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Contos

de Virtudes
para o Natal
DV EN T O
Ana prática

Este material foi elaborado por:


Bruna Ferreira (@bruna_bfj), católica, casada, mãe de 4 filhos,
sendo 2 autistas e psicóloga.

Ana Rita Oliveira Rodrigues (@anaritaoliveirarodrigues), católica,


casada, mãe de 2 filhos, professora com experiência com
crianças atípicas.

As histórias foram retiradas da coleção do Livro das Virtudes


de William J. Bennett, e são propícias para o tempo do Natal.

A reprodução, compartilhamento e comercialização


deste material por terceiros é proibida.
Artigo 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de
fevereiro de 1998.
A menina dos fósforos
Hans Christian Andersen

Estava muito frio, a neve caía e já estava começando a


escurecer. Era noite do último dia do ano. Uma menina
descalça e sem agasalho andava pelas ruas, no frio e no
escuro. Quando atravessou correndo para fugir dos
carros, a menina perdeu os chinelos que tinham sido da
mãe e eram grandes demais. Um ela não achou mais e um
garoto levou o outro, dizendo que ia usar como berço
quando tivesse um filho.
A menina já estava com os pés roxos de frio. Tinha um
pacotinho de fósforos na mão e outro no bolso do avental
velho. Naquele dia não tinha conseguido vender nada e
estava sem um tostão. Com frio e com fome, ela andava
pelas ruas morrendo de medo. A neve caía no cabelo
cacheado, mas ela não podia pensar nem no cabelo nem
no frio. As casas estavam iluminadas e havia por toda
parte um cheirinho gostoso de Ano-Novo. Era nisso que
ela pensava.

Num cantinho entre duas casas, ela se encolheu toda,


mas continuava sentindo muito frio. Voltar para casa, nem
pensar: sem dinheiro, sem ter vendido nada, era certo o
castigo do pai. Além do mais a casa deles era também era
muito fria, sem forro e com telhado cheio de furos e
emendas, por onde o vento entrava assobiando.
Com as mãos geladas, pensou em acender um fósforo.
Conseguiu. A chama pequenininhha parecia uma vela na
concha da mão. A menina se imaginou diante de uma
lareira enorme, com o fogo esquentando tudo e ela
também. Mas logo a cama se apagou e a lareira sumiu. Ela
só ficou com um fósforo queimado na mão.
Acendeu outro, que, brilhando, fez a parede ficar
transparente. Ela viu a casa por dentro: a mesa posta, a
toalha branca, a louça linda. O assado, o recheio, as frutas.
Não é que o assado, com garfo e faca espetados, pulou do
prato e veio até onde ela estava? Mas o fósforo se apagou.
e ela só viu a parede grossa e úmida.

Acendeu mais um fósforo e se viu junto de uma


belíssima árvore de Natal. Maior do que uma que tinha
visto antes. Velinhas e figuras coloridas enchiam os galhos
verdes.
. A menina esticou o braço e... o fósforo se apagou. Mas
as velinhas começaram a subir, a subir e ela viu que eram
estrelas. Uma virou estrela cadente e riscou o céu.
- Alguém deve ter morrido.
A avó - única pessoa que tinha gostado dela de verdade
e que já tinha morrido - sempre dizia: “Quando uma
estrela cai, é sinal de que uma alma subiu para o céu.”
A menina riscou mais um fósforo e, no meio do clarão,
viu a avó tão boa e tão carinhosa, contente como nunca.
- Vovó, me leva embora! Sei que você não vai mais estar
aqui quando o fósforo se apagar. Você vai desaparecer
como a lareira, o assado e a árvore de Natal.
E foi acendendo os outros fósforos para que a avó não
sumisse. Foi tanta luz que parecia dia. E a avó ali, tão
bonita, tão bonita. Pegou a menina no colo e voou com ela
para onde não fazia frio e não havia fome nem dor. Foram
para unto de Deus.
De manhhãzinha, as pessoas viram no canto entre duas
casas uma menina corada e sorrindo. Estava morta. Tinha
morrido de frio na última noite do ano. Nas mãos, uma
caixa inteira de fósforos queimados.
- Ela tentou se esquentar, coitadinha.
Ninguém podia adivinhar tudo o que ela tinha visto, o
brilho, a avó, as alegrias de um novo ano.
São Nicolau e as barras de ouro
Hans Christian Andersen

Desde a Idade Média, São Nicolau é um dos santos mais


populares da igreja cristã. É o santo padroeiro dos mercadores,
dos viajantes, dos marinheiros, dos padeiros e, é claro, das
crianças, que raramente deixam de se mostrar curiosas em
relação ao antepassado” do Papai Noel (em inglês, Santo Claus,
derivado de Sinter-Klaas, São Nicolau em holandês).

Há muito tempo, viviam um marido e sua mulher,


e eles não sabiam o que fazer com tanto dinheiro
que tinham, mas que acima de tudo queriam um
filho. Pediram a Deus durante anos a fio, que lhes
concedesse o desejo do coração do coração;
finalmente, tiveram um filho e tornaram-se as
pessoas mais felizes do mundo. Deram-lhe o nome
de Nicolau.
Achavam que não havia ninguém igual ao filho,
que era realmente um menino tranquilo e afável, e
que amais lhes causava um momento desagradável
sequer. Porém, quando o menino ainda era muito
pequeno, uma terrível praga se abateu sobre o país
e matou-lhe o pai e a mãe, deixando-o totalmente só.
Toda riqueza dos pais ficou para Nicolau; dentre
outras coisas, o menino herdou três barras de ouro.
Eram seu maior tesouro; tinha mais apreço por elas
do que por toda a sua fortuna.
Bem, na cidade em que morava o menino, vivia um
nobre com três filhas. A família á fora muito rica,
mas o infortúnio se abatera sobre eles e agora mal
tinham o suficiente para sobreviver. O pai tentava
encontrar emprego, mas, quando as pessoas viam a
maciez de suas mãos, que nunca tinham enfrentado
trabalhos árduos, consideravam-no preguiçoso e
recusavam-lhe a oportunidade.

Chegou finalmente o dia em que o pão não era


suficiente para todos, e as filhas disseram ao pai:
- Vamos para a rua pedir esmolas ou tentar
qualquer coisa para arranjarmos algum dinheiro e
não passarmos fome.
Mas o pai respondeu:
- Hoje à noite, não. Mal consigo pensar no assunto.
Vamos aguardar até amanhã. Pode acontecer
alguma coisa que nos evite essa desgraça.
No momento em que conversavam, Nicolau passou
defronte à janela, que estava aberta, e ouviu tudo
que diziam. Foi horrível constatar que aquela família
fosse tão pobre a ponto de faltar-lhes o pão, e
Nicolau pôs-se a pensar numa forma de ajudá-los.
sabia que o orgulho não lhes permitiria aceitar
dinheiro seu; portanto, precisava pensar numa
alternativa. E resolveu: “Pedirei a Deus que me
mostre uma saída.”
Naquela noite, antes de ir para cama, Nicolau
rezou com toda a devoção, pedindo a Deus que lhe
guiasse os passos. De repente, lembrou-se das três
barras de ouro e uma ideia surgiu-lhe
imediatamente. Foi correndo pegar uma delas e se
dirigiu à casa daquela família.

Tal como esperava, a janela ainda se encontrava


aberta, e Nicolau mal podia alcançá-la, mesmo na
pontinha dos pés. Esticou-se o mais que pôde e jogou
a barra de ouro para dentro da casa, afastando-se
rapidamente sem esperar para ouvir o resultado,
pois não queria correr o risco de ser visto por
ninguém.
Na casa, enquanto as filhas dormiam, o pai
permanecia acordado, imerso em suas
preocupações. Imaginava se ainda havia alguma
esperança e rezava fervorosamente, pedindo aos
céus que lhe enviassem algum tipo de socorro.
Amanhã sairei batendo em todas as portas até
encontrar trabalho. Deus há de nos ajudar neste
momento difícil.
De repente, algo caiu dentro da casa, bem
pertinho dele. Procurou ao redor da cadeira e, para
seu espanto e alegria, encontrou a barra de ouro
puro.
Correu ao encontro da filha mais velha e disse,
emocionado:
- Minha filha, Deus do Céu ouviu nossas preces e
enviou-nos essa barra de ouro! Poderemos comprar
comida e ainda nos restarão algumas economias. Vá
chamar suas irmãs enquanto vou trocar este
tesouro.
A preciosa barra de ouro foi logo vendida a um
banco e rendeu tanto dinheiro que a família pôde
tornar a viver com conforto e a comprar tudo que
necessitava. E não apenas isso, mas também sobrou
o suficiente para que o pai pudesse arcar com um
dote considerável, de tal fora que a filha mais velha
logo pôde partir para um casamento feliz.
Quando Nicolau viu a enorme felicidade que a
barra de ouro proporcionara à família daquele nobre
homem empobrecido, resolveu propiciar à segunda
filha um dote de casamento também. Foi até à casa
encontrou a janelinha aberta por onde conseguiu
jogar a segunda barra, conforme a primeira vez.
Agora, o pai estava imerso em sonhos alegres e só
encontrou o tesouro quando acordou, na manhã
seguinte. Logo depois, a segunda filha pôde contar
com um dote e partiu para o casamento.
Desta feita, o pai ficou intrigado com
acontecimentos tão incomuns: não somente uma,
mas duas barras de ouro caídas do céu! E começou a
imaginar se não estaria havendo a interferência de
mãos humanas. Quanto mais pensava no assunto,
mais intrigado ficava; e resolveu montar guarda
todas as noites, caso uma terceira barra de ouro
fosse enviada como dote para a terceira filha.
E aconteceu: ao tornar à casa para repetir a
façanha, Nicolau foi pego pelo nobre, que saiu
correndo de casa assim que a terceira barra caiu
pela janelinha no chão da sala.
- Ora essa, Nicolau! Foi você quem nos ajudou
diante das necessidades que estávamos
atravessando? Por que se escondeu?
E jogou-se de joelhos, beijando as mãos que o
ampararam com tanta benevolência. Mas Nicolau
pediu-lhe que se levantasse e agradecesse a Deus,
não a ele, e pediu-lhe também que não contasse a
ninguém a história das barras de ouro.

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