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Q~ 7 -~2@ PRINCIPIOS DE INTERPRETAGAO BIBLICA m um voo dos Estados Unidos para 0 Brasil tive um diélogo interessante com uma jovem norte-americana, que vinha ao nosso pafs como estudante missionaria. Ela me disse que estuda- va ‘Teologia em uma instituigdo conservadora norte-americana que tomava a Biblia realmente a sério. Ao me identificar como tedlogo adventista do sétimo dia, seu interesse pelo didlogo aumentou ain- da mais. Nao contendo sua curiosidade, ela disse: “Jamais tive a oportunidade de conversar com um adventista do sétimo dia. Vocé poderia me explicar as principais crengas de sua igreja?” Apos discorrermos sobre alguns ensinamentos biblicos, mencionei que uma das raz6es que levam os adventistas a observar 0 sdbado € 0 fato de Deus ter nao apenas descansado no sdbado, mas também abengoado e santificado esse dia (Gn 2:2, 3). A jovem reagiu espon- taneamente: “Mas vocé nao pode tomar esse relato como literal, uma vez que todo 0 contetido de Génesis 1-11 € apenas simbélico!” Ponderei, entao, com ela: “Se vocé estuda em uma institui¢ao con- servadora, que toma ‘a Biblia realmente a sério’, por que considera o contetido de Génesis 1-1] apenas simbélico?” O didlogo continuou de maneira respeitosa e amigavel, mas uma coisa ficou bem clara em minha mente: grande parte dos debates ao longo da histéria crista sobre a observancia do sébado e do domingo tem sido de natureza hermenéutica, sendo nutridos por divergentes métodos de interpretagao biblica e tendenciosos filtros pessoais. Em outras palavras, a questdo da perpetuidade, da descontinuidade ou da substituigaéo do sabado como dia de repouso cristo depende da perspectiva pela qual a pessoa estuda as Escrituras Sagradas. _—@ PRINCIPIOS DE INTERPRETAGAO BIBLICA _ ul Métodos de Interpretacao Biblica Gerhard Ebeling sugere que “a hist6ria do cristianismo € a hist6- ria da exposigao das Escrituras”.! Portanto, a familiaridade com os diferentes métodos de interpretagao biblica é fundamental para a compreensao dos debates em torno das doutrinas biblicas, incluindo 0 préprio sdbado. O contetido a seguir aborda resumidamente como a Biblia e 0 sébado tém sido encarados sob 0 impacto de alguns dos métodos de interpretagao mais influentes do pensamento cristao. No perfodo pés-apostélico, intérpretes cristaos comprometidos com a filosofia grega passaram a alegorizar 0 texto sagrado a pon- to de o método alegérico se tornar predominante no cristianismo medieval.2 Muitos sentidos ocultos e artificiais impostos a Biblia foram defendidos por autoridades eclesidsticas. Assim, textos bibli- cos que confirmam a observancia do s4bado passaram a ser relidos alegoricamente, de modo a dar espago & emergente observancia do domingo.’ Por exemplo, o préprio relato da criagao, que estabelece a observancia do “sétimo dia” (Gn 2:2, 3), era usado em favor do domingo, pois foi no “primeiro dia” que Deus criou a luz (Gn 1:3-5).4 Com esse tipo de reinterpretacao, 0 sdbado biblico acabou sendo destitufdo de seu significado. Outro golpe na doutrina do sabado veio através do método eritico- histérico, que recebeu significativo impulso no fim do século 18, com © surgimento do racionalismo iluminista.> Este método de anélise literdria, quando aplicado ao estudo da Biblia, reduz o texto sagrado a mero produto do contexto sociocultural em que 0 referido texto veio & existéncia.° Dessa forma, muitos ensinos bfblicos acabaram perdendo seu carater normativo. Considerando o contetido de Génesis 1-11 como mitolégico, o sébado passou a ser visto, por exemplo, como um antigo costume babilénico’ ou cananita,* incorporado posteriormente pelos hebreus, e nao mais pertinente para os cristéos modernos. Na passagem do século 19 para o século 20 comecou a se populari- zar entre os evangélicos norte-americanos 0 método dispensacionalista de interpretacao bfblica, que normalmente divide a histéria humana em sete dispensagdes ou perfodos diferentes.” Sendo que cada dis- pensagaio é tida como distinta das demais, os princfpios de uma nao se " ___.__.0 SABADO NA BIBLIA @_— aplicam necessariamente as outras. Limitando a vigéncia do sabado a chamada “dispensagao da lei” (para o antigo Israel), os adeptos desse método consideram a observancia do sdbado antiquada para a atual “dispensacio da igreja” (para a igreja crista).!° J& no fim do século 20 estava sendo difundido em muitos circulos cristaos liberais o método pés-moderno de considerar o proprio leitor o referencial de interpretagao (“reader-oriented approach”).!! Rompendo tanto com o caréter normative do texto biblico quanto com as tradigdes eclesidsticas predominantes, este método, de na- tureza essencialmente pluralista, deixa as Escrituras abertas a uma grande variedade de interpretagdes conflitantes. Assim, a aceitagdo ou nao do sdbado passou a ser uma questo individual. Cada pessoa deve decidir, com base no que mais lhe convier, 0 que fazer e 0 que deixar de fazer nesse dia. Os métodos anteriormente mencionados surgiram em diferentes perfodos da histéria, mas continuam sendo usados ainda hoje por importantes segmentos cristdos. Por mais atrativos que paregam e difundidos que sejam, eles sao inaceitveis para.aqueles que reco- nhecem 0 carter normativo das Escrituras como Palavra de Deus, e as interpretam com base nos prinefpios da sola Scriptura (exclusivi- dade das Escrituras) e da tota Scriptura (totalidade das Escrituras). E indispensével, portanto, que se use um método adequado, que respeite 0 que o texto biblico esté realmente dizendo, sem atribuir a ele significados artificiais. Filtros da Mensagem Biblica O compromisso pessoal com “toda palavra que procede da boca de Deus” (Mt 4:4), incluindo a observancia do sabado, tem sido mini- mizado também pelo uso de diferentes filtros pessoais. Por exemplo, os tradicionalistas limitam a interpretagao biblica as tradigdes ecle- sidsticas predominantes. Como a partir do 4° século d.C. a grande maioria dos cristaos passou a observar o domingo, e apenas pequenos segmentos do cristianismo ainda continuaram observando o sdbado,'” os tradicionalistas insistem que o domingo é indiscutivelmente o dia de guarda para os cristéos. -—Q PRINCIPIOS DE INTERPRETAGAO BIBLICA 13 Os, racionalistas,colocam a razao humana acima das Escrituras, aceitando delas apenas as porgées que melhor se encaixam em sua moldura ideolégica e mais se harmonizam com sua prépria forma de pensary Como, além do exemplo divino (ver Gn 2:1-3) e do mandamento divino (ver fx 20:8-11), nao existe uma razdo astronémica légica para a observancia do sabado, esta é consi- derada pelos racionalistas uma prética obsoleta que sé pode ser mantida através de uma ingénua credulidade religiosa. JA os culturalistas distorcem o sentido dbvio das Escrituras através de releituras culturalmente condicionadas. Para eles, a propria esséncia da mensagem biblica deve ser contextualizada as diferentes culturas modernas, sem exercer influéncia transformadora sobre os respectivos contextos culturais. Dessa forma, a Palavra de Deus perde sua autori- dade normativa. Como a cultura ocidental nao estimula nem favorece a observancia do sébado, esta é considerada uma instituicdo anticultural. Por sua vez, os carismdticos tendem a substituir o contetido ob- jetivo da Palavra de Deus por suas subjetivas experiéncias pesso- ais.'* Interpretando tendenciosamente a declaragao “porque a letra mata, mas 0 espirito vivifica” (2Co 3:6),'* eles costumam aceitar das Escrituras apenas as partes endossadas por supostas revelagdes pes- soais do Espirito Santo. Nao sendo a validade do sébado confirmada por tais revelages, ela passa a ser considerada uma priatica legalista (porque “a letra mata”), antagénica 4 experiéncia daqueles que sao guiados pelo Espirito (porque “o espfrito vivifica”). Existem ainda os familistas,'* que colocam seus vinculos familiares acima da Palavra de Deus. Pouca relevancia é atribufda as palavras de Cristo: “Quem ama a seu pai ou sua mae mais do que a Mim nao é digno de Mim; quem ama seu filho ou sua filha mais do que a Mim niio é digno de Mim; e quem nao toma a sua cruz.e vem apés Mim nao € digno de Mim” (Mt 10:37, 38). Para os familistas, a observancia do sdbado é uma instituigdo inaceitavel, que acabaria rompendo a tradigao familiar e a harmonia social que eles tanto prezam. Um estudo sério e objetivo das Escrituras, inclusive da doutrina biblica do sabado, jamais deveria estar condicionado as tradigdes eclesidsticas, a l6gica humana, & cultura moderna, as experiéncias 14 O SABADO NA BIBLIA pessoais ou aos vinculos familiares e sociais. Esses elementos, por mais importantes que sejam, sao aceitaveis apenas ao nivel em que nao conflitem com os ensinos normativos da Palavra de Deus. Sempre que tais elementos entrem em desacordo com a vontade divina, a postura do crist&o deve ser a mesma de Pedro e dos demais apéstolos: “Antes, importa obedecer a Deus do que aos homens” (At 5:29). A Biblia Como Sua Prépria Intérprete A mitologia grega faz alusao a um assaltante chamado Procrustes, que sequestrava os viajantes que passavam por uma estrada de acesso a Atenas. O assaltante possufa duas camas: uma longa e outra curta. Ele amarrava as pessoas de baixa estatura na cama longa, e as pes- soas altas, na cama curta. Entao esticava as pessoas baixas até que atingissem 0 tamanho da cama longa, e cortava a parte inferior das pernas das pessoas altas para nao excederem 0 comprimento da cama curta, “provocando inevitavelmente a morte de todos”.'* Desconhecendo a adverténcia de nao fazermos acréscimos nem supressées as Escrituras (ver Ap 22:18, 19), muitos cristaos ainda hoje usam uma postura semelhante & de Procrustes em seu estudo do texto sagrado. Existe, na realidade, uma forte tendéncia de se adaptar subjetivamente o contetido da Palavra de Deus aos gostos e interesses pessoais. Todo estudo honesto da Bfblia que deseje evitar riscos e distorcdes deve ser informado e controlado por alguns prin- cfpios basicos de interpretacao. ~& Um desses princfpios € 0 da exclusividade das Escrituras. A propria Biblia condena a aceitagao de tradi¢des humanas que invalidem “a palavra de Deus” (ver Mt 15:3, 6, 9); de argumentos humanos que contradigam 0 pensamento divino (ver Is 55:8, 9); ¢ de experiéncias carisméticas em desacordo com “a vontade de Meu Pai, que estd nos Céus” (ver Mt 7:21-23). O contraste entre as efémeras opinides humanas e a eterna palavra de Deus é salientado em Isafas 40:6-8 “Toda a carne é erva, e toda a sua gléria, como a flor da erva; seca- se a erva, e caem as flores, soprando nelas 0 hélito do Senhor. Na verdade, 0 povo € erva; seca-se a erva, € cai a sua flor, mas a palavra de nosso Deus permanece eternamente.” —@ PRINCIPIOS DE INTERPRETACAO BIBLICA ee: — Outro principio bésico de interpretagaio é 0 da totalidade das Escrituras. Cristo afirmou que o genufno cristdo é alguém que per- mite que 0 Espirito Santo o guie “a toda a verdade” (Jo 16:13); que vive “de toda palavra que procede da boca de Deus” (Mt 4:4; ef. Dt 8:3); e que ensina a outros “todas as coisas” ordenadas por Cristo (Mt 28:20). De acordo com 0 apéstolo Paulo, “toda a Escritura é inspirada por Deus e util para o ensino, para a repreensao, para a corre¢ao, para a educagao na justia” (2Tm 3:16). Portanto, a prépria Biblia condena a pritica seletiva de aceitar dos ensinos bfblicos apenas 0 que se gosta, e de rejeitar o que nao se gosta. -1 Um terceiro principio basico de interpretagiio é reconhecer e aceitar 0 desenvolvimento natural dos temas biblicos, sem impor- lhes interpretagdes artificiais extrabiblicas. Nesse desenvolvimento, os ensinamentos de Cristo e dos apéstolos, registrados no Novo ‘Testamento, sao os intérpretes inspirados do Antigo Testamento. No entanto, reconhecendo a Biblia como sua propria intérprete, nao se -apostolicas que distorgam 0 significado pode aceitar releituras pds natural do texto biblico. Além da exclusividade, da totalidade e do desenvolvimento natural do texto biblico, é também indispensdvel interpretar lite- eralmente o texto biblico, exceto onde for evidente o simbolismo. E certo que na Biblia existem intimeras figuras de linguagem, pa- rébolas e mesmo visdes apocalipticas que devem ser interpretadas como tais. Mas um dos mais graves equivocos hermenéuticos é a tentativa de interpretar simbolicamente as porgées literais do texto biblico, incluindo suas descrigdes histéricas. Essa pratica acaba distorcendo o sentido dbvio do texto sagrado, expondo-o a intimeras releituras tendenciosas. Um quinto principio basico de interpretagao é a rejeigio de falsas analogias que usam indevidamente um assunto para provar outro assunto.!” Sem diivida, nas Escrituras encontramos profecias ¢ seus respectivos cumprimentos hist6ricos; tipos (ou sfmbolos) e seus res- pectivos cumprimentos antitfpicos (ou realidades). Mas, se quisermos ser leais ao texto biblico, nao podemos impor a ele relacionamentos tipolégicos nao sugeridos pelo préprio texto. _0 SABADO NA BIBLIA.G Por tiltimo, é indispensdvel reconhecer o cardter normativo e univer- inos béblicos e viver em conformidade com eles. O contetido crituras est4 permeado de princfpios universais e de aplicagées temporais desses princfpios em diferentes contextos culturais. Mas mesmo as aplicagdes temporais cuja forma se restringe ao contexto sociocultural da época estao embasadas em princfpios universais nor- mativos e pertinentes para todos os tempos ¢ lugares. Na analogia dos dois fundamentos (ver Mt 7:24-27), Cristo declara que edificar a casa espiritual sobre a rocha significa ouvir e praticar Suas “palavras”. Resumo Todo estudo que visa descobrir 0 que a Biblia tem a dizer re- almente sobre diferentes assuntos (inclusive 0 s4bado) deve, por um lado, evitar métodos e filtros que distorgam o sentido natural do texto biblico, e, por outro, adotar prinefpios adequados de in- terpretacao biblica. Entre os métodos a ser evitados estao (1) 0 método alegérico, que destitui o texto bfblico do seu verdadeiro significado; (2) 0 método critico-histérico, que elimina o caréter normativo de muitos dos ensinos bfblicos; (3) 0 método dispensa- cionalista, que fragmenta a unidade geral das Escrituras; e (4) 0 método pés-moderno, que transfere a autoridade do texto biblico para o leitor, deixando as Escrituras abertas a uma grande variedade de interpretagées conflitantes. E indispensdvel evitar também alguns filtros pessoais, como (1) 0 tradicionalismo, que limita a interpretagao biblica as tradigGes ecle- sidsticas predominantes; (2) 0 racionalismo, que aceita das Escrituras apenas as porgdes que melhor se encaixam em sua moldura ideo- légica e mais se harmonizam com sua prépria forma de pensar; (3) © culturalismo, que distorce 0 sentido ébvio das Escrituras através de releituras culturalmente condicionadas; (4) 0 existencialismo, que tende a substituir o contetido objetivo da Palavra de Deus por subjetivas experiéncias pessoais; e (5) 0 familismo, que coloca os vinculos familiares e sociais acima da Palavra de Deus. Por outro lado, um estudo adequado do texto bfblico, que reco- nhece a Biblia como sua prépria intérprete, deve ser informado e —@ PRINCIPIOS DE INTERPRETAQAO BIBLICA 17 controlado pelos princfpios (1) da exclusividade das Escrituras; (2) da totalidade das Escrituras; (3) do desenvolvimento natural dos temas biblicos; (4) da interpretacao literal do texto biblico, exceto onde for evidente o simbolismo; (5) da rejeigdo de falsas analogias; e (6) do reconhecimento do cardter normativo e universal dos ensi- nos bfblicos, e da conformidade pessoal com eles. Esses princfpios constituem o embasamento hermenéutico do estudo sobre o sdbado exposto nos capftulos que se seguem. ' Gerhad Ebeling, The Word of God and ‘Tradition: Historical Studies Interpreting the Divisions of Christianity, trad. S. H. Hooke (Philadelphia: Fortress, 1968), 11-31 (capitulo 1, “Church History Is the History of the Exposition of Scripture”). Para um estudo mais detido do assunto, ver Anthony C. Thiselton, Thiselton on Hermeneutics: Collected Works with New Essays (Grand Rapids: Eerdmans, 2006), 40-45. 2 Ver William W. Klein, Craig L. Blomberg e Robert L. Hubbard Jr., Introduction 10 Biblical Interpretation, ed. rey. ¢ atual. (Nashville: Thomas Nelson, 2004), 34-45. 3© uso de textos biblicos sobre o sébado para justificar a observancia do domingo pode ser observado nas citagGes dos pais da igreja compiladas por Willy Rordorf em sua obra Sabbat und Sonntag in der Alien Kirche (Zurique: ‘Theologischer Verlag, 1972), 126-237. + Justino de Roma, I ¢ H Apologias; Didlogo com Triftio, 2" ed., trad. Ivo Stomiolo Euclides M. Balancin, Patristica, v. 3 (Sido Paulo: Paulus, 1995), 83-84 (I Apologia, § 67). 5 Para uma breve introdugao ao método critico-histérico, ver Edgar Krentz, The Historical-Critical Method (Philadelphia: Fortress, 1975). © Algumas das criticas mais abalizadas ao método critico-histérico aparecem em Gerhard Maier, The End of the Historical-Critical Method, trad. Edwin W. Leverenz e Rudolph F, Nordern (St. Louis: Concordia, 1977); Gerhard F. Hasel, Biblical Interpretation Today: An Analysis of Modern Methods of Biblical Interpretation and Proposals for the Interpretation of the Bible as the Word of God (Washington, DC: Biblical Research Institute, 1985); Gerhard Maier, Biblical Hermeneutics, trad. Robert W. Yarbrough (Wheaton: Crossway, 1994); Eta Linnemann, Historical Criticism of the Bible: Methodology or Ideology? Reflections of a Bultmannian Turned Evangelical, trad. Robert W. Yarbrough (Grand Rapids: Baker, 1990); idem, Biblical Criticism on Trial: How Scientific Is “Scientific ‘Theology’?, trad. Robert Yarbrough (Grand Rapids: Kregel, 1998). 7 Friedrich Delitzsch, Babel and Bible: Two Lectures on the. Sigi Assyriological Research for Religion (Chicago: Open Court, 1903), 38. * Julian Morgenstern, “Sabbath”, em George A. Buttrick, ed., The Interpreter’s Dictionary of the Bible (Nova York: Abingdon, 1962), [4]:135-136 “A Biblia Sagrada, com as referéncias e anotagées de C. I. Scofield (Kissimme: Imprensa Batista Regular do Brasil, 1983), 4, menciona as seguintes dispensagdes: Inocéncia (Gn 1:28); Consciéncia ou Responsabilidade Moral (Gn 3:7); Governo Humano (Gn 8:15); Promessa (Gn 12:1); Lei (Ex 19:1); Igreja (At 2:1); Reino (Ap 20:4), Para uma andlise critica do método dispensacionalista de interpretacao biblica, ver Hans K. LaRondelle, The Israel of God in Prophecy: Principles of Prophetic Interpretation (Berrien Springs: Andrews University Press, 1983). "Charles F, Baker argumenta, em seu livro A Dispensational Theology (Grand Rapids: Grace Bible College Publications, 1971), 262, que a observancia do sdbado “se aplicava apenas a Israel como uma caracteristica distintiva da alianga de Deus com aquela nag: "' Entre as mais importantes exposigdes da hermenéutica biblica pés- moderna estdo as seguintes: Edgar V. McKnight, Postmodern Use of the Bible: ‘The Emergence of Reader-oriented Criticism (Nashville: Abingdon, 1988); George Aichele, et. al., The Postmodern Bible: The Bible and Culture Collective (New Haven: Yale University Press, 1995). Ver também Anthony C. Thiselton, New Horizons in Hermeneutics (Grand Rapids: Zondervan, 1992); Terence E. Fretheim e Karlfried Froehlich, The Bible as Word of God in a Postmodern Age (Minneapolis: Fortress, 1998). '? A existéncia de cristios observadores do sabado ao longo da era crista é comprovada em Andrews, History of the Sabbath and First Day of the Week (3° ed. rev), 193-517; Andrews e Conradi, History of the Sabbath and First Day of the Week (4* ed. rev. ¢ ampl.), 217-815; Rordorf, Sabbat und Sonntag in der Alten Kirche; Strand, ed., The Sabbath in Seripture and History, 131-263, 323-332. " Uma hist6ria abrangente do reavivamento pentecostal/carismético é provida por Vinson Synan, The Century of the Holy Spirit: 100 Years of Pentecostal and Charismatic Renewal, 1901-2001 (Nashville: Thomas Nelson, 2001). “Ralph Martin sugere que a “letra” aqui se refere a “determinada interpretagao da ‘Torah que prevalecia em Corinto” ou, em outras palavras, a “um mau uso da lei de Moisés vista como um fim em si mesma, deixando de reconhecer seu verdadeiro propésito (Rm 10:4: revs) de conduzir a Cristo, o seu cumprimento (Gl 3:24).” Ralph P. Martin, 2 Corinthians, Word Biblical Commentary, v. 40 (Waco: Word, 1986), 55. '5“Eamilismo” (inglés familism) pode ser definido como “um padrio social no qual a famflia assume uma posigdo de ascendéncia sobre os interesses individuais”. ‘Ver www.merriam-webster.com/dictionary/familism (acessado em 15/12/2009). '6 Maria Mavromataki, Greek Mythology and Religion: Cosmogony, the Gods, Religious Customs, the Heroes (Atenas: Haitalis, 1997), 174. " Ver David H. Fischer, Historians’ Fallacies: Toward a Logic of Historical ‘Thought (Nova York: Harper, 1970), 243-259. g~ 2 -@ ORIGEM DO SABADO N didlogo com a estudante missiondria norte-americana, men- cionado no capitulo 1, ela argumentou, como muitos intérpre- tes modemos, que 0 contetido de Genesis 1-11 nao é literal, mas sim- bélico. Dessa forma, esse texto, incluindo a descrigao biblica sobre a origem do sdbado (ver Gn 2:1-3), acaba sendo exposto a varias inter- pretacdes artificiais e contraditérias. Por exemplo, 0 assiriologista ale- mio Friedrich Delitzsch cré que o sabado se originou em Babilénia.! Julian Morgenstern acredita que tal observancia surgiu no contexto da cultura agricola cananita.? Jé Cuthbert A. Simpson alega que o sdbado era uma reminiscéncia da suposta “adoragao da deusa Lua” pelos préprios israelitas em suas peregrinages noturnas pelo deser- to. Por sua vez, Paul K. Jewett reflete a teoria popular de que Deus instituiu o sébado somente apés 0 éxodo de Israel do Egito.* Por mais criativas que sejam, essas teorias sao inaceitaveis aqueles que tomam a sério 0 que a propria Biblia diz sobre o assunto. Fundamental no ensino biblico sobre a origem do sabado é a compreensdo da natureza (1) do relato de Génesis 1-11; (2) dos “dias” da criagao; e (3) do sétimo dia da criagao. O contetido a seguir considera brevemente cada um desses temas. O Relato de Génesis 1-11 Os defensores do método critico-hist6rico negam a literalidade do relato de Génesis 1-11, sugerindo que seu contetido é apenas mitolégico.’ No entanto, para sermos consistentes com o principio de “a Biblia como sua propria intérprete”, devemos levar em consideragao como os demais escritores bfblicos se referem ao contetido dos primeiros onze capitulos das Escrituras Sagradas. Tais escritores consideram esse a _ © SABADO NA BIBLIA ©) contetido como mitolégico ou histérico? Alusées bfblicas posteriores ao relato da criagdo, & queda de Adao e Eva, ao homicfdio de Abel, ao diltivio e as genealogias relacionadas com Addo e Sem ajudam a elucidar essa questo. A autenticidade do relato da criag&o (Gn 1, 2) é confirmada por varios textos biblicos. Por exemplo, o mandamento do sabado afirma que, “em seis dias, fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo o que neles h4 e, ao sétimo dia, descansou’” (Ex 20:11). O livro dos Salmos declara que “os céus por Sua palavra [de Deus] se fizeram”, “pois Ele falou, e tudo se fez; Ele ordenou, e tudo passou a existir” (S] 33:6, 9). O préprio Cristo Se refere ao “mundo, que Deus criou” (Mc 13:19), e afirma que, “desde o prinefpio da criagao, Deus os fez homem e mulher” (Mc 10:6; também Mt 19:4). O apéstolo Paulo confirma que Deus criou a luz (2Co 4:6), bem como o homem e a mulher (1Co 11:9). O apéstolo Pedro menciona que a terra “surgiu da 4gua e através da Agua pela palavra de Deus” (2Pe 3:5). O apéstolo Joao atesta que “todas as coisas” foram criadas por Deus (Jo 1:1-3, 10), que “fez 0 céu, e a terra, e o mar, e as fontes das 4guas” (Ap 14:7). Arealidade da queda de Adao e Eva (Gn 3) é confirmada por Paulo, ao dizer que “por um s6 homem [Adao] entrou 0 pecado no mundo, e pelo pecado, a morte” (Rm 5:12; também Rm 5:12-21; 1Co 15:22, 45; 1Tm 2:13, 14). O homicfdio de Abel (Gn 4:1-16) é tido como um fato tanto por Cristo (Mt 23:35; Le 11:51) quanto pela epfstola aos Hebreus (Hb 11:4; 12:24). A histéria de Noé e o diltivio (Gn 6-9) é confirmada no livro do profeta Isafas (Is 54:9), pelo préprio Cristo (Mt 24:37-39; Le 17:26, 27), na epistola aos Hebreus (Hb 11:7), bem como nos escritos do apéstolo Pedro (1Pe 3:20; 2Pe 2:5; 3:5, 6). As genealogias dos descendentes de Adio e Sem (Gn 5:1-32; 11:10-32) so confirmadas por Lucas na genealogia de Jesus (Le 3:23-38). Portanto, uma leitura do texto biblico é suficiente para confirmar que Cristo e os demais profetas biblicos consideravam Génesis I-11 uma descrig&o histérica literal. J4 uma releitura mitolégica do referido texto acaba distorcendo sua natureza e propésito. Em harmonia com o ensinamento biblico, o presente estudo considera o relato em dis- cussao histérico e nao mitolégico. —@_ORIGEM DO SABADO Os “Dias” da Criagao A tentativa de harmonizar o relato bfblico da criagio (Gn 1, 2) com a teoria evolucionista levou alguns intérpretes biblicos a propor um evolucionismo tefsta,* no qual cada “dia” da semana da criagao representaria uma “cra” geoldgica de mil anos. Apoio biblico para essa proposta tem sido buscado nas declaragdes de que “mil anos, aos Teus olhos, so como o dia de ontem que se foi e como a vigilia da noite” (SI 90:4) e “para o Senhor, um dia é como mil anos, e mil anos, como um dia” (2Pe 3:8). Como nenhuma dessas declaragoes se refere aos dias da criagio, tal associagao nao passa de falsa analogia. Eruditos no estudo do Antigo Testamento reconhecem que cada “dia” (hebraico yém [dia] e\ndo aeon [era]) deve ser en- tendido em Génesis 1:1 a 2:3 como um dia literal de 24 horas. Por exemplo, C. F. Keil e F. Delitzsch afirmam que, “se os dias da criacao sao regulados pelo recorrente intercambio de luz e trevas, eles no devem ser considerados periodos de tempo de duragao incalculavel, de anos ou milhares de anos, mas simples dias terrestres”.” Gordon J. Wenham acrescenta Pode haver pouca dtivida de que aqui “dia” tem o sentido bdsico de um perfodo de 24 horas. A mengao de tarde e ma- nha, a enumeragao dos dias e 0 descanso divino no sétimo dia demonstram que uma semana de atividades divinas est4 sendo descrita aqui. Em outros lugares, obviamente, “no dia em que” e expresses similares podem significar simplesmen- te “quando” (por exemplo, 2:4; 5:1, etc.). O Salmo 90:4 diz, em realidade, que mil anos so para Deus como um dia. Mas é perigoso tentar correlacionar a teoria cientffica com a reve- lagao bfblica apelando para esses textos.* Gerhard F, Hasel argumenta que a estrutura lingufstica de Génesis 1, a sequéncia dos eventos nele descritos e 0 testemunho de outros textos biblicos (Ex 20:8-11; 31:12-17) confirmam que os “dias” da 22 on semana da criag’o sé podem ser entendidos como uma sequéncia cronolégica e ininterrupta de sete dias literais de 24 horas cada.? De acordo com Cuthbert A. Simpson, “nao resta dtivida de que por ‘dia’o autor pretendia dizer precisamente 0 que nés entendemos —o tempo necessario para uma volta da Terra ao redor do seu eixo”. Portanto, a tentativa de interpretar os “dias” da semana da criagdo como se fossem “eras” bem mais longas acaba “minimizando a grandeza de Deus” e“o Seu poder de realizar tanto em um dia”. Ainda em relagao aos “dias” da semana da criagao, pode-se obser- var que apenas os seis primeiros dias so qualificados pela expressiio “tarde e manha” (Gn 1:5, 8, 13, 19, 23, 31), endo 0 “dia sétimo” (Gn 2:2, 3). Significaria isso que 0 “dia sétimo” teria sido maior do que 8 outros dias, ou mesmo um perfodo de tempo indefinido? Existem pelo menos dois motivos para se considerar a duracao do sétimo dia igual 4 dos demais dias. Em primeiro lugar, a palavra “dia” (hebraico y6m) & a mesma para todos os sete dias, Assim, se nos seis primeiros dias ela representa um perfodo literal de 24 horas, a mesma duracao deve ser atribufda também ao sétimo dia. Em segundo lugar, o sétimo dia da semana da criagao s6 serve de modelo para a observancia do sébado semanal se aquele foi um dia literal como os sébados subse- quentes (fix 20:8-11; 31:12-17; Hb 4:4-1 1). Portanto, a auséncia da expresso “tarde e manha” em relacio ao sétimo dia jamais deveria ser usada para atribuir-lhe uma durac&o maior do que a sugerida pelo préprio texto biblico. O Sétimo Dia da Criagao A primeira alusao biblica ao descanso no sétimo dia aparece em Génesis 2:2 e 3, que diz: “E, havendo Deus terminado no dia sétimo a Sua obra, que fizera, descansou nesse dia de toda a Sua obra que tinha feito. E abengoou Deus o dia sétimo e o santificou; porque nele descansou de toda a obra que, como Criador, fizera.” Alguns comentaristas que consideram o sébado uma instituig&io meramente judaica negam que esse texto estabelega a observancia do sabado para a humanidade, pois (1) naquela época ainda nao existia nenhum judeu; (2) a expressio usada é “sétimo dia” e nao “sdbado”; ¢ (3) a —@ ORIGEM DO SABADO. . 23 alusdio € apenas ao descanso de Deus e nao dos seres humanos. Mas tais argumentos carecem de consisténcia. A teoria de que 0 sdbado teria sido estabelecido apenas para os judeus nao faz sentido, pois 0 proprio Cristo confirmou a univer- salidade do sébado ao mencionar que “o sébado foi estabelecido por causa do homem, e nae o homem por causa do sébado” (Mc 2:27). Além disso, o profeta Isafas fala que 0 sdbado seria observado na era messianica por eunucos ¢ estrangeiros (Is 56:1-8). Por sua vez, a mera auséncia do termo “sdbado” em Génesis 2:2 e 3 nao enfraquece ° contetido do texto, uma vez que 0 proprio mandamento do sdbado define que “o sétimo dia é 0 sabado do Senhor, teu Deus” (Ex 20:10). A questao nao é tanto 0 uso do termo “sdbado” quanto a énfase no conceito do descanso semanal no sétimo dia. O descanso de Deus, que “nem Se cansa, nem Se fatiga” (Is 40:28), proveu para os seres humanos 0 modelo do descanso se- manal (Ex 20:8-11; 31:12-17; Hb 4:4-11). De acordo com Gerhard F. Hasel, “Deus Se manifestou em cessar Sua obra e em descansar como divino exemplo para a raga humana”.!' Sendo que Adio e Eva foram criados no sexto dia (Gn 1:26-28), e Deus descansou no sétimo (Gn 2:2, 3), € evidente que para aquele casal 0 sdbado foi o primeiro dia completo de existéncia, no qual participaram pela graca de Deus do descanso sabatico. Karl Barth argumenta que “o testemunho béblico une to expressa e diretamente a atividade divina no sétimo dia da criagdo com a instituigao do sébado que o homem deve observar que é impossfvel entendé-lo por outro angulo”.!? O mesmo autor acrescenta: Obviamente, os testemunhos bfblicos nao sugerem que a criagao, tendo 0 homem como cabeca, trabalhou nesse dia de descanso divino, apés 0 tiltimo dia de atividade. A clara inferén- cia é que a criagdio, e supremamente o homem, descansou com Deus no sétimo dia e participou da Sua liberdade, descanso e alegria, mesmo nao tendo ainda realizado nenhum trabalho do qual cessar. Sua liberdade, descanso e alegria no sbado podiam apenas contemplar a obra de Deus, e no a sua propria."® 24 O SABADO NA BIBLIA @) Além de descansar no “dia sétimo”, Deus também “abengoou” e “santificou” esse dia (Gn 2:2, 3). Quaisquer dtividas quanto ao signifi- cado do “dia sétimo” sao dissipadas por uma compreensao adequada desse triplice ato de Deus — descansar, abengoar e santificar. Se 0 descanso de Deus em si ja implica na instituigao do sébado para Suas criaturas, o fato de ter Ele abengoado e santificado esse dia confirma tal instituigdo. Quando Deus abengoa e santifica algo, Ele sempre 0 faz em beneficio de Suas criaturas. Esse trfplice ato de Deus comprova a origem edénica do sébado (Gn 2:2, 3), anterior ’ queda de Adao e Eva (Gn 3), quando tudo ainda “era muito bom” (Gn 1:31). Portanto, 0 sdbado é de natureza moral e de abrangéncia universal, cuja validade nao se restringe a tempo, lugar ou povo especffico. Ao Deus escolher um meio especial de comunhao com Suas criatu- ras, por que teria Ele escolhido um dia especifico (0 sbado), em vez de um lugar espeeffico no jardim do Eden? Sakae Kubo sugere que Deus “escolheu um segmento de tempo” para comungar com Suas criaturas por trés motivos: (1) porque o tempo é universal e esté em toda parte; (2) porque o tempo é imaterial, apontando para as coisas espirituais, além do espago e da matéria; ¢ (3) porque 0 tempo é todo-abarcante, jamais oscilando em intensidade."* Sao essas caracteristicas do tempo que per- mitem que o sébado chegue igualmente a todos os seres humanos (ricos e pobres, cultos e incultos) como um genuino “santuario no tempo”.!5 Resumo Um estudo mais detido sobre a origem do sébado deve levar em considerago a natureza do relato de Génesis 1-11, dos “dias” da criagdo, do sétimo dia da criagdo. O testemunho das Escrituras con- firma que Cristo e os demais profetas biblicos consideravam Génesis 1-11 uma descrigdo histérica literal. Qualquer releitura mitolégica do referido texto acaba distorcendo sua natureza e propésito. O presente estudo, baseado no principio da Biblia como sua propria intérprete, considera 0 relato histérico e nao mitolégico. Os “dias” da semana da criacdo s6 podem ser entendidos como dias literais de 24 horas, levando-se em consideragao a estrutura lingufstica de Génesis 1, a sequéncia dos eventos descritos ¢ 0 tes- _—@ ORIGEM DO SABADO temunho de outros textos biblicos (Ex 20:8-11; 31:12-17). Mesmo nao sendo qualificado pela expressao “tarde e manha’, o “dia sétimo” (Gn 2:2, 3) deve ser considerado como tendo a mesma duragao dos demais dias, pois a palavra “dia” (hebraico yém) é a mesma para todos os sete dias; eo sétimo dia da semana da criacao sé serve de modelo para a observancia do sébado semanal se aquele foi um dia literal (Bx 20:8-11; 31:12-17; Hb 4:4-11), ‘A origem edénica do sdébado € confirmada pelo fato de Deus ter descansado nesse dia, bem como 0 abengoado e santificado (Gn 2:2, 3). Descansando no sabado, Deus proveu um exemplo para Suas criaturas. Abengoando esse dia, Ele o transformou em um canal de béncdos para elas. E, santificando o sébado, Ele o separou para uso sagrado. Esse triplice ato confirma que Deus instituiu 0 s4bado para beneffcio da humanidade. Escolhendo um segmento de tempo, em vez de um lugar especffico, Deus disponibilizou 0 sébado a todos os seres humanos em todos os tempos ¢ lugares. Mas a histéria biblica demonstra que nem sempre o povo de Deus foi leal a esse legado. "R. Delitzsch, Babel and Bible, 38. 2], Morgenstern, “Sabbath”, em G. A. Buttrick, ed., The Interpreter’s Dictionary of the Bible, [4]:135-136. * Cuthbert A. Simpson, “The Book of Genesis”, em George A. Buttrick, ed., ‘The Interpreter’s Bible (Nova York: Abingdon-Cokesbury, 1952), 1:489. + Paul K. Jewett, The Lord’s Day: A Theological Guide to the Christian Day of Worship (Grand Rapids: Eerdmans, 1971), 13-16. A tradigao critico-hist6rica de considerar Génesis 1-11 como mitolégico foi influenciada significativamente pelos estudos de Julius Wellhausen (1844-1918) * Para um estudo mais detido da controvérsia criacionista/evolucionista, ver Henry M. Morris, A History of Modern Creationism (San Diego: Master Book Publisher, 1984); idem, The Long War Against God: The History and Impact of the Creation/Evolution Conflict (Grand Rapids: Baker, 1989); Ronald L. Numbers, The Creationisis: The Evolution of Scientific Creationism (Nova York: Alfred A. Knopf, 1992); James L. Hayward, The Creation/Evolution Controversy: An Annotated Bibliography (Lanham: Scarecrow, 1998). 7C.R Keil e F. Delitzsch, Commentary on the Old Testament in ‘Ten Volumes (Grand Rapids: Eerdmans, 1991), 1 [Pentateuch I]: 51. * Gordon J. Wenham, Genesis 1-15, Word Biblical Commentary, v. 1 (Waco: Word, 1987), 19. : 26 O SABADO NA BIBLIA ©) ° Gerhard F. Hasel, “The ‘Days’ of Creation in Genesis 1: Literal ‘Days’ or Figurative ‘Periods/Epochs’ of Time?”, em John T. Baldwin, Creation, Catastrophe, and Calvary (Hagerstown: Review and Herald, 2000), 40-68. ‘°C. A. Simpson, “The Book of Genesis”, em G. A. Buttrick, ed., The Interpreter’ Bible, 1:471. "' Gerhard F, Hasel, “Sabbath”, em David N. Freedman, ed., The Anchor Bible Dictionary (Nova York: Doubleday, 1992), 5:851 " Karl Barth, Church Dogmatics (Edinburgh: T: & T, Clark, 1958), 3, pt. 1, 214, Tbid., 217. ™ Sakae Kubo, God Meets Man: A Theology of the Sabbath and Second Advent (Nashville: Southern Publishing Association, 1978), 24. 5 Alberto R. Timm, “Um santudrio no tempo”, Momentos de Alegria: Um Dia Sem Estresse (2001), 10-12. Abraham J. Heschel, em seu livro The Sabbath: Its ‘Meaning for Modern Man (Nova York: Noonday Press, 1951), 12, fala do s4bado como “um palécio no tempo", QO. 3-2 O SABADO NO ANTIGO TESTAMENTO histéria do povo de Deus no Antigo Testamento esta repleta de episédios relacionados 4 observancia do sdbado. Em ocasides solenes, Deus enunciou mandamentos orientando essa observan- cia. Afastando-se 0 povo das prescrigdes divinas, Ele usou profetas para adverti-lo e condenar a apostasia. E importante que nos fa- miliarizemos com esses episddios, pois foram registrados “para ad- verténcia nossa, de nds outros sobre quem os fins dos séculos tém chegado” (1Go 10:11) O contetido deste capitulo considera aspectos importantes rela- cionados ao sébado (1) do Eden ao Sinai; (2) na alianca do Sinai; (3) durante a peregrinacdo no deserto; (4) na Terra Prometida; (5) nos dias dos profetas; e (6) no perfodo pés-exilico. O Sabado do Eden ao Sinai O ciclo semanal de sete dias, institufdo na criagao do mundo (Gn 1:1-2:3), foi perpetuado de forma ininterrupta ao longo da histéria hu- mana, gragas & observancia do s4bado em cada sétimo dia. Evidéncias desse ciclo transparecem bem antes da proclamagao do Decdlogo no Sinai, Por exemplo, j4 no contexto do diltivio aparecem expresses como “outros sete dias” e “mais sete dias” (Gn 8:10, 12). Na descrigao do casamento de Jacé e Lia existem duas alusdes a “semana” dessa noiva (Gn 29:27, 28). Tais perfodos podem nao ter coincidido com 0 inicio e término do préprio ciclo semanal, mas confirmam que a semana de sete dias era conhecida pelos patriarcas.' Durante a opressio do cativeiro egfpcio (Ex 3:7-9), os isra- elitas negligenciaram a obediéncia aos mandamentos divinos (cf. Gn 26:5), que certamente inclufam a observancia do sébado 28 O SABADO NA BIBLIA @)_— (Ex 16:25-28). O éxodo do Egito visava restaurar tanto o sistema sacrifical (Ex 3:18) quanto a obediéncia aos “preceitos” e “leis” de Deus (SI 105:43-45), Mas Faraé reagiu negativamente, inda- gando por que interrompiam “o povo no seu trabalho” (Ex 5:4) e acusando os israelitas de estar “ociosos” (Ex 5:8, 17). C. F. Keil e F, Delitzsch declaram: “Faraé nao queria ouvir nada a respeito de adoragio, Ele cria que a solicitagao era simplesmente uma escusa para buscar feriados para o povo, ou dias de descanso de seus labores.”? George Rawlinson acrescenta que, “como os antigos egfpcios nao tinham uma instituigd0 como o sdbado semanal, e certamente nfo tolerariam a abstinéncia do trabalho por parte dos escravos he- breus num dia em sete, devemos supor que o descanso sabitico, se j4 conhecido dos hebreus, havia cafdo em desuso durante sua permanéncia no Egito”.? Assim sendo, é provavel que na prépria acusaciio de que os israelitas estavam “ociosos” (Ex 5:8, 17) haja indicios de uma restauragao da ob- servncia do sébado, resultando em opressiio ainda maior (Ex 5:6-14). Um més apés safrem do Egito (Ex 12:2, 6, 11, 12, 37), 0s israeli- tas chegaram ao deserto de Sim (Ex 16:1), onde o Senhor passou a alimenta-los com 0 mani, na intengio de prova-los e ver se andariam na Sua ‘lei ou nao” (Ex 16:4). No relato desse incidente (ver Ex 16) aparece pela primeira vez a palavra “sdbado” no Antigo ‘Testamento (Ex 16:23), e seu contetido é de fundamental importancia para a compreensao da origem e desenvolvimento da observancia do sébado nos primérdios da histéria humana. Em Exodo 16:25-30 lemos: Entio, disse Moisés: Comei-o hoje, porquanto o sabado é do Senhor; hoje, nao o achareis no campo. Seis dias 0 colhe- reis, mas 0 sétimo dia é 0 sébado; nele, nao haverd. Ao sétimo dia, safram alguns do povo para o colher, porém nao 0 acha- ram. Entao, disse o Senhor a Moisés: Até quando recusareis guardar os Meus mandamentos e as Minhas leis? Considerai que o Senhor vos deu o sdbado; por isso, Ele, no sexto dia, —@ 0 SABADO NO ANTIGO TESTAMENTO _ 29 vos dé pao para dois dias; cada um fique onde esta, ninguém saia do seu lugar no sétimo dia. Assim, descansou 0 povo no sétimo dia. De acordo com G. H. Waterman, esta passagem [Ex 16:28, 29] mostra que 0 sdbado foi certa- mente tornado conhecido a Israel antes que a lei fosse dada no Sinai. Os israelitas nao chegaram ao Sinai antes do més seguinte (16:1; 19:1). A passagem mostra também que essa nao foi a primeira institui¢do do sébado. A maneira acidental como 0 assunto € introduzido e a admoestagao do Senhor em relagdio 4 desobediéncia do povo pressupdem que 0 s4- bado era previamente conhecido. A indagacdo do Senhor: ~““Até quando recusareis guardar os Meus mandamentos e as * Minhas leis?” [Ex 16:28] soa como se ele existisse havia um longo tempo. Em realidade, a equagao do sabado com o séti- mo dia, a declaragdo de que o Senhor deu aos israelitas 0 sd- bado, e a mengao de que o povo, pelo mandamento de Deus, descansou no sétimo dia, tudo isso indica indubitavelmente a primitiva instituigdo do s4bado.* Portanto, Exodo 16:26 deixa claro que, bem antes da proclamagao do Decalogo no Sinai, jd existiam “leis” e “mandamentos” divinos or- denando a observancia do sdbado. A prépria dadiva do mané durante seis dias da semana eo milagre de sua preservacao durante o sabado (Ex 16:22-24), que acompanhariam os israelitas durante os 40 anos de peregrinagao no deserto (Ex 16:35; Js 5:12), eram a confirmagao divina da santidade desse dia. J4 presenciando esse milagre a cada sdébado, Deus conduziu os israelitas do deserto de Sim & encosta do monte Sinai, onde estabeleceria com eles a Sua alianga. O Sdbado na Alianga do Sinai Muitas discuss6es existem sobre a natureza da alianga de Deus com Israel no Sinai (ver Ex 19-24), envolvendo a proclamagao do O SABADO NA BIBLIA §) Decélogo (ver Ex 20:3-17).’ Uma anilise acurada do texto biblico revela que essa alianga nao foi enunciada de forma legalista, pois, nesse caso, 0 proprio Deus teria ensinado um caminho equivo- cado de salvagao (cf. SI 6:4; Is 55:1). Tanto a eleigao de Israel (Dt 7:7, 8) quanto sua libertacao do cativeiro egipcio (Ex 14:13, 14) foram motivadas pela graga divina. Deus primeiro libertou Seu povo eleito para depois proclamar Sua lei e exigir obediéncia, como resposta humana a salvacao divina. O proprio Decélogo é introduzido com as palavras “Eu sou o Senhor, teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidao” (fix 20:2). Portanto, “desde sua origem, a lei esté firmemente estabelecida em um contexto de graca”.® A repetigao da lei em Deuteronémio (ver Dt 5:7-21) também aparece em um contexto de graga. Gerhard von Rad esclarece que é impossivel, pois, considerar os mandamentos do Deute- ronémio como uma “lei”, no sentido teoldgico, que leve Israel a merecer a salvagio pela observagao global das exigéncias divinas. Os mandamentos do Deuteronémio sao antes uma grande explicagao do mandamento do amor por Yahweh e de apego exclusivo a Ele (Dt 6:4s). Esse amor € a resposta de Israel ao amor divino que lhe foi mostrado. Os numerosos imperativos do Deuteronémio sao apelos implicitos ou expli- citos a um reconhecimento ativo e sao faceis de observar. [...] Entretanto, mesmo nesses imperativos, cujo motivo é uma recompensa a obter (“fazei isto e vivereis, sereis bem-suce- didos, entrareis na terra”), a grande oferta da salvagao nao é eliminada, pois 0 Deuteronémio nao ensina um caminho le- galista. Mesmo as palavras que parecem estabelecer uma de- pendéncia da salvagao em relagao a obediéncia a Yahweh sao precedidas da proclamagao da eleicaio e do amor por Yahweh. Trata-se antes de um convite dirigido a Israel para que se aproprie pessoalmente de uma realidade j4 estabelecida e para que se instale nessa realidade através da obediéncia e em atitude de reconhecimento. Também af, antes do impera- —@ 0 SABADO NO ANTIGO TESTAMENTO tivo, hd o indicativo deuteronomista: “sois agora 0 povo posto & parte por Yahweh”.” O quarto mandamento do Decélogo, que ordena a observancia do sdbado (ver fix 20:8-11), é parte integrante da alianga do Sinai (Dt 4:13; 5:1-21) e “ocupa um lugar central nessa alianga, servindo como elo entre os mandamentos que dizem respeito aos deveres para com Deus [Ex 20:3-11] e os que tratam dos deveres para com 0 homem [Ex 20:12-17]”.§ Esse mandamento foi registrado em Exodo 20:8-11 nos seguintes termos: Lembra-te do dia de sdbado, para o santificar. Seis dias trabalhards e fards toda a tua obra. Mas o sétimo dia é 0 sdba- do do Senhor, teu Deus; nao farés nenhum trabalho, nem tu, nem o teu filho, nem a tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem 0 forasteiro das tuas portas para dentro; porque, em seis dias, fez o Senhor os céus e a Terra, o mar e tudo o que neles ha e, ao sétimo dia, descansou; por isso, o Senhor abengoou o dia de sabado e o santificou. O mandamento define 0 s4bado como uma instituigdo vigente antes da proclamagiio da lei no Sinai. Enquanto a expressdo “lem- bra-te”, no verso 8, sugere familiaridade com o sdbado, 0 verso 11 confirma sua origem no triplice ato divino — descansar, abengoar e santificar — no sétimo dia da criagao (Gn 2:1-3). G. H. Waterman declara corretamente: O préprio quarto mandamento nao dé a entender que seja a primeira promulgacao do sabado. Suas palavras introduté- rias — “Lembra-te do dia do sébado” (Ex 20:8) — sugerem que 0 sbado havia sido previamente conhecido, mas fora esque- cido ou negligenciado. A razdo apresentada no mandamento para a santificacao do dia do sébado foi o exemplo de Deus ao término da criagdo (20:9-11). O mandamento aponta para a instituigdo original do sébado.? Inserido no Decdlogo pelo préprio Deus, 0 quarto mandamento compartilha da mesma natureza moral que caracteriza os outros nove preceitos. De acordo com o apéstolo Paulo, se a lei “é santa; eo mandamento, santo, e justo, e bom” (Rm 7:12), entao o quarto mandamento também deve ser considerado santo, justo e bom. Sua natureza moral e imutdvel é atestada (1) pelo fato de 0 sdbado ter sido institufdo na criagao, antes da queda do homem; (2) por ser Deus seu autor; (3) por estar inserido na lei moral do Decdlogo; (4) pela forma peculiar como Deus 0 revelou no Sinai (Ex 19:10-20:17; 31:12-18); e (5) por ser 0 tinico dos dez mandamentos em que aparecem expli- citamente 0 nome, o titulo, a autoridade e a jurisprudéncia de Deus como legislador. Portanto, qualquer alteragao no contetido desse mandamento é¢ ilegal e representa um atentado direto 4 autoridade divina (ver Dn 7:25). O uso dos termos “servo”, “serva”, “animal” e “forasteiro” (fx 20:10) é apenas uma aplicagao do mandamento a cultura da época, sem com isso transformé-lo em uma ordenanga cerimonial ¢ transi- téria. Com linguagem compreensivel aos israelitas, o mandamento confirma o principio moral de que o descanso do sdbado nao se res- tringe ao individuo em si, mas é extensivo aos demais seres humanos e animais sob sua direta influéncia e lideranca. Por sua vez, a expressdo “o sétimo dia é 0 sdbado do Senhor, teu Deus” (Ex 20:10; ver 16:26; 31:15; Lv 23:3; Dt 5:14) im- pede a transferéncia da santidade do sdbado para qualquer ou- tro dia da semana, independentemente da légica eclesidstica utilizada. A alegagao de que o preceito do sébado “na primeira Alianca prepara 0 domingo da nova e eterna Alianga”'' s6 pode ser mantida através do uso do método alegérico, que desconhece a Biblia como sua propria intérprete. A nova alianga nao altera 0 dia de guarda, mas apenas condena o mau uso da lei como meio de salvagdo (Rm 3:28, 31; Gl 2:16; 3:21; 1Tm 1:8). Embora 0 Decélogo apareca inserido na alianga do Sinai, ele transcen- de essa alianga, sendo de aplicagao universal, ou seja, é valido para todos os seres humanos, em todos os tempos e lugares (S1 119:142; Ec 12:13, 14). 33 Além do sdbado semanal (Lv 23:3), contido no Decdlogo, foram institufdos no Sinai sete sébados cerimoniais ou “festas fixas do Senhor”, espalhados ao longo do calendério religioso israelita. Esses sdbados anuais sao identificados em Levitico 23 como (1) o primeiro dia da Festa dos Paes Asmos (v. 7); (2) 0 tiltimo dia da Festa dos Paes Asmos (v. 8); (3) 0 Pentecostes (v. 21); (4)’0 primeiro dia do sétimo més ou Festa das Trombetas (v. 24, 25); (5) 0 Dia da Expiacao (v. 27, 28); (6) o primeiro dia da Festa dos Tabernaculos (v. 34, 35); e (7) 0 ultimo dia da Festa dos Taberndculos (v. 36). Cada um desses sdbados é qualificado como um dia de “santa convocagao”, no qual “nenhuma obra servil” deveria ser feita. Foi ordenado também que cada sétimo ano seria um ano sdbatico, ou seja, um “sébado de descanso solene para a terra”, durante 0 qual esta deveria ficar sem ser cultivada (Ly 25:1-7). Os sabados semanais e os sébados cerimoniais sao completa- mente distintos uns dos outros.'? No que diz respeito a origem, o sébado semanal foi institufdo por Deus na semana da criagéio (Gn 2:2, 3), enquanto os sabados cerimoniais foram institufdos no Sinai (Lv 23:4-44), Quanto a natureza, o sabado semanal, instituido antes da entrada do pecado no mundo, tem carter moral e permanente; j4 os sdbados cerimoniais, prescritos apés a entrada do pecado, sdo cerimoniais e transit6rios. Em relagdo ao propésito, o sdbado semanal é um “sinal para sempre” entre Deus e Seu povo (Ex 31:17; ver 31:13; Ez 20:12, 20); mas os sdbados cerimoniais eram apenas “sombra dos bens vindouros” (Hb 10:1; ver 8:5), cuja celebragao deveria cessar com a morte de Cristo na cruz do Calvario (Ef 2:15; Cl 2:14). Em termos de registro, o mandamento do sdbado semanal foi escrito pelo proprio dedo de Deus em tébuas de pedra guarda- das dentro da arca da alianga (Ex 31:18; 40:20; Dt 4:13; 10:5; Hb 9:4); mas, em contraste, os sdbados cerimoniais foram registrados por Moisés em um livro colocado “ao lado da arca” da alianga (Dt 31:26). Além disso, enquanto os sébados semanais eram chama- dos por Deus de “Meus sébados” (Lv 26:2; Is 56:4; Ez 20:12-24), os sdbados cerimoniais eram designados como “vossos sébados” ¢ “seus sdbados” (Lv 23:32; Os 2:11). a oe O SABADO Na BIBLIA ©) Portanto, 0 Decdlogo, escrito em tabuas de pedra pelo dedo de Deus (Ex 31:18), nao foi dado exclusivamente aos hebreus; mas Deus os honrou como depositérios e observadores de Sua lei. Assim, depois de quase um ano acampados na encosta do Sinai (Ex 19:1; Nm 10:11, 12), 0s israelitas partiram levando consigo o Decdlogo, contendo o mandamento do sabado, como um sagrado legado de Deus para a humanidade. O Sabado Durante a Peregrinagdo no Deserto Poucas alusdes explicitas ao sébado na histéria de Israel so en- contradas entre a experiéncia do Sinai e a entrada dos israelitas na terra de Canad. Mesmo assim, durante os 40 anos de peregrinacao no deserto (Ex 16:35), por mais de duas mil vezes repetiu-se 0 mila- gre do mand em relagao a observancia do s4bado (Ex 16:22-30). O milagre semanal que os acompanhava visava a impressiond-los com a santidade do sébado, evitar que dele se esquecessem e prover-lhes as condigdes adequadas para sua observancia. Logo apés a sedigao do povo e a ordem divina de continuarem sua peregrinacao pelo deserto durante 40 anos (Nm 14:1-38), um homem foi encontrado “apanhando lenha no dia de sébado” (Nm 15:32). Diante da clara enunciagao do quarto mandamento (Ex 20:8-11) e da completa auséncia de mand no sbado (Ex 16:22- 30), a atitude desse homem no pode ser considerada mero pecado por ignordncia.'* Foi, sem diivida, um ato premeditado de “aberto desafio autoridade divina”,'* que nao podia ser deixado impune. O homem foi entdo levado a Moisés e Arado, que apresentaram 0 caso diante do Senhor. O veredito divino foi claro: “Tal homem sera morto; toda a congregacao o apedrejard fora do arraial” (Nm 15:35). Através da pena capital, o homem recebeu o castigo por sua ousada rebeliao contra Deus e 0 povo foi advertido contra semelhante atitude. Entre as “ofertas continuas” registradas em Niimeros 28, apa- rece a ordenanga de que os sacrificios e ofertas “de cada sébado” deveriam ser o dobro do oferecido em cada um dos demais dias da semana (v. 9, 10). C. F. Keil e F. Delitzsch argumentam que —2@. © SABADO NO ANTIGO TESTAMENTO 35 0 sdbado era “enaltecido acima dos outros dias da semana, como dia santificado ao Senhor em um grau mais elevado que os de- mais, por um ntimero maior de holocaustos, ofertas de manjares e libagdes”.'* Cristo estava Se referindo provavelmente a essa sna lei que, aos sébados, ordenanga quando disse: “Ou nao lest os sacerdotes no templo violam 0 sabado e ficam sem culpa?” (Mt 12:5). Ao término dos 40 anos de peregrinagao no deserto, antes que 0s israclitas entrassem na terra de Cana, Moisés proferiu uma série de discursos registrados no livro de Deuteronémio, No inicio do segundo discurso (Dt 5-26), Moisés repetiu 0 Decélogo com uma altera¢do significativa no enunciado do quarto mandamento. Enquanto 0 motivo para a observancia do sébado em Exodo 20:11 € acriagao — “porque, em seis dias, fez 0 Senhor os céus e a Terra, © mar ¢ tudo o que neles hé e, ao sétimo dia, descansou; por isso, o Senhor abengoou o dia de sdbado e 0 santificou” —, em Deuteronémio 5:15 0 motivo é a redengao — “porque te lembrards que foste servo na terra do Egito e que o Senhor, teu Deus, te tirou dali com mao poderosa € brago estendido; pelo que o Senhor, teu Deus, te ordenou que guardasses 0 dia de sébado”. Essa aparente discrepancia é explicada por Gleason L, Archer nos seguintes termos: Deve-se compreender que 0 propésito do Deuterondmio era fornecer uma paréfrase seletiva da lei de Deus revelada a Moisés nos trés livros anteriores: Exodo, Levitico e Nimeros. Nao pretendia ser uma repetigao palavra por palavra do texto desses livros, e sim uma aplicagao homilética e exortativa dos seus ensinos & nova geragao que atingiu a maioridade durante os 40 anos de peregrinagao pelo deserto."6 Como ja mencionado, “desde sua origem, a lei esté firmemente estabelecida em um contexto de gracga”.!” Mas, em Deuteronémio 5:12-15, a prépria observancia do sdbado é inserida nesse mesmo contexto. Nao é de surpreender, portanto, que o tema da redencao, Oo com 0 qual o Decélogo havia sido introduzido (ver Ex 20:2; Dt 5:6; também Ex 13:13), tenha sido associado por Moisés, sob inspiragao do Espfrito Santo (2Pe 1:19-21), mais especificamente ao manda- mento do sébado. Dessa forma, Israel entraria na terra de Canaa com uma clara revelagéo do sébado como memorial da criacgao e da redengao. O S4bado na Terra Prometida Os primeiros 500 anos da permanéncia dos israelitas em Canaa sao marcados por um persistente siléncio a respeito do sdbado. Nenhuma referéncia a ele é encontrada nos livros histéricos de Josué, Jufzes, Rute, 1 Samuel, 2 Samuel e 1 Reis. Na sequéncia em que os livros histéricos foram dispostos no canon biblico, a primeira referéncia ao sbado seria 2 Reis 4:23. Mas, em termos cronolégicos, ela aparece em 1 Crénicas 9:23, na €poca de Davi.'* Em vez de sugerir um suposto abandono da observancia do sdbado, esse siléncio evidencia sua continuidade, pois, tao logo o sébado voltou a ser negligenciado, Deus enviou reprovagées através dos profetas. Existem, no entanto, dois incidentes ocorridos na parte inicial desse perfodo que tém sido apontados por alguns como conspiran- do contra a observancia do sdbado. Um deles esté relacionado ao cerco de Jericé (ver Js 6). Sendo que, por ordem divina, a cidade foi rodeada em sete dias consecutivos (Js 6:3, 4), € evidente que um deles coincidiu com 0 sébado. Contudo, Adam Clarke comenta que “nao parece que pudesse haver transgressdo do sébado pelo fato de © povo simplesmente rodear a cidade, levando consigo a arca, e os sacerdotes tocarem as trombetas sagradas”. Afinal, “tratava-se de mera procissdo religiosa, levada a efeito por ordem de Deus, na qual nenhuma obra servil foi realizada”.!? Outro incidente usado pelos criticos contra a observancia do sdbado é o dia longo na batalha entre Israel e os amorreus (ver Js 10:12-14). Nessa batalha, Josué clamou ao Senhor, e “o Sol se deteve, ea Lua parou até que o povo se vingou de seus inimigos” (v. 13). J. N. Andrews esclarece: —@_O SABADO NO ANTIGO TESTAMENTO 37 O prolongamento de um dos seis dias pela intervengao de Deus nfo podia impedir a real chegada do sétimo dia, embora o retardasse; nem péde destruir sua identidade. O incidente envolve uma dificuldade para aqueles que defendem a teo- ria de que Deus santificou a sétima parte do tempo, e nao © sétimo dia; pois nesse caso a sétima parte do tempo nao coincidiu com 0 sébado. Mas nao existe nenhuma dificuldade para aqueles que creem que Deus separou o sétimo dia para ser guardado quando este chega, em meméria do Seu préprio descanso.” Como ja mencionado, a primeira referéncia cronologica ao sAbado nos livros histéricos apareceu no tempo de Davi, e diz: “Outros dos seus [de Matitias] irmaos, dos filhos dos coatitas, tinham 0 encargo de preparar os paes da proposicao para todos os sabados” (1Cr 9:32). Cerca de 150 anos mais tarde aparecem algumas alusées esporddicas ao sdbado, isso jé nos dias do profeta Eliseu (2Rs 4:23; 11:5-9; 2Cr 23:4-8). Mas nao podemos descartar a possibilidade de 0 Salmo 92, sob o titulo “céntico para o dia de sdbado”, ter sido escrito no periodo entre Davi e Eliseu.2! E, porém, nos escritos dos profetas pré-exilicos que o tema do sabado volta a ser abordado com signifi- cativa frequéncia. O S4bado nos Dias dos Profetas Os livros proféticos do Antigo Testamento apresentam varias alusdes ao sébado. Em sua maioria, sio admoestac6es contra a negligéncia na observancia do sdébado, que estava se generali- zando tanto no reino do Norte (Israel) quanto no reino do Sul (Juda). No reinado de Jeroboao II (793-753 a.C.) em Israel, 0 profeta Amés (8:4-6) descreveu a apostasia da nacao nos se- guintes termos: Ouvi isto, vés que tendes gana contra o necessitado e destrufs os miserdveis da terra, dizendo: Quando passa- ra Festa da Lua Nova, para vendermos os cereais? E 0 oO SABADO NA BIBLIA sébado, para abrirmos os celeiros de trigo, diminuindo 0 efa, aumentando o siclo, e procedendo dolosamente com balangas enganadoras, para comprarmos os pobres por di- nheiro e os necessitados por um par de sandélias e vender- mos 0 refugo do trigo? Algumas das mais belas e profundas declaragées bfblicas sobre o sdbado aparecem no livro do profeta Isafas, conhecido com 0 “profeta messianico”. Por exemplo, Isafas 56:1-8 enfatiza o cardter universal do sabado: Assim diz o Senhor: Mantende o jutzo e fazei justiga, porque a Minha salvacao esta prestes a vir, e a Minha justi- Ga, prestes a manifestar-se. Bem-aventurado 0 homem que faz isto, ¢ 0 filho do homem que nisto se firma, que se guar- da de profanar 0 sébado e guarda a sua mao de cometer algum mal. Nao fale o estrangeiro que se houver chegado ao Senhor, dizendo: O Senhor, com efeito, me separaré do Seu povo; nem tampouco diga 0 eunuco: Eis que eu sou uma 4rvore seca. Porque assim diz o Senhor: Aos eunucos que guardam os Meus sdbados, escolhem aquilo que Me agrada e abragam a Minha alianga, darei na Minha casa e dentro dos Meus muros, um memorial e um nome me- lhor do que filhos e filhas; um nome eterno darei a cada um deles, que nunca se apagard. Aos estrangeiros que se chegam ao Senhor, para O servirem e para amarem 0 nome do Senhor, sendo deste modo servos Seus, sim, todos os que guardam o sdbado, nao o profanando, e abragam a Minha alianga, também os levarei ao Meu santo monte e os alegrarei na Minha Casa de Oragdo; os seus holo- caustos e os seus sacriffcios serao aceitos no Meu altar, porque a Minha casa ser chamada Casa de Oragao para todos os povos. Assim diz o Senhor Deus, que congrega os dispersos de Israel: Ainda congregarei outros aos que j4 se acham reunidos. Como visto anteriormente, em Exodo 20:8-11 e Deuterondmio 5:12-15 0 mandamento do sabado é enunciado no contexto da graga redentora de Deus, que libertou 0 pové de Israel da escravidao egip- cia (Ex 20:2; Dt 5:6, 15). De modo semelhante, em Isafas 56:1-8 a observancia do s4bado é associada & graga salvadora, mencionada em Isafas 55:1 como dispontvel a todos gratuitamente, “sem dinhei- ro e sem prego”. Transpondo todas as fronteiras politicas e barreiras étnicas, 0 convite 4 observancia do sdbado é estendido também aos “estrangeiros” e eunucos (Is 56:3, 6), com tal abrangéncia que o templo de Jerusalém seria chamado de “Casa de Oracio para todos ‘os povos” (Is 56:7). Consequentemente, a tentativa de considerar a observancia do sdbado uma instituigdo meramente judaica acaba desconhecendo (1) a origem edénica do sabado (Gn 2:2, 3), antes da entrada do pecado no mundo (Gn 3) e quando ainda nao exis- tiam judeus (Gn 29:31-30:26; 35:16-26); (2) a natureza moral do mandamento do sabado, semelhante 4 dos demais mandamentos do Decélogo (Ex 20:3-17; Dt 5:7-21); (3) a abrangéncia universal da observancia do sabado, enfatizada em Isafas 56:1-8; e (4) a de- claragao do préprio Cristo de que “o sébado foi estabelecido por causa do homem’ (Me 2:27), e nao apenas dos judeus. Isafas 58:13 ¢ 14 menciona importantes detalhes sobre a forma de se observar o sébado, bem como as béngaos que resultam da genuina observancia do sabado. O texto diz: Se desviares 0 pé de profanar o sébado e de cuidar dos teus préprios interesses no Meu santo dia; se chamares ao sébado deleitoso e santo dia do Senhor, digno de honra, e o honrares nao seguindo os teus caminhos, nao pretendendo fazer a tua propria vontade, nem falando palavras vas, entio, te deleita- ras no Senhor. Eu te farei cavalgar sobre os altos da Terra e te sustentarei com a heranga de Jacé, teu Pai, porque a boca do Senhor o disse. A genuina observancia do sébado é descrita neste texto como abrangendo nao apenas as atividades fisicas, mas também os préprios O SABADO NA BIBLIA @)_—. motivos e as intengdes mais profundas. O ser humano como um todo —fisica, mental, social e espiritualmente — é convidado a se envolver a cada sébado com 0 verdadeiro espirito do s4bado. Os insistentes apelos para deixar de lado os “teus préprios interesses”, “os teus caminhos” e “a tua prépria vontade’”, e descansar no Senhor, colocam o sdbado como o climax da experiéncia da justificagaio pela fé nos méritos de Cristo (cf. Hb 3-4). Portanto, a verdadeira observancia do sébado bfblico é um forte antfdoto contra o legalismo, que busca a salvagao pelas prdoprias obras. E interessante observar que Isafas 56: 1-8 salienta a universalidade do sabado, como destinado “para todos os povos”; e que Isafas 58:13 e 14 enfatiza a abrangéncia do sdbado, como influenciando todas as dimensées da vida humana. Mas Isafas 66:22 e 23 reconhece a perpetuidade do sébado, como prosseguindo até o fim da historia humana e adentrando os préprios portais da eternidade. Esse texto declara: “Porque, como os novos céus e a nova ‘Terra, que hei de fazer, estardo diante de Mim, diz o Senhor, assim ha de estar a vossa posteridade e o vosso nome. E sera que, de uma Festa da Lua Nova a outra e de um sdbado a outro, viré toda a carne a adorar perante Mim, diz o Senhor.” A ideia de que 0 sdbado semanal nao mais serd observado no “novo céu e nova Terra” (Ap 21:1), porque entao os remidos viverao em um sdbado perene, é destitufda de fundamento biblico. Embora 0 texto mencione elementos de natureza cerimonial, como o ritual da lua nova (ver Nm 10:10; 28:11-14; Am 8:5), 0 sdbado é aqui projetado para além do contexto nacional da alianga com Israel no Sinai, envolvendo “toda a carne” e continuando durante a eternidade. Portanto, 0 livro de Isaias apresenta uma triplice aplicagao do sébado (1) ao povo de Israel como nagao (58:1, 12-14); (2) & humanidade como um todo (56:1-8); e (3) aos proprios remidos que habitarao “os novos céus € a nova Terra” (66:22, 23). Por sua vez, os profetas Jeremias e Ezequiel foram contem- poraneos e exerceram seu ministério no contexto do cativeiro babilénico (Jr 39; Ez 1:1-3). O reino do Norte nao mais existia e o do Sul caracterizava-se por uma crescente apostasia nacional.* -~@ 0 SABADO NO ANTIGO TESTAMENTO 41 Antes da conquista de Jerusalém por Nabucodonosor em 605 a.C., Deus ainda propds, através de Jeremias (17:19-27), que, se 0 povo judeu empreendesse uma genufna reforma na observancia do sabado, Jerusalém seria “para sempre habitada”. Se, todavia, tal reforma nao ocorresse, a cidade seria completamente destrufda. Por meio de Ezequiel (20:1-44), Deus relembrou que os israeli- tas, depois do éxodo, nao entraram na terra prometida porque “nao andaram nos Meus estatutos” e “profanaram grandemente os Meus sdbados” (v, 13), estabelecidos como “sinal entre Mim e eles” (v. 12, 20). Lamentavelmente, os apelos divinos nao foram tomados a sério, Jerusalém, sfmbolo da morada de Deus com Seu povo, acabou sendo conquistada pelos exércitos de Babilénia. Lemos em 2 Crénicas 36:15-21: O Senhor, Deus de seus pais, comegando de madruga- da, falou-lhes por intermédio dos Seus mensageiros, por- que Se compadecera do Seu povo e da Sta propria morada. Eles, porém, zombavam dos mensageiros, desprezavam as palavras de Deus e mofavam dos Seus profetas, até que subiu a ira do Senhor contra o Seu povo, e nao houve re- médio algum. Por isso, o Senhor fez subir contra ele o rei dos caldeus, 0 qual matou os seus jovens & espada, na casa do seu santu- ario; e ndo teve piedade nem dos jovens nem das donzelas, nem dos velhos nem dos mais avangados em idade; a todos os deu nas suas maos. ‘Todos os utensilios da Casa de Deus, grandes © pequenos, os tesouros da Casa do Senhor e os tesouros do rei e dos seus principes, tudo levou ele para a Babilénia. Queimaram a Casa de Deus e derribaram os muros de Jerusalém; todos os seus paldcios queimaram, destruindo também todos os seus preciosos objetos. Os que escaparam da espada, a esses levou ele para a Babil6nia, onde se torna- ram seus servos e de seus filhos, até ao tempo do reino da Pérsia; para que se cumprisse a palavra do Senhor, por boca BADO NA BIBLIA 6) de Jeremias, até que a terra se agradasse dos seus s4bados; todos os dias da desolagdo repousou, até que os setenta anos se cumpriram. Na realidade, Jeremias predisse que 0 cativeiro babilénico de Juda duraria 70 anos (Jr 25:11, 12; 29:10; cf. 2Cr 36:21; Dn 9:2). Ezequiel também anteviu o retorno dos cativos para Jerusalém, onde o templo seria reconstrufdo e seus servigos sagrados seriam restaurados (Ez 36-37, 40-48). Esse processo envolveria também a restauracao da observincia do sébado (Ez 44:24; 45:17; 46:1-4, 12), que se tornaria “central” no judafsmo pés-extlico.* O Sabado no Periodo Pés-Exilico Os judeus foram levados cativos para Babildnia por terem se afastado de Deus (2Cr 36:15-21). Durante sua permanéncia no exilio, eles sofreram a influéncia paganizadora da ova cultura na qual estavam inseridos. Somente uma profunda reforma es- piritual poderia levé-los de volta a verdadeira religiio de Deus. Assim, ap6s o retorno dos judeus do cativeiro babilénico, Esdras e Neemias empreenderam uma profunda reforma espiritual en- tre 0 povo. O servico religioso, que se estendeu por varios dias, comegou com a leitura do livro da lei (Ne 8:1-12) e a celebracdo da Festa dos Taberndculos (Ne 8:13-18). O povo se comprometeu, em solene alianga, a nao mais continuar profanando o sébado (Ne 9:38; 10:28-31). Mas, como 0 povo voltou a profanar o sébado, Neemias se valeu de sua autoridade como governador e restabeleceu oficialmente a observancia do sabado (ver Ne 13:15-22). Ordenou que as portas da cidade fossem fechadas “dando jé sombra as portas de Jerusalém antes do sdbado”, para que “nenhuma carga entrasse no dia de sabado” (Ne 13:19). O texto n&o apenas confirma que 0 sabado se inicia ao p6r do sol de sexta-feira e termina ao por do sol de sébado (cf. Ly 23:32; Dt 16:6),?> mas também esclarece que todas as atividades seculares devem ser deixadas de lado antes “do infcio do sdbado. _~@ 0 SABADO NO ANTIGO TESTAMENTO 4B Resumo O sdbado, como santudrio de Deus no tempo, foi estabelecido ao término da semana da criagdo (Gn 2:2,3; Ex 20:11; Hb 4:4, 10), quando todas as coisas ainda eram perfeitas. Mesmo com a entrada do pecado no mundo, Deus continuou legando o sabado aos seres humanos. Do Eden ao Sinai existem evidéncias da observancia do sdbado, que se tornam mais explicitas com a experiéncia do mand no deserto de Sim (£x 16:11-35). Na alianga do Sinai, a natureza moral do s4bado foi confirmada por sua presenca no Decdlogo, como memorial da criagaio (Ex 20:8-11). Ao término da peregrinacao no deserto, o mandamento do sabado foi enunciado também como memorial da redengdo (Dt 5:12-15). Os primeiros 500 anos da permanéncia dos israclitas em Canaa s4o marcados por um persistente siléncio a respeito do sébado, que deve ser entendido como evidéncia de sua observancia. Quando 0 sébado comegou a ser profanado de maneira mais generalizada, Deus enviou profetas para advertir 0 povo de suas transgressdes. O profeta Isafas enfatizou a universalidade do sibado “para todos os povos” (56:1-8), a abrangéncia do sabado em todas as dimensées da vida humana (58:13, 14) e a perpetuidade do sébado até o fim da histéria humana e mesmo durante a eternidade (66:22, 23). A per- sistente profanagao do sdbado foi uma das principais causas do exilio babilénico (Jr 17:19-27). Mas as reformas espirituais levadas a efeito por Esdras e Neemias contribufram para restaurar a observancia do sdbado no perfodo pés-exilico (Ne 9:38; 10:28-31; 13:15-22). Alguém poderia conjecturar que o ciclo semanal e a observancia do sabado teriam se perdido nos primérdios da historia humana. Mas foi a propria observancia do sdbado que manteve esse ciclo inalterado ao longo da histéria. Ainda que tivesse sido esquecido, ele acabaria sendo divinamente restaurado e reajustado por meio (1) do préprio milagre da auséncia do mand no sdbado (Ex 16); (2) da observancia do quarto mandamento do Decélogo sob supervisio divina (Ex 20:8-11; Dt 5:12-15); e (3) das orientagdes proféticas so- bre a genuina observancia do sabado (Is 58:12-14). Portanto, assim como Deus instituiu originalmente 0 sébado ao término da semana

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