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Brasília, 2013
Orientador – UCB
Brasília - DF
2013
ANGELA MARIA GUARILHA ALVES
Brasília
2013
12,5 cm
CDU 316.6
Brasília
2013
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, Carlos da Fonseca Guarilha (in memorium) e Geny Srur Guarilha (in
memorium) por me nortearem, com valores de amor ao próximo.
Aos meus filhos, Nathalia, Vinicius e Laura que sempre foram luzes no meu
caminho.
Ao meu professor e orientador, Prof. Dr. Vicente de Paula Faleiros que com seu
conhecimento e habilidade me ensinou a ordenar as idéias para que eu pudesse
alcançar meu objetivo.
A minha querida e fiel amiga, Ângela Diva que me estimulou nos momentos mais
difíceis a prosseguir.
The relevance of this research is related to the question in this social imaginary and
the everyday life of the population that is marriage, which is expressed both by the
increasing number of marriages, and divorces. Unions and separations reveal
themselves inseparable and perceived significantly both by men as by women, thus,
objects of social representations. The Theory of Social Representations Serge
Moscovici served as the theoretical study. This research aimed to understand the
social representations of marriage by four heterosexual spouses, trying to
understand the reasons that led to marriage, as well as highlight the representations
by which the couples remain married, identifying issues and experiences of same.
The qualitative data collection was performed using semi-structured interview script,
focusing on the analysis of issues related to perceptions of couples such as: work,
kids, sex, money, family and social life, which were interpreted under the
epistemology of subjectivity in qualitative research Fernando González Rey the
discussion of the results showed that there are representations of unity in marriage
as well as representations related to family approval of the spouse, the division of
labor, sexual practice after the birth of children, money management and how to
resolve conflicts.
INTRODUÇÃO 8
1 OBJETIVOS ....................................................................................................... 12
1.1 OBJETIVO GERAL...........................................................................................................12
1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................................12
REFERÊNCIAS......................................................................................................... 69
INTRODUÇÃO
Para Badinter (1986), o casamento não sendo mais um laço divino, nem a
aliança de duas famílias, nem uma união econômica, é para os que o praticam, uma
última prova de ternura. O casamento é freqüentemente ligado ao desejo de filhos, é
fruto de uma longa maturação e não o resultado de um desatino passional. A
coabitação tornando-se uma maneira banalizada de viver como casal, o momento do
casamento sendo cada vez mais adiado, é fácil conceber que o tempo das primeiras
paixões não é o da Instituição. Para aqueles, a tradicional lua-de-mel, que devia
preparar a vida conjugal, não tem mais sentido. Segundo Badinter (1986), agora
esposa-se um amante que se conhece bem por assim dizer, o amigo privilegiado.
Por tudo isso, esta dissertação buscou discutir a temática do casamento e as
representações do enamoramento e da união conjugal, na sessão inicial; seguiu
tratando do casamento em suas formas jurídicas e na Teoria Psicossocial e, por fim,
explicitou-se a teoria de Serge Moscovici que deu sustentação teórica metodológica
à pesquisa.
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1 OBJETIVOS
valores e afetos não conseguimos captar a história contida em cada coisa que
estiver acontecendo no mundo do enamoramento.
Assim a biografia da relação do casal é repleta de uma infinidade de
conteúdos e qualquer percepção a eles direcionada não consegue captar a
imensidão de particularidades daquela relação por não ser parte integrante da
mesma.
Para Bosi (2003), a memória da relação a dois é individual, somente vivida
naquele tempo cronológico e subjetivo. Essa unicidade torna cada relação conjugal
um universo particular com suas especificidades.
Existe uma predisposição ao enamoramento segundo Alberoni (1988), que
começa com um profundo desencantamento conosco ou com aquilo que já amamos.
No espaço psicológico que habitamos desde cedo, vivemos tensão e frustrações,
através do objeto de amor numa base ambivalente de sentimentos. Para
conservarmos o objeto amoroso intocável, segundo o autor, dirigimos nossa
agressividade para nós mesmos, ora elaborando-a como sentimento de culpa, ora
tentando explicar sentimentos antagônicos como culpa de inimigos externos. Assim
o objeto de amor é conservado de forma idealizada, passando por mutações no
nosso desenvolvimento psicológico. Essa sobrecarga depressiva, está contida em
todos os movimentos coletivos e também no enamoramento. Tal tristeza faz com
que recolhidos em nós mesmos, a felicidade alheia passa a ser algo inacessível e
invejado.
Citando Jablonski (2001), a sociedade cria nos indivíduos uma expectativa
muito difícil de ser alcançada, ao tornar sinônimos amor-paixão e casamento,
gerando desejos que não poderão cumprir, pois as práticas referentes ao casamento
variam conforme o contexto sócio-histórico-cultural e a etapa do ciclo vital dos
indivíduos os quais, alteram o sentido, os motivos e as expectativas com relação ao
casamento.
As promessas imaginárias que o enamoramento traz, segundo Alberoni
(1988), nos faz acreditar numa felicidade que nos retira da cultura concreta em que
vivemos.
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e rituais familiares que serão mantidos e aqueles que o casal desenvolverá sozinho.
Os cônjuges terão que renegociar o relacionamento com suas famílias de origem a
partir do casamento, pois as situações e necessidades são restritas ao casal. Essas
decisões não podem mais ser determinadas unicamente numa base individual.
O relacionamento amoroso do casal apesar de ser um ato de liberdade no
qual eles optam por permanecerem juntos, há pressão social para tal na medida dos
compromissos sociais, familiares e financeiros assumidos pelo casal. Pelo senso
comum, espera-se que as partes já saibam a que estão se vinculando e que
expectativas criar ao optar por relacionarem-se em especial em razão de existir
expressa previsão legal dos deveres e direitos dos cônjuges nos artigos 1.565 1.566
do Código Civil (BRASIL, 2002):
Art. 1565. Pelo casamento, homem e mulher assumem mutuamente a
condição de consortes, companheiros e responsáveis pelos encargos da
família.
Parágrafo 1. Quando dos nubentes, querendo poderá acrescentar ao seu o
sobrenome do outro.
Parágrafo 2. O planejamento familiar é de livre decisão do casal,
competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e financeiros para o
exercício desse tipo de coerção por parte de instituições privadas ou
públicas.
Art. 1566. São deveres de ambos os cônjuges:
Fidelidade recíproca;
Vida em comum, no domicílio conjugal;
Mútua assistência;
Sustento, guarda e educação dos filhos;
Respeito e consideração mútuos.
dinheiro faz surgir uma nova modalidade de relação: o amor moderno, fabricado,
interessado, que não se sustenta sem a base do dinheiro. O elemento monetário
modifica as relações e, na sociedade ele tem forte influência sobre o comportamento
das pessoas e sobre as relações conjugais. Segundo dados de sua pesquisa, o
dinheiro no casamento está sujeito a valores, humores e reações entre o casal.
Para Simmel (1971), a sociedade é uma rede de associações, tecidas
incessantemente de tal forma que de qualquer ângulo é possível alcançar qualquer
ponto do ambiente social. Sentimentos, amor e dinheiro não estão completamente
separados, mas aproximam-se em alguns momentos e, ao se tocarem, modificam-se
mutuamente. Para ele, na sociedade onde predominam relações monetárias, o amor
assume características peculiares. Ele continua discorrendo sobre a relação do amor
com o dinheiro, relacionando-o ao fortalecimento da individualidade, como sendo
uma característica do mundo moderno amparado no desenvolvimento da economia
monetária. O dinheiro, segundo ele, acarreta possibilidades para que os interesses
individuais se sobreponham ao coletivo e, com isso, contribui para o surgimento de
um tipo específico de amor como esfera pertencente exclusivamente ao indivíduo,
gerando conflitos na relação de conjugalidade.
Segundo Araújo (2002), em torno do ideal de conjugalidade instaurado,
criaram-se expectativas e idealizações, entre elas a ideia de casamento como lugar
de felicidade onde o amor e a sexualidade são fundamentais. Desde então, a
instituição casamento, moldada pelas determinações econômicas, sociais, culturais,
de classe e gênero têm assumido inúmeras formas. Ela continua discorrendo que
hoje, os mesmos movimentos de mudança levaram os casais a reverem suas
idealizações sobre o casamento, o amor e a sexualidade. Novas formas de amar e
se relacionar estão sendo construídas para responder as exigências de uma
sociedade onde os valores e as regras econômicas e sociais estão sempre em
mutação.
Para Giddens (1993), as mudanças que vêm acontecendo no amor, no
casamento e na sexualidade resultaram em transformações radicais na intimidade e
na vida pessoal dos indivíduos. A revolução sexual e a emancipação feminina
tiveram um papel fundamental e as novas formas que resultaram dessas mudanças
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que as famílias faziam para servir de base a alianças, dentre as quais a reprodução,
cuja importância se sobrepunha ao amor e à sexualidade.
As grandes mudanças, segundo Ariès (1978), se iniciam com a modernidade,
com a valorização do amor individual presente na ideologia burguesa que
estabelece o casamento por amor, amor-paixão, com predomínio do erotismo na
relação conjugal. Esse novo ideal impõe aos cônjuges que se amem ou que
pareçam se amar e que tenham expectativas a respeito do amor e da felicidade no
casamento.
O casamento é motivo de questionamentos, em função das transformações
nas suas características. Do modelo considerado tradicional no qual os casais
passavam através do processo de namoro até chegar ao casamento às diversas
formas de casamento atuais, as mudanças nos papéis conjugais e nas expectativas
frente ao casamento originaram formas atuais de casamento e novas expressões na
forma de relacionamento entre os casais.
Para Araújo (2002), a instituição casamento, constituída ao longo do tempo,
tem sido moldada pelas determinações econômicas, sociais, culturais, de classe e
gênero.
O casamento traz implícita em sua conceituação uma série de características
questionadas na contemporaneidade. O conceito de casamento traz em sua
concepção pressupostos da formalidade, da união heterossexual, do estado de
aptidão e competência do casal e da necessidade de autorização civil podendo ou
não receber autorização religiosa o que depende da relação do casal e ou da família
com a religião a que estiver ou estiverem ligados por afinidade ou ideologia.
A visão do casamento atual decorrente da evolução social, da emancipação
feminina, da revolução sexual, do aperfeiçoamento dos métodos anticoncepcionais e
das técnicas de reprodução, entre outros fatores, modificou o conceito e a posição
ocupada pelo casamento em nosso contexto.
Nos anos 1970, a constituição da família parecia orientar-se por um modelo
único de família nuclear tradicional, caracterizada pelo casamento heterossexual
indissolúvel e pelos papéis do homem como provedor e da mulher como mãe e dona
de casa. Atualmente as pessoas adquiriram autonomia nas relações afetivas, na
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estão iniciando sua vida sexual mais cedo e casando-se mais tarde, permanecendo
mais tempo na casa dos pais.
4 MÉTODO DA PESQUISA
Foi utilizado o método qualitativo, sob enfoque de González Rey (2005), com
quatro casais, casados há pelo menos 3 anos, com idades entre 35 e 55 anos, com
filhos em idades variadas. Um dos objetivos específicos, é o de desvelar os motivos
que originaram o enamoramento, a forma como vivem, a rotina do casamento e os
motivos que fazem com que permaneçam casados. Buscou-se, portanto, os
conteúdos intra e interpessoal vivenciados na produção do enamoramento. As
perguntas versaram sobre a forma como se conheceram e os motivos que lhes
despertaram o interesse para o enamoramento. Nas questões relacionadas ao
cotidiano da vida dos casais as perguntas trataram das questões sobre filhos,
sexualidade, vida social e familiar e dinheiro. Quanto aos motivos que fazem com
que o casamento continue, as perguntas trataram da forma como elaboram os
conflitos, a vida na conjugalidade e na família.
Os pontos de vista subjetivos, foram coletados através das entrevistas semi-
estruturadas e as análises possibilitaram a pesquisadora observar, descrever,
compreender e atribuir significado aos temas abordados em contínua interação com
os participantes.
A classificação, análise e categorização no processo de análise dos dados
buscou dar um sentido ao conteúdo de significados através de categorias que
possibilitaram a narrativa analítica.
A proposta de González Rey (2005) oferece especificidade a um
posicionamento epistemológico em relação ao estudo da subjetividade que em sua
definição ontológica é considerada como um sistema de produção e de organização
de sentidos e permeia todas as atividades humanas, sendo objeto de todas as áreas
da psicologia, as quais se relacionam entre si nessa produção.
Para González Rey (2005), a condição de sujeito atualiza-se
permanentemente na relação produzida a partir das contradições entre suas
configurações subjetivas individuais e os sentidos subjetivos produzidos em sua
interação nas atividades compartilhadas nos diferentes espaços sociais.
González Rey (2005) afirma que a produção de sentidos provém da história
do sujeito e da diversidade dos contextos atuais da vida de cada um. Portanto, não
prevê encadeamentos de atividades e expressões regulares. As configurações
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4.1 PARTICIPANTES
foi dirigido a quatro homens e quatro mulheres, com filhos, com renda familiar
diferente entre os participantes, sendo que ambos trabalham. O encontro com a
pesquisadora foi realizado separadamente e o questionário elaborado a partir de um
perfil de idade, escolaridade, renda familiar, ano de casamento, trabalho e filhos com
diferentes idades.
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os amigos descritos por Alberoni (1988), refere-se aos amantes que querem
ter de si mesmos imagens recíprocas semelhantes, ou pelo menos sem
dissonâncias excessivas. Segundo Alberoni (1988), reunimo-nos porque nos
assemelhamos e desejamos ver com um mesmo olhar, uma mesma realidade. Os
amantes andam lado a lado, solidários para enfrentar a vida.
Segundo Costa (1998), aprendemos a crer que amar romanticamente é uma
tarefa simples e ao alcance de qualquer pessoa razoavelmente adulta, madura, sem
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ela era diferente, mais amadurecida, talvez pelo fato de ter perdido a mãe, ainda
criança.”
O casal é o mais jovem da pesquisa e apresenta um modelo de casamento
baseado no respeito mútuo, na divisão de tarefas e no cooperativismo. Segundo ela,
a relação precisa ser pautada no respeito que precisam ter um pelo outro para que
haja possibilidade de convivência. A aprovação familiar da família de cada um
influenciou na escolha do parceiro confirmando como objetivaram a escolha do
parceiro para o casamento, ancorando na expectativa e valores do meio social e da
família de origem.
No casal 2, a resistência foi uma das características vividas pelo casal na
aceitação da família com relação ao marido. Segundo ela: “Minha família não o
recebeu muito bem por ele ser negro, ser mais velho que eu sete anos e por eu ter
engravidado após cinco meses de namoro”. Segundo ele: “Não houve da parte da
minha família nenhuma objeção a ela”.
O casal está casado há dezoito anos, tem uma filha de 18 anos e um filho de
5 anos. Não mantém contato com a família dela, pois segundo eles a distância
impede, pois moram no interior da Bahia. Anualmente vão visitar a família dele com
os filhos, mas mantém uma vida reservada ao núcleo familiar.
Nesse casal, o preconceito e a gravidez representaram resistências para a
aceitação do parceiro, demonstrando as expectativas e preconceitos da família da
mulher. Os valores de sua família estão ancorados no valor dado ao casamento ser
realizado entre pessoas da mesma cor e do mesmo nível econômico e social.
O casal 3 viveu a pressão para que o casamento se transformasse em uma
união reconhecida legalmente. Segundo a mulher; “Por sentirmos atração, fomos
morar juntos de imediato. Minha mãe cobrou que casássemos, pois eu já tinha uma
filha que estava sendo criada por ela”. Segundo ele: “Logo fomos viver juntos e
montamos nossa casa. A mãe dela cobrou que casássemos legalmente. Minha
mulher teve uma filha no Piauí que era criada pela mãe e talvez por isso a
cobrança”.
A instituição do casamento representou para esse casal uma forma de
reproduzir um modelo que a família da mulher considerava como necessária à
50
5.1.3 Terceira zona de sentido: “Sexo: a freqüência se reduz, mas pode ser
prioridade”
família é muito agitada com a presença dos filhos e netos. Não sobra tempo para
atividades fora de casa”.
Nesse casal, as relações familiares são de suma importância para o
casamento deles. Vivem a rotina do casamento, envolvidos com as tarefas com os
filhos e netos e seus objetivos se concentram em corresponder as necessidades da
família.
No casal 4, apesar de prevalecer a vida em família, mantém a vida social
restrita ao casal nos finais de semana. Segundo ela: “Apesar de cansada,
procuramos conviver em família e com o meu marido. Gosto da vida social com meu
marido com poucos amigos e nos finais de semana vamos a restaurantes”. Segundo
ele: “Apesar do trabalho intenso, nos finais de semana vamos a restaurantes
sozinhos com alguns poucos amigos”.
Esse casal consegue manter a vida social, apesar das tarefas inerentes ao
casamento. Apesar de ser um casal tradicional, com uma relação heterogênea com
interesses comuns e interesses diferentes.
Dentre os casais participantes, o casamento está objetivado na estrutura
familiar que o compõe através dos filhos e do núcleo familiar que formam. Está
ancorado em valores que são vividos através das gerações, constituídos em atitudes
que ambos passam a ter, originários de suas famílias e ressignificadas no contexto a
que pertencem.
Nesse tema a pesquisa revelou que a vida familiar encontra prevalência sobre
a vida social. Dentre os casais participantes as tarefas inerentes ao casamento
parecem consumir interesses individuais na busca de uma vida social. Os casais
sentem-se envolvidos de tal forma com as responsabilidades atinentes ao
casamento que não introduzem atividades em sua rotina que possam vir a prejudicar
a convivência familiar.
Articulada à estrutura familiar está a questão do trabalho, fazendo parte da
mesma zona de sentido, na questão de como os casais compatibilizam o trabalho
profissional de ambos e as tarefas domésticas.
Para o casal 1, as tarefas não são divididas de forma igualitária pela
quantidade de horas trabalhadas que é menor para ela.Segundo ela: “Tenho mais
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tempo com minha filha e para as tarefas de casa, devido ao fato da minha carga
horária ser menor. Com isso há uma divisão de tarefas domésticas proporcional ao
tempo de cada um”. Segundo ele; “Meu trabalho me absorve muito, pois saio e vou
direto para a faculdade. Trabalho em uma empresa privada que me exige muito”.
O casal divide as tarefas domésticas proporcionalmente a disponibilidade de
tempo de cada um. Definem de forma clara as ideias que tem sobre a necessidade
de dividirem as tarefas domésticas de forma igualitária.
O casal 2, compartilha a vida profissional e no que diz respeito a mulher, é ela
a responsável pelas tarefas domésticas. Segundo ela: “Apesar de trabalharmos
juntos, tem tarefas que são de minha responsabilidade para facilitar a rotina da
família”. Segundo ele: “Trabalhamos juntos em nossa loja e procuramos dividir as
tarefas da loja, mas em casa as tarefas domésticas são de responsabilidade da
minha mulher”.
Para esse casal as tarefas são de responsabilidade da mulher, enquanto na
vida profissional trabalham juntos. O modelo que prevalece está relacionado a um
modelo tradicional em que a mulher possui um papel social como profissional e
acumula a função de ser responsável pelas atividades domésticas.
No casal 3, as tarefas são bem definidas. Para ela: “O horário de trabalho é
bem definido e quando chego em casa, as tarefas domésticos são feitas por mim e
algumas são feitas pelo meu marido principalmente as mais pesadas”. Para ele:
“Trabalho o número de horas necessárias exigidas e não deixo que isso interfira na
nossa vida em família. Quando chego em casa são outras tarefas”.
O casal define tarefas baseadas em um modelo tradicional associado a
fragilidade da mulher. Confirmando que, mulheres devem tratar de questões
associadas a feminilidade e homens são responsáveis por tarefas ligadas a força
física. Baseados nessa crença construíram sua conjugalidade e demonstram
estarem adaptados a tais regras relacionadas ao gênero masculino e feminino.
O casal 4, trabalham junto mas as tarefas domésticas são administradas por
ela, enquanto a questão financeira é administrada por ele.Segunda ela: “Trabalho
muito e não sobra tempo para as tarefas domésticas, que são feitas pela nossa
empregada doméstica”. Segundo ele: “Trabalho durante o dia, apesar de estar
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aposentado. Quando saio do trabalho vou para o salão fechar a questão financeira
do dia”.
Nesse casal as tarefas são administradas de forma bem definida; a mulher
encarrega-se da administração da casa, enquanto o homem cuida da questão
financeira.
Nesse tema dentre os casais participantes as tarefas domésticas continuam
sendo de responsabilidade da mulher, enquanto tarefas relacionadas a força física e
questões financeiras são atribuídas ao homem. Dentre os casais com idades a partir
de 50 anos, observa-se a conservação de um modelo tradicional que apresenta
questionamentos em sua funcionalidade, mas que continuam a serem usados. Nos
casais mais jovens da pesquisa é visível a redefinição das responsabilidades na
execução das tarefas domésticas. É importante ressaltar que dentre os casais
participantes, todas as mulheres exercem uma atividade profissional.
Como foi colocado na página 31, Duveen (2003), a diversidade das ideias que
Moscovici esteve interessado em explorar refletem uma distribuição desigual de
poder e geram uma heterogeneidade de representações.
Para Badinter (1986), em qualquer lugar, e sempre, as relações técnico-
econômicas do homem e da mulher são de estreita complementariedade,
contrariamente ao mundo animal, que ignora toda especialização sexual na busca
do alimento.
Para Badinter (1986), a classe dos homens e o grupo das mulheres
desenvolveram sua própria sociabilidade, sua própria cultura, sua própria psicologia,
a ponto de formar duas sociedades diferentes mais ou menos complementares
segundo as épocas. Essa relação, prossegue a autora (1968), fundamentalmente
reproduziu-se até nossos dias, a ponto de aparecer como um fenômeno universal,
portanto próprio à humanidade.
Segundo Badinter (1986), os homens criaram para si um domínio reservado,
inacessível as mulheres, uma habilidade técnica especializada, de uso exclusivo do
sexo masculino, que necessita de um aprendizado realmente ou falsamente
sofisticado; mas não há nada, na constituição física feminina que explique que a
mulher não tem acesso. Atualmente segundo Badinter (1986), os pontos de
58
5.1.5 Quinta zona de sentido: “Cada um paga, o dinheiro é dos dois, mas ele
administra”
No casal 3, o marido paga as contas dos gastos fixos enquanto a mulher trata
de complementar as despesas extras. Segundo ela: “A responsabilidade das contas
da casa é de responsabilidade do meu marido. As despesas extras eu assumo e
pago meus gastos pessoais”. Segundo ele; “Meu dinheiro serve para os gastos fixos
e a minha esposa paga as despesas que não fazem parte da rotina da casa”.
Nesse casal o modelo é o homem provedor e da mulher a que ajuda o marido
quanto as despesas extras. Nesse caso, a mulher possui uma maior autonomia
quanto ao seu dinheiro, escolhendo onde gastá-lo.
No casal 4, o dinheiro é administrado pelo homem. Embora ambos trabalhem
, a mulher é a responsável por administrar o salão de beleza que possuem e o
homem administra a questão financeira. Segundo ela: “Meu marido administra o
dinheiro, mas tenho autonomia para comprar e gastar o que quero. O dinheiro de um
casal é dos dois”. Segundo ele: “Ela trabalha muito e eu também. Ela gasta mais do
que eu, por isso administro. Sempre fico atento aos pagamentos pois tenho receio
que ela extrapole”.
Nesse casal a mulher apesar de produzir seu próprio dinheiro com seu
trabalho, o marido cuida da administração do salão de beleza. Esse é um modelo
tradicional que parece fazer parte da vida desse casal.
Dentre os casais participantes a questão da administração do dinheiro
continua sendo atribuída ao homem, apesar da mudança social pela qual a mulher
passou. Na distribuição dos papéis, há uma conservação nas representações sociais
do casamento em que o homem possui atribuições relacionadas a atividades
mentais que exigem raciocínio matemático enquanto a mulher é atribuído funções
relacionadas a manutenção da família além das atividades profissionais.
A administração do dinheiro está ancorada na divisão do gênero masculino e
feminino, atribuindo papéis bem definidos quanto ao gênero que definem valores
diferentes entre eles. A mulher por ser considerada ao longo do tempo como
prestadora de serviços à família e o homem como administrador do dinheiro por ser
considerada uma atividade intelectual. Os casais objetivam a representação do
dinheiro no tipo de contas bancárias, estabelecidas de forma individual ou conjunta.
60
sinto que ela está estressada, trato de ficar quieto e espero ela se acalmar para
conversar. Tento sempre ficar atento para escutá-la quando ela não está satisfeita”.
Nesse casal a atenção está voltada para perceberem o que desagrada e
assim conseguem uma forma de se calarem no momento do desentendimento,
recobrando a relação para poderem conversar. Possuem um limite claro de um para
com outro, procurando não extrapolar para não entrarem em conflitos.
O casal 2, silencia para não brigarem. Segundo ela: “Eu me calo quando sinto
que ele está estressado ou nervoso. Dessa forma, não brigamos. Depois as coisas
voltam ao normal”. Segundo ele: “Não discutimos quando as coisas não estão bem.
Ela se cala e eu também para não brigarmos”.
Nesse casal o silêncio é a forma que encontram para não entrarem em uma
discussão. A relação é mantida de forma a não estabelecerem um diálogo de
imediato, para não entrarem em conflito e brigarem.
No casal 3, o calar é a forma que encontram para poderem conversar quando
estão mais calmos. Segundo ela: “Mesmo em momentos mais difíceis, procuramos
nos entender sem ofensas. Temos uma forma de nos entender”. Segundo ele:
“Procuramos não brigar, pois tratamos de nos entender quando a situação não está
boa”.
Esse casal parece ter claro os limites de cada um e o que os desagrada. Dão
prioridade a manutenção de um bom relacionamento e parecem ter um
entendimento entre eles que facilita a resolução dos conflitos.
No casal 4, apesar de ambos serem explosivos, conseguem conversar para
chegarem a um acordo. Segundo ela: “ Por eu ser mais explosiva, tenho tentado me
acalmar para conversar. Tento acalmá-lo e a mim também para chegarmos a um
acordo. Segundo ele: “Sou estressado, mas ela apesar de agitada consegue me
acalmar para conversarmos depois de um desentendimento”.
Esse casal demonstra que reagem de forma semelhante frente as situações
de conflito e tentando manter um bom relacionamento, se esforçam para
conversarem.
62
como um veículo para o desenvolvimento individual, desde que haja por parte do
homem e da mulher uma flexibilidade, uma motivação para encarar o novo contido
na rotina do dia-a-dia.
Na perspectiva anterior, pode-se considerar a hipótese de que haja um
crescimento mútuo.
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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Quanto ao enamoramento Costa (1998), afirma que para ter o amor como
ideal no casamento é preciso ocultar o que nele existe de incongruente, complexo,
difícil e humanamente imperfeito. Esse imaginário aparece no enamoramento, como
foi visto.
Bauman (2004), afirma que o amor é ambivalente, incerto e inevitavelmente
traz sofrimento. No entanto, querer escapar dessas incertezas significa fuga. A
instabilidade do amor não é ocasional. Por natureza ele é “sem descanso” e deve
sempre transcender e transgredir o que foi alcançado.
Deve sempre abastecer-se de novos suprimentos de energia para manter-
se vivo [...] e, uma vez acumulado, o capital é devorado rapidamente se não
for diariamente preenchido. O amor é assim, insegurança encarnada
(BAUMAN, 2004, p. 99).
REFERÊNCIAS
BAUMAN, Z. Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro:
J. Zahar, 2004.
BOSI, E. O tempo vivo da memória: ensaios de psicologia social. São Paulo: Atelié
Editorial, 2003.
CAHALI, Yussef Saíd. Divórcio e separação. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2002.
CÓDIGO do direito civil brasileiro: introdução e parte geral. 5. ed. São Paulo: RT,
1987.
COSTA, Jurandir Freire. Sem fraude nem favor: estudos sobre o amor romântico.
Rio de Janeiro: Rocco, 1998.
JABLONSKI, B. Até que a vida nos separe: a crise do casamento. Rio de janeiro:
Agir, 1991.
RUSSO, Glaucia. Amor e dinheiro: uma relação possível ? Cad. CRH, v. 24, n. 61, p
124-134, jan./abr. 2011.
ZORDAN, Eliana Piccoli; FALCKE, Denise; WAGNER, Adriana. Casar ou não casar?
Motivos e expectativas com relação ao casamento. Psicol. Rev., v. 15, n. 2, p 56-76,
2009
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Declaro, que após ser esclarecida a respeito da pesquisa, consinto voluntariamente em participar
desta pesquisa.
Brasília, de de 2013.
Nome:
RG: Data de nascimento:
Sexo:
Endereço:
Bairro: Cidade: Brasília CEP Tel: (61)
Assinatura do declarante
77
Declaro, para fins da realização da pesquisa, que cumprirei todas as exigências acima, na qual obtive
de forma apropriada e voluntária, o consentimento livre e esclarecido da (o) declarante acima,
qualificada (o) para a realização da pesquisa REPRESENTAÇÕES SOCIAIS NO CASAMENTO.
Brasília, de de 2013.