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O estudo da ciência espiritual como um

encontro com o ser vivo antroposofia


de Sergei Prokofieff
O estudo da ciência espiritual como um encontro com o ser vivo antroposofia

Em 16 de agosto de 1902, no início de sua atividade como Mestre espiritual


da humanidade, Rudolf Steiner escreveu numa carta: “Eu devo confiar e
edificar sobre a força que me possibilitará conduzir os aspirantes ao espírito
à senda de seu desenvolvimento. Este é o único significado de meu ato de
inauguração.”

Estas palavras formam o princípio de uma nova época na história das


correntes espirituais. Se voltarmos nosso olhar para os antigos mistérios,
encontraremos uma total dependência dos pupilos em relação ao mestre.
Este era para eles mais que um pai, ele era uma autoridade absoluta, não
apenas em questões espirituais, mas também em todas as outras áreas da
vida.

Esta atitude mudou radicalmente com o início da quinta época pós-atlante,


a época da liberdade humana. E, de conformidade com isto, a Antroposofia
busca, hoje, estabelecer uma nova conexão, totalmente diferente. De agora
em diante, um verdadeiro pupilo do espírito pode ser uma personalidade
completamente independente, cujas ações não repousam sobre a crença em
uma autoridade externa, mas sobre insights próprios e compreensão.
Conseqüentemente, tudo o que o moderno mestre espiritual dá a seus
discípulos tem somente a intenção de conduzi-los ao ponto em que são
capazes de tomar seus destinos nas próprias mãos e assumir plena
responsabilidade por seu próprio desenvolvimento. Este princípio
fundamental da moderna ciência espiritual faz com que a condução pessoal
do pupilo por um mestre fisicamente presente não seja mais necessária. O
papel deste último pode ser desempenhado por um livro no qual o caminho
de iniciação seja descrito de maneira precisa, especialmente se o estudo do
livro mantém a qualidade de diálogo com o instrutor espiritual, tal como
Rudolf Steiner aponta em seu posfácio no “Conhecimentos dos Mundos
Superiores”.

Em “A Ciência Oculta”, R. Steiner enumera sete passos que o pupilo deve


trilhar no caminho de iniciação. O primeiro passo é descrito como o
“estudo da ciência espiritual, onde se faz uso do poder de julgamento
adquirido no mundo dos sentidos.”

O estudo como primeiro estágio da iniciação é algo totalmente novo no


desenvolvimento do ocultismo. Naturalmente, há muito o que estudar em
nossa moderna civilização. Primeiro aprendemos na escola, depois durante
os anos de treinamento para nossa profissão, e assim por diante; mas o
estudo como primeiro estágio iniciático não encontramos em nenhum outro
lugar exceto na Antroposofia. E é precisamente aqui que podemos

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facilmente encontrar um característico mal-entendido. Diz-se: “Sim, o


segundo, terceiro e quarto estágios da moderna iniciação são
particularmente importantes”_ relacionando-os com os estágios da
Imaginação, Inspiração e Intuição, que somente podem ser atingidos pela
prática da concentração, meditação e outros exercícios espirituais que
Steiner deu__ “mas, o primeiro passo, aquele do estudo, não é tão
importante.”E tantas pessoas começam imediatamente com estes exercícios
sem terem passado pelo estágio do estudo.

A fim de demonstrar até onde o estudo nos pode levar, consideremos um


exemplo simples, do qual a maioria dos antropósofos há de se lembrar, uma
vez que se relaciona com seu primeiro contato com a Antroposofia! Um
dia, um livro de Rudolf Steiner veio parar em nossas mãos, e nós
começamos a lê-lo, uma página, duas, ou vinte, até que chegamos a um
ponto que continha um pensamento ou imagem que nos tocou tão
intensamente que nos comoveu até o fundo da alma.

Que significa uma experiência destas? Se ponderarmos sobre isto, veremos


que em sentido mais profundo, já conhecíamos o que ali estava escrito. Em
outras palavras, naquele momento, sentimos como se já soubéssemos o que
a Antroposofia está nos dizendo ali, apenas havíamos nos esquecido por
um tempo e agora começamos a recordá-lo novamente.

Esta experiência era também bem conhecida de Platão que disse que todo
conhecimento é em realidade um tipo de memória (mnesis).

Este é o momento em que o estudo da Antroposofia contém aquela


qualidade que o torna o primeiro estágio da iniciação. Pois começamos a
perceber que tudo quanto podemos encontrar na Antroposofia, a imagem
do homem e do cosmos, sua evolução, a vida humana na Terra e após a
morte em conexão com as hierarquias, as leis do carma e a reencarnação,
tudo isso pertence a nós. Nós já conhecemos estas coisas, mas através da
Antroposofia, nós as elevamos à consciência. Isto é comparável ao acender
de uma flama interior que subitamente ilumina o que jaz nas profundezas
de nossa alma, embora sob forma inconsciente, esquecida.

Mas o que o estudo num primeiro estágio significa do ponto de vista


esotérico? Toda iniciação moderna tem a tarefa de guiar a individualidade
humana ao mundo espiritual em plena consciência. E no mundo espiritual
não existem objetos, nem forças ou energias abstratas, mas exclusivamente
seres espirituais como os das hierarquias ascendentes. Neste sentido,

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Rudolf Steiner falou de como o segundo estágio da iniciação, aquele da


imaginação, pode conduzir ao conhecimento ou ao encontro com a terceira
Hierarquia; o terceiro passo, o da inspiração, ao encontro da segunda
hierarquia e o quarto passo, ao encontro da primeira e mais elevada
hierarquia.

Aqui surge a questão: Se o estudo da ciência do espírito é para ser o


primeiro estágio da moderna iniciação, seguramente também conduz ao
encontro com um ser espiritual. Mas quem é este ser a quem podemos
encontrar através de tal estudo?

A experiência fundamental descrita acima como um tipo de recordação,


entra, às vezes, em contraste com a dificuldade que __ como moderna
ciência do espírito da humanidade__ ela foi inicialmente dada numa forma
rigorosamente intelectual. Entretanto, com o tempo, chegamos a perceber
que devemos ser gratos a Steiner por nos ter dado este conhecimento em
forma objetiva de puros pensamentos, pois somente desta forma podemos
permanecer totalmente livres no que concerne ao conhecimento superior:
pensamentos não compelem.

Esta absoluta liberdade espiritual como princípio subjacente à iniciação


moderna foi cuidadosamente preparada desde o meio do séc. XIV na
principal corrente do Cristianismo esotérico, o Rosacrucianismo.
Antroposofia, onde encontramos o mesmo respeito pela liberdade
individual, é a sucessora desta corrente em nosso século.

Em conexão com isto, três traços característicos da iniciação antroposófica


deveriam ser mencionados em particular:

1. É possível para todo ser humano trilhar o caminho de iniciação sem


negligenciar ou abandonar as tarefas designadas a ele neste mundo.
Ele pode seguir o caminho em meio à moderna civilização.

2. Como já mencionado, não há autoridade na ciência espiritual; como


nas outras disciplinas científicas, a totalidade de sua sabedoria é dada
em uma forma que está integralmente em acordo com o livre
julgamento do ego-individual.

3. O único fundamento para este caminho de desenvolvimento é o ego


livre do indivíduo, e nenhum passo pode ser dado que não seja

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captado por ele em plena clareza. Pois o ego deve seguir seu
caminho de conhecimento em plena consciência.

Estes são os três princípios que garantem nossa liberdade em relação ao


conhecimento antroposófico.

Entretanto, além deste aspecto mais exotérico do princípio de liberdade,


há ainda um aspecto mais interior ou esotérico. Para compreendê-lo,
devemos primeiro considerar que a substância espiritual da
Antroposofia é livremente acessível a todos os povos, pois os livros de
Rudolf Steiner podem ser obtidos em qualquer livraria. Isto abre duas
possibilidades quanto ao que se pode fazer com este conhecimento.
Pode-se abordá-lo séria e responsavelmente numa atmosfera de uma
verdadeira busca por conhecimento, tal como descrito no início do
“Conhecimentos dos Mundos Superiores”, a fim de colocar esta
sabedoria a serviço da humanidade. Mas também é possível adotar a
atitude contrária a este conhecimento, sobretudo, se este for adquirido a
partir de uma curiosidade ou egoísmo. Neste caso, trata-se de um mau
uso do conhecimento superior da ciência espiritual.

Se tomarmos a lei do karma em sua abrangência, seriamente, devemos


dizer: no mundo espiritual donde provém esta sabedoria, um ser deverá
desde então, suportar as conseqüências de tal uso indevido até que todos
os seres humanos que tenham se conectado com esta substância
espiritual assumam por si mesmos, completa responsabilidade por ela de
modo plenamente consciente; ou seja, um ser deve portar todo o karma
negativo que ocorra pelo mau uso do conhecimento superior. Este é o
outro aspecto, o lado esotérico da liberdade humana, que se expressa nas
palavras de São Paulo: “Vocês são comprados a um alto preço”.( Cor,
1,6:20 e 7:23, baseado na tradução de Emil Bock).

Aquela individualidade que mais que qualquer outra assume as


conseqüências do karma negativo da liberdade humana é Cristiano
Rosacruz, o fundador do Rosacrucianismo. Como um direto discípulo
de Cristo Jesus e seu maior seguidor humano, ele fundou no séc. XIII, a
corrente oculta que se baseia totalmente na liberdade humana.

Rudolf Steiner fala disto nas seguintes palavras: “Aqueles que têm
algum conhecimento desta individualidade sabem, também, que
Cristiano Rosacruz será o maior mártir entre os seres humanos, fora o
Cristo que sofreu como um Deus. As tristezas, as dores que farão dele o

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maior mártir serão causadas pelo fato de que tão poucos tomarão a
resolução de olhar para sua própria alma e nela buscar a evolução da
individualidade, e submeter-se ao desconforto de que a verdade não será
oferecida pronta, mas terá de ser conquistada a custa de muita luta e
esforço__ nada mais pode ser pedido em nome daquele que é conhecido
como Cristiano Rosacruz. E o mesmo deve ser dito de Rudolf Steiner.
Pois ele é o maior companheiro e amigo de Cristiano Rosacruz,
especialmente desde a Assembléia de Natal. Este fato explica __ entre
outras coisas __ aquela imagem que Rudolf Steiner deu a Ita Wegman
em 1924 como resposta à sua pergunta sobre seu relacionamento com
Cristiano Rosacruz: “Há um altar no mundo espiritual, de um lado está
Cristiano Rosacruz com uma estola azul, e do outro, Rudolf Steiner com
uma estola vermelha”. O que é este altar, e onde o encontramos
mencionado? No livro “Conhecimentos dos Mundos Superiores”, no
capítulo __Vida e Morte. O Grande Guardião do Limiar.__ o qual se
ocupa do encontro do discípulo com o Cristo nos mundos superiores,
um encontro que representa a culminação de todo o caminho de sua
iniciação e o transforma de um pupilo em verdadeiro mestre cristão. “Se
ele resolver cumprir a demanda do sublime Ser de Luz, ele será capaz
de contribuir para a libertação da raça humana. Ele poderá trazer seus
dons ao altar da humanidade.” Diante deste altar da humanidade no
mundo supra-sensível, estão Cristiano Rosacruz e Rudolf Steiner como
seus protetores espirituais.

Esta imagem pode contribuir para nos tornarmos conscientes de nossa


grande responsabilidade pela Antroposofia, porque reconhecemos que é
nossa tarefa ajudar a estes dois mestres __ por meio de um estudo sério
e intensivo da ciência espiritual __ a carregar e transformar o carma
negativo da liberdade humana, acima de tudo, através de nossos
esforços para atuar junto a eles e uns com os outros, ao invés de
acentuar seu fardo e sofrimento pela humanidade.

Se estudarmos a ciência espiritual no sentido acima caracterizado,


gradualmente aprenderemos a pensar de um modo completamente novo,
não apenas com nosso físico, mas com nosso cérebro etérico. Pois todos
os conceitos antroposóficos estão relacionados não com realidades
físicas, mas suprasensíveis. Neste âmbito não estamos ainda como
clarividentes, mas já estamos no mundo espiritual se pensarmos a
Antroposofia ativamente. Se nos utilizarmos de nosso pensar ordinário
para entender realidades não físicas, mas espirituais,, surge, pela
primeira vez a oportunidade de deixarmos nosso corpo físico de maneira
consciente. Pois, por este meio, alcançamos o que se pode chamar de

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um pensar livre, não baseado nos sentidos; e este é o caminho mais


correto e seguro para a iniciação que conduz ao mundo espiritual, no
qual, de outra forma, só penetramos após a morte ou inconscientemente
durante o sono.

Não obstante, embora o estudo da Antroposofia tenha se tornado uma


parte essencial de nossas vidas, dando-nos respostas como o sentido
mais profundo da vida e de nosso destino, podemos sentir que nossos
pensamentos antroposóficos são ainda de natureza algo abstrata.

Pois a Antroposofia é, neste nível, comparável a um novo idioma, que


nós nos esforçamos para aprender com todas as suas dificuldades.
Primeiro temos de dominar as letras individuais, então as palavras,
regras gramaticais, e assim por diante, antes que possamos ler todo o
texto que abre diante de nós o portal para um mundo totalmente novo.

Assim, pode-se dizer: com a Antroposofia aprendemos uma linguagem


em que as palavras estão ocultas em todas as coisas do mundo; elas são
o espírito que dormita em tudo quanto há, e que espera ser decifrado,
compreendido e desencantado pelo novo conhecimento do homem. Mas
a fim de alcançar isto, devemos num primeiro estágio tomar a
Antroposofia em forma conceitual.

E então, num segundo estágio, devemos experimentar a Antroposofia de


uma maneira interiormente artística, isto é, transformar seus
pensamentos a partir de nossa força em imagens, imaginações. Desse
modo, a ciência espiritual se torna para nós uma grande obra de arte, um
poderoso drama que abarca todo o mundo, que é ainda mais
magnificente que, por exemplo, o Fausto de Goethe, ou a Divina
Comédia de Dante, e que acima de tudo, tem a qualidade de não ser algo
que meramente observamos como expectadores em confortáveis
assentos, mas de cuja elaboração participamos ativamente, até como
atores principais. Ao experimentar a Antroposofia dessa forma,
tornamo-nos capazes de passar por toda a gama de sentimentos, desde a
graça e a bem-aventurança até a tristeza e desespero. E se chegarmos tão
longe neste caminho a ponto de sermos capazes de transformar através
de nossas próprias forças anímicas os pensamentos da ciência espiritual
em imagens vivas ou imaginações que verdadeiramente sejam
permeadas de todos os nossos sentimentos e sensações, nós
gradualmente observaremos que uma nova faculdade começará a
desenvolver-se em nós: a faculdade de viver nos sentimentos que se
formam em completa independência de nosso corpo físico.

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De modo geral, as pessoas têm a convicção de que __ em contraste com


os sentimentos __ é difícil pensar, por exemplo, se se tenta trabalhar
sobre a obra de Hegel ou sobre os escritos de Aristóteles sobre lógica, e
que sentir é tão fácil e natural quanto respirar. É verdade, mas somente
na medida em que restringimos nossas observações aos sentimentos que
conhecemos de nosso cotidiano, quase sempre evocados exclusivamente
por percepções externas ou desejos egoístas. Certamente, se nos
colocamos diante de uma maravilhosa paisagem não podemos deixar de
sentir sua beleza; e se não gostamos de alguém, antipatia
involuntariamente emerge em nós ao nos lembrarmos da pessoa em
questão. Enquanto que se tentamos eliciar um sentimento forte e
profundo em nossa alma sem termos sido estimulados por impressões
exteriores ou interiores, nós imediatamente experimentaremos isto como
algo extremamente difícil. Por tanto, nossos sentimentos são realmente
frágeis se não estão baseados em percepções sensoriais ou desejos
próprios.

Na idade média era bem diferente. Um monge em sua cela era capaz de
ter poderosos sentimentos pela contemplação de algo tão trivial quanto
uma pequena pedra ou uma planta. Pois nestas contemplações ele,
através de sua força interior, era capaz de experimentar dentro de si
toda a majestade de Deus e a glória de Sua criação. Mais tarde, no séc.
XIV, ainda era possível para Dante escrever um poema sobre uma
Dama de grande beleza, tão intimamente e tão pleno em seu sentir,
como se se tratasse da pessoa amada, quando, na verdade, ele se referia
à Filosofia Esta força do sentir, há muito se esvaiu. Se hoje tentássemos
desenvolver a mesma intensidade de sentimentos pela filosofia de Hegel
ou Leibinitz como se por um ser amado, imediatamente descobriríamos
quão fraco nosso sentimento é.Assim sendo, poder-se-ia perguntar,
quantas pessoas realmente ainda sabem o que é um verdadeiro amor
espiritual __ um amor que é totalmente livre de toda sensualidade.

Pode-se dizer que as pessoas, hoje em dia, não têm plena consciência de
seus sentimentos. Elas vivem neles como em sonhos, que são na maioria
dos casos, meramente, reflexos das circunstâncias externas ou estados
subjetivos da alma. Porém, se transformarmos pensamentos
antroposóficos em imagens vivas, em imaginações, aos poucos,
começaremos a despertar em nossos sentimentos, pois estas imagens
não são subjetivas nem arbitrárias; elas correspondem a fatos reais, a
processos no mundo espiritual. Desse modo, já estaremos vivendo no
mundo das imaginações, mesmo que não clarividentemente. E estas

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imaginações são tão vivas e reais quanto aquelas que mais tarde
perceberemos no mundo supra-sensível.

Como o primeiro, assim também este segundo passo somente pode ser
dado através do nosso próprio esforço interior. Ninguém pode fazê-lo
por nós, pois se isto acontecesse, então não poderíamos mais ser livres.

E o fruto mais importante deste estágio será o despertar de um amor


mais intenso e íntimo pela Antroposofia, de sorte que gradualmente
todas as forças de nosso coração fluirão em cálida gratidão por ela.

Esta capacidade para o sentimento livre nos possibilitará desde então a


utilizá-lo como um novo órgão de percepção que não é menos objetivo
que o pensar.

Goethe descreve esta nova capacidade como uma arte que torna possível
investigar e descobrir leis e forças mais profundas da natureza com a
exatidão própria da ciência.

Suas teorias sobre as cores e a metamorfose das plantas são apenas o


início deste novo método de abordagem dos fenômenos da natureza, um
método que foi levado adiante por Steiner como Goetheanismo. Novalis
foi o primeiro a compreender inteiramente Goethe neste âmbito e
indicou como usar esta capacidade de sentir como um órgão de
percepção em seu desenvolvimento ulterior como uma idéia mágica”.

Este novo órgão, conscientemente desenvolvido, pode também auxiliar-


nos no entendimento das causas espirituais subjacentes aos confusos
acontecimentos e processos de nossos dias. E estes então se revelarão
aos poucos, como realidade espiritual que conduz a uma compreensão
das forças ocultas atuantes no mundo hoje. Este novo modo de se
acercar da história foi chamado por Steiner de sintomatologia. Ele nos
possibilita penetrar nas grandes questões de nossa época, distinguindo
entre o bem e o mal . Isto de fato não é tão simples quanto já foi, por
exemplo, na idade média. Pois hoje, muitas coisas tem a aparência
benévola e positiva, e em verdade são freqüentemente o contrário, como
muitos acontecimentos demonstram, e vice-versa.

Se investigamos este fato mais de perto, verificamos que uma real


capacidade de discernimento é particularmente vital nesta esfera. De
outro modo, mais e mais pessoas serão espiritualmente usadas e

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exploradas, sem ter disto consciência, para maus propósitos. Se, no


entanto, assumimos este segundo passo no processo de desenvolvimento
que tem sido descrito, o sentir se transforma num instrumento de
percepção das mais profundas realidades ocultas da existência. Então,
cedo ou tarde, a imaginação central de nossa época, a imaginação do
Espírito do Tempo, Michael lutando contra o dragão, aparecerá diante
de nós em seu significado pleno. E nós aprenderemos a perceber esta
poderosa imaginação em todos os seus múltiplos aspectos, por trás de
uma série de acontecimentos contemporâneos e por meio disto, criar o
fundamento cognitivo que nos permite tornar-nos em verdadeiros servos
de Michael sobre a Terra, seus auxiliares nesta batalha contra a atuação
dos poderes arimânicos na evolução humana no sentido do qual fala a
Antroposofia em nosso tempo.

Por tanto, no segundo estágio do estudo, os conteúdos da Antroposofia


se incorporam, não apenas ao pensar mas também ao sentir. Então
aprendemos o pensar com o coração, onde pensamentos espirituais são
convertidos em imaginações vivas, nascidas do puro entusiasmo do
sentir humano pelas verdades espirituais __ sim, da devoção pelo
próprio ser de Michael.

Rudolf Steiner descreve este estado interno como aquele em que se


acolhe Michael diretamente em nossas almas. Ele diz: “Ele (Michael)
liberta os pensamentos da região da cabeça, ele abre o caminho a eles
para o coração, ele desperta um fogo espiritual na alma de sorte que o
homem possa se entregar ao que se experimenta como a luz do pensar.
A era de Michael chegou! Os corações começam a ter pensamentos, a
inspiração não mais flui de um místico crepúsculo, mas de um pensar
iluminado na alma. Compreender isto é receber em si Michael.
Pensamentos que contém o espiritual em nosso tempo devem proceder
dos corações que batem por Michael como o Príncipe flamejante dos
pensamentos cósmicos..

Devemos agora, avançar e considerar o terceiro estágio do processo de


desenvolvimento, aquele em que o estudo se aprofunda até o nível da
vontade humana.

Filósofos discutiram por séculos a questão da liberdade do homem.


Rudolf Steiner lida com este problema em seu livro “A Filosofia da
Liberdade”, e mostra que sua solução não está em especulações teóricas,
mas num caminho que leva à esfera em que a vontade se libera de toda
dependência do mundo dos sentidos e torna-se em pura revelação do ser

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espiritual mais íntimo do homem. Só deste modo pode a verdadeira


liberdade ser alcançada pela individualidade.

Mesmo na vida diária podemos observar que a maioria de nossos atos


não é verdadeiramente livre. Se olhamos mais de perto, quase sempre
encontramos esta ou aquela razão situada fora de nós pela qual agimos
assim ou assado. Este continuará sendo o caso enquanto os motivos de
nossas ações brotarem do mundo sensorial, onde causa e efeito estão
conectadas a uma necessidade de ferro.

Somente numa esfera podemos hoje agir livremente, a esfera em que


nossa vontade permanece livre de influências tanto do ambiente exterior
quanto de nossa natureza física. E esta é a esfera da moralidade, da
ética. Quando agimos a partir de impulsos morais que derivam de um
verdadeiro autoconhecimento e de um conhecimento do mundo, criamos
algo que não existia no mundo anteriormente. E desse modo,
participamos do vir a ser do novo cosmos, no qual a moralidade e sua
raiz __ o Amor__ atuarão como as leis da natureza fazem em nosso
mundo moderno.

Rudolf Steiner escreveu acerca deste mistério no último capítulo do


“Ciência Oculta”, onde descreve a transformação de nosso presente
cosmos em um novo mundo do futuro. E tal como o antigo cosmos era
permeado pelos acontecimentos da antiga lua de sabedoria e
necessidade, assim também o futuro cosmos de Júpiter surgirá da
liberdade e do amor, e esta é a tarefa do homem e da humanidade: tornar
isto realidade.

Em sua última palestra no primeiro Goetheanum, em 31 de dezembro de


1922, Steiner falou de como todo o cosmos visível em sua sublimidade
e beleza __ desde uma pequena planta aos nossos pés até as mais
distantes estrelas do passado__ pertence a evolução cósmica e como a
única possibilidade de formar a base de um novo cosmo jaz em nosso
ego individual, com esta capacidade de autoconhecimento, e no astral
purificado ligado a ele. Assim, por meio de um ativo estudo da
Antroposofia nós desenvolveremos um senso de responsabilidade muito
maior por nossos atos, pois reconhecemos seu significado, não apenas
para nossas próprias vidas, mas finalmente, também para todo o futuro
cosmos. Dessa maneira, a Antroposofia pode guiar-nos a uma crescente
e consciente colaboração com os seres espirituais, com os Deuses que se
relacionam com as metas da evolução da humanidade e do mundo.
Somente aquelas ações que não surjam das circunstâncias exteriores ou

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de desejos pessoais mas puramente pelos três estágios de nosso trabalho


de aprofundamento no conhecimento da ciência espiritual são atos
humanos livres, impulsionados por uma vontade que não está agrilhoada
pelos sentidos. Steiner chama isto de “imaginação moral”, e caracteriza-
a da seguinte forma: O que o espírito livre precisa, portanto, para trazer
suas idéias à realidade, é implementá-las, é imaginação moral. Esta é a
fonte de atividade do espírito livre.

Assim, o estudo da ciência espiritual conduz o indivíduo ao cultivo, em


sua alma, de um mundo de idéias que é livre de toda sensualidade e
egoísmo pessoal e a partir do qual os impulsos de imaginação moral
podem ser concentrados. O ser humano livre age moralmente porque
tem uma idéia moral, e seres humanos individuais, com idéias morais
pertencentes ao seu ser essencial, são a precondição para uma ordem
cósmica moral. Se o estudo antroposófico alcança este terceiro passo,
cada pensamento científico-espiritual em nossa alma se torna em uma
idéia moral, um verdadeiro ideal de vida que inspira nossa vontade.
Disse Steiner: “Cada idéia que se transforme em um ideal engendra
forças de vida dentro em nós”.

Ademais, neste terceiro estágio do estudo, em que progressivamente


poderes de nossa vontade estão engajados, nós experimentaremos, mais
cedo ou mais tarde, que o âmbito anímico do qual derivamos todos os
impulsos morais para nossos atos é afim à cósmica esfera que desde o
Mistério do Golgotha tornou-se o lugar onde o ser do Cristo pode ser
encontrado. No curso deste estudo, nossa vontade começa a despertar
cada vez mais do estado natural e não-livre de sonho até que finalmente
o próprio Cristo aparece como arquétipo cósmico da verdadeira
liberdade humana. Então podemos entender o pleno significado das
palavras de Steiner: “Apenas através do feito do Golgotha tornou-se
possível a liberdade humana, a dignidade humana. Que nós possamos
todos ser livres, devemo-lo a um ato divino de amor. Como pessoas
podemos nos sentir livres mas não deveríamos jamais esquecer-nos de
que devemos esta liberdade ao ato amoroso de Deus... Os seres
humanos seriam mesmo incapazes de conceber a idéia da liberdade sem
a idéia da redenção através de Cristo; pois só então a idéia de liberdade
é justificada. Se queremos ser livres, devemos trazer ao Cristo a
oferenda de graças por nossa liberdade! Só então podemos ter uma real
percepção dela.”

Assim, em Cristo o homem encontra o elevado modelo da humanidade


terrena, pois não podemos pensar o conceito do homem até as ultimas

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conseqüências sem chegar ao espírito livre como mais pura


manifestação da natureza humana. Assim escreve Steiner ao final de
sua vida: “E neste sentimento crescerá no homem, no calor de sua alma,
a experiência com o Cristo e em Cristo da real , da verdadeira
humanidade. Cristo me doa a minha humanidade”__ este será o
sentimento fundamental que ascenderá na alma e a permeará. E ainda:
“A correta interpretação da palavra Antroposofia não é sabedoria do
homem, mas antes, a consciência da própria humanidade.”

Assim, Cristo e a Antroposofia pertencem intimamente, um ao outro; o


primeiro dá ao homem sua real humanidade, e a outra desperta a
consciência dela na alma humana.

Em outras palavras: o ideal máximo do homem como espírito livre,


penetrou na evolução humana através do feito de Cristo não pode ser
captado conscientemente e trazido à plena realização pelos seres
humanos sem a Antroposofia, Pois só a Antroposofia pode levá-lo a
experenciar o que o evento do Golgotha significa enquanto ato cósmico
livre, que brota de um amor universal e somente pode ser compreendido
pelo amor no homem.

Assim no Mistério do Golgotha, a mais elevada imagem arquetípica


pode ser vista daquilo que os seres humanos devem gradualmente
desenvolver sobre a Terra como capacidade de agir em liberdade, ou
seja, a partir do puro amor pela ação, a partir de um amor altruísta pela
causa: “Somente quando sigo o amor por meu objetivo é que sou Eu
quem ajo... Não reconheço nenhum princípio externo para minhas
ações, porque encontrei em mim mesmo o motivo para ela, qual seja, o
amor pela ação. Eu não examino intelectualmente se minha ação é boa
ou má; eu a executo por amor a ela”.

Quanto mais o indivíduo elevar-se em seu desenvolvimento ao ideal do


espírito livre, tanto mais ele se sentirá em seu interior, intrinsecamente
ligado a Cristo. Com e a partir desta experiência, a meta superior da
evolução humana surgirá como experiência direta diante da alma: a
humanidade como décima hierarquia, a hierarquia da liberdade e do
amor, que só pode ser alcançada em virtude do feito de Cristo no
Golgotha.

Assim, as metas da evolução do mundo e da raça humana de que nos


tornamos cônscios através da Antroposofia sob forma de idéias morais e

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a partir das quais nos esforçamos para agir, mostram-se ao mesmo


tempo intrinsicamente relacionadas às metas do Cristo. Nós não apenas
seremos capazes de atuar a partir da liberdade mas ao mesmo tempo
experimentaremos como nossa livre vontade se tornará cada vez mais
imbuída da vontade universal do Cristo, e descobriremos a verdade das
palavras “Pois impera a vontade do Cristo nas amplidões, nos ritmos
cósmicos agraciando almas”.

E compreendendo por meio da Antroposofia cada vez mais a natureza


dos atos sacrificiais do Cristo seremos capazes de expressar este apelo
em plena liberdade e a partir de um amor puro por Cristo em nossos
corações:

“Luz Divina
Cristo –Sol
Aquecei nossos corações
Iluminai nossas cabeças”

E desse modo, desenrolar-se-á em nossa alma algo comparável à


ascensão de um sol interior, preenchendo nossos atos com sua luz e
calor.

Rudolf Steiner descreve este processo da seguinte forma: “Quando um


ser humano se defronta com o sol físico e recebe dele luz e calor, ele
sabe que está vivendo em uma realidade. Do mesmo modo, deve ele
viver na presença do Cristo, o sol espiritual, aquele que uniu sua vida à
vida da Terra, e receber de forma vívida dele em sua alma aquilo que no
mundo espiritual corresponde a calor e luz.”

E assim, neste terceiro estágio do estudo verificamos que se deixarmos


nossos atos serem progressivamente imbuídos com este calor e esta luz
do Cristo, com o Amor pela causa e compreensão dela, nós __ mesmo
sem sermos iniciados__ agiremos em nossas vidas como iniciados.

Poderíamos dizer que o primeiro estágio é aquele em que o


conhecimento antroposófico é vivenciado como luz na esfera dos
pensamentos; o segundo aquele no qual aprendemos a sentir um
verdadeiro calor do coração pela Antroposofia. Estes dois podem ser
comparados ao levantar do sol na natureza: Primeiro a luz infunde o céu
com sua radiância, proclamando a aurora, então o calor do sol
devagarinho se espalha até que finalmente o Sol aparece.

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O estudo da ciência espiritual como um encontro com o ser vivo antroposofia

O mais importante resultado deste terceiro estágio para o pupilo é o


sentimento crescente de que seus atos vão- se tornando cada vez mais
permeados pelo Cristo- Sol, um sentimento que está conectado com o
conhecimento de que somente estas ações podem fazer uma real
contribuição para a conquista das metas da evolução terrena. E elas são
a realização das palavras:

“Que se torne bom


O que nós com o coração queremos fundar
O que nós com a cabeça queremos conduzir”

******************

Neste caminho de estudo, que nos possibilita a gradual emancipação do


pensar,. sentir e querer do condicionamento físico, somos levados primeiro
a Cristiano Rosacruz, o maior iniciador do Cristianismo esotérico; dele até
Michael, o espírito regente de nossa época, e finalmente ao Cristo, o Ser
central do Cosmos.

Eles representam no mundo espiritual, as forças que, aqui na Terra, os seres


humanos necessitam desenvolver, e que estão descritas em “A Filosofia da
Liberdade” como os três estágios de “fantasia moral”, imaginação moral”e
“intuição moral”. Assim, Cristiano Rosacruz e outros mestres, guias do
Cristianismo esotérico, são também grandes instrutores de fantasia moral,
isto é, de como os impulsos tomados no domínio espiritual podem tornar-se
manifestos na esfera terrena. Desse modo, eles se postam como
inspiradores por trás da fundação da ciência do espírito no século XX.

Em um nível bem mais elevado, Michael__ “como herói espiritual da


liberdade” __ representa no cosmo o princípio da imaginação moral, que
como uma arte real desenvolve imaginações a partir dos mais altos reinos
do espírito como impulsos para atos livres. E finalmente, podemos ver em
Cristo a fonte primordial das intuições morais de natureza cósmica, as
quais também formam o fundamento para o elemento religioso. Pois a
verdadeira intuição cósmica está sempre associada às mais profundas
experiências religiosas. Isto esclarece o sentido esotérico das palavras de
Steiner: “Então, podemos dizer que a Antroposofia começa em todo caso
como ciência, vivifica seus conceitos através da arte e termina num
aprofundamento religioso”. Na direção do que já foi dito, podemos ver o
arquétipo cósmico do caminho que no ser humano individual sobre a Terra
conduz da técnica moral à intuição moral na atuação conjunta de Cristo,

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O estudo da ciência espiritual como um encontro com o ser vivo antroposofia

Michael e os mestres da sabedoria e da harmonia de sentimentos, entre os


quais Cristiano Rosacruz exerce um papel de liderança.

Também encontramos os correspondentes três elementos básicos na Pedra


Fundamental da Conferência de Natal de 1923/24: a luz dos pensamentos,
o poder de imaginação criativa e a substância do amor que tudo abarca, e
que formam a natureza essencial de ciência, arte e religião tal como sempre
foram cultivados nos círculos Rosacruzes.

* * *

E agora que chegamos a este tríplice caminho de estudo, podemos


novamente perguntar-nos: Quem é que permaneceu invisivelmente ao
nosso lado desde a primeira vez em que um livro antroposófico chegou às
nossas mãos e começamos a lê-lo? Quem é que nos deu a possibilidade de
seguir esta trilha que leva de Cristiano Rosacruz a Michael e dele até Cristo
em plena liberdade?

Este ser é a própria Antroposofia, embora não agora como ensinamento,


mas como um ser vivo dos mundos espirituais. Rudolf Steiner mencionou
nominalmente este ser em duas ocasiões. A primeira numa palestra dada no
primeiro encontro geral da Sociedade Antroposófica. Esta palestra de 03 de
fevereiro de 1913 trazia o título A Essência da Antroposofia e considera a
evolução da civilização ocidental como processo de desenvolvimento de
um ser que surgiu na Terra sob o nome de Sophia, Filosofia e agora
Antroposofia , e que gostaria de guiar o homem a um verdadeiro auto-
conhecimento.

Rudolf Steiner tornou a mencioná-lo uma segunda vez na fundação da


Sociedade Antroposófica Universal, em 25 de dezembro de 1923, o dia
mais importante da conferência de Natal. No início de sua alocução ele
apontou que é necessário que cada antropósofo tivesse seu coração
completamente animado, vivificado pela Antroposofia. E então ao final de
sua fala ele cita novamente este ser indicando a necessidade de encontrar
uma verdadeira comunidade de seres humanos para a Antroposofia.

Ao se tomar estas duas referências à Antroposofia na assembléia de Natal


juntas, pode-se ver na primeira a mais importante condição para a segunda.
Da conferência de 1913 e da de 1923, depreende-se claramente que este ser
está conectado com o caminho de desenvolvimento do indivíduo

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O estudo da ciência espiritual como um encontro com o ser vivo antroposofia

antropósofo e também com toda a biografia da Sociedade Antroposófica


desde seus primórdios.

Mas o que significa, esotericamente, que um coração seja animado,


vivificado completamente por um ser do mundo espiritual?

Isto significa nada menos que encontrar uma real aproximação deste ser no
mundo supra-sensível, ter um tipo de encontro superior com ele.

Devemos agora tentar descrever o caminho que pode guiar a tal experiência
direta do ser supra-sensível da Antroposofia.

Aqui também podemos começar com um exemplo simples. Suponhamos


que alguém tenha estudado intensivamente um certo aspecto da ciência
espiritual numa noite passando pelos três estágios citados: penetrou-o com
seus pensamentos, transformou-os em imagens e disto, derivou impulsos
para sua conduta moral e suas ações. Tendo feito isto, foi dormir. Pode
então acontecer de na manhã seguinte ele despertar com um sentimento,
algo aparentado a uma resolução: deste dia em diante eu quero mudar meus
hábitos, meu caráter e toda a minha vida de modo a trazê-la em harmonia
com o que eu tenho recebido pelo estudo da ciência espiritual. Quero
começar uma vida inteiramente nova, e quero vive-la em harmonia com a
Antroposofia, ou, como Rudolf Steiner formulou-o, “tornar-me num
autêntico representante da causa antroposófica”. Pois a Antroposofia
permitiu-me reconhecer a verdadeira imagem do homem e , através dela, a
imagem do meu próprio ser; e eu quero fazer todo o esforço possível para
me assemelhar a esta imagem arquetípica.

O que é tão maravilhoso a respeito disso é que experimentamos esta


resolução como totalmente nossa, isto é, como uma decisão inteiramente
livre. De fato, não realizaremos este ideal em um dia; ao contrário, é mais
provável que com todos os nossos deveres até nos esqueçamos dele no
transcorrer do dia. Mas pode acontecer de na próxima manhã, ou em
alguma outra subseqüente, após estudo intensivo no dia anterior de nós
novamente termos esta experiência, talvez uma terceira vez e assim por
diante.

Finalmente, sob a inspiração destas experiências, chegamos a questão: O


que realmente aconteceu à noite, entre o momento do estudo e da resolução
da manhã seguinte? Pois chegamos a sentir cada vez mais fortemente que
enquanto dormíamos, algo de extraordinária importância aconteceu,

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O estudo da ciência espiritual como um encontro com o ser vivo antroposofia

provocada por nossa intensa dedicação no estudo, que só é comparável ao


encontro com um ser espiritual. E então se tentamos fortificar esta
experiência através do esforço consciente para implementar aquela
resolução de vida, teremos cedo ou tarde a resposta a nossa pergunta, que
formulada em palavras terrenas seria mais ou menos assim:

“O que te trouxe no mundo espiritual durante à noite a esta decisão foi o


encontro com o ser vivo Antroposofia. Ao contemplar este ser sublime,
toda minha alma foi permeada com o anseio e o desejo de me tornar como
ela. Esta aspiração, este desejo imbuído de vontade, aparece dentro de mim
como resolução na manhã seguinte de forma que a partir de então eu
busque com toda a minha força interior, tornar-me um verdadeiro
representante de seu ser espiritual no mundo moderno.

Este encontro com o ser vivo Antroposofia no mundo espiritual está em


íntima conexão com o tríplice caminho de estudo descrito. Pois neste
caminho, nós tentamos desenvolver faculdades no pensar, no sentir e no
querer que não estejam ligadas ao mundo dos sentidos e que podemos levar
conosco ao mundo espiritual no qual penetramos a cada noite. Por este
meio podemos despertar neste mundo e perceber o ser vivo Antroposofia.
Assim estas duas coisas se pertencem: o que se manifesta exotericamente
como estudo tem sua contraparte esotérica na gradual aproximação nos
mundos superiores do ser Antroposofia e finalmente no encontro com ela.
Desse modo, o estudo se torna o primeiro estágio da iniciação. Pois, como
todos os outros passos subseqüentes, ele conduz ao encontro com um ser
espiritual.

O próximo estágio será abrir-nos àquilo que aconteceu à noite de forma que
possamos elevar este encontro espiritual à consciência desperta, à luz do
dia. Isto, entretanto, só pode ser alcançado por meio de extensiva
meditação Não obstante, o estudo da ciência espiritual permanece a base
também dos nossos esforços meditativos. Em particular, o esforço para
tornar-se um autêntico representante do ser supra-sensível Antroposofia na
Terra deve ser sempre sentido como uma importante condição para tal
encontro. Assim podemos estar certos de que mais cedo ou mais tarde
experimentaremos este ser em plena consciência, e isto será para nós como
um verdadeiro encontro com um mestre espiritual aqui na Terra. Deste
momento em diante o ser Antroposofia será, ele(a) própria, nosso guia no
mundo espiritual. E em cada questão pertencente à vida e às nossas ações
poderemos buscar nele(a) uma direção. Nas seguintes palavras Steiner
descreve este relacionamento direto e pessoal que então é possível com este
ser que se coloca tão próximo ao homem: “A antroposofia é em si mesma

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O estudo da ciência espiritual como um encontro com o ser vivo antroposofia

um ser humano invisível que segue entre seres humanos visíveis e com
relação ao qual nós temos a maior responsabilidade possível..., que deve
mesmo ser considerado como um ser humano invisível, como alguém com
uma existência real, que deveria ser consultado em todas as nossas ações
individuais,... por quem somos responsáveis a cada momento de nossas
vidas,... é absolutamente necessário que tudo o que aconteça seja visto em
consulta com o ser humano Antroposofia... como um ser vivo... Assim isto
é o que é necessário: toda seriedade ao seguir o ser humano invisível de
quem estivemos falando”.

Se tivermos estabelecido um tal relacionamento com o ser vivo


Antroposofia, logo notaremos que toda a nossa vida muda, porque
encontramos nosso mestre espiritual. O maravilhoso disto é que o ser
Antroposofia nos deixa absolutamente livres em tudo. Mas se é nossa
vontade segui-lo, ele nos conduz sobre a trilha já citada até o conhecimento
do Cristianismo esotérico. Pois sua maior tarefa é guiar seres humanos no
sentido do Espírito de nossa época para torná-los conscientes dos grandes
mistérios cósmico-terrenos do Cristo-vivo.

Este caminho também pode ser caracterizado de um outro ponto de vista.


Em várias de suas palestras Rudolf Steiner enfatiza que na era cristã a alma
encontra o Cristo com cada encarnação, logo antes de sua união com o
corpo físico e que desde o início da era de Michael em 1879, Michael tem
estado a seu lado, junto a ele, na esfera limítrofe à Terra. Aí a alma percebe
o amor de Cristo e a luz de Michael, aquela luz que faz as imaginações
cósmicas em que vive o mistério do Golgotha, visíveis a ela. Desta forma a
alma humana recebe os impulsos que a levam a buscar a revelação de
Michael-Cristo na Terra, bem como contribuem para a realização de seus
propósitos.

Em nossos dias, nem todas as almas podem experimentar este encontro em


plena consciência.. Entretanto, um pequeno grau de consciência neste
momento já é suficiente para possibilitar a Cristiano Rosacruz guiar o
destino de tais almas humanas de sorte que lhes surja na Terra, a
oportunidade de formar novamente uma conexão com esta experiência pré-
natal. E é isto o que faz com que tais almas possam se lembrar disto em
plena consciência ao encontrar a revelação de Michael-Cristo na maneira
como esta vive no movimento antroposófico e a partir daí tornarem-se
pupilos do ser vivo Antroposofia.

Na palestra de 28 de setembro de 1911, Rudolf Steiner descreve a certa


altura como tal pessoa pode ser “chamada” (convocada) por Cristiano

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O estudo da ciência espiritual como um encontro com o ser vivo antroposofia

Rosacruz a partir do mundo espiritual à sua comunidade. Steiner conclui a


descrição dizendo: “Que uma pessoa possa ter uma experiência como a que
foi descrita, deve-se ao fato de que a mesma se encontrou com Cristiano
Rosacruz no mundo espiritual, entre sua última morte e o novo nascimento.
Cristiano Rosacruz nos escolheu então, dotou-nos do impulso da vontade
que ora nos leva a tais experiências.

Do acima dito fica que o destino de um antropósofo antes de seu


nascimento o conduz de Cristo a Michael e deste a Cristiano Rosacruz,
enquanto que na Terra, seu caminho tem origem em Cristiano Rosacruz,
que o chama de além do limiar, a fim de buscar nesta vida terrena o que o
guia de Michael a Cristo.

Nós encontramos este caminho __ de Cristiano Rosacruz até Cristo__ de


forma arquetípica na vida de Rudolf Steiner, o maior emissário e servo do
ser vivo Antroposofia no século XX Do encontro com o grande mestre
Rosacruz em Viena ele então chega a uma experiência supra-sensível de
Michael em Weimar e ao final do século XIX, a uma experiência espiritual
do Cristo.

Desse modo, os três decisivos períodos de sete anos passados por Steiner
respectivamente em Viena, Weimar e Berlin, durante os quais ele alcançou
o estágio de instrutor espiritual, Mestre, estiveram, esotericamente falando,
sob o signo dos três encontros: Com o Mestre Rosa-cruz, com o Espírito da
época Michael, e com o Cristo.

* * *

Como fruto de nosso estudo, chegamos a uma experiência da Antroposofia


como um ser vivo real, como nosso mestre espiritual superior. Ela é para
nós o doador daquilo que é mais importante e mais sagrado, uma vez que
nos doa verdadeiro auto-conhecimento o qual se torna em conhecimento do
mundo assim, muda toda a nossa vida. Agora, poderíamos perguntar-nos a
partir de todo amor e gratidão por tudo quanto ela nos dá: O que podemos
fazer pelo ser Antroposofia? Será que ela tem algum desejo ou objetivo que
eu possa ajudar a realizar? E então devemos nos voltar a ela na esperança
de obter dela uma resposta. Esta resposta pode vir na manhã seguinte ao
despertarmos do sono, ou aparecer como um tipo de memória das
profundezas de nossa alma durante nossas horas de vigília. Disto podemos
apurar que de fato, a Antroposofia tem um anseio, o desejo de encarnar
como um ser vivo na Terra. Ela não apenas quer guiar os pupilos da ciência

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O estudo da ciência espiritual como um encontro com o ser vivo antroposofia

espiritual desde o mundo supra-sensível; Ela tem o profundo desejo de


estar espiritualmente presente na Terra a fim de atuar no seio da
humanidade.

Naturalmente, tal encarnação em nosso tempo não pode acontecer


fisicamente nem mesmo etericamente; ela só é possível como uma presença
interior nas almas (corpos astrais) de seres humanos. E então__ este é o
segundo aspecto de sua resposta__ nós começamos a compreender que este
ser cósmico não pode encarnar-se em uma alma humana, nem mesmo na de
um iniciado ou em um grupo de almas pertencente a um povo em
particular, mas somente em uma sociedade universal que esteja em
condições de ser uma representante de toda a humanidade. Isto é a
Sociedade Antroposófica Universal ,fundada por Rudolf Steiner durante a
Conferência de Natal e em 25 de Dezembro de 1925 colocada diretamente
sob a guiança do ser Antroposofia.

Assim surgiu uma conexão totalmente nova com este ser a qual tornou-se
expressa nos estatutos. Rudolf Steiner uma vez caracterizou isto como
descrição ou representação. Isto deve ser considerado em sentido esotérico
como descrição ou representação das condições necessárias para a
encarnação deste ser nas almas de todos os seres humanos que estejam
atuando juntos na Terra como seus pupilos.

Nestes princípios da Sociedade Antroposófica Universal, o primeiro ponto


é formulado assim: “A Sociedade Antroposófica deve ser uma associação
de pessoas cuja vontade seja nutrir a vida da alma, tanto no indivíduo
quanto na sociedade humana, com base em um verdadeiro conhecimento
do mundo espiritual”. Em outras palavras, entre aqueles que livremente se
reuniram num serviço comum à Antroposofia, uma nova vida anímica __
fundamentada naquilo que por ela é dado como conhecimento real dos
mundos superiores__ deve surgir; e sua vida na alma é capaz de forjar um
invólucro anímico para a encarnação da Antroposofia.

* * *

Segue-se do que foi dito neste capítulo que somente através do estudo da
moderna ciência do espírito nós somos capazes de chegar a ter um encontro
pessoal com o ser vivo Antroposofia, um ser que realmente existe no
mundo espiritual, a fim de que possamos aprender diretamente de sua boca
qual é o significado esotérico e quais as principais metas da Sociedade
Antroposófica

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O estudo da ciência espiritual como um encontro com o ser vivo antroposofia

Tais diálogos anímicos com seres espirituais acalentam em nós uma


conexão íntima e puramente espiritual com a sociedade universal que é
totalmente independente de suas inevitáveis imperfeições terrenas.
Aprendemos a compreender sua tarefa espiritual, que consiste em criar um
envoltório humano abrangente para o ser Antroposofia na Terra através da
livre atuação fraterna de seus verdadeiros pupilos.

Nossos esforços para cumprir esta tarefa então se tornam um testemunho


vivo de amor, lealdade e gratidão que sentimos por este ser espiritual tão
importante para nós como antropósofos.

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