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O livro “Cacau: cultivo, pesquisa e inovação”, organizado pelo

professor José Olimpio de Souza Júnior e tendo autoria de mais de


50 profissionais, é composto por 17 capítulos abordando diferentes
temáticas, como: trajetória de cultivo na Bahia; ecofisiologia e
ambiente; indução de resistência ao ataque de patógenos;
melhoramento genético; produção de mudas; biologia, física,
química e manejo de solos; nutrição e adubação; irrigação;
mecanização e sustentabilidade de sistemas agrossilviculturais com
o cacaueiro.
Cacau:
cultivo, pesquisa e inovação
José Olimpio de Souza Júnior (org.)

SciELO Books / SciELO Livros / SciELO Libros

SOUZA JÚNIOR, J.O., ed. Cacau: cultivo, pesquisa e inovação


[online]. Ilhéus, BA: EDITUS, 2018. ISBN: 978-65-86213-18-8.
https://doi.org/10.7476/9786586213188.
JOSÉ OLIMPIO DE SOUZA JÚNIOR
(ORGANIZADOR)
CACAU
CULTIVO, PESQUISA E INOVAÇÃO

Apoio financeiro

ILHÉUS-BAHIA

2018
Universidade Estadual de Santa Cruz

GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA


Rui Costa- Governador

SECRETARIA DE EDUCAÇÃO
Walter Pinheiro - Secretário

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ


Adélia Maria Carvalho de Melo Pinheiro - Reitora
Evandro Sena Freira - Vice Reitor

DIRETORA DA EDITUS
Rita Virginia Alves Santos Argollo

Conselho Editorial:
Rita Virginia Alves Santos Argollo – Presidente
Alexandra Marselha Siqueira Pitolli
Eduardo Lopes Piris
Evandro Sena Freire
Guilhardes de Jesus Júnior
Jorge Henrique de Oliveira Sales
Josefa Sônia Pereira da Fonseca
Lessí Inês Farias Pinheiro
Luciana Sedano de Souza
Lurdes Bertol Rocha
Maria Luiza Silva Santos
Ricardo Matos Santana
Rita Jaqueline Nogueira Chiapetti
Sabrina Nascimento
Este livro é dedicado aos produtores de cacau, sejam eles micro,
pequenos, médios ou grandes cacauicultores, mas essencialmente
àqueles com visão moderna de produção, que utilizam ou pretendem
utilizar tecnologias semelhantes às empregadas no cultivo de outras
frutíferas, como laranjeira, videira, bananeira, macieira, mangueira ou
mamoeiro, ou de outra planta estimulante, como o cafeeiro.
Definitivamente, o cacaueiro não pode ser mais cultivado de forma
extrativista ou semiextrativista, com o emprego de baixo nível
tecnológico e, consequentemente, obtenção de baixas produtividades
e de pequena ou nula rentabilidade. A sustentabilidade da
cacauicultura, como de qualquer outra cultura, necessita contemplar o
tripé que envolve os aspectos ambientais, sociais e econômicos. Por
isso, a dedicatória deste livro se estende àqueles que, ao longo do
processo produtivo, conservam os recursos ambientais, que
efetivamente cultivam a terra, ou seja, aos trabalhadores rurais e aos
empreendedores e visionários que viabilizam economicamente a
cacauicultura.
Copyright © 2018 by José Olimpio de Souza Júnior

Direitos desta edição reservados à


EDITUS - EDITORA DA UESC

A reprodução não autorizada desta publicação, por qualquer meio,


seja total ou parcial, constitui violação da Lei nº 9.610/98.

Depósito legal na Biblioteca Nacional, conforme Lei nº 10.994, de 14


de dezembro de 2004.

PROJETO GRÁFICO, DIAGRAMAÇÃO E CAPA


Alencar Júnior

IMAGEM DA CAPA
Pintura de Jane Hilda
(imagem cedida pelo proprietário Guilhardes de Jesus Júnior)

REVISÃO
Pedro Carvalho
Roberto Santos de Carvalho

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

S719

Souza Júnior, José Olimpio de


Cacau [livro eletrônico]: cultivo, pesquisa e
inovação / José Olimpio de Souza Júnior (org.). –
Ilhéus, BA: Editus, 2018.
44.111 Kb; ePUB: il.

Inclui referências
ISBN: 978-65-86213-18-8

1. Cacau – Cultivo. 2. Cacauicultura. 3.


Cacauicultura – Aspectos sociais. Cacauicultura –
Aspectos econômicos. 4. Agricultura sustentável. I.
Título.

CDD 633.74

Elaborado por Quele Pinheiro Valença – CRB-5/1533


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Universidade Estadual de Santa Cruz
Rodovia Jorge Amado, km 16 - 45662-900 - Ilhéus, Bahia, Brasil
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EDITORA FILIADA À

Versão digital: março de 2021


José Olimpio de Souza Júnior é filho do agricultor Zeca Souza e da
professora Teresinha Souza, ou seja, sua origem está vinculada à
agricultura e à docência. É engenheiro agrônomo, mestre em Solos e
Nutrição de Plantas pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), doutor
em Solos e Nutrição de Plantas pela Escola Superior de Agricultura
Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo e fez seu pós-
doutorado também na UFV. Nestas três pós-graduações desenvolveu
pesquisas com o cacaueiro. Foi professor visitante da Universidade
Estadual do Sudoeste da Bahia, entre 1997 e 1998. É professor titular
da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), instituição na qual
ingressou em 1998. Leciona disciplinas nas áreas de fertilidade do
solo, nutrição e adubação de plantas para os cursos de graduação em
Agronomia e de pós-graduação em Produção Vegetal. Orienta alunos
de monitoria, trabalhos de conclusão de curso, iniciação científica,
mestrado e doutorado. Em pesquisa, atua principalmente em projetos
nas áreas de fertilidade do solo e nutrição de plantas, com enfoque
para a cultura cacaueira. Tem vários trabalhos publicados em anais de
congresso, em periódicos científicos e em capítulos de livros.
Participou de atividades de extensão, inclusive na organização de
eventos de caráter nacional. Ministrou cursos e palestras em eventos
de caráter regional e nacional. Na área administrativa da UESC, foi
coordenador do Colegiado do Curso de Agronomia e diretor do
Departamento de Ciências Agrárias e Ambientais, por dois mandatos.
Prefácio
A articulação da ciência, tecnologia e inovação é uma força motriz
essencial para o desenvolvimento das forças produtivas. Desde o
advento da máquina a vapor na primeira revolução industrial até os
dias atuais, com a emergência da conectividade dos equipamentos
microeletrônicos.

Estas transformações acontecem em todas as áreas de atividade


humana e seus frutos precisam ser coletivizados para cumprirem
sua função social e propiciar qualidade de vida para as pessoas.

Este fenômeno não é diferente com o plantio e cultivo do cacaueiro


é uma ação milenar executada pela humanidade, num cumprimento
e abordagem multifuncional que, para além da produção de
alimento, gera riqueza material e cumpre função ambiental
destacada.

A experiência demonstra que a diversidade produtiva e o aumento


do valor agregado na produção dos derivados do cacau dependem
da capacidade de pesquisa e inovação a ele aplicada. Só desta
forma, o processo produtivo se sustentará e atenderá a crescente
demanda e produtividade.

A nova economia mundial passará pela inovação e economia


criativa, e a cultura cacaueira está eivada deste novo contexto, das
tecnologias do cultivo à produção de chocolate por quem nunca viu
uma amêndoa, dos serviços ambientais gerados às obras de arte e
esculturas derivadas do doce e dos frutos, do mel do cacau
comercializado in natura às linhas de cosméticos comercializados
em todo mundo.

O futuro pede passagem, os ventos da mudança chegaram, é tempo


de valorizar a produção e conhecimento local por meio de um olhar
acadêmico e implementar as tecnologias a partir deste novo
paradigma em que produção e conservação dialogam na
perspectiva do desenvolvimento econômico e social.

A publicação deste livro reflete a real capacidade da nossa pesquisa


em produzir material adequado às reais necessidades de um mundo
em permanente processo de inovação. Trata-se aqui de apostar no
futuro e na ampliação da rede de estudos e ensino que determinará
o sucesso deste novo ciclo, onde o conhecimento aplicado à
realidade transformará o século que se inicia.

As contribuições dos diversos pesquisadores e instituições para que


esta obra fosse concretizada só consolida a certeza de que unidos
somos fortes e podemos encontrar um caminho a seguir baseado
em conhecimento científico contemporâneo, difuso e
contextualizado.

JOSÉ VIVALDO MENDONÇA


Secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação
do Governo do Estado da Bahia
Apresentação
A ideia de publicar um livro sobre a pesquisa e o cultivo do
cacaueiro sempre foi um objetivo, um sonho a ser alcançado.
Vislumbramos a realização deste sonho com o projeto
Casadinho/Procad (Programa Nacional de Cooperação Acadêmica)
desenvolvido em parceria entre o Programa de Pós-graduação em
Produção Vegetal da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC)
e o Programa de Pós-graduação de Solos e Nutrição de Plantas da
Universidade Federal de Viçosa (UFV) aprovado e financiado pelo
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq) e pela Comissão de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (CAPES). Entre os vários objetivos desse projeto,
incluímos esta publicação.

Paralelamente à execução das demais ações do projeto, fomos


formatando os possíveis temas de cada capítulo do livro.
Originalmente, a temática central versava sobre solos, nutrição e
relações hídricas para o cacaueiro; contudo, esta temática começou
a se expandir e outros assuntos foram sendo incorporados ao livro,
como consequência da sensibilização e da colaboração de vários
colegas da UESC, da Comissão Executiva do Plano da Lavoura
Cacaueira (CEPLAC) e da UFV, especialistas em suas respectivas
áreas de ensino e pesquisa e que têm experiência com a cultura do
cacaueiro. Conseguimos também o envolvimento de egressos da
UESC e de profissionais de outras instituições.

Nunca foi nossa intenção produzir um manual de cultivo do


cacaueiro, mas sim um material técnico, de caráter inovador, com
forte embasamento científico de temáticas diversas e, ao mesmo
tempo, específicas sobre o cultivo do cacaueiro; algumas inclusive
inéditas para a cultura em uma publicação técnica.

Deste modo, o primeiro capítulo traz uma análise da trajetória


política e econômica do cultivo do cacaueiro na Bahia. Os capítulos
2 e 3 abordam questões ecofisiológicas e ambientais relacionadas à
cultura, sendo os fatores climáticos, de modo geral, os mais
restritivos e condicionantes para o cultivo e a produção do
cacaueiro. A indução de resistência em plantas ao ataque de
patógenos, temática muito atual, é discutida no capítulo 4.

O sucesso de uma lavoura perene depende, entre outros fatores, de


atributos genéticos da planta e da qualidade da muda utilizada,
sendo estes temas abordados nos capítulos 5 e 6, respectivamente.

O solo e a nutrição da planta, temáticas mais dominantes neste


livro, foram amplamente discutidos nos capítulos 7 (atributos físicos
do solo), 8 (microbiologia do solo), 9 (meso e macrofauna do solo),
10 (diagnose nutricional), 11 (fertilidade do solo e adubação), 12
(adubação foliar), 13 (manejo e conservação do solo) e 15
(fertirrigação).

Irrigação, fertirrigação, adubação foliar e mecanização, que são


assuntos bastante incipientes em publicações técnicas para a
cacauicultura brasileira e também para a cacauicultura mundial, mas
com grande potencial de expansão, tanto na pesquisa e inovação
quanto na aplicabilidade em campo, mereceram capítulos
específicos.

Por fim, não poderíamos deixar de abordar a sustentabilidade de


sistemas agrossilviculturais com o cacaueiro, tratado no último
capítulo deste livro.

Esta não é uma obra completa. Há várias outras temáticas


importantes relacionadas à cacauicultura que não foram aqui
tratadas. Textos referentes à área de fitossanidade (manejo de
pragas e doenças), ao manejo cultural, ao beneficiamento do cacau,
à utilização de subprodutos e de resíduos e à economia e ao
mercado do cacau podem ser encontrados em diversas publicações.
Contudo, outras temáticas, igualmente importantes, precisam ser
mais investigadas, divulgadas, utilizadas e aprimoradas, como, por
exemplo: produção de cacau e/ou de chocolate orgânico, fino,
certificado, gourmet, biofortificado e/ou com indicação geográfica.

Sabemos também que este livro não é uma obra sem incorreções.
Erros ou equívocos podem acontecer e, por estes, pedimos
desculpas antecipadas. Ideias divergentes, desde que devidamente
embasadas, são salutares e, muitas vezes, a verdade absoluta não
existe; conceitos podem mudar, tecnologias podem ser aprimoradas,
e o conhecimento é dinâmico, evoluindo com o tempo.

Agradecemos o empenho e a dedicação de todos os autores dos


diversos capítulos que compõem esta obra. Certamente os textos
aqui apresentados contribuirão para o cultivo, a pesquisa e a
inovação aplicados ao cacaueiro.

JOSÉ OLIMPIO DE SOUZA JÚNIOR


olimpio@uesc.br
Table of Contents / Sumário / Tabla de
Contenido
Front Matter / Elementos Pré-textuais / Páginas Iniciales
Capítulo 1 — Produção de cacau na Bahia: análise da trajetória
política e econômica
Capítulo 2 — Respostas do cacaueiro às variações da
intensidade de luz
Capítulo 3 — Respostas do cacaueiro à variação da
disponibilidade de água
Capítulo 4 — Mecanismos de resistência em plantas contra
ataque de patógenos: indução de resistência
Capítulo 5 — Melhoramento genético e produtividade do
cacaueiro no Brasil
Capítulo 6 — Propagação do cacaueiro e tecnologias para
produção de mudas clonais
Capítulo 7 — Atributos físicos do solo para a cultura do
cacaueiro
Capítulo 8 — Fungos micorrízicos arbusculares em cacaueiro
Capítulo 9 — Fauna fossória e da serapilheira associada ao
cultivo do cacaueiro no sudeste da Bahia
Capítulo 10 — Diagnose nutricional para o cacaueiro
Capítulo 11 — Fertilidade do solo, correção da acidez e
recomendação de adubação para o cacaueiro
Capítulo 12 — Adubação foliar para o cacaueiro
Capítulo 13 — Manejo e conservação do solo para cacaueiro
Capítulo 14 — Irrigação em cacaueiros
Capítulo 15 — Fertirrigação em cacaueiros
Capítulo 16 — Mecanização do cultivo do cacaueiro no Brasil:
“Estado da arte”
Capítulo 17 — Sustentabilidade no sistema agrossilvicultural
cacaueiro
Capítulo 1 — Produção de cacau na Bahia:
análise da trajetória política e econômica
Jorge Chiapetti1
1 Historiografia do cacau
Originário da América Central e da América do Sul, de cultivo
milenar pelos povos Astecas e Incas, o cacau (Theobroma cacao)
ganhou expressão no mercado depois de descoberto pelos
europeus. Primeiramente na Espanha, onde o uso do cacau era bem
difundido, pois os espanhóis já detinham os segredos do
processamento do fruto por muitos anos, depois na França e em
seguida espalhando-se por toda a Europa. Em 1657, surgiu a
primeira casa de chocolate em Londres. Na Holanda, o chocolate
tornou-se uma bebida popular em 1660. Em 1728, foram instaladas
fábricas de chocolate em Bristol na Inglaterra. Em 1756, em
Steinhunde, na Alemanha, e nos EUA. Na França, a primeira fábrica
de chocolate foi instalada em 1776 (BONDAR, 1938). Em 1828, o
holandês Coenraad Johannes Van Houten inventou o método para
extrair manteiga de cacau, originando daí o cacau em pó. Mas, o
grande impulso no consumo se deu em 1875, quando dois suíços, o
industrial Henri Nestlé e o inventor (fabricante de chocolate) Daniel
Peter, criaram o chocolate ao leite, o que popularizou o consumo
deste produto (COSTA, 2008). Todos esses eventos contribuíram
para o aumento da demanda de amêndoas de cacau nos EUA e na
Europa.
No Sul da Bahia, o cacau encontrou na Mata Atlântica condições
favoráveis e semelhantes ao seu local de origem, com solos
apropriados, um clima quente e úmido e de chuvas abundantes. As
primeiras amêndoas foram trazidas do Pará por Luiz Frederico
Warneaux, as quais entregou a Antônio Dias Ribeiro, que as plantou
no ano de 1746 na fazenda Cubículo, localizada às margens do Rio
Pardo, no município de Canavieiras, Bahia, e somente seis anos
depois chegou ao vizinho município de Ilhéus. Conforme citam outros
autores, existem outras datas para o início dos plantios de cacau em
Ilhéus, como 1755, 1760 e 1780. Mas, embora os índios da
Amazônia utilizassem as amêndoas para fazer vinho através de sua
fermentação bem antes da chegada de Cabral ao Brasil, a data
oficial para o cultivo do cacau em solo brasileiro é 1679, quando a
Carta Régia dessa época autorizava que os colonos do Pará
plantassem as amêndoas em suas terras (VINHÁES, 2001). No
início, o cultivo do cacau não teve grande êxito, mas a partir do ano
de 1783 já era considerada uma cultura importante no Sul da Bahia.
Inicialmente, a atividade de plantio do cacau se deu paralelamente
ao cultivo de cana-de-açúcar e outras culturas, como o arroz. Mas,
ao final do século XVIII, com o aumento da demanda no mercado
internacional, principalmente com a instalação de fábricas de
chocolate em vários países da Europa e nos EUA, a produção de
amêndoas de cacau passou a ser considerada uma cultura agrícola
importante. Milton Santos, em seu livro “Zona do cacau” (SANTOS,
1957, p. 44), comenta a importância da lavoura cacaueira já em
1783, onde os administradores provisórios da Bahia, em um relatório
daquele ano, deixam transparecer o entusiamos pela atividade
cacaueira, comentando que já existiam quatrocentos mil pés e que a
região já apresentava progresso na sua economia. Para Barbosa
(1994), foi somente em 1822 que a atividade cacaueira teve um novo
impulso com a chegada de imigrantes alemães que se
estabeleceram numa sesmaria adquirida por Pedro Weill, em Ilhéus.
Em 1818, Pedro Weill obteve terras da coroa portuguesa
localizadas à margem esquerda do rio Cachoeira, em Ilhéus, onde,
em 1822, instalaram-se 161 colonos alemães que vieram em busca
de fazer fortuna. Em 1875, o número de colonos alemães em Ilhéus
passou para 400 (ADONIAS FILHO, 1978). O interesse desses
imigrantes na atividade cacaueira pode ser atribuído à herança da
racionalidade econômica adquirida na expansão do sistema político e
econômico na Europa. Mas vale ressaltar que o fracasso comercial
inicial das colônias de povoamento da Inglaterra e da França e a
desarticulação da agricultura europeia como resultado das guerras
napoleônicas haviam proporcionado oportunidades e experiência de
imigração do povo europeu, a vinda para a América foi mais uma
oportunidade de imigração, de tantas já experimentadas pelos
agricultores europeus.
Não se pode negar a contribuição que os imigrantes deram à
produção de amêndoas de cacau; no entanto, a expansão da
produção de cacau ocorreu devido a dois eventos predominantes: a
decadência da atividade canavieira e o aumento da demanda e do
preço das amêndoas de cacau no mercado internacional em
consequência da difusão das técnicas de processamento do cacau
para fazer chocolate e da criação das casas de chocolate, o que
avivou a cobiça dos imigrantes. No início do século XIX, foi grande a
participação estrangeira na exploração e desbravamento das terras
no Sul da Bahia por alemães, suíços, belgas, franceses, poloneses e
austríacos. “A verdade é que, dentre as experiências de colonização
europeia no sul da Bahia, mesmo não relacionadas com o cacau, foi
a de Ilhéus a única que realmente progrediu” (ADONIAS FILHO,
1978, p. 70).
Desta forma, as condições fisiográficas favoráveis e um mercado
externo em expansão motivaram o interesse dos agricultores na
exploração da atividade cacaueira no Sul da Bahia, e os primeiros
cultivos do cacaueiro começaram a ser feitos na Mata Atlântica sob a
forma de cabruca2. No momento em que a atividade cacaueira ainda
se dava em ritmo lento e descontínuo, imposto pelas variáveis
naturais, as dificuldades eram superadas, prevalecendo mais o
trabalho direto do homem na natureza do que a incorporação de
capital.
A atividade cacaueira se expandiu, então, por toda região, e, já em
1825, Ilhéus exportou 26.805 kg (447 sacos) para a Inglaterra,
obtendo ótima rentabilidade (BONDAR, 1938). Em 1867, os
cacauicultores participaram da Exposição Universal de Viena, e o
cacau brasileiro recebeu menção honrosa, consolidando-se no
mercado mundial. (ADONIAS FILHO, 1978).
A partir de meados do século XIX, a atividade cacaueira passou a
produzir, em média, 15 toneladas por ano, quantidade essa que
possibilitou estabelecer um fluxo de exportação contínua. No início
do século XX, ao ritmo crescente das cotações e da demanda
internacional, o cacau alcançou uma produção média de 50 mil
toneladas/ano, chegando à liderança da pauta estadual de
exportação, colocando o Brasil na posição de principal produtor
mundial, posição que conseguiu manter até o final da República
Velha3.
Com o crescimento da produção de amêndoas (Figura 1), a
atividade cacaueira tornou-se o suporte econômico regional,
impondo um ritmo próprio à formação regional4, o que a caracterizou
como Região Cacaueira da Bahia5 (Figura 2). O movimento de
capitais e de homens na atividade cacaueira desencadeou uma série
de outros movimentos, que originaram os primeiros núcleos urbanos
da região, resultando numa redistribuição da população e dos
capitais para lugares mais distantes da faixa litorânea. Foi esse
movimento que mobilizou a sociedade para a geração de renda,
emprego e divisas para o país, criando inúmeras cidades e
instituições na região. Esse movimento dinamizou ainda mais a
atividade cacaueira com a introdução de técnicas agrícolas
modernas e a instalação de um sistema de engenharia como o porto,
as estradas de ferro e as rodovias.

Figura 1 – Produção de amêndoas de cacau no estado da Bahia


(1918 a 1930)

Fonte: Adaptado de Santos (1957).


Figura 2 – Localização da Mesorregião Sul Baiano e Microrregião
Ilhéus/Itabuna

Fonte: Imagem produzida pelo autor.


2 A produção de cacau como estratégia do
estado
Nas três primeiras décadas do século XX, a região cacaueira se
afirmou na divisão territorial do trabalho como região produtora de
riquezas, seguindo o modelo de exploração agrário-exportador,
modelo este que comandava e dinamizava o sistema econômico do
país. A importância do cacau para os EUA se revelou através da
criação da Bolsa de Cacau de Nova York no ano de 1925 (GARCEZ,
1979). Entretanto, a crise econômica mundial de 1930 também exigiu
transformações econômicas no Brasil. Os efeitos desta crise
afetaram diretamente a atividade cacaueira brasileira, já que os EUA
eram os maiores compradores de amêndoas de cacau. Com a crise,
registrou-se a primeira queda de preço das amêndoas de cacau no
mercado internacional, trazendo consequências não só para a
região, mas também atingindo os governos federal e estadual, os
quais “engordavam” seus orçamentos, em grande parte, com os
impostos referentes às exportações de cacau. Santos (1957, p. 7)
assim se referiu à importância do cacau na economia da Bahia: “tem
o cacau, na economia do Estado, um papel de relevo, já que de sua
cultura, direta ou indiretamente, beneficia-se o erário com muito mais
da metade de seu orçamento, constituindo, por si só, o sustentáculo
de sua vida econômica”.
Contudo, os preços elevados das amêndoas de cacau nos anos
anteriores à crise levaram os cacauicultores a contraírem
empréstimos com juros elevados na expectativa de que a
rentabilidade das próximas safras possibilitasse pagar os juros e
amortizar o capital. Mas a queda dos preços das amêndoas de cacau
causou retrocessos na rentabilidade da atividade, impondo-lhes
dificuldades financeiras (BONDAR, 1938).
Os problemas que a atividade cacaueira enfrentava não eram
apenas os decorrentes do mercado, mas também do baixo
conhecimento das técnicas de cultivo, do envelhecimento das
plantações e do próprio esgotamento da fertilidade dos solos pela
ausência das técnicas de reposição de nutrientes. Além disso, a falta
de estradas que ligassem a região cacaueira a outros lugares e a
precariedade da rede de transporte existente dificultavam ainda mais
o desempenho da atividade, pois não restava outra alternativa ao
produtor a não ser transportar as amêndoas para a cidade de Ilhéus.
Diante dessas dificuldades, no início dos anos 1930, os produtores
de cacau reivindicaram a intervenção do Estado. A importância
econômica da atividade como geradora de divisas impôs não só a
necessidade de uma modernização produtiva, mas também de
normatizações comerciais e financeiras, segundo também os
interesses econômicos do Estado, conjugados com os dos
produtores de cacau.
Assim, o modelo de “modernização” exigiu do Estado brasileiro a
instalação, no território, de um sistema técnico-científico e um
sistema de transporte para dar suporte à atividade cacaueira. Coube
a Ignácio Tosta Filho elaborar um projeto para recuperar a produção
de amêndoas de cacau. Então, em 1931, foi criada através de
Decreto Federal, a Sociedade Cooperativa de Responsabilidade
Limitada – Instituto do Cacau da Bahia (ICB), a primeira instituição a
intermediária entre o Estado e os produtores de cacau6.
O ICB representou o primeiro sistema técnico-científico de
organização e de defesa da atividade cacaueira, intervindo no
sistema de atividades agrícolas oferecendo: a) carteira hipotecária,
com crédito de longo prazo e juros subsidiados; b) carteira comercial,
que intervinha diretamente no mercado, estabelecendo normas para
garantir os preços, eliminando a especulação generalizada do
comércio exportador e resguardando, assim, os interesses da
atividade produtiva; e c) também interferindo nos sistemas de
engenharia do meio geográfico, com obras públicas, como:
construção de estradas, de armazéns para estocagem de amêndoas,
de agências de fomento, de estação experimental e de uma empresa
de transporte de passageiros, a Viação Sul Baiano SA.
Num primeiro momento, o ICB serviu e atendeu às necessidades e
interesses da classe produtora, e seus novos impulsos permitiram
estabelecer uma nova lógica produtiva, que resultou no aumento da
produção regional de amêndoas de cacau nos anos seguintes
(Figura 3).

Figura 3 – Produção de amêndoas de cacau no estado da Bahia


(1931 a 1955)

Fonte: Adaptado de Santos (1957).

A modernização iniciada pelo ICB e a crescente expansão do


consumo no mercado internacional, além de um aumento da
produção, proporcionaram um aumento da área cultivada. Porém,
com os consequentes problemas no mercado internacional no
período que durou a Segunda Guerra e as possíveis ameaças de
uma nova redução do preço, a classe de produtores fez
reivindicações que foram atendidas novamente pelo Estado através
da normatização da comercialização7, o que minimizou os efeitos da
queda de preço frente aos concorrentes mundiais.
Na medida em que a Segunda Guerra se prolongava, ocorria a
suspensão das exportações para a Europa, sobrando apenas o
mercado norte-americano. Além disso, ocorreu uma queda dos
preços na Bolsa de Nova York8, fazendo a atividade cacaueira se
desestruturar novamente. Por sua vez, o Estado, na defesa dos
interesses da classe de produtores rurais, realizou sua segunda
intervenção na comercialização da amêndoa de cacau,
estabelecendo definitivamente seu controle com a criação, em 1943,
da Portaria nº 63 da Superintendência da Moeda e do Crédito
(SUMOC), o que atribuiu o monopólio da comercialização ao ICB.
Esta Portaria favoreceu, principalmente, o pequeno produtor, que
antes era obrigado a vender a safra aos intermediários ou
partidistas9. Mas esse processo não interessa aos grandes
produtores, pois alguns exerciam também a atividade de compra de
amêndoas de cacau e — como essa classe gerava mais de 50% da
produção do estado baiano (Tabela 1) — tinham maior poder de
influenciar as políticas da atividade cacaueira.

Tabela 1 – Distribuição da produção de amêndoas de cacau entre


diferentes extratos de produtores no ano de 1943
Quantidade produzida Número de % de % do total
Produtores produtores anual
produzido
Até 500 @ 20.091 87,0 23,32
500 a 1.500 @ 1.906 8,2 22.48
Acima de 1.500 @ 1.097 4,8 54,20
Total 23.094 100 100
Fonte: Garcez (1979).

Em 1946, a Portaria nº 63 foi revogada por resolução do Conselho


Federal de Comércio Exterior, que passou a controlar a distribuição
de cotas de exportação entre o ICB, as cooperativas e as firmas
exportadoras. Tal situação de controle e regulação das cotas teve
curta duração e logo se instalou o regime de comércio livre, que
fortaleceu e aumentou o número de empresas exportadoras.
Com o fim da fase monopolista, o ICB perdeu a efetividade no
comando e regulação do sistema das atividades cacaueiras. A
atuação do ICB começou a se agravar também, segundo Santos
(1957, p. 93), “[...] misturando suas funções específicas com a
política partidária, foi se desorganizando e desprestigiando, encheu-
se de dívidas e terminou por perder quase toda a sua clientela”.
A ingerência política partidária se tornou mais presente no ano de
1941, no momento em que o ICB foi transformado em autarquia
estadual, aumentando a disputa de poder entre as classes de
produtores e de comerciantes de cacau. Entretanto, este “novo” ICB
não interessou aos comerciantes e nem mesmo sucessivas
estruturações reivindicadas pelos produtores nos anos seguintes
trouxeram de volta a sua efetividade inicial (RAMOS, 1992). Uma das
reivindicações dos produtores era a transferência da sede do ICB de
Salvador para Ilhéus e que o ICB voltasse a ser o responsável pela
comercialização. O projeto de transferência do ICB feito no governo
Antônio Balbino (1955/1959) foi aprovado pela Assembleia, mas
vetado pelo vice-governador Orlando Moscoso Barreto de Araújo, em
exercício da governadoria, numa clara demonstração de interesse
das empresas comerciais em manter influência direta no ICB, já que
o vice-governador era também, na época, diretor de uma das
maiores empresas exportadoras da Bahia (GARCEZ, 1979).
No início dos anos 1950, o cacau continuou sendo produto
importante na pauta de exportações, sendo o terceiro produto das
exportações brasileiras e o primeiro das exportações da Bahia. Mas
um novo período de baixa cotação de preços do cacau no mercado
internacional, desta vez pelo aumento da produção mundial, levou
novamente a uma situação de dificuldades financeiras para a
atividade.
Em 1956, a crise da atividade cacaueira se acentuou com o baixo
preço das amêndoas de cacau e o aumento do endividamento dos
produtores, atingindo toda a região. O momento exigiu novamente
uma rearticulação dos diversos setores em busca do apoio do
Estado, e estes se mobilizaram “em protesto, exigindo a
reformulação do ICB, a solução imediata para o problema das
dívidas da lavoura e a regularização do mercado externo” (RAMOS,
1992, p. 61). Como autarquia estadual, o ICB teve sua atuação
limitada, e as reivindicações foram direcionadas novamente para a
esfera federal.
Na nova reestruturação da atividade, coube novamente a Ignácio
Tosta Filho (mesmo autor do projeto de criação do ICB) elaborar um
plano de recuperação econômico-rural para a atividade cacaueira,
criando, em 1957, a Comissão Executiva para o Plano da Lavoura
Cacaueira (CEPLAC).
A CEPLAC foi criada pelo Decreto nº 40.987, de 20 de fevereiro de
1957, com os seguintes objetivos: a) execução das medidas
necessárias à restauração da lavoura, ampliação, melhoria e
racionalização, nas fazendas e nos centros regionais, das condições
de colheita, armazenagem, preparo, beneficiamento e criação de
meios para o combate às pragas e doenças e assistência técnica
através de trato cultural e extensão agrícola, visando ao aumento da
produtividade do cacau pela redução dos custos de sua produção e
elevação da produção unitária; b) assistência financeira aos
cacauicultores, cujos débitos provenientes de despesas de custeio e
investimentos de melhoria se elevem acima da queda dos preços do
cacau, desde que — no interesse da produção e da recuperação da
lavoura, examinado em cada caso, nos termos das instruções
específicas que serão baixadas — se torne imprescindível o amparo
oficial. Os recursos para a criação da CEPLAC foram viabilizados
através do Fundo de Modernização e Recuperação da Lavoura
Nacional (Fundo dos Ágios) (LIMA, 1964).
A produção de receitas para o Estado era tão expressiva que a
CEPLAC ficou subordinada ao Ministério da Fazenda até 1974 e
depois passou a pertencer ao Ministério da Agricultura. A CEPLAC
foi constituída por representantes do Ministério da Agricultura, Banco
Central do Brasil, Carteira de Comércio Exterior do Banco do Brasil
(CACEX), Governos da Bahia, Espírito Santo, Rondônia e Pará e o
Conselho Nacional de Produtores de Cacau.
Num primeiro momento, os problemas de endividamento foram
solucionados, e tanto os produtores como as empresas exportadoras
foram beneficiados. Então, estes mesmos produtores passaram a
fazer constantes apelos pela modernização da produção, o que levou
o Estado a investir na criação de um órgão que modernizasse o
cultivo do cacaueiro.
Em 1962, a CEPLAC fortaleceu suas atividades com a
implantação do Centro de Pesquisa do Cacau (CEPEC), do Centro
de Extensão (CENEX) e da Escola Média de Agropecuária da
Região Cacaueira (EMARC), tornando-se uma das principais
referências de pesquisa e desenvolvimento sobre o cacau no mundo.
É importante frisar que todos esses equipamentos técnicos criados
em benefício da atividade cacaueira tinham estreita relação com o
relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) de 1951,
intitulado “Measures for the economic development of
underdeveloped coutries”, preparado por uma comissão de
especialistas norte-americanos da economia do desenvolvimento
pós-guerra e publicado pelo Departamento de Assuntos Econômicos
da ONU. As orientações seguiam um padrão geral e pré-concebido
para todas as economias ditas desenvolvidas e subdesenvolvidas,
em que as autoridades deveriam “garantir as condições externas
gerais imprescindíveis à existência de uma economia de mercado
moderna”. Para isso, os governos deveriam investir nas
infraestruturas básicas, como a construção de estradas, meios de
comunicação, saúde, educação, institutos dedicados à informação e
pesquisa, implantação de indústrias públicas em setores pioneiros ou
de lucratividade duvidosa, criação de instituições financeiras ágeis
para captar e canalizar poupança, etc. Para as economias
subdesenvolvidas, as orientações incluíam ainda uma política de
reforma agrária que proporcionasse à propriedade da terra uma
função social útil (MORAES, 2006).
Assim, o cacau “embarcou” definitivamente na Revolução Verde, e
a condução da atividade se deu com um conteúdo, cada vez mais
crescente, de ciência, de técnica e de informação. “O processo de
integração e cooperação entre a ciência e a técnica, e destas com a
atividade agrícola, representou uma mudança qualitativa no processo
de modernização da agricultura brasileira” (KAHIL, 1997, p. 39).
Embora a CEPLAC tenha sido criada, inicialmente, com recursos
federais, logo assumiu uma posição nova na condução da atividade
cacaueira, cujos recursos para a execução de seus programas
provinham da própria atividade cacaueira através da criação do
Fundo do Cacau, instituído pelo Decreto Federal no 539, de 23 de
janeiro de 1962. Esse fundo foi insistentemente contestado pelos
produtores que viam nele mais um custo do que um investimento
compulsório cujo processo de retorno viesse permitir a
reincorporação de uma parcela de suas rendas à atividade cacaueira
(GARCEZ, 1979).
Inicialmente, esse fundo tinha uma taxa de retenção anual de 20%
do valor da receita cambial do cacau exportado em amêndoas e 5%
sobre a exportação de produtos derivados. Posteriormente, a taxa de
retenção sobre as amêndoas passou para 15% e mais tarde foi
reduzida a 10%. Em 1983, essa taxa foi transformada em imposto de
exportação e, em 1989, a taxa foi reduzida à zero.
Da mesma forma que aconteceu com o ICB, a criação da CEPLAC
foi uma demonstração de poder dos produtores no comando das
políticas públicas para a solução das crises conjunturais e das crises
de caráter estrutural, mas também havia um forte interesse do
Estado na dinamização de atividades que pudessem reforçar o
Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Foi a partir da instalação, no
território, dos recursos técnico-científicos e, em particular, dos
recursos de crédito, somados ao uso privilegiado desses mesmos
recursos, que a atividade cacaueira, tendo em vista o aumento da
produtividade (Figura 4), passou a participar ativamente da
composição da economia nacional.
Figura 4 – Produção de amêndoas de cacau no estado da Bahia
(1950 a 1990)

Fonte: Adaptado de Fundação CPE (1992); CEPLAC (2005);


Hartmann (2008).

Segundo Virgens Filho et al. (1993), entre os anos de 1963 e 1986,


a produtividade do cacau passou de 300 para 700 kg/ha/ano. Em
1979, as exportações do cacau em amêndoas e derivados
alcançaram a cifra de US$ 1 bilhão, chegando a representar 35% da
pauta de exportações do Nordeste e 70% da Bahia, além de
participar com 6% na composição do PIB nacional. Em 1985, a
produção de cacau participou com 14% da arrecadação do Imposto
sobre Circulação de Mercadorias (ICMS) da Bahia, posicionando o
Brasil no segundo lugar do ranking mundial, com 400 mil
toneladas/ano (NASCIMENTO, 1994).
3 Ascensão, declínio e perspectivas da
cacauicultura baiana
A partir da década de 1970, a atividade cacaueira encontrou seu
momento de maior dinamismo, ritmado pelas novas técnicas de
cultivo e pela elevação dos preços no mercado internacional. A partir
de 1975, o preço da tonelada de cacau teve uma grande valorização
e chegou a alcançar US$ 4 mil na safra 1977/1978, mantendo-se
acima de US$ 2,5 mil até o início dos anos 1980 (MENEZES, 1993).
Ao ritmo dos bons preços no mercado internacional, os produtores
brasileiros expandiram suas áreas de cultivo passando de 392 mil
hectares, em 1975, para 670 mil hectares em 1985 (Tabela 2).

Tabela 2 – Área cultivada com cacau em 1985, no Brasil, na


Bahia, no Sul da Bahia e na Microrregião Ilhéus/Itabuna (em
hectares e percentagem da área cultivada total)
Brasil Bahia Sul da Bahia Microrregião
Ilhéus/Itabuna
ha % ha % ha % ha %
670.000 100 550.000 82,0 480.000 72,0 420.000 63,0
Fonte: IBGE (2009).

Contribuiu para esta expansão uma generosa política pública, com


subsídios e incentivos agrícolas, a exemplo daqueles
disponibilizados através do Plano de Diretrizes para Expansão da
Cacauicultura Nacional (PROCACAU), aprovado em 1976, em
conjunto pelo presidente da República, pelos ministros do
Planejamento, da Agricultura, da Indústria e Comércio, pela Carteira
do Comércio Exterior do Banco do Brasil (CACEX), pelo Banco
Central e pelos representantes dos cacauicultores do estado da
Bahia e Espírito Santo (Tabela 3). Seguiu na mesma direção a
instalação, na região, de importantes sistemas de engenharias para
garantir maior eficiência das atividades agrícolas e comerciais, bem
como pela criação de organizações como a Cooperativa Central dos
Produtores de Cacau (COOPERCACAU)10.

Tabela 3 – Indicadores e resultados do Programa PROCACAU (1976


a 1985)
Indicadores Resultados
Produção Aumento de 53,7%
Produtividade Aumento de 28%
Volume exportado Aumento de 42,1%
Área ocupada Aumento de 39%
Área em produção Aumento de 197%
Empregos gerados 100 mil permanentes e 30 transitórios
(estimativa)
Receita cambial Aumento de 226,2%. Entre 1977 e 1979, gerou
cerca de US$ 2,4 bilhões. Recorde de US$ 913
milhões no período 1979/1980.
Fonte: Vieira (2002).

Analisando os dados até agora apresentados, podemos concluir


que a transformação da cacauicultura no Sul da Bahia foi
significativa, pois incorporou novas terras, absorveu mais mão de
obra, instalou infraestrutura e elevou a produtividade e a
rentabilidade.
Porém, estimulados pela conjuntura de preços internacionais
elevados, pela abundância de créditos e pelos generosos subsídios,
a prioridade foi dada à expansão das áreas plantadas. Já a melhoria
das técnicas de produção, como a meta de renovação e
adensamento dos plantios prevista pelo PROCACAU, ficou em
segundo plano. Para Dias (1992, p. 49), dos 150 mil hectares de
renovação previsto, apenas 39 mil foram renovados, “enquanto
foram incorporados mais de 160 mil hectares de áreas de novos
plantios e com estímulo direto do programa, geralmente em solos
pobres, ou em áreas que apresentam deficiência hídrica”.
Assim, um novo período se iniciou na atividade cacaueira. Mas se
por um lado a disponibilidade de crédito e os preços elevados
garantiram à atividade uma posição de destaque na economia
regional, por outro, a cooperação entre a ciência e a técnica deixou
de ser prioridade das políticas de desenvolvimento da atividade
produtiva, optando-se por uma política preferencialmente de
liberação do crédito e aumento da área.
Nesse período, os técnicos da CEPLAC não eram vistos, pela
atividade produtiva, como agentes de assistência técnica, portadores
do um novo padrão modernizador do campo, característico das
décadas de 1960/1970, mas, na maioria das vezes, como agentes
portadores de crédito, pois a liberação de crédito dependia de um
projeto elaborado e assinado por técnicos da CEPLAC.
As transformações provocadas pela grande disponibilidade de
crédito na região reafirmaram a vocação agrícola original da região
produtora de amêndoas de cacau. Tudo estava em perfeita ordem na
atividade cacaueira: os produtores tinham o capital à sua disposição,
tanto para custeio como para investimento, isto é, em qualquer fase
do cultivo; as empresas exportadoras e as indústrias tinham grande
oferta de matéria-prima, e o Estado, as suas receitas.
Ilhéus viveu um período próspero, em que se exaltavam as
virtudes de ser cacauicultor. A classe dos proprietários de terra e de
capital, que sempre teve representação no exercício do poder
político, afirmou-se novamente como classe hegemônica política e
econômica na vanguarda do desenvolvimento econômico regional.
Mas, sem proporcionar uma redefinição do poder econômico que
representasse uma mudança nas relações sociais e na vida material
da sociedade, apenas se confirmou para a região a vocação histórica
de uma situação geográfica favorável ao fluxo de exportação de
matéria-prima para abastecer mercados distantes e contribuir com o
aumento dos fluxos financeiros para o reforço do caixa do Estado.
Essa nova situação produtiva se assenta em dois marcos
fundamentais: a montagem de um sistema nacional de crédito e a
criação de instituições de pesquisa e desenvolvimento.
É assim que, com a criação de organismos técnico-normativos —
como o ICB, e depois como a CEPLAC, que tinham como objetivo
principal uma política de apoio e desenvolvimento da economia
agrário-exportadora — e com a farta oferta de crédito, estavam
dadas as oportunidades de ganhos de capital para os atores
econômicos, os quais definiram os rumos da economia regional.
Para a economia da Região Cacaueira, historicamente formada
segundo o modelo econômico agroexportador, na qual o crédito
subsidiado sempre foi tomado como fundamento das relações de
produção11, a alteração dos mecanismos de financiamento
favoráveis e a consequente queda na oferta de crédito agrícola, no
final da década de 1980, transformaram-se num “duro golpe” para a
economia regional.
A atividade cacaueira, nesta fase, passou por grandes
transformações, pois, desde o período denominado de “Revolução
Verde”, o aumento da produção se dava com a adoção de
tecnologias produtivas denominadas “modernas”, mas dependentes
de insumos estratégicos, como os adubos e os praguicidas químicos
— insumos que compunham o “pacote tecnológico”, um conjunto de
técnicas inovadoras, como correção de solo, fertilizantes, combates a
pragas e uso de máquinas modernas, tudo isto muito viabilizado pelo
crédito rural. É importante e oportuno salientar que a liberação de
crédito para as atividades agrícolas, como uma “orientação” das
agências internacionais, estava condicionada à aquisição, pelo
produtor, dos insumos do “pacote tecnológico”, independentemente
de sua necessidade. Cabe ressaltar que todos os insumos eram
produzidos, ou sua patente estava sob o domínio das empresas
multinacionais. Portanto, por trás da “Revolução Verde” estavam
poderosos interesses político-econômicos ligados à expansão das
grandes empresas multinacionais do setor, que já estavam a
caminho da transnacionalização. A difusão e financiamentos dos
programas de pesquisa e extensão agrícola no Brasil ficaram a cargo
da fundação Rockfeller.

A substituição de uma agricultura tradicional por uma agricultura


modernizada representava a abertura de importantes canais para a
expansão dos negócios das grandes corporações econômicas, tanto no
fornecimento de máquinas e insumos modernos, como na
comercialização mundial e nas indústrias de transformação dos produtos
agropecuários, sem esquecer os financiamentos aos países que
aderissem ao processo de modernização (BRUM, 1988, p. 61).

Toda essa conjunção de mecanismos internacionais e interesses


do Estado no exercício das políticas econômicas — fundamento
básico do modelo de desenvolvimento, denominado “nacional-
desenvolvimentista” — reafirmou o crédito como principal articulador
na condução da atividade cacaueira.
Historicamente, os cacauicultores conduziram seus negócios
acostumados ao crédito fácil e subsidiado, o que vantajosamente
lhes permitia uma superacumulação. Isto sem contar com as
vantagens trazidas pelas políticas de Estado que viabilizavam o
território com mecanismos favoráveis ao sistema da atividade
cacaueira.
Este foi o cenário da atividade cacaueira até meados dos anos
1980, mas esta situação começa a mudar com a crise da dívida
externa a partir de 1982, a qual decretou o fim do modelo de
crescimento vigoroso do país, o “nacional-desenvolvimentismo”,
sustentado no endividamento externo e na substituição de
importações. O “esgotamento do padrão de crescimento e o
desmonte dos mecanismos articuladores do processo de
desenvolvimento” (BRANDÃO, 2007, p. 151) tiraram a capacidade do
Estado na condução da economia nacional como provedor de
crédito. Esta nova situação interrompeu o crescimento econômico
até então planejado para a Região Cacaueira.
A questão da perda de soberania financeira reforça o conceito de
“espaço derivado” (SANTOS, 1979, p. 104), em que a formação
territorial tem como vetor principal uma ordem forânea que sobrepõe
à ordem local, impondo transformações na circulação e acumulação
de capital e culminando em uma alternância de períodos de
acumulação e de crises.
A análise da diminuição da produção de amêndoas de cacau, que
se traduziu em crise regional, é complexa e faz parte de vários
momentos do processo histórico da formação de um território
derivado, que, sob o comando de uma ordem forânea, vem
mediando e impondo as transformações locais (CHIAPETTI, 2014).
Assim, mesmo o Estado viabilizando a instalação, no território, de
um sistema de ações (científica e instrumental) e um sistema de
objetos (de engenharia e de transporte) eficazes — que deram
suporte para a reorganização, especialização da produção e
incremento da produtividade —, a atividade cacaueira do Sul da
Bahia12, que, na safra de 1984/1985, contribuiu para que o Brasil
alcançasse a posição de segundo produtor mundial com 400 mil
toneladas, iniciou a década de 1990 com uma expressiva diminuição
da produção (Tabela 4).

Tabela 4 – Produção de amêndoas de cacau no Brasil, no Norte, no


Sudeste, na Bahia, no Sul da Bahia e na Microrregião
Ilhéus/Itabuna (em toneladas)
Local 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006
Brasil 356,0 328,6 330,6 256,8 280,8 196,8 174,8 196,0 212,3
Norte 49,7 50,6 51,0 37,9 40,5 46,9 51,7 52,6 53,7
Sudeste 6,8 12,7 7,0 14,2 4,6 11,3 11,8 7,0 9,5
Bahia 298,0 263,6 271,9 204,2 235,0 137,6 110,2 136,2 148,7
Sul da 260,4 237,1 241,0 178,1 213,1 115,4 91,4 116,4 125,1
Bahia
Ilhéus- 229,5 204,9 210,5 152,0 175,9 87,8 70,4 95,0 101,0
Itabuna
Fonte: Sistema IBGE de recuperação automática. Disponível em:
<http://www.sidra.ibge.gov.br>.

A expressiva diminuição da produção de amêndoas de cacau, a


partir dos anos 1990, causou grande desemprego na área rural,
reduzindo também o ritmo e a dinâmica das atividades urbanas
ligadas ao circuito espacial produtivo do cacau: sistema de
transportes, empreendimentos da construção civil, o próprio
comércio urbano e o consumo, a circulação de dinheiro e,
consequentemente, a arrecadação municipal. Toda a vida de relação
tende a romper e fragmentar a ordem regional. Assim é que iniciou
mais um período de crise regional, denominada de “crise do cacau”.
O primeiro evento desta crise ocorreu com a diminuição dos
preços do cacau no mercado internacional, a partir do início da
década de 1980, que chegou a alcançar, por tonelada, US$ 4 mil na
safra 1977/1978; reduzindo, em média, para US$ 2 mil, na década
de 1980, e para US$ 1,2 mil, na década de 1990 (as safras de
1991/1992 tiveram a menor cotação de preço, de US$ 900 por
tonelada) (MENEZES, 1993).
O segundo evento que concorreu para esta crise foram os efeitos
decorrentes da adoção e imposição de uma política neoliberal, com
consecutivos planos nacionais de ajuste econômico que culminaram
com o fim dos subsídios agrícolas, elevando o custo dos
financiamentos.
Entre os eventos naturais, um período de condições climáticas
desfavoráveis (falta de chuva) durante as safras de 1987 e 1992, que
causou a morte de grande quantidade de cacauais, comprometendo
a produção, inclusive nos anos subsequentes. Some-se a todos
estes acontecimentos o aparecimento e alastramento de um fungo
devastador causador da doença “vassoura de bruxa” (VB)
(Moniliophtora perniciosa), a partir de 1989, que apodrece o fruto do
cacau, diminuindo a produção13.
Mas foi a partir da conjunção entre a queda da cotação dos preços
do cacau no biênio 1988 (que ficaram abaixo de US$ 2 mil por
tonelada), da diminuição da oferta de crédito subsidiado e da
elevação da taxa de juros que os produtores suspenderam a
aplicação do “pacote tecnológico” recomendado pela CEPLAC ou
mesmo abandonaram os cultivos. É o que afirma Deméter (1997, p.
181), “alegando que os preços recebidos pela venda do cacau não
compensavam seus custos de produção, fazendeiros ou empresários
rurais dispensam mão-de-obra. Torna-se regra geral a diminuição da
utilização de insumos e de tratos culturais rotineiros, o que prejudica
as colheitas”. Como consequência dos altos preços dos insumos e
sua não utilização na lavoura cacaueira, houve uma diminuição da
produtividade, bem como maior suscetibilidade às pragas e doenças,
como foi o caso do ataque e disseminação da VB, agravando ainda
mais a queda da produção já deflagrada pela crise dos preços.
Por outro lado, a alta cotação do cacau na década de 1970 fez
com que vários países da Ásia e África incentivassem o plantio,
ocorrendo uma elevação da oferta mundial de cacau e,
consequentemente, dos estoques mundiais.
Como a dinâmica das regiões produtoras deriva de ritmos
comandados pela alta ou baixa dos preços no mercado internacional,
períodos de alta de preço fazem com que a produção aumente.
Assim ocorreu nas safras de 2002/2003, em que os preços obtiveram
uma alta de 73%, passando a tonelada de US$ 1.243, em 2002, para
US$ 2.151, em 2003 (Figura 5). Com a elevação dos preços, o
produtor respondeu prontamente, e a produção passou de um pouco
mais de 100 mil toneladas da safra 2003 para 135 mil toneladas em
2003/2004.

Figura 5 – Preço médio (em dólares) da tonelada de cacau


brasileiro (1969 a 2015)

Fonte: http://www.tradingeconomics.com/commodity/cocoa.

Se nos períodos anteriores às rígidas normas neoliberais de


ajustes de gastos do Estado os créditos subsidiados para a
agricultura foram importantes para a modernização da atividade, a
diminuição da produtividade ocorreu exatamente a partir do período
em que houve uma diminuição da utilização de crédito (Tabela 5).
Esta diminuição da utilização do crédito ocorreu a partir do momento
em que os financiamentos agrícolas passaram a ser corrigidos pelos
índices inflacionários adotados pelo governo a partir de 1983. A partir
do segundo semestre de 1990, as dificuldades de negociação da
dívida externa do Brasil resultaram na interrupção do fluxo dos
recursos externos e na elevação do seu custo.

Tabela 5 – Porcentagem de crédito rural


nacional concedido para o custeio do cacau
Ano 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000
Percentual 1,41 0,92 1,02 0,73 0,11 0,02 -
Fonte: Adaptado de Bacha (2004).

No período de 1989 até 1994, o crédito utilizado para o cultivo do


cacau foi muito pequeno. A retomada da utilização do crédito ocorreu
com o Programa de Recuperação da Lavoura Cacaueira (PRLC) a
partir de 1995, quando o produtor de cacau voltou a ter acesso ao
crédito, mas apenas para investimento, ou seja, limitado ao plano
emergencial de recuperação da produtividade e de controle da
doença VB.
A conjunção de preço e crédito desfavorável à atividade cacaueira
soma-se a elementos também desfavoráveis na condução da
atividade, como a baixa especialização técnica dos agentes da
produção agrícola, tanto do proprietário como da força de trabalho, e
à herança do intervencionismo estatal, agravando ainda mais a
situação de crise. Intervencionismo esse que nos momentos de
crises anteriores da atividade sempre se fez presente, provendo
sistemas técnicos, o que garantiu o crescimento e manutenção da
atividade.
É o que afirma Garcez (1979):

Fato é que o Governo Federal foi sempre solicitado a intervir de forma


paternalista, fosse resolvendo problemas decorrentes da seca (ou
excesso de chuva) até atrelando mecanismos de comercialização externa
(taxas, frete, consumos...) passando pelo crédito, apoio técnico e
financiamentos (p. 84).
Existia um superdimensionamento das possibilidades de intervenção do
Estado, o que logicamente determinava uma redução de
responsabilidades por parte das forças produtivas, principalmente da
burguesia cacaueira, pródiga na defesa de seus interesses, baseada no
sagrado direito da livre iniciativa e da força do mercado (p. 86).

Vimos que a cada período da condução da atividade cacaueira, o


movimento de transformação ocorreu no sentido da especialização
na exploração de uma monocultura sob o comando do Estado.
Primeiro, com o ICB, que organizou, principalmente, a
comercialização em favor do produtor; e segundo com a orientação
da CEPLAC, que reorganizou a produção com técnicas modernas,
elevando vantajosamente a produção e a produtividade. Sobre isto,
são apropriadas as palavras de Braudel (1989, p. 53): “Entre o
passado, mesmo longínquo, e o presente nunca há ruptura total,
descontinuidade absoluta ou, se se preferir, uma não-contaminação”.
Naturalmente, como uma herança dos períodos anteriores da
atividade cacaueira, para a maioria dos cacauicultores, o
intervencionismo estatal ainda se mantém como a principal ação na
solução dos problemas da baixa produtividade e rentabilidade da
atividade.
Na Figura 6, representa-se a evolução da produção brasileira e
todos os momentos de instalação no território dos sistemas técnicos
que deram suporte à organização e ao incremento da produtividade,
bem como as ações que desestruturaram a atividade cacaueira do
Sul da Bahia.
Figura 6 – Evolução da produção brasileira de amêndoas de
cacau e os momentos de instalação dos sistemas técnicos e eventos
que promoveram transformações da atividade (1900 a 2005)

Fonte: Adaptado de Zugaib et al. (2006).

Atualmente, ocorreram poucas mudanças na produção de cacau


no Brasil, ficando em torno das 250 mil toneladas/ano (Tabela 6),
muito inferior às 400 mil toneladas/ano da década de 1980.
Tabela 6 – Produção de amêndoas de cacau no Brasil, na Bahia,
no Norte, no Sudeste e no Centro-Oeste (em toneladas)
Local 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Brasil 202.030 218.487 235.389 248.524 253.211 256.186
Bahia 131.060 137.929 148.254 156.289 159.432 152.592
Norte 66.015 72.570 80.259 83.336 88.219 98.163
Sudeste 4.497 7.688 6.229 8.212 4.984 4.849
Centro-Oeste 458 300 647 687 576 582
Fonte: Sistema IBGE de recuperação automática. Disponível em:
<http://www.sidra.ibge.gov.br>.

Desde a acentuada diminuição de produção, esta responde mais


aos fatores edafoclimáticos — principalmente aos índices
pluviométricos adequados, o que contribui para uma boa safra — do
que ao aumento da área cultivada ou mesmo à aplicação intensiva
de insumos. Muitos são os gargalos na atividade cacaueira para que
se possa melhorar a produtividade e a qualidade/quantidade da
produção. Na linha do tempo da produção de cacau, cada momento
se apresenta com novos desafios e possibilidades. Neste momento,
ritmado por novas relações no mercado consumidor, abrem-se novas
possibilidades de agregação de valor na atividade cacaueira com a
especialização e industrialização da produção de amêndoas de
cacau.
Percebe-se que, no Brasil, há um grande mercado para o cacau,
tanto para a sua produção agrícola diferenciada e de qualidade
superior (cacau fino, orgânico, gourmet...) como para seus derivados
industriais, principalmente o chocolate. Se o desafio é restabelecer a
produção ao nível dos anos 1980, a experiência nos mostra que é
papel fundamental das políticas públicas fomentar estratégias
adequadas, juntamente com a iniciativa privada.
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Capítulo 2 — Respostas do cacaueiro às
variações da intensidade de luz
Alex-Alan Furtado de Almeida1, James Nascimento Gattward2
1 Introdução
O cacau (Theobroma cacao L.) é uma espécie lenhosa tropical
pertencente à família Malvaceae (ALVERSON et al., 1999), diploide
(2n= 20), preferencialmente alógama (CUATRECASAS, 1964). Em
condições naturais, a árvore desta espécie atinge de 20 a 25 m de
altura (LACHENAUD; MOOLEEDHAR; COUTURIER, 1997), ao
passo que, quando cultivada, a sua altura varia de 3 a 5 m. A sua
origem geográfica é a América do Sul (MOTAMAYOR et al., 2002),
onde várias populações selvagens podem ser encontradas nas
regiões da Amazônia e Guianas.
A produção de cacau possui grande relevância na economia
mundial, envolvendo muitos países no cultivo, comercialização e
consumo. Logo, é considerada uma das espécies vegetais mais
importantes do mundo pelo alto valor econômico agregado às suas
amêndoas e por causa da produção de chocolate, embora este não
seja o único produto comercial extraído, podendo ser utilizado
também em indústrias de cosméticos e gêneros alimentícios, como
geleias, bebidas e sorvetes (ALMEIDA; VALLE, 2007, 2010). Os
países produtores de cacau estão concentrados principalmente nas
regiões tropicais da África, Américas Central e do Sul, Ásia e
Oceania (MARITA et al., 2001). No Brasil, as regiões Norte e
Nordeste são as principais de produtoras de cacau.
As variedades de cacau cultivadas pertencem aos grupos
denominados de Criollo, Forastero Amazônico e Trinitário,
diferenciados de acordo com a morfologia, características genéticas
e origens geográficas (BARTLEY, 2005). O grupo Criollo foi o
primeiro a ser domesticado e cultivado nas Américas Central e do
Sul (SOUNIGO et al., 2003), cujas variedades produzem frutos com
sementes brancas ou rosadas, altamente valorizadas por seu sabor
e usadas, principalmente, na fabricação de chocolates finos (MARITA
et al., 2001). No entanto, o cacau Criollo é raramente cultivado por
causa da sua elevada intolerância a doenças (SORIA, 1970). Por
outro lado, as variedades do grupo Forastero são amplamente
cultivadas devido a seus elevados rendimentos e tolerância a
doenças. Logo, as variedades deste grupo são responsáveis pela
maior parte da produção mundial de amêndoas de cacau (MARITA et
al., 2001). Este grupo é subdividido em Forasteros do Baixo e Alto
Amazônicos, que são cultivados na Bacia Amazônica. Os cultivares
do Baixo Amazônico foram os primeiros a serem introduzidos na
África, enquanto os do Alto Amazônico são considerados
geneticamente mais diversificados e frequentemente utilizados em
programas de melhoramento devido ao seu vigor, precocidade e
resistência a doenças (IWARO et al., 2001). As primeiras variedades
de Forasteros originadas da Bacia do Baixo Amazonas foram
cultivadas, principalmente, no Brasil e na Venezuela (SOUNIGO et
al., 2003). O grupo Trinitário é considerado um híbrido recente,
proveniente de cruzamentos entre genótipos Criollos e Forasteros
Baixo Amazônicos ou tipos intermédios (MOTA-MAYOR, 2001).
O cacau é cultivado, tradicionalmente, sob a sombra de floresta
seletivamente raleada e representa um dos primeiros sistemas
agroflorestais na América tropical, conhecido desde tempos pré-
colombianos pelos Maias (BERGMAN, 1969). Na Mata Atlântica
litorânea dos estados da Bahia e Espírito Santo, Brasil, o cacau é
cultivado em sistema “cabruca”. Neste sistema agroflorestal há uma
supressão das espécies vegetais do sub-bosque para a introdução
do cacau e uma redução na densidade de árvores sombreadoras de
grande porte. Em outras regiões do Brasil e do mundo, o cacau é
consorciado em sistemas planejados com outras espécies de valor
econômico, como Areca catechu e Cocos nucifera (ALVIM; NAIR,
1986; DASWIR; DJA'FAR, 1988; ABBAS; DJA'FAR, 1989), Hevea
brasiliensis, Syzigium aromaticum, Cinnamomum zeylanicum,
açacurana (ALVIM, 1989a; 1989b), Bactris gasipaes (ALMEIDA et al.,
2002) e outras espécies amazônicas (BRITO et al., 2002). Além
disso, o cacau pode também ser cultivado como monocultura a pleno
sol, preferencialmente com irrigação e fertilização (ALMEIDA; VALLE,
2007, 2010), uma vez que é pouco conservativo em relação ao uso
da água. Na África, Ásia e América Latina, este tipo de cultivo
apresenta produtividades maiores do que em sistemas agroflorestais
sombreados (DEHEUVELS et al., 2012). Ademais, no Brasil, o cultivo
do cacaueiro a pleno sol em regiões secas tem reduzido as perdas
na produção causadas pelo fungo Moniliophthora perniciosa, já que
essas regiões apresentam baixa umidade relativa do ar em
comparação com as regiões tradicionais de produção (LEITE;
VALLE, 2000).
2 Luz e plasticidade fenotípica
A luz é um dos fatores abióticos que mais influencia o crescimento,
o desenvolvimento e a distribuição das espécies vegetais em
diversos ecossistemas (VALLADARES; NIINEMETS, 2008). Embora
seja a fonte de energia para as reações fotossintéticas, o seu
excesso pode causar danos à planta, ao passo que sua carência
pode limitar o seu crescimento e desenvolvimento (LAMBERS;
CHAPIN III; PONS, 1998). Respostas ao aumento da intensidade de
luz podem ocorrer em nível foliar, envolvendo a aclimatação da
maquinaria fotossintética, ou em nível de planta inteira, tendo como
resultado mudanças dos padrões de crescimento e alocação de
fotoassimilados (CHAZDON et al., 1996). As plantas se aclimatam à
variação dos níveis de luz regulando a morfologia de suas folhas,
sua composição e estrutura e seu estado fisiológico, que gera,
consequentemente, alterações em suas vias metabólicas primárias e
secundárias; originando, desta forma, as mais diferentes respostas
no que diz respeito aos seus processos anabólicos e catabólicos, na
tentativa de permitir, por meio destas regulações, o alcance de seu
estado funcional máximo (NOBEL, 1991).
Tradicionalmente, o cultivo do cacaueiro no Brasil se limita,
principalmente, à região da Amazônia e às regiões Sul da Bahia e
Norte do Espírito Santo. Essa limitação se deu em função de
conceitos preestabelecidos de que o cacau necessita de ambiente
sombreado, com temperatura e umidade relativa do ar elevadas para
produção de frutos (ALVIM, 1993). Além disso, nos sistemas de
produção de cacau, o sombreamento se destaca como uma das
técnicas culturais mais importantes, capaz de manter as condições
ecológicas indispensáveis ao crescimento, ao desenvolvimento e à
produção de cacau em condição de sequeiro (CUNNINGHAM;
BURRIDGE, 1960). Diante dessas características, o cultivo do
cacaueiro está associado, normalmente, a outras espécies arbóreas,
cuja finalidade é de sombrear as plantas de cacau desde a fase de
implantação até a fase produtiva. Em função destas informações, no
Sul da Bahia se cultiva cacau, predominantemente, em sistema de
“cabruca”, sob sombra de árvores da Mata Atlântica raleada, ou sob
sombra de árvores como a Erythrina sp., ou em intercultivos para
diversificar a produção e explorar os benefícios da interação
árvore−cultivo (ALMEIDA; VALLE, 2007).
Como as plantas jovens de cacau crescem lentamente a pleno sol,
verificou-se que algum grau de sombra seria benéfico para o seu
estabelecimento (OKALI; OWUSU, 1975). Assim, árvores de sombra
foram invariavelmente recomendadas para o estabelecimento de
plantas jovens de cacau (ALVIM, 1977), que viriam a ser
gradualmente retiradas com o aumento do autossombreamento
(BYRNE, 1972). De acordo com Okali e Owusu (1975), o
crescimento lento das plantas jovens de cacau a pleno sol se deve
às restrições na expansão foliar, que são, provavelmente, causadas
pela transpiração excessiva e que induzem ao estresse hídrico foliar.
Em contrapartida, folhas sombreadas apresentam menor número de
estômatos por unidade de área foliar (BARROSO, 2014) e maior teor
relativo de água do que as folhas não sombreadas. O
posicionamento perpendicular de folhas jovens no lançamento foliar,
a presença de pelos superficiais, a síntese rápida de cutícula e o
desenvolvimento de estômatos, os quais são todos limitados aos
estágios iniciais de expansão foliar, atuam para reduzir a perda de
água durante o desenvolvimento das folhas (ABO-HAMED; COLLIN;
HARDWICK, 1983).
Alterações fisiológicas das folhas já existentes e a produção de
novas folhas com morfologia, anatomia e fisiologia apropriadas ao
ambiente de luz são componentes de resposta à aclimatação
(VALLADARES; NIINEMETS, 2008). Estas alterações têm sido
documentadas para espécies vegetais aclimatadas aos ambientes
sombreados ou a pleno sol (GIVNISH, 1988). Diversos atributos
morfo-anatômicos e fisiológicos podem estar associados à
aclimatação ou à adaptação das plantas às altas intensidades de luz,
como: (i) aumento na densidade estomática (CAI; RIJKERS;
BONGERS, 2005); (ii) mudanças na fotossíntese e na respiração
(CHAZDON et al., 1996); (iii) mudanças nos padrões de crescimento
ou de alocação de biomassa (POORTER et al., 2003); (iv) diminuição
da área foliar específica; (v) presença de cutícula mais espessa
(FAHL et al., 1994), com maior quantidade de cera epicuticular
(AKUNDA; IMBAMBA; KUMAR, 1979); (vi) cloroplastos com pouca
grana e menor quantidade de tilacoides por granum (FAHL et al.,
1994); (vii) aumentos na concentração e atividade da Rubisco
(KANECHI et al., 1996); e (viii) recuperação relativamente rápida da
fotoinibição (DAMATTA; MAESTRI, 1997).
A razão Chl a/b é maior para folhas expostas ao sol do que à
sombra, porque as folhas de sol apresentam uma menor quantidade
de complexo coletor de luz e uma maior quantidade de centro de
reação, já as folhas de sombra investem mais energia na coleta de
luz, otimizando a absorção de luz que chega à superfície foliar
(LICHTENTHALER, 2009). Para a razão Chl total/carotenoides, as
folhas de sombra apresentam maiores valores em relação às de sol,
devido à maior concentração de carotenoides encontrada em folhas
de sol. Nos ambientes com altas intensidades de luz, as plantas
utilizam o ciclo das xantofilas como extintor não fotoquímico, que
conferem fotoproteção ao dissiparem o excesso de energia luminosa
na forma de calor, por meio da interconversão de violaxantina em
anteraxantina e, em seguida, em zeaxantina (YOUNG et al., 1997;
FORSTER; OSMOND; POGSON, 2009), reduzindo a disponibilidade
de luz para os centros de reação dos fotossistemas 1 (PS1) e 2
(PS2) (MATSUBARA et al., 2007). Logo, os carotenoides
desempenham duas funções distintas, a absorção de luz nos
complexos de captação e a ação fotoprotetora do maquinário
fotoquímico, prevenindo, assim, os danos foto-oxidativos às
moléculas de clorofila. Por outro lado, o maior teor de pigmentos
cloroplastídicos em condições de baixa intensidade de luz é atribuído
ao aumento no número e tamanho dos cloroplastos e,
consequentemente, maior desenvolvimento da grana (BAIG et al.,
2005).
Em cacau, folhas de sombra, muitas vezes, exibem maiores teores
de Chl total por unidade de massa em relação às folhas de sol
(MERKEL et al., 1994). De acordo com Araújo (2012), os teores de
Chl total, expressos em biomassa fresca, foram 69, 72 e 79%
maiores em 5% de luz do que os teores a pleno sol para plantas
jovens dos genótipos clonais de cacau SIC-876, SCA-6 e SJ-02,
respectivamente. Por outro lado, as mudanças ontogenéticas da
razão Chl a/b se tornaram uma questão controversa durante o
desenvolvimento foliar de cacau (MERKEL et al., 1994). Segundo
Araújo (2012), a razão Chl a/b, para os genótipos clonais de cacau
SIC-876 e SCA-6, foi similar em todos os ambientes de luz avaliados,
ao passo que, para o genótipo SJ-02, houve maior razão Chl a/b no
ambiente de 50% de luz, justificado pelo aumento no teor de Chl a,
uma vez que o teor de Chl b se manteve praticamente constante;
enquanto que não se verificou diferença significativa a pleno sol e a
5% de luz. Um dos fatores que pode interferir no aumento expressivo
do teor de Chl b, além da intensidade de luz, é a qualidade da luz
que está chegando à superfície foliar. Pois há relatos demonstrando
que a luz azul dá origem a cloroplastos sun type, ao passo que a luz
vermelha dá origem a cloroplastos shade type (ESKINS et al., 1989).
Em parte, isto se deve ao fato de que várias pesquisas são
realizadas em condições de sombreamento artificial, usando telas
plásticas. Nestas condições, não há grande variação da qualidade de
luz, apenas de sua intensidade, diferentemente das condições de
campo, onde o sombreamento das árvores promove a atenuação da
intensidade e da qualidade de luz, permitindo que, no sub-bosque,
haja menor disponibilidade de radiação eletromagnética na faixa da
luz visível, predominando a faixa do vermelho e do vermelho
distante, que, consequentemente, promove o aumento do teor de Chl
b para captar a energia disponível.
3 Luz, expressão gênica e fotoinibição
Folhas de sol e sombra utilizam a luz na fotossíntese de forma
significativamente diferente, buscando maximizar a interceptação da
luz para a fotossíntese e minimizar os danos provocados pelo
excesso de luz na maquinaria fotossintética. Em condições de baixa
disponibilidade de luz (< 100 µmol m-2 s-1), mais de 80% da energia
quântica absorvida pode ser utilizada pela fotossíntese (BJÖRKMAN;
DEMMIG-ADAMS, 1987). Entretanto, quando a intensidade de luz se
aproxima de 1000 µmol m-2 s-1 (cerca de 50% de luz solar
disponível), menos de 25% da energia quântica absorvida é utilizada,
ao passo que, a pleno sol, esse percentual diminui para 10% (LONG;
HUMPHRIES; FALKOWSKI, 1994). Desta forma, folhas adaptadas
ou aclimatadas à sombra utilizam quase que toda a luz absorvida na
fotossíntese, ao passo que as folhas de sol utilizam
aproximadamente 10% de luz solar plena (ORTOIDZE; DURING,
2001). Normalmente, folhas de sombra investem mais na fase
fotoquímica da fotossíntese e nos complexos coletores de luz, além
de alocar mais N em pigmentos cloroplastídicos; enquanto as folhas
de sol investem mais na fase bioquímica, aumentando o número de
centros de reação e alocando mais N em enzimas, principalmente na
Rubisco, uma vez que esta enzima carboxilativa/oxidativa possui
relação direta entre a sua concentração e a capacidade fotossintética
(BJÖRKMAN, 1981).
Ao avaliar a expressão dos genes psbA e psbO em folhas de
plantas jovens de três genótipos clonais de cacau crescidos em
diferentes intensidades de luz, Araújo (2012) observou que o
genótipo SCA-6 apresentou maior expressão de psbA em pleno sol e
reprimiu sua expressão no ambiente mais sombreado (5% de luz), ao
passo que o SJ-02 aumentou a expressão de psbA nos dois
ambientes de luz, e o SIC-876 teve uma super expressão deste gene
tanto a pleno sol quanto a 5% de luz. Além disso, verificou maior
expressão de psbO para os genótipos SIC-876 e SJ-02 a pleno sol e
a 5% de luz e menor para SCA-6 em ambos os ambientes de luz,
demonstrando uma regulação diferenciada, ou deficiência pós-
transcricional, ou investimento maior em PS2 em condição de baixa
disponibilidade de luz. A regulação da expressão de psbA pela luz
acontece principalmente em níveis pós-transcricionais e traducionais,
de maneira que os cloroplastos mantêm um pool estável de m-RNA
deste gene (DWIVEDI; BHARDWAJ, 1995). O gene psbA pertence
ao genoma cloroplastídico (herança citoplasmática), e seu produto é
a proteína D1, intrínseca de PS2, responsável pela redução da
plastoquinona e pelo complexo de evolução de oxigênio (NIXON;
ROGNER; DINER, 1991). Por outro lado, o gene psbO codifica para
a proteína PsbO, extrínseca de PS2, de grande importância para a
evolução de oxigênio molecular, durante a fase fotoquímica da
fotossíntese (POPELKOVA; YOCUM, 2011). A proteína PsbO,
juntamente com as proteínas PsbP e PsbQ, são importantes no
acúmulo de centro de reação de PS2, podendo estar envolvidas
como fatores de montagem e/ou estabilidade de PS2 (BRICKER;
FRANKEL, 2011). Além disso, a proteína PsbO pode desempenhar
esta função por meio de sua capacidade de fosforilar a proteína D1,
que aumenta a estabilidade em condições de estresse, a exemplo do
excesso de luz, justificando, assim, o aumento ocorrido na expressão
do gene psbO (BRICKER; FRANKEL, 2011), principalmente em luz
solar plena. Em contrapartida, o genótipo SJ-02 apresentou
incremento maior na expressão de psbO em 5% de luz,
demonstrando uma regulação diferenciada, ou deficiência pós-
transcricional, ou investimento maior em PS2 em baixa intensidade
de luz, uma característica de folhas de sombra, que apresenta maior
razão PS2/PS1 (ARAÚJO, 2012).
Considerando toda radiação luminosa absorvida pelas moléculas
de Chl, verifica-se que uma parte é utilizada na fotossíntese, ao
passo que a outra parte, considerada excedente, é dissipada na
forma de calor e/ou reemitida como fluorescência da clorofila em
comprimentos de onda mais longos (BAKER, 2008). O decréscimo
na eficiência fotossintética causada pelo excesso de luz pode ser
resultante de uma fotoinibição dinâmica, na qual o excesso de
energia luminosa é extinto, ou de uma fotoinibição crônica, causada
por danos na proteína D1 de PS2 (KYLE; OHA; ARNTZEN, 1984). A
fotoinibição dinâmica promove redução reversível da eficiência
fotoquímica de PS2 (Fv/Fm), acompanhada por um aumento
significativo da dissipação térmica do excesso de energia absorvida,
indicando que o decréscimo da razão Fv/Fm se deve, em parte, aos
mecanismos fotoprotetores e não aos danos oxidativos à maquinaria
fotossintética (DEMMIG-ADAMS; ADAMS; ADAMS, 1995; THIELE;
KRAUSE; WINTER, 1998). Isto foi observado para os genótipos
clonais de cacau SIC-876 e SCA-6, que apresentaram baixos valores
de Fv/Fm em relação ao genótipo SJ-02 quando expostos a pleno sol,
demonstrando que SIC-876 e SCA-6 são menos tolerantes aos
grandes inputs de energia (ARAÚJO, 2012). Por outro lado, a
fotoinibição crônica ocorre quando o excesso de luz absorvida gera
uma série de espécies reativas de oxigênio (EROs), que podem
causar sérios problemas ao maquinário fotossintético (MITTLER,
2002), como danos aos lipídeos constituintes de membranas, aos
cofatores e às subunidades protéicas, especialmente a proteína D1,
resultando na completa inativação foto-oxidativa do centro de reação
de PS2 (APEL; HIRT, 2004). Estes danos, se não reparados,
acarretam um decréscimo irreversível na razão Fv/Fm (HIDEG;
MURATA, 1997).
Durante a fotoinibição, o transporte fotossintético de elétrons é
interrompido, e, consequentemente, o processo fotossintético é
inativado; ocasionando excesso de energia e uma grande redução
nos aceptores de elétrons de PS2 (MELIS, 1999). Além disso,
promove a geração de EROs, que, por sua vez, induz o estresse
foto-oxidativo e causa danos à proteína D1 e/ou interfere no reparo
de PS2 (NISHIYAMA; ALLAKHVERDIEV; MURATA, 2011). Para
evitar a inibição permanente da fotossíntese, ocorre um processo
altamente organizado no interior do cloroplasto, aumentando a
síntese de proteína D1, resultado de um incremento nos transcritos e
na tradução do gene psbA, responsável por codificar a proteína D1,
inserindo novas cópias sintetizadas nas membranas tilacoides,
enquanto as proteínas danificadas são removidas por proteases
(LINDAHL et al., 2000).
4 Luz, metabolismo antioxidativo e expressão
gênica
As espécies reativas de oxigênio (EROs) — a exemplo do oxigênio
singleto (1O2), peróxido de hidrogênio (H2O2), radicais ânion
superóxido (O2-) e hidroxila (.OH) — são sintetizados de forma
contínua como produtos secundários de muitas rotas bioquímicas em
diferentes compartimentos celulares, como mitocôndrios,
cloroplastos e peroxissomos (NAVROT et al., 2007). Na presença de
luz, os cloroplastos e peroxissomos são os principais orgânulos
celulares responsáveis pela produção de EROs. Já na ausência de
luz, os mitocôndrios assumem este papel (GILL; TUTEJA, 2010).
Estas EROs, quando em excesso, promovem o estresse oxidativo,
reduzem a taxa fotossintética e diminuem o crescimento das plantas
(MITTLER et al., 2011). Nestas condições, para manter a
produtividade, as células dispõem de eficientes mecanismos,
desenvolvidos como processo evolutivo, para controlar os níveis
dessas moléculas e anular a toxicidade (LOGAN et al., 2010).
Os mecanismos de proteção contra EROs podem ser enzimáticos
e não enzimáticos. O metabolismo antioxidativo enzimático envolve a
dismutase do superóxido, as catalases e as peroxidases, dentre
outros (MITTLER et al., 2004). De acordo com Araújo (2012), a
atividade da peroxidase do guaiacol (EC 1.11.1.7) foi maior em folhas
maduras, no ambiente com mais sombreamento (5% de luz), para os
genótipos clonais de cacau SIC-876, SCA-6 e SJ-02. Entretanto, o
estresse oxidativo é maior sob o excesso de luz por causa da maior
atividade das cadeias de transporte de elétrons em níveis de
cloroplastos e mitocôndrios (GILL; TUTEJA, 2010). Contudo, há
relatos de que as enzimas envolvidas no estresse oxidativo
diminuem suas atividades em estresse severo por excesso de luz
(FINI et al., 2011). Por outro lado, o metabolismo não enzimático
envolve metabólitos de baixo peso molecular, como ácido ascórbico
(vitamina C), glutationa, prolina, αtocoferol (vitamina E) e flavonoides
(MITTLER et al., 2004). Dentre os quais, os flavonoides têm sido
descritos como os antioxidantes mais sensíveis ao excesso de luz
(GILL; TUTEJA, 2010), além de estarem envolvidos com o aumento
do número de tricomas e de células epidérmicas especializadas que
atenuam os efeitos da luz excedente (GOH et al., 2011). Em folhas
jovens de cacau, há normalmente altas concentrações de
flavonoides (ARAÚJO, 2012) e um número expressivo de tricomas
contendo flavonoides (Figura 1) (BARROSO, 2014), que reduzem
com a maturação da folha. Os tricomas foliares podem proteger as
plantas contra o estresse hídrico (SCHUEPP, 1993) e o
superaquecimento, diminuindo a absorção de luz (EHLERINGER;
BJÖRKMAN; MOONEY, 1976) e aumentando a camada de ar
estagnada na superfície foliar, que reduz a quantidade de água
perdida na forma de vapor durante a transpiração (SCHUEPP, 1993).
Figura 1 - Eletromicrografias de microscopia eletrônica de
varredura de folhas de plantas de Theobroma cacao submetidas a
diferentes níveis de luz (a, d, e, j = 100% de luz; b, f, g, k = 50% de
luz; c, h, i, l = 5% de luz). Cortes transversais do limbo de folhas
totalmente expandidas e maduras (a, b e c) (barra = 50 µm).
Tricomas glandulares da epiderme localizados nas faces abaxiais e
adaxiais de folhas jovens (d, f, g) (barra = 100 µm). Detalhe do
tricoma glandular (e, g, i) (barra = 20 µm). Tricomas tectores
estrelados da epiderme localizados nas faces abaxiais e adaxiais de
folhas jovens (j, k, l) (barra = 100 µm)

Fonte: Barroso (2014).

Flavonoides e outros compostos fenólicos absorvem luz em


comprimentos de onda na região do ultravioleta (UV) (GILL; TUTEJA,
2010). Além disso, os flavonoides podem desenvolver esta ação em
conjunto com o mecanismo enzimático, pois enzimas como as
peroxidases e a oxidase do polifenol utilizam os flavonoides como
doadores de elétrons durante a eliminação de H2O2 (POURCEL et
al., 2007). Embora os flavonoides sejam sintetizados principalmente
no citosol, podem ser transportados para diferentes compartimentos
celulares, desenvolvendo diferentes funções, a exemplo dos
flavonoides glicosilados presentes nos cloroplastos devido à grande
quantidade de EROs (HERNÁNDEZ et al., 2008). Neste orgânulo
celular, há um aumento na concentração de flavonoides quando
folhas são expostas a alta intensidade de luz (AGATI et al., 2007).
Fato este observado para os genótipos clonais de cacau SIC-876,
SCA-6 e SJ-02, cujos maiores teores de flovonoides foram
encontrados em folhas maduras expostas a pleno sol (ARAÚJO,
2012). Há relatos também de flovonoides presentes no núcleo — que
podem conferir proteção ao DNA — e no meio extracelular — que se
relacionam mais com a fotoproteção (HERNÁNDEZ et al., 2008). Já
os flovonoides encontrados nos vacúolos merecem uma atenção
especial, pois são representados principalmente pelas antocianinas,
que, além de outras funções, protegem a maquinaria fotossintética
contra a radiação UV-B (HERNÁNDEZ et al., 2008).
A função das antocianinas está diretamente associada aos tecidos
onde são armazenadas (GOULD et al., 2000). Folhas jovens
possuem uma sensibilidade maior ao excesso de energia luminosa
devido à imaturidade do maquinário fotossintético, cuja presença de
antocianinas minimiza os efeitos da luz (STEYN et al., 2002). Em
folhas jovens de cacau, as antocianinas são encontradas em todas
as células do mesofilo foliar, inclusive nos tricomas da epiderme
(BARROSO, 2014). Estes pigmentos vacuolares atuam como
fotoprotetores, pois alteram
a intensidade e a qualidade da luz que atinge o cloroplasto
(STEYN et al., 2002), absorvendo comprimentos de onda na região
verde do espectro da luz visível (NIELSEN; SIMONSEN, 2011). Além
disso, as antocianinas atuam também, indiretamente como
antioxidante, na prevenção do estresse oxidativo (GOULD; DAVIES;
WINEFIELD, 2008) e diretamente na eliminação de EROs
(HERNÁNDEZ et al., 2008). Em pH citosólico, apresentam-se
incolores, ao passo que, ao serem transportadas para o vacúolo,
adquirem cor vermelha (GOULD; DAVIES; WINEFIELD, 2008). Além
do mais, estas duas formas de antocianinas, citosólica e vacuolar,
são capazes de removerem O2•-, embora os tautômeros presentes
no citosol sejam mais ativos na destoxificação de EROs, uma vez
que os níveis de H2O2 se mantêm baixos no vacúolo devido à
barreira física que os separa dos principais orgânulos que originam
EROs (HERNÁNDEZ et al., 2008).
Araújo (2012) — ao avaliar os teores de flovonoides e a expressão
dos genes hsp70, asn e ufgt em folhas de três genótipos clonais de
cacau, crescidos em diferentes níveis de luz — verificou (i)
incremento no teor de flovonoides e na expressão de hsp70 para o
genótipo SCA-6 a pleno sol; (ii) repressão de hsp70 para os
genótipos SIC-876 e SJ-02 a pleno sol e SIC-876 a 5% de luz; (iii)
aumento da expressão de asn para os genótipos SCA-6 e SJ-02 a
pleno sol; (iv) repressão de asn para o genótipo SIC-876, desprovido
de antocianinas, tanto a pleno sol quanto em 5% de luz; e (v)
aumento da expressão de ufgt para SIC-876 e SCA-6 a pleno sol e a
5% de luz. Segundo o autor, esperava-se um aumento na expressão
gênica de asn em folhas de cacau a pleno sol, pois o acúmulo de
antocianinas, juntamente com outras mudanças, como o aumento da
espessura foliar, são respostas de aclimatação para um maior input
de energia (XIE et al., 2011). No entanto, os maiores teores de
antocianinas em folhas maduras de cacau foram encontrados em
sombreamento denso (5% de luz), e a expressão de asn foi menor
nesta mesma condição. Além disso, os teores de antocianinas em
folhas maduras foram baixos quando comparados aos teores
observados nas folhas jovens (ARAÚJO, 2012). Como as folhas de
sombra são extremamente sensíveis às variações da intensidade e
qualidade de luz devido à alta capacidade de absorver fótons
(DEMMIG-ADAMS; ADAMS, 1992), Gould et al. (1995) sugeriram
que teores mais elevados de antocianinas em folhas de sombra
evitam a fotoinibição, já que estes pigmentos vacuolares atenuam a
qualidade da luz que chega aos cloroplastos. Além disso, as
antocianinas absorvem comprimentos de onda que não são
percebidos pelas clorofilas e os refletem em comprimentos de onda
mais longos na região do vermelho e, por dispersão, no mesofilo
foliar, são absorvidos pelas clorofilas, aumentando, assim, o uso da
energia solar disponível (LEE; LOWRY; STONE, 1979).
O gene hsp70, cuja expressão é ativada por H2O2 (SCARPECI;
ZANOR; VALLE, 2008), codifica para a proteína cloroplastídica
Hsp70, associada ao choque térmico (AL-WHAIBI, 2011). As
proteínas Hsp70 têm como funções (i) evitar que outras proteínas se
agreguem; (ii) remodelar as que perderam a configuração sob
condições de estresse (SCARPECI; ZANOR; VALLE, 2008); e (iii)
regular a expressão gênica de outras Hsp, inclusive as small Hsp,
que, uma vez localizadas no cloroplasto, reduzem os danos foto-
oxidativos (AKERFELT et al., 2010). Por outro lado, os genes asn e
ufgt codificam as duas últimas enzimas da rota biossintética de
antocianinas: a Ans (sintetase de antocianidina), que sintetiza a
antocianidina utilizando a leucoantocianina como substrato; e a Ufgt
(flovonoide 3-O-glicosiltransferase), que glicosila a antocianidina
atingindo a forma final das antocianinas vacuolares (WEI et al.,
2011). Segundo Xie et al. (2011), os níveis de transcritos de ufgt são
elevados mesmo na ausência de pigmentos por causa da afinidade
que a enzima, produto deste gene, possui pelo grupo 3-OH, tanto de
flovonoides quanto de antocianinas. Logo, isto seria uma possível
justificativa para um maior número de transcritos de ufgt, já que em
pleno sol houve um maior teor de flovonoides que podem ser
glicosilados por esta enzima (ARAÚJO, 2012).
5 Intensidade de luz e trocas gasosas foliares
Geralmente, plantas de cacau crescidas em baixa intensidade de
luz apresentam menores valores de fotossíntese líquida por unidade
de área foliar (A), de condutância estomática ao vapor de água (gs) e
de transpiração (E) foliar (BRANCO et al., 2017). A diminuição de gs
pode restringir a taxa de fixação de CO2 com a consequente
diminuição na concentração de CO2 nas cavidades subestomáticas e
nos espaços intercelulares (DALEY et al., 1989). Nesta condição, os
valores de A são limitados pela luz e a redução de gs pode ser
justificada pela menor quantidade de estômatos por unidade de área
foliar em ambientes sombreados; enquanto altas intensidades de luz
proporcionam valores elevados de A, desde que não haja danos na
maquinaria fotossintética causados por absorção excedente de
fótons (BAKER, 2008). Isto foi observado em folhas dos genótipos
clonais de cacau SIC-876, SJ-02 e SCA-6, crescidos em 5, 50 e
100% luz, nas quais as diferenças intergenotípicas, para densidade
estomática, ocorreram somente em 5% de luz (ARAÚJO, 2012).
Segundo este autor, o genótipo SIC-876 apresentou o menor valor
de densidade estomática, ao passo que os maiores valores foram
observados em 100% de luz. Além do mais, em condições de baixa
intensidade de luz, as folhas apresentam maior área, menor
espessura do mesofilo, parênquima paliçádico com uma única
camada e mais espaços intercelulares no parênquima lacunoso
(LAMBERS; CHAPIN III; PONS, 1998; BERLYN; CHO, 2000). Estas
características conferem uma menor razão de massa foliar por
unidade de área e uma fração maior de massa foliar por planta; ao
passo que, em altas intensidades de luz, as folhas possuem áreas
menores e são mais espessas (VALLADARES; NIINEMETS, 2008).
Quando há um maior input de energia, a taxa fotossintética é
limitada pela concentração de CO2, e os fótons excedentes podem
prejudicar a maquinaria fotossintética (DEMMIG-ADAMS; ADAMS,
2006). Nestas condições, as folhas investem na espessura do
mesofilo, aumentando os espaços intercelulares e facilitando a
condutância de CO2 do ambiente externo ao estroma do cloroplasto
(TERASHIMA et al., 2006). O aumento da espessura foliar traduz em
alto custo energético para as plantas e reflete na elevação da taxa
fotossintética líquida, por causa da disponibilidade de CO2, que se
torna maior nas lacunas do mesofilo, e dos cloroplastos que se
aproximam da superfície celular, facilitando a carboxilação pela
Rubisco, uma vez que a difusão do CO2 em meio líquido é mais
baixa (TERASHIMA et al., 2006). Além disso, o aumento na
espessura foliar também tem o papel de diminuir os efeitos foto-
oxidativos, aumentando a área de dissipação de energia (WYKA et
al., 2007). Uma maior espessura foliar foi observada para o genótipo
de cacau clonal SIC-876, destituído de antocianinas e crescido a
pleno sol, quando comparado com os genótipos clonais SCA-6 e SJ-
02, cujo aumento da espessura foi proporcionado, principalmente,
pelo maior espessamento dos parênquimas paliçádico e lacunoso
em decorrência do maior alongamento celular, uma vez que o
número de camadas destes tecidos permaneceu constante
(ARAÚJO, 2012).
Por meio de curvas de resposta da atividade fotossintética, em
função do incremento da intensidade de luz (curvas de luz), é
possível avaliar a plasticidade fisiológica das plantas em relação à
variação dos níveis de luz. Baixo valor de taxa respiratória na
ausência de luz (RD) e baixa irradiância de compensação (IC) e de
saturação (IS), estimados a partir das curvas de luz, indicam
aclimatação à sombra (STRAUSS-DEBENEDETTI; BAZZAZ, 1996).
O valor de IS para a fotossíntese de uma folha madura de cacau
varia de 6% (BAKER; HARDWICK, 1973) a 30% (OKALI; OWUSU,
1975) da luz solar plena, enquanto, para o desenvolvimento foliar, a
IS aumenta com o incremento do teor de clorofila (Chl) (BAKER;
HARDWICK, 1976). Para os genótipos clonais de cacau SIC-876,
SJ-02 e SCA-6, foram encontrados valores de Is em torno de 400
µmol (fótons) m-2 s-1 em 50% da luz solar plena (BARROSO, 2014).
Segundo Okali e Owusu (1975), os valores de IS para folhas de
sombra de cacau variam em torno de 3 a 4% da luz solar plena. Por
outro lado, em condições de IS, as folhas mais jovens (PF1), porém
maduras, do lançamento foliar de cacau apresentam taxas
fotossintéticas líquidas (A) significativamente maiores do que as
folhas de meia-idade (PF2) e velhas (PF3) (MACHADO; HARDWICK,
1988a). Desta forma, em condições de campo, a contribuição
potencial total de A de folhas mais velhas seria extraordinariamente
reduzida em consequência do sombreamento mútuo no interior da
copa (MACHADO; HARDWICK, 1988b).
Os valores de A para cacau declinam quando as plantas são
expostas a intensidade de luz acima de 30% da radiação global
(OKALI; OWUSU, 1975), na qual os valores de A geralmente
atingem IS em várias espécies vegetais (MIELKE et al., 2005).
Baligar et al. (2008), ao medirem A em três clones de cacau,
mostraram que o aumento da radiação fotossinteticamente ativa
(RFA) de 50 a 400 µmol m-2s-1 promoveu um incremento de A em
cerca de 50%, mas acréscimos maiores, a curto prazo, em RFA até
1500 µmol m-2 s-1 não promoveram nenhum efeito sobre A. Por outro
lado, ao medir os valores de A após 24 e 48 h da transferência de
parte das plantas jovens dos genótipos clonais SIC-876, SCA-6 e SJ-
2 do ambiente de 50% de luz para a luz solar plena e de outra parte
do ambiente de 50% de luz para o ambiente de 5% de luz, Araújo
(2012) verificou que a transferência para o pleno sol reduziu os
valores de A, para o SCA-6 e o SJ-02, em 36% e 46% e em 37% e
22%, respectivamente, em relação aos seus respectivos controles
(50% de luz); ao passo que o aumento na disponibilidade de luz não
provocou reduções significativas nos valores de A para o SIC-876.
Entretanto, a transferência das plantas para o sombreamento denso
(5% de luz) diminuiu a assimilação de CO2 para o genótipo SIC-876
de forma considerável, cujas reduções de A, após 24 e 48 h, foram
de 41% e 44%, respectivamente, em relação ao controle. Por outro
lado, para o genótipo SJ-02, houve diferença significativa para os
valores de A somente após 48 h da transferência, cuja redução foi de
27% comparado ao tratamento controle. Em contrapartida, o SCA-6
aumentou os valores de A em 40% após 24 h da transferência, e não
apresentou diferença significativa após 48 h em relação ao controle.
6 Luz, água, nutrição mineral e produtividade
De acordo com Beer (1987), o sombreamento é essencial para a
sobrevivência e o estabelecimento de plantas jovens de cacau em
ambientes sazonalmente secos e úmidos, uma vez que as plantas
jovens são altamente intolerantes a períodos de seca (SANTOS et
al., 2014), ao alagamento do solo (BERTOLDE; ALMEIDA;
PIROVANI, 2014) e ao alagamento do solo associado a baixa
intensidade de luz (BRANCO et al., 2017). Cunningham e Burridge
(1960), ao submeterem plantas jovens de cacau a pleno sol e a baixa
intensidade de luz (15%), mostraram que a água e os nutrientes
minerais foram os fatores mais importantes para a promoção do
crescimento a pleno sol. De acordo com Okali e Owusu (1975), os
nutrientes minerais podem ser mais importantes do que o
sombreamento para o estabelecimento das plantas jovens. Barroso
(2014), ao avaliar a variação de intensidade de luz e a absorção de
nutrientes minerais em plantas jovens de três genótipos clonais de
cacau, verificou que baixos níveis de luz promovem maior acúmulo
de Ca, Mg e K na folha, ao passo que o aumento dos níveis de luz
favorece o acúmulo de P e o decréscimo das concentrações de Cu e
Fe neste mesmo órgão. Segundo Cunningham e Nielsen (1965), as
maiores concentrações de cátions são encontradas nas plantas
desenvolvidas em condições de baixa intensidade de luz do que
naquelas cultivadas a pleno sol. Costa, Almeida e Valle (2001), ao
avaliarem o crescimento de plantas jovens de cacau em diferentes
níveis de luz e doses de N, observaram um aumento significativo no
teor de Chl em folhas maduras mais sombreadas, especialmente em
altas doses de N, cujo aumento ocorreu na presença de até 10 mM
de N. Por outro lado, Branco et al. (2017) verificaram que a baixa
intensidade de luz interage com o alagamento do solo, limitando os
danos causados pelo alagamento em plantas de cacau crescidas
com menor intensidade de luz. Segundo estes autores, o alagamento
foi o fator dominante para as respostas morfofisiológicas observadas
durante a interação entre a intensidade da luz e o alagamento do
solo, cujos ajustes fisiológicos foram diferentes entre os genótipos
clonais de cacau avaliados.
Estudos sobre a interceptação de luz e a assimilação do carbono
mostram que a produção de amêndoas de cacau é limitada pela luz,
provavelmente devido às sombras externa e interna
(autossombreamento) no stand de cacau e à extinção da luz no
interior do dossel das árvores de sombra (YAPP; HADLEY, 1994).
Baixos níveis de luz não só reduzem a produção de amêndoas de
cacau em função da baixa produção de fotoassimilados (ZUIDEMA
et al., 2005), como também aumentam a incidência de doenças
(ALVIM, 1977). Por outro lado, o cacau é uma espécie arbórea de sol
(ALMEIDA; VALLE, 2007), tolerante ao sombreamento moderado
(MIELKE et al., 2005; ALMEIDA; VALLE, 2007) e intolerante ao
sombreamento denso associado ao alagamento do solo (BRANCO et
al., 2017), e o sombreamento apropriado pode conduzir a taxas
adequadas de assimilação de CO2 para o crescimento e a produção
de amêndoas. Além disso, as árvores de sombra também mitigam os
efeitos de fatores ecológicos desfavoráveis, tais como velocidade do
vento e evapotranspiração excessiva (BEER et al., 1998) e,
consequentemente, diminuem as variações extremas da umidade
relativa e temperatura do ar e do solo durante a estação seca e/ou
veranicos esporádicos (ANIM-KWAPONG, 2003). Em sistemas de
plantio de cacau em condições de sub-bosque, parte do princípio
que, uma vez supridas as exigências nutricionais e hídricas, a
produção de frutos dependente principalmente da radiação solar
(CUNNINGHAM; ARNOLD, 1962), visto que a maioria dos
experimentos de cacau envolvendo sombra e fertilizantes mostra que
a sombra reduz as respostas para as aplicações de fertilizantes
(ALVIM, 1977) e tais condições raramente são economicamente
justificáveis (BEER, 1987). Isso mostra que a produção de cacau
está positivamente relacionada com a intensidade de luz (VERNON,
1967), mas esta relação depende principalmente da disponibilidade
de água e de nutrientes no solo.
Em plantações comerciais de cacau, é difícil compreender e
detalhar o potencial de produtividade em relação ao número de frutos
e ao rendimento, uma vez que as copas das árvores de cacau se
encontram sob vários níveis de sombreamento (ALVIM, 1977). Com
práticas de manejo de sombra, a produção de cacau pode aumentar
durante a primeira década e depois estabilizar (ROSENBERG;
MARCOTTE, 2005). Nestas condições, os cacaueiros podem
produzir por 30 a 80 anos (STEVENSON, 1987), no entanto, o
rendimento diminui posteriormente (ROSENBERG; MARCOTTE,
2005). Além disso, em condições de sombreamento, a fisiologia dos
cacaueiros é modificada, uma vez que as árvores sombreadas
podem ser mais eficientes na fotossíntese e na dinâmica foliar (taxas
de produção e abscisão), como, por exemplo, o aumento do tempo
de vida da folha (MIYAJI; SILVA; ALVIM, 1997). A intensificação do
crescimento, o aumento de lançamentos foliares, o incremento da
floração e da produção, em condições de pleno sol, podem, no
entanto, ser explicados em termos de aumento da produção de
carboidratos (ASOMANING; KWAKWA; HUTCHEON, 1971). Isto é
exemplificado pela competição interna entre flores e frutos, apesar
do pequeno gasto de energia total para a floração (VALLE;
ALMEIDA; LEITE, 1990) e pela variação anual do número de frutos,
que também está sujeita à concorrência com outros eventos
vegetativos, tais como os lançamentos foliares e o crescimento das
raízes e do câmbio vascular (ALVIM, 1977).
Em experimento realizado em Gana, envolvendo adubação e
variação da intensidade de luz, foram observadas fortes reduções na
produção de cacau devido à baixa intensidade de luz (AHENKORAH;
AKROFI; ADRI, 1974). Logo, o controle do crescimento e da
densidade de árvores de cacau bem como o aumento da aeração e
da penetração de luz ao longo do dossel são práticas culturais
fundamentais necessárias para promover o aumento da produção de
amêndoas (VERNON; SUNDERAM, 1972). Um trabalho mais
abrangente, desenvolvido por Ahenkorah et al. (1987), elucida ainda
mais a importância da adubação adequada em plantações de cacau
sombreadas. Quando a disponibilidade de água e nutrientes não é
um fator limitante do crescimento, há uma correlação positiva entre a
produção de cacau e a intensidade de luz (BONAPARTE, 1975;
AHENKORAH et al., 1987).
Na região cacaueira do Sul da Bahia, Brasil, cerca de 50% das
lavouras de cacau se encontram em condições de “cabruca”, ou seja,
cultivadas sob sombra de árvores da floresta Atlântica. Nestas
condições, sem uma adubação adequada, com aproximadamente
500 a 600 plantas de cacau por hectare, com competição das
árvores sombreadoras, a produção de amêndoas, em plantas com 8
a 10 anos de idade, varia entre 225 a 300 kg ha-1. Em contrapartida,
quando se cultiva cacau a pleno sol, em espaçamento 3 x 3 m, com
1.111 plantas por ha, usando genótipos altamente produtivos,
mantendo todas as práticas culturais adequadas, incluindo adubação
e água disponível, a produção de amêndoas, em plantas com 8 a 10
anos de idade, pode atingir de 3.750 a 4.500 kg ha-1.
7 Considerações finais
O cacaueiro é uma espécie de sol, tolerante ao sombreamento
moderado. Por ser pouco conservativa em relação ao consumo de
água, deve ser irrigada e adubada quando cultivada em plena luz
solar. Nestas condições, há um acréscimo principalmente nas trocas
gasosas foliares em virtude da diminuição das resistências
estomática (gs) e mesofílica ao fluxo de CO2, do aumento da
transpiração (E) e da fotossíntese líquida (A); há uma maior
demanda por nutrientes minerais do solo; e, consequentemente, há
um incremento na produção de carboidratos e no enchimento de
frutos, resultando no aumento da produção de amêndoas. Em
contrapartida, em condições de baixa intensidade de luz, há
diminuições de gs, E e A, redução na absorção de nutrientes
minerais do solo e, consequentemente, decréscimo na produção de
frutos. Por outro lado, as mudanças evidenciadas nas características
fotossintéticas, bioquímicas, moleculares, anatômicas e
ultraestruturais, em relação à variação da intensidade de luz,
demonstram a capacidade de aclimatação desta espécie a este fator
abiótico por meio, principalmente, da plasticidade fenotípica em nível
foliar.
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Capítulo 3 — Respostas do cacaueiro à
variação da disponibilidade de água
James Nascimento Gattward1, Alex-Alan Furtado de Almeida2
1 Introdução
A água, recurso essencial para as plantas, exerce múltiplas
funções nos vegetais e é considerada como principal fator limitante
do crescimento, do desenvolvimento e da produtividade de cultivos
agrícolas, principalmente em escassez e, especialmente, em plantas
de metabolismo fotossintético C3 (KHANNA-CHOPRA; SINGH,
2015). Em condições de estresse, por excesso (PARENT et al.,
2008) ou falta (YORDANOV; VELIKOVA; TSONEV, 2000) no
ambiente radicular, promove danos aos vegetais. No entanto,
mesmo em áreas com as melhores condições ambientais para
atividade agrícola, as plantas não estão livres de enfrentar eventos
esporádicos de excesso ou deficiência hídrica, que podem
comprometer bastante a produtividade, especialmente em solos
rasos (ALMEIDA et al., 2002).
Theobroma cacao é uma espécie nativa da região tropical, onde o
consumo de água pelas plantas é geralmente elevado. Mesmo no
método tradicional de cultivo, sob árvores de sombra da Mata
Atlântica raleada (CARR; LOCKWOOD, 2011), um agrossistema
conservador de água no solo, conhecido como “cabruca”
(SCHROTH et al., 2009), as plantas de T. cacao estão sujeitas à
deficiência hídrica, causada por competição por água do solo com
as árvores sombreadoras, principalmente próximo ao meio-dia solar,
quando a demanda evaporativa do ar é maior (ALVIM; MACHADO;
VELLO, 1972; RADA et al., 2005). A espécie T. cacao possui um
sistema radicular bastante superficial, com 83% das raízes finas e
86% de raízes mais grossas localizadas na profundidade de 40 cm,
em relação à superfície do solo (MOSER et al., 2010), característica
importante em relação à ciclagem biogeoquímica de nutrientes
(GAMA; CALHEIROS, 1991; LEITE; VALLE, 1990), às respostas a
fertilização, mas que causa maior susceptibilidade da planta em
períodos de veranicos esporádicos.
No período seco, a produtividade de T. cacao é estreitamente e
diretamente relacionada às precipitações pluviométricas, sob
influência do tipo de solo e da consequente capacidade de retenção
de água (ZUIDEMA et al., 2005), e mais afetada que a produção de
biomassa (MOSER et al., 2010). Nesta cultura, em geral, as
respostas fisiológicas das plantas são afetadas negativamente e
mais expressivamente quando o teor de água no solo está abaixo
de 60-70% da capacidade máxima de água disponível (ALVIM,
1960). Poucas espécies cultivadas são tão intolerantes à deficiência
hídrica como T. cacao, uma vez que a maioria de seus processos
fisiológicos é altamente afetada pelo baixo teor de água no solo
(AMORIM; VALLE, 1992; MOHD RAZI et al., 1992; BELSKY;
SIEBERT, 2003; ALMEIDA; VALLE, 2007; CARR; LOCKWOOD,
2011).
As regiões onde mais se cultiva T. cacao atualmente se
caracterizam por áreas tropicais úmidas com alta precipitação
pluviométrica. Em algumas áreas no Brasil e em outros países como
Gana, Nigéria e Costa do Marfim, a precipitação pluviométrica total,
frequentemente, excede a evapotranspiração, criando regiões
geralmente pobres em aeração do solo (SENA GOMES;
KOZLOWSKI, 1986). Fato também evidenciado na Colômbia
(ALVIM, 1959) e em Trinidad e Tobago (VINE; THOMPSON;
HARDY, 1942, 1943), onde os solos úmidos cultivados com T. cacao
foram identificados como pobremente aerados, sendo responsáveis
pela morte de plantas de T. cacao em períodos chuvosos
prolongados. Em geral, as áreas com plantio de T. cacao possuem
relevos de leve a fortemente ondulado, contendo desde Latossolos
com alta porosidade, nas áreas mais elevadas, a Gleissolos, com
baixa permeabilidade a água, nas áreas baixas do relevo
(CAMPOS, 2003). Nos solos de baixada, a água tende a ser
acumulada e, frequentemente, ocorre alagamento, o que promove a
redução na produtividade de T. cacao, quando cultivado nestes
locais. Além disso, algumas áreas sofrem com problemas de
enchente sazonal de rios, como ocorrido no rio Doce, no Espírito
Santo, Brasil, fato que foi responsável por um decréscimo em torno
de 60% da produção de frutos (MARIANO; MONTEIRO, 1982),
evidenciando que a cultura sofre grande perda em produtividade em
condições de alagamento do solo.
2 Respostas do cacaueiro à deficiência hídrica
A capacidade de qualquer espécie vegetal de conviver em
condições de estresse hídrico no ambiente radicular — portanto,
com deficiência hídrica ou com hipoxia e/ou anoxia em nível celular
— depende de mecanismos que envolvem a planta inteira,
integrados a mecanismos tissulares e celulares. Os processos
regulatórios se iniciam com a percepção da redução do teor de água
(HASWELL; VERSLUES, 2015) ou do oxigênio disponível na célula
(BAILEY-SERRES; CHANG, 2005; KOSMACZ; WEITS, 2014).
Imediatamente após, ocorre o ajustamento metabólico, a sinalização
do estresse (DAT et al., 2004; SCHACHTMAN; GOODGER, 2008),
a mudança na expressão de genes (CHRISTIANSON et al., 2010;
PADMALATHA et al., 2012; TANG et al., 2013) e a mudança na
atividade enzimática (REDDY; CHAITANYA; VIVEKANANDAN,
2004). Estes são disparados por mecanismos fisiológicos,
moleculares e bioquímicos para evitar o estresse (GIBBONS;
NEWBERY, 2003; LICAUSI; PERATA, 2009) e proteger a
maquinaria fotossintética, os tecidos e os orgânulos celulares
(BLOKHINA; VIROLAINEN; FAGERSTEDT, 2003). Com a extensão
dos efeitos do estresse, são, também, observadas as mudanças em
nível de órgão e de planta inteira (CHAVES et al., 2002; BAI et al.,
2010).
Plantas de T. cacao submetidas à deficiência hídrica e,
posteriormente, à reidratação, possuem uma maior frequência de
lançamentos foliares, e estes lançamentos novos e anteriores se
apresentam com teores elevados de ABA em relação à fase de
quiescência do ciclo (ALVIM; MACHADO; VELLO, 1974). Plantas
jovens de T. cacao irrigadas também mostram lançamentos foliares,
os quais estão relacionados com mudanças no teor de ABA
(ORCHARD; COLLIN; HARDWICH, 1980). Neste caso, sugere-se
que as plantas jovens de T. cacao sofrem deficiência hídrica interna
quando a taxa de absorção de água pelas raízes é menor que a
perda de água pela parte aérea. Isso causaria acúmulo de ABA no
ápice da planta e, consequentemente, a inatividade da gema
durante o período entre lançamentos (ALMEIDA; VALLE, 2007). Tal
hipótese é fortalecida por dados de distribuição de [14C]-ABA em T.
cacao, sugerindo que o ABA é exportado de folhas mais velhas para
as áreas de menor concentração de ABA, como gemas e folhas
novas (ABO-HAMED; COLLIN; HARDWICK, 1981).
Imediatamente após a percepção celular da perda de água,
seguida de mudanças metabólicas, expressões gênicas e produção
de proteínas específicas, os mensageiros secundários iniciam uma
cascata de fosforilação proteica, que finalmente tem como alvo
proteínas diretamente envolvidas na proteção celular, ou fatores de
transcrição, que controlam conjuntos específicos de genes
regulados por estresse (MITTLER et al., 2004). Os produtos destas
respostas iniciais podem ser moléculas reguladoras, como os
fitormônios etileno, ácido salicílico (AS) e o ácido abscísico (ABA),
considerado a principal molécula sinalizadora do estresse hídrico.
Duas características específicas fazem do ABA uma molécula
muito eficaz para as plantas sob estresse. A primeira se refere a sua
produção, que é rapidamente desencadeada pelo estresse; e a
segunda está associada à sua rápida degradação (ZHANG et al.,
2006). Além do mais — em função da grande participação de ABA
nas respostas das plantas à deficiência hídrica —, agindo como
molécula sinalizadora e reguladora de diversos genes e fatores de
transcrição, coordenando a iniciação de rotas de transdução de
sinais geradoras de respostas ao estresse, é bastante comum a
utilização de genes que respondem ao estresse por deficiência
hídrica, e de rotas de sinalização, como dependentes ou
independentes de ABA (YOSHIDA; MOGAMI; YAMAGUCHI-
SHINOZAKI, 2014).
De acordo com Balasimha e Kumar (2000), o teor de ABA em
nível foliar aumentou 52% em plantas de T. cacao com a imposição
de estresse por deficiência hídrica e reduziu 64% após a
reidratação. Segundo estes autores, o teor de ABA foi mais elevado
nos genótipos mais tolerantes à deficiência hídrica, os quais
apresentaram menores taxas fotossintéticas por unidade de área
foliar (A) em condição de irrigação normal e menores reduções de A
em condições de deficiência hídrica. Segundo estes autores, os
teores de ABA nos tecidos foliares variaram de 12 a 17 hg g-1 MS
nas plantas controle, e de 21 a 25 hg g-1 MS nas plantas
estressadas.
Dentre as respostas das plantas à deficiência hídrica, uma das
mais comuns é a ocorrência de ajustamento osmótico como
mecanismo fisiológico para evitar a desidratação dos tecidos. Este
ajuste osmótico é resultante da síntese de osmorreguladores e do
acúmulo de solutos inorgânicos, cátions e ânions, principalmente em
nível de vacúolo. Como osmorreguladores, podem ser incluídos os
aminoácidos (e.g., prolina), álcoois de açúcares (e.g., pinitol),
açúcares (e.g., frutanos) e compostos quaternários de amônio (e.g.,
glicina betaína), que são produtos de um dos principais grupos de
genes induzidos por deficiência hídrica em plantas. Tais genes são
os responsáveis, por exemplo, pelas enzimas, como a sintase do D-
pirrolina 5'carboxilato, enzima chave da rota de biossíntese da
prolina; desidrogenase da betaína-aldeído, enzima que participa do
acúmulo de glicina betaína; e desidrogenase do gliceraldeído-3-
fosfato, que atua, provavelmente, para aumentar o fluxo de carbono
em direção à síntese de osmólitos orgânicos (BUCHANAN;
GRUISSEM; JONES, 2002). O acúmulo de solutos aumenta a
capacidade das células de manter o teor de água interno e permite a
manutenção da turgescência celular e, consequentemente, do
crescimento, mesmo em condições de baixos potenciais hídricos
foliares (CHEN; JIANG, 2010). Embora a relação entre ajuste
osmótico e alta produtividade tenha sido estabelecida para cultivos
comerciais e arbustos (BLUM; ZHANG; NGUYEN, 1999; BABITA et
al., 2010), informações sobre esta relação são controversas em T.
cacao. Portanto, permanece, ainda, inexplicado se o ajuste osmótico
pode ser uma estratégia para tolerância à deficiência hídrica nesta
espécie (CARR; LOOKWOOD, 2011).
Os genótipos de T. cacao Guasare e Lobatera apresentaram
ajuste osmótico de -0,35 MPa, ao passo que os genótipos Criollo
Marideño e Porcelana não apresentaram ajuste osmótico sob
condições de deficiência hídrica numa avaliação realizada por
Araque et al. (2012). Segundo estes autores, os genótipos que
apresentaram ajustamento osmótico tiveram, como consequência,
uma taxa de mortalidade pelo menos 10% menor em relação aos
outros genótipos avaliados. Rada et al. (2005) confirmaram que
plantas do genótipo de T. cacao Guasare, com quatro anos de
idade, apresentam ajuste osmótico sob deficiência hídrica. O
mesmo fato foi observado por Almeida et al. (2002) para genótipos
Forasteros, cujos valores de ajustamento osmótico variaram de
-0,05 a -0,49 MPa, ao final de 60 dias de redução gradual da
irrigação. Por outro lado, em Olea europaea, uma espécie lenhosa
reconhecida como tolerante à deficiência hídrica, foram encontrados
valores de ajustamento osmótico, em plantas de dois anos de idade,
altamente estressadas, entre -2,4 a -3,8 MPa durante o dia. Para
esta espécie, o ajuste osmótico possibilitou a folha atingir potencial
hídrico antemanhã (pre-dawn) (Ψwpd) de -6,0 MPa, e, ainda, de
apresentar, nestas condições, valores de A superiores a zero em
medições realizadas às 7 h e às 13 h (DICHIO et al., 2006). Alguns
genótipos de T. cacao (ALMEIDA et al., 2002) e a espécie Vitis
vinifera, cv. “Savatiano”, considerada como medianamente tolerante
à deficiência hídrica, também com dois anos de idade, de maneira
semelhante, alcançaram ajuste osmótico de -0,49 MPa (PATAKAS et
al., 2002). De acordo com Premachandra e Joly (1992), a
contribuição osmótica dos íons inorgânicos em T. cacao é duas a
quatro vezes a de aminoácidos e de açúcares, e o íon K+ promove
65% da osmolaridade dos íons inorgânicos, cerca de duas vezes
maior que a contribuição exercida pelo K+ na osmolaridade dos íons
inorgânicos em V. vinifera, cv. “Savatiano”, sob estresse por
deficiência hídrica (33%) (PATAKAS et al., 2002).
A transpiração foliar (E) em T. cacao foi evidenciada
apresentando relação inversa à dose de K (ORCHARD, 1978).
Segundo Bosshart e Uexkhull (1987), em condições de campo,
plantas de T. cacao adultas, bem supridas com K, podem ser mais
tolerantes aos efeitos adversos da deficiência hídrica. Em plantas
jovens de T. cacao, o K e a prolina mostraram efeitos positivos em
relação a tolerância à deficiência hídrica, pois, além de melhorar a
taxa de sobrevivência, promoveram a manutenção da expansão de
área foliar (BALASIMHA, 1984). Ademais, o íon Na+, que apresenta
similaridades com o íon K+ em tecido vegetal (KRONZUCKER et al.,
2013), se mostrou capaz de dobrar a eficiência do uso da água
(EUA) em plantas de T. cacao com um ano de idade, ao substituir
43% da dose de K da adubação, em ambas, baixa e alta doses de K
(GATTWARD et al., 2012), indicando o seu papel importante como
agente osmótico para esta espécie. Além do mais, o íon Na+
apresenta entrada natural por deposição atmosférica seca
(aerossóis marinhos e continentais) e úmida (precipitação
pluviométrica) constantes em ecossistemas de zonas costeiras, em
torno de 70 kg ha-1 ano-1 (CAMPOS; COSTA; TAVARES, 1998;
SOUZA et al, 2006), em zonas distantes do oceano (~140 km), essa
deposição é menor, na ordem de 20 kg ha-1 ano-1 (CONCEIÇÃO et
al., 2013), além de ser naturalmente abundante em solos de regiões
semiáridas (RIBEIRO et al., 2009), onde plantios irrigados de T.
cacao a pleno sol vêm sendo formados (ALMEIDA et al., 2014;
LEITE, 2006).
O transporte de íons e água entre orgânulos, células e tecidos
está entre os principais processos regulados pelas plantas em
condições de deficiência hídrica. Estes processos ocorrem por meio
de genes específicos com alta indução em condições de estresse,
como, por exemplo, aqueles responsáveis pela produção das
proteínas ATPases, importantes nos processos de transporte de
íons através das membranas (FUKUDA et al., 2004), e pela
produção das aquaporinas (AQPs), proteínas integrais de
membrana com função de canais de transporte de água, que atuam
na facilitação da difusão de água através da membrana plasmática e
de membranas de orgânulos celulares (MAHDIEH et al., 2008). Em
T. cacao, há diferenças intergenotípicas para a expressão de genes
de AQPs, cujas maiores expressões têm sido evidenciadas nos
genótipos mais tolerantes à deficiência hídrica, em comparação com
os intolerantes. Isto sugere que, em genótipos mais tolerantes, as
AQPs atuam para melhorar o fluxo de água entre as células e
tecidos, enquanto que, em genótipos intolerantes, a menor
expressão relativa é uma estratégia das plantas para diminuir o fluxo
de água através de membranas e, consequentemente, aumentar a
retenção de água nos tecidos (FIGUEIREDO, 2011).
A fotossíntese, juntamente com o crescimento celular, se encontra
entre os primeiros processos afetados pela deficiência hídrica na
planta (LAWLOR, 1995). A escassez de água é evidenciada como
limitadora da fotossíntese por meio do fechamento estomático
(SHARKEY, 1990), associado à deficiência metabólica (FLEXAS;
MEDRANO, 2002; LAWLOR; CORNIC, 2002). O balanço de energia
é reconhecido como componente-chave do funcionamento da célula
submetida à limitação de CO2 e à alta intensidade de luz (LAWLOR;
TEZARA, 2009), como tradicionalmente ocorre em plantas sob
deficiência hídrica. Em tais condições, Tezara et al. (1999)
evidenciaram redução na produção de ATP e, portanto, diminuição
na regeneração da ribulose 1,5-bisfosfato (RuBP) e geração de
espécies reativas de oxigênio (EROs) em condições altamente
reduzidas no cloroplasto, com promoção de danos à enzima sintase
do ATP (LAWLOR; TEZARA, 2009), o que afeta seriamente a
maquinaria fotossintética em nível foliar.
Folhas de plantas jovens de T. cacao apresentam a taxa de
exportação de carbono e de A extremamente reduzidas, próximas a
zero, quando submetidas à suspensão da irrigação, cujo potencial
hídrico foliar ao meio dia (Ψwmd) decresceu de -0,8 para -2,0 MPa
de 0 a 19 dias de tratamento (DENG; JOLY; HAHN, 1989). O
mesmo padrão de decréscimo de A, em relação à diminuição de
Ψw, foi também observado por Joly e Hahn (1989) em plantas de T.
cacao, com redução linear de A de 3,5 µmol CO2 m-2 s-1 em Ψwpd
de -0,45 MPa para 0,8 µmol CO2 m-2 s-1 em Ψwpd de -1,5 MPa. Em
Vitis vinifera, cv. “Tempranillo”, o valor de A, em Ψwpd de -0,05 MPa,
foi cerca de três vezes maior (17 µmol CO2 m-2 s-1) do que em T.
cacao (FLEXAS; ESCALONA; MEDRANO, 1999) e apresentou
decréscimo linear em função da redução de Ψwpd. Semelhante ao T.
cacao, o valor de A em V. vinifera se aproximou de zero quando
Ψwmd atingiu -1,82 MPa (BAEZA et al., 2007). Segundo estes
autores, o valor de A também se aproximou de zero em folhas com
Ψwpd em torno de -0,95 MPa, semelhante ao observado por Flexas,
Escalona e Medrano (1999). Em contrapartida, em Coffea
canephora, o valor de A se aproxima de zero somente quando o
Ψwpd atinge -3,0 MPa (LIMA et al., 2002). Outras espécies arbóreas
mais tolerantes à deficiência hídrica, como Olea europaea, mantêm
A em torno de 4,0 µmol CO2 m-2 s-1 em Ψwpd ao redor de -5,5 MPa
(ANGELOPOULOS; DICHIO; XILOYANNIS, 1996). Para esta
mesma espécie, Giorio, Sorrentino e d’Andria (1999) observaram
valor de A também em torno de 4,0 µmol CO2 m-2 s-1 em épocas
secas do ano em que as plantas apresentavam Ψwmd de -3,5 MPa.
Em T. cacao, a obtenção de valores elevados de A depende,
entre outros, da disponibilidade de água, de nutrientes no solo e da
intensidade da luz, como observado em cultivos realizados a pleno
sol (OKALI; OWUSU, 1975; HUTCHEON, 1977; ALMEIDA; VALLE,
2007, 2010; ALMEIDA; CHAVES; SILVA, 2012; ALMEIDA et al.,
2014). A relação direta entre A e disponibilidade de água foi
confirmada por Ávila-Lovera et al. (2016), que observaram
decréscimo de A, em torno de 50%, em 10 de 12 genótipos do
grupo Criollo no período seco do ano, em comparação com o
período chuvoso. Segundo estes autores, para os 12 genótipos de
T. cacao estudados, foram encontrados valores de A oscilando entre
2 e 6 µmol CO2 m-2 s-1, dentre os quais dois genótipos avaliados
(UVI003 e ESC001) apresentaram aumento de A no período seco
do ano, ao passo que os valores das condutâncias estomáticas (gs)
de ambos os genótipos permaneceram inalterados, o que levou ao
aumento da eficiência de uso de água (EUA). Além do mais, entre
todos os genótipos avaliados, estes dois apresentaram o primeiro e
o segundo valores mais baixos de A no período mais chuvoso do
ano. Por outro lado, Abdul Haris et al. (1999), ao efetuarem
medições de A em plantas de T. cacao com 4 anos de idade, cuja
irrigação foi reduzida de 30 para 10 L de água planta-1 dia-1,
também encontraram reduções nos valores de A de 4,0 para 3,4
µmol CO2 m-2 s-1. O mesmo fato foi observado também em plantas
de T. cacao com quatro meses de idade (MOHD RAZI et al., 1992).
Em relação à deficiência hídrica leve a moderada, as reduções
nos valores de A em T. cacao têm sido associadas ao fechamento
estomático. Além disso, tem-se observado que não há danos na
maquinaria fotossintética quando plantas de T. cacao são
submetidas simultaneamente ao sombreamento e à seca moderada
(ÁVILA-LOVERA et al., 2016). Em contrapartida, ocorrem danos no
aparelho fotossintético quando plantas de T. cacao são submetidas
simultaneamente à deficiência hídrica e ao sombreamento reduzido,
em função, principalmente, da inativação do centro de reação de
PS2 e da capacidade de produção de ATP (ZANETTI, 2013),
causados pelo excesso de energia promovido pelo aumento da
intensidade de luz (ACHEAMPONG; HADLEY; DAYMOND, 2013).
No entanto, tem sido observado, também, que a capacidade de
manutenção de baixos valores de Fv/Fm é genótipo-dependente em
plantas de T. cacao submetidas à deficiência hídrica, a exemplo do
grupo Criollo, com indicativo de participação da capacidade
fotorrespiratória e do ciclo das xantofilas (ARAQUE et al., 2012).
As respostas estomáticas em folhas de T. cacao são
estreitamente relacionadas com as mudanças nas relações hídricas
da planta (RAZI et al., 1992) e com o vapor de água da atmosfera
(BALASIMHA; RAJAGOPAL, 1988), seus estômatos tendem a se
fechar com a diminuição do Ψw foliar e da umidade relativa do ar,
com reflexos diretos no decréscimo dos valores de A. Redução dos
valores de A de 5 para 3 µmol CO2 m-2 s-1 com o aumento do déficit
de pressão de vapor de água (DPV) de 1,5 para 2,5 kPa foi
observado por Balasimha et al. (1990), valores próximos aos obtidos
para Citrus sinensis, cv. “Pera”, cujo valor de A reduziu de 9 para 4
µmol CO2 m-2 s-1 com o aumento de DPV de 1,2 para 2,5 kPa
(HABERMANN et al., 2003); e para Coffea arabica, em que o valor
de A decresceu de 4 para 3 µmol CO2 m-2 s-1 com o aumento de
DPV de 1,2 para 2,5 kPa (HERNÁNDEZ; COCK; EL-SHARKAWY,
1989). Segundo Balasimha e Rajagopal (1988), T. cacao é
altamente sensível a mudanças na umidade relativa do ar, sendo
que a resistência estomática foliar foi três vezes maior quando a
umidade relativa do ar diminuiu de 80% para 55%. Além disso, Razi
et al. (1992) mostraram que a resistência estomática em folhas de T.
cacao aumentou rapidamente quando Ψwmd foi inferior a -1,4 MPa,
próximo ao valor obtido por Hutcheon (1977).
Joly e Hahn (1989) observaram a manutenção dos valores de
EUA entre plantas de T. cacao estressadas e não estressadas num
primeiro ciclo de estresse por déficit hídrico. No entanto, no segundo
ciclo de estresse, as plantas estressadas apresentaram menor valor
de EUA e ainda menor no terceiro ciclo de estresse, sugerindo a
existência de danos metabólicos gradativos com os ciclos de
estresse, somado à redução do período de recuperação adotada na
metodologia. Em contrapartida, Rada et al. (2005) e Araque et al.
(2012) relataram aumento de EUA em plantas sob deficiência
hídrica, o que suporta as sugestões de muitos autores de que a
limitação da fotossíntese por difusão do CO2 acontece anterior à
limitação metabólica (SHARKEY, 1990).
O crescimento de todos os órgãos das plantas de T. cacao é
afetado por deficiência hídrica no solo (SANTOS et al., 2014).
Plantas de T. cacao tolerantes à deficiência hídrica apresentaram
massa foliar específica superior, maior capacidade de retenção de
gemas apicais e maior biomassa seca de raiz (FRIMPONG et al.,
1991). De acordo com estes autores, não houve diferenças
significativas em relação às taxas fotossintéticas, os teores de água
na folha e o conteúdo de cera epicuticular entre os genótipos
avaliados. A alocação de carbono e o crescimento do sistema
radicular em relação à parte aérea, portanto, aumento da razão raiz/
parte aérea, foram evidenciados também por Antwi et al. (1993) ao
submeterem plantas dos genótipos de T. cacao TSH (730, 919,
1076, 1188 e 1220), com 11 meses de idade, à deficiência hídrica.
Além disso, estes autores observaram que a manutenção de folhas
maduras funcionais — com estratégias de enrolamento, maior
espessura e pecíolo mais curto e grosso para reduzir a desidratação
— foi determinante para garantir maior tolerância à seca. Por outro
lado, o alongamento foliar foi identificado como severamente inibido
pela deficiência hídrica em T. cacao, porém não se mostrou
determinante da tolerância à seca nos genótipos avaliados
(BALASIMHA, 1984). Também, em plantas jovens de T. cacao, o
vigor ou a razão raiz/parte aérea não foi correlacionado com
tolerância à deficiência hídrica, mas a aplicação de cycocel e de
ABA aumentaram a tolerância (BALASIMHA, 1983; BALASIMHA;
SUBRAMONIAM 1984). Em análise fatorial e teste de colinearidade
de variáveis de análise clássica de crescimento envolvendo 36
genótipos de T. cacao, foi observado que as variáveis área foliar
total por planta, taxa de crescimento relativo e biomassas secas de
raiz, caule, folha e total, juntamente com os teores foliares de Ca e
Mg, tiveram maior contribuição na formação do primeiro fator e na
diferenciação de grupos de indivíduos similares. No mesmo estudo,
verificou-se, a partir da análise de componentes principais, que as
variáveis que tiveram a maior contribuição na formação do primeiro
componente foram a taxa de crescimento relativo, as biomassas
secas foliar e total e o teor de Mg foliar, enquanto a biomassa seca
da parte aérea e a área foliar total por planta tiveram a maior
contribuição no segundo componente. Neste trabalho, houve
redução na biomassa seca de todos os órgãos da planta para a
maioria dos genótipos avaliados (SANTOS et al., 2014). Logo,
baseado na observação de que a redução do crescimento ocorre
com uma ligeira alteração na condição hídrica da planta, foi
confirmada a hipótese de que a espécie T. cacao é altamente
intolerante à deficiência hídrica (ALVIM; ALVIM, 1978).
Pesquisas realizadas durante as décadas de 1960 e 1970
suportam a teoria sugerida pela primeira vez por McDonald (1933),
que atribuiu especial importância ao efeito da umidade do solo e/ou
umidade relativa do ar nos lançamentos foliares em T. cacao (SALE,
1970). Nestes estudos, foi demonstrado que cada vez que uma
planta de T. cacao é irrigada, após um período de deficiência hídrica
no solo, ocorre lançamento foliar vigoroso cerca de 10 dias após a
irrigação. Segundo este autor, muitos lançamentos foram produzidos
a partir de botões axilares, bem como a partir de gemas apicais.
Além disso, as plantas que foram regadas com frequência, de modo
a evitar redução da umidade do solo abaixo de 85% ou 50%,
lançaram com menos vigor e apenas com as gemas apicais, e os
picos ocorreram a cada 5-6 semanas. Ademais, apesar de lançar
menos intensamente, a área foliar total foi maior nas plantas
irrigadas com frequência, devido à redução da queda de folhas ou
aumento da longevidade das folhas.
Com base nos estudos de campo no Brasil, Alvim, Machado e
Granier Jr. (1969) propuseram algumas hipóteses para tentar
explicar a relação entre a disponibilidade de umidade no solo e o
número de lançamentos foliares, tais como: (i) o aumento da
deficiência hídrica provoca abscisão foliar e interrompe a dormência
de gemas; e (ii) o lançamento foliar ocorre logo após abscisão foliar
ou sob a condição de deficiência hídrica severa, após o início das
chuvas. Em estudos de distribuição de 14C, Deng, Joly e Hahn
(1990) demonstraram que há alocação preferencial de carbono para
raízes e ramos em condição de deficiência hídrica no solo, uma
estratégia comum em vegetais de redução de tecidos com maior
capacidade de perda de água, aumento de tecidos com maior
capacidade de aquisição de água e manutenção de reserva.
3 Respostas do cacaueiro ao alagamento
Assim como na deficiência hídrica, plantas de T. cacao
apresentam mudanças expressivas no seu crescimento e
desenvolvimento quando submetidas ao alagamento do solo. Com
30 dias de alagamento, mudas de T. cacao mostram mudanças
expressivas em crescimento com o padrão de redução da taxa de
crescimento dos órgãos da seguinte forma: raízes > folhas > planta
inteira > parte aérea > ramos (SENA GOMES; KOZLOWSKI, 1986).
Ademais, segundo estes autores, após 45 e 60 dias de alagamento,
o crescimento de todos os órgãos da planta é ainda mais reduzido e
alcança, aos 60 dias de alagamento, redução do incremento de
biomassa de 81% nas raízes, 70% nas folhas e 55% nos ramos.
Rehem et al. (2010), ao avaliarem os efeitos do alagamento do solo
no crescimento de seis genótipos clonais de T. cacao, verificaram
que o alagamento causou redução de 29, 40 e 71% da biomassa
seca total dos genótipos CP-49, CP-06 e CEPEC-2007,
respectivamente. Além disso, observaram também que os clones
CCN-10, CP-49, CEPEC-2008 e PS-1319 apresentaram aumento
na biomassa seca de caule, ao contrário dos genótipos CP-06 e
CEPEC-2007. De acordo com Akilan et al. (1997), clones de
Eucalyptus camaldulensis, crescidos em condições de alagamento,
formaram raízes adventícias e produziram uma quantidade
significativa de biomassa seca nos ramos, assim como observado
por Rehem et al (2010), para os genótipos clonais de T. cacao CCN-
10, CP-49, CEPEC-2008 e PS-1319.
Em condições de alagamento do substrato, Ca2+ tem sido o
principal agente sinalizador, identificado como necessário para
indução da atividade da desidrogenase alcoólica (ADH) em
Arabidopsis sp e Oriza sativa (CHUNG; FERL, 1999; TSUJI et al.,
2000). A ADH é uma enzima chave da fermentação alcoólica, assim
como a desidrogenase do lactato (LDH), e essencial para a
reciclagem do NAD+ na ausência de oxigênio (O2). Em condições
normais, na presença de O2, NAD+ é reciclado a partir do NADH +
H na cadeia de transporte de elétrons da respiração, em nível
mitocondrial. Logo, a formação de NAD+, durante a fermentação, é
o único meio de manter a glicólise na ausência de O2 e garantir a
produção de ATP (GIBBS; GREENWAY, 2003). Em T. cacao, o Ca2+
parece também atuar como agente de sinalização do estresse por
alagamento. Em genótipos de T. cacao, tolerantes e intolerantes ao
alagamento, houve diminuição no teor de Ca em caules e folhas e
aumento em raízes em plantas com um ano de idade submetidas a
40 dias de alagamento do substrato (BERTOLDE et al., 2012).
Em primeira análise, a redução do teor de Ca na planta deveria se
apresentar não somente na parte aérea, visto que a parte aérea e o
sistema radicular estão conectados, e que o Ca2+ é absorvido, em
grande parte, por fluxo de massa, processo altamente
comprometido com o fechamento estomático, comum em condições
de estresse hídrico. No entanto, a elevação do teor de Ca no
sistema radicular indica a presença de mecanismos induzidos por
alagamento para favorecer a aquisição do Ca2+ e sua utilização no
metabolismo. Contudo, ao avaliar seis genótipos de T. cacao, com
um ano de idade, submetidos a 30 dias de alagamento do substrato,
Rehem et al. (2009) também observaram decréscimos nos teores de
Ca em ramos e folhas. No entanto, neste mesmo trabalho, apenas
um genótipo (PS-1319) apresentou incremento no teor de Ca em
raiz sob estresse por alagamento.
Plantas de T. cacao submetidas ao alagamento apresentam
indução da expressão dos genes que codificam para as enzimas
ADH, LDH e descarboxilase do piruvato (PDC) (BERTOLDE;
ALMEIDA; PIROVANI, 2014), sendo a PDC responsável pela
conversão de piruvato a acetaldeído na glicólise, com liberação de
CO2. Segundo estes autores, a indução destes genes foi maior na
raiz, em relação à parte aérea, do genótipo de T. cacao intolerante
(e.g. TSH-774) ao alagamento, e mais expressiva para a enzima
PDC. Isto, por sua vez, sugere que, sob alagamento, a raiz de T.
cacao é o dreno preferencial de fotoassimilados, o que representa
um enorme custo à planta, já que, sob esta condição de estresse,
enquanto a planta não desenvolve mecanismos para oxigenação
radicular, a raiz produz energia para manutenção e crescimento
entre 6 e 8% do seu potencial (NEAL; GIRTON, 1955; ROBERTS;
ANDRADE; ANDERSON, 1985). No entanto, a indução dos genes
não representa, de fato, aumento na atividade de todas estas
enzimas, com indicativo de participação de outras estratégias de
regulação das atividades enzimáticas. Logo, a capacidade de
coordenação e regulação das rotas metabólicas envolvidas na
atividade destas enzimas, em resposta à deficiência de O2, e não
somente a indução dos genes responsáveis, é uma característica
indicada como importante para tolerância a este fator estressor em
genótipos de T. cacao (BERTOLDE; ALMEIDA; PIROVANI, 2014).
A formação de lenticelas hipertrofiadas no caule e de raízes
adventícias, em resposta à hipoxia e/ou anoxia, é observada em
plantas de T. cacao cultivadas em condições de alagamento, sendo
que a extensão destas plasticidades fenotípicas depende do
genótipo (SENA GOMES; KOZLOWSKI, 1986; REHEM et al., 2009).
Ao avaliar 35 genótipos de T. cacao em condições de alagamento,
Bertolde et al. (2010) verificaram que todos os genótipos
apresentaram formação de lenticelas e de raízes adventícias, em
intensidades diferentes, aos 45 dias de estresse, e que 1/5 dos
genótipos se diferenciaram apresentando maior formação de
lenticelas e de raízes adventícias no grupo, dentre eles os genótipos
PH-15 e SJ-02, para lenticelas, e os genótipos CEPEC-2010 e VB-
902, para raízes adventícias. Segundo estes autores, esta
plasticidade fenotípica de aclimatação ao alagamento não foi
determinante para o nível de tolerância de T. cacao a este fator
estressor. Em contrapartida, em espécies do gênero Quercus, o
número de lenticelas tem sido associado à tolerância ao alagamento
do solo (COLIN-BELGRAND; DREYER; BIRON, 1991; PARELLE et
al., 2006). Entretanto, foi observado o aparecimento de lenticelas
logo abaixo do nível da água (TANG; KOZLOWSKI, 1982; PARELLE
et al., 2006), o que contraria a hipótese do fluxo de entrada de O2
para as raízes. Portanto, as lenticelas parecem atuar mais
fortemente na manutenção da homeostase hídrica na planta do que
na facilitação das trocas gasosas diante da absorção de água
reduzida em função do fechamento estomático, típico do estresse
hídrico. O mesmo fato tem sido atribuído às raízes adventícias, ao
associar a sua formação à tolerância ao alagamento do solo em
muitas espécies vegetais (FUKAO; BAILEY-SERRES, 2004). No
entanto, espécies reconhecidas como tolerantes ao alagamento do
solo, como Genipa americana (SALVADOR, 1986), mesmo sob
longo período de alagamento, não apresentam formação de raízes
adventícias (MIELKE et al., 2003). Observação feita também por
Simone et al. (2002), ao avaliarem as plantas nativas de várzea
amazônica.
Em condições de solo alagado, a redução da fotossíntese líquida
(A) em T. cacao é significativamente elevada, como observado em
muitas espécies vegetais (BRADFORD, 1983; GRAVATT; KIRBY,
1998). Plantas jovens de T. cacao de dois genótipos crescidos
inicialmente com o teor de água no solo próximo à capacidade de
campo apresentaram decréscimo nos valores de A — cerca de 1/6
do valor das plantas controle — a partir de 20 dias de alagamento
do solo e esse valor se manteve até o final da avaliação aos 40 dias
de alagamento (BERTOLDE et al., 2012). Neste trabalho, foram
utilizados genótipos clonais contrastantes para a tolerância ao
alagamento do solo (TSA-792, tolerante, e TSH-774, intolerante) e,
embora a partir dos 20 dias de alagamento a resposta de A nos
genótipos tenha sido semelhante, aos 10 dias de estresse, o
genótipo intolerante já apresentava redução de A em torno de 50%,
ao passo que neste mesmo período o genótipo tolerante
apresentava decréscimo em torno de 30%. De acordo com estes
autores, nas plantas controle do genótipo intolerante, os valores de
A variaram entre 5,7 a 8,2 µmol CO2 m-2 s-1, enquanto que nas
plantas controle do genótipo tolerante, os valores variaram de 5,4 a
7,3 µmol CO2 m-2 s-1. Além disso, o menor valor de A observado
para as plantas submetidas ao alagamento foi de 1,0 µmol CO2 m-2
s-1 para ambos os genótipos. Neste mesmo estudo, o genótipo
tolerante apresentou, até o final do período de alagamento (40 dias),
um valor constante de EUA, ao passo que o genótipo intolerante
apresentou redução de EUA próxima de 50%, um indicativo de dano
metabólico promovido pelo estresse.
O declínio na atividade fotossintética em plantas submetidas ao
alagamento do solo tem sido atribuído ao fechamento dos
estômatos (MIELKE et al., 2003), à diminuição no teor de clorofila
foliar (GRAVATT; KIRBY 1998), à diminuição de Ψw foliar, à redução
da atividade da Rubisco (PEZESHKI, 1994), à produção de etileno
(PALLAS; KAYS, 1982) e à redução na demanda por
fotoassimilados (WAMPLE; THORNTON, 1984). Rehem et al. (2010)
observaram em genótipos de T. cacao (CCN-10, CP-49, CP-06,
CEPEC-2007, CEPEC-2008 e PS-1319), submetidos ao alagamento
do solo, que o clone mais tolerante (CCN-10) apresentou redução
de 24% em A aos 15 dias e de 47% aos 30 dias de alagamento, ao
passo que o clone mais intolerante (PS-1319) já apresentava
redução de 76% em A aos 15 dias e de 90% aos 30 dias de
alagamento. Segundo estes autores, os valores médios de A,
considerando todos os genótipos na condição de controle, foram de
6,03; 6,44 e 5,46 µmol CO2 m-2 s-1 aos 15, 30 e 45 dias de
tratamento, respectivamente; ao passo que, sob alagamento do
solo, os valores de A foram de 3,49; 1,58 e 1,02 µmol CO2 m-2 s-1,
respectivamente. Bertolde et al. (2010), ao avaliarem 35 genótipos
clonais de T. cacao submetidos ao alagamento por 45 dias,
verificaram que a maioria dos genótipos apresentou reduções
significativas (p< 0,05) em A e gs quando comparados com seus
respectivos controles, à exceção dos genótipos CCN-10, PH-17 e
TSA-792, para ambas as variáveis, e de CA-7.1 e SJ-02 para A e de
CEPEC-2002 para gs. Por outro lado, ao avaliar plantas de Genipa
americana, outra espécie lenhosa considerada tolerante ao
alagamento do solo, Mielke et al. (2003) verificaram um decréscimo
gradual nos valores de A, com o tempo de exposição ao alagamento
do solo, cujos valores variaram de 8,0 a 3,0 µmol CO2 m-2 s-1 de
zero aos 65 dias de tratamento.
A capacidade potencial de funcionamento de PS2, em plantas de
T. cacao submetidas ao alagamento do substrato, baseada no valor
da eficiência fotoquímica de PS2 (Fv/Fm), se mantém inalterada
com o alagamento (48d) (BRANCO, 2010), assim como em Eugenia
uniflora (27d) (MIELKE; SCHAFFER, 2010), ou reduz em genótipos
intolerantes (40d) (BERTOLDE et al., 2012), ou em maior período de
exposição ao estresse (60d) (BERTOLDE et al, 2009). A redução do
valor de Fv/Fm (BERTOLDE et al., 2009, 2012) é resultado da
elevação do valor da fluorescência inicial (Fo), causado pela
inativação do centro de reação ou pelo impedimento do transporte
de elétrons do complexo antena ao centro de reação de PS2
(BOLHÀR-NORDENKAMPF et al., 1989), acompanhada de
decréscimo da fluorescência máxima (Fm), como efeito da ativação
do ciclo das xantofilas, um meio não fotoquímico de extinção do
excesso de energia (POWLES; BJÒRKMAN, 1982) comum em
plantas sob alagamento e diretamente relacionada à intensidade de
luz. Em contrapartida, plantas de G. americana mantêm valor de
Fv/Fm constante, mesmo com grande período de alagamento do
substrato (63d) (MIELKE et al., 2003).
Há redução no teor de pigmentos cloroplastídicos (clorofila a, b,
total e carotenoides) em plantas de T. cacao submetidas ao
alagamento do substrato, que é atenuada em condições de
sombreamento denso e altamente sensível ao aumento da
intensidade de luz. A razão clorofila a/b, em nível foliar, não
apresenta variação entre plantas alagadas e controle, mas sofre
redução em ambas as condições, com o aumento da intensidade de
luz (BRANCO, 2010). Ao estudar os mesmos genótipos de T. cacao
(TSH-774 e TSA-729), sem variação da intensidade de luz, Bertolde
et al. (2012) encontraram resultados semelhantes até 30 dias de
alagamento. No entanto, aos 40 dias de alagamento, o genótipo
reconhecido como intolerante apresentou menor teor de clorofila a e
de clorofila total e, consequentemente, menor razão clorofila a/b.
4 Estresse hídrico e metabolismo
antioxidativo
A baixa tolerância de T. cacao ao estresse por deficiência hídrica
ou por alagamento do solo demonstra que seus mecanismos de
aclimatação não são altamente eficientes, o que leva as plantas aos
danos causados pelo estresse hídrico em seus órgãos e tecidos. A
ocorrência de estresse oxidativo possui como protagonistas as
espécies reativas de oxigênio (EROs), um processo associado aos
estresses bióticos e abióticos, quando o metabolismo antioxidativo
não consegue eliminar o excesso de EROs (CRUZ DE CARVALHO,
2008). EROs são produzidas, de forma contínua, como subprodutos
de diversas vias metabólicas que estão localizadas em diferentes
compartimentos celulares, tais como cloroplastos, mitocôndrios e
peroxissomos (FOYER; NOCTOR, 2005). A variação do equilíbrio
leva ao aumento súbito nos níveis de EROs intracelulares, que
podem causar danos significativos às estruturas celulares, com
efeito negativo no crescimento e no desenvolvimento da planta.
EROs podem ser produtos da redução direta de O2 por elétrons
advindos do metabolismo fotossintético sob deficiência de CO2 e do
metabolismo respiratório sob ciclos de desoxigenação e
reoxigenação. Têm sido identificados como EROs o oxigênio
singleto (1O2), o peróxido de hidrogênio (H2O2), os radicais ânion
superóxido (O2.-), a hidroxila (.OH) e os radicais ROOH, ROO e RO,
que são altamente reativos e tóxicos e causam danos às proteínas,
aos lipídios, aos carboidratos e ao DNA e que, em última análise,
resultam em morte celular (MITTLER, 2002). O acúmulo de EROs
induzido por estresse é eliminado pelo sistema enzimático
antioxidante, que incluem as enzimas dismutase do superóxido
(SOD), peroxidase do ascorbato (APX), peroxidase da guaiacol
(GPX), peroxidase da glutationa (GRX), S-transferase da glutationa
(GST) e catalase (CAT); e pelo sistema não enzimático, envolvendo
metabólitos de baixo peso molecular, tal como ácido ascórbico
(ASH), glutationa reduzida (GSH), α-tocoferol, carotenoides,
flavonoides (MITTLER, 2002; GILL; KHAN; TUTEJA, 2011) e prolina
(CHEN; DICKMAN, 2005). Além destas enzimas antioxidativas,
existem as oxidases do polifenol (PPO) induzidas por deficiência
hídrica em algumas espécies vegetais (SHIVISHANKAR, 1988;
ENGLISH-LOEB; STOUT; DUFFEY, 1997), conhecidas por catalizar
a oxidação de mono e o-difenois a o-diquinonas, intermediários
altamente reativos, cujas reações secundárias são responsáveis
pelo escurecimento oxidativo, que acompanha a senescência foliar,
os ferimentos e as respostas a patógenos (MAYER; HAREL, 1991;
FRIEDMAN, 1997).
A GPX, encontrada no citoplasma e nas frações do apoplasto,
está envolvida em vários processos relacionados ao crescimento e
ao desenvolvimento das plantas (MITTLER, 2002; DEHGHAN;
REZAZADEH; HABIBI, 2011). Em T. cacao, o aumento da atividade
de GPX em nível foliar foi observado em plantas não irrigadas
cultivadas em casa de vegetação em relação às plantas irrigadas
(ZANETTI, 2013). O mesmo fato foi observado em 81% de 36
genótipos de T. cacao avaliados sob imposição de deficiência
hídrica no solo, cujo incremento da atividade de GPX foi acima de
170% em pelo menos três genótipos considerados como tolerantes,
ao passo que a redução da atividade além de 10% foi verificada,
também, em três genótipos intolerantes (SANTOS et al., 2014).
Além disso, neste mesmo estudo, a atividade de PPO apresentou
aumento em 75% dos genótipos avaliados. No entanto, segundo
estes autores, aqueles genótipos que apresentaram maiores
acréscimos na atividade de PPO foram classificados, ao final do
estudo, como moderadamente tolerantes ou intolerantes à
deficiência hídrica no solo. Em contrapartida, a redução da atividade
de PPO foi observada por Zanetti (2013) em plantas de T. cacao
não irrigadas e cultivadas em casa de vegetação. De acordo com
este autor, a atividade de PPO foi igual ao controle em plantas não
irrigadas submetidas a adubação foliar com 1,5 g L-1 de óxido de Si
(SiO2) a 98%, 15 dias antes do início do tratamento (20d). Por outro
lado, a atividade de CAT apresentou valor superior em plantas não
irrigadas em relação ao controle, ao passo que, sob adubação foliar,
com 1,5 g L-1 de SiO2, o valor em plantas não irrigadas foi inferior ao
controle. Além disso, a atividade de APX apresentou valor inferior
em plantas não irrigadas em comparação ao controle, enquanto
que, sob adubação foliar, com 1,5 g L-1 de SiO2, o valor em plantas
não irrigadas foi superior ao controle.
Plantas de T. cacao também apresentam aumento da atividade de
PPO quando submetidas ao alagamento, mas não para todos os
genótipos, pelo menos naquele considerado intolerante (TSH-774),
após 48 h do início do tratamento de estresse, assim como
observado para a atividade de GPX (BERTOLDE et al., 2012). Em
condições de alagamento, a rota metabólica envolvida na formação
de APX se apresenta como efetiva e de grande importância no
mecanismo de tolerância em T. cacao, já que foi observada uma
maior produção desta proteína, principalmente em raízes de
genótipo tolerante a este fator estressor (BERTOLDE; ALMEIDA;
PIROVANI, 2014).
5 Considerações finais
Theobroma cacao é uma espécie muito intolerante às mudanças
na disponibilidade de água no solo e de vapor de água na atmosfera
e muito pouco conservadora em relação ao consumo de água. Por
esta razão, dentre outras, cerca de 50% do seu cultivo se encontra
em condições de “cabruca”, no sub-bosque da Mata Atlântica do Sul
da Bahia. Um ambiente onde a umidade relativa do ar é elevada, as
taxas de transpiração e fotossintética são baixas, limitadas pela
baixa intensidade de luz, resultando em baixa absorção de água e
nutrientes do solo e baixa produção de frutos. Por outro lado,
quando se cultiva T. cacao a pleno sol, há maiores taxas de
transpiração e fotossintética, alta evaporação de água do solo, baixa
umidade relativa do ar, temperaturas elevadas e,
consequentemente, maior consumo de água e de nutrientes
minerais e maior produção de frutos. Logo, nestas condições, deve-
se irrigar e adubar adequadamente o cultivo, de acordo com as
demandas de água e nutricionais da espécie.
Dentre as respostas desencadeadas em plantas de T. cacao em
condições de estresse hídrico, por deficiência hídrica ou por
alagamento do solo, podem-se destacar: (i) o retardo da
desidratação com o controle da abertura e fechamento dos
estômatos, a depender da intensidade do estresse, que limita as
trocas gasosas em nível foliar; (ii) a osmorregulação, promovendo o
ajustamento osmótico em nível celular, em condições de deficiência
hídrica; (iii) o metabolismo antioxidativo, atuando na eliminação de
espécies reativas de oxigênio; (iv) a expressão gênica diferenciada;
(v) a ativação de genes codificando para proteínas regulatórias e
funcionais, as quais induzem modificações bioquímicas, fisiológicas
e anatômicas; (vi) a regulação hormonal; (vii) a abscisão foliar; (viii)
a eficiência do uso da água; (ix) a concentração de CO2 intracelular;
(x) a manutenção do teor relativo de água; (xi) o ajustamento de
área foliar; (xii) as mudanças na composição de pigmentos
cloroplastídicos e vacuolares; (xii) a alteração na razão raiz/ parte
aérea; (xiii) a eficiência das aquaporinas; (xiv) as alterações na
condutânia hidráulica; (xv) a distribuição do sistema radicular, de
forma a aumentar a eficiência de absorção de água e nutrientes em
condições de deficiência hídrica; dentre outras.
No entanto, os mecanismos de respostas são eficientes somente
em condições de estresses hídricos leves a moderados. Logo,
pesquisas científicas devem ser desenvolvidas, principalmente na
área de genética e melhoramento de plantas, visando a seleção de
genótipos tolerantes aos estresses abióticos, especialmente em
relação à deficiência hídrica do solo e, consequentemente, visando
o aumento de produtividade. Desse modo, a seca é considerada um
dos fatores mais limitantes para produção de cacau no mundo,
sendo agravada nos últimos anos em virtude das mudanças
climáticas globais promovidas pelo aumento do efeito estufa.
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Capítulo 4 — Mecanismos de resistência
em plantas contra ataque de patógenos:
indução de resistência
Raúl René Meléndez Valle1, Katia Curvelo Bispo dos Santos2 ,
Joelson Virginio Orrico da Silva3
1 Introdução
A crescente preocupação da sociedade moderna em relação à
conservação e recuperação ambiental demanda a busca de
tecnologias na implantação de sistemas de produção agrícola
rentáveis, que tenham enfoque ecológico e sejam socialmente justos.
Essas novas tecnologias devem estar fundamentadas em quatro
princípios básicos: sustentabilidade, estabilidade, produtividade e
equidade (VIEIRA; VALLE, 2012a). O desafio é passar de uma
agricultura convencional, caracterizada por maximização da
produção e lucro, para uma agricultura sustentável. Neste desafio, a
proteção da planta é um aspecto fundamental (VIEIRA; VALLE,
2012b). Portanto, há necessidade de se investigar métodos
alternativos para o controle de enfermidades e pragas que sejam
eficientes, menos agressivos aos ecossistemas e sem perigo para a
saúde humana. Encontrar uma forma racional e eficiente de ativar
mecanismos de defesa da planta deixando que ela própria se proteja
contra patógenos e herbívoros, em vez de intoxicá-la com defensivos
agrícolas, é uma estratégia economicamente viável e
ecologicamente correta (ROMEIRO, 2015).
No controle de pragas e doenças, devem ser utilizadas técnicas
que propiciem pouca dependência externa de insumos, aumento da
biodiversidade, proteção e manutenção da estrutura do solo, baixo
ou nenhum risco ambiental e toxicológico, rentabilidade,
sustentabilidade e alta produtividade agrícola (MICHEREFF;
BARROS, 2001).
Fisiologicamente, a resistência do hospedeiro a um microrganismo
patogênico pode ser definida como a capacidade de a planta atrasar
ou evitar a entrada e/ou a subsequente atividade do patógeno em
seus tecidos (GOODMAN; KIRÁLYZ; WOOD, 1986). O sistema de
defesa vegetal tem componentes múltiplos atuando de maneira
dinâmica e coordenada no momento, local e magnitude apropriados
(PASCHOLATI; LEITE, 1995). A coordenação funcional, espacial e
temporal desse sistema inicia-se com o reconhecimento do
hospedeiro de sinais externos emanados pelo patógeno. A tradução
desses sinais por mecanismos específicos resulta em
reprogramação do metabolismo celular do vegetal, envolvendo
mudanças na atividade gênica (WALTERS; NEWTON; LYON, 2007).
A indução de resistência deverá ser utilizada, no futuro, como um
instrumento viável para o controle de doenças em plantas cultivadas
comercialmente. Em grande parte, isso se deve à necessidade de
não ocasionar — ou pelo menos minimizar — agressões ao
ambiente e danos à saúde decorrente do mau uso de defensivos
agrícolas (OKU, 1994). Esta tecnologia representa um novo
paradigma para o controle de estresses bióticos e abióticos
encontrados na exploração dos cultivos.
2 Tolerância e resistência em plantas
Os termos resistência e tolerância, frequentemente usados de
forma equivalente e até mesmo como sinônimos, são empregados
para classificar a reação de cultivares em resposta à infecção por
patógenos. O conceito de tolerância apresenta algumas
controvérsias. Atualmente, não há um consenso quanto a sua melhor
definição. A definição clássica é a de Caldwell, Compton e Paterson
(1958), que afirmam que tolerância é “a capacidade das plantas
suportarem uma doença sem perdas severas em produtividade ou
qualidade”. Em geral, outras definições (CAMARGO, 1995; AGRIOS,
2005; RIBEIRO DO VALE; PARLEVLIET; ZAMBOLIM, 2004)
convergem para esta definição. Os conceitos apresentados por
esses autores enfatizam que a produção ou rendimento e a
intensidade de doença são as variáveis mais importantes a serem
avaliadas quando se deseja quantificar a tolerância. Cabe esclarecer
que incidência é uma medida de intensidade de doença normalmente
quantificada pela porcentagem de plantas doentes numa área. A
severidade é outra forma de medir intensidade de doença, porém
com base na porcentagem de tecido vegetal afetado pelo patógeno.
Tolerância envolve algum grau de compensação do dano causado
pela doença. As plantas podem tolerar infecção pelo patógeno de
diferentes maneiras, principalmente com o aumento de atividades ou
processos como: concentração de clorofila das folhas, tamanho de
folhas novas, número de novos ramos, período em que folhas
infectadas permanecem aderidas à planta e a captação de
nutrientes, processos esses envolvidos diretamente na produção.
Plantas tolerantes produzem mais que as não ou menos tolerantes,
sob a mesma intensidade de doença. No entanto, ainda que as
plantas tolerantes apresentem bons rendimentos quando doentes,
evidentemente, maiores produções são alcançadas quando as
plantas estão sadias (AGRIOS, 2005).
Portanto, quando se emprega o termo tolerância, é necessário
considerar o potencial produtivo da variedade, a intensidade de
doença e a quantidade produzida. Plantas tolerantes são afetadas
pelo patógeno, mas, geralmente, o dano é menor do que o
constatado em plantas não tolerantes. Contudo, ainda não se
conhece exatamente como o processo de tolerância é determinado,
e isso dificulta o desenvolvimento de variedades tolerantes
(AGRIOS, 2005). Em parte, essa falta de conhecimento é
ocasionada pela dificuldade de mensuração da tolerância e a
facilidade com que este parâmetro pode ser confundido com
resistência horizontal (do tipo parcial). Provavelmente, a tolerância e
a resistência horizontal devam estar relacionadas.
Segundo Fry (1982), resistência é “a característica de uma planta
que restringe o desenvolvimento do patógeno e da doença”. Strange
(2003) define o termo como “o retardo da infecção e crescimento do
patógeno nos tecidos do hospedeiro” e Parlevliet (1997) conceitua
resistência como “a habilidade da planta em suprimir, retardar ou
prevenir a entrada ou a subsequente atividade do patógeno
(crescimento e desenvolvimento) em seus tecidos”. Dado que as três
definições não mencionam os efeitos da resistência sobre a
produção da planta, esta deve ficar inalterada. Por outro lado, os
efeitos qualitativos e/ou quantitativos da resistência podem ter
herança mono ou oligogênica (um ou poucos genes envolvidos) ou
poligênica (vários genes expressando o caráter). Outro fundamento
generalizado é que a expressão gênica para qualquer caráter,
inclusive o de resistência a agentes bióticos, pode ser por ação intra-
alélica (recessiva, dominante ou semidominante) ou inter-alélica
(complementar, aditiva ou epistática).
Pode-se afirmar que as espécies vegetais são imunes ou
completamente resistentes (ausência de doença) à maioria dos
fitopatógenos. Dois processos determinam a resistência de um
cultivar para a maioria dos fitopatógenos: 1) a planta pertence a um
grupo taxonômico que é naturalmente imune ao patógeno. Este tipo
de resistência é denominado do tipo não hospedeira; ou 2) a planta
possui genes para resistência contra o patógeno, processo esse
denominado de resistência verdadeira (AGRIOS, 2005). A resistência
verdadeira é geneticamente controlada pela presença de um ou
vários genes para resistência, portanto, herdável. Na resistência
verdadeira, o hospedeiro e o patógeno podem ter reações de
incompatibilidade em maior ou menor grau, ocasionadas por falta de
reconhecimento químico entre patógeno e hospedeiro ou porque a
planta hospedeira se defende da infecção causada pelo patógeno
(AGRIOS, 2005).
A resistência verdadeira foi classificada por Van der Plank (1963)
em dois tipos: resistência específica ou vertical e resistência geral ou
horizontal. A resistência vertical é específica para alguns biótipos de
espécies de pragas ou de patógenos. Esta resistência é governada
por um ou poucos genes (oligogênica) que conferem um alto grau de
resistência específica e pode ser facilmente incorporada em novos
cultivares pela adoção dos retrocruzamentos dirigidos, porém é de
pouca estabilidade. A desvantagem principal da resistência vertical é
a possibilidade de propiciar vulnerabilidade diante de novas raças de
um patógeno. Um cultivar resistente impõe uma elevada pressão de
seleção sobre os patógenos prevalecentes. Isto propicia o
surgimento de uma nova raça virulenta, quebrando a resistência da
planta. Provavelmente, isto aconteceu com variedades clonais de
cacaueiro (Theobroma cacao) resistentes à vassoura de bruxa
liberados no final da década de 1990 e princípios de 2000. Por
exemplo, variedades clonais da série TSH perderam a sua
resistência com o tempo, sendo substituídos por outros.
Resistência geral ou horizontal se expressa igualmente contra
todos os biótipos de espécie de pragas ou patógenos. A resistência
horizontal é condicionada por muitos genes (poligênica) de pequeno
efeito, não é específica, geralmente durável, não existindo interação
diferencial entre as raças do patógeno e as variedades do
hospedeiro (VAN DER PLANK, 1975).
Em cultivares com resistência horizontal, a capacidade do
patógeno de infectar e colonizar (agressividade) a planta hospedeira
com diferentes níveis de resistência é determinada geneticamente,
mas pode ser alterada por variações ambientais (PARRY;
JENKINSON; McLEOD, 1995; MESTERHÁZY, 2002). A resistência
horizontal apresenta como característica a presença de variação
contínua de graus de resistência. Isto é, pode ter extrema resistência
até a extrema suscetibilidade. Neste tipo de resistência, o
desenvolvimento da doença é afetado. Por exemplo, em um dado
cultivo, um determinado fungo não apresenta nenhuma proliferação
de esporos variando até a diminuição do número de esporos
produzidos em lesões foliares, ou a planta não apresenta nenhuma
lesão foliar, passando por lesões de menor tamanho até folhas
completamente lesionadas (GONÇALVES-VIDIGAL; POLETINE,
1999).
Adicionalmente, o estado fisiológico de uma planta é decisivo para
a expressão da magnitude da resistência horizontal. Assim, fatores
que afetam o metabolismo primário influenciam esse tipo de
resistência. A expressão da resistência horizontal é negativamente
influenciada em condições de baixa assimilação de carbono e pela
baixa luminosidade. Para que esse tipo de resistência ocorra, faz-se
necessário uma assimilação de carbono adequada — maior
fotossíntese — para que haja um maior fluxo de carbono para rotas
metabólicas de defesa da planta, a exemplo das rotas do ácido
xiquímico e dos fenilpropanoides — para formação de compostos de
defesa e de reparo celular (PENNYPACKER, 2000).
Flor (1942) foi o primeiro cientista a determinar uma interação
entre planta e patógeno, segundo este autor “para cada gene que
condiciona uma reação de resistência no hospedeiro, existe um gene
complementar no patógeno que condiciona a avirulência”. De acordo
com o conhecimento atual da interação gene a gene, o alelo de
avirulência (V) codifica uma molécula elicitora que é reconhecida por
um receptor específico (codificado pelo alelo R) na planta
hospedeira. O reconhecimento da molécula elicitora inicia uma rota
de transdução de sinais que ativam genes envolvidos na resposta de
hipersensibilidade. No entanto, se o patógeno não possuir o gene de
avirulência, este não será reconhecido pelo hospedeiro, resultando
em interação compatível (suscetibilidade). A resistência só ocorre
quando o hospedeiro possui o gene de resistência (R); e o patógeno,
o gene de avirulência (V) correspondente. Qualquer outra situação
resulta em suscetibilidade (FLOR, 1942).
3 Mecanismos de resistência das plantas
Os mecanismos de defesa de uma planta podem ser estruturais e
bioquímicos, ambos pré e pós-formados em relação à penetração do
patógeno no hospedeiro. Os mecanismos estruturais pré-
formados têm diversas funções, além da resistência. São
produzidos pela planta independentemente da ação de patógenos e
constituem barreiras físicas à sua penetração e/ou colonização.
Certas defesas estruturais estão presentes antes de o patógeno
entrar em contato com a planta. Estas estruturas incluem a
quantidade e a qualidade da cutícula e cera que cobrem a epiderme
das células, a estrutura da parede das células da epiderme, o
tamanho, localização e forma dos estômatos e lenticelas, e a
presença na planta de tecidos formados por células de parede
espessa que impedem o avanço do patógeno (DURBIN, 1988). A
defesa pré-formada é, portanto, o principal mecanismo de resistência
não específica, onde também as plantas sintetizam biomoléculas
(peptídeos, proteínas e metabólitos secundários) que restringem a
infecção por patógenos (HEATH, 2000).
A primeira barreira contra patógenos na planta é sua superfície
onde está a cutícula, uma cobertura de cera impermeabilizante
produzida unicamente pelas células epidérmicas de folhas, brotos e
outros órgãos da planta. O principal componente da cutícula é a
cutina, uma macromolécula composta por ácidos graxos de 16:0 ou
18:1 carbonos de comprimento, isto é, 16 carbonos sem ligação
dupla e de 18 carbonos com uma ligação dupla cis, unidos entre si
por ligações éster, criando uma rede tridimensional rígida. Além de
evitar a perda de água, a cutícula protege a planta contra traumas
mecânicos e é uma barreira eficiente contra a entrada da maioria dos
patógenos que colonizam a superfície. A resistência à entrada de
patógenos se dá pela complexidade dos polímeros da cutina, que os
torna difíceis de serem degradados, sendo possível somente por
microrganismos que apresentam, como mecanismo de ataque,
enzimas denominadas cutinases.
A maior ou menor resistência das plantas é função da espessura
e/ou densidade da cutina. Por exemplo, frutos de macieira (Malus
domestica) e mutantes de plantas de tomateiro (Solanum
lycopersicum) com a cutícula mais densa e espessa são resistentes
a Venturia inaequalis e Botritis cinerea, respectivamente
(PASCHOLATI; LEITE, 1995; REINA-PINTO; YEPHREMOV, 2009).
Adicionalmente, estão presentes na cutícula compostos
responsáveis pela sinalização de defesa. Estes sinalizadores ativam
outros mecanismos de defesa, como as proteínas relacionadas com
patogêneses (proteínas-RP) (REINA-PINTO; YEPHREMOV, 2009).
Por outro lado, fungos patogênicos como Colletotrichum
gloeosporioides, Pyricularia grisea e Puccinia graminis f. sp. tritici em
abacateiro (Persea americana), arroz (Oryza sativa) e trigo (Triticum
spp.), respectivamente, primeiro devem reconhecer a superfície do
hospedeiro para iniciar a germinação dos esporos e depois penetrar
e causar infecção. Para isto, proteínas de membrana reconhecem
receptores na cutícula do hospedeiro, iniciando a germinação. Se o
esporo atingir a superfície de uma planta que não apresenta esse
receptor específico na composição da cutícula, o esporo não germina
(STANGARLIN et al. 2011).
Outra estrutura de defesa pré-formada na superfície da planta,
principalmente na folha, são apêndices da epiderme presentes em
diversos órgãos das plantas chamados tricomas. Alguns tricomas
são unicelulares; outros, formados por células em série ou podem ter
estruturas complexas com células especializadas, simples ou
ramificadas. A origem dos tricomas pode ser no mesofilo ou na
epiderme. Geralmente, são vistos como pelos ou escamas na
superfície de folhas e caules.
Os tricomas podem ter função de proteção dificultando o acesso
de ácaros e insetos a tecidos jovens da planta ou causando
sensação desagradável na boca de herbívoros, podem estar
associados à excreção de substâncias que provocam ardor ou odor
desagradável (urtigas, plantas carnívoras), podem ajudar na
regulação de umidade e calor ou absorver água nas folhas
(Bromeliaceae), assim como podem auxiliar na dispersão de
sementes (algodão). Os tricomas ou pelos radiculares aumentam a
superfície de absorção de água da raiz. Por outro lado, os tricomas
também apresentam função relacionada à redução da perda de água
pela planta e são a base mecânica da resistência.
Alguns metabólitos secundários, em particular os voláteis, são
sintetizados em estruturas especializadas (pelos epidérmicos
modificados e/ou tricomas glandulares) que secretam, geralmente,
substâncias inibidoras (DIMOCK; KENNEDY, 1983). A quantidade de
tricomas interfere na continuidade do filme de água, portanto, na
possibilidade de o patógeno atingir estômatos, outras aberturas
naturais ou a superfície das células por onde iniciará a penetração.
Alguns patógenos fúngicos precisam reconhecer seu hospedeiro
para germinar, portanto, a falta de contato com a cutícula (filme de
água) impede sua germinação. Por exemplo, a densidade dos
tricomas em folhas de alguns cultivares de feijoeiro (Phaseoulus
vulgaris) está altamente correlacionada com a resistência à
Glomerella cingulata f. sp. phaseoli. Também, os tricomas interferem
na pré-penetração do fungo (JERBA; RODELLA; FURTADO, 2005).
Outra estrutura de defesa pré-formada são os estômatos; os
pontos de contato da planta com o meio externo e canal para as
trocas gasosas (SALISBURY; ROSS, 1992). Os estômatos mantêm
um fluxo contínuo de água entre solo, planta e atmosfera
responsável pelo transporte de nutrientes na planta, além de servir
como porta de entrada para CO2, substrato para a fotossíntese.
Os estômatos são estruturas constituídas por um conjunto de
células localizadas na epiderme, especialmente na fase abaxial das
folhas. Sendo uma abertura natural, é local de penetração para
patógenos e, dependendo da sua quantidade, tamanho e período de
abertura, dificultam a penetração e estabelecimento destes. Por
exemplo, em pimentão (Capsicum annuum), o número de estômatos
apresenta efeito parcial na resistência contra Oidiopsis haplophylli
(LIMA; LOPES; CAFÉ FILHO, 2010). Nesta linha, Xanthomonas
axonopodis pv. citri tem sucesso na penetração em laranjeiras e
limoeiros. No entanto, em tangerinas, a penetração não é possível
devido à descontinuidade do filme de água nas folhas, em função da
forma dos estômatos. Na tangerina, os estômatos apresentam uma
crista cuticular que impede a continuidade do filme e, portanto, a
entrada da bactéria.
O período de abertura dos estômatos também pode ser
considerado mecanismo de resistência. Patógenos que dependem
exclusivamente dos estômatos abertos para penetrar, como a
ferrugem do colmo do trigo (Puccinia graminis f. sp. Tritici), têm
dificuldade para entrar se os estômatos retardam a sua abertura pela
manhã. O sol resseca o tubo germinativo do esporo do fungo
impedindo a sua penetração (PASCHOLATI; LEITE, 1995).
Os vasos condutores são estruturas pré-formadas que também
desempenham papel de defesa contra patógenos. Para que os vasos
possam ser capazes de sustentar uma folha na posição adequada,
suas paredes precisam ser lignificadas. Nesse sentido, as manchas
angulares em folhas causadas por infecção se devem à falta de
capacidade de alguns patógenos de degradar as paredes lignificadas
dos vasos, portanto, impedindo o avanço da lesão. Biologicamente,
isto implica menor produção de inóculo e menor área injuriada.
As paredes celulares de tecidos em processo de invasão variam
quanto à espessura e resistência e podem inibir o avanço do
patógeno. A presença de pacotes de células de esclerênquima,
encontradas em caule de cereais cultivados, não favorece a
proliferação de patógenos, como o fungo da ferrugem do colmo do
trigo. Além disso, o xilema, feixes da bainha e células do
esclerênquima de vasos das folhas bloqueiam efetivamente a
dispersão de alguns fungos, bactérias e nematoides patogênicos que
causam lesões foliares angulares devido a sua disseminação apenas
dentro de áreas, entre os vasos (AGRIOS, 2005).
As plantas restringem a colonização patogênica do xilema através
da deposição de géis, gomas ou materiais fibrilares no lúmen dos
vasos. A produção de géis e gomas, um fenômeno geral de resposta
à infecção vascular, nas terminações das paredes celulares, placas
perfuradas e pontuações de membrana dos vasos são originados por
estiramento dos constituintes da parede primária e lamela média
(VANDERMOLEN; BECKMAN; RODEHORST, 1977).
Adicionalmente, a deposição de materiais fibrilares é um mecanismo
de prevenção e retardamento da disseminação e multiplicação do
patógeno. Por exemplo, Bretschneider, Gonella e Robeson (1989)
encontraram grande quantidade de material fibrilar associado aos
sítios de colonização de X. campestris pv. campestris em uma
variedade de couve (Brassica oleraceae) resistente à podridão negra
causada pela bactéria.
Outro mecanismo de defesa pré-formado, comum em plantas das
famílias Poaceae, Equisetaceae e Cyperaceae, é a camada de
sílica. Entre as plantas cultivadas que acumulam este elemento
estão trigo, aveia (Avena spp.), centeio (Secale cereale), sorgo
(Sorghum spp.), milho (Zea mays) e cana-de-açúcar (Saccharum
spp.). Estas plantas absorvem e depositam o silício nos espaços
intercelulares da epiderme formando uma barreira de sílica gel capaz
de impedir a penetração de hifas de fungos (RODRIGUES;
DATNOFF, 2007). Em arroz, Kim et al. (2002) mostraram que
cultivares resistentes possuíam uma camada mais densa de sílica.
Por outro lado, a planta desenvolve mecanismos estruturais de
defesa formados após ser atacada por patógenos que conseguem
penetrar as estruturas de defesa pré-formadas e infectar o
hospedeiro com diversos graus de severidade. Uma estrutura
histológica de defesa pós-formada envolvendo tecidos próximos ao
patógeno é a cortiça. Camadas de cortiça bloqueiam a invasão do
patógeno a tecidos próximos à área lesionada, assim como também
bloqueiam a propagação de substâncias tóxicas secretadas pelo
patógeno. Geralmente, a formação de camadas de cortiça resulta do
estímulo provocado por substâncias excretadas pelo patógeno a
células do hospedeiro. Por outro lado, dado que a camada de cortiça
isola a área infectada, o fluxo de nutrientes e água é interrompido,
privando tanto o patógeno como o tecido de nutrição, provocando a
sua morte. Junto com o patógeno, o tecido morto delimitado pelas
camadas de cortiça permanece no local como manchas necróticas
características para uma dada combinação patógeno−hospedeiro. O
tecido morto (junto com o patógeno) pode ser eliminado formando
cicatrizes, portanto, removendo o patógeno do hospedeiro
completamente (AGRIOS, 2005). Exemplos desse mecanismo de
defesa pós-formado são as camadas de cortiça formadas pela batata
(Solanum tuberosum) que isolam o fungo Rhizoctonia solani e não
permitem a sua penetração (AGRIOS, 2005).
Outra estrutura histológica, exemplo de mecanismo de defesa pós-
formados, é a camada de abscisão formada em folhas novas após
infecção por patógenos. A camada de abscisão consiste de uma
abertura entre duas camadas de células de uma folha delimitando o
local da infecção. Ao reconhecer a ação do patógeno, células
específicas da periferia da área lesionada se lignificam delimitando o
avanço do patógeno, enquanto células sadias externas à lesão
iniciam a dissolução enzimática da lamela média que circula a lesão,
desconectando o tecido lesionado do tecido sadio (AGRIOS, 2005).
Este mecanismo é mostrado pelo pessegueiro (Prunus persica)
infectado por X. arboricola pv. pruni (PASCHOLATI; LEITE, 1995;
AGRIOS, 2005).
Nós hipotetizamos que é o que claramente ocorre com brotos
novos de cacaueiro (Theobroma cacao) quando atacados pelo fungo
Moniliophthora perniciosa (ex-Crinipellis perniciosa) (AIME;
PHILLIPS-MORA, 2005), agente casual da doença vassoura de
bruxa. O fungo penetra tecidos meristemáticos que crescem com o
fungo, depois de certo tempo, o tecido reage formando uma zona de
abscisão entre ramo e tronco, o que não permite a entrada de
nutrientes, portanto, o ramo seca na planta. O fungo, hemibiotrófico,
muda de estado e forma basidiocarpos. Infelizmente em cacaueiro, o
ramo fica na planta, e o fungo, com a formação de basidiocarpos,
continua produzindo esporos que difundem a infecção. Este não é o
caso observado na interação entre a seringueira (Hevea brasiliensis)
e o fungo Microciclus uley. Em condições naturais, as folhas
infectadas são eliminadas, portanto, o patógeno também é eliminado,
constituindo assim um mecanismo eficiente de resistência. Contudo,
é evidente que, se o cultivo está altamente infectado, a planta perde
suas folhas por completo, inviabilizando a produção (STANGARLIN
et al., 2011).
A deposição de gel e goma é outro mecanismo de defesa
histológica pós-formado utilizado por algumas plantas (AGRIOS,
2005). Como mecanismo de resistência, estas espécies depositam
gel nas áreas próximas às lesões causadas por patógenos ou por
injúrias. Este gel, composto de pectinas produzidas nas células do
parênquima adjacentes aos vasos do xilema, ocupa o lúmen do
xilema, incluindo deposição nas pontuações, evitando a passagem
de água e nutrientes próximos à área afetada (SUN; ROST;
MATHEW, 2008).
Secreção de goma ocorre na maioria das plantas, principalmente
em plantas frutíferas. O mecanismo defensivo da deposição de
gomas está relacionado com a rapidez com que ocupam os espaços
intercelulares e as células adjacentes ao sítio de infecção,
encapsulando o patógeno. O patógeno isolado se debilita e morre.
Além de barreira mecânica, compostos antimicrobianos estão
dissolvidos neste gel, servindo como barreira química. Este tipo de
barreira é observado em videira em situações de ataque de
patógenos vasculares e especialmente por ferimentos, comuns em
época de poda (SUN; ROST; MATHEW, 2008).
A produção de tilose é outro mecanismo histológico de defesa
pós-formado. Este composto bloqueia o avanço de patógenos.
Endófitos patogênicos habitantes de xilema colonizam a planta
crescendo nestas estruturas. O xilema é formado por células
lenhosas sem atividade celular, que servem apenas como canais de
transporte de água e nutrientes para a parte aérea. Esta
característica torna este ambiente favorável a microrganismos que
degradam tecido lenhoso que são difundidos pelo fluxo de água
ascendente. Dado que no xilema não há atividade celular, os
mecanismos de defesa são produzidos nas células do parênquima.
As células do parênquima produzem as tiloses. Tiloses são projeções
de protoplastos que expandem a parede celular da célula
parenquimatosa adjacente a um elemento de vaso, através da
abertura de uma pontoação, bloqueando parcial ou totalmente o
lume do vaso, ocupando o espaço da seiva no xilema (SUN; ROST;
MATHEW, 2008).
A seiva naturalmente encontra caminho através de plasmodesmas
conectados com outro vaso do xilema, mantendo o fluxo, enquanto o
patógeno não consegue transitar pelos plasmodesmas devido à
reduzida dimensão destas conexões. Por exemplo, cultivares de
algodão (Gossypium spp.) suscetíveis a Verticilium albo-atrum e
cultivares de bananeira (Musa spp.) suscetíveis a Fusarium
oxysporum f. sp. cubense apresentaram número menor de tiloses do
que os resistentes (PASCHOLATI; LEITE, 1995; VANDERMOLEN et
al., 1977).
Outro mecanismo de defesa pós-formado que envolve a parede
celular é o desenvolvimento de papilas e halos que atuam em
conjunto. A formação destas barreiras celulares se dá no espaço
entre a parede e a membrana celular no local onde o patógeno inicia
a penetração. Calose, derivados fenólicos, celulose, suberina, lignina
e silício compõem a papila, cuja principal função é restringir a
entrada do patógeno na planta e dificultar a troca de metabólitos
entre eles. Um exemplo da função destas estruturas está na
resistência do trigo ao F. culmorum, que está associada à formação
de papila (KANG; BUCHENAUER, 2000). Portanto, papilas formadas
na interação entre fungos fitopatogênicos e plantas contribuem para
a resistência ao limitar o avanço de hifas (AIST, 1983). Por outro
lado, o halo é uma modificação na parede celular — rica em lipídios,
silício, lignina, suberina e calose — que se forma ao redor do ponto
de penetração e simultaneamente dificulta a entrada do patógeno e
evita a perda de água (AGRIOS, 2005).
Após o hospedeiro detectar a tentativa de penetração de
patógenos no seu interior, rapidamente as células se polarizam
produzindo microtúbulos que servem de vias para que orgânulos
celulares (núcleo, retículo endoplasmático, complexo de Golgi e
ribossomos) fiquem próximos ao ponto de penetração. Isto facilita a
comunicação celular e aumenta a velocidade das respostas de
defesa da planta (SCHMELZER, 2002). Em algumas células
invadidas por fungos patogênicos de crescimento lento, o citoplasma
circunda as hifas, torna-se granular e desintegra o micélio, evitando a
invasão. Em outras células, esta reação citoplasmática é vencida, e
o protoplasto desaparece enquanto o crescimento do fungo aumenta.
Uma resposta extrema da planta à invasão por patógenos que
confere um alto grau de resistência é a reação de
hipersensibilidade (HR). Esta resposta de defesa induzida resulta
na morte (necroses) de certo número de células ao redor do sítio de
infecção impedindo o desenvolvimento do patógeno (Fig. 1). O
hospedeiro reconhece a infecção como consequência da
incompatibilidade entre a planta e o patógeno, iniciando a resposta.
Portanto, a HR ocorre somente em interações incompatíveis
envolvendo a infecção da planta por patógenos (FLOR, 1942).

Figura 1 - Reação de hipersensibilidade: morte da célula


inicialmente infectada (marrom) ao redor do local da invasão do
patógeno (roxo). As células vegetais mortas não proporcionam
nutrientes para o crescimento do patógeno e perdem sua
interconexão, parando assim a sua disseminação. Essa morte é
consequência do reconhecimento de proteínas do patógeno
(codificadas por genes Avr) pelas proteínas de resistência
codificadas por genes R

Fonte: FULLER, 2005.

No caso de expressão de HR com fungos e bactérias, estes são


isolados pelos tecidos necróticos e morrem rapidamente. Em
doenças causadas por vírus, a expressão de HR forma lesões locais,
onde as partículas virais estão em baixas concentrações e podem
sobreviver por algum tempo, porém, a sua dispersão é impedida
(PASCHOLATI; LEITE, 1994). A resposta hipersensitiva para
infecção por nematoides aparece nas primeiras 24 horas, quando as
células da planta e o nematoide morrem; contudo, o grau e tempo de
ocorrência de necrose nos tecidos podem diferir mesmo em plantas
de uma mesma espécie (PIPOLO; FERRAZ, 1999). A resposta
hipersensitiva ou reação de hipersensibilidade em plantas é um dos
principais eventos da resposta de defesa da planta contra o ataque
de patógenos. O suicídio de poucas células da planta para a
sobrevivência das demais torna-se um mecanismo de defesa dos
mais importantes nas plantas. A reação de hipersensibilidade se
caracteriza por ser uma resposta rápida (Fig. 1) e localizada do
colapso de tecido vegetal ao redor do sítio de infecção, ocasionado
pela liberação de compostos tóxicos (fitoalexinas, fenóis, etc.) que
podem atuar diretamente sobre o patógeno, ocasionando sua morte
(AGRIOS, 2005).
A reação de hipersensibilidade também provoca alterações que
podem significar o estabelecimento de interações compatíveis ou
incompatíveis entre o patógeno e o hospedeiro. As alterações
decorrentes da HR induzem a produção de proteínas solúveis
conhecidas como proteínas relacionadas à patogênese (proteínas-
PR), o aumento dos fenilpropanoides, através da expressão de
fenilalanina amônia liase, fenóis e deposição de lignina, assim como
o aumento dos níveis de ácido salicílico (VERBENE et al., 2000).
Em cacaueiros, por exemplo, compostos fenólicos devem
participar como mecanismos de resistência a M. perniciosa, agente
causal da vassoura de bruxa. Silva et al. (2006) encontraram
concentrações de fenóis solúveis totais ao redor do sítio de infecção
de M. perniciosa em frutos de cacaueiros significativamente maiores
do que nos sítios não infectados ou no local da infecção em todas as
variedades estudadas (Fig. 2). Esta resposta foi geral, tanto para
variedades suscetíveis (SIC-864, SIC-22) como
resistentes/tolerantes (TSH-1188, Mocorongo-2). O local ao redor do
sítio de infecção é o lugar de atuação dos fenóis tentando impedir a
proliferação do patógeno, podendo contribuir para o seu isolamento,
enquanto as concentrações baixas nos sítios de infecção podem ser
em decorrência da morte (necrose) das células, através da ação dos
fenóis.

Figura 2 - Fruto de cacaueiro com sintoma de infecção por


Moniliophthora perniciosa

Fonte: Imagem produzida pela Editus.

As respostas das plantas a fitopatógenos podem ser baseadas em


interações hospedeiras e não hospedeiras. Em tais relações, o
reconhecimento de um fitopatógeno potencial se caracteriza pelo
acúmulo de fenóis no sítio da infecção.
O aumento na concentração de compostos fenólicos limita a ação
do patógeno e resulta em uma rápida morte celular (HEATH, 1980).
Em interações
planta−patógenos biotróficos obrigatórios, nas quais o patógeno
penetra no tecido do hospedeiro e suga nutrientes dele, portanto,
formando associações haustoriais íntimas com as células
hospedeiras, a HR impede que estes tenham acesso a nutrientes, o
que os leva à morte. Nas interações envolvendo patógenos
hemibiotróficos ou necrotróficos, o papel da HR ainda não está
totalmente esclarecido, visto que estes patógenos podem obter
nutrientes a partir de células mortas (FERNANDES, 2004).

3.1 Mecanismos bioquímicos

Além dos mecanismos estruturais pré e pós-formados para a


defesa contra patógenos, também as plantas possuem mecanismos
bioquímicos pré e pós-formados que ajudam a inibir o
desenvolvimento ou a gerar condições adversas para a
sobrevivência do patógeno nos tecidos do hospedeiro. Para serem
eficazes, as substâncias devem estar presentes em concentração
adequada e acessíveis ao patógeno nas partes invadidas, de tal
maneira que mudanças na sua concentração provoquem mudanças
na expressão da doença (PASCHOLATI; LEITE, 1995; AGRIOS,
2005; SBALCHEIRO, 2006; MAZARO, 2007; SCHWAN-ESTRADA;
STANGARLIN; PASCHOLATI, 2008).
Nos mecanismos bioquímicos pré-formados, pode-se citar a
presença de fenóis, alcaloides glicosídicos, lactonas insaturadas,
glicosídeos fenólicos e cianogênicos, inibidores proteicos, quitinases
e β-1,3 glucanases (PASCHOLATI; LEITE, 1994, 1995; AGRIOS,
2005). Nos mecanismos bioquímicos de defesa pós-formados estão
as fitoalexinas, proteínas relacionadas à patogênese e espécies
reativas de oxigênio (PASCHOLATI; LEITE, 1994, 1995; AGRIOS,
2005). Por outro lado, nos mecanismos pós-formados, as
substâncias encontram-se ausentes ou presentes em baixos níveis
antes da infecção, sendo ativadas em resposta à presença do
patógeno ou produzidas a partir de um precursor remoto (GARCION;
LAMOTTE; MÉTRAUX, 2007).
Nos mecanismos bioquímicos de defesa pré-formados, as
substâncias estão presentes na planta em altas concentrações nos
tecidos sadios antes do contato com o patógeno ou podem se
converter em substâncias altamente tóxicas com o início da infecção.
Entre as principais substâncias de defesa pré-formadas estão fenóis,
alcaloides, lactonas, terpenoides e algumas proteínas. Os
compostos fenólicos são uma extensa classe de compostos que
possuem um anel aromático contendo, pelo menos, uma hidroxila.
Estão incluídos neste grupo: mono e polifenóis, fenóis glicosilados,
ácidos fenol-carboxílicos derivados dos ácidos benzoico e cinâmico,
α-pirones (cumarinas e isocumarinas), ligninas, flavonoides
(flavononas, antocianinas e catequinas) e quinonas. Geralmente são
armazenados nos vacúolos e, uma vez que usualmente ocorrem
glicosilados, tendem a ser solúveis em água. As rotas dos ácidos
xiquímico e cinâmico (fenilpropanoides) constituem as vias comuns
na geração dos diferentes grupos de polifenóis e lignina (SCHWAN-
ESTRADA; STANGARLIN; PASCHOLATI, 2008).
As propriedades fungitóxicas, antibacterianas e antiviróticas dos
compostos fenólicos são bem conhecidas (LO; NICHOLSON, 2008).
Dessa forma, podem estar envolvidos nos mecanismos bioquímicos
e estruturais de resistência em plantas (NICHOLSON;
HAMMERSCHMIDT, 1992; NICHOLSON, 1995). Contudo, o efeito
inibitório na germinação de esporos, crescimento micelial e
produção/atividade de enzimas microbianas varia entre os diferentes
grupos fenólicos. Segundo Vidhyasekaran (1988), substâncias
fenólicas como ácido clorogênico, ácido protocatecoico, catecol,
floridizina e arbutina (glicosídeos fenólicos) estão associadas à
resistência a doenças.
Por outro lado, compostos fenólicos servem de substrato para a
formação de lignina. A deposição de lignina nas paredes celulares
ou a formação de lignina ao redor de hifas ou outras estruturas do
patógeno o isola do citoplasma. A lignificação das hifas do patógeno,
por exemplo, isola-o do hospedeiro e dificulta o trânsito de água e
nutrientes entre hospedeiro e fungo e o trânsito de toxinas e enzimas
do patógeno para o hospedeiro, paralisando a colonização.
Ascensao e Dubery (2003), em um estudo a partir de eliciador
proveniente de F. oxysporum sp. cubense, induziram o aumento da
lignificação em raízes de bananeira que foi altamente correlacionado
com o aumento da resistência a este patógeno. Por outro lado, para
penetrar as paredes celulares lignificadas, o patógeno precisa
produzir enzimas especializadas que degradem a lignina para
continuar a invasão.
Injúrias físicas, químicas ou patogênicas em tecidos e células
vegetais provocam uma cascata de reações bioquímicas dirigidas ao
isolamento do agente causal e cicatrização do ferimento.
Geralmente, as reações estão associadas à geração de mecanismo
de defesa pós-formados tanto bioquímicos (produção de substâncias
fungitóxicas ao redor do sítio de injúria) como estruturais (formação
de camadas de tecidos protetores: lignina, calo e cortiça). Contudo,
alguns compostos de defesa estão presentes em suficiente
concentração para bloquear o crescimento da maioria de fungos e
bactérias, evitando a infecção do hospedeiro. Estes compostos
incluem, principalmente, produtos da oxidação de compostos
fenólicos, tais como ácidos clorogênico, cafeico, protocatecoico,
catecol e também fitoalexinas, muitas das quais são também
compostos fenólicos (VIDHYASEKARAN, 1988; AGRIOS, 2004).
Alguns dos fenólicos implicados na resistência a doenças ocorrem
amplamente em plantas e são encontrados tanto em plantas sadias
como em doentes, mas sua síntese ou acumulação parece ser
acelerada após infecção. Tais compostos podem ser chamados
compostos fenólicos comuns. Alguns outros fenólicos, contudo, não
estão presentes em plantas sadias, mas são produzidos devido a
estímulo do patógeno ou pela injúria mecânica ou química. Tais
compostos são conhecidos como fitoalexinas (EBEL, 1986).
Tem sido frequentemente observado que, após a infecção, certos
compostos fenólicos comuns tóxicos aos patógenos são rapidamente
produzidos e acumulados mais em variedades resistentes do que em
variedades suscetíveis (AGRIOS, 2005). Bach et al. (1993)
observaram rápido aumento na produção de fenóis nas variedades
resistentes de capim-elefante (Pennisetum purpureum) do que nas
variedades suscetíveis, quando atacadas pelo fungo da
helmintosporiose. Exemplos destes fenóis são o ácido clorogênico,
ácido cafeico e escopoletina. Embora alguns dos fenólicos comuns
atinjam concentrações que poderiam ser tóxicas ao patógeno, muitos
deles aparecem simultaneamente no tecido infectado. É provável
que exista um efeito tóxico sinérgico de todos os fenólicos
fungitóxicos presentes. Esta ação combinada pode ser a responsável
pela inibição da infecção em variedades resistentes (AGRIOS, 2005).
Triterpenoides, esteroides e glicoalcaloides, coletivamente
chamados de saponinas, são moléculas glicosiladas amplamente
distribuídas nas plantas, caracterizadas pela formação de espumas
(em latim, sapo = sabão). Os triterpenoides são encontrados,
principalmente, em dicotiledóneas, embora possam ocorrer também
em algumas monocotiledóneas. Os esteroides e glicoalcaloides são
encontrados em alguns gêneros das famílias Solanaceae e Liliaceae
(HOSTETTMANN; MARSTON, 1995). As saponinas mais estudadas
são as que estão presentes em aveia (avenacinas e avenacosídeos)
e tomate (α-tomatina), que apresentam um alto potencial defensivo
contra fitopatógenos (OSBOURN, 1996).
Devido à toxicidade do ácido cianídrico (HCN), plantas capazes de
formar este composto em resposta a injúrias, ataques de
microorganismos ou herbívoros se defendem contra infecções
fitopatogênicas. A liberação do HCN é devido à degradação
enzimática de precursores, principalmente glicosídeos
cianogênicos, compostos de defesa de mecanismos pré-formados.
As mais de 2.000 espécies de plantas cianogênicas mantêm o ácido
cianogênico compartimentalizado nos vacúolos, portanto, isolado dos
efeitos da enzima (α-hidroxinitrila liase) que catalisa a liberação do
HCN. Estas plantas podem também, por detoxificação, evitar os
efeitos tóxicos do HCN (OSBOURN, 1996). Cerca de 300 glicosídeos
cianogênicos já foram identificados, e dois deles, linamarina em
mandioca e durina em sorgo, já foram bem estudados (POULTON,
1990; SAUNDERS; CONN, 1978).
A concomitante evolução das plantas e de outros seres vivos que
habitam o planeta permitiu o desenvolvimento dos seus mecanismos
de defesa. A diferenciação mais óbvia em relação a certos
microorganismos ou herbívoros para caracterizá-los como patógenos
ou predadores é a sua habilidade em se adaptar aos mecanismos de
defesa da planta e em infectá-la. Entre esses mecanismos de defesa
estão os inibidores de proteases, que podem estar já formados na
planta ou induzidos em resposta a injúrias (TREMACOLDI, 2008;
VALUEVA; MOSOLOV, 2004; RAO et al., 1998; HICKS et al., 1997).
Proteases produzidas durante a invasão de patógeno a tecidos
vegetais facilitam a sua penetração pela hidrólise de proteínas dentro
e entre paredes celulares (SIKES; MAXCY, 1979). Inibidores de
proteases produzidas pelas plantas podem ser capazes de suprimir a
atividade enzimática das proteases produzidas por fitopatógenos.
Até 1976, apenas um inibidor altamente específico para uma
protease microbiana (o inibidor de subtilisina) havia sido isolado de
plantas (YOSHIKAWA et al., 1976). Nesse mesmo ano, observou-se
que inibidores de tripsina e quimotripsina presentes em soja, feijão e
batata eram capazes de eliminar a atividade de proteases secretadas
por F. solani (MOSOLOV et al., 1976). Posteriormente, a ação de
outros inibidores de proteases de plantas sobre enzimas
extracelulares, crescimento e desenvolvimento de microrganismos
fitopatogênicos foi descoberta. Por exemplo, em sementes de milho,
um inibidor de tripsina bloqueou o crescimento de hifas e a
germinação de conídios de Aspergillus flavus, A. parasiticus e F.
moniliforme, entre outros (CHEN et al., 1999). Em tabaco, uma
preparação elicitora, obtida de Phytophthora parasítica var.
nicotianae, induziu o acúmulo de um inibidor de protease e estimulou
a síntese de etileno (RICKAUER; FOURNIER; ESQUERRÉ-
TUGAYÉ, 1989).
4 Indução de resistência
Os agentes indutores externos bióticos e abióticos induzem genes
que codificam para diversas respostas de defesa, portanto, seu efeito
ocorre de maneira não específica (STADNIK, 2000;
HAMMERSCHMIDT; FOURNIER; ESQUERRÉ-TUGAYÉ, 2001). A
importância do elicitor está na sua habilidade em ativar cascatas de
sinais na planta que acionam mecanismos de defesa estruturais e
bioquímicos em resposta à presença de um potencial patógeno.
Portanto, a sua ação não é antimicrobiana per se nem devida a sua
transformação em agente antimicrobiano. A sua atividade é
complexa e tem como base a ação combinada de diversos fatores, e
não um componente único (SOARES; MACHADO, 2007). Por outro
lado, a indução de resistência na planta não necessariamente
provoca imunidade, no entanto, a infecção e seus efeitos são
diminuídos significativamente (STICHER; MAUCH-MANI; MÉTRAUX,
1997).
Os elicitores abióticos, além de temperatura e salinidade, incluem
radiação UV, íons metálicos e moléculas orgânicas sintetizadas em
laboratório (PASCHOLATI; LEITE, 1994). Por outro lado, os indutores
bióticos são produzidos e/ou liberados pelo patógeno ou pela planta,
como, por exemplo, fragmentos da parede celular liberados de fungo
patogênicos devido à ação de enzimas do hospedeiro, ou pelo fungo,
durante a interação entre eles. Muitos elicitores exógenos como
glicoproteínas, oligopeptídeos, carboidratos, lipopolissacarídeos e
ácidos graxos já foram isolados de patógenos. Os elicitores liberados
pela planta são chamados de constitutivos ou endógenos, como
oligômeros de parede (RESENDE et al., 2007).
O conhecimento sobre indução de resistência em plantas a
patógenos é centenário e envolve o acionamento de mecanismos
inativos ou latentes na planta (CHESTER, 1933). As primeiras
pesquisas sobre indução de resistência datam de 1901 em trabalhos
realizados no patossistema Botrytis cinerea x Begonia sp.
(KESSMAN et al., 1994a). Chester (1933) observou que plantas
suscetíveis adquiriam resistência contra doenças após uma infecção
primária causada por patógenos ou após o tratamento com formas
atenuadas de agentes patogênicos. A investigação deste fenômeno
visando o aumento da produtividade de cultivos através do controle
das enfermidades em plantas somente começou décadas depois. De
fato, desde 1961, a resistência induzida é objeto de estudo detalhado
(LUCAS, 1999).
A indução de resistência foi conceituada como a ativação de
mecanismos de defesa da planta para um estado de resistência
contra doenças. A indução pode ser localizada, ou seja, apenas nos
tecidos onde se efetuou o tratamento com o agente indutor ou na
região de infecção, na tentativa de impedir/retardar a penetração do
patógeno (MORAES, 1992). Posteriormente, esta resistência,
realizada através de um sinal translocado para outras partes da
planta (ação sistêmica), induz mecanismos de defesa a distância do
local da injúria, do sítio de infecção ou da aplicação do indutor
(AGRIOS, 2005). Estes mecanismos limitam a colonização dos
tecidos pelo patógeno, restringindo a expansão das lesões
(KOMBRINK; SOMSSICH, 1995; STADNIK, 2000;
HAMMERSCHMIDT; MÉTRAUX; VAN LOON, 2001; HEITEFUSS,
1982).
A resistência sistêmica foi demonstrada por Ross (1961) em
plantas de tabaco (Nicotiana tabacum) após infecção localizada com
o vírus do mosaico do fumo (TMV). As plantas adquiriram resistência
sistêmica contra vários patógenos. Esta descoberta resultou na
concepção do termo resistência sistêmica adquirida (RSA ou SAR).
RSA designa as respostas de defesa de forma sistêmica pela
interação com fatores externos (radiação, produtos químicos, parte
de estruturas de microrganismos, etc.).
A maioria das respostas bioquímicas está inativa até que sejam
ativadas pelo tratamento com alguns compostos químicos (indutores
de resistência — fatores abióticos) ou pelo início de uma tentativa de
infecção por fitopatógenos (fatores bióticos). Para que ocorra a RSA,
a infecção inicial precisa resultar na formação de lesões necróticas,
decorrentes da HR (acúmulo de peróxido de hidrogênio) ou com o
sintoma da doença (HAMMOND-KOSACK; JONES, 2000). Portanto,
o mecanismo da RSA envolve uma cascata de eventos e sinais que
se iniciam no momento da interação planta−patógeno ou da
aplicação de indutores. A percepção se dá quando moléculas do
agente indutor se ligam a moléculas receptoras situadas,
seguramente, na membrana plasmática da célula vegetal,
provocando alterações no metabolismo celular (VAN LOON et al.,
1998). Essas alterações culminam com a emissão de um sinal
primário ou mensageiro que irá desencadear uma série de outros
sinais e, por fim, com a ativação de genes ligados à defesa ou ao
aumento da atividade de enzimas importantes para reações de
defesa (VAN LOON; VAN STRIEN, 1999).
Portanto, a resistência da planta é baseada em uma resposta
complexa e altamente flexível na sua capacidade de reconhecer e
responder aos mais diversos invasores. Os caminhos de defesa
sinalizados pelas plantas são compostos de redes complicadas com
intercruzamentos frequentes. Estas redes permitem à planta ativar
um espectro apropriado de respostas, no tempo, local e quantidade
adequados para combater os organismos invasores, quer sejam
patógenos ou insetos (LORENZO et al, 2003). Vários agentes podem
induzir a produção de sinais no vegetal, disparando reações que
culminarão em proteção parcial ou duradoura contra uma ampla
gama de organismos (RESENDE, 2002; RESENDE; BARRETI,
2002).
No Brasil, os primeiros trabalhos de pesquisas sobre RSA foram
realizados em 1970, no patossistema cafeeiro x Hemileia vastatrix,
utilizando diversos indutores de origem biótica (BONALDO;
PASCHOLATI; ROMEIRO, 2005). Em cacaueiros, especialmente
com açúcares como moléculas de sinalização, as primeiras
pesquisas sobre indução de resistência abordaram o efeito de doses
crescentes de glucose nos teores de amido, açúcares redutores e
açúcares solúveis totais dos clones de Theobroma cacao SCA 6 e
UF 613 infectados com M. perniciosa e as possíveis interações com
mecanismos bioquímicos de resistência ao fungo (VIEIRA et al.,
2000, 2001; VIEIRA; VALLE, 2012).
5 Moléculas de defesa das plantas
As plantas são uma importante fonte nutricional para herbívoros e
muitos microrganismos. Portanto, para defender-se do ataque
desses organismos, várias moléculas eliciadoras associadas aos
patógenos são reconhecidas em nível de membrana plasmática
vegetal, resultando na ativação de mecanismos de defesa
(GARCION; LAMOTTE; MÉTRAUX, 2007). Em resposta à
distribuição dos sinais dentro da planta, esta seria induzida a
sintetizar agentes de defesa, incluindo proteínas-PR, além da
formação de barreiras estruturais, como a lignina, calose e tilose. A
participação de compostos, como o óxido nítrico, etileno (ET), ácido
jasmônico (AJ) e ácido salicílico (AS), tem sido sugerida como
sinalizadores da RSA. Ácido salicílico, AJ e ET são os principais
reguladores da defesa, os sinalizadores de alarmes de ataque contra
as plantas. O papel destes mensageiros secundários, nas rotas de
sinalização que se intercruzam, é fornecer às plantas um maior
potencial de regulação para uma defesa refinada (RESENDE;
FERNANDES, 2008; PIETERSE et al., 2000).
O ácido salicílico, derivado do ácido benzoico na rota dos
fenilpropanoides, acumula-se em altas concentrações nas
proximidades do local de infecção (DOREY et al., 1997; DURNER;
SHAH; KLESSIG, 1997) e tem vários papéis nas respostas de defesa
da planta (HAMMOND-KOSACK; JONES, 2000). Geralmente, a
importância do AS está relacionada à defesa contra patógenos
biotróficos, considerando que a rota do ácido jasmônico/etileno
(AJ/ET) tem sido associada com defesa contra patógenos
necrotróficos e insetos (HAMMOND-KOSACK; PARKER, 2003).
O ácido salicílico e seus análogos são considerados os compostos
mais importantes dentre as substâncias eliciadoras de respostas de
defesa em plantas (RESENDE; BARRETI, 2002). Ácido salicílico foi
a primeira molécula derivada de plantas a ser demonstrada como
indutora de resistência sistêmica. Esta função foi sugerida em
decorrência da sua acumulação em plantas submetidas a condições
adversas, ataque patogênico ou tratamento com elicitores químicos
(DOREY et al., 1997; DURNER; SHAH; KLESSIG, 1997), e por sua
propriedade de induzir a expressão de genes ligados a várias
proteínas-PR (MARTINEZ et al., 2000; KESSMANN et al. 1994a,
1994b). Entretanto, estudos mais recentes mostraram, claramente,
que o AS não é o responsável pelo sinal sistêmico de indução da
RSA (VERNOOIJ et al., 1994b; HAMMOND-KOSACK; JONES,
2000). Apesar desta negativa à hipótese, um fato considerado
verdadeiro é a necessidade imprescindível do AS para que a cascata
de sinais seja desencadeada e se estabeleça a resistência sistêmica
adquirida (KIM; DELANEY, 2002). Além de sua participação na RSA,
o AS é tido como responsável pela ativação das funções efetoras da
resistência no local da infecção. Isto sugere que o AS é requerido
tanto para respostas sistêmicas específicas como não específicas,
portanto, é necessário elucidar quantos mecanismos sinalizadores
da resistência são dependentes da concentração de AS, quantos não
são e através de que mecanismos estes sinalizadores induzem a
RSA (GODIARD et al., 1994). Estudos recentes mostraram que o
óxido nítrico é requerido para que o AS funcione como um indutor da
RSA (SONG; GOODMAN, 2001).
O óxido nítrico (NO) é um radical inorgânico livre em estado
gasoso que age como molécula sinalizadora. Nos mamíferos, NO
age como sinalizador nos sistemas imune, nervoso e vascular
(SCHMIDT; WALTER, 1994). Nas plantas, exerce múltiplas funções
biológicas como: ativação de proteínas-PR, potencializando a
indução de HR (DELLEDONNE et al., 1998), fator endógeno de
regulação de maturação e senescência (LESHEM; WILLS, 1998;
GUO; OKAMOTO; CRAWFORD, 2003) e fator de regulação da morte
celular programada em associação com a lignificação durante a
formação dos vasos do xilema (NEILL, 2005). Há muitas
similaridades entre as respostas de defesa do hospedeiro à infecção
por patógenos em plantas e animais (FOISSNER et al., 2000).
Mudanças na concentração de Ca2+ citoplasmático, produção de
espécies reativas de oxigênio (ROS), NO e ativação da cascata
proteíno-quinases ativadas por mitógenos (MAPK) são respostas de
defesa da planta ao patógeno (NÜRNBERGER, 1999) e respostas
de células animais à infecção (NÜRNBERGER et al., 2004).
Evidências do envolvimento de NO nas respostas de defesa das
plantas foram encontradas nos patossistemas trigo x Puccinia
striiformis (GUO et al., 2004) e cevada x Blumeria graminis f. sp.
hordei (PRATS et al., 2005). Neste último, a geração de NO começou
a ser detectada 10h após a inoculação associada com sítios de
formação de papila e precedendo a morte celular por HR, indicando
seu envolvimento na resposta de resistência. Guo et al. (2004)
verificaram que o reconhecimento pela planta de um isolado
avirulento de Puccinia estava associado com a produção de dois
picos de NO, um nos estágios iniciais da infecção e o outro posterior.
Na infecção com o isolado virulento, apenas um pico foi observado.
Adicionalmente, a atividade de fenilalanina amônia liase (PAL) foi
maior na interação incompatível, sugerindo que a produção inicial de
NO poderia estar associada com a resistência.
Em geral, as plantas produzem grandes quantidades de NO em
resposta à infecção patogénica de agentes biotróficos e
hemibiotroficos (DELLEDONNE et al., 1998). Além de ativar as vias
de sinalização de defesa da planta, o NO pode inibir as células
fúngicas diretamente por afetar o funcionamento da citocromo
oxidase (Complexo mitocondrial IV), o que aumenta a produção de
ROS, causando estresses oxidativos e nitrosativos (BROWN;
BORUTAITE, 2002; ROMERO-PUERTAS et al, 2004). Além disso, o
peroxinitrito (superóxido derivado de NO) provoca danos a uma
variedade de componentes mitocondriais através de reações
oxidantes, conduzindo à inibição irreversível da respiração
mitocondrial (BROWN; BORUTAITE, 2002). Em estudo realizado por
Thomazella et al. (2012), foram observados valores elevados de NO
em mudas de cacaueiro infectadas com M. perniciosa em
comparação com os níveis encontrados em plântulas não infectadas
(Fig. 3a). Foi especulado que a habilidade do micélio biotrófico do
fungo sobreviver em tecidos de cacaueiro depende de mecanismos
que contornam a indução de NO pela cadeia respiratória mitocondrial
— a cadeia respiratória dependente de citocromo. A este respeito, o
sistema de respiração mitocondrial alternativo (oxidase mitocondrial
alternativa, AOX) de M. perniciosa proporciona proteção contra os
efeitos prejudiciais do NO e dos seus derivados. Os resultados
mostraram que o aumento da produção de NO ocorre durante a
infecção do hospedeiro, e o sistema de respiração alternativo do
fungo pode desempenhar um papel protetor na superação dos
efeitos nocivos do NO e seus derivados. De acordo com os autores,
durante o desenvolvimento biotrófico, M. perniciosa pode retardar
sua taxa de crescimento a fim de se concentrar em desintoxicação
(THOMAZELLA et al., 2012). Portanto, o controle da vassoura de
bruxa exige sistemas integrados de manejo para a defesa da planta
contra o fungo.
Por outro lado, o primeiro composto sintético capaz de ativar RSA
foi o ácido 2,6 dicloroisonicotínico (INA), um análogo de AS.
Contudo, ambos AS e INA são tóxicos à maioria das plantas
cultivadas, portanto, sem potencial para uso comercial como
protetores. O acibenzolar-S-metil (ASM), outro análogo do AS, do
grupo benzotiadiazole (BTH), mostrou-se um potente ativador de
resistência sistêmica, em condições de campo, contra uma série de
patógenos e insetos em vários cultivos (GÖRLACH et al., 1996).
Outro composto comumente encontrado durante interações
compatíveis e incompatíveis é o etileno (HAMMOND-KOSACK;
JONES, 2000). A sua síntese é associada a vários tipos de estresse
em plantas, incluindo ferimentos mecânicos, injúrias causadas por
insetos ou infecção de fitopatógenos (DONG, 1998; KACHROO et
al., 2000; TON et al., 2001). Uma função comprovada do etileno nas
reações de defesa é a ação conjunta com o ácido jasmônico. Estas
moléculas são requeridas para a ativação de inibidores de proteases
e de certos genes que expressam proteínas-PR (HAMMOND-
KOSACK; JONES, 2000). Insetos mastigadores ferem,
mecanicamente, tecidos das plantas enquanto se alimentam,
induzindo o rápido acúmulo de inibidores de proteases (PIs) e outras
proteínas de resposta sistêmica ao ferimento (SWRPs) na planta.
Dessa forma, AJ/ET ativam uma resposta protetora diferente da
induzida por fungos, bactérias e vírus. Os nematoides, como
exceção, induzem uma mistura de RSA e inibidor de protease
sistêmica como resposta ao ferimento (HAMMOND-KOSACK;
JONES, 2000).
Comumente, eventos moleculares e bioquímicos idênticos são
disparados após o tecido da planta ser injuriado por insetos ou ferido
mecanicamente, isto é, a resposta sistêmica é similar. Altas
concentrações de açúcares ácidos (oligogalacturonídeos) liberados
da parede celular danificada induzem localmente os genes que
codificam para PIs e SWRPs, já que estes não se movimentam
sistemicamente. No entanto, um polipeptídio de 18 aminoácidos
liberado das células danificadas, conhecido como sistemina, é
transportado pelo floema para partes não feridas, onde ativa a
cascata de sinalização que produz AJ. O ácido jasmônico induz a
ativação da transcrição de PIs e SWRPs. Contudo, a ativação de
genes de inibidores de proteases também requer outra molécula
sinalizadora: o etileno. Aumentos concomitantes nas concentrações
de ET e AJ não são necessários para a indução de SWRPs. Quando
a síntese do etileno é bloqueada, a sistemina ou o ácido jasmônico
sozinhos podem induzir a expressão dos genes PI. Destes
resultados, infere-se que o ET deve atuar abaixo do AJ na rota de
sinalização (HAMMOND-KOSACK; JONES, 2000).
O ácido jasmônico (AJ) ou o metil jasmonato (MeJA), potentes
inibidores de proteases em várias plantas, são moléculas voláteis
propostas como mensageiros secundários na indução de resistência
envolvida nas respostas de defesa das plantas contra ferimentos
(THALER, 2002). A frequência com que AJ e seus derivados
ocorrem em tecidos vegetais, aliada a sua mobilidade dentro e entre
plantas (análogos voláteis), aponta-os como potentes sinalizadores.
Contudo, de acordo com Thaler et al. (2004), pode ocorrer
sobreposição de rotas sinalizadoras em respostas de defesa. Em
certas plantas, a ativação da RSA reprime a sinalização de AJ,
priorizando a resistência dependente de AS a patógenos microbianos
sobre a defesa dependente de AJ contra insetos herbívoros
(PIETERSE et al., 2000; SPOEL et al., 2003). Entretanto, alguns
genes envolvidos nas respostas de defesas requerem interações de
rotas após o ataque de certos patógenos ou insetos. Esta
interligação nas rotas aumenta a flexibilidade da planta em sua
defesa contra determinados organismos. Portanto, a combinação de
RSA e resistência sistêmica induzida (RSI) pode proteger a planta
contra um amplo espectro de organismos e pode até mesmo resultar
em um nível aditivo de proteção induzida, cuja resistência do
respectivo hospedeiro se processe através das rotas dependentes de
AJ/ET e AS.
Além do AS, AJ e etileno, espécies reativas de oxigênio (H2O2,
OH, O2.–, ONOO–, etc.) podem ser considerados sinalizadores
chaves para a expressão de respostas de defesa da planta,
especialmente HR (STASKAWICZ et al., 1995). A explosão oxidativa,
com a geração de espécies reativas de oxigênio (ROS), tem sido
determinada em reações de hipersensibilidade em resposta a
infecção por fungos (VERA-ESTRELLA et al., 1993) e bactérias
(BAKER et al., 1993). Além disso, várias fitotoxinas fúngicas e
bacterianas podem induzir a formação de espécies reativas de
oxigênio (HEISER; OBWALD; ELSTNER, 1998).
A resposta de hipersensibilidade, um colapso localizado de células
vegetais, é o resultado da interação dos produtos dos genes de
resistência (R) do hospedeiro e de avirulência (Avr) do patógeno.
Nessa reação, há a produção de intermediários reativos de oxigênio
(HEGEDUS; ERDEI; HORVÁTH, 2001) que podem se acumular
rapidamente no início da infecção em ambas as interações
compatíveis ou incompatíveis, um processo conhecido como
explosão oxidativa (LAMB et al., 1989). A explosão oxidativa, um
mecanismo bioquímico pós-formado, participa de um sistema
integrado e amplificado de sinalização que envolve AS e Ca2+
citosólico no disparo dos mecanismos de defesa (LAMB; DIXON,
1997).
O desenvolvimento da HR, iniciado pela presença de ROS,
promove o estabelecimento gradual da RSA (ALVAREZ et al., 1998).
No entanto, algumas evidências indicam que somente as ROS não
são suficientes para induzir a morte da célula vegetal (GLAZENER;
ORLANDI; BAKER, 1996) e devem agir paralelamente ou em
sinergia com NO para que ocorra a HR (PINTO; TOMMASI; DE
GARA, 2002).
Espécies reativas de oxigênio são geradas durante o contato inicial
entre o patógeno e a célula vegetal, mas também podem ser
produzidas em fases posteriores da infecção. A produção de ROS
acontece em três fases. Na primeira, caracterizada por uma resposta
rápida de poucos minutos que envolve, provavelmente, uma
interação elicitor−receptor. Esta interação ocorre em interações
incompatíveis e compatíveis e, portanto, nem sempre correlacionada
com resistência a doenças (LAMB; DIXON, 1997). O reconhecimento
dos elicitores provenientes do patógeno dispara os eventos de
transdução de sinais (BAKER; ORLANDI, 1999).
Na segunda fase, ocorre uma explosão oxidativa forte e
prolongada diretamente relacionada com a resistência da planta ao
patógeno, provocando a reação de hipersensibilidade, característica
de interações incompatíveis (DANGL; DIETRICJ; RICHBERG, 1996).
Nesta etapa, iniciam-se processos relacionados à defesa, sem
sintomas visíveis e resultantes do reconhecimento durante a primeira
fase. Os processos de defesa incluem aumento de antioxidantes,
ação de lipoxigenases, morte celular localizada, produção de
fitoalexinas, lignificação e RSA. Na terceira fase, a evolução da
patogênese apresenta sintomas visíveis. Evidentemente, nas
infecções por patógenos, as fases — isto é, os eventos fisiológicos
que ocorrem durante a patogênese — se sobrepõem (BAKER;
ORLANDI, 1999).
A rápida geração e acúmulo de ROS, originados pela explosão
oxidativa após a percepção dos sinais de avirulência do patógeno,
atuam com diferentes funções de defesa. Dentre as várias funções
das ROS na defesa vegetal está o efeito antifúngico e antibacteriano
direto do peróxido de hidrogênio (H2O2) (SUTHERLAND, 1991;
ALLAN; FLUHR, 1997). O efeito antimicrobiano direto das ROS
numa dada interação planta–patógeno depende das concentrações e
da sensibilidade do patógeno a essas concentrações (MEDHY et al.
1996). Para atuar efetivamente, a concentração de H2O2 no local da
infecção deve ser suficientemente alta para servir como microbicida
(MEDHY et al. 1996).
Não faz muito tempo, o H2O2 era tido somente como um composto
tóxico para a célula. Na atualidade, sabe-se que age como um
sinalizador que controla respostas e estímulos diferentes, tanto em
células animais como vegetais (FINKEL, 2000). A maioria do H2O2
celular surge da dismutação do O2.– catalisada pela superóxido
dismutase (SOD). O peróxido de hidrogênio é um oxidante
relativamente estável e ausente de carga, o que pode facilitar a
passagem através da membrana celular. Essa capacidade de
difundir-se através da membrana celular favorece a rápida elicitação
da resposta vegetal (APOSTOL; HEINSTEIN; LOW, 1989).
Por outro lado, H2O2 pode ser diretamente tóxico aos patógenos.
Na presença de ferro, dá origem ao extremamente reativo radical
hidroxila (OH). Pode também contribuir para reforçar as paredes
celulares, tanto por interligações de hidroxiprolinas e glicoproteínas
ricas em prolina à matriz de polissacarídeos, como aumentando a
taxa de formação de lignina por meio da atividade das peroxidases.
Estes mecanismos tornam a parede celular mais resistente à
penetração do patógeno e à degradação enzimática. O peróxido de
hidrogênio também intervém na biossíntese do ácido salicílico
(HAMMOND-KOSACK; JONES, 2000).
O aumento na produção de H2O2, em resposta a diferentes
condições de estresse, é diretamente ligado ao nível do estresse.
Contudo, uma exposição prévia a um determinado estresse pode
induzir tolerância a subsequentes exposições ao mesmo estresse ou
a outro diferente (NEIL et al., 2002a).
O estresse oxidativo provocado pelo ataque de fitopatógenos gera
uma síntese rápida de H2O2, que velozmente é liberado ao apoplasto
(BOLWELL, 1999; OROZCO-CARDENAS; NARVAEZ-VASQUEZ;
RRYAN, 2001; RAO; DAVIS, 2001). Na sinalização para respostas de
defesa da planta ao patógeno, o H2O2 é o candidato mais atrativo
dentre as ROS, por causa da sua vida relativamente longa e alta
permeabilidade através das membranas. Para que o H2O2 atue como
molécula sinalizadora, sua síntese e degradação devem ser
rigorosamente controladas para evitar problemas para a própria
célula (NEIL et al., 2002b). Peróxido de hidrogênio é continuamente
produzido por enzimas específicas (xantina oxidase, amina oxidase e
peroxidase da parede celular) em várias rotas metabólicas da planta
(BLEE et al., 2001; CORPAS; BARROSO; DEL RIO, 2001;
BOLWELL et al., 2002). Portanto, seus níveis devem estar finamente
controlados. Este controle é feito principalmente pela catalase, uma
enzima que degrada a água e oxigênio molecular e é a primeira linha
de defesa contra o estresse oxidativo (YANG; POOVAIAH, 2002).
Como o H2O2 não possui elétron pareado, pode atravessar
membranas biológicas, nas quais as espécies O2- atravessam
lentamente. Desse modo, após o reconhecimento do patógeno
avirulento seguido da explosão oxidativa e seus intermediários
reativos, ocorre indução de genes de defesa e morte celular. Nesta
situação, H2O2 age como um sinal para indução de genes de
proteção celular nas células vizinhas para restringir o
desenvolvimento da lesão (HR), que é acompanhada pelo
desenvolvimento de RSA. Essa reação sistêmica de defesa é
induzida pela explosão oxidativa no sítio de inoculação (local
primário) e pelas subsequentes microexplosões secundárias em
folhas distantes, que por sua vez são necessárias para o
estabelecimento da resistência sistêmica adquirida (RSA)
(RESENDE et al., 2003).
A atuação do H2O2 na indução de morte celular no local da
infecção por patógenos biotróficos é conhecida. Este mecanismo
impede o crescimento e desenvolvimento do patógeno nos tecidos
infectados (PELLINEM et al., 2002). No caso de patógenos
hemibiotróficos ou necrotróficos, o papel do H2O2 no mecanismo de
defesa de plantas gera discussões. A indução de morte celular
implica favorecimento destes patógenos devido a sua capacidade de
retirar nutrientes de tecido vegetal morto. Desta forma, podem
completar o seu ciclo de vida estabelecendo-se na planta hospedeira
(GOVRIN; LEVINE, 2000). Portanto, para a elucidação do real papel
do H2O2 nos mecanismos de defesa de plantas, são necessários
estudos envolvendo patógenos hemibiotróficos ou necrotróficos
versus plantas suscetíveis e resistentes.
O radical hidroxila (OH–), embora de curta duração (< 1 ms), é a
espécie mais reativa dos ROS afetando o local onde é formado. É
um radical com alta afinidade por DNA e peroxidação de ácidos
graxos (HALLIWELL; GUTTERIDGE, 1989). O dioxigênio singuleto
ou oxigênio simples (1O2) é altamente destrutivo, reagindo com a
maioria das moléculas biológicas de forma similar ao radical
hidroxila, e tem uma meia-vida de aproximadamente 2 ms (FOYER;
LELANDAIA; KUNERT, 1994). Oxigênio simples reage facilmente
com ligações duplas e tem alta afinidade com dienos na membrana
(ácidos graxos) e aminoácidos específicos, como histidina,
metionina, triptofano e cisteína (RESENDE; SALGADO; CHAVES,
2003). A maioria dos danos ocasionados pelo 1O2– é, de forma
similar ao OH–, próxima aos sítios onde são gerados,
predominantemente, os cloroplastos. Nestes orgânulos, 1O2– é
produzido através da transferência de energia de uma clorofila foto
excitada para o elétron do oxigênio molecular.
O superóxido (O2.–), outra espécie reativa do oxigênio, pode ser
produzido na planta através de vários mecanismos, inclusive pela
ativação de NADPH-oxidases/sintases ligadas à membrana,
peroxidases da parede celular, lipoxigenases e/ ou como resultado
da transferência de elétrons da mitocôndria ou do cloroplasto.
Dependendo da situação, o superóxido pode atuar como oxidante de
moléculas orgânicas (ascorbato) ou redutor de metais como Fe3+
(BREUSEGEM et al., 2001). O peroxinitrito (ONOO–) é o produto
da condensação dos radicais superóxido e NO, considerada uma
espécie reativa tanto de oxigênio como de nitrogênio. Devido às suas
propriedades oxidantes, pode danificar moléculas existentes na
célula, incluindo DNA e proteínas.
Indução de resistência para o controle de microrganismos é
também realizada pelo ácido acético (CH3COOH). Resultados
apresentados por Camili (2004) mostraram que o tratamento de
cachos de uva cv. Itália com ácido acético antes da inoculação com
B. cinérea reduziu satisfatoriamente este mofo. O ácido acético na
concentração de 2,5 µL L-1 diminuiu a incidência e a severidade da
antracnose (C. gloeosporioides) em mamão, atuando diretamente no
controle da podridão e inibindo o crescimento micelial e a
germinação deste fungo (CIA, 2005).
Outro composto que ativa mecanismos de defesa da planta contra
a ação de fungos patogênicos é a quitosana (D-glicosamina ou N-
acetil-D-glicosamina), um polímero de D-glicosamina produzido
pela deacetilação da quitina. Na interação planta−fitopatógeno,
através da indução de transcrição de genes de defesa, a quitosana
inibe a ação de proteases, altera o metabolismo das fitoalexinas,
promove a suberização de células e lignificação de órgãos, induz a
formação de compostos fenólicos, ativa quitinases, β-1,3-glucanases,
fenilalanina amônia liase, poligalacturonase, catalase, peroxidases e
estimula o acúmulo de proteínas-PR (STAMFORD et al., 2008;
MAZARO, 2007; BAUTISTA-BAÑOS et al., 2006; DOARES et al.,
1995; BADAWY; RABEA, 2009; ORTEGA-ORTIZ et al., 2007;
FALCÓN-RODRÍGUEZ et al., 2009; LIU et al., 2007). Por outro lado,
a indução de respostas de defesa contra viroses foi demonstrada em
alfafa e tabaco por Pospieszny, Chirkov e Atabekov (1991). A
poligalacturonase, por exemplo, degrada a parede celular produzindo
ácido oligogalacturônico que, através da produção de ROS (H2O2),
causa explosão oxidativa (SOARES; MACHADO, 2007; OROZCO-
CARDENAS et al, 1999).
Entre os mecanismos bioquímicos pós-formados produzidos
pela planta está a fabricação, imediatamente após a sua infecção, de
composto de baixo peso molecular com propriedades
antimicrobianas. Estas substâncias pertencem a uma grande
variedade de compostos químicos (flavonoides, terpenoides,
alcaloides, poliacetileno, etc.) e são conhecidos como fitoalexinas
(etimologicamente: defensores da planta). Portanto, o termo
fitoalexina é utilizado como um guarda-chuva. Estes compostos
químicos podem ser classificados de acordo com a sua origem. Isto
é, se formados em resposta a injúria química ou mecânica, estímulo
fisiológico ou presença de fitopatógenos ou de seus produtos (KUÉ,
1972; EBEL, 1986; AGRIOS, 2005). As fitoalexinas produzidas por
células não infectadas próximas ao sítio da injúria acumulam-se ao
redor de tecidos necróticos em concentrações suficientes para inibir
o desenvolvimento de fungos fitopatogênicos. Contudo, algumas são
também tóxicas a bactérias, nematoides e vírus que induzem a
produção destes compostos. Por outro lado, a produção de
fitoalexinas pode também ocorrer em resposta ao tratamento com
elicitores (ou eliciadores) abióticos e bióticos, como aqueles
produzidos por injúrias mecânicas ou obtidos de plantas e de fungos
miceliais (STANGARLIN et al., 1999; 2008).
Especificamente, a atuação destes biocidas sobre fungos inclui
granulação citoplasmática, desorganização dos conteúdos celulares,
quebra da membrana plasmática e inibição de enzimas. Estes efeitos
provocam inibição da germinação e elongação do tubo germinativo e
diminuição ou bloqueio do crescimento micelial (BRAGA, 2008).
Faria et al. (2003) citam como exemplos raízes atacadas por
nematoides, como no caso de soja infectada por Meloidogyne
incognita, que produz gliceolina (isoflavonoide); raízes de feijão
infectadas por Pratylenchus penetrans, que produzem comestrol
(poliacetileno); e raízes de algodão infectadas por M. incognita, que
produzem aldeídos terpenoides. Algumas das fitoalexinas melhor
estudadas incluem faseolina e kievitone em feijão; pisatina em
ervilha; gliceolina em soja, alfafa e trevo; rishitina em batata;
gossypol em algodão e capsidiol em pimentão (AGRIOS, 2005).
A produção de proteínas relacionadas a mecanismos de defesa
da planta, um mecanismo bioquímico formado após a penetração de
fitopatógenos, foi detectada no início da década de 1970. As
proteínas relacionadas à patogênese (RP) foram detectadas em
folhas de plantas de fumo (N. tabacum) exibindo reação de
hipersensibilidade ao vírus do mosaico (TMV) (VAN LOON; VAN
KAMMEN, 1970). A utilização deste sistema permitiu a
caracterização da maioria das proteínas RP conhecidas, apesar de
algumas também serem induzidas em plantas em condição de
estresse (LINTHORST, 1991).
As proteínas relacionadas à patogênese são biomoléculas de
baixo peso molecular, ácidas, resistentes a proteases, solúveis em
ácidos e localizadas nos espaços extracelulares e nos vacúolos. As
proteínas-PR dos vacúolos, geralmente, atuam na defesa da planta
após a quebra da membrana vacuolar, enquanto as extracelulares
atuam diretamente em contato com o patógeno no processo de
penetração do tecido (STICHER; MAUCH-MANI; MÉTRAUX, 1997).
Algumas dessas proteínas são constitutivas, ou seja, estão
presentes na planta naturalmente, embora em baixas concentrações.
As suas concentrações, no entanto, aumentam quando as plantas
são submetidas a estresses. Há outras que, após injúria mecânica,
ataque de patógenos ou insetos, estresses abióticos (salinidade,
seca, temperaturas baixas ou altas e substâncias químicas
inorgânicas e orgânicas) são expressas após ativação dos
respectivos genes (BERNARDS et al., 1999; MARTINS-MIRANDA,
2002). A expressão destas proteínas é mediada pela ação de
substâncias indutoras (elicitores) de origem endógena — da própria
planta — ou exógena do patógeno (WYATT; PAN; KUC, 1991;
REPKA, 1996; THORDAL-CHRISTENSEN; GREGERSEN;
COLLINGE, 2000; CHRISTENSEN et al., 2002). A ativação de
alguns genes para proteínas-PR é regulada pela cascata de
transdução de sinais mediada pelo ácido salicílico. Todavia, a
sinergia entre etileno e AS promove indução na expressão de genes
para estas proteínas (HAMMOND-KOSACK; JONES, 2000). Muitas
proteínas-PR possuem atividade antifúngica e antibacteriana in vitro,
como as quitinases, glucanases e proteínas que se ligam à quitina
(Tabela 1). A degradação de polissacarídeos estruturais da parede
celular de fungos ou alterações na sua arquitetura, promovidas por
estas enzimas, prejudicam o desenvolvimento do microrganismo,
impedindo seu crescimento (ZAREIE; MELANSON; MURPHY, 2002).
Atualmente, as proteínas PR estão classificadas em 17 grupos
(Tabela 1), variando de PR-1 até PR-17, de acordo com as
características de cada proteína (CHRISTENSEN et al. 2002;
GORJANOVIĆ, 2009; SINHA et al., 2014).
Tabela 1 - Famílias reconhecidas de proteínas relacionadas à
patogênese
Famílias Membros representativos Propriedades
PR-1 PR-1a, PR-1b e PR-1c do fumo Antifúngica
PR-2 β-1,3-glucanases Quebra β-1,3-
glucanas
PR-3 Quitinases tipos I, II, IV, V, VI, VII Endoquitinases
PR-4 Quitinases tipos I, II, III Antifúngica e
quitinase
PR-5 Tipo taumatina, S do fumo Antifúngica
PR-6 Inibidor I da proteinase do tomate Inibidor de protease
PR-7 Endoproteinase P69 de tomate Endoprotease
PR 8 Quitinase do pepino Quitinase tipo III
PR-9 Peroxidase formadora de lignina Peroxidase
do fumo
PR-10 ‘PR I’ da salsa, Bet v 1, Mal d 1, Tipo ribonuclease
Api g 1, Dau c 1
PR-11 Quitinase “classe V” do fumo Quitinase
PR-12 Rs-AFP3 de rabanete Defensina
PR-13 THI2.1 de Arabidopsis Tionina
PR-14 Transferidor de lipídeos LTP4 de Transferência de
cevada lipídeos
PR-15 OxOa (germina) de cevada Oxalato oxidase
PR-16 OxOLP de cevada Tipo oxalato
oxidase
PR-17 PRp27 de fumo Desconhecida
Fonte: Elaboração dos autores.
Nas plantas, as proteínas-PR foram localizadas na epiderme de
folhas, mesofilos, células-guarda de estômatos, vasos condutores e
zonas de abscisão. No entanto, podem também acumular-se em
locais distantes do local de infecção, em resposta à cascata de sinais
promovida por AS (DELANEY, 1997; VAN LOON; REP; PIETERSE,
2006). Os locais de armazenamento e localização diferenciam as
proteínas-PR das fitoalexinas. As fitoalexinas são produzidas apenas
em células sadias adjacentes ao local de infecção.
Outro mecanismo bioquímico formado após a penetração de
fitopatógenos é a produção de cristais de hesperidinas, flavonoides
glicosídicos produzidos nas células do parênquima adjacente aos
vasos. Os compostos são liberados e cristalizados no lúmen do
xilema formando agulhas de cristais que ocasionam obstrução do
xilema. Este fenômeno foi observado por Alves et al. (2009) em
vasos do xilema de folhas de citros infectados por Xillela fastidiosa. A
proteção blindada pelos cristais contra microrganismos pode ser
devida à formação de barreira física ou pela toxicidade dos
flavonoides glicosídicos produzidos pela utilização de enzimas do
patógeno para degradar os cristais.
6 Enzimas relacionadas à indução de
resistência
De acordo com Léon-Kloosterziel et al. (2005), entre as principais
enzimas relacionadas com resistência induzida estão: peroxidases,
β-1,3-glucanases, quitinases e fenilalanina amônia liases. Estas
enzimas apresentam alta correlação entre mudanças nas suas
atividades com e sem indução com a maior ou menor atuação dos
mecanismos de defesa das plantas contra fitopatógenos. As
peroxidases estão envolvidas em diversas reações como: ligações
de polissacarídeos, oxidação do ácido indol-3-acético, ligações de
monômeros, lignificação, cicatrização de ferimentos, oxidação de
fenóis, regulação da elongação de células e a defesa contra
patógenos (GASPAR et al., 1982; KAO, 2003; HOAGLAND, 1990;
FRY, 1986). No processo de defesa, as peroxidases atuam no
reforço da parede celular a partir da formação de lignina, suberina,
polissacarídeos e glicoproteínas ricas em hidroxiprolina (BOWLES,
1990), além de aumentar a produção de espécies reativas de
oxigênio que apresentam ação antimicrobiana e ainda incitam a
formação de fitoalexinas (KRISTENSEN; BLOCH; RASMUSSEN,
1999; STICHER; MAUCH-MANI; MÉTRAUX, 1997).
As fenilalanina amônia liases são enzimas ligadas ao
metabolismo secundário de plantas superiores, apesar de também
serem encontradas em fungos e bactérias (RÖSLER et al., 1997;
XIANG; MOORE, 2005). Na planta, estão localizadas principalmente
no citoplasma das células, podendo estar associada também a
organelas membranosas (DIXON; PAIVA, 1995; JONES, 1984). Têm
como principal função catalisar a eliminação não oxidativa da amônia
da L-fenilalanina, transformando-a em ácido transcinâmico. Portanto,
estas enzimas geram precursores para a biossíntese de lignina e de
outros compostos fenólicos que se acumulam em resposta ao ataque
de fitopatógenos (KLESSING; MALAMY, 1994; SCHWAN-ESTRADA;
STANGARLIN; PASCHOLATI, 2008).
As glucanases são enzimas que quebram glucanas
(polissacarídeos de Dglucose) produzindo as β-1,3-glucanas,
sacarídeos com 2 a 6 unidades de glicose, importantes componentes
da parede celular de muitos fungos (CAVALCANTI et al., 2006a). As
β-1,3-glucanas degradadas da parede celular de patógenos agem
como eliciadoras nas etapas iniciais do processo de indução de
resistência (VAN LOON et al., 1994). Masih e Paul (2002)
observaram a ação hidrolítica de β-1,3glucanases secretadas pela
levedura Pichia membranifaciens sobre a parede celular de B.
cinerea, o fungo causador da doença do mofo cinza em parreiras de
uvas. A levedura P. guilliermondii apresentou atividade antagonista
ao Rhizopus nigricans, encontrado em tomates durante o
armazenamento, devido à produção de enzimas como β-glucanases
(ZHAO et al., 2008). Portanto, a aplicação das β-1,3glucanases no
controle biológico ocorre devido à composição da parede celular de
patógenos, composta principalmente de β-glucanas (FLEURI; SATO,
2008).
As quitinases são um conjunto de enzimas encontradas em
bactérias, fungos, plantas e animais. As quitinases degradam a
quitina, o segundo carboidrato mais abundante na natureza, após a
celulose. As quitinases podem pertencer às famílias PR-1, PR-4, PR-
8 e PR-11 (Tabela 1). Estas enzimas são hidrolases conservadas que
clivam as cadeias de quitina (C8H13O5N)n, polímero de N-
acetilglucosamina (N-acetil-D-glucose-2-amina) unidas por ligações
glicosídicas β-1,4. Forma um material resistente e semitransparente,
principal componente da parede celular de fungos e dos
exoesqueletos dos artrópodes (aracnídeos, crustáceos e insetos).
Nos fungos, as quitinases são necessárias para dissolver as
paredes das células do próprio fungo, quando estas se encontram
em divisão e crescimento. Nas plantas, as quitinases desempenham
um papel fundamental de defesa contra fungos patogénicos. As
plantas sintetizam sete classes diferentes de quitinases que diferem
na estrutura proteica, especificidade de substrato, mecanismo de
catálise e sensibilidade a inibidores (PUNJA; ZHANG, 1993). As
quitinases exibem dois mecanismos hidrolíticos diferentes: catálise
assistida pelo substrato ou catálise ácida. Estas enzimas têm
diferentes atividades antifúngicas in vitro a diversos tipos de fungos.
Muitas quitinases são expressas constitutivamente, mas em baixos
níveis, aumentando a sua expressão significativamente quando a
planta é sujeita a estresses tanto bióticos como abióticos (PUNJA;
ZHANG, 1993).
Diversas quitinases e β-1,3-glucanases produzidas pelas plantas
podem inibir o crescimento de fungos por hidrólise das glucanas
presentes nas paredes celulares das pontas dos seus tubos
germinativos e hifas. A combinação destes dois tipos de enzimas
apresenta uma atividade antifúngica mais forte para uma ampla
gama de fungos do que a atuação separada de cada enzima,
revelando um efeito sinérgico. Adicionalmente, algumas quitinases
podem exibir uma atividade extra de lisozima (PUNJA; ZHANG,
1993).
As polifenoloxidases (PPO), também conhecidas como
tirosinases, cresolases, catecolases, difenolases e fenolases, são
enzimas intracelulares que ocorrem em plantas, animais e fungos.
Estas enzimas contêm cobre no centro ativo e catalisam dois tipos
de reações, ambas envolvendo oxigênio. A primeira reação
corresponde à hidroxilação de monofenóis formando orto-difenóis; e
a segunda, formação de orto-quinonas a partir da oxidação de orto-
difenóis. As polifenoloxidases atuam sobre uma grande variedade de
substratos. Substratos monofenólicos são o p-cresol, tirosina e ácido
p-cumárico, enquanto catecol, dihidroxifenilalanina e ácido
clorogênico substratos difenólicos. As polifenoloxidases estão
envolvidas no escurecimento de frutas, vegetais, cereais e
leguminosas, assim como em reações de defesa das plantas.
7 Resistência Sistêmica Adquirida (RSA) e
Induzida (RSI)
Por algum tempo, RSA e RSI foram considerados sinônimos de
funções análogas, contudo, há diferenças na forma em que os
mecanismos de resistências são induzidos. Portanto, RSA e RSI são
fenômenos distintos, embora fenotipicamente semelhantes. A RSA é
explicada pela manifestação ou produção de um sinal liberado a
partir do sítio de infecção que provoca necrose e translocação deste
sinal para outras partes da planta, induzindo reações de defesa que
protegerão a planta contra ataques subsequentes. Na resistência
sistêmica induzida, o indutor não provoca sintomas, como necrose
no local da infecção, mas induz a planta a se proteger
sistemicamente (SILVA et al., 2008).
A resistência sistêmica adquirida caracteriza-se pela expressão de
genes que codificam respostas inespecíficas de defesa contra
patógenos, tais como proteínas-RP, quitinases, glucanases, enzimas
envolvidas na rota da síntese de fitoalexinas, como a fenilalanina
amônia liase, e acúmulo de lignina em tecidos adjacentes ao local de
penetração do microrganismo (DURRANT; DONG, 2004). Os genes
envolvidos na RSA estão associados, principalmente, com o acúmulo
do ácido salicílico, o sinalizador para a expressão de proteínas-RP
(GRÜNER et al., 2003).
A expressão desses genes tem sido observada em vários
patossistemas pelo uso de diversos eliciadores bióticos e abióticos.
Entre os abióticos se destacam o acibenzolar-S-metil [(ASM; benzo
(1,2,3) tiadiazole-7 ácido carbotióico S-metil éster)]. O ASM (Bion®)
foi o primeiro indutor de RSA liberado para uso comercial (LYON;
NEWTON, 1997). No Brasil, o ASM foi liberado para uso comercial
no tratamento de citros, tomateiros e cacaueiros (COLE, 1999;
LATUNDE-DADA; LUCAS, 2001, BARRETTI et al., 2010), assim
como a proteína harpina (DONG et al., 1999; CAPDEVILLE et al.,
2003; CLARKE et al, 2005; GALDEANO et al., 2010). O ASM é um
análogo do ácido salicílico, que induz a ativação de genes que
codificam proteínas-RP e enzimas relacionadas à produção de
fitoalexinas e lignina (COLE, 1999; OOSTENDORP et al., 2001).
Este indutor tem ação semelhante ao AS como mensageiro
secundário, ativando o processo de sinalização e levando à
expressão de genes de defesa (BENHHAMOU; BÉLANGER, 1998a).
O potencial indutor de resistência do ASM tem sido demonstrado em
vários cultivos, como pepino (BENHHAMOU; BÉLANGER, 1998a),
tomateiro (BENHHAMOU; BÉLANGER, 1998b; CAVALCANTI et al.,
2006a, 2006b, 2007), cafeeiro (GUZZO; HARAKAVA; TSAI, 2004) e
cacaueiro (RESENDE et al., 2002), descritos pela análise da
expressão gênica e/ou do acúmulo de proteínas de defesa, uma vez
que a resistência induzida foi capaz de proteger as plantas contra
patógenos.
A harpina, uma proteína bacteriana isolada inicialmente de
Erwinia amylovora (WEI et al., 1992), ativa a síntese ácido salicílico,
jasmônico e etileno — moléculas sinalizadoras — e induz resistência
sistêmica (DONG et al., 1999; CLARKE et al., 2005). Entre as
proteínas-RP ativadas por esses eliciadores, ASM e harpina,
encontra-se a fenilalanina amônia liase (PAL), enzima diretamente
envolvida na produção de compostos fenólicos e lignificação da
parede celular, como já mencionado (NAKAZAWA et al., 2001).
A utilização de eliciadores ativa mecanismos de indução da RSA,
gerando uma diminuição significativa nos sintomas da doença após
subsequentes infecções, inclusive com diferentes espécies de
patógenos. Portanto, esta técnica — indução de resistência — é uma
ferramenta natural viável economicamente para o controle de
doenças (KESSMANN et al., 1994a, 1994b; MARTINEZ et al., 2000).
O salicilato é um dos mais importantes sinalizadores químicos da
RSA, que, embora móvel, não parece ser o responsável pela
comunicação a longa distância da ativação da RSA (VERNOOIJ et
al., 1994a; HAMMOND-KOSACK; JONES, 2000). Contudo, MeSA
(metil-salicilato) é translocado através do floema a outras partes da
planta, onde é reconvertido a AS (PARK et al., 2007). Desta forma, a
participação do AS está associada a sua capacidade de induzir
síntese de proteínas-PR, bem como à propriedade de se acumular, a
exemplo de plantas de fumo inoculadas com bactérias (KESSMANN
et al., 1994a, 1994b; PENG et al., 2003). Por outro lado, a rota de
indução do AS depende do tempo de exposição à luz que a planta
recebe após a infecção primária e que determina a extensão pela
qual MeSA é requerido para a sinalização de RSA (LIU; VON DAHL;
KLESSIG, 2011).
No caso da resistência sistêmica induzida, não há acúmulo de
proteínas-PR, e a planta que sofreu indução não exibe alterações
como necrose. Usualmente, o agente indutor não provém de um
patógeno, e sua indução não é salicilato dependente, parecendo
haver outra rota de sinalização mais associada a jasmonatos e
etileno (PIETERSE et al., 2000; VAN LOON; BAKKER; PIERERSE,
1998; CHOUDHARY; PRAKASH; JOHRI, 2007). De qualquer
maneira, independentemente do agente biótico indutor, a
comunicação cruzada entre as diferentes rotas foi demonstrada
(PIETERSE et al., 2005). Portanto, para se evitar conflitos, alguns
autores preferem o uso do termo geral resistência induzida
(MÉTRAUX, 2001).
Para ser considerado um ativador de resistência sistêmica
adquirida (RSA), o produto químico deve possuir três características:
(1) o composto ou seus metabólitos não devem exibir atividade
antimicrobiana direta; (2) deve induzir resistência contra o mesmo
espectro de patógenos que a RSA ativada biologicamente; (3) deve
induzir a expressão dos mesmos genes marcadores, conforme RSA
ativada por patógenos (RYALS et al., 1996).
Os açúcares também estão envolvidos na imunidade da planta
como moléculas sinalizadoras (SHEEN; ZHOU; JANG, 1999;
ROLLAND; BAENA-GONZALEZ; ANDSHEEN, 2006). Trata-se de
mono, di e oligossacarídeos como sacarose, trealose, rafinose ou
galactinol capazes de ativar respostas de defesa da planta e
aumentar sua resistência a patógenos. Como exemplos, sacarose
induz a síntese de isoflavonoides como resposta de defesa contra F.
oxysporum em ervilhas (MORKUNAS et al., 2005). Galactinol
estimula a acumulação de transcritos de genes relacionados com a
defesa nas plantas de tabaco, aumentando a resistência contra B.
cinerea e E. carotovora. Adicionalmente, galactinol é um componente
de sinalização da resistência sistêmica induzida causada por
Pseudomonas chlororaphis (KIM et al., 2008). A trealose induz
atividades da fenilamônia liase e peroxidase associadas com
resistência parcial do trigo contra o oídio (REIGNAULT et al., 2001).
Em suspensões de células de Arabidopsis thaliana, sacarose ou
glicose induziram a expressão de vários genes-PR e a acumulação
das correspondentes proteínas PR-2 e PR-5 através de uma via AS-
dependente (THIBAUD et al., 2004). Por outro lado, sacarose,
glicose e frutose induzem a transcrição de proteína-PR, PR-Q e PAR-
1 em tabaco numa via AS-independente (HERBERS et al., 1996).
Adicionalmente, outros açúcares, como a psicose ou D-alose, podem
estimular a imunidade da planta e regular a expressão de genes de
defesa (BOLOURI-MOGHADDAM; VAN DEN ENDE, 2012). Psicose
é um açúcar raro, pouco encontrado na natureza, que pode ser
produzido a partir da epimerização do carbono 3 da frutose. Em
arroz, a D-psicose conferiu resistência contra murcha bacterial
dependendo da dosagem aplicada. De acordo com Kano et al.
(2011), esta hexose pode ser um ativador de mecanismos de defesa
que reduzem o desenvolvimento de doença neste cultivo. Em limão
rugoso, a expressão de genes de resistência foi determinada após
duas horas da aplicação de 0,5 M de D-psicose. Os genes de
lipoxigenase, sintase do óxido de aleno e hidroperóxido liase
expressos nessa aplicação estão envolvidos na síntese dos ácidos
salicílico e jasmônico e na ativação de mecanismos de defesa
(KANO et al., 2011).
A D-alose é outra hexose rara que faz parte do grupo das aldoses.
É isolado das folhas do arbusto africano Protea rubropilosa. Esta
hexose induziu resistência a Xanthomonas oryzae pv. oryzae em
folhas suscetíveis de arroz através da produção de espécies reativas
de oxigênio (H2O2), redução da lesão dependente de dose e
expressão de proteínas-RP (KANO et al., 2013). Provavelmente, a
aplicação exógena de açúcares raros pode ser reconhecida pela
planta como elicitores derivados de patógenos iniciando a
sinalização da cascata de defesa da planta (MOGHADDAM; VAN
DEN ENDE, 2012).
Por outro lado, existem compostos químicos disponíveis
comercialmente capazes de induzir resistência em plantas contra
patógenos. Entre eles estão o Bion®, cujo ingrediente ativo é o
acibenzolar-S-metílico (ASM), como já mencionado; o Messenger®,
que tem como ingrediente ativo a harpina, fosfitos; Elexa®, que tem
como componente principal a quitosana; Iodus® 40, formulado a
base de elicitores oligossacarídeos contendo β 1-3 glucanas; e INA
(ácido 2,6 dicloroisonicotínico), que, assim como ASM, é um análogo
do ácido salicílico (CAVALCANTI et al., 2004).
Os fosfitos (fosfonatos ou derivados do ácido fosforoso)
registrados como fertilizantes foliares estão sendo utilizados no
controle de doenças de plantas, agindo diretamente sobre patógenos
e induzindo respostas de defesa na planta (DALIO et al., 2012). A
atuação direta destes compostos pode ocorrer através da quebra das
paredes e membranas celulares dos patógenos. Adicionalmente, os
fosfitos também podem reduzir o potencial de inóculo dos patógenos
devido à redução da esporulação dos microrganismos (PANICKER;
GANGADHARAN, 1999). Por exemplo, os fosfitos reduziram a
produção de zoósporos e de esporângios em várias espécies de
Phytophthora (WILKINSON et al., 2001). Além disso, a ação direta
dos fosfitos na formação de poros na membrana do patógeno pode
levar à liberação de padrões moleculares associados aos patógenos
(PAMPs), eliciadores de mecanismos de defesa. A ação indireta
ocorre devido à indução de mecanismos de defesa do hospedeiro
contra patógenos, promovendo aumento na produção de ROS,
reações de hipersensibilidade, acúmulo de compostos fenólicos nas
células, formação de agregados citoplasmáticos e de fenóis ao redor
das células, assim como a produção de fenilalanina amônia liase,
lignina e etileno (DANIEL; GUEST, 2006; PANICKER;
GANGADHARAN, 1999).
Efeito de elicitores bióticos, como esporos inativados de H.
vastatrix induziram proteção contra este patógeno em cafeeiros.
Frações desse filtrado também demonstraram ação indutora de
fitoalexinas em soja (GUZZO et al., 1987; MAXEMIUC-NACCACHE;
DIETRICH, 1985). Em interações necrotróficas entre F. moniliforme
colonizando Arabidopsis, a produção pelo fungo de fumonisina B1,
uma toxina que elícita morte celular programada, ocasionou lesões
semelhantes às de respostas de hipersensibilidade, incluindo
geração de ROS, deposição de calose e compostos fenólicos,
acumulação de fitoalexinas e expressão de genes de proteínas-PR.
A aplicação de fumonisina B1 conferiu resistência a linhas isogênicas
de P. syringae pv maculicola que não apresentaram gene de
avirulência (STONE et al., 2000).
Espécies patogênicas de Phytophthora e Pythium,
reconhecidamente destrutivas de espécies importantes para a
agricultura, secretam proteínas extracelulares altamente
conservadas denominadas elicitinas (TYLER, 2002). Elicitinas são
proteínas tóxicas responsáveis por induzir respostas necróticas e
hipersensitivas em plantas, principalmente das Solanáceas,
Crucíferas e Brasicaceas. Necrose foliar proporciona controle
imediato da invasão fúngica e induz RSA. Ambas as respostas
intermediam proteção básica contra subsequentes ataques por
patógenos. Os membros desta família possuem um alto nível de
similaridade, contudo diferem na carga líquida. Isto faz com que
sejam divididos em duas classes: alfa e beta. As elicitinas alfa são
altamente acídicas, com uma valina na posição 13, enquanto as beta
elicitinas são básicas e possuem uma lisina na mesma posição. O
resíduo na posição 13 está envolvido no controle da necrose; e
exposto, atua como ligante/receptor (FEFEU et al., 1997).
Fenotipicamente, as duas classes podem ser diferenciadas pelas
suas propriedades necróticas: as beta-elicitinas são 100 vezes mais
tóxicas e proporcionam maior proteção (YU, 1995). Exemplo de
elicitina presente em P. infestans é a INF1, capaz de induzir resposta
hipersensível em Nicotiana benthamiana (KAMOUN, 2003). A
similaridade da proteína indutora de necrose foi observada em banco
de sequências de P. parasítica, P. sojae, P. infestans, Pythium
aphanidermatum, F. oxysporum, Bacillus halodurans. No entanto,
não foram observados similaridades nas sequências das plantas,
sugerindo que estas proteínas são características de microrganismos
(CEITA, 2004).
A identificação e a caracterização das interações elicitor x
patógeno com receptores da planta podem levar a novas estratégias
para controle de doenças através de indução de resistência
(VLEESHOUWERS et al., 2006).
8 Indução de resistência em cacaueiro
Apesar de o uso de elicitores bióticos e abióticos para indução de
resistência em cacaueiros não tenha sido muito explorado, alguns
trabalhos básicos e aplicados desenvolvidos nos últimos anos
apresentam resultados promissores. Os trabalhos de pesquisa sobre
o uso de agentes bióticos para indução de resistência em cacaueiro
são poucos. No entanto, alguns resultados promissores têm sido
obtidos pelo uso de proteção cruzada com raças ou isolados menos
agressivos de certos fungos ou vírus. Um exemplo desta tecnologia
foi a inoculação de cacaueiros com uma raça menos virulenta de P.
palmivora, que induziu resistência contra outra raça mais agressiva
desse fungo, promovendo a sobrevivência de 88% a 100% das
plântulas (PARTIOT, 1981). A duração da proteção induzida foi maior
em plântulas pré-inoculadas por várias vezes, estendendo-se por até
17 semanas (PARTIOT, 1981). Indução de resistência a P. palmivora
em cacaueiros do grupo Amelonado também foi reportado por Ibarra,
Blaha e Herail (1985), utilizando discos de micélios e zoósporos de
isolados pouco virulentos de P. palmivora e P. megakarya.
Resultados semelhantes foram obtidos também com P. palmivora no
clone P7, com provável produção de fitoalexinas após a indução de
resistência (DAGUENET; PARVAIS, 1981).
Isolados atenuados do vírus do inchaço dos brotos do cacaueiro
(CSSV) já eram utilizados em Gana desde o início da década de
1940 para indução de resistência (HUGHES; OLLENNU, 1994).
Inicialmente, os estudos apresentaram resultados promissores,
porém foram interrompidos por cerca de 40 anos e retomados no
final da década de 1980 como alternativa de controle do CSSV que
se estende por toda a África Ocidental produtora de cacau. Apesar
dos resultados experimentais serem satisfatórios, a aplicação prática
da premunização no cacaueiro, de acordo com Rezende, Dias e
Novaes (2000), depende de um método eficiente para a imunização
de 100% das mudas com uma estirpe fraca de maior capacidade de
proteção.
A pré-inoculação de plântulas com basidiósporos de M. perniciosa,
provenientes de lobeira (Solanum lycocarpum), promoveu redução
de 64% na incidência da vassoura de bruxa em relação às plântulas
inoculadas com basidiósporos isolados do cacaueiro (RESENDE,
1998).
Gracie (2013) — avaliando a eficiência de indutores de resistência
no controle da infecção da vassoura de bruxa em plântulas de
cacaueiro da variedade Catongo, oriundas de sementes induzidas —
reduziu em 60% a incidência da doença no tratamento com a
solução de cogumelo de M. perniciosa (0,02%) em relação às
plântulas inoculadas sem indutor. Gracie et al. (2013), em outro
estudo com plântulas de Catongo oriundas de sementes induzidas,
obtiveram uma redução de 67% na incidência da doença com a
aplicação de solução do extrato da folha de cacaueiro da variedade
Scavina 6 (10 g/L). Este clone é padrão de resistência/ tolerância à
vassoura de bruxa. A indução de resistência foi realizada através da
embebição de sementes com os extratos por 24 horas.
Outros estudos mostram eliciadores derivados da parede celular
— peptídeos, carboidratos, glicoproteínas e lipídios — que induzem
respostas de defesa tanto em plantas hospedeiras como em não
hospedeiras (NÜRNBERGER et al., 2001). Além disso, proteínas-PR
e poligalacturonases de patógenos podem hidrolisar,
respectivamente, substratos da parede celular do patógeno ou do
hospedeiro, causando eliciação indireta pela liberação de produtos
indutores não específicos no apoplasto. Cavalcanti et al. (2007)
demonstraram que extratos elaborados a partir de ramos de lobeira
infectados por M. perniciosa contêm eliciadores capazes de induzir
respostas de defesa em mudas de cacaueiro contra este patógeno.
O isolado ALF247 do fungo endofítico simbionte do gênero
Trichoderma apresentou indução significativa da peroxidase, e o
isolado ALF56 de T. stromaticum, assim como o fitopatógeno M.
perniciosa, mostraram tendência de indução de atividade enzimática.
O aumento da atividade de peroxidase representa um indício da
aceleração do metabolismo extracelular, provavelmente em
decorrência da secreção aumentada de proteínas-PR em resposta
aos tratamentos (SANTOS et al., 2004).
No trabalho de Pereira et al. (2008), tanto a quitosana extraída do
micélio de espécies de Trichoderma como de espécies de Rhizopus
apresentaram um efeito protetor a plantas de cacaueiro contra
Verticillium dahliae. A aplicação do filtrado de Rhizopus foi capaz de
promover aumento na atividade da peroxidase e da polifenoloxidase
na redução da murcha de verticílio do cacaueiro (PEREIRA et al.,
2008). Rhizopus é um gênero pertencente à ordem Mucorales com
quantidade considerável de quitosana em sua parede celular.
Cavalcanti et al. (2006a) avaliaram alguns indutores, entre eles a
suspensão de quitosana proveniente de micélio de M. perniciosa, e
obtiveram proteção em plantas de tomateiro atacadas por X.
campestris pv. vesicatoria. Foi observado aumento na atividade de
duas proteínas — quitinase e beta-1,3-glucanase — relacionadas à
patogênese em folhas de plantas de tomateiro (CAVALCANTI et al.,
2006a).
Trabalhos de indução de resistência em cacaueiros têm sido
realizados com elicitores abióticos caracterizados como ativadores
de resistência de plantas, principalmente o acibenzolar-S-metil
(benzotiadiazole, BTH), um análogo do ácido salicílico (MORAES,
1998). Geralmente, esta indução ocorre pela ativação de genes que
codificam glucanases, quitinases (proteínas-RP) e enzimas como
fenilalanina amônia liase e cinamil álcool desidrogenase envolvidas
na síntese de fitoalexinas e lignina, assim como polifenoloxidases e
peroxidases (REGLINSKI et al., 1997; VIDHYASEKARAN, 1988).
O uso de BTH como indutor de resistência ao M. perniciosa em
cacaueiro proporcionou uma redução de 61% na infecção pelo fungo
em plântulas de Catongo, variedade altamente suscetível à vassoura
de bruxa. O produto foi aplicado na concentração de 10 g de ia/100 L
de água, sete dias antes da inoculação (AGUILAR; RESENDE;
BEZERRA, 1998). Posteriormente, foi observada uma redução na
incidência da vassoura de bruxa entre 34% a 85% quando
pulverizado com BTH aos 3, 15 ou 30 dias antes da inoculação de
plântulas de Catongo. O BTH foi mais eficiente quando pulverizado
30 dias antes da inoculação na dosagem de 150 g de ia/100 L de
água (RESENDE et al., 2000). Nesse estudo, não foi encontrada
diferença significativa nos teores de fenóis e na atividade de
polifenoloxidases após a pulverização. Entretanto, houve aumento
significativo na atividade de peroxidases em todos os períodos
avaliados (RESENDE et al., 2000).
O BTH reduziu significativamente o número de vassouras por
planta e o número de frutos infectados em condições de campo com
a aplicação de 0,5 a 1,0 g do ia/planta a cada 60 dias (RAM;
CASTRO, 2000). O efeito sistêmico do BTH na proteção de novas
brotações foi também demonstrado 30 dias após a indução de
resistência no híbrido Theobahia (SCA 6 x ICS 1). O efeito do BTH
na proteção de mudas do Catongo foi comparado com o efeito de
óxido cuproso e tebuconazole, todos pulverizados 15 dias antes da
inoculação. O BTH reduziu a incidência de doença em 60% em
relação à testemunha inoculada. Estes resultados demonstraram um
desempenho melhor do que o tebuconazole e superior a óxido
cuproso (RESENDE et al., 2002).
A pulverização de BTH, 15 dias antes da inoculação com V.
dahliae em plântulas do híbrido Theobahia, proporcionou redução de
55% na severidade da doença e aumentou significativamente o
crescimento das plântulas (CAVALCANTI; RESENDE, 2000). A
atividade de enzimas relacionadas ao metabolismo fenólico foi maior
em plântulas tratadas com BTH, em relação às não tratadas, o que
sugere provável participação dos fenóis no processo de defesa
(CAVALCANTI, 2000).
Para entender o mecanismo de ação do ASM como indutor de
resistência, alterações nos níveis de fenóis totais, polifenoloxidases e
peroxidases foram avaliados aos 3, 15 e 30 dias após a pulverização
de mudas da variedade Catongo. A atividade enzimática de mudas
de Theobahia foi avaliada 30 dias após a pulverização. Em Catongo,
não houve diferenças significativas no conteúdo de fenóis totais e da
atividade da polifenol oxidase após a pulverização. No entanto, um
aumento na atividade da peroxidase foi detectado em todos os
momentos de avaliação. Em Theobahia, aumentos significativos em
atividades de peroxidase e polifenoloxidase foram detectados,
indicando que as respostas de defesa devido à ASM são genótipo
dependente (RESENDE et al. 2002b). Cavalcanti e Resende (2005),
em análise de resultados do estudo com plântulas de cacaueiros em
casa de vegetação, utilizando ASM na indução de mecanismos de
defesa, concluíram que este elicitor pode representar uma
ferramenta alternativa e eficiente na busca de medidas de manejo
integrado de importantes doenças, como a vassoura de bruxa e a
murcha de Verticillium. No entanto, faz-se necessária a realização de
estudos similares com plantas adultas no campo, uma vez que esse
estudo foi realizado com plântulas em casa de vegetação. Outro
importante indutor abiótico é o próprio ácido salicílico, que, conforme
relatado anteriormente, tem sido utilizado com sucesso na indução
de resistência contra P. palmivora em cacaueiro (OKEY;
SREENIVASAN, 1996).
Pereira (2008) estudou o efeito aditivo da expressão dos genes
comparando mudas tratadas e não tratadas com os indutores Bion
ou Agro-Mos inoculadas com M. perniciosa. Foi demonstrado que
genes do tipo POD e CHI, que expressam peroxidase e quitinase,
respectivamente, foram induzidos em cacaueiros pelo tratamento
com os dois indutores de resistência. No entanto, não foi verificado
se a resistência mediada pelos indutores, verificada pela expressão
desses genes, confere redução na severidade dos sintomas da
vassoura de bruxa provocada pelo fungo. Entretanto, o efeito do
tratamento com eliciadores sobre a indução de resistência contra a
vassoura de bruxa em cacaueiros já foi descrito por Costa (2008),
nas mesmas condições de Pereira (2008). Por analogia, pode-se
considerar que a detecção e a quantificação da expressão desses
genes de defesa devem estar relacionadas à existência de cascatas
de resistência ativadas em cacaueiros que contribuem para a
redução dos sintomas da doença. Aparentemente, peroxidases estão
mais envolvidas do que quitinases.
Vieira e Valle (2012b), testando a indução de resistência sistêmica
para o controle da vassoura de bruxa em cacaueiros adultos dos
clones ICS 1 (30 anos de idade) e CCN 51 (quatro anos de idade),
registraram a eficiência de alguns indutores na diminuição
estatisticamente significativa da incidência da doença, quando
comparados com plantas controle. No ICS 1, após 36 meses,
registrou-se a eficiência de vários indutores [glicose 0,3; 0,6; 0,9 e
1,2 M; AS (15 mM); AS + glicose (0,6 M + 15 mM); KCl (0,6 M);
sacarose (0,3; 0,45 M)] na diminuição estatisticamente significativa
de vassouras vegetativas, de almofadas, número de frutos infectados
e aumento do número de frutos sadios por planta no clone ICS-1,
suscetível a vassoura de bruxa, quando comparados ao controle
(Tukey p ≤ 0,05). Os indutores foram aplicados através de injeção no
tronco de 20 mL de cada um. Avaliação feita aos 18 meses no clone
CCN 51 registrou a eficiência de alguns indutores [AS + glicose (0,6
M + 15 mM); AS + glicose + H2O2 (0,6 M + 15 mM + 5 mM); KCl) (0,5
M)] aplicados diretamente ao tronco (20 mL) e indutores [AS +
glicose (0,6 M + 15 mM), AS + glicose + H2O2 (0,6 M + 15 mM + 5
mM); quitosana (200 ppm)] aplicados via pulverização (três
pulverizações de 100, 100 e 50 mL) na diminuição estatisticamente
significativa (Tukey p ≤ 0,05) de vassouras vegetativas, de
almofadas, número de frutos infectados e aumento do número de
frutos sadios por planta, quando comparados ao controle (VIERA;
VALLE, 2012b).
Brito et al. (2013), avaliando a eficiência de compostos de
indutores de resistência no controle da infecção da vassoura de
bruxa em plântulas de Catongo oriundas de sementes induzidas e
inoculadas com M. perniciosa, obtiveram valores significativamente
inferiores de infecção quando comparada às plantas controle. Nesse
trabalho, foram testadas soluções contendo um indutor e dois
indutores. Com um indutor foi utilizado sacarose a 0,45 M, e na
combinação de dois indutores foram testados o ácido salicílico a 15
mM mais glicose 0,45 M (80% + 20% respectivamente) e glicose a
0,45 M mais peróxido de hidrogênio a 1,5 mM (80% + 20%,
respectivamente).
Valente e Alves Júnior (2013), em trabalho para testar a eficiência
da sacarose como um indutor de resistência sistêmica em plantas de
cacaueiros produtivos em nível de campo contra a vassoura de bruxa
e podridão parda (Phytophthora spp.), obtiveram como resultado
uma redução do índice de doenças nas plantas induzidas. O
tratamento com sacarose a 0,45 M apresentou 86% de frutos sadios
e baixo índice das doenças. No entanto, é necessário mais de um
ciclo de avaliação para mostrar resultados conclusivos em
pesquisas, sobretudo de campo, sobre indução de resistência
(VALENTE; ALVES JÚNIOR, 2013). Estes resultados são
promissores para uso no sistema de manejo integrado para o
controle da vassoura de bruxa do cacaueiro.
9 Nutrição mineral como elicitor em cacaueiros
Outro fator importante que pode ser empregado como mecanismo
de indução de resistência em cacaueiros é a nutrição mineral, dado
que alguns deles são considerados indutores de resistência. Os
nutrientes minerais são essenciais para o crescimento e
desenvolvimento de plantas e microrganismos e são fatores
importantes em interações planta−doença. A nutrição mineral é uma
ferramenta que deve ser utilizada como um componente do manejo
integrado de doenças em cacaueiros. Contudo, como cada nutriente
afeta a resposta de uma planta para a doença, seja positiva ou
negativamente, é exclusivo para cada complexo planta− doença. Em
geral, as interações entre nutrientes e patógeno não são bem
entendidas. Os nutrientes podem afetar a suscetibilidade à doença
através de mudanças metabólicas da planta, criando um ambiente
mais favorável para o desenvolvimento da doença. Alguns macro e
micronutrientes são considerados importantes em relação à
incidência ou severidade das doenças porque, além dos efeitos
diretos sobre o crescimento e a produtividade, influenciam aspectos
nutricionais, bioquímicos, fisiológicos e anatômicos das plantas
(MARSCHNER, 2011). Quando um agente patogénico infecta uma
planta, ele altera a sua fisiologia, particularmente no que respeita à
absorção, assimilação, translocação e utilização desses nutrientes
minerais. Alguns patógenos podem utilizar os nutrientes para o seu
próprio desenvolvimento, reduzindo a sua disponibilidade para a
planta e aumentando a suscetibilidade à infecção.
Apesar da resistência a doenças ser geneticamente controlada, ela
é consideravelmente influenciada por fatores ambientais, e alguns
genes de resistência das plantas são ativados por estímulos
ambientais específicos. Nutrição mineral é um fator ambiental que
pode ser facilmente controlado em sistemas agrícolas e cujo efeito
pode ser substancial. Para complementar o método de controle de
enfermidades e pragas, é de grande ajuda conhecer como a nutrição
mineral afeta a resistência das plantas contra doenças. A alteração
de como a planta responde a ataques de pragas e doenças pode
incrementar a sua resistência. Existem dois mecanismos de
resistência fundamentais que a nutrição mineral afeta: 1) a formação
de barreiras através do desenvolvimento de paredes celulares mais
espessas; e 2) a síntese de compostos naturais de defesa como
fitoalexinas, antioxidantes e flavonoides, que proporcionam proteção
contra patógenos.
Paredes celulares finas e fracas vazam nutrientes do interior da
célula para o apoplasto. Isso pode criar um ambiente que estimule a
germinação de esporos de fungos na superfície das folhas e raízes.
Os níveis de nutrientes minerais influenciam diretamente na
quantidade que vaza da célula, bem como a composição do que flui.
Por exemplo, potássio (K) é essencial para a síntese de proteínas,
de amido e da celulose em plantas. A celulose é um dos principais
componentes das paredes celulares, e a deficiência de K faz com
que as paredes celulares se tornem permeáveis, resultando em altas
concentrações de açúcares e aminoácidos no apoplasto da folha. A
deficiência de Ca e B também causa uma acumulação de açúcares e
aminoácidos tanto nas folhas como nos ramos adjacentes. O
nitrogênio (N) é um componente chave de aminoácidos; por
conseguinte, um fornecimento excessivo de N pode provocar
maiores quantidades de aminoácidos e outros compostos contendo
N em tecidos de plantas. Estes desequilíbrios minerais decrescem a
resistência às doenças fúngicas, criando um ambiente mais favorável
para os patógenos.
A maioria dos fungos invade a superfície foliar, liberando enzimas
que dissolvem a parede celular e a lamela média (a cola que mantém
juntas células adjacentes). A atividade destas enzimas é fortemente
inibida por cálcio (Ca), o que explica a estreita correlação entre o
conteúdo de Ca dos tecidos e a sua resistência a doenças fúngicas.
Como mencionado anteriormente, os tecidos vegetais contêm e
produzem uma variedade de compostos de defesa que dificultam
ataques de fungos. Boro (B) desempenha um papel-chave na síntese
destes compostos. Complexos de B desencadeiam a formação de
um número de produtos químicos de defesa da planta no local de
infecção. O nível destas substâncias e seu efeito fungistático
diminuem quando o fornecimento de N é elevado.
A nutrição mineral também afeta a formação de barreiras
mecânicas no tecido vegetal. Em folhas maduras, a acumulação de
silício (Si) nas paredes celulares ajuda a formar uma barreira física
de proteção à penetração de fungos. Níveis excessivamente
elevados de N reduzem o teor de Si e aumentam a suscetibilidade a
doenças fúngicas.
O cobre (Cu) é um nutriente amplamente usado como fungicida. A
quantidade necessária, no entanto, é maior do que o requisito
nutricional. A ação de Cu como fungicida depende da sua direta
aplicação na superfície da planta. Do ponto de vista nutricional, a
deficiência de Cu prejudica a produção de compostos de defesa,
acúmulo de carboidratos solúveis e lignificação reduzida, o que
contribui para a diminuição da resistência a doenças.
Portanto, elementos minerais participam de diversos eventos
responsáveis pelos mecanismos de defesa como cofatores,
ativadores, inibidores e moduladores de várias reações do
metabolismo primário e secundário dos vegetais (ZAMBOLIM;
VENTURA, 1993; MARSCHNER, 2011). Além disso, alguns deles
são considerados indutores de resistência, como é o caso de certos
metais pesados (PASCHOLATI; LEITE, 1995).
O manganês (Mn), pela sua importância fisiológica, bioquímica e
nutricional, é associado frequentemente com alterações na
resistência ou tolerância dos vegetais a certas doenças. No caso do
cacaueiro, trabalhos recentes têm ressaltado a importância da
nutrição adequada para propiciar condições mais favoráveis à
manifestação dos mecanismos de resistência, destacando-se,
inclusive, a participação do próprio Mn (BATISTA et al., 1998;
NAKAYAMA et al., 1998a, 1998b; AGUILAR, 1999; NAKAYAMA;
ANDEBRHAN, 2000a).
Nakayama, Almeida e Morais (1991) verificaram que a
concentração de Mn era menor em ramos infectados por vassoura
de bruxa do cacaueiro, provavelmente devido à baixa disponibilidade
do elemento no solo e à sua pouca mobilidade na planta.
Contudo, a nutrição do cacaueiro também pode ser alterada pelo
fungo (BASTOS; PEREIRA, 1994; NAKAYAMA, 1996), dificultando o
estabelecimento de relações de causa e efeito neste patossistema.
Posteriormente, foi verificado que a aplicação de Mn via foliar reduziu
a percentagem de plantas infectadas pela doença (NAKAYAMA;
ANDEBRHAN; ALBUQUERQUE, 1998b). O fornecimento de Mn na
concentração de 2,5 µM na solução nutritiva também reduziu a
percentagem de plantas infectadas pelo fungo, porém somente no
híbrido Theobahia, tolerante à enfermidade, enquanto em Catongo
(suscetível) não ocorreu nenhuma diferença em função da presença
desse micronutriente (AGUILAR, 1999). Nesse trabalho, foi verificado
que a menor infecção, observada na concentração de 2,5 µM de Mn,
coincidia com a maior produção de amido, açúcares e fenóis
solúveis, especialmente nos primeiros dias após a inoculação com o
fungo. Além disso, também foram observadas maiores taxas
fotossintéticas nas folhas maduras (AGUILAR, 1999).
Para explicar o papel do Mn na indução de resistência às doenças,
pode ocorrer a atuação de vários mecanismos: 1) envolvimento das
rotas de biossíntese de fenóis solúveis e lignina; 2) aumento da
síntese de lignina; 3) inibição da indução de aminopeptidases,
promovida pelo patógeno, para a contínua produção, pelo
hospedeiro, de aminoácidos necessários ao seu crescimento; 4)
inibição de exoenzimas, como a pectina metilesterase, produzida por
certos fungos para a degradação das paredes celulares do
hospedeiro; e 5) inibição direta do crescimento do fungo pelo
aumento da concentração de Mn, chegando a níveis tóxicos para o
patógeno (GRAHAM; WEBB, 1991).
Römheld e Marschner (1991) destacaram a participação do Mn
como ativador de enzimas importantes, como a desoxi-D-
arabinoheptulosonato-7-fosfato-sintase, da rota do ácido xiquímico e
a sintetase do caureno, da via dos isoprenoides, assim como
constituinte da sintetase do fito-heno, outra enzima da rota
isoprenoide. A Mn-superóxido dismutase (Mn-SOD), embora não
participe da rota de biossíntese dos compostos fenólicos, também é
ativada pelo manganês, participando como grupo prostético dessa
enzima. A Mn-SOD também deve estar envolvida no mecanismo de
defesa contra patógenos, devido à provável participação dos radicais
superóxidos e do peróxido de hidrogênio nas reações de
hipersensibilidade da célula hospedeira (BOWLER; VAN MONTAGU;
INZE, 1992).
A resistência das plantas a doenças pode ser aumentada por meio
da formação de barreiras mecânicas e/ou pela alteração das
respostas químicas da planta ao ataque do parasita, aumentando a
síntese de toxinas que podem agir como substâncias inibidoras ou
repelentes. Barreiras mecânicas incluem, como já foi mencionado,
mudanças na anatomia, como células epidérmicas mais grossas e
um grau maior de lignificação e/ou silicificação (acúmulo de silício). A
sílica amorfa ou opala localizada na parede celular tem efeito
marcante sobre as propriedades físicas desta. Ao acumular-se nas
células da camada epidérmica, o silício (Si) pode ser uma barreira
física estável na penetração de alguns tipos de fungos,
principalmente em gramíneas. Neste aspecto, o papel do silício
incorporado à parede celular é semelhante ao da lignina, que é um
componente estrutural resistente à compressão (LIMA FILHO, 2005).
O silício também tem propiciado resultados satisfatórios,
mostrando potencial para uso no controle de vassoura de bruxa em
cacaueiro. Estudos recentes permitiram verificar que, acima de 200
mg de Si, ocorre inibição da germinação dos basidiósporos de vários
isolados do fungo. Portanto, é possível aumentar ou induzir
resistência em alguns clones de cacaueiro pelo uso desse elemento
(NAKAYAMA; ANDEBRHAN, 2000b). O efeito do Si na diminuição da
incidência de doenças, provavelmente, está associado com a
ativação de genes de defesa responsáveis pela produção de
enzimas que participam das rotas de biossíntese de compostos
secundários, como fenóis, lignina e fitoalexinas, bem como com o
processo de silicificação das paredes celulares e da epiderme que
aumenta a resistência à penetração do patógeno (MARSCHNER,
1995; LIMA FILHO; GROTH-GE-LIMA; TSAI, 1999).
A pulverização com ureia a 3% também reduz, significativamente,
a incidência de vassoura de bruxa em frutos de cacaueiro. Causa
também inibição da produção de basidiocarpos, quando aplicada
sobre vassouras secas, em concentrações que variam de 2% a 6%
(BASTOS, 1998).
A adoção de práticas que visem o aumento do teor dos nutrientes
que participam como indutores de genes de defesa e como cofatores
e/ou ativadores enzimáticos nas rotas de biossíntese de compostos
secundários é uma forma promissora de controle de doenças.
Adicionalmente, é uma forma de utilização de agentes abióticos e
manipulação do ambiente. Estas estratégias parecem interessantes
como medidas complementares para que a planta possa expressar o
seu potencial para a resistência de forma adequada (DIAS, 2001).
10 Considerações finais
A crise da lavoura cacaueira ocasionou mudanças significativas na
paisagem agrária e na dinâmica socioeconômica da Região Sul da
Bahia, principal polo produtor de cacau do Brasil. As consequências
foram significativas, com alterações na comercialização e no
mercado do cacau. Os decréscimos na produção e produtividade de
cacau no Brasil, nas últimas safras, são resultado principalmente do
alastramento da vassoura de bruxa, principal doença do cacaueiro
no país. Seu aparecimento, em 1989, e posterior disseminação
contribuíram para os níveis reduzidos desses indicadores.
Embora a incidência ou severidade da vassoura de bruxa possa
variar com o genótipo cultivado e com o arranjo e adensamento do
plantio, os aspectos nutricionais também estão relacionados com sua
ocorrência. Neste contexto, os aspectos nutricionais envolvidos na
ocorrência de doenças mostram que as deficiências e desequilíbrios
nutricionais também provocam mudanças morfológicas e
metabólicas, tornando as plantas mais suscetíveis ao ataque de
patógenos, como já mencionado.
A técnica de diagnose por subtração, ou técnica do elemento
faltante, permite detectar o nutriente que está limitando o
desenvolvimento normal da planta; dessa forma, ao se induzir as
sementes para resistência e inoculá-las com o patógeno, poderemos
determinar as interações nutrição−severidade−incidência da doença.
As reações provocadas na planta pela infecção de um patógeno
produzem sintomas em tipo e intensidade que alteram o fenótipo da
planta. A ativação de mecanismos de defesa é iniciada após o
reconhecimento do patógeno pela planta, mediado pela interação
gene a gene entre o produto do gene de resistência da planta (R) e o
produto do gene de avirulência (Avr) ou pela ligação de um elicitor
não específico, ou geral, denominada de interação entre o padrão
molecular associado ao patógeno (PAMP) e o receptor de
reconhecimento padrão (PRR), podendo culminar em resposta de
hipersensibilidade (morte celular). Esses são componentes do
sistema de defesa natural da planta cujos fenótipos são resistência
específica do hospedeiro (interação Avr-R) e resistência basal ou de
não hospedeiro (interação PAMP−PRR).
O reconhecimento inicial de elicitores de patógenos por receptores
de planta ativa uma cascata de transdução de sinais que envolve a
translocação de Ca2+ e prótons pela membrana plasmática até o
citosol, fosforilação e desfosforilação proteica, ativação de cinases
no citoplasma, a ativação do complexo NADPH-oxidase, produção
de ROS, ativação de AS, AJ e etileno, ativação de fatores de
transcrição de genes de defesa (proteínas-RP, fitoalexinas,
lignificação de tecidos, resistência local HR) e subsequente
resistência sistêmica tipo RSA ou RSI.
O estudo de elicitores específicos (avirulência) e gerais (PAMPs)
de patógenos de plantas e sua percepção pelas plantas são
fundamentais para o entendimento da base molecular da resistência
a doenças num dado patossistema.
De modo geral, embora os resultados obtidos pelo uso de agentes
bióticos sejam bastante animadores, o uso destes para controle de
doenças em condições de campo parece de difícil aplicação no curto
prazo. No caso de elicitores fúngicos, têm sido pulverizados sobre as
plantas misturas de elicitores bióticos ainda não caracterizados
quimicamente que, em algumas ocasiões, produzem resultados
contraditórios. Certamente, os resultados obtidos serão mais
consistentes após tais elicitores terem sido isolados e caracterizados.
A utilização de cultivares tolerantes/resistentes (controle genético),
o controle cultural e o controle biológico são estratégias que têm
mostrado sucesso na diminuição da incidência da vassoura de bruxa
do cacaueiro. No entanto, a descapitalização do agricultor e a
consequente ausência de recursos para investimento na propriedade
agrícola, atrelada ainda à alta infestação da doença são os principais
problemas da lavoura cacaueira. Isto evidencia a necessidade de
ações específicas que deem suporte técnico para a continuidade do
cultivo do cacaueiro em bases sustentáveis, tanto do ponto de vista
econômico quanto do ambiental. Nesse contexto, a indução de
resistência em plantas contra fitopatógenos se encaixa perfeitamente
nos ditames da agricultura sustentável. Esta tecnologia representa
uma abordagem nova, que pode ser utilizada pelo produtor para o
controle de estresses bióticos e abióticos encontrados na exploração
dos cultivos.
A indução de resistência (controle bioquímico) representa uma
importante alternativa para a geração de novas estratégias de
controle e manejo de doenças. Obviamente, um dos resultados
imediatos do uso dessa tecnologia deverá ser a redução da
utilização de defensivos agrícolas, portanto, em acordo com a
preocupação mundial de conservação do ambiente e redução da
poluição.
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Capítulo 5 — Melhoramento genético e
produtividade do cacaueiro no Brasil
Dário Ahnert1, Hellen Lazaro Melo2, Francisca Feitosa Jucá
Santos3, Luciano Ramos Lima4 , Virupax Chanabasappa Baligar5
1 Introdução
O melhoramento genético do cacaueiro (Theobroma cacau L.) no
Brasil tem como objetivo principal o desenvolvimento de cultivares
híbridos e clonais com as seguintes características: elevada
produtividade (igual a ou maior que 3000 kg/ ha/ano); resistência às
principais doenças e pragas (perda máxima de 5%); baixo índice de
fruto (máximo de 16 frutos para produzir 1 kg de cacau seco); e
amêndoas com características físicas, químicas e organolépticas que
atendam às demandas da indústria (peso acima de 1 g, menos de
12% de casca, teor de gordura acima de 55% e aroma e sabor que
atendam ao mercado) (AHNERT, 2006). Além de possuírem estes
atributos, os cultivares necessitam ser adaptados às principais
regiões de produção do país, nos estados da Bahia, Espírito Santo,
Pará, Amazonas, Rondônia e Mato Grosso. Busca-se, também,
adaptá-los em regiões de baixa precipitação pluviométrica, uma nova
fronteira de expansão da cacauicultura em sistema irrigado.
Os primeiros trabalhos de melhoramento genético de cacau no
Brasil foram orientados para a seleção de clones na década de 1930,
na Bahia, pelo extinto Instituto de Cacau da Bahia (ICB), e na década
de 1950, na Bahia e no Espírito Santo, pelo extinto Instituto
Agronômico do Leste (IAL). Porém, os cerca de 300 clones
selecionados por esses institutos não foram liberados aos produtores
para plantio. Isso ocorreu, possivelmente, pela carência, na época,
de um bom sistema de propagação assexuada de cacau e pela
dificuldade de transporte das mudas até as fazendas. No entanto, até
o surgimento das sementes híbridas, sementes de polinização livre
destes clones foram liberadas aos agricultores para plantio (VELLO
et al., 1969).
Os primeiros híbridos de cacau foram testados pela Comissão
Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (CEPLAC) a partir de
1963/1964, na Bahia. Dois anos depois, começaram a ser liberadas
as primeiras sementes híbridas que foram distribuídas aos
agricultores da Bahia e do Espírito Santo para plantio. Desde então,
foram produzidas e distribuídas anualmente sementes híbridas
nestes estados até o ano de 1997. Os agricultores recebiam uma
mistura de frutos de diferentes híbridos e preparavam suas próprias
mudas para plantio. Com a introdução da doença vassoura de bruxa
em 1989, na Bahia, e anos depois no Espírito Santo, os híbridos e os
cultivares locais foram muito atacados pela doença, reduzindo
drasticamente a produção. Assim, a partir do ano de 1997, os
híbridos foram substituídos por cultivares clonais resistentes à
doença vassoura de bruxa.
Nas regiões de produção de cacau dos estados da Amazônia
(polos cacaueiros) os primeiros ensaios de competição de híbridos
foram instalados pela CEPLAC a partir de 1973/1974 nas estações
experimentais de Manaus (CEMAN) e Belém (CEBEL), tendo sido
ampliadas a partir de 1978 nas estações experimentais ERNEG
(AM), ESTAL (PA), ESEOP (RO), ESALF (MT) e ESSIN (MA)
(CEPLAC/DEPEA, 1980). Até o final da década de 1970, as
sementes híbridas distribuídas pela CEPLAC nos polos cacaueiros
da Amazônia vinham da Bahia. A partir da década de 1980, os
campos de produção de sementes híbridas da Amazônia tornaram-
se autossuficientes, distribuindo os híbridos que mais se destacavam
em produção e resistência nos ensaios de competição de híbridos
das estações experimentais.
Em média, os cultivares híbridos agronomicamente superiores, se
bem manejados, são capazes de produzir até 2500 kg/ha/ano de
amêndoas secas (AHNERT, et al., 1987; MARIANO; BARTLEY,
1981). Porém, os híbridos são produzidos por meio de genitores
autoincompatíveis, gerando progênies com elevado nível de
autoincompatibilidade e elevada heterogeneidade, defeitos estes que
reduzem a produtividade e aumentam os custos de produção.
Portanto, representam uma tecnologia que necessita ser revista, de
modo a eliminar os alelos de incompatibilidade das populações de
melhoramento e produzir híbridos autocompatíveis e mais uniformes.
Os cultivares clonais autocompatíveis, resistentes e produtivos
representam uma das maiores inovações feitas na cacauicultura
brasileira nos últimos anos. Os primeiros cultivares clonais
resistentes à vassoura de bruxa foram lançados a partir de
1996/1997 na Bahia e no Espírito Santo. Mas, estes eram
autoincompatíveis e, por isso, apresentaram baixas produtividades,
além de perderem a resistência à vassoura de bruxa em curto
espaço de tempo. A partir de 2002, começaram a ser substituídos
por cultivares autocompatíveis, que se mostraram altamente
produtivos e de resistência duradoura, conquistando a credibilidade
dos produtores.
Atualmente, cerca de 12 cultivares clonais autocompatíveis e
resistentes à vassoura de bruxa são cultivados pelos produtores.
Grande parte foi selecionada em fazendas da Bahia, sendo que os
melhores cultivares podem alcançar produtividades de 3000
kg/ha/ano ou superiores se bem manejados. Além disso, cerca de
400 novos clones estão em processo de avaliação pela CEPLAC
(LOPES et al., 2011), indicando que, num futuro próximo, novos
cultivares que reúnem alelos de diferentes fontes de resistência e
que tenham características agronômicas superiores deverão ser
disponibilizados aos agricultores.
Os cultivares clonais autocompatíveis estão propiciando a
reorganização do sistema de produção de cacau e sua expansão
para novas fronteiras agrícolas, em regiões de baixa precipitação,
onde os plantios são irrigados e cultivados a pleno sol. Além disso,
propiciam, também, a adoção de manejo agronômico altamente
tecnificado, assimilando novos conceitos, tais como, cultivo em
blocos monoclonais, mecanização, fertilizações programadas,
fertirrigação, cultivo a pleno sol, produção de cacau gourmet, etc.
O uso de cultivares clonais permitiu que a produção de mudas
passasse para a iniciativa privada, acelerando seu processo de
produção e distribuição. Já os cultivares híbridos eram produzidos
exclusivamente pela CEPLAC, ficando, portanto, restritos a um único
órgão público. Essa reorganização está atraindo a atenção de
viveiristas, assim como de médios e grandes produtores, que estão
investindo no cultivo, fazendo grandes inovações e assumindo papel
importante na geração de novas tecnologias e no aumento da
produção e da produtividade do cacau no Brasil.
2 Breve histórico do melhoramento genético
do cacaueiro no Brasil
Os primeiros trabalhos de melhoramento genético do cacaueiro no
Brasil tiveram início em 1934, na Bahia, pelo extinto Instituto de
Cacau da Bahia (IBC), que fez seleção massal em populações de
cacau existentes na estação experimental de Água Preta, em
Uruçuca, Bahia, hoje, Instituto Federal de Ciência, Educação e
Tecnologia Baiano, em que foram selecionados 33 clones, que
receberam a denominação de SIC (Seleção Instituto do Cacau).
Adotou-se como critério de seleção a escolha de plantas com
elevada produção (número de frutos) e que, ao mesmo tempo,
tivessem sementes grandes, para a melhoria do rendimento
industrial e da resistência à doença podridão parda do fruto, causada
pelo fungo Phythophtora spp. (VELLO et al., 1969).
Cabe registrar que o cacaueiro foi introduzido no Sul da Bahia,
pela primeira vez, em 1746, por meio de frutos/sementes vindos do
estado do Pará. Essa primeira introdução formou o cultivar local
denominado Cacau Comum. Entre os anos de 1874 e 1876 houve
novas introduções, também do Pará, que deram origem aos
cultivares Pará, Parazinho e Maranhão (BARTLEY, 2005). Também
surgiu o cultivar Catongo, que é uma mutação do Cacau Comum, o
qual apresenta os cotilédones das sementes, as flores e as folhas
novas despigmentadas (brancas). Surgiu, ainda, o cultivar Almeida,
uma mutação do cultivar Parazinho, que, assim como o Catongo,
possui os cotilédones de cor branca. Esses cultivares foram
selecionados pelos produtores, sendo encontrados em toda a região.
Atualmente, estima-se que cerca de 50% dos 568.271 hectares de
cacau existentes na região produtora da Bahia sejam formados pelos
cultivares locais.
Entre os anos de 1953 e 1957, houve um segundo trabalho de
seleção de plantas na Bahia e no Espírito Santo, também em
populações de cacaueiros formados pelos cultivares locais, feito pelo
extinto Instituto Agronômico do Leste (IAL), através das Estações
Experimentais de Juçari (Bahia) e Goitacazes (Espírito Santo)
(VELLO et al., 1969). Vale recordar que os cultivares locais do
Espírito Santo foram introduzidos da Bahia a partir de 1917, portanto,
em princípio, são formados pelo mesmo material genético. Naquela
ocasião, foi selecionado um número expressivo de plantas —
principalmente em fazendas de agricultores — cujos clones foram
denominados SIAL (Seleção Instituto Agronômico do Leste) e EEG
(Estação Experimental de Goitacazes). Os critérios de seleção
também foram baseados na produção de frutos por planta, tamanho
de sementes e resistência à doença podridão parda do fruto. Ao
todo, o número de seleções feito pelas estações experimentais,
incluindo as séries SIC, SIAL e EEG, totalizou 300 clones (VELLO et
al., 1969). Esses genótipos selecionados tiveram uma grande
importância para a cacauicultura da Bahia e também serviram como
germoplasma base para o programa de melhoramento genético em
outros países produtores.
O objetivo dos trabalhos pioneiros de seleção massal das décadas
de 1930 e 1950 foi a obtenção de cultivares clonais
agronomicamente superiores para serem multiplicados por meio de
estacas enraizadas, com a finalidade de serem distribuídos aos
agricultores, conforme modelo adotado em Trinidad, entre as
décadas de 1930 e 1940 (VELLO et al., 1969). Mas, isso não foi
concretizado devido ao surgimento dos cultivares híbridos na década
de 1950, que eram considerados superiores aos clonais e de mais
fácil utilização pelos produtores (PURSEGLOVE, 1968). Contudo,
sementes dos clones selecionados, obtidas por polinização livre,
foram distribuídas aos agricultores antes do surgimento das
sementes híbridas (VELLO et al., 1969).
Com a criação da CEPLAC em 1957, optou-se pela produção de
cultivares híbridos de cacau para distribuição aos produtores para
plantio. Essa decisão foi respaldada em trabalhos nos centros de
pesquisa de Trinidad e Turrialba, mostrando que existe vigor híbrido
quando se realiza cruzamentos entre acessos de diferentes grupos
raciais de cacau (RUSSEL, 1952; BARTLEY, 2005). Para produzir os
cultivares híbridos, a CEPLAC estabeleceu um Banco de
Germoplasma (BAG) e um arrojado programa de introdução de
clones de cacau, tanto do Brasil (Amazônia) como do exterior,
especialmente da Costa Rica (Turrialba) e de Trinidad. O BAG
começou com o estabelecimento de 37 clones SIC, 18 clones SIAL e
21 clones EEG, obtidos por um processo de resseleção nas referidas
estações experimentais de Água Preta, Juçari e Goitacazes.
Concomitantemente, novos materiais genéticos pertencentes aos
grupos raciais Trinitário, Crioulo e Alto Amazônico, além de clones da
Amazônia brasileira, começaram a ser introduzidos (VELLO et al.,
1969). Atualmente, existem dois grandes bancos de germoplasma
mantidos pela CEPLAC, um no Pará, com cerca de 2.000 acessos, e
outro na Bahia, com 1.300 acessos (LOPES et al., 2011).
Na Bahia e no Espírito Santo, combinações híbridas foram
produzidas cruzando-se clones introduzidos (Alto Amazônicos e
Trinitários) com os clones de seleções locais (SIC, SIAL, EEG),
visando obter híbridos biclonais agronomicamente superiores, com
elevada produtividade, adaptabilidade às condições edafoclimáticas
regionais, resistência às enfermidades, precocidade e tamanho
grande de sementes (VELLO et al., 1969). Durante o período de
1964 até 1997, cerca de 600 combinações foram testadas, sendo
que os primeiros híbridos recomendados aos produtores foram: UF
613 X SIAL 325, UF 613 X SIC 813, IMC 67 X SIC 813, IMC 67 X
SIAL 70, UF 613 X SIAL 70, IMC 67 X SIAL 325, P 7 X IMC 67, PA
30 X IMC 67, PA 121 X IMC 67, PA 150 X IMC 67, TSH 565 X IMC
67, TSH 656 X IMC 67, TSA 644 X IMC 67, SCA 6 X UF 667, SCA
12 X UF 613, SCA 6 X ICS 39, PA 150 X SIC 864 e PA 169 X SIC
864 (VELLO et al., 1969). À medida que os resultados dos
experimentos de campo ao longo dos anos de avaliação apontavam
melhores híbridos, as recomendações eram alteradas, de sorte que
novas combinações híbridas iam sendo distribuídas aos agricultores.
A Comissão Interna de Sementes do CEPEC, em 1988/1989, decidiu
reduzir o número de genitores, buscando ter um conjunto de híbridos
mais homogêneos, pois os agricultores reclamavam da
heterogeneidade das plantações. Para isso, foi recomendado cruzar
três genitores do grupo Trinitário (ICS 1, ICS 6 e ICS 8) com os
seguintes genitores locais: SIAL 70, SIAL 88, SIAL 169, SIAL 325,
SIAL 05, SIC 23, SIC 328, SIC 19, SIC 5 e SIC 17 (GOMES et al.,
1988). Os últimos híbridos lançados foram Theobahia I, em 1995, e
Theobahia II e III, em 1997; na época, resistentes à vassoura de
bruxa.
A partir de 1996/1997, foram lançados os primeiros cultivares
clonais resistentes à vassoura de bruxa (MONTEIRO; AHNERT,
2012). Esta foi a opção mais lógica na época, pois as plantas
resistentes eram facilmente identificadas nos plantios comerciais e,
por meio da clonagem, poderiam ser perpetuadas indefinidamente.
Os cultivares clonais foram inicialmente utilizados para enxertia em
brotos basais, visando substituir as copas suscetíveis por resistentes.
Esse método de enxertia foi a maneira mais rápida e econômica
encontrada para renovar a lavoura, já que os enxertos crescem
rápido e as plantas velhas continuam produzindo, possibilitando
retorno financeiro ao produtor mesmo durante a renovação da
lavoura. Atualmente, para a renovação das lavouras, utiliza-se, além
da enxertia em brotos basais, o plantio por baixo de mudas
enxertadas com a eliminação das plantas velhas à medida que as
plantas novas crescem e há renovação total dos cacaueiros através
da eliminação das plantas velhas e começando um novo plantio.
Os primeiros cultivares clonais eram resistentes à vassoura de
bruxa, porém autoincompatíveis. Estes, devido à
autoincompatibilidade, não alcançaram as produtividades
preconizadas pela CEPLAC, de pelo menos 1500 kg/ha/ano,
alcançando uma produção máxima de 900 kg/ha/ano em nível de
agricultor. Eles também perderam a resistência em um curto espaço
de tempo, pelo fato de a resistência estar fundamentada em um
único alelo de resistência de efeito maior, advindo dos clones
Scavina 6 e 12 (MONTEIRO; AHNERT, 2012). Além disso, por serem
autoincompatíveis, produzem muitas flores e, por isso, apresentam
muitas vassouras nas almofadas florais. O insucesso desses
cultivares trouxe grandes prejuízos aos produtores, mas também
grande aprendizado aos melhoristas e à CEPLAC, que passaram a
eliminar os alelos de incompatibilidade de suas populações de
melhoramento e a incorporar alelos de outras fontes de resistência,
fazendo piramidação de genes, além de testes por longos anos e em
diferentes locais antes da recomendação de um novo cultivar.
A partir de 2002, começaram a ser lançados os cultivares clonais
autocompatíveis, resistentes e produtivos. Estes, na sua maioria, têm
se mostrado com resistência duradoura à vassoura de bruxa, sendo
alguns também resistentes à podridão parda do fruto. Possuem a
vantagem de reunir genes dos três grupos raciais de cacau em seu
genoma, por serem originários de cruzamentos complexos que
reúnem as características agronômicas superiores de cada grupo
racial. Com eles, a cacauicultura brasileira está se renovando e se
modernizando.
Na Amazônia, o programa de melhoramento de híbridos biclonais
foi iniciado pela CEPLAC, a partir de 1973/1974, nas estações
experimentais de Manaus (CEMAN) e Belém (CEBEL), tendo sido
ampliado, a partir de 1978, nas estações experimentais ERNEG
(AM), ESTAL (PA), ESEOP (RO), ESALF (MT) e ESSIN (MA)
(CEPLAC/DEPEA, 1980). Todo esforço de melhoramento foi dirigido
para o desenvolvimento de cultivares híbridos resistentes à vassoura
de bruxa, produtivos e adaptados aos polos cacaueiros da região.
Neste sentido, foi dada ênfase ao uso de materiais genéticos do
grupo racial Forasteiro Amazônico, inicialmente cruzando-se clones
Alto e Baixo Amazônicos e posteriormente, a partir da década de
1980, cruzando-se materiais genéticos obtidos por meio de
expedições botânicas feitas pela CEPLAC na Amazônia e mantidos
nos bancos de germoplasma. Cerca de 380 combinações híbridas
foram testadas, resultando em 28 híbridos resistentes e produtivos
recomendados aos produtores (FRANCISCO NETO, 2008). Até o
final da década de 1970, as sementes híbridas distribuídas pela
CEPLAC nos polos cacaueiros da Amazônia vinham da Bahia
(MACHADO et al., 1983). A partir da década de 1980, os campos de
produção de sementes dos polos cacaueiros da Amazônia tornaram-
se autossuficientes na produção de sementes híbridas, assim
suprindo a demanda.
3 Grupos raciais de cacau e seus usos no
melhoramento
Evidências científicas sugerem que o cacaueiro (Theobroma cacau
L.) originou-se na Amazônia, sendo o seu mais provável centro de
origem a região de confluência dos rios Napo, Putumayo e Caqueta,
no Alto Amazonas, pois neste local, além de elevada diversidade
genética, foram encontrados cacaueiros dos dois grupos raciais
principais: Forasteiro Amazônico e Crioulo (CHEESMAN, 1944;
MOTAMAYOR et al., 2002). Cabe explicar que esses grupos não são
subespécies diferentes, mas sim variações dentro da mesma espécie
(BARTLEY, 2005).
Evidências sugerem que, da sua região de origem, o cacaueiro
teria se dispersado em duas direções: para a Bacia Amazônica e
para a Mesoamérica. Os cacaueiros pertencentes às populações
encontradas na Mesoamérica e adjacências fazem parte do grupo
racial Crioulo, e aqueles pertencentes às populações da Bacia
Amazônica e adjacências, do grupo racial Forasteiro Amazônico.
Existe ainda um terceiro grupo denominado Trinitário, que surgiu na
ilha de Trinidad, por hibridação natural entre Crioulo e Forasteiro
Amazônico (BARTLEY, 2005).
Uma das características peculiares do cacau Crioulo é que ele
possui frutos vermelhos, além de frutos verdes. Essa característica
de fruto vermelho em cacau cultivado é encontrada somente no
cacau Crioulo, pois o cacau Amazônico cultivado possui frutos
verdes. Porém, frutos pigmentados de vermelho são encontrados em
algumas populações silvestres do cacau Amazônico, por exemplo,
naquelas dos Rios Javari, Iça, Alto Solimões (no Brasil), Conambo e
Sucumbios (no Equador) (BARTLEY, 2005). Portanto, todos os
cacaueiros que existem hoje nas regiões produtoras do mundo com
fruto vermelho foram originados de cacau Crioulo.
O cacau Crioulo possui composição química de suas sementes
diferentes daquela encontrada no Amazônico (BARTLEY, 2005). Os
cotilédones das sementes úmidas do grupo Crioulo são de cor
branca ou violeta claro, enquanto os do grupo Amazônico são de cor
branca, violeta-claro e violeta-escuro. Em geral, as sementes de
Crioulo requerem poucos dias para sua fermentação completa; já a
do Amazônico, mais tempo.
O cacau Crioulo produz amêndoas que se destacam pela baixa
acidez, adstringência e por sabor típico, conferindo a esse grupo
elevada qualidade organoléptica, sendo, por isso, mundialmente
reconhecido como um cacau fino ou gourmet. Atualmente existem
poucos plantios de cacau Crioulo puro, pois são muito suscetíveis ao
ataque de pragas e doenças. Os tipos cultivados mais conhecidos
são: Porcelana, Ocumare e Chuao, todos da Venezuela. Grande
parte do cacau fino ou gourmet produzido no mundo atualmente
provém de Trinitário. Acredita-se que apenas 5% do cacau produzido
no mundo seja considerado fino. Deste total, 1% provém de Crioulo
puro; e os 4% restantes, de Trinitário.
O cacau Amazônico, no geral, possue sabor mais encorpado,
sendo mais utilizados para produzir cacau regular (“bulk cocoa”).
Cerca de 95% do cacau produzido no mundo é do tipo Amazônico.
Mas, alguns tipos também produzem cacau fino, a exemplo do cacau
Nacional do Equador. Ele possui ainda uma elevada diversidade
genética, podendo ser encontrado, nas populações naturais, ampla
variação para tipos de frutos, sementes, folhas, tamanho de árvore,
forma de copa e, especialmente, elevada tolerância ao ataque de
pragas e doenças (BARTLEY, 2005). O Crioulo possui menor
diversidade genética e menor tolerância ao ataque de pragas,
contudo, apresenta boas características de sementes e frutos.
Portanto, as características favoráveis destes dois grupos raciais de
cacau podem ser reunidas em uma população por meio de
cruzamentos.
O primeiro registro da ocorrência de cruzamentos entre cacaueiros
Amazônicos e Crioulos foi feito na Ilha de Trinidad. Inicialmente só
existiam cacaueiros Crioulos na Ilha, provavelmente vindos da
Venezuela. Nos séculos XVII e XVIII, foram introduzidos cacaueiros
Amazônicos, e estes foram plantados misturados aos Crioulos. Com
isso, cruzaram-se entre si naturalmente, formando uma população
híbrida com superioridade agronômica. Desta população, entre os
anos de 1933 e 1935, foram selecionados 100 clones com
características de interesse — tais como fruto e semente grandes,
elevada produção, resistência a pragas e doenças, etc. — nas
fazendas da Ilha de Trinidad, assim formando a coleção
mundialmente conhecida dos clones ICS (“Imperial College
Selection”), denominadas ICS 1 até ICS 100 (JOHNSON; BEKELE;
SCHNELL, 2004). Os recursos genéticos provenientes da Ilha de
Trinidad foram enviados para todas as partes do globo em que se
produz cacau e vêm sendo utilizados em programas de
melhoramento genético e por produtores.
Portanto, existem três grupos raciais principais de cacau: Crioulo,
Forasteiro Amazônico e Trinitário. Dadas as diferenças entre os tipos
de cacau do Alto e do Baixo Amazonas, é comum encontrar outros
grupos de cacau na literatura, como Alto-Amazônico e Baixo-
Amazônico, assim como o das Guianas. Também é comum a
denominação Amelonado para o cacau originário do Baixo
Amazonas, por possuir frutos na forma de melão, amplamente
plantado na África. É muito interessante frisar que alguns acessos
desses grupos raciais, quando cruzados, apresentam progênies com
vigor híbrido (RUSSEL, 1952; BARTLEY, 2005). Formam, portanto,
grupos heteróticos que vêm sendo explorados para produzir
cultivares híbridos e clonais.
Estudos mais recentes demonstram que existe uma ampla
variabilidade genética em cacau, sugerindo existir, na verdade, várias
populações e sub-populações (BARTLEY, 2005). Estudos
desenvolvidos com marcadores moleculares demonstraram existir,
pelo menos, dez grupos genéticos estruturando a diversidade
genética do cacau: Maranon, Curaray, Crioulo, Iquitus, Nanay,
Contanama, Amelonado, Purús, Nacional e Guiana (MOTAMAYOR et
al., 2008). Esses novos conhecimentos estão contribuindo para
orientar cruzamentos e formar populações segregantes de interesse
para o melhoramento.
4 Bancos de germoplasma de cacau no Brasil
O Brasil é um dos grandes detentores de germoplasma de cacau
do mundo. Possui dois principais bancos de germoplasma, mantidos
pela CEPLAC, em que são conservadas plantas in vivo da espécie e
espécies afins. Um dos bancos de germoplasma está estabelecido
no Centro de Pesquisas do Cacau (CEPEC), Ilhéus, Bahia, que
reúne cerca de 1.300 acessos originários de diferentes regiões do
mundo. O outro banco de germoplasma está estabelecido em
Marituba, Pará, na Estação de Recursos Genéticos José Haroldo
(ERJOH), que reúne cerca de 2.000 acessos, sendo 90% destes
silvestres, coletados nas bacias dos rios da Amazônia brasileira
(ALMEIDA et al., 1987; LOPES, et al., 2011).
A Bacia Amazônica é considerada um dos maiores repositórios da
diversidade genética existente em cacau (BARTLEY, 2005), onde são
encontradas tanto populações silvestres como semidomesticadas da
espécie vegetando nas margens dos rios e nas florestas. O Brasil
vem envidando esforços para resgatar parte da diversidade existente
na Bacia Amazônica para conservá-la em banco de germoplasma e
usá-la no melhoramento da espécie. Neste sentido, acessos têm sido
coletados desde 1965 nas bacias dos rios da região e estabelecidos
no banco de germoplasma da ERJOH (ALMEIDA et al., 1987).
Os acessos dos Bancos de Germoplasma da CEPLAC já foram
amplamente caracterizados, e alguns, avaliados, demonstrando
existir variabilidade genética para os caracteres de interesse
agronômico (VELLO et al., 1969; MARIANO; BARTLEY, 1981;
MARITA et al., 2001; YAMADA, et al., 2001; PIRES, 2003; SANTOS,
2014). Mas, pouco deste vasto germoplasma foi utilizado para os
trabalhos de melhoramento e produção de cultivares.
Registros apontam que 600 cruzamentos biclonais simples, com
apenas uma geração de avaliação de irmãos completos, foram
testados na Bahia, e 380, na Amazônia brasileira (LOPES et al.,
2011). Evidentemente, este número sugere que houve um grande
esforço para a utilização de germoplasma, pois os ciclos de
melhoramento de cacau são longos, e a condução dos experimentos
é muito onerosa. Porém, como resultado destes trabalhos, 21 clones
foram selecionados e utilizados pela CEPLAC para a produção de
sementes híbridas na Bahia (YAMADA et al., 2001), e 17 clones,
para a produção de sementes híbridas no Pará (FRANCISCO NETO,
2008). Em resumo, muito pouco da variabilidade existente foi
efetivamente utilizada para a produção de cultivares.
Uma das razões para isso foi a inexistência de um programa de
melhoramento populacional até a década de 1990. Com o
redirecionamento do programa de melhoramento pela CEPLAC da
Bahia, passou-se a utilizar a seleção recorrente recíproca (PIRES et
al., 1999) e a formação de populações por meio de cruzamentos
simples, duplos, triplos, complexos e retrocruzamentos (MONTEIRO;
AHNERT, 2012), utilizando maior número de acessos para compor
populações base para os trabalhos de seleção e produção de
cultivares clonais (LOPES et al., 2011). Com isso, espera-se que os
cultivares a serem lançados no futuro próximo reúnam um conjunto
maior de alelos de diferentes origens e possam ser melhor
adaptados aos sistemas de produção da atualidade. É importante
lembrar que doenças que antes eram restritas a algumas regiões de
produção do mundo estão sendo dispersadas, como é o caso da
monilíase, que já se encontra nas bordas da divisa do Brasil com
outros países latino-americanos produtores de cacau. Por isso, é
necessário que os programas de melhoramento estejam atentos a
estas ameaças buscando novas fontes de resistência e testando
aquelas já existentes em parceria com outros países.
5 Autoincompatibilidade genética e seus
problemas na produção de cacau
A autoincompatibilidade é um mecanismo fisiológico de base
genética que impede as plantas hermafroditas férteis de se
autofecundarem. O cacaueiro possui flores hermafroditas,
apresentando tanto o componente masculino (estame) como o
feminino (pistilo), podendo então fecundar suas próprias flores para
produzir sementes. No entanto, existem, na espécie, plantas
autocompatíveis que são capazes de se autofecundar e plantas
autoincompatíveis que não se autofecundam. Portanto, entender e
manipular a genética deste sistema torna-se muito importante para o
melhoramento da espécie, já que objetiva-se produzir o máximo
possível de sementes. Por isso, são necessárias a fertilização e
formação dos zigotos sem nenhum tipo de impedimento de ordem
genética/fisiológica, evitando prejuízos aos agricultores.
No cacau, a autoincompatibilidade é controlada por uma série de
cinco alelos S, com a seguinte ordem de dominância (>) e
codominância (=): S1> S2 = S3> S4> S5 (KNIGHT; ROGERS, 1953,
1955). Existem também os alelos S0, que são responsáveis pela
autocompatibilidade. Além desses alelos, suspeita-se que existam
dois outros locos gênicos, A e B, que seriam responsáveis por
produzir substâncias precursoras para ativar os alelos da série S
(COPE, 1962). Portanto, o cacau tem um tipo peculiar de
autoincompatibilidade, apresentando-se tanto na forma esporofítica
como na gametofítica, em que a reação de autoincompatibilidade
acontece no ovário, no início da fusão gamética. Havendo a
autoincompatibilidade, após a liberação do núcleo espermático no
ovário, não ocorrerá a singamia, e a flor abortará.
Numa população de plantas que possuem os alelos S0, S1, S2,
S3, S4 e S5, caso estas plantas cruzem entre si aleatoriamente ou
se autofertilizem, pode haver diferentes resultados quanto à
fertilização. Por exemplo, caso as plantas se autofertilizem, teremos
os seguintes resultados: i) fertilização de 100% dos óvulos; ii)
fertilização de 75% dos óvulos; iii) fertilização de 50% dos óvulos; e
iv) fertilização de 0% dos óvulos. Portanto, a autoincompatibilidade é
um fator complicador na produção de cacau, havendo a necessidade
de muito cuidado, especialmente quando são produzidos e
distribuídos cultivares aos produtores. O ideal é eliminar os alelos de
incompatibilidade da população de melhoramento para trabalhar
somente com plantas autocompatíveis.
A autoincompatibilidade tem sido muito utilizada em cacau para a
produção de sementes híbridas. Os campos de produção de
sementes são estabelecidos segundo um desenho, de tal forma que
clones mãe autoincompatíveis são plantados em fileiras duplas e ao
seu lado, em fileira simples, são plantados clones autocompatíveis
ou intercompatíveis para servir de doador de pólen às plantas mães
para produzir as sementes híbridas. Esse padrão de duas fileiras de
clones mães e uma de clone pai se repete formando os campos de
produção de sementes. Desta forma, as sementes colhidas das
plantas mães autoincompatíveis são supostamente híbridas, obtidas
por meio de polinização natural. Esse modelo foi utilizado na Bahia
para a produção de híbridos e vem sendo utilizado até os dias de
hoje na Amazônia brasileira pela CEPLAC.
Entretanto, misturas de pólen compatível e incompatível propiciam
a quebra da reação de incompatibilidade nas flores, permitindo que
sementes de autofecundações também sejam produzidas. Esta
contaminação ocorre em proporções desconhecidas, concorrendo
para o aumento da heterogeneidade da mistura de plantas e redução
na produção (MONTEIRO; AHNERT, 2012). Nesses campos, além
da polinização natural, também são utilizadas polinizações manuais
feitas pelo homem, mas isso onera a produção de sementes. No
geral, são combinadas polinizações naturais e manuais, a depender
da disponibilidade de recursos financeiros e da demanda de
sementes.
6 Métodos de melhoramento adotados em
cacau
A espécie Theobroma cacau L. é considerada semidomesticada
(CLEMENT, 1990), pois as plantas cultivadas não sofreram elevado
grau de modificação genética pelo processo de seleção e cultivo pelo
homem, possivelmente pelo fato de o cacaueiro ser perene e viver
por mais de 100 anos em condições de cultivo, havendo
sobreposição de gerações. O cacau Crioulo é considerado o mais
domesticado, pois vem sendo cultivado por milênios pelos povos
Olmecas, Toltecas, Maias e Astecas (BARTLEY, 2005; MOTAMAYOR
et al., 2002). Mas o cultivo de cacau no mundo expandiu-se por meio
de material genético Amazônico e Trinitário, considerados mais
resistentes a pragas e doenças.
Os programas de melhoramento de cacau no Brasil têm como foco
elevada produtividade e resistência a doenças. Quanto aos fatores
de produção, os mais importantes são: número de frutos por planta;
peso de sementes por fruto; número de sementes por fruto; peso
médio de semente e índice de fruto (número de frutos necessários
para produzir 1 kg de sementes secas). Quanto às doenças, as
principais são vassoura de bruxa e podridão parda, mas existe a
preocupação com a monilíase, que pode chegar às lavouras do
Brasil. Existe germoplasma disponível nos BAGs com variabilidade
para todas as características mencionadas, facilitando os trabalhos
de melhoramento. Uma excelente fonte de germoplasma são os
cultivares clonais autocompatíveis em cultivo pelos produtores. No
geral, existe uma correlação positiva entre a avaliação per se de um
cultivar melhorado e de sua performance como genitor. Assim,
utilizando cruzamentos entre genitores de alto desempenho (“bom x
bom”), pode-se alcançar elevados ganhos genéticos em curto
espaço de tempo. Esforços de melhoramento também estão sendo
feitos no sentido de melhorar a qualidade física, química e
organoléptica das amêndoas (LOPES et al., 2011). Algo muito
relevante é que, nos últimos 20 anos, os programas de
melhoramento da Bahia estão utilizando seleção recorrente,
propiciando o ajuntamento de diferentes alelos existentes nas
populações dos grupos raciais em uma única população melhorada,
visando ampliar os ganhos genéticos.
O cacaueiro é considerado uma planta preferencialmente alógama,
propagando-se tanto por sementes como de forma vegetativa, o que
facilita os trabalhos de melhoramento. Os métodos de melhoramento
mais adotados em cacau são a introdução de plantas, seleção
massal em populações de polinização aberta, desenvolvimento e
seleção de cultivares híbridos, desenvolvimento e seleção de
cultivares clonais e seleção recorrente.

6.1 Introdução de plantas

Apesar de ser normalmente utilizado no início de um programa de


melhoramento, este método continua sendo utilizado em cacau,
especialmente devido à disseminação das doenças nas diferentes
regiões de produção. Por exemplo, após a chegada da doença
vassoura de bruxa na Bahia, no ano de 1989, foram introduzidos do
Equador, dentre outras, os cultivares clonais CCN 51 e CCN 10,
resistentes e que, na atualidade, vêm sendo amplamente cultivados
pelos produtores. Cabe lembrar que os primeiros cultivares clonais
lançados pela CEPLAC, resistentes à vassoura de bruxa, como TSH
516, TSH 565, TSH 774, TSH 1188, EET 397, EET 392, TSA 654,
TSA 656, TSA 792, também foram introduzidos. Devido ao longo
ciclo de melhoramento do cacaueiro, este método continua sendo um
dos mais rápidos para a obtenção de cultivares, especialmente para
a solução imediata em casos de introdução de uma nova praga em
uma região de cultivo. Pois os trabalhos de melhoramento preventivo
nem sempre são possíveis de realizar por questões de recursos
financeiros ou mesmo por falta de cooperação internacional entre os
países produtores.

6.2 Seleção massal


É um método normalmente utilizado no início de um programa de
melhoramento, em que plantas com características fenotípicas de
interesse para o cultivo são selecionadas entre populações com
ampla variabilidade genética. Foi utilizado no cacau para seleção dos
clones SIC, na década de 1930, na Bahia, e SIAL e EEG, na década
de 1950, na Bahia e Espírito Santo, respectivamente, em que os
melhoristas avaliaram inúmeras plantas individuais e selecionaram
aquelas com as melhores performances agronômicas, especialmente
elevado número de frutos, maior resistência a Phythopthora spp. e
maior tamanho de sementes. Recentemente, após a introdução da
doença vassoura de bruxa na Bahia, esse mesmo método de
seleção foi aplicado com muito êxito na seleção de plantas
resistentes e produtivas.
Cabe registrar que o sucesso da seleção massal de plantas
resistentes à vassoura de bruxa foi devido a vários fatores. Em
função da distribuição de híbridos pela CEPLAC — com
ascendências dos grupos raciais Trinitário, Alto Amazônico e Baixo
Amazônico —, existia uma ampla variabilidade genética para várias
características, incluindo resistência à vassoura de bruxa. Com a
disseminação da vassoura de bruxa nos cerca de 600 mil hectares
de cacau existentes na época, verificou-se que existiam algumas
plantas nas lavouras com pouco ou nenhuma vassoura vegetativa e
vassouras de almofadas florais. Assim, os agricultores, os técnicos
extensionistas e os pesquisadores perceberam que aquelas plantas
poderiam ser clonadas e multiplicadas para substituir as plantas
altamente infectadas.
Num esforço conjunto dos agricultores, da CEPLAC e do Governo
da Bahia, houve uma mobilização para a seleção de plantas
resistentes. Os melhoristas estabeleceram critérios de seleção, que
além da resistência da copa, fruto e almofada floral, incluíam
componentes de produção, como número elevado de frutos,
tamanho grande de sementes (acima de 1g seca) e casca fina de
fruto. Ao todo, foram pré-selecionadas mais do que 2.000 plantas
resistentes, sendo selecionadas tanto plantas autocompatíveis como
autoincompatíveis, sem distinção. Mas, com o decorrer do tempo, foi
dada a preferência às plantas autocompatíveis. Na Tabela 1, estão
listados 70 clones selecionados nas fazendas da região, alguns
deles tornaram-se os melhores cultivares adotados atualmente pelos
produtores.
Tabela 1 - Amostra de clones selecionados na região cacaueira da
Bahia resistentes à vassoura de bruxa, nome da fazenda e
compatibilidade sexual
Autocompatíveis Autoincompatíveis
Clone Fazenda Clone Fazenda
SJ 02 Fazenda São José MAC 01 Fazenda Santa Vitória
RVID 08 Fazenda Idalina/Bom AL 50 Fazenda Aimoré
Jesus
PH 16 Fazenda Porto Híbrido FSU 13 Fazenda Santa Ursula
CSG 70 Fazenda Conjunto FMW 08 Fazenda Modelo
Serra Grande
FSU 77 Fazenda Santa Ursula ITA 01 Fazenda Itapé
VB 1151 Fazenda Brasileira = VB 679 Rainha do Sul
CEPEC 2002 = CP 31
BJ 11 Fazenda Bom Jesus VB 1128 Fazenda Brasileira
VB 681 Camacã/Rainha do Sul DR ROM Fazenda Conceição
01
FB 206 Fazenda Brasileira FG 110 Fazenda Gratidão
BB 139.2 Fazenda Primavera DI 06 Fazenda Dois Irmãos
FSU 01 Fazenda Santa Ursula AV 02 Fazenda Convenção
VEN 20 Fazenda VB 1110 Fazenda Brasileira
Vencedora/Santa
Margarida
FL 78 Fazenda Leolinda FB 17 Fazenda Brasileira
JVP 01 Fazenda Perseverança SM 02 Fazenda Santa Maria
PH 92 Fazenda Porto Híbrido EF 16 Fazenda Baixa Verde –
misto
B.ESP 11 Fazenda Boa FL 84 Fazenda Leolinda
Esperança
Autocompatíveis Autoincompatíveis
Clone Fazenda Clone Fazenda
B.ESP 22 Fazenda Boa SAF 01 Fazenda Santo Antônio
Esperança
PS 1319 Fazenda Porto Seguro M 05 Fazenda
Massaranduba
C-A 1.4 Fazenda Canta Galo PS 57.1 Fazenda Porto Seguro
MAR/51 Fazenda Marival BP 41 Fazenda Bom Jesus
FBE Fazenda Bela Vista SP 50 Fazenda São Pedro
1.000
FT 500 Fazenda Tararanga BB 36.6 Fazenda Aurora
SAL 03 Povoado Salobrinho FB 48 Fazenda Brasileira
LP 06 Fazenda Lagoa M.O 01 Fazenda Mina Ouro
Pequena
PH 09 Fazenda Porto Híbrido PS Fazenda Porto Seguro
57.136
PS 40.07 Fazenda Porto Seguro BB 6020 Fazenda Nova
Esperança
FA 13 Fazenda Argolo VB 902 Rainha do Sul
VT 10 Fazenda Nossa SL 1F Fazenda São Luiz
Senhora da Vitória
MCB 09 Fazenda Itaparica VB 547 Rainha do Sul
SC 75 Fazenda Santa Cruz OTV 01 Fazenda Santo Antônio
FO 30.9 Fazenda Oceania
IPY 01 Fazenda Cond.
Ipiranga
PH 15 Fazenda Porto Híbrido
PH 114 Fazenda Porto Híbrido
VB 1159 Fazenda Brasileira
Autocompatíveis Autoincompatíveis
Clone Fazenda Clone Fazenda
F COM Fazenda Convenção
01
FG 01 Fazenda Girassol
HW 25 Fazenda Hawai
F COM Fazenda Convenção
150
FL 57 Fazenda Lutadora
Fonte: Adaptada de Marisvaldo Macedo (extensionista da
CEPLAC), dados não publicados.

6.3 Desenvolvimento e seleção de cultivares clonais

Este foi um dos primeiros métodos de melhoramento adotado em


cacau, na década de 1930, em Trinidad, por ser o cacaueiro uma
planta alógama, facilmente propagada de forma assexuada por meio
de enxertia ou estaquia. Assim, fixando os efeitos aditivos, de
dominância e epistáticos das interações alélicas e gênicas.
No Brasil, esse método também foi adotado entre as décadas de
1930 e 1950, mas, naquela época, havia fatores que dificultavam a
multiplicação do material e o transporte para as fazendas. Assim,
preferiu-se adotar cultivares híbridos. A partir da década de 1990, o
desenvolvimento e a seleção de cultivares clonais voltaram a ser
adotados em programas de melhoramento da CEPLAC e em outras
iniciativas de melhoramento na Bahia. Os cultivares clonais podem
ser obtidos por meio da introdução de plantas de outros países ou
regiões e por meio de seleção massal em uma população
segregante. Podem também ser obtidos por hibridização dirigida de
genitores, retrocruzamentos e seleção recorrente. Para formar as
populações segregantes, adotam-se cruzamentos simples, duplos,
triplos ou mesmo complexos, orientados com base nos grupos
raciais de cacau, de sorte a explorar o vigor híbrido entre os grupos.
As populações segregantes também podem ser formadas por meio
de seleção recorrente.
Vale ainda mencionar que uma estratégia muito utilizada é o
cruzamento entre os cultivares existentes, de modo que exista
complementariedade de características dos genitores. As progênies
segregantes dos cruzamentos são avaliadas em ensaios com
repetições, e os indivíduos agronomicamente superiores
identificados são selecionados e multiplicados por meio de estaquia
ou enxertia e avaliados em ensaio de competição de clones para
produção, resistência a doenças e outros atributos agronômicos.
Inicialmente, são avaliados em estações experimentais, em ensaios
com duas ou três repetições, sendo os melhores clones selecionados
e avaliados em ensaios estruturados em rede, em fazendas de
diferentes localidades por um período mínimo de seis anos. Após
serem avaliados, clones com adaptação ampla ou restrita são
selecionados e liberados aos agricultores.

6.4 Desenvolvimento e seleção de cultivares híbridos

Este método tem como base a produção de cultivares pela


utilização do vigor híbrido verificado em certos cruzamentos feitos
entre clones dos diferentes grupos raciais, Trinitário, Amazônico e
Crioulo (RUSSEL, 1952; BARTLEY, 2005; LOPES et al., 2011). O
procedimento adotado no Brasil consiste em cruzar clones Alto-
Amazônicos X Baixo-Amazônicos, Alto-Amazônicos X Trinitários e
Trinitários X Baixo-Amazônicos, utilizando desenhos genéticos e
estatísticos (MONTEIRO; AHNERT, 2012). Após testes para verificar
a capacidade geral de combinação dos genitores e específica da
progênie para produção, resistência, peso de semente e outros
atributos, são selecionados os genitores superiores e as melhores
combinações híbridas. Os testes de competição entre as
combinações híbridas são realizados em estações experimentais,
geralmente instalados em blocos ao acaso, com 12 a 16 plantas por
parcela, quatro a oito repetições e um ou vários locais com no
mínimo oito anos de avaliações em campo. São avaliados os
componentes de produção, como número de frutos por planta, peso
de amêndoas úmidas por planta ou por parcela, peso de sementes
por fruto, índice de fruto e resistência a doenças como podridão
parda e vassoura de bruxa.
Como exemplo da aplicação deste método no programa de
melhoramento de cacau da CEPLAC, na Bahia, serão utilizados os
resultados de um experimento instalado no CEPEC, em 1967,
visando comparar a capacidade combinatória de genitores locais e
introduzidos e a obtenção de cultivares híbridos cujos dados foram
publicados por Mariano e Bartley (1981) e Bartley, Monteiro e
Carletto (1982). Os genitores locais foram representados pelas
seleções do tipo “Comum” (séries SIC, EEG e CEPEC) e “Catongo”
(progênies SIC e CEPEC 1), sendo as seleções introduzidas
representadas pelos clones ICS1 e 8, SCA 6 e 12, UF 168, 613 e
667, IMC 67 e P 12. Quanto aos genitores locais, verificou-se que
não havia diferenças marcantes entre eles com relação à capacidade
combinatória para a produção e outros atributos agronômicos
quando cruzados com uma determinada seleção introduzida
(MARIANO; BARTLEY, 1981). As seleções locais demonstraram ter
pequena variabilidade genética, o que permitiu uma análise mais
apropriada do comportamento dos clones introduzidos como
genitores.
Quanto aos genitores introduzidos, verificou-se grande
variabilidade entre os mesmos com relação à produção (Figura 1),
peso médio de sementes por fruto e incidência de frutos infectados
por Phytophthora spp. Dentre os genitores Trinitários, ICS1 e ICS 8
apresentaram elevada capacidade geral de combinação,
destacando-se em produtividade, peso de sementes por fruto e
resistência a Phythopthora spp., apesar de serem pouco mais
tardios. Atualmente, sabe-se que ICS1 é altamente suscetível à
doença Ceratocystis cacaofunesta, mal do facão, portanto pode
trazer problemas na produção de híbridos biclonais, mas pode ser
útil em cruzamentos complexos. Os genitores UF 168 e 667 também
apresentaram elevada capacidade geral de combinação, contudo
tiveram altas taxas de infecção em frutos. O genitor UF 613
demonstrou ter baixa habilidade combinatória, e seus híbridos não
demonstraram heterose, sendo a produtividade dos mesmos igual à
das seleções da Bahia, entretanto apresentaram baixa incidência de
Phytophthora spp., mas este fato não foi relevante, levando em conta
a baixa produtividade.

Figura 1 – Produção média anual de cacau por progenitor durante


10 anos. Experimento 103-a 01/08 instalado no CEPEC no ano de
1967

Fonte: Adaptado de Bartley, Monteiro e Carletto (1982).

Os genitores Amazônicos SCA 6 e SCA 12 apresentaram elevada


capacidade geral de combinação para produção e precocidade,
produzindo bem nos primeiros anos. Mas, com o decorrer dos anos,
a produção decresceu e apresentou um dos menores pesos médios
de sementes por fruto. O genitor IMC 67 transmitiu certo grau de
precocidade, mas a capacidade de combinação foi intermediária,
comparada aos demais genitores. O genitor P 12 foi avaliado em
menor escala e demonstrou habilidade combinatória semelhante aos
SCAs e peso médio de fruto pequeno.
Em resumo, os genitores Trinitários contribuíram para um aumento
significativo da produção e do peso médio de sementes por fruto em
relação ao genitor local Catongo, enquanto os Amazônicos (SCAs,
IMC 67 e Pound 12) tiveram apenas produções iniciais elevadas,
mas menor peso médio de sementes, ficando abaixo do cultivar
Catongo, o que reduz seu valor como genitor (BARTLEY;
MONTEIRO; CARLETTO, 1982).
Com base em resultados experimentais, foram selecionados e
utilizados pela CEPLAC, na Bahia, de 1963/1964 a 1997, os
seguintes genitores para a produção de híbridos biclonais: ICS1, ICS
6, ICS 8, UF 613, UF 168, UF 667 (Trinitários) IMC 67, PA 30, PA
150, SCA 6, SCA 12, TSA 644 (Alto Amazônicos), SIAL 70, SIAL
169, SIAL 325, SIAL 505, SIC 17, SIC 19, SIC, 328, SIC 329 e SIC
813 (Seleções da Bahia, Baixo Amazônicos) (YAMADA, et al., 2001).
Nos polos cacaueiros da Amazônia, foram selecionados e estão
sendo utilizados para a produção de híbridos biclonais os genitores:
IMC 67, P7, PA 121, PA 150, SCA 6 (Alto Amazônicos); MA 15, CA 6,
Mocorongo 1, BE 8, BE 10, SIC 644, SIAL 505, SIC 17, CAB 17,
CAB 24, CAB 28 (Baixo Amazônicos); e ICS 1 (Trinitário)
(FRANCISCO NETO, 2008). Alguns foram utilizados em maior
escala, outros em menor, para a produção de sementes híbridas.

6.5 Seleção recorrente recíproca

No Brasil, a partir de 1996, houve o despertar dos melhoristas de


cacau para a necessidade do melhoramento populacional. Na Bahia,
a CEPLAC iniciou um trabalho de seleção recorrente recíproca e
outro de seleção com base em cruzamentos simples, duplos, triplos,
complexos e retrocruzamentos (MONTEIRO; AHNERT, 2012). No
procedimento de seleção recorrente recíproca, utiliza-se o esquema
de cruzamentos, conforme Desenho Genético II (Carolina do Norte II)
(PIRES et al., 1999) e Tabela 2. Neste esquema, encontra-se um
desenho básico em que oito genitores de cada grupo heterótico (A —
Alto Amazônico e T Trinitário) são cruzados para produzir três tipos
de população: i) população AA — progênies formadas pelos
cruzamentos dos indivíduos A; ii) população TT — progênies
formadas pelos cruzamentos de indivíduos T; e iii) população AT —
progênies formadas pelos cruzamentos de indivíduos A e T. Os
indivíduos do grupo A apresentam determinadas características (por
exemplo, maior resistência a doenças), enquanto os do grupo T
apresentam outras características (por exemplo, sementes e frutos
grandes). Assim, os cruzamentos e seleção dentro de cada grupo
visam melhorá-lo, enquanto os cruzamentos entre grupos visam
selecionar, a cada geração, famílias e indivíduos superiores dentro
delas para serem testados como clones. Além disso, servem para
avaliar a capacidade de combinação entre os clones dos grupos A e
T e para orientar os cruzamentos.

Tabela 2 - Esquema básico de seleção recorrente em cacau pela


CEPLAC
Parentais A – Alto Amazônicos T – Trinitários
1 2 3 4 5 6 7 8
A 9 Progênies AA melhorar Progênies AT explorar
10 para resistência a doenças heterose para produzir
11 e quantidade de gordura clones
12
T 13 Progênies TA explorar Progênies TT melhorar
14 heterose para produzir para produção e tamanho
15 clones de semente
16
Fonte: Adaptado de Pires et al. (1999).

No procedimento de seleção com base em populações obtidas por


cruzamentos simples, duplos, triplos, complexos e retrocruzamentos,
os genitores são escolhidos com base em características
agronômicas como resistência a doenças, produção, tamanho de
semente e outros. E os cruzamentos são feitos entre pares de
genitores com características complementares, visando produzir
progênies que reúnam os atributos agronômicos desejáveis.
De 1993 até 2010, cerca de 500 progênies de irmãos completos
foram produzidas por meio destes dois procedimentos de seleção,
totalizando uma população base de 30.000 plantas em avaliação no
CEPEC (LOPES et al., 2011). Ainda, segundo estes autores, para
desenvolver esta população base, vários aspectos foram
considerados: i) utilização de marcadores moleculares em alguns
cruzamentos visando maximizar a chance de obter maior segregação
na progênie; ii) utilização de diferentes fontes de resistência à
vassoura de bruxa visando evitar que o fungo quebre a resistência,
como aconteceu quando foi utilizada a fonte única Scavina; iii)
seleção para autocompatibilidade genética visando a obtenção de
clones autocompatíveis; e iv) utilização de fontes de resistência a
monilíase, como o clone ICS 95, além de vários outros introduzidos
recentemente no Brasil. O esquema de melhoramento adotado pela
CEPLAC atualmente, segundo Lopes et al. (2011), está representado
na Figura 2.
Figura 2 - Esquema de melhoramento adotado pela CEPLAC
atualmente

Fonte: Adaptado de Lopes et al. (2011).


7 Cultivares de cacau e produtividade
Três tipos de cultivares são utilizados para plantio de cacau no
Brasil: locais, híbridos e clonais. Os cultivares locais e os híbridos já
vêm sendo cultivados há muitos anos; portanto, as tecnologias de
plantio e manejo agronômico destes são conhecidas e
razoavelmente dominadas pelos produtores. Os cultivares clonais
representam uma nova tecnologia no campo, a qual os agricultores
ainda estão em processo de aprendizado, embora já tenham sido
realizados muitos avanços no seu cultivo.
Em quase todas as regiões de produção de cacau do país, estes
cultivares estão disponíveis. Na Bahia e no Espírito Santo, estão
disponíveis para plantio os cultivares locais e os clonais, mas os
híbridos não estão sendo mais ofertados pela CEPLAC. Nos polos
de produção de cacau da Amazônia (Pará, Rondônia, Amazonas e
Mato Grosso) são disponibilizados pela CEPLAC cultivares híbridos,
mas cultivares clonais também estão sendo selecionados nestas
regiões. Os ribeirinhos e agricultores mais distantes das regiões
produtoras utilizam os cultivares locais. Nas novas áreas de
expansão da cultura, nas regiões do Nordeste, Centro-oeste e
Sudeste, onde se utilizam um cultivo altamente tecnificado, adotam-
se cultivares clonais.

7.1 Cultivares locais da Bahia

Os cultivares locais de cacau da Bahia são Cacau Comum, Pará,


Parazinho, Maranhão, Catongo e Almeida. Na região Amazônica,
existem vários cultivares locais de cacau, sendo cultivados,
principalmente pelos povos ribeirinhos, nas várzeas, às margens dos
rios (ALMEIDA et al., 2012). Os agricultores que utilizam estes tipos
de cultivares produzem sua própria semente para plantio, colhendo
frutos de matrizes selecionadas na sua propriedade ou na dos
vizinhos. Geralmente, são colhidas para plantio sementes daquelas
plantas que mais agradam ao produtor, que as escolhem pelo
aspecto de fruto e semente, maior resistência a doenças e pragas,
maior produtividade e por outras informações obtidas de outros
agricultores, atestando o cultivar.
Na Bahia, os agricultores gostam muito de seus cultivares locais
por já conhecer e saber como cultivá-los. Contudo, apesar de
possuírem características agronômicas importantes, eles não
reúnem todos os atributos de produção e resistência a doenças e
pragas que vão surgindo nos locais onde estão sendo cultivados. Isto
acontece porque eles são originados de um conjunto pequeno de
plantas fundadoras, possuindo baixa diversidade genética. Mas, o
fato dos cultivares locais terem pouca variabilidade genética não é
um demérito, pois estudos científicos, especialmente por meio de
marcadores moleculares, mostraram que todos os cultivares antigos,
como cacau Crioulo e Nacional do Equador, apresentam baixa
variabilidade genética (MOTAMAYOR et al., 2002: BARTLEY, 2005).
Os cultivares de cacau da Bahia são bem adaptados às condições
edafoclimáticas da região e possuem boas características
organolépticas, sendo hoje procurados por chocolateiros para fazer
cacau gourmet. Também são capazes de formar plantios mais
homogêneos e possuem autocompatibilidade genética, facilitando a
fertilização das flores para produção de frutos. Assim, se manejados
apropriadamente, têm grande potencial, especialmente para
pequenos agricultores e para quem deseja produzir um produto para
nichos específicos de mercado.
Na Tabela 3, estão descritos dados biométricos de frutos e
sementes dos principais cultivares locais da Bahia. Conforme pode
ser verificado, os cultivares apresentam frutos de tamanho médio a
pequeno, com peso aproximado de 460 g, contendo em média 99 g
de sementes úmidas e cerca de 36 sementes. O peso da biomassa
seca de cada semente gira em torno de 1,08 g; e o índice de fruto
25. Portanto, necessita-se de um grande número de frutos para
produzir 1 kg de cacau seco, pela baixa quantidade de sementes por
fruto e por serem pequenas as sementes. A percentagem de casca
das amêndoas está em torno de 14%; e de gordura, 55% (Tabela 6,
tópico de cultivares híbridos).
Tabela 3 – Dados obtidos de 10 plantas de cada variedade de cacau
existente na população comercial do CEPEC (Ilhéus, BA, 1966)
Variedades Fruto Semente Índice de
Total Peso Peso Número Massa fruto
médio (g) médio médio p/ seca
úmido p/ fruto (g)
fruto (g)
Comum 655 463,7 103,3 36,5 1,12 24
Maranhão 484 573 108 37,4 1,16 23
liso
Maranhão 822 597,1 116 38,5 1,2 22
rugoso
Pará 581 379,2 89 36 1,0 28
Parazinho 514 299,7 78,2 33,1 0,96 31
Média - 462,54 98,9 36,3 1,08 25,6
Fonte: Adaptado de Vello et al. (1969).

Na Tabela 4, estão descritos dados de produção de vários


cruzamentos feitos entre as seleções SIAL, demonstrando o
comportamento produtivo das plantas nos seus quatro primeiros
anos de produção. Estes dados foram coletados em um experimento
instalado pela CEPLAC em 1965, no município de Juçari, Bahia, e
publicados por Vello, Garcia e Magalhães (1972). Verifica-se que os
agrupamentos de cruzamentos entre os clones locais X locais
tiveram produção média de 727 kg/ha no terceiro ano de produção, e
a partir do quarto ano, quando as plantas adquiriram maturidade
fisiológica, alçaram média de 1907 kg/ha. Isso demonstra que, se
manejados adequadamente, os cultivares locais têm elevada
capacidade produtiva.
Tabela 4 - Produção anual, de 1967 a 1970, em kg/ha/ano de
amêndoas secas de cacau produzidas por cruzamentos entre os
clones SIAL (Híbridos Simples) e por Agrupamentos de Híbridos.
Ensaio 103-a – 04, instalado em agosto de 1965, na Estação
Experimental “Dr. Gileno Amado”, Juçari. Blocos incompletos
equilibrados com 9 plantas por parcela, espaçadas de 3 x 3 m e 6
repetições com sombreamento de Erythrina glauca
Tratamentos Produção de amêndoas secas em
kg/ha/ano
1967 1968 1969 1970
1. Híbridos Simples
SIAL CB X SIAL 325 15,4 216,1 1470,5 1441,5
SIAL 3 X SIAL CB 19,6 216,2 1082,9 2214,3
SIAL 70 X SIAL 3 19,1 162,9 1113,3 2461,5
SIAL 13 X SIAL 8 30,2 155,5 710,6 1662,7
SIAL 93 X SIAL 108 34,2 154,8 965,3 2045,2
SIAL 339 X SIAL 84 13,7 137,0 699,9 2047,7
SIAL70 X SIAL 325 11,0 136,3 833,4 2213,5
SIAL 93 X SIAL 3 18,4 131,5 868,3 2224,9
SIAL 325 X SIAL 3 9,4 119,3 814,0 601,0
SIAL 70 X SIAL 93 21,3 117,4 986,9 2304,8
SIAL 13 X SIAL CB 7,5 115,2 785,0 2008,2
SIAL 108 X SIAL 3 8,4 108,4 839,0 1856,3
SIAL 8 X SIAL 108 15,9 88,1 551,0 1715,7
SIAL 325 X SIAL CB 5,4 87,9 883,1 1964,0
SIAL 352 X SIAL 84 4,4 80,4 815,8 1932,3
SIAL 84 X SIAL 3 1,4 76,6 513,7 1475,4
SIAL 84 X SIAL 93 10,8 67,0 782,8 1741,6
Tratamentos Produção de amêndoas secas em
kg/ha/ano
1967 1968 1969 1970
SIAL 70 X SIAL 108 2,3 66,2 663,9 2053,2
SIAL 352 X SIAL 325 0 66,0 631,5 2114,9
SIAL CB X ICS 95 6,2 62,2 460,9 1518,6
SIAL 325 X SIAL 8 3,6 61,7 605,3 1801,9
SIAL 352 X SIAL 108 24,7 58,3 729,5 1461,7
SIAL 325 X UF 613 7,3 55,9 501,1 1196,6
SIAL 352 X SIAL 93 7,4 53,0 682,0 2232,9
SIAL 339 X SIAL 3 1,2 51,9 550,4 2657,1
SIAL 325 X SIAL 84 34,5 50,6 513,1 1656,6
SIAL 93 X SIAL CB 6,0 46,1 744,7 1789,4
SIAL 108 X SIAL CB 5,5 42,7 830,6 1987,5
SIAL 339 X SIAL CB 2,2 39,1 484,1 1503,2
SIAL 339 X SIAL 8 9,6 31,9 409,7 1796,1
CATONGO POL. LIVRE 2,0 30,5 212,4 1889,5
Média 11,6 93,1 733,4 1857,1
DMS – 5% 97 426 627
C.V. (%) 84 47 2727
2. Agrupamentos Híbridos
Locais X Locais 13 94 727 1907
Locais X SIAL CB 8 100 842 1802
Locais X UF 613 7 55 501 1196
Catongo Polinização Livre 2 30 212 1891
Fonte: Adaptado de Vello, Garcia e Magalhães (1972).
Atualmente, mesmo com a presença da doença vassoura de
bruxa, algumas fazendas da região produtora de cacau da Bahia que
apresentam em suas plantações uma mistura de cultivares locais a
pleno sol adequadamente manejados, segundo os agricultores,
alcançam até 2.000 kg/ha/ano de amêndoas secas a partir do sexto
ano de plantio. Estes níveis de produção estão sendo verificados em
fazendas de Cachoeira Alta, no município de Piraí do Norte, e na
fazenda Santo Antônio, no município de São Miguel das Matas.

7.2 Cultivares híbridos de cacau

Os cultivares híbridos biclonais de cacau são produzidos


cruzando-se genitores de diferentes grupos heteróticos, quais sejam:
Alto Amazônicos X Baixo Amazônicos; Trinitários X Baixo
Amazônicos; e Alto Amazônicos X Trinitários. Para plantio, os
produtores recebem uma mistura de frutos de diferentes híbridos
produzidos nos campos de produção de sementes da CEPLAC.
Dados biométricos de sementes de uma amostra de híbridos
desenvolvidos na Bahia e publicados por Vello, Garcia e Magalhães
(1972) serão utilizados para descrever as características dos híbridos
plantados na Bahia e no Espírito Santo. Conforme os dados da
Tabela 5, os híbridos originados dos clones Trinitários (ICS 8, ICS 1,
DR 2, UF 613 e UF 168) produziram amêndoas secas maiores, com
peso médio variando de 1,3 a 1,5g. Já os híbridos originados dos
clones Amazônicos SCA 6, SCA 12 e Pound 12 produziram
amêndoas menores, com peso médio variando de 0,84 a 1,07 g. Os
híbridos de IMC 67 produziram sementes de tamanho médio, com
peso médio ligeiramente superior a 1,0 g; portanto, estes possuem
sementes pequenas.
Tabela 5 - Dados biométricos de peso médio das sementes,
porcentagem de cascaeporcentagem de gordura de diferentes
híbridos, do cultivar Catongo e de cacau comercial na Bahia
Híbridos/Diversos Peso médio % de casca % de
de amêndoa de gordura de
(g) amêndoas amêndoas
Comum X IMC 67 1,07 14,7 55,3
Catongo X IMC 67 1,02 12,9 55,9
Comum X UF 613 1,28 11,9 56,3
Catongo X UF 613 1,41 11,7 55,9
Comum X ICS 1 1,32 13,8 56,3
Catongo X ICS 1 1,39 13,3 57,1
Comum X DR 2 1,40 13,2 55,3
Comum X UF 667 1,33 14,1 56,4
Comum X UF 168 1,37 12,2 55,3
Catongo X ICS 8 1,50 10,6 56,5
Catongo X SCA 6 0,93 13,1 55,9
Catongo X SCA 12 0,92 13,7 56,5
SCA 6 X ICS 1 1,07 14,1 56,0
SCA 6 X UF 667 0,94 14,7 55,7
Comum X SCA 12 0,85 15,2 55,0
Catongo X Pound 12 0,84 15,4 58,0
Catongo X CEPEC (2 a 9) 1,26 13,1 55,2
Comum X Comum 0,96 14,6 55,1
Catongo X Comum 1,16 12,5 55,3
Catongo Livre 1,23 11,7 56,7
Diversos (I) 1,12 11,5 55,2
Diversos (II) 1,33 15,0 57,5
Híbridos/Diversos Peso médio % de casca % de
de amêndoa de gordura de
(g) amêndoas amêndoas
Diversos (III) 1,09 14,2 56,2
Comercial CEPEC (IV) 1,02 16,5 57,3
Fonte: Adaptado de Vello, Garcia e Magalhães (1972).

Houve uma associação entre tamanho de sementes e


percentagem de casca da semente, em que sementes de menor
peso produziram maior percentagem de casca. O cruzamento ICS 8
X Catongo, com amêndoas de 1,5 g, apresentou apenas 10,6% de
casca, enquanto o cacau comercial, que tem semente de 1,02 g,
apresentou 16,5% de casca. A percentagem de gordura variou de 55
a 58%, ficando o menor valor para SCA 12 X Comum e o maior valor
para Pound 12 X Catongo, respectivamente.
Na Tabela 6, estão descritos dados de produção de um período de
seis anos de uma amostra de híbridos, demonstrando o
comportamento produtivo dos mesmos em plantas que já haviam
alcançado a maturidade fisiológica. Os dados foram originados em
experimentos instalados pela CEPLAC entre os anos de 1965 e 1967
nas estações experimentais da Bahia, publicados por Bartley,
Monteiro e Carletto (1982), e estão sendo utilizados para demonstrar
o potencial produtivo dos cultivares híbridos. Dentre os híbridos,
destacam-se SIC 923 X ICS1 e SIC 1104 X UF 168, com produções
médias acima de 2500 kg/ha/ano, enquanto as menores produções
ficaram com os híbridos IMC 67 X CATONGO e SIC 841 X UF 613,
de 1622 e 1718 kg/ha/ano, respectivamente. Verifica-se ainda que os
híbridos com genitores Trinitários apresentaram maior peso médio de
sementes úmidas por fruto, destacando UF 168 X CATONGO com
128 g, enquanto os Amazônicos apresentam menores médias,
destacando-se EEG 64 X POUND 12, com 0,79 g.
Tabela 6 - Produção anual de 1974 a 1979 de híbridos de cacau em
kg/ha/ano obtidos em experimentos instalados de 1965 a 1967 nas
estações experimentais da CEPLAC, na Bahia, com 3 a 6 repetições,
16 plantas por parcela, espaçamento 3 m x 3 m, sombreadas com
Erythrina galuca
Híbridos Anos de Produção Média Peso de
amêndoas
1974 1975 1976 1977 1978 1979 /fruto (g)
SIC 923 X 2888 2888 2444 2444 2310 2755 2622 119,0
ICS 1
SIC 977 X 1999 2577 1910 1777 1777 1822 1977 104,9
IMC 67
CEPEC X 1866 1999 2133 1777 1777 1866 1903 95,3
COMUM
SIC 841 X 1733 1777 1866 1244 1777 1910 1.718 123,2
UF 613
SIC 1104 2222 2666 2755 2222 2888 2755 2584 115,9
X UF 168
IMC 67 X 2222 2310 2755 1866 1866 2444 2244 91,1
EEG 48
SIC 1108 1866 2222 2310 2444 2444 2310 2266 114,0
X UF 667
SCA 12 X 1644 2555 2488 2177 1888 1822 2096 81,0
CATONGO
CATONGO 1600 2355 2044 2311 1666 1955 1988 93,7
X POUND
12
UF 168 X 1688 1822 2310 2177 1666 1777 1906 128,2
CATONGO
EEG 64 X 1599 2133 2000 2020 1600 1689 1840 79,0
POUND
12
IMC 67 X 1155 1733 1822 1800 1555 1666 1622 111,8
CATONGO
Híbridos Anos de Produção Média Peso de
amêndoas
1974 1975 1976 1977 1978 1979 /fruto (g)
UF 667 X 1422 1844 2,222 2333 1644 1665 1855 121,8
CATONGO
Fonte: Adaptado de Bartley, Monteiro e Carletto (1982).

Conforme dados da Tabela 6, a maioria dos híbridos em condições


experimentais apresentava elevadas produtividades, mas atualmente
não são encontrados plantios com esses níveis de produção na
região da Bahia. Nos plantios existentes, verifica-se que as plantas
são muito suscetíveis à vassoura de bruxa, os plantios são
heterogêneos, com plantas de diferentes portes por serem originárias
de genitores heterozigotos e também devido à mistura de diferentes
híbridos no mesmo plantio. A orientação da CEPLAC sempre foi o
plantio de uma mistura de híbridos, por acreditar que este propicia a
redução de pragas, e o aumento da oportunidade de polinizações
cruzadas, já que havia uma percentagem desconhecida de plantas
híbridas autoincompatíveis. Essa orientação poderia ser útil no
passado porque não existiam formas satisfatórias de controle de
pragas e nem a preocupação em obter híbridos autocompatíveis,
mas, na atualidade, verifica-se que dificulta o manejo, reduz a
produção e impede o uso de novas tecnologias. Portanto, caso
sejam sintetizados novos híbridos, estes devem ser autocompatíveis
e mais homogêneos.
Nos polos de produção de cacau da Amazônia, a CEPLAC
continua com a distribuição de cultivares híbridos para os
agricultores. Para descrever a produtividade de alguns cultivares,
são apresentados os dados de produção de quatro anos de um
experimento de competição de cultivares híbridos instalado na
Estação Experimental de Altamira, Pará, em 1978, no espaçamento
3 m x 3 m, com 12 plantas por parcela e 7 repetições (Tabela 7).
Estes dados foram publicados nos informes anuais de pesquisa da
CEPLAC/Amazônia (AHNERT et al., 1987; MACHADO et al., 1986,
1983; CEPLAC/DEPEA, 1984). Dentre os híbridos, destacam-se P7
X MA 15, P 7 X SIAL 505 e SCA 6 X ICS 1, com produções médias
de 2562, 2521 e 2519 kg/ha/ano, respectivamente, enquanto as
menores produções foram apresentadas pelos híbridos P 12 X BE
10, IMC 67 X CA 4 e PA 150 X SIC 17, de 1613, 1619 e 1639
kg/ha/ano, respectivamente. Verifica-se ainda que os híbridos P 7 X
MA 15 apresentaram maior peso médio de sementes úmidas por
fruto de 155 g e o menor peso foi apresentado pelos híbridos SCA 6
X Mocorongo1 e SCA 6 X BE 10, de 100 g.
Tabela 7 - Produção anual (1983, 1984, 1986 e 1987) de híbridos de
cacau em kg/ha/ano obtidos em experimento instalado na Estação
Experimental de Altamira, Pará, em 1978, no espaçamento 3 m x 3
m, com 12 plantas por parcela, 7 repetições e a pouca sombra
Híbridos Anos de Produção Peso de
amêndoas
/fruto (g)
1983 1984 1986 1987 Média 1987
P 7 X SIC 864 2275 2715 2443 2334 2442 130
P 7 X MA 15 2275 2677 2818 2478 2562 155
P 7 X SIAL505 2204 2748 2508 2625 2521 130
SCA 6 X 2160 2676 2667 2412 2479 100
MOCORONGO 1
SCA 6 X ICS 1 2017 2578 2868 2615 2519 120
SAC 6 X BE 10 1893 2050 1806 1978 1932 100
P7 X SIC 644 1853 2210 2238 2184 2121 125
P7 X BE 10 1760 2139 1837 1879 1904 135
PA 121 X CEPEC 1689 2348 2096 2162 2074 120
16
P 12 X SIC 831 1662 2237 2128 2105 2033 105
IMC 67 X 1644 2209 1789 1872 1878 130
CATONGO
IMC 67 X BE 9 1566 1959 1792 1706 1756 135
IMC 67 X 1444 1895 1845 1656 1710 140
MOCORONGO 1
IMC 67 X CA 4 1418 1688 1756 1613 1619 145
P 12 X BE 10 1386 1639 1679 1750 1613 110
PA 150 X SIC 17 1253 1824 1893 1586 1639 120
PA 150 X SIC 328 1191 2033 2173 1703 1775 135
PA1 50 X SIC 864 1138 1924 2090 1704 1714 125
Fonte: Adaptado de Ahnert et al. (1987), Machado et al. (1983,
1986) e CEPLAC/DEPEA 1984).

De maneira geral, os híbridos desenvolvidos na Amazônia


possuem elevada produtividade em nível de produtor. Na região de
Medicilândia, no Pará, alguns agricultores alçam produtividade de até
2000 kg/ha/ano.

7.3 Cultivares clonais

Os cultivares clonais de cacau são obtidos pela propagação


assexual de um clone superior, quer por enraizamento de estacas,
enxertia ou embriogênese somática. Desta forma, o plantio de um
mesmo cultivar clonal não tem variação genética como tem os
cultivares híbridos e locais, mas apenas variação ambiental. Esse
fato contribui para reduzir a variação fenotípica de um plantio,
fazendo com que o agricultor possa, então, concentrar-se na
melhoria do seu sistema de cultivo para alcançar o potencial máximo
de produção. Com os cultivares clonais, o agricultor dispõe de
material vegetativo para a produção de mudas, não dependendo de
nenhum órgão público para liberar sementes, como é o caso dos
híbridos. As mudas podem ser produzidas pelos próprios agricultores
ou adquiridas em viveiristas credenciados, facilitando o processo de
obtenção de mudas em quantidade e qualidade. Os cultivares clonais
atuais representam uma inovação na cacauicultura, uma nova
tecnologia que está à disposição dos agricultores, permitindo aos
mesmos produzir plantios mais produtivos, uniformes,
autocompatíveis e mais resistentes a pragas e doenças.
Dados biométricos de frutos e de sementes de uma amostra de 12
cultivares clonais autocompatíveis cultivados nas Fazendas
Reunidas Vale do Juliana, Igrapiúna, Bahia, serão utilizados para
descrever as características dos cultivares clonais mais utilizados.
Conforme os dados da Tabela 8, os cultivares CCN 10, CCN 51 e SJ
02 produziram frutos com peso acima de 1200 g, enquanto os frutos
dos cultivares PS 1030, CEPEC 2002 e FA 13 pesam cerca de 800
g, ficando a média geral em torno de 1118 g; portanto, a maioria dos
cultivares tem frutos grandes. No geral, os frutos maiores também
tiveram maiores pesos de sementes úmidas por fruto, cuja média
geral foi de 202 g, muito maior que aqueles observados nos
cultivares locais e híbridos. A quantidade de sementes por fruto
variou de 39, no cultivar CEPEC 2002, a 48, no cultivar PH 16,
ficando a média em 45 sementes, considerado alto, muito maior do
que aquele observado para os cultivares locais. Os cultivares
CEPEC 2002, FA 13 e PS 1030, com frutos menores, tiveram peso
médio de semente seca ao redor de 1,1 g, similar àquelas dos
cultivares locais. Por outro lado, a maioria dos cultivares teve peso
de sementes acima de 1,4 g, muito acima do requerido pela indústria
(1,0 g). É interessante notar que os cultivares possuem, em média,
baixo índice de fruto, necessitando apenas de 16 frutos para produzir
1,0 kg de cacau seco, exceto os cultivares CEPEC 2002, FA 13 e PS
1030, que possuem índice de fruto igual a 23, 22 e 19,
respectivamente. De maneira geral, todos os índices dos cultivares
clonais são superiores àqueles dos cultivares híbridos e locais,
demonstrando avanços genéticos na seleção, com ganhos para o
produtor e para a indústria.
Tabela 8 - Dados biométricos de fruto e semente de 12 cultivares
clonais de cacau coletados nas Fazendas Reunidas Vale do Juliana,
em Igrapiúna, Bahia, e dados de produção no quarto ano de campo
Cultivar Produção Peso Peso de Número Peso seco Índice
kg/ha* total sementes de de de
fruto (g) úmidas/ sementes amêndoas fruto
fruto (g) (g)
SJ 02 1774 1217,4 194,0 46,5 1,5 14,1
BN 34 ---- 1133,5 192,3 40,8 1,5 15,9
CCN 51 1614 1362,5 245,3 46,1 1,8 12,0
CEPEC 1094 912,2 193,3 47,3 1,3 15,7
2004
PH 16 1359 1054,3 198,1 43,7 1,4 16,2
PH 09 1535 1066,5 201,2 45,4 1,6 13,6
CCN 10 1387 1529,3 347,7 46,7 2,7 8,0
FA 13** ---- 893,3 137,9 45,3 1,1 21,9
PS 1427 998,8 210,1 45,0 1,5 14,4
1319
CEPEC 1681 808,2 136,9 38,9 1,1 23,4
2002
PS ---- 729,7 165,6 46,5 1,2 18,7
1030**
PH 15** ---- 920,1 199,7 47,7 1,5 14,4
Média 1484 1117,9 202,5 44,9 1,5 15,7
*Produção aos 4 anos de idade (adaptado de Lopes et al. (2011),
os demais dados foram coletados pelos autores.
---dados não disponíveis. ** Clones não registrados pelo MAPA, mas
em uso pelos produtores.
Fonte: Elaboração dos autores.

Dados de produção dos cultivares clonais autocompatíveis ao


longo de vários anos de avaliação ainda estão sendo gerados por
empresas privadas e instituições públicas, devendo estar disponíveis
no futuro próximo. Cabe lembrar que os principais cultivares clonais
autocompatíveis foram selecionados e validados por produtores,
sendo que alguns já foram validados pela CEPLAC, e outros ainda
estão em processo de validação. Cumpre mencionar também que os
resultados da avaliação dos cultivares dependem da forma como são
avaliados: se cultivados a pleno sol ou a sombra, se adequadamente
manejados ou não, se enxertados em brotos basais de plantas
velhas ou se enxertados em mudas novas. Enfim, cada resultado
depende do sistema de produção e do manejo agronômico da
plantação.
Resultados experimentais demonstram que, aos 4 anos de idade,
alguns cultivares alcançaram uma média de 1484 kg/ha/ano,
demonstrando a capacidade produtiva das mesmas (Tabela 8). Mas
os autores deste capítulo têm acompanhado a produtividade destes
cultivares em fazendas na Bahia, em plantas que já atingiram a
maturidade fisiológica, e observaram que, em plantios com bom
manejo agronômico e a pleno sol, os cultivares podem alcançar
produtividades de 3000 kg/ha/ano ou ainda maiores. Cada cultivar
tem um determinado porte, sendo uns mais altos, como é o caso dos
CCN 51, PS 1319 e SJ 02; outros baixos, como o PH 15, BN 34 e PS
1030, mas todos são plantados em espaçamento de 3 m x 3m. O
ideal seria testar o melhor espaçamento para cada cultivar, de forma
que o seu potencial máximo de produtividade pudesse ser
alcançado. Os cultivares têm diferentes formas de crescimento,
sendo uns mais eretos, como CCN 51; outros cultivares, no entanto,
crescem de forma mais horizontal. Além do mais, alguns se adaptam
bem em ambientes variados, enquanto outros requerem ambientes
mais específicos. Enfim, os cultivares clonais representam uma nova
tecnologia no campo, cujo melhor manejo agronômico está em
processo de construção neste momento.
8 Referências
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WORKSHOP ON COCOA BREEDING FOR FARMERS NEEDS,
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Capítulo 6 — Propagação do cacaueiro e
tecnologias para produção de mudas
clonais
George Andrade Sodré1 , Augusto Roberto Sena Gomes2
1 Introdução
No início do século XX, quando a cacauicultura iniciou um forte
ciclo de expansão mundial, o plantio de cacaueiros era realizado pelo
método denominado “bico do facão”. Nessa forma de plantio, abria-
se uma pequena cova com auxílio do facão e, após a quebra do fruto
e a retirada parcial da polpa, colocavam-se três sementes que, em
seguida, eram cobertas com terra. Depois que ocorria a germinação,
retirava-se uma plântula e passados doze meses eliminava-se outra,
deixando a mais vigorosa para ser conduzida e formar o novo
cacaueiro (SODRÉ, 2013).
Ainda no século passado, durante as décadas de 1970 e 1980,
mais de 150 mil hectares de cacaueiros usando mudas seminais
foram implantados no Brasil, pois, conforme demonstravam os
trabalhos de pesquisa da Comissão Executiva do Plano da Lavoura
Cacaueira (CEPLAC), dessa forma era possível produzir mudas
vigorosas em tempo reduzido. Assim, iniciaram-se as
recomendações de preparo das mudas de sementes híbridas, uso de
viveiros protegidos, terra peneirada (terriço), sacos de polietileno,
fertilizantes, adubação foliar e controle de pragas (SODRÉ, 2013).
A propagação vegetativa em cacaueiro foi pouco difundida no
Brasil devido às boas produções obtidas pelos híbridos e variedades
propagadas via seminal (DIAS, 2001). No entanto, em decorrência
de problemas fitossanitários que se agravaram a partir da década de
1990, houve necessidade de intensificação do plantio de cacaueiros
Trinitários, mais resistentes, e de fixar características genéticas em
tempo reduzido.
Tem sido consenso entre técnicos em cacauicultura que não seria
possível replantar grandes áreas de cacau, em muitos países,
utilizando uma única tecnologia. Em geral, a maioria dos países
produtores usa tecnologias de propagação convencionais (sementes
e enxertia) para a reabilitação e/ou para expandir áreas de plantio.
Embora a tecnologia de estacas enraizadas seja limitada a países
como o Brasil, Equador, Nigéria, Filipinas e Indonésia, para
programas de grande escala, e Trinidad e Tobago, Jamaica e Costa
Rica, para pequena escala, essa tecnologia apresenta grande
potencial de crescimento mundial nas próximas décadas. Deve-se,
entretanto, destacar que é comum a adoção de diferentes métodos
num mesmo país ou região, como observado no Brasil, onde se
realiza plantio intensivo de mudas seminais no sul do Pará e plantio
clonal e enxertia em plantas no campo verificado na Bahia.
As pesquisas em genética e melhoramento realizadas no Brasil e
em outros países produtores devem continuar a produzir novas
variedades de cacaueiros. Atualmente, já existe demanda no Brasil
para mudas clonais em viveiro, o que indica claramente a
necessidade de propagação em larga escala. Assim, a produção de
mudas clonais será cada vez mais necessária e, neste contexto, na
medida em que surgem clones produtivos e resistentes às doenças,
as técnicas de produção de mudas serão também aprimoradas.
2 Propagação vegetativa de cacaueiros
De acordo com Mooleedhar (2000), o cacaueiro foi propagado com
sucesso na Jamaica, pelo método de borbulhia, em 1902. Mais tarde,
Pyke (1933) desenvolveu uma técnica para produzir estacas
enraizadas, método que também foi usado por Evans (1951), Alvim
(1953), Alvim e Ovidio (1954) e Murray (1954). Melhorias adicionais
nos métodos de propagação foram desenvolvidas pelo Colégio
Imperial de Ciências Agrícolas em Turrialba, na Costa Rica, e na
Estação de Pesquisa em Agricultura Pichilingue, no Equador (ALVIM,
2000).
Outras contribuições importantes para a propagação vegetativa de
cacaueiros foram feitas em países da África Ocidental,
especialmente em Gana, por Richards (1948), Archibald (1955),
MacKelvie (1957) e Hall (1963). Evans (1953) observou variação na
capacidade de enraizamento entre clones e a influência da nutrição
mineral e sanidade das plantas matrizes e também ressaltou que a
posição da estaca no ramo (apical ou subapical) e o comprimento
são fatores importantes no enraizamento, sobretudo porque
interferem no rendimento e qualidade das mudas enraizadas.
De acordo com Leite (2006), a capacidade de enraizamento de
estacas de cacaueiro no estado da Bahia varia de acordo com a
época do ano em que são coletadas. Sena Gomes et al. (2000)
testaram tipos de estaca (lenhosa e semilenhosa) em clones
resistentes à vassoura de bruxa, e os resultados evidenciaram que o
genótipo tem forte influência nas taxas de enraizamento e
sobrevivência das plantas. Esses autores também identificaram
clones com taxas médias de enraizamento superiores a 70%,
enquanto outros foram inferiores a 30%.
Trabalhos sobre enraizamento de clones em câmaras de
nebulização e tratamento com ácido indolbutírico (AIB) realizados por
Sacramento et al. (2001) e Sacramento e Faria (2003) verificaram
que os índices de enraizamento para alguns clones foram superiores
a 87%, mesmo em estacas não tratadas. Esses autores também
observaram que o início da emissão das raízes ocorreu entre 20 e 30
dias após o estaqueamento.
3 Porta-enxertos na propagação vegetativa de
cacaueiros
Os porta-enxertos são usados em muitas espécies para minimizar
efeitos restritivos à produção das plantas em campo, a exemplo da
compactação do solo e infecção por patógenos de solo. Além disso,
o porta-enxerto pode afetar a qualidade da fruta e a altura da planta
(HARTMANN et al., 2002). No que se refere aos porta-enxertos em
cacaueiros, deve-se destacar que a maioria dos países produtores
usa como porta-enxerto mudas produzidas a partir de sementes de
polinização aberta. Os porta-enxertos são geralmente obtidos a partir
de sementes pré-germinadas, que são semeadas direto no campo,
ou em sacos de polietileno preenchidos com solo ou substrato
agrícola, onde permanecem de 6 a 8 meses até serem enxertadas
(Figura 1).

Figura 1 - Sementes de cacaueiro pré-germinadas (A).


Transplantando as sementes em sacos de polietileno para posterior
enxertia (B)

Fonte: Imagens produzidas pelos autores.

Efeitos de porta-enxertos sobre mudas de cacaueiros podem variar


com o clone e ambiente. Por exemplo, resultados experimentais em
Trinidad indicaram que não havia nenhuma evidência de
incompatibilidade causada pela interação porta-enxerto X enxerto,
como mencionado por Mooleedhar (2000). Em contraste, Cheesman
(1946) verificou que os porta-enxertos reduziam consistentemente o
rendimento médio nos clones ICS em cultivo convencional durante
estudo de cinco anos, e Efron, Tade e Epaina (2003) relataram que a
copa enxertada sobre porta-enxerto com nanismo (MJ12-226)
resultava em plantas com entrenós curtos, tamanho de caules
múltiplos, redução de raízes e folhas e do vigor das árvores nos
primeiros anos. No entanto, este efeito foi de curta duração, e as
plantas enxertadas reverteram para um padrão de crescimento
normal depois de algum tempo.
Doze famílias de cacaueiros usadas como porta-enxertos foram
avaliadas por Yin (2004) em Sabah, na Malásia, usando três clones
comerciais. Os resultados mostraram que os rendimentos sobre os
porta-enxertos puros Scavinia eram cerca de 10% acima da média
do Amelonado e também que o porta-enxerto não influenciou o peso
de amêndoas, o número de sementes por fruto ou a uniformidade
das árvores.
Efeitos do porta-enxerto sobre plantas no campo foram relatados
por Irizarry e Goenaga (2000) em Porto Rico. Os resultados desse
estudo indicaram que, em média, apenas 45% do rendimento inicial
do cacaueiro foi consequência da enxertia, e a diferença de 55% foi
atribuída a efeitos genéticos e ambientais e, possivelmente, a certo
grau de incompatibilidade enxerto X porta-enxerto. Os autores
também acrescentaram que a relação entre a copa e porta-enxerto
em seleções da família EET X SCA-12 não favoreceu o aumento da
produção no campo, em comparação com seleções de outras
famílias.
Porta-enxertos de cacaueiros podem influenciar a taxa de
sobrevivência das mudas enxertadas conforme relatado por
González, González e Ventura (2006). Esses autores mostraram que
os porta-enxertos de ICS-39, ML-4, Pound-4, Pound-7, Pound-12,
IMC-67, IML-44, IML-89, F-296, F-613, EET-103 e Catongo, a partir
de sementes de meio-irmão, enxertados com descendentes de UF-
677, alteraram significativamente as taxas de sobrevivência de
mudas em casa de vegetação. Maior percentual de sobrevivência foi
registrado para porta-enxertos de Pound-4 e IMC-67. Os autores
concluíram que as taxas de sobrevivência dos enxertos foram
influenciadas por diversos fatores, incluindo o genótipo, tipo de
enxerto, práticas de enxertia e condições ambientais.
Marinato et al. (2006) — testando quatro porta-enxertos de mudas
de cacaueiro aos quatro meses de idade, enxertadas com um único
clone e duas modalidades de enxertia em casa de vegetação na
Estação da CEPLAC no estado do Espírito Santo, Brasil —
verificaram que as taxas de sobrevivência de plantas enxertadas não
foram influenciadas pelo método de enxertia. Entretanto, estes
autores detectaram que o porta-enxerto ESFIP-02,
significativamente, promoveu um aumento no crescimento vegetativo
de enxertos do clone TSH-1188.
Outro importante efeito do porta-enxerto em mudas de cacaueiro
está relacionado com o transporte de nutrientes. Sodré et al. (2012)
verificaram que a combinação copa/porta-enxerto interferia no
transporte de nutrientes da raiz para a parte aérea. O clone
Salobrinho-2, enxertado em cacau comum usado como porta-
enxerto, acumulou, significativamente, menos N, P e K nas folhas
quando comparado aos clones CCN-51, ICS-1, CEPEC-02 e CP-49.
Em países americanos, é comum o uso de porta-enxertos para
controle de patógenos de solo. Por exemplo, porta-enxertos de TSH-
1188 e de variedades de cacau comum são usados por produtores
brasileiros para controlar Ceratocystis spp. Cacauicultores, na
Colômbia, usam os clones PA 46, PA 121, PA 150, IMC 67 e as
sementes híbridas de PA 46 e EET 62 x IMC 67 para controlar a
podridão de raiz causada por Phythopthora spp. e Roselinia
(FLOREZ; CALDERON, 2000). A Nigéria também usa porta-enxertos
selecionados, e, de acordo com Adewale et al. (2013), o F3
Amazônico é o genótipo mais usado devido à resistência a doenças.
Sena Gomes e Sodré (2015) comentaram que, no estado da
Bahia, Brasil, durante a década de 1990, o uso de porta-enxertos
não testados para doenças provocou considerável perda de áreas
plantadas, por efeito de infecção causada pelo patógeno
Ceratocystis spp em clones enxertados em porta-enxertos de
sementes híbridas de ICS-1 x SCA-6 ou SCA-12. Vastas áreas da
Bahia plantadas com porta-enxertos provenientes de clones CCN-51,
PH-16, PS-1319 e outros de cruzamentos envolvendo ICS-1
apresentam risco semelhante. Em contraste, seleções de cacau
comum, em geral, não oferecem riscos de infecção por Ceratocystis
spp. devido à resistência. Pesquisas recentes com cacau da
variedade “cacau jaca” mostraram ótimos resultados para resistência
a Ceratocystis spp. (SILVA et al., 2010).
Porta-enxertos de cacaueiros podem ser propagados por
sementes, alporques, estacas e cultura de tecidos, como
mencionado por Westwood (1993). Contudo, a grande maioria ainda
é obtida a partir de sementes de polinização aberta. Isto ocorre
porque é de fácil e baixo custo obter sementes nas áreas de
produção do próprio agricultor, bem como para o preparo de mudas
seminais. Até o momento, não há informações publicadas sobre
porta-enxertos de cacaueiros propagados assexuadamente em
escala comercial.
Embora existam muitos estudos publicados sobre o tema porta-
enxerto, esta questão não é ainda bem compreendida,
especialmente os mecanismos envolvendo a fisiologia do enxerto e
do porta-enxerto em cacaueiros. Assim, estudos de longo prazo que
mostrem efeitos de porta-enxertos sobre o desempenho agronômico
de mudas enxertadas precisam ser expandidos e incluir mais
experimentos de campo, já que a maioria dos resultados relatados
sobre esta questão se refere a estudos de curta duração, realizados
principalmente em casa de vegetação.
É importante também investigar e determinar quais variáveis
podem ser usadas para a seleção de porta-enxertos, incluindo o
nanismo. Porta-enxerto anão pode controlar parcialmente o tamanho
e a forma da planta no campo, bem como melhorar a produtividade.
Em revisão recente sobre o assunto, Nsiah e Lockwood (2013)
mencionaram que o efeito nanismo tem atraído atenção de
pesquisadores, e isto é importante por dois motivos: a) quando
associados com a melhoria da eficiência de produção, os porta-
enxertos podem manter ou aumentar a produção comercial; e b) o
nanismo permite fazer colheitas “mais amigáveis” com todos os
frutos de uma árvore em condição de fácil alcance e ainda
simplificando o manejo de pragas.
Mudanças na resistência estomática e fluxo de seiva têm sido
associadas a efeitos de vigor dos porta-enxertos, como sugerido por
Simons (1986). Há evidências consideráveis, em espécies perenes,
que os sistemas de raízes têm diferenças qualitativas na estrutura
anatômica do xilema, e isso pode estar relacionado com o potencial
do sistema radicular do porta-enxerto anão em relação ao enxerto,
talvez pela redução do fluxo de água no tronco, como enfatizado por
Beakbane e Thompson (1947).
Sistemas radiculares em plantas anãs têm uma baixa relação
xilema e floema, enquanto o oposto é verdadeiro para os sistemas
que promovem o crescimento de copas que têm tecido xilema com
mais e maiores vasos (BEAKBANE; THOMPSON, 1947). A
consistência deste raciocínio sugere que ele seja usado em
protocolos de seleção de porta-enxerto em cacaueiros.
Por causa da grande variação no crescimento, vigor e resistência a
doenças, porta-enxertos de mudas de cacaueiro provenientes de
sementes de polinização aberta, especialmente coletados em
mistura de híbridos e plantas não selecionadas, podem não ser a
melhor opção para minimizar riscos gerais. Assim, seria melhor obter
sementes oriundas de fontes confiáveis, tais como jardins de
sementes oficiais ou comunitários (biparental ou não) que produzam
combinações provadas de sementes híbridas ou seleção de famílias,
especialmente para o controle de doenças importantes em certas
regiões.
Em geral, os custos de produção de porta-enxertos de cacaueiros
(mudas) variam muito entre os países e de acordo com a escala e
protocolo de produção, custo da mão de obra, tempo no viveiro,
tamanho de sacos de plástico, substratos, sistema de irrigação,
procedimentos de gestão e administração. Para produzir porta-
enxertos em escala comercial no Brasil, o viveirista precisa ser
certificado pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento
(MAPA) e deve, além dos trâmites legais de produção, atentar para
importantes aspectos da produção, como: sincronismo entre
demanda e volume de produção, intensidade e qualidade da água de
irrigação, calendário e doses de fertilizantes foliares, controle de
pragas e doenças, eliminação de plantas atípicas e doentes e
qualidade da enxertia. A Tabela 1 mostra vantagens e restrições do
uso de porta-enxerto com mudas seminais.

Tabela 1 - Vantagens e restrições do uso de porta-enxerto com


mudas seminais de cacaueiro
Vantagens Restrições

Sementes são livres de Pode alterar vigor em


dormência, de baixo custo e algumas combinações
fáceis de obter copa/porta-enxerto
Metodologia facilmente A viabilidade da semente é
adotada pelos agricultores curta, devido à recalcitrância
Resistência a doenças da mesma
importantes, como murcha de Pode reduzir o desempenho
Ceratocystis de campo em combinação
Pode aumentar o rendimento enxerto/porta-enxertos com
de alguns clones baixa resistência a doenças

Fonte: Elaboração dos autores.


4 Enxertia por borbulhia
A enxertia por borbulhia é um dos métodos mais importantes de
propagação das plantas e refere-se à transferência de um tecido
contendo uma única gema de plantas matrizes (variedade
selecionada) para porta-enxertos. A fim de garantir o sucesso da
borbulhia, os tecidos cambiais dos meristemas laterais da gema e do
porta-enxerto devem ser colocados em contato para permitir o
desenvolvimento de ligações funcionais entre os tecidos vasculares
da gema com os correspondentes tecidos do porta-enxerto. Como
discutido por Hartmann et al. (2002), os processos fisiológicos de
reconhecimento de células, a formação do calo, bem como a
diferenciação do tecido vascular e parênquima, são passos críticos
na formação do enxerto. A borbulhia faz uso muito eficiente do
material de enxerto, pois necessita apenas de uma única gema
clonal para enxertar um porta-enxerto, contrastando com métodos
tradicionais da garfagem, que requer várias gemas (Figura 2).
Figura 2 - Etapas da enxertia por borbulhia em cacaueiros.
Retirada da gema (A). Inserção e amarrio no porta-enxerto (B)

Fonte: Imagens produzidas pelos autores.

A primeira experiência com enxertia tipo borbulhia em cacaueiros


foi realizada na Jamaica, em 1902 (MOOLEEDHAR, 2000), e ainda
hoje é usada em países produtores como: Peru, Costa Rica,
Jamaica, Equador, Brasil, Malásia, São Tomé, Nigéria, Gana, Costa
do Marfim e Indonésia. Em geral, a enxertia por borbulhia tem sido
aplicada para multiplicar pais selecionados em programas de
melhoramento e torna-se muito importante quando a quantidade de
material de um determinado clone é limitada, por exemplo, durante a
introdução do novo material botânico em quarentena.
Os resultados da borbulhia em cacaueiros variam de acordo com a
fase de maturação da gema, qualidade do porta-enxerto, sanidade
dos tecidos, ambiente e gestão do processo. Na Malásia, obteve-se
bons índices de pegamento com o uso da borbulhia em mudas de
quatro meses de idade (LEE, 2000). No entanto, de acordo com Yow
e Lim (1994), a borbulhia aplicada aos porta-enxertos de mudas de
três meses de idade necessita de, pelo menos, seis meses para
produzir mudas em condições de ir a campo. Esses autores também
enfatizam os altos custos para preparar e manter mudas enxertadas
em sacos plásticos por longo tempo.
Foram realizadas pesquisas substituindo a borbulhia convencional
pela verde visando reduzir custos. Por exemplo, Rosenquist (1952) e
Jacob (1969) testaram, com sucesso, a técnica de enxertia por
borbulhia em mudas de cacaueiro na fase de cotilédones. Por outro
lado, Giesenberger e Coester (1976) descreveram o método de
borbulhia verde aplicada a hipocótilos de dois a seis semanas de
idade e encontraram brotamento variando de 90 a 100%. Igualmente,
compararam os métodos “T” e “U” invertido, verificando que este
último foi mais adequado. Yow e Lim (1994) fizeram extensos
estudos sobre borbulhia em cacaueiros e relataram bons resultados
para borbulhia verde em porta-enxertos de duas semanas de idade
em um viveiro, em Sabah, na Malásia. Em contraste, Are (1969), na
Nigéria, comparou porta-enxertos de mudas de 18 meses de idade e
verificou que os clones copa testados tiveram melhor desempenho
em porta-enxertos de maior idade.
Técnicas de enxertia envolvendo porta-enxertos jovens têm
mostrado bons resultados. Por exemplo, Ramadasan e Ahmad
(1986), na Malásia, realizaram borbulhia do tipo hipocotiledonar com
êxito final variando de 70 a 80%. Trata-se de um método
especialmente promissor, uma vez que há uma redução drástica na
idade do porta-enxerto com variação de 10 a 20 dias. Esses autores
também enfatizaram que as reservas de nutrientes disponíveis nos
cotilédones do porta-enxerto permitiriam que as gemas se
desenvolvessem mais cedo, tornando os enxertos mais vigorosos.
Ressaltam, no entanto, aumento de custo na medida em que as
plantas enxertadas requerem regime de umidificação intensa até a
união do enxerto.
A borbulhia com gema tipo “marrom convencional” foi testada pela
CEPLAC até meados de 1990, e as taxas de sucesso variaram de 50
a 60%. No entanto, essa modalidade não vem sendo usada
comercialmente como metodologia de propagação clonal na Bahia
ou em quaisquer outros estados produtores do Brasil. Isso ocorreu
porque o método requer habilidade do enxertador e boa condição
sanitária e nutricional da gema. Entre as restrições, incluem-se
também a baixa taxa de pegamento, especialmente devido à
contaminação antes e depois do brotamento e ao arranque muito
lento da muda. Dentre as orientações gerais para garantir o sucesso
para mudas produzidas por borbulhia, destacam-se: a) porta-
enxertos com idade a partir de dezesseis semanas produzem
resultados melhores do que os porta-enxertos mais jovens; b) gemas
variando em tamanho de 1,5 a 2,5 cm de comprimento são ideais; e
c) a rega deve estar na forma de névoa fina a fim de evitar qualquer
perturbação para as plântulas enxertadas.
É importante mencionar que a deterioração das gemas no método
de borbulhia em cacaueiros é causada por um complexo de fungos.
Numa transferência de acessos clonais de cacaueiros para a estação
de quarentena em Miami, Flórida, EUA, foram identificados cinco
fungos associados com gemas em cacau, como: Botryodiplodia
theobromea, Fusarium decemcellulare, Fusarium oxtysporum,
Pestalotiopsis spp e Phomopsis spp, os quais podem desencadear
morte de mudas enxertadas de cacaueiro (PURDY, 1989). A Tabela 2
apresenta vantagens e restrições do uso de borbulhia na produção
de mudas de cacaueiros.
Tabela 2 - Vantagens e restrições do uso de borbulhia na produção
de mudas de cacaueiros
Vantagens Restrições

Utiliza um único botão para Requer enxertadores bem


enxertar um porta-enxerto treinados
Minimiza o desperdício de Maior custo de produção de
mudas de porta-enxertos. O gemas sadias
procedimento pode ser Em grande parte, é
refeito se o primeiro dependente de medidas de
brotamento falhar saneamento pesadas
Importante para a Taxas variáveis de
propagação de quantidade pegamento
limitada de material clonal, O arranque é lento
facilita o transporte e serviços
de quarentena
Propagar clones que não
podem ser propagados por
outras técnicas
Pode ser usado como técnica
auxiliar para detectar a
presença de vírus em
material vegetal “indexação”

Fonte: Elaboração dos autores.


5 Enxertia por garfagem
A enxertia por garfagem em cacaueiros refere-se à propagação
convencional por meio da qual uma haste (garfo) contendo várias
gemas é adequadamente inserida em uma fração de topo da planta
ou lateralmente sob a casca de porta-enxertos. Também pode ser
realizada em chupões basais, caules e ramos altos de árvores jovens
no campo e no viveiro (Figura 3). Da mesma forma que na borbulhia,
o princípio fisiológico para a garfagem também se aplica a todas as
modalidades de enxerto, ou seja, contato íntimo de tecidos cambiais
e proteção externa contra a desidratação dos tecidos. O contato de
tecidos favorece o desenvolvimento de ligações funcionais do xilema
e tecidos do floema da copa com o porta-enxerto (HARTMANN et al.,
2002). Esses autores também destacam que os processos
fisiológicos de reconhecimento de células, a formação do calo, bem
como a diferenciação dos tecidos vasculares e parênquima são
processos críticos para a formação do enxerto.

Figura 3 - Enxertia por garfagem em cacaueiros. Preparo do garfo


(A). Mudas enxertadas e câmera de proteção com uso de saquinhos
durante 21 dias (B)

Fonte: Imagens produzidas pelos autores.

Considera-se que existem muitas modalidades de enxertia por


garfagem; entretanto, apenas as metodologias de tipos
comercialmente importantes serão discutidas nesta revisão. A
enxertia por garfagem em fenda, por exemplo, pode ser feita tanto
em chupões basais de cacaueiros adultos como em porta-enxertos
de mudas no viveiro (5 a 8 meses de idade). A enxertia por fenda é a
forma mais usada pelos produtores para propagar clones na Bahia,
Brasil, assim como em outras regiões produtoras de cacau nas
Américas do Sul e Central, Caribe, oeste africano e países asiáticos.
Usando a garfagem, Sena Gomes et al. (2000) obtiveram taxas de
pegamento de 55 a 92% — variando com clone, local da enxertia e
época do ano — e verificaram que a enxertia por garfagem tem sido
mais bem sucedida durante os meses de setembro a março em anos
de condições climáticas típicas da região.
Algumas aplicações do método de garfagem não conseguem
apresentar resultados aceitáveis. Por exemplo, estudos
desenvolvidos na Malásia por Ramadasan e Ahmad (1986),
utilizando porta-enxertos de 2 a 4 semanas de idade e enxertia
lateral, apresentaram taxas reduzidas de pegamento. Os autores
observaram que a ligação era muito difícil, pois a cunha tende a
escorregar para fora, devido à presença do fluido viscoso, e o
desenvolvimento de calos ao longo da fenda tendia a “espremer” o
enxerto. Estes resultados foram igualmente relatados por
Giesenberger e Coester (1976), bem como por Rosa (1998), na
Bahia, Brasil, que registrou taxas de sucesso em porta-enxertos de 3
semanas de apenas 35%.
A garfagem lateral é o método em que o enxerto é cortado
obliquamente (lateralmente) em forma de cunha delgada e
empurrado para baixo e para dentro da casca do caule do porta-
enxerto. A garfagem lateral realizada no tronco de árvores adultas de
cacaueiro, tal como descrito por Yow e Lim (1994), foi utilizada, no
início do programa clonal, na Bahia (PINTO, 2000), para substituir
plantas com altos índices de infecção pela doença vassoura de bruxa
(Moniliophthora perniciosa). No entanto, as taxas de pegamento e
longevidade do material enxertado foram baixas quando os enxertos
foram realizados no tronco (< 30%), mas elevadas (> 70%) quando
em chupões basais. Isso fez com que a enxertia em troncos de
cacaueiros não fosse mais recomendada na Bahia, Brasil (SENA
GOMES; SODRÉ, 2015).
Uma variação do método convencional de garfagem foi usada para
propagar clones no Equador, onde enxertos em forma de cunha
dupla face e comprimento semelhante à profundidade da fenda
lateral são realizados em mudas de 3 a 4 meses de idade, sendo
inseridos lateralmente e amarrados com uma tira de plástico. O garfo
tem, normalmente, de 2 a 3 folhas de tamanho reduzido, e a área
enxertada é imediatamente fechada com um saco de plástico
transparente para evitar a desidratação dos tecidos durante cerca de
3 a 4 semanas. No estado do Espírito Santo, Brasil, é comum
realizar a enxertia por garfagem lateral com cortes posteriores da
copa após um período que varia de 21 a 40 dias. O índice de
pegamento é de 80%, e o rendimento médio homem/dia é de 450
enxertos. Ao contrário de outras regiões onde se usa fitilho para
amarrio do enxerto, no Espírito Santo utilizam-se borrachas finas,
conhecidas como “borracha de dinheiro” (Figura 4).

Figura 4 - Garfagem lateral em mudas de cacaueiros. Preparo da


cunha de dupla face no Equador (A). Mudas após a enxertia no
estado do Espírito Santo (B)

Fonte: Imagens produzidas pelos autores.


6 Enxertia em broto e copa
Trata-se de enxertia em brotos basais ou nos principais ramos da
copa “jorquette”, conhecida como substituição da copa e que objetiva
restaurar rapidamente o rendimento em cacaueiros suscetíveis às
doenças mantendo a base da planta. A enxertia de copa é
comercialmente apropriada para a substituição da área foliar em
condições específicas e considerando a idade da árvore. Esse
método tem sido bem aceito pelos agricultores na Bahia como forma
rápida para melhorar a produção de cacaueiros com idade inferior a
15 anos. Nos ramos da copa, a técnica segue o mesmo protocolo
para o enxerto lateral, utilizando de 2 a 4 ramos por árvore.
A técnica de enxerto lateral de copa sobre cacaueiros em campo
foi bemsucedida na Indonésia, Malásia e Filipinas, com metodologia
descrita por Yow e Lim (1994), em programas de reabilitação de
plantas. Na Indonésia, por exemplo, plantações de cacaueiros que —
no período 1998−2003, no Sul e Sudeste de Sulawesi —
apresentavam produtividade de cerca de 1.200 kg/ha/ano, em 2011,
tiveram sua produtividade diminuída para números que oscilavam de
120 a 240 kg/ ha/ano. Vários fatores foram associados com este
declínio, especialmente idade da árvore, falta de manejo da cultura
(controle de plantas daninhas, adubação, poda, pragas e doenças).
Para superar o declínio, um programa do governo para reabilitação
de plantas foi realizado usando a tecnologia de enxertia lateral
aplicada em brotos de árvores velhas, como descrito por Yow e Lim
(1994). As observações de campo mostraram que o sucesso da
enxertia lateral atingiu cerca de 60% dos agricultores.
A aceitação da enxertia de copa, também chamada “técnica de
salvação”, está relacionada ao fato de que o processo de floração
em espécies frutíferas não é interrompido, sendo apenas reduzido
durante a substituição das velhas copas das árvores, uma vez que
ocorre de maneira sobreposta com o desenvolvimento de novas
folhas a partir do clone enxertado (SENA GOMES; CASTRO, 1999).
Isto ocorre, supostamente, porque partes da antiga copa (ramos e
folhagens) só são eliminadas seis meses após a data de enxertia, e
neste momento a área foliar da nova copa já está bem desenvolvida.
A enxertia de copa, em geral, leva de 12 a 16 meses para recompor
a nova área foliar do cacaueiro (SENA GOMES; SODRÉ, 2015).
7 Características do enraizamento de estacas
em cacaueiro
A produção de mudas por estacas enraizadas é uma tecnologia
universalmente reconhecida para propagação clonal de inúmeras
espécies de plantas, incluindo o cacaueiro. As instalações e métodos
para o enraizamento variam de simples a altamente sofisticados;
contudo, o princípio fisiológico envolvido no processo é comum para
todas as espécies. Por exemplo, promoção de crescimento de raízes
adventícias a partir da base de um corte da haste, em um ambiente
de umidade elevada, e raízes adventícias que são desenvolvidas a
partir do periciclo (região cilindro vascular) na base da haste,
imediatamente acima do corte (Figura 5). A principal vantagem da
estaquia é que as plantas são idênticas em todos os aspectos ao
indivíduo original, ou planta-mãe, como enfatizado por Kramer e
Kozlowski (1979), e podem ser plantadas sem uso de porta-enxertos.
Detalhes da anatomia, fisiologia e os fatores ambientais envolvidos
no enraizamento de espécies florestais e hortícolas foram discutidos
por Hartmann et al. (2002) e Leakey (2004).

Figura 5 - Enraizamento de estacas de cacaueiro. Ambiente de


enraizamento (A). Detalhe do calo e de raízes adventícias (B)

Fonte: Imagens produzidas pelos autores.

A produção de mudas de cacaueiro por estaquia foi descrita e


testada no estado da Bahia pela primeira vez por Fowler (1955).
Recentemente, características técnicas e metodologias de
propagação também foram descritas por Sena Gomes e Castro
(1999), Sodré e Marrocos (2009), Sodré (2013) e Sena Gomes e
Sodré (2015). De acordo com Hall (1963), clones do Alto Amazonico
e Trinitário enraízam melhor do que Amelonado; por outro lado,
Toxopeus (1970) enfatiza diferenças sazonais de enraizamento entre
os clones. Wood e Lass (1985) mencionaram uma lista de fatores
que afetam o enraizamento de estacas, com destaque para tipo
genético, manejo de viveiros, reguladores vegetais, fatores
ambientais (temperatura, luz e umidade) e meio de enraizamento.
Hartmann et al. (2002) destacaram que, de modo geral, as estacas
da posição apical de espécies lenhosas, devido à intensa atividade
meristemática, são as que apresentam maiores níveis de
enraizamento. Em se tratando de cacaueiros, Cheesman (1935) e
Evans (1953) observaram taxas de enraizamento elevadas em
plantas matrizes mais jovens. Nesse contexto, Sodré (2007) verificou
que o uso de estacas de cacaueiro retiradas da posição apical
potencializa a capacidade de enraizamento do material juvenil com
maior produtividade por planta matriz, aumento dos níveis de
enraizamento e consequente diminuição dos custos de produção das
mudas.
É importante mencionar que, embora a maior parte dos estudos de
propagação em cacaueiros tenha sido desenvolvida em ramos
plagiotrópicos, em geral, os métodos também são aplicáveis aos
ramos ortotrópicos, uma vez que não existem evidências de
diferença real entre os dois tipos de material, como mencionado por
Cheesman (1935).
A tecnologia de enraizamento de cacaueiro no Brasil vem
avançando em termos de ambiente, instalações e logística — iniciou
com uso de areia como substrato de enraizamento (ALVIM; OVIDIO,
1954; ALVIM, 1953; PYKE, 1933); evoluiu para o uso de saco de
polietileno e estacas plantadas em sacos contendo uma mistura de
areia e matéria orgânica e coberto com lona de polietileno (MURRAY,
1954; MACKELVIE, 1957; BURLE, 1958; HARDY, 1960); e, mais
recentemente, para a produção de mudas do tipo “mudão”,
miniestaquia, mudas de estacas de uma gema e jardim clonal em
vasos (SODRÉ, 2013). Um grande passo para a propagação em
larga escala foi obtido com o enraizamento de estacas em tubetes
plásticos, uso de substratos organominerais e câmara de
nebulização equipada com sistema de fertirrigação, como descrito
por Sena Gomes et al. (2000).
A estaquia em cacaueiro é influenciada por fatores ambientais,
dentre os quais se destacam a temperatura, umidade e meio de
enraizamento. Intensidades de luz, em geral, não são associadas ao
enraizamento, embora estacas com folhas possam produzir raízes
na escuridão e a alta intensidade de luz cause a queda de folhas.
Normalmente, a temperatura interfere na quantidade e qualidade dos
calos, bem como na qualidade do sistema radicular. Variações no
enraizamento ocorrem entre clones, mudas do mesmo clone, partes
de uma mesma planta e locais do mesmo viveiro. Archibald (1953)
sugeriu que a eficiência fotossintética da folha parece determinar a
sobrevivência das estacas. No entanto, como mencionado por
Leakey (2004), são as interações entre fatores (planta, ambiente e
manejo) que garantem um bom enraizamento.
Amoah, Johnson e Yeboah (2006) observaram fatores fisiológicos
afetando o enraizamento de estacas do cacaueiro. Entre os
relevantes, enfatizaram a importância dos componentes anatômicos,
o estado nutricional das estacas e a posição nodal na planta
estoque. Os resultados sugeriram que o enraizamento de estacas é
marcado por uma região bem diferenciada do câmbio vascular, por
níveis mais elevados de açúcares não redutores e pela relação C:N.
Pesquisas realizadas no Instituto de Pesquisas do Cacau do Gana
(CRIG) verificaram que o enraizamento foi significativamente afetado
pelas posições nodais da haste clonal, com o melhor enraizamento
alcançado em estacas das posições nodais 4−6, a partir do ápice de
árvores de 15 anos de idade e cacaueiro tipo Amelonado. Também
verificaram que estacas de posições nodais 1−3 apresentaram,
relativamente, grande medula e região vascular pouco desenvolvida;
enquanto, em cortes de posições nodais 7−10, verificava-se um anel
quase contínuo de células esclerenquimáticas. Um relatório
mostrando diferenças no desempenho de enraizamento em estacas
de cacaueiros em relação à posição de corte na planta foi publicado
por Ramadasan e Ahmad (1986), que também destacaram o
diâmetro de entrenós, lignificação do caule, nutrientes e teor de
carboidratos como importantes critérios para a seleção de estacas de
cacaueiros em jardins clonais.
Características dimórficas de crescimento durante o enraizamento
de estacas de cacaueiro foram registradas em Trinidad por Pyke
(1933), Cheesman (1935) e Evans (1951). Desde então, os
produtores reconheceram alguns aspectos negativos do plantio de
cacaueiros enraizados de ramos plagiotrópicos. Em geral, os
cacaueiros provenientes de ramos plagiotrópicos desenvolvem um
denso dossel e requerem repetidas podas para formar a copa e
facilitar o manejo e a colheita. Miller (2009) mencionou que ramos
plagiotrópicos desenvolvem características tais como suscetibilidade
ao acamamento e estresse à umidade, possivelmente devido à
combinação de formação da copa desequilibrada e incorreto
desenvolvimento do sistema radicular. Lee (2000) acrescentou que a
falta de raízes pivotantes em plantas de ramos plagiotrópicos é
considerada uma desvantagem, especialmente durante a estação
seca na Malásia. Além disso, é bem sabido que um sistema de
raízes fibrosas e raso pode limitar o crescimento, a produção e a
sobrevivência do cacaueiro em condições de estresse hídrico.
Murray (1961), em Trinidad, observou sistemas radiculares de
plantas cultivadas em campo a partir de estacas, os quais foram
semelhantes àquelas produzidas a partir de sementes. Em outro
estudo, esse autor verificou o desempenho de plantas dos clones
ICS-95 (estacas enraizadas) e ICS-1 x SCA-12 (mudas seminais)
cultivados em caixas de 0,23 m e 1,07 m de altura, observando que,
15 meses mais tarde, as médias dos pesos frescos da muda clonal e
seminais foram semelhantes. Entretanto, as clonais apresentavam
proporção maior de raízes e folhas. As raízes principais foram
proporcionais ao peso fresco das plantas clonais e de mudas
seminais nas caixas de 0,23 m, todavia muito maiores para as
mudas seminais em caixas de 1,07 m.
Na ausência de uma raiz principal nas plantas propagadas por
estaquia, duas ou três raízes adventícias principais tendem a se
desenvolver a partir das quais surgem raízes laterais funcionando
como “raízes âncora”. Deve-se destacar que, muitas vezes, a falta de
raiz principal em estacas enraizadas pode deter o crescimento e a
produtividade da planta durante a estação seca, especialmente em
solos rasos e com elevados teores de alumínio, resultando em
perdas de colheitas e mortalidade de árvores.
Considera-se tecnicamente importante a produção de plantas
enraizadas a partir de ramos ortotrópicos, isso porque as árvores
originárias deste material irão desenvolver plantas de forma
semelhante a uma planta seminal, com a mesma estrutura de galhos
(GLICENSTEIN; FLYNN; FRITZ, 1990). Esses autores afirmaram que
as raízes produzidas em estacas ortotrópicas sustentam as árvores,
tornando-as menos sensíveis ao estresse hídrico. Miller (2009)
enfatizou que estacas ortotrópicas exigem demanda mínima em
poda de formação, reduzindo custos de mão de obra durante o
estabelecimento em campo. Esse autor argumenta, no entanto, que
pesquisas sobre esse assunto não avançaram como seria esperado
devido, principalmente, à conhecida escassez de material ortotrópico
para produção em larga escala.
A produção de plantas clonais de cacaueiro de origem ortotrópica
usando enraizamento vem sendo estudada na Bahia por Sodré
(2013). Embora os resultados em Trinidad e na Malásia tenham
demonstrado potencial produtivo semelhante para clones que foram
enxertados utilizando gemas de ramos plagiotrópicos ou ortotrópicos,
as tecnologias de propagação utilizando material ortotrópico
precisam ainda ser testadas com grande número de clones
recomendados disponíveis em diferentes países.
Algumas iniciativas para superar a escassez de mudas
ortotrópicas foram iniciadas desde 1984, em Gana. Bertrand e
Agbodjan (1989) descreveram métodos destinados a aumentar o
número de ramos ortotrópicos, incluindo decepar o tronco da árvore
e depois realizar arqueamento de ramos. Esses autores observaram
boa produção de brotos ortotrópicos após 5 meses com o corte raso
e arqueamento. Nesta mesma linha de trabalho, Glicenstein, Flynn e
Fritz (1990) e Maximova e Guiltinan (2012), na Universidade
Estadual da Pensilvânia, EUA, e Sodré (2013), na Bahia, Brasil,
apresentaram resultados mostrando que a dobra de cacaueiros em
arco, amarrando os topos para o chão, em casa de vegetação,
produziu grande número de ramos ortotrópicos na parte superior e
na lateral do tronco arqueado (Figura 6).

Figura 6 - Mudas ortotrópicas em cacaueiro. Arqueamento de


plantas para produzir ramos ortotrópicos (A). Muda formada de ramo
ortotrópico (B)

Fonte: Imagens produzidas pelos autores.


8 Modelo de produção de mudas de cacaueiro
por estaquia na Bahia
No estado da Bahia, uma unidade de propagação de cacaueiros
em larga escala usando estacas enraizadas está em operação desde
1999. Pela primeira vez no mundo, uma unidade de propagação
conseguiu produzir milhões de estacas enraizadas usando tubetes
plásticos de 288 cm3 preenchidos com substratos organominerais e
aclimatadas antes do plantio no campo (SENA GOMES; SODRÉ,
2015).
A unidade de produção conhecida como Instituto Biofábrica de
Cacau está localizada a 45 km ao norte do município de Ilhéus e,
desde 2010, foi credenciada para fornecer cultivares e clones de
cacaueiros recomendados pelo MAPA. O projeto foi inicialmente
planejado para atender à reabilitação de 300.000 ha de plantações
de cacaueiros fortemente infectados pela doença vassoura de bruxa
e com baixa produção. Atualmente tem capacidade para fornecer
anualmente até oito milhões de estacas enraizadas.
A CEPLAC e a Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC),
desde o ano de 2000, garantem o suporte científico e técnico do
projeto Biofábrica, que conta com 20 unidades de enraizamento
(câmaras de propagação comerciais) medindo 2.500 m2 cada,
cobertas e protegidas lateralmente com tela de polipropileno (50% de
interceptação da luz), com bancadas de metal e sistema
automatizado de irrigação. Cada unidade de enraizamento pode
conter 216.000 estacas em enraizamento por um período de seis
meses (86 estacas/m2/6 meses). Deve-se destacar uma nova
iniciativa que está em curso para elevar a capacidade de cada
câmara para cerca de 700.000 estacas (280 estacas/m2/6 meses), o
que se fará com a redução do tamanho das estacas, dos tubetes
plásticos e com o uso de substrato de menor densidade, conforme
informado por Jackson Oliveira Cesar3.
O enraizamento de estacas é um método mais oneroso para a
produção de mudas de cacaueiros, especialmente se comparado
com o plantio seminal. Os custos de produção estão normalmente
associados à necessidade de mão de obra e insumos e variam
largamente entre os países. Na Tabela 3, são apresentadas as
vantagens e limitações da propagação por estaquia em cacaueiros.
Tabela 3 - Vantagens e limitações da propagação por estaquia em
cacaueiros.
Vantagens Restrições
Vantagens Restrições

Maiores taxas de Projeto em larga escala


multiplicação. Técnica fácil, requer altos investimentos
livre de problemas de em instalações,
incompatibilidade do enxerto equipamentos, jardim clonal
Plantas idênticas, em todos e logística de fornecimento
os aspectos, ao indivíduo de materiais
original ou planta-mãe Exige trabalhadores
Propagação pode ser treinados
realizada com unidades de Custos para manter a
enraizamento simples e sanidade do jardim clonal
baratas durante e após o processo de
Plantas enraizadas crescem enraizamento
raízes próprias (sistema Plantas tendem a
radicular fibroso) desenvolver o sistema
Pode propagar material de radicular superficial,
origem plagiotrópica e especialmente em alguns
ortotrópica solos pesados (alto teor de
Apresenta de média a altas argila)
taxas de sucesso Indicado para clones e locais
específicos (solos bem
drenados, de preferência
profundos, planos e de relevo
não montanhoso)
A falta de raiz principal pode
travar o crescimento e a
produtividade das plantas
durante a estação seca,
especialmente em solos
rasos
Riscos de infecção por
patógenos de solo,
especialmente em clones
suscetíveis

Fonte: Elaboração dos autores.


9 Miniestaquia na propagação vegetativa de
cacaueiros
Em mais de um século de pesquisas sobre multiplicação de
cacaueiro por estaquia, foram usadas estacas de diversos tipos e
comprimentos. Historicamente, iniciaram-se com estacas medindo 20
cm de comprimento e apenas uma folha inteira (FOWLER, 1955;
PYKE, 1933). Mais recentemente, Guiltinan et al. (2001) usaram
estacas de uma gema medindo 2 cm de comprimento e obtiveram
sucesso na multiplicação de plantas obtidas via embriogênese
somática.
Considerando-se apenas o comprimento da haste, o termo
miniestaca não tem utilidade prática em estudos de multiplicação de
plantas. Isso porque o comprimento é variável em função da espécie,
tipo de ramo, nutrição e vigor da planta matriz, número de gemas e
idade do ramo. No caso do cacaueiro, o termo miniestaca foi
inicialmente usado para se diferenciar do comprimento padrão da
Biofábrica de Cacau, que adota, no sistema de produção, estacas de
16 cm de comprimento (MARROCOS; SODRÉ, 2004).
A substituição de estacas de 16 cm (estaquia convencional) por
miniestacas de 6 a 10 cm e também por estacas de uma gema para
a produção de mudas de cacaueiro tem a vantagem de utilizar
material herbáceo com intensa atividade meristemática e, com isso,
elevar os níveis de enraizamento (SODRÉ, 2007; SODRÉ, 2013)
(Figura 7). Por outro lado, na medida em que estacas de menor
tamanho aumentam o rendimento por planta matriz, o uso de
miniestacas significa reduzir custos. Sodré (2007) comparou o
crescimento de miniestacas herbáceas de 4 e 8 cm de comprimento,
verificando não haver diferenças entre os dois comprimentos para a
altura final de brotação e massa seca de raízes das mudas aos 6
meses.
Figura 7 - Miniestaquia na produção de mudas de cacaueiro.
Enraizamento em tubetes (A). Muda de estaca de uma gema (B)

Fonte: Imagens produzidas pelos autores.

Na produção em larga escala das mudas clonais, a miniestaquia,


além de aumentar os níveis de enraizamento das plantas, permite,
por exemplo, que se realize o pré-enraizamento usando bandejas em
câmaras de nebulização e transferências entre 40 e 60 dias para
tubetes maiores. Com a adoção da tecnologia de miniestacas pré-
enraizadas, estar-se-ia reduzindo consideravelmente as perdas de
substratos, especialmente em clones de difícil enraizamento. Por
outro lado, para cumprir a legislação brasileira no que se refere à
produção de mudas de cacaueiro, a miniestaquia, por permitir a
produção de mudas mais padronizadas, permite que viveiristas
possam obter com mais facilidade a certificação dos seus viveiros,
seguindo normas estabelecidas pelo MAPA.
10 Mitigação de riscos em processos de
produção de mudas de cacaueiro por estaquia
e enxertia
Embora os resultados de produção de mudas sejam
marcadamente influenciados pela planta, ambiente e fatores de
gestão, a tecnologia de propagação vegetativa de qualquer tipo não
irá melhorar baixos rendimentos produtivos de clones, como
enfatizado por Sena Gomes e Sodré (2015). Segundo esses autores,
isso ocorre por causa de características intrínsecas da planta que é
transferidas geneticamente da planta matriz. Portanto, características
genotípicas e agronômicas indesejáveis — como baixas produções,
suscetibilidade às doenças, alto vigor, copa desequilibrada e a baixa
qualidade bioquímica da semente — também serão transmitidas às
novas gerações de plantas produzidas por propagação vegetativa.
A propagação de doenças viróticas também representa risco em
plantas propagadas por quaisquer métodos de propagação
vegetativa. Doenças como a murcha de Ceratocystis e, em alguns
casos, a vassoura de bruxa, na América Latina e países do Caribe,
também podem ser disseminadas via material de propagação. Para
minimizar esses riscos, recomenda-se a adoção de controles
sanitários rigorosos na gestão de jardim clonal eliminando qualquer
material com sintomas de doenças.
De forma geral, existe uma tendência em cacauicultura de se
propagar um único ou poucos clones por estaquia ou enxertia,
geralmente os mais produtivos, especialmente entre os pequenos
produtores. No entanto, deve-se destacar que isso representa um
risco devido à falta de diversidade genética elevada e por conta de
novas doenças. Um projeto de propagação clonal deve incluir não
apenas clones testados para cada região específica, mas sobretudo
manter a alta diversidade genética para características agronômicas
importantes como a produção, resistência a doenças, precocidade,
formato da copa e qualidade de sementes. Essa diversidade em
plantios de cacaueiros, na prática, pode ser obtida com o plantio de
mistura de clones em esquema monoclonal, como proposto por
Mandarino e Sena Gomes (2009).
11 Experimentos com cacaueiros produzidos
por estaquia na Bahia
As mudas de estacas enraizadas foram inicialmente utilizadas na
Bahia para aumentar a densidade de plantas das áreas enxertadas
com clones resistentes. Atualmente, a estaquia é muito importante
para plantações em larga escala e em novos plantios e menos
apropriada para aumentar a densidade de áreas de baixa densidade
populacional de cacaueiros. Assim, o plantio de cacaueiros com
mudas de estacas enraizadas vem sendo cada vez mais usado na
cacauicultura do estado da Bahia e de outras regiões do Brasil.

11.1 Projeto Nova Redenção, Bahia, Brasil

Dados experimentais de produção coletados em plantio clonal,


localizado em uma região não tradicional, no município de Nova
Redenção, na região Oeste da Bahia, mostraram elevada
produtividade. A região é caracterizada por clima semiárido, com
temperatura média anual de 26°C, precipitação anual de 600 mm,
com distribuição irregular e umidade relativa média de 40%. Nesse
experimento, os cacaueiros oriundos de estacas enraizadas foram
transplantados para o campo em março de 2003, em solo plano e de
profundidade média, com sombra temporária de bananeiras. As
plantas foram mantidas com fertirrigação por gotejamento e
regularmente podadas. De acordo com Leite et al. (2012), a
produtividade do clone CCN-51 aos 52 meses após o plantio no
campo, em Nova Redenção, atingiu 2.260 kg/ha/ano de amêndoas
secas, com excelente desempenho para a maioria das
características agronômicas, especialmente crescimento vigoroso,
sem pragas e precocidade de produção.

11.2 Projeto Lembrance, Bahia, Brasil


O estabelecimento de plantios de cacaueiros substituindo áreas de
mamão em declínio no Sul da Bahia tem sido, até o momento, bem-
sucedido. Esse é o caso do Projeto Lembrance, um plantio clonal de
250 ha estabelecido usando sombreamento parcial de mamoeiros e
bananeiras e, a partir do segundo ano, mantidos a pleno sol com
quebra-ventos de Eucalipto tolleriana.
O projeto Lembrance usa unicamente estacas enraizadas no
Instituto Biofábrica de oito clones que estão sendo manejados em
sistema semimecanizado com capina química, pulverização de
pesticidas, poda, quebra e beneficiamento de frutos mecanizados e
fertirrigação por gotejamento (Figura 8). A área está localizada a 260
km ao sul da principal zona produtora de cacau na Bahia, e os solos
apresentam as seguintes características: textura média, profundos,
planos e baixa fertilidade natural. No ano de 2014, encontravam-se
em produção os seguintes clones: CCN-10 e CCN-51; CEPEC 2002,
2004, 2005 e 2006; CP-49; PH-16; PS-13.19 e SJ-02; todos
arranjados em blocos monoclonais.

Figura 8 - Projeto Lembrance. Área de cacaueiros implantada com


mudas de estaquia e irrigação por gotejamento (A). Área em
produção (B)

Fonte: Imagens produzidas pelos autores.

O Projeto Lembrance vem obtendo produtividades médias acima


de 2.000 kg/ha/ano e pode ser considerado como piloto ideal para
ser replicado em grandes áreas na região dos tabuleiros costeiros no
Sul da Bahia, bem como em outras regiões e em outros países
produtores na América Latina, África e Ásia.
12 Jardim clonal a campo
A maioria dos cacauicultores brasileiros ainda produz as mudas
em suas propriedades e, quando faz enxertia para consumo próprio,
em geral, recebe material vegetativo oriundo de um jardim clonal
institucional ou de propriedades vizinhas. Normalmente, a
quantidade de material para enxertia obtida a partir da primeira
introdução é suficiente para fornecer hastes de propagação para as
próximas gerações de enxertos ou para formar coleção de
variedades clonais.
Jardins clonais em campo e destinados à produção de hastes para
enxertia de plantas adultas ou formação de mudas de cacaueiros são
normalmente manejados para permitir que de 20 a 50% da luz solar
seja interceptada. Uma estratégia para maximizar a qualidade da luz
e desenvolver boas hastes consiste em manter o jardim sob um
protocolo de manejo intensivo, incluindo: capina e adubação,
controle de pragas e doenças, além de poda e irrigação.
O espaçamento e o material genético influenciam no rendimento
(número de estacas) do jardim clonal. Em Gana, por exemplo, o
número de estacas obtido num jardim clonal implantado no
espaçamento 2,6 x 1,3 m variou de 100 a 160 estacas por planta/ano
para seleções Amazônicas, mas apenas de 20 a 40 para as seleções
Amelonado, como discutido por Dias (2001).
O rendimento de estacas colhidas nos jardins clonais do Instituto
Biofábrica, plantados com espaçamento de 3,0 x 3,0 m, é fortemente
dependente do clone, variando em estacas/planta/ano de 56 para o
clone IP-01, 63 para o CEPEC-2002, 74 para o SJ-02 e 112 para o
CCN-51, conforme informação de Jackson Oliveira Cesar4. Deve-se
destacar ainda que a maioria dos clones são cruzamentos de
Trinitários e Forasteiros.
Projeções feitas por Sena Gomes e Sodré (2015) para a produção
de mudas a partir de um jardim clonal estabelecido com 3.333
plantas/ha, com manejo intensivo de irrigação e adubação, indicam
produtividade variando de 300.000 a 500.000 estacas
semilenhosas/ha/ano durante o terceiro ano de gestão. Esta
produtividade estimada é baseada em um modelo bem gerido para
permitir de 6 a 9 colheitas por ano.
13 Outras tecnologias para produção de
mudas clonais de cacaueiro
Unidades mais simples e baratas para produção de mudas de
cacaueiro podem ser usadas por pequenos agricultores em qualquer
lugar, a exemplo das coberturas de plástico usadas para
enraizamento do clone CCN-51 no Equador. A principal vantagem é
que não exigem água corrente ou eletricidade o que torna esse
método apropriado para locais remotos. Leakey et al. (1990) afirmam
que os métodos apresentados na Figura 9 são simples, eficazes e
até menos propensos a problemas se comparados a sistemas mais
sofisticados. Segundo esses autores, a eficiência de enraizamento
nesses sistemas depende do genótipo e da época do ano, mas o
sucesso em média varia de 60 a 75%.

Figura 9 - Tecnologias adaptadas para a produção de mudas


clonais de cacaueiro. Canteiros cobertos com plástico branco (A).
Canteiros cobertos usados no Equador (B)

Fonte: Imagens produzidas pelos autores.

Dentre outras tecnologias de propagação de cacaueiros, merece


destaque, particularmente, a embriogênese somática (ES). Trata-se
de um sistema de cultura de tecidos que usa partes florais (pétalas e
estaminoides) e resulta em embriões geneticamente idênticos
(Figura 10). Estes embriões têm a vantagem de crescer com o
dimorfismo de crescimento ortotrópico plagiotrópico normal de uma
muda seminal de cacaueiro. Um estudo concluiu que, apesar das
perdas devido aos embriões anormais, é teoricamente possível
produzir mais de 4.000 plantas de embriões secundários derivados
de uma única flor em aproximadamente um ano (SODRÉ, 2013).

Figura 10 - Embriogênese somática em cacaueiros. Embriões


somáticos obtidos a partir de pétalas (A). Plântula embriogênica em
fase de pré-aclimatação (B)

Fonte: Imagens produzidas pelos autores.

A embriogênese somática em cacaueiros tem sido desenvolvida e


testada por diversas instituições de pesquisa em todo o mundo, a
exemplo da CEPLAC, no Brasil (Sandra Queiroz5, comunicação
pessoal); da Pennsylvania State University, nos EUA (LI et al., 2000),
Guiltinan et al. (2001), Maximova e Guiltinan (2012); CRIG, em Gana
(TRAORE; MAXIMOVA; GUILTINAN, 2003), CIRAD, Montpelier, na
França (ALEMANNO et al., 2000); Almirante Cacau, na Bahia, Brasil
(Regina C. Machado6, comunicação pessoal); INIAP, no Equador e
CATIE, na Costa Rica (SOMARRIBA et al., 2011).
Pesquisas com uso de enxerto “Uno” e de filtros “inter-enxerto”
foram iniciadas no ano de 2012, na CEPLAC Bahia, e revelam
possibilidades de uso futuro, especialmente quando se pretende
reduzir o tempo de produção da muda enxertada, controlar
patógenos de solo e reduzir o porte das plantas.
13.1 Enxerto “Uno”

O enxerto “Uno” é uma adaptação dos métodos de enraizamento e


garfagem que é realizado em um só tempo. A principal vantagem
desse método é que em uma única operação se consegue preparar
uma muda com porta-enxerto e enxerto de material clonal. Isso
porque tanto os enxertos como os porta-enxertos originam-se de
estacas dos clones que se pretende propagar (SODRÉ, 2013).
Na prática, o enxerto “Uno” é feito preparando a “estaca porta-
enxerto” de 15 a 18 cm, de forma semelhante ao enraizamento
convencional. A diferença é que ao mesmo tempo, faz-se a união do
porta-enxerto usando a fita para amarrio e cobrindo a parte superior
com saquinho (Figura 11). As doses de regulador vegetal (AIB) e
substratos seguem os mesmos métodos do estaqueamento
tradicional, e as estacas, logo após a união do enxerto e porta-
enxerto, devem ser imediatamente encaminhadas para enraizamento
em câmara de nebulização. As primeiras brotações da estaca
enxerto são verificadas a partir de 30 dias, e entre 60 e 90 dias a
muda deve ser retirada da câmara e transplantada para sacos de
polietileno para rustificação. A muda resultante estará pronta para
ser levada ao campo oito meses após a realização do enxerto “Uno”.

Figura 11 - Produção de muda tipo enxerto “Uno”. União do porta-


enxerto e enxerto (A). Muda inserida no tubete para ser enraizada
(B). Muda pronta para plantio aos oito meses (C)

Fonte: Imagens produzidas pelos autores.


A técnica de enxerto “Uno” encontra-se em fase experimental, no
entanto, verifica-se a necessidade de maiores cuidados com a
higiene do local, ferramentas e também é necessário usar câmaras
de nebulização a fim de garantir o enraizamento da estaca porta-
enxerto. Recomenda-se usar as estacas porta-enxertos de clones de
fácil enraizamento.

13.2 Uso de enxertos filtros

As mudas produzidas com filtros são obtidas com a inserção de


uma haste medindo aproximadamente 10 cm entre o enxerto e porta-
enxerto. Em geral, usam-se variedades ou clones de cacaueiro que
tenham alguma característica que agregue valor à nova planta
formada pelos três componentes (porta-enxerto, filtro e copa).
A enxertia com uso de filtro pode ser feita ao mesmo tempo ou em
momentos separados por aproximadamente 3 meses. Nesse caso,
insere-se o filtro e, depois de verificado o pegamento, enxerta-se a
copa. Deve-se atentar para que o diâmetro e coloração das hastes
sejam semelhantes para garantir o sucesso da enxertia. Até o
momento, as enxertias filtro foram realizadas usando variedades de
pequeno porte (para reduzir a altura da planta) e outras para
resistência à doença. Nesse contexto, deve-se destacar que a
variedade de cacau Forasteiro, conhecida como “cacau jaca”,
apresenta potencial para uso como filtro pela elevada resistência ao
fungo Ceratocystis cacaofunesta, causador da doença mal do facão
(Figura 12).
Figura 12 - Muda de cacaueiro com enxerto filtro. Partes
componentes da muda a partir do colo para o ápice (porta-enxerto,
filtro e copa) indicadas por setas (A). Variedade resistente ao fungo
Ceratocystis cacaofunesta “cacau jaca” (B)

Fonte: Imagens produzidas pelos autores.


14 Considerações finais
Mesmo considerando que a produção de mudas de cacaueiros em
viveiros credenciados seja uma atividade pouco conhecida dos
produtores brasileiros, é muito provável que, em poucos anos, a
produção de mudas seja submetida a processos legais de
certificação. O potencial regional e nacional para a produção de
mudas clonais de cacaueiros pode ser um atrativo para novos
viveiristas. Esses empreendimentos exigirão tecnologias de
produção cada vez mais eficientes para que se produzam mudas
com qualidade e custos reduzidos.
É importante destacar que a certificação das mudas de cacaueiro
é uma exigência do MAPA, em conformidade com a Lei no 10.711,
de 05 de agosto de 2003 (MAPA, 2003), e decreto no 5.153, de 23
de agosto de 2004 (MAPA, 2004, 2007). O objetivo da certificação é
garantir, principalmente, a qualidade genética e sanitária da muda
produzida.
Entre novos desafios de pesquisa sobre propagação do cacaueiro,
destaca-se a adoção da técnica de jardim clonal em viveiro, que,
conforme verificado por Sodré (2007), em cinco hectares de jardim
clonal em condições de viveiro telado, seria possível produzir até 4
milhões de mudas de miniestacas por ano. A isso devem ser
somados os ganhos com a qualidade da estaca e custos gerais de
produção das mudas de cacaueiro.
15 Agradecimentos
Os autores agradecem ao Engenheiro Agrônomo Guilherme
Amorim, bolsista da Fundação de Pesquisa do Estado da Bahia
(FAPESB); Edital Cacau, pela revisão e formatação do texto.
Também agradecem à Bioversity International, pela permissão para
publicar, nesta edição, a tradução para o português de partes do
conteúdo do capítulo 3 (Conventional Vegetative Propagation) da
publicação Supplying new cocoa planting material to farmers: a
review of propagation methodologies (SENA GOMES; SODRÉ,
2015).
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Capítulo 7 — Atributos físicos do solo
para a cultura do cacaueiro
Arlicelio de Queiroz Paiva1, Cesar Oswaldo Arévalo-
Hernández2, Virupax Chanabasappa Baligar3 , Raphael
Bragança Alves Fernandes4
1 Introdução
O cacaueiro (Theobroma cacao L.) é uma cultura perene tropical
de grande importância nacional e, em especial, no Sul da Bahia. Do
cacau é obtido principalmente o chocolate, produto de grande
apreciação no mercado nacional e internacional, que ultimamente,
além de seu sabor característico, tem sido valorizado em função de
seu reconhecimento como alimento funcional.
A cadeia produtiva do cacaueiro é ampla e dela dependem direta
ou indiretamente um grande número de pessoas e alguns setores
da economia. Neste contexto, torna-se relevante estar atento aos
principais fatores que afetam a produção do cacau, mesmo porque
se trata de uma atividade que pertence a um mercado com alta
demanda, mas com déficit de oferta.
O cacau é uma das principais commodities agrícolas, tendo uma
produção mundial de 4,05 milhões de toneladas (ICCO, 2013). Sua
produção ocorre, principalmente, associada a sistemas
agroflorestais ou a fragmentos nativos, o que contribui para manter
a capacidade produtiva das terras, bem como para melhorar a
estrutura física dos solos (DUBOIS, VIANA; ANDERSON, 1996).
Como em outras culturas agrícolas, o solo é um fator fundamental
para a implantação, condução e sucesso de uma cultura, pois influi
diretamente no desenvolvimento das raízes e no suporte, nutrição e
produção das plantas. Desta forma, os atributos do solo podem ser
utilizados para a avaliação de sua qualidade, bem como no
monitoramento de alterações provocadas pelo cultivo, tornando-se
relevantes para a aferição da sustentabilidade dos sistemas
agrícolas (DORAN; PARKIN, 1994).
Na avaliação da qualidade do solo, a literatura costuma dar mais
ênfase aos atributos associados à fertilidade do solo, pois as
características químicas destes normalmente são mais valorizadas
por técnicos e agricultores. Os atributos químicos são a base para o
equilíbrio nutricional adequado e, consequentemente, para a
produtividade satisfatória (SOUZA JÚNIOR et al., 1999a).
Por outro lado, os atributos físicos do solo não são menos
importantes, ainda que muitas vezes não sejam muito valorizados.
Eles influenciam a dinâmica de água no solo, a capacidade de
penetração do sistema radicular e as trocas gasosas, afetando a
nutrição e a microbiota do solo e, consequentemente, o
crescimento, o vigor e a produção das plantas (LAL; SHUKLA,
2004). A preocupação com a qualidade física do solo acaba
acontecendo de maneira tardia, quando problemas de ordem física,
como compactação, encharcamento, baixa resistência a veranicos
e/ou quedas de produtividade aparecem.
Diante do exposto, agricultores e técnicos devem dedicar especial
atenção à qualidade física do solo, em especial em culturas
perenes, nas quais o ciclo longo pode trazer dissabores no futuro ao
se enfrentar problemas de ordem física que poderiam ser evitados
ou minimizados, caso medidas fossem adotadas desde o início da
implantação.
Na sequência, serão discutidos alguns atributos ligados à
qualidade física do solo, com foco especial na implicação dos
mesmos na cultura do cacaueiro.
2 Textura
A textura refere-se, quantitativamente, à proporção relativa do
conjunto de partículas primárias do solo — areia, silte e argila — já
do ponto de vista qualitativo, representa a sensação ao tato do
material (HILLEL, 1998). Ela é uma importante característica física e
afeta a porosidade, temperatura, movimento da solução do solo,
atividade microbiana e penetração de raízes no solo (KOOREVAAR;
MENELIK; DIRKSEN, 1999).
Solos considerados como adequados para o cacaueiro incluem os
de textura Argilosa e bem agregada até o de textura Franco-
Arenosa (HARDY, 1961). Ou ainda os que apresentam em torno de
500 g/kg de areia, 100 a 200 g/kg de silte e de 300 a 400 g/kg de
argila (WOOD; LASS, 1985), correspondendo às classes texturais
Franco-Argilo-Arenosa ou Argila-Arenoso, de acordo com a
Sociedade Brasileira de Ciência do Solo (SANTOS et al., 2015). Por
outro lado, alguns autores consideram o clima, em especial a
disponibilidade hídrica, como determinante para a definição da
melhor textura do solo para o cacaueiro. Neste sentido, para zonas
de alta precipitação com chuva bem distribuída, Bradeu (1970)
recomenda solos arenosos com teor de argila entre 50 a 100 g/kg e,
para locais com precipitação reduzida, solos com 300 a 400 g/kg de
argila seriam os mais adequados. Já Chepote et al. (2012) indicam
os solos argilosos e siltosos para regiões com períodos definidos de
estiagem e de textura Areno-Argilosa para locais com maior
precipitação, desde que a chuva seja bem distribuída durante o ano.
Ainda que com as limitações conhecidas de menor retenção de
água e de maior potencial de lixiviação de nutrientes, os solos
arenosos têm sido muito considerados na cultura do cacaueiro. Pelo
fato de serem solos menos pesados, eles favorecem a penetração
de raízes, o que é interessante para a cultura. Entretanto, grandes
quantidades de areia fina no subsolo podem ser indesejáveis, a
menos que o lençol freático seja alto (HARDY, 1961). E solos com
muita areia de tamanho médio são considerados inapropriados, a
menos que o solo ofereça condições para o bom estado nutricional
da cultura, e as chuvas sejam abundantes e contínuas. Solos de
textura mais grosseira têm sido sempre associados ao bom
desenvolvimento das raízes do cacaueiro (HARDY, 1961), o que de
certa forma foi comprovado por Martins e Augusto (2012), ao
verificarem maior quantidade de raízes da cultura em solos com
maior teor de areia grossa. Por outro lado, Souza Júnior et al.
(1999b) verificaram correlação negativa entre produtividade de
amêndoas de cacau e o teor de areia grossa na camada
subsuperficial (30 — 50 cm) de solos de textura Franco-Argilo-
Arenosa mesmo em anos chuvosos.
Considerando a exploração cacaueira em solos argilosos, Leão
(1976) indica áreas com 300 a 400 g/kg de argila no horizonte
superficial e de 450 a 650 g/kg nos horizontes B e C como as
melhores para a cultura. Martins e Augusto (2012), por sua vez,
verificaram uma correlação negativa entre matéria seca de raízes e
o teor de argila, contrastando do observado por Souza Júnior et al.
(1999b), que verificaram correlação entre produtividade de
amêndoas de cacau e argila em anos chuvosos.
De uma forma geral, solos siltosos não são apropriados para o
cacaueiro, estando associados à menor produção da cultura
(SOUZA JÚNIOR et al., 1999b), por apresentarem menor
capacidade de retenção de água e maiores impedimentos físicos
que dificultam o desenvolvimento do sistema radicular. Neste
sentido, Martins e Augusto (2012) verificaram correlação negativa
entre produção de matéria seca de raízes do cacaueiro e os teores
de silte dos solos. Adicionalmente, solos siltosos têm sido
associados a baixas taxas de sobrevivência de plantas de cacau em
campo (SOUZA JÚNIOR; MENEZES, 2000).
3 Estrutura
A estrutura é definida como o arranjo ou organização das
partículas do solo (HILLEL, 1998), sendo fundamental para a
ocorrência das trocas gasosas e para o adequado desenvolvimento
vegetal. Com a estrutura, garante-se o espaço poroso, e sua
alteração é diretamente associada a impactos sobre a porosidade
do solo (KOOREVAAR; MENELIK; DIRKSEN, 1999). Para a cultura
do cacau, Hardy (1961) recomenda a estrutura granular com textura
argilosa. Já Silva (1979) a discrimina em função de horizontes do
solo, recomendando a estrutura granular, de moderada a forte,
como apropriada para o horizonte A, e a estrutura em blocos
subangulares, também de moderada a forte, para os horizontes
subsuperficiais. Estruturas do tipo prismáticas nos horizontes
subsuperficiais devem ser evitadas, pelas dificuldades impostas à
formação e desenvolvimento de raízes mais profundas do
cacaueiro, o que leva à redução da produtividade ou mesmo
provoca a morte das plantas (SMYTH, 1966). Por sua vez, Havord,
Wasowicz e White (1954) comentam acerca da limitação do
desenvolvimento das raízes do cacau em solos com excessiva
presença de agregados menores do que 2 mm.
4 Profundidade
Embora praticamente todos os atributos físicos afetem direta ou
indiretamente o desenvolvimento das raízes — componente da
planta associado à absorção de água e nutrientes e ao suporte
mecânico —, é a profundidade do solo uma das primeiras a ser
avaliada quando se busca definir solos mais adequados para
qualquer cultura. Da profundidade do solo dependem a distribuição
do sistema radicular no perfil do solo e o volume disponível de solo
a ser explorado pelas plantas. Desta forma, é fundamental a
identificação da profundidade efetiva do solo, definida como a que
não oferece qualquer tipo de limitação ou restrição física ou química
para o desenvolvimento das raízes.
As limitações ou restrições de ordem física ao desenvolvimento
de raízes mais comuns em solos são a presença de horizontes ou
camadas com problemas de compacidade, solos rasos e a
ocorrência de lençol freático elevado (HARDY, 1961). Entretanto,
para a consideração do maior ou menor impacto destas restrições, é
importante conhecer mais sobre o sistema radicular do cacaueiro.
O maior volume de raízes (90%) do cacaueiro está concentrado
na profundidade até 30 cm (HARDY, 1961; CADIMA, 1968; 1970;
CADIMA; CORAL, 1972; MOSER et al., 2010; CHEPOTE et al.,
2012; ISAAC et al., 2014). As raízes finas, que são as relacionadas
à maior absorção de nutrientes, concentram-se na camada de 0 cm
a 2 cm de profundidade (KUMMEROW; KUMMEROW; ALVIM, 1981;
NYGREN et al., 2013), ou seja, basicamente associadas ao litter
sobre o solo. Raízes laterais de cacaueiros concentraram-se (78%)
nos primeiros 20 cm de um Latossolo Amarelo em quatro diferentes
tratamentos conduzidos por Gama-Rodrígues e Cadima-Zevallos
(1991), que incluíam diferentes doses de nutrientes minerais e
orgânicos, além da presença e ausência de queima no manejo.
Neste estudo, algo a ser considerado é a presença comum neste
solo de um horizonte coeso, identificado pelos autores a partir de
elevadas densidades, entre 30 a 75 cm de profundidade.
Na avaliação da profundidade efetiva adequada para o cacaueiro,
é importante considerar o crescimento de sua raiz pivotante. O
diâmetro desta raiz tem sido associado diretamente com a maior
porosidade do solo e também com maiores produtividades
(McCREARY; MULLOON; HARDY, 1943; HARDY, 1944). Radicelas
curtas estão propagadas regularmente ao redor da raiz pivotante, e
o horizonte C pode abrigar em torno de 30% do comprimento desta
raiz, algo fundamental e, algumas vezes, indispensável para a
absorção de água e nutrientes (CADIMA, 1970).
A profundidade da raiz principal do cacaueiro é variável. Havord
(1961) indica profundidade de 0,4 m para solos de melhor
fertilidade, comentando que maior comprimento é alcançado em
solos menos férteis. Hardy (1961) e Wood e Lass (1985)
recomendam uma profundidade mínima de 1,5 m, e Chepote et al.
(2012) consideram como profundidade ideal quando a raiz alcança
de 1,2 m a 1,8 m.
A disponibilidade hídrica é algo a ser considerado quando se
avalia a profundidade alcançada pela raiz principal do cacaueiro.
Bradeu (1970), Wood e Lass (1985) indicam que profundidades de
1,0 m a 1,5 m são adequadas em regiões de chuvas bem
distribuídas. Por outro lado, Smyth (1966) recomenda essa mesma
faixa de profundidade como apropriada para a cultura do cacau,
independentemente da precipitação.
Vários são os fatores que podem determinar a maior ou menor
profundidade do sistema radicular do cacaueiro. Ainda que Charter
(1948) e Cadima (1972) tenham verificado raízes pivotantes de
cacaueiro até 3,0 m e 2,2 m de profundidade, respectivamente, um
menor aprofundamento do sistema radicular é normalmente
verificado. Neste sentido, Melo (1969) verificou profundidade das
raízes do cacaueiro variando de 0,6 m a 1,0 m nas zonas mais
produtivas da Bahia.
Idealmente, pode-se considerar que o mais adequado seria
considerar uma profundidade mínima para o desenvolvimento das
raízes do cacaueiro. Assim, uma profundidade efetiva de 1,0 m em
áreas de chuvas bem distribuídas e de 1,5 m para zonas com menor
proporção de chuvas seria bastante razoável para o adequado
estabelecimento e produtividade da cultura.
5 Porosidade
A porosidade do solo interfere nas trocas gasosas, condução e
retenção de água, resistência à penetração e no crescimento das
raízes no solo e, consequentemente, no aproveitamento da água e
dos nutrientes disponíveis (TOGNON, 1991). Disto resulta a
obtenção de resultados de correlação direta entre produtividade e
porosidade total, como observado para cacaueiros da Bahia por
Souza Júnior et al. (1999b), independentemente do ano analisado e
da frequência de chuvas. Entretanto, assim como verificado por
Cadima e Alvim (1973), ausência de correlação entre essas duas
variáveis também pode ser obtida.
Na literatura, não se observa consenso nos valores mínimos ou
faixas de variação adequadas de porosidade do solo para
determinada cultura, e com o cacaueiro não é diferente. Neste
sentido, Hardy (1961) e Fernandes et al. (2013) indicam,
respectivamente, os mínimos de 0,40 e 0,60 m3/m3 de porosidade
total para a definição de solos aptos para a cultura do cacau. Já
Saenz (2011) e Rosseau et al. (2012) sugerem, respectivamente, as
faixas de 0,65 a 0,76 m3/m3 e de 0,59 a 0,76 m3/m3, como
associadas ao melhor desenvolvimento do cacaueiro. Menores
valores deste atributo foram verificados por Asiedu et al. (2013), em
solos de Gana, que reportam porosidades de 0,42, 0,45 e 0,49
m3/m3 para cacaueiros de três, quatro e cinco anos de idade,
respectivamente.
Os poros do solo são genericamente classificados como
macroporos — os relacionados com o movimento de ar e a
drenagem do excesso de água — e como microporos — associados
com a retenção de água no solo (LAL; SHUKLA, 2004). A aeração
das raízes, garantida pela macroporosidade, é fundamental para os
processos bioquímicos, fisiológicos e nutricionais nas raízes. Assim,
teores no solo de O2 menores do que 10%, bem como teores de
CO2 maiores do que 6%, diminuem o desenvolvimento das raízes
de cacau (VINE; THOMSON; HARDY, 1942; HARDY, 1961). Por sua
vez, Walmsley (1959-1960) relatou que teores de 21% de O2 e de
2,5% de CO2 foram adequados ao crescimento da raiz do
cacaueiro. A relevância dos macroporos também foi evidenciada por
Martins e Augusto (2012), que verificaram correlações positivas
entre essa classe de poros e a quantidade de raízes. O mesmo
estudo não revelou qualquer interação do desenvolvimento de
raízes com microporos, classe de poros que deve representar,
segundo Silva (1979), não mais do que 40% da porosidade total do
solo para solos cultivados com cacau.
O desenvolvimento de macroporosidade em solos cultivados com
cacaueiros pode, em parte, ser explicado pelos teores de matéria
orgânica desses solos, pelo manejo mais conservacionista
proporcionado pelo uso da agrofloresta e também pela atividade
biológica nestes ambientes menos perturbados por práticas de
revolvimento do solo. No que tange à presença de macrofauna,
Cornwell (2014) destaca que a presença de minhocas em solos de
cacaueiros é semelhante ao verificado em ambiente florestal nativo
na Costa Rica, em áreas de manejo agroflorestal e com adubação
orgânica. Estes organismos encontram sob a cultura do cacau um
ambiente semelhante ao de ambientes nativos, e sua presença é
potencializadora para melhorias na estrutura do solo e, em especial,
na formação de macroporos. Um retrato da riqueza em
biodiversidade que a fauna do solo sob cacaueiro pode proporcionar
é apontado pelo trabalho de Kilowasid et al. (2013), que reportam
uma abundância de 53.900 a 72.800 indivíduos/m2 para cultivos
entre 4 e 16 anos da Indonésia.
6 Densidade do solo
A densidade do solo representa a relação entre a massa de solo
seco e o seu respectivo volume, sendo considerada um bom
indicador dos impactos do uso e manejo dos solos. Ela é
influenciada pela composição mineralógica, estrutura, matéria
orgânica, profundidade e manejo do solo (MARTINS, 2010). Para
solos cultivados com cacau, não existe um valor de densidade do
solo considerado ótimo, mas qualquer referência a limites que
possam ser indicados deverá considerar fatores como a textura,
uma vez que, em solos arenosos, a densidade do solo é
naturalmente mais elevada do que em solos argilosos. De uma
forma geral e sem discriminação de cultura, valores de densidade
do solo inferiores a 1,4 kg/dm3 são considerados ótimos para a
maioria dos solos (LAL; SHUKLA, 2004). No entanto, Arshad,
Lowery e Grossman (1996) e USDA (1999) sugerem valores limites
de densidade do solo em relação à textura: < 1,6 kg/dm3 para solos
arenosos; < 1,4 kg/ dm3 para solos siltosos; e < 1,1 kg/dm3 para
solos argilosos.
Valores de densidade do solo superiores a 1,6 kg/dm3 não
permitem a penetração das raízes do cacaueiro (HARDY, 1961).
Para solos argilosos brasileiros, Silva, Pereira e Melo (1977)
observaram que densidades do solo de 1,38 kg/dm3 tornam nulo o
desenvolvimento da raiz pivotante do cacau. Ao avaliar os efeitos da
compactação e da adição de P em plântulas de cacau em solos
argilosos, França (2015) não detectou diferenças de biomassa
aérea, mas o crescimento das raízes (biomassa radicular) foi
prejudicado em solos com densidade superior a 1,4 kg/ dm3.
Fernandes et al. (2013) indicam o valor limite de 1,1 kg/dm3 de
densidade para solos cultivados com cacau na Costa Rica. Saénz
(2011) não registra valores ótimos, mas, ao estudar a qualidade de
solos para o cacau na Guatemala, diagnostica valores da variável
oscilando entre 0,60 a 0,90 kg/dm3. Em estudos de semelhantes
objetivos, Rosseau et al. (2012) e Cornwell (2014) registram valores
de densidade variando de 0,64 a 1,08 kg/dm3 e de 0,61 a 0,66
kg/dm3, para solos de cacaueiros da Costa Rica. Estes dois últimos
estudos consideraram solos de Franco-Argilosos a Argilosos e que
não apresentavam problemas de porosidade e compactação. Os
valores de densidade obtidos por Cornwell (2014) reforçam ainda a
importância do manejo agroflorestal na melhoria da qualidade física
do solo, uma vez que não se verificou diferença nos valores desta
variável, obtidos para cacaueiros e para uma área de mata nativa.
Para solos de Gana cultivados com cacau, Asiedu et al. (2013)
obtiveram valores de densidade do solo variando de 1,35 a 1,54
kg/dm3, que foram observados em cacaueiros de cinco e três anos
de idade, respectivamente. Os autores indicam que as alterações
proporcionadas com o tempo de condução dos cacaueiros
favoreceram a melhoria deste atributo físico do solo. O mesmo não
se verificou no estudo de Kilowasid et al. (2013), que verificaram
densidades de solo semelhantes para cacaueiros de 4, 5, 7, 10 e 16
anos de cultivo na Indonésia, com os valores variando de 1,4 a 1,5
kg/dm3. No entanto, em solos cultivados com cacau no Peru,
Arevalo-Gardini et al. (2015) reportaram diferenças significativas
para este atributo entre dois tipos de manejo em sistemas
agroflorestais, onde o sistema semelhante à “Cabruca” do Brasil
apresentou menores valores de densidade do solo em relação ao
sistema convencional, caracterizado pela derrubada e queima da
mata, com posterior plantio de árvores leguminosas para o
sombreamento do cacaueiro.
O input de nutrientes pode minimizar efeitos negativos de valores
elevados de densidade do solo na cultura do cacau. Esta foi uma
observação de Gama-Rodrigues e Cadima-Zevallos (1991) ao
estudarem o desenvolvimento da raiz pivotante de cacaueiros
cultivados em um Latossolo Amarelo com camada adensada entre
30 cm e 75 cm de profundidade, onde se verificaram densidades
entre 1,53 a 1,41 kg/dm3, respectivamente. Os autores notaram um
ganho de 1.080 cm3 no volume da raiz principal de cacaueiros de 10
anos de idade até a profundidade de 60 cm quando foram
adicionadas doses de nutrientes minerais e orgânicos.
7 Resistência mecânica do solo à penetração
de raízes
A resistência mecânica à penetração reflete a dificuldade
encontrada por raízes ao adentrar o solo. É um atributo associado
diretamente à densidade do solo, mas também muito afetado pela
umidade do solo. Incrementos nos valores de resistência à
penetração podem estar relacionados tanto ao adensamento quanto
à compactação (MARTINS, 2010). Em estudo que buscou avaliar a
relação da produção de cacau com os atributos do solo, o fator que
melhor explicou menores produtividades foi a maior resistência
mecânica do solo à penetração de raízes (CADIMA, 1973). Neste
estudo, os valores médios encontrados foram superiores a 2,0 MPa,
valor limite considerado para o início do impedimento ao
crescimento radicular de maior parte das culturas agrícolas
(IMHOFF; SILVA; TORMENA, 2000).
8 Relações hídricas no solo
O cacaueiro é uma planta de grande demanda hídrica, e são
poucas as culturas arbóreas mais suscetíveis do que ele ao
estresse hídrico (ALVIM, 1959; SMYTH, 1966; WOOD; LASS, 1985;
BALASIMHA, 1999). Disto resulta que uma das principais limitações
para a implantação de novas áreas de cacau é justamente a
disponibilidade de água no solo. Por outro lado, o cacaueiro é
também pouco tolerante ao alagamento, embora possa suportar
pequenos períodos de saturação de água no solo, como reportado
por Almeida, Garofalo e Silva (2012), na Bahia. Ao estudar os
efeitos do alagamento sobre mudas de 35 genótipos de cacaueiro
com 45 dias de idade, Bertolde et al. (2009) verificaram índices de
sobrevivência variando de 30 a 96%, relatando modificações no
número de lenticelas e a formação de raízes adventícias. Os autores
indicam que tais variáveis não puderam ser relacionadas
exclusivamente ao alagamento, mas a ausência de clorose nas
folhas de alguns genótipos foi indicada como critério para a seleção
de clones mais tolerantes.
Considerando justamente o risco de alagamento, López-Andrade
(2011) recomenda uma profundidade mínima de 1,5 m para o lençol
freático em áreas dedicadas à cultura cacaueira. Como condições
de hipóxia podem ser verificadas em território brasileiro após chuvas
intensas, em especial em solos mais rasos ou solos hidromórficos
(ALMEIDA; VALLE, 2007), esses locais devem ser evitados para a
implantação da cultura do cacau.
Do que se observa na prática, o cacaueiro requer boa quantidade
de água disponível no solo, associada com uma drenagem eficiente
para os momentos de saturação. Tanto a textura quanto a estrutura
podem ser definidoras da dinâmica da água no perfil do solo e
condições totalmente ideais podem ser difíceis de se obter. Outro
fator importante para a definição da umidade do solo é a matéria
orgânica, constituinte que pode reter de um a três vezes o seu peso
em água (MARTINS, 2010). Assim, solos com maior teor de matéria
orgânica possuem maior capacidade de armazenamento de água e,
consequentemente, um melhor desenvolvimento da cultura.
A produtividade do cacau é reconhecidamente reduzida com o
excesso ou a falta de chuvas (WOOD; LASS, 1985). Maior produção
tem sido associada com períodos de alta precipitação (LEITE;
VALLE, 2000), uma vez que a redução na umidade do solo é um
fator determinante e que afeta processos como o desenvolvimento
de mudas (MOHD RAZI et al., 1992), crescimento (ALVIM, 1959;
SALE, 1970), intensidade de floração (ALVIM, 1959; SALE, 1970;
OMOLAJA et al., 2009) e produção (ALVIM, 1959; SALE, 1970;
SIQUEIRA; MÜLLER; PINHO, 1987; OSEI-BONSU et al., 2002;
OYEKALE; BOLAJI; OLOWA, 2009).
Algo ainda a ser considerado na dinâmica hídrica da cultura do
cacau é seu sistema de manejo. O manejo predominante é o
desenvolvido em sistemas agroflorestais, que é considerado como
um sistema conservacionista, mas que, ao longo do tempo, pode
apresentar decréscimos na água disponível (AREVALO-GARDINI et
al., 2015). A competição por água entre o cacaueiro e as árvores de
sombreamento, a depender das espécies presentes, pode
proporcionar impactos significativos na produção (OSEI-BONSU et
al., 2002). Uma das alternativas neste sentido é o controle da
sombra na agrofloresta. Assim, ao avaliarem a relação da sombra
com a dinâmica de água em solos da Indonésia, Köhler et al. (2009;
2014) observaram maior requerimento de água nos cacaueiros em
áreas de maior sombreamento, o que foi associado ao maior
crescimento vegetativo da cultura. Esta indicação dos autores,
aparentemente contraditória, deve ser tomada com reservas, uma
vez que trabalhar com sistemas complexos como os agroflorestais é
complicado, pois vários fatores ambientais e biológicos estão
presentes, além, é claro, da diversidade de espécies presentes.
Dados modelados de transpiração trabalhados por Valle; Silva;
Miranda (1987) indicam que cacaueiros a pleno sol podem transpirar
diariamente em torno de 45 L por árvore (1,2 L/m2/dia) em dias
nublados, ao passo que, na sombra, a árvore do cacau pode
transpirar aproximadamente 26 L por árvore (0,8 L/m2/dia). Não
obstante, em dias ensolarados, a árvore a pleno sol e na sombra
podem transpirar 90 L (2,4 L/m2/dia) e 40 L (1,2 L/m2/dia),
respectivamente.
A umidade do solo pode afetar significativamente a produtividade
do cacaueiro. Teores de água no solo abaixo de 60 a 70% da água
disponível reduzem a produtividade do cacau (ALVIM, 1959;
BALASIMHA, 1999). O crescimento da planta, a floração e o
comportamento estomático diminuem progressivamente com a
redução da umidade do solo. Em plantas de cacaueiro de seis
meses de idade, Alvim (1959) verificou que, para manter a abertura
completa dos estômatos, é requerida uma umidade no solo acima
de 60% da água disponível.
Ao se avaliar a floração, frutificação, maturação e crescimento do
cacaueiro submetido a três diferentes níveis de umidade no solo
(0,85 kg/kg — alta umidade; 0,5 kg/kg — umidade média; e 0,15
kg/kg — seca), Sale (1970) verificou maior produtividade, avaliada
pela massa de amêndoas por planta, nos tratamentos de média e
alta umidade. O resultado foi utilizado pelo autor para indicar que a
irrigação pode beneficiar o crescimento e a produção do cacau,
especialmente em áreas com períodos de seca bem definida. Huan;
Yee; Wood (1986) associam à irrigação incrementos de 60% na
produção do cacaueiro associado ao aumento de número de frutos
e peso de grãos. De forma semelhante, Siqueira , Müller e Pinho
(1987) avaliaram o efeito da irrigação na produtividade do cacaueiro
submetido a três níveis de água disponível no solo (80%, 50% e
testemunha não irrigada) no município de São Sebastião do Passé,
no Recôncavo Baiano. Não houve diferenças entre os tratamentos
irrigados, mas a irrigação proporcionou ganhos de produtividade
superior a mais de 100% com relação ao controle. Os dados obtidos
indicaram que a irrigação deveria ser conduzida quando a umidade
do solo alcançava 0,56 kg/kg ou a tensão se igualava a 0,02 MPa.
Em Piracicaba, São Paulo, Freire (1993) também verificou
incrementos superiores a 70% na produção de frutos de cacaueiro,
ao avaliar efeitos da irrigação complementar no rendimento dos
frutos, ao comparar tratamentos não irrigado e irrigado. Em
Linhares, Espírito Santo, Siqueira et al. (1999) também verificaram o
efeito positivo da irrigação na produtividade do cacaueiro. Os
autores avaliaram tratamentos de sequeiro e irrigado, esse último
conduzido via microaspersão e com o objetivo de manter três
potenciais de água no solo (-0,08; -0,2 e -0,5 MPa). O tratamento de
melhor rendimento foi o irrigado e com potencial de -0,2 MPa, que
proporcionou produção de 1.830 kg/ha, valor 161% superior em
rendimento de frutos em relação ao tratamento de sequeiro.
A diversidade de genótipos da cultura do cacaueiro pode ser uma
aliada no enfrentamento do problema do estresse hídrico. Neste
sentido, relatos de Balasimha, Daniel e Bhat (1991) e Balasimha
(1999) indicam que clones de cacau mais tolerantes à seca são os
que mantêm maior potencial de água na folha. Por sua vez, Araque
et al. (2012) reportam que cultivares de cacau com maior ajuste
osmótico foram os de maior taxa de sobrevivência. Efeitos abióticos
podem ainda afetar a tolerância ao estresse hídrico. Desse modo,
ao avaliarem o efeito da temperatura durante o desenvolvimento
primário das mudas de cacau sobre a tolerância à seca, Gomes e
Kozlowski (1987) verificaram que temperaturas superiores a 22,2°C
podem reduzir a tolerância, uma vez que causam menor relação
raiz-parte aérea. Medidas preventivas para o controle de
temperatura na produção de mudas em zonas muito quentes
devem, portanto, ser tomadas para se evitar possíveis problemas no
campo em condições de estresse hídrico.
Ainda que, no geral, verifique-se baixa tolerância ao estresse
hídrico em cacaueiros, Moser et al. (2010) avaliaram o efeito da
dessecação experimental em plantas de seis anos durante 13
meses de cultivo. A produtividade foi severamente reduzida, mas
uma tolerância não esperada à seca foi observada, mesmo quando
se manteve durante vários meses uma umidade associada ao ponto
de murcha permanente. Do exposto, nota-se que, apesar de
condições adversas severas, o cacaueiro pode sobreviver em
condições de baixa umidade no solo, mas, para a garantia de
produtividades satisfatórias, a irrigação é importante quando a
precipitação não for uma aliada do produtor.
9 Matéria orgânica
A matéria orgânica é um constituinte do solo formada pela mistura
de componentes em distintas fases de degradação e
reconhecidamente um dos componentes mais complexos e
heterogêneos nos solos (WEIL; MAGDOFF, 2004). A matéria
orgânica é de grande importância para os atributos físicos do solo,
influenciando sua estrutura, porosidade e propriedades hídricas. Ela
é frequentemente associada à melhoria das condições físicas do
solo, sendo sua conservação vital para a produção sustentável
(DORAN; PARKINS, 1994; GREENLAND, 1994; LOSS et al. 2009).
A matéria orgânica também é reconhecida como um indicador de
qualidade do solo, pois, além de sua contribuição para os atributos
físicos, também influencia positivamente as características químicas
e biológicas.
Especificamente com relação ao cacaueiro, a dinâmica da matéria
orgânica é positivamente influenciada pelo manejo agroflorestal,
principal sistema de manejo da cultura. Tal manejo apresenta efeitos
na conservação deste componente no solo, dada a grande produção
de biomassa — que pode alcançar em torno de 10 t/ha/ ano
(MÜLLER; GAMMA-RODRIGUES 2007) — e a natureza mais
conservadora da atividade. A cultura do cacaueiro apresenta grande
potencial para o sequestro de C no solo (NAIR; KUMAR; NAIR,
2009), alcançando valores estocados semelhantes aos verificados
em fragmentos florestais nativos (GAMA-RODRIGUES et al., 2010).
Disto resulta, por exemplo, a constatação de Cornwell (2014) para
solos da Costa Rica, que não verificou diferenças entre os teores de
carbono orgânico de cacaueiros sob sistema agroflorestal e o obtido
em fragmentos nativos de floresta. Com o passar dos anos, a
expectativa é o aumento dos teores estocados de carbono no solo
com a cultura do cacau. Isto foi comprovado por Adewole et al.
(2011) ao avaliar solos da Nigéria cultivados com a cultura por 50 e
150 anos e verificar teores médios de matéria orgânica de 44,7 e
54,3 g/kg, respectivamente.
Para a cultura do cacau, Hardy (1958) chega a recomendar teores
mínimos de matéria orgânica no solo de 35 g/kg. No entanto, Wood
e Lass (1985) questionam tal valor, por considerar que o mesmo
somente seja alcançado em solos do oeste da África, uma vez que
no Brasil e Malásia os teores normalmente não atingem tal patamar.
De todos os modos, indicam que os níveis críticos de matéria
orgânica seriam menores para a realidade brasileira.
Na mesma linha de indicação de teores adequados de matéria
orgânica para o cacaueiro, Havord (1961) estabelece teores
mínimos requeridos baseados na textura do solo. Para solos
arenosos e francos, o autor sugere teor de matéria orgânica ótimo
de 25 g/kg; e para solos siltosos e argilosos, de 20 g/kg. Em sua
classificação de solos aptos para cacau, Smyth (1966) indica o teor
mínimo de matéria orgânica de 30 g/kg, enquanto Silva et al. (1969)
recomendam uma ampla faixa de teor adequado deste componente
nos solos de cacaueiros, variando de 15 a 50 g/kg. Outra
classificação de solos para a cultura do cacau é apresentada por
Silva e Filho (1971), que indicam o teor ótimo de matéria orgânica
no solo de 35 g/kg, com valor mínimo aceitável de 20 g/kg. Este
mesmo teor mínimo é considerado por Fernandes et al. (2013) e
Rosseau et al. (2012) como o teor limite crítico de matéria orgânica
para o cacaueiro, algo bastante razoável em termos práticos.
Embora sejam reconhecidos os efeitos positivos da matéria
orgânica, resultados adversos na produtividade do cacaueiro podem
ser verificados, sem que isto, no entanto, diminua o importante
papel deste componente no solo. No município de Itagibá, Bahia,
Souza Júnior et al. (1999a) observaram a relação entre a ocorrência
de plantas de cacau mais produtivas e menores teores de matéria
orgânica no solo. Tal associação foi verificada na camada superficial
(0−20 cm) dos solos mais argilosos e nos anos mais secos, e
também na camada subsuperficial (30−50 cm) dos solos de textura
mais arenosa e nos anos chuvosos.
Quando se analisa a contribuição da matéria orgânica para o solo,
é interessante não se esquecer dos teores de C e N do solo. Este é
um fator de grande importância prática, pois é um indicador da
velocidade e facilidade do processo de mineralização ou
humificação da matéria orgânica. Na avaliação da relação C:N
aplicada a solos de cacaueiro, Hardy (1958, 1961) sugere o valor 9
como limite para distinguir solos bons de não bons para o cacau nos
primeiros 15 cm de profundidade. Por outro lado, uma relação C:N
de 10 a 12 é a recomendada para a cultura por Cerda (2008), Saenz
(2011) e Rosseau et al. (2012) em estudos de qualidade do solo de
cacaueiros.
10 Considerações finais
A qualidade física do solo é importante para o sucesso da
exploração agrícola e deve merecer, por parte de agricultores,
especial atenção desde a fase de planejamento de qualquer
empreendimento. Em culturas perenes, como o cacaueiro, tal
preocupação é ainda mais importante para se buscar garantir,
depois de alguns anos de investimento, todo o potencial produtivo
esperado.
Diferentes atributos físicos podem e devem ser considerados na
seleção de áreas e de solos para a cultura do cacaueiro. Abaixo são
elencadas, em resumo, as principais recomendações comuns na
literatura que dizem respeito a variáveis associadas à qualidade
física do solo e que devem ser consideradas na exploração
cacaueira. Esses são valores generalistas que podem ser afetados
por peculiaridades regionais climáticas ou pedológicas.

Textura: efeito dependente da distribuição e intensidade de


precipitação, sendo recomendado solos argilosos a franco-
argilosos, quando existe um período definido de estiagem; ou
solos arenosos a franco-arenosos, quando existe alta
intensidade de precipitação e boa distribuição no ano;
Estrutura: recomendados solos com estrutura do tipo granular e
com predomínio de agregados maiores que 2 mm;
Profundidade: recomenda-se profundidade mínima de 1,5 m,
muito embora solos férteis com 1 m apresentem bom resultado;
Porosidade: recomendam-se solos com porosidade total
mínima de 0,50 m3/m3, com um mínimo de 0,10 m3/m3 de
macroporosidade;
Densidade do solo: variável entre solos, sendo recomendados
valores menores do que 1,1 kg/dm3 para solos mais argilosos
(argila > 35%); menores do que 1,4 kg/dm3 para solos de
Franco Arenosos a Franco Argilosos; e menores do que 1,6
kg/dm3 para solos Arenosos a Franco Arenosos;
Resistência do solo à penetração: recomendam-se valores de
resistência mecânica do solo à penetração menores do que 2,0
MPa para o desenvolvimento irrestrito das raízes;
Relações hídricas: recomenda-se a manutenção da umidade do
solo em teores superiores a 60% da água disponível;
Matéria orgânica: variável segundo o solo, com recomendação
de manutenção de teores superiores a 20 g/kg em solos
argilosos a francos e superiores a 25 g/kg em solos arenosos.
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Capítulo 8 — Fungos micorrízicos
arbusculares em cacaueiro
Eduardo Gross1 , Lidiane Silva Pereira2
1 Introdução
Originário do continente Sul Americano, o cacaueiro é uma planta
da família Malvaceae, sendo uma das 22 espécies pertencentes ao
gênero Theobroma e a mais economicamente explorada para
produzir sementes que, após secas e beneficiadas, irão compor a
base de chocolates e derivados. Pode ser considerada como uma
das culturas perenes mais importantes do planeta, com uma
produção mundial estimada em aproximadamente 4,16 milhões de
toneladas em 2014 (ICCO, 2015).
Historicamente, o cacau foi cultivado primeiramente pelos Maias,
estabelecendo as primeiras plantações na América Central, onde as
sementes eram torradas e moídas para fabricação de bebidas de
chocolate, associando riqueza e poder aos produtores. A partir do
século XVII, a produção de cacau passa por uma rápida expansão,
se direcionando para regiões de clima quente e úmido, como a África
e América Latina, em função do rápido crescimento do consumo de
derivados do produto, principalmente em regiões de clima frio como
a Europa (GOMES et al., 2008).
Em condições naturais, a árvore pode atingir de 20 a 25 m de
altura, ao passo que sob cultivo varia de 3 a 5 m. As flores surgem
em uma gema desenvolvida no lugar da axila de uma antiga folha, o
caule é ereto, e o sistema radicular consta de uma raiz pivotante
variando o comprimento em relação à estrutura, consistência e
textura do solo (LACHENAUD; MOOLEEDHAR; COUTURIER,
1997).
No Brasil, o cultivo do cacau foi iniciado na região amazônica e
hoje é distribuído por cinco estados da federação: Amazonas,
Rondônia, Pará, Mato Grosso, além da Bahia, especialmente o Sul
do estado, o qual teve suas perspectivas socioeconômicas
diretamente influenciadas pela atividade cacaueira na segunda
metade do século XX. O cultivo do cacau ofereceu grandes lucros à
região, favorecendo uma rápida expansão dessa monocultura e
consolidando-a como a principal fonte de renda de fazendeiros da
região. Contudo, no final da década de 1980, essa atividade foi
afetada por uma grave crise devido à queda dos preços no mercado
internacional e o aparecimento e propagação da doença conhecida
como vassoura de bruxa, causada pelo Crinipellis perniciosa (SILVA
NETO et al., 2001).
O cacau continua sendo o principal produto agrícola desta região,
uma vez que não existem alternativas agrícolas viáveis
economicamente, devido às características topográficas e climáticas
desta (MASCARENHAS, 2004). Tradicionalmente, o fruto é cultivado
sob a sombra de uma floresta seletivamente raleada, sendo este um
dos mais antigos sistemas agroflorestais na América tropical. Cerca
de 4% da produção mundial de cacau e 75% da produção brasileira
são obtidas utilizando um sistema localmente conhecido como
cabruca (LOBÃO et al., 2007). Ainda segundo Lobão e
colaboradores (2007), este é um tipo especial de sistema
agroflorestal, em que as espécies do sub-bosque são suprimidas, e a
densidade dos indivíduos do dossel é reduzida, permitindo a entrada
de maior intensidade de luz. O cultivo do cacau desta forma, além de
apresentar uma importância econômica, oferece vantagens para a
sustentabilidade da floresta natural heterogênea e é considerado um
eficiente sistema agroflorestal para a proteção dos solos tropicais
contra agentes de degradação (ALVIM, 1989).
Centenas de estudos sobre a associação de plantas de
importância econômica com micro-organismos existentes no solo
têm sido realizados, principalmente porque estes desempenham
importantes funções que ajudam no desenvolvimento e crescimento
vegetal, além de influenciar na qualidade do solo devido às
relevantes funções metabólicas que desempenham. Os micro-
organismos podem formar diferentes comunidades baseando-se na
capacidade metabólica e na competição por diversos nutrientes, isto
devido a fatores como a exsudação das raízes (MARSCHNER;
TIMONEN, 2002). Características como o genótipo, a idade e o
estado nutricional da planta (GRAYSTON et al., 1998; MARSCHNER;
TIMONEN, 2002; FAN et al., 2001), bem como a colonização por
fungos micorrízicos arbusculares (FMAs) têm sido fatores
determinantes para exsudação radicular e formação de comunidades
microbianas. Os FMAs promovem a sustentabilidade em sistemas
agrícolas, e a compreensão dos efeitos destes importantes
microssimbiontes sobre o crescimento e desenvolvimento das
plantas de interesse agronômico como o cacaueiro é relevante para
produção vegetal e ecologia do solo, possibilitando a utilização
biotecnológica.
2 Micorrizas
Dentre as diversas simbioses entre micro-organismos
heterotróficos e plantas que existem na natureza, a associação
mutualística conhecida como micorriza é uma das mais frequentes e
difundidas. Essa associação não patogênica e benéfica para ambos
os parceiros é evolutivamente muito antiga, remontando ao período
de conquista do ambiente terrestre pelas plantas (período Siluriano,
cerca de 460 milhões de anos atrás). Pesquisas com raízes
fossilizadas demonstraram que as micorrizas surgiram no mesmo
período do aparecimento das plantas terrestres (REMY et al., 1994).
E, por meio de mecanismos de reconhecimento, como as
estrigolactonas (fitormônio que controla a ramificação e também a
sinalização de raízes hospedeiras nas relações simbióticas), plantas
e fungos micorrízicos coevoluíram em simbiose, adaptando-se aos
mais variados ambientes.
As micorrizas podem ser consideradas como associação
simbiótica mutualística, pois tanto a planta quanto o fungo se
beneficiam da relação. O fungo contribui com a absorção de água e
nutrientes do solo, que são repassados à planta, enquanto esta,
além de servir de local para o crescimento fúngico, disponibiliza
fotossintatos que permitem o crescimento e reprodução do fungo. A
cooperação entre as plantas e esses microssimbiontes é relevante
no aspecto da nutrição vegetal, já que as hifas extraradiculares
ampliam a superfície de absorção dos elementos minerais, atuando
em especial sobre os relativamente imóveis no solo, como Cu, Zn,
Fe, Mn e P (FERNANDES, 2006).
Os fungos micorrízicos apresentam uma grande variedade de
associações, as quais podem ser separadas em sete tipos
morfologicamente distintos: Arbuscular, Ectomicorriza,
Ectendomicorriza, Arbutoide, Monotropoide, Ericoide e Orquidoide
(SMITH; READ, 2008). Essa classificação se dá com base nas
espécies de fungo e planta envolvidas na associação, na morfo-
anatomia das raízes colonizadas, na intensidade dos benefícios
gerados à planta e outras características funcionais e ecológicas
(MOREIRA; SIQUEIRA, 2006). Dentre os tipos micorrízicos, o
arbuscular é o mais amplo em termos de plantas hospedeiras, pois
ocorre na maioria dos grupos vegetais (Gimnospermas e
Angiospermas, além de alguns representantes das Briófitas e
Pteridófitas) e é formado por fungos asseptados que pertencem ao
filo Glomeromycota.
Selecionar fungos com alta eficiência simbiótica para condições
específicas de solo, manejo e clima é desejável para contribuir com o
estabelecimento, desenvolvimento e aumento de produtividade dos
cultivos. Dentre os vários benefícios que a micorriza pode
proporcionar ao vegetal, destaca-se o aumento da absorção de água
e de nutrientes (SMITH; READ, 2008), a influência na formação e
estabilidade de agregados do solo, devido à produção e liberação de
uma glicoproteína denominada glomalina (MIRANDA, 2008;
TRESEDER; TURNER, 2007) e à indução de repostas de defesa nas
plantas (CAMERON et al., 2013).
Fatores como temperatura, pH e fertilidade do solo podem ser, em
parte, determinantes na estruturação das comunidades de fungos
micorrízicos (MENEZES; SAMPAIO; SALCEDO, 2008). Por exemplo,
micro-organismos que adquiriram mecanismos bioquímicos que
aumentam a tolerância a solos ácidos podem ter sua população
suprimida quando inseridos em ambientes com pH mais elevado
(REINHEIMER; KAMINSKI, 1994).
Outro importante fator que controla a intensidade de colonização e
produção de micélio dos fungos micorrízicos é a condição nutricional
do hospedeiro, em consequência, particularmente, da disponibilidade
de P no solo (MOREIRA; SIQUEIRA, 2006). Vários trabalhos têm
demonstrado que o P pode ser limitante para a colonização fúngica
refletindo na simbiose com o hospedeiro. Em solos com teores
elevados desse nutriente, pode ocorrer a diminuição na produção de
hifas externas sem afetar a colonização, o que resulta na drenagem
de fotossintatos para o fungo. Em solos com baixa disponibilidade de
P, a adição de pequenas doses deste pode aumentar a colonização e
produção de micélio externo (MOREIRA; SIQUEIRA, 2006).
3 Micorrizas arbusculares
Dentre os sete tipos distintos de micorrizas, destaca-se a
arbuscular por ocorrer nas raízes de quase todos os gêneros das
Gimnospermas e Angiospermas, além de algumas espécies de
Briófitas e Pteridófitas. Por conta dessa ocorrência generalizada, a
associação simbiótica que eles formam com a espécie hospedeira é
considerada a mais importe que se conhece (MOREIRA et al., 2013).
Os fungos micorrízicos arbusculares (FMAs) são organismos
simbiotróficos obrigatórios, necessitando da raiz da planta
hospedeira para completar o seu ciclo vital, o qual se inicia com o
processo de infecção da raiz pelos propágulos conhecidos como
esporos e/ou fragmentos de raízes colonizadas existentes no solo. A
colonização se dá na região apoplástica do córtex e ocorre pela
formação de um hifopódio na superfície da raiz (Figura 1A) junto à
parede das células epidérmicas. Após a entrada na raiz, as hifas se
desenvolvem inter e intracelularmente, dando origem a estruturas
típicas da associação, que são os arbúsculos (Figura 1B). Estes são
ramificações dicotômicas da hifa ao redor da membrana plasmática,
com invaginações nas células do córtex, onde acontecem as trocas
dos nutrientes absorvidos pela hifas extrarradiculares com os
metabólitos, especialmente fotossintatos, produzidos pela planta.
Alguns FMAs podem formar vesículas (Figura 1C), que são
estruturas para armazenamento de lipídios e de substâncias
nutritivas. O ciclo vital do fungo encerra quando este atinge a fase de
esporulação com esporos formados dentro (Figura 1D) e fora da raiz.
Figura 1 - Fotomicrografias de estruturas de fungos micorrízicos
arbusculares em associação com raízes de Theobroma cacao. (A)
Hifopódio na superfície da raiz. (B) Arbúsculos no interior de células
corticais. (C) Vesícula presente no interior da raiz. (D) Detalhe de
esporos na região cortical da raiz. Barras de escala = 50 µm

Fonte: Imagens produzidas pelos autores.

As raízes de plantas colonizadas por FMAs não apresentam


alterações morfológicas visíveis a olho nu. Essas alterações só
podem ser observadas utilizando-se microscópio aliado a algumas
técnicas, como a de clareamento das raízes, amplamente utilizada e
descrita por Phillips e Hayman (1970), que serve de base para a
análise quantitativa da colonização da planta hospedeira.
FMAs pertencem Filo Glomeromycota e atualmente são
constituídos por mais de 260 espécies pertencentes a 26 gêneros3
como: Glomus, Septoglomus, Funneliformi e Rhizophagus (Família
Glomeraceae); Claroideoglomus (Claroideoglomeraceae); Gigaspora,
Scutellospora, Dentiscutata, Racocetra e Cetraspora
(Gigasporaceae); Diversispora e Redeckera (Diversisporaceae);
Acaulospora e Entrophospora (Acaulosporaceae); Pacispora
(Paisporaceae); Archaeospora (Archaeosporaceae); Ambispora
(Ambisporaceae); Geosiphon (Geosiphonaceae); Paraglomus
(Paraglomeraceae). O caráter cosmopolita dos FMAs é evidenciado
por pesquisas que indicam que eles colonizam mais de 200.000
espécies de plantas dos mais variados ecossistemas (DAVISON et
al., 2015). Entretanto, alguns vegetais das famílias Brassicaceae,
Chenopodiaceae, Caryohpylaceae, Juncaceae, Cyperaceae e
Polygonaceae parecem ter perdido, durante a evolução, a
capacidade de estabelecer a simbiose com FMAs e desenvolveram
outros mecanismos para nutrição (MOREIRA et al., 2013).
Provavelmente, os FMAs são os fungos de solo mais abundantes
dos ecossistemas tropicais, especialmente em sistemas agrícolas,
chegando a representar 50% da biomasssa microbiana (OLSSON et
al., 1999).
A associação entre FMAs e plantas é considerada mutualística
nutricional, uma vez que o fungo auxilia a planta na absorção de
nutrientes e água retirados do solo, enquanto a planta supre o fungo
com energia derivada dos produtos fotossintéticos. Os FMAs
proporcionam uma maior absorção para a planta, especialmente do
P disponível na solução do solo. Esses fungos aumentam a
sobrevivência das plantas em período de seca ou no transplante de
mudas, além de atuarem como um agente de controle biotecnológico
dos fitopatógenos no sistema radicular (MIRANDA, 2008).
Técnicas moleculares têm possibilitado detectar diferenças
genéticas entre esporos morfologicamente semelhantes da mesma
espécie. Apesar de, genotipicamente, as diferenças entre isolados de
FMAs serem pouco estudadas, algumas características funcionais
(fenotípicas) os descriminam, como eficiência na absorção de P,
tolerância a fatores edáficos estressantes e promoção de
crescimento do hospedeiro (SANDERS; RODRIGUEZ, 2016).
Os FMAs se reproduzem a partir da formação de esporos
assexuados, os quais possibilitam a sobrevivência e a dispersão das
espécies. Através da técnica de decantação e peneiramento por via
úmida (GERDEMANN; NICOLSON, 1963), combinada à técnica de
centrifugação em solução de sacarose a 50% (JENKINS, 1964), os
esporos produzidos pelos FMAs podem ser quantificados. Por meio
dessa técnica, é possível extrair essas estruturas fúngicas do solo e,
a partir destas, tentar identificar a espécie de FMA, pois a taxonomia
clássica do Filo Glomeromycota é baseada no modo de formação e
na estrutura dos esporos, tais como o número e camadas de
paredes, ornamentação, cicatriz, etc. A Figura 2 mostra algumas
características dos esporos que são importantes na identificação de
espécies de FMAs.
Figura 2 - Visualização de aspectos morfológicos dos esporos
para identificação de fungos micorrízicos arbusculares. (A) Esporo da
espécie Glomus sp.; (B) Esporo da espécie Scutellospora
dispurpurescens; (C) Esporo da espécie Cetraspora spinosissima. (L)
Camada da parede; (Lo) Camada ornamental; (HS) Hifa de
sustentação; (BS) Bulbo suspensoroide; (1) Identifica a segunda
camada da parede com sua ornamentação

Fonte: Imagens produzidas pelos autores.

Os esporos de FMAs podem ter coloração variada e característica


para cada espécie, podendo ser amarelados, amarronzados, pretos,
hialinos, esverdeados, etc. Também é possível observar uma
variedade nos formatos, sendo encontrados em forma alongada,
oblonga, globosa, subglobosa e até mesmo irregular. As ferramentas
moleculares, entretanto, estão cada vez mais sendo empregadas
para estudos taxonômicos e filogenéticos desses fungos,
possibilitando a correta identificação.
A relevância das micorrizas arbusculares para produção agrícola
tem sido enfatizada pelas pesquisas que identificam padrões de
ocorrência de FMAs em agroecossistemas e a influência dos fungos
sobre o crescimento e produtividade das culturas. Além disso, o
conhecimento da diversidade de espécies fúngicas que colonizam as
plantas de interesse agronômico pode ser utilizado para
delineamento adequado e eficiente de estratégias de manejo que
aumentem o desempenho do cultivo e otimizem os recursos do
agroecossistema, reduzindo, por exemplo, a carga de fertilizantes
aplicada ao solo.
4 Pesquisas sobre micorriza arbuscular em
cacaueiro
Centenas de estudos sobre a associação das micorrizas
arbusculares com plantas de importância econômica demonstram o
efeito benéfico desse mutualismo. Os FMAs são um importante fator
na sustentabilidade dos sistemas agrícolas, na medida em que
podem reduzir o uso de insumos, especialmente de adubos
fosfatados.
Os estudos sobre a simbiose entre FMAs e cacaueiros vêm sendo
realizados desde a década de 1940, quando Laycock (1945)
descreveu que as plantas de cacau são dependentes de
micorrização (micotrófica). Já os estudos sobre a inoculação de
FMAs em mudas de cacau têm buscado promover um crescimento
mais rápido, reduzindo a fase de três a cinco meses de crescimento
até o transplante. Esta prática tem viabilidade e aplicação, uma vez
que o cacaueiro é mantido em viveiros até o transplante em campo.
Além disso, a inoculação também poderia beneficiar a sobrevivência
ao transplantio, já que há uma boa correlação entre a taxa de
crescimento de mudas de cacau e sua sobrevivência no campo
(BRAUDEAU, 1970).
Azizah-Chulan e Martin (1992) avaliaram a eficiência das mudas
de cacau inoculadas com FMAs em campo após o transplante e
observaram uma maior dependência da planta com a simbiose, com
o crescimento das mudas micorrizadas sendo significativamente
maior do que as plantas não micorrizadas. Além disso, a presença
dos fungos nas raízes fez aumentar as concentrações de nutrientes
nas plantas, com uma maior absorção de P. Azizah-Chulan e Ragu
(1986) investigaram o efeito da micorriza no crescimento e nutrição
em mudas de Theobroma cacao em vários níveis de adubação
fosfatada e relataram que, no momento da colheita, plantas
inoculadas com fungos micorrízicos estavam mais vigorosas e
produziram mais folhas atingindo maior altura e peso seco em todos
os níveis de P aplicados ao solo não esterilizado. No entanto, a alta
adubação de P no solo reduziu a quantidade de colonização das
raízes por FMAs. Observações recentes sobre o desenvolvimento
das hifas externas dos FMAs têm demonstrado que a adição de
fosfatos solúveis pode alterar a fisiologia do fungo afetando sua
capacidade de colonizar os tecidos da raiz.
Um trabalho realizado com cacaueiros na Fazenda Luz do Vale
(em Itabuna, Bahia) avaliou a comunidade de FMAs em 100
amostras de solo rizosférico com diferentes leguminosas de
cobertura (amendoim forrageiro, feijão de porco e desmódio), além
de um solo submetido à adubação nitrogenada e à testemunha não
adubada e sem plantas de cobertura. A partir de estudos
taxonômicos da morfologia dos esporos de FMAs foi possível
identificar 24 espécies encontradas no solo com plantação de
cacaueiros nas parcelas do experimento na Fazenda Luz do Vale
(Tabela 1), sendo que os gêneros Glomus e Acaulospora foram os
mais representativos, com cinco espécies identificadas cada. A
diversidade e morfologia de alguns desses esporos pode ser
observada nas Figuras 3 e 4. Houve maior similaridade na
composição das comunidades dos FMAs, inferida pelos esporos
amostrados no solo rizosférico, para os cacaueiros cultivados com
desmódio e amendoim forrageiro como leguminosas de cobertura
(Figura 5), que, assim, compartilhavam de mais espécies de FMAs.
Tabela 1 - Lista das espécies de fungos micorrizas arbusculares de
solos cultivados com cacaueiros – Fazenda Luz do Vale, município
de Itabuna, Bahia
Espécie e autoridade

1. Acaulospora foveata Trappe & Janos


2. Acaulospora longula Spain & N.C. Schenck
3. Acaulospora scrobiculata Trappe
4. Acaulospora tuberculata Janos & Trappe
5. Acaulospora sp1
6. Archeospora leptoticha (N.C. Schenck & G.S. Smith) J.B.
Morton & D. Redecker
7. Claroideoglomus etunicatum (W.N. Becker & Gerd.) C. Walker &
A. Schüßler
8. Diversispora versiformis (P. Karst.) Oehl, G.A. Silva & Sieverd
9. Entrophospora infrequens (I.R. Hall) R.N. Ames & R.W.
Schneid.
10. Entrophospora sp1
11. Entrophospora sp2
12. Entrophospora sp3
13. Gigaspora sp1
14. Glomus coremioides (Berk. & Broome) D. Redecker & J.B.
Morton
15. Glomus glomerulatum (Sieverd).
16. Glomus macrocarpum Tul. & C. Tul.
17. Glomus sp1
18. Glomus sp2
19. Rhizophagus aggregatus (N.C. Schenck & G.S. Sm.) C. Walker
20. Rhizoglomus fasciculatum (Thaxt.) Sieverd., G.A. Silva & Oehl
21. Rhizoglomus microaggregatum (Koske, Gemma & P.D. Olexia)
Sieverd., G.A. Silva & Oehl
22. Rhizoglomus sp1
23. Rhizophagus clarus (T.H. Nicolson & N.C. Schenck) C. Walker &
A. Schüßler
24. Cetraspora gilmorei (Trappe & Gerd.) Oehl, F.A. Souza &
Sieverd
Fonte: Elaboração dos autores.
Figura 3 - Micrografias de alguns esporos de FMAs identificados
no solo rizosférico de cacaueiros da Fazenda Luz do Vale, Itabuna,
Bahia. (A) Esporo do gênero Entrophospora sp1. (B) Esporo de
Entrophospora sp2. (C) Aspecto geral de esporos de Glomus
glomerulatum. (D) Esporo de FMA da família Glomeraceae
mostrando a parede interna flexível característica. (E) Esporos de
Rhizoglomus microaggregatum dentro de um esporo maior. (F)
Esporo quebrado para identificação da espécie, Acaulospora foveata.
Barras de escala = 50 µm
Fonte: Imagens produzidas pelos autores.
Figura 4 - Micrografias de alguns esporos de FMAs identificados
no solo rizosférico de cacaueiros da Fazenda Luz do Vale, Itabuna
(BA). (A) Esporo de Acaulospora scrobiculata. (B) Esporo de
Acaulospora tuberculata. (C) Grupo de esporos de Rhizophagus
aggregatus. (D) Esporo com hifa esporígena de Claroideoglomus
etunicatum. (E) Esporos de Rhizoglomus fasciculatum. (F) Esporo
quebrado de Cetraspora gilmorei com a hifa esporígena. Barras de
escala = 50 µm
Fonte: Imagens produzidas pelos autores.
Figura 5 - Análise de agrupamento a partir da identificação de
esporos de FMAs presentes no solo rizosférico de cacaueiros
cultivados com três espécies de leguminosas de cobertura na
Fazenda Luz do Vale, Itabuna, Bahia

Fonte: Imagem produzida pelos autores.

Das espécies de FMAs identificadas nas plantações de cacau da


Fazenda Luz do Vale, duas, Acaulospora scrobiculata e
Claroideoglomus etunicatum, foram também encontradas em
cacaueiros de diferentes regiões da Venezuela por Cuenca e
colaboradores (1990). Estes autores identificaram um total de 15
espécies de FMAs e verificaram a presença de Acaulospora
scrobiculata em todas as 16 plantações de cacaueiros amostradas.
Nos cacaueiros da Fazenda Luz do Vale, foram identificadas 24
diferentes espécies de FMAs. Além de Acaulospora scrobiculata,
foram observados esporos de Acaulospora foveata, Acaulospora
longula, Acaulospora tuberculata e Acaulospora sp1 (cinco espécies
para este gênero no total), indicando, possivelmente, uma
preferência do hospedeiro por esse fungo. Assim como nos
resultados obtidos para a fazenda de cacau em Itabuna, Cuenca e
colaboradores (1990) também encontraram apenas uma espécie de
FMA do gênero Gigaspora.
É provável que os FMAs encontrados em solos de cultivo do cacau
na região Sul da Bahia apresentem ampla distribuição, uma vez que
Acaulospora scrobiculata, Glomus macrocarpum, Rhizoglomus
microaggregatum já foram identificadas em solo de cerrado em
experimentos com milho, sorgo e amendoim (CARRENHO;
TRUFEM; BONONI, 2002). Em solo de caatinga nos municípios de
Piranhas e Olho d’Água do Casado, em Alagoas, Souza e
colaboradores (2003) encontraram as seguintes espécies:
Acaulospora scrobiculata, Archeospora leptoticha, Claroideoglomus
etunicatum e Glomus macrocarpum. Em um experimento utilizando
solo de Mata Atlântica, Trufem e Malatinszky (1995) encontraram as
seguintes espécies: Acaulospora foveata, Acaulospora tuberculata,
Claroideoglomus etunicatum, Glomus macrocarpum, demonstrando a
ampla presença dessas espécies de FMAs em solos brasileiros.
O grau de colonização das raízes dos cacaueiros nos cinco
tratamentos na Fazenda Luz do Vale variou entre 36 e 21%. Esses
resultados estão em conformidade com os obtidos por Cuenca e
colaboradores (1990), que encontraram uma variação entre 14 e
69% no grau de colonização micorrízica em 16 plantações de
cacaueiros com diferentes idades na Venezuela. A menor amplitude
da variação no grau de micorrização dos cacaueiros da Fazenda Luz
do Vale, quando comparada com a obtida por Cuenca e
colaboradores (1990), pode ser explicada pela coleta ter sido
realizada em uma única fazenda, com um tipo de solo, enquanto
aqueles autores coletaram em diversos locais com diferentes tipos
de solo.
Nas raízes amostradas dos cinco tratamentos testando, as
leguminosas de cobertura demonstraram diferenças significativas
quanto ao grau de colonização micorrízica (Figura 6). A média do
percentual de raízes colonizadas de cacaueiro para os cinco
tratamentos foi de 27%.

Figura 6 - Porcentagem de colonização micorrízica das raízes de


cacaueiros coletados nos diferentes tratamentos Letras diferentes
cacaueiros coletados nos diferentes tratamentos. Letras diferentes
sobre as barras diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de
probabilidade. Médias de três repetições

Fonte: Imagem produzida pelos autores.

Possivelmente, a maior colonização micorrízica das raízes de


cacaueiros no tratamento com amendoim forrageiro foi influenciada
por uma maior cobertura do solo e presença das raízes dessa
leguminosa. Isso pode também ser observado nos tratamentos com
feijão de porco e desmódio quando comparados ao controle sem
leguminosa de cobertura e ao que foi utilizado adubação
nitrogenada.
Assim como para outros vegetais, o Zn é conhecido por ser
importante para o desenvolvimento e desempenho das funções em
plantas de cacau. Por sua vez, solos da região cacaueira localizada
no Sul da Bahia apresentam deficiência nesse micronutriente
(CHEPOTE et al., 2005). Isso, possivelmente, devido aos baixos
níveis de Zn no material de origem dos solos regionais; à
intensificação do uso de fertilizantes contendo nitrogênio, fósforo e
potássio; e aos adubos fosfatados que promovem a interação entre
fósforo e zinco (NAKAYAMA, 1989). Os FMAs podem intensificar a
absorção de Zn presente no solo translocando esse nutriente para a
planta.
As micorrizas arbusculares podem facilitar a absorção por difusão
dos íons de zinco, fósforo e cobre através do micélio externo (LI;
MARSHNER; GEORGE, 1991; SYLVIA, 1992; SUBRAMANIAN;
CHAREST, 1995), além de proporcionar alterações bioquímicas do
solo, tais como aumento da atividade da fosfatase (KANDELER et
al., 2002) e da desidrogenase (WAMBERG et al., 2003) e secretar a
glomalina na rizosfera (WRIGHT; UPADHYAYA, 1996). Essas
modificações bioquímicas promovidas pelos FMAs podem facilitar a
liberação de Zn da fração residual no solo que não está disponível
para absorção pelas plantas.
Santos et al. (2010) analisaram a influência de doses crescentes
de zinco (Zn) sobre a colonização micorrízica em mudas de
cacaueiros da variedade clonal PH16 crescidas em dois Latossolos
Vermelho-Amarelos distróficos do Sul da Bahia. Foi observada uma
média geral de 29±14% da colonização micorrízica nos cacaueiros
crescidos em diferentes doses de Zn (0, 4, 16 e 32 mg dm-3). Nas
plantas crescidas no Latossolo com textura mais argilosa e
submetidas a maior dose de Zn, observou-se uma redução
significativa da colonização micorrízica, o que pode ter sido
ocasionado devido às características deste tipo de solo.
Na tentativa de encontrar soluções para recuperar e melhorar a
produção cacaueira, insumos agrícolas, como, por exemplo,
pesticidas e adubos fosfatados, têm sido utilizados por produtores.
Porém, essa atividade pode eventualmente causar contaminação
dos solos devido à presença, nesses insumos, de metais pesados
como o cádmio (Cd), o cobre (Cu) e o chumbo (Pb) (FONSECA;
FREIRE, 2003). Os metais pesados são facilmente absorvidos pelas
plantas, podendo entrar na cadeia alimentar e causar sérios
problemas à saúde humana (DIAS et al., 2001). Estes metais iônicos
tóxicos entram nas células vegetais utilizando os mesmos processos
de absorção de micronutrientes essenciais iônicos. A quantidade
absorvida pela planta depende da concentração e especiação do
metal na solução do solo. Após a absorção, o metal pesado pode se
depositar, principalmente, nos tecidos radiculares e também nos
tecidos da parte aérea (PATRA et al., 2004).
A utilização de fungicidas cúpricos para o controle da podridão-
parda e vassoura de bruxa, nas plantações de cacau do Sul da
Bahia, tem sido uma prática comum utilizada pelos produtores
durante muitos anos como parte de um pacote tecnológico
recomendado para o cultivo (VELOSO et al., 1991). O uso frequente
destes insumos pode ter acarretado nos níveis tóxicos de Cu que
foram encontrados em sementes secas de cacau e em sementes de
outras plantas (KRAMER et al., 2014) avaliadas no período. Além
disso, segundo Kramer e colaboradores (2014), o teor de Cu
disponível encontrado nos solos da região estava acima dos níveis
observados para solos dos locais onde o fungicida não foi aplicado.
Embora seja possível reduzir a toxicidade de certos metais
pesados através de técnicas convencionais como incineração,
escavação e lavagem do solo, eles não se degradam e persistem no
ambiente (PRASAD; FREITAS, 2003). Uma alternativa para aliviar os
sintomas de toxidez dos metais pesados absorvidos da solução do
solo pelas plantas é a colonização das raízes por FMAs (LEUNG et
al., 2007).
Os FMAs podem contribuir formando uma “barreira” para os metais
pesados em solos contaminados (LEUNG; YE; WONG, 2007).
Estudos demonstram que a inoculação com FMAs promove
benefícios para o crescimento de plantas em solos contaminados
com metais pesados, como verificado em milho e em mudas de
plantas arbóreas (SOARES et al., 2006). Whitfield, Richards e
Rimmer (2004) verificaram a imobilização de íons metálicos no
micélio dos FMAs reduzindo a transferência do metal para a parte
aérea do vegetal. Entretanto, os mecanismos envolvidos na
tolerância das plantas ao excesso de metais pesados são diversos, e
os detalhes dos processos físico-químicos e metabólicos, pouco
conhecidos.
Os fungos micorrízicos têm um grande potencial para aplicação na
agricultura, pois proporcionam aumento na absorção de nutrientes do
solo pelas plantas promovendo ganho de produção (SOUZA et al.,
2003; MOREIRA; SIQUEIRA, 2006). Desta forma, desenvolver
estudos com estes micro-organismos em busca de tecnologias
viáveis para produção, armazenamento e aplicação em larga escala
dos inoculantes micorrízicos é necessário para melhoria da
produtividade de culturas como a do cacaueiro, garantindo, assim, a
sustentabilidade dos agroecossistemas.
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Capítulo 9 — Fauna fossória e da
serapilheira associada ao cultivo do
cacaueiro no sudeste da Bahia
Jacques Hubert Charles Delabie1, Alessandra Andrade2, Andria
de Paula Santos da Silva3, Antonio Domingos Brescovit4,
Benoit Jean Bernard Jahyny5, Carlos Jared6, Cléa dos Santos
Ferreira Mariano7, Gabriela Castaño-Meneses8, Jonathas
Teixeira Lisboa Carvalho9, Juliana Mendonça dos Santos
Lopes10, Lilian Boccardo11, Marta Maria Antoniazzi12, Pollyanna
Pereira Santos13, Rodrigo Salvador Bouzan14, Victor
Calvanese15 , Yana Teireira dos Reis16
1 Introdução
O solo — incluindo solo mineral, horizontes superficiais onde
matérias orgânicas e minerais se incorporam umas às outras e onde
se desenvolvem as raízes das plantas, além da serapilheira,
constituída principalmente de detritos orgânicos em decomposição
(BISPO et al., 2012) — das formações florestais e das agroflorestas
das regiões tropicais é um sistema complexo onde se desenvolve
uma biota extremamente rica e diversificada, em particular nas
regiões mais chuvosas. Segundo Fittkau e Klinge (1973), a metade
da biomassa animal de uma floresta tropical está situada no solo,
mas estimativas razoáveis baseadas na estratificação dos animais
sugerem que 70%, talvez 80%, da diversidade animal esteja contida
nos estratos correspondentes. No bioma amazônico, Adis (1988)
contabilizou 30.000 artrópodes por metro quadrado no horizonte
superficial do solo de uma floresta primária, sendo os principais
componentes (por ordem de frequência) ácaros (a metade),
colêmbolos, formigas, cupins e pseudoescorpiões. Numa floresta
secundária, esse número subiu para 70.000 artrópodes por metro
quadrado, mas grande parte dessa diversidade dependia, de fato,
da natureza do solo subjacente. Por outro lado, a densidade de
animais por metro quadrado encontrada por Moço et al. (2009,
2010) em diferentes sistemas agroflorestais cacaueiros da Bahia foi
bastante inferior a esses valores (da ordem de ~1.500 a 3.000
organismos por metro quadrado), mas a grande diferença pode ter
se dado em função da metodologia de amostragem utilizada, já que
um cacaual, em determinadas condições, pode ser considerado
próximo a uma floresta secundária (DELABIE et al., 2007).
Independentemente dessas estimativas, o solo da Mata Atlântica
abriga milhares de espécies de organismos vivos. Entre eles
destacam-se algas, fungos e bactérias, a microfauna (tardígrados,
rotíferos, protozoários, nematoides), a meso e macrofauna
(minhocas, artrópodes, gastrópodes e pequenos vertebrados),
assim como todo o material vegetal constituído pelas raízes das
plantas que ali se desenvolvem. É nesse ambiente extremamente
dinâmico que os organismos terrestres desempenham importantes
papéis ecológicos, que vão desde a decomposição mecânica e
química da matéria orgânica até a própria formação e estruturação
do solo (HEEMSBERGEN et al., 2004).
Grandes áreas florestais brasileiras têm sido historicamente
desmatadas parcial ou integralmente para serem utilizadas para
plantio de diversos cultivos de valor econômico. No caso do Sudeste
da Bahia, destaca-se o cultivo do cacaueiro, que depende de solos
férteis e de sombreamento de árvores maiores para o seu
desenvolvimento. No auge do desenvolvimento econômico do
Sudeste da Bahia, acentuado nos anos 1970−1980, 650 mil
hectares de Mata Atlântica chegaram a ser ocupados por cacaueiros
(Theobroma cacao L., Malvaceae). No início, no século XIX, o
cultivo tradicional era conhecido como “cabruca”, que corresponde a
uma forma de plantio mais sustentável em que os cacaueiros se
desenvolvem à sombra de árvores nativas. A partir da década de
1950, por recomendação dos órgãos técnicos, o plantio se deu por
derrubada total da floresta, com o sombreamento feito por plantas
exóticas, comumente Erytrhina spp. (CASSANO et al., 2008). O
cacau-cabruca, de custo relativamente baixo, contribui para a
manutenção de uma alta densidade de árvores de sombra,
permitindo a formação de uma agrofloresta original. Atualmente, o
sitema cabruca é um componente importante da paisagem da
região, que permite a conservação de grande quantidade de
espécies vegetais nativas (árvores), além de preservar as
características originais dos solos da Mata Atlântica (ALGER;
CALDAS, 1994; JOHNS, 1999). Além disso, o modo de cultivo, com
total ausência de mecanização, faz com que o solo, mesmo quando
ocorre a “derruba total”, possua ou restabeleça as características
bióticas e estruturais dos solos da Mata Atlântica. Isso define uma
situação absolutamente ímpar na agricultura tropical, salvo talvez,
em alguns tipos de cafezais sombreados de altitude (ARMBRECHT;
RIVERA; PERFECTO, 2005), onde um sistema agrícola é capaz de
preservar os solos do bioma nativo e sua biota.
Como exposto acima, os solos das regiões tropicais do planeta,
em particular as florestas e os ambientes a elas associados,
abrigam biomassa e diversidade animais gigantescas ainda
irregularmente conhecidas — essa biodiversidade pode ser
considerada como uma autêntica “nova fronteira” do conhecimento
(DELABIE et al., 2015). Tal biodiversidade tem sido abordada de
forma cada vez mais abrangente e detalhada, tanto no Brasil como
no exterior (BACHELIER, 1978; KILLHAM, 1994; MOREIRA et al.,
2013; BROWN et al., 2015; JANION-SCHEEPERS et al., 2016). A
seguir, apresentamos informações básicas sobre os grupos
zoológicos mais abundantes ou notáveis nos solos dos cacauais do
Sudeste da Bahia. Nossa abordagem focaliza os animais que vivem
nos cacauais e para os quais alguma informação já está disponível;
no entanto, quando necessário, em função da escassez de
informação, buscamos dados relativos a outros ambientes,
extrapolando-os para o Sudeste da Bahia. Serão apresentadas
informações sobre os colêmbolos, as aranhas, os ácaros, os cupins
e as formigas como componentes majoritários da biomassa animal;
e onicóforas, dípteros Ceratopogonidae, isópodes, gastrópodes,
cecílias, anfisbênias e serpentes fossórias como componentes mais
notáveis. Esses organismos são interessantes por numerosos
motivos que serão expostos a seguir, mas, principalmente, por seu
papel como agentes construtores ou estruturadores dos solos das
plantações, fornecendo oportunidades de habitats para demais
animais, auxiliando no escoamento das águas de infiltração ou
incorporando fragmentos orgânicos ao solo mineral. Constituem
ainda importantes agentes reguladores das populações dos demais
animais, tanto por seu papel de presas potenciais quanto pela
atuação como predadores, como agentes da ciclagem da matéria
orgânica ou ainda como polinizadores. Finalmente, muitos desses
organismos do solo podem ser utilizados como indicadores
biológicos da qualidade dos solos dos ambientes agrícolas (SILVA;
BRANDÃO, 1999; RABELLO ; QUEIROZ; RIBAS, 2015).
2 Principais características de grupos
zoológicos notáveis que vivem no solo dos
cacauais
2.1 Mollusca: Gastropoda

No Brasil, existem cerca de 700 espécies de gastrópodes


terrestres (Mollusca, Gastropoda), o que representa 65,2% das
espécies conhecidas de moluscos continentais (terrestres e de água
doce) do país (SIMONE, 2006). No entanto, estimativas sugerem
que somente um terço da malacofauna terrestre do Brasil seja
conhecido (SIMONE, 1999, 2006). A taxonomia e a sistemática dos
gastrópodes são complexas e mal compreendidas, e uma nova
classificação e nomenclatura foram propostas recentemente
(BOUCHET; ROCROI, 2005). A estrutura da concha dos
gastrópodes terrestres representa o principal elemento utilizado para
o reconhecimento taxonômico das espécies conhecidas no Brasil
(SIMONE, 1999). Muitas espécies são particularmente difíceis de
ser identificadas, e conchas com características similares podem
pertencer a mais do que uma espécie nominal, principalmente se
forem provenientes de regiões distintas, mesmo que pouco distantes
(SIMONE, 1999, 2006). As condições ambientais, assim como
barreiras geográficas muitas vezes inexpressivas para demais
grupos de invertebrados, contribuem para a diversificação das
espécies de moluscos terrestres e seu isolamento (SIMONE, 1999).
Apesar do seu conhecimento escasso, publicações antigas, como
as de Morretes (1949), Haas (1952), Santos (1955) e Boffi (1979),
ou estudos mais recentes, como os de Salgado e Coelho (2003) e
Simone (2006), contribuem para mostrar a importância desse grupo
de animais no Brasil.
A maioria dos estudos sobre a malacofauna terrestre ocorrendo
em cacauais é recente e se refere apenas à fauna da Nigéria (OKE,
2007; OKE; UGIAGBE, 2007; OKE; CHOKOR, 2009; OKE;
OMOREGIE, 2012) e a raras publicações na Região Neotropical.
Além disso, existe um estudo comparativo sobre a diversidade de
gastrópodes terrestres entre uma mata tropical e o cacaual na Costa
Rica (PÉREZ, 1994). No Brasil, somente foram registradas, até o
presente, algumas espécies associadas ao cultivo do cacaueiro na
Bahia (BONDAR, 1939; SILVA, 1985), e um pequeno número de
gastrópodes (não identificados) foi observado por Moço et al. (2009)
em cacauais da mesma região. De fato, o conhecimento sobre a
diversidade da malacofauna terrestre na região de produção do
cacau ainda é incipiente, apesar de muitas espécies terem sido
descritas a partir do estado da Bahia (SIMONE, 2006). Nenhum
estudo amplo de diversidade foi realizado até o momento, e quase
nada se sabe sobre a ecologia e a biologia desses animais.
A partir da coleta de conchas de macro-gastrópodes (≥ 1 cm de
comprimento) na serapilheira de dois tipos de cacauais (cabruca e
derruba total sombreada com Erythrina) em Ilhéus, Bahia, foram
encontrados 12 morfotipos pertecentes a sete famílias dos grupos
taxonômicos Neritimorpha e Pulmonata. No sistema cabruca,
predominam as espécies Otostomus signatus (Spix) e
Megalobulimus gummatus (Hidalgo), a maior espécie coletada com
conchas de mais de 15 cm de comprimento; já os morfotipos
Helicina spp. (a menor espécie coletada, com conchas de 1 cm de
comprimento) e Streptaxis spp./Rectartemon spp. são mais
frequentes na área de derruba total. Essas informações são ainda
preliminares, já que os gastrópodes que vivem nos cacauais da
Bahia contam ainda diversas espécies diminutas (conchas com
<1cm de comprimento) e de lesmas.
A maior parte das espécies de gastrópodes que vivem nos
cacauais se esconde na base das plantas ou na serapilheira durante
o dia, quando o tempo está seco, e sobem na vegetação à noite, ou
quando o tempo está úmido. Muitas espécies se alimentam de
folhas, casca e bilros do cacaueiro, tais como Cochlorina navícula
(Wagner), Burringtonia exesa (Spix), Auris bilabiata (Broderip &
Sowerby), Megalobulimus ovatus (Müller) e O. signatus (BONDAR,
1922, 1939). Bondar (1939) considerava esses organismos como
pragas potenciais do cacaueiro, mas os danos ocasionados à planta
são discretos, não justificando qualquer controle. No entanto, a
introdução relativamente recente na região do caramujo-
giganteafricano Achatina fulica Bowdich (SANTOS; DELABIE, 2011),
ainda raramente observado no agrossistema, representa uma
possível ameaça que pode afetar tanto o cultivo quanto a
comunidade de moluscos nativos.

2.2 Onychophora

No Brasil, estudos visando o conhecimento biológico dos


onicóforos são ainda escassos, apesar do particular interesse que
esses invertebrados despertam na comunidade científica, por se
tratarem de organismos raros e frágeis, com uma história evolutiva
notável e cuja ocorrência testemunha a qualidade do ambiente onde
se encontram (VASCONCELLOS; ALMEIDA; SOUZA, 2006;
SANTANA et al., 2008). São animais considerados raros e que
possuem a reputação de “fósseis vivos” (NEW, 1995). Esses
organismos são predadores noturnos, lucífugos, com
comportamento lento, que liberam uma secreção pegajosa
produzida por suas glândulas de muco e glândulas salivares para
imobilizar alguma presa. A maioria dos onicóforos tem mobilidade
reduzida e pouca aptidão para colonizar habitats fragmentados,
principalmente em razão da sua grande sensibilidade à desidratação
e sua baixa mobilidade (SANTANA et al., 2008; DELABIE et al.,
2013). Assim, esses animais costumam ser encontrados em áreas
de solos e vegetação bem preservados. Muitos Onychophora foram
colocados na condição de invertebrados vulneráveis pela
International Union for Conservation of Nature and Natural
Resources (IUCN) (IUCN, 2015) e na Lista Nacional das Espécies
da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção (ICMBio, 2014).
Medidas de conservação foram tomadas em diversos países do
hemisfério sul, tais como África do Sul, Austrália, Brasil e Nova
Zelândia (NEW, 1995; HAMER; SAMWAYS; RUHBERG, 1997;
TREWICK, 1998; SANTANA et al., 2008).
Na serapilheira dos cacauais da Bahia, Peripatus sp. é
encontrado embaixo de madeira podre ou em contato com materiais
em decomposição (DELABIE et al., 2013). Os indivíduos têm
comprimento de 3 a 8 cm, com 27 a 30 pares de lobopódios e
apresentam coloração marrom-acinzentada. Indivíduos desta
espécie foram mantidos em laboratório, alimentados por cupins e
outros insetos pequenos, mas nenhum comportamento ativo de
predação foi observado. A manutenção desses indivíduos propiciou,
sobretudo, a constatação da viviparidade dessa espécie dos
cacauais, pois se observou uma fêmea de 7 cm dar à luz a dois
juvenis de 3 cm, com um intervalo de duas semanas.

2.3 Arthropoda: Arachnida: Scorpiones

Com mais de 2.000 espécies descritas (PRENDINI, 2011;


SHARMA et al., 2015), os escorpiões constituem um pequeno grupo
de artrópodes que representa 1,5% dos aracnídeos conhecidos
(PORTO; BRAZIL; LIRA-DA-SILVA, 2010; PORTO; BRAZIL, 2011;
PORTO et al., 2014). Ocorrem em todos os continentes e zonas
tropicais e subtropicais do mundo, em altitudes de até 5.500m nos
Andes, e foram recentemente introduzidos na Nova Zelândia
(CRUZ, 1994; POLIS, 1990).
São geralmente animais de hábitos noturnos, vivendo sob pedras,
troncos podres, na areia, no solo úmido de ambientes florestais,
podendo ocorrer também em ambientes antropizados, como
habitações humanas, onde o lixo doméstico e esgotos propiciam
alimento e abrigo. Os escorpiões podem ser classificados como
espécies especialistas em sua maioria (apresentam exigências
ecológicas específicas), e como oportunistas ou generalistas
(podem viver em ambientes modificados pelo homem) que
apresentam alta plasticidade ecológica e padrões irregulares de
distribuição (LOURENÇO; EICKSTEDT, 2009). Escorpionídeos
encontrados em plantas escondem-se sob cascas e em ocos de
árvores, na base de folhas e/ou em epífitas, ou ainda associados à
matéria vegetal morta. Por outro lado, os que vivem no solo
costumam construir tocas ou ocupar as de outros animais, e
também são encontrados sob pedras, troncos, fendas e serrapilheira
(POLIS, 1990). Os escorpiões são categorizados quanto à sua
preferência pelo habitat como psamófilos — que vivem na areia;
litófilos — que vivem em fendas, penhascos e fragmentos rochosos;
fossoriais — que vivem em galerias e buracos; e errantes — que
são ativos durante o forrageamento (CANDIDO, 1999).
Como a maioria dos aracnídeos, os escorpiões ocupam um nível
intermediário nas cadeias alimentares e são predadores de presas
vivas, como insetos (grilos, baratas, cupins), anelídeos, aranhas e
pequenos vertebrados. Por sua vez, são também presas de animais
como quatis, macacos, anuros, lagartos, aves, aranhas e formigas.
Contudo, os escorpiões têm importância na manutenção do
equilíbrio ecológico e são eficientes na predação de insetos e outros
animais que podem ser nocivos ao homem e à agricultura
(CANDIDO, 1999; PORTO; BRAZIL, 2011).
Ainda não está claro se o tipo de vegetação altera a distribuição
dos escorpiões. Em contraste, esses animais parecem ser
influenciados por fatores edáficos, uma vez que algumas espécies
atingem densidades elevadas em áreas com espessa cobertura
vegetal do solo, troncos ou serapilheira. Os fatores como
temperatura, precipitação e oferta de presas são provavelmente os
mais importantes determinantes para distribuição, estabelecimento e
proliferação das populações de escorpiões (POLIS, 1990).
A escorpiofauna brasileira ainda é pouco conhecida, sendo
registradas apenas quatro famílias, incluindo 23 gêneros e 131
espécies, representado cerca de 9% da diversidade mundial do
grupo (PORTO; BRAZIL; SOUZA, 2011). Num estudo recente sobre
os escorpiões da Bahia, foram listadas 28 espécies pertencentes a
duas famílias e sete gêneros registrados em todos os biomas dessa
região, representando 22% da fauna de escorpiões brasileiros. Para
a região cacaueira, existem registros em coleções de oito espécies
pertencentes a duas famílias e quatro gêneros. Na família Buthidae,
ocorrem Ananteris balzanii Thorell, Ananteris franckei Lourenço,
Ananteris mauryi Lourenço, Tityus brazilae Lourenço; Eickstedt,
Tityus costatus (Karsch), Tityus neglectus Mello-Leitão e Tityus
serrulatus Lutz & Mello. A família Bothriuridae está representada
apenas por Bothriurus rochai Mello-Leitão. Dentre as espécies
identificadas para os cacauais, chama a atenção T. serrulatus,
comum também em áreas urbanas, e conhecido por ser responsável
pelos acidentes escorpiônicos mais graves no país. Também vale
destacar a ocorrência de T. brazilae em áreas florestais costeiras da
Mata Atlântica da Bahia (PORTO; BRAZIL; LIRA-DA-SILVA, 2010)
nos municípios de Una — Reserva Biológica (REBIO) —, Ilhéus e
Porto Seguro, e de T. neglectus, encontrado em Arataca, mas
também associado a bromélias na REBIO de Una. Um dos fatores
que explicam a associação destas espécies com a vegetação é a
provável abundância de presas nas plantas em relação ao chão,
apesar de esses animais serem capazes de forragear em ambos os
estratos (POLIS, 1990).

2.4 Arthropoda: Arachnida: Araneae

Os registros ou descrições de aranhas para o estado da Bahia


não são recentes, uma vez que informações sobre este grupo são
encontradas na literatura desde o século XVIII. As duas primeiras
espécies de aranhas descritas para a Bahia foram duas
Theraphosidae descritas por Koch (1841): Iridopelma seladonium,
arborícola; e Lasiodora klugi, em geral terrícola. Hoje, temos mais
de 1.100 espécies descritas ou registradas para o estado. Em
relação à região cacaueira do Sudeste da Bahia, uma série de
coletas araneológicas expressivas foi realizada entre 1970 e 1980
através de fumigação por pesquisadores do Centro de Pesquisas do
Cacau, da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira
(CEPEC/CEPLAC) (ABREU; MONTEIRO, 1986). Embora este tenha
sido um trabalho técnico visando à coleta de artrópodes por não
especialistas do grupo, este material serviu de base para uma série
de publicações taxonômicas, com descrição de grande número de
espécies para a região. Através do exame deste material, distribuído
em pelo menos cinco coleções brasileiras — CEPLAC (BA); Museu
Nacional (RJ); Museu de Ciências Naturais (RS); Museu de Zoologia
(SP); Instituto Butantan (SP) —, foi possível fazer uma síntese da
diversidade e sobre o endemismo das aranhas no Sul da Bahia, e
mais precisamente daquelas espécies vinculadas ao solo dos
cacauais. Além deste material, várias expedições realizadas pela
equipe do Instituto Butantan nesta região têm coletado importante
material biológico que contribui para ampliar o conhecimento sobre
a biodiversidade do grupo, proporcionando novos registros e
localidades, descrições de espécies novas e até mesmo a
identificação de grupos endêmicos de Araneae (GALIANO, 1998;
POLOTOW; BRESCOVIT, 2009).
Segundo os registros disponíveis hoje17, o estado da Bahia
apresenta atualmente 1.114 espécies descritas, com cerca de 250
registradas na região cacaueira do Sul da Bahia. Das 114 famílias
de aranhas hoje existentes (WORLD SPIDER CATALOGUE, 2016),
43 têm espécies registradas na região, e destas podemos destacar
17 famílias com aranhas interessantes que habitam o solo das
cabrucas. As famílias com destaque em relação a sua diversidade e
endemismo no solo dos cacauais são: Corinnidae, Ctenidae,
Linyphiidae, Lycosidae, Nemesiidae, Salticidae, Scytodidae,
Nesticidae, Oonopidae, Palpimanidae, Pholcidae, Pisauridae,
Theridiidae, Trechaleidae e Zodariidae. Dentre essas famílias, a
maior diversidade é de Ctenidae, Corinnidae, Linyphiidae e
Lycosidae, todas com mais de 10 espécies na região. Infelizmente,
Lycosidae, Linyphiidae e outras, como Salticidae e Nesticidae,
foram, até o momento, tão pouco estudadas que temos dificuldade
em elencar os representantes de solo desta área.
Das demais famílias, podemos destacar gêneros com espécies ou
grupo de espécies relevantes, com alto número de espécies
endêmicas, algumas, inclusive, incluídas na lista brasileira de
animais ameaçados de extinção (MACHADO et al., 2008). Dentre
elas, destacam-se as aranhas Corinnidae, que, nos cacauais do
Sudeste da Bahia, apresentam a maior diversidade dentro do
gênero Ianduba Bonaldo. Das sete espécies descritas, apenas
Ianduba varia (Keyserling) não ocorre na região (BONALDO, 1997).
São aranhas miméticas de formigas (mimetismo batesiano), com
locomoção rápida, e que vivem na serapilheira. Dentre as espécies,
Ianduba paubrasil Bonaldo encontra-se na lista de animais
brasileiros ameaçados de extinção.
Todas as 10 espécies do gênero Celaetychaeus Simon (Ctenidae)
já descritas ocorrem no Sul da Bahia, com várias endêmicas da
região cacaueira (POLOTOW; BRESCOVIT, 2009, 2013). Essas
aranhas ocorrem na faixa entre Uruçuca e Itamarajú e vivem no solo
das cabrucas (POLOTOW; BRESCOVIT, 2010). São todas noturnas,
estão entre os menores ctenídeos existentes, com tamanho
variando entre 3 a 5 mm e estão entre as aranhas mais rápidas que
se deslocam entre detritos que compõem a serapilheira.
Outras famílias apresentam pelo menos uma espécie endêmica
ou de distribuição restrita ao solo das áreas cacaueiras:
Tetrablemmidae, com a espécie Matta angelomachadoi Brescovit,
pequena aranha de pouco mais de 1 mm de comprimento e hábitos
desconhecidos (BRESCOVIT, 2005); Scytodidae, com duas
espécies de serapilheira com menos de 2 mm de comprimento;
Scytodes iabaday Rheims & Brescovit e S. hahahae Rheims &
Brescovit, descritas para Ilhéus e Porto Seguro, respectivamente
(RHEIMS; BRESCOVIT, 2001); Palpimanidae, com uma espécie
extremamente bizarra: Otiothops atlanticus Platnick, Grusmado;
Ramírez, descrita de Itabuna (PLATNICK; GRUSMADO; RAMÍREZ,
1999), que se assemelha a uma formiga, apresentando o primeiro
par de pernas e palpos reprodutivos dos machos altamente
modificados e se alimentando de formigas e cupins; Theridiidae,
uma das mais diversificadas famílias no mundo, com muitas
espécies arborícolas, está representada no solo dos cacauais por
Steatoda diamantina Levi, vivendo em teias irregulares sob troncos
e pedras; e, por fim, Zodariidae, com aranhas conhecidas como
aranhas-formiga e representadas por Tenedos infrarmatus Jocqué,
Baert, com distribuição restrita às cabrucas do município de Gandu
(JOCQUÉ; BAERT, 2002; CANDIANI; BONALDO; BRESCOVIT,
2008).
Entre as demais famílias de aranhas, pelo menos duas ou três
espécies são restritas ao solo dos cacauais do Sul da Bahia.
Quando consideramos essa informação, percebemos o quão pouco
ainda conhecemos da fauna araneológica desse agrossistema. Com
cerca de 250 espécies em 17 famílias já registradas para o Sul da
Bahia, somos capazes de dar destaque a não mais do que 50
espécies. Esses dados mostram como esta região é biologicamente
importante e carece ainda de inventários, bem como de estudos
taxonômicos. O número elevado de espécies endêmicas e a
constatação da ocorrência de diversas espécies ameaçadas de
extinção, porém, indicam claramente a necessidade urgente de
estabelecer um maior número de áreas protegidas na região.

2.5 Arthropoda: Arachnida: Opiliones

A ordem Opiliones apresenta mais de 6.500 espécies descritas,


das quais cerca de 1.000 são registradas para o Brasil (KURY,
2016). Os opiliões são divididos em quatro subordens:
Cyphophthalmi, Dyspnoi, Eupnoi e Laniatores. A subordem
Laniatores apresenta uma distribuição principalmente tropical e
compreende o grupo mais diverso, com 4.212 espécies descritas
(KURY, 2016).
Esses aracnídeos são geralmente higrófilos e, portanto, a
umidade constitui um fator limitante para sua ocorrência (CURTIS;
MACHADO, 2007). Eles apresentam baixa vagilidade, hábitos
crípticos e noturnos (PINTO-DA-ROCHA et al., 2005), baixa
capacidade de dispersão e dificuldade para colonizar novos
ambientes (CURTIS; MACHADO, 2007). Os opiliões são predadores
generalistas (GNASPINI, 1996; PINTO-DA-ROCHA, 1999;
MACHADO; RAIMUNDO; OLIVEIRA, 2000), capturam suas presas
ativamente e alimentam-se, principalmente, de pequenos artrópodes
e outros invertebrados, apesar de algumas espécies também
ingerirem matéria vegetal. Contudo, as preferências alimentares são
bem caraterizadas ao nível de espécie ou de gênero (ACOSTA;
MACHADO, 2007).
Os opiliões podem ser encontrados na vegetação, troncos, rochas
e na serapilheira (CURTIS; MACHADO, 2007). Fatores bióticos, tais
como disponibilidade de troncos, serapilheira e árvores (PROUD et
al., 2012), assim como variáveis microclimáticas, especialmente
temperatura e umidade (TODD, 1949; ALMEIDA-NETO et al., 2006,
RESENDE; PINTO-DA-ROCHA; BRAGAGNOLO, 2012), são
determinantes para sua distribuição. A serapilheira (especialmente a
que se acumula próximo às árvores) serve como abrigo para os
opiliões contra potenciais predadores, além de lhes fornecer
microclimas favoráveis (TODD, 1949; BURNS; HUNTER;
TOWNSEND, 2007), com umidade elevada e redução da luz solar
de incidência direta. Além disso, a variação do tamanho das folhas
caídas no chão favorece a co-ocorrência de diferentes espécies de
opiliões (ADAM, 1984).
As espécies podem ser encontradas na maioria dos ecossistemas
terrestres (PINTO-DA-ROCHA, 1999), mas a maior diversidade é
relatada para as florestas tropicais (PINTO-DA-ROCHA; SILVA;
BRAGAGNOLO, 2005). A Mata Atlântica abriga 600 espécies, das
quais cerca de 97,5% são endêmicas (PINTO-DA-ROCHA; SILVA;
BRAGAGNOLO, 2005). A região Sul da Bahia é apontada como
uma das áreas de endemismo desses animais (DASILVA; PINTO-
DA-ROCHA, 2011), embora inventários de opiliões no estado ainda
sejam escassos. De acordo com Kury (2003), apenas 32 espécies
são registradas para a Bahia. Contudo, estudos recentes, assim
como registros em coleções científicas, têm apontado para uma
diversidade elevada de opiliões nas formações vegetais baianas.
A família Gonyleptidae apresenta a maior diversidade de espécies
e é facilmente encontrada no Sul da Bahia. Algumas de suas
subfamílias que foram registradas nesta região são: Gonyleptinae,
Tricommatinae, Caelopyginae, Goniosomatinae e Heteropachylinae,
além de representantes de Cosmetidae, Zalmoxidae, Stygnidae,
Sclerosomatidae e Kimulidae. Na serapilheira da Reserva Ecológica
da Michelin, em Igrapiúna, foram encontradas as seguintes
espécies: Heteropachylus sp. (Gonyleptidae, Heteropachylinae),
Pickeliana sp. (Stygnidae: Stygninae), Caramashia sp.
(Gonyleptidae: Tricommatinae), Tegipiolus sp. (Kimulidae) e uma
Zalmoxidae não identificada (ANDRADE, 2014). Esses opiliões
foram coletados em fragmentos de floresta, contudo, a reserva é
composta por um mosaico vegetacional, incluindo cacauais e
seringais (FLESHER, 2006).
Pouco se sabe a respeito dos opiliões associados ao cultivo do
cacaueiro. Metarthordes oxum Mendes; Barros (Gonyleptidae:
Caelopyginae) foi descrita para a Reserva Particular do Patrimônio
Natural (RPPN) de Serra Bonita, em Camacan (MENDES;
BARROS, 2013), área incluindo floresta e cacauais. Duas espécies
pertencentes ao gênero Jussara Mello-Leitão (Sclerosomatidae:
Gagrellinae), subordem Eupnoi, foram coletadas em paisagens onde
ocorrem cacauais (TOURINHO-DAVIS, 2003). Abaetetuba bahiensis
Mello-Leitão e Bastioides coxopunctatus Mello-Leitão (Gragellinae)
também foram similarmente registradas em Ilhéus (TOURINHO-
DAVIS, 2003, 2004).

2.6 Arthropoda: Arachnida: Acari

Em muitos ambientes tropicais, os ácaros formam o grupo mais


diverso de aracnídeos, tanto pela sua riqueza em espécies quanto
por sua abundância. Apesar de contarem com mais de 45.000
espécies descritas, estima-se que podem existir cerca de 1,1 milhão
de espécies de ácaros no planeta, somando aproximadamente 50%
do total de microartrópodes edáficos em florestas (BADEJO, 1990;
WALTER; PROCTOR, 1999). Ácaros do solo são pequenos,
variando de 80 µm a 2 mm. O corpo é dividido em dois tagmas: o
gnathosoma, onde as quelíceras e os pedipalpos encontram-se; e o
idiosoma, onde os quatro pares de pernas e as aberturas anal e
genital estão localizados. Esses animais são extremamente
variáveis na forma de seus corpos, desde alongados, piriformes,
globulares, discoides e até mesmo vermiformes.
Junto com os colêmbolos, os ácaros podem representar cerca de
95% do total de microartrópodes do solo. Os principais grupos de
ácaros edáficos são os Oribatida (Cryptostigmata), que é o grupo
dominante nos horizontes orgânicos do solo; os Mesostigmata
(Gamasida), que são relativamente grandes e contam com muitos
predadores ativos, mas mostram diversidade de hábitos
alimentares; os Prostigmata (Actinedida), que é o grupo mais
heterogêneo em função de seus hábitos alimentares, embora muitas
espécies sejam micófagas e predadoras; os Astigmata, que são
pequenos, esbranquiçados, com espécies do solo principalmente
micófagas, algumas formas também foréticas; e os Notostigmata
(Opiliocarida), um grupo pouco estudado, com aparência lembrando
os opiliões e que possui uma cor variando de cinza-azul para lilás,
do qual foi descrito recentemente um gênero novo para os solos da
Amazônia brasileira (VÁZQUEZ; ARAÚJO; FERES, 2015). Apesar
de formar um grupo extremamente diverso, os ácaros de solo são
paradoxalmente pouco estudados no Brasil, principalmente devido à
alta diversidade de espécies, geralmente de pequeno tamanho,
somada à carência de especialistas e coleções que ajudem na
identificação da acarofauna brasileira (MORAES; OLIVEIRA, 1996;
FLECHTMANN; MORAES, 1999).
No Sudeste da Bahia, o cultivo do cacaueiro em sistemas
agroflorestais favorece a conservação de parte significativa da
biodiversidade (SPERBER et al., 2004; DELABIE et al., 2007;
FARIA; BAUMGARTEN, 2007; SCHROTH et al., 2011),
principalmente com relação a sua mesofauna, na qual estão
incluídos os ácaros. Estudos recentes comprovam que mesmo
cacauais sombreados por vegetação exótica (derruba total,
sombreado por Erythrina spp.) tendem a conservar interações
ecológicas importantes, como as associações foréticas
ácaros−formigas (LOPES ; OLIVEIRA ; DELABIE, 2015).
Frutos de cacau em fase de decomposição no chão tornam-se
abrigos para uma variedade de espécies edáficas, como as formigas
do gênero Neoponera e muito outros organismos (CASTAÑO-
MENESES et al., 2015). Apesar da escassez de estudos que
foquem, especificamente, nos ácaros de solo, no Sudeste da Bahia,
estudos sobre organismos mirmecófilos associados à Neoponera
mostraram que os ácaros, junto aos colêmbolos, são os mais
abundantes dentro dos ninhos dessas formigas (LOPES; OLIVEIRA;
DELABIE, 2015), onde nidificam principalmente em cavidades pré-
existentes (FRESNEAU, 1985; PEZON et al., 2005; WILD, 2002,
2005; DELABIE et al., 2008), em particular os referidos frutos de
cacau em decomposição (CASTAÑO-MENESES et al., 2015).
Dentre esses, são encontrados, por ordem de abundância, em
associação com Neoponera apicalis Latreille e Neoponera verenae
Forel, deutoninfas foréticas de Histiostoma spp. (Astigmata:
Histiostomatidae), fêmeas foréticas de Petalomium aff. gottrauxi
(Prostigmata: Neopygmephoridae), Cosmolaelaps vacua (Michael)
(Mesostigmata: Laelapidae) e fêmeas foréticas de Oplitis apicalis
Lopes, Oliveira, Delabie & Klompen (Mesostigmata: Oplitidae)
(LOPES et al., 2015; LOPES; OLIVEIRA; DELABIE, 2015).

2.7 Arthropoda: Myriapoda

Os miriápodes são caracterizados por possuírem o corpo dividido


entre cabeça e tronco multissegmentado, sem tagmose específica, e
as quatro classes que compõem o subfilo compartilham aspectos
morfológicos característicos da vida críptica (MINELLI, 2011). As
duas principais classes são Diplopoda e Chilopoda, com ampla
distribuição no Brasil, e são organismos comuns em cacauais.
2.7.1 - Chilopoda: Conhecidos popularmente como lacraias ou
centopeias, os quilópodes são representados por quatro ordens
atuais e 16 famílias na Região Neotropical (BONATO et al., 2016). O
corpo apresenta-se normalmente achatado, dividido entre cabeça e
tronco com 15−191 segmentos portadores de pernas (MINELLI,
2011). São todos predadores, habitam as primeiras camadas do
solo, evitam a luz e exibem preferência por ambientes úmidos
(VOIGTLÄNDER, 2011). São, em geral, organismos solitários,
masalgumas espécies podem ser abundantes na serapilheira
(CALVANESE; PEREIRA, 2013). Costumam sair à noite para
capturar pequenos artrópodes de corpo mole e até pequenos
vertebrados (VOIGTLÄNDER, 2011). Todas as lacraias são
peçonhentas, e sua principal característica é a presença de
forcípulas, estruturas injetoras de veneno. A picada de espécies dos
gêneros Scolopendra, Otostigmus, Cryptops e Scolopocryptops
(Ordem Scolopendromorpha) ocasiona dor irradiada, edema local,
além de prurido e vermelhidão; registros de óbitos são raros
(BARROSO et al., 2001).
Existem elementos antigos de identificação da fauna brasileira de
quilópodes em Brölemann (1902), Chamberlin (1914) e Bücherl
(1942). Mesmo com poucos levantamentos realizados na paisagem
cacaueira do Sul da Bahia, é possível encontrar uma quantidade
razoável de espécimes desta região em coleções dos museus
brasileiros. Quatro ordens são registradas para a região cacaueira.
A ordem Scutigeromorpha é distinguida pelas pernas alongadas,
localização dorsal dos espiráculos e olhos facetados (BONATO,
2011). São predadores rápidos, capazes de capturar moscas em
pleno voo (LEWIS, 1981). Duas famílias de Scutigeromorpha são
registradas para a Bahia: Scutigeridae e Pselliodidae, embora
apenas Sphendononema guildingii (Newport) (Pselliodidae)
apresente ampla distribuição pelo Nordeste brasileiro (BÜRCHEL
1942).
Os representantes da ordem Litobiomorpha são pequenos, com
um corpo de 15 segmentos portadores de pernas nos adultos e
medindo, usualmente, de 3 a-5 cm de comprimento (ZAPPAROLI;
EDGECOMBE, 2011). Lithobius forficatus L. ocorre no Sul da Bahia,
onde foi possivelmente introduzida pelo comércio marítimo a partir
da Europa (BROLEMANN, 1909; BÜRCHEL, 1942).
A ordem Scolopendromorpha tem amplos registros para o estado
da Bahia, em particular na região cacaueira. O gênero Otostigmus é
comum no Sul da Bahia, onde Otostigmus (Parotostigmus)
cavalcanti Bücherl é registrada em Poções; O. beckeri Chagas, na
REBIO de Una; e Otostigmus (Parotostigmus) caudatus Brölemann,
em Canavieiras. Rhoda thayeri (Meinert) ocorre no município de
Una; Scolopendropsis bahiensis Brandt ocorre não apenas na
Bahia, mas também em outros estados do Nordeste (CHAGAS-
JUNIOR; EDGECOMBE; MINELLI, 2008). Embora não se tenha
registros específicos de Scolopendra spp. para o Sul da Bahia, S.
viridicornis Newport e S. subspinipes Leach ocorrem provavelmente
nesta região, uma vez que possuem ampla distribuição no restante
do estado (CHAMBERLIN, 1914).
Os representantes da ordem Geophilomorpha são cegos,
possuem o corpo alongado e vivem geralmente escondidos em
galerias (FODDAI; MINELLI; PEREIRA, 2002). Registros de
Geophilomorpha são muito escassos para o Sul da Bahia, mas
várias espécies ainda não descritas do gênero Schendylops Cook
(Schendylidae) foram encontradas nos municípios de Ilhéus e Porto
Seguro.
2.7.2 - Diplopoda: São popularmente conhecidos como piolhos-
decobra, embuás, gongos ou gongolos. Apresentam movimentos
lentos e, quando ameaçados, espiralam o corpo. São caracterizados
pela presença de segmentos duplos no tórax, derivados da fusão de
dois somitos originalmente separados e de dois pares de pernas por
segmento (com exceção dos quatro primeiros). Habitam todos os
ambientes do planeta, com exceção da Antártida. No Brasil, ocorrem
10 ordens de diplópodes, incluindo 20 famílias, com muitas espécies
endêmicas (SCHUBART, 1950; GOLOVATCH, 1992; HOFFMAN et
al., 1996).
Os diplópodes brasileiros ocorrem sob troncos caídos e pedras,
em meio a camadas de folhas e na serapilheira, atuando como um
dos principais grupos responsáveis pela fragmentação da
serapilheira (HOPKIN; READ, 1992) e ciclagem de nutrientes
(HOFFMAN, 1990; HOPKIN; READ, 1992; BUENO-VILLEGAS;
SIERWALD; BOND, 2004; PENA-BARBOSA; SIERWALD;
BRESCOVIT, 2013). Atuam como saprófagos sobre a matéria
orgânica do solo e, em alguns habitats, são responsáveis por 5 a
10% da ingestão da serapilheira produzida anualmente (HOPKIN;
READ, 1992). No Sudeste da Bahia, o solo dos cacauais é
caracterizado por uma densa camada detrítica, à base de folhas
caducas e cascas de frutos (casqueiros), formando uma teia
alimentar complexa, na qual os diplópodes forrageiam e se
reproduzem (ARGÔLO, 2004).
O conhecimento da fauna de diplópodos nas cabrucas ainda é
incipiente. Os raros estudos existentes para a Mata Atlântica são
monográficos ou não publicados (BOCCARDO, 2012; BOCCARDO
et al., 2012). Para os cacauais no Sudeste da Bahia, destacam-se
algumas espécies, como, por exemplo, os polidesmídeos da família
Chelodesmidae: Henrisaussuria sp., Eurydesmus sp. e
Atlantodesmus pintoi (Schubart). Este último é abundante na Mata
Atlântica do Sudeste baiano, tais como em Ilhéus, Una e Itabuna.
São organismos de fácil reconhecimento por apresentar uma faixa
vertical branca cortando o seu dorso. Da ordem Spirobolida, cabe
destacar os Rhinocricidae, com Rhinocricus nattereri (Humbert &
Saussure) e R. pugio Brölemann. Apresentam um formato corporal
semelhante a um longo tubo e um télson longo e agudo. Para a
ordem Spirostreptida, são encontradas duas famílias:
Pseudonannolenidae, com Pseudonannolene tricolor (Brölemann),
que ocorre em Ilhéus; e Spirostreptidae, com os gêneros
Trichogonostreptus e Gymnostreptus. Gymnostreptus bahianus
(Schubart) é uma espécie notável que alcança 18 cm de
comprimento e possui coloração enegrecida. Assim como a maioria
das espécies do grupo, estes diplópodos, quando perturbados,
liberam secreções produzidas por glândulas repugnatórias através
de poros distribuídos ao longo do corpo que podem causar
queimaduras. Há relatos não publicados de que estas secreções
seriam utilizadas por primatas da região, que a esfregavam em seus
corpos a fim de repelir parasitas.

2.8 Arthropoda: Crustacea: Isopoda

Os isópodes terrestres (subordem Oniscidea), popularmente


conhecidos como tatuzinhos-de-jardim, são os crustáceos melhor
adaptados à vida nos ambientes terrestres (BROLY; DEVILLE;
MAILLET, 2013). Exceto pela Antártica, estão presentes em todo o
planeta, de zonas litorâneas a florestas, ambientes antropizados e
até em desertos (SCHMALFUSS, 2003). Oniscidea é um táxon
monofilético, representado por mais de 3.600 espécies conhecidas
no planeta, com ocorrência de cerca de 170 no Brasil
(SCHMALFUSS 2003; CAMPOS-FILHO; BICHUETTE; TAITI, 2016),
incluindo algumas espécies exóticas (LEMOS DE CASTRO, 1971).
A exploração do ambiente por estes animais está relacionada a
uma constante busca por água e ambientes úmidos. Notívagos, eles
buscam lugares úmidos, guiados por higrorreceptores,
quimiorreceptores e fotorreceptores (HOLDICH, 1984; ZIEGLER;
ALTNER, 1995). A água é obtida por capilaridade, através dos
urópodes, e pela alimentação (WIESER, 1984; WRIGHT; MACHIN,
1993). Em compensação, perdem água para o ambiente através de
transpiração cuticular, capilaridade reversa e defecação
(LINDQVIST; SALMINEN; WINSTON, 1972; KÜMMEL, 1984).
Adaptações comportamentais, fisiológicas e morfológicas
favoreceram sua terrestrialização. O comportamento gregário,
promovido por feromônios (BROLY et al., 2012), combate a
desidratação ao criar um microclima úmido (TAKEDA, 1984; BROLY
et al., 2014).
Os oniscídeos desempenham relevante papel ecológico, pois
fragmentam a serapilheira onde degradam celulose e compostos
fenólicos (ZIMMER; KAUTZ; TOPP, 2003; QUADROS; ARAÚJO,
2008). Devido à sua baixa capacidade digestiva, suas fezes, ricas
em nutrientes, estimulam a proliferação de microorganismos
importantes na ciclagem de nutrientes (LOUREIRO et al., 2006).
Os isópodes são presas potenciais de diversos predadores,
principalmente artrópodes, répteis, aves e mamíferos (SUTTON,
1980; ARAUJO, 1994). Eles possuem glândulas repugnatórias
capazes de repeli-los; essas glândulas, por exemplo, evitam que
espécies mirmecófilas sofram ataques das formigas construtoras do
ninho explorado (GORVETT, 1956; TAITI; FERRARA, 1988).
Algumas espécies de formigas, sobretudo as do gênero Leptogenys
(Ponerinae), são predadoras especialistas em isópodes (FOWLER
et al., 1991). Os hábitos dos isópodes podem mudar quando
submetidos à presença constante de predadores. Até mesmo
rastros deixados por inimigos naturais — como, por exemplo, trilhas
químicas produzidas por formigas — são capazes de modificar o
comportamento de forrageio desses crustáceos (HEGARTY; KIGHT,
2014).
Há espécies intimamente relacionadas às atividades humanas.
Pellens e Garay (1999) constataram que isópodes são mais
abundantes em cafezais do Espírito Santo do que nas áreas de
floresta adjacentes. Diversas espécies são capazes de ocasionar
danos a plantas cultivadas, tais como cereais, girassol, hortaliças e
orquídeas (GARCIA; CAMPOS, 2001; PAOLETTI et al., 2008;
FABERI et al., 2014).
Na Bahia, cerca de 30 espécies são conhecidas (SOUZA-KURY,
1998; CAMPOS-FILHO; LISBOA; ARAUJO, 2013; CAMPOS-FILHO
et al., 2014; CAMPOS-FILHO; TAITI; ARAUJO, 2015; LISBOA et al.,
2013). Benthana tupinamba Campos-Filho, Taiti & Araujo e
Atlantoscia ituberasensis Campos-Filho, Lisboa & Araujo são
endêmicas da região cacaueira da Bahia (CAMPOS-FILHO;
LISBOA, ARAUJO, 2013; CAMPOS-FILHO; TAITI, ARAUJO, 2015).
Além dessas, outras espécies foram encontradas em cupinzeiros
abandonados em cacauais de Ilhéus (LISBOA et al., 2013). Ainda
há poucas publicações relacionadas a isópodes do Sudeste da
Bahia, mas uma vasta coleção destes animais, inclusive desta
região, está depositada na coleção de crustáceos da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Diversas espécies novas
da região cacaueira da Bahia estão em processo de descrição.

2.9 Arthropoda: Hexapoda: Collembola

Os Collembola são apterigotos hexápodos, entognatos (os


aparelhos bucais são contidos dentro da cápsula cefálica), cujo
tamanho médio é de 2 mm, variando entre 200 ìm e 17 mm. Juntos
aos ácaros, eles compõem um dos grupos de animais mais
abundantes na maioria dos tipos de solos e também ocorrem numa
ampla variedade de habitats. São organismos de grande
importância nos solos, em razão de sua participação nos processos
de decomposição da matéria orgânica, ciclagem de nutrientes e
formação dos solos. Isso deriva de seus hábitos alimentares e conta
com a contribuição de suas fezes: a maioria dos solos contém
milhões de pelotas fecais deixadas por esses organismos. Esse
material ajuda a retardar a liberação de nutrientes para as plantas e
serve como substrato para vários tipos de micro-organismos
(RUSEK, 1998; MAAß; CARUSO; RILLING, 2015). Devido ao seu
tamanho diminuto, sua contribuição para a biomassa animal do solo
vai de 1 a 5% em zonas temperadas a até 33% em ambientes em
estágios iniciais de sucessão. No entanto, eles podem atingir
densidades de mais de 105 indivíduos/m2 em florestas temperadas,
enquanto, nas áreas tropicais, podem representar mais de 50% do
número total de artrópodes em amostras de solo (HOPKIN, 1997).
Enquanto a maioria dos Collembola alimenta-se de hifas e
esporos de fungos ou de material vegetal em decomposição,
algumas espécies se alimentam de nematoides, rotíferos e até
mesmo de outros colêmbolos. Nesse caso, seus aparelhos bucais
apresentam alterações, tanto para a mastigação quanto para a
sucção, com o aparelho do tipo picador-sugador. Nos tarsos, as
unhas de algumas espécies podem ser modificadas para que os
colêmbolos possam se mover em superfícies úmidas. Em algumas
espécies, o tíbiotarso pode possuir um ou dois “tenant-hair” com
extremidades adesivas que lhes permitem aderir a superfícies. O
abdômen é constituído por seis segmentos, e nele encontram-se as
características mais distintas dos Collembola: o tubo ventral ou
colóforo, responsável pelo equilíbrio hídrico e eletrolítico do
organismo, situado no primeiro segmento; e o órgão saltatório, ou
fúrcula, situado no quarto segmento, permite-lhes saltar e escapar
de situações perigosas, embora a fúrcula possa ser pequena ou até
ausente em alguns grupos. No terceiro segmento, encontra-se o
tenáculo que tem como função segurar a fúrcula em repouso.
A forma do corpo e a coloração são extremamente variáveis de
uma espécie à outra, e muitas vezes dependem do habitat. Nos
Poduromorpha e nos Entomobryomorpha, o corpo é alongado,
enquanto nos Neelipleona e nos Symphyleona, há fusão de alguns
segmentos torácicos e abdominais, conferindolhes uma aparência
globulosa característica. Diferentes grupos podem possuir
ornamentações tegumentares ou granulações epicuticulares,
enquanto, em outros, a cutícula pode ser coberta com cerdas
modificadas em escamas. O número e a posição de cerdas
(quetotaxia) são de grande relevância taxonômica e são usadas na
identificação das espécies.
Cerca de 8.500 espécies de colêmbolos já foram descritas no
planeta (BELLINGER; CHRISTIANSEN; JANSSENS, 2016). Até
2012, 287 espécies, incluídas em 19 famílias e 94 gêneros, haviam
sido registradas no Brasil. Cento e noventa e quatro dessas
espécies têm suas localidades-tipo situadas em diferentes regiões
do país (ABRANTES et al., 2012). Nos últimos quatro anos, 44
novas espécies de colêmbolos foram descritas no Brasil
(PALACIOS-VARGAS; LIMA; ZEPPELINI, 2013; GODEIRO;
BELLINI, 2014; QUEIROZ; MENDONÇA, 2015; XISTO;
MENDONÇA, 2016), e também aumentaram os registros de
espécies associadas a formigueiros em frutos de cacau (CASTAÑO-
MENESES et al., 2014; CASTAÑO-MENESES; PALACIOS-
VARGAS; CARMO, 2015). Entre estes últimos, as espécies mais
comuns são Proisotoma minima (Absolon), Folsomides parvulus
Stach (ambos Isotomidae) e Cyphoderus similis Folsom
(Cyphoderidae). Estudos da serapilheira de cacauais mostraram que
os grupos mais bem representados neste ambiente são
Entomobryidae e Isotomidae (SANTOS, 2015).

2.10 Arthropoda: Hexapoda: Insecta: Blattaria: Isoptera

As térmitas são insetos sociais encontrados em abundância em


todas as regiões tropicais. Junto às formigas, estes insetos são
dominantes em número de indivíduos, mas nem sempre em número
de espécies, e constituem a maior parte da biomassa nos
ecossistemas terrestres das regiões tropicais. Estes organismos
participam de processos ecológicos fundamentais na estrutura dos
habitats e na dinâmica dos ecossistemas, estando relacionados com
o fluxo de energia e a ciclagem de nutrientes (QUINET; TEKULE;
BISEAU, 2001), sendo considerados como “engenheiros de
ecossistemas” (LAVELLE; BIGNELL, D.; LEPAGE, 1997). Estes
animais apresentam uma história evolutiva que se acredita ter
iniciado pelo menos no Cretáceo (EGGLETON, 2000). Durante seu
processo evolutivo, o comportamento social dos indivíduos exigiu a
construção de abrigos para alocar as suas populações, tornando
esses organismos relativamente sedentários. Igualmente à
comunidade de formigas, a de térmitas é uma boa candidata para
estudos de biodiversidade e em biomonitoramento, pois esses
insetos são passíveis de ser estudados exaustivamente do ponto de
vista taxonômico, são extremamente abundantes e relativamente
fáceis de serem amostrados, além de possuírem uma forte relação
com a maioria dos ecossistemas terrestres tropicais e forte
sensibilidade a perturbações do meio em que vivem (DE SOUZA;
BROWN, 1994; EGGLETON et al., 1995; JONES; EGGLETON,
2000).
Os cupins desempenham sua função ecológica mais importante
na decomposição e ciclagem da matéria vegetal morta (HOLT;
LEPAGE, 2000). São capazes de garantir a dinâmica dos processos
de decomposição da necromassa vegetal e os fluxos de nutrientes
nas florestas e agrossistemas tropicais, devido principalmente à
variedade de seus hábitos alimentares e à abundância de suas
populações (MATSUMOTO, 1976; BIGNELL; EGGLETON, 2000).
Além disso, o comportamento construtor dos térmitas altera a
estrutura dos solos, promovendo um aumento de porosidade e o
transporte de partículas minerais para a superfície (LEE; WOOD,
1971). Essa porosidade é de fundamental importância para a
absorção da água das chuvas, além de permitir a circulação de ar,
levando oxigênio para organismos edáficos (LEE; WOOD, 1971;
HOLT; LEPAGE, 2000).
Vale ressaltar ainda que as alterações na estrutura dos
ecossistemas, causadas pela atividade das térmitas, podem
influenciar a disponibilidade de recursos para outros organismos de
categorias tróficas diferentes, pois, ao sealimentarem dos restos
vegetais nas florestas, as térmitas estão contribuindo para a
decomposição desses materiais e a consequente liberação dos
nutrientes aí contidos, incorporando-os ao solo (HOLT; LEPAGE,
2000). A liberação desses nutrientes é feita juntamente com as
fezes, quando então se tornam novamente disponíveis para as
plantas (LA FAGE; NUTTING, 1978). Isto é particularmente
importante, considerando-se que os solos da maioria dos
ecossistemas tropicais são pouco férteis e dependem dos nutrientes
liberados dos restos orgânicos. Outro ponto importante é a relação
das térmitas com o nitrogênio — apesar de ser o elemento mais
abundante na atmosfera, o nitrogênio só pode ser utilizado por
plantas e animais depois de transformado em amônia, nitrito e,
principalmente, nitrato (APOLINÁRIO, 2000). Essa transformação é
feita, inicialmente, por bactérias diazotróficas — bactérias que têm a
capacidade de fixar N2 atmosférico —, principalmente aquelas que
fazem simbiose com leguminosas, mas há relatos de que as
bactérias simbióticas de térmitas podem também fazer essa
transformação (BREZNAK et al., 1973; BREZNAK, 2000).
Bondar (1939) foi o primeiro autor a chamar atenção sobre os
cupins que vivem nos cacauais do Sudeste da Bahia; no entanto,
estudos sobre as comunidades de Isoptera dessa região foram
realizados recentemente em cacauais, pastagens e áreas de
floresta (REIS; CANCELLO, 2007; REIS; DELABIE; CANCELLO,
2009; SANTOS et al., 2010). Quarenta espécies de térmitas
distribuídas em 24 gêneros e três famílias foram encontradas numa
série de amostras realizadas em oito ambientes de quatro
localidades: Kalotermitidae (gêneros: Calcaritermes, Cryptotermes,
Eucryptotermes, Rugitermes); Rhinotermitidae (gêneros:
Dolichorhinotermes, Heterotermes, Rhinotermes); Termitidae
(gêneros: Agnathotermes, Amitermes, Angularitermes,
Anoplotermes, Armitermes, Atlantitermes, Cavitermes,
Crepititermes, Diversitermes, Embiratermes, Erymatermes,
Labiotermes, Neocapritermes, Orthognathotermes, Ruptitermes,
Subulitermes, Syntermes, Termes, Velocitermes) (REIS;
CANCELLO, 2007; REIS; DELABIE; CANCELLO, 2009). Entre
esses gêneros, apenas Amitermes, Diversitermes,
Dolichorhinotermes, Embiratermes, Nasutitermes, Syntermes e
Termes foram confirmados como ocorrendo em cacauais até o
momento (DELABIE, 1995; REIS; CANCELLO, 2007; REIS;
DELABIE; CANCELLO, 2009; SANTOS et al., 2010). A maior parte
dos gêneros da lista vive no solo, salvo as 10 espécies encontradas
de Nasutitermes, que são arborícolas, mas cujo ninho passa a fazer
parte da serapilheira quando abandonado. Então, se desagrega e
constitui abrigo para uma fauna extremamente diversificada de
comensais ou oportunistas, em particular as formigas, além de
aranhas e isópodes (SANTOS et al., 2008; SANTOS et al., 2010;
LISBOA et al., 2013). Por sua vez, Syntermes sp. constrói ninhos
conspícuos no chão das agroflorestas da região, os quais podem
atingir 2 m de altura de terra solta e onde muitos organismos,
inclusive vertebrados, nidificam ou forrageiam, inclusive as formigas
especializadas na predação de cupins do gênero Centromyrmex
(DELABIE, 1995).

2.11 Arthropoda: Insecta: Diptera: Ceratopogonidae


O cacaueiro é uma planta de polinização tipicamente entomófila.
Numa grande variedade de insetos observados a visitar as flores do
cacaueiro (WINDER, 1977; POUVREAU, 1984), diminutas moscas
da família Ceratopogonidae (0,5−2,0 mm) são consideradas os
principais agentes da polinização dessa planta (SORIA; FELIPPE-
BAUER; OLIVEIRA, 2002). Nos cacauais da Bahia, 75 espécies
dessas moscas já foram observadas, sendo que a metade dessas
pode polinizar o cacaueiro (WINDER, 1977). No entanto, são as
fêmeas das espécies a seguir que são as mais frequentemente
observadas no ato de transportar pólen: Forcipomyia
(Euprojoanniasia) blantoni Soria & Bystrak, F. (E.) spatulifera
Saunders, F. (Forcipomyia) genualis (Loew) e F. (Microhelea)
fuliginosa (Meigen) (SORIA; WIRTH, 1974). Essas moscas se
reproduzem e passam seu ciclo larval em meio à matéria vegetal em
decomposição, no chão da própria plantação, na serapilheira, perto
das raízes de pseudocaules de bananeiras e, talvez, também na
base de bromélias epífitas (WINDER, 1977). Além disso, seu lugar
preferencial de reprodução fica nos casqueiros, onde, após a
colheita, as cascas dos frutos de cacau ficam amontoadas no chão,
local em que foram abandonadas para apodrecer.
Em condições controladas, o ciclo completo das Forcipomyia leva
cerca de 28 dias, numa temperatura média de 24 °C. Após a postura
num substrato orgânico em decomposição, o ovo da mosquinha leva
três dias para eclodir, seguido por 12 dias de estágios larvais e três
dias de pupa antes de emergir (WINDER, 1977). Em outras
palavras, Forcipomyia spp. levam cerca de 18 dias de seu ciclo
biológico na serapilheira ou num outro substrato em decomposição.

2.12 Arthropoda: Insecta: Hymenoptera: Formicidae

As formigas são insetos onipresentes das florestas tropicais


(HÖLLDOBLER; WILSON 1990), apresentando diversidade e
biomassa superiores à de muitos outros grupos de animais nos
diferentes tipos de ambientes (BENSON; HARADA, 1988;
HÖLLDOBLER; WILSON, 1994). Estima-se que as formigas,
juntamente com as térmitas, representem três quartos da biomassa
da fauna do solo numa floresta tropical (FITTKAU; KLINGE, 1973;
TOBIN, 1995) e quatro vezes a de todos os vertebrados juntos
(HÖLLDOBLER; WILSON, 1994). Cerca de 50% das formigas em
florestas tropicais podem estar associadas à serapilheira (SILVA;
FEITOSA; EBERHARDT, 2007), onde dominam e apresentam
elevada riqueza genérica e específica (AGOSTI et al., 2000;
DELABIE et al., 2007). Além disso, elas também representam, junto
a poucos outros grupos de invertebrados, o segmento da fauna que
certamente mais contribui para o equilíbrio ecológico dos ambientes
tropicais (FOWLER et al. 1991; DELABIE; FOWLER, 1995;
DELABIE et al., 2007). Em função da diversidade do grupo, de sua
grande plasticidade comportamental e de sua densidade
populacional elevada nas comunidades locais, as formigas exercem
um importante papel na dinâmica do ambiente, sendo importantes
no fluxo de energia e biomassa dos ecossistemas terrestres e na
evolução da estrutura de comunidades desses ecossistemas como
um todo (HÖLLDOBLER; WILSON, 1990; TOBIN, 1995).
Há diversas espécies de formigas notáveis que constroem seus
formigueiros no solo de cacauais: as saúvas, do gênero Atta, e as
quenquéns, do gênero Acromyrmex, estão entre as formigas
danosas mais conhecidas da agricultura brasileira. Elas causam,
frequentemente, danos severos por cortarem as folhas das plantas
cultivadas, gramíneas forrageiras e essências florestais, a fim de
criarem um fungo do qual se alimentam. As mais importantes nos
cacauais do Sudeste da Bahia são Acromyrmex subterraneus
brunneus (Forel), Atta cephalotes (L.) e Atta sexdens (L.) (ABREU;
DELABIE, 1986; DELABIE et al., 1997). A “pixixica” ou “pequena
formiga-de-fogo”, Wasmannia auropunctata (Roger), é uma pequena
formiga que ferroa os trabalhadores e vive sob a casca de certas
árvores, em madeira morta ou, principalmente, na serapilheira
(DELABIE, 1988). Formam populações poligínicas (com numerosas
rainhas) que podem colonizar extensas áreas contíguas de
cacauais. Estas formigas protegem, criam e transportam
cochonilhas farinhentas (Pseudococcidae) nas plantas que as
fornecem “honeydew”, e com as quais convivem, e que contribuem
para enfraquecer a produção de cacau (DELABIE; ENCARNAÇÃO;
MAURÍCIO, 1994). Por sua vez, Ectatomma tuberculatum (Olivier) é
uma formiga predadora que “caça à espreita” besouros, formigas e
outros insetos nas árvores de cacau, mas que constrói seu ninho
característico no solo, acompanhando a raiz principal do próprio
cacaueiro. A entrada do formigueiro é uma chaminé característica
de 10 a 30 cm, acoplada na base da árvore (DELABIE, 1990). Outra
característica dessa formiga é que, ao escavar o ninho, ela
transporta a terra a até 2 a 3 m de altura na folhagem dos
cacaueiros (DELABIE, 1990).
Uma grande quantidade de outras espécies de formigas vive
também na serapilheira dos cacauais, sendo possível encontrar até
17 espécies por metro quadrado num cacaual (DELABIE; AGOSTI;
NASCIMENTO, 2000; DELABIE et al., 2007). Salvo diversos
predadores comuns — como espécies dos gêneros Ectatomma,
Neoponera, Odontomachus e Pachycondyla, em geral com mais de
8 mm de comprimento e que forrageiam na superfície do solo —,
são todas bem mais discretas em função de seu tamanho diminuto
ou de seu comportamento críptico (DELABIE et al., 2007). Por isso,
muitas vezes, sua biologia é desconhecida ou, senão, está inferida a
partir das informações disponíveis para outras espécies do mesmo
gênero e adquiridas em outro ambiente. Por exemplo, existe na
serapilheira dos cacauais uma grande quantidade de espécies do
gênero Strumigenys, que são predadores de colêmbolos; alguns
Leptogenys, predadores de isópodes terrestres; há diversos outros
gêneros de predadores, às vezes muito especializados, como
Cryptopone, Gnamptogenys, Hypoponera, Pseudoponera ou
Thaumatomyrmex. Há numerosas espécies (além das já citadas
Acromyrmex e Atta) que cultivam fungos a partir de matéria orgânica
em decomposição ou fezes de insetos (Apterostigma, Mycocepurus,
Myrmicocrypta, Sericomyrmex); e outras, para as quais se questiona
se são consumidoras de fungos que participam da decomposição da
serapilheira ou são predadoras de ácaros, que estão entre os
animais mais abundantes que vivem ali (Octostruma, Rogeria). Há
muitas espécies oportunistas que, às vezes, forrageiam ou nidificam
no solo ou na vegetação e que consomem fragmentos de matérias
orgânicas em decomposição, frutos caídos no chão, que coletam
sementes ou pequenos insetos (Crematogaster, Nylanderia,
Pheidole, etc.). Destacam-se ainda as formigas de correição, dos
gêneros Eciton, Labidus e Neivamyrmex, que forrageiam, de seu
modo particular, na serapilheira e na vegetação baixa ou, no caso
de algumas espécies, nas galerias abertas por diversos organismos
nos horizontes superficiais do solo. Ali procuram invertebrados e, às
vezes, até pequenos vertebrados e cadáveres, promovendo um
amplo turnover nas comunidades desses organismos vivendo
nesses estratos.
Outro grupo particularmente notável que vive nos solos dos
cacauais são as formigas do gênero Acropyga. A espécie mais
frequente, Acropyga fuhrmanni (Forel), vive associada a um
Pseudococcidae, Neochavesia caldasiae (Balachowsky), que ela
cria nas raízes superficiais dos cacaueiros. Populações mistas de
formiga+cochonilha vivem, assim, confinadas; a cochonilha se
alimenta da seiva da planta hospedeira, e a formiga se alimenta
exclusivamente da própria cochonilha e do “honeydew” que essa
fornece. Esse mutualismo é tão exclusivo que, no período de
reprodução, as fêmeas aladas da formiga abandonam o ninho
materno carregando, cada uma, uma fêmea fértil da cochonilha em
suas mandíbulas a fim de assegurar o sucesso da fundação de nova
colônia após o acasalamento (DELABIE, 2001; DELABIE et al.,
2007).

2.13 Chordata: Vertebrata: Amphibia: Caeciliidae

As cecílias (Ordem Gymnophiona), popularmente conhecidas


como cobras-cegas ou cobras-pretas, são anfíbios com corpo
serpentiforme e anelado e olhos reduzidos e profundos, cobertos
por pele. A sua morfologia geral indica que são animais totalmente
adaptados à vida fossória, ainda que algumas espécies sejam
secundariamente adaptadas a ambientes aquáticos ou
semiaquáticos (NUSSBAUM; WILKINSON, 1989). As espécies
modernas são totalmente ápodas e possuem um par de tentáculos
sensoriais característico entre olhos e narinas, além de contarem
com um órgão copulador intromitente nos machos, conhecido como
profalo (JUNQUEIRA; JARED; ANTONIAZZI, 1999). São espécies
ovíparas e vivíparas, apresentando um cuidado parental
característico (KUPFER et al., 2006; WILKINSON et al., 2008).
Embora desprovidas de agressividade notável (pelo menos em
relação ao ser humano), são importantes predadoras, alimentando-
se, principalmente, de invertebrados do solo e possuindo uma forte
mordida graças a uma fileira de dentes na mandíbula, que se
encaixa entre outras duas fileiras na maxila superior (BEMIS;
SCHWENK; WAKE, 1983; NUSSBAUM, 1983). No momento atual
estão descritas 205 espécies (FROST, 2016), quase restritas aos
trópicos. No Brasil existem 33 espécies, ou seja, aproximadamente
16% da diversidade global desse grupo (SOCIEDADE BRASILEIRA
DE HERPETOLOGIA, 2016).
Em função da sua distribuição e do tipo de meio em que vivem, as
cecílias constituem um dos grupos de vertebrados menos
conhecidos, apesar de relativamente abundantes. A “cobra-preta”
Siphonops annulatus Mikan é uma espécie ovípara, exclusivamente
fossória, com ampla distribuição na América do Sul. Utilizando a sua
pele mucosa, o que lhe confere uma lubrificação natural, abre
caminho no solo, construindo um sistema de túneis cujas paredes
tornam-se lisas e brilhantes. É encontrada com frequência no solo
dos cacauais e nos casqueiros (locais onde são amontoadas as
cascas quebradas dos frutos de cacau durante as colheitas)
(JARED et al., 2015). Também ocorre com certa frequência no sopé
das árvores de sombreamento dos cacauais, tal como a eritrina
(Erythrina sp.) e a gameleira (Ficus subtriplinervia Mart.), onde o
substrato permanece úmido, acumulando grande quantidade de
nutrientes. Outro local apreciado por S. annulatus é debaixo das
folhas das grandes bromélias epífitas caídas no chão, em particular,
Aechmea lingulata L. (JARED et al., 2015). Enfim, no contexto da
fauna cacaueira, vale ressaltar o possível mimetismo existente entre
S. annulatus e Rhinocricus sp. (Diplopoda), ambos com coloração
azulada, diâmetros equivalentes e anéis corporais esbranquiçados.

2.14 Chordata: Vertebrata: Squamata: Amphisbaenia


Embora sejam répteis com escamas (Squamata), as anfisbênias
(conhecidas popularmente como “cobras-de-duas-cabeças” ou
“cobras-cegas”) não são consideradas nem lagartos nem serpentes.
As Amphisbaenia são animais fossórios e ápodos (com exceção do
gênero norte-americano Bipes), possuindo olhos reduzidos
recobertos por pele e sendo raramente encontradas na superfície do
solo. São consideradas como os únicos vertebrados
verdadeiramente escavadores, dispendendo grande quantidade de
energia na construção de seus sistemas de túneis, que são
permanentemente patrulhados na defesa contra invasores (GANS,
1969). Embora relativamente abundantes, assim como as cecílias,
são pouco conhecidas em ambientes urbanos, sendo mais
populares nas áreas rurais, onde são mais facilmente encontradas
durante a lida com a terra. Existem, atualmente, cerca de 190
espécies de anfisbênias, distribuídas em seis famílias e que ocorrem
nas regiões mais quentes do planeta.
O corpo das anfisbênias é cilíndrico e anelado, variando de
poucos centímetros até 60 cm de comprimento e alcançando mais
de 4 cm de diâmetro. O nome anfisbênia significa “andar para os
dois lados” (do grego amphis = dois lados; baenein = ir) e refere-se
à sua habilidade de se deslocar no interior dos túneis, tanto para
frente como para trás. Seu deslocamento está particularmente
adaptado ao ambiente fossório uma vez que o corpo se movimenta
auxiliado pelo atrito com o substrato. Esse movimento, rápido e
eficiente, é conhecido como vermiforme, “em sanfona” ou “em
concertina” (GANS, 1969). A crença popular de que as anfisbênias
possuem duas cabeças tem sua provável origem nesse
comportamento, aliado à semelhança entre a sua cauda e a sua
cabeça. Para facilitar o deslocamento na terra, as escamas são
achatadas e lisas, diferentemente das cobras e lagartos em que elas
são embricadas. Geralmente apresentam uma pele clara, com
poucos pigmentos, com tons róseos, amarelados ou amarronzados.
As anfisbênias utilizam sua cabeça rígida e reforçada, que, em
muitas espécies, possui uma forma de pá, para escavar as galerias.
São organismos territoriais, patrulhando constantemente nos seus
túneis à procura de invasores e de alimento, constituído por
minhocas, artrópodes diversos, répteis de vários tipos e pequenos
roedores. Enquanto dentro de seu túnel uma anfisbênia tem pouca
chance de ser predada, ela é indefesa contra predadores na
superfície. As aves (em especial as corujas) e algumas serpentes,
como a cobra-coral, são conhecidas por predar anfisbênias
(MARQUES, 1992; MARQUES; SAZIMA, 1997). Quando se sentem
ameaçadas, algumas espécies costumam expor a ponta da cauda a
fim de confundir o predador. Podem também procurar abrigo no
interior de formigueiros e cupinzeiros. Assim como as cobras-de-
vidro e as lagartixas, algumas espécies, em caso de serem
atacadas, podem até mesmo fazer autotomia, soltando a ponta da
cauda. A maioria das anfisbênias é ovípara, depositando seus ovos
em galerias no solo, onde se desenvolvem de maneira semelhante à
dos outros répteis.
A espécie mais comum na América Latina é a Amphisbaena alba
L., que é amarronzada e que pode chegar a um tamanho bastante
grande. Por ser a única espécie agressiva dentre as anfisbênias,
desferindo mordidas quando provocada, tem, popularmente, a fama
de ser venenosa, mesmo não produzindo nenhum tipo de veneno ou
peçonha.
As espécies do gênero Leposternon são caracterizadas por
possuir a cabeça em forma de pá, altamente especializada para a
escavação. Nos cacauais do Sul da Bahia, a mais comum é a
Leposternon infraorbitale, popularmente conhecida como “cobra-
branca”, embora, na verdade, seja de cor amarelo-clara,
especialmente no dorso. Trata-se de um animal de grande porte, de
tamanho equivalente à Amphisbaena alba, porém desprovido de
agressividade. Habita o solo dos cacauais, construindo sistemas de
túneis extensos, facilmente reconhecíveis pelo diâmetro e pela
superfície interna, toda carimbada pelas marcas da cabeça e dos
anéis do corpo. Por essa característica, juntamente com as cecílias,
as anfisbênias possuem um importante papel na ventilação do solo.
Especialmente na região cacaueira, o nome “cobra-branca” talvez
tenha se popularizado de maneira a se contrapor com a “cobra-
preta” (a cecília Siphonops annulatus), uma vez que os cacauais
apresentam a peculiaridade de abrigar em simpatria representantes
desses dois grupos de vertebrados realmente fossórios, muito
comuns na região.

2.15 Chordata: Vertebrata: Squamata: Serpentes:


Scolecophidia

Dentre a rica fauna de serpentes dos cacauais (ARGÔLO, 2004),


ocorrem algumas espécies com hábitos fossórios ou semifossórios.
Dentre as fossórias, destaca-se Amerotyphlops brongersmianus
(Vanzolini), cuja localidade-tipo é Barra de Itaípe, em Ilhéus, e com
distribuição ampla, espalhando-se por praticamente toda a América
do Sul.
Trata-se de mais um animal fossório também conhecido como
“cobra-cega” (GREENE, 1997). De fato, A. brogersmianus é uma
cobra que possui traços de cintura pélvica, pertencente à infra-
ordem basal dos Scolecophidia. As espécies desse grupo são todas
fossórias, possuem olhos reduzidos e recobertos por pele. A
fossorialidade desse grupo parece diferir daquela das anfisbênias ou
cecílias. A. brongersmianus não constrói galerias e vive em
ambiente semifossório, na interface entre a serapilheira e o solo
mineral, onde se desloca com grande desenvoltura. É uma serpente
de pequeno porte, com cabeça rombuda, dotada, na sua porção
anterior, de um escudo rostral e de um grande número de glândulas
de função ainda desconhecida. A boca, em posição ventral, é
pequena, o que limita o tamanho de suas presas, em geral
pequenos artrópodes, tais como formigas e cupins. Apesar de
apresentar alguns dentes apenas na maxila superior, a mandíbula é
dotada de rotação que possibilita um movimento muito peculiar,
permitindolhe recolher suas presas do substrato para o interior da
boca (KLEY; BRAINERD, 1999, KLEY, 2001). A cauda, geralmente
curta, é dotada de um espinho córneo na ponta, que auxilia na
locomoção e tem uma clara função defensiva. O povo, em geral,
associa esse espinho a um ferrão peçonhento, o que faz com que
esse animal, inócuo ao ser humano, seja temido (e, muitas vezes,
morto). Como as anfisbênias, os Amerotyphlops possuem escamas
com características próprias, adaptadas ao ambiente fossório.
Entretanto, diferentemente das anfisbênias, esse grupo não possui o
movimento em concertina. As escamas arredondadas são lisas,
uniformes e pouco embricadas, diminuindo consideravelmente o
atrito com o substrato, o que dificulta a apreensão dos animais.
3 Serviços ecossistêmicos
3.1 Agentes de Controle Biológico

Muitos dos animais acima relacionados participam do controle


biológico natural dos organismos potencialmente danosos ao cultivo
do cacaueiro no Sudeste da Bahia. Qualquer animal fitófago,
principalmente artrópodes, no caso do cacaueiro, é suscetível de
ocasionar danos econômicos a essa planta em consequência de um
surto populacional ou em caso de repetida tomada alimentar nos
mesmos indivíduos. Uma vez que as principais pragas do cultivo
são conhecidas por atacar a parte aérea da árvore (flores, frutos,
ramos e galhos) (NAKAYAMA; ENCARNAÇÃO, 2012), o papel dos
organismos do solo no controle biológico fica relativamente
despercebido, porém é real. Os únicos insetos vivendo no solo e
que merecem ser qualificados de pragas são as larvas de
Chrysomelidae Eumolpinae, que se alimentam diretamente nas
raízes do cacaueiro (FERRONATTO, 1999; NAKAYAMA;
ENCARNAÇÃO, 2012). Por sua vez, um dos grupos mais eficientes
que asseguram a manutenção das populações da quase totalidade
dos demais organismos abaixo de um limiar populacional aceitável
economicamente são as formigas (OFFENBERG, 2015). Por serem
sociais, perenes, onipresentes, com populações numerosas e
permanentemente em atividade, com muitas espécies carnívoras ou
onívoras, tanto no solo quanto na vegetação, as formigas dos
cacauais contribuem sobremaneira para manter as populações de
demais artrópodes dispersas e com um nível populacional baixo
(MAJER; DELABIE, 1993). Ao invés da maior parte das espécies de
formigas que são residentes e forrageiam perto de seus ninhos, as
formigas de correição não possuem ninho permanente e forrageiam
de modo ativo e organizado formando frentes de forrageadoras que
avançam de modo coordenado, de forma a surpreenderem ou
cercarem as presas potenciais. Essas são habitantes da serapilheira
e da vegetação baixa, tais como outras espécies de formigas,
escorpiões, aranhas, gafanhotos, pequenos invertebrados e
vertebrados. Algumas espécies de formigas de correição também
visitam os túneis cavados por organismos fossoriais nos horizontes
superficiais do solo.

3.2 Manutenção da diversidade faunística num solo de


cacaual

Como em ambientes de florestas, os solos de cacauais são


suscetíveis de abrigar uma grande variedade de organismos
simplesmente porque existem ali muitos habitats e microhabitats
criados pela própria biota. Podemos citar, como exemplos,
fragmentos de madeira de todos os tipos caídos ou apodrecendo no
chão, conchas de gastrópodes mortos, cupinzeiros de Nasutitermes
spp. caídos no chão após a morte da colônia de cupins ou outros
cupinzeiros do solo (Syntermes spp., por exemplo), galerias
cavadas e, às vezes, abandonadas de minhocoçu ou de
vertebrados, etc. Um local particularmente interessante para a biota
animal é abaixo das folhas das grandes bromélias epífitas caídas no
chão, em particular Aechmea lingulata L. Ali existem muitos micro-
habitats, ricos em matéria orgânica em decomposição, onde é
comum encontrar, juntamente com Siphonops annulatus, uma rica
fauna de invertebrados e vertebrados. Dentre a grande variedade de
invertebrados, destacam-se formigas, cupins, minhocas, miriápodes,
aranhas, opiliões, besouros, onicóforos, etc. Dentre os vertebrados,
é comum a presença de roedores, pequenos marsupiais, anfíbios
microhilídeos (tais como Stereocyclops incrassatus Cope),
anfisbênias (tais como Leposternon infraorbitale), serpentes — tais
como Typhlops brongersmianus Vanzolini, Xenopholis scalaris
Wucherer, Atractus guentheri Wucherer) — e diversas espécies de
lagartos.
As conchas de gastrópodes mortos são usadas como recurso de
nidificação por numerosos organismos, entre estes, diversas
espécies de formigas, inclusive em cacauais (JAHYNY et al., 2003).
Por exemplo, duas espécies do gênero Thaumatomyrmex Mayr
(JAHYNY et al., 2003, 2008) competem por este recurso com a
“pixixica”, Wasmannia auropunctata Roger. Os gastrópodes
terrestres e suas conchas contribuem, assim, para a estruturação de
comunidades bióticas nos cacauais da Bahia, e a diversidade de
vários grupos de invertebrados depende da diversidade de
moluscos.
Uma grande diversidade faunística é encontrada associada a
cupinzeiros do gênero Nasutitermes caídos no chão, abandonados
ou em decadência, tais como indivíduos dos filos Platyhelminthes,
Mollusca, Annelida e, sobretudo, Arthropoda, que responde sozinho
poraproximadamente 85% da fauna total. Entre os artrópodes, as
formigas formam o grupo mais abundante encontrado nessas
estruturas, no entanto, aranhas são extremamente frequentes
(SANTOS et al., 2008), seguidas de Coleoptera, Isopoda (LISBOA
et al., 2013) e Blattodea. Entre os taxa menos frequentes estão os
Embioptera e Dermaptera. Uma ampla variedade de besouros
também vive em cupinzeiros, sobretudo os Staphylinidae (75% dos
Coleoptera). Formas juvenis também são particularmente
abundantes nesse tipo de habitat, com muitas larvas e pupas de
Coleoptera, Diptera, Lepidoptera e outros imaturos, além de número
expressivo de ovos de diferentes insetos (SANTOS, 2008).
A abundância desses organismos nos cupinzeiros está
relacionada com o grau de atividade do mesmo, o seu volume e a
situação em que se encontra (ninhos em atividade suspensos nas
plantas possuem pouca fauna associada, e ninhos abandonados
com maior volume e caídos no chão apresentaram uma abundância
elevada de organismos). Os cupinzeiros mostraram representar um
sítio de desenvolvimento para alguns dos animais encontrados.
Desta forma, pode-se considerar que estas estruturas funcionam
como verdadeiros criadouros de organismos, uma vez que fornecem
abrigo para nidificação de vários grupos animais, além de protegê-
los contra a dessecação. E devido à elevada riqueza presente nos
ninhos de térmitas em plantações de cacau no Sul da Bahia, estas
estruturas podem assumir um importante papel no estabelecimento
e manutenção de uma parcela da diversidade local de
invertebrados.
Além disso, os frutos secos de cacau ou em decomposição, assim
como os galhos ocos caídos das árvores no chão do cacaual,
constituem também habitats que são explorados por um grande
número de organismos, tais como as formigas, que os usam para
estabelecer formigueiros permanentes ou temporários, bem como
uma variedade de outros animais que são inquilinos de tais
estruturas. Num cacaual experimental de Ilhéus, 42 tipos de animais
foram registrados em formigueiros, incluindo Mollusca, Myriapoda
(Diplopoda, Chilopoda e Symphyla), Opiliones, Reduviidae e
Schizomida, além de grandes quantidades de ácaros e colêmbolos.
Essas interações complexas estabelecidas em ninhos dentro dos
frutos no chão sugerem a importância deste ambiente para o
funcionamento do ecossistema e para a manutenção da
biodiversidade nas lavouras de cacau (CASTAÑO-MENESES et al.,
2015).

3.3 Conservação de espécies ameaçadas de extinção

Recentemente, Régnier et al. (2015) chamaram a atenção da


comunidade científica sobre o fato de as comunidades de moluscos
terrestres estarem em processo avançado de extinção, apesar do
fenômeno não ser óbvio, uma vez que há pouquíssimas
informações de natureza taxonômica ou ecológica sobre esse
importante grupo biológico que sofre, como a maioria dos
invertebrados, de um déficit de interesse na hora de aplicar políticas
públicas de conservação.
Gastrópodes terrestres e onicóforos têm mobilidade reduzida e
pouca aptidão para colonizar habitats fragmentados, possivelmente
em razão da sua grande sensibilidade à desidratação,
especialmente no caso dos onicóforos (SANTANA et al., 2008). As
espécies dos dois grupos que vivem nos cacauais são diretamente
ameaçadas por problemas que decorrem disso, tal como um
período de seca prolongado e o fato de que os trabalhadores
agrícolas utilizam o fogo para eliminar a vegetação invasiva nas
margens das plantações, em clareiras ou em beiras de caminhos
que dão acesso às roças. Outros problemas importantes para esses
organismos são, possivelmente, o uso cada vez mais geral de
herbicidas seletivos e de insumos agrícolas nas plantações. A
agrofloresta cacaueira do Sudeste da Bahia certamente pode
contribuir na manutenção da diversidade destes animais, como está
sendo apontado nos cacauais da Nigéria para os gastrópodes (OKE;
OMOREGIE, 2012).
Por outro lado, várias espécies de formigas ameaçadas de
extinção são encontradas no chão de cacauais do Sudeste da Bahia
(CAMPIOLO et al., 2015). Gnamptogenys wilsoni Lattke, Fernández;
Palacio categorizada como “Em Perigo (EN)” pelos critérios da
IUCN, é conhecida somente em cacauais de Ilhéus onde, porém,
não é mais encontrada há vários anos. As alterações sofridas pelo
manejo dos cacauais depois da invasão pela vassoura de bruxa
geraram numerosos efeitos negativos às populações de formigas.
Dentre estes efeitos, presume-se que a utilização de fungicidas
possa alterar a taxa de decomposição da serapilheira e,
consequentemente, a alimentação disponível para muitos
organismos que vivem ali. Além disso, ocorreu a diminuição no
sombreamento, que pode aumentar tanto o impacto de chuvas
como a amplitude térmica ao nível do solo. Esses problemas podem
ser responsáveis pela raríssima ocorrência de algumas outras
espécies de formigas que antes eram encontradas nos cacauais da
região, tais como Anochetus oriens Kempf (categorizada como
“Vulnerável” pela IUCN) ou Simopelta minima (Brandão)
(categorizada como “Dados Insuficientes” pela IUCN). Enfim, a
conspícua Dinoponera lucida Emery (categorizada como “Em
Perigo” pela IUCN), ameaçada pela fragmentação excessiva de seu
habitat e conhecida principalmente de áreas de Mata Atlântica do
Sul da Bahia, do Norte do Espírito Santo e do Leste de Minas
Gerais, ocorre no chão dos cacauais nas margens do rio
Jequitinhonha, na Bahia, e do rio Doce, no Espírito Santo
(CAMPIOLO et al., 2015).
Finalmente, a aranha Celaetychaeus mungunza Polotow;
Brescovit (Ctenidae), que vive na serapilheira das cabrucas do
Sudeste da Bahia, está na lista de animais brasileiros ameaçados
de extinção, categorizada como “Criticamente em Perigo” (CR).
3.4 Ciclagem de nutrientes

As térmitas são considerados um dos grupos mais abundantes de


animais (em número de indivíduos e biomassa), representando em
torno de 75% da biomassa de todos os insetos (95% da biomassa
dos insetos do solo) e 10% da biomassa animal como um todo
(WILSON, 1993). São organismos funcionalmente importantes,
mesmo em ecossistemas tropicais mais distantes e nos
ecossistemas subtropicais (BIGNELL; EGGLETON, 2000). Como
componentes dos ecossistemas, as térmitas desempenham
importante papel na cadeia alimentar de detritos, podendo consumir
mais de 50% do material vegetal em decomposição (BIGNELL;
EGGLETON, 2000). São os mais importantes agentes de
degradação da madeira: volumosos troncos e raízes são
prontamente incorporados à dinâmica da ciclagem orgânica dos
nutrientes devido à ação desses organismos. Ao se alimentarem de
restos vegetais e animais, as térmitas estão contribuindo para a sua
decomposição e a consequente liberação dos nutrientes neles
contidos (HOLT, 1987). Em compensação, estes organismos servem
como alimento para uma ampla variedade de predadores
(LAVELLE; BIGNELL; LEPAGE, 1997; HOLT; LEPAGE, 2000).
Considerando que os solos da maioria dos ecossistemas tropicais
são pouco férteis e dependem de nutrientes liberados dos restos
orgânicos, a ciclagem desses nutrientes é função muito importante
desenvolvida por esse grupo animal (BIGNELL; EGGLETON, 2000;
HOLT; LEPAGE, 2000).
Além das térmitas, ácaros e colêmbolos são grupos de grande
importância por seu envolvimento nos processos biogeoquímicos
responsáveis pela decomposição da matéria orgânica no solo,
devido às interações diretas e indiretas que mantêm com a
microbiota do solo, especialmente os fungos e bactérias saprófitas
(LUSSENHOP, 1992). Enquanto, em ambientes tropicais, a
biomassa destes microatrópodos é baixa, como no caso dos
Collembola, por exemplo, que representam 20 mg de biomassa por
metro quadrado (PETERSEN, 1982), há registros de muitas
espécies frugívoras, o que contribui para o aumento considerável
das taxas de conversão da matéria orgânica. Muitas espécies de
colêmbolos e de ácaros oribatídeos são importantes na
disseminação da microbiota do solo, o que potencializa e acelera os
processos de decomposição. Enfim, os colêmbolos são também
presas importantes para numerosos predadores, incluindo besouros
e suas larvas, dípteros, formigas do gênero Strumigenys, aranhas,
sapos e até mesmo répteis (RUSEK, 1998), o que faz com que eles
também sejam extremamente importantes em diferentes níveis do
fluxo energético do agroecossistema cacaueiro.
Finalmente, nos ambientes terrestres, as conchas de gastrópodes
são reutilizadas por vários grupos de animais, por serem
importantes fontes de cálcio (elemento raro em numerosos tipos de
solos), inclusive pelos próprios gastrópodes (CADÉE, 1999).

3.5 Dispersão de sementes

Podemos considerar que, nos cacauais, existe uma relativa


ausência de chuva de sementes (a não ser das árvores de
sombreamento, com uma diversidade extremamente limitada) e uma
fraca dispersão por aves, roedores e outros animais, de sementes
oriundas de espécies vegetais florestais presentes nas
remanescentes vizinhas aos cacauais. Isso faz com que a baixa
disponibilidade de sementes no chão das plantações seja uma das
principais diferenças estruturadoras entre o solo de um cacaual e o
de uma área de floresta vizinha, o que certamente impacta sobre a
diversidade de organismos granívoros, como diversos Coleoptera,
tais como Bruchidae ou Curculionidae, e mesmo formigas. Por sua
vez, nas florestas, as formigas são consideradas os principais
removedores e carreadores de sementes no chão (CHRISTIANINI;
OLIVEIRA, 2009; SANTANA; CAZETTA; DELABIE, 2013) uma vez
que, em sua maioria, são atraídas pela polpa dos frutos. No entanto,
nos cacauais, mesmo com o trabalho das formigas recolhendo as
sementes em frutas caídas no chão, o impacto na dispersão das
mesmas permanece discreto, uma vez que o produtor de cacau
mantém um controle permanente sobre a vegetação que ele deixa
crescer na plantação.

3.6 Engenheiros de ecossistemas

Três grandes grupos de invertebrados, agentes ativos na


reciclagem dos nutrientes vegetais e animais e na estruturação dos
solos tropicais, são abundantes no sistema agroflorestal cacaueiro:
minhocas, térmitas e formigas (FITTKAU; KLINGE, 1973). Esses
são frequentemente e conjuntamente rotulados “engenheiros de
ecossistemas” (JONES; LAWTON; SHACHAK, 1994). No entanto,
numerosos outros organismos do solo têm atributos similares,
complementares ou, senão, igualmente importantes. Por exemplo,
em razão das mudanças físicas que sofre a serapilheira com as
interações com e entre fungos e invertebrados fungívoras, tais como
ácaros e colembolas, muitos destes microartrópodes podem ser
também considerados como engenheiros de ecossistemas
(HÄTTENSCHWILER; TIUNOV; SCHEU, 2005), uma vez que sua
atividade altera a estrutura da serapilheira e permite o
estabelecimento de uma sucessão de fungos e bactérias, que
podem se alimentar diretamente nas raízes das plantas, além de
modificar a estrutura do solo. Por outro lado, as conchas de
gastrópodes são usadas por diversos grupos de animais como fonte
de cálcio ou ainda como abrigo ou sítio de nidificação (JAHYNY et
al., 2003). Assim, muitos dependem da diversidade local de
gastrópodes terrestres, em particular da quantidade e da
variabilidade arquitetural das conchas disponível, o que contribui
para estruturar suas comunidades. Em função disso, e não somente
em relação à serapilheira, o conceito de “engenheiros de
ecossistemas” tem recebido recentemente muita atenção dos
ecologistas, enquanto seus domínios de aplicação têm se ampliado
cada vez mais (LAVELLE et al., 2016).
Os organismos fossórios, invertebrados (Annelida) ou vertebrados
(cecílias, anfisbenas, cobras-brancas), são extremamente
importantes para estruturar os solos, uma vez que cavam galerias e
túneis que permitem a circulação de outros animais abaixo da
superfície (por exemplo, formigas, cobras-corais, etc.). As térmitas e
algumas formigas, tais como as saúvas, são também cavadoras
extremamente ativas, exercendo grande influência sobre as
características físicas e químicas dos solos. Como resultado dessa
atividade, todos esses organismos proporcionam um aumento na
porosidade, na capacidade de retenção de água e na circulação de
ar nos diferentes perfis do solo, facilitando a entrada de oxigênio
para os outros organismos edáficos. Adicionalmente a estas
atividades, a penetração e a proliferação das raízes das plantas são
facilitadas. Além disso, as formigas, principalmente ao cavarem
seus ninhos, trazem para a superfície elementos minerais do solo
profundo que acabam se misturando com a serapilheira na
superfície. Isso fica mais evidente ao observar sauveiros (DELABIE;
ENCARNAÇÃO; CAZORLA, 1993), mas esse mesmo mecanismo
ocorre, porém, de forma muito mais discreta para todas as formigas
terrícolas que vivem nos cacauais.
Os cupinzeiros são estruturas rígidas construídas a fim de abrigar
e proteger as colônias, apresentando-se como elementos estruturais
importantes de muitos ecossistemas (NOIROT, 1970). Cada ninho
de térmita ou de formigas representa um largo investimento para a
espécie que o construiu. Entretanto, muitos outros organismos se
beneficiam desse investimento, explorando essas construções,
inclusive vertebrados e invertebrados e uma variedade de
microrganismos (HÖLLDOBLER; WILSON, 1990; EGGLETON;
BIGNELL, 1997). Nos ninhos de térmitas — em particular dentre os
organismos mais comuns que se beneficiam da estrutura do ninho
—, estão as formigas e os coleópteros, principalmente os
pertencentes à família Staphylinidae, aranhas, baratas, isópodes,
entre outros. A presença de espécies de térmitas diferentes daquela
que construiu a estrutura do ninho também é muito frequente
(GRASSÉ, 1986; MIURA; MATSUMOTO, 1997; EGGLETON;
BIGNELL, 1997). Quando abandonados, os ninhos de térmitas
passam a abrigar uma quantidade ainda maior de pequenos
animais, esteja ainda o ninho de Nasutitermes sp. na sua posição
original, na árvore, servindo como ninho para aves ou morcegos, por
exemplo, ou caído ao pé da árvore hospedeira. Assim, além da sua
função principal de proteção, os ninhos de térmitas desempenham
um importante papel ecológico adicional, contribuindo com o
aumento da diversidade e da quantidade de habitats disponíveis
para o estabelecimento de uma série de outras espécies animais
(REDFORD, 1984).

3.7 Polinização

A ocorrência de uma grande diversidade de insetos que visitam os


cacaueiros sugere que muitos deles sejam potenciais polinizadores
(POUVREAU, 1984), embora algumas espécies de Diptera
Ceratopogonidae sejam consideradas os únicos polinizadores
efetivos (WINDER, 1977). Essas moscas se reproduzem e passam
seu ciclo larval em meio à matéria vegetal em decomposição na
serapilheira, em casqueiros onde as cascas dos frutos de cacau
ficam amontoadas no chão para apodrecer após a colheita, ou ainda
em touceiras de bananeiras. Embora a polinização cacacaueiro seja
geralmente tida como um fator limitante da produção em cacau, a
manutenção de uma serapilheira úmida, espessa e contínua na
plantação, assim como sítios favoráveis à proliferação das moscas
(casqueiros, bromélias epífitas, bananeiras), parecem ser as
condições ideais de manter uma diversidade adequada de moscas
no cacaual, garantindo um processo polinizador regular ao longo do
período de floração do cacaueiro (WINDER, 1977).
Além das moscas, outros organismos têm a reputação de também
polinizar as flores do cacaueiro, tal como a “pixixica”, Wasmannia
auropunctata, que, apesar de ser uma formiga da serapilheira, é um
visitante frequente dessas flores, assim como alguns insetos
sugadores ou os colêmbolos, segundo Winder (1977). No entanto,
esses organismos são incapazes de assumir uma polinização
cruzada (DELABIE et al., 2007) ou mesmo de levar a quantidade
suficiente de grãos de pólen de uma flor à outra, mesmo vizinha na
mesma planta, para garantir uma polinização efetiva ou ainda de
colaborar indiretamente com os Ceratopogonidae para a polinização
(ADJALOO; ODURO, 2013). Segundo Vello e Magalhães (1971), a
ocorrência da caçarema, a formiga arborícola Azteca chartifex spiriti
Forel, favoreceria a polinização. Essa reputação seria nada mais do
que um artefato de observação devido a uma maior atividade de
predação assumida pela formiga na planta hospedeira (DELABIE,
1990; MAJER; DELABIE; SMITH, 1994). Por outro lado, os
colêmbolos são os únicos animais capazes de digerir
completamente a parede do pólen de algumas plantas. Assim, é
possível que a ocorrência desses organismos em flores do
cacaueiro seja de fato prejudicial à polinização, apesar de existirem
estudos contraditórios que mostram que o pólen pode passar
através do trato digestivo do entomóbrido Homidia ocia Denis
(ROULSTON; CANE, 2002) sem perder sua viabilidade.
4 Agradecimentos
Os autores agradecem a José Olimpio de Souza Júnior pelo
convite para participar deste volume. Jacques H. C. Delabie, Antonio
D. Brescovit, Carlos Jared, Cléa dos S. F. Mariano e Marta M.
Antoniazzi são bolsistas de produtividade do CNPq.
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Capítulo 10 — Diagnose nutricional para o
cacaueiro
José Olimpio de Souza Júnior1, Paulo César Lima Marrocos2 , Júlio César
Lima Neves3
1 Nutrição mineral do cacaueiro
Um elemento é considerado essencial às plantas quando faz parte de um
composto intrínseco da estrutura ou do metabolismo da planta e/ou quando a
planta, severamente privada do elemento, exibe anomalia em seu
crescimento, desenvolvimento ou reprodução (EPSTEIN; BLOOM, 2006). Os
elementos essenciais, ou nutrientes, podem ser classificados de acordo com
sua origem e quantidade demandada pela planta em:

macronutrientes não minerais, fornecidos pela água e pelo CO2: carbono


(C), oxigênio (O) e hidrogênio (H);
macronutrientes minerais: nitrogênio (N), potássio (K), fósforo (P), cálcio
(Ca), magnésio (Mg) e enxofre (S);
micronutrientes, os quais todos são minerais: boro (B), cloro (Cl), cobre
(Cu), ferro (Fe), manganês (Mn), molibdênio (Mo), níquel (Ni) e zinco (Zn).

A essencialidade de um elemento para uma espécie ou para um grupo


específico de plantas também não o caracteriza como essencial para as
plantas.
Para Malavolta (2006), cobalto (Co) e selênio (Se), e para Taiz e Zeiger
(2004), sódio (Na) e silício (Si) também seriam considerados elementos
essenciais às plantas, porém estes casos ainda não são amplamente aceitos
pelos pesquisadores. Elementos que ainda não são considerados essenciais,
mas que podem contribuir para o aumento do crescimento ou da produção das
lavouras, são considerados elementos benéficos, sendo os mais importantes,
justamente, Co, Na, Se e Si.
Nas Tabelas 1, 2 e 3, são apresentados resumos das principais funções dos
macronutrientes, dos micronutrientes e dos elementos considerados benéficos
às plantas.
Tabela 1 - Principais funções dos macronutrientes (Macro) minerais para as
plantas
Macro Principais funções

N Função estrutural como constituinte de: aminoácidos (formam


proteínas, enzimas e co-enzimas), nucleotídeos (formam os
ácidos nucleicos - DNA e RNA), clorofila (canaliza a energia
luminosa em energia química, via fotossíntese), ácido
indolacético (hormônio do crescimento) e alcaloides (função
de defesa).

P Constituinte do ATP/ADP/AMP (fonte de energia para


respiração, fixação de CO2, biossíntese, absorção iônica), dos
nucleotídeos e ácidos nucleicos (DNA e RNA), de coenzimas,
açúcares fosfatados e de fosfolipídios da membrana celular;
fosfatos de uridina, citosina e guanidina (responsáveis pela
síntese de sacarose, fosfolipídios e celulose); H2PO4-
(regulação da atividade de enzimas).

K Ativação de inúmeras enzimas (síntese de proteínas,


fotossíntese, etc.); transporte de carboidratos fonte-dreno;
abertura e fechamento dos estômatos (afeta fotossíntese,
transpiração e eficiência de uso de água); osmorregulador
(turgidez do tecido vegetal).

Ca Pectato de Ca, na lamela média (funciona como “cimento”


entre células adjacentes); manutenção da estrutura funcional
da plasmalema; rigidez da parede celular e membranas; Ca-
calmodulina (ativadora de enzimas); mensageiro secundário
de estímulos mecânicos, ambientais e elétricos; no vacúolo,
está presente como oxalato, fosfato, carbonato, regulando o
nível desses ânions.

Mg Ocupa o centro do núcleo da clorofila; cofator das enzimas


que transferem P entre ATP e ADP; fixação do CO2 (ativação
da carboxilase da ribulose fosfato e da carboxilase do
fosfoenolpiruvato); estabilização dos ribossomos para a
síntese de proteínas.
Macro Principais funções

S Constituinte dos aminoácidos metionina, cisteína e cistina


(presentes em proteínas, enzimas e coenzimas) e da
glutationa (antioxidante; controle de estresses biótico e
abiótico e controle de hormônios do crescimento e da
floração); forma pontes de dissulfato, que participam de
estruturas terciárias de proteínas.
Fonte: Adaptado de Taiz e Zeiger (2004), Epstein e Bloom (2006) e
Malavolta (2006).
Tabela 2 - Principais funções dos micronutrientes (Micro) para as plantas
Micro Principais funções

B Ainda não foram estabelecidas funções bioquímicas para o


boro, mas se sabe que ele está relacionado com: divisão,
alongamento e diferenciação celular; estabilidade da parede
celular; crescimento das regiões meristemáticas; formação do
tubo polínico e germinação do pólen; metabolismo de
carboidratos e transporte de açúcares através das
membranas; síntese de ácidos nucleicos (DNA e RNA) e de
fito-hormônios.

Cl Exigido para a decomposição fotoquímica da água;


transferência de elétrons na clorofila b no fotossistema II e
osmorregulador.

Cu Constituinte de várias enzimas, como: plastocianina


(transporte eletrônico do fotossistema II), oxidases do
citocromo (respiração), fenolases (oxidam fenóis), lacase
(síntese da lignina), dismutases de superóxido (proteção da
planta contra o dano do O2-, que é reduzido a H2O), redutases
e oxidases.

Fe Participa de reações de oxirredução e de transferência de


elétrons; constituinte de heme proteínas; componente de
sistemas enzimáticos: oxidases do citocromo, catalases,
dismutases de superóxidos, peroxidases e ferredoxinas
(proteínas Fe-S, exigidas para a redução do nitrato e do
sulfato, fixação do N2 e armazenamento de energia pelo
NADP).

Mn Atua na transferência de elétrons, que catalisa a


decomposição da molécula de H2O; constituinte ou cofator de
várias enzimas: (desidrogenases, descaboxilases, quinases,
oxidases e peroxidases, entre outras).

Mo Constituinte das enzimas redutase de nitrato, da nitrogenase


(essencial para fixação biológica do N2, por bactérias
diazotóficas) e algumas oxidases.
Micro Principais funções

Ni Constituinte das enzimas urease (quebra da molécula de


ureia) e hidrogenase (essencial para fixação biológica do N2,
por bactérias diazotóficas).

Zn Constituinte ou cofator de enzimas, como: anidrase carbônica,


dismutase de superóxido, aldolase, álcool desidrogenase,
desidrogenase glutâmica, sintetase do triptofano (precursor
das auxinas).
Fonte: Adaptado de Taiz e Zeiger (2004), Epstein e Bloom (2006) e
Malavolta (2006).

Tabela 3 - Principais funções dos elementos benéficos (EB) para as plantas1/


EB Principais funções

Co Faz parte da vitamina B12, que é essencial para fixação do N2


por bactérias diazotóficas, simbióticas ou de vida livre.

Na Substitui algumas funções do K, especialmente a


osmorregulação; aumenta a expansão celular e está envolvido
na regeneração do fosfoenolpiruvato em plantas C4 e CAM.

Se Aumenta a resistência contra ataque de insetos; pode


substituir algumas funções do S; constituinte da hidrogenase;
evita a toxicidade por P.

Si Depositado como sílica amorfa na parede celular, aumentando


sua rigidez e elasticidade (sustentação da planta), reduz a
transpiração e aumenta a tolerância a estresses bióticos e
abióticos.
Fonte: Adaptado de Taiz e Zeiger (2004), Epstein e Bloom (2006) e
Malavolta (2006).

De modo geral, para solos com baixa acidez, o nutriente que mais limita a
produtividade do cacaueiro é o P (MORAIS; SANTANA; CHEPOTE, 1978;
CABALA-ROSAND; SANTANA; MIRANDA, 1982), apesar de este ser o quinto
nutriente mais exportado pela cultura (MALAVOLTA, 1987). Porém, sua
deficiência é de difícil percepção via sintomas visuais (ALVIM, 1964).
Semelhante a outras culturas, o N é o nutriente mais efetivamente exportado
pelo cacaueiro (MALAVOLTA, 1987; SILVA, 2009). Isso, por si só, mostra a
importância deste nutriente para a nutrição da planta. Normalmente, o N é o
nutriente que mais provoca aumentos na produtividade do cacaueiro, depois
de correção da deficiência de P (CABALA-ROSAND; SANTANA; MIRANDA,
1982). Em campo, sua deficiência ocorre principalmente em cacauais não
sombreados ou com muitas plantas invasoras (ALVIM, 1964).
O K é o nutriente mais exportado pelo fruto (casca + semente) do cacaueiro,
porém sua exportação efetiva (apenas via semente) é duas vezes menor que a
do N (SILVA, 2009). Mesmo assim, o K é o segundo nutriente mais
efetivamente exportado pelo cacaueiro (MALAVOLTA, 1987; SILVA, 2009),
pois grande parte do K concentra-se na casca do fruto, retornando à lavoura,
porém, geralmente, de forma concentrada, via casqueiros.
Os macronutrientes Ca, Mg e S apresentam deficiência com menor
frequência do que N, P e K em lavouras de cacau no Brasil. Deficiências de Ca
e/ou de Mg podem ser observadas em solos bastante intemperizados e
excessivamente ácidos, com baixos teores destes nutrientes disponíveis. O
cacaueiro pode ser classificado como uma cultura exigente em Mg (MORAIS
et al., 1975), por isso mesmo, para a correção da acidez do solo, recomenda-
se calagem visando alcançar a relação molar Ca:Mg em torno de 3:1
(CHEPOTE et al., 2013).
A deficiência de S em cacaueiros é muito rara de ser observada em
condições de campo, pois há boa disponibilidade deste nutriente em solos
cultivados com cacau no Sul da Bahia, possivelmente devido ao teor de
matéria orgânica do solo e ao seu aporte como elemento acompanhante ou
como impureza de alguns fertilizantes (ALVIM, 1964; SOUZA JÚNIOR et al.,
2012). Porém, Malavolta (2006) aponta que, dentre os macronutrientes, a
deficiência de S em cacaueiros no Brasil é uma das quatro mais comuns.
Dentre os micronutrientes, o Zn é o que apresenta maior frequência de
deficiência em solos da região Sul da Bahia (CHEPOTTE et al., 2005, 2013) e
também é um problema antigo em alguns países africanos (CUNNINGHAM,
1964; SPECTOR, 1964).
Deficiências de B em cacaueiros também são frequentes, tanto no Brasil
(MALAVOLTA, 2006) quanto em outros países produtores de cacau
(MESTANZA; LAINEZ, 1970; CHUDE; OBIGBESAN, 1983), ocorrendo
principalmente em solos mais arenosos e excessivamente ácidos.
O Mn é o micronutriente que mais se acumula em folhas de cacaueiro
(SOUZA JÚNIOR, 1997; DANTAS, 2011; CRUZ NETO, 2012; PINTO, 2013;
CHAVES, 2014; SILVA, 2015). Há muito tempo, deficiências de Mn em cacau
têm sido constatadas (CUNNINGHAM, 1964; SPECTOR, 1964) e ainda são
comuns (MALAVOLTA, 2006). Pesquisas têm também demonstrado a
importância deste micronutriente no controle da vassoura de bruxa
(NAKAYAMA et al., 1999; AGUILAR; REZENDE, 2001) e que o cacaueiro é
uma espécie de ampla adaptabilidade a concentrações no solo e na folha de
Mn (CRUZ NETO, 2012; CHAVES, 2014). Inclusive há relatos de teores
foliares acima de 1.000 mg kg-1 em plantas sem sinais de toxidez deste
nutriente (SOUZA JÚNIOR et al., 2012).
O Cu é um micronutriente comumente associado a problemas de excesso
em solos cultivados com cacaueiro, devido principalmente ao elevado uso de
fungicidas cúpricos, para o controle das doenças podridão-parda e vassoura
de bruxa (LIMA, 1994; VELOSO; SANTANA, 2000). Porém, no Sul da Bahia,
relatos de problemas de deficiências ocorrem, principalmente, na região
menos úmida (com menor incidência de doenças e, consequentemente, menor
uso de fungicidas); inclusive, constatou-se que o Cu era o nutriente mais
limitante da produtividade do cacaueiro em 36 áreas de uma fazenda nesta
região (SOUZA JÚNIOR et al., 1999).
Deficiências de Fe em cacaueiros têm sido relatadas em solos alcalinos ou
que receberam excesso de calagem (CUNNINGHAM, 1964; SPECTOR,
1964), mas os solos brasileiros cultivados com cacaueiros têm bons teores de
Fe disponíveis e problemas de sua deficiência são raros. Por outro lado,
toxidez por Fe foi constatada em mudas de cacaueiro produzidas em alguns
substratos comerciais (MARROCOS; SODRÉ, 2004).
Nas regiões litorâneas, o aporte natural de Cl via chuva, por si só, é
suficiente para atender à demanda nutricional deste nutriente pelo cacaueiro;
somando-se a isso, há aporte de Cl via fertilização com o cloreto de potássio
(KCl), principal fertilizante de K, além do Cl natural dos solos. O Mo e o Ni são
os dois micronutrientes menos demandados pelas plantas, sendo a
essencialidade do Ni comprovada mais recentemente (EPSTEIN; BLOOM,
2006). Devido à baixa demanda pelas plantas, as pesquisas com estes dois
nutrientes para o cacaueiro são praticamente inexistentes.
O Na é elemento considerado benéfico, pois substitui parte das funções do
K (EPSTEIN; BLOOM, 2006; MALAVOLTA, 2006), fato também constatado
para mudas clonais de cacaueiro, em que a substituição de K por Na, em
unidade de molc, em até 40%, resultou em aumento da fotossíntese líquida e
da eficiência de uso de água (GATTWARD et al., 2012). Também foi realizado
um estudo em campo de adubação com Na para o cacaueiro, com resultado
estimulante para o enraizamento para a dose semestral de 38 g NaCl por
cacaueiro (ERWIYONO et al., 2002) e para a produção de frutos até a dose de
75 g NaCl por cacaueiro por semestre (BAON et al., 2003).
Pesquisas sobre essa temática devem priorizar a avaliação do efeito do Na
na nutrição do cacaueiro, na possibilidade de substituição de parte da
adubação de K por Na, na interpretação de análises foliar e de solo
associando K e Na, bem como seus efeitos sobre o solo e sobre a qualidade
da amêndoa do cacau (SOUZA JÚNIOR et al., 2012). Com relação aos
possíveis efeitos adversos do Na sobre atributos físicos de solos cultivados
com cacaueiros, destacam-se os estudos de Erwiyono et al. (2002) e Leone
(2014), que apontam que a substituição de KCl por NaCl em até 50% (em
unidade de massa) e até 40% (em unidade de molc), respectivamente, não
alterou a floculação de argilas, nem a agregação e a porosidade do solo.
O Si, semelhante aos macronutrientes, é um elemento que se encontra em
alta concentração nas folhas das plantas (TAIZ; ZEIGER, 2004; EPSTEIN;
BLOOM, 2006), porém sua essencialidade ainda não foi aceita pela maioria
dos pesquisadores; mas, mesmo assim, alguns o consideram macronutriente
(TAIZ; ZEIGER, 2004); e outros, micronutriente (BRASIL, 2015). O Si, quando
aplicado via foliar na concentração de 1,5 g L-1 de SiO2, amenizou os efeitos
negativos do déficit hídrico em mudas de cacaueiro (ZANETTI, 2013).
2 Diagnose nutricional para o cacaueiro
2.1 Sintomas visuais de deficiências nutricionais no cacaueiro

Os sintomas visuais de deficiência ou de excesso de nutrientes podem ser


considerados como o fim de um processo que se inicia com modificações
moleculares, avança para alterações celulares e, finalmente, para alteração
dos tecidos, resultando no sintoma visual de deficiência ou de toxidez
(MALAVOLTA, 2006), ou seja, quando são visíveis os sintomas de desordens
nutricionais, as deficiências ou os excessos já são agudos.
A diagnose visual apresenta como vantagens ser um método rápido (que
permite intervenção imediata), fácil, barato e relativamente eficiente, quando
realizado por técnico experiente com a cultura. Como desvantagens, têm-se: o
método é qualitativo e só propicia a detecção da deficiência em estágio
avançado, ou seja, o crescimento e a produtividade da lavoura já foram
comprometidos; pode haver semelhança de sintomas para diferentes
elementos; em campo, muitas vezes ocorrem deficiências nutricionais
múltiplas, dificultando ou impossibilitando a diagnose; dificuldade de separar
sintomas bióticos (ataque de pragas ou doenças) e abióticos (alagamento,
seca, extremos de temperatura ou luminosidade, ventos fortes, etc.) dos
distúrbios nutricionais.
Para a distinção de situações citadas anteriormente, é importante observar
algumas características típicas de desordens nutricionais (MALAVOLTA, 2006;
PRADO, 2008):

Dispersão: o problema nutricional possui ocorrência homogênea no


campo, pois, em casos de problemas fitossanitários (pragas e doenças),
os sintomas ocorrem em plantas isoladas ou em reboleiras;
Simetria: a desordem nutricional ocorre em ambos os lados das folhas e/
ou em pares de folhas;
Gradiente: ao longo de um ramo ou planta, os sintomas se apresentam
na forma de gradiente, podendo este ser das folhas mais velhas para as
mais novas ou vice-versa, a depender do elemento.

Na Tabela 4 é apresentada uma chave para identificação de deficiências


nutricionais em cacaueiro, cujos sintomas foram descritos por Machado e
Alvim (1954), Loué (1962), Alvim (1964) e Marrocos et al. (2010). O Cl e o Ni
foram omitidos por se tratarem de nutrientes sem deficiência registrada para
cacaueiros e por não haver na literatura nenhuma descrição dos sintomas de
sua deficiência. Respectivamente, nas Figuras 1 e 2 são apresentadas
imagens de folhas com deficiência de macro e micronutrientes.
Tabela 4 - Chave de identificação dos principais sintomas de deficiências
nutricionais em cacaueiros de acordo com o sintoma dominante e o tipo de
folha onde o sintoma se manifesta inicialmente
Descrição do sintoma Nutriente
deficiente
Clorose como Folha Coloração verde-claro ou clorose N
sintoma velha generalizada em folhas velhas,
dominante podendo evoluir para necrose a partir
da extremidade do limbo; folhas
menores, N mais espessas e duras.
Clorose internerval nas folhas velhas, Mg
podendo ser acompanhada de
necrose formando ilhas de tecido
morto, principalmente nas margens.
Folha Clorose generalizada em folhas S
nova novas, que ficam pequenas e
estreitas; nervura apresentando
palidez em relação ao limbo.
Clorose internerval nas folhas novas, Fe
podendo evoluir para completo
branqueamento da folha.
Clorose internerval nas folhas novas, Mn
sendo mais visíveis nas partes
marginais.
Necrose e Folha Folhas de cor verde-escuro, podendo P
deformação velha apresentar estreitamento do limbo
como sintomas foliar e pontos necróticos circulares
dominantes distribuídos no mesmo; caules finos
com pequeno número de folhas,
devido à queda precoce das folhas
mais velhas (desfolhamento).
Necrose nos ápices e margens K
foliares das folhas velhas, precedida
de clorose efêmera; caules finos com
pequeno número de folhas.
Descrição do sintoma Nutriente
deficiente
Folha Necrose nas folhas mais novas Ca
nova formando grandes ilhas entre as
nervuras, dispostas ao longo da
nervura central; queda prematura das
folhas.
Folhas novas pequenas, alongadas e B
apresentando curvatura convexa pelo
aparente encurtamento da nervura
central, podendo assumir a forma de
uma espiral e apresentar manchas
amarelas; limbo endurecido e
quebradiço.
Folhas novas pequenas, aparentando Cu
compressão longitudinal do limbo;
nervuras secundárias em menor
número e convergindo para o ápice
foliar; necrose frequente no ápice
foliar.
Folhas novas delgadas e Mo
translúcidas, com ligeira clorose com
diferentes matizes, mais evidente nas
regiões internervais; podendo haver
necrose marginal.
Folhas novas muito estreitas e Zn
alongadas, com nervuras salientes;
margem frequentemente ondulada e
limbo em forma de foice; clorose em
pequenas manchas entre as nervuras
secundárias, podendo, em casos
graves, ocupar todo o limbo; as
folhas mais velhas podem apresentar
pontuações cloróticas enfileiradas ao
longo da nervura principal.
Fonte: Adaptado de Evans e Murray (1953), Machado e Alvim (1954), Loué
(1962), Alvim (1964) e Marrocos et al. (2010).
Figura 1 - Sintomas visuais de deficiência de N (A), S (B), P (C), K (D), Ca
(E) e Mg (F) em cacaueiros

Fonte: Fotos: MARROCOS, P.C.L.


Figura 2. Sintomas visuais de deficiência de Zn (A e B) e Mn (C) em
cacaueiros

Fonte: Fotos: A e B: SOUZA JÚNIOR, J. O.; C: SODRÉ, G. A.

Excesso de nutrientes, ou de outros elementos, também pode provocar


distúrbios visuais, sendo os principais apresentados na Tabela 5, os quais
podem ser confundidos com alguns sintomas de carência.
Tabela 5 - Chave de identificação dos principais sintomas de toxidez de
micronutrientes e alumínio em cacaueiros, de acordo com a folha na qual os
sintomas predominam1/
Predomínio do Descrição do sintoma Elemento em
sintoma toxidez
Toda planta Folhas mais velhas com necrose B
pronunciada, principalmente nas
margens; folhas novas em formato de
concha, voltadas para baixo, com
clorose internerval e posterior necrose
nas pontas e margens.
Folhas velhas Apenas em folhas mais velhas, Al
manchas pálidas ou amarelas na
região internerval nos ápices foliares,
com queimadura das pontas das
folhas progredindo muito lentamente.
Inicialmente, clorose internerval na Cl
região marginal, que evolui
rapidamente para uma queimadura
contínua, avançando mais
rapidamente nas áreas internervais e
progredindo lentamente em direção à
nervura central; os tecidos que
antecedem a área queimada mostram
tons de verde-escuro e cinza.
Clorose nas folhas mais velhas, Fe
principalmente em cada lado da
nervura central, que evolui
rapidamente para necrose.
Folhas novas Folhas novas de cor verde oliva Cu
escuro, com nervuras salientes,
franzindo o limbo ao longo da nervura
central. Folhas novas maduras com
áreas verde pálidas, distribuídas
aleatoriamente sobre a superfície
foliar.
Predomínio do Descrição do sintoma Elemento em
sintoma toxidez
Folhas novas maduras com manchas Mn
irregulares de coloração amarela ou
verde-pálido, com o fundo verde mais
escuro, podendo ter necrose nas
nervuras.
Folhas novas com áreas verde oliva Zn
ou verde-pálido, espalhadas sobre a
superfície foliar.
Fonte: Adaptado de Evans e Murray (1953).

2.2 Diagnose nutricional do cacaueiro com base em análise de


tecido

A avaliação do estado nutricional das culturas, com a finalidade de identificar


deficiências, toxicidades e desequilíbrios entre nutrientes, é prática cada vez
mais utilizada, visto que a composição nutricional da planta reflete, de maneira
integrada, condições edafoclimáticas. Essa técnica é útil nos estudos sobre
“Fertilidade de Solos e Nutrição de Plantas” porque a própria planta funciona
como extrator do nutriente do solo.
A análise de tecido vegetal é uma das práticas mais utilizadas na diagnose
do estado nutricional da planta. A folha, ou parte dela, por ser geralmente o
órgão-sede do metabolismo e representativo do estado nutricional da planta, é
o tecido mais empregado em análise vegetal para avaliação do “status”
nutricional da planta (MARTINEZ; CARVALHO; SOUZA, 1999; BATAGLIA;
SANTOS, 2001; MALAVOLTA, 2006; PRADO, 2008).
Para o cacaueiro, a interpretação de análises de solo tem sido a principal
ferramenta para recomendação de corretivos e fertilizantes. Contudo, a
diagnose foliar também tem potencial para ser utilizada não só na diagnose,
mas também visando a correção de deficiências nutricionais e o suprimento de
nutrientes para a obtenção de produtividades maiores e economicamente mais
vantajosas, como proposto por Ling (apud PUSHPARAJAH, 1994), para a
Malásia, e por Malavolta (1997), para o Brasil.
Em se tratando de agricultura nos trópicos úmidos, a cultura do cacaueiro é
pioneira em pesquisa sobre o uso da análise foliar como método para
diagnóstico de deficiências nutricionais e guia para recomendação de
fertilizantes, cujos primeiros experimentos foram realizados na década de 1930
por Mc Donald (apud EERNSTMAN, 1968).
O teor de um nutriente na folha pode ser influenciado por uma série de
fatores, como: disponibilidade no solo do referido nutriente, ou de outros;
características do solo; forma do nutriente analisado; manejo; genótipo; clima;
tipo e idade do tecido vegetal; e época e forma de amostragem (BATES, 1971;
JONES JR.; WOLF; MILLS, 1991).
Souza Júnior et al. (2012) fizeram uma ampla revisão sobre os fatores que
afetam a composição da folha do cacaueiro, dentre os quais, além da
disponibilidade de nutrientes no solo e da adubação, destacam-se: clima;
variedade ou clone; idade da planta e estágio fisiológico da folha; posição da
folha; floração, frutificação e lançamentos recentes de folhas; grau de
sombreamento e intensidade luminosa; época do ano e variações sazonais.
Talvez por não considerar alguns desses fatores é que a análise foliar para o
cacaueiro não tenha obtido o mesmo êxito alcançado para outros cultivos
tropicais (MORAIS; SANTANA; SANTANA, 1981; CABALA-ROSAND;
SANTANA; SANTANA, 1989).
Porém, Dantas (2011) – avaliando a relação entre fertilidade do solo e
nutrição de cacaueiros em 20 fazendas no Sul da Bahia, com quatro áreas em
cada fazenda, e adotando critérios bem definidos de amostragem de folhas
para um único clone, bem como de preparação, processamento e análises das
amostras obteve, de modo geral, boas correlações entre a disponibilidade de
nutrientes no solo e seus teores em folhas de cacaueiros. Ressalta-se que,
nesse trabalho, o autor avaliou a disponibilidade de nutrientes no solo em
quatro camadas e, para os nutrientes não trocáveis, por três extratores; sendo
que, de modo geral, as melhores correlações foram observadas para a
camada de 0–10 cm e para o extrator Mehlich-1 para P e para os
micronutrientes catiônicos.
Ainda de acordo com Dantas (2011), para os nutrientes avaliados, a
correlação entre a disponibilidade no solo e o teor foliar variou em função da
sub-região climática do Sul da Bahia, exceto para o K e para Fe extraído por
Mehlich-1. Isso sugere que a interpretação dos teores foliares e/ou da
disponibilidade de P, Ca, Mg, Mn e Zn no solo deve ser distinta para cada sub-
região.

2.2.1 Amostragem foliar para o cacaueiro

A amostragem foliar é a etapa da diagnose nutricional em que ocorrem


falhas com maior frequência. Isso porque, se a amostra não for representativa
da população analisada, todo o restante do programa estará comprometido. A
maior precisão de amostragem é obtida por meio de amostras compostas, de
plantas distribuídas em talhões homogêneos (BATAGLIA; SANTOS, 2001).
As amostras devem representar áreas relativamente homogêneas com
relação ao solo, à topografia, à drenagem, às práticas de manejo (ex.:
irrigação e adubação), à produtividade e, preferencialmente, não se deve
misturar folhas de clones diferentes. As folhas cobertas com muita poeira, as
atacadas por pragas ou doenças ou danificadas mecanicamente não devem
ser amostradas para avaliação do estado nutricional. A amostragem deve ser
feita antes da aplicação de defensivos ou adubos foliares, ou, pelo menos, 30
dias após.
Não se devem amostrar folhas de plantas próximas a locais não
representativos da área, como, por exemplo, estradas ou caminhos,
casqueiros, cupinzeiros ou formigueiros, locais de descarga de insumos,
riachos ou corpos d´água e manchas de solo.
A amostragem foliar para diagnóstico nutricional do cacaueiro pode ser
resumida assim (CHEPOTE et al., 2005, 2013; SOUZA JÚNIOR et al., 2012):
1) Período de amostragem: verão; 2) Folha a ser amostrada: terceira folha
recém-amadurecida, parcialmente sombreada (na meia altura da copa da
planta), de ramo sem lançamento recente; 3) Número de plantas e de folhas a
amostrar: para cada talão homogêneo, percorrer a área aleatoriamente e
coletar quatro folhas por planta (uma em cada quadrante) em 10 cacaueiros.

2.2.2 Preparo das amostras de folhas para envio ao laboratório

Além dos erros de amostragem, existem os que surgem durante a


preparação e armazenamento das amostras (ACQUAYE, 1967). Para evitar
tais erros, é necessário seguir algumas etapas, adaptadas de Acquaye (1967),
Fageria, Baligar e Jones (1991), Malavolta (1992) e Bataglia e Santos (2001):
1) Acondicionar as amostras em sacos identificados de papel de boa qualidade
e encaminhá-las imediatamente ao laboratório, pois as folhas continuam o
processo respiratório mesmo depois de serem colhidas; 2) As amostras devem
chegar ao laboratório em até dois dias após serem colhidas, caso contrário,
faz-se necessário que o produtor proceda à limpeza e pré-secagem das
amostras; 3) Se necessário armazenar as amostras, isso deve ser feito com o
saco aberto, sob refrigeração a 5 ºC (parte inferior da geladeira), por até três
dias; 4) Limpar as folhas esfregando levemente um chumaço de algodão limpo
embebido em água destilada, seguir o mesmo procedimento com solução de
detergente neutro (1 mL L-1) e repetir a operação com água destilada; 5) No
laboratório, as amostras serão registradas, descontaminadas, secas em estufa
ventilada (65–70 ºC) até atingir peso constante. Posteriormente, serão moídas
e armazenadas em frasco para evitar a reabsorção de umidade e, por fim,
serão submetidas às análises químicas.
A pré-secagem, se necessária, pode ser feita pelo produtor colocando as
folhas ao sol. O uso de forno micro-ondas para pré-secar as amostras pode
ser feito (SOUZA JÚNIOR, 1997), porém com muita prudência, para evitar que
as amostras sejam queimadas.

2.3 Interpretação de análises foliares para o cacaueiro

A interpretação dos resultados de análises foliares pode ser feita por


diferentes métodos, alguns mais simples, outros mais complexos; alguns
baseados em balanço nutricional (avalia a quantidade dos nutrientes
individualmente), outros em equilíbrio nutricional (avalia a proporção entre
nutrientes). A seguir, os principais métodos para interpretação de análises
foliares de nutrientes são apresentados.

2.3.1 Nível crítico

O “nível crítico” (NC) ou “nível crítico de deficiência” ou “concentração


adequada” pode ser definido como o teor do nutriente, no solo ou na planta,
quando os demais fatores de produção se encontram próximos do ótimo, que
separa lavouras de alta das de baixa probabilidade de resposta à adição
daquele nutriente (CANTARUTTI et al., 2007). O NC pode ter outras
definições, como: o teor abaixo do qual a taxa de crescimento, a produção ou
a qualidade são significativamente diminuídas (BATAGLIA; SANTOS, 2001);
que está associado à máxima atividade de um determinado processo
fisiológico relacionado à produção da cultura, como, por exemplo, a
fotossíntese (MALAVOLTA; VITTI; OLIVEIRA, 1997); ou aquele que confere a
máxima produtividade econômica (KURIHARA; MAEDA; ALVAREZ V., 2005).
Para situações em que não é possível determinar ou valorar a produção
comercial, o NC vem sendo determinado como o teor do nutriente necessário
para se obter entre 80% a 99% da produção máxima ou de uma característica
de crescimento da planta (biomassa, altura, diâmetro, etc.). Como exemplo,
para produção de mudas de cacaueiro, Chude e Obigbesan (1985)
determinaram NC foliar de B de 32 mg kg-1 para a obtenção de 95% da
produção relativa de matéria seca; Souza Júnior e Carmello (2008), estudando
formas e doses de adubação nitrogenada, encontraram NC foliar de 23,1 g kg-
1 de N para a obtenção de 99% da produção máxima da matéria seca da parte

aérea para o clone PH 16. Para este mesmo clone, Souza Júnior, Carmello e
Sodré (2011), avaliando substratos e adubações fosfatadas, determinaram NC
foliar de P de 1,75 g kg-1. De todo modo, para várias culturas, mais
comumente em fase produtiva, o NC tem sido associado a valores de 90% a
95% da produção máxima.
Existe também o “nível crítico de toxidez”, limite superior da região IV da
Figura 3, que pode ser definido como o teor de nutriente na planta a partir do
qual ocorre decréscimo no crescimento ou produção.

Figura 3 - Curva típica da relação entre o crescimento ou a produção e os


teores de nutrientes em tecidos vegetais

Fonte: MARTINEZ; CARVALHO; SOUZA, 1999.

2.3.2 Desvio Percentual do Ótimo e Índice Balanceado de Kenworthy

Pode-se dizer que estes métodos são aprimoramentos da interpretação por


meio do NC, permitindo avaliar o estado nutricional da planta, como
porcentagem do teor dos nutrientes na amostra de interesse em relação ao
padrão, sendo que este padrão pode ser o NC para uma população de
referência (de alta produtividade). O interessante nestes métodos é que eles
permitem, além da diagnose de determinado nutriente, uma interpretação do
balanço nutricional da cultura pela posição percentual relativa do elemento no
conjunto dos demais analisados na amostra.
O Desvio Percentual do Ótimo (DOP), proposto por Montañés et al. (1993),
consiste em calcular esse percentual através da seguinte equação:
DOP = (C / Cref x 100) – 100
Em que:

C = concentração (teor) do nutriente na amostra em teste;


Cref = concentração do nutriente preconizada como padrão.

Quando o índice DOP apresenta um valor negativo, indica deficiência;


quando é positivo, indica excesso; e valor zero indica teor ótimo. Quanto mais
negativo ou mais positivo o valor do índice, maior é a deficiência ou o excesso
do nutriente, respectivamente. A soma dos valores absolutos dos índices DOP
de todos os nutrientes da amostra representa um índice do balanço nutricional
(IBN) da lavoura; sendo que quanto maior o valor desta soma, maior o
desbalanço nutricional.
Na Tabela 6, apresenta-se um exemplo do uso do DOP para o cacaueiro.
Observa-se que, nas áreas mais produtivas (Q55 e Q62), os valores do DOP
são menores do que os das áreas menos produtivas (Q24 e Q112), sendo o
IBN das duas primeiras de 53 e 72 e das duas últimas de 175 e 191, indicando
mais desbalanço nutricional nas áreas de menor produtividade.
Tabela 6 - Exemplo de uso do Desvio Percentual do Ótimo (DOP) e do Índice
Balanceado Kenworthy (IBK) em quatro áreas de cacaueiros
Nut. População Áreas mais produtivas2/ Áreas menos produtivas2/
de
Q55 Q62 Q24 Q112
referência1/
Teor3/ CV3/ Teor DOP IBK Teor DOP IBK Teor DOP IBK Teor DOP IBK
N 19,6 6,4 21,2 8,4 108 18,2 -7,0 93 18,7 -4,3 96 21,4 9,3 109
P 1,7 6,9 1,8 3,7 103 1,59 -8,6 92 1,8 0,8 101 2,2 25,4 124
K 20,1 7,0 20,9 3,8 104 20,6 2,2 102 19,2 -4,6 96 19,9 -1,2 99
Ca 14,2 5,2 15,3 7,9 107 14,5 2,5 102 13,6 -4,1 96 11,7 -17,6 83
Mg 6,6 7,1 6,5 -0,3 100 6,1 -6,2 94 8,2 25,2 123 6,3 -3,6 97
S 1,3 23,1 1,4 2,2 102 0,9 -30,4 77 2,2 63,2 149 1,3 -3,7 97
Cu 7,5 13,5 6,6 -11,5 90 7,8 3,6 103 8,2 8,6 107 4,4 -41,7 64
Fe 34,0 11,1 36,7 7,7 107 31,4 -7,8 93 37,7 10,9 110 42,6 25,1 122
Mn 622 16,4 631 1,5 101 604 -2,8 98 453 -27,2 77 390 -37,3 69
Zn 58 20,6 54,0 -6,1 95 56,8 -1,1 99 42,7 -25,8 80 42,7 -25,7 80
1/ Valores médios de sete áreas em uma fazenda no município de Itagibá,
Bahia, com produtividade média, em três de sete anos, superior a 2.250 kg por
1.000 plantas, calculados a partir dos dados de Souza Júnior (1997).
2/ Das 36 áreas de cacaueiro do estudo de Souza Júnior (1997), apresentam-
se os valores das duas mais e das duas menos produtivas, com produtividade
média das máximas superior a 2.670 kg por 1.000 plantas (Q55 e Q62) e
inferior a 1.460 kg por 1.000 plantas (Q24 e Q112), respectivamente.
3/ Macro e micronutrientes em g kg-1 e mg kg-1, respectivamente; CV
(coeficiente de variação, em %).
Fonte: Elaboração dos autores.

O método de Índices Balanceados Kenworthy (IBK), proposto por Kenworthy


(1961), avalia o balanço de nutrientes, estabelecendo faixas para classificar os
teores de nutrientes na planta, incorporando a variabilidade do teor da
população de referência, expressa pelo coeficiente de variação. Após
transformações matemáticas, visando simplificação, o IBK pode ser calculado
pela seguinte equação:
IBK = [C (100 – CV)] / Cref + CV
Em que:

C = concentração (teor) do nutriente na amostra em teste;


Cref = concentração do nutriente preconizada como padrão;
CV = coeficiente de variação do nutriente na população de referência.

Os valores dos IBK podem ser classificados em faixas da seguinte maneira:


deficiente (< 50%); abaixo do normal, marginal ou tendência a deficiente (50%
a 83%); normal, adequada ou suficiente (83% a 117%); acima do normal,
elevada ou tendência a excesso (117% a 150%) e excessivo (> 150%)
(KENWORTHY, 1961; MARTINEZ; CARVALHO; SOUZA, 1999; MALAVOLTA,
2006; PRADO, 2008).
Na Tabela 6, apresenta-se também exemplo de uso do IBK para o
cacaueiro, sendo que, nas áreas mais produtivas (Q55 e Q62), os IBK são
próximos de 100, indicando suficiência nutricional; enquanto, para as áreas
menos produtivas (Q24 e Q112), haveria tendência de deficiência de Mn e Zn
em Q24 e de Cu, Mn e Zn em Q112, além de tendência de excesso de Mg e S
para Q24 e de P e Fe para Q112. Esta interpretação é consoante parcialmente
com as conclusões de Souza Júnior (1997), cujo trabalho é fonte primária
desses dados, que, ao avaliar as produtividades de sete anos de 36 áreas de
cacaueiros adultos, concluiu que o Cu e, possivelmente, o Zn eram
micronutrientes deficientes e que o Mg era um macronutriente em excesso;
porém não evidenciou deficiência de Mn nem excesso de P, S e Fe. Ressalta-
se que o exemplo apresentado na Tabela 6 refere-se a informações de uma
única propriedade, sendo aqui apresentado com finalidade ilustrativa, não
devendo ter seu uso generalizado.

2.3.3 Faixas de Concentração

São muitos os fatores que afetam o nível crítico (NC) de nutrientes nas
plantas (BATES, 1971; JONES JR.; WOLF; MILLS, 1991; FONTES, 2001);
além disso, para a maioria das culturas, geralmente não existe um
determinado ponto de ótima produção, mas sim uma determinada faixa,
porque o aumento de produção obtido com doses crescentes de nutrientes é
sempre associado a um erro (BATAGLIA; SANTOS, 2001). Essa faixa é
denominada de faixa de suficiência adequada (FSA), também denominada de
ótima ou crítica de nutrientes, que é representada pela região III da Figura 3.
Ainda de acordo com a Figura 3, antes dessa faixa, tem-se a faixa de
deficiência (regiões I e II); imediatamente depois da FSA, tem-se uma região
denominada de faixa alta ou de consumo de luxo (região IV) e posteriormente
uma região de toxidez (região V).
A FSA é uma extensão do NC e procura-se com a mesma estender um
único ponto ótimo a uma faixa ótima, onde há razoável segurança de que,
abaixo da FSA, a cultura está tão deficiente no nutriente que a produção será
negativamente influenciada (FONTES, 2001). Por isso muitos pesquisadores
adotam o NC como o limite inferior da FSA.
As FSA podem ser estabelecidas em função de porcentagens das
produções máximas estimadas, oriundas de equações de regressão de
experimentos de calibração de adubação. Geralmente, as FSA são definidas
para se alcançar de 90% a 100% da produção máxima. Porém, o mais comum
é a definição de FSA com base em teores foliares de nutrientes em lavouras
de alta produtividade. Na Tabela 7, apresentam-se faixas de teores nutricionais
encontrados em algumas áreas de cacaueiros de alta produtividade. Contudo,
deve-se ressaltar que a baixa disponibilidade de dados de áreas, ou mesmo
de plantas, de cacaueiros de alta produtividade, dificulta o estabelecimento de
padrões nutricionais com maior acurácia, sejam estes padrões por FSA ou por
qualquer outro critério para interpretação de análises foliares para a cultura.
Tabela 7 - Teores de nutrientes encontrados na literatura associados a áreas
de cacaueiros com altas produtividades
Nutriente Malavolta, Souza Júnior Marrocos et Marrocos et
Malavolta e (1997)2/ al. (2010)3/ al. (2010)4/
Cabral (1984)1/

–––––––––––––––––––––––––g kg-1–––––––––––––––––––––––––

N 19 - 21 18 - 21 23,2 - 25,6 29,2 - 31,2


P 1,6 - 1,8 1,6 - 1,9 1,3 - 1,7 2,0 - 2,2
K 21 - 23 19 - 23 9,9 - 19,1 22,2 - 23,8
Ca 6,9 - 7,6 13 - 15 13,1 - 16,7 12,4 - 15,6
Mg 2,7 - 3,1 6,0 - 7,3 6,6 - 8,6 4,8 - 5,6
S 1,7 - 2,0 0,9 - 1,8 - -

–––––––––––––––––––––––––mg kg-1–––––––––––––––––––––––––
B 23 - 26 - - -
Cu 13 - 15 7-9 4,0 - 8,0 16,5 - 20,7
Fe 83 - 91 29 - 40 19,6 - 48,9 52,0 - 101,4
Mn 123 - 149 426 - 764 84,8 - 170 695 - 782
Mo 0,15 - 0,16 - - -
Zn 93 - 98 44 - 80 24,7 - 45,8 85,5 - 127,1
1/ Amplitude de quatro amostras de uma lavoura em Ilhéus, Bahia, com
produtividade média de 2.580 kg ha-1. 2/ Amplitude de teores em sete áreas,
em uma fazenda no município de Itagibá, Bahia, com produtividade média, em
três de sete anos, superior a 2.250 kg por 1.000 plantas.
3/ Amplitude de teores em 10 áreas em fazendas de três agrossistemas da
região cacaueira da Bahia, com produtividade média de 1.953 kg por 1.000
plantas.
4/ Amplitude de teores em quatro áreas em zona semiárida, em Nova
Redenção, Bahia, com cacaueiros fertirrigados e produtividade média de 3.041
kg por 1.000 plantas.
Fonte: Elaboração dos autores.

Existem nas literaturas internacional (Tabelas 8 e 9) e nacional (Tabela 10)


indicações de diversos autores de FSA de teores foliares de nutrientes para o
cacaueiro. Observam-se nessas tabelas, para muitos nutrientes, que há
grande divergência entre os autores devido aos muitos fatores que influenciam
o teor de nutrientes nas folhas, como anteriormente exposto, somando-se às
variações de metodologia de definição das faixas de suficiências, as quais,
geralmente, não são descritas pelos autores; além do processo natural de
aprimoramento ou atualização de tais faixas ao longo do tempo. No Brasil, o
professor Eurípedes Malavolta foi o pesquisador que mais buscou sugerir FSA
ou valores de referência para o cacaueiro (Tabela 10). O Instituto Agronômico,
do Estado São Paulo, também apresenta FSA para a cultura (RAIJ;
CANTARELLA; QUAGGIO, 1997).

Tabela 8 - Teores de macronutrientes


considerados adequados em folhas de
cacaueiros, apresentados ou sugeridos por
diferentes autores em diferentes países
1/ 2/ 3/ 4/ 5/ 6/
–––––––––––––––g kg-1–––––––––––––––
N 23,5-25 > 20 23-30 19-22 20-25 20-25
P > 1,8 > 2,0 1,6-3,0 1,5-1,8 1,3-2,5 > 1,8
K > 12 > 20 16-26 17-20 13-22 13-22
Ca - > 4,0 8-20 9-12 3-6 > 4,0
Mg - > 4,5 4-10 4-7 2-5 > 4,5
S - > 2,7 0,3-1,0 1,7-2,0 - -
1/ Loué et al. (apud DICZBALIS et al., 2010; NELSON et al., 2011), para a
Costa do Marfim. 2/ Murray (apud MALAVOLTA; MALAVOLTA; CABRAL,
1984), para Trindade.
3/ Fahmy (apud THIAGALINGAM, 2000), para a Nova Guiné; posteriormente
adotado por Nelson et al. (2011), com aumento do limite superior do valor de
Ca para 26 g kg-1.
4/ Bergmann (apud DICZBALIS et al., 2010).
5/ Mills e Jones Jr. (apud GUERRERO-LÁZARO, 2012), para o Peru. 6/
Salgado-García et al. (2006), para o México.
Fonte: Elaboração dos autores.
Tabela 9 - Teores de micronutrientes considerados adequados
em folhas de cacaueiros, apresentados ou sugeridos por
diferentes autores em diferentes países
1/ 2/ 3/ 4/ 5/ 6/ 7/ 8/
–––––––––––––––––––––––mg kg-1–––––––––––––––––––––––
B 25-70 25-75 > 25 25-70 25-40 30-40 25-70 25-70
Cu 7-12 - > 6 8-12 - 10-15 8-12 8-12
Fe > 140 65-175 > 50 65-175 100 - 60-200 60-200
Mn - - > 30 50-400 200-500 150-200 50-300 50-300
Mo 1,0-1,5 - - 1,0-2,5 - - - 1,0-1,5
Zn 80-170 30-65 > 30 80-170 20-60 70-80 20-100 20-100
1/ Murray (apud MALAVOLTA; MALAVOLTA; CABRAL, 1984), para
Trindade; os valores propostos pelo autor tiveram forte influência do trabalho
de Spector (1964).
2/ Geus (apud NELSON et al., 2011); posteriormente adotado por Wood e
Lass (apud DICZBALIS et al., 2010). 3/ Fahmy (apud THIAGALINGAM, 2000),
para a Nova Guiné; posteriormente adotado por Nelson et al. (2011).
4/ Snoeck (apud BALIGAR; FAGERIA, 2005; SNOECK; JADIN, 2015), para
Trindade.
5/ Snoeck (apud SNOECK; JADIN, 2015), para a Costa do Marfim.
6/ Bergmann (apud DICZBALIS et al., 2010).
7/ Bhargava e Raghupati (apud, BALIGAR; FAGERIA, 2005); posteriormente
adotado por Mills e Jones Jr. (apud GUERRERO-LÁZARO, 2012), para o Peru.
8/ Salgado-García et al. (2006), para o México.
Fonte: Elaboração dos autores.
Tabela 10 - Teores de nutrientes considerados adequados em folhas de
cacaueiros, no Brasil, apresentados pelo professor Eurípedes Malavolta em
diferentes períodos de sua trajetória profissional e pelos pesquisadores
Bernardo van Raij e Luiza Nakayama
Malavolta Malavolta Malavolta Malavolta Malavolta Raij, Nakayama
(1981) (1987) 1/ (1992) (1997) (2006) Cantarella (2001)
e
Quaggio
(1997)2/

–––––––––––––––––––––––––g kg-1–––––––––––––––––––––––––
N 28 19-23 20-23 20-23 20 20-25 20-25
P 2,0 1,5-1,8 2,1-2,3 2,0-2,3 2,0 1,8-2,5 1,8-2,5
K 33 17-20 22-24 21-24 20 13-23 13-23
Ca 3,0 9,0-12,0 8,0-12,0 5,0-8,0 4,0 8-12 9-12
Mg 4,0 4,0-7,0 4,0-6,0 4,0-6,0 4,0 3,0-7,0 4,0-7,0
S 3,0 1,7-2,0 2,0-2,2 2,0-2,2 3,0 1,6-2,0 1,7-2,0

–––––––––––––––––––––––––mg kg-1–––––––––––––––––––––––––
B 32 30-40 35-45 40-55 25-70 25-60 25-70
Cu 15 10-15 20-25 20-25 7-12 8-15 8-15
Fe - 150-200 140-160 150-250 140 60-200 60-200
Mn - 150-200 80-100 80-110 200 50-250 50-300
Mo - 0,5-1,0 0,5-1,0 0,5-1,0 0,5-1,5 0,5-1,5 1,0-2,5
Zn 30 50-70 55-70 55-70 80-170 30-80 30-100
1/ 1ª aproximação de faixas de suficiências propostas pelo autor. Valores
posteriormente citados por Martinez, Carvalho e Souza (1999), Cantarutti et al.
(2007) e Malavolta, Vitti e Oliveira (1997).
2/ Valores posteriormente citados por Bataglia e Santos (2001) e que
influenciaram as faixas sugeridas por Nakayama (2001).
Fonte: Elaboração dos autores.

Pelo exposto, fica claro que essas FSA apresentadas, embora sejam
referências de padrões nutricionais, precisam ser aprimoradas e redefinidas,
de modo a considerar lavouras de diferentes materiais genéticos (variedade ou
clone) em diferentes regiões e condições de cultivo. De todo modo, sugere-se
neste trabalho, como uma aproximação, com base na literatura e na
experiência acumulada, as FSA constantes da Tabela 11, as quais constituem
uma revisão das FSA sugeridas por Souza Júnior et al. (2012).

Tabela 11 - Sugestão de faixas de suficiências de nutrientes na folha


diagnóstica1/, para cacaueiros adultos, para o Sul da Bahia (2ª aproximação)
N P K Ca Mg S B Cu Fe Mn Mo Zn
–––––––––g kg-1––––––––– –––––––––mg kg-1–––––––––
20-24 1,7-2,3 18-23 8- 4-7 1,0- 30-70 10-20 50-150 100-400 1,0-2,0 60-140
12 2,0
1/ Folha diagnóstica: 3ª folha, a partir do ápice, de ramo recém-amadurecido
(sem lançamentos recentes), parcialmente sombreado, na meia altura da copa
da planta.
Fonte: Elaboração dos autores.

2.3.4 DRIS

Diferentemente de métodos anteriores, que avaliam os nutrientes


individualmente (balanço de nutrientes), o DRIS (Sistema Integrado de
Diagnose e Recomendação), idealizado por Beaufils (1973), é um método de
diagnose que avalia o equilíbrio nutricional, pois considera as relações entre
pares dos nutrientes, pressupondo que estas são mais estáveis e universais
que os teores individuais.
Para a utilização do método DRIS, também há necessidade de formação de
um banco de dados com resultados de análise de nutrientes em amostras de
folhas e de rendimentos da cultura, obtidos em parcelas ou talhões
amostrados (KURIHARA; MAEDA; ALVAREZ V., 2005). A partir de um valor de
produtividade pré-definido, as amostras do banco de dados são agrupadas na
população de baixa ou de alta produtividade, sendo esta última considerada
como população de referência, na qual são determinadas as normas DRIS,
constituídas pela média e desvio padrão dos quocientes de cada nutriente com
os demais (KURIHARA; MAEDA; ALVAREZ V., 2005).
A interpretação por este método baseia-se no cálculo de um índice para
cada nutriente, Índice DRIS, considerando suas relações com os demais
nutrientes na amostra em diagnose e na população de referência. Considera-
se que quanto mais negativo for o Índice DRIS de um nutriente, maior é a
carência deste em relação aos demais nutrientes, e um índice altamente
positivo para um nutriente indica maior excesso relativo do mesmo
(KURIHARA; MAEDA; ALVAREZ V., 2005). Por fim, pode-se calcular o Índice
de Equilíbrio Nutricional (IEN) pelo somatório dos valores absolutos dos
Índices DRIS e do IEN médio (IENm), que é o IEN dividido pelo número de
nutrientes envolvidos na análise ou número de Índices DRIS. Os índices IEN e
IENm possibilitam a comparação do grau de equilíbrio nutricional entre
diferentes lavouras; quanto maior o seu valor, maior o grau de desequilíbrio
nutricional da lavoura (WADT, 1996; KURIHARA; MAEDA; ALVAREZ V., 2005).
Na última década, o DRIS foi testado na região cacaueira, no Sul do estado
da Bahia, sendo este trabalho coordenado pela Comissão Executiva do Plano
da Lavoura Cacaueira (CEPLAC) e objetivou estabelecer e validar normas
DRIS para cacaueiros. Para isso, Marrocos et al. (2012) selecionaram 80
áreas de cacau representativas de três agrossistemas da região cacaueira da
Bahia, mais quatro áreas fertirrigadas e cultivadas a pleno sol no semiárido
baiano, sendo coletadas informações do histórico das áreas e da produtividade
das mesmas para o ano agrícola 2008/2009. Em cada área foram coletadas,
no verão, 40 folhas diagnósticas para a determinação dos teores de nutrientes.
Os autores consideraram áreas de alta produtividade aquelas com
produtividade anual superior a 1.500 kg por 1.000 plantas. Com os dados das
14 áreas de alta produtividade (10 no Sul da Bahia e quatro no semiárido),
foram estabelecidas as normas DRIS (Tabela 12).

Tabela 12 - Média das relações binárias entre os teores


foliares de nutrientes relacionados a 14 áreas de alta
produtividade, também chamadas de Normas DRIS, para o
ano agrícola 2008/2009
Relação Média DP2/ Relação Média DP2/ Relação Média DP2/
N/P 16,10 2,57 P/Zn 0,05 0,01 Ca/Mn 0,13 0,05
N/K 1,80 0,43 P/Mn 0,01 0,01 Ca/Cu 2,76 1,06
N/Ca 1,66 0,23 P/Cu 0,28 0,07 Mg/Fe 0,26 0,12
N/Mg 3,26 0,39 K/Ca 1,01 0,47 Mg/Zn 0,24 0,09
N/Fe 0,85 0,40 K/Mg 1,96 0,76 Mg/Mn 0,07 0,03
N/Zn 0,76 0,30 K/Fe 0,48 0,21 Mg/Cu 1,39 0,50
N/Mn 0,21 0,08 K/Zn 0,45 0,17 Fe/Zn 1,08 0,63
N/Cu 4,49 1,60 K/Mn 0,14 0,09 Fe/Mn 0,33 0,23
P/K 0,11 0,02 K/Cu 2,51 0,67 Fe/Cu 5,94 2,54
P/Ca 0,11 0,03 Ca/Mg 1,99 0,28 Zn/Mn 0,31 0,15
P/Mg 0,21 0,05 Ca/Fe 0,51 0,20 Zn/Cu 6,23 2,45
P/Fe 0,05 0,02 Ca/Zn 0,48 0,25 Mn/Cu 25,05 14,83
1/Áreas com produtividade superior a 1500 kg por 1000 plantas; extraído de
Marrocos et al. (2012).
2/ DP (desvio padrão).
Fonte: Elaboração dos autores.
As normas DRIS foram utilizadas para calcular os índices DRIS nas
amostras foliares coletadas, e estes foram utilizados para avaliar o estado
nutricional do cacaueiro, identificando-se os nutrientes mais limitantes para a
produção das lavouras avaliadas (MARROCOS et al., 2012).
3 Outros métodos de diagnose nutricional para o
cacaueiro
3.1 Uso de clorofilômetros para estimar o teor foliar de nitrogênio

O teor de clorofila na folha vem sendo utilizado com sucesso para predizer o
nível nutricional de N em diversas culturas, pois a quantidade desse pigmento
correlaciona-se positivamente com teor de N na planta (MALAVOLTA, 2006;
PRADO, 2008). A quantificação indireta do teor relativo de clorofila pode ser
feita por clorofilômetros, como o SPAD (Soil and Plant Analysis Development),
da Minolta, e o clorofiLOG, da Falker, que expressam o resultado como um
Índice Relativo de Clorofila (IRC).
Para o cacaueiro, Dantas et al. (2012) observaram boa correlação entre o
teor de N em folhas diagnósticas e o IRC, avaliado pelo SPAD em um estudo
com 80 plantas do clone PH 16, localizadas em 20 lavouras comerciais, em 16
municípios e em duas regiões climáticas no Sul da Bahia, apesar da
diversidade climática, edáfica e de manejo da pesquisa (Figura 4). Outros
estudos sobre uso de clorofilômetros e de imagem digital de folhas em
cacaueiros vêm sendo desenvolvidos na UESC.
Figura 4 - Relação entre índice relativo de clorofila (IRC - índice SPAD) e o
teor foliar de N de cacaueiros, clone PH 16, no Sul da Bahia, em duas zonas
climáticas, úmida e úmida a subúmida, em conjunto

Fonte: DANTAS et al., 2012.

Ressalta-se que esses aparelhos são portáteis, podendo ser utilizados em


campo, e fornecem leituras instantâneas, facilitando os processos de
diagnóstico e de recomendação de adubação. Entretanto, é necessário que,
previamente, haja resultados de pesquisas consistentes de correlação e de
calibração para seu uso.
4 Considerações finais
A análise foliar é uma técnica para a diagnose nutricional do cacaueiro e
apresenta potencial de uso como ferramenta para recomendação de
adubação. Para essa cultura, os critérios de amostragem foliar são
relativamente bem estudados e estabelecidos, porém os critérios de
interpretação dos resultados ainda precisam ser aprimorados, principalmente
com relação às variações entre materiais genéticos, regiões e sistemas de
manejo.
O diagnóstico visual de sintomas de deficiências é técnica prática, simples e,
em muitos casos, eficiente, porém de pouco uso na principal região produtora
de cacau do Brasil, possivelmente pelo pequeno treinamento dos técnicos.
O uso de clorofilômetros apresenta potencial de predição do teor foliar de N
de cacaueiros no Sul da Bahia para o clone PH 16, desde que sejam adotados
os mesmos cuidados recomendados para amostragem, visando à análise
foliar. Fazem-se necessários, contudo, mais estudos sobre essa técnica para a
cultura, especialmente porque a mesma mostrou perspectiva de utilização
para recomendação de adubação nitrogenada.
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Capítulo 11 — Fertilidade do solo, correção
da acidez e recomendação de adubação
para o cacaueiro
José Olimpio de Souza Júnior1, George Andrade Sodré2 , Júlio
César Lima Neves3
1 Fertilidade do solo
A fertilidade do solo e a nutrição de plantas estão intimamente
interligadas, pois ambas estudam a dinâmica dos nutrientes minerais
no sistema solo− planta−atmosfera, visando propiciar melhor balanço
e equilíbrio nutricional para as plantas, aumentando a produtividade e
a rentabilidade líquida das lavouras, com mínimo risco ambiental. Por
sua vez, a aplicação prática dos conceitos sobre fertilidade do solo e
nutrição de plantas se dá mediante a correção dos solos e a
adubação das culturas.
Nutrição de plantas pode ser definida como um ramo da ciência do
solo que estuda o fornecimento, a absorção, as funções, a utilização
e a redistribuição dos elementos essenciais às plantas, também
chamados de nutrientes. Porém, como estuda o crescimento, o
metabolismo e a produção vegetal, a nutrição de plantas pode
também ser enquadrada como uma subárea da fitotecnia ou mesmo
da fisiologia vegetal.
Por sua vez, a fertilidade do solo pode ser definida, de acordo com
um conceito mais tradicional e usual, como a capacidade do solo em
disponibilizar quantidades adequadas de nutrientes e não ter
elementos e/ou substâncias em concentrações tóxicas às plantas.
Porém, alguns autores defendem um conceito mais amplo para a
fertilidade do solo, podendo ser definida como a capacidade que o
mesmo tem para sustentar a produção das culturas. Ou seja, para ser
considerado fértil, além dos atributos químicos favoráveis já
mencionados, um solo também deve ter atributos físicos que lhe
garantam adequado volume a ser explorado pelas raízes e aeração e
capacidade de retenção de água disponível apropriadas, para
propiciar bom crescimento das raízes e sustentação das plantas
(FAIRHURST, 2014); além de ter quantidade satisfatória de
organismos benéficos (SIQUEIRA; FRANCO, 1988).
É importante ressaltar que um solo com boa disponibilidade de
nutrientes não é sinônimo de solo produtivo. Solo produtivo é aquele
que — além de possuir disponibilidades adequadas e equilibradas de
nutrientes disponíveis e de não ter substâncias em concentrações
tóxicas às raízes — deve garantir boas condições para o
desenvolvimento das plantas, como: ter profundidade efetiva que
assegure o aprofundamento do sistema radicular e a sustentação da
planta; ter boa porosidade, com equilíbrio entre macro e microporos,
responsáveis, respectivamente, pela drenagem/aeração e pela
retenção de água pelo solo; ter quantidade e qualidade de
organismos favoráveis à absorção de nutrientes pelas raízes e ao
crescimento vegetal; não ter organismos patogênicos em quantidades
que comprometam uma produtividade satisfatória da lavoura; e estar
localizado em área com condições climáticas favoráveis à produção
vegetal.
2 Amostragem do solo para avaliação da
fertilidade
A principal ferramenta para avaliação da fertilidade do solo é a
análise química, sendo a amostragem do solo a etapa mais
importante neste processo, pois é nela que ocorrem erros mais
frequentes. Existe possibilidade de erros nas mais diferentes fases da
amostragem: desde a divisão da propriedade rural em talhões,
passando pela amostragem propriamente dita, até a
homogeneização, rotulagem e encaminhamento da amostra ao
laboratório para análise. No laboratório também existe a possibilidade
de erros, mas estes são bem menos frequentes. Segundo Cantarutti
et al. (2007), em bons laboratórios, o erro de análise é normalmente
inferior a 5%. Por isso, a exatidão na avaliação da fertilidade do solo
depende muito de uma criteriosa amostragem. A partir de uma
amostra não representativa, nunca se obterá uma adequada
caracterização da fertilidade do solo, o que pode levar a
recomendações errôneas, por melhor que seja a qualidade do serviço
prestado pelos laboratórios (CANTARUTTI et al., 2007; CHEPOTE et
al., 2013).
A amostragem de solo pode ser realizada com diversos
instrumentos cortantes ou perfurantes, como: trados, sondas, pá reta,
etc. Contudo, é importante que haja a padronização do volume e da
camada de solo a ser amostrada. O uso de trados ou de sondas
facilita a padronização da camada e do volume de solo a ser
amostrado.
A amostragem de solo pode, a princípio, ser feita em qualquer
época do ano, mas devem-se evitar os períodos logo após as
adubações, bem como períodos em que o solo esteja com elevada
umidade, pois isso dificulta a retirada da amostra que fica aderida ao
instrumento usado para a amostragem.
Uma boa amostra é aquela que representa a população, com um
erro aceitável; para isso, a área amostrada deve ser a mais
homogênea possível. Ou seja, há necessidade de dividir a
propriedade rural em talhões mais homogêneos, com relação à
planta, ao solo e ao manejo adotado. Os principais atributos a serem
observados para esta subdivisão são: cobertura vegetal ou cultura;
topografia e posição da área na paisagem; drenagem, cor e textura
do solo; e histórico da área (produtividades observadas e práticas de
manejo). Embora o importante seja o grau de uniformidade dentro de
cada gleba ou talhão de amostragem e não o seu tamanho, do ponto
de vista operacional, Chepote et al. (2005) recomendam, para o
cultivo do cacaueiro no estado da Bahia, que os talhões ou “unidades
amostrais”, em geral, não devam passar de 2,0 ha; sendo que, mais
recentemente, pesquisadores revisaram este valor e sugerem uma
área máxima de 5,0 ha por unidade amostral (CHEPOTE et al., 2013).
Contrariamente, com valor bem discrepante dos anteriores, Malavolta
(1997) sugeriu que a unidade amostral para o cacaueiro poderia ter
até 50 ha, desde que houvesse uniformidade do talhão.
Considerando o fato de que é pouco comum ocorrer uniformidade de
solo na região cacaueira Sul baiana, devido à diversidade pedológica
e topográfica da mesma, o limite máximo de 5,0 ha por unidade
amostral, recomendado por Chepote et al. (2013), parece ser mais
coerente.
A predefinição da(s) camada(s) a ser(em) amostrada(s) também é
importante. Amostras de camadas mais superficiais (0−10 ou 0−20
cm) são importantes para a avaliação da fertilidade e recomendação
de corretivos de acidez e de fertilizantes, porém amostras de
camadas subsuperficiais (20−40 ou 40−60 cm) são importantes para
a avaliação da acidez em profundidade, especialmente com relação à
possível toxidez por alumínio (Al3+) e, consequentemente,
recomendação de gesso (produto que, além de ser fonte de cálcio e
enxofre, também é considerado um condicionador de solo, pois reduz
a atividade do Al3+ em subsuperfície).
Para o cacaueiro, a camada usualmente recomendada para a
amostragem de solo é de 0−20 cm (NAKAYAMA, 2001; CHEPOTE et
al., 2005; CHEPOTE et al., 2013), que é uma camada
tradicionalmente usada para amostragem de solo, principalmente por
ser a camada arável e com maior concentração de raízes
absorventes. Porém, Malavolta (1997) recomenda as camadas de
0−10 e 0−20 cm e, a cada período de dois a quatro anos, a camada
de 20−40 cm — esta última também recomendada por Chepote et al.
(2005, 2013) para verificar a necessidade de diminuição da acidez em
profundidade e uso de gesso. Nesta temática, há carência de
pesquisas para o cacaueiro, destacando-se o trabalho de Dantas
(2011), que avaliou a relação entre fertilidade do solo (em quatro
camadas: 0−5, 0−10, 0−20 e 20−40 cm) e nutrição de cacaueiros
(teores de nutrientes em folhas diagnósticas) em 20 fazendas no Sul
da Bahia, com quatro áreas em cada fazenda, e adotando critérios
bem definidos de amostragem de folhas para um único clone, bem
como de preparação, processamento e análises das amostras. O
autor também obteve boas correlações entre a disponibilidade dos
nutrientes analisados no solo e seus teores em folhas de cacaueiros,
sendo que, de modo geral, as melhores correlações foram
observadas para a camada de 0−10 cm, em especial para os
nutrientes de menor mobilidade no solo. O que sugere que, em
plantação de cacaueiros, a camada mais apropriada para avaliação
da disponibilidade de nutrientes no solo seria a de 0−10 cm. Fato que
pode ser entendido tanto pelo não revolvimento do solo e pela baixa
mobilidade da maioria dos nutrientes no solo, levando ao acúmulo
dos mesmos em camada mais superficial, como também porque
cerca de 90% das radicelas do cacaueiro, com diâmetro médio de 2,2
mm, localizam-se nos 10 cm superficiais (KUMMEROW;
KUMMEROW; ALVIM, 1981).
É importante ressaltar que, para o cacaueiro, as pesquisas e as
tabelas para interpretação da fertilidade do solo foram produzidas,
geralmente, para a camada de amostragem de 0−20 cm, o que
dificulta a recomendação de substituição dessa camada, sem a
devida observância que os atributos químicos do solo variam muito
nos primeiros centímetros do mesmo. Porém, para áreas com
emprego de maior tecnologia e com maior produtividade, é importante
a amostragem de solo mais superficial, camada de 0−10 cm,
principalmente para a avaliação de efeito residual da calagem e das
adubações com P e micronutrientes catiônicos, mesmo que se faça
também a amostragem convencional de 0−20 cm.
Também é escassa a pesquisa para definição do número de
amostras simples por unidade amostral, para formar uma amostra
composta em áreas de cacau. Destaca-se o trabalho de Santana,
Pereira e Cabala-Rosand (1975), que concluíram que oito amostras
simples por amostra composta seriam suficientes para caracterizar
áreas de cacaueiro de até um hectare. Na literatura técnica,
encontram-se sugestões de número de amostras simples de solo de,
no mínimo, 10 (MALAVOLTA, 1987, 1997), 12 (CABALA-ROSAND;
SANTANA; SANTANA, 1985; CHEPOTE et al., 2005, 2013) e 15
(NAKAYAMA, 2001). Neste aspecto, é mais prudente pecar por
excesso; por isso, sugere-se amostrar de 15 a 20 amostras simples
para formar uma amostra composta. Porém, em plantios em solos
muito homogêneos, o número de amostras simples poderia ser
menor.
A amostragem deve ser feita em zigue-zague, em toda a área
homogênea. E, como geralmente a adubação do cacaueiro é feita na
área total, não há um local específico para a retirada das amostras,
mas se recomenda não retirar amostras próximas aos caules do
cacaueiro ou de outras culturas em consórcio (p.e.: seringueira, açaí,
coco e cajá) ou de árvores de sombra. Porém, em lavouras
fertirrigadas e sem sombra ou que recebam, por algum motivo,
fertilização localizada, devem-se retirar amostras distintas nas áreas
fertilizadas e não fertilizadas. Também não se devem coletar
amostras próximas a locais não representativos da área, como, por
exemplo: estradas ou caminhos, casqueiros, cupinzeiros ou
formigueiros, locais de descarga de insumos, interior de drenos,
riachos ou corpos d´água e manchas de solo. Nos locais escolhidos
para amostragem, deve-se primeiramente retirar o material vegetal
depositado sobre o solo (manta orgânica).
As amostras devem ser colocadas em saco ou balde de plástico
limpo. Posteriormente, a amostra composta (conjunto de todas as
amostras simples) deve ser bem homogeneizada, e uma subamostra
de aproximadamente 250 g deve ser embalada em saco plástico
“virgem”, identificado com as seguintes informações: nome da
propriedade, nome da área e camada amostrada. Por fim, deve-se
encaminhar as amostras para um laboratório de confiança do
produtor e que esteja vinculado a programas interlaboratoriais de
controle de qualidade de análise de solo. Sendo os programas de
maior interesse para as áreas de cacau do Brasil: Programa de
Ensaio de Proficiência do Instituto Agronômico de Campinas (PEP-
IAC), Programa de Análise de Qualidade de Laboratórios da Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária (PAQLF-EMBRAPA) e Programa
Interlaboratorial de Controle de Qualidade de Análise de Solo de
Minas Gerais (PROFERT-MG).
Com relação à frequência de amostragem, esta dependerá
principalmente da intensidade de manejo (quanto maiores as
adubações e as produtividades, mais frequente tem que ser a
amostragem) e da capacidade tampão do solo (solos menos argilosos
precisam ser amostrados mais frequentemente). Sugere-se que a
frequência de amostragem de solo para a camada superficial seja de
um a três anos; e da camada mais subsuperficial, a cada período de
dois a quatro anos.
3 Metodologias de análise do solo usadas no
Brasil e seu emprego para o cacaueiro
A análise química do solo, com fins de avaliação de sua fertilidade,
tem como um de seus principais objetivos quantificar os nutrientes
disponíveis para as plantas. Mas o que são nutrientes disponíveis?
Como avaliar esta disponibilidade de nutrientes, com comportamentos
muito distintos no solo?
Pode-se dizer que: nutriente disponível no solo é aquele que pode
ser absorvido pelas raízes das plantas durante seu ciclo de vida, ou
seja, a planta é o melhor extrator para avaliar a disponibilidade de
nutrientes no solo. Contudo, devido a questões de espaço, tempo e
custos, é operacionalmente inviável, em termos de rotina, o uso de
plantas como extratoras de nutrientes do solo em laboratórios. Por
isso, nos laboratórios, são utilizados métodos de extração química
que resultem em teores de nutrientes que apresentem correlação com
as quantidades de nutrientes extraídas pelas plantas. Uma
metodologia de extração de elementos do solo envolve não apenas a
solução extratora (uma ou mais substâncias com concentrações
predefinidas), mas também o seu preparo, a sua proporção com o
solo (relação solo:solução), os tempos de agitação e de repouso, se
há ou não a necessidade de aquecimento, de filtragem, de ausência
de luz, de uso de algum fator de correção, etc. O mais importante é
que a metodologia seja adequada para quantificar a disponibilidade
de elementos no solo, sendo que esta é adequada quando extrai
concentrações de um ou, preferencialmente, de vários nutrientes,
proporcionalmente ao que as plantas podem extrair, mas não
necessariamente de maneira igualitária. Ou seja, são necessários
estudos de correlação entre as capacidades de extração de
nutrientes por distintas metodologias e aquelas extraídas pelas
plantas; bem como trabalhos de calibração entre doses de nutrientes
e crescimento ou produção da planta ou extração de nutrientes pela
mesma. Neste contexto, o conceito de disponibilidade de nutrientes
passa a ter um enfoque mais operacional, ou seja, pode-se dizer que:
nutriente disponível no solo é aquele que é extraído e determinado
por uma metodologia específica, cujo teor se correlaciona
estreitamente com a quantidade absorvida pela planta e,
consequentemente, com o crescimento ou produção da mesma.
Pelo exposto, fica claro que bons extratores podem ter capacidades
distintas de extração e, consequentemente, apresentam resultados
analíticos distintos, especialmente para elementos mais fortemente
adsorvidos pelo solo. Por isso mesmo, pode-se dizer que o primeiro
passo para a interpretação de uma análise de solo é observar as
metodologias usadas na mesma.
A realização de pesquisas visando seleção de extratores químicos
para a avaliação da fertilidade do solo é mais importante para os
nutrientes que têm maior força de adsorção pelos coloides do solo
(p.e.: fósforo, enxofre e micronutrientes catiônicos) do que para os
nutrientes trocáveis (p.e.: cálcio, magnésio e potássio), pois estes
últimos são facilmente extraídos do solo por soluções salinas,
orgânicas ou ácidas (ácidos diluídos), as quais tendem a extrair
concentrações semelhantes de um mesmo cátion trocável em uma
mesma amostra de solo.
Para solos da região cacaueira do Sul da Bahia e para o nutriente
fósforo (P), Cabala-Rosand e Fassbender (1971) e Cabala-Rosand e
Santana (1972) foram pioneiros em estudos de seleção de extratores,
sendo utilizadas como planta teste o sorgo e mudas de cacaueiro,
respectivamente. Também com o uso do sorgo como planta teste,
porém para uso de fontes de baixa solubilidade de P, destaca-se o
trabalho de Cabala-Rosand e Wild (1982), que, em relação ao
Mehlich-1, confirmaram a superioridade do extrator Resina de Troca
Aniônica (RTA) para solos adubados com fosfatos naturais.
Em condições de campo e para cacaueiros adultos, Cabala-Rosand
e Santana (1983) avaliaram a eficiência dos principais extratores de P
utilizados no Brasil (Mehlich-1 e RTA) e obtiveram, para ambos
extratores, boa relação entre o teor de P no solo e a produção relativa
do cacaueiro. Mais recentemente, avaliando a relação entre
disponibilidade de P no solo (extraído por três extratores e em quatro
camadas de amostragem) e o teor de P foliar em 80 cacaueiros
(clone PH 16), em áreas não adubadas com fosfatos naturais e
localizadas em 20 fazendas, em 16 municípios e em duas sub-regiões
climáticas do Sul da Bahia, Dantas (2011) observou que o extrator de
P que gerou melhores modelos de regressão entre os teores no solo
e na planta foi o Mehlich-1, seguido da RTA e do Mehlich-3. Esse
autor também verificou que os efeitos da inclusão nesses modelos de
estimadores da capacidade tampão de P (teor de argila e P-
remanescente – P-rem) não foram significativos, possivelmente
devido à menor capacidade de adsorção de fosfatos pelos solos
cultivados com cacaueiro na região, visto que o valor médio do P-rem,
na camada de 0−10 cm, foi de 31,8 mg L-1, valor que pode ser
considerado alto e que, segundo Alvarez V. et al. (2000), indica baixa
capacidade máxima de adsorção de fosfato.
Os resultados de Dantas (2011) mostraram que a relação ente P na
planta e no solo, independentemente do extrator, foi mais estreita
para o P extraído na camada de 0−10 cm e foi fortemente
influenciada pela sub-região climática (zona úmida ou zona sub-
úmida), o que sugere que a interpretação do teor foliar e/ou no solo
de P deva ser distinta para cada sub-região.
Dantas (2011) também estudou a relação entre teores de
micronutrientes catiônicos (Cu, Fe, Mn e Zn) na planta e no solo
(também extraídos por três extratores — Mehlich-1, DTPA e Mehlich-
3 — e em quatro camadas de solo amostradas) e concluiu que,
semelhantemente ao verificado para P, a camada de solo de 0−10 cm
e o extrator Mehlich-1 foram os mais apropriados para a avaliação da
disponibilidade de micronutrientes catiônicos para o cacaueiro.
Verificou também que a relação entre teor no solo e na planta,
principalmente para o Zn, foi influenciada pela sub-região climática.
No Brasil, para a análise da acidez ativa do solo (pH), são utilizadas
duas soluções, que obviamente apresentam resultados distintos: pH
em água, relação solo:solução de 1:2,5, realizada pelos laboratórios
vinculados aos programas PA-QLF-EMBRAPA e PROFERT-MG; e pH
em solução de CaCl2 0,01 mol L-1, relação solo:solução também de
1:2,5, realizada pelos laboratórios vinculados ao programa PEP-IAC
(CANTARUTTI et al., 2007). Os resultados analíticos do pH-CaCl2
são geralmente inferiores aos obtidos em pH-H2O, por isso mesmo
tem-se tabelas específicas para a interpretação dos mesmos.
4 Unidades de expressão dos resultados de
análises químicas do solo
É frequente entre estudantes e profissionais da área de ciências
agrárias haver dificuldade de se interpretar análises de solo. Isso
ocorre devido ao uso de distintas unidades de expressão dos
resultados, bem como da dificuldade que muitos têm em converter
uma unidade em outra, apesar de ser uma operação relativamente
simples.
A primeira coisa a se observar é se os resultados são expressos
em unidade de massa (kg) ou unidade de volume (dm3) de solo. A
quase totalidade dos laboratórios de análise de solo medem
pequenas subamostras de solo (5 ou 10 cm3) para fazer a grande
maioria das análises. Consequentemente, expressam os resultados
com base em volume. Porém, para as análises de N total e de
carbono orgânico (ou matéria orgânica), é necessário coletar
amostras ainda menores; por isso, é frequente nestes casos que o
laboratório pese o solo, e esses resultados são consequentemente
expressos em unidade de massa de solo.
Resultados de análise de solo para P, S e micronutrientes são
expressos em mg dm-3 (ou mg kg-1), unidades que substituíram ppm
(parte por milhão). Por sua vez, Ca2+, Mg2+, Al3+ (acidez trocável),
H+Al (acidez potencial) e CTC (capacidade de troca catiônica) são
expressos em frações do molc (mol de carga), unidade atual que
substituiu o antigo “eq” (equivalente) ou “eqg” (equivalente-grama),
sendo as frações usadas o mmolc (milimol de carga) ou o cmolc
(centimol de carga), ambas corretas de acordo com o sistema
internacional de unidades.
A princípio, o uso mmolc dm-3 deveria prevalecer, visto que o
prefixo mili (m = 10-3) é mais comum em unidades de medida do que
o prefixo centi (c = 10-2); porém, por uma conveniência de igualdade
de magnitude em relação à unidade antiga, meq/100 cm3, muitos
laboratórios expressam seus resultados em cmolc dm-3 (meq/100 cm3
= cmolc dm-3). A conversão entre estas duas unidades do molc é
simples:
cmolc dm-3 = 10 mmolc dm-3
O potássio (K) é o único atributo químico do solo que vem sendo
expresso em três unidades diferentes, nos laudos de análises de solo
no Brasil: mg dm-3, mmolc dm-3 e cmolc dm-3. Sendo que:
mg dm-3 = (A/v) x mmolc dm-3, em que:
A/v = massa atômica do elemento dividido por sua valência
funcional, ou seja, A/v para K+, Ca2+ e Mg2+ é 39,1; 20,0 e 12,1,
respectivamente.
Para N total e de carbono orgânico (ou matéria orgânica), a
unidade atual preferível seria g kg-1 ou g dm-3; porém encontra-se
também dag kg-1 (decagrama por kilograma) ou dag dm-3 (decagrama
por decímetro cúbico), que têm equivalência com porcentagem (%),
sendo que esta, semelhante ao ppm, já não mais é recomendada
para expressão de resultados de análises de elementos no solo, pois
deixa dúvidas se os resultados são expressos com base em massa
ou em volume de solo. Porém, o uso da unidade porcentagem para
retratar proporções em um todo é perfeitamente correto, como:
saturação por bases (V), saturação por alumínio (m) e as saturações
por K, Ca e Mg individualmente. A conversão de g kg-1 (ou g dm-3)
para dag kg-1 (ou dag dm-3) também é simples, visto que o prefixo
deca (da) quer dizer 10:
dag kg-1 (ou dag dm-3) = 10 g kg-1 (ou 10 g dm-3)
Por fim, uma análise química de solo que vem sendo realizada
mais frequentemente é o P-remanescente (P-rem), cujo resultado é
expresso em mg L-1. O P-rem refere-se ao teor remanescente ou
sobrenadante de P na solução de equilíbrio, após a adição solução
contendo 60 mg L-1 de P mais 0,01 mol L-1 de CaCl2, numa relação
solo:solução de 1:10, com posterior agitação e repouso (EMBRAPA,
2009). O P-rem vem sendo utilizado como bom indicativo da
capacidade de tampão de fosfato, de sulfato e de acidez do solo e
para o estabelecimento de classes de fertilidade de P, S e até Zn no
solo, para extratores sensíveis à capacidade tampão do solo, além de
poderem ser utilizados em fórmulas para recomendação de calagem
e gessagem (ALVAREZ V. et al., 2000).
5 Fertilidade do solo para cacaueiros
O cacaueiro é uma cultura exigente do ponto de vista nutricional,
em comparação com outros cultivos tropicais de ciclo longo, sendo
ideal seu cultivo em solos que apresentem de níveis de média a alta
fertilidade (SILVA; CARVALHO FILHO, 1971; SANTANA; CABALA-
ROSAND; SANTANA, 1984; NAKAYAMA, 2001). Embora, muitas
vezes, o cultivo ocorra em solos de menor fertilidade natural, nestas
situações, maiores produtividades só são alcançadas quando
ocorrem aplicações de maiores quantidades de fertilizantes, visando o
aumento da fertilidade do solo (CABALA-ROSAND et al., 1971;
CABALA-ROSAND; SANTANA; MIRANDA, 1982; SOUZA JÚNIOR,
1997).
As características associadas à maior fertilidade natural são
frequentemente antagônicas a atributos físicos desejáveis para o
cultivo do cacaueiro, como: elevada profundidade efetiva, boa
drenagem e alta capacidade de retenção de água disponível (SOUZA
JÚNIOR, 1997). Em geral, em anos com boa disponibilidade de
chuvas, as diferenças de produtividades entre áreas se
correlacionaram melhor com atributos relacionados à fertilidade do
solo e ao estado nutricional das plantas, sendo as maiores
produtividades verificadas nas áreas que têm solos com maior
disponibilidade de nutrientes e com plantas melhor nutridas. Por sua
vez, em anos mais secos, as maiores produtividades são observadas
nas áreas que têm solos com maior capacidade de armazenamento
de água disponível (SOUZA JÚNIOR, 1997; SOUZA JÚNIOR et al.,
1999a, 1999b).
Com relação à acidez do solo, apesar de o cacaueiro apresentar
certa tolerância ao Al3+ e poder ser cultivado em solos mais ácidos
(SANTANA; CABALA-ROSAND; MIRANDA, 1973; EZETA;
SANTANA, 1979; MORAIS; SANTANA; SANTANA, 1981), melhores
desenvolvimentos e maiores produtividades da cultura estão
associados a baixas saturações por Al3+, valores de saturação por
bases superiores a 60% e pH-H2O entre 5,7 e 6,2 (SILVA;
CARVALHO FILHO, 1971; SANTANA; CABALA-ROSAND, 1984;
MALAVOLTA, 1987, 1997; SOUZA JÚNIOR, 1997; BALIGAR;
FAGERIA, 2005; REIS; CHEPOTE; SODRÉ, 2006; CRUZ NETO,
2012; CHEPOTE et al., 2013).
6 Interpretação de análises do solo
Para o cacaueiro, a interpretação de análises de solo tem sido a
principal ferramenta para recomendação de corretivos e fertilizantes.
Porém, a análise foliar também é uma importante ferramenta,
complementar à análise de solo, para recomendação de adubação.
As Tabelas 1, 2, 3 e 4 trazem referências para a interpretação de
análise química de solo para o cultivo do cacaueiro, para a camada
de 0−20 cm. Os valores apresentados têm como referências diversos
trabalhos, sendo os principais citados nas próprias tabelas, somando-
se a eles a experiência dos autores deste texto.

Tabela 1 - Classes para interpretação da acidez ativa do solo (pH)


para o cacaueiro e principais referências utilizadas para definição
das mesmas
Característica ––––––Classificação–––––– Referências
Muito Baixo Bom Alto Muito
baixo alto
pH-H2O <5,0 5,0- 5,7- 6,3- >7,0 Souza Júnior
5,6 6,2 7,0 (1997); Silva e
Carvalho Filho
(1971); Malavolta
(1997); Lozano,
Carrascal e Ortiz
(2005)
pH-CaCl 1/ <4,4 4,4- 5,3- 6,0- >6,9
5,2 5,9 6,9
1/ Valores estimados a partir da equação: pH-CaCl2 = -2,075 +
1,289 pH-H2O, r = 0,96 (RAIJ et al., 1987).
Fonte: Elaboração dos autores.
Tabela 2 - Classes para interpretação da acidez trocável (Al3+),
acidez potencial (H+Al) e saturação por Al3+ (m) para o cacaueiro e
respectivas referências
Característica Unidade –––––– Referências
Classificação––––––
Baixo Médio Alto Muito
alto
Al3+ mmolc <3 3-9 10- >15 Enríquez (1985);
dm-3 15 Malavolta (1997)
H+Al mmolc <2,5 2,5- 5,1- >9,0 Alvarez V. et al.
dm-3 5,0 9,0 (1999b)2/
Saturação por % <10 10-29 30- >50 Miranda e Dias
Al (m)1/ 50 (1971); Alvim
(1977); Morais,
Santana e
Santana (1978);
Santana e
Cabala-Rosand
(1984); Enríquez
(1985); Cabala-
Rosand, Santana
e Santana
(1989); Baligar e
Fageria (2005);
Chepote et al.
(2013)
1/ m = (Al3+ x 100) / CTC efetiva.
2/ Referência genérica, independente da cultura.
Fonte: Elaboração dos autores..
Tabela 3 - Classes para interpretação de atributos relacionados à
fertilidade do solo para o cacaueiro e principais referências utilizadas
para definição das classes
Característica Unidade –––––– Referências
Classificação––––––
Baixo Médio Bom Muito
bom
Carbono g kg-1 <12 12-19 20- >29 Silva e Carvalho
orgânico 29 Filho (1971);
Alvim e Cabala-
Matéria g kg-1 <20 20-34 35- >50 Rosand (1974);
orgânica 50 Lozano et al.
(2005)
Ca2+ mmolc <15 15-29 30- >50 Malavolta (1987,
dm-3 50 1997); Lozano,
Carrascal e Ortiz
(2005)Malavolta
(1987, 1997);
Lozano,
Carrascal e Ortiz
(2005)
Mg2+ mmolc <5 5-9 10-
>16 Morais e Cabala-
dm-3 16 Rosand (1971);
Cabala-Rosand
e Santana (apud
Cabala-Rosand;
Santana e
Santana, 1984a);
Malavolta (1987,
1997); Lozano et
al. (2005)
K+ mg dm-3 <40 40-89 90- >120 Souza Júnior
120 (1997); Silva e
Carvalho Filho
(1971); Santana
e Santana
Característica Unidade –––––– Referências
Classificação––––––
Baixo Médio Bom Muito
bom
mmolc <1,0 1,0- 2,3- >3,0 (1973); Alvim e
2,2 3,0 Cabala-Rosand
dm-3
(1974); Garcia et
al. (1985);
Cabala-Rosand
et al. (1985);
Malavolta (1987,
1997); Lozano et
al. (2005)
P – Mehlich-1 mg dm-3 <8 8-15 16- >30 Cabala-Rosand
dm-3 30 e Santana
(1983); Alvim
(1977); Cabala-
Rosand, Santana
e Santana
(1985); Enríquez
(1985)
Soma de mmolc <21 21-42 43- >70
bases1/ dm-3 70
CTC a pH 7,0 mmolc <40 40-89 90- >150 Alvarez V. et al.
(T) dm-3 150 (1999b)3/
Saturação por % <40 40-59 60- >70 Silva e Carvalho
bases (V)2/ 70 Filho (1971);
Santana e
Cabala-Rosand
(1984); Malavolta
(1987, 1997);
Reis, Chepote e
Sodré (2007);
Chepote et al.
(2013)
Característica Unidade –––––– Referências
Classificação––––––
Baixo Médio Bom Muito
bom
Saturação por % <30 30-39 40- >50 Malavolta (1987,
Ca 50 1997)
Saturação por % <8 8-9 10- >15
Mg 15
Saturação por % <1,5 1,5- 3,0- >4,0
K 2,9 4,0
Relação <1,0 1,0- 2,0- Hardy (1961);
Ca:Mg 1,9 4,0 Cadavid (1980);
Quiceno,
Naranjo e Garcia
(1980); Lozano
et al. (2005);
Chepote et al.
(2013)
Relação <13 13-15 16- Morais e Cabala-
(Ca+Mg):K 25 Rosand (1971)
1/ Valores obtidos pelo somatório dos teores de Ca, Mg e K de
cada classe, posteriormente arredondados.
2/ Valores estimados a partir da equação da substituição dos valores
de pH na equação: V = -104,6 + 28,3 x pH-H2O, r = 0,88, para solos
do estado da Bahia (MENEZES; SOUZA JÚNIOR; SANTOS NETO,
1999), posteriormente arredondados e corroborados pelas referências
apresentadas na tabela.
3/ Referência genérica, independente da cultura.
Fonte: Elaboração dos autores.
Tabela 4 - Classes para interpretação de enxofre (S) e
micronutrientes no solo1/ para o cacaueiro e principais referências
utilizadas para definição das classes
Característica Unidade –––––– Referências
Classificação––––––
Baixo Médio Bom Alto
S mg dm-3 <5 5-8 9-14 >15 Malavolta (1997)
B mg dm-3 <0,3 0,3-0,6 0,7- >1,0 Tollenaar (1966);
1,0 Chude e
Obigbesan
(1985);
Malavolta (1987,
1997)
Cu mg dm-3 <1,0 1,0-1,9 2,0- >3,0 Malavolta
3,0 (1997); Souza
Júnior et al.
(1999)
Zn mg dm-3 <1,5 1,5-3,4 3,5- >5,0 Malavolta (1987,
5,0 1997); Chepote
et al. (2013);
Cruz Neto et al.
(2015)
Mn mg dm-3 >4,0 Cruz Neto
(2012); Chaves
(2014)
1/ Extratores: S (Fosfato monocálcico), B (H2O quente) e
micronutrientes catiônicos (Mehlich-1).
Fonte: Elaboração dos autores.

As Tabelas 1 e 2 referem-se à interpretação de atributos químicos


relacionados à acidez do solo. Na maioria dos laboratórios de
análises de solo do Brasil, a acidez ativa é medida pelo pH em água
(pH-H2O). Contudo, nos laboratórios do estado de São Paulo
pertencentes ao programa de controle de qualidade do IAC (Instituto
Agronômico, em Campinas, São Paulo), o preconizado é a
determinação do pH, em amostras de solo, em solução de CaCl2 0,01
mol L-1 (pH-CaCl2). Como estas metodologias apresentam resultados
distintos, optou-se por apresentar, na Tabela 1, classes para
interpretação do pH do solo determinado em ambas as metodologias,
com base em transformação dos valores a partir da equação: pH-
CaCl2 = -2,075 + 1,289 pH-H2O, apresentada por Raij et al. (1987).
Um dos principais problemas da elevada acidez do solo é a alta
disponibilidade de alumínio trocável (Al3+), visto que a solubilidade do
Al é regulada, entre outros fatores, pelo pH do meio (LINDSAY, 1979);
o qual, frequentemente, atinge valores tóxicos para as raízes das
plantas (SOUSA; MIRANDA; OLIVEIRA, 2007) — por isso mesmo o
Al3+ é sinônimo de acidez do solo. A acidez trocável é o somatório do
alumínio e do hidrogênio trocáveis (Al3+ + H+). Mas, como os teores
de H+ são geralmente muito menores que os de Al3+, considera-se o
resultado da acidez trocável como sendo o teor de Al3+ (SOUSA;
MIRANDA; OLIVEIRA, 2007).
Outra acidez do solo importante é a acidez potencial, que é o
somatório da acidez trocável mais a acidez não trocável (hidrogênio
ligado covalentemente aos coloides do solo, identificado apenas
como H, sem o sinal de carga), sendo que a acidez potencial é
identificada como H + Al. Esta acidez não está relacionada
diretamente com a toxidez para as plantas ou a uma faixa de
requerimento por estas, mas sim à capacidade tampão de acidez do
solo, ou seja, à resistência que o mesmo apresenta à alteração de
seu pH. Como compõem as cargas do solo, a análise do H + Al
também é essencial para a determinação da capacidade de troca
catiônica (CTC) do solo, que, por sua vez, é essencial para o cálculo
da necessidade de calagem pelo método de “saturação por bases”.
Na Tabela 3, apresentam-se classes para interpretação de atributos
relacionados à fertilidade do solo para o cacaueiro e principais
referências utilizadas para definição das mesmas. Para esses
atributos químicos, há razoável informação de pesquisa e de
publicações técnicas para o cacaueiro. Por isso, optou-se por separar
estas informações daquelas contidas na Tabela 4 — que se referem à
sugestão para interpretação de análise de solo para enxofre (S) e
micronutrientes, atributos químicos que carecem de pesquisa para
definição de tabelas de interpretação mais assertivas — e por,
inclusive, registrar que os valores apresentados na Tabela 4 são uma
primeira aproximação para interpretação destes nutrientes,
especificamente para o cacaueiro.
Para o nitrogênio (N), devido à elevada dinâmica de suas formas
disponíveis (NO3-e NH4+) no solo, não são feitas análises visando à
avaliação da fertilidade. Por ser mais estável no solo, pode-se fazer
análise de N total, mas este também não reflete a disponibilidade
deste nutriente para as plantas, por isso não há, até o momento,
critério de rotina para avaliação da disponibilidade de N em solos.
7 Correção da acidez do solo e gessagem
Os principais objetivos da correção da acidez do solo são a
elevação do pH, a redução da toxidez por Al3+ e o fornecimento de
Ca2+ e Mg2+ ao solo. Mas há também outros efeitos desejáveis e
benéficos, oriundos da correção da acidez do solo, como, por
exemplo: aumento da disponibilidade de alguns nutrientes como N, P,
S e Mo; estímulo ao desenvolvimento do sistema radicular e à
absorção de água e nutrientes; diminuição da adsorção/fixação de P
pelas argilas do solo; aumento das cargas negativas do solo, ou seja,
aumento da CTC efetiva (t) e, consequentemente, redução da
lixiviação de nutrientes catiônicos; diminuição de possível toxidez por
Mn e aumento da fixação simbiótica do N. Contudo, o uso
indiscriminado de corretivos de acidez e/ou sua pequena
incorporação ao solo podem causar efeitos não desejáveis, como:
diminuição da disponibilidade de micronutrientes catiônicos e de P,
desbalanço nutricional e dispersão de argilas do solo. Por isso, a
aplicação de corretivos de acidez deve ser baseada em critérios
técnicos, referendados por resultados de pesquisas.
Os principais compostos químicos que têm ação corretiva da acidez
do solo são: carbonatos, silicatos, óxidos e hidróxidos de cátions
básicos, principalmente de Ca e/ou de Mg. Independentemente dos
compostos presentes no produto, os resultados analíticos constantes
nos rótulos das embalagens devem ser expressos em percentual
equivalente à CaO e MgO.
Podem-se citar alguns produtos ricos nestes compostos, que
consequentemente são considerados corretivos de acidez do solo:
calcários, escórias de siderurgia, cal virgem ou hidratada, margas
(depósitos terrestres de CaCO3), calcários marinhos (corais e
conchas) e subprodutos de diversas indústrias, como pó de mármore,
cinzas de madeira (que são ricas em K), desde que se enquadrem
nos requisitos estabelecidos pela legislação.
De acordo com a legislação brasileira vigente, Decreto nº 4.954, de
14 de janeiro de 2004 e Instrução Normativa (IN) SDA/MAPA nº 35,
de 04 de julho de 2006, Corretivo de Acidez é qualquer produto que
promova a correção da acidez do solo, além de fornecer Ca e/ou Mg;
devendo ter no mínimo: Reatividade de 67%, Poder Neutralizante de
67%, Poder Relativo de Neutralização Total de 45% e soma dos
teores de equivalentes de óxidos de cálcio e de magnésio (CaO +
MgO) de 38%.
Entende-se por:

Reatividade (RE) — o valor que expressa o percentual (%) do


corretivo que reagirá com o solo no prazo de três meses; pode
também ser entendido como a granulometria ou “finura do
calcário”; sendo calculada de acordo com a média ponderada de
suas frações granulométricas, de acordo com o seguinte critério:
RE zero para a fração retida na peneira com abertura de malha
(#) de 2,00 mm; RE de 20% para a fração que passa na peneira
# 2,00 mm e fica retida na # 0,84 mm; RE de 60% para a fração
que passa na peneira # 0,84 mm e fica retida na peneira # 0,30
mm e RE de 100% para a fração que passa na peneira # 0,30
mm;
Poder Neutralizante (PN) — capacidade potencial total de bases
neutralizantes contidas no corretivo, expressa em equivalente de
carbonato de cálcio (CaCO3) puro, o qual é considerado 100%;
Poder Relativo de Neutralização Total (PRNT) — conteúdo de
neutralizantes contidos no corretivo, expresso em equivalente de
CaCO3 puro, que reagirá com o solo no prazo de três meses; o
qual é calculado de acordo com a seguinte expressão:

PRNT (%) = PN x RE / 100.


Pode-se calcular também o Efeito Residual (ER) do corretivo, que
pode ser definido como o percentual do corretivo que apresenta ação
mais lenta e que reagirá após os três meses, sendo uma
característica antagônica da RE, ou seja, quando maior for a
Reatividade (finura) de um corretivo, menor será seu Efeito Residual,
o qual pode ser calculado pela expressão: ER = (100 – RE) x PN /
100, ou simplesmente ER = PN - PRNT.
A princípio, dessas características (RE, PN, ER e PRNT), o PRNT,
que integra RE e PN, é geralmente o que deve ser analisado para
avaliar a qualidade do corretivo. Na prática, o PRNT é usado para
caracterizar o poder neutralizante efetivo dos corretivos (PRIMAVESI;
PRIMAVESI, 2004) e, inclusive, é utilizado para o cálculo do “preço
efetivo do produto”, o qual deve ser feito por tonelada do corretivo
colocado na propriedade, de acordo com a seguinte expressão:

Contudo, as três outras características individuais do corretivo não


devem ser negligenciadas. O PN, que indica a capacidade teórica do
corretivo em neutralizar a acidez do solo, depende do teor e da
natureza química dos compostos presentes no corretivo (COELHO,
2004; PRIMAVESI; PRIMAVESI, 2004). Na Tabela 5, apresenta-se o
PN de diferentes compostos puros, tomando como referência o
CaCO3 puro, cujo PN é referenciado como 100%. Pode-se observar,
nessa tabela, que o PN de um corretivo pode, inclusive, ser maior que
100% e que os compostos de Mg têm maior PN do que os de Ca. Por
isso, mesmo os corretivos mais ricos em Mg têm maior poder de
correção da acidez do solo. É importante ressaltar que os corretivos
agrícolas, além dos compostos que efetivamente corrigem a acidez,
têm impurezas (p.e.: argilas, sílica, matéria orgânica, sulfatos e
sulfetos) que reduzem o PN dos mesmos.
Tabela 5 - Poder Neutralizante (PN) de diferentes
compostos
Composto Fórmula PN (%)
química
Carbonato de cálcio CaCO3 100
Carbonato de magnésio MgCO3 119
Óxido de cálcio CaO 179
Óxido de magnésio MgO 248
Hidróxido de cálcio Ca(OH)2 135
Hidróxido de magnésio Mg(OH)2 172
Silicato de cálcio CaSiO3 86
Silicato de magnésio MgSiO3 100
Fonte: Elaboração dos autores.

Há situações em que se faz necessário o uso de corretivo com


maior RE (mais finos), como, por exemplo, para aplicação na
superfície do solo e sem incorporação; porém, em outras situações,
que visam prolongar o ER do corretivo, como aplicação antes da
implantação de culturas perenes, é interessante o uso de corretivo
com granulometria mais grosseira (COELHO, 2004; PRIMAVESI;
PRIMAVESI, 2004). Então, a RE e o ER do corretivo devem ser
considerados no manejo de solos e na economicidade da calagem
(PRIMAVESI; PRIMAVESI, 2004), de acordo com a taxa de reação
que se deseja do corretivo.
A legislação brasileira vigente — IN SDA/MAPA nº 27, de 05 de
junho de 2006 — também estabelece limites máximos de metais
pesados tóxicos permitidos em corretivos de acidez, como também
em corretivos de alcalinidade e de sodicidade, os quais são de até 20
mg kg-1 de cádmio (Cd) e até 1.000 mg kg-1 de chumbo (Pb).

7.1 Calcário como corretivo de acidez do solo


O calcário, rocha constituída principalmente por CaCO3 e MgCO3, é
o principal insumo utilizado como corretivo de acidez do solo, por ser
produto relativamente abundante e bem distribuído geograficamente,
de fácil exploração e, geralmente, mais barato que outros corretivos
de acidez.
Anteriormente, a Portaria SFA/MAPA nº 03, de 12 de junho de
1986, classificava os calcários segundo o teor de Mg em: calcíticos
(MgO < 5%), magnesianos (MgO entre 5 e 12%) e dolomíticos (MgO
> 12%). Essa Portaria foi revogada pela IN SARC/ MAPA nº 4, de 02
de agosto de 2004, que passou a classificar os calcários em:
calcíticos (MgO < 5%) e dolomíticos (MgO > 5%); e, mais
recentemente, a IN SDA/MAPA nº 35, de 04 de julho de 2006,
revogou a IN SARC/MAPA nº 4, de 02 de agosto de 2004, e não
apresentou classificação dos calcários com relação aos teores de Mg.
Apesar de a legislação vigente não mais prever essa classificação,
a escolha do calcário ou de outro corretivo de acidez deve considerar
também a quantidade de CaO e MgO, visando atender a relação
Ca:Mg no solo que seja favorável ao bom desenvolvimento da cultura.
É importante destacar que a grande maioria dos pesquisadores indica
que a relação Ca:Mg no solo, para o cacaueiro, deva situar-se entre
2:1 e 4:1.

7.2 Calagem

Na literatura, há diferentes métodos de recomendação de calagem


para o cacaueiro, por exemplo: em função do teor de Al3+
(NAKAYAMA, 2001) ou saturação de Al3+ (CABALA-ROSAND;
SANTANA; SANTANA, 1984b, 1985; BERTSCH, 1995; MOLINA,
1998; CHEPOTE et al., 2005), objetivando a redução do efeito tóxico
deste elemento; visando a elevação dos teores trocáveis de Ca2+ e
Mg2+ (CABALA-ROSAND; SANTANA; SANTANA, 1984b, 1985;
CHEPOTE et al., 2005, 2013) ou a elevação da saturação por bases
(MALAVOLTA, 1987, 1997; CHEPOTE et al., 2012, 2013).
O uso de método de saturação por bases (V) deve ser preferido
devido à alta relação entre V e pH, inclusive para solos da Bahia
(MENEZES; SOUZA JÚNIOR; SANTOS NETO, 1999), e a alta
relação entre estes dois atributos do solo e o crescimento e a
produtividade do cacaueiro (MALAVOLTA, 1997; SOUZA JÚNIOR,
1997; REIS et al., 2007). Sempre que a saturação por bases (V) da
camada superficial do solo (0−10 cm, 0−15 cm ou 0−20 cm) estiver
menor que 60%, recomenda-se fazer calagem para elevar V a 70%,
de acordo com a Equação 1.

Em que:
QC = quantidade de calcário, em toneladas por hectare (t ha-1);
V2 = saturação por bases desejada, em %; no caso, 70%;
V1 = saturação por bases do solo, em %;
T = CTC a pH 7,0, em mmolc dm-3;
PRNT = Poder Relativo de Neutralização Total do corretivo, em %;
p = profundidade de incorporação ou de reação do calcário, em cm.
Para áreas a serem plantadas, o calcário ou outro corretivo deve
ser aplicado em toda a superfície do solo e incorporado ao mesmo,
geralmente à profundidade entre 20 a 30 cm. Quando não for
possível a incorporação do calcário, por exemplo, em lavouras já
implantadas, deve-se considerar como profundidade de reação de 5 a
7 cm, pois o calcário tem baixa mobilidade no solo, sendo que, após
um ano de sua aplicação na superfície, seu efeito como corretivo
geralmente se restringe à profundidade entre 4 a 10 cm (CAIRES;
BANZATTO; FONSECA, 2000; AMARAL; ANGHINONI, 2001;
FREIRIA et al., 2008) e que, aproximadamente quatro anos após sua
aplicação, seus efeitos benéficos na correção da acidez concentram-
se até a profundidade em torno de 10 cm (CAIRES et al., 2004),
podendo ocasionar discreto aumento de bases a partir de quatro a
cinco anos na camada de 10−20 cm (CAIRES; BANZATTO;
FONSECA, 2000). Em alguns casos, por exemplo, para calcário
calcinado e com elevados ER e PN, pode haver efeito corretivo até a
profundidade de 20 cm após um ano de sua aplicação na superfície
(SILVA et al., 2007). Para uma área cultivada com cacaueiro,
Nakayama (1986) observou, seis anos após a aplicação do calcário
na superfície, efeito corretivo de acidez até 10 cm e movimentação de
Ca2+ e Mg2+ até 15 cm de profundidade. Deve-se destacar que o
efeito corretivo é influenciado pela textura do solo.
Em áreas já implantadas, para acelerar o processo de
reação/solubilização corretivo, é importante que, após a aplicação,
haja o revolvimento das folhas que se encontram na superfície do
solo, o que pode ser feito com auxílio de um ancinho, gancho ou
mesmo um “soprador de folhas”.

7.3 Gessagem

Como exposto, o efeito da calagem restringe-se a camadas mais


superficiais do solo. Contudo, é comum — em solos muito
intemperizados, como em Latossolos e Argissolos — a ocorrência de
acidez em profundidade. Nesses casos, faz-se importante o uso do
gesso como condicionador do solo, visando amenizar os problemas
inerentes à elevada acidez em camadas mais profundas do solo.
Entretanto, o gesso não pode ser considerado um corretivo de acidez
do solo, pois não tem potencial para promover expressivos aumentos
de pH nem precipitação completa do Al3+.
O gesso agrícola, um subproduto da indústria de ácido fosfórico e
largamente disponível em muitas partes do planeta, tem como
constituinte principal o sulfato de cálcio di-hidratado (CaSO4.2H2O). O
gesso agrícola é um sal pouco solúvel em soluções aquosas (2,5 g L-
1), mas que pode atuar significativamente sobre a força iônica da

solução do solo, de maneira que haja contínua liberação do sal para a


solução por longos períodos de tempo; apresenta boa mobilidade no
solo; é fonte de Ca (16 a 20%) e de S (13 a 17%), além de ter
pequenas quantidades de P2O5 (0,6 a 0,75%), F (0,6 a 0,7%), Mg
(0,12%), micronutrientes (B, Cu, Fe, Mn, Mo, Ni e Zn) e de outros
elementos; permitindo que o mesmo possa ser utilizado para
diferentes finalidades na agricultura, entre as quais destacam-se:
adubo de Ca e de S; correção de camadas subsuperficiais contendo
alto teor de Al3+ e/ou baixo teor de Ca2+, ou seja, para melhorar o
ambiente radicular de plantas; correção de solos sódicos (ALVAREZ
V. et al., 1999a; SOUSA; MIRANDA; OLIVEIRA, 2007). Os limites
mínimos de 16% de Ca (22% de CaO) e de 13% de S são definidos
na IN SDA/MAPA nº 35, de 04 de julho de 2006.
Além do gesso agrícola, há minerais de sulfato de cálcio de
ocorrência na natureza, sendo os principais a anidrita (CaSO4) e a
gipsita (CaSO4.2H2O), encontradas em depósitos evaporíticos
originados de antigos oceanos, sendo que a gipsita apresenta uma
grande diversidade de opções de aproveitamento industrial e também
pode ser utilizada na agricultura, semelhantemente ao gesso agrícola
(PEREIRA, 2007).
A eficiência do gesso na melhoria química de camadas
subsuperficiais ácidas do solo tem sido demonstrada em vários
trabalhos, pois mesmo quando a aplicação é feita na superfície do
solo, sem incorporação, há sua lixiviação para camadas mais
profundas; aumentando em profundidade a concentração de Ca2+ e
de SO4+ e diminuindo a toxidez por Al3+ — pela formação de
espécies menos tóxicas de Al (p.ex.: AlSO4+ e AlF2+), precipitação de
parte do Al3+ e/ou diminuição de sua saturação (m) no complexo de
troca —, o que favorece o desenvolvimento radicular em
profundidade, e, consequentemente, confere maior resistência da
planta à seca, devido ao aumento da absorção de água de camadas
mais profundas do solo; além de favorecer também a absorção de
nutrientes pelas raízes (RAIJ, 1988; ALVAREZ V. et al., 1999a;
CAIRES et al., 2004; SOUSA; MIRANDA; OLIVEIRA, 2007;
CHEPOTE et al., 2013).
Ainda há dúvidas sobre as condições em que se podem esperar
efeitos favoráveis do gesso nas produções das culturas e quanto ao
método de recomendação do produto (ALVAREZ V. et al., 1999a;
CAIRES et al., 2004). Além disso, o uso excessivo de gesso pode
provocar lixiviação de nutrientes, especialmente de potássio.
Os principais métodos de recomendação de gesso, como
“melhorador da acidez” de solo em subsuperfície, são baseados em
análises da camada de solo a ser corrigida, geralmente entre 20 a 60
cm, em função de: teor ou saturação por Ca, teor ou saturação por Al,
teor de argila, P-rem ou necessidade de calagem (RAIJ, 1988;
MALAVOLTA, 1997; ALVAREZ V. et al., 1999a; SOUSA; MIRANDA;
OLIVEIRA, 2007).
São escassas as pesquisas com uso de gesso agrícola na cultura
do cacaueiro; apesar disso, os trabalhos de Nakayama (1988) e Reis
et al. (2007) podem ser citados como exemplos para esta área de
estudo. Essa escassez de pesquisa dificulta o estabelecimento de
critérios de recomendação mais assertivos. Mas isso não impede,
com base em informações da literatura para outras culturas e na
experiência dos autores, que sejam sugeridos critérios para
recomendação de gessagem para o cacaueiro. Assim, sugerimos os
métodos com base na “saturação por Al3+ tolerável” (mt) e “saturação
desejável por Ca2+ na CTC efetiva” (%Cadt), Equações 2 e 3,
respectivamente, adaptadas de Malavolta (1997). Para uso na
Equação 1, sugere-se que a mt para o cacaueiro fique entre 20%,
como adotado por Bertsch (1995) e Molina (1998), a 30%, como
observado por Miranda e Dias (1971) e Santana e Cabala-Rosand
(1984). Para uso na Equação 2, sugere-se %Cadt entre 50 a 60%,
com base nos resultados de Santana e Cabala-Rosand (1984).
Contudo, é ainda importante a realização de pesquisas com gesso
em cacauicultura para aferir esses métodos e/ou para propor outros
métodos de recomendação de doses e formas de aplicação.
Quanto à Espessura da Camada (EC) a ser considerada no cálculo,
sugere-se a camada de 20 a 60 cm, ou seja, uma EC de 40 cm, pois,
em solos bastante intemperizados, mais de 20% do sistema radicular
do cacaueiro concentra-se na camada de 30 a 60 cm (CADIMA Z.;
CORAL, 1972), sendo que as radicelas mais finas geralmente
crescem até 50 cm (CADIMA Z., 1970), e a raiz pivotante até 2,0 m
de profundidade (HARDY, 1961; BRAUDEAU, 1970).
Apesar de se estabelecer uma EC no cálculo da dose de gesso, os
efeitos do gesso nas características dessa camada dependem de
alguns fatores como: quantidade de gesso aplicado, matéria orgânica,
CTC e textura do solo e quantidade e frequência do volume de água
(chuva e/ou irrigação) que o solo recebe após a aplicação do gesso.
Inclusive, a depender destes fatores, os efeitos do gesso aplicado
podem atingir camadas mais profundas que a previamente definida.
Semelhantemente ao calcário, o gesso deve ser aplicado a lanço,
cobrindo toda a superfície do solo, e, para lavouras a serem
implantadas, pode, inclusive, ser aplicado concomitantemente com o
calcário e, posteriormente, incorporado ao solo via aração e/ou
gradagem. Em se tratando de cacaueiros já instalados e
considerando a facilidade de redistribuição do gesso no perfil do solo,
o mesmo pode ser deixado à superfície, pois será gradativamente
carreado pela água percolada no solo e irá interagir com as cargas
das argilas e da matéria orgânica e com os íons presentes no solo.

Em que:
QG = quantidade de gesso, em toneladas por hectare (t ha-1);
Al3+ = teor de Al3+ na camada de interesse, em mmolc dm-3;
mt = saturação por Al3+ tolerável pelo cacaueiro, em % — sugere-
se entre 20 a 30%;
t = CTC efetiva na camada de interesse, em mmolc dm-3;
EC = espessura da camada, em cm — sugere-se camada de 20 a
60 cm, ou seja, EC de 40 cm;
%Cages = porcentagem de Ca no gesso, em % — entre 16 a 20%;
%Cadt = porcentagem de Ca desejável na CTC efetiva, em% —
sugere-se entre 50 a 60%;
Ca2+ = teor de Ca2+ na camada de interesse, em mmolc dm-3.
8 Recomendação de adubação
Um bom programa de adubação deve visar uma adequada nutrição
da planta, tanto balanço quanto equilíbrio nutricional, por meio do uso
racional e sustentável de insumos (corretivos, fertilizantes e resíduos),
propiciando crescimento, desenvolvimento e produtividade
satisfatórios da cultura, considerando ainda os aspectos econômicos
e ambientais da prática, ou seja, objetivando maximizar o lucro com o
mínimo de impacto ao ambiente e aos organismos e produzindo um
produto (p.e.: alimento, fibra, biomassa, látex) de qualidade.
As recomendações de adubação deveriam ser baseadas em
resultados de pesquisas de calibração de adubação, de extração e
exportação de nutrientes e de balanço nutricional, considerando
entradas e perdas dos nutrientes disponíveis no sistema de acordo
com informações como: conhecimento das condições e limitações
edáficas e climáticas regionais, taxas de recuperação do nutriente/
fertilizante aplicado, análise de solo, análise de planta, material
genético utilizado, expectativas de produtividade e de receita,
experiência do técnico com a cultura e custo de aquisição e uso dos
insumos.
O conceito de uso eficiente de fertilizantes e corretivos agrícolas
num sentido mais amplo envolve, entretanto, respostas às seguintes
perguntas: quais nutrientes aplicar? Quanto aplicar? Como aplicar?
Quais fontes utilizar? Em que época(s) aplicar? Qual a expectativa de
retorno econômico? Afetará a qualidade do produto e/ou o ambiente?
(MALAVOLTA, 1997; LOPES; GUILHERME, 2000).
Pesquisas realizadas em Gana entre o fim dos anos 1950 e início
dos anos 1970 mostraram efeitos benéficos para a produção do
cacaueiro em função da fertilização, da redução do sombreamento e,
principalmente, quando essas duas práticas foram feitas
conjuntamente (Figura 1), sendo que as produtividades das safras de
1960/1961 e 1964/1965 alcançaram valores próximos a 4.000 kg ha-1
ano-1, valor mais de 10 vezes superior à produtividade média daquele
país naquela época (AHENKORAH; AKROFI; ADRI, 1974); já que as
doses médias aplicadas, em kg ha-1 ano-1, em torno de 112 (entre
1957 a 1964) e de zero (entre 1965 a 1971) para N, de 108 para
P2O5, 140 para K2O e 22 para MgO, mostraram-se insuficientes para
manter esse patamar de produtividade, pois se observa declínio da
produtividade a partir da safra de 1964/1965 (Figura 1).

Figura 1 - Produtividade anual do cacaueiro em Gana, em função


da remoção do sombreamento e da aplicação de fertilizantes

Fonte: Adaptado de AHENKORAH, AKROFI e ADRI, 1974.

Nesse contexto, o trabalho de Cabala et al. (1971) merece


destaque pela sua contribuição para a cacauicultura brasileira, pois
relacionou índices de sombra, adubação e produtividade de
cacaueiros. Nesse trabalho, a adubação utilizada foi de 105, 146, 64,
35 e 46 kg ha-1 ano-1 de N, P2O5, K2O, MgO e CaO, respectivamente.
Verificou-se que a eliminação da sombra elevou a produtividade
média de dois anos, em 21 localidades, para em torno de 1.500 kg
ha-1 ano-1 e que, quando essa prática foi associada à adubação, a
produtividade média alcançou aproximadamente 1.850 kg ha-1 ano-1,
valores aproximadamente três e quatro vezes superiores à média da
região na época, respectivamente (Figura 2). Em relação à
testemunha, a remoção da sombra e quando esta prática foi
associada à adubação aumentaram a produtividade média em torno
de 30% e 60%, respectivamente. Porém, a adubação do cacaueiro
sob sombra propiciou aumento médio da produtividade de apenas
10% em relação à testemunha, indicando pouco efeito da adubação
para a produção do cacaueiro em condição de maior nível de
sombreamento (Figura 2), fato que corrobora os resultados pioneiros
de Murray (1953), que relacionou produção de cacau com
intensidades luminosas, na ausência e presença de adubação com
NPK. Mais aprofundamento da discussão sobre a influência da
intensidade de luz para o cultivo do cacaueiro pode ser encontrado no
capítulo 2 deste livro.
Figura 2 - Produtividade anual do cacaueiro, média de 21
localidades no Sul da Bahia, em função da remoção do
sombreamento e da aplicação de fertilizantes

Fonte: CABALA-ROSAND et al., 1971.

8.1 Recomendação de adubação: CEPLAC — Sul da


Bahia

Várias pesquisas com calagem e adubação do cacaueiro foram


conduzidas pela Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira
(CEPLAC) em casa de vegetação e em campo, em diferentes fases
do cultivo e em diferentes condições edáficas, climáticas e de
sombreamento. A base da recomendação de adubação para o
cacaueiro preconizada pela CEPLAC para o Sul da Bahia tem sua
origem nesses resultados de experimentos de calibração de
adubação realizados, principalmente, nas décadas de 1960 e 1970.
As formulações de fertilizantes foram fundamentadas nos resultados
dos levantamentos da fertilidade dos solos e nas respostas de
plantações adultas à fertilização, na presença e ausência de sombra
(CABALA-ROSAND et al., 1971). A primeira recomendação de
adubação para o cacaueiro cultivado no Sul da Bahia, preconizada
pela CEPLAC, data do início da década de 1970 (CABALA-ROSAND
et al. 1972, apud CABALA-ROSAND et al., 1975), com doses anuais
de 60 kg ha-1 de N, de zero, 45 e 90 kg ha-1 de P2O5 e de zero, 45 e
90 kg ha-1 de K2O. Em 1978, propôs-se alterar as doses de K2O, que
passaram a ser de zero, 30 e 60 kg ha-1 (MORAIS; SANTANA;
SANTANA, 1981).
Destaca-se que as pesquisas foram realizadas com cacaueiros da
variedade Catongo, de origem seminal, que tinham como objetivo
aferir respostas a formulações com N, P e K, sendo os tratamentos
aplicados quando as plantas tinham seis anos (CABALA-ROSAND;
SANTANA; MIRANDA, 1976; 1982). Até em torno dos 10 anos de
idade, as maiores respostas foram para P, seguidas de N; o K, em
geral, não apresentou respostas, certamente devido a sua maior
disponibilidade nos solos e à possível disponibilização de formas não
trocáveis de K (CABALA-ROSAND; SANTANA; MIRANDA, 1976;
1982), além do fato de que o K pode ser substituído parcialmente
(algo em torno de 40%) na nutrição/adubação do cacaueiro pelo Na
(BAON et al., 2003; GATTWARD et al., 2012) e de que o Na pode ser
aportado ao solo, inclusive pelas chuvas, principalmente em regiões
costeiras. Após 11 anos de idade, observaram-se respostas positivas
à aplicação dos três nutrientes, especialmente para as doses anuais
de 90 kg ha-1 de P2O5 e 120 kg ha-1 de N e de K2O (CABALA-
ROSAND; SANTANA; MIRANDA, 1982).
A partir dos resultados das pesquisas de calibração de adubação, a
CEPLAC propôs novos critérios para recomendação de fertilizantes e
corretivos no estado da Bahia, com doses recomendadas de zero a
30 kg ha-1 de N; zero, 30, 60 e 90 kg ha-1 de P2O5; e zero, 30 e 60 kg
ha-1 de K2O (CABALA-ROSAND; SANTANA; MIRANDA, 1984b;
CABALA-ROSAND; SANTANA; SANTANA, 1985), critérios que
perduraram por vários anos, até a segunda aproximação, proposta
em 2005, a qual, para cacaueiros a partir de três anos de idade,
manteve as doses anteriores de P e K e recomenda a elevação da
dose de N para 60 kg ha-1 (CHEPOTE et al., 2005), valor que já havia
sido adotado em 1972 (CABALA-ROSAND et al., 1972, apud
CABALA-ROSAND et al., 1975).
Mais recentemente, o Centro de Pesquisas do Cacau (CEPEC) da
CEPLAC, após intensas discussões das suas equipes técnicas,
realizadas com o objetivo de atualizar as recomendações sobre uso
de corretivos e fertilizantes, disponibilizou a terceira aproximação de
recomendações técnicas para utilização desses insumos na cultura
do cacaueiro no Sul da Bahia, a qual traz novas temáticas como:
diagnose foliar; utilização de gesso agrícola; adubação foliar;
adubação por fase, idade e produtividade das plantas; e interpretação
e adubação com micronutrientes (CHEPOTE et al., 2013).
No plantio das mudas, em berços de 40x40x40 cm, a
recomendação é de uso de apenas calcário e P, sendo este nas
doses de 20 a 40 g de P2O5, em função de sua disponibilidade no
solo. Na fase de formação, para o 1º, o 2º e o 3º anos, recomendam-
se aplicar em cobertura 1/3, 1/2 e 2/3, respectivamente, das doses
indicadas a partir do 3º ano (para a faixa de produtividade de até
1.200 kg ha-1), conforme indicadas na Tabela 6 (CHEPOTE et al.,
2012, 2013). Sugerem-se ainda que as adubações devam ser
parceladas em três vezes nos dois primeiros anos e em duas vezes
nos anos seguintes; aplicadas em círculo e que o raio de aplicação
deva variar de acordo com a idade: de 20 a 50 cm do 2º ao 10º mês;
de 60 a 100 cm do 10º ao 20º mês e 110 a 140 cm do 24º ao 36º mês
(CHEPOTE et al., 2012, 2013).
Tabela 6 - Doses atuais de N, P2O5 e K2O recomendáveis pela
CEPLAC para o Sul da Bahia, para cacaueiros a partir de três anos,
em função da faixa de produtividade do ano agrícola anterior
Nutriente Teor no ––––Faixa de produtividade (kg ha-1)––––
solo1/ Até 1.200- 1.800- Acima de
1.200 1.800 2.400 2.400
–––––– Dose (kg ha-1 ano-1) ––––––
N - 60 80 100 120
P <9 90 120 150 180
9–16 60 80 100 120
17–30 30 40 50 60
>30 0 0 0 0
K <1,0 60 80 100 120
1,0–2,5 30 40 50 60
>2,5 0 0 0 0
1/ P em mg dm-3 e extrator Mehlich-1; K em mmolc dm-3.
Fonte: CHEPOTE et al., 2012, 2013.

Para cacaueiros a partir de três anos, a atual recomendação de


adubação com N, P, K preconizada pela CEPLAC (CHEPOTE et al.,
2013) toma como referência as doses da segunda aproximação
(CHEPOTE et al. 2005), que é dose fixa para N (60 kg ha-1) e doses
variáveis de P e K, em função de suas disponibilidades no solo, para
uma produtividade de cacau de até 1.200 kg ha-1 ano-1, sendo estas
doses uniformemente aumentadas em 33,3%, 66,6% e 100%, de
acordo com o aumento de produtividade (Tabela 6).
A CEPLAC também alerta que o sombreamento e o estado
fitossanitário da plantação, o regime hídrico e as características físico-
químicas do solo são importantes para as respostas às adubações.
Recomenda também que as adubações, a partir do 3º ano, devam ser
fracionadas em duas aplicações — a primeira, no período de fevereiro
a abril; e a segunda, de setembro a novembro —, que a aplicação
deve ser feita a lanço e em faixas laterais às plantas, medindo 150 cm
de largura e que, após três anos, deve-se fazer nova amostragem e
análise do solo (CHEPOTE et al., 2012, 2013).

8.2 Adubação modular: proposição do professor


Eurípedes Malavolta

O modelo de adubação modular para cacaueiros foi inicialmente


proposto pelo professor Eurípedes Malavolta, apresentado no curso
de especialização em Nutrição Mineral de Plantas, Módulo 06 –
Nutrição Mineral do Cacaueiro e do Cafeeiro da Associação Brasileira
de Educação Agrícola Superior (MALA-VOLTA, 1997).
Para plantio em berços de 50x50x50 cm, ou seja, volume de 125
dm3, o autor recomenda: 500 g de calcário dolomítico, 400 g de
superfosfato simples, 30 g de cloreto de potássio e 15 g de mistura de
micronutrientes (2,5 g de ácido bórico + 1 g de sulfato de cobre + 7 g
de sulfato ferroso + 3 g de sulfato manganoso + 1,5 g de sulfato de
zinco). O autor sugere que, em solos de média a alta fertilidade, as
doses podem ser diminuídas em 25 e 50%, respectivamente.
Com relação às adubações de formação e de produção, o autor
transcreve as recomendações de outros autores, as quais podem ser
consultadas em Malavolta (1997) ou nas publicações ali citadas, e
propõe “adubação modular”, que sumariamente consiste em:

1. Os dois primeiros anos são considerados como formação da


planta, com doses fixas de N e P, e variáveis de K em função da
análise de solo (Tabela 7); a partir do 2º ano, a adubação é
recomendada por módulo (Tabelas 8 e 9);
2. Um módulo é a dose do nutriente que se deve aplicar para
garantir uma produção de 150 kg ha-1 e a vegetação
correspondente;
3. Em lavouras em produção, usar um mínimo de quatro e um
máximo de 15 módulos;
4. Recomenda fazer três parcelamentos dos fertilizantes, sendo
que, a partir do terceiro ano, as doses da 1ª parcela são fixas, e
as doses das 2ª e 3ª parcelas são variáveis em função da
reavaliação da produção e da análise de folhas feita um mês
após a primeira parcela;
5. As doses são inicialmente calculadas com base na análise de
solo e na expectativa da produtividade anual.

Tabela 7 - Recomendação de adubação para o


cacaueiro, para os dois primeiros anos após
transplante, proposta por Malavolta (1997)1/
Nutriente Teor no solo 1º ano 2º ano
---kg ha-1 ano-1----
N 12 18
P 12 18
K <1,0% da CTC 12 18
1,0%–2,0% da CTC 9 12
>2,0% da CTC 0 0
1/ Doses em kg ha-1 ano-1 de N, P2O5 e K2O a serem parceladas
em três vezes por ano.
Fonte: MALAVOLTA, 1997.
Tabela 8 - Recomendação de adubação para o cacaueiro, a partir do
3º ano, para a 1ª parcela (fixa), por módulo, proposta por Malavolta
(1997)1/
Nutriente Teor no solo Dose2/ Nutriente Teor no Dose2/
solo
N 4,8
P3/ <10 mg dm-3 12 S <9 mg dm- 2,4
3

10-20 mg dm-3 8 9-14 mg 1,8


dm-3
>20 mg dm-3 0 >14 mg 0
dm-3
K <1,0% da CTC 6,0 B4/ <0,2 mg 0,12
dm-3
1,0-2,5% da CTC 3,6 0,2-0,5 mg 0,08
dm-3
>2,5% da CTC 0 >0,5 mg 0
dm-3
Mg <10% da CTC 2,4 Zn4/ <2,0 mg 0,75
dm-3
10%-15% da 1,2 2,0-4,0 mg 0,50
CTC dm-3
>15% da CTC 0 >4,0 mg 0
dm-3
1/ Estas doses são consideradas fixas, pois independem da análise
foliar.
2/ Doses em kg por ha por módulo de produção de 150 kg ha-1 de
amêndoas secas, para a 1ª parcela (agosto/ setembro), de N, P2O5 e
K2O, Mg, S, B e Zn.
3/ Extratores: P (Resina); B (HCl 0,05 mol L-1); Zn (Mehlich-1).
4/ O autor ainda recomenda: não usar mais que 4 kg ha-1 ano-1 de B
e 8 kg ha-1 ano-1 de Zn, considerando o somatório das três parcelas
(Tabelas 7 e 8); para o P e o Zn fazer a aplicação em dose única (1ª
parcela); para os demais nutrientes fazer também as adubações
variáveis (2ª e 3ª parcelas, Tabela 8).
Fonte: MALAVOLTA, 1997.

Tabela 9 - Recomendação de adubação para o cacaueiro, a partir do


3º ano, para as 2ª e 3ª parcelas (variáveis), por módulo, proposta por
Malavolta (1997)1/
Nutriente Teor no solo Dose2/ Nutriente Teor no solo Dose2/
N 3,6
K <1,0% da 4,5 S <9 mg dm-3 1,8
CTC
1,0-2,5% da 2,7 9-14 mg dm-3 1,2
CTC
>2,5% da 0 >14 mg dm-3 0
CTC
Mg <10% da CTC 1,8 B3/ < 0,2 mg dm-3 0,09
10-15% da 0,9 0,2-0,5 mg 0,06
CTC dm -3

>15% da CTC 0 >0,5 mg dm-3 0


1/ Estas doses são consideradas variáveis, pois o autor recomenda
aumentá-las ou reduzi-las em 25% se o teor do nutriente na folha
estiver abaixo ou acima, respectivamente, da faixa considerada
adequada (podem-se consultar essas faixas nutricionais em Malavolta
(1997) ou no capítulo “Diagnose nutricional para o cacaueiro” deste
livro).
2/ Doses em kg por ha por parcela, por módulo de produção de 150
kg ha-1 de amêndoas secas, para a 2ª e 3ª parcelas (janeiro/fevereiro
e abril/maio, respectivamente) de N, K2O, Mg, S e B.
3/ Extrator: B (HCl 0,05 mol L-1).
Fonte: MALAVOLTA, 1997.
O autor sugere também que as adubações anuais devem ser
divididas em duas ou três vezes, sugerindo o parcelamento para o Sul
da Bahia e Norte do Espírito Santo, nos meses de: 1ª parcela
(agosto/setembro), 2ª parcela (janeiro/ fevereiro) e 3ª parcela
(abril/maio).
O local de aplicação sugerido segue o preconizado pela CEPLAC
(CABALA-ROSAND; SANTANA; SANTANA, 1989; CHEPOTE et al.,
2013), em função da idade da planta, tomando como referência a
projeção da copa. O autor também sugere que o fertilizante possa ser
aplicado sobre a manta orgânica, sem necessidade de movimentação
da mesma.

8.3 Recomendação de adubação: nossa proposição

A chegada e a rápida disseminação da doença vassoura de bruxa


não apenas trouxeram enormes impactos econômicos, sociais e até
mesmo ambientais para a região cacaueira do Sul da Bahia, mas
também exigiram mudanças importantes nas prioridades da pesquisa
e no cultivo do cacaueiro. Dentre essas mudanças, a mais impactante
foi a necessidade de identificação e de uso de plantas tolerantes à
doença, sendo que estas plantas também passaram a ser
selecionadas para outros atributos agronômicos desejáveis, como:
tolerância à podridão-parda, autocompatibilidade, porte da planta,
peso médio da semente, número de sementes por fruto, espessura da
casca (CEPLAC, 2016) e produtividade (MANDARINO; SENA-
GOMES, 2009).
Cacaueiros propagados vegetativamente, por estaquia ou por
enxertia, recebem a denominação regional, no estado da Bahia, de
“clones” e constituem mudança no sistema tradicional de propagação
do cacaueiro (por semente), pois o potencial produtivo de áreas
clonais (policlonal ou monoclonal), geralmente, é muito maior do que
o de áreas de plantas oriundas de propagação seminal (variedades
ou híbridos), visto que esses clones vêm sendo selecionados também
quanto à produtividade.
Esse maior potencial de produção para se manifestar, obviamente,
envolve maior demanda de nutrientes. Por isso, a recomendação de
adubação que apresentaremos para as fases de formação e de
produção da lavoura cacaueira tem como base dados de extração e
exportação de nutrientes constantes na literatura.
Um tema importante, mas até o momento pouco investigado, é a
relação do porta-enxerto e a nutrição de cacaueiros. Efeitos do porta-
enxerto em mudas de cacaueiro relacionados com o transporte de
nutrientes foram observados por Sodré et al. (2012), que verificaram
que a combinação copa/porta-enxerto interferia no transporte de
nutrientes para a parte aérea. O clone Salobrinho-2, por exemplo,
quando enxertado em cacau “Comum” usado como porta-enxerto,
acumulou significativamente menos N, P e K nas folhas quando
comparado aos clones CCN-51, ICS-1, CEPEC-02 e CP-49.

8.3.1 Adubação de plantio

A adubação de plantio deve ser feita de acordo com o volume do


berço de plantio. Por exemplo, para berços de 40x40x40 cm (ou
4x4x4 dm), têm-se 64 dm3; de 50x50x50 cm, têm-se 125 dm3; e de
40x40x60 cm, têm-se 96 dm3. Caso haja camada com impedimento
físico (camada compactada, adensada ou coesa ou com presença de
faixa de cascalho), é importante que a mesma seja ultrapassada para
que não ocorra impedimento do crescimento da raiz pivotante (muda
enxertada) ou de raízes secundárias que assumem tal função (muda
de estaca enraizada).
É importante ressaltar que o melhor desenvolvimento da parte
aérea e do sistema radicular de mudas clonais de cacaueiro, oriundas
de estacas enraizadas, ocorre quando são plantadas em berços com
dimensões mínimas de 40x40x40 cm, sendo que, neste caso, o
sistema radicular pode alcançar 80 cm profundidade aos 24 meses de
idade (CHEPOTE et al., 2009).
Em plantios extensos podem-se utilizar perfuradores de solo para
aumentar o rendimento da abertura dos berços. Estes, por sua vez,
terão formatos cilíndricos, sendo seu volume dado por Vcilindro =
(πd2h) / 4, em que: π = 3,14; d = diâmetro do cilindro e h = altura do
cilindro (ou profundidade do berço). Nestes casos, posteriormente à
abertura do berço, se houver a formação de “espelhamento” nas
paredes, há necessidade de desfazê-lo com auxílio de escarificador
manual. No mercado há diferentes modelos de perfuradores de solo,
tanto manuais, com motores acoplados, quanto os que são
impulsionados por tratores.
Sugestão para adubação no berço de plantio:

fósforo: independentemente da análise de solo, adicionar 400 mg


dm-3 de P (ou 0,92 g dm-3 de P2O5), o que equivale a 5,1 g dm-3
de superfosfato simples ou 2,25 g dm-3 de superfosfato triplo; por
fim, multiplicar o resultado pelo volume do berço; dar preferência
ao uso de superfosfato simples, pois o mesmo tem 50% de gesso
em sua composição;
potássio: elevar o teor de K para 180 mg dm-3; ou seja, abater
este valor do K na análise de solo, depois multiplicar por 1,2 para
converter K em K2O e, caso se use cloreto de potássio (KCl),
multiplicar o resultado por 1,72 para converter K2O em KCl; por
fim, multiplicar o resultado pelo volume do berço;
calcário, fonte de Ca e Mg: fazer o cálculo para elevar a
saturação por bases (V) para 80%; utilizar a Equação 1 e
considerar uma espessura de camada (EC) de 10 cm para que o
resultado do cálculo fique em gramas por decímetro cúbico (g
dm-3); por fim, multiplicar o resultado pelo volume do berço;
gesso fonte de Ca e S: é usado, principalmente, para diminuir a
toxidez por Al no volume de solo imediatamente abaixo da área
do berço, visando o aprofundamento da raiz pivotante ou
daquelas que assumem tal função, para solos com saturação por
Al em profundidade superior a 20%: utilizar a Equação 2 e
considerar mt de 10% e uma EC de 10 cm para que o resultado
do cálculo fique em g dm-3, depois multiplicar o resultado pelo
volume do berço e, por fim, multiplicar novamente por quantas
vezes mais profundo se quer que o gesso teoricamente tenha
efeito, em relação à profundidade do berço (p.e.: tendo-se um
berço de 40 cm de profundidade e querendo que o gesso tenha
efeito até 150 cm, multiplicar por 3,75; tendo-se um berço de 60
cm de profundidade e querendo que o gesso tenha efeito até 150
cm, multiplicar por 2,5). É importante abater o gesso contido no
superfosfato simples, caso este seja utilizado como fonte de P;
micronutrientes: recomenda-se que, quando necessário, o
fornecimento de micronutrientes seja feito via foliar, juntamente
com a aplicação de inseticida, de acordo com as orientações do
capítulo 12;
matéria orgânica: sempre que possível, é desejável o uso de
fertilizantes orgânicos em berços de plantio, sendo as doses
dependentes de sua disponibilidade e da riqueza em nutrientes
dos mesmos. Como referências, podem-se citar: de 4 a 10 L de
esterco bovino curtido ou composto orgânico, ou 2 a 4 L de
esterco de galinha ou cama de frango.

Resíduos do cacaueiro, como casca de cacau e tegumento de


amêndoa, enriquecidos ou não com esterco e previamente
compostados, podem também ser utilizados como fertilizantes
orgânicos (ARGÔLO et al., 2009).
Os insumos (fertilizantes, calcário e gesso) devem ser misturados à
terra de enchimento do berço, dando-se preferência ao uso de maior
quantidade de terra de raspagem superficial (0−20 cm), que é mais
rica em matéria orgânica e em nutrientes.

8.3.2 Adubação para formação da lavoura

A proposição de adubação para formação da lavoura considera a


extração de nutrientes necessária para a formação de uma “floresta
adulta de cacaueiros”, incluindo a quantidade de nutrientes nas
folhas, no caule, nos ramos, no sistema radicular e na manta
orgânica, também conhecida como liteira, serapilheira ou “litter”. No
Sul da Bahia, quando a manta orgânica cobre completamente a
superfície do solo em áreas de cacaueiros, o que ocorre em geral
após seis anos do plantio, essas áreas recebem o nome regional de
“bate folha”.
Thong e Ng (1980) são autores de um trabalho clássico, que
avaliou o acúmulo de nutrientes pelo cacaueiro em diferentes fases,
cujos resultados são apresentados na Tabela 10.
Tabela 10 - Acúmulo de nutrientes pelo cacaueiro em diferentes
estágios de desenvolvimento
Fase Idade N P K Ca Mg Mn Zn
meses -------------kg ha-1-------------
Viveiro 5-12 2,4 0,6 2,4 2,3 1,1 0,04 0,01
Desenvolvimento 28 136 14 151 113 47 3,9 0,5
Início da 39 212 23 321 140 71 7,1 0,9
produção
Produção 50-87 438 48 633 373 129 6,1 1,5
Fonte: Thong e Ng (1980).

No Sul da Bahia, pode-se citar o trabalho de Silva (2009), que


quantificou a biomassa e N, P e K nos componentes vegetativos de
seis clones de cacaueiro (uma planta de cada clone), plantados em
espaçamento de 3,0 x 3,0 m e em sistema agroflorestal com Erythrina
spp., cujos dados médios são apresentados na Tabela 11. É
importante ressaltar que, nesse trabalho, as plantas foram
propagadas vegetativamente, por enxertia de broto basal de planta
adulta (híbrida), com idade entre seis e sete anos; ou seja, a
biomassa do sistema radicular era da planta velha, e a biomassa da
parte aérea era do clone. Certamente, esta última ainda não tinha
alcançado seu máximo crescimento, com o acúmulo de biomassa
variando de 3,2 a 5,5 t ha-1 para o sistema radicular, e de 8,8 a 12,6 t
ha-1 para a parte aérea. Isso fica claro quando se compara estes
dados com aqueles obtidos por Beer et al. (1990), na Costa Rica, de
cacaueiros cultivados semelhantemente àqueles do trabalho de Silva
(2009), sistema agroflorestal e espaçamento de 3,0 x 3,0 m, diferindo
contudo no método de propagação, visto que se utilizaram plantas
híbridas (propagação seminal). Beer et al. (1990) encontraram
biomassa do sistema radicular variando de 1,8 a 4,2 t ha-1 e de 5,7 a
9,8 t ha-1 aos 5 e 10 anos, respectivamente; e biomassa da parte
aérea do cacaueiro variando de 8,3 a 9,8 ha-1 e de 27,2 a 35,9 t ha-1
aos 5 e 10 anos, respectivamente.
Tabela 11 - Acúmulo médio de biomassa e de N, P e K em
componentes vegetativos do cacaueiro, propagado por enxertia de
broto basal, com idade entre seis e sete anos
Componente Biomassa N P K
t ha-1 -------------kg ha-1-------------
Folha 2,79 62,5 4,6 24,8
Caule 1,64 12,1 1,9 11,0
Ramos finos 1,32 15,1 2,3 13,5
Ramos médios 2,02 19,7 2,3 13,8
Ramos grossos 2,69 20,6 2,8 14,3
Raízes finas 0,75 8,1 0,9 3,2
Raízes 1,92 18,4 2,2 11,9
secundárias
Raízes grossas 1,37 10,1 1,1 11,8
Ramos 6,03 55,4 7,4 41,7
Parte aérea 10,47 129,9 13,9 77,4
Sistema 4,04 36,6 4,2 26,9
radicular
Total 14,51 166,6 18,1 104,3
Fonte: Adaptado de Silva (2009).

Outro componente importante que deve ser considerado na


adubação de cacaueiros é a manta orgânica que se forma sobre a
superfície do solo em lavouras perenes, sejam estas sombreadas ou
não. Em cacaueiros adultos, esta pode variar de 5,3 a 16,5 t ha-1 de
biomassa seca (BEER et al., 1990; SANTANA; CABALA-ROSAND;
SERÔDIO, 1990; SOUZA JÚNIOR, 1997; CURVELO et al., 2009;
MENEZES; MOREAU; MARIANO, 2015). No trabalho de Santana,
Cabala-Rosand e Serôdio (1990), a quantidade média de nutrientes
acumulados em kg ha-1 na manta orgânica, em seis plantações
sombreadas e não sombreadas, localizadas em diferentes sub-
regiões do Sul da Bahia foi de: 101, 8, 32, 145, 33, 0,6, 2,7 e 0,4 de
N, P, K, Ca, Mg, Cu, Mn e Zn, respectivamente. Por sua vez, Souza
Júnior (1997) encontrou média de, em kg ha-1: 198, 17, 15, 299, 80,
13, 0,2, 12 e 0,9, de N, P, K, Ca, Mg, S, Cu, Mn e Zn,
respectivamente, acumulados na manta orgânica de 36 áreas de
cacaueiros adultos, cultivados em sistemas agroflorestais.
Para o cálculo da adubação de formação com N, P e K, foram
usados os dados de acúmulo de nutrientes nas partes vegetativas no
cacaueiro em produção de Thong e Ng (1980), e os dados médios de
nutrientes acumulados na manta orgânica obtidos por Santana,
Cabala-Rosand e Serôdio (1990) e por Souza Júnior (1997).
Utilizaram-se taxas de recuperação do fertilizante pela planta de 70%,
25% e 85% para N, P e K, para o cálculo das doses a serem
utilizadas nas faixas de disponibilidade de nutrientes consideradas
boas para P e K e na faixa de suficiência foliar para N. Visou-se
também a manutenção ou a convergência de seus teores no solo (P e
K) ou na folha (N) para essas faixas e considerou-se a área ocupada
pelo sistema radicular em função da idade da planta (15% no 1º ano;
50% no 2º ano e 100% nos demais anos). Consideraram-se também
sete anos para a formação da planta e distribuição da biomassa e dos
nutrientes ao longo dos anos, assim: 1º ano (10%), 2º ano (30%), 3º
ano (45%), 4º ano (60%), 5º ano (75%), 6º ano (90%) e 7º ano
(100%). Do exposto, chegou-se à recomendação de adubação
apresentada na Tabela 12. Contudo, a partir do 3º ano, devem-se
somar as doses desta tabela àquelas referentes à adubação de
produção.
Tabela 12 - Sugestão de adubação de formação de N, P e K, em kg
ha-1 ano-1, até o sétimo ano de idade1/, em função de seus teores
foliares ou no solo
Ano Teor foliar de Teor de P no solo2/ Teor de K no solo
N
-----g kg-1----- -------mg dm-3------- ---------mg dm-3---------
<20 20-24 >24 <8 8- 16- 31- >60 <40 40- 90- 121- >180
15 30 60 89 120 180
N, kg ha-1 P2O5, kg ha-1 K2O, kg ha-1
1º 120 90 60 90 70 55 30 0 110 100 90 75 50
2º 200 170 110 150 130 110 50 0 230 200 180 120 50
3º a 6º 160 130 90 140 110 85 40 0 220 180 140 20 0
7º 120 90 60 100 75 55 30 0 180 130 90 0 0
1/ A partir do 3º ano, a adubação de formação deve ser somada à
adubação de produção. 2/ Extrator Mehlich-1.
Fonte: Elaboração dos autores.

Nos dois primeiros anos, para S e micronutrientes, se seus teores


no solo ou foliares estiveram abaixo das faixas consideradas
adequadas (Tabela 3) ou abaixo das faixas de suficiência
apresentadas na Tabela 11 do Capítulo 10, respectivamente,
recomenda-se fazer adubação foliar, principalmente para o 1º ano
(ver capítulo 12) ou via solo, com as seguintes doses em kg ha-1 ano-
1: 20 de S; 2,0 de Cu; 1,0 de B; 5,0 de Mn e 5,0 de Zn, podendo

essas doses serem aplicadas em uma única parcela.


Para adubações com micronutrientes via solo, sempre que
possível, o produtor deverá adquirir a formulação N, P, K adicionada
dos micronutrientes desejados, de preferência na forma de mistura
granulada, que é um fertilizante no qual cada grânulo contém todos
os nutrientes declarados no rótulo do produto. Isso tem a vantagem
de melhorar a uniformidade e a eficiência da adubação.

8.3.3 Adubação de produção


De acordo com os dados de Beer et al. (1990), pode-se considerar
que, para cacaueiros híbridos de origem seminal, a maturidade
produtiva da planta é alcançada a partir do 6º ano de idade, sendo
que, com três anos, a planta pode produzir algo próximo a 50% da
produção do 6º ano. Já para plantios clonais, a produtividade até dois
anos de idade também é muito pequena, porém a partir do 3º ano há
clones que alcançam produção superior a 1,0 kg de amêndoas secas
por planta (MANDARINO; SENA-GOMES, 2009), por isso,
considerou-se a fase produtiva a partir do 3º ano.
A adubação de produção aqui proposta é baseada na exportação
de nutrientes da lavoura, ou seja, depende da expectativa de
produtividade e da quantidade de nutrientes que seria exportada para
alcançar essa produtividade, considerando a fertilidade do solo, o
status nutricional na planta e também as possíveis perdas de
nutrientes no sistema.
A expectativa de produtividade depende de uma série de fatores,
como, por exemplo: características genéticas (características do
sistema radicular e da interação entre porta-enxerto e enxerto,
compatibilidade com relação à polinização, potencial produtivo,
resistência a pragas e doenças); tipo de planta (planta velha
enxertada; planta oriunda de muda seminal, seminal/enxertada ou de
estaca enraizada); idade da planta; condições ambientais (chuva,
luminosidade, temperatura e vento); densidade de plantas (número
de cacaueiros por hectare); sistema de cultivo (cultivo sob mata
raleada, consórcio com outras culturas e cultivo a pleno sol); manejo
de pragas, doenças e plantas invasoras; manejo do solo; topografia;
nutrição da planta e frequência de colheita.
Historicamente, a produtividade média do cacaueiro no Sul da
Bahia tem sido baixa, variando entre 750 kg ha-1 ano-1, no final da
década de 1970, até os atuais 300 kg ha-1 ano-1. Contudo,
produtividades muito superiores a estas são observadas em áreas
experimentais e em lavouras comerciais (SOUZA JÚNIOR et al.,
1999a; 1999b; CEPLAC, 2012; SILVA, 2015). Há quase 80 anos,
Bondar (1938) já relatava produtividades em algumas lavouras de
cacau entre 4.500 a 4.800 kg por mil plantas.
De modo geral, para lavouras adultas, a produtividade anual do
cacaueiro em sistema sob mata raleada, com baixa densidade de
plantio (menos de 700 cacaueiros por hectare) e muito
sombreamento, dificilmente ultrapassa 1.000 kg ha-1. Por outro lado,
para lavouras com densidade próxima ou superior a 1.000 cacaueiros
por hectare — com clones produtivos, sombreamento reduzido, bem
manejadas (pragas, doenças, poda, adubação/nutrição) e em ano
que apresentem boas condições climáticas —, pode-se alcançar
produtividades próximas a 4.000 kg ha-1. Porém, produtividades
superiores, geralmente, só são alcançadas se, além dos preceitos
anteriores, a lavoura for fertirrigada com segurança de não ocorrência
de estresse hídrico e com fornecimento equilibrado e balanceado de
nutrientes.
A exportação de nutrientes pelo cacaueiro varia muito entre
materiais genéticos (SILVA, 2009; SILVA, 2015) e, para um mesmo
material genético, entre localidades (PINTO, 2013), bem como do que
efetivamente é exportado da área, se apenas as amêndoas ou se os
frutos completos (amêndoas e cascas). As exportações de macro e
micronutrientes para produção de uma tonelada de amêndoas secas,
relatadas por diferentes autores, são apresentadas nas Tabelas 13 e
14, respectivamente.
Tabela 13 - Quantidades de macronutrientes na amêndoa (Am) e na
casca (Cas) do cacau, para produção de 1.000 kg de amêndoas
secas, de acordo com diferentes fontes
Fonte N P K Ca Mg S
Am Cas Am Cas Am Cas Am Cas Am Cas Am Cas
-------------------------kg do nutriente --------------------------
Thong e 20,4 10,6 3,6 1,3 10,5 43,3 1,1 4,8 2,7 2,5 nd nd
Ng (1980)
Santana 22,0 12,0 5,1 1,1 10,1 38,8 1,1 5,3 3,1 3,5 nd nd
e Cabala
(1982)1/
Malavolta 33,4 27,3 2,1 1,3 8,1 47,4 0,8 3,8 1,9 3,4 0,9 1,9
(1987)
Silva 25,8 12,8 3,3 1,8 13,6 48,5 nd nd nd nd nd nd
(2009)2/
Pinto nd nd 4,5 2,0 12,8 48,3 0,9 5,3 2,4 4,5 nd nd
(2013)3/
Silva nd nd nd nd 9,4 32,0 0,8 4,0 3,2 5,0 nd nd
(2015)4/
nd = não determinado.
1/ Citado por Cabala-Rosand, Santana e Santana (1989).
2/ Média de 10 frutos de 54 materiais genéticos, em área
experimental da CEPLAC, no município de Ilhéus, Bahia.
3/ Média de quatro frutos por planta e de 80 plantas (clone PH 16),
localizadas em 20 fazendas, em 16 municípios no Sul da Bahia.
4/ Média de quatro frutos por planta, 32 plantas por material genético
e sete materiais genéticos, em área fertirrigada no município de
Ilhéus, Bahia.
Fonte: Elaboração dos autores.
Tabela 14 - Quantidades de micronutrientes na amêndoa (Am) e
casca (Cas) do cacau, para produção de 1.000 kg de amêndoas
secas, de acordo com diferentes fontes
Fonte B Cu Fe Mn Ni Zn
Am Cas Am Cas Am Cas Am Cas Am Cas Am Cas
-------------------------g do nutriente --------------------------
Malavolta 12 33 16 16 80 165 28 101 nd nd 47 61
(1987)
Silva nd nd 19 21 34 50 16 30 3,4 2,7 49 79
(2015) 1/

nd = não determinado.
1/ Média de quatro frutos por planta, 32 plantas por material genético
e sete materiais genéticos, em área fertirrigada no município de
Ilhéus, Bahia.
Fonte: Elaboração dos autores.

De modo geral, a quantidade média de nutrientes acumulada na


casca é maior que aquela encontrada na amêndoa, exceto para N e P
(Tabelas 13 e 14); sendo o N o nutriente mais exportado pela
amêndoa; e o K, o mais exportado pela casca. Como normalmente o
cacau é quebrado na própria lavoura, a casca do fruto
frequentemente permanece no campo de maneira concentrada,
formando os “casqueiros”, o que leva à distribuição desuniforme no
campo dos nutrientes presentes na casca. É importante registrar que
o casqueiro também é fonte de doenças e que, se não for
devidamente tratado com fungicidas, constitui fonte de inóculo para
fungos patogênicos ao cacaueiro.
Recomenda-se também que os casqueiros devam ser pequenos,
cobertos com folhas (após serem tratados), dispostos em áreas
abertas, nas partes mais altas e bem distribuídos na lavoura, evitando
concentração de cascas no mesmo local. Deve haver também
rotação dos locais de formação dos casqueiros. Aproximadamente,
de três a quatro meses após a quebra, quando se encontram
parcialmente decompostos, os casqueiros devem ser distribuídos
entre plantas na área ao seu entorno, visando melhor redistribuição
dos nutrientes na lavoura.
Devido à variação na exportação de nutrientes pelo cacaueiro,
optou-se por trabalhar com os dados médios apresentados nas
Tabelas 13 e 14. Admitiu-se que os casqueiros, após compostados,
serão distribuídos o mais homogeneamente possível sobre o solo; por
isso, consideraram-se exportação de 100% dos nutrientes contidos
nas amêndoas e de perdas de 25% destes contidos nas cascas. Para
plantios monoclonais, é possível utilizar dados médios de cada clone;
por sua vez, para áreas extensas, seria importante se saber a
quantidade local de nutrientes contidos nas amêndoas e nas cascas.
Para adubação via solo, consideraram-se taxas de recuperação do
fertilizante pela planta variando de 60 a 70% para N e de 75 a 85%
para K, sendo as maiores eficiências admitidas para as menores
doses; para P, consideraram-se taxas de recuperação do fertilizante
variando de 25 a 33%, sendo a eficiência aumentada com o aumento
das doses (devido à diminuição das perdas por fixação de P pelo
solo); para S, considerou-se taxa de recuperação média de 70%,
independentemente da dose aplicada. Para áreas fertirrigadas,
consideraram-se taxas de recuperação de 70 a 85%, de 30 a 40%, de
75 a 90% e de 70 a 85% para N, P, K e S, respectivamente.
As recomendações de adubação de N, P2O5, K2O e S, para
produção de cacau em áreas não irrigadas e em áreas fertirrigadas,
são apresentadas nas Tabelas 15 e 16, respectivamente. Caso não
haja os cuidados com o manejo do casqueiro apontados
anteriormente, bem como sua adequada redistribuição na lavoura,
certamente as doses apontadas nessas tabelas, especialmente para
K, serão insuficientes para manter as produtividades almejadas.
Tabela 15 - Sugestão de adubação de produção1/ com N, P, K e S
em kg ha-1 ano-1, para áreas não irrigadas, a partir do terceiro ano de
idade, em função da expectativa de produtividade (EP) e de seus
teores foliar ou no solo
EP Teor foliar Teor de P no solo2/ Teor de K no solo Teor de S
de N no solo2/
t ha- ---g kg-1 --- ------mg dm-3------- --mg dm-
-----mg dm-3------
1 3 --

<20 20- >24 <8 8- 16- 31- >60 <40 40- 90- >120 <9 9-14 >14
24 15 30 60 89 120
N (kg ha-1) P2O5 (kg ha-1) K2O (kg ha-1) S (kg ha-
1)

Até 90 45 15 120 80 40 0 0 110 60 30 0 20 0 0


1,0
Até 140 90 45 150 110 70 30 0 150 100 60 0 20 0 0
2,0
Até 200 140 90 180 135 95 50 0 190 140 100 0 25 6 0
3,0
Até 260 200 150 210 160 120 70 30 230 180 140 0 30 8 0
4,0
1/ Até o 7º ano, a adubação de produção deve ser somada à
adubação de formação. Se os teores de P e K no solo estiverem na
faixa boa (faixa central), mas seus teores foliares estiverem abaixo ou
acima da faixa foliar de suficiência, deve-se aumentar ou reduzir as
doses apontadas acima em 25%, respectivamente. Se o teor foliar de
S estiver abaixo da faixa de deficiência, utilizar as maiores doses de S
apontadas acima para cada faixa de produtividade,
independentemente de seu teor no solo.
2/ Extratores: P (Mehlich-1) e S (Fosfato monocálcico).
Fonte: Elaboração dos autores.
Tabela 16 - Sugestão de adubação de produção1/ com N, P, K e S em
kg ha-1 ano-1, para áreas fertirrigadas, a partir do terceiro ano de
idade, em função da expectativa de produtividade (EP) e de seus
teores foliar ou no solo
EP Teor foliar Teor de P no solo2/ Teor de K no solo Teor de
de N S no
solo2/
t ----g kg-1---- --------mg dm-3 ------ ---------mg dm-3--------- --mg dm-
ha-1 -- 3 --

<20 20- >24 <8 8- 16- 31- >60 <40 40- 90- 121- >180 <9 9- >14
24 15 30 60 89 120 180 14
N (kg ha-1) P2O5 (kg ha-1) K2O (kg ha-1) S (kg ha-
1)

Até 150 100 50 180 135 95 50 0 170 120 90 0 0 25 5 0


3,0
Até 200 140 90 210 160 120 70 30 200 150 120 0 0 27 7 0
4,0
Até 240 180 130 240 185 145 90 50 240 190 155 25 0 29 9 0
5,0
Até 280 220 170 270 210 165 110 70 270 220 185 60 0 31 11 10
6,0
Até 330 265 215 * 235 185 130 90 310 260 220 90 0 33 13 10
7,0
Até 380 310 260 * * 200 150 110 350 300 260 125 0 35 15 10
8,0
1/ Até o 7º ano, a adubação de produção deve ser somada à
adubação de formação. Se os teores de P e K no solo estiverem na
faixa boa (faixa central), mas seus teores foliares estiverem abaixo ou
acima da faixa foliar de suficiência, deve-se aumentar ou reduzir as
doses apontadas acima em 25%, respectivamente. Se o teor de foliar
de S estiver abaixo da faixa foliar de deficiência, utilizar as maiores
doses de S apontadas acima para cada faixa de produtividade,
independentemente de seu teor no solo.
2/ Extratores: P (Mehlich-1) e S (Fosfato monocálcico). Mesmo para
áreas fertirrigadas, o P é muitas vezes aplicado via solo (ver capítulo
de fertirrigação).
* Para as disponibilidades de P dessas faixas, as expectativas de
produtividades teóricas (EP) são muito difíceis de ser alcançadas.
Fonte: Elaboração dos autores.

Para a recomendação de adubação com micronutrientes, sugere-se


o uso conjunto da análise de solo e foliar (Tabela 17). Caso não haja
coincidência da dose a ser recomendada pela análise de solo e a
análise foliar, utilizar aquela que conferir maior dose do nutriente.
Tabela 17 - Sugestão de adubação de produção1/ com
micronutrientes em kg ha-1 ano-1, a partir do terceiro ano de idade,
em função da expectativa de produtividade (EP) e de seus teores
foliar ou no solo1/
Nutriente ------- B ------- ------ Cu ------ ------ Mn ------ ------ Zn ------
Teor <30 30- >70 <10 10- >20 <100 100- >400 <60 60- >140
foliar 70 20 400 140
(mg kg )-1

Teor no <0,7 0,7- >1,0 <2,0 2,0- >3,0 <3,5 3,5- >5,0
solo (mg 1,0 3,0 5,0
dm )-3 2/

EP (t ha- B (kg ha-1) Cu (kg ha-1) Mn (kg ha-1) Zn (kg ha-1)


1)

Até 1,0 1,0 0 0 2,0 0 0 5,0 0 0 5,0 0 0


Até 2,0 1,0 0 0 2,0 0 0 5,0 0 0 6,0 1,0 0
Até 3,0 1,0 0 0 2,4 0,5 0 5,5 0,5 0 6,0 1,2 0
Até 4,0 1,0 0 0 2,4 0,6 0 5,5 0,6 0 6,5 1,4 0
Até 5,0 1,2 0,20 0 2,6 0,7 0 5,5 0,7 0 6,5 1,6 0
Até 6,0 1,2 0,25 0 2,6 0,8 0 6,0 0,8 0 7,0 1,8 0
Até 7,0 1,3 0,30 0 2,8 0,9 0 6,0 0,9 0 7,0 2,0 0
Até 8,0 1,3 0,35 0 2,8 1,0 0 6,0 1,0 0 7,0 2,2 0
1/ Caso não haja coincidência da dose a ser recomendada pelas
análises de solo e foliar, utilizar aquela que conferir maior dose do
nutriente.
2/ Extratores: B (H2O quente); Cu, Mn e Zn (Mehlich-1).
Fonte: Elaboração dos autores.

O fornecimento de micronutrientes para o cacaueiro também pode


ser feito via foliar ou via fertirrigação. Por isso, sugerimos leitura dos
capítulos 12 e 15 deste livro, respectivamente.

8.4 Épocas e modo de adubação


Com relação às épocas de adubação, de acordo com os resultados
de produção de cinco anos da pesquisa realizada nos municípios de
Ilhéus e de Uruçuca (MIRANDA; CABALA-ROSAND; MORAIS, 1974),
pode-se recomendar que as adubações para o cacaueiro, no Sul da
Bahia, possam ser feitas na maior parte do ano, devendo-se apenas
evitar o início do inverno, ou seja, os meses de junho e julho.
Na verdade, é importante realizar as adubações levando em
consideração o histórico do regime de distribuição de chuvas de cada
sub-região. Para isso, sugere-se consultar sites oficiais sobre o clima
ou a publicação “Probabilidade de ocorrência de chuva no Sudeste da
Bahia”, de Almeida (2001), e, principalmente, deve-se acompanhar as
previsões do tempo. A previsão de chuvas para um dado período de
adubação é importante para a tomada de decisão quanto a fazer ou
não a adubação; por sua vez, a consulta da previsão de chuva para
os dias subsequentes é importante para se decidir quando fazer a
adubação.
Para uso de fertilizante contendo N com elevado potencial de perda
por volatilização de NH3 (p.e.: ureia convencional), a adubação pode
ser iniciada até dois dias antes do início das chuvas, desde que haja
previsão confiável de chuva de boa intensidade (quantidade de chuva
nos dias subsequentes à adubação). No caso de uso de fertilizantes
nitrogenados com menor potencial de perda por volatilização de NH3
(p.e.: sulfato de amônio, fosfato monoamônico e ureias protegidas),
pode-se iniciar a adubação com antecedência maior.
Se as adubações não tiverem N, ou seja, forem de P, K e/ou
micronutrientes, estas podem ser feita independentemente da
previsão de chuva para os dias seguintes. Mas, nenhum tipo de
adubação deverá ser feita se houver previsão de escassez de chuva
para os meses seguintes.
Deve-se atentar para que as adubações sejam feitas antes da
prática da poda dos cacaueiros. Para a aplicação manual de
fertilizantes, o que é mais comum, as doses em quilogramas por
hectare devem ser convertidas em gramas por planta, em função da
densidade de plantas.
Para plantios novos, o fertilizante deve ser aplicado em círculo,
variando de acordo com a idade e o desenvolvimento da planta,
podendo ser adotadas as distâncias sugeridas por Chepote et al.
(2013). Também se pode tomar como referência a projeção da copa
da planta.
Para plantas adultas e tecnicamente formadas, adotar a área entre
quatro plantas, podendo o fertilizante ser aplicado em toda a área.
Para lavouras com distribuição irregular de plantas, deve-se tomar
como referência a planta, sendo que o fertilizante deve ser aplicado
numa área circular compreendida entre 50 a 150 cm de distância do
caule.
Seguindo a orientação de aplicação do fertilizante condicionada à
previsão de chuva, dando preferência ao uso de fertilizantes
nitrogenados com menor potencial de volatilização e para áreas com
menor quantidade de manta orgânica, pode-se aplicar o fertilizante
sobre a manta orgânica sem precisar revolvê-la. Porém, para áreas
que tenham maior quantidade de manta orgânica, a princípio, as
folhas soltas sobre o solo precisam ser revolvidas após a aplicação
do fertilizante, podendo-se utilizar ancinho, gancho ou “soprador de
folhas”. Ou pode-se também retirar as folhas soltas da área a ser
adubada, aplicar o fertilizante e posteriormente retornar as folhas,
cobrindo o fertilizante.
9 Fontes para adubação
Os principais fertilizantes inorgânicos simples solúveis registrados
no Brasil (2015) são apresentados no capítulo 15 deste livro, que
trata sobre fertirrigação e apresenta os principais atributos desses
fertilizantes, os quais podem ser utilizados em fertirrigação, em
adubação foliar e em adubação via solo.
Além dos fertilizantes constantes do capítulo 15, que apresentam
solubilidade e pureza elevadas, têm-se os seguintes fertilizantes
fosfatados registrados no Brasil (2015), os quais não devem ser
utilizados em fertirrigação e adubação foliar, mas podem ser
aplicados ao solo: superfosfato simples (mínimo de 18% de P2O5;
16% de Ca e 8% de S), superfosfato triplo (mínimo de 41% de P2O5 e
10% de Ca) e o multifosfato magnesiano (mínimo de 18% de P2O5,
8% de Ca, 3% de Mg e 6% de S), os quais são fertilizantes
considerados solúveis no solo (solúvel em citrato neutro de amônio +
H2O); fosfatos naturais reativos, também conhecidos com
hiperfosfatos (mínimo de 27% de P2O5 total, sendo pelo menos 30%
do P total solúvel em ácido crítico e 28% de Ca), termofosfato
magnesiano (mínimo de 17% de P2O5 total, 11% de P2O5 solúvel em
ácido crítico, 16% de Ca e 7% de Mg) e a farinha de osso (mínimo de
20% de P2O5 total, 16% de P2O5 solúvel em ácido crítico e 16% de
Ca), que são fertilizantes fosfatos de solubilidade intermediária; e os
fosfatos de solubilidade muito lenta, que são os fosfatos naturais
(mínimo de 24% de P2O5 total, 4% de P2O5 solúvel em ácido crítico e
20% de Ca).
Pesquisas com o uso de diferentes fontes de P para o cacaueiro no
Sul da Bahia mostraram, de modo geral, boas eficiências das fontes
solúveis e de solubilidade intermediária, mas baixa eficiência para
alguns fosfatos naturais, tanto para produção e plantio de mudas
quanto para plantas adultas em campo (MIRANDA; CABALA-
ROSAND, 1973; MORAIS; SANTANA; PEREIRA, 1979; CABALA-
ROSAND; WILD, 1982; CABALA-ROSAND; SANTANA, 1988). Para
micronutrientes, além dos fertilizantes mencionados no capítulo 15,
há também os silicatos de micronutrientes, os óxidos de
micronutrientes, os fertilizantes complexos e os fertilizantes
orgânicos.
No que se refere a fertilizantes orgânicos, o uso de resíduos
agrícolas, industriais e/ou urbanos constitui uma prática que contribui
para diminuir os custos com a aquisição de fertilizantes inorgânicos;
para reaproveitar resíduos e, consequentemente, nutrientes,
reduzindo a possibilidade de os mesmos contaminarem o ambiente e
diminuir o uso de reservas naturais de nutrientes. Contudo, há
necessidade de que esses resíduos não sejam fonte de doenças ou
de outros contaminantes, como metais pesados. Muitas vezes, o que
dificulta o uso de fertilizantes orgânicos são os custos de transporte e
de aplicação dos mesmos. Há necessidade de que esta temática seja
abordada em texto específico, inclusive visando à produção de cacau
orgânico.
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Capítulo 12 — Adubação foliar para o
cacaueiro
José Olimpio de Souza Júnior1 , Júlio César Lima Neves2
1 Adubação foliar
Embora as folhas sejam órgão de síntese, elas têm a habilidade de
absorver água e nutrientes, função comum no seu habitat original —
o oceano. Esta característica é a base da adubação foliar, processo
em que os nutrientes são aplicados nas partes aéreas das plantas,
principalmente nas folhas (FAQUIN, 2005).
Como principais vantagens da adubação foliar, têm-se: maior
índice de utilização do nutriente pelas plantas, consequentemente as
doses aplicadas poderiam ser menores que as fornecidas via solo; a
distribuição uniforme é fácil de ser obtida; a resposta ao nutriente
aplicado é mais imediata, podendo resultar na correção de
deficiências durante o ciclo da cultura; facilita a diagnose de
suspeitas de deficiências; possibilita que a veiculação do nutriente
seja feita concomitantemente ao controle fitossanitário químico,
desde que haja compatibilidade entre os produtos; é alternativa para
o fornecimento de nutrientes quando há restrições à absorção destes
pelas raízes (p.ex.: solo com baixa disponibilidade de água; baixa
atividade de raízes durante a fase reprodutiva e para o fornecimento
de micronutrientes metálicos, onde a adubação via solo apresenta
menor ou mesmo nula eficiência, como ferro em solo alcalino e cobre
em solo com muita matéria orgânica); possibilita o fornecimento de
nutrientes de baixa mobilidade no floema diretamente aos frutos,
como cálcio para frutos de maçã e tomate; e aplicação aérea,
quando há impedimento de aplicação mecanizada (MORTVEDT,
1985; WÓJCIK, 2004; FAQUIN, 2005; EICHERT; FERNÁNDEZ,
2012).
Entretanto, segundo esses mesmos autores, as principais
desvantagens da adubação foliar são: com raras exceções, a
adubação foliar não pode substituir a adubação via solo, exceto para
micronutrientes; a concentração excessiva de sais pode ocasionar
queima das folhas; em soluções multinutrientes, além de problemas
de compatibilidade, a presença de um nutriente pode diminuir a
absorção de outro; na fase juvenil e de alta demanda nutricional, a
planta tem pequena superfície foliar, restringindo o volume de
solução que pode ser retido pela mesma; dependendo do nutriente e
da fonte, as taxas de absorção são baixas, especialmente pelas
folhas com cutícula mais espessa; o efeito residual é pequeno, por
isso muitas vezes são necessárias várias aplicações, resultando em
custos extras.
Apesar de os primeiros relatórios sobre a aplicação foliar de
nutrientes minerais em plantas datarem de meados do século XVIII
(WEINBAUM apud WÓJCIK, 2004), as pesquisas sobre adubação
foliar para o cacaueiro iniciaram em meados do século XX, sendo
que, até a presente data, aproximadamente 85% dos artigos
publicados em periódicos científicos sobre esse tema concentram-se
entre os anos de 1950 a 1980, indicando que a pesquisa não
priorizou aprimoramentos dessa técnica para o cacaueiro. Seu uso
no cacaueiro também começou na década de 1950 (EVANS;
FENNAH, 1953; NAVA, 1953). Hoje, várias publicações técnicas de
nutrição da cultura a recomendam (MALAVOLTA, 1997; WOOD;
LASS, 2001; CHEPOTE et al., 2013), porém ainda de forma
genérica.
Apesar de haver quantidade razoável de pesquisa sobre adubação
foliar para o cacaueiro, essa informação está difusa nas publicações,
não havendo, até o momento, uma discussão conjunta desta
temática. Além disso, há baixa frequência de uso da adubação foliar
entre os produtores de cacau no Brasil, não só em viveiro, mas
também em campo, seja na fase de desenvolvimento das mudas,
seja na fase produtiva da cultura; quando usada, a adubação foliar é
comumente empírica, utilizando-se formulações comerciais, sem
considerar o status nutricional e a fase de desenvolvimento da
cultura em um dado sistema de produção.
Vários são os fatores que afetam a eficiência da adubação foliar,
destacando-se: (1) aqueles relacionados à planta: idade da planta e,
consequentemente, sua área foliar que irá reter a solução; ângulo de
inserção das folhas, que interfere no escorrimento da solução;
características da superfície foliar, que influenciam na capacidade de
retenção da solução e na efetiva absorção dos nutrientes pelas
células das folhas, em especial composição e espessura da cutícula
e densidade de estômatos e de ectodesmas (protuberâncias do
citoplasma que se projetam na cutícula, reduzindo, nestes pontos, a
espessura da mesma), que, por sua vez, dependem da espécie/
cultivar, da idade e da face da folha (a folha mais nova e a face
abaxial absorvem mais nutrientes); status nutricional e estágio de
desenvolvimento da planta, pois a absorção foliar de um dado
nutriente é aumentada quando a planta está deficiente neste
nutriente ou em estágio de desenvolvimento com maior demanda do
mesmo; e mobilidade do nutriente na planta; (2) aqueles
relacionados ao ambiente: temperatura, luminosidade e umidade
relativa, que afetam tanto o secamento da solução quanto os
processos metabólicos da planta relacionados à absorção foliar;
vento, que afeta a deriva da solução e chuva após a aplicação; (3)
aqueles relacionados à solução e ao sistema de pulverização: pH e
composição da solução, inclusive tipo e concentração das fontes de
nutrientes e suas interações; quantidade da solução aplicada e
efetivamente retida pelas folhas; tipo e regulagens do equipamento
de pulverização; e uso de adjuvantes/surfactantes que aumentem o
molhamento da superfície foliar, seja por aumentar a adesão das
moléculas da água com a cutícula ou por dificultar a evaporação da
solução (MORTVEDT, 1985; WÓJCIK, 2004; FAQUIN, 2005;
EICHERT; FERNÁNDEZ, 2012; SINGH et al., 2014). Os efeitos
isolados e em conjunto desses fatores influenciam no sucesso ou
insucesso da adubação foliar.
Os fertilizantes foliares podem ser soluções feitas a partir de
fertilizantes solúveis simples, desde que compatíveis, ou fertilizantes
foliares comerciais, neste último caso priorizando aqueles com maior
concentração dos nutrientes com maior grau de carência e
importância em cada fase da cultura. A carência pode ser detectada
via análises de solo, sintomas visuais e/ou análises foliares. As
principais fontes de macronutrientes são: ureia, fosfatos de amônio,
cloretos e sulfatos de K e Mg, cloreto de Ca; e, para os
micronutrientes, sulfatos, cloretos e quelatos (complexos
organometálicos) de Cu, Fe, Mn e Zn, ácido bórico e molibdatos.
Este trabalho objetivou uma ampla revisão e discussão sobre a
adubação foliar do cacaueiro, apontando suas potencialidades e
limitações para as fases de produção de mudas, pós-plantio destas
e, para cacaueiros adultos, inclusive, aplicação de soluções com
nutrientes não só em folhas, mas também em flores.
2 Adubação foliar para mudas de cacaueiro
Na produção de mudas seminais ou clonais, mesmo em substratos
ricos em nutrientes, faz-se necessário o uso de adubações
complementares (SHEPHERD, 1976; MORAIS et al., 1979;
MALAVOLTA, 1997; SODRÉ; MARROCOS, 2009; CHEPOTE et al.,
2013); que são ainda mais importantes quando a muda é produzida
em recipiente pequeno e o substrato é pobre quimicamente (SOUZA
JÚNIOR; CARMELLO; SODRÉ, 2011).
Na verdade, as adubações para produção de mudas dependem de
uma série de fatores, destacando-se: espécie vegetal; tipo de muda,
seminal ou oriunda de estaca enraizada ou de cultura de tecido; tipo
de substrato (desde solo fértil e rico em matéria orgânica até
substratos praticamente inertes do ponto de vista químico, como fibra
de coco ou serragem; ou de substratos mistos de distintos produtos
com solos, resíduos rurais, industriais e/ou urbanos, produtos
sintéticos e/ou substratos comerciais, etc.), pH, CTC e balanço de
nutrientes no mesmo; tamanho do recipiente, que, para cacau, varia
desde tubetes de 0,15 dm3 a sacolas plásticas para produção de
“mudão” com mais de 2,5 dm3; condições pluviais e lâmina de
irrigação, que podem provocar condições de anaerobiose,
aumentando a disponibilidade de Fe e Mn e o excesso de lixiviação
de nutrientes; e fase de desenvolvimento da muda.
Em pré-plantio, no preparo do substrato para a formação de
mudas, é frequente a necessidade de correção da acidez e de
adubação com P (SOUZA JÚNIOR; CARMELLO, 2008; SOUZA
JÚNIOR; CARMELLO; SODRÉ, 2011); outros nutrientes, como K, S
e micronutrientes, podem ser fornecidos nesse momento
(MALAVOLTA, 1997; CHEPOTE et al., 2013), a depender das
características químicas do substrato utilizado, do tipo de fertilizantes
(solubilidade e taxa de liberação de nutrientes) e de outros fatores já
citados no parágrafo anterior.
Para garantir boa nutrição e bom desenvolvimento das mudas no
viveiro, há necessidade do uso de adubação em cobertura,
principalmente com N (CARDOSO, 1960; MORAIS et al., 1979;
SOUZA JÚNIOR; CARMELLO, 2008; CHEPOTE et al., 2013), mas
também pode ser necessário o aporte de outros nutrientes. A
questão é: como fornecer estes nutrientes para mudas enviveiradas?
As plantas são pequenas, produzidas em sementeiras, tubetes ou
sacolas plásticas, com alta densidade por unidade de área; o sistema
radicular das mudas nessa fase inicial é pouco desenvolvido,
necessitando de boa distribuição dos nutrientes no substrato; as
mudas, geralmente, são sensíveis a concentrações elevadas de
nutrientes aplicados no substrato ou via foliar; sem falar que um
grande viveiro de produção de mudas pode chegar a produzir
milhares ou até mesmo milhões de mudas por ano (VALERI;
CORRADINI, 2000; MARROCOS; SODRÉ, 2004; COELHO et al.,
2007; SODRÉ; MARROCOS, 2009).
Adubações manuais com fertilizantes sólidos em viveiros são
difíceis de serem realizadas e, quando feitas, são pouco eficientes.
Já a aplicação via sistema de irrigação (fertirrigação), por aspersão,
pode ser interessante devido à praticidade de implantação e
operação do mesmo, principalmente em sistema massal de produção
de mudas (VALERI; CORRADINI, 2000; RAMOS, 2014), mas isso
pode levar a perdas elevadas de nutrientes, seja por lixiviação ou
mesmo porque parte da água de irrigação é aplicada nos corredores,
onde não há plantas. Sem falar da possível distribuição irregular dos
fertilizantes devido à heterogeneidade da lâmina de irrigação e aos
efeitos de “guarda-chuva” e de “calha” das folhas das mudas, que
podem, respectivamente, reduzir a água efetiva que chega ao
substrato, por efeito de cobertura parcial na muda vizinha, ou
aumentá-la, devido ao direcionamento da água captada pela folha
para a base na própria muda; este último caso ocorre,
principalmente, para mudas clonais de cacaueiro oriundas de
estacas enraizadas, que têm folhas remanescentes com angulação
que favorece o efeito de “calha” (SOUZA JÚNIOR; CARMELLO;
FARIA, 2008).
Na fase de produção de mudas, a adubação foliar, como
complemento da adubação de plantio misturada ao substrato, é
operacionalmente vantajosa e fácil de ser implementada, inclusive
em sistemas de produção massal, desde que haja fornecimento
balanceado dos nutrientes não supridos satisfatoriamente pelo
substrato e que a frequência de adubação seja adequada para
garantir bom desenvolvimento das mudas (SOUZA JÚNIOR;
CARMELLO, 2008). Além disso, para a produção de mudas, a
adubação foliar propicia boa uniformidade de aplicação de nutrientes,
menor perda por lixiviação e, consequentemente, menor demanda de
adubos e menor risco de contaminação ambiental (EICHERT;
FERNÁNDEZ, 2012), com relação à fertirrigação convencional ou
mesmo à adubação sólida. Para mudas enviveiradas, outras
alternativas para o fornecimento de nutrientes em cobertura seriam:
aplicação de soluções com auxílio de regador (VALERI; CORRADINI,
2000), principalmente para pequenos e médios viveiristas, e irrigação
por subsuperfície (AVILA et al., 2011) para sistemas de produção
massal de mudas.
Para a produção de mudas de cacau, sugerem-se adubações
foliares semanais a quinzenais (SHEPHERD, 1976; MORAIS et al.,
1979; MALAVOLTA, 1987; CHEPOTE et al., 2013), porém, a
depender do sistema de produção, do tipo e volume do substrato por
muda, dos nutrientes a serem fornecidos e para se alcançar
desenvolvimento da muda semelhante à adubação via solo, pode ser
necessário que as adubações foliares sejam aplicadas em maior
frequência do que a semanal (SOUZA JÚNIOR; CARMELLO, 2008).
Para o cacaueiro, ainda não há pesquisa nem recomendação
técnica que subsidie o manejo da adubação na fase terminal de
produção da muda ou fase de rustificação. A propósito, nesta fase,
recomendam-se, para eucalipto, suprimir completamente a adubação
nitrogenada e manter ou aumentar a adubação potássica (VALERI;
CORRADINI, 2000; AVILA et al., 2011).
Em campo, no pós-plantio, na fase de desenvolvimento da muda,
a adubação foliar também é interessante, pois as plantas são
pequenas e têm pequena área foliar, o que facilita a aplicação foliar
de insumos, especialmente com pulverizadores costais motorizados
ou manuais. Porém, a pequena área foliar restringe o volume de
solução que pode ser retido pelas folhas e, consequentemente, o
fornecimento de nutrientes. Nessa fase, deseja-se alta taxa de
sobrevivência e rápido crescimento da muda, por isso o controle
mais efetivo de pragas é comum entre os agricultores, com o uso de
pulverizações foliares com inseticidas e/ou fungicidas, o que
facilitaria operacionalmente a aplicação foliar de nutrientes, desde
que exista compatibilidade entre os produtos. Além disso, maior taxa
de crescimento da muda propicia melhor cobertura do solo,
protegendo-o contra a erosão e diminuindo a necessidade de
controle das plantas invasoras e, ainda, acelera-se a entrada da
planta na fase produtiva, resultando em precocidade de renda para o
produtor.
É recomendado que as mudas sejam plantadas em solos com
acidez corrigida e que recebam boa adubação de P no berço de
plantio (MALAVOLTA, 1997; CHEPOTE et al., 2013), por isso, nesta
fase, deficiências de P, Ca e Mg não são esperadas. Muitas vezes,
na adubação de plantio, empregam-se diferentes fontes de matéria
orgânica, associada ou não com fertilizantes de K, S e
micronutrientes; já as adubações em coberturas priorizam N e K.
Este conhecimento é importante, porque a definição dos fertilizantes
foliares que devem ser utilizados dependerá da adubação no berço
de plantio e do que está programado para ser utilizado em adubação
de cobertura; além, obviamente, da demanda e da carência de cada
nutriente.
A ureia é a fonte de N mais utilizada na adubação foliar em
cacaueiro, sua taxa de absorção é considerada elevada, pois as
folhas dessa cultura em diferentes estágios de maturação absorvem
aproximadamente 60% e 90% da ureia aplicada após duas horas e
80% e 95% após seis horas, pelas faces adaxial e abaxial,
respectivamente (CAIN, 1956). Cardoso (1960), estudando doses (15
e 30 g L-1), frequências (a cada 1, 3, 7, 15 e 30 dias) e horários (7 h
e 18 h) de adubação foliar para mudas cultivada em hidroponia com
e sem N, concluiu que os melhores resultados foram para adubações
foliares com 15 g L-1 de ureia a cada três dias, independentemente
do horário de aplicação. MORAIS et al. (1979), avaliando a adubação
foliar com formulação NPK 15-30-15 (5 e 10 g L-1) mais ureia (5 g L-
1) em mudas cultivadas em sacolas com 2,5 kg de solo, observaram

melhoria do crescimento das mudas adubadas, especialmente para


aquelas que receberam pulverizações foliares quinzenais com ureia
a 5 g L-1. Quintero et al. (1991), avaliando a frequência de adubação
foliar, de quinzenal até quadrimestral, com solução de 10 g L-1 de
ureia, não obtiveram diferença estatística entre os tratamentos,
atribuindo o resultado ao fornecimento de N pelo substrato, uma
mistura de solo com matéria orgânica. Souza Júnior e Carmello
(2008), estudando cinco doses de adubação foliar com ureia em
mudas produzidas em tubetes de 288 cm3 contendo substrato
comercial, concluíram que as doses recomendáveis de ureia,
calculadas para obtenção de 99% da produção máxima, variaram
entre 20 g L-1 a 26 g L-1 por semana, de acordo com a variável
biométrica considerada (Figura 1); doses essas que são quatro a
cinco vezes superiores à dose de 5 g L-1 recomendada por Chepote
et al. (2013); ademais, sintomas de toxidez por ureia via foliar em
mudas de cacaueiro iniciam-se a partir da dose de 30 g L-1
(CARDOSO, 1960; SOUZA JÚNIOR; CARMELLO, 2008).

Figura 1 - Matéria seca da parte aérea — MSPA (a) e altura (b) de


mudas de cacaueiro, clone PH 16, aos 145 dias, em função de doses
de ureia foliar. ** significativo a 1% pelo teste F.

Fonte: Adaptado de Souza Júnior e Carmello (2008).

Para uso em adubação foliar, a ureia deve ter teor de biureto de


até 3 g kg-1 (BRASIL, 2015), sendo um fertilizante compatível com a
maioria dos fertilizantes de P, K e micronutrientes para uso em
adubações foliares (MALAVOLTA, 1987; FAQUIN, 2005; SINGH et
al., 2014), podendo ainda favorecer a absorção de outros nutrientes
(WÓJCIK, 2004; FAQUIN, 2005).
Com relação à adubação e à absorção foliar de P, muitas das
pesquisas realizadas utilizaram radioisótopos (P32 e P33), que
permitem quantificar com acurácia frações muito pequenas do
elemento absorvido e até mesmo sua translocação na planta.
Cardoso e Boroughs (1960), em quatros ensaios com mudas de
cacaueiros cultivadas em solo arenoso e adubadas via foliar com
solução de 0,1 mol L-1 de fosfato monossódico, concluíram que: o
uso de adjuvante aniônico mais que duplicou a absorção foliar e a
translocação de P; a absorção foi máxima para as soluções com pH
5,0 e 6,0 e foi muito baixa para as soluções com pH igual ou superior
a 7,0; e a absorção foliar de P foi máxima até dois dias após a
adubação, sendo de 53% e 60% conforme o P foi aplicado nas faces
adaxial e abaxial, respectivamente. Boroughs, Bornemisza e
Cardoso (1963), avaliando a influência do pH de soluções de oito
fosfatos de sódio, potássio e amônio, todos a 0,1 mol L-1, sobre a
absorção de P, concluíram que a absorção foi máxima para pH de
2,0, 5,0 e 10,0 para os fosfatos de K+, Na+ e NH4+, respectivamente,
os quais, nestas condições, tiveram absorção próxima a 60%, 35% e
35%, respectivamente.
Para produção de mudas de cacaueiro, Malavolta (1987)
recomenda adubações foliares quinzenais com 5 g L-1 de fosfato
monoamônico; o que é dispensável se houver boa adubação com P
no preparo do substrato e que este tenha ao mesmo tempo:
capacidade de adsorvê-lo, para evitar lixiviação excessiva, e de
disponibilizá-lo gradualmente ao longo do processo de produção da
muda (SOUZA JÚNIOR; CARMELLO; FARIA, 2008; SOUZA
JÚNIOR; CARMELLO; SODRÉ, 2011). Para adubação foliar,
fertilizantes de P são compatíveis com fertilizantes de K e com ureia,
mas há restrições para serem misturados com micronutrientes
catiônicos. Ressalta-se que formulações comerciais trazem fontes
compatíveis de P e de micronutrientes.
Dentre os micronutrientes, o zinco (Zn) é o que mais
frequentemente se encontra em deficiência no cacaueiro, não só em
plantações comerciais (CHEPOTE et al., 2013), mas também em
sistemas de produção de mudas, especialmente quando o substrato
é pobre em Zn e/ou tenha pH elevado. Segundo Cunningham (1964),
esta deficiência pode ser reduzida com pulverizações a cada 14 dias
de solução de 1 g L-1 de ZnSO4, mas não completamente eliminada.
Por isso mesmo, as recomendações técnicas prescrevem doses
maiores, da ordem de 3 g L-1 de ZnSO4, enriquecidas com 1,5 g L-1
de hidróxido de cálcio (MALAVOLTA, 1987; CHEPOTE et al., 2013).
Contudo, é questionável esta adição de Ca(OH)2, em razão do
aumento excessivo de pH, podendo alcançar valor superior a 11 e
consequente diminuição da solubilidade de Zn na solução.
Deficiências de boro (B) em cacaueiros também são frequentes
(MALAVOLTA, 2006), e, para mudas, estas foram prevenidas por
meio de pulverizações foliares com 0,025 g L-1 de Solubor®
(Na2B8O13.4H2O) a cada 14 dias (CHUDE; OBIGBESAN, 1983).
Neste mesmo trabalho, a toxidez de B foi verificada a partir da dose
de 0,05 g L-1 de Solubor®; sendo as plantas cultivadas sob casa de
vegetação e em solo arenoso com teor de 0,56 mg dm-3 de B,
condição em que não havia lavagem foliar pela água da chuva.
Recomendações técnicas sugerem dose de 0,5 g L-1 de ácido bórico
(MALAVOLTA, 1987; CHEPOTE et al., 2013).
Deficiências de ferro (Fe) em mudas de cacaueiro têm sido
constatadas quando estas são produzidas em substrato alcalino,
sendo que esta deficiência pode ser corrigida com pulverizações de
solução com 5 a 10 g L-1 de sulfato ferroso, com intervalo em torno
de 15 dias, corrigindo-se a alcalinidade da água de preparo da
solução se necessário (GREENWOOD; HAYFRON, 1951;
CUNNINGHAM, 1964; MALAVOLTA, 1987; MALAVOLTA, 1997).
O silício (Si) ainda não é considerado um elemento essencial às
plantas, mas é tido como benéfico, podendo, inclusive, aumentar a
tolerância a estresses e diminuir a perda de água por transpiração
(FAQUIN, 2005; MALAVOLTA, 2006). Por isso, Zanetti (2013) avaliou
seu efeito, via pulverização foliar, em mudas de cacau sob déficit
hídrico e concluiu que uma pulverização de aproximadamente 25 mL
por planta de solução com 1,5 g L-1 de Agri Sil® (SiO2 pó molhável)
foi capaz de amenizar os efeitos negativos provocados pelo stress
hídrico.
3 Adubação foliar para cacaueiros adultos
A cultura cacaueira no Sul da Bahia é constituída
predominantemente por pequenas e médias propriedades rurais, e a
grande maioria das áreas produtoras encontra-se em topografia
acidentada, ou seja, a aplicação de produtos foliares fazse,
principalmente, via pulverização costal ou com tração animal, mais
onerosa e trabalhosa do que a pulverização tratorizada. Nestas
condições, a adubação foliar, como prática isolada para produção de
cacau, tem forte limitação econômica, porém passa a ser
interessante se feita conjuntamente com a pulverização com outros
produtos, aproveitando operações, possibilidade para a qual há
carência de estudos.
Em campo, os fertilizantes foliares a serem utilizados podem ser
os mesmos usados em viveiro, podendo ser soluções feitas a partir
de fertilizantes solúveis simples, desde que compatíveis, ou
fertilizantes foliares comerciais. Neste último caso, priorizando
aqueles mais ricos nos micronutrientes mais carentes na cultura,
detectados via análises de solo, sintomas visuais e/ou análises
foliares.
As adubações foliares devem ser feitas depois dos lançamentos
(MALAVOLTA, 1987), período em que também pode haver
necessidade de aplicações de inseticida; principalmente nos meses
de fevereiro a março e de setembro a novembro (CHEPOTE et al.,
2013), buscando-se molhar toda a superfície foliar, inclusive a parte
abaxial das folhas, que tem maior taxa de absorção de nutrientes.
Para a cultura adulta e diante de dificuldades para o uso frequente
da adubação foliar, esta prática, quando realizada, deve priorizar o
fornecimento de micronutrientes.
Para correções de deficiências de Cu, Fe, Mn e Zn em cacaueiros,
Nava (1953) recomenda pulverizações com soluções de até 20 g L-1
de misturas de seus respectivos sulfatos. O ácido bórico, a ureia e o
cloreto de potássio são fertilizantes compatíveis com os sais de
micronutrientes catiônicos.
Em complementação à adubação via solo e para cacaueiros
depauperados, Malavolta (1997) recomenda adubação foliar mensal,
num total de três a quatro aplicações, de aproximadamente 200 L ha-
1 de uma solução com (em quilogramas por 100 litros): 2,5 de ureia;

0,5 de fosfato monoamônico; 0,2 de cloreto de potássio; 0,1 de ácido


bórico; 0,2 de sulfato ferroso; 0,4 de sulfato de manganês e 0,2 de
sulfato de zinco. Essa recomendação é genérica, não levando em
consideração o nível de carência de cada nutriente, e a solução tem
alta concentração de fertilizantes, totalizando 41 g L-1, o que pode ter
efeito salino sobre as folhas do cacaueiro, além de poder provocar
precipitação do P com micronutrientes metálicos.
Para correção de deficiência de Zn em culturas, Fageria (2009)
sugere pulverização com solução em torno de 5 g L-1 de ZnSO4 e
que — quando a deficiência for grave, em geral — faz-se necessário
mais do que uma aplicação. Para cacaueiros em campo, Malavolta
(1987) recomenda pulverização foliar com solução de 3 g L-1 de
ZnSO4 para correção de deficiência de Zn. Siller (1958) observou
aumento de produtividade média de cacaueiros de 23,7% e 40,7%
com o uso da calda bordalesa, aplicada na dose em torno de 3,8 L
por planta e com intervalos de 45 dias, quando a mesma foi aplicada
sozinha ou enriquecida com 4 g L-1 de ZnSO4, respectivamente.
Deficiência de B em cacaueiros adultos foi corrigida com
pulverizações foliares mensais, num total de cinco aplicações de dois
litros por planta de soluções com 5 a 15 g L-1 de Solubor®, que
resultaram em aumento significativo do teor foliar de B, da
germinação do grão de pólen, da produção de bilros (frutos jovens) e
da produtividade do cacaueiro, sendo que a melhor dose, 10 g L-1 de
Solubor®, aumentou a produtividade em 43% e 93% em relação à
testemunha, para as polinizações natural e artificial, respectivamente
(MESTANZA; LAINEZ, 1970). Malavolta (1987) recomenda
pulverizações foliares com 0,5 g L-1 de ácido bórico.
Semelhante ao que ocorre em viveiros, a deficiência de Fe em
plantações de cacau tem sido observada em solo alcalino,
principalmente em países africanos, a qual pode ser corrigida por
meio de pulverização com 10 g L-1 de sulfato ferroso, mais 0,05 mL
L-1 de H2SO4, sendo a frequência de adubação dependente da
severidade da deficiência (EVANS; FENNAH, 1953).
Jaramillo (1952, 1953) estudou o uso de N foliar em cacaueiros
adultos que tinham muitos frutos jovens (bilros), utilizando
pulverizador motorizado e procurando molhar toda a folhagem da
planta. Ele comparou quatro tratamentos: testemunha, soluções com
ureia (5 e 10 g L-1) e solução de auxinas. No primeiro ensaio,
Jaramillo (1952) utilizou 10 plantas em cada tratamento, que
receberam apenas uma pulverização, e os resultados foram
avaliados por um período de 28 dias. No segundo ensaio
(JARAMILLO, 1953), foram utilizados os mesmos tratamentos,
porém com maior rigor experimental: repetições, delineamento
experimental, maior número de plantas (nove por parcela e quatro
repetições), controle de dose por planta (aproximadamente 20 g e 40
g de ureia por planta por aplicação, sendo duas aplicações com
intervalo de dois meses) e teste estatístico. O sumário dos resultados
dos dois ensaios é apresentado na Tabela 1, onde se observa o
efeito da ureia e de auxinas na redução da murcha ou peca de bilros.
No segundo ensaio, houve também a contagem dos bilros que se
formaram após o início do experimento e observou-se que as
pulverizações com ureia incrementaram, em média, 20,6% de bilros
novos em relação à testemunha, ou seja, apresentou também uma
ação estimulante sobre a frutificação (JARAMILLO, 1953).
Tabela 1 - Porcentagem de bilros de cacaueiros pecos em função
de aplicações foliares de auxinas e de ureia
Tratamento Bilros pecos (%)
Jaramillo (1952)1/ Jaramillo (1953)2/
Aos 14 dias Aos 28 dias Aos 70 dias
Testemunha 54,6 66,9 32,0 a
Auxinas comerciais 18,1 24,3 9,6 c
Ureia, 5 g L-1 13,8 34,1 13,6 b
Ureia, 10 g L-1 9,8 21,5 12,4 b
1/ Média de 10 plantas por tratamento.
2/ Média de 36 plantas por tratamento; médias seguidas pela mesma
letra não diferem entre si pelo teste Tukey (p = 5%).
Fonte: Adaptado de Jaramillo (1952, 1953).

Potássio é um nutriente que, dentre várias funções, tem importante


papel no controle da abertura e do fechamento dos estômatos e,
consequentemente, na eficiência de uso de água pelas plantas
(FAQUIN, 2005; MALAVOLTA, 2006). Por isso, Ojeniyi e Egbe (1981)
testaram a aplicação de solução com 50 g L-1 de KCl, com intervalos
de três semanas, durante quatro meses da estação seca na Nigéria
e concluíram que a adubação foliar com KCl aumentou
significativamente o peso seco das amêndoas de cacau em duas das
três localidades estudadas.

3.1 Aplicação de nutrientes em flores de cacaueiros

Apesar do cacaueiro ser uma planta de elevada floração,


chegando a produzir até 50 mil e 125 mil flores por planta por ano,
em condições de cultivo sombreado e em experimento a pleno sol,
respectivamente (ALVIM, 1977; LACHENAUD; MOSSU, 1985), a
quantidade de frutos maduros formados é pequena. Geralmente, a
média das colheitas não ultrapassa algumas dezenas de frutos de
cacau por árvore por ano. Isso ocorre porque é pequena a taxa de
polinização das flores e é elevada a perda de bilros por murcha
(ALVIM, 1977; ALMEIDA; VALLE, 2007; MÜLLER; VALLE, 2012).
Estes autores apontam vários motivos para este fato, entre eles:
genéticos, ambientais, fisiológicos e, inclusive, nutricionais.
Visando aumentar a polinização das flores e diminuir a murcha dos
bilros do cacaueiro, foram realizadas pesquisas, principalmente na
Colômbia, com aplicações de soluções de nutrientes direcionadas às
flores, denominadas de “teste de flor do cacau” (CONSTAIN, 1953),
que podem ser de dois tipos: “spray nas flores”, no qual flores são
pulverizadas com as soluções nutritivas, e o “método da gota
suspensa”, em que uma gota com as soluções é depositada sobre o
estigma da flor do cacaueiro (CASTAÑEDA, 1953; VALLECILLA,
1953; ACERO, 1955; CRUZ, 1955). Ambos os métodos consistem na
identificação com linhas coloridas de grupos de, geralmente, 100
flores recém-abertas, as quais são pulverizadas com bomba manual
ou recebem a “gota suspensa” nas primeiras horas do dia, com os
produtos e nas concentrações que se deseja testar. Os produtos são
aplicados isoladamente e em misturas, além da testemunha absoluta
(100 flores sem aplicação de qualquer produto). As flores
remanescentes na planta são contadas por cinco dias, para se
avaliar o prolongamento da vida das mesmas; os frutos oriundos
destas flores também podem ser contados, por alguns meses, para
se avaliar a produção de frutos formados. Em ambos os métodos,
pode-se inclusive fazer estudos de compatibilidade entre fertilizantes,
reguladores de crescimento e/ ou fungicidas (CONSTAIN, 1953).
Em estudo com ureia, Vallecilla (1953) — utilizando o “método da
gota suspensa” a 5 e 10 g L-1 — e Constain (1953) — em
pulverização nas flores de cacaueiros com 5 g L-1 — não obtiveram
efeito significativo de seu uso sobre a longevidade das flores nem
sobre o aumento de frutos formados; por sua vez, Castañeda (1953),
utilizando soluções de ureia a 5 e 10 g L-1 e o “método da gota
suspensa”, obteve incrementos médios de ambas soluções de 400%,
82% e 73% no número de frutos formados aos 14 dias, para flores
polinizadas naturalmente e para polinizações artificiais realizadas
antes e após a aplicação das soluções com ureia, respectivamente.
Quanto ao Ca, Vallecilla (1953) obteve aumento de 95% e 52% na
germinação do grão de pólen (in vitro) e do número de amêndoas por
fruto (em campo, com o uso do “método da gota suspensa”),
respectivamente, para o uso de solução com 5 g L-1 de glicerofosfato
de cálcio. Constain (1953), testando também glicerofosfato de cálcio
a 5 g L-1, porém via pulverização das fores, observou aumento da
longevidade das flores. Entretanto, isso não resultou em aumento
significativo da porcentagem de frutos formados. Resultado oposto
ao observado por Castañeda (1953), que obteve incremento médio
de 33% do número de frutos formados aos 14 dias, com o uso de
glicerofosfato de cálcio a 5 e 10 g L-1, para polinizações artificiais,
independentemente do método de aplicação nas flores.
Castañeda (1953) também avaliou outros três produtos, fontes de
nutrientes aplicados sobre flores de cacaueiros polinizadas
artificialmente, e observou incremento médio de 22% e 13% na
formação de frutos para o glicerato de potássio a 5 e 10 g L-1 e ácido
ortofosfórico a 0,5 e 1,0 g L-1, respectivamente, além de efeito nulo
para o cloreto de potássio a 0,5 e 1,0 g L-1.
Em estudo de aplicações em flores de cacaueiros com soluções
mistas de reguladores de crescimento (auxinas), fungicidas (calda
bordalesa, oxicloreto de cobre e Parzate®) e fertilizantes (ureia e
glicerofosfato de cálcio, ambos a 5 g L-1), observou-se aumento da
longevidade das flores e incremento de até 117% de frutos formados
com a pulverização das flores com auxinas e aumento da queda de
flores nos tratamentos que receberam pulverização com fungicidas,
principalmente com o oxicloreto de cobre, efeito que foi minorado
com a inclusão de auxinas junto aos fungicidas (CONSTAIN, 1953).
Para micronutrientes, aplicações em flores de cacau de soluções
de ácido bórico e de sulfato de zinco, ambos com concentração
variando de 0,005 a 1,0 g L-1, não mostraram efeito significativo dos
tratamentos (ACERO, 1955; CRUZ, 1955).
4 Uso foliar de fertilizantes ou fungicidas
contendo nutrientes e o controle de doenças
em cacaueiros
No Brasil, as duas principais doenças do cacaueiro são a
podridão-parda e a vassoura de bruxa, causadas pelos fungos
Phytophthora spp. e Crinipellis perniciosa, respectivamente.
As primeiras tentativas de controle químico da podridão-parda no
cacaueiro tiveram início na década de 1950 e, desde então,
fungicidas à base de Cu (óxido cuproso, hidróxido de cobre e
oxicloreto de cobre) vêm sendo usados e recomendados em
dosagens de 3 g ou 6 g de ingrediente ativo por planta, em
aplicações a intervalos mensais ou bimensais, respectivamente
(OLIVEIRA; LUZ, 2012) — o que certamente são doses bem mais
elevadas do que as recomendáveis se o elemento em questão fosse
empregado como nutriente. Estas altas doses de aplicação foliar de
Cu podem aumentar seus teores não só no solo e na planta (LIMA,
1994), mas também na amêndoa do cacau (AIKPOKPODION;
LAJIDE; AIYESANMI, 2013), produto utilizado para a fabricação do
chocolate e que consequentemente será consumido pelas pessoas.
Para o controle da vassoura de bruxa, os fungicidas cúpricos
também são os mais investigados e apresentam resultados
inconsistentes no controle desta doença no fruto e pequena ou nula
eficiência do controle da mesma nas folhas e nas almofadas foliares
(OLIVEIRA; LUZ, 2012).
Siller (1958), trabalhando com cacaueiros com aproximadamente
40 anos de idade, avaliou, durante três anos, o efeito de
pulverizações com intervalos de 45 dias e aplicação em torno de 3,8
L por planta de calda bordalesa, associada ou não a 6 g L-1 de ureia
e 4 g L-1 de ZnSO4. Além do aumento de produtividade, o autor
verificou redução do número de frutos de cacau infectados por
Phytophthora spp. quando a calda bordalesa foi utilizada sozinha ou
em conjunto com ureia e/ou ZnSO4 (Tabela 2).
Tabela 2 - Produtividade de cacaueiros e porcentagem de frutos
infectados por Phytophthora spp. em função da aplicação foliar de
calda bordalesa, associada ou não com ureia e sulfato de zinco
Tratamento1/ Frutos colhidos1/ Frutos doentes
(%)2/
Testemunha 43,0 c 3,9 a
Calda bordalesa 53,2 b 2,0 b
Calda bordalesa + ureia 55,8 ab 2,4 b
Calda bordalesa + ZnSO4 60,5 a 2,1 b
Calda bordalesa + ureia + 62,6 a 2,2 b
ZnSO4
1/ Produtividade anual por planta; média de três anos, de um total
de 1.487 plantas no experimento; médias seguidas pela mesma letra
não diferem entre si pelo teste Tukey (p = 5%).
Fonte: Adaptado de Siller (1958); ureia = 6 g L-1; ZnSO4 = 4 g L-1.

Em cacaueiros híbridos com 12 anos de idade, Bastos e


Albuquerque (2009) avaliaram, por um período de seis meses, a
produção de frutos e a infecção dos mesmos por vassoura de bruxa,
em função da aplicação foliar de fontes de NPK. As pulverizações,
num total de três, tiveram intervalo médio de 38 dias, e as soluções
utilizadas foram: 10 g L-1 de fosfato monopotássico (KH2PO4); 10 g L-
1 de fosfato dipotássico (K HPO ); 10 g L-1 de fosfato monoamônico
2 4
-1
(NH4H2PO4) e 20 g L de ureia. Os resultados obtidos são
sumarizados na Tabela 3, os quais apontam redução significativa da
infecção por vassoura de bruxa com o uso dos fertilizantes
supracitados e aumento da produtividade, principalmente com o uso
de fosfato monoamônico e ureia.
Tabela 3 - Produtividade de frutos e porcentagem destes infectados
por Crinipellis perniciosa em função da aplicação foliar de
fertilizantes
Tratamento Frutos colhidos1/ Frutos doentes
(%)2/
Testemunha 7,9 32,4 c
KH2PO4, 10 g L-1 3,8 7,7 a
K2HPO4, 10 g L-1 10,0 17,8 b

NH4H2PO4, 10 g L-1 22,7 14,2 ab


Ureia, 20 g L-1 14,4 9,5 a
1/ Produtividade por planta, durante seis meses; média de 25
plantas por tratamento.
2/ Médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si, pelo teste
Tukey (p = 5%).
Fonte: Adaptado de Bastos e Albuquerque (2009).

Substâncias contendo nutrientes foram testadas por Silva et al.


(2008) como indutores de resistência à vassoura de bruxa em mudas
de cacaueiros de um clone suscetível à doença. Os produtos
testados foram: Bion® (acibenzolar-S-methyl, C8H6N2OS2) na dose
de 0,2 g L-1; Supa-potássio® (silicato de potássio – 20% SiO2 + 17%
K2O); Hortifós® PK (fosfito de potássio – 20% P2O5 + 27% K2O) e
Broadacre® Mn (50% MnSO4) nas doses de 2,5, 5,0 e 10,0 mL L-1,
testados isoladamente ou em combinação com o Bion®. Os autores
concluíram que somente o Bion® promoveu controle significativo da
vassoura de bruxa.
5 Uso simultâneo em pulverizações de
fertilizantes e outros produtos
A prática de pulverização foliar com produtos agrícolas, incluindo
fertilizantes, é onerosa, não só pelo custo do insumo, mas, na
maioria das vezes, principalmente pelo custo da operação. O custo
da aplicação é especialmente elevado para áreas acidentadas ou em
culturas onde não é possível a pulverização mecanizada via trator.
Seria de grande valia encontrar procedimentos para conciliar
eficazmente a aplicação foliar simultânea entre fertilizantes e outros
insumos, como fungicidas, inseticidas, reguladores de crescimento e
indutores de resistência, reduzindo custos operacionais com o uso
de maquinário e de mão de obra, resultando em redução de custos.
Porém, pesquisas sobre compatibilidade de produtos agrícolas para
aplicação foliar são escassas, especialmente devido à possibilidade
ilimitada de combinações entre insumos e doses dos mesmos. Há
muito tempo, Mosquera (1954) já apontava que é mais prático e
seguro quando a indústria fornece o produto comercial contendo
simultaneamente os insumos desejados.
Como exemplos de pesquisas de uso simultâneo de fertilizantes
com fungicidas e/ou hormônios vegetais para o cacaueiro, podem-se
citar os trabalhos de Constain (1953) e Siller (1958). Constain (1953)
estudou pulverizações direcionadas às flores do cacaueiro com
soluções de auxinas, fungicidas (calda bordalesa, oxicloreto de cobre
e Parzate®) e fertilizantes (ureia e glicerofosfato de cálcio, ambos a 5
g L-1) e concluiu que os produtos e as concentrações testadas
podem ser misturados para uso em aspersões foliares em
cacaueiros, ou seja, são compatíveis. Siller (1958) evidenciou efeito
benéfico do uso de calda bordalesa mais ureia e/ou sulfato de zinco,
pois a adição destes fertilizantes não reduziu a eficiência do controle
de Phytophthora spp., propiciado pela calda bordalesa, mas
aumentou a produtividade da planta (Tabela 2).
6 Considerações finais
Para o cacaueiro, a ureia pode ser usada em adubação foliar em
concentração de até 25 g L-1, quando utilizada isoladamente. Para
soluções multinutrientes, preparadas a partir de fertilizantes simples,
ainda há necessidade de pesquisas para avaliação de fontes, doses,
épocas e frequência de aplicação. Embora possa se considerar
como valores de referência que as mesmas devam ter concentração
total de até 15 e 20 g L-1 de fertilizantes inorgânicos solúveis para
uso de cloretos e sulfatos de Cu, Fe, Mn e Zn, respectivamente;
incluindo, neste total, possíveis fontes de N, K e B, como ureia, KCl e
ácido bórico, respectivamente, e valores de pH entre 5,0 a 6,0.
Para a produção de mudas de cacaueiro, a adubação foliar pode
ser utilizada como única fonte de nutrientes em cobertura, em
complemento à adubação realizada no preparo do substrato, desde
que haja aporte balanceado dos nutrientes não supridos
satisfatoriamente pelo substrato; com frequência de adubação de
três a 15 dias, a depender do tipo do substrato, do tamanho do
recipiente de cultivo, do sistema de produção e da fase de
desenvolvimento da muda.
Em campo, o uso de adubações foliares em cacaueiros deve
priorizar a aplicação dos micronutrientes mais carentes e levar em
consideração o custo da operação. Estas pulverizações devem ser
feitas em períodos de lançamentos foliares, com uso de adjuvantes
para facilitar o molhamento da superfície foliar e a absorção dos
nutrientes, e preferencialmente associadas a controles
fitossanitários, para otimizar operações.
As pesquisas sobre adubações com soluções direcionadas às
flores do cacaueiro não mostram, até o presente, resultados
consistentes.
As doses de cobre, recomendadas como fungicidas cúpricos para
o controle de doenças do cacaueiro, são superiores àquelas
recomendáveis em adubações foliares quando este elemento é
empregado como nutriente.
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Capítulo 13 — Manejo e conservação do
solo para cacaueiro
Guilherme Amorim Homem de Abreu Loureiro1, Paulo Alfredo
de Santana Dantas2 , Quintino Reis de Araujo3
1 Considerações iniciais
O ser humano vive o desafio constante de garantir suas
demandas por alimentos, fibras e energia em quantidade e
qualidade suficientes e, ao mesmo tempo, de assegurar a
manutenção dos ecossistemas, principais fornecedores dos
recursos naturais que permitem ao homem esse suprimento material
e energético. Muitos desses recursos, também conhecidos como
bens e serviços ecossistêmicos, são considerados como benefícios
não materiais, porque, além de sua importância para a biosfera,
também fazem parte dos processos sociais e culturais da
humanidade. Por isso, este trabalho procura apresentar algumas
abordagens acerca do papel da cacauicultura frente às demandas
agrícolas e ambientais, com base em princípios ecológicos da
conservação do solo e da água nos agroecossistemas cacaueiros.
A conservação do solo e da água representa um amplo conjunto
de ações que influenciam direta ou indiretamente, de forma pontual
ou abrangente — nos diversos atributos do solo, diante de
fenômenos relacionados aos tipos de erosão, seja ela física,
química e/ou biológica. Toda e qualquer atividade antrópica no
manuseio/cultivo sobre o solo exerce influências positivas ou
negativas sobre seu estado de conservação.
O solo e a água são, indiscutivelmente, recursos naturais inter-
relacionados e essenciais para a matriz de produção orgânica dos
ecossistemas da biosfera terrestre. Devido a essa inter-relação no
ambiente, grande parte dos fatores que influenciam na qualidade do
solo também influenciam na qualidade da água e vice-versa. Por
isso, conservar o solo é sinônimo de conservar a água,
especialmente no contexto da produção vegetal oriunda de
ecossistemas naturais ou agrícolas. Deste modo, a conservação do
solo e da água pode ser generalizada como um conjunto de ações
estratégicas que influenciam — direta ou indiretamente, de forma
pontual ou abrangente nos diversos atributos do ecossistema solo
para beneficiá-lo, conservá-lo e melhorá-lo de maneira preventiva
diante dos fenômenos relacionados aos tipos e processos de
degradação física, química e biológica, sejam estes naturais ou
antrópicos.
A comunidade científica mundial está diante de um grande
panorama de problemas ambientais causados pela ação antrópica
não racional, dentre os quais se pode destacar a aceleração da
erosão do solo, principalmente devido à magnitude de sua
ocorrência e à intensidade de atuação dos seus agentes
(principalmente a água das chuvas e o vento) em diferentes
paisagens. Por isso, conservar o sistema edáfico pressupõe a
execução de práticas adequadas de uso e manejo para desacelerar
os processos erosivos e manter os níveis adequados de seus
atributos, garantindo assim a “sustentabilidade do solo”, termo
também conhecido por “capacidade produtiva”, “qualidade”,
“equilíbrio funcional” e “saúde do solo”. Essas práticas de
conservação do solo são procedimentos tecnológicos adequados às
características do solo in situ, ou seja, adequados aos seus
contextos ambiental, social e econômico local. Portanto, as
observações e interpretações ambientais dos componentes
ecológicos solo e água são imprescindíveis para a compreensão
dos aspectos históricos, atuais e perspectivas futuras, de qualquer
tipo de agricultura, fazendo-se também fundamentais para o manejo
do cultivo do cacaueiro (Theobroma cacao L.) no Brasil e no mundo.
Apesar de a cacauicultura ter sido estabelecida há mais de 260
anos na Bahia, a produção científica e tecnológica das diversas
áreas de conhecimento desenvolvidas nos últimos 50 anos carece
de estratégias de integração. Essa integração pode ser a base para
impulsionar as inovações tecnológicas, testando-as e tornando-as
acessíveis para os produtores rurais. Neste ponto, todas as
informações geradas no âmbito da ciência do solo, fragmentadas,
por exemplo, em estudos de química, fertilidade, física, pedologia,
manejo e conservação do solo, necessitam não apenas de
constante atualização, mas dessa integração na busca de soluções
para os problemas atuais e futuros da lavoura cacaueira. Logo,
questiona-se se as práticas e tecnologias difundidas até o momento
atual, nas possibilidades de serem adotadas ou não pelos
produtores rurais, refletem-se positivamente para a conservação dos
solos e da água nos diferentes sistemas de uso e manejo.
Sabe-se, por exemplo, que, do ponto de vista da conservação da
biodiversidade e dos recursos hídricos, o agroecossistema
cacaueiro atende a muitos critérios ambientais que são incipientes
ou até mesmo ausentes em outros sistemas agrícolas, como alguns
monocultivos. Porém, esse cenário de interações agrícolas e
ambientais exige um olhar mais cauteloso por parte dos
pesquisadores, técnicos agrícolas e produtores rurais, justificado
sob o caráter das rápidas e intensas transformações que os solos
tropicais sofrem ao serem submetidos às práticas de manejo e
conservação inadequadas.
Neste capítulo, pretende-se enfatizar que o planejamento
conservacionista na agricultura do cacau é essencial para o
desenvolvimento sustentável regional, podendo, inclusive, favorecer
a implementação de sistemas de manejo integrado de bacias
hidrográficas, ampliando as potencialidades agroecológicas deste
cultivo, como o consórcio com outras espécies agrícolas e florestais,
e a recomposição vegetal de ecossistemas ou agroecossistemas
degradados, como, por exemplo, áreas desflorestadas e pastagens.
Entretanto, essas potencialidades não têm recebido a devida
atenção da sociedade, mesmo com a constante divulgação dos
problemas ambientais locais e globais relacionados à degradação
dos solos e dos recursos hídricos. Neste contexto, este capítulo se
propõe a apresentar uma interpretação, de forma simples e objetiva,
de questões relacionadas ao manejo e à conservação do solo e da
água em agroecossistemas cacaueiros, fazendo uma leitura crítica e
atualizada da realidade agrícola, ambiental e econômica dos
mesmos.
2 Questões ambientais pertinentes à
degradação do solo e de recursos hídricos
A degradação dos solos e dos recursos hídricos, quase que
exclusivamente, é um processo de origem antrópica, estando em
grande parte relacionado com a agricultura. Não obstante, uma
breve exposição histórica pode revelar como muitas das tecnologias
humanas desenvolvidas para o uso e manejo dos recursos naturais
nasceram no contexto agrícola. Por isso, também serão explanados
os sentidos ambiental e agrícola dos termos degradação e
conservação. Em continuação, serão apresentados os conceitos de
degradação do solo, erosão do solo e de degradação da terra, que,
neste capítulo, constituem um marco teórico de suma importância,
não apenas para a conservação do solo e da água em
agroecossistemas cacaueiros, mas para qualquer agroecossistema
manejado sobre princípios do desenvolvimento sustentável.

2.1 Agricultura e tecnologias

Desde as antigas civilizações até a atualidade, observa-se que a


origem e o progresso das populações humanas estão diretamente
relacionados com a disponibilidade de recursos naturais.
Retrospectivamente, a agricultura pode ser considerada como uma
das primícias tecnológicas da humanidade. Além disso, as
atividades agrícolas são claras manifestações da capacidade de
organização da espécie humana frente ao grande desafio da
sobrevivência. Essa organização possibilitou o uso e manejo
sistemático dos recursos naturais existentes nas partes mais
remotas do planeta.
Originalmente, a agricultura se desenvolveu a partir da
observação do homem sobre os processos naturais, imitando-os e
convertendo-os ao seu próprio benefício. Entretanto, existiram
sucessos e fracassos na história da agricultura, principalmente
correlacionados à evolução social e cultural dos diversos
assentamentos humanos no planeta. Desde tempos muito remotos,
a abundância e a escassez de recursos sempre fizeram parte da
história da humanidade. Não obstante, os distintos grupos humanos
interpretaram e ainda interpretam esses fatos de maneira muito
particular, dificultando uma autorreflexão coletiva sobre o destino de
sua própria espécie. Por exemplo, há grupos mais adeptos à cultura
de conservação e outros cujas atividades não respeitam a
fragilidade dos ecossistemas. Desta maneira, a agricultura assume
um papel preponderante na construção de uma consciência
ambiental global a partir da revisão de suas práticas e da
implementação de tecnologias mais adequadas ao contexto
ambiental.
A frase “a arte imita a vida” é perfeitamente adequada para uma
analogia com a agricultura, que nasce das profundas observações
ecológicas dos povos ancestrais. Estes povos da antiguidade e
muitas populações indígenas e rurais da contemporaneidade ainda
dependem, quase que exclusivamente, desta observação empírica
para sobreviver. Grande parte dessas comunidades, essencialmente
agrícolas, valorizam seus recursos naturais e todas as informações
transmitidas de geração em geração, que, em seu próprio conceito,
garantem o uso e o manejo adequado dos mesmos. Para essas
comunidades, o conhecimento tradicional é a continuidade de todas
as tecnologias simples desenvolvidas no contexto local. Contudo,
também se reconhece que essas observações evoluíram de
diferentes formas e se consolidaram no método científico,
fomentando o surgimento de novos instrumentos e tecnologias na
agricultura.
Sendo assim, experimentalmente, o ser humano passou a reunir
um grande número de informações sobre os fenômenos climáticos e
condições físicas, químicas e biológicas do ambiente. Estes
conhecimentos experimentais (científicos) se traduziram no aumento
das produções e produtividades agrícolas, fatos que culminaram
também no aumento das populações humanas e, logo, no aumento
pela demanda por recursos naturais. Por isso, progressivamente, a
pressão da demanda humana exercida sobre esses recursos
desencadeou a aceleração de vários processos de degradação
natural que afetam tanto os ecossistemas naturais como os próprios
agroecossistemas. Neste contexto, um dos processos de
degradação natural mais estudados é a erosão do solo, devido à
magnitude de suas consequências tanto para os solos quanto para
os recursos hídricos. Entretanto, há outros processos que resultam
na degradação do solo e, consequentemente, na degradação dos
recursos hídricos.
3 Degradação e conservação no contexto
ambiental
A degradação e a conservação são fenômenos naturais.
Baseando-se na segunda lei da termodinâmica, particularmente no
conceito da entropia, faz-se uma releitura do significado destes dois
fenômenos e suas aplicações nos contextos ambiental e agrícola.
A entropia é uma grandeza que mensura o grau de
irreversibilidade de um sistema. Partindo deste conceito, percebe-se
o grande esforço material e energético que todos os sistemas vivos
do planeta fazem para manejar os processos de degradação
natural. Estes sistemas vivos buscam otimizar o uso de recursos
disponíveis, conservando a maior quantidade de energia possível.
Ou seja, a vida, em sua definição mais científica, luta
estrategicamente para manter uma baixa entropia (GEORGESCU-
ROEGEN, 1986). Assim sendo, este processo de antagonismo
estratégico à entropia se denomina conservação. Por isso, a
conservação também é caracterizada como um fenômeno natural.
Essa coexistência e interdependência entre os fenômenos de
degradação e conservação está explícita na biosfera. Por exemplo,
a degradação é uma importante fonte de transformações físicas,
químicas e, consequentemente, biológicas na crosta terrestre,
oceanos e atmosfera. Em contrapartida, os sistemas vivos
dependem destas transformações para evoluir, modificando a si
mesmos na busca de melhorias, ou seja, de maior eficiência nos
processos de uso dos recursos disponíveis. Porém, a mesma
conservação realizada por todos os seres vivos, ao largo do tempo,
também produz alterações profundas na própria biosfera. Por isso,
essa intrínseca relação entre degradação e conservação se traduz
em um balanço muito delicado, cujo desequilíbrio pode gerar
consequências desastrosas para a própria vida. A história natural da
Terra é a sua principal testemunha de que fenômenos abruptos e
intensos de degradação, internos ou externos ao planeta, como
cataclismos cósmicos e erupções vulcânicas, podem extinguir
grande parte dos seus sistemas vivos.
Então, para agir de modo eficiente nesse balanço, os seres vivos
utilizam um conjunto de estratégias de sobrevivência
interespecíficas e intraespecíficas, das quais se destaca a
organização do uso de recursos naturais, desde níveis simples a
complexos. Estes níveis de organização caracterizam um processo
de adaptabilidade estritamente dependente da harmonia entre as
relações naturais de degradação e conservação, ou seja, do
balanço positivo da oferta de recursos naturais do meio ambiente
em relação às demandas energéticas dos organismos vivos. Essa
rede de interações simples e complexas entre sistemas vivos e não
vivos, atuando conjuntamente em um mesmo espaço físico,
denomina-se ecossistema.
Muitas pesquisas adentraram o século XXI questionando o rumo
perigoso do desenvolvimento das sociedades humanas
fundamentado em modelos tecnológicos que não respeitam os
limites dos ecossistemas. Desde então, a consciência ambiental é
reclamada internacionalmente como a chave para a consolidação de
modelos sustentáveis de desenvolvimento, coerentes com a
capacidade de resiliência dos ecossistemas frente aos processos de
degradação natural. Não obstante, ao considerarmos o aspecto
sumamente biológico da espécie humana, as atividades antrópicas
também podem ser caracterizadas como “processos naturais”
intrínsecos à evolução da vida no planeta. Todavia, reconhece-se
mundialmente, por distintas áreas da ciência, que a instauração
desta nova era geológica, o Antropoceno, significou e ainda significa
a aceleração dos processos de degradação natural, expondo muitas
espécies à extinção, tanto pelo consumo irrestrito como pela falta ou
pela contaminação de recursos naturais, como o solo e a água
(JØRGENSEN; JØRGENSEN, 2016; ROST; GERTEN; HEYDER,
2008). Neste ponto, a degradação dos recursos naturais passou a
ter uma correlação direta e progressiva com grande parte das
sociedades humanas. Portanto, aqui se faz uma distinção conceitual
entre processos ecológicos naturais e processos antropogênicos.
Porém, apesar destas considerações negativas, das sociedades
humanas também emergem, concomitantemente, iniciativas de
desenvolvimento de novas tecnologias sustentáveis e de
valorização de tecnologias tradicionais que obtiveram êxito ao
coexistirem com o meio ambiente e em garantir a conservação dos
recursos naturais.
Baseando-se nas exposições preliminares, observa-se a atuação
direta dos sistemas vivos nos processos de conservação dos
recursos fundamentais para sua subsistência. Existem processos
naturais que exemplificam esse balanço entre degradação e
conservação aqui explanado, como a gênesis do solo, que está
estritamente relacionada com a atuação dos organismos vivos,
particularmente microrganismos, algas, vegetais e invertebrados. A
ciência atual reconhece as contribuições desses organismos vivos
para a evolução da paisagem natural, inclusive para a melhoria
gradual das condições ambientais para seu próprio benefício. Eles
atuam no sentido oposto à entropia, tentando driblar o desgaste, a
desintegração e a aleatoriedade dos sistemas naturais. São esses
organismos que propiciam que inúmeros elementos e substâncias
químicas sejam reciclados pela integração de processos bióticos e
abióticos nos ecossistemas. Uma floresta é um exemplo de
ecossistema onde os usos de recursos energéticos são otimizados
pela maioria das espécies coexistentes. Porém, não apenas os
ecossistemas naturais cumprem com essas funções ecológicas.
Seguindo esses pressupostos, é importante ressaltar que os
agroecossistemas, a depender das práticas de manejo adotadas,
têm um grande potencial para atuar na conservação dos recursos
naturais, derrubando o conceito paradigmático de que a agricultura
só atua na destruição do meio ambiente.
4 Degradação do solo, erosão do solo e
degradação da terra
Em primeiro lugar, é de suma importância a compreensão de que
o solo não é apenas um recurso natural, mas um ecossistema sui
generis constituído por uma rede complexa de relações bióticas e
abióticas que conferem ao mesmo as características que permitem
os processos dinâmicos de vários ciclos biogeoquímicos, como o
ciclo da água. Também é importante esclarecer que a degradação e
a erosão do solo são dois dentre os principais danos causados pelo
homem ao meio ambiente.
Entretanto, apesar de serem termos comumente associados, a
degradação do solo e a erosão do solo são fenômenos
conceitualmente diferentes.
De acordo com a Organização das Nações Unidas para
Agricultura e Alimentação — FAO (2016), a degradação do solo é
definida como uma mudança na saúde do solo que resulta na
redução da sua capacidade de proporcionar bens e serviços
ambientais e assegurar suas funções ecológicas para seus
beneficiários durante um período de tempo. Os dois principais tipos
de degradação do solo são: química e física.
A degradação química do solo resulta da perda de nutrientes ou
da sua contaminação e, muitas vezes, resulta na irreversível
degradação do ambiente edáfico, tecnológico e/ou
economicamente. Dentre os principais processos de degradação
química, destacam-se: 1) perda da fertilidade; 2) acidificação ou
redução do pH do solo; 3) contaminação do solo por elementos ou
substâncias potencialmente tóxicas de caráter agrícola ou industrial;
4) salinização, pelo uso abusivo de fertilizantes salinos; 5)
sodificação ou alcalinização do solo; e 6) eutrofização de
reservatórios ou cursos de água. A degradação física, por sua vez,
resulta na diminuição da camada superficial do solo, principalmente
pela desestruturação do solo e desagregação de suas partículas
sólidas e, consequentemente, na diminuição do teor de matéria
orgânica, processos causados frequentemente pela eliminação da
cobertura vegetal e práticas de cultivo inadequadas. A degradação
física afeta a estabilidade de vários atributos do sistema edáfico,
principalmente a densidade e a porosidade do solo e suas
capacidades de infiltração e de retenção de água. Os processos de
compactação, adensamento e encrostamento superficial são os
principais coadjuvantes dessa degradação física dos solos e afetam
diretamente a microbiota do solo e o crescimento e desenvolvimento
das raízes das plantas. Em suma, tanto a degradação química como
a física, ou a combinação de ambas, podem provocar o
desaparecimento de ecossistemas, levando à degradação biológica
dos mesmos.
A erosão do solo é um dos sintomas mais visíveis de sua
degradação, por isso são termos muito correlacionados.
Semanticamente, a erosão procede da palavra erodere (latim), cujo
significado é corrosão, rebaixamento. No aspecto conceitual mais
abrangente para a crosta terrestre (rochas e solos), a erosão pode
ser definida como um conjunto de fenômenos que atuam no
desgaste, desprendimento, transporte e deposição de partículas
sólidas nas partes mais baixas do relevo, derivados de distintos
agentes: 1) climáticos, como a água das chuvas, os ventos, as
glaciações (gelo), as ondas do mar e marés; 2) geológicos, como a
gravitação e os abalos sísmicos; e 3) biológicos, como a
colonização de microrganismos, algas e vegetais. Sob o aspecto
geológico, caracteristicamente lento, a erosão não representa uma
ameaça ambiental. Porém, a aceleração dos processos erosivos
também compromete a conservação natural do solo ao impedir que
os produtos do intemperismo se acumulem e permaneçam no lugar
onde os solos foram formados (BIGARELLA; BECKER; PASSOS,
1996). Já no contexto agrícola, a erosão do solo pode ser definida
de forma sintetizada como um processo de desgaste e
desprendimento das suas partículas sólidas minerais e orgânicas —
principalmente pela exposição direta de suas camadas superficiais à
água das chuvas e aos ventos — que resulta na diminuição gradual
dos níveis adequados de seus atributos físicos, químicos e
biológicos, causado, consequentemente, pelo transporte e
deposição destas partículas nas partes mais baixas do relevo. É
importante ressaltar que os reservatórios e cursos de água doce da
paisagem natural se encontram, principalmente, nas partes mais
baixas do relevo, ou seja, a erosão do solo é a principal responsável
pelo assoreamento e contaminação desses recursos hídricos. Ou
seja, a dinâmica da água na paisagem natural, sua disponibilidade e
qualidade têm profunda conexão com a conservação dos solos.
Portanto, ecologicamente, os recursos naturais solo e água são
indissociáveis. E se a água não pode completar seu ciclo em um
dado ecossistema, a degradação desse ambiente é inevitável.
A falta de percepção do ser humano sobre as limitações e
potenciais de uso dos solos – ou seja, o desconhecimento das
condições ambientais do lugar onde esses solos foram formados e,
principalmente, do clima – resulta em práticas agrícolas e
ambientais antiecológicas e, por conseguinte, antieconômicas. Por
exemplo, quando as vegetações nativas (elementos-chave de
muitos ecossistemas frágeis de zonas áridas e semiáridas) são
destruídas ou diminuídas, intensificam-se os processos erosivos que
culminam na desertificação. Além disso, particularmente em zonas
úmidas e subúmidas, o desflorestamento das matas ciliares,
encostas e topos de morros intensifica os processos de erosão
hídrica, como o processo de arraste de solo pela erosão laminar,
enxurradas e consequente assoreamento, que podem significar a
completa destruição de nascentes, riachos, rios, pântanos,
manguezais, lagos e lagoas, afetando diretamente todos os
elementos ecológicos que constituem as bacias hidrográficas de
uma região.
De acordo com a FAO (2016), os processos de erosão e a
degradação dos solos, quando não manejados corretamente pelo
homem, culminam em um fenômeno mais grave, denominado de
degradação da terra — conceito que inclui todas as alterações
negativas na capacidade de um ecossistema fornecer bens e
serviços aos seus próprios usuários. As consequências diretas
deste tipo de degradação são a própria redução da produtividade da
terra, os problemas socioeconômicos, incluindo a incerteza sobre a
segurança alimentar, a não fixação do homem no campo, o
desenvolvimento limitado e danos irreversíveis ao meio ambiente.
Deste modo, esses pressupostos ecológicos e agrícolas
apresentados alertam sobre a necessidade de uma integração
estratégica entre todos os produtores rurais, técnicos e cientistas
envolvidos na cadeia produtiva do cacau para a educação
ambiental, a implementação e o desenvolvimento de tecnologias e
práticas agrícolas que melhorem os agroecossistemas cacaueiros,
elevando-os aos níveis de qualidade presentes nos ecossistemas
naturais ou mesmo os superando. Por isso, é impossível pensar no
aumento da produtividade desses agroecossistemas e no
desenvolvimento sustentável regional sem considerar esses
princípios de conservação do solo e da água.
5 Manejo e conservação do solo e da água em
agroecossistemas cacaueiros
O cacaueiro (Theobroma cacao L.) é uma planta típica do clima
tropical úmido, cultivada, principalmente, nas regiões localizadas
entre as latitudes 20° N e 20° S (WOOD; LASS, 1985). O seu cultivo
no continente americano, desde épocas ancestrais até a
contemporaneidade, abrange uma grande diversidade de solos
tropicais, fato que implica muitos desafios para o manejo da cultura
e dos solos.
Principalmente nos solos tropicais, a biodiversidade local,
facilmente explicada por aspectos geológicos e geográficos, é o
principal ponto de partida para qualquer tentativa de implementação
de um sistema de produção vegetal. As espécies nativas vegetais,
por exemplo, são bioindicadoras das condições físicas e químicas
dos solos, facilitando a escolha das espécies agrícolas adequadas
para os mesmos. Por isso, também é importante conhecer a espécie
vegetal cultivada, resgatando as informações do seu habitat natural
ou da história do seu melhoramento genético, que permitem
correlacionar aspectos nutricionais e fisiológicos com muitos
fenômenos naturais. No ambiente, é praticamente impossível prever
ou estudar grande parte das interações entre fenômenos físicos,
químicos e biológicos sem generalizá-los. Portanto, cabe à ciência o
aprofundamento de alguns dos conhecimentos específicos e a
continuidade das investigações ambientais para prover à
humanidade uma visão panorâmica e simplificada dos principais
processos e desafios agrícolas a serem superados para sua
sobrevivência.
A ancestralidade do cultivo do cacau remonta uma interação
muito estrita com as regiões úmidas florestadas. No Brasil,
tradicionalmente, os agroecossistemas cacaueiros foram
implantados em áreas de mata nativa amazônica (na região Norte) e
de mata nativa atlântica (na região Nordeste). Portanto, o desenho
agrícola tradicional do cultivo de cacaueiros é, em geral, do tipo
sistema agroflorestal (SAF), seja cultivado no modelo de derruba
total, no qual a mata nativa é substituída por árvores de sombra
introduzidas, ou no modelo de cacau-cabruca, no qual os cacauais
são instalados e se desenvolvem como sub-bosque da floresta
nativa raleada (estes SAFs de cacau-cabruca existem há séculos,
bem antes das conceituações técnicas mais recentes dos SAFs). A
partir deste entendimento básico sobre uma “agrofloresta de
cacaueiros”, é possível pensar nas implicações que este uso da
terra tem sobre o solo e quais são os requerimentos básicos para
atingirmos a sustentabilidade do sistema agrícola. Também é
importante ressaltar que o sistema agrícola “cacaual” é um
ecossistema complexo que interage e interfere com outras
populações de espécies vegetais, animais e microbiológicas e, por
esta razão, denomina-se agroecossistema cacaueiro.
Outro aspecto preponderante para a investigação agrícola e
científica da cultura do cacau, antes, durante e depois de sua
implantação, é a sua correlação com as interfaces pedológicas do
clima e do relevo, que podem limitar e/ ou dificultar a sua
sustentabilidade ao longo do tempo. Por exemplo, muitas das
limitações de produção de genótipos (cultivares) de cacaueiros com
alto potencial produtivo estão relacionadas com aspectos
edafológicos relativamente simples de serem identificados, como
situações de alagamento e de drenagem, de solos de baixada ou de
topo, respectivamente.
O cultivo do cacaueiro ultrapassou as fronteiras agrícolas
climáticas, saindo das regiões de clima tropical úmido, com
agricultura tradicional e extrativista, para regiões de clima semiárido,
com agricultura intensiva de alta tecnologia. Por isso, novos
desenhos agrícolas têm sido implantados com sucesso econômico,
como os cacaueiros cultivados a pleno sol com suprimento hídrico
por meio de sistemas de irrigação permanente e complementar, seja
em monocultivo ou consórcio com outras culturas. Além desses
limites climáticos, o cacaueiro também é cultivado com sucesso em
solos com limitações físicas muito acentuadas, como os solos de
tabuleiros costeiros, fazendo-se uso de práticas de manejo do solo,
como a subsolagem para o plantio, e implementando sistemas de
irrigação.
Esse ecletismo da cacauicultura, ao mesmo tempo em que
propicia alternativas econômicas para os produtores agrícolas de
diferentes lugares, requer o desenvolvimento de uma educação rural
voltada para o diagnóstico e para a tomada de decisões e
intervenção técnica que se responsabilizem pela sustentabilidade
dos solos cultivados. Esse sistema de manejo requer, por si só, essa
responsabilidade social e ambiental para que a ciência não seja
uma mera difusora de conhecimentos e práticas, propondo-se
também a coevoluir com outras áreas do conhecimento científico,
com as mudanças ambientais e com as necessidades das
comunidades agrícolas. Porque a biosfera está em constante
transformação, é incoerente pensar em modelos de produção fixos
para quaisquer que sejam os cultivos agrícolas.
A situação da cacauicultura é bastante delicada, porque —
mesmo que os problemas de produção relacionados à variabilidade
genética e tolerância das plantas às principais doenças e pragas
sejam contornados, como, por exemplo, pelo uso de clones dos
melhores cultivares — a diversidade de solos das diferentes regiões
de cultivo sempre exigirá um manejo estratégico recíproco a essa
diversidade de aspectos edáficos positivos e negativos.
Na região cacaueira da Bahia, o cultivo do cacaueiro,
tradicionalmente compreendido como monocultura e modelo
extrativista, tem o desafio atual de melhorar a qualidade de vida dos
produtores rurais, fornecendo e ampliando os bens e serviços
ambientais das suas respectivas regiões. Entretanto, a escassez de
recursos econômicos limita o uso de tecnologias agrícolas que
demandam recursos humanos e financeiros. Tecnologias essas que
poderiam incrementar a produtividade dos agroecossistemas
cacaueiros, como a diversificação pelo consórcio com outras
culturas, as práticas fitotécnicas de manejo de pragas e doenças, de
irrigação, de manejo da adubação e outras possíveis práticas de
conservação do solo e da água. Aspectos socioculturais também
limitam a difusão dessas tecnologias, especialmente das que
requerem dos pesquisadores, técnicos e produtores um
monitoramento contínuo das lavouras. Sendo assim, um
agroecossistema cacaueiro também deve ser compreendido como
um sistema agrícola que demanda tecnologia, ou seja, inputs e
outputs de recursos econômicos. Por isso, pensar no manejo e na
conservação do solo de um agroecossistema é muito mais do que
pensar em perdas de solo por processos erosivos, é pensar na
perda da sustentabilidade do sistema, seja por intervenções
antrópicas inadequadas ou pela própria degradação natural,
mencionada anteriormente.
6 Recursos hídricos e cacauicultura
A diversidade de solos da paisagem está estritamente relacionada
ao ciclo hidrológico, conceito que ilustra a movimentação da água
no ambiente, nos seus diferentes estados físicos. A energia solar
permite que a água, no estado líquido, sobre a crosta terrestre se
eleve para a atmosfera, no estado gasoso, pela evaporação; a água
condensada é precipitada por ação da gravidade na forma líquida
sobre a superfície terrestre. E, ainda sob ação da força
gravitacional, a água líquida percorre as declividades naturais do
revelo pelo escoamento superficial, formando reservatórios naturais,
como lagos e lagoas, e cursos de água doce, como os riachos e
rios, até alcançar os oceanos. A água também se infiltra nos solos e
nas rochas através dos seus poros, fissuras e fraturas pelo
escoamento subsuperficial, alimentando os lençóis freáticos que
formam as nascentes dos cursos de água doce. Todo ciclo
biogeoquímico é dinâmico. Portanto, esses processos de
evaporação, precipitação e escoamentos ocorrem simultaneamente.
A cada alteração da paisagem natural, consequentemente, há
mudanças no ciclo hidrológico. O manejo dos solos agrícolas
depende do conhecimento da paisagem, do revelo e dos
ecossistemas naturais que a compõe. O clima e a paisagem alertam
sobre as possíveis perdas de água pela própria evapotranspiração
vegetal e mudanças bruscas no relevo, indicando como uma
mudança de estrato vegetativo pode afetar positiva ou
negativamente o ciclo hidrológico, que consequentemente
compromete o uso dos solos.
Neste contexto, ressalta-se que a educação ambiental é, sem
dúvidas, o pressuposto básico para que a agricultura se estabeleça
de modo sustentável sobre os recursos naturais, entendendo as
relações entre o solo e a água no ambiente de modo objetivo. O
agricultor que entende o agroecossistema cacaueiro inserido na
paisagem, conhecendo e conservando seus solos e recursos
hídricos, terá grande capacidade de gestão desses recursos frente
às adversidades ambientais e, consequentemente, econômicas. Por
exemplo, as perdas de solo pela erosão hídrica no agroecossistema
cacaueiro, particularmente a erosão laminar, podem ser contornadas
com ações preventivas na implantação da lavoura, como as técnicas
de espaçamento entre plantas, adensamento, consórcio com
espécies nativas e agrícolas, até o uso de técnicas de conservação
do solo em lavouras já estabelecidas, como o uso de barreiras
físicas e vivas, conservação de topos de morros florestados e
reflorestamento de topos descobertos e de nascentes,
recomposição de nascentes destruídas e construção de taludes e
drenos. A essas práticas de manejo e conservação dos solos, que
também implicam a conservação dos recursos hídricos, pode-se
somar o uso de sistemas de irrigação mais eficientes, como
irrigação localizada por gotejamento, controle do uso e
monitoramento da qualidade da água para a irrigação e da
qualidade da água após a emissão de efluentes produzidos nas
propriedades rurais, nos cursos de água.
Como foi mencionado, o ambiente é regido por processos naturais
de degradação, e mesmo o agroecossistema cacaueiro – com suas
características conservacionistas, por estar próximo de um
ecossistema florestal, como a mata nativa – também é vulnerável à
degradação do solo e dos recursos hídricos. Por isso, quaisquer que
sejam os sistemas de cultivo adotados para o plantio dos
cacaueiros, todos devem partir do pressuposto de desacelerar a
degradação natural, promovendo a reciclagem da água e dos
nutrientes nesses agroecossistemas. Por exemplo, todo
investimento tecnológico do manejo nutricional das plantas com
adubação do solo, sistemas de irrigação e fertirrigação pode estar
destinado ao insucesso pela simples omissão do produtor diante
das mudanças acentuadas de relevo e do não conhecimento da
série climática da sua região. Esses conhecimentos climáticos
podem estar caracterizados tanto do ponto de vista técnico como do
conhecimento obtido por um balanço climático anual ou pela simples
observação empírica do regime das chuvas, das mudanças na
vegetação nativa, dos estratos vegetativos e do comportamento das
espécies agrícolas e nativas em relação à própria fenologia. Com
essa observação do meio ambiente, o produtor rural pode evitar
grandes perdas econômicas relacionadas tanto com a aplicação
inadequada de fertilizantes quanto com a contaminação do solo.
Sabe-se, por exemplo, que os nutrientes no solo são facilmente
perdidos por processos de erosão hídrica. Entretanto, a reposição
desses nutrientes torna-se cada vez mais complexa e
antieconômica sem o devido planejamento de práticas de manejo e
conservação do solo que visem melhorar a infiltração da água da
chuva, o amortecimento do impacto das gotas da água sobre o solo,
o direcionamento e a redistribuição do escoamento superficial da
água, a retenção ou a drenagem da água e a proteção das
nascentes e cursos de água.
A gênese e a evolução do solo na paisagem são dependentes das
movimentações do relevo. O relevo é fundamental para determinar o
desenvolvimento e a profundidade do perfil do solo, o que facilita ou
dificulta a inter-relação de suas fases sólida, líquida e gasosa. Os
processos de infiltração, absorção e retenção de água pelo solo são
determinados pela sua estrutura, que, por sua vez, assume
características marcantes do relevo em condições naturais. A
própria vegetação se desenvolve de modo diferenciado, de acordo
com a posição do solo na paisagem. Entretanto, todas essas
relações são interdependentes e ocorrem simultaneamente, sendo
necessária a compreensão de que todas as limitações físicas e
químicas para determinar o uso de quaisquer solos são
primariamente percebidas a partir da sua posição no relevo. Neste
contexto, a água foi o solvente que permitiu a atuação conjunta dos
processos químicos e biológicos no intemperismo que atuou/ atua
na formação dos solos na paisagem. Portanto, é impossível
dissociá-la do contexto pedológico, pois ela está relacionada com o
solo desde a sua origem até o seu uso e manejo.
Ainda no que diz respeito à posição do solo no relevo, a dinâmica
da água no solo é determinada basicamente pelos extremos de
declividade, terrenos declivosos ou planos. Onde foram ou serão
estabelecidos os plantios de cacaueiros? Em terrenos declivosos ou
planos? Qual é o grau de declividade do terreno? Sabe-se, por
exemplo, que terrenos mais planos apresentam solos mais
profundos; mas, o que isso significa para o plantio de cacaueiros e
seu respectivo manejo? Quanto mais declivoso é um terreno, maior
é a força de atuação dos processos erosivos, especialmente os
processos de erosão hídrica. Como já comentado anteriormente, os
processos de degradação natural podem ser desacelerados com o
uso da própria vegetação, pois as plantas oferecem uma resistência
física contra a erosão.
Muitos solos são formados pelo transporte de partículas por
processos erosivos, mas a erosão também compromete a
conservação do solo. Do ponto de vista agrícola, a erosão é
completamente indesejável. Dessa forma, é importante conhecer os
processos erosivos para que estratégias de controle adequadas e
eficientes sejam desenvolvidas.
Um solo descoberto, desprotegido, é um solo cuja “saúde”
(qualidade) está comprometida e no qual, cedo ou tarde, problemas
graves ocorrerão. A erosão é favorecida pelo desmatamento de
matas ciliares e nascentes e por coberturas vegetais degradadas
pelo mau manejo ou pelo uso inadequado da terra, fatos que são as
principais causas do assoreamento de nascentes e demais
reservatórios e cursos de água.
Prevendo-se a mecanização da lavoura cacaueira e o uso
intensivo da irrigação, é fundamental ressaltar que projetos que
visem a construção de represas, tanques e/ou até mesmo a
captação direta de água em rios, lagos e lagoas devem ser
realizados sob a égide da responsabilidade socioambiental. Os
agricultores que não atentarem para a fragilidade dos recursos
hídricos, particularmente das reservas de água doce,
comprometerão suas lavouras e sofrerão grandes prejuízos,
inclusive irreversíveis, do ponto de vista agrícola, e,
consequentemente, desastrosos para a sociedade. O investimento
inicial na elaboração de projetos que aumentem a qualidade e a
eficiência do uso da água nos agroecossistemas cacaueiros, sem
dúvida alguma, é a estratégia mais inteligente.
Há duas técnicas que podem ser utilizadas com sucesso para
aumentar a captação e infiltração de água das chuvas em áreas
muito erodidas, como pastagens degradadas. São elas: a
construção de barraginhas (BARROS; RIBEIRO, 2009) e/ou de
barragens subterrâneas (BRITO, 1999). As barraginhas são
inúmeros “miniaçudes” dispersamente construídos, principalmente
por máquinas escavadeiras, por onde houver enxurradas,
coletando-as; são ideais para terrenos com topografia ondulada e
plano-ondulada, cuja declividade se situe abaixo de 12%. São dois
os princípios de conservação do solo e da água da técnica de
barraginha: 1) conter a água das enxurradas, as erosões e os
assoreamentos; e 2) promover a infiltração da água (contida na
barraginha) no solo, recarregando e elevando o lençol freático. Em
solos profundos, recomenda-se a construção de barraginhas
menores de até 15m de diâmetro e com 100-150 m3 de volume. Em
solos rasos, as barraginhas podem ser construídas até 20 m de
diâmetro e com 300 m3 de volume. A barragem subterrânea, por
sua vez, tem como função interceptar o fluxo de água superficial e
subterrâneo através de uma parede (septo impermeável) construída
transversalmente à direção das águas; essa técnica também
promove a infiltração da água da chuva e a elevação do lençol
freático, que será utilizado posteriormente pelas plantas. Tanto a
barraginha como a barragem subsuperficial devem ser
complementadas com outras técnicas conservacionistas, como, por
exemplo, plantio em faixas, plantio direto, terraceamento, entre
outras.

6.1 APPs, recuperação de nascentes e matas ciliares

O Código Florestal brasileiro requer novas estratégias para a


produção agrícola seguindo medidas adotadas em países
desenvolvidos. Muito antes das políticas públicas de conservação
da biodiversidade e dos recursos naturais, há mais de 260 anos, a
cacauicultura da Bahia tem promovido a conservação da Mata
Atlântica. Nos artigos 41 e 50 do Código Florestal, estão previstos
incentivos econômicos para proprietários rurais que pratiquem a
conservação das áreas de florestas nativas ou a restauração,
regeneração ou compensação dos desmatamentos ilegais ocorridos
em suas propriedades (BRASIL, 1965). Entretanto, esses incentivos
não serão imediatamente praticados até a adequação das
propriedades rurais à legislação recém-implementada. Portanto, é
importante dizer que a coexistência histórica de áreas de mata
nativa com agroecossistemas cacaueiros, como o cacau-cabruca, e
formações florestais não é suficiente para garantir a sustentabilidade
dos solos e dos recursos hídricos, fazendo-se imprescindível a
implantação de estratégias de educação ambiental e do manejo
desses sistemas agrícolas com o uso de tecnologias eficientes e
práticas eficazes de conservação do solo e da água. Deste modo, a
proteção e a recomposição de nascentes e matas ciliares
degradadas são estratégias básicas para a sustentabilidade
ambiental e agrícola, tendo como ponto de partida a visão
panorâmica dos agroecossistemas no contexto das micro e
macrobacias hidrográficas.
As áreas de proteção permanente (APPs), nascentes e matas
ciliares podem ser o ponto de partida para o estabelecimento de
ações de manejo e conservação dos solos agrícolas, pois esses
estratos são utilizados para estudos comparativos sobre os
aspectos físicos e químicos dos agroecossistemas. O solo da mata
nativa é uma espécie de standard, e as alterações físicas, químicas
e biológicas que ocorrem no mesmo, pela substituição das espécies
vegetais nativas por espécies agrícolas, podem e devem ser
monitoradas ao longo do tempo. Há de se ressaltar que essa
interpretação necessita ser contextualizada. Por exemplo, os solos
tropicais são, em geral, muito ácidos, e intervenções como a
correção da acidez do solo, que alteram quimicamente as camadas
do solo (principalmente a superficial), são indispensáveis para
grande parte dos cultivos agrícolas (SOUSA; MIRANDA; OLIVEIRA,
2007), ou seja, essas intervenções químicas são previsíveis e
necessárias para a sustentabilidade desses agroecossistemas.
Todavia, do ponto de vista da qualidade física, o solo sob a
vegetação nativa é a referência para a comparação dos fenômenos
de agregação de partículas do solo, estoques de carbono no solo,
estabilidade de agregados, tamanho de agregados, infiltração,
lixiviação e recargas de lençóis freáticos e, consequentemente, para
a qualidade de água que supre o ambiente e a agricultura.
É possível criar estratégias para que o manejo do
agroecossistema cacaueiro seja direcionado para a recuperação
das nascentes e matas ciliares, criando proteções físicas em torno
delas com reflorestamento, conservando ou reflorestando os topos
dos morros, adotando práticas de conservação que visam impedir
as perdas de solo por erosão laminar e a enxurrada ao serem
estabelecidas curvas de nível e utilizar novos designs para distribuir
as plantas no plantio. Além disso, a criação de ciclos alternativos de
manejo agroecológico e a própria educação das pessoas para a
reutilização dos recursos naturais são a base real para que os
produtores estejam em constante evolução socioeconômica
(CARNEIRO; CARDOSO; MOREIRA, 2009).
Os cacauicultores devem reconhecer suas nascentes, protegê-las
e conservá-las, visando não apenas a captação dos incentivos
econômicos governamentais, mas a sustentabilidade econômica dos
próprios agroecossistemas cacaueiros no cenário futuro. Em um raio
de, no mínimo, 30m, cercados ou cercas vivas podem ser
estabelecidos para proteger as nascentes da entrada de animais e
do seu pisoteio, que pode compactar o solo. Práticas como capinas
e roçagens devem ser adotadas para manter a área de proteção
livre da ação do fogo pela ocorrência de queimadas ou incêndios
naturais.
São relatadas experiências bem-sucedidas de produtores de café
que fazem uso de sistemas agroflorestais com manejo
agroecológico para recuperação de nascentes (CARDOSO;
FERRARI, 2006; CARVALHO, 2011). Ressalta-se a necessidade de
estudar o efeito do manejo agroecológico sobre os recursos
hídricos, objetivando o reconhecimento e a valorização dos mesmos
como serviços ambientais (SOUZA et al., 2012). A agricultura
familiar propiciou a implantação de metodologias participativas que
visam a implantação de APPs e conservação e recomposição de
nascentes para atender à legislação ambiental (FERRARI et al.,
2010).
As espécies nativas presentes nos diversos ambientes onde os
cacaueiros estão inseridos podem ser utilizadas com a finalidade de
recompor as nascentes e matas ciliares. Agricultores da Zona da
Mata de Minas Gerais fizeram uso de espécies nativas e agrícolas,
como samambaiaçu (Dicksonia sellowiana Hook), bananeira (Musa
sp.) e conta-de-lágrima (Coix lacryma-jobi L.), em curvas de nível e
obtiveram sucesso ao recompor suas nascentes, garantindo água
de qualidade para suas comunidades (FERRARI et al., 2010).

6.2 Manejo integrado de bacias hidrográficas

Bacias hidrográficas são unidades de planejamento ambiental e


de execução de ações de manejo e conservação do solo e da água.
Não obstante, são ecossistemas muito expostos à agricultura não
sustentável.
O manejo integrado de bacias hidrográficas, em uma
conceituação ampla, constitui uma gestão participativa de todos os
agentes humanos rurais e urbanos, sejam estes representantes de
entidades públicas ou privadas, que fazem uso direto ou indireto dos
seus recursos naturais, visando mapear, planejar e monitorar as
terras (solos, geologia, relevo, clima, recursos hídricos, flora e
fauna), definindo suas limitações, potencialidades e implementando
projetos de infraestrutura urbana e rural, de educação ambiental, de
saneamento básico, de extensão rural voltados à conservação do
solo e da água e de recuperação de áreas degradadas; ações que
são direcionadas para a integração entre produção agrícola e
conservação dos bens e serviços ambientais dessas bacias
hidrográficas. Por isso, o conhecimento e o manejo adequado do
solo representam um aspecto preponderante para a conservação
desses recursos naturais das micro e macrobacias hidrográficas.
A perda da capacidade produtiva das terras agricultáveis pela
erosão do solo e a degradação promovida pelo avanço da
agricultura em terras sem aptidão agrícola são sinais negativos de
uma agricultura realizada sem um planejamento conservacionista.
Deste modo, no contexto das microbacias hidrográficas, que são
consideradas como unidades sistêmicas que permitem a
identificação e o reconhecimento das inter-relações dos fluxos de
energia e dos demais fatores envolvidos no processo produtivo, com
vistas a compatibilizar as atividades humanas com a conservação
dos recursos naturais, são desenvolvidos os projetos de manejo
integrado, cujas ações de uso e manejo são avaliadas e
monitoradas continuamente (PAIVA; ARAUJO, 2012).
A presença de cobertura vegetal e de resíduos orgânicos sobre o
solo são sumamente importantes, porque atuam como um fator que
retarda a erosão. Essa cobertura do solo (viva e/ou morta) reduz a
ação dos impactos das gotas de água da chuva que caem, diminui a
quantidade e a velocidade do escorrimento superficial e melhora os
processos de infiltração e de armazenamento de água no solo
(pelos poros onde entram as raízes) (BERTOL; COGO; LEVIEN,
1997; ALVES; CABEDA, 1999; BARCELOS; CASSOL; DENARDIN,
1999). Em um evento pluvial, os impactos das gotas de chuva na
superfície do solo causam a dispersão de argilas e a desintegração
de agregados e, logo, formam um selo superficial de baixa
porosidade e continuidade de poros que restringe a infiltração de
água e aumenta seu escoamento superficial (REICHERT; NORTON,
1995). Deste modo, a cobertura do solo também atua como
reguladora do ciclo hidrológico, pois sem a infiltração de água no
solo, os mananciais e demais reservatórios e cursos de água não
são retroalimentados e, consequentemente, perdem a capacidade
de reabilitação frente às variações climáticas.
De modo abrangente, é necessário incentivar a integração dos
produtores rurais que orbitam em torno do cultivo do cacau,
desenvolvendo uma cultura conservacionista em relação ao meio
ambiente e, principalmente, aos recursos solo e água. As ações
individuais são louváveis, entretanto, somente as ações coletivas
baseadas em um planejamento estratégico do uso desses recursos
naturais podem assegurar a sustentabilidade dos agroecossistemas,
diminuindo os efeitos dos impactos negativos da agricultura sobre
os solos e recursos hídricos.
7 Conservação edáfica nos agroecossistemas
cacaueiros
De modo geral, as técnicas de manejo dos solos para cacaueiros
baseiam-se nas interpretações de atributos físicos e químicos do
solo. Esses atributos podem ser características inerentes aos solos,
tais como a textura (granulometria), a profundidade efetiva para as
raízes das plantas, tipos e tamanhos de agregado do solo, água
disponível e drenagem e ocorrência de horizonte subsuperficial
coeso ou propriedades inerentes às fases sólida, líquida e gasosa
do solo, como, por exemplo, macro e microporosidade dos
agregados do solo, resistência à penetração de raízes, a
capacidade de troca catiônica (CTC) das argilas e da matéria
orgânica e o teor de elementos minerais (macro e micronutrientes e
elementos potencialmente tóxicos). Além dessas interpretações,
aspectos climáticos locais devem ser considerados antes, durante e
depois das práticas de manejo do solo adotadas, como o regime
pluviométrico e fenômenos naturais, como inundações.
Na Bahia, os levantamentos de solos mais aprofundados no
cultivo do cacaueiro foram introduzidos na década de 1960,
alcançando um máximo de utilização na década de 1980, auge da
produção brasileira de cacau. A partir da década de 1970, as
informações geradas, principalmente aquelas desenvolvidas pela
Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (CEPLAC) por
meio do Centro de Pesquisas do Cacau (CEPEC) em Ilhéus (Bahia,
Brasil), têm sido a base para o estabelecimento de métodos de
manejo do solo mais criteriosos, de acordo com as unidades
tradicionais de solo cultivadas com cacaueiros no Sul da Bahia,
assim como, para as suas novas fronteiras agrícolas (CHEPOTE et
al., 2012). De forma integrada aos estudos de pedologia, pesquisas
relacionadas com a física e a química do solo se desenvolveram e
impulsionaram a cacauicultura brasileira. Apesar desses
conhecimentos acumulados por décadas, avanços de caráter
tecnológico e científico ainda se fazem necessários para
implementar novos sistemas de avaliação e interpretação dos
atributos do solo que influenciam na produção do cacaueiro e na
qualidade do cacau. Essa desafiadora atualização pode gerar uma
melhor compreensão dos ecossistemas edáficos ocupados pelos
sistemas de cultivo de cacaueiros e, logo, recomendações mais
precisas sobre procedimentos de conservação do solo e da água.
Esses conhecimentos sobre as condições do solo, incluindo o
domínio/ entendimento mais efetivo das relações edáficas (solo x
cacaual), são imprescindíveis para a execução de práticas de
manejo coerentes com a realidade socioambiental, atendendo aos
pressupostos essenciais da conservação do solo, em observância
às específicas e detalhadas particularidades de processos erosivos.
Estudos mais recentes comprovam que é possível integralizar
múltiplas interpretações entre o sistema solo−cacaueiro (ARAUJO et
al., 2014; LOUREIRO, 2014).
O caráter protecionista das plantações de cacau do Sul da Bahia,
inseridas no bioma da Mata Atlântica, promoveu, por razões
históricas e culturais, um processo de inibição do exercício antrópico
da conservação dos solos (ARAUJO et al., 1999). Entretanto, frente
à realidade atual da região cacaueira, com a adoção de outros
cultivos, alguns menos conservacionistas do que o do cacau, seja
com a completa substituição dos cacauais ou com o consorciamento
a estes, sob condições de alta pluviosidade e relevo acidentado,
intensificaram-se as preocupações quanto aos riscos de erosão das
terras cultivadas.
Nas últimas décadas, especificamente após o agravamento da
crise econômica com a chegada da doença da vassoura de bruxa
nas regiões cacaueiras da Bahia e do Espírito Santo, muitos plantios
de cacaueiro foram abandonados e outros foram substituídos por
pastagens. A paisagem sofreu e ainda está sendo alterada,
especialmente por demandas agrícolas. As consequências dessas
alterações se refletem na perda de qualidade dos solos pelo
desequilíbrio dos seus respectivos atributos indicadores de
qualidade. De forma abrangente, os desmatamentos de topos e
remoção das matas ciliares reduziram e continuam a reduzir a
infiltração de água no solo e a vazão dos principais cursos de água
doce. Fenômenos como o assoreamento dos rios são visíveis e
preocupantes, e, além disso, muitas nascentes já foram
degradadas. Atualmente, busca-se recuperar as áreas degradadas,
particularmente as pastagens abandonadas, com a inserção de
outros cultivos e a reinserção do cultivo do cacaueiro. Um
agroecossistema cacaueiro bem manejado tem o potencial de
transformar essas áreas degradadas e gerar serviços ambientais
como a proteção de nascentes e cursos de água. Entretanto, o
“como fazer?” ainda é uma questão pouco discutida e pouco
investigada em pesquisa e extensão, sendo necessário resgatar e
atualizar os conhecimentos científicos tradicionais e confrontá-los
com as realidades locais e regionais, buscando-se sempre a
participação dos produtores rurais nas investigações propostas,
principalmente àquelas que visam a validação de novas tecnologias,
superando assim as possíveis defasagens de conhecimentos
técnicos sobre o cultivo do cacaueiro e de conhecimentos
ecológicos imprescindíveis para uma agricultura sustentável.
Portanto, a ciência está diante de um panorama de múltiplos
desafios para a lavoura cacaueira, como o aumento de produção e
produtividade, o cumprimento de legislações ambientais, o resgate e
o desenvolvimento de tecnologias acessíveis para os produtores de
diferentes níveis econômicos.

7.1 Abordagem geral sobre atributos químicos


vinculados à conservação edáfica

Práticas simples como a correta amostragem de solo, a calagem,


a adubação e o balanço nutricional das lavouras podem
interferir/definir nas decisões de manejo do solo e,
consequentemente, na produtividade da lavoura. Representam,
dentre uma grande lista, ações práticas intimamente relacionadas à
conservação dos solos.
Há que se olhar o fenômeno erosão e, por consequência, o
conceito de conservação de maneira mais ampla. Pode-se entender
que a erosão se revela num nível coloidal ou nos grandes volumes
das voçorocas. Vê-se, por exemplo, que a erosão hídrica do solo
pode ser mensurada a partir das taxas de desagregação do solo,
perdas do solo e perdas de nutrientes, etc. (FOSTER, 1982; ELLIOT
et al., 1989; DECHEN et al., 2015; WISCHMEIER; JOHNSON;
CROSS, 1971; WISCHMEIER; SMITH, 1978). Taxa de erosão esta
que se constitui em um importante indicador de análise ambiental,
pois, além de revelar a maior ou menor perda de solos e nutrientes,
com reflexos diretos na produção e produtividade agrícola, pode
também indicar riscos quanto a qualidade ambiental (PEREIRA;
TÔSTO; CARVALHO, 2015).
O estado nutricional da planta pode ser um indicador de qualidade
do próprio agroecossistema que traduz o nível de conservação x
erosão do solo, por exemplo. Há uma ampla e diversa produção de
pesquisas sobre aspectos de fertilidade na cultura do cacaueiro.
Todavia, o momento atual e as perspectivas futuras para a lavoura
cacaueira requerem a integração de todos os conhecimentos
fragmentados na busca pelo desenvolvimento de novas estratégias
para a realização e monitoramento das práticas de manejo do solo.
Do ponto de vista químico e do estado de “conservação” do solo,
inúmeros atributos podem ser correlacionados com o estado
nutricional de cacaueiros, sua produção e a qualidade dessa
produção vegetal, como, por exemplo, a acidez ativa do solo (pH), a
acidez potencial do solo (H + Al3+), a disponibilidade de nutrientes
minerais no solo e nas plantas (macronutrientes: N, P, K, Ca, Mg e
S; micronutrientes: B, Cl, Cu, Fe, Mn, Mo, Ni e Zn), os elementos
tóxicos no solo para as plantas (como o Al3+), os elementos
potencialmente tóxicos à saúde humana e animal no solo e nas
plantas (Hg, As, Pb, Cd, Ba, Cu, Cr, Ni e Co), além de outros
atributos, como o teor de matéria orgânica do solo (MOS), a
capacidade de troca catiônica (CTC), a soma de bases (SB), a
saturação por alumínio (m%) e a saturação por bases (V%).
Para uma abordagem precisa e um controle mais eficaz da
erosão, o conhecimento e a interpretação dos limites críticos
(inferior, ótimo e superior) de atributos químicos do solo, são
fundamentais para que o ambiente edáfico seja mantido em
equilíbrio, ou seja, em condições adequadas para atendimento das
suas funções produtivas e ambientais. Estudos recentes
(LOUREIRO, 2014; DANTAS, 2011; PINTO, 2013) apresentam a
interpretação de atributos químicos comumente utilizados para a
caracterização da fertilidade do solo, como macronutrientes (P, K,
Ca e Mg) e micronutrientes (Mn, Fe, Cu e Zn). O Si e alguns
elementos potencialmente tóxicos (Pb, Cd e Ba) também foram
observados nos agroecossistemas cacaueiros, sendo considerados
importantes para a interpretação da resiliência ambiental refletida no
sistema solo−planta (LOUREIRO, 2014). Deste modo, a inclusão
sistemática de atributos químicos do solo em estudos de
agroecossistemas cacaueiros, principalmente naqueles cujas
interpretações são conhecidas e comprovadas, é entendida como
um pressuposto fundamental para o estabelecimento de práticas de
manejo do solo e da cultura em bases sustentáveis.
8 Percepção de cacauicultores sobre o
manejo e a conservação do solo e da água
O estrato vegetativo dos agroecossistemas assemelha-se aos
estratos florestais, por isso esse cultivo se destaca na conservação
do solo e da água. Dos pontos de vista científico e técnico, nos
diferentes ambientes de cultivo de cacau nas regiões tropicais,
desde o clima tropical úmido até o clima semiárido, notam-se
diferenças acentuadas nas condições edáficas em comparação com
outros cultivos, como a proteção pela cobertura morta e pela
vegetação, ciclagem de nutrientes promovida pela diversidade
vegetal do sistema, pouco ou nenhum revolvimento do solo por
práticas mecânicas de manejo, conservação da umidade e
temperatura em níveis satisfatórios, favorecimento ambiental para a
micro e mesofauna edáfica, dentre outros.
A erosão é um processo natural de degradação que pode ser
acelerado ou desacelerado pelas práticas de manejo e conservação
do solo. Os produtores de cacau de diferentes regiões e sistemas de
produção ainda têm pouca ou nenhuma percepção das práticas de
manejo da cultura e do solo que estão diretamente relacionadas
com a conservação do solo e da água, como, por exemplo, a
cobertura morta da folhagem sobre o solo, as podas de formação,
de desbrota, de controle do sombreamento e fitossanitárias, cujos
resíduos são deixados sobre o solo, além da ação protetora das
copas das árvores de sombra e dos cacaueiros. Assim sendo, é
comum verificar que técnicos e administradores de propriedades
rurais afirmam não haver (ou seja, não visualizam) qualquer efeito
conservacionista a partir do cultivo do cacaueiro. Mesmo sem essa
percepção, alguns produtores buscam, por exemplo, soluções para
problemas de natureza física em solos argilosos que apresentam
déficit hídrico, utilizando os restos orgânicos da produção, como
restos de poda e o casqueiro, diminuindo assim a mortalidade de
mudas e de plantas adultas.
Produtores que estão em fase de transição do cultivo
convencional para o cultivo orgânico ainda carecem de informações
e assistência técnica, especialmente para o manejo nutricional do
agroecossistema — um dos fatores preponderantes para o aspecto
econômico da sustentabilidade da lavoura cacaueira. Ao passo que
alguns resíduos minerais e orgânicos (in natura ou oriundos de
compostagem) são recomendados, testados e aplicados
empiricamente nas lavouras, há escassez de informações científicas
sobre a composição e qualidade dos mesmos e sua correlação com
variáveis ambientais e componentes de produção. Além disso, na
maior parte das propriedades convencionais e atuais propriedades
orgânicas, a fertilidade do solo não tem sido adequadamente
avaliada, o que dificulta a intervenção tecnológica no
agroecossistema. Todavia, são estes produtores que adotam o
sistema de produção orgânica, os que estão mais atentos à
importância do enriquecimento do solo com resíduos orgânicos,
entretanto, desconhecem informações sobre a quantidade,
qualidade e manejo de materiais orgânicos para a fertilização do
solo.
Um aspecto imprescindível para o manejo da cultura do cacaueiro
e do solo é o espaçamento entre plantas e o manejo da sombra. Por
um lado, o adensamento das plantas requer mais nutrientes
minerais do solo e sua reposição de acordo com as necessidades
da lavoura. Por outro lado, a cobertura vegetal e a serapilheira do
cacaual fornecem proteção ao solo contra o impacto das gotas das
chuvas e intensificação da erosão hídrica. Esse aspecto
protecionista é potencialmente ampliado quando os cacaueiros
estão consorciados com espécies agrícolas, florestais e/ou nativas.
Percebe-se que os muitos produtores estão em busca de novas
alternativas, desde o plantio das árvores até o manejo da copa das
plantas em crescimento e manejo da copa das árvores de sombra. A
escolha das árvores de sombra que podem ser consorciadas com o
cacaueiro deve se refletir em ganhos ambientais e econômicos, a
exemplo de espécies que possuem simbiose com bactérias
fixadoras de nitrogênio, sendo capazes de atuar no suprimento e na
ciclagem deste nutriente no agroecossistema, aumentando a
produção e evitando o uso intensivo de insumos nitrogenados
industrializados.
Outra questão pouco discutida entre os produtores de cacau é a
profundidade e preparo da cova de plantio das mudas. Além de ser
uma etapa fundamental para o estabelecimento do cultivo, fatores
como o tamanho da cova, o preparo do solo, a aplicação de adubos
orgânicos e minerais e a escolha adequada das mudas, tanto nos
aspectos genéticos e de fitossanidade, quanto no tipo de muda que
está sendo conduzida para o campo, que pode ser uma muda
seminal, enxertada ou oriunda de propagação vegetativa como
hastes (de ramos plagiotrópicos ou ortotrópicos) enraizadas. Há o
reconhecimento de alguns produtores quanto à completa
inadequação de alguns materiais genéticos ao ambiente e também
com relação à qualidade do solo, particularmente nos aspectos
físicos da disponibilidade de água, facilmente percebida pelos
produtores.
Produtores do cultivo convencional em áreas de cacau-cabruca
ou consórcio com outras culturas, como a seringueira, têm uma
visão mais técnica do solo e da cultura, especificamente com
relação à aplicação de corretivos de acidez e adubos para aumentar
a produtividade das plantas, a roçagem química e das podas.
Porém, grande parte destes produtores não é capaz de reconhecer
que as práticas agrícolas adotadas em um agroecossistema
cacaueiro, ou mesmo a composição/ estrutura vegetativa do
sistema, são importantes para a conservação do solo e da água.
Eles reconhecem até mesmo que uma “terra boa” é aquela que se
mantém com características naturais, antecedentes ao cultivo, e
também que o uso inadequado ou exagerado de insumos como
adubos, herbicidas, fungicidas e inseticidas podem acelerar a
degradação do ambiente de forma quase irreversível, mas não
conseguem estabelecer comparações entre o que é realizado na
cacauicultura com o que é realizado em outros cultivos. Para os
produtores de cacau que jamais tiveram experiência com outras
culturas, essa correlação é quase inexistente. De modo que a
valorização do cacaual como sistema agrícola conservacionista
torna-se imperceptível do ponto de vista conceitual quando não
existe uma formação técnica e uma extensão rural que
contextualizem o cotidiano de práticas de manejo da cultura com a
realidade socioambiental de outros cultivos.
Alguns produtores convencionais, mesmo não possuindo
conhecimentos específicos sobre a biologia do solo
(microrganismos, fauna e microflora), demonstram muita
preocupação com a aplicação de herbicidas para controle do mato e
diretamente em árvores para a diminuição da copa. Estes fatos são
desafiadores do ponto de vista científico, porque as pesquisas sobre
essas práticas de manejo cultural e sua interferência na biologia do
solo são inexistentes ou escassas. Estes produtores entendem que
o desmatamento intensifica a degradação dos solos. Contudo, a
erosão não é plenamente compreendida, tanto nos aspectos físicos
de movimentação de partículas, principalmente pela água e pelo
vento, quanto nos aspectos da transformação do ambiente pelos
nutrientes minerais, matéria orgânica e microbiota — que são
perdidos com os processos erosivos. O termo erosão é conhecido, é
comentado, mas não é satisfatoriamente compreendido.
Devido à diversidade morfogenética dos solos na região cacaueira
da Bahia, é importante salientar que há percepção dos produtores
sobre diferentes glebas de terra, suas posições no relevo e suas
correlações com plantas mais produtivas. Cada gleba, com variação
de solo, tem seu potencial de produção vegetal. Além disso, o
número de pessoas trabalhando nas áreas é diretamente
proporcional à qualidade do manejo da lavoura e,
consequentemente, do manejo do solo. Grandes propriedades
apresentam cronogramas mais específicos para a realização de
tratos culturais, enquanto pequenas propriedades de agricultura
familiar apresentam práticas mais contínuas ao longo do tempo,
ainda que com baixo uso de tecnologias.
Outros cenários de cultivo convencional de cacaueiros são os
cultivos irrigados nos solos do semiárido e nos solos de tabuleiros
costeiros. Os agroecossistemas cacaueiros, em condições
climáticas menos favoráveis, requerem intervenções tecnológicas
mais intensivas desde a implementação das lavouras, o que exige
dos produtores um nível de conhecimento técnico razoável sobre as
práticas agrícolas da lavoura. Entretanto, até mesmo técnicas como
a subsolagem, uso de plantas quebra-vento, análises de solo e a
própria irrigação não são reconhecidas pelos produtores como
práticas de manejo e conservação do solo. Nem mesmo a
caracterização dos aspectos positivos – como a presença de
matéria orgânica, de cobertura morta, de ciclagem de nutrientes e
do manejo adequado da irrigação — ou dos aspectos negativos –
como desperdício de água com sistemas de irrigação não
adequados, uso excessivo e contínuo de insumos como adubos,
herbicidas, fungicidas e inseticidas – facilita o reconhecimento de
que todos estes fatores estão relacionados ao manejo e à
conservação do solo e da água em cacauais.
Nas regiões de clima tropical úmido, a deposição de folhas no
solo tem um caráter predominantemente positivo, pois a
biodiversidade do ambiente, especialmente a do solo
(microrganismos, fauna e microflora), é capaz de decompor e
reciclar os elementos químicos da matéria orgânica. Porém, os
cacaueiros irrigados e cultivados a pleno sol ou em consórcio com
outros cultivos – seja no semiárido com sistemas de irrigação
contínua ou nos tabuleiros como sistema complementar – têm uma
atividade fisiológica acelerada, provocando a contínua senescência
das folhas e uma deposição além da capacidade de decomposição,
devido às condições ambientais desfavoráveis. Até mesmo em
algumas regiões dos tabuleiros onde a pluviosidade atinge mais de
1.000mm anuais, esse acúmulo é bastante visível. Em sistemas de
irrigação por gotejamento, a cobertura morta não apresenta
problemas graves. Entretanto, em sistemas de irrigação por
aspersão, onde as perdas de água são maiores, a cobertura morta
pode comprometer o suprimento hídrico imediato às plantas.
Produtores de cacau dos tabuleiros adotaram a estratégia de
movimentar as folhas secas para as entrelinhas, para triturá-las em
seguida, formando pilhas de matéria orgânica morta, cujo processo
de decomposição é mais rápido. Contudo, recomenda-se o
investimento em sistemas de irrigação por gotejamento visando
minimizar o desperdício de água na lavoura.
9 Conservação dos solos e serviços
ambientais
Diversos relatos mostram a grandiosidade do papel dos solos,
como levantado pela União Internacional de Ciência do Solo a partir
da opinião de consagrados estudiosos de diferentes localidades. Eis
trechos de alguns comentários (IUSS, 2015): os solos estão no
cerne (centro) de muitos dos desafios da sociedade; é premente
uma abordagem multidisciplinar para se enfocar o solo e o meio
ambiente como ferramentas para melhor integração entre as
pessoas ao redor do mundo; o aspecto mais emocionante e
desafiador da ciência do solo é a própria complexidade dos solos,
que constituem um quebra-cabeça científico e requerem uma ampla
base de conhecimentos. Esta complexidade não é apenas inerente
à gênese dos solos, mas também às suas funções na sociedade
humana e do meio ambiente.
Toda ação antrópica implica modificações em seu entorno e estas
têm, pelo menos, uma dimensão física e uma dimensão social que
alteram o comportamento e o bem-estar das pessoas. Os impactos
ambientais podem ser minimizados ou podem ser ignorados,
deixando que o meio físico e social alterado siga em um processo
de degradação (POL, 2003). Tratando-se especificamente do solo, o
conjunto de ações preventivas e paliativas para minimizar os efeitos
da atividade humana reduz os efeitos da erosão, que, por sua vez,
minimiza os impactos no meio físico – temperatura, água, ar,
biodiversidade – e no meio social.
Quando a sociedade percebeu que alguns bens ambientais –
dentre eles, o solo – correm o risco de alcançar níveis de
disponibilidade e qualidade incompatíveis com a demanda, com
efeitos sobre a qualidade de vida humana, surgiu o termo serviço
ambiental (MENDONÇA; FERNANDES, 2010). Desta forma,
práticas de conservação do solo podem ser consideradas como
condicionadores (precursores/suportes) de modalidades de serviço
ambiental, pois protegem o meio ambiente em processos que
representam benefícios fundamentais para a coletividade. Ainda que
grande parcela da sociedade não reconheça a função dos
ecossistemas no bem-estar humano, mais recentemente, o tema
“serviços ambientais” passou a ser considerado na formulação de
políticas públicas brasileiras e nas discussões de uso e ocupação
das terras (PARRON; GARCIA, 2015).
A Avaliação Ecossistêmica do Milênio (REID, 2005), a maior
avaliação dos impactos das atividades humanas no meio ambiente,
desenvolvida por mais de 1.300 autores e colaboradores de 95
países, classificou os serviços ambientais em quatro categorias
fundamentais: provisão, regulação, cultural e suporte. Dentre esses,
são listados: 1) suporte manutenção da biodiversidade, do ciclo de
vida (ciclagem de nutrientes e da água/fotossíntese) e formação do
solo; 2) provisão em alimentos, fibras/madeira, recursos genéticos,
recursos medicinais, recursos ornamentais, água potável; 3)
regulação regulação da qualidade do ar, do clima (incluindo
sequestro de C), dos fluxos de água (enchente/seca), purificação da
água, fertilidade do solo, prevenção da erosão, controle biológico
(doenças/pragas), polinização, prevenção de desastres, controle de
resíduos; e 4) cultural valores estéticos (paisagem), recreação e
turismo, valores espirituais, religiosos, educacionais/culturais.
Na abordagem conceitual de serviços ambientais, afirma-se que
as mudanças no uso e cobertura da terra podem alterar o fluxo
desses serviços e, com isto, do bem-estar humano, além de resultar
em impactos econômicos geralmente não previstos, como os custos
com o controle de enchentes, fornecimento de água potável e
controle da erosão do solo (PARRON; GARCIA, 2015). O uso
inadequado da terra e o mau manejo do solo podem degradar a sua
qualidade química, física e biológica e/ou reduzir a quantidade e a
qualidade dos serviços ambientais prestados (LAL, 2013).
O valor do capital natural da terra (solo), no total, é infinito, pois
proporciona suporte de vida para o ser humano. “Serviços
ecossistêmicos” (ou serviços ambientais) são os serviços prestados
por um capital natural (aqui com ênfase ao solo) como apoio ao
bem-estar humano. De modo geral, o solo é visto pela maioria dos
indivíduos e organizações como substrato para a produção agrícola,
e passa despercebido o seu enorme valor em proporcionar outros
serviços essenciais ao bem-estar dos homens, provavelmente
devido à natureza “invisível” desses serviços, tidos como bens
públicos. O solo, um recurso não renovável, é denominado como
“aliado silencioso” da humanidade (FAO, 2015). Há necessidade de
solos saudáveis para uma vida saudável.
O solo é a base dos ecossistemas terrestres e de
provisionamento de serviços ambientais, constituindo-se em meio
estrutural para a biosfera terrestre e de infraestrutura aos seres
humanos. Os serviços ecossistêmicos fornecidos pelo solo estão
ligados às suas funções essenciais. Na Tabela 1, encontram-se
exemplos de funções do solo correlacionadas com serviços
prestados indicados por alguns estudiosos (BARRIOS, 2007;
JACOMETTI; WRATTEN; WALTER, 2007; KIBBLEWHITE; RITZ;
SWIFT, 2008; DEFRA, 2015; LAVELLE; DUGDALE; SCHOLES,
2005; DE GUENNI et al., 2016; REID et al., 2005; ROCKNE;
REDDY, 2003; DAILY, 1997).
Tabela 1 - Funções do solo correlacionadas com serviços
ambientais
Serviço Processo Funcional
Ecossistêmico
Purificação da água Produtos bioquímicos diversos são absorvidos
e redução da nos agregados dos solos, por argilas e matéria
contaminação do orgânica, e são degradados (alterados
solo quimicamente) pela biota do solo. O solo filtra
poluentes;
Regulação de Os solos regulam a infiltração e o
inundações armazenamento da água das chuvas,
reduzindo as cheias e diminuindo a enxurrada,
a erosão e o carreamento de sedimentos e
assoreamento dos rios;
Fonte de A diversa biota do solo pode ser fonte de novos
bioquímicos e fármacos. P.e.: a penicilina é um antibiótico
farmacêuticos derivado do bolor de um fungo de solo, o
Penicillium chrysogenum (ou P. notatum).
A microbiota edáfica decompõe materiais
orgânicos, liberando nutrientes para o meio;
Sequestro de O carbono passa a formas mais estáveis como
carbono matéria orgânica do solo (MOS), que
representa aproximadamente 58% do C
orgânico;
Ciclagem de A biota do solo recicla/mineraliza a matéria
nutrientes para orgânica para formas aproveitáveis pelas
suprir plantas plantas superiores, como suporte à produção
primária, incluindo alimentos e matérias-
primas;
Fundação para A maior parte das estruturas humanas tem por
infraestruturas base física as camadas superficiais do solo;
humanas
Serviço Processo Funcional
Ecossistêmico
Regulação de A biota do solo auxilia a regulação do fluxo de
gases do efeito CO2, CH4 e N2O;
estufa
Proteção de O solo é um sistema que abriga variadas e, às
habitats, espécies e vezes, desconhecidas espécies;
bases genéticas
Proteção do A história de componentes ambientais e dos
patrimônio povos é protegida por meio dos artefatos e
arqueológico testemunhos da evolução humana — inseridos
nos perfis de solos;

Regulação do clima Os efeitos reguladores dos solos sobre ciclo


hidrológico, temperatura e gases são
essenciais na prevenção de desastres naturais;
Biorremediação de A microbiota do solo metaboliza contaminantes
contaminação do por meio de processos de oxirredução.
solo
Fonte: Elaboração dos autores.

A degradação edáfica pode ser refletida por declínios em


fertilidade do solo, teor de carbono/matéria orgânica do solo, perda
de biodiversidade, queda na retenção de água, perturbação nos
ciclos de água, nutrientes e gases e diminuição da capacidade de
degradar contaminantes (TÓTH; STOLBOVOV; MONTANARELLA,
2007). A degradação do solo reduz a sua capacidade de prestação
de serviços ecossistêmicos. Globalmente, cerca de um terço de
todos os solos estão degradados devido à erosão, compactação,
impermeabilização do solo, salinização, acidificação, poluição e
esgotamento de nutrientes causado por práticas de manejo do solo
insustentáveis.
De Groot, Wilson e Boumans (2002) propõem que os serviços
ecossistêmicos podem ser valorados por meio de três tipos de
mensuração: valor ecológico, valor sociocultural e valor econômico.
Se o solo sofre erosão/degradação, a comunidade deixa de dispor
desses serviços que, como fundamentais ao atendimento de
necessidades básicas, precisam ser substituídos por
empreendimentos “artificiais” (manufaturados) com significativas
inversões de capital (COSTANZA et al., 1997).
Devido à busca pelo sucesso econômico de curto prazo e por falta
de conhecimento técnico, muitos produtores rurais não adotam
práticas de conservação do solo. Por isso, é necessário que sejam
estabelecidas políticas públicas que revertam essa situação. É
preciso valorizar mais aqueles que protegem o meio ambiente. A
ideia é incentivar ao invés de punir.
Atualmente, o princípio ainda é o do Poluidor−Pagador, porém
muitos empreendedores, em especial os de maior poder aquisitivo,
valem-se da legislação ambiental atual, encarando-a de forma
deturpada e continuam executando suas atividades impactantes, por
terem condições de arcar com multas, licenças, sanções, por
saberem da possibilidade de futuros acordos, como o Termo de
Ajustamento de Conduta, e devido à possibilidade de oferecer
compensações ambientais em outras áreas (MENDONÇA;
FERNANDES, 2010).
Outro princípio é o do Protetor−Recebedor, que se traduz na
compensação financeira pelo uso de práticas adequadas de manejo
dos recursos naturais. Em outras palavras, é o pagamento por
serviços ambientais que objetiva incentivar os usuários das terras a
adotar melhores práticas de manejo do solo que possam resultar em
uma prestação de serviços contínuos em benefício da sociedade
como um todo (TURETTA; PRADO; SCHULER, 2010).
Para exemplificar, a Agência Nacional de Águas (ANA) propôs o
Programa Produtor de Água, que visa a conservação de mananciais
estratégicos por meio da certificação e pagamento de uma
compensação financeira a produtores rurais relativos aos benefícios
proporcionados pelo abatimento da erosão e sedimentação. A
conservação do solo é exigência básica no programa. Avaliações
mostram que se a maioria dos produtores rurais aderisse à
implantação do programa, os principais resultados seriam: aumento
de 3,7 vezes da vida útil do reservatório de captação da estação de
tratamento de água, geração de uma economia de 74% dos custos
de tratamento de água, resultando em uma redução de 73% na
carga de poluentes, tais como mercúrio e pesticidas (CHAVES et al.,
2004).
Outros benefícios da implantação do Programa Produtor de Água
seriam a redução significativa dos riscos de interrupção de
abastecimento de água e dos riscos de contaminação da população
das cidades por poluentes tóxicos e acumulativos. E as
compensações financeiras dadas aos produtores também gerariam
benefícios importantes, como o aumento da produtividade das
lavouras, devido à adoção das práticas de conservação do solo;
aumento da renda da atividade e diminuição das perdas de solo,
aumentando assim a sustentabilidade da produção (CHAVES et al.,
2004; RIBEIRO et al., 2007).
O desafio para a implementação do pagamento por serviços
ambientais é o aprimoramento das técnicas de medição e valoração
dos serviços relacionados com características de solo, como
estoque de carbono, dinâmica de água no solo e conservação do
solo e da biodiversidade (MENDONÇA; FERNANDES, 2010).
Sabe-se, por exemplo, que os agricultores da microrregião
Ilhéus−Itabuna, localizada na mesorregião Sul da Bahia, que
adotam maior número de práticas conservacionistas e que utilizam
menor número de práticas que expõem o solo a erosão (capina e
queimada), são aqueles que têm assistência técnica, que já
participaram de pelo menos um curso/capacitação em manejo do
solo e os que têm maior grau de instrução (DANTAS et al., 2012).
Nas relações entre qualidade do solo e serviços ambientais, a
escolha de um indicador de qualidade a considerar para análise
depende, primeiramente, do objetivo do estudo e do interesse do
observador (SHUKLA; LAL; EBINGER, 2006), destacando-se que a
diferença entre o olhar conservacionista e o produtivista pode levar
a escolhas diferentes na função do solo a ser avaliada. Contudo, um
mesmo indicador de qualidade do solo pode atender,
simultaneamente, demandas agrícolas e ambientais a partir de uma
visão integradora, aplicando-se o conceito de sustentabilidade dos
agroecossistemas.
Pelo fato de ser de difícil percepção por grande parte dos
produtores rurais, como essencial para o sucesso do
empreendimento, as práticas conservacionistas, mesmo adotadas,
correm o risco de ser esquecidas (MACHADO; MADARI; BALBINO,
2010). No caso específico do cultivo de cacau no Brasil, mesmo
sendo as lavouras tradicionalmente formadas em sistemas
agrossilviculturais, faz-se necessária a adoção/introdução de outras
práticas conservacionistas, principalmente em áreas declivosas,
pois a cobertura do solo proporcionada pelo sistema agroflorestal
não é suficiente para evitar a ação erosiva (PAIVA; ARAUJO, 2012).
Além disso, na região Sul da Bahia, principal produtora de cacau do
país, onde o relevo é movimentado em geral, chove intensamente
durante todo o ano, e o impacto das gotas de chuva e o escoamento
superficial são os principais agentes ativos da erosão.
Para a região cacaueira da Bahia, com suas áreas declivosas, o
impacto direto das gotas de chuva sobre o solo não é o maior
problema, devido à cobertura vegetal proporcionada pelo sistema
agroflorestal, porém a enxurrada pode promover grandes perdas de
solo. Ela flui livremente sobre a superfície do solo, mesmo estando
ele suficientemente protegido. Em alguns casos, a velocidade e o
volume da enxurrada podem remover uma quantidade considerável
de restos culturais deixados sobre o solo (COGO, 1988).
Em geral, lavouras de cacau previnem significativamente a
erosão. Um estudo em Chernossolo, no Sul da Bahia (INÁCIO,
2005), constatou que o tempo médio para o início do escoamento
após chuva simulada foi maior (32,4 min) na área de cacaual com
cobertura bate-folha (material orgânico deposto pela cultura e pelas
árvores de sombra) do que na cobertura de pastagem, onde o
escoamento iniciou aos 3 minutos, mostrando que a cobertura bate-
folha é 10 vezes mais eficiente que a pastagem em proteger o solo
dos danos causados pelo escoamento superficial, prevenindo a
erosão. Nesse estudo, a erodibilidade do solo sob cultivo de
cacaueiros (em sistema agroflorestal) correspondeu ao valor de 1,15
x 10-6 kg s m-4, enquanto, no solo sob pastagem, correspondeu a
1,48 x 10-5 kg s m-4.
De modo geral, ainda são escassos os estudos sobre manejo e
conservação do solo e seus benefícios com essa visão integradora,
sistemática e pragmática de múltiplos indicadores de qualidade do
solo em agroecossistemas cacaueiros. Talvez o modo tradicional de
cultivo de cacau no Brasil, o sistema agrossilvicultural, tenha
restringido a modernização e a coevolução das inúmeras áreas do
conhecimento na ciência do solo com a cacauicultura. Por isso,
ressalta-se a necessidade de mais pesquisas, mais difusão do
conhecimento e mais adoção de práticas de conservação do solo
pelos agricultores, pois a maioria das áreas tradicionalmente
cultivadas com cacau apresenta fragilidades à erosão em função
das condições de topografia, pluviosidade e desconhecimento
técnico pelos agentes rurais. Destaca-se também a importância de
desenvolver uma extensão rural que promova a socialização dos
conceitos consagrados sobre problemas e soluções relacionados à
conservação do solo, tornando-os cada vez mais inseridos no
cotidiano dos cacauicultores.
Acredita-se que a missão de conservar os solos só será efetiva se
houver uma convergência dos agricultores para um objetivo comum,
que seja de interesse para a comunidade. A meta deve ser a de
assegurar que a terra seja somente utilizada de modo que seu uso
possa ser sustentado indefinidamente (COGO, 1988). Nos dias
atuais, aprofunda-se a discussão, o entendimento e a difusão de
que não só os agricultores e as famílias rurais são responsáveis
pela conservação dos solos, mas todos os segmentos sociais e
econômicos (sociedade civil, indústria, empresários, governantes e
outros) exercem ação direta ou indireta sobre as condições de
equilíbrio (saúde do sistema) ou erosão/degradação dos solos.
Os efeitos da erosão do solo na qualidade de vida humana são
muitos. A perda de áreas agricultáveis e a consequente degradação
dos recursos hídricos são as principais consequências. Desse
modo, visto que a aplicação de técnicas conservacionistas de forma
isolada não é efetiva, é importante divulgar os conhecimentos sobre
a conservação do solo e motivar todos os agricultores a adotar as
práticas.
As práticas de manejo da erosão do solo têm resultados que vão
da manutenção da capacidade produtiva do solo e conservação da
biodiversidade até a redução e contaminação dos recursos hídricos
com nutrientes e agrotóxicos. Por este motivo lógico, a adequação
das práticas de manejo e conservação dos solos tem impactos
diretos sobre a produção de água doce com qualidade e quantidade,
a manutenção da biodiversidade, como o favorecimento aos
polinizadores, e o sequestro/armazenamento de carbono
(MENDONÇA; FERNANDES, 2010).
A difusão das tecnologias representa um importante passo para a
sua adoção pelos produtores e empresários rurais, assim como
pelos cidadãos em geral (VIDOR; BRESOLIN, 1988). Neste sentido,
o trabalho em conservação do solo também pode ser divulgado em
televisão, rádio, reuniões, cartazes e visitas aos agricultores, de
forma a criar/desenvolver a mentalidade conservacionista
(BENVENUTI, 1988).
10 Considerações finais
O solo é um recurso natural que deve ser utilizado como
patrimônio da coletividade, independentemente do seu uso ou
posse. É um dos componentes vitais do meio ambiente e constitui o
substrato natural para o desenvolvimento das plantas. A ciência da
conservação do solo e da água preconiza um conjunto de medidas
objetivando a manutenção ou recuperação das condições físicas,
químicas e biológicas do solo, e estabelecendo critérios para o uso
e manejo das terras, de forma a não comprometer sua capacidade
produtiva. Estas medidas visam proteger o solo, prevenindo-o dos
efeitos danosos da erosão; aumentando a disponibilidade de água,
de nutrientes e da atividade biológica do solo; criando condições
adequadas ao desenvolvimento das plantas e o atendimento aos
serviços ambientais para as comunidades. Deste modo, este
contexto socioambiental aplica-se aos agroecossistemas cacaueiros
sob a égide da responsabilidade conjunta entre cientistas, técnicos e
produtores rurais sobre as consequências do mau uso e manejo do
solo e da água.
Para contornar as consequências de práticas não
conservacionistas do solo e da água, o respectivo manejo requer,
fundamentalmente, a percepção dos agricultores e demais usuários,
diretos ou indiretos, sobre o ambiente e suas limitações. Técnicos e
especialistas devem estar atentos à realidade dos fenômenos
empiricamente observados para, a partir disso, iniciar suas
pesquisas e projetos de manejo e recuperação dos
agroecossistemas cacaueiros. A diversidade ambiental, ao mesmo
tempo em que representa grandes desafios para a ciência, propicia
o aparecimento de uma série de soluções criativas e participativas.
Os componentes atmosfera, litosfera, hidrosfera e biosfera são
compartimentos imprescindíveis e interligados para a vida no
planeta. O solo é produto da interação desses componentes ao
longo do tempo e desempenha funções essenciais para a vida
terrestre: é fonte de alimentos, materiais e energia, exerce influência
sobre os ciclos biogeoquímicos, dentre os quais destaca-se o ciclo
hidrológico, e é suporte das construções e atividades humanas
(RUELLAN, 1988). A grande diversidade de organismos, compostos
orgânicos e inorgânicos do solo permite que este atue como um
filtro armazenador de água, carbono e nitrogênio. Por todos estes
fenômenos relacionados aos solos, a quantidade e a qualidade das
produções agrícolas dependem dos modelos tecnológicos adotados
e das suas respectivas práticas de manejo e de conservação.
O conhecimento sobre a vocação (capacidade) das terras, suas
potencialidades e limitações para produção de alimentos, matéria-
prima e serviços ambientais é essencial para a execução de práticas
de conservação do solo e da água que visem a sustentabilidade
agrícola, ou seja, a eficácia das práticas conservacionistas é
imprescindível à manutenção da capacidade produtiva das terras
(RESENDE et al., 2007). O sistema de classificação de uso das
terras é um dos muitos meios de avaliação da capacidade de uso
das terras que podem subsidiar os projetos de manejo integrado das
microbacias hidrográficas das regiões de cultivo de cacau do Brasil
e do mundo, visando a conservação do solo e da água, tanto pela
adoção de práticas de manejo da erosão do solo quanto pela
observação do contexto ecossistêmico das terras distribuídas na
paisagem natural.
De modo geral, os agricultores enfrentam problemas na
conservação de suas terras devido ao uso intensivo do solo não
associado ao uso de práticas conservacionistas. Por isso, como
forma de minimizar o processo contínuo de degradação de áreas
agrícolas, a difusão de conhecimentos sobre conservação do solo e
o planejamento de seu uso tornam-se essenciais para o equilíbrio
das condições sociais, econômicas e ambientais (BRADY, 1989).
Além disso, o conhecimento que os agricultores possuem em
relação ao uso e manejo dos solos é uma ferramenta de grande
importância para o aprimoramento das avaliações da qualidade do
solo e do cultivo sustentável das terras (AUDEH et al., 2011).
Portanto, a educação ambiental e a extensão rural são consideradas
como ferramentas imprescindíveis para conscientização das
práticas de manejo e conservação do solo e da água nas regiões
produtoras de cacau.
A erosão é o processo acelerado de degradação do solo
provocado pela utilização de técnicas inadequadas para o cultivo,
que, com o passar do tempo, ocasiona empobrecimento e perda da
capacidade de fornecimento de nutrientes minerais. Além disso, a
erosão é responsável por importantes desajustes ambientais. Um
deles é o transporte de terra para dentro dos rios (assoreamento),
que, muitas vezes, causa a sua “morte”. Outro impacto importante é
a poluição dos mananciais. Isto compromete a qualidade da água
para consumo humano e animal. Esses fenômenos, somados ao
desmatamento e à extinção de nascentes e matas ciliares, estão
presentes na evolução sócio-histórica da região cacaueira da Bahia,
sendo imprescindíveis ações sociais e investimentos
governamentais para conscientização sobre a gravidade dos
problemas associados à erosão.
A manutenção, e até a recuperação da qualidade do solo, está
diretamente relacionada com os sistemas de cultivos e os tipos de
manejos que são adotados. Cultivos e manejos que evitam a erosão
favorecem a cobertura vegetal e aumentam o teor de matéria
orgânica do solo são considerados como conservacionistas, pois
melhoram as características físicas, químicas e biológicas do solo.
Em outras palavras, melhoram a qualidade do solo, criando boas
condições para o crescimento e o desenvolvimento das plantas. O
agroecossistema cacaueiro detém muitas características de um
sistema conservacionista. Por outro lado, cultivos e manejos que
favorecem a erosão reduzem a cobertura vegetal e o teor de matéria
orgânica, comprometem a qualidade do solo e, com isso, tornam o
ambiente desfavorável para muitas culturas. Porém, mesmo com o
caráter conservacionista do cultivo do cacaueiro, os
agroecossistemas nos quais não são adotadas práticas de manejo e
conservação do solo e da água estão sujeitos à degradação
ambiental e, consequentemente, econômica.
Pela literatura clássica, as técnicas conservacionistas são
classificadas como vegetativas (com uso de plantas), edáficas
(relativas ao solo) e mecânicas (com utilização de ferramentas,
máquinas e equipamentos) e representam suporte básico, adicional
e complementar ao manejo dos cultivos como medidas permanentes
de prevenção à erosão e, assim, de promoção à conservação do
solo e da água (Tabela 2).
Tabela 2 - Práticas conservacionistas recomendadas para diversos
cultivos
Práticas Vegetativas Práticas Edáficas Práticas Mecânicas

✓ Florestamento e ✓Cultivo de ✓Preparo do


reflorestamento acordo com a solo e plantio
✓Plantas de capacidade de em nível
cobertura uso da terra ✓Distribuição
✓Cobertura morta ✓Controle do fogo adequada dos
✓Rotação de ✓Adubação: caminhos
culturas verde, química, ✓Sulcos e
✓Formação e orgânica camalhões em
manejo de ✓Calagem pastagens
pastagem ✓Culturas em ✓Enleiramento
✓Cultura em faixa faixas em contorno
✓Faixa de ✓Terraceamento
bordadura ✓Patamares
✓Quebra-vento e ✓Canais
bosque escoadouros
sombreador ✓Subsolagem
✓Cordão ✓Irrigação e
vegetativo drenagem
permanente ✓Cultivo em
✓Manejo do mato contorno
e alternância de ✓Banquetas
capinas individuais
✓Capinas ✓Controle do
alternadas movimento da
✓Consórcios / água na lavoura
Sistemas ✓Divisão
agroflorestais adequada das
✓Cultivo racional áreas de pastos
da pastagem ✓Enleiramento
permanente
Práticas Vegetativas Práticas Edáficas Práticas Mecânicas
✓Enriquecimento
com madeiras
✓Proteção de
nascentes
✓Manejo
fitossanitário
integrado
✓Manejo de
resíduos culturais
✓Quebra-ventos

Fonte: Elaboração dos autores.

A escolha dos métodos/práticas de prevenção à erosão é


realizada em função dos aspectos ambientais e socioeconômicos de
cada propriedade e região. Cada prática, aplicada isoladamente,
previne o problema apenas de maneira parcial. Para uma prevenção
adequada da erosão, faz-se necessária a adoção simultânea de um
conjunto de práticas. Muitas práticas devem e/ou podem ser
adotadas para otimizar a produção e para garantir a
sustentabilidade dos agroecossistemas frente às adversidades
ambientais e sociais.
A história da humanidade está intimamente ligada à história do
uso da terra. A conservação do solo e da água mantém a riqueza
(capacidade produtiva) das terras, melhora o rendimento das
plantações, auxilia no equilíbrio das relações agroecológicas e
garante um ambiente equilibrado – como fornecedor permanente de
serviços ambientais. Os agricultores, como protagonistas desta
história, têm um papel fundamental na construção de uma vida
saudável. Mas, a compreensão e a responsabilidade acerca da
conservação do solo e da água devem ser compromissos de todos
os cidadãos que, de forma consciente, participam da construção de
uma vida com mais qualidade. Por isso, o diálogo apresentado
neste capítulo representa uma tentativa inicial de socializar os
conceitos e atuais desafios relacionados ao manejo e à conservação
do solo e da água em agroecossistemas cacaueiros, sem, contudo,
encerrá-lo nesta redação, possibilitando a expansão de discussões
críticas que colaborem com o desenvolvimento das regiões
produtoras de cacau no Brasil e no mundo em futuras pesquisas.
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Capítulo 14 — Irrigação em cacaueiros
Adriana Ramos1, George Andrade Sodré2 , Matheus Silva Bessa
Leite3
1 Introdução
Na região Sul e Sudeste do estado da Bahia, a cacauicultura é a
principal atividade econômica e mantém-se importante na geração
de renda para produtores e trabalhadores rurais. Também se deve
destacar a importância ambiental do cacaueiro cultivado, geralmente,
sob o sombreamento de árvores implantadas e/ ou nativas, que tem
proporcionado a conservação de parte da Mata Atlântica e de muitos
animais silvestres na região.
O Brasil detém alta tecnologia entre os países produtores de cacau
e, em consequência, apresenta alto potencial de produtividade para
essa lavoura. Contudo, é comum se observar diferenças expressivas
de produtividades entre propriedades agrícolas e entre os anos numa
mesma propriedade. Em muitos casos, a redução de produtividade é
atribuída às doenças, especialmente a podridão-parda (Phytophthora
spp.) e vassoura de bruxa (Moniliophthora perniciosa), agravando-se
pela escolha de solos impróprios para implantação de glebas, baixos
níveis de fertilização, precário controle de pragas e ocorrência de
veranicos.
A produção agrícola é fortemente condicionada pelos ciclos
biológicos das culturas e, portanto, depende muito das condições
atmosféricas durante as fases e ciclos (SILVA; VICENTE; CASER,
1986). Nesse contexto, deve-se destacar a disponibilidade hídrica no
solo como essencial no processo produtivo das plantas. Seus efeitos
podem ser diretos, quando relacionados à sua participação no
metabolismo e na turgidez das células, e indiretos, quando dizem
respeito à sua atuação como agente de movimentação de solutos e
produtos do metabolismo (ZEVALLOS, 1977).
Todos os processos fisiológicos da célula são direta ou
indiretamente afetados pelo fornecimento de água. A água tem
diversas funções na planta e atua como: solvente de substâncias,
reagente e produto, manutenção de estruturas moleculares,
manutenção da turgidez, termorreguladora, entre outras (MARENCO;
LOPES, 2009).
O cacaueiro é uma planta sensível à deficiência hídrica. Assim, a
chuva tem sido um dos principais fatores climáticos responsáveis
pelas variações de produtividade (ALVIM, 1960, 1988; MACHADO;
ALVIM, 1981; ALMEIDA, 1986; BALASIMHA, 1988; SCERNE, 1988).
Além de exigir elevada precipitação pluvial anual, o cacaueiro requer
que o fornecimento de água seja distribuído ao longo do ano, de
modo a satisfazer suas necessidades em suas diferentes fases
(ALVIM, 1977; CORAL, 1987). Além da chuva, a temperatura do ar é
outro fator importante no processo produtivo, pois afeta
expressivamente a atividade metabólica, a evapotranspiração e,
consequentemente, o consumo de água pela planta.
A irrigação visa o fornecimento de água às plantas para suprir
suas necessidades que podem não ser totalmente atendidas pelas
chuvas. Assim, o fator mais importante que determina a necessidade
de irrigação de certa cultura em uma região é a quantidade e a
distribuição da chuva e a sensibilidade da cultura ao déficit hídrico.
Outras razões para uso da irrigação são o aumento da produtividade,
melhoria da qualidade do produto, aplicação de fertilizantes e
defensivos, produção na entressafra, uso intensivo da terra e a
consequente redução do risco do investimento na atividade agrícola.
A necessidade de irrigação diminui à medida que se move das
regiões áridas e semiáridas para as regiões mais úmidas.
Geralmente, nas regiões úmidas, a quantidade de chuvas ao longo
do ano é suficiente para a maioria das culturas. Entretanto, devido à
má distribuição, muitas culturas sofrem com a falta de água em
certos períodos, mesmo quando cultivadas em ambientes úmidos
(ALBUQUERQUE; DURÃES, 2007).
A cacauicultura provida da irrigação já é praticada em áreas
comerciais em países como a Venezuela, Colômbia, Peru, Índia,
Costa do Marfim e também no Brasil. Porém, pelo fato de o
cacaueiro ser cultivado em regiões úmidas no Brasil, com
precipitação pluviométrica anual superior a 1.300 mm ano-1 e com
distribuição regular ao longo do ano, há carência de pesquisas que
avaliem os efeitos da irrigação nas diferentes fases fenológicas da
cultura.
2 Relações hídricas do cacaueiro
Geralmente, a precipitação pluviométrica é o principal fator
responsável pela produção de frutos em cacaueiros. Segundo Müller
(1998), grande parte das regiões produtoras de cacau no mundo
apresentam precipitação pluvial média anual entre 1.400 a 2.000
mm, com 3 a 5 meses em que a perda de água por
evapotranspiração excede a precipitação média.
Na região de Ilhéus, localizada dentro da região produtora do Sul
da Bahia, o balanço hídrico é positivo durante todos os meses do
ano (Figura 1), como se verifica no gráfico do estrato do balanço
hídrico climatológico mensal (média do período) realizado para a
região de Ilhéus, considerando uma capacidade máxima de
armazenamento de água no solo de 50 mm (SANTANA et al., 2016).
Observa-se que a região de Ilhéus não apresentou, para o período
de 1985 a 2014, déficit hídrico mensal médio, ou seja, a média da
precipitação mensal (P) foi superior à evapotranspiração de
referência (ETo) durante todo o ano. No entanto, nos meses janeiro e
agosto a outubro as diferenças entre P e ETo foram menores,
podendo ocorrer períodos de veranico, como já observado em alguns
anos.
Figura 1 - Estrato do balanço hídrico climatológico do CEPEC4/
CEPLAC5, Ilhéus, Bahia, de 1995 a 2014

Fonte: Adaptado de Santana et al. (2016).

Existem regiões de produção de cacau onde a estação seca se


prolonga por um maior período, que é o caso de países situados no
Oeste da África, onde a colheita fica restrita a um período curto do
ano. No entanto, na região cacaueira da Bahia, a colheita se estende
praticamente durante o ano todo, por não haver déficit hídrico
acentuado (ALVIM, 1965; MORAIS; SCERNE, 1988; MÜLLER,
1998). O déficit hídrico em cacaueiros foi estimado por Alvim (1965)
como a mais séria dificuldade que o cacaueiro pode enfrentar em
relação a qualquer outro risco, inclusive pragas e doenças. Esse
autor ainda assegura que a produtividade do cacaueiro é mais
regulada pelas chuvas do que por outra condição do ambiente.
Gavade (1969) estudou, em condições de estufa, o efeito de
diversos regimes de umidade do solo, sobre a difusão do oxigênio e
o uso da água pelo cacaueiro. Este autor utilizou três solos com
características físicas diferentes e observou que o teor de umidade
do solo exercia influência sobre a taxa de difusão de oxigênio, sobre
a temperatura do solo, a taxa de consumo de água e o crescimento
do cacaueiro.
Os processos fisiológicos do cacaueiro são muito sensíveis à
deficiência hídrica. Em condições de campo, a seca pode ter dois
efeitos distintos sobre a planta: um do déficit interno, que pode ser
curto ou cumulativo; e o outro, sobre o transporte de nutrientes
(HUTCHEON, 1977). A deficiência de água no solo reduz a produção
total, influencia a renovação de folhas e a floração do cacaueiro
(ALVIM, 1977), afetando mais a produção que o pegamento de flores
e a mumificação de frutos jovens em plantas adultas (MACHADO;
ALVIM, 1981). Segundo Carr e Lockwoods (2011), queda prematura
de folhas, amarelecimento das folhas basais, murcha, folhas
pequenas e menor crescimento são sintomas visíveis acarretados
pela seca em cacaueiro.
A chuva juntamente com a temperatura e os ventos são fatores
ecológicos importantes para o desenvolvimento dos cultivos
agrícolas. Com relação ao cacaueiro, a ausência ou baixa
quantidade de água é altamente prejudicial às plantas (MILDE;
NITZSCHE, 1985). Com o decréscimo das precipitações e a
diminuição da água no solo, a planta entra em estresse hídrico e
acelera a senescência das folhas mais velhas. Segundo Alvim,
Machado e Grangier Júnior (1969), os lançamentos de novas folhas
podem ocorrer se houver condições severas de déficit de água, logo
após o início das chuvas, mas a falta de água pode inibir a floração
do cacaueiro durante a sua ocorrência (ALVIM, 1964; MACHADO;
ALVIM, 1981). Foi, no entanto, comprovado que a floração inativa é
retomada logo após as primeiras chuvas de maior intensidade
(ALVIM, 1967). Sale (1970) avaliou o crescimento, florescimento e
frutificação de plantas jovens de cacau clonal em casa de vegetação
sobre níveis de depleção e água no solo e observou que, para o
nível de depleção de 15%, as plantas, em nenhum momento,
perderam a dominância apical e apresentaram intensa emissão foliar
e florescimento cerca de 10 dias após o fornecimento de água.
Machado e Alvim (1981) — em experimento de campo com dois
tratamentos, sendo um úmido (testemunha) e outro de indução à
deficiência hídrica através da cobertura total do solo com um lençol
de polietileno — observaram que o número de flores por planta no
tratamento seco foi reduzido a menos da metade em relação às
plantas testemunhas, mesmo quando havia disponibilidade de água
a 30 cm de profundidade. No entanto, após o remolhamento das
plantas do tratamento com deficiência hídrica no solo, a floração foi
superior em quase duas vezes a das testemunhas. Esses autores
também observaram redução no crescimento e no tamanho e peso
dos frutos colhidos à medida que o solo se tornava mais seco e
concluíram que a redução no peso dos frutos se deve ao fato de o
alongamento celular ser o processo fisiológico mais afetado pela
deficiência de água.
Alvim (1988) avaliou dados de precipitação pluvial, temperatura e
produção relativa de regiões produtoras de cacau e constatou que o
ciclo de produção de frutos do cacaueiro segue uma curva mais ou
menos estável para cada região, diferenciando-se durante o ano com
períodos bem determinados de altas e baixas produções. No final do
estudo, verificou-se que a distribuição das chuvas influenciou
diretamente na curva de produção de cacau em cada região.
Pesquisas relacionando água e produção de cacaueiros na região
Sul do estado da Bahia têm mostrado que, nos meses em que ocorre
bilração intensa (janeiro a junho) e em que o armazenamento da
água no solo permanece por períodos mais longos, há maior
produção de frutos novos e colhidos e melhor distribuição de
colheitas durante o ano. Por outro lado, quando o armazenamento da
água no solo permanece abaixo de 50% da água disponível na
maioria das semanas, no período entre janeiro e março, contribui
para a redução na produção de frutos nesse período, o que
proporciona menor número de frutos colhidos, com declínio na
produção (SANTOS; SODRÉ, 2016).
Miranda e Prado (1969) estudaram a influência da umidade
disponível no aproveitamento de duas fontes de fósforo por plântulas
de cacaueiro, demonstrando que a absorção de fósforo apresenta
elevada relação com a água disponível do solo. Verificaram também
que o melhor desenvolvimento das plantas ocorreu quando a
umidade disponível do solo estava acima de 50%.
Almeida e Machado (1993) avaliaram o balanço climatológico na
produção de cacau entre 1988 e 1992 e observaram que, em 1988,
houve regularidade na distribuição semanal de água armazenada no
solo a aproximadamente 80% do armazenamento máximo.
Verificaram também maior produção de frutos e menor ocorrência de
peco fisiológico. Já no ano de 1991, foi registrada a menor produção
de frutos novos e colhidos, atribuindo-se esse resultado à baixa
disponibilidade de água armazenada no solo. Esses autores
concluíram que a manutenção da água armazenada no solo, em
nível adequado, durante a fase de bilração, é fundamental para
assegurar boas produtividades do cacaueiro.
As maiores quantidades de frutos novos, por semana, são obtidas
quando o armazenamento de água no solo está acima de 60% da
água disponível na semana em que ocorre floração mais intensa. Já
a manutenção da carga de frutos (bilros) até a colheita depende,
principalmente, da disponibilidade de água no solo acima de 60% da
água disponível, nas sete semanas imediatamente após a
identificação dos frutos.
3 Irrigação na produção de mudas de
cacaueiro
No enraizamento de estacas de cacaueiro, os controles da
irrigação e da umidade são críticos, e o controle da água é uma das
ferramentas mais efetivas para regular o crescimento das plantas.
Em casa de vegetação para propagação de mudas por estacas, até
que ocorra o enraizamento, a irrigação deve ser utilizada em regime
intermitente (Figura 2). Isso é feito visando o controle da umidade
relativa interna e manutenção de umidade relativa próxima de 100%
na superfície das folhas (MARROCOS; SODRÉ, 2004).

Figura 2 - Irrigação em viveiros para produção de mudas no


Instituto Biofábrica de Cacau, em Ilhéus, Bahia, 2014 (A). Câmera de
nebulização para enraizamento de estacas de cacaueiro,
Ceplac/Cepec, 2015 (B)

Fonte: Imagens produzidas pelos autores.

As perdas de água das folhas podem reduzir o conteúdo de água


em mudas de cacaueiro e, consequentemente, as taxas de
sobrevivência. Para evitar que isso ocorra, deve-se: a) manter uma
atmosfera com baixa demanda evaporativa, minimizando as perdas
de água das mudas por transpiração, evitando déficit hídrico nos
tecidos (mudas sem raiz têm deficiência de órgãos para repor água
perdida por transpiração, e as células devem manter um adequado
turgor para iniciar o desenvolvimento das raízes); b) manter a
temperatura aceitável para o metabolismo de regeneração na base
da estaca, evitando com isso o stress pelo calor das folhas; e c)
manter níveis adequados de luz para fotossíntese e produção de
carboidratos, sem causar stress hídrico (HARTMANN et al., 1990).
Durante os meses de maio a novembro de 2002, foi realizada —
na Estação Experimental de Mata Larga, na República Dominicana
— uma pesquisa com o objetivo de determinar a frequência da
irrigação e o nível de fertilização mais adequado para a produção de
mudas de cacaueiro. Os tratamentos foram: rega diária, dias
alternados, de três em três dias e de quatro em quatro dias; seis
níveis de fertilizações: 0, 2, 4, 6, 8 e 10 g de NPK (12:24:12) com
quatro repetições. Os tratamentos com rega diária e dias alternados
foram superiores em altura, diâmetro, número de folhas e biomassa
(REYES; MARÍA, 2005).
4 Sistemas de irrigação utilizados no
cacaueiro
Os sistemas de irrigação possuem características específicas, que
podem influenciar o crescimento e o desenvolvimento das plantas e
afetar a produção. Esses sistemas se diferenciam no modo de
aplicação da água sobre a superfície do solo, na área de
molhamento e na uniformidade de distribuição de água na superfície
e no perfil do solo. Além disso, tais sistemas sofrem influência dos
fatores climáticos, particularmente o vento, de maneira diferenciada
na distribuição de água sobre o solo, que é maior em sistemas de
aspersão e microaspersão (MARQUES et al., 2011).
Não existe um sistema de irrigação ideal e especificamente
recomendado para o cultivo do cacaueiro. A seleção do método vai
depender do tipo de solo (textura, porosidade, matéria orgânica),
topografia, clima, disponibilidade hídrica e qualidade da água de
irrigação, mão de obra disponível e custo de implantação do sistema.
Com o avanço das pesquisas sobre respostas do cacaueiro à
irrigação e melhorias na qualidade de materiais genéticos, aliados à
redução de custos de implantação e manutenção de sistemas de
irrigação localizada, a irrigação por sulcos e/ ou inundação tem sido
cada vez menos recomendada. Estes sistemas apresentam como
desvantagens a exigência de maior mão de obra, são inadequados
para solos excessivamente permeáveis e apresentam baixa
uniformidade e eficiência, quando comparados à aspersão e à
irrigação localizada, pelas perdas excessivas de água por percolação
e escoamento superficial. Contudo, deve-se destacar que a elevação
da produção de amêndoas de cacau no Equador nas últimas
décadas foi possível devido ao plantio do clone CCN 51 em sistemas
de irrigação por sulcos e inundação e este método de irrigação
permanece em muitas áreas até os dias atuais (Figura 3).
Figura 3 - Detalhe de cacaueiros (clone CCN 51) irrigados por
sulcos (A) e inundação (B) no Equador

Fonte: Imagens produzidas pelos autores.

Figura 4 - Irrigação por aspersão convencional em cacaueiros


consorciados com coqueiros em Bom Jesus da Lapa, Bahia

Fonte: Imagem produzida pelos autores.

No estado do Espírito Santo, na década de 1990, irrigavam-se


cerca de 6.000 ha, sendo 5.200 ha por inundação e 800 ha por
microaspersão. Predominava a irrigação por inundação (86,6%) em
função do baixo custo de aplicação de água, topografia plana e
ausência de legislação sobre uso. Atualmente, com as questões
legais relativas à outorga, isso não mais ocorre, e a irrigação da
cacauicultura capixaba está mudando para sistemas mais eficientes
de irrigação no cultivo do cacaueiro (INCAPER, 2015).
Os sistemas de aspersão convencional caracterizam-se pela
aplicação da água em forma de gotas, assemelhando-se à chuva;
apresentam como vantagem não ter restrição em relação ao tipo de
solo, porém o vento, a umidade relativa e a temperatura do ar podem
afetar a eficiência de irrigação (BERNARDO, 2009). Em relação a
esse sistema, para evitar criar um microclima com alta umidade
relativa, que pode favorecer a incidência de doenças no cacaueiro,
sempre que possível, deve-se optar pela irrigação sub-copa.
Os sistemas de irrigação por gotejamento (Figura 5) e
microaspersão (Figura 6) são mais utilizados e recomendados para
cacaueiros em regiões onde a disponibilidade hídrica é limitada.
Apresentam como vantagem maior eficiência do uso da água e de
fertilizantes pelo fato de a aplicação se concentrar na região das
raízes.

Figura 5 - Cacaueiros irrigados por gotejamento: uma linha de


gotejo por planta (A); duas linhas de gotejo por planta (B)

Fonte: Imagens produzidas pelos autores.


Figura 6 - Irrigação por microaspersão em cacaueiros jovens

Fonte: Imagem produzida pelos autores.

Na região cacaueira do extremo Sul da Bahia, alguns produtores


usam o sistema de gotejamento, com gotejadores no espaçamento
entre 0,5 e 0,6 m e vazão de 2,0 L h-1, sendo instalada uma linha de
gotejamento por fileira de planta. Já em microaspersão, é comum um
dimensionamento feito com uma linha de microaspersores para cada
entrelinha de plantas, ficando um microaspersor para cada duas
plantas. Segundo Bernardo (2009), a área mínima molhada junto às
plantas deve ser em torno de 1/3 da área sombreada. Para regiões
úmidas e semiáridas, recomenda-se uma área molhada de 20 a
33%, respectivamente.
5 “Estado da arte” das pesquisas com
irrigação em cacaueiro
O manejo das irrigações deve atender às necessidades das
culturas, de modo a permitir a manifestação de seu potencial
produtivo. Assim, para um planejamento racional das irrigações, é
fundamental conhecer a evapotranspiração da cultura durante os
estádios de desenvolvimento (BEZERRA; OLIVEIRA, 1999).
Em uma revisão realizada por Carr e Lockwoods (2011) sobre
resultados de pesquisa das relações hídricas e necessidade de
irrigação em caaueiros, os autores observaram que poucas
pesquisas têm sido feitas para quantificar o uso da água pelo
cacaueiro cultivado no campo. Estudos realizados em Gana e
Trinidad visando quantificar a irrigação e a produtividade do
cacaueiro não foram conclusivos por problemas no monitoramento
da irrigação na estação seca, também por não levarem em
consideração a importância dos efeitos da radiação solar, sombra,
umidade relativa e vento, na demanda evaporativa da cultura.
Outros estudos têm sido realizados para verificar os efeitos da
irrigação na produtividade do cacaueiro e na determinação de
necessidade hídrica, em regiões onde a evapotranspiração supera a
precipitação em alguns meses do ano, ou no ano todo. Segundo
Siqueira (2005), a produtividade do cacaueiro cultivado em Linhares,
Espírito Santo, é de 1.500 kg ha-1 quando irrigado, porém, sem
irrigação, a produtividade média é de 600 kg ha-1. O autor afirma
ainda que, com a irrigação associada à fertirrigação, a produtividade
pode atingir uma média de 3.000 kg ha-1. Sendo a irrigação essencial
para essa região, onde a precipitação média anual é de 1.200 mm,
porém 70% deste total ocorrem de outubro a março.
Almeida (2012), em experimento realizado em Jequié, Bahia,
cidade localizada em zona semiárida em que a Evapotranspiração
Potencial (ETP) supera a precipitação o ano todo, avaliou a resposta
de cacaueiros clonais irrigados por gotejamento, pelo efeito
combinado de lâminas de irrigação e doses de adubação
nitrogenada. O autor verificou que as lâminas de água, doses de
nitrogênio e a interação entre elas influenciaram positivamente na
produção de amêndoas secas e no número de frutos por cacaueiro,
sendo que a combinação ótima de lâmina de água e dose de
nitrogênio foi de 1.926 mm e 560,7 kg ha-1 de nitrogênio,
proporcionando uma produção de 1.649 kg ha-1 de amêndoas secas
de cacau.
Leite (2006), avaliando o comportamento agronômico de clones de
cacaueiros irrigados em condições de regiões semiáridas, observou
que os cacaueiros originados de estacas enraizadas apresentaram
boa adaptação sob irrigação. Esse autor estimou produtividade
potencial de amêndoas superior a 3.000 kg ha-1 ano-1 em áreas
irrigadas no semiárido da Bahia.
Jandin e Jacquemart (1978) avaliaram o desenvolvimento e a
produtividade de cacaueiros jovens, na Costa do Marfim, irrigados
pelos métodos de aspersão e localizada. No sistema de aspersão
convencional, o manejo foi baseado na depleção de água no solo (20
mm), enquanto no gotejamento, na tensão de água no solo (20 kPa a
20 cm de profundidade). Em função dos manejos empregados em
cada sistema, foi aplicada, no período seco, lâmina equivalente a
535 mm via aspersão, quantidade de água maior que aquela
empregada via gotejamento, que foi equivalente a 224 mm. Os
autores concluíram que a irrigação por gotejamento aumentou a taxa
de crescimento, o florescimento e a produtividade, mas não afetou a
periodicidade do ciclo de crescimento dos cacaueiros.
Khan, Patterson e Matlick (1988) estudaram os efeitos da irrigação
complementar por gotejamento sobre a produtividade do cacaueiro
em Belize. O experimento foi montado em 11 áreas de uma
plantação com árvores de seis anos de idade, sendo quatro
tratamentos com reposição de 0, 50, 75 e 100% de umidade perdida
via evapotranspiração, com três repetições durante os anos de 1985
e 1986. Em comparação com os demais tratamentos, os cacaueiros
que receberam os tratamentos 75 e 100% obtiveram aumento de
28% na produção de amêndoas.
No Sul do Equador, áreas irrigadas apresentam produções
significativamente maiores em relação às áreas não irrigadas. Há
relatos de que, nas áreas irrigadas, a produtividade é superior a
2.500 kg ha-1 de amêndoas secas, mesmo com a utilização de
sistemas de irrigação por sulco ou aspersão convencional (LEITE,
comunicação pessoal)6.
No município de São Sebastião do Passé, recôncavo baiano,
Siqueira, Müller e Pinho (1987) conduziram um experimento com
cacaueiro irrigado que continha três tratamentos: tratamento não
irrigado (testemunha) e reposição de 50 e 80% de água disponível.
Foi observado que não houve diferença entre os tratamentos
irrigados, mas, comparando com a testemunha, os tratamentos
irrigados apresentaram rendimentos superiores a 100%. O uso de
irrigação incrementou a produtividade do cacaueiro no Norte do
Espírito Santo em 54%.
Freire (1993) avaliou os efeitos da irrigação complementar no
rendimento dos frutos do cacaueiro no município de Piracicaba, São
Paulo, com dois tratamentos, um irrigado com 80% de água
disponível e outro não irrigado. Comparando os tratamentos, o
irrigado foi superior em 71% na produção de frutos.
No Norte do Espírito Santo, no município de Linhares, Siqueira et
al. (1999) avaliaram o cacaueiro sob duas condições: sequeiro e
irrigado. O sistema de irrigação empregado foi o de microaspersão,
com utilização de três tensões de umidade no solo (0,8; 2 e 5 bar) e
uma testemunha. O tratamento que apresentou o melhor rendimento
foi o irrigado ao nível de 2 bar de tensão de umidade no solo, com
produção de 1.830 kg ha-1, enquanto o tratamento sem irrigação foi o
que menos produziu, 702 kg ha-1; sendo o tratamento irrigado 161%
superior em comparação com o de sequeiro, no rendimento de
frutos. Os autores encontraram diferenças entre os materiais
genéticos testados em resposta à irrigação, indicando que híbridos
mais produtivos podem atingir produtividade máxima de amêndoas
secas de 2.715 kg ha-1. Na mesma localidade, Augusto (1997)
observou que a irrigação complementar se mostrou viável para
aumentar a produtividade do cacaueiro quando a precipitação anual
foi inferior à normal da região (1.200 mm).
Balasimha, Abdul Khader e Devaru Veerappa (1993), em
experimento no Sul da Índia, com cacaueiro consorciado com
palmeiras areca, avaliaram, durante o verão, o efeito da irrigação
suplementar por gotejamento sobre o rendimento do cacaueiro.
Foram testados três tratamentos: 10, 20 e 30 L por planta por dia. Ao
longo do verão, o potencial hídrico diminuiu gradualmente, atingindo
o nível mais baixo no tratamento que recebeu 10 L por dia. O
rendimento cresceu significativamente à medida que aumentou o
nível de irrigação, chegando ao nível mais elevado no tratamento
que recebeu 30 L por dia.
Radersma e Ridder (1996) determinaram a transpiração e
evapotranspiração do cacaueiro em La Mé, Costa do Marfim, usando
a equação de Penman-Monteith e dados disponíveis na literatura.
Assumindo valores de 1500 mm de precipitação total anual, a
transpiração variou entre 3,0 a 6,1 mm dia-1 durante o período
chuvoso, em função dos níveis de radiação líquida e déficit de
saturação do ar, e de 1,0 a 1,9 mm dia-1 durante a estação seca.
Segundo o boletim informativo da empresa Netafim®, o grupo
agrícola Lembrance, que possui 250 ha de cacaueiros no extremo
Sul baiano irrigados por gotejamento superficial e fertirrigados, tem
alcançado produtividades anuais de até 236 @ ha-1 ou 3.546 kg ha-1,
sendo que as médias atualmente obtidas nos sistemas cabruca e
convencional na região cacaueira tradicional não superam 40 @ ha-1
ou 600 kg ha-1.
Valle, Silva e Miranda (1987) indicaram que, nas condições de
Ilhéus, Bahia, a transpiração do cacaueiro a pleno sol num dia
nublado é de aproximadamente 45 L dia-1, assumindo que todas as
folhas estão transpirando a mesma taxa. Em dias ensolarados, a
taxa de transpiração diária foi estimada de 90 L dia-1 para plantas a
pleno sol e de 40 L dia-1 para plantas sombreadas. Alvim (1988),
Müller e Valle (2007) estimaram que, nas condições da região
cacaueira da Bahia, o cacaueiro adulto demandaria entre 30 L e 50 L
de água por dia para atender aos requerimentos de transpiração.
Almeida, Villa Nova e Klar (2000) estimaram a demanda hídrica
para o cacaueiro da variedade Catongo pelo método do balanço
climatológico, sob a condição de sequeiro entre os anos de 1988 e
1994, no município de Ilhéus, Bahia, e determinaram a
Evapotranspiração Real (ETr). Esses autores observaram que a ETr
correspondeu a, aproximadamente, 85% da Evapotranspiração de
Referência (ETo) obtida pelo método de Penman-Monteith. Também
verificaram que a média diária da demanda hídrica do cacaueiro,
cultivado no espaçamento de 3 m x 3 m, foi de 20,2 L por planta, o
que corresponde a uma lâmina de Evapotranspiração da Cultura
(ETc) de, aproximadamente, 2,2 mm.
Bessa Leite (2013), em experimento realizado em Ilhéus, Bahia,
com plantas seminais de cacaueiros híbridos (4 anos) plantadas num
espaçamento de 3 m x 3 m, determinou o consumo hídrico de
cacaueiros cultivados num Nitossolo Háplico Eutroférrico e irrigados
por gotejamento, utilizando o método do balanço hídrico de campo.
Esse autor verificou que a evapotranspiração da cultura média no
período avaliado foi de 3,5 mm dia-1 e que o consumo médio de
água diário de foi de 31,5 L por planta.
6 Cultivo do cacaueiro irrigado em áreas não
tradicionais
O cacaueiro se desenvolve bem na faixa latitudinal do globo
terrestre que fica entre 20° N e 20° S devido às condições
edafoclimáticas naturais e necessita de 1.200 mm de chuvas por
ano. Por esse motivo, as regiões tradicionais de cultivo no Brasil,
como o Sul da Bahia, Norte do Espírito Santo, situadas no Leste, e a
região Amazônica, no Norte do país, sempre foram visadas para
essa cultura.
A região Sul da Bahia não apresenta períodos de estiagem
definidos ao longo do ano, ou seja, nesta região, as chuvas
distribuem-se de tal forma que é comum não chover menos de 100
mm por mês. A partir dos anos 2000, iniciaram-se experimentos com
cacaueiros em locais de transição, úmido a subúmido e, atualmente,
verificam-se plantios nos tabuleiros costeiros, Chapada Diamantina,
vale do Rio São Francisco, vale do Rio de Contas e Oeste da Bahia.
Geralmente, o plantio do cacaueiro no semiárido baiano é feito em
perímetros de irrigação, como é o caso da região de Bom Jesus da
Lapa. Espera-se que, em sendo comprovada a viabilidade da cultura
para a região de interesse, ocorram medidas governamental e
empresarial para implantação de novas áreas de produção
comercial.
A Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e
do Parnaíba (CODEVASF, 2009) realizou um estudo sobre a
viabilidade financeira de produção e pré-beneficiamento de
amêndoas de cacau na região do vale do Rio São Francisco, no ano
de 2003, e observou que, apesar de a cacauicultura ser nova nesta
região, a planta apresenta maior e mais rápido desenvolvimento em
relação às áreas tradicionais de cultivo, com expectativa de
produtividade de até cinco vezes superior do que a conseguida no
Sul da Bahia. As análises de viabilidade financeira foram realizadas
com base em uma produção de 3.000 kg ha-1, uma safra por ano e
12 anos de duração do projeto. Os resultados obtidos, considerando
todos os investimentos, custos e gastos até o pré-processamento,
consolidaram a taxa interna de retorno (TIR) de 16% para áreas com
4 ha e 10% para áreas com 100 ha. O tempo de retorno do capital
ficou em 6,6 anos para áreas com 4 ha e 6,8 anos para áreas com
100 ha. No entanto, deve-se ressaltar que os preços na época do
estudo (2003) foram inferiores aos pagos em 2015/2016, o que, com
certeza, elevaria as TIR nos dois modelos.
Plantios comerciais de cacaueiro a pleno sol em sistema de
irrigação por gotejamento superficial combinada com fertirrigação em
tabuleiros costeiros do Extremo-Sul da Bahia têm alcançado
produtividades de até 3.500 kg ha-1 ano-1 (NETAFIM, 2014). Nesta
região, estão sendo implantados plantios comerciais de cacaueiro
em sistemas agroflorestais (SAF’s) com seringueira, bananeira,
coqueiro e espécies madeiráveis. Nos tabuleiros costeiros do litoral
norte da Bahia e de Sergipe, por exemplo, o consórcio é feito com
bananeira e coqueiro.
Em outros estados nordestinos, como Ceará, Sergipe e
Pernambuco, o cacaueiro já começa a entrar na pauta de
alternativas de cultivos para diversificação da fruticultura. No Ceará,
mais precisamente na região irrigada do Tabuleiro de Russas, a 180
km de Fortaleza, no polo de fruticultura do vale do Rio Jaguaribe, foi
montada, no ano 2000, uma área experimental com parceria da
Embrapa Semiárido e da CEPLAC. Neste experimento, estão sendo
avaliados clones autocompatíveis de cacaueiro em SAF com
bananeira e cajazeira, usando sistemas de irrigação por
microaspersão e gotejamento. A partir desta iniciativa já começam a
surgir plantios comerciais no Vale do Jaguaribe e outras regiões
cearenses.
O efeito da irrigação sobre o crescimento e floração de clones de
cacaueiro foi estudado por Sodré et al. (2016), que verificaram
intensidade média de floração dos clones CEPEC 2004 e CEPEC
2005, cultivados no estado do Ceará, significativamente superiores
ao clone CCN 51, tanto no gotejamento quanto na microaspersão.
Também observaram que os clones CCN 51 e PH 16 apresentaram
diferenças em diâmetro quando comparados dentro dos sistemas de
irrigação, sendo os maiores diâmetros encontrados para o
gotejamento. Considerando tratar-se de dois clones vigorosos e que,
no gotejamento, a área úmida disponível (bulbo) é menor do que na
microaspersão, o resultado sugere que, aparentemente, as plantas
dos clones CCN 51 e PH 16 aumentaram o diâmetro como resposta
ao menor espaço úmido disponível.
Deve-se destacar que, para um mesmo clone, o diâmetro de
cacaueiros é uma variável que se correlaciona significativamente
com precocidade e produção das plantas. Nesse contexto,
Balasimha (1988) registrou incrementos de 30% no diâmetro do
caule e de 50% na folhagem de cacaueiros irrigados em relação aos
cultivos não irrigados.
Efeitos da irrigação sobre o diâmetro de cacaueiros, clone CCN
51, também foram observados por Almeida, Garófalo Chaves e da
Silva (2012). Esses autores, no entanto, verificaram redução do
diâmetro em função do aumento do volume de água aplicada,
resultado atribuído ao maior crescimento em altura das plantas,
devido a doses de N aplicadas junto via irrigação.
Os clones CEPEC 2002 e CEPEC 2005 cultivados na região
semiárida do estado do Ceará apresentaram maior regularidade de
floração, o que é uma característica desejável para manter a
produção de amêndoas de cacau durante todo o ano. Segundo
Almeida et al. (1987), as variações na floração ocorrem porque o
modelo de floração do cacaueiro mostra que a produção de flores é
primariamente controlada pelos fatores climáticos, sugerindo maiores
índices de floração em locais onde ocorrem variações acentuadas de
temperatura.
Comparando os sistemas de gotejamento e microaspersão no
estado do Ceará, Sodré et al (2016) observaram, até dezembro de
2015 (5 anos de cultivo), que não houve diferenças quanto à época
de ocorrência de picos de floração para os clones CEPEC 2002,
CEPEC 2004 e CCN 51. Esses autores também verificaram os
primeiros frutos aos 11 meses após o plantio de mudas produzidas
por estaquia de ramos plagiotrópicos e a baixa intensidade de
frutificação do clone PH 16 em condições de cultivo no semiárido,
característica que indica ser esse clone mais tardio ou menos
adaptado às condições climáticas mais secas.
Nascimento, Sodré e Leite (2012) avaliaram o efeito da umidade
sobre o pegamento de bilros e frutos formados a partir de polinização
artificial em um plantio clonal de cacaueiros na região da Chapada
Diamantina, Bahia, com e sem reservatórios artificiais de água a uma
distância de 50 cm do tronco, com a função de promover umidade à
planta. A percentagem de pegamento de flores no clone CEPEC
2002 foi 50% superior nas plantas localizadas próximas dos
reservatórios com água. Já para o clone CCN 51 não houve
pegamento de flores nas plantas sem reservatório. Esse resultado
reforça a importância da umidade no estádio de floração e
pegamento de frutos do cacaueiro.
Segundo Balasimha (1988), alguns genótipos de cacaueiro
mostram mecanismo eficiente de regulação estomatal e diminuição
da transpiração em condições de stress hídrico, o que pode ser uma
estratégia de aclimatação para plantios em regiões semiáridas. Por
outro lado, Sena Gomes e Kozlowski (1987) alertaram que a extrema
sensibilidade de alguns genótipos de cacaueiro para baixa umidade
relativa pode ser limitante no crescimento em áreas onde ocorrem
valores baixos de umidade relativa.
Leite et al. (2006) analisaram o comportamento do sistema
radicular do cacaueiro em função da irrigação localizada por
gotejamento em plantas de origem seminal e de estaca enraizada na
região da Chapada Diamantina, Bahia. Para o cacaueiro seminal e
irrigado com duas linhas de gotejo foi observado que as raízes
apresentaram comprimento de até 110 cm no sentido longitudinal da
linha de plantio e 80 cm no sentido perpendicular; enquanto para o
cacaueiro oriundo de estaca enraizada, as raízes apresentaram em
média 65 cm e 80 cm no sentido longitudinal e perpendicular,
respectivamente. De maneira geral, foi observado que, na fração
onde o solo não era irrigado, acontecia um atrofiamento das raízes
de até 15 cm, também se constatou que houve concentração de
radículas próximas às linhas de gotejo.
As Figuras 7 e 8 foram registradas num experimento realizado no
município de Nova Redenção, Bahia, quando houve retirada de
irrigação, e o cacaueiro sobreviveu a estresse hídrico total durante 4
meses. Leite (Comunicação pessoal)7 informou que as plantas da
borda das áreas foram as primeiras que pereceram, demonstrando o
efeito aditivo do vento intensificando a morte de cacaueiros
submetidos à falta total de água, conforme se observa na Figura 9.

Figura 7 - Plantas de cacaueiro antes de submetidas ao estresse


hídrico total. Nova Redenção, Bahia

Fonte: Imagem produzida pelos autores.

Figura 8 - Plantas de cacaueiro 4 meses após serem submetidas


ao estresse hídrico total

Fonte: Imagem produzida pelos autores.


Figura 9 - Plantas de cacaueiro mortas após 8 meses de estresse
hídrico total

Fonte: Imagem produzida pelos autores.

Devido aos problemas de pragas e, principalmente, doenças do


cacaueiro, alguns produtores do Sul da Bahia estão procurando por
novas áreas de escape em regiões como o semiárido. No entanto,
segundo Almeida e Valle (2007), há necessidade de mais estudos do
comportamento da cultura nestas condições agroclimatológicas.
Esses autores afirmam ainda que a alta produção de cacau a pleno
sol requer maiores investimentos em proteção contra ventos,
controle de pragas e nutrição do cultivo.
A qualidade da água de irrigação é um fator determinante para uso
da irrigação em cacaueiros. Sodré et al (2016), em experimento
realizado no Ceará, verificaram que plantas jovens de cacaueiro
irrigadas por microaspersão com água salina apresentavam necrose
nas bordas das folhas, sem, no entanto, haver queda da folha e/ou
morte da planta (Figura 10). Nesse contexto, Huan et al. (1984)
concluíram que a condutividade elétrica da água de irrigação
suportada pelo cacaueiro não deve ser superior a 2,0 dS m-1. Por
outro lado, Santos e Castro Neto (2012) verificaram, em alguns
clones, relativa tolerância à água salina (CE de 2,0 a 4,0 dS m-1).

Figura 10 - Detalhe da necrose nas bordas das folhas de


cacaueiros irrigados com água salina
g g

Fonte: Imagem produzida pelos autores.


7 Desafios e perspectivas para a cacauicultura
irrigada
Do ponto de vista tecnológico, os atuais resultados de pesquisa já
indicam que o cacaueiro pode ser cultivado com irrigação em áreas
não tradicionais, como a região semiárida do Brasil. Isso deve
ocorrer mesmo nas regiões úmidas para suprimento de água, na
ocorrência de veranicos, como o que ocorreu recentemente na
região Sul da Bahia, um período de seca de 5 meses (setembro/2015
a janeiro/2016). Esta escassez de chuvas e altas temperaturas
associadas a falta de um manejo adequado no cultivo do cacaueiro
(falta de adubação, plantio em solos rasos ou com problemas de
drenagem e pragas, como o ácaro da gema (Aceria reyesi), além das
doenças) afetaram em especial a safra principal de 2015/2016.
O baixo índice de precipitação, de setembro a novembro de 2015,
provocou a queda parcial das folhas (Figura 11A) e retardou o
lançamento foliar, a floração e bilração, comprometendo a produção
da safra temporã 2016/2017. De acordo com a amostragem
realizada pelo Centro de Pesquisas do Cacau da CEPLAC, estima-
se que houve no campo uma perda de 13,9% dos cacaueiros
existentes na região cacaueira Bahia em decorrência da seca ou
devido a incêndios (CEPLAC, 2016).
Figura 11 - Área com intensa desfolha em virtude da seca (A) e
lançamentos foliares 30 dias após irrigação (B)

Fonte: Imagens produzidas pelos autores.

Em área cultivada com o clone CCN 51 enxertado em porta


enxerto de TSH 1188, no Centro de Pesquisas da CEPLAC, em
Ilhéus, Bahia, foi instalado sistema de irrigação por gotejamento, e,
30 dias após a irrigação, começaram a ocorrer lançamentos foliares
(Figura 11B).
Dentre os problemas imediatos que podem dificultar a
intensificação da cacauicultura irrigada, destacam-se: oferta regular
de água em algumas regiões; qualidade da água, principalmente na
utilização de sistemas localizados; conhecimento técnico e
equipamentos para manejo de irrigação; e disponibilidade de
recursos humanos e financiamento de projetos.
A possibilidade de aplicação de fertilizantes, defensivos, micro-
organismos promotores de crescimento e outros agentes veiculados
por água faz com que a irrigação de cacaueiros desperte a atenção
de empresas e empresários do agronegócio do cacau.
Entende-se que todos os novos projetos de irrigação do cacaueiro
deverão contemplar a fertirrigação, e que os sistemas de
gotejamento e microaspersão devam ser preferidos em relação aos
demais, pela maior eficiência de aplicação de água e outras
vantagens. No entanto, não se pode pensar em um programa de
fertirrigação se não houver um manejo adequado da água de
irrigação, em sistemas corretamente dimensionados.
O uso de quebra-ventos com espécies madeiráveis e o plantio em
SAFs devem ser amplamente recomendados para essa cultura,
principalmente pelo fato de agregar valor ao cultivo do cacaueiro
irrigado. Atualmente, já existem empresas que aproveitam plantios
estabelecidos, principalmente do coqueiro, e que introduzem o
cacaueiro com sistema de irrigação ou implantam novas áreas com
bananeira ou mamoeiro.
A mecanização e os tratos culturais associados ao cultivo do
cacaueiro deverão ser ajustados para que os sistemas de irrigação
sejam efetivamente eficientes e causem o mínimo de impacto ao
ambiente.
Merece atenção de pesquisa a avaliação da qualidade bioquímica
de amêndoas produzidas em áreas irrigadas visando fabricação de
chocolates com sabores especiais. Outros problemas são: falta de
estudo de viabilidade econômica; problemas com germinação de
sementes nos frutos; e dificuldade de aceitação de produtores para
iniciar-se num cultivo relativamente “exótico”, questões de
paradigma.
A pequena produção de amêndoas de cacau, fundamentada na
agricultura familiar, pode ser beneficiada pelo uso da irrigação, que
visa não só o aumento da produtividade, mas, principalmente, a
possibilidade de associações de produtores realizarem o uso integral
do cacaueiro para produzir polpa de cacau, geleia, chocolate
artesanal, usar cascas para alimentação animal e produção de
fertilizante orgânico, dentre outros usos do cacaueiro.
Os autores entendem que, devido à escassez de água e às
mudanças climáticas previstas para as próximas décadas, as
pesquisas com clones de cacaueiro resistentes à seca e com alta
capacidade produtiva, que ainda são incipientes, tornam-se
absolutamente urgentes. Também chamam atenção para que, com o
crescimento das cidades e aumento da demanda hídrica para
consumo humano, as questões ambientais com licenciamento e
outorga para cultivo do cacaueiro deverão pautar discussões futuras
da cacauicultura irrigada, principalmente no campo político.
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Capítulo 15 — Fertirrigação em cacaueiros
José Olimpio de Souza Júnior1 , Adriana Ramos2
1 Introdução
A fertirrigação é uma técnica que permite a aplicação de
fertilizantes via água de irrigação, sendo praticada em muitas regiões
onde a agricultura irrigada é bem desenvolvida. Seu sucesso
depende da distribuição uniforme da água de irrigação para que a
aplicação de fertilizantes seja realizada com maior eficiência. Com
um correto manejo de água e dos fertilizantes, essa técnica traduz o
uso racional de fertilizantes em agricultura irrigada, uma vez que
aumenta sua eficiência (OLIVEIRA; COELHO; BORGES, 2000).
Algumas vantagens potenciais da fertirrigação, em relação à
adubação convencional, são: melhor aproveitamento do
equipamento de irrigação; maior rapidez e eficiência da fertilização
— propicia maior parcelamento das adubações, ou seja, os
nutrientes são fornecidos mais frequentemente, porém em menores
quantidades, o que diminui as perdas, principalmente por lixiviação e
volatilização, além de reduzir as flutuações de salinidade da solução
—; maior controle das doses, das proporções e das formas dos
nutrientes aplicados, neste último caso principalmente para o N, que
pode ser fornecido por três distintas formas nítrica, amoniacal e/ou
amínica —; flexibilidade no tempo de aplicação do fertilizante em
relação à demanda da planta, em função de seu desenvolvimento e
estágio fisiológico; possibilita rápida alteração da adubação em
função do estado nutricional da lavoura; menos compactação do solo
e danos físicos às culturas, em relação à adubação mecanizada;
para irrigação localizada, o dossel vegetal é mantido seco, reduzindo
a incidência de patógenos; crescimento mais rápido e maior
produção da cultura; melhora na qualidade do produto; possibilidade
de ser utilizada conjuntamente com a aplicação de outros insumos,
como hormônios vegetais e defensivos; menor custo de aplicação
(KALIL, 1992; HARTZ; HOCHMUTH, 1996; OLIVEIRA; COELHO;
BORGES, 2000; PAPADOPOULOS, 2001; SILVA; FEITOSA FILHO,
2003; BISCARO; OLIVEIRA, 2014).
Eventuais desvantagens da fertirrigação incluem: distribuição
química desigual, quando o projeto ou a operação do sistema de
irrigação é inadequado; lixiviação, se ocorrer chuva mais intensa
durante ou após a aplicação dos fertilizantes; reações químicas
indesejadas no sistema de irrigação, levando à corrosão dos
equipamentos e/ou precipitação de material químico, causando
entupimento das tubulações e dos emissores; salinização da área
fertirrigada, principalmente para irrigação localizada e para regiões
áridas e semiáridas; possibilidade de contaminação da fonte de
água, em função de eventual retorno do fluxo da solução, e de
contaminação do manancial subsuperficial ou subterrâneo, em
decorrência de lixiviação de nutrientes (OLIVEIRA; COELHO;
BORGES, 2000; PAPADOPOULOS, 2001; SILVA; FEITOSA FILHO,
2003; BISCARO; OLIVEIRA, 2014). Porém, muitos desses
problemas têm sido amplamente estudados e podem ser prevenidos,
minimizados e/ou mitigados.
A fertirrigação permite potencializar a utilização do equipamento de
irrigação, conseguindo amortizar mais rapidamente esse
investimento, quer pela diminuição do custo de adubação, quer por
outras vantagens acima citadas. O uso da tecnologia da fertirrigação
está diretamente associado às culturas de alto valor econômico e
vem sendo largamente empregada no cultivo de flores e plantas
ornamentais e em fruticultura (VILLAS BÔAS et al., 2001).
Para a cultura do cacaueiro, tem sido utilizado o método de
irrigação localizada, como sistemas de gotejamento ou de
microaspersão. De acordo com Coelho, Or e Sousa (2011), a
fertirrigação deve ser utilizada em sistemas de irrigação que
apresentam alta eficiência de aplicação de água, sendo que, no
método de irrigação localizada, ela se adequa melhor ao sistema de
gotejamento do que ao sistema de microaspersão, pois, no
gotejamento, o sistema radicular da cultura coincide com o volume
de solo de maior umidade, gerado por um ou mais gotejadores,
otimizando com isso o aproveitamento de fertilizantes. Na
microaspersão, ocorre eficiência semelhante quando se usa um
microaspersor por planta ou se trabalha com uma faixa molhada
contínua, no entanto, quando se usa um microaspersor para quatro
plantas, em que o emissor é posicionado no centro das quatro
plantas, como é o caso de frutíferas de porte mediano, como
bananeira, mamoeiro e cacaueiro, a eficiência será reduzida.
A distribuição e concentração da água próxima ao microaspersor
tende, consequentemente, a concentrar também os fertilizantes no
raio de molhamento do mesmo. Esse raio de molhamento depende
do tipo e vazão dos emissores e, a depender do espaçamento
destes, a fertirrigação pode não promover uma distribuição correta
dos fertilizantes, prejudicando a sua absorção pelas plantas. Ou seja,
no uso de um emissor para quatro plantas, deve-se atentar para a
escolha de um emissor que tenha um raio de ação suficiente que
garanta adequada distribuição dos fertilizantes para todas as plantas
(COELHO; OR; SOUSA, 2011).
2 A pesquisa com fertirrigação para o
cacaueiro
Tradicionalmente, o cacaueiro sempre foi cultivado em regiões
mais úmidas; consequentemente, as técnicas de irrigação e
fertirrigação não são comumente utilizadas na cultura. Contudo,
nestas regiões tradicionais, a má distribuição ou até mesmo a
escassez de chuvas em certos anos, associada ao crescente cultivo
de cacaueiros em regiões não tradicionais (regiões com clima
subúmido a seco e até semiárido), tem levado ao aumento
expressivo do uso de irrigação e, consequentemente, de fertirrigação
nesta cultura. Por volta de 2005, só no estado do Espírito Santo,
estimava-se que havia cerca de 11.000 ha de cacaueiros irrigados
(SIQUEIRA; MULDER; SOUZA, 2015). Contudo, ainda são muito
incipientes as pesquisas com fertirrigação em cacaueiros.

2.1 Fertirrigação para produção de mudas de cacaueiros

Para a produção de mudas de cacaueiro, faz-se necessário, além


da correção da acidez do substrato, a adubação do mesmo,
principalmente com P (SOUZA JÚNIOR; CARMELLO; SODRÉ, 2011;
CHEPOTE et al., 2013), mas também pode-se utilizar fertilizante
solúvel de liberação controlada com outros nutrientes. Contudo, para
garantir boa nutrição e bom desenvolvimento das mudas no viveiro
há necessidade do uso de adubação em cobertura, a qual pode ser
feita via sistema de irrigação, seja por aspersão ou por subirrigação
(irrigação por subsuperfície).
Ramos et al. (2014) avaliaram o crescimento de mudas clonais de
cacaueiros produzidas em tubetes de 288 cm3, contendo como
substrato uma mistura de casca de pinus compostada e pó de fibra
de coco (1:1 v/v), em função de doses de N (0,6, 1,09, 1,29 e 1,53
mg por tubete) e K (0,06, 0,09, 0,13, 0,16 mg por tubete), aplicadas
semanalmente via irrigação por microaspersão. O estudo foi
conduzido no Instituto Biofábrica de Cacau, utilizando mudas do
clone CEPEC 2004. O número de folhas e o comprimento do
lançamento foliar foram as variáveis biométricas que responderam
significativamente à adição de N, enquanto, para K, apenas o
número de folhas indicou diferenças entre todas as doses aplicadas.
Os autores afirmam que doses maiores de N e K devem ser
fornecidas.

2.2 Fertirrigação do cacaueiro em campo

Cultivos de cacaueiros fertirrigados e a pleno sol ou com pouco


sombreamento têm alcançado produtividades muito superiores à
média brasileira, a qual, em 2014, foi de 415 kg ha-1 (IBGE, 2015).
Para o cultivo do cacaueiro fertirrigado e a pleno sol, em regiões não
tradicionais, Leite (2012) relata produtividades anuais estimadas de
até 3.630 kg ha-1, no Vale do Rio Paraguaçu, e de até 3.540 kg ha-1,
nos Tabuleiros Costeiros do extremo Sul da Bahia, para plantas com
idade de cinco e seis anos, respectivamente. Na região tradicional,
no município de Ilhéus, Silva (2015), avaliando a produtividade de
sete clones de cacau em uma área comercial fertirrigada,
praticamente a pleno sol e com cinco anos, constatou produtividade
anual média de até 3.250 e 4.413 kg ha-1, para os clones PS 1319 e
CCN 51, respectivamente.
Siqueira, Mulder e Souza (2015) testaram, por três anos,
diferentes formulações comerciais de fertilizantes solúveis, aplicados
via sistema de irrigação por microaspersão, em cacaueiros safreiros
híbridos de Catongo X Scavina-6 cultivados em Linhares, Espírito
Santo, e avaliaram a resposta das seguintes variáveis: frutos sadios,
frutos ruins, peso úmido e seco das amêndoas e custo da
fertirrigação. Encontraram maior peso seco de amêndoa para o
tratamento com aplicação de 1.530 kg ha-1 ano-1 da formulação NPK
12−06−37 + Mg + S + micronutrientes + 197 kg ha-1 ano-1 de nitrato
de amônio, além de maior lucro. Para este tratamento, a
produtividade anual média dos três anos de amêndoas secas foi de
3.209 kg ha-1 ano-1, que foi 69% superior à formulação recomendada
pela Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (CEPLAC),
aplicada a lanço e fracionada em duas vezes ao ano.
No semiárido baiano, Almeida (2012) e Almeida et al. (2012)
avaliaram o efeito da irrigação (aplicada diariamente, sempre que
não havia precipitação pluviométrica, nos seguintes níveis: 0,6; 0,8;
1,0 e 1,2 vezes a lâmina bruta necessária para repor a água
evapotranspirada) e da adubação nitrogenada (doses semanais, no
2º ano, de 2,1; 3,0; 3,9 e 4,8 g de N por planta) sob as características
de crescimento e produtividade do cacaueiro do clone CCN 51
plantado em espaçamento 3,5 x 2,0 m, em um Latossolo Amarelo.
Os autores verificaram que os níveis de água e as doses de N
influenciaram a altura e o diâmetro do caule da planta. Por sua vez, a
produção de amêndoas secas e o número de frutos por planta do
cacau foram influenciados tanto pelos efeitos individuais dos níveis
de água e das doses de N quanto pela interação entre eles. A
combinação econômica ótima de água e nitrogênio foi de 1833 mm e
553 kg ha-1 de N, sendo esta dose de N o total aplicado durante os
26 meses do experimento, a qual equivale, aproximadamente, à
média de 255 kg ha-1 ano-1 de N ou 3,4 g de N por planta por
adubação semanal, que resultou, no 2º ano após o plantio, numa
produção estimada de 1.637 kg ha-1 de amêndoas secas de cacau,
em 7,3 meses de avaliação.
Na Índia, Sujatha e Ravi (2013) avaliaram os efeitos da
fertirrigação orgânica (extrato de vermicomposto) e inorgânica (NPK)
sobre a produtividade da palmeira Betel (Areca catechu L.) e do
consórcio entre esta palmeira com o cacaueiro. Foram utilizados
sistema de irrigação por gotejamento, num total de 21 adubações
anuais, sendo as doses de N, P2O5 e K2O utilizadas de 75, 30 e 105
gramas por planta por ano, respectivamente (75% da dose
recomendada para a palmeira Betel, que também foi utilizada para o
cacaueiro). As mudas do cacaueiro, enxertadas com a variedade
TVLCC-1, foram plantadas num espaçamento de 2,7 x 5,4 m,
quando as palmeiras já tinham 12 anos. Os autores observaram que
a fertirrigação com o NPK sozinho aumentou a produção, média dos
três aos cinco anos de idade, de cacau em 65%, em relação ao
controle (adubação com vermicomposto); por sua vez, a fertirrigação
orgânica (extrato do vermicomposto) só aumentou, em média, 9% da
produção em relação à aplicação direta do vermicomposto ao solo.
Os autores constataram também teores foliares de N e K no
cacaueiro abaixo dos níveis críticos, indicando carência de ambos
nutrientes.
Também na Índia foi realizado experimento de fertirrigação, com
duração de dois anos (de 01/2010 a 12/2011), em área de consórcio
de cacaueiro (progênies F1 do grupo Forasteiro), com seis anos e
distância de 3 m entre plantas, em fileira alternada com coqueiro,
com 30 anos e distância entre plantas de 8 m, sendo testados: duas
frequências de adubação (duas vezes por ano, em abril e setembro,
como recomendado para aquela região, e semanal ou 52 vezes por
ano), dois sistemas de irrigação (gotejamento e microaspersão), dois
tipos de fertilizantes NPK (mistura de fertilizantes simples e
fertilizante fluido, porém as fontes não são especificadas) e três
doses de NPK (75, 100 e 125% da Dose de Fertilizante
Recomendada – DFR; sendo 100% da DFR igual a 100, 40 e 140
gramas por planta por ano de N, P2O5 e K2O, respectivamente). Com
relação às características de crescimento (incremento da
circunferência do tronco, crescimento do dossel, peso da folha e
peso dos galhos e das folhas removidos pela poda), o melhor
tratamento foi aquele com fertirrigação semanal por gotejamento,
com uso de fertilizante fluido e dose anual por planta de 125, 50 e
175 gramas de N, P2O5 e K2O, respectivamente
(KRISHNAMOORTHY; RAJAMANI, 2013). Com relação às
características de floração (número de almofadas florais por planta e
de flores por almofada; e tamanho, produção, viabilidade e
germinação do grão de pólen), o melhor tratamento foi semelhante
àquele que mostrou os melhores resultados para as variáveis de
crescimento, exceto que os tratamentos com uso de microaspersão
foram superiores aos de gotejamento (KRISHNAMOORTHY et al.,
2015).
3 Fertilizantes para fertirrigação
De acordo com a legislação brasileira, fertilizante para fertirrigação
é aquele que se destina à aplicação via sistemas de irrigação
(BRASIL, 2015). Os fertilizantes podem ser minerais (inorgânicos) ou
orgânicos, sendo que, para o uso em fertirrigação, os primeiros
predominam; porém alguns fertilizantes orgânicos, como os quelatos
de micronutrientes, podem também ser usados em fertirrigação.
Quanto ao estado físico, os fertilizantes empregados podem ser
sólidos ou fluidos (líquidos), sendo os primeiros mais utilizados em
fertirrigação no Brasil. Os fertilizantes líquidos podem se apresentar
na forma de soluções (mistura homogênea, em que os fertilizantes
encontram-se completamente solubilizados no líquido) ou de
suspensões (mistura coloidal, na qual pelo menos um fertilizante está
literalmente suspenso no líquido); alguns autores, como Borges e
Silva (2011), incluem um terceiro grupo para os fertilizantes líquidos,
que seriam as “soluções coloidais”, obtidas pela reação do ácido
fosfórico com a amônia. As suspensões devem ter restrições de uso
em sistemas de irrigação localizada, visto que podem causar
entupimento dos emissores.
Segundo a legislação brasileira (BRASIL, 2015), os fertilizantes
minerais podem ser: simples (produto formado, fundamentalmente,
por um composto químico, contendo um ou mais nutrientes de
plantas), mistos (produto resultante da mistura física de dois ou mais
fertilizantes simples, complexos ou ambos) e complexos (produto
formado de dois ou mais compostos químicos resultante da reação
química de seus componentes, contendo dois ou mais nutrientes).
Os fertilizantes minerais simples, para serem utilizados
conjuntamente, devem ser compatíveis entre si, ou seja, não devem
causar reações indesejáveis.
Além da disponibilidade do produto no mercado e do preço por
unidade de nutriente(s), a escolha dos fertilizantes mais adequados
para uso em fertirrigação depende de vários aspectos, dentre os
quais se destacam: 1) cultura (demanda e balanço de nutrientes nos
diferentes estádios de desenvolvimento; forma preferível de
absorção, para N); 2) solo (acidez/alcalinidade, disponibilidade atual
de nutrientes, salinidade, textura, CTC); 3) dinâmica do nutriente no
sistema solo−planta−atmosfera (lixiviação, volatilização, fixação por
coloides inorgânicos, precipitação, etc.); 4) sistema de irrigação (p.
ex.: para sistemas de aspersão convencional ou pivô central, o uso
de fertirrigação com P é menos eficiente, devido à elevada
distribuição do fertilizante na superfície do solo, o que propicia alto
índice de perda de P por fixação pelos coloides inorgânicos do solo;
sistemas de irrigação localizada requerem o uso de fertilizantes de
maior pureza); 5) água de irrigação (p. ex.: para água alcalina, há
elevada precipitação de micronutrientes catiônicos, quando estes são
fornecidos na forma inorgânica, e de fosfatos); e 6) fertilizante
(concentração de nutrientes, solubilidade, pureza, forma do nutriente,
poder de corrosão, índice de acidez ou de basicidade, índice salino e
compatibilidade com outros fertilizantes).
Os fertilizantes minerais, quando destinados à fertirrigação,
deverão apresentar os nutrientes na forma totalmente solúvel em
água (permitindo-se uma tolerância de material não solúvel de até 10
g kg-1 para soluções ou produtos sólidos e de até 50 g kg-1 para
suspensões), tendo especificações e garantias mínimas definidas
pela Instrução Normativa 05/2007, do Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento (MAPA), e suas atualizações (BRASIL,
2015). Além desses requisitos, há necessidade de que, nas
embalagens, constem informações sobre a solubilidade, para
produtos sólidos, e o índice salino do fertilizante. No comércio,
existem fertilizantes que são semipurificados e purificados; no
entanto, os fertilizantes que apresentam maior grau de pureza e
maior solubilidade também têm maior custo.

3.1 Os nutrientes e as principais fontes

Na Tabela 1, são apresentados os principais fertilizantes minerais


simples, fontes de macronutrientes, usados em fertirrigação. Nesta
tabela, consta também a garantia mínima estabelecida pelo MAPA,
bem como a solubilidade, o índice salino e o índice de acidez ou de
basicidade desses fertilizantes.
Tabela 1 - Atributos químicos dos principais fertilizantes minerais
simples registrados no Brasil, fontes de macronutrientes, que podem
ser utilizados em fertirrigação
Fertilizante Teor do Solubilidade IS1/ ISR2/ IA (+) ou
nutriente (g L-1) a IB (-)3/
(g kg-1) 20ºC
Aquamônia N (100) Líquido
Cloreto de amônio N (250) + 140
Fosfato diamônico N (170) e 408-575 34 93 + 75
(DAP) P2O5 (450)
DAP cristal N (190) e 689
P2O5 (500)
Fosfato N (90) e 230-282 30 100 + 58
monoamônico P2O5 (480)
(MAP)
MAP cristal N (110) e 368-370 34 92 + 65
P2O5 (600)
Fosfossulfato de N (130),
amônio P2O5 (200) e
S (120)
Nitrato de amônio N (320) 1180-1950 105 328 + 62
Nitrato de cálcio N (140) e Ca 1020-1294 52 173 - 20
(160)
Nitrato de magnésio N (100) e Mg 423-720
(80)
Nitrato de potássio N (120) e e 316-320 74 152 - 26
K2O (440)
Nitrato de sódio N (160) 730 100 625 - 29
Nitrato duplo de Na N (150) e 623 92 345 - 29
eK K2O (140)
Fertilizante Teor do Solubilidade IS1/ ISR2/ IA (+) ou
nutriente (g L-1) a IB (-)3/
(g kg-1) 20ºC
Sulfato de amônio N (200) e S 710-760 69 157 + 110
(240)
Sulfonitrato de N (250) e S + 84
amônio (120)
Sulfonitrato de N (190), Mg
amônio e Mg (35) e S
(100)
Ureia N (450) 780-1190 75 167 + 71
Ureia-sulfato de N (400) e S
amônio (40)
Ureia-superfosfato N (170) e P 625-960
(fosfato de ureia) O (430)
Ácido fosforoso P2O5 (800) Líquido + 76
Ácido fosfórico P2O5 (400) Líquido
Fosfato P2O5 (510) e 227-330 8 16 0
monopotássico K2O (330)
(MKP)
Fosfito de potássio P2O5 (270) e Líquido
K2O (200)
Citrato de potássio K2O (420)
Cloreto de potássio K2O (580) 270-340 115 238 0
Cloreto de potássio K2O (600) 342-360 116 232 0
branco
Sulfato de potássio K2O (480) e 110-120 46 84 0
S (150)
Sulfato de K e Mg K2O (200), 250-290 43 92 0
Mg (100) e S
(200)
Fertilizante Teor do Solubilidade IS1/ ISR2/ IA (+) ou
nutriente (g L-1) a IB (-)3/
(g kg-1) 20ºC
Cloreto de cálcio Ca (240) 980 0
Cloreto de Mg (100) 0
magnésio
Sulfato de Mg (90) e S 252-710 62 614 0
magnésio (11)
1/ IS (índice salino): valor que indica o aumento da pressão
osmótica produzido por um determinado fertilizante em comparação
com o NaNO3, considerado como 100.
2/ ISR (índice salino relativo): índice salino dividido pelo somatório
dos teores elementares dos macronutrientes (N, P, K, Ca, Mg e S),
em g kg-1, multiplicado por 1.000.
3/ IA (índice de acidez); indicado com sinal positivo (+): kg de CaCO3
necessário para neutralizar 100 kg de fertilizante. IB (índice de
basicidade ou alcalinidade); indicado com sinal negativo (-): kg de
CaCO3 que exerce a mesma ação neutralizadora de 100 kg do
fertilizante.
Fonte: O teor do nutriente refere-se à garantia mínima estabelecida
pela legislação brasileira (BRASIL, 2015), exceto para KCl branco;
solubilidade, IS, IA e IB adaptados de Coelho (1994), Frizzone e
Botrel (1994), Vitti, Boaretto e Penteado (1994), Alarcon (1997),
Papadopoulus (1999), Medeiros et al. (2011) e Trani, Tivelli e Carrijo
(2011).

Em fertirrigação, o mais comum é o emprego concomitante de


diferentes fontes, visando o fornecimento simultâneo de todos ou,
pelo menos, de vários dos nutrientes à cultura. Porém, para que isso
seja feito, deve-se observar a compatibilidade entre os mesmos, pois
fertilizantes incompatíveis não devem ser misturados, e algumas
misturas ocasionam redução de solubilidade (Tabela 2). As principais
fontes de N geralmente são compatíveis entre si e compatíveis com
a maioria das fontes de outros nutrientes utilizadas em fertirrigação
(Tabela 2). Entretanto, deve-se evitar a mistura de nitrato de cálcio
com sulfatos e/ou fosfatos, pois podem ocorrer a formação de
precipitados e ocasionar obstruções das tubulações e entupimentos
nos emissores.
Tabela 2 - Compatibilidade entre os fertilizantes empregados na
fertirrigação1/
Fertilizante NA SA NC NK CK SK FA MS MQ SM AF AS AN
Ureia (UR) C C C C C C C C C C C C C
Nitrato de amônio C C C C C C C C C C C C
(NA)
Sulfato de amônio I C C SR C C C C C C C
(SA)
Nitrato de cálcio C C I I I SR I I I C
(NC)
Nitrato de potássio C C C C C C C C C
(NK)
Cloreto de potássio SR C C C C C C C
(CK)
Sulfato de potássio C SR C SR C SR C
(SK)
Fosfatos de I SR I C C C
amônio: MAP e
DAP (FA)
Sulfato de Cu, Fe, C C I C C
Mn e Zn (MS)
Quelato de Cu, Fe, C SR C I
Mn e Zn (MQ)
Sulfato de C C C
magnésio (SM)
Ácido fosfórico (AF) C C
Ácido sulfúrico (AS) C
Ácido nítrico (AN)
1/ C = compatível; SR = solubilidade reduzida; I = incompatível.
Fonte: Villas Bôas, Bull e Fernandes (1999).
O nitrogênio (N) é um nutriente bastante dinâmico no sistema
solo−planta−atmosfera, estando envolvido em frequentes e intensas
reações de oxidação, redução, imobilização e mineralização, sendo
um elemento facilmente lixiviado e volatilizado. A lixiviação é muito
maior do ânion NO3-, principalmente em solo arenoso e em períodos
com elevada lâmina de água (chuva ou irrigação). Por sua vez, a
volatilização pode ocorrer por desnitrificação (transformação NO3-
em formas gasosas de N, como N2, reação que ocorre
principalmente em solo com baixa disponibilidade de aeração) e
volatilizado como gás NH3 (reação do NH4+ com OH-, a qual ocorre
principalmente em ambiente alcalino).
O N é o nutriente mais frequentemente aplicado via água de
irrigação (COELHO, 1994), porque é o nutriente mais demandado
pelas plantas e apresenta alto potencial de perdas, seja por lixiviação
de nitrato ou por volatilização. Com o uso da fertirrigação, pode-se
parcelar a aplicação dos fertilizantes nitrogenados de acordo com a
demanda da planta, reduzindo as perdas, sem onerar o custo de
produção (COELHO, 1994).
O N é certamente o nutriente que possui maior diversidade de
fertilizantes passíveis de serem utilizados em fertirrigação, ou seja,
que têm alta solubilidade, os quais diferem entre si pela
concentração de N, presença ou não de outros nutrientes, índice
salino, índice de acidez ou de basicidade (Tabela 1), além do preço e
da forma do N, a qual pode ser amoniacal (NH4+), nítrica (NO3-) e
amídica (R-NH2).
Segundo a forma química do N, os fertilizantes nitrogenados
solúveis podem ser classificados em: 1) nítricos: nitrato de cálcio
(Ca(NO3)2), nitrato de magnésio (Mg(NO3)2), nitrato de potássio
(KNO3), nitrato de sódio ou salitre sódico ou salitre do Chile (NaNO3)
e nitrato duplo de sódio e potássio ou salitre potássico (KNO3 +
NaNO3); 2) amoniacais: sulfato de amônio ((NH4)2SO4), fosfato
monoamônico (MAP – NH4H2PO4), fosfato diamônico (DAP –
(NH4)2HPO4) e cloreto de amônio ((NH4Cl); 3) nítrico-amoniacal:
nitrato de amônio (NO3NH4); e 4) amídico: ureia (CO(NH2)2).
Além dos fertilizantes simples listados no parágrafo anterior,
podem-se encontrar fertilizantes nitrogenados mistos e complexos,
oriundos de misturas ou de reações desses entre si ou desses com
outras fontes de outros nutrientes. Eles podem ser comercializados
em estado sólido ou em soluções como: Uran (CO(NH2)2 + NO3NH4);
Sulfuran (CO(NH2)2 + NO3NH4 + (NH4)2SO4); sulfonitrato de amônio
ou nitrosulfato de amônio (NO3NH4 + (NH4)2SO4); etc. De acordo
com a legislação brasileira (BRASIL, 2015), as soluções
nitrogenadas devem ter teor mínimo de N de 200 g L-1.
Os fertilizantes nitrogenados mais utilizados em fertirrigação são:
ureia, sulfato de amônio e nitratos de amônio, de potássio e de
cálcio, fontes que apresentam alta solubilidade e elevado índice
salino. As fontes amoniacais e a ureia são fertilizantes de reação
ácida, ou seja, apresentam elevado índice de acidez. Já os nitratos,
exceto o NO3NH4, têm reação alcalina e, consequentemente,
apresentam índice de basicidade (Tabela 1), além de geralmente
serem mais onerosos por unidade de N.
No Brasil, a ureia é a fonte mais empregada em razão do menor
preço por unidade de N. O sulfato de amônio apresenta enxofre (S) e
é muito utilizado como fonte deste macronutriente secundário, porém
tem índice de acidez muito alto (Tabela 1). Os fosfatos de amônio
(MAP e DAP) são fertilizantes com elevada concentração de P e,
quando usados em fertirrigação, devem ser purificados para facilitar
sua solubilização e reduzir os problemas de entupimentos no sistema
de irrigação.
O cacaueiro, pelo menos na fase juvenil, é indiferente à fonte de N,
seja ela nítrica, amoniacal ou combinações destas (SANTANA;
EZETA; MORAIS, 1980), e responde similarmente à aplicação de
ureia, quando comparada ao sulfato de amônio, desde que não haja
deficiência de enxofre (MIRANDA; MORAIS, 1971).
O potássio (K) é o nutriente que mais é exportado pelo fruto do
cacaueiro, sendo que mais de 77% deste se acumula na casca
(SILVA, 2009; PINTO, 2013) e que também é um elemento
facilmente lixiviável. Por isso, semelhante ao N, o K é um nutriente
frequentemente utilizado em fertirrigação, e seu maior parcelamento
propicia menores perdas. O maior parcelamento das adubações com
K também reduz o risco de problemas de salinização, visto que todos
os fertilizantes potássicos têm alto índice salino (Tabela 1). As fontes
potássicas sólidas mais usadas em fertirrigação são: cloreto de
potássio (KCl), nitrato de potássio (KNO3) e sulfato de potássio
(K2SO4).
O KCl é a fonte mais usada devido à alta solubilidade e ao menor
preço por unidade de nutrientes. Existe o KCl vermelho, mais barato,
e o KCl branco, mais puro, porém mais caro. O KCl vermelho, além
de fornecer ferro ao solo em teores que podem ser excessivos à
cultura, pode precipitar, formando crostas nas paredes internas da
tubulação de irrigação, e provocar obstruções nos gotejadores. Por
sua vez, o KCl branco contém alumínio (Al), que pode ser tóxico à
planta (BORGES; SILVA, 2011). Do ponto de vista técnico, o KCl
branco é preferível para uso em fertirrigação, principalmente em
sistemas de irrigação localizada. Porém, se houver eficiente sistema
de solubilização do fertilizante, de filtragem da calda e de lavagem da
tubulação, o KCl vermelho pode ser utilizado com eficiência de
aplicação semelhante ao KCl branco (RIBEIRO; COELHO;
TEIXEIRA, 2010; CAMARGO et al., 2012).
O KNO3 é outro fertilizante muito utilizado, tanto por ser fonte
simultânea de N e K, quanto por ser um fertilizante de alta
solubilidade e potencial salino menor que o KCl (Tabela 1). O K2SO4
é uma fonte simultânea de K e S e apresenta solubilidade e índice
salino menores que o KCl e o KNO3 (Tabela 1). Devido a sua menor
solubilidade, pode haver a necessidade de aquecimento da água
para aumentar a solubilização; além disso, o SO4-2 pode levar a
precipitação do Ca2+ na forma de sulfato de cálcio, resultando em
problemas de entupimentos.
Em razão da baixa mobilidade do fósforo (P) no solo e da quase
inexistente lixiviação pela água de percolação em solos minerais, a
aplicação de fertilizantes fosfatados via água de irrigação é pouco
utilizada. Além disso, a baixa solubilidade da maioria dos adubos
fosfatados e a facilidade de precipitação do nutriente, que causam
entupimento dos emissores, restringem o uso desses fertilizantes em
fertirrigação (BORGES; SILVA, 2011). Por isso, pode-se planejar que
a adubação com P seja feita de maneira convencional, ou seja, fora
do sistema de fertirrigação.
Quando usadas em fertirrigação, as principais fontes de P são:
fosfato monoamônico (MAP), fosfato diamônico (DAP), fosfato
monopotássico (MKP) e ácido fosfórico (H3PO4). MAP, DAP e MKP
só devem ser utilizados em suas formas purificadas e dissolvidos em
águas ácidas, ou com alcalinidade corrigida, e pobres em Ca e Fe. O
ácido fosfórico, apesar do risco de corrosão em condutos metálicos,
é empregado também para desentupir e desencrostar os emissores,
na dose de 50 mL em 50 L de água para 500 m de mangueira
(BORGES; SILVA, 2011).
Para o enxofre (S), os principais fertilizantes simples empregados
em fertirrigação são os sulfatos, principalmente o (NH4)2SO4 e o
K2SO4, mas também se empregam sulfatos como fonte dos
micronutrientes metálicos e, nestes casos, deve-se computar a
contribuição destes sulfatos na dose de S fornecida. Com relação a
fertilizante fluído, pode-se citar o Sulfuran, com 200 g kg-1 de N e 40
g kg-1 de S.
Mesmo em áreas fertirrigadas, a principal fonte de cálcio (Ca) e
magnésio (Mg) é o calcário, principal corretivo de acidez do solo, que
deve ser aplicado de forma semelhante à sua aplicação em áreas
não irrigadas, ou seja, sobre a superfície do solo e, quando possível,
incorporado ao mesmo. Contudo, em áreas com irrigação por
microaspersor, há a região do solo sobre influência da irrigação/
fertirrigação e outra região que não sofre ação direta da
irrigação/fertirrigação. Consequentemente, dever-se-ia ter amostras
de solos distintas destas duas regiões para o cálculo das
recomendações de calagem.
O gesso (CaSO4.2H2O) também pode ser uma fonte interessante
de Ca e S, além de ser um condicionador de solo para redução da
toxidez de alumínio em subsuperfície. Contudo, devido a sua baixa
solubilidade, o mesmo não deve ser aplicado via sistema de
irrigação. Sua aplicação deve ser feita sobre a superfície do solo,
podendo ou não ser incorporado ao mesmo.
A aplicação via sistema de irrigação — principalmente de Ca, mas
também de Mg — deve ser feita com muita prudência e cautela
devido ao alto risco de formar precipitados dentro do sistema. A fonte
de Ca mais solúvel é o nitrato de cálcio (Ca(NO3)2), mas também
pode ser utilizado o cloreto de cálcio (CaCl2) e suas formas
complexadas. Para o Mg, o raciocínio seria semelhante. Há o nitrato
(Mg(NO3)2) e o cloreto de cálcio (MgCl2), mas também, devido à boa
solubilidade, pode-se utilizar o sulfato de magnésio (MgSO4), o
sulfato de potássio e magnésio (K2SO4+MgSO4) e o fertilizante
líquido Magnitra-L (70 g kg-1 de N e 100 g kg-1 de MgO).
Os quelatos e os sulfatos são os compostos mais utilizados como
fonte de micronutrientes metálicos (Cu, Fe, Mn, Ni e Zn); para
molibdênio (Mo), as principais fontes são os molibdatos; e para o
boro (B), usam-se principalmente o ácido bórico e os boratos, como
Solubor e o Bórax. Porém, há muitos outros fertilizantes simples,
fontes de micronutrientes, com registro no MAPA (BRASIL, 2015),
que podem ser utilizados em fertirrigação, como: acetatos, cloretos,
formiatos, nitratos e fosfitos de micronutrientes metálicos (Tabela 3).
Micronutrientes metálicos, na forma de sais, podem reagir com
sais da água de irrigação, principalmente se ela for alcalina (com pH
alto e rica em carbonato e bicarbonado) e/ou rica em fosfato,
formando precipitados que podem causar entupimentos nas
tubulações e emissores. Nestes casos, seria recomendável o uso de
micronutrientes quelatados. Porém, mesmos estes últimos têm
problemas de compatibilidade com nitrato de cálcio e com fosfatos
(Tabela 2).
Tabela 3 - Fertilizantes simples, registrados no Brasil, fontes de
micronutrientes, que podem ser utilizados em fertirrigação
Fertilizante Fórmula química Teor do Solubilidade
nutriente (g L-1) a
(g kg-1) 20ºC
Ácido bórico H3BO3 B (170) 50
Borato de B (80) Líquido
monoetanolamina
Bórax Na2B4O7.10H2O B (100) 50
decahidratado
Bórax Na2B4O7.5H2O B (130) 50
pentahidratado
Octaborato de sódio Na2B8O13.4H2O B (200) 220
(Solubor)
Quelato de boro B quelatado B (80)
Acetato de cobre Cu(C2H3O2)2.2H2O Cu (230)
Cloreto cúprico CuCl2.6H2O Cu (200)
Formiato de cobre Cu(HCOO)2.4H2O Cu (350)
Nitrato de cobre Cu(NO3)2.3H2O Cu (220) e N
(90)
Quelatos de cobre Cu quelatado Cu (50)
Sulfato de cobre CuSO4.nH2O Cu (240) e S 220
(110)
Acetato de ferro FeOH(C2H3O2)2 Fe (230)
Cloreto ferroso FeCl2.4H2O Fe (230)
Formiato ferroso Fe(HCO2)2.2H2O Fe (180)
Nitrato férrico Fe(NO3)3.9H2O Fe (110) e N
(80)
Quelato de ferro Fe quelatado Fe (50)
Fertilizante Fórmula química Teor do Solubilidade
nutriente (g L-1) a
(g kg-1) 20ºC
Sulfato ferroso FeSO4.nH2O Fe (230) e S 240-260
(180)
Acetato de Mn(C2H3O2)2 Mn (250)
manganês
Cloreto de MnCl2.4H2O Mn (250)
manganês
Formiato de Mn(HCO2)2 Mn (220)
manganês
Fosfito de Mn (80) e Líquido
manganês P2O5 (280)
Nitrato de Mn(NO3)2.6H2O Mn (160) e N
manganês (80)
Quelatos de Mn quelatado Mn (50)
manganês
Sulfato de MnSO4.H2O Mn (260) e S 500-1050
manganês (160)
Molibdato de (NH4)6Mo7O24.2H2O Mo (520) e N 400-480
amônio (50)
Molibdato de Mo (100) Líquido
monoetanolamina
Molibdato de K2MoO4.5H2O Mo (280) e
potássio K2O (270)
Molibdato de sódio Na2MoO4.2H2O Mo (390) 560
Quelato de Mo quelatado Mo (30)
molibdênio
Quelato de níquel Ni quelatado Ni (20)
Sulfato de níquel NiSO4.6H2O Ni (190) e S
(100)
Fertilizante Fórmula química Teor do Solubilidade
nutriente (g L-1) a
(g kg-1) 20ºC
Acetato de zinco Zn(C2H3O2)2 Zn (280)
Cloreto de zinco ZnCl2 Zn (240)
Formiato de zinco Zn(HCO2)2 Zn (250)
Fosfito de zinco Zn (80) e Líquido
P2O5 (380)
Nitrato de zinco Zn(NO3)2.6H2O Zn (180) e N
(80)
Quelato de zinco Zn quelatado Zn (70)
Sulfato de zinco ZnSO4.nH2O Zn (200) e S 750
(90)
Fonte: O teor do nutriente refere-se à garantia mínima
estabelecida pela legislação brasileira (BRASIL, 2015); solubilidade
(COELHO, 1994; FRIZZONE; BOTREL, 1994; VITTI; BOARETTO;
PENTEADO, 1994).
4 Programa de fertilização
Para a eficiência de um programa de fertirrigação, é necessário: 1)
controlar adequadamente a irrigação para manter as condições
hídricas ideais para a cultura ao longo do tempo; 2) conhecer a
fertilidade atual do solo, sua capacidade de adsorver e de
disponibilizar nutrientes, catiônicos e aniônicos, para as plantas; 3)
considerar o aporte de nutrientes presentes na água de irrigação e
outros aportes naturais; 4) conhecer as necessidades nutricionais da
cultura, em especial a extração de nutrientes (marcha de absorção)
nos diferentes estádios fenológicos e a exportação de nutrientes em
função da produtividade da cultura; 5) estimar, ou pelo menos ter
uma referência, das taxas de perdas dos nutrientes e das eficiências
dos fertilizantes; 6) propiciar distribuição espacial apropriada dos
nutrientes no volume do solo, o que depende da morfologia do
sistema radicular, do sistema de irrigação e do tipo de solo; e 7)
definir a distribuição temporal adequada dos nutrientes (frequência
da fertirrigação), que depende, entre outros fatores, da fenologia da
planta.
Em relação à água de irrigação, é necessário conhecer suas
propriedades físicas (partículas em suspensão), biológicas
(microrganismos que podem ocasionar entupimento dos emissores
ou serem patógenos às plantas ou ao homem) e químicas para um
correto preparo da solução. Dentre as propriedades químicas,
destacam-se: concentração dos íons sulfato, nitrato, bicarbonato,
carbonato, cloreto, cálcio, magnésio, potássio e sódio; toxicidade
específica para algum íon; salinidade ou concentração total de sais,
que pode ser avaliada indiretamente pela condutividade elétrica
(CE); sodicidade, avaliada pela relação de adsorção de sódio (RAS)
e acidez (MEDEIROS et al., 2011).
De acordo com Sousa et al. (2011), a necessidade de nutrientes

pode ser determinada pela equação: , em que Dn é a


dose de nutriente (kg); Qnex, a quantidade do nutriente exportada
pela planta (kg); Qnfs, a quantidade do nutriente a ser fornecida pelo
solo; e Eff, a eficiência da fertirrigação.
A definição da dose de cada nutriente também pode ser efetuada
por meio da utilização das recomendações de adubação —
específicas para cada cultura e região — provenientes da pesquisa.
Nesses casos, essas recomendações são feitas com base na
produtividade esperada e nas quantidades de nutrientes que o solo
pode fornecer à cultura. As doses sugeridas para a cultura do
cacaueiro encontram-se no capítulo 11 deste livro relacionada à
recomendação de calagem e adubação.

4.1 Preparo da solução fertilizante

Na fertirrigação, podem ser utilizadas soluções simples, contendo


apenas um fertilizante, ou soluções compostas, contendo vários
fertilizantes, sendo, nas do último caso, necessário verificar a
compatibilidade entre os fertilizantes (Tabela 2). Independentemente
do tipo de solução, o pH da mesma deve ser mantido entre 5,5 e 6,5,
pois, para valores acima de 7,5, podem ocorrer formação de
precipitados de Ca, Mg e micronutrientes metálicos (OLIVEIRA;
COELHO; BORGES, 2000).
Ainda segundo Oliveira, Coelho e Borges (2000), a condutividade
elétrica (CE) da solução deve ser mantida entre 1,44 e 2,88 dS m-1,
para evitar riscos de salinização. Já para Medeiros et al. (2011), esse
valor não deve ultrapassar 2,0 dS m-1, e a sua pressão osmótica
deve ficar entre 70 a 100 kPa. Se a CE da água for superior a 1,0 dS
m-1 e considerando os índices salinos dos fertilizantes (Tabela 1),
como fonte de K, deve-se substituir o cloreto de potássio pelo nitrato
de potássio e, como fonte de N, deve-se dar prioridade ao uso da
ureia, em relação ao nitrato e ao sulfato de amônio. Por unidade de
N, a ureia, o nitrato e o sulfato de amônio têm um índice salino de
167, 328 e 345.
Não existe uma recomendação padrão para a concentração de
nutrientes na solução fertilizante (tanque de dissolução), nem na
água de irrigação (após a injeção da solução fertilizante na tubulação
de irrigação). Porém, segundo Oliveira, Coelho e Borges (2000), a
concentração de fertilizantes na água de irrigação não deve ser
superior a 700 mg L-1, devendo ficar entre 200 a 400 mg L-1,
principalmente para os sistemas de gotejamento, que são os mais
sensíveis ao entupimento.
As soluções fertilizantes podem ser preparadas em tanque ou
reservatórios, preferencialmente de PVC ou revestidos de plástico ou
de cerâmica, sendo que sua injeção deve ser feita no cabeçal de
controle, antes do filtro de tela ou de disco para evitar que algumas
partículas possam causar entupimentos e obstruções nos emissores.
Estes podem ocorrer devido a alguns fatores, tais como: baixa
solubilidade e/ou impureza das fontes utilizadas; solubilização
incompleta devido à elevada concentração de sais; pouca agitação
e/ou baixa temperatura da água; e presença de sólidos suspensos
na água de irrigação.
Para boa solubilização dos fertilizantes, recomendam-se: atentar
para as questões de solubilidade e de incompatibilidade entre os
fertilizantes (Tabelas 1, 2 e 3) e do tamanho do tanque para
dissolução dos mesmos; que o tanque de dissolução esteja com 50 a
75% de sua capacidade com água; adicionar primeiro os fertilizantes
líquidos e depois os sólidos; adicionar os fertilizantes lentamente e
com agitação, para prevenir a formação de partículas de
solubilização mais lenta (MEDEIROS et al., 2011).

4.2 Frequência de aplicação

Uma das vantagens da fertirrigação é a possibilidade de aplicação


dos fertilizantes de forma parcelada, podendo resultar em alta
frequência de fertirrigação, com a aplicação de nutrientes em cada
irrigação, caso necessário. O número de aplicações pode variar de
acordo com a marcha de absorção de nutrientes pela cultura, nos
seus diferentes estádios de desenvolvimento (SOUSA; SOUSA,
1998). Maiores frequências e menores quantidades de fertilizantes
aplicados tendem a reduzir as perdas de nutrientes, por outro lado,
maiores intervalos entre as aplicações, com maiores quantidades
aplicadas podem resultar em aumento da condutividade elétrica do
solo, portanto, deve-se estar mais atendo à salinização do solo.
De modo geral, a definição da frequência de fertirrigação depende
principalmente: do clima, do solo, do tipo de fertilizante, da cultura,
da salinidade e do sistema de irrigação (SOUSA et al, 2011).
Fertilizantes com maior potencial de lixiviação, como os
nitrogenados, deveriam ser aplicados com maior frequência. Culturas
com ciclo mais curto, com maior taxa de crescimento e com sistema
radicular mais superficial requerem maior frequência de fertirrigação.
Solos que tendem a acumular sais (com drenagem dificultada) ou
facilmente lixiviáveis (mais arenosos e/ou com menor CTC) precisam
receber menores doses de fertilizantes, consequentemente, devem
ser fertirrigados mais frequentemente. Em relação ao sistema de
irrigação, quanto mais localizada for a área de aplicação de
água/nutrientes — por exemplo, em sistemas por gotejamento —,
maior deve ser a frequência de adubação visando diminuir o risco de
salinização e também de lixiviação de nutrientes na região adubada.
Sousa et al. (2011) sugerem, para frutíferas e hortaliças, que a
fertirrigação seja feita entre um e dois dias para sistemas por
gotejamento implantados em solos de textura arenosa, e de dois a
sete dias para solos de textura média e fina.
As condições climáticas afetam a frequência de irrigação e,
consequentemente, a frequência de fertirrigação. No Sul da Bahia,
principal região produtora de cacau do Brasil — por isso mesmo
chamada de região cacaueira ou região tradicional de cacau —, a
cultura está implantada em duas sub-regiões climáticas, de acordo
com classificação de Thornthwaite, uma úmida e outra úmida a
subúmida (SEI, 2010). Porém, num outro extremo climático, é
crescente o plantio de cacaueiros em regiões não tradicionais, com
clima subúmido a seco e até semiárido.
Quanto maior a restrição hídrica, como no semiárido, maior a
necessidade de frequência de irrigação. E, consequentemente, a
fertirrigação também pode/ deve ser maior, com intervalos de até três
dias, como sugerido para outras culturas perenes. Porém, num outro
extremo, há também projetos de irrigação de cacaueiros implantados
na região úmida, região que inclusive tem excedente hídrico, sendo
que estes projetos só são acionados para fornecimento de irrigação
complementar em períodos pontuais de menor precipitação, visando
que a planta não passe por stress hídrico. Nesta região úmida e para
projetos implantados em solos com maior capacidade de
armazenamento de nutrientes e de água disponível, poder-se-ia
sugerir que a frequência de fertirrigação fosse planejada para ocorrer
em intervalos de até 15 dias, como adotado no trabalho de Silva
(2015); lembrando que, nestas condições de região úmida, o sistema
de irrigação funciona na maior parte do ano como sistema para
aplicação de adubação e não de água. Mas, mesmo assim,
eventuais sistemas de irrigação, nesta região, teriam que ser
dimensionados para operar em turno de rega de, no máximo, sete
dias.
Na Índia, em região com precipitação média de 844 mm ano-1,
Krishnamoorthy e Rajamani (2013) e Krishnamoorthy et al. (2015)
obtiveram bons resultados com relação a características de floração
e de crescimento do cacaueiro, com frequência de fertirrigação
semanal, tanto para o sistema de microaspersão quanto para o de
gotejamento.
Se o solo tiver menor capacidade de retenção de água disponível,
como, por exemplo, solos mais arenosos e/ou rasos, a frequência de
irrigação/fertirrigação terá que ser menor, principalmente para a
chamada região de transição (região úmida a subúmida), visto que,
nestas condições, há frequentes períodos com restrição hídrica. Por
isso, sugere-se, para a região de transição, que o sistema de
irrigação/fertirrigação deva ser planejado para operar com turno de
rega de dois a sete dias, a depender do solo e do sistema de
irrigação.
Com relação ao tipo de solo, o cacaueiro é cultivado nas mais
diferentes classes de solos, segundo o Sistema Brasileiro de
Classificação de Solos (EMBRAPA, 2013), desde Latossolos muito
argilosos a Latossolos de textura média, passando por Argissolos,
Nitossolos, Luvissolos, Cambissolos, Vertissolos, Chernossolos,
Gleissolos e Neossolos (SILVA; CARVALHO FILHO, 1971; SILVA;
LEÃO, 1982; SANTANA et al., 2001; SANTANA et al., 2002). Solos
que, na sequência apresentada, tendem a ter redução gradual da
capacidade de retenção de água disponível e, consequentemente,
demandariam maior frequência de irrigação.
5 Métodos e equipamentos utilizados na
fertirrigação
Entre os equipamentos utilizados na fertirrigação há o(s) tanque(s)
de preparo da(s) solução(ões), o sistema ou métodos de injeção da
solução na tubulação, registros, manômetro e, eventualmente,
hidrômetro.
O tanque de preparo da solução a ser injetada no sistema de
irrigação (Figura 1) deve ser de material resistente à corrosão, ter
capacidade compatível para a dissolução dos fertilizantes a serem
aplicados em uma unidade de rega, ser instalado ao lado do sistema
injetor de fertilizantes e possuir um ponto de esgotamento com
registro, para possibilitar a sua limpeza após o término de cada
operação. Apesar de os fertilizantes empregados na fertirrigação
possuírem alta solubilidade, alguns produtores utilizam, no tanque,
um dispositivo de agitação ou misturador da solução. A depender
dos nutrientes e das fontes utilizadas, faz-se necessário o uso de até
três tanques: um para os fertilizantes de cálcio, outro para os
micronutrientes, e o terceiro para os demais fertilizantes. Quando
não se aplica Ca e P via fertirrigação, pode-se utilizar apenas um
tanque de dissolução, porém, visando otimizar a operação, alguns
produtores utilizam dois tanques: um para dissolução dos fertilizantes
e outro para injeção da solução no sistema de irrigação, sendo o
primeiro situado em uma cota mais elevada, de onde a solução é
descarregada por gravidade no segundo tanque, para posteriormente
ser injetada na tubulação.
Figura 1 - Tanques para preparo da solução

Fonte: Imagem produzida pelos autores.

Os métodos de injeção de fertilizantes na água de irrigação podem


ser agrupados em quatro categorias: diferencial de pressão, pressão
negativa, transformação de energia (Venturi) e pressão positiva
(bombas volumétricas ou de deslocamento positivo).
No sistema de diferencial de pressão, faz-se necessário o uso de
um tanque pressurizado de derivação de fluxo, que é um recipiente
metálico ou de plástico com tampa hermética, geralmente de forma
cilíndrica e de volume variado, que é conectado em dois pontos da
tubulação principal do sistema de irrigação (Figura 2), onde se coloca
a solução de fertilizantes. Para haver a injeção da solução
fertilizante, que está dentro do tanque, é necessário que haja um
diferencial de pressão entre o ponto de entrada da água do sistema
no tanque e o de saída da solução. Essa diferença de pressão entre
a entrada e a saída do tanque fertilizante é conseguida com o
fechamento parcial de um registro localizado na tubulação principal
do sistema, entre os pontos de entrada e de saída para o tanque
(Figura 2), forçando assim a entrada da água no recipiente
(VERMEIREN et al., 1997; BERNARDO; SOARES; MANTOVANI,
2009; PINTO; BRITO, 2010; BISCARO; OLIVEIRA, 2014). Esse
sistema é prático e simples, mas não proporciona uniformidade na
aplicação do produto, pois, à medida que a água entra no recipiente,
sua concentração vai sendo reduzida; além disso, não se pode
determinar ao certo o tempo gasto para que toda a solução
preparada seja injetada (BISCARO; OLIVEIRA, 2014).

Figura 2 - Sistema diferencial de pressão no tanque de fertilizante

Fonte: Pinto e Brito (2010).

O sistema de injeção por pressão negativa é geralmente utilizado


na fertirrigação de grandes áreas, sendo instalado próximo à
tubulação de sucção do sistema. Funciona da seguinte maneira: o
tanque de preparo — que, nesse caso, pode ser de alvenaria ou lona
de PVC — é conectado por meio de uma tubulação auxiliar à
tubulação de sucção. Ao acionar a motobomba responsável pela
irrigação da área, inicia-se a sucção da água, podendo ser
simultaneamente aspirada a solução fertilizante do tanque de
preparo (BISCARO; OLIVEIRA, 2014). A calibração e o controle da
entrada da solução fertilizante são efetuados mediante registro(s),
que permite(m) a entrada de maior ou menor quantidade de solução
contida no reservatório de dissolução, cujo volume introduzido é
controlado por um hidrômetro (ALMEIDA et al., 2011). Este sistema
apresenta como inconvenientes o risco de contaminação da fonte de
água pela solução fertilizante, devido ao refluxo ocasionado por uma
eventual parada do sistema de bombeamento e também pelo
desgaste que as substâncias corrosivas podem provocar nas partes
internas da bomba.
Os injetores Venturi são peças plásticas ocas em forma de “T” com
uma grande constrição interna no diâmetro da parte horizontal, na
derivação do “T”, geralmente instalados em bypass com a linha de
água. Seu funcionamento baseia-se na mudança brusca da
velocidade do fluxo ao atravessar tal constrição, causando grande
perda de carga neste ponto e criando uma pressão negativa após a
constrição, que acarretará na sucção da solução fertilizante através
da parte vertical do “T”. Os Venturis são peças baratas e com grande
capacidade de injeção, porém ocasionam grande perda de pressão
no sistema. Por isso mesmo seu uso deve ser previsto no
dimensionamento do sistema de irrigação (SILVA; FEITOSA FILHO,
2003; BISCARO; OLIVEIRA, 2014). Para seu perfeito funcionamento,
é importante que haja cálculo preciso do diferencial de pressão entre
a entrada e a saída do Venturi. Nos casos onde há pressão
excedente, esse diferencial de pressão pode ser criado com o uso de
um registro na linha de água entre a entrada e a saída de injeção,
diminuindo a pressão de saída. Já nos casos em que a pressão da
rede é limitada, pode-se usar uma bomba “booster” na entrada da
injeção (Figura 3) (SILVA; FEITOSA FILHO, 2003).
Figura 3 - Detalhe do Injetor Venturi

Fonte: Imagem produzida pelos autores.

As bombas injetoras são equipamentos que trabalham com


pressão efetiva positiva e superior àquela do sistema de irrigação.
São confeccionadas com material resistente à corrosão e podem ser
dos tipos centrífuga, diafragma e pistão, podendo ser acionadas por
sistema elétrico, hidráulico ou por motor a combustão; apresentam
como vantagem injetar a solução na água de irrigação em taxa
constante, o que nem sempre acontece com outros sistemas
(PINTO; BRITO, 2010; ALMEIDA et al., 2011). Como desvantagem,
há os custos extras referentes à aquisição, à manutenção e ao
consumo de energia de um segundo sistema de motobomba.
Para a escolha do equipamento injetor mais adequado, deve-se
levar em consideração a fonte de energia disponível, o volume de
solução a ser aplicado, a eficiência (controle de injeção da solução) e
o custo de instalação e de operação do sistema.
6 Monitoramento da fertirrigação
O monitoramento da fertirrigação permite avaliar a distribuição dos
nutrientes no perfil do solo, auxiliando no ajuste da dosagem
aplicada, bem como na prevenção do risco de salinização do solo.
Existem algumas formas de monitoramento, como extratores de
solução do solo e sensores de pH e de condutividade elétrica.
Os extratores de solução são constituídos por tubos de PVC rígido
que possuem uma cápsula porosa de cerâmica em uma
extremidade; e na outra, um tubo de plástico transparente fechado
por uma borracha de vedação (Figura 4) e uma bomba de vácuo. A
instalação dos extratores deve ser realizada de maneira semelhante
ao tensiômetro, com a extração do ar do interior do tubo para que
seja possível a entrada da solução pela cápsula porosa. A retirada
da solução deve ser feita com o auxílio de uma seringa descartável
ou com a utilização de uma bomba de vácuo. Inicialmente, cria-se
um vácuo de 70 kPa e, após 24 horas aproximadamente, retira-se a
solução com a seringa acoplada à uma mangueira flexível. A solução
é, então, encaminhada a um laboratório para análise. É possível
também analisar a solução diretamente no local, com a utilização de
kits para análise de pH, CE, cloretos, nitratos, etc.
Figura 4 - Conjunto constituído por tubo tensiométrico e bomba de
vácuo para extração de solução

Fonte: Imagem produzida pelos autores.

De acordo com Sousa et al. (2011), recomenda-se a utilização de


pelo menos uma bateria de extratores de solução instalados em duas
profundidades, sendo uma até a profundidade de maior
concentração de raízes, região de maior absorção de nutrientes, e
outra abaixo desta, visando, neste último caso, detectar lixiviação de
nutrientes. O sistema radicular de cacaueiro adulto, quando de
origem seminal, concentra-se até a profundidade de 40 cm do solo
(GAMA-RODRIGUES; CADIMA Z., 1991; MOSER et al., 2010), por
isso, sugere-se que os extratores sejam instalados às profundidades
de 40 cm e 60 cm. No caso do gotejamento próximo à fileira de
plantas, os extratores devem ser instalados entre a planta e o
gotejador, a uma distância de 10 cm deste. No caso de
microaspersão, se o emissor for localizado próximo à planta, os
extratores devem ser instalados a 50 cm da planta e se o emissor for
localizado entre quatro plantas, deve-se manter a distância de 50 cm
entre o extrator e o microaspersor (SOUSA et al., 2011).
Sensores de pH e de CE também podem ser utilizados para
monitoramento da variação da acidez e da distribuição de nutrientes
no perfil do solo, respectivamente. Estes sensores são instalados no
solo, na profundidade desejada, e, por meio de visor de leituras,
pode-se acompanhar frequentemente as variações do pH e da CE da
solução do solo; eles também podem ser conectados ao sistema de
injeção de fertilizantes para torná-lo automático (SOUSA et al.,
2011).
7 Considerações finais
O cacaueiro é uma planta sensível à deficiência hídrica; por isso,
seu cultivo em regiões com menor precipitação requer o uso da
irrigação. Em regiões tradicionais de cultivo do cacaueiro, com clima
mais úmido, o uso da irrigação também tem crescido, principalmente
devido ao aumento da frequência de irregularidades na distribuição
das chuvas. Para áreas irrigadas, são inúmeras as vantagens da
implantação da fertirrigação, por isso, espera-se que todo sistema de
irrigação seja acoplado a um sistema de injeção de fertilizantes.
Preferencialmente, a nutrição de cálcio e magnésio deve ser feita
via calcário, aplicado de maneira convencional, que também é
corretivo de acidez em camadas mais superficiais do solo. A escolha
do tipo de calcário (calcítico, magnesiano e dolomítico) é importante
para manter uma relação Ca:Mg mais apropriada para a cultura. O
uso do gesso, também de maneira tradicional, pode ser uma
alternativa para a nutrição de cálcio e enxofre, além disso, este
produto também é usado para reduzir a toxidez de alumínio em
camadas mais profundas do solo.
Devido à baixa mobilidade no solo e a problemas de
compatibilidade com outros nutrientes, os fertilizantes fosfatados
podem ser aplicados de maneira tradicional, parcelados em duas
vezes ao ano. Porém, os fertilizantes fosfatados também podem ser
aplicados via sistema de irrigação, mas, neste caso, deve-se atentar
para a solubilidade e pureza das fontes de P e sua compatibilidade
com outros fertilizantes, além da qualidade da água de irrigação,
para evitar problemas de precipitação e consequente entupimento
das tubulações e dos emissores.
A pesquisa com fertirrigação para o cacaueiro é incipiente e ainda
precisa avançar muito, visando elucidar muitas dúvidas e aumentar a
eficiência da fertirrigação, gerando maior rentabilidade para o
produtor e menor risco de contaminação do ambiente.
Para a definição das doses dos nutrientes, sugere-se que sejam
considerados os seguintes aspectos: disponibilidade de nutrientes no
solo; diagnose do status nutricional da planta, com base na análise
foliar; extração de nutrientes pelas partes da planta (folhas, galhos,
tronco e raízes) para a formação da árvore de cacau; exportação de
nutrientes pelas colheitas e estimativa das taxas de eficiência dos
fertilizantes.
A frequência da fertirrigação a ser adotada dependerá do clima, do
solo, do sistema de irrigação, do tipo de fertilizante e do risco de
salinização do solo.
A definição das fontes a serem usadas dependerá da
disponibilidade no mercado, do custo por unidade de nutrientes, da
eficiência (reação e pureza do fertilizante e forma e taxa de
recuperação do nutriente), da facilidade operacional de preparo da
calda fertilizante e da compatibilidade com outros fertilizantes.
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Capítulo 16 — Mecanização do cultivo do
cacaueiro no Brasil: “Estado da arte”
José Basílio Vieira Leite1 , George Andrade Sodré2
1 Introdução
Noventa e cinco por cento da cacauicultura brasileira está
distribuída em quatro estados da federação (Bahia, Pará, Rondônia e
Espírito Santo) e ocupa, aproximadamente, 700.000 ha de área total
cultivada. Mesmo com dificuldades para manter o cultivo após crises
sucessivas, o estado da Bahia ainda é o principal produtor do país,
com aproximadamente 60% da produção brasileira.
A produtividade média do cacaueiro no Brasil é de 348 kg de
amêndoas secas/ha/ano e varia de 647 kg, na região Norte, a 278
kg, no Sul da Bahia (IBGE, 2015). Considerando-se a produtividade
potencial de 6.000 kg de amêndoas secas/ha/ano, esse baixo valor é
reflexo, entre outros fatores, da dificuldade de manejo da doença
vassoura de bruxa (Moniliophthora perniciosa) na Bahia, local onde a
doença encontra condições climáticas para seu desenvolvimento
superiores àquelas encontradas na região Norte.
Outros problemas encontrados nas regiões produtoras de cacau
no Brasil são: legislação ambiental restritiva nas áreas de cultivo
tradicional (mata raleada); dificuldades técnicas e operacionais para
corrigir o excesso de sombreamento; relevo acidentado; variabilidade
espacial dos solos; escassez e custo elevado da mão de obra; e falta
de crédito para custeio. Esses problemas dificultam o uso de
tecnologias para elevar a produtividade e o rendimento do cultivo.
A baixa produtividade da cacauicultura Sul-baiana é, em parte,
também explicada pela baixa densidade, em torno de 600 cacaueiros
por hectare. Mesmo após a substituição de aproximadamente 150
mil hectares com clones tolerantes à vassoura de bruxa, esse quadro
de baixa produtividade ainda não foi revertido em muitas áreas e
continua reduzindo a sustentabilidade das lavouras, resultando num
modelo no qual não se aplica a tecnologia disponível porque o
retorno econômico é baixo. Isto agrava a situação nutricional e
sanitária das plantas, deixando-as mais exposta às doenças e
podendo comprometer o futuro da cacauicultura nessa região. Esses
fatores são intensificados pela alta dependência dessa cultura de
mão de obra para a realização dos tratos culturais e pela valorização
e escassez de mão de obra no país.
Dessa forma, houve a necessidade de procurar alternativas de
modelos de produção que assegurassem elevadas produtividades
com qualidade do produto final e com maior eficiência dos recursos e
insumos aplicados, com custos compatíveis, viabilidade econômica e
renda atrativa.
Na década de 1970, na Malásia, foram propostos modelos mais
tecnificados, que não foram expandidos comercialmente, devido a
mudanças das prioridades agrícolas e econômicas do país (HUI,
2012). No Equador, na década de 1990, foi implantado um modelo
monoclonal a pleno sol como alternativa aos danos causados pela
doença monilíase nos modelos tradicionais de cultivo.
Recentemente, ajustes tecnológicos desses modelos foram
introduzidos, validados e aperfeiçoados no Brasil como alternativa à
baixa produtividade associada aos modelos tradicionais (Figuras 1 e
2), às doenças e ao elevado custo de mão de obra.

Figura 1 - Cacaueiro sob sombreamento de espécies nativas da


mata raleada – cabruca

Fonte: Imagem produzida pelos autores.


Figura 2 - Cacaueiro sob sombreamento de espécies exóticas
cultivadas – Erytrina sp

Fonte: Imagem produzida pelos autores.

Resultados de pesquisas com novos modelos de produção de


cacaueiros no Brasil, Equador, Malásia e Austrália (DICSBALIS et al.,
2010; LEITE; SODRÉ, 2012) mostraram que existem tecnologias
disponíveis para produção superior a três toneladas de amêndoas
por hectare em escala comercial. Nesse contexto, a Comissão
Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (CEPLAC) vem
conduzindo ensaios de pesquisa na região dos tabuleiros costeiros
baianos, em outras regiões não tradicionais de cultivo na Bahia e em
outros estados com o objetivo de validar o Modelo de Produção
Mecanizada do Cacaueiro (MPMC) (Figuras 3 e 4).
Figura 3 - Cacaueiro em consórcio com espécies exóticas
produtivas – Sistema Agroflorestal (SAF)

Fonte: Imagem produzida pelos autores.

Figura 4 - Cacaueiro cultivado a pleno sol, com irrigação

Fonte: Imagem produzida pelos autores.

O MPMC consiste basicamente no uso planificado de cultivo a


pleno sol ou consorciado com clones autocompatíveis com boa
arquitetura em blocos monoclonais, espaçamentos ajustados ao
clone, uso de sistema eficiente de poda e quebra-ventos, manejo de
água e fertilizantes, controle sistemático de pragas e doenças e,
principalmente, na mecanização das operações relacionadas ao
plantio, manejo e beneficiamento do cacau.
Deve-se destacar que, em todas as situações em que se verifica
aumento de produtividade, ocorre o uso de mecanização em níveis
variados.
2 Mecanização da cacauicultura
Experiências diversas sobre mecanização da cacauicultura
brasileira ocorrem desde a década de 1970; entretanto, tornaram-se
mais intensivas na região dos tabuleiros costeiros do estado da
Bahia em meados da década de 1990, quando produtores que,
costumeiramente, faziam rotação de áreas com cultivo de mamoeiro
com café conilon decidiram experimentar a cacauicultura.
Inicialmente, as lavouras eram conduzidas com clones
autoincompatíveis e híbridos que embora apresentassem boas
produtividades (1.200 a 1.500 kg/ha/ano), comparadas com o
sistema tradicional de cultivo, ainda não eram muito atrativas para os
empresários da região. Após duas décadas e com o avanço das
pesquisas da CEPLAC, foram selecionados clones autocompatíveis,
precoces, com alta produtividade e tolerância às doenças e também
desenvolvidas práticas de manejo que permitiram intensificar o
cultivo mecanizado. Hoje, a realidade é bastante diferente, observa-
se produtividade elevada, viabilidade econômica e interesse dos
empresários (Figura 5). Os bons resultados da região dos tabuleiros
foram determinantes para a expansão para outras regiões do país,
principalmente para os tabuleiros costeiros do Espírito Santo, Sul e
Norte da Bahia e o semiárido, onde a soma de novas áreas de
cultivo do cacaueiro já se aproxima de 500 ha. Projetos novos nos
estados da Bahia, Pernambuco e Ceará já somam mais de 1.000 ha
(Figura 6).
Figura 5 - Cultivo intensivo em tabuleiro costeiro, Itabela, Bahia

Fonte: Imagem produzida pelos autores.

Figura 6 - Cultivo intensivo no semiárido, Nova Redenção, Bahia

Fonte: Imagem produzida pelos autores.

Em geral, a mecanização dos cultivos tem como objetivo


uniformizar e aumentar a qualidade das operações agrícolas;
aumentar a produtividade do sistema agrícola; tornar o trabalho
menos árduo e reduzir o custo com mão de obra dos plantios
(YAMASHITA, 2010). No entanto, é necessário realizar um
planejamento da área para a mecanização, em qualquer situação,
para permitir as operações mecanizadas, tais como o layout do
plantio, espaçamento do cacaueiro e das árvores usadas como
quebra-vento, estradas e carreadores (Figura 7). Isto permite melhor
aplicação de tecnologias como: 1) preparo e manejo de solo; 2)
mudas de qualidade; 3) irrigação; 4) fertirrigação; 5) podas; 6)
clones; 7) controle de pragas e doenças; e 8) colheita e
beneficiamento.

Figura 7 - Desenho esquemático do planejamento do layout para o


plantio mecanizado do cacaueiro

Fonte: Imagem produzida pelos autores.

Para o cacaueiro, a mecanização pode ser aplicada para os


modelos de cultivos a pleno sol em plantio homogêneo ou em
consorciação permanente ou provisória com outros cultivos. Também
poderá ser aplicada em áreas com relevo plano, suave ondulado e
até ondulados. Em cada situação, é possível estabelecer um nível de
mecanização, que pode ser total ou parcial, de acordo com a
operação agrícola do sistema de produção. Evidentemente, as
condições mais favoráveis de relevo e de plantio permitem um maior
nível de mecanização, o que é desejado.
3 Onde e como mecanizar a cacauicultura
O modelo de mecanização da cacauicultura pode ser ajustado
para uso em Sistemas Agroflorestais (SAFs) do cacaueiro com
seringueira, coco, açaí, mamão, banana e outros cultivos. Contudo,
destaca-se que as áreas sempre deverão ser adaptadas para a
mecanização, preferencialmente com uso de irrigação e fertirrigação.
A fertirrigação em cacaueiro tem possibilitado incrementos entre 40 a
100% em relação à produtividade em sequeiro. No Espírito Santo,
ocorreu um aumento de produção de 54%; e no recôncavo baiano de
100% (SIQUEIRA et al., 1999).
Os tabuleiros costeiros da faixa litorânea, que compreende o Norte
do Espírito Santo e o Sul e o Extremo-Sul da Bahia, possuem áreas
planas a suave ondulada, fertilidade média e boa disponibilidade de
água e de mão de obra. Nessas regiões, há vários projetos
implantados com cacaueiro a pleno sol e fertirrigado com idade
variando de 1 a 6 anos e que apresentam as características descritas
a seguir:

1. Totalmente a pleno sol – são áreas feitas por empresas que,


tradicionalmente, cultivam mamoeiro, bananeira, eucalipto e
cacaueiro. Possuem administração profissional de modo
empresarial, e o sistema de cultivo é fertirrigado, sem
sombreamento definitivo, mas com sombreamento inicial de
mamoeiro e/ou bananeira e sistema de quebra-vento. As áreas
são implantadas com clones de alta produtividade e mudas
produzidas por enraizamento de estacas e enxertia. A
produtividade em áreas com seis anos chega a 3.540 kg de
amêndoas seca/ha/ano (Figuras 8 e 9).
2. Consorciado com coco e outras espécies – são empresas
que aproveitam plantios já estabelecidos, principalmente do
coqueiro, e introduzem o cacaueiro com sistema de irrigação ou
implantam novas áreas com bananeira ou mamoeiro. A
produtividade, em geral, situa-se acima de 2.000 kg de
amêndoas secas/ha/ano (Figuras 10 e 11).
Figura 8 - Cacaueiro em cultivo intensivo em tabuleiro costeiro,
Bahia

Fonte: Imagem produzida pelos autores.

Figura 9 - Cacaueiro cultivado a pleno sol no semiárido, Bahia

Fonte: Imagem produzida pelos autores.


Figura 10 - Cultivo intensivo consorciado com mamoeiro, Espírito
Santo

Fonte: Imagem produzida pelos autores.

Figura 11 - Cultivo intensivo consorciado com coqueiro, Bahia

Fonte: Imagem produzida pelos autores.


4 Clones, espaçamentos e disposição espacial
para o plantio mecanizado do cacaueiro
4.1 Clones

Considerando que a relação custo/beneficio é a base para a


revitalização da cacauicultura, o contínuo desenvolvimento e uso de
variedades melhoradas com adequada qualidade de produto, boas
características gerais e maior durabilidade de resistência são
condições fundamentais para o sucesso de novos plantios
mecanizados.
A recomendação da CEPLAC tem evoluído constantemente e
possibilitado não somente a ampliação da base genética da
resistência dos clones para a vassoura de bruxa e outras doenças,
mas também associado características agronômicas favoráveis
relacionadas ao tamanho e número de frutos e sementes, relação
peso da casca de frutos e sementes e autocompatibilidade (LOPES
et al., 2011).
As principais variedades, regionalmente chamadas de “clones”,
indicadas para plantio mecanizado em larga escala são: SJ 02,
CEPEC 2002, CCN 51, PH 15, PS 13.19 e CP 49 e para pequena
escala FA 13, Vencedora 20, PH 09, BN 34, CCN 10 e Salobrinho 3
(Figura 12).
Figura 12 - Clones de cacaueiros adaptados para cultivo intensivo
mecanizado: CCN 51 (A), CP 49 (B), Salobrinho 3 (C), CEPEC 2002
(D), SJ 02 (E) e PS 13.19 (F)

Fonte: Imagens produzidas pelos autores.

4.2 Espaçamento e disposição espacial

Os principais espaçamentos recomendados para planejamento e


uso de máquinas no cultivo do cacaueiro são: 3,0 x 3,0 m; 3,0 x 2,0
m; 3,5 x 2,0 m, 3,5 x 2,5 m; 3,8 x 2,0 m e 4,0 x 2,0 m em plantios
com fileiras simples, de acordo com o clone e relevo da área. Para
plantios em fileiras duplas podem ser usado 3,5 x 3,0 x 2,0 m; 4,0 x
3,0 x 2,0 m; 4,0 x 2,5 x 2,0 m e 5,0 x 2,5 x 2,0 m.
A disposição espacial dependerá do arranjo escolhido, que, por
sua vez, depende de dois componentes: o sistema de quebra-vento
e consórcio. Assim pode-se adotar sistema de “box” e/ou faixas ou
aleias (Figura 13).
Figura 13 - Disposição espacial no sistema de plantio em “box” (A)
e em faixas (B)

Fonte: Imagens produzidas pelos autores.


5 Planejamento, preparo de área e do solo
FLUXOGRAMA MECANIZAÇÃO DO PLANTIO DO CACAUEIRO
FASE I - PLANEJAMENTO, PREPARO DE ÁREA E SOLO

Fonte: Imagem produzida pelos autores.


5.1 Levantamentos iniciais

Os levantamentos iniciais são as atividades necessárias para


elaboração do projeto agronômico da área e mecanização de
plantios, inclui a identificação de áreas potenciais (Figura 14). O
levantamento pedológico e a planta topográfica planialtimétrica da
área são necessários para o planejamento ambiental e para garantir
a qualidade das operações de preparo de solo e de irrigação e
drenagem da área. Análises físico-químicas do solo são também
necessárias para verificar a necessidade de correções e
planejamento da fertirrigação.

Figura 14 - Vista de áreas mecanizáveis ocupadas com pastagem


com potencial para implantação de cacaueiro mecanizado (A) e área
implantada (B)

Fonte: Imagens produzidas pelos autores.

O inventário das árvores existentes na área é necessário para


planejamento da limpeza e sistematização da área antes do plantio e
obtenção das autorizações ambientais (Figura 15).
Figura 15 - Inventário de árvores existentes para o planejamento e
legalização ambiental do corte de cacaueiro e árvores exóticas

Fonte: Imagens produzidas pelos autores.

5.2 Preparo da área

Para programar a cacauicultura mecanizada em muitos casos


recomenda-se a erradicação do talhão como corte de cacaueiros
velhos que por diversos motivos não mais produzem em condições
econômicas satisfatórias. Em áreas com plantio tradicional deve-se
primeiramente retirar as árvores exóticas usadas para
sombreamento, principalmente eritrinas.
O preparo da área pode ser dividido em três etapas: a) derrubada
(Figura 16); b) corte em pedaços menores e c) trituração do material
(Figura 17). Após o corte deve ser realizada a destoca e a limpeza
da área. Estas operações são necessárias para facilitar as etapas de
preparo do solo e são efetuadas com auxílio de tratores e outros
equipamentos (Figuras 18 e 19).
Figura 16 - Operação de corte das árvores, fragmentação dos
galhos e tronco para trituração com máquinas (A, B, C e D)

Fonte: Imagens produzidas pelos autores.


Figura 17 - Corte de cacaueiros com motosserra (A),
triturador/picotador florestal para triturar cacaueiros (B) e galhos de
eritrina (C), e material triturado (D)

Fonte: Imagens produzidas pelos autores.

Figura 18 - Operações de destoca com escavadeira (A e B)

Fonte: Imagens produzidas pelos autores.


Figura 19 - Operações de limpeza da área trator de esteira (A e B)

Fonte: Imagens produzidas pelos autores.

As folhas e ramos finos deverão ser triturados com uso de trinchas


florestais e os galhos e ramos com diâmetro até 23 cm são triturados
com o picador/ triturador florestal (Figura 17). Entretanto, existe ainda
um desafio a ser vencido pela pesquisa que é a redução do diâmetro
dos troncos cortados a dimensões inferiores a 30 cm, que é o
diâmetro máximo para que picadores/trituradores trabalhem sem
interrupções e com bom rendimento. Isso poderá ser feito
aumentando a potência das máquinas trituradoras e/ou fazendo
redução prévia do diâmetro dos ramos e troncos para próximo de 20
cm.
Após o corte e destoca gera-se um volume muito grande de
troncos, galhos, ramos e folhagem na área. Esse material precisará
ser removido ou triturado visando acelerar a decomposição e facilitar
o trânsito de máquinas de preparo de solo e plantio. As Figuras 18 e
19 apresentam uma sequência de operações com objetivo de
preparar a nova área de plantio de cacaueiro em sistema
mecanizado. Em áreas cultivadas com pastagens e em regiões com
relevo mais suave essas operações são desnecessárias.

5.3. Preparo do solo

Consiste na retirada de pedras e quando necessário realizar


aração, gradagem, calagem, gessagem, subsolagem, adubação
fosfatada profunda, limpeza de raízes, gradagem niveladora e
sulcamento das linhas (Figura 20). Após essas etapas é realizado o
plantio das bananeiras que comporão o sombreamento inicial,
necessário para aclimatar as mudas durante o primeiro ano e das
fileiras de árvores usadas para quebra vento.
Figura 20 - Operações de aração (A), subsolagem (B), gradagem
(C), distribuição de calcário (D), roturação (E), gradagem niveladora
(F) e sulcamento (G)
Fonte: Imagens produzidas pelos autores.
FLUXOGRAMA MECANIZAÇÃO DO PLANTIO DO CACAUEIRO
FASE II - PRODUÇÃO DE MUDAS, IRRIGAÇÃO E PLANTIO

Fonte: Imagem produzida pelos autores.


6 Produção de mudas
6.1 Mudas de cacaueiro recomendadas para cultivo
mecanizado

O produtor pode optar pelo uso de mudas enxertadas e, nesse


caso, indica-se o uso de porta-enxertos da variedade Pará
(sementes de cruzamento de clones do tipo Pará, ou sementes de
cacau Pará ou porta-enxertos procedentes do cruzamento de clones
do tipo Pará com o clone Scavina 6). Isso se deve à resistência
apresentada por esses materiais à doença “mal-do-facão”, causada
pelo fungo Ceratocystes cacaofunesta.
No cultivo mecanizado do cacaueiro, é possível implantar áreas
usando tanto mudas obtidas por enxertia quanto por estaquia (Figura
21). Mudas produzidas em tubetes também podem ser plantadas
direto no campo ou transplantadas para sacos de polietileno até
completar oito meses de idade, quando serão plantadas
definitivamente (SODRÉ, 2013).

Figura 21 – Mudas usadas em plantio mecanizado do cacaueiro

Fonte: Imagens produzidas pelos autores.

Deve-se destacar que o uso de substratos orgânicos melhora a


qualidade da muda; permite preparar mudas com porta-enxertos
resistentes a doenças e facilita as operações de plantio mecanizado
(SENA GOMES; SODRÉ, 2015). Entretanto, a decisão sobre qual
tipo de muda cultivar dependerá sempre de estudo técnico que
envolve características do solo, ocorrência de doenças, tipo de clone,
porta-enxerto e região escolhida para o cultivo do cacaueiro.
7 Irrigação e fertirrigação
Com o objetivo de suprir eventuais déficits de água e realizar a
nutrição das plantas, na cacauicultura mecanizada, recomenda-se
que seja instalado um sistema de irrigação e fertirrigação. Isso se
deve, principalmente, a resultados de áreas experimentais e
comerciais com cultivo do cacaueiro irrigado que já foram
estabelecidas pelo mundo.
Estudos, no Brasil, mostraram que a irrigação em cacaueiro pode
incrementar entre 40 a 100% as produtividades do pomar
(BALASIMHA; ABDUL KHADER; DEVARU VEERAPPA, 1988;
ALMEIDA, 1997; SIQUEIRA et al., 1999). Leite et al. (2012)
estimaram produtividade potencial de amêndoas secas de cacau
superior a 3.000 kg/ha/ano com uso de irrigação. Em países como
Equador, Venezuela, Malásia e Gana, foram relatados resultados de
elevação de produtividade com uso de irrigação (HUAN; YEE;
WOOD, 1984; FREIRE, 1993). Em geral, o sistema de irrigação é
composto por: captação e filtragem de água, mangueiras e
gotejadores ou microaspersores para distribuição, conjunto
motobomba, tanques para estoque de fertilizantes, misturadores,
filtros e sensores de limpeza e controladores eletrônicos do manejo
da área (Figuras 22 e 23).

Figura 22 – Cultivo irrigado do cacaueiro na fase inicial (A) e


adulta (B)

Fonte: Imagens produzidas pelos autores.


Figura 23 - Sistema de filtragem, tanques de estoque de solução
fertilizante, misturadores e equipamentos de monitoramento de
solução e água do solo

Fonte: Imagens produzidas pelos autores.


8 Quebra-vento em box e sombreamento
provisório
A ação do vento sobre o plantio do cacaueiro causa diversos
danos, como injúria mecânica nas folhas, ruptura dos pulvinos,
diminuição da área foliar, queda de folhas, encrestamento e necrose
de folhas novas, retardamento do crescimento das plantas,
diminuição do diâmetro e altura das plantas, desidratação em flores e
grãos de pólens devido à maior evaporação e maior necessidade de
água por irrigação (MULLER; VALLE, 2012).
No cultivo mecanizado do cacaueiro, especialmente no modelo a
pleno sol, nos tabuleiros, cerrado e semiárido, o vento é um fator
limitante para o crescimento, produção e qualidade dos frutos e
sementes, principalmente quando ocorre déficit hídrico. Com isso, o
planejamento do quebra-vento deve combinar plantas que atinjam
altura suficiente para desviar o fluxo de vento na parte superior com
plantas mais baixas de copa rala para diminuir a velocidade na parte
inferior, sem, contudo, impedir sua circulação na área.
Antes do plantio da área, é necessário estabelecer o tamanho das
glebas de acordo com o solo, relevo e predominância e intensidade
dos ventos na área. Devem ser planejadas divisões de quadras para
plantio monoclonal, ruas para circulação de máquinas e
equipamentos, além de dimensionar o sistema de quebra-ventos em
“box” (Figura 24).
Figura 24 - Desenho esquemático de sistema de quebra-vento
para o cultivo mecanizado do cacaueiro

Fonte: Imagem produzida pelos autores.

O quebra-vento é feito com plantio em linhas no perímetro da área.


Para o plantio do quebra-vento em box, podem ser utilizadas várias
espécies; no entanto, as que foram avaliadas e recomendadas até o
momento são: Eucalipto torelliana, Nim (Azadirachta indica) e
Gliricídia (Gliricidia sepium).
O sombreamento provisório é realizado nas entrelinhas do plantio
do cacaueiro para permitir conforto térmico e adaptação das plantas
de cacaueiro, sobretudo nos primeiros anos após o plantio. Quando
no sombreamento provisório é usada a bananeira, as variedades
prata anã e pacovan são indicadas (Figura 25).
Figura 25 - Desenho esquemático para plantio de sombreamento
provisório em áreas de cultivo mecanizado

Fonte: Imagens produzidas pelos autores.

Existe a possibilidade de substituição do sombreamento provisório


por túneis de plástico como se verifica na Figura 26. Esses túneis
permitem conduzir os novos cacaueiros em condições de conforto
térmico e redução de pragas. Entretanto, o produtor deverá avaliar a
conveniência econômica de não usar as bananeiras ou espécies
como mandioca, guandu e mamão para compor o sombreamento
provisório.

Figura 26 - Uso de túneis plásticos para sombreamento e quebra


vento provisório do cacaueiro

Fonte: Imagens produzidas pelos autores.


9 Plantio do cacaueiro
Nas operações de plantio do quebra-vento, bananeira e cacaueiro
pode ser realizada a gradagem seguida por sulcador, comumente
usado no cultivo de cana-de-açúcar, tracionado por trator, onde serão
feitos os sulcos de plantio em linha (Figura 27).

Figura 27 - Operações de garadagem (A) e Sulcamento das linhas


para plantio de cacau, bananeira e árvores para quebra-vento (B)

Fonte: Imagens produzidas pelos autores.

As operações de plantio do cacaueiro podem ser totalmente


mecanizadas. Entretanto, a depender do solo, deve ser feita,
primeiramente, a subsolagem nas linhas de plantio do cacaueiro. Se
não for preciso subsolar, pode-se realizar uma aração vertical
(roturação) de 40 a 60 cm de profundidade, seguida por
encanteiramento com 150 cm de largura, 30 a 40 cm de altura no
centro do canteiro e espaçamento de 4,0 m entre linhas; distribuição
das mangueiras no caso de irrigação por gotejamento; aplicação de
filme plástico, como mulching; abertura da cova e liberação da muda
para o plantio mecanizado, nesse caso, preferencialmente,
propagadas por estaquia em tubetes (Figuras 28 e 29). Esse modelo
de plantio de cacaueiros com máquinas ainda está em fase de teste,
mas com resultados promissores, com rendimento esperado de 20 a
25 ha/dia.
Figura 28 - Desenho esquemático do plantio mecanizado do
cacaueiro

Fonte: Imagens produzidas pelos autores.

Figura 29 - Plantio em canteiros e uso de filme plástico como


mulching em cacaueiro

Fonte: Imagens produzidas pelos autores.


FLUXOGRAMA MECANIZAÇÃO DO PLANTIO DO CACAUEIRO
FASE III - MANEJO CULTURAL

Fonte: Imagem produzida pelos autores.


10 Tratos culturais
10.1 Poda do cacaueiro com mecanização

O cacaueiro é uma planta que, independentemente do modelo


como é cultivada, sempre necessitará de podas. De forma geral, a
poda destina-se a manter a planta individualizada em relação ao
espaçamento adotado. A poda deve ser realizada de dentro para fora
das plantas, eliminando-se os ramos que se cruzam, porém sem
deixar espaços que possam dar entrada excessiva de luz e energia
sobre o caule da planta para evitar secamento do caule e de frutos.
Quando a poda é realizada de forma excessiva, eliminam-se
ramos produtivos e aumenta-se a frequência de lançamentos
foliares, assim reduzindo a produção de frutos. Porém, na falta de
poda, ocorre excesso de folhas e surgimento de “palmas d’água” ou
“chupadeiras” que aumentam a competição na planta e entre plantas,
deixando-as com altura acima do desejado, bem como fora do
espaço delimitado para uso individual por cada cacaueiro.
Quando a poda é feita com equipamentos tratorizados, é
necessário fazer dois cortes. No primeiro, é feita a individualização
de plantas, e as lâminas cortadoras retiram todos os ramos que
estão em contato com ou sem autossombreamento, visando abrir a
área e permitir maior entrada de luz. No segundo momento, o corte é
feito no topo das plantas e visa reduzir o porte das plantas para no
máximo 3 m e, com isso, facilitar a colheita e outros tratos culturais
(Figura 30).
Figura 30 - Poda mecanizada do cacaueiro, protótipo de
equipamento tratorizado. Corte de topo (A), corte lateral (B)

Fonte: Imagens produzidas pelos autores.


Figura 31 - Tesouras de poda manual, eletromecânica e motopoda
para poda de formação, desbrota e poda sanitária

Fonte: Imagens produzidas pelos autores.

Apesar dos danos causados nos ramos das plantas, os primeiros


resultados mostram que a poda mecanizada apresenta rendimento
equivalente a 25 homens por dia. Deve-se destacar que novos
equipamentos estão sendo projetados, inclusive visando aplicação
de fungicidas no momento do corte para evitar secamento de ramos
e infecção por patógenos.
Para a realização das operações de poda de formação,
manutenção, desbrota e poda sanitária (retirada de vassouras e
frutos doentes), também podem ser usadas tesouras de poda
manual e eletromecânica (Figura 31). Esses equipamentos, apesar
de menor rendimento em relação à poda tratorizada, permitem
rendimentos de duas a três vezes superiores ao corte manual
geralmente feito com facões.

10.2 Controle de plantas invasoras

Recomenda-se que o controle de plantas invasoras, tanto nas


entrelinhas do plantio do cacaueiro quanto nas faixas de quebra-
ventos, seja realizado com roçagem mecânica e/ou com uso de
herbicidas (Figuras 32 e 33).

Figura 32 - Roçadeiras costais motorizadas e tratorizadas

Fonte: Imagem produzida pelos autores.


Figura 33 - Pulverizadores costais elétricos e estacionários móveis

Fonte: Imagens produzidas pelos autores.

No sistema de mecanização do cultivo do cacaueiro, não se


recomenda o controle manual de plantas invasoras, por ser esta uma
prática de elevados custos e penosa para os trabalhadores, além de
estar em desacordo com a legislação brasileira no que se refere às
normas de qualidade do trabalho.
Existem, no mercado, equipamentos de aplicação do tipo costal
elétrico e motorizado que apresentam como vantagens os custos
reduzidos, maior comodidade de aplicação e menores custos de
manutenção de equipamentos. Na figura 33, são apresentados
modelos costais motorizados, elétricos e estacionários.

10.3 Trituração de resíduos

A trituração de resíduos é uma prática recomendada no modelo de


mecanização do cultivo do cacaueiro, pois permite acelerar a
mineralização do material orgânico na superfície do solo e contribuir
para a fertilização das áreas e melhorias nas propriedades físicas
dos solos (estrutura e retenção de água). Essa operação pode ser
realizada com sopradores, complementando-a com a desintegração
de ramos e folhas ou com o uso da trincha florestal acoplada ao
trator (Figura 34).
Figura 34 - Equipamentos de sopro costal motorizado e
trituradores tratorizados

Fonte: Imagens produzidas pelos autores.


FLUXOGRAMA MECANIZAÇÃO DO PLANTIO DO CACAUEIRO
FASE III - MANEJO CULTURAL

Fonte: Imagem produzida pelos autores.

10.4 Adubação

A adubação em sistemas de produção mecanizados é feita com


compostos orgânicos e fertilizantes minerais: 1) os fertilizantes
orgânicos são aplicados por meio de distribuidores tratorizados
(Figura 35); 2) a adubação via água de irrigação é realizada pelo
sistema de irrigação com tanques de estoque de solução, controle
automatizado, monitorada por sensores de solução de solo e
conjuntos de tensiômetros interligados (Figura 36); e 3) a adubação
foliar é realizada usando atomizadores costais motorizados e/ou
elétricos e atomizadores tratorizados, semelhantes aos que se
utilizam rotineiramente no cultivo do cafeeiro (Figura 37).

Figura 35 - Máquinas e equipamentos para preparo e distribuição


de adubo orgânico sólido e líquido

Fonte: Imagens produzidas pelos autores.


Figura 36 - Equipamentos e fertilizantes para preparo e
distribuição de nutrientes via fertirrigação

Fonte: Imagens produzidas pelos autores.

Figura 37 - Exemplo de adubação foliar com pulverizadores costal


motorizado em cacaueiro e tratorizado em cafeeiro

Fonte: Imagens produzidas pelos autores.

10.5 Controle fitossanitário


No que se refere às pragas, no cultivo do cacaueiro, são
realizadas sistematicamente três operações: 1) controle de doenças;
2) controle de pragas entomológicas; e 3) tratamento de restos
culturais, focos de pragas e doenças. Para estas operações, são
utilizados atomizadores costais manuais, motorizados e
pulverizadores tratorizados (Figura 38).

Figura 38 - Máquinas e equipamentos para distribuição de


fungicidas e inseticidas

Fonte: Imagens produzidas pelos autores.


11 Polinização artificial usando máquinas
Considerando a necessidade de elevar as produções de
cacaueiros em áreas de plantios tecnificados e a efetividade da
polinização ventilada no incremento da frutificação, um experimento
de campo avaliou os efeitos da intensidade de frutificação do
cacaueiro quando submetido à ventilação forçada (Kazuiyuki
Nakayama3, comunicação pessoal).
O experimento foi instalado no mês de maio de 2013, na Fazenda
Álamo, município de Eunápolis, Bahia, num cacaual de seis anos de
idade, com espaçamento de 4,3 x 2,3 m, densidade de 930 plantas
por hectare, plantado em fila dupla com o clone CCN-51. A
ventilação foi propulsionada usando pulverizador Jacto® PJ 2000
tracionado por um trator Valmet cafeeiro®.
As variáveis independentes foram: horário da ventilação, distância
entre a flor e o bocal de saída do ventilador, número de ramos por
face da copa do cacaueiro. A planta e os tratamentos foram os
respectivos horários de ventilação, classificados em: 1) ventilação
pela manhã, entre 7 e 9 h; 2) ventilação pela tarde, entre 14 e 18 h;
3) ventilação pela manhã e tarde; e 4) testemunha — plantas sem
ventilação submetidas à polinização natural.
Observou-se que a intensidade de frutificação das plantas
ventiladas foi maior do que a frutificação gerada, naturalmente, pela
mosca polinizadora Forcipomyia sp. Os resultados mostraram que a
polinização ventilada incrementou a polinização fértil e a frutificação
do cacaueiro; que a ventilação vespertina incrementa a polinização
fértil e a frutificação de forma significativamente superior à ventilação
matutina; que a dupla ventilação aplicada, nos períodos matutino e
vespertino do mesmo dia, produz menos polinizações férteis; que a
ventilação com velocidade superior a 80 km/h produz lesões nos
frutos de cacau em desenvolvimento e que frutos lesionados por
ventilação de alta velocidade desenvolvem cicatrizes na casca, mas
não são abortados (Figura 39).
Figura 39 - Operação de polinização artificial com pulverizadores
tratorizados (A e B) e resultados de produção (3.000 kg/ha) em área
que recebeu sopro artificial (C e D)

Fonte: Imagens produzidas pelos autores.


12 Mecanização da pré-colheita, colheita e
pós-colheita
12.1 Pré-colheita

Equipamentos para a pré-colheita ainda se encontram em fase de


protótipo; entretanto, sabe-se que áreas com muito declive (>30%)
configuram-se como entrave para as etapas de pré-colheita
mecanizada, que são: limpeza da área por roçagem e sopro nas
linhas de plantio.
As operações de pré-colheita poderão ser realizadas com
roçadeiras e sopradores tratorizados (Figura 40). A colheita é
realizada manualmente com auxílio de podões e tesouras de poda
eletromecânicas (Figura 41). Os frutos caídos no solo são coletados
com auxílio de protótipo de sucção para uma carreta puxada por
trator (Figura 42).

Figura 40 - Roçagem e limpeza de ruas com equipamentos


tratorizados

Fonte: Imagens produzidas pelos autores


FLUXOGRAMA MECANIZAÇÃO DO PLANTIO DO CACAUEIRO
FASE IV - PRÉ-COLHEITA, COLHEITA E PÓS-COLHEITA.

Fonte: Imagem produzida pelos autores.


Figura 41 - Colheita manual do cacaueiro com tesouras
eletromecânicas e manuais

Fonte: Imagens produzidas pelos autores.

Figura 42 - Equipamento protótipo desenvolvido para coleta de


frutos de cacau colhidos e deixados no solo, transportando-os para a
carreta

Fonte: Imagens produzidas pelos autores.


12.2 Quebra mecanizada e beneficiamento dos frutos

12.2.1 Quebra no campo

Existe a opção para que os frutos colhidos sejam transportados


para uma máquina extratora de semente móvel acondicionada em
trator ou veículo motorizado no campo. Após a quebra, a casca é
distribuída no campo, e as sementes extraídas são levadas para o
galpão de beneficiamento, onde serão fermentadas (Figura 43).

Figura 43 - Sistema de quebra e extração de sementes de cacau


no campo

Fonte: Imagens produzidas pelos autores.


12.2.2 Quebra na usina

Os frutos colhidos e colocados na carreta por sucção são


transportados para a usina de beneficiamento. Na usina, os frutos
são basculados para a máquina extratora de sementes, onde são
quebrados, separando a casca das sementes.
Por meio de esteiras, as sementes são transportadas para a
unidade despolpadora, para a retirada do excesso de polpa e de
casca (Figura 44).
Figura 44 - Sistema de quebra e extração de sementes em usina
Fonte: Imagens produzidas pelos autores.

Em seguida, as sementes entram na esteira e são distribuídas em


cochos de madeira unitários e móveis (Figura 45), nos quais se
procede a fermentação e, com a morte do embrião, as sementes
passam a ser denominadas de amêndoas de cacau.
Figura 45 - Sistema de fermentação com cochos individuais com
movimentação mecanizada

Fonte: Imagens produzidas pelos autores.

As sementes permanecem nos cochos por 24 horas e depois são


movimentadas por equipamento constituído por unidade de
movimentação mecânica motorizada e rosca sem fim (Figura 45).
São realizadas de quatro a cinco movimentações a fim de completar
esse processo de fermentação, que dura em média de cinco a seis
dias.
Após a fermentação, as amêndoas são conduzidas por carros
manuais para um coletor com rosca sem fim, que, por sua vez,
transporta-as por meio de esteiras motomecânicas para a secagem
usando secadores rotativos movidos a energia elétrica, gás e/ou
biomassa. Deve-se destacar que o processo de fermentação é
determinante na qualidade das amêndoas e, por conseguinte, na
qualidade final dos chocolates e derivados (MORORÓ, 2012).
Após a secagem, que dura em média 24 horas, as amêndoas com
6 a 8% de umidade são transportadas por esteiras, seguindo para
uma máquina separadora de materiais por densidade, onde são
separadas as impurezas das amêndoas (cascas e outros resíduos).
Após a separação, as amêndoas são ensacadas em sacaria de 60
kg e enviadas para unidades industriais de fabricação de chocolates
e derivados (Figura 46).
Figura 46 - Sistema de transporte de sementes fermentadas,
secagem rotativa e separador de impurezas

Fonte: Imagens produzidas pelos autores.


13 Considerações sobre mecanização do
cultivo do cacaueiro
O Brasil tem, frequentemente, importado mais de 30.000 t anuais
de amêndoas de cacau para completar a demanda da indústria local.
Estima-se que o esforço inicial para suprir o déficit interno com
produção nacional requereria a incorporação de, pelo menos, 30.000
ha de novas plantações. Nesse contexto, a agricultura empresarial e
a mecanização fazem-se indispensáveis para acelerar o processo
produtivo e encerrar o ciclo de importação de amêndoas de cacau.
Entretanto, como todo negócio, o empresário ou agricultor deve
atentar para as características do empreendimento, evitando
problemas na implantação e na tomada de decisões relativas ao
investimento na cacauicultura. Assim, o conjunto de
oportunidades/vantagens, certezas/estratégias e riscos/pontos
críticos da mecanização do cultivo do cacaueiro foram sumarizados e
apresentados na Tabela 1.
Tabela 1 - Características do agronegócio: cultivo do cacaueiro com
mecanização
Oportunidades/vantagens Certezas/estratégias Riscos/pontos
críticos
Melhor controle de Alta produtividade. Necessidade de
doenças. mão de obra
tecnificada.
Mercado para outros Implantação custeada Produtores ainda
cultivos associados. por culturas, como não estimulados
banana e mamão. com o cacau.
Áreas disponíveis. Qualidade do produto Empresários
e possibilidade de desconhecem o
cacau fino. agronegócio
cacau.
Produto com crescimento Disponibilidade de Custo da
atual de demanda. tecnologia de mecanização
produção. agrícola e
fertirrigação.
Possibilidade de Inserção em Ausência de
rastreabilidade e programas de boas financiamento
certificações. práticas agrícolas. público.
Fonte: Elaboração dos autores.
14 Referências
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estimativa de produção de cacau (Theobroma cacao L.) em
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FREIRE, M. S. L. Efeitos da irrigação complementar no
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Dissertação (Mestrado) – USP, ESALQ, Piracicaba, 1993.
HUAN, L. K.; YEE, H. C.; WOOD, B. J. Irrigation of cocoa on coastal
soils in peninsular Malaysia. In: INTERNACIONAL CONFERENCE
ON COCOA AND COCONUT, 1984. Anais… Kuala Lumpur: (s.n),
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HUI, L. C. Cultivo Intensivo do Cacaueiro – Study case I – Malásia.
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outubro 2013.
Capítulo 17 — Sustentabilidade no sistema
agrossilvicultural cacaueiro
Dan Érico Lobão1, Érico de Sá Petit Lobão2, Wallace Coelho
Setenta3, Lanns Alves Almeida4, Marco Aurélio Souza Silva5,
Flávio S. Leopoldino6, Marco Antônio Tavares Góes7 , Claudine
Sousa Costa8
1 Introdução
Os baixos índices de produtividade nas lavouras de cacau têm
levado os produtores à procura da “modernização” da cultura, com
vistas a elevar não só a produção por área, mas também a reduzir os
custos intrínsecos ao processo produtivo e a construir uma
sustentação econômica possível de manter as unidades de produção
rural dentro de um patamar financeiro confortável. Contudo, já que
um sistema de produção apenas economicamente eficiente não
atende mais às expectativas atuais, é preciso que tanto a dimensão
econômica quanto a social, a cultural e a ambiental, que compõem a
matriz da sustentabilidade, sejam equitativamente contempladas.
Essas imposições de sustentabilidade estabelecidas pelo mercado
proporcionam aos produtores outros desafios além do lucro
(receitas−custo) e das relações de trabalho
(emprego−empreitada−parceria). São desafios relacionados à forma
de uso e exploração dos recursos naturais para a produção agrícola,
que estão pautados nas relações diretas e indiretas entre os
sistemas naturais e os de produção agronômica, em que
sustentabilidade é o tema em evidência.
Estudos técnico-científicos desenvolvidos acerca da forma de
cultivo do cacau cabruca evidenciam os benefícios e a superioridade
desse sistema quanto às inter-relações e os efeitos sobre muitos dos
recursos naturais a ele associados (SETENTA; LOBÃO, 2012).
Contudo, o grande desafio não é só perceber a importância desses
aspectos relacionados ao desenvolvimento agrícola, e sim migrar de
sistema apenas produtivista para um mais sustentável, com
capacidade de conservar eficientemente os recursos naturais
associados, em que a variável ambiental esteja internalizada e
imbricada com as variáveis econômica, social e cultural,
proporcionando a conservação produtiva e, por conseguinte, o
desenvolvimento sustentável regional.
2 Contextualização
O agroecossistema cacaueiro da Bahia possui significativos
remanescentes de Mata Atlântica, mantidos graças à natureza
conservacionista da cacauicultura. Essa conservação foi resultante
de uma relação sui generis do homem com a natureza, a qual foi
capaz de proporcionar uma conservação em bases produtivas,
evidenciando um sistema de produção conservacionista que se
consolidou ao longo de mais de 250 anos de entronização.
Ao contrário de outros modelos convencionais de produção
agrícola e de uso intensivo dos recursos naturais, a cabruca não
favoreceu a devastação total dos recursos florestais. Tal sistema
permitiu a conservação tanto de remanescentes florestais inseridos
nas áreas cultivadas e os que as circundavam. Possibilitou também a
sobrevivência de indivíduos arbóreos da floresta primária com a
função de proporcionar conforto ambiental ao cacaueiro. Isto
favorece a formação de corredores ecológicos que ampliam a
capacidade de suporte faunístico dos fragmentos florestais
remanescentes, além de manter a qualidade do solo próximo a de
uma floresta natural, conservando recursos hídricos quando, nas
áreas de recargas das nascentes e na faixa de vegetação ciliar,
houver alta densidade arbórea (LOBÃO, 2007).

2.1 Desenvolvimento sustentável e a sustentabilidade

O termo desenvolvimento sustentável (DS) foi apresentado


internacionalmente em 1972, na Conferência das Nações Unidas
sobre o Meio Ambiente Humano, realizada em Estocolmo, Suécia. A
partir dela a comunidade internacional passou a aceitar que o
desenvolvimento socioeconômico e o ambiente, até então tratados
como questões separadas, poderiam ser geridos de uma forma
mutuamente benéfica.
A definição mais usual passou a ser a da Organização das Nações
Unidas (ONU) divulgada pela Comissão Mundial sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento, em 1983, que caracterizou o
desenvolvimento sustentável como “o desenvolvimento capaz de
suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a
capacidade de atender as necessidades das futuras gerações”
(WWF, s/d); de modo a promover um nível satisfatório de
desenvolvimento social e econômico, de realização humana e
cultural, possibilitando, ao mesmo tempo, o uso razoável dos
recursos da terra e a conservação de espécies e habitats naturais.
Em síntese, é o modelo de desenvolvimento que usa os recursos
naturais, mas sem comprometê-los.
Esse conceito representou uma nova forma de desenvolvimento
econômico, que dedica grande importância aos aspectos ambientais.
A proposta de desenvolvimento em bases sustentáveis valoriza os
aspectos qualitativos em vez dos quantitativos, como a redução do
uso de matérias-primas e de produtos primários e o aumento da
reutilização e da reciclagem (WWF, s/d). Esse modelo de
desenvolvimento estimula a manutenção dos processos ecológicos
essenciais, a conservação da diversidade genética e a utilização
sustentável das espécies e ecossistemas, a igualdade de
oportunidades quanto uso, o processo de mudança em que a
exploração dos recursos, direção dos investimentos, orientação
tecnológica e mudança institucional são feitas considerando as
necessidades presentes e futuras.
O que hoje se chama de DS tem evoluído como um conceito
integrador, um guarda-chuva sob o qual um conjunto de questões
inter-relacionadas pode ser organizado de forma única. Trata-se de
um processo variável de mudança que tem como objetivo final a
sustentabilidade em si. Assim como a divergência, ou abrangência
para o entendimento sobre DS, existem várias abordagens sobre
sustentabilidade, como demonstram Sartori, Latrônico e Campos
(2014) em trabalho revisional. Os autores explicam que tal conceito
foi definido a partir de um longo processo histórico, que envolveu a
tomada de consciência sobre os problemas ambientais, crises
econômicas e desigualdades sociais.
Por ser um conceito complexo e de construção contínua, ao longo
do tempo surgem diferentes abordagens que tentam entender e
explicá-lo. Ele caracteriza-se como um princípio aplicável a: sistemas
abertos, para interagir com a sociedade-natureza, envolvendo
sistemas industriais (transporte, produção, energia, etc.); sistemas
sociais (urbanização, mobilidade, comunicação, etc.); e sistemas
naturais (solo, atmosfera, sistemas aquáticos e bióticos, etc.),
incluindo os fluxos de informações, bens, materiais, resíduos. Isto é,
a sustentabilidade envolve uma interação com sistemas dinâmicos
que estão em constante mudança e necessitam de medidas pró-
ativas.
Por outro lado, o tema sustentabilidade pode ser abordado numa
visão estratificada, o que gera várias interpretações e compreensões,
proporcionando inúmeros debates. Assim, enquanto alguns
compartilham ideias convergentes quanto ao seu entendimento sob
os aspectos dimensionais apresentados anteriormente, outros a
fracionam, como Sachs (2000), em sete aspectos ou dimensões
principais, a saber:

Sustentabilidade Social — quando promove a melhoria da


qualidade de vida da população, equidade na distribuição de
renda e de diminuição das diferenças sociais, com participação
e organização popular;
Sustentabilidade Econômica — quando há retorno para os
investimentos públicos e privados, regularização do fluxo dos
investimentos, compatibilidade entre padrões de produção e
consumo, equilíbrio de balanço de pagamento, acesso à ciência
e tecnologia;
Sustentabilidade Ecológica — quando o uso dos recursos
naturais deve minimizar danos aos sistemas de sustentação da
vida, tais como a redução dos resíduos tóxicos e da poluição,
reciclagem de materiais e energia, conservação, tecnologias
limpas e de maior eficiência e regras para uma adequada
proteção ambiental;
Sustentabilidade Cultural — quando houver respeito aos
diferentes valores entre os povos e incentiva processos de
mudanças que acolham as especificidades locais;
Sustentabilidade Espacial — a que promove o equilíbrio entre
o rural e o urbano, equilíbrio de migrações, desconcentração das
metrópoles, adoção de práticas agrícolas mais inteligentes e
menos agressivas, manejo sustentável de florestas e
industrialização descentralizada;
Sustentabilidade Política — no caso do Brasil, com a evolução
da democracia representativa para sistemas descentralizados e
participativos, construção de espaços públicos comunitários,
maior autonomia dos governos locais e descentralização da
gestão de recursos;
Sustentabilidade Ambiental — por meio da conservação
geográfica, equilíbrio de ecossistemas, erradicação da pobreza
e da exclusão, respeito aos direitos humanos e integração
social. Abarca todas as dimensões anteriores e se dá por meio
de processos complexos.

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), a


partir da observação de uma realidade local, desenvolve e estimula
as boas práticas agropecuárias privilegiando os aspectos sociais,
econômicos, culturais, bióticos e ambientais. Nesse sentido, estão
incluídos sistemas de produção integrada, de plantio direto,
agricultura orgânica, integração lavoura−pecuária−floresta,
conservação do solo e recuperação de áreas degradadas. Assim, o
MAPA assume que a sustentabilidade envolve desenvolvimento
econômico, social e respeito ao equilíbrio e às limitações dos
recursos naturais (MAPA, 2016).
Apesar de o Brasil já estar politicamente engajado em programas e
ações voltadas ao desenvolvimento em bases sustentáveis, ainda
assim é importante que se busquem modelos de desenvolvimento
que agreguem valores ecológicos, autonomia, solidariedade e
responsabilidade (BARBOSA, 2008). É nesse contexto que se
enquadra a proposta apresentada por Setenta e Lobão (2012) para a
região cacaueira da Bahia, a Conservação produtiva – cacau por
mais 250 anos. Ela não é apenas uma proposta de governo, é
também uma resposta campesina aos estímulos multilaterais para a
implantação de um modelo de desenvolvimento sustentável regional;
ela instiga a adoção de práticas agrícolas sustentáveis que devem
ser estimuladas tanto pela iniciativa pública quanto pela privada. A
conservação produtiva é um exemplo de iniciativa que compatibiliza
a valorização do locus, a conservação dos recursos naturais em
harmonia com a produção de uma commditie, a inclusão sócio-
produtiva, a sustentabilidade espacial e o sentimento de
pertencimento à terra local.

2.2 Agricultura sustentável

A agricultura — enquanto atividade desenvolvida para a produção


de plantas e animais em áreas passíveis desta atividade e com a
finalidade de alimentar comunidades — remonta há pelo menos
10.000 anos a.C. (ASSAD; ALMEIDA, 2004). Na pré-história, era
comum o uso do fogo para limpar as áreas e ferramentas para cultivo
da terra e de plantios, sem que houvesse um preparo prévio do solo;
práticas como essas permitiram a formação dos primeiros
aglomerados humanos, transformando os nômades em permanentes
ou provisórios.
A agricultura “ganhou o mundo”, adquirindo diversas nuanças da
multiculturalidade. As plantas cultivadas e os animais criados
passaram por modificações genéticas que permitiram sua adaptação
a diferentes ambientes, sem perdas drásticas de produtividade.
Aumentou-se a diversidade de produtos obtidos por meio da
atividade agrícola. O avanço do conhecimento sobre o
funcionamento dos diferentes sistemas que compõem e sustentam a
vida no Planeta permitiu o desenvolvimento de técnicas que
possibilitaram o aumento da oferta de alimentos e a melhoria da
dieta humana — pelo menos para o segmento da população mundial
que tem acesso a uma alimentação nutricionalmente equilibrada.
Mas duas coisas não mudaram: para produzir alimentos que
atendam às necessidades da população humana, é necessário fazer
agricultura, e praticá-la causa alterações no ambiente natural
(ASSAD; ALMEIDA, 2004).
Essas alterações ambientais ocasionam impactos nos processos
biológicos do sistema natural estabelecido entre água−solo−planta
em virtude das ações antropogênicas priorizarem o estabelecimento
de um novo equilíbrio nesta relação, através de técnicas de preparo
e manejo do solo favorecendo estritamente culturas agrícolas de
interesse humano, em detrimento das relações naturais
estabelecidas. O grau de impacto ou de alteração no ambiente está
diretamente relacionado com os tipos de sistemas de produção que
substituem os naturais. Assim, a agricultura praticada
tradicionalmente possui uma rotina de substituição completa da
vegetação natural, por sistemas monoculturais, considerados mais
simples e menos biodiversos em toda sua estrutura.
O mesmo acontece com a agricultura moderna, pós-revolução
industrial, que, apesar de tecnificar o sistema de produção, ainda
mantém o manejo do solo que favorece uma cultura principal. Por
outro lado, existem outros sistemas de produção mais complexos,
em que se pratica o consórcio de lavouras e de outras atividades,
como a silvicultura e pecuária, tal como se preconiza na implantação
de sistemas agroflorestais. Estes conseguem, de forma mais
harmônica, resguardar os recursos água e solo e, algumas vezes,
com mais biodiversidade até mesmo do que determinados tipos de
vegetação natural, sem, contudo, perder sua condição de área de
produção (ASSAD; ALMEIDA, 2004).
Desde o século XVI, quando o Brasil Colônia era exportador de
pau-brasil, até os dias de hoje, a riqueza do país se apoia em
produtos primários, com produtos agrícolas respondendo por parte
importante do Produto Interno Bruto (PIB). Em toda a história da
humanidade, a agricultura sempre influenciou e foi influenciada por
mudanças políticas, sociais e culturais (ASSAD; ALMEIDA, 2004;
SETENTA; LOBÃO, 2012).
Conceitualmente, agricultura sustentável pode ser entendida como
aquela que é praticada com respeito ao ambiente e à cultura local,
promove a justiça social e consegue ser economicamente viável.
Incluem-se nesse conceito, portanto, os mesmos preceitos do
desenvolvimento sustentável, ou seja, a agricultura sustentável deve
garantir às gerações futuras a capacidade de suprir as necessidades
de produção e qualidade de vida. Em seus princípios e
características destacam-se:
diminuição de adubos químicos, por meio da técnica da fixação
biológica de nitrogênio;
uso de técnicas que não proporcionem poluição do ar, do solo e
da água;
prática da agricultura orgânica, pois esta não utiliza inseticidas e
adubos químicos;
criação e uso de sistemas de captação de águas das chuvas
para serem utilizadas na irrigação;
uso da agroenergia — fontes de energia geradas no campo
como, por exemplo, biocombustíveis (biodiesel, biogás, etanol e
outros derivados de restos da produção e biomasssa);
preferencialmente, usar fontes de energia limpa e renovável,
evitando combustíveis fósseis;
adoção da gestão ambiental e territorial (práticas agrícolas
executadas com vistas ao maior rendimento e menor desgaste
do solo; distância entre a área produtiva e o mercado
consumidor, diminuir os custos com transporte logística do
escoamento; uso adequado e responsável dos defensivos e
insumos agrícolas; manejo adequado dos resíduos da prática
agrícola para evitar poluição);
respeito aos direitos dos trabalhadores do campo, investimento
em capacitação profissional, uso de epi (equipamento de
proteção individual) e pagamento de salários justos;
nunca utilizar mão de obra infantil ou trabalho escravo. Cabe ao
governo fiscalizar e punir aqueles que praticam este tipo de
crime;
valorização de uma agricultura familiar que promova a inclusão
sócio-produtiva e possibilite a permanência da família no campo.

Embora haja esforços nesse caminho da sustentabilidade, há


agricultores que ainda não são responsáveis nem do ponto de vista
ambiental, tampouco do social ou trabalhista. Por isso, muitos
problemas decorrem dessa atitude inconsequente, tais como: uso
excessivo de agrotóxicos; avanço da fronteira agrícola em áreas de
vegetação natural; desvalorização da mão de obra; e a prática de
trabalho escravo e infantil.
Apesar de no Brasil alguns desses problemas ainda ocorrerem,
existem boas iniciativas no campo da agricultura sustentável. Há
empresas que adotam medidas de respeito ao ambiente e à melhoria
das condições de trabalho dos funcionários. Cabe ressaltar o
importante trabalho feito por instituições como a Comissão Executiva
do Plano da Lavoura Cacaueira (CEPLAC), a Universidade Estadual
de Santa Cruz (UESC) e a Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (EMBRAPA) no desenvolvimento de técnicas agrícolas
sustentáveis, qualificação de profissionais, divulgação e orientação
de agricultores.

2.2.1 Ativos e serviços ecossistêmicos e ambientais do cacau


cabruca

O cultivo do cacaueiro na Bahia evoluiu a ponto de se tornar um


sistema que apresenta vantagens agroambientais diferenciadas de
outros sistemas agrícolas tropicias de produção, sendo evidentes os
benefícios ambientais.
Pesquisas têm demonstrado que os indicadores de qualidade do
solo apresentam melhores resultados nesse sistema (RITA, 2007;
ARAUJO; ARAUJO; NEY, 2008; ARAUJO, 2009; ARAUJO;
LOUREIRO; SANTANA, 2012; SOUZA et al., 2012; SALES, 2012),
dentre essas vantagens estão: maior agregação e menor perda do
solo, confirmando sua eficiência no controle de agentes erosivos
(INÁCIO, et al., 2005a; INÁCIO et al., 2005b); melhores índices e
atributos de qualidade física e química do solo (FONTES, 2006;
FERNANDES et al., 2013); maiores estoques de carbono; solos sob
florestas e cacau cabruca apresentam quantidades equivalentes de
nutrientes (EPPS, 2007; EPPS et al., 2009); a substituição da floresta
para o sistema cacau cabruca (sub-bosque) não alterou o total de
carbono orgânico do solo e suas frações (BARRETO et al., 2006;
2008), entre outros.
Resultados obtidos por Ahnert et al. (2009), Araujo (2009), Epps
(2009), Epps et al. (2007), Lobão (2007) e Santos (2007; 2006)
confirmam que cabruca é um sistema agroflorestal com
características que se assemelham à florestal natural, tornando-se
uma estratégia importante na conservação dos recursos naturais.
Essa forma de relação com a natureza estabelece um novo
paradigma — conservar recursos naturais concomitantemente à
produção agrícola num mesmo espaço-tempo (SETENTA; LOBÃO,
2012). Ou seja, sem destruir a riqueza arbórea, sem alterar
profundamente a paisagem e nem torná-la intocável, consegue-se
produção agrícola capaz de contribuir para a permanência do
homem na zona rural, conservação da diversidade arbórea regional e
conectividade gênica entre os fragmentos florestais remanescentes.
Também é apropriado mencionar o potencial produtivo da madeira,
flores, frutos, fármacos e outros produtos, que podem contribuir para
o aumento de receita na propriedade agrícola, ao tempo em que
possibilitam, com a oferta desses produtos, atenuar a pressão sobre
os fragmentos florestais remanescentes.
A plasticidade e assertividade ambiental desse sistema ficam
evidenciadas pelos ativos e serviços ecossistêmicos e ambientais
proporcionados: 1) fragmentos remanescentes da Mata Atlântica,
inseridos na cultura e no entorno do sistema; 2) conservação de
significativos exemplares arbóreos no sombreamento do cacau; 3)
conectividade gênica entre fragmentos (corredor de biodiversidade);
4) capacidade de manter a paisagem próxima à original; 5) sequestro
e imobilização de carbono; 6) conservação (riqueza e abundância)
da fauna silvestre; 7) proteção (abrigo e alimento) à fauna silvestre,
aumento da capacidade de suporte faunístico de remanescentes
florestais; 8) conservação de recursos hídricos regionais associados;
e 9) conservação de solos em condições próximas aos de uma
floresta.
Dentre estes, cinco (recursos hídricos, conservação produtivas de
espécies ameaçadas, imobilização de carbono, corredor de
biodiversidade e fauna silvestre) se destacam como factíveis de
serem ampliados, não só na cabruca (tradicional) como nos outros
sistemas de cultivo do cacaueiro.

2.3 Sistema agrossilvicultural e a cacauicultura


Sistemas agrossilviculturais (SAGS) ou agroflorestais (SAF) como
também são conhecidos, são formas de uso ou de manejo da terra
nos quais se combinam espécies arbóreas (frutíferas e/ou
madeireiras) com cultivos agrícolas e/ou criação de animais, de
forma simultânea ou em sequência temporal, promovendo benefícios
econômicos e ecológicos. Esses sistemas apresentam como
principais vantagens, frente à agricultura convencional, a fácil
recuperação da fertilidade dos solos, o fornecimento de adubos
verdes e o controle de plantas daninhas, entre outras (SBSAF, 2016).
Esses sistemas podem ser formados por três componentes: o
florestal (representado pelas árvores, palmeiras ou outras plantas
lenhosas perenes); o agrícola (representado pelas plantas herbáceas
ou arbustivas, incluindo plantas forrageiras); e o animal, tanto de
pequeno quanto de grande porte. É válido ressaltar que o
componente arbóreo é influenciado pelas espécies que o compõe,
distribuição, número e arranjo das árvores e pelas interações que
estas estabelecem entre os componentes do SAGS. Os sistemas
agrossilviculturais podem ser classificados de diferentes formas, Nair
(1990) propõe as seguintes classificações:

Quanto à natureza ou composição dos componentes:


silviagrícola ou agrossilvicultural — culturas agrícolas e árvores;
silvipastoril — pastagem e/ou animal e árvores; silviagropastoril
ou agrossilvipastoril — culturas agrícolas, animal e árvores.
Quanto ao arranjo espacial (distribuição na área e a densidade
de plantio) do componente florestal: arranjo aleatório
(misturado); arranjo microzonal em fileiras; arranjo macrozonal
em bordas (box); arranjo macrozonal em faixas (Figura 1).
Quanto ao tempo de entrada e permanência dos componentes
(florestal–agrícola–animal) no sistema, o arranjo temporal pode
ser (Figura 2): 1) Arranjo Temporal Coincidente — quando os
componentes têm o mesmo tempo de permanência no sistema;
2) Arranjo Temporal Concomitante — quando os componentes
têm o mesmo tempo de entrada ou de saída no sistema, mas a
permanência não é a mesma; 3) Arranjo Temporal Interpolado —
quando o cultivo dos componentes na área acontece de forma
intercalada; 4) Arranjo Temporal Intermitente — quando um
componente de ciclo mais curto é cultivado intermitentemente,
em diversos momentos; 5) Arranjo Temporal Separado —
quando o cultivo dos componentes na área não coincidir
temporalmente, acontecer em tempos distintos; 6) Arranjo
Temporal Sobreposto — quando um componente de ciclo mais
curto é cultivado em qualquer período de tempo do cultivo do
componente de ciclo mais longo.
Quanto à base funcional (refere-se à sua principal função)
conservação; produção; e conservação produtiva.
Quanto à base ecológica: agroecológico; orgânico.
Quanto à origem das espécies utilizadas: nativas; exóticas;
mista.
Quanto à base sócioeconômica: escala de produção comercial;
escala de produção de subsistência; escala de produção
intermediária (subsistência e comercial).
Quanto ao nível de tecnologia e manejo: intensivo; semi-
intensivo; de baixa intensidade.

Figura 1 - Arranjos espaciais das culturas nos SAGS

Fonte: Imagens produzidas pelos autores.


Figura 2 - Classificação quanto ao arranjo temporal dos
componentes

Fonte: Imagens produzidas pelos autores.

O arranjo temporal das plantas (época de plantio) nos SAGS pode


ocorrer de diversas formas, como plantio simultâneo ou sequencial
das espécies vegetais. Esses arranjos temporais, segundo Nair
(1990), podem ser considerados como: coincidente, concomitante,
sobreposto, separado e interpolado (Figura 2).
Todos os modos de cultivos de cacau praticados na Bahia são
sistemas agrossilviculturais, independente da distribuição espacial de
seus componentes, do arranjo temporal praticado, da adoção e da
intensidade tecnológica adotada, (Figura 3). E essas formas de
cultivo podem ser agrupadas em três:

Tradicional cacau cabruca: é composto pelos cacauais


implantados no sistema cabruca, com aproximadamente 600 ind
ha-1, sombreados com indivíduos arbóreos remanescentes da
floresta original. É um SAGS cujos elementos do componente
florestal estão arranjados espacialmente de modo aleatório e,
temporalmente, num arranjo que pode ser considerado como
concomitante ou mesmo sobreposto (Figura 3A).
Moderno – tecnicamente implantado (cacau + eritrina ou outra
espécie como a seringueira, coqueiro): cacauais implantados
numa densidade de 1.110 ind ha-1 em áreas em que a floresta
foi eliminada (derruba total), tendo como árvore de sombra
(proteção de topo) a espécie exótica Erythrina fusca numa
densidade arbórea de 25 ind ha-1 (24 x 24 m + 1 eritrina em
quinconcio); ou a seringueira (Hevea brasiliense) numa
densidade 476 ind ha-1 (7 x 3 m). Esse sistema foi implantado,
espacialmente, em arranjo macrozonal em faixas simples e,
temporalmente, em arranjo intermitente. Com a eritrina,
inicialmente, foi implantado o sombreamento provisório
(bananeira), juntamente com o definitivo (eritrina) e,
posteriormente, com o componente agrícola principal (cultivo
âncora), o cacaueiro (Figuras 3B, C e D).
Enquanto que no SAGS cacau + seringueira, o componente
arbóreo foi o primeiro a ser plantado e, posteriormente, o
cacaueiro. Quando a área apresentava pouco sombreamento
para o cacaueiro jovem, a bananeira era introduzida com o
objetivo de proporcionar o conforto ambiental adequado. Neste,
o sombreamento provisório (bananeira) é plantado inicialmente,
e o cultivo âncora (o cacaueiro) só é introduzido no sistema após
as condições locais estarem propícias, apresentarem conforto
térmico e ambiental adequados.
Pós-moderno cacau a pleno sol e fertiirrigado: os primeiros
plantios neste sistema se deram no município de Colatina, no
Espírito Santo, em condições ecológicas/edafoclimáticas
específicas. Atualmente, estão sendo desenvolvidas técnicas de
manejo que possibilitam uma produtividade elevada por unidade
de área e em regiões climáticas adversas (semiáridas e áridas).
Esse sistema, espacialmente, é um arranjo macrozonal em
bordas (box) e, temporalmente, é um arranjo
coincidente/intermitente (Figura 3E).
Figura 3 - Cacau cabruca sombreamento com distribuição
aleatória (A); arranjo macro zonal em fila simples — eritrina (B);
coqueiro (C); arranjo macro zonal em fila dupla — seringueira (D); e
cacau a pleno sol — arranjo em box (E)
Fonte: LEITE, B. V.
2.3.1 Sistema agrossilvicultural cacau cabruca

O cultivo do cacaueiro em sistema cabruca é tecnicamente um


sistema agrossilvicultural de produção, que gera inúmeros benefícios
silviculturais, agroecológicos e ambientais muito valorizados e
requeridos pelos protagonistas do desenvolvimento sustentável, mas
comumentes não percebidos pelos adeptos da “revolução verde” e
nem por muitos dos produtores de cacau do Sul da Bahia.
O ato de brocar as matas para o plantio do cacau por muitos anos,
associado a fatores culturais, gerou um sistema de produção
refinado e moderno – o cacau cabruca (LOBÃO et al., 1997). Ele é o
resultado primoroso da ocupação de um território, cuja origem está
diretamente relacionada com a colonização da região Sudeste da
Bahia. Sua prática evoluiu a ponto de se tornar um sistema
agrossilvicultural que apresenta notáveis vantagens agroambientais
sustentáveis, quando comparado a outros sistemas de produção
agrícola tropical.
O cacau cabruca, elemento fundamental na composição do
agroecossistema cacaueiro, sob o ponto de vista do desenvolvimento
sustentável, envolve aspectos agroeconômicos, sociais, culturais e
ambientais, o qual conceituado por Lobão et al. (1997) como um
sistema agrossilvicultural que se fundamenta na substituição dos
elementos do sub-bosque da floresta, por uma cultura de interesse
econômico, implantada sob a proteção de árvores remanescentes,
estabelecendo relações ambientais de baixo impacto com os
recursos naturais a ele associados.

2.3.1.1 Sistema cacau cabruca — desenvolvimento sustentável

A antropização da região Sudeste da Bahia está ligada à


introdução do cacaueiro (Theobroma cacao), inicialmente implantado
entre as árvores remanescentes da floresta, em pequenos espaços
abertos, sem proporcionar alterações profundas na paisagem
original. Os procedimentos de preparação da floresta para plantio
eram denominados de “cabrocamento”. O plantio em “cabruca”,
aperfeiçoado ao longo dos anos, demonstrou causar menos impacto
em relação à vegetação natural e às inter-relações existentes do que
o método de derruba total das árvores, também praticado na região
cacaueira baiana (SETENTA et al., 2005).
O cacau plantado em cabruca é, na verdade, um sistema
agrossilvicultural de produção (sistema cacau cabruca), criado sem
precedentes, que vem gerando benefícios (produtos e serviços)
silviculturais, agroecológicos, ambientais e ecossistêmicos muito
valorizados no desenvolvimento sustentável. Mas, até bem pouco
tempo, não tinham sido percebidos pela sociedade regional nem por
profissionais da área agrícola com uma formação menos holística.
Van Belle, Lobão e Herrera (2003), ao descreverem a
cacauicultura baiana, ressaltaram sua eficiência, capacidade de
conservação e sustentabilidade, e afirmaram ser esta uma das
atividades agrícolas tropicais que melhor conseguiu compatibilizar o
desenvolvimento socioeconômico com a conservação ambiental. Isto
é válido tanto para o cacaueiro implantado com maior eficiência
ambiental em cabruca, como reafirmaram Mello e Bispo (2005) e
Setenta et al. (2005), como para o cacaueiro sob o sombreamento
homogêneo da Erythrina fusca, com menor eficácia ambiental.
A baixa similaridade e os altos índices de diversidades detectados
nas comunidades avaliadas por Lobão (2007) refletem os
significativos valores da diversidade local (a = 37) e regional (γ = 93),
e da diversidade beta (β = 0,4); fica perceptível a importância do
sistema cabruca na manutenção da diversidade de espécies
arbóreas.

2.3.1.2 Sombreamento — densidade, estrutura vertical e florística

Numa floresta tropical, podem ser considerados três estratos


verticais, enquanto no sistema de cacau cabruca são apenas dois: o
cacaueiro ocupando o estrato vertical entre 1,5 e 5 m; e os
elementos arbóreos, de proteção de topo, ocupando o estrato
superior, localizado normalmente a uma altura superior a 5 m da
copa do cacaueiro, o que favorece a ventilação no cacaual. As
árvores para produção madeireira devem ser manejadas para a
formação de um fuste único, que confere maior valor comercial, além
de favorecer colheitas futuras.
Na formação do sombreamento do sistema cabruca, a partir da
floresta original, basicamente três ocorrências podem ser
identificadas: 1) árvores que ocupavam o docel da floresta, na
posição de dominantes e codominantes; 2) árvores em estrato
florestal intermediário, na posição das dominadas; e 3) áreas mais
raleadas, com poucas árvores e de posições variadas,
posteriormente, para a recomposição do sombreamento, novas
árvores são introduzidas, via plantio ou regeneração induzida
(LOBÃO et al., 1997).
Apesar de estudos demonstrarem a riqueza da diversidade vegetal
da Mata Atlântica do Sul da Bahia e do sombreamento do sistema
cabruca, a diversidade mínima de espécies para o cacau cabruca
ainda não está tecnicamente determinada. Em áreas com cacau
cabruca na região Sul da Bahia, o quociente de mistura (QM) de
Jentsch, um indicador de diversidade vegetal, tem variado entre 1/3
até 1/8 para espécie, isso significa que ocorre uma espécie arbórea a
cada 3 a 8 árvores (LOBÃO, 2007; LOBÃO et al., 2012). Nesses
casos, o número de indivíduos arbóreos com valor comercial, aliado
à altura e à área basal (ocupação horizontal) das árvores do
sombreamento, determina o volume de madeira e, por conseguinte,
o valor agregado da área. A distribuição do número de indivíduos
arbóreos e do volume por classe de diâmetro de um sitema cabruca
(Figura 4) difere substancialmente da distribuição de uma área com
floresta natural.
Figura 4 - Distribuição do número e volume (m3) arbóreo do
sombreamento de um sitema cabruca, por classe de diâmetro à
altura do peito (DAP, cm)

Fonte: Imagem produzida pelos autores.

Lobão et al. (2012) estabelecem critérios sobre a densidade e


composição florística ou diversidade — neste contexto, densidade
refere-se ao número de indivíduos das diferentes espécies arbóreas
existentes em uma determinada área. De modo a estabelecer
coerência com o que traz o Decreto 15.180/14, fica proposta a
seguinte classificação: 1) baixa densidade: quando o sombreamento
do cacaueiro possui entre 20 e 40 ind ha-1; 2) média densidade:
entre 40 e 80 ind ha-1; e 3) alta densidade: quando é maior que 80
ind ha-1.
Em áreas que se enquadram como de preservação permanente,
indica-se um sombreamento com alta densidade. Enquanto que em
áreas de produção agrícola, sem restrições ambientais e legais, três
condições podem ser identificadas: (i) áreas exploradas
exclusivamente para a produção de cacau (mono-produto), no qual o
componente arbóreo tem objetivo apenas de conferir conforto
ambiental ao cacaueiro, nesses casos o sombreamento indicado é o
baixa densidade; (ii) áreas em que o cacaueiro é o cultivo âncora,
mas considera-se a possibilidade de produção diversificada, nessas
condições, o componente arbóreo pode e deve agregar valor
econômico, recomenda-se um sombreamento variando entre média
e alta densidade conforme as condições locais; (iii) áreas onde o
cacaueiro não é o cultivo âncora (ex. áreas de preservação
permanente – APP; áreas de produção intensiva de produtos
madeireiros e não madeireiros), recomenda-se um sombreamento
dinâmico com densidade alta.

2.3.1.3. Legislação ambiental pertinente e o manejo do SAGS cabruca

Na região cacaueira da Bahia, por estar totalmente inserida na


área de domínio da Mata Atlântica, o manejo do sistema cabruca
enfrentava muita insegurança quanto à interpretação da legislação
ambiental vigente. Essa dificuldade de interpretação foi superada a
partir da Lei estadual nº 12.377/2011 (artigo 117-A), que legitimou o
cacau cabruca como um sistema agroflorestal (agrossilvicultural). A
regulamentação dessa lei se deu a partir do Decreto 15.180/2014
(Seção IV), dissipando qualquer insegurança ainda existente, ao
tratar o cultivo do cacau como sistema agroflorestal passível de ser
manejado. Esse decreto foi regulamentado pelas Portarias INEMA nº
10.225/2015 e SEMA-INEMA nº 03/2017, que estabeleceram os
critérios e procedimentos para o manejo do sistema cabruca.
O manejo do sistema agrossilvicultural cabruca está legalmente
disciplinado, e o principal foco deste aparato legal vigente são as
árvores nativas do sombreamento; principalmente no que diz
respeito ao desbaste (abate/corte) das árvores e a comercialização
dos resíduos madeiráveis, seja para madeira a ser beneficiada
(pranchões e tábuas), seja para madeira in natura não processada
como a lenha. Contudo, para ser efetivado, é necessário obter junto
ao Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (INEMA) a
autorização de manejo mediante apresentação de um projeto técnico
de manejo da cabruca (PTMC).

2.3.1.4 Subsídios para adequação do sombreamento


A intervenção no sistema de proteção de topo (sombreamento), na
busca do conforto ambiental (temperatura e umidade relativa do ar,
radiação e vento) mais adequado à produção do cacaueiro, deve ser
realizada necessariamente antes da recuperação do cacaual. Esta
intervenção resume-se a quatro ações, as quais podem ser adotadas
de forma isolada ou combinadas:

Desrama de galhos para elevação de copa: também chamada


de poda de ramos laterais. É a retirada ou corte de galhos ou
ramos ao longo do fuste de uma árvore;
Raleamento da copa (poda) para redução da densidade de
copa: é a retirada de galhos que compõem a copa da árvore.
Nesta prática, é extraído todo o material vegetal excessivo,
doente, morto ou danificado, como galhos secos, podres,
quebrados ou mal desenvolvidos. O momento mais adequado
para realização desta intervenção é no final do inverno, antes da
brotação, quando o indivíduo arbóreo tem alta reserva de
fotoassimilados, o que é essencial para que ela possa gerar um
sistema de defesa adequado às agressões proporcionado pela
poda;
Supressão de exemplares arbóreos para reduzir a densidade de
árvores no sombreamento: deve ser seletiva e moderada. São
eliminadas árvores mortas, doentes, autossombreadas que
apresentem copas raquíticas, as dominadas e algumas
dominantes e codominantes quando apresentarem abundância e
densidade, observando sempre a conectividade para proteção
do fluxo gênico da fauna e flora;
Plantio de compensação: deve ser em cabrucas que apresentem
baixa densidade ou má distribuição de indivíduos.

2.3.1.5 Diretrizes para adequação do sombreamento

A adequação do sombreamento deve ter por princípio o conforto


térmico e ambiental do cacaueiro, com vistas ao aumento de
produtividade, portanto:
As ações de manejo não comprometer os produtos e serviços
ambientais e ecossistêmicos;
Para cada árvore de sombra suprimida, deverão ser plantadas
três árvores, preferencialmente nativas e ameaçadas de
extinção ou sob forte pressão antrópica. O plantio
preferencialmente deverá ser na própria área manejada do
PTMC;
Exemplares de espécies arbóreas ameaçadas de extinção (lista
oficial) não podem ser suprimidos. Contudo, fica liberada a
atividade de poda e/ou desrama em situações extremamente
necessárias, com justificativa técnica, desde que não
comprometa e ponha em risco a sobrevivência do espécime no
local;
Exemplares arbóreos fenotipicamente superiores (potenciais
matrizes) e/ ou de interesse técnico, científico, cultural ou social
presentes na área a ser manejada deverão ser conservados.
3 Estudos de casos no Projeto Barro Preto
Os estudos de casos a serem apresentados foram desenvolvidos
no Projeto Barro Preto (PBP), o qual é resultante do consórcio
Centro Mars Ciência do Cacau (MARS COCOA), CEPLAC, prefeitura
municipal de Barro Preto e sindicato rural patronal de Barro Preto.
Posteriormente, foi inserido, como instituição convidada, o INEMA,
autarquia da Secretaria do Meio Ambiente.
A cabruca vinha sendo explorada florestalmente de forma
desordenada e posteriormente substituída por pastagens extensivas
e mal manejadas, que aceleram a descaracterização do
agrossistema cacaueiro e colocam em risco o patrimônio ecológico
que o sistema cabruca conservou ao longo de sua história. Isto
motivou as instituições consorciadas a elaborarem uma proposta que
norteou a materialização de ideias e princípios contidos na proposta
da Conservação Produtiva – cacau por mais 250 anos de Setenta e
Lobão (2012). Desta forma, possibilitou-se que as instâncias
competentes desenvolvessem o aparato legal que disciplina as
intervenções de recuperação da cacauicultura baiana.

3.1 Caracterização do objeto e da área do PBP

O PBP foi desenvolvido em 11 propriedades rurais: Bela Flor, Bela


Cruz, Bom Jesus, Cordialidade, Fortaleza, São Joaquim, Roçado
Grande, Nova Harmonia, Santa Rosa, São José e Tuyuna Juruí.
Nestas, foram implantadas 12 ud (unidades demonstrativas, de
qualificação e monitoramento) com áreas entre 1 e 5 ha, totalizando
em 35,5 ha de área manejada.
O inventário florestal realizado nas ud possibilitou detectar que
32% das espécies do sombreamento eram exóticas (Figura 5). Por
ocasião do manejo do sombreamento será possível melhorar a
diversidade arbórea com o desbaste de indivíduos de espécies
exóticas e no plantio de compensação com nativas, prioritariamente
as ameaçadas de extinção, raras e/ou sob forte pressão antrópica.
Figura 5 - Inventário florestal em unidades demonstrativas de
sistema cabruca, em 11 propriedades rurais no município de Barro
Preto – BA

Fonte: Imagem produzida pelos autores.

3.2 Estudos de caso realizados na fazenda Bela Cruz —


PBP

Os estudos de caso apresentados basearam-se na intensidade da


interferência proposta para o manejo do sombreamento na ud
instalada na propriedade rural Bela Cruz.

3.2.1 Caracterização da área objeto — fazenda Bela Cruz

A fazenda Bela Cruz, de propriedade do Sr. José da Silva Reis,


com 11 ha de área total, dos quais 1 ha com pastagem, 1 ha com
pupunheira e 9 ha com cacau cabruca; desses, 1,4 ha de cacau
cabruca foram objeto de estudo (ud). O acesso à fazenda é pela
estrada Barro Preto−Ibicaraí, km 5,9. Ela está localizada no
município de Barro Preto, zona da Pedra Lascada, coordenadas em
UTM “WGS 89”: Zona 24L - E - 0443808 N – 8366262, altitude 210
m, agrossistema cacaueiro Vale do Almada.
Inserida na microbacia hidrográfica do Rio Salgado, que compõe a
macrobacia do Rio Cachoeira, a propriedade é banhada pelo córrego
da Jussara, formado por três pequenos córregos perenes. A
propriedade possui três nascentes, duas localizadas na ud.
Esta microrregião possui clima quente e úmido sem estação seca,
de acordo com a classificação de Köppen, é do tipo Af; com
pluviometria mensal superior a 60 mm, umidade relativa > 80% e
temperatura média em torno de 24 ºC. Os solos são classificados
como Podzólico variação Itabuna Modal, Cepec e Morro Redondo,
Latossolo variação Una e Água Sumida e Cambissolo variação Rio
Branco. Na microrregião ainda ocorrem áreas com vegetação natural
em estádio inicial e médio de regeneração (capoeira), bem como
florestas tropicais úmidas, com características de primária e
secundária. O relevo da região varia de ondulado a fortemente
ondulado, sendo que na área trabalhada predomina o ondulado.
Na ud, o componente arbóreo do sombreamento foi 100%
inventariado (censo), o fator de inclusão adotado para as árvores foi
de diâmetro a altura do peito (DAP) ≥ 10 cm. O Herbário André
Maurício de Carvalho, da CEPLAC, foi a referência e o sistema de
classificação botânica adotado foi APG II (2003). Os cacaueiros não
foram mensurados. No inventário, foram registradas: a espécie; a
circunferência a altura do peito (CAP); as alturas comercial, total e de
esgalhamento; e a localização georreferenciada.

3.2.2 Estudo de caso 1 — avaliação de Silva (2013b)

Silva (2013b) avaliou a proposta de manejo elaborada pela equipe


técnica do PBP para a ud da Bela Cruz, analisando a densidade,
distribuição (conectividade) e o volume pré e pós interferência
simulada das árvores recomendadas para serem retiradas no
manejo.
Tabela 1 - Resultados pré e pós intervenção no sombreamento na ud
da Bela Cruz
FAZ. BELA CRUZ – ud PRÉ- PÓS-
INTERFERÊNCIA INTERFERÊNCIA
Volume Total (m3) 286,50 38,73
Volume / ha (m3 ha-1) 148,95 20,13
Densidade (ind ha-1) 70,18 50,43
Classe Densidade Média Média
Distância média entre 5,05 6,48
árvores (m)
Fonte: Elaboração dos autores.

No manejo recomendado para recuperação do cacau, 28% dos


indivíduos foram indicados para supressão, o que representa 13,5%
do volume total. Setenta (2003), em área de cabruca no município de
Ilhéus, Bahia, encontrou um volume de madeira de 42 m3 ha-1,
enquanto Araujo (2006), num inventário a 100% em floresta tropical
primária densa de terra firme amazônica no Acre, encontrou 105 m3
ha-1; ambos inferiores ao encontrado na fazenda Bela Cruz, ou seja,
149 m3 ha-1. Esse volume em madeira, provavelmente, deve-se ao
manejo dispensado ao cacaueiro (roçagens e adubações frequentes)
e a uma menor competição entre plantas. Vale ressaltar que o
volume de madeira do cacaueiro não foi contabilizado.
Hosokawa (1998), para manejo sustentável de floresta nativa,
preconiza que a intensidade de corte (desbaste) para não prejudicar
a regeneração deve ser no máximo entre 30 e 40 m3 ha-1, ou seja,
entre 15 a 20% do volume total de madeira da área florestal. Mesmo
não sendo uma área florestal, o que significa que não há
regeneração natural, o desbaste indicado para a cabruca da Bela
Cruz, de 14% do volume do sombreamento, está abaixo do limite
indicado por Husokawa (1998) para floresta tropical.
Silva (2013b) constatou que o desbaste sugerido visava o conforto
ambiental do cacaueiro e não a produção madeireira. Visto que,
mesmo com a presença de espécies de madeira nobre com alto
valor comercial, ainda assim foram indicadas para o abate, árvores
de espécies sem uso comercial ou com menor volume
comercializável. Concluindo que a interferência proposta no
sombreamento está em conformidade com o requerido nas Portarias
nº 10.225/2015, do INEMA e nº 003/2017 da SEMA-INEMA.
A distribuição desordenada (aleatória) das árvores numa cabruca,
a princípio, parece ser casual, mas é fruto da interferência deliberada
do homem na formação inicial da área de cabruca para o cultivo do
cacaueiro. É possível visualizar que existe um padrão de
interferência de raleamento.
Segundo Alvin e Peixoto (1972), a distância entre árvores de
sombra em um cacaueiro produtivo deve ser 24 x 24 m. Vale
ressaltar que esta é uma recomendação geral, independentemente
da fenologia da espécie arbórea, do porte das árvores, conformação
e densidade da copa, bem como do tipo de solo, relevo e exposição
solar (leste–oeste) da área.
A densidade média arbórea de povoamento tem relação direta
com a conectividade da vegetação, e esta apresenta analogia com o
padrão da paisagem, a complexidade dos corredores, a estrutura da
matriz e com a distância entre manchas vegetacionais. Corredores e
manchas de vegetação de pequeno porte (trampolins) distribuídos
numa paisagem também têm sua parcela de contribuição com a
conectividade da paisagem (UEZU, 2006). Outro ponto a ser
considerado é que a cabruca tem sido aceita em substituição à mata
ciliar, e esta desempenha um importante papel na eficiência e
funcionalidade da conectividade (GOERL et al., 2011).
A variável distância média (Dm) interfere tanto na estrutura como
na funcionalidade, intervindo nas síndromes reprodutivas da espécie
e, portanto, na sua sobrevivência. É possível prever que o
raleamento do sombreamento para aumentar a produtividade,
lastreado apenas na interceptação luminosa proporcionada pela
densidade arbórea, pode pôr em risco a conectividade biológica que
o sistema cabruca proporciona.
Os resultados analisados permitiram concluir que: 1) o manejo
proposto atende aos princípios da conservação produtiva e está em
consonância com os pressupostos da sustentabilidade; 2)
recomenda-se que o raleamento do sombreamento, para melhoria de
produção e produtividade do cacaueiro, não deve ser baseado
apenas nas variáveis densidade e espaçamento entre árvores de
sombra, uma vez que pode, entre outras, comprometer diversidade
arbórea, a relação número de indivíduos–espécies, a conectividade e
alterar a paisagem original, contribuindo para perda de eficiência
ecossistêmica do sistema agrossilvicultural cacau cabruca; 3) a
presença de espécies nativas arbóreas nobres pós-interferência
recomendada ressalta a intenção do manejo agronômico e não
madeireiro da proposta; e 4) o desbaste e desrama possibilitam gerar
produtos de base florestal com volumes significativos de madeira
comercial, capazes de agregar valor econômico à área.

3.2.3 Estudo de caso 2 — avaliação de Silva (2013a)

Silva (2013a), ao avaliar o manejo sugerido para a ud da fazenda


Bela Cruz, correlacionou as alterações à estrutura, diversidade de
espécies e composição arbórea do sombreamento do cacaueiro
utilizando descritores fitossociológicos. No censo florestal da área
(1,4 ha), foram identificados 136 indivíduos arbóreos adultos —
numa densidade média de 97 ind ha-1 — pertencentes a 30
espécies, distribuídas em 20 famílias botânicas.
Silva (2013a) utilizou diferentes descritores fitossociológicos para
avaliar a florística. Para a variedade de espécies, utilizou o índice de
diversidade de Shannon (H’) — quanto maior for seu valor, maior
será a diversidade florística. Conforme Martini e Prado (2010), os
valores de H’ normalmente variam entre 1,5 e 3,5, raramente acima
de 5,0. O índice de heterogeneidade (H’) foi estimado em 2,82. Este
valor é inferior aos encontrados por Sambuichi (2003) tanto em
cabrucas novas (3,54 e 4,22), quanto antigas (3,31 a 3,99), e por
Lobão (2007) para cabrucas antigas (3,24 a 3,97).
Segundo Daniel (2007), a posição sociológica das árvores e seu
vigor são características marcantes da competição entre elas e
podem auxiliar na decisão de quais devem ser desbastadas e quais
conservadas. O resultado esperado com o desbaste é uma
população arbórea de qualidade com características fenotípicas
superiores e um incremento em volume maior as não desbastadas.
Com o objetivo de adequar a luminosidade da área, dos 136
indivíduos inventariados, 33 foram indicados para serem
desbastados. Isso corresponde a 24% do total inventariado. Destes,
14 são espécies exóticas e 19 nativas. Das suprimidas, 10
exemplares (30%), em função do seu estado vegetativo, foram
considerados como árvores desvitalizadas (mortas).
Jaqueira, cedro e vinhático foram as dominantes, apresentaram
densidade relativa alta (44%); enquanto 12% das espécies
apresentaram-se com apenas um exemplar. Os 33 indivíduos
arbóreos indicados para corte raso representam 11 espécies e 10
famílias botânicas. A família Moraceae foi a de maior valor de
importância (IVI). Após o desbaste, as A. heterophyllus, C. odorata,
Ficus sp., P. reticulata e Lonchocarpus sp. terão área basal de 12,4
m2, equivalentes a 76% da dominância relativa da área. Na
intervenção, serão erradicadas da área duas espécies pioneiras (T.
micrantha e A. sellowiana) das famílias Ulmaceae e Vernaceae,
cujos indivíduos estavam decadentes. As intervenções de desbaste
exigem o plantio de compensação de 100 indivíduos arbóreos,
conforme previsto na legislação.
Os resultados apurados nas intervenções para a adequação do
sombreamento do cacau cabruca permitiram concluir que: 1) há
eficiência, eficácia e assertividade na proposta de adequação do
sombreamento, quanto aos pressupostos do desenvolvimento
sustentável; 2) as alterações planejadas para conforto dos
cacaueiros não interferem significativamente na estrutura florestal
nem fitossociológica da área; 3) não há descaracterização da
composição florística original; 4) há aumento de riqueza florística; 5)
a diversidade local é conservada; 6) volume comercial da
intervenção é capaz de agregar valor à atividade; e 7) a presença de
espécies nativas raras e nobres na área comprovam a capacidade
do sistema em promover o resgate e possibilitar a conservação
produtiva de espécies que se encontram sob pressão.
A recuperação praticada na cacauicultura normalmente não está
diretamente relacionada ao manejo agrossilvicultural do cacaueiro,
mas a uma maior luminosidade incidente e, conseguinte, ao
raleamento do sombreamento. Manejar áreas de cacau cabruca com
o foco único na luminosidade para aumentar a produção e a
produtividade pode comprometer os ativos e serviços ambientais até
então conservados.

3.2.4 Estudo de caso 3 — avaliação de Silva (2015b)

A permanência da cultura do cacau em sistema cabruca, como


geradora de ativos e serviços ecossistêmicos e ambientais, está
diretamente relacionada ao manejo do sombreamento definitivo do
cacaueiro, que tem por finalidade proporcionar condições ambientais
favoráveis aos processos reprodutivos da cultura, podendo vir a
proporcionar também pagamento por serviços ambientais (PSA).
Com base nessas premissas, Silva (2015b) analisou os custos das
interferências silviculturais para adequação do sombreamento
(desbaste e desrama) e as receitas possíveis de serem obtidas com
a comercialização dos resíduos de base florestal oriundos das
interferências com vistas a agregar valor.
Os custos das interferências no sombreamento foram calculados a
partir de levantamento de preços no mercado regional. Na
elaboração do projeto técnico de manejo da cabruca (PTMC),
considerou-se o inventário florestal a 100% com o custo de R$
500,00 ha-1 até 70 árvores e R$ 5,00 por árvore que excedesse. Os
custos das atividades silviculturais foram calculados em função da
circunferência (CAP) dos indivíduos arbóreos inventariados e do tipo
de interferência — se poda ou desbaste.
Os resíduos de base florestal resultantes das interferências
silviculturais realizadas nos elementos arbóreos componentes de
sombreamento do cacaual foram denominados de produto alternativo
e foram classificados quanto a sua finalidade — lenha e/ou madeira
—, considerando-se a qualidade, pois isto altera o valor final.
Tabela 2 - Custo das interferências florestais do manejo do
sombreamento
CAP9 DA ÁRVORE PREÇO DO DESBASTE PREÇO DA PODA
50 a 100 cm R$ 120,00 R$ 80,00
101 a 200 cm R$ 180,00 R$ 180,00
> 200 cm R$ 280,00 R$ 280,0
Fonte: Elaboração dos autores.

Na análise, não se considerou a variação do capital investido,


apenas os custos e as receitas da operação preliminar de manejo do
sombreamento no período inferior a um ano. Utilizou-se a análise da
razão receita/custo proposta por Silva (2012, apud Silva, 2015b),
pela relação entre o somatório das receitas e dos custos, em que
R/C > 1 indica que o projeto possui viabilidade econômica. Quanto
mais distante positivamente de 1 (um) for o resultado, maior
viabilidade econômica tem o projeto. Por tratar-se de um projeto de
curto prazo, não foram consideradas as taxas de juros.
As decisões referentes ao manejo agrossilvicultural adotadas na
recuperação do cacaual envolvem aspectos fitotécnicos com seus
respectivos custos. Seus méritos haviam sido brevemente abordados
por Silva (2013b) e foram melhor detalhados por Silva (2015b), com
uma análise dos custos e possíveis receitas com o aproveitamento
comercial dos produtos de base florestal
A análise da razão receita/custo das interferências silviculturais no
sombreamento (Tabela 3) possibilitaram identificar que os maiores
custos da atividade de manejo do sombreamento foram em relação
às operações de medição, corte e transporte dos resíduos florestais
(34%), seguidas da operação de desbaste (29%) e poda (24%).
Tabela 3 - Resultado de custos e receitas do manejo de
sombreamento
TIPO VALOR %
Receita estimada com lenha 2.296,00 9,5
Receita estimada com madeiráveis 21.762,67 90,5
Receita Bruta Total 24.058,67 100
Custo elaboração PTMC 2.020,28 8,9
Custo da poda 5.580,00 24,5
Custo do desbaste 6.720,00 29,4
Custo medição, corte e transporte 7.787,09 34,1
resíduos
Custo plantio de mudas 710,00 3,1
Custo Total 22.817,37 100
Receita Líquida 1.241,31 5,2*
Razão Receita/Custo 1,08
*Porcentagem em relação à receita bruta total.
Fonte: Elaboração dos autores.*Porcentagem em relação à receita
bruta total. Fonte: Elaboração dos autores.

Consoante com a metodologia proposta por Silva (2005b), foi


possível aferir que o projeto do manejo de sombreamento tem
viabilidade econômica, visto que a razão receita/custo foi de 1,08.
Dessa forma, os custos com as interferências realizadas podem ser
pagos considerando-se as estimativas de receitas obtidas com
comercialização de lenha e madeiráveis.
As receitas estimadas com a possível comercialização dos
resíduos oriundos da desrama e/ou desbaste de árvores surgem
como uma alternativa capaz de compensar as despesas com a
adequação de sombreamento no sistema agrossilvicultural cabruca.
Como o Decreto 15.150/14 condiciona que as receitas obtidas da
comercialização dos resíduos madeireiros oriundos do manejo
devem ser reinvestidas na manutenção ou expansão do
agroecossistema, Silva (2015b) sugere que sejam utilizadas para
aumentar a sustentabilidade das intervenções no manejo.
4 Conservação produtiva — a alternativa
De acordo com Setenta e Lobão (2012): Conservação Produtiva é a
resultante da atividade agroambiental planejada no contexto do
agroecossistema cacaueiro — de um sistema de produção agrícola de
baixo impacto ecológico, que possibilita a sustentação dos recursos
naturais renováveis de forma produtiva, sem alterações substanciais na
paisagem local e nas suas características básicas; garantidos o uso, a
conservação e a produção de forma sustentável.

O agroecossistema cacaueiro baiano possui significativos


remanescentes de floresta atlântica, seja pelas tipologias vegetais,
seja pela riqueza de espécies e características peculiares dos
indivíduos que a compõem. Esses atributos foram mantidos graças à
natureza conservacionista da cultura do cacau, que possibilitou uma
relação sui generis do homem com a natureza – a conservação
produtiva; a qual foi capaz de evidenciar técnicas conservacionistas
que se consolidaram ao longo dos anos.
Ao contrário de outros modelos agrícolas convencionais de
produção e de uso intensivo de recursos naturais, o cacau cabruca
favoreceu a conservação de remanescentes florestais nele inseridos
ou no seu entorno. Possibilitou também a sobrevivência de
indivíduos arbóreos da floresta primária, com a função de
proporcionar conforto ambiental ao cacaueiro. Isto propiciou a
formação de corredores ecológicos que ampliam a capacidade de
suporte faunístico dos fragmentos florestais, além de manter a
qualidade do solo em níveis próximos ao de uma floresta primária.
Possibilitou ainda a conservação de recursos hídricos, quando, na
faixa ciliar, a densidade arbórea é alta (CURVELO et al., 2009).
A comprovação da existência de indivíduos remanescentes de
espécies de diferentes estádios sucessionais, convivendo num
mesmo espaço agrícola, entremeados com fragmentos florestais,
evidencia a capacidade de adaptação das espécies à antropização,
bem como o potencial produtivo madeireiro do sistema. Corrobora
também a realização de ações conservacionistas como: corredores
ecológicos, resgate, reintrodução e conservação produtiva de
espécies em risco de extinção ou sob forte pressão antrópica
(LOBÃO et al., 2012).
A versatilidade do sistema cabruca precisa ser evidenciada além
da dicotomia cartesiana da preservação x produção. Não só pela sua
função de conservação capaz de gerar ativos e serviços
ecossistêmicos e ambientais ou pela capacidade, ainda que muito
pouco explorada, das árvores do sombreamento poderem produzir
madeira, flores, frutos, fármacos e outros, mas porque esse sistema
foi capaz de, em um mesmo espaço-tempo, conciliar a conservação
com a produção, ou seja, harmonizar a relação homem–natureza
como nenhum outro sistema de produção agrícola tropical intensivo e
extensivo.
O cacau cabruca estabeleceu um novo princípio de praticar
agricultura nos trópicos — a conservação produtiva. A qual é capaz
de contribuir para a sustentabilidade da propriedade rural, não
apenas a econômica, para outras dimensões da sustentabilidade
relacionadas por Sachs (2000); ao tempo em que possibilita diminuir
as pressões sobre as florestas naturais remanescentes.
Conservação Produtiva é uma estratégia de sustentabilidade para
a região cacaueira da Bahia que pode ser aplicada em outros usos
do solo, assim como em outros biomas. Essa forma de relação com
a natureza aprendida com o sistema cacau cabruca estabelece um
novo paradigma regional em que — sem precisar destruir a riqueza
arbórea nem alterar profundamente a paisagem e muito menos
decretar a intocabilidade da área com leis, decretos e portarias
impraticáveis — consegue-se produzir intensivamente, promover a
permanência do homem no meio rural, conservar a diversidade
arbórea regional, estabelecer conectividade gênica entre os
remanescentes florestais e adequar ambientalmente uma
propriedade rural com viabilidade econômica.

Conservação produtiva é como se materializa o desenvolvimento rural


sustentável. Inspirada no sistema cabruca, a conservação produtiva,
valoriza a cultura, os saberes e a experiência da Civilização do Cacau da
região sulbaiana (SETENTA; LOBÃO, 2012, p. 137).
4.1 Por uma cacauicultura mais sustentável

Independentemente das formas de cultivos de cacau praticadas na


Bahia (tradicional, com eritrina e a pleno sol), é possível torná-las
mais sustentáveis: mais sustentáveis pela mitigação das ações que
geram impactos negativos (adubação, roçagem química, controle
químico de pragas e doenças, desbaste de árvores do
sombreamento para aumentar a incidência luminosa no cacaueiro,
etc.); mais sustentáveis por meio de ações de compensação, em
face das não mitigadas; mais sustentáveis pela conservação e
mesmo ampliação dos serviços e ativos ecossistêmicos e ambientais
da cacauicultura nos diferentes sistemas de produção de cacau;
mais sustentáveis também pela adequação ambiental e gestão
sustentável da propriedade.
O cacau cabruca é a grande referência de agricultura tropical em
sustentabilidade, mas mesmo assim é possível torná-lo ainda mais
sustentável, seja aumentando a riqueza e/ou proporcionando o
resgate e a conservação produtiva de espécies arbóreas nativas
ameaçadas, seja agregando renda ao sistema, com o
aproveitamento comercial de produtos florestais (madeiráveis e não
madeiráveis), seja promovendo a sustentabilidade ecológica com
tecnologias mais limpas para a minimização de danos aos sistemas
de sustentação da vida, seja com a promoção do respeito e
acolhimento aos diferentes valores e processos culturais, assim
como ao equilíbrio entre as migrações, qualidade de vida e o modus
viventes rural urbano.
A cacauicultura em sistema agroflorestal de faixa simples com
apenas uma espécie arbórea, como eritrina ou seringueira, pode ter
sua sustentabilidade ampliada com o plantio de diferentes espécies
arbóreas, com consequente aumento da riqueza.
Já no sistema a pleno sol, onde as árvores estão distribuídas em
box para proteção contra vento, a sustentabilidade pode ser
ampliada com o plantio de diferentes espécies arbóreas na barreira
contra ventos e com o plantio de árvores com copa de baixa
interceptação luminosa, distribuídas por toda a área de cultivo do
cacaueiro.
Porém, apenas conservar os ativos ambientais e ecossistêmicos
não é suficiente, é preciso aumentar a sustentabilidade no sistema
de produção agrícola. Para isso, é imprescindível que não só os
técnicos (extencionistas, pesquisadores, planejadores), mas também
os trabalhadores responsáveis pela condução da área estejam
devidamente sensibilizados e qualificados para conduzir a cultura
âncora (cacaueiro) em um consórcio agrossilvicultural, que
proporcione a inclusão da dimensão ambiental no manejo da área.
Estima-se que 300 mil hectares de cacau cultivado no modelo
cabruca, manejado sob a ótica do Decreto 15.180/2014, permitirão o
aumento da produção, garantindo assim o abastecimento da
demanda interna, gerando excedentes exportáveis, e ainda
possibilitando o resgate de mais de 50 espécies arbóreas nobres,
vulneráveis, raras, ameaçadas de extinção e sob forte pressão, bem
como de outras de interesse regional.
5 Educação verticalizada — “processo”
imprescindível à sustentabilidade
“Só conseguiremos vencer a crise regional por meio da educação”.
(Prof. Laércio Pinho — UESC, in memoriam)
“Devemos lutar por uma educação que nos ensine a pensar e não por
uma educação que nos ensine a obedecer”. (Paulo Freire)

Tendo-se por base as premissas de que no desenvolvimento


sustentável o crescimento se dá de uma forma equilibrada entre a
economia (renda), a educação, o respeito à cultura local, a
longevidade da atividade e dos recursos naturais associados, a
região do Sul da Bahia nunca foi uma região plenamente
desenvolvida, apesar da grande quantidade de recursos financeiros
gerados pela cacauicultura. Mesmo após inúmeras e sucessivas
crises e dificuldades, a região cacaueira baiana ainda apresenta
potencialidades que podem impulsionar o seu desenvolvimento em
bases sustentáveis.
Com essa intenção, recentemente, o Consórcio Intermunicipal da
Mata Atlântica, composto por 12 municípios (Arataca, Jussari, São
José da Vitória, Buerarema, Camacan, Pau Brasil, Una, Santa Luzia,
Canavieiras, Itaju do Colônia e Mascote) e movimentos sociais locais
(etnias indígenas, quilombos, assentamentos rurais do Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária — INCRA),
apresentaram ao Estado brasileiro uma proposta — Programa de
Desenvolvimento Territorial em Bases Agroecológicas — para
recuperar 50.000 ha de cacau cabruca e restaurar 20.000 hectares
de área de preservação permanente (APP). O objetivo é fortalecer
zonas de amortecimento de Unidades de Conservação de Proteção
Integral, conselhos municipais de desenvolvimento rural sustentável
e de meio ambiente, ações de assistência técnica e extensão rural
(ATER) do governo federal, estadual e municipais, sindicatos dos
trabalhadores e trabalhadoras rurais, bem como fortalecer a
presença e ações da juventude, mulheres e idosos no meio rural.
Uma proposta de recuperação dessa magnitude requer a
execução de uma sólida ação educacional empreendedora,
tecnológica, profissionalizante e inovadora voltada para a geração de
renda de forma a permitir e contribuir com a soberania financeira,
redução de evasão de renda e do êxodo da zona rural. A educação
deve ser o ponto primordial de uma proposta desenvolvimentista,
principalmente se o desenvolvimento requerido for em bases
sustentáveis. Portanto, é necessário considerar a restruturação da
educação de forma verticalizada. Assim, um programa de
desenvolvimento deverá se basear em dois eixos que trabalhem
intensivamente a verticalização da educação e da produção.
Será necessário implementar uma educação profissionalizante
empreendedora, inovadora e integrada à produção, que permita o
uso sustentável dos recursos naturais, sobretudo da Mata Atlântica,
com seus recursos hídricos. Tal educação deve trabalhar também o
planejamento e a gestão sustentável da propriedade rural e
proporcionar a inclusão sócio-produtiva em arranjos produtivos locais
com ações efetivas e integradoras (entre a educação e a renda) na
ótica do desenvolvimento sustentável, conforme propõe a
conservação produtiva.

Onde o uso responsável dos recursos naturais soma-se a uma


valorização das questões sociais, dos bens públicos globais, bem como
dos serviços e ativos ecossistêmicos que os sistemas de produção são
capazes de proporcionar, tais como: florestas; água; clima; agricultura de
baixo impacto; produção sustentável; e questões sociais (miséria, fome,
qualidade de vida). (SETENTA; LOBÃO, 2012, p. 53)

Pistrak (2011) afirma que, para transformar a escola e colocá-la a


serviço da transformação social, não basta alterar os conteúdos nela
ensinados, é preciso mudar suas práticas e sua estrutura de
organização e funcionamento, tornando-a coerente com os novos
objetivos de formação de cidadãos, capazes de participar ativamente
do processo de construção da nova sociedade. É possível supor que,
oportunizando o indivíduo no seu habitat, ele possa ser um defensor
da natureza, conquiste sua autonomia financeira e melhore as
condições de vivência no campo; pois é muito difícil o ser humano
“cuidar do verde quando está no vermelho”.
É primordial e premente a criação de um projeto pedagógico que
contemple a qualificação, que propicie geração de renda dentro de
uma perspectiva de desenvolvimento sustentável que contemple a
conservação produtiva dos recursos naturais do bioma Mata
Atlântica e permita a soberania de renda.
Para que a educação na região cacaueira da Bahia promova
simultaneamente a relevância social, prudência ecológica e
viabilidade econômica do sistema produtivo — os pilares do
desenvolvimento sustentável —, é de supor que ela contribua com
todos os atores envolvidos, reduza as desigualdades educacionais e
profissionais. Para isso, será necessário reestruturar a metodologia
educacional presente para quebrar o círculo vicioso atual que não
gera perspectiva de melhoria dos indicadores sociais a longo prazo.
Assim, ações deverão ser desenvolvidas considerando:

a população economicamente ativa desqualificada, vulnerável e


que não cursou o ensino fundamental completo; com a
implementação de ações apoiadas numa pedagogia social ativa
através de uma educação empreendedora, profissionalizante,
tecnológica e inovadora, em que a qualificação profissional seja
integrada ao arranjo produtivo local e propicie a melhoria de
renda;
os docentes do ensino fundamental e médio; com a
reestruturação e a implantação de uma nova metodologia ligada
à uma pedagogia social efetiva, com uma escola voltada para
uma educação empreendedora, profissional, tecnológica e
inovadora, possibilitando que os alunos tenham, através do
cooperativismo, associativismo e consciência ambiental, a
possibilidade potencial e optativa de uma qualificação que
propicie uma geração de renda voltada para a melhoria da
família e da coletividade dentro do próprio arranjo produtivo
local; bem como possibilite a formação de um cidadão
independente, com capacidade de pensar, com responsabilidade
social e com perspectiva de futuro.
Essa “nova escola” precisa estar vinculada ao movimento social e
ao mundo do trabalho. A criação de um projeto pedagógico que
contemple os objetivos preconizados pelo Programa Nacional de
Educação na Reforma Agrária (Pronera), conjuntamente com uma
qualificação que propicie geração de renda dentro de uma
perspectiva de desenvolvimento sustentável e que contemple a
conservação da Mata Atlântica, a produção de água e uma produção
econômica que permita a soberania de renda. Para promover a
integração da educação formal com a educação empreendedora,
profissionalizante, tecnológica e inovadora, fazem-se necessárias
duas frentes de ações:

i. implantação de projetos de educação de jovens e adultos no


ensino fundamental – 1º e 2º segmentos para jovens e adultos
de áreas de reforma agrária; formação continuada para
educadores ligados à educação do campo; formação de nível
técnico; formação de nível superior e pós-graduação para jovens
e adultos do meio rural e, mais especificamente, de áreas de
reforma agrária;
ii. implantação dos “Hotéis de Ideias e Incubadoras de Base
Tecnológica” para qualificação e desenvolvimento de projetos
empreendedores geradores de trabalho e renda.

Todas estas ações deverão estar voltadas para a preparação do


ser humano para a nova realidade ambiental, ou seja, para a
sustentabilidade dos recursos naturais utilizados e das áreas de
produção agrícola, ou melhor, para vivenciar praticamente a
Conservação Produtiva, sistema que permite uma convivência
saudável e harmônica entre a economia, a preservação e a
conservação ambiental e o desenvolvimento humano. De modo que
esse novo olhar do conservar e produzir concomitantemente
contribua de forma efetiva para a qualidade de vida local, a
conservação dos recursos naturais e o sentimento de valorização e
pertencimento do homem à origem e à sua terra natal.
6 Considerações finais
Foi a cacauicultura que deu origem à crise vivenciada pela região
cacaueira do Sul da Bahia nas últimas décadas, contudo, também
será ela a sua solução. As alternativas para a “saída da crise” já
estão delineadas, e o desafio da retomada do crescimento regional
em bases sustentáveis é enorme, mas superável.
A região dispõe de um sistema de agricultura tropical — o cacau
cabruca — que foi e ainda é capaz de proporcionar uma relação
harmônica entre o homem e a natureza, assim como inspira uma
proposta balizadora da retomada desenvolvimentista, sem
comprometimento dos ativos e serviços ecossistêmicos, e tendo por
princípio a conservação produtiva dos recursos naturais associados
e a sustentabilidade da propriedade rural.
É inquestionável a eficiência dos saberes locais na conservação
de todo patrimônio cultural, agroflorestal e ecológico da região
cacaueira baiana, que está sistematizado na proposta Conservação
Produtiva: cacau por mais 250 anos, de Setenta e Lobão (2012).
Contudo, é preciso transmiti-la às próximas gerações, possibilitando
a continuidade desse legado. Conservar e produzir,
concomitantemente, num mesmo espaço de forma equilibrada e
proporcionando uma relação harmônica entre o homem e a natureza,
é o desafio e é a proposta que está delineada.
Essa forma de relação com a natureza aprendida com o cacau
cabruca estabelece um novo paradigma regional: a conservação
produtiva. Sem precisar destruir a riqueza arbórea, nem alterar
profundamente a paisagem e muito menos decretar a intocabilidade
da área, consegue-se produzir, atrair o homem para retornar a viver
na zona rural, conservar os recursos naturais e, principalmente,
atender a crescente demanda pelo recurso água.
Sistemas agrossilvicuturais proporcionam “agroespaços”
estruturalmente mais complexos se comparados com formas
monoculturais, permitindo maior permeabilidade à biota local,
sobretudo em função da vegetação arbórea (PERFECTO et al.,
1996). Dessa forma, esses sistemas destacam-se pela conservação
do solo e dos recursos hídricos, pela promoção do sequestro de
carbono e pelo aumento da biodiversidade (DIAS-FILHO, 2006).
Dias-Filho (2006) alerta que, dentro da perspectiva do produtor
rural, benefícios constantemente atribuídos ao SAF — como
aumento da biodiversidade, conservação ambiental e sequestro de
carbono — teriam importância apenas marginal, pois tais benefícios
normalmente não são considerados por ocasião da decisão do uso
da terra ou da estratégia de recuperação de áreas adotadas pelos
produtores rurais. Para o autor, uma forma mais realista de estímulo
à sua adoção seria a implantação de políticas públicas pelas quais
os produtores fossem facilmente pagos pelos serviços ambientais
que gerassem. Tal incentivo compensaria o ônus financeiro assumido
pelo produtor e proveria a sociedade com os benefícios advindos das
ações fomentadas.
Aprimorar modelos, métodos e procedimentos de produção
agrícola que garantam a sustentabilidade regional é imprescindível,
contudo sem desconsiderar a capacidade do sistema agroflorestal
cacau cabruca em harmonizar conservação e produção num mesmo
espaço-tempo, numa relação harmônica e sustentável com os
recursos naturais associados, disponibilizando técnicas mais
intensivas de manejo agrossilviculturais capazes de tornar a
agricultura (leia-se também, cacauicultura) tradicional em sistemas
extremamente produtivos e mais sustentáveis.
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Notes
Capítulo 1 — Produção de cacau na Bahia:
análise da trajetória política e econômica
1. Engenheiro Agrônomo, doutor, professor do Departamento de
Ciências Agrárias e Ambientais da Universidade Estadual de
Santa Cruz. Endereço: Rodovia Jorge Amado, Km 16. Ilhéus,
Bahia. Telefone: (73) 3680-5112. E-mail: <chiapeti@uesc.br>.

2. O cacau de cabruca tem origem nos primeiros plantios que,
grosso modo, cabrucavam (retirada das árvores mais finas da
mata e deixavam as mais altas para sombrear) para plantar as
amêndoas de cacau.

3. A República Velha foi o período da história política e econômica
do Brasil que se estendeu da proclamação da República, em 15
de novembro de 1889, até a revolução de 1930.

4. O romancista Jorge Amado, que nasceu em Itabuna e viveu por
muitos anos em Ilhéus, produziu importantes obras que narram
a ordenação deste território e as históricas lutas pela posse de
terra e pelo poder. Os livros Cacau (1933) e Terras do Sem Fim
(1943) se referem ao processo de formação das cidades
cacaueiras; São Jorge dos Ilhéus (1944) trata do poderio
urbano dos coronéis do cacau e Tocaia Grande (1984) aborda o
processo de conquista e desbravamento das terras da região.

5. A Região Cacaueira da Bahia, de acordo com a divisão do
IBGE em Mesorregiões, está localizada na Mesorregião Sul
Baiano ou Região Sul da Bahia, subdividida em três
microrregiões: Baixo Sul, Ilhéus/Itabuna e Porto Seguro,
totalizando 70 municípios. Atualmente, a denominação Região
Cacaueira remete mais ao passado recente e ao conteúdo
simbólico que historicamente definiu esta região do que à
relevância da atividade cacaueira. Em função da atual crise da
produção de cacau, da busca de novas alternativas econômicas
para a região, a partir de 1990, uma nova divisão regional da
Bahia, elaborada pelo IBGE, passou a designar a antiga Região
Cacaueira da Bahia de Microrregião Geográfica Ilhéus/Itabuna,
com 41 municípios.

6. Da mesma forma que o ICB, outros órgãos, como o Instituto do
Açúcar e do Álcool (IAA) e o Instituto Brasileiro do Café (IBC),
constituíram-se em um sistema de ações e objetos do Estado
favoráveis não só à produção agroexportadora, mas também de
transferência de recursos para o nascente setor industrial
brasileiro. Para mais considerações sobre o ICB, ver Diniz
(1983).

7. Essa normatização foi realizada em 1940 através da Resolução
nº 2 da Comissão de Defesa da Economia Nacional, a qual
instituiu a Carteira Comercial e possibilitou ao ICB operar
diretamente no controle dos preços internos e nos embarques
juntamente com as empresas exportadoras, mantendo o preço
favorável ao produtor.

8. Nesse período, os EUA continuaram importando a mesma
quantidade de amêndoas, mas “impuseram um preço-teto
(ceiling-price) para o cacau”, desestimulando o produtor (LIMA,
1964, p. 163).

9. Partidistas eram compradores ambulantes de cacau, livres ou a
serviço das casas comissárias (estabelecimentos comerciais
intermediários), que atuavam na região e estavam
subordinadas às exportadoras.

10. Para esse assunto, ver: MESQUITA, Augusto Sávio.
Cooperativismo, cacauicultura e crise: uma análise da
COOPERCACAU Central no contexto da crise do agrobusiness
do cacau na Bahia. Cruz das Almas, BA: UFBA, Escola de
Agronomia. 1998; Dissertação. COSTA, José Fialho.
Conjuntura Cacaueira do Sul da Bahia. 1992.

11. Desde a criação da Carteira de Crédito Agrícola e Industrial
(CREAI) do Banco do Brasil em 1937, o crédito agrícola sempre
foi um instrumento de fomento da produção e da modernização
das atividades agrícolas.

12. O estado da Bahia é responsável por 85% das áreas cultivadas
com cacau do país. Com menos expressão, a produção
nacional de cacau complementa-se nos estados do Pará,
Rondônia, Espírito Santo, Amazonas e Mato Grosso (MAPA,
2007).

13. Após o aparecimento das primeiras lavouras infectadas em
1989, no final de 1995 esse fungo contaminou 85% dos 640 mil
hectares de área plantada de cacau na Bahia, agravando ainda
mais a crise da economia cacaueira (SEAGRI, 1999). A VB,
como praga dos plantios de cacau, é conhecida desde o século
XVIII, quando o naturalista baiano Alexandre Rodrigues Ferreira
em seu “Diário de Viagem Phylosófica” pela Capitania de São
José de Rio Negro, em 1785, identificou a doença em áreas de
cultivo de cacau da Amazônia, registrando com o nome de
“Lagartão” (COSTA, 1992). Existem várias suposições para a
contaminação dos plantios na região cacaueira, até então
imune a esta praga. Os produtores apontam para uma
inoperância da pesquisa da CEPLAC em buscar genótipos
resistentes e, com isso, se antecipar à chegada do patógeno da
VB, ou mesmo fiscalizar melhor o tráfego de pessoas, partes
das plantas do cacaueiro e equipamentos entre estas duas
áreas. Especula-se também que o fungo foi introduzido na
região criminosamente por técnicos da CEPLAC, motivados por
lutas ideológicas contra a hegemonia da elite do cacau no
comando da política regional. Rocha (2008) faz uma ampla
discussão dos problemas e consequências que envolveram a
contaminação da lavoura cacaueira do Sul da Bahia, bem como
das várias ações levadas a efeito pela pesquisa agronômica
para controlar os efeitos da VB.

Capítulo 2 — Respostas do cacaueiro às
variações da intensidade de luz
1. Fisiologia Vegetal, D. Sc., Professor Pleno, Universidade
Estadual de Santa Cruz (UESC), Campus Soane Nazaré de
Andrade. Endereço: Rodovia Jorge Amado, km 16, Salobrinho.
CEP 45662-900. Ilhéus, Bahia. Telefone: (73) 3680-5181. E-
mail: <alexalan@uesc.br>.

2. Produção Vegetal, M. Sc., doutorando em Fisiologia e
Bioquímica Vegetal pela Escola Superior Luiz de Queiroz da
Universidade de São Paulo (ESALQ/USP). Endereço:
Laboratório de Controle Hormonal e Desenvolvimento Vegetal,
Av. Pádua Dias, 11. CEP 13418-900. Piracicaba, São Paulo. E-
mail: <j.gattward@gmail.com>.

Capítulo 3 — Respostas do cacaueiro à
variação da disponibilidade de água
1. Produção Vegetal, M.Sc., doutorando em Fisiologia e
Bioquímica Vegetal, Escola Superior Luiz de Queiroz da
Universidade de São Paulo (ESALQ/USP), Laboratório de
Controle Hormonal e Desenvolvimento Vegetal. Endereço: Av.
Pádua Dias, 11, CEP 13418-900, Piracicaba, SP. E-mail:
<j.gattward@gmail.com>.

2. Fisiologia Vegetal, D. Sc., Professor Pleno, Universidade
Estadual de Santa Cruz (UESC), Campus Soane Nazaré de
Andrade. Endereço: Rodovia Jorge Amado, km 16, Bairro
Salobrinho. CEP 45662-900, Ilhéus, BA. Telefone: (73) 3680-
5181. E-mail: <alexalan@uesc.br>.

Capítulo 4 — Mecanismos de resistência em
plantas contra ataque de patógenos: indução
de resistência
1. Engenheiro agrônomo, doutor, pesquisador da Comissão
Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (CEPLAC);
endereço: CEPLAC/CEPEC, C.P. 07, CEP 45.600-970, Ilhéus-
BA. Professor titular do Departamento de Ciências Biológicas
(DCB) da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC).
Endereço: UESC/DCB, km 16, Rod. Jorge Amado, CEP: 45662-
000. Ilhéus-BA. E-mail: <raul@cepec.gov.br>.

2. Engenheira agrônoma, mestre em Desenvolvimento Regional e
Meio Ambiente. Endereço: CEPLAC/CEPEC, C.P. 07, CEP
45.600-970, Ilhéus-BA.

3. Engenheiro agrônomo, mestre em Produção Vegetal. Endereço:
CEPLAC/CEPEC, C.P. 07, CEP 45.600-970, Ilhéus-BA.

Capítulo 5 — Melhoramento genético e
produtividade do cacaueiro no Brasil
1. Engenheiro agrônomo, doutor, professor titular do
Departamento de Ciências Biológicas da Universidade Estadual
de Santa Cruz (UESC). Endereço: Rod. Jorge Amado, km 16.
CEP: 45662-000. Ilhéus, Bahia. E-mail: <darioa@uesc.br>.

2. Engenheira agrônoma, mestre, doutoranda em Genética e
Biologia Molecular pela UESC. Endereço: Rod. Jorge Amado,
km 16. CEP: 45662-000. Ilhéus, Bahia. E-mail:
<hellenlazaro@gmail.com>.

3. Engenheira agrônoma, doutora em Genética e Biologia
Molecular pela UESC. Endereço: Rod. Jorge Amado, km 16.
CEP: 45662-000. Ilhéus, Bahia. E-mail:
<francisca.juca@cabruca.org.br>.

4. Engenheiro agrônomo, mestre em Produção Vegetal. Endereço:
Rod. Jorge Amado, km 16. CEP: 45662-000. Ilhéus, Bahia. E-
mail: <lfloresefrutos@yahoo.com.br>.

5. Engenheiro Agrônomo, doutor, investigador em Ciências do
Solo do USDA – Endereço: USDA-ARS, Beltsville, MD 20705,
Maryland USA. E-mail: <vc.baligar@ars.usda.gov>.

Capítulo 6 — Propagação do cacaueiro e
tecnologias para produção de mudas clonais
1. Engenheiro Agrônomo, doutor. Endereço: CEPLAC/CEPEC,
C.P. 07. CEP 45600-970. Ilhéus, Bahia. Professor Titular da
Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). Endereço:
DCAA, Rod. Jorge Amado, km 16. CEP 45662-000. Ilhéus,
Bahia. E-mail: <gasodre@hotmail.com>.

2. Engenheiro Agrônomo, doutor. Endereço: CEPLAC/CEPEC,
C.P. 07. CEP 45600-970. Ilhéus, Bahia. E-mail:
<arsenag@hotmail.com>.

3. Engenheiro Agrônomo, técnico do Instituto Biofábrica de Cacau.
Agosto de 2012.

4. Engenheiro Agrônomo, técnico do Instituto Biofábrica de Cacau.
Agosto de 2012.

5. Biológa, Doutora em Cultura de tecidos, Bolsista Fapesb,
responsável pelo laboratório de cultura de Tecidos da
CEPLAC/CEPEC. Agosto de 2015.

6. Engenheira Agrônoma, Doutora em Fisiologia Vegetal.
Dezembro de 2012.

Capítulo 7 — Atributos físicos do solo para a
cultura do cacaueiro
1. Engenheiro agrônomo, doutor, professor do Departamento de
Ciências Agrárias e Ambientais da Universidade Estadual de
Santa Cruz (UESC). Endereço: Rod. Jorge Amado, km 16.
CEP: 45662-000. Ilhéus, Bahia. E-mail: <arli@uesc.br>.

2. Engenheiro agrônomo, mestre, chefe de Laboratório de Solos.
Endereço: Instituto de Cultivos Tropicales, Banda del Shilcayo
Tarapoto, San Martín, Peru. E-mail:
<cesar.arevaloh@gmail.com>.

3. Engenheiro agrônomo, doutor, investigador em Ciências do
Solo do USDA. Endereço: USDA-ARS, Sustainable Perennial
Crop Laboratory, Beltsville, MD 20705, Maryland USA. E-mail:
<vc.baligar@ars.usda.gov>.

4. Engenheiro agrônomo, doutor, professor do Departamento de
Solos da Universidade Federal de Viçosa (UFV). Endereço: Av.
Peter Henry Rolfs, s/n. CEP: 36570-900. Viçosa, Minas Gerais.
E-mail: <raphael@ufv.br>.

Capítulo 8 — Fungos micorrízicos
arbusculares em cacaueiro
1. Biólogo, doutor, professor pleno do Departamento de Ciências
Agrárias e Ambientais (DCAA) da Universidade Estadual de
Santa Cruz (UESC). Endereço: UESC/DCAA, km 16, Rod.
Jorge Amado, CEP: 45662-000. Ilhéus-BA. E-mail:
<egross@uesc.br>.

2. Biológa, doutora em Biologia e Biotecnologia de Micro-
organismos. Endereço: UESC/DCAA, km 16, Rod. Jorge
Amado, CEP: 45662-000. Ilhéus-BA. E-mail:
<lidiegas@hotmail.com>.

3. Ver classificação completa em: <http://www.amf-
phylogeny.com/>.

Capítulo 9 — Fauna fossória e da serapilheira
associada ao cultivo do cacaueiro no sudeste
da Bahia
1. CEPLAC-CEPEC; UESC-DCAA, 45662-900, Ilhéus-BA. E-mail:
<jacques.delabie@gmail.com>.

2. UFBA-IB, PPG Ecologia e Biomonitoramento, 40170-115,
Salvador-BA. E-mail: <alessandrabiologia@hotmail.com>.

3. Instituto Butantan, 05503-900, São Paulo-SP. E-mail:
<andria.silva@butantan.gov.br>.

4. Instituto Butantan, 05503-900, São Paulo-SP. E-mail:
<antonio.brescovit@butantan.gov.br>.

5. UNIVASF-CCA-CCBio, 56300-990, Petrolina-PE. E-mail:
<benoit.jahyny@univasf.edu.br>.

6. Instituto Butantan, 05503-900, São Paulo-SP. E-mail:
<carlos.jared@butantan.gov.br>.

7. UESC-DCB, 45662-900, Ilhéus-BA. E-mail:
<camponotu@hotmail.com>.

8. UMDI-FCIENCIAS, UNAM-Juriquilla, 76230, Juriquilla,
Querétaro, México. E-mail: <gabycast99@hotmail.com>.

9. Museu Paraense Emílio Goeldi-UFPA, PPG Zoologia, 66077-
830, Belém-PA. E-mail: <onelisboa@gmail.com>.

10. UESC-PPG Ecologia e Conservação da Biodiversidade, 45662-
900, Ilhéus-BA. E-mail: <julianabiologia@hotmail.com>.

11. UESB-DCB, 45206-190, Jequié-BA. E-mail:
<boccardo@uesb.br>.

12. Instituto Butantan, 05503-900, São Paulo-SP. E-mail:
<marta.antoniazzi@butantan.gov.br>.

13. UFMA-Bacabal, 65700-000, Bacabal-MA. E-mail:
<pollyannaps@gmail.com>.

14. Instituto Butantan, 05503-900, São Paulo-SP. E-mail:
<rodrigobouzan@outlook.com>.

15. Instituto Butantan, 05503-900, São Paulo-SP. E-mail:
<victor.calvanese@hotmail.com>.

16. UFS, Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, 49100-000.
Aracaju-SE. E-mail: <yanatr@gmail.com>.

17. Vide metodologia de obtenção dos dados em Brescovit, Oliveira
e Santos (2011).

Capítulo 10 — Diagnose nutricional para o
cacaueiro
1. Engenheiro agrônomo, doutor, professor titular do
Departamento de Ciências Agrárias e Ambientais da
Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). Endereço: Rod.
Jorge Amado, km 16. CEP: 45662-000. Ilhéus, Bahia. E-mail:
<olimpio@uesc.br>.

2. Engenheiro agrônomo, doutor, pesquisador. Endereço:
CEPLAC/CEPEC, Rod. Jorge Amado, km 22, CP 07. CEP:
45.600-970. Ilhéus, Bahia. Professor adjunto do Departamento
de Filosofia e Ciências Humanas da UESC. Endereço: Rod.
Jorge Amado, km 16. CEP: 45662-000. Ilhéus, Bahia. E-mail:
<marrocos@uesc.br>.

3. Engenheiro agrônomo, doutor, professor associado do
Departamento de Solos da Universidade Federal de Viçosa.
Endereço: Av. Peter Henry Rolfs, s/n. CEP: 36570-900. Viçosa,
Minas Gerais. E-mail: <julio_n2003@yahoo.com.br>.

Capítulo 11 — Fertilidade do solo, correção da
acidez e recomendação de adubação para o
cacaueiro
1. Engenheiro agrônomo, doutor, professor titular do
Departamento de Ciências Agrárias e Ambientais (DCAA) da
Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). Endereço: Rod.
Jorge Amado, km 16. CEP: 45.662-000, Ilhéus, Bahia. E-mail:
<olimpio@uesc.br>.

2. Engenheiro agrônomo, doutor, professor titular do DCAA da
UESC. Endereço: Rod. Jorge Amado, km 16. CEP: 45.662-000,
Ilhéus, Bahia. Pesquisador da Comissão Executiva do Plano da
Lavoura Cacaueira (CEPLAC)/ Centro de Pesquisas do Cacau
(CEPEC). Endereço: C.P. 07. CEP: 45.600-970. Ilhéus, Bahia.
E-mail: <gasodre@hotmail.com>.

3. Engenheiro agrônomo, doutor, professor associado do
Departamento de Solos da Universidade Federal de Viçosa.
Endereço: Av. Peter Henry Rolfs, s/n. CEP: 36.570-900. Viçosa,
Minas Gerais. E-mail: <julio_n2003@yahoo.com.br>.

Capítulo 12 — Adubação foliar para o
cacaueiro
1. Engenheiro agrônomo, doutor, professor titular do
Departamento de Ciências Agrárias e Ambientais da
Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). Endereço: Rod.
Jorge Amado, km 16. CEP: 45662-000. Ilhéus, Bahia. E-mail:
<olimpio@uesc.br>.

2. Engenheiro agrônomo, doutor, professor associado do
Departamento de Solos da Universidade Federal de Viçosa.
Endereço: Av. Peter Henry Rolfs, s/n. CEP: 36570-900. Viçosa,
Minas Gerais. E-mail: <julio_n2003@yahoo.com.br>.

Capítulo 13 — Manejo e conservação do solo
para cacaueiro
1. Engenheiro agrônomo, mestre em Produção Vegetal. Endereço:
Centro de Pesquisas do Cacau (CEPLAC), C.P. 07. CEP:
45.600-970. Ilhéus, Bahia. Telefone: (73) 3214-3256. E-mail:
<gahal.85@gmail.com>.

2. Engenheiro agrônomo, mestre em Produção Vegetal. Endereço:
Centro de Pesquisas do Cacau (CEPLAC), C.P. 07. CEP:
45.600-970. Ilhéus, Bahia. Telefone: (73) 3214-3256. E-mail:
<padantas@gmail.com>.

3. Engenheiro agrônomo, doutor em ciências (DSc). Centro de
Pesquisas do Cacau (CEPLAC), C.P. 07. CEP: 45.600-970.
Ilhéus, Bahia. Telefone: (73) 3214-3256. E-mail:
<quintinoar@gmail.com>.

Capítulo 14 — Irrigação em cacaueiros
1. Engenheira agrônoma, doutora, professora titular do DCAA da
UESC. Endereço: Rod. Jorge Amado, km 16. CEP: 45.662-000.
Ilhéus, Bahia. E-mail: <aramosmendes@gmail.com>.

2. Engenheiro Agrônomo, doutor. Endereço: CEPLAC/CEPEC,
C.P. 07, CEP 45600-970, Ilhéus, Bahia. Professor Titular da
Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). Endereço:
DCAA, Rod. Jorge Amado, km 16, CEP 45662-000, Ilhéus,
Bahia. E-mail: <gasodre@hotmail.com>.

3. Engenheiro Agrônomo, mestre em Produção Vegetal.
Supervisor Agrícola Cacau - Nestlé Brasil. Endereço: Av. Nossa
Senhora Aparecida, no 1235, Ap. 01 Bloco B, São Francisco,
Ilhéus, Bahia, CEP 45.655-100. E-mail:
<matheus.leite@br.nestle.com>.

4. Centro de Pesquisas do Cacau.

5. Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira.

6. LEITE, J. B. V. Comissão Executiva do Plano da Lavoura
Cacaueira / Centro de Pesquisa do Cacau: Ceplac/Cepec.
(Comunicação pessoal, 2016).

7. LEITE, J. B. V. Comissão Executiva do Plano da Lavoura
Cacaueira / Centro de Pesquisa do Cacau: Ceplac/Cepec.
(Comunicação pessoal, 2016).

Capítulo 15 — Fertirrigação em cacaueiros
1. Engenheiro agrônomo, doutor, professor titular do
Departamento de Ciências Agrárias e Ambientais (DCAA) da
Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). Endereço: Rod.
Jorge Amado, km 16. CEP 45.662-000. Ilhéus, Bahia. E-mail:
<olimpio@uesc.br>.

2. Engenheira agrônoma, doutora, professora titular do DCAA da
UESC. Endereço: Rod. Jorge Amado, km 16. CEP: 45.662-000.
Ilhéus, Bahia. E-mail: <aramos2004@uol.com.br>.

Capítulo 16 — Mecanização do cultivo do
cacaueiro no Brasil: “Estado da arte”
1. Engenheiro agrônomo, doutor. Endereço: Comissão Executiva
do Plano da Lavoura Cacaueira (CEPLAC) / Centro de
Pesquisas do Cacau (CEPEC), C.P. 07. CEP: 45.600-970.
Ilhéus, Bahia. E-mail: <basilioleite@hotmail.com>.

2. Engenheiro agrônomo, doutor. Endereço: CEPLAC/CEPEC,
C.P. 07. CEP: 45.600-970. Ilhéus, Bahia. Professor Titular da
Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) / Departamento
de Ciências Agrárias e Ambientais (DCAA). Endereço: Rod.
Jorge Amado, km 16. CEP: 45.662-000. Ilhéus, Bahia. E-mail:
<gasodre@hotmail.com>.

3. Engenheiro Agrônomo, Doutor em Entomologia.
CEPLAC/CEPEC.

Capítulo 17 — Sustentabilidade no sistema
agrossilvicultural cacaueiro
1. Engenheiro florestal, doutor (DSc), professor do Departamento
de Ciências Agrárias e Ambientais (DCAA), da Universidade
Estadual de Santa Cruz (UESC) e pesquisador do Centro de
Pesquisas do Cacau (CEPEC), da Comissão Executiva do
Plano da Lavoura Cacaueira (CEPLAC). Endereço:
CEPLAC/CEPEC, Rod. Jorge Amado, km 22, CEP 45.660-970,
Ilhéus, Bahia. E-mail: <lobao.dan@gmail.com>.

2. Zootecnista, DSc e diretor científico da Fundação Pau Brasil
(FUNPAB). Endereço: Praça Getúlio Vargas, 15, 2º andar, sala
201, Centro, CEP 45.660-000, Itabuna, Bahia. Telefone: (73) 9
9140-6250.

3. Engenheiro agrônomo, mestre (MSc) e presidente da Central
Nacional dos Produtores de Cacau (CNPC). Endereço: Praça
Getúlio Vargas, 15, 1º andar, sala 101, Centro, CEP 45.660-
022, Itabuna, Bahia. E-mail: <wlace70@hotmail.com>.

4. Engenheiro agrônomo e presidente do Instituto Biofábrica de
Cacau (IBC). Endereço: Av. Mário Padre, 327, Goes Calmon,
CEP 45.605-388, Itabuna, Bahia. E-mail:
<lannsalmeida@hotmail.com>.

5. Engenheiro florestal, MSc e especialista em meio ambiente.
Endereço: Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos
(SEMA), rua Rui Barbosa, 1.008, Centro, CEP 45.660-220,
Itabuna, Bahia. E-mail: <marco.silva@inema.ba.gov.br>.

6. Engenheiro florestal, MSc e coordenador do curso de
engenharia ambiental da Faculdade de Tecnologia e Ciências
(FTC). Endereço: Praça José Bastos, 55. CEP: 45.600-080.
Itabuna, Bahia. Telefone: (73) 9 9179-9162. E-mail:
<fleopoldino@ftc.edu.br>.

7. Engenheiro civil, MSc, doutorando pela Universidade Federal
da Bahia (UFBA) e professor do Instituto Federal da Bahia
(IFBA). Endereço: Rodovia Jorge Amado, km 13, CEP 46.662-
000, Ilhéus, Bahia. E-mail: <goes.mat@gmail.com>.

8. Engenheira ambiental e licenciada em letras, especialista em
administração da educação e em auditoria e perícia ambiental.
Endereço: Colégio Estadual Paulo Américo, Parque Infantil,
Ilhéus, Bahia. E-mail: <claudinecosta16@hotmail.com>.

9. CAP = circunferência à altura do peito (a 1,30 m do solo).

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