estava a cidade de


Marabá em 1980, ou em enchentes posteriores, e se os alunos já tiveram algum
contato com fotografias dessa época. Assim, antes de problematizar alguns fatores
que levaram a expansão de Marabá, foi importante fazer uma síntese de como a
cidade era antes e depois de 1980.
Após esse momento, deu-se prosseguimento a aula, com uma breve
exposição oral sobre a história de Marabá, dando continuidade com a exposição de
fotografias sobre as enchentes que ocorreram na cidade, com recorte para a
enchente de 1980 – figura 6-, e 1997 – figura 7-, no qual os alunos ficaram bastante
atentos a cada imagem exposta, de vez ou outra tecendo comentários a respeito, e
muitas vezes relembrando histórias de seus familiares, quando chegaram à Marabá.
Como podemos perceber na figura 7, a cheia de 1997 por ser um
acontecimento mais recente, em relação à década de 1980, a imagem foi pensada
para a exposição na regência, para que os alunos pudessem fazer uma relação mais
próxima, principalmente por estar em um contexto onde as imagens já são
produzidas em colorido, chamando a atenção dos alunos.

Figura 6 - Cine Marrocos, enchente de 1980

Fonte: Arquivo da Fundação Casa da Cultura de Marabá


53

Figura 7 - Bairro Velha Marabá (1997).

Fonte: Arquivo da Fundação Casa da Cultura de Marabá

Na sala de aula, foi abordado de como aconteceu a migração na região,


levando ao crescimento populacional, e muitos dos alunos se identificaram, pois
quando questionados, quais dos alunos, os pais não eram marabaenses, apenas
três alunos afirmaram que os pais são natural da cidade. O restante pontuou que
seus pais são migrantes de outras regiões, e foi perceptível o impacto que isso
gerou momentaneamente em toda a classe.
Na segunda aula, de acordo com a exposição das fotografias e de dois
vídeos, um sobre a escola José Cursino de Azevedo, no qual foi trabalhado esse
espaço em que os alunos estão inseridos, que é a escola, e o outro vídeo sobre as
enchentes que fazem parte da história de Marabá.
A decisão em aplicar a regência sobre a história local – figura 9-, foi com base
na escassez e necessidade de se trabalhar abordagens que contribuam para a
historiografia local, fazendo com que os alunos se identifiquem.

Busca-se recuperar a vivência pessoal e coletiva de alunos e a formação da


consciência histórica de alunos e professore... professores e vê-los como
participantes da realidade histórica, a qual deve ser analisada e
retrabalhada, com o objetivo de convertê-la em conhecimento histórico, em
autoconhecimento, uma vez que, desta maneira, os sujeitos podem inserir-
se a partir de um pertencimento, numa ordem de vivências múltiplas e
contrapostas na unidade e diversidade do real. (SHMIDT, 2005, p.299-230).
54

Figura 8 - Sala de aula, Escola Dr. José Cursino de Azevedo (2019)

Fonte: elaborado pelo autor, 2019

É importante aqui descrever como podemos aprender a exercer a profissão


de educador, por meio da observação, da atuação de outros profissionais, e também
participando de atividades em sala de aula.
55

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho buscou analisar os contextos na qual a enchente de 1980


ficou viva no imaginário cultural da cidade de Marabá. Visando relacionar alguns
acontecimentos na década de 1980 para que pudesse compreender os fatores que
levaram a formação do que poderia ser outra cidade, mas que contribuiu para a
formação de um outro bairro.
As cheias continuam fazendo parte da vivência dos moradores do município,
elas estão atreladas diretamente no modo de vida da população, principalmente no
que se refere aos ribeirinhos, pois os rios fazem parte economicamente do modo de
sobrevivência de muitos moradores da cidade.
No entanto, o ponto de partida para esse trabalho foi buscar analisar as
dinâmicas das cheias em relação ao modo de vida local, considerando que desde os
primeiros registros que se tem das enchentes em Marabá, a enchente de 1980 foi a
maior já registrada no município, porém há registros de que a cheia de 1926 também
está entre uma das maiores que se tem notícia, conforme foi observado em
pesquisas a respeito.
Foi perceptível que a memória da grande cheia de 1980 ficou mantida no
imaginário cultural por conta da grande migração na cidade na mesma década, isso
ocorreu devido a abertura das estradas a partir de 1970, assim como a busca por
terras nesse mesmo período, e também a descoberta do ouro em 1980, na Serra
Pelada, por conta desse grande fluxo de pessoas que havia no município, no mesmo
período em que ocorreu a enchente.
Outro fator que reforça o motivo do imaginário cultural estar ligado à cheia de
1980, são os recursos que eram mais acessíveis na época, como as máquinas
fotográficas, diferentemente do período em que ocorreu a enchente de 1926, onde o
recurso era mais escasso, e uma pequena parcela da população tinha acesso. E
também a partir de 1976 o nível das águas já podia ser medido, o que contribuiu
ainda mais para ficar para que essa grande enchente ficasse marcada na história da
cidade, pois a mesma atingiu o nível de 17,42 metros.
Atualmente quando se narra a história de Marabá, é inevitável não mencionar
a grande cheia que ocorreu na década de 1980, até mesmo as gerações do século
XXI, tem conhecimento desse ocorrido, por conta de seus pais, ou até mesmo os
avós relatarem sobre esse período. Isso foi observado a partir do questionário
56

aplicado durante o Estágio Supervisionado na Escola Dr. José Cursino de Azevedo,


assim como a regência aplicada que trabalhou essas relações da cidade de Marabá,
com as cheias e as transformações na década de 1980.
Apesar da temática não ser obrigatória no planejamento escolar, fica a critério
do professor trabalhar ou não com a temática, no entanto ressaltamos a importância
que foi trabalhar a história local na sala de aula, assim como uso das fotografias
como estratégia de ensino, para atrair a atenção dos alunos e dinamizar a aula no
contexto de ensino-aprendizagem.
Por fim, essa pesquisa torna-se pertinente no sentido de que é necessário o
desenvolvimento de pesquisas relacionadas ao município de Marabá, cidade que foi
palco e continua sendo, de grandes acontecimentos durante toda a sua história, e
que através da história Local e Regional, é possível contextualizar esses
acontecimentos, para além do que enquanto professores e pesquisadores, e
também nos colocando como ―filhos de Marabá e região‖, possamos contribuir de
maneira significativa com trabalhos desenvolvidos a partir desse viés.
57

REFERÊNCIAS

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Primeira República. Educação e Fronteiras, Dourados, v. 2, n. 4, p. p.156-168, fev.
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https://maraba.pa.gov.br/a-cidade. Acesso em 10/05/2019.
60

APÊNDICES

Plano de Aula

Tema: Enchente de 1980: crescimento urbano e sociedade em Marabá.


Nível de ensino: 1º ano do Ensino Médio
Conteúdo:
 Introdução ao tema;
 Memória local na perspectiva de fotografias;
 História local e crescimento urbano.

Objetivos:

 Refletir sobre o tema a respeito das enchentes em Marabá, enfatizando a


enchente de 1980 e suas consequências;
 Analisar o contexto das narrativas que buscam compreender o crescimento
urbano de maneira rápida;
 Relacionar o crescimento urbano da cidade, com a grande enchente;
 Buscar entender as causas do surgimento da Nova Marabá.

Conhecimentos: prévio e potencial.

De maneira a contribuir para a aula, é de suma importância questionar os


alunos sobre o conhecimento que eles já têm a respeito das enchentes que já
ocorreram na cidade de Marabá, assim como os projetos governamentais
implantados na cidade, e principalmente sobre a enchente de 1980.
Isso pode somar para uma melhor aprendizagem e desenvolvimento do
ensino, posto que os conhecimentos prévios vêm como uma base, para debates
fomentados em bibliografias e fotografias, desenvolvendo assim, o conhecimento
crítico do aluno. "O processo de ensino-aprendizagem deve ser algo prazeroso, que
nos dê vontade de continuar." (Maria C. F. Lopes).

Quantidade de aulas (duração):


Duas aulas de 50 minutos.

Justificativa:
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O município de Marabá está localizado no sudeste do estado do Pará, a 440,1


km da capital Belém, e possui uma área de 15,128,37 km² e uma população de
233,462 habitantes (IBGE Censo, 2010). Sua emancipação política é datada em 05
de abril de 1913, e seu nome é de origem indígena, que significa ―filho do
prisioneiro‖, ―filho do estrangeiro‖, ou ―filho da índia com o branco‖ (Prefeitura de
Marabá, 2010).
Com os períodos chuvosos, grandes enchentes aconteciam na cidade, e uma
das mais famosas é a enchente de 1980, superando a enchente de 1926, o que se
fez necessário a locomoção da população para o bairro Nova Marabá, criado a partir
da necessidade local.
Nota-se o quanto a enchente de 1980 está estreitamente ligada à história de
Marabá, como um marco da memória local, mas vejamos que as enchentes na
cidade já se tornaram algo natural, e que fazia, e faz parte do modo de vida dos
moradores.
As enchentes ocorriam praticamente todos os anos, quando o nível dos rios se
elevavam, atingindo os bairros ribeirinhos, como é o caso dos bairros Cabelo Seco
(Francisco Coelho) e Santa Rosa, e algumas vezes, a parte central da cidade era
atingida. Existia uma crença popular que entre o intervalo de dez anos acontecia
uma grande enchente e pela cronologia dessas ocorrências, o caso parece ser
verídico.
De acordo com a cronologia das enchentes, é notório que as duas maiores
que atingiram a cidade de Marabá, foram as de 1926 e 1980, no entanto a de 1980 é
a que mais permanece viva na memória local, como a pior de todas as enchentes.
Não se sabe se ela tem mais notoriedade por conta de uma régua de medição do
nível do rio, que foi colocado, diferente da enchente de 1926, que não teria uma
forma específica de medição, ou no mais, podemos nos questionar sobre as
temporalidades das duas, a primeira está mais distante na memória, e até mesmo as
formas de registros que não foram tantos. A enchente de 1980 torna-se mais latente
na memória por ser na década de 80, onde a população já tinha um quantitativo
maior, em relação ao número de habitantes no ano de 1926.
Sobre a enchente de 1980, podemos fazer uma relação com a urbanização
de Marabá e o imaginário da enchente na cidade. Fazer uma relação com o rio, com
a natureza e as mudanças sociais e urbanas, assim com a própria história da Escola
José Cursino de Azevedo, que surgiu após a enchente de 80, e no mais, podemos
62

abrir questionamentos sobre quais os impactos que essa enchente causou na vida
social da cidade e quais mudanças aconteceram e as consequências dessas
mudanças, sobre o crescimento urbano com a formação de uma nova cidade (Nova
Marabá), por interferência do Governo Federal, e quais os interesses do Governo da
época.
O relato dessa enchente que tanto causou por ser uma das maiores já vista
antes, é contado de geração a geração para aqueles que não a presenciaram, e
com isso fica na memória essa relação de proximidade com a grande enchente,
mesmo não sendo vivenciada pelas gerações mais jovens, que vivem na cidade.
A referente aula tem como objetivo central, relacionar a enchente de 1980
com o surgimento da Nova Marabá, e os motivos que levaram a isso, na perspectiva
de fotografias.

Descrição ou encaminhamento:

Primeira aula:

Iniciar a aula relembrando com os alunos como estava a cidade de Marabá


em 1980, ou em enchentes posteriores, e se os alunos já tiveram contato com
alguma fotografia dessa época.
Assim, antes de problematizar alguns fatores que levaram a expansão de
Marabá, é importante fazer uma síntese de como a cidade era antes e depois de
1980. Após esse momento, expor um slide com fotografias sobre a história de
Marabá, a partir da década de 80.

Segunda aula

De acordo com a exposição das fotografias, fazer uma narrativa explicando os


acontecimentos das mesmas.
Ao final da aula solicitar aos estudantes que pesquisem e levem fotografias
das enchentes que já ocorreram em Marabá, ou fotografias do que eles entendem
por história de Marabá. As fotografias podem ser impressas ou pelo celular, e se
algum estudante teve alguma experiência ou se tem familiares que já tiveram
experiência com alguma enchente de Marabá.
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Recursos didáticos/fontes
Datashow, Notebook, fotografias.

Avaliação:

Será processual e de acordo com as participações dos estudantes em sala de


aula. Além disso, pedir aos alunos que escolham a foto da enchente que mais lhes
chamaram a atenção, e escrever em uma folha em branco, o porquê da escolha da
imagem, e entregar na próxima aula.

Referência:

SCHIMDT, Maria Auxiliadora. Lendo imagens criticamente: uma alternativa


metodológica para a formação do professor de história. História & Ensino,
Londrina, v. 8, Edição Especial, p. 169-184, out. 2002.

MATTOS, Maria Virginia Bastos de. História de Marabá. Marabá: Grafil, 1996.

MONTEIRO, João Brasil. Marabá: Caminho das Águas. Marabá: edição do autor,
2002.

VICENTINI, Yara. Cidade e História na Amazônia. Curitiba: Editora da


Universidade Federal do Paraná, 2004.

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