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Sinto falta de humanos, por mais que seja provável que eu nunca tenha conhecido um de verdade.

Nem mesmo meus pais, ou meu irmão. Ainda mais considerando que estamos sempre em constante
mudança. Nossas memórias são tão débeis, distorcidas, se devem inteiramente a nossa interpretação
dos fatos, nosso modo de enxergar o mundo, são únicos. Existe tantas formas de pensar, e ver as
coisas quanto existem pessoas nesse mundo. Me pergunto então o que será a realidade? Ou o modo
certo de pensar, de agir, se vestir e falar? Quem as criou por decreto? Vivemos de acordo com a
perscpectiva de uma dúzia de pessoas, e a maioria parece tão conformada e inteiramente confortável
com isso. E não me excluo dessa lista, por mais que eu esteja escrevendo este texto, que talvez
ninguém nunca veja. Mas é exatamente este o ponto. Quem sou na verdade? O que eu tento ser, e
mostrar aos outros? Meu eu ideal? E se eu nunca conseguir alcançar esse meu ilusório objetivo?
Excluindo isso, o que sobra? Deveria existir tal objetivo? Será que estas metas que são criadas em
minha mente, são pra mim? Pra minha satisfação pessoal? Ou são para os espectadores? Terei
atingido meu objetivo apenas quando for reconhecido pelos outros? Precisa ser uma mudança
visível ao exterior? Não se trata de introspecção, e de auto-conhecimento? (acho que finalmente
consegui absorver o pensamento budista: não se imaginar sobre qualquer forma, no momento que o
faz, deixa de sê-lo). Estou cansada dessa mesmice. Das formas de se relacionar, parece que ninguém
nunca é autêntico, e se esse assunto ta me incomodando a tal ponto de eu perder algum tempo da
minha vida para escrever sobre isso, significa que este incômodo é muito mais profundo, interno. Só
é mais fácil enxergar nos outros, mas estou fazendo exatamente igual. Mas qual seria a forma de ser
diferente? De fazer diferente? Acho que é mais uma questão de impaciência, porque sei que isso
demandará muito tempo, e esforço. Acho que esse próprio ato já é um passo pra mudança. Me
incomoda o fato de eu achar que na verdade ninguém nunca me conheceu de fato. Mas esse
pensamento sempre vem acompanhado com a reflexão: e eu, me conheço? (Há algo para se
conhecer? Que seja individual? Indivisível?). Como posso exigir isso de outras pessoas se eu ainda
estou nesse processo? Se eu ainda carrego essa constante dúvida? Isso exclui qualquer tipo de
relação afetiva que eu possa vir a ter? Acho que essa questão ta me incomodando tanto
psiquicamente a ponto de afetar minhas relações. Estou afastando pessoas. Mas será essa uma etapa
do processo? Existe certo e errado??

Eu sou céu, sou as estrelas. As gotas de chuva, o farfalhar de folhas. Sou a menina fútil, sou
a doida de dreads. Sou a analfabeta musical, o expert mundial. Existem todos dentro de mim,
infinitas facetas, emergentes. Eu sou a fome, eu sou a riqueza. Eu sou máscara, sou mundo. Sou
playboy, sou caipira. Sou hippie, sou rock n' roll. Eu sou violência, sou calmaria. Sou indignação,
resignação. Sou tempestade, sou calmaria. Sou fumaça, sou diversão. Sou solidão e sou tristeza. Sou
artista, sou poeta. Sou sentimento, expressão. Sou negra, sou parda. Sou forasteira, alusão. Ilusão de
um EU distinto de tudo o que existe, tenho fome do todo, o todo me compõe. Não existe separação,
não existe um EU que está distinto. Indivíduo é todo o Universo. "Todo ser é um microcosmo onde
o processo universal se realiza."

-Medo
-Culpa
-Vergonha
-Tristeza
-Mentiras
-Ilusão
-Ligações terrenas

LR-00549655

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