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Estudando - ENEM - Redação - 1
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“... o texto escrito, enquanto ação com sentido, constitui uma forma de relação dialógica que transcende as meras
relações lingüísticas, é uma unidade significativa de comunicação discursiva que tem articulações com outras
esferas de valores. Exige a compreensão como resposta, e esta compreensão configura o caráter dialógico da
ação, pois é parte integrante de todo o processo da escrita e, como tal, o determina" (GARCEZ, 1998, p. 63).
Assim, para que o texto cumpra alguma função ou objetivo, é preciso, portanto, que autor e leitor compartilhem: nos
seus conhecimentos prévios, linguísticos, textuais e de mundo. Não se deve perder de vista que o autor, no trabalho
de construção de sentido do texto escrito, está sempre envolvido por condicionamentos históricos, culturais e
ideológicos Será exagero afirmar que a nossa sociedade é constituída de textos? Parece que a resposta a essa
pergunta é óbvia, extremamente óbvia, na medida em que, a cada dia e em todos os espaços onde vivemos e
interagimos, somos inundados por textos – falados e escritos.
No caso concreto deste módulo, nos interessa enfocar o texto escrito. Somos impelidos e instigados cotidianamente
a escrever. Escrevemos muito mais do que em outros tempos antigos, muito mais gente hoje tem acesso à escrita
que antigamente.
Podese mesmo afirmar que todo conhecimentos de quaisquer áreas se produz, se organiza, se desenvolve, se
aperfeiçoa e se dissemina por meio do texto escrito.
De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais, o ensino de língua deve acontecer a partir da exploração dos
gêneros textuais de circulação social. Nesse contexto, este Módulo de Leitura e Produção de Textos se constitui
como uma maneira de contemplar o estudante que busca produzir textos coerentes, obedecendo ao padrão culto
da língua portuguesa.
Então, esta proposta de estudar e discutir a temática da produção de textos escritos dos diversos gêneros e tipos
que circulam nos diversos ambientes se configura como uma das muitas possibilidades de atendimento às
exigências sociais da contemporaneidade.
Sem dúvida alguma, a palavra texto é familiar a qualquer pessoa ligada à prática escolar. Ela aparece com alta
frequência no linguajar cotidiano tanto no interior da escola quanto fora dos seus limites. Não são estranhas a
ninguém expressões como as que se seguem: “redija um texto”, “texto bem elaborado”, “o texto constitucional não
está suficiente claro”, “os atores da peça são bons, mas o texto é ruim”, “o redator produziu um bom texto”, etc. Por
causa exatamente dessa alta frequência de uso, todo estudante tem algumas noções sobre o que significa texto.
Dentre essas noções, algumas ganham importância especial para este livro, que se propõe ensinar a ler e a
escrever textos.
Nesta lição introdutória, vamos fazer duas considerações fundamentais sobre a natureza do texto:
A revista Veja de 1º de junho de 1988, em matéria publicada nas páginas 90 e 91, traz uma reportagem sobre um
caso de corrupção que envolvia, como suspeitos, membros ligados à administração do governo do Estado de São
Paulo e dois cidadãos portugueses dispostos a lançar um novo tipo de jogo lotérico, designado pelo nome de
“Raspadinha”. Entre os suspeitos figurava o nome de Otávio Ceccato, que, no momento, ocupava o cargo de
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O fragmento que vem a seguir, extraído da parte final da referida reportagem, relata a resposta de Ceccato aos
jornalistas nos seguintes termos:
Na sua posse como secretário de Indústria e Comércio, Ceccato, nervoso, foi infeliz ao rebater as denúncias. “Como
São Pedro, nego, nego, nego”, disse a um grupo de repórteres, referindose à conhecia passagem em que São
Pedro negou conhecer Jesus Cristo três vezes na mesma noite. esqueceuse de que São Pedro, naquele episódio,
disse talvez a única mentira de sua vida. (Ano 20, 22:91.)
Como se pode notar, a defesa do secretário foi infeliz e desastrosa, produzindo efeito contrário ao que tinha em
mente. A citação, no caso, ao invés de inocentálo, acabou por comprometêlo. Sob o ponto de vista da análise do
texto, qual teria sido a razão do equívoco lamentável cometido pelo secretário?
Sem dúvida, a resposta é esta: ao citar a passagem bíblica, o acusado esqueceuse de que ela faz parte de um
texto e, em qualquer texto, o significado das frases não é autônomo.
Desse modo, não se pode isolar frase alguma do texto e tentar conferirlhe o significado que se deseja. Como bem
observou o repórter, no episódio bíblico citado pelo secretário, São Pedro, enquanto Cristo estava preso, foi
reconhecido como um de seus companheiros e, ao ser indagado pelo soldado, negou três vezes seguidas conhecer
aquele homem. Segundo a mesma Bíblia, posteriormente Pedro arrependeuse da mentira e chorou copiosamente.
Esse relato serve para demonstrar de maneira simples e clara que uma mesma frase pode ter significados distintos
dependendo do contexto dentro do qual está inserida. O grande equívoco do secretário, para sua infelicidade, foi o
de desprezar o texto de onde ele extraiu a frase, sem se dar conta de que, no texto, o significado das partes
depende das correlações que elas mantêm entre si.
Isso nos leva à conclusão de que, para entender qualquer passagem de um texto, é necessário confrontálo com as
demais partes que o compõem sob pena de darlhe um significado oposto ao que ela de fato tem. Em outros
termos, é necessário considerar que, para fazer uma boa leitura, devese sempre levar em conta o contexto em que
está inserida a passagem a ser lida.
Entendese por contexto uma unidade linguística menor. Assim, a frase encaixase no contexto do parágrafo, o
parágrafo encaixase no contexto do capítulo, o capítulo encaixase no contexto da obra toda.
Uma observação importante a fazer é que nem sempre o contexto vem explicitado linguisticamente. O texto mais
amplo dentro do qual se encaixa uma passagem menor pode vir implícito: os elementos da situação em que se
produz o texto podem dispensar maiores esclarecimentos e dar como pressuposto o contexto em que ele se situa.
Para exemplificar o que acaba de ser dito, observese um minúsculo texto como este:
Podemse imaginar dois significados completamente diferentes para esse texto dependendo da situação concreta
em que é produzido.
Dito durante o jantar, após terse experimentado a primeira colher de sopa, esse texto pode significar que a sopa
está sem sal; dito para o médico no consultório, pode significar que a empregada pode estar acometida de alguma
doença.
Para finalizar esta primeira consideração, convém enfatizar que toda leitura, para não ser equivocada, deve
necessariamente levar em conta o contexto que envolve a passagem que está sendo lida, lembrando que esse
contexto pode vir manifestado explicitamente por palavra ou pode estar implícito na situação concreta em que é
produzido.
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SEGUNDA CONSIDERAÇÃO: todo texto contém um pronunciamento dentro de um debate de escala mais ampla.
Nenhum texto é uma peça isolada, nem a manifestação da individualidade de quem o produziu. De uma forma ou
de outra, constróise um texto para, através dele, marcar uma posição ou participar de um debate de escala mais
ampla que está sendo travado na sociedade. Até mesmo uma simples notícia jornalística, sob a aparência de
neutralidade, tem sempre uma intenção por trás.
Observese, a título de exemplo, a passagem que segue, extraída da revista Veja do dia 1o de junho de 1988,
página 54.
Seguramente, por trás da notícia, existe, como pressuposto, um pronunciamento contra o risco de vender arma
para qualquer pessoa, indiscriminadamente.
Para comprovar essa constatação, basta pensar que os fabricantes de revólveres, se pudessem, não permitiriam a
veiculação dessa notícia.
O exemplo escolhido deixa claro que qualquer texto, por mais objetivo e neutro que pareça, manifesta sempre um
posicionamento frente a uma questão qualquer posta em debate. Ao final desta lição, devem ficar bem plantadas as
seguintes conclusões:
a) Uma boa leitura nunca pode basearse em fragmentos isolados do texto, já que o significado das partes sempre
é determinado pelo contexto dentro do qual se encaixam.
b) Uma boa leitura nunca pode deixar de apreender o pronunciamento contido por trás do texto, já que sempre se
produz um texto para marcar posição frente uma questão qualquer.
FIORIN, José Luiz e SAVIOLI, Francisco Platão. Para entender o texto: leitura e redação. São Paulo. Ática, 2000.
O Parágrafo
O parágrafo é a menor unidade de uma redação, seja literária ou técnica, cuja função é desenvolver uma ideia
central. A extensão do parágrafo fica atrelada à necessidade de esclarecimentos para a ideia central: ideias
secundárias. Assim, poderá haver parágrafos curtos, quando a ideia central for suficientemente acessível ao leitor,
bem como parágrafos longos, quando houver o acréscimo de elementos acessórios que facilitem a compreensão
daquilo que se deseja transmitir.
Convencionouse estabelecer um tipo considerado padrão ou modelo, que observa a estrutura seguinte:
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O parágrafo é considerado um microtexto. Ao redigilo, devemos restringir, delimitar nossa ideia sobre o assunto,
objetivando as condensações, no sentido de escrevêlo, dentro dos moldes, de um parágrafopadrão, como se pode
verificar no exemplo abaixo:
a) Dado o assunto “ENSINO”, verificamos que é impossível escrevermos sobre este em um único parágrafo; por ser
um tema muito abrangente;
b) Necessitamos, por esta razão, delimitar este assunto “A QUALIDADE DE ENSINO NO BRASIL”;
c) Precisamos, agora, objetivar nossas ideias para um intuito específico “CONSCIENTIZAR AS AUTORIDADES
COMPETENTES COM RELAÇÃO AO DESPREPARO DE ALGUNS PROFESSORES E A CONSEQUENTE
QUALIDADE DE ENSINO”.
“Uma das causas da má qualidade de ensino é o despreparo de professores. / Como sabemos, os professores
também são vítimas dos problemas sociais por que passamos, como por exemplo, o desestímulo financeiro, que,
como consequência, faz com que muitos professores parem de exercer a sua profissão e procurem por trabalhos
mais bem remunerados para que possam sobreviver. Esse fato acaba por refletir na qualidade de ensino, em que
pessoas despreparadas tomam o lugar daqueles que não foram reconhecidos pelo Sistema e ariscamse a dar
aulas. // Assim sendo, o Governo deveria investir mais no ensino, ou seja, oferecer melhores salários, condições de
trabalho, com o objetivo de amenizar essa defasagem na qualidade de ensino no Brasil.”
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