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NEOLÍTICO ANTIGO
Cronologia:
A tipologia cerâmica e lítica, as estratigrafias observadas na gruta do Caldeirão (Tomar) e em Vale
Pincel I (Sines), e as datações radiocarbónicas disponíveis induzem a dividir o Neolítico Antigo
português em dois horizontes:
• Neolítico Antigo Pleno, Neolítico Cardial ou Neolítico IA
Meados e 2ª metade do V milénio a.C.
Horizonte de cerâmica com decoração impressa.
• Neolítico Antigo Evolucionado
Finais do V milénio e 1ª metade do IV milénio a.C.
Horizonte de cerâmica com decoração impressa-incisa.
Conteúdo:
1. A paisagem vegetal. Primeiros sinais de pressão antrópica.
2. A introdução da economia de produção de alimentos.
3. Habitat. Sua localização e organização.
4. A cultura material e a sua evolução. Cerâmica e indústria lítica.
5. Estratégias de subsistência.
6. A transição para o Neolítico Médio.
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1. A paisagem vegetal. Primeiros sinais de pressão antrópica.
As primeiras alterações sentidas ao nível do meio biofísico, na passagem do Mesolítico
para o Neolítico, relacionam-se, por um lado, com a morfologia costeira, em resultado
da transgressão flandriana (agora de ritmo muito lento e com uma estabilização por
volta de 3.000 anos a.C.) e, por outro lado, com a pressão antrópica que, a partir deste
momento, se irá fazer sentir de modo progressivo e imparável. Com o pastoreio e a
utilização do fogo ao serviço das práticas agrícolas – agricultura de corte e queimada –
originam-se formações vegetais degeneradas, expandindo-se as estevas, as ericáceas e
os carrascos.
No litoral sul, mais precisamente no troço compreendido entre a Comporta e Melides,
os estudos polínicos da autoria de Mateus assinalam, cerca de 4.500 anos a.C.,
profundas mudanças na paisagem vegetal. A floresta retrai-se, dando lugar a formações
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Capítulo II – NEOLÍTICO ANTIGO
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Capítulo II – NEOLÍTICO ANTIGO
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Capítulo II – NEOLÍTICO ANTIGO
Indústria lítica
• Neolítico Antigo Pleno, Neolítico Cardial ou Neolítico IA (Vale Pincel I, Sines)
Meados e 2ª metade do Vº milénio a.C.
Pedra polida
✔ A utensilagem de pedra polida é rara e fruste - enxós e machados, parcialmente
polidos.
✔ As mós, pouco abundantes, são, em geral, de pequenas dimensões.
Pedra lascada
✔ O talhe é acentuadamente lamelar.
✔ O grupo tipológico melhor representado é o das lamelas com retoque parcial,
irregular, oblíquo e pouco profundo.
✔ Ocorrem raspadores, entalhes e denticulados, lamelas de dorso.
✔ O grupo dos geométricos é essencialmente constituído por trapézios e crescentes.
✔ A técnica do microburil foi largamente utilizada.
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Capítulo II – NEOLÍTICO ANTIGO
5. Estratégias de subsistência.
Durante o Neolítico Antigo existiram duas estratégias articuladas, complementares, de
exploração do território, que remontam ao Mesolítico:
Exploração de largo espectro (caça, recoleção, pesca) enriquecida pela introdução da
agricultura e da criação de gado. Esta estratégia era desenvolvida a partir dos habitats
de base, ocupados provavelmente durante todo o ano em função do ciclo agrícola;
Exploração de curto espectro (exploração de reduzida banda do conjunto dos recursos
naturais disponíveis). Esta estratégia está representada por concheiros (níveis
superiores) e pelo provável acampamento de caça na gruta do Caldeirão (Tomar). Trata-
se de sítios ocupados temporariamente (sazonalmente), associados aos habitats de base,
durante os períodos de menor atividade agrícola.
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Capítulo II – NEOLÍTICO ANTIGO
Assim, é possível que a Salema se situe na base da linha evolutiva que, graças a
condições ecológicas favoráveis ao desenvolvimento da economia agro-pastoril, foi
originar, por meados do IVº milénio a.C., as primeiras formas de megalitismo. E de
facto, apenas a cerca de 400 metros da Salema, no Marco Branco, escavámos uma
sepultura que considerámos protomegalítica.
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Alguns autores defendem a ideia de que nos inícios do Neolítico do sul do país terão
coexistido duas correntes culturais distintas:
✔ uma localizada na faixa litoral que obedeceria às características que temos vindo
a expor;
✔ outra no interior, protomegalítica, resultante diretamente da aculturação das
comunidades de caçadores-recoletores mesolíticos.
Tal dualismo é questionado pelo habitat de Pipas (concelho de Reguengos de
Monsaraz): com as características essenciais dos povoados do Neolítico Antigo do
litoral, quer no que concerne ao padrão de ocupação, quer no que respeita ao espólio,
este habitat, situado no interior do Alto Alentejo, numa área megalítica por excelência,
parece também se relacionar com os construtores das mais antigas sepulturas
megalíticas (nesta região são conhecidas algumas sepulturas de câmara fechada como a
anta 1 da Herdade da Falcoeira e a anta 10 da Herdade das Areias).
Pensamos que a génese do nosso megalitismo terá de ser procurada em comunidades já
neolíticas nas quais, pelo desenvolvimento da economia de produção de alimentos, se
assiste ao reforço das relações de parentesco (sem o qual não seria, aliás, viável a
exploração agro-pastoril organizada), no quadro de uma estrutura social segmentária em
formação, processo que se virá a manifestar, entre outros aspetos, através da construção
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