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Carlos
e Sérgio
Sumário
Epílogo
Notas
Fontes citadas
Apêndice
Apresentação à segunda edição
BF
Prefácio
Alegria libertária
Heloisa Maria Murgel Starling
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
%
1890 46,9
1906 48
1920 24,6
FONTES: Censos nacionais de 1890 e 1920. Censo do Distrito Federal de 1906. A proporção que se
pode a rigor levar em conta é a de 1920. Além de outros erros, os censos de 1890 e 1906
confundiram serviços domésticos remunerados e donas de casa.
Vários anos mais tarde, o censo de 1920 arrolou 100 388 pessoas no
estado de São Paulo dedicadas a atividades industriais (fábricas e pequenas
oficinas), alcançando 51% a porcentagem de estrangeiros; entre os 13 914
indivíduos ocupados em transporte e comunicação, a proporção destes
atingia 58%.29 De modo geral, embora o vulto da força de trabalho
estrangeira tendesse a decrescer com o correr dos anos, foi majoritária na
capital de São Paulo, tanto no setor industrial como no de serviços em todo
o período considerado (1890-1920). Algumas cifras para ramos específicos
chegam a ser surpreendentes. Assim, o conhecido relatório publicado pelo
Departamento Estadual de Trabalho sobre as condições de trabalho na
indústria têxtil (1912), abrangendo 31 fábricas de tecidos da capital, uma de
Santos e uma de São Bernardo revela que, dos 10 204 operários
classificados, apenas 1843 eram brasileiros natos, isto é 18%. Os
trabalhadores de origem italiana somavam 6044 (59%), havendo 824
portugueses (8%) e o restante de outras nacionalidades. Dentre os braçais
dos serviços públicos (capital, 1912), havia 871 nacionais, 1408
estrangeiros e vinte de nacionalidade ignorada. Os estrangeiros estavam
assim discriminados: 865 portugueses, 320 italianos e 165 espanhóis. Como
é sabido, os italianos predominavam esmagadoramente nos ramos
industriais da capital, havendo maior porcentagem de portugueses e
espanhóis em serviços pesados braçais, especialmente no porto de Santos.30
Os dados referentes ao Rio de Janeiro mostram também a importância da
população ocupada estrangeira, ainda que em menor escala do que em São
Paulo (tabelas 1.5 e 1.6).
A porcentagem de estrangeiros, segundo o censo de 1920, caiu para
35,2% na indústria e 38,8% nos transportes em geral, sendo, porém, de
53,2% nos transportes terrestres e aéreos. Em certos ramos industriais
(construção civil, vestuário e toucador, madeira, alimentação e outros
menos expressivos), constatou-se a presença majoritária de elementos
estrangeiros.31
TABELA 1.5
RIO DE JANEIRO
POPULAÇÃO OCUPADA — 1890
ESTRANGEIROS NACIONAIS
SETORES TOTAL
% %
Indústria manufatureira 19 011 = 39 29 650 = 61 48 661
Indústria artística 2365 = 40,3 3494 = 59,3 5859
Transportes terrestres 5121 = 54 4349 = 46 9470
Transportes marítimos 593 = 47 670 = 53 1263
Comércio 24 477 = 51 23 571 = 49 48 048
Total 51 567 = 455 61 734 = 54,4 113 301
FONTE: Censo de 1890. Os números são simples indicações. Sheldon L. Maram assinala que o censo
não adotou o critério da ocupação principal, contando diversas profissões exercidas por uma mesma
pessoa. Os estrangeiros foram computados ora pelo local de nascimento, ora pela cidadania. O autor
citado considera que a população ocupada estrangeira foi subestimada. A tabela refere-se apenas a
alguns setores ou ramos mais expressivos.
A classe operária e
seu movimento
(1890-1917)
1. Correntes organizatórias e seu campo de incidência
Dos fins do século XIX até o início dos anos 1920, três correntes em grau
variável tiveram influência no movimento operário: o anarquismo, o
socialismo reformista e o “trabalhismo”. Nem sempre é fácil distinguir, em
situações concretas, entre as duas últimas. De modo geral, os socialistas
reformistas, como se sabe, buscam a transformação gradativa do sistema
social existente e defendem a autonomia organizatória dos trabalhadores; o
grupo dos trabalhistas, no caso, corresponde aos que pretendem obter tão
somente a conquista de alguns direitos operários, sem pôr em questão os
fundamentos do sistema social, inclinando-se a incentivar implicitamente a
heteronomia sindical.1
O “TRABALHISMO” CARIOCA
ANARQUISMO
O anarquismo brasileiro
A) A subcultura
A utopia anarquista tem paradoxalmenete uma grande
contemporaneidade. Sua crítica ao sistema educativo e à Igreja, à família
burguesa, através da temática da igualdade dos sexos, volta-se contra os
núcleos básicos de reprodução do sistema e do comportamento autoritários
da época.62 Para além da defesa de pontos tópicos, há a tentativa de criação
de uma subcultura, buscando modelar um homem novo em contraposição
ao que é fruto da sociedade de classes, abrangendo aspectos tão amplos
como a educação ou um código moral, com suas normas e sanções
implícitas.
Se a recusa da instância política formal debilita os libertários em sua
tentativa de organizar as camadas populares, a ênfase na crítica da cultura e
das instituições aponta em princípio para uma problemática da maior
atualidade — a da constituição dos micropoderes integrantes da relação de
dominação, na linha desvendada por Foucault. A crescente burocratização
dos partidos, o reforço do capitalismo de Estado reintroduziram no mundo
de hoje o tema da transformação da sociedade no plano cultural-afetivo,
associada à gestão do processo produtivo pelos produtores. Embora de
forma muitas vezes inadequada, o anarquismo busca dar resposta a um
difícil problema: como criar, com gente dominada, uma sociedade livre?
Contudo, o anarquismo brasileiro oscilaria entre a crítica das instituições
com o enfoque apontado e a que correspondia aos interesses da burguesia
ascendente, na esteira da luta da classe burguesa europeia contra aparelhos
ideológicos identificados com a ordem feudal. Isso transparece claramente
no ataque à educação vigente e à Igreja. No primeiro caso, os esforços
estavam permeados, de um lado, pelos objetivos de oferecer um modelo
educativo que representasse uma contrapartida à formação ministrada pelo
sistema dominante, sob forma laica ou religiosa; de outro, pelos objetivos
de desenvolver uma instrução racional, científica e laica, ainda que não
houvesse entre as duas linhas uma rígida separação de fronteiras. Um
exemplo da última tendência foi a natimorta Universidade Popular de
Ensino Livre, criada no Rio de Janeiro em março de 1904. Entre seus
professores mencionavam-se Sílvio Romero (psicologia), José Veríssimo
(história da literatura), Felisberto Freire (história do Brasil), Fábio Luz
(higiene), Vicente de Souza (antropologia), Elísio de Carvalho (sociologia),
Eliseu Visconti (arte decorativa).63
Após o fuzilamento de Ferrer — fundador das Escolas Modernas de
Barcelona —, começou um movimento aparentemente semelhante ao
anterior, envolvendo socialistas, alguns professores da Faculdade de
Medicina do Rio de Janeiro, além dos anarquistas. As duas escolas criadas
em São Paulo a partir desse momento, que conseguiram manter-se por
vários anos até serem fechadas pelas autoridades em 1918, pretenderam
converter-se, entretanto, em núcleos de ensino profissional e educação
libertária. Eram seus fins expressos: 1o libertar a criança do progressivo
envenenamento moral que por meio do ensino baseado no misticismo e na
bajulação política lhe comunica hoje a escola religiosa ou do governo; 2o
provocar junto com o desenvolvimento da inteligência a formação do
caráter, apoiando toda concepção moral sobre a lei de solidariedade; 3o
fazer do mestre um vulgarizador de verdades adquiridas e livrá-lo das peias
das congregações ou do Estado, para que sem medo e sem restrições lhe
seja possível ensinar honestamente, não falseando a história e não
escondendo as verdades científicas.64
Como afirmava uma resolução do Segundo Congresso Operário, chegara
o tempo de enfrentar o ensino burguês baseado não só no misticismo, como
“nas doutrinas positivistas e nas teorias materialistas sabiamente invertidas
pelos cientistas burgueses”. Dirigidas por Adelino de Pinho e João
Penteado, as Escolas Modernas do Brás e do Belenzinho propunham-se a
ministrar um ensino racional “que não engendre fanáticos de seita alguma,
nem militares fanfarrões, nem jacobinos ridículos”.65 Escolas mistas, sem
exames, sem promoções, sem castigos ostensivos, combinando um
currículo convencional com a difusão dos princípios anarquistas refletida
nas festas e comemorações. No melhor estilo da época, em uma reunião
beneficente de 1914, após o hino dos trabalhadores, executado pela banda
de música, e uma conferência sobre “A Escola Moderna e o problema
social”, os alunos recitam versos de Guerra Junqueiro e cantam um hino aos
operários, original de Neno Vasco.66
A luta anticlerical constitui um expressivo exemplo de uma crítica quase
sempre afastada de uma percepção mais aguda do nexo entre a Igreja e a
educação repressiva, que, aparentemente, a doutrina libertária permitiria
estabelecer. As dissenções entre a Igreja e o Estado, nos primeiros anos da
República, correm aliás o risco de ser exageradas quando a observação se
volta apenas para os círculos dirigentes. No plano educativo, a presença da
Igreja continua sendo dominante nas faixas estratégicas do ensino
fundamental e médio, a tal ponto que somente no início do século XX surge
a primeira escola leiga gratuita de São Paulo.
A Lanterna é o veículo mais consistente do anticlericalismo anarquista,
embora seja razoável supor que ele tenha sido temperado pelo propósito de
aglutinar outros círculos além dos libertários. O jornal apareceu em março
de 1901, sob a direção do advogado maçom Benjamin Motta. Este figurou
nas primeiras convocações da reunião socialista de 1902, inclinando-se
depois para o anarquismo. No primeiro número do jornal, fazia-se
referência aos anticlericais como um grupo reduzido. Entretanto, seu
público não parece desprezível, por excessiva que possa ter sido a tiragem
do órgão: 10 mil exemplares, que logo chegaram a 26 mil, para depois
declinar e se estabilizar em 6 mil números. Interrompida a publicação em
1904, reapareceria em 1909, tendo como diretor Edgard Leuenroth.
Em linhas gerais, A Lanterna pode ser definida como um irreverente
órgão franco-maçom, com uma linguagem insólita que rompe com o estilo
alambicado do jornalismo brasileiro. Fico nesse aspecto com um exemplo,
o editorial-bomba profano, lançado por ocasião da morte do papa Leão XIII:
Morreu o Papa Leão XIII. A mentira convencional e a hipocrisia interesseira traçam neste
momento encomiásticas necrologias do velho inútil que expirou no Vaticano, em dias da semana
que hoje se finda. Durante 25 anos Joaquim Pecci (note-se aqui o efeito de dessacralização)
ocupou o sólio pontifício e nesse longo reinado nada mais fez do que mentir àqueles que
esperavam ouvir de sua boca a suprema verdade! Ele… se não fosse um padre romano no rigor da
palavra, repeliria a tiara, símbolo de mentira; não cingiria essa coroa de rei da terra, enlameada
nos festins incestuosos dos Bórgias e de João XXII… Vigário de Cristo! Leão XIII, vigário de
Cristo? Admitindo-se os Evangelhos como traduzindo os ensinamentos de Cristo, Leão XIII foi
apenas um vilíssimo traidor à doutrina do Mestre. Cristo revoltou-se contra os tiranos e
combateu-os; Leão XIII foi um servil lacaio dos grandes e um inimigo encarniçado de suas
vítimas.
Fez ele acaso ouvir um grito de compaixão em favor dos armênios massacrados barbaramente
pelos turcos? Condenou ele a selvageria inglesa no Transval e as infâmias europeias na China?
Verberou ele as infâmias do Estado-Maior da França, fazendo falsos sobre falsos para ver se não
lhe escapava a vítima inocente que agonizava na ilha do Diabo? Apiedou-se ele dos pobres pretos
africanos que os marchands dos exércitos europeus friamente assassinaram, queimando suas
aldeias, em nome da civilização? Ouviu-se-lhe uma censura sequer contra o espingardeamento
que, um pouco em toda parte, tem feito os governos, dos trabalhadores que procuravam
reivindicar seus direitos? Não! Antes, numa encíclica famosa, a de 1o de janeiro de 1900, disse o
papa que vem de morrer, que os reis precisam se unir para opor um dique ao apetite insaciável dos
povos!67
Em São Sebastião das Correntes, Minas, um padre deflora uma moça na igreja, que é depois
abandonada pelo seu noivo — Uma órfã confiada à sua guarda é deflorada e tem diversos abortos
por ele provocados — Grande indignação do povo — Fuga do sátiro.
Quando a partir dos últimos meses de 1910 se realiza em São Paulo uma
mobilização de certo vulto, a propósito da desaparição de uma menina de
um orfanato religioso do Ipiranga, ocorrida quatro anos antes, A Lanterna
revela o mesmo tipo de preferência. A denúncia dos orfanatos como
grandes cárceres disciplinadores é apenas aflorada; as manchetes e textos se
concentram no detalhe escabroso — o estupro, a ocultação do cadáver —,
ainda que obviamente a apuração da verdade tivesse no caso grande
relevância.70
Não se trata de negar a possível veracidade de grande parte dessas
acusações, nem sua esporádica vinculação, na imprensa anarquista, com o
voto de castidade. Assim, o voto de castidade é analisado como
“instrumento de reforço da hierarquia eclesiástica que, por representar uma
violação das leis biológicas, acaba incentivando os atentados ao pudor nos
colégios e a formação de idiotas ou de sátiros”.71 A denúncia das violações
à pureza, os ataques contra as riquezas acumuladas pela Igreja desviam-se,
entretanto, da crítica radical, aproximando o anticlericalismo libertário do
tom geral do anticlericalismo ilustrado.
Caberia, porém, indagar por que nesse terreno a crítica assume formas
tão pouco convencionais, ao contrário do que ocorre no campo do discurso
estritamente doutrinário. A resposta deve ser buscada no terreno emocional
e inconsciente, tendo como núcleo a figura do padre — o pai a quem se
interditou a prática das relações sexuais. A Lanterna, não obstante seu
conteúdo manifesto, é uma folha religiosa, integrada em um universo
maniqueísta onde os signos do demônio se exprimem nas imagens dos
frades bêbados e concupiscentes. A insistência na temática das relações
sexuais proibidas ou perversas não é outra coisa senão a projeção dos
impulsos de um grupo marcadamente puritano. O padre impuro recebe o
anátema libertário através de uma simbologia sexual permeada de alusões
sádico-devoradoras. “Com quem se parece o padre? Parece-se com a
aranha, que com a teia caça moscas e lhes chupa o sangue. Mas não lhe
basta a teia: ele tem uma infinidade de armadilhas e é um terrível estuprador
que não olha os sexos.”72
O mecanismo de projeção de impulsos inconscientes se torna mais claro
quando se tem em conta que o código moral libertário promove um
comportamento ascético, no plano da vida afetiva, das formas de evasão do
cotidiano. Sob o primeiro aspecto não se trata apenas de condenar
genericamente a riqueza, mas de regular toda a conduta, como se evidencia
nas normas alimentares, com o incentivo à alimentação vegetariana, a
sanção contra os excitantes, particularmente o álcool, condenado nos
congressos operários, em folhetos e cartazes expostos nas sedes sindicais.
Quando em 1910 Oreste Ristori vai ao interior de São Paulo realizar
conferências em benefício das Escolas Modernas, inclui-se entre os temas,
anunciados com um tom entre funambulesco e aterrorizante,
o flagelo do alcoolismo, com umas quarenta projeções impressionantes relativas aos efeitos
desastrosos produzidos pela lenta intoxicação alcoólica no organismo do indivíduo, nas condições
da família e nas relações sociais; perda do sentimento, da dignidade pessoal, de amor à família,
aos filhos, ao estudo; tendência para o crime, enfraquecimento físico, ulceração dos órgãos
internos, atrofia da memória, espantosas alucinações, delirium tremens, loucura, morte.73
B) Um instrumento
Mais importante talvez do que o frágil sindicato, o jornal constitui um
dos principais centros organizatórios anarquistas e de difusão da
propaganda. Veículo de expressão escrita, transforma-se também com
frequência em veículo oral, ao ser lido em voz alta para os trabalhadores
analfabetos. Quando consegue manter certa continuidade ao longo dos anos,
espelha as condições do movimento social. Nas fases de ascensão,
predomina o esforço por ressaltar uma linha política associada ao noticiário
da vida dos trabalhadores nas empresas, das tentativas de organização
sindical e das greves; nas fases de descenso, a linha política e o noticiário se
diluem, ganhando destaque um doutrinarismo tendente a se transformar em
catecismo monótono. Inovadora e mesmo insólita em seu conteúdo, a folha
anarquista está presa às formas de seu tempo, com uma linguagem em regra
rebuscada, as imagens de gosto neoclássico, onde despontam as figuras
femininas simbolizando a liberdade, os poemas acadêmicos que exaltam a
emancipação futura ou descrevem a miséria presente dos trabalhadores.
Em fins do século XIX, L’Avvenire, II Risveglio (São Paulo, 1893), Gli
Schiavi Bianchi (São Paulo), O Despertar (Rio de Janeiro, outubro de
1898), O Protesto (Rio de Janeiro, 1899) estampam em seus títulos as
primeiras tentativas da propaganda, a referência crítica a uma sociedade
recém-saída da escravidão que começa a construir uma ideologia de
igualdade e progresso.86 Esses jornais tiveram uma vida efêmera e deram
lugar a publicações mais regulares, fruto de certo reforço dos quadros
anarquistas e das lutas operárias. A Perra Livre, O Amigo do Povo, La
Battaglia, A Lanterna foram os jornais de duração mais longa publicados
no período, em São Paulo. À frente da maioria deles, estavam alguns
quadros estrangeiros já formados nas concepções libertárias, que chegaram
ao Brasil entre fins do século XIX e princípios do XX. La Battaglia foi
fundada por Oreste Ristori, italiano proveniente do Uruguai. Lembrado
como grande propagandista e orador, Ristori sofreu duas deportações do
Brasil, a última em 1936. Juntou-se à Brigada Internacional durante a
Guerra Civil da Espanha, sendo morto na Itália, como refém dos nazistas
em 1944.87 Em princípios de 1912, assumiu a direção do jornal Luigi (Gigi)
Damiani, uma figura de traços psicológicos diversos de Ristori — “homem
de poucas palavras e de sorriso irônico” —, mas com formação semelhante.
Chegado ao Brasil em 1899, proveniente da Itália, onde já fora perseguido
como anarquista, passou seis anos no Paraná. Aí trabalhou como pintor de
paredes e fundou um jornal, procurando influir sobre os trabalhadores
locais. Colaborou com frequência em La Battaglia, antes de assumir sua
direção em O Amigo do Povo, e foi expulso do Brasil em 1919, na vaga de
deportações daquele ano, tornando-se bastante conhecido nos círculos
anarquistas europeus por sua atividade na Itália, ligado a Malatesta.88 À
frente de O Amigo do Povo, participando da direção de A Terra Livre, da
revista Aurora, surgia a figura tímida, avessa às aparições públicas, de
Gregório Nazianzeno de Vasconcelos — Neno Vasco. Foi ele talvez o mais
lúcido expositor das ideias anarquistas do período, combinando a
capacidade de perceber as alternativas centrais da estratégia libertária com a
análise das condições da sociedade brasileira, além de ter sido um eficiente
organizador. Nascido em Portugal, filho de um rico comerciante, chegou ao
país em 1900 ou 1901, após obter o grau de bacharel em direito por
Coimbra. Sua permanência no Brasil estendeu-se até abril de 1911, quando
regressou a Portugal, onde morreu em setembro de 1920.89 Ao lado de
Neno Vasco, na direção de A Lanterna, na atividade sindical, o brasileiro
que acabou por simbolizar todo o movimento anarquista. Embora nascido
no interior de São Paulo (Mogi Mirim, 1881), Edgard Leuenroth formara
suas concepções entre a redação dos jornais e o bairro operário do Brás,
onde viveu grande parte da vida. Tipógrafo aos catorze anos, a seguir
jornalista, teve uma breve inclinação para o socialismo, no contato com o
socialista baiano Estêvão Estrela. Por volta de 1903, iniciou sua longa
militância sindical, no Centro Tipográfico de São Paulo, e aderiu ao
anarquismo.90
Nenhum jornal explicitamente anarquista do Rio de Janeiro (Novo Rumo,
A Guerra Social, Na Barricada) conseguiu manter-se por muito tempo, com
exceção significativa de A Voz do Trabalhador. Embora surgisse como
jornal da COB, assumiu as posições do anarcossindicalismo aí dominantes,
convertendo-se em um exemplo de equilibrada combinação entre a
divulgação teórica, a propaganda e a temática do movimento operário.
Sobretudo em sua primeira fase, constituiu-se também em um canal de
expressão dos problemas dos trabalhadores no nível da empresa.91
C) O núcleo dirigente
No primeiro número do jornal que iria se transformar no mais influente
órgão anarquista, comentava-se com melancolia que a propaganda tinha
mais de duas décadas, mas era intermitente, seguida de quando em quando
de agitações populares e mobilizações da classe operária. Até hoje — dizia
A Plebe ao apelar para uma iniciativa maior — “os nossos camaradas quase
que atestam sua adesão ao movimento libertário tomando assinaturas dos
jornais, dando alguma subscrição”.92
O comentário de A Plebe era em grande parte, mas não inteiramente,
verdadeiro. Apesar da sua fraqueza numérica,93 da inconsistência
organizatória, os anarquistas constituíam a maioria da vanguarda operária e,
ao menos, figuras de respeito para a grande massa. Tinham sido os maiores
responsáveis pelos esforços em construir um sindicalismo revolucionário,
haviam se integrado nas maiores mobilizações do período. Por volta do
início da Primeira Guerra, o núcleo libertário de vanguarda reunia
condições para se pôr à cabeça de lutas mais amplas, influindo diretamente
em seu rumo, como se tornaria claro nos anos 1917-20.
A ausência de uma estrutura formal do movimento anarquista torna
precária qualquer tentativa de traçar os limites desse núcleo. Aqui não há
comitês centrais, direções regionais abertos à análise. Há figuras cuja maior
ou menor continuidade militante varia no tempo e, embora a definição de
um grupo dirigente possa ser feita por critérios relevantes (organizador da
imprensa, do movimento operário, alvo especial de repressão etc.), nem
sempre eles são suficientes para estabelecer uma diferença com os ativistas.
Utilizando os critérios apontados, selecionei 33 nomes, entre os anos 1900-
17, abrangendo onze pessoas pertencentes grosso modo à média burguesia
intelectual e 22 trabalhadores manuais.94 A discriminação por ramo de
atividade do último grupo revela a presença de dez gráficos; quatro
operários da construção civil;95 um sapateiro (Antonio Nalipinski); um
chapeleiro (José Sarmento Marques, responsável pelo jornal sindicalista O
Baluarte, deportado do país em 1917); um estivador (Manoel Campos) e
cinco pessoas que não é possível ligar especificamente a um ramo: Manoel
Perdigão Saavedra e João Perdigão Gutierrez — cuja atividade concentrou-
se em Santos —, José Romero, Pedro Matera e José Elias da Silva.
Um ramo numericamente restrito, onde os anarquistas nem sempre
predominaram — o dos gráficos —, surge como dominante. A profissão
desenvolve a capacidade organizatória e o domínio do jornal como
instrumento. É em volta da imprensa que se formam, aliás, várias figuras
definidas como pertencentes à classe média intelectual — Leuenroth,
Astrojildo, Palmeira. No grupo dos trabalhadores gráficos se encontram um
líder da Liga Anticlerical do Rio de Janeiro, Ulisses Martins; o diretor de
Novo Rumo e um dos organizadores do Primeiro Congresso Operário, Luiz
Magrassi; o secretário da COB, Rosendo dos Santos; Mota Assunção,
Manuel Moscoso, Carlos Dias, Everardo Dias, Antônio Bernardo Canelas,
João da Costa Pimenta, Florentino de Carvalho.96
Em contraposição aos gráficos, os têxteis — quantitativamente
importantes — não estão representados. José Romero e Pedro Matera, que
se dedicaram particularmente a sua organização, não podem ser
considerados integrantes da categoria. Uma figura operária de grande
prestígio entre a massa dos tecelões surgiria por volta de 1919, a princípio
ligada aos anarquistas. Trata-se de José Righetti — um dos representantes
da União dos Operários em Fábricas de Tecidos de São Paulo no Terceiro
Congresso Operário (1920), profundamente envolvido nas lutas da
categoria desde então. Nos anos 1920, tornou-se sindicalista desligado do
anarquismo e logo após a Revolução de 1930 esteve à frente das greves
têxteis, associando-se ao mesmo tempo com o general Miguel Costa.
Refletindo as condições da industrialização brasileira da época — com
suas longas jornadas de trabalho, a presença da mão de obra feminina e
infantil —, o proletariado de fábrica quase não aparece no grupo dirigente.
Seu campo de atividade liga-se muito mais à pequena organização informal
na empresa, que emerge no instante das greves, deixando traços impessoais
de uma linha de lutas de base, talvez contínua, mas difícil de reconstruir.
É significativo observar também a quase inexistência de elementos do
setor de serviços no núcleo dirigente libertário, como um indício de suas
dificuldades em organizar essa área estratégica.
Por toscos que sejam os dados, a supremacia dos trabalhadores manuais
sobre os intelectuais de classe média é indicativa das raízes do anarquismo
entre os elementos de vanguarda das camadas dominadas. Em uma época
em que uma forte dose de autodidatismo está presente em ambos os grupos,
separados mesmo um pouco artificialmente, seria errôneo pensar em uma
subdivisão de funções muito clara no interior das fileiras anarquistas; se
alguma distinção intelectual se pode fazer, por exemplo, entre Gigi Damiani
e Fábio Luz, ela favorece o primeiro e não o segundo. Mas, a partir dessa
constatação, ainda fica por esclarecer o alcance da influência libertária
sobre o movimento operário e as relações difíceis de decifrar entre o
movimento e a própria classe.
SOCIALISMO
As condições gerais do trabalho urbano no Brasil nos trinta primeiros anos do século XX
são conhecidas, correspondendo, nas empresas maiores, ao modelo de acumulação da
primeira fase do capitalismo industrial. Por toda parte, impera o reino da liberdade; a
legislação fabril, essa “primeira reação consciente e sistemática da sociedade contra a
marcha elementar do processo produtivo”, é muito restrita e ineficaz. Sobre o trabalhador
recai não só a forma absoluta de extração do excedente como ainda a contínua insegurança.
Em regra, nada impede a despedida imediata após longos anos de serviço, os acidentes
frequentes não são indenizados, inexiste a previdência social; no horizonte, não se desenha a
expectativa da aposentadoria, por magra que seja. Tudo isso é trivial como trivial é a
referência às épocas de vigência do laissez-faire nas relações de trabalho e de início da
intervenção do Estado. Convém, porém, acentuar o alcance da interiorização da insegurança,
pois começa-se hoje a esquecer outra trivialidade: o enorme significado na consciência do
trabalhador dos germes mitificados de sua quebra e o correspondente rendimento político
associado à imagem de Getúlio Vargas.
Se o quadro genérico é esse, as diferenças específicas de setor, de ramo a ramo, são muito
grandes. Quantitativamente, a estrutura da indústria se caracteriza pela pequena empresa, de
mínima capitalização e base técnica artesanal. Observe-se, entretanto, que as unidades
maiores concentram uma parcela considerável da população trabalhadora (tabela 2.1). Na
pequena empresa predomina o operário especializado, conhecedor do uso da ferramenta,
prolongamento da mão e da habilidade manual.
TABELA 2.1
ESTADO DE SÃO PAULO E DISTRITO FEDERAL
CONCENTRAÇÃO DOS ESTABELECIMENTOS INDUSTRIAIS
SEGUNDO O NÚMERO DE OPERÁRIOS OCUPADOS — 1919
ESTABELECIMENTOS OPERÁRIOS OCUPADOS
OPERÁRIOS OCUPADOS
% %
SP DF SP DF
Até 4 57,3 30,5 6,4 2,1
De 5 a 9 21,7 22,9 6,7 4,2
De 10 a 19 9,8 19,9 6,3 7,4
De 20 a 49 5,1 15,4 7,9 13,3
De 50 a 99 2,5 5,0 8,2 9,7
De 100 a 199 1,7 3,6 10,9 13,9
De 200 a 499 1,1 1,8 17,2 13,7
De 500 a 999 0,6 0,4 19,7 8,5
1000 ou mais 0,2 0,5 16,7 27,2
Total 100,0 100,0 100,0 100,0
FONTE: Recenseamento de 1920, v. V, 1a parte, pp. 164-5.
FONTE: Recenseamento de 1920, v. V, 1a parte, pp. 294-5, e v. II, 2a parte, pp. 75-81. Obs.: Está excluída a agroindústria
açucareira. Não há dados da indústria de construção naval.
TABELA 2.4
DISTRITO FEDERAL
DISTRIBUIÇÃO DE OPERÁRIOS PELOS PRINCIPAIS RAMOS INDUSTRIAIS,
SEGUNDO O SEXO E A IDADE — 1919
DISTRIBUIÇÃO MAIORES DE 14 ANOS MENORES DE 14 ANOS TOTAL GERAL
RAMOS
GLOBAL % % %
% HOMENS MULHERES TOTAL HOMENS MULHERES TOTAL HOMENS MULHERES
Têxtil 40,1 57,2 42,8 93,6 58,6 41,4 6,4 57,3 42,7
Alimentação 15,2 71,2 28,8 90,9 69,9 30,1 9,1 71,1 28,9
Vestuário e
22,2 55,7 44,3 92,1 45,0 55,0 7,9 54,9 55,1
toucador
Cerâmica 4,9 94,3 5,7 84,9 96,6 3,3 15,1 94,6 5,4
Metalurgia 10,4 94,5 5,5 91,5 87,1 12,9 8,5 93,6 6,1
Químico e
produtos 7,2 69,2 30,8 91,8 69,1 30,9 8,2 69,2 30,8
análogos
FONTE: Recenseamento de 1920, v. V, 1a parte, pp. 254-5. Obs.: Com relação ao trabalho do menor, as proporções ficariam
muito alteradas se fosse adotado o critério de distinguir entre maiores e menores de dezoito anos. É muito indicativa a não
correspondência entre “minoridade civil” e “minoridade da força de trabalho”.
TABELA 2.5
ESTADO DE SAO PAULO
DISTRIBUIÇÃO DE OPERÁRIOS PELOS PRINCIPAIS RAMOS INDUSTRIAIS,
SEGUNDO O SEXO E A IDADE — 1919
DISTRIBUIÇÃO MAIORES DE 14 ANOS MENORES DE 14 ANOS TOTAL GERAL
RAMOS
GLOBAL % % %
% HOMENS MULHERES TOTAL HOMENS MULHERES TOTAL HOMENS MULHERES
Têxtil 45,7 44,7 55,3 92,1 45,6 54,4 7,9 44,8 55,2
Alimentação 14,7 82,9 17,1 92,0 69,9 30,1 8,0 81,9 18,1
Vestuário e
13,8 62,6 37,4 90,5 56,0 44,0 9,5 61,9 38,1
toucador
Cerâmica 12,3 88,6 11,4 94,7 81,2 18,8 5,3 88,2 11,8
Metalurgia 7,3 94,0 6,0 92,3 92,3 7,7 7,7 93,9 6,1
Químico e
produtos 6,2 71,0 29,0 97,4 66,4 33,6 2,6 70,8 29,2
análogos
FONTE: Recenseamento de 1920, v. V, 1a parte, pp. 270-1. Ver a observação da tabela 2.4.
TABELA 2.6
SALÁRIO MÉDIO NA INDÚSTRIA DE TRANSFORMAÇÃO, 1919
(MIL-RÉIS POR DIA)
ADULTOS MENORES
LOCAIS HOMENS MULHERES HOMENS MULHERES
INDÚSTRIA TÊXTIL
Distrito Federal 6720 5165 2479 2825
São Paulo 5729 4684 2211 2272
Brasil 5329 3738 1973 1994
INDÚSTRIA DA ALIMENTAÇÃO
Distrito Federal 5845 3856 2617 878*
São Paulo 5616 3567 2028 2403
Brasil 5111 2957 2004 1858
INDÚSTRIA DO VESTUÁRIO
Distrito Federal 7582 4216 2376 2049
São Paulo 6382 3467 2142 1773
Brasil 6712 3652 2174 1885
INDÚSTRIA INDÚSTRIA
METALÚRGICA DE CALÇADOS
HOMEM ADULTO HOMEM ADULTO
FUNDIDOR TORNEIRO CORTADOR ACABADOR
Distrito Federal 6853 8887 8747 7679
São Paulo 8405 7506 5687 5286
Brasil 7483 8107 7656 7076
FONTE: Resumo de um quadro elaborado por Wilson Cano, Raízes da concentração industrial em São Paulo. Tese de
doutorado. Campinas: Unicamp, 1975, v. II, p. 124. A fonte é o Recenseamento de 1920, v. V, 2a parte, pp. XI-XVI.
* Provável erro tipográfico.
Entre os têxteis não faltaram denúncias contra a lançadeira, instrumento que os tecelões
levavam à boca para “chupar” o fio da trama, responsável pelo contágio de moléstias, pela
absorção de pó e anilinas. A reunião operária de 1913 pediu que se proibisse seu uso e se
utilizassem os processos mecânicos vigentes na Europa.
A mobilização dos trabalhadores entre os fins do século XIX e os primeiros anos da Guerra
Mundial tem limites bastante conhecidos. Sua fraqueza está estampada na baixa
representatividade e descontinuidade da organização sindical, na história de seguidas
derrotas dos movimentos coletivos. Por vezes, o sindicato nasce de um pequeno núcleo cujo
esforço não logra correspondência na categoria que pretende representar ou resulta do
entusiasmo despertado por uma greve, sem conseguir desprender-se de sua origem. À
medida que o entusiasmo decai, o organismo começa a declinar até se transformar em uma
simples referência nominal. As federações regionais e a confederação nacional não poderiam
deixar de ter uma história semelhante. A Federação Operária de São Paulo nasce em fins de
1905, reunindo em sua fundação a União dos Chapeleiros, a Liga dos Trabalhadores em
Madeira, a Liga dos Pedreiros e a União Internacional dos Sapateiros. Esses sindicatos, com
raras exceções, são pouco expressivos, abrangendo núcleos reduzidos de ativistas. A
Federação Operária surge em consequência dos esforços desses grupos e não como resultado
do crescimento das ligas que a integram.18 Sua presença ativa em alguns momentos — como
na greve dos ferroviários da Companhia Paulista, em 1906 — decresce ao longo dos anos até
desaparecer pouco antes da Primeira Guerra Mundial. A Federação Operária do Rio de
Janeiro — que se origina da Federação das Associações de Classe no Estado do Rio, criada
em outubro de 1903 — promove o Primeiro Congresso Operário, mas entra em declínio após
cair em “mãos ineptas e impuras”, sendo reorganizada a partir de maio de 1912. A proposta
de criação da COB é aprovada no Congresso de 1906, concretizando-se apenas em março de
1908. Em grande medida, sua existência se limita ao Rio de Janeiro, onde se confunde com a
Federação Regional. Após publicar os primeiros números de A Voz do Trabalhador e realizar
manifestações contra a lei de sorteio militar, o fuzilamento de Ferrer na Espanha, deixa
praticamente de ter existência. Reaparece em janeiro de 1913 e tem uma vida ativa até a
entrada da Primeira Guerra Mundial: promove o Segundo Congresso Operário (setembro de
1913), organiza comícios contra a carestia, denuncia as condições de trabalho, a lei de
expulsão de estrangeiros, envia representantes ao Nordeste para tentar estender seu raio de
influência. A depressão iniciada em 1914 iria, porém, arrastá-la à crise e a um virtual
desaparecimento.19
A fraqueza do movimento operário não é apenas um dado da realidade, constatado a
posteriori, mas integra a consciência dos contemporâneos. Anarquistas e socialistas
procuram seguidamente desvendar as razões dessa fraqueza, com argumentos nada
desprezíveis. Respondendo a um inquérito promovido por A Guerra Social sobre o
problema, Neno Vasco identifica as dificuldades centrais na composição da classe operária e
na estrutura da indústria. Elementos incultos, provenientes do trabalho agrícola de caráter
colonial, com ressaibos da escravatura recente, combinam-se nas regiões do sul com os
trabalhadores imigrantes. Estes são em geral rústicos, saídos de regiões miseráveis,
desejando apenas juntar um pecúlio e voltar à pátria. Não se deve, entretanto, culpá-los
porque há até antigos propagandistas que pensam em “fazer a América” e regressar à
Europa. Por seu turno, a incipiência da estrutura industrial reforça as dificuldades, pois
impede a suficiente coesão e homogeneidade dos trabalhadores. O Avanti, apesar das
diferenças ideológicas, descreve um quadro análogo, ao qual se acrescentam mais alguns
elementos: o caráter descontínuo do processo de industrialização que redunda em uma
instabilidade dos efetivos da classe; a possibilidade de ascensão social dos elementos mais
ativos; as relações muito próximas entre patrão e trabalhador na pequena empresa.20
O comportamento operário vincula-se ao débil padrão organizatório. A solidariedade, a
aberta rebeldia — como opção de consciência ou resposta a condições insuportáveis de vida
— são frequentes mas têm uma feição heroica, tendo-se em conta essa debilidade e a
natureza do sistema de dominação. Não é surpreendente por isso o conformismo revelado
pelos inconscientes, “trabalhadores que se não consideram com mais valor do que uma besta
de carga”, ou a aberta capitulação dos “krumiros”, apontados ao desprezo da classe como
“sabujos, traidores, no último grau da abjeção e da imundície”.
Mas a recusa da mitologia do movimento operário pode ter como contrapartida uma visão
desqualificadora da mobilização dos trabalhadores, identificada em expressões do tipo
“explosão repentina”, “resposta automática a condições insuportáveis de existência”. Com
essa ênfase na espontaneidade economicista, correm-se pelo menos dois riscos. De um lado,
tende-se a ignorar a história da organização dos trabalhadores — que não se restringe às
associações formais — e os vínculos, por débeis que sejam, entre a organização e os
movimentos coletivos; de outro, empobrece-se a imaginação social da classe operária,
reduzindo-a quase a um reflexo das condições materiais existentes. Não é possível também
esquecer o óbvio: em uma sociedade recém-saída da escravidão, a organização operária
aparece como o primeiro movimento social das camadas dominadas voltado, por seus
objetivos manifestos, modelos ideológicos, métodos de ação, para a mudança de aspectos
básicos da estrutura do poder.
No interior do quadro genérico de fraqueza do movimento operário e das ações coletivas,
as distinções de setor a setor, de ramo a ramo, combinadas com as de natureza regional, de
composição étnica da classe trabalhadora, têm particular interesse.
O setor de serviços (ferrovias e portos) é estrategicamente o mais relevante, dele
dependendo o funcionamento básico da economia agroexportadora, assim como o que
apresenta o maior grau de concentração de trabalhadores. Essa determinação estrutural
tenderá a se impor ao longo do tempo, na década de 1920 e sobretudo na primeira metade
dos anos 1930, quando ferroviários e portuários se converterão no núcleo mais estável do
sindicalismo brasileiro. Mas a tendência ao fortalecimento organizatório terá sua história
marcada por não poucas vicissitudes. Na medida em que o padrão das relações de dominação
se caracteriza pelo enfrentamento aberto de classes, a relevância setorial resulta em uma
ambiguidade: o sindicalismo independente é reprimido com severidade; as greves — muito
significativas por suas repercussões econômicas — enfrentam por isso mesmo uma violenta
resposta repressiva.
Do ponto de vista da qualificação profissional, a força física constitui um fator favorável
aos trabalhadores. As repetidas tentativas de substituir portuários por ocasião das greves
esbarram sempre nessa dificuldade. Em Santos, por exemplo, durante a grande paralisação
das docas entre dezembro de 1920 e janeiro de 1921, elementos recrutados no Rio, “dos
baixos fundos sociais” na linguagem da imprensa anarquista, acabam por se revelar
inadaptados ao trabalho e provocam vários conflitos entre si. Entretanto, a especialização de
certas tarefas — maquinista, foguista, entre os ferroviários — produz consequências
contraditórias. Instrumento de elevação salarial, de maior poder de barganha, acentua a
divisão hierárquica interna dos trabalhadores, com consequências gerais bastante negativas
nos momentos de conflito aberto. O exemplo da greve de marítimos cariocas dos primeiros
meses de 1921, embora fuja cronologicamente ao período que estou considerando, pode ser
tido como exemplar. De acordo com o relato da imprensa libertária, a greve começa pelos
sempre esquecidos taifeiros, estendendo-se depois aos marinheiros. Em um segundo
momento, os foguistas entram em cena, a princípio confraternizando-se mas logo
pretendendo impor uma “humilhante autocracia política” aos taifeiros, que ficam sozinhos
por não aceitarem a tutela. Afinal, os vários grupos se desentendem e cada qual procura o
socorro de protetores estranhos ao meio operário: os marinheiros apelam ao ministro da
Viação e os foguistas ao nacionalista Alcebiades Delamare, chefe de um núcleo de
fascistas.21 Por outro lado, nas situações extremas, a greve de setores especializados convida
à intervenção estatal direta, pois só a Armada está em condições de substituir certo tipo de
grevistas.
No estado de São Paulo, as greves em serviços não são só qualitativa como
quantitativamente dominantes entre 1888-1900, nas condições de um incipiente
desenvolvimento industrial, perdendo terreno à medida que o setor secundário começa a
fortalecer-se.22 Após a importante greve da Cia. Paulista (1906), por causa da repressão e de
algumas concessões, os ferroviários aparecem menos, no plano das mobilizações ostensivas:
ausentes das greves generalizadas de 1907 e 1912, não têm papel central na grande greve de
1917. Com as lições do passado em mente, a Cia. Paulista apressa-se em conceder aumentos,
após uma breve paralisação, enquanto a repressão produz efeitos na São Paulo Railway. Em
agosto de 1917, o movimento sindical ganha aí bastante impulso, constituindo-se a União
Geral dos Ferroviários, que em pouco tempo obtém mais de 3 mil adesões. No mês seguinte,
a polícia prende seus diretores, ocupa vários pontos da estrada e organiza uma lista de nomes
dos sindicalizados sobre os quais cai a perseguição da Companhia.23 Ainda assim, segundo
os dados de Azis Simão, tomando-se o período 1901-14, as greves setoriais de ferroviários,
em número de cinco, só são igualadas pela construção civil.24
Os portos favorecem os primeiros contatos de trabalhadores brasileiros com o movimento
operário de outros países sul-americanos, especialmente a Argentina. Depois de uma greve
do Lloyd Brasileiro, dois delegados da Federación Obrera Regional Argentina vêm ao Rio de
Janeiro, em novembro de 1904, daí resultando um acordo entre a Sociedad de Resistência
Obreros del Puerto de Buenos Aires e a União dos Operários Estivadores. Pelo convênio,
ambas se comprometiam a tomar medidas de solidariedade, sempre que houvesse greve em
um dos portos, ou boicote dos navios de determinadas companhias. O sindicato brasileiro
dispunha-se ainda a organizar sociedades de resistência, na medida do possível, em todos os
portos do Brasil, integrando-as em uma federação nacional.25 A retórica de Melchior Pereira
Cardoso, representante da Federação das Associações de Classe do Rio de Janeiro —
disposto a combater “os parasitas de toda a espécie, os falsos apóstolos da burguesia, em
nome da luta de classes e da emancipação operária pela ação dos próprios trabalhadores” —,
teria pouco alcance prático. Tanto ele pessoalmente quanto as organizações de marítimos e
portuários cariocas estavam pouco inclinados a esse tipo de iniciativa.
De fato, há na época um grande contraste entre o porto de Santos e o do Rio de Janeiro.
Santos — centro de influência anarquista — caracteriza-se pelo sindicalismo autônomo, pela
maior explosividade. Em junho de 1905, um órgão único de organização dos trabalhadores
— A Internacional — conduz a primeira grande greve no estado, com repercussões na
capital e no porto do Rio. Após 27 dias de lutas e contínuas prisões, os portuários são
derrotados. Pouco mais de três anos depois (setembro de 1908), estoura um movimento pelas
oito horas de trabalho que acaba por se estender a toda a cidade. A ambiguidade das
paralisações nos ramos estratégicos aparece aí claramente. A Força Pública desloca efetivos
para Santos, fura-greves são trazidos das fazendas do interior do estado, três navios de guerra
desembarcam tropas federais. Ao mesmo tempo, a Associação Comercial de Santos —
diante do problema criado pelo café estocado no porto — pressiona a Cia. Docas e o governo
para que se chegue a um acordo. Afinal, o movimento termina, com a promessa, aliás não
cumprida, do ministro da Viação de garantir um reajuste salarial por parte da empresa
concessionária.26 O mesmo padrão de combatividade e violenta repressão constitui o traço
comum das novas greves portuárias de 1912 e sobretudo de dezembro de 1920 a fevereiro de
1921. Ressalve-se apenas que a maior presença libertária em Santos não pode ser tomada em
sentido absoluto. No curso da greve de 1908, negociações com a Cia. Docas são
estabelecidas por elementos alheios ao anarquismo; vários anos depois, em um período de
efervescência, a imprensa anarquista assinalaria uma reorganização dos trabalhadores dos
portos constituída infelizmente “com espírito reacionário, de estreito exclusivismo de classe,
moldada em princípios autoritários”.27
No porto do Rio de Janeiro e entre os marítimos, a explosividade das relações de classe é
menor. A violência desvia-se frequentemente para as disputas internas entre grupos,
enquanto do ponto de vista organizatório reina uma cerrada burocracia sindical. Assim, um
“coronel marítimo” — Petronilho Fernandes Guimarães — de 1906 a 1916 controla como
presidente ou vice-presidente a Associação dos Marinheiros e Remadores, geralmente em
dupla com Eduardo Pereira Santana. Um breve relato da vida do sindicato, publicado por um
órgão da imprensa corrente, faz contínuas referências à pressão sobre rivais, desfalques,
falsificação de atas.28 No início de 1915, a União dos Operários Estivadores é palco de uma
violenta disputa entre o grupo dominante e os defensores do sindicalismo de resistência,
acompanhada de conflitos sangrentos na região do porto. A chapa “antipolítica” obtém a
vitória e propõe-se “a limpar a União dos contrabandistas, ladrões do mar, desordeiros
profissionais, cabos eleitorais, acobertados com o título de sócios e diretores”.29 O êxito seria
porém transitório. De modo geral, não obstante alguns avanços do anarquismo entre 1920-1,
o porto do Rio de Janeiro manteria a tradição de um sindicalismo limitado a reivindicações
corporativas, convertido muitas vezes em um apêndice do estado. As organizações de
estivadores e marítimos colocam-se à margem das grandes greves cariocas a partir de 1917,
afirmando sua disposição de utilizar-se apenas de meios pacíficos. Várias entidades,
sobretudo na área dos marítimos, iriam mais longe, ao colaborar com o governo na
liquidação da greve da Leopoldina.
Mesmo tendo em conta uma relativa distância entre as inclinações dos organismos
sindicais e a massa operária, os perfis de comportamento nos portos de Santos e do Rio de
Janeiro distinguem-se assim claramente. As razões da diferença devem ser buscadas no
contexto geral das duas cidades e na composição étnica da classe trabalhadora. Santos se
define como centro de lutas frontais, sob inspiração libertária, abrangendo tanto portuários
como outros ramos, em especial a construção civil. Uma classe operária relativamente
homogênea, composta em grande parte de estrangeiros (espanhóis e portugueses), constitui o
núcleo básico dos trabalhadores quando a cidade começa a se desenvolver.30 No Rio de
Janeiro, estrangeiros — em menor número — vêm concorrer no porto com elementos
nacionais aí já instalados. A rivalidade étnica potencia a disputa e favorece a divisão interna
da classe. Por sua vez, as posições tendentes ao paternalismo ou à conciliação encontram
campo na maior incidência do Estado e nas expectativas dos trabalhadores nacionais. Entre
estes, há muitos antigos escravos ou integrantes de uma geração para a qual a escravidão tem
ainda um peso considerável culturalmente.
No setor industrial, por entre as variações do comportamento dos indivíduos, dois grandes
braços inter-relacionados definem os têxteis: a explosividade e a fraqueza da organização.
Eles foram os responsáveis pela primeira greve geral do Rio de Janeiro (1903) e tiveram
papel importante nas paralisações generalizadas de São Paulo, em 1907 e 1912. Durante os
anos 1917-20, as maiores mobilizações iniciaram-se na categoria, que esteve em certa
medida associada à tentativa insurrecional de novembro de 1918.
Entretanto, até 1917, o grau de mobilização contrastou com a descontinuidade
organizatória. Em São Paulo, a União dos Operários em Fábricas de Tecidos, cuja primeira
notícia data de 1907, teve uma existência vegetativa. No Rio de Janeiro, o primeiro sindicato
têxtil (Federação dos Operários em Fábricas de Tecidos) surgiu em princípios de 1903,
“trazendo para a Capital Federal o método da resistência ou do sindicalismo francês”.
Segundo um relato da imprensa operária, a Federação conseguiu agremiar quase todos os
trabalhadores do ramo, daí nascendo as condições para a greve decretada em 15 de agosto de
1903, abrangendo 25 mil trabalhadores têxteis e cerca de 15 mil de outras categorias. As
reivindicações dos grevistas (oito horas de trabalho; 40% de aumento) praticamente não
foram atendidas, pois os empresários concederam um aumento insignificante e aceitaram,
aliás por pouco tempo, a redução da jornada normal de trabalho para nove horas e meia. A
derrota da greve, seguida da dispensa de muitos trabalhadores, repercutiu na Federação, que
rapidamente se esvaziou e desapareceu. Anos depois, formou-se o Sindicato dos
Trabalhadores em Fábricas de Tecidos, nas fábricas de Vila Isabel, onde havia em média
oitocentos sindicalizados, com ramificações no Andaraí e Sapopemba. Novamente, o
fracasso das greves — que giravam agora em torno do direito de organização — levou ao
esfacelamento do organismo sindical: no Andaraí, após a greve na fábrica Cruzeiro
(novembro de 1908), resultante da demissão de dois operários por fazerem propaganda do
sindicato; em Vila Isabel, depois da greve/lockout da fábrica Confiança (março de 1909),
quando os operários exigiram a demissão de um mestre que pretendia despedir um
trabalhador responsável pela cobrança das mensalidades sindicais. Com o fim do sindicato
de Sapopemba em condições semelhantes, deixou de existir qualquer organização autônoma
dos têxteis cariocas até 1913. Nesse ano, voltou a ressurgir, logo sujeita às vicissitudes dos
primeiros anos da guerra.31
A história do sindicato têxtil do Rio de Janeiro indica uma correlação entre a seguida
derrota das greves — não tão elementares como se poderia supor — e o esfacelamento
organizatório. A dificuldade de êxito das mobilizações liga-se a dois fatores comuns tanto à
capital da República como a São Paulo; a articulação relativamente maior dos empresários
têxteis e, em especial, a natureza pouco especializada do trabalho. As condições estruturais
de oferta abundante de força de trabalho encontram nessa área seu melhor exemplo; a
existência de um grande exército de reserva torna muito difícil o êxito das greves, com
reflexo direto no nível de organização.
Por sua vez, a explosividade e o baixo grau organizatório dos têxteis se inter-relacionam.
Se a primeira tem origem nas más condições de trabalho, nos salários insignificantes, na
solidariedade impulsionada pela concentração industrial, vincula-se também à inexistência
de núcleos sindicais ou a sua capacidade de exercer apenas funções de mobilização e não de
controle. Quando se alude ao baixo grau de articulação dos têxteis, relaciona-se com
frequência o fato à composição da categoria. Sem dúvida, a presença de crianças e mulheres
era um fator desfavorável, mas seria necessário esclarecer melhor o significado do trabalho
feminino nesse aspecto. Como grupo, apto a mobilizar-se, nada indica que as mulheres
estivessem em plano inferior aos homens. Há referências constantes a sua destacada presença
nas greves e, por vezes, a sua maior propensão a protestar.32 Da menor continuidade no
trabalho — resultante do papel de complementação do salário familiar — e sobretudo da
condição geral da mulher, decorreu, porém, uma barreira ao exercício de uma atividade
organizatória formal. Por isso, as figuras femininas deixaram traços anônimos nas ações
coletivas, estando quase ausentes do rol dos organizadores.
Dentre os ramos semiartesanais, os trabalhadores da construção civil se destacaram pelo
maior padrão cultural, melhores condições de trabalho e salário, maior força e continuidade
associativa. Uma enorme distância separa a estrutura do ramo, de princípios do século XX aos
dias de hoje, tanto sob o aspecto da organização das empresas como da qualificação operária.
Um antigo militante de Santos contrasta em suas memórias o estivador oprimido, descalço,
propenso à bebida, com o trabalhador da construção civil, “que almoçava na obra, tinha hora
de café, trocava de roupa para trabalhar, andava calçado”. Depois de lembrar que a vantagem
era relativa, pois a insegurança no emprego, os acidentes integravam o quadro geral da vida
operária, ressalta o maior nível de cultura da categoria, associada à natureza do serviço:
Os trabalhadores da construção civil tinham um índice menor de analfabetos; liam alguma coisa e tinham certas
veleidades artísticas. Naquele tempo, as fachadas dos prédios eram bastante enfeitadas e mesmo os interiores. Daí o
esforço que muitos faziam para adquirir conhecimentos de escultura, modelagem e, principalmente, desenho geométrico,
para conhecer escalas e rudimentos de arquitetura.33
TABELA 2.7
DISTRITO FEDERAL — 1919
SALÁRIO MÉDIO DIÁRIO ADULTO MASCULINO
TÊXTEIS
Batedor 5$533
Cardador 5$971
Maçaroqueiro 6$006
Fiandeiro 5$067
Bobineiro 5$369
Tecelão 8$812
Urdidor 7$062
Engomador 7$347
Alvejador 5$778
Tintureiro 5$686
Acabador 5$803
CONSTRUÇÃO CIVIL
Canteiro 8$250
Estucador 9$000
Marmorista 9$572
Pedreiro 8$565
FONTE: Recenseamento de 1920, v. V, 2a parte. Salários. Os dados não exprimem a diferença real, pois a jornada normal de
trabalho entre os têxteis era maior do que na construção civil.
Afinal, após ressaltar mais uma vez a dignidade do trabalho, abre uma
via de entendimento: “a força (isto é, o trabalho) e o capital devem marchar
unidos para deste modo participar dos benefícios da moderna civilização”.17
Dentre todas as mobilizações anteriores à Primeira Guerra Mundial, a
greve da Paulista foi a que conseguiu alcançar a maior simpatia não só nos
meios operários, como entre outros grupos e setores de classe. Em toda a
região do interior afetada pela greve, a atitude da população, com os
comerciantes à frente, chegou a ser de franca solidariedade. Dois dias após
o início do movimento, duzentos comerciantes de Jundiaí lançaram um
manifesto em que apoiavam “as justas reivindicações dos operários”; a 17
de maio, atendendo ao apelo das Ligas Operárias, o comércio fechou as
portas em Jundiaí e Rio Claro, voltando à mesma atitude no fim da greve.
Quando os comerciantes de Rio Claro se reuniram em um teatro da cidade
para insistir na mediação da Associação Comercial, com sede na capital do
Estado, não ocultaram para onde pendiam suas simpatias: de um lado está a
Cia. Paulista, “depositária de enormes capitais”, e de outro “operários que
se conservam em atitude resignada e pacífica até a satisfação de seus
pedidos”.18
A simpatia da classe média do interior para com os grevistas, recebida na
época com certa surpresa e sem muitas explicações, parece ter origem em
um conjunto de fatores. Considerando que o movimento operário não
representava uma ameaça contínua à ordem estabelecida, a nascente classe
média tendia a ver com bons olhos as reivindicações de trabalhadores dos
quais não estava tão distanciada socialmente, ao contrário do que acontecia
com uma empresa poderosa, “depositária de enormes capitais”.19 No caso
do comércio, é provável que as vicissitudes dos ferroviários viessem
resultando em uma contração das atividades do setor. Lembre-se ainda que
a violenta repressão atraiu a população para o lado dos grevistas, sobretudo
porque ela não se restringiu aos meios operários. Exemplificando, há
notícias de espancamento, em um caso até a morte, de um negociante sírio e
de dois italianos, por soldados que guardavam os trilhos da estrada de
ferro.20
A posição tomada pela Associação Comercial de São Paulo — que
abrigava indistintamente comerciantes e industriais — me leva a relativizar
o contexto social do interior como razão da simpatia pelos ferroviários.
Logo no início do movimento, a entidade — presidida por uma figura da
elite paulista, Augusto da Silva Telles — recebeu um pedido dos
comerciantes de Jundiaí para que intendesse na solução do conflito. Ela não
se negou a fazê-lo, servindo como instrumento da Cia. Paulista. Depois de
condenar a greve, “primeira refrega de uma agitação extremamente
perigosa”, representantes da Associação Comercial foram a Jundiaí e
propuseram aos operários, sem êxito, uma arbitragem condicionada à volta
ao trabalho.
Pareceria clara assim uma divisão entre comerciantes do interior e a
entidade representativa, com sede na capital. Entretanto, nos últimos dias da
greve, Silva Telles teve o desgosto de ver rejeitada, por mais de dois terços
de votos, moção por ele apresentada, congratulando-se com o governo do
estado e o conselheiro Prado, pelo restabelecimento do tráfego. Divisão
entre o pequeno e o alto comércio? A hipótese tentadora não se confirma. A
proposta foi rejeitada sobretudo pelo voto dos comerciantes italianos, pois
apenas um dentre eles se declarou solidário com Telles. Dois grandes
importadores explicaram sua atitude. Nicola Puglisi Carbone afirmou que
recusava a moção porque ela implicava uma censura aos operários, cujas
reclamações eram procedentes. Egidio Pinotti Gamba chegou mais longe,
ao contrastar implicitamente as relações de trabalho vigentes na Europa e
no Brasil: “são os operários que sustentam o capital, que sem eles não pode
viver; aqui não se está acostumado às lutas do operariado e por isso não se
quer dar-lhes o merecido valor”.21 É clara assim a divisão momentânea
entre a burguesia paulista e os grupos imigrantes ascendentes, acima dos
interesses gerais de classe, que dificilmente iria se repetir em outras
ocasiões. A divisão teve maiores condições de se delinear pelo fato de a
greve atingir principalmente um setor reservado à elite nacional e pelos
prejuízos que a intransigência da empresa vinha ocasionando ao comércio e
aos bancos.
Termômetro ideológico dos grupos ilustrados, os estudantes de direito
mostram também com sua atitude o alcance da simpatia que a greve
ferroviária desperta. Quando irrompe a greve decretada pela Federação
Operária, a União dos Trabalhadores Gráficos promove um comício no
largo de São Francisco para pedir a solidariedade aos estudantes. Em um
comício com cerca de mil pessoas na praça e com a faculdade repleta de
alunos, dois acadêmicos — Freitas Valle e Ricardo Mendes Gonçalves, este
último simpatizante do anarquismo — falam em favor dos trabalhadores.
Quando Gonçalves dá vivas ao proletariado e à greve geral, a polícia
dissolve a reunião e efetua várias prisões, enquanto muitos se refugiam no
interior do prédio da escola. A partir dessa invasão do “território livre”,
sucedem-se nos dias seguintes as discussões no largo, passeatas no centro
da cidade promovidas por estudantes e trabalhadores, choques violentos
entre os manifestantes e a cavalaria.22
O movimento de 1912
A conjuntura (1917-20)
4. As grandes linhas
TABELA 4.2
SÃO PAULO — INTERIOR
NÚMERO DE GREVES, 1917-20
EMPRESA
ANOS RAMO INTERPROFISSIONAL GERAL TOTAL
(OU SEÇÃO)
1917 2 1 — 1 4
1918 2 — — — 2
1919 8 2 4 — 14
1920 7 4 1 — 12
TOTAL 19 7 5 1 32
FONTE: O Combate, A Gazeta. Obs.: Os dados numéricos sobre o interior se prestam a muitos
equívocos. Por exemplo, uma greve em empresa ferroviária, que se estende em regra a várias
cidades, tem muito maior importância do que uma greve interprofissional em um núcleo urbano de
proporções reduzidas. Das quatro greves interprofissionais registradas em 1919, duas são
significativas: a de maio (considerada geral na capital), abrangendo em grande escala as maiores
cidades, e a de outubro em Santos (ver Apêndice).
O momento de inflexão descendente da onda de mobilizações se dá com
o desfecho desfavorável de duas grandes greves quase simultâneas: a greve
do ramo têxtil de março-abril de 1920, em São Paulo, e a dos ferroviários
da Leopoldina em março, no Rio de Janeiro, que as federações operárias
buscam transformar, com êxito limitado, em greves gerais. A partir daí, a
pulsação do movimento operário começa a baixar de ritmo, de modo mais
brusco em São Paulo e mais lento na capital da República, chegando,
porém, a uma depressão generalizada nos dois centros. Após o mês de abril
de 1920, uma única greve tem real importância no estado de São Paulo — a
das docas de Santos, em fins daquele ano. Mas ela própria liga-se às
condições específicas de uma cidade onde o conflito aberto de classe não se
aquieta de todo, nem mesmo nas fases de descenso. Na capital, o número
relativamente grande de 37 greves, em 1920, se presta a enganos: as
paralisações são de pequeno vulto e por vezes constituem uma resposta a
arbitrariedades patronais, na vazante da onda.12 O refluxo é ainda marcado
por alguns movimentos de vulto no Rio de Janeiro, como a greve dos
sapateiros de outubro de 1920 contra o desaparecimento de um dirigente
sindical e sobretudo a greve dos marítimos que se prolonga de fins de 1920
a fevereiro de 1921. Mas a curva descendente acaba por se impor.
TABELA 4.3
RIO DE JANEIRO
NÚMERO DE GREVES, 1917-20
EMPRESA
ANOS RAMO INTERPROFISSIONAL GERAL TOTAL
(OU SEÇÃO)
1917 6 5 — 1 12
1918 19 7 1 — 27
1919 7 8 2 — 17
1920 2 4 1 — 7
TOTAL 34 24 4 1 63
FONTE: A Razão, A Voz do Povo.
FONTE: Extraído de Annibal Villanova Villela e Wilson Suzigan, Política do governo e crescimento
da economia brasileira, 1889-1943. Rio de Janeiro, 1973, p. 424. Esses autores mencionam como
fonte dos dados um estudo de Eulália Lobo sobre a evolução dos preços e do padrão de vida no Rio
de Janeiro. O referido estudo toma por base, na elaboração dos índices, nove gêneros alimentícios:
açúcar, arroz, bacalhau, café, charque, farinha de trigo, farinha de mandioca, feijão e manteiga,
abrangendo o período 1820-1930. Como aí se indica, a confiabilidade dos índices é menor quando
não foi possível obter a variação de preços de todos ou da grande maioria dos produtos. É o caso de
1919 e 1920 (três produtos). Cf. Eulália Maria Lahmeyer Lobo, “Evolução dos preços e padrões de
vida no Rio de Janeiro, 1820-1930. Resultados preliminares”. Revista Brasileira de Economia, v. 25,
n. 4, out.-dez. 1971.
FONTE: O Combate, A Plebe. Obs.: Foi utilizado o critério de computar as reivindicações sempre que
mencionadas, incluindo por exemplo as várias reivindicações de uma única greve. É muito difícil
distinguir em regra o que constitui objetivo principal e secundário de um movimento. Por outro lado,
a discriminação é relativa: o subitem horas extras pode se referir tanto a salários quanto ao horário. A
regulamentação do trabalho noturno está englobada no subitem referente a mulheres e menores. O
item “Carestia, consumo em geral” diz respeito a medidas para reduzir o preço de gêneros, de
aluguéis, controlar a qualidade dos bens de consumo. Seu pequeno número se presta a enganos; a
reivindicação se formaliza em três importantes movimentos: julho de 1917, maio de 1919 e março de
1920.
TABELA 4.8
SÃO PAULO — INTERIOR
CAUSAS DE GREVES, 1917-20
DISCRIMINAÇÃO TOTAL
SALÁRIO 18
Aumento, horas extras 14
Redução 3
Atraso 1
CONDIÇÕES DE TRABALHO 7
HORÁRIO 6
SOLIDARIEDADE 6
LEGALIDADE SINDICAL 5
CRITÉRIOS DE ADMISSÃO 3
POLÍTICA 1
TOTAL 46
TABELA 4.9
RIO DE JANEIRO
CAUSAS DE GREVES, 1917-20
DISCRIMINAÇÃO TOTAL
SALÁRIO 27
HORÁRIO 15
CONDIÇÕES DE TRABALHO 13
Gerais (trabalho por peça, higiene, acidentes) 6
Mestres 4
Menores, mulheres 3
LEGALIDADE SINDICAL, CLOSED SHOP 13
SOLIDARIEDADE 9
NÃO CUMPRIMENTO DE ACORDO 4
POLÍTICA 2
CARESTIA 1
TOTAL 84
FONTE: A Razão, A Voz do Povo. Para o critério utilizado, ver a tabela 4.7.
5. Política e sindicato
FONTE: Anais da Câmara dos Deputados (1918). Rio de Janeiro, 1919, v. III.
***
Admitamos certa distorção no relato. Ainda assim, como não pensar que
o paternalismo produzia bons frutos, como técnica de dominação, mesmo
entre a massa tocada pela ideologia anarquista?
A ampliação dos limites da análise para além das classes polares do
conflito industrial nos leva ao terreno movediço da opinião pública e da
classe média. Uma classe média que, em seus segmentos mais altos, chega a
se confundir socialmente com a grande burguesia agroexportadora, força
hegemônica cuja atração só encontra barreiras entre as camadas populares.
Uma classe média subdividida horizontalmente e verticalmente, abrangendo
e separando imigrantes em processo de ascensão, profissionais liberais de
estirpe tradicional, empregados de comércio e dos bancos, de situação
social e cultural tão diversa. Uma classe média sem expressão organizatória
independente, sem partidos e sem entidades realmente representativas.
Ainda assim, há um núcleo sólido no terreno movediço: os jornalistas.
Com a bênção do estado, eles descem do universo da ideologia para assumir
uma função conciliadora dos antagonismos sociais. Canal de comunicação
entre os representantes de duas classes que literalmente se recusam a sentar
lado a lado, surgem como a categoria capaz de expressar os interesses
gerais e restabelecer o reino da ordem.29 Por isso, uma breve menção aos
órgãos formadores da opinião pública permitirá especificar um pouco mais
as posições ideológicas em face da greve.
A defesa das razões de estado pelo Correio Paulistano não necessita
maior esforço de compreensão. Mas o que representam e a quem se dirigem
O Estado de S. Paulo, A Gazeta, O Combate, o Fanfulla? Até que ponto a
atitude abertamente simpática aos grevistas desse jornal diário, em língua
italiana, corresponderia aos sentimentos de uma ampla camada imigrante
não restrita aos meios populares? Sem tentar responder a todas as
indagações, fiquemos com o exemplo de O Estado de S. Paulo e de O
Combate. O primeiro é o órgão mais respeitado da imprensa paulista e
parece expressar, em sua tradicional atitude de relativa distância do poder, o
liberalismo de uma “oligarquia ilustrada” e das camadas tradicionais de
classe média. Simpático aos grevistas até o momento em que a paralisação
se estende, passa então a criticar os atos de violência. Entre 10 de julho até
o fim da greve, o jornal condena os excessos, “os indivíduos que procuram
manter no espírito dos operários uma permanente aversão contra as
autoridades”, justifica a repressão.30 Com o término do movimento, os
trabalhadores entram nos limites adequados e os atritos com o PRP, em torno
da chamada questão social, voltam a ganhar destaque. Quando na Câmara
Federal, o deputado Álvaro de Carvalho rotula a greve de conspiração
minoritária, O Estado o ridiculariza, dizendo que ele recorria “ao esquema
oficial de todas as greves: anarquistas perigosos… agitadores estrangeiros...
governo forte… autoridades dispostas a cumprir a lei com energia…
aplausos da parte sã da sociedade”. Lembra que as condições de vida
estavam se tornando cada vez mais insuportáveis para as classes pobres de
São Paulo. Os agitadores, se os houve, jamais poderiam levantar “uma
formidável massa de 40 mil grevistas, dispostos a todos os azares de um
ajuste de contas, dispostos a todos os perigos e riscos da resistência e da
luta”.31 A linha do jornal seria exemplarmente definida no artigo “A greve”,
de 20 de julho:
Somos essencialmente conservadores, zelando como nos cumpre, pelos interesses fundamentais
da sociedade em que vivemos. Entendemos, porém, e este nosso modo de entender é antigo, que
ser conservador não é fechar os olhos ao movimento progressivo do espírito humano e erguer um
dique, por sistema, a toda reforma que se anuncia. Isto não é ser conservador, mas cego e
reacionário. Os conservadores do nosso matiz, quando uma reforma se lhes apresenta, estudam-na
e ou a aceitam ou a combatem. Se a aceitam, incluem-na desde logo em seu programa, sem por
isso deixarem de ser o que são. Se combatem, distinguem. Ou a reforma é das que facilmente se
removem da tela da discussão, ou das que surgem com inequívocos sinais de triunfo inevitável.
No primeiro caso, não deve haver contemporizações. No segundo, a contemporização impõe-se, e
é melhor canalizar a torrente avassaladora de que, à força, impedir-lhe por um momento o curso
natural, para que ela, no momento seguinte, mais impetuosa, zombe de todos os embaraços e
produza estragos irremediáveis. O problema é o maior da atualidade em todo o mundo: a
preocupação capital de todo o mundo civilizado é, nos dias que passam, resolver da melhor
maneira possível a questão social.32
Havia assim razões corporativas para que surgisse uma ação coletiva da
categoria, até certo ponto independente da atividade dos anarquistas. A
greve abrangeu mais de 20 mil trabalhadores, submetidos a uma intensa
repressão, não obstante os esforços desenvolvidos pela imprensa simpática
aos grevistas em separar o movimento do fracassado levante.40 Afora as
centenas de prisões acompanhadas de ameaças de deportação para Fernando
de Noronha, as sedes da UOFT, da União dos Metalúrgicos e da Construção
Civil foram fechadas, sob o fundamento de que seus dirigentes estariam em
conluio com os dinamiteiros anarquistas. Um decreto do governo dissolveu
a União Geral dos Trabalhadores.41
A 24 de novembro, o Centro Industrial lançou um ultimato aos têxteis,
determinando que o trabalho fosse retomado no dia seguinte, e declarando
nulos os acordos anteriormente firmados com a UOFT. Esta respondeu em
manifesto que a volta ao trabalho estava condicionada à garantia de
liberdade de pensamento, das oito horas e salário mínimo, dos seis dias de
trabalho por semana. Ao mesmo tempo, lamentava a atitude apática das
demais categorias, pois o movimento além do ramo têxtil abrangia apenas
metalúrgicos e parte da construção civil.42
O ultimato surtiu escasso efeito, calculando-se entre 10% e 20% o
número de operários de volta ao serviço. Mas, a 29 de novembro, uma
reunião secreta do sindicato votou uma resolução para pôr fim à greve sem
nenhuma exigência, diante das violências, da fome, da impossibilidade de
reunir-se. É difícil esclarecer se essa deliberação foi tomada pelos
dirigentes, sob influência dos anarquistas foragidos, ou pelo grupo de
Pereira de Oliveira. Seja como for, ela seria contestada por uma comissão
de greve e repercutiria negativamente nas bases têxteis. Em muitas
empresas, como na Aliança, Botafogo, deliberou-se prosseguir no
movimento até a soltura e a readmissão de todos os grevistas; o comitê de
operários das fábricas de tecidos da Gávea tomou a mesma resolução,
vinculando a volta ao trabalho à readmissão de 109 têxteis do bairro.43
Diante disso, a própria diretoria recuou, dizendo-se executora da vontade
geral e disposta assim a cumpri-la.
Entretanto, apesar desse último impulso, a greve dava de fato sinais de
esmorecer. A coação exercida por forças militares, na porta das empresas,
nas residências dos operários literalmente arrastados para o serviço,
acabaria por levar o movimento à derrota em meados de dezembro.
7. Assimilação e repressão
LEGISLAÇÃO TRABALHISTA
MEDIDAS REPRESSIVAS
INTRODUÇÃO
1. Eric J. Hobsbawm, “Labor History and Ideology”, Journal of Social History, v. 7, n. 4, 1974.
2. E. P. Thompson, The Making of the English Working Class. Londres: Pelican Books, 1970, p.
13.
1. Pedro Pinchas Geiger, Evolução da rede urbana brasileira. Rio de Janeiro, 1963; José Ribeiro
de Araújo Filho, Santos, o porto do café. Rio de Janeiro, 1969.
2. Stanley Stein, The Brazilian Cotton Manufacture. Textile Enterprise in an Underdeveloped
Area, 1850-1950. Massachusetts, 1957, p. 21.
3. Até 1889, o Município Neutro detinha 57% do capital industrial brasileiro, com exclusão do
açúcar. Segundo os dados do censo de 1920, 48% do capital declarado pelas indústrias cariocas
naquele ano pertencia a empresas fundadas em 1890. Cf. Wilson Cano, Raízes da concentração
industrial em São Paulo (Campinas: Unicamp, 1975, v. II, p. 245. Tese de doutorado), que mostra
como a médio prazo a decadência cafeeira da região do vale do Paraíba e até certo ponto de Minas
Gerais resultou em uma relativa atrofia do crescimento industrial da capital da República, em
contraste com São Paulo. De fato, o não surgimento de uma economia cafeeira de tipo capitalista
impediu que se constituísse uma das fontes básicas da acumulação industrial; ao mesmo tempo, a
crise da região fluminense redundaria em um encolhimento do mercado de consumo, agravado com a
perda progressiva do mercado paulista.
4. Stanley Stein, op. cit., pp. 22-3; Paul Singer, Desenvolvimento econômico e evolução urbana.
São Paulo, 1968.
5. Louis Couty, Biologie industrielle. Rio de Janeiro, 1883.
6. Ver Emília Viotti da Costa, Da senzala à colônia. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1966.
7. José Francisco de Camargo, Crescimento da população no estado de São Paulo e seus aspectos
econômicos. São Paulo: USP, 1952, v. I, p. 171.
8. O processo de formação de um núcleo burguês industrial, a partir do setor cafeeiro, do
comércio urbano e do setor importador, com ponderável contribuição de estrangeiros, tornou-se bem
mais conhecido nos últimos anos graças sobretudo ao livro de Warren Dean, A industrialização de
São Paulo (São Paulo: Difel, 1971), e a recente tese de Wilson Cano, embora não haja consenso entre
esses autores quanto ao grau de importância de cada um desses segmentos no processo de
industrialização.
9. Calculado segundo os dados transcritos em Michael M. Hall, The Origins of Mass Immigration
in Brazil, 1871-1914.
10. Paul Singer, op. cit., pp. 44-7.
11. Richard M. Morse, Brazil’s Urban Development: Colony and Empire. Yale Univerty, 1972,
pp. 155-81 (mimeografado).
12. Warren Dean, op. cit., p. 19.
13. Pasquale Petrone, “A cidade de São Paulo no século xx”. Revista de História, v. 10, n. 21-2,
pp. 127-70, jun. 1955. Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/revhistoria/article/view/36445>.
Acesso em: 24 maio 2016.
14. Manuel de Sousa Pinto, Terra Moça. Impressões brasileiras. Porto, 1910, apud Ernani da
Silva Bruno, História e tradições da cidade de São Paulo. 2. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1954,
v. III, pp. 944 e 947. Para a formação dos bairros paulistanos, ver especialmente Caio Prado Júnior,
“Contribuição para a geografia urbana da cidade de São Paulo” (in Evolução política do Brasil e
outros estudos. 6. ed. São Paulo: Brasiliense, 1969), e Odilon Nogueira de Mattos, “São Paulo no
século xx” (in Aroldo de Azevedo (Org.), A cidade de São Paulo. Estudos de geografia urbana. São
Paulo: Nacional, 1958).
15. Annibal Villanova Villela e Wilson Suzigan, Política do governo e crescimento da economia
brasileira, 1889-1943. Rio de Janeiro, 1973.
16. Michael M. Hall, op. cit.
17. Lúcio Kowarick, Capitalismo, dependência e marginalidade urbana na América Latina: uma
contribuição teórica. Disponível em:
<http://www.cebrap.org.br/v2/files/upload/biblioteca_virtual/capitalismo_dependencia_e_marginalid
ade.pdf>. Acesso em: 24 maio 2016.
18. Anibal Quijano, Redefinición de la dependencia y proceso de marginalización en America
Latina, apud Lúcio Kowarick, op. cit.
19. A proporção no estado de São Paulo e na parte leste, abrangendo o Distrito Federal, entre
população economicamente ativa e ocupada em 1920, é idêntica ou quase idêntica à do país: 42,6%
em São Paulo e 42,9% no leste. Cf. Annibal V. Villela e Wilson Suzigan, op. cit., pp. 287-93. Os
autores explicam a enorme queda da população ocupada entre 1872-1920, em parte pelo decréscimo
de empregados domésticos, o que de qualquer forma indica um acréscimo de população sobrante
dada a não substituição dessa faixa por outras ocupações.
20. Michael M. Hall, op. cit., e The Italians in São Paulo, 1880-1920. Tulane University, 1971
(mimeografado). Aí se encontram vários exemplos de pronunciamentos de representantes dos
círculos dirigentes de São Paulo, vinculando a ampla oferta de mão de obra subsidiada ao objetivo de
deprimir salários rurais.
21. Uma parte desse reservatório pode ter sido constituída por desempregados da indústria, pois a
crise também atingiu as atividades industriais. No prefácio de seu livro A indústria no estado de São
Paulo em 1901, Antônio F. Bandeira Jr. refere-se “à diminuição do trabalho em todas as fábricas,
algumas das quais apenas funcionam dois dias por semana, havendo outras que, em número não
pequeno, cessaram de trabalhar”.
22. Wilson Cano, op. cit., p. 229.
23. Roger Bastide e Florestan Fernandes, Brancos e negros em São Paulo [1955]. 2. ed. São
Paulo: Companhia Editora Nacional, 1959.
24. Douglas H. Graham e Sérgio Buarque de Hollanda Filho, Migration, Regional and Urban
Growth and Development in Brazil: a Selective Analysis of the Historical Record: 1872-1970. São
Paulo, 1971 (mimeografado).
25. Conceitualmente, o exército industrial de reserva distingue-se da “mão de obra sobrante”: o
primeiro se encontra em “reserva”, isto é, com a possibilidade de ser incorporado ao processo
produtivo tão logo seja necessário para o incremento do sistema; a “mão de obra sobrante” está
estruturalmente confinada a ocupações de produtividade mínima, o que não significa que deixe de
cumprir uma função no sistema, no chamado setor degradado de serviços. Cf. Anibal Quijano, “El
proceso de marginalización y el mundo de la marginalidad en America Latina”, in Anibal Quijano e
Francisco C. Weffort, Populismo, marginalización y dependencia. São José, Costa Rica: Universidad
Centroamericana, 1973. Para a inserção da população negra de São Paulo no “setor degradado” de
serviços, ver os trabalhos clássicos de Bastide e Fernandes, especialmente deste autor A integração
do negro na sociedade de classes. São Paulo: Dominus, 1965.
26. Douglas H. Graham e Sérgio Buarque de Hollanda Filho, op. cit., p. 106.
27. Refiro-me às linhas gerais de um processo sem levar em conta conjunturas muito
excepcionais e a distinção entre operários especializados e de baixa qualificação. Convém observar,
porém, que as grandes empresas industriais são indústrias simples, operando com largo emprego de
mão de obra não especializada. Para exemplos de escassez de força de trabalho qualificada no Rio de
Janeiro na fase de instalação das primeiras unidades industriais, ver Stanley Stein, op. cit., p. 55.
28. Wilson Cano, op. cit., pp. 247 e 260.
29. Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio. Diretoria-Geral de Estatística,
Recenseamento de 1920. Rio de Janeiro, 1923.
30. Secretaria da Agricultura, Comércio e Obras Públicas do Estado de São Paulo, Boletim do
Departamento Estadual de Trabalho, São Paulo, ano I, n. 1 e 2, 1912; Azis Simão, Sindicato e
Estado. São Paulo: Dominus, 1966.
31. Recenseamento de 1920, Distrito Federal, v. II, 1a parte, p. CXXIV.
32. Fernando Henrique Cardoso, “Proletariado no Brasil: situação e comportamento social”, in
Mudanças sociais na América Latina. São Paulo: Difel, 1969, p. 204.
33. O Estado de S. Paulo, 24/26 ago. 1896.
34. Diário Popular, 12 mar. 1892, apud Richard M. Morse, Formação histórica de São Paulo: de
comunidade à metrópole. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1970.
35. Correio Paulistano, 28 ago. 1896.
36. Depoimento de Benjamin Mota, em A Plebe, 31 maio 1919.
37. É o caso especialmente de Sheldon L. Maram, Anarchists, Immigrants and the Brazilian
Labor Movement, 1890-1920 (mimeografado), de quem transcrevo nesse aspecto os dados.
38. Ao contrário do que geralmente se supõe, a maioria dos imigrantes italianos que chegaram ao
Brasil até princípios do século XX provinha do norte da Itália, especialmente da região do Vêneto. Só
posteriormente a imigração do sul passou a ser significativa. Foerster calcula que, nos primeiros anos
da grande imigração, 4/5 dos imigrantes partiram do norte. Os italianos do sul — calabreses
sobretudo — concentraram-se no Rio de Janeiro, onde no início do século XX talvez já excedessem o
outro grupo. Cf. Robert F. Foerster, The Italian Emigration of Our Times. Nova York: Arno Press,
1969, p. 289.
39. A curiosa presença de franceses é excepcional, restringindo-se aos primeiros anos do século
XX. Ela se relaciona com o núcleo de operários dessa nacionalidade existente na Companhia Vidraria
Santa Marina. Detalhes de um movimento grevista de operários franceses e de sua participação em
atos públicos encontram-se em Avanti, 9/23 mar. 1901.
1. Optei deliberadamente pelo uso da palavra “trabalhista” para indicar a existência do embrião de
uma corrente que vários anos mais tarde, em outras condições, teria forte influência no movimento
operário brasileiro.
2. Sob o aspecto quantitativo, o grupo de servidores públicos, profissionais liberais e sacerdotes
representava 4,6% da população ocupada da cidade de São Paulo em 1893 e 8,6% da população
ocupada do Rio de Janeiro em 1890. Cf. Relatório de 1894 e Censo de 1890. A capital da República
tenderia a se converter cada vez mais na cidade dos serviços, não só os ligados às profissões liberais
e burocráticas como ainda ao chamado “setor degradado”. Segundo os dados do censo demográfico
de 1920, em 1919 apenas 38,4% da população economicamente ativa aí se vinculava à produção
física, correspondendo 61,6% aos serviços (15% aos serviços domésticos). Citado por Wilson Cano,
Raízes da concentração industrial em São Paulo (Campinas, Unicamp, 1975, v. II, p. 249. Tese de
doutorado). Deita assim raízes na estrutura de classes e não apenas no meio geográfico (a praia etc.)
o contraste entre São Paulo como “cidade do trabalho” e o Rio de Janeiro como “irresponsável cidade
do ócio”.
3. Os dados biográficos das figuras de maior prestígio nos meios jacobinos são expressivos.
Alexandre José Barbosa Lima nasceu no Recife a 23 de março de 1862. Assentou praça no Exército
em 1882, percorrendo a carreira militar desde alferes-aluno até reformar-se como coronel graduado
em 1912. Era bacharel em matemática e ciências físicas pelo curso de engenharia militar. Nos anos
1889-90, residiu no Ceará, onde foi professor de geometria na Escola Militar. Eleito por esse Estado
à Constituinte de 1890, em 1892 foi nomeado por Floriano governador de Pernambuco.
Posteriormente elegeu-se deputado por Pernambuco, pelo Rio Grande do Sul e, a partir de 1906, por
várias vezes, pelo Distrito Federal. Desterrado para Fernando de Noronha após o atentado de
novembro de 1897 contra Prudente de Moraes, tomou parte ativa na chamada Revolta da Vacina, de
1904.
Irineu Machado, nascido no Distrito Federal a 15 de dezembro de 1872, bacharelou-se em direito
no Recife, em 1892. Advogado no Rio de Janeiro, foi por algum tempo funcionário da Central do
Brasil, um de seus redutos eleitorais. Deputado pela capital da República, florianista, esteve
envolvido também no atentado contra Prudente de Moraes. Embora tenha ficado ao lado de Rui
Barbosa, em 1910, apoiou Nilo Peçanha em 1921, tendo sido intermediário na divulgação das “cartas
falsas”. Bernardes forçou sua “degola”, apesar de ter sido legitimamente eleito senador. Nos últimos
anos da década de 1920, afastou-se dos núcleos contestadores e sustentou a candidatura de Júlio
Prestes.
Nilo Peçanha nasceu em Campos, a 2 de outubro de 1864. Bacharel em direito, antiescravista,
republicano, elegeu-se deputado e senador pelo estado do Rio de Janeiro. Florianista, vice-presidente
da República na chapa de Afonso Pena, assumiu a presidência nos últimos meses de mandato deste,
favorecendo a eleição de Hermes da Fonseca. Foi candidato à presidência pela “Reação Republicana”
e sua morte, ocorrida em 1924, provocou grande consternação entre os tenentes.
Lauro Sodré nasceu em Belém a 17 de outubro de 1858. Assentou praça em 1886, chegando a
general de brigada, posto em que foi reformado em 1913. Engenheiro militar, doutor em matemática
e ciências físicas, secretário de Benjamin Constant no Ministério da Guerra e da Instrução Pública.
Elegeu-se deputado à Constituinte pelo Pará. Nomeado pouco depois governador de seu estado,
opôs-se ao golpe “deodorista” de 1o de novembro de 1891. Senador pelo Pará, reelegeu-se pelo
Distrito Federal em 1903. Em 1898 candidatou-se à presidência da República, opondo-se a Campos
Sales. Ao lado de Barbosa Lima, foi figura central na Revolta da Vacina. Positivista e grão-mestre da
maçonaria brasileira. (Os dados menos conhecidos dessas referências biográficas são de Dunshee de
Abranches, Governos e congressos da República dos Estados Unidos do Brasil, 1889-1917. São
Paulo, 1918.)
4. O Jacobino de 13 de outubro de 1894 publica um protesto de trabalhadores da Alfândega por
terem sido admitidos portugueses no quadro de servidores, em detrimento dos nacionais. Lança
também uma furiosa carga aos noruegueses: “A Notícia de 8 do corrente diz que embarcaram em
Lisboa, no vapor Orenoco, com destino ao Brasil, duzentos imigrantes portugueses, homens,
mulheres e crianças. Pois quê! Será exato? Teremos mais lixo em nosso país? Pois deixam a África
pelo ingrato Brasil? Renegados infames! No Brasil, a árvore das patacas os espera e quando
estiverem já com o pandulho cheio escoiceiem à vontade, pois é esse o característico da gente
portuguesa. O nosso grande consolo é que a patriótica febre amarela aqui também os espera sequiosa.
E era uma vez a mindelada!”.
5. Cf. Maurício de Lacerda, Evolução legislativa do direito social brasileiro. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 1960, p. 71.
6. Os dados são essencialmente de Sheldon L. Maram, Anarchists, Immigrants and the Brazilian
Labor Movement, 1890-1920 (mimeografado), e de Anais da Câmara dos Deputados. Rio de Janeiro,
1892, v. I e II.
7. Decreto n. 1162, 12 dez. 1890. Cf. Evaristo de Moraes, Apontamentos de direito operário. 2.
ed. Rio de Janeiro, 1971, p. 59.
8. Anais da Câmara dos Deputados. Rio de Janeiro, 1892, v. I e II.
9. O relato da carreira política de Vinhaes se baseia em Sheldon L. Maram, op. cit.; Edgard
Carone, A República Velha. Instituições e classes sociais. São Paulo: Difusão Europeia do Livro,
1970; J. F. Velho Sobrinho, Dicionário biobibliográfico brasileiro. Rio de Janeiro: Pongetti, 1937, v.
I. Vinhaes não se identificou explicitamente com nenhuma das correntes socialistas em voga na
Europa. Sua tentativa de constituição de um banco operário revela afinidades com as concepções
proudhonianas.
10. Acusado de “petroleiro e nihilista”, Vinhaes afirmou em um discurso límpido de fevereiro de
1891 que a República esquecia as reivindicações operárias e promovia homens de ideias retrógradas.
“O povo está cansado de ser espezinhado. Tem o direito de exigir neste regime que se diz
democrático que a lei seja igual para todos, que não haja aqui uma justiça para o pobre, e outra para o
rico. E é exatamente porque não se lhe faz esta justiça que ele pergunta e com toda a razão se está ou
não em um país democrático que deve expandir o verdadeiro direito de igualdade”, Anais do
Congresso Nacional (Constituinte). Rio de Janeiro, 1891, v. III.
11. Um embrionário partido socialista fundado em 1912 colocava como pontos principais de seu
programa: promoção de conferências socialistas e fundação de escolas; garantia de trabalho e
indenizações por dispensas sem causas razoáveis; regulamentação da legislação sobre conflitos entre
patrões e operários; assistência oficial aos velhos e enfermos; regulamentação do salário mínimo e do
número máximo de horas de trabalho; imposto progressivo e direto sobre a renda; proibição do
trabalho de crianças; regime eleitoral novo; revogação da lei de expulsão de estrangeiros; abolição do
regime de certificados ou cadernetas dos operários; 36 horas de descanso semanal; responsabilidade
dos patrões nos acidentes de trabalho. Cf. Edgard Carone, op. cit., p. 206.
12. Vicente Ferreira de Souza (1852-1908) era baiano e médico por seu estado de origem. Eleito
para o Senado, foi vítima do mecanismo da “degola” e não pôde tomar posse. Ensinou filosofia e
latim no Colégio Pedro II, colaborou com Gustavo de Lacerda na formação do Partido Socialista
Coletivista e escreveu artigos sobre socialismo na imprensa da época. Cf. Sheldon L. Maram, op. cit.;
Cruz Costa, Contribuição à história das ideias no Brasil. 2. ed. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1967.
13. Cf. especialmente Auguste Comte, Le Prolétariat dans la société moderne. Textes choisis.
Intr. de R. Paula Lopes. Paris: J. Vrin, 1946.
14. Um exemplo expressivo é o do professor Edward Beesly e seu grupo, com uma longa atuação
no movimento operário inglês. Com base nas concepções positivistas, Beesly defendeu a participação
dos sindicatos na luta política e o estabelecimento de relações fraternais entre os trabalhadores
ingleses e os da Europa continental. Participou da fundação da I Internacional, mas recusou um
convite para ser membro de seu Conselho Geral. Teve contatos frequentes com Marx, que, em sua
correspondência, descreveu-o como um “homem muito capaz e corajoso”. Cf. Royden Harrison,
“Professor Beesly and the Working-Class Movement”, in Asa Briggs e John Saville (Orgs.), Essays
in Labour History. 2. ed. Londres: Macmillan, 1967.
15. Obviamente, a facilidade de penetração do positivismo nos meios indicados não explica de
todo sua difusão no Brasil. Faço apenas essa referência porque estou interessado nos grupos tocados
pela doutrina mais propensos a algum tipo de consideração dos problemas operários, e não em um
estudo do positivismo. Lembro de passagem que a doutrina penetrou também no Rio Grande do Sul,
em um meio diverso do Rio de Janeiro. Um estudo específico da absorção/reelaboração do
positivismo por uma parte da oligarquia gaúcha ainda está por ser feito.
16. Ver Tocary Assis Bastos, O positivismo e a realidade brasileira. Belo Horizonte: Edições da
Revista Brasileira de Estudos Políticos, 1965.
17. Ivan Lins, História do positivismo no Brasil. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1964,
p. 366; Cruz Costa, op. cit., p. 234.
18. Raimundo Teixeira Mendes, A política positiva e o regulamento das escolas do Exército. Rio
de Janeiro, 1890.
19. Ivan Lins, op. cit.; Tocary Assis Bastos, op. cit.; e A Voz do Trabalhador, 15 jul. 1908. O
aplauso do Apostolado à COB deve ser entendido no contexto específico de 1908, quando a entidade
realizou campanha contra a lei de sorteio militar em discussão no Congresso e denunciou a ameaça
de guerra com o agravamento dos atritos entre Brasil e Argentina. O pacifismo e a rejeição ao serviço
militar obrigatório eram princípios sustentados pela ortodoxia positivista.
20. Em um contexto diverso, observe-se que, em outros países da América Latina, setores
militares buscaram uma aliança com a classe operária com o objetivo de enfrentar os detentores do
poder. Assim, no Chile, após o golpe militar de 1924, os oficiais procuraram implementar uma
revolução de “revitalização social”, tomando contato com o proletariado urbano e suas organizações.
Entre outras medidas, decretaram aumentos de salário e criaram o Ministério do Trabalho. Cf. Enzo
Faletto, Eduardo Ruiz e Hugo Zemelman, Génesis histórica del proceso político chileno. Santiago:
Nacional, 1971, p. 68.
21. Weffort, em um contexto histórico diverso, analisou as diferenças do movimento sindical, a
partir dos anos 1950, nos dois setores da economia, mostrando como o movimento foi muito mais
forte no setor público ou nos submetidos à regulação econômica do Estado. As razões das diferenças
apontadas acima baseiam-se em suas observações. No período em exame, se é discutível afirmar que
o sindicalismo era já mais forte no núcleo estatal, pode-se pelo menos constatar a maior viabilidade
de manobras. Ver Francisco C. Weffort, Sindicatos e política. São Paulo: USP, 1973, cap. III, p. 27.
Tese (Livre-docência), (mimeografado).
22. Nas edições de fins de 1906, a Gazeta Operária manifestava sua decepção para com a
República, que não cumprira as promessas de “redenção do proletariado”, ressalvando umas poucas
figuras, como Medeiros e Albuquerque, Sampaio Ferraz, Barbosa Lima. Solidarizava-se com uma
greve de cocheiros em curso e abria fogo contra os anarquistas, apoiando a campanha de ataques
contra eles movida por Alcindo Guanabara. O I Congresso Operário de 1906, dominado pelos
anarquistas, era também criticado. É curioso observar a repulsa às resoluções “violentas e
impraticáveis” contra os militares, insistindo em que os congressistas só haviam apreendido o papel
negativo das Forças Armadas na sua interferência nas lutas entre capital e trabalho. Cf. Gazeta
Operária, 23 dez. 1906.
23. Sheldon L. Maram, op. cit.; Edgard Rodrigues, Socialismo e sindicalismo no Brasil. Rio de
Janeiro: Laemmert, 1969.
24. No início dos anos 1920, a imagem de Hermes se tornou popular, ao ser utilizada como
escudo do movimento tenentista. Até mesmo nas impermeáveis hostes anarquistas há traços da
infiltração dessa imagem. Em um artigo publicado em A Plebe, assinado por certo “professor C. C.”
(não é claro se as iniciais se referiam a uma figura real — Coelho Cintra — ou correspondiam a um
pseudônimo de Astrojildo Pereira), estabelecia-se um paralelo entre o governo Hermes e o de
Epitácio Pessoa para ressaltar as virtudes do primeiro. Dizia o “professor C. C.” que, não obstante
fosse acusado de ignorante, o marechal usara os enormes poderes de que dispunha não para perseguir
o povo mas as oligarquias do Nordeste. Ao contrário de Epitácio, difamador de Floriano, ministro de
Campos Sales e responsável por violenta repressão, procurara sempre melhorar a sorte dos operários.
O jornal anarquista imediatamente tratou de retificar esses argumentos, depois de salientar que o
artigo saíra por equívoco: Hermes reprimira os marinheiros, o verdadeiro movimento operário e
incentivara o florescimento de “amarelos” como Pinto Machado, Mariano Garcia, Cruz e Silva. Cf. A
Plebe, 16 jun./18 ago. 1921.
25. Uma lista completa das organizações participantes se encontra em “Congresso Operário de
1912”. Estudos Sociais, n. 17, jun. 1963. Sob controle dos anarquistas, o Centro Cosmopolita
desempenhou um papel relevante nas lutas dos trabalhadores nos anos 1917-20, transformando-se na
década de 1920 em um dos redutos sindicais do Partido Comunista. A fonte para o número de seus
membros em 1913 é: Rio de Janeiro. Departamento de Assistência Pública, Assistência pública e
privada no Rio de Janeiro, história e estatística. Rio de Janeiro, 1922.
26. Confederação Brasileira do Trabalho (Partido político), Conclusões do IV Congresso
Operário Brasileiro. Rio de Janeiro, 1913.
27. O Amigo do Povo, 14 maio 1904.
28. Em junho de 1901, há a luta contra o aumento das tarifas dos serviços de bonde, resultando
em mortos e feridos; o monopólio da carne verde, associado aos preços elevados, é alvo de um
verdadeiro levante em maio de 1902; em abril de 1909, surgem extensas e violentas manifestações
contra o serviço de bondes da Light etc. Cf. Edgard Carone, op. cit., pp. 185-6.
29. Os pronunciamentos de ambos revelam a clara intenção de associar o movimento à luta contra
a oligarquia hegemônica. Barbosa Lima discursa em meio à revolta, dizendo que “o povo já não
devia suportar o pesado jugo do governo dos fazendeiros que, após haver explorado os pobres
escravos, presentemente explorava a República”. Lauro Sodré vincula também a decretação da
combatida vacina ao “governo de fazendeiros” e dá vivas à memória de Benjamin Constant e
Floriano. Cf. Edgard Carone, A República Velha. Evolução política. São Paulo: Difel, 1971, p. 205.
30. Ver a crítica do jornal socialista Avanti, feita pela imprensa libertária em 1907. Reconhecia-se
a utilidade inicial do órgão para acabar com a influência dos “patrioteiros italianos”. Porém, aos
poucos ele se esquecera do socialismo, suprimira o relato sobre as condições de vida nas fazendas,
sem nada ter criado no meio operário. Para a conspícua A Terra Livre, o jornal dos socialistas se
tornava cada vez mais uma folha burguesa, com anúncios de qualquer espécie, “com notícias
detalhadas dessas casas de caftinagem que são o ‘Politeama’ e o ‘Moulin Rouge’”. Cf. A Terra Livre,
8 jan. 1907. Não obstante, anos depois, em 1914, o Avanti abrigava em suas colunas avisos de
reuniões anarquistas e esporadicamente artigos de militantes da corrente.
31. Cf. A Voz do Trabalhador, 22 nov. 1908; 22 jul. 1909. Um raro e breve exemplo de discussões
com respeito mútuo a diferentes posições se deu no Centro de Estudos Sociais do Rio de Janeiro
(1914) e nas colunas de Na Barricada (1915), onde colaboraram anarquistas, socialistas, figuras
como Maurício de Lacerda e o defensor do cooperativismo Sarandi Raposo. No Centro de Estudos
Sociais brilhava a retórica de José Oiticica, do inspetor escolar e médico Fábio Luz. Em sua primeira
fase, Na Barricada era dirigida pelo engenheiro Orlando Correia Lopes e pelo contador João
Gonçalves da Silva. Cf. John W. Dulles, Anarchists and Communists in Brazil, 1900-1933. Austin:
University Texas Publications, 1973.
32. A Guerra Social, 14 ago. 1912. Ressalve-se apenas que “a maior intensidade” quando pensada
em termos organizatórios era discutível, variando em momentos conjunturais diversos.
33. O breve resumo se baseia em George Woodcock, Anarchism. Harmondsworth: Penquin
Books, 1963; Julio Godio, El movimiento obrero y la cuestión nacional. Argentina: inmigrantes
asalariados y lucha de clases 1880-1910. Buenos Aires: Erasmo, 1972; Daniel Guérin,
L’Anarchisme. Paris: Gallimard, 1965.
34. Apud Daniel Guérin, op. cit., p. 16.
35. Apud ibid., p. 67.
36. Apud George Woodcock, op. cit.
37. George Woodcock, op. cit. A confrontação entre Monatte e Malatesta, no Congresso
Anarquista de Amsterdam (1907), dividiu claramente as linhas do anarcossindicalismo e do
comunismo anárquico. Monatte insistiu no papel do sindicato revolucionário como meio e fim da
ação revolucionária. Através dele, os operários realizariam a luta contra o capitalismo e precipitariam
sua liquidação pela greve geral. Malatesta considerou o sindicalismo apenas um instrumento e acusou
os anarcossindicalistas de buscar uma ilusória solidariedade econômica em vez de uma efetiva
solidariedade moral, colocando os interesses de uma única classe acima do verdadeiro ideal
anarquista de revolução. Ver a respeito ibid., pp. 249-50.
38. Leôncio Martins Rodrigues, Trabalhadores, sindicatos e industrialização. São Paulo:
Brasiliense, 1974, p. 59.
39. Sheldon L. Maram, op. cit., pp. 98 ss.
40. Aludindo aos países da Europa, Leôncio Martins Rodrigues (op. cit., p. 88) observa que as
condições ideais para a expansão do anarquismo parecem se criar quando se conjugam, no plano
político, Estados burocráticos e autoritários e, no plano econômico, a pequena oficina. Não obstante
as óbvias diferenças entre os Estados burocráticos e autoritários europeus e o Estado oligárquico
latino-americano, é possível constatar em ambos os casos a mesma combinação de sistema político
excludente e pequena empresa.
41. Julio Godio, op. cit., p. 113.
42. Robert F. Foerster, op. cit., p. 420.
43. É significativo observar como o restabelecimento da união de fato entre a Igreja e o Estado se
deu no contexto da crise do sistema oligárquico, nos anos 1920. De um lado, sob a inspiração do
futuro cardeal Leme, uma Igreja mais confiante propunha-se a “recatolizar o país de cima para
baixo”; de outro, um Estado constantemente desafiado encontrava agora um aliado seguro na
“manutenção da ordem” e na “promoção do progresso”. Cf. Ralph Della Cava, “Igreja e Estado no
Brasil do século XX: sete monografias recentes sobre o catolicismo brasileiro”. Estudos Cebrap, n.
12, 1975.
44. A Liga Anticlerical de São Paulo surgiu em 1903, pretendendo agrupar pessoas de tendências
diversas, adversárias da Igreja de Roma, com o objetivo de lutar pela liberdade de consciência; contra
os privilégios concedidos ao clero e congregações religiosas; por uma educação laica; para “arrancar
do confessionário as mulheres e os trabalhadores”. Como primeiro assinante de seu manifesto de
fundação figurava Pereira Barreto. Mais de dois anos antes, cerca de quinhentas ou seiscentas
pessoas, após terem assistido à representação de Eletra de Perez Galdoz, haviam percorrido as ruas
de São Paulo, dando morras aos jesuítas e quebrando vidros do Mosteiro de São Bento. Cf. A
Lanterna, 6 jun. 1903 e 20 abr. 1901.
45. O Livre Pensador, 12 jun. 1904; John W. Dulles, op. cit., p. 8.
46. John W. Dulles, op. cit., p. 30; Gilberto Freyre, Ordem e progresso. Rio de Janeiro: José
Olympio, 1959, v. III, p. 630. No depoimento prestado a Gilberto Freyre, Astrojildo enumera uma
série de acontecimentos que o levaram à negação da ordem vigente e às leituras de Kropotkin, Faure,
Malatesta, Hamon: a derrota de Rui Barbosa nas eleições de março de 1910; o fuzilamento de Ferrer
na Espanha; a revolta dos marinheiros, liderada por João Cândido.
47. Para a influência do evolucionismo como ideologia de progresso e darwinismo social entre
“partidários urbanos da modernização”, ver Richard Graham, Grã-Bretanha e o início da
modernização no Brasil (1850-1914). São Paulo: Brasiliense, 1973, pp. 241 ss.
48. Em uma polêmica com os socialistas, o gráfico anarquista Mota Assunção lança mão de um
texto de Spencer (O indivíduo contra o Estado): “A missão do liberalismo no passado foi traçar
limites ao poder dos monarcas; a missão do liberalismo no futuro será traçar limites ao poder dos
parlamentos” (O Amigo do Povo, 16 ago. 1902). No mesmo jornal, há transcrição de artigos de
autores franceses com o fim de ressaltar o valor da obra de Spencer. Convém observar que as
relações entre o evolucionismo e o anarquismo não se limitam ao meio brasileiro. Pelo contrário, a
“ajuda mútua” de Kropotkin se fundamenta no modelo evolucionista, associado ao princípio de
solidariedade da espécie.
49. La Battaglia, 28 jul. 1912.
50. A Terra Livre, 7 fev. 1906.
51. Ver as resoluções do Primeiro Congresso e, em especial, do Segundo Congresso Operário
Brasileiro, em Relatório da Confederação Operária Brasileira, contendo as resoluções do Segundo
Congresso Operário Brasileiro, reunido no Rio de Janeiro, nos dias 8 a 13 de setembro de 1913 e as
resoluções do Primeiro Congresso Operário Brasileiro, reunido em abril de 1906. Rio de Janeiro,
1914. A menção às resoluções dos dois encontros estará sempre baseada nessa fonte.
52. A Voz do Trabalhador, 1 jun. 1909 (apud Sheldon L. Maram).
53. Edgard Rodrigues, Nacionalismo e cultura social. Rio de Janeiro: Laemmert, 1972, p. 189.
54. A Plebe, 30 set. 1919.
55. A Terra Livre, 7 mar. 1906.
56. “O valor da ação operária”. A Voz do Trabalhador, 15 jan. 1913.
57. A Voz do Trabalhador, 20 jul./5 ago. 1914.
58. Já em 1906, a imprensa libertária — sem condenar o atentado — esclarecia que não se tratava
de um princípio anarquista, sendo mesmo considerado ineficaz por muitos. A Terra Livre, 15
ago.1906.
59. Ver as distinções entre anarquismo e as formas radicais de democracia em George Woodcock,
op. cit., p. 30.
60. A Terra Livre, 9 dez. 1906. A rejeição às greves aparece, por exemplo, em um artigo assinado
por Polinice, em La Battaglia, de 1 abr. 1912. O caso da Argentina e de vários países europeus — diz
o autor — mostra que a greve é uma arma inútil, pois as conquistas obtidas através dela são
rapidamente anuladas. No curso do ano agitado de 1919, a crítica se voltaria para a experiência
brasileira. Pelas mesmas razões de Polinice, Pedro Bastos insistia na inutilidade da greve, pregando o
preparo da revolução. Os trabalhadores deviam se organizar, “com uma carabina na mão e uma ideia
no cérebro” (A Plebe, 9 ago. 1919).
61. O anarquismo perante a organização sindical. Rio de Janeiro, 1916. Redigido por Antonio
Moutinho, José Elias da Silva e Manuel Campos, o documento continha a assinatura de mais
dezesseis militantes.
62. O direito à limitação da natalidade encontra acolhida na propaganda de folhetos vindos da
Europa, do gênero da “Huelga de Vientres”, surgida em maio de 1906. Por vezes, reponta um
ingênuo propósito de legitimar o controle pelas necessidades da luta social: a completa derrota dos
têxteis na greve geral carioca de 1903, apesar do relativo êxito de outros setores, dá razão aos
neomaltusianos, pois os têxteis por serem numerosos são miseráveis e a miséria é antirrevolucionária.
Cf. O Amigo do Povo, 13 set. 1903. No mesmo jornal, Elísio de Carvalho defende a distribuição de
preventivos entre os pobres como forma de enfrentar a miséria. A inspiração é francesa, vinculando-
se aos artigos de Faure, ao movimento que publica a revista Régénération (23 jul. 1904).
63. O Amigo do Povo, 2 abr. 1904.
64. A Lanterna, 27 nov. 1909.
65. A Lanterna, 31 jan. 1914. Nesse ano, o total de alunos era de 150.
66. A Lanterna, 10 jan. 1914. Embora tenha me limitado à escola como instrumento educativo,
convém lembrar que essa era também uma das funções do sindicato. Para ficar em um só exemplo,
uma série de conferências realizadas no Sindicato de Ofícios Vários do Rio de Janeiro abrangia
temas como “O método Taylor” (Astrojildo Pereira); “O trabalho na Antiguidade” (José Martins); “A
ciência alemã” (José Oiticica); “A utopia democrática” (Orlando Correia Lopes); “A arte e a
revolução” (Max de Vasconcelos). Cf. A Voz do Trabalhador, 7 abr. 1915.
67. A Lanterna, 11 jul. 1903. A filiação do jornal ao ideário da Revolução Francesa é tão direta
que alguns números são datados de duas formas: segundo o calendário revolucionário e segundo o
gregoriano.
68. A Lanterna, 7 mar. 1901. Note-se a arbitrária combinação operada pelo texto entre “a
investida da Igreja” e a destruição da família, na linha dos argumentos conservadores — e em
primeiro lugar da própria Igreja — articulados contra o amor livre, o divórcio etc. Ao mesmo tempo,
insiste-se em colocar a luta anticlerical sob o signo da modernidade.
69. A Lanterna, 22 jan./5 fev. 1910; 25 nov. 1911; 16 jan. 1915.
70. Ver especialmente A Lanterna, 29 out./12 nov./3 dez. 1910; 7 jan. 1911. Participaram também
da campanha La Battaglia, Avanti, Fanfulla, que não pouparam ataques ao simulacro de inquérito
policial.
71. A Lanterna, 12 nov. 1910.
72. A Lanterna, 18 jun. 1910.
73. A Terra Livre, 1 jan. 1910. As normas alimentares integram o universo ascético do
anarquismo, o que não significa que sejam exclusivas dele. O combate ao alcoolismo — cujos efeitos
devastadores entre as classes populares não podem ser esquecidos — era preocupação também dos
socialistas e de elementos não identificados com a reforma social.
74. A Terra Livre, 9 dez. 1907.
75. O Amigo do Povo, 6 set. 1902.
76. Edgard Rodrigues, Socialismo e sindicalismo no Brasil. Rio de Janeiro: Laemmert, 1969, pp.
179 e 242.
77. Wilhelm Reich, La Psycologie de masse du fascisme. Paris: Payot, 1972.
78. A Terra Livre, 5 fev. 1907.
79. A Terra Livre, 23 fev. 1907.
80. Fanfulla, 2 maio 1907.
81. John W. Dulles, op. cit., pp. 8 e 31. É claro que essa breve referência à conduta dos dirigentes
anarquistas diz respeito ao padrão dominante. Para lembrar um caso excepcional, em 1900, Gigi
Damiani e José Sarmento Marques foram presos e julgados sob a acusação de terem deflorado uma
menor. Pode ser, porém, que o processo encobrisse apenas uma perseguição política.
82. Uma expressão dessa necessidade é uma proposta apresentada ao Congresso Operário de
1912, pela qual o operário adquirente de uma casa, que se revelasse bom esposo, bom pai, avesso ao
jogo e à bebida, receberia ao pagar a última prestação o título de propriedade, além de outro
comprobatório de sua honestidade.
83. Exemplos de festivais libertários com a inclusão de baile familiar em A Terra Livre, 17 fev.
1906; 15 jun. 1907; 5 out. 1907; 9 jan. 1908. Ver a referência ao fracasso de uma festa de propaganda
da Escola Moderna que excluiu deliberadamente a dança em A Terra Livre, 17 fev. 1910. Em
setembro de 1907, o jornal criticava uma reunião dos trabalhadores em veículos de São Paulo, onde
se desistira da parte das conferências e do teatro, tudo se reduzindo à dança, “elemento de corrupção,
de imitação da sociedade burguesa”.
84. A Terra Livre, 17 fev. 1910.
85. Eric J. Hobsbawm, Primitive Rebels. Manchester: Manchester University Press, 1963, p. 84.
86. O Protesto parece ter sido o primeiro jornal anarquista publicado com alguma continuidade
(onze números) no Rio de Janeiro. Foi seu principal responsável J. Mota Assunção, um jovem de 21
anos, então cobrador de bondes, mais tarde linotipista, com uma trajetória pouco comum, passando
do anarquismo ao socialismo, por volta de 1910. Cf. John W. Dulles, op. cit., p. 13; Edgard
Rodrigues, Socialismo e sindicalismo no Brasil, op. cit., p. 64; Sheldon L. Maram, op. cit., p. 115.
87. Everardo Dias, História das lutas sociais no Brasil. São Paulo: Edaglit, 1962, p. 246; John W.
Dulles, op. cit., p. 8.
88. John W. Dulles, op. cit., p. 8. Logo após seu regresso à Itália, Gigi escreveu um folheto
dedicado ao jornalista Nereu Rangel Pestana e a Evaristo de Moraes no qual denunciou as condições
de trabalho vigentes no Brasil, os cavalieri e condes italianos que esfomeavam trabalhadores e
açambarcavam gêneros. Na linha dos artigos frequentemente publicados em La Battaglia,
aconselhava os camponeses italianos a não emigrar para o Brasil e a não acreditar nos relatos de
jornalistas, a soldo da embaixada brasileira, acerca das “delícias do Novo Mundo”. A capa reforçava
o conteúdo verbal, trazendo um desenho do espancamento de Everardo Dias, em um posto policial de
bairro. Gigi Damiani, I paesi nei quali no si deve emigrare: la questione sociale nel Brasile. Milão:
Umanità Nova, 1920.
89. A Voz do Povo, 24 set. 1920; Edgard Rodrigues, Socialismo e sindicalismo no Brasil, op. cit.,
p. 101. É curioso observar que, em sua polêmica com os anarquistas na década de 1920, os
comunistas procuraram por vezes apresentar-se como legítimos herdeiros do legado revolucionário
do anarquismo em contraposição aos “anarcoides que assumiram uma postura reacionária” —
proclamando-se “os únicos herdeiros e continuadores da obra gloriosa de Neno Vasco e Paulo
Berthelot”. Cf. A Nação, 22 jun. 1927.
90. Cf. depoimento de Leuenroth em Dealbar, dez. 1968; e John W. Dulles, op. cit., p. 15.
91. O jornal teve duas fases: a primeira estendeu-se de 1o de julho de 1908 a dezembro de 1909,
quando se publicaram 21 números, sob a responsabilidade de Manoel Moscoso como editor; José
Romero, administrador; Mota Assunção e Carlos Dias; a segunda iniciou-se a 1o de janeiro de 1913
e, ao que parece, foi até junho de 1915, com edições quinzenais oscilando entre 3 mil a 4 mil
exemplares.
92. A Plebe, 9 jun. 1917.
93. Em junho de 1910, A Terra Livre calculava em mil o número de elementos anarquistas
existentes no Rio de Janeiro, dispersos em pequenos grupos e sem nenhum jornal.
94. No primeiro grupo, arrolei Leuenroth, Ristori, Neno Vasco, Astrojildo Pereira, Fábio Luz,
José Oiticica, Adelino de Pinho, Orlando Correia Lopes, João Gonçalves da Silva, o jornalista Álvaro
Palmeira e um dos raros advogados libertários — Benjamin Mota. A limitação regional ao Rio e São
Paulo exclui alguns elementos importantes de outras áreas do país. É o caso de Otávio Brandão,
farmacêutico nascido em Alagoas, diretor do semanário Semana Social, com o gráfico carioca
Antonio Bernardo Canelas. O jornal foi apedrejado durante a Primeira Guerra Mundial, quando
registrou a entrada do Brasil no conflito com uma grande manchete “Abaixo a guerra imperialista”.
Brandão seguiu para o Rio, tornando-se uma figura popular como orador retórico e ativo militante.
Ingressou posteriormente no PCB, onde exerceu papel de direção, sendo eleito intendente à Câmara
Municipal do Rio de Janeiro, em fins da década de 1920. Preso em 1931, deportado a seguir do
Brasil, viveu vários anos em Moscou.
95. Gigi Damiani; o estucador Silvio Antoftelli, editor de Alba Rossa, deportado em 1919; o
secretário do sindicato dos pedreiros de São Paulo, Alessandro Zanella, também deportado naquele
ano; e Minervino de Oliveira. Minervino iniciou a vida como motorneiro de bondes no Rio de
Janeiro e teve uma longa história como dirigente do Centro Operário Marmorista, desde os primeiros
anos da década de 1910. Aderiu ao PCB, foi vereador à Câmara Municipal do Rio de Janeiro,
secretário da Federação Sindical Regional e candidato do Bloco Operário e Camponês às eleições
presidenciais de março de 1930.
96. Antônio Bernardo Canelas nasceu em Niterói e, após ter contatos com Astrojildo Pereira, foi
em 1913 para Maceió, onde fundou o semanário A Semana Social. Depois do apedrejamento do
jornal, seguiu para o Recife, onde em 1918 fundou a Tribuna do Povo. O episódio de sua presença no
IV Congresso da Internacional Comunista (1922) e posterior expulsão do PCB (dezembro de 1923) é
conhecido. A partir daí, aproximou-se do tenentismo e esteve associado às tendências nacionalistas
populares desse movimento. João da Costa Pimenta foi uma das figuras centrais do movimento
operário de toda uma época. Padeiro em Campos, veio para o Rio de Janeiro em 1904, empregou-se
como garçom e militou no Centro Cosmopolita. Tornou-se depois gráfico, profissão que exerceu no
Rio e em São Paulo. Após uma longa atividade como organizador sindical e da imprensa anarquista,
rompeu com o anarquismo, sendo um dos fundadores do PCB. Posteriormente, em fins da década de
1920, participou da chamada “Cisão Barbosa” e aderiu, já nos anos 1930, ao Partido Socialista. Cf.
John W. Dulles, op. cit., e A Nação, 14 fev. 1927.
A classificação de Florentino de Carvalho como gráfico é até certo ponto artificial. Primitivo
Raimundo Soares (seu verdadeiro nome) nasceu na Espanha em 1891 e chegou ao Brasil ainda
menino. Soldado da Força Pública, doqueiro e a seguir gráfico em Santos, foi expulso em 1917
regressando depois ao país. Um típico doutrinário, Florentino opôs-se à colaboração entre os
anarquistas e Maurício de Lacerda em 1920 e estabeleceu muitas restrições, anos mais tarde, ao apoio
dos libertários à Aliança Nacional Libertadora. No documento de sua expulsão, figura como
tipógrafo. Cf. Edgard Rodrigues, ops. cits., e John W. Dulles, p. 519.
97. Os dados acerca do Centro Socialista de Santos se baseiam em Astrojildo Pereira, “Silvério
Fontes, pioneiro do marxismo no Brasil”. Estudos Sociais, n. 12, pp. 404 ss, abr. 1962.
98. “Como no mundo da biologia deixou-se de colocar o homem num reino distinto, fazendo dele
um ser independente das outras espécies animais, para torná-lo partícipe da grande vida universal,
embora considerando-o de grau mais elevado; assim se estabeleceu uma continuidade entre todos os
grupos de seres viventes que se vão elevando, ou melhor, transformando, juntamente com a
transformação das condições de vida dos indivíduos que constituem o grupo social.” Antonio
Piccarolo, O socialismo no Brasil. 3. ed. São Paulo: Piratininga, 1932, p. 23. As citações são sempre
dessa edição, que contém um prefácio onde o autor atualiza alguns pontos de vista. A primeira edição
é de 1908.
99. Antonio Piccarolo, op. cit., p. 48.
100. Avanti, 24 ago. 1901. O jornal calcula em 1500 o número total de trabalhadores do ramo.
101. Avanti, 12 out. 1901. O texto, com sua insistência na organização e sua crítica ao alcance das
greves, insere-se também no quadro das primeiras polêmicas com os anarquistas.
102. Os nomes se encontram em Everardo Dias, op. cit., p. 244.
103. O manifesto e o programa do Partido Socialista foram publicados em O Estado de S. Paulo,
de 28 ago. 1902.
104. Hobart Spalding, La Clase trabajadora argentina (Documentos para su historia, 1890-
1912). Buenos Aires: Galerna, 1970, p. 266.
105. Avanti, 27 mar. 1915.
106. A Terra Livre, 10 dez. 1905; 7 out. 1906. A Voz do Trabalhador, 1 dez. 1914.
107. Ver um desenvolvimento dessa temática em Décio Azevedo Marques de Saes, O civilismo
das camadas médias urbanas na Primeira República brasileira, 1889-1930. Campinas: Unicamp,
1971.
108. Para uma análise do campo de possibilidades de ação do Partido Socialista argentino e de
suas raízes ideológicas, ver o livro já citado de Julio Godio.
2. O TRABALHADOR URBANO
1. Ver o exemplo de membros da Associação Gráfica do Rio de Janeiro, que realizam uma
exposição de trabalhos realizados nas horas de folga. Engravatados, bem compostos, aparecem em
um quadro de homenagem simétrico na forma aos quadros das formaturas acadêmicas. Cf. O Gráfico
(Órgão da Associação Gráfica do Rio de Janeiro), 1 fev. 1918.
2. Maria Cecília Baeta Neves, “Greve dos sapateiros de 1906 no Rio de Janeiro: notas de
pesquisa”. Revista de Administração de Empresas, n. 13, abr./jun. 1973.
3. Tomando os três principais ramos em número de operários existentes no país em 1919,
constata-se que os menores representam 15,8% da força de trabalho no ramo têxtil; 10,4% na
indústria de vestuário e toucador; 8,2% na alimentação. As mulheres são maioria entre os têxteis
(54,9%), correspondendo a 43% no ramo de vestuário e toucador e 24,8% na alimentação. Cf. Censo
de 1920, v. V, 2a parte. Salários.
4. Frederic Engels, La Situation des Classes Laborieuses en Angleterre. Paris: Alfred Costes,
1933. v. II, p. 17.
5. Recenseamento de 1920, v. V, 2a parte. Salários.
6. Karl Marx, El Capital. México: Fondo de Cultura Económica, 1973. v. I, pp. 332 ss. Ver aí a
relação existente entre o prolongamento da jornada e o que Marx chama de desgaste material e moral
das máquinas.
7. Azis Simão, Sindicato e Estado. São Paulo: Dominus, 1966, p. 72.
8. Eric J. Hobsbawm, “Custom, Wages and Work-Load in Nineteenth Century Industry”, in A.
Briggs e J. Saville (Orgs.), Essays in Labour History. 2. ed. Londres: Macmillan, 1967, p. 124.
9. O Amigo do Povo, 13 set. 1903.
10. A Razão, 29 jul. 1917. A forma do discurso foi claramente reelaborada pelo jornalista. Mas
não há motivos para acreditar em uma distorção do conteúdo.
11. A Terra Livre, 2 jun./7 jul. 1907.
12. Warren Dean, A industrialização de São Paulo. São Paulo: Difel, 1971, pp. 166 ss.
13. A Terra Livre, 16 maio 1906.
14. A Voz do Trabalhador, 30 out. 1909.
15. A Voz do Trabalhador, 15 jun. 1909.
16. Das memórias de Manoel Marques Bastos, apud Edgar Rodrigues, Nacionalismo e cultura
social. Rio de Janeiro: Laemmert, 1972, pp. 127-8.
17. A descrição, de Rodolfo Felipe, apud ibid., p. 148.
18. O jornal sindical que anuncia a formação da Federação Operária refere-se à “desorganização
lastimável” em que se encontra o proletariado de São Paulo e do Brasil. O Chapeleiro, 3 dez. 1905.
19. Estudos Sociais, n. 18; A Guerra Social, 14 ago. 1912. Lembrar que as federações regionais e
a COB reúnem, com raras exceções, apenas sindicatos sob hegemonia anarquista. No Distrito Federal,
em princípios de 1913, a COB abrangia o Centro dos Operários Marmoristas, União dos Alfaiates,
União Geral dos Pintores, Sindicato dos Sapateiros, Carpinteiros, Estucadores, Funileiros e
Bombeiros Hidráulicos, Pedreiros e Serventes, Marceneiros, Caldereiros de Ferro, Sindicato Operário
de Ofícios Vários, das Pedreiras, dos Trabalhadores em Fábrica de Tecidos, na Indústria Elétrica, em
Ladrilhos e Mosaicos, e a Fênix Caxeiral (caixeiros das lojas de comércio), todos integrantes da
Federação Operária. Não faziam parte da COB a Sociedade Operária Beneficente e Progressiva dos
Trabalhadores em Fábricas de Tecidos, a Associação dos Barbeiros e Cabeleireiros, Centro
Cosmopolita (empregados em hotéis e restaurantes), Federação das Artes Gráficas, Sociedade de
Resistência dos Trabalhadores em Trapiches e Café, União dos Operários Estivadores, Associação de
Resistência dos Marinheiros e Remadores, União Geral dos Foguistas, Grêmio dos Maquinistas da
Marinha Civil, Sociedade de Assistência dos Trabalhadores em Carvão e Mineral, Centro dos
Empregados em Ferrovias, Associação de Resistência dos Cocheiros e Carroceiros, Liga dos
Empregados em Padarias, Centro dos Calafates, Círculo dos Operários da União. Cf. A Voz do
Trabalhador, 1 fev. 1913.
20. A Guerra Social, 21 ago. 1912; Avanti, 28 nov. 1914.
21. A Plebe, 11/18 jun. 1921.
22. Segundo dados de Azis Simão, op. cit., p. 145, das 23 greves ocorridas no estado de São
Paulo entre 1888-1900, sete se verificaram nas ferrovias, sete nos transportes urbanos e duas nas
docas.
23. A Plebe, 25 ago./30 set. 1917.
24. Azis Simão, op. cit., p. 148.
25. Apud Hobart Spalding, La Clase trabajadora argentina (Documentos para su historia, 1890-
1912). Buenos Aires: Galerna, 1970. Nessa obra, estão transcritos o texto do convênio e a mensagem
de Melchior Cardoso.
26. Sheldon L. Maram, Anarchists, Immigrants and the Brazilian Labor Movement, 1890-1920,
pp. 161 ss. (mimeografado).
27. A Plebe, 10 jul. 1919.
28. A Razão, 1 maio 1919. Fundada em outubro de 1904, a Associação dos Marinheiros e
Remadores tinha em média cerca de 2300 sócios entre 1912 e 1916.
29. A Voz do Trabalhador, 1 fev. 1915.
30. Para um relato das greves pioneiras em Santos, no século XIX, acompanhadas em geral de atos
de violência, ver as descrições reunidas por Azis Simão, op. cit., pp. 104-5.
31. A Voz do Trabalhador, 20 jul./5 ago. 1914.
32. Dois pequenos exemplos: em um atrito provocado em uma fábrica têxtil de Sorocaba, por
mudança de turno, as mulheres protestam “enquanto os homens se portam como carneiros”; no curso
da greve generalizada de maio de 1912 em São Paulo, há várias referências à combatividade das
mulheres nas grandes empresas, em especial a Mariângela. Cf. A Terra Livre, 22 jan. 1907; Fanfulla,
23 maio 1912.
33. Memórias de Severino Gonçalves Antunha, apud Edgar Rodrigues, op. cit., v. II, p. 360.
34. A Guerra Social, 10 abr. 1912. Na capital, entretanto, a conquista não se manteve. Em meados
de 1913, rara era a obra em que a jornada normal de trabalho era de oito horas. Azis Simão, op. cit.,
p. 110.
35. Em 1919, 50% dos operários da construção civil recebiam salário médio diário de 6$000 ou
mais. Superavam esse percentual os operários adultos do sexo masculino nos ramos de mobiliário
(75,5%), construção de aparelhos de transporte (68,6%), vestuário e toucador (65,7%), metalurgia
(62,6%), produção e transmissão de forças físicas (53,4%), indústrias relativas às ciências, letras,
artes; indústrias de luxo (50,4%). Recenseamento de 1920, v. V, 2a parte. Salários.
36. Boletim do Departamento Estadual de Trabalho, São Paulo, ano I, n. 3, 1912.
37. Sheldon L. Maram, op. cit., p. 50.
38. Em junho de 1917, A Plebe saúda a retomada das greves de canteiros e espera “que ela ponha
fim à atitude corporativista da entidade, alheia aos problemas gerais da emancipação da classe
operária”. A Plebe, 16 jun. 1917.
39. A Plebe, 16 jun. 1917; A Voz do Povo, 25 fev. 1920.
40. Em fevereiro de 1906, por exemplo, um manifesto da Federação Operária de São Paulo
lamentava que a Liga dos Pedreiros reunisse apenas 25 trabalhadores. A categoria não escapou
também aos efeitos da crise dos primeiros anos da Primeira Guerra Mundial sobre o movimento
operário e sobre as condições de vida das classes populares. Ver o exemplo de Azis Simão referente a
uma pedreira da capital, em 1914, onde vinte operários passaram a fazer o serviço de 36, mediante
remuneração inferior e jornada de trabalho mais longa. Azis Simão, op. cit., p. 100.
41. Dentre 331 estabelecimentos arrolados na indústria de edificação pelo Censo de 1920, 297
tinham menos de vinte operários e apenas cinco empregavam cem ou mais trabalhadores.
Recenseamento de 1920, v. V, 1a parte. Indústria.
42. Sheldon L. Maram, op. cit., p. 49.
1. Eric Hobsbawm, “Economic Flutuations and Some Social Movements since 1800”, in
Labouring Men. Studies in the History of Labour. Londres: Weidenfeld and Nicolson, 1964. Ver
também Roberto Cortés Conde e Ezequiel Gallo, La Formación de la Argentina moderna. Buenos
Aires: Paidós, 1967, p. 99.
2. Ver os indicadores da formação de capital na indústria, levantados por Villela e Suzigan:
3. No fim de 1908, a imprensa operária refere-se à existência de uma crise, com milhares de
desempregados na capital da República, acompanhada da desorganização da grande massa. Cf. A Voz
do Trabalhador, 29 nov. 1908.
4. A Terra Livre, 17 fev. 1906.
5. As principais fontes do relato são Fanfulla, A Plateia e sobretudo O Comércio de São Paulo.
Na redação deste último, encontrava-se Benjamin Motta, que se afastaria do jornal nos últimos dias
da greve por divergir da linha dos proprietários.
6. Manifesto da Liga Operária de Jundiaí, em O Comércio de São Paulo, 19 maio 1906. Observe-
se como o descanso semanal é percebido como uma punição, na medida em que não é remunerado.
7. A funcionalidade das sociedades beneficentes sob controle patronal no sentido de impedir a
organização autônoma dos trabalhadores foi comum também nas ferrovias argentinas. Em fevereiro
de 1904, ferroviários da Argentina dirigiram uma petição ao ministro do Interior pleiteando entre
outros pontos que não se obrigasse o pessoal das empresas a tomar parte em sociedades de socorros
mútuos, alheias aos operários. Cf. Hobart Spalding, La clase trabajadora argentina (Documentos
para su historia, 1890-1912). Buenos Aires: Galerna, 1970, p. 593.
8. O Comércio de São Paulo, 24 maio 1906. Nos últimos dias da greve, no curso da paralisação
geral decretada na capital pela Federação Operária, grupos de trabalhadores dirigiram-se às oficinas
da SPR na Lapa, tentando forçar seu fechamento. Seguiu-se uma luta em vários pontos do bairro,
ocorrida entre os próprios trabalhadores, segundo O Estado de S. Paulo. Entretanto, algumas dezenas
de operários da SPR escreveram a O Comércio de São Paulo, responsabilizando a polícia pelo
conflito. Não negaram, porém, a recusa em aderir à greve “por razões a serem melhor explicadas em
momento oportuno”. Ver O Comércio de São Paulo, de 30 maio 1906.
9. Por algum tempo, seguindo o exemplo da Mogiana, a empresa concederia as oito horas de
trabalho. Cf. A Terra Livre, 22 jan. 1907.
10. Segundo Everardo Dias, 5 mil pessoas comparecem em Jundiaí a um comício em que falam,
entre outros, Leuenroth e dois destacados dirigentes da greve que se iniciaria duas semanas depois:
Manuel Pisani e João Correia.
11. No Rio, alfaiates, chapeleiros, gráficos, operários da construção civil realizam várias reuniões
e algumas manifestações de rua, tentando organizar uma greve geral que não se concretiza. Cf. O
Comércio de São Paulo, 23/26 maio 1907.
12. Na fundação da Liga Operária de Jundiaí (março de 1906), encontra-se presente Leuenroth e
distribuem-se exemplares da imprensa anarquista. Em outras reuniões, há referência aos “oradores
oficiais” das Ligas, a figuras locais, aos socialistas que os libertários criticam como “elementos
estranhos ao movimento operário”. Cf. A Terra Livre, 24 mar./12 abr. 1906.
13. O Comércio de São Paulo, 20 maio 1906.
14. O Comércio de São Paulo, 19 maio 1906.
15. Ibid. 1906.
16. Fanfulla, 17 maio 1906.
17. Fanfulla, 17 maio 1906. Pouco depois dessas declarações, os conselhos administrativos das
Ligas, que, de resto, nunca deixaram de atuar, anunciavam não mais se responsabilizar por qualquer
violência cometida pelos operários, por ter a polícia violado as promessas de não usar a força contra
os grevistas. Cf. O Comércio de São Paulo, 20 maio 1906.
18. O Comércio de S. Paulo, 17/18/22/23 maio 1906. Entre os assinantes do documento dirigido à
Associação Comercial encontra-se Júlio Stern, um fabricante de bebidas de Rio Claro que fechou as
portas de sua fábrica para solidarizar-se com os grevistas.
19. A referência à menor distância social me é sugerida pela indicação de Gallo e Conde, a
propósito do movimento agrário de arrendatários na Argentina (1912), conhecido como “Grito de
Alcorta”. O movimento obteve apoio em setores do comércio, especialmente da cidade de Rosário.
Cf. Ezequiel Gallo e Roberto Cortés Conde, La República Conservadora. Buenos Aires: Paidós,
1972. (Coleção de História Argentina, 5, dir. Túlio Halperin Donghi).
20. O Comércio de São Paulo, 19 maio 1906.
21. Fanfulla; O Comércio de São Paulo, 27 maio 1906.
22. Para um relato detalhado, inclusive das gestões sem êxito do governo do estado, para que a
faculdade fosse fechada, ver as edições de O Comércio de São Paulo e Fanfulla dos últimos dias de
maio de 1906.
23. O Fanfulla pretende obter a legalidade do movimento operário de São Paulo “que não é obra
de quatro ou cinco pessoas, mas de 4 ou 5 mil e está destinado a reunir toda a massa operária da
cidade”. Contudo, considera absurdas as exigências dos têxteis e concita-os a aceitar a jornada de
onze horas de trabalho. Cf. Fanfulla, 21/25 maio 1907.
24. A Plateia, 15 maio 1907. Compareceram à reunião, indistintamente, industriais nacionais e
estrangeiros: entre outros, José Paulino Nogueira, Gabriel Dias da Silva, Crespi, Matarazzo.
25. A Plateia, 17 maio 1907.
26. A Plateia, 25 maio 1907.
27. Ver as assembleias com a presença de mais de mil pessoas. Operários da Lidgerwood chegam
a comprar alguns tornos e forjas na tentativa de montar uma oficina e ajudar os mais necessitados.
Cf. Fanfulla, 3/16 jun. 1907.
28. Os jornais publicam listas das empresas que concedem as oito horas, mencionando com
frequência um número de empregados entre quatro e oito pessoas.
29. O alcance das concessões no ramo têxtil é bastante limitado: Crespi & Cia., por exemplo,
mantém o horário de onze horas de trabalho e dá 5% de aumento; a Sociedade Ítalo-Americana reduz
o horário de onze horas para dez horas e meia, concordando também com o aumento de 5%. Cf. A
Plateia, 25 maio 1907; Fanfulla, 10 jun. 1907.
30. Avanti, 28 nov. 1914. Idêntico padrão pode ser observado na Argentina. Analisando as greves
do período 1907-12, Gallo e Conde assinalam que as paralisações foram mais numerosas em
transportes e alimentação, com maiores resultados negativos, e menos numerosas em têxteis
(pequena indústria, no caso argentino) e metalúrgicos, porém com maior índice de êxito. Os autores
vinculam essa tendência a dois fatos: 1o distinta dimensão das indústrias, correspondendo a maior
densidade de capital aos serviços públicos e alimentação; 2o atitude mais paternalista dos pequenos
empresários, em sua maior parte estrangeiros, que mantinham suas antigas referências ideológicas
mais ou menos socializantes. Cf. Ezequiel Gallo e Roberto Cortés Conde, La República
Conservadora, p. 223. Para um caso específico no Rio de Janeiro, ver o artigo de Maria Cecília Baeta
Neves, “Greve dos sapateiros de 1906 no Rio de Janeiro: notas de pesquisa”. Revista de
Administração de Empresas, n. 13, abr.-jun. 1973.
31. Segundo O Comércio de São Paulo de 7 de maio de 1912, as demolições indiscriminadas
obrigavam o povo a procurar novas casas de aluguel elevado; o Fanfulla de 17 de maio de 1912,
critica o prefeito por sua preferência em construir mirantes na avenida Paulista, em ajardinar o
Anhangabaú. O tema das condições de habitação e do preço do aluguel ganha destaque. O Fanfulla
de 30 de junho de 1912, por exemplo, publica uma ampla reportagem sobre cortiços explorados por
locadores ou sublocadores italianos.
32. A Lanterna, 11 maio 1912.
33. A Mariângela e a Santana eram, em 1912, as duas maiores empresas têxteis de São Paulo. Os
números, entretanto, divergem. Enquanto os jornais se referem à Mariângela como a maior empresa,
com 3 mil operários, seguida da Santana com cerca de 2 mil, uma publicação oficial, com dados de
1911, menciona 1900 trabalhadores na primeira e cerca de 2700 na segunda. Cf. Boletim do
Departamento Estadual do Trabalho, São Paulo, ano I, n. 1/2, 1912.
34. Fanfulla, 21 maio/25 jun. 1907.
35. Cerca de duzentos “krumiros” são recebidos à saída da empresa aos gritos de “puxa-sacos,
mortos de fome”. A uma assembleia realizada em um cinema da Mooca comparecem por volta de
mil pessoas. Cf. Fanfulla, 29 maio 1912.
36. Um velho operário da Mariângela, em seu dialeto, resume o estado de espírito dos
trabalhadores: “Signuri, ‘affitto’ e casa é cresciuto. ‘O zucchero, da quattro cento reis 1’hanno
purtato e diece testoni. Un se pò cchiú vivere. Vonno o nu’ vonno dà anche a nuie quaccosa ‘e
cchiù’?” (Senhores, o aluguel de casa aumentou. Subiram o açúcar de quatrocentos réis para dez
tostões. Não se pode mais viver. Vão ou não vão nos dar também alguma coisa a mais?) Cf. Fanfulla,
16 maio 1912.
37. A União dos Trabalhadores Gráficos, constituída em 1904, chegou a reunir 80% dos gráficos
da capital de São Paulo. Em fins de 1907, como fruto de divisões internas que resultaram na criação
do Grêmio Tipográfico Paulistano e da repressão policial, o sindicato entrou em uma prolongada
crise da qual começava apenas a sair em 1912. Cf. A Voz do Trabalhador, 1 dez. 1914.
38. A Plateia, 19 maio 1912. Outras referências à desorganização do movimento, à inexistência
de comissões, depois desmentida, no Fanfulla, 17/19 maio 1912.
39. Fanfulla, 23 maio 1912.
40. Por exemplo, na greve de 1907, após a dissolução de um comício, os têxteis decidem
suspender as reuniões públicas, deixando às comissões das diversas empresas a incumbência de
dirigir os grevistas. Cf. A Plateia, 17 maio 1907.
4. AS GRANDES LINHAS
5. POLÍTICA E SINDICATO
6. DUAS MOBILIZAÇÕES
1. A descrição e a análise que se seguem reproduzem com modificações meu trabalho “Conflito
social na República oligárquica: a greve de 1917”. Estudos Cebrap n. 10, out./dez. 1974.
2. Há antecedentes desse gênero de desconto forçado que apela para o sentimento nacional. Já em
1901, os operários de uma fábrica de chapéus se viam obrigados a contribuir para os funerais do rei
Humberto. Avanti, 19 jan. 1901.
3. Os quatro irmãos Jafet, de origem sírio-libanesa, instalaram-se em São Paulo entre 1887 e 1893
e entraram na manufatura de tecidos em 1906. Cf. Warren Dean, A industrialização de São Paulo.
São Paulo: Difel, 1971, p. 37. Em 1917, já haviam estabelecido sólidos laços com a oligarquia de São
Paulo, e um deles integrava o diretório do Partido Republicano Paulista no bairro do Ipiranga.
4. O Estado de S. Paulo, 27 mar. 1966.
5. Para uma discussão do “espírito de Carnaval” como categoria afetiva, ver David Rock, “Lucha
civil en la Argentina. La Semana Tragica de enero de 1919”. Desarrollo Econômico, n. 42/44, jul.
1971/mar. 1972.
6. O Estado de S. Paulo, 13 jul. 1917.
7. A imprensa anarquista refere-se vagamente à recusa de tropas do Exército em seguir para São
Paulo, a fim de auxiliar a Força Pública (A Plebe, 8 set. 1917). Everardo Dias alude a vários casos de
insubordinação tanto na milícia estadual como no Exército.
8. A mediação da imprensa, cujo sentido tento apreender mais adiante, teria resultado
episodicamente de um contato entre o capitão da Força Pública, Miguel Costa, e Nereu Rangel
Pestana, diretor de O Combate. Ao mesmo tempo que dava ordens para reprimir a agitação, o capitão
seria simpático às demandas dos trabalhadores, sugerindo a Rangel Pestana essa via de entendimento.
Cf. John W. Dulles, Anarchists and Communists in Brazil, 1900-1933. Austin: University Texas
Publications, 1973, p. 52. O anedótico revela uma linha de grande coerência no comportamento do
futuro líder do movimento tenentista. Nos primeiros anos da década de 1930, Miguel Costa
empenhou-se em São Paulo no estabelecimento de uma aliança entre tenentistas e organizações
operárias, influindo diretamente na organização de alguns sindicatos, como o dos estivadores do
porto de Santos.
9. Edgard Leuenroth figurava como secretário do Comitê. Os cinco demais membros eram
Antonio Candeias Duarte, pequeno comerciante, que sob o pseudônimo de Hélio Negro escreveria
em 1919, com Leuenroth, a brochura O que é o maximismo ou bolchevismo; Francisco Cianci,
litógrafo; Rodolfo Felipe, serrador, futuro responsável de A Plebe; Luigi (Gigi) Damiani; Teodoro
Monicelli, diretor do jornal socialista Avanti. À exceção de Monicelli, esses nomes representavam a
liderança anarquista articulada, independentemente de sua condição social.
10. O padrão observado no movimento de 1907 não se repetiu. Em regra, as maiores empresas
chegaram mais prontamente a um acordo. Provavelmente, isso se deve ao fato de que elas
começavam a obter lucros elevados e estavam em condições de oferecer um aumento, em torno de
20%, que não chegava a reconstituir o salário real de 1913.
11. As indicações da imprensa, por volta de julho de 1917, são significativas. A Gazeta de 19 de
maio refere-se ao aumento da lata de banha de 2$500/2$800 para 3$000/3$200; à elevação do preço
da saca de batata, em quinze dias, de 6$500/7$500 para 9$000/12$000. O Fanfulla de 19 de julho
alude ao açambarcamento do arroz em casca no interior do estado, com o preço da saca subindo, em
dois meses, de 12$000 para 20$000.
12. Ver especialmente as reportagens diárias de A Gazeta a partir de 5 de maio de 1917.
13. Referindo-se ao horário de trabalho de treze horas diárias na fábrica Crespi, A Plebe de 16 de
junho de 1917 afirma que na Rússia se trabalha apenas seis horas.
14. Maram valoriza bastante esse aspecto, chamando a atenção para o tempo de permanência no
país da massa e da liderança operária de origem estrangeira. Segundo seus dados, cerca de 60% da
imigração para São Paulo se deu antes de 1905 e aproximadamente 80% dos italianos chegaram ao
estado pelo menos treze anos antes de 1917. Utilizando-se sobretudo de fontes operárias, Maram
observa que, entre 29 dirigentes estrangeiros do movimento operário, cujos dados lhe foi possível
levantar, 27 haviam chegado criança ao Brasil ou tinham mais de cinco anos de residência em 1917.
Sua conclusão é que, por essa época, os sonhos de mobilidade social e de regresso ao país de origem
estavam desfeitos e muitos se inclinavam a organizar-se para enfrentar as duras condições de vida.
15. Ao contrário do que sucedia com Matarazzo, a consciência da situação não era o forte de
Crespi. Ver esta bela passagem de Warren Dean, relativa à greve generalizada de outubro de 1919,
quando Crespi propôs no Centro dos Industriais de Fiação e Tecelagem de São Paulo que se
respondesse à greve com o lockout patronal: “a ideia foi jubilosamente aceita por todos, exceto pelo
representante das IRMF (de Matarazzo), que declarou precisar consultar seu patrão. No dia seguinte
apareceu o Conde, no meio da deferência geral dos membros. Pereira Ignácio propôs que a
assembleia se congratulasse com a presença do ‘Príncipe da Indústria Paulista’. Matarazzo, contudo,
não estava disposto a participar da euforia do momento. Levantou-se e sugeriu, sem floreios de
retórica, que simplesmente se convidassem os operários a voltar ao trabalho, pois a greve da Light já
fora solucionada. Os membros, sem exceção, inverteram a posição assumida no dia anterior e
votaram pela moção de Matarazzo”. Warren Dean, op. cit., p. 175.
16. O Fanfulla de 27 de junho de 1917 critica o lockout e apela a Crespi para que siga o exemplo
de outros industriais que estão fazendo concessões.
17. Ver, especialmente, Leôncio Martins Rodrigues: “A greve de 1917 não foi o resultado de um
avanço do sindicalismo ou um movimento organizado com mira a objetivos fixados de antemão, mas
uma explosão repentina, fruto da convergência de vários fatores, entre os quais a carestia, e,
possivelmente, as repercussões da Revolução Russa. As próprias lideranças operárias, ainda que
procurassem aproveitar a greve, foram tomadas de surpresa, tanto quanto os empregadores e o
governo, como indica a formação apressada, e quase espontânea, do Comitê de Defesa Proletária”.
Leôncio Martins Rodrigues, Conflito industrial e sindicalismo no Brasil. São Paulo: Difel, 1966, p.
147.
18. O Combate de 10 julho de 1917, por exemplo, critica o fechamento pelas autoridades da Liga
Operária da Mooca, lembrando que ela estava procurando orientar a greve da Mariângela e outras
empresas, com o objetivo de evitar explosões individuais.
19. A Gazeta de 5 de maio de 1917 chama expressamente a atenção do governo para os riscos de
uma explosão popular.
20. O primeiro número de A Plebe é de 9 de junho de 1917. A edição de 16 de junho alude ao
êxito das ligas operárias, especialmente a da Mooca, que em poucos dias teria recebido seiscentas
adesões.
21. Fanfulla, 10 jun./8 jul. 1917. A Plebe, 9 jul. 1917. O Fanfulla de 9 de julho destaca os grandes
progressos da Liga, que, segundo o jornal, poderá ter importante papel na coordenação do
movimento grevista.
22. Fanfulla, 21/ 22 maio 1917.
23. A Plebe, 21 jul. 1917.
24. A Plebe, 28 jul. 1917; 14 jun. 1919.
25. O Estado de S. Paulo, 13 jul. 1917; Warren Dean, op. cit., p. 178.
26. O Combate de 12 de julho de 1917 elogia o secretário da Justiça por seus métodos moderados,
“que chegam a provocar queixas”. A 10 de julho, antes do enterro do sapateiro Martinez, o delegado
geral Tirso Martins conferencia com uma comissão de grevistas e os patrões, “embora não fosse esta
a missão da polícia”. Ao mesmo tempo, autoriza os trabalhadores a reunir-se no prado de corridas da
Mooca. Cf. O Estado de S. Paulo, 11 jul. 1917.
27. Ver a análise do significado do paternalismo de Street e uma bela descrição de sua “moderna
aldeia”, em Warren Dean, op. cit., p. 168.
28. O Estado de S. Paulo, 20 jul. 1917.
29. A função de representação dos jornalistas não era nova. Em uma greve têxtil na empresa do
conde Álvares Penteado, as negociações se fizeram entre o diretor da Tribuna Italiana, em nome do
empresário, e do diretor do Avanti, em nome dos trabalhadores. Avanti, 2 mar. 1901.
30. “Exaltações lamentáveis”. O Estado de S. Paulo, 10 jul. 1917.
31. “A Verdade”. O Estado de S. Paulo, 19 jul. 1917.
32. O Estado de S. Paulo, 20 jul. 1917.
33. O Combate, 14 jul. 1917.
34. A direção do sindicato têxtil se renovava de seis em seis meses. Por essa época, estavam à sua
frente Manuel Castro (presidente) e Joaquim Morais (secretário). Morais foi expulso do país em
princípios de 1920.
35. O relato sucinto se baseia em Moniz Bandeira et al. (O ano vermelho: a Revolução Russa e
seus reflexos no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1967), onde estão transcritos vários
depoimentos prestados no inquérito policial.
36. Para uma descrição desses movimentos, ver Edgard Carone, A República Velha (Evolução
política). São Paulo: Difel, 1971.
37. John W. Dulles, op. cit., p. 69.
38. Em meados de novembro, calculava-se que dos 914 292 habitantes do Rio de Janeiro, 401 950
tinham sido atingidos pela epidemia, que produzira 14 459 mortes. Ibid., p. 71.
39. A Razão, 10 nov. 1918.
40. Ver especialmente o artigo “O joio e o trigo”, em A Razão, 19 nov. 1918. Nele se trata de
distinguir entre as reivindicações do operariado e o motim anarquista, possivelmente incentivado
pelas maquinações de políticos descontentes.
41. Decreto n. 13295, de 22 nov. 1918.
42. A crítica atingiu um ponto sensível. Chapeleiros, marmoristas, o Centro Cosmopolita
emitiram comunicados explicando que não havia condições para desfechar uma greve de
solidariedade. A Associação Gráfica, fiel a sua linha corporativa, lembrou não estar filiada à UGT,
lamentando ainda o desvirtuamento parcial das finalidades da greve, embora se declarasse ao lado
das reivindicações legítimas. A Razão, 24/25/28 nov. 1918.
43. A Razão, 27/29 nov./1 dez. 1918.
7. ASSIMILAÇÃO E REPRESSÃO
1. Rui Barbosa, Contra o militarismo: campanha eleitoral de 1909 a 1910. Rio de Janeiro: J.
Ribeiro dos Santos, s.d., pp. 11-2.
2. Correio da Manhã, 27 dez. 1909.
3. A Razão, 17 nov. 1918 (apud Sheldon L. Maram, Anarchists, Immigrants and the Brazilian
Labor Movement, 1890-1920 (mimeografado).).
4. O relato se baseia em Rui Barbosa, Campanha presidencial (1919). Bahia: R. dos Santos,
1919.
5. “A questão social e política do Brasil”, in ibid.
6. Ver o remate da conferência sobre a questão social e política: “No Brasil não há mais nada.
Deixemos, pois, de escrúpulos e levantemos o culto da Fortuna. Dinheiro! Felicidade! Audácia! Com
uma tal aviltação política, o Brasil não é só um baldio abandonado às experiências e avidezas dos
aventureiros nacionais. É uma presa voluntária, oferecida às liberalidades e intrigas da absorção
estrangeira. Operários brasileiros, se renunciais à vossa terra, olhai, enquanto seja tempo, pela vossa
pátria”.
7. A Plebe dedicou vários artigos no primeiro semestre de 1919 à candidatura Rui, apontando as
contradições deste e denunciando a demagogia de O Estado de S. Paulo, que o definia como
candidato da classe operária. Ver em especial A Plebe, 22 fev. 1919.
8. Pereira Ignácio & Cia. Correspondência, jun. 1919.
9. O Centro Industrial do Brasil, fundado em 1904, reunia de fato apenas empresários do Distrito
Federal e do estado do Rio. Por volta de 1918, Street dirigia fábricas têxteis tanto em São Paulo como
no Rio de Janeiro.
10. A Razão, 22 fev. 1919.
11. O País, 12 jun. 1919. Transcrito em Documentos Parlamentares, Legislação Social. Rio de
Janeiro, 1922. v. 3, pp. 873 ss. O ponto de vista dos adversários de Street se encontra expresso em
artigos publicados no Jornal do Comércio, durante o mês de junho de 1919.
12. Decretos Legislativos n. 1150, de 5 jan. 1904, e n. 1607, de 29 dez. 1906.
13. A principal fonte de legislação social e dos projetos nesse sentido são os Documentos
Parlamentares, Legislação social (Rio de Janeiro, 1919-22. 3 v.). Sobre a Lei Tosta há um
interessante comentário em José Albertino Rodrigues, Sindicato e desenvolvimento no Brasil. São
Paulo: Difel, 1968, p. 50.
14. Legislação Social, v. 2, p. 383. Em sua defesa da propositura, Tosta ressaltava o contraste
entre uma lei de paz e concórdia como a sua, capaz de favorecer a criação de organismos de
conciliação, e pactos do gênero que os estivadores do Rio de Janeiro e Buenos Aires firmaram em
1904, dando origem à Associação de Resistência dos Marinheiros e Remadores, a qual procurara
impor despoticamente sua vontade aos proprietários de navios e armadores.
15. Na explicação do comportamento de Maurício de Lacerda, o meio cultural predomina sobre
as origens sociais. É provável que a figura florianista e em certa medida plebeia de Nilo Peçanha, um
dos chefes do PR fluminense, tenha tido bastante importância em sua formação. Lacerda escudou-se
inutilmente em seu nome, quando foi excluído do partido em 1921.
16. Voz do Povo, 29 fev. 1920; A Plebe, 26 jun. 1920.
17. Os dados gerais das biografias de Maurício de Lacerda e Nicanor Nascimento e de sua
atividade na Câmara foram extraídos essencialmente de James Paul McConarty, The Defense of the
Working Class in the Brazilian Chamber of Deputies, 1917-1920. Tulane University, 1973
(mimeografado). Para as divergências entre Lacerda e o governo Vargas, ver Maurício de Lacerda,
Segunda República. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1931.
18. Diário do Congresso Nacional, Câmara dos Deputados, sessão de 22 nov. 1918. Lacerda
achava-se ausente na ocasião.
19. Legislação social, v. 2.
20. James P. McConarty, op. cit., onde aliás esse aspecto é enfatizado.
21. Legislação social, v. 1, pp. 120 ss.
22. A Razão, 13 jul. 1918.
23. Legislação social, v. 2, pp. 452 e 713 ss.
24. James P. McConarty, op. cit., pp. 24-5.
25. Nicanor Nascimento explorou longamente a discrepância entre o positivismo gaúcho e o
Apostolado na sessão da Câmara de 30 de julho de 1918. Legislação social, v. 1, pp. 316 ss.
26. Legislação social, v. 1, pp. 258 e 259. É óbvio que o estereótipo do “continuum” de classes na
esfera industrial possuía uma parcela de verdade e refletia um momento de transição em que as
classes polares começavam apenas a se formar.
27. Anais da Câmara dos Deputados (1918), Rio de Janeiro, v. VI, p. 671, 1919.
28. Legislação social, v. 1, p. 602. O deputado gaúcho referia-se também ao exemplo uruguaio,
sempre presente para os políticos do Rio Grande do Sul, mostrando que a legislação instituída por
Battle y Ordonez não impedira os grandes surtos grevistas naquele país.
29. Legislação social, v. 1, pp. 490-1.
30. Lei n. 3724, de 15 jan. 1919. O diploma acolheu o princípio do risco profissional, mas
estabeleceu muitos limites à indenização, inclusive no tocante ao seu “quantum”.
31. Um caso excepcional bastante curioso, por estar ligado a uma mobilização de vulto, é o da
greve dos sapateiros cariocas de 1906. A relativa neutralidade demonstrada pela polícia provoca
expectativas favoráveis entre os operários e a queixa dos industriais. Ver Maria Cecília Baeta Neves,
“Greve dos sapateiros de 1906 no Rio de Janeiro: notas de pesquisa”. Revista de Administração de
Empresas, n. 13, abr./jun. 1973.
32. Uma campanha do Partido Operário do Distrito Federal logo resultou em modificações desses
dispositivos (Decreto n. 1162, de 12 de dezembro de 1890). A principal alteração consistiu em
considerar crime a cessação do trabalho somente quando houvesse ameaças ou violências. A partir
daí, Evaristo de Moraes sustentou inutilmente que a greve pacífica passara a ser um direito
reconhecido no país. Cf. Evaristo de Moraes, Apontamentos de direito operário. 2. ed. Rio de
Janeiro, 1971, p. 58.
33. Decreto n. 1641, de 7 de janeiro de 1907. Anteriormente, as expulsões — em regra sem
conteúdo político — se faziam através de atos específicos e por aplicação do Código Penal de 1890,
dando margem a muitas controvérsias. Por breve tempo (outubro a dezembro de 1892), vigeu no
governo de Floriano Peixoto uma lei de expulsão, como instrumento repressivo das revoltas do
período. Uma boa análise da aplicação do Decreto de 1907 e seus antecedentes se encontra em
Sheldon L. Maram, op. cit., pp. 38 ss.
34. John W. Dulles, Anarchists and Communists in Brazil, 1900-1933. Austin: University Texas
Publications, 1973, p. 61.
35. O Combate, 26 set. 1917.
36. Entre os deportados, Antonio Nalipinski, sapateiro, residente no Brasil há 25 anos; José
Fernandez, pedreiro, com cinco anos de residência; Antonio Lopes, tecelão, residente no país há onze
anos etc. Um bom relato da viagem do Curvello e do Avaré foi feito por Florentino de Carvalho nos
números de A Plebe de maio/junho de 1919, sob o título “A nossa expulsão. Apontamentos para as
famílias burguesas”. Ver também as edições de O Combate entre outubro de 1918 e março de 1919.
37. A Razão, 23 set. 1917.
38. A Plebe, 31 out. 1917; Everardo Dias, História das lutas sociais no Brasil. São Paulo: Edaglit,
1962, p. 91.
39. Edgard Carone, A República Velha. Instituições e classes sociais. São Paulo: Difusão
Europeia do Livro, 1970, p. 167. Em outubro de 1919, por exemplo, a Liga Nacionalista de São
Paulo lançou um manifesto contrário à greve dos serviços públicos.
40. Spartacus, 20 set. 1919; A Plebe, 30 out. 1919.
41. Spartacus, 27 set. 1919. Entre os signatários, Astrojildo Pereira, Otávio Brandão, Minervino
de Oliveira, Carlos Dias, Antonio Bernardo Canelas, Luiz Peres, Domingos Passos.
42. Afonso Schmidt, “Palavras de um comunista brasileiro à Liga Nacionalista e à mocidade das
escolas”. A Plebe, 13 dez. 1919.
43. John W. Dulles, op. cit., p. 109.
44.“A reação vem aí!”. A Plebe, 13 set. 1919; Spartacus, 20 set. 1919. Observar o uso da
expressão “classes produtoras” mais tarde apropriada e pervertida pela burguesia industrial.
45. Segundo os dados aproximativos oficiais, 66 pessoas foram expulsas em 1919 e 75 em 1920,
número somente superado entre 1907 e 1921 pelo primeiro destes anos, quando ocorreram 132
expulsões. Não se distinguem as razões (políticas ou não) das medidas. Anuário Estatístico do Brasil,
Ano V (1939-1940). Rio de Janeiro, 1941.
46. A Razão, 15 out. 1919; A Plebe, 7 fev. 1920; Voz do Povo, 20 fev. 1920.
47. A Razão, 15 out. 1919; A Plebe, 31 jan./7 fev. 1920; Voz do Povo, 20 fev./29 jul./14 nov. 1920.
O caso de Everardo Dias foi por ele narrado em Memórias de um exilado: episódios de uma
deportação. São Paulo, 1920. Para sua defesa por Maurício de Lacerda, ver Anais da Câmara dos
Deputados (1919). Rio de Janeiro, 1920, v. X e XII.
48. A Plebe, 22 nov. 1919; Voz do Povo, 13/16 out. 1920.
49. A Plebe, 3 abr. 1920.
50. Decreto n. 4247, de 6 de janeiro de 1921. A prova do exercício de profissão lícita destinava-se
sobretudo a reprimir a prática do lenocínio, constante preocupação do governo federal.
51. Decreto n. 4269, de 17 de janeiro de 1921.
52. Para a ação de Pupo Nogueira, ver Warren Dean, A industrialização de São Paulo. São Paulo:
Difel, 1971, pp. 176 ss.
53. Regulamentação do trabalho em domicílio (1918); aposentadoria de empregados em serviços
públicos (1920); reciprocidade em matéria de indenização por acidentes com as leis da Espanha e da
Itália (1918); regulamentação do trabalho do menor (1924); jornada de oito horas diárias e semana de
48 horas (1929). Cf. Julio Godio, El Movimiento obrero y la cuestión nacional. Argentina:
inmigrantes asalariados y lucha de clases 1880-1910. Buenos Aires: Erasmo, 1972, pp. 193 ss.; e
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Correio Paulistano
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A Gazeta
A Plateia
A Razão
Imprensa operária ou irregular
O Amigo do Povo
Avanti
La Battaglia
O Chapeleiro
Dealbar
Gazeta Operária
O Gráfico
A Guerra Social
O Jacobino
A Lanterna
O Livre Pensador
A Nação
A Plebe
Spartacus
A Terra Livre
Voz do Povo
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Apêndice
A relação das páginas seguintes enumera as greves do período 1917-21, no Rio de Janeiro e em
São Paulo. A partir da enumeração foram elaboradas as tabelas constantes do texto. Considerei
importante transcrever os dados brutos porque eles elucidam vários pontos que as tabelas deixam de
esclarecer: é o caso da indicação dos movimentos mais significativos, assinalados por um asterisco
(*). De qualquer forma, a relação é também meramente indicativa. O número de greves foi maior do
que o arrolado não só porque se pode supor a não referência a pequenas mobilizações como ainda
porque torna-se impossível computar referências genéricas aludindo à existência de “greves em
várias fábricas de móveis”, “greves em várias oficinas gráficas” etc. Saltam também aos olhos as
lacunas quanto ao número de participantes, duração e especialmente resultados. De qualquer modo,
preferi manter as raras indicações.
ARROLAMENTO DE GREVES
SAO PAULO — CAPITAL — 1917-8
ÂMBITO DURAÇÃO OU
(EMPRESA, OBJETIVO No REFERÊNCIA RESULTADO
RAMO ETC.) INICIAL
Crespi
Aumento, contra descontos 400 07/05/1917
(seção)
Lanifício
Ítalo- Aumento, higiene, menores, multas 500 07/05/1917
Paulista
Aumento, 8 horas, regulamentação do trabalho de
Greve 50 05/07 a
mulheres e menores, liberdade sindical, medidas contra a parcial
Geral* 000 25/07/1917
carestia e falsificação de gêneros
Tecidos
Contra demissões, contra regulamento 1000 05/09/1917 positivo
Ipiranga
Tecidos e
Bordados Contramestre — 05/09/1917 positivo
Lapa
Tecidos
Aumento 2600 16/10/1917
Mariângela
Crespi Cumprimento de acordo 2000 11/12/1917
Fábrica
Penteado Má qualidade matéria-prima — 06/07/1918
(seção)
ARROLAMENTO DE GREVES
SÃO PAULO — CAPITAL — 1919
DURAÇÃO
ÂMBITO
OU
(EMPRESA, OBJETIVO No RESULTADO
REFERÊNCIA
RAMO ETC.)
INICIAL
Cia. Nacional de Contra multas por produção insuficiente. 13/01 a
3400 negativo
Tecidos de Juta Solidariedade com demitidos 15/01
Cristaleria Atraso de salários, aumento, 8 horas, melhores 14/01 a
— negativo
Franco-Paulista condições gerais 15/01
+ de 27/01 a
Padeiros (ramo) Descanso dominical positivo
5000 03/02
Cia. Ind. Têxteis Contra redução salarial 1200 — —
Louças Sta.
Contra redução salarial 800 10/02 —
Catarina
Mariângela
Contra redução de horas — 28/03 —
(seção)
Aumento, qualidade da matéria-prima, 8 horas,
Pinto Vilela liberdade sindical, regulamentação do trabalho de — 21/04
—
(chapéus) Greve mulheres e menores, salário mínimo, contra 40 02/05 a
parcial
Geral* carestia, congelamento de aluguéis, falsificação de 000 24/5
gêneros
8 horas, pagamento em dia, aumento, abolição do
Cristaleria
trabalho de menores, reconhecimento sindical, não — 27/05
Colombo
despedida dos grevistas
Viúva Graig Cumprimento do acordo 300 29/05
Pentes Orion Cumprimento do acordo 02/06
Guayn & Co.
— —
(metalúrgica)
Vidreiros (ramo) 8 horas, contra descontos 01/06
Sapateiros
— —
(ramo)
06/06 a
Mariângela —
07/06
06/06 a
Tecidos Vitória — 600
07/06
Cia. Indústria
Solidariedade, reconhecimento sindical 13/06
Têxteis
01/07 a
Oficinas da SPR Cumprimento de acordo 2000 positivo
03/07
Cia. Nacional de Má qualidade da matéria-prima, multas, trabalho 01/07 a
parcial
Tecidos de Juta infantil 05/07
Casa da Boia 8 horas 07/07 a
(metalúrgicos) 08/07
Lobato & Cia.
Contra gerente 08/07 —
(gráfica)
Parafusos Sta.
Maus-tratos a menores —
Rosa
Cia. Nacional de
Tecidos de Juta — — —
(seção)
Martins Barros
Aumento, reconhecimento sindical 17/07
(metalúrgica)
Cofres
Nascimento — 17/07
(seção)
Correio
Paulistano — 17/07
(gráficos)
Casa Tolle
Contra trabalho por peça 01/08
(alimentação)
Casa Duprat Termina a
— positivo
(gráficos) 10/08
Princípios
Moinhos Gamba — — —
agosto
10/08 a
Gráfica (1) Contramestre — —
25/08
Armazéns IRFM Aumento — 10/08
Martins Barros Contra trabalho por peça — 17/08
Construção Civil 18/08 a
Aumento — positivo
(1) 20/08
Mappin Stores 18/08 a
Reconhecimento sindical — negativo
(marceneiros) 20/08
Cerâmica Sta. Cumprimento de acordo, reconhecimento sindical,
1000 20/08
Catarina contra caixa beneficente
Nami & Cia.
Atraso salarial — 20/08
(cristaleria)
Paulista de 21/08 a
Reconhecimento sindical, contramestre — positivo
Aniagem 22/09
Cia. de Gás
23/08 a
(serviços de Aumento positivo
25/08
carga)
Alpargatas 23/08 a
Contramestre negativo
(seção) 25/08
Cristaleria Itália Contra demissões, reconhecimento sindical, contra 26/08
diretores
Reconhecimento sindical, 8 horas, indenização por 01/09 a
Madeira (ramo) parcial
acidentes 18/09
Wilson & Cia. Aumento 02/09
Crespi (seção) Aumento 02/09
Tipografia Del
— 02/09
Guerra
Vidraria Sta. + de
Aumento 05/09
Marina 1000
Cia. Mecânica
Cumprimento de acordo — 09/09
(serraria)
Cia. Armour Reconhecimento sindical 1100 10/09
Armazéns da SPR Aumento 600 10/09
A Gazeta
— — —
(gráficos)
Fábrica Labor 11/09 a
Reconhecimento sindical — positivo
(tecidos) 15/09
Têxtil Barra
Solidariedade — 13/09
Funda
Canteiros da
Aumento — 13/09
Catedral
Molduras Aurora 8 horas, aumento, reconhecimento sindical — 17/09
Louças
Contra maus-tratos a crianças — 19/09
(1 empresa)
8 horas, aumento, contra demissões de dirigentes
Limpeza Pública 22/09 a
sindicais, melhor tratamento, demissão de subchefe, — parcial
(ramo)* 01/10
indenização por acidentes
Casa Puzzi 25/09 a
Atraso no pagamento — positivo
(gráficos) 26/09
Casa Vanorden
Atraso no pagamento — 25/09 —
(gráficos)
Trigueiro Godoy
Aumento — 26/09
(calçados)
Cantareira Aumento, contra multas, solidariedade com
— 04/10
(ferroviários) demitidos
Malharia Leão — 04/10
Vassoureiros
8 horas, aumento 09/10 parcial
(ramo)
Greve Aumento, 8 horas, abolição de multas, contra 20 24/10 a
negativo
Interprofissional* demissões, liberdade sindical 000 27/10
Tipografia
Aumento 11/11
Ipiranga
Matarazzo Solidariedade 25/12 a parcial
(Belenzinho) 07/01/1920
ARROLAMENTO DE GREVES
SAO PAULO — CAPITAL — 1920
ÂMBITO (EMPRESA, DURAÇÃO OU
OBJETIVO No RESULTADO
RAMO ETC.) REFERÊNCIA INICIAL
ARROLAMENTO DE GREVES
RIO DE JANEIRO — 1919
ÂMBITO DURAÇÃO OU
(EMPRESA, OBJETIVO No REFERÊNCIA RESULTADO
RAMO ETC.) INICIAL
Construção Civil
8 horas — 03/05
(ramo)
Moinho Inglês
— — 04/05
(têxtil)
Marítimos
(marinheiros e 8 horas, aumento, closed shop __ 07/05 a 29/05 parcial
remadores)
Contramestres, ensino de aprendizes, maus-tratos a
Têxteis (ramo) __ 22/05
menores
Bebidas (ramo) Aumento, 8 horas — 22/05
Fumo (ramo) Aumento, 8 horas — 22/05 a 29/05 positivo
1 vidraria — — 22/05
Carpinteiros
navais (2 — — 01/06
empresas)
8 horas, aumento, readmissão de demitidos
Têxteis (ramo)* reconhecimento sindical, regulamento do trabalho 01/06 a 17/08 negativo
de menores e mulheres
Casas Atlas
Horário — 03/06
(calçados)
Marmoristas
— — 26/06
(ramo)
Calçados (2
— — 27/06
empresas)
Greve
Solidariedade internacional — 21/07
interprofissional
Gráficos (ramo) Aumento salarial — 29/07
Greve
Protesto contra deportações — 15/010
interprofissional
ARROLAMENTO DE GREVES
RIO DE JANEIRO — 1920
ÂMBITO (EMPRESA, DURAÇÃO OU
OBJETIVO No RESULTADO
RAMO ETC.) REFERÊNCIA INICIAL
Bangu (têxtil) Horário — 10/01 parcial
Leopoldina Aumento, legalidade sindical,
8000 14/03 a 28/03 negativo
(ferroviários)* contra demissões
Greve
Solidariedade à Leopoldina — 14/03 a 28/03
interprofissional*
Reconhecimento sindical Closed-
Portuários (ramo) — 08/07 a 11/07 parcial
shop
Taifeiros
— — 10/09
(marítimos)
Protesto por desaparecimento de
Sapateiros (ramo) — 14/10
líder sindical
Marítimos (ramo)* Closed-shop, aumento — 11/11 negativo
RENATO PARADA
Grafia atualizada segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, que entrou em
vigor no Brasil em 2009.
Capa
Claudia Espínola de Carvalho
Preparação
Maria Fernanda Alvares
Revisão
Carmen T. S. Costa
Jane Pessoa
ISBN 978-85-438-0735-5