Você está na página 1de 647

— — — —

— — —

— —
Skinwalker
Faith Hunter
Copyright ©2009

O primeiro de uma nova série do autor dos romances de Rogue Mage.

Jane Yellowrock é a última de sua espécie—uma skinwalker de ascendência


Cherokee que pode se transformar em qualquer criatura que desejar, e caça vampiros
para viver. Mas agora ela foi contratada por Katherine Fontaneau, uma das vampiras
mais antigas de Nova Orleans e a senhora do Katie’s Ladies, para caçar um poderoso
vampiro desonesto que está matando outros vampiros.

Em meio a um bordel cheio de verdadeiras “damas da noite” e um motoqueiro Cajun


gostoso com uma tatuagem de pantera que desperta seu desejo carnal, Jane deve
manter o foco e completar sua missão—ou então a próxima pele que ela precisará
salvar talvez seja a dela mesma ...

Os cheroquis ou cherokees (em cherokee: ᎠᏂᏴᏫᏯᎢ Aniyvwiyaʔi, ou ᏣᎳᎩ, Tsalagi) são um grupo étnico iroquês, sendo um dos povos
nativos dos Estados Unidos. São uma nação iroquesa que, até o século XVI, habitava o atual território do leste dos Estados Unidos, até serem
expulsos para o Planalto de Ozark. Nos Estados Unidos, são conhecidos como uma das "cinco tribos civilizadas". Com mais de 310 mil
membros, a nação Cherokee é a maior das 567 tribos reconhecidas pelo governo federal dos Estados Unidos.
Glossário de Termos

A Geórgia é um estado do sudeste dos EUA cujo território abrange praias costeiras, campos
agrícolas e montanhas. A capital Atlanta abriga o Georgia Aquarium e o Martin Luther King Jr. National Historic Site, dedicado à vida e a
lembranças do líder afro-americano. A cidade de Savannah é famosa pela arquitetura dos séculos XVIII e XIX e pelas praças públicas frondosas.
Augusta sedia o torneio de golfe Masters.

A Luisiana é um estado do sudeste dos EUA, no Golfo do México. Sua história como um caldeirão
de culturas francesa, africana, americana e franco-canadense se reflete nas culturas crioula e cajun. A maior cidade, Nova Orleans, é conhecida
pelo Bairro Francês, da era colonial, pelo animado festival Mardi Gras, pela música jazz, pela Catedral de St. Louis, de estilo renascentista, e pelas
exposições do tempo da guerra no gigantesco National WWII Museum.

A Carolina do Sul é um estado no sudeste dos EUA conhecido pelo litoral de praias subtropicais e
pelas pantanosas Sea Islands. Charleston é uma cidade histórica da costa que é definida por casas de tons pastel, plantações do Velho Sul e pelo
Forte Sumter, onde foram disparados os primeiros tiros da Guerra de Secessão. Ao norte, fica Grand Strand, uma faixa de praias de cerca de 60
milhas conhecida por campos de golfe e pela cidade turística de Myrtle Beach.
Tribal é um termo relativo a tribo. Uma tribo é um conjunto de pessoas agrupadas por uma cultura, língua, história e costumes comuns ...
Nas tribos indígenas, as pinturas no corpo normalmente indicam a posição social ocupada por um integrante da tribo.
pela Decatur

Street e entrei mais no French Quarter , o motor ronronando. Minha


espingarda, uma Benelli M4 Super 90 , estava pendurada nas minhas
costas e carregada para vampiros com balas de fléchette de prata
embaladas à mão. Eu carregava uma seleção de cruzes de prata em meu

Decatur Street é uma rua no bairro French Quarter de New Orleans, Louisiana, EUA, que corre
paralela ao rio Mississippi. Decatur era anteriormente conhecida como "Levee Street" ou Rue de la Levée, pois era originalmente a localização
do dique.

French Quarter é o centro histórico da cidade, com vida noturna agitada e construções coloridas
com varandas de ferro. A agradável Bourbon Street tem clubes de jazz, restaurantes de culinária cajun e bares animados que servem coquetéis
fortes. As ruas mais tranquilas levam ao French Market, com opções gourmet e artesanato local, e à Jackson Square, onde artistas de rua se
apresentam em frente à imponente St. Louis Cathedral.

A Benelli M4 Super 90 é uma espingarda semiautomática italiana manufaturada pela Benelli Armi SpA.

Um flechette é um projétil de aço pontiagudo, com uma cauda feita para voo estável. O nome vem do francês
fléchette, "pequena flecha" ou "dardo", e às vezes mantém o acento agudo em Inglês: fléchette.
cinto, escondidas sob minha jaqueta de couro, e estacas, presas em laços
nas minhas coxas vestidas com jeans. Os alforjes da minha motocicleta
estavam cheios com meus parcos pertences de viagem—roupas de um
lado, ferramentas de trabalho do outro. Como uma assassina de
vampiros de aluguel, viajo com pouca bagagem.

Eu precisaria colocar as ferramentas de caça aos vampiros fora de


vista para a minha entrevista. Minha anfitriã poderia ficar ofendida. Não
era uma coisa boa quando a dita anfitriã segurava meu próximo
pagamento nas mãos e possuía um conjunto de presas próprias.

Um cara, um bonito Joe parado em uma porta, virou a cabeça para


seguir meu progresso enquanto eu passava. Ele usava botas de couro,
uma jaqueta e jeans, como eu, embora seu cabelo escuro fosse curto e o
meu caísse até meus quadris quando não estava trançado para fora do
caminho, apertado na minha cabeça, para lutar. Uma motocicleta
Kawasaki estava apoiada em um suporte próximo. Eu não gostei de seu
interesse, mas ele não acionou meus instintos predatórios ou territoriais.

Como os americanos chamam uma pessoa desconhecida, sem nome.

Kawasaki Ninja é uma motocicleta da série Ninja de motos esportivas do fabricante japonês Kawasaki.
Eu manobrei a motocicleta por St. Louis e depois pela Dauphine ,
passando entre os trabalhadores de loja que pareciam nervosos em ir
para casa à noite e alguns foliões saindo para se divertir. Eu localizei o
endereço na luz fraca. Katie's Ladies era o bordel mais antigo em
operação contínua no Quarter, em atividade desde 1845, embora em
vários locais, dependendo do furacão, enchente, o preço do aluguel e a
natureza agradável da lei local e seus policiais. Estacionei, abaixei o
descanso de pé e desenrolei minhas longas pernas do banco.

Eu tinha encontrado duas motocicletas em um ferro-velho em


Charlotte, Carolina do Norte , corpos enferrujados, borracha apodrecida.
Elas estavam em péssimo estado. Mas Jacob, um mecânico de

St. Louis ou Saint Louis (por vezes conhecida na forma aportuguesada São Luís) é uma cidade
independente, localizada no estado americano do Missouri, na fronteira com o estado do Illinois. Localiza-se na confluência do rio Mississippi e
do rio Missouri, sendo uma das principais cidades do Meio-Oeste americano.

E o nome de uma rua em St. Louis, que fica a beira do lago em St. Louis, o correto é Dr. Dauphine.

Charlotte é uma das principais cidades e centro comercial da Carolina do Norte. O centro da
cidade (também designado de Uptown) é moderno e alberga o museu Levine Museum of the New South, que explora a história do pós-Guerra
Civil no Sul, e as apresentações de ciência práticas no museu Discovery Place. A zona de Uptown é também conhecida pelo museu NASCAR Hall
of Fame, que celebra o desporto de corridas automóveis através de exposições interativas e filmes.
restauração de Harley semi-aposentado / padre Harley Zen que vivia
ao longo do rio Catawba , pegou meu dinheiro, consertando uma,
usando a outra como peças, pedindo o que mais ele precisava pela
Internet. Demorou seis meses.

Durante esse tempo eu tinha caçado para ele, mantendo sua esposa
e quatro filhos abastecidos com veado, coelho, peru—tudo o que eu
pudesse pegar, por mais mutilada que eu estava—reabasteci os
suprimentos da cidade com meu dinheiro acumulado e reabilitei meu
corpo danificado. Foi o melhor que pude fazer durante os meses que
levei para sarar. Mesmo alguém com minha cura rápida e metabolismo
variável leva muito tempo para se curar totalmente de uma quase
decapitação.

Agora que eu estava cem por cento, precisava trabalhar. Minha


melhor aposta era matar um vampiro desonesto que estava

Harley Davidson

O rio Catawba é um rio da vertente atlântica dos Estados Unidos. Nasce na Cordilheira
Blue, parte das Montanhas Apalaches, na Carolina do Norte, correndo para sul pelo interior da Carolina do Sul, onde se converte no rio Wateree
e a jusante no rio Santee.
aterrorizando a cidade de Nova Orleans . Ele havia atacado três turistas
e deixado um esquadrão de policiais, drenados e sorridentes, mortos
onde os deixou cair. Boatos diziam que ele não tinha ficado satisfeito
apenas com sangue—tinha comido seus órgãos internos. Tudo o que
sugeria que o ladino era velho, poderoso e mortal—um vampiro maluco.
Os malucos eram sempre os piores.

Na semana passada, Katherine “Katie” Fonteneau, a proprietária e


homônima de Katie's Ladies, havia me enviado um e-mail. De acordo
com meu site, derrubei com sucesso uma família de sangue inteira nas
montanhas perto de Asheville . E eu fiz isso. Nenhuma mentira no site
ou nas reportagens da mídia, pelo menos não mentiras. A verdade é que
quase morri, mas fiz o trabalho, criei uma reputação para mim mesma
e tirei alguns meses para investir meus ganhos legitimamente obtidos.
Ou para curar, mas girar é tudo. Umas férias prolongadas soavam
melhor do que a verdade completa.

Nova Orleans é uma cidade na Louisiana às margens do rio Mississippi, próxima ao Golfo do México.
Apelidada de "Big Easy", ela é conhecida por sua incansável vida noturna, sua vibrante cena de música ao vivo e sua culinária apimentada e única,
que reflete a histórica mistura das cultura francesa, africana e americana. O Mardi Gras incorpora o espírito festivo da cidade em um carnaval no
fim do inverno, que é famoso pelos desfiles animados e pelas festas nas ruas.

Asheville é uma cidade localizada no estado norte-americano de Carolina do Norte, no Condado de Buncombe.
A cidade foi fundada em século XVIII, e incorporada em 27 de janeiro de 1798. Asheville tem mais cervejarias per capita que qualquer outra cidade
nos EUA.
Tirei meu capacete e a presilha que prendia meu cabelo, puxando
minhas tranças para fora da gola da minha jaqueta e deixando-as cair
em volta de mim, as contas estalando. Peguei algumas ferramentas de
trabalho—uma estaca, madeira de freixo e ponta de prata, uma pequena
arma, e uma cruz—e prendia-as nas tranças, reorganizando-os para
pendurar suavemente, sem protuberâncias ou saliências. Eu também
respirei fundo, procurando relaxar, para garantir minha segurança
durante a entrevista que se seguiria. Eu estava nervosa, e ficar nervosa
perto de um vampiro era simplesmente idiota.

O sol estava se pondo, lançando um brilho vermelho no horizonte,


delineando os edifícios antigos, janelas com venezianas e varandas de
ferro forjado e fúcsias . Era bonito de uma forma puramente humana.
Abri meus sentidos e deixei minha Besta provar o mundo. Ela gostava
dos cheiros e queria rondar. Mais tarde, eu prometi a ela. Predadores
geralmente rosnam quando irritados. Logo—ela enviou garras mentais

Fraxinus excelsior é uma espécie de árvores da família das Oleaceae, conhecida pelo nome comum de freixo. É uma árvore
de solos frescos e profundos, de porte médio, que pode atingir cerca de 25 metros de altura. A casca tem sulcos profundos, verticais e é castanha
escura acinzentada. As folhas são verdes.

Fuchsia ou brinco de princesa é um género de plantas com flor pertencente à família Onagraceae, da ordem
Myrtales, que agrupa 107 espécies validamente descritas, maioritariamente arbustos, com distribuição natural nas Américas e na Oceânia.
em minha alma, aranhando. Era desconfortável, mas as picadas de
garras me mantiveram alerta, o que eu precisaria para a entrevista. Eu
nunca conheci um vampiro civilizado, certamente nunca fiz negócios
com um. Até onde eu sabia, vampiros e skinwalkers nunca se
encontraram. Eu estava prestes a mudar isso. Poderia ficar interessante.

Prendi meus óculos de sol no colarinho, as lentes penduradas. Olhei


para as travas de bruxa em meus alforjes e, satisfeita, caminhei até a
estreita porta vermelha e apertei a campainha. O homem careca que
respondeu era definitivamente humano, mas grande o suficiente para ser
outra coisa: lutador profissional, fisiculturista com esteroides ou troll .

Skinwalker, um tribal americano troca-forma. Na maioria das vezes em predadores, embora o Edoda de Jane sugeriu que
ela também poderia se transformar em outros animais algum dia. Na cultura navaja, um skin-walker (em inglês) ou yee naaldlooshii (em navajo)
é um tipo de bruxa maligna que pode transformar-se, possuir ou disfarçar-se de animal. A nomenclatura é utilizada exclusivamente para bruxas
malignas, nunca sendo usada para referir-se a curandeiros.

Os “esteroides anabolizantes” são qualquer droga (ou seja, estrogênios, progestagenos e corticosteroides) ou substância
(s) hormonal (is), quimicamente relacionada(s) à testosterona, hormônio masculino que promove o crescimento muscular. Hoje, existem mais
de 100 variedades de esteroides anabolizantes desenvolvidos, usados em inúmeros casos na medicina.

Trol, por vezes também grafado troll (em norueguês: troll; em sueco: troll; em dinamarquês: trold), é uma
criatura mítica antropomórfica do folclore escandinavo. É descrita tanto como gigante horrendo – como os ogros – ou como pequena criatura –
semelhante aos nisser.
Todas as opções acima, talvez. O pensamento me fez sorrir. Ele
bloqueou a porta, ficando com os braços soltos e prontos.

— Algo engraçado? —Ele perguntou, a voz como um casco de


cavalo raspando na pedra.

— Na verdade não. Diga a Katie que Jane Yellowrock está aqui. —


Ser firme sempre funciona melhor no primeiro contato. Que meus
joelhos estavam tremendo não foi levado em consideração.

— Cartão? —Troll perguntou. Um homem de poucas palavras. Eu


já gostava dele. Meu novo melhor amigo. Com dois dedos enluvados,
abri o zíper da minha jaqueta de couro, peguei um cartão de visita de
um bolso interno e o estendi para ele. Dizia
Matar vampiros é um negócio sangrento. Eu
descobri que um pouco de humor ajudava muito a tornar tudo
suportável.

Troll pegou o cartão e fechou a porta na minha cara. Talvez eu


tenha que ensinar algumas maneiras ao meu novo amigo. Mas isso era
quase axiomático para todos os homens que conhecia.

Na lógica tradicional, um axioma ou postulado é uma sentença ou proposição que não é provada ou demonstrada e é considerada como
óbvia ou como um consenso inicial necessário para a construção ou aceitação de uma teoria. Por essa razão, é aceito como verdade e serve como
ponto inicial para dedução de outras verdades.
Ouvi uma motocicleta a dois quarteirões de distância. Não era uma
Harley. Talvez uma Kawasaki, como o foguete vermelho brilhante que
eu tinha visto antes. Não fiquei surpresa quando apareceu e era o Joe da
Decatur Street. Ele parou sua moto ao lado da minha, desligou e ficou
sentado lá, os olhos escondidos atrás de óculos escuros. Ele estava com
um palito de dente na boca que estremeceu uma vez quando ele tirou o
capacete e os óculos.

O Joe era bonito. Um pouco mais alto do que os meus 1,80, ele
tinha pele morena, cabelo preto, sobrancelhas escuras. Jaqueta e jeans
pretos. Botas pretas. Um pouco exagerado com todo o preto, mas ele fez
funcionar, com pernas musculosas em volta da moto vermelha.

Sem prata à vista. Sem espingarda, mas uma protuberância suspeita


sob o braço direito. Imaginei que ele era um canhoto. Algo brilhou na
parte de trás de seu colarinho. O punho de uma faca, preso em uma
bainha nas costas. Talvez mais de uma lâmina. Havia arranhões em suas
botas (Faroestes , como as minhas, não Harley stompers ), mas as dele

Botas estilo Western em inglês, é faroeste

Botas Harley Stompers de Motociclista


eram Fryes e as minhas eram Luccheses de pele de avestruz. Eu aspirei
os aromas, minhas narinas se alargando. Suas botas cheiravam a esterco
de cavalo, fresco. Garoto local, então, ou alguém que já estava na cidade
há tempo suficiente para encontrar uma montaria. Senti o cheiro de suor
e feno de cavalo, uma mistura limpa de aromas. E charuto. Foi o
charuto que me fez gostar dele. A combinação de aço, óleo de arma e
prata me fez apaixonar. Bem, meio que gostei. Minha Besta o achava
meio fofo e talvez forte o suficiente para ser digno de nós. No entanto,
havia um leve cheiro no homem, escondido sob os odores da superfície,
que me deixou cautelosa.

O silêncio durou mais do que o esperado. Já que foi ele quem parou,
eu apenas fiquei olhando, e claramente nosso silêncio incomodava o
Joe, mas não me incomodava. Eu deixei um meio sorriso enrolar meu
lábio. Ele sorriu de volta e desceu da motocicleta. Atrás de mim, dentro
do Katie’s, ouvi passos. Eu manobrei de forma que o Joe e a porta
estivessem ambos visíveis. De jeito nenhum eu poderia fazer isso e ser

A Frye Company é uma fabricante de sapatos, botas e acessórios de couro. Fundada em 1863, afirma ser a mais antiga
empresa americana de calçados operada continuamente.

A Lucchese Boot Company ( /lu‫יי‬keɪsi/ ) é uma varejista americana de botas de cowboy.


discreta, mas levantei um ombro para mostrar que não tinha
ressentimentos. Apenas jogando com inteligência. Mesmo para um
garoto bonito.

Troll abriu a porta e inclinou a cabeça para o lado. Eu aceitei isso


como o convite que era e entrei. — Você tem um gosto interessante para
amigos, —Troll disse, quando a porta se fechou para o Joe.

— Nunca o conheci. Onde você quer as armas? —É sempre melhor


oferecer do que tê-las removidas. Jogos de poder funcionam de todas as
maneiras.

Troll abriu um armário. Desabotoei o coldre da espingarda e


coloquei dentro, puxando cruzes de prata do meu cinto e coxas e de
debaixo do casaco até que houvesse uma bela pilha. Treze cruzes—
excessivo, mas distraíam as pessoas de minhas armas reserva. Em
seguida, vieram as estacas de madeira e as estacas de prata. Treze de
cada. E o frasco de prata com água benta. Um frasco. Se eu carregasse
treze, eu iria espirrar.

Pendurei a jaqueta de couro no cabide do armário e enfiei os óculos


no bolso interno com o telefone celular. Fechei a porta do armário e
assumi a posição para que o Troll pudesse me revistar. Ele grunhiu como
se estivesse surpreso, mas satisfeito, e fez um trabalho completo. Para
lhe dar crédito, ele não parecia gostar muito—usava apenas as costas
das mãos, sem dedos, não se demorava ou acariciava onde não deveria.
A respiração não acelerou, a frequência cardíaca permaneceu regular,
coisas que posso sentir se estiver quieta o suficiente. Depois de uma
inspeção completa no topo das minhas botas, ele disse: — Por aqui.

segui por um corredor estreito que fazia duas curvas tortas em

direção aos fundos da casa. Caminhamos sobre velhos tapetes persas,


passando por óleos e aquarelas feitos por artistas famosos e não tão
famosos. O corredor era iluminado por arandelas de vitral Lalique , que
pareciam reais, não como reproduções, mas talvez você possa fingir que
é velho, eu não sabia. As paredes foram pintadas com uma suave cor de
manteiga que combinava com as arandelas para iluminar as pinturas.

Lalique é um fabricante de vidro francês, fundado pelo renomado fabricante de vidro e joalheiro René Lalique
em 1888. Lalique é mais conhecido por produzir arte em vidro, incluindo frascos de perfume, vasos e ornamentos de capuz durante o início do
século XX.
Um lugar elegante para um bordel. A aluna do lar das crianças cristãs
em mim ficou chocada e intrigada.

Quando Troll parou do lado de fora da porta vermelha no final do


corredor, tropecei, prendendo meu pé em um tapete. Ele me pegou com
uma mão e eu o empurrei com pouco contato corporal. Consegui
parecer envergonhada, ele balançou sua cabeça. Ele se virou. Eu me
preparei e espalmei a cruz que ele havia perdido. E a pequena derringer
de dois tiros. Ambas escondidas no topo da minha cabeça, e cobertas
pelas minhas tranças, que os homens nunca, nunca revistavam, ao
contrário das minhas botas, nas quais os homens sempre tinham que
enfiar os dedos. Ele abriu a porta e se afastou. Eu entrei.

O quarto era espartano, mas caro, e cada peça de mobília parecia


espanhola. Espanhol antigo. Como a velha Rainha Isabel e Cristóvão
Colombo . A mulher, usando um vestido azul-petróleo e chinelos
macios, em pé ao lado da mesa, poderia ter vinte até que você olhasse

O termo "derringer" chegou a se referir a qualquer arma de pequeno porte que não seja nem um revólver nem uma pistola
semi/totalmenteautomática. Não deve ser confundido com mini-revólveres ou pistolas de bolso, embora algunsderringers posteriores foram
fabricados com a configuração pepperbox. O derringer moderno é muitas vezes multi-cano, e é geralmente a menor arma utilizável de qualquer
calibre e comprimento de barril devido à falta de uma ação móvel, que ocupa mais espaço atrás do barril. É frequentemente usado por mulheres
porque é facilmente corretivo em uma bolsa ou uma meia.

Isabel de Portugal foi filha de Fernando II de Aragão e de Isabel I de Castela, princesa consorte de Portugal pelo casamento
com o príncipe D. Afonso e rainha consorte do mesmo reino pelo casamento com Manuel I de Portugal.

Cristóvão de Colombo foi um navegador e explorador italiano, responsável por liderar a frota que alcançou o continente
americano em 12 de Outubro de 1492, sob as ordens dos Reis Católicos de Espanha, no chamado descobrimento da América.
nos olhos dela. Então ela poderia ter se passado pela irmã mais velha da
dita rainha. Velhos, velhos, velhos olhos. Tranquila enquanto ela se
aproximava de mim. Até que ela pegou meu cheiro.

Em um único instante, seus olhos ficaram vermelhos, as pupilas


ficaram sombrias e escuras e suas presas caíram. Ela saltou. Esquivei-
me do salto enquanto puxava a cruz e a arma, movendo-me
rapidamente para a parede oposta, enquanto estendia as armas. A cruz
era para a vampira, a arma para o Troll. Ela sibilou para mim, as presas
totalmente estendidas. Suas garras eram brancas como ossos e cinco
centímetros de comprimento. Troll puxou uma arma. Uma grande
arma. Homens e suas disputas irritantes. Porcaria. Por que eles não
podiam simplesmente me deixar ser a única com uma arma?

— Predadora, —ela assobiou. — No meu território. —Feromônios


da raiva vampírica encheram o ar, amargos como o absinto.

— Eu não sou humana, —eu disse, minha voz firme. — Isso é o que
você cheira. —Eu não podia fazer nada sobre a aceleração da frequência
cardíaca, que eu sabia que a levaria ainda mais além. Eu sou um animal.
Fatores biológicos sempre entram em ação. Tanta coisa para tentar não
ficar nervosa. A cruz em minha mão brilhou com uma luz branca e fria,
e Katie, se esse era seu nome original, abaixou a cabeça, protegendo os
olhos. Não atacando, o que significava que ela estava pensando. Bom.
— Katie? —Troll perguntou.

— Eu não sou humana, —eu repeti. — Eu realmente odeio atirar


em seu Troll aqui, espalhar sangue em todos os seus tapetes, mas irei.

— Troll? —Perguntou Katie. Seu corpo congelou com aquela


quietude desumana que os vampiros possuem quando pensam,
descansam ou o que quer que eles façam quando não estão caçando,
comendo ou matando. Seus ombros caíram e suas presas estalaram de
volta no céu da boca com um súbito surto de humor. Vampiros não
podem rir e se tornar vampiros ao mesmo tempo. Eles são duas partes
distintas deles, uma parte ainda humana, a outra caçadora raivosa. Bem,
isso é provavelmente um insulto, mas este foi o primeiro vampiro
civilizado que eu já conheci. Todos os outros com quem tive contato
pessoal eram assassinos doentios e malucos. E depois mortos.
Realmente mortos.

Os olhos de Troll se estreitaram atrás da .45 apontada em minha


direção. Achei que ele não gostava de ser comparado ao vilão de um
conto de fadas infantil. Eu era melhor lutando, mas a negociação parecia

O .45 ACP (Automatic Colt Pistol) ou .45 Auto (11,43×23mm) é um calibre de arma de mão projetado por John Browning
em 1905, para uso em seu protótipo de pistola semiautomática da Colt. Após testes militares bem-sucedidos, foi adotado como padrão para a
câmara da pistola M1911 da Colt, sendo nomeado .45 ACP. A designação do calibre .45, por si só, é uma referência as unidades de medições
padrões das polegadas dentro dos sistemas tradicionais imperiais (britânicos) e norte-americanos: quarenta e cinco centésimos (.45) polegadas
da largura do cano, ou métrico 11 milímetros (11.5mm): veja também, Calibre 11 mm.
sábia. — Diga a ele para recuar. Deixe-me falar. —Eu cutuquei um
pouco. — Ou eu vou te derrubar e ele nunca vai dar um tiro. —A menos
que ele tenha percebido que eu havia colocado a trava de segurança em
sua arma quando tropecei. Então eu teria que atirar nele. Eu não estava
apostando em meu .22 pará-lo a menos que eu acertasse um tiro no
olho. Golpes no peito nem mesmo o retardariam. Na verdade, eles
provavelmente apenas o deixariam louco.

Quando nenhum dos dois atacou, eu disse: — Não estou aqui para
te estacar. Sou Jane Yellowrock, estou aqui para uma entrevista de
trabalho, para matar um vampiro desonesto que seu próprio conselho
declarou um fora da lei. Mas eu não cheiro humano, então tomo
precauções. Uma cruz, uma estaca, uma derringer de dois tiros. —A
palavra “estacar” não lhe escapou. Ou a ele. Ele havia perdido três
armas. Sem bônus de Natal para Troll.

— O que você é? —Ela perguntou.

— Você me diz onde dorme durante o dia e eu direi o que eu sou.


Caso contrário, podemos concordar em fazer negócios. Ou posso ir
embora.

O Calibre .22 ou 5,5mm, é dos menores cartuchos já fabricados e uma das munições mais comuns para armas de fogo. Ganhou
popularidade nas disciplinas esportivas de arma de ar comprimido (nessa área, perde apenas paro o onipresente Calibre 4,5 mm) e também de
HFT.
Dizer a localização de um covil—onde um vampiro dorme—é uma
informação para amantes, amigos queridos ou família. Katie riu. Foi
uma das risadas sedosas que sua espécie pode dar, baixa e erótica, como
sexo vocal. Minha Besta ronronou. Ela gostou do som.

— Você está se oferecendo para ser meu brinquedo por um tempo,


intrigante mulher não-humana? —Quando eu não respondi, ela deslizou
para mais perto, apesar da cruz brilhante, e disse: — Você é interessante.
Alta, esguia, jovem. —Ela se inclinou e respirou meu perfume. — Ou
não tão jovem. O que você é? —Ela pressionou, sua voz carregada de
fascinação. Seus olhos tinham voltado à sua cor natural, uma espécie de
avelã acinzentada, mas o rubor de sangue ainda marcava suas
bochechas, então eu sabia que ela ainda estava preparada para a
violência. Essa violência seria a minha morte.

— Segredo, —ela murmurou, sua voz assumindo aquele tom que


eles usam para cativar, uma vibração profunda que parece acariciar cada
glândula. — Um aroma atraente. Provavelmente saboroso. Talvez seu
sangue valha a pena a troca. Você viria para a minha cama se eu
oferecesse?

— Não, —eu disse. Sem inflexão em minha voz. Sem interesse, sem
repulsa, sem irritação, nada. Nada para irritar o vampiro ou seu servo.
— Pena. Abaixe a arma, Tom. Pegue algo para beber a nossa
convidada.

Não esperei que Tommy Troll baixasse a arma, eu abaixei a minha.


Besta não estava feliz, mas ela entendeu. Eu era a intrusa no território
de Katie. Embora eu não pudesse mostrar submissão, eu poderia
mostrar boas maneiras. Tom baixou a arma e a atitude ao mesmo tempo
e guardou a arma no coldre enquanto entrava na sala em direção a um
bar bem abastecido.

— Tom? —Eu disse. — Desfaça a trava de segurança. —Ele parou


no meio do caminho. — Eu armei quando caí contra você no corredor.

— Não poderia acontecer, —disse ele.

— Sou rápida. É por isso que seu empregador me convidou para


uma entrevista de trabalho.

Ele inspecionou seu .45 e assentiu para sua chefe. Por que alguém
iria querer sair por aí com uma .45 no coldre e com a trava de segurança
acionada está além da minha compreensão. Isso cheira a estupidez ou
desespero silencioso, e Katie viveu muito tempo para ser estúpida. Eu
estava supondo que o ladino a tinha deixado realmente apreensiva.
Enfiei a cruz dentro de um pequeno bolso forrado de papel alumínio no
cinto de couro que segurava minha Levi's e coloquei a pequena arma ao
lado dela, prendendo-a. Havia uma trava de segurança, mas em uma
arma tão pequena, era fácil arrancar a trava de segurança com um toque
acidental no meu braço.

— É onde você escondeu as armas? —Perguntou Katie. Quando eu


apenas olhei para ela, ela deu de ombros como se minha resposta não
fosse importante e disse: — Impressionante. Você é impressionante.

Katie era uma daquelas loiras escuras com cabelos longos e lisos tão
grossos que sussurravam quando ela se movia, caindo sobre a seda azul-
petróleo que se ajustava a ela como uma segunda pele. Ela tinha pouco
mais de um metro e meio, mas altura não era medida de poder em sua
espécie. Ela poderia se mover mais rápido que eu e matar em um piscar
de olhos. Ela tinha unhas polidas que ficavam curtas quando ela não
estava em modo de matar, pele pálida, e usava uma maquiagem exótica
de estilo egípcio ao redor dos olhos. Delineador preto sobreposto com
algum tipo de glitter. Não o tipo de aparência que eu já tive a coragem
de experimentar. Prefiro enfrentar um urso do que tentar “realçar o
olhar”.

— O que vai ser, Sra. Yellowrock? —Perguntou Tom.

Maquiagem exótica de estilo egípcio ao redor dos olhos


— Coca-cola está bem. Não diet.

Ele abriu a tampa de uma Coca-Cola e derramou sobre o gelo que


estalou e se partiu quando o líquido atingiu, colocou uma rodela de
limão na borda e me entregou. Sua empregadora ganhou um copo alto
e canelado com algo leitoso que cheirava forte e álcoolico. Bem, pelo
menos não era sangue no gelo. Ick .

— Obrigada por ter vindo tão longe, —disse Katie, pegando uma
das duas cadeiras e indicando a outra para mim. Ambas as cadeiras
estavam colocadas com as costas viradas para a porta, o que eu não
gostei, mas sentei, enquanto ela continuava. — Nunca fizemos as
introduções adequadas, e a In-ter-net, —disse ela, separando as sílabas
como se o termo fosse estranho, — não substitui as apresentações
formais e adequadas. Eu sou Katherine Fonteneau. —Ela ofereceu as
pontas dos dedos e eu os peguei por um momento antes de soltá-los.

— Jane Yellowrock, —eu disse, sentindo como se tudo fosse um


pouco redundante. Ela bebeu. Eu bebi. Achei que era etiqueta suficiente.
— Consegui o emprego? —Eu perguntei.

Katie dispensou minha impertinência. — Gosto de conhecer as


pessoas com quem faço negócios. Fale-me sobre você.

Quer dizer nojento. Ele é usado para expressar um sentimento de choque ou desagrado que o faz sentir-se mal.
Droga. O sol estava baixo. Eu precisava andar pela cidade, sentindo
o cheiro e a sensação do lugar. Eu tinha coisas para fazer, um
apartamento para alugar, pedras para encontrar, carne para comprar. —
Você já foi ao meu site, sem dúvida leu minha biografia. Está tudo lá em
preto e branco. —Bem, em gráficos coloridos, mas ainda assim.

As sobrancelhas de Katie ergueram-se educadamente. — Sua


biografia é enfadonha e pouco informativa. Por exemplo, não há
menção de que você apareceu na floresta aos doze anos, uma criança
selvagem criada por lobos, sem nem mesmo os rudimentos de
comportamento humano. Que você foi colocada em um orfanato, onde
passou os próximos seis anos. E que você novamente desapareceu até
que reapareceu há dois anos e começou a matar minha espécie.

Meus pêlos começaram a subir, mas eu os forcei para baixo. Eu


tinha sido atormentada por uma sala cheia de meninas adolescentes
antes mesmo de aprender a falar inglês. Depois disso, nada foi muito
doloroso. Eu sorri e joguei uma perna por cima do braço da cadeira. O
que deixou Katie, do ataque elegante, surpresa. — Eu não fui criada por
lobos. Pelo menos eu acho que não. Não sinto vontade de uivar para a
lua, de qualquer maneira. Não tenho lembranças dos meus primeiros
doze anos de vida, então não posso te responder sobre eles, mas acho
que provavelmente sou Cherokee. —Toquei meu cabelo preto, então
meu rosto com sua pele marrom dourada e nariz afiado de índio
americano como explicação. — Depois disso, fui criada em um lar
infantil cristão nas montanhas da Carolina do Sul. Saí quando tinha
dezoito anos, viajei um pouco e fiz um aprendizado em uma empresa
de segurança por dois anos. Então eu pendurei minha telha e,
eventualmente, mergulhei no negócio de caça a vampiros.

— E quanto a você? Vai compartilhar todos os seus segredos


profundos e obscuros, Katie do Katie’s Ladies? Que é conhecida
mundialmente como Katherine Fonteneau, também conhecida como
Katherine Louisa Dupre, Katherine Pearl Duplantis e Katherine
Vuillemont, entre outras que descobri. Que renovou sua licença de
bebidas em fevereiro, é uma republicana registrada, vota religiosamente,
perdoe o termo, participa do conselho vampírico local, tem várias contas
offshore em vários nomes, meia participação em dois hotéis locais, pelo
menos três restaurantes e vários bares, e tem dinheiro suficiente para
comprar e vender esta cidade inteira se ela quiser.

— Nós duas fizemos nossa pesquisa, eu vejo.

Quer dizer abrir um negocio próprio


Offshore é o nome comum dado às empresas e contas bancárias abertas em territórios onde há menor tributação (em comparação ao país
de origem dos seus proprietários, e geralmente referidos como paraíso fiscal) para fins lícitos (mas, por vezes, ilícitos, quando estas ocultam a
origem do dinheiro seja por crime ou corrupção). Essas empresas offshore (em inglês: offshore company) também são chamadas de sociedade
extraterritorial ou empresa extraterritorial.
Tive a sensação de que Katie me achava divertida. Deve ser difícil
viver alguns séculos e se encontrar em um mundo moderno onde todos
sabem o que você é e estão apaixonados por você ou morrendo de medo
de você. Eu não era nenhum dos dois, o que ela gostava, se o pequeno
sorriso fosse uma indicação. — Então. Eu tenho o emprego? —
Perguntei novamente.

Katie me considerou por um momento, como se pesasse minhas


respostas e atitude. — Sim, —ela disse. — Arrumei uma pequena casa
para você, de acordo com os requisitos do seu site na In-ter-net.

Minhas sobrancelhas subiram apesar de tudo. Ela devia ter certeza


de que ia me contratar, então.

— É uma cópia de segurança desta propriedade. —Ela acenou


vagamente no fundo da sala. — O pequeno jardim em forma de L na
lateral e nos fundos é murado com tijolos, e eu mandei entregar as
pedras de que você precisa há dois dias.

OK. Agora fiquei impressionada. Meu site diz que preciso da


proximidade com pedras ou um jardim de pedras e que não aceitarei um
emprego se tal lugar não puder ser encontrado. E a mulher—a
vampira—se certificou de que nada me impediria de aceitar o trabalho.
Eu me perguntei o que ela teria feito se eu tivesse dito não.
A sua indicação, Tr-Tom assumiu a narrativa. — O jardineiro teve
um ataque de nervos, mas descobriu uma maneira de colocar pedras no
jardim com um guindaste e depois as combinou com seu paisagismo.
Resmungou sobre isso, mas fez.

— Você poderia me dizer por que você precisa de pilhas de pedra?


—Perguntou Katie.

— Meditação. —Quando ela ficou sem expressão, eu disse: — Uso


pedra para meditação. Ajuda a me preparar para uma caçada. —Eu
sabia que ela não tinha ideia do que eu estava falando. Parecia muito
ridículo até para mim, e eu tinha inventado a mentira. Eu teria que
trabalhar mais nisso.

Katie se levantou e eu também, deixando de lado minha Coca.


Katie havia drenado sua bebida fedorenta. Em seu hálito, cheirava
vagamente a alcaçuz. — Tom lhe dará o contrato e um pacote de
informações, as evidências compiladas sobre o desonesto pela polícia e
por nossos próprios investigadores. Esta noite você pode descansar ou
se entregar a quaisquer atividades que a atraiam. Amanhã, uma vez que
você entregar o contrato assinado, você está convidada a se juntar às
minhas meninas para jantar antes do início dos negócios. Elas
participarão de uma festa privada e o jantar será servido às sete da noite.
Não estarei presente para que falem livremente. Por meio delas, você
pode descobrir algo importante. —Era uma maneira estranha de dizer
sete da noite, e um pedido ainda mais estranho para eu interrogar seus
funcionários imediatamente, mas não reagi. Talvez uma delas soubesse
algo sobre o ladino . E talvez Katie soubesse disso. — Depois do jantar,
você pode iniciar suas perguntas. A oferta do conselho de um bônus
permanece. Um extra de vinte por cento se você despachar o desonesto
dentro de dez dias, sem que a mídia tome nota de nós. —A última
palavra teve uma inflexão que me permitiu saber que o “nós” não era
Katie e eu. Ela se referia aos vampiros. — A atenção da mídia humana
tem sido ... difícil. E a alimentação do ladino prejudicou as relações no
conselho vampírico. Isso é importante, —disse ela.

Eu assenti. Certo. Tanto faz. Eu quero ser paga, então pretendo agradar.
Mas eu não disse isso.

Katie estendeu uma pasta para mim e eu a coloquei debaixo do


braço. — As fotos policiais das cenas de crime que você solicitou. Três
amostras de pano ensanguentado do pescoço das vítimas mais recentes,
cuidadosamente enxugadas para juntar saliva, —disse ela.

Saliva de vampiro, pensei. Cheia com o cheiro do vampiro. Bom para


rastreamento.

Rogue em inglês, quer dizer: desonesto, ladino, patife.


— Num cartão está o meu contacto no NOPD . Ela está esperando
uma ligação sua. Avise Tom se precisar de mais alguma coisa. —Katie
fixou os olhos frios em mim em uma rejeição óbvia. Ela já havia voltado
sua mente para outras coisas. Como o jantar? Sim. Suas bochechas
empalideceram novamente e de repente ela parecia exausta de fome.
Seus olhos deslizaram para o meu pescoço. Hora de partir.

as armas? —Troll perguntou, sua

voz em tom de conversa.

Sorri enquanto vestia minha jaqueta, sem ignorar o cano da .45


pressionado em meu pescoço, mas também sem reagir a ele. — Você é

O Departamento de Polícia de Nova Orleans (NOPD) tem a responsabilidade primária pela aplicação da lei em Nova Orleans,
Louisiana. A jurisdição do departamento abrange toda a Paróquia de Orleans, enquanto a cidade está dividida em oito distritos policiais.
humano. Tem certeza que quer arriscar ficar tão perto de mim? — Eu o
senti hesitar e girar. Coloquei minha cabeça para o lado da arma. Bati
com o braço direito no cano com o punho direito levantado. Torcendo
minha mão, peguei seu pulso e levantei. E bati contra seu ombro
esquerdo com minha mão esquerda, forçando-o a cair no chão.
Demorou talvez meio segundo. No fundo dos meus ossos, senti minha
Besta salivar. Isso foi divertido.

— Nada mal, —ele disse, sua inflexão ainda composta. Eu sabia


que tinha sido fisgada. Ele sabia que gostaria de saber se ele poderia ter
me levado. — Que disciplina?

Ele estava perguntando que tipo de artes marciais eu estudei. Eu


pensei um minuto. — Sujo, —eu disse. Ele deu uma risada. Pressionei
um pouco a junta de seu ombro. — Abaixe a arma.

Ele colocou a .45, uma Smith & Wesson bem guardada, no chão e
a empurrou. Ele ainda poderia alcançá-la, mas não antes que eu o
machucasse muito. Tirei meu peso de seu ombro e soltei seu pulso,
dando um passo para trás e firmando meus pés, equilibrada para seu
próximo movimento. Mas ele não fez um. Ele se levantou e colocou os

A Smith & Wesson, é a maior fabricante de armas de fogo dos Estados Unidos, com sede em Springfield. Fundada
em 1852 por Horace Smith e Daniel B. Wesson, a empresa produz revólvers, pistolas, munição e também facas de combate.
polegares na cintura, um sinal mais seguro de paz do que as palmas das
mãos para fora. Polegar assim significava que ele não poderia atacar
rápido, enquanto o gesto universal de paz era uma maneira fácil de
desarmar mentalmente um oponente e então matá-lo quando ele
baixasse a guarda.

— Tem um faixa preta de hapkido , segundo dan , treinando depois


do expediente nos fundos de uma joalheria em St. Louis. Vou fazer uma
introdução, se quiser.

— Isso seria bom. —Eu esperei, relaxando um pouco. Apenas o


suficiente para ele ver, mas não o suficiente para levar um soco.

— Posso fazer mais alguma coisa por você? —Ele perguntou


amigavelmente.

O Hapkido é uma arte marcial coreana especializada em defesa pessoal, sua base também é muito usada
nos exércitos pelo mundo todo, o aprendizado de técnicas de ataques e defesas de socos, chutes, rolamentos, projeções, escapes, esquivas,
torções, alavancas, imobilizações em pé ou no solo, técnicas de alongamento e respiração, além de englobar técnicas com armas de diversos
tipos como bastões, espadas, bengalas, facas, leques. Essa arte marcial também ensina seus praticantes a auto-defesa com praticamente
qualquer objeto, por ser uma Arte capaz de se adaptar a qualquer adversário.
Grau de aperfeiçoamento
- Faixa Preta 1º Dan (Professor)
Faixa Preta 2º Dan
Faixa Preta 3º Dan
- Faixa Preta 4º Dan (Mestre)
Faixa Preta 5º Dan
Faixa Preta 6º Dan
Faixa Preta 7º Dan
Faixa Preta 8º Dan
Faixa Preta 9º Dan
- Faixa Preta 10º Dan (Grão Mestre)
— Certo. Onde uma garota pode comprar um bom bife para
grelhar? —O que significa onde posso obter boa carne crua, mas
formulada de uma forma socialmente aceitável.

— O lugar onde estoquei sua geladeira é o melhor. Quinze quilos


de lombo.

Desta vez, controlei minha reação. Meu amor por proteína animal
não estava em meu site. Em lugar nenhum.

— Deixei direções de um açougueiro e um mercado de produtos


frescos no balcão da sua cozinha. O açougueiro entrega, —disse ele, —
frutos do mar, carne, qualquer tipo de pássaro, crocodilo ... —minha
Besta se animou com isso, — mudbug, vegetais, o que você quiser.

— Mudbug ? —Eu deixei um pequeno sorriso cruzar meu rosto,


certa de que estava sendo fisgada novamente.

— Lagostins . Melhor cozido no vapor com cerveja, na minha


opinião. Também deixei orientações para restaurantes.

Os lagostims são crustáceos de água doce que se assemelham a pequenas lagostas (às quais estão relacionados). Em algumas
partes dos Estados Unidos, eles também são conhecidos como lagostim, craydids, crawdaddies, crawdads, lagostas de água doce, lagostas de
montanha, mudbugs ou yabbies.

Astacidea é uma infra-ordem famosa por conter dentre sua imensa diversidade as lagostas e lagostins, alguns dos
decápodes mais conhecidos e grandes exemplos desse grupo.
— Muito apreciado.

Ele suspirou e deixou cair seu peso sobre um quadril. Eu sufoquei


meu sorriso. — Você não vai me dizer onde escondeu as armas, vai? —
Ele perguntou.

— Não. Mas prometo não quebrar seu joelho se você reposicionar


seu peso de volta em ambos os pés.

Ele riu, a risada feliz de um homem contente, e ajustou seu peso de


volta uniformemente. Ainda perigoso, mas não sorrateiramente
perigoso. — Nada mal, Jane Yellowrock.

— O mesmo para você, Tom.

— Você pode me chamar de Troll. Até que eu gosto.

Eu concordei. — Parece perigoso. Malvado.

— Eu não sou. Eu sou um gatinho.

Eu olhei para o armário e de volta para ele com uma pergunta em


meus olhos.

— Desculpe, —ele disse e deu três passos para trás.

Sem tirar os olhos dele, alcancei o armário e juntei minhas armas


em pequenos lotes, inserindo-as nas alças e bainhas adequadas, todas
exceto uma estaca, que encostei no canto mais escuro. Eu carreguei a
espingarda. Tive de trabalhar para amarrá-la e não me arriscaria com
Tommy Troll. Eu sorri com o pensamento e ele pensou que o sorriso era
para ele. O que era, mais ou menos. — Obrigada por uma noite
interessante, —eu disse.

— Bem-vinda a Nova Orleans. Te vejo amanhã a noite. —Ele


levantou um grande envelope de correspondência de uma mesa ao seu
lado e o entregou para mim. Senti várias coisas lá dentro: o que imaginei
ser uma pilha de dinheiro, papéis com três dobras (provavelmente o
contrato), páginas planas e algumas chaves. — Obrigada, —eu disse.
Assenti e abri a porta estreita, entrando na noite.

Fiquei de costas para o Katie’s, lembrando-me de respirar,


reprimindo o medo que tinha controlado, subjugado, estrangulado até
agora. Eu sorri. Eu fiz isso. Eu tinha enfrentado um vampiro civilizado,
vivido para contar a história e conseguido o dinheiro e um emprego. A
Besta achou meu alívio divertido. Quando consegui andar sem meus
joelhos tremerem, coloquei a pasta de Katie no envelope e fui até minha
motocicleta.

A noite não estava escura, não em Jazz City . O brilho das luzes da
rua e os sinais de cerveja em neon caíam em padrões estranhos e

Cidade do Jazz, Nova Orleans e universalmente considerada o berço do gênero.


lançavam sombras distorcidas na paisagem urbana, o efeito da umidade
no ar do rio Mississippi e do lago Pontchar . Os corpos d'água
delimitavam Nova Orleans, dando à cidade seu famoso fedor e ar tão
úmido que às vezes a chuva caía de um céu azul. Então, cheirei o Joe
antes de vê-lo. Mas eu sabia onde ele estava. Contra o vento, relaxado.
O cheiro de óleo de arma e munição não era mais forte do que antes.

Ele estava sentado em um muro baixo de tijolos à frente de uma


loja, uma varanda acima dele, o prédio antigo no fundo. Ele tinha uma
perna levantada, a outra pendurada, e as sombras escondiam o lado
esquerdo de seu corpo. Ele poderia ter uma arma escondida lá. Okay, eu
estava paranóica. Mas eu tinha acabado de derrotar um vampiro em seu
território e então ser gentil com seu guarda-costas. Minhas glândulas
ainda bombeavam adrenalina e meu coração estava batendo forte de
repente.

Mantendo-o na minha visão, dei a volta na motocicleta e prendi o


arnês da espingarda em cima da minha jaqueta, deslizando a arma na

O rio Mississípi é o segundo mais longo curso de água dos Estados Unidos, perdendo a primeira posição
para o rio Missouri, que é afluente do Mississippi. Considerados juntos, formam a maior bacia hidrográfica da América do Norte.

O lago Pontchartrain é um corpo de água localizado no sudeste do Estado americano de Luisiana. É o


segundo maior lago de água salgada do país, atrás somente do Grande Lago Salgado, e é o maior lago da Louisiana. Possui uma área de 630 km²,
e possui uma profundidade média de apenas 3,5 metros.
bainha especial feita por um ferreiro de couro nas montanhas perto de
Asheville. Verifiquei os alforjes e vi manchas de dedos no cromo polido.
Com luva. Sem impressões. Mas aposto que tocar minhas fechaduras
doeu como um filho da puta. Fazendo com que parecesse que estava
olhando mais de perto, me inclinei e cheirei. O cheiro de charuto do Joe
era fraco, mas presente. Eu levantei minha cabeça e sorri para ele. Ele
tocou a aba de um chapéu de cowboy imaginário, um leve sorriso no
rosto.

Eu montei na moto e me sentei. Ele tirou os óculos e seus olhos


eram escuros, quase pretos, um sinal de uma mistura de linhagem
europeia e indígena americana. — Ainda está doendo? —Eu perguntei,
deixando minha voz ser carregada no ar úmido.

— Um pouco de formigamento, —ele admitiu facilmente. Afinal,


se ele pretendesse que eu não adivinhasse que era ele, ele não teria ficado
por perto. — Bloqueio de bruxa?

Eu assenti.

— Caro. Você conseguiu o emprego? —Quando levantei minhas


sobrancelhas educadamente, ele disse: — Com Katie. A palavra nas ruas
é que o conselho trouxe talentos de fora da cidade para derrubar o
desonesto.
— Eu consegui o emprego. —Mas não gostei do fato de que todos
na cidade soubessem por que eu estava aqui. Os vampiros desonestos
eram bons caçadores. Os melhores. Besta rosnou em desacordo, mas eu
a ignorei.

Ele assentiu e suspirou. — Eu estava esperando que ela fizesse isso.


Eu queria o contrato.

Dei de ombros. O que eu poderia dizer? Eu dei partida na moto. A


fumaça e o rugido levaram Besta de volta ao chão. Ela não gostava do
cheiro, embora aprovasse meu método de viagem. Para ela, motos eram
totalmente legais. Eu girei e me afastei, mantendo um olho no Joe no
retrovisor. Ele nunca se moveu.

Momentos depois, desliguei a Harley, sentando-me no assento de


couro quente demais enquanto olhava para a casa francesa estreita de
dois andares, de tijolos antigos. Dava a volta no quarteirão e atrás do
Katie's Ladies. A porta da frente tinha uma janela oval com vitral no
centro e era protegida dos elementos por uma varanda do segundo andar
de um metro de largura com uma grade de ferro forjado preto recém-
pintado. Uma porta semelhante se abriu na varanda superior e nenhuma
parecia particularmente segura. Havia um caminho estreito do lado
direito, trancado atrás de um portão de ferro forjado de dois metros e
dez de altura. Muito ferro forjado, metade das pontas com flor-de-lis no
topo, o resto com o que poderiam ser estacas. Humor de vampiro
explícito. Antes de vir para cá, durante a fase de pesquisa preliminar
deste trabalho, eu tinha aprendido que a flor-de-lis era o símbolo oficial
da cidade de Nova Orleans e tinha sido popular por muito tempo na
França, de onde muitos dos vampiros emigraram durante os expurgos
pré-napoleônicos da Revolução Francesa. Pedaços de conhecimento
aparentemente inúteis costumavam ser a diferença entre o sucesso e o
fracasso.

A casa e o portão deviam ter duzentos, trezentos anos. Tentei a


maior e mais velha de duas chaves, dez centímetros de comprimento e
um formato de coração em uma das pontas. A fechadura clicou e eu
apertei o trinco, duas barras que se comprimiram para abrir o portão.
Ela abriu sem um rangido. Com botas sobre paralelepípedos, levei
minha Harley para dentro e fechei o portão atrás de mim. A trava clicou
e eu a travei novamente antes de caminhar com a motocicleta pela
alameda do jardim ao lado da casa. Ou loja, ou pensão. Pelos cheiros,
tinha sido muitas coisas em um momento ou outro.

A flor de lis (⚜️) é uma figura heráldica muito associada à monarquia francesa, particularmente ligada com o rei
da França. Ela permanece extraoficialmente um símbolo da França, assim como a águia napoleônica. Mas não tem sido usada oficialmente ao
longo dos vários períodos republicanos por que atravessou este país.
Um motorista cuidadoso poderia ter manobrado um carro aqui. Um
carro pequeno. Mas a pista era claramente destinada a caminhantes ou
talvez cavaleiros. Havia todos os tipos de plantas, algumas com caules
longos e folhas do tamanho de uma orelha de elefante de várias
combinações de cores. Havia rosas trepadeiras , jasmim e algumas
outras coisas que reconheci, mas meu conhecimento de botânica era
limitado. Várias plantas estavam florescendo e tinham um cheiro
celestial. Eu peguei uma sugestão de erva-dos-gatos . Besta fez um som
seco bem no fundo. Eu nem sempre tinha certeza do que isso significava,
mas era uma reação de algum tipo usada durante as descobertas
positivas e negativas. Nesse caso, talvez seja um sinal de
reconhecimento.

A casa era estreita do lado da rua, mas longa, com uma varanda de
madeira no segundo andar cobrindo uma varanda do andar térreo que

A rosa trepadeira é um arbusto perene, pertencente a família da Rosaceae. Suas folhas são verdes e brilhantes e seus
ramos finos e flexíveis podem chegar até 6 metros de comprimento, por isso ela fica linda quando cultivada em cercas, pergolados de madeira,
caramanchões ou próximos de bancos de madeira.

Jasminum é um género de plantas com flor da família Oleaceae que agrupa cerca de 200 espécies com distribuição
natural nas regiões tropicais e subtropicais da Eurásia, Australásia e Oceania.

Nepeta cataria, conhecida pelos nomes comuns de Catnip, erva-gateira, erva-dos-gatos, gatária ou nêveda-dos-
gatos, é uma espécie de planta herbácea do género Nepeta da família Lamiaceae, nativa da Europa e do sudoeste da Ásia Central e naturalizada
muitas regiões temperadas.
dava para a pequena rua lateral e o jardim dos fundos. Eu podia ver
cadeiras na varanda, algumas mesas. Mais treliças e trilhos de ferro
forjado serviam para evitar que as pessoas caíssem. A varanda no nível
inferior era de ardósia, com mais ferro. A casa tinha janelas altas
fechadas com venezianas francesas, cinco janelas em cada andar, e
havia uma porta em cada andar com escadas perto dos fundos levando
entre elas. Quatro portas no total, todas frágeis. Sem muita segurança.

Eu poderia verificar o interior da casa mais tarde. Primeiro o jardim


dos fundos. Eu empurrei a Harley. O jardim se alargou em um espaço
retangular de nove por doze metros no final do caminho, e era
requintado. Era cercado por paredes de tijolos ornamentais, mas
totalmente funcionais, com cinco metros de altura e era forrado de
plantas de todas as variedades. Uma grande fonte espirrou em um canto,
a água jorrando de uma enorme tulipa de mármore com uma mulher
nua em miniatura sentada em cima. A escultura era finamente
detalhada, uma obra-prima, e notei a semelhança da estátua com Katie.
Pequenas presas eram uma revelação mortal. Eu me perguntei quantas
casas ela possuía neste quarteirão. Talvez todas. Você poderia fazer um
planejamento imobiliário poderoso quando viveu mais de duzentos
anos. Talvez trezentos. Talvez mais.
Acima dos sons da cidade e mesmo com o rugido da Harley ainda
afetando meus ouvidos, eu podia ouvir o minúsculo motor acionando a
bomba. Fora isso, e o som de um pássaro noturno desconhecido, o
jardim estava silencioso.

Do outro lado da fonte, semeadas com dezenas de plantas


saudáveis, havia três grandes pedras e meia dúzia de outras menores
trazidas pelo guindaste que Troll havia mencionado. Katie estava certa.
O jardineiro havia feito um bom trabalho, as pedras pareciam estar aqui
desde sempre.

Abaixei o suporte e caminhei pelo jardim, procurando fios,


arranhões no tijolo, sinais de um trabalho diferente do jardineiro. Eu os
avistei rapidamente, um arranhão perto do canto esquerdo traseiro, alto
demais para ser de uma pá, e uma linha elétrica bem escondida indo da
luz de segurança até a parede de tijolos.

Tirei as alças que prendiam minha espingarda e a coloquei de lado.


A jaqueta veio em seguida e, sentando-me em um banco
convenientemente colocado, tirei minhas botas. Juntei três pedras soltas
e as coloquei dentro da minha camiseta. Elas pousaram na pele na
minha cintura, presas no lugar pelo meu cinto. Então puxei o banco para
a parede, cuspi nas mãos para mais efeito do que o necessário e saltei.
A parede de tijolos era irregular, com alguns tijolos formando
depressões e outros saindo apenas o suficiente para um alpinista saber o
que fazer com eles. Eu não tinha escalado o Everest , mas vivi nos
Apalaches e fiz algumas aulas. Eu tinha feito pelo menos algumas aulas
sobre muitas coisas.

Peguei um tijolo ligeiramente protuberante e girei para fora,


pegando outro com os dedos dos pés, empurrando para cima para um
segundo apoio para a mão, outro apoio para o pé. Cheguei ao topo da
cerca e estudei. Não havia arame farpado, nem vidro quebrado
incrustado no concreto, nem arame elétrico. Nada. Um trabalho
medíocre em termos de segurança.

Eu me arrastei até o topo e me levantei, examinando o quintal ao


lado. Um cachorrinho, mais cabelo do que carne, rosnou para mim.
Besta estava surgindo em minha mente enquanto a lua nascia e a

O monte Everest ou, na sua forma portuguesa, Evereste, também conhecido no Nepal como Sagarmāthā, no
Tibete como Chomolungma e Zhūmùlǎngmǎ Fēng em chinês, é a montanha de maior altitude da Terra. Seu pico está a 8 848 metros acima do
nível do mar, na subcordilheira Mahalangur Himal dos Himalaias.

Apalaches são uma cordilheira da América do Norte, contraparte oriental das Montanhas
Rochosas, que se estende por quase 3 200 quilômetros da Terra Nova e Labrador, no Canadá, ao estado de Alabama, no sudeste dos Estados
Unidos.
escuridão caía, e ela cuspiu nele, não que o cachorrinho estúpido
pudesse perceber. Eu segurei suas costas e, porque ela entendeu que a
segurança da toca era fundamental, ela me deixou fazer isso. Eu era
melhor nas coisas humanas, e ela não se importava que eu assumisse,
contanto que não fosse perigoso. Então ficou um pouco mais difícil
controlar seus instintos.

Eu caminhei ao longo da parede, sentindo os cheiros do lugar, o


tijolo quente sob meus pés descalços enquanto eu examinava o jardim
com olhos e nariz e considerava as paredes das casas adjacentes à minha
casa de brinde . Cheguei ao canto de trás, onde estava o arranhão, e
retirei um pequeno caroço, removendo a sujeira que havia sido
cuidadosamente espalhada ali. Abaixei-me e puxei a câmera de
segurança em miniatura da fita adesiva que a prendia no lugar. A fita
fez pequenos sons de estalo ao se quebrar.

Os fios elétricos que alimentam a câmera também se soltaram, e


virei a lente da câmera para mim, segurando-a nivelada. Eu sorri para
Katie, ou talvez para Troll. Ou talvez uma empresa de segurança. Eu
balancei minha cabeça. Eu levantei o dedo indicador da minha mão

Freebie-house em inglês – que quer dizer ‘casa de brindes’. No decorrer do livro Jane a chama assim, porque ela ganhou a casa para ficar
enquanto faz o seu trabalho, se não, ela teria que ir atrás de uma para alugar onde teria que ‘pagar’ para ficar nela. Como a Katie disse para ela,
a casa e uma cópia de segurança da do Bordel, e faz fundo com o mesmo. Jane também comenta que poderia ser chamada de uma ‘casa de
hóspedes’. Mas, como ela e muiiiito debochada (vocês vão ver isso no decorrer do livro) e ela gosta de colocar apelido em tudo e em todos
(como vocês também vão ver isso) ela a chama de sua casa de brindes. Freebie um ‘brinde’ e algo que você ganha/recebe geralmente de uma
empresa (nesse caso dos vampiros que ela está trabalhando para) sem ter que pagar por isso para ficar nela.
livre e balancei-o lentamente de um lado para o outro. Então levantei a
câmera e a coloquei na parede, primeiro a lente, e a quebrei em pedaços.
Fiz a mesma coisa com as outras duas câmeras.

Eu não estava preocupada em irritar Katie. Meu site foi firme


quanto aos meus requisitos de privacidade e insisti que fizesse parte do
meu contrato. O que ela poderia dizer? “Oh, querida, esqueci que eles
estavam lá ...?” — Okay, certo.

Quando tive certeza de que tirei todas ao alcance, me posicionei e


estudei a câmera montada na parede do vizinho. Eu não queria quebrar
a janela ao lado dela. Puxei minha camiseta e peguei as três pedras. Eu
as levantei, obtendo seu equilíbrio e peso. Nunca fui tão boa no
arremesso como em outros esportes. Eu joguava como uma garota.
Levou todas as três pedras, mas quebrei a última câmera.

Satisfeita, caí da parede, sem me preocupar com os apoios de tijolo.


Sem as câmeras, eu não precisava deles. Juntei meus pertences e,
descalça, destranquei a porta com a chave menor do grande anel.
Percorri a casa rapidamente, localizando câmeras. Eu quebrei duas
escondidas atrás de grades, uma em um retorno de ar, uma em uma
lâmpada no teto de três metros e meio de altura, que eu bati com um
cabo de vassoura. Várias outras. Encontrar dispositivos de segurança em
uma casa era muito mais difícil do que em um jardim. Eu teria que
repassar isso mais tarde com mais detalhes, mas por enquanto, eu tinha
muito o que fazer. O mais importante primeiro—uma ligação para
Molly.

Molly, uma poderosa bruxa da terra e minha melhor amiga,


respondeu, crianças rindo e jogando água ao fundo. — Ei, mulher
bruxa. Estou aqui. Eu consegui o show, —eu disse. Molly deu um
berro exultante e eu ri com ela.

Vampiros e bruxas saíram do armário em 1962, quando Marilyn


Monroe tentou transformar o presidente dos Estados Unidos no Salão
Oval e foi morta pelo Serviço Secreto. Houve uma testemunha, Beverly
Stumpkin, uma empregada doméstica da Casa Branca, que fugiu para
se salvar. O Serviço Secreto rapidamente montou um cenário de suicídio
para a atriz e a colocou em seu quarto. Não que alguém acreditasse que
ela havia se suicidado com uma estaca de madeira no coração e um cabo
de garrote que a decapitou. O governo tentou localizar a empregada,
mas ela escapou. Trabalho desleixado de todo lado.

Alguns fofoqueiros souberam da verdadeira história de Monroe e


conseguiram fazer o que o Serviço Secreto não conseguiu. Eles
encontraram a empregada. Em poucas semanas, o antigo mito foi
derrubado. Vamps, e então bruxas, saíram do armário. Se houvesse
outros seres sobrenaturais, parecia uma boa hora para eles saírem
também, mas até agora nenhum elfo, duende, ninfas da floresta ou
sereia haviam aparecido. Nenhum lobisomem ou skinwalkers ou
shifters de qualquer tipo também. Eu era uma singularidade em um
mundo humano que não gostaria de mim se soubesse sobre mim, o que
significava que eu tinha que manter meu segredo. E isso significava que
eu teria que viver sem um verdadeiro apoio. Exceto por Molly.

— Estou orgulhosa de você, —ela disse. — Aqui, fale com a criança


mais suja do mundo. Talvez ela me deixe terminar o banho. —O telefone
fez ruídos de fricção abafados, como se ela o segurasse debaixo do braço.
Eu esperei pacientemente.

Molly Meagan Everhart Trueblood, a bruxa que havia enfeitiçado


meus alforjes, sabia tudo sobre mim. Mol veio de uma longa linhagem
de bruxas. Não o tipo com um chapéu preto pontudo com um caldeirão
no jardim da frente, e não o tipo como o programa de televisão A
Feiticeira . Bruxas não são humanas, embora possam procriar com
humanos, fazendo pequenas bruxas cerca de cinquenta por cento do
tempo, e humanos normais os outros cinquenta.

Bewitched (Casei com uma Feiticeira (PT); A Feiticeira (BR)) é uma série de televisão americana transmitida
de 1964 a 1972 pela rede de televisão norte-americana ABC. Sucesso internacional em dezenas de países onde foi exibida, foi criada por Sol Saks
e estrelada por Elizabeth Montgomery, Agnes Moorehead, Dick York (1964–1969) e Dick Sargent (1969-1972).
As jovens bruxas têm uma baixa taxa de sobrevivência,
especialmente os homens, a maioria morrendo antes de chegar aos 20
anos de vários tipos de câncer. Aqueles que vivem até a puberdade,
entretanto, tendem a viver até os primeiros cem anos. Mol tinha
quarenta anos, parecia ter trinta e era destemida.

Eu me perguntava se bruxas e skinwalkers tinham genética


semelhante. O gene da bruxa está ligado ao X, passada de geração em
geração no cromossomo X. Cerca de noventa por cento das bruxas que
vivem até a maturidade são mulheres, apenas alguns feiticeiros, o termo
que alguns chamam de bruxa masculina, sobrevivem em cada geração.
Ninguém sabe por que as bruxas têm uma taxa de sobrevivência tão
baixa, mas Molly era uma das sortudas quando se tratava de crianças.
Até agora. Ela se casou com um feiticeiro, Evan, e eles tiveram um filho,
o Pequeno Evan, e uma filha, Angelina—Angie. Ambos têm o gene X
da bruxa. A menina é um prodígio. E ela tem apenas seis anos.

A maioria das bruxas assume seus dons lentamente, por volta da


puberdade. Angie ganhou seu dom aos cinco anos, e era uma bomba
atômica potente. Mol postulou que sua filha tem um gene de bruxa em
ambos os cromossomos X, um de seu pai, um de sua mãe, o que, se
verdade, tornaria a garota uma das bruxas mais poderosas do planeta, e
alguém que todos iriam querer, dos programas de operações obscuras
do governo dos EUA, ao conselho de bruxas, aos chineses, aos russos,
o que você quiser. E qualquer um que não a tivesse iria querê-la morta.
Molly manteve o nível de poder de Angie em segredo, da mesma forma
que eu mantive o que eu tinha sob controle. E ela e Evan protegeram
seus filhos e suas propriedades com proteção, cura e muitas orações.

Uma voz doce e delicada disse: — Oi, tia Jane. —Meu coração
começou a derreter. Besta parou de empurrar e ficou sentada, ofegante,
em minha mente. Kits , ela pensou para mim, feliz.

— Oi, Angie. Você está dificultando o banho para sua mãe?

— Sim. Estou sendo uma garota má. —Ela riu novamente. —


Brinquei na lama. Eu sinto sua falta. Quando você vem para casa?

— Em breve. Eu espero. Vou levar uma boneca para você. Que


tipo você quer?

— Cabelo preto comprido e olhos amarelos. Como você.

Droga. Meu coração derretido era uma pilha de gosma. — Vou ver
se consigo encontrar uma, —eu disse depois do nó na garganta. — Por
enquanto, deixe sua mãe te limpar, okay? —Molly precisou de apoio
quando o poder de Angie explodiu. Eu estive lá para ela e nós temos

Na verdade e Kittens que quer dizer filhotes. E a Besta se refere a criança de filhote.
sido amigas desde então, costas com costas, incluindo quando eu
derrubei a família de sangue do vampiro desonesto no ano passado nas
Montanhas Apalaches, resgatando sua irmã no processo.

— Okay. Aqui, mamãe. Tia Jane quer você. E então ela vai ir brincar.

Molly disse ao telefone: — Brincar, huh?

— Sim. Você e Evan verificaram as proteções ao redor de sua


casa?

Molly fez um som, meio pshaw, meio grunhido, e ouvi água caindo
na água quando ela tirou Angelina da banheira. — Duas vezes esta noite.
Você se diverte. Me liga.

— Eu vou. —Sentindo-me dez quilos mais leve, deixei meus


pertences no meio do chão da sala e abri a geladeira. Treze quilos de
carne fresca ocupavam a prateleira central. Besta assobiou em
antecipação, embora ela odiasse comer frio. Rasguei o papel de
açougueiro de uma pilha de dois quilos, coloquei no micro-ondas um
pouco, apenas o suficiente para tirar o frio e, enquanto aquecia, juntei
os suprimentos. Quando o alarme tocou, carreguei a carne para fora, um
rolo de toalhas de papel debaixo de um braço, minha mochila de viagem
e uma bolsa com zíper sob o outro. Já parecia estranho andar sobre duas
pernas, enquanto Besta subia das profundezas para os meus
pensamentos.

Eu coloquei a pilha de bifes crus e sangrentos no chão e limpei


minhas mãos. Besta queria lambê-los, mas me contive. Eu tinha muito
controle sobrando. Tirei minhas roupas, deixando-as em uma pilha.
Meu estômago estava roncando. Eu estava ofegante, salivando. Com
fome, ela pensou para mim.

Sou uma skinwalker e, até onde sei, o último de minha espécie em


qualquer lugar. Se eu tiver a quantidade certa de material genético,
posso assumir a forma de quase qualquer animal, embora seja mais fácil
se a espécie tiver a mesma massa que eu. Pedir massa emprestada para
preencher os requisitos genéticos de um animal maior é doloroso e
perigoso, e eu não tentei fazer isso com frequência. É igualmente difícil
andar com a pele no corpo de um animal menor, pois tenho que liberar
massa, despejá-la em algum lugar, e isso sempre significa despejar algo
do que sou, um pouco da minha consciência e deixá-lo para trás. O
medo de que não esteja lá quando eu voltar é o suficiente para manter
meu tamanho na maior parte do tempo. Besta assobiou com o
pensamento, ela não gostava quando eu mudava para a forma de outro
animal.
Besta. Ela é algo fora da minha natureza skinwalker—uma entidade
totalmente diferente, compartilhando meu corpo e às vezes minha
mente. Se eu tento controlá-la quando ela quer passar, ela às vezes força
seu caminho de qualquer maneira, eu não tenho controle total sobre ela.
E eu sei, em meus ossos, que se outros skinwalkers existem, eles não têm
uma alma de Besta vivendo dentro deles. Não tenho certeza de como
acabamos juntas, e pensar nisso sempre me deixa um pouco
desconfortável, embora eu tenha a impressão de que Besta sabe e está
escondendo isso de mim.

Puxei a mochila de viagem pela cabeça e posicionei a pepita de ouro


que uso ao redor do pescoço em uma corrente dupla de ouro, geralmente
sob minhas roupas, mas agora balançando livre. Juntos, eles pareciam
uma coleira e uma bolsa de transporte, que um cão de resgate São
Bernardo poderia ter carregado nos Alpes suíços . Eu me inclinei e
raspei a pepita de ouro na rocha mais alta, depositando uma fina faixa
de ouro. Era como, bem, como um farol, entre outras coisas.

São Bernardo (O Famoso Beethoven)

Os Alpes suíços estão localizados na Suíça e fazem parte da cordilheira dos Alpes. Esta parte dos
Alpes é por vezes chamada de Alpes Centrais. O ponto culminante dos Alpes Suíços é o Dufourspitze, com 4634 metros, na fronteira suíço-
italiana.
Simmmmm. Caçar, Besta pensou para mim. Grande!

Besta estava pronta para explorar esse novo território, mas tinha
uma tendência infeliz e agressiva e, ocasionalmente, pegava uma
matilha de cães, um javali ou algum outro animal que seria mais
inteligente deixar sozinho. Quando me transformava pela primeira vez
em um lugar estranho, suas tendências agressivas sempre vieram à tona
e ela exigia que eu assumisse a massa, adicionando aos meus mais de
cinquenta e cinco quilos naturais, recorrendo ao fetiche do leão africano
para andar na pele. — Grande é perigoso, —murmurei para ela. —
Estamos apenas dando uma olhada esta noite. Muito mais tarde.

Ela ofegou em escárnio. Grande sempre melhor. Grande agora!

Mas eu poderia dizer que ela não pressionaria o assunto. Besta,


embora sempre presente nas profundezas da minha consciência, estava
falando comigo como uma entidade separada agora, como uma criatura
autoconsciente com desejos próprios. E para ela, caçar era mais
importante do que ganhar uma discussão esta noite.

Panthera leo leo é uma subespécie de leão, presente na África Ocidental, no norte da África Central e na
Índia. Na África Ocidental e Central, é restrito a populações fragmentadas e isoladas com trajetória declinante. Foi referido como o "leão do
norte".
Voltando aos bifes e às toalhas de papel, coloquei os três panos de
vampiro ensanguentados no chão, prendendo-os com um pote de
gerânios . Eu escalei as pedras e me sentei, a rocha quente abaixo de
mim. Os mosquitos enxamearam, picando. Eu tinha me esquecido
deles. Besta assobiou.

Abri a bolsa com zíper e tirei um dos colares bizarros de dentro, o


que eu mais usava, como um totem ou amuleto, mas muito mais. O
colar da pantera da montanha, comumente chamado de leão da
montanha . Era feito de garras, dentes e pequenos ossos da maior
pantera fêmea que eu já tinha visto. O gato foi morto por um fazendeiro
em Montana durante uma caçada legal, a pele e a cabeça montadas na

Vaso de gerânios – Pelargonium × hortorum, é uma espécie não especificada de Pelargonium mais comumente usada
como planta ornamental. É um híbrido entre Pelargonium zonale e Pelargonium inquinans.

Puma ou Leão da Montanha. Também conhecido por cougar, jaguaruna, suçuarana, leão-baio, onça-parda e
onça-vermelha. É um mamífero da família felídeos nativo das Américas.

Montana é um estado do oeste dos EUA definido pelo relevo diversificado que inclui desde
as Montanhas Rochosas até as Grandes Planícies. Entre os espaços abertos, destaca-se o Parque Nacional Glacier, uma vasta área de preservação
da vida selvagem que adentra o Canadá. Os muitos picos cobertos de neve, lagos e trilhas alpinas para caminhada do parque ficam em evidência
ao longo de sua famosa estrada Going-to-the-Sun Road, que se estende por 50 milhas.
parede da sala de estar, os ossos e dentes vendidos por um taxidermista .
O leão da montanha era caçado em todo o oeste dos Estados Unidos,
mas foi extinto nos estados do Leste, ou tinha sido. Alguns relatos dizem
que as panteras estão voltando a leste do Mississippi. Pode-se ter
esperança. Eu não tinha que usar o colar para mudar para esta criatura—
ao contrário de outras espécies, a memória da forma da Besta sempre foi
uma parte de mim—mas era mais fácil.

Segurei o colar e fechei os olhos. Relaxando. Ouvindo o vento, o


puxão da lua, ainda em forma de foice, escondendo-se abaixo do
horizonte. Escutei a batida do meu próprio coração. Besta cresceu em
mim, silenciosa, predatória.

Eu diminuí as funções do meu corpo, diminuí o ritmo do meu


coração, deixei minha pressão cair, meus músculos relaxaram, como se
eu fosse dormir. Deitei na pedra, seios e barriga cobrindo a pedra fria
com o ar úmido.

Com a mente diminuindo, eu afundei profundamente, minha


consciência caindo, tudo menos o propósito desta caçada. Esse
propósito eu coloquei no revestimento da minha pele, nas partes mais

Taxidermia ou taxiodermia é o feito de montar ou reproduzir animais para exibição ou estudo. É a técnica de
preservação da forma da pele, planos e tamanho dos animais.
profundas do meu cérebro, para que eu não o perdesse quando mudasse,
quando me transformasse. Eu caí mais baixo. Mais profundo. Na
escuridão lá dentro, onde memórias antigas e nebulosas giravam em um
mundo cinza de sombras, sangue, incerteza. Ouvi um tambor distante,
senti o cheiro de fumaça de lenha de ervas e o vento noturno em minha
pele pareceu esfriar e refrescar. Conforme eu caía mais fundo, as
memórias começaram a se firmar, memórias que, em todos os outros
momentos, foram meio esquecidas, tanto minhas quanto da Besta.

Como eu havia aprendido há muito tempo—certamente por um pai


ou talvez um xamã?—eu procurei a cobra interna deitada dentro dos
ossos e dentes do colar, a cobra enrolada e enroscada, nas profundezas
das células, nos restos da medula. A ciência deu um nome a isso. RNA.
DNA. Sequências genéticas, específicas para cada espécie, cada
criatura. Para meu povo, para skinwalkers, sempre foi simplesmente “a
cobra interior” a frase uma das poucas coisas que eram certas no meu
passado.

Peguei a cobra que repousa nas profundezas de todos os animais. E


eu caí dentro. Como água fluindo em um riacho. Como neve caindo,
rolando montanha abaixo. A cinza me envolveu, cintilante e fria
enquanto o mundo desmoronava. E eu estava no lugar cinzento da
mudança.
Minha respiração se aprofundou. A frequência cardíaca acelerou. E
os meus ossos ... deslizaram. Pele ondulou. Pêlo, amarelado e cinzento,
castanho e com pontas pretas, cresciam. A dor, como uma faca, deslizou
entre os músculos e os ossos. Minhas narinas se alargaram, puxando
profundamente.

Ela caiu. A noite ganhou vida—cheiros novos e maravilhosos,


como névoa no ar, densa e dançante, como correntes em um riacho, mas
distintos. Sal. Humanos. Álcool. Peixe. Mofo. Especiarias humanas.
Sangue. Eu ofeguei. Ouvindo os sons—carros, música de todos os
lugares, vozes falando umas sobre as outras. Membros reunidos
embaixo, ágil e flexível—suas palavras para mim.

Visão feia, feita pelo homem, marcada por sombras. Ainda assim,
clara, nítida. Ela nunca viu assim. Com cheiro assim. Eu me estiquei.
Pernas dianteiras e peito. Puxando as pernas para trás, coluna, barriga.
Pequenos estalos soaram. Coisas de seu cabelo rolaram das pedras.
Delicadamente, com dentes assassinos, levantou o colar que ela deixou
cair. Saltou do pedregulho. Aterrada, de quatro patas, equilibrada.
Jardim estudado. Sem predadores. Nada de ladrões de carne. Colar
caído perto da comida. Cheirou. Bufou de desgosto. Carne velha.
Presa morta. Sangue resfriado há muito tempo. A ponta da cauda
se contraiu, querendo perseguição. Provar sangue quente. Mas o
estômago roncou. Sempre assim, após a mudança. Fome. Ela deixou
isso, uma oferta.

Eu comi. Caninos longos rasgando carne morta. Estômago cheio.


A comida fria não apaziguava a necessidade de caçar. Depois, lambeu
o sangue dos bigodes e do rosto. Bolsa e coleira no caminho, mas ...
importante. Suas coisas.

A memória que ela enterrou sob a pele começou a se agitar. Ahhh.


Caçar. Para um deles. Puxou o ar da noite. Membranas nas narinas
delicadas vibrando, expandindo, relaxando. Muitos cheiros novos,
alguns com valor, outros não. Sem importância: cheiro de flores
próximo, terra recém-revolvida, camundongo encolhido em pedregulhos,
pequena cobra em tijolo. Importante: peixe, picante, azedo. Sal. Água
velha e parada cheia de minúsculos seres vivos. Casas, muitas, antigas
de madeiras e tijolos. Motocicleta que ela andou. Ela—Jane.

Caminhou até ele, músculos longos e flexíveis. Cheiro ruim:


gasolina, borracha, metal, cera, cheiro mais fraco de tinta nova. Um
formigamento mágico nos bigodes. Boa motocicleta. Silencioso-não-
morto agora, coração rugindo ainda. Eu aprovava isso e ela, sentado no
vento, cheirando o mundo. Velocidade, rápida demais para os caçadores
seguirem. Seu território onde quer que ela desejasse. Jane caçava
amplamente.

Pisando com cuidado, embora a nova toca fosse murada e protegida


dos humanos. Jardim rondado e varanda inferior da casa. Bebeu da água
que escorria sobre a pedra esculpida pelo homem. Um bom lugar. Tossi
suavemente, aprovando.

Caçar, o comando veio novamente, dela. Os cabelos ao longo dos


ombros se ergueram em antecipação. Ar perfumado. Comida na brisa.
Comida humana, morta, cozida. Urina humana. Cachorro. Gato
domesticado. Rosnado em desaprovação de ser propriedade. Mesmo ela
não era minha dona.

Os cheiros de covil se estabeleceram na memória olfativa. Foi até o


vaso. Cheirar pano preso lá. Inspirou o cheiro. Sangue. Medo.
Humanos, três. Vivo quando o sangue derramado. Uma fêmea,
ovulando, pronta para acasalar. Um homem, velho, enrugado.
Provavelmente pegajoso, duro. Novo cheiro na pele.

Melanina, Jane sussurrou. Ele era um homem negro.

O último era homem, sem melanina, jovem e saudável. Todos


cheiravam a medo.
Por baixo de tudo ... havia um cheiro de desonesto. Puxou sobre a
língua, sobre o céu da boca. Isolando. Perfume de análise. Velho. Muito,
muito velho. Raiva. Loucura. Muitos cheiros em camadas, diferentes
partes do desonesto.

Um cheiro complexo, ela pensou. Como muitos cheiros se sobrepondo,


combinados. Que estranho. E que cheiro é esse? Imagem de seu nariz
humano, fraco e inútil, enrugado.

Cheiro de loucura, pensei para ela. Forte. Cheiro de


decomposição, podridão. Podre ... Ahhh. Lembrei-me. Comedor de
fígado. Há muitos anos eu cheirei a um comedor de fígado. Senti sua
perplexidade. Empurrei para longe. Sugado pelo cheiro, abrindo a boca
e puxando o ar sobre os sacos cheios de líquido no céu da boca. Língua
se estendendo, lábios se curvando para trás. Degustação. Perfumação.

Definir a assinatura do aroma do comedor de fígado na memória.


Chamei de Louco.

Complexo, ela pensou. Assinatura de perfume composta, muitas moléculas


de cheiro individuais, feromônios e elementos compõem sua essência. Nunca
cheirei nada assim.

Muitos, sim. Muitos cheiros para um Louco. Com um único


salto, saltou para o topo de pedras. Pequena montanha. Nada como meu
território—sem colinas altas, fendas profundas. Caça fácil aqui na terra
plana. Sem desafio. Desdém de torcer a cauda pela planura, sem árvores
altas e riachos selvagens. Se preparou. Saltou para o topo da parede. Em
pé. Quatro pés alinhados em um tijolo. Agachado, tornando o alvo
menor. Lá. Cheiro de Vampiro. Caça fácil. Apenas alguns metros de
distância.

Não, sua voz veio.

Puxou o ar da noite novamente. O cheiro estava errado. Este era


fêmea. Matar assim mesmo?

Não. Cace o desonesto, sua memória humana sussurrou.

Caiu no chão, contorcendo a cauda. Ansiosa. Gostava de caçar.


Gostava do desafio. Gostava do perigo. Movendo pelas sombras do
quintal do vizinho para a rua. Sem cheiro de cachorro. Bom lugar para
ir e vir. Sentado sob as grandes folhas de plantas baixas, observando.
Aprendendo. Sentindo os perfumes.

O vi, escondido nas sombras, sentado na varanda. Vigiando a casa,


caçando a nova toca. O homem de quem ela gostava, humano com
motocicleta. Não caçando. Preguiçoso, revelando posição. Respirando
fumaça, cheirando como excremento, marcando território. Forte o
suficiente para defendê-la? Possível companheiro? Se ele pudesse pegá-
la. Se ele pudesse vencê-la. Não é provável. Ela era forte. Besta a fez
assim, há muito tempo.

Sentiu sua perplexidade. Ignorei. A ignorou. Ponderado, respirou


uma respiração suave e vibrante de tecidos da garganta. Há muito tempo
para ela acasalar. Se ele pudesse pegá-la. Diversão.

Movendo pelas sombras, na noite. Humanos e animais de


estimação ainda estão por aí. Cachorrinhos estúpidos latiram. Coisas
peludas, com cheiro de perfume humano, comida morta, dentes podres.
Me cheirou, cheirou Besta. Todos ficaram em silêncio. Agachado, cauda
para baixo. Fugiu para longe. Eu cacei, caminhando pela escuridão,
selvagem e elegante. A noite caiu totalmente. Os humanos nunca viram.

O French Quarter, território que ela queria caçar, era pequeno. Ruas
em praças. Edifícios construídos próximos, espremidos. Presa não
conseguia escapar. Jardins escondidos. Escapamento. Álcool fresco e
doce, velho e azedo. Alcatrão nas ruas, mundo humano fedorento.

Som de música por toda parte, alto, estridente. Buzinas, tambores—


tambores, como o som de um coração batendo, acelerando de medo,
prontos para serem comidos. Cheiro de dinheiro, drogas. Monte de sexo
sem acasalamento. Sexo solitário. Muitas mulheres humanas em pé em
pontas altas . Presa fácil. Lojas cheias de tinta e tela, pedra e metal.
Muita comida e cheiro de sono. Restaurantes e hotéis, ela pensou para
mim. Cheiros de seu mundo.

Isso fedia. Mas, por baixo do fedor, havia outros cheiros. Sob o
fedor de esgoto e o fedor de rio sujo. Sob as especiarias, os humanos
cozinham os alimentos. Sob os odores dos próprios humanos,
perfumados e respirando fumaça. Aromas de vampiros. Muitos.

O fedor de vampiro era parte do solo, parte da terra. Suas cinzas


flutuaram pela rua, carregadas no ar. Seus ossos, transformados em pó,
entraram nas rachaduras. Território de vampiro, por mais tempo do que
vivi, mesmo contando o tempo de fome quando eu era alfa e Jane era
beta. Não sabia números além de cinco, mas havia muito mais de cinco
vampiros. Eu marquei seus territórios, definindo o cheiro da Besta. Um
desafio.

Séculos, o pensamento veio dela. Eles estão aqui há séculos. Muito


tempo pelos cálculos humanos. Muito tempo para eu entender ou me
importar. Voltou-se para caçar. Rondando, escondendo-se, farejando,
procurando. Encontrar esconderijos enquanto a lua cruzava o céu.
Astuto, silencioso, bom caçador.

Besta quer dizer, saltos altos


Viu/cheirou vampiro. Caminhando sozinho. Despercebido pelos
humanos. Planando. Predador. Eu me curvei na sombra. Jane desejou
uma cruz e uma estaca, símbolos cristãos para matar o mal.

Não é mau, pensei para ela. Predador. Como Besta. Ela curvou
os lábios como se o pensamento fosse carne estragada. Juntos, vimos
um vampiro sumir de vista.

Muito antes do amanhecer, cheirava a sangue velho. Rua


encontrada onde um Louco derrubou muitos humanos, comeu as
melhores partes. Um beco. Estreito, confinado. Paredes, retas como
desfiladeiros de água, mas sem rio ousado. Fedor forte de sangue,
sangue, sangue, muito sangue. Monte de carne desperdiçada. Um
Louco perfumado que ela caçava. Tentando beber o suficiente para
encontrar saúde novamente. Ele estava morrendo.

Eles não podem morrer, ela sussurrou.

Morre, eu pensei de volta para ela. Este doente. Cheiro de


podridão.

Acima de seu fedor, senti o cheiro de humanos furiosos e assustados


na manhã seguinte. Fedor revelador de armas. Inspirou suavemente ao
lembrar do cheiro. Ela gostava de armas. Ela caçava com armas.
Lembrei-me de outro. Canos longos, pólvora, dor, medo, grito de gato
grande. Odiado. Há muito tempo, em tempos de fome.

Colocando as patas com cuidado, caminhou no escuro, sob fitas


amarelas, passando por flores morrendo em pilhas altas. Ao longo do
meio de um desfiladeiro estreito. Foi encontrado o local onde a fêmea
ovulando caiu. E o velho pegajoso, ao lado dela, paralelepípedos
saturados com sua necessidade de proteger, como se ela fosse seu kit,
seu filhote. Homem jovem e saudável, a três passos de distância. E mais-
de-cinco outros. O Louco morto, comia devagar.

Ela disse: Ele levou o seu tempo. Ela entendia o tempo quando não
era medido pela lua. Confuso.

Voltei para a entrada do beco. Agachado, a barriga protegida da rua


suja. Humanos passaram cantando, fedendo a bebida forte e vômito.
Então sumiu. Procurei o rastro do Louco. Não foi encontrado nenhum
entrando. Nenhum saindo.

Olhou para cima. Tossiu em aprovação. Depois que o Louco


brincou com humanos, depois de comer até se fartar, o Louco subiu, ao
longo da parede como uma aranha ou esquilo. Carne saborosa,
esquilos. Não o suficiente para encher a barriga. O Louco escalou a
parede como um esquilo. Arranhões fracos onde as garras se cravaram.
Presa digna. Mesmo eu não poderia escalar uma parede assim. Cortei a
excitação. Boa caçada. Louco poderoso, cheiros capturados na memória
fedorenta de sangue. Os humanos tentaram se lavar. Não foi possível
esconder.

Ouvi mais humanos. Perto. Dois entraram no beco. Vinho sujo e


fedorento, suor, imundície. Os humanos se moveram, prendendo. Eu
derreti lentamente nas sombras. Ruídos de advertência suave. Besta
aqui. Não caçando, mas vou defender.

Eles ignoraram o aviso. Humanos estúpidos. Eles se arrastaram


para uma grande caixa de papel. Sons de papelão estalando, humanos
se movendo. Cheiros sujos flutuavam. Seu covil. Eu tinha passado sem
saber. Cabeça caída. Envergonhada. Tolo como um filhote. Muito
concentrado em um Louco e cheira a caça, sangue, morte. Insensato.
Estúpido. Erro de gatinho.

Dois humanos se deitaram. Dormindo ao ar livre. Presa fácil se eu


quisesse carne doente e vigorosa. Eles falaram. Quieto. Um roncou.

Rastejar pelo beco até a abertura. Amanhecer chegando.

— Linda gatinha. Venha aqui, gatinha.

Olho para o lado e vi o humano, olhos abertos, brilhando. Mão para


fora. — Venha aqui, gatinha. Eu tenho um presente para você.
Tosse, insultado. Não domesticado. Besta grande. E livre.

Ele estendeu a mão, gesticulando. Venha. Comer. — Linda gatinha.

Ela estava se divertindo. Besta cheirou, boca aberta. Carne.


Hamburger. Morto, cozido. Jane gostava deles. Eu caminhei lentamente
para o humano, ombros arqueados, barriga para baixo, almofadas
silenciosas. Humano sem medo. Bêbado. Farejou a guloseima
oferecida. Olhou para ele com olhos de predador, vendo Besta refletida,
dourada, nos seus. Presa deve ter medo. Era para estar com medo.

— Linda gatinha, eu sei que você está com fome. Coma um pouco.

Tomou o hambúrguer oferecido. Jogou para trás, na garganta.


Carne e maionese. Engolido. Foi embora. Ela riu.

Eu caminhei de volta ao longo da própria trilha de cheiro antes do


sol nascer. Importante, sol nascendo. Ela não poderia recuperar sua pele
depois que o sol nascesse. Ela ficaria presa na forma de pantera—uma
coisa boa—mas ela não ficaria grata. A noite pertencia à Besta. Apenas
a noite. O dia era dela.

Saltou para o topo da parede. Caiu dentro das paredes do jardim.


Passeou, membros soltos e satisfeitos. Inspirou aromas. O cheiro de
sangue podre era forte—gado velho, morto, morto por outros. Podre,
acelerado pelo calor, preso pelo ar úmido. Fedor de sangue em roupas—
humanos mortos e um Louco. O Louco tinha uma mistura estranha de
aromas, pequenas partes de coisas diferentes, algumas conhecidas,
outras não. Cheirou o sangue envelhecido em um pano. Familiar. A
caçada. Sim, boa caçada. Com os músculos flexionados, saltou para o
topo da rocha e deitou-se de barriga para cima. E pensou nela.

A cinza me cobriu. Luz e sombra. Ossos e tendões fluíram e


mudaram. Rachado e quebrado. A dor apunhalou profundamente e
ela/eu gemeu de dor. Por um momento, éramos um. Éramos Besta,
juntas.

de garras em minha psique, Besta

se foi e eu fiquei, minha carne e músculos doendo, minhas narinas


amortecidas, visão monótona e sem cor, mesmo enquanto o sol
iluminava o céu oriental. Humana mais uma vez, meu cabelo caiu sobre
mim como um xale. Meus ossos doíam como se eu fosse uma velha, na
mente e na alma.

O golpe final de dor foi deliberado. Besta ocasionalmente se referia


a mim como ladrão-de-alma, e eu sabia que a tinha roubado, de alguma
forma, por acidente, há muito tempo que não conseguia me lembrar,
embora Besta se lembrasse e às vezes me punisse por isso. Eu temia que
Besta não me deixasse mudar de volta. Houve momentos no passado
em que ela manteve sua forma depois do amanhecer, o que me forçou a
mantê-la até o anoitecer ou até a lua nascer novamente, parte de sua
punição.

Não sei exatamente quanto tempo vivi como Besta nas Montanhas
Apalaches, meu eu humano subsumido, me escondendo dos humanos,
do homem com suas armas e cães e fogo. Foi um longo período de
perigo, de fome. Eu temia que pudesse ter sido décadas, muito mais do
que a vida normal de um humano ou felino, e que meus parentes
estivessem todos mortos e desaparecidos, tão perdidos para mim quanto
meu próprio passado.

Eu tinha vagas memórias de retornar à forma humana várias vezes


ao longo dos anos, depois voltar à forma de pantera, até a última vez
que mudei para a minha forma humana. Aconteceu alguns dias antes de
eu ser descoberta caminhando, nua e com cicatrizes, nas florestas das
Montanhas Apalaches. Eu parecia ter cerca de 12 anos e estar com
amnésia total, incapaz de me lembrar da linguagem ou de pensar como
um ser humano socializado. Incapaz, na época, de lembrar até mesmo
da Besta.

Acho que algo aconteceu, algo mortal. Eu tinha cicatrizes em meu


corpo humano, em forma de bala. Eu acho—adivinhei—que um
caçador encontrou a Besta. Atirou nela. E eu mudei de volta para minha
forma humana para sobreviver, assim como uma vez mudei para a de
Besta para sobreviver.

Quando a memória da Besta voltou, outras memórias fragmentadas


e despedaçadas vieram com ela. Lembrei-me de seus filhotes. Eu tinha
memórias dos tempos de fome, quando Besta era alfa e eu era beta. E
antes disso, lembrei-me de algumas palavras Cherokee. Tinha
lembranças de rostos—mais velhos, a maioria deles. Memórias que
afirmavam que eu era um skinwalker. Mas foi só isso. Eu não tinha
memórias claras do tempo, ou como ou quando me tornei o que eu—o
que nós—éramos.

Desde então, colecionei peles, garras, ossos, dentes, penas e até


escamas de outros animais. Eu aprendi sozinha a skinwalk em outras

Quer dizer mudar para outras formas


formas. E sempre doía como chamas azuis voltar a ser humano. Como
agora.

Quando consegui respirar sem dor, destravei a bolsa de viagem em


volta do pescoço e rolei rigidamente para ficar de pé. Juntei minhas
coisas e entrei na casa. Nua, caminhei pela cozinha da casa, explorando.
Como Besta, eu estava com fome depois de uma mudança, mas ao
contrário de Besta, eu queria chá forte e cereais—cafeína, açúcar e
carboidratos—para restaurar meu senso de identidade. Alimentos
reconfortantes. Enxaguei e enchi uma chaleira e uma panela com água,
adicionei sal à panela. Abri uma caixa de mingau de aveia dos
suprimentos que Troll havia fornecido e localizei a caixa que enviei para
a casa de Katie na semana passada. Eu estava muito esperançosa de
conseguir o emprego. Dentro havia suprimentos de viagem, incluindo
sacos de papel alumínio fechado com ziplock de chá. Eu escolhi um chá
bom, forte e de uma única propriedade Kenyan-Millma Estate .
Procurando nas gavetas e armários por um coador ou filtro de chá,
encontrei um recanto fora da cozinha onde porcelana, prataria,
faiança e travessas eram guardadas em armários com fachada de vidro.

Marca de chá preto exótico.

A faiança é uma forma de cerâmica branca, que possui uma massa cerâmica menos rica em caulim do que a porcelana e é
associada a argilas mais plásticas. São massas porosas de coloração branca ou marfim e precisam de posterior vitrificação.
Havia uma dúzia de bules em um gabinete, alguns potes chineses—
um bule Yixing de bloco de cobre e um pote Yixing Summer Blossom ,
ambos com formas quadradas, e um Yixing alto com bico alongado e
tampo para que o vapor pudesse esfriar e cair de volta no chá enquanto
embebia. Havia uma louça de cerâmica chinesa muito antiga e clássica,
com um cabo de bambu podre. Eu estava em transe. Cuidadosamente,
movi as panelas chinesas para o lado para encontrar duas panelas
japonesas—um bule de chá Bodum Chambord e um de ferro que parecia
positivamente antigo, com as linhas cruzadas nas laterais quase gastas.

Havia potes ingleses de vários tamanhos, potes de porcelana e ferro


fundido com alças de ferro que giravam na parte superior. No canto da
frente, perto da porta, havia uma dúzia de filtros de chá em diferentes
formas e tamanhos, incluindo um filtro de bambu trançado que se desfez

Yixing (宜兴 ; pinyin : Yíxīng) é uma cidade da província de Jiangsu, na República Popular da China. É uma cidade
administrativa sob jurisdição da cidade-prefeitura de Wuxi e faz parte do delta do rio Yangtzé. Com uma indústria moderna, bem desenvolvida,
é conhecida pelos bules de chá Zisha, feitos tradicionalmente com argila. Tem uma grande quantidade de investigadores e académicos. Situada
na margem ocidental do Lago Taihu, fica no centro de um triângulo formado pelas cidades de Xangai, Nanjing e Hangzhou. Yixing está dividida
em quatro subdistritos e 14 vilas.

Pote Yixing Summer Blossom

A chaleira BODUM CHAMBORD ela tem um coador dentro.


quando o toquei. O armário cheirava a Katie, embora de muito tempo
atrás, o cheiro fosse silenciado pelo tempo.

Eu não tinha certeza do que sentia por Katie amar chá tanto quanto
eu. Foi a primeira vez que pensei em vampiros gostando de qualquer
coisa além do gosto de sangue ou álcool. Os vampiros tinham muitos
nomes, individual e coletivamente: vampiro, vam pyre, sanguívoro,
damphyr, damphire, calmae, calouro, ancião, Mithran, criança, parente,
anarquista, caitiff e membros da camarilha, entre outros. Eu tinha
estudado as poucas informações confiáveis disponíveis sobre os
chamados vampiros sãos, e até onde eu estava preocupada, eles eram
todos psicopatas sugadores de sangue. Não foi fácil vê-los sob outra luz,
e a perda de controle de Katie quando ela me cheirou não ajudou.

Escolhi um bule inglês de oito xícaras e um filtro para combinar e


lavei os dois na torneira. Enquanto a água esquentava e meu estômago
roncava, encontrei uma suíte no andar térreo na frente, tomei banho e
me sequei, e coloquei um roupão macio de chenille pendurado na porta

Jogo de porcelana Inglês

Roupão macio de chenille


do banheiro, em volta dos meus ombros. Escovei meu cabelo e o amarrei
dando um nó. Eu poderia fazer uma trança mais tarde.

Depois de despejar meus escassos pertences na cama em uma pilha,


guardei meus produtos de higiene pessoal no banheiro, minhas roupas
em cabides e prateleiras de arame no armário e minha caixa de madeira
especial na prateleira de cima do armário. A caixa tinha apenas dez por
dez por dezoito centímetros, mais ou menos, composta de madeira de
oliveira incrustada de uma árvore fora de Jerusalém. Ela continha
feitiços que me custaram mucho buckos e eram meu ás na manga para
matar desonestos. A caixa em si foi enfeitiçada por um feitiço para
torná-lo difícil de ver. Não um feitiço de invisibilidade, mas um feitiço
de disfarce, o que minha amiga feiticeira Molly chamou de feitiço de
ofuscação. Molly gosta de palavras grandes.

Desdobrei os lençóis e coloquei dois assassinos-de-vampiros—facas


especialmente projetadas com uma linha de prata perto da borda—na
mesa de cabeceira. Os vampiros não podiam se mover durante o dia,
mas isso não significava que seus servos humanos não pudessem atacar.
Se o ladino tivesse um ou mais, ele poderia estar sã o suficiente para
mandá-los atrás de mim. Um pequeno envenenamento por prata, se ele

Quer dizer ‘muitos dólares’.


bebesse depois de eu cortar um, poderia torná-lo mais fácil de matar
mais tarde.

Tão satisfeita quanto eu poderia estar com a segurança sem


substituir as portas e janelas, fiz um tour pela casa. Era linda, algo saído
de uma revista. Tinha pisos de madeira, tábuas de trinta centímetros de
largura, talvez cipreste local, molduras intrincadamente esculpidas e
pintadas de branco no teto e no chão, lambris em uma sala, que poderia
ser destinada a uma sala de jantar, paredes pintadas com cores suaves e
calmantes—café com leite, quase branco, cinza claro. Mesas antigas
charmosas e cadeiras esculpidas à mão misturadas com móveis
modernos e confortáveis, sofás e uma poltrona reclinável de couro
completavam o visual eclético. O ar-condicionado ligou enquanto eu
explorava, levantando a saia da cama, gelando minha pele. Ventiladores
giraram no alto em cada uma das salas de pé direito de três metros e
meio, redistribuindo o ar. Muito mais agradável do que meu minúsculo
apartamento de um cômodo sob o beiral de uma velha casa perto de
Asheville.

De volta à cozinha, desliguei o fogo sob a chaleira assobiando e


derramei a água quase fervente sobre as folhas de chá no filtro do bule
de porcelana. Enquanto subia, eu fazia aveia do jeito que minha mãe do
lar infantil me ensinou. Leve a água levemente salgada para ferver,
adicione aveia integral em flocos—nunca do tipo instantâneo ou
rápido—em proporções iguais e mexa até aquecer por completo. Talvez
um minuto. Talvez menos dependendo da minha fome. Despeje em
uma tigela, acrescente o açúcar e o leite. Coma. Com chá devidamente
preparado.

Eu sou uma esnobe do chá. Meu sensei me apresentou aos chás e


utensílios para chá quando eu era adolescente e fiz um estudo sobre chá
depois do expediente, depois que ele me machucou e me espancou até
virar uma polpa e, de alguma forma, ao longo do caminho, me ensinou
a lutar como um homem.

Eu estava acordada há vinte e seis horas e estava exausta, mas


estava mais com fome do que cansada, então comi rápido, guardando
três tigelas de mingau de aveia. Minha barriga inchou de satisfação,
embora eu tenha percebido um lampejo sonolento de nojo de Besta e a
imagem de um cervo comendo grama. Ignorando isso, carreguei a
caneca comigo para a mesa e apertei o roupão de chenile. Estava limpo,
e imaginei que quem preparou a casa para mim o deixou. Ou talvez o
inquilino anterior tenha esquecido quando se mudou. Ele. Sim. A casa
cheirava a homem mais recentemente, sobre os outros aromas de todas
as idades.
Eu tomei um gole e relaxei, meus pés na cadeira do outro lado da
mesa, o robe fechado do peito até as canelas. A mesa era velha, talvez
uma antiguidade, embora eu não tivesse estudado antiguidades. Talvez
no próximo ano. Ou talvez eu começasse os idiomas no próximo ano,
eu queria aprender francês, espanhol e cantonês—cantonês por causa do
chá, é claro. Quando terminei o chá—oito xícaras, quatro canecas—
lavei tudo e coloquei o bule, a chaleira e a faiança em um pano para
secar. Joguei o roupão ao pé da cama e rastejei entre os lençóis macios
e levemente perfumados.

Antes de dormir, liguei para Molly, segurando o celular perto do


meu ouvido.

—Grande Gato! —Ela respondeu.

— Bom dia, Mol, —eu murmurei, sentindo o sono me puxar. —


Como estão os filhotes?

— Filhotes? Você ainda está falando como a Besta. Você caçou ontem à
noite. —Quando eu murmurei um vago sim, ela disse: — Pegou alguma
coisa?

— O desonesto tem um cheiro estranho. A Besta pensa que ele


está morrendo.
— Vamps não morrem. Não coma isso, Evan, —ela disse ao filho, sem
perder o ritmo. — Os lápis parecem bonitos, mas têm um gosto ruim.
Angie, tire os lápis dele. Obrigada. Vampiros não morrem, —ela repetiu
para mim.

Fechei meus olhos, o sono tão perto que paralisou meus membros,
o mundo escureceu. — Eu sei. Estranho, hein. Você e suas irmãs
bruxas descobriram por que os símbolos cristãos matam vampiros?

— Nem uma pista, mas toda a família está procurando. Pesquisa


interessante.

— Boa noite, Mol.

— Boa noite, Grande Gato.

Acordei às duas da tarde com o som de alguém batendo na porta.


Rolei para fora da cama, sentindo-me rígida, e vesti o roupão. Eu ainda
estava segurando o celular e o enfiei no bolso do roupão. Descalça,
caminhei até a porta da frente e olhei para fora através de uma vidraça
transparente em seu vitral. Na varanda da frente estava o menino bonito,
o Joe. Interessante.

Ele estava em um ângulo para que pudesse ver a rua e manter a


porta à vista. O visual muito legal e todo preto tinha sumido. Ele estava
vestindo jeans de cinco botões surrados e uma camiseta tão branca que
devia ser nova em folha, com sandálias de couro desgastadas,
manchadas e de couro marrom. Os óculos de sol ainda estavam em seu
rosto. Seu nariz havia sido quebrado uma vez. Uma pequena cicatriz em
sua clavícula desapareceu na camisa. Em um bíceps, vi as bordas de uma
tatuagem. Não pude ver muito, mas era uma tatuagem de boa
qualidade, algo escuro com globos vermelhos, como gotas de sangue, a
tinta brilhante e intensa. Um trabalho oriental, talvez. Ele não tinha se
barbeado, mas a aparência desleixada combinava com ele. Eu conhecia
canoístas—remadores, ratos de rio—que exibiam essa aparência quase
tão bem.

Como se me sentisse, o Joe virou a cabeça e tirou os óculos. Olhos


negros olharam para mim através de uma pequena vidraça transparente.
O Joe não parecia estar armado. Ele tinha vindo para a porta da frente
à vista de qualquer um que passasse. Eu não tinha ouvido a moto e não
cheirei nenhum escapamento fresco. Ele andou? Ele estava sozinho.
Então abri a porta. O calor entrou, pegajoso e pesado com a umidade.
— Bom dia, —eu disse.

Ele sorriu. Era um sorriso realmente bom, lábios carnudos se


alargando antes de se separarem, para mostrar dentes brancos, não
perfeitamente retos, mas irregulares na parte inferior. Algo sobre os
dentes tortos pressionando contra seu lábio inferior era inesperadamente
atraente. Seus olhos viajaram do meu rosto para o meu corpo e de volta
em uma apreciação vagarosa. — Na verdade, é boa tarde, —ele disse.

Eu assenti e meu cabelo caiu para a frente, preso em um meio coque,


sem contas. Eu tinha esquecido de tirar a pedra e as contas de plástico
antes de mudar. Droga. Agora eu teria que tirá-los da terra. — É mesmo,
—eu disse.

— Você não estava aqui ontem à noite. —Quando eu não respondi,


ele disse: — Eu bati. Andei ao redor. A moto estava na parte de trás, eu
poderia vê-la através do portão. Mas não havia luzes acesas, nenhum
som ou indicação de movimento. Você não estava aqui.

Não era uma pergunta, então não respondi, não era bem uma
acusação, mas estava perto. Esse Joe estava prestando atenção demais
em mim e eu me perguntava por quê. Eu tinha certeza de que ele não
tinha se apaixonado por mim à primeira vista quando passei por ele
ontem. Eu deixei um pequeno sorriso começar e ele continuou, uma
pitada de diversão agora em seus olhos.

— Quando eu verifiquei com Tom, ele disse que você havia


desativado todas as câmeras de segurança de Katie. Em oito minutos.
—Ele conhecia Troll. Mais interessante. Eu levantei uma sobrancelha,
sua diversão cresceu, e ele disse: — Tom disse que você deu a ele um
apelido, mas ele não quis me dizer qual.
— Você tem uma razão para me acordar da minha soneca? —Eu
perguntei.

— Sim. Vamos para um almoço tardio. Você pode ligar para o Tom
para uma introdução. Aviso justo, entretanto. Ele vai dizer que eu sou
um problema.

Eu descansei um quadril contra a porta e considerei. Quem quer que


fosse, ele conhecia Troll, o que o tornava um garoto local, eu precisava
de alguém com contatos e conexões locais, e não era muito cedo na
investigação para começar a cultivar fontes. Com sua aparência e atitude
arrogante, eu o considerei um bad-boy com associações em todos os
lugares errados, tornando-o perfeito para o trabalho. E até os meninos
maus têm que comer. — O que você tem em mente?

— Lagostins, hush puppies , cerveja. Saladas, se você preferir, —ele


acrescentou, mas soando como se as saladas fossem uma reflexão tardia.
Algo que ele incluiu porque as meninas gostavam delas.

— Eu nunca comi lagostins.

— Então? —Ele prolongou a palavra, esperando.

Hush puppies são salgadinhos típicos da culinária do sul dos Estados Unidos, pequenas bolas de polme de farinha de
milho fritas e tradicionalmente servidas para acompanhar peixe frito.
— Você tem um nome?

— Rick LaFleur.

— Caminhando ou de motocicletas?

— Caminhando. Vou te mostrar o Quarter. Ou parte disso.

Eu tinha visto o Quarter ontem à noite, mas concordei mesmo


assim. — Vou me vestir. —Empurrei a porta e a mão do Joe a segurou,
segurando-a aberta cinco centímetros. Eu podia ver mais da tatuagem,
quatro pontos logo acima dos globos sangrentos. E outra tatuagem no
outro ombro. Preto e cinza.

— Você não vai me convidar para entrar?

— Não.

— Meio direta, não é? Bem. Quanto tempo?

— Dez minutos, no máximo. —As sobrancelhas de Rick subiram


em descrença. Desta vez, quando empurrei a porta, ele não tentou
segurá-la. Ele deveria querer manter seus dedos.

Liguei para o Katie's Ladies e, quando uma mulher sonolenta


atendeu, perguntei por Tom. Como Rick prometeu, Troll o rotulou
como problema, mas ofereceu mais. Rick LaFleur era seu sobrinho, um
bom garoto que se tornou mau. Foi para Tulane , formou-se e depois
foi trabalhar para um canalha como músculo de aluguel . Quando seu
novo chefe foi para a prisão por fraude fiscal, Rick começou a fazer
trabalhos estranhos: segurança não oficial, trabalhos de proteção, coisas
fortes e alguns trabalhos de segurança de baixo nível para a comunidade
de vampiros, especialmente Katie. Ele conhecia pessoas. Ele tinha
habilidades geralmente cultivadas por bandidos e ladrões. Perfeito para
minhas necessidades. Troll sugeriu que eu ficasse longe de Rick. Eu
disse a ele que levaria sua recomendação em consideração.

Desligando, escovei meus dentes e cabelo e vesti o jeans de ontem,


uma camiseta regata e meu único par de sandálias em quatro minutos.
Sem armas. Não em plena luz do dia. Não no calor assim. Eu passei um
pouco de batom. Vermelho. Pintura de guerra, de alguma forma.

Abri a porta e fechei atrás de mim, trancando-a. De pé na varanda


vazia, vi Rick do outro lado da rua. Sua motocicleta estava à sombra de
uma árvore baixa e ele a estava acorrentando ao tronco. Ele ficou em
pé, jogou as chaves e as pegou, enfiando-as no bolso. Eu não conseguia

Universidade Tulane é uma Universidade de pesquisa privada de Nova Orleães, Luisiana, Estados
Unidos. É considerada universidade de topo e a mais seletiva instituição de educação superior no estado de Luisiana com uma taxa de aprovação
em 17% para a classes de 2022.
Quer dizer um guarda-costas, segurança
ver seus olhos por trás das lentes, mas tinha certeza de que ele estava me
olhando de novo.

Eu puxei meu cabelo para trás e o prendi em um rabo de cavalo. As


pontas pendiam mais abaixo dos meus quadris, enrolando, dobrando
com a umidade. Eu tinha cabelo preto liso. Sem ondulação. Nunca.
Nem mesmo depois de escovar as tranças. Até agora. O dia estava
úmido e quente. Mais quente do que eu já senti. E nem estava em pleno
verão.

Meu estômago roncou. Coloquei os óculos escuros e saí para a rua,


encontrando-o no meio do caminho. — Rick, seu grande-tio disse que
você estava cheio de informações e potenciais não realizados, —eu
disse.

Ele deu um meio sorriso, divertido pela minha maneira direta. —


Uma praga no nome da família, —ele concordou. — E você é Jane
Yellowrock. O talento de fora da cidade.

— Você quer bater um papo, vamos conversar em algum lugar com


ar-condicionado e cerveja.

Rick riu, mostrando o dentinho sexy, e gesticulou para a calçada em


uma reverência exagerada, como um vagabundo de carnaval. Ele
cheirava bem—calor, suor masculino e um leve toque de perfume, como
sabonete Ivory . Eu resisti ao desejo de cheirar o lado de seu pescoço e
atrás de sua orelha, mas não pude fazer nada sobre a fome crescendo em
mim, empurrando contra minha pele como uma pele. A fome da Besta,
a natureza da Besta. Suspirei. Besta queria que eu acasalasse. Ela estava
ficando muito insistente sobre isso, meio que uma mãe querendo que
sua filha se estabeleça, se case e tenha filhos. Uma imagem de mãe com
presas e garras. Esta lua cheia, quando a Besta estava mais perto da
superfície e mais difícil de controlar? Ia ser uma cadela.

Era muito cedo para arrancar informações dele, então conversamos


sobre o tempo, motocicletas e música na caminhada de cinco
quarteirões—o Joe mencionou que, entre outras coisas, ele tocava
saxofone em algumas bandas locais. Era uma conversa casual do tipo
“vamos nos conhecer” e acabamos em um local perto do rio, uma sala
longa e estreita com um bar à direita e cabines estofadas de couro
vermelho à esquerda. Eu teria me perguntado qual seria a escolha de

Sabonete Ivory

Saxofone, também conhecido popularmente como sax, é um instrumento de sopro patenteado em 1846 pelo belga
Adolphe Sax, um respeitado fabricante de instrumentos, que viveu na França no século XIX. Os saxofones são instrumentos transpositores, ou
seja, a nota escrita não é a mesma nota que ouvimos.
Joe, exceto que o lugar estava lotado com tudo, desde funcionários da
cidade de colarinho azul em botas de trabalho a homens e mulheres de
terno. Tipos banqueiros. Talvez alguns músicos. Eu senti cheiro de
grama em alguns. E no canto mais distante estavam três policiais.
Aprendi que, se os policiais gostavam de um restaurante, a comida era
boa.

O piso de cimento já havia sido pintado de vermelho, a tinta estava


gasta, exceto nos cantos, as paredes eram de uma meia-noite desbotada
pelo sol e umidade. O balcão era de fórmica lascada, preta com brilhos
nela, e um espelho escuro corria ao longo da parede atrás do bar.
Prateleiras de vidro sujas em frente ao espelho estavam cheias de um
milhão de garrafas de bebidas alcoólicas, algumas estavam cobertas de
poeira, com etiquetas onduladas. Um belo conjunto de facas de cozinha,
com alças de pedra verde incrustadas e lâminas extremamente afiadas,
jazia em uma bandeja forrada de veludo, brilhando sob as luzes do teto.

Não havia música, o que, como descobri na noite anterior, era


estranho para o bairro. Mas aqui, as pessoas conversaram. Uma dúzia
de conversas flutuou no ar com o cheiro de comida. O lugar cheirava
celestialmente a vapor de cerveja, gordura e frutos do mar tão frescos
que ainda cheiravam a sal e mar.
O homem negro atrás do balcão usava uma jaqueta branca
impecável, um chapéu alto de chef e um sorriso. Ele deu um tapinha no
balcão em frente às duas únicas cadeiras redondas vazias e deslizou na
frente pequenas tigelas de plástico com molho apimentado, ketchup e
molho tártaro. O Joe “Rick” e eu nos sentamos nos lugares indicados. O
cozinheiro não disse uma palavra, apenas começou a servir a comida
em cestas de plástico vermelhas forradas com papel para absorver a
gordura. Ele empurrou cestas de anéis de cebola quentes, hush puppies
e bolas fritas redondas do tamanho de bolas de golfe para nós, cheirava
como céu.

Eu joguei um hush puppies escaldante na minha boca e mordi,


puxando o ar para esfriar minha boca em chamas. Eu gemi de alegria.
— Isso é bom, —eu disse através de pão de milho frito e temperado e
lábios escaldantes. — Mais do que bom. Maravilhoso. —O homem atrás
do balcão colocou duas canecas na nossa frente, novamente sem
perguntar, cheias de cerveja âmbar espumosa. Bebi rápido para esfriar a
boca e experimentei os anéis de cebola. Eles também foram fritos, com
crosta de massa de cerveja, e eram crocantes como se próprio Deus os
tinha feito em Sua própria cozinha. Por último, experimentei as
desconhecidas bolas fritas e mordi a crosta, até sentir o arroz e carne de
porco moída altamente condimentada.
— Boudin , isso é certo, —disse o cozinheiro. — Bom, sim?

— Estou apaixonada, —eu disse ao cozinheiro enquanto mastigava.


— Se você não é casado, considere isso uma proposta.

Ele sorriu, seu rosto se contraindo em rugas profundas e escuras,


expondo os maiores dentes brancos que eu já vi em um humano. — Sua
garota, eu gosto dela, eu gosto, Ricky-bo, —ele disse, no que eu assumi
ser um sotaque Cajun. Ele olhou para mim com um brilho nos olhos. —
Mas você deve contar a ela sobre minha Marlene. Não gosto quando
um novo cliente acaba sangrando no meu chão limpo e puro.

Rick, com um meio sorriso no rosto, estava sentado com os


cotovelos no balcão, um hushpuppy em uma das mãos e sua caneca de
cerveja na outra. Ele inclinou os olhos para mim. — Marlene é a esposa
dele. Cento e quatorze quilos de mulher ciumenta e perigosa.

— E linda, —disse o homem. — Não se esqueça de linda, você.

— Linda de morrer, —Rick concordou. — Como lava derretida na


pista de dança. Faz os homens gemerem só de olhar para ela. Mas ela

Boudin é um enchido típico da culinária da França, feito com sangue e gordura de porco (“boudin noir”), ou com carne
“branca” e magra (porco, aves, vitela ou caça), ovos, leite, nata e miolo de pão (“boudin blanc”), metido dentro de tripa ou outra parte do tubo
digestivo do porco e cozido em água e sal. Para além de haver uma grande variedade destes enchidos na Europa, os cajun da Louisiana produzem
igualmente um tipo de boudin, bem conhecido naquela região, geralmente contendo arroz cozido, mas também com muitas variantes.
carrega uma faca de trinta e cinco centímetros amarrada em sua coxa.
Em uma liga.

— Ciúme, —disse o cozinheiro novamente, deslizando uma cesta


de malha de aço em um barril de gordura quente, o chapéu de chef
inclinado para o lado. — Mortal, ela é, sim.

— Matou uma mulher aqui no ano passado, —disse Rick. Ele


apontou para o chão a um metro de distância. — A mulher tentou flertar
com ele. Morreu ali mesmo.

Finalmente percebendo que eu estava sendo provocada, joguei


outro anel de cebola na boca e disse enquanto mastigava: — Enterrou-a
nos fundos, suponho? Sob a lua cheia? Cantos e tambores?

— Debaixo de uma árvore, —disse o homem, rindo. — Marlene


encontrou para ela uma bela pedra da casa funerária. Diz: “Aqui jaz a
mulher idiota, que deu em cima do meu homem”. — Ele secou a mão e
segurou-a sobre o balcão. — Antoine.

— Jane, —eu disse, limpando a gordura dos meus dedos.

— Antoine nunca esquece um rosto ou um cliente, —disse Rick. —


E ele sabe tudo o que há para saber sobre esta cidade.

— Prático, —eu disse. Peguei sua mão. Era grande, com dedos
longos e liso, e quando o agarrei, o mundo pareceu desacelerar. Como
uma grande motocicleta depois de um longo passeio, as energias
bombando com força, prontas para rolar, mas reduzindo a quase nada.
Silêncio quando o motor para, silêncio quase tão alto quanto o motor,
zumbindo e cavernoso. Antoine olhou para mim. Eu o encarei.

Sua palma formigou com poder, espinhosa e aguda, como


eletricidade estática correndo logo abaixo de sua pele. Poder de bruxa,
como o de Molly, mas diferente de uma forma que pude discernir
imediatamente. Suas pupilas se alargaram, seus lábios se separaram.
Algo se passou entre nós. Um momento de ... alguma coisa. Porcaria.
O que é isso? Raramente sentia a Besta em meus pensamentos, a menos
que eu estivesse em perigo, mas ela estava repentinamente alerta,
agachada, de barriga para baixo, garras espetando minha alma com um
aviso.

O aperto de Antoine aumentou. — Muito prazer em conhecê-la,


Senhorita Jane, —ele disse formalmente.

O poder espinhoso viajou pelo meu braço, procurando. Besta


grunhiu, o som um aviso profundo em minha mente. Antoine inclinou
a cabeça surpreso, como se a tivesse ouvido. — Da mesma forma, Sr.
Antoine, —menti, meus lábios formigando, quase doloridos, enquanto
resistia ao poder de busca. Deslizou em torno da minha tentativa
insignificante de bloqueá-lo. Besta estendeu a pata e colocou-a na
energia que estava crescendo dentro de mim. Pressionado para baixo na
corrente. E parou a sensação.

— Da mesma forma, —eu repeti. Ele soltou minha mão, quebrando


o ... o que quer que fosse. O mundo desabou ruidosamente, tumultuado.
Peguei um anel de cebola e comi, mas o gosto agora era desagradável,
metálico, ligeiramente amargo. Eu engoli a cerveja. O gosto estranho foi
lavado com a cerveja turfosa e fermentada.

— Venha a qualquer hora, —disse Antoine. Eu olhei para cima,


encontrando seus olhos. Eles pareciam estar dizendo algo mais do que
suas palavras. — Temos música e dança à noite, às vezes.

— Derrama-se na rua, —disse Rick. — Se você gosta de dançar.

Eu gostava de dançar. Mas talvez não aqui.

Exceto pelo momento em que segurou minha mão, Antoine estava


trabalhando enquanto conversava. Ele colocou um balde, como um
balde de jardinagem, no balcão entre Rick e eu. O vapor com sabor de
cerveja e mar se enrolou, quente com pimenta e especiarias. Rick
estendeu a mão e tirou uma lagosta, sua casca vermelha enrolada. Eu
tinha certeza de que o crustáceo havia sido jogado vivo na cerveja
fervente.
Olhei para Antoine, não vendo nada do poder que tentou me
vasculhar. Eu nunca havia sentido nada parecido antes, e o rosto cordial
do homem parecia sugerir que nada havia acontecido. Se ele podia
bancar o inocente, eu certamente poderia bancar a estúpida. Mas eu me
perguntei o que ele havia percebido sobre Besta enquanto segurava
minha mão. Pensativa, comi outro hushpuppy. Rick me trouxe aqui. Ele
queria que Antoine me lesse. Tentei decidir se isso me irritava.

Rick encontrou meus olhos no espelho escuro, segurando uma


lagosta de dez centímetros de comprimento como se estivesse
demonstrando. Seu rosto exibia uma pitada de riso e um calor que dizia
que ele estava interessado em mim, se fosse real. Já fazia algum tempo
que eu não via aquele olhar particular nos olhos de um homem. Talvez
desde que conheci Jack quando entrei no ramo de segurança. Poucos
homens queriam namorar uma garota que pudesse jogá-los em um canto
e esmagá-los no chão. Eu não precisava de proteção e os homens
pareciam sentir isso. Isso incomodava muitos deles.

E ... embora eu não fosse freira, também não tinha conquistado o


mundo do namoro. Eu tinha amigas que faziam malabarismos com
vários homens, dentro e fora da cama, ao mesmo tempo, mas eu era
uma espécie de mulher de um homem só. De longe. E aquele homem
tinha ido embora há muito tempo. Decidi não ficar brava com a leitura.
Ainda não, pelo menos.

Para obter o protocolo adequado para comer lagostins, observei Rick


enquanto ele quebrava a casca do corpo, logo acima da cauda, e puxava
a carne. Ele comeu a boca cheia de frutos do mar e me saudou com os
dois pedaços de casca de lagosta. — Chupe a cabeça, —disse ele, como
outra pessoa poderia ter dito: — Cheers , —e chupou a parte da cabeça.
Eu ouvi um líquido sorver. Rick estalou os lábios e pegou outra lagosta.
Dei de ombros e quebrei o marisco como ele tinha feito, comi a carne,
que acabou ficando apimentada com pimenta, alho, cebola e cerveja.
Bom. Muito bom. Então chupei a cabeça como Rick tinha feito, e as
especiarias explodiram na minha boca.

Ele riu do que quer que estivesse em meu rosto e disse: — Esqueci
de dizer. As especiarias parecem se concentrar na cavidade da cabeça.

— Sem brincadeira, —eu consegui dizer, meio estrangulada pelo


material potente. — Você esqueceu.

Antoine riu com Rick. — Esse garoto vem aqui há vinte anos. Ele
sempre esquece.

Quer dizer Sáude.


barriga distendeu e meus

instintos sobre Antoine foram esmagados pela satisfação gastronômica,


Rick e eu caminhamos ao longo do rio em um calçadão de concreto.
Um músico, suando com o calor, balançava lentamente em um pedaço
de sombra, tocando um saxofone barítono . As notas do jazz eram baixas
e ondulantes como o vizinho Mississippi, a melodia comovente e
lamentosa. Joguei uma nota de cinco na caixa de sax aberta a seus pés e
paramos para ouvir. Depois da melodia, seguimos em frente, o músico
assentindo para nós com a cabeça e começando outra melodia, as notas
profundas nos seguindo pela caminhada.

O ar estava quente e úmido e minha camisa grudou na minha pele


como se estivesse colada, meu jeans úmido de calor, ainda assim, era

Saxofone barítono é um dos sete tamanhos de saxofone concebidos por Adolphe Sax.<ref>{{cite
web|last=Charles|first=Roger|title=Th É o terceiro na ordem do mais grave ao mais agudo. É um instrumento transpositor de afinação em Mi
Bemol.
uma sensação estranhamente reconfortante, como a pele depois de um
mergulho e uma hora de preguiça ao sol. Eu não era boa em interação
social, na verdade, eu era totalmente péssima nisso, mas a presença de
Rick fez a tarde parecer sociável, amigável—um cara bonito, uma boa
refeição ... Mas trabalho era trabalho, e achei que era o momento
apropriado para ver se Rick LaFleur seria útil em minha investigação ou
apenas uma distração. Eu queria usar seu conhecimento local e
contatos, e isso substituiu qualquer interesse por ele de uma forma não
comercial. Ou então eu disse a mim mesma.

Tentando um tom leve, eu disse: — Então, menino mau, estraga o


nome da família. Quer me dizer por que você veio à minha casa e me
apresentou as iguarias de Antoine? Acho que não foi porque você me
viu na rua e se apaixonou perdidamente à primeira vista.

Ele olhou para mim através das lentes escuras uma vez, e eu quase
podia senti-lo pensando nas coisas. Quando ele enfiou os polegares nos
bolsos da calça jeans, imaginei que ele tinha chegado a uma conclusão.
Ele me olhou de esguelha por cima dos óculos, a cabeça inclinada para
baixo, os olhos voltados para cima, considerando. Foi um gesto bem
ensaiado e deu início ao meu jogo dar. O Joe era um jogador. A
constatação foi surpreendentemente decepcionante.
— Convidei você para almoçar para ver se poderíamos trabalhar
juntos. —Ele franziu os lábios, considerando suas palavras. — Mas algo
sobre você me incomoda.

Eu permiti que um sorriso começasse deixando-o ver um toque de


escárnio nele, mas não o suficiente para decidir se eu estava zombando
dele ou de mim mesma.

— Eu tenho que te dizer, senhora, você me assusta muito e eu não


sei por quê. E você assustou Antoine. Eu vi nos olhos dele. —Ele
colocou os óculos de volta no lugar, escondendo sua expressão. — Nada
assusta Antoine.

Eu mantive meu tom leve. — Suas calças ainda estão no lugar.


Antoine ainda está vivo. Estou desarmada. Eu não matei e comi
ninguém. Por aqui. —Deixei meu sorriso torcer um pouco e acrescentei:
— Ainda. —Rick deu uma risadinha. — Então, por que sou
assustadora? —Terminei.

— Eu gostaria de saber. Você é bruxa?

— Não uma bruxa, —eu disse, — não.

— Não pensei que sim. Você não ... —ele considerou e descartou
várias palavras, — você não se sente assim. Mas senhora, você não é
humana. —Não foi uma pergunta. Era mais uma acusação. E chegou
perto demais da verdade.

Eu me virei e voltei rio abaixo. — Obrigada pelo convite e pela


apresentação a Antoine. —Não agradeci o almoço porque paguei o
meu.

— Ei, ei, ei. Não fuja furiosa.

Eu me virei, caminhando de costas pelo calçadão de concreto, e tirei


meus óculos para que ele pudesse ver meus olhos. — Eu não estou
fugindo. E eu não estou brava. Eu simplesmente não sou o tipo de garota
que gosta de jogar. Você vigiou minha casa ontem à noite, fumando um
charuto, se escondendo na varanda do outro lado da rua. —Suas
sobrancelhas se ergueram e ele tirou os óculos também. O que foi apenas
educado e me fez vê-lo de uma maneira um pouco mais gentil. Só um
pouco. — Você faz semi-acusações e dança em torno das perguntas, mas
não pergunta, apenas cutuca e cutuca para ver o que vou fazer. Você me
leva a um amigo que por acaso tem algum tipo de magia de bruxa e faz
com que ele me leia ... —eu deixo escapar um pouco da raiva que senti
sobre aquele show, — o que só me irritou. Então, você vê, eu não estou
brava. Apenas tenho coisas melhores para fazer com o meu tempo.

— E isso aí ... —ele ergueu o dedo indicador como se estivesse


fazendo questão, — é o que me assusta em você. —Quando parei e
levantei uma sobrancelha, com as mãos nos quadris, suando de calor,
ele disse: — Qualquer outra mulher teria passado os próximos dez
minutos tentando me convencer de que não estava brava. Mesmo se ela
estivesse. Você? Você acabou de me mandar embora. Enquanto você vai
embora. Calma e fria como se não importasse. E, senhora, garotas
geralmente não se afastam de mim.

Meu sorriso torceu forte e comecei a andar novamente, para trás,


ciente de um casal sentado em um banco no calor suado, perto o
suficiente para nos ouvir se eles não estivessem se beijando como
adolescentes. Não que eu me importasse. — Orgulho de macho? —Eu
perguntei, mais alto, ao longe.

— Fato.

Eu percebi que era verdade. As mulheres provavelmente se reuniam


em volta dele, pairando como beija-flores. Eu tinha notado os olhares
que ele recebia no bar do Antoine, até mesmo da policial, interessada,
disposta. Ele era bonito e suave. Mas eu preferia o honesto a um jogador
suave. Qualquer dia.

— Eu não sou a maioria das mulheres, —eu disse, mais alto, para
cobrir a distância que agora nos separava.
— Eu sei disso. Você mata vampiros desonestos para viver.
Derrubou uma família de sangue inteira, você, uma bruxa e um policial.
E o policial morreu. —Eu parei de andar para trás. O casal ergueu os
olhos para a palavra “morreu” e se concentrou em mim. Piscou. Voltou
para os negócios.

Rick começou a andar em minha direção, baixando a voz. — Você


e a bruxa escaparam, você meio-morta, com aquela cicatriz no pescoço.
Mas naquela época ela tinha dez centímetros de largura, era vermelho e
estriado, nova em folha. Eu vi o vídeo. Mas você não a tinha quando
entrou na mina. Eu perguntei a pessoas que conheciam você.

Maldita Internet. Um universitário, acampando nas montanhas,


avistou Molly e eu saindo da mina, na luz do amanhecer, ambas
cobertas de sangue, eu carregando Brax, Paul Braxton, por cima do
ombro. Ou o que restou dele. Um jovem vampiro desonesto o matou.

Rick se moveu em minha direção, seus passos medidos, cuidadosos,


como se estivesse se aproximando de um animal selvagem. Eu fiquei
tensa e dei mais um passo para trás antes de parar. Ele diminuiu a
velocidade. Deliberadamente, relaxei meus punhos, respirei fundo para
me acalmar, sabendo que Besta estava acordada. Ela sempre acordava
quando eu enfrentava qualquer tipo de ameaça, e eu podia sentir que ela
estava me olhando nos olhos, intensa e fortemente contraída, pronta
para o perigo. Respirei lentamente, não querendo levá-la a um estado de
alerta mortal. Mas ela ficou mortalmente quieta. Rick parou bem na
minha frente, seus olhos firmes e calmos. Me estudando. Besta o
estudou de volta.

O garoto campista havia feito um pequeno vídeo com sua câmera


digital quando viu duas mulheres saturadas de sangue saindo da mina.
Ele deu um zoom no meu rosto, meus olhos cor de âmbar peculiares
parecendo brilhar, um efeito que foi atribuído ao nascer do sol dourado.
O que mais poderia ser, certo? Mas era a Besta. E eu sabia que ela estava
olhando através dos meus olhos agora.

Quando se espalhou a notícia de que toda a família de sangue do


vampiro desonesto havia sido derrubada na mina, o cinegrafista
percebeu que tinha um ganhador de dinheiro e postou a filmagem no
YouTube. E Molly e eu ficamos famosas. Yippee.

Com a voz rouca, Rick disse: — Depois de apenas seis meses,


aquela cicatriz de dez centímetros de largura quase desapareceu. — Seu
dedo levantou e eu o observei subir para mim, não uma ameaça, não
realmente. Ainda assim, fiquei tensa. Ele traçou a cicatriz acima da
minha clavícula, linhas brancas finas com traços mais finos, evidências
de garras e dentes de vampiro, seu toque lento e delicado, como se
traçasse as penas das asas de um pássaro selvagem. — Atravessou, —
disse ele, dando um passo tão perto que pude sentir o cheiro do almíscar
do homem, — mais da metade do caminho em volta do seu pescoço.

Ele cheirava maravilhosamente bem. Suado, ligeiramente a cerveja,


picante e ... carnudo. E muito masculino. Besta estava definitivamente
interessada. Mas de repente não estava mais no modo defensivo. O calor
estremeceu na minha barriga, apertando com força.

— Algo tentou rasgar sua garganta, —ele disse, seus dedos como
uma pena na minha pele. — Tentou sugar você até secar. E quase
conseguiu. E você se curou disso. Rápido.

Recuei, levantando e abaixando cada pé, mantendo-me centrada e


equilibrada. Besta subiu em mim, recomposta. Eu estava no limite—no
limite do que, eu não tinha certeza—mas algo em mim queria cortar,
rosnar e golpear o homem ao redor. Ou o ferir ou correr. Então ele iria
me perseguir. — Molly me curou na caverna, —eu disse, mantendo
nossa mentira. — Ela se apresentou ...

— Não na lua cheia ela não fez. Sua amiga Molly é uma boa bruxa
da lua, mas seu dom é como uma bruxa da terra, ervas e coisas que
crescem. E coisas mortas, é por isso que ela foi atrás da família de sangue
com você e Paul Braxton. Eu fiz minha pesquisa. Ela pode sentir coisas
mortas. Como vampiros dormindo durante o dia. —Ele balançou a
cabeça, ainda se movendo lentamente, seus olhos fixos nos meus. Me
segurando ainda com seu olhar. Comportamento dominante.
Comportamento de acasalamento. Besta gostou.

— Não, —ele disse. Senti uma pontada de choque, como se ele


tivesse ouvido meus pensamentos. Mas ele continuou, suas palavras
medidas e deliberadas. — Ela não te curou. Não no subsolo, cercada por
um bando de vampiros mortos de verdade. —Sim, este Joe tinha feito
seu dever de casa. Ele era perigoso.

Eu senti o movimento antes de registrar a tensão em seus ombros,


sua mão formando uma garra. Para pegar meu pescoço em seu punho.
Eu bloqueei. Braço direito para cima. Em todo o meu corpo. Punho
movendo-se no sentido horário. Meu antebraço bateu com o braço dele.
Um passo rápido para o lado dele. Meu pé atrás de sua perna direita.
Empurrei. Quando ele caiu, terminei o movimento. Um golpe forte em
seu plexo solar. Talvez um segundo inteiro de ação. Sua respiração saiu
com um grunhido. A dor o empalideceu e depois o ruborizou.

Eu me afastei. Minha frequência cardíaca nem tinha acelerado.

Quando olhei para trás, Rick estava rolando de joelhos, segurando


a cintura, movendo-se como se estivesse machucado, como se ainda não
pudesse recuperar o fôlego. Não. Não Rick. Não um homem com um
nome. O Joe.
Ele ficou olhando para mim. E ele riu. A risada doeu, eu podia ver
a dor em seu rosto. Mas ele riu. Divertido, Besta pensou para mim. Eu
enrolei meus lábios. — Na verdade não, —eu murmurei. — Dez cervos
que ele não vai voltar.

Jane não pode matar mais de cinco cervos. Mas eu posso. Besta
compartilhou a memória de se banquetear com um cervo, pontos de sua
prateleira parados dentro de sua visão. O cervo tinha sido de noventa
quilos, trinta e seis quilos maior do que ela. Seu sangue estava quente,
sua carne tão cheia de sabor que fez dar água em minha boca e escorrer.

— Exibida, —murmurei para Besta. Para mim mesma. Nós duas


seguimos em frente, compartilhando o único tipo de humor que Besta e
eu podíamos. Humor esportivo sangrento.

de Rick tinha sumido quando saí do jardim

lateral, tranças feitas atrás de mim, contas estalando, minha cabeça


sufocando no capacete, motor ronronando forte e poderoso. Minha
motocicleta é uma Bitsa . Bitsa isso e bitsa aquilo. A maior parte de
peças de duas motocicletas pan/shovel Harley-Davidson FL 1950,
modificadas, não restauradas à perfeição de showroom. A motocicleta
é azul-petróleo escuro com um brilho iridescente, de flocos de metal,
pérola, tem sombras negras de patas dianteiras de leão da montanha ao
longo do tanque de gasolina, subindo pelo assento, entre minhas pernas,
garras curvas estendidas como se estendessem a mão para agarrar as
alças e assumir o controle. E sob certa luz, pode-se ver minúsculas
manchas de sangue rubi manchando as garras. É um trabalho
personalizado e único: a cor da pintura, a arte e a própria motocicleta.

O transporte de caça, depois do meu último emprego muito


lucrativo, era muito parecido com a caça de comida, e Besta, que
raramente entrava em meus pensamentos conscientes, exceto quando o
perigo ameaçava, acordou quando comecei a procurar seis meses atrás,
e esperou por toda a busca. Minha Besta tinha opiniões muito
específicas sobre veículos. Ela se recusou a me deixar comprar um carro
ou caminhão e simplesmente cuspiu quando lhe mostrei uma minivan

Bitsa é uma gíria que se refere a uma motocicleta que foi montada com "pedaços de uma motocicleta" e "pedaços deoutra". Contanto que
você não seja um defensor da originalidade, quem se importa? Esta moto parece boa.

Panhead e Shovel Harley-Davidson FL 1950


adequada para vigilância. Mas a primeira vez que viu as motocicletas,
enferrujando e quebradas em um ferro-velho em Charlotte, Carolina do
Norte, ela aprovou.

Jacob, o mestre mecânico da Harley que havia trabalhado como


construtor de motores/chassis em uma loja Charlotte NASCAR por dez
anos, era mais um padre da Harley Zen do que um mecânico. Ele não
reconstruiu Bitsa, mas a ressuscitou na perfeição que apenas um mestre
mecânico poderia imaginar. Ela ainda era uma pan/shovel básica por
fora, mas com atualizações modernas, como um carburador Mikuni
HSR42 confiável, de baixa manutenção e funcionamento silencioso e
elevadores hidráulicos, ela era uma motocicleta dos sonhos. Tínhamos
apenas uma discussão sobre Bitsa. Jacob queria instalar uma ignição
eletrônica, mas as chaves são para os fracos. Bitsa teve uma ignição à
moda antiga e sempre o teria.

Nós rolamos rua abaixo, o rugido do motor reivindicando nosso


território tanto quanto o grito da Besta anunciaria e reivindicaria o dela.
Seu grito, não um rugido. Leões africanos rugem, panteras não. Onça-
parda, puma, pantera, onça, screamer , gato diabo, leão prateado, leão

carburador Mikuni HSR42


Quer dizer gritador. Outros nomes incluem screamer pântano, diabo indiano e gato fantasma.
da montanha, e pantera negra Norte-Americana, todos se referem a uma
besta—o Puma concolor —outrora o mamífero de maior alcance no
continente norte-americano, e um dos três maiores predadores
modernos além do homem. Por mais ferozes que sejam, os pumas não
podem rugir. Eles gritam, tosse, rosna, ronrona, uiva, cospe e dar
assobios baixos, e os jovens fazem assobios altos e estridentes para
chamar suas mães, mas não podem rugir. Besta considera o dom de rugir
altamente superestimado e provavelmente atrairá o caçador branco e
suas armas. Silencioso e mortal é melhor, com gritos para assustar a
presa. Ela não precisava de mais. Mas ela gostava do rugido da
motocicleta. Vai saber.

Ela provavelmente ficaria quiescente—ela dorme quase dezesseis


horas por dia—já que as compras, embora predatórias, não eram
sangrentas o suficiente para despertar seus instintos de caça. Eu
precisava de roupas mais frescas para sobreviver ao calor e à umidade.
A temperatura chegou a meados dos trinta e dois graus, com um clima
mais quente previsto para o final da semana. Eu também precisava
encontrar o açougueiro que forneceria minhas necessidades de proteína.

"Concolor", o nome da espécie para puma, é latim para "de uma cor".
Para cumprir o bônus de dez dias, Besta e eu podemos precisar mudar
todos os dias, uma passagem de ida e volta, tornando a carne um
imperativo. De dois a cinco quilos de carne fresca e meia caixa de
mingau de aveia por dia, e isso era apenas para recuperar de dois turnos.
Se eu tivesse que lutar ou correr, precisaria de muito mais calorias.

Quando saímos do Quarter, acelerando pela Charles Avenue ,


começou a chover. De um céu azul claro. Suspirei. Meu cabelo ia ficar
horrível.

Arranjei uma conta com o açougueiro para entregar bife sempre que
eu fizesse um pedido e, no caminho para casa, vi um Wal-Mart, onde
comprei um maiô, calças cargo leves, shorts, blusas e um par de chinelos
em tons de néon. A um quilômetro e meio de distância, passei por um
shopping center com uma florista, uma pequena Igreja de Cristo e uma
pequena loja com saias até a panturrilha exibidas na vitrine. Intrigada,
parei a moto, tirei o capacete e entrei.

As saias eram de retalhos. Não como algo que um hippie de sessenta


anos usaria, mas confeitos delicados, alargados e delicados feitos de

St. Charles Avenue é um famoso logradouro da cidade estadunidense de Nova Orleães (Louisiana) de extrema
importância para a cultura local e mundialmente famoso por ter sido um bairro classe alta no século XIX. Atualmente faz parte do percurso do
tradicional Bonde de St. Charles e sedia as comemorações do Mardi Gras, o carnaval de Nova Orleães. Uma das avenidas mais famosas dos
Estados Unidos, a St. Charles Ave também sedia as Loyola e Tulane, a antiga United Fruit Company, o Pontchartrain Hotel e um prédio da
Biblioteca Pública de Nova Orleães, além de muitas mansões e igrejas.
pequenos remendos de renda ou seda ou algodão em cores vibrantes, de
cinco por dez centímetros. Cada um tinha uma cor coordenada, todos
azuis ou verdes ou vermelhos, e alguns eram bordados. Eu levantei uma
saia de renda estampada em azul marinho e roxo e sacudi suavemente.
A bainha fluiu, glamurosa e fofa. Eu não usava coisas fofas, mas gostei
disso. A cintura elástica permitiria que ele montasse baixo em meus
quadris se eu quisesse, ou mais alto na minha cintura.

— Isso ficaria totalmente radiante em você.

Olhei para a adolescente que estava sentada atrás do balcão com um


livro de bolso na mão. — Sim?

— Sim. Mas você tem que usar com esta camisa. —Ela deslizou de
um banquinho, tirando um pé de sua altura, fazendo-a ter pouco mais
de um metro e meio, e caminhou até uma prateleira, puxando uma
camisa. Era uma blusa camponesa com decote em cordão, feita do
mesmo material azul marinho, mas desta vez combinado com um tecido
roxo mais claro. — E isso, —disse ela, segurando um colar de pedra
roxa e azul-petróleo. — Ametista e chatkalite . Totalmente legal com

Chatkalite é um mineral de cobre, ferro e sulfeto de estanho com a fórmula Cu₆Fe²⁺Sn₆S₈. Cristaliza no sistema
de cristais tetragonais e se forma como dissertações arredondadas dentro do tetraedrito nas veias de quartzo.
essas sandálias. —Ela ergueu um par de sandálias roxas da janela da
frente, com tiras para dançar.

Eu olhei para a garota sardenta, sorrindo. — Eu sou péssima em


combinar roupas e você fez isso em menos de um minuto.

— É um dom, —ela concordou. — Experimente. Você quer que eu


escolha outra para você?

Virei as etiquetas e estremeci ao olhar ao redor da pequena loja. —


Vai estourar meu orçamento sair desta loja com outra.

— E vai quebrar seu coração não fazer isso, —ela disse sabiamente.
— Vou encontrar algo tão fofo quanto, mas mais barato. Continue. —
Ela balançou a mão para mim e eu fui. Experimentei roupas por quase
uma hora, um grande recorde para mim. Saí da loja com dois pares de
sapatos, duas saias, três blusas para misturar e combinar, e o colar. Seis
peças. Como eu poderia dizer não?

De volta à casa de brinde, as roupas foram para o armário com o resto


do meu parco equipamento. Viajo com pouca bagagem, exatamente o
que cabe nos alforjes, e as coisas sem as quais não posso viver são
enviadas para meu novo endereço cada vez que me mudo, como meu
chá. As armas no armário ocupavam mais espaço do que as roupas.
Uma assassina de vampiros viajante tem que se virar.
Limpei-me e coloquei meu único outro par de jeans e minhas botas
Lucchese. Eu tinha um compromisso para jantar na casa de Katie.
Estudei os papéis no envelope que Troll me deu, incluindo as
informações sobre os vampiros de Nova Orleans, e li as letras miúdas
do contrato, certificando-me de que a cláusula sobre danos colaterais
que eu havia insistido em nossas negociações na Internet ainda estava
lá. Se eu descobrisse que o vampiro desonesto estava tendo um refúgio
seguro e eu tivesse que matar um ou mais vampiros para chegar até ele,
eu não queria represálias. A cláusula especial me garantia proteção.
Estava presente.

Havia também uma cláusula de confidencialidade afirmando que


eu não compartilharia com a mídia ou qualquer outra pessoa qualquer
coisa que eu descobrisse sobre os vampiros, seus servos ou suas famílias
sob pena de uma morte lenta e horrível. Não que eu planejasse ir à TV
nacional com uma denúncia de vampiros e presas, mas isso me
interrompeu. Mesmo sabendo que a cláusula fazia todo o sentido do
ponto de vista deles, a linha da “morte lenta e horrível” era bem
arrepiante.

Perto do final, havia uma linha bem-vinda sobre a necessidade de


contratar contatos locais e um orçamento para pagar fontes que
poderiam não falar de outra forma. Pelo que li, parecia que o conselho
estava disposto a cobrir essas despesas, dependendo da aprovação de
Katie. Doce.

Na pasta de informações sobre vampiros, encontrei um adesivo de


estrada com pedágio para a minha motocicleta e uma lista dos sete clãs
de vampiros de Nova Orleans, fotos digitais dos vampiros chefes e um
organograma da estrutura de poder dos vampiros. Era semelhante a um
governo parlamentar, com chefes de clãs sentados no conselho
executivo e vampiros mais velhos em um conselho ampliado. O
conselho tomava decisões sobre finanças, mantinha a paz com os
humanos, trabalhava com a aplicação da lei humana e fazia cumprir
suas próprias leis sobre seus membros, incluindo manter o número de
descendentes, servos e escravos de sangue que um clã de vampiros
poderia ter. Informação interessante, mas não muito útil para rastrear
um vampiro maluco que o conselho não matou ou mesmo conseguiu
identificar.

Assinei o contrato, coloquei no meu celular os números de contato


que Katie havia incluído e pulei a cerca de tijolos. Não queria que o
maldito Joe soubesse onde eu estava. Ele estava de volta ao seu
esconderijo, observando meu quintal, fumando outro charuto. Me
fazendo pensar para quem ele estava trabalhando, ficando de olho em
mim ... Bem, não para o vampiro desonesto. Eles eram mentalmente
instáveis demais para manter alguém sob sua escravidão por longos
períodos de tempo. E o Joe—não Rick, apenas Joe sem nome—não
cheirava a vampiro. Mas Katie com certeza tinha outros inimigos. Eu
nem precisava perguntar. Os vampiros sempre tinham inimigos, e
quanto mais velho o vampiro, mais inimigos. Vivos e mortos.

Eu me apresentei na porta dos fundos de Katie às sete da noite. Troll


abriu a porta e ficou ali, olhando para mim, bloqueando minha entrada.
Fingi indiferença, enquanto desejava ter vindo armada, e disse: — Boa
noite. Devo entrevistar as meninas.

— Junte-se a elas para o jantar. Sem entrevista.

— Você diz tomate, eu digo entrevista. Mas eu serei legal. Sem


braços quebrados ou sangue.

Eu poderia jurar que Troll queria sorrir. Ele empurrou a porta, mas
ainda a manteve bloqueada com o braço e o corpo. — Você desativou
todos os dispositivos de segurança de Katie.

— Sim. Acordo contratual. —Eu coloquei o contrato no peito de


Troll. — Nada de espionar a ajuda. Tenho certeza de que ela apenas ‘se
esqueceu’ de remover as câmeras.

— Você encontrou todas elas. Rapidamente. —Ele pegou o


contrato, mas não se afastou.
Toquei meu nariz e citei a pequena vendedora. — É um dom. —Eu
acrescentei: — Posso sentir o cheiro dos dispositivos de segurança. —O
que era uma mentira total. Mas eu podia sentir o cheiro de onde um
humano passou muito tempo em um lugar estranho. Como sobre a
lareira, no armário, na cozinha, instalando as câmeras. — É hora da
minha pergunta. Por que Rick LaFleur apareceu na minha casa hoje?

Troll inclinou a cabeça, pensando. Eu podia ver as coisas


acontecendo por trás de seus olhos castanhos secretos, mas sua
linguagem corporal não revelava nada. Talvez trabalhar com um
vampiro ensinava você a manter tudo dentro de si. — Rick queria o
trabalho de caçar o desonesto.

Ok. Isso não era uma surpresa. — Te irritou que eu consegui o


trabalho e não ele?

— Eu disse a Katie para contratar você. Rick é bom, mas não o


suficiente para enfrentar um desonesto. Minha família sabe disso e me
pediu para mantê-lo fora disso. O que eu fiz. Diga isso a ele e eu vou te
estripar como um porco.

— Obrigada pelo aviso. Alguma chance de ele estar trabalhando


para a oposição de Katie?

— Sem chance no inferno.


— Então ele está vigiando minha casa, porque me acha irresistível?

Os olhos de Troll se arregalaram, surpreso.

— Sim. Esse foi o meu sentimento. —Enfiei as mãos nos bolsos da


calça jeans e me perguntei por quanto tempo Troll me faria ficar de pé
no calor e conversar. Ar frio e com ar-condicionado fluiu ao nosso redor
e se dissipou rapidamente enquanto eu comecei a suar. Eu podia sentir
a cruz de prata sob minha camisa, a única coisa que eu usava que
poderia ser considerada uma arma, acumulando umidade. Até meu
couro cabeludo estava suando. — Ele quer trabalhar comigo no negócio
do desonesto, —eu disse, — e estou interessada em alguém com
contatos locais, se ele for legítimo. E se o conselho cobrir as despesas.

— Vou falar com Katie, —disse Troll, balançando a cabeça. —


Como você gosta do seu bife? Batata assada como acompanhamento?
Salada? —Ele finalmente deu um passo para o lado e me deixou entrar,
fechou a porta atrás de mim e trancou-a.

— Acenda um fósforo embaixo da carne e se ainda estiver mugindo


não vou me ofender, nada de gorduroso na batata, e salada é para vacas.
Coca-cola, com cafeína, sem álcool. —Entrei na casa, esperando que ele
fizesse um movimento. Ele não fez isso. Ele apenas apontou para a
direita e disse: — Katie vai deixar você sozinha com elas por uma hora.
As meninas se reúnem para jantar na sala comum.
— Ok. E Troll? —Ele esperou. — Quando pulei a cerca, percebi que
alguém instalou uma câmera de segurança recentemente no lado de
Katie da cerca, apontando para a casa dela. No último mês. O arranhão
ainda está fresco. Eles vieram pelo meu lado da cerca.

Troll praguejou. Ele desapareceu em um corredor escuro.

televisão cimentou minhas

idéias sobre como era uma prostituta—uma garota trabalhadora—era


como. Grosseira, de olhos duros, rude, provavelmente doente. E meu
lar de educação cristã tinha criado a imagem. As damas de Katie
explodiram tudo isso em cinco minutos. Elas estavam sentadas em
cadeiras elegantes em uma sala de jantar formal, em torno de uma mesa
de madeira escura entalhada, olhos sonolentos e vestidas com túnicas
de brocado com cintos com borlas , seus cabelos em ondas suaves, sua
pele perfumada e oleada. Todas pareciam e cheiravam saudáveis.
Embora com uma aura distinta de vampiro agarrada a elas.

Havia seis garotas, e uma sétima me encontrou no corredor quando


entrei. Três garotas eram brancas: uma loira, uma bela de cabelos
vermelhos com olhos esmeralda, e uma garota de pele branca e cabelos
negros que chamou minha atenção com as energias de bruxa ao seu redor.
Três das garotas eram de pele escura—uma com a pele tão negra que
parecia azul à luz de velas, uma sul-asiática que parecia ter doze anos e
uma com pele de café com leite, olhos verdes acastanhados e cabelo
loiro cacheado. A sétima era diferente. Ela tilintou ao se sentar, fez
piercings, tatuou e pendurou anéis nas sobrancelhas, lábios, nariz,
orelhas, umbigo e mamilos. Ela estava usando calças harém de veludo
de cintura baixa e um sutiã peekaboo , então eu não estava adivinhando.

Cinto com Borlas. A borla é um recurso de acabamento na decoração de tecidos e roupas. É um ornamento
universal que é visto em versões variadas em muitas culturas ao redor do globo.

Também são chamasdas de calças de dança Hip hop.


Em inglês peekaboo que significa ‘esconde-esconde’ é uma forma de brincadeira que é jogada principalmente com uma criança. Para jogar,
um jogador esconde o rosto, volta à vista do outro e diz Peekaboo! Ás vezes seguido por Vejo você! Há muitas variações: por exemplo, onde as

árvores estão envolvidas, "Escondendo-se atrás dessa árvore!" Uma outra e a que se refere a um tecido com esse nome ‘peek-a-boo’
onde ele é quase transparente ou padronizado com pequenos orifícios.
E ela usava um chicote de couro trançado sobre um ombro. O chicote
parecia tão flexível que provavelmente não deixava marcas na pele
humana.

— Eu sou Christie, —disse ela. — Você está procurando trabalho?


Porque Katie já está com a casa cheia.

Antes que eu pudesse responder, as paredes vibraram como se a


eletricidade estremecesse através delas. E um vampiro gritou. O som
estremecedor, penetrante, como nada na natureza e nada que o homem
tivesse feito. Tão agudo que quase soou como uma sirene da polícia. Era
o som que faziam quando morriam.

Besta passou por mim e eu girei, corri pelo corredor, mais rápido do
que um humano poderia fazer. Passei correndo por Troll, abri a porta e
deslizei para a sala onde havia sido entrevistada. Katie estava lá,
totalmente vampirizada, garras estendidas, caninos com uns bons cinco
centímetros de comprimento, pupilas pretas e enormes em olhos
vermelho-sangue. O mau cheiro de absinto encheu a sala.

Droga. Besta parou. Troll me empurrou para o lado e ficou na frente.


A porta atrás estava cheia de lindas damas.

— Volte para o jantar, —Troll murmurou baixinho, um tom


monótono medido. O rosto de Katie brilhou para ele. Ela ergueu suas
garras e sibilou, animalesca. Besta entendeu. Medo. Frenesi de matar. Eu
tenho uma única imagem da Besta atacando uma corça. E seus filhotes.
Furiosa, apavorada, faminta. Eu saí pela porta e a fechei, parando com
as garotas no corredor escuro, cercada por seus perfumes e roupas
sussurrantes.

— Eu nunca a vi assim, —uma sussurrou.

— Eu vi. Tom pode cuidar dela. —Mas havia um traço de incerteza


em sua voz.

Eu disse: — Vamos voltar para a sala de jantar. Ela pode sentir o


nosso cheiro aqui fora.

— Como você sabe? —Christie perguntou, perto da minha


esquerda.

Eu olhei para ela, minha visão ajustada à luz fraca. Seus olhos
estavam arregalados e ela segurava o chicote com as duas mãos, com
tanta força que os nós dos dedos estavam sem sangue. Eu não poderia
responder exatamente: “Porque Besta pode sentir o cheiro dela”. Decidi
fazer um movimento rápido e dei um passo nessa direção, sabendo que
a mentalidade de rebanho as faria seguir. Besta uma vez me informou
que os humanos eram caçadores apenas por sorte e porque tinham
polegares opositores. Do contrário, eram presas. E não muito saborosos
falando nisso. Eu estava com muito medo da inferência para questioná-
la mais. Eu realmente não queria saber se eu/nós tínhamos comido
humanos. Realmente, realmente não.

De volta à sala de jantar, uma mulher negra, parente distante de


Matusalém , entrou arrastando os pés usando um vestido preto até o
chão, um avental branco engomado e sapatos baixo, o cabelo grisalho
ralo preso em um coque. Ela estava empurrando um carrinho cheio de
tigelas de salada. Sem falar mais, as damas de Katie se aglomeraram ao
redor da mesa e se sentaram. Peguei um dos três lugares vazios, no meio,
não no pé ou na cabeceira da mesa. — Obrigada, —menti, quando uma
tigela de salada pousou na toalha de mesa branca imaculada na minha
frente. Eu não tinha nada contra as saladas—especialmente quando
vinham envoltas em molho de bacon—eu simplesmente não as
desejava.

— De nada, —disse ela, sua voz suave com sotaque, mas com qual
idioma nativo eu não sabia. Ela colocou uma taça de vinho perto do
lado direito do meu prato e um copo de água em uma base para proteger
a madeira escura sob o pano. Dei uma olhada em todos os talheres e
senti um leve pânico. No orfanato, usei faca, garfo e colher. Bebia leite.
Rezava pela minha comida. Lavava louça. Desde então, eu comia com

Ela quer dizer que a mulher é muito, muito velha.


os dedos na pia da cozinha ou com as garras na grama e não pensava
muito nisso.

Observei as meninas enquanto cada uma levantava um garfo de


prata—merda, prata de verdade—e começava a comer salada com
molho de azeite e vinagre. Sem bacon. Como convidada, eu também
teria que comer. Fazia semanas desde que me lembrei de abençoar uma
refeição, o que me trouxe um ataque de culpa, e, embora provavelmente
tenha me tornado uma péssima hóspede na casa de um vampiro, fechei
os olhos para agradecer antes de escolher um garfo de dente curto
semelhante e comer. Enquanto mastigava, observei a sala. Pinturas
penduradas em molduras douradas, todos retratos de Katie em vários
estágios de nudez. Pesadas cortinas listradas de marrom e preto cobriam
as janelas na parede oposta, amarradas com grandes borlas e cordas
elegantes. Um tapete grosso de aparência moderna nos mesmos tons
estava embaixo da mesa, franja de seda preta nas duas pontas.

Quando a salada acabou, eu disse: — Katie quer que eu converse


com vocês, garotas, sobre ...

Katie apareceu na porta. Não andou, simplesmente apareceu. Vamp


rápido. Besta jogou minha cabeça para trás e empurrou minha cadeira
da mesa com um guinchar. As mãos trêmulas de Katie se apoiaram no
batente de cada lado da porta como se para segurá-la. Seu cabelo caiu
em um emaranhado. O sangue cobriu seus lábios e queixo. — Jane.
Venha, —ela disse, sem fôlego.

Seus olhos pareciam humanos e seus caninos estavam presos no céu


da boca, mas ela cheirava a medo e sangue fresco. Besta se eriçou. Sem
saber o que mais fazer, segui Katie até o escritório, segurando Besta com
um esforço de vontade, ela odiava ir para a toca de outro predador.
Enquanto eu a seguia, o vampiro ligou a arandela, iluminando o
corredor com um toque de cor humana. Mas o cheiro de sangue estava
ficando mais forte. Besta lutou para se libertar e meus lábios se curvaram
para expor dentes assassinos que eu ainda não tinha. Katie não olhou
na minha direção.

No escritório, o cheiro de sangue e carne era tão forte que meu


estômago deu um nó. Ao contrário dos livros e filmes, os humanos não
podem cheirar sangue fresco, apenas sangue velho e em decomposição,
mas Besta podia. Ela se recompôs e rosnou baixo na minha garganta.
Troll se esparramou na poltrona de couro, o sangue coagulando na
garganta e na camiseta, a camisa rasgada. Sua pele era de um azul
acinzentado, seus olhos reviravam em sua cabeça calva. Seu peito subia
com uma respiração superficial. Besta se acomodou em minha mente,
esperando para ver o que eu faria.
— Eu o machuquei, —disse Katie, com a voz surpresa ... — Eu
tomei muito. —Ela me olhou com olhos vazios, olhos de uma criança
que cometeu um erro grave e não sabia como consertar. Eu relaxei meus
dedos, que haviam se formado em garras de luta, e cruzei a sala,
mantendo Katie à vista. Ajoelhando-me, verifiquei o pulso de Troll.
Leve e fraco, rápido demais. Sua pele estava fria e pálida, chocante. Eu
inspecionei seu pescoço. As perfurações foram cuidadosamente
fechadas. Pelo menos ele não estava perdendo mais sangue. Eu ajustei
sua cabeça ligeiramente para abrir suas vias respiratórias, esperando que
Katie não tivesse quebrado seu pescoço enquanto se alimentava,
esperando que eu não tivesse apenas o paralisado.

Entre os cursos que fiz desde que me formei no ensino médio, havia
um curso técnico de emergência médica, mas eu não tinha material para
ajudá-lo. Viajava com pouca bagagem. — Ele precisa de uma
transfusão, —eu disse, — e de fluidos. Ligue 911.

— Não. —Ainda se movendo no limite da velocidade do vampiro,


ela se ajoelhou, o movimento gracioso e sem força, e colocou as costas
da mão na bochecha de Troll. O gesto parecia terno e carinhoso, em
contraste com ela recusando o atendimento médico de seu funcionário.

— Por que não? —Eu disse, mantendo meu tom firme.


— Eles vão me prender. —Ela olhou para mim através do corpo de
Troll, angustiada e indefesa. Sim. Certo. — Eu tenho suprimentos, —ela
disse. — Eu sei que você é capaz de inserir uma agulha intravenosa.
Você estudou medicina. Rachael e ele compartilham o mesmo tipo de
sangue. Ela pode doar.

Katie claramente estudou bem meu site e descobriu que eu era uma
técnica certificada de emergência médica. Sentei-me nos calcanhares,
embora Besta tenha me enviado uma imagem de vulnerabilidade, um
gato com a barriga exposta. Quando pude falar sem um desafio, o que
poderia estimular um vampiro nervoso, eu disse: — Você está maluca?
—Ok. Não sem desafios, mas melhor do que o que eu queria dizer. —
Eu não vou começar um IV e dar sangue a alguém. Se eu der o tipo
errado, posso matá-lo. Não vai acontecer. —Eu me levantei e olhei para
Katie, para o desespero em seus olhos.

— Você sabe o que acontece com os vampiros na prisão? —Ela


perguntou. — Somos acorrentados em um quarto escuro, sem sangue e
deixados para apodrecer.

— Isso é apenas um mito da Internet. —Pelo menos eu esperava


que fosse. Leis para direitos iguais e proteção legal de supernaturais não
era algo que o Congresso estava ansioso para aprovar. A maioria de seus
constituintes não tinha exatamente colocado o tapete de boas-vindas
para os vampiros e bruxas quando eles foram revelados algumas décadas
atrás. Troll gemeu, acinzentado, sua respiração superficial. Seu pulso
carotídeo vibrou como um pássaro moribundo. — Chame seu médico,
—eu barganhei, começando a me sentir desesperada.

— Ele está muito longe. Se você não vai ajudar com a transfusão —
disse Katie, — então, pelo menos, comece com fluidos intravenosos. —
Ela se levantou e foi até o bar.

Eu girei para que minhas costas nunca estivessem voltadas para ela,
e observei enquanto ela abria uma porta no bar para revelar um armário
de suprimentos médicos bem abastecidos. Bem, olhe lá. Que útil, pensei,
sentindo o sarcasmo percorrer meu corpo. Esta não foi a primeira vez
que Katie precisou tratar um ferimento. Quem poderia imaginar. Eu me
perguntei o quão perto do limite da morte Katie estava. Lore afirmou
que vampiros que começaram a cometer erros de sangue tarde na vida
às vezes ficavam selvagens, como o desonesto que eu estava caçando.
Interessante. De uma forma talvez mortal. Besta não gostou disso. E
nem eu.

Ainda mantendo Katie longe das minhas costas, verifiquei as datas


de validade da solução salina e das agulhas esterilizadas e comecei a
trabalhar. Amarrei um torniquete e encontrei uma veia, inseri uma
agulha de calibre 18. Era uma agulha de grande calibre, adequada para
doar sangue, e doía, mas Troll nem se mexeu. Liguei a linha de fluidos
à válvula Jelco e liguei o soro fisiológico, aberto totalmente. Katie
observou enquanto eu apertava a bolsa para forçar o fluido no sistema
de Troll mais rápido. — Ele precisa de um médico, —eu disse, ouvindo
o quase rosnado em minha voz.

— Você fará a ligação? —Ela perguntou, queixosa.

— Por que você não faz?

— Não sei como, —disse ela. Eu olhei para cima com surpresa.
Katie me entregou um telefone celular. — Sei que o número correto está
na lista telefônica, mas não sei como usá-lo. E eu não quero deixá-lo, ir
... voltar e encontrar o número.

Voltar. Para seu covil, pensei, decidindo que deve ser muito longe
para fazer a viagem facilmente. No entanto, ela estava aqui, no local,
antes do pôr-do-sol. Isso me deu uma pausa, embora eu não a deixasse
ver minha reação. Apertei alguns botões no telefone e encontrei a
agenda.

— Ishmael Goldstein, —ela disse.

Eu rolei para baixo, encontrei o nome e apertei ENVIAR. O número


tocou do outro lado da linha e retransmiti a mensagem ao homem que
atendeu. Quando ele questionou quem eu era, dei o telefone a Katie e
depois tive que mostrar a ela como segurá-lo junto ao ouvido. Ela
confirmou o que eu havia dito e desliguei. — Você não sabe usar um
telefone celular? —Eu perguntei.

Katie encolheu os ombros elegantemente, os olhos em Troll. — As


coisas mudam tão rapidamente. Houve um tempo em que só mudava a
moda, não como se vivia. Agora, viver requer adaptação constante. Eu
não gosto disso. —Ela olhou para mim e um pouco do desamparo
sumiu. Sua voz ficou mais forte e seus ombros voltaram para trás. — Eu
tenho um telefone. Mas não como o de Tom. Ele lida com todos os
assuntos de natureza eletrônica para mim. É o seu trabalho. Uma
questão do emprego.

— Então, eu vejo. —Eu mantive minha voz neutra. Se ela ouviu um


traço de sarcasmo em meu tom, optou por não reagir. — Você quer me
dizer por que você ficou selvagem?

Katie colocou a mão de dedos longos em sua garganta. — Quando


acordei, sabia que algo estava errado, mas não consegui identificar. E
então Leo entrou em contato comigo. —Pela minha pesquisa, eu sabia
que Leo era Leonard Pellissier, o chefe do conselho vampiro em Nova
Orleans. — Ele me disse que Ming nunca acordou. Seu servo humano
entrou em seu covil ... —Katie parou para respirar, mas os vampiros não
precisavam de muito ar, exceto para falar. Só isso já teria me dito que
ela estava chateada, mesmo sem ver Troll perto da morte. — Ela estava
faltando. Havia muito sangue em sua cripta. Dela, pelo cheiro. —Ela
olhou para mim. — Leo está vindo para cá.

Logo após sua declaração, a campainha tocou. Achei que Troll


estava um pouco indisposto, cabia a mim abrir a porta e fornecer
segurança. Dei a solução salina a Katie e mostrei-lhe como apertar o
saco. Com ela ocupada, vasculhei os bolsos de Troll em busca de armas.
Eu encontrei um assassino de vampiros especialmente projetado, de aço,
de trinta centímetros de comprimento, lâmina única e borda prateada.
Com um desonesto à solta, fazia sentido que o guarda-costas de Katie
carregasse um. Eu também tinha alguns.

Troll o prendeu na coxa com uma abertura no bolso que lhe


permitiu deslizar a mão e retirar a faca. Sem ser muito amigável, tirei a
bainha e coloquei na minha própria perna. Carreguei sua .45, segurança
fora, dedo no gatilho, do escritório para o foyer. No caminho, abri a
porta do armário onde antes havia depositado minhas armas e recuperei
a estaca que havia deixado no canto. Era sempre inteligente ter uma
estaca à mão quando encontrava um vampiro em território
desconhecido. Enfiei a estaca na minha cintura e esperava não me
machucar com ela. Era terrivelmente afiado.
Não havia nenhum olho mágico na porta—nenhum ponto fraco
para alguém atirar—mas avistei uma cômoda modificada, a parte
superior articulada se abriu para revelar uma série de telas de monitor,
parte do sistema de segurança da casa. Havia meia dúzia de telas de
câmera—a maioria delas mostrando quartos desocupados—e uma era
uma pequena tela exibindo a varanda da frente. A noite caiu e as luzes
da porta se acenderam, revelando dois homens, um cara bem vestido de
terno escuro e um pugilista de ombros largos. Leo Pellissier e seu braço
direito, servo de sangue e músculo. Eu segurei a arma fora de vista,
puxei a pequena cruz de prata do meu pescoço, respirei fundo,
concentrei minha posição e abri a porta. O músculo, vendo um rosto
desconhecido e a cruz repentinamente brilhante, puxou uma faca e
atacou.

Eu desviei rápido e estiquei um pé. Ele tropeçou. O truque mais


antigo do livro.

Eu estava sobre ele antes que ele caísse no chão. Montando nele. A
.45 de Troll bateu em sua espinha na base do crânio. Nós caíamos.
Saltamos. Meu coração disparou. Besta rosnou.

Mais rápido do que se pensava, o peso do vampiro caiu sobre mim.


Suas mãos envolveram minha garganta. Emaranhadas em minhas
tranças. Ele sibilou. As presas se estenderam com um leve estalo. Elas
roçaram o lado do meu pescoço, a mordida mortal de um predador.

cabeça para trás. Conectou, o crânio a algo mais

macio. Ouvi um som de respiração expelida. A pressão na minha


garganta diminuiu. Eu bati a cruz nas costas da mão do vampiro.

Ele uivou. Caiu. Rolei, puxando o guarda comigo, até que deitamos
no chão, a arma em seu pescoço, seu corpo em cima e protegendo o
meu. O fedor de suor humano e feromônios vampíricos banhou o ar.
Este cheirava a erva-doce e papel velho, talvez papiro e tinta feita de
folhas e frutos.

— Vou atirar em seu servo de sangue se você se mover de novo, —


eu disse, minha voz baixa e fria. Leo fez uma pausa, aquela mudança
desumana e vampírica do combate para a imobilidade absoluta que era
tão surpreendente. — Se você ouvir, vou deixá-lo viver, —barganhei. A
quietude foi mais profunda. Senti o servo se recompor e coloquei minha
mão em volta de sua garganta, as unhas cravando em sua traqueia.
Enfiei o cano com força sob sua orelha. — Se você resistir, vou arrancar
sua garganta, então decapitar seu mestre. Escolha a opção. —Um
silêncio chocado encheu o foyer. Lentamente, ele ficou mole. —
Movimento sábio.

— Leonard Pellissier. —Concentrei-me na forma escura, recortada


pela luz da rua inundando a porta aberta. — Sou o talento contratado
por Katie de fora da cidade, —eu disse, usando a frase de Joe. — A
rastreadora e a pistoleira contratada pelo conselho para tirar o
desonesto. Não quero matar nenhum de vocês, mas matarei, se for
preciso. O sangue que você cheira não foi derramado por mim. Eu não
sou seu inimigo. —Bem, não agora, mas ninguém estava tomando
notas. — Afaste-se. Agora.

Ele recuou. Apertei o meu domínio sobre o brutamontes. — Você


vai jogar bem? —Eu o senti engolir sob a pressão da minha mão.

Quando ele falou, saiu como um assobio por causa da pressão que
eu tinha em sua traqueia. — Sim. —Eu ouvi verdade em seu tom, cheirei
em seu corpo, junto com o cheiro de propriedade de Leo, o cheiro de
vampiro. Eu liberei meu aperto. Ele rolou para ficar de pé e eu o segui
ereta, mantendo-o entre Leo e eu. Ele estendeu a mão e fechou a porta
externa. Quando ele se moveu para me encarar, na frente e um pouco
ao lado de Leo, troquei a trava de segurança da arma. Tive sorte de não
ter disparado enquanto rolávamos no chão. Era estúpido lutar
segurando uma arma, mesmo enfrentando um vampiro. Não que eu
pudesse descobrir uma maneira melhor. Eu estava entre uma rocha e
um lugar com presas.

— Você não cheira humano. O que você é? —Leo disse.


Experimentando sua voz de vampiro em mim, suave e melodiosa, e me
prometendo uma boa rolagem no feno.

— Pare com isso, —eu disse. — Não funciona comigo.

— Ela rosnou, chefe, —disse o lutador. — Quando ela me derrubou.

— Eu a ouvi. O que você é?

— Não é da sua conta, —eu disse.

— De quem eu cheiro sangue? —Leo perguntou.

— Katie ... —Eu parei, sem saber o que dizer. Admitir que Katie
cometeu um erro ao tomar muito sangue era o mesmo que dizer que um
humano adulto fez cocô nas calças ou comeu suas próprias melecas.
Realmente nojento ou estúpido. Matar uma presa acidentalmente era
um erro de um jovem vampiro, não algo que um vampiro antigo fazia.
Nunca. E não era o tipo de coisa que uma boa funcionária diz sobre o
empregador. O silêncio se estendeu e a sobrancelha de Leo subiu.
Apenas uma. Esperando.

— Fui forçada a repreender um membro da minha equipe. —Katie


estava no corredor, vestindo um roupão que brilhava como seda. Ela
estava claramente nua por baixo dele, o tecido fino livre de sangue e
moldando-se em suas coxas. Não era o que ela estava vestindo. — Posso
pedir que seu servo de sangue ajude na transfusão? —Ela perguntou. —
Não é minha intenção perdê-lo.

Eu entendi imediatamente. Era normal quase matar alguém como


disciplina, mas não por acidente. Atitudes feudais, algo que os vampiros
trouxeram de, bem, dos tempos feudais. Eu entendia, mas não precisava
gostar.

Leo olhou para seu servo e o homem olhou relutantemente de mim


para ele antes de assentir. Estava claro que ele não gostava da ideia de
me deixar sozinha com seu chefe, mas ele estava disposto se Leo desse
o sinal verde. Leo inclinou a cabeça. Suntuoso, dando permissão.
Pugilista rolou a cabeça sobre os ombros e ouvi dois estalos quando sua
coluna se realinhou. Ele me lançou um olhar severo, prometendo me
matar lentamente se eu agisse novamente, e desceu o corredor, seus pés
calçados com botas silenciosos na madeira e nos tapetes. Predador
silencioso.
— Sua nova guardiã usou uma cruz em mim, —Leo disse,
estendendo a mão esquerda. Uma queimadura pálida, com bolhas e
gotejando, marcava sua mão, em forma de cruz. Prata. Eu queria sorrir,
mas isso parecia indelicado. Katie foi até ele e se ajoelhou aos seus pés.

— Humildes desculpas, meu mestre, —ela murmurou, enquanto


seu cabelo loiro caía para frente, escondendo suas feições. — Posso
oferecer cura, ou você deseja castigá-la você mesmo?

Merda. Eu fiquei tensa. Leo ergueu um canto da boca ao meu


movimento fraco e me olhou nos olhos. Eu encarei de volta, embora não
tenha encontrado seu olhar. Olhos negros, pele cor de café com leite,
cabelo escuro caindo em ondas suaves sobre os ombros. Linhagem
francesa, talvez. Aristocrático e elegante. Suas fotos mentiram. Neles ele
parecia comum. Em pessoa, o vampiro era lindo de morrer. A parte de
morrer teria sido engraçada se eu não me sentisse como um inseto prestes
a ser esmagado.

Seu sorriso aumentou, como se ele lesse cada pensamento na minha


cabeça—de lindo a esmagado. — Se ela me desonrar de novo, —disse
ele, — vou matá-la, vampiro desonesto para ser contido ou não. —Ele
estendeu a mão ferida para Katie. Ela fez algo por trás da cortina de seu
cabelo e eu senti o cheiro de sangue de vampiro. Um momento depois,
ela se levantou e ergueu o pulso ensanguentado para Leo. Ele a pegou
com uma das mãos e puxou-a para si, o movimento expondo o lado de
seu corpo quando o manto se abriu. O branco de seus olhos ficou
vermelho, as pupilas se expandiram negras enquanto ele desaparecia.
Ele colocou o pulso dela na boca, mordeu e fechou os lábios ao redor do
ferimento. E ele sugou. Mas seus olhos estavam em mim.

Eu senti o puxão de sua boca como se ele bebesse do meu pulso. O


calor floresceu em minha barriga. Besta retumbou um grunhido que mal
controlei. Leo riu do fundo da garganta, bebendo. Eu não pude evitar.
Eu deslizei meus dedos em torno do punho do assassino de vampiros.
Aqueles olhos vermelhos como sangue, negros como a morte seguiram
o movimento. E então encontraram meus próprios olhos. Eu resisti a
tudo que vi lá. Tudo o que ele me fez querer. Filho de um maldito leão
marinho. Esse cara era bom. Poderoso como o próprio diabo. Eu desviei
o olhar, para o chão, sabendo que ele via isso como uma fraqueza.

Senti a cruz esquentar e coloquei o ícone prateado no bolso de trás,


esperando que o brilho não atraísse a atenção de Leo. Ninguém sabia
por que os vampiros reagem aos símbolos cristãos e os símbolos a eles,
e eu não imaginei que agora era a hora de perguntar.

Momentos depois, Leo empurrou Katie para longe. Ele ergueu a


mão esquerda, inspecionou a pele quase toda curada e limpou a mancha
de sangue do canto da boca. E lambeu. Ele estava rindo de mim. Eu
podia ver em seus olhos. Ele também estava testando para ver se a visão
de um vampiro bebendo iria me chocar, repelir ou me excitar. Fera
estava interessada, do ponto de vista estritamente predador, mas essa
não era a reação emocional que Leo estava esperando.

Katie deu um nó no cinto de seu manto, seus olhos brilhando por


trás do véu de seu cabelo. — Você pode ir, —ela disse suavemente para
mim. — Relatório de volta antes do amanhecer. Você pode falar com as
meninas então.

Eu fui dispensada. E Katie estava irritada. Assenti uma vez e recuei


pelo corredor. No escritório, o pugilista estava conectando um tubo em
forma de Y de aparência arcaica de uma garota para Troll. O tipo de
sangue certo era a garota ruiva com olhos esmeralda, Rachael. De seu
lugar no sofá, reclinada, ela me encarou, sem expressão. O brutamontes
seguiu seu olhar.

Coloquei as armas de Troll na mesa enorme, observando que a parte


central era de couro escuro e desgastado. — Troll vai precisar disso, —
eu disse. — Agradeça a ele.

— Troll?
Tentei sorrir e descobri que minha boca não queria. — Tom. —
Apontei para seu paciente. Sua expressão se alterou com diversão e ele
apontou para si mesmo. — Você é o Pugilista, —eu disse.

— Eu tenho um nome, —disse ele. — Sou George Dumas.

Eu o examinei. Um e noventa, levantador de peso, mas não para


excesso de músculos, ao contrário, ele era esguio e tonificado, olhos e
cabelos castanhos. Aparência limpa com nariz esculpido, longo e meio
ossudo. Eu tinha uma queda por narizes e o dele era primoroso. Não
que eu fosse dizer a ele. — E daí, —eu disse, sem saber por que estava
sendo rude, exceto que não queria expressar interesse em alguém que
poderia se tornar um inimigo. Seus olhos se arregalaram com o insulto.

Saí da sala e peguei o corredor estreito até a porta dos fundos, que
levava ao jardim. Quando fechei a porta atrás de mim, ouvi a campainha
tocando. Provavelmente o primeiro cliente da festa do Katie's Ladies.
Não era algo que eu queria ver.

Voltei para a parede e me preparei para mudar. Hora de caçar.


rosto e das patas,

estudando à noite. Nas montanhas, a lua era brilhante, luz diferente,


mas da mesma forma. Bordas afiadas. Lua faminta. Nem lua de caça,
nem redonda e cheia. Lá, as estrelas eram tantas que mesmo Jane não
conseguia contá-las. Aqui, cercada pelo homem, a lua estava escura,
poucas estrelas. As estrelas se escondiam perto do homem. Do homem
e sua falsa luz.

Limpa de sangue bovino frio, respirei o fedor de sangue humano e


saliva de vampiro no pano que ela deixou sob a tigela de plantas.
Humanos mortos e isso. A coisa doente. Louco. Farejadas curtas e
rápidas atraíram o aroma profundamente. E ... encontrou algo novo.
Não percebido antes. Boca aberta, língua estendida, dura, lábios para
trás. Sentindo o cheiro no céu da boca. Simmm.

A planta balançou. A raiva do predador aumentou. Colocando a


pata no vaso, bateu nela. Pote enrolado. Planta espalhada, raízes, solo.
Vivo? Movimento como porco-espinho. Não é bom comer. Dor.
Cuidado com os espinhos, golpeou novamente. Rolou. Ferido!

Agachado. Garras desembanhadas. Golpeou. Forte. Pot-animal


rolou para o banco, bateu, quebrou. Matar! Subiu. Aterrou esmagado
pelo peso do vaso. Segurou o corpo quebrado com garras. O solo se
espalhou como sangue. Presa-pote ferida novamente, agora quebrado.
Cheirou, cheirando sangue de homem na base. Cheiro de Louco. E um
leve odor de ... de outros. O cheiro não está na memória, não
exatamente. Mas também familiar. Eu retumbei profundamente.
Pequena questão.

Caçar. Comando de dentro. Ela estava impaciente. Empurrou-a para


baixo. Silencioso.

Flexionei os ombros e saltei para o topo da cerca. Pausa. Aterrou


do outro lado. Esgueirou-se para o lado da toca do vizinho, sob arbustos.
Noite adentro. Bloco circulado em frente ao de Katie. O Louco, vampiro
desonesto, esteve aqui. Batimentos cardíacos atrás. Um aroma
fresco/podre se sobrepôs ao de Leo e de Pugilista. Ele os rastreou.
Esperou na porta, do outro lado da rua. Eu contei—duas portas abaixo.
Observando, escondendo-se nas sombras. Fedor rançoso de excitação,
feromônios mistos. Odores complexos.
Forma Vamp de adrenalina, ela pensou. Sabia sobre adrenalina. Carne
dura se morte e lenta ou longa perseguição. Melhor comer ao ficar à
espreita, cair sobre a presa. Golpe matando rápido. Mas às vezes
divertido de perseguir, brincar com a comida. Difícil de escolher. Carne
macia ou divertida.

Perfume chamando. Cheiro estranho que esse quase era. A doença


mudou. Mantendo-se nas sombras, sua excitação potente. Caçando.
Carros passaram. Seguido quando as sombras caíram novamente, nariz
baixo. Sentiu o cheiro de presa sob os passos de um Louco. Fêmea
humana, caminhando. Cheiros sexuais, muitos parceiros. Ela não
estava acasalada, procurando. A solidão era forte, enterrada no cheiro.

Lembrei-me do verdadeiro acasalamento, antes que ela viesse.


Antes de nos tornarmos Besta. Sua surpresa se agitou, bem no fundo.
Memórias de tempos anteriores foram enterradas profundamente, abaixo
de tempos posteriores com ela. A chocou. Ela lutou. Afastei pensamentos
como um vaso de plantas. Sem utilidade. Mais tarde. Caçar.

Mais de cinco quarteirões depois, sentiu cheiro de sangue fresco.


Agachado na sombra da parede do beco. Rastejou para frente, pata,
pata, pata na escuridão, os pêlos da barriga se arrastando pela pedra suja
da estrada humana. O Louco agachou-se sob a luz do homem.
Enrugado. Seco. Apodrecido. Fedor de sangue novo e rico. Humano.
Sons de comer. O Louco comia sem se importar com ladrão de comida.
Uma luz cinza e escuridão se formaram sobre ele. Pareceu mudar.
Alterar. As rugas desapareceram. O cheiro de podridão morreu.

Eu me curvei perto da estrada. Fecho acolchoado. Dentro do limite.


Reuniu toda a força. Peso equilibrado. Silencioso. Saltou. Pelo ar.
Cauda longa girando para estabilidade. Alcançando as pernas
dianteiras. Garras desembainhadas. Lábios para trás. Boca aberta.
Dentes de matar à mostra.

Ele olhou para cima. Vislumbre de um rosto pálido na penumbra.


E se foi. Se foi. Rápido.

O choque o inundou. Ultrapassou o lugar onde o Louco estava, e


agora não estava. Passou pelo ar vazio. Garras retraídas. Patas
levantadas para evitar a queda. Bateu com força na parede de tijolos.
Peso em uma almofada, dobrando-se nela. Chicotadas no corpo. Bateu
forte. Ombro com hematomas. Empurrando o quadril. Caiu no chão, os
olhos procurando.

Som estranho. Olho para cima. Lá. Na borda, um, dois andares.
Muito alto para pular. Ele agarrou-se ao parapeito da janela. Olhando
para baixo. Rindo. Eu rosnei, cuspi. Ele saltou. Alto, para o telhado,
correndo. Não escondendo a fuga. Eu levantei a cabeça. Gritei de
frustração. Ecoou. Selvagem.
Vá embora, ela pensou. Afaste-se e mude de volta. Homens brancos com
armas. A imagem era memória, uma que compartilhamos. Homens
brancos caçando gato grande.

Seus pensamentos vieram à tona. Ela era especialista no mundo dos


homens. Por enquanto, compartilhamos o controle. Correu para a
abertura do beco. Um bloco para baixo. Nas sombras. Rastejando ao
redor de uma caminhonete alta e pesada. Hummer . A sirene soou.
Polícia. Quase perto da morte.

Atravessou a escuridão, evitou grupos de presas humanas. Uma


família de bruxas, celebrando, poder vazando em brilhos. Quase de
volta a casa de Katie. O cheiro doentio se sobrepôs de repente. Fresco.

Curvado, nariz pra baixo. O Louco voltou por aqui. Ela ficou em
silêncio. Me curvei, assumi. Desenhando rascunhos curtos e constantes,
ar e cheiro, língua estendida para sentir o gosto/cheiro. Olhei para o
céu. Amanhecer longe. Agachada. Seguindo, silenciosamente na noite.
Eu sou um bom caçador.

O Hummer foi uma marca de veículos SUVs pertencente a AM General e sua marca, assim como o direito
de marketing, pertencente à GM. Ele foi desenvolvido a partir do HMMWV, originalmente um veículo de guerra que acabou caindo no gosto dos
consumidores americanos e virou sucesso de vendas entre as SUVs.
Louco cruzou a ponte sobre o rio grande. Ponte cheia de carros, luz.
Sem sombras para atravessar. Eu escalei alto no aço. Um caminhão se
aproximou abaixo, cuspindo nuvens de veneno. Patas fechadas.
Passagem cronometrada como uma presa correndo. Saltou.

Garras e patas batem, mexem. Metal arranhado embaixo.


Agachado, recuperando o equilíbrio. Como montar um búfalo ,
balançar, arranhar as garras, buscar a carne pelo instinto.

Do outro lado do grande rio, a cidade se diluiu, os cheiros


mudaram. Menos morte: água do rio azeda, peixes mortos, álcool,
exaustão. Mais presas: gato doméstico e selvagem, muitos cães. Ratos
grandes—lontra . Ela havia estudado. Ratos de nove quilos. Bom para
comer? Aves—presas e predadores. Caça de corujas. Morcegos. Esquilo,
pequeno bocado. Mosquitos, pequenos demais para serem capturados.
Pântano. Água derramada em lagos ao redor de Nova Orleans. Água
parada se estendia à frente. A lua pontiaguda refletida no topo.

Bubalus é um gênero da família Bovidae, sub-família Bovinae, que foi amplamente distribuído na Eurásia no
Pleistoceno.

Também chamadas de nutria ou ariranhas. A subfamília Lutrinae pertence à família dos Mustelídeos. Existem 13 espécies,
dentro de 7 géneros. Todas as espécies são nadadoras, vivendo no litoral, em rios ou em lagos, e possuem os dedos unidos por membranas
interdigitais, que facilitam a natação.
O caminhão desacelerou. Eu pulei, caí. Bebi água cheia de coisas
de plantas e coisas rastejantes. Casa agachada no escuro, na estrada
curta, logo à frente, a luz do homem nas janelas como olhos de
predador. Nenhuma outra casa por perto. Movendo sobre as pernas
dobradas, cauda dobrada perto, seguindo o cheiro, para a casa,
protegida com poder. Não é um poder de bruxa. Ela ficou alerta.
Lembrando. O Povo, ela pensou.

Sua espécie. Cherokee. Eu a empurrei. Minha caça. Um cheiro de


Louco em torno da propriedade. Gato domesticado, cheiro de cachorro.
Animais de estimação dentro, com humanos. Nos fundos, nas árvores,
era baixa, madeira da cabana. Sweat lodge , ela pensou, sua excitação
alta. Um ancião mora aqui. Lembro-me!

Por dentro, coloquei a pata em sua mente, exigindo silêncio.


Acolchoado para alojar. Classificar o solo com o Louco. O cheiro seguiu
o caminho, na floresta. Caminho bem utilizado. Guarida perto? Ou ele
caçou o ancião.

Uma tenda de suor é uma cabana de baixo perfil, tipicamente em forma de


cúpula ou oblonga, e feita com materiais naturais. A estrutura é a loja, e a cerimônia realizada dentro da estrutura pode ser chamada de cerimônia
de purificação ou simplesmente suor.
Não! Ela pensou. Visão de filhotes, indefesos. Para ser protegido, ela
exigiu. Esse é um ancião. Eu a forcei para baixo, profundo, silencioso. Ela
lutou. Golpeando-a com garras internas, marcando sua mente. Esta é a
caça. Ela ficou em silêncio, com raiva, preocupada.

Rastreou o Louco em bosques, pinheiros, abetos , carvalho,


bordo , goma doce. Solo pesado com fedor podre. Os cães mais velhos
o haviam alimentado, dois corpos de cachorro apodrecendo nos
arbustos. Este era um terreno de caça.

Eu me movi lentamente, o rabo estendido para trás. Lembrando a


velocidade do Louco. Não se moveu como uma presa doente. Moveu
como o vento, invisível. Rápido. Parei muitas vezes, farejando o ar.
Circulou de volta, farejando, nas árvores. Nenhuma fogueira na floresta
limpa, a vegetação rasteira era espessa. Trajeto único caminho.
Armadilha? Louco entenderia armadilhas.

Abeto é o nome popular das diversas espécies do gênero Abies. São árvores coníferas da família das Pináceas, nativas
de florestas temperadas da Europa, Ásia, Norte da África e Américas Central e do Norte.

Acer (também conhecido como bordo) é um género botânico pertencente à família Aceraceae. O seu porte
pode ser arbóreo ou arbustivo. Existem aproximadamente 128 espécies, na sua maioria nativas da Ásia, mas algumas também ocorrem na Europa,
África Setentrional e América do Norte.
Árvores se abriram em uma clareira, chão de agulhas de pinheiro.
Curvado, esperando. Nada mudou. Lentamente, circulei o espaço
aberto. Não encontrou nada, nenhum caminho de saída, nenhum traço
de cheiro saindo. Movendo com cuidado para a clareira. Solo fétido com
seu cheiro, pesado com o fedor de sangue velho. Podridão comedor de
fígado. Não tinha saído. No entanto, não estava aqui. Enigmático. Um
jogo e caça para ela, para Jane.

Eu olhei para o céu. Restava uma pequena noite. Eu/nós estávamos


longe do covil novo, de uma rocha que ela marcou para encontrar lugar.
Longe de comida que não precisava ser perseguida. Muitas vacas mortas
em um lugar frio no covil.

Geladeira, ela pensou para mim. Na casa de brinde.

Virando, eu voltei para o caminho.

Perto do amanhecer, parei na orla da cidade, em um lugar seguro,


cheio de sombras. Jardim perto da casa onde a família dormia. Um
roncou. Jane acordou clamando para ser alfa. Se não mudasse, Besta
ficaria o dia todo, ela não iria. Mas ruim nesta caçada. Eu/nós
deslizamos para baixo da planta. Agachado. Deixar ela vir. Eu/nós
mudamos. Lugar cinza quando meio escuro de caverna me engoliu.
Claro e escuro, relâmpagos no céu dilacerado pela tempestade. Ossos
deslizaram, estalaram. A dor cortou como mil facas.
Assobiou. Foi embora.

nua e suja no chão, ofegante, tremendo como

se tivesse sido atingida por um raio. Uma aranha rastejou no meu pé e


eu a afastei. O local cinza da mudança pareceu durar mais do que o
normal desta vez. Eu não tinha ideia do que realmente acontecia quando
eu mudava, embora eu tivesse visto um vídeo digital disso, feito por
Molly não muito tempo atrás, e eu realmente não desapareci em algum
outro reino. Eu apenas brilhava como luz e sombra, como um
relâmpago em uma nuvem de tempestade. Achei que poderia ser algo
como mecânica quântica ou física, minhas células realmente se
movendo, mas não indo a lugar nenhum. Algo parecido. Não era como
se eu tivesse a quem perguntar. Quando recuperei o fôlego, rolei e com
meus pés e mãos me levantei.

Eu precisava de calorias, rápido, mas primeiro precisava de roupas.


Tirei a mochila e desenrolei minhas roupas. Carregá-las tão bem
enroladas significava que sempre ficavam horrivelmente enrugadas, mas
era melhor do que ficar nua. Vesti jeans e camiseta e amarrei a mochila,
agora contendo apenas dinheiro, telefone celular, chaves e armas—uma
estaca, uma cruz e minha derringer—na cintura e calcei os sapatos de
sola fina. Sem sutiã, sem calcinha. Mas coberta. Enrolei meu cabelo
comprido em um nó, fora do caminho. Pelo menos sempre voltava a se
desenredar. Endireitando os ombros, movi-me para o amanhecer,
saindo do beiral de uma casa. Eu não tinha ideia de onde estava no
mapa, mas meus sentidos felinos disseram que eu precisava seguir para
o nordeste. E eu precisava de comida. Meu estômago roncou alto.

À luz da manhã, avistei uma loja de conveniência e comprei uma


barra de chocolate para as calorias, uma Coca para ter energia de cafeína
e um novo batom. Levei-os ao banheiro, onde me limpei, lavando o
rosto e os braços, esfregando sob as unhas. Eu precisaria chamar um
táxi, e nenhum taxista que se preze pararia para alguém que parecia
dormir com suas roupas sob o pilar de uma ponte. Assim que fiquei mais
apresentável, voltei ao caixa, paguei por uma segunda barra de
chocolate e coloquei meu melhor visual de festeira a noite toda, cansada
do mundo.

— Você pode me dizer onde estou?


Ele riu. Ele tinha talvez dezoito anos, queixo cheio de espinhas,
cabelo oleoso e cheirava a maconha e cerveja da noite anterior. — Você
está perto da Lapalco Boulevard .

— Acabei de vir de um bosque, um pântano e um lago que forma.


—Eu apontei. — O que há?

Ele riu de novo, pensando que eu era uma garota festeira demais
para me lembrar de onde e com quem passei a noite. Era isso que eu
queria que ele acreditasse. Seu olhar malicioso era uma dor, mas eu
poderia viver com isso. — Parque Histórico Nacional Jean Lafitte ? Talvez
o Lago Catouatchie ? Existem vários lagos por aí.

Eu segurei uma nota de cinco. — Este é seu se você me chamar de


táxi. Alguém em quem posso confiar para me levar de volta ao Quarter.

Nome de uma rua em Nova Orleans

Jean Lafitte National Historical Park and Preserve (francês: Parc historique national et réserve Jean Lafitte) protege os
recursos naturais e culturais da região do Delta do Rio Mississippi da Louisiana. É nomeado em homenagem ao pirata francês Jean Lafitte e
consiste em seis locais separados e uma sede do parque.

Lago Catouatchie.
Ele se inclinou sobre o balcão, apoiando seu peso em um cotovelo.
— Eu vou sair em algumas horas. Eu posso te levar.

Eu sorri, olhei para ele como se estivesse interessada e balancei


minha cabeça. — Tentador, mas tenho que estar no trabalho em uma
hora. Precisa ser rápido e confiável.

Ele suspirou e puxou um telefone celular. — Você deveria


reconsiderar. Os empregos custam dez centavos uma dúzia. Boa
diversão é muito mais difícil de conseguir, e poderíamos nos divertir um
pouco. —Eu balancei minha cabeça novamente, desta vez adicionando
um sorriso pesaroso e arrependido, e ele discou um número. A pessoa
que atendeu disse: — Bluebird Cab, —então relaxei. Posso ser um pouco
paranóica, mas paranoia às vezes compensa.

Ele pressionou o telefone contra o ouvido, cortando o som. — É o


Nelson. Estou no trabalho, mas tem uma garota que precisa de um táxi
para o Quarter. —Ele olhou para mim. — Você tem dinheiro? Vai custar
caro.

Eu segurei uma nota de dez e uma de vinte. — Depois disso, estou


esgotada até o dia do pagamento, —menti. Muito dinheiro pode me
tornar um alvo. Não queria começar meu dia quebrando o braço de
alguém.
— Ela tem dinheiro. Okay. —Ele desligou. — Cinco minutos. Meu
primo Rinaldo. Ele é legal. Casado e com cinco filhos. Trabalha no
terceiro turno e dirige um táxi para manter todos alimentados. Tentei
explicar a ele sobre o controle de natalidade, mas ele não é o bulbo mais
brilhante, entende o que quero dizer? —Ele estava tentando fazer uma
piada e riu como se fosse realmente engraçado.

Eu sorri e assenti. — Obrigada. Eu agradeço.

Ele tirou um cartão do bolso e passou para mim. — Me ligue da


próxima vez que quiser uma festa. Eu tenho acesso a algumas coisas.
Você sabe?

— Obrigada, —eu disse, apontando para o cartão. — Coloque o


número do Rinaldo atrás. Nunca se sabe quando vou precisar de um táxi
pela manhã. —Quando ele terminou, coloquei o cartão na minha bolsa
e saí pela porta. Minutos depois, Rinaldo parou em um táxi amarelo
com um grande pássaro azul pintado nas portas dianteiras. Ele me
olhou, acenou para que eu me aproximasse e destrancou as portas com
um clique automático. Eu subi na parte de trás e dei a ele meu endereço.
— E eu preciso do café da manhã. Dirija por um lugar de fast-food e eu
comprarei para nós dois.
Rinaldo me estudou pelo retrovisor e disse: — Yo .

Eu tomei isso como um sim e coloquei minha cabeça para trás. Eu


estava exausta.

estava sentado na varanda da minha casa quando saí do táxi.

Combinei com Rinaldo para me buscar pela manhã, onde quer que eu
me encontrasse. Ser legal com um taxista sempre era inteligente.
Aprendi da maneira mais difícil que chegar em casa sozinha nem sempre
era fácil ou mesmo viável. E os lugares onde voltei a ser humana não
eram lugares onde um taxista iria, a menos que você fosse um regular.
Pensando que eu era a garota festeira que meu rosto cansado e batom
vermelho proclamavam, ele me disse para ter cuidado, ligar para ele a
qualquer hora e foi embora.

Olhei para o Joe e suspirei. Eu precisava de um banho, um bule de


chá e minha cama. Não isso.

Aye, Yep, Yo, Yup, Yeah: quer dizer, sim


— Você quer me dizer onde estava ontem à noite? —Ele demandou.

— Não. Eu não quero. Afaste-se da minha porta. —Quando ele


franziu a testa, cruzei os braços e sacudi minhas chaves. — Você não é
meu pai, meu amante ou meu chefe. Onde eu estava não é da sua conta.
Não estou com humor para isso. Estou cansada e preciso de um banho
e vou te arrebentar se for preciso. Mova-se.

— Eu tenho perguntas. —Ele deslizou para o lado e eu abri a porta


da frente. Ele entrou atrás de mim, rápido o suficiente para que eu não
pudesse fechar a porta sem empurrá-lo primeiro.

Suspirei de novo enquanto ele me seguia até a cozinha, onde liguei


a chaleira. — Tudo bem. Mas primeiro vou tomar um banho. Você pode
esperar.

Fechei a porta do meu quarto e tirei a roupa, entrando no chuveiro


quente para uma sessão de higiene pessoal. Eu não tinha muitos pelos
no corpo, cortesia do meu sangue Cherokee, mas o que eu tinha voltava
toda vez que eu me transformava, como se nunca tivesse me depilado.
Mudar todas as noites tornava isso uma dor na bunda.

Quando tive certeza de que a chaleira estava assobiando por um


longo tempo, desliguei a água, vesti uma camiseta e shorts surrados e
voltei para a cozinha, meu cabelo molhado encharcando o pano fino nas
minhas costas. Ele estava na mesa da minha cozinha, esparramado
como se fosse o dono do lugar, seus óculos de sol perto da mão esquerda
e os olhos nas minhas pernas enquanto eu caminhava até a chaleira.

— Eu tirei do fogo e derramei sobre as folhas, —disse ele.

Surpresa, levantei a tampa de plástico do coador de chá e cheirei. Eu


tinha deixado um forte Madagascar Vanilla Sunday Blend no coador,
sentado no bule, esperando. E agora estava pronto. — Obrigada, —eu
disse, e despejei em uma caneca de 350 ml, adicionei um pouco de
açúcar e mexi. — Quer um pouco?

— Eu estou bem. —Ele parecia um pouco menos exigente do que


na entrada, e depois de um bom banho eu estava me sentindo um pouco
mais magnânima. Mas eu tinha a sensação de que essa conversa estava
prestes a ficar muito física ou muito cheia de mentiras. Eu não estava
com humor para isso.

Eu tinha comido seis Egg McMuffins e tomado três Cocas, então


não estava com fome esta manhã. O que provavelmente era uma coisa
boa. Quando os humanos me viam comer, eles tendiam a ficar com os

McMuffin é uma família de sanduíches de café da manhã vendidos pela rede internacional de restaurantes de fast
food McDonald's.
olhos arregalados com a quantidade. Rinaldo presumiu que eu tinha
fome pelo uso de drogas. Eu não disse a ele nada diferente.

Sentei-me em frente ao Joe e bebi, pensando. Queria dizer que não


devia explicações a ele, mas ele era daqui, com contatos que eu não
tinha. Eu poderia agradá-lo. Um pouco. — Ok. Você está aqui. Eu tomei
meu banho. Eu tenho meu chá. Estou ouvindo.

— Onde você estava ontem à noite? —Quando balancei a cabeça,


ele disse: — Como você saiu daqui sem que eu te visse? —Eu balancei
minha cabeça novamente, deixando um sorriso começar, e ele estreitou
os olhos para mim. — Como você localizou a câmera olhando para o
quintal de Katie?

Oh, sim. A câmera. Se ele esperava fazer a segurança de Katie e


perdeu uma câmera que encontrei, isso só poderia deixá-lo mal. — Isso,
eu vou te dizer. —Eu deixei meu sorriso se espalhar e baixei meus olhos
para o chá. — Eu sou boa. —Eu bebi.

Ele bufou, uma risada beligerante, e deixou o silêncio crescer, seus


olhos em mim como um peso. Mas, no jogo de encarar e qual predador
piscará primeiro, ele quebrou. Sua hostilidade se derreteu em uma
baforada explosiva e um leve fedor de frustração. — Tudo bem. Você
tem maneiras de fazer coisas que eu não. Você conseguiu o trabalho, eu
não. Mas uma garota foi morta ontem à noite. Pelo desonesto.
— Eu sei. Eu o vi.

O Joe—Rick, ele tinha um nome—sentou-se, recompondo-se.


Larguei minha caneca, liberando minhas mãos, e esperei para ver o que
ele faria. Ele estava vestindo uma camiseta novamente esta manhã e,
como seus bíceps se agruparam, a parte de baixo das tatuagens estava
mais visível do que ontem. Definitivamente garras no braço esquerdo.
Algo escuro e difuso no braço direito e no ombro. Eu queria vê-las, mas
descobri que se pedisse a ele para tirar a camisa, ele poderia ter uma
ideia errada. Eu estava tão cansada que sorri sem pensar.

— Não é engraçado, —ele disse, sua voz baixa e perigosa. — Eu a


conhecia.

Eu levantei a mão, palma para fora, dedos abertos para mostrar que
não queria ofender, e balancei minha cabeça. Ele se acomodou um
pouco e eu peguei minha caneca novamente. — Sinto muito pela sua
perda. Se isso te faz sentir melhor, eu não estava sorrindo sobre a garota.

— Você o viu matá-la?

— Não. Eu estava rastreando-o. —O que era verdade, exceto que


Rick pensaria naturalmente que eu estava seguindo pela visão, não pelo
cheiro. Aqui era onde nossa conversa iria se transformar em mentiras,
mentiras parciais e mentiras totais, e onde eu cairia tropeçando se
cometesse um erro. — Ele dobrou uma esquina e eu parei muito tempo,
pensando que ele poderia ter me visto. Ele a pegou antes que eu pudesse
reagir. Ele é rápido. Ele subiu na parede quando me viu. —Observei o
rosto de Rick. Ele estava estudando o meu. — Para cima. Eu sempre
pensei que aquela coisa de vampiros serem capazes de voar ou escalar
paredes fosse um mito.

Rick balançou a cabeça. — Só os mais velhos podem escalar assim.


Os verdadeiros antigos.

— E você sabe disso como?

— Eu conheço a Katie. Eu perguntei.

E ela apenas respondeu? Lembrei-me da primeira incursão da Besta no


Quarter. O cheiro de vampiros em todos os lugares. Havia muitos
verdadeiros antigos. — Eu o segui da rua enquanto ele corria pelos
telhados. —Também verdade, bem, mais ou menos. Terminei o chá e
me levantei para servir outra xícara, mas mantive meu corpo inclinado
e Rick na minha visão periférica.

— Ninguém viu você, —ele disse. — Policiais entraram em cena


quase que instantaneamente.

Soou como uma acusação novamente. Dei de ombros. Ele era


persistente e curioso. Pessoas persistentes e curiosas muitas vezes metem
o nariz em coisas que não deveriam, e esse cara parecia o principal
candidato para esse problema específico. Eu precisava apontar seu nariz
em direções úteis para mim, mantê-lo onde eu pudesse vê-lo, usá-lo e
distraí-lo de coisas que eu não compartilharia. — Preciso de reforço
nisso e tenho um orçamento. Você quer o emprego?

— Sim. E eu quero saber como você sai daqui sem que eu te veja.

Eu olhei de volta para ele. Hora de outra mentira. — Você conhece


os alforjes da minha motocicleta? —Voltei para o chá. — Como isso.

Ele se recostou, o espanto cruzando seu rosto. — Você conhece uma


bruxa que pode fazer um feitiço de invisibilidade?

Feitiços de invisibilidade eram lendas, não realidade, até onde eu


sabia, mas pessoas suficientes afirmavam que eles existiam para merecer
a mentira sendo tomada como verdade. — Não exatamente. Mas mais
ou menos. Ela chama isso de feitiço de ofuscação. — Adicionei mais
açúcar e mexi, mantendo meu rosto virado. Eu não mentia bem e sabia
disso. — Você não vai me ver entrar ou sair, a menos que eu esteja com
vontade de deixar você ver.

Ele se levantou e se aproximou, encostado no balcão, de frente para


mim, um pouco dentro do meu espaço pessoal. — O que estarei fazendo
se trabalhar para você?
Respirei fundo para responder e o senti parar, senti minhas costelas
congelarem em movimento. Eu inalei lentamente então, puxando o ar.
O perfume. Seu perfume. Inclinei-me e puxei o ar perto de Rick pelas
minhas narinas, sentindo-o ficar tenso quando meu rosto passou perto
de seu pescoço. Eu girei, ficando atrás dele, inclinando-me. Suas mãos
se fecharam em choque, mas eu não conseguia parar. Eu abri minha
boca e puxei meus lábios, puxando seu perfume.

Era familiar. Um dos cheiros no pano que a Besta usou para rastrear
o desonesto. Este perfume. O perfume de uma mulher, o corpo de uma
mulher, tão fraco no vampiro que eu mal tinha notado. O Joe—Rick—
tinha o mesmo cheiro que o desonesto carregava.

Eles haviam estado com a mesma mulher. Com, como em com.


Como alguém poderia, mesmo um humano, suportar estar com um
desonesto doente e apodrecido? Ainda assim, eu não cheirava o
desonesto em Rick, apenas na mulher. Então por que não? Por que ela
não carregou o fedor do desonesto para frente e para trás entre os dois
homens?

Eu segurei minha reação e fui até a mesa. Quando coloquei a caneca


sobre ela, meus dedos tremeram. Eu fechei o punho para esconder. Eu
precisava de privacidade para analisar tudo isso. — Hoje, nada, —eu
disse, retomando a conversa como se nada tivesse acontecido. — Hoje
à noite, vou lhe dar alguns endereços para rastrear, proprietário,
locatário, proprietários de imóveis próximos, esse tipo de coisa.

— Que diabos foi isso? —Ele perguntou.

Eu balancei minha cabeça, deixando os cabelos mais curtos ao redor


do meu rosto caírem para frente. Escondendo-me novamente. — Nada.
Agora saia daqui. Eu preciso de um cochilo. —Suprimindo meu tremor,
fui até a porta e a abri. Segurei bem firme.

Rick ficou ao lado da mesa por um momento. Tive medo de que ele
exigisse uma resposta, talvez muitas delas. Eu sabia como devia parecer,
cheirando-o como um animal. Tive medo de dizer algo para alertá-lo do
que eu era ou do que descobri. Eu não conseguia olhar nos olhos dele.

Ele colocou os óculos escuros e foi até a porta. E saiu. Fechei a porta
atrás dele e descansei meu peso sobre ela. Com quem Joe tinha dormido
na noite passada ou esta manhã, em algum momento recentemente, ela
estava dormindo com o vampiro desonesto também. Como ela poderia
suportar o fedor de podridão? E por que isso não estava nela também?
Mol. Liguei para o celular

dela e ouvi os toques, deixando uma mensagem sucinta quando fui


direcionada para o correio de voz. — Sou eu. Me ligue. E verifique
as proteções novamente. —Pressionei o botão END e me enrolei na
minha cama com o celular no outro travesseiro, sabendo que Mol me
ligaria quando ela finalmente checasse as mensagens.

Como a maioria das bruxas, Molly era esquecida. Ocasionalmente,


ela até se esquecia de verificar as proteções de sua casa, aquelas que a
protegiam da observação casual da recém-criada Divisão de Polícia de
Psicometria do governo federal, a chamada PsyLED. Era um ramo da
Segurança Interna, e os PsyOffs—oficiais PsyLED—ainda estavam
coletando informações sobre os supernaturais do país. Até agora, os
filhos de Molly estavam fora da rede. Impedir que sua casa e
propriedade vazassem energia mágica era a chave para mantê-los
seguros.
Desesperadamente sonolenta, meus membros parecendo pesados
como chumbo, fechei os olhos.

Acordei às três da tarde ao som de batidas na porta da frente. Meu


quarto era em forma de L, com o lado curto na frente da casa. Espiei
pela janela e vi um carro policial identificado estacionado na rua, um
homem de uniforme e uma mulher de paletó e calça cáqui na varanda.
Eu me olhei no espelho e fiz uma careta para mim mesma. Eu parecia
maltrapilha, não do jeito que o talento de fora da cidade, a pistoleira
contratada pelo conselho para derrubar o desonesto, deveria parecer. Se
essa era a ligação de Katie com o departamento de polícia de Nova
Orleans, eu iria causar uma péssima primeira impressão. Se Rick tivesse
falado com a polícia sobre eu ter visto o desonesto, eu passaria uma
impressão pior ainda. E eu não tinha lavado o sangue de minhas
refeições de bife da grama no quintal. Estúpida. Merda.

Um deles bateu de novo, menos educadamente desta vez. Fui até o


saguão, abri as fechaduras e abri a porta, apoiando-me na porta e no
batente, os braços esticados para o alto. Eu bocejei amplamente e os
estudei através de olhos semicerrados e uma mecha de cabelo
emaranhado. O cara estava olhando para as minhas pernas e o pedaço
de barriga aparecendo entre a camiseta e o short quando eu bocejei. Ele
tinha quarenta e poucos anos e cheirava a especiarias Cajun e loção pós-
barba. Muita loção pós-barba. Enruguei meu nariz. A mulher era mais
jovem, um pouco atarracada, cabelos curtos. Um crachá de lapela dizia
que ela era Jodi Richoux. Sim. A conecção de Katie. Terminei o bocejo e
disse, parecendo mal-humorada: — Sim?

Ela fez uma careta para mim. — Jane Yellowrock?

— Esta sou eu. E você é a amiga de Katie no NOPD. Entre. —


Empurrei a porta e fui até a cozinha, arranhando deliberadamente
minha axila. Eu não gostava de policiais, mas gostava de brincar com
eles. Muito parecido com o jeito que Besta gostava de brincar com sua
comida antes de matá-la. Havia um certo tipo de desafio para o gato e o
rato. — Estou fazendo chá, —falei, por cima do ombro. — Eu não tenho
café ou donuts para vocês.

— Eu entendo que você coma muito bife, —disse Jodi.

E o jogo começa. Eu sorri e afastei meu cabelo do rosto. — Eu sou


uma carnívora. Vegetais são para maricas. —Enchi a chaleira enquanto
os dois examinavam a cozinha. — Você tem falado com meu
açougueiro, suponho.

— Ele. Algumas outras pessoas.

— Sente-se, —eu disse.


— Se importa se eu olhar em volta, —disse o cara, — esticar minhas
pernas?

Intencionalmente, olhei para seu crachá. — Sim, oficial Herbert, eu


me importo. Sente-se ou faça sua caminhada lá fora. —Apontei para
uma cadeira e de volta para a porta.

— E por que você se importa? —Jodi perguntou. — Você tem algo


a esconder?

— Nada de especial. Eu simplesmente não vejo nenhuma razão


para deixá-lo mexer nas minhas calcinhas sem um mandado. Traga-me
um mandado e você pode verificar o quanto quiser. Só saiba que minha
senhoria tinha o lugar vigiado com câmeras. Não há muita privacidade
se as câmeras estiverem gravando 24 horas por dia, sete dias por semana.
—Tudo inteiramente verdade. Katie realmente tinha o lugar vigiado. As
câmeras simplesmente não estavam mais filmando. E essa parte eu não
compartilhei. A vida era muito mais fácil sem mentiras reais para
lembrar. Os policiais se entreolharam, assustados. Quase pude vê-los
reorganizando suas táticas. Apontei novamente para as cadeiras da
cozinha. — Sente-se.

— Abear, —disse ele, sentando-se ao lado da cadeira que eu havia


apontado.
— O quê? —Coloquei a chaleira no fogão e acendi o fogo.

— O meu nome. É pronunciado Abear. A pronúncia francesa.

Pensei em dizer “Big whup”, mas não disse. Não adianta mexer a
panela ainda. Quando eu não respondi, exceto por abrir um pacote de
biscoitos e colocá-lo na mesa para eles, Jodi perguntou: — Onde você
estava ontem à noite? —Ela não estava sentada. Jodi estava parada na
ponta da mesa, um pouco para trás, para que pudesse nos ver, mas sem
atrapalhar. Posição interessante.

— Por toda parte. —Inclinei-me no canto dos armários, o balcão na


minha cintura, e cruzei os braços, colocando um pé no armário atrás de
mim, como se estivesse me apoiando. O fato de que a posição me deu
uma vantagem para saltar não foi acidental. — Eu estava subindo e
descendo a rua em frente ao Katie's Ladies na Dauphine, descendo a St.
Louis Street até a Royal. Passei muito por aí depois disso.

— Uma garota foi morta na rua Barracks ontem à noite. Chegou ao


nosso conhecimento que você pode saber algo sobre isso, —disse Jodi.

Bem, bem, bem. Rick tinha falando. Ele era uma fonte? — Algo
assim, —eu concordei, fazendo parecer que não era muito.

— Você quer nos contar sobre isso? —Estava implícita a ameaça de


que, se eu não quisesse falar aqui e agora, poderíamos ir ao
departamento. Onde eu poderia esfriar meus calcanhares por alguns dias
na prisão.

Eu mantive minha voz sem emoção quando respondi. — Fui


contratada para rastrear o vampiro desonesto. Eu o segui até lá. Cheguei
tarde demais para detê-lo. Ele a havia drenado e estava comendo a
garota quando cheguei. Então, quando ele saiu, eu o segui.

— Onde ele foi? —Ela perguntou, sua voz tensa, seus olhos focados
firmemente em meu rosto.

— Acima dos telhados, principalmente, e do outro lado do rio, onde


eu o perdi.

— Você deveria ter nos chamado, —ela rosnou.

— Meu celular estava sem bateria. —Bem, isso era uma mentira
absoluta, mas eu não iria admitir que tinha patas e não podia discar.
Nem diria que não teria ligado de qualquer maneira.

— Como você o rastreou? —Ela perguntou. Ambos estavam


ouvindo com o tipo de intensidade que os policiais reservam para
estupradores de crianças e assassinos em série. E assassinos de policiais.

— Linha de visão e com um pequeno amuleto de bruxa. Rastreia


vampiros. Único e caro como todos. —Mentira número dois. Eu não
podia me dar ao luxo de aumentar muito mais e manter minha história
correta.

— Então, você o viu. Tem uma descrição do cara? —


Herbert/Abear disse.

— Altura mediana, esbelto, cabelo escuro comprido, nariz adunco .


Estava escuro e ele era rápido. Isso é tudo o que eu tenho. Não é o
suficiente para trabalhar com um artista, —acrescentei, para me manter
fora do NOPD HQ.

— Eu quero ver este amuleto.

Meu celular tocou no quarto. — Com licença. —Peguei o telefone


e voltei para a porta da cozinha, onde poderia ficar de olho neles. O
número exibido era o de Molly.

— Feiticeira!

— Ei, Grande Gato. E aí.

Nariz adunco. Em muitas pessoas, o nariz romano pode aparecer em associação com a ponte
proeminente e curvada e com uma característica que faz com que a ponta do nariz se projete para baixo quando a pessoa sorri, fazendo com
que o nariz se assemelhe ao bico de uma águia.
— Bom momento para ligar. Tenho dois policiais na minha
cozinha. Eles querem saber sobre o amuleto de rastreamento que
você me deu. Aquele para vamps malucos, não aquele para humanos.

— Nao existe tal coisa.

— Voar.

Molly riu. Quando um feitiço não funcionava, ela fazia aviões de


papel com as páginas de rascunho e os fazia voar pela sala para entreter
seus filhos. — Você teve um vestígio de sangue para trabalhar?

— Grande momento, —eu disse.

— Coloque-me com eles.

Apaguei a tela e entreguei o telefone a Jodi. Salva pelo gongo.

Comi um biscoito e ouvi a conversa do policial com Mol. Molly


gosta de policiais ainda menos do que eu, tendo que se registrar como
uma bruxa na lei local, mas ela tinha principalmente tipos caipiras como
modelos. Eu conheci alguns policiais bacanas na minha época e alguns
estavam bem. Alguns, no entanto, estavam em viagens do ego, tinham
problemas de autoridade ou eram porcos chauvinistas. Herbert era um
idiota. Eu estava retendo o julgamento de Jodi.
A policial devolveu meu celular e eu disse: — Obrigada, Mol. Eu
ligarei de volta mais tarde.

— Você está tendo problemas aí no sul úmido? —Ela perguntou.

— É interessante.

— Então, talvez eu vá visitar mais cedo do que planejamos. Mate aquele


desonesto para que seja seguro. —Ela riu e cortou a conexão. Aperto END
e coloco o telefone no balcão.

— Então. Posso ver o amuleto que rastreou o vampiro? E uma


demonstração?

— Não e não. Volta para aquela coisa do mandado. Traga-me um


pedaço de papel e eu compartilharei. Até então, de jeito nenhum.

— Por que você não gosta de policiais, Srta. Yellowrock? — Herbert


perguntou.

— Eu gosto de alguns policiais muito bem. Mas não gosto de todos


os policiais, assim como não gosto de todas as lavadeiras, de todos os
varredores de rua ou de todas as enfermeiras. O trabalho é bom, mas
não atrai necessariamente as melhores pessoas. Você quer tomar uma
cerveja, talvez assistir a um filme, posso achar que você é encantador
como o inferno e honesto. Até agora, não estou muito impressionada.
— Ela é loquaz , —disse ele a Jodi, parecendo maldoso e
malicioso. Seu rosto se contorceu enquanto eu falava e agora ele parecia
um pouco cruel também.

— Cale a boca, —disse Jodi a ele.

Eu ri. — O que você realmente quer saber é como eu encontrei o


desonesto quando você não podia e por que o Conselho Vampiro me
contratou quando tinha dinheiro suficiente para contratar a Legião
Estrangeira Francesa . Então você quer que eu prometa trazer qualquer
coisa que eu descobrir, incluindo quaisquer fatos interessantes ou
informações sobre minha chefe e seus comparsas, o conselho vampiro.

Jodi abriu a boca e fechou-a para o que quer que estivesse prestes a
dizer. Seus olhos se aguçaram, entretanto. Eu sorri para ela. Comi outro
biscoito. Deixei o silêncio aumentar na cozinha. Depois de alguns
minutos, Jodi disse: — O que você é?

Eu não esperava isso. Uma coisa era a comunidade sobrenatural


saber que eu não era humana. Era algo totalmente diferente para a

Que fala muito, que demonstra prazer em falar, que fala com eloquência, com facilidade; verboso, falador, facundo, magníloquo.

A Legião Estrangeira Francesa é um ramo do serviço militar do Exército Francês criado em 1831.
Legionários são soldados de infantaria altamente treinados e a Legião é única por ser aberta a recrutas estrangeiros dispostos a servir nas Forças
Armadas Francesas.
aplicação da lei mundana saber, policiais podem contar ao PsyLED. Eu
me segurei quieta quando quis pular sobre a mesa, as garras cortando.
Besta estava acordada e ouvindo. Besta estava decidida a estripá-los e fazer
perguntas enquanto eles morriam. Eu a segurei. Depois de uma pausa um
pouco longa demais, coloquei um tom pensativo e agradável em minha
voz e disse: — Eu sou a melhor rastreadora de vampiros desonestos da
Costa Leste .

Então. Quem falou? Os únicos que sabiam que eu não era humano
eram Katie, Troll, Pugilista e Leo. Mordi outro biscoito e pensei sobre
as migalhas. Voltar a ser rude, bruta e deliberadamente desagradável.
Voltar a dar aos policiais algo em que pensar, além das minhas reações
mais sutis. — Não tenho aversão à luz do sol ou à prata, gosto de alho
e de filmes antigos do Bela Lugosi e vou à igreja. Não posso fazer
feitiços e meus amigos bruxos me dizem que não sou um deles. Então

A Costa Leste dos Estados Unidos, também conhecida como "Costa Atlântica", refere-se ao
conjunto de estados mais orientais dos Estados Unidos, banhados pelo Oceano Atlântico. No entanto, o sentido popular dado à expressão "East
Coast" é mais frequentemente aplicado apenas à metade norte da região.

Béla Ferenc Dezsõ Blaskó, mais conhecido como Béla Lugosi, foi um ator húngaro nascido no então Império
Austro-Húngaro, na região do Banat.
acho que isso me torna humana, embora isso muitas vezes me coloque
em más companhias. Estou licenciada para portar armas na maioria dos
estados do Sudeste e poderia obter uma dispensa nos demais estados. —
Eu engoli e continuei. — Eu tenho um histórico de cem por cento. Mais
recentemente, eu derrubei sete de sete em uma família de sangue louca
e jovem e desonesta. Sou proficiente, embora não classificada, em lutas
de rua e esgrima, e sou uma boa atiradora. Tudo isso você pode obter
do meu site. Suponho que você queira saber algo que não está no site.

Eu levantei minhas sobrancelhas e deixei meu sorriso mais insolente


surgir. — Eu sou hétero. Uso sapatos tamanho trinta e seis. Gosto de
bife. Oh, espere, você já sabe disso. Eu gosto de dançar, e esse boogie
verbal com vocês dois me faz pensar que vou dançar esta noite. —Dei
de ombros.

— Uma coisa que você deixou de fora. —Jodi mostrou uma


pequena caixa preta para mim, do tamanho de um baralho de cartas.
Tinha um mostrador, como um contador Geiger , e a agulha apontava

Quer dizer dançar

O contador Geiger serve para medir certas radiações ionizantes. Este instrumento
de medida, cujo princípio foi imaginado por volta de 1913 por Hans Geiger, foi aperfeiçoado por Geiger e Walther Müller em 1928.
um pouco mais da metade da face, a sessenta e dois. A visão disso me
gelou até os ossos. Porcaria. Merda, merda, merda. Besta ergueu os lábios
e mostrou os dentes em ameaça. Eu sorri e comi outro biscoito. — Por
que você acionou meu medidor psíquico, —disse Jodi.

Sessenta e dois era a metade do caminho entre um vampiro à meia-


noite e uma bruxa da lua na lua cheia. Muito poderoso. Eu me
perguntava o que iria ler. Psi-medidores, ou psicômetros, foram escritos
anos atrás em policemag.com. Eles eram caros e, de acordo com a
revista, usados apenas por agências de aplicação da lei financiadas pelo
governo federal como o FBI, a CIA e o PsyLED. Achei que nunca veria
um, mas aqui estava um psi-medidor na pequena e velha Nova Orleans.
Sorte a minha.

— Eu ando com bruxas, —eu disse, meu tom indiferente. — Eu


tenho alguns amuletos de bruxa poderosos. Molly lavou minhas roupas
antes de eu deixar Asheville. —Dei de ombros, levantando um ombro e
comi outro biscoito, embora as migalhas ficassem presas na minha
garganta. — Escolha um. Eu realmente não me importo.

— Não gostamos muito de bruxas em Nova Orleans, —disse


Herbert.
— Por que não? Elas fizeram o possível para conduzir Katrina, Rita
e Ivan de volta ao golfo, —eu disse. O rosto do policial se contorceu
de preconceito e ódio. Ahhh. Eu encontrei seu botão quente e a razão
pela qual ele foi trazido para me visitar. Besta podia sentir o cheiro da
adrenalina no suor de Herbert. Esse cara era um odiador sério de bruxas.
O que me irritou.

— Não é culpa delas que um coven não tinha o poder de evitar


grandes tempestades, —eu disse, jogando migalhas da minha camiseta
no chão. — A Mãe Natureza é maior do que qualquer família. Mas elas
conseguiram que Katrina caísse de uma categoria cinco para uma
categoria três ao chegar à costa. Você tem que dar crédito a elas por isso.

Furacões Ivan, Katrina e Rita.


* O Furacão Ivan devastou o Caribe e a costa sul dos Estados Unidos em setembro de 2004, foi um furacão considerado de Categoria 5 de
acordo com a Escala de Furacões de Saffir-Simpson, com diâmetro de mais de 600 quilômetros e ventos de até 270 km/h. Milhares de pessoas
ficaram sem água encanada e telefone. Estima-se 70 mortos. A áreas afetadas foram Grenada no Caribe, Jamaica, Ilhas Cayman, Cuba e nos
Estados Unidos: Alabama, Flórida, Texas e Louisiana. Dizem que foi o mais temido antes do Katrina.
* O Furacão Rita foi o ciclone tropical mais intenso já registrado no Golfo do México e o quarto furacão mais intenso do Atlântico já registrado.
Parte da temporada de furacões no Atlântico de 2005, que incluiu três dos dez furacões mais intensos do Atlântico já registrados (juntamente
com #1 Wilma e #7 Katrina), Rita foi a décima tempestade nomeada, o décimo furacão e o quinto grande furacão da temporadade 2005. Foi
também o mais antigo até a tempestade tropical Rene em 2020. Rita formou-se perto das Bahamas a partir de uma onda tropical em 18 de
setembro de 2005 que originalmente se desenvolveu ao largo da costa da África Ocidental. Mudou-se para oeste, e depois de passar pelo Estreito
da Flórida, Rita entrou em um ambiente de águas anormalmente quentes. Movendo-se para oeste-noroeste, intensificou-se rapidamente para
atingir ventos máximos de 285 km/h, alcançando o status de categoria 5 em 21 de setembro. No entanto, enfraqueceu-se para um furacão de
categoria 3 antes de fazer landfall em Johnson's Bayou, Louisiana, entre Sabine Pass, Texas e Holly Beach, Louisiana, com ventos de 185 km/h.
Enfraquecendo rapidamente sobre a terra, Rita degenerou em uma grande área de baixa pressão sobre o baixo Vale do Mississipi até 26 de
setembro.
* O Furacão Katrina foi um grande furacão de categoria 5 no Atlântico que causou mais de 1.800 mortes e 125 bilhões de dólares em danos em
agosto de 2005, particularmente na cidade de Nova Orleans e arredores. Foi na época o ciclone tropical mais caro já registrado, e agora está
empatado com o furacão Harveyde 2017. A tempestade foi o décimo segundo ciclone tropical, o quinto furacão e o terceiro grande furacão da
temporada de furacões no Atlântico de 2005, bem como o quarto furacão atlântico mais intenso já registrado para fazer landfall nos Estados
Unidos contíguos.
Ele se levantou, colocando as mãos na coronha da arma e no
cassetete. — Não preciso fazer nada.

— Você tem que ser um idiota, —eu disse suavemente. — Não há


ajuda para isso.

Ele começou a contornar a mesa. Eu sorri para ele. Besta quase


ronronou. Diversão ... Eu vi uma imagem dela brincando com um
coelho ferido e deixei meu sorriso aumentar. Mas eu cuidadosamente
não me movi do canto. Jodi não disse nada, observando-nos
especulativamente. Sim. Ela escolheu sua posição.

— Nós não gostamos de bruxas em N'awlins , nem melhor do que


gostamos de vampiros, —Herbert disse, aproximando-se de mim
lentamente. Ele enganchou uma cadeira com o pé e a jogou de lado com
um guincho de madeira. Besta o observou através dos meus olhos.
Diversão ... Ela se recompôs. Eu a segurei quieta. — Vampiros, que
mataram uma dúzia de policiais e os comeram como se fossem carne. E
você está trabalhando para os assassinos de policiais.

Quando ele estava a meio metro de distância, Jodi agarrou seu


braço e disse bruscamente: — Jim. Vá esperar lá fora, por favor.

O primeiro sinal de que você é um turista é se você pronunciar Nova Orleans como N'awlins. Os locais pronunciam o nome da cidade como
New Awlins. Pessoas de outras cidades ouvem N'awlins por causa da maneira como os moradores se arrastam e conectam suas palavras. A
maioria dos moradores odeia ouvir pessoas dizerem N'awlins ou New Or-Leans.
— Sim, —eu disse, empurrando as coisas e incapaz de me ajudar.
— Ninguém sabe se as câmeras nas paredes também têm áudio ou se
são vídeo direto. Você pode simplesmente aparecer no YouTube
fazendo papel de bobo e falando algo que o NOPD consideraria
seriamente anti-PC. Os vampiros trazem muito dinheiro dos turistas.
Aposto que ninguém quer incomodar os fazedores de dinheiro.

— O conselho vampiro pode beijar minha ...

— Jim! Lado de fora. Agora.

Ele se afastou e pisou duro para a porta da frente. Ele a bateu na


saída. Eu ri e me senti um pouco culpada ao mesmo tempo. Embora
Besta estava se divertindo, eu particularmente não gostei do fato de
gostar de provocar a lei. Não era inteligente ou seguro.

— Você não vai nos ajudar, não é? —Jodi perguntou, sua voz tão
suave que poderia não ter chegado aos captadores de áudio imaginários.

— Eu vou matar o desonesto que está matando seus policiais, suas


prostitutas e seus turistas. Soa como ajuda para mim.

— Você é realmente humana? —Ela perguntou novamente, sua voz


suave com verdadeira curiosidade.

— Já respondi a essa questão.


— Seus papéis afirmam que você tem vinte e nove, mas você age
como uma criança de quinze na metade do tempo e uma avó de
cinquenta na outra metade. Você se comporta como um lutador de rua,
aciona meu medidor de energia, o que significa que você está perdendo
energia, carregando algum tipo de energia ou gerando energia, e você
deliberadamente insulta um policial quando pode precisar de nós.

— Você o trouxe aqui para ver o que eu faria quando ele ficasse
estúpido, —eu adivinhei, mas fazendo isso como uma declaração. Jodi
teve a elegância de corar. Eu bufei uma risada. — O bom policial/mau
policial só funciona nos filmes. Tenho o seu número de celular, Jodi.
Ligarei se precisar de reforços. Ligarei se precisar de informações. E
ligarei se houver algo que o NOPD precise saber.

— Por que você simplesmente não ofereceu isso logo de cara?

— Por que você não pediu isso logo de cara?

Jodi me encarou, a incerteza em seus olhos. Eu não disse nada. Ela


não disse nada. Depois de um bom minuto disso, ela respirou fundo e
se virou para a porta. — Obrigada pelo seu tempo.

Em silêncio, eu a segui até a porta e tranquei-a atrás dela. Quando


eles se afastaram, fui para o quarto e me joguei na cama. Eu poderia ser
mais estúpida? Poderia?
Besta ronronou de felicidade. Diversão ...

Queria que Molly ligasse. Na esteira desse pensamento, o telefone


tocou. Rolei, bocejei para o teto e respondi. O número de Molly
apareceu na tela. — Como você fez isso? Você é uma bruxa, não uma
vidente.

— Eu não fiz, —ela disse. — Angie me contou. —Nós duas ficamos


em silêncio por um momento. A garota era assustadoramente forte.
Quando o poder de Angie despertou, ela ficou apavorada, a magia
correndo para fora dela em um redemoinho, destruindo o trailer em que
eles viviam na época. Quando cheguei, foi para ver o telhado de metal
descascando como se fosse um abridor de lata. Sem saber o que estava
acontecendo, corri para dentro, direto para a magia. E eu me tranformei.
Isso assustou muito Grande Evan, que não sabia o que eu era. Molly
pode guardar um segredo.

Evan e Molly estavam tentando restringir o poder da garota, mantê-


lo controlado até que Angie ficasse mais velha e pudesse lidar com isso.
O poder, estranhamente semelhante ao lugar cinza que eu via quando
mudei, estava soprando, rasgando tudo. Angie estava gritando. Foi uma
loucura. Besta, sem medo, caminhou até a criança e se enrolou em volta
dela. Ronronando. Angie segurou as orelhas e a pele de Besta e se
agarrou nela, gritando. O que deixou Molly e Evan livres para trabalhar.
Sem perguntar, eu sabia que Molly estava se lembrando também. No
silêncio, perguntei: — Deixe-me falar com ela?

A vozinha de Angie disse: — Tia Jane? Você já pegou minha boneca?

Um nó cresceu na minha garganta. Muitas vezes acontecia quando


eu falava com Angie. Besta a adotou como um filhote, então ambas as
partes de mim a amavam. — Ainda não, querida. Mas logo.

— Okay. Eu te amo.

O nó na minha garganta teve um espasmo doloroso. — Eu também


te amo. —Kits. Filhote, Besta murmurou, sonolenta e com saudade.
Quando Molly voltou, eu disse: — Então. Você quer vir me visitar aqui
no Sul quente e abafado.

— Você mata aquele desonesto e nós iremos. Evan está falando sobre
finalmente aumentar a casa após seis meses de hesitação. Não vou morar em
uma casa aberta aos elementos, com carpinteiros e pedreiros perambulando.
—Não foi dito o fato de que a casa permaneceria sem proteção durante
a construção. — Mais tarde, Grande Gato, —ela disse. — E pare de mexer
com os policiais. Angie disse que você estava brincando com eles. —A
conexão foi encerrada.
Muito nervosa para voltar a dormir, fui até o Katie's Ladies,
sabendo que era muito cedo para as meninas acordarem, mas
preocupada com Troll. A mulher que tinha servido o jantar na noite
passada atendeu a porta e olhou para mim por cima de seus óculos
bifocais.

Ela acenou para que eu entrasse e eu a segui enquanto ela


cambaleava de volta para a sala de jantar, suas longas saias pretas
balançando. — Por aqui, —ela disse por cima do ombro. — Vou tomar
um pequeno e adorável Assam preto . Você se juntaria a mim?

“Assam preto” significava chá. — Eu adoraria uma xícara, —eu


disse, falando sério. Eu precisava de cafeína.

— Açúcar? Leite?

— Açúcar, —eu disse, lembrando do armário de chá na casa de de


brinde. Essa mulher fazia parte do amor de Katie por chá? Talvez serviu
para ela quando Katie morava na casa?

Eu perguntei: — Como eu te chamo?

O chá Assam é um chá preto que leva o nome da região de sua produção, Assam, na Índia. O chá Assam é fabricado
especificamente a partir da planta Camellia sinensis var. assamica. O chá de Assam é nativo de Assam. O esforço inicial de plantar variedades
chinesas em solo de Assam não teve sucesso.
O pequeno sorriso se alargou quando ela se sentou perto de um bule
envolto em um abafador. — Eu sou Amorette. As meninas me chamam
de Sra. A. —Ela acenou para um lugar, indicando que eu deveria sentar.

— Obrigada, Sra. A.

Peguei a cadeira que ela indicou e aceitei a delicada xícara de


porcelana, pires e uma colher de chá de prata. E um guardanapo de
pano. Tive a sensação de que a Sra. A fazia tudo com a formalidade do
velho mundo, mas me perguntei como ela lidava com o problema da
prata-mata-vampiros. Talheres de ouro, talvez? — Obrigada, —eu disse,
bebendo. Era suave, escuro, rico e maravilhoso. Eu lhe disse isso
enquanto ela se acomodava ao meu lado, uma pequena fada de uma
mulher com dedos esqueléticos.

— Estou tão feliz que você gostou. —Ela piscou para mim por cima
da borda da xícara. — Este único Assam é o meu favorito atual. A
maioria dos jovens prefere café. —Ela fez uma careta. — O chá é
subestimado no mundo de hoje.

— Eu sou uma bebedora de chá. Tenho um bom Assam em casa e


um queniano de uma única propriedade, um Millma. Vou trazer
algumas folhas, se quiser.
— Isso seria adorável. Por favor, faça, —disse ela. Ela me passou
uma bandeja com delicados sanduíches de pepino e biscoitos com cream
cheese, salmão defumado e algo em conserva e forte por cima. Talvez
alcaparras. Comi dois e aceitei uma segunda xícara de chá antes de
perguntar sobre Troll, lembrando-me de usar seu nome verdadeiro.

Sra. A suspirou. — Tom está vivo, fraco e curando, dormindo no


andar de cima, meu querido homem. Foi algo próximo, temo. E a
pobrezinha da Katherine ficaria arrasada se o perdesse. Eles estão juntos
há mais de setenta anos, sabe.

Quase engasguei com o chá nos comentários da “pobrezinha


Katherine” e dos “setenta anos”, mas fui salva quando uma das garotas
entrou, vestindo um robe de seda verde musgo e chinelos rosa felpudos.
Era Tia, a garota com pele de café com leite, olhos verdes acastanhados
e cabelo loiro cacheado de sua ascendência mestiça. — Bom dia, Sra. A.
Tem café? —Ela perguntou, seus olhos semicerrados.

Sra. A olhou para mim, seus olhos dizendo, Vê? Café, não chá. Que
vergonha. — O café está na cozinha.

Momentos depois, Tia se juntou a nós na mesa e bebeu meia caneca


de café escaldante em segundos. — Ahhhh. Deus, estou acabada. Eu
preciso de férias. —Ela arregalou os olhos como se esticasse as
pálpebras, bocejou e disse: — Talvez o Rio. Talvez Carlos me leve.

A maneira como ela disse isso me fez perceber que Tia era inocente,
mesmo que ela fosse uma das damas de Katie, uma inocente porque ela
não era a lâmpada mais brilhante do lustre. Ela olhou para mim e
pareceu acordar pela primeira vez hoje. — Você é a assassina de
vampiros contratada. Não mate Carlos, ok?

— Ummm, —eu disse, sem saber como responder.

— Carlos não é um desonesto, —Sra. A disse. — Ele está a salvo de


retaliação. Você se divertiu ontem à noite, querida?

Tia pegou um sanduíche de pepino. — Carlos é um sonho. O Sr.


Leo e a Srta. Katie dizem que posso ser um servo de sangue em breve,
se eles receberem a oferta certa.

— Oferta? —Eu disse, ouvindo a borda em meu tom.

Sra. A deu um tapinha na minha mão. — Eu vou explicar. Tia, —


ela disse para a menina, — leve seu café e lanche lá em cima, sim?
Senhorita Jane e eu devemos falar em particular.

— Oh. —Tia assentiu sabiamente, seus cachos balançando. —


Negócios. Entendi. —Ela pegou um punhado de sanduíches e saiu da
sala. A garota deslizava como uma dançarina, seus grandes chinelos
felpudos escorregando no chão de madeira. Na porta, ela se virou e
disse: — Obrigada por não matar Carlos. —Antes que eu pudesse
formular uma resposta, ela se foi.

— Oferta? —Eu repeti. — A escravidão foi abolida há muito tempo.

Sra. A assentiu e completou meu chá. Enquanto servia, ela disse: —


Parece que os pais de Tia não sabiam disso. Eles estavam vendendo a
filha de 12 anos no porta-malas do carro. —Com a minha respiração
sibilada, Sra. A assentiu, seu rosto enrugado parecendo severo quando
ela colocou outro biscoito de salmão no meu prato. — Minha Katie
ouviu falar sobre a ... situação da menina. Ela pôs fim a tudo, mas era
tarde demais para seu desenvolvimento adequado. Ela estava
gravemente marcada, emocionalmente. Katie gastou muito tempo e
dinheiro reabilitando Tia e tentando encontrar o protetor certo para ela.
—Sra. A olhou para mim, seus olhos negros repentinamente estalando.
— Ela não pode viver sozinha e é muito sexualmente consciente e
vulnerável para simplesmente ser libertada nas ruas da cidade. Ela
acabaria sendo usada, sem teto e sem recursos. Um marido pode
eventualmente abandoná-la. Um mestre vampiro irá prover e protegê-la
enquanto ela viver. Ela precisa apenas do arranjo adequado.

Eu não tinha ideia de como responder a isso, então comi meu lindo
sanduíche e não disse uma palavra. Quando consegui fugir, agradeci a
Miz A pelo chá e pelo lanche, pulei a cerca e disparei na Bitsa,
precisando explodir as teias de vamp da minha cabeça. O que você pode
dizer sobre a lógica construída sobre o pragmatismo e a compaixão?
Mas isso me deu arrepios.

Eu andei pelo bairro de Bitsa, farejando coisas, encontrando lugares


onde os vampiros freqüentavam, mas não descobri mais rastros recentes
do desonesto—ou talvez rastros do desonesto podre seja a frase certa—
embora eu tenha dirigido ao longo da rota da noite passada. Encontrar
meu caminho para a área do Lago Catouatchie—que é principalmente
um pântano e infestado de mosquitos, e onde Besta entrou fora da
estrada ao longo da trilha do vampiro doente—não foi divertido. Mas
eu finalmente peguei o cheiro distante do vampiro e o rastreei. Acabei
em um beco sem saída, uma rua destruída no meio do nada.

Eu diminuí a velocidade da minha moto no beco sem saída e parei,


colocando meus pés no chão, o motor ronronando suavemente abaixo
de mim como o ronronar de um grande gato. A casa era pequena,
provavelmente construída na década de 1950: uma casa cinza com telhas
de amianto de talvez mil e duzentos metros quadrados, com a varanda de
tela que eu vagamente me lembrava de ter visto nos fundos. Estava bem
conservada, com acabamento em carvão pintado recentemente, um
telhado novo e um jardim que cheirava a ervas no calor do meio-dia.
Na forma humana, algo me chamou da casa. Memórias distantes,
coisas nubladas em fumaça, medo e sangue. E o som de tambores
cerimoniais. O poder do povo. Tsalagiyi. Cherokee, para o homem
branco. Espinhos frios percorreram minha pele. Tsalagiyi era uma
palavra Cherokee. Eu lembrei disso.

Um abrigo estava nos fundos. Um ancião de O Povo viveu aqui. E


o ladino havia caçado aqui, perto, perto demais. Perseguindo ele? Ela?
Eu estremeci com o calor, esperança e medo rastejando através das gotas
de suor na minha pele.

certeza do que eu pretendia, desliguei a moto e abaixei o

suporte. Apoiei o capacete no assento. Caminhei pela estrada, as


conchas esmagando sob meus pés. Nas Carolinas, as estradas e calçadas
eram revestidas de cascalho quando não eram pavimentadas e as pedras
eram misturadas ao asfalto quando o pavimento era usado. Não há
muitas pedras no delta, eles usaram o que era útil. Conchas.
Pensamentos estúpidos, minha mente se afastando do fato de que eu
estava subindo o caminho para a casa de um ancião. Eu subi os degraus
para a varanda, notando só então que a casa estava sobre postes de
tijolos, erguendo-se acima da linha da enchente do furacão. Eu toquei a
campainha. Ele apitou por dentro.

Eu fiquei no calor. Esperando. Suando. Moscas e abelhas zumbindo


ao redor, o cheiro distante de sálvia e alecrim pairando no ar. E ninguém
apareceu. Isso é estúpido.

Toquei a campainha mais uma vez quando me virei e fiquei


assustada quando a porta se abriu. Eu não sei o que eu esperava, mas a
mulher esguia de cabelo preto em jeans e camisa de seda não era. Ela
não falou. Ela apenas olhou para mim. Meus arrepios pioraram. O
tempo fez uma daquelas coisas estranhas que balançam onde a terra
parece se mover.

— Gi yv há, —disse ela, e abriu a porta.

Entre ... Ela havia dito: entre. E eu entendi suas palavras.


para mim

enquanto me entregava uma Coca parcialmente congelada, a garrafa


antiquada com crosta de gelo, cristais de gelo reunidos no topo. A
mulher era magra e musculosa, mas mais velha do que eu pensei. Talvez
cinquenta e poucos anos, talvez mais velha, mas nenhuma mecha
grisalha traçava em seu cabelo preto. Seus olhos estavam cheios de vida,
risos e, estranhamente, compaixão. Peguei a Coca e bebi, e quando ela
ofereceu um prato de biscoitos ainda quentes do forno, meus arrepios se
dissiparam junto com a minha sensação de apreensão. Como você pode
ficar preocupada quando alguém lhe dá biscoitos de chocolate quentes?
O estado de hiper-alerta da Besta ainda estava comigo, no entanto,
curvado profundamente, silencioso e vigilante.

— Meu nome é Aggie One Feather. —Ela fez uma pausa. — Egini
Agayvlge i, na linguagem de O Povo.

— Sou Jane Yellowrock. Jane ... —respirei fundo — Dalonige'i.


Aggie sentou na minha frente, segurando sua própria Coca. — Você
conhece um pouco da língua. —Sua voz era suave, melodiosa, a voz
gentil de sonhos e pesadelos.

— Não me lembro muito das palavras antigas, —eu disse, minha


voz e meu inglês irritantes em comparação. Abaixei o volume e tentei
encontrar a melodia e o ritmo da antiga fala. — Quando eu ouvir isso,
talvez volte para mim.

— Como posso ajudá-la? —Ela perguntou, a pergunta semelhante


às palavras tradicionais do xamã.

Os xamãs eram ajudantes tribais, ali para ajudar, gratuitamente,


qualquer um que pedisse, seja para cerimônias de cura, conselhos ou
ajuda mais prática. Eu me lembrei disso. Me lembrei. Eu olhei para
minhas mãos geladas na Coca congelada. Eu não tinha ideia do que ia
dizer até que as palavras saíram da minha boca. — Existem histórias
antigas sobre uma criatura chamada comedor de fígado?

— Sim. Várias. Por que você pergunta?

O choque deslizou por mim, como uma cobra. — Porque eu fui


contratada por um representante do conselho vampiro para caçar o que
quer que esteja matando e comendo turistas e policiais. Eu o segui. E de
acordo com uma fonte muito boa, o que vi ontem à noite foi um
comedor de fígado. —Besta tossiu de diversão nas profundezas da
minha mente com a ideia de ser “uma fonte muito boa”.

Aggie enrijeceu. A pele ao redor de seus olhos se enrijeceu, as rugas


finas nos cantos de seus olhos se aprofundaram. — Por que você acha
isso?

Porque eu senti o cheiro? Porque eu segui aqui em forma de gato? Em vez


de responder, eu disse: — A coisa que vi parece um vampiro, cheira a
algo podre e caça na floresta e no pântano atrás de sua casa. Eu o segui
até aqui. —Ah, merda. Sim. Isso saiu da minha boca.

Aggie recostou-se. — Ahhh, —ela respirou, parecendo aliviada. —


Eu li sobre o vampiro desonesto no jornal. —Ela inclinou a cabeça, me
observando. Tentei interpretar sua linguagem corporal e expressões,
mas eram muito rápidas, muito efêmeras. — Por que viria aqui?

— Ele estava interessado em seu abrigo. Circulou várias vezes.

— Você viu esta criatura?

Fiz uma pausa, lembrando-me da cena no beco, a forma curvada


sobre o corpo da garota. — Sim.

Aggie me observou enquanto uma miríade de pensamentos,


especulações e conclusões corriam por trás de seus olhos. Tive um mau
pressentimento de que não deveria ter vindo aqui. — De qual clã você
é? —Ela perguntou.

A pergunta era inesperada, mas a resposta estava lá,


instantaneamente, pela primeira vez em mais anos do que eu conseguia
me lembrar com precisão. Surpresa, eu disse: — Meu pai era ani gilogi,
Clã Pantera. —Eu peguei uma imagem fugaz: a pele de um leão da
montanha e o rosto de um homem. Meu pai ... Uma imagem de sombras
em troncos verticais o seguiu. Eu não sabia o que as sombras
significavam, mas sabia que era algo ruim. Eu disse: — Minha mãe era
ani sahoni, Clã Blue Holly.

Meus arrepios pioraram e eu soltei a garrafa congelada, apertando


meus dedos frios. Outras imagens, fragmentos sem sentido de
memórias, me apunhalaram. Uma parede de caverna sombreada, uma
visão de neve, uma memória de um frio congelante. Um incêndio no
centro de uma maloca de madeira. Tambores, batendo suavemente, um
ritmo de quatro tempos, o primeiro tempo forte. E o cheiro de sálvia,
erva-doce e algo forte como fumo queimando. Besta se recompôs, mas
não para saltar. Assistir. Para perseguir. Ela disse que meu passado
estava escondido nas profundezas da minha mente. Agora parecia que
o passado estava voltando à superfície, como uma fonte vinda do
subsolo. Eu finalmente me lembraria dos anos que havia esquecido? Eu
iria lembrar quem e o que eu era? Ofegante, perguntei: — Você?

— Minha mãe é ani waya, Clã Lobo, Cherokee Oriental, e meu pai
era Clã da Batata Selvagem, ani godigewi, Cherokee Ocidental.

O que poderia ser um problema, minha memória não confiável me


disse. Há muito tempo, antes que o homem branco nos reunisse e nos
mandasse para a neve ao longo da trilha oeste, havia um sentimento
ruim entre algumas famílias do Clã Lobo e do Clã Pantera. A lembrança
do insulto e da rixa de sangue costumava ocorrer há várias gerações
entre os Cherokee. O conflito foi resolvido? Os clãs passaram pela linha
matriarcal, então talvez o sangue ruim tenha sido trabalhado. Minhas
memórias gritavam que havia um problema, mas estava tudo quebrado
e despedaçado.

— Meu bisavô era do Clã Pantera, —acrescentou ela, como se


reconhecesse algo importante. E talvez tenha sido significativo. Os
relacionamentos tribais eram valorizados pelos mais velhos. Lembrei-
me disso, na confusão do meu passado.

O som dos tambores ainda ecoava no fundo da minha mente,


insistente, e as reverberações traziam medo. Eu sonhei com isso. E não
seria bom.
— Qual o nome dos seus pais? —Ela perguntou.

— Eu não me lembro. Fui encontrada na floresta perto da Antiga


Nação. Eu estava esperando ... —A esperança impossível borbulhou
com as lembranças, a necessidade de todos os órfãos de descobrirem
seus parentes de sangue.

— Você esperava que eu pudesse te dizer? —Ela adivinhou. —


Enviar você para o seu clã, seu povo? —Eu concordei. — Eu ajudarei se
puder. Se você é de O Povo, —ela disse gentilmente. — Mas pelos seus
olhos, vejo que você não é um Cherokee puro-sangue. O que você é? —
Aggie perguntou.

Eu me levantei tão rapidamente que seus olhos não seguiram. Ela


ficou tensa. Meia rosa. Obriguei-me a parar, com as mãos no alto das
ombreiras da porta de sua cozinha, como se estivesse pendurada,
suspensa sobre uma fogueira, por chifres de veado enfiados em minhas
costas. De onde veio essa imagem?

Aggie espalmou as mãos na mesa, as palmas das mãos agarradas à


superfície. Ela relaxou uma junta de cada vez, lentamente. Virei para a
cozinha, com as mãos estendidas como se estivesse me equilibrando, e
me lembrei de respirar. Besta se conteve, juntou-se com força, perto da
superfície. Garras flexionadas. Pronta.
— Perdoe-me, —disse Aggie, controlada, subjugada, imóvel como
o ar antes das neves do inverno. — Eu não queria, não tinha a intenção
de causar dor a você.

— Por que você me perguntou o que eu sou? —As palavras foram


meio rosnadas, e eu a vi recuar, a reação minúscula. Todo mundo estava
me perguntando isso esses dias.

Aggie encolheu os ombros, um ligeiro levantamento dos ombros


estreitos. — Seus olhos proclamam que você é parte branca. E eu vejo
algo em você, uma sombra de algo ... velho. —Ela apontou para minha
barriga, entre minhas costelas. — Lá. Como duas almas em uma só
carne. Eles não lutam, mas vivem em harmonia desconfortável. —
Quando eu não disse nada, quando o momento se estendeu ao
desconforto até para um xamã, ela soltou um suspiro e pegou um
biscoito, comeu. Visivelmente se recompôs e seus pensamentos. — Para
responder à sua primeira pergunta, o comedor de fígado é um skinwalker.

A respiração ficou presa na minha garganta, quente e queimando.


Não sei o que ela viu no meu rosto, mas ela fez uma nova pausa e
esperou como se achasse que eu fosse falar. Eu parecia Cherokee. Tinha
falado uma palavra Cherokee. Nos anos no lar infantil, eu tinha lido a
história da tribo Cherokee, principalmente através dos antigos escritos
de James Mooney , na esperança de encontrar algo que se
correlacionasse com meu passado fragmentado, mas nada do que eu li
soou como o que eu era. Eu encontrei minha respiração, balancei minha
cabeça e gesticulei para que ela continuasse.

— Também é chamado de skinchanger . Existem várias histórias


tribais sobre comedores de fígado. Em uma, ela é mulher. Em sua forma
humana, ela geralmente é uma avó e por isso é respeitada e confiável
por muitos anos. Mas quando ela envelhece e a ganância pela juventude
e o poder a domina, ela procura repor o que perdeu e a tentação a leva
à prática do mal. Ela troca sua pele por outra humana. Esta é a magia
mais negra.

— Nossas histórias nos contam que quando ela se entrega ao mal,


o skinwalker tem uma unha comprida que pode inserir em uma criança
e remover o fígado. —Quando eu ainda não disse nada, Aggie

James Mooney (February 10, 1861 – December 22, 1921) era um etnógrafo estadunista estaddetoericano. Conhecido
como "O Homem Indiano",ele fez grandes estudos sobre índios do sudeste, bem como aqueles nas Grandes Planícies. Seus trabalhos mais
notáveis foram seus estudos etnográficos da Dança Fantasma após a morte de Touro Sentadoem 1890, um movimento religioso generalizado
do século XIX entre vários grupos da cultura nativa americana, e o Cherokee: As Fórmulas Sagradas dos Cherokees (1891), e Mitos do Cherokee
(1900), todos publicados pelo Us Bureau of American Ethnology. Artefatos de Mooney estão nas coleções do Departamento de Antropologia,
Museu Nacional de História Natural, Instituição Smithsonian e do Departamento de Antropologia, Museu de Campo de História Natural.
Trabalhos e fotografias de Mooney estão nas coleções dos Arquivos Antropológicos Nacionais, Departamento de Antropologia, Smithsonian
Institution.
Skin changers: quer dizer trocadores de pele
continuou. — Outro skinwalker é Callanu Ayiliski, o Raven, Moker. Ele
gosta de roubar corações. —Seus olhos me estudaram, sem perder nada.

— O comedor de fígado é geralmente referido como um skinwalker


que enlouqueceu. Skinwalkers podem ser um bando desagradável, —
disse ela. — Porém, em tempos distantes, antes que o homem branco
viesse, com sua ânsia de sempre ter mais, antes que os espanhóis com
capacetes de metal viessem nos escravizar, os skinwalkers eram os
protetores de O Povo, mantendo nossos ancestrais protegidos do mal e
da magia maligna. Só quando eles envelheceram, e depois que o homem
branco veio, muitos deixaram de ser proteção para tarefas mais sombrias
e magia negra. —Sua voz silenciou.

Aggie me observou, seu corpo relaxado, tranquilo, seus olhos vendo


mais do que eu queria. — Alguns chamam o dedo de lança comedor de
fígado. U'tlun'ta. —Ela pronunciou como hut luna, que era uma
pronúncia diferente da palavra na minha memória distante, mas era
uma palavra que me lembrava das lendas dos livros de Mooney. Aggie
sorriu. — Vejo que você conhece o Dedo de Lança.

Eu concordei. — Existe alguma chance do comedor de fígado ser


um vampiro em vez de um skinwalker?

— Não. Os vampiros são estrangeiros. Eles vieram com os


espanhóis, os primeiros homens brancos.
Eu assenti lentamente, embora não fizesse muito sentido. Bem no
fundo da casa, ouvi o suave girar das pás do ventilador, o som do motor
dirigindo um zumbido constante. A geladeira fez tique-taque, estourou
e uma máquina automática de fazer gelo despejou cubos de gelo com
estrondo. Voltei para a mesa e sentei na cadeira. — As palavras entre
um ancião ou xamã e um buscador em dor são protegidas, não são? —
Eu perguntei. — Como discussões entre psicólogo e paciente?

Aggie inclinou a cabeça. — Um pouco. Se você me disser que vai


matar alguém, colocarei as necessidades de O Povo, e até mesmo do
homem branco, antes das suas. Mas se vier em busca de um conselho,
ajudarei no que puder e mantenho sua confiança. —Ela inclinou a
cabeça, como um pássaro estudando o solo de uma árvore, a diversão
brincando em seus lábios. — Você não vai matar ninguém, vai?

— Sim. Eu vou. —Ela se contraiu, um leve movimento das


omoplatas e sua diversão se esvaiu. — Eu vou matar a coisa que eu segui
aqui. É um velho vampiro desonesto, um homem. Tenho certeza disso.
Mas minha fonte ... minha fonte diz que é um comedor de fígado, não
um vampiro.

Depois de um momento, Aggie disse: — Skinwalkers, antes de se


voltarem para o mal, eram de O Povo. Eles viveram entre nós desde os
primeiros tempos como protetores, como guerreiros, compartilhando
nossa história. —Aggie encolheu os ombros. — Quando o homem
branco veio, muito se perdeu, muito mudou. Eu ouvi dizer: Os
skinwalkers compartilharam o sangue de O Povo. Os comedores de fígado
o roubaram.

O foco da Besta se aguçou. Sangue. E os cheiros estranhos


apanhados no pedaço de tecido que carregava a saliva do desonesto e o
sangue de suas vítimas, e o fedor de podridão. Besta ficou imóvel, como
se ela entendesse, mas se ela entendeu, ela não explicou para mim. Eu
precisava voltar para casa e dar outra cheirada no pano ensanguentado.

Mas de repente Aggie estava falante, seus olhos plácidos intensos,


sua boca se curvando em um sorriso. — Minha história favorita da velha
comedora de fígado é sobre Chickelili, —ela disse, — cujo nome significa
Truth Teller . Chickelili é um pequeno pássaro da neve, e o único que
conta a verdade sobre a velha. Como Chickelili é pequena, indefinida e
tem uma voz delicada, suas palavras são abafadas pelos gaios e corvos,
até que um menino escuta e avisa os pais que o assassino de crianças

Contador da Verdade

Gaio é um nome comum para vários pássaros de tamanho pequeno, geralmente coloridos e barulhentos.
São passeriformes da família Corvidae, aparentados aos corvos, percas e pegas. Os gaios recolhem e armazenam bolotas num raio de 5 km. Um
único gaio pode esconder 3 a 5 mil bolotas num só inverno.
está próximo. A mensagem da história é que a pequena voz às vezes é
mais importante do que a voz alta.

Eu a encarei, sem saber o que suas palavras poderiam significar, mas


sabendo que um ancião raramente falava, a menos que houvesse grande
verdade na história, verdade que fosse pertinente à situação atual. Vozes
pequenas? Eu me lembrei das damas de Katie sentadas à mesa de jantar.

— Esta criatura que você viu perto do abrigo. Tem uma unha
comprida?

Lembrei-me da visão disso no beco, o corpo da prostituta embalado


em seus braços. Em seguida, o breve vislumbre quando ele se lançou
contra a parede. — Não. Eu não vi nenhuma.

— Você pode ver suas energias? —Ela perguntou.

— Luz cinza, partículas pretas. Eu os cheirei no vento, —eu disse,


e me senti instantaneamente tola.

Aggie concordou com a cabeça. — Sim. Eu vejo isso. Você é uma


rastreadora do mal. Uma mulher guerreira, como os grandes do passado
distante. —Senti um rubor começar com o elogio e me mexi
desconfortavelmente na cadeira de madeira dura. — Vou colocar
proteções e queimar bastões de manchas ao anoitecer, —disse ela, —
para limpar a mácula de qualquer mal que possa estar nas proximidades.
E minha mãe e eu vamos observar na noite.

— Sua mãe? —Eu perguntei, surpresa.

— Minha mãe tem apenas setenta e quatro anos e ainda é vibrante.


Minha avó faleceu no ano passado.

As coisas clicaram em minha mente. — Os ossos dela estão


enterrados nos fundos? Perto do viveiro.

As mesmas coisas clicaram na mente de Aggie e a animação sumiu


de seu rosto, mostrando-me uma imagem mais clara de sua idade. —
Você acha que essa criatura, esse vampiro desonesto que você caça, está
atrás dos ossos dos meus ancestrais, —ela disse, sua voz tão baixa que
era como grama ao vento. — Ou depois de um de nós ter poder sobre os
ossos da minha família e a magia neles.

Fazia sentido, e um conhecimento desconhecido se instalou em


minha mente, fazia muito mais sentido do que qualquer coisa que Besta
estava pensando. — Ter os ossos de um ancião que compartilha uma
linhagem sangüínea enterrados nas proximidades ajuda a aumentar o
poder de um xamã, sim? —Eu disse. Aggie assentiu uma vez, um
movimento espasmódico, cheio de medo. Mais gentilmente, eu disse: —
Se a coisa que estou perseguindo é um vampiro, e se ele transformou um
de vocês, ele poderia invocar os ancestrais, o macheiaellow, para lhe dar
força?

Aggie sussurrou: — Talvez. Depende do que ele sabe. Que magia


ele tem.

— Ele é velho, —eu disse. — Muito, muito velho. Várias centenas


de anos, eu acho. Quantas gerações de ancestrais estão enterradas lá
atrás?

Aggie baixou os olhos para as mãos, ela entrelaçou os dedos na


mesa. — Minha avó, sua mãe e seu pai, e minha tataravó, que escapou
da Remoção—a Trilha das Lágrimas —e se estabeleceu aqui. —Se eu
reagi à menção da Trilha das Lágrimas, Aggie não viu, seus olhos
baixos. — Os ossos da minha irmã, que morreu quando criança. Meu
tio e sua esposa, que era uma mulher branca, mas que se juntou a nós
quando se casou. O irmão da minha avó, muito mais velho do que ela.
Sete do sangue de O Povo, e um que se juntou a nós.

O Caminho das Lágrimas foi o nome dado pelos nativos às viagens de recolocações e migrações forçadas,
impostas pelo governo dos Estados Unidos da América às diversas tribos de índios que seriam reunidas no chamado "Território Indígena" (atual
Estado de Oklahoma), consoante à política de remoção indígena. Os índios habitavam as regiões ao sul da União. A referência à "Trilha das
Lágrimas" foi retirada de uma descrição de um nativo da Nação Choctaw em 1831.
— São muitos ossos poderosos em um só lugar, —eu disse.

— Vou deixar os cães soltos esta noite, para guardar o quintal, —


disse Aggie.

— Aggie, —eu disse suavemente. — Já matou dois de seus


cachorros.

Ela fechou os olhos, como se quisesse bloquear a verdade. Mas


quando ela os abriu novamente, eles queimaram com fúria. Baixa e
feroz, ela disse: — Eu vou matá-lo. —Suas mãos se fecharam sobre a
mesa, pequenas, escuras e frágeis, mas com uma terrível força de
propósito subjacente. — Se vier aqui, vou matá-lo. —Ela respirou fundo
que parecia doer ao inspirar. — Você tem um número de telefone
celular?

Tirei um cartão do bolso da minha camiseta e o coloquei sobre a


mesa entre nós. Aggie o pegou e esfregou suavemente, como se sentisse
a textura do papel, mas eu sabia que ela estava sentindo minhas energias
armazenadas nele. — Você decidiu manter sua verdadeira natureza
longe de mim? —Ela perguntou.

— Eu sinto muito. —Baixei minha cabeça profundamente como


tinha visto meu pai fazer há muito tempo. Meu pai! A memória de seu
rosto surgiu em minha mente, nariz afilado e cortante. Eu pisquei para
conter as lágrimas com a memória nova/velha. Da maneira mais formal
que pude, disse: — Agradeço a sua ajuda. Irei fornecer a proteção que
puder. Por enquanto, posso saber quem é o dono da propriedade atrás
da casa e na floresta e no pântano?

— A propriedade faz fronteira com o Parque Histórico Nacional


Jean Lafitte, então a maior parte é do governo. Não tenho certeza de
quem é o dono do resto, embora haja terras privadas espalhadas por
aqui, como as terras da minha família.

Terreno do parque. Porcaria. Isso significava que o vampiro


desonesto tinha hectares e hectares para vagar, e ninguém para detê-lo.
Exceto por mim. E essa xamã, severa e delicada. — Obrigada pelo seu
tempo, —eu disse.

— Ofereço meu conselho e o uso do abrigo. Se você vai para a


batalha mal preparada, você luta para perder. Eu sinto que já faz algum
tempo desde que você foi para a água. Purificação e manchas irão ajudá-
la, centralizá-la, deixá-la encontrar o que procura.

Às vezes. Sim, podes dizer isso. O peso de décadas pressionou sobre


mim, pesado e cheio de dor. — Posso aceitar isso, —eu disse.

Aggie franziu os lábios. — Você está mentindo para mim. Você não
tem intenção de me desafiar em nada. Por que não? —Ela inclinou a
cabeça, como um passarinho. — É a mesma razão pela qual você não
me fala sobre você?

Recuei para a porta, meus olhos nos dela, meu sorriso mais
desarmante firmemente no lugar. Esta mulher era muito inteligente para
eu ficar por aqui por mais tempo. — Obrigada, avó, por sua ajuda e
conselho.

Ela fez um som que eu não ouvia há anos, mas que era
instantaneamente familiar. Uma espécie de bufo, um pshaw e uma única
sílaba de negação. Era muito mais um som ligado ao O Povo, assim como
“alors” está ligado aos franceses e “cool” está ligado a gerações de
americanos. — Dalonige'i, —ela disse, e eu parei ao som do meu nome.
— Não é um nome tradicional. Isso significa mais do que pedra amarela,
sabe. —Quando levantei minhas sobrancelhas em dúvida, ela disse: —
Isso também significa ouro—uma das razões pelas quais a Nação foi
roubada dos Cherokee, por que O Povo foi colocado na Trilha das
Lágrimas, para que o homem branco pudesse cavar dalonige'i da terra
dos Montes Apalaches.

Desta vez não reagi às palavras, mas sabia que ela ainda via mais
do que eu queria que alguém visse. — Meus agradecimentos, —eu disse
novamente. E saí de sua porta da frente para sua varanda, para o calor
e o sol forte.
Eu dei partida na minha moto e fui para casa. Enquanto cavalgava,
considerei o que havia aprendido, não sobre mim—isso era para
reflexão posterior—mas sobre a coisa que perseguia. Besta estava
errada. Não era um comedor de fígado—eu tinha visto e não tinha unha
comprida. Era um vampiro. Um vampiro seriamente maluco, comedor
de carne e cheirando a podre, com certeza, mas um vampiro. Um
vampiro muito mal. Um desonesto louco e podre.

nariz não fosse tão bom quanto o da Besta, eu

ainda tinha sentidos olfativos melhores do que qualquer humano. Em


pé no meu quintal, segurei o pedaço de pano contra o nariz e respirei,
analisando os feromônios e proteínas que compunham os quatro aromas
distintos, três deles humanos e pesados de medo, vivos quando seu
sangue foi derramado. Talvez a memória da Besta ajudasse, mas eu
poderia realmente dividir os cheiros humanos em uma mulher e dois
homens. E por baixo de tudo estava o cheiro da coisa que eu estava
perseguindo. Desenhei sua assinatura química. Vamp. Definitivamente
vampiro. Vamp estranho, vampiro podre, mas vampiro. Estremeci de
alívio, permitindo-me um pequeno momento para relaxar com a
certeza. Fosse o que fosse, não era um skinwalker enlouquecido.

Voltando ao pedaço de pano, isolei os diferentes produtos químicos


nele, finalmente detectando o cheiro mais fraco da mulher com quem o
desonesto estivera. Peguei o cheiro de sexo. E algo ainda mais fraco, que
eu não tinha percebido. Ou talvez não tivesse me lembrado. Eu respirei
novamente. Estremeci. Inspirou mais uma vez, desta vez pela boca
aberta, a língua estendida. Arrepios subiram em minha pele. Minha
respiração parou. O perfume de O Povo. Sentei-me pesadamente, caindo
cambaleando nos degraus da varanda dos fundos. O vampiro desonesto que
estou caçando é ... Cherokee?

Com uma mão no topo, suportando meu peso, pulei a parede de


tijolos até a casa de Katie pouco depois das cinco, no local onde a
câmera de segurança uma vez foi escondida. Enquanto pulei, girando
meu peso em um braço, dei uma olhada rápida. Sem câmera. Havia uma
pequena cicatriz no tijolo. Já que tinha sumido, e, portanto eu não ia
mostrar o que eu estava fazendo a quem a colocara, agarrei o topo da
parede e deixei meu corpo balançar contra o tijolo, em postura de rapel .

Postura de rapel
Farejei o local e fiquei surpresa com os cheiros misturados que
encontrei.

No topo, fresco e brilhante, estava o cheiro do Joe. Rick LaFleur.


Ele havia removido a câmera, provavelmente por ordem de Troll.
Abaixo do cheiro de Joe, no entanto, havia outro cheiro mais fraco, e o
estranho era que eu o reconheci. A câmera havia sido colocada por
Pugilista, o músculo que trabalhava com Leo Pellissier, o chefe do
conselho vampiro em Nova Orleans.

Por que Leo acharia necessário ficar de olho em Katie? Isso cheirava
a política desagradável no conselho. Grande surpresa aí. Eu me
empurrei da parede e caí suavemente. Girei para a casa e fiquei surpresa
ao ver Troll parado na porta dos fundos aberta. Ele fez um som bufante,
seu olhar medindo a parede. Ele estava se segurando com as duas mãos
na porta, sua pele pálida como pergaminho velho, amarelada e
quebradiça, especialmente a cúpula opaca de sua cabeça calva.

Enfiei minhas mãos nos bolsos da calça jeans e caminhei, tentando


parecer que todo humano poderia cair de uma parede de cinco metros
sem ferimentos. — Você parece com a morte requentada, —eu disse.

— Alguém já te disse que essa frase é um insulto aos membros da


família de um vampiro? —Sua voz áspera parecia ainda mais áspera do
que o normal, seca como pó de pedra.
Eu ri, me sentindo um pouco malvada, não gostando de mim
mesma por isso. — Não, mas vou tentar me lembrar disso. Você
conseguiu sangue suficiente com a doação de ontem à noite? —E era por
isso que eu estava com raiva. Um vampiro quase matou alguém de quem
eu estava começando a gostar, e ele não estava chateado, então eu tinha
que estar, certo?

— Não o suficiente de Rachael. Mas Katie me permitiu um pequeno


gole de seu pulso.

Não reagi, embora a raiva e o nojo me percorressem. Yuckers. Troll


deu um passo para o lado e eu entrei. — Você ainda está horrível, —eu
disse.

— Vou sobreviver, —disse ele. — Mas você está com problemas.

— Sim? —Senti minha raiva aumentar e queria rosnar. — Com


quem?

— Katie teve que sair ontem à noite para se alimentar, para


compensar a perda de sangue. Entre o que aquele bastardo do Leo pegou
e o que ela deu de volta para mim—antes de se alimentar—ela estava
esgotada. Ela não vai acordar cedo esta noite e não vai se sentir muito
bem quando se levantar. Então, se você tem algo a dizer a ela, você pode
querer passar por mim primeiro.
Confusa, eu disse: — E o que tudo isso tem a ver com alguém estar
com raiva de mim?

Ele disse incisivamente: — Katie disse a você para estar aqui ao


amanhecer para relatório. Você não apareceu.

Droga. Eu me lembrei disso, agora. — Ao amanhecer eu estava do


outro lado do rio, no parque Jean Lafitte, na trilha do vampiro
desonesto. Ao contrário de Katie, não posso me transformar em um
morcego e voar para casa.

Troll riu, o som estranhamente triste. — Não deixe Katie ouvir você
dizer coisas assim. Ela odeia o mito de que os vampiros se transformam
em morcegos. Na verdade, com exceção de alguns escritores de ficção
que acertaram, ela está muito irritada com tudo o que a mídia retratou
sobre sua espécie. —Ele acendeu as luzes enquanto me guiava pela casa.
— Então. Conversa de morcego à parte, você quer me dizer o que
descobriu? —Eu lhe contei, sucinto ao ponto da brevidade, sem
nenhuma menção à Besta, é claro. Ele disse, — Huh, —quando eu
terminei, ele apontou para a sala de jantar. Achei que tinha sido
dispensada e entrei.

As meninas estavam reunidas ao redor da mesa novamente, todas


com olhos sonolentos e um pouco abatidos. Especialmente Rachael, que
estava recostada em sua cadeira. Havia uma bandagem na parte interna
de seu cotovelo na veia antecubital. A escuridão circulou sob seus olhos
e ela estava bebendo algo verde neon por um canudo em um copo de
cristal. Parecia e cheirava a Gatorade. Não o tipo de bebida que
pertencia à mesa formal com toda a prataria, porcelana e cristal. Eu
nunca entenderia os ricos e mortos ou seus servos.

Sra. A apareceu, seu rosto enrugado parecendo mais enrugado, mas


sorrindo em boas-vindas. Resisti a beijar sua bochecha como se ela fosse
uma velha tia, o que era um impulso estranho e poderia render um tapa
em mim, ou pior, e disse: — Não acho que poderia comer a refeição que
não fiz ontem à noite?

Um sorriso reposicionou as rugas em seu rosto. — O bife desta noite


é pimenta bourbon, mas você pode pedir que seja servido malpassado,
se quiser.

— Eu gosto. E se não for pedir muito, também gostaria de uma


batata assada e chá gelado. Sem vinho. —Ela assentiu.

Quando ela saiu da sala, cambaleando sobre as pernas que pareciam


fracas sob as saias longas, olhei para as “meninas”. Eu precisava
encontrar uma maneira de fazer com que elas se abrissem comigo. Mais
ou menos como se eu já tivesse precisado de uma casa cheia de meninas
de 12 anos para se abrir para mim, quando fui enviada para o orfanato.
Eu me perguntei se o vínculo seria mais fácil agora que eu tinha 29
anos—de acordo com minha certidão de nascimento totalmente fictícia,
embora totalmente legal—e falava inglês.

Tia sorriu docemente, embora um pouco sonolenta, para mim e


comeu algo verde de um prato de salada. O robe de seda se foi. Esta
noite ela usava um corpete de renda de seda que empurrava seus seios
para cima com orgulho, um colar de opala aninhado em seu decote.

Meu olhar se fixou em Christie, que estava usando cerca de


cinquenta tranças minúsculas—muito parecido com a maneira como eu
costumava usar meu cabelo—e um rosto cheio de prata em suas
sobrancelhas, nariz, orelhas, até mesmo ao redor de sua clavícula. Os
anéis de prata tinham correntes passando por eles, conectando suas
narinas às orelhas e pontas entre eles, todos balançando pequenos sinos.
Sinos em todos os lugares, mesmo sob seu sutiã peekaboo, que tinha as
taças fechadas com travas esta noite. Graças a Deus. A garota, que não
podia ter mais de 20 anos, usava uma coleira com pontas de aspecto
horrível. Christie balançou as tranças quando deu uma mordida na
salada, e os sinos tilintaram.

Para me encaixar, provei a salada, misturei verduras com muitos


temperos no molho. Algo com bacon, que eu amei instantaneamente.
— Christie, —eu disse, mastigando, — gosto dos sinos.
Ela levantou os anéis incompatíveis em cada sobrancelha,
considerando. — Sorte sua.

Eu ri. Não. Não ia ser mais fácil agora que eu estava crescida. Eu
não me encaixava naquela época, com um monte de garotas órfãs ou
semi-órfãs, e não me encaixaria agora com um monte de... meninas. —
Christie, você e Rachael. Digam-me o que vocês sabem sobre os
vampiros desta cidade. Especialmente o conselho.

As meninas se entreolharam e para mim. — Não muito sobre


política, —disse Christie.

— Leo visita alguma de vocês? Para ... —Eu não sabia como
expressar isso e simplesmente parei.

Christie riu, o som provocador. — Por sangue? Sexo? Ou talvez


uma combinação de entretenimento, diversão, jogos e jantar depois?

Consegui manter o rubor sob controle. — Sim. —Comi outro


pedaço de verdura e quebrei um pedaço de pão. Era escamoso e doce e
deixou vestígios de manteiga em meus dedos.

— Todos nós recebemos a visita de Leo quando chegamos aqui, —


Rachael disse, seus olhos vívidos em mim e sua voz sem tom. — Ele
consegue a primeira prova. Ele chama isso de direito sombrio dos reis.
Eu tinha ouvido falar do direito divino dos reis, onde um monarca
tinha o direito de deflorar qualquer virgem ou usar qualquer mulher que
desejasse, muitas vezes na noite anterior ao casamento. Era um estupro
arcaico, semelhante ao dono de uma escrava visitando a escrava em sua
cabana, ou fazendo com que ela fosse trazida a ele. Não há como dizer
não. O estupro em qualquer forma sempre trouxe à tona—eu meio que
sorri com o pensamento—a Besta em mim. Rachael olhou para Christie
quando sorri. Eu não precisava do nariz da Besta para me dizer que Leo
assustava Rachael pra cacete. Leo Pellissier estava chegando ao topo da
minha lista de pessoas de quem eu não gostava. Eu precisava entrevistar
o sugador de sangue. Meu sorriso torceu em satisfação sombria. — Eu
preciso falar com o velho Leo, mas desde que eu o queimei com uma
cruz de prata ontem, eu duvido que ele vá concordar.

Rachael me olhou, uma risada nervosa borbulhando em seu peito.


— Você o queimou? E ele não matou você?

— Ele pensou sobre isso. Katie o curou. Se ela não tivesse feito isso,
eu poderia ter que estacá-lo.

A mesa ficou em silêncio. Ninguém se moveu. Todos os olhos


estavam em mim. Esse tipo de coisa acontecia ocasionalmente quando
eu estava em casa, quando dizia algo que parecia estranho. Olhei para a
bruxinha, sua pele branca e cabelos negros contrastando com a luz das
velas. Essa garota havia me tocado em algum nível na primeira vez que
a vi. Senti uma conexão sutil, o que deve ser um engano, não é? Mas
estava lá, no entanto, e minha voz estava mais suave quando eu disse:
— Bliss, certo? O que Leo disse quando ele ... —A palavra correta me
escapou.

— Você tem problemas com isso, não é? —Ela disse. Não estava
zombando. O tom era gentil, quase compassivo. — Com o que fazemos,
quero dizer.

Quase disse: “Você poderia estar com um coven aprendendo a fazer


coisas de bruxa”, mas me contive. Apenas no caso de ela não saber o que
ela era. — De onde você é?

Bliss ergueu um ombro, e eu percebi que ela estava usando uma


blusa de seda e renda que se amarrava na frente como um espartilho
antigo se tivesse sido colocado ao contrário. Seus seios pequenos
estavam empurrados para cima e totalmente visíveis através do pano,
um colar pendurado entre eles. De repente, me senti um voyeur. — Fui
criada em um orfanato, o que significa que sou de todos os lugares e de
lugar nenhum.

Então isso significava que ela poderia não saber que era uma bruxa.
Katie sabia, não é? Os vampiros não podiam sentir o cheiro de bruxa?
Eu teria que perguntar. — Eu tenho problemas com isso, sim. —Olhei
ao redor da mesa, fazendo contato visual. Havíamos acabado as saladas
e não precisei dizer que a refeição estava mais silenciosa do que de
costume. Sem nem mesmo dizer que sou uma predadora, deixo as
pessoas desconfiadas.

— Alguma de vocês tem uma ideia de quem é o vampiro desonesto?


Talvez alguém esteja agindo diferente? Talvez algo estranho sobre um
dos clientes vampiros de Katie? Ela tem clientes vampiros, certo? —
Todas assentiram, e pela força disso, deduzi que Katie tinha muitos
clientes vampiros. — Um vampiro agindo mais estranho do que o
normal? Mesmo alguém que cheira diferente?

— Todos eles têm um cheiro estranho, —disse Bliss.

— Não, eles não, —disse uma mulher de pele escura. — Mas você
teria que definir estranho de maneiras totalmente diferentes para
abranger alguns dos clientes de Katie.

Eu tinha certeza de que o nome dela era Najla. — Como eles


cheiram? —Eu perguntei.

As outras meninas olharam para Bliss. Ela disse: — Como folhas


velhas. Às vezes, mofo. Se não tomam banho há algum tempo, podem
cheirar a sangue velho. Você sabe. Como uma mulher em seu período.
Tenho um olfato muito bom, —ela insistiu.

Aposto que sim. Eu poderia dizer que este tinha sido um ponto
sensível para as outras. — Algum deles cheira mal? Doente?

— Não. —Bliss olhou ao redor da mesa. — Eu sei que vocês acham


que eu sou louca, mas todos eles cheiram mal.

Antes que algumas delas pudesse responder, eu disse: — Najla,


certo? —Para a garota de pele escura. Ela tinha um sotaque intermitente
que eu não conseguia identificar, mas sotaque não era meu forte. Como
Bliss, eu era melhor em cheiros. — Vamos conversar sobre esquisitos.
Primeiro, de onde você é? Espere, —eu disse enquanto as meninas riam
e Najla estreitou os olhos para mim. — Isso não saiu direito. O que eu
quis dizer é que quero ouvir sobre estranhos e vampiros, mas primeiro,
gostaria de saber de onde você é.

— Não é da sua conta, —ela disse.

— Katie disse que sim, —A Sra. A disse enquanto voltava para a


sala. Ela estava empurrando um carrinho que cheirava a especiarias,
carvão e carne. Besta rugiu apreciativamente. — Qualquer coisa que ela
quiser saber, você diz a ela.
Najla balançou a cabeça. — Meus pais e eu emigramos de
Moçambique quando eu tinha quatro anos. —Eu girei meus dedos,
fazendo-lhe um pequeno gesto de “diga-me mais” e ela disse: — De um
lugar chamado Namaponda. Você pode encontrá-lo em um mapa. Se o
mapa for grande o suficiente.

— E os seus pais?

— Mortos. —Quando esperei, ela disse de má vontade: — Acidente


de carro quando eu tinha quinze anos. Katie me acolheu. Não me olhe
assim. Eu fazia truques na rua para comprar comida. Ela me trouxe, me
fez terminar o ensino médio antes que ela me deixasse trabalhar. Tentou
me mandar para a faculdade. Mas eu era boa em fazer os homens felizes.
—O que quer que ela tenha visto em meu rosto a fez se arrepiar. —
Quero me aposentar antes dos quarenta. Que outro emprego você pode
citar onde uma garota recém-saída do colégio pode fazer duzentos mil
dólares por ano e se aposentar em menos de vinte anos? Nomeie-me um.

— Modelagem. Atuação. Negócio da música. —A contragosto,


acrescentei: — Se você tiver sorte.

Najla assentiu enfaticamente. — Nunca tive um dia de sorte na vida,


exceto no dia em que Katie me encontrou. Cheguei perto de um milhão
em ações, títulos e ouro. Terei dois milhões, fácil, em mais cinco anos,
com juros compostos e dividendos, assumindo que o mercado vá para
onde eu acho que vai.

Fiquei chocada. Dois milhões para fazer truques? Najla riu. — Eu


posso ver isso agora. Você acha que uma garota deveria trabalhar duro
e se aposentar aos sessenta e cinco anos. Isso é besteira.

Sra. A deu um tapa no ombro de Najla enquanto ela colocava um


prato à sua frente. — Senhorita Katie não permite conversa suja na
mesa.

Najla esfregou o ombro. — Desculpe, —ela murmurou. Sra. A


colocou um prato na minha frente. O bife pendurava-se às dez e quatro
horas e vazava sucos sangrentos na gamela da porcelana e em um prato
maior embaixo. A batata foi recheada com todos os tipos de guloseimas,
incluindo bacon e creme de leite. Eu sorri, minha boca salivando. —
Obrigada. Isso parece maravilhoso.

— Quase um quilo de Black Angus , sim. Tom disse que você gosta
de carne.

— Tom é meu herói. Assim como você. O cozinheiro também.

Angus é uma raça de bovinos, destinada à produção de carne de qualidade superior. Tem as suas origens no
nordeste da Escócia, onde o seu aperfeiçoamento começou há cerca de duzentos anos. É encontrada nas variedades Aberdeen Angus e Red
Angus.
Sra. A riu e terminou de servir as meninas. Eu tive treinamento de
etiqueta suficiente para saber que tinha que esperar até que todos
estivéssemos servidos antes de comer. E autocontrole suficiente para
resistir a Besta, que acordou com o cheiro e queria que eu comesse a
carne com as mãos. — Você pode comer, —Sra. A disse. Observei e
peguei o garfo adequado e a faca serrilhada. E cortei o bife.

Quando dei a primeira mordida na boca, gemi. Todas as meninas


olharam para mim. — Desculpe, —eu disse enquanto mastigava. —
Este é o melhor pedaço de carne que já coloquei na minha boca. —O
que fez as meninas se separarem e comerem suas próprias refeições, o
riso refletindo nas paredes como prata tilintante.

Inadvertidamente, posso ter acabado de fazer amigos. Humor de


bordel. Quem teria pensado nisso?
durante o jantar, pelo

menos não sobre o desonesto. Se algum dia eu precisasse amarrar um


amante e chicoteá-lo, entretanto, eu tinha muitas informações. Acho
que as meninas só gostavam de me ver corar.

Katie não tinha chegado quando terminei minha refeição, então saí
sem vê-la. No entanto, na saída, tomei um caminho tortuoso,
examinando abertamente o lugar, e encontrei Troll em seu escritório.
Ele estava inclinado sobre aquela mesa antiga, curvado sobre papéis, seu
laptop girando de forma que eu não pudesse ver a tela. Isso parecia
significativo, então eu puxei os atributos de perseguição da Besta e entrei
na sala, em silêncio como a predadora Katie tinha me atribuído.

Troll se virou quando eu me aproximei, o que deu crédito à velha


lenda de que quando um vampiro voluntariamente compartilha sangue,
parte de sua velocidade e sentidos extremamente apurados são
transmitidos. Mais rápido do que eu poderia me concentrar, Troll
apertou uma tecla e a tela ficou em branco, mas o próprio homem sorriu,
uma expressão de boas-vindas que me surpreendeu.

Eu disse: — Vejo que você removeu a câmera da cerca dos fundos.


Alguma razão pela qual Leo Pellissier espionaria Katie?

Ele franziu a testa. — Leo não colocou aquela câmera. Ele não
podia. Espiar é contra a Carta Vampira.

Eu ri, uma tosse aguda. — O quê?

— A Carta Vampira. —Ele se recostou e eu localizei a .45 em seu


outro lado, ao alcance. Troll estava impaciente ou com medo ou algo
pior. Eu imaginei que ter o sangue drenado do seu corpo poderia fazer
isso com um cara. — O que você sabe sobre a história dos vampiros? —
Ele perguntou.

— Francamente, exceto por encontrar novas maneiras de matá-los,


os vamps não me interessam muito.

O humor fácil deixou seu rosto. — Na presença de Katie você usa


o termo “vampiro” ou o termo mais apropriado, “Mithrans”. “Vamp” é
um insulto.

Sentei-me no braço de uma cadeira, uma posição que me permitiu


ver a porta com minha visão periférica e Troll totalmente. Também me
deu força para me lançar em qualquer direção sem uma mudança de
equilíbrio. Troll sorriu com a minha escolha como se tivesse feito uma
aposta mental nisso. Considerando que eu não tinha visto essa cadeira
antes e de repente senti o cheiro de Katie no ar, talvez a aposta fosse
mais do que mental. Eu me perguntei se ela estava no foyer assistindo
nas telas de segurança. Eu disse: — Mithrans. Como no mistério de
Mithras na tradição romana antiga? —Troll parecia impressionado até
que eu disse: — A coisa toda está na Wikipedia, sabe. Qualquer pessoa
pode pesquisar. Não que os vampiros e os Mithrans tenham uma ligação
absoluta. A menos que você acabou de fazer. Posso ter que atualizar o
site. —Eu estava brincando, mas Troll não pareceu entender.

Ele olhou para seu laptop com irritação e eu sorri. O mundo real
estava alcançando os vampiros. Mithrans. Tanto faz. Eles podiam não
gostar. No entanto, mais da metade do que estava disponível sobre
vampiros em livros e online era falso, ficção ou ilusão, às vezes uma
mistura dos três. E em nenhum lugar havia uma explicação de por que
os vampiros eram afetados por símbolos cristãos. Era minha busca
pessoal descobrir sobre isso, não que eu tivesse tido sorte.

— O músculo de Leo plantou a câmera, —eu disse. — Aposte nisso.

O mitraísmo foi uma religião de mistérios nascida provavelmente no século II a.C. no Império Romano. Alcançou a sua
máxima expansão geográfica nos séculos III e IV d.C., tendo se tornado um forte concorrente do cristianismo. O mitraísmo recebeu particular
adesão dos soldados romanos.
Troll recostou-se na cadeira, perplexo, mas não discordando,
obviamente querendo perguntar como eu sabia com tanta certeza.
Mudei de assunto para ver o que acontecia. — Vou dançar esta noite,
—eu disse. — Onde no Quarter você recomenda?

— Dançar? — Ele não conseguiu esconder o tom assustado de sua


voz.

— Ótima maneira para uma garota farejar quaisquer problemas na


cidade. —Literalmente. — O desonesto perseguiu e comeu uma menina
trabalhadora ontem à noite. Estou disposta a ver se vem atrás de mim.

— Você não poderia passar por uma menina trabalhadora em seus


sonhos.

Eu sorri. — Eu limpo bem. Eu vou passar aqui antes de sair. Talvez


você pense em um lugar.

Quer dizer: mulher da vida, rapariga da vida, garota trabalhadora, rapariga trabalhadora.
à casa de brinde, passei um batom vermelho escuro e

enrolei meu cabelo trançado em um turbante com a mochila de viagem


de Besta nas dobras. Amarrei três cruzes em volta da minha cintura para
que ficassem penduradas dentro da minha saia, pendurei uma ao redor
do meu pescoço à vista de todos e amarrei um assassino de vampiros de
lâmina curta na minha coxa, não onde um parceiro de dança iria
encontrá-lo, a menos que estivéssemos fazendo o tango e ficando bem
amigáveis. Coloquei duas estacas de tamanho real em meu turbante e
duas estacas dobráveis com ponta de prata feitas à mão em bolsos
especialmente costurados na minha calcinha. A saia roxa e azul-petróleo
descia dos ossos do meu quadril e a blusa camponesa caia sobre meus
seios, decote aberto, um sutiã de corrida em tom de pele por baixo. Sexy,
mas não mostrando nada. A saia sussurrava em volta das minhas
panturrilhas a cada passo.

Eu apliquei um pouco de bronzeador para iluminar meu tom


natural de pele, passei um delineador dourado intenso e calcei os novos
sapatos de dança. No espelho, testei o movimento da minha saia em um
pequeno movimento de quadril maya que parecia sexo. Satisfeita,

Movimento tradicional de quadril na Dança do Ventre.


apaguei a luz do banheiro, verifiquei se a casa estava segura e fechei o
laptop, parando na casa escura, pensando.

Eu havia passado uma hora em uma pesquisa online sobre o mito


do skinwalker índio americano, saindo com uma bateria confusa de
imagens e lendas. Não havia nada que soasse como eu, não exatamente.
Certamente nada são ou isento do mal.

A campainha tocou, interrompendo. A casa estava às escuras e eu


me movi por ela por memória e pela iluminação dos postes de rua
através das janelas para a porta da frente. Senti o cheiro do charuto antes
de vê-lo. O Joe. Rick. Eu abri as fechaduras e abri a porta, puxei minhas
saias para frente, dizendo: — Bem. Veja o que o gato trouxe. —Eu não
pude resistir à provocação. Os olhos de Rick se arregalaram ao me ver.
Tive medo de ter que pegá-los e enfiá-los de volta nos encaixes. Eu ri e
disse: — Obrigada pelo elogio. Deixe-me adivinhar. Troll enviou você.

— E eu, —uma voz suave disse da rua.

Olhei por cima do ombro do Rick mudo e avistei sua companheira.


Ela usava uma saia curta solta e uma blusa, sapatos de dança, joias
chamativas e muita maquiagem. — Bliss?

— Senhorita Katie me enviou. Ela disse que eu poderia ajudar? —


Ela parecia incerta. — Ela me deu o salário de uma semana para faltar
ao trabalho. —Ela começou a dizer mais alguma coisa e parou. O cheiro
de medo era ligeiramente amargo em sua pele. Eu não tinha ideia de por
que Katie a mandou para mim, mas não gostei.

— Deve ser seguro o suficiente esta noite, Bliss, —eu disse. — Tudo
o que procuro é um vampiro realmente fedido. Ele deve cheirar mais ou
menos a ... decomposição.

— Um vampiro podre? —Ela colocou a mão no quadril, anéis


piscando e pulseiras tilintando. — Você está brincando comigo, certo?

— Não. E Bliss. Não estou bisbilhotando, mas o que você sabe sobre
seus pais biológicos?

— Nada. Por quê?

— Não importa. —Bliss era mais do que uma isca vampira


desonesta e farejadora externa de vampiros. Ela também era os olhos de
Katie.

Antes de partirmos, escrevi o endereço da anciã Cherokee para Rick


e pedi a ele que rastreasse os proprietários de todas as propriedades em
um raio de cinco quilômetros em qualquer direção. Era muito terreno,
e a pesquisa o manteria ocupado e fora da minha cabeça, fazendo coisas
que eu odiava. Então tranquei a porta e saí com os dois, o charuto de
Rick deixando um rastro no ar que até um humano poderia seguir.
Os três lado a lado, caminhamos pelo Quarter, aproveitando o
calor, em direção à Bourbon Street. Passamos por garçons vestidos de
smoking a caminho do trabalho, casais que saíram para uma noite
romântica, pequenos grupos de homens procurando um bom tempo em
casas de strip-tease e alguns vampiros saindo para jantar cedo ou talvez
apenas um lanche para segurá-los até mais tarde.

Avistei um grupo de jovens bruxas enfeitiçadas para se parecerem


com mulheres mais velhas e me perguntei o que estavam fazendo e por
que precisavam de um disfarce. Bliss observou o grupo, seu rosto tenso
de concentração e me perguntei o que ela viu. Eu me perguntei muitas
coisas e tive muito poucas respostas. Ela e Rick conversavam enquanto
caminhávamos, e eu senti seus olhos pousarem em mim com frequência,
sua curiosidade como um cobertor enrolado em mim. Mas eu não tinha
nada a dizer e deixei meu silêncio aumentar.

O ar estava quente, abafado e pesado, como se carregasse um peso


extra, como se um raio e a chuva de amanhã o infundissem, esperando.
Eu suei em um brilho suave e generalizado e minha nova saia roçou
minhas pernas e coxas a cada passo, o ar úmido girando ao meu redor
enquanto eu caminhava. O colar de ametista e chatkalite e minha pepita
de ouro estavam juntos em volta do meu pescoço, as pedras quentes. As
vozes e pessoas pelas quais passamos eram relaxadas e lentas. O
ambiente estava aquecido, como se a dança já tivesse me encontrado,
como se eu tivesse deslizado nos ritmos e passos e já estivesse suave. Eu
respirei, separando os vários aromas.

O cheiro de frutos do mar, especiarias, gordura quente e pessoas


enchia o ar. Comida e bebida, exaustão e perfume, vampiros e bruxas,
bêbados e medo, sexo e desespero, e o cheiro de água. Em todos os
lugares, eu estava cercado por água, o poder do Mississippi, os lagos
próximos, o fedor não muito distante de pântano. A cobertura de café
com chicória, a forma como o preparavam aqui. As combinações de
cheiros eram inebriantes.

As luzes da rua escondiam tanto quanto revelavam, como uma


exótica dançarina se escondendo atrás de leques ou esferas de festa. A
música jorrava de bares e restaurantes, ricos em jazz licks e gotejando
alma. Juntos, trouxeram a Besta para perto da superfície. Eu podia sentir
sua respiração na minha mente, ouvir seu batimento cardíaco. Sua pele
se moveu contra minha pele como se estivesse pronta para romper.

Havia alguns policiais a pé, sua presença destinada a trazer uma


medida de segurança para os turistas. Mas os policiais estavam
nervosos, cada um com a mão apoiada na coronha da arma, rostos e
olhos hiperalertos, rádios transmitindo informações a eles em um fluxo
constante. Todos estavam nervosos.
Além de armas e coletes Kevlar, os policiais do NOPD carregavam
dispositivos rastreadores GPS. Cada um tinha um “alarme de pânico
oficial” embutido, ativado ao pressionar um botão. Se um policial
pressionasse, um alarme disparava para a central, transmitindo a
localização GPS do policial, pedindo que todos os policiais
respondessem. E fazia um barulho horrível, um assobio estridente e
penetrante.

Os dispositivos não ajudaram os policiais que o desonesto matou.


Não os carregavam naquela noite? Ou o desonesto era tão bom em jogos
mentais que os dominou antes que pudessem apertar um único botão?

Percorrendo todas as ruas havia vans da mídia, afiliadas locais da


CBS , NBC , ABC , uma van da FOX News com uma foto de

A Columbia Broadcasting System é a propriedade carro-chefe da CBS Corporation, sendo responsável por séries
como as principais CSI e NCIS e a antiga sitcom I Love Lucy.

A National Broadcasting Company é uma rede de televisão e de rádio comercial americana que é a propriedade carro-chefe
da NBC Universal, uma subsidiária da Comcast.

ABC News é uma divisão de jornalismo da American Broadcasting Company, um conglomerado de radiodifusão
comercial dos Estados Unidos. Seu site e setor de notícias pertence a Disney Interactive Media Group, subsidiária da Walt Disney Company.

Fox News Channel, também conhecido como Fox News, é um canal conservador de notícias americano de televisão a
cabo que pertence à Fox Corporation. O canal transmite principalmente a partir de seus estúdios no número 1211 da Avenue of the Americas.
Greta Van Susteren pintada na lateral, até mesmo uma van local a cabo.
Os repórteres estavam procurando a cor local e qualquer coisa que
pudessem dizer sobre o assassino de policiais e prostitutas—cada um
esperando por uma exclusividade que pudessem agregar a classificações
maiores e aumentar a fama pessoal.

Apesar de policiais e repórteres, as ruas estavam menos cheias do


que eu esperava, muito mais vazias do que na primeira noite em que
Besta caçou. A notícia sobre o vampiro assassino tinha afetado a
multidão. Eu nunca tinha estado no French Quarter em uma noite de
sábado, mas tive a sensação de que o tráfego de bares e restaurantes
estava baixo. Não é bom. Tive imagens mentais de homens armados
saindo às ruas em bandos, em busca do desonesto. Matando qualquer
vampiro azarado e acessível.

Nossa caminhada acabou na Royal Mojo Blues Company. O cheiro


de comida frita e cerveja e o som de música ao vivo explodiram na rua,
a banda da casa balançando. O RMBC tinha uma área de jantar externa,
um bar, comida que cheirava quente fora da grelha e uma pista de dança.
E as pessoas que não estão nas ruas? Elas estavam lá dentro. O lugar

Greta Conway Van Susteren é uma comentarista americana, advogada e ex-âncora de notícias de televisão da
CNN, Fox News e MSNBC.
estava lotado. Meus pés estavam batendo antes de chegar à porta.
Depois de uma cheirada preliminar para descartar a presença do
desonesto, fui para a pista de dança, perdendo Bliss e Rick na multidão.

Uma mulher negra com a voz de um anjo cantava uma música dos
anos setenta de Linda Ronstadt . Ela era apoiada por cinco outros
músicos na bateria, teclado, baixo e guitarra. Uma seleção de
instrumentos de sopro repousava em um rack.

As conversas se fundiram em um rugido de fundo, com Besta


pegando algumas palavras aqui e ali: flertando, reclamações de negócios,
um negócio de drogas acontecendo em voz baixa entre dois clientes perto
do bar. Sem discussões sobre vampiros. E o único cheiro de vampiro no
local não cheirava fresco, embora fosse familiar. Casais e solteiros
estavam na pista, então dançar sozinha não iria me destacar. Eu corri
para a pista, para a multidão. No calor e na fumaça girando e comecei
a me mover. Eu abri com um saca-rolhas e mudei para um maya. Um
dos cursos que fiz entre o lar infantil/colégio/miséria adolescente e a
liberdade da VR—vida real—foi um ano de aulas de dança do ventre. A

Linda Maria Ronstadt é uma cantora americana cuja variedade de gêneros cantados pela sua voz lhe rendeu uma
série de premiações e reconhecimento.
melhor coisa sobre a dança do ventre eram os movimentos de estilo livre
que adicionava ao meu repertório. Em uma pista de dança? Eu
fumegava.

Chamei a atenção de meia dúzia de mulheres e elas se juntaram a


mim na pista de dança, todas dançando juntas, abrindo espaço para nós
e expulsando os casais, pelo menos por enquanto. Os homens deixaram
o bar e ficaram em uma fila, observando, garrafas de cerveja nas mãos.
As mulheres comigo gritaram e berraram. Besta acordou e ronronou,
bombeando energia para a dança.

No terceiro número, eu estava dançando na frente da banda,


esbofeteada pelos alto-falantes do baixo, suando e dançando com o
coração. Já fazia muito tempo. Eu realmente amo rock and roll, e a
banda era boa, atualmente soando mais como o Sting do que o próprio
Sting.

Três compassos em uma versão animada de “Moon over Bourbon


Street” eu chamei a atenção do trompista , que acabou de entrar na

Gordon Matthew Thomas Sumner, mais conhecido pelo seu nome artístico, Sting, é um baixista, vocalista, cantor e
ator britânico. Antes de sua carreira solo foi o principal compositor, cantor e baixista da banda de rock The Police.
Moon over Bourbon street – Sting ... https://www.youtube.com/watch?v=5i_0PkOqLKA

(Trompa) Trompista: que ou aquele que toca trompa.


banda. Droga, se não fosse o meu Joe. Rick. Segurando meu olhar, ele
pegou um sax, fez alguns ajustes. Eu não prestei atenção em suas roupas
quando ele me pegou na porta, mas ele estava vestindo uma camiseta
preta, o tecido tão fino que era quase translúcido sob as luzes do palco,
e jeans tão apertados que moldavam seu corpo como a pele de um
amante. Oh, meu.

Ele se moveu para frente do palco, um sorriso de menino mau em


sua boca e seu cabelo preto caindo para frente em um cacho de Elvis.
Ele pegou o bocal entre os lábios em um movimento tão sensual que
causou arrepios na minha espinha. Ele começou a tocar. Para mim. Seus
dedos dançaram nas teclas, e o som suave enrolou em torno de mim
como uma mão amorosa. Então, o que eu poderia fazer a não ser dançar
para ele? Eu mudei para a caminhada de camelo—quadris em forma de
oito—e adicionei alguns pequenos círculos de barriga. Era uma música
venha para cá, então fiz uma dança vem cá.

O número não era a versão de três minutos e mais de cinquenta


segundos de “Moon Over Bourbon Street” uma vez lançada nas estações
de rádio. Era a versão ao vivo, a voz do cantor principal tão perfeita para
as letras que arrancava o coração de toda a pista de dança. A trompa
adicionou os pontos certo a uma música dedicada à vida de um vampiro.
O espaço vazio no chão foi preenchido rapidamente. O suor escorria
pela minha espinha e eu ondulava com a batida, um movimento felino
só meu. O vocalista estava sussurrando “A aba do meu chapéu esconde o
olho de uma fera”, quando ouvi o grito de Bliss.

Abafado. Em pânico.

Abaixei meus braços. Girando. Saindo da pista. Mergulhei em


torno dos dançarinos mais rápido do que eles podiam ver. Tecendo
rápido. Seguindo o som enquanto ele se dissipava. Depois do bar. No
escuro.

Banheiro feminino. Eu explodi pela porta. Batendo de volta nas


dobradiças. Dois pares de pés em uma cabine, uma mulher e um
homem. Cheiro de vampiro. Sangue.

Tempo dilatado. Retardado. Assumiu a textura da madeira oleada,


granulada e padronizada.

Besta rosa. Eu arranquei uma estaca de meu turbante com minha


mão direita. Tirei a grande cruz de prata da tira de couro em volta do
meu pescoço. Abri a porta da cabine, quebrando o ferrolho.

O vampiro, vestindo camiseta e jeans, girou. Rosnou. Presas


ensanguentadas. Bliss caiu de seus braços. Uma queda em câmera lenta,
como uma boneca, no chão. Sua mão esquerda desceu, como se quisesse
pegá-la de volta para ele. O sangue dela manchou sua camisa.
Manchado suas roupas. Bombeado fracamente de sua garganta. Ela
estava pálida como a morte.

Besta gritou em fúria. Eu inverti a estaca e saltei. Com a mão direita,


o vampiro pegou meu pulso direito. Não é o Louco que caçamos, Besta
avisou. Jovem. Muito jovem.

Muito jovem significa falta de controle. Desonesto de um tipo


diferente. Eu bati meu antebraço esquerdo, movido por todo o peso do
meu corpo, na parte de trás de seu cotovelo. Na articulação. Seu braço
dobrou sobre o corpo. Ossos estalaram quando a junta quebrou para
dentro. Ele rugiu.

Seu aperto caiu do meu pulso direito. Eu continuei meu movimento


para frente. Joguei a cruz na lateral do seu pescoço. Ele gritou. Pele
esfumaceou. Seu braço esquerdo me cortou, as unhas de vampiro
cortando. Eu pulei para trás. A cruz foi arrancada. As bolhas choraram
sangue. O vampiro alcançou seu pescoço. Dando-me a abertura que eu
precisava.

Eu inverti minha mão direita. Peguei seu pulso ferido.


Desequilibrando-o. Na minha direção. Para fora da cabine. Longe de
Bliss. Eu torci meu corpo. Puxando. Recuando. Estendi uma perna. Ele
caiu na minha coxa. Caiu no chão. Eu empurrei a estaca contra suas
costas. Em seu coração. Empurrando profundamente, em sua carne. Ele
gritou e se contorceu. Arrancou a estaca de sua carne com o movimento.
Mais rápido do que eu poderia seguir, ele se foi.

O tempo caiu, acelerando rapidamente. A música, as vozes e o


cheiro de sangue se chocaram contra mim. Dois seguranças encheram a
porta. Besta ainda movendo rápido, eu me endireitei e coloquei a estaca
de volta no turbante. A cruz de prata em sua correia quebrada onde
estava presa. Levantei ambas as palmas no gesto universal de “Estou sem
armas; por favor, não atire em mim”. Deixando-os ver a cruz pendurada.
Eles pararam ao ver uma garota, surpresa em seus rostos. Eles estavam
claramente esperando alguma coisa ou outra pessoa. Bizarro.

Eu disse: — Um vampiro acabou de atacar uma garota. Ela está


com problemas. —Eu apontei por cima do meu ombro. Quando eles
hesitaram, eu disse: — Ela está sangrando muito, —e deslizei entre eles,
na multidão que estava se formando. Não havia nada que eu pudesse
fazer por Bliss que os seguranças não pudessem. Mas eu poderia rastrear
o vampiro. Jovem. Muito jovem, Besta pensou. Jovem o suficiente para
não ter aprendido a usar a voz e a sedução para conseguir uma refeição.
Jovem o suficiente para atacar garotas. E não era o cheiro de vampiro
que eu reconheci quando entrei.

O jovem vampiro deveria estar sob o poder de seu mestre, não


permitido em público até que ele aprendesse o controle. O que às vezes
levava longos anos enquanto eles eram acorrentados à parede do porão
da casa do mestre. Por que ele estava livre se não era confiável? Ou ele
fugiu, como um animal de zoológico por cima da cerca, ou ele foi um
acidente.

Ele tinha que ser parado.

Eu respirei, encontrando o cheiro do vampiro no ar, o sangue de


Bliss em suas roupas, brilhante como um poste de sinalização. Ele estava
deixando um rastro fácil e eu tinha um marcador de cheiro em mim, no
turbante. Eu mergulhei no meio da multidão gritando e saí.
enquanto desembrulhava

meu turbante para recuperar a mochila de viagem da Besta. Eu a amarrei


em volta da minha cintura com as cruzes extras agora penduradas, antes
de enrolar novamente o turbante. O vampiro estava se movendo
rapidamente pelas ruas quase vazias, mostrando familiaridade com as
vielas e passagens estreitas. Ele estava deixando um rastro tão forte que
não precisei mudar para segui-lo.

Da mochila de viagem, peguei meu celular e disquei rapidamente o


número cinco, o chefe do conselho vampiro. Não que eu quisesse falar
com Leo Pellissier, mas como chefe do conselho, ele tinha que ser
informado sobre o ataque de um humano por um vampiro
descontrolado. Pugilista atendeu:

— Aqui é Jane Yellowrock, —eu disse suavemente, para que minha


voz não propagasse no ar parado da noite. — Deixe-me falar com Leo.
Negócios do conselho vampiro.
— Isso vai ter que passar por mim primeiro, —disse o Pugilista. —
Política do Sr. de Pellissier. Sinto muito. —Ele não parecia arrependido.

Eu me esquivei em outro beco. O cheiro do Mississippi estava


desaparecendo, o cheiro ligeiramente azedo do Lago Pontchar
aumentando. Eu havia deixado o Quarter, rumo ao norte. Eu podia
sentir o cheiro de favela por perto. — Bem. Estou no encalço de um
jovem vampiro não dominado que acabou de atacar uma mulher em
um banheiro de bar. Estou prestes a terminar o que comecei no bar e
enfiar uma estaca nele. Esta é a notificação obrigatória de um caçador
de vampiros ao mestre de sangue da cidade.

— Sr. Pellissier e eu estamos a caminho. Dê-me a localização, —


Pugilista disse.

Avistei uma placa de rua, seu mastro dobrado em duas, como se um


carro tivesse batido e ninguém tivesse reparado o dano. Eu não tinha
ideia de em qual das duas ruas eu estava, então apenas dei os dois nomes
a Bruiser. — Quando você chegar à esquina, seja qual for a direção de
onde você está vindo, siga a lua pontiaguda de duas noites.

Pugilista disse: — Seguir o quê?

Eu estava falando uma linguagem da Besta. Eu balancei minha


cabeça para clarear isso. — Siga a lua.
Lua diferente a cada noite. Nunca a mesma, Besta pensou para
mim. Eu a ignorei. — Eu andei dois quarteirões. Estou chegando
perto de seu ninho.

— E como saberemos disso? —Ele perguntou.

Eu podia sentir o cheiro dele em todos os lugares agora. Não


poderia dizer isso ao Pugilista. — Tenho que ir, —eu sussurrei. Apertei
o botão END, o botão MUTE para impedir qualquer toque, e fechei o
telefone, colocando-o de volta na bolsa de viagem. Eu derreti em uma
sombra, a parede de uma casa vazia nas minhas costas.

As minhas habilidades e as de Besta são diferentes. Normalmente,


a Besta encontra um covil, volto à luz do dia, quando o nível de
atividade dos vampiros estava inibido, indo em forma humana para
matar. Suas habilidades de rastreamento eram melhores do que as
minhas. Minhas habilidades de luta eram melhores do que as dela—só
porque eu tinha mãos para segurar uma estaca e cruz, como ela sempre
me assegurou.

Nenhum vampiro jamais considerou o rastro de Besta uma ameaça,


então eu não me importava de deixar seu cheiro em território vampírico.
Mas eu estava deixando rastros humanos no terreno do vampiro. Ele
poderia me caçar agora, se quisesse. Seguir-me para casa. A menos que
eu o mate, morto de verdade.

Parei e balancei os braços, estiquei o pescoço. Queria estar usando


botas. E roupas que cobriam mais pele. Jeans. Couro. Minha coleira de
cota de malha . Porcaria. Eu estava vestida de forma errada. Tirei o
assassino de vampiros e sua bainha de debaixo da minha saia, alcancei
entre as minhas pernas e puxei a bainha traseira da minha saia para cima
e enfiei na minha cintura na frente, fazendo calças. Amarrei o assassino
de vampiros de volta no tecido, do lado de fora da minha coxa, a alça
segurando a bainha da saia no lugar. Jovens vampiros descontrolados
tinham uma coisa em mente. Jantar. Embora alguns outros locais
preferissem se alimentar, este vampiro era um sugador de pescoço, então
as cruzes extras foram em volta do meu pescoço à vista de todos. Eu
esperava que as cruzes o detivessem por um único e crucial instante se
ele me atacasse e fosse se alimentar.

Ajustei as duas estacas inteiras em meu turbante—uma pegajosa


com sangue de vampiro—e enfiei as dobráveis em meu sutiã. Segurando

Como se fosse um colar como de armadura feito de malha de cobre ou bronze que protege
a garganta e o pescoço e impede vampiros de morder. E chamado de padrão de correio porque a parte que circundava o pescoço e a garganta
era capaz de ficar ereto sem qualquer endurecimento externo.
o assassino de vampiros em minha mão direita e a cruz em minha
esquerda, me movi para a sombra, seguindo o cheiro.

A rua quebrada e esburacada não tinha postes de luz, vidros


estilhaçados espalhados pelo leito da estrada, cartuchos usados caíram
aqui e ali. Grandes unidades habitacionais foram pontilhadas juntas,
apertado, ao longo da estrada. Alguns dos apartamentos individuais
tinham vidros nas janelas. A maioria deles tinha barras sobre o vidro.
Guarnição de madeira sem pintura. Sem árvores, sem grama, sem
estacionamento para carros. O fedor de mofo estava por toda parte,
talvez remanescente do Katrina—pior nas unidades vazias que foram
danificadas pelo furacão e nunca reparadas. Não nesta parte da cidade.
O cheiro de uma velha fogueira vinha de frente. Um fogo em casa. Nada
mais cheirava tão mal.

Música explodiu de quase todas as residências ocupadas, uma


cacofonia incompatível de baixo e bateria. As luzes se espalharam pela
noite. O cheiro de comida frita. Humanos. E em todo lugar o vampiro.
Já estava aqui há um tempo. Tinha caçado por um tempo.

Eu parei, as narinas dilatadas. Girei para a esquerda. Cheirei outro


vampiro. Sua companheira, Besta pensou. Transformou uma fêmea.
Um galho estalou à minha direita. Um leve farfalhar veio da esquerda.
O cheiro de vampiro feminino mudou com o som.
— Oh, merda, —eu respirei. Eles me cercaram, um de cada lado.
Eles estavam me caçando.

Eu poderia derrubar um vamp sozinha. Eu já tinha feito isso antes.


Mas não dois atacando juntos. E como uma idiota, eu tinha perseguido
sem equipamento adequado.

Uma porta em uma das unidades logo à frente se abriu e três jovens
deixaram a luz, entrando no escuro, fechando a porta e a música atrás
deles. Homens negros, com roupas leves. Fortemente armados. Senti o
cheiro de suor, aço, óleo de arma, munição, cerveja e maconha. — Você
está aí? —Um chamou. — Senhora caçando um vampiro?

— Sr. Leo disse que deveríamos vir e ajudá-la, —disse outro. Eu ouvi
o som de aço batendo na carne, uma espécie de provocação do tipo
venha e pegue.

— Qual é o meu nome? —Eu perguntei. E rapidamente deslizei


pelas sombras para a proteção de uma varanda vazia, longe de onde eu
havia falado. A posição colocava os homens e o vampiro na minha
frente, a mulher atrás.

— Jane. Jane algo estúpido.


Eu ri. — Se você é o centro do relógio, e minha voz é seis horas,
então temos um jovem vampiro à uma e uma mulher ainda mais jovem
chegando às sete, atrás de mim. Você sabe o que “jovem” significa?

— Selvagem. Sangrento, —disse outro. Havia um tremor em sua


voz.

— Você acha que vocês três podem pegar o macho?

— Nós podemos fazer isso, —disse o primeiro.

— O que vocês têm? —Eu odiei perguntar, sabendo que os vampiros


podiam ouvir qualquer coisa que eu pudesse. Eles estavam bem perto.
Mas eu precisava saber que tipo de armamento meus ajudantes tinham.
Eu ouvi um leve estalo e soube que o vampiro tinha voltado sua atenção
para meus novos amigos.

— Cruzes. Água benta do Padre John. Óleo de alho concentrado da


irmã Selieah. Ela é uma médica de raiz voodoo.

— Todos nós temos assassinos de vampiros, —disse o primeiro. —


E eu tenho uma espingarda.

— Mire para longe de mim, que tal. —Antes que eles pudessem rir,
eu disse: — O de vocês está aqui.
A fêmea estava farfalhando a grama nas proximidades. Dobrei
meus joelhos e me movi em direção ao som, longe dos três homens.
Atrás de mim agora, o vampiro masculino atacou os homens. A
espingarda rugiu. Um vampiro e um humano gritaram. Em silêncio, dei
a volta na casa. Um baque soou de algum lugar próximo, mas não
consegui identificá-lo depois do disparo da espingarda. A luz fraca da
lua iluminava um quintal seco, grama seca nos cantos e ao longo da
fundação, uma cerca quase toda perdida, tábuas de madeira ainda de pé
aqui e ali. Algo branco e enferrujado na sujeira. Uma máquina de lavar?
Fora isso, o quintal estava vazio.

Um sussurro de som me alertou. Ar deslocado. Aproveitando os


reflexos da Besta, eu me abaixei. Girei a estaca para cima. Um peso
bateu em mim, me derrubando. A estaca acertou seu lado, muito baixo.
As presas se agarraram ao meu antebraço, mordendo o músculo
enquanto eu batia no chão. Meu braço esquerdo e a cruz estavam presos
embaixo de mim. Nós rolamos. Ela era selvagem. Roendo meu braço.
Agonia como fogo. Meu sangue respingou em mim, quente e picante.
Seus olhos eram vampíricos, ensanguentados e negros, carmesins e mais
escuros do que a noite enquanto captavam a luz fraca.
Besta cresceu em mim. Eu poderia mudar agora se precisasse, mas
era mais difícil, a dor como a própria morte, sem o ritual. Eu a segurei,
mas peguei a força e velocidade que ela compartilhava.

Meu turbante caiu, quicou, se desfez. A estaca foi com ele. Minhas
tranças caíram em volta de mim, emaranhadas. Ondulei, um
movimento de dança. Peguei a cruz e joguei-a no seu peito. O vapor e o
crepitar da carne queimada do vampiro nublaram o ar. Ela não
percebeu, engolindo meu sangue com uma fome desesperada. Lancei a
cruz agora brilhante, deixando-a em sua pele. Ela apertou com os
dentes. A dor chiou em mim como um raio. Com a mão inútil, deixei
cair a faca.

Ela se acomodou, sentando no meu torso, chupando meu braço.


Um parasita/predador/coisa não-humana. Minha pele se arrepiou. Eu
deslizei minha mão esquerda em meu sutiã e puxei uma estaca. Ataquei
desajeitadamente. Ela não reagiu. Muito ocupada alimentando-se.
Enfiei a estaca em seu lado. Ela ficou rígida. Se ela fosse alguns dias
mais velha, ela teria rolado para longe. Ajustei o ângulo da estaca e
empurrei para dentro. Com força. Ela engasgou. Soltou meu braço
direito, suas presas clicando para trás, como uma cobra.

Seus olhos focaram em mim. Os olhos dos vampiros se


transformaram em um branco humano. Só por um instante. — O que
...? —Ela disse. Lentamente, a vida desapareceu de seus olhos. Suas
pupilas negras como vampiro se contraíram para o tamanho humano.
À noite, não pude ver a cor de suas íris, exceto que eram claras. Cinza,
talvez. Em um rosto café com leite que um dia fora lindo.

Sem um som, sem uma exalação humana, em um silêncio que


sempre me deixava perplexa, a vampira morreu. Ela caiu em minha
direção. Usando o impulso de sua queda, eu a empurrei para o lado e
rolei debaixo dela, de joelhos e de pé. Porcaria. Ela tinha sangrado por
toda a minha camisa nova. Besta soltou uma risada no fundo do meu
coração.

Olhei para o meu braço ferido e tentei cerrar os punhos. Três dos
meus dedos não fechavam. Danos no tendão. Não doeu tanto quanto
deveria, o que significava danos aos nervos também, embora o sangue
não estivesse pulsando da ferida. Ela injetou saliva vampírica suficiente
para espasmar a maioria das artérias e fechar veias. Virei meu braço,
inspecionando-o, ainda respirando com dificuldade. Um ser humano
exigiria uma grande cirurgia e meses de reabilitação para se recuperar
de tal lesão. Assim que eu pudesse mudar, seria curado. Mas eu tinha
que viver o suficiente para chegar a um lugar seguro.

Ao contrário da ficção, a saliva do vampiro do mundo real não


causa coagulação. Ele causa um espasmo da artéria ou veia, selando-o
firmemente ao redor dos dentes vampiros e, quando os dentes são
removidos, o mesmo espasmo sela a ferida, para que possa coagular e
curar. O mesmo efeito acontece na pele, um espasmo localizado selando
uma ferida tão apertada que não é maior que um espinho. Bem, a menos
que a vítima tenha sido mastigada por um novato. Claro, a evolução dos
predadores vampiros não exigia que as presas dos jovens
permanecessem vivas por muito tempo.

Mas a dor estava aumentando. Eu tinha que sair daqui e me


transformar. Encontrei meu turbante e o tirei do chão, dobrando-o
desajeitadamente em uma bandagem de pressão.

— Precisa de ajuda com isso?

Eu enrijeci. Coloquei a mão na estaca que rolou do turbante.

— Está tudo bem, Jane com o sobrenome estranho. Tudo calmo.

Ele estava atrás de mim. Uma briga me deixou saber que outro
estava de volta à cena da batalha. Respirei o ar noturno. O vampiro
estava morto. Eu também cheirei sangue humano. E fezes humanas.
Um deles cagou nas calças de medo ou de morte.

Com medo de que Besta estivesse aparecendo em meus olhos,


mantive meu rosto virado, forçando-a a se abaixar o suficiente para que
eu parecesse completamente humana, mas a mantendo perto o
suficiente da superfície para usar seus reflexos. Eu escutei o menor som.
— Você está calmo? —Eu disse, meu tom pedindo esclarecimentos. —
Quer dizer que você não vai pular em mim?

— Correto. —Uma lanterna se acendeu com um clique deslizante.


A luz me atingiu, pousando no meu braço ferido. O homem praguejou.
Ele cruzou o espaço entre nós. — Você se machucou em algum outro
lugar?

— Não, —eu disse, fechando meus olhos contra o brilho quando


me atingiu no rosto.

— Aqui. Segure a lanterna. —Ele se ajoelhou, colocou uma arma


no chão ao lado do corpo e fechou meus dedos esquerdos em torno da
lanterna, apontando o feixe de luz para o ferimento. Parecia muito pior
com a luz. Eu engoli, a frequência cardíaca disparou, a respiração muito
rápida. Ele era mais velho do que eu pensava e, quando dobrou meu
turbante em um curativo passável e amarrou a bandagem com a
quantidade certa de pressão, aumentei sua idade novamente.

— Médico? —Eu perguntei.

Ele olhou para mim acima da lanterna. — Marinha. Duas viagens


no Afeganistão, uma no Iraque. Você aprende a fazer todo tipo de merda
quando está na linha de fogo. —Seu tom era amargo e seu sorriso estava
cheio de sombras e zombarias, da noite e do exército. — Achei que
estaria seguro quando voltasse para casa, nos Estados Unidos da
América. —Ele fez o país parecer pior do que uma zona de guerra. —
Em vez disso, descubro que meu vizinho é um vampiro sugador de
sangue, e tenho que voltar para a guerra apenas para manter minha
família segura.

— Você o pegou, então? —Eu disse, transformando isso em uma


pergunta no último momento. — O vampiro.

— Estacado, barriga aberta, cabeça alguns metros para o lado de


onde costumava ficar. Verdadeiro morto. —Ele fez uma pausa e
acrescentou: — Eu conhecia o garoto. Quinze anos quando saí para o
meu primeiro tour.

Sem saber o que dizer, eu disse: — Sinto muito.

Ele bufou baixinho na risada e balançou a cabeça como se dissesse:


A vida é uma merda. — Sim. Meio que incomoda minha bunda também.

— Você perdeu algum homem esta noite? —Eu perguntei, esticando


meu pescoço para trás. Eu podia ver apenas protuberâncias a esta
distância, na luz incerta.

— Um se machucou. O Sr. Pellissier pode curá-lo. —Ele pegou sua


arma, levantou-se e estendeu a mão para mim. — Você aguenta
levantar? —Respirei fundo, me firmando e assenti. Peguei sua mão e o
deixei me colocar de pé. — Bonito vestido. —Ele passou a lanterna para
cima e para baixo em mim. Minha saia se soltou da calça improvisada.
— Você sempre caça vampiros em um vestido e sapatos de festa?

Eu não pude evitar minha risada. — Não. Esta noite foi uma
surpresa. Eu geralmente caço com roupas melhores. —Couro, Besta
pensou. E garras. Ele ainda segurava minha mão boa, então aumentei
a pressão, transformando-a em saudação. — Jane Yellowrock. A garota
que você acabou de salvar de ser o jantar. —O que ele fez. Eu poderia
ter matado os dois vampiros sozinha, mas não sem ferimentos graves.
Pega na briga do bar e na perseguição, eu tinha calculado mal esta noite.
O erro de um novato. Eu estava chateada comigo mesma.

— Nome índio? —Ele perguntou. Eu assenti, quando ele apertou


minha mão, segurando-a um pouco mais do que o necessário. — Derek
Lee. Prazer em conhecê-la, Princesa Injun . O Sr. Leo disse que você
caça vampiros para viver. É meio estranho ouvir isso do sugador de
sangue chefe da cidade. —Ele soltou minha mão e olhou em volta para
a noite. A vigilância de um soldado. Eu segui seu olhar ao longo da rua.

Quer dizer princesa India *-*


Mesmo com os tiros, ninguém saiu para ver o que estava
acontecendo. Ou talvez por causa dos tiros. Mas a música havia sumido
e a noite ficou silenciosa. Fiquei surpresa ao não ouvir sirenes. — Sem
policiais? —Eu perguntei.

— Não depois de escurecer, —disse ele, a amargura de volta em seu


tom. — Eles responderão à luz do dia se houver um número suficiente
deles disponível e se estiverem com vontade de procurar problemas e
bater cabeças. Mas eles ficam longe depois de escurecer. —Eu não tinha
nada a dizer sobre isso. — Você acha que pegamos todos eles? —Derek
perguntou, mudando de assunto.

— Não sei ao certo. Mas o cheiro de sangue geralmente atrai


qualquer um que esteja se escondendo. Principalmente os mais jovens.
—Eu embalei meu braço até minha cintura. A adrenalina diminuiu, eu
estava sofrendo. Latejando. Ruim. — Eu não decapitei a garota, — eu
disse. — Você quer fazer as honras? —Eu peguei meu assassino de
vampiros da terra e entreguei a ele o punho primeiro. Eu poderia ter
feito isso sozinha. Eu já tinha feito isso antes. Mas este era o seu
território. Sua verdadeira morte, se ele quisesse.

Ele pegou o cabo, enfiou a outra mão no bolso e tirou um pequeno


celular vibrando. Olhando para o visor, ele o abriu. — Sr. Pellissier. —
Ele soava exatamente como um fuzileiro naval se reportando ao
quartel-general. Besta animou-se, ouvindo. Derek se afastou, mas não o
suficiente para lhe dar privacidade. Ao contrário de um humano, eu
podia ouvir os dois lados da conversa.

— Dois foram mortos, —ele disse suavemente. — Um de meus


homens ferido e precisando de assistência, com risco de vida se ele
não for ao hospital ou receber uma infusão de um de vocês, senhor.

Eu entendi que Leo ou alguém de sua família poderia e iria curar o


homem ferido. Interessante. Eu sabia que o sangue de vampiro poderia
curar, mas nunca tinha visto isso acontecer, apesar da cena de vampiro-
contra-vampiro entre Katie e Leo. Ouvi Leo dizer: — E a Srta.
Yellowrock?

— A garota está ferida. Não é uma ameaça à vida, mas ela perdeu
sangue e o uso de um braço, senhor. Ela precisa de um cirurgião ou

Um fuzileiro naval é um militar pertencente a um corpo de infantaria de marinha de alguns países. No âmbito de uma marinha,
os fuzileiros são normalmente os especialistas na realização de operações de assalto anfíbio, nas abordagens no alto mar, na segurança e ordem
interna nos navios de guerra e na defesa das instalações navais em terra. Normalmente, os fuzileiros navais são rigorosamente selecionados e
recebem um treinamento especial, sendo considerados tropas de elite. O termo "fuzileiro" refere-se à antiga designação genérica dos soldados
de infantaria armados de espingarda (também referida como "fuzil"). Os soldados de infantaria embarcada de algumas marinhas passaram a ser
designados "fuzileiros " ou "fuzileiros navais". Como designação do membro da infantaria naval, o termo é utilizado nas marinhas do Brasil, bem
como na generalidade das restantes marinhas da CPLP. Tanto os fuzileiros portugueses como os brasileiros descendem remotamente do Terço
da Armada da Coroa de Portugal criado no século XVII. Para além das marinhas da CPLP, o termo "fuzileiro" também é usado na Marinha Francesa
(fusilier marin) e na Armada do Uruguai (fusilero naval). Por outro lado, frequentemente também são traduzidas para o português como
"fuzileiros navais" algumas designações estrangeiras de unidades, soldados de infantaria naval, como o termo inglês "marines" ou o termo
neerlandês "mariniers".
de um de vocês. Ela derrubou um vampiro sozinha. Ela é boa
soldado, senhor. —Eu me senti como se estivesse sendo recomendado
para uma medalha, o que poderia me tornar um dos homens de Derek.
Ideia engraçada.

— Mantenha a garota aí. Eu gostaria de falar com ela.

— Sim senhor. A que distância você está, senhor? —Perguntou


Derek.

— Dez minutos. —A conexão foi encerrada e Derek colocou o


telefone no bolso. Ele olhou para mim. Sentei-me pesadamente em um
meio-fio, tentando parecer fraca, tonta. Não era difícil dadas as
circunstâncias. Coloquei a mão na cabeça e depois no braço ferido.

Derek disse: — Você está bem?

— Na verdade, não, —eu disse. — Eu me sinto meio mal do


estômago. Acho que vou vomitar. —Besta me enviou a imagem de um
grande gato com o rabo balançando, divertido.

— Reação normal. O combate atinge alguns caras dessa forma.


Faça uma pausa. Vou acabar com o seu vampiro para você.

— Obrigada, —eu disse, parecendo frágil e feminina. Besta tossiu e


se preparou para correr. Certo. Eu não ficaria sentada aqui esperando
por Leo, não importa o que ele tivesse pedido. Momentos depois, Derek
voltou, com as botas ágeis, o passo suave no chão seco. Ele devolveu
minha faca. Embora tivesse limpado, eu podia sentir o cheiro de sangue
de vampiro na prata, corrosivo, como enxofre e ácido nítrico ou algo
igualmente cáustico. Não prestei muita atenção à química na escola.
Agora eu gostaria de ter feito isso. Se eu fosse para a faculdade, faria
uma aula de Química 101.

Embainhei a faca. — Obrigada. —Quando ele não respondeu,


inclinei minha cabeça para cima e estudei seu rosto. Estavaa duro,
fechado. — Você a conhecia também, não é?

Ele assentiu uma vez, a ação nítida como uma arma se fechando.
— Irmã de Jerome. —Ele engoliu as palavras. — Ela tinha doze anos.
Eu a vi no sábado passado. —Eu ouvi o motor de um carro ao longe. —
Sete dias ... —Sua voz sumiu. — Sete malditos dias. E ela é uma
vampira. —Ele olhou para longe. — O outro que matamos, ele a fez? —
Eu assenti. — Então, quem o fez?

— Eu não sei. Eu não poderia ... —Sentir o outro vampiro nele. Certo.
Eu substituí por isso, — Leo pode ser capaz de dizer.

— Eu vou atrás do que quer que o tenha feito isso. —As palavras
eram baixas e duras: uma promessa. Eu tinha ouvido algumas na minha
época e conhecia o tom. Seus olhos estavam sombrios. — Não importa
o que o Sr. Pellissier diga.

Bem. Isso foi interessante. Eu adoraria dissecar a relação entre o


fuzileiro naval e o líder vampiro, mas eu queria sair daqui antes que Leo
chegasse. Eu não queria ficar em dívida com o sugador de sangue da
cidade por curar minha ferida, e não queria que ele soubesse que eu
poderia me curar de algo tão ruim sozinha. E eu queria pegar a cabeça
da garota vampira, meu sangue estava em sua boca, e eu não estava
interessada em Leo cheirar meu sangue por razões que tinham tudo a
ver com seu direito sombrio dos reis. Não tinha intenção de parecer
interessante para ele. Mudei meus pés debaixo de mim, preparada para o
momento em que a cabeça de Derek fosse virada. Só precisaria de um
segundo, mas hesitei. — Apenas uma sugestão, —eu disse, apontando
para minhas roupas. — Caçar vampiros é perigoso. Vista-se de acordo.

Derek riu baixinho. — Eu te levaria comigo se eu pudesse. Mas não


posso esperar até que você esteja cem por cento.

Aceitei o elogio com um pequeno aceno de cabeça. — Leo tem meu


número se você precisar de alguma coisa. E ei. Se houver uma
recompensa por esses dois, é sua.

Ele aceitou e se virou.


O motor do carro estava se aproximando. Um motor potente,
afinado, soando pesado no ar noturno, como se o veículo que movia
fosse enorme. Eu empurrei meus pés sob mim e me levantei, me
deixando balançar na noite. Derek pegou minha mão boa para me
firmar. A dor do outro braço latejava em minhas veias. Besta tinha
melhor resistência à dor, usei suas reservas. Mas eu sabia que meu braço
estava ruim. Muito ruim. — Obrigada, —eu disse. — Por vir aqui esta
noite. Eu estaria morta, ou perto disso, se você tivesse ficado dentro de
casa, onde é seguro.

— Ooh rah —disse ele, e encolheu os ombros.

— Sempre fiel —eu disse, me perguntando quantas medalhas ele


tinha em sua gaveta de coisas velhas.

Ele riu, o som zombeteiro e áspero.

Grito de guerra dos fuzileiros.


Lema dos fuzileiros navais dos EUA.
o que Leo estava

dirigindo porque estava a três quarteirões de distância quando entrou na


rua. As luzes do veículo estavam bem acima do solo. Achei que fosse
um Hummer . O modelo militar mais antigo, mais pesado, e não a
versão mais nova, mais leve e com melhor quilometragem.

Escapei, levando a cabeça da garota comigo, carregando-a por seus


cachos macios. Eu a lavaria em um lago ou pântano próximo para
remover meu sangue e deixaria onde Leo pudesse devolvê-la a sua
família para um enterro adequado. A saliva da vampira manteve minha
dor fraca, mas estava passando. Andar machucada. Enrolando meu

Wesa - (ou wesa, já vi grafias de duas e uma palavra) - (wee-sah). Lince ou pequeno gato.

O lince-pardo ou lince-vermelho é um felídeo selvagem nativo da América do Norte. Com doze subespécies
reconhecidas, esse animal pode ser encontrado entre o sul do Canadá e o norte do México, incluindo a maioria dos Estados Unidos continentais.

Hummer
braço machucado na minha cintura, eu seria descoberta muito
rapidamente, mas me mantive nas sombras, a cabeça pendurada
escondida. Achei que mesmo o habitante mais cansado e cínico poderia
relatar uma garota ensanguentada em um vestido de festa carregando
uma cabeça decepada pelo cabelo.

Duas coisas sobre Nova Orleans: sempre há água por perto, e os


muito ricos vivem perto dos muito pobres. Em menos de um quilômetro,
encontrei um quintal cercado com cheiro de lago de carpas. Eu examinei
a área, não localizei nenhuma câmera, não cheirei nenhum cachorro do
outro lado e pulei a cerca. Não confiando na minha varredura rápida,
ajoelhei-me nos arbustos pesados e examinei o local. O lago era enorme,
com uma cachoeira em miniatura e plantas verdes. A casa além dele era
enorme, com arcos e muito espaço de varanda com tela. Estava escuro,
sem som. Achei que eram quase duas da manhã, então todos os
habitantes estavam dormindo.

Escondida atrás de uma planta orelha-de-elefante , coloquei a


cabeça de lado e desamarrei minha bandagem para que pudesse jogar a
água do lago no braço, lavando o sangue. Estava seco e rachado e

A colocasia gigantea, também chamada de orelha de elefante gigante ou taro indiano, é uma erva de 1,5 a 3 m de
altura com um núcleo grande, fibroso e não comestível, produzindo em seu ápice um turbilhão de folhas grandes. O caule das folhas é usado
como vegetal em algumas áreas do Sudeste Asiático e do Japão.
começou a queimar. Não sei qual é o pH do sangue vampiro, mas tem
que ser ácido. Mais química. Talvez uma aula de Fisiologia Vampirica
101 fosse melhor.

Depois de lavar a maior parte do sangue, tirei e enxaguei minhas


roupas de dança, torci-as e coloquei-as novamente molhadas. Não
ajudou a aliviar a dor, mas estar limpa—bem, um pouco limpa—me
ajudou de uma forma que eu não poderia explicar. As roupas eram frias
na minha pele e cheiravam meio a peixe. Besta estava com fome e me
informou que não era avessa a pescar o jantar. — Mais tarde, — eu
murmurei, mantendo um olho na casa enquanto mergulhava a cabeça
na piscina. Sangue seco, sangue fresco e pedaços de vampiro flutuaram
livres. Atraídos pelo cheiro ou talvez por todos os meus movimentos,
kois nadaram para perto e observaram, dourado, rosa, preto e branco,
em padrões de manchas de gato malhado. Um mordiscou um pedaço de
carne de vampiro e cuspiu em um jato de água. — Peixe esperto, —eu

Em química, pH é uma escala numérica adimensional utilizada para especificar a acidez ou basicidade de uma solução aquosa. A rigor, o pH
é definido como o cologaritmo da atividade de íons hidrônio. Podemos aproximar o cálculo do pH usando a concentração molar o íon hidrônio
ao invés da atividade hidrogeniônica.
Quer dizer um Manual do Novato 101 - Biológia Vampírica

Koi (鯉?), mais especificamente Nishikigoi (錦鯉 "carpa brocada"?), são carpas ornamentais, coloridas ou
estampadas, que surgiram por mutação genética espontânea das carpas comuns (carpas cinza) na região de Niigata (no Japão) e que no período
de 1804 e 1829 foram multiplicadas pelos piscicultores da região que aperfeiçoaram suas características chegando a obter três tipos híbridos: o
Higoi (carpa vermelha), o Asagui (carpa azul e vermelha) e o Bekko (branca e preta).
murmurei. Eu esperava que o sangue de vampiro não fosse tóxico para
peixes dourados enormes.

Quando a cabeça estava o mais limpa possível, sem água sanitária


e uma escova dura, virei-a na água e examinei-a. Ela era uma garota
negra de pele clara, estrutura óssea delicada, com cachos soltos. Seus
olhos cinza me encararam da água, ainda com a confusão da morte.
Alcancei seus lábios e tirei seus dentes de vampiro do céu da boca. Eles
eram articulados, como os de uma cobra, a estrutura óssea crescendo
atrás de seus dentes humanos. Eu os deixei contraírem de volta. Com
ela morta, o movimento era lento, como se as pequenas articulações
estivessem congeladas. Rigor mortis, estilo vampiro, talvez. Enquanto
eu estudava a cabeça na piscina de água, a superfície se acalmou,
refletindo de volta as luzes de segurança. Refletindo meu rosto ao lado
do dela. Maçãs do rosto proeminentes, cabelo uma confusão de tranças
caindo sobre meus ombros. Olhos amarelos próximos ao cinza.

Eu não sabia o nome dela, apenas que ela era irmã de Jerome. E
que ela tinha doze anos. Eu tinha acabado de matar um assassino de 12
anos. Isso tornou tudo bem? Pior do que um assassino adulto?

Se eu tivesse esperado, Leo teria sido capaz de prendê-la, acorrentá-


la em seu porão, ou o equivalente em Nova Orleans, até que ela
desenvolvesse o autocontrole e o apetite? Se eu não tivesse ido para trás
da casa abandonada, ela teria esperado, se escondendo enquanto seu
criador era morto? Ela não teria me atacado? Porcaria. Eu odiava
arrependimentos da manhã seguinte de qualquer tipo, especialmente
aqueles que chegavam antes do amanhecer. Eu não sabia o que sentir.
Tristeza. Vergonha. Alguma coisa.

Besta ficou em silêncio. Ela não sentia vergonha, não entendia a


emoção, considerando uma perda de tempo. Alcançando a água parada,
espalhando meu reflexo, fechei os olhos da vampira.

Eu me levantei, ainda escondida pelas folhas enormes, e avistei uma


toalha estendida sobre uma cadeira, em um pequeno deck. Roubei a
toalha, enrolando na cabeça, sem jeito por causa do braço. Que agora
estava doendo como uma miséria—uma dor latejante e pulsante que,
mesmo com a ajuda da Besta, estava me deixando nauseada. Enrolei
novamente o turbante em volta das feridas e corri até a cerca, joguei a
cabeça, agarrei o topo da cerca com minha mão boa e pulei. Sentindo
exaustão em todos os músculos, respirando com dificuldade demais
para o esforço, fui para casa.

Se o Congresso dos EUA aprovasse leis dando aos vampiros direitos


civis completos, tornando-os algo mais do que monstros, eu teria que
encontrar outra maneira de ganhar a vida. Eu poderia ir para a prisão
por estacá-los. Besta me mostrou uma visão do orfanato onde morei por
seis anos. A ideia de prisão da Besta. Eu teria que mostrar a ela uma
prisão de verdade algum dia. Ou um zoológico. Besta sibilou para mim.

Voltei para a casa de brinde às quatro e apertei REDIAL enquanto


estava na varanda, ligando para o número de Leo novamente enquanto
destrancava a porta. Eu ouvi um toque suave lá dentro assim que o
cheiro do vampiro me atingiu. E Pugilista. Besta ficou alerta. Leo
Pellissier, chefe do NOVC, e seu músculo, estavam na minha sala. No
escuro. Porcaria. Merda, merda, merda.

O toque voltou. Eu abri a porta. Localizei suas posições pelo cheiro.


Leo estava imóvel à minha direita, Pugilista à minha esquerda. Eu disse:
— Como você está, Leo, Pugilista? Vocês estão planejando pular em
mim quando eu entrar, ou isso é uma visita social?

Ouvi um clique e o telefone não tocou novamente. Houve um


suspiro no escuro, de Leo, respirando para causar efeito. — Entre, Jane
Yellowrock.

Não era exatamente um comando, mas Besta e eu não estávamos


com humor para deixar um vampiro tomar uma posição dominante de
qualquer forma. — Você está pedindo ou ordenando?

Depois de um momento, Leo disse: — Por favor.


Achei que era o melhor que eu conseguiria, então respirei fundo,
empurrei a dor em algum lugar bem no fundo e segurei firme a cabeça
com a toalha. Seria uma arma mole, mas eficaz, se necessário. Entrei e
acendi a luz. Leo estava sentado em uma cadeira florida amarela na sala
de estar à direita, pernas elegantes esticadas e cruzadas na altura dos
tornozelos, dedos entrelaçados sobre o peito. Sem arma. Um terno e
gravata. Camisa de seda. Pugilista estava parado na porta do meu
quarto, igualmente sem armas, a menos que eu contasse seu corpo como
uma arma, o que eu fiz.

— Você esteve mexendo nas minhas calcinhas? —Eu perguntei. A


boca de Pugilista se contraiu. — Porque tudo que eu tenho comigo são
as calcinhas de viagem. As de couro, seda e rendas estão todas nas
montanhas.

— Você tem calcinhas de couro? —Pugilista perguntou, intrigado.


O cara não estava aqui para me matar ainda. Ele estava muito relaxado.
Ele cruzou os braços sobre o peito. Belos braços, peitorais e bíceps bem
definidos e antebraços de um homem com uma dieta muito magra.
Esguio, musculoso.

Eu sorri, mostrando os dentes. — Não. —Eu levantei a toalha


ensanguentada e indiquei com um movimento minúsculo a minha mão
ferida. Que doía como um filho da mãe. Os braços de Pugilista se
soltaram rapidamente. — Sem arma, —eu assegurei a ele. Para Leo, eu
disse: — Acho que é isso que você quer.

Eu sabia que ele podia sentir o cheiro do que eu carregava. Leo


assentiu, o gesto imperioso, Pugilista relaxou. Eu lancei a cabeça
embrulhada em Leo. A toalha caiu no ar. Leo pegou a cabeça, sangue
aguado jorrando sobre ele. A toalha caiu em uma pilha ensanguentada
na madeira. Leo estava segurando a cabeça da vampira de cabeça para
baixo. Mostrando grande moderação, ele ergueu uma sobrancelha. Eu
sorri.

— Você levou a cabeça com você. Por quê? —Ele perguntou,


coloquial, civilizado, um pouco ... curioso. Sim. Curioso. O cara estava
se divertindo. Poderia ter me surpreendido com seu estado de espírito.

Vendo como ele estava sentado em minha casa, e certamente podia


sentir o cheiro do meu sangue de onde estava sentado, a decisão de tirar
a cabeça e lavá-la para remover vestígios de meu sangue acabou sendo
um desperdício. E não um que eu quisesse defender. Parte da razão pela
qual me inscrevi para o trabalho em Nova Orleans foi uma vaga
esperança de que um velho vampiro pudesse saber o que eu era, mas ser
sugado não fazia parte do meu plano. Dei de ombros, a defesa de um
adolescente indisciplinado.
Leo segurou a cabeça para o lado. Estava pingando. — George.
Você seria tão gentil.

George fez uma pausa. Talvez tenha sido a primeira vez que seu
chefe pediu que ele guardasse uma cabeça cortada. — Há tigelas na
cozinha, Pugilista, —eu disse. — Tenho certeza de que Katie não se
importaria, contanto que você traga tudo completamente limpo. —
Pugilista e seu chefe compartilharam um olhar que provavelmente tinha
todos os tipos de significados, e o capanga foi cumprir as ordens de seu
mestre. Talvez eu devesse chamar Pugilista de “Igor ”. Eu não disse
isso, mas não pude evitar o sorriso. Meu senso de humor seria a minha
morte.

— Você está sangrando, —Leo disse. Suas pupilas ficaram pretas


como um vampiro. Meu sorriso desapareceu. Leo Pellissier
provavelmente era tão bom em farejar coisas quanto Besta. Ele puxou o
ar para os pulmões pelo nariz de predador, pequenas cheiradas, como
se estivesse em uma degustação de vinho. O que ele era, para um
vampiro. Eu tive uma imagem de copos de sangue fresco e um bando de

O assistente Igor, que nas adaptações cinematográficas é criado para dialogar com o dr. Victor, e
também serve, em alguns momentos, como alívio cômico, nada tem a ver com o personagem da literatura. Na obra, o assistente é descrito como
recluso e cada vez mais distante da sociedade.
vampiros sentados em volta da amostra. Ou talvez apenas passando
humanos, comparando safras. Distorcido. Estou distorcido. O branco de
seus olhos sangrou vermelho. E eu estou muito encrencada.

— Você foi atrás de um jovem vampiro sozinha, —ele disse, sua voz
sedosa. — Você me custou o uso de um bom homem enquanto ele se
cura e o uso temporário de outro, enquanto ele vai atrás do criador do
homem, determinado a se vingar. Não estou satisfeito.

— Você deixou um vampiro jovem e descontrolado entrar em seu


local de negócios, —eu disse. As sobrancelhas de Leo subiram meio
entalhe, como se estivesse surpreso por eu saber que ele era o dono do
lugar. Eu não sabia até agora. Mas era seu cheiro lá, e eu imaginei que
se ele tivesse estado lá o suficiente para deixar sua fragrância de vampiro
na mobília, então ele provavelmente era o dono do lugar. Um pouco do
vermelho em seus olhos diminuiu, mas eu não estava prestes a relaxar.
Pugilista estava demorando muito na cozinha e não estava fazendo
barulho o suficiente para ainda estar procurando por um recipiente.

— A Royal Mojo Blues Company costumava ter a reputação de ser


um lugar seguro na cidade que exibia os vampiros famosos e sexy, —eu
disse. — Esta noite, um jovem desonesto teve uma refeição rápida e
forçada lá. Eu o segui até seu covil. Eu não tinha a intenção de matá-lo,
mas o feri no banheiro feminino com uma estaca. Com um ferimento de
madeira, eu sabia que ele precisaria de sangue rápido para curar. —Eu
estava me explicando. O que eu odiava. Parei.

Pugilista entrou antes que o silêncio pudesse se estender por muito


tempo e colocou uma tigela de plástico no chão e a cabeça na tigela. Foi
um ajuste perfeito. Eu queria rir e sabia que era por causa da dor e da
perda de sangue. Eu tinha que me mudar logo ou estaria muito mal para
meditar; eu tinha que ficar calma para o ritual. Eu não queria taaaanto
mudar sem ele.

— Você está sangrando, —Leo disse novamente.

— Sim. Então você e o Pugilista darão uma caminhada? Eu preciso


de alguns curativos e aspirina.

— Você é uma criança atrevida e irritadiça. George.

Eu não tinha percebido, mas Pugilista se levantou e ficou ao meu


lado. Ao som de seu nome, seus braços me envolveram. Com o coração
disparado em minha garganta, me lancei para o outro lado. Seus dedos
apertaram meu braço ferido. Eu caí em meus joelhos. Querendo
vomitar.

A dor cresceu através de mim, as águas da agonia subindo pelo meu


braço, na minha barriga, acumulando e se contorcendo como cobras em
um pântano. Escuridão cercou minha visão. Por um longo momento,
não consegui respirar. Bile subiu na minha garganta e eu engoli de volta.
Eu não ia vomitar na frente do chefe do conselho vampiro. Besta subiu
com as garras, um fio de cabelo de uma mudança.

George soltou meu braço. A dor tremeu um pouco e diminuiu antes


de se estabelecer alguns graus no que era apenas uma agonia latejante.
Minhas costelas pesaram, a respiração atrasada era seu próprio tipo de
dor. Besta hesitou, incerta, esperando. Quando minha visão clareou, eu
estava deitada no sofá floral de Katie, meu braço ferido sendo banhado
em água gelada por George. Leo estava atrás dele, sem paletó e gravata,
arregaçando as mangas.

— Oh, merda, —eu disse, minha voz cheia de cascalho e pedras


maiores, esmagando uma sobre a outra. Limpei minha garganta e tentei
novamente. — Estou muito velha para uma surra e não estou bem para
me defender de uma surra na bunda. Podemos fazer isso outra hora?

Leo sorriu, a expressão sombria puxando a carne de suas bochechas


contra os ossos. Ele era um homem elegante, sua camisa de seda
refletindo a luz e sugerindo a pele de tom oliva por baixo. Sua bunda
estava coberta pelas calças sob medida como uma segunda pele. Ele era
lindo. Muito bonito.

Ele se ajoelhou ao meu lado com aquela graça fluida de vampiro.


— Obrigado, —disse ele, calmamente divertido. Nesse ponto, percebi
que havia falado pelo menos parte de minhas reflexões sobre sua bunda
em voz alta. Se eu não estivesse com tanta dor, poderia ter me
contorcido com o pensamento. — Você é uma espécie de sobrenatural,
—ele disse, seu tom transmitindo aquela coisa de vampiro que olha nos
meus olhos quando quer hipnotizar uma presa. — Mas de que tipo? —
Suas palavras deslizaram pela minha carne como penas e seda e sexo
quente, e eu tremi ligeiramente. Mas não respondi.

Ele tirou meu braço de George e o inspecionou cuidadosamente. A


dor bateu em mim como tambores Cherokee. Eu olhei para a ferida pela
primeira vez sob luz direta e senti um choque elétrico passar por mim.
Os músculos e tendões do meu braço estavam retalhados como carne
crua e arrancada. Meu coração acelerou. Minha taxa de respiração
aumentou. Pequenas poças de sangue jorraram da carne com minha
reação, brilhando. Os olhos de Leo ainda estavam vermelhos, pupilas
pretas como vamp. Mas em vez de atacar a refeição de sangue, ele olhou
do meu braço para o meu rosto. Em meus olhos.

Minha frequência cardíaca se estabilizou. Minha respiração


engatou e gaguejou. Por um momento, olhando em seus olhos, senti o
cheiro de sálvia e alecrim no vento noturno. Vi sombras dançando
contra as paredes de um penhasco. E então as imagens se foram, a sala
de estar da casa de Katie e a colônia de Leo e seu perfume ligeiramente
picante e de vampiro em seu lugar.

O vampiro piscou e quebrou o olhar, e me perguntei por um instante


se ele tinha visto as imagens dançantes. Ele colocou seu rosto ao longo
do meu braço e respirou lentamente, com a cabeça inclinada em seu
pescoço, os tendões se destacando. Ele havia amarrado seu adorável
cabelo para trás, uma fita de cetim preta enrolada em seu ombro como
uma mecha de cabelo. Eu queria tocá-lo e, para não estender a mão,
enrolei os dedos da minha mão boa até que as unhas pressionassem
dolorosamente minha palma. Coloquei a mão embaixo de mim, entre o
meu lado e a almofada do sofá.

— Fale-me sobre você, —ele murmurou, tom de aço. O sopro de


seu comando tocou minha ferida aberta. Foi um bálsamo para a dor
terrível. O zumbido diminuiu ligeiramente, uma dormência picante em
seu lugar. — Diga-me. —E o ruim é que eu queria. Eu realmente queria.
Esse cara era bom.

Para não revelar todos os meus segredos, murmurei: — Um cristão.


—Eu senti o choque atingi-lo, afrouxando as amarras que ele estava
tentando envolver em mim. Eu ri, um pouco de Besta no tom. — Eu
vou te dizer o que eu sou se você me contar como os vampiros surgiram.
— Impertinente, —ele murmurou. — Descarada. —Havia um calor
em seu olhar que não existia há um momento. — Atrevida, até. —Um
sorriso secreto tocou seus lábios, um sorriso que era quase, mas não
totalmente, humano. Sua cabeça seguiu o comprimento do meu braço
até o cotovelo enquanto ele respirava meu cheiro. E mais alto, perto do
meu pescoço. Tão perto.

Seu hálito exalou contra meu rosto, cheirando apimentado e um


pouco a amêndoas, uma combinação estranha que deveria ser
desagradável ou chocante, mas não era. O calor se acumulou na minha
barriga, em conflito com a dor. — Ousada, —disse ele, com a voz
baixando, — rude. —Eu ri, o som era mais Besta do que eu. Suas pupilas
se alargaram um pouco mais. — Mas você cheira tão bem, —ele
terminou.

Ele virou a cabeça, seu nariz cinzelado afiado como um machado


de pedra à luz do lampião atrás dele. Ele mordeu o lábio, uma gota de
sangue saiu, escorregando por seu queixo. Ele colocou sua boca
ensanguentada no meu braço. A dor diminuiu como uma onda afastada
da costa. Eu engasguei, a respiração sibilando pelos meus lábios como
se ele tivesse me beijado. Ele encontrou meus olhos e sorriu, sua boca se
curvando contra minha carne. Ele chupou suavemente meu braço,
lambeu a carne rasgada, sua língua lambendo, nosso sangue
misturando-se em minhas feridas. A dor desapareceu completamente e
estremeci com a perda, meus músculos relaxando.

A saliva do vampiro é realmente um analgésico, pensei. Eu relaxei contra


o sofá estofado. Minha barriga esquentou. Estremeceu. Suspirei, o som
irregular. Leo riu contra a minha pele, as vibrações da risada pulsando
em meu braço como sangue.

Ele se afastou uma fração de centímetro, seus lábios entreabertos,


revelando caninos longos e delgados, brancos como osso descorado. Ele
colocou os dentes no lábio inferior e mordeu novamente. O sangue
jorrou em sua boca. E ele mordeu meu pulso na veia danificada. Eu
engasguei e puxei meu braço para trás, mas ele segurou firme. Ele não
estava se alimentando do meu sangue. Ele estava forçando seu sangue
em mim.

O som dos tambores voltou. As sombras dançaram nas paredes de


pedra. Túnicas e leggings, tecido com franjas e contas e couro de veado,
vestidos de algodão balançando. Sálvia e absinto, alecrim e hortelã
encheram o ar. A fumaça da erva doce ondulou ao meu redor. As
sombras se fecharam, dançando. Dançando. Cedro e sálvia queimaram,
a fumaça aromática subindo como sonhos. Diáfana, tênue como seda
de borboleta, a fumaça me tocou. Tambores batem em minhas veias. A
noite me envolveu como a mão de Deus. E caí no sono. Um sono muito
profundo. Sonho e memória, ambos antigos, se juntaram, fundidos
como uma liga em um.

Lentamente, arrastei meus olhos abertos, minhas pálpebras lentas e

pesadas. Tambor ... tambor ... Eu levantei minha cabeça. As sombras

dançavam grotescas e monstruosas na pedra. Pedra por toda parte,

tremulando das chamas da fogueira.

Noite. A noite mais escura. Eu olhei para cima, procurando a lua, as

estrelas. E vi apenas a curva do mundo acima de mim, pedra sobre pedra,

derretendo como as velas do homem branco. Pedra acumulada, pingando,

derretendo.

Subterrâneo. As cavernas ... Cavernas? O pensamento, estranho aqui,

desapareceu.

O rosto de meu pai, meio iluminado por chamas, meio sombreado,

negro como a morte, pairou sobre mim. — Edoda, —sussurrei. Pai ... Seus

olhos eram amarelos, como os meus. Não o negro de O Povo, o chelokay,


um pensamento estranho sussurrou, mas os olhos amarelos de u'tlun'ta, o

skinwalker.

Edoda sorriu e eu respirei seu orgulho com a fumaça de ervas—severa,

mas cheia de risos. Uma velha apareceu ao lado dele no meio da noite, o

rosto marcado pela vida e pela idade. Sua pele puxava para baixo em

longas curvas e se esticava em linhas nítidas. E seus olhos—olhos amarelos

como os meus—eram vivos e cheios de ternura. — A s dig a, —ela

murmurou. Bebê ...

Respirei um novo perfume, esfumaçado, doce, sufocante. O tambor

ganhou profundidade e força. A batida alcançando meu sangue, minha

carne, fundindo meu batimento cardíaco com isso. Me levando.

— We sa, —meu pai sussurrou. Lince-pardo ...

Tempo passou. A batida do tambor suavizou. Edoda sentou-se perto,

sua carne quente no ar frio. A velha, mãe dele, u ni li si, avó de muitos

filhos, sentou-se ao lado dele, seus dedos batendo em um tambor de pele.


Os ecos das pontas dos dedos dela na pele bateram em mim, vibrando

profundamente. Tocando tendões, ossos e medula.

— A da nv do, —ela sussurrou. Grande espírito ...

— Siga o tambor, —Edoda disse.

Olhei para a parede da caverna, para as sombras dançando ali,

balançando de exaustão. A batida do tambor me encheu, lenta e sonora,

ecoando pela caverna.

O calor se instalou em mim. A pele me fez cócegas. Na parede de

sombras dançantes, eu me vi enquanto o gato descansava em mim, orelhas

pontudas, tufos ondulando. Pêlo roçou meus lados. Minhas pernas. We sa

... lince. Meu rosto. A sobreposição da cara do gato, acima da minha. Se

acomodando em mim, uma pele curada.

Um colar de garras, ossos, dentes ferozes—Edoda colocou-o sobre

minha cabeça e meus ombros. — Ponha a mão lá dentro, —murmurou

Edoda. — Respire por dentro. Em we sa, na cobra dentro de nós. —A cobra


na pele do gato ... A magia formigou ao longo dos meus lados, em meus

dedos enquanto eu deslizava para baixo, dentro da pele de lince. Sonhando.

Flutuando na escuridão.

Embriagada, drogada, pensou uma voz distante. Uma leve surpresa se

fundiu com a batida da bateria. Eu vi a cobra descansando abaixo da

superfície, encapsulada em cada célula do gato caçador. Em seus dentes e

ossos, nos pedaços secos de sua medula endurecida. Uma cobra, segurando

tudo o que era we sa. A consciência de onde o gato e eu diferíamos. Onde

éramos iguais. E como seria fácil mudar da minha forma para o lince. Tão

simples. Com a compreensão vieram o propósito e o desejo. Clareza. O

desejo de mudar para a cobra dentro de we sa. O desejo de se tornar um

lince.

Minha primeira besta. Minha primeira mudança. Eu deixei ir. Eu

derreti, como a pedra derreteu na caverna acima. Tomando a forma de um

lince. Dor irradiou para fora, como raios das rodas do homem branco. No

entanto, distante, presa no tambor e, portanto, não exatamente uma parte


de mim. As sombras na pedra se fundiram e brilharam, cinzas, escuras e

claras. Todas as cores desapareceram da noite. E eu era o lince-pardo.

O mundo estava mais cinza, mais opaco aos meus olhos. Mas quando

respirei pela primeira vez como we sa, os aromas explodiram dentro de

mim, fortemente texturizados e em camadas, mas distintos. Fumaça, suor,

dentes ruins, gordura de urso, uísque de homem branco, sangue, ervas. A

fome me puxou.

Inclinei minha cabeça e olhei para meu pai, minhas orelhas pontudas

e tufos de cabelo encaracolado movendo-se como sombras na pedra.

Edoda, ao meu lado, também havia mudado. A besta que ele escolheu era

tlvdatsi, pantera da montanha. Olhos assassinos encontraram os meus,

pupilas redondas em íris âmbar. As garras de retráteis flexionaram e

esticaram na terra. Eu me curvei, diminundo de medo.

Sob os cheiros de fogo, dançarinos e o gato, o cheiro de meu pai estava

quase perdido. Tudo. Não exatamente. Eu o inspirei, Edoda preso sob a pele

da mudança.
Meu pai estava lá, agarrado à humanidade enquanto olhava para o

mundo com os olhos da morte de predador. Ronronando, ele me cutucou,

forçando-me a ficar de pé, quatro pernas oferecendo melhor equilíbrio do

que duas. Eu o segui pela caverna não mais tão escura, na noite.

Aromas e sons eram voláteis, intensos, tão cheios de poder que

pareciam feridas de faca. O ar tocou minha pele, me dizendo tudo sobre o

mundo ao meu redor. A direção do vento. O teor de umidade no ar. A

proximidade de nuvens de tempestade. A estação do ano. A última chuva

ainda estava molhada na terra sob minhas patas acolchoadas. Ouvi passos

correndo de roedores, uma coruja em cima de uma árvore, duas galinhas

subindo o cume, mastigando. A coruja levantou asas. Pássaros noturnos

caçavam e gritavam. Cada sentido era poderoso e concentrado. Flexionei

minhas garras, versões menores das de Edoda, mas não menos perigosas

para minha própria presa.


Edoda, tlvdatsi, conduziu-me para um matagal de rododendros ,

troncos se contorcendo na terra nua, folhas formando um dossel mais

baixo do que a altura de um homem, ensinando-me a caçar. Eu o segui,

observando, cheirando, ouvindo, aprendendo a derrubar um coelho.

Minha própria presa ficou imóvel como uma pedra no mato. Até uma

corrida enlouquecida pelo medo. Eu pulei. Minhas garras afundaram

profundamente, os dentes rasgando sua nuca. Dei uma única sacudida na

pequena presa, quebrando sua espinha. Edoda me ensinando a matar e

comer. A sensação-sabor-cheiro de sangue e comida, o estalar de ossos e

carne quente.

A noite terminou com o sabor. Todo o cheiro foi embora. Deitei no


sofá da minha casa de brinde, os olhos fechados. Me lembrei. Eu sabia.
Eu sabia o que era, desde o início. Quando saí da floresta, não era a
menina de 12 anos que as autoridades brancas pensavam que eu era. Eu

Rhododendron é um gênero que arrola cerca de 1024 espécies de plantas lenhosas da família
Ericaceae, tanto perenes quanto decíduas. Ocorrem principalmente na Ásia, embora também estejam difundidas ao longo da região das
montanhas Apalaches, na América do Norte.
estava longe disso ... era muito mais velha. E eu havia passado muito
mais tempo na pele da Besta do que pensava.

Estremeci. Eu abri meus olhos. Para encontrar o olhar vampiresco


de um predador muito maior, caninos expostos, lábios repuxados em
um leve rosnado.

Apavorada. Em

vez disso, me estiquei e suspirei. Minha dor se foi. Flexionei meu punho,
inspecionei meu braço, observando o jogo de músculos inteiros sob a
pele imaculada. Eu puxei suavemente, sugerindo pela ação que Leo me
soltasse. Sem lutar contra ele, sem empurrá-lo e me soltar, nenhum dos
movimentos que uma presa poderia fazer. Eu sabia melhor do que lutar
para me livrar de um predador. Ataque ou finja de morto se quiser permanecer
vivo. As aulas de Edoda. Voltaram para mim. Um presente deste predador. Deste
assassino. Então, gentilmente, com calma, puxei meu braço livre de seu
aperto. E Leo Pellissier lentamente começou a se infiltrar em seus
próprios olhos.

Eu sorri para ele. E vi a surpresa nadar em seu olhar.

— Obrigada, —eu disse, sabendo que agradecia a ele mais pelo


retorno de uma memória do que pela cura. Estendi a mão lentamente
em direção a ele com meu braço curado, os dedos roçando a pele de seu
pescoço. Ele expirou com o toque. Enrolei a mecha de seu cabelo em
volta dos meus dedos, meus tendões restaurados, curados, o movimento
sem dor.

Quando seus olhos não eram humanos, mas não eram mais
totalmente vampiros, ele virou o rosto na minha palma e descansou sua
bochecha contra meus dedos, seu cabelo preto preso entre a mão e o
rosto. — O que você é? —Ele perguntou, admiração em sua voz.
Quando não respondi, ele sussurrou: — Seu sangue tem gosto de
carvalho e cedro e do vento de inverno. Tem um gosto selvagem, como
o mundo já foi. Venha para a minha cama, —ele respirou na minha
mão. — Esta noite.

Eu assisti, sabendo que ele estava usando sua voz de vampiro em


mim, mas não me importando muito. Não agora. Ele beijou minha
palma, seu cabelo ainda emaranhado em meus dedos, seus lábios frios,
mas macios. Seus olhos encontraram os meus, seu olhar forrado de
veludo, mas poderoso, como uma cela dourada. — Venha para a minha
cama.

— Não, —eu murmurei. — Não vai acontecer.

Lentamente, ele pegou meu pulso em sua mão gelada e me puxou


de seu cabelo, dobrando meu braço e envolvendo-o em meu corpo. Ele
pressionou minha mão ali, sua mão fria e morta no meu calor vivo. Seus
olhos procuraram os meus. — Diga-me que tipo de sobrenatural você é,
—ele perguntou. — Você não é metamorfo, eu acho. Você é algo que eu
nunca provei. Nunca ouvi falar.

Eu deixei um leve sorriso me invadir. — De novo, —eu disse,


sabendo que estava arriscando qualquer harmonia que existisse
atualmente entre o chefe do conselho vampiro e eu, — Vou compartilhar
meus segredos com você, se você me contar de onde os vampiros
vieram. Originalmente. O primeiro vampiro.

Ele pareceu considerar minha barganha. — Por que você deseja


saber isso? —Ele perguntou.

Eu me acomodei no sofá, sentindo-me descansada e letárgica e


vagamente feliz, como se eu tivesse engolido uma única cerveja gelada
em uma tarde quente. — Porque todos os sobrenaturais temem algo. De
acordo com a mitologia, os lobisomens, se ainda existem, temem a lua,
o planeta Vênus e a deusa Diana, a caçadora. Uma bruxa que conheço
tem medo de coisas sombrias que surgem à noite, demônios e espíritos
malignos e djinns inconstantes. E os vampiros temem a cruz, —eu
disse. — Não a Estrela de David , não os símbolos de Maomé , não a
visão de um feliz Bud dha , não importa quão forte seja a fé de um
crente ou quão certa seja sua devoção. Mas os símbolos do Cristianismo

Jinn [ʤin:] (em árabe: ّ‫جن‬,


ِ plural jinna, colectivo jān, adjetivo jinnī ‫)جني‬, traduzido como gênio (português brasileiro) ou
génio (português europeu) indica, uma vez que na mitologia árabe pré-islâmica e no Islã, um jinn (também "djinn" ou "djin") é um membro dos
jinni (or "djinni"), uma raça de criaturas sobrenaturais. A palavra "jinn" significa literalmente alguma coisa que tem uma conotação de
dissimulação, invisibilidade, isolamento e distanciamento. A palavra em português vem do latim genius, que significa uma espécie de espírito
guardião ou tutelar do qual se pensava serem designados para cada pessoa quando do seu nascimento. Portanto, o gênio é concebido como um
ente espiritual ou imaterial, muito próximo do ser humano, e que sobre ele exerce uma forte, cotidiana e decisiva influência. A palavra latina
tomou o lugar da palavra árabe, com a qual não está relacionada.

Estrela de Davi ou Estrela de David, conhecida também como escudo supremo de Davi é um símbolo em forma de estrela
formada por dois triângulos sobrepostos, iguais, tendo um a ponta para cima e outro para baixo, utilizado pelo judaísmo e por seus adeptos,
além de outras doutrinas como Santo Daime.

Selo de Maomé (em turco: Mühr-ü Saadet ou Mühr-ü Şerif; em árabe: ‫ )الرسول ختم‬também chamado de Carimbo de Maomé,
é um selo-círculo mantido no Palácio de Topkapı por Sultões Otomanos como parte da coleção Sagradas Relíquias. O selo é uma peça um tanto
retangular de ágata vermelha de cerca de 1 cm de comprimento, com as frases: ‫ هللا‬- Alá: "Deus" na primeira linha, e ‫ رسول محمد‬- Muhammad rasūl:
"Maomé, o mensageiro" na segunda linha.

Sidarta Gautama, é popularmente chamado simplesmente de Buda ou Buddha, foi um príncipe de uma região no sul do atual
Nepal que, tendo renunciado ao trono, se dedicou à busca da erradicação das causas do sofrimento humano e de todos os seres, e desta forma
encontrou um caminho até ao "despertar" ou "iluminação".

A cruz cristã é o mais conhecido símbolo religioso do cristianismo. É a representação do instrumento da crucificação
de Jesus Cristo, e está relacionada ao crucifixo (cruz que inclui uma representação do corpo de Jesus) e à família mais ampla dos símbolos em
forma de cruzes.
todos os vampiros temem, mesmo se usados por um descrente. Portanto,
não é a fé que dá poder aos símbolos. Os teólogos discordam sobre o
motivo. Então, vou trocar. Diga-me por que os vampiros temem tudo
sobre a Igreja.

— Nossa maldição é diferente da antiga maldição dos lobisomens,


e diferente da maldição dos élficos—e maldições são o que nos fez todos.
—A dor sombreava o rosto de Leo.

Elfos? Porcaria. Existem elfos? E ... weres . Suas palavras afirmavam que
os lobisomens eram reais.

— Não, —ele disse. Ele se levantou, fluido e sinuoso, mais gracioso


do que um dançarino. — Você pede demais. —Ele olhou ao redor da
sala. Endireitou os ombros como se carregassem um fardo. — George,
estou pronto para sair.

Pugilista levantou-se de uma cadeira à mesa, as pernas da cadeira


raspando no chão de madeira, e cruzou a sala. Sem olhar na minha
direção, ele ergueu e sacudiu um paletó, o forro de seda brilhando
suavemente enquanto ele o segurava. Leo Pellissier desenrolou as
mangas da camisa e vestiu o paletó. — Mande trazer o carro, —disse
ele.

Were – lobisomens
George abriu um celular e apertou um botão. Um momento depois,
ele disse: — Carro, —e fechou o telefone. Sucinto, era nosso Pugilista.

Leo olhou para mim de toda a sua altura enquanto eu estava deitada
no sofá, despreocupada com a disparidade em nossas posições, sabendo,
sem entender por que, que eu estava segura, embora meu baixo ventre
estivesse exposto à sua posição dominante, suas garras e dentes. Os
olhos de Leo queimaram dentro de mim, sem mudança, de aparência
humana, mas ainda fortes, penetrantes, como se ele fosse cortar as
camadas da minha alma e descobrir os segredos no meu coração.

Ele disse: — Eu ouvi tambores. Senti cheiro de fumaça. E foi isso ...
Leão da Montanha? Sentado ao seu lado? Mas não te matou. —Em um
aparente non sequitur , ele disse: — Eles dizem que você foi criada por
lobos.

Eu deixei um sorriso encher meus olhos. — Nada de lobos.

Sua cabeça se inclinou ligeiramente para o lado enquanto ele me


estudava. Enquanto ele considerava o que quer que ele tivesse captado
da minha memória. — O gato. Não era você.

Non sequitur é uma expressão em língua latina (traduzida para português como "não se segue") que designa a falácia lógica na qual a
conclusão não decorre das premissas. Em um non sequitur, a conclusão pode ser verdadeira ou falsa, mas o argumento é falacioso porque há
falta de conexão entre a premissa inicial e a conclusão. Existem diversas variações de non sequitur, e outras falácias lógicas se originam dele, tais
como a afirmação do consequente e a negação do antecedente.
Ele estava chegando perto. Besta se mexeu, inquieta. Eu deixei meu
sorriso aumentar, como se eu achasse sua declaração ainda mais
engraçada do que as notícias de que fui criada por lobos. — Não, — eu
disse. — Não era eu. —Esse era meu pai. Era uma memória do meu próprio
passado perdido. E isso, esse vampiro, devolveu. — Obrigada, —eu disse
novamente, sem oferecer nenhum esclarecimento.

— A cura é uma responsabilidade dos mais velhos entre nós. UM


... —Ele fez uma pausa, seu olhar se voltando para dentro, distante,
como se ainda estivesse preso em minhas memórias. Ou suas próprias?
Ele pareceu se sacudir mentalmente e olhou para mim, seus olhos negros
levemente zombeteiros. — Um dever para com aqueles que nos servem.

— Eu trabalho para você, —eu disse, me sentindo um pouco


presunçosa, — por um preço. —Relaxei meus cotovelos sob mim e
levantei meu corpo em um ângulo meio reclinado e meio sentado. —
Eu não sou seu servo. Na verdade, porque você está me pagando para
fazer algo que eu quero fazer de qualquer maneira, parece que você é
mais um servo do que eu.

Leo riu, humor verdadeiro enrugando a pele de seus olhos. —


Atrevida. Grosseira.

Eu reconheci as acusações com um assentir.


— Nesse caso, —ele disse, — fico feliz em obedecer. —Ele me
estudou por mais um momento. — Eu gostaria que você comparecesse
a uma festa amanhã à noite. —Ele ergueu a mão com o escárnio e a
negação que jorraram de dentro de mim. — A maioria dos vampiros na
cidade estará lá. Será uma rara oportunidade para você ver todos em um
só lugar. Raramente nos reunimos em um número tão grande.

Observei seu rosto e, se ele tivesse segundas intenções ao fazer o


convite, não consegui identificá-las. — Eu tenho exatamente um
vestidinho preto. Um.

— Tenho certeza de que vai ficar tudo bem, —ele disse sem
expressão. — Use seu cabelo solto. Ninguém vai notar o vestido.

Eu ri, gaguejando de surpresa.

— George irá buscá-la à meia-noite. —Ele olhou para seu guarda-


costas e servo de sangue. — Estamos atrasados. Eu ouço o carro.

George assentiu e foi até a porta da frente. Eu ouvi o clique da


fechadura e a porta se abriu com dobradiças bem lubrificadas. E Leo
Pellissier e seu capanga saíram, deixando para trás o cheiro de pimenta
e amêndoas, erva-doce e papiro, tinta feita de folhas e bagas, e o cheiro
quente de seu sangue e o meu entrelaçados.
Ainda havia tempo para mudar e deixar Besta vagar pela noite, mas
pela primeira vez, o animal em minha alma estava silencioso,
quiescente. Deitei no sofá da casa silenciosa, meio cochilando, por um
momento que raramente me permitia relaxar. Perto das seis da manhã,
encontrei energia para me puxar do sofá e ir para o quarto. Eu tirei e
molhei minhas roupas de festa em algumas tampas de Woolite
enquanto tomava banho, deixando a água quente levar os cheiros e o
sangue de mim.

Eu estava passando muito tempo no chuveiro nesses dias, mas tinha


que lavar meu cabelo para tirar o sangue de vampiro, penteando o
comprimento antes de trançá-lo em uma única trança francesa. Quando
eu estava limpa, parcialmente preparada para ir à igreja em algumas
horas, ainda estranhamente relaxada, me envolvi no robe e verifiquei a
roupa nova. Surpreendentemente, todo o sangue do vampiro e o meu
saíram. Satisfeita por não ter jogado fora um bom dinheiro, deixei as
roupas penduradas, pingando no box do chuveiro e me arrastei para a
cama. Fiquei ali, ouvindo o eco do tilintar da água, estudando meu
braço curado enquanto meu corpo relaxava no colchão.

Woolite é uma marca de detergente para a roupa; o fabricante é propriedade da multinacional anglo-holandesa Reckitt
Benckiser. A empresa adquiriu a marca Woolite quando comprou a Boyle-Midway da American Home Products / Wyeth em 1990. A empresa
fabrica acessórios para lavanderia, entre outros bens de consumo.
Leo Pellissier me curou com sangue de vampiro e saliva. Muito
nojento em alguns aspectos. Em outros ...? Uma das razões pelas quais
aceitei este trabalho, além do fato de que os trabalhos de caça a vampiros
sancionados pelo conselho eram poucos e distantes entre si, era metade
esperança, metade medo de que um dos vampiros mais velhos pudesse
reconhecer meu cheiro e me dizer que eles tinham encontrado minha
espécie antes. Leo, que devia ter séculos de idade—mais velho do que
Katie, se a hierarquia vampírica fazia algum sentido de idade
dominante—não tinha ideia do que eu era. Pelo que eu poderia dizer,
ele não sabia que existiam skinwalkers. Mas lobisomens e elfos ... Ele
indicou que ambos eram reais, existindo em algum lugar.

Eu puxei as cobertas sobre mim enquanto o ar condicionado ligava


com um zumbido baixo, soprando ar frio para dentro da casa. Os lençóis
eram mais macios do que os que eu possuía. Provavelmente algodão
egípcio de muitos fios ou algo assim. Eu geralmente dormia em poliéster
puxado sobre um colchão velho e irregular, mas eu poderia me
acostumar com isso. Eu fechei o punho novamente, sentindo a tensão
do tendão e do músculo. A carne curada sobre o ferimento estava pálida
e rosada contra minha pele acobreada. A jovem desonesta havia deixado
cortes em torno da ferida, em volta do meu braço, como os dentes de
uma pulseira. Era uma ferida que qualquer animal selvagem com presas
poderia ter deixado. Não muito diferente de que Besta poderia ter
deixado no braço de alguém que ela atacou.

Besta se mexeu. Não é um vampiro. Ela cuspiu o pensamento,


repelida da mesma forma que teria sentido o gosto de carne podre. Eu
e você. Nós. Mais que skinwalker, mais que u'tlun'ta. Nós somos
Besta. Ela ficou em silêncio, pensativa. Sem ter certeza do que Besta
quis dizer sobre sermos mais que um skinwalker—e Besta não estar com
humor para esclarecer—eu apaguei a luz da cabeceira e coloquei meu
braço sob as cobertas.

Deitada na cama, deixei minha mente vagar pelo que eu sabia sobre
mim mesma, ou o que adivinhei sobre mim mesma, o que Aggie havia
me contado, o que Leo havia revelado e o que eu descobri online,
deixando meus pensamentos vagarem, sabendo que, uma vez que fatos
desconexos, aparentemente não relacionados, muitas vezes estão
conectados. O mais importante? Eu sorri no escuro por finalmente
lembrar, por finalmente saber, que eu era definitivamente Cherokee. Eu
era de uma linhagem de skinwalkers, com um pai e uma avó que tinham
olhos como os meus. A memória provou que nem todos os skinwalkers
eram maus, apesar das lendas e histórias.
Na tradição indígena ocidental americana, principalmente Hopi e
Navajo , o skinwalker praticava a arte da maldição, atraído para o
estudo obscuro das artes das trevas para controlar e destruir. O
praticante skinwalker pode ter iniciado seus estudos com o intuito de
fazer o bem, mas sempre cedia ao desejo de tirar a pele de um humano,
talvez para obter um corpo mais jovem. Ele se tornava um assassino e
enlouquecia. Esse walker era descrito como uma bruxa negra.

Na tradição indígena do Sudeste, principalmente Cherokee, o


skinwalker se originou como um protetor de O Povo. Mas nas histórias
mais modernas, talvez depois que o homem branco veio, os mitos dos
skinwalker mudaram, e o skinwalker se tornou o comedor de fígado, a
versão maligna do skinwalker, como Luke Skywalker indo para o lado
negro. Mas a coisa que eu tinha visto no beco cheirava a vampiro, um
vampiro sob o odor de podridão. Não skinwalker.

Os hopis são uma nação indígena dos Estados Unidos da América, que vivem principalmente na Reserva Hopi, no
nordeste do estado de Arizona, com 1,5 milhões de acres, e que está rodeada pela Reserva Navajo. Alguns hopis vivem na reserva indígena do
rio Colorado, no oeste do Arizona.

Os navajos são um povo indígena da América do Norte, da família linguística Athapaskan e da área cultural Sudoeste.
Originalmente, imigraram das áreas do norte e durante o século XVI tornaram-se um povo pastor e caçador. O povo vive numa reserva no
nordeste do Arizona e continua em partes do Novo México e Utah.

Luke Skywalker é o protagonista da trilogia original da série Star Wars, faz participação em Star Wars: O Despertar
da Força em Star Wars: Os Últimos Jedi. É interpretado pelo ator norte-americano Mark Hamill.
E quanto a mim ... Eu sou um skinwalker. Eu tinha vivido por muito
tempo, décadas a mais do que a vida de uma pantera normal ou de um
humano normal. Eu tinha mudado para a forma de um gato quando
criança, em algum momento da minha vida, provavelmente um ponto
de grande perigo, e eu não tinha voltado, exceto para encontrar a forma
humana e regenerar. Isso é o que os skinwalkers faziam. Nós
regeneramos de volta à nossa idade lembrada cada vez que mudamos,
dando a nós mesmos uma vida mais longa. Leo me devolveu muitas
lembranças dos tempos esquecidos.

A sombra de um arbusto do lado de fora da janela moveu-se na


parede oposta quando um vento úmido soprou. Ao longe, ouvi a queda
de gotas de chuva cada vez mais forte, mais rápido à medida que se
aproximavam, empurradas por ventos de tempestade. Galhos varreram
as telas das janelas com um som de scritch, scritch. O trovão retumbou.

Sob as cobertas, eu abri e apertei meu punho novamente.


Liberando. Um pensamento sonolento me ocorreu à beira do sono. Por
que Leo se referiu aos homens desta noite como “dele” assim como “me
custou o uso temporário de um homem bom ...?”. Com a chuva caindo
torrencialmente, atingindo a rua, o telhado e as janelas com uma força
furiosa, adormeci.
Acordei com um céu azul e ruas molhadas pela chuva, sinos
tocando à distância. Meio adormecida, rolei da cama. Ocorreu-me que
eu tinha matado um jovem vampiro desonesto e distribuído a
recompensa. Eu estava louca.

Enquanto uma chaleira chiava no fogão, eu vesti jeans e minha


melhor camiseta, calcei minhas botas e enrolei a saia não usada na
mochila de viagem da Besta, esperando que ela não amassasse muito.
Bebi um bule de chá e comi mingau de aveia enquanto lia o jornal New
Orleans Times-Picayune . Nome estranho para um jornal em qualquer
lugar, menos aqui. Aqui era perfeito.

As manchetes anunciavam que um político local havia sido flagrado


saindo de um hotel com um travesti. O prefeito e sua esposa posaram
para fotos com o governador e sua esposa. Os Obama participaram de
um evento na França . Músicos de Nova Orleans estavam levantando

The Times-Picayune é um jornal diário publicado em Nova Orleães, Luisiana, Estados Unidos. Seu nome, que é amplamente
reconhecida entre os jornalistas em todo o país, é um ícone da vida em Nova Orleães e seus arredores. Recebeu o Prémio Pulitzer de Serviço
Público em 1997 e 2006.

Os Obama ‘Michelle e Barack Obama’. Barack Hussein Obama II é um advogado e político norte-americano que serviu como
o 44.º presidente dos Estados Unidos de 2009 a 2017, sendo o primeiro afro-americano a ocupar o cargo.

A França, na Europa Ocidental, tem cidades medievais, aldeias alpinas e praias mediterrâneas. Paris, sua capital,
é famosa pelas casas de alta costura, museus de arte clássica, como o Louvre, e monumentos como a Torre Eiffel. O país também é conhecido
pelos vinhos e pela cozinha sofisticada. Antigos desenhos da caverna de Lascaux, o Teatro Romano de Lyon e o amplo Palácio de Versalhes
atestam a sua rica história.
dinheiro para reconstruir mais casas destruídas pelo Katrina. O tempo
nos próximos dias ia ser quente, mais quente e mais quente. E úmido.
Grande surpresa aí—não. As mortes de vampiros não foram notícia.
Situação triste quando nada do que acontece no bairro vira notícia. Ou
talvez Leo tenha encoberto a história. Quem sabia.

Às dez e meia, coloquei o capacete, saí de casa e dei a partida na


motocicleta para um passeio matinal pela cidade. Eu não era católica,
então não iria assistir a missa na grande catedral do Quarter. Eu nunca
me encaixei em uma igreja grande e chique. Mas a pequena igreja ao
lado da loja de vestidos parecia promissora.

Estacionei a motocicleta à sombra de uma árvore florida, seus


galhos arqueando e abaixando para fornecer sombra. Enfiei minha
jaqueta de couro em um alforje, vesti a saia por cima do jeans e os tirei.
Enrolando-os, coloquei-os ao lado da jaqueta e tirei minha Bíblia gasta,
que não tinha saído desde que cheguei a Nova Orleans. A culpa picou
em mim, mas eu a esmaguei.

Embora as botas parecessem um pouco estranhas com a saia no


reflexo das vitrines da loja, a saia não tinha enrugado e era melhor do
que jeans. Algumas igrejas eram exigentes quanto ao guarda-roupa de
sua congregação. Não tinha intenção de ofender, mesmo não gostando
do serviço o suficiente para voltar.
A congregação estava cantando quando eu entrei, atrasada, e me
sentei na última fila. Não havia instrumentos musicais, o que era
estranho, mas a congregação cantava hinos que eu conhecia em
harmonia de quatro partes e, com exceção de duas vozes altas e
desafinadas, era bonito. Antes do sermão, eles serviram a Ceia do
Senhor, que eu não tinha há algum tempo.

Eu estava deixando o biscoito amolecer na minha boca, quando


algo pareceu esquentar no fundo da minha mente, e eu vi um vislumbre
do rosto de Leo Pellissier em minha memória. Mas o pensamento, seja
lá o que for, foi embora mais rápido do que eu poderia agarrar.

O sermão foi sobre a doutrina da igreja, não exatamente um sermão


que empolgue a turba, comovente ou sobre o inferno e a condenação,
nada para fazer fluir os sucos espirituais. Mas nada mal. E as pessoas
foram legais, a maioria me encontrando depois do sermão e se
apresentando em uma mistura confusa de rostos, nomes e cheiros. O
padre era um homem sério que poderia passar por doze anos, com uma
tentativa desgrenhada de um bigode, mas provavelmente era mais velho.
Tinha que ser. Estava tudo bem. Eu poderia voltar na próxima semana.
Se eu ainda estivesse aqui.

Havia um banheiro feminino na entrada da frente, onde vesti a calça


jeans novamente. Eu esperava que os frequentadores da igreja olhassem
de soslaio quando eu saísse com roupas de motoqueiro, mas eles apenas
sorriram mais, se isso fosse possível, mostrando os dentes para provar
que me queriam de volta. Não importa que tipo de gangue de
motociclistas idiota eu poderia estar.

No estacionamento, conversei sobre minha motocicleta com alguns


adolescentes e um senhor mais velho que veio se certificar de que eu não
estava vendendo crack para as crianças. Bitsa é uma gracinha e os
meninos ficaram em transe. Por falar nisso, o senhor também, embora
tentasse agir com toda a severidade. Quando chamei a atenção de um
pai impaciente, enxotei os meninos e me preparei. Acenando na direção
geral dos frequentadores da igreja restantes, entrei no tráfego.

No pacote de papéis que veio com meu contrato estavam os


endereços de cada um dos mestres de sangue do clã. Não seus lugares
escondidos para dormir, não seus covis, mas seus endereços públicos
onde se divertiam, para onde sua correspondência era enviada e seus
reembolsos de IRS e suas contas, embora me trouxesse um sorriso ao
imaginar um vampiro abrindo um reembolso de IRS ou uma fatura do
Visa.

Eu queria dirigir por tantos quanto eu pudesse. Farejar suas tocas,


em pensamento de Besta. Quatro mestres de sangue viviam no Garden
District: Mearkanis, Arceneau, Rousseau e Desmarais. Os outros mestres
estavam mais distantes, com Leo vivendo o mais longe. St. Martin,
Laurent e Bouvier estavam em algum lugar no meio. A parte “saint” de
St. Martin foi uma surpresa, mas então, o que eu sabia sobre vampiros
civilizados era, bem, nada, até agora. Eu estava aprendendo coisas nas
quais nunca teria acreditado apenas um mês antes. Vamps civilizados
eram uma ordem de negócios totalmente diferente dos desonestos.

Desci a St. Charles Avenue e entrei no Garden District na Third


Street. Subi e desci os quarteirões, localizando as casas, parando para
estacionar a motocicleta e descer a rua na frente e atrás de cada casa,
farejando por desonestos, tentando não ser muito óbvia.

A segurança vampírica era boa. Eu estava passando pela terceira


casa da minha lista, o endereço do mestre de sangue do clã Arceneau,
procurando um lugar para estacionar a motocicleta para um passeio,
quando um segurança saiu. Ele era magro, tinha cintura estreita e
ombros largos, e não fez nenhuma tentativa de esconder o megagun
no coldre que carregava. Ele usava calça cáqui, uma camiseta vermelha
e uma atitude dura que parecia militar, junto com óculos de sol
envolventes, que pareciam muito estúpidos nas sombras.

Sua grande arma


Eu pensei, que diabos, eu poderia muito bem empurrar os limites.
Direcionei Bitsa através do portão de ferro forjado aberto, com quase
dois metros de altura, pintado de preto, as barras retorcidas em um
padrão de flor de lis e ponta de pique no topo, e freiei no para-choque
traseiro de um Lexus preto estacionado na estrada estreita. Eu
desliguei o motor. Chutei o suporte e desamontei. O guarda me
observou o tempo todo, saindo para a varanda, as mãos ao lado do
corpo, pronto para puxar a arma grande e feia se fosse necessário.

Besta acordou com a possível ameaça e pensou em mim, Arma no


coldre, como garras embainhadas. Não é páreo para nós. E, outro
na porta. Eu ouvi passos e sabia que um segundo guarda tinha vindo à
porta como reforço. Se houvesse apenas dois guardas, isso deixaria o
resto da casa vulnerável.

Sorri para Big-Gun, sentindo os cheiros do quintal. Fertilizantes


químicos, vestígios de urina e fezes de cachorro barulhento e gato
doméstico, herbicida, esterco de vaca seco, escapamento, pneus de
borracha, chuva, óleo nas ruas. Big-Gun não sorriu de volta, mas ele
deve ter decidido que eu era inofensiva porque colocou as duas mãos em
sua cintura. — Perdida? —Ele perguntou. Ele parecia quase amigável.

Lexux preto
Mas acho que você pode soar amigável quando está carregando um
pequeno canhão debaixo do braço.

— Não. Estou procurando o Clã Arceneau.

Mais rápido que um raio, ele sacou sua arma. Ele claramente tinha
bebido sangue de vampiro, para ser tão rápido. Besta ficou tensa. Fiquei
olhando para o cano do canhão. — Eu sou Jane Yellowrock, o talento
contratado procurando pelo vampiro desonesto. Você tem um minuto?
Para uma visita agradável e amigável?

— Depende. Você tem identidade? —Quando eu assenti, ele disse:


— Bem lento. Dois dedos. Abra o zíper da jaqueta. Quando eu estiver
satisfeito, tire a jaqueta e gire. Então você pode puxar um ID.

Com dois dedos, abaixei o zíper da jaqueta, estendi um lado e


depois o outro, mostrando que não estava usando coldre. Com seu
aceno de cabeça, tirei a jaqueta e a coloquei sobre o assento de couro.
Estendendo os braços, girei lentamente, de olho na arma. Eu tinha
certeza de que Besta poderia se mover mais rápido do que ele poderia
atirar, mas não era algo que eu queria testar.

Eu parei quando olhei para frente novamente e coloquei meu sorriso


de volta no lugar. Estando na mira da arma, ele escorregou. — ID? —
Eu perguntei. Ele assentiu. Ainda usando dois dedos, levantei a jaqueta
e revelei os bolsos internos. Apontei para um e deslizei meus dedos
dentro e para fora, a identificação entre eles. Com o seu gesto, eu virei
para o caminho de concreto e recuei. Ele a estudou com o segurança de
quase um metro e oitenta de altura antes de voltar para a casa.

— Traga a jaqueta. Você será revistada na porta. Completamente.


—Ele sorriu. Ele também iria gostar. Eu poderia aceitar um pouco de
tatear ou poderia ir embora. Não muito na forma de outras escolhas.
Mas ... esta era uma chance de ver o interior.

— Eu posso viver com uma busca, —eu disse, tirando meus óculos
de sol para que ele pudesse ver meus olhos. — Mas se for tatear, vou
estourar suas bolas. —Besta cresceu em mim como um fantasma. Big-
Gun começou a rir, mas desapareceu rápido, seus olhos me observando
como se eu fosse uma bomba prestes a explodir.

— Sim. Convidados na casa, —ele disse. O que não fazia sentido


para mim, mas parecia significar algo para ele. E então eu vi seu fone de
ouvido. Os caras estavam conectados ao sistema.

Big-Gun parecia um cara instintivo, do tipo que ouvia seu instinto,


o seguia, e seu instinto dizia que eu era um problema. Mas seus olhos
não puderam ver muito motivo para a reação, exceto pelo olhar da Besta
que eu lancei para ele. Desconfortável, ele manteve os olhos em mim,
como se achasse que eu fosse atacar sem avisar.
Para acalmá-lo, sorri docemente para mostrar que era apenas uma
coisinha pequena, feminina e fraca. Ele não estava acreditando. Eu
sempre me perguntei como a Besta parecia para os outros. Eu tentei ver
o efeito estudando a mim mesma em um espelho, mas simplesmente
não parecia grande coisa para mim.

Besta bufou com o pensamento. Parece a morte. Garras grandes.


Dentes grandes.

Big-Gun acenou para que eu entrasse. Peguei a jaqueta, ainda com


dois dedos, e fui em frente. Lá dentro estava outro cara, que pegou
minha jaqueta, indicou que eu deveria ficar contra a parede para a busca,
e que parecia o Big-Gun. Exatamente como Big-Gun, exceto que ele
estava vestindo uma camiseta azul marinho. — Gêmeos? —Eu
perguntei, colocando as palmas das mãos na parede enquanto tentava
ver por cima do ombro. Ambos tiraram os óculos e sorriram enquanto
eu ia e voltava para comparar. — Huh, —eu disse.

Big-Gun-Camisa-Vermelha fez uma busca profissional, sem tatear,


enquanto Big-Gun-Camisa-Azul vasculhou os bolsos da minha jaqueta.
Eu apenas sorri quando suas sobrancelhas se ergueram para algumas das
coisas que ele encontrou, anunciando-as em voz alta para o sistema da
casa. — Quatro cruzes. Pequeno Novo Testamento. Chaves, sete delas,
duas que parecem chaves de armário, uma chave de cofre. Três chaves
de casa, uma chave de portão, tudo em um chaveiro do horóscopo de
Leo. Uma pequena faca dobrável com cabo de pérola e lâmina prateada.
Torniquete de velcro . —Ele me enviou um olhar interessado. —
Torniquete? —Ele disse novamente.

Dei de ombros. — O que posso dizer? Esteja preparado. —Eu citei


um lema dos escoteiros.

— Lanterna pequena, —ele continuou. — O que parece um dente.


Pulseira de prata.

— Ei, —eu disse, encantada. — Eu pensei que tinha perdido isso.


Me dá. —Quando ele colocou a pulseira de prata ornamentada em
minha mão, eu a deslizei em meu braço e admirei o brilho. Os gêmeos
reviraram os olhos com a reação feminina, mas teve o efeito de acalmar
Big-Gun-Camisa-Vermelha de seu estado de prontidão induzido pela
Besta. — Dente. —Eu estendi a mesma mão. Era um dente da mesma
pantera que formava meu colar de fetiche, carregado para mudanças de
emergência, quando eu não tinha tempo de fazer da maneira mais fácil,
com meditação, em um jardim de pedras marcado com pepitas de ouro.
Ele colocou na minha mão e eu enfiei no bolso da calça jeans. — Então.
Podemos conversar?

Torniquete
— Claro. Brandon, —Big-Gun-Vermelho disse, apontando para o
próprio peito. — O feio é o Brian. —Ambos riram como de uma velha
piada. — Os aposentos dos funcionários são por aqui.

Brian atrás de mim, Brandon me conduziu pela casa de três andares,


que era maior e mais profunda do que eu teria imaginado de fora. Com
cerca de catorze metros de largura e o dobro do comprimento, a casa
ocupava a maior parte do pequeno terreno, com cozinha e aposentos
adicionais para funcionários na parte de trás do andar de baixo. O que
foi bom, porque a caminhada pelo corredor central me permitiu ver o
layout.

Havia uma ampla escadaria no saguão, levando para a escuridão,


acarpetada com um tapete oriental em tons de azul, cinza e preto. A sala
de jantar e a sala de estar ficavam em lados opostos do saguão, com
mesas e cadeiras de cerejeira esculpidas à mão e muita porcelana
aparecendo através das portas de vidro dos armários embutidos em uma
sala, e móveis estofados antigos, estátuas e objetos de arte no outro.
Nossos pés não faziam barulho no chão acarpetado do corredor.
Pinturas com molduras douradas penduradas na parede direita no
amplo corredor, e um mural enfeitava a esquerda.

Algumas portas foram fechadas de cada lado. Pelo cheiro de café e


chá, identifiquei uma despensa de mordomo que separava a sala de
jantar da cozinha ampliada. Tive um vislumbre de uma sala de música
antiquada atrás da sala e senti o cheiro de mofo que era peculiar aos
livros antigos na sala atrás dela. Mas os quartos à esquerda na parte de
trás da casa eram para os empregados, incluindo os seguranças. Brandon
abriu cada um quando passamos.

Havia seis beliches em um cômodo, cinco bem feitos, um com um


corpo sob as cobertas, roncando. Senti o cheiro de sangue nele, mas
como ele ainda estava respirando, imaginei que ele era um escravo de
sangue humano do clã e não disse nada. Eu não precisava gostar, mas
não estava aqui para resgatar drogados.

Os armários ficavam em uma parede da sala de beliche, uma


lavanderia na outra. Um banheiro unissex ficava de um lado do
corredor, um grande armário de armazenamento do outro lado e um
minúsculo cubículo marcado SEGURANÇA. Dentro havia um console
de segurança com seis monitores, cada um girando para frente e para
trás com diferentes ângulos de câmera, visualizando a casa e o terreno
de várias posições. Um mostrava a rua. Eles me viram chegando. Eles
sorriram para mim e eu sorri de volta. — Boa configuração.

— Funciona, —disse Brian. — Além disso, tínhamos ouvido das


equipes de segurança de Rousseau e Desmarais que uma motociclista
estava no distrito. Nós conversamos. —Eu balancei a cabeça,
impressionada. — Quer um chá doce? —Ele perguntou, indicando uma
sala de descanso com minicozinha, mesa, cadeiras, sofás, poltronas
reclináveis e TV.

— Isso seria ótimo, —eu disse, meus melhores modos vindos do lar
de crianças. Sentei-me à mesa enquanto ele pegava os copos e servia o
chá, e Brandon voltou para o console de segurança, o copo na mão. Ele
estava perto o suficiente para participar da conversa, bebericando, sua
cadeira inclinada, um olho nas telas, outro em mim. — Se importa com
algumas perguntas? —Eu perguntei, tentando ser feminina e inocente,
mas não enganando nenhuma dos gêmeos, mesmo depois do incidente
com a pulseira de prata.

— Contanto que não sejam sobre as precauções de segurança ou


sistemas dos clãs, você pode perguntar o que quiser, —disse Brian. Os
irmãos tinham vozes suaves com um forte sotaque do Deep South , que
eu tinha ouvido apenas na Louisiana, falado como se eles falassem com
a boca cheia de doce praliné derretendo.

Dá-se o nome Deep South à região cultural e geográfica dos Estados Unidos composta por
estados no sudeste do país. Há contudo várias definições, entre as quais: Carolina do Sul, Mississippi, Flórida, Alabama, Geórgia e Luisiana Geórgia,
Flórida, Alabama, Mississippi e Luisiana
— Pergunte, —disse Brandon.

Então eu fiz. Bebemos chá doce frio, que tinha um gosto fresco, feito
de chá solto de boa qualidade, não o pó de chá chamado fannings em
saquinhos de chá de supermercado. Eu perguntei sobre quaisquer
mudanças recentes em qualquer vampiro que eles conheciam—
mudanças na alimentação, mudanças no habitat, mudanças no cheiro.
Os gêmeos eram parte integrante da comunidade de segurança
vampírica, que, eu descobri, era um negócio crescente e lucrativo em
cidades com um mestre de sangue da cidade e vampiros que estavam
fora do armário. Nem todos eles estavam, mesmo agora com a melhoria
das relações entre humanos e vampiros.

Eles ofereceram informações sobre relações sociais, quais clãs


estavam brigando, quais vampiros estavam entrando e saindo de
assuntos do coração, quais clãs e vampiros individuais estavam tendo
problemas financeiros, ou jogando, ou construindo muitos
relacionamentos com servos de sangue, ou poucos, seus hábitos, tempos
de alimentação e os sistemas emergentes de doadores humanos que
permitiam aos vampiros se alimentar sem formar relações de sangue.
Essa nova mudança os incomodou mais.

Eu os estudei enquanto conversávamos, e minha impressão de suas


origens militares foi reforçada. Esses caras eram espertos e algo sugeria
que eles eram mais velhos do que pareciam. Mais como militares da
Guerra do Vietnã. Ou talvez até da Segunda Guerra Mundial. Estava
claro por seus movimentos físicos cuidadosamente controlados que eles
se alimentavam de sangue de vampiro com freqüência suficiente para
serem rápidos. Não tão rápidos como vampiros, talvez nem mesmo
rápido como a Besta, mas mais rápido que qualquer humano normal.

Eu queria perguntar sobre isso, mas parecia rude. Tipo: “Então, me


diga. Com que frequência você chupa vamps?”. Não havia como
perguntar diretamente e ainda ser educada, então perguntei: — Esses
sistemas de doadores humanos. Quem os configura?

Enquanto Brian servia mais chá, Brandon disse: — Não sabemos.


É uma coisa da Internet, como um site de garota de programa, mas para
doadores de sangue. Sangue por dinheiro. Se um vampiro precisa de
sangue por uma noite, ele pode enviar uma mensagem ao site com
informações de contato, cidade, telefone celular, cartão de crédito e
restaurante ou hotel onde deseja se encontrar. Eles estão em quatro
cidades nos Estados Unidos: New Orleans, New York, San Francisco e LA.
Mas está se espalhando. Ouvimos dizer que uma nova filial está sendo
aberta em Nashville .

— Estamos tentando descobrir quem está por trás disso, —disse


Brian. — Infelizmente, não há nada de ilegal no sangue por dinheiro.
Winos vendem plasma há décadas. E é ótimo para vampiros que querem
um lanche ocasional seguro de carne fresca, mas como um estilo de vida
permanente não é bom para a comunidade vamp.

— Por que isso?

— Porque as relações de escravo de sangue e servo de sangue são


especiais. Eles dão estabilidade aos vampiros, —disse Brian. —
Segurança emocional, bem como pessoal e do clã.

Brandon se levantou e puxou sua cadeira para que pudesse se


reposicionar e ainda ver as telas e eu. Ele montou na cadeira,
descansando os braços nas costas. Quando ele falou de novo, era a voz
que um sargento poderia usar instruindo soldados ou grunhidos, um
discurso curto e bem pensado, quase ensaiado. De repente, tive que me
perguntar se os irmãos estavam esperando por mim, para me dizer isso.

Nashville é a capital do estado do Tennessee, nos EUA, e é onde fica a Universidade Vanderbilt. Um
dos principais espaços de eventos da lendária música country é a Grand Ole Opry House, casa do famoso programa de rádio e palco "Grand Ole
Opry". O Country Music Hall of Fame and Museum e o histórico Ryman Auditorium ficam no centro da cidade, assim como o Distrito, com bares
"honky-tonk" com música ao vivo e o Johnny Cash Museum, que celebra a vida do cantor.
Já que qualquer informação confiável sobre vampiros era difícil de
conseguir, eu tinha que me perguntar por quê.

— Vampiros, —ele disse, — são voláteis na melhor das hipóteses.


Quanto mais jovens são, mais tensos, temperamentais, impulsivos,
imprevisíveis e caprichosos que são. Quase erráticos.

— E violentos, —eu disse. — Não vamos esquecer de violentos.

Ele continuou como se eu não tivesse falado. — Eles precisam de


servos humanos bons, firmes e fortes para fornecer equilíbrio emocional
e um suprimento pronto de sangue limpo e seguro. Servos que não se
irritam facilmente para ajudá-los a navegar nos sistemas humanos
jurídicos, financeiros e sociais. É por isso que as relações de escravos de
sangue e servos de sangue foram colocadas na Carta Vampira. Você sabe
disso?

Eu concordei. Troll havia mencionado isso.

— De acordo com o mais velho de nós—Correen, que vive aqui


com o Clã Arceneau—sem esta estabilidade, os vampiros se tornam
rebeldes mais rápido. Eles precisam de um vínculo forte e duradouro
que ocorre com o relacionamento entre escravo e servo. Eles precisam
disso. Eles precisam de nós.
— É isso que Correen acha que aconteceu com este desonesto que
estou atrás? Ele perdeu seu servo de sangue?

— Ela acha que é possível.

Bati minhas unhas no vidro, pequenos toques de som enquanto eu


pensava. — Qual é a diferença entre escravo e servo?

— Tempo, dinheiro e monogamia, —disse Brian. — Um servo de


sangue é um empregado pago que oferece trabalho e refeições de sangue
em troca de um salário, segurança, saúde melhorada, maior expectativa
de vida e outros benefícios resultantes de alguns goles de sangue de
vampiro por mês. Se o relacionamento funcionar, então um servo é
adotado pela família do vampiro, torna-se parte da administração
financeira, emocional e legal dela, assim como uma criança adotada
seria, mas com os benefícios não diminuídos quando ele ou ela atinge a
maioridade. Os servos são muito importantes, muito difíceis de
substituir, para que envelheçam, deixem de ser saudáveis ou lentos.
Claro, sair do relacionamento também é problemático do nosso lado.

— Estamos viciados no sangue, —Brandon ofereceu, — e no


relacionamento, que é ... intenso. —Os irmãos compartilharam um
olhar rápido que dizia que o tipo de intenso era sexual, mas também era
outra coisa. Algo que eu ainda não tinha captado.
— Um escravo de sangue é um viciado em sangue, mas aquele que
não tem um mestre permanente, —disse Brian. — Os escravos são
repassados entre senhores, geralmente apenas dentro de uma família,
mas nem sempre, e sem um contrato ou a segurança oferecida no
relacionamento de longo prazo. Eles são usados para alimentação,
várias vezes por mês e podem receber um pequeno salário e um gole
ocasional de sangue em troca. Mas os escravos fazem isso pelo barato
que ficam quando são alimentados, não pelo relacionamento.

Esfreguei minha cabeça, mais como uma desculpa para pensar do


que para aliviar a tensão. Eu sabia que havia uma diferença entre
escravos de sangue e servos de sangue, mas os detalhes não eram fáceis
de descobrir. E eu tinha certeza de que não tinha o quadro completo
agora. Não ganhei muitas informações novas com essa conversa, mas
descobri, ao longo dos anos, que acabaria por usar e expandir o que
aprendi. — Obrigada, —eu disse. — Vou pensar sobre tudo isso. Tudo
bem se eu ligar para vocês com perguntas?

— Não há garantia de que atenderemos, mas você sempre pode


perguntar, —disse Brandon.

Abaixei minha mão e me levantei, me espreguiçando. — Ok. Então,


nessa nota, que tal dois favores. Primeiro, chame os outros seguranças e
diga que estou andando por aí, aprendendo a configuração do terreno.
Peça a eles para não atirarem em mim se eu dirigir até a porta deles. —
Eu sorri para mostrar que estava apenas meio brincando. — E ... Digam-
me. Quantos anos vocês têm?

Brian riu. Brandon suspirou, olhou para o relógio e entregou ao


irmão uma nota de cinco dólares, dizendo: — Temos uma aposta fixa.
Você perguntou na primeira hora. Então eu perco.

— E? —Eu perguntei.

Os gêmeos trocaram um olhar, o tipo que só aqueles que


trabalharam juntos por anos, como velhos casais ou gêmeos,
compartilham, o tipo que diz muito mais do que palavras. Brandon
disse: — Nós nascemos em 1822.

Eu olhei. — Porcaria. Vocês são velhos. —Os irmãos riram, e então


percebi que havia falado em voz alta. Eu sorri fracamente quando eles
me mostraram o corredor em direção à porta, enquanto ofereciam
garantias de que abririam o caminho para mim com o outro pessoal de
segurança.

Eu pensei que tinha acabado, até que passei pelo mural do corredor.
Eu parei no meio de um passo, meia palavra, meio pensamento. A cena
pastoral noturna era de vampiros fazendo um piquenique à luz de velas.
Vampiros nus. E a comida também estava nua—viva e humana. Não
pude evitar corar quando vi Brandon e Brian fazendo parte da cena, e
que eles foram retratados como sendo muito bem-dotados. Muito, muito
bem-dotados. Meu rubor fez os irmãos rirem, uma daquelas risadas
masculinas que diziam que eles eram, de fato, bem-dotados, e que
achavam que corar era fofo.

Besta não é fofa, ela pensou para mim. Respirei fundo e disse: —
Reconheço vocês dois, Leo e Katie. —Meu rubor aumentou. — Mas
quem é o resto dos ... hum ... vampiros e ... hum ...

Brandon teve pena do meu tropeço e foi até o mural, apontando. —


Arceneau, nosso mestre de sangue, Grégoire ... —ele indicou um
homem loiro que parecia ter quinze anos quando foi transformado,
como uma criança ao lado dos gêmeos magros e musculosos ... —
atualmente viajando pela Europa. Ming de Mearkanis ... —ele apontou,
— agora considerada verdadeira morta, e seus servos de sangue
Benjamin e Riccard. Rousseau e seus favoritos, Elena e Isabel.
Desmarais com seu Joseph, Alene e Louis. Laurent com sua Elisabeth
e Freeman. —A fraseologia tinha assumido uma linguagem antiquada,
e eu me perguntei se o mural os levou para baixo na estrada da memória,
trazendo palavras arcaicas.

Brian aceitou a instrução. — St. Martin e sua serva de sangue na


época, Renée. E Bouvier com sua favorita, Ka Nvsita. —Eu reagi com
choque. A garota na pintura tinha longos cabelos negros trançados, pele
acobreada e olhos perdidos e solitários que pareciam ter um tom âmbar
familiar, muito parecido com o meu. Seu nome era Cherokee para
dogwood .

A raiva cresceu dentro de mim, quente como cerne em chamas. —


Ela ainda está viva? —Eu perguntei, engolindo minha raiva, para
queimar meu estômago com fogo ácido e azedo. Eu forcei minhas mãos
a se abrirem.

— Não, —disse Brandon. — Ela morreu nos anos vinte. Ela era
uma boa criança. Seu pai a vendeu para Adan Bouvier quando ela tinha
onze anos, por volta de? —Ele perguntou a seu irmão.

— Talvez 1803 ou 1804? Ela era madura quando chegamos à


servidão, —Brian disse.

Seu pai a vendeu. Como bens móveis. Os vampiros não fizeram da


mulher uma escrava, seu próprio pai fez. Lembrei-me então que vender
os seus, como gado, já foi o jeito de O Povo. Eu assenti e continuei pelo
corredor e fora da casa para o ar fresco antes de tentar matar um gêmeo.
— Obrigada pelo chá e pela informação, —eu disse quando me
controlei, parada na varanda. — Posso ligar para fazer perguntas.

DOGWOOD – CORNUS - E o nome de de um gênero botânico pertencente à família Cornaceae.


— E podemos responder, —disse Brian.

— Ou podemos não fazer, —disse Brandon.

Forcei um sorriso no rosto, vesti minha jaqueta, coloquei o


capacete, dei a partida na moto e fugi.

Passei o resto da tarde me reunindo e cumprimentando os servos de


sangue que trabalhavam na segurança em outras casas de famílias de
sangue do clã no Garden District. Depois do pôr-do-sol, voltei para casa,
demorando-me no Distrito e no Quarter. O domingo na cidade das
festas sempre era descontraído. Turistas e cidadãos iam à igreja, missa
ou brunch e depois visitavam museus, passeavam ao longo do rio,
faziam compras ou jantavam em um restaurante tranquilo. As livrarias,
cafés e pequenas lojas do Quarter geravam grandes negócios. Então
chegou a hora da sesta , quase oficialmente sancionada a hora da sesta
no estilo europeu.

À noite, o público voltava e começava tudo de novo, os ricos


sentados em restaurantes elegantes e os mesquinhos de volta aos cafés.

A sesta é uma breve cochilada no início da tarde, geralmente depois do almoço. Esse período de sono é uma tradição
em alguns países, particularmente naqueles onde o clima é quente. A palavra tem origem na expressão latina hora sexta, que no calendário
romano correspondia à sexta hora a partir da manhã, ou seja, ao meio-dia. Um estudo publicado em Setembro de 2002 sobre o efeito dos cochilos
na produtividade demonstrou que 10 minutos de sono tendem a melhorar a produtividade de modo mais efetivo do que os cochilos mais longos.
A sesta é o tradicional sono durante o dia na Espanha (siesta em castelhano; migdiada em catalão). Dormir à tarde também é difundido na China,
Vietnã, Bangladesh, Índia, Itália, Grécia, Portugal, Croácia, Malta, Oriente Médio e Norte da África. Nesses países, o calor pode ser muito forte no
início da tarde, tornando-se um almoço ideal.
Música tocava em cada esquina. Atos de mágica e de comédia
espalharam-se pela rua junto com jazz e blues e todas as outras formas
de música americana, africana, insular e europeia. Apesar do
desonesto, das vans da mídia patrulhando o bairro, e apesar de ter que
viajar de táxi em vez de correr o risco de andar nas ruas amenas, as
pessoas estavam se divertindo.

Eu iria me juntar a elas em um minuto, mas eu tinha uma aparição


de comando em uma festa cheia de vampiros. Eu não estava nem um
pouco ansiosa por isso.

Insular são áreas formadas por conjuntos de ilhas (ou seja, arquipélagos), que podem ser classificadas segundo três critérios: Origem:
artificiais ou naturais. Localização: oceânicas (distantes da costa) e continentais (já estiveram ligadas ao continente e ainda estão perto da costa
ou sobre a plataforma continental).
do armário, meio

enojada com a perspectiva de passar um tempo em uma festa de


vampiros quando eu poderia estar rastreando o desonesto, e meio
morrendo de medo—e não apenas com a ideia de estar cercada por
vampiros. Meu único vestidinho preto era de microfibra com decote em
V na altura da coxa que poderia ser amassado em uma mochila de
viagem e nunca mostrar rugas. O vestido tinha um sutiã embutido, era
colado ao corpo no meu peito, mergulhado o suficiente para fazer um
homem olhar duas vezes, e tinha alças estreitas, e a saia se movia bem
para dançar. O tecido da saia foi cortado em quadrados de vários
tamanhos que pendiam para baixo da cintura assimétrica e flutuavam
em torno das minhas pernas. Em saltos de sete centímetros, minhas
pernas pareciam durar para sempre. Dei um pequeno passo de dança e
os quadrados subiram mais alto aqui e ali, mostrando mais pele.

Ajustei o comprimento da corrente até que a pepita de ouro


pendurasse meia polegada acima do decote, entre meus seios. Coloque
os brincos, do tipo antigo que se prendia a parafusos ou pequenos botões
com dobradiças. Fiz furos nas orelhas quando era adolescente e usava
brincos como todas as outras meninas. Mas a primeira vez que mudei,
depois que fiquei livre e sozinha, meus lóbulos voltaram curados. Enfiei
o dente de pantera que os gêmeos descobriram na bolsa feita
especialmente em minha calcinha—a que geralmente continha uma
estaca dobrável.

Não possuo ou viajo com muita maquiagem. Passei um pouco de


blush, deliniei meus olhos de preto e adicionei um toque de rímel.
Limpei minhas unhas, todas as vinte. Passei três tons de batom
vermelho antes de escolher um. Eu nunca seria bonita. Mas eu era ...
interessante.

Eu me perguntei se algum dos vampiros saberia o que eu era pelo


meu cheiro. E se eu deveria usar um assassino de vampiros amarrado à
minha coxa. Apenas no caso. Relutantemente, decidi não usar uma
arma, embora tenha escondido uma pequena cruz de prata em uma
bolsa minúscula que também continha chaves, identidade, um cartão de
crédito, uma nota de vinte dólares e o batom. Foi colocado em uma tira
estreita sobre minha cabeça e um ombro.

Eu quase deixei meu cabelo solto—era um véu de quase um metro


de comprimento que ficava abaixo da bainha do vestido—mas no último
minuto, quando os faróis iluminaram minha porta da frente com o
motor do carro ligado, eu o trancei pela metade e prendi um grampo por
dentro. Abri a porta antes que ele batesse.

Pugilista estava lá, vestido com um smoking clássico, uma faixa


carmesim simples na cintura, seu cabelo penteado para trás para revelar
o bico de viúva e uma pequena verruga sexy perto da linha do cabelo.
— Uau, —eu disse antes que pudesse me conter.

Ele riu, satisfeito e me olhou, sem esconder sua leitura das minhas
pernas. — Uau, você também. Você se arruma bem para uma amante de
motocicleta caçadora de vampiros.

— Obrigada, —eu disse, fechando e trancando a porta atrás de mim.


Um motorista estava parado ao lado da porta aberta de uma limusine
Lincoln preta ligeiramente estendida. Tinha capacidade para seis
passageiros em dois bancos corridos, mas éramos apenas nós dois. Uma

Para quem não sabe do que se trata, o bico de viúva é aquela linha do cabelo que algumas pessoas têm
em forma de “V”, na parte superior frontal da testa. Ou seja, é aquele biquinho de cabelo muito comum em quem tem rosto em formato de
coração, sabe?

O Lincoln Town Car é um sedan de luxo da Lincoln. Algumas unidades foram


convertidas para Limousine e Chauffeur (motorista particular) nos Estados Unidos e Canadá.
partição de privacidade estava instalada entre o motorista e a parte
traseira. Pugilista indicou que eu deveria entrar primeiro, e ele esperou,
observando minhas pernas—Pugilista era um homem de pernas, com
certeza. Ele deslizou ao meu lado e a porta se fechou. O carro saiu do
meio-fio e entrou na noite. A suspensão era tão boa que parecia que o
carro estava flutuando, e os bancos de couro eram tão macios que
pareciam luvas de couro, me embalando como um bebê. Uma garota
poderia se acostumar com isso.

— Acho que você não está usando armas, —Pugilista disse


secamente, ainda me olhando. — Eu deveria revistá-la, mas não vejo
lugar para estacas, facas ou armas.

Eu não pude evitar, tive que brincar com ele. Foi algo que apreendi
da Besta—um desejo de brincar com minha presa. Olhei de soslaio para
ele com o canto do olho e disse: — Eu possuo bainhas de matadoras de
vampiros que posso amarrar na parte interna das coxas.

— Sim? —Ele disse, seus olhos nas minhas pernas e na saia.


Pugilista estava olhando para mim do jeito que uma mulher gosta que
um homem olhe para ela. Apreciação sem condescendência ou
objetificação. Era agradável. Fazia muito tempo para mim, nunca por
um homem que ficava tão bem em um smoking, esguio, ágil e elegante.
Uma imagem mental apareceu, de Rick LaFleur em um smoking, e
quase me fez salivar. Afastei a visão. — Você está usando agora? —Ele
perguntou.

Eu apenas sorri, imaginando que quando chegássemos eu teria que


levantar minha saia ou ser revistada. E me perguntei como reagiria a
qualquer um deles.

Pugilista se acomodou e me ofereceu champanhe. Eu recusei. Com


o meu metabolismo, o álcool era filtrado para fora do meu sistema
rapidamente, mas eu também não estava acostumada a isso e não queria
aparecer na festa entorpecida. Enquanto seguíamos, Pugilista apontou
hotéis e negócios que atendiam a vampiros, e casas particulares de ricos
e presunçosos. Eu assenti muito e disse pouco, mantendo o ritmo com
os marcos e placas de rua enquanto saíamos do French Quarter, caso eu
precisasse voltar sozinha.

Pugilista perguntou o que me atraiu para minha linha de trabalho.


Murmurei algo sobre o negócio de segurança levando a outras coisas.
Ele perguntou sobre meu vestido. Eu respondi com onde comprei—Ross
Dress for Less . Ele riu, então eu não disse quanto custava, que eram
vinte dólares em liquidação. Eu queria me contorcer. Era o tipo de

Ross Stores, Inc., operando sob a marca Ross Dress for Less, é uma rede americana de lojas de departamentos de
descontos com sede em Dublin, Califórnia.
conversa fiada que eu odiava. Eventualmente eu disparei as mesmas
perguntas de volta para ele, exceto a sobre o vestido, é claro. — Onde é
essa festa? —Eu perguntei durante uma longa pausa na conversa.

— O clã Pellissier está em casa. Seu objetivo é dar as boas-vindas


aos dois novos membros da família de sangue de Leo na vida pública.
Deve ser interessante para você.

— Novos vamps? —Minha curiosidade aumentou alguns pontos,


assim como meu interesse. — Novo como “Esta é a primeira vez que eles
foram desencadeados do porão”?

Pugilista ergueu uma sobrancelha, divertindo-se com meu


constrangimento deliberado, e de repente me senti melhor sobre o tom
da conversa. — Você faria bem em não se referir a eles como “vamps”,
e Leo não é o tipo de senhor que mantém seus descendentes
acorrentados. Mas sim, esta é a primeira vez que eles se moverão entre
humanos em uma situação social. Você teve a chance de estudar a pasta
que Katie lhe deu, com fotos dos mestres de sangue do clã?

Eu assenti, e ele tirou uma pasta fina semelhante do bolso lateral do


carro e abriu para revelar três fotos. — A mulher é Amitee Marchand,
—disse ele sobre uma mulher requintada, cabelos negros e olhos
escuros, pele de alabastro e pescoço de cisne que parecia pertencer a uma
bailarina. — O irmão dela, Fernand. —Ele apontou para a foto de um
homem de cabelos escuros. Eu podia ver a semelhança da família,
embora a mulher parecesse elegante e seu irmão parecesse cansado. —
A Srta. Marchand é a futura noiva do filho de Leo, Immanuel, —ele
disse, apontando para uma fotografia digital de um vampiro.

A informação e o nome cristão do vampiro eram impressionantes.


Eu me inclinei no assento para que pudesse ver melhor as fotos. O filho
de Leo, seja lá o que isso significasse, tinha cabelo curto, loiro
acinzentado e estrutura óssea cinzelada. Seu sorriso era contagiante,
mesmo em uma foto. — Não estou tentando ser maliciosa, —eu disse,
— mas filho como o filho de sangue dele e noiva como a Noiva de
Frankenstein?

Pugilista riu. — Immanuel é filho biológico de Leo, que se


transformou quando atingiu a maioridade há alguns anos.

O que poderia ter sido anos, significava décadas ou séculos. O


homem de aparência jovem tinha pouco de Leo sobre ele, exceto pelo
formato de seu queixo e nariz, e eu nunca teria percebido a semelhança.
— Eu não sabia que vampiros podiam se reproduzir, —eu disse,
intrigada. — Achei que espermatozóides e óvulos morriam quando os
vampiros eram transformados.
Pugilista tinha uma agenda e não respondeu à minha declaração
intrometida. — Immanuel conheceu a noiva na Europa e o casamento
foi arranjado. E, por favor, não use frases como “Noiva de Frankenstein”
na festa. Eu prefiro não ter que duelar por causa do seu insulto.

Eu não tinha certeza se ele estava falando sério ou não, e tive uma
imagem de metal de Pugilista com um florete de esgrima ou pistolas a
vinte passos. — Estou apenas puxando sua corrente, —eu disse. —
Casamento arranjado?

— As coisas são feitas de forma diferente em famílias de vampiros


tão antigas e influentes como os Pellissiers. A família Marchand serviu
como serva de sangue do clã Rochefort, no sul da França, por dois
séculos. A união das duas famílias cria oportunidades de negócios para
o Clã Pellissier e fortalece o sangue e as conexões comerciais que
compartilham atualmente.

— Então, se a garota faz parte do Clã Rochefort, por que eles não a
transformaram? —Eu perguntei, tentando obter o máximo de
informações que pude enquanto tinha uma fonte disponível. E tentando
ignorar o fato de que eu estava tão fascinada quanto qualquer fã de
vampiro.

— Leo queria trazer os dois jovens para si, para que Immanuel e
Amitee pudessem compartilhar um vínculo mental mais tarde, se assim
o desejassem. Estamos quase lá. —Ele abaixou a partição de privacidade
e deu instruções ao motorista.

Eu teria que perguntar sobre a coisa do vínculo mental. Junto com


a reprodução de vampiros. Ick.

A casa de Leo ficava em uma curva do rio Mississippi, a água


correndo suavemente durante a noite. Ficava no final de uma estrada
bem pavimentada, mas pouco usada, sem casas à vista. A casa foi
construída em um terreno alto, o monte arredondado e liso e claramente
artificial, cerca de seis metros acima do nível do mar, mais alto do que
qualquer coisa ao seu redor. Carvalhos vivos com membros enrolados
se arqueavam ao longo do longo caminho, parecendo sentinelas em
guarda durante a noite.

A casa de tijolos pintada de branco de dois andares tinha um estilo


arquitetônico misto todo próprio, com águas-furtadas no alto telhado
de ardósia e frontões em cada canto com quartos da torre, ou como

Ick – usado para expressar um sentimento de choque ou antipatia que faz você se sentir doente ...

Água-furtada é uma parte do telhado constituída por uma aresta inclinada delimitada pelo encontro de duas águas que
formam um ângulo reentrante, ou seja, é para onde convergem as águas que caem sobre o telhado. Por este motivo, também é conhecida por
calha ou "rincão".

Um frontão é um conjunto arquitetônico de forma triangular que decora normalmente o topo da fachada principal
de um edifício, sendo constituído por duas partes essenciais: a cimalha e as empenas. Provém da arquitetura clássica greco-romana.
quer que fossem chamados, no terceiro andar. A luz entrava pelas
janelas, venezianas pretas em cada uma, duas venezianas abertas em um
ângulo, provando que eram dispositivos funcionando, não apenas para
exibição. Vitrais estavam aqui e ali, tons de carmesim, escarlate e cereja
se derramando na escuridão.

Varandas envolvendo os dois andares, interrompidas pelas coisas da


torre. Luzes escondidas na folhagem lançavam um brilho branco suave
nas paredes externas, enquanto outras iluminavam o caminho e entrada.
Era uma casa construída originalmente no século XIX, que gritava que
tinha sido construída com trabalho escravo. O trabalho escravo
provavelmente a mantinha com uma boa aparência mesmo agora, toda
pintada e imaculada, mas por escravos de sangue dispostos, não por
humanos comprados e transportados usando correntes.

Limosines se moveram em nossa direção e viraram atrás de nós, os


faróis iluminando a estrada. Um homem idoso parou ao pé de uma
escada para gesticular para a casa, como se os convidados não
conseguissem descobrir para onde ir quando chegassem. Quando
paramos, ele abriu a porta do carro e disse: — Boa noite, senhora,
George. O Sr. Pellissier está esperando você e a jovem chegarem.

Provavelmente havia uma dúzia de degraus até a porta da frente.


Eu vislumbrei um monte de pernas subindo e poderia dizer que Pugilista
estava aproveitando cada momento. No topo da escada, uma mulher de
sapatos confortáveis e saia de smoking com avental nos ofereceu
champanhe, e desta vez peguei uma taça para tratar de alguma coisa
com as mãos. Que estavam pegajosos de apreensão.

Eu nunca tinha ido a uma festa tão froufrou como esta e já odiava—
roupas de grife para festas, modos sociais de festa e pessoas festeiras
conversando. Dê-me um barril de cerveja, um rádio com música country
explosiva e um bando de especialistas em segurança discutindo sobre
armas, facas afiadas e Harley e eu estava bem. Isso era uma agonia.

Na porta, eu disse a Pugilista: — Você se esqueceu de me revistar.

— Estou guardando isso para mais tarde, —disse ele com um meio
sorriso. — Muito tarde.

Oh, garoto. Eu engoli o champanhe. Pugilista riu e me observou


examinar o lugar.

No interior, o foyer era tão grande quanto a sala de estar da casa de


brinde, com piso de mármore branco, com um emblema heráldico em
mosaico na frente da porta em mármore preto, branco, cinza e marrom,
representando um grifo com gotas de sangue espirrando de suas garras,
um machado de batalha, escudo e bandeira. Uma verdadeira fonte de
pedra espirrou perto da entrada, ao lado de mesas cheias de frutas,
queijos e carnes quentes e frias: um salmão inteiro, um leitão assado com
uma maçã na boca, várias carnes fritas, boudin em montes em vez de
fritos em bolas, empilhados em uma bandeja aquecida; molhos, biscoitos e
os aromas irresistíveis de especiarias, comida e vampiros. Muitos
vampiros.

Besta ergueu-se, vendo através dos meus olhos, me fazendo respirar


mais fundo, mais rápido, absorvendo os aromas, o mundo uma mescla
texturizada de fragrâncias, cheiros emaranhados como uma tapeçaria,
brilhantes como uma pintura. Eu contei dez vampiros em um grupo.
Dezenas em grupos menores. Merda. Devia haver cinquenta deles, todos
bem alimentados e se movendo lentamente como um humano. Todos
usando vestidos e smokings de grife, qualquer um custando mais do que
tudo que eu possuía. Besta ficou toda nervosa. Eu também.

Pugilista ficou ao meu lado, me observando observá-los. Eu sabia


que estava revelando todos os tipos de coisas sobre mim. E eu não
conseguia parar. Eu nunca tinha estado em uma sala com tantos
vampiros—civilizados ou não—ou com tanto dinheiro. Concentrei-me
na casa e nos aromas que podia analisar. Uma fragrância vampiresca de

Boudin é um enchido típico da culinária da França, feito com sangue e gordura de porco, ou com carne “branca”
e magra, ovos, leite, nata e miolo de pão, metido dentro de tripa ou outra parte do tubo digestivo do porco e cozido em água e sal.
pergaminho velho, ervas secas, perfumes sutis, traços de sangue fresco
de alimentações recentes. E um fedor subjacente de direito. Eu não
cheirei o desonesto. E ninguém instantaneamente se virou para mim,
apontou e gritou: “Skinwalker!” Senti uma leve decepção, mesmo
quando o alívio tomou conta de mim.

Havia dois conjuntos de escadas, um de cada lado do enorme foyer,


curvando-se para cima e ao redor para um pequeno espaço no topo,
como um palco, com outro corredor estendendo-se para trás. Os quartos
se abriam para os lados. No andar térreo, o foyer descia para uma sala
de recepção formal sob o andar superior, com móveis feitos em tons de
carvão, cinza e branco suave. Não era sem graça, entretanto, toques de
cor estavam por toda parte, desde as pinturas nas paredes até os
travesseiros nos sofás. Tapetes de todas as tonalidades estavam
espalhados por todo o piso de mármore, sua colocação parecia aleatória,
mas eles tinham que ser cuidadosamente posicionados, não é? Ou os
vampiros não caíam?

Tive uma imagem mental dos pés de Leo voando na frente dele
enquanto ele caía em uma queda forte, cravando os dentes no lábio. A
risada suave da Besta me escapou, sem fôlego. Pugilista ergueu as
sobrancelhas em perplexidade. Eu não esclareci. Seguimos para dentro.
A uns três metros da porta da frente.
Quando passamos por um grupo de vampiros em trajes formais,
uma mulher loira vestida de preto se virou e cheirou o ar em meu rastro.
Mais rápido do que eu poderia seguir, todos os outros seguiram o
exemplo. Os olhos começaram a sangrar pretos . As presas se
abaixaram. Eu parei. Virei-me para enfrentá-los, de costas para a parede.
Besta surgiu em meus olhos. Por um único momento, nós nos
encaramos. Eu de salto. Sem armas. Merda. Minha frequência cardíaca
acelerou. Besta derramou velocidade em mim, sua pele subindo e
ondulando sob a minha, suas garras flexionando em meus dedos. Cada
um dos vampiros deu um passo medido em minha direção. Espalhando-
se. Me cercando. Merda, merda, merda!

Pugilista deu um passo para o meu lado. Colocou uma mão


proprietária na minha espinha. — A caçadora do desonesto, —disse ele.
Ao seu toque e às palavras, eles pararam. Eu parei. Besta ficou imóvel,
mas tão perto da superfície que eu podia sentir suas garras assassinas
queimando em meus dedos como se eu já estivesse mudando.

Como se os vampiros compartilhassem um único pensamento, suas


presas voltaram ao lugar. Os feromônios de alarme no ar diminuíram.
Lembrei-me de como respirar, mas doía, como se meus pulmões

Olhos sangrar pretos, o que mais me pareceu como eles são esses em que é a transformação dos vampiros de The
Original’s e do Diário de um Vampiro.
tivessem secado e perdido a elasticidade. Forcei minhas mãos com
garras a relaxarem. A loira me olhou de cima a baixo, lentamente, como
se me guardasse na memória. Catalogando-me. A maneira como um
barão do gado pode lembrar e catalogar seu rebanho. — Dominique, —
disse ela, sua voz fortemente misturada com o francês. — Chefe interina
do Clã Arceneau. Você pode ligar para mim. —Movendo-se lentamente,
ela virou as costas. Os outros seguiram o exemplo.

— Merda, —eu sussurrei. — Você pode ligar para mim? —Isso foi um
comando? Como diabos eu iria ligar para ela. Pugilista segurou meu
braço, apontou para a comida e murmurou: — Já volto, tente não ser
morta.

— Boa ideia, —eu disse, sem fôlego, tentando me livrar do medo e


da adrenalina. — Por que não pensei nisso? —Ele se afastou, andando
quase tão suavemente quanto um vampiro. A música começou e eu
avistei um trio de músicos humanos com instrumentos de cordas no
canto sob um enorme retrato de um rei em mantos e coroa, cães de caça
esguios aos seus pés. Os músicos tocavam algo clássico e vagamente
tristonho. Não é uma boa música de dança. Eu queria rir com o
pensamento. Uma risadinha histérica e aterrorizada.

Mantendo minhas costas contra a parede quando possível, e meus


olhos nos grupos de vampiros, eu ataquei a mesa de carne, adicionando
uma fatia de queijo e um morango apenas para diversão, e tentei
descobrir o que fazer a seguir. O que se faz para comemorar por não ser
comido? Talvez eu pudesse ir até todos os vampiros presentes e perguntar
se eles conheciam algum desonesto. Uma única risadinha cheia de
adrenalina borbulhou, como um heeee apavorado, e o garçom atrás da
bandeja de carnes olhou para mim estranhamente. Enfiei um pedaço de
porco na boca e disse em volta: — Baixo nível de açúcar no sangue, —
para explicar o riso. Ele colocou um bolo coberto de glacê no meu prato
como resposta.

Ainda instável, levei a mim e ao meu prato sobrecarregado para um


tour pela casa. Ao contrário das casas que visitei em minha excursão ao
Garden District, aqui eu era uma convidada. Achei que isso significava
que eu poderia vagar onde quisesse. Pode não me ajudar a matar um
vampiro desonesto, mas pode ajudar com buscas futuras e contratos de
vampiros para saber como os vamps e os endinheirados viviam.

À direita da área de recepção havia uma cozinha do tamanho de um


restaurante. Lá dentro havia dois chefs de chapéu branco e pelo menos
uma dúzia de garçons entrando e saindo. Os quartos da despensa e a
rouparia ficavam atrás da cozinha, com um corredor que levava ao
quintal e uma garagem para cinco carros não visível da frente. Estava
cheio de carros elegantes: a limusine que nos trouxe aqui; uma velha
Mercedes quadrada; um Chevy 1950 , totalmente restaurado; um velho
Ford dos primeiros dias do automóvel—talvez um Modelo T ? Eu não
conhecia muito carros antigos. Mas Leo tinha um Porsche Boxster em
marrom antigo, o que me fez sorrir. Foi o Porsche que finalmente me
fez relaxar. Isso e a proteína. Eu nunca tinha provado um porco tão
bom.

Atrás do foyer havia um pequeno corredor e uma porta trancada, a


sala parecendo ocupar muito espaço. Os aposentos pessoais de Leo?
Vários aromas de sangue humano fresco flutuaram sob o peitoril e os
pêlos da Besta eriçaram com o cheiro, mas não havia medo misturado
no sangue. Curiosa, fiquei parada em uma sombra e observei por um
tempo.

O Chevrolet Deluxe foi uma linha de automóveis Chevrolet, comercializada de 1941 a 1952, e foi líder de vendas de
volumes para o mercado durante a década de 1940. A linha incluía, a princípio, um sedã de 4 portas, mas passou a incluir um "aerosedano" de 2
portas fastback e outros estilos de carroceria. A Chevrolet de 1941 foi a primeira geração que não compartilhou uma aparência comum com os
caminhões Chevrolet, enquanto o caminhão Chevrolet AK Series compartilhou componentes internos comuns. A série original foi exibida de 1941
a 1948, após a qual um novo estilo de corpo foi introduzido para 1949, passando por 1952. Durante os anos pós-guerra e continuando até o início
da década de 1950, a linha Deluxe foi líder de vendas da Chevrolet, oferecendo um equilíbrio de estilo e compromissos de luxo indisponíveis na
série base Especial; e uma gama mais ampla de estilos de carroceria, incluindo um conversível, Sport Coupe hardtop (a partir de 1950), sedãs de
duas e quatro portas e perus de quatro portas.

Ford Modelo T é um automóvel produzido pela fábrica norte-americana Ford, que popularizou e revolucionou a
indústria automobilística. Vigésimo projeto da marca, foi fabricado por 19 anos, entre 1908 e 1927.

O Boxster, conhecido internamente 986/987 ou 986 Boxster/987 Boxster é um modelo roadster de motor central
produzido pela Porsche desde 1996. O Boxster assumiu no lugar do 968 o posto de menor e mais acessível modelo da Porsche.
Logo, dois vampiros, um homem e uma mulher, deixaram a sala,
cheirando a sangue fresco e sexo. Eles não trancaram a porta ou
sentiram meu cheiro, não viraram na minha direção. Eu me aproximei,
peguei a porta antes que ela fechasse e espiei. Era uma suíte com uma
cama enorme, sofás, espreguiçadeiras, uma tela de TV do tamanho de
um estúdio e vários humanos em vários estágios de nudez. Dois estavam
aninhados com uma vampira que se alimentava deles, um de cada vez.
Entendi. Este era o bar de sangue. Onde os vampiros vinham para um
aperitivo. E agora eu sabia como chamar os doadores. Viciados em
sangue. Eca.

Eu deixei a porta fechar sem fazer uma cena porque nenhum dos
humanos estava acorrentado, mostrava sinais de abuso físico—se eu não
contasse várias marcas de presas—ou parecia drogado. Bem, drogados
além da felicidade de sangue que experimentaram quando alimentados
por um vampiro adequadamente maduro. Eu segui em frente. Rápido.
Voltei para a sala de recepção e um novo prato de porco e salmão. Desta
vez, acrescentei um biscoito e três uvas e continuei vagando.

Uma vampira, caminhando sozinha, diminuiu a velocidade quando


me cheirou. Ela sorriu, uma tentativa de humanidade, com a intenção
de desarmar. Funcionou. Eu parei, curiosa. Esperando. Quando eu não
falei, ela se inclinou, muito perto, bem dentro do meu espaço pessoal.
Eu fiquei tensa, mas suas presas ficaram para trás, fora de vista, e ela
não tentou me morder. Ela apenas cheirou meu pescoço. Então eu não
reagi. Muito.

Ela recuou e inclinou a cabeça. — Eu sou Bettina, mestre de sangue


do Clã Rousseau. —Eu assenti, mas não consegui pensar em nada para
dizer. O gato comeu minha língua. O risinho tentou se levantar mais
uma vez. Rousseau era uma mulher bonita, com herança mestiça,
principalmente africana e europeia. — Eles me disseram que a caçadora
do desonesto está aqui esta noite, como uma convidada de Pellissier.
Você é ela?

Quando eu assenti, ela caminhou ao meu redor, um passo de dança,


como um gato andando, um pé cuidadosamente colocado de cada vez.
Ela respirou enquanto se movia. Sentindo meu cheiro. — Você cheira
tão ... Bem. Você vai me ligar quando esse ... aborrecimento ... acabar?
—Ela parou na minha frente, olhando nos meus olhos. — Desejo
conhecê-la melhor.

Havia algo em seus olhos que dizia que a parte “conhecê-la melhor”
era no sentido bíblico. Sorte minha. Engoli. Um sorriso apareceu em seus
olhos. E eles pousaram na minha garganta.

— Bettina. Pellissier deseja falar com você.


Nós duas nos viramos para o pequeno e rotundo humano ao lado
dela. Eu não tinha ideia de quanto tempo ele ficou ali, mas a expressão
em seu rosto dizia que já havia sido o suficiente. — Por favor, visite, —
ela disse, estendendo um cartão que não estava em sua mão há um
momento. E ela seguiu o homem.

— Okaaaay, —murmurei para as paredes. — Da próxima vez, usarei


um frasco inteiro de perfume.

À esquerda do saguão e da comida havia um bar, três garçons


servindo uísque de verdade, vinho e cerveja, não sangue. Peguei uma
segunda taça de champanhe e continuei meu tour. Atrás do bar, um
pequeno corredor levava a uma sala de música com alguns instrumentos
de cordas e um piano de cauda. Provavelmente inestimável. Eu me
perguntei quem tocava e imaginei que poderia ser Leo. Ele parecia o
tipo. Quando o pensamento entrou em minha mente, meia dúzia de
vampiros entrou na sala e um vampiro masculino sentou-se ao piano.
Ele começou a tocar, batendo as teclas em algo marcial, as notas subindo
até o teto e se espalhando pelo corredor, deliberadamente dominando as
cordas na sala de recepção. Os outros vampiros riram da brincadeira do
engraçadinho e um correu para espiar os músicos humanos. Acho que
eles acharam isso engraçado. Eu deixei.
Por uma porta de comunicação, encontrei uma biblioteca vazia de
dois andares cheia de livros, móveis de couro e um sistema de som de
primeira classe tocando uma salsa suave, que não é a maneira como uma
salsa deve ser ouvida. Fechei a porta da sala de música, impressionada
quando o som do piano foi silenciado. Ótima insonorização em casa:
você pode matar alguém sem se preocupar com os gritos. Procurei até
encontrar os controles do sistema de som em um console embutido e
aumentei o volume. Sozinha, comi porco e salmão enquanto meus pés
dançavam e eu estudava os títulos nas paredes. Alguns eram em inglês,
outros eram franceses, espanhóis e talvez latinos. E havia alguns que
pareciam gregos. Leo pode ler grego?

Dentro de uma caixa de vidro havia 24 placas de argila cozida,


metal e madeira entalhada em expositores, claramente antigas e
valiosas. Eu não pude resistir a olhar para a segurança deles e acenei
para as minicâmeras de alta tecnologia focadas neles. Muito bom, se as
câmeras fossem monitoradas. Quando a porta se abriu, poucos segundos
depois, e Pugilista entrou, eu me dei um tapinha nas costas. — Nada
mal, —eu disse, brindando-o com meu copo. Que estava quase vazio.

— Acho que você já teve o suficiente, —ele disse com um sorriso


divertido, enquanto roubava o copo e o prato vazio. — Sr. Pellissier quer
ver você.
— Sim? —Peguei os pratos e os coloquei no console. — Você dança
salsa ?

— Há anos que não, —disse ele.

— Já faz um tempo para mim também, —eu disse, me virando e


pegando suas mãos, ignorando a diversão de Besta com o duplo sentido.
Coloquei uma de suas mãos em meu quadril e mantive a outra, bati com
o pé e dei um passo rápido para frente, forçando-o a dar um passo para
trás. Para lhe dar crédito, ele seguiu minha liderança. E então ele
assumiu. Firmemente. Salsa é uma dança de três passos, pausa e três
passos—uma reinvenção do mambo da rumba original, e movimentos.

Pugilista me deu um passo lateral, baixou o braço, subiu em um J,


levando-me em duas curvas simples e instantaneamente em uma curva
dupla quando encontramos o nosso ritmo. Depois disso, as coisas
ficaram suadas. O homem sabia dançar. Foi meio sedução, meio
concurso, como se ele me oferecesse sua cama enquanto testava meu
equilíbrio, meus reflexos e minha capacidade de responder à sua
velocidade aprimorada por vampiros de uma só vez. Nossos olhares se

A salsa surgiu nos anos 60, em Cuba. Ela foi caracterizada pela mistura de músicas caribenhas e teve
influências do mambo, cha-cha-cha, rumba cubana, reggae e, até mesmo, do samba brasileiro. ... Os cubanos da tradicional banda La Sonora
Matancera escolheram a palavra “salsa” para nomear esse novo gênero de dança e música.
encontraram, seus olhos castanhos segurando os meus enquanto eu
seguia seu exemplo. Feromônios de sedução, seus e meus, encheram o
ar. Eu queria correr meus dedos por seu cabelo escuro e talvez tocar a
pequena verruga. Com minha lingua.

A música aumentou. Rápido. Rápido, rápido, rápido, Besta


controlando meus reflexos, o que dizia a Pugilista todos os tipos de
coisas sobre mim. Eu não me importei. O volume aumentou, diminuiu,
passou de acelerado para lento. Eu errei um passo, só porque não estava
familiarizado com sua liderança, não porque não sabia o movimento.
Os olhos de Pugilista seguraram os meus enquanto sua mão deslizou ao
longo do meu lado, sobre meu quadril. Ele pegou minha cintura e me
puxou para perto no final, um movimento de tango que eu não tinha
tentado desde a aula.

A música silenciou. Ficamos em uma posição perfeita, peito contra


peito, respirando com dificuldade. Uma única batida se seguiu no
silêncio. Outra. Pugilista quebrou o contato, recuando mais rápido do
que a dança. Minhas mãos ficaram vazias, no ar. Virei-me para a porta.

Leo estava lá. A porta se fechou atrás dele. Seus olhos estavam em
Pugilista. Algo estalou no ar entre eles. Desafio. Raiva. Besta rosnou.
Tanto o vampiro quanto o homem se viraram para mim. Sentindo Besta
logo abaixo da minha pele, a pele se movendo em antecipação, eu ri, o
som era cruel, um pouco selvagem. — Pugilista é bom. Você é melhor?
—Eu/nós desafiamos o predador.

A emoção percorreu a sala: raiva, disputa, confronto, feromônios


alfa. O cheiro de violência atraiu. Por um momento pensei que o que
quer que houvesse entre os dois machos transbordaria, mas Leo se
interrompeu, respirando fundo, e os cheiros evoluíram de censura para
sobressalto, para curiosidade, para ... ansiedade enquanto seus olhos me
estudavam. Uma antecipação tão forte quanto a da Besta se ergueu no
ar. Todos de Leo. Do Pugilista, senti um traço de sentimento, talvez
decepção, mas ofuscado pela impaciência de seu mestre.

A próxima faixa começou, uma rumba suave e carregada de sexo.


A rumba é uma dança mais lenta e formal do que a salsa, e Leo se
aproximou de mim, seu corpo já na dança, seus pés nos passos lento-
rápido-rápido-rápido da dança. Ele pegou minhas mãos e colocou uma
em seu ombro, começando com uma oitava volta do degrau da caixa.

Rumba é uma dança cubana em compasso binário e de ritmo complexo que influenciou e foi incorporado ao flamenco.
No flamenco, caracteriza-se por um estilo mais suave e descontraente, de certa forma alegre e de caráter menos misterioso do que os outros
palos flamencos, como seria o caso da bulería, por exemplo. Em termos da melodia, a escala menor harmônica não é tão utilizada quanto nos
outros palos, sendo que geralmente uma escala diatônica predomina e interage em breves momentos com a menor harmônica em suas notas
ciganas (o que de certo modo ajuda a manter as características do flamenco nesse estilo diferente). Um bom exemplo de rumba (como palo
flamenco) é a canção Entre Dos Águas composta por Paco de Lucía. A influência de outros estilos musicais no flamenco ocorreu maioritariamente
no início do século XX, enriquecendo-o e o popularizando-o no resto do mundo.
Quando a música aumentou, ele a perseguiu em uma caixa de um
quarto de volta, mais rápido, e então uma série de voltas e baixas,
puxando-me para mais perto a cada compasso até que apenas uma
sugestão de espaço nos separasse. Ele me conduziu a uma difícil etapa
de cucaracha, não uma que eu havia praticado exceto com meu
instrutor, mas a liderança de Leo foi perfeita, derrubando Raul com as
mãos para baixo, seu corpo equilibrado tão perfeitamente que era poesia
seguir. Terminamos o set com um rápido e torcido pretzel de uma volta
e um mergulho, meu corpo curvado para trás sobre sua coxa, seu corpo
sobre o meu, seus olhos fixos nos meus em uma postura clássica de
predador-presa.

Besta se ergueu com força, rápido, empurrando-o para trás.


Rosnando. O som se perdeu nos aplausos. Olhares presos um ao outro,
nós olhamos, a respiração ofegante. Eu estava vagamente ciente de
vampiros na porta, batendo palmas. Torcendo. E então Leo
desapareceu.

Seus olhos sangraram carmesim, as pupilas se alargando para um


preto vampiro. Suas presas caíram. E ele rosnou de volta para a Besta.
A multidão na porta ficou em silêncio, aquele assustador silêncio
vampírico que sempre pressagiava violência. Pugilista se colocou entre
nós, pegou a mão de Leo e a minha e nos conduziu para frente, as mãos
levantadas como atores em um palco. Estranhamente, totalmente
inesperadamente, Leo e eu trocamos olhares, permitindo a Pugilista a
vantagem. Ele se curvou para frente, puxando-nos para uma reverência
profunda.

— Mithrans, apresento Leo Pellissier e sua ... humana ... parceira de


dança, Jane Yellowrock. —As pausas em “humana” eram
infinitesimais, mas presentes. Os aplausos recomeçaram, incertos,
depois ficando mais fortes, mais seguros, pois acreditavam que os
rosnados eram parte de uma apresentação. Sorrindo impecavelmente,
Pugilista nos levou até a porta e os elogios dos vampiros.

Eu me afastei do meu anfitrião logo em seguida e dei uma volta


rápida no segundo andar, procurando e não encontrando uma escada
para o sótão ou terceiro andar. Nem uma vez eu cheirei desonesto. Eu
peguei uma dica da mulher com quem o desonesto e Rick estavam
dormindo, e mais tarde, uma das manchas subjacentes que o ladino
carregava em seu sangue, mas eles se perderam na multidão de
convidados.

Eu sabia que Leo queria falar comigo, mas depois da dança e do


jeito que ele olhou para mim, como se eu fosse uma guloseima gostosa,
eu queria evitar isso. Totalmente. Portanto, mantive um olhar cauteloso
enquanto vasculhava a casa, virando em um corredor ou escorregando
para uma sala vazia quando o localizava, o cheirava ou ouvia sua voz.
Ele não estava me perseguindo, exatamente, mas um fedor frustrado
impregnou seu cheiro, e percebi que eu era parte disso. Mas consegui
me manter longe, e Besta estava se divertindo ajudando.

Quando soou uma campainha no interfone e no sistema de som da


casa, achei que era a hora da apresentação dos convidados. Curiosa, me
escondi atrás de uma estátua de mármore em um suporte de mármore
combinando sobre o foyer e observei. Leo ficou de costas para a porta
da frente, de frente para a multidão, que reunia os vampiros rapidamente
ou os viciados em sangue drogado lentamente, e sorriu para todos, o
anfitrião perfeito.

— Agradeço a todos por se reunirem, —disse ele, com um leve


acento na palavra “reunirem” — no Clã Pellissier para esta celebração.
Nossos clãs não podem mais se expandir como antes, mantidos em
número menor pela Carta Vampira, pela lei dos EUA e por convenções
sociais. Portanto, quando um novo Mithran é adicionado a nós, é uma
bênção. E quando dois são entregues a nós para cumprir um contrato de
casamento e união de clã, é um evento significativo. —Ele deu um
sorriso brilhante, todos os dentes de aparência humana. — Esta noite
apresento aos meus convidados de honra a minha futura nora e o irmão
dela, Amitee e Fernand Marchand, e o futuro marido da noiva ... —fez
uma pausa, prolongando, como se estivesse à espera de um grande
acontecimento — meu filho e descendente e herdeiro, Immanuel
Pellissier.

Houve um silêncio assustado, então a multidão reagiu, meio


exultante, meio zumbindo, sussurrando consternação. Levei um
momento para perceber o porquê. Até agora, Leo não tinha nomeado
um herdeiro do clã. Claramente alguns dos vampiros do lugar não
gostaram de sua escolha. Apesar de tudo, observei quem não estava
satisfeito e não tinha medo de demonstrar. O mais obviamente
incomodado era um vampiro de pele morena que pensei ser Rafael
Torrez, herdeiro do Clã Mearkanis—mestre de sangue assim que Ming
fosse declarado morto. Vários outros vampiros estavam olhando em seu
caminho para avaliar sua reação.

Feromônios de violência e dominação rodaram na sala e Leo olhou


para cima, seu sorriso cordial ainda no lugar. Mas quando falou, havia
um tom de aço em sua voz que não existia há um instante, embora ele
não olhasse para Torrez. — E como meus convidados, participando da
hospitalidade de minha casa, espero que cumpram todas as convenções e
protocolos ao receber novos Mithrans e meu herdeiro de clã.

Demorou um pouco, mas Torrez se controlou visivelmente e


estampou um sorriso falso no rosto. Ele se empurrou para frente da
multidão, onde pegou a mão de Amitee e a beijou, murmurando algo
que eu perdi. Com o beijo, a sala inteira pareceu relaxar, e eu percebi
que o que quer que estivesse acontecendo na política vampírica, como
tudo o que Leo estava acontecendo na população humana do bairro, iria
ficar em segundo plano na celebração.

Eu dei uma olhada nos novos vampiros. Eles não estavam


descontrolados, prontos para atacar e drenar os humanos, eles pareciam
elegantes, sofisticados e ricos. Então, eu os evitei como uma praga. Mas
dei uma boa olhada no filho de Leo, que parecia cordial, urbano e
acessível. No entanto, quando cheguei perto, ele se virou rápido, os
olhos ficando vampiros, farejando e procurando na multidão, então
abaixei minha cabeça e me afastei. Não havia sentido em estragar o
noivado se ele fosse até a pequena não humana na sala para um lanche
rápido. Em vez disso, assombrei os corredores dos fundos.

Perto das quatro, depois de evitar Leo e Pugilista em um jogo de


gato e rato de “caçar a garota” saí de fininho e liguei para o Bluebird
Cab. Rinaldo, de folga do trabalho do terceiro turno no domingo à noite,
veio me buscar meia hora depois, cheio de perguntas assustadoras, agora
que seu passageiro regular havia aparecido no mundo. Eu disse algo
sobre um convite que eu não tinha percebido que seria tão vampiresco,
e como eu estava feliz em sair de lá—tudo verdade—então sentei em
silêncio no banco de trás, me mantendo separada da Besta e suas
demandas. E pela primeira vez, não implorei por uma viagem até uma
lanchonete.

Havia tendências violentas no tecido social vampiro, ondas de


agitação política, problemas que eu não sabia que existiam. Era o tipo
de coisa que a policial Jodi Richoux gostaria que eu contasse a ela, e que
eu estava proibida de compartilhar sob pena daquela morte lenta e
terrível, conforme estipulado em meu contrato. E ... Eu havia criado
atrito entre Pugilista e seu chefe. Eu ainda estava me culpando pelos
dois problemas quando fui dormir perto do amanhecer, sem mudar,
mais uma vez.

em Nova Orleans é tranquila. Não tão

descontraída como as sextas-feiras, mas perto, embora sem a expectativa


de festa dedicada a véspera do fim de semana. Decidi passear, mas com
propósito, revisitando todos os lugares que eu tinha estado e lugares nos
quais Besta tinha mostrado interesse.
Vestindo minhas calças cargo leves, uma regata e chinelos, amarrei
duas cruzes em volta da minha cintura e enfiei uma estaca na minha
calcinha e duas no meu cabelo, apenas no caso, embora eu realmente
não achasse que ficaria fora o tempo suficiente para perder a proteção
da luz do dia. Adicionei óculos de sol. Vestida como um morador local,
caminhei, cheirei e olhei as vitrines.

Não uso muitas joias, pois uma mudança apressada vai deixar isso
quebrado na poeira, junto com roupas rasgadas e destroçadas, mas
quando vi um anel de prata e pedra e um colar estilo pepita na vitrine de
uma loja estreita, eu não pude evitar. Entrei e, quando saí, estava usando
o conjunto, junto com a corrente de ouro e a pepita que raramente tirava.
O novo colar era feito de âmbar báltico , calorosa e amarela, resina de
árvore de cinquenta milhões de anos que realçava o âmbar dos meus
olhos. As pepitas eram tão grandes quanto nozes e ficavam muito bem
com a pepita de ouro. A configuração de prata do anel tinha o estilo de
garras de gato segurando a pedra. Foi o destino. O conjunto parecia
realmente elegante contra a minha camiseta laranja queimada, e embora

A região do Báltico é o local do maior depósito conhecido de âmbar, chamado de âmbar do Báltico ou succinite.
Datada de 44 milhões de ano atrás, no Eoceno. Estima-se que estas florestas produziram mais de 10⁵ toneladas de âmbar. O âmbar é uma resina
fóssil muito usada para a manufatura de objetos ornamentais. Embora não seja um mineral, é por vezes considerado e usado como uma gema.
Sabe-se que as árvores (principalmente os pinheiros) cuja resina se transformou em âmbar viveram em regiões de clima temperado.
eu me lembrasse de garotas da minha juventude dizendo que eu não
deveria misturar ouro e prata, elas não estavam aqui para me provocar.

De volta às ruas, eu caminhei, mas eu não estava divagando pelo


ambiente, eu estava caçando o desonesto, traçando o caminho que Besta
havia tomado em sua primeira expedição de rastreamento. Meu nariz é
melhor do que a maioria dos humanos por razões que não tenho certeza,
mas atribuo isso ao número de anos que passei na forma de gato. Achei
que as memórias daquela época e de minha infância haviam
desaparecido, para nunca mais serem recuperadas, mas como Aggie e
Leo trouxeram algumas de volta, com uma clareza surpreendente,
tridimensional e de cinco sentidos, talvez houvesse outras,
profundamente enterradas. Realmente enterrado profundamente.

A três quarteirões do rio, avistei Antoine no quarteirão do


restaurante do buraco-na-parede que Rick me levou. O cajun estava
vestindo uma camiseta, shorts largos, sandálias de corda e dreadlocks
em um rabo de cavalo grosso amarrado na nuca com uma corda. O
cabelo me desconcertou por um momento, já que antes estava escondido
sob seu grande chapéu branco de chef. Ele não me viu, então entrei em

Dreadlock ou lock-dread, rasta ou simplesmete dread, é um penteado na forma de mechas emaranhadas, ou uma forma
de se manter os cabelos que se tornou famosa com o movimento rastafari.
uma porta recuada e observei. Ele estava com pressa, afastando-se do
rio.

Antoine escolheu um caminho direto, caminhando duro e rápido.


Um homem com propósito. Então eu o segui. Com as mãos nos bolsos,
caminhei pela rua, contornando as esquinas, me mantendo para trás,
preguiçosa e inocente, mas movendo-me rápido como Besta quando
ninguém estava olhando, seguindo-o na multidão de turistas. Ele se
esgueirou por uma porta lateral da Royal Mojo Blues Company. —
Bem, bem, bem, —murmurei para mim mesma. Será que devo seguir?
Sem ter certeza e satisfeita em apenas assistir, sentei-me à pequena mesa
de um café ao ar livre, pedi beignets —donuts franceses—e um chai
quente apesar do calor, estudando o RMBC, preguiçosamente e fazendo
isso funcionar. Não estava acontecendo muita coisa, mas gostei da
mistura de aromas no vento.

Eu não estava longe da zona de matança onde o desonesto havia


derrubado os policiais. Isso poderia ser coincidência—o Quarter era
pequeno, afinal—e Besta notou muita atividade vampírica, mas eu não
sabia o que fazer com o destino de Antoine. Enquanto as pessoas
assistiam, suei e descansei na brisa lenta e quente, comendo três

Carolina ou ‘beignets’ é um doce derivado do éclair, tradicional doce francês. É uma minibomba recheada com creme de
chocolate, doce de leite ou creme de confeiteiro. Carolinas são especialmente comuns no estado de São Paulo, onde são encontradas facilmente
em padarias.
beignets, que deixaram uma poeira de açúcar em pó na minha camisa.
Mais três pessoas entraram na RMBC, dois homens e uma mulher com
saia longa e muitas joias penduradas. Ao contrário de Antoine, todos
entraram pela porta da frente, embora o restaurante não estivesse aberto,
uma placa de FECHADO na janela da frente. Eu estava ficando
interessada. Chamei a atenção do garçom e mostrei uma nota de dez,
que deixei sobre a mesa para a conta e uma gorjeta confortável.

Antoine havia entrado pela lateral, perto dos assentos ao ar livre,


então pulei o portão e segui por aquela porta, que girava em dobradiças
silenciosas. Não invadindo exatamente, mas invadindo com certeza. Lá
dentro, o calor, que eu tinha esquecido de alguma forma enquanto me
sentava e tomava um gole de chá, estava bloqueado, o ar mais frio do
que dentro de uma geladeira. Arrepios de frio subiram em meus braços
enquanto eu estava na escuridão e deixei meus olhos se ajustarem.

O restaurante e o salão de dança cheiravam a fumaça velha, cerveja


velha, produtos de limpeza, uma mistura de aromas de humanos e
vampiros, urina e suor, graxa frita, peixe, carne, especiarias e pimentas
e pasta de dente mentolada, o cheiro se dissipando enquanto eu
esperava. Eu segui o leve formigamento de poder no ar, o poder de
Antoine, familiar pela forma como fazia meus dedos formigarem, como
se as almofadas coçassem.
Eu segui a assinatura de poder pelo clube tão facilmente quanto um
cheiro, me levando para trás. Eu ainda podia sentir o cheiro do sangue
de Bliss, e um cheiro aromático de sangue de vampiro, da estaca
abortada, e outro cheiro de bruxa, um perfume picante e tentador
enterrado sob a assinatura de poder. O perfume se encaixava
perfeitamente na mulher com saia longa e joias.

Uma porta se abriu. O som abafado do motor de um carro passou,


colocando-o na frente do prédio. — Marceline? Anna? Já estão aqui? —
Era o Joe. Rick. O que era apenas uma coincidência demais. Ou não
era? Besta acordou e rugiu silenciosamente em minha mente. Eu
inspirei, classificando os aromas da melhor forma que pude nesta forma.
Vários vampiros, incluindo Leo, muitos humanos, fumaça de cigarro.
Mas nenhum cheiro em particular saltou e gritou lógica para mim. Rick
estava se aproximando. Tive a sensação de que se simplesmente ficasse
parada e perguntasse o que estava acontecendo, seria empurrada para
fora, então procurei um esconderijo. Nada. Sem armários, sem quartos.
Olhei para a escuridão acima. O teto estava cerca de quatro metros
acima de mim, pintado de preto, junto com os dutos, fios e acessórios
expostos. Besta gostou do grande duto, e tive a imagem de um enorme
galho de árvore para ficar à espera de uma presa incauta. Eu
provavelmente poderia alcançar o topo do duto se pular do balcão.
Rapidamente, corri das sombras e saltei para o topo do bar.
Agachada nas pontas dos pés e nos nós dos dedos de uma das mãos.
Examinei a sala. E avistei uma pequena saliência atrás do bar. Calculei
a distância, pulei e segurei a saliência com uma das mãos. Balançei em
direção ao espelho. Por que os bares tem espelhos? Para que bêbados
infelizes possam se ver chorar? Assim, os bebedores à espreita podem
procurar prováveis parceiros sexuais? Meus dedos escorregaram e Besta
me golpeou mentalmente. Meu dedo do pé tocou o espelho e eu
empurrei, usando o balanço para colocar minha outra mão na saliência
e puxar meu corpo para cima, o novo anel cortando minha palma e
dedo.

A saliência tinha quarenta e cinco centímetros de largura, pintada


de branco para refletir as luzes minúsculas apagadas. Coelhos de poeira
giravam ao meu redor, alguns grandes o suficiente para serem
hipopótamos de poeira. Besta enviou a imagem de um coelho do
tamanho de um carro pequeno. Bom para comer. Eu sorri e girei para
sentar confortável no canto obscurecido, em vez de em cima do duto.
Da minha posição, eu podia ver quase tudo: mesas, uma área com
cortinas atrás do palco da banda, uma longa prateleira de chaves
individuais atrás de uma placa sobre a caixa registradora. E Rick entrando

São bolas de poeira ou tufos, mas por causa de Besta ela pensou neles com a forma de coelhos.
na sala. O fedor lembrado de charuto velho agarrou-se a ele, e eu franzi
o nariz. Cheiro de charuto fresco é uma coisa. Charuto velho é outra
coisa.

— Aqui, —disse Antoine, emergindo da parte de trás. Não do


corredor para os banheiros, mas do outro canto, uma abertura que eu
perdi na escuridão da noite e não visível das sombras da porta lateral ou
sobre o bar. — Ricky-bo, —ele disse enquanto os homens apertavam as
mãos.

A porta da frente se abriu novamente, Rick se virou. Uma mulher


entrou, um xale em volta da cabeça e ombros, apesar do calor. Os dois
trocaram um olhar enquanto ela tirava o xale. Seu cheiro me atingiu e
eu fiquei tensa. Era a mulher que dormiu com o vampiro desonesto.
Surpreendentemente, ela parecia familiar, mas não consegui identificá-
la. Eu tinha passado por ela na rua? Não no culto dominical da igreja,
certamente, não com sua elegância discreta. Esta mulher teria se
destacado—loira, elegante, olhos azuis e pele cor de pêssego e creme,
seda e linho e sapatos delicados, provavelmente italianos. Grandes
diamantes e ouro nas orelhas e no dedo anular, junto com uma aliança
de casamento. Casada. Com Rick? O ciúme surpreendente passou por
mim. Em seguida, veio a certeza de que ela era casada com outra pessoa,
não com Rick. O ciúme desapareceu, mas não meu desconforto por ele
ter surgido em primeiro lugar. Rick era muito tortuoso para o meu gosto.
Muito astuto. Também ... alguma coisa. Razão pela qual Besta gostava
dele. Todos esses pensamentos no tempo que levei para respirar.

— Anna, —Antoine disse, seu sotaque Cajun engrossando


conforme o poder que ele usava como uma segunda pele se juntou e
apertou sobre ele. — Bom, você chegou. Para os fundos. —Antoine
trancou a porta da frente e contornou as sombras para trancar a porta
lateral. Os três desapareceram na escuridão por um curto corredor. Uma
porta se abriu. As vozes foram filtradas. A porta se fechou. O lugar era
bem construído—à prova de furacões—e à prova de som. Não consegui
distinguir nada.

Considerei pular e espiar, mas pelo jeito que os sons ecoaram


quando eles entraram na sala, pode não haver saída por trás. Eu não
queria ser pega invadindo, ouvindo pela porta. Eu caí, pousando
levemente no bar junto com um monte de coelhinhos de poeira
espalhados, que varri para o chão a caminho das chaves.
Silenciosamente, agradeci à simpática pessoa que etiquetou
cuidadosamente cada uma e fugi com um dos três para a porta lateral.
Eu esperava que ninguém notasse que tinha sumido.

Só depois de sair para a rua, com a chave roubada no bolso, pensei


na possível presença de câmeras no restaurante. Câmeras que poderiam
ter me visto pular para a borda. Não é um movimento totalmente
humano. Eu descartei a preocupação que se seguiu. O encontro na
Royal Mojo Blues Company foi secreto. É improvável que câmeras
estejam ativas para detectar os participantes chegando ou saindo. Eu
tinha certeza de que estava segura.

Eu estava na metade do caminho para casa quando me lembrei de


onde tinha visto Anna. No Times-Picayune. Anna era a esposa do
prefeito. Agora, essa era uma situação interessante. Rick, o prefeito e o
desonesto, todos com a mesma mulher. Como diabos ela aguentou o
fedor do ladino?
minha casa de brinde, tirei

as joias e as roupas suadas e empoeiradas, e levei quatro bifes e o colar


de garras de pantera para o quintal. Embora fosse apenas início da noite,
eu mudei.

Com fome. Comeu vaca morta. Esticou-se. No alto, em pedra


aquecida pelo sol, tombada de lado, rosto na rocha, bigodes fazendo
cócegas. Ronronando, enquanto o pôr-do-sol pintava o céu de muitos
roxos. A chuva salpicou a pedra quente, amortecendo a pele. Aromas
fortes no chuveiro. Mofo, rio, peixe, sangue de vaca, cães, gatos. Presa.

Rato saiu para brincar, deixando rastros na lama. Eu suavizei a


respiração. Assisti ele disparar entre as pedras. Olhos estreitos,
preguiçosos, contentes. Comer ou brincar com rato. Mas caçar em
breve. É uma tolice desperdiçar força com o rato. Não importa o quão
divertido.
Escuridão total caiu. A chuva era constante e lenta. Um sino
distante tocou. Tempo passou. Mexeu, se espreguiçou novamente,
puxando juntas, músculos, sacudindo a chuva. Jardim estudado.
Rondou. Marcou. Minha toca. Saltou para a parede e mergulhou nas
sombras. Caminhando por becos e ruas laterais, cheios de cheiros.
Saltou por cima de portões altos que mantinham os humanos fora,
animais de estimação dentro. Manteve-se nas sombras, seguindo seu
cheiro de volta. Comida/álcool/local de acasalamento aberto. Clube.
Diferentes fabricantes de música encheram a noite de som. Multidão
menor. Humanos cheiravam solitários novamente.

A chuva lenta e constante voltou, mantendo os humanos dentro de


casa. Paredes rondando do prédio, encontrando um lugar escuro na rua
lateral. Carros estacionados. Farejou um grande, de propriedade do
vampiro. Leo.

Ela me comandou, Caçar. Agora. Bufou, mas entrou em um trote


rápido. Quando a rua estava vazia, aproximou-se da porta da frente.
Tornou-se pequeno na sombra, cauda apertada, patas juntas, próximas.
Puxado em cheiros, boca aberta, lábios puxados para trás. Encontrou o
rastro de Anna e Rick, coberto por muitos outros, lavado pela chuva.
Mas eu sou um bom caçador. Percebi que eles partiram com pouco
tempo um do outro, seguindo o mesmo caminho. A trilha de Rick se
sobrepõe à de Anna. Observou ela. Presa. Seguiu pela Royal Street,
longe do clube. Os aromas da trilha se sobrepõem. Rick perseguindo Anna.
Curvado, rastejando, mantendo-se nas sombras. Carros passaram,
movendo-se lentamente. Escondido de cada um. Segue. Caçando.

Encontrou seu cheiro pairando no ar. Misturado com cheiro de


sexo, suor, chocolate, vinho. Acima. Na borda. Uma varanda privada com
uma porta aberta—pensamentos dela. Um hotel caro. O quarto ao lado
deles continha apenas o cheiro fraco de pessoas. Vazio. Sombrio. Portas
fechadas.

Salto único sobre a grade da varanda, giro da cauda para manter o


equilíbrio. Mesa, duas cadeiras ocuparam o chão. Caiu entre elas,
batendo na mesa. A panela chacoalhou, rolou para a borda. Rápido.
Pegou pelas patas dianteiras, parado. Pote lançado, que assentou.
Agachado no escuro, eu/nós ouvimos.

— Você tem que ir logo? —Rick perguntou, sua voz preguiçosa.

— Por quê? Você já sente minha falta?

— Sempre. —Mentiras no tom das palavras. Lábios humanos fizeram sons de


estalidos. Se beijando.
Coisa boba, beijar. Lamber melhor. Mas o som deixou Jane
triste. Furiosa. Eu cortei suavemente. Pegue-o. Cace-o. Ela ficou em
silêncio.

A cama rangeu. Odores de sexo se espalharam pela noite: suor,


sêmen, hálito quente, aroma de flores. Produtos químicos de perfume
anna-humano, fedor de detergente, amaciantes de roupas. Além disso,
fraco, fazia parte do cheiro e do sangue do Louco. Anna-humana tinha
sido refeição de sangue para ele recentemente, depois de se alimentar o
suficiente para esconder o cheiro de podridão do nariz humano. Embora
Anna-humana lavada com água, eu ainda sentia o cheiro, escondido sob
produtos químicos.

Ahhh, Jane pensou, animada. Só cheira a decomposição quando está com


fome. Esse é um dos motivos pelos quais a assinatura do perfume é tão complexa.
Por que eu não descobri isso?

Jane não Besta. Não é uma boa caçadora. Eu fiz um som baixo
—sheeeeghhh—inalando, puxando o ar sobre a língua, sobre os sacos de
cheiro no céu da boca. Anna-mulher não fértil. Ainda acasalada.
Humanos confusos. Estranho. O cheiro de Louco também era estranho.
Tinha peças novas e diferentes. Ainda um Louco, mas não. Confuso
como humanos acasalando fora da estação. O som e o cheiro do sexo
acabaram.
Ela pensou, Entããão. Ele come carne para esconder o que está acontecendo
com ele que o faz cheirar a podridão? Mas por que está apodrecendo? Você disse
que estava doente ...

— Eu ainda não entendo porque você quer falar com ele, —Anna-humana
disse.

— Negócios, baby. Um negócio grande o suficiente para tirar você dele. —


Cheiro de mentiras nas palavras. — Você ouviu o que meus amigos disseram hoje.
Precisamos saber sobre essas compras de terras.

Ela suspirou, fazendo beicinho. — Vou tentar levá-lo para vê-lo.

Outra mentira. Mais sons de beijo. Fede ao vento. Sexo sem


acasalamento é sempre mentira. Os humanos não podem cheirar
mentiras. Triste.

— É melhor eu ir. É uma longa viagem até a casa, —disse ela. — A menos que
você tenha energia para ... —Mais beijos. Riso baixo. Cheiro de sexo crescendo.

No fundo, Jane ficou em silêncio. Recuando. Besta pensou no rato


no jardim. Deveria ter ficado. Brincado com isso. Lanche pequeno,
fresco e assustado. Melhor que isso.

Gemidos baixos, risos, sussurros no ar.


Ela estava brava. Eu rosnei baixinho. Eu/nós devemos caçar,
matar o homem. Matar o companheiro que não era. Alguns, no
passado, cruzaram em meu território, dando sinal para acasalar.
Aparecendo de novo, de novo, mas apenas provocando. Memória das
garras arranhando o traseiro de um. O sangue jorrando em sua pele
enquanto ele se virava. Tracejado de minha terra de caça. Eu bufei em
lembrança de satisfação. Ela sorriu, divertida, menos triste.

O acasalamento demorou muito. Muito mais tempo do que


qualquer animal. Quando acabou, Anna-humana saiu da cama. O
cheiro se espalhou. Rick não tomou banho. Carregou seu perfume sobre
ele. Eles deixaram o quarto. Escutei, rastreando-os enquanto eles se
moviam pelo hotel. Um carro se afastou da garagem, seu cheiro nele.
Rick caminhou na rua, passando por baixo. Se foi. Saltei para passar por
baixo da varanda. Em seguida, o interesse de Jane aumentou. Ele
caminhou dois quarteirões e virou na rua lateral.

Sua motocicleta descansou em um pequeno lote. Eu me agachei ao


lado da parede e da pequena varanda, observando, ouvindo. Rick ficou
parado, meio na sombra, meio na luz do poste alto. Ele estendeu um
pedaço de papel. Um humano sonolento escondido no escuro estendeu
a mão. Pegou. Dinheiro. — Obrigado, cara, —Rick disse.
— A qualquer hora, Ricky-bo. Você teve sorte? —Sexo em questão, malicioso.
O humano escondido estava de pé, uma sombra mais clara na noite.

— Não é sempre assim? —Orgulho e diversão em questão.

— Detalhes, cara. Eu quero detalhes.

— Não desta vez, Paco. —Rick sorriu, seus dentes brancos. — Talvez na
próxima vez.

— Vamos lá, cara. Pelo menos me diga se foi aquela garota mulata . Você
diz que ela o rebaixou como um lutador profissional. Não achei que você teria sorte
com ela tão cedo.

— Ela não. —Em tom de sorriso de homem. — Mas estou trabalhando nisso.
Parte do jogo, meu caro. Parte da perseguição. Mas a garota não é mulata. Ela é
Cherokee, eu acho.

— Sim? Ouvi dizer que as garotas índias ficam com calor depois disso.

— Veremos.

Curvei meus lábios, mostrando os dentes. Jane não faz parte do


jogo.

Yaller gal em inglês quer dizer “menina mais velha” ou “mulata”, mulata concebida por meio de alguma combinação de ascendência
negra e branca.
Rick bateu os punhos em Paco, colocou o capacete na cabeça e
montou na motocicleta. Ligou virando a chave. Com o rosnado da
máquina, ele disse: — Até mais tarde, meu caro. —Motocicleta rodando ao
redor, sobre pavimento irregular na rua. O rugido da motocicleta ficou
mais alto. Virou para o norte. O instinto de Caçador deu destino. Ele se
dirigiu para a casa dela. Seu covil. Ir para casa! Ela comandou. Rápido!

Eu pulei, girei no ar. Jogou-se para trás, para correr. Correu por
sombras e luz. Ruas vazias. O amanhecer estava próximo. Peguei
caminhos desconhecidos, seguindo as correntes de ar que se moviam
pelo Quarter. O coração disparou. Respiração quente. Corpo quente.

Os grandes felinos são rápidos. Mas no verão, apenas por pouco


tempo. Melhores perseguições no inverno, respiração ondulante, gelo
nos bigodes. Aqui é sempre verão. Água espirrou de poças,
contaminando com gasolina e urina. A língua pendeu, a respiração
difícil e rouca, soando úmida.

Os cheiros voavam como o vento: humanos, cães, gatos, um gambá


carregado de filhotes. Comida, temperos, pimentas, lixo podre, fedor de
bueiros—quente, úmido, cheio de coisas mortas. Queria explorar.
Esconder-se no escuro. Ela recusou. O calor se acumulou por dentro.
Respirar como fogo.
Perto do Katie’s, corri. A motocicleta se aproximou lentamente.
Mais lento ao entrar em meu/nosso território. Muito perto. Desci uma
passagem estreita. Saltei. Aterrei no topo de uma parede de tijolos,
correndo em uma saliência estreita, como um membro, mas plano. Os
pássaros grasnavam, agitavam-se e entravam em pânico à noite. A
motocicleta morreu.

Não está morto. Ela havia explicado. Não está morto. Mas não
vivo. Parado.

Caiu sobre a parede. Aterrou em uma grande rocha. Respiração


ofegante. Quente. Muito quente. Muito quente. Rick tocou a campainha.
Batida, som alto através da casa vazia. Deve mudar. Deve mudar. Agora.
Rick no portão. Fechadura aberta. Luz na mão. Onde ele conseguiu a
chave? Sua preocupação.

Meu território. Meu. Lábios puxados para trás para mostrar dentes
assassinos. Viu novamente a pata golpeando o macho provocador,
tirando sangue. Perseguindo o macho provocador da minha toca. Meu.
Queria atacar, mas ela se conteve. Não. Espere. Assista. Ofegante, caí nas
sombras entre a rocha e a parede, bem enrolada, tentando sufocar o
hálito quente. Precisa de água. Muita água. A fonte tilintou suavemente.
Provocando com necessidade. Como o gato macho brincou.
Provocação odiada.
A luz brincou no jardim, para frente, para trás, para cima, para
baixo. Botas trituravam terra. Ele moveu o vaso quebrado, derramando
terra, sons suaves de terra deslizando como o interior de refeição morta.
Ele fez uma pausa. Agachou. Eu levantei a cabeça para ver, nariz e
orelhas não são suficientes.

Ele estava curvado, sentado com as pernas, torso alto. Raio de luz
brilhante sobre o local onde comi. A chuva lavou o sangue? Deveria ter
... Ele tocou o chão. Colocou os dedos na luz. Sangue aguado sobre eles.
Ela ficou tensa, observando. Rick limpou as mãos na terra e ficou parado
olhando para o jardim. Eu caí baixo. Luz e passos se afastaram. Ele saiu,
fechando o portão depois.

Correu para a fonte e bebeu, bebeu, bebeu. Encontrou sua forma na


memória e mudou.

do meu corpo nu no ar quente e úmido da

noite. Os músculos de minhas coxas e panturrilhas se contraíram onde


me agachei na pedra. O suor brotou em mim em enormes poças,
acumulando-se, riachos correndo pela minha espinha e entre os meus
seios. Pelo meu cabelo, emaranhando as mechas. Náusea e fome
guerreavam na minha barriga, com cólicas também.

Uma dor agarrou minha cintura e eu vomitei. Assustada, vomitei a


água quente que acabara de beber. Isso nunca tinha acontecido antes.
Eu estava com muito calor. Eu raramente corria por tanto tempo na
forma de Besta e estava tendo problemas para me livrar do calor. Eu
poderia trotar ou caminhar por longas distâncias, mas uma corrida
mortal era para o sprint mortal final, quando garras e dentes travaram
nos quartos traseiros e tendões das pernas de grandes presas em fuga,
presas marcadas em uma emboscada malfeita, ao cair de um alto
membro ou saliência deu errado. Correr era para matar. Não para correr
pelas ruas da cidade.

Forcei-me a ficar de pé, puxei a mochila de viagem do pescoço, isto


havia escorregado durante a corrida, sufocando. Instável, com o suor
escorrendo na minha pele, fiz meu caminho até a casa e para dentro.
Instantaneamente, senti o cheiro de outro intruso, agora desaparecido,
seu cheiro pairando no ar tinha várias horas. Pugilista me fez uma visita.
Droga, eu estava ficando popular. Tropecei para o chuveiro, joguei as
roupas agora secas do lado de fora da porta do chuveiro e abri a água
fria, ou tão fria quanto a água pode entrar neste pântano aquecido de
um lugar. Fiquei sob o spray, deixando-o lavar o fedor de suor e da
gasolina que me respinguei, drenando a sensação de enjôo. Levou um
longo tempo. Mais do que eu esperava. A água caiu e eu bebi o spray
para me reidratar. Esfreguei minhas panturrilhas com cãibras, um pé de
cada vez no assento do canto. Eu estremeci com a reação.

Não admira que os grandes felinos nativos desta região fossem


muito menores do que seus primos Apalaches. A dissipação de calor era
difícil com uma massa corporal maior. Quando finalmente acalmei, me
sequei e fui até a cozinha onde comi dois Snickers enquanto preparava
uma grande panela de aveia para oito xícaras. Eu comi cada garfada em
pé no fogão, nua e tremendo e empurrando tudo para dentro.

Eu não deveria ter forçado Besta, não deveria ter feito ela correr
tanto e rápido. Mas então eu teria perdido de ver o Joe vasculhar meu
jardim. Eu tinha que descobrir quem havia lhe dado a chave do portão.
E pegar isso dele. E ensinar a ele uma lição sobre invadir minha casa.

Meu território, Besta rugiu com raiva. Minha toca.

Snickers é uma barra de chocolate feita pela Mars, Incorporated. Consiste em torrone de manteiga de
amendoim coberto com amendoins e caramelo com chocolate ao leite. Snickers é o chocolate mais vendido de todos os tempos e possui vendas
globais na marca de US$2 bilhões.
— Sim. Eu concordo totalmente, —eu disse entre mordidas. — Meu
território. —Não importa o quão temporário.

Quando a fome foi saciada o suficiente para eu pensar, torci meu


cabelo para fora do caminho, em um nó e um longo rabo de cavalo
molhado, e caminhei pela casa, cheirando. Pugilista havia entrado pela
varanda lateral. Outro intruso para lidar. Quantas chaves da minha casa
de brindes e jardim havia? Katie os distribuiu como se fossem doces?

Pugilista fez seu caminho pela casa lentamente, parando em cada


um dos lugares onde eu havia descoberto câmeras. Ajoelhei-me e cheirei
cada um, ele não havia tocado em nada. Mesmo na forma humana, eu
tinha certeza que seu cheiro não estava nos fios ou cabos. Ele apenas
parou em cada ponto, como se estudasse a destruição. No banheiro, ele
havia tocado as roupas penduradas no chuveiro, ainda úmidas no
momento, seu cheiro nelas mais forte, como se as tivesse inspecionado
em busca de manchas de sangue.

Seu MO mudou no meu quarto. Ele ficou por mais tempo em


cada câmera, talvez olhando em volta, estudando, absorvendo. Seu
cheiro estava nas alças. Ele abriu cada gaveta, olhou no armário. Tocou
minhas roupas, apertando bolsos e bainhas com uma meticulosidade

Modus operandi {m.} (também: modus operandi, MO, M.O).


que não era carnal—era uma busca profissional. Peguei uma cadeira e
verifiquei a caixa na prateleira de cima. Coloquei um dedo sobre ela,
sentindo o leve zumbido que indicava que o feitiço de ofuscação ainda
estava ativado. Ele não havia tocado. Mas eu não poderia dizer a mesma
coisa sobre minhas armas. Elas haviam sido manuseadas.

Levei a espingarda Benelli M4 Super 90 para a cama e verifiquei se


havia adulteração. Este modelo M4 foi designado pelos militares como
uma Joint Service Combat Shotgun . Seus componentes de aço tinham
acabamento preto fosco, fosfatado e resistente à corrosão, as peças de
alumínio eram mate e anodizadas duramente, o acabamento reduziu a
visibilidade da arma durante as operações noturnas. A espingarda é
considerada por muitos especialistas como quase à prova de idiotas.
Requer pouca ou nenhuma manutenção, opera em todos os climas e
condições meteorológicas, pode ser despejada em um lago ou lagoa e ali
deixada por muito tempo sem sofrer corrosão. Ela pode disparar 25 mil
cartuchos de munição padrão sem a necessidade de substituição de
nenhuma peça importante. Eu havia estudado muito e muito antes de
investir na arma.

A Espingarda de Combate de Serviço Conjunto (Espingarda de Combate) é um programa


conjunto para selecionar e colocar em campo uma espingarda leve, semiautomática, calibre 12 para substituir as espingardas de ação de bomba
atualmente em uso por cada um dos serviços militares. ... (1) Capaz de operação semiautomática.
A Benelli, uma espingarda de cano liso, alimentada por carregador
e semiautomática, foi projetada em torno do sistema de disparo auto-
regulado operado a gás—ARGO—com dois cilindros de gás, pistões de
gás e hastes de ação para maior confiabilidade. O travamento do cano é
feito por meio de um parafuso giratório com duas alças. Ele pode
disparar projéteis de 2,75 e 3 polegadas de diferentes níveis de potência
sem qualquer ajuste do operador e em qualquer combinação, e pode ser
ajustado ou instalado em campo sem ferramentas. É perfeito para
combates próximos em operações com pouca luz. É uma arma
totalmente legal. Mas, principalmente, gostei do fato de ser à prova de
idiotas.

A arma estava carregada para vampiro com cartuchos de fléchette


de prata feitos à mão por um amigo nas montanhas. As fléchettes eram
como minúsculas facas que, quando disparadas, se espalhavam em um
padrão circular e alargado, penetrando no alvo com uma força
dilacerante e mortal. O fato de cada fléchette ser composta de prata
esterlina diminuiu seu poder de penetração, mas as tornava venenosas
para os vampiros, mesmo sem um ataque direto. Não havia nenhuma
maneira de um vampiro tirar todas de seu corpo antes de sangrar ou a
prata se espalhar através de seu sistema. Abri o cartucho, inspecionei
cada parte com os olhos e o nariz. Pugilista não mexeu na arma, exceto
para ver o que eu carregava.

Além da caça à câmeras, eu não tinha feito uma segunda revista.


Ainda nua, segui Pugilista até lá, de cômodo em cômodo, todos os
quatro quartos com decoração antiga, armários e ambos os banheiros.
Ele foi mais rápido aqui. Muito mais rápido, como se soubesse que eu
raramente estava lá em cima. O que era um pouco estranho. Ele pode
achar que eu fiquei lá embaixo, mas como ele poderia saber?

De volta ao andar de baixo, ele passou muito tempo na cozinha,


especialmente olhando na geladeira. A maior parte da carne original
tinha acabado, sobrando apenas alguns bifes de lombo de boa qualidade.

Levei algum tempo para trabalhar com os feromônios emocionais


nos traços que ele deixou, mas finalmente me decidi por dois. Nojo e
curiosidade estavam em seu cheiro em partes iguais. Agora, por que o
capanga do chefe do conselho vampiro precisava saber sobre câmeras
desativadas em minha casa? E olhar no meu armário e gavetas? Minha
geladeira? Leo o havia enviado? Se sim, por quê?

A memória do sonho da caverna voltou, brilhante e chocante em


sua intensidade. Por um momento, eu estava na caverna, respirando
fumaça de ervas, figuras de sombras dançando nas paredes. Eu voltei
para o agora, estendendo a mão para me equilibrar.
Exausta, sentindo-me violada com a intrusão em minha casa e
jardim, eu andei de porta em porta, verificando as fechaduras—o que
não adiantaria com todas as chaves flutuando por aí. Depois disso, com
o amanhecer escurecendo o céu, me arrastei para a cama e adormeci
instantaneamente.

O sonho veio até mim, lento, predatório. Escorregou, caminhando de

perto, a visão de uma lua grávida, grande, redonda, cheia de luz, brilhando

na neve, refletindo em pingentes pendurados em galhos de árvores. As

estrelas no céu eram frias, menos brilhantes do que nas noites de lua

falciforme. Eu era gato, mas não Besta. Era eu mesmo, mas não exatamente,

da maneira estranha dos sonhos. Senti o cheiro da escuridão, bigodes

tremendo, cheirando a floresta, viva sob a neve, mas pesada com o longo

sono do inverno.

Sentei-me, imóvel, o rabo curto e atarracado bem perto, olhando para

uma extensão imaculada do prado deixado pelo fogo do homem branco.

Dor me rasgou, a fome apertando minha barriga. Eu tinha caçado, peguei


um coelho dias atrás. Agora eu esperava, observando o movimento na neve.

Eu tinha que comer ou morreria.

O vento mudou, levantando meu pêlo. O cheiro congelado de carne

veio no ar. Sangue. Uma morte, não minha, estava sob a neve. Perto. A fome

arranhou minha barriga. Levantei-me, abri a boca e inspirei os aromas

como Edoda havia me ensinado. O cheiro de gato grande foi mesclado com

o cheiro de sangue. O medo se transformou com fome, medo do Grande

Gato. Pantera. Tlvdatsi. A esperança passou por mim. Tlvdatsi. Edoda. Eu

bufei forte. Não. Edoda está morto. O cheiro de seu sangue era uma

memória cruel.

A dor trouxe a consciência de que eu estava sonhando. Uma

consciência que me empurrou para cima e para fora do sonho, tornando-

me uma observadora. Isso é novo, pensei. Não é um sonho. Uma memória.

A excitação cresceu ao longo dos meus nervos. No sonho/memória, cheirei

profundamente, comportamento flehmen , outra parte de mim pensou,

O reflexo flehmen é o nome que se dá, em zoologia, à reação presente nos mamíferos ungulados, felinos e outros, a fim de facilitar a
percepção de feromônios e outros cheiros pelo órgão vomeronasal.
sonolenta. Órgão de Jacobsen, necessário para todas as criaturas que usam

métodos de comunicação olfativa e feromonal.

Este era um cheiro de gato diferente, perigoso para o lince – para nós.

Para mim. Mas o Grande Gato se foi. Ele tinha escondido sua morte. Eu

rastejei pela neve, parando frequentemente para me agachar e ouvir. Para

cheirar o vento. Se foi. Grande Gato havia abandonado sua presa.

O cheiro de sangue cresceu, congelado sob a neve. A fome me agarrou

como se estivesse viva, exigindo, comer, comer, comer. A matança foi

empurrada para baixo da borda de uma rocha branca e amarela, de

quartzo branco como a neve, com nervuras de ouro do homem branco. O

cheiro de sangue alcançou a neve. Desembainhei minhas garras e afastei a

neve, flocos de neve tocados pela lua voando na noite escura.

Uma carcaça de veado congelada foi revelada e eu a rasguei com

garras e dentes afiados. Comendo, desesperada. Sangue espirrando e

manchando meu pêlo frio, patas e mandíbulas. A fome parou de rasgar em

mim, satisfeita. E ainda comia. Vorazmente.


Um peso me jogou contra a carcaça. Garras rasgaram meus ombros.

Gato grande. Tentei correr. Minha pele rasgou em suas garras. O cheiro do

meu sangue era quente durante a noite. Tlvdatsi gritou. Me agarrou,

expondo minha barriga. Eu levantei minhas patas, as garras estendidas,

rasgando seu rosto. O cheiro de filhotes, nascido fora da estação, era forte

nela. Seu sangue caiu sobre mim. Suas presas rasgaram minha barriga.

Rasgando. Minhas garras cravaram profundamente nela. Nosso sangue se

misturou, correndo junto. A cobra enterrada no sangue de tlvdatsi se abriu

para mim. A dor rasgou meu coração. Minha respiração parou. Estou

morrendo.

Eu afundei na cobra do tlvdatsi. Profundo. Profundo. Eu vi onde

éramos semelhantes. E diferentes. Eu não poderia ser o Grande Gato. Eu era

muito pequena. A escuridão empurrou dentro de mim. Morrendo. Um

último aperto de garra. Desesperado. Frenético.


Eu estremeci na cobra. E roubei o corpo de tlvdatsi. Não apenas a cobra

sob sua pele, para compartilhar sua forma. Eu a peguei. Roubando seu

corpo. Roubando sua alma.

Luz, frio e sangue explodiram em mim. Tlvdatsi gritou de raiva.

Lutando comigo. Para dentro comigo. Não, não, não, não, não, não, não,

não.

Eu tomei tlvdatsi. A fiz minha. Enfiei minha memória em sua pele. Com

ela.

Eu/nós rolamos pela neve. Respirações intensas. O mundo mudou,

estremeceu, estremeceu. Eu lutei com ela pelo controle. E eu/nós nos

levantamos, exigindo fome. Eu/nós comemos de sua morte. Minha morte.

Tlvdatsi gritou e se enfureceu. Comer comer. A barriga doendo de

necessidade. Então, filhotes. Filhotes. Filhotes.

Parei de comer quando estava cheia. Satisfeita. E grande. Besta estava

agachada dentro de tlvdatsi comigo. Assistindo. Filhotes, ela exigiu. Me

mostrou o caminho de volta para ela/nossa toca. Aromas, marcos, lugares


marcados para torná-lo nosso/dela, dela/nosso. Segui perto da trilha, no

rastro de um lobo, escondendo minhas pegadas com as dele. Teria que

matar o lobo logo. Perigo para os filhotes.

Os filhotes emitiam gritos de fome, apitos estridentes. Gritou em tom

baixo. Eu/nós seguimos o meu cheiro de besta até o covil, uma caverna

baixa na rocha, abrindo-se o suficiente para rastejar, para a escuridão da

terra, para a caverna. Folhas explodiram. Boa toca. Eu/nós tocamos,

lambemos e cheiramos os filhotes. Muito jovem. Respiração cheia de leite,

bocas abertas no escuro. Eu/nós deitamos com eles, cuidando das patas. Os

filhotes puxavam-nos, com os dentes de leite incômodos, mas relaxantes

enquanto mamavam. A linguagem, a história e a memória desapareceram.

Enterradas. Besta nasceu.

Acordei com um tremor. Eu estava encharcada de suor, meu


coração um martelo desequilibrado. — Merda. O que é que foi isso? —
Mas eu sabia. Eu sabia. Era uma memória do meu próprio passado. Era
a memória de como Besta e eu acabamos dentro de mim juntas. Eu tinha
roubado seu corpo. E acabou com sua alma, dentro, comigo.
Bem no fundo, eu ouvi a respiração ofegante de Besta. Eu provei
sua raiva, velha e gasta como um osso, sem nada dentro ou fora, sem
medula, sem substância exceto memória.

— Querido Deus, —eu sussurrei. — O que eu fiz?

Nem Deus nem a Besta me responderam.

Isso estava fora da vida de um skinwalker. Eu sabia disso sem saber


como sabia. Eu tinha cometido o pior mal. Eu tinha roubado o corpo de
uma criatura viva. Besta me chamou de comedor de fígado.

Levantei-me dos lençóis úmidos emaranhados e despi a cama,


arrumei com lençóis limpos, jogando os úmidos no canto. Fedendo com
suor, tomei um banho, ficando muito tempo embaixo d'água como se
ela pudesse realmente me limpar. Exausta, subi de volta na cama e puxei
os lençóis e a colcha sobre mim.

Magia negra. Eu tinha feito magia negra.


Grito sobre grito.

Mulheres. Em terror. Katie’s.

Eu estava de pé e correndo antes de acordar totalmente. Pegando


armas e cruzes do armário. Tirando a espingarda de seu cinto. Corri pela
casa e para fora, na meia-luz da madrugada. Jogando cruzes na minha
cabeça, enfiando estacas no meu cabelo. Passei por cima da parede sem
diminuir o passo, tijolos arranhando minhas pernas.

— Merda, —eu grunhi. Eu ainda estava totalmente nua. É hora de


se preocupar com isso mais tarde. Se eu vivesse.

A porta dos fundos de Katie estava aberta em um ângulo. Arrancada


de suas dobradiças. Fiz uma pausa e observei a porta, marcas de garras
haviam arranhado a madeira. O cheiro de composto do desonesto estava
espalhado na porta, o fedor podre no topo, rançoso no ar. Se o que
descobri na longa noite anterior fosse verdade, ele precisava se
alimentar. Louco. Comedor de fígado. Besta se eriçou e eu rosnei.
Eu tinha acabado de verificar as cargas, mas minhas mãos voaram
com os movimentos de qualquer maneira. Satisfeita, coloquei a coronha
no ombro e entrei na casa, colocando cada pé descalço com cuidado
antes de transferir meu peso para frente, meu cabelo roçando minhas
costas a cada passo. Minha respiração doeu em meus pulmões enquanto
eu tentava respirar silenciosamente após a corrida, incapaz de respirar o
suficiente; meu coração tentou diminuir de velocidade acelerada,
batendo em um ritmo errático.

As luzes do candeeiro estavam acesas, mas apagadas, diminuídas


para a noite. Senti cheiro de sangue, ouvi choro. Outra pessoa
gorgolejava a cada respiração, como se estivesse respirando debaixo
d'água ou através de uma via aérea restrita. O sangue e o gorgolejo
vinham da minha direita, da sala de jantar, talvez.

Um grito abortado me puxou na direção oposta. Eu respirei fundo,


me acomodando. Dirigindo a boca da arma, a coronha bem firme no
meu ombro, me movi para a esquerda pelo corredor. Em silêncio, entrei
no escritório de Katie. Por um instante que durou para sempre, eu olhei.

O sangue espirrou nas paredes e no teto em enormes gotas


brilhantes. Troll estava contra a parede. Uma lâmpada acendeu,
lançando o quarto em sombras irregulares, cortando seu rosto em planos
de luz e escuridão, sua careca brilhando de suor. Ele estava olhando
através da sala, bochechas vermelhas, mãos em punhos ao lado do
corpo. Músculos tensos. Ele grunhiu com esforço. Imóvel. Preso,
pensou Besta. Sem respirar, tentando se libertar. Sua pele estava
vermelha e cinza. Lágrimas corriam pelo seu rosto.

Na mesa, do outro lado da sala destruída, o vampiro desonesto


estava curvado, encurvado. Ele segurou Katie em sua boca, suas presas
enterradas em seu estômago. Sucção. Mastigando. Seu cabelo caiu para
frente, escondendo seu rosto. Cabelo preto. Pele escura aparecendo,
acobreada. Como o meu. Suas mãos tinham garras—não garras retráteis
recurvadas para pegar e derrubar a presa, mas garras de pássaro, para
agarrar a presa na mosca.

Uma gota de sangue caiu do teto. Lentamente. Captando a luz


fraca. Caindo no meu ombro com um plop suave e frio. Respirei fundo,
tão fortemente cheirando a sangue de vampiro e desonesto que estava
sufocando.

Mais rápido do que o pensamento, imagens de possibilidades se


sobrepõem em minha mente. Eu atirando. Katie tomando algumas das
balas venenosas. Eu correndo para colocar a espingarda em seu lado.
Ele me parando com sua mente. Eu batendo as cruzes de prata em cima
dele, para vê-lo borbulhar e queimar. Ele me parando com sua mente.
Eu correndo para estacá-lo. Ele me parando com sua mente. Sem boas
alternativas. Eu puxei uma estaca do meu cabelo. Correu dentro. O
tempo foi lento.

O ladino ergueu os olhos. Olhos vampiros, pupilas negras do


tamanho de uma moeda em orbes vermelhas e sangrentas. Ele ergueu a
boca de Katie. O sangue jorrou em seu rosto. Sua língua estava preta.

Sua mente se estendeu, formigamentos negros de poder ardendo ao


longo da minha pele. Sua mente agarrou a minha. Vampírico e
congelado. Pare, ele ordenou.

Lutei contra sua compulsão. Eu não conseguia parar. Tropecei.


Besta empinou. Eu/nós gritamos. Peguei meu equilíbrio a dois passos
de distância. Ainda em movimento. A energia negra apertou em mim,
agarrando. O tempo diminuiu, adquirindo textura, ganhando uma
consistência pesada e oleosa. Sentindo como se tivesse me movido
debaixo d'água, meus músculos se esticaram. Virei a estaca para uma
estocada na axila. Um ataque mortal enquanto eu corria. Um passo.

Sangue coagulado cobria sua boca e queixo e derramava em suas


roupas. Roupas chiques. Um smoking. Um segundo passo. Ele riu. A
risada espalhou-se por mim como mel quente. Congelando sobre mim.
Pare ... A escuridão me levou. O momentum ainda me dominava. A
mente dele ... fechou sobre mim.
Mas Besta tinha minha alma. Com um grito que rasgou meu cérebro
e saiu pela minha garganta, Besta me libertou de seu controle. Eu colidi
com o desonesto. A Benelli e meu corpo deslizaram entre o dele e o de
Katie. Ela começou a cair. A estaca subiu em seu arco perto da minha
coxa. Levantando para cortar entre nós. Mirou em sua barriga e para
cima, sob as costelas. Eu tive um vislumbre de seu rosto. Um homem.
Nariz e queixo falsos. Lábios puxados para trás das presas na mandíbula
superior e inferior. Não é alguém que eu já tenha visto antes.

O ar estremeceu. Frio. Gelado. E o vampiro se foi.

Eu caí para frente, tropeçando, me segurando com os reflexos de


Besta. Com os joelhos dobrados, o corpo meio agachado, peguei Katie
na minha coxa. Eu a coloquei no chão. Rodopiando. Chicoteei minha
cabeça, seguindo o cheiro do desonesto. Seu aroma complexo e
composto mudando. Besta o sugou, sobre sua/minha língua. Mudando
... podridão comedor de fígado. Algo mais ... desonesto/não-
desonesto.

A respiração de Troll parecia um fole, irregular e rouca enquanto


ele se ajoelhava ao meu lado. — Katie, —ele disse, sua voz aumentando
na última sílaba. Ele parou, suas mãos pairando um pouco acima dela,
incerto. Seu vestido tinha sido rasgado, expondo seios pequenos com
pequenos mamilos rosa. Uma cicatriz, marrom e uniforme, marcava seu
braço. Uma flor-de-lis. Uma marca, percebi. Que diabos?

Um ferimento horrível em sua barriga começava nas costelas e


terminava nas pontas dos ossos do quadril. As presas marcavam sua
pele. Uma grande parte de seu torso do lado direito havia sumido. Sobre
o fígado. Escorrendo. Katie havia sido comida. — Katie, —sussurrou
Troll. O choque e o horror o paralisaram, como fez quando o bandido
o manteve sob controle. A audição de Besta detectou um baque fraco.

— O coração dela ainda está batendo, —eu disse, o sangue


bombeando uma vez em sua garganta, subindo pela artéria carótida até
o cérebro. — Ela ainda está ... conosco. —Não totalmente viva. Mas
não sumiu.

Ele pegou Katie em seus braços, embalando-a, pressionando a mão


sobre o buraco horrível em seu estômago. O sangue dela o cobria até o
pulso. Entreguei a ele um travesseiro para pressionar sobre ela. Ele
ergueu os olhos dela, as lágrimas secando em seu rosto. Visivelmente,
ele se recompôs, a postura e o autocontrole de um velho soldado. — Ele
quebrou todos os telefones. Desativou o sistema de segurança. Chame
Leo. —Então ele olhou para mim. — Você está nua.

— Percebi. Você o viu? Você deu uma olhada no rosto dele?


— Não. Tudo o que pude ver foi um borrão. Jogos mentais de
vampiros.

Chame Leo, ele havia dito. Ainda não. Eu corri para fora da sala,
perseguindo os cheiros em evolução do desonesto. Tentando entender.
Eu presumi que o cheiro composto do bandido era como o de um
humano, mudando devido ao estresse emocional, exercícios,
especiarias—ou, neste caso, sangue—comido. Mas isso era diferente.
Sua assinatura de cheiro estava realmente mudando, novos cheiros
evoluindo, eliminando outros.

Nada pode mudar seu perfume básico, individual, singular, um em


seis bilhões. Podemos lavar até desmaiar, cobri-lo com produtos
químicos para que seja difícil distinguir, alterá-lo com medo, doença ou
idade. Mas o cheiro básico e subjacente, em seu estado mais elementar,
é único, as reações químicas distintas nas células de uma pessoa, não
importa o quão em camadas, mascarada ou composta. Mas o cheiro
desse cara não estava apenas aumentando. Estava mudando. Eu o segui
pelo corredor.

O choro, o borbulhar e o cheiro de sangue fresco que eu havia


notado quando entrei em casa vinham fortemente da sala de jantar. Eu
coloquei minhas costas contra a parede do corredor e verifiquei atrás de
mim, balançando a arma para frente e para trás, pelo corredor e para
baixo. Uma arandela foi quebrada. Eu pisei em vidro quebrado. Meu
coração se estabilizou com a atividade em um ritmo rápido e forte,
minha respiração profunda e estável. O cheiro do meu suor estava livre
de medo, marcado pela concentração e adrenalina.

A sala de jantar estava uma bagunça. A enorme mesa esculpida foi


derrubada, as cadeiras jogadas e quebradas. Sangue respingou nas
pinturas de Katie. Mas o desonesto tinha vindo e ido. Eu disse
suavemente: — Quem está aqui? É Jane Yellowrock.

Uma cabeça loira saiu de trás da mesa, o cabelo manchado de


sangue. Era Indigo, olhos azuis tão grandes que o branco aparecia ao
redor. Quando ela me viu, ela se levantou, deu a volta na mesa e vindo
para o meu de lado, batendo em mim com força. Tremendo com tanta
força que até sua pele estremeceu. Ela fedia a medo.

— Ajude Sra. A, —ela sussurrou, apontando. — Ela está sangrando


muito. —Um pé calçado com meia se projetava da mesa virada, um
sapato pendurado na ponta dos pés nodosos.

— O seu quarto está lá em cima? —Eu perguntei, minha voz


baixando. Ela acenou que sim, seus dentes batendo com a reação. —
Suba. Tranque-se. —Eu a empurrei suavemente em direção ao corredor.
— Encontre um telefone. Ligue para Leo e diga a ele para vir aqui. Em
seguida, ligue para o 911. Precisamos de policiais e ambulâncias. —
Talvez uma equipe SWAT. Ou os militares.

Indigo olhou de mim para o corredor. A respiração dela parou.

— Se ele ainda está aqui, ele está lá embaixo, —eu disse, mal
controlando um rosnado frustrado. E eu sabia que era verdade. Seu
cheiro nas correntes de ar se afastou da escada que levava ao quarto das
meninas. Meus lábios se separaram. — Vá!

Eu a empurrei e pulei sobre a mesa, pousando ao lado de uma perna


coberta com saia e avental que estava presa ao pé calçado. Sra. A estava
espremida entre a mesa e a parede, o rosto arroxeado de hematomas e
tão pálida que parecia drenada. O sangue jorrava de seu braço.

Peguei um guardanapo de linho do chão e amarrei um torniquete


acima da ferida, em volta do braço dela. Usei uma grande lasca de
cadeira quebrada para torcê-la e vi com satisfação que o sangue parou
de bombear. Outro corpo estava meio abaixo dela em um emaranhado
de correntes e sangue. Christie. E ela não estava respirando. Lembrei-
me do som de um gorgolejo.

Eu não tinha escolha. Soltei o torniquete. O sangue fluiu


novamente, mas mais fraco desta vez. Eu dei um passo à frente, meu
quadril escovando as cortinas para revelar uma fatia da janela e uma luz
cinza pálida. Estava quase amanhecendo. Finalmente. Suavemente, no
caso de ela ter sofrido danos na coluna cervical, endireitei a cabeça de
Christie, abrindo suas vias aéreas. A entrada instantânea de ar foi
reconfortante, mas se eu soltasse sua cabeça, ela iria cair para trás
novamente, fechando suas vias respiratórias. E o torniquete da Sra. A
não iria apertar sozinho.

— Eu posso fazer isso.

Eu chicotei a espingarda com uma mão, rápida como um animal,


meu dedo no gatilho. Centralizou-se no rosto branco de Indigo
enquanto ela dançava para trás, ambas as mãos no ar, se rendendo. —
Sou só eu!

— Eu te disse ...

— Estou com meu celular. —Ela estendeu um telefone rosa


brilhante com várias teclas e deslizou ao redor da mesa e debaixo do
meu braço, colocando o celular na minha mão enquanto pegava a
cabeça de Christie, mantendo as vias respiratórias. — É o Leo.

— Você sabe como manter um torniquete apertado? —Eu


perguntei, apontando para a senhora.

Fiquei satisfeita ao vê-la manusear as vias aéreas com um joelho e


o torniquete com as mãos. — Curso de primeiros socorros da Cruz
Vermelha —disse ela. Ela ainda estava pálida e com os olhos
arregalados, mas parecia mais calma. Às vezes ajudava no pânico ter
um trabalho a fazer.

— Tudo bem. —Eu levantei uma grande lasca do chão e coloquei


ao lado dela. — Eu acho que você sabe como usar uma estaca também.
—Ela molhou os lábios e assentiu. Não que o ladino a deixasse.
Lembrei-me do puxão enjoativo de sua mente. Me parando. Mas pode
ajudá-la a se sentir um pouco mais segura.

Coloquei o telefone no ouvido enquanto voltava para o corredor. —


Espere aí, —eu disse, então coloquei o celular em uma cadeira virada.
Assim que me certifiquei de que o corredor estava seguro, pendurei a
arma nas costas e retomei o telefone.

— Ok. Eu sei que você não pode fazer a coisa do morcego, mas
se você quer que Katie viva até o pôr-do-sol, é melhor chegar aqui
antes que ela vá dormir. —Lore disse que os vampiros que sofrem
perda total de sangue e não podem se alimentar antes de dormir
acordam rebeldes ou não acordam de jeito nenhum. Não achei que
Katie pudesse se alimentar. Ela estava longe demais para isso. Mas
talvez Leo pudesse ajudá-la.
Ele hesitou um instante, como se estivesse verificando as horas. —
Eu estou perto. Abra a porta da frente.

Com a arma no ombro novamente, corri para a frente. Abriu a


porta. Uma luz fraca espirrou no chão, filtrando-se na sala. O sistema
de segurança não estava em seu console, eram estilhaços, as telas de
segurança quebradas no canto. Uma única luz vermelha acendeu e
apagou.

Do lado de fora, senti o cheiro da mudança dos padrões do cheiro


do desonesto. Ele se foi. Pendurei a espingarda na alça para ficar atrás
das minhas costas e empurrei as cruzes para trás também. Melhor não
ameaçar o vampiro que acabei de pedir ajuda, não importa quão
inocente seja o erro. Eu poderia usar algumas roupas, no entanto. Olhei
para a cortina acima de duas janelas estreitas e considerei puxar uma
de Scarlett O'Hara , mas antes que pudesse agir, senti um vento frio.
Ele passou girando pelo meu corpo, levando consigo o cheiro de Leo
Pellissier.

— Feche a porta, —ele disse do corredor. Respirando com


dificuldade. A lista de razões pelas quais os vampiros respiram é curta,

Katie Scarlett O'Hara é uma personagem fictícia e protagonista do romance E O Vento Levou, de Margaret Mitchell,
publicado em 1936, e depois adaptado para umfilme em 1939, onde foi interpretada por Vivien Leigh. Tem uma cena no filme q a Scarlet pega
uma cortina e faz um vestido de cortina para ela.
eu agora poderia adicionar “fazendo a corrida de cem metros” a ela. O
cheiro de papiro usual de Leo estava coberto por um aroma fraco e
queimado, como bife dourado com os sucos presos dentro. Empurrei a
porta da frente e ela fechou com um baque pesado, apagando a luz do
amanhecer. Eu ouvi Leo entrar no escritório de Katie. Ouvi ele xingar.
E a porta do escritório se fechou.

Sirenes soaram à distância. Corri para a sala de jantar. — Indigo?


—A garota ergueu os olhos, o rosto tenso de concentração. — Policiais
e paramédicos estão aqui. Leo está com Katie em seu escritório.
Qualquer um que entrar lá provavelmente se tornará o jantar. Entendeu?
—Os vampiros são imprevisíveis à noite. Eu não tinha ideia de como
isso poderia ficar ruim à luz do dia, um ferido e o outro longe de seu
caixão. Ou onde quer que os velhos dormissem.

Indigo acenou com a cabeça, mordendo sua bochecha como se para


não dizer nada. Ou talvez para não gritar.

— Vou me vestir e ir atrás do desonesto. No que diz respeito à


polícia, nunca estive aqui. Ok? —Quando ela pareceu insegura, eu disse:
— Se estou em uma cela para interrogatório, não posso estar
perseguindo o desonesto. Eu quero encontrar seu covil e estacar sua
bunda.
Seu rosto clareou. — Eu nunca te vi. —Ela olhou para a parede e
gritou: — Tia, é seguro. Você pode sair agora! —Uma pequena porta
oculta se abriu na parede, a cerca de um metro do chão. O rosto delicado
de Tia se abaixou e saiu. — Abra a porta e traga os motoristas da
ambulância aqui, —Indigo disse. — Não os deixe entrar no escritório de
Katie. Por nada. E Jane está indo atrás daquilo. Portanto, não vamos
mencioná-la. Ok? —Tia assentiu com uma certeza infantil. Indigo
estava claramente no topo da hierarquia. — Vá tirar as outras garotas
do esconderijo. Então abra a porta da frente, mas apenas para os
policiais, —Indigo acrescentou. Ela olhou para mim. E sorriu
inesperadamente. — É melhor você se vestir ou algum policial vai
pensar que você é uma de nós.

Eu olhei para baixo, assenti e levantei a estaca em minhas mãos


como um adeus. Saí de casa, evitando o vidro quebrado, sangue e
sangue coagulado. Quando o amanhecer traçou faixas rosa, roxas e
douradas no céu, pulei a parede e fui para casa.

Tomei uma ducha rápida para me livrar do cheiro do sangue de


Katie e me vesti para caçar vampiros com jeans, couro, botas, assassinos
de vampiros prateados, cruzes e um frasco de água benta. Luvas
cravejadas e uma gola feita de anéis de prata esterlina sobrepostos como
cota de malha, munição extra, minha Bíblia e estacas extras foram para
os alforjes da motocicleta. Dez minutos depois de entrar em casa, eu
estava com o capacete e a Benelli presa às costas. Eu dei a partida na
moto e girei ao redor do quarteirão, passando pela porta da frente de
Katie, passando pelos veículos de emergência girando e assobiando.
Peguei o cheiro mutável do desonesto, a viseira do capacete levantada,
fora do caminho, óculos escuros protegendo meus olhos.

Como ele mudou seu cheiro? Se ele mudava tão facilmente, e eu me


perdesse com o vento, talvez não o encontrasse novamente. Por falar
nisso, se ele podia mudar totalmente, talvez eu estive perto dele e não
percebi. Eu me perguntei por que mudou e como. Tipo, talvez não fosse
algo que ele pudesse controlar conscientemente. Como se Besta não
estivesse totalmente errada sobre a coisa do comedor de fígado. Talvez
ele não fosse apenas um desonesto. Talvez ele fosse algo mais.

Não apenas os humanos estavam sendo alvos do desonesto, e todos


os vampiros desonestos em todos os casos que eu conhecia bebiam
exclusivamente de humanos, mas aqui, pelo menos um vampiro tinha
desaparecido, a mulher vamp cujo desaparecimento fez Katie chorar de
tristeza. Ming. Então ele foi atrás de Katie. Talvez houvesse outros. Ou
... talvez o ladino não fosse apenas maluco, talvez ele comesse fígados
por um motivo médico. Talvez sua dieta carecesse de algo que o sangue
humano não oferecia. Talvez ele precisasse de órgãos vitais ricos em
sangue, como fígado, para estabilizá-lo. E talvez os órgãos dos vampiros
fossem melhores do que os humanos para isso. Isso o tornava um
comedor de fígado da lenda? Merda, não. Parte de seu perfume
composto cheirava a vamp. Portanto, ele era um vampiro.

A visão do desonesto passou pela minha mente. Comendo Katie.


Como um animal selvagem rasgando a presa, rasgando os órgãos.
Presas superiores e inferiores. Besta ficou em silêncio, embora eu
soubesse que ela estava acordada. E eu sabia que ela concordava. Besta
comia assim, primeiro fígado, coração, rins e pulmões. As partes mais
ricas em proteínas, gorduras e minerais primeiro. Então, ele não era um
vampiro?

Finalmente tive que admitir, eu não tinha ideia do que estava


caçando. Enchi minhas narinas com aromas enquanto a cidade ganhava
vida, estimulando os negócios matinais, a escola, os empregos. Eu
rastreei o desonesto enquanto ele praticamente voava pelas ruas, o sol o
perseguindo. Se eu não perdesse seu cheiro, encontraria onde ele
dormiria hoje, talvez seu covil principal. E mataria o bastardo
sangrento. Pegaria meu bônus. E iria embora.
a mudar,

ficando mais quente. Lembrei-me do cheiro de Leo quando voou com o


sol tocando-o—carne queimada manchando seu cheiro de papiro
apimentado de amêndoa e pimenta. Por um lado, o cheiro de
aquecimento tornou o ladino mais fácil de seguir, em outro era mais
difícil. O cheiro do café da manhã de bacon e salsicha chiando também
estava no ar, obscurecendo o fedor de carne quente do bandido. Eu não
era tão boa em analisar cheiros com meu nariz humano, mas respirei
pela boca suavemente enquanto cavalgava, e descobri que o cheiro do
vampiro estava evoluindo, como alcaçuz, mas mais delicado. Talvez
avelã.

E um toque de erva-doce. Com o pensamento, diminuí o ritmo,


respirando pela boca e pelo nariz abertos, esforçando-me para encontrar
e separá-lo da mistura de fedor de cidade e rio. Doce grama. Uma das
ervas cerimoniais mais apreciadas pelo O Povo. Lembrei-me do
vislumbre que tive de seu rosto coberto de sangue, queixo e nariz
pontudos de águia. Sim. Tsalagiyi: O pensamento borbulhou da escuridão
da minha mente. Ele poderia ser um Cherokee transformado por um
vampiro. Eu poderia estar perseguindo alguém como eu. Puxei o freio,
parei a moto e coloquei minhas botas na calçada para me equilibrar.
Fechei meus olhos. Cheirava com tudo que eu tinha em mim, Besta
alerta e tensa, suas garras picando minha mente. Doce grama ...

Puxei para baixo a proteção facial do capacete. Acelerei a moto.


Segui.

O cheiro explodiu em mim sob a borda do escudo, intensificado,


concentrado pela velocidade enquanto eu ziguezagueava pelas ruas, em
direção ao rio, o mesmo caminho tomado quando Besta rastreou o
desonesto da zona de matança onde ele derrubou a prostituta.
Exatamente a mesma rota. Presa, Besta sussurrou, imaginando um
rastro de animal através do mato, baixo, bem gasto. O comedor de
fígado estava usando a mesma trilha para casa.

Besta surgiu em minha mente enquanto rugíamos sobre o rio, parte


da I-90, tomando a ponte Greater New Orleans . O Mississippi era uma
enorme cobra adormecida, marrom lamacenta e sonolenta. E então, no

A Crescent City Connection, anteriormente a Greater New Orleans Bridge, é duas pontes suspensas que transportam
os negócios da Highway 90 dos EUA sobre o rio Mississippi, em Nova Orleans, Louisiana, Estados Unidos. Eles são amarrados como a quinta
maior ponte suspensa do mundo.
meio da ponte, o cheiro do desonesto desapareceu. Somente ...
desapareceu totalmente. O tráfego estava ficando mais pesado. A brisa
do outro lado do rio estava mais forte. Não tinha muito tempo para
encontrá-lo novamente.

Se eu estivesse em um carro, teria problemas. Muito mais


manobrável, fui de pista em pista, quebrando todas as leis de trânsito,
até a costa oposta, ainda incapaz de sentir o cheiro. Demorou um pouco
para fazer a volta, pois a estrada se tornou a Westbank Expressway ,
cheia de tráfego. Na forma de Besta, não era hora do rush, e eu estaria
andando em cima de um caminhão.

Eu peguei a ponte de volta duas vezes, procurando para cima e para


baixo na estrada, farejando as poucas rampas de saída e desvios menores
para qualquer indício da coisa que eu perseguia. Ele poderia ter caído
da via expressa no solo abaixo a qualquer momento. Ou, por falar nisso,
da ponte para o rio. Besta me enviou uma imagem mental de um leão
da montanha com o rosto no chão.

U.S. Highway 90 Business (US 90 Bus.) é uma rota de negócios da U.S. Highway 90 localizada dentro
e perto de Nova Orleans, Louisiana. Ele percorre 22,93 km em direção geral leste-oeste de US$ 90 em Avondale até uma junção com a Interstate
10 (I-10) e US 90 no Distrito Comercial Central de Nova Orleans. Us 90 Bus, inicialmente segue para leste ao longo da Westbank Expressway,
servindo várias comunidades suburbanas na Paróquia de Jefferson localizada na margem oeste do rio Mississippi. Estes incluem: Westwego,
Marrero, Harveye Gretna, a sede da paróquia.
— Cheirar o ar é uma perda de tempo, —concordei. Puxei a
motocicleta até o acostamento, parei, coloquei minhas botas no chão e
empurrei de volta a proteção facial. Tirei meus óculos de sol.
Desgostosa.

Besta me enviou outra imagem, de uma pilha de cocô. Em seguida,


um terceiro, de casca de árvore arrancada de uma árvore como se por
garras ou chifres de veado. E ainda um quarto, de um gato grande, com
os quartos traseiros dobrados, as patas dianteiras rígidas, depositando o
perfume das glândulas odoríferas anais em uma pilha de folhas e
gravetos.

— Território. Você acha que posso encontrá-lo caçando seu em


território. Lugares que ele marcou como seu. Mas as pessoas não
marcam território, e pelo que tenho visto, nem os vampiros.

E a Besta me enviou uma imagem do Katie’s Ladies. Nenhum sinal


na janela, nenhum neon, mas um número de rua em latão na porta. Não
prestei muita atenção nisso. Mas eu tive a ideia. Rastreiar o vampiro
desonesto pelas coisas que ele faz, tem e é, coisas que ele nem percebe
que são marcadores. Peguei você. E eu poderia começar na casa de
Aggie One Feather e no viveiro dos fundos. Eu amarrei minha Minha
coleira de cota de malha e meu outro equipamento de proteção. Agora
eu estava carregada para o vamp.
Aggie deve ter ouvido o barulho da motocicleta na estrada. Não era
como se eu pudesse esconder o som do motor. Eu meio que esperava
que ela estivesse esperando na porta, mas ela não estava. A casa estava
silenciosa quando toquei a campainha, exceto pelo zumbido eletrônico
de aparelhos e ar condicionado, e o cheiro de bacon cozido. Junto com
tudo isso estava o fedor podre do desonesto. Besta ficou alerta, sua boca
aberta em minha mente, mostrando as presas. O ladino havia passado
pela casa, sua pele provavelmente fumegando se o cheiro queimado
fosse alguma indicação, superando o nascer do sol em segundos. O fedor
chamuscado fez dele um vampiro. Ele estava deixando evidências
mistas em todos os lugares, confusas.

Ele era rápido, mais rápido do que qualquer coisa que eu já cacei.
Eu queria ignorar o protocolo de pedir permissão e apenas correr para
trás, seguindo o cheiro. A ânsia se acumulou dentro de mim, meu
coração batendo forte. O desonesto estava perto. A floresta atrás da casa
de Aggie não era apenas um terreno de caça. Ele tinha um covil perto
daqui.

Eu ouvi passos lá dentro. Aggie deu um passo para trás em choque


quando abriu a porta, uma mão estendida como se para se proteger de
um golpe. Talvez fosse a Benelli pendurado nas minhas costas. Talvez
fosse a minha expressão. — Está tudo bem, —eu disse.
Ela parou de recuar e engoliu em seco, um punho sobre o coração,
recuperando o equilíbrio. — O que você quer? —Ela perguntou, sua voz
não muito firme. O que você quer? Não entre. Ela segurou a porta com uma
das mãos, barrando meu caminho.

Eu balancei minha cabeça. Não havia tempo para as necessidades


educadas de lidar com um ancião. — O vampiro desonesto veio pelo seu
quintal. Eu preciso ... —Parei, sabendo que estava estragando tudo, e
disse em vez disso: — Posso caçar na propriedade atrás da sua casa?

Ela me olhou e se acomodou enquanto eu me lembrava dos mais


velhos fazendo, um relaxamento dos músculos faciais e ombros, uma
mão na porta, ainda me segurando, a outra ainda enrolada em um
punho frouxo em seu peito, o gesto protetor. Uma memória pairou no
fundo da minha mente, nebulosa, nebulosa, uma velha, velha fazendo
os mesmos movimentos, a lembrança quase ao alcance por um instante,
antes de se dissipar como fumaça. Quanto tempo? Há quanto tempo isso era
realidade?

Aggie examinou meu rosto, sua mão agora descendo como um


pássaro para um galho. Contive minha impaciência, levando-o à
submissão, respirei fundo e soltei o ar. Eu esperei enquanto ela me
estudava. Pareceu muito tempo, embora não possa ter sido mais do que
segundos.
Por fim, satisfeita, ela disse: — Sim. Você pode caçar. Mas,
primeiro, minha mãe deseja se encontrar com você. —Ela empurrou a
porta e se afastou.

— Eu não tenho tempo, —eu disse, minha frustração se libertando.


— Ele veio por sua casa.

— Eu sei. Minha mãe tem tido problemas para dormir desde que
você me contou sobre ele caçando aqui. Ela estava acordada. Ouvindo.
Ela ouviu. Sentiu sua fome. É raiva. Nós estivemos esperando você. —
Ela se afastou.

Irritada, mas sem saber o que mais fazer, suspirei e comecei a entrar
em sua casa. Aggie levantou a mão, me parando. — Por favor. Deixe
suas armas na porta.

Fechei meus olhos para que ela não visse o flash de fúria. Eu não
tinha tempo para isso. Então me lembrei. Trazer armas para a casa de
um ancião era trazer insulto e violência, não importa se as armas fossem
destinadas a outra pessoa. Forçando as palavras entre os dentes, eu disse
secamente: — Sinto muito. —E embora eu estivesse com pressa, eu
sintia muito. Eu não pretendia insultar Aggie One Feather. Egini
Agayvlge i. Mas o desonesto estava tão perto ...
Tirei a Benelli e coloquei-a na varanda da frente. Se alguém
aparecesse e a levasse, eu estava sem muito dinheiro. Coloquei as
estacas ao lado dela, e os assassinos de vampiros. Todos os três. Ao me
despir de minhas armas, algo começou a acontecer comigo. Meus
movimentos começaram a diminuir. Minha frustração começou a se
dissipar, como se vazasse pelos meus poros junto com a transpiração do
dia quente, ou talvez como se a frustração se agarrasse ao aço, madeira
e prata e caísse de meus membros quando coloquei as armas de lado.

Tirei a coleira de cota de malha. As luvas de couro. Sentando no


chão da varanda, tirei minhas botas. Eu deveria ter tirado eles da última
vez que vim. Eu olhei para Aggie de meu poleiro no cimento. — As
cruzes são armas?

— Você acha que elas são?

— Sim. —Tirei as cruzes do meu pescoço. Com os pés nas meias,


levantei-me e inclinei a cabeça, paciente, esperando. — Gi yv ha, —Ela
disse, sua voz suave. Entre. Entrei na casa e Aggie fechou a porta,
fechando o mundo. Eu a segui pela pequena casa até um minúsculo
quarto nos fundos. A luz do sol se espalhou, brilhante, das paredes
amarelas. Uma cama de casal estava coberta por uma colcha feita à
mão, pedaços de tecido em diferentes padrões costurados para se parecer
com uma árvore, raízes nos pés, galhos chegando no alto até os
travesseiros. Uma cômoda estava no canto perto de uma cadeira de
aparência confortável, onde uma mulher enrugada estava sentada a vista
no quarto, de frente para as janelas.

Ela estava curvada, o cabelo preto trançado e pendurado sobre o


ombro esquerdo. Nem um traço de cinza estragava as tranças. Sua pele
acobreada tinha linhas cruzadas, sulcadas pelo vento, sol e tempo, e ela
virou a cabeça quando eu estava na porta, gesticulando para que eu
entrasse. Seus olhos eram botões pretos brilhantes. — Gi yv há, —ela
repetiu a filha, sua voz a cadência suave e sussurrada dos mais velhos,
eu me lembrei. — Gi yv ha. —Ela apontou para um banquinho perto
dela.

Sentei-me nele, a posição colocando meu rosto baixo o suficiente


para que ela pudesse me ver de sua postura curvada. — Li si, —eu disse.
Avó.

— O nome da minha mãe é Ewi Tsagalili. Eva Chicalelee, —disse


Aggie da porta.

Lembrei-me da história que Aggie me contou sobre o pequeno


pássaro da neve, Chickelili, cuja voz suave não foi ouvida quando ela
alertou sobre o perigo do comedor de fígado. — Li si, —eu disse
novamente, abaixando minha cabeça.
— Bela menina. —Ela tocou minha bochecha com dedos frios.
Traçou a linha do meu queixo. — Não. Não é uma garota. Meus olhos
falham. Você é ... velha, —disse a velha. Meus olhos voaram para os
dela. Como sua filha, ela via muito. — Muito velha, —disse ela.

Eu encarei minhas mãos, entrelaçadas no meu colo.

— Você carrega o tempo sob sua pele. Memórias fora de alcance.

— V v, —eu disse. Sim, na linguagem de O Povo. O frio parecia


soprar nos meus ossos, o gelo da nevasca, do inverno gelado, lembrado
de muito tempo atrás, do frio da longa caminhada, da Remoção, da
Trilha das Lágrimas. Eu estremeci uma vez, meus dedos do pé cobertos
de meias enrolando. Lembrando. Droga. Eu estava lá ...

Ela tirou a mão e as memórias caíram com ela. — Você deveria ir


para a água, —ela disse, falando sobre a cerimônia de cura Cherokee
que envolvia um ritual de imersão em um riacho gelado.

— Não há tempo, Li si.

A velha suspirou, meio bufando de negação. — Quando sua batalha


acabar, você virá aqui. —A proclamação não era tanto uma ordem, mas
uma profecia. Estremeci de novo, minha carne fria como pedra. — Nós
vamos borrar você. E minha filha vai levar você para a água. Suas
memórias começarão a encontrar o caminho de volta para você.
— V v, —eu disse.

— Minha filha chamou você de mulher guerreira. O sangue


persegue você, cavalga você. Você ataca seu inimigo, como um grande
gato na presa. —Eu olhei para cima rapidamente e a encontrei sorrindo,
dentaduras brancas como pérolas perfeitas em sua boca. — Vá. Lute
contra o inimigo. E volte para nós.

Saí de casa sem falar com Aggie, que havia desaparecido pela porta
do quarto da mãe. Sentada ao sol na varanda aquecida, calcei minhas
botas e coloquei minhas armas. Meus dedos tremiam e o frio ainda
enchia meu corpo, lembrava do frio dos tempos de fome. O sol me
aqueceu lentamente. Fechei meus olhos e inclinei meu rosto para ele,
deixando seus raios me tocarem como os dedos da velha. Me dando um
momento, apenas um momento, para respirar. Para lembrar.

O cheiro do ladino estava sumindo com o calor. Eu me levantei e


corri ao redor da casa, cheirando. O passado poderia esperar.

Eu segui o cheiro do ladino na floresta de pinheiros, ao longo do


caminho quase invisível, rastreando-o na floresta. O solo estava pesado
com seu cheiro, embora com meu nariz humano faltasse a vibração
completa da caça da Besta. Passei pelos lugares onde os cachorros mais
velhos o haviam alimentado, seus corpos em decomposição, ossos
espalhados no solo úmido. Senti o cheiro das carcaças de quatro gatos,
numerosos gambás, roedores e outros animais. Ele caçou aqui com
frequência. E estava sempre com fome.

Eu me movi devagar. Eu não estava em perigo com o ladino ...


desde que ele fosse realmente um vampiro desonesto. Ele não suportava
a luz do sol. O que mais ele poderia ser? Mas se ele tivesse um servo
humano, ele ou ela estaria por perto, e os servos humanos não tinham
problemas com a luz do sol. Eu parava com frequência e cheirava a
carne podre sobrepondo o cheiro de avelã e erva-doce. Eu caí de joelhos,
rastejando, o nariz no chão. Ninguém estava por perto para notar. O
cheiro complexo continha um toque desbotado de tomate, sálvia,
alecrim e coisas ainda mais fracas que eu não conseguia nomear. Eu
circulei de volta onde eu poderia empurrar as folhas e cheirei. Mudou-
se do pequeno caminho para as árvores. Já fazia muito tempo que o fogo
não passava, e a vegetação rasteira era densa demais para ir longe.

Besta achou o caminho bem trilhado. Aos meus olhos, era pouco
mais do que uma faixa de terra lisa. O caminho era o único caminho
mais profundo na floresta. Árvores e arbustos altos se aproximaram. Os
pios de pássaros silenciaram. A brisa lenta estava saturada com o cheiro
de seiva de pinheiro. Os mosquitos me encontraram, zumbindo. Eu
estava entrando em uma armadilha? Besta não tinha encontrado uma,
mas eu não era Besta.
As árvores se abriram em uma clareira lembrada da caça da Besta.
Eu me curvei, esperando. Nada mudou. Como Besta tinha feito, eu
circulei a clareira, mas não encontrei nada, nenhum outro caminho,
nenhum traço de cheiro deixando a floresta. Cuidadosamente, testando
as armadilhas, entrei na clareira. O solo estava rançoso com o cheiro do
desonesto, pesado com o fedor de sangue velho. O cheiro em evolução
passou por aqui, como se vários seres diferentes usassem o lugar. Mesmo
assim, eu tinha certeza de que todos eram o mesmo ser, um passando
por uma metamorfose peculiar que afetou seu cheiro de uma forma
revolucionária do Dr. Jekyll e do Sr. Hyde . Não é um skinwalker. Ele
não cheirava nada como eu. Não era, se é que existia. Duende? Não.
Um vamp—um vampiro muito doente, muito maluco.

Depois de vários minutos, eu estava convencida de que não havia


armadilha escondida na clareira. O comedor de fígado viera aqui. Ele
não tinha saído daqui. Eu arrastei no chão. Começando na periferia, na
orla do bosque de pinheiros, pisei nele, girando e girando, movendo-me
em espiral, cada vez mais apertado, em direção ao interior. No centro
da clareira, o som da terra mudou.

Strange Case of Dr Jekyll and Mr Hyde (br: O Médico e o Monstro / pt: O Estranho Caso de Dr. Jekyll e Mr. Hyde/ O médico e o monstro)
é uma novela gótica, com elementos de ficção científica e terror, escrita pelo autor escocês Robert Louis Stevenson e publicada originalmente
em 1886. Na narrativa, um advogado londrino chamado Gabriel John Utterson investiga estranhas ocorrências entre seu velho amigo, Dr. Henry
Jekyll, e o malvado Edward Hyde.
Soou vazio. Algo estava enterrado no solo.

Caverna, Besta pensou. Ela ainda estava acordada, embora com


sono. Seu covil. Sua toca.

— Sim, —eu murmurei. Eu me agachei e escovei agulhas de


pinheiro, mas elas estavam presas, coladas a uma porta, fixadas no chão.
Camuflagem. Eu balancei para trás, descansando em um joelho e dedo
do pé e outro pé. A madeira da porta era marrom, a mesma tonalidade
das agulhas de pinheiro, envelhecida e gasta, aparência nada
excepcional, com painéis elevados e uma maçaneta de latão, o metal
esburacado e escurecido pelo tempo e pelo sol. Era algo que um
proprietário de classe média poderia usar como porta de entrada. O suor
escorria pelas minhas costas e se acumulava sob a gola da cota de malha.
Minha respiração estava estável, mas muito rápida.

Eu balancei a Benelli para frente e espalmei uma estaca. Alcançado


a alça. Sem saber o que faria se estivesse trancada. Não estava. A porta
não abriu como se tivesse uma dobradiça, mas deslizou para trás,
revelando um buraco com cerca de um metro de largura e um metro e
meio de profundidade. Um túnel redondo se movia do buraco para o
norte, como uma toca de coelho, mas mais largo, grande o suficiente
para um homem andar agachado. — Merda, —eu sussurrei. Eu teria
que entrar.
As paredes do túnel estavam úmidas, raízes espetadas e penduradas.
O cheiro de mofo e a decomposição de uma sepultura recém-aberta
exalavam-se. Os passos alisaram e endureceram o chão do túnel logo
abaixo da abertura. Pegadas estranhas cavadas no chão um pouco além,
onde o desonesto caiu de joelhos e mãos, as pontas das botas cutucando
o chão. Estudei o chão, vendo apenas um conjunto de impressões.
Todas as botas. Tudo o mesmo. Se o ladino tinha um servo humano,
não estava aqui.

Comido, Besta sugeriu.

Inspirei, peneirando aromas: mofo, raízes de pinheiro ricas em seiva,


água próxima, terra úmida e algo morto. Morto há muito tempo. Bem à
frente. Caí no túnel, caindo com os joelhos dobrados, Benelli pronta, e
me ajoelhei, deixando meus olhos se ajustarem. Pelo que pude ver, eu
estava sozinha. Tirei a espingarda do caminho e peguei meu assassino
de vampiros favorito. Sua lâmina tinha 45 centímetros de comprimento,
fortemente prateada, a mais profunda para canalizar o sangue vamp
rapidamente, e o cabo esculpido por Evan, o marido de Molly, em alce.
Parecia sorte prateada na palma da minha mão. Isso seria um trabalho
árduo, se eu encontrasse o que estava caçando.

Rastejando na terra, no escuro, ao longo da parte horizontal do


túnel, vi uma bolsa. Eu abri, revelando roupas. Os aromas do desonesto
exalaram, o fedor da decomposição e o cheiro que ele usava quando
deixou a casa de Katie. Cheiro do insano e do são, talvez. As botas
estavam embaixo da sacola, nas laterais. Botas ate os joelhos, como
botas de montaria inglesas. Pegadas nuas se moveram ao longo do túnel.
O ladino se despiu e foi em frente. Nu. Que estranho era isso.

Bem à frente, meus olhos perceberam algo branco contra a


escuridão. Uma caveira olhou para mim. O tecido ainda grudava nos
ossos, mechas de cabelo vermelho. Os ossos das pernas e costelas, não
mais presos aos pés ou vértebras, estavam espalhados ao longo do túnel.
Eu levantei o osso mais próximo. Um fémur. Os dentes haviam marcado
profundamente nele, presas de predador, superiores e inferiores. Eu
tinha certeza de que havia encontrado o servo humano do desonesto.
Larguei o osso e rastejei para frente. No escuro.

O chão ficou molhado, o telhado desceu. Os joelhos do meu jeans


começaram a encharcar de água. O túnel terminou abruptamente, o teto
mergulhando abruptamente em um cano de cimento, um cano principal
de água do condado. Eu olhei para dentro, para ver a água preta com
apenas um espaço estreito no topo para o fluxo de ar. Eu arranquei uma
raiz da parede do túnel e coloquei no cano. Não tocou no fundo. Deixei
cair na superfície da água, a raiz foi arrancada. A frustração trouxe um
rosnado aos meus lábios.
Eu deslizei pelo túnel, arrastando os pés para trás. O ladino havia
encontrado o esconderijo perfeito durante o dia. Uma canalização de
água subterrânea. Provavelmente tinha dezenas de saídas potenciais. De
jeito nenhum eu iria mergulhar. Ele pode não precisar respirar, mas eu
com certeza precisava.

De volta à superfície, sentei-me com os pés pendurados na fossa e


respirei superficialmente. Este era realmente um esconderijo diurno
perfeito para um vampiro: múltiplas saídas, escuridão, o próprio sistema
de água oferecendo rotas de fuga embutidas. E se por acaso ele subisse
aqui, onde deixou roupas, ele sentiria meu cheiro e iria embora mais
rápido do que eu poderia reagir, mesmo se eu disparasse a Benelli no
momento em que ele aparecesse na superfície. Eu só teria um tiro, e se
eu não o matasse instantaneamente, ele estaria em cima de mim e eu
seria o jantar. Não adianta preparar uma armadilha. Ele poderia sair em
qualquer lugar e provavelmente tinha roupas em cada abertura. Aposto
que ele costumava usar este lugar com frequência por causa de Aggie e
sua família.

Suspirei, levantei-me e voltei para Bitsa, a lama secando no calor


úmido.
pegando

a estrada com pedágio de volta para a casa de Katie. A lama secou na


minha calça jeans até ficar com uma rigidez crocante. Meu cabelo se
desenrolou de seu nó e rabo de cavalo, e os fios chicotearam com o vento
quente. Meu estômago roncou de fome o tempo todo.

Do lado de fora do Katie's Ladies, os paramédicos e as ambulâncias


haviam sumido, mas os policiais ainda estavam com força total,
bloqueando a rua com viaturas, conversando em pequenos grupos de
homens uniformizados e algumas mulheres. A fita amarela da cena do
crime estava esticada por toda parte. Parei a motocicleta no meio do
quarteirão. Eu estava carregando uma arma perfeitamente legal, em
público, não escondida. Mas a Benelli não era apenas uma arma. Era
uma arma de arrasar. E um crime violento acabava de acontecer. Os
policiais iriam coçar.

Pugilista estava de pé ao lado de um policial uniformizado, Jim


Herbert, e uma mulher à paisana—Jodi Richoux, o contato de Katie no
departamento de polícia de Nova Orleans. Talvez amiga de Katie,
embora eu duvidasse. Ela parecia tensa. Jimmy parecia irritado. Sem
surpresa.

Mas as mãos de Pugilista estavam em seus quadris, jeans de cintura


baixa apertado na bunda, botas marrons de caminhada. Camiseta
enfiada para dentro. Nada de arrastar, ou aparência desleixada para esse
cara. Buff, músculos salientes, cabelo castanho curto. Lembrando-me
dos gêmeos, me perguntei quantos anos Pugilista teria. Meu interesse
despertou e afastei a curiosidade, isso matava o gato. Sentir interesse
pelo favorito de Leo não era inteligente, especialmente se o vínculo de
sangue entre eles incluía sexo.

Eu levantei a mão para chamar sua atenção. Ele olhou de mim para
os policiais e ergueu a sobrancelha em dúvida. Eu balancei minha
cabeça em um gesto de “Não, não tenho vontade de falar com policiais”.
Apontei para a parte de trás da de Katie, movi minha mão para cima e
para baixo, como se estivesse pulando uma cerca e caindo na minha
casa. Ele quase sorriu e assentiu ligeiramente. Virei a motocicleta e
percorri o caminho mais longo para evitar os policiais. Achei que
Pugilista poderia encontrar seu próprio caminho. Não era como se esta
fosse a primeira vez que ele estava lá. Ou a segunda, pensei amargamente.
Eu teria que lidar com a invasão da minha casa e privacidade em algum
momento. Talvez agora. Besta meio que acordou com um ronronar
sonolento. Diversão ...

Eu dirigi até a casa para encontrar Pugilista na porta da frente,


encostado em um suporte de ferro que sustentava a varanda de um
metro de altura acima. Ele se segurou com o equilíbrio fácil e a
prontidão de um experiente artista marcial, embora quando eu entrei,
ele cruzou os braços e seus músculos saltaram. Muito agradável.

Apontei para o portão lateral, acelerei um pouco a moto, rolei e


entrei. Pugilista veio atrás e eu tranquei. Deveria ter pedido a ele para
trancar, pensei. Coloquei a motocicleta no jardim e a desliguei, tirei o
capacete e sacudi meu cabelo. Eu não tive tempo para trançá-lo antes de
sair de caça, e observei os olhos de Pugilista seguirem enquanto ele caía.
Seu cheiro mudou, uma mudança minúscula. Pugilista gostava de
cabelo comprido. Muito. — Quer chá? —Eu perguntei.

— Café seria melhor, —disse ele, voltando o olhar para o meu rosto.

— Eu tenho chá.

Ele ergueu um canto da boca e encolheu os ombros. — Chá então.

Ele me seguiu até a porta e eu parei. Não há tempo como o presente.


— Deixe-se entrar. Como você fez da última vez ... —dei um passo para
trás, dando-lhe acesso à porta e à fechadura, — quando você veio
bisbilhotar as câmeras. —Ele lançou um olhar penetrante para mim. Dei
de ombros e acrescentei, para ter certeza de que ele entendeu o que eu
estava dizendo, — e a hora em que você veio com o seu chefe sugador
de sangue para me esperar na minha casa escura, na esperança de puxar
alguma merda de vampiro e me assustar.

Ele pensou nisso por um momento, enquanto o dia ficava ainda


mais quente e claro e as flores no jardim começaram a murchar e
inclinar. — Você está zangada com isso? —Ele perguntou, parecendo
honestamente curioso. Quando não respondi, ele explicou: — Faz parte
do trabalho como segurança de Leo. Você deve entender isso.

— E se ele lhe dissesse para matar uma velhinha, você faria isso
também?

Ele pensou sobre isso, a diversão espreitando nos cantos de sua


boca. Ele encolheu os ombros inclinando a cabeça para o lado. — Se ela
precisasse ser morta.

Ele estava falando sério. Gelo disparou em minhas veias. Besta


avançou sorrateiramente. — E se ela não precisasse?

— Então Leo não iria querer que ela fosse morta.

Eu bufei. Era um som de Besta, originado no fundo da minha


garganta, cheio de movimento da narina e escárnio. Quando isso foi
tudo que fiz, Pugilista se virou e puxou um molho de chaves do bolso,
escolheu uma e abriu minha porta. Pensei em arrancá-la de sua mão e
alimentá-lo com elas, mas por que me preocupar? Seu chefe sugador de
sangue apenas conseguiria outra. Eu gostei desse termo. Chefe sugador de
sangue. Aposto que Leo odiaria quando eu usasse com ele.

Lá dentro, desamarrei e coloquei a Benelli e meu capacete na mesa


da cozinha. Seguiu-os com luvas, coleira de cota de malha do meu
pescoço e várias armas. As cruzes. Enquanto removia o aço e as estacas,
a lama se soltou da minha calça jeans e caiu no chão em pequenos flocos.
Eu podia sentir o cheiro do meu suor.

Pugilista apoiou um quadril na mesa e observou enquanto eu me


despojava das armas. Seus olhos estavam encobertos, mas aquele
pequeno sorriso ainda brincava em seus lábios. Ele disse: — Devo enfiar
um dólar na sua liga quando terminar?

Eu ri. Não pude evitar. E Pugilista sorriu. Coloquei a chaleira no


fogo, coloquei folhas de Nilgiri Tiger Hill na peneira e coloquei dentro da
boca aberta da panela de cerâmica amarela. O chá era forte o suficiente
para talvez servir a um bebedor de café. E não era tão caro que eu me
importaria se tivesse que jogar o dele fora. Coloquei o bule na pia da
cozinha.
Ele se sentou em uma cadeira, apoiando os antebraços na mesa.
Notei que ele instintivamente sentou-se de lado, de forma que a janela e
as portas dianteiras e laterais estivessem dentro do campo de visão e o
sol não o cegasse. Peguei canecas, um prato, colheres e açúcar e me
sentei ao pé da mesa à sua direita. O segundo melhor assento do ponto
de vista da segurança.

— Você quer me dizer o que aconteceu esta manhã? —Ele


perguntou.

Comecei a dizer que ouvi gritos, acordei e corri. Mas eu duvidava


que um humano pudesse ouvir os gritos. Eu disse: — Eu mantenho
horários estranhos. Eu estava acordada, no jardim dos fundos, quando
ouvi gritos. Peguei algumas armas e corri.

— Nua.

— O quê?

— As meninas disseram que você estava nua quando entrou pela


porta. Espingarda na mão. Cruzes. Estacas. —Um sorriso lento
começou. — O que tinha que ser algo para se ver. —Sua sobrancelha
subiu um pouco. — Meia hora antes do nascer do sol, você estava no
quintal. —A descrença manchou as palavras, mas também o fez outra
coisa. Ele acrescentou, mais suavemente, seu sorriso se alargando, —
Nua.

— Meditando, —eu disse, lutando contra o rubor que queria subir


com a maneira como ele disse “nua”. Como se fosse algo maravilhoso,
e ele lamentasse não ter visto. — Com as pedras que Katie comprou para
mim.

— Eu ouvi sobre as pedras.

— Você as inspecionou também, enquanto estava vagando pela


minha casa?

— Não é sua casa.

Minha toca, Besta rosnou, mas eu a mantive dentro. — No


momento ela é. O que você estava procurando? Ou você apenas tem
uma afeição não natural por câmeras quebradas? —A chaleira começou
aquele chiado baixo que faz antes de assobiar.

Ele pareceu ligeiramente surpreso com os comentários da câmera.


Ou talvez ele só tenha ficado surpreso comigo em geral. — O Chefe
queria saber sobre a caçadora contratada pelo conselho.

Eu cheirei a mentira. Ela fedia por seus poros. E já que nós dois
sabíamos que Leo, como chefe do conselho vampiro, sabia exatamente
quem eu era antes de ser contratada, a mentira escondeu um propósito
secundário. Se eu pudesse descobrir. Silenciosa, considerei suas
palavras. Lembrando-se de pequenas coisas que foram ditas. Outras que
não haviam sido ditos, mas deixados em suspenso, não ditos.

Eu entendi. Filho da mãe. Leo estava recebendo o feed do sistema de


segurança de Katie. Provavelmente tudo, não apenas as câmeras desta
casa. Então, por que ele não viu o desonesto atacar Katie esta manhã?

O apito começou baixo e aumentou de volume. Enquanto eu


pensava, levantei-me e tirei a chaleira do fogo, joguei água fervente
sobre o bule e na peneira de sua parte superior, equalizando a
temperatura interna e externamente antes de encher a panela. Eu
coloquei sobre a mesa, embrulhando-o em um abafador de chá para
mantê-lo aquecido enquanto ele embebia. As sobrancelhas de Pugilista
ergueram-se com os movimentos domésticos. — Você cozinha também?
—Ele perguntou, o tom provocador. — Porque qualquer mulher que faz
strip-tease com arma, maneja uma Benelli como se soubesse usá-la e
sabe cozinhar, empurra todos os meus botões.

— Eu não cozinho, —eu disse, sorrindo quando Besta me mostrou


uma pilha de bifes crus. Pugilista sorriu de volta, pensando que eu estava

Um abafador de chá ou aquecedor de chá é uma capa para um bule, tradicionalmente feito de tecido. Ele isola um bule,
mantendo o conteúdo quente. Seu uso é anterior à invenção dos frascos de vácuo como meio de manter os líquidos quentes. Cofres de chá
podem ter inserções acolchoadas que podem ser removidas e lavadas.
flertando. Casualmente, enquanto ele estava relaxado, eu disse: — Katie
sabe que Leo tem acesso a todo o seu sistema de segurança? —Pugilista
ficou imóvel. Peguei vocês. Eu sorri e torci a faca um pouco mais fundo.
— Leo colocou uma câmera no quintal de Katie. Faz sentido para ele
ter acesso a todas as câmeras de segurança dela também. —Dando um
salto mental, acrescentei: — Aposto que ele tem um vídeo da segurança
de todos os vampiros da cidade. Talvez áudio também. —O rosto de
Pugilista endureceu. Desdobrei o abafador de chá e coloquei a peneira
cheia de folhas da panela, colocando-a no prato. Com cuidado, coloquei
o chá nas duas canecas. — Açúcar? Leite? —Eu perguntei docemente.

Depois de um momento, ele disse: — Açúcar, —a palavra cortada.

Coloquei uma colher cheia em cada uma de nossas canecas e mexi


as duas, a colher fazendo sons maçantes de tilintar. Empurrando sua
caneca para ele, sentei-me com a minha, deixando o vapor aquecer meu
rosto, a caneca aquecer meus dedos. — Não estou interessada em
política de vampiros, —eu murmurei, observando-o através de minhas
pálpebras, — exceto onde afeta minha vida e minha carteira. Mas eu
tenho um trabalho a fazer, então quero respostas. Com as câmeras no
lugar, por que Leo não sabia sobre o ataque do vampiro desonesto esta
manhã até eu ligar? E o ataque ao mestre Mearkanis em seu covil. Ming.
Por que ele não soube e parou? A menos que ele espere ganhar algo com
as mortes. —Eu me arrisquei e acrescentei: — Como piorar a separação
que se desenvolve na política vamp. Como os pequenos amigos de Leo
no bairro, armados até os dentes para caçar vampiros. —Pugilista não
se contorceu nem nada, mas eu poderia jurar que a pele apertou ao redor
de seus olhos. — Leo está montando sua própria caça ao desonesto? E
se sim, por quê?

Depois de um momento, Pugilista levantou a caneca e deu um gole,


uma tática para retardar enquanto ele pensava. Ele ficou irritado com
minhas perguntas, mas sua expressão mudou para um olhar que-não-
tão-ruim com o gosto do chá. Finalmente, — Eu vou te dizer isso, se
você me contar como você encontrou as câmeras tão rápido. Você nem
mesmo fez a varredura por elas, —disse ele, referindo-se a uma
varredura eletrônica. — Você simplesmente foi direto para elas. Eu sei.
Eu verifiquei a filmagem digital quando o sistema nos disse que eles
tinham saído.

Eu realmente considerei isso, meio querendo ver o que ele diria


quando eu contasse que eu as cheirei. Mas eu descobri algo quando ele
mencionou a vigilância digital e um sistema sofisticado o suficiente para
enviar notificações quando havia problemas. Eu disse: — Sem acordo.

Esta era a cidade de Leo, o povo de Leo. Ele os tratava como um


senhor feudal trataria os servos, então não fiquei surpresa que ele os
espionasse. E câmeras em todas as casas e covis significavam um sistema
enorme, que ele verificava apenas quando havia um problema,
tendência ou jogo de poder. Provavelmente não muitos vampiros
descobriram a vigilância, a menos que contratassem pessoas de fora—
jovens de fora, especialistas em segurança independentes, não servos de
sangue humanos de cem anos de idade—para verificar as medidas de
segurança. Eu esperava que os vampiros fossem principalmente como
Katie, perdidos na mudança de tecnologia, mas Leo parecia bem com
dispositivos modernos, contando com eles, o que achei estranho para
um ancião.

Então algo me atingiu e me fez sentir realmente estúpida. — Se Leo


tem um vídeo de Ming e Katie sendo atacadas, então ele sabe quem é o
bandido. Eu quero ver a filmagem.

Pugilista balançou a cabeça. — Não no covil de Ming. Ele não sabia


onde ela dormia. É por isso que não foi descoberto até a noite, quando
seu servo humano foi ver como ela estava. —Ele tomou um gole de chá,
seus olhos me avaliando por cima da borda. Ele colocou a caneca sobre
a mesa, girou-a levemente nos dedos das duas mãos, como se
certificando-se de que a alça estava apontada para baixo. — Dos cinco
vampiros atacados, todos foram pegos em seus covis. Sem filmagem.
Katie foi a única atacada em seu local de trabalho, e o ladino desativou
seu sistema antes de conseguirmos qualquer filmagem.

Cinco vampiros atacados? Merda. Eles não me disseram isso. —Nenhum


vídeo ou fotos dele? —Pugilista balançou a cabeça, seus olhos em mim.
— Eu o vi ... quando ele atacou Katie.

Pugilista ficou imóvel, muito parecido com um vampiro. Deve ser


a longa associação.

— Ele tem 1,78 de altura. Cabelo preto comprido e liso. Pele escura
para um vampiro. —Eu podia ver Pugilista catalogando os vampiros
que ele conhecia, seus olhos se movendo de um dos meus olhos para o
outro, para frente e para trás, enquanto eu falava. — Nariz de falcão.
Sem pêlos faciais. A pele cor de cobre o torna sul-asiático ou índio
americano. Estou apostando no AmIn. Quando ele está se alimentando,
ele tem presas superiores e inferiores. —Os olhos de Pugilista se
arregalaram com o comentário de duas presas. — Quantos vampiros
locais cabem na descrição? —Eu perguntei. — E quantos vampiros
locais desapareceram no último ano ou algo assim? Começando,
digamos, um mês antes das primeiras vítimas humanas aparecerem
mortas ou desaparecerem?

— Quatro vampiros se encaixam na descrição. Cinco se você contar


Ma-rio Esposito. Ele é italiano e mais baixo, mas tem pele escura.
Nenhum deles desapareceu que eu saiba, nenhum vampiro exceto os
cinco, e dos cinco mortos conhecidos, dois eram loiros, um era negro e
os outros eram de origem europeia, com cabelos castanhos. Mas vou
perguntar por aí.

— Eu gostaria dos dossiês de segurança de todos eles.

Pugilista sorriu para sua caneca, uma expressão de isso nunca vai
acontecer. Ele tomou um gole mais uma vez, largou a caneca e se
levantou, movendo-se com a graça adequada para a pista de dança ou
um ringue de duelo. Eu eliminei sua idade dos cinquenta ou sessenta
que eu tinha dado a ele. — Obrigada pelo chá. Não foi ruim.

— De nada. Os dossiês de segurança?

— Verei o que posso fazer. —Seu tom dizia que ele não colocaria
muita energia nisso.

— Onde você conseguiu a chave? Mais precauções de segurança de


Leo?

— Sim. —Ele enfiou as mãos nos bolsos, franziu os lábios e olhou


em volta, como se fosse dizer algo. Em vez disso, ele foi até a porta da
frente. — Tranque-me por fora. —E ele se foi.

— Que cavaleiro perfeito, —eu disse para a casa vazia.


Limpei a lama seca, tomei banho e fui para a cama. Eu estava
exausta.

tocando me acordou. Eu me atrapalhei até

encontrar a mochila de viagem da Besta e abri o zíper. A bateria do


celular estava fraca, emitindo um bipe de advertência enquanto eu
atendia. — Sim?

— Eles estão mandando Katie para o chão esta noite. Você precisa estar
no cemitério antes da meia-noite.

— Eu preciso o quê? —Eu estiquei minhas pálpebras, a areia do


sono rachando nos cantos. Ainda era dia e ouvi risadas do lado de fora,
turistas conversando. — Troll? —Eu disse para o celular.

— Katie sobreviveu ao ataque, —disse ele, com a voz cansada. — Mas


Leo diz que ela precisa ir para o chão. É uma cerimônia de cura. Eu não sei
muito sobre isso. Mas todos os Mithrans se reúnem no cemitério e eles ... —
Suas palavras foram sumindo. — Eles a enterram.

— E ser enterrada é cura? —Eu disse, lutando pelo sarcasmo e


tendo que me contentar com nojo. Vamps me assustam. — E eu tenho
que estar lá por quê ...?

— Eles foram convocados para uma reunião. Os vampiros mais velhos


estarão lá, todos em um só lugar. —Eu o ouvi lamber os lábios. Mais
suavemente, ele disse: — Os humanos não podem comparecer, então você
tem que chegar cedo e encontrar um lugar para se esconder.

Então posso fazer vigilância. Certo. Eu verifiquei a hora no celular e


rolei para meus pés. — Meu celular está morrendo. Envie uma das
meninas com instruções.

— Vou fazer. E Jane? Pegue esse cara. —Sua voz falhou, e eu percebi
que ele estava de luto por sua chefe sugadora de sangue. Tive uma
memória rápida, instantânea nítida, de Troll preso contra a parede pela
vontade do desonesto. — Acabe com ele, —disse ele.

— Claro, —eu disse, desconfortável com sua emoção. Como você


sofreu por um pedaço de carne? — Eu vou pegar ele. —Coloquei o
celular para carregar e dei uma olhada no meu cabelo. O emaranhado
não serviria para um funeral. E como eu deveria me esconder de um
grande grupo de vampiros que podiam fazer uma busca por cheiro tão
bem quanto Besta? Grande pergunta e nenhuma resposta. Ainda não.

Passei as horas seguintes fazendo o trabalho de segurança da


segurança e investigando a empresa—pesquisa de registros e papelada.
Comecei estudando o texto padrão de contratos com servos de sangue e
os dossiês de segurança dos cinco vampiros desaparecidos que vieram
por mensageiro de scooter . Leo estava disposto a me deixar ter acesso,
afinal, não que houvesse muito neles. Os arquivos foram bem
examinados de qualquer coisa interessante além do nome, data e país de
nascimento, e linhagens vampíricas de um vampiro original. Foi
interessante ver as relações interconectadas e retorcidas desde 700 DC
em um caso, mas pouco foi realmente útil. Até onde eu poderia dizer,
não havia nada ligando os cinco vampiros desaparecidos. Eu estava
perdendo tempo.

Liguei para os gêmeos, Brian e Brandon, perguntando sobre


qualquer coisa que eles possam ter ouvido, o que acabou por não ser

Motoreta, motoneta, "moto", motinha, ou o estrangeirismo scooter, também conhecido pelas marca
genéricas lambreta e vespa, é um veículo motorizado de duas rodas no qual o condutor condiciona suas pernas para a frente de seu tronco,
sobre uma plataforma, em vez de para os lados, como ocorre nas motocicletas.
nada. Os cinco vampiros tinham apenas sido mortos em seus covis
secretos. Eles me convidaram a qualquer hora, parecendo bastante
interessados em me ver, o que fez muito pelo meu ego, e ofereceram um
convite para uma festa para os servos de sangue especialistas em
segurança da cidade, que aconteceria em um campo de tiro que servia
cerveja e pizza. Rede na cidade dos vampiros.

On-line, descobri onde as escrituras de terras e os registros


imobiliários eram mantidos e que os registros de Nova Orleans não
estavam todos em um só lugar centralizado. Eles estavam em muitos
lugares diferentes e em vários estados de integridade. Eu poderia ter
ligado para Rick, mas havia algumas tarefas práticas de segurança que
eu não poderia delegar, especialmente para um cara que parecia ter sua
própria agenda. Antes de sair de casa, procurei os registros criminais dos
vampiros desaparecidos. Nada. Zero. Seus registros financeiros não
eram nem melhores nem piores do que os dos humanos comuns. Alguns
viviam de poupanças e investimentos, e alguns viviam de crédito, alguns
eram ricos e outros não. Eles ainda não tinham nada em comum.

Tia apareceu no meio da minha pesquisa com o endereço e o mapa


do cemitério de vampiros. Ela estava com sono e parecia drogada, mas
foi vampiro que cheirei nela, não produtos químicos.
Montei em Bitsa e fui até o Tribunal Civil Distrital da Paróquia de
Orleans, e então para o Arquivo Notarial na Rua Poydras para verificar
os registros e procurar por compras de terras recentes, licenças de
construção e atividades semelhantes que envolviam vampiros. O
Arquivo Notarial tinha sido pintado recentemente, mas cheirava a mofo
e água estagnada no meu nariz sensível—talvez resquícios do furacão
Katrina. Havia muitos registros para examinar, desde o início do século
XVIII, e o que descobri não parecia ter nada a ver com minha caça.

O clã St. Martin publicou um livro sobre Mithrans, com lançamento


previsto para doze meses. Eles haviam usado o produto da venda de
uma fazenda de cavalos perto de Springhill para financiá-lo.

O clã Arceneau estava lucrando com títulos de obras públicas da


cidade e da paróquia e investindo em terras.

A esposa do prefeito, Anna, comprou recentemente quatorze lotes


de pântanos ao sul e a oeste de Nova Orleans.

O clã Bouvier estava sofrendo por dinheiro, se as vendas recentes de


suas terras eram alguma indicação.

Springhill é uma cidade localizada no estado americano de Luisiana, na Paróquia de Webster.


Nada saltou para mim e disse: — Aqui é onde os corpos estão
enterrados, quem é o ladino e onde ele se esconde. —Mais tempo
perdido.

Eu tropecei na escritura original das terras do Clã Pellissier, feita a


um certo Leonard Eugène Zacharie Pellissier, Marquês. Eu também
descobri uma escritura de um cemitério que mudou de mãos; era o
mesmo cemitério que eu precisava visitar hoje à noite, terras privadas,
ao contrário dos cemitérios humanos na área que eram propriedade de
igrejas ou da cidade. A escritura do cemitério de vampiros foi assinada
em 1902, por Leo, para Sabina Delgado y Aguilera. Não é um nome de
vampiro que eu reconheci, e não é algo que realmente precise saber. Ao
todo, uma perda total de tempo.

Eu estava saindo do prédio, o sol do fim da tarde batendo em mim


com força, quando corri—quase literalmente—para cima de Rick
LaFleur, em seu caminho para dentro.

Se ele ficou surpreso em me ver, não demonstrou, e dane-se se ele


não ficava bem em jeans, camiseta e as mesmas sandálias velhas que ele
usará antes. Ele parou dois degraus abaixo de mim, um joelho dobrado,
e empurrou os óculos de sol para cima. — A caçadora de vampiros, —
ele disse, um tom irônico em sua voz que eu não pude interpretar.
— O Joe, —eu disse, no mesmo tom. — Você tem aquela
informação que eu estava procurando sobre títulos de propriedade?

— Quase tudo. Levo para você. Você já almoçou?

Eu apertei os olhos para o sol, que estava se aproximando do


horizonte oeste, e deixei um traço de diversão em minha voz. — Várias
horas atrás.

Ele encolheu os ombros. — Horas de músico. Venha para o clube


esta noite. Eu tenho um set solo. —Seus lábios se curvaram e seus olhos
negros brilharam em franco interesse sexual. — Você pode dançar para
mim de novo.

Eu senti meu sangue esquentar com as possibilidades em seu olhar.


— Vou pensar sobre isso, —falei, passando por ele e indo até onde Bitsa
estava pacientemente sentada à sombra. Sentindo o calor de seu olhar
na minha bunda enquanto eu caminhava, meu rosto esquentou. — Mas
eu não sou muito para ser um entalhe na cabeceira da cama de um cara,
—eu disse por cima do ombro. — Acho que um jogador como você tem
o suficiente disso. —Eu montei minha motocicleta e coloquei o
capacete. — Deixe-me saber sobre as informações. —Liguei a Bitsa e
parti, Rick visível no retrovisor até que eu estava fora de vista.
Eu havia estudado o mapa, memorizando-o e, ao pôr-do-sol, estava
nua, no jardim dos fundos. E Besta estava marcada. Os skinwalkers têm
a magia de mergulhar na estrutura genética dos animais, mergulhar
fundo e mudar de forma, de humano para outro, para corresponder,
exatamente, ao corpo do outro animal da estrutura genética, copiado de
material genético armazenado em ossos, dentes, e pele dos mortos.

Eu tenho feito mudanças por onze anos e Besta sempre odiava


quando eu escolhia qualquer forma além da dela. Agora, desde o
sonho/memória da formação de Besta, eu também fiquei
repentinamente infeliz com o processo. Coceira-desconfortável. Okay,
talvez culpada. O sonho do roubo provou como Besta passou a residir
dentro de mim, uma teoria que eu nunca havia investigado, o que me
tornava uma covarde. Para salvar minha própria vida, eu havia roubado
o corpo e a alma de um ser vivo. Eu sabia, no fundo, que era magia
negra—acidental, mas não menos negra por falta de intenção.

Nós—Besta e eu—aprendemos a viver juntas, a compartilhar sua


forma e a minha, mas eu tinha certeza que ela nunca me perdoou por
meu pecado de roubá-la. A aliança nunca foi fácil, e quando escolhi
outra forma para mudar, outro animal, minha alma fraturada e
duplicada, não sobrevivia intacta à transição. Besta foi enterrada tão
profundamente que não pude encontrá-la, o que significava que eu
caminhava sozinha. Quando voltava a ser humana, Besta sempre me
fazia pagar o preço.

O preço era ainda mais alto quando eu assumia uma forma que
exigia uma mudança de massa em algo menor ou maior do que Besta,
porque a massa tem que ir, ou vir de algum lugar. A lei da conservação
da massa/matéria era verdadeira, especialmente na magia skinwalker,
então sempre havia o medo de que eu perdesse permanentemente tudo
ou parte de mim ou da Besta quando mudasse para um corpo menor
com um cérebro menor, deixando muito atrás. Ela odiava e sempre
encontrava uma maneira de me punir.

Enquanto o sol lançava raios dourados no céu, sentei-me na pedra


mais alta. Estava quente, o calor reconfortante na minha bunda nua,
calmante. Abri a bolsa com zíper contendo meus amuletos de animais e
tirei um colar. Eu coloquei uma das penas e garras em volta do meu
pescoço e coloquei o colar de pepitas de ouro na pedra. Era muito
grande para a forma que escolhi.

Eu toquei uma garra. Fechei meus olhos. Relaxando. Ouvi o vento,


o puxão da lua, maior do que uma foice, crescendo em direção à
plenitude, no horizonte. Eu ouvi a batida do meu coração.

Eu diminuí as funções do meu corpo, deixando minha frequência


cardíaca cair, minha pressão arterial diminuir, meus músculos
relaxarem, como se eu fosse dormir. Joelhos cruzados, braços ao lado
do corpo no ar úmido, sentei-me nas pedras. Nada biológico funcionaria
para roubar massa—até mesmo a madeira tinha seu próprio RNA —
mas a pedra era limpa, por isso eu a exigia. Fácil de roubar massa. Fácil
de depositar massa. Quando eu era forçada a arriscar.

Com a mente desacelerando, eu afundei nas penas e garras e no bico


amarrado no colar. Lá no fundo. Minha consciência caiu, exceto o local
desta caçada. Isso eu coloquei no forro da minha pele, nas partes mais
profundas do meu cérebro, para não perdê-lo quando me transformasse,
quando mudasse. Eu caí mais baixo. Mais profundo. Para o mundo cinza
sem fundo dentro de mim. E começcei a cantar, silenciosamente, Massa
em Massa, Pedra em Pedra ... massa em massa, pedra em pedra ...

Os tambores da memória bateram em uma cadência lenta. O cheiro


de fumaça de lenha com ervas tomou o ar. O vento noturno da terra do
Povo roçou minha carne. Procurei a dupla hélice do DNA, a cobra
interna deitada dentro das garras e penas do colar. Estava lá, como
sempre, nas profundezas das células, nos restos de tecidos moles. Eu
escorreguei para dentro dela, para a cobra que repousa nas profundezas

O RNA, ao contrário do DNA, é composto por apenas uma fita e ela é produzida no núcleo celular a partir de uma das
fitas de uma molécula de DNA. Depois de pronto, o RNA segue para o citoplasma celular, onde desempenhará sua principal função, que é
controlar a síntese de proteínas.
de todas as feras, a cobra do DNA. Eu caí dentro, como água fluindo
em um riacho. Como neve caindo, rolando montanha abaixo. O lugar
cinza enxameou sobre mim.

Minha respiração mudou, a frequência cardíaca acelerou. Meu


último pensamento foi sobre o animal que iria me tornar. A coruja-real,
Bubo bubo . Meus ossos escorregaram, minha pele ondulou. A massa
desceu, para a pedra. Para a rocha abaixo de mim com baques altos e
estalando. Partículas negras de poder dançaram ao longo de mim,
queimando e picando como flechas perfurando profundamente. Massa
em massa, pedra em pedra.

A dor como uma faca deslizou entre os músculos e ossos ao longo


da minha espinha. As asas deslizaram ao longo dos meus ombros,
metamorfoseando-se nos braços. Penas douradas, fulvas , marrons,
brotaram. Minhas narinas se estreitaram, puxando profundamente,
enchendo pulmões menores. Meu coração disparou, um coração
destinado a voar. Minhas garras arranharam a pedra.

O bufo-real (Bubo bubo) é uma espécie de ave estrigiforme pertencente à família Strigidae. É, atualmente a maior
espécie de coruja existente no planeta, chegando a 86 cm de comprimento, 1,70 a 2,10 metros de envergadura e pode pesar até 5,5 quilos. O
Bufo-Real tem uma longevidade bastante extensa que pode variar de 10 a 20 anos.
Se refere a cor.
A noite ganhou vida—tudo novo, intenso. Meus ouvidos foram
bombardeados por sons vindos de todos os lugares. O rato no chão. Sem
saber do perigo. O movimento das folhas das árvores a cem metros de
distância. Pintinhos piando. Ninho de pássaro. Comida. A casa se
acomodando.

Olhos destinados à noite captaram tudo, vendo tão claramente


como se o sol ainda brilhasse. Luz e sombra picaram minha visão,
brilhante, aguda. Luz humana feia. Eu me recompus, abri minhas asas
e saltei da pedra, para fora do jardim. Batendo no ar com uma
envergadura de um metro e meio, as asas de um animal que nunca tinha
vivido neste continente. Já fazia muito tempo que eu voei, mas a
memória estava armazenada na cobra do pássaro. Eu cambaleei,
estiquei-me para o vôo, peguei uma corrente térmica crescente, deixei-a
me carregar com menos esforço do que bater asas sozinha.

Eu olhei para baixo, alcançando a noite, encontrando a pepita de


ouro na pedra, seu lugar no mundo. Identificando-o em meio à grade de
ruas na minha memória de coruja. Minha consciência humana se fundiu
com a da coruja, dispersando-se nas células do Bubo Bubo.

A fome rasgou minha barriga. Abaixo, uma forma se movia,


silenciosa na noite, quatro patas acolchoadas, cinza listradas de branco.
Dobrei minhas asas com força e mergulhei. Alcançando com as garras,
eu bati na presa. Minhas garras curvadas para a frente agarraram,
seguraram. Meu bico perfurou a nuca dele, passando pelas vértebras. Eu
derrubei o gato selvagem. Sentada nas sombras, comi, rasgando a carne
ensanguentada com garras e bico até que minha barriga estivesse cheia.
Sempre foi assim depois da mudança. Fome. Pouco sobrou do gato
quando terminei. Pés, ossos, crânio.

A memória de mim mesma, enterrada sob minha pele, começou a


se agitar. Eu gosto de gatos ... Meu eu humano entristeceu. Então a
memória mudou. Um mapa. Ahhh. A caçada. Para um deles. Eu desenhei
no meio da noite, sons de gritos e tiros à distância, odores humanos
desagradáveis e sons e sujeira de seu mundo. Motores e engrenagens.
Sangue de gato. Eu pulei no ar. As térmicas eram confusas na cidade,
subindo e descendo sobre prédios, agitadas por correntes de ar
inesperadas do rio. O Rio.

Inclinei-me e encontrei-o, cintilante e branco pela brisa crescente.


Choverá logo. O conhecimento do clima era parte da cobra genética
nativa de um raptor. Eu me levantei com o calor restante do dia, voando
alto. Abaixo de mim, encontrei a rodovia, uma fita entrelaçada com
luzes móveis cruzando o rio. Eu o segui, para longe da cidade, ao longo
do mapa armazenado sob minha pele e na minha parte humana. Para o
lugar onde os vampiros colocam seus verdadeiros mortos e encontram
sua cura.

metros de altura, a lua

prateando a noite, as estrelas brilhando como um milhão de luzes, o


êxtase do vôo me encheu. Meu coração bateu forte. Minhas asas se
espalharam, subindo. As correntes de ar agitavam minhas penas de vôo
enquanto eu navegava, minha barriga cheia, alegria cantando em
minhas veias.

Minha atenção foi atraída por um grande rato emergindo de um


lugar pantanoso lá embaixo. Bom comer se eu estivesse com fome—
bom para alimentar pintinhos. Perto do chão úmido, avistei um pequeno
prédio caiado de branco no final de uma rua de casca esmagada.
Curioso, eu quase dobrei minhas asas e caí duzentos metros. Espalhei-
as novamente, para circular. Memórias distantes se agitaram. Eu estava
procurando por este lugar. O prédio não tinha cruz, mas suas paredes
eram altas, seu telhado era abobadado e uma torre com cravos cortava
o céu. Katie. Vampiros. Lembrando, eu caí mais baixo.

Janelas estreitas e arqueadas apontavam para o ápice—janelas da


capela com vitrais. Mas apagado. Sombrio. Vampiro escuro. O prédio
branco era feito de cimento antigo misturado com conchas e brilhava
com a luz da lua, embora nenhuma luz iluminasse as janelas ou o
terreno.

A terra ao redor da capela-que-não-era coberta com criptas de


mármore branco, mausoléus do tamanho de uma família, brilhando ao
luar. Eles cravaram no chão, pequenas casas para os verdadeiros mortos
ou mortos-vivos vivos. Eu circulei para baixo, vendo os faróis dos carros
vindo de todas as direções. No entanto, aqui, neste edifício antigo,
nenhuma luz acendeu.

Inspecionei tudo com olhos construídos para a noite e com uma


audição que não perdia nada. Quando desci, voando com a brisa, a luz
das velas floresceu dentro da não-capela e se iluminou, brilhando,
tremeluzindo através das janelas em arco, lançando tons suaves de cor
na passagem de concha branca. Os vitrais eram todos em tons de
sangue—rubi, vinho, bordô, o rosa do sangue aguado—luz sangrenta
derramando-se no chão.

Um vampiro saiu da porta, alisando seu vestido. Ela era velha. Sua
pele era branca como a lua cheia, seu rosto estava marcado. Ela estava
toda vestida de branco, as pontas dos sapatos, o vestido longo, a touca
de freira na cabeça, escondendo o cabelo, suas mãos estavam embaixo
de um avental como uma vampira madre superiora. Um carro distante
ronronou. Ela parou de se mover, a quietude da pedra, uma estátua
esculpida, digna de um cemitério. A visão dela me trouxe a mim mesmo.

Ela endireitou os ombros e ergueu o queixo como se fosse para uma


batalha, e eu vi que ela tinha sobrancelhas pretas e nariz adunco. Etnia
mediterrânea, talvez grega. Não bonita, mas imponente e serena, como
se ela tivesse feito as pazes consigo mesma e com seu mundo.

O carro esmagou a pista de cascalho. O cheiro de vampiro


aumentou no ar. Inclinei minhas penas de vôo e desci, silencioso com o
vento, as asas não fazendo nenhum som enquanto escolhi uma árvore
para pousar. Alta. Morto. Galhos brancos e sem casca. Perto da terra
onde os vampiros foram para a terra. Perto o suficiente para que meus
ouvidos de coruja os ouçam falar. Eu estiquei minhas asas, espalhei
minhas penas de vôo e levantei meu peito. Alcançado com pernas e
garras. Retrocedendo para interromper meu movimento para frente.
Agarrou o galho sem casca. Eu estava baixo. Encolhi os ombros do
raptor e agitei minhas penas de vôo enquanto o equilíbrio e a gravidade
assumiam o controle. Eu me acomodei na madeira morta, minhas asas
dobrando-se firmemente contra mim.

A mulher vampira se virou quando eu pousei, me vendo na árvore.


Piei, som de coruja, solitário no meio da noite. Não era uma coruja deste
lugar, mas ela não saberia a diferença. Depois de um momento, ela se
virou para a primeira limusine, observando enquanto ela balançava e
seus pneus paravam.

Vampiros deslizaram do longo carro, sete deles, todos se movendo


rápido, em velocidade total de vampiros, todos bem alimentados, o
cheiro de sangue fresco neles. Todos usavam ternos pretos sombrios e
vestidos sob medida em lã ou seda de verão, brilhando à noite. Eles
estavam vestidos como se fossem a um funeral ou uma festa.

Mais carros avançaram enquanto o primeiro circulava e saía, as


luzes passando, como pássaros voando. Como uma dança. Dezenas de
carros se aproximaram, alguns deixando um ocupante, alguns muitos,
até que havia quase cem vampiros reunidos sob a lua jovem. Por último,
veio um carro funerário, branco, perolado brilhante na noite. Parou no
meio dos vampiros.
Dois machos pularam e correram para a parte traseira do carro
funerário. Eles eram humanos, deselegantes, de movimento lento, e um
deles carregava um monte de gordura ao redor da cintura. Nenhum
vampiro conseguia ganhar peso extra, a maioria vivendo quase
morrendo de fome, magro como uma caçada de inverno. Os vampiros
se moveram sutilmente para mais perto, formando um círculo ao redor
do carro funerário. O medo dos humanos aumentou quando eles
descarregaram um caixão branco. Quase pânico escapou de seus poros
e contaminou o vento noturno.

— Você tem certeza que pode enterrá-la sem ...? Não importa, —
disse um.

Um dos vampiros riu, o som astuto e cruel, desfrutando do terror


que aumentou dez vezes em seu eco. Os dois humanos correram de volta
e bateram as portas do carro funerário. As fechaduras estalaram, embora
fechaduras mecânicas e janelas de vidro não lhes dessem proteção
alguma. O vampiro zombeteiro riu novamente. Eu o vi lamber os lábios,
ouvi o barulho de carne morta.

O carro funerário rugiu e cuspiu granadas soltas como tiros ao se


afastar. Ele derrapou na entrada do cemitério, pneus cantando ao bater
na calçada. O carro funerário rugiu por todo o caminho. Quando ele se
foi, a velha vampira, aquela com a touca da freira que acendeu velas na
capela, foi até o caixão e colocou a mão sobre ele.

— Reúnam-se, —ela disse, suave e convincente. Eu me inclinei em


meu galho, a coerção puxando minha carne e ossos, me incitando a
ouvir. Era uma espécie de chamado de vampiro, cheio de tentação. —
Reúnam-se e dê o dom de sangue, —disse ela, — para que nossa irmã
seja curada. —Suas palavras se elevaram acima da multidão, dançando
no ar, cheias de beleza. A idade tornava sua voz potente e suave. Suas
palavras soaram e ecoaram dentro da minha cabeça, comandando e
exigindo. Minhas garras dançaram na madeira velha. Faíscas escuras de
energia e magia passaram por mim. Eu abri minhas asas para voar para
ela.

— Eu desafio o direito à cerimônia de sangue, —disse um homem.

Assustada, eu bati minhas asas firmemente ao meu lado.

A multidão se mexeu e suspirou, como se a expectativa fosse


satisfeita. Os mais próximos se afastaram do novo falante até que ele se
destacou, abrindo o caminho dele até o caixão pálido. Ele parecia
divertido com a maneira como sua família se movia. O vampiro era alto
e esguio, mesmo para os padrões dos vampiros. Moreno, delicado, mas
não estéril, ele percorreu o espaço da reunião da mesma forma que um
esgrimista faria, os pés colocados com cuidado e com o pensamento de
se equilibrar. Quando ele parou na frente da vampira mais velha, ele
disse: — Rafael Torrez, herdeiro do Clã Mearkanis. Desafiador.

— Sabina Delgado y Aguilera, —a velha vampira disse, e eu


reconheci. Eu tinha visto esse nome hoje. — Sacerdotisa do solo
sagrado. Você pode falar sobre o desafio.

Elegante, ele sacudiu o punho, um pedaço de renda reluzente de


seda na noite. — Não há nenhum requisito para oferecer sangue. A
ferida era tola ou fraca. Ela ofereceu o pescoço a um agressor. Deve-se
permitir que as presas morram. Assim sempre foi nosso jeito.

Houve um farfalhar na multidão, murmúrios de concordância. —


Eu defendo os caídos, —disse uma voz. Leo se movia no meio da
multidão, igualmente gracioso—quem entre eles não era?—mas com a
graça de um toureiro, forte e determinado. Eu agitei minhas longas
penas no ar parado, sacudindo o resto da compulsão de me juntar.

— Leonard Eugène Zacharie Pellissier, —ele disse. Achei que todos


sabiam quem era quem, então a fala era estereotipada, como um
processo legal, com nomes próprios e títulos exigidos. — Mestre de
sangue da cidade, mestre de sangue do Clã Pellissier, nestes setecentos
anos.
Vampiros de setecentos anos eram raros, pelo que eu sabia, e a
sacerdotisa tinha que ser mais velha. Muito mais velha. Eu não tinha
visto sua linhagem no relatório dos registros.

Ele parou na frente da sacerdotisa, Sabina. — Os velhos hábitos


estão mortos e perdidos. Quando os humanos nos encontraram, nos
revelaram, provaram que os antigos mitos eram verdadeiros e caçadores
de sangue estavam entre eles, os velhos costumes mudaram. Os velhos
métodos morreram.

— Não podemos mais construir famílias de sangue como fazíamos


no passado, não e sobreviver no mundo humano. E não somos tão
numerosos hoje a ponto de permitir que o mais velho entre nós morra
de morte verdadeira. À medida que o mundo mudou, os Mithrans
também devem evoluir para sobreviver.

— Palavras bonitas. Mas meu clã sofreu a morte de nosso líder.


Como o mais velho, meu sangue é precioso para minha linhagem, —
Rafael disse, — e necessário para cimentar minha regra. Por que eu
deveria dar meu próprio sangue para salvar um rebento pertencente ao
meu inimigo? Por que eu deveria te ajudar? —O ar estalava com
animosidade, e eu meio que esperava que Rafael mostrasse as presas ou
desembainhasse uma espada e atacasse.
— Devemos nos manter juntos para derrotar o desonesto, —Leo
disse. — Podemos ser inimigos, Rafael, mas o inimigo do meu inimigo
é meu amigo. Estamos juntos contra os humanos que nos destruiriam.
Essa parte dos caminhos antigos deve permanecer inalterada. —
Suavemente, ele acrescentou: — Eu daria meu sangue por você, se você
fosse atacado pelo ladino. —A multidão suspirou, surpresa.

— E porque se não ajudarmos, —Sabina disse, — é possível que


Katherine Louisa Dupre, que ainda não morreu de verdade, possa se
curar sozinha e se levantar como uma desonesta. E pode então infectar
outros de nós, como dizem os velhos contos. —A congregação de
vampiros mudou de posição no que poderia ter sido uma dança lenta e
complicada. A indecisão era evidente em sua postura coletiva.

— Que um ladino possa infectar outro Mithran é uma história de


velhas e tolos, —Rafael zombou. — Era um mito antes de eu ser
transformado. —Ele olhou para uma mulher em um vestido de noite de
seda preta, e ela desviou o olhar. Eu inclinei minha cabeça e dei um
murmúrio suave e estridente de surpresa. Dominique, eu me lembrei.

Sabina disse: — Eu era um mito antes de você ser transformado,


Rafael. Eu vi o mito se tornar realidade. Agora, neste tempo em que a
luz é lançada sobre nosso passado escuro e maculado, um velho malandro
assombra as ruas de nossa cidade, enlouquecido em seu pecado. —Suas
palavras deslizaram em uma respiração suavemente liberada.

— Mácula, —disse um dos reunidos.

— Pecado, —disse outro.

Eu não tinha certeza do que as palavras significavam para eles, mas


o tom era triste, como o canto de pássaros solitários na noite. Eu piei
novamente, e a sacerdotisa olhou para a árvore onde eu estava sentada.
Eu acalmei minha voz e agarrei o membro com minhas garras para parar
meu movimento.

Sabina voltou-se para os vampiros e disse: — Assim como outras


raças que, em diferentes épocas e lugares, procuraram roubar de Deus,
nosso pecado nos custou muito. Não devemos permitir que ele nos
destrua antes que a redenção venha. —Novamente a multidão
murmurou.

Roubar de Deus? Eu pensei. Como um vampiro rouba de Deus?

— Rafael Torrez, —Sabina disse, — seu clã retira seu desafio? Você
vai compartilhar sangue com o morto?

— O clã Mearkanis retira nosso desafio, —disse ele, com má


vontade. — Mas não vamos em breve novamente aceitar a chamada
para se reunir.
— Existem outros desafiadores? —Quando ninguém falou, a
sacerdotisa disse: — A aceitação é dada. Abra o caixão.

Os vampiros se moveram, fechando lentamente ao redor do caixão


branco em um círculo fechado, obscurecendo minha visão, mesmo da
altura da árvore morta. As dobradiças do caixão se enfraqueceram
lentamente. Ouvi uma lâmina ser puxada de uma bainha, vi um brilho
de aço na mão de Sabina e senti o cheiro de sangue de vampiro,
pungente e ácido no corte. Ela disse: — Como a mais velha e
sacerdotisa, eu ofereço o primeiro sangue a nossa irmã caída, —e
segurou seu braço sobre o caixão, o sangue fluindo rapidamente,
pingando dentro com um tamborilar suave. O cheiro de sangue de
vampiro se intensificou. Depois de um longo momento, ela segurou um
pano no braço. Uma mulher ao lado dela amarrou uma tira em volta da
bandagem para mantê-la no lugar. Pegando a lâmina novamente, ela a
limpou em um segundo pano e olhou para a multidão, esperando.

Leo enrolou a manga até o cotovelo, com o antebraço para fora. —


Como mestre de sangue para nossa irmã caída, eu ofereço o segundo
sangue. —Ele aceitou o corte da lâmina de Sabina. Ele ficou em pé sobre
o caixão, deixando seu sangue fluir como uma oferenda, mas havia um
desafio em sua postura e seus olhos estavam em Rafael. Longos minutos
se passaram enquanto ele fechava e abria o punho, estimulando o fluxo
sanguíneo. Um humano teria desmaiado. Somente quando o sangue
parou de correr por conta própria ele aceitou um pano limpo da
sacerdotisa e se afastou.

— Para mostrar misericórdia, o Clã Mearkanis oferece sangue aos


caídos. —Rafael pegou a lâmina de Sabina e cortou sua própria carne.
Pelas reações dos vampiros, deduzi que o gesto foi rude, mas Sabina não
disse nada, deixando-o seguir seu caminho. Ele devolveu a lâmina
ensanguentada e colocou o braço sobre o caixão aberto, seu sangue
fluindo. Seu sangue correu quase tanto quanto o de Leo, e quando seu
ferimento finalmente coagulou, ele se afastou.

Pareceu-me uma versão vampira de um concurso de urina. Homens


serão meninos.

Uma fêmea ofereceu a Rafael um ombro para apoiá-lo. Ao lado


dele, uma mulher se aproximou. Ela era elegante, mas magra, quase
emaciada. — Como chefe interino do Clã Arceneau, eu ofereço sangue.
—Ela aceitou o o corte, respirando fundo com a dor. Ela deixou seu
sangue cair, apenas metade do tempo que Leo sangrou, mas ela estava
vacilando em seus pés. Aos meus olhos de pássaro, Dominique parecia
estranha. Não tenho certeza de como, mas apenas ... não muito normal,
mesmo para um vampiro. Ela se movia com menos graça, talvez.
Observei enquanto ela era conduzida a um banco no terreno. E então eu
entendi. Ela já havia sido sangrada esta noite, provavelmente por um
vampiro, a quem ela tinha uma dívida de sangue.

O mestre de sangue do Clã St. Martin sangrou em seguida,


oferecendo apenas um respingo simbólico. Seus olhos varreram a
assembleia como se os desafiasse a comentar sobre seu mesquinho
presente. Sangue ruim entre St. Martin e Pellissier. Os pássaros não
podem sorrir, mas eu senti o desejo. Depois disso, os chefes dos outros
clãs ofereceram sangue, alguns jogando a versão vampira de
“acompanhar Joneses ” quase se esgotando, outros oferecendo uma
quantia mais modesta. Trabalhei para lembrar os nomes dos clãs e a
ordem de importância, embora essa memória não fosse fácil para meu
cérebro atual.

Pellissier, Mearkanis, Arceneau, Rousseau, Desmarais, Laurent, St.


Martin, Bouvier, alguns inimigos, outros não. A parte “saint” de St.
Martin ainda era uma surpresa, mas então, o que eu sabia sobre
vampiros não-desonestos tinha acabado de ser triplicado novamente.
Talvez quadruplicado.

Depois que os chefes do clã se declararam e sangraram, os membros


inferiores se aproximaram do caixão, ainda de acordo com o clã, pelo

Demonstrar ser inferior. Mantendo-se com os Joneses é uma expressão idiomática em muitas partes do Inglês - Falando mundo referentes
à comparação com o próximo como uma referência para a classe social ou a acumulação de bens materiais.
melhor que pude perceber, mas o drama acabou e o resto do
derramamento de sangue foi sem teatralidade. Achei que Katie
provavelmente estava nadando em sangue. Ick. Olhei para a lua e julguei
que o derramamento de sangue durou mais de duas horas antes que
Sabina parasse, dizendo palavras que eu não entendia, em francês, ou
latim, ou mandarim, pelo que eu sabia.

Os vampiros se fecharam em torno do caixão aberto, ficando ombro


a ombro. E eles começaram a cantarolar, uma harmonia flutuante que
parecia um canto fúnebre sem palavras. Depois de vários compassos, a
sacerdotisa cantou e a congregação ficou em silêncio. — Lîlî lamâ
švaqtanî.

Assustada, inclinei-me para a frente, pescoço para fora e quase


cambaleei do galho. Eu agitei minhas asas e dancei para trás, minhas
garras raspando na casca solta. — Elî elî lamâ švaqtanî, —ela entoou
novamente. A multidão inteira cantou em harmonia em tom menor, —
Elî elî lamâ švaqtanî. Elî elî lamâ švaqtanî.

Eu encarei, sentindo frio nos ossos, colocando as palavras na minha


memória. A frase estava entre as últimas palavras que eu esperava ouvir
de um bando de vampiros. E eles não pegaram fogo. Precisando de
calor, eu afofei e agitei minhas penas, chilreando de medo.
Eu tinha ouvido essas palavras em todas as paixões da Páscoa,
desde os meus 12 anos de idade até deixar o orfanato. Eu tinha certeza
que a frase estava entre as últimas palavras ditas por Jesus na cruz,
aramaico para “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?”

Os vampiros ficaram em silêncio.

Eu fiquei em minha árvore enquanto os vampiros enterravam Katie,


empurrando seu caixão em uma fenda vazia em um mausoléu do clã
Pellissier. O som áspero do metal sendo arrastado na pedra, e o barulho
do caixão se acomodando em seu nicho ecoou pelo terreno. Quando a
porta da cripta foi fechada, sua grade de ferro selada e trancada, eles
pareceram respirar coletivamente, como se para se libertar dos vestígios
de um transe. As formalidades estavam claramente encerradas.

Alguns dos vampiros formaram grupos menores, para conversar ou


conspirar ou o que quer que os vampiros fizessem em não-funerais
mortos-vivos. Estranhamente, eles falaram sobre o mercado de ações e
a última explosão no Oriente Médio , como qualquer grupo de
humanos instruídos. Foi quase tão desorientador quanto ouvi-los citar

O Médio Oriente ou Oriente Médio é um termo que se refere a uma área geográfica à volta das
partes leste e sul do mar Mediterrâneo. É um território que se estende desde o leste do Mediterrâneo até ao golfo Pérsico. O Oriente Médio é
uma sub-região da África-Eurásia, sobretudo da Ásia, e partes da África setentrional.
Jesus. Então, um por um, eles chamaram suas caronas em telefones
celulares, e a limusine e a procissão de carros elegantes se inverteram.
Os primeiros a chegarem os últimos a partir. Aquele concurso irritante
de novo.

Quando todos os vampiros se foram, eu estava pronta para voar de


volta ao meu jardim e me transformar em algo com braços. Mas Sabina
ainda estava de pé, de cabeça baixa, as saias brancas esvoaçando com a
brisa. Ela falou sem levantar a voz, seu tom pesado agora com um
sotaque que eu não reconheci. — Já se passaram muitos anos desde que
ouvi o chamado do Bubo bubo, —disse ela. Ela olhou para a árvore, seu
rosto brilhando sob o luar escasso. — Não sei se você é real, ou profecia,
ou as fantasias loucas de uma velha pecadora. —Ela balançou a cabeça
lentamente, seus olhos de predador em mim. Embora fosse raptor e
tivesse medo de pouco, queria levantar asas e voar para longe. Minhas
penas de vôo estremeceram e meus pés com garras dançaram no galho.
— Se você é uma profecia, se você é o sopro de Deus em minha alma
manchada e escurecida, então saiba disso e leve minhas palavras de
volta com você para o paraíso. Ainda buscamos o perdão. Ainda
buscamos a absolvição.

Quando eu não me mexi, ela baixou a cabeça e caminhou até a


capela, tão graciosa que suas saias mal balançavam. Ela fechou e
trancou a porta. Observei enquanto ela apagava todas as luzes, exceto
uma, uma única chama na noite. O silêncio caiu sobre o cemitério. Eu
levantei minhas asas e me lancei, voando baixo sobre o terreno,
procurando correntes para ganhar altitude.

Eu inclinei e voei sobre a não-capela, pronto para voar para casa,


então ouvi o barulho agora familiar de uma cripta se abrindo. Inclinei-
me mais uma vez sobre o cemitério, procurando com olhos de raptor
projetados para localizar a menor presa, e com ouvidos atentos, meio
que esperando ver ou ouvir Katie. Em vez disso, um homem saiu de
uma cripta, encurvado e magro, e fedendo a tumba. O desonesto.

Ele fechou a porta de madeira da cripta e empurrou o portão de ferro


forjado que a protegia, seus movimentos desiguais, quase humanamente
lentos. Seus pés estavam descalços e imundos, suas mãos pareciam um
pedaço de pau, esqueléticas. Suas roupas estavam gastas e rasgadas, mal
ajustadas, não eram o mesmo casaco comprido e calças de lã que ele
havia deixado na beira da água no fosso atrás da casa da xamã. Sua
cabeça estava baixa, o cabelo espalhado sobre o rosto, obscurecendo-o.
Mas eu o conhecia por seu fedor podre, seu andar e a postura de seus
ombros ossudos. Ele não se movia como qualquer vampiro que eu
conhecia. Passei voando silenciosamente, para poder ler o nome do clã
no mausoléu. St. Martin.
O desonesto tropeçou e oscilou pelo terreno gramado até o cofre do
clã Pellissier. Ele caiu contra as portas gradeadas e as agarrou com mãos
brancas pálidas, sacudindo-as. O chocalho silencioso soou alto e áspero
na noite silenciosa. Suas ações ficaram frenéticas, seus dedos batendo
nas fechaduras, arranhando as barras de ferro da porta, seu rosto
pressionado contra o metal. Ele choramingou lamentavelmente, como
um animal pequeno e faminto. Eu podia ouvi-lo respirar, fungando,
enquanto ele cheirava a mistura de sangue de vampiro, o aroma um rico
cheiro de sangue no vento, mais forte do que sua podridão.

Ele bateu as palmas das mãos contra as barras e se afastou com um


estrondo final. Furioso, ele cambaleou para a não-capela. Eu circulei
mais apertado, observando. Seus dedos brilharam com calor e faíscas
cinzentas de poder. Uma assinatura de energia que reconheci. Eu
circulei para baixo rapidamente, observando enquanto as garras
cresciam em seus dedos, em forma de gancho e curvas, mais longas que
as da Besta. Ele estava mudando de forma.

Merda. Essa coisa não era um vampiro desonesto. Era um were .


Ou um skinwalker. Besta estava certa. Este era realmente um comedor
de fígado.

Were: quer dizer metamorfo, troca-forma


ombros, respirando

profundamente, um som úmido e cortante, familiar como Besta. O


comedor de fígado jogou o rosto para o céu noturno. E ele me viu.

Seu rosto não era mais humano, mas um focinho rombudo, longas
presas curvando-se da mandíbula superior e inferior. Ele estava peludo,
uma pele fulva cobrindo seu rosto, braços e pescoço. Mandíbula
alongada, orelhas levantadas, apontando. Garras maiores que as da
Besta de longe. Sua transformação parou ali, como se ele tivesse controle
o suficiente para mudar apenas parcialmente. Ou talvez ele estivesse
preso entre as formas. O fedor de podridão tinha sumido, deixando o
odor almiscarado de um grande gato macho.

Dente-de-sabre , alguma parte de mim pensou, atordoada.


Assistindo, eu hesitei um instante. Perdi uma corrente de ar, uma

Smilodon é um gênero extinto de felídeo da subfamília Machairodontinae. É o mais conhecido dos dentes-de-sabre
e viveu durante o Pleistoceno. Mais especificamente, Esmilodontes percorriam a América do Sul e Norte entre cerca de 700.000 anos a 11.000
anos atrás. Vários fósseis foram encontrados em La Brea.
elevação térmica. A torção do ar me jogou fora. Eu tombei. Minhas asas
bateram inutilmente. Comecei a girar e estendi a mão com asas e pés em
garras, espalhando-me, firmando meu corpo no vôo enquanto a terra
subia rapidamente.

Abaixo de mim, a dente-de-sabre saltou, alcançando o alto com


uma mão em garra. Um salto impossível. Eu peguei o ar e girei meus
ombros, batendo as asas com força. Um grito me escapou, raiva raptor.
As garras do ladino arranharam minhas penas de vôo. Eu agitei o ar,
ganhando altitude, e gritei novamente. O ladino caiu de quatro. A parte
de trás de seu casaco rasgou com um rasgo seco e áspero, pêlo dourado
se espalhando, uma juba longa e irregular, suas costas listradas. As
pedras de uma cripta próxima explodiram, quebrando com um estalo e
um estrondo. Ele estava roubando massa. Roubar pedra. A porta da
frente da não-capela se abriu. Sabina saiu.

Gritei para ela voltar para dentro. Mas minha garganta e meu bico
gritavam apenas pios roucos e crocantes. O desonesto rugiu, um som
que não era humano. Afastando-se de mim, ele correu em direção à não-
capela.

Eu dobrei minhas asas. Mirando em sua nuca. Golpeado com força


mortal. Bati meu bico na base de seu crânio. Um estalo surdo e ecoante.
Arranhei seu couro cabeludo com garras. Ele tropeçou e se sacudiu. Eu
tombei para o lado. Esquivei por pouco de suas garras. Ombros girando,
eu atirei de volta para o céu.

Ele saltou para a sacerdotisa. Eu mergulhei, mas não pude evitar.


Não contra esta criatura, não nesta forma, talvez nem na forma humana.
Eu não tinha entendido, mas Besta sabia. Não importa a evidência, este
não era um vampiro desonesto. Este era o comedor de fígado, uma criatura
das mais sombrias lendas. Uma criatura de magia negra.

Do ar, meu corpo mergulhando, vi Sabina puxar algo pelas costas.


Levantou-o bem alto. Era uma cruz de madeira. Segurada em mãos
enluvadas. A luz brilhou na cruz. A criatura rugiu, saltou, recuou.
Rodado no ar. Ele gritou a dor de um grande gato, como uma mulher
em trabalho de parto. Aterrissou de costas, uma pata sobre os olhos. Ele
correu para longe, seu corpo mudando enquanto ele corria. Ele andou
quatro pés, suas roupas rasgando. Uma juba de ponta negra se
contorceu. Outra cripta explodiu, estilhaços de pedra voando. Leão dente
de sabre ... com medo de uma cruz como um vampiro.

Eu bati as asas para trás, revertendo a direção, minhas garras para


fora, as asas empurrando contra o ar como se eu o empurrasse. Na
varanda fora da não-capela, Sabina largou a cruz e passou os braços pela
cintura, aninhando-se. Ela gemeu de dor, seus olhos em mim, pupilas
pretas de vamp, suas presas totalmente estendidas. O fedor de carne
queimada e couro poluía o ar.

Ela respirou fundo e gritou: — Profecia! —Garras de três centímetros


de comprimento se estendiam das pontas das luvas de camurça
queimadas, construídas para deixar as pontas dos dedos expostas, como
luvas de dirigir ou de golfe, incongruentes com o vestido de freira. Eu
queria ficar, para ver se ela estava bem. Desejo tolo para um assassino
de vampiros. Em vez disso, gritei de raiva e girei, seguindo o skinwalker
de magia negra, que foi repelido por uma cruz.

Ele correu pelo cemitério, entre criptas e na floresta. Eu voei mais


alto, encontrei uma corrente se movendo em direção ao rio. Rastreando-
o. Não havia como ele me perder, não dessa forma. Meus olhos podiam
seguir um rato a cem metros.

Ele correu pela floresta, olhando frequentemente para o céu, para


mim. Um quilômetro depois, ele cruzou uma estrada larga, evitando os
faróis dos carros indo em ambas as direções, correndo com velocidade
de vampiro em direção a uma área bem iluminada, um beco sem saída
onde as luzes de segurança brilhavam, carros e caminhões estavam
estacionados na rua, e casas pequenas e quadradas estavam escuras. Os
ar-condicionados ronronaram. Um cachorro latiu. Outros aceitaram o
aviso, um coro estridente. Uma casa tinha as janelas abertas, uma trilha
sonora de televisão se espalhando no escuro, a tela piscando. O
desonesto saiu da floresta. Correu para o aberto. E mergulhou por uma
janela entreaberta na casa.

Pela janela, ouvi rosnados, um grito abafado. Ele está matando


alguém. Os cães próximos enlouqueceram, rosnando, latindo, jogando-
se contra as cercas de arame, o metal tinindo e retinindo. Gritei um
desafio. Pomba. Voou perto. Mas eu estava no ar, em forma alada. Eu
não podia ajudar. E eu não podia voltar para a forma humana—não
havia nada de onde tirar massa, e mesmo se eu pudesse arriscar, eu tinha
deixado muito de mim mesma no jardim.

Uma mulher gritou, os sons borbulhando. Eu gritei de volta,


amaldiçoando o céu e o ar e o comedor de fígado. Ouvi baques vindos
da casa, ocos, reverberantes, e depois o som de água caindo. Um
chuveiro, a água batendo nos ladrilhos, batendo em um corpo por um
longo tempo. Então não havia nada. A casa ficou em silêncio.
Concentrando-me firmemente, circulei mais alto, observando. Nada
mudou. Nada moveu. Desamparada, eu voei, corrente a corrente. O ar
esfriou. Uma tempestade atingiu o golfo. Ao longe, um raio tremeluziu
na cúpula do céu. As nuvens escureceram as estrelas. O amanhecer
estava próximo. E ainda assim eu voei.
Uma porta bateu. Um homem saiu da casa. Mas não era o comedor
de fígado. Dobrei minhas asas e mergulhei perto. Este homem era alto
e ruivo, vestindo jeans e uma camiseta e um cheiro desconhecido. Eu
peguei uma corrente de ar, não tenho certeza do que sua presença
significava. Ele entrou em um carro. Acelerou e dirigiu para a rua
adjacente. Segui por tempo suficiente para chegar ao lugar onde estava,
onde ficava a casa, em minha memória de pássaro. O amanhecer estava
pintando o céu do Leste.

Se eu encontrasse o sol nesta forma, não poderia mudar de volta até


o pôr-do-sol. Em conflito, lutando comigo mesma, girei e bati no ar, de
volta ao jardim onde havia deixado a maior parte da minha massa.
Cheguei bem a tempo, pousando na pedra superior, asas para fora,
penas da cauda bem abertas. Garras nas rochas, arranhando áspero e
rouco. Eu coloquei uma garra na pepita. E pensei em Jane Yellowrock.
Humano. Com cicatrizes. Fêmea. Ligada a terra. Massa em massa, pedra
em pedra ...

Eu puxei a memória de sua cobra para a superfície. Eu derreti nela.


Para dentro dela. A rocha retumbou embaixo de mim. A dor atingiu
meus ossos e eu engasguei. Caiu na pedra quebrando. Ela se dividiu
amplamente. Me jogou no chão. Tirou minha respiração. Pedras
irregulares caíram sobre mim.
Atordoada e machucada, deitei no chão, olhando para o céu. Eu
estava tonta, sem saber o que tinha acontecido, lembrando apenas que
tinha sido Bubo bubo. Não foi? Eu olhei para baixo, provando a mim
mesma que era humana. Lentamente, as memórias voltaram para mim.
Meu estômago roncou. Peguei a pepita de ouro e trouxe o colar para
perto. Uma faixa dourada cruzou do Leste. Um pássaro começou a
cantar. Um gato amarelo listrado caminhou ao longo da cerca entre a
casa de Katie e meu jardim, me observando.

As pedras no jardim dos fundos não tiveram tanta sorte. A de cima


tinha sido reduzido a escombros, seu maior pedaço tinha menos da
metade do tamanho do original, o menor parecia cascalho de ervilha.
Eu não gosto de armazenar massa. Não entendia como fazia isso e tive
a sensação de que era perigoso. Mas até agora, eu tinha voltado inteira.
Apoiada na pedra, toquei a pepita.

Quando fiz dezoito anos e saí do lar infantil, fui para as montanhas,
seguindo alguma necessidade inata para o norte e o oeste. Depois de
dirigir minha motocicleta pela Wolf Mountain até a estrada de terra,

Wolf Mountain é uma pequena área de esqui local em Nordic Valley, Utah. A área era conhecida como
Nordic Valley até 29 de junho de 2005, quando foi adquirida pelo vizinho Wolf Creek Golf Resort.
então uma trilha, conduzida, eu me encontrei na rocha Horseshoe . Eu
desci dele para a floresta. No fundo de uma ravina estreita, raspei as
folhas secas e encontrei uma pedra de quartzo, manchada pelo tempo,
inclinada para baixo da ravina. No centro dela corria um veio de ouro.

No escuro e na chuva, me arrastei para dentro de um saco de dormir


e dormi perto da pedra. E pela primeira vez em seis anos, embora eu não
tivesse nenhum colar, nenhum amuleto para encontrar a cobra dentro,
eu mudei. Para um grande gato. Besta falou comigo como um velho
amigo, há muito silenciado. Por semanas, eu/nós caçamos, comemos,
visitamos covis antigos. Escondido dos humanos. Procurei por
minha/nossa progênie. Todos os meus filhotes se foram. Todos os
outros da minha espécie se foram. Eu era a última. Em qualquer lugar.

Quando voltei a ser humana, tirei algumas pepitas de ouro e


coloquei no bolso. Posteriormente, mandei amarrar uma delas em uma
corrente dupla de ouro ajustável para carregar comigo, enquanto o resto
foi para um cofre por precaução. Se eu me concentrasse, poderia sentir
o ouro, não importa onde eu estivesse, tanto a posição de cada pepita

Horseshoe Bend é uma imensa curva em forma de ferradura executada pelo curso do rio Colorado
a poucos quilômetros da cidade de Page no Arizona e relativamente próxima ao Grand Canyon. Pode ser acessada por meio de uma trilha,
envolvendo caminhada de cerca de dois quilômetros e meio pelo deserto, partindo da rodovia U.S.89.
quanto a veia original na rocha nas profundezas das montanhas. Isso me
deu segurança, uma sensação de refúgio. De conforto.

Agora, tremendo, pendurei o colar de pepitas no meu pescoço e


entrei. Eu fui até o fogão quando meu celular tocou. — Mol, —respondi,
— estou bem.

— Sou eu, tia Jane, —Angelina disse, fungando. — Você me assustou.

Atordoada, eu disse: — Huh?

— Não seja mais o pássaro, tia Jane. Você poderia ter caído. —Ela
estava chorando.

Eu agarrei o celular, meu coração congelado derretendo. — Okay,


Angie, baby. Sem mais pássaros.

— Eu te amo, —ela murmurou. — Eu tenho que ir. Mas a mamãe


disse que vamos visitá-la. —E a ligação terminou.

Depois de uma panela de dois quartos de mingau de aveia, um dos


bifes de Besta grelhado quase malpassado—mas não totalmente—sob a
grelha do forno, e um bule inteiro de chá preto forte, eu me senti mais
como eu, mais ou menos, embora eu estivesse emaciado e mal do
estômago e vertigens a ponto de me agarrar aos armários ou móveis
enquanto caminhava. Angie estava certa. O que eu tinha feito era
perigoso. Muito ruim, estúpido.

Com frio, incapaz de me aquecer mesmo depois de cozinhar até que


a água quente do chuveiro esfriasse, me enrolei sob as cobertas com uma
caneta e um bloco e anotei o que me lembrava da noite. A localização
da capela—não não-capela, mas capela. Continha uma cruz e uma
freira. Bem, uma sacerdotisa, mas perto o suficiente. Isso a tornava uma
capela, certo? A localização parcialmente lembrada da casa por onde a
criatura entrou. Ele tinha matado? A TV estava ligada. Eu tinha
confundido uma trilha sonora com um assassinato real? Será que o
comedor de fígado desonesto estava enterrado sob a casa? Perguntas,
sem respostas e uma memória fragmentada e nebulosa.

Meu último pensamento coerente foi sobre a sacerdotisa, segurando


no alto uma cruz de madeira, brilhando com luz. Madeira não fazia isso,
nem mesmo na presença do mal, por isso sempre carrego cruzes de
prata. Esquisito. Simplesmente estranho. E ainda mais estranho—um
vampiro segurando uma cruz. Como ela sobreviveu a isso? No meio de
minhas lembranças e perguntas, adormeci.

Acordei me sentindo aquecida e irritada. Alguém estava batendo na


minha porta com punhos altos e impacientes. Eu não tinha certeza, mas
pode estar acontecendo há muito tempo. As pessoas não podiam
simplesmente deixar uma garota dormir? Dura e dolorida, rolei para
fora da cama, puxando as cobertas, encontrei o roupão emprestado e o
vesti. Através do vidro, vi o Joe, Rick LaFleur.

— Merda. —Com má vontade, abri a porta da frente. — É melhor


que seja muito importante.

Ele estava vestindo jeans, botas e um chapéu de cowboy que


empurrou para trás pela aba, levantando-o o suficiente para me ver da
cabeça aos pés descalços. Uma leitura lenta que passou de inventário a
sensual em um piscar de olhos. Seu cheiro mudou de negócios para
sexo.

Um sorriso se espalhou por seu rosto. — Por favor, diga que você
está sozinha e solitária. —Quando eu o encarei, ele levantou a mão e
estendeu em minha direção, movendo-se lentamente, como se achasse
que poderia levar um tapa. Ou ser jogado na rua e deixado machucado.
Ele afastou uma mecha de cabelo do meu rosto, para trás da minha
orelha.

Besta acordou com uma guinada repentina. E ronronou. Ela


respirou fundo e lutou para me controlar. Era a hora da revanche por eu
me tornar Bubo bubo. Senti suas garras na minha barriga. Na velha ferida
em meu peito, apertando. Os dedos de Rick se arrastaram ao longo do
meu pescoço até a gola do meu manto, uma lenta carícia na minha
clavícula e para baixo.

Dominando a Besta, peguei seu pulso antes que ele ficasse muito
amigável. — O que você quer? —Eu rosnei, segurando sua mão longe
de mim. Eu estava muito satifesta que minha voz mostrava apenas
aborrecimento, não desejo. Mas comecei a suar atrás dos joelhos e ao
longo da coluna. Besta o queria. Seriamente.

— Vim ver se você queria cavalgar.

— Fazer o quê? —Imagens de grandes felinos se acasalando,


rosnando e tirando sangue inundaram minha mente.

Seu sorriso se alargou com uma espécie de provocação sexual que


eu nunca havia dominado. — Andar de moto, —disse ele, prolongando
a palavra como se eu fosse uma imbecil e ele pudesse ver as imagens em
minha mente. — Você não foi ao clube ontem à noite, então vim ver se
você queria andar de moto. —Eu deixei cair seu pulso. Ele a abaixou,
sorriso no lugar.

— Eu não dormi noite passada, —eu disse. — Que horas são?

— São quatro da tarde, hora de acordar e brilhar, principalmente na


cidade que festeja até o amanhecer. —Ele empurrou seu caminho para
dentro e eu deixei, o que tinha que ser muito idiota. Besta queria
estender a mão e deslizar em sua bunda quando ele entrou, mas eu
resisti. De jeito nenhum. Sua retribuição normalmente era menos sexual,
mais na natureza de se recusar a voltar quando fosse a hora. Acho que
preferia sua tendência teimosa a sensual.

Besta apertou suas garras em mim, rasgando. Doeu e eu engasguei


de dor. — Ponha a chaleira no fogo, —eu disse. Girando sobre um
calcanhar, fui para o meu quarto e fechei a porta. Firmemente. Talvez
com um pouco mais de firmeza, mas fez meu ponto. Não estava feliz
com Rick LaFleur. Mas ele conhecia Anna, que tinha dormido com o
desonesto—não, o comedor de fígado—quando ele cheirava mal. E ele
tinha algo acontecendo com Antoine, que despertou minha curiosidade.
Eu queria saber o que Rick sabia, o que significava que eu tinha que
passar um tempo com ele, conhecê-lo melhor, desvendar seu cérebro,
sempre supondo que ele tivesse um. Eu precisava verificar a casa em que
o patife comedor de fígado havia entrado. Mas primeiro—eu precisava
de comida. Muita comida. Eu estava inesperadamente faminta.

Escovei meu cabelo, prendendo-o na metade das minhas costas,


amarrando-o com um fio que tinha visto em uma gaveta. Vesti jeans e
uma blusa de alça fina. Quando me olhei no espelho, esperava ver
círculos escuros sob meus olhos, bochechas encovadas, pele pálida. Mas
eu parecia muito bem, embora muito mais peluda do que ontem. A aveia
e o bife do café da manhã ajudaram, mas meu estômago estava
roncando e eu sabia que não iria a lugar nenhum até que tivesse
proteína.

Ainda descalça, voltei para a cozinha e tirei um bife da geladeira.


Restavam quatro. Eu tinha que ir às compras. Mas as maneiras que
martelaram dentro de mim no orfanato prevaleceram sobre minha
possível fome, e eu disse: — Quer um bife?

— Certo. Se você estiver tendo um. Mal passado. Ainda chutando.

Bem dentro de mim, Besta retumbou em aprovação. Eu corei um


pouco com sua reação e desejei que ela voltasse a dormir e encontrasse
outra maneira de me torturar.

Rick estava esparramado na cadeira de que Pugilista gostava, as


pernas longas abertas, ocupando muito espaço. Ciente de sua linguagem
corporal, do modo como seus olhos pousaram em mim, peguei um
segundo bife, batatas fritas e um pacote de espinafre colocado ali por
Troll. — Ei, —disse ele, — recebi aquela informação que você queria
sobre os proprietários perto do Lago Catouatchie e do Parque Histórico
Nacional Jean Lafitte.

Lago Catouatchie.
Eu assenti e, quando pude falar casualmente, perguntei: — Você
ouviu alguma coisa sobre um assassinato perto de Westwego ? Por ali?

— Não. Por quê? —Quando eu balancei minha cabeça, ele não


pressionou. — Então. Vamos cavalgar?

— Vou pensar nisso depois do almoço, —falei, e acendi a grelha.

Não fui capaz de mudar a conversa para Anna. Como você


perguntava a um cara se ele estava dormindo com a esposa do prefeito,
especialmente quando você não conseguia explicar por que tem um
pressentimento de que ele está? Então, depois de um bife, batata cozida
no micro-ondas, salada de espinafre com molho de bacon e alguma
conversa ociosa, eu disse: — Por mais que goste da ideia de andar a
cavalo, preciso ir de motocicleta até Westwego. Verificação de chuva?

Rick estava novamente esparramado em sua cadeira, um braço


estendido sobre a cintura, o outro descansando sobre o encosto da
cadeira mais próxima, uma lata de Coca balançando em seus dedos. Ele
encolheu os ombros. — Não tenho nada para fazer. Vou andar por ali
com você e podemos parar e jantar no caminho de volta. Fazer disso um

Westwego é uma cidade localizada no estado americano de Luisiana, na Paróquia de Jefferson.


Este termo e usado para dizer a alguém que você não pode aceitar seu convite agora, mas que aceitará em outro momento.
encontro. —Seus olhos brilharam. — Conheço uma boa lanchonete, que
serve os melhores po’boys de ostras do estado. Crocante de torresmo
frito. Não é muito longe de Westwego.

Eu não deveria levá-lo comigo, não quando pode haver uma casa
cheia de cadáveres no final do passeio. Mas em vez de dizer não a ele,
eu disse: — Claro. Parece divertido. —E poderia ter me dado um tapa.
Mas o pragmatismo apareceu. Se eu encontrasse cadáveres, precisaria
chamar a polícia e precisaria de uma boa história. Eu poderia praticar
em Rick.

Já passava das cinco quando saímos da cidade, o sol ainda muito


acima do horizonte e forte, o ar quente e abafado, queimando onde
atingia a pele nua, fazendo-nos suar por baixo das roupas de montaria.
Eu me curaria de erupções cutâneas se caísse, mas a cura rápida não era
algo que eu queria explicar. Então, usei jeans, botas e jaqueta de couro,
apesar do calor. O tráfego da hora do rush estava confuso em todos os
lugares, mas ter motocicletas significava que poderíamos costurar

Poboy (também escrito "po’ boy" ou "po-boy") é uma sanduiche feita numa baguette de pão francês,
alimento dos “poor boys”, ou jovens pobres, originária da culinária da Louisiana; pode ter um recheio de carne, tradicionalmente rosbife e
“gravy”, mas a maior parte das vezes leva peixe ou mariscos fritos, picles, molho picante, alface, maionese ou outros “fixin’s”. O pão, no entanto,
é o ingrediente mais importante: deve ter uma crosta crocante e um miolo macio. A sanduiche é normalmente consumida com rootbeer ou com
uma cerveja local, como Abita ou Dixie.
através do tráfego parado. Não é exatamente legal, mas ninguém nunca
me impediu, e Rick não parecia o tipo de pessoa que espera
pacientemente no asfalto quente, respirando fumaça. Ele me seguiu
quando eu dirigi entre os veículos parados na 90 e através da ponte.

O tráfego começou do outro lado do Mississippi e eu acelerei o


motor, Rick ao meu lado. O mundo parecia diferente da estrada, e
demorei um pouco para me orientar, mas finalmente encontrei meu
caminho para a saída que conduzia por estradas secundárias e terciárias
e, por último, para o caminho de gramas esmagadas do cemitério de
vampiros.

O caminho estava bloqueado por dois portões de metal articulados


em pilares sólidos, os portões conectados por uma corrente e presos com
um bom cadeado. Diminuí a velocidade para fazer o contorno em torno
da escora à esquerda e dei à moto gasolina suficiente para navegar ao
longo da curva, tirando meu capacete e olhando o lugar. Parecia
diferente da noite e a seis metros de altura. Eu não sabia o que ele estava
esperando, mas Rick acabou me seguindo. Eu estava caminhando entre
criptas, o sol escaldante em minha cabeça nua quando ele me alcançou,
suas botas Frye esmagando conchas enquanto ele corria.

— Você viu os sinais de proibição de invasão, não é? —Ele disse.


— Sim. —Avistei o mausoléu Pellissier e verifiquei as fechaduras da
porta gradeada. Elas eram de alta qualidade e ainda seguras, o que
significava que Katie estava segura, ou tão segura quanto um morto-vivo
afogado no sangue misturado de cem vampiros e enterrado em um
caixão em um cofre. Eu girei, localizando a cripta de St. Martin e
caminhei naquela direção, tirando minha jaqueta de couro enquanto
caminhava. O suor escorria pela minha espinha, sob meus braços e se
acumulava na minha cintura enquanto eu circulava o pequeno edifício.
A cripta de St. Martin era feita de blocos de mármore brancos
empilhados a seco. Sua porta estava centrada na frente entre pilares
elegantes, duas janelas estavam juntas na parte de trás, janelas que
combinavam com o estilo pontiagudo e arqueado da capela. A cripta
estava gravemente danificada. Faltava um pedaço de mármore em um
canto, quebrado, como se tivesse sido atacada com um martelo, eu sabia
melhor. Fragmentos de pedra foram espalhados pela mudança em
massa do desonesto.

Rick praguejou baixinho. — Malditos meninos. —Quando olhei,


ele disse: — O vandalismo no cemitério é excessivo nesta parte do
estado. —Não me preocupei em esclarecer.

O edifício tinha quatro por três metros, com uma estátua de pedra
no telhado pontiagudo—um soldado alado de seis pés de altura com
uma espada de bronze e escudo. Exceto pelas armas e asas dobradas
para os lados, ele estava nu. E excepcionalmente bem-dotado. Eu
balancei minha cabeça, sem sorrir, mas com vontade. A visão de um
escultor de St. Martin? Ou a visão de St. Martin de um anjo?

Rick me alcançou novamente. — Você sabe que este lugar pertence


aos vampiros, não é? —Ele parecia meio divertido, meio especulativo,
como se se perguntasse como eu encontrei este lugar e por que estava
aqui, mas realmente não quisesse perguntar.

— Sim. —Eu verifiquei as fechaduras e a porta gradeada da tumba.


As fechaduras estavam velhas e quebradas. As barras foram dobradas
recentemente, com metal brilhante aparecendo ao longo das linhas de
tensão. — Então? —Abri a porta do portão gradeado e empurrei a de
madeira atrás dela. Ela abriu com um gemido suave.

— Então, o portão tinha sensores eletrônicos, —disse ele. — Eles


vão enviar alguém para nos verificar.

Eu olhei para dentro. — Bom. Eles podem limpar isso.

“Isto” era a destruição de cinco dos seis caixões. Eles já haviam


descansado em esquifes de pedra empilhados, de três alturas, e cada
esquife individual tinha uma pequena porta de mármore na extremidade
dos pés. As portas de mármore foram arrombadas e os caixões foram
puxados para fora e batidos contra a parede de trás, se as cicatrizes
fossem uma pista. O conteúdo do caixão estava espalhado por toda
parte. Ao contrário da ficção popular, os vampiros não explodem em
cinzas quando morrem, a menos que sejam queimados, então o chão
estava coberto de ossos, pedaços de vestidos antigos, botas, alguns
crânios sorridentes—um com cabelo preto preso—algum ouro, moedas,
joias cintilantes e recheios de caixões apodrecidos.

Eu gesticulei para dentro. Rick se curvou ao lado da porta e olhou


para dentro. — Merda, todo-poderoso. Quem—merda! Quem fez isto?
Que cheiro é esse? —Ele recuou rapidamente, a mão sobre a boca e o
nariz.

Eu já estava contra o vento. — Parte dos mortos e parte é do


desonesto. Acho que ele passou o dia aqui ontem. —Calculei a distância
da borda da floresta. Estava mais longe do que parecia do ar. — Eu acho
que ele sabia que os vampiros colocariam Katie na terra, e ele esperava
conseguir o sangue em seu caixão.

— Sangue em seu caixão?

Eu considerei sua expressão e decidi que eu não era a única que não
sabia o que a cerimônia da noite passada envolvia. Eu me perguntei se
algum humano sabia. Também decidi que era mais inteligente não saber
as respostas à sua pergunta e não compartilhar as informações que
descobri. — O sangue de Katie, —menti. — Ele não terminou de drená-
la. — O que era verdade.

— Uh-huh.

Eu tinha que trabalhar na minha mentira. Para não ter que


responder ao seu ceticismo, fui até a capela. No caminho, passei pela
outra cripta danificada pelo ladino, roubando massa. Pertencia ao Clã
Mearkanis, e o dano foi maior, quase um metro quadrado de pedra
explodidos.

Cheguei à capela. A cruz ainda estava deitada na pequena varanda,


mas não mais brilhando ou queimando. Inclinei-me sobre ela, tirando
meus óculos de sol para ter uma visão melhor. A madeira estava intacta,
sem queimaduras pelo fogo que eu tinha visto, e nenhum cheiro fresco
de fumaça se apegava a ela. Não era feito de madeira entalhada ou
cortada, as travessas pareciam grandes lascas arrancadas de uma
madeira.

A cruz parecia velha, enegrecida pelo tempo e pelo uso. As quatro


pontas foram alisadas, como se tivessem sido ligeiramente arredondadas
com lixa e oleadas. Ou lentamente moldadas pelas repetidas carícias de
mãos humanas. As duas peças eram mantidas juntas por metal
retorcido, o acabamento era um verdete verde que havia sangrado na
madeira em que tocava. Velho, pensei. Velho, velho, velho.
Rick deu passos estreitos e se abaixou para pegar a cruz. Reagi sem
pensar. Agarrei o cós da sua calça jeans. E puxei. Ele passou voando por
mim. Fez um leve oof quando pousou, caindo, expelindo ar. Eu parei,
bloqueando a varanda, esperando que ele recuperasse o fôlego. Ele
gemeu e praguejou. — Por que diabos você fez isso? —Ele grunhiu. —
O que eu fiz desta vez?

— Você estava prestes a tocar na cruz, —eu disse. — Pertence a um


vampiro. Ela teria sentido seu cheiro nela. Nem um pouco inteligente.

— Vampiros não possuem cruzes, —ele disse. Ele empurrou os


cotovelos sob o corpo e meio que se sentou, as pernas abertas, os pés
cavando nas conchas, fazendo pequenas depressões que terminavam em
montículos em seus calcanhares. — Além disso, um simples “Ei você,
pare” teria funcionado muito bem. Alguém já te disse que você tende a
reagir de forma exagerada?

— Sim. Algumas pessoas. Algumas delas estão mortas, —eu disse,


deixando meu sorriso sair. — Eu não estou.

Rick soltou um som de desgosto e rolou de joelhos. — O que você


levanta, afinal? Você tem braços de gorila. —Ele ficou de pé e ficou
olhando para mim.
Levanta. Como no supino . Eu não gostei de sua expressão. Eu
recebia olhares semelhantes quando fazia algo que um ser humano
normal não podia, e normalmente apenas fazia caso. Isso funcionava,
principalmente porque os humanos não queriam reconhecer a
alteridade, diferença ou estranheza. Eles preferem colocar o incomum
em um nicho aceitável, em algum lugar confortável, enfiando um pino
quadrado em um buraco redondo. Era mais fácil para eles e muito
menos assustador.

Tive a sensação de que Rick LaFleur não aceitaria meu erro usual.
Havia uma certa expressão em seus olhos, mais dura e especulativa do
que eu esperava, não uma expressão de Joe normal, mas algo totalmente
diferente. Não consegui pensar em uma única resposta, então dei de
ombros e fui até a árvore morta. O que você não pode lutar ou explicar,
às vezes você pode ignorar.

A árvore era um sicômoro morto, a casca fina se curvando, expondo


a madeira prateada por baixo. O galho onde eu estive sentada foi
marcada por garras de raptor. Uma pequena pena estava pousada no
chão, uma das minhas, e foi muito estranho vê-la. Eu tinha perdido parte

O supino é um exercício físico que é uma forma de levantamento de peso voltado principalmente para o
treinamento dos músculos peitorais maiores, mas que também envolve, como sinergistas, os músculos deltóide, serrátil anterior, coracobraquial
e tríceps braquial.
de mim quando perdi a pena? Se eu perdesse mais de mim, digamos, se
uma perna fosse amputada na forma animal, o que estaria faltando
quando eu voltasse? Quanto eu poderia perder e ainda ser eu? Coloquei
a pena no bolso.

Examinando o cemitério, observei o layout, me familiarizando com


as criptas do clã. Eu não tinha certeza se tinha perdido ou esquecido
ontem à noite, mas a maioria dos mausoléus tinha estátuas no topo.
Cada estátua de mármore era masculina, alada, tinha uma arma e um
escudo e estava nua. Elas poderiam ter sido esculpidas pelo mesmo
escultor, mas os rostos e corpos de cada um eram diferentes, todos
masculinos, todos lindos. Defensores angelicais dos mortos-vivos
demoníacos. Esquisito.

Rick veio atrás de mim e eu o ignorei cuidadosamente. Eu tinha


visto o suficiente e estava pronta para colocar alguma distância entre o
episódio do puxão-Rick-para-fora-da-varanda e eu. Abri meu celular e
liguei para Pugilista enquanto voltávamos para as motos. Quando ele
respondeu, eu disse: — Você tem alarmes disparando no cemitério de
vampiros?

Se eu o surpreendi, ele não indicou. — Sim. Temos uma equipe a


caminho.
— Sou eu e Rick LaFleur. Diga a eles para não atirarem em nós
se chegarem aqui antes de partirmos. E diga a eles que o desonesto
causou muitos danos às criptas de St. Martin e Mearkanis na noite
passada. Acho que ele passou algum tempo na dos St. Martin, o que
significa que ele contornou o sistema de segurança ou tem acesso a
ele.

Pugilista praguejou uma vez, eloquentemente, e sua voz quase


rosnou quando perguntou: — Você tem mais notícias para mim?

— Não. Terminei. Espere. Há uma cruz na escada da capela.


Sabina a largou, lutando contra o ladino. Diga ao seu pessoal como
você quer que eles lidem com isso.

— Como você sabe que ela a deixou cair? E como você sabe sobre
Sabina? —Seu tom era suspeito, da mesma forma que a voz de um
investigador de assassinato é suspeita quando ele encontra um corpo e
um suspeito ensanguentado em cima dele. Segurando a arma do crime.

Eu sorri e montei na minha motocicleta. — Eu sou vidente. —


Fechei o telefone e me preparei, ignorando Rick enquanto ele seguia
meu exemplo. Tive a sensação de que ele não gostava de brincar de
seguir o líder, mas não sabia o que fazer a respeito. Também tive a
sensação de que ele era mais do que aparentava. E eu não tinha certeza
do que deveria fazer sobre isso. O que nos deixou quites, de um jeito
meio estranho.

Eu dei a partida na moto, coloquei meus óculos de sol no lugar,


deixando a viseira levantada, fora do caminho, e dirigi pela estrada. Era
hora de ver a casa em que o ladino mergulhou na noite passada.
rua Old Man’s Beard. Senti

o cheiro de sangue e morte pela janela aberta no meio da estrada e ficou


mais forte quando me aproximei da casa. O desonesto comedor de
fígado realmente matou aqui. Acelerei o motor na estrada, ao lado da
casa, parei, tirei meu capacete e liguei para a investigadora do NOPD
de estimação de Katie, Jodi Richoux. Rick parou ao meu lado e desligou
sua moto também.

— Jodi, —eu disse quando ela atendeu. — Aqui é Jane Yellowrock.


Eu estava seguindo os rastros do desonesto ontem à noite e deparei
com uma casa com janelas abertas, uma com danos consistentes com
um B e E. O lugar cheira a carne morta.

— Espere aí, —disse ela, e ouvi uma conversa abafada por um um


momento antes de ela dizer: — Tudo bem. Dê-me o endereço.

— Fica na Old Man's Beard Street, na saída da Highway 90, não


muito longe da saída do Lapalco Boulevard, no final do beco sem
saída. Você pode querer enviar uma equipe. E traga seu psy-meter.
Eu gostaria de ver o que lê.

— A equipe está a caminho, e eu também. Mas me dê um motivo pelo


qual devo compartilhar informações confidenciais com você.

— Porque da próxima vez que eu encontrar algo interessante,


você quer que eu ligue para você e não para o New Orleans Times-
Picayune. —Eu fechei o telefone. Eu adorava brincar com policiais. Jodi
me odiaria, mas ela compartilharia. Claro, se ela encontrasse o menor
motivo para me acusar de qualquer coisa, não importa o quão
minúsculo, ela o faria, apenas para me trazer de volta. Olho por olho.
Eu tirei a moto da garagem e fiquei embaixo de uma árvore de sombra.

— Você é louca, sabia disso? —Disse Rick. — Você é totalmente


delirante.

Abri o zíper da minha jaqueta de couro, tirei-a e coloquei sobre o


guidão. — Posso ficar um pouco aqui. Você vai ficar ou vai embora?

— Estou fora daqui. —Ele fez uma pausa, dividido por duas
necessidades distintas. — Como você sabe que o vampiro desonesto veio
por aqui ontem à noite?
Eu decidi pela verdade, na medida do possível. Tinha que praticar
em alguém antes de tentar em Jodi. — Eu o segui parcialmente. Vi ele
passar por aqui, mas nunca o vi sair.

— Você disse aos policiais que o lugar cheira a carne morta. Só sinto
o cheiro de grama recém-cortada. E senhora, eu tenho um nariz bom.

A fragrância do gramado recém-cortado do outro lado da rua


permeava o ar, mas eu tinha filtrado automaticamente todos os cheiros,
exceto aquele que eu estava procurando. Nenhum pouco inteligente. Eu
deveria ter caminhado até casa primeiro. Eu realmente tinha que
trabalhar em mentir. Indo para surpresa e inocente, eu perguntei: —
Você não sente o cheiro disso?

As sobrancelhas de Rick sugeriam que eu não tinha sido totalmente


bem-sucedida. Ele colocou a mão no bolso interno da jaqueta e estendeu
algumas folhas dobradas, presas com um clipe de papel. — Os
proprietários que você pediu, —disse ele.

Eu peguei o pequeno maço, colocando-o em minha camisa. —


Obrigada.

— Eu gostaria de ficar por aqui, mas ...

— Mas você tem problemas com policiais?

— Algo parecido. Vejo você mais tarde.


— Certo. Dançar no clube em que você toca. —Eu ofereci a ele um
meio sorriso. — Cerveja vai ser por minha conta. —Nada como uma
garota convidando um cara para sair—parecia que eu era uma garota
moderna, afinal, ou eu só queria ficar de olho nele e em seus conhecidos.
Rick pode estar em sua própria caça ao desonesto, na esperança de tirar
a criatura de debaixo de mim, tirando dinheiro do meu bolso. Talvez
fazer um nome para si ao longo do caminho. Ou ele pode estar em
alguma outra missão que poderia impactar a minha.

— Sim. Bem. —O que não soava como um endosso para um


encontro. Mas então ele provavelmente estava machucado demais para
dançar, desde quando eu o joguei em seu trasseiro. Duas vezes agora.
Ele girou uma chave, o motor de seu foguete vermelho girou e ronronou.
Quase falei: “Partidas eletrônicas são para covardes”, mas consegui me
controlar. O motor da minha própria moto estava um pouco ruim, então
não tinha chance de insultar o de outra pessoa. Ainda. Uma partida
eletrônica? Onde estava a emoção e o mistério nisso?

Eu o observei ligar o motor. Ele não olhou para trás. Assim que ele
saiu, disquei para Jodi. Quando ela atendeu, eu disse: — Você conhece
um Joe local, caucasiano, mas francês, pele morena, cabelos escuros,
talvez um metro e oitenta, esguio? Nome de Rick LaFleur?
Ela hesitou. — Não. Não posso dizer que eu conheço. Mas ele pode usar
outros pseudônimos, —disse ela. — Por quê? —Foi a hesitação que
mostrou isso. Jodi estava mentindo para mim.

— Uma fonte minha afirma que ele está fazendo um trabalho de


baixo nível para Katie e alguns outros vampiros. Eu estava dando
uma olhada nele.

— O nome não é familiar. Mas vou manter meus olhos abertos. ETA
em menos de uma hora, —disse ela. — Fique perto.

— Estarei aqui, —eu disse. Fechei o telefone e coloquei no bolso.

Rick estava me enganando e/ou os vampiros? Reportando-se ao


NOPD? Uma fonte de rua dando aos policiais informações privilegiadas
em troca de ajuda em um problema jurídico anterior? Ele estava
delatando os vampiros? E se ele estava, eu deveria me importar? Isso
deveria me incomodar? Não, não deveria. Mas aconteceu. Me
incomodou que ele pudesse estar compartilhando segredos. Isso me
incomodou muito. Eu preferia que ele estivesse tentando pegar meu
trabalho de caça. — Merda, —eu disse. — Estou começando a gostar de
vampiros.

Estimated time of arrival (ETA) — Tempo estimado de chegada (Estimated Time of Arrival), unidade de medida de tempo para chegada
de um objeto a seu destino.
Deixando meu capacete e jaqueta de couro com a motocicleta, dei
a volta pela casa, na mata, suando com o calor úmido. Ainda nem era
verão e estávamos no alto dos anos noventa. Tentei imaginar como seria
em agosto. Uma sauna era banal, mas era a analogia mais próxima, e às
vezes banal significava apenas verdade. Uma sauna do tamanho de uma
cidade – diabos, do tamanho de um estado.

Por um instante, o desejo de voltar para casa tomou conta de mim.


Parei e fechei os olhos enquanto a saudade me sacudia. Eu queria
montanhas, cumes elevados e vales profundos e dobrados. Eu queria
cicuta , abeto, carvalhos, e bordo da montanha , riachos balbuciantes e
riachos derramando-se nas encostas e sob pequenas pontes que ecoavam
nos abismos quando uma motocicleta cruzava com estrépito. Eu queria
uma brisa fresca e temperaturas noturnas que caíssem para os quarenta
nesta época do ano. Eu queria chuveiros gelados de primavera. Eu
queria casa, não este lugar plano, abafado, úmido, aquecido e miserável.
Mas aqui era onde eu estava, e algumas pessoas amavam com a mesma

Cicuta é um género de plantas apiáceas que compreende quatro espécies muito venenosas, nativas das regiões
temperadas do Hemisfério Norte, especialmente da América do Norte. São plantas herbáceas perenes, que crescem até 1-2 metros.

São as arvóres bordo.


paixão que eu sentia pelas montanhas. Por enquanto, eu tinha um
trabalho a fazer e uma maneira de colocar dinheiro no bolso. Eu afastei
a necessidade de casa e entrei na linha de sombra das árvores.

Um mosquito pousou em meu braço e enfiou sua tromba em mim


para uma refeição de sangue, o que parecia parte integrante deste
trabalho. Eu o golpeei, deixando uma mancha de sangue para trás.
Limpando-o na minha calça jeans, murmurei: — Maldito sugador de
sangue.

Uma cobra deslizou para longe da minha abordagem e eu parei no


meio de um passo. Eu não tinha medo de cobras, mas não ter medo não
significava que gostasse especialmente delas. Se eu fosse mordida e ela
fosse venenosa, teria que me transformar para lidar com o veneno. E
mudar, mesmo para Besta, era difícil à luz do dia, especialmente sem
meu colar de amuleto.

Eu não estava familiarizada com as variedades locais de répteis. A


cobra tinha um metro de comprimento e era escura, com uma espécie
de diamante cruzando seu comprimento. Não é uma cobra rei . Não é

A cobra-real, ou ainda cobra-rei, também conhecida como hamadríade, é uma espécie de serpente peçonhenta da
família dos Elapídeos, endêmica da Ásia meridional e do sudeste asiático. Está ameaçada pela destruição do seu habitat e está listada como
vulnerável na Lista Vermelha da IUCN desde 2010.
uma cobra-liga . Ela ondulou pela grama e virou sua cabeça triangular
em forma de lança na minha direção. O crânio em forma de ponta de
seta era o sinal mais comum de uma cobra venenosa. Talvez fosse uma
cascavel, embora a ponta da cauda não parecesse ter chocalhos. Ele
deslizou para a sombra.

Eu segui em frente, observando meus passos. Se eu pisasse em uma


cobra, as botas só ajudariam se mordessem abaixo do meu joelho, acima
disso seria na pele. Não vi mais vida selvagem e rapidamente encontrei
o lugar onde o desonesto saiu da floresta. No gramado não havia muito
que indicasse que o ladino não era humano, mas um pouco para a
floresta, ele correu por um pedaço de lama e deixou três pegadas bonitas,
claras e de aparência estranha com marcas de garras, metade humanas
e metade de outra coisa. Gato grande.

As pegadas tinham cerca de trinta centímetros de comprimento,


onze no ponto mais largo, na ponta dos pés. Duas das impressões
tinham calcanhares em formato humano, o que as tornava estranhas,

Nome popular de uma cobra da família dos Colubrídeos, que ocorre no oeste dos EE.UU., habitando pastagens
e campos. Tem até um metro de comprimento, com escamas dotadas de carenas, com listas amarelas no dorso e nos flancos, pequenas manchas
pretas no dorso. Alimenta-se de roedores e animais anfíbios; não é venenosa e sua reprodução é vivípara.
algo que um especialista em Pé Grande apontaria com orgulho.
Reentrâncias profundas e cortantes indicavam o comprimento das
garras—muito mais longas que as da Besta. Grandes impressões. As
patas da Besta tinham cerca de 20 centímetros de diâmetro, unhas cerca
de 2,5 centímetros no comprimento recurvado, dependendo de como
eram medidas.

Comedor de fígado, Besta murmurou para mim, acordada, seu


radar de perigo ativo.

Fosse o que fosse, não era apenas um vampiro. O termo


“desonesto” não serviria mais, e até que eu descobrisse algo melhor,
seria comedor de fígado. Me incomodou que Besta soubesse mais sobre
isso do que eu. Esta criatura colocaria Besta em perigo com os policiais?

Tive um instinto instantâneo de obscurecer os rastros, esconder o


rastro da criatura—um instinto da Besta em modo de sobrevivência. Se
eu os escondesse, e os policiais decidissem que eu tinha bagunçado a
cena do crime, eu teria que começar a explicar, e isso significava
mentir—mentiras que eventualmente me pegariam. Então, contra o

O Pé-grande é descrito como uma criatura na forma de um grande macaco que vive nas regiões selvagens e remotas dos
Estados Unidos e Canadá. Reivindica-se que seria um animal aparentado do Ieti tibetano. Em 2007, foi organizada uma expedição em busca de
provas ou até mesmo do próprio pé-grande. Mas nada foi encontrado.
melhor julgamento de Besta, deixei os rastros intocados e fui esperar os
policiais. Primeiro, contornei a janela por onde o desonesto havia
entrado. A tela estava rasgada e pendurada. Cacos de vidro quebrados
em fragmentos se projetavam do painel inferior. O sangue secou nas
pontas quebradas. Enquanto eu observava, uma mosca passou
zumbindo. Ela não voltou a sair.

Sentada em uma cadeira de gramado, distante o suficiente de uma


colina de formigas de fogo para fornecer alguma segurança, retirei o lote
amassado de informações dos proprietários de propriedades que Rick
me deu. Ele tinha pesquisado um mapa no Google e desenhado no local,
acrescentando notas aleatórias sobre os contribuintes e proprietários na
parte inferior. As páginas pareciam ter sido compiladas de vários sites
que coletavam informações pessoais, a maioria das quais eu mesmo
usei. No mapa, o parque Jean Lafitte e o parque estadual Bayou
Segnette estavam ambos coloridos com um verde verdejante e, até

A formiga-de-fogo é uma formiga do gênero Solenopsis nativa da América do Sul. É atualmente uma das mais
importantes pragas invasoras em alguns lugares do planeta. Foi uma das primeiras formigas a ter o genoma publicado, na revista científica
americana "PNAS". Esta espécie é agressiva e tem picadas dolorosas.

O Bayou Segnette State Park está localizado em Westwego, Jefferson Parish, a sudoeste de Nova
Orleans, Louisiana, na margem oeste do rio Mississippi. O Bayou Segnette não fica longe do centro urbano de Nova Orleans, mas oferece acesso
a dois tipos de pântanos, pântanos e pântanos.
agora, eu não havia percebido como eles estavam próximos um do
outro.

Cada predador tem seu próprio território/área de caça. O maior


alcance da Besta tinha sido de mais de duzentos e sessenta quilômetros
quadrados. Um grande leão da montanha macho pode ter um território
de setecentos e oitenta quilômetros quadrados. Imaginei que um dente-
de-sabre poderia reivindicar um alcance proporcionalmente maior e me
perguntei se as propriedades do parque, assim como a cidade de Nova
Orleans, estavam dentro do alcance do comedor de fígado.

Corrida de longa distância é problemática para grandes felinos.


Além das chitas , a maioria dos gatos são predadores de emboscada,
esperando o jantar passar e cair nele, talvez com uma pequena corrida
para acabar com ele. Para evitar o aquecimento do corpo, raramente
perseguimos a presa em uma corrida mortal. Ocasionalmente, somos
perseguidores, rastreando a presa pelo cheiro e pela impressão, mas
poucos de nós corremos por qualquer período de tempo.

O desonesto havia corrido uma distância incrivelmente longa na


noite anterior. Lembrei-me do som do chuveiro escorrendo na pequena

O guepardo ou chita é um animal da família dos felídeos, ainda que de comportamento atípico, se comparado com
outros da mesma família. É a única espécie vivente do gênero Acinonyx. Tendo como habitat a savana, vive na África, península Arábica e no
sudoeste da Ásia.
casa depois que a matança acabou. O comedor de fígado precisava se
refrescar? Ele tinha tomado um banho frio? Essa também era parte da
razão pela qual ele dormia debaixo d'água no covil arborizado, para se
manter fresco?

No mapa, tracei a distância entre o cemitério de vampiros, os


parques e a casa de Aggie. Era concebível que tudo isso fizesse parte do
terreno de caça do ladino—e também o French Quarter. Mas não
poderia garantir que o mapa foi desenhado em escala, tudo pode ser
diferente do que eu estava pensando. Eu teria que estudar isso mais
tarde. Dobrei os papéis com as informações do proprietário do imóvel.
Uma grande extensão de terra na fronteira com o parque Jean Lafitte
pertencia a Anna, a esposa do prefeito—a mulher que estava dormindo
com Rick e o comedor de fígado. Eu não tinha percebido quanta terra
havia sido colocada em nome de Anna. Meus braços ficaram arrepiados.
Besta rosnou.

Peguei a próxima folha e descobri que dez compras de propriedades


haviam sido feitas no ano passado em Barataria , todas residências
unifamiliares, a maioria na faixa de duzentos mil, na orla ou próximo a

Barataria é uma Região censo-designada localizada no estado americano de Luisiana, na Paróquia de Jefferson.
ela. Muitas das propriedades foram compradas pela Arceneau
Developments. Clã Arceneau? Se sim, por que os vampiros estavam
comprando propriedades lá?

Eu estava estudando os nomes quando os policiais apareceram, um


carro sem identificação parando na rua, nenhuma van da cena do crime
à vista. Mas então, Jodi tinha apenas a minha alegação de que um crime
havia ocorrido. Dobrei os papéis e os coloquei na bota. Eu tinha uma
decisão a tomar.

Jodi fez a coisa de policial de sempre: bater na porta da frente, andar


ao redor da casa, bater na porta dos fundos, verificar o anexo—que eu nem
tinha percebido—olhar para a janela quebrada com sangue nela, bater nas
portas dos vizinhos, falar com a dona de casa do outro lado da rua. Meu
bom e velho amigo, o oficial Herbert, a seguiu, lançando-me olhares de
ódio que fizeram Besta querer brincar com ele. Tive a sensação de que,
eventualmente, ela teria sua chance. Então Jodi e Herbert entraram,
armas em punho. Depois disso, muitos policiais entraram, alguns em
roupas de CSI .

CSI: Crime Scene Investigation ‘Investigação da Cena do Crime’. CSI também se refere a uma premiada série
policial do canal americano CBS.
Eles ficaram dentro por um longo tempo, enquanto o sol se punha
mais baixo e as sombras aumentavam. Ouvi trechos de conversas em
voz baixa através das janelas, mas não me incomodei em ouvir, eu não
precisava—o odor fétido de morte pairava no ar aquecido. O comedor
de fígado realmente havia mastigado os ocupantes da casa. No entanto,
eu tinha visto alguém sair de casa e ir embora, o que fez minha
especulação meio contemplada e silenciosa correta. O homem que vi
sair era mais do que um glamour, como eu, o comedor de fígado deve
ter a capacidade de mudar para outra forma, mas no caso dele, ele
comeu sua vítima, então mudou usando o DNA ingerido e saiu.
Exatamente como nas antigas lendas do comedor de fígado. Mas este
não tinha unha comprida.

Besta bufou. Pequeno gato roubar Besta. Jane roubou Besta.


Ladrão de alma.

Apesar do calor, o frio me arrepiou como um choque elétrico


gelado. O que fiz foi um acidente, pensei. O que o comedor de fígado faz não é
um acidente. É magia negra. Magia de sangue. Antiga magia de sangue
Cherokee. E a mudança mudava seu cheiro básico. O desonesto pode
ser qualquer pessoa, em qualquer lugar, mesmo alguém com quem eu
tenha passado um tempo, conversado. A luz do sol não poderia
prejudicá-lo, exceto quando ele estava na forma de vampiro—como
diabos eu saberia? Ele pode ser um vampiro, uma bruxa ou um humano.
Talvez ele pudesse parecer um dos verdadeiros mortos cujos ossos foram
desfeitos. Ele tinha encontrado material genético suficiente para mudar
para a forma de um vampiro mais velho? Então, o que eu sei? Ele não
compareceu à coleta de sangue de Katie. Ele assistiu e depois saiu para
se alimentar ... Comecei a catalogar quem esteve na reunião.

O tempo todo que Jodi fez sua coisa de policial, eu sentei, relaxada
na minha cadeira, óculos escuros escondendo meus olhos, especulando,
deixando minha mente vagar por impossibilidades que poderiam não
ser tão impossíveis. Eu sabia que Jodi estava me deixando esperar,
torcendo para que eu estivesse fervendo, deliberadamente me
ignorando. Sua maneira de me trazer de volta por minha atitude. Assim
que resolvi todas as impossibilidades, seu estratagema começou a
funcionar. Eu tinha pessoas para conversar, vivas e mortas. Se eu não ia
entrar—e com certeza não ia—então precisava estar em movimento.

Em vez disso, sentei-me enquanto os carros de polícia se


empilhavam na rua e as vans de mídia com antenas parabólicas
chegavam. Uma van tinha uma câmera montada no topo, permitindo
ao cinegrafista uma visão panorâmica da cena do crime. Conforme as
equipes de notícias se instalaram, os vizinhos começaram a voltar para
casa para serem informados e interrogados pelos policiais. Do outro
lado do gramado, ouvi seu choque e cheirei seu medo. E então o sol se
pôs e comecei a ficar quente sob a gola, o que devia ser a intenção de
Jodi.

Besta, por outro lado, amou cada minuto do gato e rato. E, ao


contrário de mim, gostava de ficar meio adormecida no calor do sol,
senão das formigas de fogo e dos mosquitos que saíam para festejar. E
ela gostou do jogo. Predadores de emboscada eram pacientes.

Eu tenho garras afiadas, ela pensou para mim. A fêmea humana


tem apenas uma arma que disseram que ela não pode disparar.
Ela não é Grande Gato. Ela nem mesmo é alfa em matilha de cães
ou lobos. Não é alfa no bando de policiais. Ela não é nada.

— Ela é uma policial que quer acusar-me de um crime, —murmurei


de volta, minha voz mais baixa do que um sussurro, meus olhos
fechados atrás dos óculos contra os raios finais do brilho do final do dia.
— Ela é uma policial com acesso às impressões na floresta e ao sangue
na janela e as evidências forenses dentro da casa. Provas de DNA.

Cobra que está no coração de todas as coisas? Besta perguntou.

— Sim. —Embora Besta não conseguisse entender o conceito de


DNA, ela entendia a cobra. — Provas de DNA que podem provar a
existência de skinwalkers.
Os humanos não verão a verdade. Eles vão dizer que o sangue
está estragado.

Por estragado, entendi que ela queria dizer contaminado. Ela


provavelmente estava certa. Ao contrário dos povos mais primitivos, os
humanos intelectuais e bem-educados apenas fingiam que as coisas que
não entendiam não existiam. Foi assim que os vampiros sobreviveram
tanto tempo entre os humanos.

Comedor de fígado não é skinwalker como Jane.

— Bem. Então, o que é comedor de fígado?

— O quê?

Eu abri meus olhos e afastei os óculos. Jodi estava parada na minha


frente, os lábios franzidos. Eu estava tão concentrada na conversa
interna que não a ouvi se aproximar, mas sabia que tinha falado baixo
demais para ela ouvir. Eu rolei minha cabeça em volta do meu pescoço
como se estivesse tirando uma soneca e sorri sonolentamente para ela,
deixando Besta seguir seu caminho. Eu estendi meus braços e entrelacei
meus dedos como um pianista, puxando os músculos dos ombros às
pontas dos dedos, estalando duas juntas, como se eu tivesse dormido
enquanto ela trabalhava, suando na casa aquecida. — Dormi falando.
Posso ir agora? —Pedir para ir embora era uma aposta certa para ser
obrigada a ficar. E sair antes de saber o que ela havia encontrado lá
dentro não era o que eu queria.

— Não. Quero saber como você encontrou este lugar.

Não me incomodei em sentar, mas deixei cair meus óculos de sol


sobre os olhos. Pude ver que isso trouxe todos os seus instintos à tona e
então sorri. — Se você quiser ver meus olhos enquanto me questiona,
pode sentar-se em uma cadeira e não me fazer olhar para o pôr-do-sol.
—Dei de ombros, o mesmo encolher de ombros na sua cara que eu havia
aperfeiçoado no orfanato para manter as meninas longe de mim. Os
valentões precisam cuidar de suas marcas e, apesar do fato de Jodi ser
uma policial fazendo seu trabalho e esse trabalho ser para o bem-estar
dos cidadãos de Nova Orleans, blá, blá, ela ainda foi treinada para ser
um valentão. E eu simplesmente não gostava de valentões. De modo
nenhum.

Com má vontade, Jodi sentou-se em uma cadeira. — Como você


encontrou este lugar?

Empurrei os óculos no topo da minha cabeça. O céu estava


dourado, fúcsia e violeta, o sol se equilibrava no horizonte. Isso me fez
piscar, mas um acordo era um acordo. — Eu estava rastreando o
desonesto. Cobriu muito território ontem à noite. Acabou aqui. Há
trilhas para entrar. Não há rastros para ele sair.
— Que horas ele chegou aqui?

Eu dei de ombros, tentando cooperar. — Pegadas na lama do


bosque sugerem que foi há algum tempo, antes do nascer do sol. Quando
cheguei aqui, eles estavam secos nas bordas, começando a desmoronar.
Trilhas estranhas, a propósito. Como algo em que uma bruxa trabalhou.
Como se talvez ele tivesse acesso a um feitiço que parece alterar a forma
de seus pés. Ou alguma coisa.

— Eu as vi. As bruxas podem fazer isso? —Ela perguntou. Era uma


verdadeira curiosidade. Preocupação real.

— Isso ou o desonesto pode mudar a forma de seu corpo. Você


decide.

Jodi olhou por cima do ombro para a van da cena do crime e os


técnicos que estavam saindo da casa. — Desde que os vampiros saíram
do esconderijo, temos especulado sobre que outros não-humanos podem
estar lá fora.

Eu ri. — Lobisomens?

— Talvez. Por que não?


— Acho que sim, mas nunca ouvi falar de nenhum. Sem trolls, sem
pixies , sem fadas também.

— Você me diria se o houvesse? —Seus olhos estavam de volta em


mim, penetrantes.

— Eu definitivamente te contaria se alguma vez tivesse conhecido


um troll, um lobisomem, um pixie ou uma fada. Sim.

Ela parecia aceitar isso, e por que não? Era verdade. Eu faço a
verdade muito bem. Ela olhou de volta para a floresta. — Vamos
conseguir o molde das pegadas. —Quando eu não respondi, ela disse:
— Então, você acha que ele usou um feitiço de bruxa para alterar a
forma de seus pés

— Ou para alterar a forma de quaisquer rastros que ele deixou. Se


as bruxas podem fazer isso. Eu nunca perguntei.

— Eu tenho um contato em um coven. Acho que posso perguntar.


—Ela não parecia muito animada com isso. Jodi ainda estava olhando
para a floresta quando disse: — A casa pertence aos Broussard—Ken,
vinte e sete, Rose, vinte e quatro, sem filhos, sem animais de estimação.
Uma vizinha viu o veículo pessoal de Ken saindo esta manhã perto do
nascer do sol, quando ela estava amamentando seu bebê. Parece que ele

Quer dizer duende


invadiu, os matou e roubou a caminhonete de Ken. —Quando eu ainda
não disse nada, ela olhou para mim, sua cabeça girando lentamente na
haste do pescoço. — Ele os comeu, —disse ela.

Eu não mudei minha expressão. Não fiquei tensa. Não reagi de


forma alguma. Eu apenas esperei.

— Ele os comeu exatamente como comeu os policiais. Mas desta


vez ele não tentou sutileza. Ele os machucou. Ele os rasgou ... —suas
palavras pararam como se sua garganta se fechasse, como se uma mão
sufocasse seu ar, mas quando ela começou sua narrativa sua voz era
firme, — separou, como um animal selvagem. Como uma matilha de
lobos. —Ela balançou a cabeça e os músculos do pescoço rangeram, ela
os segurava com tanta força. — A única coisa que ficou intacta foi uma
cabeça e as partes inferiores das extremidades. Cotovelos e tornozelos
voltados para baixo. Até o cérebro foi derramado.

Isso era novo, mas não alterei minha postura. Parecia que a única
coisa que fazia Jodi Richoux tagarelar era o silêncio. Eu poderia ficar
em silêncio muito bem. Eu esperei. — Por que ele os comeu? —Ela
perguntou. — Por que ele deixou os membros inferiores? O que é ele?
Isto. Ele tinha presas. Ou uma faca com lâminas duplas, com cerca de
20 centímetros de comprimento.
Quando percebi que as perguntas não eram retóricas, mas sim um
pedido de conhecimento, eu disse: — Posso especular. —Ela assentiu
para que eu seguisse em frente e focou firmemente no meu rosto, como
se fosse ler minha alma através dos poros da minha pele. — Primeiro,
não há muita carne nas extremidades inferiores, exceto nos bezerros. E
isso é apenas alguns bocados ... —Jodi se encolheu, apenas um
estremecimento, mas eu vi. Era difícil para ela aceitar que humanos
estavam sendo caçados e comidos. — Mesmo em um homem bem
construído. Isso—ele—estava procurando comida. Acho que tem algo
errado com ele que o faz precisar de sangue e carne. Muita carne. E
carne humana e de vampiro servem para ele.

Sentei-me e o olhar de Jodi me seguiu atentamente. Eu ficava


faminta quando mudava. Se ele estivesse mudando várias vezes por
noite, ou se sua mudança não fosse voluntária, mas por capricho de seu
próprio corpo, ele precisaria de grandes quantidades de proteínas,
grandes quantidades de comida. E os humanos eram o maior, mais
disponível, mais fácil de pegar e matar suprimento de comida do
planeta. Isso fez todo o sentido. Mas eu não poderia dizer isso a Jodi.
Eu disse: — Acho que ele não é apenas um desonesto, mas está doente.
Acho que a carne que ele está comendo o está ajudando a controlar sua
condição.
— Eu não pensei que vampiros pudessem ficar doentes. Achei que
era esse o propósito de beber sangue pela eternidade—imortalidade e
toda aquela merda. —Seu tom era zombeteiro. Jodi pode ser a ligação
de Katie no NOPD, mas Jodi não gostava de vampiros. De modo
nenhum.

— Talvez seja raro. —Eu a observei pegar isso e refletir sobre isso.
Esperei outra batida e disse: — Preciso ver a cena do crime.

— Não vai acontecer.

— Então vou ligar para Leo Pellissier. Eu acho que ele pode mexer
os pauzinhos e me colocar dentro.

— Não. —Ela balançou a cabeça e corou ligeiramente, assustada.


— Eu preciso que você espere por isso.

Eu tinha acabado de apertar um botão. Leo e Jodi? Nah, não com


sua antipatia por vampiros. Algo mais. Então eu empurrei. — Sim. Você
pode fazer isso acontecer. É a cena do crime que você diz ou Leo. —
Quando ela hesitou, eu disse: — Já cacei bandidos antes. Preciso ver a
cena para saber se se parece com alguma coisa de locais anteriores de
matança.

Besta retumbou profundamente dentro: Nunca caçou comedor de


fígado. O que era verdade, mas não algo que eu estivesse pronta para
contribuir com a conversa. Mais gentilmente, acrescentei a Jodi: — Leo
pode fazer acontecer, se você não quiser. Mas prefiro trabalhar com
você, não com ele.

— Você é muito amiga do Leo. Ele garante que eu o chame de Sr.


Pellissier.

— Tenho certeza de que ele gostaria que eu fosse educada também.

De repente, Jodi sorriu, um puxão irônico de lábios. — Você puxa


a corrente dele como puxa a nossa?

Não gostei de ser transparente, mas gostei do sorriso, então respondi


honestamente. — Mais.

Jodi riu baixinho e se levantou. — Minha bunda estará no moedor


se souberem que você esteve na cena de um crime. Tente não bagunçar
as evidências ou trazer vestígios. E você pisa onde eu digo e nem um
passo adiante.

— Obrigada, —eu disse, me levantando lentamente, tentando ser


humilde e grata. Eu tinha quase certeza de que funcionava, porque Jodi
me levou até a van da cena do crime e me entregou os sapatos de papel
e EPIs de plástico. Acontece que eu precisava de todo o equipamento

Equipamento de proteção individual é qualquer meio ou dispositivo destinado a ser utilizados por uma pessoa contra possíveis riscos
ameaçadores da sua saúde ou segurança durante o exercício de uma determinada atividade.
de proteção individual. A casa foi um banho de sangue. Outro termo
banal. Mas o único que se encaixava.

frente, a janela por onde

o desonesto entrou à minha esquerda. Uma trilha de respingos de sangue


marcava a parede da janela por quase dois metros, evidência de que ele
se feriu gravemente no vidro. Era o tipo de respingo que o sangue arterial
faz, borrifos pulsantes, arcos que escorriam pela parede. Três metros
depois da porta havia uma poltrona reclinável de couro encharcada de
sangue onde um homem havia se sentado. Seu corpo moldou a poltrona
à sua forma, agora o sangue se acumulou na depressão. Ainda parecia
úmido, pegajoso ao toque. Havia chinelos no chão, sob o apoio para os
pés, que estava levantado, as costas da poltrona quase niveladas, de
frente para a TV.
O homem, ou o que restou dele, estava em vários pedaços. Seu
torso, o maior pedaço, estava ao lado da poltrona, como se ele tivesse
puxado para o chão após a morte e se regalado. O abdômen se foi, até a
coluna, os ossos pélvicos expostos. A cavidade torácica estava quase
limpa, costelas arrancadas e fora do caminho, faltando órgãos internos.

Senti a bile subiu, uma reação doentia à carnificina. Eu tinha


massacrado vampiros desonestos. Eu tinha abatido uma presa com a
Besta, então sangue e carnificina não eram desconhecidos. No entanto,
mesmo com essa experiência, esse nível de carnificina desenfreada era
difícil de suportar.

Besta subiu à superfície, me tomando com uma rapidez chocante.


Segurando-me, vendo através dos meus olhos, ela estudou a matança do
ponto de vista de um predador. Ela se concentrou intensamente na cena.
Ela separou meus lábios ligeiramente, para que pudesse puxar os
cheiros, memorizando, quebrando-os em suas estruturas de proteína
individuais. Aprendendo. Sangue, fezes, urina, tudo humano. Sangue
do comedor de fígado, fétido e imundo, morte velha e podridão. E
sangue de outra coisa. Do que o ladino se tornou no processo de assumir
a forma de vítima masculina. Algum outro perfume, quase familiar,
tentador. Totalmente livre de podridão.
Parecia que o comedor de fígado havia destruído o corpo pela força
bruta, não da maneira como predadores famintos comiam na selva. Na
natureza, um predador comia primeiro o tecido mole: órgãos internos,
gordura, grande massa muscular das nádegas e coxas. Mais tarde,
banqueteando-se com o tecido conjuntivo. Finalmente, rasgando
tendões e cartilagens, separando membros um a um.

Difícil de arrancar as costelas. Normalmente come de cima


para baixo, a seguir rasga as costelas para roer mais tarde ou dê
aos filhotes para treinarem comer carne.

Nós olhamos. A cabeça estava contra a parede do corredor. Ele


ainda tinha uma mecha de cabelo ruivo curto no couro cabeludo. Seu
rosto havia sido comido, junto com a língua e os olhos. A cavidade vazia
do cérebro era visível através das órbitas, mas a mandíbula ainda estava
presa. Eu entendi pela Besta que os grandes felinos também comiam o
cérebro mais tarde. Depois que o tecido mole e a mandíbula se foram.

Avistei uma perna e um braço sob a mesa da cozinha, bem roídos.


A perna esquerda estava no corredor. Bem, duas pernas esquerdas
estavam no corredor, junto com outras partes da vítima número dois.
Lembrei-me das batidas que tinha ouvido da casa enquanto estava na
forma de raptor. Os sons feitos quando um corpo estava sendo separado,
jogado e consumido?
Percebi que Jodi estava me observando. Pisquei Besta de volta para
baixo e fechei minha boca, esperando não ter sugado o ar pelo céu da
minha boca como Besta faz. Eu mexi meu rosto em nojo. — Isto é ... —
Eu deixei minhas palavras sumirem como se estivesse chocada. Besta
achou isso divertido. — Parece que um bando de animais os atacou.

— Sim, —Jodi disse brevemente. — Isso é o que pensamos.

— Você está trazendo cachorros? —Eu perguntei. Eu estava curiosa


para saber como cães rastreadores de cheiro treinados podem reagir aos
cheiros.

— Amanhã. Eu os queria hoje, mas eles estão em um assalto a


banco com vítimas de tiro.

Eu assenti. — O que o psy-meter mostrou?

Jodi tirou o aparelho do cinto e o ligou, segurando-o contra a sala.


O dial ficou selvagem, a agulha girando para cima e para baixo, incapaz
de se estabelecer. O clique do medidor, assim como um contador
Geiger, foi staccato e rápido. Jodi passou o medidor na minha direção
e, embora tenha diminuído a velocidade, ainda era uma leitura psíquica
muito mais alta do que qualquer humano daria. Eu olhei para a leitura,
divertida. Eu sabia que era apenas uma questão de tempo antes que ela
me medisse contra os níveis psíquicos de fundo da sala. — Quer ter
certeza de que não sou o desonesto?

— Algo assim, —disse ela, desligando o medidor. — Este lugar


cheira a sobras de magia.

Sim, cheirava. Eu tinha visto o suficiente. Saí de casa e fui até a


varanda da frente, tirei meus EPIs e coloquei-os no recipiente de risco
biológico. Ele e seu conteúdo ensanguentado iriam para o laboratório
criminal para serem verificados em busca de vestígios, especialmente os
sapatos de papel, que podem ter pegado fios de cabelo ou fibras
importantes. Então seriam destruídos. Eu não tinha pisado em sangue,
mas podia sentir o cheiro em mim, no cabelo, nas roupas e, por baixo
de tudo, o fedor de comedor de fígado. O fedor me envolveu como lama
oleosa.

A verdadeira escuridão havia caído. Luzes de segurança atraíram


enxames de insetos, as janelas do bairro banhavam a noite com luz. Os
vizinhos estavam dentro, atrás de suas portas e janelas fechadas e
trancadas. Muita coisa boa para uma família se um comedor de fígado
quiser entrar.

Motocicleta rugindo, eu deixei meu cabelo soprar no vento,


tentando limpar o fedor das minhas narinas, das minhas roupas. Eu
estava na metade do caminho para casa quando passei por uma
mercearia na saída da 90 e parei. Comprei uma pilha de bifes e duas
embalagens de seis cervejas, ignorando os olhares dos outros clientes.
Eu tinha visto meu reflexo nas janelas escuras ao entrar. Eu parecia bem
rude, uma garota motoqueira, atitude com esteróides. Lá fora, com os
mantimentos armazenados nos alforjes, finalmente coloquei meu
capacete e dei a partida na motocicleta. Ela engasgou e tossiu, mas
acabou ligando. Eu realmente precisava encontrar tempo para fazer uma
pequena manutenção na motocicleta.

Dentro da casa de brinde de Katie, deixei cair minhas roupas onde


estava, ainda sentindo o cheiro de sangue. Para tirar isso de mim, tomei
um longo banho, ficando sob a água quente, deixando que me
escaldasse. Eu estava passando muito tempo no chuveiro. Demais. Havia
algo quase religioso nisso, sobre a necessidade de ser purificada. Depois,
comi dois bifes. Muito, muito mal-passado. Com algumas cervejas
produzidas localmente. A cerveja da Louisiana era realmente boa.
Sentiria falta quando eu partisse.

Perto das dez da noite, me vesti, enfiei algumas cruzes em minhas


roupas, prendi meu cabelo em um coque desleixado e o prendi com três
estacas. Não esperava problemas. Mas apenas no caso. Vestida de
maneira adequada, calcei as sandálias novas e pulei a cerca até a casa
de Katie. Pular cercas com sandálias é bom, mas as aterrissagens podem
ser menos que graciosas. Eu estava feliz que a câmera havia sumido.

Eu espreitei em torno da casa de Katie, verificando as janelas e


portas por segurança. Como a maioria das casas antigas do Sul, foi
construída para o fluxo de ar, não para segurança. Um sistema havia
sido adaptado, não que tivesse servido muito bem. Da última vez, o
desonesto havia entrado pela porta dos fundos. Da próxima vez, ele
pode escolher uma janela no segundo andar. Mas por que o alarme não
disparou? Foi porque o sistema de segurança foi desligado durante o
horário comercial? Ou o comedor de fígado tinha uma chave? Ou sabe
como desarmar o sistema? Acesso. Como o Leo fez na minha casa. Será
que o comedor de fígado é Leo ...? Não. Leo estava na reunião de Katie.

Batendo na porta dos fundos, segurando a campainha, esperei por


Troll. Lembrei-me de minha promessa de contar a Jodi se algum dia
visse um troll. Tive a sensação de que apelidos não contavam e que ela
não iria achar graça na minha fantasia. Soltei a campainha quando ele
abriu a porta.

Troll parecia melhor, tinha mais cor no rosto. Alguém deu a ele um
pouco de sangue de vampiro para ajudá-lo a se curar tão rápido, e Katie
não estava em forma para oferecê-lo. Eu entrei, puxando o ar. Eu
detectei Leo. Ele estava aqui, junto com Pugilista e outro vampiro. Eles
estavam aqui há tempo suficiente para saturar o lugar com seus aromas.

— O que Leo está fazendo aqui? —Não que eu tivesse que


perguntar. Ele estava se alimentando. Eu também podia sentir o cheiro
de sangue fresco no ar.

— Você tem que me dizer como faz isso algum dia—saber quem
está aqui e quem não está. —Quando eu não mordi a isca, ele disse: —
Ele veio alimentar a Sra A, Bliss e eu.

Algo parecido com a vergonha passou por mim. Bliss. Ela foi ferida
enquanto estava sob minha proteção, atacada por um vampiro e sangrou
quase até secar. E eu tinha saído correndo atrás do culpado enquanto a
vítima ainda precisava de cuidados. Eu fui uma idiota. — Como ela
está? E como você está?

Ele gesticulou em direção ao escritório de Katie. — Melhor agora.


Bliss teve dificuldade em se recuperar. Ela precisa de sangue para
continuar a cura e com Katie de férias ...

Férias? É assim que eles estão chamando? — E você ligou para Leo.

— Não. Leo veio sozinho.

— Oh? —Isso me surpreendeu.


— Leo a trouxe para casa na noite em que ela foi atacada em seu
clube. Ele estava se aproximando do Mojo quando o ataque ocorreu.

Leo provavelmente me viu sair do clube, movendo-me com a


velocidade da Besta. Combinado com o gosto que ele sentiu quando
curou meu braço, ele deveria saber o que eu era, e ele não sabia. Claro
que agora eu sabia menos sobre o que eu era. Um skinwalker? Praticante
acidental de magia negra? Troll se sentou, respirando fundo, parte
exaustão, parte melancolia.

— Você limpou, —eu disse, olhando ao redor do escritório. —


Parece novo. —Lembrei-me da manhã em que o comedor de fígado
atacou Katie. Houve uma boa quantidade de sangue. Não tanto quanto
na casa dos Broussard, a casa onde Ken e Rose foram digeridos, mas o
suficiente. Senti o cheiro de produtos de limpeza fortes no ar. Um filtro
de ar zumbia no canto. Um grande.

Troll mostrou acenou com mão. — Muita experiência em limpar


sangue.

Achei que sim, vivendo em um bordel com um vampiro. Mas eu


não disse isso. Eu estava melhorando em controlar meus instintos rudes
naturais. — Como estão as meninas?
— Bem. Um par foi remendado no hospital após o ataque, e Leo as
alimentou também. Elas estão bem como a chuva, agora.

— E a Sra. A? —Em uma sobreposição de imagens instantâneas,


lembrei-me do sangue e da extensão das feridas da governanta. Ela havia
perdido muito sangue e uma boa parte dos músculos deltóides e outros
músculos do braço.

Troll começou a responder, mas algo mudou em seus olhos, um


lampejo de reconsideração. — Ela está melhor. Ainda está conosco. —
Não cheirava a mentira, mas as pequenas rugas reveladoras ao redor dos
olhos de Troll sugeriam que ele também não estava dizendo a verdade
completa.

Melhor? Ainda está conosco? Ela esteve perto da morte? Drenada o


suficiente para ser transformada? Sra. A estava acorrentada no porão da
casa de Leo, uma máquina sugadora de sangue estúpida? Quase
perguntei. Eu abri minha boca para perguntar. E Besta sentiu o sabor de
um vampiro desconhecido. Perto.

Eu girei. Vi um borrão de velocidade de vampiro. Saquei uma cruz.


Bati minha perna atrás de seu joelho. Torci. Soquei com a mão
esquerda, segurando a cruz. Eu bati nele. Desequilibrei-o. Rodou para
baixo. Traço de carne de vampiro chamuscada.
Besta gritou. Eu ergui a cruz. Acertei. Um centímetro de seu rosto.
Ela uivou e girou para longe. Suas presas estavam para fora. Havia
sangue fresco em sua boca. Ela carregava o cheiro de Indigo. A pequena
loira de olhos azuis. Eu puxei uma estaca. Uma mão agarrou meu braço
com força de aço. Isso me parou. Eu rosnei, sentindo o cheiro de Leo.

— Não, pequena assassina de vampiros, —ele ronronou. — Ela é


minha. George.

Pugilista, movendo-se mais rápido que um humano, ajoelhou-se na


cabeça do vampiro e empurrou minha cruz para longe. Ele deslizou as
mãos sob os ombros da vampira e puxou. Dentro de mim, Besta se
agachou, observando Pugilista remover a vampira. Amitee. A futura nora
de Leo. Leo estava fora ... bebendo ... com a noiva de seu filho. Agora
isso era simplesmente doentio ...

Então ... a vampira tinha estado na reunião de Katie? Eu não me


lembrava de tê-la visto. Poderia um comedor de fígado do sexo
masculino assumir a forma feminina? Eu não poderia tomar um macho.
Não achei que fosse possível, mas estava desaprendendo muitas
impossibilidades.

Deixei Leo me levantar, como um passo de dança. Ele ergueu meu


braço, a mão no meu quadril, virando meu corpo, meus pés seguindo,
através do corpo do vampiro abaixo de mim, três passos no escritório de
Katie. Amitee fugiu rápido. Quase levar uma estacada a fez coçar.

Os olhos de Leo encontraram os meus enquanto nos movíamos,


escuros e velhos, sangrando preto, mas controlados. Totalmente
controlado. Besta gostou. Besta gostou do poder que fluía sobre nós
como uma mão quente. — Guarde isso, por favor, —Leo disse, seu rosto
tão perto que sua respiração roçou minhas / nossas bochechas. Nenhum
cheiro de sangue fresco nele. Ele não se alimentou das meninas.

Meu coração batia forte, a batida forte de perigo, luta instantânea e


cessação mais rápida. Forcei a adrenalina a baixar, lutei para controlar
os tremores que estremeciam meus braços e pernas, coloquei a cruz em
volta da minha cabeça, enfiei sob minhas roupas. Eu puxei minha mão
livre e coloquei a estaca em meu cabelo. Eu nem sabia por que estava
seguindo seus pedidos. Eu podia sentir ele me empurrando, testando os
parâmetros da minha mente, mas isso não parecia hipnotização de
vampiro. Não exatamente. Mas havia Besta, me dizendo para deixá-lo
fazer o que quer por agora. Besta, testando as águas por algo que eu nem
poderia imaginar. — Ela estava se alimentando. Eu quero ver Indigo.
Agora, —eu disse, ainda analisando os cheiros.

— Tom, você poderia, por favor, pedir a Indigo para se juntar a nós,
—Leo disse.
Tom. Troll. Certo. Eu empurrei Besta mais para baixo. Ela me
deixou, divertida. Besta estava brincando, embora eu não soubesse se
ela brincava com Leo ou comigo. Ou com nós dois.

Leo me levou até o sofá e me sentei onde ele me colocou, no canto,


um joelho para cima, sandália no assento. Um braço ao longo das
costas, para que eu pudesse empurrar para cima e para trás rapidamente,
se necessário. Leo se sentou em um banquinho alto perto do bar. Ele
estava vestindo um terno. Gravata. Sapatos elegantes. Nós esperamos.
Momentos depois, ouvi passos descendo as escadas com estrépito:
saltos, um par, sapatos de sola macia, também um par, que andam com
Troll. A voz de Indigo, risonha, feliz. Comecei a relaxar e senti meus
ombros caírem. Senti os olhos de Leo em mim quando o fizeram.
Especulativo.

Indigo entrou pela porta, seus grandes olhos azuis piscando com a
mudança de luz. Ela viu Leo e sorriu. Me viu e parou. Eu a inspecionei,
não escondendo minha leitura. Ela parecia bem, exceto por pequenos
pontos de uma alimentação recente. Eles estavam fechados, quase
curados. Nenhuma garganta rasgada, apenas bons furos limpos, a carne
devidamente tratada para que as feridas se contraíssem, o sinal de um
vampiro controlando-se. Então por que Amitee me atacou? Troll parou
atrás de Indigo, em pé emoldurado na porta.
— A vampira que se alimentou de você esta noite, —eu disse. —
Ela é uma regular?

Indigo levantou a mão e seus dedos roçaram sua garganta. Um


sorriso apareceu em sua boca, iluminando seus olhos. Consciência
sexual, prazer e algo mais. Carinho. Eu poderia dizer que ela gostava de
Amitee antes mesmo de falar, respondendo mais do que eu havia
pedido. — Ela é legal. Ela não ... —ela olhou para Leo, — não pede por
coisas es ... coisas estranhas. Ela paga bem, dá mais gorjetas e me trata
como uma dama. —Seus olhos e rosto ficaram astutos e provocadores,
como se esperassem chocar. — Uma garota gosta de um pouco de
romance às vezes, sabe?

Eu não reagi, o que pareceu desapontá-la. — Obrigada, Indigo, —


eu disse, educada.

— Tenho um cliente no Iberville, —ela disse a Leo. — Você quer


que eu pegue um táxi?

Isso chamou minha atenção. Por que Indigo estava perguntando a


Leo sobre negócios? Troll não assumiria o lugar de Katie? Eu olhei para
a porta. Troll estava parado rigidamente nas sombras, seu rosto uma
máscara. Algo estava estranho aqui.
— Até que o ladino seja derrubado, meu motorista entregará todas
vocês a suas atribuições, —disse Leo. — Avise George quando você vai
querer o carro. Ele fará os preparativos.

Troll olhou para baixo. Ele não era um troll feliz. Eu sorri com meu
humor. Quando Leo ergueu uma sobrancelha com a minha diversão,
acenei para longe. Eu tinha um trabalho a fazer e então estava fora
daqui. Eu não estava entrando na política de vampiros. Contanto que
eu fosse paga. E enquanto eles não me matassem.

Indigo agradeceu e Leo a dispensou. Realmente a dispensou. Como


um rei ou algo assim. Ele disse: — Você pode ser dispensada. —Eu não
me preocupei em esconder meu bufo ou o sorriso mais largo para aquele.
Leo ergueu a sobrancelha. O homem era tão bom que não escorregaria
em uma mancha de óleo. Ele olhou para Troll parado nas sombras. —
Diga a Ipsita para me encontrar na porta em uma hora. —Troll não
parecia feliz, mas assentiu.

Ipsita era a garota do sul da Ásia, delicada como um botão de rosa,


a garota que parecia ter doze anos. Ela despertou meus instintos
protetores. Saber que ela era maior de idade não me ajudou a vê-la de
forma diferente, e a ideia de ela ir a um “encontro” com um vampiro
velho me fez moer meus molares. E de qualquer maneira, por que Leo está
saindo com uma das garotas de Katie? Não percebi que tinha falado essa
última parte em voz alta até que todos se viraram e olharam para mim.
Merda. Até Indigo enfiou a cabeça para trás, um olhar de surpresa e
perplexidade em seu rosto.

Por um centavo ... — Parece-me que até Katie voltar, Tr ... Tom
deveria estar no comando. —Eu olhei para Troll. — Katie tem papéis
legais escritos sobre quem assume se ela está ... —presa em um caixão em
uma poça de sangue de vampiro? — Indisposta?

Leo ergueu a cabeça. — Eu sou o mestre de Katie. É apropriado que


eu assuma o comando enquanto ela não está bem.

— Talvez na Idade das Trevas, mas não nos Estados Unidos e não
agora. —Tanto para eu não entrar na política de vampiros. — Tom? Onde
Katie guarda seus documentos legais?

Ele entrou, mantendo-se bem longe de Leo, e se ajoelhou na mesa


de Katie. Usando uma pequena chave, ele destrancou um arquivo
habilmente escondido contra a parede, na sombra. Papéis farfalharam,
o silêncio carregado com algo volátil, explosivo. Indigo desapareceu.
Garota esperta. Eu não fui tão sábia, entretanto. Eu fiquei por perto para
ver o que aconteceria com o ninho de vespas que eu estava chutando no
momento. Um momento depois, Troll retirou um arquivo expansível e
ficou atrás da mesa, a pasta em ambas as mãos, indeciso. Ok, morrendo
de medo. Eu podia sentir o cheiro de seu medo.
Levantei-me do local onde Leo havia me colocado, o que de repente
me incomodou muito mais do que antes, peguei a pasta e centrei-a na
mesa. Eu abri. — Quais? —Eu perguntei. Troll se aproximou de mim e
tocou uma guia no meio do caminho. Não consegui ler a impressão da
guia, pode ter sido francês. Retirei os papéis e os abri, examinando as
cinco primeiras folhas do jumbo legal, sem entender o que vi, embora
fosse em inglês, mas usando o tempo para pensar. Leo era velho. Muito
velho. Talvez até em tempos feudais. Na época em que honra significava
algo. Estendi as páginas para Leo. — O que ela quer?

Pensei ter ouvido Troll sufocar uma risada, mas poderia ter sido
uma tosse. Se Leo fosse um homem honrado, ele leria as páginas e
seguiria as instruções nelas. Se não, ele não era honrado. Claro, o fato
de que ele não era um homem poderia complicar as coisas.

Leo ficou imóvel, aquela quietude de estátua de mármore, sem


respirar, sem piscar, nada. É assustador e perturbador de assistir, e
provavelmente prenuncia o perigo de uma variedade muito confusa e
sangrenta, mas então, minha compreensão sobre vampiros civilizados
ainda era limitada, e eu tinha três estacas no meu cabelo e uma boa
seleção de cruzes na minha pessoa. Leo continuou sem se mover. O
silêncio foi de perturbador a não natural, estranho, arrepiante e depois
assustador. Seus feromônios eram pura raiva. Atrás de mim, a
respiração de Troll estava instável, seu coração batia muito rápido. A
composição química de seu suor era amarga, Besta reconheceu o cheiro
como terrores da morte. Finalmente, Leo respirou fundo. Eu quase
pulei. Besta flexionou suas garras. Troll parou de respirar
completamente.

Leo deslizou pela sala em um deslizar predatório, seus olhos


sangraram totalmente pretos com a fúria contida. Ele pegou os papéis e
leu. Páginas viradas. Leu mais. Ele ergueu os olhos e olhou de mim para
Tom e vice-versa. — Katie colocou suas propriedades nas mãos de Tom.
—Quando ele falou, suas palavras eram precisas, sua voz neutra, tão
sem emoção que poderia ser uma voz eletrônica digitalizada—exceto
por aquele sotaque vagamente europeu que faria as estrelas desmaiarem.

— Todas as contas, propriedades e ativos dela estão sob o controle


dele, incluindo esta casa e seus funcionários. Todos os cheques
comerciais e de emprego devem ser escritos e assinados por ele e
consignados por mim. Todos têm essa condição legal. —Ele mudou seu
olhar para Tom. — Você sabia disso? —Tom acenou com a cabeça, o
movimento de sua cabeça espasmódico. — E ainda assim você escolheu
não me informar. Por quê?

— Eu ... eu ...
— Ele precisava de você, —eu disse. — Ele precisava de sua
proteção contra o desonesto para as meninas, ele precisava de sua boa
vontade para Katie, e ele precisava de sua intercessão com o conselho
vampírico. E ele ficou grato que você convocou a reunião e a colocou
na terra.

Tom engoliu ruidosamente sob o olhar de Leo. Mas o mestre de


Nova Orleans lentamente voltou seus olhos para mim. — O que você
sabe de reuniões e de um de nós sendo colocado na terra?

Dei de ombros. Eu não ia responder a essa pergunta. Ele sentiria o


cheiro de uma mentira. Ele não acreditaria na verdade. Ou ele
acreditaria e pensaria como seria útil ter um skinwalker como escravo
de sangue. Eu não estava ansiosa para lutar com ele. Agora não. Se eu
tivesse que ir para uma estaca-presa com o mestre do sangue de Nova
Orleans, então eu queria minha gola de cota de malha, roupas com
tachas e muito tempo de preparação.

— Então, —eu disse. — De volta à questão que deu início a tudo


isso. O que você está fazendo saindo com uma das garotas da Katie? Ela
é um encontro, ela é paga por seus serviços ou você está puxando o
direito sombrio dos reis sobre ela? Porque, na minha opinião, isso não
vai funcionar por muito mais tempo.
De repente, Leo parecia me achar engraçada. Ele riu, entregou a
Tom os papéis legais e ocupou o lugar que eu havia desocupado no sofá
de couro. Ele descansou os braços nas almofadas traseiras, parecendo
expansivo, um senhor em seu domínio. — E por que meus direitos
deveriam mudar?

— Simples. Os tribunais nos Estados Unidos já estão examinando


as leis de cidadania, questões de escravidão e interpretação de estatutos
legais à luz de um ser com uma vida útil expandida. Eventualmente, os
“direitos de um mestre”, —fiz pequenas aspas no ar com os dedos, para
o caso de ele não perceber o sarcasmo em minha voz, — serão
examinados. E eles serão eliminados, assim como o direito sombrio dos
reis. Nenhuma dúvida sobre isso. —Leo estava olhando para mim,
totalmente focado e sem piscar, sua boca sorrindo, seus olhos um olhar
de cobra mortal.

Venenos de cobra não afetam Besta, ela me lembrou,


despreocupada.

— Parece inteligente para você começar a adaptar a forma como


você faz negócios, —eu continuei, — alterando as coisas da maneira
como vocês vamps faziam mil anos atrás. Movimentos de boa-fé, para
fazer qualquer futuro tribunal notar que você está mudando com o
tempo.
— O termo 'vamp' é um insulto, —Leo disse.

— Acostume-se com isso. —E por que escolher essa pequena parte


do que eu estava dizendo? Eu estava rasgando toda a sua estrutura de
poder e ele ficou com a calcinha torcida por causa da palavra “vamp”?
Entreguei os papéis para Troll. — Tenho trabalho a fazer. Até mais
tarde, Troll.

Ele assentiu, um único movimento estremecedor.

Eu estava na metade da porta quando Leo disse: — Meu tempo com


Ipsita não é por comando. —Parei com as mãos em cada lado do batente
da porta e não me virei. — Eu paguei a comissão usual, mais uma
gorjeta, adiantada, de acordo com meu arranjo permanente com Katie.
Eu preciso de uma escolta para um evento social esta noite.

Eu assenti quando ele terminou de falar, tentando decidir como


responder. Eu decidi: — Agradeço por me dizer. —Então empurrei
meus pés e me dirigi para a porta dos fundos.

— Você está dispensada. —As palavras flutuaram atrás de mim.

O Senhor da Mansão apenas tinha que adicionar essa última parte,


não é? Mas eu poderia jurar que ele estava rindo.
de voz

e deixei uma mensagem. Entediada, verifiquei meu e-mail e passei


algum tempo na Internet pesquisando páginas da sociedade
local/fofocas e alguns sites online dedicados à política local e estadual.
Descobri que Anna estava programada para participar de um evento no
Marriott de quatro estrelas do French Quarter esta noite. Peguei mapas,
fiz algumas contas sobre distâncias, fiz anotações e esperava que Besta
pudesse seguir Anna para casa ou onde quer que ela passasse a noite.

Tirei uma soneca até meia-noite, acordei e tirei a roupa. Hora de se


transformar e ir atrás da mulher que dormia com Rick e o comedor de
fígado em uma de suas formas. A mulher que também estava envolvida
com tudo o que estava acontecendo no clube de Leo. Eu me perguntei
se Leo sabia disso. Eu poderia ter perguntado a ele—ou talvez contado
a ele—sobre a reunião, mas aquela informação, além de insultá-lo, pode
ser estúpida. Até para mim. No quintal, coloquei quatro bifes no chão e
subi, nua, até o topo das pedras. Com o amuleto de pantera na mão,
verifiquei se a pequena linha de ouro que fiz na rocha ainda estava lá.
As chuvas tinham levado grande parte dela, e novamente esfreguei a
pepita de ouro na face de pedra da rocha.

Grande? Besta perguntou, faminta por tamanho.

— Ainda não, —eu disse. — Mas logo. —Besta não disse nada à
recusa e eu me sentei, posição de lótus, a mochila de viagem e o colar
soltos no pescoço. Eu relaxei, sentei na pedra fria e rapidamente afundei
na cobra da Besta. A mudança foi fácil esta noite, caindo, no ritmo
tranquilo dos tambores. As notas das flautas. Um puxão de músculos e
ossos, um formigamento agudo e cinza, como se eu enfiasse meus dedos
em uma cavidade de luz, e uma leve náusea depois. Quase sem dor.

Eu me estiquei e bufei com odores horríveis de homem: bafo de


carros, fedor de lixo, mofo nas paredes de tocas de homem, tinta, plástico,
estofamento, cheiro de urina de cachorro. Vira-latas yappy , lanche
rápido. Pedras acolchoadas, evitando pedras quebradas afiadas de
quando ela se tornou Jane após o pássaro. O cheiro de gado morto fez a
barriga roncar. Bufou, puxando sangue e cheiro de gordura para a boca.
Carne fria, mas a fome exigia. O bife era uma mordida rápida, engolindo
pedaços. Embaixo estava um pedaço maior de carne, grosso. Pata em

Quer dizer um cachorro inclinado a latir de forma aguda e estridente.


cima para rasgar e rasgar. Melhor quando quente e fresco. Precisa matar
de novo.

Um baque suave soou. Rodopiou. Gato na cerca, curvado. Eu


assobiei. Presas brilhantes à noite. Meu território. Gato miou. Caiu do
outro lado. Eu bufei de tanto rir. Gato estúpido. Jane comeu gato
quando pássaro. Não é muito saboroso, mas fresco. Eu queria caçar
veados. Matar e comer.

Procure Anna.

Ela queria caçar mulher que fez sexo com homem. Ignorei o
comando e acabei com a carne morta. Patas lambidas, rosto bem
cuidado. Bebeu da fonte do vampiro de pedra.

Caçar! Seu comando, urgente.

Pulei a cerca e caminhei ao redor da toca, escapulindo pelas


sombras. Rua abaixo, ao longo de paredes, sob saliências. Bom lugar
para caçar, sentar na borda e observar a presa. Eu pulei do caminho do
homem para a cadeira, para a saliência superior. Metal ao redor, para
evitar que humanos desajeitados caiam. Tornava difícil cair sobre a
presa. Humanos estúpidos.

Caçar!
Eu bufei em desgosto, caí no chão liso, ainda quente do dia quente.
Corri pela rua, mantendo-me nas sombras, procurando por humanos e
cachorros barulhentos. Sentada quieta quando os humanos se
aproximaram. Seguindo em frente.

Hotel à vista. Marriott. Muitas luzes humanas. Tênue vestígio de


Anna-humana no ar, fresca, em movimento, no carro com homem
humano. Não o Rick. Comedor de fígado? Corri rua abaixo,
encurralada em outra. Vi/cheirei Anna na janela do carro. Dirigindo em
direção ao território do comedor de fígado, sobre o rio. Eu me agachei
nas sombras, observei os caminhões. Dois passaram, altos demais.
Outro com fotos de peixes e caranguejos ao lado. Cheirava
maravilhosamente bem. Lambi a boca e juntei as patas com força.
Caminhão movendo-se como uma vaca pesada, lento, mais perto.
Saltou para o porta-malas do carro, correu para o teto do carro, saltou.
Aterrou em um caminhão de vacas pesadas. Resolveu cavalgar,
agachado. Garras na tira de metal com saliências. Cheiro de frutos do
mar. O estômago roncou. Eu levantei o nariz no ar, sentindo o cheiro
de peixe, caranguejo. Rio se aproximou, com o cheiro de Anna humana
à frente. O pesado caminhão-vaca seguiu Anna-humana pela ponte.

Veja! Lembrar!
Eu vi uma placa, WESTBANK EXPRESSWAY. Caiu na
felicidade do perfume novamente, boca aberta, rosto levantado pelo
vento, sentindo cheiros maravilhosos de peixes, coisas mortas,
crocodilo, pássaros. Muitas presas aqui. Bons cheiros. Mas assisti sinais,
lembrando. GENERAL DEGAULLE DRIVE. Caminhão de vaca-
peixe desligado, longe do cheiro de Anna.

Caçar, ela comandou.

Eu bufei e pulei do maravilhoso caminhão-boi para o teto de um


carro estacionado. Trotei de volta para General DeGaulle Drive.
Encontrei o cheiro de Anna-humana. Trotei atrás. O cheiro dela virou
em nova rua, sinal em palavras masculinas, WOODLAND HWY.
Nova parte da cidade, ao sul e oeste do French Quarter. Longe da área
de caça conhecida do comedor de fígado.

Atravessei terras pantanosas e cobertas de vegetação. Para English


Vire Parkway. Grandes antros humanos em todos os lugares. Fedor de
produtos químicos. Campo de golfe, ela sussurrou. Eu trotei sobre a ponte,
água com cheiro de produto químico. Encontrou a casa onde Anna-
humana e macho entraram. Aroma Anna-humana em todo lugar. No
jardim. Seu covil. Filhote. Companheiro.

Filha. Marido. O prefeito, ela sussurrou.


Eu andei pelo perímetro na sombra da casa. Banhado pela fonte,
água jorrando da boca do peixe, mas com gosto de água da cidade, não
de peixe. Casa escura. Piscina na parte de trás, luzes azuis em
profundidade. Eu estava com calor, mergulhei, a água fria subindo.
Suspirei, o calor da corrida diminuindo. Remei para o outro lado e para
trás, sua mochila flutuando. Revigorada, saí da piscina e afastei o fedor.
Cansada, pisei na cadeira comprida e afundei no estofamento.
Espreguiçadeira, ela disse. Eu descansei, a língua limpando a água
fedorenta da piscina do rosto e das patas.

Lá dentro, o telefone tocou. Homem-humano respondeu, voz


profunda perto da porta. — Eu sei que é tarde, —disse uma voz metálica
ao longe, ao telefone. Rick? Jane perguntou.

— Eu ainda estou acordado, Ricky-bo. O que posso fazer por


você? —Ambos os humanos riram.

Eu tossi suavemente. Sem humor nas palavras. Sotaque Cajun falso,


ela pensou. Ainda sem humor. Nenhuma presa para brincar.

— Preciso de algumas informações, —disse Rick.

— Claro, farei o que puder. Como posso ajudar?

— Eu encontrei Anna em um evento e ela disse que você estava


ajudando um clã de vampiros a comprar um terreno ao longo do Privateer
Boulevard em Barataria. Eu tenho alguns amigos que gostariam de vender,
os preços das moradias estão sendo tão baixos e tudo.

— E você quer que os vampiros lhe paguem mais dinheiro do


que os preços de mercado atuais.

— E eu gostaria que meu nome fosse mantido fora disso, se possível.


Coloque tudo em nome de Anna por enquanto, como você está fazendo com
seu outro negócio de terras.

Silêncio por um momento. — Ela contou a você sobre meu outro


negócio de terra, minha Anna contou?

— Sim, certo, —disse Rick. — Conversa de travesseiro. Eu estava no


Escritório de Arquivo Notarial em outro caso e deparei com o nome dela em
uma dúzia de negócios de terras diferentes. Eu coloquei tudo junto. Os
Hornets precisam de outro estádio, uma lei de uso da terra do pântano
está em vigor e você está comprando uma propriedade do pântano no
sudoeste da cidade, propriedade que imagino que será drenada pelo Corpo de
Engenheiros em um ou dois anos. Enquanto isso, você está comprando
barato. Sem pele do meu nariz. Eu só quero uma parte do acordo dos meus

O Charlotte Hornets é um time de basquete profissional americano com sede em Charlotte, Carolina do Norte. Os Hornets competem na
National Basketball Association, como um membro da Divisão Sudeste da Conferência Leste.
amigos se os vampiros pagarem. E você é o homem quando se trata de lidar
com vampiros.

Hornets? Eu vi um vespão , ferrão afiado, vicioso. Ninho de vespas,


redondo, vibrante, alto na árvore.

Ela riu na escuridão de sua mente. Time de basquete, ela pensou. Se


eu soubesse sobre os Hornets, a terra em nome da esposa faria sentido. É por isso
que não gosto de fazer negócios em uma cidade estranha. Não há informações de
fundo suficientes para juntar as peças.

Lá dentro, mais conversa. — Posso talvez fazer um bem a você,


mano, —disse o prefeito. — Você vem ao escritório, sim? —A voz
profunda se afastou.

Os sons noturnos ficaram altos. Eu queria ouvir, mas as vozes


haviam sumido. Rolei, esfregando molhado, na cadeira. Patas no ar,
contorcendo-se, coçando nas costas. Sentiu bem.

Passos pararam dentro de casa. A porta se abriu, quebrando o


silêncio. Eu rolei-saltei-aterrissei em arbustos, em patas dianteiras, pés
traseiros seguindo, juntos. Silencioso. Folha grande escondeu o rosto.

Os zangões (insetos do gênero Vespa ) ‘Hornet em inglês’ são as maiores vespas eussociais e têm aparência semelhante
aos seus parentes próximos camisas-amarelas . Algumas espécies podem atingir até 5,5 cm (2,2 pol.) De comprimento.
Algo bufando, batendo os pés. Correndo para o outro lado da piscina.
Eu me inclinei. Focada no cachorrinho. Poodle. Macho. Tamanho de
filhote de três semanas. Pêlo encaracolado, de nadador aquático, fofo.
Perna levantada, solte um jato de urina aromática. Eu puxei os pés mais
perto. Concentrada em cachorro. Comida.

Não! Ela exigiu. Frustrada, respirei fundo, um sibilo fraco.

Cachorro ergueu os olhos e farejou. Abaixe o nariz, cheirando.


Orelhas se levantaram. Cachorro seguiu a trilha de odores da Besta até
a piscina, para salpicos. Perfume de homem em cachorro, fedia a vento.
Cachorro correu para a cadeira. Me viu em arbustos. Começou a latir.
Perigo! Perigo! Predador aquiaquiaqui! Perigo!

— Sparky! Pare com isso! —Voz profunda-homem—prefeito—


gritou da porta.

— O que é, querido? —Anna-humana disse.

Sair! Invasor! Matematemate! Cachorro latiu.

Eu me reuni para matar o atacante. Sibilei, suave, cheio de ameaça.


Olhos no cachorro.

Não! Ela se levantou, me forçando para baixo.


— Seu cachorro estúpido está latindo, —disse uma voz profunda.
— Se ele acordar os malditos vizinhos ...

— Provavelmente é outro gambá. Vamos, Sparky. —Anna-humana


saiu na noite, sapatinhos batendo.

Eu virei os olhos famintos para ela. Não é um gambá. Eu sou a


Besta!

Não! Ela segurou o controle com força. Forçado a baixar o instinto


de matar. Lutamos. Eu mostrei presas de matar, brancas na luz do
homem. Assobiei. O cachorrinho yappy uivou e correu para a humana.
Ela pegou o cachorro e o levou de volta para dentro. Em segurança, ela
disse: — Olhe para toda a água. Aposto que Sparky ouviu o filho
adolescente do vizinho aqui de novo.

— Maldito cachorro estúpido. Tudo o que precisamos é de um


processo de afogamento, —resmungou a voz profunda. — Vou ligar
para os Demarcos pela manhã.

Porta fechada. As luzes externas se apagaram. As luzes da piscina


ainda brilhavam. Matematematematemate! Cachorro estúpido latiu lá
dentro, acha que pode matar o Grande Gato. Eu me livrei do controle
de Jane. Não gambá! Não criança humana! Eu sou Besta! Precisa
gritar isso aos quatro ventos!
Agora não, ela pensou. Madeiras nas proximidades. Caçar. Imagem de
coelho gordo. Sangue, carne fresca. Garras assassinas afundando
profundamente.

Simmmmm. Virei com força, escapuli para fora do quintal, ao


longo da linha da propriedade, em árvores. Cheiro forte de coelho. Nariz
no chão, enchendo a cabeça inteira com cheiro de coelho. E perseguido.

Eu comi coelho—sangue e carne e leite de suas tetas enchendo a


boca. Em seguida, rastreado de volta ao ninho de coelho, sob uma
árvore caída. Desenterrei jovens, gritos e choros trazendo prazer com
festa. Jane se esgueirou para trás, longe do banquete de sangue. Ela não
era caçadora. Não era a mãe de filhotes. Era apenas humana. Sem filhote.
Ela era apenas uma ladra.

Satisfeita, permiti que ela emergisse. Ela ficou em silêncio. Infeliz.


Imagem de covil. Casa de brinde da Katie. Ela pensou: vamos para casa. Eu
queria uma longa caça. Cheirava a veado. Rastros encontrados,
pequenos, delicados, cheiravam a corça . Ela ordenou, Casa. Eu rosnei.
Voltei-me para a cidade, relutante, não feliz. Ela pensou: talvez
encontremos um veado no caminho.

A corça ou corço (Capreolus capreolus) é um mamífero artiodáctilo da família dos cervídeos que ocorre na Europa,
Ásia Menor e na região ao redor do Mar Cáspio.
Eu bufei de satisfação. Veado!

O amanhecer estava iluminando o céu quando voltei a mim nas


rochas do jardim, fumegando no ar frio. Não tínhamos encontrado
nenhum veado e Besta era obstinada, não querendo se soltar, querendo
caçar, querendo sangue e carne, querendo permanecer em forma de gato
após o amanhecer. Besta nunca foi tão difícil de conter e agora ela ficou
de mau humor, sua raiva manchando meu humor. Suas garras se
abriram e pressionaram em minha mente, deliberadamente
machucando. Ela queria comer o cachorro.

Pássaro comeu gato, Besta murmurou, emburrada, ainda brava


porque eu tinha me transformado em um pássaro, e o pássaro conseguiu
comer o que quisesse.

— Vou deixar você caçar, —eu murmurei. — Em breve. Eu


prometo.

Pássaro comeu gato, Besta repetiu. Vi na mente de Jane. Ela


escapuliu.

Eu meio que rastejei para dentro da casa, membros tão cansados


que tremiam com o esforço. Preparei uma tigela de mingau de aveia e
comi sem chá. Subi na cama, exausta.
Acordei devagar, o sol se pondo, enviando raios oblíquos pela sala,
através das frestas das persianas. O colchão era macio embaixo de mim,
firme no fundo, um colchão de qualidade muito melhor do que o do
meu apartamento perto de Asheville. Não era algo a que eu pudesse me
acostumar. Eu tinha dinheiro, mas era investido, não para conforto.

Rolei, me sentei novamente e puxei um travesseiro para baixo do


pescoço, deixando minha mente vagar. Rick LaFleur ligou para o
prefeito em casa à noite, provavelmente com a intervenção de Anna.
Anna, que estava dormindo com o prefeito, Rick, e o comedor de fígado
de uma forma desconhecida, a menos que o prefeito fosse o comedor de
fígado—mas seu cheiro não estava certo, então não pensei que ele fosse
a criatura.

Rick estava investigando os vampiros, mas o que mais ele estava


fazendo? Não agindo como os olhos do prefeito, claramente, o prefeito
não sabia o que Rick estava fazendo. Talvez os olhos do policial. Ou ele
estava atrás da minha recompensa. Ou investigando os vampiros para
um terceiro desconhecido. Eu teria que mantê-lo por perto.

Besta enviou uma imagem para mim, borrada pelo sono. Rick, de
costas, as patas dela em seu peito, garras cortando a carne em sua
garganta. Eu ri baixinho, feliz apenas por ter ela falando comigo. Ela me
enviou a imagem de um veado e voltou aos sonhos. Eu rolei para fora
da cama.

Eu tinha que caçar novamente esta noite. Se eu quisesse ganhar o


bônus de morte de dez dias, teria que localizar e matar o desonesto em
quarenta e oito horas. Reembalei o conteúdo da minha bolsa de viagem,
pendurei as roupas mal-cheirosas e molhadas da água da piscina para
secar, enrolei um par de calças, camiseta, calcinha e sapatos de sola fina
em torno das cruzes e estacas e fechei isto.

Comi, coloquei carne crua no gramado, tirei a roupa e escalei as


pedras. Eu nunca tinha mudado tantas noites seguidas. Eu não esperava
que isso me cansasse tanto. Não esperava que isso desse tanto controle
a Besta e/ou a tornasse tão teimosa. Não esperava a dor desta noite. Ela
rasgou em mim, cortando, como garras em uma presa. Besta correu para
o vazio cinza, empurrando a mudança, forçando. As rochas racharam e
se partiram, parecendo trovões.

Eu rolei das pedras. Pedra quebrada choveu em torno das patas.


Patas grandes. Flexionei-as. Garras recurvadas deslizaram das bainhas.
Maior. Eu era grande. Eu gosto de Grande. Gato grande. Grande
como um comedor de fígado.

Jane tinha medo de grande. O que é que você fez? Ela perguntou.
Eu rosnei, com raiva, pressionou a pata sobre ela, empurrando para
baixo, garras em sua garganta, sua barriga para o céu, Jane beta, eu
alfa. Seu colar e mochila de viagem estavam muito apertados. Isso não
é bom. Mas é melhor ser grande. Gato grande. Pulei a cerca, corri do
quintal para a noite. Encontrei um caminhão, atravessei o rio, o focinho
no ar, sentindo os cheiros. O caminhão balançou, o movimento suave.
Caçar, eu cantei. Nós caçamos.

Lua estava engordando. Lua de caça ainda não grávida. Deu luz
suficiente para ver a água lá embaixo, o reflexo da lua quebrado na
superfície do rio, como gotas de sangue espalhadas pelo vento.

O caminhão virou. Jane viu a placa—BAYOU SEGNETTE


STATE PARK. Me lancei para fora do caminhão para o chão, me
movendo rápido. Acertar. Rolando-rolando-rolando. Para a vala. Água
salobra. Fedor de sujeira de cachorro. Eu pulei, sujeira de cachorro por
toda parte. Respingos de sangue mostraram a história. O cão bateu na
estrada, atirado para baixo. Cachorro morto—sangue e entranhas—
espalhou-se ladeira acima. Pele agitada, sibilando, irritada. Corri para
as sombras. Ela estava se divertindo. Eu não estava. Eu não cheiro como
cachorro. Não vou. Ela confortou. Eu me esgueirei pelo chão em busca de
água. Piscinas, frescas, livres de cachorro morto, estavam à frente. Olhe
o sinal, ela perguntou, devidamente beta para seu alfa. Eu olhei para
cima. DRAKE AVE. Seguiu em frente, encontrou água e salpicou.

Rolando para limpar o cachorro morto. Algo se moveu na água. Saí


daí! Ela gritou. Eu empurrei o fundo, saltei da água, as patas dianteiras
abertas, as garras agarrando. Desembarquei. Girei. Gotas se
espalharam. Da água, mandíbulas largas alcançaram. Dentes ruins
subindo da piscina. Eu assobiei. Ri secamente.

Jacaré, ela disse.

Jacaré ruim.

Eu também não gosto deles, ela concordou, o medo em seu tom. Caçar
o comedor de fígado? Por favor?

Comedor de fígado ruim. Muito tempo desde que provei


comedor de fígado. Observei Jane na mente com as palavras. Ela ficou
imóvel—presa de medo ainda. Corri para as sombras, observando-a na
mente. Gato e rato.

Longo minuto depois, ela perguntou, em tom amedrontado: Quando


você provou um comedor de fígado?

Eu ri secamente. Lembrando. A imagem saiu das trevas da mente,


escondida de Jane por muitas temporadas. Mulher velha. Cabelo
grisalho comprido, queixo e nariz e olhos amarelos como Jane,
penetrantes.

Não é velha. Uma mulher na casa dos sessenta anos, talvez, ela pensou,
sua mente inquieta. Ela cheira mal, como o comedor de fígado que
perseguimos. O medo cresceu rapidamente no fundo da mente de Jane,
como a barriga de uma presa morta no sol de verão. Ela pensou: não me
lembro disso ...

Eu ri secamente com diversão, passado compartilhado.

A velha segurava uma faca. O fogo crepitava perto, a fumaça


subindo alto, com ervas e amarga. A noite estava fria com o inverno, as
árvores nuas como ossos. Uma garota estava deitada diante da velha,
amarrada, amordaçada, com os braços na cabeça, amarrada a estacas
nas mãos e nos pés, fedendo de terror. Olhos azuis à luz do fogo. Cabelo
loiro. A menina não era humana. Cheirava a coisa nova. Aprendi mais
tarde, cheiro de garota vampira, pensei.

A velha se inclinou para frente. O movimento fez o cheiro de


comedor de fígado subir no ar, carne podre. Ela cortou a garota com a
lâmina, um corte penetrante, pontiagudo e profundo. A menina gritou
atrás da mordaça, o rosto sangrando. A velha juntou sangue no dedo e
levou-o à boca. Chupou. Fez outro corte, outro. Provando cada um. A
velha cortou a roupa da menina com a faca, expondo barriga e seios. A
garota se contorceu, mas estacas e cordas a seguraram. A menina
vomitou. Incapaz de se libertar, respirou fundo. Sua respiração parecia
molhada. Seus intestinos liberaram um fedor de sangue antigo,
aumentando com as ervas em chamas.

Aproximei-me mais da saliência, as garras estendidas, agarrando a


rocha como se estivessem agarrando a carne para despedaçar. A velha
levantou a faca. Trazendo para baixo na barriga da menina. Corte. A
garota amarrada gritou, um som agudo, como um filhote em perigo
mortal, presa nas patas de um grande gato macho ou sob as garras de
uma fêmea rival invadindo o território. A velha cortou profundamente.
Os gritos da menina ricochetearam nas paredes de rocha abaixo. Eu
expus dentes assassinos. Olhos na faca. A velha tirou um pedaço do
fígado da garota vampira. O vapor subiu da carne humana. A velha
provou a carne crua. Mordeu, rasgando com os dentes. O sangue
escorria pelo queixo, pelas roupas.

Quando a carne acabou, a velha enfiou a mão no buraco


ensanguentado. Cortou mais. Mais de novo. Ainda segurando a faca. A
menina parou de gritar, parou de se mover, mas seu coração ainda batia.
Por um tempinho. A velha comeu mais. Rim. Parte do pulmão. A
menina parou de respirar. O coração parou. A velha enfiou a mão na
cavidade do corpo e puxou, puxou. O coração ficou livre. A velha
começou a cantar, comendo coração.

Observei enquanto as energias se reuniam na velha, cinza prateado,


cheio de brilhos. O poder a tocou. Fogo que não queimou. Ossos
deslizaram, retorceram-se, a carne ficando mais leve. Cabelo ficando
claro, loiro. Ela roubou uma jovem. Tomou sua forma. Cheiro ruim no
ar. Muito mais tarde, entendi que era o cheiro do mal, pensei.

A raiva explodiu em meu espírito, raiva do mal que eu não entendia.


Eu saltei em silêncio. Descendo sobre o comedor de fígado. Patas nas
costas, cravando dentes no pescoço. Mordendo. Espinha quebrando
com estalo de mandíbulas. A carne estava rançosa, oleosa, suja.
Queimação na língua. Eu cuspi. Corpo virou-se com golpe de pata.
Arrancou a garganta. Espalheei a sujeira. Arranquei a cabeça. Comedor
de fígado estava morto. Eu me virei e caminhei pela noite.

Imagens desbotadas. A memória foi encerrada. Jane ficou em


silêncio. Coloquei a pata em sua cabeça em mente. Você é comedor de
fígado, pensei, rosnando. Você me comeu como a velha comia uma
garota.

Não! Ela lutou. Empurrei com força com as patas, segurando-a,


garras em sua carne espiritual.
Eu era mais forte do que a vampira loira. Mais forte que você.
Eu não morri. Eu entrei em você. Contigo. Agora somos ambos, eu
e Jane. Melhor do que Jane sozinha. Melhor do que eu sozinho.
Nós somos fortes. Nós somos a Besta. E agora somos o Gato
Grande. Muito grande.

Ela parou de lutar, o medo sacudindo seu espírito, pensando


pensamentos humanos rápidos. Você tirou massa dos minerais nas pedras.
Seu medo cresceu, deslizando como garras de esquilo. Você executou a
massa em massa, pedra em pedra, de magia complexa. Como você fez isso?
Quanta massa você pegou?

Eu disse: Encontrei um lugar maior na cobra. Gene para muito


tamanho. Peguei toda a massa que queria. Jane fugiu, mergulhada
em espíritos unidos, escondendo-se. Eu sibilei, sacudi a última água
escumosa para longe. Pêlo é grosso, rico e profundo. As garras são
afiadas e longas. Caçar comedor de fígado. Matar o outro. Eu
caminhei em sombras mais profundas, boca aberta, procurando cheiro
de comedor de fígado. Eu sou o Gato Grande. Eu vou matar.
no parque

bem atrás da casa da xamã Cherokee. O cheiro de comedor de fígado


era forte e quente, vindo do vento. Estava correndo, o suor fedendo a
podridão. O segundo perfume flutuou no vento noturno—sangue,
fresco, potente com medo. Humano. Comedor de fígado havia caçado.
Homem encontrado para beber e comer.

Nas profundezas da floresta, em terreno elevado cercado por


pântano, encontrei o local da matança. Parei. Estudei clareira. Tenda,
latrina, pá, lanterna acesa, calhas, caixa térmica trancada, corda nas
árvores, roupas úmidas penduradas. Sangue por toda parte, liso,
brilhante ao luar. Partes do corpo espalhadas. Um acampamento de sem-
teto, ela pensou. Um vagabundo.

Eu me agachei, em silêncio, farejando, observando. Comedor de


fígado se foi. Com passos lentos de caçador, entrei no acampamento—
agachada, com as patas traseiras no espaço quando as patas dianteiras
se levantaram, sem gravetos ou folhas para estalar. Cheirei perna
mastigada. Velho e esquelético. Humano doente. Não é bom comer.
Eu me movi pelo acampamento, farejando. O comedor de fígado estava
nojento, podre quando veio. O cheiro mudou enquanto ele comia.

Jane estremeceu ao pensar. Eu cortei uma risada. Acolchoado em


torno da barraca. Torso de homem partido ao meio na espinha. Metade
superior perto do pântano. Metade inferior na água, pélvis projetando-
se para o ar. Pequenos peixes alimentados com carne rasgada. Jacaré
nadou perto, os olhos acima da água, a cauda movendo-se como uma
cobra. Golpeei o aviso. Alimento mais tarde. Meu lugar. Jacaré
diminuiu a velocidade, parou e se afundou. Corri para a abertura da
barraca.

Cabeça de homem dentro da barraca, descansando na cama.


Comedor de fígado não comeu cara deste. Peludo, desalinhado. Olhos
de um azul pálido refletiram a luz da lanterna. Bochechas caídas,
enrugadas.

Encontrei o caminho que o comedor de fígado pegou na floresta.


Seu cheiro mudou novamente. Parei. Puxei ar sobre o órgão de cheiro
na boca. Estudando. O cheiro de podridão estava mudando. Se foi. Não
cheiro de comedor de fígado. Aroma de vampiro. Vampiro sobre todos
os outros cheiros. A mudança de cheiro preocupou Jane.
O caminho alcançou a estrada asfaltada. Faróis de caminhões se
moviam por entre as árvores, vindo para cá. Eu pulei na árvore,
andando em galhos largos pendurados sobre a estrada. Caí no topo da
caçamba, quebrando o metal fraco. Comedor de fígado veio por aqui,
em corpo de vampiro. Movendo-se rápido. O ar soprou forte, cheio de
cheiros. Aromas ricos e fortes.

Ele roubou um carro, ela pensou. Ou deixou um carro aqui, planejando


com antecedência. Ela insistiu: Olhe para as placas. O caminhão virou na
Lafitte-Larose Parkway. Ainda ao sul. Sinais proclamavam
BARATARIA. Barataria, ela pensou. É onde a propriedade está sendo
comprada pela Arceneau Developments e por Anna, de acordo com a pesquisa de
trilha de papel de Rick. Mas por quê?

Eu funguei com desdém. Não entendia humanos ou vampiros. O


caminhão zuniu ao longo da Jean Lafitte Boulevard, pela ponte
Fisherman Boulevard, pela Privateer Boulevard, em Barataria. Quando
o caminhão virou na rua lateral, eu pulei em um galho baixo de árvore,
nas sombras. Sombrio. Bom lugar para se esconder, caçar. O cheiro
alterado do comedor de fígado estava desaparecendo. Quando os faróis
se apagaram, caí no chão. Esticada, boca larga, bocejando. Sacudindo a
pele no lugar após o vento de caminhão rápido. Corri pela rua, seguindo
o cheiro. Ela olhou para os sinais, para se lembrar. PRIVATEER
BOULEVARD.

O cheiro de vampiro comedor de fígado ficou forte em uma pequena


toca de homens, enterrada em árvores pendentes, escondida atrás de
arbustos, flores desabrochando por toda parte. Paredes de tijolos,
caminhos duros e lisos entre arbustos. Luzes acesas lá dentro,
espalhando-se pelas janelas. O carro estava morto no quintal,
estacionado em bombas soltas, carro e bombas, ambos brancos à noite.
Mercedes, ela pensou. Eu trotei até ele, seu coração rugindo silencioso,
mas ainda vibrando com vida. O comedor de fígado tinha acabado de
chegar, seu novo cheiro na maçaneta da porta. O cheiro era uma mistura
de podridão devoradora de fígado fraca-fraca. Na maioria das vezes ...
vampiro.

Ela pensou, um vampiro se tornou um skinwalker e a transformação não


ocorreu corretamente.

Simmmm. E não. Eu caí no chão.

Ela pensou mais. Ele não assumiu a forma de errante, ele chamou outro
de memória. Ele tem que comer muita proteína para recuperar a forma que
deseja. E sua forma original, é antiga? Decadente? Ele tem que roubar outro
humano ou vampiro e se tornar ele?
Sim e não. Skinwalker e vampiro. Juntos, eles são comedores
de fígado.

A tristeza encheu seu coração. Ela sofreu, como eu fico triste


quando um filhote morre. É uma tolice sofrer, pensei para ela. Não é
o seu filhote. Nem um filhote de ninguém.

Mas é da minha espécie. E o único que eu já vi, Jane pensou.

Não é da sua espécie. Comedor de fígado. Eu cuspi com nojo,


andando em torno da casa. A água de Bayou corria perto, silenciosa,
mais negra que o céu quando a lua estava morta e desapareceu. Grilos e
sapos barulhentos.

Um carro rugiu ao longo da estrada, os faróis brilhando. Privateer


Boulevard, ela disse, tentando se lembrar. O carro reduziu a velocidade,
dobrou em uma pequena rua, reduziu mais a velocidade, parou no pátio.
Eu me esgueirei pela folhagem, até a frente da casa. Agachada na
sombra mais escura. Novo carro estacionado ao lado do Mercedes do
comedor de fígado. Seu coração estrondoso parou. Anna-humana saiu,
falando ao telefone. Ela usava um vestido branco, seus pés em pontas
altas. Presa fácil.

— Vou buscar a ajuda dele, —ela disse ao telefone. A voz do


prefeito rosnou, baixa, áspera, as palavras não eram claras. — Assim
que conseguirmos o apoio do Clã Pellissier, —Anna-humana disse, —
teremos influência vampírica suficiente para levar o projeto ao
conselho. E dinheiro suficiente para desaparecer. —Mais rosnados do
prefeito. — Amo você também. —Ela correu para casa, tocou a
campainha. Seu perfume era forte no ar, dominando flores
desabrochando. A porta interna de madeira se abriu, depois a porta
blindada. — Você não tem ideia de como foi difícil ficar longe do meu
marido, —Anna-humana disse, mentindo.

— Venha aqui, —disse o homem. Voz estranha, não familiar. Ele


cheirava ao cheiro de vampiro de comedor de fígado. O cheiro de
podridão quase desapareceu, mesmo no meu nariz. Porta de tela bateu
fechada. A porta de madeira foi empurrada. Mas não fechada. A luz
fluiu para fora. Juntei as patas perto de pular. Caçar!

Não! Ela comandou. Ela tentou arrancar o controle.

Simmmm. Eu sou grande. Grande Gato esta noite. Grande


para matar comedor de fígado.

Outro carro entrou em uma pequena rua. Em uma curta viagem. Eu


olhei com desagrado. O carro morreu. Rick saiu. Ele tinha seguido
Anna-humana. Rastreou ela. Caçou ela. Eu me agachei, apertado.
Rick correu para a porta da frente. Olhei pela janela. Seu corpo ficou
imóvel, como um predador em choque com o tamanho de uma grande
presa. Puxou a arma por baixo do braço. — Anna! —Rick gritou. Ele
rasgou a tela aberta. Ele bateu contra o tijolo com uma réplica afiada.
Como um tiro. Eu vacilei. Rick mergulhou para dentro.

O rugido do gato grande ecoou na noite. Não meu. Não de Besta.

Rick gritou. Palavras perdidas sob o rugido. Anna-humana gritou.


Batidas fortes. Comedor de fígado e Rick gritando, raiva sem palavras.
Brigando. Anna abriu a porta e sumiu na escuridão. O fedor de podridão
do comedor de fígado explodiu na porta com ela. E cheiro quente de
muito sangue de Rick. Crack, crack, crack de tiros. A janela quebrou. Rick
gritou, sufocado.

Vá! Jane ordenou.

Eu pulei pela porta em uma investida forte. Aterrissei, em silêncio,


atrás do sofá, piso de madeira sob as patas. Lábios puxados para trás
para expor dentes assassinos. O fedor de carne podre encheu o ar. Sons
de mastigar eram altos, ásperos. Levantou-se no sofá, as garras meio
expostas. Sala de visão.

Móveis tombados, velas tremeluzindo. Rick no chão, deitado em


uma poça de sangue se espalhando. Rosto para cima, olhos abertos,
braços abertos para os lados, pernas abertas, camisa rasgada. O sangue
derramado no peito de cortes profundos. O comedor de fígado inclinou-
se sobre ele, curvado, o rosto voltado para o peito de Rick. Bebendo.

Principalmente em forma humana, vestindo roupas humanas—


calça e cinto, camisa branca, tudo manchado de sangue. Cabelo preto
comprido e emaranhado preso atrás da orelha humana, caindo para
frente, escondendo o rosto. A carne aparecia na testa e na orelha do
comedor de fígado, no antebraço e nos pés descalços. Mas as mãos do
comedor de fígado eram patas, garras flexionadas. Garras enormes. O
corpo brilhava com luz cinza prateada, dançava com partículas pretas.
Energias de skinwalker mudando, meio mudadas, mas mantidas sob
controle. Meio humano. Meio gato. O rosto de comedor de fígado, do
nariz para baixo, tinha pele amarelada e boca de gato grande. Enormes
presas subiram da mandíbula superior, menores na mandíbula inferior.
Mordeu a presa, enterrado na carne de Rick. Rick não estava lutando.
Imóvel, mas ainda vivo. Ele está escravizado, hipnotizado, ela pensou.
Quebre isso.

Saltei sobre o sofá, estendendo as garras. Gritei.

Comedor de fígado ergueu a cabeça. Boca aberta. Ele rugiu.

Grandes felinos colidiram. Corpos batendo. Rolando até a parede.


Vidro quebrando, caindo. As energias da mudança do comedor de
fígado fluíram sobre minha pele. Minhas garras se afundaram na carne
comedora de fígado. Os dentes se agarraram, fechando os dentes no
ombro do comedor de fígado. Afundando profundamente. Gosto ruim,
cheiro ruim. Podre/morto/ruim. Gosto lembrado. Rolando, rosnando.
Com garras para prender, segurar, rasgar, despedaçar. Eu arranquei
músculos do ombro do inimigo. Rasguei a ferida de novo, de novo.
Sangue quente, rançoso espalhado. O braço do comedor de fígado ficou
mole. Garras arranharam meu lado. Sangue derramado. Estranhas
energias se derramaram sobre minhas feridas, energias de comedor de
fígado, em busca de mudança.

Está tentando ganhar massa, ela pensou, em pânico.

Eu entendi. O comedor de fígado precisava de pedra, mas não havia


pedra. Desesperado, as energias do comedor de fígado fluíram sobre
minha pele. Tentando roubar a massa de Besta, o corpo de Besta. Mordi
fundo no pescoço. Brigando. Nunca ceder ao skinwalker novamente.
Nunca! Eu atraí energias negras, as energias de Jane. Lutei com a magia
dos skinwalkers, usando seu poder, usando o lugar cinza que ela foi,
para mudar. Surpresa, ela viu o que eu fiz, ajudei, lutou. Gritamos em
desafio.

Quadris girados do comedor de fígado. Me jogou no chão com


força. De barriga como uma presa. Perdi o controle de sua pele. Suas
presas se fecharam perto da minha mandíbula. Sangue vital jorrou. Eu
gritei o som de uma presa. Medo e raiva. Presas duas vezes maiores
rasgaram a carne. Mas a boca do comedor de fígado estava errada, ainda
parte humana.

Não pode morder direito, ela pensou. E não há pedra para


roubar massa. Ele não pode completar a mudança. Ela riu, cheia de
malícia. Nós somos fortes. E inteligentes.

Eu fingi fraqueza, ficando mole, retirando as presas. Gritei como se


estivesse mortalmente ferida. O comedor de fígado rosnou em vitória e
me soltou. Eu levantei as garras traseiras e me curvei para trás.
Alcançando. Cavando na barriga desprotegida do comedor de fígado.
Agarrando seu pescoço com dentes mortais. Exatamente como Jane
fazia quando era pequeno gato.

O guincho de comedor de fígado foi um grito mortal. Ferido


mortalmente. Comedor de fígado atacou rápido, através do rosto, golpe
único, garras cravadas, marcando fundo. Em direção ao meu olho.

Eu rolei, enrolando, jogando corpo. A carne rasgou na bochecha.


Garras do comedor de fígado pegaram o pacote de viagem no pescoço,
agarrando o couro. Mordi a pata descalça de comedor de fígado,
afundando os dentes profundamente. As energias do skinwalker
fluíram. Um zumbido de dor penetrou profundamente na língua. Pata
comedora de fígado ... desapareceu ... em um lugar cinzento. E voltou.
Comedor de fígado saltou, quebrando a janela. Para fora. Noite adentro.
Luz cinzenta e escuridão à direita. Eu me preparei para pular. Para
seguir.

— Socorro. Eu preciso de ajuda. —Voz ofegante.

Vislumbre de Rick, balançando a cabeça, rolando para o lado.


Sangrando. Metade deitado no chão, metade apoiado em uma cadeira
tombada. Mão no pescoço, na orelha. Metal do telefone entre os dedos.
Sangue escorrendo pelo peito nu e ferido. Espalhando rápido.
Inundação de vermelho escuro. Sem pulsar. Rick olhou fixamente, os
olhos vidrados de choque, arregalados de terror. Rosto branco, sem
sangue. Falou ao telefone, palavras arrastadas, voz baixa. — Estou em
um-zero-dois na Walker Street em Barataria, logo depois da A
Dufrene Street.

Mostrei os dentes, rosnei. Os olhos de Rick se concentraram.


Respiração presa. Ele olhou para o lado. O cabo de metal da arma estava
sob a borda do tapete. Eu empurrei com a pata traseira, girei no ar. Saltei
sobre ele, corri porta afora, da casa iluminada para a escuridão. O cheiro
de podridão do comedor de fígado era forte aqui. O coração de um carro
disparou. Eu pulei muito, da varanda para o capô do carro branco.
Rosnei no para-brisa. Comedor de fígado estava sentado no banco do
motorista. Nu, em forma humana. Encontrei os olhos. O rosto de
comedor de fígado ficou sem sangue. Por um longo momento, o mundo
parou. Jane veio à tona, vendo, pensando, Cherokee. Um de O Povo.

Seus olhos na mochila de viagem. Sua boca se moveu, o som quase


perdido sob o rugido suave do carro. Ele reconheceu eu/nós como um
skinwalker. — Ani gilogi, —disse o comedor de fígado. Clã Pantera. Uma
luz cinza cintilou sobre o comedor de fígado. O rosto mudou para ...
algo mais. Cabelo castanho-louro, nariz estreito. Muito jovem, branco.
Ela viu. Ela conhecia. Comedor de fígado girou a roda e acelerou. O carro
girou, resistiu. Eu perdi o controle dele, gritei de raiva. Minhas garras se
cravaram, deslizando na tinta espalhada pelo capô. Jogada para fora.
No ar. Aterrisei com força. Rolando. Rosnando. O carro saiu em
disparada, cuspindo gramas e batendo na pele.

Mudança. Agora. Por favor, ela pediu.

Comedor de fígado corre. Eu rosnei. Quer seguir, para caçar.


Mas o carro era rápido. Se foi. Longe do território. Eu bufei, satisfeita.
Vencedora. Agachando sob um arbusto cheio de flores, braços longos
estendidos no alto, arrastando-se sobre o solo. Eu me esgueirei para a
escuridão. Sentar, ofegante. Pensei em Jane. Ela enfiou a mão na
cabeça, em pensamentos. Ela assumiu o controle. Lembrou-se de sua
cobra, sua forma retorcida.

Mas Besta era grande, tirou massa da rocha. Jane precisava enviar
massa de volta, pensei em pedra no jardim. O pensamento de ouro
raspado na superfície, renovado depois das chuvas. Pensei no colar de
ouro apertado na garganta.

Massa em massa, pedra em pedra. O som de tambores subia à noite,


ouvido apenas por mim e por ela. Apito suave de flauta. Massa em massa,
pedra em pedra. O cheiro da chama da erva subiu na memória. As
sombras dançaram contra as paredes de pedra. Mudando. Dor.
Dordordor. A massa diminuindo, movendo-se através da terra, de volta
à rocha com ouro. Massa em massa, pedra em pedra. Magia negra.

Magia complexa, ela pensou, tornando-se alfa, tornando-se Jane.


Peso e músculo, pele e osso, sumiram, através da escuridão do lugar
entre elas. De volta a pedra. De volta à rocha amarela. Em minha mente,
ouvi o barulho de ossos velhos e o estalo de pedras.

Voltei a mim mesma sob um arbusto, terra e grama embaixo de


mim, algo afiado apunhalando meu rosto. Eu afastei uma concha. Eu
estava coçando, pegajosa de suor e sendo bombardeada por mosquitos.
Eu empurrei para uma posição sentada, passando minhas mãos sobre
meu rosto, ao longo dos meus lados até os quadris e descendo até os
dedos dos pés. Dez dedos nas mãos, dez dedos dos pés, cinco em cada
membro e tudo a que pertenciam. Eu também achava que era quase do
meu tamanho normal, eu não queria adicionar 45 quilos de músculos e
ossos apenas para que Besta pudesse ser o Grande Gato sempre que ela
quisesse. Quando trabalhava com massa, sempre tinha medo de voltar
errado, e essa mudança foi a primeira em muitos aspectos. Besta nunca
me forçou a pegar massa, nunca assumiu o controle e fez escolhas contra
a minha vontade. E eu nunca tinha devolvido a massa pelo lugar
cinzento. Eu não tive tempo para me preocupar com tudo isso agora.

Lembrei-me da memória que Besta havia compartilhado e estremeci


com o calor. Isso claramente aconteceu antes de Besta e eu nós unirmos.
E isso mostrou o quanto eu não sabia sobre ela, quão pouco controle eu
poderia realmente ter sobre ela. Era outra coisa para a qual eu não tinha
tempo. Agora não.

Meu estômago roncou de fome. Tirei a mochila de viagem. Havia


um rasgo no couro, um rasgo de garra, longo e letal se tivesse atingido a
presa. Como em mim. Eu abri o pacote. Minhas roupas derramaram:
camiseta bem enrolada, calcinha, calças de pano fino. Sapatos. Vesti-me
com pressa e corri para dentro de casa, ainda calçando os sapatos
enquanto corria. — Rick? —Eu gritei, tropeçando pela porta da frente,
entrando na bagunça. Foi pior pelos meus olhos do que pelos da Besta,
muito mais sangrento. Rick estava deitado no centro de uma poça. Eu
amarrei meu cabelo para fora do caminho e me ajoelhei no chão ao lado
dele, joelhos em meio ao sangue, incapaz de evitá-lo. Rick estava em
péssimo estado.

Pressionei uma almofada contra seu pescoço, que estava pingando.


Seus olhos se abriram. Ele lutou para se concentrar. — Leão da
montanha, —ele murmurou. — Leão dente de sabre. —Ele se esforçou
para respirar, seu peito se movendo com evidente dor. —Leões lutando.
—Pressionei, sabendo que não poderia amarrar a almofada em seu
pescoço sem cortar seu ar, então me conformei com uma pressão
mínima, o pano como uma superfície de coagulação. Não estéril, mas
as preocupações com a infecção ficaram para depois. Se ele vivesse. —
Maior ... malditas coisas, —disse ele.

— Uh-huh. —Encontrei outra almofada e a coloquei em seu peito.


As marcas de garras que o atravessaram abriram-se do peitoral esquerdo,
lateralmente na parte superior do abdômen e desceram até o quadril
direito, profundo o suficiente para que o músculo tivesse sido rasgado e
a costela branca mostrasse onde a carne tinha sido arrancada. — Você
perdeu muito sangue. —Eu localizei uma gravata de cortina e puxei-a,
envolvendo-a em seu peito. Amofada amarela ridículo, manchada de
escarlate com sangue, e uma gravata de seda amarelada, a borla
pendurada de seu lado. Não é muito bom para uma preparação de
campo, mas um pouco melhor do que nada.

Meu estômago roncou de novo, exigente. — Eu ouvi você no


telefone. Você chamou uma ambulância? —Quando ele não respondeu,
chamei mais alto: — Rick! —Dei um tapa em sua bochecha. Não foi
uma resposta médica aprovada, mas teve o efeito certo. Seus olhos se
abriram. Suas pupilas estavam dilatadas, seu rosto muito branco.
Choque. Eu o coloquei no chão e puxei uma poltrona, apoiando seus
pés nela.

— Jane? —Ele murmurou.

Eu encontrei seus olhos. — Sim. Você chamou uma ambulância?

— Backup. Chamando por ... —ele parou para respirar, — reforço.

Eu considerei sua escolha de palavras. Palavras de policial. Sem


permissão, dei um tapinha em seus bolsos.

— Não é um bom momento, baby. Não assim ... sexo de macaco


selvagem.

Eu ri, puxei sua carteira e abri, meio que esperando ver um


distintivo, mas havia apenas uma carteira de motorista e cartões de
banco. Nenhum ID oficial do NOPD. Mas havia uma escolha estranha
para seu número “em caso de emergência” impresso à mão em uma
pequena parte da carteira de plástico transparente. Eu tinha certeza de
que era o número do celular de Jodi Richoux. Peguei o celular de seus
dedos moles e o abri, observando que ele havia ligado para aquele
número mais recentemente. Toquei em REDIAL. A chamada foi
atendida quase instantaneamente.

— Rick? —A voz de Jodi exigiu. Quase atendi, mas em vez disso


coloquei o telefone no ouvido de Rick. — Rick? —Ela perguntou
novamente.

— Ei, querida. Eu estou ... meio machucado.

— A ajuda está a caminho.

— Sangrando ... —Ele desmaiou e eu deixei cair o telefone. Jodi


gritou por ele. Deixei o telefone no chão, a voz dela chamando seu
nome. Meu estômago se retorceu de fome, implorando por comida. Eu
estava trêmula, precisando comer, mas não tinha tempo agora. Eu havia
coberto as feridas de Rick, mas a poça de sangue ainda estava se
espalhando. Eu dei um passo para trás, olhando para ele, procurando
por sangramentos que eu tinha perdido, e os localizei. O sangue jorrava
de seu braço para o chão, com um brilho arterial.

Ajoelhando-me novamente, agarrei sua camiseta rasgada e rasguei


para cima, expondo seu ombro direito, revelando as tatuagens que
estavam escondidas lá. Ao redor de seu bíceps direito havia uma argola
de algo que parecia arame farpado, mas eram trepadeiras retorcidas com
garras e patas espalhadas por toda parte. Patas recurvadas de gato
grande e garras de raptor, algumas com pequenas gotas de sangue nelas.

Inclinei-me e rasguei sua manga esquerda, expondo a tatuagem ali.


Eu balancei para trás, meus dedos mal o tocando. Calafrios percorreram
meus braços. Em seu ombro esquerdo, da clavícula até o peitoral e ao
redor de todo o braço, havia uma tatuagem mais intrincada. Muito mais
complicada.

— Leão, —ele murmurou, inesperadamente acordado. Ele se


concentrou em meu rosto, seus olhos turvos. — Eu vi um leão. Meio
homem ... meio gato.

— Sim, —eu sussurrei.

— Eu gosto de leões, —ele disse.

As tatuagens que eu havia notado antes, as pontas pretas que


pareciam vagamente como garras quando apareciam de sua manga
esquerda, eram garras de pantera. A tatuagem era tlvdatsi, um leão da
montanha. E por trás do olhar fixo do rosto de predador espiava um
rosto de gato menor, orelhas pontudas, curioso e de alguma forma
divertido, lábios puxados para cima em um rosnado para revelar os
dentes do predador. Um lince. Minhas primeiras duas bestas. No ombro
de Rick.

distância, cada uma distinta—vários carros de polícia, pelo menos uma


ambulância. Jodi havia parado de gritar por Rick, embora a linha ainda
estivesse aberta e alguns sons de sirene vieram do celular, provando que
Jodi era um dos policiais que se aproximava, invadindo o Privateer
Boulevard. Chegando perto.

— Você está em perigo, —ele murmurou. — Dos vampiros. Eu


tenho que te ajudar ...

Ele parecia saber que estava falando comigo, então eu assenti,


amarrando uma capa estofada no seu braço e uma segunda cortina ao
redor do braço, as fibras profundas na ferida, diminuindo o
sangramento. Eu me levantei, de pé sobre ele, meus pés de cada lado,
seu sangue acumulando-se embaixo e em meus sapatos de sola fina,
esmagando com cada movimento de peso. O sangue encharcou minhas
calças, absorvendo como dedos finos. Estava sob minhas unhas, nas
dobras de minhas mãos, respingando em meus braços. O sangramento
em seu peito quase parou, embora eu tivesse a sensação de que não era
por causa das minhas grandes bandagens, mas porque ele estava quase
sem sangue. Ele parecia meio morto, mas ainda respirava.

Os policiais estavam quase aqui. Eu tinha que decidir. Ir ou ficar?


Se eles me encontrassem com um policial sangrando, eu estaria em
apuros. Se eu fugisse e Rick se lembrasse que eu estive aqui, estaria em
apuros. Se Jodi tivesse me ouvido enquanto eu aplicava os curativos, eu
estaria em apuros. Se eu tivesse deixado digitais em algum lugar, estaria
em apuros. Limpei minhas impressões digitais de seu telefone, mas as
pessoas tocavam em coisas o tempo todo que não se lembravam. Não
importa o que eu fizesse, eu não conseguiria a grande refeição de que
precisava tão cedo. Meu estômago roncou forte, com cólicas. Eu estava
tonta. Luzes azuis brilharam através das árvores e arbustos que cobriam
as janelas, ficando mais perto. Decida-se! Eu disse a mim mesma.

Besta não corre, a Besta me disse, irritada por eu não ter descoberto
isso sozinha.
— Sim, —eu murmurei. — Certo. —Peguei o telefone e falei nele.
— Tem alguém aí?

— Quem é? —Jodi exigiu sobre o som das sirenes.

— Jane Yellowrock. Quem é? Jodi?

— O que você está fazendo nesta ligação?

— Salvando a vida de um homem. O que você está fazendo sobre


isso?

— Fique aí, —ela disse, toda profissional, seu tom exigente de


policial.

Besta se eriçou. — Não vou a lugar nenhum, —eu disse. Besta


bufou de insulto. — Eu vejo as luzes. Estou indo para a porta da
frente. Diga a eles para não atirarem em mim.

Jodi deu um grunhido digno de crédito e Besta ficou em silêncio


com o som.

Fui até a porta e empurrei a tela, parando na porta com as mãos


erguidas, as palmas abertas visíveis, se é que podiam vê-las sob o sangue.
Os dois primeiros carros passaram pelo curto beco sem saída e entraram
na garagem. O próximo carro e a ambulância colidiram com o pátio, os
pneus afundando no solo argiloso, os faróis balançando para cima e para
baixo, sobre mim. As portas do carro se abriram, revelando policiais
sacando armas. Besta rosnou em advertência.

— Não atire, —gritou Jodi, saindo do carro dela sem marcas. —


Repito, não atire! Não se mova, Yellowrock. Mantenha suas mãos onde
possamos vê-las. —Como se isso não tivesse me ocorrido isso.

Jodi e sua sombra, Herbert, alcançaram a pequena varanda, a mão


de Herbert na coronha da arma, a ansiedade em seus olhos. — Ele está
lá dentro, —eu disse. — Fiz o que pude por ele, mas ele está mal.

Jodi passou por mim. Herbert disse: — Parece-me que você pode té-
lo colocado lá. —Jodi praguejou, presumi ao ver Rick. Afastei-me para
o lado para dois paramédicos robustos e sua maca.

— Ele precisa de sangue, —eu disse, meus braços ainda acima da


cabeça. — Vocês carregam unidades nesta condução?

— Não, —o mais gordo dos dois disse, largando seu equipamento.


— Mas nós temos expansores de volume e se ele precisar de um
transporte mais rápido, todos os helicópteros recebem sangue. —Ele deu
uma olhada em Rick e no sangue no chão e praguejou.

— Chame o helicóptero, —disse Jodi. — Traga-os aqui rápido.

— Sim. Você não está brincando, —disse ele, puxando o rádio


portátil e fazendo a ligação.
Ninguém estava me observando, então abaixei os braços e me
aproximei do canto. Os paramédicos foram rápidos, iniciando linhas IV,
medindo a pressão arterial. Herbert estava andando por aí, os polegares
no cinto, examinando o lugar. Jodi estava conversando com os médicos,
fazendo o tipo de pergunta que um policial fazia em campo, perguntas
para as quais os profissionais médicos não tinham respostas. Perguntas
que os policiais faziam quando um dos seus se feria no cumprimento do
dever. Se eu já não tivesse descoberto que Rick era um policial
disfarçado, isso teria decidido. Ele estava espionando os vampiros para
o NOPD. Troll sabia que seu parente era policial?

Ocorreu-me que eu não tinha carro aqui, nenhum meio de


transporte visível. Eu teria que mentir sobre como cheguei aqui quando
eles me questionassem. Eu teria que dizer aos policiais que cheguei com
Rick. Ou caminhei. A primeira mentira seria facilmente refutada, a
segunda não era provável. Eu realmente não queria ter que mentir para
Jodi, especialmente uma mentira tão ruim. Quando as costas de Herbert
foram viradas, eu casualmente saí da casa. Assim que as sombras me
cobriram, comecei a correr.

Chamei o táxi Bluebird no meu celular e tive sorte que Rinaldo não
estava trabalhando. Não esperava ter sorte de novo, por isso tomei
precauções extras ao tirar e lavar minhas roupas no bayou.
Agachada nua na margem não muito longe da Fisherman
Boulevard Bridge, eu estava totalmente exposta ao luar, se alguém
tivesse acordado olhando para cá em vez de para as luzes piscando. Ouvi
vários vizinhos conversando e os vi, parados nas varandas e na estrada,
não se aproximando da ação, mas também não a perdiam de vista. Eu
esperava que a distração os impedisse de me notar.

Os mosquitos me beliscaram enquanto eu trabalhava para tirar o


sangue e esperava ter sucesso antes de ser drenada por insetos ou atrair
todos os crocodilos em um raio de dezesseis quilômetros. Quando o luar
me garantiu que minhas roupas e sapatos estavam quase sem sangue, eu
me vesti novamente. Pingando, corri para cima do Privateer Boulevard
em meus sapatos macios, mantendo-me nas sombras, procurando meu
táxi, procurando por alguém que pudesse me detectar e então me
denunciar à polícia. Eu estava com fome, trêmula, pegajosa de sangue e
suor, fedia a bayou e quente, mesmo com a roupa molhada.

Eu cruzei o Fisherman Boulevard e estava quase de volta ao Parque


Histórico Nacional Jean Lafitte, minha respiração ficando mais difícil
do que eu esperava, meu estômago apertando como se Besta tivesse suas
garras em mim, antes de avistar o táxi de Rinaldo. Eu sinalizei para ele
e esperei, curvada na cintura, bufando e tentando controlar minha fome
antes de mordê-lo para um lanche rápido. Besta achou aquilo engraçado
e me enviou imagens de um grande gato atacando da parte de trás de
um táxi.

— Você parece uma merda, —ele disse, inclinando-se para fora da


janela aberta, um braço na porta.

Eu bufei uma risada e tentei me levantar. Minhas costas começaram


a ter espasmos e minhas pernas tremiam. — E você fala muito doce,
Rinaldo.

— Isso é o que minha esposa me disse, —ele disse, soando cada vez
mais Cajun, o melhor ele conseguiu me conhecer. — Deixe-me
adivinhar. Você quer parar na lanchonete mais próxima para comprar
meia dúzia de hambúrgueres e três ou dois batidos.

— Parece delicioso. —Eu caminhei para o carro. — Estou molhada.


Onde você quer que eu me sente?

— Bem na frente. Eu tenho uma toalha. O que você fez, foi nadar
no bayou? Tem jacaré aí, sabe.

Entrei no carro e rapidamente fechei a porta para que as luzes


internas não conseguissem distinguir o tom de vermelho ensanguentado
em todas as minhas roupas. Eu descansei minha cabeça para trás e
suspirei, alisando as pontas da toalha para pegar a umidade se
espalhando. — Casa. Comida. E não nessa ordem, —eu disse. Acima,
a lua passou por trás das nuvens e o trovão ribombou à distância.

Rinaldo fez uma virada de três pontos. — Melhores hambúrgueres


no estado chegando. E bolas de boudin.

— Não estou comendo bolas de nada, —eu disse, fechando os


olhos.

Por algum motivo, Rinaldo achou isso engraçado.

Lembrei-me do que eram assim que mordi uma bola de boudin


frita—carne picante e arroz pegajoso, em forma de bola e frita na banha.
Elas eram totalmente maravilhosas, eu tive seis, cada um do tamanho
do meu punho, e apenas dois duplos hambúrgueres. E dois shakes
grandes, um pedido de batatas fritas totalmente carregadas com chili e
queijo e duas tortas de maçã fritas. Tratei de Rinaldo com um
hambúrguer e shake, e deixei-o me ver comer enquanto dirigia. Ele ficou
fascinado.

— Onde você guarda toda essa comida?

— Eu não jantei esta noite, —eu disse, encolhendo os ombros,


empurrando um punhado de batatas fritas em minha boca e lambendo
o chili dos meus dedos. — Metabolismo acelerado.

— Como um maldito carro de corrida, você é.


Eu ri e drenei um dos shakes por um canudo com um longo gole de
satisfação.

Rinaldo me deixou na rua de minha casa e eu caminhei o resto do


caminho, carregando sua toalha. Eu tinha insistido em que pudesse lavá-
la para ele, refugiando-me nas boas maneiras quando, na verdade, só
queria impedi-lo de ver o sangue ralo e desbotado ensopado nela. Ele
me cobrou um braço e uma perna pela tarifa depois da meia-noite, em
dinheiro, e eu paguei sem objeções. Eu também dei uma boa gorjeta a
ele, querendo manter meu transporte seguro feliz. Do jeito que estava,
se Jodi o descobrisse e questionasse, Rinaldo forneceria muitas
informações incomuns à policial desconfiada.

Quando entrei, tomei um banho totalmente vestida, pendurei as


coisas molhadas e me vesti novamente com roupas de caça a vampiros,
estilo humano. Eu tinha dado uma boa olhada no vampiro desonesto
em sua forma não fedorenta e agora sabia o suficiente para ir caçar. O
vampiro que não fedia havia sido pintado em um mural uma vez,
décadas atrás. Eu o reconheci dos vampiros nus festejando no mural na
casa do clã Arceneau—Grégoire, mestre de sangue do Clã Arceneau,
recentemente viajando pela Europa.

Quando saí de casa, minha espingarda estava pendurada nas costas,


a Benelli ainda carregada com as balas de fléchette de prata embaladas
à mão. Eu carregava uma seleção de cruzes de prata no meu cinto, que
ficaria escondida sob minha jaqueta de couro quando eu fechasse o
zíper, e presas em laços nas minhas coxas vestidas com jeans. Prendi a
coleira de cota de malha sobre o colar de garras e ossos de pantera, o
colar de pepitas de ouro bem preso. Se eu tivesse que mudar de novo
esta noite, eu queria toda a ajuda que pudesse conseguir. Luvas de couro
cravejado protegiam minhas mãos, botas com bico de aço amarradas
nas pernas. Os assassinos de vampiros estavam amarrados em bainhas
de couro na cintura e nas coxas. Meu cabelo estava firmemente trançado
em uma longa trança, perto da minha cabeça e enfiado sob um
solidéu . Nenhum vampiro seria capaz de me agarrar pelo cabelo
durante uma luta. Nos bolsos foram os extras: cruzes extras, um frasco
de água batismal—não que eu soubesse ainda como isso funcionava contra
vampiros, mas em um aperto eu estava disposta a tentar—uma câmera
para a prova de morte e munição extra.

Meu celular tocou cinco vezes enquanto eu me vestia, todas as


ligações de Jodi. Suas mensagens de voz passaram de desagradáveis a
ameaçadoras. A última coisa que peguei foi a caixa de madeira com os
truques de bruxa de Molly na prateleira de cima. Estava um pouco

Solidéu, zucchetto, yarmulke é um pequeno barrete usado na cabeça por motivos


religiosos. Seu nome provém do latim soli Deo tollitur, ou seja "só por Deus é tirado".
empoeirada, sem impressões digitais, prova de que ninguém havia
tocado na caixa por meio do feitiço de ofuscação. Eu a abri e estudei os
amuletos: discos de madeira petrificada esculpidos à mão em baixo-relevo,
cenas da cruz com um Jesus morto neles. Deixei cair no colarinho da
minha camisa, eles deslizaram pela minha barriga para descansar contra
a minha pele no meu jeans.

Desta vez, quando o celular tocou, era o número de Molly. —


Molly, —eu disse, saindo pela porta. — É o meio da noite. O que há de
errado?

— Você abriu a caixa de feitiços, —disse ela. Eu pensei sobre isso por
um intervalo de batimentos cardíacos. Antes que eu pudesse responder,
ela acrescentou: — Tenha cuidado. —E desligou.

Eu ri. — Eu farei isso. —Dei partida na moto e fui embora. Eu


estava a dois quarteirões de distância, a moto rugindo embaixo de mim,
quando a primeira viatura marcada virou na rua, as luzes piscando, mas
as sirenes silenciosas. Eu tinha fugido bem a tempo.

Mesmo com a jaqueta de couro aberta e sem as luvas, mesmo a 80


quilômetros por hora, o vento não esfriava. Estava úmido com chuva
não gasta, pesado com neblina, a brisa artificial que criei enquanto
cavalgava cheirando azedo e maduro. Eu estava suando como um
cavador de valas, gotas escorrendo pela linha do cabelo, sob a calota
craniana, fios umedecendo a camisa de seda contra minha pele,
puxando a cada movimento sob o colete. Eu estava com tanto calor que
tinha certeza de que estava derretendo, e os amuletos encostados na
minha pele aumentaram a sensação de coceira sufocante. Enquanto eu
suava e dirigia, liguei para Jodi.

— Richoux, —ela respondeu. — Onde diabos você está, Yellowrock?

— Fora de casa. Como está Rick?

— Morrendo, —disse ela, a única palavra brutal.

Senti um calafrio tomar conta de mim, como o frio da morte,


esfriando o suor que manchava minha pele. Lembrei-me das tatuagens.
Lembrei-me de sua preocupação de que eu estivesse em perigo. — Quão
ruim?

— Eles o levaram de avião para Tulane Medical. Ele está em cirurgia.


Eles deram a ele quatro unidades de sangue e a maior parte está no chão.
Onde diabos você está?

Eu diminuí a velocidade e tirei a moto da estrada. Parei e desliguei


o motor. Eu disse ao telefone: — Estou enviando ajuda. Diga aos
médicos.
— Diga a eles o quê?

Apertei END e disquei rapidamente outro número. Pugilista não


respondeu. Leo, o chefe do conselho vampiro de Nova Orleans, pegou
seu próprio telefone. — Jane.

Eu disse: — Preciso de um favor.

— E o que você troca por este favor?

Besta rosnou. Leo, ouvindo o som, riu. Eu pensei rápido. Eu tinha


apenas uma coisa que o mestre de sangue da cidade queria. Merda. —
Você ainda quer me provar? —Eu perguntei, ouvindo um tremor em
minha voz. Odiando. Saber que Leo também podia ouvir.

— Eu quero beber de você em todos os sentidos, —Leo Pellissier disse,


sua voz caindo em um timbre fascinante.

Engoli as imagens que sua voz trouxe à mente e consegui dizer: —


De jeito nenhum. Mas ... —Eu respirei, sem ter certeza do que estava
prometendo. — Eu preciso de um favor. E vou trocar uma refeição de
sangue por ele, se for preciso.

Houve silêncio total por apenas um instante. Com sarcasmo em


cada palavra, Leo disse: — Que proposta adorável. Posso tomar uma
valquíria relutante para saborear, sem verdadeira troca de sangue, sem
uma verdadeira união, em troca de um favor não mencionado. Não.

Troca de sangue? União verdadeira? O que eram? Eu não tinha tempo


para isso. — Olha, desculpe, bastardo sugador de sangue, —eu
grunhi. — Rick LaFleur está morrendo em uma cirurgia na Tulane
Medical de um ataque do desonesto. Ele precisa de sangue de
vampiro. O que eu tenho que trocar para conseguir isso para ele?

— Você deveria ter dito isso. George, —Leo disse, sua boca não mais
no telefone. — O carro. Agora! —A linha foi desligada.

Comecei a responder antes de perceber que ele tinha ido embora.


Olhei para o telefone com o aviso de CHAMADA DESCONECTADA
piscando. — Então, eu sou seu jantar ou não? —Eu perguntei. Besta
cortou com uma risada. — Não é engraçado, —eu disse a ela. Ela apenas
riu mais. Besta tem um senso de humor estranho.

Peguei a St. Charles Avenue, fui até o Garden District e entrei na


Third Street. Parei três quarteirões, subi o zíper e fiz o resto do caminho
a pé. Uma chuva suave começou a cair enquanto eu caminhava,
tamborilando nas árvores acima, molhando a rua onde a copa das folhas
se dividia para revelar o céu coberto de nuvens. Um cachorro latia
dentro de uma casa, exigindo, não alertando, provavelmente precisando
sair para fazer seus negócios. O trovão soou, perto agora. Meus pés
estavam quase silenciosos na rua. A música e os sons da TV eram
diminutos, tão abafados que nenhum humano os teria ouvido. Os ar-
condicionados e os fios elétricos chiavam e chiavam. Besta estava em
alerta total, a energia zumbindo em minhas veias, meus sentidos
acelerados.

A casa onde eu tinha visitado os gêmeos servos de sangue estava


pálida, a luz de velas ou talvez lâmpadas tremeluzindo entre as cortinas
fechadas. Eu tinha certeza de quem eu tinha visto nos momentos em que
o olhar do comedor de fígado e o meu estavam travados, enquanto ele
se mexia. O Cherokee eu esperava, mas Grégoire foi uma grande
surpresa.

Eu tinha estado na casa do clã Arceneau e sabia que nenhum


comedor de fígado podre usava o local como covil, mas alguém lá
saberia onde ele estava. Parei na passarela, só agora percebendo que os
portões de ferro estavam abertos e ninguém tinha vindo para a porta ...
e as cortinas foram fechadas. As cortinas fechadas à noite pareciam
invertidas. Algo não estava certo. A ansiedade correu pela minha
espinha em pequenos pés de aranha. Parando, eu fiquei na sombra
profunda, sentindo os cheiros, deixando meus olhos se ajustarem. A
cerca de ferro forjado brilhava à luz da rua como sangue úmido. O
padrão da flor de lis era como o padrão da grade de Katie na casa de
brinde e estranhamente como a marca no braço de Katie. Eu me
perguntei quando algum mestre distante do Clã Arceneau havia se
tornado um skinwalker. E logo depois disso ele encontrou sua morte,
para ser substituído pelo caminhante. E se alguém em seu clã soubesse
que Grégoire tinha se rebelado. Perguntas inúteis.

Eu levantei meu rosto para a noite, puxando o ar pela minha língua


e pelo meu nariz, cheirando, sentindo o gosto dos feromônios e produtos
químicos sutis que permeiam a noite. O mesmo de antes. Fertilizantes
químicos, vestígios de urina e fezes de cachorro yappy e gato doméstico,
herbicida, esterco de vaca seco, escapamento, pneus de borracha, chuva,
óleo nas ruas. E fraco, muito fraco, o cheiro do comedor de fígado
quando ele não estava todo podre e fedorento. Bem. Que tal isso.

Liguei para Leo. Quando ele atendeu, eu disse: — Estou no Clã


Arceneau. Desligue os alarmes da casa.

— O quê? —Ele disse, sua voz altiva e ofendida, o barulho do


tráfego ao fundo.

— Faça. Agora. Você tem um minuto. —Fechei o telefone,


desliguei-o e coloquei-o no bolso, esperando que ele ou Pugilista
fizessem o que eu precisava. Achando minha técnica de cronometragem
divertida, contei: — Um Mississippi. Dois Mississippi ...

Sessenta segundos depois, subi a calçada da frente, desamarrando a


Benelli, não que eu pretendesse atirar a menos que fosse necessário.
Danos colaterais, possivelmente matando um gêmeo ou outro servo de
sangue humano, significaria uma sentença de prisão, a menos que eu
pudesse provar autodefesa. Meu contrato apenas me cobria por
acidentalmente ou propositalmente matar vampiros ajudando o
desonesto. Eu verifiquei os assassinos de vampiros em suas bainhas,
estabelecendo as estacas enquanto eu caminhava. Puxei uma cruz, uma
de prata incrustada e madeira. Na ampla varanda da frente, toquei a
campainha. Nada como uma abordagem frontal.

Ouvi passos lá dentro, juntos, instáveis, como um servo humano


idoso. Onde diabos estavam os gêmeos? Lembrei-me da visão do crânio
no covil subterrâneo. O comedor de fígado havia comido pelo menos
um servo de sangue. Por que não outros? Eu me senti doente. Eu gostei
dos gêmeos.

Quando os passos lá dentro pararam, eu recuei e chutei a porta, logo


acima da fechadura. O ferrolho aguentou, mas a madeira seca em volta
fez um som áspero e estilhaçado. O servo gritou. Um alarme disparou.
E foi silenciado. O ar frio correu para mim como uma bênção, esfriando
meu rosto. Mas o servo ainda estava gritando.

Eu me virei para o humano que chorava e se encolhia. Ela parecia


ter duzentos anos, seu rosto contraído e enrugado, a pele pendurada
como grinaldas de pano velho em seu queixo. — Eu não estou aqui por
você, —eu disse. Seus gritos não diminuíram. Ela levantou a mão. Ele
segurava uma derringer.

Eu derrubei a pequena arma com um rápido tapa da cruz, metal


com metal clicando com força. Antes de cair no chão, agarrei seu ombro
e sacudi-a, segurando a cruz na frente de seus olhos, arrastando-a para
o mural. Isso não estava indo como eu esperava. Eu gritei, — Cale-se.
Levante.

Ela o fez, seus olhos na cruz. Apontei para um homem no mural.


— Quem? —Quando ela pareceu confusa, eu disse novamente,
apontando para o homem loiro que parecia ter quinze anos quando foi
transformado. Querendo ter certeza, para confirmar minha
identificação. — Quem é ele?

— Grégoire. Mestre de sangue do clã Arceneau. —Sua voz vacilou.

— Onde é o covil dele? —Eu rosnei, Besta sangrando em meus


olhos.
— Não. —Seus ombros voltaram, seu queixo se ergueu. — Nunca.
—Ocorreu-me que ela via muito pior do que um leão da montanha nos
olhos de seus chefes.

Antes que eu pudesse responder, ouvi da escada, — Correen? —A


voz era áspera, assexuada. Besta queimou através de mim, em meus
membros. Corri pelo corredor e subi as escadas em direção ao som,
tocando os feitiços para me certificar de que ainda estavam no lugar.
Cheguei ao segundo andar.

— Correen? —A voz parecia fraca. Assustada. Dominique, a loira


que me mandou visitá-la, saiu cambaleando de um quarto com uma
camisola branca esvoaçando aos pés. Braceletes de metal tilintaram
enquanto ela se movia. A cruz em minha mão brilhou com uma luz
maligna. Dominique se encolheu, sibilou, suas presas caindo para
frente. Corri em sua direção. Ela deu um puxão para trás, seus pés
caindo mal. Caindo, ela bateu no chão, seu pulso segurando seu peso
com um estalo alto. Seu rosto se contorceu em uma careta e ela desviou
os olhos da cruz, erguendo uma mão protetora. — Não, — ela disse. —
Guarde isso. Por favor.

— Ainda não. Onde ele está? Onde está o desonesto?

Ela segurou o pulso quebrado, a mão esticada em um ângulo


estranho. — Não. Eu não posso.
— Você não tem muita escolha, —eu disse, inspirando. — Eu posso
sentir o cheiro dele. Ele esteve aqui. O conselho vampiro me deu
autoridade para matá-lo sem represálias por abrigá-lo. —Besta subiu
mais alto, rosnando.

— Protegendo-o? —Ela riu, um som gorgolejante miserável,


histérico e desanimado ao mesmo tempo. Cheio de ... desespero? Os
vamps podem sentir desespero? Dominique virou o rosto para mim. Ela
estava chorando lágrimas de sangue, escorrendo por um rosto tão pálido
que sua pele parecia transparente. — Eu não o tenho acolhido. Nenhum
de nós tem. Nós somos seus prisioneiros, —ela cuspiu. — Você deveria
ter vindo quando eu pedi.

Ela ergueu um pé, exibindo uma algema em volta do tornozelo. A


carne embaixo dela estava vermelha e inchada, com bolhas de pústulas,
pele rasgada escorrendo sangue aguado que fazia pequenos sons de
sssssing enquanto cauterizava contra o metal prateado. O tilintar que
pensei serem pulseiras era uma tornozeleira de prata, prendendo
Dominique.

Ajoelhei-me e a examinei. Ela estava pálida e sem sangue. Sua pele


era ligeiramente amarela, como um pergaminho quebradiço, e seus
olhos estavam vazados com manchas roxas. Seu pescoço mostrava
repetidas mordidas de vampiro, a pele rasgada e marcada com tecido
cicatricial. Ela havia sangrado, muitas vezes e sem recurso a sangue
suficiente para restaurá-la. Pior ... Eu não sabia que vampiros podiam
quebrar ossos. — A prata, —eu adivinhei. — Está envenenando você.

— Sim. Eu. Três outros do meu clã são mantidos prisioneiros aqui.

Eu girei sobre um joelho e olhei de volta para o corredor. Em cada


porta havia um vampiro vestindo roupas de dormir, parecendo abatido.
Inseri a cruz de prata dentro da minha jaqueta de couro. Dominique
suspirou de alívio e baixou a cabeça no tapete floral. — Seus servos
humanos não estão alimentando você? —Eu perguntei. — Onde estão
os gêmeos? Por que eles simplesmente não deixam você ir?

— Nossos jovens servos de sangue foram sangrados e levados


embora. Não sei se algum sobreviveu. Os que ficaram são velhos, seus
pais, ou mesmo bisavós, sem poder lutar, sem poder nos ajudar por
medo de que seus entes queridos ainda vivam e sejam mortos. E não
podemos nos alimentar enquanto expostos à prata. O veneno contamina
a alimentação. —Ela inclinou a cabeça para ver o homem do outro lado
do corredor. — Ele está tomando muito. Não existe ... —Ela se virou
para mim, sua cabeça movendo-se lentamente na haste de seu pescoço.
Um vazio se espalhou por suas feições, e reconheci um desânimo tão
pesado que parecia a morte. Uma desolação profunda e assustadora. —
Não há sangue suficiente no mundo para ele. Nem mesmo sangue de
Mithran. E se ele tirar mais de nós, tememos que nos tornemos
desonestos, que as velhas histórias sejam confirmadas em nossa carne.
—Seus olhos se fecharam e ela sussurrou, — Cada um de nós já leva
muito tempo para encontrar sua própria sanidade ao pôr-do-sol.

Peguei sua algema. — Eu posso cuidar de ... —Seus olhos foram do


meu rosto para o meu pescoço, minha pele ficou escorregadia de suor.
Os amuletos mágicos instantaneamente ficaram quentes contra meu
estômago, queimando na presença do perigo apresentado por um
vampiro faminto. Lutei contra o desejo de me afastar com medo. — Se
eu te libertar, você pode se controlar o suficiente para não me drenar até
secar?

O homem do outro lado do corredor riu. — Se você a libertar, ela


vai rasgar sua garganta com alegria. Todos nós gostaríamos. —Ele
cheirou o ar, erguendo a cabeça, lambendo os lábios. — Eu me lembro
do seu cheiro da festa de Pellissier. Não é bem humano. Saboroso.

— Tanto para ser gentil, —eu disse. Eu me levantei e me afastei de


Dominique. — Você apenas terá que esperar até que eu mate seu mestre
de sangue.

— Não! —Dominique disse. — Por que você mataria Grégoire?


O vampiro do outro lado do corredor riu, com escárnio no tom. —
Você é uma tola, sua pequena 'não-completamente-humana'. Grégoire
não é o desonesto. Não! Ele é prisioneiro e tem estado assim por dois
meses ou mais. Ele está acorrentado, como nós, com prata. Ele ainda
vive, embora esteja ficando fraco. Eu sinto seu batimento cardíaco, lento
e fraco.

— Você deveria ter vindo quando eu pedi, —disse Dominique. —


Você deveria ter vindo.

A compreensão deslizou para o lugar com um clique quase audível.


O malandro estava sangrando Grégoire, e foi por isso que Dominique
me mandou visitá-lo, na festa de Leo. E se ela não se sentiu segura me
contando na festa, então o desonesto estava lá, por perto, ouvindo. Eu
poderia ser mais estúpida? Tirei a cruz da minha camisa. — Onde o
desonesto está mantendo seu mestre de sangue? E por que ele está
mantendo você algemada—além de uma refeição de sangue? E o mais
importante, quem é o desonesto?

O homem do outro lado do corredor riu. Dominique chorou. Os


vampiros nas outras duas portas sacudiram suas correntes. E Correen
subiu as escadas, uma faca de açougueiro na mão.

— Embora isso certamente signifique a morte de minha família


humana, liguei para o clã Pellissier, —ela disse a Dominique, enquanto
as lágrimas escorriam por seu rosto enrugado. — O servo de sangue do
mestre de sangue de Nova Orleans está a caminho. —Lá fora, as luzes
se acenderam na frente da casa. Um motor morreu. Portas fechadas.
Eles deviam estar por perto. Eu vi meu pagamento por trazer a cabeça
do desonesto voando para longe. Correen gritou e correu em minha
direção.

Joguei Dominique no chão de seu quarto, entrei atrás dela fechei a


porta. No corredor, Correen bateu a lâmina na porta, gritando: —
Dominique! Dominique!

Eu me ajoelhei, tão perto que fui banhada pelo hálito doentio da


vampira. Eu empurrei a cruz em seu rosto, resplandecendo uma luz fria
e brilhante. — Onde o desonesto está mantendo seu mestre de sangue?
Por que ele está mantendo você algemada? E o mais importante, quem é
o desonesto?

Quando ela respondeu, todo o fôlego saiu do meu corpo.

No momento em que os passos chegaram ao topo da escada, eu


estava em uma janela aberta com vista para o jardim dos fundos.
Juntando a Besta para mim como uma capa, pulei, bati no chão, rolei
agachada e saí correndo pelo gramado. Em um único salto, subi a cerca
de quatro metros de altura e corri para minha motocicleta, ainda
escondida nas sombras, a três quarteirões de distância.
sobre o

guidão. Besta se agachou comigo, de frente para o vento, minha/nossa


boca aberta para cheiros. Eu estava saindo da cidade, ao longo do rio
Mississippi. E eu estava prestes a causar um grande dano a todo o
conselho vampiro em geral, e ao Clã Pellissier em particular. Quando
eu terminasse, imaginei que alguém iria me matar.

O relâmpago estalou no alto, jogando o mundo em bordas


irregulares de luz. A chuva cortou, me batendo enquanto eu cavalgava
pela tempestade. Eu estava encharcada quando encontrei a velha casa e
virei no caminho entre as fileiras de carvalhos, na esteira de dois carros,
movendo-me lentamente no meio da chuva. Passei por ambos, as
pessoas lá dentro obscurecidas pela noite. Seguranças? Não era como se
importasse. Eles nunca teriam tempo para reagir.

O relâmpago estilhaçou no alto. Senti o cheiro humano do


desonesto, fresco no vento. Acelerei o motor e me inclinei sobre a moto.
Peguei o caminho até a varanda com um ranger de rodas na madeira e
bati na porta da frente, ainda me movendo rápido. A porta se abriu e
chutou contra a parede, o impacto atingiu meus ossos. Eu dirigi a moto
até o foyer, girei no escudo da família e desliguei o motor.

Um alarme disparou, o tom único começando baixo e subindo,


chegando pronto para lamentar. Eu estava me movendo tão rápido que
o motor ainda estava girando com potência e o alarme era apenas uma
esperança de urgência. Eu chutei o suporte no lugar enquanto jogava o
capacete, verifiquei o M4 para estar pronta para atirar. Puxei a alça sobre
minha cabeça para que eu não a deixasse cair. Descansei a arma no meu
peito. Eu não usaria a arma a menos que fosse necessário. Eu podia
sentir o cheiro de humanos na casa. Eu vi uma na cozinha, sua boca
aberta.

Com uma mão, alcancei minha jaqueta e puxei minha camiseta


para fora do jeans. Um dos pequenos amuletos de Molly pousou na
minha luva úmida, o formigamento de seu poder parecendo quente
mesmo através das luvas. Eu os tinha usado perto do meu corpo,
reativando a porção de proteção do feitiço que eles carregavam. Agora,
como a Benelli, eles estavam trancados e carregados. A moto ficou em
silêncio. Abri a jaqueta e girei minha cabeça no pescoço para soltar os
músculos tensos do passeio.
Corri escada acima à direita, meus pés calçados com botas quase
silenciosas no carpete profundo, meu movimento jogando a água da
chuva em espirais. O cheiro de vampiro do desonesto era forte. O alarme
soou.

Immanuel, filho de Leo, correu por um corredor no topo da escada,


envolto em uma luz prateada, já mudando. Tive um único instante para
ver a calça social, os pés descalços, a camisa aberta, revelando seu peito
nu. Eu alcancei o patamar. Puxei uma estaca. O alarme atingiu seu
auge, gemendo.

Uma pata deslizou para fora, garras arranhando o ar—tão rápido.


Eu me esquivei, desviei. Escolhi meu lugar em seu peito. Deslizei sob
sua guarda. Esfaqueei-o com a estaca. Forte, sob suas costelas.

Ele cambaleou para trás. Puxei a cruz e avancei. Havia apenas um


brilho pálido. Immanuel caiu contra uma plataforma alta. Uma estátua
cambaleou e começou a cair. Uma estátua de mármore. Em uma base
de pedra. Ele rugiu. Pedra rachada. A estátua explodiu antes de atingir
o chão. Pó de mármore e fragmentos de rocha dispararam sobre mim,
estilhaços, cortando fundo. Immanuel estava atraindo massa. Eu acertei
em seu coração. Ele deveria estar morto, se ele fosse um skinwalker
transformado por um vampiro ...
Não é um vampiro, Besta disse. Skinwalker. Comedor de fígado.
Ocupou o lugar de Immanuel.

Em um instante entendi o que deveria ter compreendido antes.


Muito antes. Os métodos usuais de matar vampiros não funcionariam
porque essa coisa não era um vampiro e nunca tinha sido. Um vampiro
não transformou um skinwalker e o trouxe para uma família de sangue.
Se Immanuel fosse isso, Leo teria reconhecido meu cheiro de sangue.
Em vez disso, um skinwalker comeu o fígado de um vampiro e tomou
seu lugar, absorvendo seu cheiro nativo, ele havia comido Emanuel,
filho de Leo, e tomado seu lugar. O fedor de podridão encheu o
corredor.

Pó de estátua choveu. O pedestal de mármore explodiu. O


ladino/skinwalker estava atraindo mais massa. Voltei atrás por uma
tempestade de projéteis de pedra. Immanuel atacou. Uma pata enorme.
Garras totalmente estendidas. Elas rasgaram minha jaqueta de couro.
Carne cortada profundamente. Eu segurei um grito.

— Pare! —A palavra ecoou com poder. Poder mágico. As paredes


ondularam com o propósito e a intenção de uma única sílaba. O poder
me bombardeou, picadas quentes de dor, roubando meu fôlego. Sem
equilíbrio, caí no chão e saltei, os músculos congelados, parei.
Immanuel, de joelhos, no ápice de seu golpe, parou. Percebi que
não tinha sido o comando de Immanuel. O alarme morreu. Luzes
piscaram. Um humano que eu não tinha visto estava parado no final do
corredor, imóvel, em pânico. Passos subiram as escadas, suaves no
tapete. Lembrei-me dos carros pelos quais passei, das pessoas dentro.
Merda. A cavalaria quase estava aqui quando cheguei—bruxas. — Pare,
—a voz disse novamente, mais suave, mais perto, fortalecendo o feitiço.
Besta se enfureceu em mim. Eu a segurei, resisti à sua necessidade de se
mover. Lutar.

Minhas mãos chiaram de calor e agonia elétrica. Eu já havia sido


atingido por um feitiço antes e entendi que resistir era torná-lo mais
forte. Eu parei de lutar contra a compulsão e soltei minhas garras.
Minhas mãos se abriram. Meu corpo relaxou. A Benelli bateu
suavemente no tapete, o encanto ficou exposto na minha palma.

— Pare! —O poder fluiu da palavra como luz prateada.

O desonesto/skinwalker começou a afundar lentamente no chão,


lutando contra a compulsão, seu corpo se movendo uma fração de
centímetro de cada vez enquanto suas próprias energias cinéticas eram
usadas para prendê-lo. Eu olhei em volta, capaz de mover apenas meus
olhos. Eu não conseguia nem respirar além de uma ingestão superficial
de ar, nem perto do que eu precisava na sequência interrompida da luta.
Mas pelo menos o desonesto estava preso da mesma forma. Nenhum de
nós poderia se mover por escolha consciente. Os passos ficaram mais
próximos. Eu ouvi outros atrás deles. Uma, talvez mais duas bruxas.

— Pare, —vários disseram juntos.

O comando era muito mais do que um conjunto de letras


organizadas em sílabas. Era um feitiço intrincado, uma palavra falada
geral, para todos os fins—um wyrd—envolto em um feitiço, com a
intenção de interromper toda a energia cinética, exceto a do falante,
dentro de um raio predeterminado. E assim foi. Deitei no chão, tentando
relaxar, tentando não lutar para respirar o ar que precisava tão
desesperadamente. Tudo ao meu redor assumiu uma tonalidade
cintilante, brilhante e nítida, amplificada pelo poder do feitiço. Era mais
brilhante ao redor do desonesto, onde as energias prateadas começaram
a se apertar e se contrair enquanto ele lutava contra as forças que caíam
sobre ele.

A bruxa apareceu. Antoine. Atrás dele estava a mulher que eu tinha


visto no Royal Mojo Blues Club na reunião secreta. Eles subiram os
últimos três degraus, movendo-se facilmente, devagar como um
humano. A mulher parou no patamar, sua saia longa balançando.
Antoine estava diante dela, os cabelos amarrados para trás, a
curiosidade no rosto. Ele estava usando tênis, uma camisa de botão
aberta no colarinho e jeans surrados. Cerca de meia dúzia de lâminas
afiadas estavam presas ao cinto, lâminas com cabos de aço e pedra
verde. Suas facas de cozinha. Eu queria rir, mas não tinha fôlego. Minha
visão estava escurecendo nas bordas, um sinal de privação de oxigênio.
Eu precisava respirar. Em breve. Um olhar para o comedor de fígado
mostrou seu rosto pálido. Seus olhos estão lívidos.

Antoine puxou uma faca enquanto avançava sobre o desonesto, que


ainda exibia o belo rosto do filho de Leo. Mas, como as paredes que
haviam ondulado no wyrd de Antoine, e o ar que mantinha muito poder
sob controle, sua carne ondulou ligeiramente. O ladino estava cansando,
sua exaustão drenando seu controle, ele estava perdendo o foco. O fedor
de podridão se intensificou. Os ossos de seu crânio assumiram uma
estranha fusão de características, parte humano, parte leão, enquanto
sua pele escorregava de um tom a outro, uma colcha de retalhos de pele
acobreada, verde-oliva, pálida e fulva, com pele doentia e amarelada e
pústulas. Seu cabelo deslizou de loiro para castanho acinzentado e preto
com retalhos de pele. Sua carne—a cobra em seus ossos—queria
retornar à sua forma Cherokee, buscando o padrão original, enquanto
sua intenção e medo empurravam seu corpo para outras formas.

Sua pele escureceu, clareou, seu cabelo fluía preto e comprido. Seus
olhos passaram de um tom tão escuro que parecia preto para um tom
mais suave, amarelado, como o meu. De cima de mim, ajoelhado, ele
voltou aqueles olhos, aqueles olhos tão familiares, para mim. O
reconhecimento novamente brilhou ali. Ele viu Besta dentro de mim,
perto da superfície, mal arreada. Ele sibilou em uma respiração tão
rouca que parecia que ele inspirou através de cola.

Antoine movia-se através das energias cinéticas trêmulas no ar. Ele


se ajoelhou ao lado de Immanuel, um joelho no tapete, perto do meu
rosto. Eu podia ver a costura desgastada no jeans e os dois homens logo
atrás.

Em um instante eu coloquei tudo junto. O desonesto estava


tentando assumir a posição de poder de Leo, usando a forma e o
dinheiro de Grégoire para comprar terras para seu novo clã. Em uma
posição perfeita para realizar seu plano, ele era o único criando
instabilidade na política vampírica. Como eu disse antes, eu poderia ser mais
estúpida?

— Achamos que poderia ser você, —disse Antoine. Os olhos de


Immanuel voaram para ele. — Mas quando o Clã Arceneau estava
comprando todas as terras, pensamos que era a mulher Mithran, a
pequena Dominique, que buscava o controle de seu clã ou buscava
começar um novo clã-família e expandir o terreno de caça.
Antoine se mexeu, bloqueando minha visão, de costas para mim,
seu corpo de pé dentro das garras estendidas do desonesto. — Ou, nós
pensamos que talvez fosse o Mestre de Sangue Arceneau, hein? Você nos
levou a pensar isso, certo? A “viagem pela Europa” foi um ardil? Você o
tem, Arceneau, encarcerado em prata, escondeu-o em algum lugar? —
Ele riu de tudo o que viu na expressão de Immanuel. — E então Anna
se juntou a nós. Contou-nos algo sobre você se tornar estranho ...

O desonesto, o comedor de fígado, contraiu uma garra. Apenas uma


fração. Com o movimento, o amuleto deitado na minha palma ficou
quente, queimando. Oh droga. Os encantos. Eles estavam reagindo ao meu
medo e ao feitiço de Antoine. Eles tinham a intenção de me proteger.
Claramente, pelo menos um deles havia identificado uma ameaça para
mim e estava tentando reagir. A queimação aumentou, aumentando,
intensificando-se no centro da minha mão. Eu queria gritar. Enquanto
minha pele empolava, soltei um suspiro, suave, quase silencioso.

Nenhum dos dois olhou na minha direção. Antoine estendeu a mão


e tocou a pata do ladino, um dedo na ponta de uma garra. — Eu não sei
o que você é, mon, mas você não é o Immanuel. Não Immanuel, muito
tempo passou. Décadas, talvez. Você rouba a forma de Immanuel, sim?
E esta forma de dente-de-sabre. Como faz isso? Você mata uma bruxa e
assume o poder dela? Sim? Não? Não importa. Seu tempo aqui
terminou. Não vou perder meu coração, com este dis petite chat .

Com um rápido movimento de seu pulso, ele puxou a estaca do


peito de Immanuel. O sangue voou. Respingando em mim. Uma gota
caiu no amuleto. A gota carmesim borbulhou e cuspiu, liberando o fedor
quente de carne podre. Ele se misturou com o fedor da minha carne
queimada enquanto o encanto se eriçava com poder. Eu engasguei com
a dor. Lágrimas turvaram meus olhos. Eu não deveria segurá-lo depois
de ativado. Eu deveria jogá-lo no perigo. Era para detonar, mas apenas
na causa do perigo, não em mim. Segurar o feitiço estava tendo um
efeito inesperado no encantamento embutido nele. Minha mão está
queimando.

Antoine sacudiu sua faca e a abaixou até o pescoço de Immanuel.


A lâmina pressionou. Mais sangue jorrou. Eu consegui um grito
estrangulado quando o feitiço foi totalmente ativado. Fazendo um
buraco na palma da minha mão. Meus dedos se fecharam em espasmos.
Aumentando a dor dez vezes.

O feitiço explodiu. Levando consigo o feitiço cinético de Antoine.


Tudo aconteceu rápido, em imagens sobrepostas. A concussão de

Quer dizer pequeno bate-papo, em francês


energias foi uma onda de agonia enquanto eu prendia a respiração,
enchendo meus pulmões famintos de ar.

Os braços estendidos do comedor de fígado rasgaram para dentro,


fechando-se no corpo de Antoine. O comedor de fígado cortou a camisa
fina de Antoine. Rasgando profundamente as costas da bruxa na cintura
e no pescoço. Um abraço mortal. Com um puxão violento, a coluna de
Antoine cedeu com dois sons distintos de estouro. Grunhi um aviso
sufocado. Muito tarde. O comedor de fígado caiu sobre quatro patas.
Cintilante. Mudando. Presas, pele e musculatura maciça rasgaram suas
roupas.

A bruxa, meio esquecida, gritou e correu para frente. O comedor de


fígado a golpeou com uma pata enorme. Arrancou metade de seu rosto,
jogando-a fora, fora de vista.

Segurei e levantei o Benelli com minha mão ilesa. Puxei um braço


por baixo de mim e ergui meu corpo. Juntei minhas pernas embaixo de
mim.

Ele rugiu. Saltou para mim. O meio homem, meio dente-de-sabre


pousou sobre mim, o peso um choque que senti no chão. Se move e luta
como um humano, Besta pensou para mim. Não como Besta.
Não tive tempo de reagir. Exceto. Meu dedo apertou o gatilho. Os
tiros dispararam.

O tiro de prata atingiu o peito, pescoço e rosto da fera. As fléchettes


o rasgaram com eficiência brutal. Sangue e coagulo espirrou para trás
em mim. O comedor de fígado deu um salto para o lado. Parei de atirar,
observando enquanto ele caía, lentamente. Ele atingiu o tapete, seu
corpo envolto em energias prateadas, partículas negras de poder negro
dançando, chamas vermelhas de calor girando e soprando.

Tardiamente, joguei o outro feitiço nele. Isso o atingiu no centro do


peito. A explosão me balançou, me rolando, me empurrando contra a
parede. O fogo saiu do peito da besta. Fogo mágico. Ele rugiu.

Estátuas ao longo do corredor explodiram. Ele mudou totalmente


para o gato dente-de-sabre. Pêlo fulvo listrado, com pernas curtas e
poderosas, cauda atarracada e caninos superiores de quinze centímetros.
Seus caninos inferiores eram mais curtos, apenas alguns centímetros, se
a palavra “apenas” se aplicasse a um dente-de-sabre. Olhos redondos de
aparência humana olharam para mim, brilhando com vingança. Ele
suportou uns bons quinhentos quilos de fúria de gato e ... ele estava
extraindo poder do meu amuleto, puxando-o para dentro dele. Usando
isso. O fogo do feitiço se apagou. O encanto caiu no tapete, fumegando,
suas energias se esgotando. O dente-de-sabre atacou.
Luta como humano! Besta é melhor! Besta rugiu em minha
cabeça, em meus olhos. Mas não havia tempo para mudar. Não havia
tempo para atrair massa para que possamos lutar em termos iguais. O
dente-de-sabre saltou. Eu rolei contra a parede. Agarrou dois assassinos
de vampiros. O dente-de-sabre pousou, sacudindo a casa. Besta me
rolou de costas. Expondo minha barriga.

A dente-de-sabre mordeu a isca. Com as garras estendidas, ele subiu


e desceu. Aterrou no meu peito. Tirando o fôlego de mim com uma onda
de ar e dor. Um estalo agudo de costelas quebradas. Me apunhalando.
O enorme gato se levantou novamente. Desistiu. Bateu em mim.
Montou meu corpo e baixou a cabeça. Para arrancar minha garganta.

Agora! Besta gritou. Eu empurrei com as facas, profundamente em


seu peito. As lâminas deslizaram ao longo de suas costelas, uma delas
agarrando e rangendo até parar. Mas a outra escorregou
profundamente, sob as costelas, cortando cartilagem, cortando pulmões.
Encontrando o coração. Eu senti quando a lâmina deslizou para dentro
da cavidade do coração, um leve ceder na resistência.

O leão rugiu. Eu rolei enquanto ele mordia. Ele segurou meu


ombro. Seus dentes perfuraram, cortando couro em carne. Com minha
mão boa, empurrei o cabo da faca com todas as minhas forças. Girando
o punho contra e em seu corpo. Ele balançou sua cabeça. Rasgando e
rasgando. Meu corpo inteiro estremeceu e estalou. Achei que meu
ombro fosse se soltar.

Ele diminuiu a velocidade. Estremeceu. Ofegou, suas narinas


vibrando. Seus olhos encontraram os meus, choque e compreensão nas
profundezas. Suas patas levantaram, garras perfurando minha jaqueta,
em minha pele. A luz prateada brilhou sobre ele, as energias zumbindo
como ondas sonoras, como a pressão da água em movimento rápido,
sobre mim. As partículas negras de poder chocaram onde me tocaram.

Ele estava tentando lançar massa. Ele estava tentando mudar. Ele
estava tentando roubar minha forma. Mais uma vez, a Besta o fez ...
alguma coisa. Bem no fundo da minha mente, eu a senti—a vi—uma
imagem da Besta se retorcendo no ar, a cauda girando, as garras
estendidas como se para agarrar uma presa.

O líquido jorrou da boca de Immanuel, do nariz, dos buracos no


peito, espesso e viscoso. Cheirando a carne podre, a morte velha,
rançoso e fétido como uma cova aberta.

Ele recuou, me deixando cair. Eu caí com força, batendo com a


cabeça, sem saber que ele havia me erguido tão alto. Eu consegui
respirar. Puxei a última das lâminas do assassino de vampiros. E o
último dos encantos de Molly.
Fiquei de joelhos na confusão pegajosa que se acumulava sob o
dente-de-sabre. Ficou um pé abaixo de mim. E empurrei com força,
mudando meu peso, a força de todo o meu corpo, para o movimento.
Virei a ponta da lâmina enquanto me movia. E perfurei através de seu
olho, em seu cérebro.

Ele não fez nenhum som, apenas caiu de barriga, as pernas franzidas
sob ele. Mas uma perna de trás se abriu, deslizando. Ele estava perdendo
o controle.

Com minha mão queimada, lancei o encanto de Molly para ele.


Atingiu seu peito danificado. Eu não desperdicei nenhuma das energias
do feitiço desta vez queimando minha própria carne. Nenhum de seu
poder se dissipou no ar em reação a um feitiço falado de wyrd. E a
criatura estava muito ferida para tomar o poder para si. Estava tudo lá,
pronto e contido.

Ele explodiu para dentro, no leão. Ele desmontou todos os órgãos,


a concussão em forma fragmentada e estourou todos os vasos
sanguíneos, rasgando sua cavidade torácica. Uma granada de mão
mágica. Carne e osso explodiram. O fluido fluiu para fora dele, sujo e
sufocante. Seu osso e músculo restantes mudaram, transformando-se em
uma configuração diferente. Sua pele se partiu e se reformou, a pele
tremulando para longe.
Eu corri para trás, segurando meu braço ferido, incapaz de tirar
meus olhos dele. As energias prateadas escureceram, forçando uma
mudança nele, obrigando a mudança. Eles pareciam estremecer, as
partículas negras desapareceram por um instante. O desonesto caiu no
tapete, sua cabeça na bagunça que veio de dentro dele. A luz prateada o
banhou em uma névoa suave.

E então, até mesmo isso foi embora.

No tapete estava um homem seminu. Ou na maior parte um


homem. Seu couro cabeludo ainda era parcialmente de gato, suas mãos
ainda eram patas. Mas seu torso e membros pareciam principalmente
humanos, embora as articulações estivessem estranhamente curvadas,
seus joelhos dobrados de maneira errada para um primata. Ele era um
homem enorme. Maior do que tinha sido como humano, ainda
carregando a massa da mudança inacabada. Cento e trinta e cinco quilos
de puro músculo. Um lado de seu rosto era Cherokee. A outra metade
era Immanuel. Ambas as metades tinham longos dentes mortais na
mandíbula superior e inferior.

Eu toquei nele com meu pé. Ele não estava respirando. Sem
pulsação em sua garganta. Não havia mais coração para bater no peito
arruinado. O comedor de fígado estava morto.
Eu havia exterminado um skinwalker. Talvez o último além de
mim.

Eu sabia que deveria sentir tristeza. Choque. Tristeza. Mas, por


enquanto, tudo o que senti foi o triunfo da Besta. Gato grande morto,
eu/nós, juntos! Besta é a vencedora! Ela gritou em minha mente.

De pé sobre o desonesto, nas ruínas do corredor superior da casa de


Leo Pellissier, olhei para o rosto, notando que o cabelo em seu couro
cabeludo tinha mudado para longos cabelos negros tão parecidos com
os meus. Notando a pele morena, um marrom ligeiramente mais
profundo do que meu próprio tom dourado.

Besta disse: Fuja. Agora. Detalhes dos próximos minutos, das


próximas horas, passaram pela minha mente. Primeiro, parar meu
sangramento. Eu precisava aplicar pressão no meu ombro. Atrapalhada,
abri um bolso dentro da minha jaqueta e tirei meu torniquete. Demorei
um pouco para lembrar como usá-lo. Evidência de choque. Com os
dentes e minha mão boa, abri o laço e apliquei acima da articulação do
ombro, puxando com força, prendendo o velcro. A alça prendeu na
cabeça do meu úmero , exposta através da carne. Quase engasguei de
dor.

Besta olhou para o sangue escorrendo pela minha mão, dos meus
dedos e caindo no chão. Mudança.

— Eu não posso, —eu murmurei. — Agora não. —Ela rosnou para


mim. Mas o torniquete estava funcionando, o sangue escorrendo de
meus dedos diminuiu. Eu olhei para Antoine. Morto. E eu o matei. Eu
estava entorpecida demais para sentir tristeza ou vergonha ou qualquer
coisa além do êxtase momentâneo por sobreviver, uma alegria já
borrada com dor e choque. Eu sabia que meu amuleto o tinha matado
tanto quanto o comedor de fígado, mas eu teria que lidar com isso mais
tarde.

Encontrei a mulher, também morta, o pescoço em um ângulo


impossível. Ela era a mulher que eu tinha visto, sem dúvida, aquela de
saia longa, entrando na reunião com Anna e Rick. Eles realmente
estavam rastreando o desonesto. E pelo que entendi, usando Anna para
fazer isso.

O úmero ( / h j u m ər ə s / , plural: úmeros ) é um osso longo do braço que se estende desde o ombro para o cotovelo . Ele conecta a
escápula e os dois ossos do antebraço, o rádio e a ulna, e consiste em três seções. A extremidade superior do úmero consiste em uma cabeça arredondada,
um pescoço estreito e dois processos curtos (tubérculos, às vezes chamados de tuberosidades). O corpoé cilíndrico em sua porção superior e mais
prismático embaixo. A extremidade inferior consiste em 2 epicôndilos, 2 processos ( tróclea e capítulo ) e 3 fossas ( fossa radial , fossa coronoide e fossa
do olécrano ). Além de seu verdadeiro colo anatômico, a constrição abaixo dos tubérculos maior e menor do úmero é denominada colo cirúrgico devido à
tendência à fratura, tornando-se, muitas vezes, o foco dos cirurgiões.
Eu tinha que sair daqui. Mas, primeiro, eu precisava ter certeza de
que receberia o pagamento. Eu precisava de uma prova de morte para
cumprir meu contrato. Peguei minha câmera e tirei uma dúzia de fotos,
depois repeti o processo com o celular, embora essas fotos fossem menos
claras. Mandei as fotos por e-mail para mim mesma, coloquei o celular
e a câmera no bolso. Tirei minhas facas da carne do comedor de fígado
e as limpei no meu jeans. Passei mancando por Antoine, desci as escadas
até minha motocicleta, na esperança de sair daqui antes que Leo
chegasse e descobrisse que eu acabara de matar seu filho—ou o que
passou por seu filho. Eu não tinha energia ou coragem suficiente para
lutar contra o mestre do sangue de Nova Orleans.

Consegui fazer Bitsa descer os degraus do caminho de volta.


Conseguiu dar a partida no motor, principalmente com uma mão. Havia
apenas um carro na garagem enquanto eu passava. Vazio. Eu me
perguntei quem havia partido. E porque.
de sangrar até a morte, peguei

os bifes e os joguei na grama nos fundos. Despi e cai em uma pilha nas
pedras rachadas no jardim, pedra quebrada apunhalando em mim. Eu
precisava me transformar para curar, mas não havia tempo para fazer
isso direito, usando o amuleto. Em vez disso, peguei a forma enrolada
de Besta em minha memória e empurrei. Uma luz cinza e partículas
pretas fluíram sobre mim. A dor era calor como uma ferroada, como ser
esfolada viva, como ser esfolada enquanto meu coração ainda batia. Eu
mudei, gritando. Eu deitei em pedras quebradas. Ofegante. Levantei e
estiquei, das patas traseiras à espinha, às garras dianteiras e aos dentes
assassinos, em um movimento longo e suave. Saltou para o solo em um
único arco sedoso. Comi muito bife cru e frio. Frio e morto, mas cheio
de vida. Satisfeita, bebi água da fonte de vampiros.

Ela perguntou, Mudança? Por favor? Devidamente servil. Pedindo


para ser alfa. Eu caí de barriga no chão e dei a ela o controle alfa.
Sem sangrar mais, com todos os resultados visíveis do ataque
reparados, comecei a esconder provas de meu envolvimento. Apenas no
caso de eu ser acusada por policiais humanos após a morte de Antoine.
Apenas no caso de haver câmeras de segurança no corredor de Leo que
eu nunca vi.

Lavei o sangue da motocicleta e da grama com a mangueira do


jardim, limpei a lama e o sangue da varanda e do chão da casa. Levei
minhas roupas para o chuveiro. De pé sob o spray, lavei e enxáguei
minhas roupas, deixando a sujeira do comedor de fígado escorrer. A
jaqueta de couro estava arruinada, rasgos no ombro onde o comedor de
fígado mastigou até a pele. A camiseta de seda estava perdida, mas as
botas e os jeans poderiam ser salvos. Se eu conseguisse tirar a lama que
secou até a dureza de cola no caminho para casa. Eu levaria as botas
para um consertador de sapatos pela manhã. Se eu sobrevivesse o resto
da noite. Eu me lavei repetidamente com sabonete e xampu,
enxaguando entre as espumas até que o fedor sumisse. Sequei em uma
toalha fofa e deixei todas as roupas penduradas, escorrendo água. A
maior parte do meu guarda-roupa estava pendurada lá agora. Meu
telefone tocou. Verifiquei o número e atendi enquanto me vestia. — Eu
estou viva.
— Você poderia ter ligado, —disse Molly, ofendida. Mas ouvi
lágrimas de preocupação em sua voz. — Me ligue quando puder. —Ela
desligou.

Eu fiz as malas, sabendo que ainda tinha muito que fazer para
garantir minha segurança. Se eu não conseguisse terminar a tempo,
antes que Leo descobrisse o que tinha acontecido e viesse atrás de mim
em uma fúria de vampiro, então eu tinha que estar pronta para correr.
Comi uma tigela de mingau de aveia, terminando uma grande caixa
com o resto do açúcar e do leite. Os tremores me deixaram então,
embora eu ainda sentisse uma estranha fraqueza lá dentro. Algo que
poderia ser tristeza. Eu empurrei bem fundo. Trancando longe. Se eu
vivesse, levaria um tempo para olhar e lidar com as emoções mais tarde.

Quando eu tinha certeza de que poderia me controlar, liguei para


Pugilista.

— Onde você está, Yellowrock? —Ele perguntou, em vez de um olá.

— Na minha casa. Você está na casa de Leo?

— Sim. No patamar do andar de cima, em uma poça de lama putrefata.


O que Antoine está fazendo morto? E esta mulher? Você os matou? E o que
é essa coisa com eles?
— A coisa matou Antoine e eu matei a coisa. É o que sobrou do
desonesto. E Pug ... George, —eu emendei. Hesitei, suavizando minha
voz. — Olhe para a metade anglo do rosto dele. O desonesto estava
se disfarçando de Immanuel. Tenho certeza disso ... matou o filho de
Leo e tomou seu lugar.

Pugilista respirou pesadamente, começou a falar e parou. Ele


respirou fundo novamente, processando o que eu havia dito. Eu fiquei
quieta, deixando-o pensar sobre isso. Depois do que pareceu uma longa
espera, ele disse: — Onde está o corpo?

Ótimo. Direto ao cerne da questão. — Eu estou supondo que o ...


—Eu não poderia chamá-lo de skinwalker, certo? Não quando ninguém
além da coisa morta e eu parecíamos saber o que éramos. — ... essa
coisa o comeu. Assim como comeu os corpos das outras pessoas que
pegou. Isso não era Immanuel.

— O que era isso? —Sem palavras ou perguntas desperdiçadas.

E agora eu tinha que encontrar uma maneira de contornar a


verdade. — Ele tentou tomar a forma de um gato dente-de-sabre de
algum tipo. Ele tentou assumir a forma de Immanuel. E a forma de
um humano de cabelo preto. Eu o matei antes que pudesse me matar.
Acho que Immanuel está morto há muito tempo. —O que era muita
informação, mas não respondeu sua pergunta. Eu esperava que ele não
percebesse.

— Semanas? Meses? —Ele demandou.

— Anos, —eu disse suavemente, gentilmente. Sabendo que estava


despejando um monte de más notícias sobre ele de uma vez. — Talvez
décadas. Ele estava morrendo, Pugilista. —Tentei encontrar uma
maneira de explicar o que era, sem revelar minha natureza dual. — Eu
não sei como isso veio para tomar o lugar de Immanuel, mas eu acho
que a fusão entre a genética vamp e a sua própria não estava
funcionando, não estava funcionando há muito tempo. É por isso que
precisava de tanto sangue e proteína. Apenas a ingestão maciça de
sangue e tecido o manteve com a aparência e o cheiro de Immanuel.
—É por isso que fedia com tanta frequência, pensei.

— Nas últimas semanas começou a precisar de mais e mais


sangue. Quando o mestre de sangue do Clã Arceneau voltou para os
Estados Unidos, a coisa o fez prisioneiro. Ele o estava deixando quase
seco. Forçando Grégoire a assinar papéis financeiros, usando o
dinheiro do clã para comprar terras ... tudo o que planejou fazer.
Assumir como mestre de sangue da cidade, suponho. —Então ele
poderia usar os vampiros da cidade para se alimentar como quisesse? Talvez ...
Como ele não disse nada à minha observação, continuei. — Ele
aprisionou o resto do Clã Arceneau em prata na casa do clã. —Eu
pausei. — Diga a Leo que ele precisa encontrar Grégoire e mandá-lo
para a terra. E procure os servos de sangue do Clã Arceneau. Eles
precisarão ser resgatados, se ainda estiverem vivos.

— Foi algum tipo de were? —Ele perguntou.

— Acho que não, —eu disse. Não estou mentindo. Nem falando a
verdade.

— Isso manuseia prata?

Lembrei-me do fedor de carne queimada quando o rastreei ao


amanhecer nas terras de Aggie. Ele tinha assumido algumas das
características de vampiro, assim como eu havia assumido algumas das
de Besta. Magia negra. Eu tinha feito magia tão negra e horrível quanto
o comedor de fígado. Eu respirei e continuei. — Pode tocar prata. Ele
poderia beber sangue. Mas, embora tivesse uma reação de vampiro
à luz do sol, não era um vampiro. Estava apenas disfarçado de
vampiro.

— Eu não ... Não posso acreditar nisso, —Pugilista disse.


— Eu acho que se você entrar no quarto dele, você encontrará
alguns ... vamos chamá-los de amuletos. Ossos das pernas, crânios,
coisas grandes assim, assim como dentes e lembranças menores,
como bugigangas de suas mortes, usando os ossos para assumir
diferentes formas. —Eu ouvi passos, chapinhando, como se através do
sangue e gosma no corredor de Leo. O tom do ruído de fundo mudou
quando ele entrou em uma sala menor. Em seguida, o som de coisas
sendo movidas, derrubadas, empurradas. Pugilista estava vasculhando
uma sala, sem se preocupar com asseio ou cuidado.

— Há uma caveira em seu quarto. Na prateleira de cima do armário.

— Humano? —Eu perguntei.

— Sim. E alguns ... parece com ossos do fêmur. E outras coisas. Não
humano.

— O crânio provavelmente é de Immanuel, —eu disse, ainda mais


gentilmente. — Algo para Leo colocar para descansar.

George praguejou, sua voz falhando. Ao fundo, ouvi Leo gritar, sua
voz soando, cheia de comando e poder. — Eu voltarei para você se
sobreviver à noite, —Pugilista disse, ecoando minhas próprias
preocupações.
— Chame o conselho vampiro, —eu disse. — Posso relatar a eles
antes do amanhecer, antes que isso se espalhe como algo que não é.
Eu tenho que chamar a polícia também. Contar a eles o que
aconteceu.

— Sim. Certo. —O telefone clicou e o display exibiu CHAMADA


DESCONECTADA.

A próxima ligação, para Jodi, foi quase a mesma, com algumas


variações, todas do tipo. — Por que você não me ligou? —Quando ela
interrompeu pela terceira vez, com a mesma pergunta, eu disse: — Jodi,
eu não trabalho para você. Eu não ligo para você. Deixe isso para trás.

Ela fez um pequeno som sufocado. — Eu estou indo para a casa dele,
—ela disse duramente quando ela pode falar novamente.

— A casa de Leo? —Eu gritei. — Você está louca? Você já viu um


vampiro enlouquecer de raiva? Uma verdadeira fúria de vampiro
honesto-a-Deus? Pelo que ele pode sentir e dizer, seu filho acabou de
morrer. Ele está sofrendo, do jeito que os vampiros sofrem, do jeito
que os vampiros fazem tudo. Pense nisso. Se ele estiver fora de
controle e você aparecer, ele arrancará sua cabeça e beberá até secar.
George é o único que pode sobreviver à experiência. Você aparece e
o equilíbrio muda. Fique. Longe.

Depois de um momento, ela grunhiu em concordância. — Eu não


gosto de você, Yellowrock.

— É mútuo, —eu disse com um sorriso em minha voz. — Eu posso


ter que falar ao conselho vamp antes do amanhecer. Quer vir junto?

— Sim? —Ela parecia um pouco mais feliz. Eu me perguntei


quantos policiais já viram os membros do conselho vampiro todos em
um só lugar, muito menos já viram um conselho em ação. — Deixe-me
saber os detalhes. Eu estarei lá.

Fechei o celular. Eu tinha um novo melhor amigo policial. Oh, que


bom.

minha moto quando virei para a estrada circular,

movendo-me lentamente através das limusines reunidas, todas pretas e


elegantes, algumas pesadamente sentadas, uma indicação de armadura.
Cada motorista me olhou enquanto eu passava, os olhos me seguindo
da maneira que um segurança profissional faria, um olhar que era
metade avaliação, metade ameaça. Se eu não estivesse tão cansada, teria
reagido, mas simplesmente não tinha energia para me importar. Deixe-
os olhar.

Na porta da frente, parei no meio-fio e desliguei o motor, abaixei o


estribo e tirei o capacete, deixando meu cabelo cair em uma única longa
onda preta. Eu estava vestindo jeans e botas, uma camiseta e o colar de
pepitas de ouro, minhas armas em casa na mesa da cozinha, eu não
estava carregando nada que representasse uma ameaça ao conselho.
Carregar uma arma para as câmeras do conselho era equivalente a levar
uma arma para uma embaixada estrangeira ou um tribunal federal. Uma
boa maneira de ser presa e trancada, se não for morta. É claro que isso
me deixava em perigo se eu precisasse me proteger, mas não havia nada
que eu pudesse fazer a respeito, exceto não mostrar.

Pugilista ligou para mim às duas da manhã com informações,


ordens para eu falar com o conselho, instruções e detalhes. Ele parecia
fraco, mas no controle e vivo, se não exatamente saudável. Ele me
informou que comparecer ao conselho significava roupa formal, mas
meu único vestidinho preto era mais adequado para coquetéis do que
para funções de embaixador e embaixada, e minhas outras roupas
estavam todas molhadas. Botas e jeans foram o melhor que pude fazer
em curto prazo.

Lá dentro, eles me revistaram, muito cuidadosamente, e me


enviaram para uma pequena sala de espera com paredes revestidas de
madeira, dois sofás, uma pequena geladeira abastecida com água
mineral, uma TV no alto da parede e uma mesa. Sem janelas. Um servo
de sangue humano montava guarda na porta.

Jodi, quando ela se juntou a mim na pequena sala de espera, estava


vestida de policial azul. Ela parecia bem arrumada e levantou uma
sobrancelha para o meu traje casual quando me viu. Encolhi os ombros.
Não havia muito que eu pudesse fazer sobre meu guarda-roupa às
quatro da manhã.

— O chefe queria vir em meu lugar, —ela disse como forma de


saudação. Seus olhos brilhavam e havia um ar de excitação reprimida
sobre ela, talvez nervosismo. — Mas George Dumas especificou por
mim quando ligou para o HQ com o convite. Obrigada.

— Seu chefe já esteve antes em um conselho?

— Não. —Ela sorriu ligeiramente. — Acho que ele está chateado


comigo.
— É bom para a carreira de um policial receber um convite?

— Não sei. —Ela alisou a saia com mãos ansiosas. — Esta é a


primeira vez. O chefe apenas recebe um telefonema com instruções.

— Ah. —Eu escondi meu sorriso. Jodi logo estaria subindo no


mundo. — Onde está Herbert?

— Me bata. —Ela olhou para mim com o canto do olho. — Você


gosta de Jim? Quer que eu marque um encontro para você?

Demorou um segundo para perceber que ela estava me zoando. —


Fofa. De jeito nenhum, não, obrigada. —Estiquei-me no sofá, sentindo
as horas, as mudanças constantes e a queimação em cada músculo,
nervo e célula da pele. Eu queria fechar meus olhos ardentes, mas tinha
medo de adormecer, então, em vez disso, passei meia hora conversando
um pouco com Jodi, o que não foi tão doloroso quanto pode parecer.
Ela ficava bem quando ficava nervosa, até me convidou para ir atirar
com ela, o que me fez pensar nos gêmeos, se eles estavam vivos ou
mortos. Se eles tivessem sobrevivido ao comedor de fígado, talvez
gostassem de ... não encontro duplo, exatamente.

O pensamento era de alguma forma perturbador, mas antes que eu


pudesse descobrir o porquê, Pugilista entrou, vestindo um terno preto de
aparência formal, gravata preta e uma camisa branca—um traje normal
de negócios, se o empresário típico gastasse quatro mil dólares em um
terno. Suas roupas obviamente tinham sido feitas sob medida para ele.
O próprio homem estava pálido como papel e usava uma bandagem em
volta do pescoço. Quando ele se sentou ao meu lado, foi com um suspiro
que soou como o fim da dor. — Longa noite, —ele disse, olhando para
mim. Sua carne estava anormalmente quente, febril. Eu podia sentir isso
nos cinco centímetros que nos separavam. O calor me deu vontade de
me mudar, mas me mantive no lugar. — Bela roupa, —acrescentou ele.

Não consegui pensar em uma resposta adequada ou bem-vinda,


então disse: — Parece que você viveu. —Que comentário fútil. Eu
queria me dar um tapa, mas ele apenas sorriu.

— Sim. Foi uma coisa próxima. Leo ... Leo não está indo muito
bem.

— Oh? —Jodi disse, um tom de policial em sua voz.

— O filho dele morreu esta noite, detetive. —Pugilista tocou sua


bandagem com dedos incertos. — Ele está de luto.

— O filho dele morreu há muito tempo, —eu disse.

— Sim. Bem. —Ele me estudou por um momento. — Você é uma


mulher interessante, Jane Yellowrock. —Eu não tinha certeza do que
isso significava, mas soou como um elogio, mais ou menos, então sorri.
Uma mulher colocou a cabeça pela porta. — Senhorita Yellowrock,
Detetive, eles estão prontos para vocês agora. —Nós nos levantamos e
eu levantei a mão em um aceno casual para Pugilista, que nos observou
ir, seu rosto inexpressivo. Jodi me seguiu pelo corredor, nossos passos
silenciosos. O servo de sangue humano abriu uma porta no final do
corredor e entrou. — Detetive Jodi Richoux e Jane Yellowrock do
Departamento de Polícia de Nova Orleans.

Nervos repentinos me agarraram e eu queria rir. Queria dizer: “O


quê? Sem título para mim? Tipo, famosa assassina de vampiros?” Mas eu
não fiz. E eu sufoquei o riso no fundo da minha garganta. Eu? Nervosa
por falar com um dos conselhos de vampiros mais poderosos dos Estados Unidos?
Oh sim.

A porta se fechou atrás de nós com um sopro de ar, um baque à


prova de som e um clique final. Dois seguranças musculosos tomaram
seus lugares na frente da porta, movimentos coreografados, olhos em
nós. Armados até os dentes e sem tentar esconder. Infeliz por estar
trancada com vampiros, civilizados ou não, Besta se levantou e estudou
a cena, músculos contraídos e respiração quente em minha mente.

Os vampiros estavam sentados em cadeiras pretas esculpidas em um


estrado, em uma mesa estreita, curva e meia-redonda que
provavelmente era de ébano, um tapete preto sob seus pés. Eles estavam
vestidos de preto, os homens de smoking, as mulheres com vestidos
longos. Era muito preto. Jogando com o estereótipo? Havia pequenas
placas de latão na borda frontal da mesa, gravadas com nomes de clãs.
Este não era um conselho completo, aparentemente, mas uma sessão
executiva, com apenas chefes de clã presentes. Eu identifiquei os mestres
de sangue ou herdeiros dos clãs Mearkanis, Rousseau, Desmarais,
Laurent, St. Martin e Bouvier. As cadeiras do Clã Pellissier e do Clã
Arceneau estavam vagas, mas imaginei que eles tinham quorum. Se os
conselhos de vampiros precisassem de um quorum. O risinho tentou
subir de novo, mas eu lutei contraisso e estudei a mulher no centro da
mesa, Sabina Delgado e Aguilera, a sacerdotisa—uma vampira que eu
não deveria conhecer, eu me lembrei.

Jodi e eu descemos dois degraus do estrado, ombro a ombro. Eu me


senti como uma criança na sala do diretor. Meu risinho quase histérico
fez uma terceira oferta de liberdade. Os vampiros se viraram para nós,
narinas dilatadas, cheirando.

Rafael Torrez, descendente e herdeiro do clã Mearkanis, inclinou-


se para frente, seus olhos negros no meu rosto. Ele entrou na primeira
investida. — Você foi contratada para matar o vampiro desonesto, mas
entendemos que a criatura que você matou esta noite não era um de nós.
Por que devemos pagar a você?
A raiva passou por mim. Esses idiotas iam tentar me enganar. O
mundo desacelerou em imagens distintas de sobrevivência e morte.
Besta surgiu em meus olhos. Rosnou baixo na minha garganta. Uma
ameaça.

Instantaneamente, o branco dos olhos de Rafael e seu rosto


brilharam com um rubor de sangue. Suas pupilas ficaram pretas. Foi
uma perda de controle de jovem vampiro.

Os outros membros do conselho recuaram em choque com sua gafe.


Mas Rafael não recuou. Suas presas caíram com um clique suave.
Feromônios de violência encheram a sala. A ameaça dos vampiros tem
um cheiro forte e pontiagudo. Intenso em uma sala cheia deles. Ao meu
lado, Jodi congelou. Dois outros vampiros lutaram contra suas próprias
reações aos cheiros de Rafael. Jodi se afastou, a mão indo para a arma,
que ela não tinha mais. Seu medo aumentou. Cheiro de presa humana.
Como um, os vampiros se viraram para ela. Olhos de predador. Por um
momento, o perigo agitou-se no ar como veneno.

A sacerdotisa vampira, sentada ao lado de Rafael, colocou a mão


em seu braço. — Fique quieto, —ela disse, sua voz cheia de poder. Era
quase feiticeiro em sua força. Mas seus olhos estavam em mim. Olhos
de falcão, vendo muito.
Não pude evitar. Comecei a rir. Todos os vampiros se voltaram para
mim, girando suas cabeças em uníssono como um ato de circo. Os
cheiros mudaram para ultraje e insulto, violência de um tipo diferente.
Eu estendi a mão em desculpas, como se estivesse dispensando minha
erupção divertida. Os vampiros simplesmente olharam. Jodi respirou
fundo, o som trêmulo.

Quando consegui controlar o riso, disse: — A coisa que assumiu o


controle de Immanuel estava vivendo entre vocês há anos e vocês nunca
imaginaram isso. Nunca souberam. Não até que ele enlouqueceu e
começou a matar e se alimentar de humanos e seus amigos vampiros.
Você está tentando me dizer que ele não cheira como um vamp? Se
alimentar como um vampiro? No que diz respeito ao mundo, ele era um
vamp que estava se transformando em outra coisa. Algo ainda pior. —
Eu vi vários olhos brilharem com o insulto. Bem, difícil. Ao meu lado,
o medo de Jodi aumentou, seu corpo ficou tenso pela indecisão.

— Meu contrato especifica que eu deveria “despachar o desonesto


que está aterrorizando Nova Orleans”. Eu fiz isso dentro dos dez dias que
me concederam para o bônus. O que eu quero. O fato de ele ter comido
um vamp e assumido sua identidade não é problema meu. —Seus
queixos subiram em uma reação coletiva, e eu percebi que os tinha
chamado de vamps várias vezes. Que rude da minha parte.
— Já carreguei as fotos do desonesto morto. Uma delas é uma boa
visão clara de seus dentes, que tem uma legenda de “vamp dente-de-
sabre”. Eles estão no meu site com detalhes da morte. Vocês vão pagar
ou vou bombardear a Internet com o fato de que o conselho vampiro de
Nova Orleans não é confiável em questões contratuais. Vou postar o
contrato no meu site ao lado da foto dos dentes dele. Deixe o mundo
decidir se eu cumpri meu contrato.

O fedor de feromônios vampiros enfurecidos saturou o ar, forte


como pimenta e vodca. Três dos chefes de clã estavam segurando a
mesa, seus olhos vampirizados. A respiração e os batimentos cardíacos
de Jodi estavam acelerados. Lute ou fuja. Resposta da presa. Não muito
inteligente da parte dela. O chefe do clã Desmarais, mais calmo do que
a maioria, abriu um laptop fino e digitou algumas teclas. — Ela fala a
verdade, —ele disse, com os olhos fixos na tela. Desmarais olhou para
mim. — A composição das fotos é pouco profissional. E quais são as
sombras nos cantos das fotos?

— Meu sangue, —eu disse, sem rodeios.

Ele se inclinou em minha direção e respirou fundo pelo nariz. —


Você não está sangrando agora. Não sinto nenhum cheiro de feridas
abertas.

— Sorte minha. —Deixe que eles se perguntem por que e como.


— Eu disse a você que ela não nos permitiria renegar com base em
palavras tão frágeis, —Bettina disse, mestre de sangue do Clã Rousseau.
Eu conheci Bettina na festa de Leo. Ela era linda e sabia disso. Ela me
pediu para visitá-la e eu não tinha imaginado que fosse para um bate-
papo platônico ou chá. Mesmo agora, seus olhos aqueceram quando me
tocaram. Ela gostava de mim muito mais do que eu queria, como para
jantar e dormir, eu fornecendo os dois. — Ela é uma criatura de seu
tempo, —disse Bettina. Besta achou isso engraçado e deixei seu humor
brilhar em meus olhos.

— Pague-a e acabe com isso, —Laurent disse.

— Se ela tirar as fotos, —Desmarais exigiu.

Embora meus joelhos tremessem com a recusa, eu não pude


negociar as fotos. — Sem acordo.

Jodi se afastou em direção à porta e os seguranças parados ali, seus


olhos indo de mim para o estrado e voltando. Ela molhou os lábios com
a língua e uma mão fez uma pequena contração novamente, alcançando
a arma que faltava. Para manter a atenção dos vampiros longe dela, eu
disse: — Eu ganho a vida matando vampiros desonestos. A propriedade
e o uso das fotos não foram incluídos no contrato. —Eu me perguntei o
quão longe eu poderia empurrar, e decidi ir para quebrar. Eles só podiam
me drenar uma vez, certo? — Elas fazem uma boa propaganda. Elas
permanecem no site.

— Chega, —a sacerdotisa disse. — Eu vi a criatura quando ela me


atacou. Eu inalei seu cheiro. Não era do nosso sangue e, no entanto, era.
Não consegui identificar a espécie da criatura, mas ela pretendia me
matar. E agora está morta. O espírito do contrato foi cumprido. Pague
a ela.

A mesa ficou em silêncio, aquela total quietude vampírica que


poderiam ter sido estátuas. Os segundos se passaram. Não houve outras
objeções. Por fim, Desmarais abriu um arquivo fino na mesa à sua frente
e retirou um envelope. Ele o deslizou pela mesa. — Seu pagamento e
bônus. Cheque certificado, conforme contrato.

Eu mantive a vitória longe do meu rosto, peguei o cheque, dobrei-o


e coloquei no cós da minha calça jeans. A sacerdotisa disse: — Jane
Yellowrock, espera-se que você permaneça em Nova Orleans por um
tempo.

Minha boca se abriu de surpresa e eu parei no meio do dinheiro.

Rousseau aceitou o convite. — Talvez por várias semanas, até que


Katherine se recupere e volte para nós. Temos um problema adicional
que precisa de seus ... —ela fez uma pausa, como se escolhesse as
palavras com cuidado, — seus talentos.

Infelizmente, Desmarais disse: — Algum Mithran de baixo nível


estão fazendo descendentes e os deixando à mercê do mundo humano.

Lembrei-me dos dois jovens vampiros mortos na área de habitação


pública. Para mim, parecia mais como se o mundo humano tivesse sido
deixado nas presas impiedosas de vampiros indelicados. Eu não disse
isso em voz alta, no entanto. Eu percebi que tinha empurrado os limites
da misericórdia do próprio conselho, tanto quanto podia. Além disso,
precisava de outro trabalho. É melhor estar aqui. — Vou considerar isso.

— Você será contactada com detalhes e nossa oferta, após o funeral


do herdeiro de Pellissier, —Bettina Rousseau disse. Ela se concentrou
em Jodi antes que eu pudesse responder. — Você está elogiada, —disse
ela. — Seu oficial subordinado e disfarçado se saiu bem. Richard
LaFleur não foi detectado até que um servo de sangue do hospital nos
informou. Vamos reembolsar a cidade por suas contas médicas.

Jodi empalideceu ao ouvir seu oficial ser exposto.

Eu olhei para a ponta das minhas botas e escondi um sorriso. Vamps


eram atacantes furtivos.
Desmarais assumiu a posição de Bettina. — Em agradecimento
pelos serviços dele e pelos seus, colocamos recomendações oficiais em
seus arquivos e providenciamos para que o psicômetro emprestado ao
seu departamento se torne seu equipamento permanentemente.

Jodi parecia que preferia mastigar o couro do sapato a aceitar o


elogio ou o dispositivo das pessoas que expunham Rick, mas ela sabia
que era um golpe, e a lógica superou o ressentimento. Ela conseguiu
dizer um simples, — Obrigada.

— Vocês estão dispensadas, —disse Desmarais.

Na dispensa, Jodi parecia que queria engasgar, mas eu apenas me


virei e fui até a porta. Um segurança destrancou e abriu com uma
mudança de pressão de ar estonteante e um pequeno sopro de ar.
Hermético, à prova de som. Se eles quisessem nos comer, ninguém
jamais saberia. Eu saí, meus joelhos liberando o aperto que eu segurava
para impedi-los de bater. A respiração aliviada que saiu foi mais
barulhenta do que eu gostaria, mas Jodi não fez nenhum comentário
enquanto a seguia. Silenciosamente, caminhamos pela casa até a porta
da frente, seguidas e conduzidas pelos seguranças, nossas escoltas
musculosas. Não vimos Pugilista.

Lá fora, o ar estava úmido e pesado da tempestade. Pisquei para o


céu nublado, vendo uma sobreposição repentina da morte do comedor
de fígado e Antoine. Minha respiração ficou instável. Pela primeira vez,
me permiti reagir ao fato de que poderia ter sido eu no chão de Leo,
morta. Ou eu no chão do conselho vampiro, morta. Eu estive perto de
estar morta várias vezes esta noite. Bem perto, de realmente morta.

Os sapatos de policial de Jodi me seguiram até minha motocicleta,


pequenos clipes de som. — Parece que você vai ficar por aqui por um
tempo, —ela disse nas minhas costas. — Me ligue. Podemos tomar um
café.

Escondendo minha surpresa, treinando meu rosto, peguei meu


capacete, pensando enquanto montava na motocicleta. Eu a encarei,
estudando sua expressão, que era um pouco beligerante, como se ela
esperasse ser rejeitada e talvez achasse que deveria. — Você só quer
saber tudo o que eu sei sobre vampiros, —eu disse, dando um meio
sorriso para me acalmar.

— Sim. Você tem algum problema com isso? —Quando dei de


ombros, ela acrescentou: — Eu gosto de você. Eu não estou pedindo
para fazer um dia de spa juntas ou uma festa do pijama ou qualquer
coisa. Café. Talvez alguns beignets.

— Isso seria bom, —eu disse, cuidadosamente. — Minha amiga


Molly pode estar vindo para a cidade. Você tem alguma coisa contra as
bruxas da terra?
— Não. —Ela se virou e desceu o caminho em curva. Por cima do
ombro, ela disse: — Minha mãe é uma bruxa. Duas de minhas irmãs
também. Mais tarde, Jane Yellowrock. Eu vou ligar.

Voltei para minha casa de brinde pouco antes do amanhecer, deixei


Bitsa no quintal, com o motor ligado, e subi os degraus até a porta dos
fundos. Eu estava tão cansada que meus dentes doíam a cada passo.
Enquanto sacudia a chave na fechadura, tudo em que conseguia pensar
era na cama. Sem acender as luzes, entrei e joguei as chaves na mesa ao
lado das armas que deixei empilhadas lá. E parei como se tivesse levado
um soco.

Minhas cruzes brilhavam fracamente—todas elas—não com o


brilho da lua cheia, mas com a fosforescência suave e esverdeada de
minerais em uma caverna, nas profundezas de piscinas na selva, um
pálido aviso de perigo distante. Meu coração falhou e disparou. Eu
fiquei imóvel, respirando, Besta subindo em mim, enviando seus
sentidos, procurando. A casa parecia vazia, como se nada mais vivo
estivesse presente. Mas isso não significa que eu estava sozinha.
Cansado demais para notar quando entrei, agora cheirei anis e papiro e
a mancha apimentada de vampiro no ar. Leo estava aqui. Em algum
lugar.
Ele não sabia o que eu era, não sabia que eu podia sentir o cheiro
dele. Ou ele não se importava, o que era infinitamente pior. Besta
apertou, estremecendo em minhas veias e nervos. Predador na minha
toca, ela pensou, um rosnado nas palavras.

Silenciosamente, peguei duas estacas, segurando-as com a mão


esquerda, uma ponta afiada para frente, a outra apontando para trás, e
puxei duas cruzes sobre a minha cabeça para pendurar em suas
correntes. Não houve tempo para me vestir melhor para uma luta, sem
minha jaqueta e equipamento, não havia nada para me proteger das
presas e garras de vampiros. Lembrando-me da dor de Katie, eu sabia
que isso às vezes tirava a sanidade deles. Não foi o suficiente para me
proteger em uma batalha corpo-a-corpo contra um vampiro velho e
mortalmente poderoso—mesmo assumindo que ele ainda estava são.

Por último, peguei meu assassino de vampiros favorito, sua lâmina


de quarenta e cinco centimetros de aço fortemente prateado. A lâmina
me trouxe sorte, mas não senti nada quando agarrei o punho de alces,
exceto meu próprio suor escorregadio.

Não tive dúvidas de que Leo sabia exatamente onde eu estava,


vampiros podiam ver na escuridão como breu, melhor visão noturna do
que Besta, e pela primeira vez Besta não me contradisse, apenas rosnou
baixo em minha mente. Respirei fundo e falei com minha casa
silenciosa. — Eu não matei Immanuel, Leo. O que eu matei não foi seu
filho. —Eu ouvi uma respiração suspensa ... na sala de estar? Antes que
ele pudesse usar o ar, eu fui até a abertura, amaldiçoando meus pés no
chão de madeira.

— Eu o vi, —Leo disse, sua voz rouca, como se suas cordas vocais
tivessem sido danificadas por um ferimento de faca ... ou gritando. —
Eu vi o rosto dele. —Ele respirou fundo, parecia molhado, rasgado e
veio de um lugar diferente—a porta do quarto. Besta estremeceu,
sabendo que estávamos sendo perseguidos. Minha pele ficou rígida,
picos gelados. As cruzes em volta do meu pescoço brilharam com sua
proximidade, permitindo-me distinguir uma sombra do outro lado da
sala. Uma sombra curvada com largas pupilas negras em olhos
vermelho-sangue. — Você o destruiu, —Leo disse, sibilando de
angústia. — E você vai pagar a dívida de sangue.

Minha garganta ficou seca como pó de pedra. O desejo de correr se


estabeleceu em mim como garras. — Eu destruí uma criatura, sim, mas
não um vampiro, —eu disse, com grave polidez, segurando meu medo
fugitivo, rezando para não ser atacado sozinho, no escuro, pelo mestre
do sangue da cidade. — Se a coisa disfarçada de seu filho fosse um
vampiro, ele ainda estaria vivo.
Senti Leo fazer uma pausa, a imobilidade absoluta dos mortos. Eu
não sabia se ele estava se preparando para atacar ou ouvindo minhas
palavras. Sentindo-me como se estivesse correndo pelo fundo de uma
ravina em uma noite sem lua, eu disse, minhas palavras tremendo: —
Eu deixei a cabeça dele. Um vampiro poderia ter sido trazido de volta,
sangue suficiente o teria curado. —Naquele momento, eu soube que Leo
havia tentado alimentar seu filho, tentado trazê-lo de volta. E falhou.
Em alguma parte de sua mente, ele tinha que saber que o que eu estava
dizendo era verdade e certo.

Besta forçou uma respiração mais profunda, não deixando as garras


do medo me paralisar. — Mas a coisa que eu matei não era um vampiro.
Tinha adquirido algumas das qualidades de um ... mas ele não era
Immanuel. —Eu ajustei meu controle sobre as armas, firmei meu tom e
suavizei tudo de uma vez. — Ele não era o Immanuel, Leo. Ele era o
assassino de Immanuel. Ele roubou seu caminho para dentro de sua
casa. Em sua família e clã.

— Você o matou, —disse ele, mas sua voz era mais suave, mais
áspera, menos certa.

— Eu matei o assassino de Immanuel. —Lembrando as palavras


que Leo acabara de dizer, arrisquei e acrescentei: — Eu vinguei sua
morte. Eu paguei sua dívida de sangue e deixei para você o corpo de seu
inimigo. —O silêncio se estendeu, minha respiração estridente, meu
coração batendo forte. O ar condicionado ligou, adicionando frio ao ar.
Eu estremeci, sentindo meu suor e a adrenalina correndo em minhas
veias.

Leo sussurrou: — Ele tinha o rosto do meu filho. Você o matou.


Você vai pagar por isso.

Mais rápido do que eu podia ver, a porta da frente se abriu. Sua


janela estilhaçando. Minúsculos painéis de vidro antigos batiam no
chão. Um fragmento tilintou entre meus pés calçados com botas. O
vento do amanhecer soprou. E Leo Pellissier, mestre do sangue do Clã
Pellissier, chefe do Conselho de Mithrans de Nova Orleans e mestre de
sangue da cidade, se foi. O alívio caiu em meus ombros.

Eu não era estúpida o suficiente para pensar que tudo estava


acabado entre nós, no entanto. De jeito nenhum.
acertando a luva acolchoada, mas segurando

a força e velocidade que Besta me deu. Aterrei e torci tudo em um


movimento. Chutei a outra luva. Soco com força, não colocando meu
corpo atrás dele, mas procurando e encontrando a forma perfeita.
Novamente. Novamente.

— O suficiente. —Parei instantaneamente. Recuei. Coloquei


minhas mãos em minhas coxas. Curvada. O homem acolchoado ao meu
lado também se curvou. — Você deveria competir, —ele disse. Eu
levantei meu corpo e levantei uma sobrancelha para o sensei. Ele estava
tentando ser engraçado. Todos que treinavam com ele sabiam que ele
nunca competiu. Ele achava que competição era para maricas. — Seu
celular tocou. Vejo você amanhã, —disse ele.

A aula acabou. Pingando suor, fui até minha mochila de viagem e


vi o número de Molly na tela. Eu apertei REDIAL e ela atendeu. — Ei,
Grande Gato. Quer companhia?
Eu ri, me perguntando se ela realmente viria. Tinha se passado uma
semana inteira e ela ainda estava procrastinando. — Certo. Quando
você pode chegar aqui?

— Angelina, Pequeno Evan e eu estamos cerca de meia hora fora de


Nova Orleans, com seu endereço conectado ao GPS. Espero que você tenha
uma cama extra em qualquer lixeira em que estiver hospedada.

A alegria floresceu em mim como luz. Minha respiração parou,


bloqueada por um coração que não queria bater corretamente. Eu
agarrei o celular. Virei-me para a parede e abaixei minha cabeça para
esconder minha expressão. Eu não queria que meu sensei me visse
chorar. Consegui respirar uma única vez contra a pressão em meu peito.
— Eu tenho lençóis limpos em todas as camas de cima. Comprarei
comida que vocês gostem.

Uma pequena voz disse ao telefone: — Tia Jane, você precisa de um


banho. Você tem lutado.

— Sim, Angie. Eu tenho. Vejo você em alguns minutos.

— Você tem minha boneca?

— Tenho, —eu disse. Eu tinha encontrado um fabricante de


bonecas nas ruas secundárias do Bairro Francês e encomendei uma
boneca Cherokee com cabelos longos e olhos amarelos. A boneca de
porcelana esculpida à mão usava uma vestimenta tradicional Cherokee
e carregava um arco e flecha exatamente como Angie queria. Um
guarda-roupa inteiro estava sendo costurado à mão por uma mulher
local, com roupas modernas e mais tradicionais. — É uma beleza. Ela
se parece com essa garota Cherokee que vi em um mural. O nome
dela era Ka Nvsita, que significa dogwood.

— Sim! —A menina disse. Eu podia imaginar o punho no ar, um


gesto que ela aprendeu com seu pai. — Eu te amo, tia Jane.

— Eu também te amo, Angelina.

Besta ronronou. Filhotes ...

O telefone clicou e vi a mensagem CHAMADA


DESCONECTADA. Corri para fora para pegar minha motocicleta,
levantando o capacete enquanto corria.
Próximo livro da Série
Livro 2 – Cruz de Sangue

O conselho dos vampiros contratou a skinwalker Jane


Yellowrock para caçar e matar um dos seus que quebrou as
antigas regras sagradas – mas Jane rapidamente percebe que em
uma comunidade de milhares de anos, a lealdade é profunda ...

Com a ajuda de sua melhor amiga bruxa e vigilantes locais, Jane


se vê presa entre rivalidades amargas – e mais perto do que nunca
da origem secreta de toda a raça de vampiros. Mas em uma cidade
de antigos rancores e magia negra, Jane terá que lutar para
proteger os dois lados, mesmo que ninguém a proteja.

Você também pode gostar