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Campus Universitário de Viana

Universidade Jean Piaget de Angola


(Criada pelo Decreto n. 44-A/01 de 6 de Julho de 2001)

Faculdade de Ciências Sociais e Humanas

SEMIÓTICA, LINGUÍSTICA, HERMENÊUTICA DO


TEXTO JURÍDICO

CRIMES AMBIENTAIS

Grupo nº 12

Licenciatura em: Direito

Período: Diurno

Ano: 2º

Docente

Altino Marcelino Kavimbi

Luanda, Março, 2024


Campus Universitário de Viana

Universidade Jean Piaget de Angola


(Criada pelo Decreto n. 44-A/01 de 6 de Julho de 2001)

Faculdade de Ciências Sociais e Humanas

SEMIÓTICA, LINGUÍSTICA, HERMENÊUTICA DO


TEXTO JURÍDICO

CRIMES AMBIENTAIS
INTEGRANTES DO GRUPO Nº 12

 Damázia Lacércia Nessuvi Lemos


 Kelson da Silva Lemos
 Patrícia António Gonga
 Sebilson Cristóvão
 Teresa Tchinhangala Jorge Francisco
 Ulisses Fortunato Wime Nunes
ÍNDICE
INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 1
Objectivo Geral........................................................................................................................... 1
Objectivos específicos ................................................................................................................ 1
CAPITULO I – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................... 2
1.1 DEFINIÇÃO DE CRIMES AMBIENTAIS:** .................................................................... 2
1.2 PRINCIPAIS CAUSAS DOS CRIMES AMBIENTAIS ..................................................... 2
1.3. IMPACTOS AMBIENTAIS, SOCIAIS E ECONÔMICOS ............................................... 3
1.4 MEDIDAS DE PREVENÇÃO E COMBATE ..................................................................... 4
1.5 CONSIDERAÇÕES SOBRE A LEGISLAÇÃO AMBIENTAL A NÍVEL
INTERNACIONAL ................................................................................................................... 5
1.6 QUADRO LEGAL DAS CONSIDERAÇÕES SÓCIO-AMBIENTAIS - LEIS
AMBIENTAIS DE ANGOLA ................................................................................................... 8
1.6.1 Lei de Base do Ambiente................................................................................................... 8
1.6.2 A responsabilidade por danos ao ambiente ..................................................................... 10
1.7 ABORDAGEM CRÍTICA AO QUADRO LEGAL DAS CONSIDERAÇÕES SÓCIO-
AMBIENTAIS - LEIS AMBIENTAIS DE ANGOLA ............................................................ 12
CONCLUSÃO .......................................................................................................................... 14
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 15
INTRODUÇÃO

Os crimes ambientais representam uma das maiores ameaças ao equilíbrio ecológico e


à sustentabilidade do planeta. Com o avanço da industrialização e o crescimento populacional,
a pressão sobre os recursos naturais aumentou significativamente, resultando em uma série de
impactos negativos sobre o meio ambiente. Nesse contexto, os crimes ambientais surgem como
uma manifestação da exploração predatória dos recursos naturais e da falta de responsabilidade
socioambiental por parte de empresas e indivíduos.

Este trabalho tem como objetivo explorar a natureza, as causas e as consequências dos
crimes ambientais, bem como analisar as medidas de prevenção e combate a esse tipo de crime.
Serão abordados casos emblemáticos de crimes ambientais ao redor do mundo, destacando os
desafios enfrentados na aplicação da legislação ambiental.

Por meio desta análise, busca-se contribuir para a compreensão da complexidade dos
crimes ambientais e para a busca de soluções eficazes e sustentáveis para a preservação do meio
ambiente e da qualidade de vida das futuras gerações.

Objectivo Geral

Analisar a problemática dos crimes ambientais, compreendendo suas causas, impactos


e desafios para a conservação do meio ambiente.

Objectivos específicos

1. Investigar as principais causas por trás dos crimes ambientais;


2. Avaliar os medidas de prevenção e combate para proteção ambiental.
3. Analisar as estratégias e instrumentos legais existentes para prevenção, detecção e
punição dos crimes ambientais, identificando suas limitações e propondo melhorias para
sua eficácia.

1
CAPITULO I – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1.1 DEFINIÇÃO DE CRIMES AMBIENTAIS:**

Os crimes ambientais são atos que causam danos significativos ao meio ambiente,
violando leis e regulamentos destinados à proteção ambiental. Esses crimes podem assumir
várias formas, incluindo a poluição da água, do ar e do solo, o desmatamento ilegal, a caça
ilegal de animais silvestres, o tráfico de espécies protegidas, entre outros. Cada um desses tipos
de crime ambiental tem impactos específicos sobre o meio ambiente e a vida selvagem,
contribuindo para a degradação dos ecossistemas e a perda de biodiversidade. (Gomes &
Maciel, 2015).

Segundo Gomes e Maciel (2015, p. 12),

A poluição da água, por exemplo, ocorre quando substâncias nocivas são despejadas em
rios, lagos e oceanos, prejudicando a qualidade da água e afetando a vida aquática. Já o
desmatamento ilegal é a prática de remover árvores de forma ilegal, muitas vezes para a
criação de áreas agrícolas ou pastagens, resultando na destruição de habitats naturais e na
perda de biodiversidade.
O tráfico de animais silvestres, por sua vez, envolve a captura e o comércio ilegal de
espécies protegidas, causando danos irreparáveis à fauna e à flora. Esses crimes ambientais não
apenas afetam diretamente o meio ambiente, mas também têm impactos sociais e econômicos,
prejudicando comunidades locais que dependem dos recursos naturais para sua subsistência.
(Gomes & Maciel, 2015).

A conscientização sobre a gravidade desses crimes é essencial para a proteção do meio


ambiente e a preservação dos recursos naturais para as gerações futuras. A educação ambiental
desempenha um papel fundamental nesse processo, incentivando a adoção de práticas
sustentáveis e o respeito pela natureza. (Gomes & Maciel, 2015).

1.2 PRINCIPAIS CAUSAS DOS CRIMES AMBIENTAIS

Os crimes ambientais são frequentemente motivados por interesses econômicos,


negligência, falta de regulamentação adequada e baixa conscientização ambiental. A busca por
lucro a curto prazo muitas vezes leva a práticas insustentáveis, como o desmatamento ilegal, a
exploração excessiva de recursos naturais e a poluição industrial. Além disso, a falta de
fiscalização e a impunidade contribuem para a perpetuação dessas práticas prejudiciais ao meio
ambiente. (Gomes & Maciel, 2015).
2
De acordo com Gomes e Maciel (2015, p. 12),

A expansão agrícola e o desenvolvimento urbano desordenado também são importantes


causas de crimes ambientais, resultando em desmatamento, perda de habitats naturais e
degradação do solo. A pesca e caça ilegais representam outra forma comum de crime
ambiental, ameaçando a biodiversidade e os ecossistemas aquáticos e terrestres. Em
resumo, a combinação de interesses econômicos, falta de regulamentação e conscientização
insuficiente contribui para a ocorrência de crimes ambientais em todo o mundo.

1.3. IMPACTOS AMBIENTAIS, SOCIAIS E ECONÔMICOS

Os crimes ambientais têm impactos devastadores em diversos aspectos. Do ponto de


vista ambiental, esses crimes resultam na degradação de ecossistemas naturais, perda de
biodiversidade, contaminação do solo, da água e do ar, além de contribuírem para as mudanças
climáticas. Esses impactos não apenas afetam a flora e fauna locais, mas também têm
repercussões em escala global, afetando o equilíbrio ambiental e a saúde do planeta. (Machado,
2011).

Machado (2011), considera que:

Em termos sociais, os crimes ambientais prejudicam comunidades locais que dependem


dos recursos naturais afetados. A contaminação da água e do solo pode causar problemas
de saúde, como doenças respiratórias e intoxicações, além de afetar a segurança alimentar
e a subsistência dessas comunidades. Além disso, a degradação ambiental muitas vezes
resulta na perda de habitats naturais e no deslocamento de populações, gerando conflitos
sociais e desigualdades.
No âmbito econômico, os crimes ambientais representam um custo significativo para a
sociedade. A degradação ambiental reduz a produtividade agrícola, aumenta os custos com
saúde pública e recuperação ambiental, e prejudica setores econômicos como o turismo e a
pesca. Além disso, a reputação de um país ou empresa pode ser afetada por práticas ambientais
irresponsáveis, resultando em perdas financeiras e impactos negativos a longo prazo.
(Machado, 2011).

Conforme Machado (2011), existem inúmeros exemplos de crimes ambientais em todo


o mundo, que vão desde desmatamento ilegal até derramamentos de produtos químicos tóxicos.
No Brasil, por exemplo, o desmatamento na Amazônia é um problema grave, com áreas
extensas de floresta sendo destruídas para dar lugar a atividades agrícolas e pecuárias. Esse
desmatamento ilegal não apenas causa danos ambientais irreversíveis, mas também contribui
para as mudanças climáticas, devido à liberação de grandes quantidades de carbono na
atmosfera.

3
Outro exemplo é a poluição industrial, que ocorre em muitos países devido à falta de
regulamentação e fiscalização. O despejo de resíduos químicos em rios e oceanos contamina a
água e afeta a vida aquática, além de representar um risco para a saúde humana. Além disso, a
pesca ilegal de espécies ameaçadas de extinção e a caça ilegal de animais selvagens são
exemplos de crimes ambientais que afetam diretamente a biodiversidade e os ecossistemas.
(Machado, 2011).

1.4 MEDIDAS DE PREVENÇÃO E COMBATE

Para prevenir e combater os crimes ambientais, é fundamental adotar uma abordagem


integrada que envolva ações legislativas, regulatórias, educacionais e de fiscalização. Em
primeiro lugar, é necessário fortalecer a legislação ambiental e garantir sua aplicação efetiva,
impondo penalidades rigorosas para os infratores. Além disso, é importante promover a
conscientização ambiental e a educação, tanto entre a população em geral quanto entre os
setores produtivos, para fomentar práticas sustentáveis e responsáveis. (Gomes & Maciel,
2015).

A implementação de políticas públicas que incentivem o uso sustentável dos recursos


naturais e a proteção dos ecossistemas é fundamental para prevenir os crimes ambientais. Isso
inclui o estabelecimento de áreas protegidas, a promoção de práticas agrícolas sustentáveis e o
estímulo à reciclagem e ao uso racional dos recursos naturais. Além disso, a cooperação
internacional e a troca de informações entre os países são essenciais para combater os crimes
ambientais transfronteiriços e garantir a proteção do meio ambiente em escala global. (Gomes
& Maciel, 2015).

Em suma, a prevenção e o combate aos crimes ambientais exigem um esforço conjunto


de governos, empresas e sociedade civil. A proteção do meio ambiente é essencial para garantir
um futuro sustentável para as próximas gerações, e ações efetivas são necessárias para enfrentar
os desafios ambientais que enfrentamos atualmente.

4
1.5 CONSIDERAÇÕES SOBRE A LEGISLAÇÃO AMBIENTAL A NÍVEL
INTERNACIONAL

Nos finais da década de 80 começou a prestar-se atenção particular aos problemas


ligados ao ambiente, passando os mesmos a serem considerados quase uma “moda” nos países
desenvolvidos.

De acordo com Cysne e Amador (2000),

(…) a causa do ambiente no Leste da Europa chegou mesmo a ser estritamente identificada
com a luta dos movimentos pela redução dos poderes e da esfera de actuação do Estado,
sendo de se realçar, a título identificativo, o caso do “Ecoglasnot”, grupo de protesto
ambientalista da Bulgária. A “causa verde” ganha uma dimensão tal nos países ocidentais
desenvolvidos que, neste momento, não há políticos, industriais ou agências de publicidade
que não abordem a questão do ambiente como uma das suas prioridades de acção. Alguns
movimentos ecologistas transformaram-se mesmo em partidos políticos – os Partidos
Verdes – que passaram a ganhar espaço na vida política de alguns países europeus e mesmo
em alguns países do terceiro mundo.
A preocupação da humanidade para com as questões do ambiente é, no entanto, recente
e tem a sua origem nos finais dos anos 60 nos países ocidentais mais desenvolvidos. A partir
dessa altura, como consequência do movimento da opinião pública e dos alertas feitos pelos
cientistas face à degradação do meio ambiente, os governos começaram a preocupar-se com o
estado geral do ambiente e a aprovar os primeiros textos legislativos destinados a lutar contra a
poluição das águas e do ar, sendo criados, paralelamente, os primeiros órgãos administrativos
especializados dedicados ao ambiente. (Cysne & Amador, 2000)

A nível internacional foram aprovados os primeiros instrumentos jurídicos relativos ao


ambiente, sendo de se realçar, a título exemplificativo, a Carta Europeia da Água, proclamada
pelo Conselho da Europa em Maio de 1968, que formulou um princípio fundamental: a água
não conhece fronteiras.

Conforme Cysne e Amador, (2000, p. 11)


o Direito Internacional do Ambiente tem a sua pré-história. No início do século XX foi
aprovada a primeira convenção internacional multilateral relativa à protecção de algumas
espécies da fauna selvagem: a Convenção para a Protecção dos Pássaros Úteis à
Agricultura, assinada em Paris, aos 19 de Março de 1902. Em 1968, a Organização das
Nações Unidas (ONU) e duas organizações regionais, o Conselho da Europa e a
Organização de Unidade Africana, dão passos decisivos no domínio da protecção do
ambiente. O Conselho da Europa adopta dois grandes textos, nomeadamente a Declaração
de 8 de Março de 1968, sobre a Luta Contra a Poluição do Ar e a Carta Europeia da Água,
proclamada a 6 de Maio de 1968.

5
Aos 15 de Setembro de 1968, os Chefes de Estado e de Governo africanos assinam a
Convenção Africana sobre a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais. Esta
Convenção abarca a conservação e utilização dos solos, das águas, da floresta e dos recursos da
fauna. Aponta alguns princípios que terão uma grande importância para a evolução do Direito
do Ambiente, nomeadamente: a protecção não deve ser somente das espécies ameaçadas mas
também do seu habitat e a proclamação da responsabilidade especial do Estado na protecção
das espécies raras que se encontram sob sua jurisdição. (Cysne & Amador, 2000)

Cysne e Amador, (2000, p. 11) consideram que:


A ONU engaja-se igualmente nesta acção e, aos 3 de Dezembro de 1968 a Assembleia
Geral aprova a Resolução 2398 (XXIII) que prevê a convocação de uma conferência
mundial sobre o “ambiente humano”. Mas é a partir de 1972, com a Declaração de
Estocolmo – Declaração da Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano –
que se dá o grande salto no estabelecimento das regras internacionais sobre o ambiente.
Esta declaração define os princípios de Direito Internacional do Ambiente, atribuindo ao
homem a responsabilidade particular de salvaguarda do património constituído pela flora,
pela fauna selvagem e seus habitats, não só no presente mas também para as gerações
futuras.
O Direito do Ambiente passa, a partir dessa altura, a ter um desenvolvimento mais
rápido no plano internacional do que no plano interno. Neste momento, pode-se no entanto
afirmar que se chegou a um ponto de equilíbrio entre o Direito Internacional do Ambiente e o
Direito do Ambiente a nível interno. As questões ligadas ao ambiente constituem hoje uma
preocupação universal, tendo-se ultrapassado a fase inicial em que os países do terceiro mundo
consideravam que os problemas do ambiente eram um “luxo dos ricos”. (Cysne & Amador,
2000)

Cysne e Amador, (2000, p. 12) atentam que:


A maioria destes países, aquando da Conferência de Estocolmo em 1972, não prestava
muita atenção a estas questões, entendendo mesmo que as condições impostas por
eventuais regulamentações para a protecção e conservação da natureza podiam entravar a
exploração dos seus recursos naturais, o que só favorecia os países industrializados pois
limitava o crescimento económico dos países subdesenvolvidos. Outros países do terceiro
mundo pensavam ainda que para o seu desenvolvimento deviam atrair os capitais dos países
mais desenvolvidos, sem se preocuparem com questões ecológicas, pelo que tais
regulamentações só traziam desvantagens.
Mas hoje em dia esta concepção está ultrapassada, pois sabe-se que a resolução dos
problemas do meio ambiente não depende só de investimentos ou dos recursos naturais, mas
também da informação e sensibilização dos cidadãos para as questões ecológicas, já que o
homem é o principal destruidor do enorme potencial que a natureza lhe oferece. Por esta razão,
verifica-se um crescimento sintomático na defesa do ambiente e a adopção, a nível

6
internacional, de um conjunto de normas que visam regulamentar e proteger o ambiente que
vão desde a Declaração de Estocolmo de 1972 até à aprovação de outros instrumentos jurídicos
adoptados nesta área pela comunidade internacional. (Cysne & Amador, 2000)

Como se pode constatar, existe actualmente um vasto conjunto de regras jurídicas


internacionais na área do ambiente que apresentam a característica particular de agirem na
esfera da actividade tradicional dos governos como é, por exemplo, a competência para
controlar o escoamento de substâncias poluentes, instaurar sistemas de autorização para os
detritos ou para a exportação ou importação de certos produtos.

Os tratados internacionais podem emitir directrizes de carácter obrigatório para as Partes


e mesmo, em alguns casos, orientar os países a adoptar medidas de carácter sancionatório penal
para algumas infracções. O Direito do Ambiente – a nível interno ou internacional – apresenta
algumas particularidades, como temos vindo a referir, sendo uma delas a da necessidade de
cooperação e de prevenção e também a necessidade de se adaptar às modificações que podem
interferir nas condições da protecção do meio ambiente natural. Devido à sua incipiência, há
autores que consideram que ainda é difícil falar-se num direito internacional costumeiro do
ambiente mas, a prática tem mostrado que se tem recorrido a regras de direito costumeiro ou
que estas são posteriormente adoptadas por tratados. (Cysne & Amador, 2000)

De acordo com Kiss (S/d, p. 6)

há dois tipos de resoluções sobre ambiente: as resoluções obrigatórias para os Estados-


membros e as resoluções não obrigatórias. As primeiras são adoptadas, fundamentalmente,
por três instituições: o Conselho de Segurança das Nações Unidas, sendo o exemplo mais
expressivo a Convenção de Genebra de 18 de Maio de 1977, sobre a interdição de utilização
de técnicas de modificação do ambiente para fins militares ou outros fins hostis; a
Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Económico (OCDE) no domínio da
protecção do ambiente e, finalmente, a União Europeia que adopta resoluções obrigatórias
para os seus membros, na forma de regulamentos ou de directivas.
As resoluções não obrigatórias emanam de conferências ou de organizações
internacionais e podem ser classificadas, segundo o seu conteúdo, em três categorias:
recomendações directivas (adoptadas em regra para os seus membros, pelas organizações
intergovernamentais); programas de acção (têm como destinatário a própria organização que os
elaborou) e declarações de princípios (fixam a linha geral que deverá orientar a actividade dos
Estados-membros signatários). (Cysne & Amador, 2000)

7
1.6 QUADRO LEGAL DAS CONSIDERAÇÕES SÓCIO-AMBIENTAIS -
LEIS AMBIENTAIS DE ANGOLA

Angola apresenta uma grande diversidade ecológica, devido à sua extensão territorial,
variação fisiográfica, diversificação climática e geológica e posição central entre as duas
maiores divisões faunísticas e florestais da região etiópica e uma rica rede hidrográfica servida
por numerosos rios. Apesar de não haver ainda um grave problema no desequilíbrio do
ecossistema, Angola apresenta já situações que merecem preocupação no domínio ambiental.
São os casos, a título exemplificativo, da exploração mineira e particularmente dos diamantes,
da poluição marítima, da exploração pesqueira ou ainda da acção da guerra.

As principais leis ambientais vigentes em Angola são: (1) a Lei de Base do Ambiente; (2)
a Lei de Avaliação de Impacto Ambiental e (3) a Lei de Águas. A Lei de Avaliação de
Impacto Ambiental (Julho de 2004) e a de Águas (Fevereiro de 2002) foram publicadas
através da aprovação do Conselho de Ministros, com base na Lei de Base do Ambiente
aprovada em Junho de 1999. Tendo em vista que estas leis foram aprovadas recentemente,
logo após o findar da guerra civil, os detalhes sobre os procedimentos de implementação,
directrizes e normas não estão ainda estabelecidos. (MINTRANS, 2006, p. 71)
Iremos no presente trabalho destacar a Lei de Base do Ambiente.

A evolução da legislação constitucional e ordinária angolana representa o resultado da


progressiva assimilação de um desígnio mundial, para o qual os Estados foram convocados em
Estocolmo, em 1972. O “despertar para a era ecológica”7 também atingiu Angola, após uma
década de descobertas inquietantes, de estudos reveladores, de acidentes com consequências
altamente lesivas do ambiente, enfim, após a constatação da finitude dos bens ambientais e da
necessidade de adoptar uma nova postura, de gestão racional dos recursos naturais. Em Angola,
a LBA concretizou a norma constitucional (em 1998, o então artigo 21º/2, actual 39º/2,
reforçado pela inscrição da protecção do ambiente na lista de tarefas fundamentais do Estado,
constante do artigo 21º/m da CRA), apresentando como tarefa primordial a de elaboração de
um Plano Nacional de Gestão Ambiental, no artigo 3º/3 ― que até hoje não foi editado. (Gomes,
2012)

1.6.1 Lei de Base do Ambiente

Lei de Base do Ambiente constitui a base para formulação de normas e padrões e


formação de instituições correlatas para a futura melhoria do meio ambiente doméstico. Ela
define os conceitos de proteção e preservação, melhor qualidade de vida, uso racional dos
recursos naturais nacionais e os direitos de benefício. A lei consiste de: 1. Organização do
8
regulamento ambiental; 2. Gestão ambiental de proteção; 3. Direitos e deveres da população;
4. Responsabilidade, violação e permissão; 5. Inspeção Ambiental; 6. Tratamento Final. Além
disso, “Participação do Cidadão” (Artigo 8); “ONGs” (Artigo9); “Auscultação Pública”
(Artigo10); “Implantação de Infra-Estruturas” (Artigo15); e “Avaliação de Impacto Ambiental”
(Artigo16) constitui os artigos desta Lei. (MINTRANS, 2006)

A Lei de Base do Ambiente (nº 5/98 de 19 de Junho, p. 1), no seu prologo considera
que:

A experiência acumulada nos últimos anos tanto a nível internacional como nacional, tem
produzido uma nova consciência global acerca das implicações ambientais do
desenvolvimento humano, traduzida por uma cada vez maior responsabilização da
sociedade como um todo, diante das referidas implicações. Entretanto, cabe aos Estados,
em primeiro lugar, definir políticas ambientais que correspondam a essa nova consciência
global, com o objectivo não só de renovar ou utilizar correctamente os recursos naturais
disponíveis, garantindo assim o desenvolvimento sustentado de toda a humanidade, como
também de assegurar, permanentemente, a melhoria dá qualidade de vida dos cidadãos. No
caso de Angola, tal imperativo, está expressamente consagrado na Lei Constitucional no nº
2 do artigo 12,° e nos nºs 1, 2 e 3 do artigo 24.º.
A LBA (Lei de Base do Ambiente ), consagra quatro tipos de instrumentos de protecção
do ambiente: formativos (educação ambiental); preventivos (áreas de protecção ambiental;
avaliação de impacto ambiental; licença ambiental), repressivos (auditorias; contravenções e
crimes ambientais); e reparatórios (responsabilidade civil e seguro ambiental). (Gomes, 2012).

A LBA deixa bem vincada uma das regras de ouro do Direito do Ambiente: autorização
prévia de qualquer actividade que possa causar impactos ambientais significativos.

No procedimento autorizativo, a Administração deverá incluir uma dimensão de avaliação


de riscos, sempre que o projecto apresentado sinalizar um impacto significativo para o
ambiente. Em razão da forte componente técnica das decisões ambientais ― porque nunca
há riscozero e a Administração, de acordo com as conclusões apuradas na avaliação de
impacte, deverá impor medidas de minimização de riscos decisivas para a viabilidade do
projecto ―, o procedimento de avaliação de impacto ambiental deverá culminar num
parecer favorável ao projecto, sob pena de o licenciamento ambiental ser inválido, como
veio a determinar o artigo 13º do RAIA, em 2004.
Directrizes Básicas das Leis Ambientais:

 Atingir na sua plenitude um desenvolvimento sustentável em todos os aspectos das


condições de vida no país. Manter o equilíbrio entre a satisfação das necessidades
básicas do cidadão e a capacidade natural de resposta.
 Garantia do mínimo possível impacto das acções necessárias para o desenvolvimento
dos pais, pela implementação, ordem territorial correcta e aplicação de técnicas e
tecnologias adequadas.
9
 Prestar mais atenção a qualidade ambiental urbana através de aplicação eficiente de
administração local e municipal.
 Constituir, consolidar e fortaleceu uma rede, ambiental protegida, de nada a assegurar a
manutenção da biodiversidade, usando aquelas áreas para educação ambiental e reacção
das populações.
 Promover a aplicação de pesquisa e estudo cientifico em todos os domínios da ecologia,
usando a capacidade nacional, principalmente das universidades e institutos de
pesquisa.
 Promover a aplicação de normas de qualidade ambiental em todos os serviços e sectores
produtivos, com base em normas internacionais adaptadas a realidade do país.
Assegurar a participação dos cidadãos, que impliquem o desequilíbrio social e
ambiental.
 Promover de acordo com outros sectores da vida nacional, a defesa do consumidor.
 Estabelecer regras aplicáveis e de clareza em defesa do nosso património natural,
cultural, e social.
 Proceder com reconstrução de áreas degradadas no território nacional.
 Articular acções de defesa ambiental e incrementar ou aumentar a qualidade de vida das
populações regionais, com os países vizinhos.

1.6.2 A responsabilidade por danos ao ambiente

Em Angola, o “dano ao ambiente” é definido no nº 7 do Anexo à LBA: “a alteração


adversa das características do ambiente, e inclui, entre outras, a poluição, a desertificação, a
erosão e o desflorestamento”. Trata-se de uma noção de dano tendencialmente inoperativa em
face da intensa utilização que o Homem faz dos bens ambientais – a introdução de um adjectivo
como “significativo”, pelo menos, torná-la-ia mais realista. Acresce que esta definição
confunde causas de dano (como a poluição ou o desflorestamento, como acção) com
consequências danosas, como a desertificação.

A Lei Fundamental angolana prevê a responsabilização dos infractores de normas de


protecção do ambiente ao nível mais grave: o penal. O artigo 39º/3 da CRA utiliza a expressão
“pune os actos…", fórmula que, embora não signifique automática e exclusivamente uma
injunção de criminalização, deixa a ideia de que se não trata, nem de mera responsabilidade
civil, nem de responsabilidade administrativa (desde logo porque a contravenção é aplicada
pela Administração, reclamando porventura outro verbo menos intenso). (Gomes, 2012)
10
Por seu turno, a LBA aponta para uma tripla vertente de responsabilização: civil (artigos
23º, 27º e 28º), contravencional e penal (artigo 29º). No entanto, enquanto há diplomas que se
ficam pela punição contravencional.

A conjugação das duas vias afigura-se o melhor modelo. Por um lado, a via contravencional
apresenta as vantagens da celeridade (por ser aplicada pela Administração), da
possibilidade de cumulação de sanção pecuniária com sanção acessória, do alcance de
situações negativas mas não tão graves que justifiquem a privação da liberdade, revelando,
em contrapartida, as desvantagens da ineficácia (quando as multas são tão baixas que
compensem aos infractores pagar para infringir), da maior proximidade com o infractor e
da tentação da tolerância. A via penal, por seu lado, confere maior dignidade ao bem
jurídico ambiente, na medida em que veicula a aplicação de sanções que envolvem uma
censura social agravada, com privação da liberdade ─ mas tem a desvantagem da
morosidade (pois a condenação só pode ser emanada pelo poder jurisdicional) e, em
sistemas que não contemplem extensões de incriminação de pessoas colectivas, deixa
escapar os maiores poluidores, que são empresas. (Gomes, 2012, p. 14)
De acordo com Gomes (2012), o ordenamento jusambiental angolano segue uma
abordagem fragmentária da repressão, na medida em que não consagra um regime unitário dos
crimes e das contravenções, pulverizando os tipos pelos diplomas sectoriais. Se, no plano
contravencional, as complexidades inerentes aos regimes de autorização administrativa podem
justificar soluções segmentadas, já no plano penal, desde logo pela sensibilidade do valor
máximo da liberdade que se encontra em jogo, faria porventura mais sentido desenhar tipos
mais padronizados, como por exemplo, crime de dano à biodiversidade, crime de dano à água,
crime de dano ao solo.

Numa sociedade como a angolana, em que a sensibilização para a imperiosidade da


protecção do ambiente é ainda muito fraca, a incriminação não parece ser o melhor caminho,
salvo em domínios em que os autores tenham capacidade de discernir a gravidade da actuação
(por exemplo, no âmbito da actividade petrolífera, de mineração, ou de pesca industrial). Já a
via contravencional parece ser mais adequada, pois vai contribuindo para a afirmação do bem
jurídico ambiente sem impor a sanção mais pesada. (Gomes, 2012)

Importante seria contemplar a possibilidade, neste domínio contravencional, de remir o


pagamento da contravenção por trabalho a favor da colectividade e/ou pela frequência de acções
de sessões de educação ambiental, para arguidos objectivamente destituídos de um grau de
sensibilidade suficiente para assimilar a lesividade da conduta (ou, numa linguagem mais
técnica, sem consciência da ilicitude). (Gomes, 2012)

11
1.7 ABORDAGEM CRÍTICA AO QUADRO LEGAL DAS
CONSIDERAÇÕES SÓCIO-AMBIENTAIS - LEIS AMBIENTAIS DE
ANGOLA

A explanação feita mostra o quão jovem é a legislação sobre o ambiente em Angola e a


falta de experiência na aplicação da lei neste domínio. Por estas razões alguns aspectos que
estão conexos com a protecção do ambiente não encontraram ainda respaldo legal nem
doutrinal, como são, por exemplo, a adopção dos modelos normativos a serem seguidos na
protecção penal do ambiente; os aspectos ligados à tutela do ambiente e ao Direito Civil e,
particularmente, o desenvolvimento da questão da responsabilidade objectiva, do direito de
propriedade e direito da vizinhança ou a do princípio do pagador-poluídor que está associado
ao instituto da responsabilidade adoptado. (Cysne & Amador, 2000).

De acordo com Cysne e Amador (2000, p. 41)

Mau grado existirem algumas associações ambientalistas em Angola elas funcionam fora
de um quadro legal pré-definido, porque inexistente e, por esta razão, pouco podem fazer
para intervir na definição das políticas ambientais e na prevenção dos danos ambientais e
ecológicos por não possuírem legitimação processual para o fazerem. Se, por um lado, não
existe dificuldade no enquadramento da defesa do ambiente no regime da tutela dos
interesses difusos interessa, por outro lado, ver como se fará a legitimação processual das
associações ambientalistas em Angola. Seguir-se-á o exemplo de alguns países que
estendem este direito apenas a essas associações ou consagrar-se-á a acção popular e a sua
legitimação no domínio processual, seja ela no processo civil ou no contencioso
administrativo? Interessa aqui referir o papel que estas associações desempenham na defesa
do meio ambiente pelo trabalho que desenvolvem de protecção, prevenção, sensibilização
e educação da opinião pública, sendo, por conseguinte, preciosos auxiliares da
administração pública.
No que respeita à tutela penal do ambiente, muito terá de ser feito uma vez que a
legislação angolana remonta aos finais do século passado e, por conseguinte, não tipifica
nenhum crime de natureza ambiental, o que contribui, em grande medida, para que não existam,
em Angola, processos sobre danos ambientais nem, consequentemente, jurisprudência sobre a
matéria. Apesar desta debilidade legislativa é possível assegurar-se uma melhor protecção do
ambiente fazendo-se a aplicação de normas constitucionais e das actuais normas de Direito
Civil e Direito Criminal. (Cysne & Amador, 2000).

A Lei Constitucional angolana para além de consagrar o direito do ambiente como um


direito fundamental dos cidadãos (art. 24), consagra um conjunto de garantias de defesa dos
direitos dos cidadãos que servem igualmente de tutela jurídica do ambiente, nomeadamente, o
direito de associação (art. 32), o direito à acção judicial e o direito de impugnação (art. 43). A
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tutela do ambiente pode ser feita, igualmente, com base na legitimidade individual prevista no
Código Civil. O art. 493/2 consagra o princípio da responsabilidade objectiva na qual se
estabelece a obrigação de indemnização por danos causados por actividades perigosas por sua
natureza ou pela natureza dos meios utilizados. (Cysne & Amador, 2000).

Pode-se inferir, pela exposição feita, que muito tem de ser feito no domínio da defesa
do ambiente em Angola. Apesar da situação de guerra existente, alguns passos estão a ser dados
pelos órgãos competentes do Estado no sentido de se criarem as condições para a recuperação
dos parques e reservas naturais e se prevenirem danos ambientais.

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CONCLUSÃO

Concluímos assim, ressaltando que os crimes ambientais representam uma séria ameaça
ao meio ambiente e à qualidade de vida das populações em todo o mundo. Ao longo deste
trabalho, pudemos observar que esses crimes são motivados principalmente pela busca pelo
lucro fácil, sem consideração pelos impactos negativos sobre os ecossistemas e as comunidades
locais.

Os casos analisados evidenciam a urgência de medidas eficazes para prevenir e


combater os crimes ambientais. Nesse sentido, é fundamental aprimorar a legislação ambiental,
aumentar a fiscalização e promover a conscientização da sociedade sobre a importância da
preservação ambiental.

Além disso, a cooperação internacional e a participação ativa da sociedade civil são


essenciais para enfrentar esse desafio global. Somente por meio de esforços conjuntos será
possível proteger o meio ambiente e garantir um futuro sustentável para as próximas gerações.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Cysne, M. & Amador, T. (2000). Direito do Ambiente e Redacção Normativa: teoria e prática
nos países lusófonos. Suíça, Cambridge, Reino Unido e Bona, Alemanha: UICN - União
Mundial para a Natureza.

Gomes, C. (2012). O desafio da protecção do ambiente em Angola. Lisboa: Universidade de


Lisboa

Gomes, L. & Maciel, S. (2015). Lei de Crimes Ambientais: comentários à Lei 9.605/1998. São
Paulo: Método, 2015. MILARÉ, Édis;

Kiss, A. (S/d). Droit International du L’Environnement. Edição A. Pedone, Paris, pag. 6, s/ d.

Machado, P. (2011). Direito Ambiental: responsabilidade em matéria ambiental. São Paulo:


Editora Revista dos Tribunais, 2011. (Coleção doutrinas essenciais; v. 5).

MINTRANS (2006). Estudo Para O Programa De Reabilitação Urgente Dos Portos Da


República De Angola - Relatório Final -. OCDI

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