SEJA BEM-VINDO AO

“Um mapa do mundo que não inclua a Utopia

não é digno de ser consultado.” Oscar Wilde
Índice
{ Parte 1 } Ei, tá boa?
{ Parte 2 } Design de conexões: uma
abordagem para construção de relações
significativas
{ Parte 3 } Bússola do Design de Conexões
{ Parte 4 } Amor e Pertencimento
{ Parte 5 } Não era amor, era cilada
{ Parte 6 } Raio X: como anda a qualidade das
suas relações e comunidades?
{ Parte 7 } Tudo começa de uma possibilidade
{ Parte 8 } Identidade: O que nos une como
grupo?
{ Parte 9 } Humanos não são clones
{ Parte 10 } A espiral dourada
{ Parte 11 } Acordos para o jogo infinito
{ Parte 12 } Relações: Como as pessoas nutrem
as relações para que sejam verdadeiramente
amorosas?
{ Parte 13 } Autonomia e amor
{ Parte 14 } Intimidade e amor
{ Parte 15 } Experiências: Quais experiências e
rituais adicionam significado a comunidade?
{ Parte 16 } Elevação: ser perfeito ou ser
lembrado?
{ Parte 17 } Gatilho emocional
{ Parte 18 } Transições: a regra do início —
transição — fim
— PARTE 1

Ei, tá boa?
Todo esse material foi construído com muita “Para abrir
dedicação, estudo e um desejo profundo de que
haja cada vez mais relações e espaços onde nossos corações
podemos encontrar amor e pertencimento. completamente
Eu te convido a explorar esse conteúdo ao para o poder do
mesmo tempo que cultiva o seu próprio
pensamento. Use o que faz sentido para você,
amor, precisamos
hackeie o que eu falo aqui, proponha coisas admitir quão
pouco nós
novas, conteste o que não fizer sentido, encontre
pessoas para processar esse conteúdo e
principalmente faça experimentos. sabemos sobre o
Espero principalmente que esse material te amor, em teoria e
transmita amuta, e sirva como uma semente
para alimentar a sua própria faísca interna e a
na prática.”
sua vontade de promover transformação nas
relações.

{ bell hooks }
Obrigada por fazer parte!

Beijos, Marcelle Xavier

BOAS VINDAS
Para quem é o
Design de Conexões?
Para qualquer pessoa que deseja melhorar as suas
relações e ampliar seu repertório e habilidades
relacionais

Para líderes, gestores de RH, gerentes de

comunidades, facilitadores ou profissionais que de
maneira geral cuidam das relações e da cultura “Este começo de
para apoiar no desenvolvimento de pessoas século será nosso
Para pessoas que desejam ser agentes de batismo do voo
transformação social e querem ampliar sua
capacidade de influenciar os sistemas
para a nossa
persistência no
amor.”

{ Matilde Campilho }

BOAS VINDAS

A gente ainda não se conhece?
Muito prazer, meu nome é Marcelle Pinto Xavier, sou iniciadora
do Instituto Amuta e criadora do Design de Conexões. Para a
gente se conhecer melhor, vou te contar 10 coisas sobre mim:
{ 1. } No que eu acredito:
regenerar as relações através
do amor é urgente e ponte
para o futuro, e criar conexões
significativas não precisa ser
acidente, e sim design.
{ 2. } O que os astros dizem
sobre mim: signo virgem,
ascendente aquário e lua em
peixes. Faça sua análise!
{ 3. } Minhas origens: nasci em
Belo Horizonte, sou filha da
Heloísa, do Heleno e sou irmã
(mais nova) da Marina.
{ 4. } Meus estudos: fiz
faculdade de Comunicação
Social na UFMG, e dois cursos
importantes para mim foram:
o curso de Transition Design na
Schumacher College e a
formação de Thinking
Environment. Mas o mais
importante sobre mim é que eu
sou uma aprendiz autodirigida,
e grande parte do meu
percurso de aprendizagem é
um misto de livros inacabados,
conversas curiosas e
experiências transformadoras.
{ 5. } Meu trabalho: acredito
que o que eu faço é criar
as condições, o contexto e
influenciar a cultura para
que relacionamentos se
desenvolvam desbloqueando
o fluxo do amor. Dentro de
organizações isso ganha
a cara de aprendizagem,
desenvolvimento, autogestão,
motivação, e na vida leva a
mais felicidade, longevidade,
saúde. No fim, é tudo sobre
amor.
{ 6. } Meu ranço: preconceitos,
feedbacks não solicitados,
individualismo, whatsapp e
opiniões pouco embasadas.
{ 7. } Seção biscoitos (o que as
pessoas falam de bom sobre
mim): profunda, inteligente,
estilosa, questionadora,
comunicadora, ágil, aberta,
segura, realizadora, ritualística,
emocionalmente forte, bem
humorada, generosa
intelectual. (as ruins deixo você
descobrir depois)
{ 8. } Referências que sempre
vai me ver citando: Nora
Bateson, Charles Vogl, Nancy
Kline, Aza Njeri, bell hooks e
Byung Chul Han.
{ 9. } Lugar dos sonhos:
Califórnia, Fernando de
Noronha, Grécia e Barcelona
SOBRE A AUTORA
(sonhos realizados), Cuba,
Tailândia, Bali e Portugal
(sonhos a realizar).
{ 10. } Me convide para:
seriados leves, dramáticos ou
envolventes (Modern Family,
This is Us, The Act), uma taça
de vinho ou gin tônica clássica,
macarrão carbonara, música
que faz sorrir, dançar ou chorar,
documentários com análises
sociais, conhecer um artista
novo, karaokê, livros, jogar o
corpo na água e viajar sempre.
Tudo isso de manhã, porque às
21h eu estarei dormindo.
Ficou curioso? Deu match?
Tomara.
Uma
Marina Galvão Julia Passos Laura Oliveira
Maurício Assis Juliana Knopka Carolina Apgaua
Rodolfo Bonifácio Juliana Octaviano Victor Sarti
comunidade Estevão Andrade
Adriana Tieppo
Lara Cristina
Laura Oliveira
Thais Ananias
Vivien Suarez
amorosa! Brunna Martinato
Laura Pereira
Marcia Bevilaqua
Mareliza Dias
Bruna Cerasi
Fernanda Santos
Daniela Oliveira Mariana Fernandes Claudiana Figueiredo
O Design de Conexões foi
Flavia Mariana Helou Maíra Moura
criado por mim, mas cada
Rodrigues Milena Bonini Georgia Cunha
pedacinho do que eu venho
Moara Nathalia Pontes Sara Maria
criando traz consigo um
Vieira Patrícia Lamego Rubens Vieira
pouco das ideias,
Tainah Veras Raquel Tetti Marina De Oliveira
provocações e
Rafael Bucci Tereza Raquel Douglas Leal
experimentações de uma
Mariana Wandarti Kellie Crosara Marcia Lins
comunidade amorosa de
Ana Siqueira Ana Boschiero
designers de conexão que
Andrea Constantino Claudia Soeiro
estão comigo.
Ariana Frances Brenda Cariz
Camila Assmann Larissa Carneiro
Camilla Souza Fernanda Andrade
Daiana Martins Amanda Vieira
Fabianny Strauss Datise Biasi
Fernanda Haskel Pamela Albuquerque
Fernanda Oliveira Priscila Freitas
Flora Alves Renata Ferreira
Ieda Lima Pereira Roberta Campana

COMUNIDADE
— PARTE 2

Design de conexões: Herdamos historicamente um padrão violento, que

bloqueia o amor nas nossas relações, por isso criar
uma abordagem para construção conexões significativas é algo raro e muitas vezes até
acidental. Mas eu acredito que conexões não precisam
de relações significativas acontecer por acidente, e sim via design.

Embora o design seja historicamente utilizado na criação
de coisas, o design já vem há alguns anos evoluindo em
sua prática com objetivo de impulsionar transformações
em sistemas, e é nesse campo de design que entra o
Design de Conexões.
“Como criadores de modelos, protótipos
e proposições, os designers ocupam um
espaço dialético entre o mundo que é e
o mundo que poderia ser.”
O objetivo da abordagem Design de Conexões é oferecer
conceitos e práticas para que qualquer um se torne
capaz de reconfigurar os padrões das relações em
determinado contexto.
A proposta desse material é ser uma semente para
disseminar alguns dos conceitos e práticas desenvolvidos
no campo do Design de Conexões, e ampliar o campo de
prática para um número cada vez maior de pessoas.

— Transition Design

O Design é capaz de causar mudanças significativas ao

tornar certas práticas mais fáceis, eficazes e/ou
agradáveis. Logo, um bom Design é capaz de moldar os
nossos ambientes, transformando nossos hábitos, o que
é central para transformar o padrão tóxico de relações
aos quais estamos sistemicamente envolvidos.

DESIGN DE CONEXÕES
Bora experimentar o
Design de Conexões?
“Mudanças
Aqui você vai encontrar:
importantes e
radicais são
Conteúdos e reflexões para ampliar o seu necessárias para
repertório baseado em pesquisas práticas
e teóricas;
o amor se tornar
um fenômeno
social, e não um
Espaço para entrar em contato com
fenômeno
os seus sentimentos e sensações; individual e
marginal.”

Práticas para experimentar

nas suas relações e levar { Erich Fromm }
para o seu dia a dia.

DESIGN DE CONEXÕES
 Os 3 pilares
— PARTE 3

Bússola do Com objetivo de disseminar conteúdos, estudos e práticas

Design de Conexões do amor, no Design de Conexões esquematizei o que eu
encontrei nos pilares mais essenciais na construção de
Para se encontrar espaços que facilitam as conexões.
no processo
O Design de Conexões se ancora então em três pilares:

Identidade Relações Experiências

Aquilo que nos une e Aquilo que nos Aquilo que
faz com que eu sinta conecta e faz com experimentamos juntos
pertencimento que eu sinta amor e adiciona significado

MAPA DA JORNADA
Esses três pilares se desdobram em 8 aspectos que
quando trabalhados ajudam a construir espaços
com relacionamentos que geram pertencimento,
amor e significado:

Propósito Papel Acordos

No Design de Conexões esses

aspectos vão ser seus companheiros
Autonomia Intimidade na jornada de transformação dos
relacionamentos e comunidades.

Gatilhos Elevação
emocionais Transições

MAPA DA JORNADA
O processo Definição
de intenção
Não precisa ter pressa e querer dominar todos os
territórios criando ações para cada um desses 8
aspectos. Não criamos relacionamentos saudáveis Identificação Observação
preenchendo um canvas em 2h, e sim através da de padrões
experiência viva e da construção contínua. Por isso
as suas ferramentas ao longo desse processo
serão:
O processo

Definição de intenção: a possibilidade que você

enxerga e quer facilitar nascer Experimentação Aprendizado

Observação: o que você observa nas suas relações,

Sustentação
com todos os seus sentidos.

Identificação de padrões: o que parece se repetir como um padrão nessas

relações indicando caminhos para focar sua atenção e cuidado (pode
aparecer como desafios, mas também oportunidades)

Experimentação: as práticas que você experimenta para que as relações As relações são
cresçam e evoluam (aumentando o pertencimento, o amor e o significado) evolutivas e a
gente sempre dá
Sustentação: a repetição e consistência nas práticas até que elas se
só o próximo
tornem um hábito ou não sejam mais necessárias para a relação
passo disponível.
Aprendizado: aquilo que você descobre sobre você e sobre o grupo a partir
da experimentação.
MAPA DA JORNADA
MAPA DA JORNADA
— PARTE 4

Amor e
Pertencimento

“Todo mundo admite que amor é

maravilhoso e necessário, mas
ninguém concorda com o que é
amor. Usamos a palavra amor de
uma maneira tão desleixada que
pode significar quase nada ou
absolutamente tudo.”

{ Diane Ackerman }

AMOR E COMUNIDADES
Do que estamos falando
quando falamos de amor?
O que é amor para você? Um sentimento? Uma
força? Uma energia? Uma inteligência? A união
de espíritos? Uma vontade de extensão?
Por isso achei importante definir o que estamos
falando quando falamos de amor dentro da
abordagem do Design de Conexões proposta
pelo Instituto Amuta. Foi a partir de diversas
referências que eu criei a minha própria
definição de amor, e resolvi chamar de AMUTA.

AM: raiz da palavra amor | MUTA: originária do

Nas minhas pesquisas sobre amor encontrei
termo Kama Muta que significa ser movido por
um campo fértil de estudos sobre amor.
amor.
Filosofia, budismo, psicologia positiva, ciência
comportamental, biomimética, pensamento
Amuta é um sentimento de comoção e euforia
sistêmico - de pesquisadores a poetas, os
que nasce do intenso afeto, presença e
estudos sobre amor tem ampla abrangência e
atenção destinada a outra pessoa, a partir do
contribuições das mais variadas disciplinas.
qual a aceitamos e enxergamos
completamente, e desejamos sua felicidade
Reconheço e legitimo as múltiplas abordagens
de tal forma que criamos espaço para que o
para o amor, e não tenho a pretensão de que
outro se desenvolva em suas virtudes mais
um dia chegaremos em um consenso sobre o
elevadas.
seu significado. Ao mesmo tempo, entendo que
a nossa dificuldade de entender o significado
do amor dificulta nossa capacidade de amar, e
abre espaço para relações abusivas
pretensamente amorosas.

AMOR E COMUNIDADES
“Amar é ver o outro
como legítimo outro
na convivência”.
{ Humberto Maturana }
As minhas principais referências outro até que ele caiba na minha ideia de como
ele deveria ser. Todo esse afeto colonizatório que
para o amor nos atravessa mina a real possibilidade de amor.
Por isso essa definição do Maturana foi tão
A nossa visão de amor é inundada de romantismo
transformadora para mim, pois a partir de agora
e cinismo, por isso acho fundamental ampliar as
quando eu amo, eu deixo ser.
nossas referências sobre amor. Eu poderia citar
uma série de referências que encontrei ao longo
E eu não só “deixo ser”, como ofereço o meu olhar
da minha pesquisa, mas escolhi compartilhar aqui
para o outro. “Eu te vejo como legítimo e ao te ver,
definições que mais transformaram a minha
facilito que você seja”.
forma de amar e por isso estão na base do que
queremos criar no Instituto Amuta.
Essa compreensão de amor se encontra com uma
visão que encontrei no budismo, que propõe que
Para o neurobiólogo Humberto Maturana “Amar é
amar é sonhar a felicidade genuína. E felicidade
ver o outro como legítimo outro na convivência”.
genuína nada mais é que o florescimento das
Quando encontrei essa definição algo em mim
nossas virtudes humanas mais elevadas. Ou seja,
mudou profundamente, pois eu percebi o quanto
amar é desejar e facilitar o florescimento do outro.
as dinâmicas das minhas relações estavam
progressivamente deslegitimando o outro como
É aí que entra uma das potências do amor que
outro.
mais me fascinam. Ver o outro dessa forma é livre
de qualquer esforço, e é como se desbloqueasse
Deslegitimo o outro através da interrupção, do
toda a potência que fica abafada quando não
sugestionamento, da luta constante que nos
somos vistos, ou pior ainda, quando somos
envolvemos em educar, moldar, transformar o
deslegitimados.

AMOR E COMUNIDADES
 O que o
MacGyve
r faria?

AMOR E COMUNIDADES
O amor quando está presente nos deixa mais
inteligentes. Para Maturana, nosso comportamento
nada mais é do que a extensão das nossas emoções
- é fácil entender isso quando nos recordamos das
ações que já tomamos em momentos de raiva. E o
amor como uma emoção que expande a visão,
amplia o nosso comportamento inteligente.
Adoro a forma como Maturana usou o exemplo do
seriado McGyver para explicar como o amor nos
deixa mais inteligentes. Na série, McGyver
constantemente se vê preso em algum lugar com
seu parceiro. Enquanto seu companheiro fica
assustado e paralisado, McGyver aceita plenamente
a situação como legítima. Ao manifestar amor pela
situação ele pode ver e todo o seu conhecimento fica
disponível para descobrir como sair da situação.
“Se você está com medo, você não
pode ver; seu conhecimento não está
disponível e seu comportamento
inteligente é diminuído.” — Humberto
Maturana
O amor é urgente.
Nas escolas, nas organizações, nas famílias -
estamos constantemente nos envolvendo em
dinâmicas relacionais que operam na negação do
outro. Estamos bloqueando o amor, a inteligência,
a potência e a felicidade genuína, e as
consequências como bem conhecemos têm sido
desastrosas.
Por isso precisamos de intencionalmente criar
comunidades. Eu entendo comunidades como um
tipo específico de organização social que ao reunir
pessoas faz com que elas sintam que pertencem.
Eu tenho um cuidado especial no uso da palavra
pertencimento, pois é muito comum ao pertencer,
perdemos nossa individualidade e entrarmos em
conformidade com o grupo. Por isso, o
pertencimento que evoco só existe em um
ambiente de amor, em que diferentes existências e
individualizadas são legitimadas.
AMOR E COMUNIDADES
 Pertencimento: é a percepção de si como parte
de um grupo maior. Nasce no encontro da
identificação com um grupo que compartilha
de algo comum, com a manifestação da sua
individualidade dentro desse grupo.
Pertencemos quando nos identificamos e
somos aceitos.

Imagina um mundo onde cada espaço é um convite ao O que nas suas relações
pertencimento, cada interação é uma possibilidade de mais energiza você?
conexão, cada decisão é tomada em um espaço de amor,
e cada ação é a extensão dessa emoção que nos deixa
mais inteligentes. O que Mc Gyver faria pode ser o que
cada um de nós pode fazer se estivermos em um
ambiente que facilita o fluxo do amor.

Por isso o Amuta existe. Porque dentro do meu sonho de

amor, os espaços onde somos vistos e podemos “ser” vão
ser a regra e não exceção. Acredito que é
responsabilidade de cada um de nós criar espaços que
facilitam o fluxo do amor, e por isso resolvi disponibilizar
esse guia para disseminar alguns conceitos e ferramentas
para qualquer pessoa que deseja dar os primeiros passos
para se tornar um Designer de Conexões.

AMOR E COMUNIDADES
Fale de amor,
e se for preciso
use palavras.

AMOR E COMUNIDADES
— PARTE 5

Não era amor, era cilada Parece familiar?

Fomos socializados para competição,
apropriação, conflito, silenciamento, e quando
BINGO DA DESCONEXÃO estamos em comunidades e organizações,
vivenciamos repetidamente os mesmos
Baixa problemas e não temos a menor ideia como sair
capacidade de
Baixa Conflitos desse ciclo vicioso.
gerar
tolerância à mal
pensamento
diversidade resolvidos
independente e
autonomia Estamos todos em crise nas nossas relações, mas
o problema não é você, nem eu. A forma que
Falta de Falta de espaço
Comunicação agimos individualmente, é um reflexo do coletivo
com ruído que
espaço para para ser você
gera ao qual fazemos parte e os desafios que
errar mesmo
retrabalho enfrentamos para construir e nutrir
relacionamentos saudáveis fazem parte da
Dificuldade Reuniões violência estrutural da cultura a qual estamos
Baixa
de tomar longas,
capacidade inseridos.
decisões de improdutivas
de escuta
qualidade e desgastante

Dificuldade Dificuldade
Baixa “O amor é profundamente político”
de ser de criar e
motivação e — bell hooks
assertivo e seguir
engajamento
dizer não acordos

DESCONEXÃO
Ao identificar e reconhecer nossas próprias feridas
individuais causadas pela falta de amor, e
reconhecer a violência estrutural que reproduzimos
por fazer parte dessa cultura, somos capazes de
promover a transformação das relações. É quando
experienciamos comunidade nessa dança entre
sofrimento individual e transformação social que
encontramos brechas para o amor.
Não era amor, era cilada
A cultura a qual fazemos parte é uma herança do
patriarcado europeu, e faz parte dessa cultura as
emoções que constituem a forma como agimos
nos nossos relacionamentos.

“O sofrimento foi o que acabou por

motivar o movimento dos direitos
civis dos 1960s. Também impulsionou
o movimento de libertação das
mulheres nos anos 1990s. Nestes
casos, grupos de pessoas
experienciaram seu sofrimento de
forma aguda, mas também
experienciaram isso como
comunidade. E isso os ajudou a
encontrar seu propósito político
coletivo, permitindo que os
organizadores os unissem, com uma
agenda compartilhada de mudança
social.” — Tim Kasser

DESCONEXÃO
Quais características dessa cultura influenciam o nosso
modo de se relacionar?
Universalização: crença na verdade única, de que
existe em um jeito correto de pensar e se comportar e
o do outro é errado.
Nesse contexto, faltam nas nossas relações
dois elementos que entendo como centrais
para construção de relacionamentos com
níveis saudáveis de interdependência:
autonomia e intimidade.

Apropriação: impedir o acesso normal de outro ser a Como consequência, nas nossas relações
algo que lhe é naturalmente legítimo muitas vezes puxamos a balança para a
independência - e permanecemos sozinhos
Obediência: negação do outro, em troca da até mesmo quando estamos em relação um
conservação de algo com o outro. E muitas vezes puxamos a
balança para a fusão - nos fundimos a ponto
Controle: negação do outro pela falta de confiança
de nos perdermos de nós mesmos
replicando padrões de abuso (como
Racionalização: negação das emoções e das
múltiplas inteligências e supervalorização da razão e abusados ou abusadores).
do pensamento com fonte de conhecimento

Exclusão: negação do outro e de tudo que representa

uma ameaça

Narcisismo: indiferença ao outro por ignorar tudo que

extrapola a sua própria imagem e projeção

Meritocracia: ignorar o outro por colocar grande peso

na responsabilidade individual
DESCONEXÃO

{1}
Falta de autonomia
Na cultura patriarcal a qual estamos inseridos, nós
desconfiamos da autonomia dos outros, e por isso
nos apropriamos do direito de controlar suas
vidas, pautando assim as nossas relações em
hierarquia e obediência.
Quanto de colonização cabe no nosso afeto?
Muitas vezes nas relações com as pessoas que
supostamente mais amamos, os limites entre o eu
e o outro desaparecem - quero que ele faça o que
eu faria, pense como eu, e atenda minhas
expectativas.
Sem reconhecer a autonomia do outro (sua
legitimidade como outro), entramos
inevitavelmente em relações com nós mesmos. A
crise do amor nos tempos atuais nasce da erosão
do Outro.* (Byung Chul Han)
Vivemos o inferno do igual, e isso significa o fim da
experiência erótica. Quando queremos que o
outro aja conforme nossas expectativas, tentamos
possuí-lo de tal forma que ele deixa de ser outro.
Nossa tentativa de proximidade gera na verdade
distanciamento de quem o outro realmente é.
"Hoje vivemos numa sociedade que está se tornando
cada vez mais narcisista. A libido é investida
primordialmente na própria subjetividade. O sujeito
não consegue perceber o outro em sua alteridade e
perceber essa alteridade. Ele só encontra significação
ali onde consegue reconhecer de algum modo a si
mesmo. No inferno do igual a chegada do outro pode
tomar uma forma apocalíptica. Mas não se pode amar
o outro a quem se privou de sua alteridade, só se
poderá consumi-lo."
— Byung Chul Han
DESCONEXÃO

{2}
Falta de intimidade
Ao negar o outro e investir a libido em nossa
própria subjetividade, criamos uma bolha em
torno de nós mesmos que nos afasta da real
intimidade com o outro. Relacionar é um risco - é
permitir afetar e afetar-se.
E o que é o afeto? Afeto é um estado de alma,
um sentimento, um carinho intenso. Afeto é
substantivo, mas é também verbo. Afeto
vem de afetar, é aquilo que me atravessa,
por me atravessar me move. O que me afeta
me transforma.
Nossa vida corre como um feed de instagram,
atualizada a cada 10 segundos com opiniões
apressadas, contatos líquidos e verdades
fabricadas. Nós temos pressa, e o afeto pede
calma. Nós queremos filtros e perfeição, e o afeto
pede fragilidade. Nós queremos euforia, o afeto
pede construção.
Não somos capazes de reconhecer o impacto da
nossa existência no outro e do outro em nós, e
assim fugimos do risco que é a intimidade. A
intimidade é inerentemente frágil - é quando
rimos e choramos juntos, é quando passamos
perrengue, é quando nos permitimos ajudar e ser
ajudados.
“O amor romântico ignora todos os estágios de uma
união espiritual, em que começamos embaixo da
montanha e gradualmente, caminhamos juntos até o
topo, não deixa espaço para a verdadeira identidade
das pessoas aparecer, estimula o anonimato e força
as pessoas a se mascararem.”
— Sobonfu Somé
DESCONEXÃO
O que nas suas relações
mais frustra você?

“Socorro, alguém me dê
um coração. Que esse já
não bate nem apanha.
Por favor, uma emoção
pequena, qualquer
coisa.”
{ Arnaldo Antunes }

DESCONEXÃO
— PARTE 6

Raio X: Matriz das Relações

como anda a qualidade das suas
relações e comunidades?
Matriz das Relações
{ 1 }. Faça uma lista de pelo menos 10 pessoas que
estão na sua vida (mas você pode ampliar esse
número para o número que quiser). Pense em
pessoas diversas: família, trabalho, vizinhos, estudos,
amigos, relacionamento amoroso, esporte.
Muito vínculo — pouca nutrição Muito vínculo — muita nutrição
{ 2. } Posicione os nomes das pessoas no quadrante
que percebe que ela mais se encaixa no momento.

Vínculo: o vínculo tem a ver com o seu grau de

proximidade com essa pessoa no momento
atual. Vínculo não significa que você precisa
gostar muito dessa pessoa e sim que sua
convivência com ela tem ritmo e frequência.

Nutrição: a nutrição está ligada ao quanto

aquela relação te nutre, te energiza, ajuda a
cuidar de necessidades importantes para você Pouco vínculo — pouca nutrição Pouco vínculo — muita nutrição
e te ajuda a trazer o que há de melhor em você.
RAIO X
Para refletir
Muito vínculo, pouca Muito vínculo, muita
Olhando para a matriz, você pode começar a ter
um mapeamento das pequenas comunidades nutrição nutrição
que você participa e da saúde dessas relações.
O que você pode O que você pode
Com quais comunidades você tem maior vínculo hoje? fazer para aumentar fazer para fortalecer
a qualidade dessas ainda mais essas
relações que são tão comunidades que
presentes na sua vida são uma importante
e estão fonte de nutrição na
Quais comunidades mais te nutrem? enfraquecidas? sua vida?

Pouco vínculo, pouca Pouco vínculo, muita

nutrição nutrição

Escolha‌ uma dessas comunidades para experimentar Existe algo que você O que você pode
seu papel de Design de Conexões ao longo dessa queira fazer em fazer para se
jornada. Minha sugestão é que você escolha uma das
relação a essa aproximar dessas
comunidades que você já tem muito vínculo, pois
comunidade? (se comunidades que
provavelmente é onde você terá maior poder de ação.
afastar pode ser uma te nutrem?
opção).
Mas a maioria dos conteúdos e práticas do Design de
Conexões podem ser aplicados a qualquer comunidade,
e também em relacionamentos pessoais.

RAIO X
 Acordos: Tratamos os desalinhamentos como
Avaliação da saúde da sua
oportunidades de evolução nas relações, e trocamos
comunidade informações constantemente para conseguir cuidar do
que é importante para nós.
Criamos uma forma de fazer uma avaliação rápida da
saúde de uma comunidade com base nos 3 pilares do
Design de Conexões (identidade, relações e experiências).

Olhando para a comunidade que você escolheu atuar, dê

uma nota de 1 a 7 para cada um dos itens abaixo.

A comunidade que eu vou avaliar é a:

Relações
Autonomia: Não preciso ser igual para ser aceita e recebo
atenção, reconhecimento e validação por ser quem eu sou

Identidade
Propósito: Eu tenho espaço para compartilhar meus Intimidade: Eu me percebo em sintonia com as pessoas, e
sonhos e histórias de impacto positivo no mundo. não preciso ficar explicando e racionalizando para me
conectar com elas

Papel: Sinto que tenho espaço para contribuir, e abertura

para encontrar o meu próprio jeito singular e único de
colaborar.

RAIO X
 Au
os ton
Experiências Ac
ord om
ia
7 7
Elevação: Vivemos frequentemente experiências 6 6
diferentes juntos, ou tornamos momentos mundanos 5 5

Int
4 4

im
especiais e memoráveis

el
3

Pap
3

ida
2 2

7
7

de
6
6
5

5
1 1

4
3

3
2

2
1

1
Gatilho emocional: Percebo que aqui é um espaço onde

1
tenho espaço e estímulos para entrar em contato com as

2
1 1

3
4
4
minhas emoções

5
5
2 2

Ele
6
o

7
t

7
3 3

ósi

va
4 4

ç
rop

ã
5 5

o
P
6 6
Transições: Tenho espaço para dar significado aos 7 7
momentos de transição que experiencio na minha vida. õ e s Em
oc
iç Ga iona
(inícios, mudanças, encerramentos, datas especiais, etc) Tr a n s
tilh is
o

Agora que você já tem um raio X da saúde da sua

comunidade, você pode experimentar ações para cuidar
desses relacionamentos. Nesse material você vai
encontrar uma seção com conteúdo, pesquisa e práticas
para cada um dos 8 itens que você acabou de avaliar.
Bora começar a experimentar?

RAIO X
“Querido ser humano,

Você não veio aqui para dominar o amor incondicional. Isso é de onde
você veio e para onde irá retornar. Você veio aqui para aprender o
amor pessoal. O amor universal. O amor bagunçado, suado, louco.
O amor quebrado. O amor inteiro. Infundido com divindade, e vivido
pela graça de tropeçar e pela beleza de... bagunçar. Muitas vezes.

Você não veio aqui para ser perfeito. Perfeito você já é. Você veio aqui
para ser maravilhosamente humano. Defeito e fabuloso. E elevado pelo
não esquecimento.

Mas amor incondicional? Ih… Pare de contar essa história. O amor na

verdade não precisa de adjetivos. Não requer modificação. Não requer
condições de perfeição.

Ele só pede que você apareça. E faça o seu melhor. Que você fique
presente e sinta plenamente. Que você brilhe e voe e ria e chore e se
machuque e cure e caia e volte a se divertir e trabalhar e viver e morrer
como VOCÊ. Isso é o suficiente.

E isso é muita coisa. ”

{ Courtney Walsh }

RAIO X
— PARTE 7

Tudo começa de uma Para o que estamos dizendo SIM?

possibilidade Geralmente tentamos convencer as pessoas a se engajar

Quando estamos desenhando intencionalmente nossas
comunidades, partimos de uma possibilidade, um ato de
imaginação do que podemos criar juntos, que deve ser
uma declaração feita publicamente.
apresentando o problema, mas mesmo se tiver um
problema que nos une, precisamos nos lembrar o que de
bom pode acontecer se der certo. Precisamos nos permitir
escolher para o que estamos dizendo SIM.

“Um mapa do mundo que não inclua a Utopia

Possibilidade é mais do que uma visão ou um sonho,
não é digno de ser consultado, pois deixa de
porque ela nos tira do futuro e nos coloca no presente. Não
fora o único país no qual a humanidade está
é sobre imaginar o que queremos que aconteça (embora a
sempre desembarcando. E, quando a
imaginação seja também fundamental). É sobre declarar
humanidade lá desembarca, olha em volta e,
em voz alta as nossas ideias sobre o que essas relações e
vendo um país melhor, iça as velas”.
esse espaço podem vir a ser. O poder da possibilidade está
— Oscar Wilde
no ato de declarar, porque a partir da sua declaração, de
alguma forma já começamos a criá-la. (Peter Block)

“A possibilidade cria algo novo. É uma declaração

Diferentes comunidades, diferentes
de um futuro que tem a qualidade de ser e a possibilidades
vivacidade que escolhemos viver. É enquadrado
como uma declaração do mundo que desejo Não importa qual seja seu objetivo, você pode escolher
habitar. É uma declaração de quem eu sou que atingi-lo em comunidade.
transcende nossa história, nossa história, nossa
demografia usual. E seu poder está no ato de
declarar.” — Peter Block
POSSIBILIDADE E OBJETIVOS
 Tipo de comunidade Exemplo de comunidade
Você pode escolher nutrir
uma comunidade por Aprendizagem: facilitar com que as pessoas apoiem MOL (Masters Google
qualquer motivo, e inclusive umas às outras no processo de aprendizagem of Learning) Academy

por motivo nenhum, uma vez

Apoio e suporte: criar uma rede de apoio e suporte no Alcoólicos
que estar em comunidade é qual as pessoas compartilham seus desafios e obtém Udemy
Anônimos
uma fonte de motivação ajuda umas das outras
intrínseca.
Transformação Social: facilitar com que pessoas se De-bug Transition
(Raj Jayadev - Justiça
encontrem para lidar com desafios sociais Town
Mas comunidades podem Participatória)

ser espaços para lidar com
grandes desafios que
experimentamos hoje - de
indivíduos, organizações e
sociedade. Por isso, antes de
começar a navegar neste
material, te convido a pensar
na possibilidade do que você
quer alcançar ao nutrir esse
espaço.
Selecionei os sete propósitos
mais comuns que observo
em comunidades, e listei três
exemplos para cada um
deles para você se inspirar.
Contribuição: espaços que facilitam a contribuição Open
com ideias e experiência pessoal aplicadas a criação IDEO
Sallve
ou melhoria de produtos e serviços
Trabalhar juntos: facilitar com que as pessoas se EcoSocial
juntem para trabalhar de maneira colaborativa.
Enspiralt
Impact Hub
Valor social: espaços de conexão que facilitam com Jantares
que pessoas se conheçam ou aprofundem vínculos Charles Vogl
Duolingo
sociais
Polinização: movimentos que facilitam com que ideias
se disseminem através da descentralização e TEDx Airbnb
polarização
Agora responda: O que
podemos viver juntos em
uma comunidade, que não
poderíamos viver sozinhos?

POSSIBILIDADE E OBJETIVOS
“O amor ensaboa a alma, faz arder, cospe fogo em
cima das feridas outrora abertas por ele mesmo. Amor
não é calmo, gosta de andar a cavalo, acha lindas as
palavras açucena, mel e gota. O amor gosta de
mulheres que se chamam Adélia e ri bastante quando
chove. O amor dorme pouco, beija muito, bebe café,
gin, cachaça de boteco. O amor é sem respeito, não
teve educação, e dizem, nem mãe. O amor enreda os
cabelos, sopra areia nos olhos. O amor ri dos delicados,
faz sangue chacota de Deus, e nunca encontrou a
palavra limite. O amor lava a honra com sangue e
come com as mãos. Às vezes. O amor deixa rastros,
estrias, descampados e abre princípios com foice. Ou
colher. O amor tem mais vento do que fogo. E como já
disse alguém, água o amor não é”

{ Cris Lisbôa }
 Todos nós estamos o tempo todo lutando para saber quem
nós somos. Ao mesmo tempo que estamos tentando
permanecer fiéis a nós mesmos, queremos pertencer a um
grupo e encontrar o nosso papel dentro do coletivo. Isso é
estar em comunidade.

Como organismos vivos, ao mesmo tempo que

conservamos uma identidade individual, estamos em uma
— PARTE 8 larga rede de relacionamento, que molda o tempo todo
quem nós somos, podendo liberar ou constringir quem

Identidade
podemos nos tornar. A nossa identidade é individual e
também social.

O que nos une “Identificação de grupo'' é a percepção de que se

pertence e está comprometida com um grupo
omo grupo? social (Mael e Ashforth 1992; Tajfel e Turner 1985).
De acordo com a teoria da identidade social, os
indivíduos não têm apenas autoconceitos
pessoais, mas também autoconceitos sociais,
usados para classificar a si próprios e aos outros
em grupos. Essas identidades sociais são
definidas de acordo com características próprias,
como as crenças, práticas e valores do grupo”.
(Turner 1985)

IDENTIDADE
Um dos três pilares de comunidades onde há o sentimento
de pertencimento é a identidade. Mas construir uma
identidade também traz uma armadilha, pois à medida
que nos sentimos parte de um grupo, nossa identidade
coletiva pode começar a suprimir nossa identidade
individual.
Dentro de grupos, processos sutis de influência levam a
conformidade social, e as pessoas passam a adotar
crenças e comportamentos para se harmonizar com o
grupo, e podem facilmente perder sua autonomia e seu
pensamento independente.
Por isso, no Design de Conexões, ampliamos o nosso olhar
para construir uma identidade de tal modo que:
{ 1. } As pessoas sintam que fazem parte de um grupo no
qual as pessoas compartilham algo comum. É a cola que
une as pessoas e faz com que elas se sintam parte de um
todo.
{ 2. } As pessoas sintam que a identidade individual delas
é convidada a se manifestar dentro do coletivo. Caso
contrário as pessoas podem se perder em conformidade, e
o que era para ser uma comunidade de pessoas
explorando sua potência, vira um culto de pessoas não
pensantes.
Nosso trabalho como designers de conexão é criar espaço
para que o processo de descobrir quem eu sou como
indivíduo dentro do grupo, quem nós somos enquanto
grupo e qual o nosso papel nesse coletivo seja facilitado e
potencializado. Constantemente.
Como fortalecer a identidade?
Quando nos colocamos ativamente como Designers de
Conexão fazemos o processo ativo de criar os meios para
que as pessoas se percebam como parte do sistema.
Isso significa que cada um precisa reconhecer sua
interdependência e assumir seu lugar como um indivíduo
maduro, que reconhece o seu papel dentro do coletivo, e
tem espaço para fazer e refazer acordos para que a
relação continue a ser divertida e nutritiva.
Na abordagem do Design de Conexões, exploramos 3
frentes para construção da identidade de um grupo:
Construção de papéis
Construção de propósito
Construção de acordos
IDENTIDADE
Para cada uma delas, exploramos conceitos, levantamos
pesquisas e propomos práticas que oferecemos para que A pergunta que você deve se fazer é
o grupo seja capaz de experimentar e assim evoluir o seu
relacionamento. Ao todo, no Design de Conexões já O que esse grupo precisa experimentar
reunimos 20 pesquisas e 20 práticas para ampliar a AGORA para evoluir sua identidade e
identidade de um grupo, e nesse material selecionei 6 para assim aumentar o pertencimento?
você começar a experimentar.

No Design de Conexões acreditamos que relações são

evolutivas e emergentes, e por isso você não precisa se
preocupar em cobrir todas as frentes (papel, propósito e
acordos), e cada grupo a cada momento vai ter uma
necessidade diferente.

IDENTIDADE
— PARTE 9
Humanos não são clones
“Como formigas, nós também nos sobressaímos
em diferentes tarefas, e temos diferentes
personalidades. A sociedade permite, e requer,
que todas as pessoas floresçam.”
— Tamsin Wooley
Quando nos juntamos em comunidade, nós precisamos
que cada indivíduo descubra como pode contribuir, pois só
assim vamos conseguir colaborar e gerar o pertencimento
necessário para viver de maneira coletiva.
Colaboração nasce é na diferença. Isso significa que, para
que as pessoas dentro de um coletivo colaborem para
mantê-lo vivo, elas precisam reconhecer o seu papel, e
não só o que elas têm em comum, mas o que elas têm de
diferente. (Tamsin Wooley)
“Quanto mais semelhantes os indivíduos são,
mais eles competem pelas mesmas coisas. São
as diferenças que reduzem a competição entre
eles, permitindo-os trabalhar mais próximos
assumindo nichos um pouco diferentes na
colônia.” — Tamsin Wooley
Uma das formas de distribuir poder e gerar colaboração é
criando papéis. Não precisamos dizer para as pessoas
qual é o papel delas, mas precisamos criar espaço para
que elas descubram. E para isso precisamos abrir espaço
para que as pessoas possam contribuir. Nas relações,
assim como nas comunidades, participação e vínculo
muitas vezes nasce onde há fragilidade.
Só conseguimos colaborar quando uma potencialidade
se encontra com uma fragilidade. Por isso, sem
vulnerabilidade, extinguimos a possibilidade de que os
indivíduos em um coletivo encontrem seu papel e
possam colaborar.
Hipóteses baseadas em pesquisas
Nós criamos maior conexão emocional (e valorizamos
mais) coisas que ajudamos a construir e quando
sentimos que temos poder e escolha observamos
aumento da motivação e redução do estresse dos
envolvidos.
IDENTIDADE

52 pessoas foram divididas em 2 grupos e
receberam caixas da IKEA: uma totalmente
montada e outra que eles deveriam
montar. Aqueles que tiveram a opção de
montar suas caixas estavam dispostos a
pagar 63% a mais. (The Ikea Effect)
88 estudantes em um campo de
treinamento de ginástica foram divididos
em 2 grupos: um deles podia escolher
dentre 4 atividades para participar e o
outro foi atribuído aleatoriamente a 1 dos 4.
Aqueles que tiveram opção de escolha
avaliaram substancialmente melhor a
experiência. (Coglode)
O que posso testar:
{ 1. } Pedidos e Presentes: Crie um espaço para que as pessoas
vinculem fragilidades e potencialidades. Uma vez por mês, em
post its todos listam seus desafios e necessidades para
realizar tarefas importantes na sua vida pessoal ou na
comunidade. Com os desafios listados, qualquer um pode
colocar seu nome nos post its que podem ajudar.
{ 2. } Espaço de potência: Abra espaço para uma conversa em
torno da pergunta “Qual presente você traz para o grupo que
talvez a gente ainda não saiba?” . Permita que as pessoas
expressem seus talentos únicos e qualidades especiais.
Finalize com a pergunta: “O que você precisa para que esse
seja um espaço de expressão da sua potência?”
O que é importante observar:
As pessoas sentem que tem espaço para contribuir?
As pessoas sentem que têm abertura para encontrar o seu
próprio jeito singular de contribuir com o todo?
Quais pessoas precisam ser incluídas nesse espaço para
que ele se torne mais diverso, e consequentemente mais
resiliente?
IDENTIDADE
 Como comunidades Como comunidades
enfraquecidas engajam fortalecidas engajam
as pessoas no trabalho as pessoas no trabalho
{cargos, obrigações, competências fixas} {papéis, convites, potências}

Procuro uma pessoa com essas Tenho esse propósito e não tenho a
competências para ocupar esse pretensão de fazer tudo sozinha.
cargo, e fazer essas tarefas. Vamos Como você acredita que suas
ver se você se encaixa! potencialidades podem ajudar?

IDENTIDADE
Planejamento do experimento Acompanhamento do experimento

Padrão observado seg ter qua qui sex sáb dom

Descrição do experimento

Aprendizados

mês:
IDENTIDADE
— PARTE 10
A espiral dourada
O que acontece no início de uma comunidade, é que
muitas vezes as pessoas se perdem em abstrações de
sonhos e belos propósitos para tentar explicar o que vai
atrair as pessoas e por que elas vão escolher se conectar.
As pessoas podem até ser atraídas por um propósito, mas
elas ficam pelas relações e pelas pessoas que encontram
ali. Podemos ter um propósito como uma faísca inicial, mas
para que não seja só uma abstração, precisamos
descobrir o encontro dos nossos propósitos juntos, na
convivência.
Por isso, o criador de comunidades Michel Bachmann
propõe uma adaptação no círculo dourado proposto por
Simon Sinek. Sinek propõe que organizações comecem a
se organizar “com o porquê”, ou seja, do propósito.
Mas Bachmann propõe duas mudanças:
inverter o círculo por uma espiral
ao invés de colocar o “porque” no centro, colocar
“quem” no centro.
o quê o quê
como
como
porquê
porquê
quem
Raramente somos todos guiados por um único propósito e
através da espiral dourada focamos no encontro dos
nossos propósitos que são múltiplos, evolutivos e
descobertos em relação. Através do nosso encontro
podemos descobrir onde nossos propósitos se sobrepõem
e criar mecanismos para descobrir e potencializar o nosso
encontro.
O propósito é só uma semente inicial que te atrai
ou te des-atrai se vai pra um lugar muito
diferente do esperado, mas o que te faz continuar
é um lance da cola, cultura, jeitão, regra simples,
tem vários nomes para isso. É a sensação de tribo,
de estar com uma galera que eu sinto que
pertenço.” — Alessandro Gruber
IDENTIDADE
Hipóteses baseadas em pesquisas O que posso testar:
Precisamos conhecer as histórias das pessoas e da { 1. } Mural de histórias: Faça um mural no qual cada um deve
comunidade para nos sentirmos conectadas ao propósito compartilhar uma vez por semana com histórias de como
individual e coletivo. (Hansen) contribuíram para que a vida das pessoas ao seu redor seja
mais rica. Ao final de 1 mês faça um
encontro para celebrar e identificar os
padrões que revelam como a comunidade
32 salva-vidas foram divididos em dois grupos. O primeiro, e as pessoas que fazem parte dela têm
chamado de “grupo de benefício pessoal”, leu histórias de
impacto positivo na vida de outras
salva-vidas que haviam se beneficiado com as habilidades
pessoas e do mundo. Em outras palavras,
adquiridas no seu trabalho. O segundo, o “grupo de sentido”,
esse exercício é capaz de revelar: por que
leu histórias sobre salva-vidas que resgataram nadadores
que se afogaram. O segundo grupo se inscreveu para 43% a sua comunidade importa?
mais de horas de trabalho na semana seguinte da
intervenção e teve 21% a mais de comportamento de { 2. } Colheita de histórias: Faça um
suporte. (Adam Grant Wharton School) encontro mensal para gerar aprendizado a
partir das histórias. Todos podem
compartilhar histórias significativas na sua
vida ou no seu trabalho, utilizando os 5
O termo “transporte narrativo” sugere que uma vez imersas passos abaixo. Dê um tempo para a escrita
em uma história, as pessoas têm sua mente alterada. da história e depois abra espaço para que
(Escalas 2004). 20 pessoas foram divididas em dois grupos. algumas pessoas compartilhem em voz
Metade leu a história da marca e metade não, e ambos alta suas histórias em pequenos grupos.
deveriam dar uma estimativa de preço ao produto. Aqueles Os ouvintes da história devem assumir
que leram a história deram um preço estimado
diferentes lentes, e devolver ao contador
significativamente superior e estavam mais dispostas a
ao final o que ouviu a partir da sua lente
pagar pelo produto. (Journal of Brand Management)
como um presente para o contador da
história.
IDENTIDADE
 Os 5 passos da história As 3 lentes
Como o
Quem [insira um Quais
Apreciação Vulnerabilidade Aprendizado
Qual a Como O que você mais Quais sentimentos O que ouvir essa
foram as princípio foram os
questão você se
pessoas importante aprendiza- apreciou na escuta você experienciou ao história te revelou sobre
(desafio ou sentiu para a sua
que te dos e da história? escutar a história? a sua própria história?
oportunidade ao longo comunidade]
apoiaram como essa
que te foi dessa
nessa se manifes- história te
apresentada) história?
história? tou na sua transformou?
história*?

O que é importante observar:

As pessoas sentem que tem espaço para encontrar e
compartilhar o seu próprio propósito dentro do coletivo?

As pessoas conhecem as histórias umas das outras, e

*Através da pergunta 4, você pode ajudar as pessoas a
conseguem acessar as histórias que materializam o
identificar como os princípios importantes da sua
impacto dessa comunidade no mundo?
comunidade estão se manifestando nas histórias.
Por exemplo, no Instituto Amuta, ajudamos as pessoas a ver como o amor se
Quais histórias precisam ser contadas para dar significado
manifesta na história. Você pode inserir algum outro princípio importante para você
(como inovação, transformação, compaixão, etc).
a experiência compartilhada por esse grupo?
IDENTIDADE
 Como comunidades Como comunidades
enfraquecidas engajam fortalecidas engajam
as pessoas no propósito as pessoas no propósito
{propósito único, estático {propósitos múltiplos, emergentes
e no centro} e pessoas no centro}

Qual o seu propósito, quais as

Esse é o propósito da nossa
suas histórias e como você
comunidade. Ou você se
manifesta os princípios da nossa
encaixa ou não pertence.
comunidade na sua vida?

IDENTIDADE
Planejamento do experimento Acompanhamento do experimento

Padrão observado seg ter qua qui sex sáb dom

Descrição do experimento

Aprendizados

mês:
IDENTIDADE
— PARTE 11

Acordos para o jogo infinito importante para as pessoas envolvidas, mas também da
evolução do relacionamento.

Muitas vezes entramos nas relações partindo do
pressuposto de que certas coisas são óbvias e não
precisam ser ditas. E quando ocorre algum conflito ou
desalinhamento, criamos uma caça às bruxas para
encontrar o culpado ou “corrigir o problema”.
Mas quando nos relacionamos, estamos constantemente
experimentando, testando, e aprendendo juntos sobre o
que funciona para mim, para o outro e para esse
relacionamento. E o que funciona hoje, pode deixar de
funcionar amanhã.
As relações são construídas através de acordos - que são
únicos, contextuais e normalmente nascem nesses
momentos nos quais entramos em fricção.
Acordos precisam ser feitos, revistos e desfeitos se
necessário para garantir que estamos cuidando do que é
importante para continuarmos juntos. O relacionamento
pode ser encarado então como um jogo infinito. No jogo
infinito o objetivo é continuar jogando, e por isso, qualquer
um sabe que tem o direito e o poder de propor novas
formas de interagir.

Por isso, melhor que tentar encontrar o culpado ou o

“O convite é que a pessoa possa intervir ou criar
problema, podemos ver os desalinhamentos que
junto com as outras pessoas as regras para que o
acontecem como oportunidades para revisitar os nossos
jogo funcione, seja divertido e nutritivo para ela.”
acordos.
— Juliana Machado

Acordo é a forma pela qual explicitamos o que é

importante para cuidar da relação. Quando
desassociamos os desafios que encontramos nas relações
como se fossem “defeitos a consertar” acessamos as
informações que nos informam movimentos possíveis. São
esses movimentos que ajudam não só a cuidar do que é

IDENTIDADE
 O que posso testar:
Hipóteses baseadas em pesquisas
{ 1. } Informação visível: Torne visível para os membros da
O comportamento das pessoas nos relacionamentos
comunidade informações relevantes do seu comportamento
segue informações que elas buscam o tempo todo para
que importam para o coletivo. Assim como os motoristas da
determinar se continuam ou não fazendo algo.
Califórnia e as formigas, estamos em busca de informação e
não necessariamente de punição, para determinar como
vamos agir.
Na Califórnia instalaram sinais de
velocidade em 5 locais para informar aos a. Ex: De 1 a 10, como você avalia sua motivação essa
motoristas a velocidade que estavam no semana? (sua escuta, sua disponibilidade emocional, ou
momento. Mesmo sem implicar em qualquer outro comportamento relevante a comunidade).
nenhum tipo de multa, ao instalar o b. Escolha 3 comportamentos mais relevantes no seu
sistema a velocidade média caiu em 22%. contexto, e permita que a pessoa se observe semana a
(Public Office 2003, Speed radar feedback semana.
sign study).
c. Após um tempo, abra espaço para que as pessoas
possam conversar sobre como se percebem e se tem algo
Pesquisadores mapearam através de que gostariam de mudar no seu próprio comportamento.
cálculos matemáticos o esquema de
feedback loops que a espécie de formigas Semanas Comportamento 1 Comportamento 2 Comportamento 3
Pogonomyrmex barbatus utiliza para
fornecer informações para o grupo. As
formigas só saem do formigueiro para
pegar comida quando observam que a
velocidade com que as outras formigas
estão indo e vindo para o formigueiro.
Quando a comida é abundante as
formigas voltam mais rápido para que
mais formigas saiam do formigueiro para
ajudar. (Dr. Deborah Gordon)

IDENTIDADE
{ 2. } Cultura intencional: Crie espaço para que o grupo crie O que é importante observar:
acordos de maneira emergente, observando semanalmente a
interação, como se sentiram, e o que precisam para continuarem Os desalinhamentos das relações são tratados como
juntos. problemas a resolver ou como oportunidades de
evolução?
a. Em um documento compartilhado, dê um tempo para que
todos possam anotar em silêncio observações (fatos
As pessoas têm informações para ajustar o seu
concretos e observáveis) do que aconteceu na semana, e
comportamento no coletivo?
em seguida colocar como se sentiram nessa situação.
b. Abra espaço para que as pessoas possam compartilhar As pessoas têm espaço seguro para levantar tensões
propostas para tentar lidar com as observações que revelam e propostas para cuidar das relações?
possíveis movimentos que podem tornar a convivência
melhor ou mais fácil.
c. Experimente a proposta por 7 a 15 dias, e caso a tensão
tenha sido cuidada torne aquela proposta um acordo oficial
do grupo.

Observação Sentimentos Propostas Acordos

IDENTIDADE
Como comunidades Como comunidades
enfraquecidas lidam fortalecidas lidam
com conflitos com conflitos
{regras, certo e errado, poder {acordos, tensões criativas,
centralizado} poder distribuído}

Algo deu errado - de quem é a Houve um desencontro - o que isso

culpa e qual regra podemos revela sobre nossa relação e o que
criar para punir ou evitar que podemos experimentar para cuidar
erros se repitam? dessa relação a partir de agora?

IDENTIDADE
Planejamento do experimento Acompanhamento do experimento

Padrão observado seg ter qua qui sex sáb dom

Descrição do experimento

Aprendizados

mês:
IDENTIDADE
 Retomando a definição de amor proposta por Humberto
Maturana, amor é a emoção que permite a aceitação do
outro como legítimo na convivência. Colocar esse
— PARTE 12 conceito de “amor como aceitação do outro” em
movimento pode transformar completamente as suas

Relações
relações e as comunidades que você pertence.

Meu trabalho em vivenciar, observar e destrinchar esse

conceito para que ele possa ser vivido intencionalmente no
Como as pessoas nutrem dia a dia me levou a encontrar dois elementos

as relações para que sejam complementares que quando cultivados evocam o amor e
criam relações saudáveis: autonomia e intimidade.
verdadeiramente amorosas? Autonomia e intimidade é o que nos leva a
interdependência, e ambos se retroalimentam.

Estudos realizados com bebês desde o século XX

identificaram, experimento após experimento, que sem
intimidade com uma fonte de apego seguro, manifestada
através de cuidado e suporte, os bebês são incapazes de
desenvolver a capacidade de explorar o mundo de forma
autônoma.

RELAÇÕES
Quão atento e sensível os pais são aos sinais do bebê? Eles
oferecem conforto rápido? Ao mesmo tempo, deixam a
criança escolher e explorar? São essas coisas que parecem
pequenas e imperceptíveis que formam uma fotografia de
como é a relação, e irão influenciar até mesmo no
desenvolvimento do cérebro das crianças*.
O apego seguro nasce da criação de intimidade, mas
também da autonomia. São relações nas quais somos
respeitados como seres capazes de cultivar “pensamento
independente”. Ou seja, nossos cuidadores acreditam que
podemos pensar por conta própria e somos vistos e
legitimados por isso. Ter alguém que nos enxerga nos dá
justamente a base de segurança e confiança que
precisamos para explorar o mundo e nos expressarmos.
Na ausência de autonomia e intimidade na infância, mas
também ao longo da vida, construímos relações de
dependência emocional, fenômeno que tem se tornado
cada vez mais comum nos últimos tempos. Para o autor
Erich Fromm, o aumento da dependência emocional vem
ocorrendo justamente porque as estruturas sociais que nos
sustentam como indivíduos estão cada vez mais
enfraquecidas.
*Série Bebês em foco - Episódio Amor - disponível no Netflix
"O homem moderno, libertado dos laços da
sociedade pré-individualista, que ao mesmo
tempo lhe dava segurança e o limitava, não
ganhou a liberdade no positivo sentido da
realização de seu eu individual; isto é, a expressão
de suas potencialidades intelectuais, emocionais
e sensoriais. A liberdade, embora lhe tenha
proporcionado independência e racionalidade,
tornou-o isolado e, portanto, ansioso e impotente.
Este isolamento é insuportável e as alternativas
com as quais ele se depara são escapar do peso
dessa liberdade para novas dependências e
submissão” — Erich Fromm
Nos estudos de dependência emocional, identifiquei que
quanto mais as pessoas são privadas de relações de
apego seguro ao longo da vida, mais elas se tornam
adultos incapazes de construir relacionamentos
horizontais.
Sem um histórico de apego seguro e com o
enfraquecimento das estruturas sociais, buscamos nas
poucas fontes de relacionamento que nos restam, atender
todas as nossas necessidades (o que é obviamente
impossível). Logo, começamos a controlar as pessoas, ou
criar distanciamento, porque temos baixa capacidade de
RELAÇÕES
construir relacionamentos horizontais - falíveis, incertos,
imperfeitos.
Para construir relações horizontais interdependentes,
precisamos facilitar o fluxo do amor. Criamos a intimidade
que leva a autonomia, e respeitando a autonomia
fomentamos relações com maior grau de intimidade. É
lindo, e revolucionário.
Como fortalecer as relações?
Quando nos colocamos ativamente como Designers de
Conexão fazemos o processo ativo de criar os meios para
que as relações sustentem autonomia e intimidade, em um
ciclo que se retroalimenta fortalecendo as relações e os
indivíduos.
reunimos 20 pesquisas e 20 práticas para ampliar as
relações de um grupo, e nesse material selecionei 4 para
você começar a experimentar.
No Design de Conexões acreditamos que relações são
evolutivas e emergentes, e por isso as estratégias que você
vai experimentar, vão variar de acordo com o que as
relações e as pessoas estão precisando a cada momento;
A pergunta que você deve se fazer é:
O que esse grupo precisa experimentar
AGORA para evoluir suas relações
assim ampliar o amor?

Na abordagem do Design de Conexões, exploramos então

essas 2 frentes para construção das relações:

Autonomia Intimidade

Para cada uma delas, exploramos conceitos, levantamos

pesquisas e propomos práticas que oferecemos para que
o grupo seja capaz de experimentar e assim evoluir o seu
relacionamento. Ao todo, no Design de Conexões já

RELAÇÕES
— PARTE 13
Autonomia e amor
“Seres humanos precisam de aceitação, e
quando esta lhes é dada movem-se em direção
a auto-realização”. — Carl Rogers
Costumamos achar que precisamos de muitas coisas para
manifestar o amor e o apoio às pessoas com as quais nos
relacionamos, mas tudo que precisamos para abrir o fluxo
do amor é se permitir ver o outro. Como outro.
O amor é uma espécie de autonomia assistida.
O psicólogo social Harry T Reis realizou um trabalho para
encontrar uma teoria universal que explicasse o que faz
certos relacionamentos serem bem sucedidos e outros
não, e nos seus estudos ele identificou a capacidade de
resposta como o fator central.
“Nossos relacionamentos são mais fortes quando
percebemos que nossos parceiros são
responsivos a nós”. — Harry T Reis
Queremos e precisamos ser vistos. Quando recebemos a
atenção sustentada e não corrompida de alguém, nossa
amígdala acalma, produzindo hormônios como serotonina e
ocitocina e suprimindo hormônios perturbadores como
cortisol e adrenalina. A atenção cria sincronia entre duas
pessoas, e é um catalisador da inteligência humana.
A atenção carrega em si um paradoxo: eu não importo,
porque não importa o que eu vá dizer quando respeito à
autonomia do outro em ser e pensar como quiser. Mas eu me
importo completamente porque a minha atenção sustentada
funciona como um catalisador para que o outro possa ir mais
longe em seus próprios pensamentos.
É o que a pesquisadora Nancy Kline descobriu, e está na base
da abordagem do Thinking Environment criada por ela. Suas
pesquisas demonstraram que a forma como estamos sendo
tratados pelas pessoas quando estamos pensando, impacta
mais na qualidade do nosso pensamento do que QI ou
referência prévia.
Retomando a descoberta do psicólogo Harry T Reis, o que
precisamos para sermos responsivos em nossas relações?
Somos responsivos quando prestamos atenção e quando
somos capazes de articular ao outro que estamos lhe vendo e
validando a sua existência e suas ações. Podemos fazer isso
através da escuta com feedback, do reconhecimento e da
apreciação.
RELAÇÕES
 "Para pensar, precisamos
de sangue, e para o sangue
fluir precisamos de
apreciação. É lindo. Quando O CEB realizou um experimento para investigar o que faz
apreciamos uns aos outros, diferença na experiência de atendimento a clientes.
Metade dos atendentes ignoraram o histórico do cliente, e
nós pensamos melhor. a outra metade compartilhou com o cliente sua
Quando pensamos melhor, “bagagem” a partir de uma consulta no seu registro. Os
amamos mais. Quando clientes classificaram a experiência com o atendente que
fez o “manuseio de bagagem” duas vezes mais alta que a
amamos mais, vivemos outra, e a percepção do esforço que tiveram em investir
melhor. E esse é o ponto de para resolver o problema despencou em 84%.
tudo, não é mesmo?”

{ Nancy Kline }

Na escola de Stanton, Washington D.C, foi realizado um

Hipóteses baseadas em pesquisas
Nossos relacionamentos são mais fortes quando
percebemos que nossos parceiros são responsivos a nós.
(Harry T Reis)
experimento com objetivo de atrair os pais para que se
envolvessem na educação dos filhos aumentando a
confiança dos pais na escola. A escola realizou visitas aos
pais com duração de 1h, nas quais faziam apenas três
perguntas interessadas. A ação com duração de apenas
uma hora, conseguiu aumentar em mais de 70% a
participação ativa dos pais na educação dos filhos.

RELAÇÕES
O que posso testar:
{ 1. } Dupla de pensamento (Thinking Environment): Crie um
ritual para que as pessoas possam oferecer atenção não
corrompida umas às outras. A prática envolve 2 pessoas: o
pensador que deve trazer seus pensamentos - sem se
preocupar em dar contexto, e o escutador - que deve
manter interesse e não interromper, nem comentar
mesmo após ela terminar focando em apenas escutar
com atenção.
Configure um cronômetro (você pode começar com 5
min para cada).
{ 2. } O que importa pra você? Crie uma prática para
aumentar a percepção da capacidade de resposta na sua
comunidade através de perguntas interessadas as pessoas
ao seu redor. Como é a experiência para você? Quais são os
seus sonhos para o futuro? Do que você precisa? O que é
importante para você? Esses são alguns exemplos de
perguntas, mas mais importante que a pergunta, é o
interesse real em ver o outro.
O que é importante observar:
As relações conservam espaço para a diferença?

O escutador começa com a pergunta “sobre o que você As pessoas estão prestando atenção umas nas outras?
gostaria de pensar e quais são os seus pensamentos?”
Existem rituais ou estruturas que facilitam com que as
pessoas sejam vistas, reconhecidas e legitimadas?
O pensador responde pensando em voz alta sobre um
tópico do seu interesse utilizando os 5 minutos
combinados.

Se o pensador parar de falar antes do tempo acabar

pergunte "o que mais você pensa ou sente sobre isso?"

Inverta a dupla.

Ao finalizar, troquem uma apreciação

RELAÇÕES
 Como comunidades Como comunidades
enfraquecidas fomentam fortalecidas fomentam
a autonomia a autonomia
{abandono} {companhia}

Vai que eu estou te vendo! Eu vejo

Vai! Você tem total
você, e estou aqui para te dar o
autonomia, só depende de
apoio que você precisar para
você. Faça acontecer!
explorar e encontrar o seu espaço!

RELAÇÕES
Planejamento do experimento Acompanhamento do experimento

Padrão observado seg ter qua qui sex sáb dom

Descrição do experimento

Aprendizados

mês:
RELAÇÕES
— PARTE 14

Intimidade e amor "O riso pode ser a distância mais curta entre dois
cérebros" — Daniel Goleman

“Se você não tem intimidade com o outro você

não tem nada. Quando não temos intimidade,
não temos vínculo, e quando não temos vínculo a Esse fluxo ativado pelo cuidado, e também pelo emocionar
relação se desfaz” — Viviane Mosé compartilhado nos possibilita entrar em sincronia uns com
os outros e fortalece a nossa confiança e intimidade. A
neurociência explica essa habilidade social de entrar em
Intimidade é o que faz com que as pessoas se sintam
sincronia com o outro através da descoberta dos
verdadeiramente conectadas umas com as outras. É o que
neurônios-espelho.
torna a relação fluida e natural. É o que nos alimenta o real
prazer de estar junto.
“Neurônios espelho nos permitem compreender a
A intimidade nas relações é alimentada pela ocitocina, e mente dos outros não por meio do raciocínio
uma das formas mais poderosas de liberarmos ocitocina é conceitual, mas por simulação direta: sentindo,
quando cuidamos e somos cuidados. Diferentes pesquisas não pensando.” — Giacomo Rizzolatti
já comprovaram a relação da ocitocina com a criação e o
fortalecimento de vínculos entre mamíferos. Cuidado
dedicado ativa a ocitocina, e fortalece vínculos - entre
mamíferos biologicamente conectados ou não. Entre
adultos e crianças, ou não.

Além do cuidado, a intimidade também é fortalecida

quando experimentamos emoções compartilhadas:
momentos de riso, choro, exposição, felicidade ou
adversidade juntos.

RELAÇÕES
Neurônios-espelho tornam as emoções contagiosas,
e nos possibilitam sentir o outro e cria um estado que
os neurocientistas chamam de "ressonância
empática", uma ligação que ocorre entre o cérebro
de duas pessoas.
Essa conversa “não verbal” (nomeada pelos
cientistas como protoconversa) é o nosso modelo
mais básico de interação desde bebês até o resto da
vida. É através desse modelo de interação que os
bebês criam elos de confiança com seus pais, e essa
capacidade de sincronizar segue sendo importante
para criar elos de confiança pelo resto da nossa vida.
“Acredito no amor como
união de espíritos para
subida da montanha da
vida”
{ Aza Njeri }
Hipóteses baseadas em pesquisas
Um grupo de pessoas foi dividido em dois grupos. No
primeiro, uma pessoa ficava de olhos vendados
enquanto tentava realizar a difícil tarefa de mexer uma
bolinha de espuma com os comandos da outra que
falava através de um canudo. No segundo eles não
usavam nem a venda, nem o canudo. No primeiro,
ambos se viam em situações "ridículas" e com alto
índice de erro e por isso caíam na gargalhada, o que os
levou a perceber a experiência como de maior
intimidade e confiança que o segundo grupo. (Barbara
Fraley | Arthur Aron)
Um estudo constatou que quando um grupo de
estranhos eram solicitados a realizar uma tarefa
dolorosa juntos, eles sentiam maior sensação de união
do que estranhos que haviam realizado uma tarefa sem
uma luta ou desafio. (Livro: O Poder dos Momentos)
RELAÇÕES
O que posso testar: Preliminares Afetivas
10 perguntas para criar intimidade
Crie um ritual com perguntas poderosas que ajudem as
pessoas em uma relação a acessar emoções Se você tivesse que escolher
compartilhadas, saindo do seu script de conversa habitual um recheio para comer em
tudo para o resto da sua vida,
no qual tendemos a manter diálogos superficiais e qual seria?
sustentar uma máscara.* Qual foi a maior dor
não física que você
já experimentou?
Qual emoção você
Perguntas de riso compartilhado: quando as pessoas se tem dificuldade de
divertem e compartilham o riso, elas se aproximam. Por aceitar em você
mesmo?
isso crie perguntas que as ajude a rir juntas, e não tenha O que você pensa
medo de explorar perguntas ridículas. sobre passas,
azeitona e coentro?

Perguntas de vulnerabilidade: quando as pessoas

Você já fez
compartilham suas histórias através de memórias, as algo que
emoções são ativadas, e a ressonância empática poderia te
Você usa o papel levar a ser
facilita a aproximação. Por isso explore perguntas que higiênico enrolado preso?
evidenciam a vulnerabilidade, e não tenha medo de ou amassado?

evocar memórias que levem a emoções fortes. O que você herdou

de mais positivo
dos seus pais?

*Você pode utilizar algumas das minhas perguntas Qual elogio

que você já
favoritas utilizadas no Instituto Amuta no ritual que recebeu
De longe, você vê o O que você não
nomeamos de Preliminar Afetiva. Disponibilizei neste que mais te
seu ônibus chegando contaria para
marcou?
material 10 das mais de 100 perguntas que na parada, você corre alguém num
pra pegar ou espera o primeiro encontro?
experimentamos nos últimos anos para você experimentar. próximo?

RELAÇÕES
O que é importante observar:
As pessoas têm oportunidades para se vulnerabilizar na
relação?
Como comunidades
Existe algo que constringe as pessoas e as impede de fortalecidas fomentam
criar intimidade progressiva? a intimidade
Existem rituais, encontros ou estruturas que facilitam {vulnerabilidade facilitada, intimidade
com que as pessoas tenham momentos de intimidade? como construção}

Eu hoje vou compartilhar algo

pessoal meu. Se alguém se sentir
à vontade pode compartilhar
também.
Como comunidades
enfraquecidas fomentam
a intimidade
{pressa, vulnerabilidade imposta}

Aqui vocês podem ser

vulneráveis. O que estão
esperando?

RELAÇÕES
Planejamento do experimento Acompanhamento do experimento

Padrão observado seg ter qua qui sex sáb dom

Descrição do experimento

Aprendizados

mês:
RELAÇÕES
 Muitas vezes os momentos que nos marcam e
transformam, aqueles nos quais nos sentimos conectados
com outras pessoas, e atravessam o tempo nas nossas
memórias acontecem ao acaso. Mas não precisamos
deixar ao acaso algo tão importante para nós e para
nossas comunidades.

Desenhar experiências é criar intencionalmente momentos

— PARTE 15
capazes de gerar significado, enriquecer nossas
comunidades e nossas vidas, e criar conexões profundas

Experiências
Quais experiências e rituais
adicionam significado
a comunidade?
com as pessoas com as quais nos importamos. Nesse
processo focamos na jornada emocional das pessoas,
com objetivo de criar os gatilhos para amplificar os
sentidos e assim potencializar os relacionamentos.
Uma grande corrente de cientistas sociais se dedicou ao
longo dos anos a pesquisar e explicar a importância da
participação em rituais coletivos para a coesão social e
cooperação. Esses rituais se mostraram elementos
evolutivos, fundamentais que possibilitaram que pessoas
anônimas cooperassem para suprir suas necessidades
físicas e econômicas.

Rituais sempre foram importantes ferramentas na

construção de comunidades. Por exemplo, a participação
em rituais coletivos de intensa ativação emocional,
especialmente através de algum nível de desconforto, foi

EXPERIÊNCIAS
associada à fusão de grupo. Esse tipo de conexão pode Somos almas em busca de significado e os rituais nos
não fazer tanto sentido no nosso contexto social, mas foi ajudam a dar sentido às nossas comunidades.
importante para os caçadores coletores por criar um
instinto de proteção fundamental à sobrevivência.
Como fortalecer as experiências?
Ao longo da história, os rituais evoluíram para apoiar o
Designers de Conexão desenham experiências que
desenvolvimento de relações sociais que suprissem as
agregam significado e conexão à experiência
necessidades de determinadas populações. Mas hoje os
compartilhada, de maneira constante e intencional.
rituais são cada vez mais escassos e comerciais e falham
em nos tocar, nos conectar e criar memórias significativas.
Na abordagem do Design de Conexões, exploramos 3
frentes para o desenho de experiências:
“Os ocidentais profissionalizaram e
racionalizaram o mundo até tirar a sua alma. É
Elevação
em momentos como esse que as pessoas
precisam de camadas mais profundas de
Gatilho emocional
significado.” — Meike Ziegler

Transição
Rituais produzem coesão e cooperação, e a evolução dos
nossos rituais pode nos ajudar a evoluir a complexidade
Para cada uma delas, exploramos conceitos, levantamos
social e regenerar relacionamentos e comunidades.
pesquisas e propomos práticas que oferecemos para que
o grupo seja capaz de experimentar e assim evoluir a
Integrar experiências com significado nas nossas
atribuição de significado. Ao todo, no Design de Conexões
comunidades reduz a nossa ansiedade em relação ao
já reunimos 20 pesquisas e 20 práticas para ampliar as
futuro, aumenta a nossa confiança, nos dá estabilidade em
experiências de um grupo, e nesse material selecionei 6
meio a mudança, nos tira da solidão, nos permite uma
para você começar a experimentar.
maior compreensão sobre a nossa vida, e enriquece
nossas relações.
EXPERIÊNCIAS

No Design de Conexões acreditamos que relações são
evolutivas e emergentes, e por isso as estratégias que
vocêvai experimentar, vão variar de acordo com o que as
relações e as pessoas estão precisando a cada momento;
O que esse grupo precisa experimentar
AGORA para evoluir suas experiências
e assim ampliar o significado?
— PARTE 16
Elevação: ser perfeito ou
ser lembrado?
A estratégia mais comum utilizada no Design tradicional é
a de mapear e resolver problemas, tentando eliminar os
aspectos negativos de uma experiência.
No entanto, quando desenhamos rituais deveríamos
inverter a lente. Ao invés de tentar eliminar o que não
queremos que as pessoas sintam, desenhar pensando no
que queremos causar a partir da experiência. No lugar de
eliminar os fossos, ou seja, os momentos indesejáveis de
uma experiência, alimentar os picos, os momentos
memoráveis já da experiência.
Se pudesse escolher, você escolheria ser perfeito ou ser
lembrado?
“Os clientes perdoarão falhas como piscinas
pequenas e uma decoração abaixo do esperado,
contanto que alguns momentos sejam mágicos”
— Chip e Dan Heath
EXPERIÊNCIAS
Uma pesquisa realizada pela Forrester, empresa de Hipóteses baseadas em pesquisas
pesquisa e consultoria de satisfação do cliente, identificou
que a maioria das empresas gasta 80% dos seus recursos Quando uma experiência surpreende as pessoas
tentando melhorar a experiência dos clientes insatisfeitos. desafiando como a experiência irá se desdobrar através
de um momento inesperado estratégico, as pessoas
Mas a Forrester descobriu em sua pesquisa que isso não tendem a percebê-la como mais impactante.
faz sentido em termos de investimento. Transformar uma
pessoa muito infeliz que deu nota 0 a 2 no seu serviço em
uma pessoa nota 3 ou 4 se tornando mediana, envolve um
investimento extremamente alto. Por sua vez, tornar
pessoas medianas, em pessoas muito satisfeitas tende a
envolver menos investimento, e elas tendem a investir
mais seu tempo e seu dinheiro do que pessoas que ficam
na média.

"Se você elevar os que já são positivos, você

ganhará cerca de 9 vezes mais receita do que se
eliminar os negativos.” — Chip e Dan Heath
Desenhamos rituais quando intencionalmente pensamos
onde queremos colocar energia e não o que precisamos
consertar. O problema de focar nos pontos de dor é que o
máximo que podemos fazer é transformar algo ruim em
mediano. E aí vai faltar recursos para investir nos picos, nos
momentos de alto envolvimento, aqueles que realmente
vão tornar uma experiência significativa e memorável.
A Southwest Airlines inseriu piadas no momento de
instruções de segurança, e ao avaliar o retorno
financeiro dessas piadas descobriu que 1 em cada
70 clientes mencionará espontaneamente quando
ouvir a instrução engraçada. O grupo de analistas
fez uma projeção de que se a Southwest dobrar o
número de clientes que ouviu instruções
engraçadas terá um resultado de mais de US$140
milhões em receita.

EXPERIÊNCIAS
O que posso testar:
{ 1. } Surpresa de sábado: Convide algumas pessoas para
junto com você sair do script da sua rotina de sábado
experimentando passar o tempo juntas vivendo algo
incomum. Uma única pessoa pode ser a responsável por
criar a experiência, ou cada um criar uma parte, desde
façam algo que não costumam fazer normalmente.

{ 2. } Caça aos tesouros: a pessoa recebe um mapa com

pistas de paradas, e sabe que terá um prêmio ao final. Ela
precisa achar a próxima parada usando as pistas
(conversando com as pessoas , pedindo ajuda, visitando
locais físicos ou virtuais sem saber o que vai encontrar,
procurando pistas escondidas - easter eggs). Uma vez que
termina a caça aos tesouros, ele recebe um presente.

O que é importante observar:

As pessoas estão vivenciando situações que as
surpreende ou desafia?

Você investe mais tempo em consertar o que está

dando errado ou em criar intencionalmente momentos
memoráveis?

Quais oportunidades você tem para tirar as pessoas da

rotina e elevar a experiência?

EXPERIÊNCIAS
 Como comunidades
enfraquecidas cuidam
da experiência
{eliminar as falhas, foco em quem
está insatisfeito}
O que posso fazer para reduzir o
índice de insatisfação e os gaps
da minha experiência?
Como comunidades
fortalecidas cuidam
da experiência
{criar momentos de elevação, foco
em quem já está engajado}
O que posso fazer para
aumentar as apostas e criar
momentos memoráveis na
minha experiência?
EXPERIÊNCIAS
Planejamento do experimento Acompanhamento do experimento

Padrão observado seg ter qua qui sex sáb dom

Descrição do experimento

Aprendizados

mês:
EXPERIÊNCIAS
— PARTE 17

Gatilho emocional
O psicólogo Paul Ekman, em parceria com o Dalai Lama,
criou uma ferramenta chamada linha do tempo
emocional. A linha do tempo emocional é uma forma de A linha do tempo começa
observar como nossas emoções se desdobram em uma com um gatilho que inicia
linha do tempo. uma experiência emocional,
uma dinâmica que ocorre na
relação,

Comporta-
Esse gatilho nos influencia a
Evento Mudanças mento se sentir de determinada
físicas construtivo forma (o gatilho é uma
influência, mas a forma como
cada um vai se sentir vai
depender da sua bagagem).
Estado
Pré condição Gatilho emocional Resposta Pós condição
O nosso estado emocional
condiciona uma resposta, ou
seja, influencia o nosso
comportamento
Mudanças Comporta-
Bagagem psicoló- mento
(banco de dados)
gicas destrutivo

Fonte: Atlas das emoções

EXPERIÊNCIAS
Na maior parte do tempo ignoramos que os Para potencializar as comunidades que fazemos parte
comportamentos que queremos despertar em criamos gatilhos emocionais que podem imbuir
comunidades que participamos são atrelados às significado e tornar uma experiência mundana em
emoções, e que emoções podem ser influenciadas mágica, tornar uma experiência solitária em um ritual
através de gatilhos. Por isso precisamos dedicar nosso compartilhado.
tempo a construir rituais e assim facilitar o fluxo das
emoções.

O que você quer causar nas pessoas?

Prazer, carinho, alegria, compaixão, diversão, alívio, paz,

orgulho, maravilhamento, deslumbramento,
encantamento, excitação, êxtase, confiança, coragem,
esperança, relaxamento, tranquilidade, vivacidade,
surpresa. Diferentes emoções influenciam diferentes
possibilidades de ação.

Pesquisas do Heart Math Institute revelaram que o

coração e os centros cognitivos do cérebro estão em
comunicação, e que as informações transmitidas dos
centros emocionais (coração) para os centros cognitivos
(cérebro) são mais fortes e numerosas do que as
enviadas do cérebro para o coração.
Ou seja, dificilmente a razão e o pensamento controlam
as emoções, e é muito fácil acontecer o contrário.
Hipóteses baseadas em pesquisas
Nossas emoções condicionam nossos comportamentos,
e podemos intencionalmente gerar gatilhos positivos
emocionais para influenciar a criação de vínculos em
comunidades

EXPERIÊNCIAS

A experiência "visita de gratidão" proposta pelo psicólogo
Martin Seligman, sugere a tarefa de escrever uma carta
de gratidão a alguém significativo em nossas vidas. Os
pesquisadores constataram que a experiência promove
uma das maiores ondas de felicidade do que qualquer
intervenção psicológica positiva, e mesmo 1 mês depois
as pessoas envolvidas na tarefa se sentiam mais felizes
do que as do grupo controle.
Um experimento social foi realizado com dois grupos que
deveriam completar exatamente a mesma tarefa, mas
um grupo era exposto a alguma condição de desconforto,
enquanto o outro não. O experimento testou dividir o
grupo entre realizar uma tarefa em água gelada e outro
em água de temperatura ambiente. O grupo exposto a
desconforto se engajou em comportamentos mais
cooperativos e se viram mais fortemente vinculadas que
o outro. (Bastian, Jetten e Ferris- 2014)
O que posso testar:
{ 1. } Jarra de Pequenos Momentos: a jarra deve ficar em
um local visível com papéis e caneta. Combine com as
pessoas que sempre que alguém notar que outra pessoa
fez algo incrível, deve escrever uma apreciação em um
papel e colocar na jarra. Seja ajudar alguém a cumprir um
prazo, fazer uma boa apresentação, fazer uma gentileza,
tornar seu dia mais leve - pequenos e grandes atos que
merecem ser apreciados. As jarras são esvaziadas
regularmente e você pode utilizar esse momento para
criar uma experiência especial como um jantar
compartilhado para a troca de apreciações.
{ 2. } Mandala da Verdade: Convide as pessoas para se
sentar em círculo com quatro quadrantes demarcados
por objetos simbólicos:
uma pedra (MEDO),
folhas mortas (TRISTEZA),
um graveto grosso (RAIVA)
uma tigela vazia (PRIVAÇÃO).
EXPERIÊNCIAS
Lista de emoções para ampliar
seu repertório
Agoniado Divertido Pleno
Machucado Deleite Amedrontado
Tristeza Depressão Jovial Abandono
Sofrimento Exaltado Pesar Abençoado Pânico
Tristeza Encantado Consternado Triunfante Histeria
Desapontamento Nostálgico Desagradado Famoso Inferioridade
Surpresa Vergonha Desesjogo Arrependimento Ansioso Inadequado
Negligência Afetuoso Culpa Esperançoso Preocupação
Desespero Pacífico Isolamento Excitado Ansiedade
Atortoamento Assustado Solitário Zelo Mortificado
Alegria Confusãi Aterrorizado Luto Euforia Pavor
Espanto Inseguro Impotência Júbão Ódio
Superação Nervoso Chocado Sedução Hostilidade
Abalado Horrorizado Desiludido Êxtase Agitação
Amor
Satisfeito Furioso Perplexo Romântico Frustração
Feliz Exasperado Atônito Carinho Irritação
Animado Irritado Impressionado Sensível Provocação
Medo Orgulhoso Inveja Sem palavras Atração Ressentido
Otimista Desgosto Espantado Paixão Ciúmes
Entusiasmado Estimulado Fascínio Desespero
Tocado Cuidado Revoltado
Raiva Gozo Compaixão
Saciado Liberdade

EXPERIÊNCIAS
Uma vez iniciado o ritual, uma pessoa de cada vez,
aleatória e espontaneamente, entra no círculo, pega um
objeto nas mãos e fala. Uma pessoa pode falar de apenas
um quadrante e sair, ou passar de um quadrante para
outro. Não há problema em apenas segurar um objeto e
não falar. As pessoas podem entrar mais de uma vez e
não há pressão para todos entrarem.

“A emoção
O que é importante observar: é o lado mais
As pessoas têm espaço para vivenciar suas emoções na
comunidade?
interessante
Quais as principais emoções relatadas pelas pessoas
da existência
na comunidade? humana”
Quais gatilhos você pode criar para despertar emoções
que fortaleçam os vínculos entre as pessoas e com os
valores da comunidade? { Aristóteles }

EXPERIÊNCIAS
 Como comunidades Como comunidades
enfraquecidas evocam fortalecidas evocam
comportamentos comportamentos
{foco no comportamento} {foco nos gatilhos emocionais}

Se quero que as pessoas se

Quero que as pessoas sejam mais
comportem de maneira empática,
empáticas. Talvez um curso de
qual emoção pode ajudar e como
empatia possa ajudar nessa
posso criar gatilhos no dia a dia para
mudança de comportamento.
convidar esse estado emocional?

EXPERIÊNCIAS
Planejamento do experimento Acompanhamento do experimento

Padrão observado seg ter qua qui sex sáb dom

Descrição do experimento

Aprendizados

mês:
EXPERIÊNCIAS
— PARTE 18
Inícios
Transições: a regra do Por mais gostoso que seja começar algo novo, é algo que
início — transição — fim demanda energia e às vezes ansiedade e preocupação.
Experiências compartilhadas nos ajudam a adentrar o
círculo mágico, o perímetro invisível que as pessoas
Estar em comunidade é ter conosco pessoas para
precisam cruzar para sentir que estão fazendo parte de
compartilhar a nossa caminhada e desenhamos
algo diferente.
experiências compartilhadas para tornar mais fácil e
prazeroso o ato de atravessar certos portais da nossa
A designer de experiências Ida Benedetto, sugere que
vida.
sabemos que adentramos um círculo mágico quando de
alguma forma os comportamentos compartilhados
Pense nos rituais que observamos em diferentes culturas:
naquele espaço se diferem do mundo habitual. Por
nascimentos, mortes, casamentos, a primeira
exemplo, em jogo de pôquer ou de truco as pessoas se
menstruação, ano novo. Normalmente criamos rituais
permitem blefar e insultar uns aos outros, e isso de alguma
para nos ajudar a navegar em momentos de inícios,
forma faz parte daquela experiência compartilhada. "Este
transições e finais.
é o círculo mágico em ação."

Experimentos de psicólogos apontam que ao lembrarmos

de uma experiência, ignoramos a maior parte do que
Transição
aconteceu e nos concentramos em alguns momentos em
Momentos de transição podem ser desafiadores. A teoria
particular. As pessoas tendem a se lembrar de uma
da perspectiva definida pelos psicólogos Daniel
experiência com base no que aconteceu no início, nas
Kahneman e Amos Tversky, afirma que as pessoas vão
transições e no final.
evitar a mudança o máximo que puderem, porque é
muito difícil para o nosso cérebro processar a incerteza de
um ganho futuro. Sofremos do efeito de certeza, as
pessoas tendem a preferir o certo do que o possível.

EXPERIÊNCIAS
Precisamos uns dos outros para acessar e processar as
diferentes emoções que se misturam em momentos de
transição. É importante integrar mente, mãos e coração
para lidar com a transição e ao criar rituais
compartilhados temos a confiança e o apoio que
precisamos para saber que temos uns aos outros nessa
jornada.
Encerramentos
Terminar uma relação, sair de um trabalho, sair da casa
dos pais, mudar de cidade, o fechamento de um projeto,
a morte de uma pessoa querida. Encerrar um ciclo pode
ser um momento de dor, luto ou no mínimo de saudade.
Quando desenhamos uma experiência de encerramento
não vamos evitar a dor que envolve o final, mas podemos
encontrar beleza e significado em meio ao luto. Quando a
experiência de fim é compartilhada, nós conseguimos
entender melhor o que estamos sentindo, ancorar nossas
emoções e nos preparar para o que está por vir.
Desenhamos rituais de encerramento para aproximar as
pessoas, ajudar a ancorar quem está sofrendo e celebrar
finais de ciclo.
Hipóteses baseadas em pesquisas
Rituais de início, transições e encerramentos aumentam a
chance de termos sucesso em coisas importantes para
nós, e de criar memórias positivas em relação às
experiências vividas.
EXPERIÊNCIAS

Pesquisa realizada com ex-alunos universitários para
questioná-los sobre suas memórias de faculdade
identificou que 40% das lembranças são do mês de
setembro, o início do período eletivo norte americano.
Choice Closure é um conceito sobre a importância de
envolvermos atos físicos em encerramentos para darmos
algo como concluído. Em um experimento, as pessoas
foram solicitadas a ler um menu com 24 chás para
escolher e decidir qual chá gostariam de provar e não
poderiam mudar de decisão. Verificou-se que aqueles
que foram convidados a fechar o cardápio após a
escolha do chá ficaram mais satisfeitos do que os
participantes que foram simplesmente convidados a
fazer uma escolha. (London Business School - Gu, Botti &
Faro, 2013)
O que posso testar:
{ 1. } Crash The Desk: um ritual de onboarding no qual
novos funcionários recebem em suas mesas uma
coleção de objetos pessoais de seus colegas. O novo
funcionário deve descobrir de quem é cada um dos
objetos para devolver e para isso ele precisa fazer
perguntas e se conectar com o time. É um ritual de boas
vindas com um jogo, e um “pretexto” para que o novo
funcionário interaja com seu time.
{ 2. } Carta para mim mesmo: ao final de um ciclo peça
que as pessoas escrevam uma carta para elas mesmas
com mensagens que gostariam de se lembrar sobre a
experiência vivida, e que sabem que podem acabar se
esquecendo. Você pode recolher as cartas e enviar após
alguns meses, ou sugerir que as pessoas guardem e
enviar um lembrete quando chegar o momento de abrir.
EXPERIÊNCIAS
 Como comunidades Como comunidades
enfraquecidas lidam fortalecidas lidam
com transições com transições
{foco em informações, falta de tempo} {foco na experiência, criação de espaço}

Nada é mais importante

A vida precisa continuar, agora do que criar espaço
sem tempo irmão! para processar, celebrar e
marcar esse momento!

EXPERIÊNCIAS
Planejamento do experimento Acompanhamento do experimento

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Descrição do experimento

Aprendizados

mês:
EXPERIÊNCIAS
O Design de Conexões é uma abordagem em
constante construção, então não deixe de me contar
o que achou, o que bateu para você e se tiver
contribuições também vou adorar.

O Instituto Amuta oferece uma formação para

aqueles que desejam aprofundar nessa abordagem,
e nosso objetivo é ter uma comunidade cada vez
maior de designers de conexão nos apoiando a levar
essa abordagem para organizações e comunidades.

Se quiser saber mais sobre o trabalho do

Instituto Amuta, entre no nosso site
https://www.institutoamuta.com.br/;

siga nosso instagram

https://www.instagram.com/instituto_amuta/;

ou entre em contato no email

amutainstituto@gmail.com.

ENCERRAMENTO
“A utopia está lá no
horizonte. Me aproximo dois
passos, ela se afasta dois
passos. Caminho dez passos,
e o horizonte corre dez
passos. Por mais que eu
caminhe, jamais alcançarei.
Para que serve a utopia?
Serve para isso: para que eu
não deixe de caminhar.”

{ Eduardo Galeano }

ENCERRAMENTO