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Mas talvez, seja preciso um pouco de loucura para construir uma vida
boa. Se deixar o passado para trás exige mil milhas e uma nova cidade, ela
fará se isso significar um futuro melhor para seu filho. Mesmo que isso
exija deixar de lado o glamour de sua vida anterior. Mesmo que exija
trabalhar como camareira no The Eloise Inn e morar em um apartamento
acima de uma garagem.
E lá, no quinto pior dia de sua vida, que ela conhece o homem mais
bonito que já viu. Knox Eden é um sonho lindo e pecaminoso, um chef e
seu senhorio temporário. Com seu maxilar quadrado e barba por fazer,
braços tatuados, ele é rude e forte tudo o que ela nunca teve — e nunca terá.
Porque após o primeiro pior dia de sua vida, Memphis aprendeu que uma
boa vida requer desistir de seus sonhos também. E um homem como Knox
Eden será apenas um sonho.
CAPÍTULO UM
MEMPHIS
— Juniper Hill. Juniper Hill. — Peguei o post-it do porta-copos para
verificar se tinha o nome correto da rua. Juniper Hill. — É ali. Não. É.
Juniper Hill.
Talvez eu devesse ter esperado e feito essa viagem quando ele tivesse
mais meses. Talvez eu devesse ter ficado em New York e lidado com a
besteira. Talvez eu devesse ter feito uma centena de escolhas diferentes.
Milhares.
Mas eu fiz minha escolha. E era tarde demais para voltar atrás.
Nem ele entendeu, nem se importou. Ele estava com fome e precisava
de uma mudança de fralda. Eu planejava fazer tudo isso quando
chegássemos a casa de aluguel, mas esta já era a terceira vez que eu dirigia
por esse trecho da estrada.
Não desista.
Mas Deus, eu queria desistir. Por quanto tempo uma pessoa poderia
segurar a ponta de sua corda antes que ela escorregasse? Por quanto tempo
uma mulher poderia se segurar antes de quebrar? Aparentemente, a resposta
era de New York a Montana. Provavelmente estávamos a apenas um
quilômetro e meio de nosso destino final e as paredes estavam começando a
desmoronar.
Não desista.
Se fosse só eu, teria desistido meses atrás. Mas Drake estava contando
comigo para suportar. Ele sobreviveria a isso, certo? Ele nunca saberia que
passamos alguns dias miseráveis no carro. Ele nunca saberia que nos
primeiros dois meses de sua vida, eu chorei quase todos os dias. Ele nunca
saberia que hoje, o dia em que começamos o que eu esperava que ser uma
vida feliz, na verdade, tinha sido o quinto pior dia da vida de sua mãe.
Não desista.
Fechei os olhos com força, cedendo aos soluços por um minuto. Eu
tateei cegamente ao longo da porta, apertando o botão para abaixar as
janelas. Talvez um pouco de ar puro afugentasse o fedor de tantos dias no
carro.
Talvez ele estivesse melhor com uma mãe diferente. Uma mãe que
não o fizesse viajar pelo país.
— Senhorita?
A divagação era algo que eu fazia quando criança, sempre que minha
babá me pegava fazendo algo errado. Eu não gostava de estar em apuros e
minha reação natural era conversar sobre isso.
Papai sempre chamou isso de dar desculpas. Mas não importa quantas
vezes ele tenha me repreendido, a divagação se tornou um hábito. Um mau
hábito que eu corrigiria em outro momento, em um dia que não estivesse
entre os dez piores da minha vida.
— Onde você está indo? — a mulher perguntou, olhando para Drake,
que ainda estava gritando.
Ele não se importava que tivéssemos sido parados. Ele estava muito
ocupado dizendo a ela que eu era uma mãe horrível.
— Juniper Hill? — Sua testa franziu e ela piscou, lendo o bilhete duas
vezes.
Meu estômago caiu. Isso era ruim? Era em um bairro ruim ou algo
assim?
Ela me deu um sorriso triste, então correu de volta para seu carro.
Separada da casa, havia uma ampla garagem de três vagas com uma
escada que levava a uma porta no segundo andar. Eloise havia dito que
havia me encontrado um loft.
— Sim.
Eloise. Seus olhos azuis brilhavam, da mesma cor do céu sem nuvens
de setembro.
Eloise foi direto para o meu espaço, ignorando minha mão oferecida
para me puxar para um abraço.
Conseguimos.
Quincy pode não ser nosso lar para sempre. Mas a eternidade é para
sonhadores. E parei de sonhar no dia em que comecei a classificar meus
piores dias. Havia tantos, tinha sido a única maneira de continuar seguindo
em frente. Saber que nenhum tinha sido tão terrível quanto o primeiro pior
dia. Para saber que, se eu tivesse sobrevivido a esse, poderia suportar o
segundo, o terceiro e o quarto.
Meu coração disparou pela próxima hora, mas uma vez que a
adrenalina passou, a exaustão profunda da alma se enterrou sob minha pele.
Eu estava com medo de adormecer ao volante, então parei na interestadual
para sair e correr sob as estrelas. Eu tinha me alongado por trinta segundos
antes que um inseto voasse por baixo da minha camisa e deixasse duas
mordidas ao longo das minhas costelas.
Por que eu continuei dirigindo na noite passada? Por que eu não tinha
parado em um hotel com chuveiro?
Eu não estava em nenhum lugar para me apaixonar por um cara. A
nova Memphis — mamãe Memphis — estava muito ocupada tirando
manchas de comida de bebê de suas camisas para se enfeitar para os
homens. Mas a velha Memphis — solteira, rica e sempre pronta para um
orgasmo ou dois, Memphis — realmente gostava de homens barbudos e
sensuais.
— Bom, você está ajudando. — Ela sorriu para ele, então acenou para
todos nós entrarmos. — Knox Eden, conheça Memphis Ward. Memphis,
este é o meu irmão Knox. Esta é a casa dele.
Knox largou as malas e ergueu o queixo. — Oi.
A tensão que rolava pelo loft era mais densa do que o tráfego na East
Thirty-Fourth da FDR Drive até a Fifth Avenue.
— É, hum... este lugar não está para alugar? — Seria como chegar a
algum lugar que eu não fosse bem-vinda.
— Não, não está — ele disse enquanto Eloise disse, — Sim, está..
Knox passou por mim, o cheiro de sálvia e sabão enchendo meu nariz.
— Desculpe. — Eloise pôs as mãos nas bochechas. — Ok, eu preciso
ser honesta. Quando você ligou e disse que não havia apartamentos na
cidade, eu fiz algumas verificações também. E você está certa. Nada estava
disponível na sua faixa de preço.
Por que eu tinha a sensação de que era difícil para as pessoas dizerem
não a ela? Ou que ela raramente aceitasse isso como resposta? Afinal, foi
por isso que eu dirigi até aqui.
Não tínhamos contrato de locação. Assim que uma vaga na cidade foi
aberta, duvidei que Knox se importaria em perder meu cheque de aluguel.
Ele veio subindo a escada, o som de suas botas reverberando pelo loft.
Sua figura encheu a porta enquanto entrava carregando mais três malas.
— Não, tudo bem. Eu posso lidar com isso. Não há muito. — Apenas
minha vida inteira em sacos. — Obrigada por me resgatar hoje.
— A qualquer momento.
— Eu também.
Mas meu filho não estava me deixando descansar esses dias e pouco
depois das onze, ele acordou com fome e agitado. Uma mamadeira, uma
fralda limpa e uma hora depois, ele não mostrava sinais de sono.
— Oh bebê. Por favor. — Andei de um lado para o outro do loft,
passando pelas janelas abertas, esperando que o ar limpo e frio o acalmasse.
Exceto que Drake não estava aceitando. Ele chorou e chorou, como
fazia na maioria das noites, se contorcendo porque simplesmente não estava
confortável.
— Uau.
Knox estava sem camisa, vestindo apenas uma cueca boxer preta.
Eles se moldaram às suas coxas fortes. O cós se agarrava ao V em seus
quadris.
Meu vizinho, meu senhorio, não era apenas musculoso, ele era bem
definido. Ele era uma sinfonia de músculos ondulados que tocava em
perfeita harmonia com seu belo rosto.
Pura tentação, parado na janela de uma mulher que não podia se dar
ao luxo de se desviar de seu caminho.
— Nem tudo sobre hoje foi ruim, foi? — Perguntei a Drake enquanto
Knox saía de seu quarto. — Pelo menos temos uma ótima visão.
CAPÍTULO DOIS
KNOX
Não havia nenhum lugar que eu preferisse estar do que na minha
cozinha, uma faca na mão, com os aromas de ervas frescas e pão assado
rodopiando no ar.
Memphis saiu de trás de Eloise, e olhei duas vezes. Seu cabelo loiro
era liso e elegantemente cortado sobre seus ombros. As luzes brilhantes
realçaram as manchas caramelo em seus olhos castanhos. Suas bochechas
estavam rosadas e seus lábios macios pintados de um rosa pálido.
Bem... Porra.
Eu estava em apuros.
Era a mesma mulher que conheci ontem, mas ela estava muito longe
da pessoa esgotada e exausta que se mudou para o loft. Memphis era...
impressionante. Eu pensei o mesmo ontem, mesmo com círculos azuis sob
seus olhos. Mas hoje sua beleza era uma distração. Problema.
Eloise sabia que estava fora dos limites. Exceto, que minha irmã
maravilhosamente irritante, parecia determinada a forçar Memphis em
todos os aspectos da minha vida. Minha casa não era suficiente? Agora,
minha cozinha?
Olhei para Eloise, então empurrei meu queixo para a porta. O passeio
acabou. Esta era uma cozinha. Apenas uma cozinha comercial com luzes
brilhantes e eletrodomésticos brilhantes. E eu estava ocupado. Este era o
meu tempo sozinho para respirar e pensar.
Mas Eloise entendeu a dica e foi embora?
Meus pais eram donos do hotel, The Eloise Inn, mas o restaurante e a
cozinha eram meus. O próprio edifício que incorporamos como uma
entidade separada, as ações divididas igualmente entre nós.
Além das reformas, muita coisa havia mudado aqui no ano passado.
Principalmente, a atitude dos meus pais. Além do rancho da nossa família, o
Eloise Inn tinha sido o empreendimento que mais consumia tempo. Seu
desejo de manter um dedo no pulso do hotel estava diminuindo.
Velozmente.
Griffin sempre amou o rancho Eden. A terra era uma parte de sua
alma. Talvez fosse por isso que o resto de nós não tinha se interessado pelo
negócio do gado. Porque Griffin era o mais velho e reivindicou essa paixão
primeiro. Ou talvez essa paixão fosse apenas uma parte de seu sangue.
Nossa família tinha fazendas por gerações e ele herdou esse amos por ser
fazendeiro mais do que podíamos compreender.
Mamãe sempre dizia que papai deu seu amor pelo rancho para
Griffin, enquanto ela passou o seu amor por cozinhar para minha irmã Lyla
e para mim.
Meu sonho sempre foi ter um restaurante. Lyla também, embora ela
preferisse algo pequeno, possuir Eden Coffee se encaixava perfeitamente.
Minha irmã era o coração deste hotel. Ela o adorava, como eu adorava
cozinhar. Como Griffin adorava a pecuária. Mas meus pais não a abordaram
para assumir o controle.
Suas razões eram sólidas. Eu tinha trinta anos. Eloise tinha vinte e
cinco. Eu tinha mais experiência com gestão de negócios e mais dólares em
minha conta bancária para recorrer. E embora Eloise adorasse este hotel, ela
tinha um coração suave e gentil.
Seu coração terno também foi a razão pela qual ela contratou
Memphis.
Isso e desespero.
Não haveria nada disso com Memphis e seu bebê no loft. Aquele
garoto chorou por horas na noite passada, tão alto que eu ouvi.
Havia uma razão pela qual eu construí minha casa em Juniper Hill e
não em um terreno no rancho. Distância. Minha família poderia visitar e se
eles precisassem passar a noite porque beberam demais, bem... eles
poderiam ficar no loft. Sem pavimento. Sem tráfego. Sem vizinhos.
Meu santuário.
Até agora.
— É temporário, — disse a mim mesma pela milésima vez.
— Ou qualquer outra coisa que você tenha em mãos. Percebi que ela
não trouxe nada com ela esta manhã.
— Knox, por favor. Ela acabou de chegar aqui. Duvido que ela tenha
tido a chance de ir ao supermercado.
— Então deixe-a sair mais cedo. Você não precisa dela limpando hoje.
Eu fiz uma careta e caminhei pela cozinha, pegando uma tigela, uma
cebola e um limão.
Mais uma vez, Eloise estava se apegando a um funcionário. Depois
do processo, mamãe e papai a alertaram para manter os limites
profissionais. Mas no que diz respeito a Memphis, Eloise já os havia
cruzado.
Droga. Eu amava minha irmã, mas junto com o grande coração, ela
era ingênua. Fora seus quatro anos de faculdade, ela só morou em Quincy.
Esta comunidade a amava. Ela não percebia o quão desonestas e horríveis
as pessoas podiam ser.
Memphis não tinha feito nada preocupante. Ainda. Mas eu não gostei
do quão pouco sabíamos sobre sua história. Havia muitas perguntas sem
resposta.
Com um sorriso de verdade, ela seria mais do que problema. Ela seria
um furacão deixando devastação em seu rastro.
— Memphis.
— Lindo nome para uma bela dama. O que posso fazer para o
almoço? — Ele segurou a mão dela por um momento longo demais com um
sorriso estúpido no rosto.
— Skip, — eu gritei.
Isso explicava por que sua irmã ou irmão não tinha vindo para
Montana com ela. Meus irmãos me enlouquecem, mas não consigo
imaginar a vida sem eles. Mas e os pais dela? Memphis não ofereceu mais
nada, e Eloise, que eu normalmente poderia contar para ser intrometida, não
perguntou.
Minhas mãos se moveram automaticamente para montar dois pratos e,
quando ficaram prontos, deslizei-os sobre a mesa.
A boca de Eloise estava cheia demais para ela falar, mas isso não
importava. Eu disse, estava escrito em todo o rosto dela. Seu telefone tocou
e ela o pegou da mesa, abafando um gemido enquanto engolia. — Eu tenho
que atender. Venha me encontrar quando terminar, — disse a Memphis,
antes de pegar seu prato e sair correndo da cozinha.
— Não, está bem. — Exceto que a tensão em seu rosto dizia que não
estava bem. E ela não tocou na comida novamente. Que diabos? —
Obrigada pelo almoço. Estava uma delícia.
Eu acenei para ela quando ela se levantou para limpar seu prato. —
Apenas deixe.
— Oh, tudo bem. — Ela enxugou as mãos na calça cinza. Seu suéter
preto estava pendurado em seus ombros, como se uma vez tivesse servido,
mas agora estava muito solto. Então ela se foi correndo para fora da cozinha
com o telefone na mão.
Skip veio pelo corredor com uma caixa, colocando-a sobre a mesa. O
entregador seguiu com a nota.
Assinei e comecei a guardar meus produtos no balcão.
— Camareira.
Ele sorriu. — Ela é linda. Você está interessado?
Três e dezenove.
— Bebê. — Uma lágrima escorreu pelo meu rosto. — Não sei o que
fazer por você.
Ele lamentou, seu rosto vermelho e seu nariz franzido. Ele parecia tão
miserável quanto eu me sentia.
Não desista.
A maternidade, eu aprendi nos últimos dois meses, não era nada mais
do que um ritual de adivinhação.
Seus gritos tinham esse ritmo staccato com um engate cada vez que
ele precisava respirar.
A velha Memphis queria sair e jogar sujo quando Knox estava por
perto. Ela queria puxar os longos fios de cabelo que enrolavam em sua
nuca.
Por favor pare. Isso era para mim, não para Drake. Haveria tempo
para fantasiar sobre Knox mais tarde, quando Drake tivesse dezoito anos e
fosse para a faculdade. Eu trancaria essa imagem mental para quando meu
filho não estivesse gritando e eu não estivesse chorando. Quando eu
dormisse por mais de duas horas seguidas.
Knox baixou o olhar para meu filho e a expressão de dor que cruzou
seu rosto me fez querer subir no meu carro e dirigir para muito, muito
longe.
— Sinto muito, — eu sussurrei.
Um bocejo forçou meus olhos para longe do céu e recuei para dentro.
Ao invés de arriscar colocar Drake em seu berço e acordá-lo, o levei para
minha cama, bloqueando-o com alguns travesseiros. Então eu me enrolei ao
seu lado com minha mão em sua barriga.
Meu homenzinho.
Quando meu despertador tocou às seis, acordei de repente, mais
grogue do que tinha estado em anos. Drake ainda estava dormindo, então eu
o deixei na cama e corri para o banho. Não tinha cafeteira no loft,
provavelmente porque qualquer um dos convidados de Knox simplesmente
andaria até sua cozinha gigantesca para tomar uma xícara matinal.
Drake acordou quando troquei seu pijama por roupas e bocejei tantas
vezes. enquanto o preparava para a creche que meu maxilar doeu. Nem
mesmo o sol brilhante da manhã poderia afugentar a névoa do meu cérebro
quando saí e corri para o meu carro.
Enquanto eu construía uma vida para nós com minhas próprias mãos,
suor e lágrimas.
A Main Street era a minha parte favorita desta pequena cidade. Era o
coração e o centro de Quincy. Lojas de varejo, restaurantes e escritórios
lotavam os quarteirões. O Eloise, orgulhoso como o edifício mais alto à
vista.
Trinta e sete. Isso fez trinta e sete ligações em uma semana. Idiota.
Eu soube ontem que nós duas tínhamos vinte e cinco anos. Os vinte e
cinco dela pareciam muito mais leves que os meus. Eu invejava isso. Eu
invejei seu sorriso. Se ela não fosse Eloise, eu provavelmente a teria odiado
por isso. Mas Eloise era impossível não amar.
Empurrando meu almoço na geladeira, fui até o relógio e soquei meu
cartão. À moda antiga, como o hotel. Para o meu primeiro trabalho de hora
em hora, gostei do barulho da máquina quando ela carimbava. Então corri
para o armário para pegar uma caneca, enchendo-a até a borda. O primeiro
gole estava muito quente, mas isso não me impediu de soprar por cima,
depois tomar outro gole, escaldante e tudo.
Foi bom ouvir alguém dizer que precisava de mim. Eu não tinha
ouvido isso, bem... em muito tempo. — Obrigada, Eloise.
— Pelo que?
— Estou feliz que você está aqui, — disse ela. — Espero que esteja
gostando.
O Eloise Inn tinha quatro andares. Subi até o último, onde um casal
havia desocupado o maior quarto que fica no canto. Trabalhei
incansavelmente por duas horas mesmo bocejando o tempo todo, para
deixar aquele quarto e outros dois, prontos para os próximos hóspedes
— Tente mais.
Eu vacilei.
O que significava que eu não podia comprar aquele café com leite,
afinal. Droga.
CAPÍTULO QUATRO
KNOX
Tente mais.
Foi uma coisa idiota de se dizer. Eu culpei a falta de sono pelo meu
pavio curto.
Minha mesa estava vazia, exceto pela agenda da equipe que eu estava
montando esta manhã. As contas foram pagas. As informações da folha de
pagamento estavam com meu contador. Uma vantagem de estar aqui antes
do amanhecer era que, pela primeira vez em meses, meu trabalho no
escritório era feito antes do café da manhã, em vez de depois da corrida do
jantar.
Joguei minha xícara de café no lixo, depois fui até o armário no canto,
alcançando atrás da minha cabeça para arrancar minha camisa. Com ela
enfiada em uma mochila, puxei a camisa reserva que mantinha aqui em
caso de acidente.
Tente mais.
— Ei, April.
— Ei. — Ela sorriu de seu assento em uma das mesas redondas, onde
estava checando os pratos. — Estou quase acabando com isso. Então o que
gostaria que eu fizesse?
— Já volto. Se Skip chegar antes disso, você diz a ele para começar a
lista que deixei na mesa?
— Com certeza.
Esse era meu sonho realizado. E parte do motivo pelo qual eu amava
tanto, era porque podia passar pelas portas de vidro e entrar no saguão do
hotel.
Seus ombros estavam caídos para frente enquanto ela enchia uma
caneca de cerâmica. O telefone em seu bolso tocou e ela o pegou,
verificando a tela. Então, como tinha feito na minha cozinha, ela o silenciou
e o empurrou para longe.
— Trinta e nove, — ela murmurou.
Trinta e nove o quê? Quem estava ligando para ela? E por que ela não
atendia?
Essas perguntas não eram da minha conta. E não por que eu estava
aqui.
— Memphis.
— Desculpe te assustar.
— Está bem. — Ela olhou para minha camiseta limpa. — Desculpe
pela sua outra camisa.
— Não, eu, hum... apenas mudei de ideia. Este café está bom.
Isso era uma mentira. Era amargo e sem graça, por isso eu ia ao Lyla's
todas as manhãs para tomar um expresso.
Ela estava buscando troco. Foi por isso que ela não me viu sair pela
porta. Ela tinha planejado pagar por um café com troco. Troco que eu tinha
derrubado de sua mão.
— Por que não posso dizer não para minha irmã? — Eu murmurei
antes de voltar para a cozinha, onde Skip assobiava enquanto cortava uma
pilha de batatas vermelhas.
Ela tinha a pele lisa e impecável sob o luar. Ela tinha círculos escuros
sob os olhos que me incomodavam muito. Ela tinha uma camiseta preta
masculina que ela usava no lugar do pijama, e tantas vezes quanto eu
repassei ontem à noite, eu não conseguia lembrar se ela tinha um short por
baixo ou apenas calcinha.
Talvez se pudéssemos coexistir, cada um indo em uma direção
contrária sobreviveríamos a esse contrato de curto prazo. Com algum
espaço, eu poderia banir os pensamentos de suas pernas tonificadas e lábios
rosados.
— Tudo bem, — eu menti, então antes que ela pudesse fazer mais
perguntas, eu caminhei em direção à escada, preferindo-a aos elevadores.
Quando cheguei ao segundo andar, olhei para os dois lados do
corredor, localizando o carrinho de limpeza à minha esquerda. Meus tênis
afundaram no tapete macio do corredor enquanto eu caminhava em direção
ao quarto. O cheiro de lustra-móveis de limão e limpador de vidro vinha da
porta aberta.
Foda-me. Porque ela? Por que Eloise colocou uma mulher como
Memphis em minha propriedade? Por que ela não encontrou uma
aposentada de 57 anos chamada Barb, que dava aulas de natação no centro
comunitário?
Fazia tempo que não me sentia atraído por uma mulher. Por que
Memphis? Ela era complicada como patê de pato em pão crocante. No
entanto, eu não conseguia desviar o olhar.
— Quarenta.
Quarenta chamadas? As narinas de Memphis dilataram quando ela
guardou o telefone e olhou fixamente para a cama desarrumada.
Seus ombros caíram. — Sinto muito por termos acordado você ontem
à noite. Eu deveria ter deixado a janela fechada, mas estava abafado.
— Não se preocupe com isso.
— Ok.
Estava quente na casa, quente demais, então abri uma janela antes de
me jogar na cama. Com um lençol puxado sobre minhas pernas nuas, eu
estava a segundos de dormir quando um lamento penetrante cortou o ar.
Uma luz se acendeu acima da garagem. Isso só parecia fazer o bebê
gritar mais alto.
Fazia quase uma semana desde a nossa colisão com o café e só o tinha
visto de passagem. Até que eu tivesse um aluguel de substituição alinhado,
eu estava dando a Knox um amplo espaço.
A caça ao apartamento tinha sido mal sucedida, na melhor das
hipóteses. Toda quinta-feira, quando o jornal local saía, eu vasculhava os
classificados em busca de uma lista, mas nada de novo estava disponível.
Liguei para o escritório imobiliário da cidade, esperando que eles pudessem
ter algum, mas a mulher com quem falei não tinha informações e ela me
disse que os aluguéis na minha faixa de preço, ficavam ainda mais escassos
durante o inverno.
O despejo não era uma opção. Evitar Knox seria a chave para ficar em
seu loft até a primavera.
Isso era uma pergunta capciosa? — Um... do tipo normal que você
compra no supermercado?
Eloise apareceu atrás do ombro de Knox, empurrando-o para dentro
da sala. — Ei. O que está acontecendo?
— Sim.
Um dia.
— Temos uma regra neste prédio, — disse ele, indo até o armário da
sala de descanso onde guardávamos o café. Ele abriu a porta, examinou o
conteúdo, então rabiscou algo em seu bloco de notas. — Nenhuma caixa
azul mac 'n' cheese.
— Bem, eu não conhecia essa regra. Da próxima vez, diga-me as
regras e eu seguirei. Mas não jogue meu almoço fora. Eu estou com fome.
— Na deixa, meu estômago roncou.
Suspirei, meus ombros caindo e me arrastei atrás dele com meu garfo
ainda na mão.
Knox nem me deu um olhar enquanto saía para o restaurante.
Ainda era cedo, apenas onze e quinze, mas metade das mesas ja
estavam ocupadas. Duas garçonetes circulavam pela sala, entregando
cardápios e copos de água.
Knox passou pela placa Por favor, sente-se, seguindo pelo corredor
principal da sala.
Eu não estive aqui com as luzes acesas. Quando Eloise me trouxe no
meu primeiro dia de trabalho para a turnê, estava escuro e quieto. Mesmo
agora com os pingentes brilhando e a luz entrando pelas janelas da parede
externa, a sala tinha uma borda escura.
Talvez eu tenha perdido meu brilho, mas sou uma pessoa melhor sem
ele.
Knox riu, não exatamente uma risada, mas mais um estrondo vindo
do fundo de seu peito. Ele foi para o lado da mesa onde Eloise e eu nos
sentamos no meu primeiro dia, pegando um banquinho. — Sente-se.
Eu corei. — Obrigada.
Meu olhar se desviou para Knox enquanto ele servia saladas em três
pratos brancos. Suas mãos arrancaram exatamente a quantidade certa de
alface de uma tigela. Seus antebraços flexionaram enquanto ele polvilhava
as verduras com cenouras raladas e croutons de uma assadeira. Em seguida,
acrescentou tomate cereja fatiado e regou com um vinagrete roxo.
Aqueles olhos azuis permaneceram focados, nem uma vez olhando na
minha direção. Se me sentiu olhando, não deixou perceber.
E mais uma vez, fiquei em transe com cada movimento dele. Seus
passos. As mãos. O rosto dele. Seu cabelo longo o suficiente para enrolar na
nuca. Minha mãe teria chamado de desgrenhado, embora eu argumentasse
ser sexy. Eu tinha visto o que estava por baixo daquele casaco na minha
primeira noite no loft. Eu sabia como aqueles cachos pareciam pingando
água.
Peguei minha cadeira, sabendo que não comeria tudo, mas peguei
meu garfo e mergulhei no macarrão com queijo primeiro. Sabores ricos e
cremosos explodiram na minha língua. Um gemido escapou da minha
garganta. As pimentas deram um toque especial ao molho. O queijo era
pegajoso, picante e complexo.
Knox estava do lado oposto da mesa, e quando encontrei seu olhar,
não havia nada além de total satisfação em seu rosto.
— Por que Quincy? — Sua pergunta foi feita enquanto ele cortava um
pão ciabatta. Ele estava tão concentrado no pão que levei um momento para
perceber que sua pergunta era para mim.
— É isso.
Meu avô havia fundado o primeiro Ward Hotel aos vinte e poucos
anos. Ao longo de sua vida, ele transformou sua empresa em uma cadeia de
hotéis butique, antes de passar o negócio para meu pai. Sob a administração
de papai, a empresa quadruplicou nos últimos trinta anos. Quase todas as
grandes áreas metropolitanas do país tinham um Ward Hotel e,
recentemente, começou a se expandir para a Europa.
Sessenta e três.
— De nada.
Griffin não conheceu Gianna, nem nenhum dos meus irmãos. Mamãe
e papai a conheceram uma vez nas férias em San Francisco, mas isso foi
antes de Jadon. Minha família sabia o que tinha acontecido, mas era algo
que me recusei a discutir, depois que me mudei para casa.
— Faz sentido. — Nem sempre era fácil ver Griffin com seu filho,
mas isso não era algo que eu admitiria para eles. Para ninguém.
— Apenas um pouco cansada. Mas acho que essa será a norma por
alguns anos.
O que eu diria? Eu estava atraído por ela. Toda vez que ela entrava na
sala, meu coração parava e meu pau se contraía. Se esse tivesse sido o fim
da história, se fosse apenas uma mulher passando pela cidade, eu a teria
perseguido naquela primeira noite.
Mas ela não era uma turista e que amanhã iria embora. Não havia
como escapar dela, no trabalho ou em casa. E havia o garoto.
Ver Drake era mais difícil do que ver Hudson. Eu não tinha certeza do
porquê, mas toda vez que ele chorava, cortava meu peito. Talvez fosse
porque Memphis estava lidando com isso sozinha. Ela suportava o peso de
seus gritos. Ela carregava o peso em seus ombros esbeltos.
Mas não era da minha conta. Não era meu lugar interferir.
Levei cinco anos para construir uma vida em Quincy. Eu saí de San
Francisco um homem quebrado. Eu voltei para casa para me recuperar. Para
começar de novo. Voltar a um lugar onde tive bons dias, na esperança de
reencontrá-los.
Assim que Memphis saísse do loft, seria mais fácil tirá-la da minha
cabeça.
Bebi o último gole da minha cerveja quando as pálpebras de Hudson
começaram a fechar. — É melhor eu chegar em casa. Deixar levá-lo para a
cama.
Porra, isso doía. À medida que Hudson crescia, entorpecia, mas não
desaparecia. Deixei que se espalhasse pelo meu peito, então desci correndo
os degraus da varanda para a minha caminhonete.
Mas se eu dissesse sim ao hotel, não seria por mim. Seria por eles.
Seu Volvo estava estacionado ao lado da escada, e aquele carro era tão
misterioso quanto minha inquilina. Era um modelo mais novo e os Volvos
não são exatamente baratos. Então, por que ela estava sobrevivendo com
refeições baratas e trocados?
Eu corri para resgatar Gianna aqueles anos atrás, quando deveria ter
me importado com a porra da minha vida. Lição aprendida.
Estacionando no espaço mais próximo da minha porta, entrei. Antes
do inverno, eu teria que descobrir um lugar de estacionamento diferente
para que nossos carros não fossem deixados na neve, mas, por enquanto,
deixar minha caminhonete fora significava mais uma maneira de manter
distância.
Ela não era minha responsabilidade. Ela era uma mulher adulta, capaz
de viver sozinha. Ela tinha vinte e cinco anos, a mesma idade de Eloise.
Quase da mesma idade de Lyla e Talia, que tinham vinte e sete anos. Senti a
necessidade de manter minhas irmãs por perto? Não. Então, por que
Memphis? E onde diabos, estavam seus pais? O que aconteceu com os
irmãos que ela mencionou?
Olhei para a TV, percebendo que assisti quase todo o thriller e não
tinha a menor ideia do que se tratava. — Cristo.
A inquietação chacoalhou sob minha pele. Levantei do sofá, fui para
o meu quarto pegar um short de treino, depois desapareci na academia que
montei no meu porão.
O sono tinha sido escasso nas últimas semanas. O último sono sólido
de oito horas foi antes de Memphis se mudar. Drake tinha um conjunto de
pulmões, e embora eu devesse apenas dormir com as janelas fechadas, todas
as noites, ficava quente e dormia com elas abertas por tanto tempo quanto
me lembro.
Vestindo apenas uma cueca boxer, subi na cama, apagando a luz na
mesa de cabeceira. Minha cabeça bateu no travesseiro e, quando uma brisa
suave entrou no quarto, a exaustão venceu.
— Porra.
Se estava alto aqui, quão alto era no loft? Eu não tinha dormido, mas
Memphis também não. Embora ela tentasse diariamente, nenhuma
quantidade de maquiagem conseguia esconder as olheiras sob seus olhos.
O ar da noite estava frio contra a pele nua dos meus braços e pernas
enquanto eu cruzava a calçada. Subi as escadas de dois em dois, me
movendo antes de duvidar da minha decisão e bati.
Ela hesitou por mais um momento, mas quando Drake soltou outro
gemido e chutou seus pezinhos, ela se afastou.
Ela assentiu.
Passei por ela, andando por toda a extensão do loft. Meus pés
descalços afundaram no tapete macio, e não foi até que atravessei a sala que
finalmente, dei uma boa olhada no garoto em meus braços.
Cristo, isso foi uma má ideia. Uma péssima ideia. O que diabos eu
estava pensando? Ele continuou chorando, porque sim, ele não me
conhecia. Era muito parecido. Era muito difícil.
Bebe loiro, Drake. Era um grande nome. Ele era um garoto sólido.
Isso também era diferente. Drake parecia forte. Como Hudson, ele tinha um
bom peso. E Memphis o carregava sozinha todas as noites.
— Tudo bem, chefe, — eu disse a Drake. — Precisamos diminuir o
tom.
— Eu preciso dormir. Você também. Assim como sua mãe. Que tal
sairmos do turno da noite? Eu parti para o lado oposto da sala novamente,
passando por Memphis, que ainda não havia se movido. Eu fui até a parede
oposta e me virei, indo para a porta novamente. Tudo isso enquanto Drake
chorava.
— Você está bem. — Eu o balançava enquanto caminhava, dando
tapinhas em seu bumbum de fraldas. Ele estava com um pijama com pés, o
tecido estampado azul cheio de cachorrinhos. — Quando eu era criança, eu
tive um cachorro. O nome dela era Scout.
Ela não era alta, mas caramba, ela tinha umas pernas. Afastei meus
olhos da pele tensa e lisa e mudei Drake para que ficasse apoiado em um
ombro. Então, acariciei suas costas, minha mão tão grande que a base dela
estava no topo de sua fralda e meus dedos tocando os fios macios de cabelo
em sua nuca.
Levou mais uma caminhada até a porta e voltar, antes que o choro se
transformasse em gemidos. Então desapareceu, levado por uma janela
aberta.
O silêncio era ensurdecedor.
— Você não...
Mamãe estava ocupada com alguma coisa, então eu disse a ela que
faria o jantar. Ela deve ter pensado que eu estava brincando porque
concordou.
— E ganhou um apelido.
Antes que eu fizesse algo estúpido, como ficar lá e olhar para ela até o
amanhecer, eu saí do loft, girando a fechadura da porta atrás de mim antes
de ir para minha própria cama.
O sono deveria ter vindo fácil. Estava silencioso. Escuro. Exceto que
toda vez que eu fechava os olhos, a imagem de Memphis aparecia na minha
cabeça. O cabelo loiro tocando sua bochecha. A parte de seus lábios. A
suave ondulação de seus seios sob aquela camisa de dormir.
Ele se virou para a parede e franziu a testa. Knox, eu aprendi, não era
fã das minhas desculpas.
E por um tempo sozinha com um homem quase bom demais para ser
verdade.
Talvez fosse porque Knox tinha um ombro largo para dormir. Talvez
fosse seu cheiro, sua voz ou a cadência fácil de sua arrogância. Meu filho
preferia o peito de Knox ao meu.
Knox estava usando uma calça de moletom cinza esta noite que se
acumulava a seus pés. Ele estava com uma camiseta branca sem mangas,
suas tatuagens à mostra.
O nome do meu cavalo era Lady. Ela saltitava como uma, também.
Minha irmã e eu tínhamos aulas de equitação quando crianças porque, na
época, era a atividade extracurricular popular para as socialites de New
York. Então, uma das amigas de mamãe chamou a atividade de antiquada,
recusando-se a enviar suas próprias filhas. Uma semana depois, meus pais
venderam Lady e eu fui forçada a ter aulas de piano.
Ele não se ofereceu para me levar para ver Marte. Eu não aceitaria.
Isso, nessas noites escuras, era tudo o que eu me permitia ter de Knox.
A mulher que ganhasse seus abraços fortes seria uma garota de sorte.
Eu me aconcheguei mais fundo no meu cobertor, enrolando minhas pernas
embaixo de mim enquanto seguia cada passo de Knox.
A exaustão era uma companhia constante em meus momentos de
vigília. A única razão pela qual conseguia manter os olhos abertos era
porque não queria perder a visão de Knox e Drake juntos. Era a razão pela
qual escolhi o sofá, em vez de me aconchegar na cama.
— Meu pai uma vez me repreendeu por bocejar durante uma reunião.
Eu me desculpei e não parei desde então.
Foi a primeira vez que mencionei meu pai em voz alta. Por mais de
um mês, mantive meu passado trancado. Eu me esquivei de perguntas sobre
minha família e as razões pelas quais me mudei para o outro lado do país. A
privação do sono fez com que minhas paredes caíssem.
Dei de ombros.
Uma vez, eu não tinha sido tão diferente. Talvez fosse feia. Mas suas
ações terríveis foram o catalisador para minha mudança. Por causa deles, eu
queria ser uma pessoa melhor. Apesar deles.
— Morreu? Não. Ele está muito vivo. Meus pais, meu pai em
particular, não aprova minhas escolhas. Ele dá o tom para nossa família e,
quando me recusei a fazer as coisas do jeito dele, me deserdou. Minha mãe,
minha irmã e meu irmão seguiram o exemplo. Embora, isso realmente não
importe porque os abandonei.
Knox estudou meu rosto. — O que você quer dizer com eles te
deserdaram?
Eu pisquei. — Sério?
— Mundo pequeno.
— Não, não é.
— Obrigada. — Fiquei feliz por estar escuro para que ele não me
visse corar. — Não serei camareira para sempre, mas nunca tive a chance de
escolher meu próprio caminho. Quando estiver pronta, encontrarei algo que
pague mais. Isso depende da minha educação. Não há muitas oportunidades
em uma cidade pequena, mas vou ficar de olho. Por enquanto, gosto de
onde estou.
Papai deve ter pensado que depois que Drake nascesse, eu mudaria de
ideia. Que eu me curvaria à sua vontade de ferro. Talvez se ele tivesse
aparecido no hospital, eu teria.
Mas hoje, eu não tinha saído de casa, nem ligado para ver como as
coisas estavam indo. As segundas-feiras eram um dia tranquilo, então
duvidei que houvesse uma correria louca, especialmente por ser final de
outubro. Ainda assim, meus dedos coçavam para discar o telefone
simplesmente pela distração. Simplesmente, para tirar minha mente do
relógio.
Era seis. Memphis não deveria estar em casa agora? Eu não tinha
certeza de que horas ela chegava — eu estava sempre no restaurante — mas
seu turno terminava às cinco. Onde ela estava?
Cinco dias se passaram desde que ela me contou sobre sua família.
Cinco dias e cinco noites sem Memphis. O restaurante tinha estado ocupado
no fim de semana com uma leva de caçadores hospedados no hotel. Nossos
caminhos não se cruzaram, então. E às noites, quando eu voltava para casa
depois de escurecer, as luzes do loft estavam apagadas. Drake não estava
me acordando.
Eu acabei de... droga, eu senti falta dela. Senti falta do doce aroma de
seu perfume. Eu perdi seu sussurro suave. Senti falta do jeito que ela
abaixava o queixo para esconder um rubor.
Por mais arriscado que fosse, eu tinha que vê-la. E espero que consiga
evitar beijá-la.
A coisa inteligente a fazer seria ficar bem aqui, meu rosto enterrado
na geladeira, mas a fechei e caminhei para a porta da frente.
— Memphis, — eu avisei.
Eu não gostava de ver Drake chorar. Mas Memphis? Era como tirar
meu ar.
— Ei. — Fui para o lado dela e coloquei minha mão em seu cotovelo.
— O que aconteceu, querida?
— Bom.
Antes que eu pudesse colocar Drake no meu ombro, ela roubou seu
filho de minhas mãos, embalando-o em seus braços. Então ela respirou,
uma respiração tão profunda e longa que era como se ela estivesse debaixo
d'água por cinco minutos e finalmente estivesse rompendo a superfície.
Ela fechou os olhos e encheu a testa de Drake com beijos. Sua
agitação parou quase imediatamente.
Como ela não via o quanto o acalmava? Sim, talvez tenham lutado à
uma da manhã. Mas aquele garoto precisava dela como ela precisava dele.
Aqueles dois estavam destinados a estarem juntos.
— Fique à vontade.
Com Drake em seu quadril, ela olhou ao redor do espaço. — Você não
estava no restaurante hoje.
— Você percebeu?
Ela passou por mim até a pia, enchendo a mamadeira com água antes
de sacudi-la. Então caminhou para a sala, sentando-se no sofá, para
alimentar Drake.
— Você tem uma bela casa. — Havia uma tristeza em sua expressão
enquanto ela falava.
— O que é esse olhar? — Eu me sentei na beirada da mesa de café,
meus joelhos a apenas alguns centímetros dos dela.
— Não sei o que há de errado comigo hoje. — Ela olhou para Drake.
— Ele tem quase quatro meses. Como isso aconteceu? Como ele cresceu
tão rápido?
Ela riu, outra vitória, e colocou Drake em sua cadeirinha. Então pegou
a cadeira mais próxima dele e colocou o guardanapo no colo. — Obrigada.
Por me fazer jantar e sorrir.
— São dois agradecimentos desde que você entrou pela porta. — Ela
abriu a boca, mas eu levantei a mão para impedi-la. — Não peça desculpas.
— Ok. — Uma risada brilhou naqueles olhos castanhos chocolate, as
manchas de caramelo dançando. Essa risada disparou direto para minha
virilha.
Drake chutou sua cadeira, soltando um grito feliz. Baixei o olhar para
o meu prato, concentrando-me na refeição em vez de sua mãe.
— É bastante simples.
Era muito cedo, certo? Ela tinha acabado de se mudar para cá. Eles
estavam se estabelecendo ainda em uma rotina. Qual era a porra da pressa?
— O que é o de Willie´s?
— Um bar e o ponto de encontro local. Vai ser ruidoso.
— Tem certeza?
Dei de ombros. — Será muito mais fácil ensiná-la a cozinhar, se você
for minha vizinha.
Eu olhei-a descaradamente.
Eu não gostava de ter pessoas na minha cozinha. Até mamãe e Lyla
sabiam que não deviam se intrometer quando vinham. Por Memphis, eu
faria uma exceção.
Ela não discutiu quando levantei Drake com um braço, usando minha
mão livre para pegar o assento do carro enquanto Memphis carregava sua
bolsa e as fraldas para o loft. Quando suas coisas foram guardadas e Drake
estava deitado em um cobertor, ela me acompanhou até a porta. —
Obrigada novamente pelo jantar.
Ela ficou na ponta dos pés, sua mão indo para o meu peito. Sua palma
pressionada em meu mamilo duro.
Eu estava me inclinando, pronto para pegar aquela boca e torná-la
minha, quando Drake arrulhou.
Meu corpo inteiro ficou tenso antes de eu dar um passo para longe.
Droga. O lindo rubor nas bochechas de Memphis combinava com a cor de
seus lábios. — Eu tenho que ir.
— Sim. — Ela se esquivou. — Eu, hum... melhor prepará-lo para a
cama.
Exceto... Drake.
A cada dia parecia mais difícil pegá-lo na creche. Ela parecia mais
relutante em deixá-lo ir. E ele estava mais exigente em ser levado.
— Está tudo bem, Drake. — Jill alisou seu cabelo. — Você tem que ir
com sua mãe agora. Mas vejo você amanhã.
O jeito que ela disse sua mãe me deu nos nervos. Como se eu fosse
uma intrusa, não sua mãe. Forcei um sorriso tenso, praticamente
arrancando-o de seus braços. — Obrigada, Jill.
Jill provavelmente tinha vinte e poucos anos. Seu cabelo castanho era
cortado em um bob e ela usava lindos óculos de armação preta. Quando nos
conhecemos, achei ótimo que ela fosse tão jovem. Sua tia era dona da
creche e ela trabalhava aqui há anos. Na verdade, pensei que talvez
pudéssemos ser amigas.
Jill tinha comprado, só para ele. Os outros três bebês no berçário não
tinham fantasias especiais, mas Drake era seu favorito e ela não tinha
escrúpulos em demonstrar diariamente.
Eu duvidava que ele tivesse deitado desde que o deixei esta manhã.
Jill o carregava constantemente, então em casa, quando o deitava no tapete
de brincar, ou o colocava em uma segurança só para poder ir ao banheiro,
ou tentar fazer uma refeição, ou trocar de roupa, ele gritava e chorava.
Não desista.
A neve estava caindo em uma cortina de bolinhas enquanto eu
apressava Drake para o carro. Começou a nevar por volta do meio-dia e o
tempo não mostrava sinais de mudança.
Seria mais fácil se Jill não gostasse de Drake. Muito mais fácil. Que
tipo de mãe queria que a cuidadora de seu filho não gostasse dele? Uma
ciumenta.
Drake olhou para mim, mas não me deu uma resposta. Ele parou de
chorar no caminho.
Eu tenho que superar esse problema com Jill. Isso tinha que acabar.
Não havia outras creches com vagas para bebês. Liguei para cada uma
na semana passada. E não era como se eu pudesse falar com a proprietária.
O que eu diria mesmo? Diga a sua sobrinha para parar de amar tanto meu
filho?
Jill o mimava. E daí? Eu não podia. Essa era a minha triste realidade.
Eu não podia pagar uma fantasia cara ou ficar em casa com ele o dia todo,
carregando-o no quadril. De alguma forma, eu tinha que me livrar dessa
inveja corrosiva e apenas deixá-la favorecer meu filho.
— Prazer.
Griffin era um dos últimos irmãos Éden que eu ainda não conhecia.
Agora, a única irmã que eu ainda não conhecia era a gêmea de Lyla,
Talia. Ela é médica no hospital e a encontrarei no check-up de quatro meses
de Drake, na próxima semana. Quando liguei para marcar minha consulta,
eles me disseram que eu iria ver a Dra. Eden.
Eu não tinha certeza do que estava acontecendo com Knox. Ele quase
me beijou na outra noite. Eu teria deixado. Meu melhor julgamento gritou
comigo para manter nosso relacionamento platônico. Fique deste lado da
linha, onde ele é apenas um amigo.
Inferno. Esse era o problema dessa linha. Toda vez que ele estava por
perto, eu queria atravessá-la.
Virei-me para ver Knox atravessar o saguão. Ele havia tirado o casaco
de chef e estava com uma roupa térmica de mangas compridas, estas
empurradas para cima em seus antebraços musculosos.
Meu coração deu o salto esperado.
Ele olhou na minha direção enquanto caminhava, mas por outro lado,
seu foco estava em seu irmão. — Vocês estão aqui para jantar?
— Talvez signifique que você vai ter uma menina. — Eloise sorriu.
A barriga de Winn estava plana, ainda não aparecendo. Apenas a ideia
de adicionar outro bebê à mistura teria feito minha cabeça girar. Mas ela
tinha ajuda. Ela tinha um marido.
Ele encontrou meu olhar e era como se aqueles olhos azuis pudessem
ver todas as minhas inseguranças, todas as minhas dúvidas. — Quais são
seus planos? Travessuras ou gostosuras?
— Não, está muito frio. Eloise me contou quantos doces ela comprou
e estava preocupada que ninguém viesse.
— Você está indo para casa? Ou você pode ficar por aqui um tempo?
Casa era a escolha certa, mas tudo o que esperava por mim no loft era
lavanderia e o odiado macarrão com queijo caixa azul. — Um... fico?
— Bom. Vamos.
— E o prato de doces?
— Primeira neve. Dia das Bruxas. — Knox apontou para uma cabine.
— Sente-se. Volto logo.
— Ok. — Eu escolhi a mesa no canto mais distante no caso de Drake
ficar exigente. Então eu o pego no meu colo, balançando-o levemente e
entregando-lhe uma colher para agarrar em seu punho gorducho.
— Desculpe, — eu sussurrei.
— Você está se desculpando por comer?
— Sim?
Precisar, não ficar. Eu não tinha percebido até agora, mas ele disse
necessidade na semana passada também. Não querer. Precisar.
— Seu loft é duzentos dólares mais barato por mês do que qualquer
outro lugar que eu olhei.
Uma ruga se formou entre suas sobrancelhas. — Achei que você tinha
olhado o próximo ao Willie.
— Liguei para mais alguns.
— Não. Já é justo.
— Isso é ridículo.
Eu vacilei e olhei para Drake. Três das bolas de algodão que eu tinha
colado em seu chapéu estavam se desfazendo. Talvez tenha sido por isso
que Jill comprou uma fantasia. Porque ela não tinha fé de que eu pudesse
fazer uma sozinha.
Porque ela era melhor.
— Por que você não me deixa pagar mais? — Eu perguntei, minha
voz fraca.
— Memphis.
Eu não parei de me mover enquanto ele se levantava também. Mas ele
não me seguiu enquanto eu corria do restaurante, direto para a sala de
descanso para pegar as coisas de Drake. Então saímos pela porta, correndo
pela tempestade para o meu carro.
Não havia lágrimas enquanto eu dirigia pela cidade até a rodovia,
passando pelo caminho familiar para Juniper Hill. Eu estava atordoada
demais para chorar. Qualquer confiança que construí aqui em Quincy
derreteu, como os flocos de neve que atingiram meu para-brisa.
Como eu não tinha visto isso? Como pude ser tão cega? Os Edens
eram uma família rica e bem conhecida. Famílias ricas e conhecidas não se
associavam a pessoas como eu, a menos que estivessem tentando salvá-las.
Salvar os pobres.
Eu era a pobre mulher indefesa que veio para Quincy com seus
pertences no porta-malas de um carro. Eu era a mulher que não podia pagar
refeições decentes, então pegava as sobras. Eu era a garota que nunca tinha
limpado um quarto antes de seu primeiro dia como camareira.
Isso tudo pode parar. O trabalho duro. As lágrimas. A dor. Tudo o que
eu tinha que fazer era atender a essa chamada. Tudo que eu tinha que fazer
era apertar aquele botão verde.
Não desista.
Desista, Memphis.
Eu me virei para que ele não pudesse me ver enxugar as lágrimas. Ele
me pegou chorando, mas considerando que eu chorava na maioria dos dias,
considerando que ele provavelmente estava aqui apenas para deixar uma
refeição porque seria ruim, se o caso de caridade deles morresse de fome,
quem diabos se importava?
Eu não. Não mais. Eu estava entorpecida.
— Não.
Ele riu, virando a cabeça para o teto. Seu pomo de Adão balançou
quando ele murmurou alguma coisa. Então ele me encarou novamente,
dando um longo passo à frente para encher meu espaço. — Eu cozinho para
você porque é assim que mostro a alguém que me importo. Eu cozinho para
você porque eu amo o olhar em seu rosto depois da primeira mordida. Eu
cozinho para você porque prefiro do que para qualquer outra pessoa.
— O que? — Meu queixo caiu.
Porque ele levantou as mãos, emoldurou meu rosto. Então selou seus
lábios sobre os meus.
CAPÍTULO DEZ
KNOX
Eu era um homem que lembrava de poucos beijos. Talvez fosse coisa
de homem. Eu só conseguia me lembrar com clareza de três.
O último Beijo.
Esfreguei a mão sobre meus lábios, ainda sentindo sua boca da noite
passada. Seu sabor doce, misturado com lágrimas salgadas, permaneceu na
minha língua.
— Maldição. — O que diabos eu estava pensando? Esta era
Memphis. Não houve um minuto descomplicado gasto com ela. Mas
caramba, quando ela atendeu a porta ontem à noite, manchada de lágrimas,
queixo erguido e inegavelmente linda, eu desliguei a parte racional do meu
cérebro e disse foda-se.
Sua boca tinha sido o paraíso. Quente e úmida. Seus lábios um fodido
sonho. Suave, mas firme. No começo, ela estava hesitante, provavelmente
chocada, mas depois se derreteu em mim e provou que sabia usar a língua.
Eu ansiava por ela, mais do que ansiei por alguém em muito, muito
tempo. E isso me assustou pra caramba.
Se isso acabasse mal, ela se mudaria e iria para onde? O aluguel perto
do bar? Ou pior, outra cidade? Eu não queria ser o cara que a mandou correr
de Montana e de volta para aquela porra da família dela em New York.
Não, não meu. Era dela. Aquele loft sempre pertenceria a Memphis,
mesmo depois que ela partisse.
Havia coisas a dizer. Memphis e eu teríamos uma longa conversa
sobre nosso futuro, principalmente sobre como ela achava ser um caso de
caridade. Eu estaria esclarecendo essa besteira em breve. Precisávamos
falar sobre o beijo. O que ela queria. O que eu queria.
Ela. Mas não era tão simples assim. Não com Drake.
— Entre. Sua mãe está na cozinha com, e cito, 'mais malditas maçãs
do freezer'.
— Eu não pensei.
— Compreensível.
Se não fosse pelo processo, se não fosse por Briggs, papai não estaria
com tanta pressa de uma resposta. Mas toda vez que eu o via, ele tocava no
assunto.
Eu poderia lidar com isso? Sim. Eu queria? Essa era uma pergunta
totalmente diferente.
Entrei na cozinha, encontrando minha mãe no balcão, as mãos em
uma tigela de massa. — Ouvi dizer que você gosta de maçãs.
— A macieira da vovó?
— Você sabe quantos baldes de cinco galões eu enchi este ano? Seis.
Passei quarenta anos colhendo, descascando e congelando maçãs. Estou tão
cansada dessas malditas maçãs que não consigo enxergar direito. Você sabe
que tipo de torta eu quero fazer? Pêssego. Ou cereja. Ou chocolate.
— Então você está dizendo que esta torta de maçã está disponível? —
Fui até o balcão e joguei um braço em volta dos ombros dela, beijando seu
cabelo.
— Não, eu acho que você lidou bem com isso. Já era difícil o
suficiente para ela do jeito que foi.
O babaca disse que Eloise tinha feito uma proposta para ele. Ela o
convidou para sair com alguns dos outros funcionários para uma bebida no
Willie's, tentando ser mais uma amiga do que chefe. Ele foi junto e, no final
da noite, ela o abraçou.
— Ah, acabei falando com ela algumas vezes no hotel. Mas eu gosto
dela.
Suspirei. — Eu também.
— Você diz isso como se fosse uma coisa ruim.
— Desde Gi-
O canto de sua boca virou para cima. — Apenas me envie sua lista.
Ela assentiu.
— Em voz alta, Memphis.
— Nem eu.
Memphis não havia contado sua história. Considerando que não tinha
contado para sua própria família e, para manter seu segredo, tinha desistido
de um fundo fiduciário, eu duvidava que ela confiasse em mim.
— Não é o que você pensa. Gianna tem um filho. Um filho. Seu nome
é Jadon.
— Mas... ele não é seu?
— Sim. — Era apenas uma palavra, mas havia um apelo para eu não
perguntar. Ainda não.
— Cinco anos.
— Você falou com ela?
Ele passou por uma gravidez. Ele assistiu ao nascimento de seu filho.
Ele tinha sido um pai. Então, em um instante, seu bebê foi arrancado de sua
vida.
Eu sofria por ele. Eu me enfureci por ele. Nas horas que estava em
casa, minhas emoções eram uma montanha-russa.
Ele sorriu.
Eu sorri.
Ele arrulhou.
Então Knox me beijou e por mais que eu quisesse dizer que tinha
ajudado, aquele beijo tinha acabado de me mandar para cima de uma
cachoeira.
Eu acenei de volta.
Então ele se foi, sob seu próprio teto, acendendo as luzes enquanto se
movia por sua casa.
Fechei os olhos e pressionei minha testa no vidro frio.
Knox era um bom homem. Ele era tão confiável quanto o nascer do
sol. Tão deslumbrante quanto o pôr do sol de Montana. Ele era o tipo de
pessoa que eu queria que Drake se tornasse.
Doeu perder Knox. Doeu perdê-lo, antes mesmo de tê-lo. Mas foi
melhor assim. Eu não tinha ideia do que o futuro reservava. Lutava para
planejar o amanhã, quanto mais os próximos cinco anos.
Por que isso me fazia chorar? Eu deveria estar em êxtase, mas em vez
disso, passei o resto do tempo à beira das lágrimas, minhas mãos tremendo
enquanto corria para me preparar para o dia.
O som da garagem se abrindo e a caminhonete de Knox ganhando
vida soou, enquanto eu me apressava para tomar banho. Deixei cair minha
escova três vezes enquanto secava meu cabelo. Meu estômago estava muito
agitado para tomar café da manhã. Até a visão da torta de maçã de Anne
Eden me deixou enjoada, então enchi um copo de água apenas para
engasgar no primeiro gole. Meus dedos se atrapalharam com os botões do
macacão de Drake quando trabalhava para vesti-lo.
Ela estava falando de mim? Sem chance. Tinha que ser outra pessoa.
A menos que alguém tivesse visto Knox e eu no Knuckles, dividindo uma
mesa, presumindo que éramos um casal. Isso foi um acaso. Mas esta era
uma cidade pequena. Talvez a fofoca viajasse rápido.
A voz de outra mulher veio do berçário. — Você está surpresa que ela
já esteja namorando? Acho que ela estava saindo com esse cara antes
mesmo do divórcio ser finalizado. Eu disse que os vi no Big Sam's naquela
noite.
Ok, definitivamente não eu. O Big Sam's Saloon era um dos bares da
Main, e um lugar que eu nunca tinha ido.
Qual era o meu problema esta manhã? Claro que eles não estavam
falando sobre mim. Não era como se eu compartilhasse minha vida pessoal
com Jill. Drake também não estava falando. Quando eu me tornei essa
pessoa ansiosa e descontrolada? A velha Memphis, apesar de todos os seus
defeitos, sempre manteve a cabeça erguida.
Eu não sentia falta dela, mas não ficaria com raiva se um pouco de
sua antiga confiança viesse à tona.
Ele sorriu.
Não desista.
Eu limpei.
E o telefone tocou.
De novo e de novo e de novo, até que finalmente, quando eu estava
tirando a cama, ela parou. Havia dias assim. Dias em que eu recebia vinte
ligações em uma hora. Outros apenas uma em vinte e quatro.
— Nada. — Eu acenei.
— Memphis. — Ele caminhou na minha direção, parando perto o
suficiente para que o cheiro de seu sabonete picante atingisse meu nariz.
Deus, ele cheirava bem. Hoje, havia uma pitada de limão também.
Talvez ele estivesse fazendo torta de merengue de limão. Era o meu
favorito.
— Fale comigo.
— Drake.
Era o céu.
E o inferno.
— Eu não posso fazer isso, — eu sussurrei, meus olhos se fechando
para não chorar.
— Por que?
Eu estava pendurada por fios na maioria dos dias. Eu dei a Drake todo
o meu extra. Se Knox fizesse eu me apaixonar por ele e depois
terminássemos, eu desmoronaria. Eu não sei certeza se teria forças para
consertar outro coração despedaçado.
Quando abri meus olhos, seu olhar penetrante estava esperando. Ele
era tão lindo que quase doía olhar para ele. Eu queria contar a ele sobre
Oliver. Se havia alguém que cuidaria dos meus segredos, era Knox.
Mas...
Eu fiquei quieta.
— Você quer estar por conta própria. Eu entendo isso, querida. —
Seus dedos se afastaram das minhas têmporas para segurar no meu rabo de
cavalo. — Estar sozinha não significa que você tem que ficar sozinha. Há
uma diferença.
— Mas Drake...
— Não o use como desculpa, porque você está com medo. Você me
querer não significa que Drake tem que sofrer.
E então ele se foi saindo do quarto, me deixando para trás apenas com
suas palavras.
O que eu queria? Isso importava mesmo? Eu não podia ter sonhos
para mim.
Eu pisquei. — O que?
— Ah, tudo bem, — disse Jill. — Não achei que seria um problema.
Estávamos ao lado.
— Quero não me sentir tão sozinha. Eu quero que meu filho sorria
quando eu for buscá-lo na creche. Eu quero que Drake tenha uma vida
normal mas sinto que isso está tão longe, que nem consigo ver em que
direção estou indo. Eu quero que você me beije novamente. Eu nunca mais
quero comer um sanduíche de manteiga de amendoim. Eu quero...
— Estou de folga.
— O que é isso?
Ela olhou para o copo de papelão com café como se eu tivesse trazido
para ela um tijolo de ouro, não uma bebida que minha irmã se recusou a me
deixar comprar. Memphis tomou um gole da tampa de plástico preto, e
aquele olhar de pura alegria em seu rosto...
Por esse olhar, por uma risada, eu traria um café para ela todos os
dias.
— Obrigada.
— É apenas um café, querida.
— Como o quê?
Eu me aproximei, encaixando minha mão em seu maxilar. — Como
se você precisasse ser beijada.
Um sorriso iluminou seu rosto quando ela ficou na ponta dos pés. Ela
era muito baixa para alcançar meus lábios, então eu me inclinei e selei
minha boca sobre a dela, minha língua varrendo seu lábio inferior.
Ela era o melhor momento que já tive e até agora, tudo o que fizemos
foi beijar.
Mas quando estava prestes a rasgar suas roupas, eu parava. E por uma
semana, meus chuveiros ficaram tão frios quanto o ar do início de
novembro.
Porra, mas eu a queria. Se beijá-la fosse alguma indicação, seríamos
um maldito fogo na cama. Mas ela não estava pronta.
Ela gemeu quando mordisquei seu lábio inferior. Esse som foi direto
para o meu pau dolorido, então afastei minha boca e soltei um gemido,
deixando cair minha testa na dela enquanto respirávamos.
— O que?
— Quem?
O cara estava de costas para mim, seu corpo coberto por um blazer de
tweed e seu pescoço envolto em um cachecol xadrez grosso.
— Bom dia, — eu disse, manobrando ao redor do sofá para ficar ao
seu lado. — Knox Éden.
Lester Novak.
Porra.
— É claro.
— Sim. Cleo foi uma convidada aqui alguns anos atrás. Ela, uh...
bem, ela assumiu minha cozinha uma manhã e fez doces suficientes para
alimentar todo o condado.
Ele riu. — Isso soa como Cleo. A padaria dela é minha parada
favorita sempre que estou em Los Angeles.
Isso era uma coisa boa? Eu não poderia dizer pelo seu tom. — Eu
poderia ter colocado crânios de gado nas paredes e deixar as pessoas
jogarem cascas de amendoim no chão, mas vou deixar os bares da Main
fazerem o que as pessoas esperam.
— E? — Eu perguntei.
— Sim. Meu irmão mais velho administra o rancho. Todos os anos ele
passa alguns de seus melhores novilhos para mim.
Eu ri. — Vou ter que dar crédito por essa receita para minha mãe.
— De jeito nenhum.
Quincy era tudo sobre conforto para mim. Estava em casa. Talvez eu
fizesse o macarrão com queijo de Memphis e fritasse um frango com minha
massa de chipotle favorita.
— É claro que ele não odiaria sua comida. Duh. Você é o melhor chef
que eu já conheci.
O elogio foi dado tão casualmente, como se ela estivesse afirmando o
óbvio. O céu estava azul. A neve era branca. Eu era o melhor chef do
mundo.
— Knox, só vim para ter certeza de que estava tudo bem, — disse
Eloise. — E já que é... quando você terminar aqui, você me faria um
almoço mais cedo? Esqueci de trazer hoje e estou morrendo de fome.
— Claro.
Eloise recuou pelo corredor, e quando ouvimos a porta da escada abrir
e fechar, Memphis cedeu.
Eu estava pronta?
Cega.
A pessoa que roubou minha visão fui eu. Fechei os olhos para seus
defeitos e vi apenas boa aparência, dinheiro e status.
Eu estou pronta?
Faróis brilharam na janela e pulei do sofá, correndo para a porta.
— Ele me disse que foi uma jogada ousada servir macarrão com
queijo. Eu disse a ele que tinha uma mulher em casa que me disse ser o
melhor do mundo. Ele concordou.
— Sim. — Eu voei para ele, pulando em seus braços porque sabia que
ele me pegaria. — Eu sabia. Eu sabia que ele ia adorar qualquer coisa que
você fizesse.
— Fique, — eu sussurrei.
— Tem certeza?
— O que?
— Drake.
Knox riu. — Você não é uma mãe horrível. Mas vamos levar isso para
o meu apartamento.
— Pode ser.
— Vale a pena experimentar. Você o pega. — Knox me colocou de
pé. — Vou pegar o berço.
Como um pai.
Dei um beijo na cabeça do meu filho. Drake soltou um guincho
quando o deitei em sua cama. Então prendi a respiração, Knox e eu
pairando sobre a grade do berço. — Isso é estranho?
Knox pegou uma das minhas mãos, levando-a para sua barriga dura e
lisa. Então, com a palma da mão cobrindo meus dedos, ele a arrastou cada
vez mais para baixo sobre seu jeans. Sua dureza me fez suspirar. — Isso
responde a sua pergunta?
Minha boca ficou seca. Isso não era uma pequena protuberância atrás
de seu zíper.
Mas acho que não estava andando rápido o suficiente porque, quando
chegamos à sala de estar, ele se virou e me carregou por cima do ombro
pelo resto do caminho até seu quarto, eu estava nas mãos de um bombeiro.
Ele sorriu, seu rosto bonito abafado na luz fraca da lua que rastejava
através do vidro. Então se inclinou para frente, seus braços plantados ao
meu lado na cama. — Você é minha. Quer façamos isso esta noite ou não.
Cada toque, cada carícia, fez o meu núcleo pulsar mais forte. — Mais.
Meus dedos abandonaram seu cabelo para puxar sua camisa, mas toda
vez que eu puxava a bainha de sua espinha, ele se torcia e eu perdia o
controle. — Você está me matando.
— Lento. Lembra?
Seus lábios viajaram cada vez mais para baixo. Uma mão veio para
libertar meu peito. Em seguida, sua boca quente se fechou sobre um mamilo
e eu quase gozei.
Faz muito tempo desde que me senti adorada. Sexy. Meu corpo
ganhou vida sob seu toque e quanto mais ele brincava, mais eu tremia.
Ele beijou a ponta do meu nariz. — Porque esta noite será o melhor
momento que tive em anos. Eu quero isso para você também. Sem
arrependimentos.
— Sem arrependimentos.
Ele segurou meu olhar, procurando por um pingo de dúvida. Ele não
encontraria.
Knox veio, seus lábios se fundindo aos meus. Então nós éramos uma
confusão de movimentos frenéticos enquanto nós dois trabalhávamos para
empurrar minhas calças, deixando nada entre nós além de calor.
Seu peso se estabeleceu nos meus quadris. Seu corpo era uma torre de
força. Seus braços segurando meu rosto o impediram de me esmagar, mas
ele ficou perto o suficiente para que os cabelos em seu peito esfregassem
contra meus mamilos sensíveis.
— Você é... você é um sonho, — ele respirou. — Eu desisti deles.
Este homem, santo Deus, ele era resistente. Knox não se cansava. Ele
não parou, apenas fodeu, exatamente como uma mulher deve ser fodida.
Longa e com muita atenção.
A memória daquela noite não era tão brilhante quanto antes. Eu não
tinha falado com nenhum desses amigos em meses. Nós nos separamos um
pouco depois da faculdade, cada uma de nós ocupada com carreiras
incipientes. Então, engravidei e minhas noites de boates desapareceram e
com elas, meus amigos.
Amigos que não eram realmente amigos. Eu ainda curtia suas fotos no
Instagram. Eles me enviavam mensagens ocasionais para checar. Mas
nossas vidas tinham tomado direções diferentes.
— Meu quarto melhor dia foi uma viagem que fiz ao Havaí para
trabalhar, — eu disse. — Acabávamos de abrir um hotel em Maui e fui para
trabalhar com a equipe de marketing local obtendo algumas fotos e
conteúdo para as mídias sociais. Eu voei cedo e passei um dia inteiro na
praia, lendo e cochilando e não fazendo nada além de ouvir o som das
ondas.
— Faz tempo que não vou à praia. — Knox pegou a garrafa vazia de
Drake e a colocou na mesinha. Então colocou meu filho em cima do
ombro, dando tapinhas em suas costas. — Ok, qual é o próximo melhor?
— Provavelmente.
Meu pai queria as coisas do jeito dele. E como ele sempre mandou em
nossas vidas, manteve seus filhos na linha, tirando o que amávamos.
— Desculpe querida. Tenho que dizer... Eu não serei legal com seu
pai.
— Eu também não.
Quando contei a Knox sobre minha família pela primeira vez, não
queria que parecessem feios. Mas com o passar dos dias, vendo Knox
interagir com Eloise ou Anne, quando esta aparecia no hotel para checar
seus filhos, comecei a ver as verdadeiras cores de meus pais. Preto, sem
vida e vazios.
Drake soltou um arroto tão alto que encheu a sala. Eu soltei uma
risada, assim como Knox, e então Drake abriu um bocejo sonolento antes
de desmaiar.
— Sim.
Sem dúvidas.
Ele me trouxe meu café favorito. Ele me visitou a manhã toda para
beijo após beijo. Knox me fez sentir especial. Desejada. Depois de falar
com Lester, ele veio me contar primeiro. E então esta noite... Talvez eu
estivesse entregando demais. A velha Memphis teria jogado de forma
diferente. Mas eu não estava jogando. Não mais.
— É apenas a verdade.
Ele caminhou em minha direção, pegando meu rosto em suas mãos.
— Então aqui está outra verdade. Eu vou mudá-los. Eu vou fazer todos os
seus dias os melhores. Cada um deles, até você não conseguir mais
acompanhar os cinco primeiros, porque haverá tantos melhores que você
precisará de cem para capturar classificar todos.
— Promessa? — Eu sussurrei.
— Eu juro.
CAPÍTULO QUATORZE
KNOX
Eu estava três passos no corredor quando a visão na minha cadeira
favorita me parou no meio do caminho.
Não havia como voltar atrás agora. Não depois de ontem à noite.
Ambos.
Soltei meus pés e entrei na sala de estar, indo para o encosto da
cadeira.
Eu beijei sua testa, então lhe entreguei Drake. — O que você quer
para o café da manhã?
— Acha que pode esperar uma hora? Eu posso fazer uma quiche.
— Eu vou esperar.
— Mas... é um sábado.
O sorriso que se estendeu em sua boca bonita, faria valer a pena que
eu receberia de Roxanne mais tarde.
Nunca na minha vida eu havia cancelado trabalho para ficar com uma
mulher. Roxanne já estava me provocando por abandonar o trabalho de
preparação para caçar Memphis no hotel. Então, ontem à noite, quando eu
disse a ela que lhe daria um dia extra de férias no Natal se trabalhasse por
mim, ela enviou uma série de emojis de coração e revirar os olhos e um
polegar para cima.
Fui à despensa buscar farinha e sal para fazer a massa da torta.
— E se eu não fizer?
— Então eu não vou te beijar.
— Por favor.
Ela se lançou para mim, voando para fora de seu banco. Seus braços
envolveram meus ombros e sua língua estava na minha boca. Foda-se o café
da manhã, eu não precisava de nada mais do que essa mulher.
— Vou correr para o loft e pegar mais algumas fraldas. — Ela olhou
para o cronômetro no forno. — Talvez tomar um banho rápido.
— Não. Ele está feliz. — Minha mão deslizou sobre a curva de sua
bunda. — Traga qualquer coisa que você precise para hoje. E à noite.
Agora que ela dormiu na minha cama, não haveria como ela passar
outra noite no loft.
Esse tinha sido o meu problema com Gianna também. Eu estava tão
perdido no planejamento do futuro, na ideia de ter minha própria família,
barulhenta e indisciplinada, que perdi os sinais de que ela estava mantendo
um segredo.
Não muito tempo depois que ela descobriu que estava grávida,
Gianna me olhava e abria a boca, mas nada saía. Houve momentos em que
a encontrei olhando para uma parede, os braços em volta da barriga e o
joelho saltando descontroladamente. Outras vezes, quando eu falava sobre o
futuro e talvez nos mudar para Montana algum dia, seu rosto empalidecia.
Mas ele não veio em direção à minha porta. Ele olhava para o loft.
Memphis estava no meio da escada, com a mão tão apertada em torno
do corrimão que mesmo a esta distância eu podia ver seus dedos brancos.
Foi só quando ela olhou por cima do ombro — não para mim, mas
para Drake — e tirou os óculos de sol do rosto que reconheci a semelhança.
Os olhos castanhos. O cabelo loiro. O nariz bonito e o queixo adorável.
A mãe dela.
Passei por seus pais, tomando uma posição atrás de Memphis. Não foi
fácil, mas mantive minha boca fechada enquanto o pai dela me olhava de
cima a baixo com um sorriso de escárnio. Quando a mãe dela olhou para
Drake como se estivesse prestes a pegá-lo, eu o afastei.
— Estive ligando, — disse sua mãe, seus olhos ainda fixos no bebê.
— E eu não atendi. — Memphis mudou, colocando-se na frente de
Drake.
Era ela quem estava ligando. Por meses e meses. Persistente, não ?
— Você chama isto de vida? — Ele curvou o lábio e olhou para o loft.
— Você está morando em cima de uma garagem. Você está limpando
quartos. Você está vivendo com um salário mínimo.
— Isso é... espere. — Sua coluna, já rígida, tornou-se uma barra de
aço. — Como você sabe onde estou morando e onde estou trabalhando?
Meses atrás, logo depois que ela se mudou para cá, eu vi um flash de
faróis na estrada uma noite. Eu pensei que era alguém perdido. Mas talvez
tenha sido quem enviaram para seguir Memphis.
Seu pai nem sequer piscou com sua pergunta. Ficou claro que ele não
a considerava digna de uma explicação. — Estamos indo embora. Entre no
carro.
Essa era minha garota. Ali estava o fogo. Levou cada grama de
contenção para ficar quieto, mas ela não precisava que a ajudasse. Eu faria
se fosse preciso, mas a determinação estava rastejando em seus olhos.
Como se estivesse tendo a chance de dizer tudo que estava em sua mente
por meses.
— Ou o que?
— Ou você vai ouvir de nossos advogados.
— Você não tem nada a dizer sobre isso. — Ele balançou a mão livre,
estendendo-a para Memphis.
— Toque-a novamente e eles nunca encontrarão seu corpo.
Apoiei minhas mãos na pia, olhando pela janela enquanto seus pais
subiam em seu veículo e desapareciam. — Memphis
Quando me virei, ela estava parada na janela mais próxima da porta,
os olhos grudados na estrada. Um fluxo de lágrimas escorreu por seu rosto e
ela segurou Drake com tanta força que ele começou a se contorcer.
— Por que?
— Porque depois de tudo que eles fizeram comigo, eu não deveria me
importar. Mas, sim. — Um soluço escapou. — Por um momento, quando os
vi chegando, pensei... talvez eles estivessem aqui para se desculpar. Talvez
estivessem aqui para me dar um abraço e dizer que sentiram minha falta. E
fiquei feliz em vê-los porque, por bem ou mal, eles são meus pais. Mas eles
não se importam. Por que eles não se importam comigo?
— Eu posso.
Ele deu um beijo no meu ombro nu e me deu um olhar que dizia que
hoje não seria o domingo relaxante e sem estresse que eu esperava. Nosso
sábado também não foi muito divertido.
— Liguei para o hotel. Falei com Mateo. Ele registrou um casal com
o sobrenome Ward ontem à noite.
— Não.
— Bem... merda.
Claro que estariam no Eloise, poluindo o que era meu. Havia alguns
motéis na área, mas nenhum era tão bom.
O que meus pais estavam fazendo aqui? Por que os telefonemas? Por
que o investigador particular? Eles viraram as costas para mim quando mais
precisei deles, mas agora apareceram. Agora? Talvez eu pudesse acreditar
que não havia algum motivo oculto se apenas mamãe tivesse visitado. Tinha
recebido seu chamado por meses. Mas para papai fazer a viagem para
Montana, havia algo mais acontecendo.
— Não.
— Knox...
— Não, Memphis.
Knox respirou fundo, suas narinas dilatadas. Então seu corpo relaxou
e me envolveu em seus braços. — Eu não gosto disso.
— Nem eu.
Ele fez sete viagens ao loft ontem, cada vez sob o pretexto de pegar
algo para Drake. Ele saía com meu cesto de roupa vazio e voltava com ele
transbordando.
A viagem para a cidade foi silenciosa. Esta foi a primeira vez que eu
fui passageira aqui, e ver Quincy desse ângulo foi diferente. Ou talvez hoje,
enquanto dirigíamos, eu a vi pelo que havia se tornado.
Lar.
A Câmara Municipal já estava se preparando para os feriados.
Guirlandas de pinheiros se enroscavam em cada um dos postes de luz que
ladeavam a Main Street. Quincy Farm and Feed tinha cercado um quarto de
seu estacionamento para árvores de Natal. O cinema apresentou o mais
recente sucesso de bilheteria junto com The Grinch, do Dr. Seuss.
Eu ainda não tinha ido ao cinema, mas quando Drake fosse mais
velho, seríamos frequentadores regulares de fim de semana. Uma placa de
lousa com cidra de maçã grátis havia sido colocada na janela da Colher de
Pau. Outra loja em que eu ainda não tinha ido, mas talvez entrasse e
comprasse um utensílio de cozinha para Knox. Eu conhecia as vitrines, mas
não os interiores. Eu não tinha feito de explorar Quincy uma prioridade,
mas isso estava prestes a mudar.
Desde que deixei a cidade, tenho dito a mim mesma para não desistir.
Mas será que precisava de mais lembretes diários? Talvez não.
Ou Knox.
Com uma camada de barba por fazer no queixo, Mateo parecia mais
com Knox do que nunca. Ele tinha a mesma estrutura ampla, mas ainda não
havia tantos músculos.
O sorriso que ele me deu foi todo o incentivo que eu precisava para
enfrentar meus pais. Eles não iriam tirar essa vida de nós.
— Obrigada.
— Pai.
Este era uma dos quartos maiores, uma sala de canto com espaço
suficiente para uma pequena mesa perto da janela. Mamãe estava sentada,
suas costas tão rígidas e retas quanto as minhas. Exceto que não era a
determinação que a impulsionava. Ela sentou rígida a vida inteira, em
constante tensão por causa do meu pai.
— Você pegou seu carro e foi embora. — Mamãe olhou para mim
como se eu a tivesse ofendido. Como se tivesse cuspido no champanhe
dela.
Ela queria saber se eu estava segura. Ter-me seguido deve ter sido
ideia dela. Pela expressão no rosto de papai, ele não poderia se importar
menos.
— Se você estivesse realmente preocupada com minha segurança,
você teria ido ao hospital quando eu estava em trabalho de parto.
— Lamento não ter estado lá. — Mamãe olhou para papai com a
culpa gravada em seu lindo rosto. — O homem de ontem. Quem é ele?
— Knox Éden. A família dele é dona deste hotel.
— Ah, é...
E eu fiz a minha.
— Você deve voltar para casa. Assim que chegarmos a New York,
teremos uma discussão mais completa.
— A menos que você planeje colocar um saco na minha cabeça e me
arrastar para o avião, não vou deixar Quincy.
— Você acha que isso é uma birra? — Eu bufei uma risada seca. —
Não estou agindo assim para chamar sua atenção. Eu não preciso ou quero
você na minha vida.
Imaginar Drake fazendo essa declaração para mim, teria sido como
uma adaga no meu peito.
Mamãe se encolheu.
— Ela não me deu o nome dela. Mas ela afirma que você tem um
filho de Oliver MacKay.
Levou tudo que eu tinha para não reagir. Senti a cor sumir do meu
rosto, mas não me mexi. Eu mal respirei.
— Ela está nos chantageando. Ou pagamos a ela para ficar quieta ou
ela vai à imprensa. Você deve voltar para casa para que eu possa garantir
que você fique de boca fechada enquanto meus advogados a evisceram.
Meu coração batia tão forte que doía. Quem era essa mulher? Como
ela poderia saber sobre Oliver? A menos que tudo isso fosse uma mentira.
Talvez o investigador particular de mamãe tivesse feito mais do que
simplesmente me seguir até Montana. Talvez eu tenha estragado tudo e
deixado algum rastro ao longo do caminho.
— Por que você simplesmente não me diz para que possamos lidar
com essa bagunça? É Oliver MacKay?
Mamãe ficou tensa em sua cadeira, mas ela certamente não veio em
meu socorro.
Uma prostituta. Pode ser. Doeu, mas não foi a primeira vez que ele
usou suas palavras como um chicote. — Se você está preocupado com sua
reputação e um escândalo, então pague a mulher e acabe com isso. Ou não
pague. Eu não me importo. Mas eu te disse meses atrás, meu filho é meu e
só meu. Você pode aceitar isso ou não. Não importa. Não precisamos de
você.
— E?
Meu avô havia fundado a Ward Hotels em New York. Ele foi
extremamente lucrativo em uma época em que outros hotéis não. Papai
nunca confirmou exatamente o motivo, mas quando eu tinha doze anos, o
FBI investigou o negócio.
A única razão pela qual eu sabia disso, foi porque um agente veio à
nossa casa um dia. Eu estava doente e não tinha ido à escola. Minha babá
me fez ficar na cama o dia todo, mas eu queria assistir TV. Então, enquanto
ela pensava que eu estava cochilando, escapuli do meu quarto.
Um agente do FBI estava no nosso vestíbulo fazendo perguntas à
mamãe. Eu sentei no topo da escada e ouvi.
Família.
Essa palavra não tinha muito peso no momento. Ela soou vazia em
minha mente.
— Na verdade, não.
Sim, eu também não estava. Meu estômago deu um nó desde que ela
entrou na cozinha com lágrimas nos olhos. Então fui até o sofá e sentei na
beirada, apoiando os cotovelos nos joelhos. Esperando.
Drake terminou sua mamadeira logo e, em seguida, quando Memphis
o segurou, ele rapidamente adormeceu.
— Não mais.
— Ele não está acostumado a ser ignorado. Não sei se já ouvi alguém
dizer-lhe não. Então o ego dele é...
Memphis olhou para Drake mais uma vez, seus olhos suavizando. —
O pai de Drake não é um bom homem.
Eu sentei em linha reta. — Ele a machucou?
— Eu não estou. Oliver não quer nada comigo tanto quanto eu não
quero com ele.
Eu pensei na primeira vez que ela me contou, mas Deus, ela era forte.
Poucas pessoas teriam se afastado de milhões. Se Drake alguma vez
duvidasse do amor dela por ele, eu estaria aqui para corrigi-lo.
— Não sei. Nós não fomos. Pedi que ele fosse meu par e ele me disse
que não poderia ir porque sua esposa estaria lá. Ele disse isso como se fosse
óbvio. Que eu deveria saber que eu era apenas sua amante.
— Um erro.
— Olhe para mim. — Esperei até que ela erguesse o queixo. — Foda-
se ele por dizer isso.
Ela encontrou meu olhar, seus olhos suavizando. Nós dois fomos
enganados por aqueles que amávamos. Eu confiei em Gianna também.
A distância entre nós era grande, então me levantei e contornei a mesa
de café, estendendo a mão para ajudá-la a se levantar. Eu peguei Drake de
seus braços e com ela, o levei para o quarto de hóspedes.
— Não, ele queria meu silêncio. Ele fez algumas ameaças sobre sua
esposa e como ela costumava ter ciúmes. Como ela estava ligada a uma
família perigosa e que seria uma pena minha própria família ter problemas
com negócios. Foi tudo muito praticado, uma mensagem que ele,
obviamente já havia passado antes. Ele me ofereceu cinquenta mil dólares
para manter nosso caso em segredo.
Eu me inclinei para trás, encontrando seus olhos. — Mas você não
pegou, não é?
Um sorriso puxou sua boca. — Quase não contei a ele sobre o bebê.
Eu quase mantive quieto. Mas eu não queria olhar por cima do ombro
minha vida inteira, imaginando que ele descobriria. Imaginando se ele iria
querer Drake. Era a minha janela para negociar e a peguei.
— Não está bem. — Ela se afastou, caindo de costas para olhar para o
teto. — Alguém sabe.
— Não sei. Mas é por isso que meus pais estão aqui. Uma mulher está
chantageando o papai. Ela disse que iria à imprensa e diria que tive um bebê
de Oliver.
— Porra.
— Sim. — Ela esfregou as têmporas. — Eu estava com medo de fazer
muitas perguntas hoje. Mamãe e papai suspeitam de Oliver, mas eu não
confirmei. Há toda uma história complicada lá. Há rumores de que meu avô
tinha alguns laços com a máfia quando começou a Ward Hotels. Se for
verdade, papai cortou isso décadas atrás. Mas isso o assustou.
— Vou negar. Oliver vai negar. Mas a especulação vai correr solta. E
sua esposa sem dúvida suspeitará que tivemos um caso.
— Esse é o problema dela. E quanto a Drake? Que tipo de acordo
você fez?
— Se ele fizer isso, ele terá uma porra de uma luta em suas mãos. Ele
não levará Drake.
— Ele não levará Drake, — ela repetiu.
— Você acha que a mulher que contatou seu pai poderia ser a esposa
dele? — Eu perguntei.
— Pode ser. — Ela deu de ombros. — Mas por que sua esposa
precisaria chantagear minha família por dinheiro? Ela tem bastante. Ela
poderia simplesmente se divorciar da bunda de Oliver e pegar o dinheiro
dele também.
— Não. Tem que ser alguém próximo a Oliver. Alguém que ele
irritou. E alguém que sabe que minha família tem dinheiro. — Memphis
envolveu os braços em volta da cintura. — Por que isso não vai embora? Eu
só quero que isso acabe.
— Quando?
— Eu não sei, querida.
— Você estava tão sozinha que foi embora. Porque você não tinha
ninguém. Mas você me tem agora. E como eu te disse na outra noite, eu não
vou a lugar nenhum. — Talvez se lhe dissesse o suficiente, ela acreditaria.
— Promessa?
Algum dia meu coração não estaria tão machucado. Algum dia,
esperançosamente, esses sentimentos em relação a ela se abrandariam.
Algum dia, eu poderia pegar o telefone e ligar para ela, para variar.
— A menos que você precise de mim para fazer qualquer outra coisa.
— Era pouco depois das cinco. Drake tinha que ser pego antes das seis, mas
tenho tempo, caso precise de mim para entregar chinelos ou champanhe em
um quarto.
— Vejo você amanhã. — Acenei para Eloise, então corri para a sala
de descanso para bater o ponto. Com meu casaco e minha bolsa pendurada
no ombro, fui para o Knuckles.
Knox e eu não nos vimos desde que saí para o trabalho esta manhã.
Nós dois inundados com o fluxo de hóspedes e hoje, ele começou a se
preparar para o banquete de Ação de Graças que serviria na quinta-feira.
— Ok.
Sua proteção era uma segunda natureza. Ele era o homem assumindo
o comando. Mas, ao contrário das ordens gritadas do meu pai e da
incapacidade de se comprometer, Knox fez isso com cuidado, não como
controle. Da maneira como nos mudou para sua casa. Ele não havia
perguntado. Ele simplesmente foi enchendo meu cesto de roupa suja, uma
viagem de cada vez, até que tudo o que restava no loft eram minhas malas
vazias. Se eu tivesse recusado, ele teria levado tudo de volta.
— Oi. Bom.
— Nenhuma palavra.
— Droga.
Knox e eu decidimos que a única coisa a fazer com meus pais e esse
chantagista, era esperar. Nada de bom viria de eu entrar no meio da
situação. Se alguma coisa, apenas traria a verdade à tona.
Essa mulher, quem quer que fosse, não tinha provas de que Oliver era
o pai biológico de Drake. Nosso caso foi secreto — Oliver se certificou
disso, mesmo que eu não tivesse percebido na época. Ela provavelmente
estava agindo com uma suspeita, então eu manteria meu filho e seu DNA
distante, muito distante da cidade.
Sua reputação sempre foi sua prioridade. Foi por isso que seus hotéis
foram rotulados como hotéis butique. Ele queria que o nome Ward fosse
conhecido pela extravagância e exclusividade.
Juntos. Olhei para seu perfil bonito e deixei essa palavra rolar pela
minha mente.
Isso era bom demais para ser verdade? Meu coração não aguentaria se
tudo caísse em pedaços. Porque dia após dia, noite após noite, eu estava me
apaixonando por Knox.
Talvez, já tivesse.
— Nada. — Agarrei sua mão com mais força, então a soltei quando
saímos.
Uma rajada de neve me atingiu no rosto. Engoli em seco com o vento
frio, afundando mais no meu casaco, então corri para o meu carro.
— Sim, ele estava perfeito. — Ela beijou sua bochecha. — Você não
estava? Você é sempre perfeito. Mas ele não tirou uma soneca à tarde.
Então nós apenas ficamos juntos.
Significando que ela não o deitou para que ele pudesse tirar sua
soneca da tarde. Significando que eu teria que colocá-lo na cama cedo e
perder meu tempo com ele. Meus molares começaram sua moagem diária,
quando fui tirá-lo de seus braços. — Oi, bebê.
Estou tão cansada disso. Que diabos? Ela o alimentou com açúcar e
disse que eu era o diabo o dia todo? Ele ficaria bem em dez minutos, mas
era como se ela fizesse lavagem cerebral no meu bebê todos os dias.
— Está bem. — Jill o empurrou. Mas não o entregou. — Apenas um
pouco de sono e então você estará de volta. Eu vou te ver em logo de
manhã.
Exceto que não era minha casa, era? Era a casa de Knox.
Eu vim de tão longe para começar uma nova vida. Eu me mudei pelo
país. E pouco mais de dois meses depois, eu estava morando sob um teto
que não era meu. Para roubar as palavras de Jill, eu estava presa.
— Nada. — Eu acenei.
Ele sabia que era mentira, mas ficou quieto, caminhando na frente até
sua casa e fechando a porta quando estávamos lá dentro. — Estamos
aumentando a casa.
— Huh?
— Não gosto de ter que arrastá-lo pela neve para entrar. — Ele se
inclinou e soltou Drake, levantando-o. Só quando estava nos braços de
Knox o choro parou.
Claro que ele parou de chorar. Ele estava com sua segunda pessoa
favorita.
— Memphis.
— Knox. — Passei por ele, pegando a cadeirinha do carro e a bolsa
da creche de Drake para o quarto de hóspedes.
Olhei para meu filho, que havia parado de chorar e estava ocupado
agarrando um punhado do meu cabelo. Seus olhos castanhos eram grandes
e expressivos. Seu rosto tão pequeno e perfeito. — Ele é meu mundo
inteiro. Eu só queria ser dele.
— Você é, querida.
Nos fins de semana, era mais fácil colocá-lo n chão. Para deixá-lo
relaxar em seu tapete de jogo. Durante a semana, depois de passar oito ou
nove horas nos braços de Jill, era mais difícil para mim soltá-lo. Então, o
segurei e nós dois assistimos Knox dar a volta na ilha e tirar comida da
geladeira e da despensa.
— Você.
— Eu ia dizer melhor.
— Mas...
— Maldição, Memphis. Pare de discutir comigo. — Num piscar de
olhos ele me pegou e me colocou na ilha. Um garfo voou, caindo no chão.
Então, ele se colocou entre minhas pernas, segurando meu olhar, nossos
narizes se tocando. — Deixe-me esclarecer. Você é minha. Drake é meu.
Para todos os seus hoje e para cada um dos seus amanhãs. Minha. Você não
me quer?
— Nada de merda.
Revirei os olhos. — Eu fico um pouco louca.
— Vamos nos meus dedos. Então você pode ter meu pau. — Ele
mergulhou os lábios no meu pescoço, agarrou e chupou enquanto bombeava
seus dedos para dentro e para fora, acariciando minhas paredes internas até
que eu estava ofegante.
Eu sorri e continuei brincando com eles, quando saiu de seu jeans, sua
ereção grossa flutuando livre.
— Sim, — eu respirei.
Sua mão em seu pau não parou de bombear. A outra mão golpeou
meus dedos para longe do meu centro. — Toque seus mamilos.
Eu obedeci. Imediatamente. No quarto. Na vida. Qualquer que fosse o
prazer que lhe trouxesse, o devolveria dez vezes.
Um arrepio rolou sobre seus ombros quando ele abriu os olhos. Então
me deu um sorriso sexy e diabólico. — Agora você está uma bagunça.
Sua bagunça.
— Ei, chefe. — Knox beijou sua bochecha, então me puxou para seu
lado. — Como foi a manhã?
— Não, estamos todos prontos. Cada mesa tem comida. Haverá uma
tonelada de pratos para lavar, mas o jantar em família de Skip não é até à
noite, então ele vai fechar. Ele enrolou seu casaco, levando-o para uma
cesta de roupa suja, então pegou suas chaves e jaqueta de seu escritório. —
Me ligue se precisar de alguma coisa.
Skip levantou a mão. — Feliz Dia de Ação de Graças.
Demorou vinte minutos para atravessar a sala porque a cada mesa que
passávamos, alguém parava Knox e o cumprimentava pela refeição. Então
ele me apresentava como sua namorada. De novo e de novo. Cada vez, um
novo arrepio percorria minha espinha.
— Eu realmente amo.
— Não?
— Pode ser. — Isso era tão tentador. — Mas ainda não. Não até que
eu tenha alguma reserva de dinheiro.
— Absolutamente.
Ele levou meus dedos aos lábios. — Eu gosto que você seja teimosa.
Mas eu gostaria ainda mais se você amasse seu trabalho.
— Eloise não ficaria feliz comigo por muitas coisas no que diz
respeito ao hotel. — Ele soltou um longo suspiro. — Meus pais estão me
pedindo para assumir o controle.
Knox? Sério? — Não fique bravo comigo por isso, mas... Sempre o vi
como o de Eloise.
— Então por que eles não querem que ela fique com ele?
Eu fiz uma careta. O hotel não seria o hotel sem os Edens. Sem
Eloísa.
— Você não tem nada com que se preocupar. Bem, exceto que Eloise
mencionou fazer biscoitos. Afaste-se desses.
Eu ri quando ele rolou por uma estrada de cascalho cercada por cercas
de arame farpado. Sob as sempre-vivas que se elevavam sobre a terra, o
chão estava coberto por um manto de neve. Era tranquilo. Sereno.
Meu coração disparou quando uma casa de madeira com uma varanda
envolvente apareceu. A casa ficava orgulhosamente em uma clareira entre
as árvores. Além de um terreno amplo e aberto, havia um prédio comercial.
Em frente havia um enorme celeiro e estábulos.
Todos os telhados estavam cobertos de neve. Uma nuvem de fumaça
saia da chaminé da casa. Uma fila de veículos estava estacionada do lado de
fora.
— Não. Nós não vamos comer até mais tarde, — ele disse,
estacionando o carro. — Mas eu acho que todo mundo esteve aqui a maior
parte do dia, ajudando.
Knox saiu do carro e pegou Drake. Ele estava com a bolsa de fraldas
no ombro e eu ainda estava presa no banco do passageiro. Ele se inclinou,
olhando para mim de sua porta aberta. — Precisa de um minuto? Posso
dizer a eles que você está no telefone.
Ele inventaria desculpa enquanto eu arrumava minhas emoções.
— Você está cozinhando o dia todo. — Ela o enxotou até ele ficar ao
meu lado do outro lado da ilha. — Lyla e eu vamos cozinhar.
— Posso ajudar? — Eu perguntei. — Não sou muito de cozinhar, mas
Knox tem me ensinado algumas coisas.
Anne olhou além de mim para onde Eloise estava conversando com
Griffin. Então ela acenou para o saco Ziploc de biscoitos no balcão. — Se
eles acidentalmente encontrassem o caminho para a lata de lixo na garagem,
enquanto você fosse pegar qualquer coisa da geladeira lá fora, tudo bem.
Os Éden se abraçavam.
E com cada um, percebi o quanto solitária minha vida tinha sido.
— Como está meu pequeno Drake? — Talia o pegou de Knox,
beijando sua bochecha. Ela se empolgou e o bajulou em seu check-up no
início deste mês. E quando o declarou perfeito, eu imediatamente
concordei. — Olha o quão grande você está ficando.
— Espero que com a soneca dele, não seja um terror durante o jantar,
— disse Winn. — Ele estava exausto.
— Sim.
— Diga à mamãe que o molho de cranberry dela está prestes a
transbordar.
Mas antes que pudesse resgatar Hudson, Talia voou pelo corredor. —
Não, não, não. Ele é meu.
— Ela está com febre de bebê, — disse Lyla. — Graças a Deus não é
contagioso.
— Não. Talia acha que vai ser a tia favorita. Mas tio Mateo está
prestes a roubar seu posto. Ele fez cócegas em Drake. — Não é mesmo,
cara? Se você precisar de qualquer coisa — doces, brinquedos, junk food —
eu sou seu cara.
Knox riu. — Isso será interessante de assistir.
— Melhor agora?
— O terceiro o quê?
— Eu juro.
CAPÍTULO DEZENOVE
KNOX
Era estranho estar na cozinha do Knuckles e ficar nervoso. Nem
mesmo na noite de estreia eu me senti tão abalado. Meus dedos
continuaram deslizando pela mesa de preparação, então eu os enfiei nos
bolsos da minha calça jeans antes de deixar minhas impressões em todos os
lugares.
Memphis entrou com Drake em seu quadril. Seu sorriso caiu quando
ela viu a bagunça na mesa de preparação, então seus olhos se suavizaram.
— Você está nervoso.
— Snickerdoodles.
— Perfeito.
Eu ri. — Ignore-a.
— Combinado.
Até Memphis.
Estava deixando-a louca que não tivesse ouvido nada de seus pais
desde antes do Dia de Ação de Graças. Os idiotas não se incomodaram em
dar a ela uma atualização, mas eu não queria que ela os procurasse também.
Não até eles virem com um maldito pedido de desculpas.
— Sim. — Ela riu. — Ela não fala comigo há meses. Eu nem percebi
o quão danificada nossa família estava, porque todos éramos bons em
manter as aparências.
— Vocês dois.
Memphis riu.
— Não.
— Fique. Não vá a lugar nenhum, ok? Quero que você esteja aqui.
— Giana?
— Eu estou feliz.
— Isso é ótimo. Muito bom. — Ela entrou em ação, tirando o estojo
da câmera do ombro. Ela abriu o zíper e tirou a câmera que sempre
carregava com ela em todos os lugares. — Vi alguns lugares na área de
jantar que podem ser ótimos. E este espaço também. Eu gostaria de obter
alguns ângulos e fotos diferentes. Talvez até mesmo você faça alguma
coisa.
Este era o bebê que eu amei antes de ele nascer. Este era o filho que
eu tive por apenas algumas semanas. O menino que cresceria e se pareceria
com seu verdadeiro pai.
O cabelo de Jadon era um tom mais claro que o de Gianna. Seus olhos
eram verdes. Eles brilharam quando ele deu um sorriso cheio de dentes para
a câmera. Gianna não tinha olhos verdes. Ela tinha olhos castanhos.
Talvez Gianna tenha visto isso cedo. Talvez por isso que finalmente
admitiu a verdade. Porque enquanto eu olhava para a foto dele, eu sabia que
a verdade acabaria sendo revelada.
Mas Drake...
Ele também não se pareceria comigo. Ele não tinha meu sangue. Ele
nunca compartilharia meu DNA. E eu não dei a mínima. Drake era meu de
uma forma que Jadon nunca tinha sido.
— Por que você fez isso? Por que você escondeu a verdade de mim
por tanto tempo? Era a pergunta que eu não tinha feito antes de deixar San
Francisco. Houve muita dor crua e eu não queria suas desculpas. Suas
explicações.
Os olhos de Gianna estavam vidrados quando ela finalmente me
encarou. — Eu estava com medo que você fosse embora.
— Ela é linda.
Ela caiu em mim, sua testa colidindo com meu esterno. — Eu não
sabia se talvez você ainda quisesse...
— Você. — Eu beijei seu cabelo. — Só você.
Memphis era honesta sobre suas dúvidas. Com Drake. Comigo. Ela
me disse o quanto sentia falta de sua confiança, mas ela estava lá. Sempre
esteve lá. Uma mulher sem uma espinha dorsal de aço não teria se mudado
pelo país. Ela não teria apertado o botão de reset em sua vida.
Gianna se contorceu.
— Claro.
Ela tinha seus defeitos, mas a fotografia não era um deles. Gianna
tinha um talento por trás das lentes.
Caminhei até onde Memphis estava sentada, assistindo, e peguei
Drake. Então eu peguei sua mão e a puxei para a mesa de preparação,
colocando meu braço em volta dela. — Você faria uma de nós três?
Ela viu. Ela viu o jeito que eu amava Memphis. — Eu vou pegar esta
para você.
— Eu agradeço.
— Tchau, Gi.
E jantei.
CAPÍTULO VINTE
KNOX
— Feche seus olhos. — Memphis apertou minha mão, parando do
lado de fora das portas do anexo do hotel. Então ela me guiou, me puxando
em alguns passos antes de pararmos. — Ok, abra-os.
O casamento amanhã não seria grande. Era para um casal local e eles
limitaram a lista de convidados a cem. Knuckles estava cuidando do evento.
O hotel estava esgotado, não apenas para os convidados do casamento de
fora da cidade, mas também para aqueles em Quincy para o feriado.
— O bolo vai para lá. Então o bar está sendo montado amanhã
naquele canto. — Ela apontou ao redor da sala. — E o DJ estará ao lado da
pista de dança. Vou aparecer amanhã de manhã e garantir que todas as
flores tenham água.
— Isso foi de você. Eu quero dar algo a ela. Além disso, não é como
se eu estivesse comprando para minha própria mãe este ano.
— Desculpe.
Semanas se passaram sem notícias de seus pais, nem mesmo uma dica
de como eles lidaram com a situação da chantagem. Eu verifiquei os jornais
de New York on-line todos os dias. Memphis também. Não houve menção a
nenhum membro da família Ward ou Oliver MacKay.
— Sim. — O que quer que tenha aceso aquele brilho em seu olhar.
— Eu vejo o jeito que você ama Knuckles. Eu quero isso também. Se
trabalhar significa um tempo longe de Drake ou de você, eu quero isso.
Eloise não piscou quando eu disse a ela que queria o quarto. Era tarde
demais para preencher a reserva, e fazia muito tempo que eu não ficava
como hóspede, algo que todos fazíamos de vez em quando.
— Acho que vou limpar nosso quarto. — Memphis riu quando Eloise
lhe entregou os cartões-chave.
— Knox, que...
Meu computador apitou com outro e-mail e fiquei tenso com o nome
de Gianna. Cliquei em abrir para encontrar uma mensagem simples — Feliz
Natal — e uma foto.
Memphis era o centro das atenções, seu rosto tão lindo que lutei para
desviar os olhos. Ela olhou para mim enquanto eu sorria para ela. O único
que realmente olhava para a câmera era Drake.
— Ei.
— Eu te amo.
Memphis engasgou e o telefone caiu de sua mão com um baque no
tapete. — O-o quê?
Nós nos beijamos até ficarmos sem fôlego, então eu afastei meus
lábios e soltei o botão de seu jeans.
Ela assentiu, obedecendo a cada palavra minha. Saiu seu top, seguido
por seu sutiã. Então ela me lançou um sorriso malicioso enquanto plantava
um joelho no colchão e apontava aquela bela bunda na minha direção. Sua
boceta, bonita e rosada, estava molhada e pronta.
Eu libertei meu pau do meu jeans e corri para puxar a camisinha que
eu estava guardando no meu bolso. Então, quando eu estava embainhado,
arrastei meu pau através de sua boceta enquanto eu estava atrás dela,
ganhando um gemido. — Isso vai ser forte e rápido.
— Sim, — ela sussurrou, pressionando de volta.
— Ah, Knox. — Ela arqueou para mim, seu lábio inferior cerrado
entre os dentes.
Eu a fodi com força, impulso após impulso. Enchi a sala com o som
de pele batendo na pele. De suas respirações aceleradas e gemidos
choramingados. Eu movi em um frenesi, suas mãos agarrando o colchão, os
dedos dos pés se curvando para o lado. Agarrei sua bunda, apertando com
força, até que ela voou sobre a borda.
— Vou ligar para a mamãe e ter certeza de que ela está pronta para
tomar conta. Se ela não puder, tenho certeza que Talia o fará. Encontro você
no saguão em trinta com seu café. Então podemos ir para casa e fazer as
malas. — Eu me dirigi para a porta, mas antes que eu pudesse tocar a
maçaneta, ela chamou meu nome.
— Knox?
— Sim.
— Eu te amo.
— O que há de errado?
— Pouco tempo.
— Bem. — Ela tentou me desviar, mas eu bloqueei seu caminho. —
Se você quer o hotel, é seu.
Não havia como Memphis limpar quartos por toda a sua vida, mas
tinha dado a Eloise um padrão. Uma régua para medir a todos. Eu a vi
manter as outras camareiras em um nível mais alto. Eu a vi empurrá-las
para fazer um trabalho melhor.
E eles estavam se apresentando.
— Nós sabemos que você ama este hotel, — mamãe disse a Eloise.
— Viemos contar a Eloise, — disse papai. — Ela disse que sabia. Ele
contou a ela sobre isso, mas pediu-lhe que não dissesse nada. Fiquei
frustrado e posso ter dito algo que não deveria ter sobre suas habilidades de
comunicação.
Papai olhou para minha irmã, que parecia tão feliz e alegre como em
qualquer outro dia. Como se essa discussão nunca tivesse acontecido. Mais
tarde, quando os hóspedes iriam embora, ela deixaria sua fachada cair. Mas
agora, ela sorriria porque este era o seu lugar.
— Acho que talvez não tenha estado aqui o suficiente, — disse ele à
mamãe, mas seu olhar estava fixo em Eloise.
— Acho que nós dois perdemos algumas coisas. — Ela pegou a mão
dele, então o puxou para a porta.
— Sim. Vou ver o que Eloise precisa. Você ainda quer ficar aqui esta
noite?
— Sim. — Talvez eu não esperasse até o Natal para dar a ela este
anel. Talvez eu fizesse isso hoje à noite. — Veja se Eloise vai deixar você ir
para casa mais cedo. Eu vou pular também. Nós vamos para a casa e
fazemos as malas para esta noite. Ainda não falei com mamãe sobre babá,
mas acho que depois de tudo isso vou ligar para Talia.
Estaríamos cerca de uma hora e meia mais cedo para pegar Drake,
mas isso daria a Memphis mais tempo com ele antes de voltarmos para o
hotel. Mais tempo para mim também. A caótica agenda de férias me
manteve longe de ambos.
— Bom.
— Você poderia me fazer um favor? Eu não quero contar a ela sobre
minha coisa de planejamento de casamento. Ainda não. Eu não quero sair
da equipe de limpeza. Especialmente agora. O que disse Eloise... Eu não
vou decepcioná-la.
Eu peguei a mão dela. — Eu sei que você não vai. E podemos contar
às pessoas sempre que você quiser contar.
— Mas...
— Oh garoto.
Na verdade, ele era nosso. Mas essa era uma correção que eu faria
assim que o anel no meu bolso estivesse em seu dedo. — Não vou discutir.
Quando o peguei na segunda-feira e ele chorou, isso me irritou. Entendo.
Algo sobre toda a situação estava errado. Era como se Jill não o
tivesse colocado no chão o dia todo. Como se ela o mimasse
intencionalmente para que ele a amasse. Talvez eu não tivesse a mínima
ideia do que estava sentindo, mas havia algo viscoso nela. Algo que estava
errado.
Como Memphis disse, se ela tivesse sido má com Drake seria mais
fácil afastá-lo. Mas aquele garoto a adorava.
— Vamos perguntar para a mamãe neste fim de semana, — eu disse.
Como a creche estará fechada durante toda a semana seguinte para os
feriados, mamãe concordou em cuidar de Drake. — Vejamos se podemos
torná-la neste Natal a babá permanente.
— Jill, hum... ela acabou de sair cerca de trinta minutos atrás. Ela o
levou para sua casa um pouco para trocar algumas roupas ou algo assim.
Ela prometeu estar de volta às cinco.
— Jill disse que você não se importava. Que ele poderia ir com ela.
Memphis virou e saiu pelas portas, olhando para os dois lados. Suas
mãos tremiam. — Não sei qual é a casa dela.
Ele contou a ela como viemos buscar Drake. Como fomos à casa de
Jill apenas para encontrá-la vazia. Como nós dois corremos para o centro,
em pânico e frenéticos, e exigimos informações do proprietário e de outros
cuidadores — não havia muito para compartilhar. Ninguém no prédio, nem
as mulheres no escritório ou a garota no berçário, tinha a menor ideia de
onde Jill levaria Drake.
Tudo o que sabíamos era que Jill havia saído com ele, prometendo
voltar em breve. E então ela desapareceu.
Ele estava se segurando para mim, mas eu não era a única que estava
tremendo, entorpecida pelo frio e pelo pânico.
— Pai.
Ele colocou o telefone na coxa e olhou para mim, seus próprios olhos
cheios de lágrimas não derramadas. — Tem que ser.
— E se não o encontrarmos?
— Não vá lá. — Ele pegou minha mão, segurando-a com tanta força
que machucou meus dedos. Mas agarrei-me à dor, agarrei-me a ele, para
ficar aqui, neste carro, e não dar um passo por uma estrada impensável. —
Nós vamos encontrá-lo.
Para onde ela teria ido? Drake não tinha seu assento de carro. E se ela
sofresse um acidente? Ela tinha ido para a cidade? Talvez ela tenha se
aventurado no centro para tomar um café.
O Alerta AMBER.
— Espere, querida.
— O que? — eu girei. — Você vem também?
— O que?
— Ele se recusou a pagar. Disse a ela para se foder. Não teve notícias
dela desde então.
Como pude ser tão tola? Nas últimas semanas, eu me permiti ter
esperança. Eu me deixei cegar. Meu pai nunca teve a intenção de me ajudar.
Nem uma vez.
Eu estava prestes a cair na calçada quando um braço forte envolveu
minhas costas, me segurando. — Ele chamou de blefe. E ela chamou o dele.
— Não. Isso não é com você. — Knox segurou meu rosto em suas
mãos, seus polegares enxugando furiosamente para secar as lágrimas. —
Tomamos essa decisão juntos.
— Eu sei que você não quer ouvir isso, mas eu preciso que vocês dois
esperem.
Eu rosnei no peito de Knox, o terror se transformando em frustração e
desespero. — Eu não posso sentar naquele carro e não fazer nada. Não
consigo ver as mães entrarem no centro e pegarem os filhos. Não posso.
Se meu pai não tinha ideia de quem era a mulher que tentou
chantageá-lo, havia uma pessoa que teria.
— Temos que saber quem era essa mulher. Mesmo que não seja ela,
temos que saber. — O tempo de enterrar minha cabeça na areia havia
acabado. Cometi o erro de pensar que em Montana eu era inalcançável.
Talvez isso não tivesse nada a ver com a chantagem, mas eu não ia correr
esse risco.
— Quem é, Oliver?
— Não sei.
Minha fúria aumentou. — Não ouse mentir para mim. Isso envolve
meu filho. Eu prometi a você que ficaria quieta, fui embora, mas você vai
me dizer. Ou meu próximo telefonema será para sua esposa.
— Faça isso e eu levarei seu filho.
— Você nunca vai tocar no meu filho. Vou usar cada dólar dos meus
milhões para arruinar sua vida. — O que fosse preciso para manter Drake
seguro. Se isso significava cumprir as ordens do meu pai, que assim fosse.
— Quem?
O outro lado da linha ficou em silêncio. Tão quieto que eu não tinha
certeza se ele ainda estava lá. Mas então ele respirou e eu sabia que ele
escolheu a autopreservação sobre seus segredos. — Ninguém sabia sobre
nós.
— Eu não estou.
— Pode ser essa mulher que eu estava vendo. Não ficamos muito
tempo juntos. Seis meses. Meu tempo com ela começou logo após o meu
com você. Ela era... exigente.
— Você quer dizer que ela sabia que você era casado.
Ele veio à minha casa duas vezes depois do nosso rompimento. Uma
vez, na noite em que ele me pediu para esquecer seu nome. A noite em que
me ofereceu dinheiro. A noite em que contei a ele sobre o bebê. Então,
apenas alguns dias depois, ele veio para assinar seus direitos parentais.
— Averie Flannagan.
— Winn vai usar o nome dela, — disse Knox. — Ver o que ela pode
encontrar.
— Se ela viesse para Montana, duvido que tivesse ficado em Quincy.
Talvez devêssemos ligar para alguns outros hotéis da região.
Winn estalou os dedos para um oficial e partiu para seu próprio SUV.
— Siga-nos. Fique perto.
Knox nos tirou do estacionamento e quando uma das viaturas
arrancou, com Winn logo atrás, ele dirigiu com os nós dos dedos brancos
em direção à rodovia.
— Isto é minha culpa. Eu deveria ter ligado para Oliver mais cedo.
No Dia de Ação de Graças.
— E ela teria pedido dinheiro até que não tivéssemos mais nada para
dar.
— E se ela fez algo com ele? — Minha voz era quase inaudível. — E
se ela o machucar?
Um choro. De um garotinho.
Meu garotinho.
— Ele está bem. — Knox passou os braços em volta de nós dois, sua
bochecha no cabelo de Drake. — Nós o encontramos.
Nós o encontramos.
— Obrigada.
Ela se aproximou, passando um dedo pela bochecha de Drake. —
Dirija seguro. Vejo você em breve.
Eu não ficaria longe por muito tempo. Eu não colocaria esse fardo
sobre eles. Mas, no momento, eu não estava confortável em estar sob um
teto diferente do meu filho. E Knox parecia sentir o mesmo. Enquanto eu
mantinha minha mente ocupada limpando a casa e lavando roupa, ele estava
de pé na cozinha, preparando o jantar de Natal que teríamos no rancho
amanhã.
Minha mãe tentou ligar uma vez. Eu recusei, optando por uma
mensagem de texto para que ela soubesse que Drake estava bem e em casa.
Ela ligou quatro vezes desde então. Se continuassem, talvez na próxima
semana eu respondesse. Talvez não.
Era uma sensação estranha perder sua família. Teria sido de partir o
coração se Knox já não tivesse me reivindicado como sua.
Anne tinha vindo três vezes desde sexta-feira, Harrison e Griffin duas
vezes. Eloise veio na sexta à noite depois que voltamos daquele motel. Talia
estava logo atrás dela, insistindo em fazer um check-up rápido para ter
certeza de que Drake estava bem. E então Lyla e Mateo apareceram com o
jantar.
Knox abriu a porta para Winn, beijando sua bochecha quando ela
entrou. — Oi.
— Oi. — Ela sorriu para nós dois. — Desculpe fazer isso hoje. Mas
imaginei que vocês provavelmente, estavam ansiosos para saber o que
estava acontecendo e seria melhor agora do que amanhã com todos ao
redor.
— Você acha que ela sabe quanto vale Memphis? — perguntou Knox.
Knox colocou a mão no meu joelho. — Duvido que ela tenha visto
dessa forma.
Eu era o caminho mais fácil para milhões. Exceto que eu não tinha
milhões. Não mais. — Por que ela iria querer Drake?
— É aqui que Jill entra em cena, — disse Winn. — Mais uma vez,
sem uma confissão, não posso ter certeza, mas suspeito que depois que seu
pai negou o dinheiro, ela decidiu que precisava de mais munição.
Especificamente, um teste de paternidade. Algo para segurar na cabeça
dele, talvez na de Oliver também.
— Averie convenceu Jill de que ela precisava de sua ajuda, mas elas
não poderiam se encontrar em Quincy. Para que você não a reconhecesse.
Era muito arriscado você pegar Drake e desaparecer como em New York.
Então Jill concordou em levar Drake e encontrá-la naquele motel. Acontece
que não estávamos tão atrás dela. Trinta minutos, talvez. Ela pensou que
estaria de volta à cidade às cinco e você nunca saberia. Só que demorou
mais no motel porque o dinheiro que Averie prometeu a Jill não estava lá.
— Infelizmente sim. Jill está em pânico. Acho que ela não teria
coragem de mentir quando está encarando uma acusação de sequestro.
— Claro que é verdade. Ela acha que eu sou uma mãe horrível, — eu
disse. — Ela provavelmente estava apaixonada por Averie e pensando que
Drake estaria melhor sem mim.
Knox colocou o braço em volta dos meus ombros. — Você não é uma
mãe horrível. Ela é louca pra caralho, querida.
— Knox está certo, Memphis, — disse Winn. — Isso não é culpa sua.
— Você acha que Averie estava realmente atrás de seu DNA? Ou ela
ia levar Drake?
— Meu palpite é DNA, — disse Winn. — Perguntei a Jill se ela tinha
a impressão de que Averie pretendia levar Drake embora. Ela disse que tudo
o que queria era a saliva dele e uma amostra de cabelo. Que ela mal lhe deu
um olhar.
— Porque ele não era o fim do jogo. — Knox bufou. — Ela estava
atrás do dinheiro.
— Isso parece...
Eu me mexi, tentando espionar o que ele tinha em sua mão. Mas ele a
fechou.
Foi só depois que ele caiu de joelhos que abriu a mão, revelando um
anel de diamante perfeito.
Um ano depois...
Com minha mão espalmada na barriga arredondada de Memphis, eu
tranquei os olhos com minha irmã. — Você tem certeza?
— Tente viver com ele. Esta manhã me abaixei para pegar um dos
brinquedos de Drake e ele praticamente me agarrou para pegá-lo primeiro.
— Achei que poderia ser muito pesado.
— Porque eu não estava com muita fome. Você está cozinhando para
mim seis vezes por dia. Eu não consigo acompanhar. — Memphis plantou a
mão na mesa, mas antes que ela pudesse se levantar, eu agarrei seu
cotovelo. Isso me rendeu outro revirar de olhos da minha irmã. Ainda não
se importou.
— O peso dela está bom, Knox. Tudo está bem. Você pode relaxar?
Deus, você é pior que Griffin, e nunca pensei que diria essas palavras.
Todos nós sentimos falta dele, mas ele precisava sair e fazer algo por
conta própria. Ele se foi há quase um ano, tendo partido pouco depois das
férias. Mateo não disse isso, mas tive a impressão de que ele se sentia como
uma sombra aqui. Ele precisava de espaço e tempo para encontrar sua
paixão. Talvez fosse voando.
Dei uma olhada, então dei uma outra. — Puta merda. Esse é Foster
Madden.
Memphis piscou.
— Esse é ele.
Nós dois tínhamos tirado o dia de folga para fazer algumas compras
de Natal com Drake. Então encontramos mamãe em casa para que ela
pudesse tomar conta enquanto vínhamos ao hospital para a consulta de
Memphis.
Atrás dele, uma porta se abriu e Talia saiu com um sorriso. Seu longo
rabo de cavalo escuro caía sobre um ombro e ela vestia uma jaqueta por
cima de sua blusa azul-bebê.
Foster olhou por cima do ombro, seguindo meu olhar, mas ela estava
tão agachada que era como se ela tivesse desaparecido.
Talia avançou, seus olhos mal sobre a borda do balcão. — Ele se foi?
— Sim. — Eu balancei a cabeça. — Quer me dizer por que você está
se escondendo de Foster Madden?
— Ela o conhece?
Não que eu esperasse que ela me dissesse alguma coisa. Talia era
muito parecida comigo. Se ela não queria falar sobre algo, ela não iria. Lyla
e Eloise exibiam suas emoções em seus lindos rostos para o mundo ver.
Talia manteve as dela trancadas atrás dos olhos azuis da nossa família.
— Ele está vindo para Quincy em janeiro. A revista quer que ele faça
o melhor dos melhores artigos ou algo assim.
— E ele escolheu você. Claro que ele escolheria você. Ela fez uma
bomba de punho. — Isso é incrível.
Ela não estava trabalhando como camareira esses dias, mas uma ou
duas vezes por semana, ela cobria a recepção porque ela realmente gostava
do trabalho e ajudava Eloise no hotel. Ela adorava fazer parte dos negócios
da família.
— Bem... sim.
Estendi a mão para pegar a mão dela. — Então vamos dar um jeito.
O loft estava quase vazio desde que Memphis se mudou. Mas toda
vez que subia aquelas escadas, pensava nas noites que passei andando de
um lado para o outro.
As noites em que me apaixonei por um garotinho. E a mulher dos
meus sonhos.
FIM
EPÍLOGO BÔNUS
KNOX
Uma criança passou correndo pela cozinha, nua como no dia em que
nasceu. Seu cabelo escuro estava molhado, os fios escorrendo pelas costas.
— Annie, vá devagar.
— Ok, papai! — Annie não falou, ela gritou. Cada palavra foi
proferida no volume mais alto que ela conseguiu reunir. Ela tinha cinco
anos e começaria o jardim de infância em algumas semanas.
Seu amor por cozinhar pode não durar. Mas talvez, se eu tivesse sorte,
isso fosse algo que sempre pudéssemos compartilhar. Mamãe sempre dizia
o quanto Drake a lembrava de mim naquela idade.
Meu filho.
Um impostor veio do corredor, precedendo Briggs enquanto ele
marchava, descalço, para a sala de estar. Impostor.Impostor. Impostor. Ele
gritava a cada passo que dava.
Papai lhe deu uma visita de pato neste verão em um de seus passeios
no rancho - um dos dias em que mamãe estava com as mãos cheias em casa
e papai pegava uma criança ou duas para levar com ele enquanto dirigia,
inspecionando gado e cavalos.
Charlatão.
Charlatão. Charlatão.
— Que favor?
— Acho que foi bem rápido. Ele conseguiu uma promoção e está indo
para Missoula.
— Droga.
Ela tinha quase dois anos e crescia rápido demais. Seu cabelo era
loiro de Memphis, mas ela herdou meus olhos azuis.
— Sem jammeez.
— Sem jammeez.
— E os unicórnios?