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03/02/24, 18:51 Acórdão do Tribunal da Relação de Coimbra

Acórdãos TRC Acórdão do Tribunal da Relação de Coimbra


Processo: 816/09.2TBAGD.C1
Nº Convencional: JTRC
Relator: JUDITE PIRES
Descritores: CASO JULGADO
EXCEPÇÃO DO CASO JULGADO
AUTORIDADE DO CASO JULGADO
Data do Acordão: 06-09-2011
Votação: UNANIMIDADE
Tribunal Recurso: BAIXO VOUGA – ANADIA – JUÍZO DE GRANDE
INSTÂNCIA CÍVEL – JUIZ 2
Texto Integral: S
Meio Processual: APELAÇÃO
Decisão: CONFIRMADA
Legislação Nacional: ARTS.497, 498, 671, 674-A, 771, 772 CPC
Sumário: 1 - O caso julgado constitui excepção dilatória, de conhecimento
oficioso, que, a verificar-se, obsta que o tribunal conheça do
mérito da causa e conduz à absolvição da instância;

2 -A sua verificação depende do preenchimento da tríplice


identidade a que o artigo 498º do Código de Processo Civil faz
referência.

3 - Na identidade de sujeitos, importa apenas atender à


qualidade jurídica das partes, não sendo exigível uma
correspondência física nas duas acções.

4 - A identidade dos pedidos é perspectivada em função da


posição das partes quanto à relação material: existe tal
identidade sempre que ocorra coincidência nos efeitos jurídicos
pretendidos, do ponto de vista da tutela jurisdicional reclamada
e do conteúdo e objecto do direito reclamado, sem que seja de
exigir uma adequação integral das pretensões, nem sequer do
ponto de vista quantitativo.

5 - Existe identidade de causa de pedir quando as pretensões


formuladas em ambas as acções emergem de facto jurídico
genético do direito reclamado comum a ambas.

6 - Da excepção de caso julgado se distingue a autoridade de


caso julgado, pressupondo esta a aceitação da decisão proferida
em processo anterior, cujo objecto se insere no objecto da
segunda, obstando-se, deste modo, que a relação ou situação
jurídica material definida pela primeira decisão possa ser
contrariada pela segunda, com definição diversa da mesma
https://www.dgsi.pt/jtrc.nsf/c3fb530030ea1c61802568d9005cd5bb/e2eb6546d35e99b28025791e004ca81c 1/29
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relação ou situação, não se exigindo neste caso a coexistência da


tríplice identidade mencionado no artigo 498º do Código de
Processo Civil.

7 - O efeito preclusivo do caso julgado determina a


inadmissibilidade de qualquer ulterior indagação sobre a
relação material controvertida definida em anterior decisão
definitiva.

8 - O recurso extraordinário de revisão constitui o meio


processual adequado à modificação de decisão transitada em
julgado, desde que tenha por fundamento alguma das
circunstâncias taxativamente elencadas no artigo 771º do
Código de Processo Civil, não podendo a parte vencida em
anterior processo cuja decisão haja transitada em julgado vir
obter, através de acção para o efeito proposta, com fundamento
nalguma dessas circunstâncias, um efeito útil que se traduza em
decisão diversa da anterior.
Decisão Texto Acordam os Juízes da Secção Cível do
Integral:
Tribunal da Relação de Coimbra
I.RELATÓRIO
1. E (…) propôs acção declarativa de
condenação sob a forma de processo
ordinário contra “J (…) & Filhos, Ldª”, AF
(…), JR (…), AO (…)[1], JÁ (…), AA (…), AS
(…) PM (…), AV (…), LG (…) , MM (…),
pedindo, em síntese, que os RR sejam
condenados solidariamente a indemnizá-lo
dos custos que teve e tem que suportar por
causa da acção nº 577/2000, do extinto 3º
Juízo do Tribunal Judicial de Águeda e
processo-crime comum colectivo nº
267/2000, do extinto 1º Juízo do mesmo
Tribunal, que lhe foram movidos pela 1ª Ré
(Ré sociedade), bem como do que tiver que
pagar em resultado das sentenças
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condenatórias proferidas nos referidos


processos, e os danos extra-patrimoniais
sofridos.
Alega, para tanto, o Autor que, tendo sido
condenado na primeira daqueles processos,
por decisão de 9 de Outubro de 2006,
confirmada pelo Tribunal da Relação de
Coimbra e pelo Supremo Tribunal de
Justiça, a pagar à 1ª Ré sociedade a quantia
global de 31.876.700$40, equivalente ao valor
de € 150,000,31, pelos prejuízos que
dolosamente lhe causou e que se traduziram
na abertura de duas valas no prédio da
mesma Ré e na lavragem de uma área de
cerca de 12.400 m2 e subsequente plantação
dessa área com eucaliptos, pinheiros e
carvalhos, e no segundo processo,
parcialmente por factos da primeira
(lavragem do terreno), por decisão também
transitada em julgado, na pena de dois anos
e seis meses de prisão, com execução
suspensa por igual período, por prática de
crime de dano qualificado, essas decisões
condenatórias fundamentaram-se em
documentos falsos, designadamente no auto
de ratificação de obra nova de 20 de
Outubro de 2000, e depoimentos falsos, que
criaram nos julgadores que intervieram nos
referidos processos a convicção acerca da
verificação dos factos materiais que ditaram
tais condenações.
Citados, contestaram os Réus (…), que,
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designadamente, invocaram a excepção


dilatória de caso julgado entre a acção agora
proposta e os dois mencionados processos,
referindo que o Autor ao propor esta acção
pretende infirmar a motivação e os factos
que serviram de fundamento às decisões
judiciais proferidas nos aludidos processos,
visando obter decisão diversa daquelas.
O Autor não respondeu à matéria da
excepção.
Proferido despacho saneador, foi nele
conhecida, entre o mais, a referida excepção
dilatória de ofensa ao caso julgado material,
absolvendo os Réus da instância,
condenando nas custas o Autor.
2. Não se conformando com tal decisão, dela
interpôs recurso de apelação o Autor,
apresentando com as suas alegações as
seguintes conclusões:
“A -Entre a acção destes autos e as identificadas
outras (a cível e a criminal) inexiste qualquer
uma das três identidades que constituem
requisitos legais do caso julgado;
B. O efeito do caso julgado opera sobre a decisão,
que não deve ser repetida ou contraditada, e às
questões preliminares que foram o seu
antecedente lógico, mas não se projecta sobre a
motivação, sobre a valoração das provas e, em
geral, sobre os elementos de formação da
convicção do julgador;
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C. A douta sentença recorrida viola o artigo 498º


do Código de Processo Civil.
Termos em que, dando provimento às conclusões
desta apelação, revogando a douta sentença
recorrida e mandando condensar o processo,
farão Vossas Excelências a habitual Justiça”.
A apelada “(…) contra-alegou, pugnando
pela confirmação da decisão recorrida.

II.OBJECTO DO RECURSO
A. Sendo o objecto do recurso definido pelas
conclusões das alegações, impõe-se conhecer
das questões colocadas pela recorrente e as
que forem de conhecimento oficioso, sem
prejuízo daquelas cuja decisão fique
prejudicada pela solução dada a outras[2],
importando destacar, todavia, que o tribunal
não está obrigado a apreciar todos os
argumentos apresentados pelas partes para
sustentar os seus pontos de vista, sendo o
julgador livre na interpretação e aplicação
do direito[3].
B. Considerando, deste modo, a delimitação
que decorre das conclusões formuladas pela
recorrente, no caso dos autos cumprirá
apreciar se existe ou não excepção de caso
julgado em relação à acção nº 577/2000, do
extinto 3º Juízo do Tribunal Judicial de
Águeda e ao processo-crime comum
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colectivo nº 267/2000, do extinto 1º Juízo do


mesmo Tribunal,
III- FUNDAMENTAÇÃO DE FACTO
Além dos factos descritos no relatório supra,
mostram-se comprovados os seguintes
factos relevantes à apreciação do objecto do
recurso:
1. O processo onde foi interposto o presente
recurso deu entrada em juízo a 07.04.2009.
2. A acção nº 577/2000 foi proposta por J
(…) & Filhos, Ldª” contra o aqui apelante e
contra a esposa deste.
3.A decisão nela proferida foi confirmada
por acórdão da Relação de Coimbra de
25.09.2007 e do Supremo Tribunal de Justiça
de 28.02.2008.
4.O acórdão proferido no processo nº
267/00.4GNAGD foi confirmado por
acórdão desta Relação de 01.07.2009.
IV- FUNDAMENTAÇÃO DE DIREITO
O caso julgado constitui excepção
dilatória[4], de conhecimento oficioso[5],
que, a verificar-se, obsta que o tribunal
conheça do mérito da causa e conduz à
absolvição da instância[6].
De acordo com o nº1 do artigo 497º
do Código de Processo Civil, “as excepções
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de litispendência e do caso julgado


pressupõem a repetição de uma causa; se a
causa se repete estando a anterior ainda em
curso, há lugar à listispendência; se a
repetição se verifica depois de a primeira
causa ter sido decidida por sentença que já
não admite recurso ordinário, há lugar à
excepção do caso julgado”.

Para o Prof. Manuel de Andrade[7] a


excepção do caso julgado traduz-se em “a
definição dada à relação controvertida se
impor a todos os tribunais quando lhes seja
submetida a mesma relação, todos tendo de
acatá-la, julgando em conformidade, sem
nova discussão e de modo absoluto, com
vista não só à realização do direito objectivo
ou à actuação dos direitos subjectivos
privados correspondentes, mas também à
paz social”.
O instituto do caso julgado encerra em si
duas vertentes, que, embora distintas, se
complementam: uma, de natureza positiva,
quando faz valer a sua força e autoridade,
que se traduz na exequibilidade das
decisões; a outra, de natureza negativa,
quando impede que a mesma causa seja
novamente apreciada pelo mesmo ou por
outro tribunal[8].
A autoridade do caso julgado justifica-
se/impõe-se pela necessidade da certeza e
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da segurança nas relações jurídicas. E essa


autoridade não é retirada, nem posta em
causa mesmo que a decisão transitada em
julgado não tenha apreciado correctamente
os factos ou haja interpretado e aplicado
erradamente a lei: no mundo do Direito
tudo se passa como se a sentença fosse a
expressão fiel da verdade e da justiça[9].
De extrema pertinência, para a discussão da
situação em análise, se revelam os
ensinamentos do Prof. Castro Mendes[10], a
propósito do efeito preclusivo do caso
julgado: “Fora da hipótese de factos
objectivamente supervenientes – e esta
hipótese reconduz-se à ideia dos limites
temporais do caso julgado: a sentença só é
válida «rebus sic stantibus» - cremos que os
«contradireitos» que o réu podia fazer valer
são ininvocáveis contra o caso julgado. O
fundamento essencial do caso julgado não é
de natureza lógica, mas de natureza prática;
não há que sobrevalorizar o momento lógico
do instituto, por muito que recorramos a ele
na técnica e construção da figura. «O que se
converte em definitivo com o caso julgado
não é a definição de uma questão, mas o
reconhecimento ou não reconhecimento de
um bem»”.
E adianta, esclarecidamente, o mesmo
Autor: “a paz e a ordem na sociedade civil
não permitem que os processos se eternizem
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e os direitos das partes reconhecidos pelo


juiz após uma investigação conduzida pelo
juiz de acordo com as normas legais voltem
a ser contestados sob qualquer pretexto.
Outro problema que se põe é o de saber se
esta figura do efeito preclusivo pertence ao
instituto do caso julgado, ou lhe é estranha.
A dogmática tradicional e dominante
integra-o no caso julgado. Uma regra
clássica diz-nos aqui que tantum judicatum
quantum disputatum vel disputari debebat, o
caso julgado abrange aquilo que foi objecto
de controvérsia, e ainda os assuntos que as
partes tinham o ónus (não o dever) de trazer
à colação; neste último caso, estão os meios
de defesa do réu.
(…) Outros autores vêem este efeito
preclusivo como efeito da sentença
transitada, mas efeito distinto do caso
julgado.
(…) Apreciando esta construção, notaremos
antes de mais estarmos inteiramente de
acordo com Schwab, quando este salienta
que «não tem qualquer relevância prática, se
os factos são excluídos com fundamento na
eficácia do caso julgado ou com fundamento
numa preclusão estranha ao caso julgado».
O próprio Habscheid reconhece que caso
julgado e efeito preclusivo «ambos se
completam, ambos prosseguem o mesmo
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fim», tutela da paz e da segurança jurídica e


chama ao efeito preclusivo «princípio-
irmão» do caso julgado material.
(…) A indiscutibilidade de uma afirmação, o
seu carácter de res judicata, pode resultar
pelo contrário tanto de uma investigação
judicial, como do não cumprimento dum
ónus que acarrete consigo vi legis esse efeito.
Sucede isso no processo cominatório pleno,
em que faz caso julgado uma questão
decidida apenas pela aplicação de normas
de direito processual civil. E sucede ainda a
respeito das questões que as partes têm o
ónus de suscitar, sob pena de serem
ulteriormente irrelevantes para impugnar ou
defender uma situação jurídica acertada ou
rejeitada em termos de caso julgado.”
A decisão transita em julgado quando não
seja susceptível de recurso ordinário ou de
reclamação[11], e a excepção de caso julgado
destina-se a “evitar que o tribunal seja
colocado na alternativa de contradizer ou de
reproduzir uma decisão anterior”[12].
Segundo o artigo 498º do citado
Código, que descreve os requisitos da
litispendência e do caso julgado, “repete-se a
causa quando se propõe uma acção idêntica
a outra quanto aos sujeitos, ao pedido e
causa de pedir” (nº1); sendo que:

https://www.dgsi.pt/jtrc.nsf/c3fb530030ea1c61802568d9005cd5bb/e2eb6546d35e99b28025791e004ca81c 10/29
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- “há identidade de sujeitos quando


as partes são as mesmas sob o ponto de vista
da sua qualidade jurídica” – nº 2;
- “há identidade de pedido quando
numa e noutra causa se pretenda obter o
mesmo efeito jurídico” – nº 3;
- “há identidade de causa de pedir
quando a pretensão deduzida nas duas
acções procede do mesmo facto jurídico. Nas
acções reais a causa de pedir é o facto
jurídico de que deriva o direito real; nas
acções constitutivas e de anulação é o facto
concreto ou a nulidade específica que se
invoca para obter o efeito pretendido” – nº 4.
Como decorre do preceito em causa, a
excepção do caso julgado supõe uma tríplice
identidade: sujeitos, pedido e causa de
pedir.
A determinação da identidade dos
sujeitos não oferece dificuldades
particulares: “as partes são as mesmas sob o
aspecto jurídico desde que sejam portadoras
do mesmo interesse substancial”[13]. Não
tem de existir coincidência física, sendo
indiferente a posição que assumam em
ambos os processos[14]. Daí resulta que as
partes não têm que coincidir do ponto de
vista físico, sendo mesmo indiferente a
posição que as mesmas assumam em ambos
os processos.
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A identidade dos pedidos é avaliada


em função da posição das partes quanto à
relação material, podendo considerar-se que
existe tal identidade sempre que ocorra
coincidência nos efeitos jurídicos
pretendidos, do ponto de vista da tutela
jurisdicional reclamada e do conteúdo e
objecto do direito reclamado[15].
A identidade de pedidos ocorrerá “se
existir coincidência na enunciação da forma
de tutela jurisdicional pretendida pelo autor
e do conteúdo e objecto do direito a tutelar,
na concretização do efeito que, com a acção,
se pretende obter”.
A dificuldade maior coloca-se quanto
à determinação da identidade nas causas de
pedir.
Tem a doutrina distinguido duas
teorias, quanto à causa de pedir, a da
individualização e a da substanciação, cuja
conceptualização não deixará de se
repercutir na delimitação da excepção do
caso julgado.
Esta última, que encara a causa de pedir
como o próprio facto jurídico genético do
direito[16], foi a que encontrou acolhimento
na lei adjectiva portuguesa. Dela resulta que
se integram no conceito de caso julgado os
factos invocados que forem injuntivos da
decisão. Ou seja, “a causa de pedir consiste
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na alegação da relação material de onde o


autor faz derivar o correspondente direito e,
dentro dessa relação material, na alegação
dos factos constitutivos do direito”[17] .

Já Alberto dos Reis[18] defendia que


“há que repelir antes do mais a ideia de que
a causa petendi seja a norma de lei invocada
pela parte. A acção identifica-se e
individualiza-se, não pela norma abstracta
da lei, mas pelos elementos de facto que
converteram em concreto a vontade legal.
Daí vem que a simples alteração do ponto de
vista jurídico não implica alteração da causa
de pedir”, acrescentando: “o Tribunal não
conhece de puras abstracções, de meras
categorias legais; conhece de factos reais,
particulares e concretos e tais factos quando
sejam susceptíveis de produzir efeitos
jurídicos, é que constituem a causa de
pedir.”

Para Miguel Teixeira de Sousa[19], “o caso


julgado abrange todas as qualificações
jurídicas do objecto apreciado, porque o que
releva é a identidade da causa de pedir (isto
é, dos factos com relevância jurídica) e não
das qualificações que podem ser atribuídas a
esse fundamento”.
Quando, porém, o procedimento instaurado
integre uma causa de pedir complexa, isto é,
formada por um acervo de factos que
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integram previsão de normas constitutivas


diversas, existindo concurso ou concorrência
de normas, e tendo ocorrido improcedência
da primeira acção, só existirá identidade de
causa de pedir “se o núcleo essencial dos
factos integradores da previsão das várias
normas concorrentes tiver sido alegado no
primeiro processo, permitindo nele
identificar as normas aplicáveis”[20].
Importa, face ao exposto, averiguar se, se no
caso vertente se verifica a tríplice identidade
que caracteriza a excepção do caso julgado.
Quanto à identidade de sujeitos: como já se
adiantou, não se exige uma correspondência
física nas duas acções, havendo antes que
relevar a qualidade jurídica das mesmas,
como decorre do nº2 do artigo 498º do
Código de Processo Civil.
Diz-se no Acórdão do Supremo Tribunal de
Justiça, de 19.05.210[21], “…a análise do
“caso julgado” pode ser perspectiva através
de duas vertentes, que em nada se
confundem:
- uma delas reporta-se à excepção dilatória
do caso julgado, cuja verificação pressupõe o
confronto de duas acções – contendo uma
delas decisão já transitada – e uma tríplice
identidade entre ambas: coincidência de
sujeitos, de pedido e de causa de pedir;

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- a outra vertente reporta-se à força e


autoridade do caso julgado, decorrente de
uma anterior decisão que haja sido
proferida, designadamente no próprio
processo, sobre a matéria em discussão”.

Segundo Rodrigues Bastos[22], citado no


mesmo acórdão, “... enquanto que a força e
autoridade do caso julgado tem por
finalidade evitar que a relação jurídica
material, já definida por uma decisão com
trânsito, possa vir a ser apreciada
diferentemente por outra decisão, com
ofensa da segurança jurídica, a excepção
destina-se a impedir uma nova decisão
inútil, com ofensa do princípio da economia
processual”.
E elucida o mesmo acórdão: “Embora os
princípios expostos estejam vocacionados
para o caso julgado material, não deixam os
mesmos de cobrar aplicação – agora
circunscritos à força e autoridade do caso
julgado – relativamente às decisões que se
formam no interior do próprio processo.
O mesmo se diga relativamente à
problemática dos seus limites objectivos.
A este propósito, tem vindo a ser sustentado
maioritariamente, na esteira da doutrina
defendida por Vaz Serra (R.L.J. 110º/232),
que a força do caso julgado não incide
apenas sobre a parte decisória propriamente
https://www.dgsi.pt/jtrc.nsf/c3fb530030ea1c61802568d9005cd5bb/e2eb6546d35e99b28025791e004ca81c 15/29
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dita, antes se estende à decisão das questões


preliminares que foram antecedente lógico,
indispensável à emissão da parte dispositiva
do julgado, tudo isto “... em nome da
economia processual, do prestígio das
instituições judiciárias e da estabilidade e
certeza das relações jurídicas” (Acórdão do
S.T.J. de 10/7/97 in C.J. S.T.J., V, II, 165)”.
E a propósito da mesma questão, retira-se
do Acórdão de 27.09.2005 desta Relação[23]:
“a questão da extensão, alcance e limites do
caso julgado é complexa.
É, contudo, “communis opinio” que a figura
jurídica do caso julgado, para além de
eventuais razões de defesa do prestígio dos
tribunais, evitando a sua colocação perante a
contingência de definir num sentido uma
situação concreta já validamente definida
em sentido diferente Anselmo de Castro,
Direito Processual Civil Declaratório, 1982,
vol. III, pág. 384, não reconhece a esta razão
qualquer valor., tem por objectivo assegurar
a certeza e segurança jurídica,
indispensáveis à fluidez do comércio
jurídico e até à estabilidade e paz social.
O alcance e autoridade do caso julgado não
se pode, pois, limitar aos estreitos contornos
definidos nos artºs 497º e seguintes para a
excepção do caso julgado, antes se
estendendo a situações em que, apesar da
ausência formal da identidade de sujeitos,
https://www.dgsi.pt/jtrc.nsf/c3fb530030ea1c61802568d9005cd5bb/e2eb6546d35e99b28025791e004ca81c 16/29
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pedido e causa de pedir, o fundamento


daquela figura jurídica está notoriamente
presente”.
O Acórdão desta Relação de 28.09.2010
distingue deste modo a excepção de caso
julgado e a autoridade de caso julgado: “A
excepção de caso julgado destina-se a evitar
uma nova decisão inútil (razões de
economia processual), o que implica uma
não decisão sobre a nova acção,
pressupondo a tríplice identidade de
sujeitos, objecto e pedido.
A autoridade de caso julgado importa a
aceitação de uma decisão proferida em acção
anterior, que se insere, quanto ao seu
objecto, no objecto da segunda, visando
obstar a que a relação ou situação jurídica
material definida por uma sentença possa
ser validamente definida de modo diverso
por outra sentença, não sendo exigível a
coexistência da tríplice identidade, prevista
no art.498 do Código de Processo Civil”.
Escrevem Lebre de Freitas, Montalvão
Machado e Rui Pinto[24]: “a excepção de
caso julgado não se confunde com a
autoridade de caso julgado; pela excepção,
visa-se o efeito negativo da
inadmissibilidade da segunda acção,
constituindo-se o caso julgado em obstáculo
a nova decisão de mérito; a autoridade do
caso julgado tem antes o efeito positivo de
https://www.dgsi.pt/jtrc.nsf/c3fb530030ea1c61802568d9005cd5bb/e2eb6546d35e99b28025791e004ca81c 17/29
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impor a primeira decisão, como pressuposto


indiscutível de segunda decisão de mérito
(…). Este efeito positivo assenta numa
relação de prejudicialidade: o objecto da
primeira decisão constitui questão
prejudicial na segunda acção, como
pressuposto necessário da decisão de mérito
que nesta há-de ser proferida (…). Mas o
efeito negativo do caso julgado nem sempre
assenta na identidade do objecto da primeira
e da segunda acções: se o objecto desta tiver
constituído questão prejudicial da primeira
(e a decisão sobre ela deva,
excepcionalmente, ser invocável) ou se a
primeira acção, cujo objecto seja prejudicial
em face da segunda, tiver sido julgada
improcedente, o caso julgado será feito valer
por excepção”.
De acordo com o nº1 do artigo 671º do
Código de Processo Civil, “transitada em
julgado a sentença ou o despacho saneador
que decida do mérito da causa, a decisão
sobre a relação material controvertida fica a
ter força obrigatória dentro do processo e
fora dele nos limites fixados pelos artigos
497º e 498º, sem prejuízo do disposto nos
artigos 771º a 777º”.
Ou seja, quando a decisão se torna
definitiva, por não poder já ser susceptível
de reclamação, nem de recurso ordinário, a
mesma transita em julgado[25], formando-se
https://www.dgsi.pt/jtrc.nsf/c3fb530030ea1c61802568d9005cd5bb/e2eb6546d35e99b28025791e004ca81c 18/29
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então o caso julgado: formal, com efeitos


apenas no processo em que foi proferida,
quando não tenha conhecido de mérito; e
material, com efeitos dentro e fora do
processo em que haja sido proferida, quando
tenha sido de mérito.
Mais uma vez, esclarecem Lebre de Freitas,
Montalvão Machado e Rui Pinto[26]: “seja
qual for o seu conteúdo, a sentença produz,
no processo em que é proferida, o efeito de
caso julgado formal, não podendo mais ser
modificada (art. 672). Mas, quando constitui
uma decisão de mérito (“decisão sobre a
relação material controvertida”), a sentença
produz também, fora do processo, o efeito
de caso julgado material: a conformação das
situações jurídicas substantivas por ela
reconhecidas como constituídas impõe-se,
com referência à data da sentença, nos
planos substantivo e processual (…),
distinguindo-se, neste, o efeito negativo da
inadmissibilidade duma segunda acção
(proibição de repetição: excepção de caso
julgado) e o efeito positivo da constituição
da decisão proferida em pressuposto
indiscutível de outras decisões de mérito
(proibição de contradição: autoridade de
caso julgado).
(…) Fala-se do efeito preclusivo do caso
julgado para caracterizar esta
inadmissibilidade de qualquer ulterior
https://www.dgsi.pt/jtrc.nsf/c3fb530030ea1c61802568d9005cd5bb/e2eb6546d35e99b28025791e004ca81c 19/29
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indagação sobre a relação material


controvertida (…)”.
Este efeito preclusivo dos meios de defesa
que podiam/deviam ser deduzidos na
contestação tem sido integrado pela
doutrina no âmbito do caso julgado, o qual
abarca não só o que foi objecto de discussão
no processo, mas também tudo aquilo que, a
ela respeitando, tivesse o réu o ónus de
submeter também à discussão[27].

Como defende Manuel de Andrade[28], “se


a sentença reconheceu no todo ou em parte
o direito do Autor, ficam precludidos todos
os meios de defesa do Réu, mesmo os que
ele não chegou a deduzir, e até os que ele
poderia ter deduzido com base num direito
seu…Neste sentido, pelo menos, vale a
máxima segundo a qual o caso julgado
«cobre o deduzido e o dedutível»…”.
Esse princípio da preclusão encontra no
artigo 489º do Código de Processo Civil
consagração legal.
Aí se determina: “1. Toda a defesa deve ser
deduzida na contestação, exceptuados os
incidentes que a lei mande deduzir em
separado.
2. Depois da contestação só podem ser
deduzidas as excepções, incidentes e meios
de defesa que sejam supervenientes, ou que
https://www.dgsi.pt/jtrc.nsf/c3fb530030ea1c61802568d9005cd5bb/e2eb6546d35e99b28025791e004ca81c 20/29
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a lei expressamente admita passado esse


momento, ou de que se deva conhecer
oficiosamente”.
O alcance do caso julgado das decisões
penais condenatórias encontra-se vertido no
artigo 674º-A do Código de Processo Civil,
que dispõe: “a condenação definitiva
proferida em processo penal constitui, em
relação a terceiros, presunção ilidível no que
se refere à existência dos factos que integram
os pressupostos da punição e os elementos
do tipo legal, bem como dos que respeitam
às formas do crime, em quaisquer acções
civis em que se discutam relações jurídicas
dependentes da prática da infracção”.
Como afirmam Lebre de Freitas, Montalvão
Machado e Rui Pinto[29], “não se trata,
directamente, da eficácia extraprocessual da
prova produzida no processo penal, mas da
eficácia probatória da própria sentença,
independentemente das provas com base
nas quais os factos tenham sido dados como
assentes. A presunção estabelecida difere
das presunções stricto sensu, na medida em
que a ilação imposta ao juiz cível resulta do
juízo de apuramento dos factos por um acto
jurisdicional com trânsito em julgado”.
A imutabilidade da decisão transitada em
julgado encontra no recurso extraordinário
de revisão previsto no artigo 771º do Código

https://www.dgsi.pt/jtrc.nsf/c3fb530030ea1c61802568d9005cd5bb/e2eb6546d35e99b28025791e004ca81c 21/29
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de Processo Civil expressão da sua


excepção.
Determina este normativo: “A decisão
transitada em julgado só pode ser objecto de
revisão quando:
a) Outra sentença transitada em julgado
tenha dado como provado que a decisão
resulta de crime praticado pelo juiz no
exercício das suas funções;
b) Se verifique a falsidade de documento ou
acto judicial, de depoimento ou das
declarações de peritos ou árbitros, que
possam, em qualquer dos casos, ter
determinado a decisão a rever, não tendo a
matéria sido objecto de discussão no
processo em que foi proferida;
c) Se apresente documento de que a parte
não tivesse conhecimento, ou de que não
tivesse podido fazer uso, no processo em
que foi proferida a decisão a rever e que, por
si, só seja suficiente para modificar a decisão
em sentido mais favorável à parte vencida;
d) Se verifique nulidade ou anulabilidade de
confissão, desistência ou transacção em que
a decisão se fundou;
e) Tendo corrido a acção e a execução à
revelia, por falta absoluta de intervenção do
réu, se mostre que faltou a citação ou que é
nula a citação feita;
https://www.dgsi.pt/jtrc.nsf/c3fb530030ea1c61802568d9005cd5bb/e2eb6546d35e99b28025791e004ca81c 22/29
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f) Seja inconciliável com decisão definitiva


de uma instância internacional de recurso
vinculativa para o Estado Português;
g) O litígio assente sobre acto simulado das
partes e o tribunal não tenha feito uso do
poder que lhe confere o artigo 665º, por não
se ter apercebido da fraude”.
O recurso de revisão visa combater e sanar
um vício ou irregularidade processual de
especial gravidade, de entre o elenco
taxativo descrito na citada norma e está
sujeito ao limite temporal fixado no artigo
772º do Código de Processo Civil.
Não pode a parte vencida em anteriores
processos contra ela instaurados, cujas
decisões se hajam tornado definitivas pelo
respectivo trânsito em julgado, contornar a
imodificabilidade dessas decisões através de
acção agora por ela interposta em que a
causa de pedir redunde nalgum dos
fundamentos tipificados para o recurso de
revisão, único meio processual adequado a
arredar essa imodificabilidade.
Por conseguinte, não pode agora o autor, em
nova acção proposta para o efeito, vir
exercer meios de defesa que na anterior
acção, podendo, não exerceu, submetendo à
apreciação do tribunal questões já antes
debatidas e definitivamente resolvidas.
E menos pode ainda invocar eventuais
https://www.dgsi.pt/jtrc.nsf/c3fb530030ea1c61802568d9005cd5bb/e2eb6546d35e99b28025791e004ca81c 23/29
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irregularidades existentes na anterior acção,


que, a terem-se verificado, só nela podiam
ser levantadas e decididas.
O sucesso da acção proposta pelo apelante, o
efeito útil através dela prosseguido só será
alcançado se o mesmo abalar a motivação
que fundamentou a factualidade na qual se
estribaram ambas as decisões que o
condenaram nos anteriores processos.
É que a indemnização por ele pretendida
pressuporia, para ser concedida, o
reconhecimento da falsidade dos meios de
prova em que o tribunal, nas referidas
acções, se apoiou para concluir pela
factualidade que justificou a condenação
nelas do apelante, a existência do invocado
conluio dos Réus para que fossem ditadas
aquelas condenações, factos que originaram
as anteriores decisões, que, por aquelas
razões, reputa de injustas.
Através do pedido de indemnização nesta
acção formulado, nada mais pretende o
Autor/Apelante do que discutir de novo a
matéria controvertida já definitivamente
resolvida, visando a obtenção de decisão
diversa das anteriormente proferidas,
anulando os efeitos das condenações antes
sofridas.
O que equivaleria, na prática, a ser
admissível, à própria anulação do efeito do
caso julgado material, resultado que a lei
não permite.

https://www.dgsi.pt/jtrc.nsf/c3fb530030ea1c61802568d9005cd5bb/e2eb6546d35e99b28025791e004ca81c 24/29
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Síntese conclusiva:
- O caso julgado constitui excepção dilatória, de
conhecimento oficioso, que, a verificar-se, obsta
que o tribunal conheça do mérito da causa e
conduz à absolvição da instância;
-A sua verificação depende do preenchimento da
tríplice identidade a que o artigo 498º do Código
de Processo Civil faz referência.
- Na identidade de sujeitos, importa apenas
atender à qualidade jurídica das partes, não
sendo exigível uma correspondência física nas
duas acções;
- A identidade dos pedidos é perspectivada em
função da posição das partes quanto à relação
material: existe tal identidade sempre que ocorra
coincidência nos efeitos jurídicos pretendidos, do
ponto de vista da tutela jurisdicional reclamada e
do conteúdo e objecto do direito reclamado, sem
que seja de exigir uma adequação integral das
pretensões, nem sequer do ponto de vista
quantitativo.
- Existe identidade de causa de pedir quando as
pretensões formuladas em ambas as acções
emergem de facto jurídico genético do direito
reclamado comum a ambas.
- Da excepção de caso julgado se distingue a
autoridade de caso julgado, pressupondo esta a
aceitação da decisão proferida em processo
https://www.dgsi.pt/jtrc.nsf/c3fb530030ea1c61802568d9005cd5bb/e2eb6546d35e99b28025791e004ca81c 25/29
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anterior, cujo objecto se insere no objecto da


segunda, obstando-se, deste modo, que a relação
ou situação jurídica material definida pela
primeira decisão possa ser contrariada pela
segunda, com definição diversa da mesma relação
ou situação, não se exigindo neste caso a
coexistência da tríplice identidade mencionado no
artigo 498º do Código de Processo Civil.
- O efeito preclusivo do caso julgado determina a
inadmissibilidade de qualquer ulterior indagação
sobre a relação material controvertida definida
em anterior decisão definitiva.
- O recurso extraordinário de revisão constitui o
meio processual adequado à modificação de
decisão transitada em julgado, desde que tenha
por fundamento alguma das circunstâncias
taxativamente elencadas no artigo 771º do
Código de Processo Civil, não podendo a parte
vencida em anterior processo cuja decisão haja
transitada em julgado vir obter, através de acção
para o efeito proposta, com fundamento nalguma
dessas circunstâncias, um efeito útil que se
traduza em decisão diversa da anterior.
*
Pelo exposto, acordam os juízes desta
Relação em, julgando improcedente a
apelação, confirmar a decisão recorrida.
Custas, pelo apelante.
Coimbra, 6 de Setembro de 2011
https://www.dgsi.pt/jtrc.nsf/c3fb530030ea1c61802568d9005cd5bb/e2eb6546d35e99b28025791e004ca81c 26/29
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Judite Pires ( Relatora )


Carlos Gil
Fonte Ramos

[1] Que, tendo falecido, é representado pelos


seus sucessores habilitados BO (…), DO
(…)e AO (…)
[2]Artigos 684º, nº 3 e 685-A, nº 1 do C.P.C.,
na redacção conferida pelo Decreto-Lei nº
303/2007, de 24 de Agosto.
[3] Artigo 664º do mesmo diploma.
[4] Artigo 494º, i) do Código de Processo
Civil.
[5] Artigo 495º do Código de Processo Civil.
[6] Artigo 493º, nº2 do mesmo diploma legal.
[7] “Noções Elementares de Processo Civil”,
págs. 305 e 306.
[8] Alberto dos Reis, “Código de Processo
Civil Anotado”, Vol. III, pág. 93.
[9] Alberto dos Reis, ob. cit., pág. 94.
[10] “Limites Objectivos do Caso Julgado em
Processo Civil”, págs. 178 e segs.
[11] Artigo 677º do Código de Processo
Civil.
[12] Artigo 497º, nº2 do Código de Processo
Civil.
[13] Acórdão do Tribunal da Relação do

https://www.dgsi.pt/jtrc.nsf/c3fb530030ea1c61802568d9005cd5bb/e2eb6546d35e99b28025791e004ca81c 27/29
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Porto, de 06.01.94, CJ ano IX, T1, 198.


[14] Assim, existe identidade de partes ainda
que o autor na segunda acção tivesse a
posição de réu na acção precedente.
[15] Cf. Acórdão do Supremo Tribunal de
Justiça, 08.03.2007, CJSTJ, tomo I, pág. 98 e
segs.
[16] Cf. Anselmo de Castro, “Direito
Processual Civil Declaratório”, vol. I,
pág.204 e segs.
[17] Acórdão da Relação de Coimbra,
17.05.2005, processo nº 3904/04,
www.dgsi.pt.
[18] “Código de Processo Civil Anotado”,
vol. III, págs. 121, 124.
[19] “Estudos Sobre O Novo CPC”, pág. 576.
[20] Lebre de Freitas, “Código de Processo
Civil Anotado”, vol. 2º, págs. 323 e 324.
[21] Processo nº 3749/05.8TTLSB.L1.S1,
www.dgsi.pt.
[22] “Notas ao Código de Processo Civil”,
Volume III, páginas 60 e 61.
[23] Processo nº 1970/05, www.dgsi.pt.
[24] “Código de Processo Civil anotado”,
vol. 2º, 2ª ed., pág. 354.
[25] Artigo 677º do Código de Processo
Civil.
[26] “Ob. cit”. pág. 713 e segs.
[27] Cfr. Castro Mendes, ob. cit., pág. 713.
[28] Ob. cit., pág. 324.
https://www.dgsi.pt/jtrc.nsf/c3fb530030ea1c61802568d9005cd5bb/e2eb6546d35e99b28025791e004ca81c 28/29
03/02/24, 18:51 Acórdão do Tribunal da Relação de Coimbra

[29] Ob. cit., pág. 727.

https://www.dgsi.pt/jtrc.nsf/c3fb530030ea1c61802568d9005cd5bb/e2eb6546d35e99b28025791e004ca81c 29/29

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