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O ser humano ficou alto demais pra mim e nem sempre eu consigo
alcançar. A expectativa ficou alta demais e eu realmente não consigo performar
todas as referências, códigos e normas para um excelente aproveitamento
social. Talvez eu simplesmente seja uma pessoa não aprovada nos parâmetros
que regem o bom indivíduo-coletivo, ou o coletivo está esperando algo que eu
não posso oferecer? Eu não quero todo o conhecimento do mundo, nem tenho
ídolos. Me sinto estranho por não conseguir idolatrar alguém pelo talento ou
qualquer outro motivo. Admiro diversos artistas, filósofos, cientistas, líderes,
homens e mulheres, mas não a ponto de idolatrá-los. Assim como não me
prendo aos valores ancestrais. Eu sou obrigado a fazer essa referência ancestral
pela sociedade vigente, mas eu não me sinto submetido a essa regência.
Aprendo, admiro, condeno e observo os ancestrais, mas eu mesmo um dia serei
um ancestral, então meu contato com o passado se limita ao histórico. Viverei o
agora e só posso falar sobre o agora, tal qual Fanon. Todo pacto social pode ser
aprimorado, refeito, repensado e abolido. As convenções são estabelecidas da
mesma forma que podem ruir.
A mesma mão que ama, é a mão que apanha, que é a mão que bate. Mas
só lembra quem apanha, só lembra quem ama. No social há sempre uma
tendência ao sistema de grupo e líderes. Mesmo nos sistemas horizontais, o líder
sempre se manifesta de maneira natural e orgânica. O caráter do ser humano é
moldado a partir dos seus desejos e das projeções de seu ego.
Independentemente do posicionamento filosófico, político, religioso, identitário,
o ser humano sempre vai pender para o seu verdadeiro desejo. Aquele que
alimenta o ego. Seja o senso de justiça, de vaidade, de ganância ou de amor.
A pedra bruta e primeva onde reside a essência de cada um, vai sempre
projetar seu brilho no inconsciente sombrio para lembrar o seu verdadeiro pulsar.
Homens com posicionamentos fortes sobre ética podem encontrar justificativas
e métodos duvidosos quando incorrem nos próprios erros que criticam. A
relativização também é um artifício comum na tentativa de justificar ou para uma
dúvida razoável. Esse comportamento é mais comum do que imaginamos,
justamente porque somos condescendentes com nós mesmos e nos impedimos
de ver nossas próprias hipocrisias. Falamos das coisas e das pessoas como se
estivéssemos sempre isentos de culpa e como se a Deusa da perfeição nos
tivesse tocado. Apesar de ser favorável à teoria de que o sujo tem todo o direito
de falar do mal lavado, já que um erro não exclui o outro e não justifica o mesmo.
Mas nesse caso, acho curioso quando o ser que prega justiça social não se
incomoda com a exploração nos serviços que consome. Ou quando um juiz salva
a pele de um ente familiar mesmo que cometendo uma injustiça.
Quantas experiências eu preciso passar para me acostumar a algo que
eu não gosto? Muitas pessoas me dizem: “Vamos? Você vai gostar. É que você
não conhece, quando você conhecer vai mudar sua maneira de pensar.”. Eu
acabo tentando. Eu continuo não gostando. Quando tento, posso até curtir
aquele momento, mas tive que programar meu cérebro para curtir aquele
momento. Tive que projetar diversos pensamentos positivos pra chegar num
bom aproveitamento daquela experiência. Objetivamente falando, tive que me
obrigar a gostar de algo que eu já intuía que não gostaria.