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l Orientador: Prof. Dr.

Vicente de Paula Faleiros

Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa


Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu Mestrado em
Psicologia

AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS NO CASAMENTO

Brasília, 2013

Dissertação de autoria de Angela Maria Guarilha Alves intitulada


“REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO CASAMENTO POR PARTE DE CÔNJUGES”,
apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Psicologia
Autora: Angela Maria Guarilha Alves
pela Universidade Católica de Brasília, defendida e aprovada em 17 de agosto de
Orientador:
2013, pela Banca Prof.
Examinadora abaixo Dr. Vicente de Paula Faleiros
assinada:

Prof. Dr. Vicente de Paula Faleiros

Orientador – UCB

Brasília - DF
2013
ANGELA MARIA GUARILHA ALVES

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS NO CASAMENTO

Dissertação apresentada ao programa de Pós-


Graduação Stricto Sensu em Psicologia da
Universidade Católica de Brasília, como
requisito para obtenção do título de Mestre em
Psicologia.

Orientador: Prof. Dr. Vicente de Paula Faleiros

Brasília
2013
12,5 cm

A474r Alves, Angela Maria Guarilha.


As representações sociais no casamento. / Angela Maria Guarilha Alves
– 2013.
81 f. ; 30 cm

Dissertação (mestrado) – Universidade Católica de Brasília, 2013. 7,5 cm


7,5cm Orientação: Prof. Dr. Vicente de Paula Faleiros

1. Psicologia social. 2. Casamento. 3. Relações humanas. 4. Papel social.


I. Faleiros, Vicente de Paula, orient. II. Título.

CDU 316.6

Ficha elaborada pela Biblioteca Pós-Graduação da UCB 01/10/2013


Dissertação de autoria de Angela Maria Guarilha Alves intitulada
“REPRESENTAÇÕES SOCIAIS NO CASAMENTO”, apresentada como requisito
parcial para obtenção do grau de Mestre em Psicologia pela Universidade Católica
de Brasília, defendida e aprovada em 23 de agosto de 2013, pela Banca
Examinadora abaixo assinada:

Prof. Dr. Vicente de Paula Faleiros


Orientador – UCB

Prof. Dra. Divaneide Lira Lima Paixão


Examinadora Interna – UCB

Prof. Dra. Leda Gonçalves de Freitas


Examinadora Interna - UCB

Prof. Dra Juliana Pacheco


Examinadora Externa - SES / DF

Profa. Dra. Maria Inês Gandolfo Conceicao


Examinadora Externa – UNB

Brasília

2013
AGRADECIMENTOS

A Deus, na figura de Cristo que trago dentro de mim.

Aos meus pais, Carlos da Fonseca Guarilha (in memorium) e Geny Srur Guarilha (in
memorium) por me nortearem, com valores de amor ao próximo.

Aos meus filhos, Nathalia, Vinicius e Laura que sempre foram luzes no meu
caminho.

Ao meu professor e orientador, Prof. Dr. Vicente de Paula Faleiros que com seu
conhecimento e habilidade me ensinou a ordenar as idéias para que eu pudesse
alcançar meu objetivo.

A todos os pacientes que no atendimento clínico contribuíram para que eu pudesse


compreender o ser humano em sua complexidade.

A minha querida e fiel amiga, Ângela Diva que me estimulou nos momentos mais
difíceis a prosseguir.

A Direção e aos professores do Mestrado em Psicologia, pela atenção e dedicação


no decorrer de todo o curso.

Aos colegas do Mestrado em Psicologia, pelo apoio e coleguismo ao longo de todo o


curso.

A Universidade Católica de Brasília, pela oportunidade que me concedeu em realizar


esse objetivo na área do conhecimento.
RESUMO

Alves, Angela Maria Guarilha. As representações sociais no casamento. 2013. 75 f.


Dissertação (Mestrado em Psicologia). Universidade Católica de Brasília, Brasília,
DF, 2013.

A relevância dessa pesquisa está relacionada com a questão socialmente presente


no imaginário e na vida cotidiana da população que é o casamento, o que se
expressa tanto pelo aumento crescente de uniões, assim como de divórcios. Uniões
e separações revelam-se indissociáveis e percebidas de forma significativa tanto por
homens, como por mulheres, constituindo assim, objetos de representações sociais.
A Teoria das Representações Sociais de Serge Moscovici serviu de embasamento
teórico ao estudo. Esta pesquisa teve por objetivo, compreender as representações
sociais do casamento, por parte de quatro cônjuges heterossexuais, procurando
entender os motivos que deram origem ao casamento, assim como ressaltar as
representações pelas quais, os casais mantêm-se casados, identificando questões e
vivências do mesmo. A coleta de dados qualitativos foi realizada através do roteiro
da entrevista semiestruturada, enfocando a análise de temas relacionados às
percepções dos casais tais como: trabalho, filhos, sexo, dinheiro, vida familiar e
social, que foram interpretados sob a epistemologia da subjetividade na pesquisa
qualitativa de Fernando González Rey. A discussão dos resultados mostrou que há
representações de união no casamento assim como representações relacionadas de
aprovação familiar do cônjuge, a divisão de tarefas domésticas, a diminuição da
prática sexual após o nascimento dos filhos, a administração do dinheiro e a
negociação para resolver os conflitos.

Palavras chave: Representações Sociais. Enamoramento. Conjugalidade


ABSTRACT

The relevance of this research is related to the question in this social imaginary and
the everyday life of the population that is marriage, which is expressed both by the
increasing number of marriages, and divorces. Unions and separations reveal
themselves inseparable and perceived significantly both by men as by women, thus,
objects of social representations. The Theory of Social Representations Serge
Moscovici served as the theoretical study. This research aimed to understand the
social representations of marriage by four heterosexual spouses, trying to
understand the reasons that led to marriage, as well as highlight the representations
by which the couples remain married, identifying issues and experiences of same.
The qualitative data collection was performed using semi-structured interview script,
focusing on the analysis of issues related to perceptions of couples such as: work,
kids, sex, money, family and social life, which were interpreted under the
epistemology of subjectivity in qualitative research Fernando González Rey the
discussion of the results showed that there are representations of unity in marriage
as well as representations related to family approval of the spouse, the division of
labor, sexual practice after the birth of children, money management and how to
resolve conflicts.

Keywords: Social Representations. Falling in Love. Conjugality.


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 8

1 OBJETIVOS ....................................................................................................... 12
1.1 OBJETIVO GERAL...........................................................................................................12
1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................................12

2 REFERENCIAL TEÓRICO: O ENAMORAMENTO, A UNIÃO CONJUGAL, AS


FORMAS JURÍDICAS E AS TEORIAS PSICOSSOCIAIS ....................................... 13
2.2 O CASAMENTO COMO CONTRATO JURÍDICO E EM SUA COMPLEXIDADE
SOCIAL ............................................................................. ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.

3 A TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE SERGE MOSCOVICI ...... 35

4 MÉTODO DA PEQUISA ..................................................................................... 40


4.1 PARTICIPANTES .............................................................................................................43
4.2 INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS...................................................................43
4.3 PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS................................................................44

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ......................................................................... 45


5.1.1 "O QUE ME CHAMOU A ATENÇÃO, FOI O JEITO DELA, O JEITO DELE"....

5.1.2 "MINHA FAMÍLIA GOSTOU, RESISTIU AO NEGRO E À GRAVIDEZ".............

5.1.3 "SEXO A FREQÜÊNCIA SE REDUZ, MAS PODE SER PRIORIDADE"............

5.1.4 "NOSSA VIDA É A FAMÍLIA, MAS O TRABALHO DOMÉSTICO É MAIS DA


MULHER".....................................................................................................................

5.1.5 "CADA UM PAGA, O DINHEIRO É DOS DOIS, MAS ELE ADMINISTRA"........

5.1.6 "A GENTE BRIGA, MAS DESCONVERSA?"......................................................

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 64

REFERÊNCIAS......................................................................................................... 69

APÊNDICE A – ROTEIRO DA ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA ..................... 75

APÊNDICE B - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ............ 76

APÊNDICE C - DECLARAÇÃO DO PESQUISADOR .............................................. 77

ANEXO A - APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA ................................................. 78


8

INTRODUÇÃO

Esta pesquisa decorreu do interesse em estudar o casamento motivado pelo


atendimento psicoterápico a adultos e casais e se justifica por revelar-se importante
tanto para homens como para mulheres por tratar-se de uma questão socialmente
presente na vida cotidiana da população sendo dessa forma objeto de
representações sociais.
Segundo o Dicionário da Língua Portuguesa (LAROUSSE, 1992), casamento
é a união legítima de um homem e de uma mulher que decidem unir-se legalmente.
É o mesmo que matrimônio, combinação, união, aliança. Para a antropologia social,
casamento é uma união de cunho sexual, mais ou menos formal e duradoura de um
ou mais homens com uma ou mais mulheres, em cohabitação. Considera-se o
casamento como sendo o que é celebrado publicamente ante o juiz, enquanto o
casamento religioso é aquele celebrado na presença de um padre ou outro líder
religioso. É considerado um sacramento na religião católica, exigindo assim livre
consentimento e não podendo ser anulado. Quando muito, pode haver
reconhecimento oficial de sua nulidade, desde que haja motivos jurídicos para tal,
como a descoberta de falsidade ideológica de um dos cônjuges.
Os usos e interdições em matéria matrimonial variam bastante entre os
diversos povos. Os ritos religiosos tiveram sempre uma grande importância; entre os
gregos e os romanos a cerimônia refletia os antigos ritos da integração da esposa
com a tribo. Em Roma distinguia-se o casamento por contarreatio reservado aos
patrícios, o casamento plebeu por usus, que era a homologação de um concubinato
de um ano. Além destes, existia o casamento e sinemanu que foi quase o único em
uso no império, e não comportava nem a cerimônia, nem a renúncia por parte da
mulher de sua autonomia jurídica e de sua antiga família, além de poder ser rompido
pela separação. Já nos países islâmicos o casamento é puramente civil e acarreta,
tradicionalmente, o pagamento de um dote ao marido, sendo a poligamia tolerada.
Entre os protestantes o casamento é um compromisso solene, mas não um
sacramento sendo que o divórcio não tem proibição.
9

O casamento definido legalmente é um contrato entre duas pessoas


tradicionalmente com o objetivo de constituir família. A Constituição Federal – artigo
226, parágrafo 3 (BRASIL, 1988) – define união estável como sendo a entidade
familiar entre um homem e uma mulher, configurada na convivência pública,
contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família. O
casamento legal e a união estável são sancionadas entre um homem e uma mulher
(com ou sem filhos), mediante comunhão de vida e bens. O casamento é um
expediente legal hábil para a constituição da família, conforme afirma Cahali (2002).
A definição de separação segundo o Dicionário da Língua Portuguesa
(LAROUSSE, 1992), é: partição, divisão, desunião. O rompimento do vínculo do
casamento foi instituído oficialmente no Brasil com a Emenda Constitucional (EC)
n.9, de 28 de junho de 1977, regulamentada pela Lei n. 6515, de 26 de dezembro de
1977. A Nova Lei do Divórcio promulgada no dia 13 de julho de 2010, alterou o
parágrafo 6 do artigo 226, da Constituição da República, que passou a ter a seguinte
redação: “o casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio” extinguindo assim, o
prazo para a efetivação do divórcio que era de dois anos após a separação judicial
da ordem constitucional. A referida Lei facilitou a dissolução do casamento civil,
eliminando a exigência de separação de fato por mais de dois anos para a obtenção
do divórcio e o acesso à legalização de uma nova união conjugal.
A compreensão do casamento e da separação implica no entendimento das
influências sociais e culturais, pois estas permeiam o campo sóciocultural da
realização de ambos. O senso comum percebe a complexidade dessas instituições e
indica o que pensam os grupos sociais e os indivíduos sobre questões fundamentais
do mundo social. Da mesma forma que existem pressupostos para o casal tomar a
decisão de casar-se, também há motivos e vivências que originam a dissolução do
vínculo conjugal. Por ser uma decisão tomada por duas pessoas, com freqüência,
diferentemente do casamento, a separação passa por um grande desgaste.
Pelos dados fornecidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE, 2011), houve um aumento de 5% de casamentos, que em 2011 foi de
1.026.736, realizados por pessoas com idade superior a 20 anos.
10

A cada 1000 habitantes dentre os Estados em que mais se casa são:


Rondônia, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás e São Paulo. Os Estados em que
menos há casamento, a cada 1000 habitantes são: Amapá, Maranhão e Rio Grande
do Sul.
Foram registrados 351.153 divórcios em 2011, com crescimento de 45,6%
em relação a 2010.
Segundo pesquisa do IBGE (2011), os brasileiros estão se casando cada vez
mais tarde. A idade média dos homens solteiros na data do casamento foi de 26
anos. Já as mulheres tinham, em média, 28 anos, dois anos a mais do que dez anos
antes.
Segundo o IBGE (2011), o Brasil alcançou um recorde de divórcios, mas
também teve o maior número de casamentos do século.
Verifica-se, portanto, um índice de crescimento de casamento, assim como na
taxa de separação, o que corrobora para a relevância desta pesquisa, que tem como
objetivo compreender as representações sociais do casamento com suas cognições,
crenças, ideologia, valores e estereótipos atribuídos ao casamento considerando os
motivos pelos quais homens e mulheres se casam e os motivos que os levam a
permanecerem no casamento com a complexidade de tais relações. Constituindo
objeto de representações sociais tal pesquisa pode contribuir significativamente no
exercício da prática clínica psicoterápica além de possibilitar o aprofundamento do
tema em estudos futuros.
Em síntese, não se pode separar, ao se considerar o casamento, as
dimensões sociais, culturais, econômicas, subjetivas e afetivas. Ele implica não só
a reprodução legitimada da espécie como a realização de desejos, de projetos de
vida, de afirmação das relações na sociedade, no que se representa como “vida de
casal”, podendo ser harmônica ou conflituosa. Tornou-se uma referência para a
moradia comum, embora haja casais que vivam em domicílios separados e nessa
moradia ainda existe o “quarto do casal” e a “cama de casal”. À mesa de refeições
há simbolicamente lugares para os cônjuges e quando existem, para os filhos.
Representa-se a “vida de casal” com a existência de sexualidade e de projetos
comuns aos cônjuges.
11

Para Badinter (1986), o casamento não sendo mais um laço divino, nem a
aliança de duas famílias, nem uma união econômica, é para os que o praticam, uma
última prova de ternura. O casamento é freqüentemente ligado ao desejo de filhos, é
fruto de uma longa maturação e não o resultado de um desatino passional. A
coabitação tornando-se uma maneira banalizada de viver como casal, o momento do
casamento sendo cada vez mais adiado, é fácil conceber que o tempo das primeiras
paixões não é o da Instituição. Para aqueles, a tradicional lua-de-mel, que devia
preparar a vida conjugal, não tem mais sentido. Segundo Badinter (1986), agora
esposa-se um amante que se conhece bem por assim dizer, o amigo privilegiado.
Por tudo isso, esta dissertação buscou discutir a temática do casamento e as
representações do enamoramento e da união conjugal, na sessão inicial; seguiu
tratando do casamento em suas formas jurídicas e na Teoria Psicossocial e, por fim,
explicitou-se a teoria de Serge Moscovici que deu sustentação teórica metodológica
à pesquisa.
12

1 OBJETIVOS

1.1 OBJETIVO GERAL

Identificar e compreender as representações sociais vivenciados no


casamento por parte de cônjuges heterossexuais.

1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Identificar as representações sociais dos motivos para a união conjugal


Compreender as representações sociais da convivência conjugal
Identificar as zonas de sentido das representações sociais no casamento
13

2 REFERENCIAL TEÓRICO: O ENAMORAMENTO, A UNIÃO CONJUGAL, AS


FORMAS JURÍDICAS E AS TEORIAS PSICOSSOCIAIS

Este capítulo considera as reflexões sobre o casamento em três dimensões:


as representações do desejo, do amor, do contrato, da união. Em seguida tratamos
da visão jurídica em especial e por último das teorias psicossociais do casamento.

2.1 AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA UNIÃO CONJUGAL

O casamento é visto tanto como enamoramento (desejo), como contrato,


especialmente na forma jurídica e como compartilhamento da individualidade e da
conjugalidade. Ele implica a união de indivíduos/pessoas, mas está socialmente
estruturado num imaginário e em rituais sociais.
No imaginário, talvez no início, esteja o namoro. Para Alberoni (1988), o
atributo do enamoramento é fundamento da existência. Esse atributo nos
acompanha desde o nascimento e é expresso na troca de olhares entre mãe e filho
e perdura por toda a nossa vida, no desejo do adulto de ser tomado e confirmado
pelo outro, fugindo-se do racional, pertencente ao desejo de compartilhar a vida com
um parceiro (a). Tal desejo orienta condutas na busca da união conjugal e tem como
uma das premissas para a concretização do casamento o estado de enamoramento.
Segundo Alberoni (1988, p. 5):
O enamoramento é o estado nascente de um movimento coletivo a dois [...].
É um fenômeno que pode ser incluído dentro de uma classe já bem
conhecida – a dos fenômenos coletivos. Entre esses fenômenos, o
enamoramento tem uma individualidade inegável, não se confundindo com
outros tipos de movimentos coletivos [...].
De fato segundo Bosi (2003), o estado de contemplação é pressuposto básico
paro o enamoramento, se nos mantivermos fixados em nossa atenção, não é
possível captar a imensidão do mundo do enamorar-se, por estarmos repletos de
14

valores e afetos não conseguimos captar a história contida em cada coisa que
estiver acontecendo no mundo do enamoramento.
Assim a biografia da relação do casal é repleta de uma infinidade de
conteúdos e qualquer percepção a eles direcionada não consegue captar a
imensidão de particularidades daquela relação por não ser parte integrante da
mesma.
Para Bosi (2003), a memória da relação a dois é individual, somente vivida
naquele tempo cronológico e subjetivo. Essa unicidade torna cada relação conjugal
um universo particular com suas especificidades.
Existe uma predisposição ao enamoramento segundo Alberoni (1988), que
começa com um profundo desencantamento conosco ou com aquilo que já amamos.
No espaço psicológico que habitamos desde cedo, vivemos tensão e frustrações,
através do objeto de amor numa base ambivalente de sentimentos. Para
conservarmos o objeto amoroso intocável, segundo o autor, dirigimos nossa
agressividade para nós mesmos, ora elaborando-a como sentimento de culpa, ora
tentando explicar sentimentos antagônicos como culpa de inimigos externos. Assim
o objeto de amor é conservado de forma idealizada, passando por mutações no
nosso desenvolvimento psicológico. Essa sobrecarga depressiva, está contida em
todos os movimentos coletivos e também no enamoramento. Tal tristeza faz com
que recolhidos em nós mesmos, a felicidade alheia passa a ser algo inacessível e
invejado.
Citando Jablonski (2001), a sociedade cria nos indivíduos uma expectativa
muito difícil de ser alcançada, ao tornar sinônimos amor-paixão e casamento,
gerando desejos que não poderão cumprir, pois as práticas referentes ao casamento
variam conforme o contexto sócio-histórico-cultural e a etapa do ciclo vital dos
indivíduos os quais, alteram o sentido, os motivos e as expectativas com relação ao
casamento.
As promessas imaginárias que o enamoramento traz, segundo Alberoni
(1988), nos faz acreditar numa felicidade que nos retira da cultura concreta em que
vivemos.
15

Segundo Costa (1998), os excluídos do amor romântico não se constituíram


ainda como “minorias identitárias”. Em contrapartida, aprenderam a se considerar
“infelizes”, “azarados”, “irrealizados”, “frustrados” e outros estigmas auto-aplicados.
Um dos motivos pelos quais os indivíduos conseguem imaginar soluções para seus
conflitos amorosos é a maneira como se tornam “sujeitos do amor”ou “sujeitos
afetivos”.
O enamoramento surge do vazio da vida cotidiana, da necessidade de
preencher a existência do próprio sentimento de não se ter nada que nos faça viver
o extraordinário. A forma de acessar esse extraordinário reflete o que Morin (1997),
define como sendo um movimento complexo e profundo do individualismo moderno
que é de tentar desesperadamente comunicar-se com o outro semelhante e
estranho – ser reconhecido e reconhecer, perder-se e afirmar-se numa aventura
privada do mundo burocrático – o que efetivamente na linguagem burguesa, ele
chama de “aventura”.
A ideia de que os dois se transformarão num só com a exigência de
exclusividade é a proposta que o enamoramento encerra e presume-se que as
pessoas encontram-se distraídas e não preparadas para tal, o que acontece de
súbito e com o máximo de força, seja a primeira vista, seja logo após e sem
possibilidade de defesa, fazendo com que o enamoramento prevaleça. A ideia é de
que o amor é “cego” e que a pessoa que está enamorada não observa as
imperfeições da pessoa amada, seja de caráter, seja de beleza e nem admite
quando lhe são apontadas. O desejo se estende ao outro, tornando sua natureza
social, na medida em que busca união e convívio social. Nessa perspectiva, a
reação de um casal contribui para a origem da cultura, pois reflete um ato social
norteado por regras e princípios particulares de um funcionamento social.
De acordo com Bourdieu (1987), na preparação de uniões por meio de
antecipação de estratégias, é notória a intervenção dos pais durante o decorrer da
vida de seus filhos, propondo espaços sociais nos quais eles terão mais chances de
encontrar eventuais parceiros do mesmo grupo social.
Para Morin (1997), o enamoramento é originário da complexidade de vários
fatores psicológicos, sociais e contextuais e é tão total, que se choca com a
16

realidade do mundo trazendo em si uma necessidade de eternidade que rompe com


um mundo em que tudo é transitório; insere-se num final feliz enquanto imagem
mitológica, porque supera todos os conflitos, escamoteia o próprio tempo.
Pela vida do cotidiano se apresentar sob a forma do tempo linear do relógio,
Elias (1998), considera que no enamoramento o impulso vital explora fronteiras do
impossível, do imaginário, da vida, do extraordinário. O tempo dos calendários diz
respeito a um pertencimento do homem ao mundo onde na convivência com outros
seres humanos, faz parte de um mundo natural, está inserido num contexto social e
a uma multiplicidade de fatores físicos. No enamoramento, há a convicção de que
para cada indivíduo existe uma pessoa certa, que também é considerada única no
mundo, à espera de ser encontrada. ”Em algum lugar eu o encontrarei”, e “em algum
lugar, deste mundo há alguém a espera” são apenas duas das várias centenas de
expressões familiares dessa crença.
O imaginário do enamoramento está contido nas dimensões interativas da
fala, do contato, de conquista de parceria para a construção de uma relação afetiva
e é considerado como requisito fundamental para a união conjugal, muito embora
segundo Henchoz (2008), há vários tipos de casamento, originários de vários
motivos tais como: atração erótica, sentimento que um completa o outro, poder
econômico, a beleza, expectativas pessoais postas no casamento, pressão social,
medo da solidão, desejo de ter filhos, qualidades positivas do parceiro entre outros
motivos. O enamoramento se traduz num ato social, num ritual, conforme a cultura.
Na concretização da cerimônia do casamento embora obedecendo a padrões
socioeconômicos e culturais, os casais, de modo geral, comemoram a nova união
das famílias que passam a integrar e o casal passa a ter uma identidade enquanto
tal.
O contrato de casamento requer que as duas pessoas renegociem uma série
de questões que definiram previamente para si em termos individuais, ou que foram
definidos por suas famílias de origem. No que diz respeito aos novos hábitos que o
casal passará a viver assim como irá se relacionar no meio social ao qual está
inserido, tomando decisões na posição de casal, mesmo as que estiverem
relacionadas à vida individual. Também existem as decisões a respeito das tradições
17

e rituais familiares que serão mantidos e aqueles que o casal desenvolverá sozinho.
Os cônjuges terão que renegociar o relacionamento com suas famílias de origem a
partir do casamento, pois as situações e necessidades são restritas ao casal. Essas
decisões não podem mais ser determinadas unicamente numa base individual.
O relacionamento amoroso do casal apesar de ser um ato de liberdade no
qual eles optam por permanecerem juntos, há pressão social para tal na medida dos
compromissos sociais, familiares e financeiros assumidos pelo casal. Pelo senso
comum, espera-se que as partes já saibam a que estão se vinculando e que
expectativas criar ao optar por relacionarem-se em especial em razão de existir
expressa previsão legal dos deveres e direitos dos cônjuges nos artigos 1.565 1.566
do Código Civil (BRASIL, 2002):
Art. 1565. Pelo casamento, homem e mulher assumem mutuamente a
condição de consortes, companheiros e responsáveis pelos encargos da
família.
Parágrafo 1. Quando dos nubentes, querendo poderá acrescentar ao seu o
sobrenome do outro.
Parágrafo 2. O planejamento familiar é de livre decisão do casal,
competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e financeiros para o
exercício desse tipo de coerção por parte de instituições privadas ou
públicas.
Art. 1566. São deveres de ambos os cônjuges:
Fidelidade recíproca;
Vida em comum, no domicílio conjugal;
Mútua assistência;
Sustento, guarda e educação dos filhos;
Respeito e consideração mútuos.

Estes artigos prevêem que o casamento vai além de um simples contrato


celebrado entre as partes, cada um sabe de seus deveres e de seus direitos. Esse
instituto, para o Direito Civil, é o acordo comum e voluntário em que duas pessoas
demonstram suas intenções em estabelecer ampla e total solidariedade e comunhão
de vida, caracterizando-se por respeito, assistência, consideração, fidelidade e
companheirismo mútuos, bem como renúncia à concepção individualista em prol do
grupo familiar, da célula do coletivo.
Após o ritual e a efetivação da união, as relações matrimoniais passam por
fases inerentes à vida do cotidiano, que repercutem na intimidade e na forma de
relacionamento do casal. A proposta teórica de Erik Erikson (1902-1994), diz
respeito à concepção do desenvolvimento psicossocial do ser humano
18

perspectivados em oito estágios que oferecem compreensão para a interação da


pessoa com o meio, que começam com o nascimento e culminam até a morte,
pertencendo às quatro primeiras ao período de bebê e de infância, e as três últimas
aos anos adultos e a velhice. Cada estágio é atravessado por uma crise psicossocial
entre uma vertente positiva e uma negativa, sendo que as duas vertentes são
necessárias, mas é essencial que a positiva se sobreponha à negativa. A forma
como cada crise é ultrapassada irá influenciar a capacidade para se resolverem
conflitos inerentes à vida pessoal, podendo-se projetar para a interação da vida a
dois e ao mundo social.
Erikson (1976), com sua teoria sobre o sexto estágio trata especificamente da
intimidade ou possibilidade de isolamento, que ocorre entre os 20 e os 35 anos,
aproximadamente, idade em que há o estabelecimento de relações íntimas
configurando a fase em que o homem e a mulher começam a pensar sobre a
possibilidade de casarem-se ou não; estabelecendo relações afetivas que lhes
servirão de parâmetro sobre a possibilidade de manterem relações de continuidade
e intimidade amorosa.
Para o autor, os casais cujas idades variam entre 35 e 60 anos, apresentam
aspectos mutáveis e de estagnação e se caracterizam pela necessidade de orientar
o núcleo familiar, oferecendo apoio e incentivo às próximas gerações, posicionando-
se no mundo com auto responsabilidade quanto ao mundo do trabalho e da família.
Nessa fase quando um dos membros se nega ao crescimento intra e interpessoal,
gera sentimentos de impotência e fracasso no outro com possibilidade de
afastamento entre o casal e interrupção da conjugalidade.
O oitavo estágio da teoria de Erikson está relacionado à integridade ou
desespero, ocorrendo a partir dos 60 anos aproximadamente e nesse período o
casal com mais experiência de vida avalia sua interação com a vida, com relação às
realizações e fracassos. O questionamento existencial é vivido individualmente e
enquanto casal de forma a se prepararem para aceitar a idade mais avançada e
suas conseqüências.
O período da idade adulta caracteriza-se pela estabilidade se ajustam
capacidades, atitudes e habilidades anteriormente apreendidas. O cotidiano do
19

adulto e do casal resulta da aplicação de todas as competências adquiridas ao longo


da vida.
Para Féres-Carneiro (1995), o casal contemporâneo é confrontado por duas
forças paradoxais de tensão entre a individualidade e a conjugalidade
Todo fascínio e toda dificuldade de ser casal reside no fato de o casal
encerrar, ao mesmo tempo, na sua dinâmica, duas individualidades e uma
conjugalidade, ou seja, de o casal conter dois sujeitos, dois desejos, duas
inserções no mundo, duas percepções do mundo, duas histórias de vida,
dois projetos de vida, duas identidades individuais que, na relação amorosa,
convivem com uma conjugalidade, que contém um desejo conjunto, uma
história de vida conjugal, um projeto de vida de casal, uma identidade
conjugal. Como ser dois em um? Como ser um sendo dois?

O casal contemporâneo vive um dilema para administrar a vida no cotidiano,


considerando que na medida em que as condições socioeconômicas culturais
mudaram, suas necessidades e desejos são ofertados numa maior diversidade no
mundo social, originando conflitos não só no seu dia a dia, assim como na escolha
entre viver a conjugalidade e a individualidade no casamento. Para viver a
conjugalidade, a escolha do parceiro, segundo Maldonado (1995), obedece a fatores
nem sempre conscientes não sendo sempre o amor que faz com que as pessoas se
casem ou permaneçam casadas ou mesmo seus projetos sejam compatíveis entre
elas.
A continuidade do casamento requer disponibilidade para negociar um
convívio mais íntimo que com as transformações econômicas, sociais e culturais
pelas quais a sociedade apresenta no decorrer de sua evolução, gera mudanças de
hábitos que atingem os modelos de família vigentes. Dentre as quais o tempo de
dedicação mútua do casal, poderia ser enumerado como fator de interferência nas
relações conjugais, gerados pela necessidade de maior tempo de dedicação ao
trabalho com o objetivo de alcançar melhores condições de vida financeira.
Anteriormente, as condições determinadas pelo patriarcado segundo
Therborn (2006), que se caracterizavam pela presença ou ausência de assimetria
sexual institucionalizada, tal como na poliginia, na qual ao homem era permitido o
casamento com mais de uma mulher e regras diferenciais para o adultério; a
hierarquia de poder marital, expressa pelas normas de chefia marital e de
representação familiar; tal como na heteronomia, ou seja, no dever de obediência
20

da mulher e no controle do marido sobre sua mobilidade, suas decisões e seu


trabalho. São os caracteres do patriarcado acima descritos faziam com que as
mulheres se dedicassem integralmente ao marido e aos filhos, sendo de sua
responsabilidade a administração da casa e as tarefas relacionadas aos filhos. A
dependência econômica e financeira da mulher restringia sua atuação social por não
ter expressão participativa na sociedade. Com a revolução sexual e o advento dos
métodos contraceptivos, surgiram novas formas de posicionamento da mulher,
principalmente nos aspectos relacionados à sexualidade. Para Therborn (2006),
diversos tabus sobre sexo desapareceram e há agora o sexo mais precoce, mais
frequente e aparentemente melhor do que antes. Muito embora a nova abertura
sexual não tenha impedido a busca por laços emocionais profundos, duradouros e
exclusivos, segundo o autor.
Therborn (2006) menciona a autonomia sexual da mulher que passou a fazer
escolhas de parceiros com mais liberdade, o que lhe conferiu maior possibilidade de
optar sobre as questões relacionadas à maternidade, acarretando uma mudança no
modelo de casamento vigente, a partir do direito de opção da mulher quanto ao
momento de ter filhos e quanto ao número de filhos no casamento.
As pesquisas, segundo Therborn (2006), demonstram a existência de forte
desejo da mulher em ter uma carreira e de formar uma família, incluindo-se o de ter
filhos. Como combiná-los, porém, é uma tarefa difícil que muitos casais não
conseguiram resolver satisfatoriamente.
Para Foucault (1988), a sociedade que se desenvolveu a partir do século XVII
– sociedade burguesa, capitalista ou industrial – deu início a uma época de
repressão à sexualidade não como proibição em si, mas através da incitação dos
discursos. Essa sociedade não reagiu ao sexo como uma recusa em reconhecê-lo,
ao contrário, instaurou todo um aparelho para produzir verdadeiros discursos sobre
ele. Nas sociedades dessa época, não somente se falou muito sobre sexo e se
forçou todo o mundo a se falar sobre o assunto como também foi instituída uma
verdade regulada sobre a sexualidade.
Segundo Foucault (1988), no decorrer do século XVIII, o nascimento das
grandes proibições trouxe uma grande valorização da sexualidade adulta e
21

matrimonial e no século XX, os mecanismos de repressão foram afrouxados e houve


uma relativa tolerância a propósito das relações pré-nupciais ou extraconjugais. Os
estudos de Foucault (1988) afirmam que a sexualidade, longe de ser um fenômeno
natural, é, ao contrário, profundamente suscetível às influências sociais e culturais.
É produto de forças sociais e históricas. É a sociedade e a cultura que
designam se determinadas práticas sexuais são apropriadas ou não, morais
ou imorais, saudáveis ou doentias. A história da nossa concepção de corpo
e sexualidade é a história dos sistemas de valores fundamentais em cada
sociedade (FOUCAULT, 1988, p. 109).

Para Therborn (2006), com maior expressão na família e na sociedade, a


mulher buscou acessar o mercado de trabalho procurando independência financeira,
o que gerou competitividade entre os casais, pela posição que as mulheres
passaram a ter na sociedade e no mercado de trabalho antes restrito aos homens.
As melhores condições financeiras conquistadas pelas mulheres, apesar das
diferenças marcantes quanto às discrepâncias salariais entre homens e mulheres,
até hoje constatadas têm sido motivos de conflitos entre os casais.
Quanto à questão financeira ela está presente no cotidiano do casal e
segundo pesquisa da socióloga Henchoz (2008), os casais embora não coloquem
em evidência processos de negociação o fazem mesmo quando não pensam que
estão fazendo; a instalação do casal no tempo e a chegada dos filhos são fatores
que parecem favorecer esse processo de negociação. Com o tempo de coabitação,
poucos casais, segundo ela, conseguem manter uma forma de gestão individual dos
recursos e das despesas. Cada um pode continuar a utilizar seu próprio dinheiro,
principalmente para dar presentes ao parceiro. Ao mesmo tempo, as despesas
ligadas à vida em comum são divididas, muitas vezes em partes iguais quando os
dois têm renda, mas também a partir de cálculos através da qual cada um contribui
proporcionalmente de acordo com seus rendimentos. O dinheiro passou a fazer
parte da relação conjugal e a exigir que o casal encontre formas de administrá-lo de
maneira a significá-lo objeto de facilitação na busca de melhores condições de vida
para eles e para a família, conforme dados da pesquisa de Henchoz (2008).
Amor e dinheiro, segundo a pesquisa de Russo (2011), estão representados
como antagônicos ou separados, e de outro ângulo são desejos que se
complementam. Aparecem como objetos presentes na vida e a sociedade do
22

dinheiro faz surgir uma nova modalidade de relação: o amor moderno, fabricado,
interessado, que não se sustenta sem a base do dinheiro. O elemento monetário
modifica as relações e, na sociedade ele tem forte influência sobre o comportamento
das pessoas e sobre as relações conjugais. Segundo dados de sua pesquisa, o
dinheiro no casamento está sujeito a valores, humores e reações entre o casal.
Para Simmel (1971), a sociedade é uma rede de associações, tecidas
incessantemente de tal forma que de qualquer ângulo é possível alcançar qualquer
ponto do ambiente social. Sentimentos, amor e dinheiro não estão completamente
separados, mas aproximam-se em alguns momentos e, ao se tocarem, modificam-se
mutuamente. Para ele, na sociedade onde predominam relações monetárias, o amor
assume características peculiares. Ele continua discorrendo sobre a relação do amor
com o dinheiro, relacionando-o ao fortalecimento da individualidade, como sendo
uma característica do mundo moderno amparado no desenvolvimento da economia
monetária. O dinheiro, segundo ele, acarreta possibilidades para que os interesses
individuais se sobreponham ao coletivo e, com isso, contribui para o surgimento de
um tipo específico de amor como esfera pertencente exclusivamente ao indivíduo,
gerando conflitos na relação de conjugalidade.
Segundo Araújo (2002), em torno do ideal de conjugalidade instaurado,
criaram-se expectativas e idealizações, entre elas a ideia de casamento como lugar
de felicidade onde o amor e a sexualidade são fundamentais. Desde então, a
instituição casamento, moldada pelas determinações econômicas, sociais, culturais,
de classe e gênero têm assumido inúmeras formas. Ela continua discorrendo que
hoje, os mesmos movimentos de mudança levaram os casais a reverem suas
idealizações sobre o casamento, o amor e a sexualidade. Novas formas de amar e
se relacionar estão sendo construídas para responder as exigências de uma
sociedade onde os valores e as regras econômicas e sociais estão sempre em
mutação.
Para Giddens (1993), as mudanças que vêm acontecendo no amor, no
casamento e na sexualidade resultaram em transformações radicais na intimidade e
na vida pessoal dos indivíduos. A revolução sexual e a emancipação feminina
tiveram um papel fundamental e as novas formas que resultaram dessas mudanças
23

têm como base a igualdade e os princípios democráticos. Giddens discorre sobre o


tema e lança mão de três categorias básicas que são :
- O amor confluente como sendo mais real que o amor romântico, por não
se pautar pelas identificações projetivas e fantasias de completude.
Presume igualdade na relação de trocas afetivas e no envolvimento
emocional. O amor confluente introduz erotismo no cerne do
relacionamento conjugal e transforma a realização do prazer sexual
recíproco em um elemento chave na manutenção ou dissolução do
relacionamento. Desenvolve-se como um ideal em uma sociedade onde
quase todos têm a oportunidade de se tornarem sexualmente realizados.
Ao contrário do amor romântico, o amor confluente não é monogâmico,
- A sexualidade plástica é uma sexualidade descentralizada, liberta das
necessidades de reprodução. Tem origem na tendência à redução da
família, iniciada no final do século XVIII, e desenvolve-se mais tarde com
o movimento contraceptivo com as novas tecnologias reprodutivas. A
emergência da sexualidade plástica é fundamental para a emancipação
implícita no relacionamento puro assim como para a reivindicação da
mulher ao prazer sexual.
- O relacionamento puro é um relacionamento centrado no compromisso,
na confiança e na intimidade. Implica em desenvolver uma história
compartilhada em que cada um deve proporcionar ao outro, por palavras
e atos, algum tipo de garantia de que o relacionamento deve ser mantido
por um período indefinido. É um relacionamento diferente da idéia de
casamento como condição natural, cuja durabilidade pode ser assumida
como certa, exceto em algumas circunstâncias extremas.
Uma característica do relacionamento puro é que ele pode ser terminado,
mais ou menos à vontade, em qualquer época e por qualquer um dos parceiros. O
compromisso é necessário para que um relacionamento tenha a probabilidade de
durar, mas não evita que qualquer um corra o risco de sofrer com a ruptura da
relação.
24

Nesse tipo de relacionamento, o que conta é a própria relação, e a sua


continuidade depende do nível de satisfação que cada uma das partes pode extrair
da mesma.
As origens do relacionamento puro, segundo Giddens (1993), podem ser
encontradas na ascensão do amor romântico, que criou a possibilidade de
estabelecer um vínculo emocional durável. No entanto para o autor, embora o amor
romântico suponha uma igualdade de envolvimento emocional entre duas pessoas,
durante muito tempo as mulheres foram mais afetadas pelos seus ideais, sendo
conduzidas pelos sonhos do amor romântico levando-as a uma severa sujeição
doméstica. O ethos do amor romântico teve um impacto duplo sobre a situação das
mulheres, pois além de ajudar as mulheres a centralizar a dedicação ao lar e a
família, reforçou o compromisso com o machismo ativo e radical da sociedade
moderna.
Para Giddens (1993), os ideais do amor romântico começaram a se
fragmentar com a emancipação sexual e a autonomia feminina. O declínio do
controle sexual dos homens sobre as mulheres colocou possibilidades de
transformações da intimidade entre os casais. Embora a intimidade possa ser
opressiva se for encarada como uma exigência de relação emocional, ela pode, no
entanto, ser considerada como uma negociação transacional de vínculos pessoais
estabelecida pelo casal. “A intimidade implica uma total democratização do domínio
interpessoal, de uma maneira plenamente compatível com a democracia na esfera
pública.” (GIDDENS, 1993, p. 11).
Para Araújo (2002), o processo de democratização das relações pessoais
afeta profundamente as representações e vivências do casamento. No contexto
brasileiro, principalmente entre os segmentos médios urbanos mais
intelectualizados, o casamento tradicional regido pela dominação masculina vem
dando lugar a outra forma de casamento, a mulher reivindica igualdade, havendo
uma constante negociação no relacionamento e a intimidade entre o casal tende a
se reestruturar com base em novos valores, entre os quais a amizade e o
companheirismo se colocam como fundamentais.
25

Segundo Giddens (1993), a intimidade passa necessariamente por uma


análise de gênero. Para o autor, os homens têm mais problemas com a intimidade
do que as mulheres. A intimidade segundo ele é acima de tudo uma questão de
comunicação pessoal, com os outros e consigo mesmo, em um contexto de
igualdade interpessoal. Ele continua discorrendo que as mulheres tiveram um papel
fundamental ao preparar o caminho para a expansão da intimidade através de
disposições psicológicas gerando mudanças materiais e sociais nas relações de
gênero.
Para Badinter (1986, p. 314), o amor ideal é a experiência emocional “[...cuja
primeira virtude é proteger-nos contra a solidão...]”. A autora afirma que essa regra
do jogo amoroso vem sendo destronada pelos costumes atuais. Vivemos numa
cultura narcísica, inibidora da experiência amorosa. Aprendemos a “querer tudo”
porque nos julgamos uma totalidade que não pode apresentar “fraturas”. O outro só
é desejado se enriquece nosso ser. Se, ao contrário, nos pede sacrifícios, é rejeitado
de pronto. O eu, continua Badinter (1986), tornou-se o nosso mais precioso bem,
pois tem, ao mesmo tempo, valor estético, econômico e moral. Outrora, era, mal-
educado falar de si e repreensível fazer de si o fundamento de sua existência. Era
necessário, a qualquer preço, deixar passar o sentimento de que o Outro era mais
importante do que Eu. As novas gerações não exploram tanto o Outro, mas sim a si
próprio tanto quanto possível.
Sendo assim, “Os objetivos mudaram radicalmente, não pensamos senão em
gerir o tempo de vida e utilizar todas as nossas capacidades. Deixar escapar
algumas destas potencialidades é um crime imperdoável contra o novo capitalismo
do Eu”. (BADINTER, 1986, p. 269)
Segundo Araújo (2002), tal conquista tem permitido o surgimento de novas
formas de relacionamento, tanto no contexto heterossexual quanto fora dele. O novo
modelo de relacionamento é amoroso. O casamento formal, heterossexual com fins
de constituição de família, continua sendo uma referência e tem um valor importante,
embora conviva com outras formas de relacionamento conjugal como as uniões
consensuais, os casamentos sem filhos ou sem cohabitação e também com as
uniões homossexuais. Para Araújo (2002), com a transformação da intimidade, dos
26

valores e das novas formas de convivência conjugal, a tendência da sociedade é


tornar-se cada vez mais flexível para acolher as novas configurações das relações
amorosas.
Com a nova lei, o divórcio significa a dissolução do casamento, ou seja,
separação do marido e da mulher conferindo às partes o direito do novo casamento
civil.
Segundo Gomes (2000), para o entendimento dessa realidade pós-moderna é
preciso criar uma “desconstrução” do conceito de casamento atrelado à constituição
de uma família, já que o desenvolvimento da ciência permite a possibilidade da
concepção “in vitro”, o que gera novos padrões de estrutura familiar.
Para Bauman (2004), a concepção dos relacionamentos se evidencia na
emergência da superficialidade na relação afetiva, caracterizada pela paixão intensa,
porém efêmera. Essa é a concepção do que ele denomina amor líquido, como
reflexo da fragilidade dos vínculos humanos na contemporaneidade, caracterizados
por conflitos em querer aumentar o vínculo e ao mesmo tempo mantê-los na
superficialidade. Segundo Bauman (2004), os casamentos tornam-se mais fugazes e
frente às dificuldades da vida conjugal é mais comum a dissolução do vínculo do que
a perseverança na busca de alternativas para a resolução de estreitar o vínculo
afetivo com o cônjuge.
As expectativas com relação ao outro, citando Simmel (1971), estão
relacionadas ao desejo de ter o outro por inteiro e à tentativa de intimidade por
completo entre os casais. Segundo Simmel, são propulsoras de conteúdos
psicológicos latentes em que a satisfação da entrega total pode produzir sensação
de esvaziamento psicológico. O que aumenta as expectativas com relação ao outro
com uma extrema idealização do cônjuge, assim como um super exigência com
relação a si mesmo, sendo geradores de tensão e conflito entre o casal.
O ciúme pode ser ressaltado como desencadeador e causa de
desentendimentos na medida em que a questão da conjugalidade fica prejudicada
quando a segurança de um dos cônjuges com relação ao outro fica abalada. Para
Henchoz (2008), o domínio que o indivíduo tem sobre seus sentimentos e sobre seu
corpo caracteriza a ideia de fidelidade e se torna um ponto de interesse no
27

casamento, com o qual o casal se compromete com a monogamia ou propõe uma


discreta poligamia. Desde que não sejam ultrapassadas as normas de conduta
sociais do casamento estabelecidas pelo contexto cultural e pelo casal.
Para o Tribunal de Justiça de São Paulo, no autor do processo n
2011/0079349-3 o dever de fidelidade recíproca é importante porque:
O casamento que obriga cumprir o dever legal da fidelidade é aquele que se
alimenta na aliança protegida pela honestidade e pelo comportamento
social pautado na ética e pela boa-fé, valores que quando se discute a culpa
unilateral: A fidelidade somente existe quando é mútua e quando é
compartilhada com a mesma intensidade.

A partir do século XVIII, quando o amor romântico se torna o ideal de


casamento, o erotismo introduz outro aspecto, colocando à prova a duração do
casamento. O amor paixão em geral não dura, o amor conjugal ligado a ele também
não dura. O divórcio então, passou a constituir uma possibilidade, não como forma
de reparar o erro, mas como a sanção normal de um sentimento que não pode nem
deve durar e que deve dar lugar à relação seguinte, que segundo Ariès (1978), é
uma das principais características do casamento moderno, constituindo-se como o
grande desafio que os casais modernos enfrentam e que os leva a definir
expectativas e idealizações sobre o casamento.
Ao longo da história, a atividade sexual sempre foi objeto de preocupação
moral e, como tal, submetida a dispositivos de controle das práticas e
comportamentos sexuais. Como esses dispositivos são construídos com base nos
valores e ideologias predominantes na sociedade, eles aumentam formas diferentes
à medida que a sociedade muda. Foucault (1979), através do conceito de
“dispositivos” explica como a aliança e sexualidade estão articuladas em aparelhos
e instituições, ressaltando que a sexualidade está ligada a dispositivos de poder.
Para ele, a sexualidade inicialmente fez parte de uma técnica de poder centrada na
aliança, ficou estabelecido todo um sistema de casamento, de fixação e
desenvolvimento de parentescos, de transmissão de nomes e bens. Cabendo a esse
dispositivo de aliança ordenar e manter o equilíbrio do corpo social e ao mesmo
tempo o dispositivo da sexualidade se fixando, não mais referido à lei, mas ao
próprio corpo, à introdução dos prazeres, à própria sexualidade na família, através
dos pais como principais agentes desse dispositivo, passando o sistema da aliança
28

para a ordem da sexualidade. Segundo o autor, a família além de manter o equilíbrio


do corpo social se tornou um lugar obrigatório dos afetos, dos sentimentos, do amor,
além de ser também o principal ponto de eclosão da sexualidade.
Foucault (1979), apresenta a concepção moderna de sexualidade ao designar
uma série de fenômenos que englobam tanto os mecanismos biológicos da
reprodução como as variantes individuais e sociais do comportamento, a instauração
de regras e normas apoiadas em instituições religiosas, judiciárias, pedagógicas e
médicas e também as mudanças no modo pelo qual os indivíduos são levados a dar
valor a sua conduta, seus deveres, prazeres e sentimentos. Considera a sexualidade
como uma construção social que engloba o conjunto dos efeitos produzidos nos
corpos, nos comportamentos e nas relações sociais. É a sociedade e a cultura,
segundo Foucault (1979), que designam se determinadas práticas sexuais são
apropriadas ou não, morais ou imorais, saudáveis ou não. A história da nossa
concepção de corpo e sexualidade é a história dos sistemas de valores
fundamentais em cada sociedade.
Aspectos tais como sexo, fidelidade e dinheiro constituem a relação conjugal
e seu funcionamento precisa estar adaptado à forma como cada casal constrói sua
conjugalidade com seus valores e idealizações. As alterações vividas nesses
aspectos constituem riscos à continuidade do casamento, caso o casal não encontre
formas de conviver com as novas situações.
Gomes (2000; 2003), em seu trabalho de análise da dinâmica do casal ante o
surgimento de conflitos entre o casal, aponta as dificuldades no estabelecimento dos
papéis do homem e da mulher nos casamentos atuais. O homem, segundo Gomes
(2000; 2003), se torna frágil perante uma sociedade competitiva e estressante, na
qual vai ficando cada vez mais difícil desempenhar o papel de provedor da família
pelas condições socioeconômicas e não somente pela disputa da mulher no espaço
externo do lar. A mulher também entra em sérios conflitos na escolha entre a
maternidade e ou ascensão profissional, o que permite, hoje, o estabelecimento de
casamento sem filhos, por opção pessoal.
Assim, torna-se importante considerar na prática da vida dos casais essas
representações do cotidiano enquanto uma identidade construída, de fidelidade, de
29

interesse, de ser menos importante, de projetos comuns e de sexualidade na busca


de “vida de casal” diante da realidade que se apresenta.
Do ponto de vista jurídico coloca-se a questão do casamento, em primeiro
lugar à luz das teorias jurídicas do contrato, mas vamos tratar do tema
sumariamente. Em seguida aborda-se a questão do casamento na teoria da
perspectiva teórica e analítica da relação intersubjetiva e social que estabelece
vínculos afetivos e de convivência que se denomina de família.
O Código civil de 2002 disciplinou o instituto a partir do artigo 1.511,
estabelecendo o matrimônio como gerador de comunhão plena de vida, com base
na igualdade de direitos e deveres entre os cônjuges. Tem como finalidade a
instituição da família matrimonial, a procriação dos filhos, a legalização das relações
sexuais, a prestação de auxílio mútuo, o estabelecimento de deveres entre os
cônjuges, a educação da prole, a regularização de relações econômicas e
legalização de estados de fato.
O Direito de família está no Código Civil / 2002, artigos 1511 1783 e consiste
em três Naturezas Jurídicas:
1- Teoria Contratual: o casamento é um contrato, pois acontece de acordo
com a vontade do homem e da mulher.
2- Teoria Eclética: é a teoria dominante, pois considera o contrato como um
ingresso à instituição social.
3- Teoria Institucionalista: o casamento é uma organização social,
preestabelecida como modelo vigente.
A Carta Magna no art. 226 definiu os modelos mais comuns de entidades
familiares, sendo estes a família mono parental, composta por um dos pais e sua
prole, o casamento civil e religioso com efeito civil, nos termos da lei, e a união
estável entre homem e mulher
O casamento é a relação afetiva amorosa entre indivíduos, que possui
estabilidade e durabilidade, vivendo os companheiros sob o mesmo teto ou não,
constituindo uma família com ou sem o vínculo do casamento civil. Tal entidade
familiar está positivada no art. 1723 do Código Civil, que disciplina, no mesmo
30

capítulo os deveres dos companheiros, quais sejam a lealdade, o respeito e


assistência e o de guarda.

O Direito de Família brasileira, segundo Cachapuz (2003, p. 90)


Baseia-se em normas de Direito Público e Privado que trata a família como
um organismo social e intermediário entre o Estado e o indivíduo, o que
limita a autonomia da vontade e impõe ‘normas cogentes, objetivando uma
regulamentação uniforme para as relações que se estabelecem no âmbito
do direito de família’.

2.2 O CASAMENTO COMO CONTRATO JURÍDICO E EM SUA COMPLEXIDADE


SOCIAL

A relevância institucional do casamento para Berger e Kellner (1970 apud


FÉRES-CARNEIRO, 1987), é a de criar para o indivíduo uma determinada ordem,
para que ele possa experimentar a vida com sentido, através do diálogo com
pessoas significativas. O casamento é uma dessas relações validadas pelos adultos
em nosso meio cultural. Apresenta complexidade pelo fato de dois estranhos com
passados individuais diferentes, se encontrarem e definirem um projeto comum. Por
ser socialmente legitimado o casamento é prescrito desde a mais tenra idade de
cada um nas imagens e discursos ao longo da vida, pelas regras sociais e familiares
passadas de gerações a gerações. O casal encerra a realidade subjetiva do mundo,
confirmando e reconfirmando a realidade objetiva internalizada por eles. Assim, o
casal constrói não somente a realidade presente, mas ressignifica a realidade
passada, originando uma memória comum que integra os dois passados individuais.
Segundo Ariès (1978), união que associa amor e sexualidade no casamento
surgiu na modernidade e isso trouxe uma nova ordem na relação do casal. A partir
do novo ideal de configuração instaurado, expectativas e idealizações foram criadas
e o casamento passou a ser visto como lugar de felicidade onde o amor e o sexo
passaram a ser fundamentais. Até então, a sexualidade não era vivida como
possibilidade de oferecer prazer no casamento. Sua função específica era a
reprodução e o casamento representava um negócio de família, como um contrato
31

que as famílias faziam para servir de base a alianças, dentre as quais a reprodução,
cuja importância se sobrepunha ao amor e à sexualidade.
As grandes mudanças, segundo Ariès (1978), se iniciam com a modernidade,
com a valorização do amor individual presente na ideologia burguesa que
estabelece o casamento por amor, amor-paixão, com predomínio do erotismo na
relação conjugal. Esse novo ideal impõe aos cônjuges que se amem ou que
pareçam se amar e que tenham expectativas a respeito do amor e da felicidade no
casamento.
O casamento é motivo de questionamentos, em função das transformações
nas suas características. Do modelo considerado tradicional no qual os casais
passavam através do processo de namoro até chegar ao casamento às diversas
formas de casamento atuais, as mudanças nos papéis conjugais e nas expectativas
frente ao casamento originaram formas atuais de casamento e novas expressões na
forma de relacionamento entre os casais.
Para Araújo (2002), a instituição casamento, constituída ao longo do tempo,
tem sido moldada pelas determinações econômicas, sociais, culturais, de classe e
gênero.
O casamento traz implícita em sua conceituação uma série de características
questionadas na contemporaneidade. O conceito de casamento traz em sua
concepção pressupostos da formalidade, da união heterossexual, do estado de
aptidão e competência do casal e da necessidade de autorização civil podendo ou
não receber autorização religiosa o que depende da relação do casal e ou da família
com a religião a que estiver ou estiverem ligados por afinidade ou ideologia.
A visão do casamento atual decorrente da evolução social, da emancipação
feminina, da revolução sexual, do aperfeiçoamento dos métodos anticoncepcionais e
das técnicas de reprodução, entre outros fatores, modificou o conceito e a posição
ocupada pelo casamento em nosso contexto.
Nos anos 1970, a constituição da família parecia orientar-se por um modelo
único de família nuclear tradicional, caracterizada pelo casamento heterossexual
indissolúvel e pelos papéis do homem como provedor e da mulher como mãe e dona
de casa. Atualmente as pessoas adquiriram autonomia nas relações afetivas, na
32

sexualidade, na reprodução e no trabalho. As mulheres estão optando por casar e


ter filhos mais tarde, priorizando a vida profissional.
Para Carter e Mc Goldrick (2001), há um prolongamento da fase de adulto
jovem, que no contexto do sociocultural médio brasileiro, parece estar associado à
dificuldade de inserção no mercado de trabalho.
Uma pesquisa realizada em Porto Alegre por Zordan, Falcke e Wagner (2009)
com jovens, de nível socioeconômico médio, cursando escolas particulares e
públicas, constatou-se que o casamento já não ocupa um lugar de destaque entre
os projetos de vida dos jovens. Seus planos estavam mais voltados para a busca de
felicidade da realização pessoal e da realização profissional.
A conjugalidade contemporânea adota como ideal a preservação da
autonomia individual criando espaços para a individualidade com preservação do
tempo e / ou espaço compartilhados.
Na prática clínica psicoterápica da pesquisadora, seja no atendimento
individual ou de casais, observa-se que muitas das queixas apresentadas pelos
indivíduos estão associadas a problemas de relacionamento, envolvendo os filhos, a
discrepância existente entre a idealização e a realidade da vida a dois, os tipos de
escolhas amorosas, as separações e divórcios. Todas essas situações têm um
denominador comum, que é a impossibilidade de perceber o outro como ele é, como
alguém diferente, de maneira a gerar um relacionamento livre de tantas projeções e
fantasias, que promovam uma vivência de respeito à coexistência de subjetividades
de cada um dos cônjuges.
Sendo assim, na construção do casamento, assim como na separação, vários
componentes fazem parte na elaboração de tais processos, considerando-os objetos
de representações sociais.
Os casais sofrem influências de suas famílias de origem tanto por vivências
durante sua história de vida, como por meio dos modelos que os pais fornecem de
como se relacionar e de como ser casal. Berger e Kellner (1970 apud FÉRES-
CARNEIRO, 1987) relatam que o casamento é para os cônjuges a principal área de
auto realização social.
33

Também para Andolfi, Ângelo e Saccu (1995), os valores e as funções que


cada indivíduo traz de suas famílias são transmitidos, assim como as características
que devem estar presentes no parceiro escolhido. Segundo ele, há um processo de
identificação na escolha conjugal. Ao tomar como modelo os pais, o indivíduo
constrói um modo de se relacionar com o parceiro. A família de origem descreve
como os filhos aprendem padrões de interação, expectativas, atitudes, orientações e
conceitos considerados funcionais ou não funcionais. Essas aprendizagens têm
conseqüências, que podem interferir nos comportamentos e nas escolhas destes
indivíduos, em seus relacionamentos íntimos.
Féres-Carneiro (2005), apresenta a coexistência de modelos tradicionais de
casamento e novas formas de relacionar-se construídas para responder as
exigências econômicas e sociais, sempre em mutação. Historicamente, o surgimento
do casamento como instituição esteve ligada à regulamentação das atividades
biológicas, tais como a reprodução e o sexo.
Segundo Sarraceno e Naldini (2003), durante muito tempo o casamento
assumiu a função de legitimar a perpetuação da espécie. Ao longo da história, no
entanto, o casamento assumiu outras funções de ordem econômica e social. A
evolução social, a emancipação feminina, a revolução sexual, o aperfeiçoamento
dos métodos contraceptivos e das técnicas de reprodução aliados a várias
mudanças econômicas, sociais e culturais têm provocado mudanças na posição do
casamento em nosso contexto.
O que caracteriza o casamento do século XXI é a pluralidade de modelos de
conjugalidade. Gomes (2003) afirma que o casamento na Pós-Modernidade deve
estar ligado a uma noção de mudança, transformação, flexibilidade em relação ao
novo e ao diferente, destacando que esse deve constituir-se num espaço de
desenvolvimento interpessoal e de criatividade. No âmbito da Psicologia, ainda se
considera a importância do casamento para o bem - estar das pessoas, colocando-o
como uma das tarefas da vida de adulto (CARTER; MC GOLDRICK, 2001;
ERIKSON; ERIKSON, 1998; FÉRES-CARNEIRO, 2003).
Para Jablonski (2003), deve-se levar em conta que o casamento tem
assumido outra posição no ciclo evolutivo das pessoas, pois homens e mulheres
34

estão iniciando sua vida sexual mais cedo e casando-se mais tarde, permanecendo
mais tempo na casa dos pais.

As referências acima mostram a complexidade do casamento enquanto


inserido na cultura e na sociedade e enquanto relação afetiva e familiar.
35

3 A TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE SERGE MOSCOVICI

De acordo com Moscovici (2003), o conceito de representação social deriva


do conceito de “representação coletiva” de Durkheim (1986 apud MOSCOVICI,
2003). Desse modo, ele afirma sua filiação em relação à sociologia de Durkheim. No
entanto defende, em relação a ela, algumas diferenças.
Durkheim (1986 apud MOSCOVICI, 2003), propôs através do conceito de
representações sociais, uma matriz subjacente às nossas crenças, conhecimento e
linguagem. Neste ponto há uma aproximação entre o conceito de Durkheim e o de
Moscovici. No entanto, como Durkheim (1986 apud MOSCOVICI, 2003), estava
preocupado em estabelecer a sociologia como uma ciência autônoma, ele acabou
defendendo uma separação radical entre representações individuais e
representações coletivas. Segundo ele, caberia à Psicologia o estudo das primeiras,
enquanto a sociologia ficaria encarregada de estudar as últimas. Ao separar as
representações individuais das representações coletivas, Durkheim (1986 apud
MOSCOVICI, 2003), acabou impossibilitando que os processos de transformação e
mudança das representações coletivas fossem examinados. É importante destacar,
contudo, que a questão da dinâmica de transformação das representações não era
foco de interesse de Durkheim (1986 apud MOSCOVICI, 2003).
Através do conceito de representações coletivas o autor queria apenas
explicar como a sociedade se mantém coesa, como ela se conserva. É Moscovici
(2003), que com o conceito de representações sociais começa a interrogar sobre a
dinâmica e transformação das representações.
Moscovici (2003) quer entender e explicar como as coisas mudam na
sociedade. Portanto diferentemente de Durkheim, que parte das representações
coletivas para explicar a sociedade, Moscovici (2003) explica o processo de
construção das representações sociais.
Segundo Duveen (2003, p. 15):
Enquanto Durkheim vê as representações coletivas como formas estáveis
de compreensão coletiva com o poder de obrigar a integração da sociedade
como um todo, Moscovici esteve mais interessado em explorar a variação e
a diversidade das idéias coletivas nas sociedades modernas, em que as
36

diferenças refletem uma distribuição desigual de poder e geram uma


heterogeneidade de representações.

Para Durkheim (1986 apud MOSCOVICI, 2003), as representações coletivas


teriam uma existência concreta, uma “materialidade” que se manifestaria não
apenas no comportamento dos membros de uma sociedade, por meio da
socialização e de assimilação de valores, mas sim na estrutura jurídica e
organizacional de uma formação social, nos mecanismos de controle social, nos
critérios e formas de sanção e recompensa. As representações coletivas dariam
sustentação a uma moral específica, “necessária ao corpo social”, materializando-a,
objetivando-a e naturalizando-a. Desempenhando, assim o papel de aplacar ou
eliminar a contradição entre o individual e o coletivo, mantendo ordem e equilíbrio
social.
Durkheim (1986 apud MOSCOVICI, 2003), define uma linha rígida entre o
individual e o social, com prevalência do segundo sobre o primeiro, na explicação
dos fenômenos e da ação social. A construção na interação social é negligenciada.
O tema é abordado exclusivamente em termos de “reprodução” e a “produção” de
significados fica como lacuna. O plano simbólico torna-se assim, tão pouco dinâmico
quanto pouco conflituoso. Se dá entre indivíduo e sociedade de forma meramente
conceitual.
Para Perrusi (1995), Moscovici apropriou-se do conceito durkhemiano,
modificando-o e utilizando-o como conceito fundador de um novo continente de
pesquisas. Ele continua discorrendo seus pontos de vista:
- Retirou do conceito de Durkheim o peso da ontologia social, mudando seu
campo de aplicação agora situado a meio caminho entre o social e o
psicológico;
- Inscreveu no conceito uma consistência cognitiva bastante acentuada;
- Delimitou especificamente o seu campo de ação, ou seja, o cotidiano;
- Especificou a representação como uma forma de conhecimento particular,
relacionada com o senso comum, com a interação social e com a
socialização.
Para Moscovici (2003), sujeito e objeto não são funcionalmente distintos, eles
formam um conjunto indissociável. Isso quer dizer que um objeto não existe por si
37

mesmo, mas apenas em relação ao sujeito (indivíduo ou grupo); é a relação sujeito


objeto que determina o próprio objeto. Ao formar a representação de um objeto, o
sujeito, de certa forma, o constitui e o reconstrói em seu sistema cognitivo, de modo
a adequá-lo ao seu sistema de valores, o qual, por sua vez, depende de sua história
e do contexto social e ideológico no qual está inserido.
A ruptura com a clássica dicotomia entre objeto e sujeito do conhecimento
que confere consistência epistemológica à teoria das representações sociais leva a
concluir que o objeto pensado e falado é, portanto, fruto de atividade humana, ou
seja, uma réplica interiorização da ação.
Para compreender o casamento e a separação, a presente pesquisa, por
meio da teoria das representações sociais, busca conhecer o que pensam as
pessoas casadas sobre questões que originam e mantém o casamento. Acessar a
realidade das representações é apreender um conhecimento que está no campo das
comunicações, das interações, dos valores e das ideias presentes na sociedade
compartilhadas pelos grupos. O conceito de representações sociais na Psicologia foi
mencionado, pela primeira vez por Serge Moscovici, em seu estudo seminal sobre a
representação social da psicanálise difundido em 1961. Nessa obra, Moscovici tenta
compreender de que forma a psicanálise é ressignificada pelos grupos populares.
Moscovici (1978) resolveu desenvolver o estudo das representações sociais na
psicanálise por sua crítica aos pressupostos positivistas e funcionalistas das demais
teorias que não davam conta de explicar a realidade em outras dimensões,
principalmente na sua dimensão históricocrítica e pela ótica do senso comum.
Segundo Moscovici (1978) as representações sociais são imagens, ideias,
símbolos que circulam, cruzam-se e se cristalizam incessantemente através da
comunicação. As relações estabelecidas, os objetos produzidos ou consumidos, as
comunicações trocadas, são impregnadas de representações sociais. Sabe-se que
as representações sociais correspondem, por um lado, à substância simbólica que
entra na elaboração e, por outro, à prática que produz a dita substância. Moscovici
(1978) propõe uma teoria que visa identificar como as pessoas leigas no interior de
suas relações diárias e em contato com os meios de comunicação de massa ou com
outros saberes científicos, constroem seus próprios conhecimentos.
38

Nesse contexto, segundo Moscovici (2003), a representação é produzida


através da interação e comunicação e sua demonstração está sempre ligada aos
interesses que estão neles implicados. O conhecimento, por sua vez emerge do
mundo onde as pessoas se encontram e interagem, das necessidades e desejos da
expressão, satisfação ou frustração. Por isso, esse conhecimento nunca é
desinteressado, ao contrário, ele é sempre produto de um grupo específico de
pessoas que se encontram em circunstâncias específicas.
Assim, o estado dos fenômenos de representações é simbólico, estabelece-
se em um vínculo, construindo uma imagem, evocando, comunicando e partilhando
um significado por meio de algumas proposições transmissíveis e dessa forma vai
formando um clichê que se torna um emblema.
Moscovici (1976), em sua perspectiva metodológica elaborou dois conceitos,
objetivação e ancoragem, fundamentais na formação de uma representação social,
ao mostrar que a gênese de uma representação social implica em uma atividade de
transformação do não familiar, de um saber (um saber científico), em outro saber
(um saber de senso comum útil ao grande público). Ele elaborou estes dois
conceitos para explicar como se processa esta atividade.
Considerando o casamento como objeto de representação social, a proposta
teórica de Moscovici (2011) transforma tal conceito em imagens concretas e
significativas através dos processos sócio-cognitivos que atuam dialeticamente, na
formação das representações sociais: a objetivação e a ancoragem.
A objetivação conduz, como se sabe, a tornar real um esquema conceitual,
a duplicar uma imagem em uma contrapartida matéria, resultado que tem
inicialmente, um caráter cognitivo: o estoque de indícios e de significantes
que uma pessoa recebe, emite e ativa no ciclo das inter comunicações,
pode se tornar superabundante (MOSCOVICI, 1978; 2011, p. 107-108).

Segundo Moscovici (2011), a objetivação pode ser definida como a


transformação de uma ideia, de um conceito, ou de uma opinião em algo concreto.
Cristaliza-se a partir de um processo figurativo e social e passa a constituir uma
representação social, seguidamente evocada, concretizada e disseminada como se
fosse o real daqueles que a expressam. As representações sociais cristalizam-se,
solidificam e se estabilizam a partir da vinculação de ideias, de mensagens de
39

homogeneização reificadas as quais são mediadas pela realização de ações


concretas, basicamente resistentes a mudanças.
O conceito de ancoragem proposto por Moscovici (2011) classifica o
casamento como objeto da representação através de um sistema de valores que lhe
é próprio, denominando e classificando-o em função dos laços que o objeto mantém
em sua inserção social. O casamento passa a fazer parte de um sistema de
categorias já existentes, mediante alguns ajustes, considerando o contexto
socioeconômico e cultural no qual está inserido.
Pelo processo de ancoragem, a sociedade transforma o objeto social em
um instrumento que ela pode dispor, e este objeto é colocado sobre uma
escala de preferências nas relações sociais existentes. Podemos dizer que
a ancoragem transforma a ciência em um quadro de referência e em rede
de significações (MOSCOVICI, 1978; 2011, p. 170-171).

A ancoragem segundo Moscovici (2011), tem um papel fundamental no


estudo das representações sociais e no desenvolvimento da consciência, Consiste
no processo de integração cognitiva do objeto representado para um sistema de
pensamento social preexistente e para as transformações histórica e culturalmente
situadas, implícitas em tal processo.
Para Moscovici (2003), as representações são elaborações mentais
construídas socialmente a partir da dinâmica que se estabelece entre a atividade
psíquica do sujeito e o objeto do conhecimento. Relação que se dá na prática social
e histórica da humanidade e que se generaliza pela linguagem. Assim o casamento
ganha forma no contexto social, através das diversas maneiras de se tornarem
objetos representacionais na sociedade.
Para estudar as representações sociais é indispensável conhecer as
condições do contexto em que os indivíduos estão inseridos mediante a realização
de uma cuidadosa análise contextual, o que Moscovici (2003) reitera ao afirmar que
as representações sociais são historicamente construídas e estão estreitamente
vinculadas aos diferentes grupos sócioeconômicos, culturais e étnicos que as
expressam por meio de mensagens refletidas nos diferentes atos e nas diversas
práticas sociais.
Há que se considerar, segundo Moscovici (2003), que as representações
sociais, idealizadas a partir da disseminação de mensagens e de percepções
40

advindas do senso comum, sempre refletem as condições contextuais dos sujeitos


que as elaboram, ou seja, suas condições socioeconômicas e culturais. Daí a
importância de conhecer seus emissores não somente em termos de suas
condições de subsistência ou de sua situação educacional ou ocupacional. É preciso
ampliar esse conhecimento pela compreensão de um ser histórico, inserido em uma
determinada realidade familiar com experiências diversificadas, diferenças vivenciais
e diferentes níveis de apreensão crítica da realidade.

4 MÉTODO DA PESQUISA

A escolha por trabalhar com a metodologia qualitativa foi devida


principalmente a dois fatores: o primeiro porque dá ênfase aos aspectos subjetivos
do comportamento humano e tem, por núcleo de atenção, o mundo dos
participantes.
Dessa forma, a metodologia qualitativa permite a investigação de
sentimentos, opiniões e conflitos dos participantes em profundidade e com maior
singularidade em relação a possíveis transformações subjetivas.
Para Minayo (1996), a pesquisa qualitativa responde as questões muito
particulares. Ela se preocupa nas ciências sociais, com um nível de realidade que
não é quantificado, mas sim, considera, o universo de significados, motivos,
aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais
profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser
reduzidos a operacionalização de variáveis.
Ludke e André (1986), apontam cinco características da pesquisa qualitativa.
São elas:
1. A pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como sua fonte direta de
dados e o pesquisador como seu principal instrumento;
2. Os dados gerados são descritivos, a preocupação com o processo é
maior do que com o produto;
41

3. O “significado” que as pessoas dão às coisas e a sua vida representam o


foco principal do pesquisador;
4. A análise dos dados tende a seguir um processo indutivo;
5. As abstrações se consolidam basicamente a partir das informações
constituídas.
Na pesquisa qualitativa o pesquisador é considerado como um instrutor de
informações, na medida em que utiliza os instrumentos de coleta de dados como
indutores da interação entre pesquisador e pesquisado. Desta forma, a construção
ocorre simultaneamente à produção de informações.
A metodologia qualitativa, segundo González Rey (2005) apresenta o enfoque
histórico cultural da epistemologia da subjetividade que começou com o estudo da
personalidade e da motivação humana. Vendo-se frente a conflitos e contradições
vivenciadas em Cuba com relação à expressão individual, decorrentes da
institucionalização de interesses hegemônicos das forças no poder do país, buscou
resgatar o sujeito excluído do projeto social que, de alguma forma se reconhecia
como sujeito perdido em sua própria vida individual.
O uso de instrumentos, segundo González Rey (2005), representa um
momento na dinâmica na qual, para as pessoas pesquisadas, o espaço social da
pesquisa se converte em espaço portador de sentido subjetivo.
González Rey (2005) discorre sobre o espaço de pesquisa que gera novas
necessidades, o que implica numa relação permanente entre o profissional, o
científico e o pessoal no interior desses espaços. Os sistemas conversacionais
permitem ao pesquisador deslocar-se do lugar central das perguntas integrando-se
em uma dinâmica de conversação que toma diversas formas e que é responsável
pela produção de um tecido de informação, o qual implica que com naturalidade
forneça elementos que indicam a qualidade da informação que surge.
Para González Rey (2005), compreender a psique como produção histórica
cultural com toda definição transcendental ou universal da psique humana,
afirmando um novo tipo de qualidade da psique, sensível a múltiplas formas de
registros sócioculturais. Esse outro nível da psique é definido como subjetividade.
42

Foi utilizado o método qualitativo, sob enfoque de González Rey (2005), com
quatro casais, casados há pelo menos 3 anos, com idades entre 35 e 55 anos, com
filhos em idades variadas. Um dos objetivos específicos, é o de desvelar os motivos
que originaram o enamoramento, a forma como vivem, a rotina do casamento e os
motivos que fazem com que permaneçam casados. Buscou-se, portanto, os
conteúdos intra e interpessoal vivenciados na produção do enamoramento. As
perguntas versaram sobre a forma como se conheceram e os motivos que lhes
despertaram o interesse para o enamoramento. Nas questões relacionadas ao
cotidiano da vida dos casais as perguntas trataram das questões sobre filhos,
sexualidade, vida social e familiar e dinheiro. Quanto aos motivos que fazem com
que o casamento continue, as perguntas trataram da forma como elaboram os
conflitos, a vida na conjugalidade e na família.
Os pontos de vista subjetivos, foram coletados através das entrevistas semi-
estruturadas e as análises possibilitaram a pesquisadora observar, descrever,
compreender e atribuir significado aos temas abordados em contínua interação com
os participantes.
A classificação, análise e categorização no processo de análise dos dados
buscou dar um sentido ao conteúdo de significados através de categorias que
possibilitaram a narrativa analítica.
A proposta de González Rey (2005) oferece especificidade a um
posicionamento epistemológico em relação ao estudo da subjetividade que em sua
definição ontológica é considerada como um sistema de produção e de organização
de sentidos e permeia todas as atividades humanas, sendo objeto de todas as áreas
da psicologia, as quais se relacionam entre si nessa produção.
Para González Rey (2005), a condição de sujeito atualiza-se
permanentemente na relação produzida a partir das contradições entre suas
configurações subjetivas individuais e os sentidos subjetivos produzidos em sua
interação nas atividades compartilhadas nos diferentes espaços sociais.
González Rey (2005) afirma que a produção de sentidos provém da história
do sujeito e da diversidade dos contextos atuais da vida de cada um. Portanto, não
prevê encadeamentos de atividades e expressões regulares. As configurações
43

subjetivas, segundo González Rey (2005), seriam as responsáveis pelas formas de


organização da subjetividade como sistema. É baseado nesse momento empírico
que o modelo teórico da subjetividade tem sua expressão. Para González Rey
(2005), tal modelo representa sempre uma forma de inteligibilidade sobre a
realidade, e não uma correspondência com a realidade vivida do sujeito enquanto
registros que não se reduzem aos conceitos produzidos no sistema de
conhecimento, o qual deve ter a capacidade de estar inserido nessa realidade e,
portanto, constituído nela.

4.1 PARTICIPANTES

A seleção dos participantes foi feita por conveniência, a partir de contatos da


pesquisadora. A pesquisa foi realizada com quatro casais, sendo casados há pelo
menos 3 anos, com idades entre 35 e 55 anos e tendo filhos de diferentes idades. A
escolha dos participantes se baseou na forma como casais com idades diferentes,
com níveis socioeconômicos diversos, e que estão em diferentes fases do
casamento constroem suas representações sociais do casamento.

4.2 INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS

O roteiro para a entrevista semiestruturada foi elaborado enfocando questões


que fazem parte do cotidiano dos casais casados assim como das questões
vivenciadas durante o casamento, tais como o significado do casamento para cada
um, os motivos que os levou a se casarem, a convivência durante o casamento.
Bem como o dinheiro na relação conjugal, o trabalho de cada um, a vida sexual do
casal, a convivência social, a família de origem, os filhos na vida do casal e a forma
como negociam as situações e os conflitos. O roteiro, composto por sete questões,
44

foi dirigido a quatro homens e quatro mulheres, com filhos, com renda familiar
diferente entre os participantes, sendo que ambos trabalham. O encontro com a
pesquisadora foi realizado separadamente e o questionário elaborado a partir de um
perfil de idade, escolaridade, renda familiar, ano de casamento, trabalho e filhos com
diferentes idades.

4.3 PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS

Após a avaliação e aprovação do projeto pelo Comitê de Ética em pesquisa


da Universidade Católica, pelo Parecer n/ 14430913.7.0000.0029, foi feito contato
por telefone e pessoalmente, com os participantes, convidando-os a participarem da
entrevista, bem como foi agendada data, horário e local para a realização da
mesma.
Antes de dar início à entrevista, os participantes foram informados sobre a
questão do sigilo e estes assinaram o termo de conhecimento livre e esclarecido,
bem como a autorização para que a entrevista pudesse ser gravada. Tal gravação
foi transcrita, para posterior interpretação dos significados obtidos na pesquisa tendo
como método a Pesquisa Qualitativa baseada na epistemologia da subjetividade de
Fernando González Rey.
45

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A idade média dos participantes da pesquisa é entre 35 e 55 anos, o nível de


escolaridade é entre o ensino médio e superior, são casados há pelo menos 3 anos
e o número de filhos é entre um e quatro filhos.
Neste capítulo considera-se os resultados das entrevistas e a discussão dos
fragmentos de fala dos participantes de acordo com as zonas de sentido que
emergiram do universo pesquisado.
O estudo constitui-se em analisar e interpretar as falas de cada participante
quanto ao significado atribuído às perguntas do questionário da entrevista
semiestruturada.

5.1 DA ANÁLISE EMERGIRAM SEIS ZONAS DE SENTIDO, CONFORME


GONZÁLEZ REY E SÃO APRESENTADAS E DISCUTIDAS A SEGUIR:

5.1.1 Primeira zona de sentido: “O que me chamou a atenção foi o jeito


dela, o jeito dele”

No tema relacionado aos motivos que despertaram o interesse de um pelo


outro, o casal 1 -Segundo a mulher: “ Me chamou a atenção o “jeito” dele , sempre
com um amigo e também algumas atitudes diferentes de outros rapazes. Para o
homem: “O jeito” dela me chamou a atenção. Ela era diferente das outras meninas e
isso me interessou. Talvez ela seja diferente por ter perdido a mãe novinha.”
Cada um separadamente, evidenciou em nosso encontro, que utilizam
termos como rapaz e menina ao se reportarem um ao outro e apresentam uma
maneira carinhosa de se relacionarem além de uma preocupação em corresponder
as expectativas que um e outro têm com relação ao casamento, através da
exposição de exigências de uma postura responsável quanto às questões que
46

entendem como necessárias para a manutenção de uma relação conjugal baseada


no respeito e no cooperativismo.
No casal 2, a insistência a partir do interesse, proporcionou continuidade de
encontros entre ambos para o enamoramento. Segundo a mulher: ”Me interessou o
“jeito” dele, depois de ter sido apresentada a ele. Ele insistiu para que uma amiga
em comum me apresentasse a ele”. Para o homem:” Me senti atraído por ela e pedi
a uma amiga em comum para me apresentar a ela. Depois de cinco meses ela
estava grávida”.
Ambos são do Nordeste e deixaram suas famílias para trabalhar em Brasília.
Ele é mais velho que ela sete anos. Ele estava só em Brasília e ela veio trabalhar
como empregada doméstica em uma casa de família. Após cinco meses de namoro
ela engravidou e resolveram casar apesar da diferença de idade e de etnia. Durante
o encontro com cada um separadamente, foi percebido que a interação que eles
mantém até o momento, parece confirmar dados da necessidade de ambos
possuírem uma família.
No casal 3, a atração foi o motivo que desencadeou o enamoramento.
Segundo a mulher: “Inicialmente senti-me atraída por ele e depois gostei do “jeito”
dele. Da atração passei a gostar dele”. Segundo o homem: “Logo que cheguei à
Brasília, me interessei por ela, que alugava um quarto na casa de meu tio. Logo me
interessei por ela e fomos morar juntos”.
Nesse casal foi observado um desejo de possuírem uma família, originário do
fato de ambos terem saído de seus núcleos familiares e cidades de origem e vindo
para Brasília em busca de melhores condições de vida. A mulher deixou uma filha
que teve solteira aos cuidados de sua mãe. Ele veio para tentar melhores condições
de vida, mas de imediato hospedou-se na casa de um tio e o referencial de família
se completou com a possibilidade de se casar a partir da atração que sentiu por ela.
No casal 4, a admiração despertou o interesse mútuo, a partir de um encontro
casual em um supermercado no qual ambos estavam ocupados com tarefas
rotineiras. Segundo ela: “Sempre me interessei por homens mais velhos, pois
preciso de segurança. Talvez por ter perdido meu pai, ainda menina. A bondade
dele me cativou e senti vontade de nos encontrarmos depois. No quarto dia do
47

nosso encontro, não dormimos mais separados”. Segundo ele: “Começamos a


conversar num caixa de supermercado e logo que a vi, me interessei por ela, pela
sua vitalidade e não consegui esquecê-la. Trocamos telefones no estacionamento
do supermercado e no dia seguinte a convidei para sair e nunca mais nos
separamos”.
Os dois possuíam experiência conjugal anterior e durante o encontro para a
pesquisa, ficou evidente que conservam as mesmas tarefas rotineiras que
realizavam no momento do encontro. Ele era viúvo, com dois filhos adultos e ela era
divorciada com dois filhos e um terceiro de uma relação que teve anteriormente.
Ambos parecem ter se enamorado a partir de uma identificação familiar que através
da atração mútua deu prosseguimento ao casamento.
Os casais participantes apresentaram questões subjetivas na definição do
interesse de um pelo outro, que fizeram com que dessem prosseguimento a novos
encontros, propiciando assim o enamoramento e a concretização do casamento. A
presença de um significado relacionado ao imaginário de cada um, refere-se ao
“jeito”, “atração”, “admiração”, em que aspectos subjetivos foram propulsores para a
atitude de dar prosseguimento à relação. O interesse nesses casais está ancorado
no desejo e na representação do enamoramento.
O sociólogo Alberoni (1988, p. 54), reproduz sua distinção clássica nestes
termos:
O amor é uma paixão. O amor é êxtase, mas também tormento. Em
compensação, a amizade tem horror ao sofrimento. Amigos querem estar
juntos para serem felizes. Se não conseguem, vão embora. O amor não é
forçosamente um sentimento recíproco, e uma das características é a busca
da reciprocidade. A amizade, pelo contrário, sempre requer reciprocidade.
Em amizade, não há lugar para o ódio.

Os amigos descritos por Alberoni (1988), refere-se aos amantes que querem
ter de si mesmos imagens recíprocas semelhantes, ou pelo menos sem
dissonâncias excessivas. Segundo Alberoni (1988), reunimo-nos porque nos
assemelhamos e desejamos ver com um mesmo olhar, uma mesma realidade. Os
amantes andam lado a lado, solidários para enfrentar a vida.
Segundo Costa (1998), aprendemos a crer que amar romanticamente é uma
tarefa simples e ao alcance de qualquer pessoa razoavelmente adulta, madura, sem
48

inibições afetivas ou impedimentos culturais. O sentimento do insucesso amoroso é


por isso mesmo, acompanhado de culpa, baixa da autoestima e não de revolta
contra o valor imposto, como na situação do preconceito. Poucos são capazes de
duvidar da “universalidade” e da “bondade” deste amor culturalmente oferecido
como algo sem o que nos sentimos infelizes.
Para Badinter (1986), a tendência atual não está mais ligada à noção
transcendente do casal, mas antes à união de duas pessoas que consideram menos
como metades de uma unidade, do que como dois conjuntos autônomos. A aliança
dificilmente admite sacrifícios da menor parte de si. A hipertrofia do ego e o
individualismo são sérios obstáculos para a vida a dois, tal como desejamos. Nossos
objetivos mudaram e não desejamos mais pagar o preço apenas para que o outro
esteja presente ao nosso lado.
Para Badinter (1986), quando o imperativo categórico não enuncia mais as
condições de reciprocidade, a relação entre os casais reconhece que a relação
intersubjetiva perde seu valor. “O espaço da rivalidade inter-humana cede lugar,
pouco a pouco, a uma relação pública neutra, onde o outro esvaziado de qualquer
consistência, não é mais hostil ou competitivo, mas antes indiferente” (BADINTER,
1986, p. 269)

5.1.2 Segunda zona de sentido: “ Minha família gostou, resistiu ao negro e à


gravidez”

Nesta zona de sentido observa-se a aceitação e a resistência conforme o


imaginário e a ancoragem do racismo e da legalização, principalmente quando
envolve a gravidez.
O item 2 refere-se a como a família recebeu o parceiro. No casal 1, a
aprovação preponderou entre as famílias de ambos. Segundo a mulher; “Meu pai
gostou dele de imediato. O fato de ter perdido minha mãe, quando era criança,
ficamos muito unidos e a opinião dele e de minha irmã foram muito importantes para
mim”. Para ele: “A minha família a recebeu muito bem, pois de imediato viram que
49

ela era diferente, mais amadurecida, talvez pelo fato de ter perdido a mãe, ainda
criança.”
O casal é o mais jovem da pesquisa e apresenta um modelo de casamento
baseado no respeito mútuo, na divisão de tarefas e no cooperativismo. Segundo ela,
a relação precisa ser pautada no respeito que precisam ter um pelo outro para que
haja possibilidade de convivência. A aprovação familiar da família de cada um
influenciou na escolha do parceiro confirmando como objetivaram a escolha do
parceiro para o casamento, ancorando na expectativa e valores do meio social e da
família de origem.
No casal 2, a resistência foi uma das características vividas pelo casal na
aceitação da família com relação ao marido. Segundo ela: “Minha família não o
recebeu muito bem por ele ser negro, ser mais velho que eu sete anos e por eu ter
engravidado após cinco meses de namoro”. Segundo ele: “Não houve da parte da
minha família nenhuma objeção a ela”.
O casal está casado há dezoito anos, tem uma filha de 18 anos e um filho de
5 anos. Não mantém contato com a família dela, pois segundo eles a distância
impede, pois moram no interior da Bahia. Anualmente vão visitar a família dele com
os filhos, mas mantém uma vida reservada ao núcleo familiar.
Nesse casal, o preconceito e a gravidez representaram resistências para a
aceitação do parceiro, demonstrando as expectativas e preconceitos da família da
mulher. Os valores de sua família estão ancorados no valor dado ao casamento ser
realizado entre pessoas da mesma cor e do mesmo nível econômico e social.
O casal 3 viveu a pressão para que o casamento se transformasse em uma
união reconhecida legalmente. Segundo a mulher; “Por sentirmos atração, fomos
morar juntos de imediato. Minha mãe cobrou que casássemos, pois eu já tinha uma
filha que estava sendo criada por ela”. Segundo ele: “Logo fomos viver juntos e
montamos nossa casa. A mãe dela cobrou que casássemos legalmente. Minha
mulher teve uma filha no Piauí que era criada pela mãe e talvez por isso a
cobrança”.
A instituição do casamento representou para esse casal uma forma de
reproduzir um modelo que a família da mulher considerava como necessária à
50

preservação de valores. Ambos possuem crenças semelhantes, são o casal com


mais idade da pesquisa, da mesma cidade e do mesmo nível sócio cultural. Tais
questões lhe conferem parceria e intimidade.
As representações sociais do casamento nesse casal estão objetivadas e
ancoradas em um sistema de valores que se identificam entre si e estão ancorados
na idéia de que a mulher já havia passado por um gravidez precoce em sua cidade
natal e que uma outra gravidez não deveria fazer parte da “nova” vida que levaria
em Brasília. O valor tradicional é que a maternidade não deve acontecer antes do
casamento.
No casal 4, a cobrança foi vivenciada pelo casal que tem uma diferença de 25
anos. Ele era viúvo, com dois filhos adultos e com uma situação econômica social
diferente da dela. Esses motivos geraram não aceitação ao casamento por parte da
filha dele que afirmava que a mulher estava interessada no dinheiro dele. Segundo
ela: “Minha família gostou dele pela bondade com todas as pessoas”. Segundo ele:
“Por eu ser viúvo e mais velho, possuindo uma situação financeira boa, meus filhos
não aceitaram o nosso casamento. Convidamos minha filha para ser madrinha de
nossa filha e ela foi se aproximando. Temos uma convivência boa, embora eles
continuem a não encarar nossa união satisfatoriamente”.
Para esse casal as representações sociais estão objetivadas nas
necessidades de ambos terem uma família e ancorada no valor que a família do
homem dá ao casamento ser realizado por pessoas da mesma idade e que deve ser
realizado por pessoas da mesma classe socioeconômica.
A escolha amorosa na pesquisa demonstrou que existem questões subjetivas
que norteiam a escolha para o casamento tais como a identificação cultural e
valores semelhantes.
Segundo Badinter (1986), hoje o amor ternura está no encontro do
casamento; ficamos casados enquanto sentimos satisfação. “Cada vez mais, casais
persistem em recusar continuar casados porque não sentem prazer em conviver
com a família do cônjuge. Para muitos a Instituição esvaziada de sua significação, é
inútil” (BADINTER, 1986, p. 287).
51

Para Badinter (1986), de qualquer forma, o casal amoroso continua sendo o


“valor primeiro e último que funda a união legítima ou não”. O amor quer ser intenso
mas, não passional, a relação pacífica e não guerreira. A união dos corações nutre-
se da transparência própria da amizade. Contrariamente, ao que se pensou, por
muito tempo, esta não é incomparável com o erotismo. É inclusive este sentimento
que lhe dá uma chance de perdurar no casamento.
O decisivo na escolha amorosa dos casais pesquisados foi o grau de
companheirismo e o sentimento de que o outro preenchia muito de suas
necessidades.

5.1.3 Terceira zona de sentido: “Sexo: a freqüência se reduz, mas pode ser
prioridade”

No tema relacionado a questão de como a paternidade e a maternidade


influenciam a vida sexual do casal a pesquisa demonstrou que:
No casal 1, para ela; “Desligamos da questão sexual, quando nossa filha
nasceu, apesar de antes ser bom e freqüente. A minha filha nasceu com um
problema de saúde (órgão intestinal exposto) e com isso ficamos muito dedicados a
ela. As tarefas com nossa filha, nos deixa cansados e precisamos retomar essa
parte”. Para ele “Ela sempre foi mais ativa e após o nascimento de nossa filha houve
uma diminuição na freqüência. Estou atento e quero retomar nossa relação sexual,
pois isso tem me incomodado”.
Nesse casal houve uma diminuição da freqüência sexual e o casal está atento
demonstrando dar importância ao bom funcionamento sexual na conjugalidade.
Apresentam uma forma de relacionarem-se de forma afetuosa, procurando
compensar a diminuição da freqüência sexual através de outras manifestações de
afeto.
O casal 2, viveu a diminuição da freqüência sexual e a tentativa de se
adaptarem a nova forma de relacionamento. Segundo ela: “A freqüência sexual
52

diminuiu depois de dezoito anos de casamento. Estamos muito dedicados aos


nossos filhos que consomem muito do nosso tempo”. Segundo ele; “Com o
nascimento dos filhos a relação sexual diminuiu muito a freqüência e com o tempo,
fomos nos adaptando, pois vivemos bem com nossos filhos e entre nós”.
Esse casal vive uma vida familiar que se sobrepõe a relação conjugal. De
alguma forma adaptaram-se a relação familiar como sendo o objetivo principal do
casamento.
No casal 1 a atividade sexual diminuiu em função das condições que o casal
vive com as tarefas domésticas que passaram a ter com o nascimento da filha. O
desejo está ancorado no valor atribuído como intimidade do casal e pretendem com
isso retomá-lo. No casal 2, o sexo não está ancorado na intimidade e sim na
convivência familiar como sendo a prioridade do casal.
No casal 4, houve a diminuição da freqüência sexual por questões diversas.
Para ela: “Houve uma diminuição muito grande por eu ser mais jovem que meu
marido, tenho mais necessidade de sexo do que ele. Não admito a ideia de não
“transar”. Há poucos dias atrás, tivemos uma conversa sobre a necessidade de
termos relação com mais freqüência”. Para ele: “Quando a conheci senti muita
atração física por ela. Depois que nossa filha nasceu a freqüência sexual diminuiu,
principalmente porque nossa filha de 4 anos vem para nossa cama à noite”.
Nesse casal, cada um dos cônjuges passa por momentos diferentes quanto a
necessidade de manter contato sexual. Enquanto ela exige uma maior freqüência,
ele parece satisfazer-se com o contato afetivo entre ambos e na relação familiar.
Para esse casal o sexo está ancorado nas necessidades pessoais. Enquanto o
homem não sente tanta necessidade sexual, a mulher ancora o sexo no desejo
pessoal que tem por ser mais jovem.
O casal 3, foi exceção pois a sexualidade foi considerada de forma prioritária.
Para ela: “Sempre procuramos cuidar dos filhos, mas nunca deixamos de fazer sexo
após o cuidado com os filhos”. Para ele: “Não abro mão de fazermos sexo, pois
sempre dormimos abraçados e ela é o meu “cobertor de orelha”.
Esse casal de meia idade, durante o casamento manteve a relação sexual
atribuindo prioridade ao fato de conservarem um espaço entre eles, embora tendo
53

quatro filhos. Durante o encontro com ambos separadamente, ficou visível a


importância que atribuem à relação de marido e mulher. A questão sexual está
ancorada nesse casal em um sistema de valor atribuído a intimidade no casamento,
dando prioridade a essa questão.
Dentre os casais participantes as atribuições inerentes ao casamento são os
motivos pelos quais a freqüência sexual diminuiu. Apresentam expectativa em
resgatar a prática sexual, considerando a questão importante para a intimidade do
casal. Apresentam concordância e relevância quanto à prática sexual estar presente
no casamento.
Para Badinter (1986), vários indícios parecem mostrar que a relação amorosa
que procuramos inspira-se muito mais no modelo de amizade do que no de paixão.
Preferimos a serenidade à transparência, a confiança aos dilaceramentos, a
estranheza, à desconfiança. A ausência de reciprocidade nos desliga e não
podemos mais esperar por muito tempo num amor não partilhado.
Badinter (1986) discorre sobre o vocabulário que nos designa hoje que é
muito significativo do tipo de relação que é a deles. Fala-se menos de amantes ou
de cônjuges do que companheiros. Inicialmente o “companheirismo” designava
associações de solidariedade entre operários; o “companheiro”, aquele com quem
se divide o pão. Por extensão, tornou-se “aquele que divide os sentimentos ou o
ideal de outra pessoa”. O termo implica a identidade de condição entre dois seres
humanos, que experimentam sentimentos fraternos. O paradoxo aparente é que os
amantes são irmãos. A relação sexual tornou-se um dos componentes desta relação
fraterna.
Segundo Badinter (1986, p. 271):
Preferimos a solidão a tudo que julgamos entravar nossa liberdade,
inclusive o amor. Em conseqüência, renunciamos às paixões e preferimos
as normas das relações tranqüilas. Cultivamos uma ‘ética analgésica’ em
que ‘não há lugar para riscos e sofrimentos’. E mesmo que quiséssemos,
não conseguiríamos voltar ao tempo das grandes paixões, pois não somos
mais capazes de experimentá-las, ‘nem do ponto de vista psicológico, nem
do ponto de vista social’. No mundo atual, ‘os casais fazem confidências
diante de câmeras de televisão’, o ‘casamento não é mais sagrado’, ‘as
infidelidades são sucessivas’ e o resultado é que a ‘permissividade rouba da
paixão seu motor mais potente’.
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Dentre os casais participantes, embora a relação sexual tenha apresentado


uma diminuição na freqüência após o nascimento dos filhos, demonstraram
preocupação em retomá-la. Conseguem manter uma relação conjugal e familiar
afetuosa, parecendo compensar os momentos de intimidade conjugal pelas relações
fraternas na conjugalidade.

5.1.4 Quarta zona de sentido: “Nossa vida é a família, mas o trabalho


doméstico é mais da mulher”

Nesse item a pesquisa procurou compreender como é a vida social e familiar


dos casais participantes. Para a mulher do casal 1: “A vida do casamento mudou
nossa rotina e procuramos viver uma vida em família com o nascimento da nossa
filha”. Para o homem: “Nossa vida é em família, com nossa filha e meus pais que
nos ajudam muito”.
As tarefas inerentes a paternidade / maternidade para esse casal parece
consumir a disposição do casal se relacionar socialmente, pela dificuldade de
compatibilizar as atividades. O casal acaba se relacionando com os pais dele não só
por possuírem um bom relacionamento, mas também pela convivência diária com
eles que oferecem ajuda tomando para eles a tarefa de cuidar da neta diariamente
no período em que a mãe está trabalhando.
Para o casal 2, a vida desse casal é no núcleo familiar que construíram.
Segundo ela: “ A nossa vida social é praticamente dedicada aos filhos nos finais de
semana”. Segundo ele: “Vivemos em família, na convivência com os filhos e não
temos muitos amigos”.
Esse casal vive a rotina da vida cotidiana no núcleo familiar, junto aos filhos e
os projetos pessoais, transformam-se em projetos familiares. O imaginário do
casamento pressupõe que projetos pessoais são inseridos nos projetos familiares e
nesse casal essa prática se destaca.
O casal vive a vida em familiar com a justificativa de uma família grande pela
quantidade de filhos e netos”. Para ela: “Os finais de semana são vividos em família.
Todos os filhos vão para nossa casa com nossos netos. Para ele: “Nossa vida em
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família é muito agitada com a presença dos filhos e netos. Não sobra tempo para
atividades fora de casa”.
Nesse casal, as relações familiares são de suma importância para o
casamento deles. Vivem a rotina do casamento, envolvidos com as tarefas com os
filhos e netos e seus objetivos se concentram em corresponder as necessidades da
família.
No casal 4, apesar de prevalecer a vida em família, mantém a vida social
restrita ao casal nos finais de semana. Segundo ela: “Apesar de cansada,
procuramos conviver em família e com o meu marido. Gosto da vida social com meu
marido com poucos amigos e nos finais de semana vamos a restaurantes”. Segundo
ele: “Apesar do trabalho intenso, nos finais de semana vamos a restaurantes
sozinhos com alguns poucos amigos”.
Esse casal consegue manter a vida social, apesar das tarefas inerentes ao
casamento. Apesar de ser um casal tradicional, com uma relação heterogênea com
interesses comuns e interesses diferentes.
Dentre os casais participantes, o casamento está objetivado na estrutura
familiar que o compõe através dos filhos e do núcleo familiar que formam. Está
ancorado em valores que são vividos através das gerações, constituídos em atitudes
que ambos passam a ter, originários de suas famílias e ressignificadas no contexto a
que pertencem.
Nesse tema a pesquisa revelou que a vida familiar encontra prevalência sobre
a vida social. Dentre os casais participantes as tarefas inerentes ao casamento
parecem consumir interesses individuais na busca de uma vida social. Os casais
sentem-se envolvidos de tal forma com as responsabilidades atinentes ao
casamento que não introduzem atividades em sua rotina que possam vir a prejudicar
a convivência familiar.
Articulada à estrutura familiar está a questão do trabalho, fazendo parte da
mesma zona de sentido, na questão de como os casais compatibilizam o trabalho
profissional de ambos e as tarefas domésticas.
Para o casal 1, as tarefas não são divididas de forma igualitária pela
quantidade de horas trabalhadas que é menor para ela.Segundo ela: “Tenho mais
56

tempo com minha filha e para as tarefas de casa, devido ao fato da minha carga
horária ser menor. Com isso há uma divisão de tarefas domésticas proporcional ao
tempo de cada um”. Segundo ele; “Meu trabalho me absorve muito, pois saio e vou
direto para a faculdade. Trabalho em uma empresa privada que me exige muito”.
O casal divide as tarefas domésticas proporcionalmente a disponibilidade de
tempo de cada um. Definem de forma clara as ideias que tem sobre a necessidade
de dividirem as tarefas domésticas de forma igualitária.
O casal 2, compartilha a vida profissional e no que diz respeito a mulher, é ela
a responsável pelas tarefas domésticas. Segundo ela: “Apesar de trabalharmos
juntos, tem tarefas que são de minha responsabilidade para facilitar a rotina da
família”. Segundo ele: “Trabalhamos juntos em nossa loja e procuramos dividir as
tarefas da loja, mas em casa as tarefas domésticas são de responsabilidade da
minha mulher”.
Para esse casal as tarefas são de responsabilidade da mulher, enquanto na
vida profissional trabalham juntos. O modelo que prevalece está relacionado a um
modelo tradicional em que a mulher possui um papel social como profissional e
acumula a função de ser responsável pelas atividades domésticas.
No casal 3, as tarefas são bem definidas. Para ela: “O horário de trabalho é
bem definido e quando chego em casa, as tarefas domésticos são feitas por mim e
algumas são feitas pelo meu marido principalmente as mais pesadas”. Para ele:
“Trabalho o número de horas necessárias exigidas e não deixo que isso interfira na
nossa vida em família. Quando chego em casa são outras tarefas”.
O casal define tarefas baseadas em um modelo tradicional associado a
fragilidade da mulher. Confirmando que, mulheres devem tratar de questões
associadas a feminilidade e homens são responsáveis por tarefas ligadas a força
física. Baseados nessa crença construíram sua conjugalidade e demonstram
estarem adaptados a tais regras relacionadas ao gênero masculino e feminino.
O casal 4, trabalham junto mas as tarefas domésticas são administradas por
ela, enquanto a questão financeira é administrada por ele.Segunda ela: “Trabalho
muito e não sobra tempo para as tarefas domésticas, que são feitas pela nossa
empregada doméstica”. Segundo ele: “Trabalho durante o dia, apesar de estar
57

aposentado. Quando saio do trabalho vou para o salão fechar a questão financeira
do dia”.
Nesse casal as tarefas são administradas de forma bem definida; a mulher
encarrega-se da administração da casa, enquanto o homem cuida da questão
financeira.
Nesse tema dentre os casais participantes as tarefas domésticas continuam
sendo de responsabilidade da mulher, enquanto tarefas relacionadas a força física e
questões financeiras são atribuídas ao homem. Dentre os casais com idades a partir
de 50 anos, observa-se a conservação de um modelo tradicional que apresenta
questionamentos em sua funcionalidade, mas que continuam a serem usados. Nos
casais mais jovens da pesquisa é visível a redefinição das responsabilidades na
execução das tarefas domésticas. É importante ressaltar que dentre os casais
participantes, todas as mulheres exercem uma atividade profissional.
Como foi colocado na página 31, Duveen (2003), a diversidade das ideias que
Moscovici esteve interessado em explorar refletem uma distribuição desigual de
poder e geram uma heterogeneidade de representações.
Para Badinter (1986), em qualquer lugar, e sempre, as relações técnico-
econômicas do homem e da mulher são de estreita complementariedade,
contrariamente ao mundo animal, que ignora toda especialização sexual na busca
do alimento.
Para Badinter (1986), a classe dos homens e o grupo das mulheres
desenvolveram sua própria sociabilidade, sua própria cultura, sua própria psicologia,
a ponto de formar duas sociedades diferentes mais ou menos complementares
segundo as épocas. Essa relação, prossegue a autora (1968), fundamentalmente
reproduziu-se até nossos dias, a ponto de aparecer como um fenômeno universal,
portanto próprio à humanidade.
Segundo Badinter (1986), os homens criaram para si um domínio reservado,
inacessível as mulheres, uma habilidade técnica especializada, de uso exclusivo do
sexo masculino, que necessita de um aprendizado realmente ou falsamente
sofisticado; mas não há nada, na constituição física feminina que explique que a
mulher não tem acesso. Atualmente segundo Badinter (1986), os pontos de
58

referência se esvanecem. A noção de domínio reservado masculino tornou-se


praticamente inexistente, a tal ponto que hoje teríamos dificuldade em citar uma só
atividade própria do homem e inteiramente ignorada pelas mulheres.
Nossa sociedade empenha-se em realizar a não diferenciação sexual dos
papéis e das funções nos campos que eram considerados irredutivelmente mais
específicos a um ou outro sexo.

5.1.5 Quinta zona de sentido: “Cada um paga, o dinheiro é dos dois, mas ele
administra”

Nesse tema da pesquisa aparecem as questões e representações de como o


casal administra o dinheiro.
No casal 1, o dinheiro recebido através do trabalho profissional é mantido em
contas bancárias separadas. Segundo ela: “Sou responsável pelos meus gastos
pessoais. Os gastos da casa são divididos proporcionalmente ao salário que cada
um recebe. Meu marido ganha menos, paga a faculdade e eu pago mais”. Segundo
ele;”Eu não me meto no dinheiro dela. Negociamos quanto cada um tem que pagar,
pois nosso salário é diferente”.
A diferença salarial entre o homem e a mulher não impede que esse casal
negocie as despesas entre eles e mantém a autonomia financeira, o que consideram
muito importante.
No casal 2, o dinheiro é dos dois, pois trabalham juntos. Segundo ela: “Ele
administra o dinheiro e sempre que preciso, eu falo. O dinheiro é misturado pelo fato
de trabalharmos juntos”. Segundo ele: “o dinheiro é misturado e pagamos as contas
conforme surgem. O trabalho é feito por nós dois, portanto o dinheiro é nosso. Eu é
que pago as contas da casa e ela cuida de outras tarefas”.
Nesse caso, apesar de trabalharem juntos e o dinheiro ser proveniente disso,
o marido é que se responsabiliza pelos pagamentos e pela administração financeira
do casal. A ideia de que a mulher cuida da casa e o homem cuida do financeiro,
prevalece nesse casal.
59

No casal 3, o marido paga as contas dos gastos fixos enquanto a mulher trata
de complementar as despesas extras. Segundo ela: “A responsabilidade das contas
da casa é de responsabilidade do meu marido. As despesas extras eu assumo e
pago meus gastos pessoais”. Segundo ele; “Meu dinheiro serve para os gastos fixos
e a minha esposa paga as despesas que não fazem parte da rotina da casa”.
Nesse casal o modelo é o homem provedor e da mulher a que ajuda o marido
quanto as despesas extras. Nesse caso, a mulher possui uma maior autonomia
quanto ao seu dinheiro, escolhendo onde gastá-lo.
No casal 4, o dinheiro é administrado pelo homem. Embora ambos trabalhem
, a mulher é a responsável por administrar o salão de beleza que possuem e o
homem administra a questão financeira. Segundo ela: “Meu marido administra o
dinheiro, mas tenho autonomia para comprar e gastar o que quero. O dinheiro de um
casal é dos dois”. Segundo ele: “Ela trabalha muito e eu também. Ela gasta mais do
que eu, por isso administro. Sempre fico atento aos pagamentos pois tenho receio
que ela extrapole”.
Nesse casal a mulher apesar de produzir seu próprio dinheiro com seu
trabalho, o marido cuida da administração do salão de beleza. Esse é um modelo
tradicional que parece fazer parte da vida desse casal.
Dentre os casais participantes a questão da administração do dinheiro
continua sendo atribuída ao homem, apesar da mudança social pela qual a mulher
passou. Na distribuição dos papéis, há uma conservação nas representações sociais
do casamento em que o homem possui atribuições relacionadas a atividades
mentais que exigem raciocínio matemático enquanto a mulher é atribuído funções
relacionadas a manutenção da família além das atividades profissionais.
A administração do dinheiro está ancorada na divisão do gênero masculino e
feminino, atribuindo papéis bem definidos quanto ao gênero que definem valores
diferentes entre eles. A mulher por ser considerada ao longo do tempo como
prestadora de serviços à família e o homem como administrador do dinheiro por ser
considerada uma atividade intelectual. Os casais objetivam a representação do
dinheiro no tipo de contas bancárias, estabelecidas de forma individual ou conjunta.
60

Para Badinter (1986), o movimento feminista do século XIX ajudou a deflagrar


o acesso de um número maior de mulheres, do que antes, na obtenção de uma
posição parcialmente segura no universo fora de seus lares. Esse movimento
humanizou muito a sociedade como um todo. Foi através do impacto do “ethos
feminino” que surgiram profissões novas. O movimento de liberação da mulher tem
exercido pressão em prol de melhores salários e de possibilidades da mulher
administrar seu dinheiro.
Para Mead (1975), uma das características própria às sociedades humanas
residia numa certa colaboração dos homens na educação dos filhos. Ela observava
que o aspecto propriamente humano da família não reside na proteção que o
homem dá a mulher e aos filhos, mas no comportamento nutridor do homem, que
entre todos os humanos, ajuda a prover as necessidades das mulheres e dos filhos.
Mead (1975), afirmou através de seus estudos que todas as sociedades conhecidas
repousam solidamente neste comportamento nutridor do homem, que é uma
aquisição.
Segundo Hall (2006), um tipo diferente de mudança estrutural está
transformando as sociedades modernas a partir do século XX. Isso está
fragmentando as paisagens culturais de classe, gênero, sexualidade, etnia, raça, e
nacionalidade, que, no passado, nos tinham fornecido sólidas localizações como
indivíduos sociais. Estas transformações estão também mudando nossas
identidades pessoais, abalando a ideia que temos de nós, enquanto sujeitos
integrados.

5.1.6 Sexta zona de sentido: “A gente briga, mas desconversa?”

Nesse tema a pesquisa fez emergir como os casais resolvem os conflitos


diante das situações. No casal 1, o limite da relação está bem definido, na medida
em que procuram sempre conversar após qualquer desentendimento e estão
atentos ao que desagrada um e outro. Segundo ela: “Converso e sinalizo quando
sinto que não estou sendo respeitada. Para mim, é fundamental o respeito, pois não
há possibilidade de convivência quando não há respeito”. Segundo ele: “Quando
61

sinto que ela está estressada, trato de ficar quieto e espero ela se acalmar para
conversar. Tento sempre ficar atento para escutá-la quando ela não está satisfeita”.
Nesse casal a atenção está voltada para perceberem o que desagrada e
assim conseguem uma forma de se calarem no momento do desentendimento,
recobrando a relação para poderem conversar. Possuem um limite claro de um para
com outro, procurando não extrapolar para não entrarem em conflitos.
O casal 2, silencia para não brigarem. Segundo ela: “Eu me calo quando sinto
que ele está estressado ou nervoso. Dessa forma, não brigamos. Depois as coisas
voltam ao normal”. Segundo ele: “Não discutimos quando as coisas não estão bem.
Ela se cala e eu também para não brigarmos”.

Nesse casal o silêncio é a forma que encontram para não entrarem em uma
discussão. A relação é mantida de forma a não estabelecerem um diálogo de
imediato, para não entrarem em conflito e brigarem.
No casal 3, o calar é a forma que encontram para poderem conversar quando
estão mais calmos. Segundo ela: “Mesmo em momentos mais difíceis, procuramos
nos entender sem ofensas. Temos uma forma de nos entender”. Segundo ele:
“Procuramos não brigar, pois tratamos de nos entender quando a situação não está
boa”.
Esse casal parece ter claro os limites de cada um e o que os desagrada. Dão
prioridade a manutenção de um bom relacionamento e parecem ter um
entendimento entre eles que facilita a resolução dos conflitos.
No casal 4, apesar de ambos serem explosivos, conseguem conversar para
chegarem a um acordo. Segundo ela: “ Por eu ser mais explosiva, tenho tentado me
acalmar para conversar. Tento acalmá-lo e a mim também para chegarmos a um
acordo. Segundo ele: “Sou estressado, mas ela apesar de agitada consegue me
acalmar para conversarmos depois de um desentendimento”.
Esse casal demonstra que reagem de forma semelhante frente as situações
de conflito e tentando manter um bom relacionamento, se esforçam para
conversarem.
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No tema pesquisado sobre a forma como os casais resolvem seus conflitos, a


pesquisa demonstrou que as formas são variáveis, mas que existe uma combinação
subjetiva entre eles que facilita o entendimento. Quando um está mais irritado por
algum motivo, é acionado um mecanismo de maior cuidado com o que é falado entre
eles. É notório o interesse na manutenção do entendimento para não desencadear
ofensas mútuas na resolução de conflitos de todos os casais pesquisados.
A forma como os casais participantes resolvem seus conflitos está objetivada
na negociação entre eles, variando desde:
- Casal 1- Silenciar para esperar uma oportunidade para conversar
- Casal 2- Silenciar para não brigar
- Casal 3- Procurar não brigar
- Casal 4- Falar e tentar resolver
Segundo Badinter (1986), cada vez mais o homem e a mulher trazem um
salário para o casamento assim como experiências vividas no ambiente profissional.
Essa é a regra da reciprocidade no que diz respeito as provas de amor e a maneira
de administrar os conflitos. Isso sempre existiu no casamento, em diferentes épocas
e classes sociais. Se não se trocava uma parte igual de amor, alguém trazia alguma
coisa equivalente ao que o outro dava; um título ou um status social em troca de um
dote, ou mais prosaicamente a manutenção, em troca dos cuidados no lar e com as
crianças. Essas trocas segundo Badinter (1986), se manifestam nos gestos
aparentemente mais banais que constituem a trama essencial da vida de casal. Para
a relação não perecer é preciso, portanto, negociar constantemente entre suas
pulsões egoístas e o seu desejo de manter a união.
A pesquisa demonstrou que a satisfação e a estabilidade das uniões
conjugais não estão associadas diretamente a ausência de conflitos, mas a forma
como os cônjuges estabelecem estratégias para solucioná-los. O desafio para a
compreensão do casamento como representação social encontra-se justamente no
desenvolvimento de modelos que abarquem a complexidade envolvida nas relações.
Segundo os dados coletados, as diferentes dimensões que compõem a
qualidade conjugal dos casais pesquisados são complexas e extremamente
subjetivas. Pode-se afirmar que o casamento na pós-modernidade, deve ser visto
63

como um veículo para o desenvolvimento individual, desde que haja por parte do
homem e da mulher uma flexibilidade, uma motivação para encarar o novo contido
na rotina do dia-a-dia.
Na perspectiva anterior, pode-se considerar a hipótese de que haja um
crescimento mútuo.
64

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Quanto ao enamoramento Costa (1998), afirma que para ter o amor como
ideal no casamento é preciso ocultar o que nele existe de incongruente, complexo,
difícil e humanamente imperfeito. Esse imaginário aparece no enamoramento, como
foi visto.
Bauman (2004), afirma que o amor é ambivalente, incerto e inevitavelmente
traz sofrimento. No entanto, querer escapar dessas incertezas significa fuga. A
instabilidade do amor não é ocasional. Por natureza ele é “sem descanso” e deve
sempre transcender e transgredir o que foi alcançado.
Deve sempre abastecer-se de novos suprimentos de energia para manter-
se vivo [...] e, uma vez acumulado, o capital é devorado rapidamente se não
for diariamente preenchido. O amor é assim, insegurança encarnada
(BAUMAN, 2004, p. 99).

Para Badinter (1986), assim como para Bauman, os infortúnios do amor na


relação conjugal dependem da disponibilidade dos sujeitos em aceitar os sacrifícios
que sua realização impõe.
Para Bauman (2004), pouco importa as disposições psicológicas do sujeito. A
emoção amorosa no casamento é, nela mesma, incerta, ambivalente, e a excelência
dos cônjuges consiste em conciliar paixão com a responsabilidade para com o outro.
No discurso de Badinter (1986), não suportamos mais os sofrimentos do amor
porque nossa economia desejante se tornou narcísica; no de Bauman (2004), nada
que se faça resolve de uma vez por todas uma situação incontornavelmente instável
e ameaçadora.
Enquanto para Badinter (1986), o amor é algo bom, o homem e a mulher é
que se relacionam de forma incorreta, para Bauman (2004), o amor é o que é, e
cabe ao homem e a mulher estarem conscientes do que assumem quando decidem
se amar.
O foco da interpretação se desloca radicalmente em vez de sujeição ao Ideal
do amor no casamento, é ressaltado a capacidade humana de fazer escolhas e
responder pelo ônus das decisões tomadas.
65

A relevância social do casamento, conforme revelado no discurso das


pessoas participantes, bem como em suas representações diárias indica que o
fenômeno pesquisado é de fato objeto de representações sociais.
A presente pesquisa através dos dados coletos demonstrou a convergência
de um pensamento social no que se refere a temas relacionados às representações
sociais do casamento no contexto específico em que foi realizado, com as
características do Brasil, no tempo cronológico, político, sócio, econômico, histórico
e cultural.
A pesquisa revelou uma homogeneidade que parecia no início que casais
com diferentes idades e diferentes níveis sócioeconômicos fossem apresentar
características específicas e diferentes entre si. Entretanto, os dados apresentados
foram semelhantes entre si. A semelhança entre as respostas concebidas pelos
distintos casais participantes, indicou uma identidade social no casamento,
independente de idade, sexo, renda e tempo de relação conjugal.
A base para a escolha do parceiro, foi de fato a atração romântica como
sendo a base para a escolha amorosa. Apesar, de alguns estudos discordarem do
amor romântico opondo-o ao amor conjugal ou ao companheirismo amoroso, como
se tratasse de um substituto contrário. A pesquisa demonstrou que o amor romântico
e a reciprocidade entre os casais são conteúdos significativos nas representações
sociais dos casais participantes dessa pesquisa.
O desejo foi decisivo na escolha do parceiro assim como o sentimento de
que o outro preenche muitas de suas necessidades afetivas pela identificação na
atribuição de significados mútuos das representações do casamento. Supõe-se que
a vivência sexual, embora não permanentemente satisfeita, está sendo deixada de
lado por questões familiares de dedicação aos filhos ou nos projetos a dois.
A ternura, os conflitos, os cuidados da casa, problemas de educação com os
filhos e relacionamento de ambos, fizeram e fazem parte do cenário da rotina da
vida desses casais, constituindo assim, elementos de Representações Sociais do
Casamento.
O casamento sofreu influências das mudanças sociais mais gerais e,
principalmente, do movimento feminista, e nas últimas três décadas do século
66

passado, observa-se no que se refere ao casamento uma tendência para o


debate/embate de questões como: relações de gênero, redefinição de papéis,
comportamento sexual, da constituição da mulher como indivíduo e construção da
individualidade pessoal. Neste contexto entende-se que as questões cruciais do
casamento contemporâneo dizem respeito á dimensão da intimidade e as próprias
questões advindas do papel social da mulher.
Diante das transformações existentes na sociedade nem sempre a família tem
seu início em um casamento. Muitos casais iniciam a união pelo fato de estarem
dispostos a constituírem uma vida em comum, seja pelo amor existente entre
ambos, ou de um sentimento forte que os une, como também em decorrência da
própria história que cada um traz que passa a ser ancorada nos valores inerentes ao
contexto cultural que define o casamento como um destino que todos os indivíduos
devem ter a partir de uma determinada idade.
O casamento é um ato validado no meio cultural. Sua complexidade reside no
fato de duas pessoas, com histórias diferentes, de diferentes famílias e com
diferentes sistemas de valores, definirem um projeto comum que através do
casamento as imagens e os discursos são transmitidos pelas regras sociais e
familiares dos cônjuges.
Os interesses econômicos e sociais definem as representações sociais do
casamento ao longo do tempo. O modelo teórico de Moscovici (2011), através do
conceito de objetivação e ancoragem por ele elaborado trata de fazer com que o
homem e a mulher transformem a relação através de um sistema de valores,
ancorando-os no contexto cultural que o casal vive. A representação social do
casamento é encarnada na realidade social do casal, passando então a fazer parte
do cotidiano.
Na pesquisa, a experiência pessoal dos participantes definiram suas
representações sociais do casamento. Cada um ao fazer a escolha do parceiro para
o casamento, objetivou a forma que dariam a tal vivência, ancorando-a em
expectativas e experiências sociais e familiares originárias do contexto cultural em
que vivem. Tais conteúdos foram elaborados cognitivamente em imagens e ideias e
transformadas em atitudes adaptadas a realidade do casal.
67

A pesquisa apresentou dados quanto a diversidade de formas como os casais


constroem suas representações sociais do casamento.
As questões subjetivas surgiram na ocasião da marcação das entrevistas em
que a pesquisadora encontrou dificuldades na disponibilidade de horário em uma
primeira lista de casais para marcar o encontro com os cônjuges separadamente.
Foi necessário cancelar o primeiro grupo e arrumar uma nova forma de abordagem
em que foi enfatizado o critério sigiloso da pesquisa, reforçando verbalmente a
privacidade dos dados.
As maiores dificuldades estiveram relacionadas à abertura para falar de
temas que estão associados à intimidade do casal e a forma como expõem tal
imagem no meio social. Tal fato serviu para o questionamento profissional da
pesquisadora, pois enquanto terapeuta, tais temas seriam considerados de pouca
relevância quanto a intimidade de um casal.
O que nos leva a considerar que a escolha sobre compartilhar intimidade
conjugal no consultório está associado à busca do casal na resolução de seus
conflitos, enquanto no contexto de pesquisa pode significar exposição da intimidade
do casal.
Outra consideração a ser ressaltada, diz respeito ao quanto a conjugalidade
prevalece sobre a individualidade. Os casais evidenciam suas individualidades na
vida profissional e conservam a conjugalidade no casamento e na vida familiar.
Quanto ao sexo, ele é objetivado no casamento como sendo uma atribuição
de valor importante no casamento enquanto prática. Os casais ancoram o sexo
baseado em valores subjetivos associados as crenças que possuem acerca dos
significados de cada um individualmente e como casal.
De maneira geral, há uma redução da atividade sexual, com exceção do casal
3 que procurou manter a atividade sexual quando os filhos eram pequenos.
As perguntas para um posterior estudo são: se as responsabilidades do
casamento permeiam a intimidade conjugal, se as mudanças socioeconômicas e
culturais definiram papéis sociais quanto ao gênero e em que medida estão
influenciando as relações conjugais na administração do dinheiro e na divisão de
tarefas.
68

Segundo González Rey (2005), as zonas de sentido podem ser entendidas


como espaços de inteligibilidade que se produzem na pesquisa. Elementos
simbólicos perpassam as zonas de sentido que são as representações sociais e o
mundo do inconsciente.
Conforme González Rey (2005, p. 141),
A subjetividade individual indica processos e formas de organização da
subjetividade que ocorrem nas histórias diferenciais dos sujeitos individuais.
Portanto, ela delimita um espaço de subjetivação que contradiz e de forma
permanente se confronta com os espaços sociais.
Já a subjetividade social, apresenta-se nas representações sociais, nos
mitos, nas crenças, na moral, na sexualidade, nos diferentes espaços em
que vivemos e está atravessada pelos discursos e produções de sentido
que configuram sua organização subjetiva (GONZÁLEZ REY, 2005, p. 24).

As seis zonas de sentido emergentes da pesquisa articulam essa relação


entre produção de sentido individual e a ancoragem na sociedade, nas imagens da
família tradicional, na divisão do trabalho, na divisão de gênero como por exemplo, o
trabalho profissional é uma constante de todos os casais participantes. As mulheres
apesar da responsabilidade profissional, nesses casais são também as responsáveis
pela execução das tarefas domésticas. Cabe aos homens serem os responsáveis
financeiros do provimento e da administração das contas a pagar. Todos os casais
participantes têm sua renda salarial própria proveniente do trabalho profissional de
cada um. As diferenças salariais não foram relevantes entre o homem e a mulher
com exceção do casal 1, em que o marido além de receber um salário inferior paga
sua faculdade. O dinheiro de cada um é administrado de forma diversificada a partir
de acordos feitos entre os dois, em que despesas comuns são divididas e gastos
pessoais administrados individualmente. Dentre os casais, o homem têm o papel de
ser o responsável na administração das contas apesar das despesas serem
divididas. Os casais ancoram a administração do dinheiro a partir de um modelo
convencional em que cabe ao homem tarefas que exijam raciocínio mental.
Enfim, há um ideal de convivência conjugal que não só estrutura a visão
dominante do casal, mas tem configurações práticas na vida do mesmo, como
assinala Jodelet (2011 apud ALMEIDA; SANTOS; TRINDADE, 2011), de que as
representações sociais são cultura e prática.
69

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75

APÊNDICE A – ROTEIRO DA ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA

1- OS MOTIVOS QUE DESPERTARAM O INTERESSE DE UM PELO OUTRO

2- A MANEIRA COMO A FAMÍLIA RECEBEU O PARCEIRO

3- A VIDA SEXUAL APÓS O NASCIMENTO DOS FILHOS

4- A VIDA SOCIAL E FAMILIAR DO CASAL

5- O TRABALHO E COMO O CASAL DIVIDE AS TAREFAS DOMÉSTICAS

6- O DINHEIRO E COMO O CASAL ADMINISTRA AS DESPESAS

7- O CALAR E O CONVERSAR NA RESOLUÇÃO DOS CONFLITOS


76

APÊNDICE B - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Você está sendo convidado (a) a participar da pesquisa “REPRESENTAÇÕES SOCIAIS NO


CASAMENTO”. A pesquisa será realizada no âmbito do DF e pretende coletar informações, valores e
representações sociais sobre o casamento, visando compreender os motivos que fizeram com que o
casal se enamorasse, como passou a ser a vida do casal e as razões que fazem com que
permaneçam casados.Suas falas e respostas serão registradas, mas seu nome será mantido em
sigilo. Em qualquer momento você pode solicitar às informações que desejar e decidir não mais
participar da pesquisa, sem prejuízo algum. Na divulgação da pesquisa não haverá nenhuma
identificação pessoal.

Eu, , identidade ,declaro que fui informado (a) e devidamente


esclarecida do projeto de pesquisa intitulado : “REPRESENTAÇÕES SOCIAIS NO CASAMENTO” ,
coordenado pelo Professor Vicente de Paula Faleiros da Pós graduação em Psicologia da
Universidade Católica de Brasília - UCB.

Declaro, que após ser esclarecida a respeito da pesquisa, consinto voluntariamente em participar
desta pesquisa.

Brasília, de de 2013.

Nome:
RG: Data de nascimento:
Sexo:
Endereço:
Bairro: Cidade: Brasília CEP Tel: (61)

Assinatura do declarante
77

APÊNDICE C - DECLARAÇÃO DO PESQUISADOR

Declaro, para fins da realização da pesquisa, que cumprirei todas as exigências acima, na qual obtive
de forma apropriada e voluntária, o consentimento livre e esclarecido da (o) declarante acima,
qualificada (o) para a realização da pesquisa REPRESENTAÇÕES SOCIAIS NO CASAMENTO.

Brasília, de de 2013.

Assinatura do pesquisador responsável ou pesquisadora de campo


78

ANEXO A - APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA


79
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