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FORTALEZA – 2010
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FORTALEZA – 2010
LADINNE MARIA COSTA DE LIMA MAIA
FORTALEZA – 2010
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IDOLATRIA E INDÚSTRIA CULTURAL: A APROPRIAÇÃO DO MITO
MARILYN MONROE PELA PUBLICIDADE CONTEMPORÂNEA
________________________________________
Ladinne Mª C. de L. Maia
________________________________________
Profª Alessandra Marques, Ms. (FA7)
1º Examinador: ____________________________________
Profº Jari Vieira, MSc. (FA7)
2º Examinador: ____________________________________
Profº Erick Picanço, Es. (FA7)
____________________________________
4
Aos meus pais Dinarte e Laíse.
AGRADECIMENTOS
5
À Deus.
À todos os amigos que caminharam comigo ao longo dos cinco anos de vida
acadêmica, compartilhando experiências e aprendizados.
6
A imperfeição é bela, a loucura é genial e é melhor ser
absolutamente ridículo que absolutamente chato.
Marilyn Monroe
RESUMO
7
No capítulo que dará início ao trabalho, vamos discutir a questão
conceitual dos quesitos “mitos”, “Ídolos”, “Idolatria” e “Indústria Cultural”, provocando
assim, uma reflexão com relação às ferramentas e caminhos que são utilizados na
construção da imagem de um sujeito quanto peça-chave em estratégias que
influenciam o imaginário do público e de uma sociedade. Como são elaborados os
instrumentos que compõem o valor simbólico de uma figura, e por sua vez, de que
maneira isso desencadeia no caráter de adoração. A resposta a estes estímulos se
dá em forma de lucro, sendo este, o processo que move a indústria cultural. A
criação e o mantimento de ídolos e ícones é papel dessa indústria, que conta com a
colaboração da mídia, formando assim, uma rede simbólica também formada por
fatores semióticos e subjetivos.
Além disso, pretendemos analisar e entender de que maneira o
mercado publicitário se apropria da imagem do ídolo, a partir de uma ideia/estratégia
criativa e da força que esse ídolo possui no imaginário coletivo para lançar produtos
e campanhas publicitárias. Na publicidade, eleger um ícone para representar uma
marca ou produto é decisivo, tendo em vista que o mesmo tem o poder, desde que
bem explorado, de nortear os rumos do sucesso (financeiro). O que um ídolo precisa
ter para cativar os seus seguidores (carisma, credibilidade, imagem corporal de
acordo com os padrões de beleza) gerando o fenômeno da idolatria e
consequentemente, da venda. Revisar o estudo sobre a fama, abordando o modo
como os valores são disponibilizados e percebidos pelo público e até que ponto a
indústria cultural envolvida diretamente com o culto da celebridade rende milhões de
dólares.
Faremos também, um breve comentário sobre a personalidade
Marilyn Monroe e de como a sua notoriedade ainda está presente nos dias atuais
influenciando padrões de comportamento e sendo explorado no mercado publicitário
por ainda ter um forte apelo comercial e interesse emocional. Quando Marilyn
morreu, não havia um sistema tão bem organizado como existe hoje, mas isso não
impede que sua imagem continue rendendo. Vamos abordar Marilyn-Produto x
Marilyn-Pessoa, a celebridade que deixa de ser humana com sentimentos, desejos,
ambições e passa a ser um símbolo, admirado, desejado, endeusado. A celebridade
que perde a sua individualidade para se tornar coletiva. Para ilustrar, abordamos
8
campanhas em que o objeto de inspiração utilizado, tendo em vista que se trata da
personificação de uma série de bens simbólicos – luxo, glamour e domínio da
sexualidade – se trata do maior mito do século 20: Marilyn Monroe.
LISTA DE FIGURAS
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Figura 1 - Díptico de Marilyn Monroe por Andy Warhol .......................................... 43
Figura 8 – Campanha Dolce & Gabbana 2009 inspirada em Marilyn Monroe ........ 52
SUMÁRIO
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INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 11
INTRODUÇÃO
11
O presente trabalho aborda o fenômeno Marilyn Monroe quanto ídolo
na publicidade contemporânea. De que maneira Marilyn Monroe é abordada e
percebida, e quais os motivos que incentivam a indústria cultural a permanecer
investindo neste símbolo de luxo, glamour e sexualidade, são algumas questões que
tentamos responder.
Percorremos alguns conceitos para a compreensão dessa série de
fenômenos, como o de mídia, que na atualidade, tem o poder de modificar de
maneira considerável as experiências da grande massa, provocando o que Sodré
(2007) chama de “mutação sócio-cultural”.
Abordamos também, a indústria cultural, que auxiliou na compreensão
da proporção da representatividade do ídolo para o homem. Adorno (2007),
Horkheimer (2007) e Coelho (2009) alimentaram essa abordagem com suas
perspectivas, o que proporcionou uma maior reflexão para com os planos
estratégicos de fundo comercial que a indústria cria para o mantimento de um ídolo
baseado nos bens simbólicos.
Neste trabalho, Tavares (2007), Azevedo e Gomes (2005) colaboraram
com a compreensão de uma perspectiva semiótica em torno dos elementos que
compõem o simbolismo de uma imagem. Nos apoiamos nas contribuições de Costa
(2009), que apresentou o seu olhar geral em torno da “apresentação do ídolo das
massas na indústria cultural”, e Taraborrelli (2009), que desvendou os mistérios da
vida de Marilyn Monroe com a mais recente e completa biografia sobre este mito.
Além disso, fizemos uma análise da apropriação do mito de Marilyn
Monroe, abordada a partir da perspectiva geral do processo de comunicação, que
constrói personagens explorando todas as características da cultura e
compartilhando os aspectos simbólicos com base na comercialização das imagens
fabricadas.
Para tanto, estabelecidos os estudos que buscam compreender todos
esses fundamentos que compõem as redes de comunicação, buscamos
proporcionar uma análise do fenômeno da fama direcionado à Marilyn Monroe.
A finalidade deste trabalho, portanto, é analisar esta rede e este
processo, que se dá entre os elementos principais que compõem a comunicação de
12
massa: Indústria cultural, símbolos, mitos, mídia, celebridades e público. Elementos
aqui, dispostos para serem entendidos sob a perspectiva do mercado –
especificamente da publicidade - com o objetivo de explorar e compreender a
influência e o papel de um ícone que marcou o século 20 e perpetua sua imagem
através da personificação do luxo e do glamour, e assim sendo, jamais
desaparecerá de nossa mente: Marilyn Monroe.
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1.1. ÍDOLO, FENÔMENO DA IDOLATRIA E MÍDIA
14
não midiática? Há atualmente, figuras notórias que não são imersos ao contexto
midiático?
Simões (2009) compartilha do mesmo pensar e diz que a mídia tornou-se
uma instituição onipresente na vida da sociedade:
Para Costa (2009), o que faz um ídolo manter-se na mídia por mais
de “15 minutos” é a capacidade de mutação, de adequação as exigências do
mercado, implicando em retardar o desgaste da sua imagem e, consequentemente,
evitar que o público não se canse da “mesmice”, havendo a renovação do interesse
do ídolo em conquistar cada vez mais uma nova fatia de público para não ser
esquecido e desprestigiado. Matta (2009) partilha deste pensar e complementa
explicando que para tanto, a “celebridade-mercadoria” precisa estabelecer o critério
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de guiar-se pelas receitas financeiras e as audiências da mídia, com o fim de
descobrir as expectativas e aspirações do público.
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Segundo Lana (2009), foi a partir da década de 30 que as “estrelas”
aproximaram-se da vida real, saindo do seu patamar de inacessibilidade. Porém,
essa humanização, essa maior aproximação do público, não pôs em prova o seu
“caráter mágico”, onde “as estrelas transformaram-se em mediadoras de um mundo
fantasioso e mágico”. (LANA, 2009, p.02)
Costa (2009) afirma que contudo, a década de 60 foi um período muito
rico de proliferação de ícones, tendo em vista uma mudança perceptível na
mentalidade norte-americana, que de certa forma, foi recorrente da sensação de
“impotência e consciência da futilidade das coisas” causada pela Guerra do Vietnã.
A consciência de fazer amor e não a guerra foi de suma importância para que a
cultura – sobretudo a popular - fosse mais apreciada e permitida ser tão valorizada
quanto a erudita. “A indústria cultural americana se afirma de vez como potência no
mercado do entretenimento e dá espaço para produção massiva de símbolos pop
que revestiam atores, cantores e dançarinos com o signo do glamour e do sucesso.”
(COSTA, 2009, p.04)
Tal fenômeno portanto, foi percebido como fator decisivo para o lucro da
indústria cultural, de forma que:
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custo-benefício). Assim, ele escolhe qual produto se adequa melhor às suas
necessidades e aspirações. (MATTA, 2009)
Contudo, Matta (2009) destaca também a importância de outros fatores
capazes de influenciar o consumo: são os intangíveis, emocionais. O fenômeno da
idolatria vai além da materialidade, uma vez que o fã vai além, e na vida real
interessa-se em ir aos lugares onde o ídolo está (camarim, aeroportos,
apresentações em público, participação especial em programas de rádio e tv),
criando-se o interesse pela vida pessoal do seu objeto de adoração, sobretudo se o
ídolo já foi em algum momento de sua vida (antes da fama) igual aos “pobres
mortais”. Isso instiga a possibilidade de ascender também, a esperança de um dia
ser tão ou mais do que ele.
De tal forma, concluímos que os personagens são criados pelas marcas
com o intuito de causar na mente de um determinado público receptor algum
sentimento de emoção, desencadeando assim, o desejo, que por sua vez
potencializa a geração de negócios. Estes personagens possuem importância cada
vez mais crescente, devido ao aumento da competitividade e pela geração de valor
para com os consumidores. As marcas são, portanto, apreciadas à medida que
atribuem significados que o público valoriza.
Nessa perspectiva, entendemos que tais personagens – os ídolos –
instigam uma série de emoções baseados na expectativa do mercado, com o fim de
gerar um entretenimento que sustenta-se em cima de modelos pré-estabelecidos de
identificação que resultam em caminhos para a idolatria: O “espetáculo do culto que
a indústria reconhece e domina”. (COSTA, 2009, p.14)
19
atingir o lucro - mesmo os produtos que conferem uma imagem de individualidade.
Dessa forma, constantemente o público receptor é visto como “pouco mais que
consumidores potenciais, cujas necessidades e desejos podem, através de
estratégias adequadas, ser manipulados, estimulados e controlados.” (THOMPSON,
1995, p.136)
Tal processo de consumo é o fator que move a indústria cultural, que está
fincada no capitalismo liberal com o intuito de manter a posição dos ídolos
santificados por seus adoradores, e porque não “seguidores”?!, e é o que move e
motiva constantemente a elaboração de estratégias e planos de durabilidade e
mantimento do ícone – sempre baseado no lucro – a fim de fazer com que o mesmo
seja capaz de representar o irrepresentável e tornar visível o invisível. (WOLFF,
2005, p.37 apud COSTA, 2009, p.2)
A indústria cultural é analisada, portanto, a partir das funções ideológicas
e das dimensões econômicas. Seus produtos nascem com o intuito de refletirem a
realidade da sociedade, tendo em vista as crescentes atividades ligadas à cultura,
comunicação e informação.
Atribuímos então, a explicação para o interesse por parte da indústria
cultural em valorizar os ídolos, no fato de estes possuírem o poder de conquistar
públicos cada vez maiores, infiltrando-se assim, em novos caminhos e se tornando-
se cada vez mais modelos para pessoas comuns.
Para Adorno (2007), quanto mais firme se tornar a posição da indústria
cultural, mais diretamente e mais efetivamente será capaz de atingir as
necessidades e os desejos dos consumidores, que resume-se ao divertimento e à
libertação, uma vez que aqui não existe limitações ao processo cultural.
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Representando a privação como algo negativo, evocavam, por
assim dizer, a humilhação do instinto e salvavam, como algo
mediatizado, aquilo que havia sido negado. Este é o segredo da
sublimação estética: representar a satisfação na sua própria
negação. A indústria cultural não sublima, mas reprime e sufoca.
Expondo continuamente o objeto do desejo, o seio no suéter e o
peito nu do herói esportivo, ela apenas excita o prazer preliminar
não sublimado, que, pelo hábito da privação, há muito tempo se
tomou puramente masoquista. (ADORNO, 2007, p.21)
21
capacidades. Tais produtos (filmes ou comerciais, por exemplo) provocam uma
dúbia sensação de apreensão:
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2. A APROPRIAÇÃO DOS MITOS PELO MERCADO PUBLICITÁRIO
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cognitivos e afetivos, pode-se dizer que se tratam do envolvimento emocional entre
o público e o personagem.
Este caráter de função que um símbolo efetua no sistema de significação
e no imaginário coletivo, implica em um composto que caracteriza-se em um
significante (expressão) e um significado (conteúdo). São os componentes verbais e
não-verbais de um signo. Para tanto, Tavares (2007) apud Valente (1997) afirma
que “Se alguma coisa pode ser utilizada para comunicar, é porque ela pode
representar a outra coisa”. (TAVARES, 2007 apud VALENTE, 1997, p.14-32.)
24
Símbolo, ou signo simbólico: O elo entre o significante e o significado,
com caráter conotativo. “O símbolo pode ser metáfora e metonímia ao
mesmo tempo. Desde que, a comunicação (propaganda / publicidade)
construa esta noção.” (TAVARES, 2007.)
Para Tavares (2007) apud Eco (1971, p. 24-25), o elo entre estes
conceitos é capaz de provocar no imaginário coletivo um significado cristalizado sob
forma de “conceito, ou na sociedade, como forma de média dos usos concretos.”
Entendemos, portanto, que este conjunto de significados – desde que bem
articulados - são um fator decisivo para o sucesso de uma marca.
25
Ainda para este autor, entender como o público pensa, sente e fala é
fundamental para entrar na mente do consumidor, e consequentemente, tornar-se
um mito. O encanto da marca muito depende da associação ao fato de ligar ídolos
que o mundo possui adoração. “A comunicação vitriniza os arquétipos. (...) Ontem,
hoje e sempre. Mudam-se os significantes, mas o significado continua o mesmo.”
(TAVARES, 2007, não consta página.)
26
Os autores supracitados defendem os conceitos propostos pela
Organização Mundial da Propriedade Intelectual (WIPO) no que se referem aos
“personagens”, organizados da seguinte maneira: não humano, humano fictício e
humano real. Esses personagens acabam então, por serem reconhecidos em função
de uma personalidade, gerando uma “humanização”, que por sua vez, é
caracterizado como “personagem de merchandising”. Em se tratando ainda destas
definições, Azevedo e Gomes (2005) descrevem:
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a.2) Personagem-gama: Este personagem tem uma maior liberdade de estar à
frente de diversos produtos, porém, sua representação deve ser delicadamente e
estrategicamente pensada.
28
2.3. GAROTO BOMBRIL
29
O caso do Garoto Bombril é emblemático pela sua dupla natureza:
primeiramente do entendimento do valor do carisma na
comunicação e no caso essa intenção é construída por
características diferenciadoras e enigmáticas do personagem, que
foge a todas as expectativas comuns da mensagem publicitária.
Por outro lado, o investimento na continuidade da mensagem e na
construção de traços de personalidade para a criatura promocional
fornece referencial de proximidade para o receptor, criando a fama
do Garoto Bombril e fortalecendo a idéia de um carisma fabricado.
(ANDRADE e MARQUES, 2006, p.04.)
31
Juggenheimer, 1996, p.110.) Conclui-se que no estudo do marketing, se faz
essencial entender esta relação existente entre a marca e o seu garoto-propaganda.
32
Ainda segundo Felerico, et.al., (2008) suas imagens, entretanto,
exercem maior impacto em períodos específicos de campeonatos importantes,
quando os temas relacionados ao futebol ganham mais destaque. “Fora destes
períodos, portanto, futebol e jogador de futebol perdem força como apelo
publicitário.” (FELERICO, et.al., 2008, p.133)
Em meio a este cenário, Laruccia e Roggero (2009) ressaltam que um
atleta brasileiro “nunca esteve no epicentro de somas tão estratosféricas como
Ronaldo Luiz Nazário de Lima, o Ronaldo Fenômeno, como foi „batizado‟ pela
imprensa e pela mídia esportiva”. (LARUCCIA e ROGGERO, 2009, p. 11.)
Para os autores supracitados, este sucesso é medido em forma de
números (ou cifrões), de modo que uma linha mundial de celulares decidiu lançar
seus produtos com a marca de Ronaldo pelo “simples” motivo: Uma pesquisa
elaborada por esta empresa concluiu que a venda dos aparelhos alavancou em 27%
no Brasil, devido ao fato do jogador vestir a camisa do Real Madrid, time este,
patrocinado pela empresa. E não para por aí: Ronaldo foi contratado para
comparecer a inauguração de uma fábrica localizada na Guatemala. Constatou-se
posteriormente, que em três meses, esta companhia já possuía 40% do mercado
local. Sendo assim, foi constatado “por profissionais de marketing, empresários e
pesquisadores do esporte, que Ronaldo teve e tem um papel estratégico nesse
processo.” (LARUCCIA e ROGGERO, 2009, p.13.)
Segundo os mesmos autores, Ronaldo é atualmente o jogador mais
conhecido de toda a Ásia, e está na terceira posição da lista de personalidades mais
conhecidas do mundo. Por trás dessa máquina empresarial que conta com contratos
publicitários estabelecidos com pelo menos seis grandes grupos, Ronaldo criou uma
imagem cristalizada perante o seu público – estimados em 850 milhões de fãs no
mundo:
(...) percebido pelos consumidores como um atleta excepcional,
uma pessoa humilde e um pai dedicado. De acordo com esse tipo
de pesquisa, Ronaldo é lembrado como o garoto que saiu do
subúrbio, que só tinha a televisão como eletrodoméstico da casa,
para tornar-se um vencedor. Tais dados são fundamentais para as
empresas com as quais tem contrato. (LARUCCIA e ROGGERO,
2009, p.12.)
Neste ponto, conclui-se que muitas vezes, “parece que cultivar uma
boa imagem pode ser mais vital do que estar em forma para o próximo jogo, uma
vez que parte substancial de seus rendimentos vem dos contratos de publicidade.”
(LARUCCIA e ROGGERO, 2009, p.13.)
A partir daí, construímos uma reflexão a cerca da imagem de um ídolo:
Até que ponto esta imagem é percebida e gera efeito sobre seus receptores? O
trabalho – por parte do ídolo - de sustentação de uma imagem é de fato, relevante
perante os milhões em contratos?
É possível responder estas questões com base na visão de Pena
(2002) apud Laruccia e Roggero (2009), a partir da seguinte perspectiva:
35
3. A APROPRIAÇÃO DO MITO MARILYN MONROE PELA
PUBLICIDADE CONTEMPORÂNEA
36
Aos 16 anos, Norma Jeane se casou pela primeira vez com Jim
Dougherty, como tática de se livrar do orfanato. Mais tarde, ela tornaria a se casar
outras duas vezes, com e Joe DiMaggio e Arthur Miller.
A vida artística de Norma Jeane teve início no ano de 1943 (com 17
anos de idade), quando no seu trabalho, foi convidada para estampar uma revista
governamental. Era a primeira vez que Norma Jeane aventurava-se no universo do
show business, e foi apenas uma questão de tempo para que o sucesso se
estabelecesse em sua vida.
37
constantemente, surpreendia os fotógrafos, devido ao seu desempenho e a
qualidade dos seus trabalhos.
No ano de 1946, Norma Jeane oficializa o divórcio de seu primeiro
casamento. Neste mesmo ano, por incentivo de sua agente e de alguns fotógrafos
amigos para que entrasse na indústria cinematográfica, assina um contrato com a
20th Century-Fox. No seu primeiro teste para o filme Mother wore tights, Norma
Jeane – mesmo sem nenhuma experiência como atriz - surpreendeu, e já naquele
momento, deu uma prévia do que mostraria ao mundo nas dezenas de filmes que
estavam por vir:
Embora estivesse diante de uma câmera pela primeira vez,
extremamente nervosa e embaraçada como estava, Norma Jeane
se transformou de repente em uma mulher completamente à
vontade, segura, e, mais importante, radiante em sua beleza. (...)
Leon Sharmony comentou certa vez ao se lembrar do teste: “Sua
beleza natural associada ao complexo de inferioridade lhe conferia
um ar de mistério. (...) Aquela garota tinha alguma coisa que não
via desde o cinema mudo. Uma espécie de beleza fantástica (...),
uma capacidade de imprimir sexualidade em uma película (...).
Cada cena do teste radiava sexo. Ela não precisava de trilha
sonora, porque criava os efeitos visualmente. Mostrava-nos que
podia vender emoções em quadros.” (TARABORRELLI, 2009,
p.111.)
38
de beisebol Joe DiMaggio (casam-se em 1954) e trabalhou em um de seus filmes
mais famosos, Os homens preferem as loiras.
Nesta época, Marilyn já dependia de remédios para dormir e consumia
estimulantes para se manter acordada durante o dia. Além disso, ingeria álcool com
freqüência e constantemente usava irrigação colânea – basicamente, enemas, com
a finalidade de emagrecer. Tudo isso era um reflexo de sua infelicidade na carreira.
Marilyn não queria mais fazer papeis de loiras burras e seu salário de 1.500 dólares
por semana era extremamente injusto.
Pouco tempo depois, Marilyn se divorcia pela segunda vez – pelo
mesmo motivo. Seu marido Joe DiMaggio era muito ciumento e constantemente
pedia a Marilyn que abrisse mão de sua carreira – que a essa altura, estava no seu
melhor momento em termos de reconhecimento. Marilyn já era um furacão em
Hollywood.
No ano de 1956, Marilyn casa-se com o dramaturgo Arthur Miller.
Arthur estava sendo investigado pelo FBI há algum tempo “só porque era visto como
poderoso e influente escritor de esquerda e pessoa pública” (TARABORRELLI,
2009, p. 238.) e era associado a membros do partido comunista. Sua esposa –
Marilyn, automaticamente (e absurdamente) acabou por também se tornar alvo de
investigação por parte do FBI. Mais tarde, quando iniciaria sua relação com John F.
Kennedy, os arquivos se tornariam 10 vezes maiores. Taraborrelli (2009) especifica
o tamanho do exagero por parte do FBI, para com as investigações relacionadas à
Marilyn Monroe:
Aqui vai a verdade: nada disso tem relevância. Boa parte das
atividades relacionadas ao FBI naquela época tinha mais a ver
com rumores do que com coleta de dados reais. Qualquer
“informante” maluco podia dizer qualquer coisa sobre uma
celebridade, e o comentário ia parar nos arquivos do FBI como
fato. (...) Quanto menos se levar em conta os relatos do FBI sobre
qualquer coisa relacionada a Marilyn Monroe, melhor.
(TARABORRELLI, 2009, p.240)
39
Também sentia muita dificuldade para decorar as falas de seus scripts, porém, seu
desempenho nas telas sempre acabava sendo brilhante.
Algum tempo depois, Marilyn constata uma segunda gravidez, e mais
uma vez, sofre um aborto. Assim, depois de uma série de exames, descobre que
jamais poderia ser mãe.
Em pouco tempo, Marilyn se divorcia de Arthur Miller. Neste período,
dedicava-se mais do que nunca, às suas exageradas sessões de terapia, feitas
quase todos os dias. Seus pensamentos com relação à decisão de se suicidar
estavam cada vez mais freqüentes, como caracteriza Taraborrelli (2009):
1
e ² : http://www.marilynmonroe.com/international/portugues e/index.htm Acesso em: 02 de dezembro
de 2010 às 20 horas.
41
um sex symbol e uma estrela de cinema. O que a tornou amada no mundo inteiro foi
a mistura de sua sensualidade natural com a sua espontânea inocência. Todo o
referido sucesso fez de Marilyn Monroe, a mulher mais famosa do século 20, uma
vez que dominou por completo a Era das grandes estrelas. “A popularidade de
Marilyn foi muito além de qualquer ícone.” (Fonte: Site oficial²)
Kieling e Areu (2008), a partir dessa perspectiva, descrevem: “Marilyn
eleva a figura da mulher de silhueta elegante e ar ingênuo e provocante, a um
padrão mítico.” (KIELING e AREU, 2008, p.05) Assim sendo, Lipovetsky (2000) apud
Kieling e Areu (2008), coloca: “numa síntese inédita de sensualidade e de inocência,
erotismo e alegria, a sex goddess de Hollywood criou o arquétipo mais deslumbrante
de pós-mulher fatal.” (LIPOVETSKY 2000, p.172 apud KIELING e AREU, 2008,
p.05)
Marilyn construiu, portanto, um padrão de beleza a ser seguido, e
marcou a imagem de uma nova mulher. Seus papeis no cinema, iam de encontro a
este conceito – talvez, por este motivo, Marilyn seja constantemente lembrada por
este ângulo. O que ela aparentava nas telas, era o mais perfeito complemento com a
sua representação na “vida real”. Assim sendo, Bebiano e Silva (2004) apud Kieling
e Areu (2008), ilustram:
[...] Marilyn Monroe, que filmara The Seven Year Itch (em Portugal,
O Pecado Mora ao Lado) em 1955 – integravam já temas e
abordagens que correspondiam à materialização da nova figura da
“mulher liberta”, dotada de uma vida amorosa activa e variada,
experimentada sem aparente má consciência, pontuada por uma
iniciativa que já não era um privilégio exclusivamente masculino.
(BEBIANO e SILVA 2004, p6 apud KIELING e AREU, 2008, p.05)
42
apenas “desse lado da moeda”? Taraborrelli (2009) descreve a partir desta
perspectiva:
Porque Marilyn – a imagem do glamour e da confiança para o
mundo exterior – era uma mulher muito mais perturbada do que
muitas pessoas sabiam. Embora tentasse esconder tudo isso do
mundo com sua imagem impecável de estilo e determinação, os
que eram mais próximos conheciam seu mais sombrio e profundo
segredo: ela temia pela própria sanidade. (TARABORRELLI, 2009,
p. 14)
43
Costa (2009) busca respostas através dos seguintes questionamentos:
“(...) o que nos diz Warhol quando reproduz o rosto desinteressado de Marilyn
seguidas vezes com seu sorriso forçado? E o que nos transmite quando é
representada perdendo forma, brilho e cor a ponto de quase desaparecerem?”
(COSTA, 2009, p.04)
2
Figura 1. Andy Wahrol retrata Marilyn Monroe em Díptico (1962)
2
Obra Díptico de Marilyn, 1962, serigrafia e acrílico sobre tela - 208,3X144, 8 cm. Londres: The Trustees of the Tate
Gallery.
44
tornar significativa e provocar novos olhares?” (MELO, não consta ano de
publicação, p.03)
Torres (não consta ano de publicação), a partir da perspectiva da Pop
Art, explica o contexto e a significação da referida arte:
46
fazem de Marilyn, por exemplo, – e não outros – imortal, tomada como um padrão
de comportamento. (ROSZAK e FERNANDES, não consta ano de publicação, p.04)
Essa é uma estratégia que indústria cultural tem como referência para
pontuar seus parâmetros de atuação: diversificando seus artistas e para tanto,
voltando ao passado (em busca dos parâmetros dos artistas inaugurais) e
retornando estilos em uma nova roupagem, como explica Costa (2009) apud Kellner
(2001):
48
Figura 2. Madonna imita Marilyn Monroe no clipe Material Girl
Figura 3 ²
49
Figura 4 ²
3
Figura 05
3
Figuras 3, 4 e 5 Madonna inspira-se em Marilyn Monroe em diversos momentos de sua carreira.
4
http://www.marilynmonroe.com/international/portugues e/index.htm Acesso em: 02 de dezembro de 2010 às 20
horas.
50
Figura 6. Madonna se apresenta na cerimônia do Oscar, em 1991.
51
Marylin Monroe. Supomos que a longa trajetória de sucesso de
Madonna, que estreou como diretora de cinema, pode ser fonte de
inspiração para as estratégias de marketing em torno outros
artistas. (MATTA, 2008, p.08 apud KELLNER, 2001, p.336)
5
Figura 7. Diversas artistas inspiradas em Marilyn Monroe
5
1 - Christina Aguilera; 2 – Angelina Jolie; 3 – Gwen Stefani; 4 – Linsay Lohan; 5 – Britney Spears; 6 – Nicole
Kidman.
52
transformou-se em Marilyn exibindo-se em um estilo sensual, com sua pele branca e
lábios carnudos destacados pelo batom vermelho. (Site: Eu Maquio) 6
O site Correio do Brasil7 cita que “Pode ser que ela (Scarlett
Johansson) negue sua aflição por simular a imortal diva Marilyn Monroe, mas, na
verdade, os estilistas sabem o que funciona bem com a atriz loira.” Isso, porque não
é segredo a semelhança física que há entre Scarlett e a diva Marilyn. A indústria
soube, de fato, se aproveitar muito bem dessa semelhança.
6
- http://www.eumaquio.com/dolce-gabbana-the-makeup-line/ Acesso em: 02 de dezembro de 2010 às 20 horas.
7
http://correiodobrasil.com.br/scarlett-johansson-posa-de-marilyn-para-dg/146533/ Acesso em: 02 de dezembro
de 2010 às 20 horas
8
http://www.blogtopsites.com/outpost/476dc4f6941e2d7f18eafcf54e047feb Acesso em: 02 de dezembro de 2010
às 20 horas
53
“Paris Hilton se veste de Marilyn Monroe para lançar perfume” (IG Gente)9; “Paris
Hilton encarna Marilyn Monroe em lançamento de perfume” (Moda Spot) 10. Vejamos
que em nenhuma das manchetes citadas, informam sequer, o nome do perfume,
mas o nome “Marilyn Monroe” não deixou de ser destacado.
Paris deu declarações afirmando que “Tease é um perfume brincalhão
e sedutor, perfeito para chamar atenção”. – Curiosamente, essas características são
muito particulares da personalidade de Marilyn Monroe. Paris também afirmou que
Marilyn é “o seu ídolo e o seu ícone favorito” (Fonte: Portal Caras11), e que
“começou a se vestir como o seu ídolo Marilyn Monroe, e isso lhe rendeu ótimas
fotos.” Além disso, mencionou que “Marilyn é uma inspiração para ela desde
pequena”. (Fonte: Celeb Watch12/ Youtube13)
Paris Hilton também fotografou para a campanha do seu perfume
seguindo o mesmo padrão visual. No cartaz de divulgação do perfume, Paris abusa
da indumentária típica de Marilyn: espartilho e casaco de pele na cor branca. A
imagem, em preto e branco, também remete à questão do fator tempo,
assemelhando-se ainda mais ao universo ao qual Marilyn pertencia.
Segundo Matta (2008), atualmente é bastante comum a presença de
celebridades que endossam os mais diversos produtos nos anúncios publicitários. A
escolha certa da celebridade que irá representar tal produto, irá conferir a
credibilidade e o status que lhe cabe, gerando resultados significativos e suprindo as
expectativas da indústria.
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http://gente.ig.com.br/materias/2010/08/11/paris+hilton+se+veste+de+marilyn+monroe+para+lancar+perfume+9
560835.html Acesso em: 02 de dezembro de 2010 às 20 horas
10
http://modaspot.abril.com.br/gente/gente-modelos-celebridades/paris-hilton-encarna-marilyn-monroe-em-
lancamento-de-perfume Acesso em: 02 de dezembro de 2010 às 20 horas
11
http://www.caras.com.br/secoes/noticias/noticias/paris-hilton-lanca-perfume-a-la-marilyn-monroe-tease Acesso
em: 02 de dezembro de 2010 às 20 horas
12
http://www.hindustantimes.com/Paris-Hilton-takes-inspiration-from-Monroe/Article1-543875.aspx Acesso em:
02 de dezembro de 2010 às 20 horas
13
http://www.youtube.com/watch?v=1cTPDeQDA18 Acesso em: 07 de dezembro de 2010 às 17 horas
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Figura 9. Lançamento da fragrância Tease de Paris Hilton (inspirada em Marilyn Monroe)
Figura 10. Cartaz publicitário do perfume Tease da Paris Hilton (inspirado em Marilyn Monroe)
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Produto. Percebemos até que ponto esta celebridade perdeu a sua individualidade
para se tornar coletiva, uma mercadoria. Identificamos através do simbolismo, que é
preciso de fato, ter o domínio da subjetividade aliada a um comportamento singular e
aos fatores estéticos para ser mitificado. E este domínio fez com que Marilyn Monroe
fosse capaz de abranger a vida e o imaginário de uma época, tendo sua vida
transformada em uma narrativa exemplar para toda uma geração.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Apontamos o resultado dessa repetição através da observação do
número de celebridades contemporâneas inspiradas no ícone que representa uma
série de fatores (luxo, glamour, domínio da sexualidade, etc.), e constatamos:
Marilyn Monroe de fato, continua sendo a personificação desses fatores e de muitos
outros, e, portanto, inspiração para tantos artistas.
Auxiliamos na leitura deste ícone que permanece cristalizado no nosso
imaginário, na compreensão do sentido da indústria cultural e do fenômeno da fama.
Percorremos a rede simbólica que compõe a imagem subjetiva de um mito,
estudamos a perspectiva publicitária e mercadológica, bem como suas posições
com relação à existência destes, e por fim, mostramos a Marilyn Monroe que muitos
não conheciam através de sua história verdadeira, longe de qualquer fantasia
imposta como verdade absoluta pela indústria cultural. Confrontamos a Marilyn-
pessoa com a Marilyn-produto, e ainda assim, fica a certeza de que muito ainda há a
ser percebido e entendido.
A perspectiva publicitária em torno desse ícone foi abordada, mas
sabemos que muitas outras ainda precisam de um olhar e uma análise mais
aprofundada, sobretudo, as que vão ao encontro da subjetividade da grande massa,
que instala-se no nosso imaginário sem que percebamos.
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