Claro que sabem, os almocreves são os transportam mercadorias em bestas de carga.
Possivelmente também conhecerão a ponte dos almocreves sobre a Ribeira do Judeu, a meio da várzea da Retorta, na Quinta da Torre Bela, na Azambuja. Pois as gentes dali contam que há muito, muito tempo, naquela ponte passavam os almocreves do Cartaxo, da Ereira, da Lapa, de Pontevel e de mais uma data de outros sítios. Iam a Figueiros, no vizinho concelho do Cadaval, onde compravam peixe e outra mercadorias trazidas por outros almocreves, de Peniche e de Nazaré, a quem vendiam o que levavam. De regresso pelo caminho iam vendendo esse peixe. Porém, havia um senão naquele comércio, ás terças e ás sextas- feiras, pela meia-noite ninguém tinha coragem em passar por tal ponte. Contava-se que as bruxas da região, se concentravam ali bailando e cantando! Certa noite de terça-feira, em inverno rigoroso, um almocreve corcunda, não tendo conseguido encontrar o vau da Ribeira, viu-se na contingência de atravessar mesmo a ponte, o que ele queria evitar. Tentou então fazê-lo o mais disfarçadamente possível. Mas acabou por atraído para o meio do baile e fez coro com as bruxas que cantavam: «Todas as noites de luar, as comadres galhofeiras aqui vem cantar e bailar ás terças e sextas-feiras» E uma das bruxas contente por o ver ali com elas, disse para as outras: __ Comadres aqui temos um que é quase como nós. Pois vamos compensá-lo retirando-lhe a marreca, para que nos acompanhe com mais ligeireza! E pronto, após a noite de festa, o almocreve regressou a casa, vendendo o peixe que levava pelo caminho. A notícia correu a região e foi parar aos ouvidos de um outro corcunda, só que homem de mau feitio. E este pensou em ir a Ponte dos Almocreves curar a sua corcunda. E na sexta-feira seguinte, lá foi o segundo corcunda tentar resolver o seu problema. Ora, rapaz novo, entrou na dança e as bruxas nem deram com ele pelo que se pôs a cantar. E não só o que aprendera com o outro, como ainda uns versos por sua conta: «Sábados e domingos também Vá de cantar e bailar Daqui não sai ninguém!» Então o baile parou e as bruxas ficaram a olhar para o intrometido. E logo a chefe disse: __ Para que este não ande por aí a dizer que sabe mais do que nós, vamos por-lhe a marreca que na terça tiramos ao outro corcunda! E, assim, quando regressou á sua aldeia, o corcunda foi motivo de risa dos seus vizinhos. É que pela boca morre o peixe!