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O ZBIRIGUIDÓFILO

Era uma vez um menino que tinha um zbiriguidófilo em casa.


Foi um tio, que viajava muito, quem lhe trouxe um dia o zbiriguidófilo, da
Polinésia, escondido numa lata de bolachas (pois, como sabem, é proibido trazer
zbiriguidófilos de lá).
É claro que o menino ficou muito contente: mais ninguém tinha um
zbiriguidófilo senão ele!
E, além disso, o zbiriguidófilo era lindo: tinha várias cores e, quando o
punham ao sol, mudava as cores dumas para as outras (de maneira que ficava
sempre com as mesmas, mas trocadas – não sei se estão a perceber: onde antes era
amarelo, ficava verde, e onde era verde ficava amarelo…).
O menino tinha muito cuidado com o zbiriguidófilo, está visto. Era o seu
tesouro!
Lavava-o, dia sim dia não, com uma mistura de sumo de tomate e pó de
talco, pois é assim que os zbiriguidófilos ficam mais luzidios, e secava-o depois entre
as folhas do caderno de matemática, pois é isso que faz os zbiriguidófilos felizes. Os
zbiriguidófilos adoram papel quadriculado.
O menino sonhava levar um dia o zbiriguidófilo à escola, e mostrá-lo aos seus
amigos, mas os pais ainda não tinham deixado:
– E se o zbiriguidófilo se assustava com tanto barulho? Sabe-se lá o que podia
acontecer…
O menino quase todos os dias insistia:
– Deixem-me levar o zbiriguidófilo! Eu prometo tomar conta dele, e vão ver
que não acontece nada…
Tanto insistiu, que ficou combinado: na segunda-feira seguinte – depois de
um fim-de-semana com juízo – ele levaria o zbiriguidófilo consigo para a escola. O
pior foi o que aconteceu a seguir!
No sábado, à hora do almoço, quando o menino veio da escola – não
encontrou o zbiriguidófilo no sítio do costume (que era dentro de uma jarra de latão
que havia na sala).
Foi ter com a mãe:
– Viste o zbiriguidófilo?
– Eu não – disse a mãe –, tenho estado a fazer o almoço e não reparei nele.
(Essa agora! Os pais, às vezes, são mesmo disparatados, não acham? Como é que se
deixa assim desaparecer um zbiriguidófilo sem dar por nada?! E logo antes da visita
à escola!)
Foi uma aflição!
O menino procurava por toda a casa. A menina procurava na marquise. Até o
pai, quando veio, ficou muito ralado e foi para a rua perguntar se alguém da
vizinhança teria visto o zbiriguidófilo.
Nada.
À noite, o menino deitou-se e não conseguia dormir, tão triste estava.
A mãe veio consolá-lo:
– Ele aparece, não estejas preocupado. Tenho a certeza de que vai aparecer.
O menino só não chorava porque tinha um bocadinho de vergonha.
Por fim, lá adormeceu.
No dia seguinte, mal acordou, foi a correr à jarra de latão – mas o
zbiriguidófilo não tinha voltado.
Um zbiriguidófilo tão bonito…
Todo o dia procuraram, e nada… E no dia seguinte era segunda-feira!
Que desgosto!
À noitinha, como de costume, o menino foi à casa de banho antes de se
deitar. Muito triste… lavou os dentes; fez as suas necessidades; puxou a
correntinha e…
– IIIIIIIAAAAAAAAAUUUUUUUU!!!
Então não era o zbiriguidófilo que estava escondido dentro do autoclismo?!
Vejam lá! Todo molhado! Cheio de frio! Cheio de fome!
Mas calculem a alegria que foi naquela casa!
Foi preciso gastar quase um litro de sumo de tomate e 125 gramas de pó de
talco para o pôr outra vez luzidio.
E na segunda-feira de manhã, lá foi para a escola, dentro de uma caixa de
sapatos forrada a papel quadriculado, todo bonito!
Como era de esperar, fez um sucesso: todos queriam pegar-lhe; fizeram-lhe
muitas festas; e umas meninas disseram que era a coisa mais fofa que tinham visto.
Ora isto é o máximo que se pode dizer a um zbiriguidófilo. Ficam tão
contentes que já nem sabem o que fazer para mostrar a sua satisfação… Depois de
ter pulado para todos os candeeiros da sala de aulas, o zbiriguidófilo deu
dentadinhas nas canelas de todos os meninos, sem esquecer um único.
A senhora professora foi então buscar um grande dicionário, e disse:
– Vou ler aos meninos o que diz aqui sobre os zbiriguidófilos… (abriu o
livro… procurou em várias folhas, enquanto dizia:
– Ora… zbiriguidófilo… zbiriguidófilo… vem na letra Z…
– Passou muitas folhas.
– Não, não está na Z…
Ah! Claro, vem na letra S…
Sebiriguidófilo, evidentemente…
– Andou muitas folhas para trás… muitas…).
(E como nós não podemos estar aqui à espera que ela encontre a palavra no
dicionário para saber o que é um zbiriguidófilo, vocês depois procuram, está bem?)
Agora, o melhor é irem para a cama, e sonharem com o zbiriguidófilo!

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