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RESULTADOS PRELIMINARES SOBRE A ARQUEOLOGIA DA

REGIAO CENTRAL DO ESTADO DO ESPIRITO SANTO'

CELSO PÉROTA (*)


Museu de Arte e História
Universidade Federal do Espúito santo

AMBIENTE GEOGRÁFICO

A área pesquísada no 5.° ano do Programa· Nacional de Pesqui­


sas Arqueológicas (PRONAPA) no Estado do Espírito Santo, objetivou
o conhecimento arqueológico do vale do 1"10 Doce e da faixa litorânea.
desde Vitória até a foz do mesmo rio (fig. 12).
Não se pode generalizar a geografia da região. pois, a mesma
apresenta certas particularidades em alguns espaços. Temos dentrO
d'ela altitudes que vão de O a 800 m, o que implica na modificação do
ambiente.
N.o litoral a região apresenta extensas formações arenosas, que
lhe dá uma forma retilínea. O Terciário é formado por uma plataforma
constituída de areia, argila e seixos. e é denominada de "formação
Barreiras". O complexo cristalino aparece logo após esta formação, e
onde vamos encontrar as maiores altitudes da região. '
Quanto ao clima, podemos generalizar em apenas dois: o clima
trapical quente e úmido" e o .. mesotérmico", este condicionado ao
li

relevo, onde nas partes mais altas a temperatura é mais fria nos me­
ses de inverno. Temos para a região uma temperatura média anual de
23"C. As precipitações vão a 1100 mm. a. a., sendo que nestes últimos
20 anos foram notadas modificações nos índices pluviométricos, isto.
decorrente da intensa devastação florestal (Ruschi, 1969: 23).
A fitogeografia da região támbém é variada. No litoral a vegeta­
ção é tipica de toda a região leste brasileira, que consíste nas forma­
ções de mangues e a vegetação das praias. dunas e restingas. No ta*

(*) Bolsista do Conselho Nacional de Pesquisas.

- 121­
buleiro sílico-argiloso. que tem uma altitude de 20 a 100 m, encontra­
mos a "floresta latifoliaefa tropical úmida de encosta" quase completa­
mente destruída pela ação humana, mas onde encontramos em alguns

19'

srTtO PRÉ-CERÂMICO
SAMBAQUI
• FASE CR1CARÉ
• FASE TUCUM
+ FASE CAMBURf
T FASE ITAÚNAS
o FASE TANGUI
41"

Fig. 12 - Localização dos sítios e fases arqueológicos identificados na região


central do. Estado de Espfr,íto Santo.

- 128­
pontos a floresta primitiva. De 300 a 800 m de altitude. encontramos
em alguns pontos a "floresta latifollada tropical", com caracteres tro~
picais típicos.
A atuação humana na região modificou profundamente a paisa­
gem primitiva, sendo que as terras são hoje aproveitadas para criação
de gado; em certas regiões, principalmente próximo de vales de rios,
encontramos uma agricultura de café, milho, feijão, mandioca e cacau.

REsUMO DA ARQUEOLOGIA

Foram pesquisad'os 47 sítios arqueológicos. sendo que 44 são


cerâmicos e 3 pré-cerâmicos. Cinco são abrigos-sob-rocha e os de­
mais são de habitação de tipo aberto.
Os sítios cerâmicos foram distribuídos em 5 fases, sendo que
duas pertencem à tradição Tupiguarani. subtradição Pintada, duas à
tradição Aratu e uma à tradição Una.
Somente em duas fases foram estruturadas seqüências seria­
das, baseadas em estratigrafia e coleções de superfície: são as fa­
ses ericaré (tradição Tupiguarani) e Itaúnas (tradição Aratu), ambas já
estudadas e descritas no 4.0 ano de pesquisas do PRONAPA e que
vêm sendo encontradas em diversas partes do Estado.
Os sítios pré-cerâmicos foram estudados isoladamente e não se
estabeleceu fase.
Foram· encontracfos, em partes distintas da região pesquisada
polidores fixos, muitos dos quais não pudemos filiar a qualquer outro
sítio arqueológico (est. 40 b).
Constatamos na faixa litorânea da região pesquisada quase uma
centena de sambaquis, localizados principalmente na baía de Vitória,
nos vales dos rios Jucu, Reis Magos, Piraquê·Açu, Piraquê-Mirim e Ja­
careipe. Estes sambaquis estão sendo cadastrados e neles não foi rea­
lizado qualquer trabalho arqueológico e por isto nada sabemos sobre
seu conteúdo cultural.

SÍTIOS PRÉ-CERÂMICOS

Es • Vi • 6: Potiri 2 - Localizado na margem direita do rio Reis


Magos, numa elevação de 100 m, ocupa uma área d'e30x30 m em for­
ma circular. Foi realizado um corte-estratigráfico de 1 m de largura
até uma profundidade de 1,20 m. A estratigrafia mostrou-se uniforme

- 129­
com uma camada de terra~preta, onde se entremeiam algumas con­
chas, ostras e outros restos de cozinha, masque não chegam a for~
mar camadas distintas.
A matéria-prima utilizada para elaboração dos artefatos líticos
foi o quartzo e o diabásio. A Indústria é de núcleo e de lascas. Na in·
dústriª de nc;ícleosão comuns os batedores e quebra-cocos. Foi cole­
tado um fragmento de machado polido. Na indústria de lascas, temos
raspadores de diversas formas e tamanhos; os lascamentos foram fei­
tos por percussão direta. A grande maioria das lascas foi utilizada
sem qualquer preparação.
Foram encontrados vários ossos de animais com ranhuras de
corte e polimento. Uma ponta-de.-projétil. elaborada em osso de ma­
mífero, foi coletada numa profundidade de 80 em.

Es -VI-10: Campus 2 - Localizado na parte norte da baía de


Vitória, dentro da área hoje ocupada pelo .. campus universitário" da
Universidade Federal do Espírito Santo, ocupa uma área de 150x50 m ,
cerca de 100 m da linha máxima das marés.
Dois cortes-estratigráficos de 2x2 m revelaram um refugo de 45
em de profundidade com indústria lítlca e óssea. A estratigrafia foi
uniforme com uma camada de areia preta. com grande quantidade de
ossos de peixe e animais. Em aiguns pontos do sítio havia uma estra­
tigrafia predominantemente de conchas e ostras, mas sem qualquer
evidências arqueológicas. Além do material coletado nos cortes-estra­
tigráficQs, fizemos uma coleta de superfície por toda a extensão do
sítio, .
O quartzo e o diabásio foram as rQchas utilizadas na elaboração
dos artefatos. A indústria Iítica é a de núcleo e de lascas. A indústria
lítica de núcleo é constituída de machados polidos, batedores, bigor­
nas, quebra-cocos. aguçadores. polidores, peso~ de rede e talhadores.
A técnica de lascamento foi a da percussão direta. Na indústria de
lascas a matéria-prima é exclusivamente o quartzo e o lascamento
também é o da percussão direta, sendo que algumas peças foram re·
tocadas. São representativos os raspadores laterais, com escotadura
e terminais, além de alguns perfuradores.
A indústria óssea é constituída de pontas-de-projétil, feitas de
. ossos de animais e vértebras de peixes preparadas e perfuradas.

Es - Vii -15: Timbuí - Localiza-se na margem esquerda do rio


Timbur. que forma o .rio Reis Magos. Dista cerca de 10 m da margem

...... 130 ~
dQ rio e ocupa uma área de 50x30 m . .As evidências arqueológicas
,estavam na sup.erfície e eram muito escassas.
A matéria-prima utilizada f 'oi ,O quartzo. A indústria é a de nú­
cleo e des lascas. Sã'o POUC'oS os artefatos. Entre eles estão talhado­
res, batedores e uma grande quantidade d'e lascas, sem uma definição
tipológica ou outras evidências.

TR4DIÇÃ.O WPIGQAllANI (SUBTIW>IC~O Pl;:NTADA)

Fase Tucum

DOIS sítios~hàbitações 'localizados na baía de Vitória represen­


tam esta fase. Estão situados sempre próximo de mangues e em ter­
renos. arenosos .. O refugo foi até 45 em de profundidade em um sítio
e,35 em em 'outro. sempre com uma capa de 10 em na superfície c'om­
pletamente estéril. A extensão dos sítios foi de 500x200 m e de
300x300 m.
A cerâmica desta faSe teve éom'o técnica de confecção o aeor­
delamento, o anti plástico foi ,o quartz,O e cerâmica triturada, a COf ge­
ndmente é marrom escura, tanto na superfície como no núcleo. A pin­
. tura que aparece nos cacos esta bem aderida e em bom estado de
conservaçã,O. A dureza chega a 3,5 mas predomina o grau 3 da esca­
Ja de Mohr.
Os tipos que aparecem nesta fase são: Tucum Simples (tempe­
ro grosso), ltapoca Simples (tempero fino). Tucum Vermelh,O. Tucum
'Pintado (vermelho sobre engobo branco e vermelho e preto sobre en­
gob'o branco) (est. 37 a-b), Tucum Corrugado C'omplicado (est. 37 e-I),
Tucum Ungulad,O (est. 37 c-d), Tucum Escovado, Tucum Pinçad,O. Tucum
:Entalhado (est. 37 h) e Tucum Ponteado.
Foram estabelecidas 17 f'ormas de recipientes onde predomi­
nam tigelas e bacias com bordas arredondadas e inclinadas para fora,
peças retangulares e elípticas. As bases são sempre arredondadas ou
cônicas. Alguns fragmentos de urnas funerárias f ,Oram recolhidos.
Dos tipos cerâmicos, o Tucum Simples predomina; entre os de­
corados, o Tucum Pintado é o mais freqüente. A dec'oração plástica es­
tá presente numa pequena prop'orção de cacos, que não chega a 2%
do t,Otal. O tipo mais representativo entre ,os dec'orad'os plasticamente
é o Tucum Entalhado, onde aparece pequenos entalhamentos no lábi'o
das bordas.

131 ­
o máteriãllítico é pouco representativo nesta fase. Foram co­
letados alguns batedores de seixo, machados polidos e uma variedade
de lascas de quartzo.

Fase Cricaré

Durante o 4.° ano de pesquisas do Programa Nacional de Pes­


quisas Arqueológicas. definimos de fase Cricaré da subtradição Pinta;
da (Perota, 1971 : 153) um conjunto de sítios localizados no médio São
Mateus. Neste 5.° ano localizamos numa região um pouco mais ao sul,
nos principais afluentes do rio Doce, dezoito sítios-habitações desta
fase, que vieram dar um complemento aos primeiros estudos (est. 38 a).
As características da cerâmica são as já descritas (lbld.: 154).
A seqüência seriada da fase foi construída tendo como base a
estratigrafia de um único sítio. sendo que os demais são coleções de
superfície. Nela o Cricaré Simples é pouco representativo na parte in­
ferior da seqüência, indo· aumentand'o gradativamente de popularidade
até predominar sobre os demais. O tipo Cotaxé Simples tem pouca
popularidade na parte inferior, aumenta na parte mediana, vindo a de­
clinar e quase desaparecer na parte superior. O Cricaré Pintado tem
boa popularidade na parte inferior da seqüência indo diminuind'o para
o final, mas aparece em todas as coleções. Dentre os decorados plás­
ticamente, os tipos Cricaré Corrugado Complicado e o Cricaré Serrun­
guiado são os mais representativos. Os demais aparecem esporadica­
mente dentro da seqüência.
Pequena quantidade de material Iítico foi coletado. São comuns
aguçadores de diversos tipos de rocha e lascas de quartzo de diversas
formas, muitas sem qualquer sinais de utilização. Em dois sítios foram
encontrados grupos de pedras. geralmente 3, que tinham 2/3 enterra­
dos no solo e o restante aflorando, as quais possivelmente foram uti­
lizadas para suporte de grandes recipientes cerâmicos (est. 38 b). Al­
gumas delas foram escavadas não se notando sinais de fogo nas pro­
ximidades. nem as pedras foram alteradas pela ação do fogo.

TRADIÇÃO ARATU
Fase Jacareipe

Representam esta fase dois sítios-habitações, situados na cha­


pada de Carapina, distando carca de 1 km da linha de costa. A dimen­
são dos mesmos chega a 500x200 m e os refugos vão até 25 em de
profundidade (est. 40 a).

132'­
A cerâmica tem comoantiptástico o quartzo, hematita e cacos
de cerâmica triturados. I:: uma cerâmica bem compactada e o allsamen~
to foi constante, sendo que a· decoração plástica é somente observada
numa pequena faixa sempre perto das bonl'as.
Os tipos cerâmicos classificados foram: Jacareipe Simples (tem­
pero grosso), Piraem Simples (tempero fino), Jacareipe Vermelho, Ja~
careipe Corrugado Simples (est. 39 a-b), Jacareipe Corrugado Ungula­
do (est. 39 c-e), Jacareipe Ponteado (est. 39 h), Jacareipe Roletado (est.
39f-g) e Jacareipe Ungulado (est. 39 i-i). .
Tendo em vista o pequeno número de sítios que formam esta
fase, não. foi montada seqüência seriada. Percentualmente os tipos Ja­
careipe Simples e Piraem Simples se igualam, sendo que na cerâmic.B
coletada nos níveis inferiores mostra uma pequena predominância do
Piraem Simples. O tipo d'ecorado mais freqüente é o Jacareipe Corru­
gado Ungulado. presente. em todas as coleções.
Foram obtidas 10 formas bem definidas todas reconstituídas
gráfjcamente. Os tipos mais comuns são tigelas pequenas, recipientes
globulares e cônicos, todos de pequenas dimensões. As bases são sem­
pre arredondadas ou cônicas.
Alguns núcleos de calcedônia, tod'os lascados, lascas de quartzo
e calcedônia, algumas com siflais de uso é o que representa o mate­
rial lítico da fase.

Fase Itaúnas

Foram levantados 16 sítios da fase Itaúnas. já definida no 4."


ano de pesquisa do PRONAPA (Perota. 1971 : 152). Os sítios estão 10­
~alizados na faixa litorânea; um deles é um abrigo-sob-rocha e os cle­
mais de habitação de tipo aberto. Num dos cortes-estratigráficõs. ore·
fuga foi até 40 em de profundidade, com umà estratigrafia formada de
conchas, ossos de peixe e de animais, misturados com grande quan·
tidade de terra.
A cerâmica tem como técnica de confecção o acordelamento, o
antiplástico é predominantemente o quartzo. aparecendo em pouca
quantidade hematita e grafita e raramente conchas moídas. A oxidação
é incompleta, o tratamento de superfície consta de um alisamento su­
perfiCial, deixando sempre estrias. A espessura dos cacos varia entre
4 a 18 mm.
Quanto aos tipos, repetem-se os já descritos, notando-se neste
grupo de sítios um acréscimo dos tipos decorados.

- 133.­
No estudo das formas, também não fOi alterado o já estabeleci­
do, ficando 13 formas básicàS, reconstituídas graficamente, com as
quais um quadro de ocorrência baseado na seqüência seriada da fase.
Urnas piriformes. peças de bojo arredondado, peças arredondadas cl'e
boca constrita, peças com bordas onduladas, tigelas rasas e fundas
são os principais tipos de vasilhame da fase. Observou-se também â
presença de cachImbos tubulares, bem como discos perfurados (ro­
.dela-de-fuso).
O material ósseo e éonchífero é constituído de um buril bem
elaborado em dente de mamífero. Vértebras de peixes e dentes per­
furados, bem como conchas perfuradas. Em algumas conchas notou-se
resíduos de corantes. Foi recolhido também um fragmento de disco
perfurado feito de bula timpânlca d~e balela.
O material lítico da fase é composto de batedores. machados
polidos em diabásio, é lascas de· quartzo, muitas delas bem elabora­
das, que geralmente serviram como raspadores e facas.

TRADIÇÃO UNA

Fase Tangui

Seis sítios representam esta fase, sendo que, cinco deles são
abrigos-sob-rocha e um deles de habitação de tipo aberto. Nos abrigos
a área ocupada sempre foi muito' pequena e o sítio aberto tem um for­
mato circular com um diâmetro de 250 m. O refugo atinge uma profun­
didade de 90 em, onde a cerâmica aparece somente nos primeiros
40 em. O material cerâmico destes sítios é de pequena quantidade.
Dos seis sftios. pudemos coletar cerca de 300 cacos.
A cerâmica tem como método de manufatura o acordelamento.
notando-se algumas bases modeladas. O antiplástico é o quartzo. he­
matita e mica. A cor preta-marrom escura domina tanto na superfície
como nos núcleos. A oxidação, sempre foi incompleta. O alisamento
com seixo ou feixes de capim deixou estrias muitas vezes profundas.
Somente 4 tipos cerâmicos foram definidos: o Jucu Simples
(tempero grosso), Tangui Simples (tempero fino), Jucu Polido Estriado
e Jucu Vermelho.
Reconstituiu-se graficamente 6 formas de vasilhas, que são ge­
ralmente g[obulares. tigelas fundas e rasas. As bordas são na maio­
ria diretas com lábios arred'ondados.

- 134­
Duas pontas-de-projétil e uma variedade de ossos de mamíferos
com ranhuras de corte intencional, são os componentes da indústria
óssea da fase.
O material lítico é constitufdo de batedores, quebra-cocos e las­
cas de quartzo em grande quantidad'e. Em um dos abrigos foi coletado
um raspador com escotadura confeccionado em calcedônia.

CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

Uma parte da região pesqulsada foi anteriormente percorrida


pelo Dr. Adam E Orssich (1966) que localizou alguns sftios cerâmicos,
dos quais aproveitamos as coleções de dois deles e que constam da
seqüência seriada da fase Cricaré.
Os sítios pré-cerâmicos apesar de terem uma série de fatos co­
muns, como técnica de lascamento, matéria-prima e tipos de artefa­
tos, não permitem maiores correlações. Para o sítio ES-VI-10: Campus
2, foi obtida uma datação de A. D. 515 + 80 (SI-831).
. As fases arqueológicas Tucum e Cricaré. pertencentes à tradi­
ção Tupiguarani, subtradição Pintada, estão diferenciadas principal­
mente pelo tipo de habitat, profundidade dos refugos, freqüência dos
tipos decorados e motivos de desenhos na decoração pintada. Para a
fase Cricaré temos uma datação de A. D. 895 + 80 (SI-828) de uma
amostra de carvão coletada no sul do Estado. próximo do vale do rio
Itapemirim. Da fase Tucum uma amostra de carvão vinda das proximi­
dades de Vitória foi avaliada em A. D. 1390 + 70 (SI-832).
Prolongamos neste 5." ano de pesquisas a área de dispersão da
fase Itaúnas da tradição Aratu, que é encontrada sempre na faixa lito­
rânea desde o sul do Estado da Bahia até Vitória.
Tivemos de reconhecer uma fase separada que denominamos
de Jacareipe, para dois sftios arqueológicos da tradição Aratu, em vis­
ta de alguns aspectos próprios dos mesmos que saem fora do com­
plexo da fase Itaúnas, ou seja a ausência de grandes urnas funerárias
piriformes, ausência do uso da grafita como anti plástico e como ele­
mento de tratamento de superfície e decoração, além da presença mar­
cante dos tipos de decoração plástica bem definidos: o Corrugado Sim­
ples e o Ponteado. Para um dos sítios da fase foi obtida uma datação
de A. D. 1345 + 70 (SI-836).
Na descrição da fase ltaúnas nó PRONAPA 4, citamos que o tipo
Itaúnas Pintado, que apareceu em dois sítios separados na sequencia
seríada, seria um elemento possivelmente estranho na fase (Pe(ota,

- 135­
1971 : 153). Agora com o prolongamento das pesquisas e com uma vi­
são mais clara de sua dispersão geográfica, devido ao acréscimo
acentuado de sítios, podemos afirmar que realmente a decoração pin­
tada é intrusiva na fase. O mesmo fato foi observado no vizinho Esta­
do da Bahia, nos sítios da fase Aratu. onde foi encontrado junto, ce­
râmica da fase Itapicuru, que pertence à trad'ição Tupiguarani, subtra­
dição Pintada (Calderon, 1971 : 172).
Foram obtidas para a fase Itaúnas 2 datações com amostras de
sítios localizados, um no centro do Estado e outro na região norte,
A. O. 1730 ± 75 (SI-834) e A. O. 1780 ± 75 (SI-829.
A fase Tangui da tradição Una apresenta alguns caracteres pró­
prios, diferenciados das fases Mucuri, Ururaí e Ipuca do Estado do
Aio de Janeiro e Guanabara. Os abrigos-50b-rocha foram provavelmen­
te usados como acampamento de caça, pois. o espaço dentro deles
sempre foi reduzido (não chegam a abrigar 10 pessoas) e pela pouca
quantidade de material arqueológico encontrado. No sítio-habitação
predomina os artefatos líticos. A presença d'e artefatos elaborados em
calcedônia ta[vezindique um comércio, visto esta rocha não ser en­
contrada num raio de 50 km.
Deve-se salientar que dentro da região pesquisada foram acha­
dos uma variedade de machados polidos, sem outras evidências ar­
queológicas, onde não arrolamos como sítio nem filiamos a qualquer
deles.

AGRADECIMENTOS

No decurso das pesquisas de campo contamos com a valiosa


cooperação do Dr. Augusto Ruschi, diretor do Museu de Biologia "Prof.
Mello Leitão". da cidade de Santa Tereza o qual nos forneceu dados so­
bre achados arqueológicos observados em sua atividade profissional.
Aos Srs. Ormindo Mellottí e Felício Mellotti, nossos agradeCimentos
pela valiosa cooperação, dando-nos condição de pesquisa em suas fa­
zendas. Fomos ainda auxiliados pelo Sr. Eucy Dias Palmeira, da Polícia
Militar do Espírito Santo. nos trabalhos de campo.

SUMMARY

The area of investigation encompassed the valley of the Rio Do­


ce anà' the shóre between this river and the town of Vitória (fig. 12).
Elevation ranges up to 800 m and the climate is warm and humid. Ve-.

- 136­
getation was formerly forest. but the region has now been almost com­
pletely converted to agriculture and cattle raising. Forty-seven sites
were investigated, 3 nonceramic and 44 ceramic; the latter represent
5 phases and 3 traditíons(Una, Aratu. and Tupiguarani). In addition,
about 100 shell middens were recorded but not tested'.
The nonceramic sites, although possessing some common fea­
tures, were not sufficiently studied to permit judgment of affiliation.
One. on the Rio Reis Magos, consisted of black soil mixed with shell
extendíng over an area 30 m in diameter; depth of refuse was 1.2 m.
Quartz ar diabase core and flake tools included pound'ers, scrapers,
and polished axes. Most flakes were unmodified. Bone was used for
projectile points. Unworked bone cut marks an. use polish. Another
site, on the north side of Vitória Bay, covered an area 150 by 50 m.
Many fish and animal bones, scattered pockets of shell, and black soi!
had accumulated to a deph of 45 em. Artifacts here toa were percus­
sion-chipped from quartz or diabase. Diabase waa employed for poun­
ders, anvil stones, sharpening atones, polishers, net weights chop­
pers, and polished axes; ali flakes were quartz and some were retou­
ched to produce scrapers and perforators. Bone proj€ctile points and
perforated fish vertebrae were also encountered . A charcoal sample
was dated at A. D. 895 +- 80 (81-828). At the third site, on the Rio
Timburi, quartz choppers and an abundance of flakes were scattered
over the surface of a 50 by 50 m area.
Two phases of the Tuplguarani tradition. Painted subtradition.
were recongnized. The Tucum Phase is represented by two large habi­
tation sites with refuse aceumulations of 25-35 em. Pottery was tem­
pered with quartz and crushed sherd. Two plain and 8 decorated types
were distinguished, the latter based on the following techniques: red
slipping, painting (red'-on-white, red and black-on-white), eomplicated
corrugation, fingernail marking, brushing, pinching, nicking, and puncta­
tioo. Rectangular and elliptical as well as circular vessels are typical.
Stone artifacts were infrequent and limited to pebble pounders, po­
lished axes, and quartz flakes.
The Cricaré Phase. previously identified on the basis of 5 sites
on the Rio 8ão Mateus (Perota, 1971~, was amplified by information from
18 sites on tributaries of the Rio Doce. One was sufficiently deep to
permit stratigraphíc excavation and provide a basis for orientation of
the seriated sequence. Groups of 3 or more stones, placed so that
one-third of the length was above ground, were observed at 2 sites.
They may have served as vessel supports; no evidence of fire was de­
tected around them.

- 131­
Two phases of the Aratu tradition were also identified, one new
and one previously described. The Jacareipe Phase has been esta­
blished on evidence from 2 large habitation sites with refuse to a depth
of 25 em. Pottery is tempered with quartz, hematite. and crushed
sherd. Two plain and 6 decorated types were separated, the latter em­
ploying the following techniques: red slipping, simple eorrugation, fin­
gernail-marked eorrugation, punctation, coiling, and fingernail marking.
Stooe artifacts were Iimited to quartz and chaleedony cores and flakes,
some showing use.
The Itaúnas Phase, previously described (Perota, 1971 l, was re­
presented at 16 sites, ooe of them a rock shelter. The same pottery
types oecurred, but decoration was more commOn. Other artifacl:s in­
cluded a mammal-tooth chisel; perforated teeth, fish vertebrae, ana'
shells; a perforated disk of whale tympanic bone; stone pouoders,
polished axes, and quartz flake knives and scrapers.
The Tangui Phase of the Una tradition was defined on 6 sites,
5 of them small roek shelters. The slngle open site was 250 m in dia­
meter and refuse extended to a depth of 90 em. Sherds oecurred only
in the upper 40 .em and were sparse in ali sites. The pottery temper
contained quartz, hematita, and mica. Two plain and 2 decorated types
were recognized, the latter employing striated polishing and red slíp­
pingo Deep and shallow roundad bowls were the typical vessel forms.
Two bone projectile points and numerous mammal bones showing cut
marks were collected'. Stone artifacts consisted of pounders and pitted
anvil stones; quartz flakes were· abundant.
Five carbon-14 dates obtained from phases of the Tupiguarani
and Aratu traditions indicate that the former is earlier in the region. A
sample from a site of the Cricaré Phase dated A.D. 895 80 (SI-828)
and one from the Tucum Phase at A. D. 1390 + 70 (SI-832). The Jaca­
reípe Phase of the Aratu tradition has a single date of A. D. 1345 ± 70
(SI-836), while the Itaúnas Phase is represented by two nearly contem­
poraneous dates of A. D. 1730 70 (SI-834) and A. D. 1780 ± 75
(SI-829).

BIBLIOGRAFIA CITADA

CALDERÓN, VALENTIN
1971 - "Breve noticia sobre a arqueologia de duas regiões do Estado da
Bahia". In: Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas. Resul·
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-138 ­
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1966 - Relatório sobre prospecções e escavações arqueológicas realizadas
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PEROTA, CELso
1971 - "Dados parciais sobre a arqueologia norte.espírito-santense"'. In:
Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas. Resultados preli­
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Biol. Prof. Mello Leitão, Santa Teresa, sér. Proteção à Natureza.
30, 50 p., il.

- 139­
PEROTA · ESTAMPA 37

Cerâmica da fase Tucum. a· h, Pintado. c· d, Ungulado. e· f , Corrugado Com·


plicado. g, Borda perfurada. h, Entalhado.
PEROTA ESTAMPA 38

Sítios da fase Cricaré. a, Vist.a do vale do rio Santa Júlia, com sítios da fase
Cricaré. b, Suporte de pedra de grandes vasilhames.
PEROTA ESTAMPA 39

9
f

Cerâmica da fase Jacareipe . a - b, Corrugado Simples. c - e, Corrugado Ungu·


lado. f - g, Roletado . h, Ponteado. i - j, Ungulaão.
PEROTA ESTAMPA 40

Aspectos da investigação no Espírito Santo. a, Um corte estratigráfico· em


sítio da fase Jacareipe. b, Polidores fixos que ocorrem em dois pontos da
região pesquisada.

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