Das abstrações tenho profundidades, vazio de eterna procura, tentativa de preenchimento.
E se eu lhe disesse, e se o tempo soubesse, será que me declarariam insana?
Não sei se coração doente, ou apenas crente em histórias improváveis. Palavras que me parecem tão absurdas, mas mesmo que mudas, se recusam a deixar a reclusão. E lá naquele cantinho escuro, bem lá na fundo, empoeirado e esquecido, está este amor vencido, que agora já não sei se existiu razão. Angústia da falta de sentido, e da necessidade de se ater aquilo que não tem explicação. Minúsculas partículas expelidas, impressão que lembram a constante insignificância das relações mundanas, efêmeras. E mesmo atenta a todo o sentido, ainda lembro de domingos, de passados e distorções. Depressões bronzeadas e expressões maquiadas. Me pergunto, será que neste mundo, seja esta a intenção? Me recuso a aceitar que nossa missão neste lugar se resuma apenas a isso. Desentendo o desprezo de alguns, e a distonância dos dois pólos me leva a entoar e calar na mesma proporção. Aqui é nossa passagem, o sentimento de conjunção as vezes possa sarar a falta de sentido, mas será possível fazer férias das sensações? Enganam-nos nossas paixões, cegam-nos nossas ilusões, tão necessárias na babilônia diária que é a rotina do social. E me pergunto, se algum dia ao retornar melancólica, aquelas palavras um dia postas, poderão fazer sentido aquele outro alguém que assiste, e que supostamente resiste, acumulando histórias como ricas propostas de aprendizado. Talvez o segredo, seja viver devagarinho, e deixar que os minutos se desfaçam sutis, sempre observando a lição do momento, compreensão de tempo criado. E no final, somos feitos de memórias e projeções. Se engana o narciso humano que a vida seja individual. Somos conjunto de toda a gente, da maldade e dos inocentes, da bestialidade e objetificação, compartilhando experiências atemporais, construindo relações, em eterno processo e mutação, sempre com visão de um ser para sempre em evolução.